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Resumo
Abstract
Introdução
Na situação atual esse quadro está distante de ser revertido. Ainda persistirão por
vários anos condições impulsionadoras de ocupações de áreas tecnicamente
impróprias a habitação.
Percepção do Risco
R=PxC (1)
onde
R: risco;
Esse tipo de conceito de risco definido pelo meio técnico apresenta uma perspectiva
objetivista radical (Lieber e Lieber, 2002). O grau de risco não faz nenhum sentido
para um determinado sujeito a menos que o mesmo faça parte da população do
denominador do risco. Qualquer sujeito poderia se tornar um “especialista”
presumindo o que deve ser feito ou não deve ser feito, resultando, em seu conjunto,
numa “aceitação cultural”. Risco pressupõe conceitos atados aos entendimentos que
incluem os aspectos da cultura e experiências ou vivências empíricas do passado.
Risco, portanto, não pode ser tratado a partir de uma visão técnica absoluta e
objetiva, mas sim como objeto de construção social por grupos sociais diferenciados.
O risco pode ser estabelecido sob argumentos objetivos, mas sua percepção e
aceitação estão sujeitas a aspectos culturais e pessoais dos sujeitos sob “risco” e
não dos analistas técnicos externos (Lieber e Lieber, 2002).
“Risco” está associado a algo adverso sujeito a incerteza. Mas essa “incerteza”
condiciona tanto o adverso como também o seu oposto, o “favorável”, que, por sua
vez, indica uma “oportunidade” para o sujeito (Lieber e Lieber, 2002). Portanto, se
existe “risco”, existe “oportunidade” (O), que poderia ser definida como:
O = (1-P) x C (2)
C, neste caso, consiste nas consequências desfavoráveis que seriam evitadas caso
não ocorresse o evento adverso. C pode ser visto também como a manutenção das
condições consideradas propícias pelo morador.
Desta forma fica claro que o que é visto como “risco” para uns pode ser ressaltado
como “oportunidade” para outros. Aplicando-se ao tema envolvido no presente
trabalho, cabe, então, a pergunta: a ocupação de encostas com alta susceptibilidade
a deslizamentos é resultado da “ignorância” ou da percepção de uma
“oportunidade”?
Metodologia do Levantamento
Item Questão
1 Qual é o principal problema que afeta
sua vida e de sua família?
2 O que você mais gosta e o que te
incomoda no seu bairro?
3 Quando começa a chover forte, qual a
sua principal preocupação?
4 Você já foi afetado ou conhece
alguém próximo que foi afetado por
algum desastre provocado por
deslizamento?
5 Quem deveria ser o responsável
pelos prejuízos provocados por
deslizamentos de terra?
6 O que você acha que o homem faz
que possa causar o deslizamento de
terra? Coloque em ordem de
importância: jogar lixo e entulho na
encosta; fazer cortes muito inclinados
para construção de casas; água e
esgoto lançados no terreno; retirada
de árvores.
7 Quem ajuda mais a comunidade em
um momento da necessidade dos
moradores?
Os questionários foram aplicados por uma equipe de campo, sendo que o morador
não era informado sobre os objetivos específicos da entrevista para evitar uma
possível indução das respostas.
Área de Estudo
A comunidade, objeto de estudo do presente trabalho, se situa na região central do
Município de Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro. A área envolve
aproximadamente 700.000 m2, sendo o relevo em forma de vale. O bairro, com uma
população de aproximadamente de 4.500 habitantes, tem uma situação precária no
que diz respeito à infraestrutura básica. Quanto ao saneamento, 71% dos domicílios
têm o abastecimento de água feito através de poços ou nascentes, 53% fazem uso
da fossa séptica e é frequente o lançamento de lixo e entulho diretamente sobre o
terreno.
A área está inserida no contexto geomorfológico denominado Maciços Costeiros
com seus níveis regulares e pequenos vales de fundo aluvial, com as encostas
meridionais mais abruptas e pontões rochosos. São predominantes amplitudes
topográficas superiores a 300 m e declividades muito elevadas, com ocorrência de
depósitos de colúvio e tálus.
Resultados
As respostas indicam que para a população local, mesmo tendo vivência e memória
de desastres provocados deslizamentos de terra (Tabela 6: 92% vivenciaram um
desastre; Tabela 5: 70% se preocupam com deslizamentos quando chove), o perigo
relacionado a esses eventos tem pouca importância frente a outras ameaças
(tabelas 2 e 4). Os deslizamentos são citados como algo que incomoda no bairro por
somente 10% da população entrevistada, percentual abaixo daqueles referentes aos
problemas associados a saneamento básico, transporte, luz e vizinhos e empatado
com limpeza pública (Tabela 4). Quando o morador foi questionado sobre o principal
problema em sua vida (Tabela 6), o problema do deslizamento só é mencionado por
8%, aparecendo em 5º lugar empatado com a violência. Esses resultados indicam
que problemas que são percebidos como mais relevantes pelos moradores são
aqueles que os afetam cotidianamente. Entretanto, quando é focado o período de
chuvas (Tabela 5), os deslizamentos tornam-se os mais evidentes. Observa-se,
assim, a importância da frequência, além da magnitude das consequências do
problema, na percepção dos riscos.
A “tranquilidade” citada por 64% dos moradores como o aspecto que mais gostam no
bairro (Tabela 3) indica que morar na comunidade significa para os moradores locais
uma “oportunidade” (vide Eq. 2), apesar dos “incômodos” (Tabela 4) e seus riscos
associados (Eq. 1), conforme observado em estudos de Lieber e Lieber (2002) e
Vargas (2009).
Quanto às ações antrópicas que contribuem para deslizamentos de terra (Tabela 8),
os moradores dão mais importância ao lançamento de lixo (43% indicaram essa
Conclusões
Ações para redução de riscos definidas sob o ponto de vista puramente técnico não
são suficientes para a redução satisfatória dos desastres associados a
deslizamentos, posto que, para tal, é necessária a participação da população nas
ações preventivas.
dos moradores.
Agradecimentos
Referências
Fell, R., Corominas, J., Bonnard, C., Cascini, L., Leroi, E. e Savage, W. (2008)
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Ho, M., Shaw, D., Lin, S. e Chiu, Y. (2008) How Do Disaster Characteristics Influence
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Lieber, R.R. e Lieber, N.S.R. (2002) O Conceito de Risco: Janus Reinventado. In:
Saúde e ambiente sustentável: estreitando nós. Organizado por Maria Cecília S.
Minayo e Ary C. Miranda, Editora Fiocruz, Rio de Janeiro.
Nabuco.
Peres, F. (2002) Onde Mora o perigo? Percepção de riscos, ambiente e saúde. In:
Saúde e ambiente sustentável: estreitando nós. Organizado por Maria Cecília S.
Minayo e Ary C. Miranda, Editora Fiocruz, Rio de Janeiro.
Vargas, D. (2009) “Eu fui embora de lá, mas não fui” –a construção social da
moradia de risco. In: Sociologia dos Desastres. Organizado por Norma Valencio,
Mariana Siena, Victor Marchezini e Juliano C. Gonçalves – São Carlos: RiMa
Editora.
Sobre os Autores
o
Revista Comunicação e Educação Ambiental - ISSN: 1982-6389 - Volume 2 - N 2- Julho/Dezembro
de 2012. Submetido em: 2/5/2012 e aceito para publicação em 23/6/2012.