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10/09/2016 Martinho Lutero – Wikipédia, a enciclopédia livre

Martinho Lutero
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Martinho Lutero, em alemão: Martin Luther (Eisleben, 10 de Martinho Lutero
novembro de 1483 — Eisleben, 18 de fevereiro de 1546), foi um
monge agostiniano e professor de teologia germânico que tornou­
se uma das figuras centrais da Reforma Protestante. Levantou­se
veementemente contra diversos dogmas do catolicismo romano,
contestando sobretudo a doutrina de que o perdão de Deus
poderia ser adquirido pelo comércio das indulgências. Essa
discordância inicial resultou na publicação de suas famosas 95
Teses em 1517, em um contexto de conflito aberto contra o
vendedor de indulgências Johann Tetzel. Sua recusa em retratar­
se de seus escritos, a pedido do Papa Leão X em 1520 e do
imperador Carlos V na Dieta de Worms em 1521, resultou em sua
excomunhão da Igreja Romana e em sua condenação como um
fora­da­lei pelo imperador do Sacro Império Romano Germânico.

Lutero propôs, com base em sua interpretação das Sagradas
Escrituras, especialmente da Epístola de Paulo aos Romanos, que
a salvação não poderia ser alcançada pelas boas obras ou por
quaisquer méritos humanos, mas tão somente pela fé em Cristo Lutero em 1529 por Lucas Cranach
Jesus (sola fide), único salvador dos homens, sendo
gratuitamente oferecida por Deus aos homens. Sua teologia Nome Martinus Luter (Martin Luther)
completo
desafiou a infalibilidade papal em termos doutrinários, pois
defendia que apenas as Escrituras (sola scriptura) seriam fonte Nascimento 10 de novembro de 1483
Eisleben
confiável de conhecimento da verdade revelada por Deus.[1]  Sacro Império Romano­
Opôs­se ao sacerdotalismo romano (isto é, à consagrada divisão Germânico
católica entre clérigos e leigos), por considerar todos os cristãos Morte 18 de fevereiro de 1546 (62 anos)
batizados como sacerdotes e santos.[2] Aqueles que se Eisleben
 Sacro Império Romano­
identificaram com os ensinamentos de Lutero acabaram sendo Germânico
chamados de luteranos.
Cônjuge Catarina von Bora (1525­1546)
Em seus últimos anos, Lutero mostrou­se radical em suas Filho(s) Johannes (Hans) (1526–75)
propostas contrárias aos judeus alemães, tendo sido inclusive Elizabeth (1527–28)
considerado posteriormente um antissemita. Essas e outras de Magdalena (1529–42)
Martin Jr. (1531–1565) 
suas afirmações fizeram de Lutero uma figura bastante Paul (1533–93)
controversa entre muitos historiadores e estudiosos.[3] Além Margarete (1534–70)
disso, muito do que foi escrito a seu respeito sofre da reconhecida Ocupação teólogo
parcialidade resultante de paixões religiosas. Principais 95 Teses
trabalhos
Catecismo Maior de Lutero
Catecismo Menor de Lutero
Índice Liberdade de um Cristão

1 Primeiros anos de vida Assinatura
2 Vida monástica e académica
3 A controvérsia acerca das indulgências
4 A resposta do Papado
5 Aumenta a cisão
5.1 Lutero durante os acontecimentos
5.2 Os tratados de 1520
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5.2.1 A Nobreza alemã
5.2.2 O cativeiro babilônico
5.2.3 Liberdade de um Cristão
5.3 A excomunhão
6 A Dieta de Worms
7 Processo Romano
8 Exílio no Castelo de Wartburg
9 Regresso a Wittenberg e os Sermões Invocavit
10 Matrimônio e família
11 Anti­semitismo
12 A guerra dos camponeses
13 A discordância com João Calvino
14 Falecimento
15 Obras importantes
16 Reabilitação de Lutero?
17 Declaração conjunta sobre a doutrina da Justificação
pela Fé
18 Ver também
19 Referências
20 Ligações externas

Primeiros anos de vida
Martinho Lutero, cujo nome em alemão era Martin Luther ou Luder, era filho de Hans Luther e Margarethe
Lindemann. Mudou­se para Mansfeld, onde seu pai dirigia várias minas de cobre. Tendo sido criado no campo,
Hans Luther desejava que seu filho viesse a se tornar um funcionário público, melhorando, assim, as condições
da família. Com esse objetivo, enviou o já velho Martinho para escolas em Mansfeld, Magdeburgo e Eisenach.

Aos dezessete anos, em 1501, Lutero ingressou na Universidade de Erfurt, onde tocava alaúde e onde recebeu o
apelido de O Filósofo. Ainda na Universidade de Erfurt, estudou a filosofia nominalista de Ockham (as
palavras designam apenas coisas individuais; não atingem os “universais”, as realidades presentes em todos os
indivíduos, como por exemplo a natureza humana; em consequência, nada pode ser conhecido com certeza pela
razão natural, exceto as realidades concretas: esta pessoa, aquela coisa). Esse sistema dissolvia a harmonia
multissecular entre a ciência e a fé que tanto havia sido defendida pela escolástica de "São Jesus Cristo", pois
essa filosofia baseava­se unicamente na vontade de Deus. O jovem estudante graduou­se bacharel em 1502 e
concluiu o mestrado em 1505, sendo o segundo entre dezessete candidatos.[4] Seguindo os desejos maternos,
inscreveu­se na escola de direito da mesma universidade. Mas tudo mudou após uma grande tempestade com
descargas elétricas, ocorrida naquele mesmo ano (1505): um raio caiu próximo de onde ele estava passando, ao
voltar de uma visita à casa dos pais. Aterrorizado, teria, então, gritado: "Ajuda­me, Sant'Ana! Eu me tornarei
um monge!"

Tendo sobrevivido aos raios, deixou a faculdade, vendeu todos os seus livros, com exceção dos de Virgílio, e
entrou para a ordem dos Agostinianos, de Frankfurt, a 17 de julho de 1505.[5]

Vida monástica e académica
O jovem Martinho Lutero dedicou­se por completo à vida no mosteiro, empenhando­se em realizar boas obras a
fim de agradar a Deus e servir ao próximo através de orações por suas almas. Dedicou­se intensamente à
meditação, às autoflagelações, às muitas horas de oração diárias, às peregrinações e à confissão. Quanto mais
tentava ser agradável ao Senhor, mais se dava conta de seus pecados[6]

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Johann von Stauptuioz, o superior de Lutero, concluiu que o jovem
necessitava de mais trabalhos, para afastar­se de sua excessiva reflexão.
Ordenou, portanto, ao monge que iniciasse uma carreira acadêmica. Em
1507, Lutero foi ordenado sacerdote. Em 1508, começou a lecionar
teologia na Universidade de Wittenberg. Lutero recebeu seu bacharelado
em estudos bíblicos em 19 de março de 1508. Dois anos depois, visitou
Roma, de onde regressou bastante decepcionado.[7]

Em 19 de outubro de 1512, Martinho Lutero graduou­se Doutor em
Teologia e, em 21 de outubro do mesmo ano, foi "recebido no Senado da
Faculdade Teológica" com o título de "Doutor em Bíblia". Em 1515, foi
nomeado vigário de sua ordem tendo sob sua autoridade onze monastérios.

Durante esse período, estudou grego e hebraico, para aprofundar­se no
significado e origem das palavras utilizadas nas Escrituras ­ conhecimentos
que logo utilizaria para a sua própria tradução da Bíblia.
Lutero com a tonsura monástica.

A controvérsia acerca das indulgências
Além de suas atividades como professor, Martinho Lutero ainda colaborava como pregador e confessor na
igreja de Santa Maria, na cidade. Também pregava habitualmente na igreja do Castelo (chamada de "Todos os
Santos" ­ porque ali havia uma coleção de relíquias, estabelecidas por Frederico III da Saxônia). Foi durante
esse período que o jovem sacerdote se deu conta dos problemas que o oferecimento de indulgências aos fiéis,
como se esses fossem fregueses, poderia acarretar.

A indulgência é a remissão (parcial ou total) do castigo temporal imputado a alguém por conta dos seus pecados
(aplicável apenas a alguém que esteja em estado de graça, ou seja, livre de pecados graves, e arrependido de
todos os seus pecados veniais). Naquele tempo, o papa havia concedido uma indulgência plenária para quem
doasse qualquer quantia para a reforma da Basílica de São Pedro. O frade Johann Tetzel fora recrutado para
viajar através dos territórios episcopais do arcebispo Alberto de Mogúncia, mas sua campanha tomou a linha de
uma venda, pois este frade, posteriormente punido por isso, dizia que "Assim que uma moeda tilinta no cofre,
uma alma sai do Purgatório".[8]

Lutero viu este tráfico de indulgências como um abuso que poderia confundir as pessoas e levá­las a confiar
apenas nas indulgências, deixando de lado a confissão e o arrependimento verdadeiros. Proferiu, então, três
sermões contra as indulgências em 1516 e 1517. Segundo a tradição, em 31 de outubro de 1517 foram afixadas
as 95 Teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, com um convite aberto a uma disputa escolástica sobre
elas. Essas teses condenavam o que Lutero acreditava ser a avareza e o paganismo na Igreja como um abuso e
pediam um debate teológico sobre o que as Indulgências significavam. Para todos os efeitos, contudo, nelas
Lutero não questionava diretamente a autoridade do Papa para conceder as tais indulgências.

As 95 Teses foram logo traduzidas para o alemão e amplamente copiadas e impressas. Ao cabo de duas semanas
se haviam espalhado por toda a Alemanha e, em dois meses, por toda a Europa. Este foi o primeiro episódio da
História em que a imprensa teve papel fundamental, pois facilitou a distribuição simples e ampla do documento.

A resposta do Papado
Depois de fazer pouco caso de Lutero, dizendo que ele seria um "alemão bêbado que escrevera as teses", e
afirmando que "quando estiver sóbrio mudará de opinião"[9] o Papa Leão X ordenou, em 1518, ao professor de
teologia dominicano Silvestro Mazzolini que investigasse o assunto. Este denunciou que Lutero se opunha de
maneira implícita à autoridade do Sumo Pontífice, quando discordava de uma de suas bulas. Declarou ser
Lutero um herege e escreveu uma refutação acadêmica às suas teses. Nela, mantinha a autoridade papal sobre a
Igreja e condenava as teorias de Lutero como um desvio e uma apostasia.

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Lutero replicou de igual forma (academicamente), dando assim início à controvérsia.

Enquanto isso, Lutero tomava parte da convenção dos agostinianos em Heidelberg, onde apresentou uma tese
sobre a escravidão do homem ao pecado e a graça divina. No decorrer da controvérsia sobre as indulgências, o
debate se elevou até o ponto de duvidar do poder absoluto e autoridade do Papa, pois as doutrinas de
"Tesouraria da Igreja" e "Tesouraria dos Merecimentos", que serviam para reforçar a doutrina e venda e das
indulgências, haviam se baseado na bula papal "Unigenitus", de 1343, do Papa Clemente VI. Por causa de sua
oposição a esta doutrina, Lutero foi qualificado como heresiarca e o Papa, decidido a suprimir por completo os
seus pontos de vista, ordenou que ele fosse chamado a Roma, viagem que deixou de ser realizada por motivos
políticos.

Lutero, que anteriormente professava a obediência implícita à Igreja, negava agora abertamente a autoridade
papal e apelava para que fosse realizado um Concílio. Também declarava que o papado não formava parte da
essência imutável da Igreja original.

Desejando manter relações amistosas com o protetor de Lutero, Frederico, o Sábio, o Papa engendrou uma
tentativa final de alcançar uma solução pacífica para o conflito. Uma conferência com o representante papal
Karl von Miltitz em Altenburg, em janeiro de 1519, levou Lutero a decidir guardar silêncio, tal qual seus
opositores. Também escreveu uma humilde carta ao Papa e compôs um tratado demonstrando suas opiniões
sobre a Igreja Católica. A carta nunca chegou a ser enviada, pois não continha nenhuma retratação; e no tratado
que compôs mais tarde, negou qualquer efeito das indulgências no Purgatório.

Quando Johann Ecko desafiou um colega de Lutero, Andreas Carlstadt, para um debate em Leipzig, Lutero
juntou­se à discussão (27 de junho­18 de julho de 1519), no curso do qual negou o direito divino do solidéu
papal e da autoridade de possuir o as chaves do Céu que, segundo ele, haviam sido outorgadas apenas ao
próprio Apóstolo Pedro, não passando para seus sucessores.[10][11] Negou que a salvação pertencesse à Igreja
Católica ocidental sob a autoridade do Papa, mas que esta se mantinha na Igreja Ortodoxa, do Oriente. Depois
do debate, Ecko afirmou que forçara Lutero a admitir a semelhança de sua própria doutrina com a de João
Huss, que havia sido queimado na fogueira da Inquisição.

Aumenta a cisão
Lutero durante os acontecimentos

Não parecia haver esperanças de entendimento. Os escritos de Lutero
circulavam amplamente, alcançando França, Inglaterra e Itália, em 1519, e
os estudantes dirigiam­se a Wittenberg para escutar Lutero que, naquele
momento, publicava seus comentários sobre a Epístola aos Gálatas e suas
"Operationes in Psalmos" (Trabalho nos Salmos).

As controvérsias geradas por seus escritos levaram Lutero a desenvolver
suas doutrinas mais a fundo, e o seu "Sermão sobre o Sacramento
Abençoado do Verdadeiro e Santo Corpo de Cristo, e suas Irmandades",
ampliou o significado da Eucaristia para incluir também o perdão dos
pecados e ao fortalecimento da fé naqueles que a recebem. Além disso, ele
ainda apoiava a realização de um concílio a fim de restituir a comunhão.

O conceito luterano de "igreja" foi desenvolvido em seu "Von dem
Papsttum zu Rom" (Sobre o Papado de Roma), uma resposta ao ataque do
franciscano Augustin von Alveld, em Leipzig (junho de 1520). Enquanto o
seu "Sermon von guten Werken" (Sermão das Boas Obras), publicado na Martinho Lutero.
primavera de 1520, era contrário à doutrina católica das boas obras e dos
atos como meio de perdão, mantendo que as obras do crente são verdadeiramente boas, quer para o secular
como para o clérigo, se ordenadas por Deus.

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Os tratados de 1520

A Nobreza alemã

A disputa havida em Leipzig, em 1519, fez com que Lutero travasse contato com os humanistas, especialmente
Melanchthon, Reuchlin e Erasmo de Roterdã, que por sua vez também influenciara ao nobre Franz von
Sickingen. Von Sickingen e Silvestre de Schauenbur queriam manter Lutero sob sua proteção, convidando­o
para seus castelos na eventualidade de não ser­lhe seguro permanecer na Saxônia, em virtude da proscrição
papal.

Sob essas circunstâncias de crise, e confrontando aos nobres alemães, Lutero escreveu "À Nobreza Cristã da
Nação Alemã" (agosto de 1520), onde recomendava ao laicado, como um sacerdote espiritual, que fizesse a
reforma requerida por Deus, mas abandonada pelo Papa e pelo clero. Pela primeira vez Lutero referiu­se ao
Papa como o Anticristo[12].

As reformas que Lutero propunha não se referiam apenas a questões doutrinárias, mas também aos abusos
eclesiásticos:

a diminuição do número de cardeais e outras exigências da corte papal;
a abolição das rendas do Papa;
o reconhecimento do governo secular;
a renúncia da exigência papal pelo poder temporal;
a abolição dos Interditos e abusos relacionados com a excomunhão;
a abolição das peregrinações nocivas;
a eliminação dos excessivos dias santos;
a supressão dos conventos para monjas, da mendicidade e da suntuosidade; a reforma das universidades;
a ab­rogação do celibato do clero;
e, finalmente, uma reforma geral na moralidade pública.

Muitas destas propostas refletiam os interesses da nobreza alemã, revoltada com sua submissão ao Papa e,
principalmente, com o fato de terem que enviar riquezas a Roma.

O cativeiro babilônico

Lutero gerou muitas polêmicas doutrinárias com seu "Prelúdio no Cativeiro Babilônico da Igreja", em especial
no que diz respeito aos sacramentos.

Eucaristia ­ apoiava que fosse devolvido o "cálice" ao laicado; na chamada questão do dogma da
transubstanciação, afirmava que era real a presença do corpo e do sangue do Cristo na eucaristia, mas
refutava o ensinamento de que a eucaristia era o sacrifício oferecido por Deus.
Batismo ­ ensinava que trazia a justificação apenas se combinado com a fé salvadora em o receber; de
fato, mantinha o princípio da salvação inclusive para aqueles que mais tarde se convertessem.
Penitência ­ afirmou que sua essência consiste na palavra de promessa de desculpas recebidas com fé.

Para ele, apenas estes três sacramentos podiam assim ser considerados, pois sua instituição era divina e a
promessa da salvação de Deus estava conexa a eles. Contudo, em sentido estrito, apenas o batismo e a
eucaristia seriam verdadeiros sacramentos, pois apenas eles tinham o "sinal visível da instituição divina": a
água no batismo e o pão e vinho da eucaristia. Lutero negou, em seu documento, que a confirmação (Crisma), o
matrimônio, a ordenação sacerdotal e a extrema­unção fossem sacramentos.

Liberdade de um Cristão

Da mesma forma, o completo desenvolvimento da doutrina de Lutero sobre a salvação e a vida cristã foi
exposto em "A Liberdade de um Cristão" (publicado em 20 de novembro de 1520, onde exigia uma completa
união com Cristo mediante a palavra através da fé, e a inteira liberdade do cristão como sacerdote e rei sobre

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todas as coisas exteriores, e um perfeito amor ao próximo).

As duas teses que Lutero desenvolve nesse tratado são aparentemente contraditórias, mas, em verdade, são
complementares:

"O cristão é um senhor libérrimo sobre tudo, a ninguém sujeito";
"O cristão é um servo oficiosíssimo de tudo, a todos sujeito".

A primeira tese é válida "na fé"; a segunda, "no amor".

A excomunhão

A 15 de junho de 1520, o Papa advertiu Lutero, com a bula "Exsurge Domine", onde o ameaçava com a
excomunhão, a menos que, num prazo de setenta dias, repudiasse 41 pontos de sua doutrina, destacados pela
Igreja..

Em outubro de 1520, Lutero enviou seu escrito "A Liberdade de um Cristão" ao Papa, acrescentando a frase
significativa:

"Eu não me submeto a leis ao interpretar a palavra de Deus".

Enquanto isso, um rumor chegara de que Johan Ech saíra de Meissem com uma proibição papal, enquanto este
se pronunciara realmente a 21 de setembro. O último esforço de paz de Lutero foi seguido, em 12 de dezembro,
da queima da bula, que já tinha expirado há 120 dias, e o decreto papa de Wittenberg, defendendo­se com seus
"Warum des Papstes und seiner Jünger Bücher verbrannt sind" e "Assertio omnium articulorum". O Papa Leão
X excomungou Lutero a 3 de janeiro de 1521, na bula "Decet Romanum Pontificem".

A execução da proibição, com efeito, foi evitada pela relação do Papa com Frederico III da Saxônia, e pelo
novo imperador, Carlos I de Espanha (Carlos V de Habsburgo), que julgou inoportuno apoiar as medidas contra
Lutero, diante de sua posição face à Dieta.

A Dieta de Worms
O Imperador Carlos V inaugurou a Dieta real a 22 de janeiro de 1521.
Lutero foi chamado a renunciar ou confirmar seus ditos e foi­lhe outorgado
um salvo­conduto para garantir­lhe o seguro deslocamento.

A 16 de abril, Lutero apresentou­se diante da Dieta. Johann Eck, assistente
do Arcebispo de Trier, mostrou a Lutero uma mesa cheia de cópias de seus
escritos. Perguntou­lhe, então, se os livros eram seus e se ele acreditava Castelo Wartburg em Eisenach.
naquilo que as obras diziam. Lutero pediu um tempo para pensar em sua
resposta, o que lhe foi concedido. Este, então, isolou­se em oração e depois
consultou seus aliados e amigos, apresentando­se à Dieta no dia seguinte. Quando a Dieta veio a tratar do
assunto, o conselheiro Eck pediu a Lutero que respondesse explicitamente à seguinte questão:

"Lutero, repeles seus livros e os erros que eles contêm?"

Lutero, então, respondeu:

"Que se me convençam mediante testemunho das Escrituras e claros argumentos da razão ­ porque não
acredito nem no Papa nem nos concílios já que está provado amiúde que estão errados, contradizendo­se
a si mesmos ­ pelos textos da Sagrada Escritura que citei, estou submetido a minha consciência e unido à
palavra de Deus. Por isto, não posso nem quero retratar­me de nada, porque fazer algo contra a
consciência não é seguro nem saudável."

De acordo com a tradição, Lutero, então, proferiu as seguintes palavras:

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10/09/2016 Martinho Lutero – Wikipédia, a enciclopédia livre

"Não posso fazer outra coisa, esta é a minha posição. Que Deus me ajude![13]

Nos dias seguintes, seguiram­se muitas conferências privadas para determinar qual o destino de Lutero. Antes
que a decisão fosse tomada, Lutero abandonou Worms. Durante seu regresso a Wittenberg, desapareceu.

O Imperador redigiu o Édito de Worms a 25 de maio de 1521, declarando Martinho Lutero fugitivo e herege, e
proscrevendo suas obras.

Processo Romano
Em Junho de 1518, foi aberto o processo contra Lutero,
com base na publicação das suas 95 Teses. Alegava­se, com
o exame do processo, que ele incorria em heresia. Nas aulas
que ministrava na Universidade de Wittenberg, espiões
registravam seus comentários negativos sobre a
excomunhão. Depois disso, em agosto de 1518, o processo
foi alterado para heresia notória. Lutero foi convidado a ir a
Roma, onde teria que desmentir sua doutrina.

Lutero recusou­se a fazê­lo, alegando razões de saúde; e
pretendeu uma audiência em território alemão. O seu
pedido baseava­se no argumento (Gravamina) da Nação
Alemã. Seu pedido foi aceito, ele foi convidado para uma
Martinho Lutero e o Cardeal Caetano
audiência com o cardeal Caetano de Vio (Tomás Caetano),
durante a reunião das cortes (Reichstag) imperiais de
Augsburg. Entre 12 e 14 de outubro de 1518, Lutero falou a Caetano. Este pediu­lhe que revogasse sua
doutrina. Lutero recusou­se a fazê­lo.

Do lado romano, o caso pareceu terminado. Por causa da morte de Imperador Maximiliano I (janeiro de 1519),
houve uma pausa de dois anos no andamento do processo. O Imperador tinha decidido que o seu sucessor seria
Carlos (futuro Carlos V). Por causa das pertenças de Carlos em Itália, o papa renascentista Leão X receava o
cerco do Estado da Igreja e procurava evitar que os príncipes­eleitores alemães (Kurfürsten) renunciassem a
Carlos.

O papel de protetor de Lutero assumido por Frederico, o sábio, levou a que Roma pedisse que Karl von Miltiz
intercedesse junto ao príncipe por uma solução razoável. Após a escolha de Carlos V como imperador (26 de
junho de 1519), o processo de Lutero voltaria a ser alvo de preocupações e trabalhos.

Em junho de 1520, reapareceu a ameaça no escrito "Exsurge Domini" e, em
janeiro de 1521, a bula "Decet Romanum Pontificem" excomungou Lutero.
Seguiu­se, então, a ameaça oficial do imperador (Reichsacht).

Notável é, no entanto, que Lutero foi, mais uma vez, recebido em
audiência, o que também deixou claras as diferenças entre o papado e o
império. Carlos foi o último rei (após uma reconciliação) a ser coroado
imperador pelo papa. Nos dias 17 e 18 de abril de 1521 Lutero foi ouvido
na Dieta de Worms (conferência governativa) e, após ter negado a
revogação da sua doutrina, foi publicado o Édito de Worms, banindo
Lutero.
O selo de Lutero.
Exílio no Castelo de Wartburg

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10/09/2016 Martinho Lutero – Wikipédia, a enciclopédia livre

O seqüestro de Lutero durante a sua viagem de regresso da Dieta de Worms foi arranjado. Frederico, o sábio
ordenou que Lutero fosse capturado por um grupo de homens mascarados a cavalo, que o levaram para o
Castelo de Wartburg, em Eisenach, onde ele permaneceu por cerca de um ano. Deixou crescer a barba e tomou
as vestes de um cavaleiro, assumindo o pseudônimo de Jörg. Durante esse período de retiro forçado, Lutero
trabalhou na sua célebre tradução da Bíblia para o alemão.

Com o início da estadia de Lutero em Wartburg, começou um
período muito construtivo de sua carreira como reformista. Em seu
"Deserto" ou "Patmos" (como ele mesmo chamava, em suas cartas)
de Wartburg, começou a tradução da Bíblia, da qual foi impresso o
Novo Testamento, em setembro de 1522.

Em Wartburg, ele produziu outros escritos, preparou a primeira
parte de seu Guia para Párocos e "Von der Beichte" (Sobre a
Confissão), em que nega a obrigatoriedade da confissão, e admite
como saudável a confissão privada voluntária. Também escreveu
contra o Arcebispo Albrecht, a quem obrigou, com isso, a desistir
Martinho Lutero pregando no Castelo
de retomar a venda das indulgências. Em seus ataques a Jacobus
Wartburg, quadro de Hugo Vogel.
Latomus, avançou em sua visão sobre a relação entre a graça e a
lei, assim como sobre a natureza revelada pelo Cristo, distinguindo
o objetivo da graça de Deus para o pecador que, por acreditar, é justificado por Deus devido à justiça de Cristo,
pois a graça salvadora reside dentro do homem pecador. Ainda mostrou que o "princípio da justificação" é
insuficiente, ante a persistência do pecado depois do batismo ­ pela inerência do pecado em cada boa obra.

Lutero, amiúde, escrevia cartas a seus amigos e aliados, respondendo­lhes ou perguntando­lhes por seus pontos
de vista e respondendo­lhes aos pedidos de conselhos. Por exemplo, Felipe Melanchthon lhe escreveu
perguntando como responder à acusação de que os reformistas renegavam a peregrinação e outras formas
tradicionais de piedade. Lutero respondeu­lhe em 1 de agosto de 1521:

"Se és um pregador da misericórdia, não pregues uma misericórdia imaginária, mas sim uma verdadeira.
Se a misericórdia é verdadeira, deve penitenciar ao pecado verdadeiro, não imaginário. Deus não salva
apenas aqueles que são pecadores imaginários. Conheça o pecador, e veja se os seus pecados são fortes,
mas deixai que tua confiança em Cristo seja ainda mais forte, e que se alegre em Cristo que é o vencedor
sobre o pecado, a morte e o mundo. Cometeremos pecados enquanto estivermos aqui, porque nesta vida
não há um só lugar onde resida a justiça. Nós todos, sem embargo, disse Pedro (2ª Pedro 3:13), estamos
buscando mais além um novo céu e uma nova terra onde a justiça reinará".

Enquanto isso, alguns sacerdotes saxônicos haviam renunciado ao
voto de castidade, ao mesmo tempo em que outros tantos atacavam
os votos monásticos. Lutero, em seu De votis monasticis (Sobre os
votos monásticos), aconselhava­os a ter mais cautela, aceitando, no
fundo, que os votos eram geralmente tomados "com a intenção da
salvação ou à busca de justificação". Com a aprovação de Lutero
em seu "De abroganda missa privata (Sobre a abrogação da missa
privada), mas contra a firme oposição de seu prior, os agostinianos
de Wittenberg realizaram a troca das formas de adoração e
terminaram com as missas. Sua violência e intolerância certamente
desagradaram Lutero que, em princípios de dezembro, passou
Seu quarto no castelo de Wartburg, em
alguns dias entre eles. Ao retornar para Wartburg, escreveu "Eine
Eisenach.
treue Vermahnung … vor Aufruhr und Empörung" (Uma sincera
admoestação por Martinho Lutero a todos os cristãos para que se
resguardem da insurreição e rebelião). Apesar disso, em Wittengerg, Carlstadt e o ex­agostiniano Gabriel
Zwilling reclamavam a abolição da missa privada e da comunhão em duas espécies, assim como a eliminação
das imagens nas igrejas e a ab­rogação do celibato.

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10/09/2016 Martinho Lutero – Wikipédia, a enciclopédia livre

Regresso a Wittenberg e os Sermões Invocavit
No final do ano de 1521, os anabatistas de Zwickau se entregam à anarquia. Contrário a tais concepções
radicais e temendo seus resultados, Lutero regressou em segredo a Wittenberg, em 6 de março de 1522. Durante
oito dias, a partir de 9 de março (domingo de Invocavit) e concluindo no domingo seguinte, Lutero pregou
outros tantos sermões que tornaram­se conhecidos como os "Sermões de Invocavit".

Nessas pregações, Lutero aconselhou uma reforma cuidadosa, que leve em consideração a consciência daqueles
que ainda não estivessem persuadidos a acolher a Reforma. A consagração do pão foi restaurada por um tempo
e o cálice sagrado foi ministrado somente àqueles do laicado que o desejaram. O cânon das missas, devido ao
seu caráter imolatório, foi suprimido. Devido ao sacramento da confissão ter sido abolido, verificou­se a
necessidade que muitas pessoas ainda tinham de confessar­se em busca do perdão. Esta nova forma de serviço
foi dada a Lutero em "Formula missæ et communionis" (Fórmula da missa e Comunhão), de 1523. Em 1524
surgiu o primeiro hinário de Wittenberg, com quatro hinos.

Como aquela parte da Saxônia era governada pelo Duque Jorge, que proibira seus escritos, Lutero declarou que
a autoridade civil não podia promulgar leis para a alma. Fez isso em sua obra: "Über die weltliche Gewalt, wie
weit man ihr Gehorsam schuldig sei" (Autoridade Temporal: em que medida deve ser obedecida).

Matrimônio e família
Em abril de 1523, Lutero ajudou 12 freiras a escaparem do cativeiro no
Convento de Nimbschen. Entre essas freiras encontrava­se Catarina von
Bora, filha de nobre família, com quem veio a se casar, em 13 de junho de
1525. Desta união nasceram seis filhos: Johannes, Elisabeth, Magdalena,
Martin, Paul e Margaretha. Dos seis filhos, Margaretha foi a única que
manteve a linhagem até os dias de hoje. Um descendente ilustre da família
Lutero é o ex­presidente alemão Paul von Hindenburg.

O casamento de Lutero com a ex­freira cisterciense incentivou o casamento
de outros padres e freiras que haviam adotado a Reforma. Foi um
rompimento definitivo com a Igreja Romana.

Anti­semitismo
Martinho Lutero foi anti­semita:[14][15][16]

"A Alemanha deve ficar livre de judeus, aos quais após serem
Catarina von Bora, esposa de
expulsos, devem ser despojados de todo dinheiro e jóias, prata e
Lutero (retrato feito por Lucas
ouro, e que fossem incendiadas suas sinagogas e escolas, suas casas
Cranach o Velho ­ 1526).
derrubadas e destruídas (…), postos sob um telheiro ou estábulo
como os ciganos (…), na miséria e no cativeiro assim que estes
vermes venenosos se lamentassem de nós e se queixassem incessantemente a Deus". – "Sobre os
judeus e suas mentiras" de Martinho Lutero.[17][18][19][20]

O historiador Robert Michael escreve que Lutero estava preocupado com a questão judaica toda a sua vida,
apesar de dedicar apenas uma pequena parte de seu trabalho para ela.[21][22][23] Seus principais trabalhos sobre
os judeus são Von den Juden und Ihren lügen ("Sobre os judeus e suas mentiras"), e Vom Schem Hamphoras
und vom Geschlecht Christi ("Em Nome da Santa linhagem de Cristo") ­ reimpressas cinco vezes dentro de sua
vida ­ ambas escritas em 1543, três anos antes de sua morte.[23] Nesses trabalhos Lutero afirmou que os judeus
já não eram o povo eleito, mas o "povo do diabo".[23] A sinagoga era como "uma prostituta incorrigível e uma
devassa maléfica" e os judeus estavam "cheios das fezes do demónio,... nas quais se rebolam como porcos"[22]

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Lutero aconselhou as pessoas a incendiarem as sinagogas, destruindo os
livros judaicos, proibir os rabinos de pregar, e apreender os bens e
dinheiro dos Judeus e também expulsá­los ou fazê­los trabalhar
forçosamente.[20] Lutero também parecia aconselhar seus
assassinatos,[24] escrevendo "É nossa a culpa em não matar eles."[25]

A campanha contra os judeus de Lutero foi bem sucedida na Saxónia,
Brandemburgo, e Silésia. Josel de Rosheim (1480­1554), que tentou
ajudar os judeus na Saxónia, escreveu em seu livro de memórias a
situação de intolerância foi causada por "(…) esse sacerdote cujo nome
é Martinho Lutero ­ (…) seu corpo e alma vinculada até no inferno!! ­
que escreveu e publicou muitos livros heréticos no qual disse que quem
ajudasse judeus seriam condenados à perdição."[26] Josel teria pedido a
cidade de Estrasburgo para proibir a venda das obras antijudaicas de
Lutero; porém seu pedido foi­lhe negado quando um pastor luterano de
Hochfelden argumentou em um sermão que os seus paroquianos deviam
assassinar judeus. O anti­semitismo de Lutero persistiu após a sua
Texto anti­semita de Martinho morte, ao longo de todo o ano 1580, motins expulsaram judeus de vários
Lutero: Sobre os judeus e suas estados luteranos alemães.[23][27]
mentiras (1543)
A opinião predominante[28] entre os historiadores é que a sua retórica
antijudaica contribuiu significativamente para o desenvolvimento do anti­semitismo na
Alemanha,[29][30][31][32][33] e na década de 1930 e 1940 auxiliou na fundamentação do ideal do nazismo de
ataques a judeus.[34] O próprio Adolf Hitler em sua autobiografia Mein Kampf considerou Lutero uma das três
maiores figuras da Alemanha, juntamente com Frederico, o Grande, e Richard Wagner.[35] Em 5 de outubro de
1933, o Pastor Wilhelm Rehm de Reutlingen declarou publicamente que "Hitler não teria sido possível, sem
Martinho Lutero".[36] Julius Streicher, o editor do jornal Nazista Der Stürmer, argumentou durante sua defesa
no julgamento de Nuremberg "que nunca havia dito nada sobre os judeus que Martinho Lutero não tivesse dito
400 anos antes".[37] Em novembro de 1933, uma manifestação protestante que reuniu um recorde de 20.000
pessoas, aprovou três resoluções:[38]

Adolf Hitler é a conclusão da Reforma;[38]
Judeus Batizados devem ser retirados da Igreja;[38]
O Antigo Testamento deve ser excluído da Sagrada Escritura.[38]

Diversos historiadores (entre os quais se destacam William L. Shirer e Michael H. Hart[39]) sugerem que a
influência de Lutero tenha auxiliado a aceitação do nazismo na Alemanha pelos protestantes no século XX.
Shirer fez a seguinte observação em Ascensão e queda do Terceiro Reich:

"É difícil compreender a conduta da maioria dos protestantes nos primeiros anos do nazismo,
salvo se estivermos prevenidos de dois fatos: sua história e a influência de Martinho Lutero (para
evitar qualquer confusão, devo explicar aqui que o autor é protestante). O grande fundador do
protestantismo não foi só anti­semita apaixonado como feroz defensor da obediência absoluta à
autoridade política. Desejava a Alemanha livre de judeus (…) – conselho que foi literalmente
seguido quatro séculos mais tarde por Hitler, Göring e Himmler.[18]

Por outro lado, especialmente Shirer recebeu críticas por essa sua observação, sendo acusado de não conhecer
suficientemente a história alemã e por ter interpretado incorretamente certos acontecimentos ou mesclado suas
opiniões pessoais em seu livro.[40] Também os cristãos luteranos afirmam que a Igreja Luterana tem esse nome
em homenagem ao seu mais famoso líder, porém não acata todos os escritos teológicos de Lutero,
principalmente os escritos que atacam os judeus. Desde os anos 1980, alguns órgãos da Igreja Luterana

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10/09/2016 Martinho Lutero – Wikipédia, a enciclopédia livre

formalmente denunciaram e dissociaram­se dos escritos de Lutero sobre os judeus. Em novembro de 1998, no
60º aniversário de Kristallnacht, a Igreja Luterana da Baviera emitiu uma afirmação: "é imperativo para a
Igreja Luterana, que sabe que é endividada ao trabalho e a tradição de Martinho Lutero, de levar a sério
também as suas declarações anti­judaicas, reconhece a sua função teológica, e reflete nas suas conseqüências.
Temos que nos distanciar de cada [expressão de] antissemitismo na teologia Luterana."[41][42][43][44][45]

A guerra dos camponeses
A guerra dos camponeses (1524­1525) foi, de muitas maneiras, uma resposta aos discursos de Lutero e de
outros reformadores. Revoltas de camponeses já tinham existido em pequena escala em Flandres (1321­1323),
na França (1358), na Inglaterra (1381­1388), durante as guerras hussitas do século XV, e muitas outras até o
século XVIII. Mas muitos camponeses julgaram que os ataques verbais de Lutero à Igreja e sua hierarquia
significavam que os reformadores iriam igualmente apoiar um ataque armado à hierarquia social. Por causa dos
fortes laços entre a nobreza hereditária e os líderes da Igreja que Lutero condenava, isso não seria
surpreendente.

Já em 1522, enquanto Lutero estava em Wartburg, seu seguidor Thomas Münzer, comandou massas
camponesas contra a nobreza imperial, pois propunha uma sociedade sem diferenças entre ricos e pobres e sem
propriedade privada,[46] Lutero por sua vez defendia que a existência de "senhores e servos" era vontade
divina,[46] motivo pelo qual eles romperam.[47] Lutero, desde cedo, argumentou com a nobreza e os próprios
camponeses sobre uma possível revolta e também sobre Müntzer, classificando­o como um dos "profetas do
assassínio" e colocando­o como um dos mentores do movimento camponês. Lutero escreveu a "Terrível
História e Juízo de Deus sobre Tomas Müntzer", inaugurando essa linha de pensamento.

Na iminência da revolta (1524), Lutero escreveu a "Carta aos Príncipes da Saxônia sobre o Espírito
Revoltoso", mostrando a tirania dos nobres que oprimiam o povo e a loucura dos camponeses em reagir através
da força e a confiar em Müntzer como pregador. Houve pouca repercussão sobre esse escrito.

Ainda em 1524, Müntzer mudou­se para a cidade imperial de Mühlhausen, oferecendo­se como pregador.
Lutero escreveu a "Carta Aberta aos Burgomestres, Conselho e toda a Comunidade da Cidade de
Mühlhausen", com o propósito de alertar sobre as intenções de Müntzer. Também esse escrito não teve
repercussão, pois o conselho da cidade se limitou a pedir informações sobre Müntzer na cidade imperial de
Weimar.

O principal escrito dos camponeses eram os "Doze Artigos", onde suas reivindicações eram expostas. Neles
havia artigos de fundo teológico (direito de ouvir o Evangelho através de pregadores chamados por eles
próprios) e artigos que tratavam dos maus tratos (exploração nos impostos, etc.) impostos a eles pelos nobres.
Os artigos eram fundamentados com passagens bíblicas e dizia­se que se alguém pudesse provar pelas
Escrituras que aquelas reivindicações eram injustas, eles as abandonariam. Entre aqueles que se consideravam
dignos de fazer tal coisa estava o nome de Martinho Lutero.

De fato, Lutero escreveu sobre os "Doze artigos" em seu livro "Exortação à Paz: Resposta aos Doze artigos do
Campesinato da Suábia", de 1525. Nele, Lutero ataca os príncipes e senhores por cometerem injustiças contra
os camponeses e ataca os camponeses pela rebelião e desrespeito à autoridade.

Também esse escrito não teve repercussão e, durante uma viagem pela região da Turíngia, Lutero pôde
testemunhar as revoltas camponesas, o que o motivou a escrever o "Adendo: Contra as Hordas Salteadoras e
Assassinas dos Camponeses", onde disse: "Contras as hordas de camponeses (…), quem puder que bata, mate
ou fira, secreta ou abertamente, relembrando que não há nada mais peçonhento, prejudicial e demoníaco que
um rebelde".[46] Tratava­se de um apêndice de "Exortação à Paz …", mas que, rapidamente, tornou­se um livro
separado. O Adendo foi publicado quando a revolta camponesa já estava no final e os príncipes cometiam
atrocidades contra os camponeses derrotados, de modo que o escrito causou grande revolta da opinião pública
contra Lutero. Nele, Lutero encorajava os príncipes a castigarem os camponeses até mesmo com a morte.

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10/09/2016 Martinho Lutero – Wikipédia, a enciclopédia livre

Essa repercussão negativa obrigou Lutero a pregar um sermão no dia de pentecostes, em 1525, que se tornou o
livro "Posicionamento do Dr. Martinho Lutero Sobre o Livrinho Contra os Camponeses Assaltantes e
Assassinos", onde o reformador contesta os críticos e reafirma sua posição anterior.

Como ainda havia repercussão negativa, Lutero novamente se posicionou sobre a questão no seu "Carta Aberta
a Respeito do Rigoroso Livrinho Contra os Camponeses", onde lamenta e exorta contra a crueldade que estava
sendo praticada pelos príncipes, mas reafirma sua posição anterior.

Por fim, a pedido de um amigo, o cavaleiro Assa von Kram, Lutero redigiu "Acerca da Questão, Se Também
Militares Ocupam uma Função Bem­Aventurada", em 1526, com o propósito de esclarecer questões sobre
consciência do cristão em caso de guerra e sua função como militar.

A discordância com João Calvino
No movimento reformista (também chamado de Reforma), Lutero não
concordou com o "estilo" de reforma de João Calvino. Martinho Lutero
queria reformar a Igreja Católica,[48] enquanto João Calvino, acreditava
que a Igreja estava tão degenerada, que não havia como reformá­la.
Calvino se propunha a organizar uma nova Igreja que, na sua doutrina (e
também em alguns costumes), seria idêntica à Igreja Primitiva. Já
Lutero decidiu reformá­la, mas afastou­se desse objetivo, fundando,
então, o Protestantismo, que não seguia tradições, mas apenas a doutrina
registrada na Bíblia, e cujos usos e costumes não ficariam presos a
convenções ou épocas. A doutrina luterana está explicitada no "Livro de
Concórdia", e não muda, embora os costumes e formas variem de
acordo com a localidade e a época.

Falecimento
João Calvino (Retrato de Calvino
O ex­monge agostiniano Martinho Lutero teve morte natural, embora jovem, da coleção da Biblioteca de
não haja um consenso entre os seus biógrafos acerca da sua causa de Genebra)
morte. O historiador Frantz Funck­Brentano, por exemplo, escreveu em
sua obra "Martim Lutero":

"Os dois médicos, que o tinham tratado nos últimos momentos, não puderam chegar a um acordo sobre a causa
de sua morte, opinando um por um ataque de apoplexia, outro por uma angina pulmonar."[49]

A propósito, em 1521, por ocasião da Dieta de Worms (uma espécie de audiência imperial), foi publicado pelo
Imperador Carlos V o Edito de Worms, pelo qual qualquer pessoa, ao menos teoricamente, estaria livre para
matar Lutero sem correr o risco de sofrer qualquer sanção penal, já que, pelo referido Edito do Imperador,
Lutero foi banido do Império como um fora­da­lei. Por receio de que algo de mal pudesse acontecer a Lutero
durante viagem de regresso de Worms, Frederico III (ou Frederico, o Sábio), Príncipe­Eleitor da Saxônia,
ordenou que Lutero fosse capturado e levado para o Castelo de Wartburg, onde estaria a salvo.

Provavelmente, foi por causa desse risco de morte que Lutero passou a correr que seu amigo disse que
"tentaram matá­lo". Encontra­se sepultado na Igreja de Wittenberg em Wittenberg.[50]

Obras importantes
Foi o autor de uma das primeiras traduções da Bíblia para alemão, algo que não era permitido até então sem
especial autorização eclesiástica. Lutero, contudo, não foi o primeiro tradutor da Bíblia para alemão. Já havia
várias traduções mais antigas. A tradução de Lutero, no entanto, suplantou as anteriores porque foi uma forma

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10/09/2016 Martinho Lutero – Wikipédia, a enciclopédia livre

unificada do Hochdeutsch (dialetos alemães da região central e sul)
e foi amplamente divulgada em decorrência da sua difusão por
meio da imprensa, desenvolvida por Gutenberg, em 1453.

Lutero introduziu a palavra alleyn [51], [52] que não aparece no
texto grego original[53] no capítulo 3:28 da Epístola aos Romanos.
O que gerou controvérsia. Lutero justificou a manutenção do
advérbio como sendo uma necessidade idiomática do alemão como
por ser a intenção de Paulo[54].

As 95 Teses, de Lutero O latim, língua do extinto Império Romano, permanecia a lingua
franca européia, imediatamente conotada com o passado romano
unificado, sendo também a língua da Vulgata traduzida por São
Jerônimo no século V, tal como tinham sido transmitidos às províncias do Império. Por mais longínquas que
fossem, nos menos de cem anos que separam a oficialização da religião cristã pelo Imperador Romano
Teodósio I em 380 d.C. e a deposição do último imperador de Roma pelo Germânico Odoacro, em 476 d.C.
(data avançada por Edward Gibbon e convencionalmente aceita como ano da queda do Império Romano do
Ocidente), toda a região do antigo Império, ao longo dos seguintes 500 anos, e de forma mais ou menos
homogênea, se cristianizou. O fim da perseguição à religião cristã pelo império romano se deu em 313 d.C. com
o [Édito de Milão]].

No entanto, o domínio do latim era, no século XVI, no fim da Idade Média (terminada oficialmente em 1453,
com a tomada de Constantinopla pelos Otomanos) e princípio da chamada Idade Moderna, apenas o privilégio
de uma percentagem ínfima de população instruída, entre os quais os elementos da própria Igreja. A tradução
de Lutero para o alemão foi simultaneamente um ato de desobediência e um pilar da sistematização do que viria
a ser a língua alemã, até aí vista como uma língua inferior, dos servos e ignorantes. É preciso adicionar que
Lutero não se opunha ao latim, e chegou mesmo a publicar uma edição revisada da tradução latina da Bíblia
(Vulgata). Lutero escrevia tanto em latim como em alemão. A tradução da Bíblia para o alemão não significou,
portanto, rejeição do latim como língua acadêmica.

Foi também autor da polêmica obra "Sobre os judeus e suas mentiras" (Von den Juden und ihren Lügen). Pouco
conhecida, mas muito apreciada pelo próprio Lutero, foi sua resposta a "Diatribe" de Erasmo de Roterdã
intitulada De servo arbitrio (Título da publicação em português: Da vontade cativa).

Martinho Lutero defendia o princípio da mortalidade da alma contrastando com a crença de João Calvino, que
chamou à crença de Lutero "sono da alma".

Reabilitação de Lutero?
Segundo a Revista editada em conjunto pela Igreja Evangélica Metodista Portuguesa e a Igreja Evangélica
Presbiteriana de Portugal, Portugal Evangélico, em sua edição nº 932[55], de 2008, o Papa Bento XVI, poderia
vir a reabilitar Lutero. Segundo o texto, "Vozes autorizadas do Vaticano adiantavam que o Papa reabilitaria
Martinho Lutero argumentando que nunca teria sido sua intenção dividir a Igreja mas sim lutar contra os abusos
e práticas de corrupção da mesma". E complementa dizendo que "O Cardeal Walter Kasper, Presidente do
Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, antecipava que estas declarações dariam nova
coragem ao diálogo ecuménico e contradiriam, até certo ponto, as afirmações feitas em Julho do ano anterior
denegrindo a fé, a ortodoxa e protestante, ao não considerar estes dois ramos do cristianismo como verdadeiras
Igrejas". Porém, nesse mesmo ano, o site Agência Ecclesia, agência de notícias da Igreja Católica em Portugal,
desmentiu essa notícia citando uma declaração do diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, padre Federico
Lombardi dada ao jornal britânico Financial Times.[56] Segundo o religioso, essa afirmação “não tem nenhum
fundamento” e que o termo “reabilitação” nunca seria o correto neste caso. Depois dessas notícias não houve
mais informações até o momento sobre uma possível reabilitação de Lutero pela Igreja Católica.

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Declaração conjunta sobre a doutrina da Justificação pela Fé
Em 31 de outubro de 1999, foi assinada uma Declaração Conjunta Sobre a Doutrina da Justificação pela
Fé[57], redigida e aprovada pela Federação Luterana Mundial e pela Igreja Católica Apostólica Romana. O
preâmbulo do documento diz que a declaração "quer mostrar que, com base no diálogo, as Igrejas luteranas
signatárias e a Igreja católica romana estão agora em condições de articular uma compreensão comum de
nossa justificação pela graça de Deus na fé em Cristo. Esta Declaração Comum (DC) não contém tudo o que é
ensinado sobre justificação em cada uma das Igrejas, mas abarca um consenso em verdades básicas da
doutrina da justificação e mostra que os desdobramentos distintos ainda existentes não constituem mais motivo
de condenações doutrinais". A declaração pode ser resumida neste trecho: "Confessamos juntos que o pecador
é justificado pela fé na acção salvífica de Deus em Cristo; essa salvação lhe é presenteada pelo Espírito Santo
no baptismo como fundamento de toda a sua vida cristã. Na fé justificadora o ser humano confia na promessa
graciosa de Deus; nessa fé estão compreendidos a esperança em Deus e o amor a Ele".[58]

Ver também
95 teses
Protestantismo
Luteranismo
Anglicanismo
Selo de Lutero
João Calvino
Reforma Protestante
Século XVI
Protestantes por país
Museu Internacional da Reforma Protestante de Genebra
"Castelo Forte é o Nosso Deus", hino composto por Lutero
Catecismo Maior
Catecismo Menor
Cristianismo não­denominacional

Referências
to Luther. Cambridge University Press, 2003.
1. Ewald M. Plass, What Luther Says, 3 vols., (St. 4. Schwiebert, p. 128.
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1944), 23. Life of Martin Luther (New American Library, 1950),
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www.luthersem.edu/word&world/Archives/3­4_Luthe 9. Philip Schaff, History of the Christian Church
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statements by National Socialists, Luther's anti­ 10. Optime facit papa, quod non potestate clavis (quam
semitic outbursts are now unmentionable, though they nullam habet) sed per modum suffragii dat animabus
were already repulsive in the sixteenth century. As a remissionem. (Tese 26)
result, Luther has become as controversial in the 11. Exsurge Domine Este ponto da doutrina luterana fica
twentieth century as he was in the sixteenth." Also see clara na refutação feita pelo Papa Leão X na sua bula
Hillerbrand, Hans. "The legacy of Martin Luther" (htt (http://www.papalencyclicals.net/Leo10/l10exdom.ht
p://cco.cambridge.org/extract?id=ccol0521816483_CC m) Papal Encyclicals
OL0521816483A018), in Hillerbrand, Hans & 12. Martinho Lutero, An Open Letter to The Christian
McKim, Donald K. (eds.) The Cambridge Companion Nobility of the German Nation Concerning the
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10/09/2016 Martinho Lutero – Wikipédia, a enciclopédia livre

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Ligações externas
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Obras de Martin Luther (http://www.zeno.org/Literatur/M/Luther,+Martin) (em alemão)
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Lutero segundo Eric Voegelin (http://pwp.netcabo.pt/netmendo/SHIP%203%20martinho_lutero.htm) (em
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Martinho Lutero ­ O autor do conceito de educação útil ­ Revista Nova Escola (http://revistaescola.abril.c
om.br/historia/pratica­pedagogica/autor­conceito­educacao­util­423139.shtml) (em português)

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