Você está na página 1de 1

06/02/2016 02:07

Acho que a maneira mais vívida para a descrever hoje é lembrar como
se tudo fosse parte de um dia de sua vida.
Talvez ela acorde de um sono repleto de lembranças, memórias que
ainda teimavam em pulsar no subconsciente. Mesmo sabendo o que verá ela
ainda se vira e olha para o lado da cama, apenas para encarar o espaço vago.
O movimento de despertar é leve e sem pressa, mas calculado o suficiente para
não passar o olhar pelo porta-retratos virado para baixo sobre o criado. O banho
se prolonga pelo tempo necessário, assim como o desenvolver à frente do
espelho. Ela se vê bonita, porém as vezes não acredita que os demais assim a
veem. Mas toda sua preparação, agora, é apenas para ela mesma. Assim que
está satisfeita ela sai e enfrenta o mundo além de sua porta.
A rua e sua gente as vezes parecem apenas tolerar sua existência, ao
invés de contemplá-la e a reconhecer. As pessoas passam por ela, sempre mais
preocupadas com o destino do que com o que deixam. Por mais que o exemplo
a leve a se adaptar ao ritmo acelerado ela ainda mantém um certo jeito leve, no
seu modo mais normal. Algumas das pessoas talvez a lembrem de outras
estações mais férteis, repletas de frondosos desejos. Outras talvez a levem para
um tempo anterior, para o outro mundo de onde veio. Mas, ao mesmo tempo,
aquelas que emanam anseios mesquinhos e sonhos futilmente desvairados ela
divisa ao longe e sabe muito bem como evitar.
À noite, ela sabe bem como se divertir, assim como fazer enxergar que
ela é dona da diversão. Conhece o momento em que seu brilho é aceito e sabe
como o aproveitar, mas também sabe a medida limite dos ao seu redor. Mas não
se abala com os discursos anacrônicos e muito menos com a sociedade hipócrita
que a julga, apenas por ser alguém que sabe de fato quem é. Uma sociedade
que apaga as próprias conquistas, decepa seus membros e renega seus mortos.
Mais uma vez na rua ela agora passa pelas pessoas que se enfileiram
como porções da realidade que surge ao seu redor. O espetáculo nem sempre
é prazeroso. Mas ela não é ali que ela pretende parar.
O caminho continua, mas ainda sem a necessidade de definir a
orientação.

Você também pode gostar