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15 a 20 de julho de 2007

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XXIV SIMPOSIO NA(~IONAL DE

História c 1\[ultidisC'iplinaridadc: Iprrilórios r dpslotHmrntos

CADERNO DE RESUMOS

UNISINOS - São Leopoldo - RS

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2007
©ANPUH - Associação Nacional de História
Av. Prof. Lineu Prestes, 338
Térreo do prédio de História e Geografia
Caixa Postal:8105
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Organização e revisão:
Ana Paula Korndõrfer
Haike Roselane Kleber da Silva
Marcus Vinicius Beber
Marluza Marques Harres

Capa: Flávio Wild

Imagem da capa: Estrada de ferro de paranaguá a Curitiba, Viaduto do Conselheiro Sinimbu (Paranál
Brasil) 1879. Autor: Marc Ferrez. Imagem retirada de www.dominiopublico.gov.br

Arte-finalização: Jair de Oliveira Carlos

Impressão: Con-Texto Gráfica e Editora

Editora Oikos Ltda. ANPUH - Associação Nacional de História


Rua Paraná, 240 - B. Scharlau Seção Rio Grande do Sul
Caixa Postal 1081 Caixa Postal 1795
93121-970 São Leopoldo/RS 90001-970 Porto Alegre/RS
Tel.: (51) 3568.2848/8114.9642 anpuhrs@ufrgs.br
www.oikoseditora.com.br
contato@oikoseditora.com.br

Observação: A adequação técnico-linguística dos textos é de responsabilidade dos autores.

S612h Simpósio Internacional de História (24 : 2007 : São Leopoldo, RS)


História e multidisciplinaridade : territórios e deslocamentos: Caderno de Resu-
mos [do] 24° Simpósio Internacional de História, São Leopoldo, RS, 15 a 20 de julho de
20071 organizado por Haike Roselane Kleber da Silva ... [et al.]. - São Leopoldo: Oikos,
2007.
640 p.
ISBN 978-85-89732-75-8
1. História - Multidisciplinaridade. 2. Educação histórica. 3. História - Cultura -
Sociedade. 4. Perfil do Historiador. 5. Historiografia. I. Título. 11. Associação Nacional de
História.
CDU 930:061.3
Catalogação na Publicação:
Bibliotecária Eliete Mari Doncato Brasil- CRB 10/1184
COMISSÃO ORGANIZADORA

Diretoria Nacional- ANPUH Frederico Alexandre Hecker (UNESP/Assis)


Eni de Mesquita Samara (USP) - Presidente - 10 Secretário
Flávio M. Heinz (UNISINOS) - Vice-Presidente Ana Maria Monteiro (UFRJ) - 20 Secretário
Manoel Luiz Salgado Guimarães (UFRJ-UERJ) - Antônio Carlos Amador Gil (UFES) - 10 Tesoureiro
Secretário-Geral Almir Bueno (UFRN) - 20 Tesoureiro

Comissão Organizadora Local

Benito Schmidt (UFRGS) Anderson Vargas (UFRGS)


Elisabete Leal (CNPq/UFRGS) Sandra Careli (FAPA)
Haike K. da Silva (CNPq/UNISINOS) Helder G. Silveíra (PUCRS)
Cláudio de Sá Machado Jr. (PUCRS) Sirlei Gedoz (UNISINOS)
Marluza M. Harres (UNISINOS) Véra Barroso (FAPA)
Silvia Rita de Moraes Vieira (Arquivo Histórico do Marcus Vinicius Beber (UNISINOS)
Município de Porto Alegre) Cláudio Pereira Elmir (UNISINOS)
Flávio M. Heinz (UNISINOS) Maria Cristina Bohn Martins (UNISINOS)
Temístocles César (UFRGS)

Comissão Científica

Adalberto Paranhos Carlos de Almeida Prado Bacellar


Alexandre Fortes Carlos Henrique de Carvalho
Ana Luiza Setti Reckziegel Carlos Xavier de Azevedo Netto
Ana Maria Colling Carmen Theresa Gabriel Anhorn
Ana Maria Ferreira da Costa Monteiro Charles Monteiro
Ana Paula Vosne Martins Claudia Musa Fay
Ana Silvia Volpi Seott Cristina Scheibe Wolff
Ana Teresa Marques Gonçalves Dilene Raimundo do Nascimento
Andréia Cristina Lopes Frazão da Silva Durval Muniz de Albuquerque Júnior
Ângela Porto Douglas Cole Libby
Anny Jackeline Torres Silveira Eduardo França Paiva
Antonia Aparecida Quintão dos Santos Cezerilo Eduardo Scheidt
António Costa Pinto Eduardo Victorio Morettin
Antônio Edmilson Martins Rodrigues Eliane Cristina Deckmann Fleck
Antônio Herculano Lopes Elizabeth Cancelli
Antônio Manoel Elíbio Júnior Esmeralda Blanco B. de Moura
Antônio Pedro Tota Estevão de Rezende Martins
Antonio Torres Montenegro Eurelino Teixeira Coelho Neto
Arlette Medeiros Gasparello Evangelia Aravanis
Arnaldo Daraya Contier Fernando Antonio Faria
Arno Wehling Fernando Torres-Londorio
Artur César Isaia Francisco Alcides do Nascimento
Beatriz Ana Loner Francisco Carlos Teixeira da Silva
Beatriz Kushnir Frederico Alexandre Hecker
Bruno Feitler Gilmar Arruda
Giselda Brito Silva Marco Aurélio Santana
Giselle Martins Venâncio Marco Antonio Neves Soares
Gizlene Neder Marco Antonio V. Pamplona
Gladys Sabina Ribeiro Marcos Antonio da Silva
Haruf Salmen Espindola Marcos César Alvarez
Helder Volmar Gordim da Silveira Marcos Luiz Bretas
Helen Osório Margarida Maria Dias de Oliveira
Helenice Ciampi Ribeiro Fester Marilene Rosa Nogueira da Silva
Heloisa Jochims Reichel Maria Auxiliadora Schmidt
Henrique Alonso de Albuquerque Rodrigues Pereira Maria Beatriz Nader
Iara Lis Franco Schiavinatto Maria Carolina Bovério Galzerani
Icléia Thiesen Maria Cecilia Velasco e Cruz
Iranilson Buriti Maria Clara Machado
Ivan da Costa Marques Maria Cristina Volpi Nacif
Janete Ruiz de Macedo Maria de Fátima Sabino Dias
João Luis Ribeiro Fragoso Maria de Fátima Silva Gouvêa
John Manuel Monteiro Maria de Lourdes Mônaco Janotti
Jorge Eremites de Oliveira Maria Izilda Santos de Matos
Jorge Luiz Bezerra Nóvoa Maria Regina Celestino de Almeida
Joseli Maria Nunes Mendonça Marieta de Moraes Ferreira
Josianne Francia Cerasoli Marilda lonta
Juçara Luzia Leite Marina Gusmão de Mendonça
Júnia Sales Pereira Marion Brepohl de Magalhães
Kalina Vanderlei Paiva da Silva Marisa Saenz Leme
Karl Martin Monsma Marisa Varanda Teixeira Carpintéro
Kátia Rodrigues Paranhos Mariza de Carvalho Soares
Katia Maria Abud Marlene Rosa Cainelli
Kazumi Munakata Marta de Almeida
Keila Grinberg Miriam de Souza Rossini
Lana Lage da Gama Lima Nelson Schapochnik
Lana Mara de Castro Siman Néri de Barros Almeida
Lená Medeiros de Menezes Nilton Mullet Pereira
Lidia M. Vianna Possas Paulo César Possam ai
Lorelai Brilhante Kury Paulo Knauss
Lúcia Maria P. Guimarães Pedro S. Pereira Caldas
Luciano Aronne de Abreu Philomena Gebran
Luciano Raposo de Figueiredo Rachei Soihet
Luciene Lehmkuhl Ricardo Virgilino da Silva
Lucilia de Almeida Neves Delgado Ronald Jose Raminelli
Luis Fernando Cerri Regina Beatriz Guimarães Neto
Luiz Antônio da Silva Teixeira Rejane Barreto Jardim
Luiz Carlos Ribeiro Renilda Barreto
Luiz Felipe Falcão Rosangela Patriota
Luzia Margareth Rago Sandra Jatahy Pesavento
Manoel Luis Salgado Guimarães Sheila Schvarzman
Mara Rúbia Sant'Anna Silvia Helena Zanirato
Marcelo Cândido da Silva Sandra de Cássia Pelegrini
Márcia Maria Menendes Motta Sidnei José Munhoz
Silvia Maria Fávero Arend Théo Lobarinhas Pifieiro
Sirlei Teresinha Gedoz Tiago Losso
Solange Ramos de Andrade Vera Lucia Amaral Ferlini
Sonia Regina de Mendonça Vera Regina Martins Coliaço
Suely Creusa Cordeiro de Almeida Victor Andrade de Melo
Sylvia Ewel Lenz Virgínía Maria Gomes de Matos Fontes
Tânia da Costa Garcia Wenceslau Gonçalves Neto

Secretaria

Haike Roselane Kleber da Silva


Paula Tanure
Ana Paula Korndôrfer

Informática

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REALIZAÇÃO

ANPUH - Direção Nacional


ANPUH- RS
Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS
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PATROcíNIO

Universidade Federal do Rio Grande do Sul- UFRGS - IFCH/PPGH


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APOIO

Universidade de Caxias do Sul - UCS


Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul- PUCRS
Prefeitura Municipal de Porto Alegre - Coord. da Memória
Faculdades Porto-Alegrenses - FAPA
Centro Universitário FEEVALE
SUMÁRIO
1. A Educação e a formação da sociedade brasileira
Coords: Wenceslau Gonçalves Neto e Carlos Henrique de CaNalho...................................................................... 11

2. A Época Moderna: cultura, sociedade, economia pública e pensamento político


Coords: Sylvia Ewel Lenz e Antonio Edmilson Martins Rodrigues ........................................................................... 19

3. A História Cultural e suas Interfaces: Literatura e Artes


Coords: Sandra Jatahy Pesa vento e Antonio Herculano Lopes ............................................................................... 26

4. A História e as múltiplas faces da Arte


Coord: Elisabete Leal................................................................................................................................................ 35

5. A Multidisciplinaridade no Estudo das Sociedades da Antigüidade: Pesquisas, Territórios e Deslocamentos


Coord: Ana Teresa Marques Gonçalves ................................................................................................................... 38

6. A saúde e a doença como objetos da História


Coords: Dilene Raimundo do Nascimento e Anny Jackeline Torres Silveira ............................................................ 46

7. Brasil, Estados Unidos e América Latina: aproximações, conflitos e distanciamentos


Coords: Henrique Alonso de Albuquerque Rodrigues Pereira e Antonio Pedro Tota ................................................ 54

8. Caminhadas pela Cidade: apropriações históricas de experiências urbanas


Coords: Francisco Alcides do Nascimento e Luiz Felipe Falcão .............................................................................. 60

9. Cidade, História e Interdisciplinaridade


Coords: Josianne Francia Cerasoli e Marisa Varanda Teixeira Carpintéro............................................................... 70

10. Ciências Biomédicas, Saúde e Enfermidades em perspectiva histórica


Coords: Luiz Antonio da Silva Teixeira e Marta de Almeida ...................................................................................... 79

11. Cinema-História: teoria e empiricidades numa perspectiva transdisciplinar (imagens e audiovisuais


nas suas transversalidades)
Coords: Miriam de Souza Rossini e Jorge Luiz Beze"a Nóvoa .............................................................................., 88

12. Cultura e Cidade: experiências, memórias, e identidades


Coords: Claudia Musa Faye Maria Izilda Santos de Matos ..................................................................................... 96

13. Diferenças e desigualdades sociais


Coords: Eduardo Scheidt e Marilene Rosa Nogueira da Silva ................................................................................. 104

14. Dimensões e dinâmicas da conquista e da evangelização na América: séculos XVI a XIX


Coords: Femando To"es-Londono e Eliane Cristina Deckmann Fleck .......................................... ,......................... 113

15. Dinâmica Imperial no Antigo Regime Português .


Coords: João Luís Ribeiro Fragoso e Maria de Fátima Silva Gouvêa ...................................................................... 120

16. Educação Histórica


Coords: Maria Auxiliadora Schmidt e Katia Maria Abud ............................................................................................ 129

17. Enfoques multidisciplinares sobre normatização das condutas (séculos V-XVI)


Coords: Marcelo Cândido da Silva e Néri de Ba"os Almeida .................................................................................. 135
18. Ensino de História: currículo, culturas e linguagens
Coords: Ana Maria Ferreira da Costa Monteiro e Carmen Teresa Gabriel Anhom ................................................... 140

19. Escravidão: sociedades, culturas, economia e trabalho


Coords: Eduardo França Paiva e Douglas Cole Libby ............................................................................................. 145

20. Estado e Politicas Públicas no Brasil: Séculos XIX e XX


Coords: Théo Lobarinhas Piiieiro e Sonia Regina de Mendonça ............................................................................. 154

21. Foucault, mutações do olhar


Coords: Luzia Margareth Rago e Marilda lonta ........................................................................................................ 164

22. Gênero, Memória e Ditadura na América Latina


Coords: Cristina Scheibe Wolff e Ana Maria Colling ................................................................................................. 172

23. Gênero, Poder e Representações Sociais


Coords: RacheI Soihet e Lidia M. Vianna Possas .................................................................................................... 180

24. GT - Mundos do Trabalho: Cultura, Cotidiano e Identidades


Coords: Alexandre Fortes e Evangelia Aravanis ............................ ...................... ................................................ ..... 190

25. História & Música Popular


Coords: Tânia da Costa Garcia e Adalberto Paranhos ............................................................................................. 200

26. História &Teatro


Coords: Kátia Rodrigues Paranhos e Vera Regina Marfins Col/aço ...... ................................................................... 207

27. História agrária: estruturas, paisagens, direitos e conflitos


Coords: Helen Osório e Márcia Maria Menendes Motta ........................................................................................... 214

28. História das Instituições Militares e do Pensamento Estratégico


Coords: Francisco Carlos Teixeira da Silva e Sidnei José Munhoz .... ............................ .................... .............. ........ 223

29. História do Crime e da Justiça Criminal


Coord: Marcos Luiz Bretas ....................................................................................................................................... 230

30. História do Ensino de História


Coords: Ar/ette Medeiros Gasparel/o e Kazumi Munakata .......................... " ............ " ........................................ "". 238

31. História do Esporte e das Práticas Corporais


Coords: Luiz Carlos Ribeiro e Victor Andrade de Melo .................. "" .... " ................................................................. 246

32. História do Tempo Presente e Memória


Coords: Lucilia de Almeida Neves Delgado e Marieta de Moraes Ferreira .... " ........................................................ 254

33. História e ações educativas em variados ambientes: novos territórios a serem explorados
Coords: Lana Mara de Castro Siman e Júnia Sales Pereira .............................................................................." .... 263

34. História e alteridade


Coords: Marion Brepohl de Magalhães e Elizabeth Cancel/i .............. " .... " .......................................... " .................. 268

35. História e Comunicação: Mídias, Intelectuais e Participação


Coord: Beatriz Kushnir ................................................................................... " ......................................................... 274

36. História e Historiografia: teoria e prática contemporâneas


Coords: Estevão de Rezende Martins e Pedro Spinola Pereira Caldas ................................................................... 281

37. História e Linguagens: território multidisciplinar da pesquisa histórica


Coords: Rosangela Patriota e Amaldo Daraya Contier .................... " .................... " ...... " .... " .................... " .... " ....... 288
38. História e Teoria Social
Coords: Karl Martin Monsma e Marcos César Alvarez ............................................................................................. 297

39. História Indigena e Interdisciplinaridade


Coords: Jorge Eremites de Oliveira e Carlos Xavier de Azevedo Nefto ................................................................... 307

40.História Politica: pensamento e interpretação


Coords: Tiago Losso e Ricardo Silva ........................................................................................................................ 314

41. História, Ensino de História: memórias, saberes e práticas


Coords: Helenice Ciampi Ribeiro Fester e Maria Carolina Bovério Galzerani ...... .................................................... 322

42. História, Imagem e Cultura Visual


Coords: Charles Monteiro e Iara Lis Franco Schiavinafto ........................................................................................ 330

43. História, Memória e Narrativa


Coords: Antonio Torres Montenegro e Regina Beatriz Guimarães Neto ................................................................... 339

44. História, Multidisciplinaridade e Patrimônio Cultural


Coord: Janete Ruiz de Macedo ................................................................................................................................ 348

45. História, Natureza e Território


Coords: Haruf Salmen Espíndola e Gilmar Arruda ................................................................................................... 355

46. História-Ciência-Tecnologia-Sociedade
Coords: Ivan da Costa Marques e Lorelai Brilhante Kury ......................................................................................... 363

47. Histórias transatlânticas: africanos e descendentes


Çoords: Marina Gusmão de Mendonça, Antonia Aparecida Quintão dos Santos Cezerilo,
Angela Porto e Mariza de Carvalho Soares .............................................................................................................. 371

48, Historiografia e Escrita da História: multidisciplinaridade


Coords: Durval Muniz de Albuquerque Júnior e Manoel Luís Salgado Guimarães .................................................. 379

49. Idéias, intelectuais e instituições: História e multidisciplinaridade


Coord: Femando Antonio Faria................................................................................................................................. 388

50. Identidade e integração das Américas


Coords: Philomena Gebran e Heloisa Jochims Reichel ........................................................................................... 396

51. Igreja, Sociedade e Poder na Idade Média


Coords: Andréia Cristina Lopes Frazão da Silva e Rejane Barreto Jardim .............................................................. 402

52. Imagens de Arte: fronteiras disciplinares entre história da imagem e história da arte
Coords: Luciene Lehmkuhl e Paulo Knauss ............................................................................................................. 410

53. Império e Colonização: economia e sociedade na América Portuguesa


Coord: Vera Lucia Amaral Ferlini .............................................................................................................................. 418

54. Infância e juventude na História do Brasil: abordagens e perspectivas


Coords: Esmeralda Blanco B. de Moura e Silvia Maria FáveroArend ...................................................................... 428

55. Instituições, Poder e Justiça


Coords: Gizlene Neder e Amo Wehling .................................................................................................................... 434

56. Integralismo, nacional-sindicalismo e nazi-fascismo


Coords: Giselda Brito Silva e António Costa Pinto ................................................................................................... 442

57. Leis para o trabalho


Coords: Joseli Maria Nunes Mendonça e Keila Grinberg ......................................................................................... 448
58. Livros, leitores e leituras, séculos XVIII ao XX
Coords: Nelson Schapochnik e Gisel/e Martins Venâncio ........................................................................................ 454

59. Marxismo e multidisciplinaridade: o desafio da totalidade. Ciência, trabalho, cultura e poder


Coords: Virgínia Maria Gomes de Matos Fontes e Eurelino Teixeira Coelho Neto .................................................. 463

60. Minha Terra, Minhas Terras: Imigração, Memória e História


Coords: Frederico Alexandre Hecker e Lená Medeiros de Menezes ........................................................................ 473

61. Mundos do Trabalho: as fronteiras entre as diferentes formas de coerção e os diversos caminhos da liberdade
Coords: Beatriz Ana Loner e Maria Cecília Velasco e Cruz ...................................................................................... 482

62. Nação e cidadania no Oitocentos


Coords: Gladys Sabina Ribeiro e Lucia Maria Paschoal Guimarães ........................................................................ 490

63. O ensino de história e os desafios do tempo presente


Coords: Nilton Mul/et Pereira e Sirlei Teresinha Gedoz ............................................................................................ 499

64. O ensino de História nas Américas


Coords: Luis Fernando Ce"i e Maria de Fátima Sabino Dias .................................................... .............................. 508

65. O estatuto do cinema e da televisão na pesquisa histórica: documento, memória, representação


e interdisciplinaridade
Coord: Eduardo Victorio Morettin .............................................................................................................................. 513

66. Os [ndios na História: Fontes e Problemas


Coords: John Manuel Monteiro e Maria Regina Celestino de Almeida ..................................................................... 519

67. Patrimônio, cultura e identidade


Coords: Si/via Helena Zanirato, Sandra de Cássia Pelegrini, Mara Rúbia Sant'Anna e Maria Cristina Volpi Nacif. 529

68. Política, Imprensa e Cultura


Coords: Marisa Saenz Leme e Maria de Lourdes Monaco Janotti ........................................................................... 538

69. População, família e migração: os desafios da multidisciplinaridade


Coords: Ana Silvia Volpi Scott e Carlos de Almeida Prado Bacel/ar ......................................................................... 548

70. Raízes do Privilégio


Coords: Ronald Jose Raminelli e Bruno Feitler ........................................................................................................ 555

71. Relações Intemacionais: História e Historiografia


Coords: Helder Volmar Gordim da Silveira e Ana Luiza Setti Reckziegel .............................. :................................. 560
72. Religiões, Religiosidades e Identidades
Coords: Marco Antonio Neves Soares e Solange Ramos de Andrade ..................................................................... 568
73. Religiosidades e narrativas: entre o sagrado e o profano
Coords: Artur Cesar Isaia e Maria Clara Tomaz Machado ........................................................................................ 578
74. Revoltas e insurreições no Brasil do séc. XVII ao XIX
Coords: Marco Antonio V Pamplona e Luciano Raposo de A. Figueiredo............................................................... 587
75. Tempo, Narrativa e Invenções de Si: (re)pensando as pesquisas biográficas
Coords: Iranilson Buriti e Juçara Luzia Leite ............................................................................................................ 592
76. Territorialidades da memória: espaços, identidades e conflitos sociais
Coords: Ic/éia Thiesen e Marco Aurélio Santana...................................................................................................... 600

Indice Remissivo ....................................................................................................................................................... 611


1. A Educação e a formação da sociedade brasileira
Wenceslau Gonçalves Neto (UFU) e Carlos Henrique de Carvalho (UFU) CD
116/07 - Segunda-feira -Tarde (14h ás 18h) I
Wenceslau Gonçalves Neto - UFU
"Brasileiros" na escolarização de Portugal na segunda metade do século XIX .g
O recorte temporal refere-se ao momento em que o Estado português faz sentir sua preocupação com a instrução, na -g
seqüência das reformas liberais da década de 1840, realçando-se a da educação, de 1844. Foram utilizadas documenta- 'g
ções da Torre do Tombo e do Arquivo Municipal de Mafra. Conjugou-se o levantamento de um conjunto de iniciativas de :
particulares para a criação de escolas, debatidas pelas autoridades locais e central, com a historiografia da educação ~
portuguesa do século XIX. Percebe-se que o Estado não tinha condições de promover eficazmente a difusão da instrução .~.
elementar, implantando um sistema educacional como os que foram implementados em diversos países europeus. Uma §
alavanca poderosa para secundar os esforços do Estado e municípios foi a ação de indivíduos que se propuseram criar, .8
mobiliar e até manter o funcionamento de escolas. São cidadãos que pretendem deixar sua marca no desenvolvimento do
município e, ao mesmo tempo, amealhar reconhecimento social. Um grupo importante desses beneméritos é constituído o
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por emigrados que fizeram fortuna no Brasil - daí o codinome "brasileiros' -, que pretendem reverter parte do lucro u·
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pessoal em prol da comunidade de origem, em particular no cuidado da infância, por meio da criação de escolas. :::>
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Fátima Machado Chaves - Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro
A escola não vive só com professor
A ampliação das análises, a renovação das fontes e novos olhares no campo da pesquisa em história da educação
possibilitam incluir a investigação de sujeitos que 'vivem' a escola, mas penmaneceram invisíveis como é o caso dos
funcionários administrativos nas unidades escolares da cidade do Rio de Janeiro. Comparamos três momentos dessa
história, através da Reforma Educacional de Fernando de Azevedo, no Distrito Federal em 1927 e 1928; a legislação do
Estado da Guanabara, na década de 1960 e, nos anos compreendidos entre 1996 e 2002, os atos legais dos prefeitos da
cidade do Rio de Janeiro, acrescidos de nossas pesquisas de campo em unidades escolares situadas em diferentes
regiões sócio-geográficas cariocas com depoimentos sobre as experiências de merendeiras e serventes. A história da
educação praticamente ignora os funcionários, sujeitos educativos no cotidiano escolar, em geral, mulheres, pobres e
negras, talvez pelo desconhecimento da importância educativa de suas atividades, consideradas subaltemas, femininas
e 'domésticas'. Todavia, em suas atividades educativas, configuram-se como o 'cenário invisível' da cultura escolar,
porquanto a 'escola não vive só com o professor'.

Ana Cristina Pereira lage - UFMG


As diferenças sociais e a divisão do trabalho presentes no ensino feminino do Colégio Nossa Senhora de Sion de
Campanha (MG)
Pretende-se levantar alguns pontos discutidos acerca da instalação do Colégio Nossa Senhora de Sion na cidade de
Campanha, MG. O referido Colégio (1904-1965), mantido pela congregação francesa de Nossa Senhora de Sion, foi
responsável por educar meninas da elite sul-mineira (meninas de Sion), como também meninas pobres da região (deno-
minadas martinhas). Otratamento para as alunas era diferenciado: preparava as primeiras para exercer papéis de lideran-
ça familiar, como também para o ensino e, as meninas pobres, para o trabalho doméstico. Através do levantamento de
fontes toma-se possivel apreender questões no universo sionense presentes no discurso político (republicano) e religioso
(ultramontano) do momento. Partindo das discussões mais recentes no campo da História da Educação, fazendo uma
análise do particular, das especificidades, mas sem perder de vista o geral, pretende-se então compreender as relações
de ensino, de dominação e de divisão do trabalho presentes no referido Colégio.

Norberto Dallabrida e Marcos Roberto Martins - UDESC


Co-educação e desigualdades de gênero no Ginásio Barão de Antonina (1937-1945)
Durante a 'Era Vargas', existiam oito estabelecimentos de ensino secundário em Santa Catarina, sendo quatro exclusiva-
mente masculinos, um direcionado somente para moças e três praticavam a co-educação. Um dos educandários que
admitia rapazes e moças foi o Ginásio Barâo de Antonina, criado em 1937, em Mafra, e administrado pela Associação
Mafrense de Ensino. Este trabalho procura compreender a co-educação e seus limites no Ginásio Barão de Antonina,
entre a sua fundação e o fim do Estado Novo. Nesse momento histórico, o ensino secundário era, grosso modo, direciona-
do para os adolescentes homens, que se preparavam e se habilitavam para o ingresso nos cursos superiores. O Ginásio
Barão de Antonina, além de ter uma perspectiva laica, foi modemo na medida em que penmitia a inserção de mulheres no
seu curso secundário. No entanto, verificam-se desigualdades de gênero nas suas práticas educativas, pois a sua cultura
escolar era masculinista. Essas desigualdades podem ser percebidas no privilégio do regime de internato, exclusivo para
os rapazes, e em 'disciplinas-saber' como Educação Física, ministrada de fonma separada, e Trabalhos Manuais, em que
os alunos trabalhavam na oficina de marcenaria, enquanto as alunas aprendiam bordados e boas maneiras.

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Aparecida Maria Almeida Barros - UFSCAR
A Reforma Educacional da Oligarquia e a Missão Pedagógica Paulista: Os Registros do Jornal "Correio Official
de Goyaz" nos Anos de 1930
Estudos e pesquisas sobre a Reforma do Ensino de 1930 em Goiás, vêm desvelando o jogo político da Oligarquia
dominante em promover mudanças no ensino Primário e no curso Normal, com o apoio de intelectuais de uma Missão
Pedagógica Paulista. Constituiu no empenho de uma modernização conservadora, ern consonância com os interesses
das classes no poder, recorrendo a SP que servia de referência para o Brasil no tocante às Reformas Educacionais. A
reforma teve o mérito de introduzir em Goiás o ideário pedagógico de inspiração escolanovista, de reordenar a organiza-
ção do ensino primário, bem como, de lançar bases para as mudanças ocorridas ao longo da década, através de medidas
como construção de grupos escolares, qualificação de normalistas, aquisição de mobiliário e instrumentos requeridos
pela 'moderna pedagogia'; a criação do Jardim da Infância, a inclusão dos trabalhos manuais como componente curricular
obrigatório. Tomado como fonte documental o 'Jornal Correio Official de Goyaz', na condição de imprensa oficial do
estado, despontou na divulgação, por excelência, de decretos, regulamentos, programas e uma secção pedagógica,
tomou-se arauto das medidas govemamentais e das ações da Missão Pedagógica Paulista, responsável intelectual e
técnica pela reforma da oligarquia goiana.

Margarita Victoria Rodriguez e Marilda Bonini Vargas - Universidade Católíca Dom Bosco
Formação inicial de professores em Mato Grosso do Sul, história da implantação do curso de pedagogia - expe-
riência da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (1981 -2004)
Esta comunicação apresenta, mediante uma pesquisa documental, a análise da criação e implementação do Curso de
Pedagogia da UFMS, e a influência das políticas de formação inicial de professores (1981-2004). Assim, utilizou-se de
documentos do Ministério da Educação e Cultura e do Conselho Nacional de Educação -Legislação Educacional, Diretri-
zes Curriculares; Pareceres entre outros-, e documentos da instituição pesquisada, como a Resoluções do Curso de
Pedagogia; Portarias; Projeto Pedagógico; matrizes curriculares e ementas, visando levantar as transformações ocorridas
neste curso, em especial, após o ano de 1992. Como resultados, o estudo revelou que as políticas de formação de
professores para a educação básica impactaram de forma impresumível na organização curricular do Curso de Pedago-
gia, implicando em uma formação inicial voltada para a prática - reflexiva dos professores. Aformação oferecida apresen-
tou mudanças significativas durante a segunda metade dos anos de 1990, verificou-se alterações nos conteúdos, nome
das disciplinas, carga horária, focando a formação inicial na racionalidade técnica e centralizada na prática. Provocando
um afastamento em relação à fundamentação teoria, voltando esta formação para o novo tecnicismo orientado pelos
documentos oficiais.

Carlos Eduardo Calaça Costa Fonseca - Universidade Salgado de Oliveira


Navegar é preciso: as viagens de estudos nos séculos XVII e XVIII
Desde o século XVI, indivíduos nascidos nas principais cidades que se formavam nos trópicos, se dirigiam para a Universida-
de de Coimbra. Matriculavam-se nas faculdades de Direito (Leis e Cânones). de Medicina ou, em menor escala, na de
Teologia. Apesar dos apelos constantes por parte dos integrantes das câmaras locais e dos colégios inacianos para que se
implementassem Universidades no Estado do Brasil, a Coroa portuguesa não atendeu a tais reivindicações. Entre meados
dos século XVII e meados do século XVIII, entretanto, intensificaram-se as viagens de estudo. Oobjetivo desta comunicação
é oferecer subsídios adicionais para a compreensão das possíveis motivações para o financiamento de tais empreendimen-
tos, demasiadamente caros, por parte das principais famílias radicadas no Rio de Janeiro, na Bahia ou em Pemambuco.

Dalila Rosa Hallal- UFPel


A Trajetória - das viagens e do turismo ao ensino superior em Turismo
As viagens e o turismo sempre estiveram presentes na vida do ser humano e podem ser estudadas sob diferentes
enfoques. No presente artigo os temas serão analisados a partir de uma perspectiva histórica. Assim, as viagens e o
turismo serão analisados como uma possibilidade de conhecimento e educação, uma vez que a questão educativa sem-
pre permeou tais deslocamentos. A partir das ultimas décadas do século XX, as viagens e o turismo começam a ser
estudado de maneira cientifica, enquanto fenômeno social, tomando-se assim, importantes objetos de estudo. Neste
contexto, o presente estudo se propõe a analisar a trajetória das viagens e do turismo com enfoque no aspecto educativo.

Mauro Castilho Gonçalves - Universidade de Taubaté


Monteir~ Lobato - A ação da Igreja Católica de Taubaté: a cidade, a escola e a imprensa como campos de tensão
O presente trabalho investigou a ação da Igreja Católica de Taubaté e de outros setores hegemônicos quanto à criação, na
cidade, de representações referentes a Monteiro Lobato e sua obra, no periodo posterior à sua morte: a década de 50 do século
passado. Para tanto privilegiamos como fontes primárias a imprensa católica e laica, as atas da câmara municipal e alguns
documentos escolares. Verificamos que estratégias foram adotadas por aqueles setores na intenção de criar diferentes perspec-
tivas quanto à preservação e o ocultamento da memória e da produção de Lobato. A escola e a imprensa, nesse particular,
transformaram-se nos espaços privilegiados da ação cultural de sujeitos que disputavam entre si a hegemonia na/da cidade.

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117/07 - Terça-feira- Tarde (14h às 18h) 1

Libânia Nacif Xavier - FE-UFRJ


CD
Profissionalização do Magistério no contexto de difusão do ideário da escola nova (RJ-1920/1930) ~
O trabalho explora aspectos das reformas educacionais promovidas por expoentes da escola nova na cidade do Rio de ~
Janeiro, nas décadas de 1920-30. Em seu conjunto, as três reformas empreendidas na cidade - a de Carneiro Leão 15
(1922-1926); a de Fernando de Azevedo (1927-1930) e a de Anísio Teixeira (1930-1935) - dispensaram atenção central ~
para o problema da formação e da carreira do magistério, entendido como base para atender as necessidades de expan- -{g
são e renovação do ensino na capital do país. Tendo em vista o contexto assinalado, procuraremos identificar as linhas .~
centrais que orientaram as concepções e as políticas dirigidas ao magistério primário. Ao final, apresentaremos algumas ~
considerações gerais a respeito do processo de profissionalização do magistério sob o influxo do movimento da escola ~
nova. É importante frisar que reconhecemos suas lideranças como homens de ação, ou seja, como atores que desempe- .~.
nharam um papel político e atuaram na esfera administrativa da cidade, promovendo uma dada ordenação no setor §
educacional. Eles serão considerados, também, como homens de idéias e, portanto, como formuladores de projetos para .E
os quais era necessário conferir coerência QJ
C)

Mauricéia Ananias - UFPB


A educação e a formação da sociedade brasileira: a província de São Paulo nos anos de 1822 a 1846
Este texto pretende demonstrar a construção do Estado provincial paulista nos anos de 1822 a 1846. Nesse processo, a
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LU

instrução pública primária será considerada com parte da institucionalização do Estado provincial e, em última instância, «
do Estado nacional brasileiro. Essa trajetória que formalizou um incipiente nascimento, após a independência política do
Brasil, da instrução pública foi caracterizada como uma transição entre a herança colonial e a legislação decretada pelo
governo provincial. Neste sentido, tomando como referencial a defesa, dos homens da época, de um regime monárquico
que fora referendado por uma Constituição e por uma seqüência de leis que seguiram os preceitos gerais nela previstos,
propõe-se analisar a ação do Estado na construção de uma proposta elementar de instrução primária para uma parte da
população da Província de São Paulo.

Doris BittencourtAlmeida - UFRGS


Memória silenciadas: a experiência educativa da Escola Normal Rural de Osório
O trabalho analisa algumas concepções que nortearam a pesquisa acerca de uma experiência educativa inédita na
história da educação do Rio Grande do Sul. Investigaram-se as memórias de alunos de uma Escola Normal Rural no municí-
pio de Osório que lá estudaram entre os anos 1950 e 1960. Esta instituição multifacetada por ser pública, mista e rural
agregava rapazes e moças distintos entre si, que buscavam a formação docente rural como uma possibilidade de ascensão
social através de uma profissão legitimamente reconhecida. A pesquisa procurou compreender a construção da identidade
daqueles/as futuros professores, analisando o processo de memória desses sujeitos, a partir dos discursos e dos conteúdos
de verdade produzidos em entrevistas. Apesquisa escutou o que esses sujeitos tinham a dizer. Nessa comunicação intersub-
jetiva, perceberam-se idiossincrasias do estudo de caso e concluiu-se que as memórias dos professores rurais foram silenci-
adas ao longo do tempo .. As transformações no contexto nacional e educacional dos anos 1970 conduziram a um questiona-
mento do valor social da profissão de professor e ao estabelecimento do magistério rural constituindo-se enquanto um grupo
periférico e até certo ponto marginalizado dentro do quadro de carreira do magistério público estadual.

Giana lange do Amaral- Faculdade de Educação/UFPel


A atuação política da Maçonaria no campo educacional, nas primeiras décadas da república brasileira
A Maçonaria encontrou no Brasil colonial e imperial um terreno fértil para a propagação das idéias iluministas e liberais do séaJlo
XVIII. Sendo assim, os maçons tiveram influência decisiva em muitos acontecimentos relacionados ao processo de independên-
cia, abolição da escravatura e de proclamação e implantação do sistema republicano brasileiro. Oemergente sistema republica-
no estava bastante ligado aos interesses da Maçonaria, que tratou de usar de sua influência junto à sociedade brasileira, para
solidificar as determinações políticas da Constituição Republicana, especialmente no que se relacionasse à separação da Igreja
e do Estado e a medidas relativas ao campo educacional (laicização do ensino). Esse foi mais um fato que contribuiu para que o
conflito e disputa entre a Igreja e a Maçonaria se tomasse tão acentuado na primeira década do séaJlo XX. O presente texto
busca trazer a tona aspectos da atuação política da Maçonaria no âmbno educacional, neste periodo.

Ivan Aparecido Manoel- UNESP - Franca e Antônio Marques do Vale - UEPG


Guerreiro Ramos, isebiano para sociologia, cultura e educação: a sociedade brasileira nos anos 1950
O texto resulta de pesquisa feita sobre o ISEB, Instituto mantido pelo MEC (1955-1964). O objetivo foi destacar os anos
'50, e investigar Guerreiro Ramos que, no ISEB, para formar uma ideologia nacional de desenvolvimento, assumia dar os
cursos de Sociologia. A investigação bibliográfica se baseou no debate gramsciano sobre relações Norte/Sul na Itália e
vigilância. Ante os temas colonialismo, revolução burguesa, pauperismo, administração e progresso, Ramos apostava
pela cidade, pela burguesia industrial, pelo Estado. Educar era inserir na revolução democrático-burguesa, e erguer o

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homem novo brasileiro ao ser-para-si, emancipado e sem transplantações do exterior. Os negros, do mesmo povo que os
brancos, militariam para vencer nossa condição de consumidores de enlatados. Em educação, o Guerreiro falou de poder
crítico, uso sociológico da sociologia, redução sociológica, formalismo. Sua própria índole e o conflito sobre o nacionalis-
mo (1958) o envolveram negativamente, e ele deixou o Instituto; com a ditadura, exilou-se nos EE.UU. Sua produção e
carreira suscitam os temas da multidimensionalidade da vida humana e da teimosia para manter um diálogo/debate à
altura das complexas necessidades reais.

Rosana Areal de Carvalho e Lívia Carolina Vieira - UFOP


Grupo Escolar de Mariana: política, educação e cotidiano escolar
Os referenciais da nova história política possibilitam o estudo das relações entre a esfera política e educacional. Em Minas
Gerais destacam-se as pesquisas sobre a Reforma João Pinheiro que instituiu os grupos escolares. Estudos publicados
apontam para um cenário com características comuns e particulares, pertinentes a cada município e escola. Este trabalho
é desdobramento de uma pesquisa sobre o Grupo Escolar de Mariana. As fontes desta pesquisa são os acervos da escola e
do Arquivo Público Mineiro. Apesquisa inicíal apontou para inúmeros recortes e aspectos interessantes acerca do cotidiano e
dos sujeitos escolares. Dentre esses sujeitos nossa atenção recaiu no primeiro diretor: José Ignácio de Souza que ocupou o
cargo de 1909 até 1917. No desenrolar da pesquisa descortinou-se um segundo personagem que manteve com a escola
laços muito fortes: Gomes Henrique Freire de Andrade, médico, Presidente da Câmara Municipal e senador estadual. Teve
seu nome vinculado à Caixa Escolar, considerado como patrono e fundador do grupo, que recebeu seu nome entre 1914 e
1931. O objetivo é apresentar as relações entre estes personagens e as influências no cotidiano escolar, destacando as
interferências políbcas, a concepção de educação e os entrelaçamentos entre higienismo e educação.

Ana Carrilho Romero Grunennvaldt - UFS


Os regulamentos da instrução pública em Sergipe e a educação física no ensino prímário (1890-1930)
O estudo investigou a introdução da Educação Física na proposta de reformulação educacional do Brasil na transição do
Império para a República a partir da análise da legislação educacional sergipana que normatizou o ensino primário nas
primeiras décadas republicanas. Considerando a escola primária como instituição privilegiada para acelerar o processo que
integra o país nos padrões internacionais de modernização tendo a Educação Física como um de seus componentes basila-
res.As fontes analisadas evidenciaram que esta ascendeu como uma questão para o trato da Pedagogia, revelando-se uma
reação à educação que tinha cuidados demasiados com aformação do espírito, preterindo as atenções ao corpo. Manifesta-
va-se uma nova perspectiva formativa que aliava o desenvolvimento harmonioso do corpo e do espírito favorável à educação
integral, aliada às necessidades emergentes de condutas de corpos de cidadãos, adequados as novas relações de produção
capitalistas, a Educação Física tomou objeto dos planos e reformas educacionais despertando a atenção de intelectuais e do
Estado. Condui-se que, a Educação Fisica como componente da educação integral potencializava a ação educativa na
medida em que canalizava as energias vitais do indivíduo na direção social do processo produtivo.

Fernanda Cristina Campos da Rocha - UFMG


Práticas escolares: sucesso ou fracasso escolar de crianças no ensino primário no início do século XX (Sabará! MG)
O trabalho aqui proposto tem como objetivo investigar as práticas escolares em tomo do ensino/aprendizagem da leitura
e da escrita, mais especificamente as questões relacionadas ao sucesso e fracasso escolar de crianças nos anos iniciais
de escolarização, nas duas primeiras décadas do século XX. Para tanto, toma-se como foco de análise, uma importante
instituição educativa de Minas Gerais: O Grupo Escolar Paula Rocha, localizado na cidade de Sabará/MG. Na tentativa de
compreender a razão pela qual os alunos desse grupo ficavam tanto tempo retidos no primeiro ano primário, busca-se
traçar a trajetória dos sujeitos envolvidos nesse processo, através, principalmente, dos livros de matriculas do grupo,
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elegendo os alunos que entraram no 1 ano primário, em 1907, ano em que o grupo escolar de Sabará foi criado, um ano
após a Reforma João Pinheiro, que introduz a escola graduada em Minas Gerais. Acompanhar a trajetória escolar desses
alunos possibilitará conhecer os sujeitos bem e mal sucedidos no processo de aquisição da leitura e da escrita: a condição
socioeconômica, familiar, a profissão do pai (ou mãe), onde morava, a idade, sexo, em quanto tempo fizeram o primàrio,
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quanto tempo ficaram retidos no 1 ano, quem eram os (as) professores (as) desses alunos, dentre outros.

Ana Waleska Pollo Campos Mendonça - PUC-Rio


"Reconstrução da Escola" e formação do "magistério nacional": as políticas do INEP/CBPE durante a gestão de
Anísio Teixeira (1952-1964)
O trabalho se remete à pesquisa financiada pelo CNPq e pela FAPERJ, intitulada O INEP no contexto das políticas do
MEC, nos anos 1950/1960, que se propôs a estudar a atuação deste órgão, durante a gestão do educador Anísio Teixeira
(1952-1964), com ênfase nas estratégias de intervenção nos sistemas de ensino. Propõe-se a analisar a trajetória do
INEP, ao longo dos anos em estudo, tentando mostrar que a questão da formação dos profissionais de ensino - articulada
à proposta de reconstrução da educação 'comum' do homem brasileiro (pela via da escola primària redefinida e ampliada)
- foi, efetivamente, o eixo que norteou o conjunto de iniciativas desenvolvidas pelo órgão durante esse período. Tais
iniciativas configuraram uma política de formação do 'magistério nacional', que pressupunha e buscava promover uma

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autêntica "refundação" do lugar do professor (Freitas, 2005). Uma politica, a um só tempo, nacional, porque empenhava,
através do INEP, o próprio Ministério da Educação, a quem se atribuía a "assessoria técnica" e o necessário respaldo
CD1
financeiro; e regional, pois buscava adaptar-se ás características e necessidades de distintas regiões do pais, através da
rede constituída pelos centros regionais de pesquisa e de treinamento de professores, estrategicamente localizados.

I 18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h ás 18h) I


QJ

Carlos Henrique de Carvalho - UFU {g


CNBB e a (re)articulação do pensamento católica no Brasil (1952 a 1971) ~
Com esta proposta de trabalho pretendemos apresentar os princípios que nortearam a criação e atuação da Conferência ~
Nacional dos Bispos no Brasil (CNBB), a partir de 1952, ano de sua fundação e, de que forma, se relacionou com Estado. -2l
Por outro lado, buscamos identificar e evidenciar a presença de elementos democráticos no pensamento católico brasilei- ,g
ro, decorrente do próprio contexto criado pelo Pós-Segunda Guerra Mundial, que exige a (re)articulação da Igreja no i;5'
quadro social, principalmente no cenário brasileiro. Tal postura se coloca em oposição ao ideário defendido pelos pensa- §
~
dores conservadores dos anos que antecederam à criação da referida entidade, expressos por meio da revista A Ordem e
pelo Centro Dom Vital, que se colocaram como ponta de lança do núcleo dos intelectuais católicos liberais. É nosso
propósito também discutir a forma pela qual foi conduzido o debate teórico em torno da ação da Igreja no campo educaci-
onal, isto é, qual era sua linha de atuação, no que se refere à educação, diante das transformações políticas que ocorre-
ram no país no período compreendido entre 1952 a 1971.

Sergio Ricardo Pereira Cardoso - UFPel


O inicio da conscientização do magistério pelotense enquanto classe (1926-1933)
Este trabalho tem por objetivo investigar o contexto em que se dá, em Pelotas, a conscientização do magistério enquanto
classe organizada e defensora de seus direitos. Como fruto do "Entusiasmo da Educação" e do "Otimismo Pedagógico",
termos cunhados por Jorge Nagle quando se refere aos anos 20 em seu clássico "Educação e Sociedade na Primeira
República, no contexto nacional emerge aAssociação Brasileira de Educação (ABE), em 1924. Os esforços de Levi Carneiro
em dar um caráter nacional ao movimento criado no Rio de Janeiro vão desembocar na criação da Seção Pelotense da
Associação Brasileira de Educação. Dessa iniciativa, será criada, em 1929, aAssociação Sul Riograndense de Professores.
Nos discursos que atravessaram este movimento em Pelotas se encontra oconflito entre Liberais e Católicos; enquanto estes
consideravam o magistério como uma vocação, aqueles defendiam a idéia de profissionalização da classe em questão.
Embora o inicio da associação dos professores de Pelotas apresente, conforme a classificação de Ricardo Antunes, caracte-
rísticas corporativistas, tal iniciativa foi, sob certo aspecto, a gênese de uma consciência de classe do magistério pelotense;
inclusive, aAssociação Sul Riograndense de Professores chegou a fundar filiais em outras cidades.

Antonio Carlos Ferreira Pinheiro - UFPB


A instrução na Província da Parahyba do Norte e a formação da sociedade brasileira (1821-1834)
Este trabalho tem como objetivo analisar aspectos do processo de organização da instrução na Provincia da Parahyba do
Norte entre 1821 e 1834, ano da publicação do Ato Adicional. Pretendemos discutir como a problemática instrucional foi
posta por intelectuais e por gestores públicos que efetivaram políticas destinadas à educação escolar e contribuiram na
tessitura da formação da sociedade brasileira. Tomamos como fontes, a legislação que foi produzida no per iodo e as
correspondências emitidas pelas Câmaras dos Terrnos aos presidentes da provincia. A partir da referida documentação
depreendemos que alguns agentes políticos compreendiam que a superação do estado de ignorância da rnocidade se
daria pela instrução que ilustraria os meninos e os habilitaria para o emprego público da Provincia.(Comarca de Pi-
lar, 1821). Para tanto era necessário que as aulas, principalmente as do ensino mútuo, funcionassem rninimamente com
bancos, louzas, cadeira do professor, taboa de operações de arithemética.(Vila de Santo Antonio de Piancó, 1834). A
cultura material escolar e os procedimentos instrucionais nos indicam como o ideário iluminista foi se efetivando no
cotidiano escolar e de que forma contribuiu para o processo de consolidação e fortalecimento da recente nação brasileira.

Wilson Sandano e Valdelice Borghi Ferreira - Universidade de Sorocaba


Educação escolar e movimentos sociais em Sorocaba, no início da República (1889-1920)
Este trabalho procura investigar a educação escolar em Sorocaba, no período de 1889 a 1920, e sua relação com os
movimentos sociais. Neste periodo, de transição do sistema agrário-comercial para o urbano-industrial, ocorre, em So-
rocaba, o inicio da industrialização, o aumento da imigração e o crescimento da população urbana, sem o aurnento dos
beneficios sociais, fato que gerava tensões. Está presente a bandeira republicana, que associava o progresso á escolariza-
ção. Sorocaba atendia, em suas escolas, 50% das crianças da zona e urbana e 35%, da periferia. Seguindo o movimento
nacional, ocorreram rnanifestações, pela ampliação da oferta de escolas públicas, organizadas pelos movirnentos operários,
liderados pelos anarquistas, e pela imprensa empresarial e operária. Indagamos: qual a influência desses movimentos na
expansão da rede escolar pública em Sorocaba, no período? A possivel resposta estará baseada em três expressões da
materialidade histórica: as fontes documentais examinadas e sistematizadas; a história da educação escolar em Sorocaba,

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baseada na produção historiográfica existente; procedimentos de análise, por meio da produção historiográfica sobre a
história da educação no Brasil no periodo. No trabalho apresentamos os resultados parciais da pesquisa.

Flávio César Freitas Vieira - UFU


A União dos Trabalhadores de Ensino (UTE) nas páginas da imprensa (1978-1980): Uberlândia-MG
Este texto apresenta o resultado da pesquisa documental empreendida, cujo objetivo é o de identificar os registros sobre
o surgimento da entidade representativa dos profissionais estaduais da educação em Uberlândia, de 16 de junho de 1978
a 28 de junho de 1980, e da sua expressão na imprensa uberlandense no periodo enfocado. Para a realização dessa
pesquisa foram utilizadas fontes primárias, registros publicados no Jomal O Correio de Uberlândia e documentos do próprio
Sindicato dos Trabalhadores em Educação (SIND-UTE-ss-Uberlândia). A partir de uma assembléia dos professores estadu-
ais da educação surgiu a União dos Trabalhadores de Ensino (UTE), em Ubertândia, em 30 de setembro de 1979, decisão
articulada com a entidade estadual em uma conjuntura nacional repressora. Buscava-se a constituição de uma entidade que
expressasse maior identidade das reivindicações da categoria para melhorias de condições de trabalho, reposição salarial e
a construção de um suporte legal que estabelecesse uma relação com o govemo estadual, valorizando mais o critério
profissional com menor dependência politica. A representação sobre a categoria dos professores estaduais, expressa na
imprensa, sofreu alteração, no período enfocado, obtendo vitórias e superando obstáculos culturais e legais.

Francisco Assis de Queiroz - USP


Tecnologia, educação e sociedade no Brasil (1969-2005): o caso do CEETEPS
Buscando atender às demandas das novas indústrias e serviços, sobretudo a partir de meados do século XIX, criaram-se
escolas técnicas e faculdades tecnológicas em diversos paises, processo que no Brasil se daria a partir de meados do
século XX, não obstante a constituição de escolas técnicas públicas no pais desde o início do mesmo século, assim como
a existência do tradicional Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, entre outros, desde o final do século XIX. De qualquer
forma, foi em 1969 que se implantou em São Paulo o que viria a se tomar um dos maiores - senão o maior - complexos
de educação técnica e tecnológica da América Latina, o Centro Estadual de Educação Técnica e Tecnológica Paula
Souza. Antônio Francisco de Paula Souza, patrono do Centro, engenheiro e politico, foi o autor do projeto que criou a
Escola Politécnica de São Paulo (1894). Aexperiência aqui tratada deve servir de base para reflexões mais amplas sobre
as relações entre educação, mercado e desenvolvimento econômico e social, entre outras.

Maria Medianeira Padoin - UFSM


A educação a distância e a Universidade Aberta do Brasil: proposta de expansão do ensino público superior brasileiro
A partir do relato das experiências na organização e implementação da modalidade a distância na Universidade Federal
de Santa Maria e, especialmente no projeto de planejamento e efetivação do Sistema Universidade Aberta do Brasil-UAB
(criado pelo Ministério da Educação do Brasil), analisar as perspectivas da politica educacional brasileira na expansão do
ensino superior público através da modalidade a distância.

Berenice Corsetti - UNISINOS


Controle disciplinar e atividades escolares nas escolas públicas do Rio Grande do Sul (188011930)
No Rio Grande do Sul da Primeira República, o projeto politico dos lideres positivistas que governaram o Estado utilizou
a escola pública como instrumento privilegiado para a consecução de seus objetivos, ou seja, a consolidação do capitalis-
mo no cenário gaúcho. Os regulamentos e regimentos escolares possibilitam a percepção de um dos aspectos mais
importantes que caracterizaram esse processo, ou seja, o adestramento das crianças e dos jovens para a sua adequação
à sociedade perseguida pelos dirigentes do Estado. O ajustamento à ordem social, conforme definida no projeto de
modernização conservadora do Rio Grande, devia ser preparado sobretudo pela escola pública, razão de sua expansão
expressiva nesse periodo. Através do controle disciplinar e das atividades escolares desenvolvidas nas salas de aulas,
podemos perceber como foram implementadas características como a disciplina, o respeito à hierarquia e à autoridade, o
controle rigoroso das atividades e o uso produtivo do tempo, bem como os demais valores decorrentes de uma prática
com base nesses elementos, que constituíram-se em 'ingredientes' permanentes do cotidiano escolar.

Maria Cristina Gomes Machado - UEM


O jornalista Rui Barbosa e o debate sobre o ensino secundário
Este texto analisa a atuação do jomalista Rui Barbosa (1849-1923) tomando como foco suas idéias acerca da situação do
ensino secundário brasileiro no periodo de 1889 a 1901. Para tanto, toma-se como fonte primária os jomais 'Diário de
Notícias';' Jomal do Brasil' e 'A Imprensa'. Por meio desses jornais o autor nos legou muitos artigos no qual apresentava
suas críticas e propostas para resolver os problemas enfrentados pelo ensino secundário na transição do regime monár-
quico para o republicano. Em tais jomais, Rui Barbosa, como redator-chefe, posicionou-se sobre diversas questões can-
dentes no momento de transformações pela qual passava o país, como a politica govemamental e problemas cotidianos
da cidade do Rio de Janeiro, em especial, à questão do saneamento e da urbanização. Ele questionou, ainda, o papel do
Estado nesta sociedade, pois este tinha como uma das tarefas ampliar a oferta do ensino primário e reformar o ensino

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secundário e superior. Para ele, era preciso aumentar os investimentos no ensino secundário, proporcionando uma fomna-
ção geral para aluno, tanto científica como propedêutica. Este havia se tomado 'indústrias' de diplomas, cujo o objetivo
CD1
não era o de instruir, mas 'aparelhar' e formar para o exame preparatório que levasse ao ingresso na universidade.

~ - Quinta-feira - Tarde (14h às 16h30min) I ~


co
Helena Bomeny - UERJ/CPOOC .o
Q.)

Salvar pela escola: Programa Especial de Educação Governo Brizola ~


O texto avalia a experiência de implantação no Rio de Janeiro do Programa Especial de Educação dos dois govemos .~
Brizola (1983-1986; 1991-1994). Em especial, a autora acompanha a atuação de Darcy Ribeiro como coordenador de ~
todo o programa com seus êxitos, impasses e dificuldades na implementação de um projeto de salvação nacional. -i'5
o
.co
Luciana Beatriz de Oliveira Bar de Carvalho - UNICAMP ~.
Educação e civilização: a instrução pública na República Velha uberabinha (1888-1930) ~
O presente trabalho tem por objetivo apresentar as primeiras iniciativas da Câmara Municipal do município de Uberabinha
(hoje Uberlândia), uma cidade que nasceu com a Repúblicf) e o seu poder legislativo tomou várias iniciativas no campo ~
educacional. Deste modo, a pesquisa procura sublinhar como a política municipal foi concomitantes com aquelas toma- .~_
das pelo governo republicano e, de certa forma, também antecederam a própria legislação mineira. A data de 1888 é ~
tomada como referência inicial por ser o ano de emancipação política de Uberabinha, sendo organizadas as instituições Jl
políticas específicas da cidade, como a Câmara Municipal e a ação do agente executivo. Por outro lado, 1930 foi colocado <X:
como limite não por indicar o término de uma nova fase na periodização educacional mineira, mas por ser o ano de
irrupção de um movimento nacional que levará à mudança dos grupos no poder - no Brasil, em Minas Gerais e em
Uberabinha. Assim, discute-se inicialmente o sentido da educação na Primeira República para, posteriormente, caracteri-
zá-Ia no contexto da província de Minas Gerais. Finalmente, são apresentados os atos iniciais do poder legislativo de
uberabinhese relativos à educação, salientando como eles trazem um certo 'pioneirismo' neste campo.

llíada Pires da Silva - UNESP


Associativismo Docente e a Construção de uma Identidade Profissional (1901-1910)
Esta comunicação pretende discutir o associativismo docente a partir do discurso elaborado por um grupo de educadores
aglutinados em tomo Associação Beneficente do Professorado Público de São Paulo, no período de 1901 a 1910, com a
finalidade de construir uma identidade sócio-profissional para o professorado público paulista. A afirmação de uma identi-
dade profissional e a utilização de uma estratégia comum pelo e para o professorado paulista se fez através de disputas
e negociações tanto com os poderes govemamentais como também com as diversas tendências que se manifestaram no
interior da categoria e da própria entidade. Este processo de busca pela afimnação e legitimação intema se cruza e se funde
com a busca de ascensão e reconhecimento social. Assumindo-se como uma espécie de mensageiros do progresso, os
membros desta agremiação, ao mesmo tempo em que declaravam e legitimavam sua identidade nos limites do campo
profissional buscando a ascensão e reconhecimento social, reconheciam-se enquanto portadores dos ideais de progresso e
de modemização do país. Para além, de afimnarem-se como porta-vozes dos interesses do professorado paulista, constituí-
ram-se em agentes fundamentais para a legitimação do modelo republicano de sociedade que ajudavam implementar.

Fernanda Barros - UEG/UFU


Lyceu de Goyaz: elitização endossada pelas oligarquias goianas 1906-1937
Oobjeto deste estudo, uma instituição, apresenta as características corretas para a sua classificação, planejamento, sistema
de práticas, organizado por seus agentes. Em especial apresentou claramente o ideal de educar uma classe de jovens
rapazes. Em 1906 iniciaram-se as refomnulações do regulamento da instituição para que a equiparação ao Ginásio Nacional
fosse efetivada, exigência da refomna Epitácio Pessoa de 1901. Os ajustes à legislação nacional foram feitos por todo o
período de Primeira República, e continuaram nos sete anos que seguiram a Revolução de 1930. As fontes orais sobre a
instituição referem-se à tumna de alunos de 1937. O Lyceu funcionou também como uma alavanca social. Quem possuía
dinheiro, depois do Lyceu tinha cultura, quem não tinha posses, depois de ser aluno do Lyceu ganhava respeito da sociedade.

I 20107 - Sexta-feira - Manhã (10h30min ás 12h30min) I


Oilmar Kistemacher - UNISINOS
A legalização dos livros didáticos: Identidade e disciplinamento social
Este artigo enquadra-se nos marcos epistemológicos da pesquisa sobre a história da educação brasileira, em particular, no
campo da política educacional. O recorte temporal investigado, a fins deste trabalho, foi o govemo autoritário de Getúlio
Vargas, o Estado Novo (1937-1945), período este marcado por profundas contradições político-sociais na sociedade brasilei-
ra. Nesta investigação foi estudada a bibliografia e a documentação de época, destacamos aqui a Legislação Federal. Esta
última conferiu o prelado do poder público, via o Ministério da Educação, sobre a produção e adifusão dos livros didáticos, em

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todo território nacional. O disciplinamento social, expresso pelo govemo estadonovista, além de contribuir para a afirmação
do regime político e do modelo de desenvolvimento econômico industrial, ensejou o controle sobre as obras didáticas, cujo
fim era o de promover a construção da identidade nacional brasileira e a formação técnico-profissional para o mercado de
trabalho. Assim, a presença dos elementos ideológicos e doutrinários, presentes nos livros didáticos, foi fundamental para
consolidar o ideário estadonovista, uma vez que eles estabeleciam conexões entre os programas oficiais e a sala de aula.

Carlos Edinei de Oliveira - UEMT


Freiras e educação: as irmãs da Divina Providência na direção de grupos escolares em Mato Grosso -1968-1978
Esta comunicação nos possibilita analisar as atividades das irmãs da Divina Providência para manter a doutrina e a fé
católica quando ocuparam por determinação da Prelazia de Diamantino-MT a função de diretoras em dois grupos escola-
res na localidade de colonização recente denominada de Tangará da Serra, pois este espaço fora colonizado durante o
processo de expansão da fronteira brasileira e mato-grossense a partir de 1959, como este novo território configurava-se
com um conjunto grande de protestantes, detectado inclusive nas fontes paroquiais da reitoria de Tangará da Serra, sendo
assim, o bispo resolveu estabelecer que as freiras ocupassem os cargos de direção para atender aproposta romanizadora
da Igreja Católica, de manter católico o migrante em Mato Grosso. As fontes paróquias como: o livro tombo da reitoria
Nossa Senhora Aparecida, as crônicas das irmãs da Divina Providência, os registros na imprensa local, as fontes orais, os
documentos escolares, em especial o livro de Matrículas nos possibilitam um registro significativo sobre esta intenção da
Igreja Católica, ou seja, mesmo em um Estado laico, a Igreja se ocupava do espaço público para manter seu espaço
educacional, social e religioso determinado assim uma cultura escolar específica.

Rosimar Serena Siqueira Esquinsani - UPF


A marca dos anos 1990 na forja das políticas educacionais brasileiras: o olhar a partir de um estudo de caso
O texto apresenta o exame da construção de políticas educacionais a partir do contexto da década de 1990, trazendo como
pano de fundo a trajetória histórica de uma rede municipal de ensino no interior sul-riOilrandense, baseando-se em uma
pesquisa qualitativa desenvolvida dentro de duas abordagens: a análise de conteúdo e a revisão bibliográfica. Os anos 1990
são assinalados pela consolidação da globalização econômica, que desencadeou um processo de reformulação das políti-
cas públicas e fundamentou uma reforma educativa assentada na idéia da educação como peça central para o desenvolvi-
mento humano mas que, em contrapartida, trouxe a perspectiva economicista para a agenda de debates educacionais. No
Brasil, a reforma foi assinalada por leis e planos, iniciados com o Plano Decenal de Educação Para Todos (1993) e que
desembocaram no Plano Nacional de Educação (2001). No município foco dos estudos, a década de 1990 foi marcada pela
ênfase em avaliações extemas; pela disseminação de práticas de intervenção no cotidiano escolar, como a formação docen-
te em serviço; pela consolidação da perspectiva construtivista enquanto eixo dê políticas voltadas para prática pedagógica;
além da prevalência da perspectiva economicista de racionalização de recursos humanos e financeiros.

I 20107 - Sexta-feira - Tarde (14h às 18h) I


Alicia Mariani Lucio Landes da Silva - UFPR
Condutas, cooperação e escolhas: OServiço de Orientação Educacional no Colégio Estadual do Paraná (1968-1975)
A Lei 5.692/71 trouxe modificações para o sistema educacional brasileiro. No artigo n° 10, fixou a obrigatoriedade do
Serviço de Orientação Educacional nas escolas, estabelecendo cooperação nas relações entre professores, familia e
comunidade. Sabe-se que durante os anos de 1968-1975, o Brasil passava por um momento marcante de sua história
devido a Ditadura Militar. Por entender que a Orientação Educacional foi um departamento importante, e que proporci-
onava envolvimento direto de alunos, professores e pais, escolheu-se como objeto desta pesquisa o Serviço de Orien-
tação Educacional do Colégio Estadual do Paraná para compreender como o colégio lidou com as determinações da
Lei 5.692/71 no que se refere a esse Departamento. O recorte temporal de 1968-1975 é justificado como período de
transição para a nova lei a sua adaptação. Ainda pretendeu-se conhecer quais foram as mudanças que essa Lei trouxe
para a Orientação Educacional e analisar as formas de atuação do Serviço de Orientação Educacional do CEPo Este
trabalho é parte resultante de um estudo desenvolvido no curso de Especialização em Organização do Trabalho
Pedagógico. Está dividido em duas partes: A Orientação Educacional: Origens e Orientações Legais; A Orientação
Educacional no Colégio Estadual do Paraná (1968-1975).

João do Prado Ferraz de Carvalho - Universidade Presbiteriana Mackenzie


Entre Memória e História: A Campanha em Defesa da Escola Pública em São Paulo em meados do século XX e
a participação do movimento estudantil paulista
A historiografia educacional brasileira, quando trata do tema escola pública no Brasil durante o século XX, tradicionalmente
recorre ao envolvimento dos chamados educadores liberais objetivando compreender a constituição de nosso sistema edu-
cacional. Sob o manto de 'pioneiros', 'escolanovistas', 'renovadores', etc, abriga-se um conjunto vasto de sujeitos históricos
frequentemente acionados com destaque na busca de dar a esse processo inteligibilidade histórica. Sem questionar a impor-
tância de nomes como Anísio Teixeira, Femando de Azevedo, entre outros, o intuito é compreender a participação desses

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sujeitos históricos não apenas nos embates com os quais se evolveram na defesa da escola pública, mas atenta-se principal-
mente para a constituição de uma determinada memória histórica produzida a partir dos seus escritos sobre tal temática.
Dialogando com essa produção e transitando pelas complexas articulações entre memória e história, trabalha-se com a tese
de que determinados fatos, sujeitos e projetos históricos foram iluminados enquanto outros foram apagados. Entende-se que
um dos apagamentos produzidos e cristalizados na memória educacional foi a participação do movimento estudantil na
Campanha em Defesa da Escola Pública, que na perspectiva anunciada acima é aqui estudada.

Paola Andrezza Bessa Cunha - UFMG


A civilidade pela fé: Educação moral nas Associações Religiosas Leigas da Minas Colonial
As associações leigas religiosas conjugavam pessoas distintas em torno de uma mesma devoção, e se configuram como
uma fonte para a historiografia da educação no período colonial. A educação identificada relaciona-se diretamente à
educação moral e isso é passível através de práticas educativas, compreendidas como o fazer cotidiano das pessoas, nas
relações desenvolvidas e nas estratégias de desenvolvimento dessas práticas, atendendo às demandas apresentadas
pela América Portuguesa. A religião se torna o canal mais direto e propicio para a transmissão de valores e conhecimen-
tos, tanto de interesse da Coroa, quanto da própria Igreja Católica e da sociedade na qual vive. As associações são as
guardiãs desses valores, expressos em seus livros através das regras e anotações feitas ao longo de sua existência. O
objetivo da pesquisa é identificar nas associações religiosas leigas do século XVIII, determinações de caráter educativo e
suas práticas, voltadas principalmente para a educação moral e religiosa, não sendo relegados outras formas de educa-
ção ou funções pedagógicas a elas atribuídas, institucionalmente ou pela tradição, também advindos da mestiçagem,
principalmente cultural, em cujas tradições há uma permeabilidade que permite a formação de elementos mestiços.

Sergio de Sousa Montalvao - CPDOC/FGV


Educação e Democracia: a Lei de Diretrizes de Bases de 1961 e sua história
CD
A comunicação versa sobre a tramitação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação no Congresso Nacional, entre 1948 e '§
1961, tendo como objetivo discutir as prioridades e o formato do sistema nacional de ensino que emergiu do texto legal, em g

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instituições educativas privadas. Por se tratar de uma causa de grande amplitude, o debate que cercou o encaminhamento 1'6
desta lei ganhou a imprensa e os meios intelectuais, envolvendo figuras de diferentes perfis ideológicos como Anisio Teixeira, 1i5
Flrestan Fernandes, Alceu Amoroso Uma e Gustavo Corção. Oentrelaçamento entre a esfera parlamentar e a esfera pública .~
marcou a história desta LDB, servindo corno leitura da democracia brasileira no período em questão.

Nadia Gaiofatto Gonçalves - UFPR


O Estado do Paraná, a Educação e a implementação das Diretrizes da Lei 5692171: apontamentos sobre o processo ~
O presente trabalho propõe-se a discutir como, nas Mensagens dos governadores do Estado do Paraná à Assembléia ~
Legislativa, nas décadas de 1960 e 1970, são abordadas as seguintes questões: papel do Estado frente à Educação; ~
e, quanto à lei 5692/71, suas diretrizes quanto à reorganização do ensino de 1° e 2° graus e seu processo de ~
implementação. Para análise do tema e das fontes, têm-se como referenciais principais Roger Chartier (1988) e Pierre g,
Bourdieu (1988 e 1990) e René Rémond (1996). Como apontamentos, pode-se destacar a permanência, nas Mensa- -~
gens das duas décadas, em relação aos aspectos de expansão do sistema escolar, desenvolvimento e modernização
administrativa. Embora este discurso seja comum ao período, no Paraná ele vinha se fortalecendo desde 1961, a partir
do governo Ney Braga. Depois da promulgação da lei 5692/71, nota-se maior detalhamento e sistematização no
tratamento do tema, nas Mensagens, em um esforço de evidenciar-se o planejamento estatal e sua eficiência. Porém,
nas Mensagens não são abordadas as dificuldades de implementação dessas metas de modernização, e limitações na
implementação das diretrizes da lei, em grande parte justamente por deficiências no aparelho estatal, o que pode ser
observado por meio de outros documentos, produzidos pelo Estado.

2. A Época Moderna: cultura, sociedade, economia pública e pensamento político


Sylvia Ewel Lenz (UEL) e Antonio Edmilson Martins Rodrigues (PUC·Rio/UERJ)
116/07 - Segunda-feira -Tarde (14h ás 18h) I
Antonio Edmílson Martins Rodrigues· PUC-Rio I UERJ
O Principe como metáfora do homem moderno: uma releitura de O Principe de Maquiavel
Trata-se de desenvolver a proposição de que Maquiavel ao escrever O Principe não estava construindo uma teoria da
absolutização do poder soberano mas apresentando as condições nas quais o homem moderno poderia enfrentar as
tensões e contradições oriundas da radicalidade da descoberta do homem e do mundo. Nesse sentido, O Principe de

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Maquiavel se apresentaria como a metáfora do homem moderno, estabelecendo os critérios que salvaria a República
da onda centralizadora do século XVI e elaborando os principios que reduziriam a ação do Principado em Florença.
Para isso, recorri à leitura da obra de Maquiavel buscando suas relações com Ficino e Mirandola, especialmente no
que tange as relações do autor com o neoplatonismo, ou seja, Maquiavel estaria muito mais próximo dos autores do
século XV do que dos do século XVI e defenderia o humanismo cívico através de um método não ortodoxo. Assim,
Maquiavel estaria mais ligado aos autores que como Thomas Morus criticam o humanismo do século XVI.

Sergio Xavier Gomes de Araújo - PUC-Rio


Os Ensaios de Montaigne: retórica humanista e discurso do auto-retrato
Com seu estilo negligente, privado e familiar como ele mesmo definia, Montaigne usou os procedimentos da retórica
clássica para descrever-se em seus Ensaios, procurando representar pela escrita a essência de sua natureza individual.
Manifestou freqüentemente ao longo dos Ensaios a consciência da originalidade de seu projeto em relação às obras
humanistas que circulavam em seu tempo. Com efeito, sua escrita de si pervertia um princípio básico que regulava o
uso da palavra para os humanistas, ou seja sua prerrogativa de comunicação no espaço público, a ser constituída
numa forma bela segundo os padrões dos grandes oradores da Antigüidade, para gerar a persuasão e intervir na
ordem da vida social e política. Nosso objetivo aqui é explorar, através de algumas passagens do ensaio Da Presun-
ção, um dos primeiros grandes autoretratos dos Ensaios, a forma como Montaigne expressava a consciência de sua
originalidade oscilando entre a defesa de sua prática de investigação de si, nos moldes da tradição socrática de cultivo
do espírito e a visão de sua escrita de si como uma ousadia ao não servir a nenhum objetivo moral mais alto. Esta
ambigüidade perpassa o discurso de Montaigne à medida em que se apropria mais dos designios de sua escrita.

Silvia Patuzzi - PUC-Rio


Graça, Iivre-arbítrio e a arte de governar: apontamentos sobre a Rázon dei Instituto de la Religión de la Compaiiía
de lesús de Pedro de Ribadeneyra (1605)
Nesta apresentação, nos deteremos no movimento de 'refundação' da Companhia de Jesus operada ao longo do
generalato de Cláudio Acquaviva, de atualização em relação às grandes transformações da época e de reaparelha-
mento institucional, de modo a enfrentar o rápido crescimento em escala planetária, bem como as dissidências inter-
nas, ligadas ao núcleo hispânico. No front interno, a dissolução do partido "papista" na corte espanhola, os atritos com
os 'castelhanistas' e com Felipe 11 e a oposição dominicana levaram a Ordem a enfrentar uma crise institucional que
poderia ter levado a uma cisão entre Roma e Madrid. Nas obras do jesuíta espanhol Pedro de Ribadeneyra, no Tratado
de la Tribulación (1589) e sobretudo na Rázon dei Instituto (1605) transparece o esforço de constituição de uma nova
identidade para a Companhia, em resposta aos desafios teológicos e políticos que enfrentava na Espanha dos Habs-
burgo. A hipótese deste trabalho é que este conjunto de escritos revelava, ao mesmo tempo, preocupações históricas,
políticas e teológicas, a serviço de um duplo programa: dotar a Companhia de uma história e fornecer à Monarquia um
novo horizonte em função do qual orientar a sua ação política e confessional.

Marcos Antônio Lopes - UEL


Michel de Montaigne e as artes médicas no Antigo Regime
A arte de curar sempre foi tema livre para as mais diferentes maquinações. Fontes literárias, da Antigüidade ao século
XIX, são ricas em relatos que, vistos à luz dos avanços do último século, enchem enciclopédias de esquisitices. Assim
como toda obra de alcance universal, o livro Ensaios, de Michel de Montaigne, é fonte rica em depoimentos e análises
que ilustram a cultura médica de seu tempo, bem como a nossa própria realidade. Com efeito, em tempos de transplan-
tes de rosto, e de outras façanhas louváveis da Medicina contemporânea, as experiências com células-tronco acres-
centam algumas curiosidades à história das artes médicas. Episódios recentes divulgados pela imprensa impressa e
televisiva, como alguns tratamentos com 'células em pé', permitem pensar na pertinência das reflexões de Montaigne,
que nos ensinam a rir das superstições, dos charlatanismos e das velhacarias.

Alexandra Biezus Kunze Duquia - Universidade de Coimbra- Portugal


Imagens da desagregação e da violência: insurreições contra a totalidade racionalista
Trata-se de uma reflexão a respeito das concepções de ciência e métodos de conhecimento adotados ao longo da
história, e principalmente sobre as violentas conseqüências destas escolhas para a humanidade. Explora-se as imagens
afloradas das artes plásticas, poesia e prosa, com dupla finalidade: encontrar o retrato da cosmovisão de cada momento
histórico, e, fundamentalmente, analisar a força subversiva que delas irrompe. O recorte parte dos séculos XVII e XVIII,
época em que a tônica da ciência era o racionalismo, nos moldes iluministas de sistema fechado, e de crença na possibi-
lidade de apreensão total da realidade. Os catastróficos acontecimentos que tiveram lugar entre o final do século XIX e
meados do XX atingiram o ideário humano a ponto de provocar uma crise de sentido e de representação, e o questiona-
mento do que se entendia por ciência (crise epistemológica), ensejando a discussão sobre a mutilação perpetrada ao se
considerar científico somente o conhecimento obtído através da razão, e sobre a violência deste racionalismo totalitário. A
pesquisa acompanha a atualidade, com as suas modificações de mundo inerentes (relações intersticiais, aceler

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Fabrina Magalhães Pinto - PUC/RJ
O Discurso humanista de Erasmo: uma retórica da interioridade
Este trabalho pretende abordar a influência do ideal ciceroniano de orador sobre o discurso de Erasmo de Rollerdam, particu-
larmente no que diz respeito ao anseio de Cicero da união entre as disciplinas da retórica e da filosofia enquanto precondição
da boa eloqüência. Esta tradição prevaleceu entre os humanistas da Renascença e Erasmo foi um de seus mais influentes
catalizadores revalorizando a necessidade de um amplo saber para a formação do homem e conquista de sua dignidade.
Esta seria para ele a condição fundamental para a plena realização de seus ideais de renovação da cristandade.

André Nunes de Azevedo - UERJ


Os conceitos fundamentais na reflexão de Antero de Quental sobre a decadência ibérica no periodo moderno
O presente artigo tem como fim pôr em discussão os conceitos fundamentais que perpassaram acompreensão do intelec-
tual português da Geração de 1870, Antero de Quental, sobre a decadência da Península Ibérica na época modema.

117/07 - Terça-feira - Tarde (14h ás 18h) I


Leandro Henrique Magalhães - UniFil
Estudo Genealógico e Messianismo Português: O Rei para Bandarra
Bandarra foi um sapateiro que viveu na Vila de Trancoso, no século XVI, comunidade cristã nova localizada na região
da Beira. Foi detido pela inquisição devido a autoria de trovas de caráter messiânico que, apesar de proibida, adquire
importância junto a tradição profética lusitana, tornando-se fundamental para os estudiosos do sebastianismo e da
restauração portuguesa. Nesta obra são apontados diversos problemas sociais que, segundo Bandarra, só seriam
(1)
2
resolvidos após a vinda de um líder, um rei que retomasse a ordem e, ao mesmo tempo, mantivesse em curso o
processo de expansão ultramarina e de guerra contra os mouros. É neste sentido que o autor identifica, em suas
trovas, este rei, apresentando suas características e nos dando pistas genealógicas. Pretendemos, aqui, como fizeram cC
os sebastianistas e restauracionistas, identificar quem era o rei referido. De certa forma, trilharemos os mesmos cami- .~
nhos de seus leitores, ao buscar pistas e formular argumentos para legitimar a interpretação aqui proposta. B QJ

Lelio Luiz de Oliveira - UNESP - Franca ~


As grandes navegações e os impactos internos em Portugal -g
A História de Portugal, referente ao periodo moderno, é em grande parte tratada de dentro para fora, ou seja, a importância .g
do reino português na história do mundo e da necessidade da política colonial pela ação llcivilizadora" e doutrinária. Em ""
f5!-
contrapartida, nosso objetivo é demonstrar o impacto econômico das grandes navegações no contexto interno de Portugal B
- séc. XVI- irradiado especialmente por Usboa, ressaltando as açôes da população que no período fundou alicerces cada Ô
vez mais profundos voltados para dentro do reino, como reflexo dos impactos dos descobrimentos marítimos.

Patrícia Domingos Woolley Cardoso - Universidade Gama Filho/Faculdades Integradas Simonsen


'!- Revisão do Processo dos Távoras: conflitos e idéais políticas no reinado mariano (1777-1793) cc
Ultimo quartel do século XVIII: período ao mesmo tempo conturbado e rico em produções intelectuais e discursos '-'
o
políticos acerca do poder, ou melhor, acerca dos limites do poder, tanto da Igreja quanto dos governos. No que se =
-L.U

refere ao mundo luso-brasileiro, o reinado de D. Maria I correspondeu a um período capital, no qual a monarquia teve <t:
de tomar decisões importantes frente á Independência das'colônias inglesas e ao desenrolar da Revolução em França.
Nesta conjuntura, por natureza singular, o antigo processo dos Távoras, movido pelo Marquês de Pombal contra
algumas das principais famílias aristocráticas do reino na década de 1750, foi reaberto por diligências de D. João de
Almeida Portugal (1726-1802), figura não menos singular. Os impasses, idas e vindas do processo de revisão, que
visava reabilitar a memória da família Távora, constituem-se numa espécie de ponta do novelo para uma interpretação
acurada desse período rico, porém ainda carente de estudos, que foi a passagem do gabinete pombalino ao reinado de
D. Maria I. Eis o ponto de partida, não só desta comunicação, como também do projeto de Doutorado que estou
desenvolvendo junto ao departamento de História da Universidade Federal Fluminense/RJ.

Regina Célia de Melo Morais - UFF


Ludovico Antonio Muratori
Procurarei apresentar Ludovico Antonio Muratori, um dos maiores eruditos da primeira metade do século XVIII, próxi-
mo, nas idéias religiosas, do esclarecido papa Bento XIV, preocupado, como a sua época, de um modo geral, com o
aprimoramento da convivência humana e, sobretudo, um dos formuladores, pelo menos, daquela Ilustração católica
que tanta influência exerceu em Portugal no século XVIII

Patricia Martins Castelo Branco - UniFiI


A representação do lucro portuguesa e holandesa mediada por valores católicos e protestantes
Voltamos nosso olhar para o ano de 1640, momento que marcou o fim da União das Coroas Ibérica quando o rei de
Portugal busca assegurar a sua legitimação política e, ao mesmo tempo, reintegrar as colônias tomadas pelas Provin-

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cias Unidas. Enquanto os Paises Baixos eram considerados o país mais próspero da Europa, mantendo o domínio
comercial no Atlântico com transações comerciais nas colônias americanas e africanas. Pretendemos demonstrar que
o imaginário de liberdade cultivado, então, pelos holandeses possibilitou uma representação pautada em que tudo se
justificava pelo lucro. Já para os portugueses, a representação do lucro era limitado pelo imaginário anti-usura construído
pela Igreja Católica, por outro lado, havia a concepção de o comércio era fundamental para garantir a soberania lusitana.
Refletiremos sobre a cultura econômica forjada na mentalidade destas duas nações, extensa às colônias além mar.
Pressupomos que este pensamento é herdeiro do Humanismo que tinha em seus princípios a constituição de um ideal de
indivíduo, e contribuiu para uma política voltada para o lucro. Comparamos, assim, a conduta dos agentes comerciais
portugueses e holandeses, buscando rastrear a representação de lucro e o imaginário edificado por eles.

Daniel Pimenta Oliveira de Carvalho - UFRJ


As novas da guerra da Restauração no Mercurio Portuguez
Esta comunicação pretende analisar as noticias da guerra da Restauração difundidas pelo Mercurío Portuguez, perió-
dico de responsabilidade de Antonio de Sousa de Macedo, Secretario de Estado de D. Afonso VI, publicado entre 1663
e 1666. Seu objetivo será evidenciar o discurso enunciado pelo periódico, e nos aproximar do pensamento e da prática
política e intelectual de seu autor e do grupo ao qual se associou. Caberá destacar os contornos narrativos que dão
forma ao seu discurso sobre a guerra, seu tom, suas imagens, seu olhar sobre as batalhas, bem como será necessário
identificar os elementos do texto de Antonio de Sousa de Macedo, e, partindo deles, evidenciar a opinião que ele
pretendia difundir através do periódico. Por fim, importará inserir a publicação do Mercurio numa batalha pela opinião
travada dentro do próprio reino português. Num período de conturbadas reviravoltas políticas, perceberemos Antonio
de Macedo, e o grupo político que representava, colocando-se através do Mercurio Portuguez diante de um espaço
público caracterizado pela disputa política, e assumindo a tarefa de interferir na opinião que ali se desenvolvia, certo da
importância desta tarefa não apenas para a manutenção do reino, mas principalmente daquele governo.

Rachei Saint Williams - UFRJ


As Armas do Fidalgo: O Discurso Politico de D. Francisco de Quevedo y Villegas, entre 1598-1645
A presente comunicação intenta investigar os escritos produzidos por D. Francisco de Quevedo y Villegas- renomado
personagem do Século de Ouro espanhol- durante o reinado na Espanha de Felipe III e Felipe IV, de 1598 (início do
reinado de Felipe 111) a 1645 (ano da morte de Quevedo).Conferindo historicidade a uma produção que na maioria dos
casos é analisada sob o ponto de vista literário, busca-se atribuir uma percepção de conjunto àquela obra e analisar
também o agente histórico que a confeccionou. Quais as tensões registradas em tal produção? Quais as crenças
sobre o homem e a sociedade se expressavam na relação dialógica de Quevedo com os condicionamentos históricos
de sua época sobre tais temas? O que significa pensar esta obra a partir da lógica da cultura política ibérica seiscen-
tista? Estas são algumas das questões que impulsionaram a elaboração desta comunicação.

Anelise Martinelli Borges de Oliveira e Jurandir Malerba - Universidade Estadual Paulista


A vida em corte no Rio de Janeiro Oitocentista (1808-1821)
Durante oAncien Régime europeu, os manuais de etiqueta norteavam os padrões de comportamento social na vida em corte.
Com a transludação da corte portuguesa para os trópicos em 1808, os códigos de conduta europeus também influenciaram
os costumes da sociedade fluminense oitocentista. Desta forma, o estudo do comportamento refinado trazido pela Família
Real, e sua consequente apropriação pela elite fluminense, poderá esclarecer a respeito da alteração do 'modus vivendis',
dentro da sociedade abastada do Rio de Janeiro, constituindo-se como um guia de instnumento diferenciado ehierarquizado.O
palco fluminense se modificava gradualmente a partir da transladação real, pois havia a necessidade da nobreza transplan-
tada em adequar o seu novo local de moradia á realidade vivenciada em Portugal. De maneira processual, o Rio de Janeiro
foi se tornando uma espécie de laboratório do processo civilizacional que atingira o Brasil oitocentista. A instalação da corte
portuguesa levou o país, e principalmente a capital á uma efervescência cultural que não se tinha presenciado nos três
séculos de colonização. Além da remodelação do espaço urbano, com a criação de instituições capazes de controlar a ordem
pública, o govemo imperial favorece a imigração de artistas e cientistas estrangeiros.

I 18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h) I


João Henrique dos Santos - Univ. Gama Filho e Universidade Federal de Juiz de Fora
A questão nacional na "Carta à Nobreza Cristã da Nação Alemã", de Martinho Lutero (1520)
G. R. Elton afirma que Lutero, na Carta à Nobreza Cristã da Nação Alemã sobre a Melhora do Estamento Cristão
"destruiu os muros de papel erigidos pelos Romanistas em defesa de seus poderes, e instou os alemães a reformar a
Igreja através da convocação de um Concílio'. Ao redigir o documento em alemão, Lutero não se dirigiu apenas ao
recém-eleito imperador Carlos Vou ao Grande Eleitor, Frederico, mas a toda a nação alemã. Gramsci registrou que 'o
portador da Reforma foi o povo alemão em seu conjunto, como povo indiferenciado, não os intelectuais', atribuindo ao
povo o papel de vanguarda e de protagonista desse momento.

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MacCulloch ressalta que a "Carta' indicava que Lutero não mais desejava manter a unidade com a Igreja Romana,
destacando que este afirmava que ao contrário de ser o vigário de Cristo na terra, o Papa era um impostor e uma
ameaça para o bom governo do Império. Acentua, ainda, que "este é freqüentemente chamado um livro nacionalista",
sendo a questão explorada por Lutero, que afirmava no início da "Carta", que "a aflição e dificuldade que oprimem
todos os estamentos da cristandade, sobretudo os territórios alemães (... ) obrigou-me também a gritar e clamar, [para
ver] se Deus haveria de conceder a alguém o Espírito de estender sua mão à miserável nação alemã'.

Maria Carolina Akemi Sameshima - Unesp


Os Relatos Sobre O Novo Mundo: a experiência francesa no Rio de Janeiro e na Flórida durante o século XVI
A primeira notícia que se tem sobre embarcações francesas no litoral brasileiro é sobre o navio L'Espoir, capitaneado
por Binot Paulmier de Gonneville, que aportava no Brasil, em 1503. Com dois pilotos portugueses, alguns homens e
apenas um navio, esse capitão, como outros marinheiros normandos interessados no comércio oriental de especiari-
as, partiu em seu empreendimento particular. A França, apesar da ênfase dada às descobertas espanholas e portugue-
sas, estava igualmente interessada nas novas terras descobertas, tanto que ignorara o "Tratado de Tordesilhas'. Des-
sa forma, é notável no século XVI o grande afluxo de navios franceses no litoral americano. A presença de franceses,
principalmente das regiões da Normandia e da Bretanha, se deve à tradição dos seus habitantes na navegação pes-
queira e no comércio com Portugal, de onde provavelmente obtinham as informações, náuticas e cartográficas, sobre
o comércio oriental. O presente trabalho tem como objetivo analisar a presença francesa na América, durante o século
XVI, assim como os relatos produzidos a partir dessa experiência, demonstrando dessa maneira a sua importância
para a construção de lugares comuns sobre o Novo Mundo divulgados na Europa.

Maria Emília Monteiro Porto - UFRN


Visões da fronteira tropical: o processo de construção da fronteira amazônica, 1750-1800
Otema das reformas ilustradas naAmazônia permite o estudo das relações entre política e cultura. Tem sido abordado na .~
historiografia tradicional sob a perspectiva imperial de uma ação vigorosa e eficaz da metrópole, e não pelos limites de sua g

:~~~~~ãgent~a~~I~~~~ã~~~~~~~~~ a~~~~~~g:~ dC;í~~~~'r:i~r~:~~~~~~ ~~~~a~~~~o~~a ~~if:~~o~~~r~ ~~ ~~~~~sâ~ :_


indígenas, mestiços e moradores, alcançando assim o papel da forças periféricas na constituição de um saber ílustrado. O ~
estudo bibliográfico partiu das seguintes hipóteses: as formas recíprocas de transmissão, recepção e apropriação de a5
saberes indígena e ocidental estavam sujeitas a uma economia comunicativa, a uma ordem do discurso e suas variantes .~
conjunturais, tomadas como formas de resistência; geram uma ciência periférica por permitir a revisão do modelo refor- ~-
mista por parte da elite colonial e a apropriação de novas técnicas por parte dos nativos, evoluindo para um saber local, .3
isolado pela geopolítica pós-colonial; e contribuiram para o desenvolvimento da ciência metropolitana européia e ocidental. ~
co
E
Juliana Mesquita Hidalgo Ferreira - Universidade Estadual de Campinas ~
Propaganda e crítica social nas cronologias dos almanaques astrológicos durante a Guerra Civil Inglesa no ~
século XVII co
Durante a Guerra Civil inglesa, os almanaques astrológicos foram usados como veículo de crítica social e propaganda ~
político-religiosa tanto por astrólogos partidários das forças parlamentaristas, como John Booker, como por partidários das -~
forças realistas, como George Wharton. Essas "armas de guerra' tinham ampla circulação e apresentavam previsões
astrológicas recebidas com expectativa e credulidade. Era possível manipular tais previsões de modo a torná-Ias favorá-
veis a um grupo. Além disso, os autores podiam enviar mensagens em seções dos almanaques não exatamente relacio-
nadas a previsões. A "cronologia histórica' (comum nessas publicações) foi bastante usada neste sentido. Era possivel,
por exemplo, apresentar uma cronologia da guerra então em curso e, nesse caso, comentar eventos de maneira a favore-
cer ou denegrir a imagem de grupos ou indivíduos específicos. Podia-se deturpar ou ocultar dados de modo a reverter
situações desfavoráveis, ou ainda enfatizar um ou outro aspecto de determinada situação. Neste trabalho procuramos
mostrar como, ao apresentarem suas versões dos fatos ocorridos, alguns autores procuraram defender grupos dos quais
faziam parte ou refletiram sobre como aqueles fatos se inseriam no contexto da sociedade em que viviam.

Cecília Cotrim Martins de Mello - PUC-Rio


Dinamismo pitórico - uma leitura do Barroco por Frank Stella
O trabalho apresentará a leitura que o artista contemporâneo norte-americano Frank Stella [1936 -] propõe do espaço
pictórico do século XVI, contrastando-o com aspectos da pintura modernista.
Considerado como um dos precursores do Minimalismo em pintura, herdeiro da crítica modernista ao ilusionismo
pictórico, Stella pertence a uma geração de artistas que participa ativamente do debate crítico de sua época, estabele-
cido em torno dos limites do modernismo. Em início dos anos 1960, Frank Stella chega, em seu próprio trabalho, à
redução da pintura a seus constituintes essenciais: o plano e a delimitação do plano. Nos 1980, em seu livro Working
Space, o pintor propõe então um retorno crítico ao que seria esse espaço dinâmico barroco, em um ensaio de grande
importância para a consideração da historiografia da arte do século XX.

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João Masao Kamita e Isabel Cristina F. Auler - PUC·Rio
Retórica e engenho: o caso da igreja Gesú de Roma
A presente comunicação pretende desenvolver as relações entre retórica e artes visuais na Roma Barroca. Se por um
lado, a forma retórica tem forte impregnação nas técnicas de discurso e persuasão religiosa, como o artista dos séculos
XVI e XVII elabora suas imagens de modo que elas participem no convencimento devocional sem, no entanto, perder a
liberdade conquistada pelo renascimento? A arte não está de modo excl,usivo 'a serviço" da autoridade religiosa, como se
submetida a um poder externo que inibe e reprime sua expressividade. E no ilusionismo técnico - a arte do engenho - que
o artista barroco preserva seus segredos. Tomaremos como caso exemplar a atuação dos jesuitas na construção e
decoração, a partir de 1568, da Chiesa dei Gesú, igreja-tipo da Contra-Reforma, essencialmente destinada à devoção
coletiva e à pregação. Como contraponto ao campo das artes, será apresentado uma análise da obra 'Adnotationes et
Meditationes in Evangelia" (1607). do jesuíta Jerônimo Nadai, texto eclesiástico de referência para a Contra-Reforma.

Darlan Amorim Maia Mendes· UFPE


Diferenças entre piratas e corsários: um problema de conceituação e generalização na historiografia brasileira
O.início do chamado 'descobrimento" dos territórios americanos pelas potências européias (inicialmente Portugal e Espa-
nha), aliado a sua colonização e exploração, marcou uma nova época no cenário ocidental. Atraídos por esse ambiente de
extrema opulência, piratas e corsários (esses últimos respaldados por Inglaterra, França e Holanda) vão infestar os oceanos
Atlântico e Pacífico a fim de usurpar as riquezas circulantes nas embarcações portuguesas e espanholas. De fato, essas
ativid~es piráticas nem sempre são corretamente mencionadas pelos autores, ou por conta das generalizações ou por conta
da confusão dos conceitos. Neste ínterim, este trabalho tem por objetivo discutir o problema da generalização dos termos
'pirata' e 'corsário" encontrados em algumas obras da historiografia brasileira, bem como elucidar as diferenças entre esses
dois termos, proporcionando com isso um maior e melhor entendimento do fenômeno da pirataria nas Américas.

Flavia Galli Tatsch - UNICAMP


"Vespúcio descobre a América", de Jan Van der Straet, dito Giovanni Stradano. Representação da modernida·
de ou do corpo do mundo?
No século XVI, a imagem exercia um papel notável na sociedade européia. As alegorias da América - gestadas em um
contexto comparativo, diferencial e hierárquico - colaboraram para a distribuição de um corpo de idéias sobre o Novo Mundo.
Mas, qual era o lugar de enunciação e a quem serviam essas representações? Oobjeto de estudo deste trabalho é a gravura
'Vespúcio descobre a América", de Jan Van der Straet, dito Giovanni Stradano, inserida na série publicada com o título de
Nova Reperta encomendada entre 1587 e 1595. Imbuída pelo espírito que via na afirmação das invenções cientificas a
conquista mais importante do homem do Renascimento, as estampas davam testemunho da modem idade que se apresen-
tava. A interpretação dessa imagem não pretende ficar circunscrita à idéia inicial do anúncio da chegada de uma nova era.
Propõe-se, então, uma outra reflexão a partir da representação da América na imagem da índia nua. Para Michel de Certeau,
a visão do corpo nu se altema entre o diabólico e o divino: de um lado, a imagem da voracidade feminina, os prazeres
proibidos; do outro, a selvagem surge como uma deusa, uma vez que no Renascimento a nudez era um atributo do divino. O
corpo nu da índia é como o corpo do mundo, que se oferece aos olhares e inquisições da curiosidade.

20107 - Sexta-feira - Tarde (14h às 18h)


Kalina Vanderlei Paiva da Silva - Universidade de Pernambuco
Debaixo do Estandarte - Os espaços de prestígio nas festas públicas das câmaras municipais e a manutenção
do poder da elite açucareira - América Portuguesa nos séculos XVII e XVIII .
Neste trabalho analisamos as cerimônias públicas patrocinadas pelas câmaras das principais vilas açucareiras da
América portuguesa nos séculos XVII e XVIII, buscando seus significados políticos através da utilização simbólica dos
espaços destas cerimônias. Trabalhando especificamente com as vilas açucareiras da Capitania de Pernambuco,
observamos os significados políticos dos espaços urbanos nas festas públicas, e a função destes no jogo dos poderes
da região. Também refletimos sobre as performances da elite açucareira nessas festas, onde encenavam papéis de
fiéis vassalos da Coroa para construir seu prestígio na própria capitania.

Paulo César Possamai - UFRN


As festas oficiais na Colônia do Sacramento
A Colônia do Sacramento destacou-se como um importante ponto estratégico na política expansionista e comercial da
coroa portuguesa na América. Por sua proximidade com Buenos Aires, as festas que comemoravam os eventos ligados à
Casa de Bragança serviam como uma vitrine do poder da monarquia portuguesa aos vizinhos súditos da coroa espanhola.
Caroline Pereira leal - PUCRS
O carnaval em Porto Alegre: lugares e condições femininas
O presente trabalho faz parte de minha pesquisa de mestrado a respeito do carnaval em Porto Alegre, entre 1870 e 1914,
e suas relações com os grupos femininos da cidade. Aqui, abordarei sobre os lugares e as condições que as mulheres

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ocupavam nesses festejos carnavalescos, assim como na sociedade. Para tanto, utilizarei como fonte excertos retirados
do periódico A Reforma. Periódico esse que circulava na capital da provincia do Rio Grande no periodo analisado.

Maria Berthilde de Barros Lima e Moura Filha - Universidade Federal da Paraíba


Festas e celebrações no Brasil Colonial: representações de poder e elos de ligação com a cultura portuguesa do
século XVIII
Uma análise da documentação que tramitava entre Portugal e Brasil, no período colonial, mostra a importância que as festas
de cunho oficial e religioso tinham naquela época. Tratando das comemorações de caráter oficial, verificam-se diversas
ordens que partiam de Portugal, determinando comemorar o nascimento de um príncipe ou especificando as formalidades a
adotar nos funerais de membros da família real. Em Portugal, estas celebrações foram importantes para consolidar o poder
absolutista dos reis e para demonstrar a opulência dos grupos sociais dominantes. Nas colônias, a celebração destas datas
tinha corno principal objetivo fazer presente a imagem do poder real e estabelecer um elo de ligação entre um Rei, geografi-
camente distante, e seus súditos através de acontecimentos que significavam a continuidade do seu poder. Através de
documentos do século XVIII, foi feito um resgate sobre estas festas, enfatizando os cenários construidos para a realização
das mesmas e as partes que as compunha, expressando o desejo de manter caracteristicas que eram próprias das celebra-
ções similares que ocorriam na Metrópole. Por isto consideram-se as festas oficias do período colonial como mais um elo de
ligação com a cultura portuguesa da época, para além de uma manifestação de caráter político.

Rubens Leonardo Panegassi - USP


Êxtase coletivo e conversão performática: cauinagem e aproximações culturais na América portuguesa
O processo de conquista e colonização da América, ocorrido a partir do final século XV, promoveu o contato entre a
civilização européia cristã com outras modalidades de civilizações que até então lhes eram absolutamente desconhe- \.!:.J
0
cidas. As aproximações culturais resultantes desse evento trouxeram para o continente americano a mensagem Cris-
tã. Com isso, as bases ideológicas do universalismo cristão foram estendidas ao relacionamento inaugurado com os .~
povos autóctones do Novo Mundo. No âmbito de um projeto evangelizador e de disseminação de sua mensagem, o ~
cristianismo intermediou a construção de uma nova humanidade, que se dava a conhecer em terras americanas. Esta B
humanidade, uma vez diante da descoberta de Deus, deveria assimilar as normas de conduta regidas pela moral :_
cristã, bem como todo seu aparato simbólico e cultural. Este estudo, dedicado ao tema da alimentação, procura discutir -g
o consumo de uma bebida específica, o cauim, na dinâmica de seus rituais de consumo: a cauinagem. ~
'u
o
V)

Gilian Evaristo França Silva - Universidade Federal de Mato Grosso ~-


As festas promovidas pela Câmara de Vila Bela da Santíssima Trindade: representações do poder na fronteira .3
oeste da América portuguesa (1752-1795) B
As festas foram acontecimentos muito comuns na América portuguesa, estando presentes também nos demais domi- co
E
nios do Império luso, envolvendo bailes, jantares, óperas, danças, músicas, teatros, solenes te-déuns". Mapeamos .{g
algumas das festas promovidas pela Câmara de Vila Bela da Santíssima Trindade, na capitania de Mato Grosso, ~
compreendendo os anos de 1752 a 1795, tanto as solenidades ligadas a ocasiões religiosas quanto aquelas realiza- ~
das em razão de eventos associados à família régia, com vista a perceber seus usos tanto por parte da coroa lusa, g
como por parte dos poderes locais. As fontes pesquisadas para a análise do tema constituem-se em acervos documen- .~
tais pertencentes ao Arquivo Público do Estado de Mato Grosso - APMT, ao Núcleo de Documentação e Informação
Histórica Regional- NDIHRlUFMT. Analisamos oficios, cartas, mapas de receitas e despesas da câmara da vila, e os
Anais de Vila Bela (1734-1789). Nos momentos festivos, as hierarquias sociais são reafirmadas, e cada segmento
social tinha seu lugar próprio nos espaços celebrativos e nas etapas ritualísticas. Ao mesmo tempo, os laços de
pertencimento a Portugal são reforçados nos colonos, participando os mesmos de todas as etapas de vida de seus
soberanos, reocupando materialmente e simbolicamente o espaço oeste.

Humberto Perinelli Neto - UNESP/CEUBM/FEF


Percursos pelas tramas de sentido: leituras indiciárias da Festa do Peâo de Boiadeiro de Barretos (1956-1972)
Os estudos culturais têm insistido em levar em conta o entendimento de diversas celebrações. Buscamos compreen-
der a importãncia que rodeios e festas congêneres adquiriram nas últimas décadas, principalmente no Centro-Sul
brasileiro, constituindo uma memória coletiva. Para tanto, interpretamos as dezessete primeiras edições da Festa do
Peão de Boiadeiro de Barretos (1956/1972), primeiro e principal evento dessa natureza, empregando uma variada
gama de fontes. Tal esforço esteve vinculado ao entendimento desta celebração, segundo a relação que manteve com
a dinâmica social de Barretos, bem como com a modernização (industrialização, urbanização e advento dos meios de
comunicação ern larga escala), os projetos culturais desenvolvidos pelo governo varguista e aqueles aliados à Ditadu-
ra Militar pós 64, além dos debates em torno da identidade nacional brasileira (especialmente a associação da brasili-
dade as 'paisagens sertanejas'). Visando desvelar a polissemia desse evento é que fugimos das abordagens que, de
modo estreito, atribuem à indústria cultural o sucesso de rituais com este perfil e, por conta disso, desconsideram as
ações, os projetos e os valores dos homens e mulheres envolvidos neste processo.

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Sergio Chahon - Universidade Gama Filho
Os leigos cariocas enquanto espectadores e participantes da missa barroca (1750-1820)
O trabalho ora apresentado baseia-se na constatação de que a participação dos leigos nas grandes missas barrocas
celebradas na cidade do Rio de Janeiro e arredores em fins da época colonial seguia por caminhos que, se não eram
de todo alheios á razão e á espiritualidade consciente, conduziam antes de mais nada ás emoções, e sobretudo ás
sensações despertadas pela visão e pela audição das mesmas missas, Essas dimensões da referida participação,
tanto mais presentes quanto mais espetacular a "encenação' do sacrificio de Cristo, são comentadas aqui em seus
traços principais, sem esquecer das estratégias políticas subjacentes ao uso reiterado da pompa religiosa em um
efervescente ambiente urbano como o do centro do Rio de Janeiro,

Cleusa Maria Gomes Graebin - Unilasalle


Festas e celebrações de origem açoriana no Rio Grande do Sul
O objetivo do trabalho é analisar as festas de origem açoriana que se realizam no Rio Grande do Sul, ou seja, a
celebração do Espirito Santo, Terno de Reis e Cavalhadas, tendo como recorte espacial a chamada Região Açoriana
(municípios que receberam colonos açorianos entre os séculos XVIII e XIX), Essas manifestações festivas são poten-
cializadoras de momento especial no qual uma coletividade projeta e [relcria significados para o mundo, imprime-lhe
identidade, sentido, conflitos, valores e especificidade, Metodologicamente, trabalha-se com abordagem interpretati-
va, registrando as festas, descrevendo-as e analisando-as, levando em conta o seu entendimento como processos
comunicacionais e como patrimônio imaterial, a partir de roteiro de pesquisa composto de quatro elementos: a) memó-
ria coletiva sobre as festas; b) perfil: como se desenvolve a festa em uma determinada conjuntura; c) mensagem:
conteúdo da festa, sentido que ela possui no entorno social; d) mediações: relações da festa com instituições externas,

3. A História Cultural e suas Interfaces: Literatura e Artes


Sandra Jatahy Pesavento (UFRGS) e Antonio Herculano Lopes (Casa de Rui Barbosa)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h ás 18h) I
Sandra Jatahy Pesavento - UFRGS
Imagens e textos: leituras possíveis de uma interface plausível
O trabalho pretende analisar aproximações e distanciamentos entre produção e recepção de textos e imagens - no
caso, literatura e artes plásticas - como objetos da historia cultural. Nesta medida, discute as interfaces da mesma
historia cultural, em abordaoem teórica que se valera do recurso de analise de casos concretos,

Fernanda Mendonça Pitta - Unicid - Universidade Cidade de São Paulo


L'E~;>rit Moderne: O meio literário e artístico no debate das artes· Paris do Século XIX
A comunicação tem como problemática a compreensão do lugar e da imagem da "Arte" e do "Artista' na modernidade
parisiense do século XIX, Em 'Paris, Capital do Século XIX", Walter Benjamin delineou a hipótese a seguir: investigar o
processo de constituição de um tipo histórico-social, desdobrado em três faces: o artista marginal, o artista pária ou o
artista-mercadoria, Real ou imaginária, lamentada ou louvada, a condição de marginalização do artista foi sentida pelos
agentes históricos do XIX como uma nova situação social. Sua ambigüidade trouxe complicações aos estudiosos das
teorias da arte moderna. Buscamos desvendá-Ia a partir de duas questões: 1) Existia alguma relação entre o fazer artistico
moderno (a ruptura com a tradição, a autonomia dos meios etc,) e esse processo de marginalização? 2) Como se consti-
tuiu, entre os artistas e literatos da sociedade parisiense entre os anos 1840 e 1860, a noção de arte moderna e qual a sua
relação com as tentativas de inserção social e profissional desses atores? A pesquisa se situa no campo da História
Cultural, analisando essa experiência histórica compartilhada simultaneamente por artistas plásticos e literatos (figuras
que se misturam em sua própria época, imersos no mesmo universo de indagações e problemas artísticos),

Nádia Maria Weber Santos - Feevale


Ventania, loucura e inspiração: a vida sensível de Vincent van Gogh
Sob o foco de pressupostos da História Cultural (representações simbólicas, sensibilidades de uma época), apresento o inicio
de uma pesquisa sobre a trajetória de vida de Vincent van Gogh (1853-1890) e a "loucura' que o acometeu, Com um material
recolhido em museus de Paris (Musée Zadkine) e Auvers-sur-Oise (cidade onde ele passou os últimos 70 dias de sua vida,
pintou mais de 76 obras e suicidou-se), cotejado com sua correspondência completa, discuto questões pertinentes à sua vida
psicológica e á sua inserção no mundo das artes, o qual estava em plena efervescência nos países em que freqüentou
(Holanda, Inglaterra, Bélgica e França), naquelas décadas finais do século XIX, Seu irmão Théo, interlocutor constante, teve
um papel definitivo em sua vida, afetiva e artistica, e escrevia, em janeiro de 1889:"sua mente tem estado ocupada há muito
tempo com problemas insolúveis da sociedade moderna, e ele ainda está lutando contra isso com seu bom coração e

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bondade. Seus esforços não foram em vão, mas provavelmente não viverá para vê-los frutificar e quando as pessoas enten-
derem o que ele disse em suas pinturas, será muito tarde." Poucos contemporâneos seus, também desestabilizados pelo fim
da tradição comunitária e a emergência do indivíduo solitário burguês, o compreenderam, levando-o

Luiza Larangeira da Silva Mello - PUC-RJ


Subjetividade e sociabilidade na crítica literária de Henry James
O trabalho tem como questão central a expressão, nos textos de crítica literária e nos relatos de viagem de Henry
James, de um tipo de sociabilidade especifico da segunda metade do século XIX, o qual integra o processo que Georg
Simmel definiu como a ruptura do vínculo entre a cultura subjetiva e a cultura objetiva, típico das sociedades tradicio-
nais. Para tanto será de fundamental importância que se investigue a relação entre os textos críticos de James (sobre-
tudo os prefácios que escreveu para os seus próprios romances e contos e para aqueles de alguns de seus contempo-
râneos, como Flaubert e Turgueniev) e os seus escritos de ficcção.

Geraldo Mártires Coelho - UFPR


Vida intelectual e sociabilidade na belle époque da Belém da Borracha
A da cultura burguesa produziu sua matriz por excelência no fim do século XIX: a belle époque. A mundialização do
capital e da cultura projetou-se sobre zonas estratégicas para a reprodução do capital, como a Amazônia da borracha.
A vida intelectual de Belém, por força de suas agremiações de homens de letras, reproduziu os cenários da belle
époque e produziu uma nova sociabilidade. O Progresso e a Civilização instalaram-se no trópico brasileiro, e o papel
dos homens de letras de Belém foi produzir uma vida intelectual e uma sociabilidade mundana compatíveis com os
tempos da modernidade, da velocidade e do caleidoscópio do mundo estilhaçado em seus panoramas.

Maria Elena Bernardes - UNICAMP


Teatro Municipal de São Paulo: Lugar de civilidade, luxo e elegância
O Teatro Municipal de São Paulo, inaugurado em 1911, veio responder aos anseios da elite paulista de ver a cidade
equipada com um grande teatro lírico, á altura do lugar que esta ocupava no país, visto que era representante de um
centro urbano das primeiras industrias nacionais e dos barões do café. Projetado por Ramos de Azevedo, o majestoso
edifício foi inspirado no L'Opéra de Paris, o que, por si só, conferia a ele o status de elegância e bom gosto. Esta
comunicação tem o propósito de compreender a relação e função cultural que o Municipal desempenhou na cidade de
São Paulo nas primeiras décadas do século XX, e, para tanto, dois momentos serão analisados: o primeiro período em
que serviu de vitrine para a visibilidade das forças tradicionais da cidade, e, segundo, quando o grupo liderado pelos
modernistas pretendeu dar a ele urn novo rumo. As temporadas líricas marcaram o debate nestes dois períodos, pois
eram esperadas pela elite da cidade e constituíam-se num momento de reunião e exibição de trajes, nas quais o foyer
e o bar do teatro se transformavam em um palco atentamente observado.

Márcia Azevedo de Abreu -IEL - UNICAMP


No papel de leitor: a censura a romances no século XVIII
No século XVm:toâos os livros que fossem ser publicados ou fossem circular em Portugal e seus domínios deveriam receber
uma autorização prévia da censúra. Diante da tarefa de examinar milhares de obras, seria razoável que os censores fossem
extremamente sucintos e objetivos, limitando-se a fórmulas como "imprima-se e tome' (quando o livro era aprovado), 'escu- ~3
sado e fique suprimido' (em caso de reprovação) ou 'pode correr" (quando da liberação do impresso para venda). Se havia ~
quem fosse assim sucinto, a maioria era bastante prolixa, preparando pareceres, que se estendiam por páginas a fio, em que
se apresentava de forma minuciosa a maneira como os textos foram lidos e avaliados. Os registros de leitura de romances
têm especial interesse por revelarem as formas pelas quaiS os letrados lusitanos reagiram a um gênero pouco valorizado no
interior das Belas Letras, mas dê graMe circulação. Pretende-se mostrar que os censores podem ser vistos não apenas
como aqueles que têm o controle sobre a leitura de seus contemporâneos, mas que, muitas vezes, comportam-se como os
leitores comuns, que se emocionam, sofrem, se irritam e se revoltam com o que lêem.

Washington Dener - UERJ/UNIGRANRIO/MSB


Lisboa e as três concepções de cidade na Literatura Setecentista
Voltaire, Sprengler e Fichte pensaram a cidade no século XVIII. Lisboa após o evento do 1 de novembro de 1755 foi
pensada como o exemplo de cidade moderna pelo Rei e pelo Ministro. A partir das concepções de cidade dos autores
supracitados, analisaremos o ideal de cidade para aqueles que reconstruiram Lisboa. Cõ
~
Luiz Carlos Villalta - UFMG 8
O "Encoberto" da Vila do Príncipe (1744-1756): milenarismo e ensaio de revolta contra brancos em Minas Gerais .~
Em 1744, apareceu na Vila do Principe (atual Serro), Minas Gerais, um eremita que se dizia filho legitimo de Manoel da -ti
Silva e Ana Maria, natural e batizado na freguesia de Santo Antônio do Tojal dos arrabaldes de Lisboa. Para alguns, :I:
apresentou-se como Antônio da Silva e, para outros, como João Lourenço. Na Vila do Príncipe, o eremita foi um «

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autêntico mediador cultural. Ensinou rapazes a ler, circulou entre escravos, forros e livres, homens e mulheres, e,
ainda, com três padres, figuras de certa reputação na localidade, discutindo com todas essas pessoas, sobretudo, a
respeito de religião (mas não só). Disseminou idéias messiânico-milenaristas, dizendo-se o Encuberto, filho de Dom João
V e irmão de Dom José, afirmando que vinha "Restaurar os pretos e mulatos dos captiveiros e tirallos do poder de seus
senhores para hir com elles Restaurar a Caza Sancta'. Ensaiou, assim, um levante de negros, mulatos e índios contra os
brancos. Esta comunicação tem por objetivo narrar a trajetória e apresentar as idéias de Antônio da Silva, usando para
tanto documentos inquisitoriais, primeiramente encontrados e analisados pela historiadora portuguesa Ana Maria Pereira.

I 17/07 - Terça-feira - Tarde (14h às 18h) I


Leandro José Nunes - UFU
Do Canto Heróico da Conquista da América à Utopia do Contato Pacífico: uma leitura dos cantos XXXV a
XXXVII da obra "La Araucana"
O processo de conquista e colonização do Chile, iniciado a partir de 1535-1537 enfrentaria, nas décadas seguintes, os
reveses provocados pela resistência oferecida pelas populações locais. Esta resistência obrigou à redefinição dos projetos
coloniais e foi tema de uma vasta produção narrativa que, das cartas do conquistador Pedro de Valdívia ao poema épico
"La Araucana", de Alonso de Ercilla, procuraram descrever e significar os acontecimentos, permitindo ao historiador inves-
tigar as tensões, conflitos e mudanças de significados que a empresa ultramarina foi assumindo ao longo do tempo. Neste
trabalho, analisamos os cantos XXXV, XXXI e XXXVII da "La Araucana' onde o autor, após cantar o heroísmo de espa-
nhóis e indígenas nas Guerras Araucanas, narra os episódios da expedição às terras austrais e discute, mais uma vez, a
questão da justiça da guerra. Na leitura que propomos, o objetivo é discutir a dimensão utópica que a narrativa assume,
constituindo-se num discurso que é, ao mesmo tempo, um lamento sobre a conquista e seus métodos, e a utopia do que
poderia ter sido caso fosse conduzida com objetivos éticos e morais elevados. Propomos que, nesta perspectiva, a utopia
delineada nestes cantos tem o sentido de uma crítica à condução da conquista da América.

Daniel Aarão Reis Filho· UFF


A. Rybakov, Stalin e o socialismo soviético
Trata-se de um estudo da literatura de A. Rybakov (Os filhos da Rua Arbat) como fonte para a compreensão de
aspectos centrais do stalinismo e do socialismo soviético.

Betzaida Mata Machaod Tavares - Unileste/MG


A crise do sentido moderno da história em "A insustentável leveza do ser"
A partir de uma anàlise da obra de Milan Kundera, este trabalho busca refletir sobre a crise do sentido moderno de história
que assenta-se sobre as idéias de lineridade, causalidade e progresso. Partindo de uma referência ao eterno retorno de
Nietzsche, a narrativa de Kundera se desenvolve de maneira que há uma repetição que marca a trajetória das quatro
personagens protagonistas - Tomas, Teresa, Franz e Sabina, independentemente da diversidade das experiências. A
tensão crucial do romance diz respeito ao antagonismo peso/leveza: peso refere-se à uniformidade, àquilo que se repete
por impôr-se pelo imperativo da necessidade histórica, leveza, ao contrário, evoca o acaso e o efêmero. Aanálise de como
a crise do sentido modemo da história está presente na narrativa de Kundera será feita a partir de três aspectos: 1) o papel
do acaso e do determinismo; 2) o esfacelamento e a multiplicação dos sentidos; 3) a uniformidade e as singularidades.

Dilton Cândido Santos Maynard - UNEAL


O Anti·Macunaíma: Mário de Andrade e a apologia de Delmiro Gouveia
Quando apresentou Macunaíma ao Brasil, em 1928, Mário de Andrade promoveu uma bem-humorada crítica ao Brasil e ao
seu povo. Ao mesmo tempo, desfilou vasta erudição. Desde então, seu nome e o do preguiçoso protagonista daquela obra
são costumeiramente associados quando se debatem estereótipos que ainda hoje pesam sobre os brasileiros, como uma
suposta pouca disposição para o trabalho. Contudo, pouco se explorou sobre as menções que o mesmo escritor realizou a
um outro personagem que, em seus textos, representa o oposto do herói andradiano. Trata-se de Delmiro Gouveia (1863-
1917), agroindustrial cearense que impressionou o autor paulista com seus empreendimentos e com sua rígida disciplina.
Neste trabalho, investigo como se dà, em certos escritos de Mário de Andrade, a construção de Delmiro como contraponto a
Macunaíma e quais as implicâncias disto nas interpretações depois realizadas sobre a memória deste negociante.

Emery Marques Gusmão - UNESP/Assis


A Correspondência de António de Alcântara Machado com Alceu Amoroso Lima e Prudente de Moraes Neto
Antonio de Alcântara Machado foi um nome de destaque no modemismo paulista. Formado pela Faculdade de Direito do
Largo São Francisco e membro de uma família tradicional, desenvolveu intensa atividade intelectual como escritor, jomalista,
historiador e, nos anos 1930 (quando a intelectualidade tende a assumir posicionamentos políticos e ideológicos), dirigiu a
Bancada Paulista por São Paulo Unido estabelecida no Rio de Janeiro no mesmo momento em que se instalava a Assem-
bléia Nacional Constituinte. As cartas trocadas com os amigos Prudente de Moraes Neto eAlceu Amoroso Lima entre os anos
de 1927 e 1933 (recentemente publicadas) denota os impasses do intelectual face ao momento que considerava renovado.

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Leonardo Ayres Padilha - PUC-Rio
Sociologia e critica literária: Sergio Buarque de Holanda modernista
Durante a década de 1920, Sergio Buarque de Holanda participou ativamente do movimento modernista (como repre-
sentante de "Klaxon' no Rio de Janeiro e, logo depois, como fundador e editor de 'Estética", ao lado de Prudente de
Morais, neto), principalmente como avaliador critico da produção artistica do momento e sistematizador teórico das
bases em que se estruturava o próprio modernismo. O seu conjunto de textos deste período revela um tipo de reflexão
que situa a literatura como campo privilegiado de produção de conhecimento teórico sobre a cultura, sem contudo
afastá-Ia de sua questão principal: a estética. Este trabalho pretende discutir a importância desta trajetória intelectual
do autor para a publicação, anos mais tarde, de "Raizes do Brasil' (1936).

Mauro Gaglietti - UPF


A cidade e o dinheiro: Pontes entre Simmel e Dyonélio Machado
Examina-se o romance Os Ratos de Dyonélio Machado tendo em vista a critica da modernidade empreendida por Simmel,
no contexto de uma economia monetária desenvolvida, socializante e agregadora das ações cotidianas. Tanto a obra de
Simmel quanto a novela de Dyonélio, escrita em 1934, desvelam a ambigüidade do viver social e da cultura modema.

Márcia Helena Saldanha Barbosa - UPF


O cronotopo e a inserção da história na narrativa de Dyonélio Machado
O trabalho propõe uma reflexão sobre o cronotopo no romance O louco do Cati (1942), de autoria de Dyonélio Macha-
do. Considerando-se, com base na teoria de Mikhail Bakhtin, que o cronotopo é a interligação das relações temporais
e espaciais artisticamente assimiladas pela literatura, e que é por meio desse elemento que a 'realidade histórica' se
introduz no romance, cabe examinar o modo pelo qual se processa o entrecruzamento do espaço e do tempo, e a
representação da História, na ficção de Dyonélio Machado.

Cleber Eduardo Karls - UFRGS


A Arte Imita a Vida: literatura e realidade em Dyonelio Machado
A literatura, utilizada como fonte para o historiador, pode nos revelar qu.estões singulares acerca das características de uma
época ou de um objeto de pesquisa, peculiares a este tipo de escrita. E, no entanto, no encontro entre a arte literal e outras
formas documentais que verificamos como a ficção 'imita' a vida 'real". Para esta apresentação, procuramos traçar alguns
paralelos que nos fazem perceber a literatura ficcional como uma extensão da 'realidade'. Pretendemos, através de alguns
prontuários do Hospital Psiquiátrico São Pedro, preenchidos pelo médico psiquiatra e escritor Dyonélio Machado, traçar
relações com uma de suas obras literárias, 'O Louco do Cati', publicado pela primeira vez em 1942. Neste contexto, ficção e
realidade se confundem no imenso mundo da literatura. O personagem inventado pode ser muito mais do que um simples
devaneio, e mostrar-nos a complexa vida do cotidiano do médico e do hospital psiquiátrico, com suas criticas e idéias.

Marines Dors - Unisinos


Reflexões pertinentes ao estudo da intelectualidade: Retratando Dyonelio Machado
Esta reflexão se inscreve nas discussões atuais dentro do campo de estudos sobre a intelectualidade (origem, função,
definição e engajamento). Para um estudo compreensivo dos intelectuais, sugiro o uso de alguns preceitos de interpretação
da Sociologia e Antropologia. Tais preceitos permitem ultrapassar os limites de uma análise embasada apenas em termos ~3
políticos. Aponto como pertinente, no método da História Intelectual, uma abordagem sociopolítica, englobando conceitos \...:!..J
como 'rede de sociabilidade' e 'campo intelectual', formulados, respectivamente, por Sirinelli (1996) e Bourdieu (1992).
Amparada também nas teorizações de Miceli (1977 e 1979) sobre aformação do campo intelectual brasileiro, faço o exercicio
de esboçar e refletir sobre a trajetória intelectual de Dyonélio Machado (1895-1985), membro engajado na sociedade gaúcha
do século XX, atuante em diversas esferas sociais como jomalista, médico, político, escritor. Trata-se de um profissional
humanista e figura com destacada e controvertida vivência nos meios literário, político e da saúde pública.

118/07 - Quarta-feira -Tarde (14h ás 18h) 1

Antonio Herculano Lopes - Casa de Rui Barbosa


O Rio de Janeiro em três atos: Martins Pena, Alencar e Vasques ~
A comédia fluminense oitocentista se dedicou recorrentemente á cidade e seus costumes. Os três comediógrafos aqui ~
analisados constroem, com suas obras, panoramas sociais e históricos distintos, porém altamente complementares, tendo ~
como denominador comum a difuculdade de enfrentar a questão crucial da escravidão. As noções de popular, nacional e .3
modemo perpassam as peças analisadas, dando equações distintas para a tarefa de fundação da novel Pátria, a serviço da 8
qual a intelectualidade dedicava mais ou menos assumidamente seus esforços criativos. O resultado é uma releitura do .~
período histórico que passa tanto pela consciência de seus atores como, sobretudo, pelo indizivel, que tem na criação 'E
dramática campo fértil para se insinuar. Os três autores também representam três momentos: aestabilização do Império, com ~
Martins Pena, seu apogeu, com Alencar, e sua crise, com Vasques. Ao longo do século, o teatro contribuiu fortemente para «

29
moldar consciências, criar imagens coletivas, formar identidades e". divertir. É justamente o que extrapola o projeto e se
anuncia como gratuito que toma estas fontes particularmente iluminadoras do processo histórico.

Monica Pimenta Velloso - Fundação Casa de Rui Barbosa


"É quase impossivel falar a homens que dançam"; o nacional popular
O envolvimento das subjetividades na dinâmica social tem sido contemplado como um dos pontos centrais da história
cultural. Essa perspectiva implica em um outro olhar sobre a história, entendendo-a como trama complexa de investi-
mentos capaz de integrar formas distintas de compreensão e organização de idéias, que, por sua vez, vão traduzir-se
em atitudes, comportamentos e sensibilidades. A apresentação do maxixe por um casal de dançarinos brasileiros, em
Paris, em 1913, desencadeia grande polêmica na imprensa, envolvendo as mais diversas opiniões. A minha proposta
é a de analisar a natureza e as implicações dessa mobilização. Considero que ela vai bem além de uma explicação
baseada no confronto entre os defensores da "europeização" da cultura (depuração da africanidade) e os guardiães da
sua autenticidade. O tom apaixonado do debate mostra que a dança punha em relevo outras dimensões da cultura
cotidiana, geralmente não consideradas em termos historiográficos.

Maria Luiza F. Martini - UFRGS


Tradução cultural: contar e representar
Apresento um documento, um entreato, pequeno espetáculo teatral criado por um grupo de recicladores (resíduos sóli-
dos) do Centro de Educação Ambíental (Vila Pinto) para comemorar a criação de mais um galpão de reciclagem. Iniciati-
vas desse tipo, entre empresários ou recicladores, sempre invoca a história (lideranças, realizações, beneficios a comuni-
dade etc.) Às vezes acatada em meus palpites, outras não; conhecida por contar ou indagar histórias e "fazer teatros" fui
procurada pelo grupo. Eu era a professora de um lugar chamado UFRGS, identificação que sustentei junto com uma
prática de tradução cultural (cruzamento de diferentes imaginários). O teatro é um ritual de proteção e transição para a
evocação: um personagem simbolizado por um pouquinho de purpurina pode criar uma transição imaginária. Mas tudo
começa pela pergunta: 'como é que se recicla?" Então contaram e veio vindo a matéria épica do nosso entreato: processo
de trabalho, cooperativa, vida na vila e sonhos: imaginário. É o que procuro analisar na perspectiva da História Cultural.

Claércio Ivan Schneider - UNESP


O olhar trágico-histórico: espelhos da crônica de Machado de Assis
As crônicas de Machado de Assis formam uma parte importante de sua produção literária. Machado exerceu a atividade
de cronista por mais de 40 anos, prática esta que lhe influenciaria sensivelmente na atividade de escritor. As
especificidades de suas crônicas não a tornam um objeto uno, visto que suas impressões são plurais, multifacetadas
e abertas a possibilidades múltiplas de interpretação. Nesta comunicação tenho como objetivo apresentar análises em
torno das representações sobre o Rio de Janeiro no final do século XIX produzidas por um cronista de seu tempo:
Machado de Assis. Procura-se perceber o cronista tangido pelo seu cotidiano, à luz de suas interrogações e conclu-
sões a respeito dos homens e dos acontecimentos de uma cidade que ajudou a construir a partir de seus textos.
Busca-se percebê-lo como jornalista que faz de sua critica um registro múltiplo de sua época: as tragédias cotidianas,
as convulsões de uma cidade em acelerada transformações, as questões políticas e os personagens públicos de um
momento de transição, as normas e as regras de uma sociedade que buscava na modernidade européia os moldes
para 'civilizar-se'. Como eixo analítico faz-se noção ao conceito de tragédia, que permite entender e reavaliar, com
Machado, as experiências do homem moderno.

~oelle Rachei Rouchou - Fundação Casa de Rui Barbosa


Alvaro Moreira ... polígrafo
Um panorama de novidade, uma cidade em transformação, pela primeira vez começa-se a falar em indústria na esfera da
cultura. ORio de Janeiro da virada do século XIX para XX assiste e é ator de um novo mundo, dentro das engrenagens do que
~e convencionou chamar de modemidade. Um jovem poeta, jornalista, cronista, amante de cinerna, de teatro, bon-vivant,
Alvaro Moreira, atua nesse cenário como promotor de uma cultura que vai chegar a novos públicos, formar novas platéias, até
então pouco afeitas a manifestações culturais. Esse texto vai analisar as crônicas de Moreira que vão rnigrando de um estilo
liter~rio para uma nova forma de escrita, do livroA Cidade mulher. Ocontato com o meio jomalístico vai transformando o estilo
de Alvaro num texto mais direto, uma conversa mais rápida com o leitor. Nos interessa nesta comunicação investigar o lugar
desse poligrafo que transita elegante e profissionalmente entre as diversas formas de textos e as ruas da cidade.

Cláudia Mesquita
A cidade ao "rés do chão": a crônica carioca dos anos 50 e a cultura das ruas por Sérgio Porto e Stanislaw Ponte Preta
O escritor Sérgio Porto, criador do antológico Stanislaw Ponte Preta, costumava dizer que todo cronista deveria andar
a pé ou de ônibus, pois a observação dos tipos comuns, do dia a dia da cidade, era fundamental para a escrita diária.
Essa observação atenta, aliada ao exercício jornalístico cotidiano do criador da hilariante família Ponte Preta nos
principais jornais do Rio, deu visibilidade aos tipos urbanos que iam surgindo na segunda metade dos anos 50 do

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século XX, redesenhando o perfil cultural de um Rio moderno e seus personagens risíveis, contraditórios, patéticos e
apaixonados. Esse trabalho tem por objetivo apresentar os tipos urbanos capturados pelas ruas da cidade, com suas
falas, trejeitos e culturas diversas e refletir sobre a estreita relação da literatura na conforrnação das identidades
culturais, sobretudo da crônica como um gênero literário muito especial, capaz de falar das coisas miúdas, do cotidiano
transitório e efêmero, da vida ao "rés do chão", como pontuou Antonio Candido.

Maria de Fátima Costa - UFMT


Aimé-Adrien Taunay: um artista romântico no interior de uma expedição científica
Dentre a obra realizada pelos artistas que acompanharam a Langsdorff em sua viagem ao interior do Brasil (1822-
1829), o trabalho de Aimé-Adrien Taunay ainda é o menos estudado. Tendo morrido com apenas 24 anos, sua obra é
pequena se comparada com as de Rugendas ou Florence, os outros desenhistas que fizeram parte da mesma expedi-
ção naturalista. Entretanto, os motivos que representou a lápis e à aquarela deixam ver que Taunay usava estes
materiais com destreza e poesia. Além disso, costumava escrever no verso das folhas informações complementares
ao desenho, estabelecendo um diálogo entre texto e traços. Não lhe bastava apresentar um motivo; havia a necessida-
de de dar-lhe vida, de criar um contexto histórico-cultural que aguçasse o espírito do observador. Neste estudo - tendo
como suporte imagens realizadas por Aimé-Adrien enquanto artista expedicionário e cartas que escreveu à época -
analisam-se algumas das questões que envolvem a arte produzida em viagens. Importa-nos discutir como Taunay, ao
realizar um trabalho de documentação de caráter cientifico, deixa transparecer o seu débito com os princípios formula-
dos por Humboldt (Ensaio sobre a Geografia das Plantas -1805, e Quadros da Natureza -1808) e, mais ainda, a sua
necessidade de dar vazão a uma individualidade romãntica.

Débora Taísa Krebs - UFRGS


A arte de Gustave Doré interpreta a Lenda do Judeu Errante: representação pictórica de uma literatura
preconceituosa
Este trabalho tem por objeto as gravuras - entendidas como representações pictóricas - que Gustave Doré criou para
ilustrar a edição de 1862 de 'La Légende du Juif Errant" (A Lenda do Judeu Errante), bem como o texto literário da
lenda, conectando arte e literatura. O objetivo deste trabalho é examinar as relações entre as representações pictóri-
cas e o texto escrito, buscando compreender suas aproximações e distanciamentos, as influências que exercem uma
sobre a outra e como o conjunto que formam enquanto uma representação texto-imagem possibilita, quando não
induz, um determinado entendimento da obra em questão.

Cláudia de Oliveira e Laura Nery - Fundação Casa de Rui Barbosa


A Carioca, de Pedro Américo: alegoria e erotismo no imaginário oitocentista brasileiro
Em 1866, tendo encerrado seus estudos na Escola de Belas Artes, em Paris, Pedro Américo ofereceu a tela A Carioca ao
imperador Pedro 11, em reconhecimento ao seu mecenas. Onu feminino obedecia aos cânones da grande arte e pretendia
ser uma alegoria feminina da nacionalidade. Atela, entretanto, foi recusada por imoral e licenciosa: mesmo não fugindo à
regra oitocentista relativa à nudez na obra de arte, A Carioca não pôde, portanto, ser absorvida de imediato. A sensualida-
de tangível da figura feminina, próxima do orientalismo tão em voga na Europa, confrontou-se não somente com os limites
morais, mas também com a orientação estética e cultural do Império. O que chocara mais: a nudez frontal ou um nu tão
descolado do que se desejava como nudez nacional aceitável, por exemplo, aquela das romãnticas figuras indigenas? A (::;)3
Carioca oferecia um corpo simultaneamente ideal e obsceno: o alto - uma beleza imaterial- e o baixo - uma carnal idade ~
excessiva. Sugeria uma mistura de estilos que, sem romper com a regra do decoro artístico, insinuava na tela algo
inadequado ao repertório simbólico oficial. Aexótica morena, que não é india - nem mulata ou negra - poderia representar
a mulher brasileira e desfrutar de um lugar de destaque no imaginário da nossa "monarquia tropical"?

I 19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h às 16h30min) I


Marcos Rogério Cordeiro - UFMG '"
~
Euclides da Cunha e a Tradição Cultural Brasileira ]
Ao longo do século 19, constituiu-se no Brasil uma tradição de pensamento que procurava elaborar e desenvolver uma .s
interpretação própria e original sobre o país. Essa tradição articulou conteúdos diversos, que incluíam a história e as ciências '"
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naturais, além da literatura, que serviria de meio para a representação do Brasil. Entretanto, as principais correntes que se '"
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dedicaram a essa tarefa, o Romantismo e o Naturalismo, partiram de pressupostos opostos para fundamentar cada qual sua
teoria. Enquanto o Romantismo procurou atribuir maior ênfase à literatura, concebendo-a como mediação dos diversos ~
conteúdos, o Naturalismo elegeu as ciências naturais como instnumento privilegiado de explicação da realidade histórica e de ;3
inspiração literária. Diante dessa tradição fraturada, surge a obra de Euclides da Cunha, "Os sertões" (1902), cuja importância .ê
reside no modo como encaminha os impasses dessa tradição: o livro herda, articula e reelabora os problemas e os procedi- -8
mentos de análise que a tradição cultural lhe legou. A proposta de análise que se pretende aqui consiste na análise das ~
teorias e metodologias que serviram de inspiração ao livro: a história social, a filosofia da natureza e a teoria literária. <C

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Cristiano Cezar Gomes da Silva - UFPB 1FABEJAI UNEAL
Entre a história e a literatura: as múltiplas letras, os múltiplos tempos, os múltiplos olhares em Graciliano Ramos
Nesta comunicação buscamos um diálogo entre a história e a literatura. A fronteira entre esses saberes possui uma
delimitação bastante tênue e de difícil demarcação. Nela imbricam-se o 'real" e a construção de suas representações
que não podem ser dissociadas, mas são materializadas através da narrativa. Assim, analisamos Graciliano Ramos
em sua multiplicidade: escritor, militante, memorialista. O escritor é reconhecido como um dos maiores literatos brasi-
leiros. No entanto, seus diversos escritos desvelam outras faces. O enfoque deste trabalho é a discussão de como a
obra Vidas secas (1938) e algumas de suas crõnicas, ensaios e fragmentos, constroem sentidos, significam, denunci-
am, registram e constituem parte do emaranhado de uma rede de memória discursiva sobre o momento entre as
décadas de 1930 e 1940 no Brasil. Observamos um Graciliano Ramos engajado que acusa e denuncia a estrutura
social da época. O autor, a partir de suas experiências, faz da literatura uma prática e um contraponto para resistir ao
silenciamento da ordem instituída. Os vários escritos pesquisados estão no Arquivo Graciliano Ramos, do Instituto de
Estudos Brasileiros -IEB. Este fragmento integra a pesquisa em andamento junto ao Doutorado do PPGL da UFPB,
orientada pela Professora Ivone Tavares de Lucena.

Marcos Edilson de Araújo Clemente - Universidade Federal do Tocantins


História e fotografia: imagens fotográficas do cangaço (1900/1938)
O trabalho analisa a relação história e fotografia em seus aspectos teóricos e metodológicos. Focaliza o cangaço, tipo
de banditismo ocorrido nos sertões do Nordeste brasileiro, especificamente, o cangaço da fase de Virgulino Ferreira da
Silva - o Lampião - entre 1900 e 1938. Há imagens fotográficas de Lampião e seu bando em pelo menos duas ocasiões:
a primeira, em 1926, quando esteve em Juazeiro, Ceará, para encontro com Padre Cícero. Na segunda ocasião, em 1936,
o mascate Benjamim Abraão Botlo filmou Lampião e seu bando no deserto do Raso da Catarina. As imagens mostram os
cangaceiros em cenas da vida cotidiana, em poses de guerra, rezando, lendo. Tal aparato fotográfico expõe um conjunto
de representações do cangaço. Desvelar o valor histórico destas imagens significa perceber que a fotografia é portadora
de uma interrupção do tempo e da vida, pois há na imagem uma nova realidade, passada, limitada, transposta. Afotografia
é a um tempo monumento e documento. Monumento, pois escolha das forças atuantes no real; Documento, pois é
escolha efetuada pelo historiador. Assim, o trabalho se interroga sobre qual o lugar da imagem fotográfica enquanto
evidência histórica? Quais são os limites e as possibilidades da iconografia fotográfica do cangaço?

Angela Brandão - Universidade Tecnológica Federal do Paraná


Contemplação de Ouro Preto: Murilo Mendes e uma poética para o barroco mineiro
Oconjunto artístico barroco erococó de Minas Gerais foi objeto de diversas interpretações ensaisticas, poéticas ehistoriográficas,
desde o século XIX. Convencionou-se, no entanto, entender que apenas os modernistas de São Paulo redescobriram a arte
mineira do XVIII. Esta dita 'redescoberta' foi antes uma reelaboração estética dos elementos do passado. As abordagens
historiográficas mais sistemáticas da arte da mineração, com textos como os de Lourival Gomes Machado, dos anos 1950,
contrapuseram-se á liberdade poética de que Carlos Drummond de Andrade dispunha para tratar do passado artistico de
Minas Gerais. Nesses mesmos anos, Munlo Mendes compunha sua 'Contemplação de Ouro Preto'. Acrescentava áinterpre-
tação do barroco mineiro um teor surrealista, presente em sua escrita e em seu colecionismo artístico.

Jeniffer Alves Cuty - UFRGS


Memória e contemplação no universo de Mario Quintana: deslocamentos por espaços e tempos ampliados
pelo imaginário poético
Este trabalho busca analisar as nuances nas representações de espaço construído - a casa - presente na obra de
Mario Quintana e de tempos rememorados ou imaginados por este poeta gaúcho fixado em Porto Alegre. No recorte
proposto, encontram-se os poemas produzidos no inicio da década de 1980, os quais afirmam a maturidade do poeta
no trânsito entre universos reais e fantásticos, bem como em sua profunda negação ao mundo vivido e sua permanen-
te referência ao tempo passado. A casa de sua infância é maior que o mundo; ela remete a um ideal e a uma eterna
busca. Composto por infinitas escadas e habitado por fantasmas, o espaço da memória poética nos conduz a decifra-
ção de um imaginário carregado de elementos resultantes de um contexto histórico e social específico. O caráter
polissêmico das palavras e a pluralidade de imagens - refinadamente agrupadas pelo rigor da poesia - nos encami-
nham á leitura hermenêutica guiada pelo filósofo Paul Ricoeur, em diálogo com a compreensão das superposições
palimpsésticas de espaços e tempos escritos no imaginário social.

I 20107 - Sexta-feira - Manhã (10h30min ás 12h30min) I


Marina Haizenreder Ertzoguie - Universidade Federal do Tocantins
Solidão tanto quanto possível: anotações de um diário de viagem ao Brasil de Maria Graham
A história das sensibilidades consiste na escrita de uma história a partir do ponto de vista de uma emoção em particular.
Este texto trata da solidão na narrativa de Maria Graham, autora do Diário de uma viagem ao Brasil durante os anos de

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1821,1822 e 1823 e do Esboço biográfico de D, Pedro I, com uma noticia do Brasil e do Rio de Janeiro no seu tempo, A
solidão levanta diversas questões, como: do que as pessoas sentem falta? Quais são as suas expectativas? Oque as faz
considerarem-se incompletas em si mesmas? Sobre a solidão, poderíamos, ainda, discorrer a cerca do sentimento de
quem não está na pátria. Esse texto foi escrito a partir das histórias pessoais de Maria Graham, como expressão da
sensibilidade da narradora. Aprimeira visita da escritora inglesa ao Brasil foi em 1821, a bordo da fragata Doris, comanda-
da pelo seu marido Thomas Graham, capitão da Marinha Real Inglesa. Este veio falecer em abril de 1822. Em 1823
regressou ao Brasil, atendendo o convite de D, Pedro I para ser preceptora da Princesa Maria da Glória. Residiu no Paço
Imperial, entre 5 de setembro a 10 de outubro de 1824 Tornou-se amiga e confidente da Imperatriz D. Leopoldina. Parte da
história pessoal da escritora inglesa, relacionada ao tempo de permanência na Corte, está registrada na corresp

Luis Fernando Beneduzi - Università degli Studi di Bologna


Sanguinatio Patriae: o luto e a esperança nas narrativas de viagem sobre a imigração italiana
Diferentes vozes que narram o fenômeno imigratório italiano de finais do século XIX falam da dimensão da morte - de uma
experiência de luto e de esperança que se entrecruzam no processo de travessia do Oceano Atlântico. Afigura emblemática
de um 'dessangrar" - de uma morte anunciada - perpassa tanto o relato de imigrantes, perpetuado em seus diários de
viagem, quanto aquele de Edmondo De Amicis - jomalista e romancista - que retrata em 'Sull'Oceano' e 'Cuore" essa
experiência de expatriação de seus CCHlacionais. Nessas duas narrativas se percebe nitidamente o processo de perda que a
imigração comporta. Para o imigrante, a partida transforma-se em uma experiência de morte pessoal, a expropriação de uma
realidade tangígel, mas também, e particularmente, de um mundo afetivo e mnemônico, Para o romancista, mesmo narrando
as vivências pessoais e o luto individual em suas duas obras, está-se diante de um luto nacional, de um dessangrar da nação.
No entanto, esse mergulho melancólico, ou esta morte anunciada, é bloqueado pela esperança do encontro com o paraíso e
da sublimação que se produz a partir da memória. A travessia traz consigo a busca de uma epifania - segundo a leitura de
Walter Benjamin - de um momento de revelação e encontro com este sonho de uma nova existência.

Maria Teresa Santos Cunha - UDESC/SC


Saberes Impressos: Imagens de civilidades em Literaturas Ordinárias (Os livros de bolso Idécadas de 60 e 701
século XX)
Neste estudo, através da análise de um corpus documental composto de uma coleção de (Livros de Bolso), de autoria de uma
espanhola - Corin Tellado -que circulou abundantemente no Brasil entre as décadas de 60 e70 do século passado, procurou-
se analisá~os tanto em seus suportes materiais com em seus dispositivos textuais com ofito de mapear um dado conjunto de
regras morais e condutas prescritas que compõem o repertório civilidades de uma época. Considerados como literaturas
ordinárias suas imagens se prestam a um processo hermenêutico já que comportam o simbólico. Aanálise procura exercitar
uma dada percepção para apreender intervenções de certas linguagens no transcorrer da história e como estas possam ter
constituído novas formas de sensibilidade. Tais linguagens instituem comportamentos e interferem em padrões de conduta
que atuam no cotidiano de indivíduos, despertam afetividades quase sempre com muita eficácia porque atingem emoções e,
portanto, uma das instâncias mais íntimas de homens e mulheres. Considerar linguagens como saberes impressos ligadas é
um exercicio de resignificação de situações que foram durante muito tempo desconsideradas por historiadores envolvidos em
linguagens racionais, científicas, não-emotivas, inauguradas pela modemidade.

Eliézer Cardoso de Oliveira - UEG ~


Quando o horror excita: a literatura catástrofe em Goiás
Como os humanos têm uma necessidade ontológica de fazer narrativas sobre tudo que os cercam, o barulho das
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catástrofes não haveria de passar despercebido pela literatura, Dai a existência de inúmeros romances, contos, nove-
las, peças teatrais e poesisas sobre alguma catástrofe. Os exemplos mais célebres são 'Diário do Ano da Peste'
(Defoe) e "A Peste' (Camus), Em Goiás. muitas obras literárias exploraram essa estética da catástrofe: 'O Tronco"
(romance de B, Élis sobre uma Chacina ocorrida em 1919), 'Pão cozido debaixo de brasa' e 'A menina que comeu o
Césio' (romances que exploram o acidente com o Césio 137, ocorrido em em 1987). O interesse histórico por essas '"
obras decorre do fato de trabalharem um acontecimento histórico sob a forma de ficção, estando a meio caminho entre ~
história e ficção. Além disso, estas obras são marcadas por uma tensão fundamental, entre o horror ao acontecimento t
que lhe deu origem e o desejo de contar bem uma história, o que possibilita o prazer estético. Horror e beleza, eis a ~
estética do sublime presente na literatura catástrofe.

I 20107 - Sexta-feira - Tarde (14h ás 18h) I "§


~
Clóvis Frederico Ramaiana Moraes Oliveira - UNEB ;3
"Todos os sotaques e t~das as peixeiras": literaturas e conflitos urbanos em Feira de Santana .ê
Feira de Santana, 1951. A poeira gerada pela recém inaugurada rodovia Rio-Bahia, juntam-se outras, da Feira-Salva- -~
dor, das novas ruas que eram abertas, das velhas chácaras que eram derrubadas para dar lugar a residências, construidas :i:
segundo o padrão estético mais adequado a novas temporal idades arquitetônicas. Sob a sombra das poeiras, per- «

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sonagens históricos se agitam, re-significando, através de comportamentos variados, o momento que vive a antiga 'Princesa
do Sertão', Esse processo de re-significação, objeto deste trabalho, traduzido em diferentes formas de literatura (cartas,
processos crimes, cartões postais, poemas e crônicas), demonstra vários conflitos simbólicos, sobre os mecanismos de
apropriação do espaço-cidade, e de escrita de uma história local. Enquanto alguns fotografam e escrevem, outros matam,
seguindo a senda de vinganças a muito prometidas, ~ssas práticas implantam modelos de comportamentos, preconizam
metáforas do viver, ou não viver, em cidades, Produzidas segundo o modelo literário padrão ou sendo uma "outra literatura",
que foge aos padrões canonizados, as propostas semânticas insinuam variados modelos de urbanização, segregam novos,
e velhos agentes, presentes no território citadino, propondo assim uma cartografia para a urbe que se configurava,

Valter Guimarães Soares - Universidade Estadual de Feira de Santana


História e literatura na invenção da Bahia das Lavras Diamantinas
No campo de luta simbólico acerca da identidade baiana, onde se entrelaçam ficção, memória e história, é possível
identificar a presença de pelo menos quatro Bahias: do Recôncavo, do Cacau, do Garimpo e a Sertaneja, que emer-
gem com o paradigma modernista e as novas formas de pensar, ver e sentir o local e o regional. A hegemonia de uma
dada estereotipia acerca do que vem a ser a 'cultura baiana' é, ela própria, uma questão histórica, encenada no palco
da luta de representações em torno do que vem a ser a baianidade, Tornando como foco o romance Cascalho (1946),
de Herberto Sales, que traz a marca de denúncia da hipertrofia do poder privado, destacando-se a crítica ao rnandonismo
local, e a narrativa de cunho historiográfico Jagunços e heróis (1961), de Walfrido Moraes, que se configura como uma
espécie prosa da valentia, procuro perceber como vai sendo tecida, pela via do discurso, a Bahia das Lavras Diamantinas,
Espreitando as condições de possibilidade, as intenções e os projetos inscritos nas representações, tencionamos
visualizar como as Lavras foi sendo instituída, como ali se produziu uma dada maneira de ver e dizer um lugar e uma
gente 'reais', como foi sendo teatralizada uma forma de apresentar sua história e o que foi sendo silenciado na opera-
ção de enquadramento,

André Luiz Rosa Ribeiro· UESC


Entre "o que foi" e "o que poderia ter sido": morte e memória na literatura amadiana
Este trabalho de pesquisa busca analisar como o fenômeno da morte é abordado na produção literária referente á região
cacaueira do nordeste, mais especificamente a obra do autor Jorge Amado, o mais representativo na temática sobre o
cacau, A violência e a morte são elementos fundamentais na construção ficcional da identidade regional idealizada por
Amado, caracterizando o chamado homem 'grapiúna' formador da chamada civilização do cacau na área de fronteira
agrícola nas matas do sul-baiano, A morte permeia todo processo de desbravamento e consolidação econômica regional,
concedendo ao grapiúna a legitimidade do mando e da posse da terra 'adubada de sangue' e fo~ando uma memória que
pretende legitimá-lo como referêcia de um passado heróico que passa a ser rejeitado com o advento das transformações
sociais e culturais trazidas pelo contato com formas exteriores de padrôes comportamentais, Nessa análise foram estuda-
das as seguintes obras: Cacau, Terras do Sem Fim, São Jorge dos Ilhéus e Gabriela, Cravo e Canela,

Martine Suzanne Kunz - UFCE


Melancia e Expedito· Cordel na fala e na escrita
Esse trabalho se propõe a refletir sobre as trajetórias de dois autores cearenses de cordel, um do sertão, o outro do litoral:
o poeta -artesão de Juazeiro do Norte, Expedito Sebastião da Silva (1928-1997) e o poeta-pescador de Canoa Quebrada,
Ze Melancia (1909-1976). Procuramos desenvolver um estudo comparativo à luz da poética da oralidade (Zumthor), da
estética da recepção (Jauss, Iser) e da correlação entre forma literária e processo social (Antonio Cândido), e tentamos
analisar em que medidas, para cada poeta, o percurso editorial de sua produção e o sentimento de pertencer a uma
coletividade interferiram na estética das obras em questão e na sua capacidade de comunicação através dos tempos.

Sylvia Regina Bastos Nemer - IFCS·UFRJ


O folheto popular e as Revistas Ilustradas: o circuito de comunicação cidade I sertão na virada do século XIX
para o século XX
No folheto de cordel, a mulher (donzela) e o homem (cavalheiro), vistos na literatura popular tradicional como exemplos
de virtude, vontade e coragem, passam a ser retratados como tipos maliciosos, que buscam exclusivamente seus
objetivos individuais. Frequentes nas Revistas Ilustradas, esses novos padrões de comportamento e moralidade co-
meçam a circular pelo sertão nordestino junto com os primeiros folhetos que teriam atuado, a partir do final do século
XIX quando a literatura popular do Nordeste começa a ser veiculada na forma impressa, como canal de difusão de um
"imaginário moderno' em um tipo de sociedade onde as idéias circulantes nos meios mais cosmopolitas do país eram
até então muito restritas. Partindo dos estudos de Darnton em 'Boemia literária e revolução' e de Guinzburg em 'O
queijo e os vermes', o trabalho procurará verificar se a literatura de cordel, como a subliteratura consumida pelos
franceses no século XVIII ou as leituras realizadas por Menocchio no século XVI, pode ser pensada, contrariando a
posição de certos estudiosos que a consideram como uma expressão conservadora ou mesmo como um instrumento
de manutenção do status quo, como um veículo de representação de novos hábitos mentais e culturais.

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Paula Ester Janovitch - Departamento de Patrimônio Histórico de São Paulo ~
A grande imprensa de São Paulo e Rio de Janeiro na mira da linguagem caricata no início do século XX ~
No início do século XX, em pleno clima de euforia que marca a belle époque brasileira, um novo divertimento toma o
eixo Rio-São Paulo. São as revistas ilustradas, de atualidades ou humorísticas que a reboque do grande crescimento
da imprensa como veiculo de comunicação de massas a despontar no 1900, começam a ser saboreadas pelos leitores
dos grandes centros urbanos em ascensão.
O humorismo nas revistas foi talvez a forma de expressão mais freqüente de combate e critica ao novo veiculo da
palavra impressa. Atentos ao dia-a-dia das noticias saídas em primeira mão nos diários, a linguagem irreverente ê
retirava sua matéria ainda prima para transformá-Ia em motivo de paródías e farpas semanais. Desde tímidas referên- -;
cias á fonte primária de onde fora retirado o motivo da charge, ou presentes como elementos centrais nas ilustrações, ~
desfilavam de forma caricata outras versões dos fatos noticiados ao longo da semana. ~
~

Rodrigo Ribeiro Paziani - FAECAlCEMUMC "*-'"


Desejos de civilização, véus da barbárie: um olhar sobre a construção do imaginário urbano da Belle Époque ~
Caipira no Almanach lIIustrado de Ribeirão Preto de 1 9 1 3 . ~
A proposta deste trabalho será a de interpretar o imaginário urbano da Belle Epoque Caipira - conceito que abarca uma :
vasta e multifacetada experiência da modem idade vivenciada em cidades do interior de São Paulo - através da presença
de imagens e discursos sobre Ribeirão Preto no Almanach IIlustrado, cujas páginas procuravam expressar os sintomas de
progresso da cidade e os hábitos civilizados da elite ribeirãopretana - ávida por novos olhares, desejos e paixões naque-
:s:E
co

les tempos republicanos de negócios e negociatas em torno da atividade cafeeira (Evaldo Doin). Por este prisma, acredito <>:
que os almanaques (e as revistas ilustradas) possam revelar uma leitura (Renato C. Gomes) não apenas idealizada
(condição de abstração), mas, especialmente, desejada (condições de possibilidade) das transformações urbanas. Mas,
se a escrita produzida em almanaques afinava-se com um imaginário urbano elitista e pela presença de uma incipiente
sociedade de consumo na cidade, não era menos verossímil que a cidade-desejo (Sandra J. Pesavento) evocada nas
suas páginas servisse de carapaça à uma trama ambivalente de mando pessoal, de uso da violência e de poder político
entre as principais lideranças municipais operadas no lusco-fusco do público/privado e da civilização/barbárie.

4. A História e as múltiplas faces da Arte


Elisabete Leal
I 17/07 - Terça-feira - Tarde (14h às 18h)

Sheila Schvarzman - CONDEPHAAT-SP I Universidade Anhembi-Morumbi


Esquecer a Ditadura
Mecanismos de várias ordens impõe o esquecimento. Outros constroem e moldam esse esquecimento em nome do
apagamento de conflitos. O resultado dessa operação protética a que se refere Paul Ricouer, é a criação de uma nova
memória, postiça, diferente da original, mas que, pela sua difusão massiva, termina por se impor sobre a primeira, a
memória fugaz, incontrolada e livre. São muitas as formas de construção do esquecimento - a censura, a repressão, a
educação formal, a escrita da história; os seus monumentos e festejos e os meios de comunicação, no qual se incluem
o rádio, a tv, o jornal e o cinema. Fiquemos nesse espaço apenas com o cinema examinando a reconstrução da
memória da ditadura militar em filmes exemplares lançados em 2006/07, filmes desencadeados pelos sistemas de
incentivo e que são parte da comemoração dos 40 anos do Golpe Militar de 1964: 'O ano que meus pais saíram de
férias' de Cao Hamburguer, 'Sonhos e Desejos' de Marcelo Santiagoe 'Batismo de Sangue' de Helvécio Ratton.

Marcia de Souza Santos - UnB


Memórias da Ditadura: representações do regime militar no cinema nacional
O estudo analisa como a produção cinematográfica brasileira atual está construindo uma determinada memória histó-
rica referente ao regime militar (1964 -1985). O que o cinema procura mostrar sobre esse período? Quais temáticas
são criticadas ou valorizadas, ao se abcrdar o regime militar? O que não está sendo colocado em discussão e por que
não está? Essas são algumas das questões que considero relevantes, partindo do princípio de que a memória é um
fenômeno construído e que, portanto, o cinema seleciona aquilo que deseja solidificar na memória de um grupo ou de
uma sociedade, assim como aquilo que deseja apagar dessa mesma memória.
Considerando, ainda, a impreterível necessidade de se associar as representações sobre o regime militar ás condi-
ções de produção das obras cinematográficas analisadas, procuro situá-Ias em dois blocos temporais, significativa-
mente distintos. Um, no início do período conhecido como "retomada', anos 90 do século XX, e outro referente aos dias
atuais. A partir desta diferenciação, busco então apreender as memórias elaboradas para o periodo citado e sua
relação com o contexto de produção dos mesmos.

35
Djessika Lentz Ribeiro - Udesc
De Bedrock a Springfield: um estudo comparativo entre os desenhos animados Flintstones e Simpsons
Odesenho animado constitui-se em fonte ainda pouco explorada pela pesquisa histórica. Destacado produto de comu-
nicação de massa há mais de 50 anos, revela aspectos da sociedade na qual foi produzido. Dessa maneira, busca-se
aqui realizar um estudo comparativo entre dois desenhos de grande importância para as animações: Os Flintstones e
Os Simpsons. O primeiro criado na década de 1960 pelos estúdios Hanna-Barbera; o segundo, no final da década de
1980, pelo cartunista de quadrinhos alternativos, MaU Groening. Por meio desses desenhos, analisa-se, neste traba-
lho, determinados valores sócio-culturais, a saber: família, lazer, trabalho e consumo. Dessa forma, torna-se possivel
compará-los com o intuito de identificar continuidades e transformações no que se refere a esses valores.

Laura Loguercio Cánepa - Unisinos


Medo de quê? Uma pequena história dos filmes de horror no Brasil
Este trabalho propõe um exame histórico do cinema de horror brasileiro, desde os primeiros registros cinematográficos
deste gênero de ficção no cinema nacional até os mais recentes longas-metragens produzidos no país, levando em
conta suas diferentes fases e matrizes estilísticas, e explorando a possibilidade de falar-se de um estilo especificamen-
te brasileiro para o gênero. Ao expor diferentes experiências de cinema de horror no Brasil e o seu diálogo com a
cultura popular nacional e com a cultura midiática internacional, pretende-se discutir um panorama de filmes nunca
antes reunidos num mesmo conjunto e verificar a expressividade cultural desta cinematografia.

André Malverdes - UFES


Projetando a própria crise: a relação do fechamento das salas de cinema e a relação com o espaço urbano no
Centro da cidade(1979-1985)
Este trabalho pretende traçar um itinerário da relação das salas de cinema com o espaço urbano e cultural no bairro do
Centro na cidade de Vitória, no período compreendido entre 1979 e 1985. Durante a pesquisa destacamos a importân-
cia do cinema como prática social, cuja contribuição foi marcante tanto no hábito urbano dos moradores de Vitória
quanto para a história das salas de cinema e o entendimento do encerramento das mesmas no período em questão. O
fechamento das salas acenaram para aspecto mais gerais do circuito exibidor local e dessa modalidade de lazer. Se
desde o seus primórdio a pesquisa já era conduzida por uma perspectiva de pensar a relação do cinema com a cidade,
quando as salas desapareceram do Centro de Vitória, resgatar a história das salas tornou-se uma urgência. A história
das salas do Centro, sua relação com o mercado e com o público, sintetiza o percurso de outros espaços a nível
nacional, especialmente as que nasceram no centro e depois se viram esvaziadas pela "migração' das salas para os
shoping centers. Percorrer os labirintos do circuito cinematográfico local abre um espaõ não só para analisar o fecha-
mento das mesmas, mas também registrar uma nova configuração espacial e uma nova sociabilidade urbana.

Janaina Girotto - UFRJ


O florão mais belo do Brasil: o Imperial Conservatório de Música do Rio de Janeiro
A música foi tida como o fiarão mais belo do Brasil, o seu mais brilhante ornato, e cuidar para que o seu brilho não
acabasse foi um dos objetivos na criação do Conservatório de Música. Essa instituição foi a primeira escola pública e
instituição oficial que tinha no ensino de música o seu único objeto. O modelo institucional veio da França onde,
também no ensino de música, prevaleceu o ideal de universalidade e que conhecimento pudesse atingir a todos, que
acabou criando um novo paradigma no ensino musical, hoje denominado como "sistema conservatório". Representan-
do um papel estruturante no ambiente artistico da corte passou a ser uma das mais importantes instituições musicais
no Rio de Janeiro no século XIX, junto com a orquestra e coro da Capela Imperial e, posteriormente, com os clubes de
música, ampliando as dimensões da vida musical brasileira.

Rainer Gonçalves Sousa - Universidade Federal de Goiás


Rock: Uma trajetória entre a História e a Música
A discussão sobre o estudo do rock, aqui oferecida, busca trazer novas perspectivas e aparatos teóricos que definem
a natureza da música popular e o valor das letras de música enquanto fontes históricas. Nesse sentido, a falta de
grandes textos que estabeleçam um parâmetro de discussões ao pesquisador dessa área, nos oferece espaço para
outros tipos de textos e discussões teóricas. Assim, estabelecemos um diálogo entre as diferentes perspectivas que os
teóricos Theodor W. Adorno e Mikhail Bakhtin desenvolvem sobre tal questão. Desse diálogo surgem questões que
vão desde a definição da cultura popular até a legitimação do valor histórico que a manifestação artistica, em tempos
de Indústria Cultural, pode oferecer ao pesquisador. Em outras leituras, justificamos a multiplicidade e a inter-relação
dos mais diversos tipos de textos que surgem em um estilo musical como o rock. Sob tal aspecto, as obras de Dominick
LaCapra são úteis na detecção dos textos a serem encontrados e como podemos realizar uma leitura que escape à
mera reafirmação de um contexto histórico. Por fim, discutiremos como algumas letras e formas de execução reafir-
mam a perspectiva estabelecida na teoria e permitem um olhar sobre a importância e os significados que o rock
oferece enquanto prática cultural.

36
Adriane M.Eede Hartwig . UNIOESTE {';'\4
Wilson Simonal e a Música Popular Brasileira nas décadas de 1960/70 \...!}
O presente trabalho é parte integrante de uma pesquisa de mestrado, do curso de História pela Universidade Estadual
do Oeste do Paraná - UNIOESTE, onde se pretende abordar questões que envolvem a música popular brasileira e
suas articulações no período de 1963 a 1975, especificamente. Será abordada a obra de um cantor de sucesso nesse
período, que teve muita popularidade e sua música era composta e produzida tanto a classes maís populares, como para
ouvidos mais apurados, tomando-o um dos mais bem pagos e populares artistas do período, semelhando-se a Roberto $
Carlos. Com uma voz afinada, criador de um estilo que terá seguidores, a Pilantragem - uma mistura de bossa nova, ~
swing e malandragem, sua música desponta num momento em que a Bossa Nova - considerada por alguns críticos como -{g
música intimista, de melodias veladas, poesia inlectualizada e ritmo acentuado, afastou-se dos caminhos tradicionais da ~
música brasileira. Era mercadoria de alto nível, mas não teve penetração junto ás massas, coisa que Wilson Simonal teve, ~
brincou e se "lambuzou ", sua carreira teve projeção nacional e internacional, num momento em que a música está
buscando uma identidade pra si em meio a uma grande efervescência cultural que o país está vivenciando.

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18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h) '"


Q)

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João Eduardo Cezar de Vílhena - USP ~
Novos olhares para uma nova cidade: charges jornalísticas e a crônica do processo de urbanização da cidade ::c
de São Paulo do início do século XX «
A cidade de São Paulo, nos primeiros anos do século XX, viveu um momento de intensas e velozes transformações
urbanas e sociais. A distribuição de energía elétrica, as reformas para alargamento e conformação das ruas para o
transporte cada vez mais intenso de mercadorias ligadas á economia do café, o grande crescimento populacional e a
ampliação do potencial técnico da imprensa formaram - juntamente com outros fatores - um cenário confuso: enquan-
to os discursos do progresso associados á cidade inflavam os sonhos de seus moradores com relação ao imediato
futuro promissor da cidade, a realidade se mostrava muito diferente. Este descompasso foi amplamente acompanhado
pelos chargistas e caricaturistas em atuação nos jornais e revistas da época, e de maneira muito especial: seus
desenhos revelavam novas perspectivas para se observar velhos problemas. A cidade revelada nesses desenhos
aparecia em detalhes, e a fragilidade de seu festejado progresso surgia evidente: acidentes constantes com bondes e
automóveis, poeira, fumaça, trabalho infantil, enchentes, corrupção policial- essas imagens exibem um retrato bem-
humorado, irônico e bastante crítico das desigualdades fundadoras da São Paulo industrial moderna.

José Maria Vieira de Andrade - Universidade Federal do Piaui


Metáforas da cidade: as representações de Oerias·PI na literatura de O.G. Rego de Carvalho
Este trabalho procura assinalar algumas aproximações entre história e literatura no estudo da cidade. Nosso objetivo
central consiste em analisar as representações de Oeiras, a primeira capital do Piauí, presentes na literatura do escri-
tor piauiense O. G. Rego de Carvalho. Tratando a literatura como objeto de estudo e não somente como uma fonte
secundária à disposição do historiador, bem como levando em conta algumas das principais discussões historiográfi-
cas sobre a temática da cidade, nosso texto se propõe a discutir como, sob uma atmosfera de mistério, solidão e
abandono, o escritor reconstrói em seu texto uma imagem metafórica para a cidade de Oeiras e para seus citadinos.
Imagem esta que vai de encontro com a condição histórica que a cidade ocupava, e ainda ocupa, no contexto histórico
local, seja pelas suas tradições sócio-culturais, seja pelas suas características de cidade provinciana. Portanto, trata-
se de uma abordagem que pretende ir de encontro às obras de literato, sob um enfoque que leva em conta a contribui-
ção de sua narrativa para o estudo das produções discursivas de um lugar.

Clarisse Ismério - URCAMP


Echo Americano: Discursos visuais de modernidade
O Echo Americano foi um jornal ilustrado que circulou entre os anos de 1871 a 1872, e atualmente, faz parte do acervo
de Jornais Raros do Museu de comunicação Social Hipólito José da Costa. O objetivo dos articulistas do jornal era
promover a modernização do Brasil do II Império através de um projeto civilizador que difundia um conjunto de práticas
e condutas sociais que visavam a reprodução da tecnologia e cultura européia. A meta era modernizar, educar e
redefinir a corte Brasileira sob a orientação dos modelos: dos ingleses deveríamos copiar o progresso industrial,
comercial e científico; da França a cultura, as artes e o estilo cortesão. Apesar dos atrasos, o Brasil era visto pelos
articulistas do jornal como o Império do Futuro, essa visão ufanista era justificada através da natureza brasileira, das
riquezas naturais e pelo gosto pelo belo. Denotava o mito da superioridade e predestinação do Brasil, desde que
desenvolvesse seu projeto civilizador e alcançasse a modernidade através da educação, saneamento, melhoria dos
transportes, urbanismo, desenvolvesse o potencial industrial, construisse bibliotecas, institutos de pesquisa, enfim,
todas as premissas básicas para ser considerado um país civilizado.

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Aline Andrade Pereira - UFF
Rubem Fonseca: o golpista transgressor. Literatura e sociedade durante a ditadura civil-militar
O trabalho tem por objetivo analisar a relação entre a trajetória política e a produção literária do escritor Rubem
Fonseca entre os anos de 1962 a 1989. Através da investigação do itinerário deste, marcado por posições aparente-
mente conflitantes, pretende-se enfocar as diversas atividades de Fonseca. Estas serão tomadas como parte constitu-
inte de uma estrutura de sociabilidade que influenciará na inserção do autor no campo literário (Bourdieu, 1996; Sirine-
lIi, 2003). Dentre essas posições destaca-se a participação do escritor no Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais
(Ipês), entre 1962-1971. associação que reunia empresários e militares, às vésperas do golpe civil-militar de 1964, no
momento em que era diretor da Light - onde ele entrará em contato com os maiores editores do país. Sua carreira
literária tem início em 1963, com o livro Os prisioneiros. Os seguintes, A coleira do cão (1965) e Lúcia McCartney
(1967), são aclamados pela crítica como renovadores da literatura. Em 1976 seu livro Feliz Ano Novo é censurado,
permanecendo 13 anos nesta condição. Em 1979 assume como diretor do Departamento de Cultura da Secretaria
Municipal de Educação do Rio a convite do prefeito Israel Klabin, seu antigo companheiro de Ipês.

Carine Dalmás - Universidade de São Paulo


Gráfica Política e Brigadas Ramona Parra: as imagens de uma revolução alegre
Durante a campanha eleitoral e o governo da Unidade Popular (UP) no Chile (1970-1973), houve uma intensa mobili-
zação política e cultural para legitimar a transição para o socialismo pela via pacífica. Dentre as manifestações artísti-
cas, a produção de cartazes e murais se destacaram. De acordo com a concepção vigente entre os partidários da UP
e as tradições de movimentos revolucionários de esquerda, essas duas manifestações tinham o propósito de fazer
política através da arte, ou seja, deram para a arte um fim propagandístico. Por meio das imagens dos cartazes que
fizeram a propaganda oficial do governo e dos murais de propaganda produzidos pelas brigadas muralistas do Partido
Comunista chileno (as Brigadas Ramona Parra), procurarei demonstrar a contribuição destas imagens para a consoli-
dação de um imaginário revolucionário da via pacífica em contraposição a um imaginário socialista mais amplo.

Luciana Coelho Barbosa - UFG


Siqueiros: relação entre arte e política revolucionária no México
A proposta desta comunicação é esboçar a relação entre arte e política revolucionária sob a perspectiva de David
Alfaro Siqueiros. O impacto da Revolução Mexicana foi marcante nas atividades artisticas dos pintores muralistas que,
ao interpretar a revolução, promoveram a idéia de uma arte popular. Desta forma o movimento mural buscou fomentar
a construção de um nacionalismo cultural que tentava dar coesão aos diversos grupos existentes no país deixando em
evidência a questão mestiça.

Maria Antonia Dias Martins


Literatura Portuguesa de Resistência: a mulher, a guerra e o intelectual como armas de luta contra o salazarismo
Otrabalho aborda a literatura portuguesa de resistência à ditadura imposta pelo Estado Novo português no que se refere aos
temas relacionados á condição da mulher portuguesa, à guerra colonial e ao escritor militante. Operíodo estudado se estende
de 1968 à 1974 - govemo Marcelo Caetano - marcado por crescente insatisfação popular que resultou na Revolução dos
Cravos. As obras analisadas são: 'Novas Cartas portuguesas', escrita por Maria Isabel Barrenol Maria Teresa Horta e Maria
Velho da Costa, publicada em 1972 que trata da questão feminina; 'O capitão Nemo e eu', de Alvaro Guerra, publicado em
1973, que retrata lembranças da guerra na Guiné de um ex-soldado português e 'Contos da Solidão' de Urbano Tavares
Rodrigues, publicado em 1970, livro escrito quando o autor encontrava-se preso acusado de conspirar contra o governo.

5. A Multidisciplinaridade no Estudo das Sociedades da Antigüidade: Pesquisas, Territó-


rios e Deslocamentos
Ana Teresa Marques Gonçalves (UFG)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h ás 18h)

Ana Teresa Marques Gonçalves - UFG


Astrologia e Poder: O Caso de Marcus Manilius
Tanto Herodiano quanto Dion Cássio, em suas respectivas obras, intituladas "História de Roma depois de Marco
Aurélio' e 'História Romana', narram que o Imperador Romano Septímio Severo mandou pintar a representação do céu
com estava no dia de seu nascimento, portanto seu horóscopo, no teto da sala na qual ministrava a justiça, ou seja. onde
procedia aos julgamentos públicos, no Palácio, chamado de Domus Severiana. localizada no Palatino em Roma. Esta
opção pictórica do Príncipe sempre chamou nossa atenção e resolvemos analisar a relação que se estabelece entre os
saberes astrológicos e os grupos que ascendem ao poder e buscam permanecer nele, por meio de observações a respei-

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to da vinculação entre astrologia e poder no Alto Império Romano. Para tanto, releremos criticamente a obra "Astrologia'
de autoria de Marcus Manilius, produzida entre 18 e 20 d.C., durante o govemo do Imperador Romano Tibério.

Andrea Lúcia Dorini de Oliveira Carvalho Rossi - UNESP - Assis


Mitologia, Semiótica e Antiguidade Clássica: uma proposta de abordagem dos 'Discursos' de Dion Crisóstomo
Estudar a obra de Dion Crisóstomo representa um desafio enquanto tarefa para recuperar a realidade histórica, consi-
derando principalmente que se trata de obra literária, revestida e recheada de componentes metafóricos, simbólicos,
que expressam sob essa aparência não só a criatividade e a imaginação do autor. Significa também fazer a leitura que
possibilite recuperar um momento da História da provincia do Ponto-Bitínia durante o governo do imperador Trajano
(98-117). O periodo em que a obra foi produzida apresenta, no entanto, importante núcleo documental representado
por outras obras literárias, mais direcionadas para a realidade social vivida, e pelas descobertas arqueológicas. O
tema central da abordagem é a aplicação da análise semiótica como metodologia de análise histórica do mito presente
nos Discursos de Dion Crisóstomo, filósofo bitiniano que viveu entre 40 e 115 d.C sob o Império Romano.

Claudia Beltrão da Rosa - UFRJ


A Visão Grega de Roma: Políbio e a Tradução dos Conceitos Romanos
Toda língua organiza uma visão coerente de mundo, e a tradução de uma língua a outra traz em si o risco de uma deformação
ou da incompreensão de noções e conceitos particulares de uma cultura especifica. O cuidado com o vocabulário é a
"conditio sine qua non° do ofício do historiador. Ohistoriador da antiguidade romana tem que lidar com uma dificuldade a mais:
grande parte da sua documentação textual lhe chega através de um olhar "estrangeiro'. Nosso conhecimento sobre a Roma
antiga é tributário de fontes de língua grega, de autores cuja interpretação é condicionada pela diferença de língua e cultura
e necessariamente "deformada'. Defenderemos a idéia de que tal fato não traz somente inconvenientes à pesquisa histórica.
®
Passar pelo necessário intérprete grego nos agrava o risco de aumentar, com as suas deformações, as nossas, mas a vi
interpretação de um estrangeiro pode também enriquecer a nossa compreensão de uma Roma assim duplamente observa- ~
da. Apresentaremos brevemente as vantagens e desvantagens que as fontes textuais gregas trazem ao estudo da história ~
romana, concentrando nossos "exempla" a Políbio, no L. VI de suas "Histórias'. .g
(/)

Norma Musco Mendes - UFRJ


O Conceito de Romanização: uma reflexão .g
Com base no projeto de pesquisa intitulado "As estratégias de intervenção no espaço e a construção da paisagem imperial ~
no sul da Lusitânia', em realízação com o auxilio do CNPq, através da concessão de bolsa de produtividade de pesquisa, ~
cujo objetivo é investigar o impacto da dominação Romana na reorganização do espaço e, conseqüentemente, na cons- ~
trução da paisagem imperial no sul da provincia da Lusitânia, pretendo refletir sobre o conceito de Romanização. -g
"O
.;::

Norberto Luiz Guarinello - USP .~


A História de Roma como gênero literário e como discurso científico
c.
.~
O trabalho investiga os modos de construção da História de Roma como gênero literário na tradição latina, procurando :g
mostrar os modos pelos quais as regras do gênero (em particular a definição do objeto narrado) influenciaram em sua ::;
produção na Antigüidade e, por sua vez, determinaram limites especificos para a re-criação da História de Roma a ~
partir do século XIX.

Anderson Zalewski Vargas - UFRGS


Uma disciplina sob ataque: o conhecimento histórico e as ameaças céticas
Na Antigüidade - por conta de suas restrições aos dogmatismos afirmadores do conhecimento indubitável, e de suas
conseqüentes proposições quanto ao conhecimento e à existência - o ceticismo foi alvo de ira, sarcasmo e zombarias.
Em discussões contemporâneas sobre epistemologia histórica, o ceticismo surge, freqüentemente, como ameaçador
inimigo. A comunicação apresentará uma análise dessa avaliações tendo como contraponto as criticas ao ceticismo
antigo, pirrõnico e acadêmico, procurando definir continuidades e deslocamentos de sentido do que parece ser um
tradicional debate epistemológico. No tocante á história, serão avaliados, em especial, trabalhos de Carlo Ginzburg,
Eric Hobsbawn e Ciro Flamarion Cardoso, historiadores preocupados com os rumos atuais de nossa disciplina.

Regina Maria da Cunha Bustamante - LHIA e PPGHC I UFRJ


Pugilato, uma paixão na África Romana: confrontando textos escritos e ímagético
Opugilato - combate com o punho (pugnus) - já era praticado p?r etruscos e gregos. Com o domínio romano, difundiu-se em
todo Império. Neste trabalho, objetivamos abordar o pugilato na Africa Romana, inserido em seu contexto histórico específico,
que nos permite apreender a sua historicidade cultural. Para tanto, realizaremos uma análise comparativa de documentos
escritos e imagéticos. O entrecruzamento de textos de diferentes naturezas é uma necessidade para os estudos da Antigüi-
dade, demandando, assim, o desenvolvimento de uma perspectiva multidisciplinar. Cada tipo de texto implica numa forma de
emissão de mensagens com códigos e suportes próprios; logo, as mensagens, que circulam, só podem ser compreendidas

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conhecendo-se o conjunto das práticas sociais, dos valores e da percepção de mundo da sociedade que as criou. Os escritos
e as imagens pertencem a uma determinada sociedade, lugar e tempo e é esta sincronia que leva a compreensão dos
códigos de cada texto, seus signos, seus suportes, seus sentidos, seus produtores e leitores.

Fábio Vergara Cerqueira - UFPel


História, Música e Imagem: interfaces entre História, Arqueologia e Antropologia na interpretação da cultura
grega antiga
Oobjetivo desta comunicação será apresentar uma reflexão sobre a experiência de descentramento disciplinar coloca-
da pelo desenvolvimento da pesquisa sobre o estudo da música na vida diária da Atenas tardo-antiga e clássica, por
meio da análise sistemática da iconografia da pintura dos vasos cerâmicos áticos. A experiência multidisciplinar vincu-
lou-se à necessidade de alinhavar uma interpretação do significado da inserção da música nas práticas cotidianas,
entendido como significação social e cultural, com as características inerentes ao estudo da ceramologia clássica e da
imagem como suporte documental de natureza arqueológica. Perdeu-se assim as certezas quanto aos territórios das
disciplinas, situando o estudo em um entrevero entre a História, a Antropologia e a Arqueologia.

I 17/07 - Terça-feira - Tarde (14h ás 18h) I


Margaret Marchiori Bakos - PUCRS
A Egiptomania na América do Sul: um estudo multidisciplinar e comparativo
A Egiptomania é o fenômeno de transculturação de mais longa duração da história, que consiste na apropriaçãc de elemen-
tos do antigo Egito ao longo de milênios. Para desenvolver uma pesquisa desse cunho é necessário, além do histórico, um
olhar antropológico, conhecimentos de arquitetura, arte, psicologia e semiótica para a leitura dos vestígios codificados do
passado egípcio, presentes no imaginário coletivo sul americano. Nessa investigação tais conhecimentos se revelaram funda-
mentais para a apreensão e a compreensão da circularidade e da reutilização permanente, em nivel planetário, com novos
significados de patrimônios da humanidade, oriundos do território africano: pirâmides, obeliscos e esfinges.

Katia Maria Paim Pozzer· ULBRA


Das palavras e das coisas: estudo da vida cotidiana na Babilônia antiga
A questão das reformas econômicas e sociais realizadas pelos soberanos mesopotâmicos tem suscitado uma discus-
são de longa data entre os historiadores da Antigüidade. Desde as reformas empreendidas por Unukagina de Lagas, no 111
milênio a.C., até os últimos misarü (éditos reais) decretados pelos reis neobabilônicos do VI século a.C., há inúmeras
possibilidades de interpretação. Entendemos que o debate sobre novas possibilidades investigativas do mundo antigo
deve ser aprofundado e, para tanto, nossa contribuição irá evidenciar a utilização da epigrafia, da filologia e do direito para
uma melhor compreensão da história. Este estudo tem por objetivo apresentar a uma abordagem multidisciplinar no
estudo da sociedade babilônica do século XVIII a.C., quando analisamos importantes documentos pertencentes aos
arquivos privados de ricos mercadores do sul mesopotâmico. Estas fontes fazem referência ás práticas sociais.e ás
repercussões dos atos legais que representavam esses termos nas vidas econômica e cotidiana dos habitantes.

Ivan Esperança Rocha - UNESP • Assis


O Egito sob a ótica de viajantes
Os relatos de viagem têm recebido uma atenção cada vez maior de historiadores que buscam compreender as caracterís-
ticas do olhar extemo no conjunto das informações sobre uma determinada cultura. Trata-sede uma equação que reúne,
nas palavras de François Hartog, um mundo em que se conta e um mundo que se conta, dentro das relações de alterida-
de. Heródoto, que recebe o epíteto de pai da história, poderia receber também o de pai do relato de viagem. Em sua
História, narra suas viagens, com a que fez ao Egito, que inspiraria antigos e novos viajantes, como Ryzard Kapuscinski
que intitula seu livro, recentemente publicado no Brasil, 'Minhas viagens com Heródoto. Entre a história e o jomalismo'.
Com diferentes motivações, peregrinos, antiquários e outros viajantes incluíram o Egito em suas rotas e em seus relatos.
A expedição napoleônica, de 1798, constitui-se num marco desse movimento, cujo relato encontra-se em 'Description de
l'Egypte', um documento produzido a partir de informações de diferentes especialistas envolvidos nessa façanha. Qual o
papel que a visão desses viajantes tem na História do Egito? Como o olhar do mundo em que se conta se coaduna com
o olhar do que se conta? Muito do que conhecemos do Oriente, do Egito é sua imagem refletida no espelho do Ocidente.

Gilvan Ventura da Silva - UFES


Dialogando com a Antropologia e a Psicologia Social: a propósito da estigmatização dos judeus e judaizantes
de Antioquia por João Crisóstomo
Essa comunicação é resultado do projeto de pesquisa 'A construção da identidade cristã no Império Romano: João
Crisóstomo e o conflito com os judeus e judaizantes de Antioquia', desenvolvido com apoio do CNPq. Nosso estudo
busca elucidar os meandros de fixação de uma identidade cristã no final do IV século tendo como referência a cidade
de Antioquia e o caso dos judeus e judaizantes. Essa identidade, por sua vez, deriva de uma representação que, ao

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ignorar a pluralidade étnica do Império e ao desqualificar sumariamente todos os que não se coadunem com a diretriz
religiosa seguida pelo Estado romano, produz a estigmatização dos desviantes religiosos. Na execução do referido
projeto, nos apropriamos, do ponto de vista teórico, das reflexões da Antropologia e da Psicologia Social sobre a
problemática das identidades e das representações, razão pela qual julgamos apropriado apresentar, na atual edição
do Simpósio Nacional de História, algumas considerações sobre a interface da História Antiga com outros saberes do
campo das Ciências Humanas.

Márcia Severina Vasques. UFRN


A chora egípcia e as identidade culturais no Egito Romano: uma abordagem arqueológica
A chora egípcia, ou seja, o Egito com exceção de Alexandria, constitui um importante espaço para a análise das
relações sociais, culturais e religiosas entre grupos culturais distintos como egípcios, gregos e romanos do século I ao
IV d.C .. Fora do eixo central, representado por Alexandria - a pólis por excelência - a chora, com suas especificidades
locais, põe á mostra a versatilidade da cultura egipcia em relação às influências culturais externas, mormente grega e
romana. Nosso objetivo é mostrar, por meio da cultura material, a adaptação egípcia aos novos modelos da cultura
clássica no que diz respeito à iconografia funerária e como, por meio desta, questões de identidade cultural e etnicida-
de podem ser levantadas.

Margarida Maria de Carvalho - Unesp . Franca


Amiano Marcelino e a expedição militar de Juliano César contra os Francos e os Alamanos (355 a 360 d.C.)
Desde a última década do séc. passado (XX) as pesquisas sobre História Militar vêm tomando um novo impulso,
deixando de ser somente um campo de estudo das Forças Armadas contemporâneas. Com uma visâo crítica,rompendo
com vínculos ocorridos nos períodos das ditaduras militares,a historiografia relacionada ás guerras vem se renovando
®
nos aspectos mais variados como a abordagem de questões identitárias e a instrumentalizaçâo de táticas e estratage- ~
mas de guerras nas lutas contra os povos inimigos. O tema não tem passado despercebido pelos pesquisadores da ~
Antiguidade Clássica, haja vista a proliferação de livros e artigos provenientes, principalmente, da historiografia ibéri- ~
ca, britânica e americana. Assim, inserindo-me nessa perspectiva, tenho como objetivo,nessa comunicação, interpre- 'g
tar alguns elementos do relato de Amiano Marcelino sobre a expedição militar de Juliano às Gálias,focalizando a ~
maneira como o autor antioquiano identifica as táticas e estratagemas de guerra do general militar romano com um ..gJ
processo de heroificação que reforça a memória de Juliano. Acrescento que essa apresentação faz parte de uma .g
pesquisa mais ampla desenvolvida em meu Pós-Dout (Depto de História - UNICAMP), sob a supervisão do Prof Dr t;
Pedro Paulo Funari e com apoio do CNPq (Bolsa de Pós-Dou!. Júnior) ";::;
c:::
cu
André da Silva Bueno - FAFIUV ~
A Sinologia em Perspectiva ~
O objetivo desta comunicação é realizar uma breve introdução ao campo da Sinologia - Estudo da História e Cultura da ~
civilização chinesa - que tem sido recuperado com uma forte ênfase na atualidade devido a re-ascensão da China no :~
mundo contemporâneo. No entanto, trata-se também de uma área das ciências humanas singular em seus própositos 13
e expedientes de trabalho, ao analisar uma sociedade cujo relacionamento com a antiguidade é unico. ::;
::2
Monica Selvatici . UFPel
As contribuições da Arqueologia para o estudo histórico da sinagoga judaica no século I d.C.
Inserindo-se no contexto mais amplo da presente reflexão sobre a importância da multidisciplinaridade para o surgi-
mento de novos saberes constituídos nos estudos sobre aAntigüidade, esta comunicação tem por objetivo analisar as
contribuições da Arqueologia para o estudo histórico da relação entre judeus, e também cristãos, e a instituição da
sinagoga no século I d.C .. Ela visa, de igual maneira, demonstrar como os resultados de investigações arqueológicas
recentes têm permitido questionar uma suposta oposição, amplamente defendida na historiografia tradicional acerca
do Judaismo e Cristianismo antigos, entre a sinagoga e a instituição do Templo de Jerusalém.

Maria Isabel Brito de Souza - UNESP


Controvérsias dentro do cristianismo primitivo: A pregação de Paulo aos gentios
Busca-se argumentar em que medida a figura de Paulo foi determinante para as alterações ocorridas dentro da comu-
nidade cristã do I século e como o fato de levar os ensinamentos de Jesus para os gentios foi recebido pelos judeus do
periodo. Este trabalho está inserido dentro do projeto de mestrado em andamento, o qual tem por objetivo traçar a
relação entre judaísmo e cristianismo em sua origem e como se deram as alterações no próprio cerne das comunida-
des cristãs do I século.

18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h ás 18h)

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Marilena Vizentin - Editora da Universidade de São Paulo
Primeiras Imagens de Alexandre, o Grande, em Roma
O objetivo desta comunicação é, em linhas gerais e á luz da tradição textual, fornecer uma primeira sistematização da
introdução do mito de Alexandre, o Grande, em Roma, bem como sua interpretação e apropriação pelos dirigentes
romanos. Apesar de a figura do Conquistador perpassar vários séculos de história e de as fontes antigas que lhe fazem
referência serem inúmeras, além de se tratar de tema já especulado por obras consagradas, a leitura da imagem de
Alexandre feita pelos romanos dá margem a interpretações pouco exploradas pela historiografia especializada, princi-
palmente aquela que concerne á investidura de características tidas como romanas ao imperador macedônio. Como
em cada época é perceptível uma variação na recepção romana da imagem alexandrina, esta análise procurará enfa-
tizar aqueles momentos em que o debate em torno dessa influência adquire maior significado. Por ora, será traçado um
panorama geral da presença de Alexandre no mundo romano anterior ao Principado.

Fábio Duarte Joly - Universidade Federal do Recôncavo da Bahia


A multidisciplinaridade no estudo da escravidão antiga
Esta comunicação visa apresentar as perspectivas que uma abordagem multidisciplinar abrem para o estudo da escra-
vidão greco-romana. Para tanto serão analisadas as contribuições da antropologia e do estudo comparado de siste-
mas escravistas antigos e modernos.

Rafael da Costa Campos - Universidade Federal de Goiás


Uma relação política entre os conceitos de libertas, auctoritas e liberalitas em Tácito
O objetivo desta apresentação é demonstrar como se estabeleceu uma relação entre os conceitos de Libertas, aucto-
ritas e liberalitas dentro do recorte histórico do Principado de Augusto e Tibério, com a intenção de ressaltar a funda-
mentação política na construção dos significados destes conceitos. Este trabalho pretende se embasar na historiogra-
fia sobre o Principado legada por Públio Cornélio Tácito dentro dos "Anais' e de suas "Histórias', com ênfase na
discussão teórica sobre a análise do discurso através da escola francesa e de uma história dos conceitos políticos de
Reinhart Koselleck.

Pedro Ipiranga Júnior - Universidade Federal do Paraná


As fronteiras entre história e literatura na obra de Luciano de Samósata
Esse trabalho se propõe discutir as concepções de história expressas por Luciano de Samósata em algumas de suas 9bras
('Como se deve escrever a História', 'Das narrativas verdadeiras', 'Imagens', 'Sobre as imagens', 'Heródoto ou Etion'
etc), através da constituição de fronteiras discursivas entre os campos da escrita historiográfíca e da escrita ficcional.

Juliana Bastos Marques - USP . FFLCHIDH


Aspectos da importância~o mos maiorum em Tito Lívio
O conceito de mos maiorum no mundo romano caracteriza-se como um conjunto de procedimentos para a vida que
remete ao exemplo dos antepassados. Para Tito Lívio, esse exemplo está, dentre outras características, moldado nas
virtudes da fides, da pietas e até mesmo da concordia, entre outras, no sentido que todas essas são maneiras de se
dedicar á res publica acima de tudo e, sendo assím, de se afirmar em uma identidade, através dos atos públicos e
privados de cada homem romano. Assim, é através das múltiplas presenças do mos maiorum no texto de Tito Livio que
podemos discutir a questão da oposição do novo e do antigo, da inovação e mudança dos costumes estabelecidos
versus a legitimidade e a segurança do passado.

Henrique Modanez de Sant' Anna - Universidade Federal de Goiás


Dispositivos táticos na segunda guerra púnica: análise da batalha de Trébia (218 a.C.)
Esta comunicação tem por objetivo desenvolver uma análise da batalha de Trébia (218 a.C.), levando em conta os
dispositivos táticos disponíveis a Aníbal Barca. Estabelecendo uma relação direta com o contexto da segunda guerra
púnica, visa refutar o militarismo cívico como força bélica, atentando para a formação de um pensamento militar
iniciado com Filipe 11, rei da Macedônia e conduzido sob a forma de tradição militar clássica até comandantes cartagi-
neses e romanos do século 111 a.C.

Deise Zandoná - UFRGS


A enunciação e a história antiga: a constituição da audiência em Luciano de Samósata (11 d.C)
Nesta comunicação, apresento a análise da audiência constituída nos textos Mestre da Retórica, Como se Deve
Escrever a História e Das Narrativas Verdadeiras de Luciano de Samósata - sofista e satírico cínico do século 11 d.C.
Utilizo para fazer esta reflexão, a teoria da enunciação proposta por Émile Benveniste, o principallingüísta da enunci-
ação, uma vez que há uma grande carência de menções externas aos próprios textos de Luciano em seu tempo, o que
dificultaria fazer uma história da recepção. Os escritos de Luciano, que outrora foram produzidos para serem lidos
diante de uma audiência, contêm em si mesmos a sua audiência, que esta está presente no ato de enunciação, antes

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mesmo desta existir enquanto platéia. Isto ocorre porque há uma percepção de audiência imaginada ou pretendida no
pensamento de Luciano ao conceber a sua obra. Esta comunicação é parte integrante da pesquisa de Mestrado em
História desenvolvida sob a orientação do Professor do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação
em História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Dr. Anderson Zalewski Vargas.

Edson Arantes Junior - UEG/UFG


O Heraclés luciânico: identidade e alteridade
Luciano de Samosata é um sírio que viveu no século 11 da era cristã, sua obra impressiona pela diversidade e pelo olhar
amplo a cultura de seu tempo. A partir da analise da imagem de Heracles, vamos buscar compreender as diversas
possibilidades de se entender a produção identitária no Império Romano. Uma vez que em diversos momentos Lucia-
no apresenta este herói, em cada momento este tem uma conotação distinta, mas sempre é apresentado como ele-
mento significativo para a teia de significados de seu tempo. Por exemplo, temos um herói indagado em sua natureza,
nos Diálogo dos Mortos; o sírio apresenta em outro texto ou esse mesmo uma análise da representação céltica deste
herói. Assim, Luciano exprime sua identidade, a partir de uma leitura peculiar da memória greco-romana, neste seu
enfoque vária elementos mitológicos que serão re-significados compondo uma identidade muito peculiar.

I 19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h às 16h30min) I

Dominique Vieira Coelho dos Santos - Universidade Federal de Goiás


As representações acerca da cristianização da Irlanda Celta do Século V nas cartas de Sâo Patrício
Esta comunicação aborda questões como: cristianização da Irlanda; rapto, escravidão e venda de cristãos aos Pictos;
a doutrina escatológica de São Patrício etc. Temos como fontes dois documentos escritos no século V na Irlanda em
®
Latim (Confesio e Epistola ad milites Corotici), sendo nosso objetivo a apresentação de algumas reflexões acerca dos ui
mesmos. Existem diversas representações da cristianização da Irlanda que mostram um Patrício poderoso e fazendo ~
diversos milagres para convencer os Irlandeses a aderirem ao cristianismo. Nestas representações, Patrício é sempre ~
descrito como o cristianizador da Irlanda. Em nossa comunicação apresentamos uma outra abordagem levando em 'g
consideração apenas as duas cartas escritas por Patrício e nelas tentaremos observar como ele representou os irlan- ~
deses, a si mesmo e a cristianização da Irlanda. ~
o
"C
Marina Regís Cavicchioli - Unicamp tl
Multídiscíplinaridade no estudo do cotidiano romano ~
O cotidiano romano foi estudado por diversas áreas como a História, a Filologia, a Filosofia, aAntropologia, as Ciênci- ~
as Políticas, o Direito, aArqueologia. Ao tratarmos da cultura material, em especial, a arqueologia interage diretamente ~
com a Engenharia, a Arquitetura, a Biologia, a Geologia, a Medicina, A Odontologia, a Química. A interação das mais '§
diversas áreas traz dados que se complementam e ajudam na compreensão do cotidiano romano. Estas contribuições, ~
no entanto, não passam apenas por dados técnicos, mas também por diferenças teóricas e metodológicas que operam :iii
sobre os objetos de estudo, sobre a escolha dos temas a serem estudados e sobre as análises das pesquisas, possibi- 15
litando, diferentes olhares e interprptações até mesmo opostas, contribuindo para discussões mais amplas sobre o estudo "S
do mundo romano e o papel do pesqu1sador nas pesquisas, como veremos no estudo de caso a ser apresentado. ~

Helena Amália Papa - UNESP - Franca .


As evidêncías contra os arianos no testemunho de Basílio de Cesaréia: uma análise sobre suas missivas (Séc IV d.C.)
O século IV d.C. foi um periodo de muitas heresias e discussões politico-religiosas. Muitos bispos cristãos, denomina-
dos Padres da Igreja, combateram as idéias da heterodoxia, com o intuito de manter os dogmas ortodoxos e unificar a
Igreja. A correspondência ou produção escrita do homem é reflexo de seus pensamentos e suas atitudes perante o
contexto político, religioso, cultural e histórico no qual ele se encontra. Basilio de Cesaréia (330-370 d.C.) foi um autor
cristão do Império Romano Oriental do século IV d.C. Tal Bispo possuía uma ideologia político-religiosa que refletia o
ideal da camada social e da hierarquia religiosa da qual fazia parte. Nesse prisma podemos considerar suas correspon-
dências documentos assaz relevantes, pois denotam pensamentos político-culturais e dados administrativos da época do
autor. Acreditamos que através das correspondências desse ortodoxo podemos conhecer melhor a vida cotidiana da
Igreja, fundamentalmente da parte oriental do Império, como também a ligação da esfera religiosa com a esfera govema-
mental politico-administrativa. Pretendemos construir um elo entre a representação do Poder Imperial e o conflito politico-
religioso-administrativo ocasionado pela heresia ariana, durante o governo do Imperador Valente (364-378).

Rosane Dias de Alencar - UFG


Memória e Representação; A Imagem do Imperador Constantino em Lactâncio e Eusébío de Cesaréia
O presente trabalho propõe, a análise da imagem de Constantino, Imperador de 306d.C a 337d.C, a partir das obras
Vida de Constantino, atribuida a Eusébio de Cesaréia, e Sobre a Morte dos Perseguidores, atribuida a
Lactâncio.Acreditando que tal imagem é construída a partir da ultilização de uma memória voluntária,buscaremos

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perceber o tipo de memória instrumentalizada pelos autores supra citados bem como estabelecer a necessária relação
entre o discurso proferido e o lugar político, social e ideológico de quem o profere, pois acreditamos ser este um
importante fator para compreensão da narrativa.

I 20/07 - Sexta-feira - Manhã (10h30min ás 12h30min) I

Maria Regina Candido - UERJ


Kerameikos, Atenas IV aC: território mágico e deslocamento de sentido
O cemitério do Kerameikos em Atenas compõe-se como o território dos rituais religiosos que interagem com as prati-
cas da magia de fazer mal ao inimigo. A natureza especifica do desejo de realização do solicitante tem seus indícios na
diversidade de modelos de formulas mágicas inscritas nas superfícies dos defixiones, cujo corpus documental, princi-
palmente do IV aC. Foram resultado de escavações realizadas pelo The German Archaeologicallnstitute in Athenas,
responsável pelo The Athenian Kerameikos - e pela The American School of Classical Studies encarregada pelos
artefatos de chumbo escavados na área do porto do Pireu. Nesses topoi, encontramos as lâminas de chumbo em
sepulturas no cemitério do Kerameikos e em fendas de santuários de deuses ctõnicos, atitude ao qual apreendemos
como a instauração de um estado de limiaridade, ou seja, espaços imprecisos nas quais novas práticas sociais inter-
cedem com as antigas, produzindo um deslocamento de sentido ao q~al nos propomos analisar.

Fábio de Souza Lessa - UFRJ


O corpo masculino na cerâmica ática
Há na imagética ateniense a predominância de uma forma de representação do corpo masculino que enaltece as virtudes
esperadas pela pólis para os seus cidadãos: força, virilidade, agilidade, rigidez ... , o que pode ser explicado pelo fato dos
artesãos serem regidos por regras técnicas peculiares à sua cultura. Munidos de tal informação, objetivamos neste traba-
lho analisar o modelo hegemõnico de representação dos corpos masculinos nas imagens áticas e as possibilidades de
coexistência de leituras variadas acerca dos corpos dos homens feitas pelos artesãos. Para tal proposta, nos limitaremos
a estudar as imagens pintadas nos vasos gregos do Período Clássico (séc. Ve IV a.C.), cuja temática é a prática espor-
tiva. Dessa forma, ao pensarmos no corpo masculino, estaremos nos remetendo ao corpo do atleta ateniense.

Marta Mega de Andrade - UFRJ


Algumas observações sobre a polis e as diferenças sociais: homens, mulheres e política na cidade clássica
A noção de política domina nosso imaginário até o ponto em que todas as relações, tanto quanto nenhuma, podem ser
políticas. Para o historiador da Atenas clássica, a pluralidade de contextos para a aplicação do termo é inspiradora.
"Política' tem aparentemente um sentido estrito ao que é da polis; mas é fácil constatar que aí está contida a conside-
ração do cidadão idêntico á politeia, ao todo. Na maioria das vezes, somos levados a conferir à polis o estatuto de
instituição de governo, formação histórica que pode ser compreendida pelo viés da moderna ciência política, o que
leva a politeia a desfigurar-se em um conjunto de indivíduos-cidadãos. Mas e se o político não for esse espaço de ação
e reprodução de um conjunto de indivíduos? E se o exercício do poder não se igualar ao governo? Embora a questão
do indivíduo tenha sido já fartamente debatida pelos historiadores, não se explorou até o momento com a mesma
prodigalidade o problema que a ausência do indivíduo moderno coloca para as relações políticas entre os atenienses.
Não tenho a intenção de por em debate essa problemática em todo o seu peso; quero apenas suspender uma ínfima
parcela desse peso, na questão da política 'no feminino', de uma 'polis das mulheres'. E isto possível?

Maria Angélica Rodrigues de Souza - UFRJ


Gênero, corpo e comunicação das atenienses na "pólis": uma trama aperfeiçoada
Pesquisando a linguagem das esposas atenienses do Período Clássico podemos verificar a partir da análise da comé-
dia de Aristófanes As mulheres que celebram as Thesmophórias, do mito de Philomela e produções de pesquisadores
contemporâneos que abordam o tema que as mulheres atenienses desenvolveram diversas formas de comunicação.
Concebemos que as mulheres atenienses lançavam mão das tarefas peculiares à elas e festivais para operacionalizar
esta trama comunicacional. Com o intuito de expandir os conhecimentos sobre a mulher ateniense nossa comunicação
permeará o cotidiano ateniense, a construção do corpo enquanto veículo de comunicação e as relações de gênero que
fizeram parte da vida dessas mulheres. Pois acreditamos que essa teia de informações se apresentava na dinâmica
políade direcionando os rumos da Koinonia.

I 20/07 - Sexta-feira - Tarde (14h às 18h) I


Lyvia Vasconcelos Baptista - Universidade Federal de Goiás
O individual e o coletivo na obra de Tucídides: questões sobre identidade
A maneira como os historiadores apresentam o passado sob a forma de uma história molda-se conforme a transforma-
ção dos questionamentos do tempo presente. A partir desta afirmação, procuraremos neste trabalho, abordar as ques-

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tões acerca da fronteira entre o individual e o coletivo, na obra do historiador grego Tucídides, a partir da noção de
identidade pautada na semelhança e na diferença. O advento da peste em 430 a. C., descrito por Tucidides, por ser
caracterizado pelo estado de anarquia total, no qual as leis divinas e as leis humanas não mais exerciam domínio e
influência sobre as pessoas, passa a ser encarado como um processo de desestruturação e reorganização dos ambi-
entes em questão.

Luana Neres de Sousa - Universidade Federal de Goiás


Platão e Aristófanes: visões acerca da Pederastia em Atenas no período Clássico
Bastante conhecida no mundo acadêmico, a Pederastia em Atenas praticada durante o período clássico ainda se trata
de um objeto mal interpretado, não recebendo seu caráter pedagógico e de formação social dos futuros eupátridas, a
devida atenção. Nosso objetivo nesta pesquisa é apresentar as principais características da Pederastia em Atenas
durante o século V a. a partir da visão de duas fontes aparentemente antagônicas: O Banquete de Platão e As Nuvens,
de Aristófanes.

Francesca Focaroli - Università degli Studi di Siena


Coma de herói ou de cidadão? Variações sociopolíticas na avaliação da cabeleira masculina na Grécia antiga
Em Homero, guerreiros e heróis destacam-se pela beleza da longa cabeleira, densa e anelada em cachos louros.
Cortar o cabelo é sinal de luto, na llíada e na Odisséia, e Heródoto cita, entre os mirabilia do Egito, o fato de seus
habitantes terem hábito oposto. Esse detalhe da aparência é sinal de distinção e nobreza no ideal heróico da aristocra-
cia arcaica grega, e de refinada delicadeza oriental, como testemunham, a partir do séc. VII a.C., os contatos dos
lônios com a vizinha Lídia, famosa pelo requinte e a moleza de costumes. Porém, no séc. V a.C., observa-se, em
Atenas, o fenômeno oposto: com a afirmação das instituições democráticas e a eclosão do conflito contra os Persas, o
f5'
'-V
cabelo longo deixa de ser elemento de virilidade heróica e torna-se sinal de efeminada fraqueza, de inútil requinte, .,;
tanto que, no fim do séc. V a.C., uma lei ateniense impedia os jovens de viver de forma 'delicada' e de 'manter o cabelo ~
longo'. Longe de depender do gosto individual ou da moda do momento deixar crescer o cabelo ou cortá-lo era escolha 11
significativa da comunidade cívica ou de um grupo restrito, medida restritiva sancionada pela lei ou forma de expressar .g
a intensidade do luto coletivo. O trabalho proposto pretende analisar este aspecto no contexto do desenvolvimento da ~
cultura antiga. ~
co
"ti
Nathalia Monseff Junqueira - UNICAMP t;
Voyage en Égypte: as representações do Antigo Egito na narrativa de Gustave Flaubert durante o imperialismo ~
francês do século XIX ~
O Antigo Egito, ao longo do tempo, sempre atraiu a atenção de outras civilizações. A partir do final do século XVIII, o ~
Ocidente, principalmente Inglaterra e França, volta o seu olhar, desta vez com mais interesse, para o Oriente, visando ~
adquirir um maior conhecimento sobre essas civilizações e articulando um discurso denominado Orientalismo. Essa ~
pesquisa procura demonstrar como este discurso esteve presente na sociedade européia, influenciando as relações 'u
entre orientais e ocidentais, valendo-se da obra literária produzida por Gustave Flaubert intitulada Voyage en Egypte: :g
octobre 1849-juillet 1850. Com base nessa fonte, juntamente com a discussão bibliográfica proposta, pretendo anali- '3
sar as representações idealizadas sobre o Antigo Egito, provenientes do discurso orientalista difundido no Ocidente ao ~
longo do século XIX, que constrói o Oriente com o objetivo de justificar a dominação exercida nesta região.

Alexandre Galvão Carvalho - UESB


Moses Finley e a tradição primitivista-substantivista
Moses Finley foi um dos historiadores mais polêmicos e brilhantes do século XX. Seus trabalhos sobre a economia
antiga constituíram o ápice de uma tradição de pensamento, originada e desenvolvida no seio de um debate, nascido
na Alemanha, acerca do lugar da economia antiga, que contribuiu, em primeiro lugar, para o fortalecimento da História
Social no campo da historiografia moderna; e em segundo lugar, para combater os cânones neo-clássicos na análise
da economia antiga. Finley reinterpretou os trabalhos de Bücher, Weber, Hasebroek e Polanyi à luz das influências dos
Annales, da escola de Frankfurt e dos modelos weberianos. Avaliar o quanto Finley se afasta e se aproxima dos
autores paradigmáticos desta tradição é o objetivo deste trabalho.

Renata Cerqueira Barbosa - Unesp - Assis


Concepções da sexualidade romana na Inglaterra vitoriana: A leitura sobre Ovídio
Roma teve um lugar especial na definição da História e do pensamento europeu. Muitos autores romanos clássicos
foram lidos neste momento para dar legitimidade a uma possível herança imperial romana aos britânicos. E as ques-
tões relacionadas a sexualidade e ao amor dos romanos, como foi interpretado pelos vitorianos? Neste caso, analisa-
remos um poeta latino do século I d.C., que teve muita repercução tanto no seu momento histórico, quanto para os que
o leram a posteriori. Trata-se de Púbio Ovídio Nasão, mais cinhecido como Ovídio.

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Ana Livia Bomfim Vieira - UEMA
Algumas considerações sobre política e corrupção na Grécia Antiga
Este trabalho objetiva refletir sobre alguns aspectos ligados á política ateniense do período clássico e á prática da
corrupção. Podemos perceber que esta prática estava presente na vida pública da pólis dos atenienses e que já era
apontada como uma das mazelas da vida política. Discutiremos algumas práticas que poderiam ser incluídas nesta
designação e como elas são tratadas na documentação textual.

Rafael Faraco Benthien - USP


No salão de Mme. de Guermantes: os clássicos greco·latinos na França de inicios do século XX a partir da
obra de Proust
Com o advento da Terceira República na França (1870), iniciam-se amplas reformas no sistema de ensino deste país.
A antiga cultura de salão, na qual o manejo de obras e línguas greco-latinas era central, perde espaço para os saberes
de grupos desconhecidos até então, os letrados profissionais (cientistas) da nova Universidade. Assim, em fins do séc.
XIX, o uso dos clássicos torna-se particularmente tenso. O propósito da presente comunicação é refletir sobre estas
transformações a partir da produção literária e crítica de Mareei Proust. Além de homossexual, filho de mãe judia e
dreyfusard, todas marcas controversas naquele cenário intelectual, o escritorfrancês foi pouco reconhecido por acadê-
micos e literatos. Desde modo, sua obra poussui a vantagem de ser ambigüa o suficiente para não silenciar os vários
discursos em conflito acerca dos clássicos. Serão aqui privilegiados os sete volumes que integram À la Recherche du
Temps Perdu, bem como os inacabados e póstumamente publicados Jean Sainteuil e Contre Sainte-Beuve.

Camila da Silva Côndílo - USP


Sobre o problema da tirania na escrita da história das Histórias de Heródoto
Este trabalho pretende contribuir para o debate entre os estudiosos de Heródoto em torno da objetividade historiográ-
fica ou do caráter convencional da tirania nas Histórias. Para tanto, realizamos um levantamento das principais verten-
tes de estudos sobre a tirania na obra, no intuito de situar nossa problemática tanto no que tange á historiografia sobre a
tirania nas Histórias quanto em relação a esse debate mais específico, o qual se divide entre aqueles que defendem o sim,
o autor tem uma visão negativa da tirania, e os que defendem o não, ele não tem, e os que ainda chegam a defender que
ele tem uma visão positiva dela. Posteriormente, realizamos um levantamento sistemático das ocorrências do termo
tirania e derivados na obra para uma análise contextual. Os dados obtidos até então nos conduzem a uma outra leitura do
problema que, a nosso ver, parece esclarecer um pouco mais o caráter desta 'ambigüidade" da tirania presente no texto
herodotiano. Tal leitura consiste no entendimento desta 'ambigüidade" a partir de um viés trágico.

6. A saúde e a doença como objetos da História


Dilene Raimundo do Nascimento (Casa de Oswaldo CruzlFiocruz) e Anny Jackeline Torres
Silveira (UFMG)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h ás 18h) I
Éverton Reis Quevedo - UFRGS
"Estigma humilhante": o Rio Grande do Sul como foco de lepra
Questões ligadas a administração dos serviços de saúde pública nem sempre tiveram caráter preventivo. Problemas
sanitários e doenças só ganhavam importância na agenda governamental quando transformavam-se em epidemias,
endemias, pestes ... No Rio Grande do Sul, fortemente influenciado pela visão positivista durante a República Velha,
essa constante é mais visível. Com a lepra (hoje denominada Hanseníase), a situação não foi diferente. Embora
temida, seja por questões morais, econômicas ou desenvolvimentistas, o Estado foi um dos últimos a constituir o
aparato profílático para a erradicação deste mal. Pretendemos abordar essas questões que culminaram na criação do
Hospital Colônia Itapuã e do Amparo Santa Cruz em 1940.

Simone Cordeiro Costa Guedes - UnB


A chácara dos loucos e o imaginário sobre a loucura
O presente trabalho expõe o espaço e formas de tratamento aos portadores da doença mental em Cuiabá/MT desde o
início do século XX,propondo uma reflexão sobre o imaginário da loucura. Buscou-se aportes conceituais numa pers-
pectiva interdisciplinar para a apreensão do conceito imaginário,após fez se uma incursão principalmente nas obras de
Foucault buscando conhecer a criação e a construção do imaginárío sobre a loucura. Sugeriu se conceitos considera-
dos fundamentais e que deveriam ser trabalhados na nova prática discursiva sobre a loucura para a possível descons-
trução desse imaginário.

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Rafael Araldi Vaz - UFSC
A arte dos lázaros: cinema, teatro, rádio e folia na colônia Santa Teresa (Santa Catarina, 1940-1950)
A proposta desta comunicação é analisar as produções culturais desenvolvidas no Hospital/Colônia Santa Teresa
durante os anos de 1940 a 1950. Esta instituição, existente ainda hoje no Estado de Santa Catarina, fora criada para
abrigar pacientes acometidos por hanseníase, que para lá foram encaminhados durante a década de 1940 de forma
compulsória. Esse tipo de medida fora preconizada durante o período Vargas como forma de salvaguardar a "raça
sadia', e portanto visava o isolamento dos comunicantes da doença. Por optarem pelo confinamento como forma de
profilaxia, foram criados mecanismos, tais como rádio, teatro, cin~ma, blocos carnavalescos, e outras produções cultu-
rais, visando a permanência do interno no interior da Colônia. E sobre estas 'estratégias disciplinares' e as 'táticas'
produzidas pelos internos para burlá-Ias, que a presente comunicação pretende tratar.

Dilma Cabral - Arquivo Nacional


A terapêutica da lepra no século XIX
Na primeira metade do século XIX a lepra foi integrada á pauta da pesquisa científica no Brasil, com estudos sobre sua
etíologia e distinção clínica. A complexidade de elementos que compunham o quadro etiológico da lepra se expressa-
ria, no plano terapêutico, pela adoção de remédios debilitantes, parte de uma estrutura cognitiva em que o restabele-
cimento da saúde se daria a partir da desobstrução e equilíbrio do organismo. Nas décadas finais do século XIX, o
tratamento da lepra sofre significativas transformações, a bacteriologia criara novos valores científicos, conferindo um
novo papel ao médico e a reorientação da terapêutica da lepra.

José Rogério de Oliveira - Universidade Federal de Pernambuco


Controle e Medicalização do "baixo espiritismo"
O nosso objetivo é colocar em questão a relação entre a medicina psiquiatrica e o poder publico que acionaram, juntos,
mecanismos de disciplinarização e controle do dito, pela propria psiquiatria, "baixo espiritismo' na decáda de 1930 em
Recife. Desta forma, procuramos desvelar as implicações históricas que se dão a conhecer a partir do exame dos
discursos e praticas firmados entre a psiquiatria e o Estado, no que concerne à vigilância e a consequente repressão
aos adeptos das religiões populares, então, marginalizados. Isto signiica, não só evidenciar a perseguição aos prati-
cantes e o controle dos "terreiros', exercido pela polícia e pela Liga de Higiene Mental do Recife, mas, sobretudo,perceber
que essas repressões foram executadas porque nesses locais muitas pessoas, na sua maioria oriundas das camadas
mais pobres da sociedade, acorriam em busca de alivio para muitos de seus males psiquicos. O que sem duvida
despertou o interesse das autoridades medicas psiquiatricas em proibir tais praticas de cura nos terreiros espalhados
pela cidade uma vez que estes dificultavam o projeto de medicalização social idealizado pela medicina e legitimado
pelo arcabouço politico-juridico do Estado.

Carlos Alberto Cunha Miranda - UFPE


Vivências Amargas: a divisão de assistência a psicopatas de Pernambuco nos primeiros anos da década de 30
Este artigo trata de um estudo acerca da~ estratégias utilizadas pela psiquiatria institucional, nos primeiros anos
da década de 30, através da Divisão de Assistê cia a Psicopatas de Pernambuco, nessa época dirigida pelo doutor
Ulysses Pemambucano. Nossa intenção é analisa as novas formas de controle exercidas sobre os pacientes dos hospi-
tais psiquiátricos e os adeptos das religiões afrg,<Íescendentes, por meio do Serviço de Higiene Mental, bem como de-®
monstrar as táticas utilizadas por essas pessoas para reagirem ao forte domínio exercido pela referida instituição. 6
Juliane Conceição Primon Serres - Unisinos
Prontuários Médicos: o que nos dizem sobre "o homem doente e sua história?"
A proposta de construção de uma história social das doenças/doentes vem sendo tema cada vez mais freqüente entre ~.~_
historiadores. O homem doente ganhou status privilegiado nos trabalhos que tratam das doenças, ao lado dos agentes --
de cura, políticas públicas e outros enfoques mais recorrentes. O uso de diferentes fontes, ou novos olhares sobre =;
antigas fontes, têm permitido estas abordagens que contemplam os doentes como sujeitos e não mais meramente ~
indicadores de (in)salubridade. Nesta apresentação discutiremos algumas possibilidades de leituras a partir de prontu- 1il
ários médicos, fontes privilegiadas e, em muitos casos, única forma de acesso aos doentes. Os prontuários analisados :g
referem-se ao Hospital Colônia Itapuã, antigo leprosário fundado em 1940 no Rio Grande do Sul, destinado a isolar os o
doentes da então denominada lepra. O núcleo documental referente aos registros prontuariais desse antigo leprosário 13
é formado por 2.474 prontuários, por meio deles é possível fazer um IIretrato" da situação das doenças/doentes do ~
Estado, mapeando não apenas aspectos sanitários, mas sociais, econômicos, culturais e geográficos. ~~
o
"O
co
Maria Concepta Padovan Q.)

O Espiritismo no Recife segundo a psiquiatria do Estado Novo: "fábrica de doentes mentais" .g;
O período do Estado Novo (1937 -1945) caracterizou-se por um momento de organização social, baseado na moral ida- '1l
de e religiosidade expressadas através da família. Neste contexto, a psiquiatria encontrou espaço para seu desenvol- «

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vimento, atuando juntamente ao governo, de forma que a ordem fosse preservada a partir não mais de um simples
processo de exclusão, mas da prevenção e reintegração da loucura. Neste sentido, procurou-se estudar as formas
pelas quais os praticantes de cultos de origem africana viram-se alvos da perseguição policial e médica. A partir de
estudos de artigos da época, a loucura foi sendo traçada como ~ "desobediência' dos padrões estabelecidos, no que
se referia a aspectos físicos, pensamentos e comportamentos. E dentro desta perspectiva que estes aspectos consi-
derados inadequados e intoleráveis acabaram por se mostrar como a real vivencia da loucura (e não apenas seus
aspectos orgânicos), durante o Estado Novo.

I 17/07 - Terça-feira - Tarde (14h às 18h) I


Leila Mezan Algranti - UNICAMP
Usos medicinais do chocolate no império luso-brasileiro (séculos XVII-XVIII)
Os maias e os astecas utilizavam o cacau para a fabricação de uma bebida amarga muito apreciada, à qual atribuíam
qualidades nutritivas, curativas e estimulantes, bem como significados sociais e religiosos. Os espanhóis adaptaram a
bebida ao seu paladar, aprimoraram a técnica de sua fabricação e a exportaram para a Espanha, de onde esta se
espalhou pelas cortes européias. Contudo, a pesar das díferenças presentes nas novas formas de consumo e produ-
çâo, o chocolate manteve durante os séculos XVII e XVIII muitos dos atributos originais conferidos pelos índios. Com
base em tratados dietéticos e culinários da época moderna, bem como registros de despesas de instituições de saúde,
pretende-se refletir sobre os usos medicinais do chocolate e seus significados no império luso-brasileiro.

Jaime Rodrigues - Unifesp


A "alimentação racional": uma proposta de mudança nas práticas alimentares durante o Estado Novo (1937-
1945)
Neste trabalho, discuto a criação do conceito de "alimentação racional" como parte das políticas públicas de interven-
ção social planejadas no âmbito do Estado Novo brasileiro. Para isso, foi fundamental a adesão e a participação de
inúmeros intelectuais das áreas de nutrição, medicina, educação e ciências sociais. As ações desses intelectuais se
tomaram mais visíveis em congressos de especialistas, em publicações acadêmicas e em revistas e manuais de
divulgação voltados para o público escolar, às donas-de-casa e os operários.

Norberto Osvaldo Ferreras - UFF


Alimentação e Saúde em Buenos Aires (1900-1920)
Em poucos anos a cidade de Buenos Aires transformou-se de um pequeno povoado em uma cidade de grande porte.
Entre as novidades e dificuldades surgidas pela aglomeração de pessoas, surgiu a questão da alimentação: como
alimentar a uma população com origens e tradições culinárias diversas. A questão está diretamente vinculada à uma
nova concepção de alimentação e ao processo de industrialização que modificaria definitivamente as tradições exis-
tentes, para reuni-Ias numa única. Apresentaremos neste trabalho a relação existente entre a nova alimentação e a
saúde dos trabalhadores de Buenos Aires.

Denise Bernuzzi de Sant'anna - PUC-SP


A alimentação em São Paulo; aspectos de uma história - 1860-1910
A partir de uma pesquisa sobre a história dos costumes e sensibilidades alimentares na cilpital paulista durante a
segunda metade do século XIX, pretende-se analisar as transformações nas maneiras de distinguir o sujo e o limpo, o
saudável e o doentio, a comida considerada forte e viril em relação aos alimentos julgados fracos e moralmente
suspeitos.

Lorena Almeida GiII- UFPel


Relatos sobre uma doença e os seus enfermos: a tuberculose e os tuberculosos em Pelotas (RS) 1930-1960
Este trabalho é uma continuidade da análise estabelecida por minha tese de doutorado na qual era investigada a incidên-
cia da tuberculose em Pelotas, de 1890 a 1930. Nas décadas seguintes, entre 1930 e 1960, a tuberculose, sob todas as
suas formas, continuava sendo a enfermidade que mais vítimas fazia na cidade, chegando a acometer, por vezes, cerca
de um 1/3 de sua população. Embora este tenha sido um período extremamente importante para o tratamento da molés-
tia, com um grande avanço na terapêutica, a maioria dos doentes não conseguiu se beneficiar dos resultados trazidos
pelas novas pesquisas e pela expansão do atendimento hospitalar. Este trabalho, ainda em fase inicial, pretende caracte-
rizar o indivíduo tuberculoso (idade, sexo, profissão, estado civil, etnia, naturalidade, local em que residia), identificar as
diferentes formas de tratamento propostas e, principalmente, analisar relatos de pessoas que tiveram algum envolvimento
com a doença - enfermos, familiares e médicos - o que não foi pOSSível fazer na tese pela distância temporal. Neste
sentido, além da pesquisa documental em periódicos locais e nos Relatórios de Internamento e Enterramento da Santa
Casa de Misericórdia de Pelotas, o projeto tem como metodologia principal a história oral temática.

48
Carlos Roberto Antunes dos Santos - UFPR
Alimentação, Saúde e Doença: o estado da arte de uma Santa Aliança
Muitos estudos no âmbito da História da alimentação revelam um conjunto de preocupações sobre o desenvolvimento
da sociedade. Desta forma, como eixo no cruzamento da História da Alimentação com outros outros saberes, o tema
alimentação contitui um fenômeno total, que permite a ponte para a interdisciplinaridade. A comunicação tem como
objetivo revelar estudos sobre as implicações da História da Alimentação com o universo da saúde e da doença na
História do Brasil, a partir do universo da memória gustativa e do alimento memória, vistos em quadros sociais e
culturais. Nesse sentido, a variação dos comportamentos culturais no tocante a comida revelam representações soci-
ais diferenciadas, assentadas no discurso sobre a saúde: "somos o que comemos ou comemos o que somos?". Nesse
sentido, a memória gustativa constitui uma ferramenta essencial ao saber gastronômico e está associada ao cotidiano
do indivíduo ou dos grupos sociais. A alimentação através da História não contitui patrimônio sómente da saúde em
detrimento da doença, pois a falta da comida e os hábitos alimentares daí decorrentes, revelam também o retorno
periódico das crises sociais.

Christiane Maria Cruz de Souza - FIOCRUZ


A epidemia de gripe em Salvador (1918): profilaxia e práticas de cura
Em de setembro de 1918, a pandemia de gripe espanhola atinge a Bahia. Neste momento, as autoridades médicas e
sanitárias serão desafiadas a desenvolver um esquema explicativo para aquele conjunto de sintomas e sinais, a
persuadir e negociar com atores de espaços sociais diversos a definição e a resposta a ser dada áquela doença. O
objetivo desta comunicação é discutir as medidas propostas pela medicina baiana para conter o avanço da epidemia
de gripe espanhola que irrompeu em Salvador. Neste sentido, pretendemos avaliar a disponibilidade e o uso de recur-
sos por parte dos poderes públicos para cuidar dos doentes e proteger os sãos. Nos interessa discutir, também, as
medidas preventivas e as práticas de cura informadas pela medicina doméstica e pela religião.

Carlos Eduardo Romeiro Pinho - FFPP-UPE


1918, entre a doença e a cidade: a Gripe Espanhola nas cidade de Recife e Salvador
O presente trabalho traz o estudo a Gripe Espanhola de 1918 e seus reflexos no desenvolvimento social e urbano nas
cidades do Recife (PE) e Salvador (BA). Partindo de uma história comparada, cidades que historicamente contribuíram
fortemente para a construção de políticas públicas e sociais em todo o Nordeste e Brasil. A abordagem escolhida tem
como foco o impacto que a enfermidade provocou nas cidades e em seus habitantes, despertando na classe dirigente
ações que produzem uma idéia de salvação para o Recife e Salvador. O corte temporal será os dos meses de agosto
a dezembro de 1918, período em que a doença surge divulgada, sobretudo nos jornais, até o momento em que ela é
controlada. As vítimas da moléstia contradiziam o parecer dos médicos e as declarações oficiais. Para manter o públi-
co leitor bem informado a imprensa local divulgava as diferentes opiniões emitidas por respeitados cientistas da comu-
nidade local, nacional e internacional. Muitos médicos baianos e recifenses relutavam em chamar de gripe uma doen-
ça pandêmica ainda não identificada. A escolha do tema procura uma maior compreensão do espaço urbano e público
a partir de uma epidemia. Tomamos como ponto de partida a história de duas cidades, Recife e Salvador e de uma
doença e da luta para debelá-Ia.

Francisco Carlos Jacinto Barbosa - UECE ~


A Cidade dos Tísicos: Tuberculose e tuberculosos em Fortaleza-Ce (1890 -1950) ~
A presente comunicação objetiva refletir sobre a ocorrência da tuberculose em Fortaleza entre os anos de 1890 e 1950,
momento caracterizado pela problematização da doença, da cidade e da estrutura sanitária e hospitalar. Por meio do
cruzamento de informações produzídas pelos jornais, pelo pela administração pública e pelos médicos, objetivamos .!S!
compreender como as autoridades, os profissionais médicos e os moradores vivenciaram e representaram diversa- -B
mente a moléstia. jg
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18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h ás 18h) 8


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Dilene Raimundo do Nascimento - Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz E
Dengue: uma sucessão de epidemias esperadas ~
Com a reintrodução da dengue no pais, em 1984, a população do Rio de Janeiro tem vívido sucessivas epidemias da ~.
doença nos meses de verão. Acada epidemia de dengue anuncia-se a próxima, com a expectativa de um recrudesci- ~
mento e a introdução de um novo tipo de vírus. E o vaticínio não tem falhado. A dengue tem respondido por quase 1% ~
do total de Anos de Vida Saudável (AVISA) perdidos em toda a América Latina. Vários fatores contribuem para a QJ

difusão da doença na região, dentre eles os vôos internacionais e as migrações em busca de melhores oportunidades :§
de trabalho, o que acaba por aumentar a densidade demográfica nas áreas urbanas, sem planejamento adequado. O ~
objetivo deste trabalho é uma análise histórica inicial das idéias e práticas sobre a doença no período de 1984 a 2002, -ex:

49
com a perspectiva de que a dengue é uma emergência global com fortes efeitos econômicos e sociais. Apontar para
uma análise histórica da relação globalização/desigualdade e seu impacto no Rio de Janeiro, verificando como se
aplica essa relação na questão da incidência da dengue. As matérias jornalísticas veiculadas pela grande imprensa
nos períodos das epidemias são de fundamental importância, como fonte para o trabalho.

Liane Maria Bertucci - UFPR


Médicos - educadores no sertão do Brasil nos anos 1910
A idéia de um novo Brasil, que resultaria da efetiva integração do território e da população, inclusive a chamada
sertaneja ou interiorana, ganhou contornos nítidos nas primeiras décadas do século XX. Pretendo destacar, neste
contexto, aspectos da viagem de Arthur Neiva e Belisário Penna, médicos que, em 1912, percorreram parte do interior
nordestino e de Goiás, com o objetivo primeiro de diagnosticar e propor soluções para a questão da seca; objetivo
ampliado pelas observações que fizeram do dia-a-dia do sertão. A viagem foi marco das expedições sanitárias que
percorreriam diversas âreas do território nacional nos anos seguintes e que tinham como meta obter informações,
estudar e tentar resolver os problemas nacionais relacionados com a saúde. Os relatos de Neiva e Penna foram
reunidos no livro Viagem Científica, de 1916, e informam o livro Saneamento do Brasil de Belisário Penna, de 1918.
Nos textos são marcantes as observações sobre as pessoas que conheceram em 1912: seu cotidiano, enfermidades
e práticas de cura. Entre as soluções para os problemas que arrolaram, a instrução e (re)educação do homem e ações
governamentais coordenadas (centralizadas), aparecem como pré-condições para as mudanças desejadas.

Maria Elisa Lemos Nunes da Silva - UESB


Tuberculose e Afirmação da Regionalidade: a criação do IBIT - Bahia 1937
Em 1937 foi fundado, na Bahia, o Instituto Brasileiro para Investigação da Tuberculose -IBIT. Idealizado pelo médico
José Silveira, era apresentado como uma instituição de pesquisa, um empreendimento pioneiro, que vinha resgatar o
'passado de glória'. Conforme suas palavras, a medicina nacional nasceu na Bahia e nesse estado deveria se desen-
volver a primeira instituição para investigação da tuberculose no Brasil. O IBIT foi, então, denominado Instituto Brasilei-
ro e não Instituto Baiano, como a sigla poderia sugerir. Numa conjuntura política ás portas da ditadura do Estado Novo,
cuja ênfase era a perspectiva nacionalista e centralizadora, Silveira buscava a afirmação das especificidades regionais
no que diz respeito à tuberculose, ao tempo em que ressaltava as características gerais da doença. É com o olhar
votado para essa reflexão que este trabalho busca acompanhar o conteúdo regionalista do discurso de José Silveira
sobre a tuberculose, através de suas publicações em revistas especializadas, da sua participação em congressos e
conferências sobre tuberculose e dos seus livros de memórias.

Renata Palandri Sigolo - UFSC


"Sua cabeça faz a doença": as medicinas alternativas e a emergência de "novos" conceitos de saúde e doença
A biomedicina construiu suas bases calcadas na idéia de dualidade entre corpo e mente, elegendo o primeiro como
sujeito de sua intervenção. As práticas de cura a ela relacionadas obedeceram, após a Revolução Científica, ao
paradigma cartesiano, onde o olhar do médico sobre o corpo do doente estabelecia uma ação objetiva junto á doença.
Apesar de se pretender hegemônico e de se construir como 'verdade absoluta', pOdemos ouvir diferentes vozes
contrárias ao discurso biomédico. Nas décadas de 1980 e 1990, percebemos estas críticas através da emergência de
novas propostas sobre o funcionamento do corpo, a gênese das doenças, sua cura e a manutenção da saúde. A
construção das medicinas alternativas durante o movimento denominado 'New Age' se deu a partir de diferentes
concepções advindas da medicina popular ou de medicinas orientais e, em sua maioria, deram mais ênfase ao doente
como ser integral do que à doença. Este trabalho pretende discutir as diferentes terapias propostas a partir de um novo
paradigma e apresentadas através de periódicos dirigidos ao público leigo.

Rosilene Gomes Farias - UFPE


As artes de curar e o mal do Ganges no Recife imperial
Este artigo discute as "artes de curar' que disputaram espaço de atuação durante a epidemia do cólera que atingiu o
Recife em 1856. Até então, pouco se sabia sobre as formas de transmissão e cura da doença o que propisciou a
proliferação de práticas de prevenção e de terapêuticas que, em muitos casos, contribuiram para o agravamento da
situação dos enfermos. O objetivo deste trabalho é discutir o momento crítico em que a medicina de origem européia
foi bastante questionada e submetida a um processo de legitimação social que iria fundamentar o discurso e as
práticas médicas utilizadas para higienizar a capital pernambucana.

Keila Auxiliadora Carvalho - UFJF


Relações Históricas: Medicina e Saúde Pública no Brasil (1930-1945)
A medicina é, desde suas origens institucionais na sociedade brasileira do século XIX, uma maneira tanto de conhecer
o corpo social- a partir do organismo humano - como também de intervir politicamente neste corpo. Especificamente,
a partir do início do século XX, quando Belisário Pena e Artur Neiva divulgaram o relatório da expedição médico-

50
científica que fizeram ao interior do Brasil, o qual apresentava-o como um Imenso Hospital com populações doentes e
abandonadas pelo poder público, a questão da saúde suscitou um fervoroso debate intelectual. A partir de então, a
idéia de que zelar pela saúde da população era uma responsabilidade do Estado se intensificou, sobretudo entre os
médicos. Ao assumir o poder em 1930, querendo atender às "demandas' imprescindíveis à modernização do país,
Vargas criou o 'Minístério da Educação e Saúde Pública'. O propósito deste trabalho é discutir como a questão da
Saúde Pública passou a ser tratada a partir desse contexto, principalmente no que tange à gestão 'centralizadora" do
ministro mineiro Gustavo Capanerna, e alguns contrapontos entre esta perspectiva de Saúde Pública adotada pelo
Estado, e aquela postulada pela categoria médica.

Giscard Farias Agra - UFPE


A urbs doente medicada: a higiene construindo Campina G(g)rande, 1877 a 1935
A emergência dos discursos científicos da modernidade provocou uma mudança no olhar lançado a hábitos e costu-
mes urbanos nas primeiras décadas do século XX. Até então vistos como hábitos comuns, cotidianos e até mesmo
saudáveis, passaram a ser ditos e vistos como atrasados e anti-higiênicos, e as cidades e seus moradores se tornaram
corpos doentes a serem medicados em nome do progresso. Narramos, assim, uma história possível das idéias que
nomearam e classificaram a doença como um elemento a ser superado pelos conhecimentos científicos da moderni-
dade, e como essas idéias foram apropriadas, transformadas e enunciadas na cidade de Campina Grande, entre 1877
e 1935, com o objetivo declarado de torná-Ia 'grande', moderna, civilizada e higiênica.

Graziele Regina de Amorim - UFSC


Temer não humilha tanto como ser temido: controle e perseguição a "Gangue da AIDS" (Florianópolis 1987)
O surgimento da AIDS/SIDA (Síndrome de Imunodeficiência Adquirida), na década de 1980, provocou mudanças em
relação ao comportamento sexual da população. Neste contexto, pretendo investigar as histórias acerca da "Gangue
da AIDS', que representaram para a cidade de Florianópolis perigos na sua normalidade. Tratava-se assim da denomi-
nação ao grupo acusado de ter disseminado o virus da AIDS, através de seringas contaminadas e relações sexuais
sem o uso de preservativo. Fato este, que veio a público no mês de outubro de 1987. Como parte do discurso foram
bem presentes, pânico, acusações e o controle do corpo. Aos portadores do vírus HIV, a discriminação ocorreu por
serem vistos como pessoas entregues à promiscuidade, a luxúria, à perversão sexual e aos grupos de risco. Assim
busco compreender a história da "Gangue da Aids' e de que forma esta história imbuída de preconceito e controle do
corpo se fez presente em Florianópolis em 1987, analisando os discursos em relação às metáforas atribuídas àAIDS.

19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h às 16h30min)

Martha Eugenia Rodríguez Pérez - Facultad de Medicina, Universidad Nacional Autónoma de México
La educación médica en México (1902-1911)
Analizaremos una institución, la escuela nacional de medicina de la Ciudad de México en el periodo de 1902 a 1911,
cuando el establecimiento estuvo bajo la dirección dei doctor Eduardo Liceaga. EI periodo que comentamos es intere-
sante porque la ensenanza de la medicina cobra un fuerte impulso. En 1902, la educación era deficiente. ®
Federico Sandoval Olvera - Facultad de Estudios Superiores Iztacala, U.N.AM.
La Enselianza de la Administración en la Carrera de Medicina, Experiencia de veinte ali os
La Facultad de Estudios Superiores Iztacala perteneciente a la Universidad Nacional Autónoma de México inicia la
docencia dei módulo de administración a los estudiantes de medicina a partir dei ano de 1980. Esta materia es una
novedad dentro dei curriculum de la carrera. EI objetivo principal de incluiria es el de manejar màs eficientemente los
:s
co

~
escasos recursos que son asignados ai sector salud en el País. Cada ano son mayores las demandas de servicios co
básicos y grandes los rezagos en una población que rebasa los cien millones de habitantes. Considerando a la en- ~
senanza de la administración una estrategia a establecer en los currícula en los paises dei tercer mundo. ~
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o
Anny Jackeline Torres Silveira - UFMG o
E
A coleção de teses de médicos mineiros do século XIX do APM o
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O Banco de Theses de Médicos Mineiros é uma base dados que contempla a coleção de teses médicas do século XIX co
t..l.
c:
do acervo de Obras Raras do Arquivo Público Mineiro, sendo importante ferramenta de pesquisa desse conjunto Q)
o
documental. Em geral, as referências feitas a esses trabalhos apontam seu caráter pouco original e cientifico, seguin- "O

do as avaliações feitas sobre o ensino médico do período, visto como anacrônico e deficiente. Porém, como veremos, Q)

uma análise que esteja menos preocupada com o julgamento da verdade ou a validade das proposições apresenta- :g
das, encontrará nesse conjunto documental campo fértil de possibilidades de investigação histórica, como: os quadros ~
nosológicos dominantes; a influência das escolas internacionais; os sistemas médicos difundidos entre os estudantes <o:

51
e a elite médica; os debates que mobilizaram os profissionais; a organização do ensino médico; as terapêuticas mais
difundidas; o próprio movimento da medicina como campo de conhecimento durante o periodo. Nesse trabalho preten-
demos apresentar dados referentes a esse projeto, que é produto de uma parceria da UFMG com a Secretaria de
Cultura do Estado de Minas Gerais através da Escola de Enfermagem e doArquivo Publico Mineiro, com apoio finan-
ceiro da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais, FAPEMIG.

Ana Carolina Vimieiro Gomes, Bráulio Silva Chaves e Huener Silva Gonçalves - UFMG
Latour como ferramenta teórico-metodológica de análise para a História das Ciências da Saúde
Este trabalho busca analisar, a partir da proposta teórica de Bruno Latour para os 'Estudos Científicos", três tramas
históricas distintas no espaço e no tempo, vinculadas à História das Ciências da Saude no Brasil: a inserção da
Fisiologia Experimental (1880-1889), o surgimento do Instituto Ezequiel Dias (1907-1941) e a mobilização médica
contra o tabagismo (1965-1986). Apesar das diferenças nas presentes temáticas, na prática, observa-se uma comu-
nhão entre os objetos a partir do arcabouço Latouriano, que tem sido determinante para pensar elementos que com-
põem essas tramas históricas, tais como: autonomização do campo, mobilização do mundo, alianças, representação
pública e, perpassando estes elementos, os vinculos e nós. Assim, compreendemos as interações das práticas cienti-
ficas e as 'translações" promovidas por diversos atores na história.

Gabriela Dias de Oliveira - UFMG


A cura como ofício: a profissionalização da medicina na capital mineira (1897-1927)
Desde o final do século XIX até as primeiras décadas do século XX, a profissão médica passara por profundas trans-
formações no que tange à reestruturação de seu conhecimento e à demarcação do seu campo de atuação. Mudanças
são igualmente sentidas na relação médico/paciente e na progressiva substituição do clinico geral pelo médico espe-
cialista. Contribuíram nesse sentido, as recentes descobertas da bacteriologia, que proporcionaram à ciência médica
uma melhor compreensão do fenômeno da doença, como também um dos elementos definidores da profissionalização
da medicina: a delimitação do mercado de trabalho. Nessa perspectiva, os esculápios buscavam a afirmação de seu
saber e de sua profissão, desqualificando e desautorizando as demais terapias e seus praticantes. Para melhor com-
preender o processo de profissionalização da medicina na recém fundada capital mineira, será lançado mão das
teorias sociológicas das profissões a partir de um enfoque próprio da história. A análise será realizada através dos
processos crimes que prescrevem o exercício ilegal da medicina. A escolha dessa fonte justifica-se por encerrar uma
rica documentação, ainda pouco explorada e com enorme potencial de investigação para a questão proposta.

I 20/07 - Sexta-feira - Manhã (10h30min às 12h30min) I


Rita de Cássia Marques - UFMG
O combate a ancilostomose em Minas gerais: 1916 e 2006
A ancilostomose é uma verminose, muito comum em terras quentes e úmidas, causada por ancilostomídeos. Infecta
atualmente cerca de 1 bilhão de pessoas, em terras tropicais. Minas Gerais, com regiões endêmicas tem uma historia
de combate a esta verminose. Este trabalho tem por objetivo comparar duas iniciativas estrangeiras contra o ancilós-
tomo em Minas Gerais: a primeira em 1916, na localidade de Capela Nova de Betim, patrocinada pela Fundação
Rockefeller e a segunda o Projeto Vacina Ancilostomideos do Instituto de Vacinas Sabin em parceria com a FIOCRUZ.
A ancilostomiase também conhecida por uncinariose, ancilostomose, opilação, hipoemia intertropical, necatorose e,
principalmente, amarelão e cansaço, foi a primeira verminose a se tornar alvo de uma campanha mundial da Fundação
Rockefeller. A campanha iniciada em 1914, no sul dos Estados Unidos, no Caribe e no Egito, chegou ao Brasil em
1916. A Comissão Sanitária Internacional ficou 22 dias em Capela Nova de Betim, onde foi instalado um ambulatório
com as quase cinco toneladas de equipamentos trazidos pelos americanos, auxiliados por pesquisadores do Instituto
Oswaldo Cruz. O projeto atual, também conta com o apoio da filantropia cientifica, a Fundação Gates, conta com uma
clínica e um laboratório, mas além de cuidar do tratam.

Elizabete Mayumy Kobayashi e Maria Conceição da Costa - Unicamp


Fundação Rockefeller e Eugenia no Brasil: via alternativa de cooperação
Este trabalho tem como objetivo apresentar a relação estabelecida entre a Fundação Rockefeller e a eugenia no Brasil.
Apesar de não ter financiado diretamente o movimento eugenista brasileiro, pode-se considerar que a fundação norte-
americana participou por meio de uma via alternativa quando chegou ao pais para fomentar programas de erradicação
de doenças epidêmicas e endêmicas. Nas duas primeiras décadas do século XX, a eugenia era sinônimo de sanea-
mento e higiene. Esta abordagem sugere a presença de diferentes atores e distintas redes. Dadas suas peculiarida-
des, o caso brasileiro não pode ser considerado uma mera reprodução dos movimentos americano ou alemão. Na
época da Primeira Guerra Mundial, por exemplo, enquanto os países da Europa se preocupavam com questões de
degeneração racial, o Brasil buscava se regenerar. Tentava encontrar soluções compativeis com a sua realidade. Por

52
meio de um levantamento bibliográfico, é possivel averiguar que tanto a presença da Fundação Rockeleller no país,
bem como o movimento eugenista suscitaram discussões acerca da importância da cooperação internacional estabe-
lecida entre os Estados Unidos e o Brasil, e a postura própria adotada por este na época estudada.

Tania Maria Fernandes e Daiana Crús Chagas - Casa de Oswaldo Cruz


A erradicação da varíola como um projeto internacional para a saúde
A erradicação global da varíola foi alcançada em 1977. Constitui-se como um dos projetos de internacionalização de
ações de saúde que, no Brasil, tiveram início no pós-guerra, apresentando como marco importante a criação do SESP.
No Brasíl, último país das Américas a apresentar casos da doença na década de 1960, organizou-se instituições
destinadas a nacionalizar campanhas de controle e, a partir de 1966, de erradicação. Apesar do projeto nacional, com
a criação de Unidades de Vigilância Epidemiológica locais, verificam-se no país diferenças regíonais com práticas e
respostas também, de cunho regional. O alcance da erradicação da varíola é interpretado como um sucesso da saúde
pública mundial após várias tentativas de erradicação de outras doenças como a malária, febre amarela e ancilostomo-
se. Sem dúvida, investiu-se em uma ação sabidamente alcançável, na medida em que a doença somente colocava-se
como uma doença grave nos paises onde a vacinação não havia sido rotinizada. Erradicar a doença significava elimi-
nar uma das fragilidades sociais dos países desenvolvidos e, sobretudo, dar base a algumas formulações relativas a
vigilância epidemiológica que começavam a se constituir, reforçando o poder político das ações de saúde coletiva.

Ariel Salvador Roja Fagúndez - UFPel


A varíola entre a ordem e o Progresso: Políticas de saúde em Pelotas na alvorada da República
Ao final do século XIX e início do século XX, a cidade de Pelotas vivenciava profundas transformações em sua estru-
tura econômico-social, acompanhando as mudanças que ocorriam no país, como o incremento de oferta de mão-de-
obra imigrante européia, as alterações nas relações de trabalho com o ocaso da escravidão e as modificações no
cenário político com a implantação da República. Essas transformações trouxeram novos dilemas para a organização
urbana, como o problema da moradia popular e o sanemento. As camadas menos favorecidas, vistas como 'camadas
perigosas', passaram a ser vítimas do 'Despotismo sanitárío' imposto pela novo cenário polítíco. A preocupção das
autoridades e das elites não estava restrita á possibilidade de levantes e manifestações como as que ocorreram no Rio
de Janeiro na mesma época, mas no risco que essa população representava para a disseminação de doenças em
conseqüência de seus hábitos 'condenáveis'. Esta comunicação visa analisar o conjunto de práticas sanitárias, a ação
do poder público no combate a epidemias - neste caso a varíola em especial - ampliando a reflexão sobre os mais
diversos aspectos da vida urbana na cidade de Pelotas no advento da República.

Gisele Thiel Della Cruz - Instituto Superior de Educação Nossa Senhora de Sion
O gemido dos homens bexigosos: varíola, isolamento e políticas públicas - Rio Grande (década de 1890)
No decênio de 1890, a epidemia de varíola é a maior causadora da elevada morbidade na cidade de Rio Grande. Para
os anos de 1892, 1893 e 1896 verificam-se, pelos internamentos na Santa Casa de Misericórdia, três picos significati-
vos de casos da doença: 21,21%, 18,36% e 16,42%, respectivamente. Nesse momento, em que politicamente se
consolida a República, os serviços de saúde ainda se estruturam no Rio Grande do Sul; portanto, a orientação médica
advinda da Diretoria de Saúde só ocorre e é aceita em épocas de epídemia, e esse parece ter sido o caso da varíola em
Rio Grande. Para evitar a crescente propagação da doença em uma cidade portuária e porta de entrada do estado, a ~
Repartição Sanitária do Estado, auxiliada pelo Serviço de Saúde dos Portos, organiza medidas emergentes. Agregam- ~
se a elas a construção de lazaretos, as quarentenas aos tripulantes das embarcações e o isolamento dos bexigosos na
Santa Casa de Misericórdia. Por sua vez, o poder público municipal propõe inúmeras intervenções sobre o meio
urbano e a vida dos indivíduos. Apontado como foco de contágio, o cortiço atrai sobre si o olhar acusador das autorida- co
des. Desinfecções, multas e demolições passam a ser adotadas como providências imediatas para erradicar a propa- ~
gação da varíola e melhorar a saúde pública. ~
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20107 - Sexta-feira - Tarde (14h ás 18h) E


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Anna Beatriz de Sá Almeida - Casa de Oswaldo Cruz/Fundação Oswaldo Cruz ~
Considerações sobre a história da medicina e da saúde do trabalho no Brasil (1950-1970) B.
A pesquisa ora apresentada encontra-se em andamento e é fruto de questões levantadas em minha tese de doutorado, ~
na qual analisei o campo da medicina do trabalho na primeira metade do século XX. O Ministério do Trabalho, Indústria ~
e Comércio (1931) destacou-se como importante espaço de institucionalização do campo. A questão que nos propo- Q)

mos agora é prosseguir com a análise para o período de 1950 a 1970. As décadas de 1950 e 1960 marcaram a entrada g
em cena dos serviços de medicina do trabalho em indústrias, empresas estatais e multi nacionais. No espaço público, ~
destaca-se a presença do SESP (Serviço Especial de Saúde Pública) na implantação de serviços de higiene industrial. <C

53
Também é o período em que se organizam as Comissões de Prevenção de Acidentes (CIPAS) e vários congressos. Ao
longo dos anos 1970, aumenta a regulação sobre o campo, com destaque para a Portaria 3.237f72, do Ministério do
Trabalho, criando a obrigatoriedade dos Serviços Especializados de Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho
nas empresas. Nosso objetivo nesta comunicação é apresentar os primeiros resultados da pesquisa, analisando de
que forma antigos e novos atores e instituições atuaram na construção da história da medicina e da saúde do trabalho
no país ao longo das décadas de 1950 a 1970.

Vera Regina Beltrão Marques - UFPR


Técnicas racionalizadoras em ação: a seleção eugênica de aprendizes SENAI (1943-1955)
Conformar o corpo máquina, preparar o operário para os diferentes lugares da produção nas primeiras décadas do
século XX, constituiu um desafio para os intelectuais brasileiros de vários campos do conhecimento científico. Médi-
cos, engenheiros, juristas, administradores, psicólogos e educadores empenharam-se na árdua tarefa de tornar o
brasileiro um sujeito disciplinado para a labuta. Esse trabalho analisa como homens da indústria apropriaram-se das
técnicas de seleção que se discutiam no Instituto de Higiene, IDORT e/ou Escola de Sociologia e Política, com a
finalidade de selecionar aprendizes mais aptos aos cursos SENAI e assim atender aos interesses fabris e do "aperfei-
çoamento de nossas gentes", como apregoaram para escolherem adolescentes com saúde e potencial produtivo.
Examinei os manuais de psicotécnia preparados ou utilizados nos processos seletivos aos cursos de aprendizes,
buscando neles apontar o caráter eugênico das técnicas e práticas utilizadas. Embora a eugenia não aparecesse
como tema de destaque no discurso institucional, entendo que a mesma norteava os projetos de formação profissional
do SENAI, em seus primeiros cursos formadores.

Ediná Alves Costa e Tânia Salgado Pimenta -ISC/UFBA


Controlando riscos: construção da vigilância sanitária no Brasil (1941-1999)
Desde o século XIX, podem ser observadas no Brasil, com a criação de estruturas governamentais direcionadas para
a saúde, ações voltadas para eliminar, diminuir ou prevenir riscos á saúde. Esse campo, atualmente denominado
Vigilância Sanitária, caracterizou-se por várias modificações na organização de seus serviços. Pretendemos analisar
tais mudanças e as concepções sobre vigilância sanitária a nível federal ao longo do período delimitado: do Serviço
Nacional de Fiscalização da Medicina (1941), passando pela Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária (1976) e
chegando á Agência Nacional de Vigilância Sanitária (1999). Utilizamos como fontes para a análise histórica a legisla-
ção, documentos produzidos por órgãos responsáveis pela vigilância sanitária, textos analíticos e depoimentos orais.
Neste trabalho, enfatizaremos as décadas de 1980 e 1990, quando se observa, por um lado, esforços no sentido de
inserir a vigilância sanitária no campo mais amplo da Saúde Pública e da Saúde Coletiva e, por outro, enfrenta-se um
contexto de crise sanitária com vários escândalos envolvendo medicamentos e mortes em serviços de saúde. O
projeto de pesquisa que dá suporte a este trabalho está sendo desenvolvido através de um convênio entre ISC/UFBA
e ANVISA/MS, em parceria com a COC/FIOCRUZ.

7. Brasil, Estados Unidos e América Latina: Aproximações, Conflitos e Distanciamentos


Henrique Alonso de Albuquerque Rodrigues Pereira (UFRN) e Antônio Pedro Tota (PUC·SP)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h ás 18h) I
Henrique Alonso de Albuquerque Rodrigues Pereira - UFRN
Os Estados Unidos e a Aliança para o Progresso no Brasil
A Aliança para o Progresso foi o principal programa de politica externa dos Estados Unidos no inicio da década de
1960. Ela representou o enfrentamento do "perigo' comunista que teria se materializado na América Latina com a
Revolução Cubana. Dada sua importância geopolítica, o Brasil foi o pais latino-americano prioritário para a ação da
Aliança para o Progresso. No Brasil, o foco central da preocupação do governo norte-americano foi o Nordeste. As
"Ilhas de Sanidade', expressão criada pelo embaixador estadunidense Lincoln Gordon, foram o locus privilegiado da
implementação dos projetos ligados á Aliança para o Progresso no Brasil. As "Ilhas' funcionariam como um exemplo
daquilo que o governo estadunidense poderia fazer de bom não apenas no Nordeste e no Brasil, mas também em toda
a América Latina. O estado do Rio Grande do Norte foi a principal "Ilha de Sanidade" no Nordeste brasileiro. Os
resultados das ações da Aliança para o Progresso estiveram muito distantes da propagada intenção do programa de
contribuir para criar governos plenamente democráticos. Durante as décadas de 1960 e 1970, a América Latina foi
varrida por uma série de golpes de Estado que estabeleceram ditaduras militares, muitos dos quais tiveram significati-
va ajuda do governo estadunidense.

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Grazielle Rodrigues do Nascimento - UFPE (':;"\
Segurança Nacional e Guerra Fria na mídia impressa pernambucana, no final dos anos de 1950
Com o término da 1\ Guerra Mundial, o ordenamento da geopolítica internacional será em torno do controle econômico
0
mundial. Observamos URSS e EUA garantirem esse controle numa disputa ideológica configurada na Guerra Fria.
EUA terá como alvo para esse controle geopolítico, a latino América, sendo percebido no Brasil, nos discursos visto em
torno da Soberania Nacional. É com a pretensão de ajudar o Brasil contra a "ameaça vermelha', que os EUA se
colocam como os "salvaguardas' da nacionalidade brasileira. Em Pernambuco essas notícias eram trazidas pelos ê
jornais que se dividiam entre a posse de JK e o direcionamento deste a "cooperação entre americanos e brasileiros', ''::;
acompanhada de manchetes contra o comunismo e as medidas tomadas pelos EUA para combatê-lo. O trabalho ora ~
esboçado tenta compreender os efeitos e significados dessas noticias que vão repercutir na continuidade ou não ~~
desses estrangeiros no Brasil. E
«
Júlio Mangini Fernandes ~
Brasil e Argentina e a repressão no Cone Sul (1973-1976) ~
O Brasil, assim como outros países da América Latina, esteve pautado, nas décadas de 50 e 60 do século XX, pelo ~
combate ao comunismo internacional, ação essa encabeçada pelos Estados Unidos, já que a América era considerada .g
reduto dos norte-americanos na Guerra Fria contra a ex-URSS. Os EUA pressionavam os países latino-americanos a il
seguirem o modelo da Doutrina de Segurança Nacional (DSN), difundido no país pela Escola Superior de Guerra
(ESG). O Brasil criou em 1966 o Centro de Informações do Exterior (CIEX) e a atuação desse órgão era voltada .~
principalmente para o monitoramento das atividades dos brasileiros considerados subversivos e comunistas no exteri- Cõ
oro O estudo analísa, através dos informes produzidos pelo CIEX, a perseguição a exilados brasileiros na Argentina
entre 1973 a 1976, período este que antecedeu o golpe militar naquele país, ocorrido em 24 de Março de 1976. Discute
também as relações do Brasil com a Argentina destacando a conjuntura política da época e evidenciando os fatores
pelos quais este pais se tornou um reduto para brasileiros e outros exilados antes de sofrer o golpe. AArgentina era um
rumo para a continuação de resistência contra os ditames castrenses do Brasil e de outros países, já que era o único
país da região que não possuía ditadura militar.

Graciela De Conti Pagliari - UnB


A política externa brasileira e os desafios, limites e contradições em relação à segurança regional
Este trabalho analisa a militarização do combate ás drogas implementada pelos países andinos e os desafios que se
apresentam para a política externa brasileira decorrentes dessa dinâmica. O Plano Colômbia se militariza à medida
que a ajuda dos EUA configura-se como assistência militar. Esta militarização provocou o deslocamento da sua produ-
ção e os países produtores e seus vizinhos foram afetados pelo espiral de violência dela decorrente, aumentando sua
insegurança. Além da desestabilidade gerada por essa politica, a região apresenta sérias crises de governabilidade.
Assim, muitos países da região têm pautado suas agendas com preocupações quanto à militarização da segurança
pública e como isso pode provocar conseqüências para as frágeis democracias da região. Assim, este trabalho analisa
os desafios que emergem para a política externa brasileira decorrentes do conflito interno colombiano, pois a questão
da instabilidade na Colômbia e da transposição de suas fronteiras alcançando seus vizinhos, evoca a importância da
estabilidade regional. Sobretudo, ao considerar-se que a política de militarização do combate às drogas capitaneada
pelos Estados Unidos não encontra respaldo na política externa brasileira e nem na estratégia de defesa nacional.

Dario Alberto de Andrade Filho - UnB


Os Estados Unidos nos livros didàticos de história (1990-2004)
Apesar de os Estados Unidos estarem presentes na História Brasileira ao longo do século XX, o pais tem sido constan-
temente negligenciado pelos historiadores brasileiros. Nos livros didáticos editados ao longo dos últimos quinze anos
a abordagem apresentada tem sido pouco ousada e conservadora na medida em que reproduz estereótipos e valores
há muito estabelecidos no imaginário nacional sobre os americanos. Apesar das mudanças trazidas por políticas
públicas como o PCN - Parâmetros Curriculares Nacionais - e PNLD - Programa Nacional do Livro Didático, o que se
transmite ao aluno de Primeiro Grau ainda é a repetição de interpretações repetidas há décadas. Esse desconheci-
mento sobre os Estados Unidos é ainda mais preocupante quando se leva em conta que o livro didático é, em quanti-
dade expressiva de casos, a única fonte de conhecimento histórico que o aluno terá ao longo da vida.

I 17/07 - Terça-feira - Tarde (14h às 18h) I


Antônio Pedro Tota - PUC-SP
Nelson Rockefeller, anticomunismo e modernização do Brasil
No Brasil, os estudos das relações entre Brasil e EUA têm se pautado por uma visão maniqueísta e de certa resistência
- atestada pela ausência ou pela pequena presença de disciplinas que se dediquem a uma análise mais detida da

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história americana nos programas de graduação em História. O que se propõe neste projeto é uma contribuição no
sentido de se incrementar os estudos das relações entre o Brasil e os Estados Unidos sem descuidar da história
estadunidense. Em grande parte do XX, as relações entre os dois países se ligaram especificamente à modernização
do Brasil. Elas assumiram diferentes formas e se estreitaram principalmente da metade do XX para cá. As relações
entre os dois maiores paises do continente americano têm sido objeto de reflexão, mas ainda há muito o que se
pesquisar. Para ficarmos num só exemplo, a participação especifica de um homem como Nelson Rockefeller mereceu
pouca ou nenhuma atenção dos estudos acadêmicos brasileiros. O objetivo central deste projeto é exatamente exami-
nar as formas assumídas pelas relações entre EUA e Brasil na época da Guerra Fria, e especificamente o papel
desempenhado por Nelson Rockefeller - milionário, filantropo, político e 'cold war warrior', como ficou conhecido - e
seu projeto de modernização do Brasil.

Marcos Alexandre de M. S. Arraes - UFSC


Recife no tempo da boa vizinhança: tradição e modernidade
O Recife é uma cidade reconhecida por lutar por suas tradições em diferentes momentos de sua história. No século XX
esse emblema ganha força, seja nos anos 20 com Joaquim Inojosa, nos anos 40 com Mario Melo e outros jornalistas
e poetas ou a partir da década de 70 com Ariano Suassuna e o movimento Armorial. Cada um desses momentos tem
a sua especificidade histórica. No entanto, o momento vivido nos anos quarenta foi especialmente singular. Eram
tempos de Guerra e a cidade começava a sofrer mudanças em seus hábitos com a presença ostensiva de militares
estadunidenses em seu cotidiano e com a Politica da Boa Vizinhança, que também se fazia sentir na cidade. Nesse
sentido, muitos recifenses irão entrar em conflito com os novos ares 'modernos' e buscarão defender a cultura pernam-
bucana a partir da evocação da tradição. Considerando estes fatos, este trabalho busca estudar este período e as
mudanças que se processavam no Recife com a presença cultural estadunidense a partir do debate dos poetas tradi-
cionalistas diante do que chamavam 'estrangeirismos', focando especialmente os artigos e poemas de Mario Melo.

Ana Paula Spini - ABEU - Centro universitário


Imagens da modernização no cinema latino-americano contemporâneo
A comunicação consiste em discutir as representações da modernização latino-americana do fim do século XX no
cinema. A hipótese é que o cinema latino -americano da década de noventa do século XX construiu não apenas formas
de resistência ao modelo neoliberal implantado no continente naquela década, opondo ao conceito de modernização o
conceito de tradição e comunidade, como também ajudou a construir e difundir uma auto-imagem de América Latina
como lugar privilegiado no qual a simplicidade, o trabalho fora dos padrões de eficiência, a família, a amizade e a
solidariedade encontram campo fértil para existir. Tais filmes apresentariam, assim, uma visão de modernidade alter-
nativa para a América Latina, inserida em um movimento próprio latino-americano de repensar o modelo ocidental de
modernidade.

Waldir José Rampinelli - UFSC


Pancho Villa: bandido ou herói?
O México se prepara para comemorar o centenário de sua Revolução, considerada por vários historiadores daquele
país não apenas um evento nacional, mas de alcance latino-americano. Alguns líderes do processo revolucionário,
como Emiliano Zapata e Venustiano Carranza, se referiam em seus discursos e escritos á influência regional desta
primeira revolução social da América Latina, no século XX. Pancho Villa, um dos grandes líderes do processo revolu-
cionário, sofreu toda uma carga de preconceitos, alimentada e estimulada durante décadas. O historiador mexicano
Paco Ignacio Taibo 11 acaba de lançar o livro 'Pancho Villa: una biografia narrativa', no qual desconstrói os preconceitos
contra Villa. Pancho Villa passa por três etapas distintas durante a Revolução Mexicana, as quais são importantes para
compreender e entender não apenas o Centauro do Norte, mas a própria Revolução. Na primeira (1911-1912), Pancho
se alia a Francisco I. Madero para derrotar o ditador Portirio Diaz; já na segunda (1913-1915), Villa se torna um
revolucionário, passando a expropriar as terras da oligarquia mexicana; na última (1916-1920), Villa recorre á estraté-
gia de guerra de guerrilhas. Este trabalho pretende também mostrar a influência da Revolução Mexicana na América
Latina, principalmente no Brasil.

Hermetes Reis de Araújo - UFSC


Modernidade, ciência e tecnologia, o paradigma norte-americano no Brasil do pós-guerra
Por meio de documentos oficiais e da imprensa da época, pretende-se refletir sobre alguns aspectos dos significados
das aplicações práticas da ciência e da tecnologia no Brasil no período subseqüente à Segunda Guerra Mundial,
momento no qual se assiste o crescimento da hegemonia norte-americana no ocidente e, especialmente na América
Latina.

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18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h)

Nathália Henrich . UFSC


A opção brasileira:o abandono da neutralidade e a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial
O trabalho objetiva descrever e analisar o processo de tomada de decisão brasileiro com relação ao abandono da
posição de neutralidade adotada na Segunda Guerra Mundial e a opção pelo apoio aos Aliados no conflito, buscando
problematizar a questão da identificação do Estado Novo com os regimes autoritários europeus. A política externa ~
brasileira no período adotou a postura de 'eqüidistância pragmática", refletindo sua intenção de auferir os melhores ~
resultados econômicos possíveis do embate estabelecido entre dois blocos de poder, representados por Alemanha e co
Estados Unidos. Fica evidente, neste sentido, a relação estreita entre a formulação e execução da política externa e a ~~
política interna do país. A pressão exercida por Washington pela definição brasileira no conflito acenava com grandes !i
vantagens para o Brasil. Os ganhos materiais da indefinição foram mais palpáveis nas Forças Armadas, mas a nascen- QJ

te indústria brasileira também foi beneficiada pela implantação da siderurgia no país. Jà no plano político, os resulta- .g
dos não foram os almejados, sendo que a opção pelos Aliados acabou não implicando no tratamento privilegiado que ~
o Brasil esperava nas relações com os Estados Unidos, nem em significativa mudança no seu status como ator inter-
nacional.

Ulian Marta Grisolio - PUC· SP .<;;


Entretenimento e Anticomunismo: O Retrato da Guerra Fria na Revista O Cruzeiro (1947/1964) J5
A revista O Cruzeiro foi uma das mais importantes publicaçôes do Brasil no século XX. No princípio, era uma revista de
variedades direcionada a um público essencialmente feminino, dedicando suas páginas a contos românticos, dúvidas
de saúde e beleza e novidades do mundo artístico. Entretanto, a partir da década de 40 o foco de suas matérias e
reportagens se voltou para questões políticas de interesse nacional. Na nitida reorientação editorial da revista, se
sobressai o combate ao comunismo e a conseqüente formação de um ideário anticomunista. Simultaneamente,
percebe-se a crescente influência cultural e política norte-americana, notadamente nos artigos de opinião e nos
anúncios publicitários que, cada um a sua maneira, divulgaram o american way of life. A partir do exposto, o presen-
te projeto de pesquisa propõe a investigação das representações emitidas pela revista O Cruzeiro a partir da refe-
rida reorientação editorial, mais precisamente sobre as representações do anticomunismo durante a Guerra Fria no
período entre 1947 e 1964, fase de intensificação da guerra fria e de maior divulgação de análises políticas de
cunho anticomunista na revista.

Robert Sean Purdy - USP


Construindo Espaços Pá rias nas Américas: Representações na Imprensa de Guetos nos Estados Unidos e
Favelas no Brasil na Década de 1960
Neste trabalho, exploraremos construções sociais da marginalidade urbana por meio de uma leitura cuidadosa da
imprensa escrita sobre guetos negros em Chicago e favelas em São Paulo na década de 1960, um período chave na
consolidação material e ideológica de tais 'espaços párias". As fontes primárias para esse estudo são os principais
jornais diários destas cidades, Chicago Tribune, Folha de São Paulo e Estado de São Paulo. Baseando-nos na litera-
tura recente sobre história urbana, geografia cultural e estudos transnacionais, focaremos em representações sociais
e espaciais sobre trabalho, família, comunidade e identidade racial, destacando os contrastes e paralelos em tais
construções nesses dois contextos diferentes, bem como os entendimentos transnacionais compartilhados sobre clas-
se, cultura e cidadania nas Américas. Noções similares do que constituiu progresso industrial, planejamento urbano e
bom comportamento entre moradores permearam a cobertura da imprensa nas duas cidades. Contextos, tradições e
histórias locais, no entanto, também moldaram o processo de marginalização.

Rogério Souza Silva - Universidade do Estado da Bahia


Desenhando uma nova ordem mundial: o poder dos Estados Unidos e as suas representações caricaturais no
inicio do século XX
Esta comunicação apresentará um conjunto de imagens caricaturais dos Estados Unidos no início do século XX. A sua
riqueza, o seu poder militar e a sua capacidade política eram sintetizados na figura do Tio Sam. Revistas ilustradas de
vários países usaram o humor para entender esse momento. No caso do Brasil, as publicações ilustradas contavam
com o talento de grandes artistas, como: J. Carlos, K.Lixto, Raul, Storni, entre outros, que procuraram traduzir esse
contexto histórico que consolidava a influência cada vez maior de Washington na arena internacional. Portanto, nesse
e em outros temas as caricaturas se constituem em fontes históricas de grande valor. No caso especifico das caricatu-
ras sobre o começo hegemonia norte-americana elas proporcionam um olhar muito interessante sobre um processo
que marca o mundo até os dias atuais.

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Fernanda Tondolo Martins - UFRGS
Integração Sul-americana na segunda metade dos anos 1990: projeto político brasileiro versus assimetrias
regionais do subcontinente
Em decorrência do reordenamento mundial que se processou a partir do final dos anos 1980, o sistema internacional
foi marcado pelo incremento da interdependência social, política e econômica entre os Estados, a aceleração do
processo de globalização bem como a formação de blocos econômicos, A partir da segunda metade da década de
1990, o governo brasileiro, visando a redefinir um paradigma de inserção nacional do país, iniciou um movimento de
aproximação com os países da América do Sul, como forma de fortalecer o subcontinente no cenário externo, Essa
orientação marcou-se pelo continuísmo de alguns aspectos da política externa do Brasil, como a questão do desenvol-
vimento e a do "desejo de autonomia'. Adiplomacia brasileira, nesse sentido, pautou-se pela lógica de ganhos absolu-
tos no âmbito global por meio da cooperação nacional. Um dos maiores obstáculos, entretanto, à consecução desse
projeto foi a assimetria existente entre os países sul-americanos, que nem sempre vêem os projetos de cooperação
econômica e política algo que seja necessariamente um bem para as coletividades envolvidas. Nesse sentido, embora
tenha marcado o segundo mandato do Governo FHC, o projeto de integração regional, conforme análise dos discursos
presidenciais e da chancelaria, ficou aquém do proposto.

19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h às 16h30min)

Flávia de Sá Pedreira - UFRN


Entre americanos e potiguares: o difícil cotidiano de guerra do Trampolim da Vitória
Esta comunicação é sobre o contato cultural entre americanos e brasileiros durante a Segunda Guerra Mundial, na
cidade de Natal, capital do Rio Grande do Norte, que passou a ser conhecida internacionalmente áquela época pelo
epiteto de "Trampolim da Vitória'. Retirei as suas principais idéias de minha Tese de Doutorado em História (UNICAMP,
2004), publicada em livro sob o titulo "Chiclete eu misturo com banana: Carnaval e cotidiano de guerra em Natal (1920-
1945)', pela EdUFRN, 2005. Confrontando as diferentes produçôes historiográficas (especialmente os trabalhos aca-
dêmicos e publicações locais) com alguns valiosos depoimentos orais daqueles que vivenciaram o período, a consulta
à Imprensa da época e á documentação do Judiciário, Cartórios e do Exército, entre outras, foi possível vislumbrar o
delineamento das diferenças identitárias entre os dois povos, que enfrentaram as agruras do "esforço de guerra', de
exercícios de "black-out' e das sucessivas crises de abastecimento, que atingiram amplos setores da sociedade.

Christiane laidler - UERJ


Amigos Pragmáticos. O Brasil e os Estados Unidos na Conferência da paz de Haia
Durante a Primeira República, a política exterior do Brasil progressivamente mudou o seu eixo, voltando-se para a
prioridade dada aos Estados Unidos, sobretudo durante a gestão Rio Branco, A parceria entre os dois Estados foi
testada na Segunda Conferência da Paz de Haia, em 1907, com efeitos decepcionantes para as pretensões do Brasil.
O trabalho que se apresenta tem por objetivo analisar a Conferência da Paz e a natureza do sistema internacional que
então se delineava sob o comando das 'potências imperialistas' , enfatizando a atuação dos Estados Unidos para a
sua constituição, bem como as conseqüências e restrições à plena representação das demais naçôes independentes,
sobretudo as latino-americanas. A atuação do Brasil, através de seu delegado Ruy Barbosa é bastante representativa
de tais restrições.

Thiago Pereira Caldas Brum - UERJ


Dois pontos comuns na historiografia da Política Externa Independente
A partir do exame da historiografia da política externa nos governos Jânio Quadros e João Goulart, destacam-se duas
perspectivas distintas de interpretação da chamada Politica Externa Independente. Para alguns autores a PEI repre-
sentou uma ruptura, uma mudança de rumo, já para outros uma continuidade na política exterior que vinha sendo
desenvolvida pelo Itarnaraty. Percebe-se, contudo, dois pontos comuns a ambas correntes de pensamento. Primeira-
mente, considera-se que a PEI resultou do processo de desgaste e antagonismo dos interesses na relação entre
Estados Unidos e América Latina, bem como ocorrera em outros paises do continente americano que buscaram uma
política externa mais independente de Washington. O segundo ponto se relaciona à cOQsolidação de uma pOlitica
externa com o objetivo de atender às demandas do consenso desenvolvimentista do país. A época da Política Externa
Independente a captação de instrumentos para a consecução do projeto de desenvolvimento nacional era o vetor das
relações exteriores do pais, Desta forma ambas correntes interpretam a PEI como uma continuidade na "diplomacia do
desenvolvimento',

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20107 - Sexta-feira - Manhã (10h30min às 12h30min)

Ana Maria Ribeiro de Andrade - Museu de Astronomia e Ciências Afins


Conflitos políticos no caminho da autonomia nuclear brasileira
O trabalho analisa os conflitos entre o Brasil e os Estados Unidos na área nuclear, a partir dos embates na Comissão
de Energia Atômica da ONU, do acirramento das relações diplomáticas na década de 1970 e do dominio da tecnologia
nuclear. Desde a Segunda Guerra Mundial, quando o Brasil era simples fornecedor de matéria-prima estratégica para ê
o desenvolvimento de tecnologias nucleares em outros países, até a recente produção de urânio enriquecido, alguns §
cientistas, tecnologistas e militares formaram um sólido grupo, mas nem sempre tiveram o aval do Itamaraty. Desse ,~
modo, o trabalho examina acordos comerciais e colaborações cientificas bilaterais, tais como: os acordos de exporta- .Ci;
ção de monazita, o programa Átomos para a Paz, e os acordos de prospecção mineral e referente aos usos civis da ~
energia nuclear. Fica clara a intercessão entre as políticas nuclear, de relações exteriores e de ciência e tecnologia,
bem como que os conflitos entre o Brasil, os Estados Unidos e a Agência Internacional de Energia Atômica - fomenta- .g
dos pelo acordo nuclear Brasil-Alemanha, Tratado de Não-Proliferação Nuclear e domínio da tecnologia de enriqueci- ;:§
mento de urânio - se arrefeceram após a assinatura de salvaguardas com a Agência Brasileiro-Argentina de Contabi-
lidade e Controle de Material Nuclear.

Gustavo Biscaia de Lacerda - UFSC 'c;;


Modelos de relacionamentos interamericanos entre o Brasil e os EUA: a Operação Panamericana e a Aliança J5
para o Progresso
O trabalho compara duas iniciativas diplomáticas lançadas pelo Brasil e pelos Estados Unidos entre 1958 e 1963,
respectivamente conforme o país que lançou: a Operação Panamericana (OPA) e a Aliança para o Progresso (AP). A
comparação realiza-se no quadro das relações hemisféricas americanas, em que o conceito de panamericanismo
torna-se fundamental. Assim, o texto inicia-se com a apresentação dos conceitos teóricos fundamentais e prossegue
com um histórico das relações interamericanas, desde o início do século XIX até meados do século XX. Em seguida,
apresentam-se as características elementares da política externa do Brasil e a Operação Panamericana, lançada pelo
Presidente Juscelino Kubitschek em 1958; na seqüência, apresentam-se as caracteristicas fundamentais da política
externa dos Estados Unidos e a Alíança para o Progresso, lançada pelo Presidente John Kennedy em 1961. A última
etapa da dissertação corresponde à comparação entre as duas iniciativas, recuperando-se os diversos elementos
apresentados ao longo do texto. O mote da comparação está nas diferentes transações entre combate ao comunismo
e auxílio ao desenvolvimento nacional de cada uma das iniciativas.

Ceres Moraes - UFGD


A política externa de Vargas e suas relações com Perón
Em 1950, Vargas voltou à presidência do Brasil através de eleições diretas e com significativa vantagem de votos
sobre seu opositor. Sua eleição, vista pelo presidente argentino Juan Domingo Perón como uma possibilidade de
estabelecimento de cooperação entre os dois paises, preocupava os Estados Unidos devido à ambigüidade de seu
discurso sobre as relações quê éom-ele desenvolveria. Vargas, tanto elogiava a cooperação com Washington como
reforçava a vertente nacionalista de seu programa ressaltando que não estava comprometido 'vis a vis' com o capital
estrangeiro. Nesta comunicação pretende-se discutir as relações do Brasil com a Argentina de Perón no quadro da
'guerra fria' e dos interesses norte-americanos na região.

20107 - Sexta-feira - Tarde (14h às 18h)

André Luiz Vieira de Campos - UFF


Relações Brasil-Estados Unidos no campo da saúde pública: o Instituto de Assuntos Inter-Americanos e suas
políticas sanitárias no Brasil na era da Boa Vizinhança
Grande parte da bibliografia sobre política da Boa Vizinhança analisa os aspectos culturais da atuação do Office for
Coordination and Cultural Relations Between the American Republics. O objetivo deste trabalho é enfatizar as relações
desenvolvidas pelo Office no Brasil- como de resto em quase todos os países da América Latina - no campo da saúde
pública. No Brasil, a atuação no Office neste campo resultou na criação de uma agência bilateral chamada Serviço
Especial de Saúde Pública (SESP), que, em associação com o norte-americano Instituto de Assuntos Inter-America-
nos (lAIA), implementou políticas sanitárias no país. Apesar de seu caráter internacional e de ter sido planejado origi-
nalmente como uma agência temporária de guerra, as interações e respostas brasileiras fizeram do SESP um instru-
mento da expansão da autoridade pública, dentro do projeto varguista de construção do Estado e da nação brasileiros.

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Henrique Zeferino de Menezes - Universidade Estadual de Campinas
Desenvolvimentismo e Pragmatismo no governo Geisel: " Plano Nacional de Desenvolvimento e diversifica-
ção das relações exteriores
Esse artigo busca fundamentalmente explicar as relações existentes entre o 11 PND e a política externa brasileira do
governo Geisel. Mais especificamente demonstrar de que maneira a diversificação das relações exteriores brasileiras
correspondia á estratégia desenvolvimentista do período.

Ariel Finguerut - Unesp . FCl . Araraquara


Os Neoconservadores e a Direita Cristã nas administrações de George W. Bush
Este artigo tem como proposta analisar o perfil do gabinete de governo de George W. Bush, suas principais mudanças
entre o fim da primeira administração e o início da segunda. Na conclusão faremos uma análise do corpo de forças que
sustentam e que elegeram George W. Bush enfatizando neste quadro os neoconservadores e a Coalizão Cristã.

Rômulo de Paula Andrade e Gilberto Hochman - Casa de Oswaldo Cruz/FioCruz


O Saneamento da Amazônia: (Des)encontros entre médicos brasileiros e norte·americanos em tempos de
Guerra (1940·1945)
No final dos anos 30 e início dos anos 40, médicos e instituições brasileiras formularam, por solicitação de Vargas, um
plano de saneamento da Amazônia. O contexto externo interferiu diretamente nos rumos deste plano, abortado pela
conjuntura de guerra e pelas pressões norte-americanas sobre o Brasil. O objetivo da comunicação é analisar a posi-
ção e atuação de João de Barros Barreto e Fred L. Soper, dirigentes respectivamente do Departamento Nacional de
Saúde (DNS/MES) e da International Health Division da Fundação Rockefeller no Brasil (lHO), frente a criação do
Serviço Especial de Saúde Pública (SESP) em 1942 que, dirigido por técnicos norte-americanos, seria o responsável
pelo saneamento do Vale do Rio Amazonas, crucial no suprimento de matérias-primas estratégicas. Tanto o dirigente
máximo da saúde pública brasileira, como o próprio representante da filantropia norte-americana em saúde tiveram
suas propostas derrotadas pelos acordos de cooperação promovidos pelo Departamento de Estado dos EUA. O traba-
lho pretende indicar a complexidade das relações entre o governo estadunidense, a filantropia dos Rockefeller no
Brasil e o governo Vargas no campo da saúde.

Caroline Silveira .l3auer - UFRGS


Controle e cooperação norte·americana aos golpes civil·militares brasileiro (1964) e argentino (1976)
Este trabalho tem como objetivo analisar as práticas de controle e cooperação norte-americana à implantação das
ditaduras civil-militares de segurança nacional instauradas no Brasil em 1964 e na Argentina em 1976. Através da
análise da documentação desclassificada pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos, evidencia-se, na troca
de correspondência entre as embaixadas estadunidenses dos dois paises e organismos norte-americanos, as estraté-
gias colocadas em prática no momento dos golpes. Essa documentação foi desclassificada e está disponivel, para o
caso brasileiro, desde 2004 (40 anos da instauração da ditadura) e, para o caso argentino, desde 2006 (30 anos do
golpe de 24 de março de 1976). Ainda, é possível historicizar as relações de controle e cooperação entre Estados
Unidos e Argentina e Brasil, salientando as semelhanças e diferenças entre os dois paises.

8. Caminhadas pela Cidade: apropriações históricas de experiências urbanas


Francisco Alcides do Nascimento (UFPI) e Luiz Felipe Falcão (UDESC)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h às 18h) I
Aldo Jose Morais Silva - Universidade do Estado da Bahia
História nas lentes: imagens fotográficas de Feira de Santana 1968·1988
O trabalho discute a produção de uma narrativa histórica sobre Feira de Santana (BA) a partir das imagens feitas pelo
fotógrafo Antonio Magalhães (1935) entre 1968 e 1985. A proposta baseia-se na visão de que o profissional é um leitor
privilegiado da experiência urbana e, com suas leituras, produz uma interpretação da história local, narrada em suas
fotografias do espaço citadino, com suas contradições, monumentos, personagens e acontecimentos. A pesquisa
ampara-se no seu acervo particular de mais 20 mil imagens colhidas em 39 anos de profissão na cidade. Para identi-
ficar a narrativa do fotógrafo, procedeu-se uma análise de parte de sua produção, buscando situá-Ia em termos conjun-
turais, estabelecendo a partir daí a leitura de cada um dos textos imagéticos, desenvolvendo-se assim uma 'critica
interna' das imagens. Tais procedimentos permitiram identificar uma visão sobre Feira de Santana que destoa da
versão dominante, segundo a qual esta tem sido historicamente apresentada como o maior entroncamento rodoviário
do norte-nordeste (base de sua riqueza, conflitos e mazelas), para caracterizá-Ia como o resultado de diferentes per-

60
cepções e experiências, produzidas por atores variados (conscientes ou não de seu papel histórico). mas igualmente
atuantes no fazer da cidade.

Alenuska Kelly Guimarães Andrade· UFRN


"A arte de embelezar as cidades": o uso da eletricidade na construção de novas paisagens
A cidade de Natal dos anos 1920 experimentou um processo de modernização que edificou paisagens e estimulou
novas formas de viver na cidade. Segundo essa noção de progresso, a natureza dentro da cidade devia ser ordenada,
construírarn-se passeios públicos, praças, balaustradas e planos urbanísticos foram elaborados conforme modelos
importados. Tais ações tinham o intuito de fazer emergir novas paisagens na cidade - salubres, belas e iluminadas.
Este estudo busca analisar como o uso da eletricidade, e por sua vez dos equipamentos que dela dependiam, contri-
buiu para introduzir na capital do Rio Grande do Norte um embelezamento que seguia os valores que vigoraram entre
os séculos XIX e XX. Postes de iluminação, bondes e relógios que usavam a eletricidade como força motriz, receberam
elementos aplicados à arte de embelezar os espaços urbanos. A associação entre técnica e estética propiciou aos
habitantes da cidade novas formas de fruição da paisagem.

Francisco Alcides do Nascimento - UFPI


"Cidade Verde": múltiplos olhares sobre a cidade de Teresina
A comunicação trata do processo de modernização de Teresina no período compreendido entre 1950 e 1970, captura-
da pelo olhar de cronistas que publicaram nos principais jornais que circulavam na capital do Piauí. A pesquisa empre-
gou um conjunto variado de fontes, que vão desde os jornais até entrevistas realizadas com o apoio da metodologia da
História Oral. Esta foi empregada para obter informações dos segmentos mais pobres que tiveram as suas casas
®8
atingidas pela intervenção no espaço urbano de Teresina.

Juliana de Almeida - UNEB ~


Um Mercado em Chamas .~
'E
O Mercado Modelo é um dos principais pontos turísticos da capital da Bahia - Salvador.Construído sob a intendência :E
de J. J. Seabra, em 1912, na Praça Cayru, sob a proposital denominação 'Modelo' a fim de servir de exemplo para a ~
sociedade no que diz respeito às aspirações do projeto de modernização, urbanização e higienização da cidade, o 'g
Mercado foi consumido pelo fogo por três vezes: primeiramente na década de 20, seguido pela tragédia ocorrida na .§.
década de 40 e, finalmente, o episódio arrasador da década de 60 que colocou um ponto final na história daquele ~
prédio acarretando a transferência dos seus ocupantes para o antigo prédio da Alfândega. Embora a Polícia Técnica co
(mediante ausência de provas suficientes) tenha chegado a conclusão de que o incêndio ocorrido em 1969 foi principi- ~
ado por um curto circuito acidental, existem burburinhos de que o mesmo tenha sido proposital. Pois, o fato ocorreu .{g
c:;
dentro de um contexto de reformas urbanisticas e (re)significação do que é ser civilizado para o momento,cujo Merca- co
do Modelo não correspondia.Proponho, portanto, apresentar uma anàlise sobre o incêndio do Mercado Modelo em ~
1969, estabelecendo uma relação entre as transformações realizadas em Salvador, de acordo os novos paradigmas ~
de modernização e civilização, e o incêndio do Mercado. ]l
c::
'E
Keite Maria Santos do Nascimento Lima - UESB co
c.J
Cidade, ferrovia e modernização: contribuições da Estrada de Ferro Bahia ao São Francisco para a moderniza·
ção da cidade de Alagoinhas·1860 /1920
Para o pesquisador que elegeu as questões urbanas enquanto temàtica, existem, segundo Brescianni, duas aborda-
gens possíveis: uma essencialmente material em que a cidade aparece enquanto obra e outra em que a cidade
aparece numa ótica social (BRESCIANNI, 1998: 21) Nesta última abordagem, a cidade é vista a partir das relações
sociais ocorridas dentro do território urbano, evidenciando um lugar de pluralidade e de diferenças que, historicamente,
podem exprimir-se em dominação, cooptação, mas também em insubordinação e resistência. A partir dessa perspec-
tiva analisaremos as contribuições da Estrada de Ferro Bahia ao São Francisco para a modernização da cidade de
Alagoinhas, no período 1860/1920. Segundo Francisco Antônio Zorzo, esta Estrada de Ferro foi a primeira a ser
construída na Bahia e assim como as outras, estimulou a atividade comercial e intensificou as relações sociais e
econômicas nas regiões onde foram implantadas.(ZORZO, 2002:79). De modo particular a ferrovia contribuiu para o
desenvolvimento da cidade de Alagoinhas que atíngiu o auge de desenvolvimento e de modernização na década de
20. Além dos aspectos sócio-econômicos, a construção desta Estrada de Ferro està interligada a acontecimentos mais
remotos que deram origem à formação da cidade; isto é, a sua história.

Leisa Robles Borba da Silva - UFGD


Cidade e comércio em Três Lagoas (1952 A 1969): da feira livre a mercado municipal
As feiras livres têm como característica principal a venda de produtos de primeira necessidade a varejo, para o abas-
tecimento da população, em locais não raro descobertos. Funcionando principalmente nas ruas da cidade, aberta a
todo o público, fazendo-se também como local de encontro e socialização, onde os costumes das pessoas são de-

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monstrados. Esse tipo de comércio já existia na cidade em 1950, e no mês de maio de 1952 foi feita autorização para
elaboração da planta do prédio da feira livre e em agosto liberadas verbas para que essa construção fosse efetuada,
conseqüência disso, em 1953 foi inaugurada a feira livre de nomenclatura "Feira Livre de Três Lagoas', para retalho de
todos os gêneros alimentícios, ou seja, nesse caso, essa feira passou a não ser mais ao ar livre e sim num espaço
delimitado por paredes de concreto, fazendo-se diferente do que normalmente acontece. Na década de 1960 esse
prédio, após ter passado por algumas reformas passa a denominar "Mercado Municipal de Três Lagoas -Administra-
ção Dr. Leal de Queiroz". Portanto, a feira livre que depois foi transformada no primeiro mercado municipal da cidade
teve seu efetivo funcionamento até 1969 e ambos com o mesmo objetivo de abastecimento da cidade.

Márcia Maria Fonseca Marinho - UFRN


Natal civiliza-se: sociabilidade e representações espaciais da elite (1900-1929)
As iniciativas do governo no sentido de uma reorganização da estrutura urbana da cidade no inicio do século XX
refletem o desejo vivido pelos membros da elite local de enquadrar Natal nos moldes dos grandes centros urbanos do
início do século XX. Desejava-se transformar Natal numa cidade moderna. Nesse sentido, o governo empenhou-se na
reformulação de alguns espaços físicos da cidade. No entanto, era preciso também que além das transformações
urbanas a cidade passasse por 'reformas' sociais. Desta forma, esses grupos criaram novas instituições e espaços de
sociabilídade que afirmariam a capital do Estado como uma cidade moderna.
As instituições formais tinham um papel importante na construção dessa nova cidade almejada pela elite local. Pois,
através dessas, difundiam-se novas práticas sociais que seriam refletidas nos espaços urbanos. Em lugares como
clubes e associações, a elite se distinguia do popular. Nesses lugares, suas práticas eram legitimadas, em contraponto
com as práticas populares. Eram nos clubes e nas atividades praticadas pelos seus membros que os ideais da elite
circulavam, lá que a elite se formava e se transformava. Desta forma as aspirações de um grupo social refletiam na
organização social dos espaços da cidade. Portanto, as práticas definem os espaços.

Reinaldo Lindolfo Lohn - UDESC


Espaços públicos na cidade-mercadoria: modernização e cultura política em Florianópolis (1960-2005)
Em Florianópolis verifica-se um conjunto de ações governamentais combinadas com projetos empresariais que reor-
ganizam a cidade, transformando-a num produto de mercado e criam instrumentos de comunicação voltados para
promover a adesão social á imagem construída. Ao mesmo tempo, ocorre uma tendência de que diversos espaços, em
especial o centro histórico da cidade, sejam esvaziados como locais de convivência civil e pública. Este trabalho
discute a interação problemática desses dois movimentos, dentro de discussões da História do Tempo Presente, nas
quais a dimensão da cultura política ganha destaque, bem como tenta compreender certas implicações socioculturais
da modernização da sociedade brasileira nas últimas décadas. Resulta de uma investigação, em andamento, em
textos e imagens publicados pela imprensa da cidade e pela publiCidade veiculada pelo setor imobiliário, num período
que se inicia na década de 1960. Há indícios que apontam para alterações nas apropriações e usos do espaço público,
com a introdução de formas de sociabilidade pautadas na privatização da vida e na segregação social, com a crimina-
lização das classes populares, a reificação de modos de vida pautados nos horizontes de expectativa de camadas
médias, bem como a restrição a formas de mobilização coletiva.

I 17/07 - Terça-feira - Tarde (14h ás 18h) I


Helder Rodrigues Pereira - UFMG
O palco do riso no ambiente trágico: o urbano significado pelo discurso teatral
Resumo: As cidades podem ser percebidas pelos discursos que por elas transitam: não apenas as pessoas, mas
também as palavras transitam pelas ruas, significando o espaço urbano por um simbolismo particular, definido pelas
escolhas lexicais de quem fala a cidade. As palavras constituem as cidades. Muralhas e pontes são construídas pela
linguagem que permite passagens e impedem tráfegos. Para uma compreensão simbólica do espaço urbano, utiliza-
se os pressupostos da Análise do Discurso que possibilitam a compreensão do interdiscurso e do silenciamento forma-
dor das várias vozes urbanas. Como corpus de análise, propõe-se o gênero da dramaturgia denominado teatro de
revista - de grande expansão em várias cidades brasileiras no início do século XX. Tal gênero propõe passar em
revista o ano, apresentando a cidade a si mesma a fim de fazê-Ia rir pela caricatura das personagens - significantes
capazes de construir a cidade cômica em oposição á severa. O espaço urbano é São João dei Rei-MG, a cujas peças
teatrais tivemos acesso a partir do acervo do Grupo de Pesquisa em Artes Cênicas da Universidade Federal de São
João dei Rei. A pesquisa revela que o recurso ao cômico é uma das formas de evidenciar um cotidiano nem sempre
risível.

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Isa Paula Zacarias Ribeiro - UFRN
Lugares da cidade: os espaços de cultura e lazer em Natal nos anos 1960, as praças de cultura
Entre os anos de 1960 e 1964, a Prefeitura de Natal, sob a liderança do Prefeito Djalma Maranhão, dentro de seu plano
de urbanização da cidade, desenvolveu o Programa de Democratização da Cultura nos Bairros. Esse programa obje-
tivava levar aos bairros de Natal espaços de lazer e cultura. Seriam construídos em praças da cidade, parques infantis,
quadras de esportes e praças de cultura. Nosso objetivo é analisar como esses espaços foram incorporados pelo
poder público municipal, bem como perceber o espaço como experiência individual e coletiva. Como o grupo que
estava no poder expressou visualmente seus valores na materialidade da praça e como seus freqüentadores apropri-
aram-se do lugar.

Ivanilda Aparecida Andrade Junqueira - UFU


O barracão de zinco pede passagem: novos usos no centro da cidade
A Praça XV de Novembro, situada em Prata, Minas Gerais, tem seu espaço permeado pelas relações que se desdo-
bram de acordo com as vivências de seus usuários sendo as mesmas de ordem econômica, politica ou de criação
cultural. Ela se localiza no centro da cidade e, conforme nos diz Jerôme Monnet, acaba por se tornar um 'lugar comum'
pois ao mesmo tempo em que é partilhada fisicamente é também um símbolo da participação em uma comunidade
urbana. Cada ator social, cada grupo de interesse aciona uma estratégia de controle desse espaço procurando usu-
fruir, da melhor maneira possível, das vantagens que o local pode lhe oferecer. Esta comunicação abordará alguns
aspectos que foram significativos no processo de transformações ali ocorrido, principalmente, nos períodos em que se
inseriram as duas reformas que remodelaram totalmente seu espaço físico, 1937 e 1967. Nesses dois contextos houve
a disseminação de discursos voltados para o desenvolvimentismo e o anseio pelo progresso numa tentativa de justifi-
car, junto á população, a necessidade de criar uma imagem de cidade próspera e desenvolvida. Pretendeu-se ainda,
®
compreender como os freqüentadores vivenciaram essas mudanças, ou até que ponto interferiram nos novos modos
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de utilização que lhe foram atribuídos. ctl

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Sandra Regina Born . UDESC


Falas na Cidade de Florianópolis (1945·1964) ~
O presente trabalho tem por objetivo efetuar uma reflexão acerca das enunciações produzidas em Florianópolis, du- '8,
rante o período de redemocratização (1945-1964). Procura demonstrar que os comentários de cidade pequena, paca- '§..
~~~:~~~~~ ~~â~~~f~~~~~f~~~~~~~~~~;~~~~~~~~~~t~:~.iC~~ ~o~e~~~~i~~vâ~e~~~Jed;e~a!~a~: ~~~:u:;~~~a~~ ~
e provinciana passaram a ter destaque nos principais jornais locais, especialmente 'O Estado', o 'Diários da Tarde' e .gj
'A Gazeta' de Florianópolis. Essas elocuções procuravam destacar tudo o que a cidade tinha ou não, ou ao menos, o ~
C5
que possuía com deficiências: de água canalizada, redes de energia elétrica, abastecimento de leite e carne, a preca- ctl

riedade de estradas em boas condições para ligar o centro aos bairros mais distantes, a precariedade de estradas em ~
boas condições para ligar o centro aos bairros mais distantes, a ausência de universidades e indústrias que colaboras- ~
sem para o desenvolvimento. Por certo, a maioria dessas enunciações esteve restrita aos políticos e aos mais abasta- ::ê
dos, que tinham legitimidade para produzi-Ias. Essas pessoas possuíam poder material e simbólico para tanto, assim '~
como p o l í t i c o . ' ~

Severino Cabral Filho - UFCG


Modernização, Cotidiano e Cultura Material em Campina Grande·PB.(1930·1950)
O nosso objetivo com a presente comunicação é, através da utilização de imagens fotográficas e de imagens literárias,
abordarmos aspectos do cotidiano na cidade de Campina Grande, Paraíba, entre os anos 1930-1950, considerando os
impactos de um processo de modernização verificado nesta cidade. Enfatizaremos as modificações ocorridas em sua
fisionomia, tendo em vista uma reforma urbana realizada no início dos anos 1940. Da mesma forma, pretendemos
apresentar os delineamentos de uma cultura material marcada por mudanças e permanências e que fora, progressiva-
mente, pressionada pela implementação de equipamentos modernizadores os mais diversos, responsáveis por trans-
formações de natureza social, econômica, política e mental. Tais transformações não ocorreram sem tensões e confli-
tos, aspectos caros á experiência urbana e à elaboração de uma História da vida cotidiana campinense.

lIanil Coelho· UNIVILLE


Migração e identidades culturais em Joinville (1980 ·2000)
A comunicação visa apresentar o projeto de pesquisa ora em desenvolvimento no Programa de Doutorado em História
da UFSC. A cidade de Joinville tornou-se a partir dos anos de 1980 a primeira cidade no ranking dos municipios mais
populosos de Santa Catarina, graças a um intenso fluxo migratório. As transformações urbano-industriais no contexto
da economia globalizada imprimiram à cidade mudanças de toda ordem. É no campo das práticas culturais e dos
processos de identificação que a pesquisa é problematizada. Procuro estudar os migrantes não como uma categoria
homogênea e unitária do ponto de vista social e cultural, mas como grupo que traz em si diferenciações e contradições.

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Essas últimas podem ser apreendidas, em primeiro lugar, nos processos de identificação cultural quando da reterrito-
rialização dos diferentes migrantes no espaço urbano e, em segundo lugar, na composição das memórias deste grupo
sobre o próprio ato de migrar. Busco, também, investigar as concepções dos estabelecidos sobre a migração e os
migrantes, de forma a entender a convivência e os relacionamentos carregados de estranhamentos, de hibridizações
e de estigmas, que promovem a emergência, reafirmação e atualização de novas e antigas etnicidades e de novas e
antigas práticas culturais.

Luiz Felipe Falcão - UDESC


Tracejando esboços da cidade (embates sobre a memória e a história de Florianópolis)
Considerada como uma cidade relativamente pequena do ponto de vista demográfico ao longo das décadas de 1940
e 1960, além de pouco dinâmica em termos econõmicos e culturais, Florianópolis já vivenciava uma série de contatos
com as maiores cidades do Brasil, um início de verticalização das construções na parte central da sua urbe e uma
tentativa de planejamento urbano. Entretanto, a partir de 1970, a cidade foi sendo bastante transfigurada em relação
ao que sua paisagem mostrava até então, com uma nova ponte ligando sua porção insular á continental e novas
avenidas e estradas aproximando as localidades mais distantes, dando ensejo a intensas disputas acerca da produção
de uma memória e de uma história da cidade capazes de lhe conferirem um perfil identitário singular no Estado de
Santa Catarina e mesmo no Brasil.

Rejane Silva Penna - Centro Universitário La Salle/AHRS


Forasteiros: experiências de migrantes no contexto de uma cidade industrial
O processo migratório nacional foi amplamente estudado por geógrafos, sociólogos, antropólogos e estatísticos, a
partir de 1960. Entretanto foram insuficientemente abordados os modos como transferiram-se os usos e costumes dos
lugares de origem ao de destino e a maneira pela qual as pessoas interpretaram sua inserção no contexto da cidade
maior. Buscando auxiliar no preenchimento desta lacuna, o presente trabalho analisou a experiência de migrantes
interurbanos na nova comunidade na ótica de seus sujeitos, utilizando a abordagem da história oral e história local.
Primeiro, explicando como se compreende a articulação entre narrativa, memória e ideologia. Após, propondo uma
metodologia de análise das narrativas, inserindo elementos da hermenêutica e da análise de discurso. A metodologia
possibilitou interpretar os depoimentos no sentido de que mais do que articular novas formas de pensar suas vivências
para enfrentar o desafio de um meio urbano maior e diverso, os migrantes recorreram aos elementos presentes em sua
cultura de origem, aos quais cada vez mais se apegaram, compreendendo os novos tempos e a quebra de tradições
como uma ameaçadora crise de valores que poderia tragar um modo de vida.

Vanessi Reis - UFRGS


Memórias da boemia noturna nos bares da Cidade Baixa e Bom Fim - Porto Alegre/RS
O bairro Cidade Baixa surge na fundação da Cidade e carrega grande carga histórica e cultural dela, por ser berço de
sua fundação, lugar de escoamento da produção local, espaço de excluídos sociais e pobres. Transformou-se em
palco de boemia notuma, desenvolvida primeiramente junto a "baderneiros" negros e prostitutas. Mais tarde, tornou-se
reduto de Lupicínio Rodrigues e suas rodas de samba. Com a implementação da Ditadura no país, a juventude estu-
dantil se move e toma como espaço para articulação e conspiração, os diretórios acadêmicos, centros estudantis e
casas de estudantes, além de bares próximos ou dentro da Universidade. Esses locais se distribuiram pelos dois
bairros. Com a queda do regime, mudanças sociais e comportamentais, a euforia diminui e interfere na dinâmica social
destes espaços urbanos. O Bom Fim entra em decadência, transfere parte do público para as proximidades da Reden-
ção e outra á Cidade Baixa. O Bom Fim, considerado sujo, underground e perigoso, é "fechado" por ações públicas de
controle à violência, e seu público migra, definitivamente, para a Cidade Baixa. O presente trabalho busca expor as
memórias desta boemia, recuperadas através de antigos usuàrios, ilustrando esta narrativa através do registro de
testemunhos e da reconstnução do imaginário.

I 18f07 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h) I

Arnaldo Haas Junior - UDESC


Horizontes da escrita: análise historiográfica sobre as obras que narram à história dos municípios da região
do Alto Vale do Itajai-SC (1985-2007)
Possivelmente preocupados com a preservação da memória cultural ou, lugar comum na história tradicional, com o
"resgate' do passado, pessoas das mais diversas formações escreveram obras de caráter local que retratam o passa-
do dos municípios da região do Vale do Itajaí - se. O trabalho em questão visa problematizar, numa perspectiva
alicerçada nos estudos culturais, a maneira como tais narrativas pretendem regular representações sobre o passado,
partindo do pressuposto fundamental de que estas obras deixam transparecer a alcunha de "história oficial', ou macro
História, fato este evidenciado pela expectativa de escrever toda a história da cidade e da sua gente.

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Carlos Alberto de Oliveira - UESC
Cidade de Papel: Periodismo e Vida Urbana em IIhéus/BA
A comunicação busca o diálogo imprensa/vida urbana, na cidade de Ilhéus/Ba, na primeira metade do século XX.
Período que marcará, graças ao desenvolvimento da economia cacaueira, uma intensa atividade econômica com a
conseqüente dinamização da vida urbana em Ilhéus. Neste contexto, pretende-se explorar a construção da identidade
de Ilhéus como cidade portuária, possuindo características singulares: a existência do porto e o contato com o Mar;
navios de diferentes nacionalidades chegando e partindo, homens que andam pelo mundo, transmitindo e comparti-
lhando suas experiências. Com o porto em pleno funcionamento, a cidade de Ilhéus ganha um novo aspecto: de
cidade pacata de interior passa a receber pessoas, hábitos, mercadorias e novidades de vários países do mundo.
Nesta comunicação, discutimos com as informações contidas no 'Correio de IIhéos', no ano de 1926, ocasião em que
ocorre o início da exportação direta de Cacau para o exterior. A imprensa nos mostra diferentes aspectos do viver
urbano ilheense, particularmente práticas cotidianas de seus moradores. Suas páginas contêm valiosas informações
sobre as transformações físicas e humanas que se operaram nesse espaço.

Celma Paese - Propar FAU UFRGS


As Vanguardas e o caminhar urbano como prátíca estétíca
Este artigo trata das diferentes maneiras que as vanguardas do início do Século XX leram e escreveram a cidade,
utilizando o caminhar como prática estética. A representação no movimento futurista, a exploração do banal dadaista e
a cidade inconsciente das deambulações surrealistas fez com que a cidade se revelasse como espaço de sobreposi-
ção de experiências e significados.

Rafael Damaceno Dias - UDESC


Acorda Floripa! Encontros e desencontros na emergência de uma (outra) cidade
®
Resumo: Florianópolis, entre as décadas de 1970 e 1990, vivenciou um conjunto de transformações que possibilitaram ~
a emergência de uma cidade bastante diferente daquela de períodos anteriores. Uma das mais expressivas se relaci- :~
ona com a chegada de um grande contingente de novos moradores atraídos tanto por empresas que ali se instalaram 11
(como a Rede Brasil Sul de Comunicação e a Eletrosul Centrais Elétricas) quanto pela possibilidade de se viver em um ~
lugar relativamente tranqüilo se comparado aos grandes centros urbanos. Pretende-se aqui explorar os encontros e '8.
desencontros entre essa população recém chegada na cidade e aquela nascida ou nela já ambientada a partir da .§.
imprensa escrita diária, especialmente a partir das colunas sociais de Cacau Menezes e Beto Stodieck. Nos textos ~
desses colunistas é possível não apenas perceber modos de ser e viver de segmentos preeminentes de Florianópolis, co
mas também disputas relacionadas a questionamentos de relações estabelecidas desde longa data na cidade, assim .jg
como nostalgias frente a perda de referências habituais em meio as transformações que aconteciam. -{g
u
co
Charles d'Almeida Santana - UNEB/UEFS/UCSAL ~
Vivências urbanas: espaços e tempos ~
As trajetórias e memórias de migrantes, em Salvador, indicam importantes e complexas experiências de espacialida- ]l
des e temporal idades do trabalhador rural imerso em cotidianos urbanos. O tempo mecânico é contestado pelo tempo .§
mais próximo á natureza. Viver a cidade traduz-se em considerações acerca da vida pretérita, no campo, como instru- ~
mento de luta citadina. Suas relembranças oralizadas cruzam os mais diverso tempos (passados, presentes e futuros)
e espaços, sem perder de vista as profundas transformações em processo nas roças e na cidade.

Diego Finder Machado - UDESC


Em busca de autenticidades perdidas: memórias em disputa sob os limiares de uma cidade globalizada
Ao despontar do novo milênio, diante de uma virtual compressão das noções de tempo e espaço, vi vencia-se uma
intensificação das trocas, deslocamentos, intercruzamentos e hibridações entre diferentes realidades sócio-culturais.
Tal contexto tem propiciado um acirrado confronto entre a construção de uma 'cultura global' e a reativa afirmação de
singularidades regionais, confronto este que historicamente tem sido permeado por discriminações de toda espécie.
Inseridas nesta conjuntura, as cidades são palco de tensões e conflitos inerentes á era da globalização. Ao deslocar-
se pelos limiares porosos dos traçados urbanos é possível vivenciar temporalidades e territorialidades diversas. Neste
processo, a memória, objeto de múltiplas disputas, tem servido na busca pela afirmação de identidades culturais
supostamente autênticas. Pautando-se nestes pressupostos, a presente comunicação, parte do projeto de mestrado
desenvolvido junto ao Programa de Pós-Graduação em História da UDESC, tem por objetivo sugerir discussões acer-
ca das relações de poder em torno dos 'lugares de memória" da cidade de Joinville, Santa Catarina. Desta forma,
pretende-se, a partir das especificidades pesquisadas, debater os usos e abusos da memória ante a inserção das
cidades no conturbado processo de globalização.

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Renata Brauner Ferreira - UFPel
Pelotas no século XIX: ócio, ostentação e luxo à sombra da escravidão
O objetivo do presente trabalho é o de analisar o ócio da elite pelotense no último quartel do século XIX a partir da
perspectiva de Thornstein Veblen: em uma sociedade em que o trabalho é considerado uma tarefa humilhante reserva-
da as classes inferiores, o ócio se apresenta como um meio para se obter o respeito dos outros, não trabalhar passa a
ser um requisito de 'decência' . Daí a importância do ócio, considerado como o tempo gasto em atividade não produti-
va, no caso, sem retorno financeiro, o que fazia com que a classe superior se abstivesse de qualquer trabalho, primeiro
pela indignidade do trabalho produtivo e segundo para demonstrar a sua capacidade financeira de viver uma vida
inativa. Afinal não bastava ter riqueza e poder era preciso demonstrá-los, o que a elite pelotense sabia muito bem como
fazer: bailes grandiosos, apresentação de espetáculos musicais e teatrais, soirrés, passeios fluviais, apresentação de
artistas nacionais e internacionais, enfim, uma série de atividades artístico-culturais ... Mas a cidade não comporta só a
elite, todo este luxo e ostentação só foi possível graças a instituição da escravidão e é sobre o lazer dos escravos e dos
demais excluídos desta sociedade que também nosso olhar se projeta.

Sandro Dutra e Silva - UnB/UniEVANGELlCA


Os estigmatizados: representações urbanas distintas às margens do Rio das Almas
Esse estudo propõe uma análise da sociodinâmica da estigmatização da localidade da Barranca, hoje município de
Rialma, pelos moradores da Colônia Agrícola Nacional de Goiás(Cang), atualmente o município de Ceres - Goiás.
Propõe uma investigação dos elementos constitutivos da distinção entre essas comunidades ribeirinhas do Rio da
Almas, na região centro-norte de Goiás, a partir dos processos históricos de interação e demarcação de identidades,
tendo como recorte temporal as décadas de 1940 a 1960. A abordagem metodológica fundamenta-se na leitura dos
referenciais simbólicos geradores da necessidade de distinção, inserindo narrativas, linguagens e representações que
evidenciam as diferenças e o sentido histórico da diferenciação. Fundadas a partir de um mesmo processo histórico, a
Marcha para Oeste, essas localidades constituíram experiências urbanas distintas, apesar da proximidade geográfica.
Separadas pelo Rio das Almas e unidas por uma ponte, constituíram fronteiras culturais em que as relações de poder
expressaram-se na representação cotidiana de suas experiências urbanas. O estudo procura identificar nas práticas
sociais urbanas as lutas simbólicas pela distinção e as origens da estigmatização oriundas da vontade de diferença.

Waldeci Ferreira Chagas - UEPB


Apropriação e uso do espaço urbano na cidade da Parahyba
Neste trabalho, investigamos a cidade da Parahyba durante as três primeiras décadas do século XX, entre os anos
1910 e 1930 e atentamos para as formas como as elites e as classes pobres vivenciaram o processo de urbanização
pelo qual essa urbe passou. Amanutenção dessa perspectiva de compreensão e de apropriação da cidade implicou na
disciplinarização do uso e permanência no espaço urbano, de forma que a modernização se mantivesse e as elites
pudessem mostrar o quanto eram modernas. Não demorou e a rua deixou de ser o lugar de todos (as) e passou a ser
de alguns, o que implicou no afastamento das classes pobres para os arredores da cidade, uma vez que suas práticas
e costumes foram considerados incompatíveis com a nova paisagem urbana que a cidade passou a apresentar.

I 19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h às 16h30min) I

Emerson César de Campos - UDESC


Estrangeiros em Casa: (re)sentimentos, impressões e identificações produzidas pelos emigrantes brasileiros
clandestinos nos Estados Unidos, quando de volta para Santa Catarina (1995-2005)
Esta comunicação pretende apresentar algumas das práticas e sentimentos desenvolvidos pelos emigrantes clandes-
tinos nos Estados Unidos quando de sua volta para Santa Catarina, no período compreendido entre 1995 e 2005.
Assim, se busca identificar as formas pelas quais os ex-emigrados (retornados), ditos estrangeiros, novamente em
casa, vivem e (re)sentem a cidade de Criciúma. A partir de contato com uma série de fontes, produzimos uma interpre-
tação do citado retorno, bem como uma análise sobre as ações promovidas que produzem novos sentidos e expres-
sões culturais híbridas na cidade. Desta forma tentamos relacionar as impressões dos retornados com as transforma-
ções ocorridas em Criciúma, ouvindo e visibilizando vozes inseridas na polifonia da cidade.

Gláucia de Oliveira Assis - UDESC


As conexões entre os EUA e o Brasil; As conexões entre os EUA e o Brasil: as redes sociais tecidas a partir de
Governador Valadares (MG) e Criciúma (SC)
Resumo: Nesse início de século XXI a emigração de brasileiros tem ampliado as fronteiras, redefinido identidades, e
conexões dos grupos sociais que vivenciam a experiência de viver entre dois lugares. Este trabalho discute como nas
duas cidades no Brasil que tem conexões desde a década de 1980 com a região de Boston (EUA) - Governador
Valadares (MG) e Criciúma (Se) foram se construindo esses laços transnacionais. A ampliação dos pontos de partida,

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a formação de redes de parentesco, amizade e de origem comum, bem como as redes de tráfico de migrantes, trans-
formam o cotidiano dessas cidades configurando complexas redes sociais. Este artigo, a partir dos relatos de homens
e mulheres migrantes e seus familiares, discute as diferentes e às vezes ambíguas experiências na configuração das
redes sociais. Para tanto, através de observação participante da vida cotidiana em ambas as cidades, procuraremos
reconstruir essas trajetórias que re-articulam o global e o local.

Maria Angélica da Gama Cabral Coutinho - Universidade Estácio de Sá


A escola da Guanabara na memória carioca
A primeira eleição para Govemador do Estado da Guanabara, em 1960, em que Carlos Lacerda sagrou-se vencedor,
foi uma das mais acirradas que o antigo Distrito Federal teve oportunidade de assistir. Teve como base de propaganda
o processo de estadualização local, além de objetivar a demarcação da identidade desta nova unidade federativa.
Para isso, tornava-se fundamental reordenar a máquina administrativa herdada da capital federal, redimensionando
alguns setores, dentre eles a Educação, um dos principais pilares da campanha lacerdista. A ampliação do número de
vagas para a educação transformou-se num dos principais objetivos governamentais e efetivou-se essencialmente
através da construção de novas salas em antigas escolas e de novos prédios. Os novos edificios construidos seguiram
um modelo arquitetônico único que vincou decisivamente a cidade. Trata-se de prédios ainda marcantes hoje para a
população carioca. O presente trabalho de pesquisa fundamenta-se na compreensão de que, como afirma Cornelius
Castoriadis (1999, p.281) ' ... a sociedade é criação, e criação dela mesma ... '. Aescola pública, em seu projeto e forma,
é resultado dessa construção da sociedade, posto que é parte essencialmente integrante e representativa.

Roselâine Casanova Corrêa - UNIFRA


Desafios de um consenso: a administração municipal de Antonio Xavier da Rocha (Santa Maria -1937-1941)
®
A 27 de dezembro de 1937, foi empossado na Intendência de Santa Maria, por decreto federal, Antonio Xavier da
Rocha, que permaneceu no cargo até 1941. Sob sua gestão municipal, ocorreu um processo de transformação dos ~
espaços urbanos - um novo projeto político de (re) urbanização baseado em um discurso de modernidade - como a ~
criação de praças, clubes, cine teatros, monumentos, festividades e abertura, nivelamento e calçamento de ruas e 11
avenidas. No campo da educação, tal Intendente efetivou a criação de grupos escolares nos distritos municipais, onde 1:l
as inaugurações buscavam dar ênfase ao dinamismo do poder executivo municipal. Essas cerimônias de inauguração '8.
contavam com a presença da população santa-mariense e privilegiavam demonstrações de culto à pátria. Para refe- .§.
rendar o projeto moderno que então se efetivava, a imprensa local- sobretudo o jornal Diário do Interior - teve relativa 15..
significãncia, uma vez que divulgava amplamente as realizações de referida Intendência. '"
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Vanuza Ribeiro de Lima e Maria Augusta de Castilho - Universidade Católica Dom Bosco -{g
História, territorialidade e desenvolvimento local no contexto das monções em Camapuã
u'"
A pesquisa aborda a História, a territorialidade do varadouro de Camapuã, município localizado no interior de Mato ~
Grosso do Sul e que no período entre os séculos XVIII e XIX foi rota de passagem dos monçoeiros em busca das minas ~
de ouro do Mato Grosso. O movimento ficou conhecido na História do Brasil como Rota das Monções. Oconhecimento ]l
sobre o lugar e o fortalecimento das relações com o território colaboram para a formação da identidade cultural e são .~
elementos essenciais ao desenvolvimento local. O estudo teve como aporte teórico autores nacionais e internacionais ~
que sinalizam o desenvolvimento de uma comunidade por meio da compreensão do passado relacionando-o com o
presente.

I 20/07 - Sexta-feira - Tarde (14h às 18h)


Janete Santos Ribeiro - UFF
Passeios Pedagógicos - Construindo um currículo emancipatório
A partir da vontade de possibilitar aos educandos de ensino fundamental a compreensão dos conteúdos referentes à
Colônia e Império em seus aspectos macros e micros, inventei um personagem que viajando pela História, parasse em
diversos portos/conteúdos e pesquisasse sobre a multiplicidade de saberes e fazeres desses lugares, desses sujeitos
e desses tempos. Este personagem convida e recruta os alunos a fazerem parte da tripulação que visitará os diversos
lugares, instrumentalizando-os para que façam uma viagem prazerosa, ilustrativa e que tragam na bagagem novas
rotas de descobrimento, invenções criativas que nos ajudem a rever e quem sabe transformar a escola num espaço de
vivências criativas. Com estes objetivos, as aulas-passeios são desenvolvidas ao longo do ano letivo, estimulando o
alunado a registrar em diários de bordo e jornais temáticos suas observações, articulamos o saber escolar com a
experiência cidadã de imaginar-se no espaço-lugar do outro, todos são tocados para a necessidade da pesquisa e a
professora-pesquisadora em mim, aprofunda-se nas diversas possibilidades do fazer pedagógico e histórico. Fazem
parte do Roteiro desta reflexão: Museu Histórico Nacional, Ilha de Paquetá, Quilombo São José, Passeio pela Baía de
Guanabara, Cais da Praça XV e Pão de açúcar.

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Thelma Jackeline de lima - Instituto de Ensino Superior Santa Cecília
Cidade de forasteiros: a formação demográfica e territorial de Arapiraca -AL (1940-1980)
Arapiraca está situada no centro do Estado de Alagoas, portanto, em termos espaciais ela ocupa uma posição geográ-
fica privilegiada que vai transformá-Ia em ponto de passagem obrigatório de tropeiros, caixeiros viajantes e pessoas
que por necessidades diversas circulavam por estas bandas. Em função do seu desenvolvimento econômico torna-se
um pólo atrativo dessas pessoas que antes só transitavam e que em dado momento decidem também estabelecer-se
nessa territorialidade, alguns de forma definitiva, outros em caráter temporário, mas de uma forma ou de outra vincu-
lando-se a região, criando laços, fincando raízes. Essa característica vai marcá-Ia como "cidade de forasteiros'. Ocorte
cronológico será de quarenta anos compreendendo os anos de 1940 -1980. Período que através de alguns indícios
constantes em documentação primária torna possível a reconstituição da história de ascensão e declínio da cultura
agrícola que fomentou o desenvolvimento econômico da região, proporcionando. também um grande crescimento
demográfico em função dessa expansão econômica e de sua localização territorial. A partir da documentação eclesiás-
tica, cartorial e da câmara municipal torna-se possível trabalhar com a história local na perspectiva dos estudos de C.
Ginzburg, J. Revel, dentre outros.

Maria de Fátima Oliveira - UEG/UFG


Cartas de amor: memória e cotidiano em duas cidades ribeirinhas
O objetivo desta comunicação é mostrar aspectos da cultura e cotidiano em duas cidades situadas nas margens do rio
Tocantins, a partir da análise da correspondência entre um casal de namorados. O acervo, em bom estado de conser-
vação, é composto por 157 cartas e bilhetes, além de diversos telegramas, e encontra-se atualmente na cidade de
Pedro Afonso no Estado do Tocantins. Essa correspondência foi escrita na década de 1940, por um casal de jovens,
enquanto ela residia na cidade de Carolina (MA) e ele, em Pedro Afonso (TO). Os meios de comunicação utilizados
pela população ribeirinha na época eram os barcos a motor, tropas, aviões e o telégrafo. Devido á falta de estradas na
região, o automóvel era pouco conhecido pelos ribeirinhos, enquanto se familiarizaram rapidamente com o constante
tráfego de aviões.

Sandra Makowiecky - UDESC


Cidades, viagens, memórias .
Necessitamos um preparo para viajar: uma educação adequada para manter-nos acordados para suas vantagens. E
preciso estar atento e saber aproveitar esta apaixonante, brilhante, intelectual, prazerosa, produtiva e exigente ativida-
de. Apreciar uma cidade proporciona isso. Percorrer uma cidade é fazê-lo como um fisionomista, pois os objetos
sempre contam uma história. A cidade é o projeto primordial da modernidade, em que a totalidade vai se dando por
pequenos pedaços e cada pedaço é importante. E preciso captar o singular de cada cidade. O filósofo Michel de
Certeau (1994) compara o ato de andar na cidade com a formulação de um discurso. Considera que esse ato, aparen-
temente corriqueiro e á primeira vista, desprovido de significados, além de seus objetivos mais aparentes, como ir a
determinado local ou passear, está imbuído de pequenos vistos, fantasias, insere-se numa rede simbólica. O ato de
caminhar, a experiência do corpo no espaço, articula outros tempos, resgata memórias que acompanham os ritmos
dos passos e, portanto, o imaginário atualiza-se no percurso urbano. No limite, as caminhadas, como as viagens, são
os substitutos das lendas que não conseguimos mais narrar. CERTEAU, MICHEL DE. A invenção do cotidiano. Artes
de fazer. Petrópolis: Vozes, 1994.

Maria Thereza Negrão de Mello· UnB


Urbanita brasiliense: "habitante do patrimônio" ou simplesmente morador?
Ao abrigo de projeto desenvolvido pela proponente, a investigação fi li a-se á História Cultural como espaço de trabalho
constitutiva mente interdisciplinar, em suas interfaces com questões identitárias, patrimônio material e imaterial e ence-
nação urbana. Trabalhada á luz do representacional e com o suporte de falas de narradores de gerações distintas, a
pesquisa tiá concluída), tematíza a experiência cotidiana do urbanita brasiliense enquanto habitante de uma cidade
'patrimônio da humanidade' e indaga a maneira pela qual tal condição o interpela, operando como elo de pertencimen-
to e vetor identitário. Se a memória de antigos narradores esculpe benjaminianamente vinculos de pertença ligados à
cidade monumental e á saga de sua construção, entre os jovens brasilienses, a referência identitária parece passar por
vetores outros, que não privilegiam o status de moradores de um "patrimônio da humanidade'.

Wilton de Araujo Medeiros - UFG


O espaço urbano narrativo
O texto a seguir atribui ao planejamento urbano um papel de crítica que o coloca como lugar de autores, que se aliaria
bem mais a um plus de teorização do que a práticas de gestão do espaço urbano. As reflexões estão relacionadas ás
leituras do texto "Uma contribuição para a história do planejamento urbano no Brasil', de Flávio Villaça, e do livro "Pela
mão de Alice: o social e o político na pós-modernidade", de Boaventura de Sousa Santos, as quais resultam em
reflexões sobre diversas formas de intervenção no espaço urbano. Minha contribuição é encaminhada no sentido de

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expor que o plus de teorias e de autorias coincide com a "forma metrópole", uma somatória de espaços narrativos que
resultam em um 'hiper objeto". Nesta resultante de narrativas, insurgiriam interpretações para além do enredo técnico
dos planejadores, as quais o indagariam como ontológico e abstrato. De forma singular e paradoxal, o hiper-objeto
caracterizaria o viver citadino em espaços urbanos metropolitanos como uma 'era do texto'. Nesta era, pensar o
urbano seria instaurar hibridismos entre texto e matéria, entre espaços, e espacialidades, amalgamando espaços que
calam e espaços que falam em um único contexto: o "espaço urbano narrativo".

Suzana Cavani Rosas - UFPE


Eleições, mobilização popular e espaço urbano no Império (1840-1880)
Na segunda metade do século XIX, o espaço urbano das capitais do Império, principalmente nos períodos eleítorais,
comportava diversas práticas e formas de sociabilidade política que já distavam daquelas próprias do interior do pais.
Embora marcadas ainda pela presença rural no seu entorno e arrabaldes, seus bairros centrais vivenciararn nas
eleições, em decorrência do crescimento populacional, do desenvolvimento das atividades de serviço e do declinio da
escravidão, eventos públicos de natureza política que congregavam gente de diversos segmentos sociais. No Recife,
não foi diferente, através de passeatas e comícios, denominados na época, respectivamente, de 'procissões" e 'mee-
tings", os partidos, embora marcadamente dominados pelas elites agrárias do interior, faziam questão, no âmbito
urbano da capital de Pernambuco, de se valerem deste tipo de modernidade político-eleitoral para conquistar votantes,
eleitores e mesmo a população livre sem direito de votar. Destas práticas e modos de sociabilidades públicas inclusi-
vas da população dos bairros populares do Recife, e dos seus efeitos políticos sobre esta gente livre pobre, nem
sempre sujeita e confiável às elites que a mobilizava, é do que trata a presente exposição.

Josebel Akel Fares - UEPA


Memória de Belém: Pássaros Juninos no Largo de Nazará
A pesquisa 'Memória de Belém em Testemunho de Artistas", ação do Grupo de Pesquisa Culturas e Memórias Amazô- ~
nicas, da UEPA, processa a urdidura de uma cartografia de Belém, de meados do século XX (1940-60), especialmente, ~
desenhada pela voz da memória de artistas plásticos, atores, músicos, escritores e outros mestres da arte, que vive- :E
ram neste tempo - espaço da capital do Estado do Pará. As lembranças evocadas nas narrativas de 11 artistas relatam ~
sobre literatura, teatro, música, cinema, casas de espetáculos, livrarias e demais signos artísticos, bem como o movi- '8-
mento artístico-cultural e o marco histórico do projeto, que é a chegada da televisão na cídade. Além das marcas .§.
estéticas, as vozes (re) constroem outras dimensões da vida sociocultural da cidade e possibilitarem a composição da ~
trama de uma história coletiva. Nesta comunicação será feito o recorte sobre o Pássaro Junino, manifestação artistica '"
da cultura local, e as suas apresentações no chamado Teatro Nazareno, ícone de uma Belém do século passado. QJ
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Célia Maíra da Silva Estrella - UNICSUL
Um olhar sobre o modo de habitação dos paulistanos da Vila Industrial
A Vila Industrial, no sudeste paulistano, foi edificada graças às ações conjuntas dos seus moradores que, solidaria- ~
mente, construíram suas casas e lutaram pela habitabilidade do lugar, junto aos órgãos da Prefeitura. As soluções ~
encontradas por esses moradores, permitem olhar as formas de habitação popular e de configuração de uma das mais .~
populosas regiões de São Paulo, a urbe brasileira, por excelência. ~

Paula Francineti da Silva - UniDF


Brasília como texto de cultura
Explorar a cidade de Brasilia como um texto que comunica, gera sentido e conserva uma parte importante da memória
histórica do país constitui o objetivo deste trabalho. Para abordar o tema optou-se pela apropriação do conceito de
texto e semiosfera de luri M. Lotman que permitem identificar a interação do sujeito social com seu contexto espacial
e afirmar ser a cidade um texto cultural porque contém elementos de diversas tradições culturais e inclui constantes
diálogos internos.

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9. Cidade, História e Interdisciplinaridade
Josianne Francia Cerasoli (UFU) e Marisa Varanda Teixeira Carpintéro (UNIMEP)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h às 18h) I
Josianne Francia Cerasoli - UFU
Fronteiras urbanas: heterogeneidade de atores e saberes na configuração de São Paulo do início do século XX
Proponho estudar a cidade de São Paulo na passagem do século XIX ao XX por meio de dois agentes importantes em
sua configuração: profissionais ligados à engenharia e medicina; saberes norteadores de discursos sobre o urbano.
Problematizo as dinâmicas históricas formadoras do próprio urbanismo (então incipiente) pelo estudo da atuação
desses profissionais e seus discursos sobre intervenções urbanas (debatidas e/ou efetivadas) - o que pressupõe uma
visão multidisciplinar presente já na questão urbana desde o XIX. Importa analisar os contatos nos quais se vislumbra
confluências de diferentes olhares sobre a cidade, constituidos a partir de distintos campos de saber - territórios? -,
cujos diálogos tornam-se indispensáveis á compreensão do urbano. Utilizo documentos selecionados entre os regis-
tros da administração municipal paulistana no período, marcado por intensas transformações no espaço e gestão do
urbano. Priorizo questões sobre águas e saneamento urbano, pelas quais acompanho o entrelaçamento de saberes e
atores, além da constituição do saber sanitário - tão caro às preocupações as condições de vida na cidade. Este
estudo integra o Projeto Temático (FAPESP): Saberes eruditos e técnicos na configuração e reconfiguração do espaço
urbano - estado de SP, séculos XIX e XX.

Rosângela Aparecida de Souza Reis - UFMT


A fundação da Povoação de Albuquerque: um marco político para Portugal em 1778
A presente comunicação objetiva refletir sobre a Povoação de Albuquerque, localizada a margem direita do Rio Para-
guai, tendo como suporte a análise da Ata de fundação desse povoado edificado sob a determinação do 4° capitão
General Luís deAlbuquerque de Mello Pereira e Cáceres que governou a Capitania de Mato Grosso nos anos de 1772
a 1789, faz parte do acervo do Arquivo Público de Mato Grosso. Até onde se conhece, trata-se da representação oficial
do lugar, fundado pelo Mestre de Campo Marcelino Camponês e João Leme do Prado, em 1778, com o objetivo de
consolidar os domínios lusitanos na região, quando procurava negociar a demarcação de limites com a coroa espa-
nhola. Com base no estudo, por um lado, do motivo representado e, por outro, do contexto político em momento de
consolidação de fronteira na segunda metade do século XVIII, é que se discute o significado desta fundação, um
espaço que já nasce com um traçado urbano bem definido.

Maria Fernanda Derntl - USP


Uma vila a serviço régio: a criação de Guaratuba, na Capitania de São Paulo, sob morgado de Mateus
Este trabalho trata da elaboração e do desenvolvimento inicial de Guaratuba, vila litorânea na Capitania de São Paulo
fundada sob o governo de morgado de Mateus (1765-1775). São destacadas as determinações formais impostas para
Guaratuba e as práticas adotadas durante a sua construção considerando-se a interação conflituosa dos agentes
envolvidos. A partir da análise deste caso, discutem-se alguns aspectos da atuação portuguesa na definição da paisa-
gem de vilas e cidades nos territórios americanos durante o período pombalino estabelecendo-se relações com a
produção de uma cultura urbanística. A análise baseia-se em documentos escritos relativos à implantação da vila, em
registros de observadores e na cartografia da época. Procura-se mostrar que a configuração urbana de Guaratuba
deveria expressar uma rígida ordenação e investiga-se porque a vila veio a ser construída de maneira diferente daque-
la prevista. Conclui-se que a atuação da Coroa portuguesa parece ter sido menos centralizada do que estudos gerais
de história urbana daquele período tendem a enfatizar.

Josineide da Silva Bezerra e Luciana Medeiros de Araújo - UEPB


Reestruturação e Centralidade: breves notas sobre a cídade de João Pessoa
O nosso exercício de reflexão sobre João Pessoa articula-se ás suas tramas urbanas, recortando os novos padrões de
centralidade que nela se realizam. Tomamos a cidade como uma materialidade cartografável, apreendendo-a como
uma paisagem que comporta formas-objetos, prenhe de um conteúdo técnico específico. Sob o tempo, marcada por
ritmos e ambiências peculiares, a sociedade interfere nessas formas-objetos, atribuindo-lhes novas funções, redese-
nhando os seus contornos. Todavia, além de produto social, a cidade é também condição para a realização de diferen-
tes ações, as quais delineiam os seus padrões de produção, circulação e consumo, cotidianamente. Fitando essas
ações, voltamo-nos à reestruturação do espaço urbano de uma cidade média, pensada por intermédio de dois olhares.
O primeiro é voltado à sua gênese, á sua constituição. O segundo é voltado ao periodo de aceleração da industrializa-
ção brasileira, nas últimas décadas, quando novas práticas socioespaciais contornam a sua dinâmica urbana -
(re)produzida por diferentes atores, sob o viés da celeridade e da contradição.

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Ricardo Machado
Propriedade, Mobilidade e ordem pública em Blumenau em fins do século XIX
A partir de nova organização do espaço de Blumenau em fins do século XIX e inicio do século XX, demonstro a
emergência de uma preocupação com a conservação da propriedade, um investimento na mobilidade dos individuas e
a conseqüente organização de uma ordem urbana. Esta nova racionalidade é apresentada não somente pela emer-
gência de uma nova legislação local e nacional mas, sobretudo, através dos conflitos cotidianos que ocorreram no
período. Assim, pode-se lançar olhares não só para os caminhos difusos do poder, como também para as formas em
que os indivíduos reagiram a estes jogos que estiveram no âmago da constituição de uma concepção de individualida-
de, de moralidade e de espaço público que constitui a cidade de Blumenau na virada do século XIX para o século XX.

Jadir Peçanha Rostoldo - USP


Memórias da Modernização: o poder para transformar a "cidade capital"
As cidades, enquanto locus onde as sociedades urbanas interagem com os objetos e sujeitos que influenciam suas
constituições e transformações, são estruturas fundamentais no processo de conhecimento dessas mesmas socieda-
des. O espaço urbano funciona como um material que aceita a ação modeladora do sujeito social, porém com certos
limites. Esse embate recebe influência de vários elementos, que permeiam desde as características do espaço físico
ás decisões políticas. Neste trabalho focamos a ação do Poder do Estado como um dos elementos desse processo,
analisando a cidade de Vitória, capital Espírito Santo, na Primeira República. O objetivo é identificar o papel do Poder
do Estado na transformação do espaço urbano de Vitória, no sentido de transformá-Ia no palco de florescimento da
cultura republicana e moderna. Fazemos uma breve discussão sobre o poder e, principalmente, o Poder do Estado. Os
atores políticos foram identificados, assim como suas funções. Analisamos a legislação, nacional e estadual, como
fonte determinante em nossa discussão, tendo em vista seu caráter legal e regulador. Concluímos que o poder, legal-
mente constituído, responsável pela transformação da cidade foi exercido pelo Estado, corporificado na figura do
Presidente do Estado e não na do Prefeito da Capital.

Khalil A. B. Nogueira - UESC


A rodagem, a cidade e seus personagens: processo de modernização do escoamento da lavoura de cacau e a
desestruturação de núcleos urbanos entre os anos de 1930 e 1955
Os objetivos deste trabalho estão centrados, no estudo da rede urbana e da necessidade de novas vias de escoamen-
to da produção da lavoura cacaueira no período de 1930 a 1955 e dos seus impactos políticos, sociais, culturais e
estruturais no Sul Baiano. Tratará, do plano rodoviário do Instituto do cacau, da criação da Viação Sul Baiano, do
processo de desestruturação de núcleos urbanos e do surgimento de uma nova classe de trabalhadores na região, os
rodoviários.

Patrícia Vargas Lopes de Araújo - UEMG-Campus Campanha


A Vila de Campanha da Princesa: ocupação e formação do território de Minas Gerais no século XVIII/XIX
Essa comunicação busca efetuar uma reflexão sobre o processo de ocupação do território da região sul mineira ao
longo do século XVIII, concentrando a análise nas reivindicações para a criação da Vila de Campanha da Princesa em
finais desse século, avaliando também aspectos relacionados ao movimento urbanização, tendo como hipótese a
perspectiva de que a ocupação, a expansão e a criação de vilas no interior do território brasileiro era parte de uma ação
política que tinha, entre outras finalidades constituir uma rede urbana a partir de vilas criadas em locais estratégicos e
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as cidades do litoral. Como chama atenção Manuel Teixeira e Margarida Valia 'o projeto urbanizador era um compo-
nente fundamental do projeto de ocupação efetiva do território'. Desta forma, a fundação de vilas e de cidades era uma
forma 'eficaz de demonstrar a soberania sobre um território e o defender'. O atendimento ás reivindicações locais e a
elevação do arraial a Vila de Campanha da Princesa por D. Maria I atendeu aos interesses das elites locais e consti-
tuiu-se uma estratégia política que permitia á Coroa se fazer efetivamente mais presente nessa parte de seu território.
No século XVIII a fundação de vilas e de cidades no Brasil representou um importante papel no processo de reafirma- ~
ção da soberania. :g
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I 17/07 - Terça-feira - Tarde (14h às 18h) 'u
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Ivone Salgado, Clarice Barbieri Shinyashiki e Érica Christina Rodrigues Souza - PUC Campinas E
Obras públicas na cidade de São Paulo na metade do século XIX: o higienismo e a construção do cemitério :
público, do mercado público e do matadouro público ~B
O trabalho aqui apresentado volta-se para a analise da cultura urbanística existente na cidade de São Paulo nas :f
décadas de 50 e 60 do século XIX através do estudo das ações do corpo de engenheiros responsáveis pelas obras ai
públicas executadas a partir de preocupações com a higiene pública. Estas obras visavam cumprir o que a Câmara ~
Municipal estabelecera como exigência para manter a salubridade da cidade nas Posturas estabelecidas em 1830. c:::5

71
Estas, por sua vez, procuravam responder ás exigências das leis imperiais de 1828, Dentre as obras realizadas desta-
cam-se nesta análise: o Matadouro Municipal (construído entre 1849 e 1852), de autoria do engenheiro alemão Cartas
Abraão Bresser; o Cemitério Público (realizado entre 1855 e 1858) e a respectiva capela (construída entre 1857 e
1858), projetos do engenheiro alemão Carlos Rath; e o Mercado Público com projeto de autoria de Newton Bennaton
(construído entre 1862 e 1864), O trabalho procura desvendar as diversas relações entre os profissionais responsáveis
pelas obras, médicos e engenheiros, e os administradores do município e da província, O estudo das ações das
Comissões de Vistoria que executavam a referida fiscalização permite conferir quais eram os saberes médicos e da
engenharia presentes no município de São Paulo.

Marisa Varanda Teixeira Carpintéro - UNIMEP


História, Cidade e os discursos urbanísticos (1920-1940)
Esta comunicação procura explorar a presença da história nos discursos dos urbanistas na década de 20 e 40, particu-
larmente na leitura do Plano de Avenidas elaborado por Francisco Prestes Maia para a cidade de São Paulo, Em cada
capitulo de sua obra a história gravita como elemento fundante da disciplina urbanismo e através dela se articulam os
campos conceituais que tratam á cidade, ora como um ser vivo, ora como máquinaTendo em vista a problemática
contemporãnea das renovações urbanas nos projetos de requalificação e revitalização do centro, novamente depara-
mos com a presença da história como forma de legitimar as politicas e intervenções nos espaços públicos,

Carolina Celestino Giordano - PUC Campinas


A necessidade de um novo Matadouro Público em São Paulo na primeira metade do século XIX
A Lei de 1 de outubro de 1828 extingue os cargos de Physico- mor e Cirurgião- mor do Império passando para as
Câmaras Municipais as atribuições que lhes competiam, Dessa maneira cada Câmara Municipal deliberaria sobre os
meios de promovere manter a tranqüilidade, segurança, saúde e comodidade dos habitantes, tendo para isso respaldo
nas Posturas Municipais e nos Regulamentos dos edifícios públicos, As Câmaras, devido as preocupações com a
saúde pública, atuaram na localização e fiscalização dos estabelecimentos ligados as atividade comerciais, como os
matadouros, Neste artigo estaremos apontando as discussões presentes entre os diferentes especialistas da cidade,
como médicos, engenheiros e administradores, envolvendo a construção de um Novo Matadouro Público, Esta discus-
são se estende desde a divulgação da Lei de 1828 até ser realmente construido em meados do século,

Giovana Carla Mastromauro e Ivone Salgado - PUC Campinas


O Hospital de Isolamento e o Cemitério do Araçá na cidade de São Paulo: a formação do complexo sanitário no
contexto das novas descobertas científicas
A proposta desta comunicação é a de apresentar a investigação em andamento que tem como objeto de estudo uma
área específica da cidade de São Paulo urbanizada a partir do final da segunda metade do século XIX. Nesta área, foi
empreendida a construção o Hospital de Isolamento em 1880, inicialmente denominado Hospital dos Variolosos; em
seguida, em 1887, seria implantado o Novo Cemitério Público - o Cemitério do Araçá - ao longo da avenida Municipal
(hoje Av, Dr. Arnaldo) em frente ao Hospital de Isolamento, Estes edifícios se instalam no local sob a orientação
ideológica do higienismo e da salubridade, O períOdo em análise é justamente aquele no qual a teoria bactereológica
veio abalar as teorias miasmáticas até então dominantes e que justificavam o isolamento destes equipamentos públi-
cos, O texto pretende discutir sobre as justificadas da localização destes edifícios procurando confrontar estas com as
novas descobertas científicas, O texto procura desvendar como a noção de saúde pública e os conceitos de higienis-
mo e salubridade estão presentes entre os profissionais da saúde e da construção (médicos, engenheiros, arquitetos)
nas justificativas de urbanização ou não de determinados territórios do municipio,

Karina Camameiro Jorge - PUC Campinas


A modificação da vida urbana da cidade de São Paulo no século XIX a partir das ações sanitárias - A constru-
ção de cemitérios e a prática de sepultamentos
Na cidade de São Paulo, no decorrer do século XIX, a co-participação de médicos, engenheiros, arquitetos e adminis-
tradores, imbuidos na tarefa de sanear a cidade e erradicar as temidas epidemias que assolavam as cidades no
período, definiu uma nova estrutura de organização e funcionamento da cidade e da vida urbana, Através de inúmeros
debates sobre ás possiveis causas das epidemias foram tomadas iniciativas que ao longo do século alteraram a
estrutura urbana da cidade e os hábitos da população, Dentre as modificações destaca-se ás relativas á implantação
de edifícios relacionados á saúde pública e prinCipalmente á prática de sepultamento no interior dos templos, Segundo
a teoria difundida pelos médicos, a miasmática, esses edifícios deveriam se localizar fora do meio urbano, Essa teoria
pautou a legislação referente ao saneamento da cidade no período, que implicou principalmente na modificação de
hábitos da população, O sepultamento no interior dos templos representava aos médicos sanitaristas o mais preocu-
pante deles, pois ali estaria a presença constante de miasmas. Ao investigarmos os debates que envolvem essa
questão encontramos uma multiplicidade de discursos que nos possibilita entender quais eram as forças e tensões que
estavam agindo na cidade naquele momento,

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Jhoyce Póvoa Timóteo - UNICAMP
Luiz de Anhaia Mello: um pensamento constituido por diversos mundos que se tocam e se interpenetram
Buscarei problematizar a ligação teórica do engenheiro-arquiteto Luiz de Anhaia Mello com o urbanismo norte-ameri-
cano, a partir de sua proposta de Recreio Ativo e Organizado para a cidade de São Paulo, no inicio do século XX. O
objetivo do texto será destacar que os conceitos formadores do pensamento urbanístico de Anhaia Mello se remetiam
a um diálogo teórico mais amplo do que sua aproximação com os princípios urbanísticos difundidos e praticados nos
Estados Unidos, neste período.

Anita Silva de Souza - UFRGS


Projeto Renascença: um plano de intervenção urbana em Porto Alegre na década de 1970
Porto Alegre, entre os anos de 1975 e 1979, acostumou-se a conviver com os inconvenientes de obras que pareciam
intermináveis. A imprensa diária acompanhava o desenrolar do 'Projeto Renascença', executado pela Prefeitura Muni-
cipal e responsável por diversos empreendimentos urbanos como a criação do Parque Marinha do Brasil e do Centro
Municipal de Cultura, entre outras iniciativas que transformaram a cara da Região Centro-Sul da cidade. O suporte
financeiro ao Projeto foi dado pelo Banco Nacional de Habitação através do Plano CURA (Comunidade Urbana de
Recuperação Acelerada) que se destinava à recuperação de áreas urbanas em decadência. Salienta-se, que neste
processo de 'cura" da área englobada pelo Projeto, a Ilhota, uma favela de grandes proporções localizada próxima à
área de intervenção, teve suas famílias removidas para o bairro Restinga Velha, localizado a 30 quilômetros do Centro
de Porto Alegre. O presente trabalho tem como tema o acompanhamento da implantação do Projeto Renascença e a
discussão sobre seus resultados. Acredita-se que ao se propor o exame de um processo de transformação do espaço,
se possibilita a discussão sobre a sua não neutralidade. A implantação do 'Projeto Renascença' deu condições ás
áreas englobadas de exercerem 'funções de centro' da cidade.

Juçara Nair Wollf - UNOCHAPECÓ


Fascínio pelo progresso: o sanitarismo e a questão urbana em Chapecó 1970/1980
A cidade de Chapecó, a partir sobretudo da década de 1960, transformou-se no cenário do exercício do poder e
laboratório de várias experiências modernizantes e civilizatórias. Aemergência das agroindústrias e a intensificação da
migração promoveram um processo de disciplinamento e racionalização do espaço urbano, notadamente através das
intervenções de curto e médio prazo, vinculados aos programas nacionais desenvolvidos pelo Banco Nacional de
Habitação-BNH. Destinado às cidades comprovadamente de médio porte, esses programas objetivavam a recupera-
ção, sobretudo das áreas de lazer, redes de água e esgoto, eletrificação ou retificação de córregos que provocavam
enchentes. Estas intervenções, marcos da história administrativa de Chapecó, corres ponderam à alteração no status
da cidade em âmbito estadual e nacional inserindo-a no jogo irreversível do 'novo urbanismo', calcado nos princípios
modernos da circulação, da higiene e da estética que forjaram o seu papel de pólo regional e suas representações
entorno da cidade do trabalho e do progresso.

Katani Maria Nascimento Monteiro - UCS


O "grande administrador": Celeste Gobbato e a modernização de Caxias do Sul
A presente proposta de trabalho pretende abordar através da perspectiva biográfica os aspectos fundamentais que
revelam o projeto de urbanização de Caxias do Sul durante a gestão de Celeste Gobbato á frente da intendência deste
município, entre os anos de 1924 e 1928. Destacam-se neste contexto os elementos políticos, culturais e simbólicos
®9
utilizados pelo 'grande administrador", conforme é reconhecido, para a modernização da cidade. O significados das
comemorações politicas, a participação nas festas populares, nas cerimônias cívicas, as imagens e textos presentes
na relação do governante com a comunidade contribuem para ampliar o debate sobre o papel dos atores sociais na
configuração dos diferentes espaços sociais. Além disso, é possivel ainda problematizar, por meio das representações
construídas para si e para os outros na relação do governante municipal e seu projeto de cidade determinadas formas
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de ascensão e legitimação política e social. "'C

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I 18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h) C5..
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Stanley Plácido da Rosa Silva - UERJ ~
"Sábado é dia de Inauguração": política e apropriação espacial em São Gonçalo/RJ á luz dos periódicos locais :
(1977-1979) .~
Invariavelmente, no imaginário popular, a urbanização está associada à modernidade, sendo, no mundo atual, o sím- -B
bolo do progresso. Contudo, como toda obra humana, não deixa de ter implicações e usos políticos. Tendo isso em ~
vista, este trabalho objetiva analisar, por meio dos periódicos locais, o uso e apropriação política que se fez da urbani- .g
zação em São Gonçalo/RJ no final da década de 1970. Para tal, focalizaremos um programa denominado 'Sábado é ~
dia de Inauguração', no qual o prefeito inaugurava pessoalmente, com direito a comício e comemorações, uma peque- u

73
na obra ou melhoria a cada sábado, Dessa forma, buscamos compreender a relação existente entre o urbano e o
político no âmbito municipal e analisar os usos que podem ser feitos do e no território,

Maria Stella Martins Bresciani - Unicamp


Falar e pensar a cidade de São Paulo: 1890-1950
A comunicação é parte de um estudo, no qual busco acompanhar escritos de especialistas em intervenções urbanas
referentes á cidade de São Paulo, O objetivo é explorar o modo como foram construídos certos lugares-comuns que
vêm definindo os rumos da pesquisa e aprisionam a análise da documentação a determinadas interpretações que se
tornaram canônicas, Os lugares-comuns: 1, definir marcos temporais para a cidade no século XIX e primeira metade
do século XX: "burgo dos estudantes - cidade ou capital do café - metrópole industrial"; 2, considerar os planos
urbanísticos e os projetos arquitetônicos implantados na cidade como importação de idéias e modelos estrangeiros; 3,
identificar uma inadequação entre leis adotadas, próprias a sociedades avançadas, e a sociedade brasileira 'atrasada
ou arcaica", O recorte temporal é aproximadamente 1893 a 1950, já que o intuito é estudar a constituição do pensa-
mento urbanístico enquanto disciplina de observação e leitura, avaliação e controle, elaboração de planos e interven-
ção na cidade, Será privilegiada a relação entre a cidade construída (a materialidade urbana em termos arquitetônicos
e urbanísticos) e as formas de pensar e projetar a cidade, Nota: o estudo integra pesquisas financiadas pelo CNPq e
pela FAPESP, na forma de Projeto Temático,

Célio José Losnak - Unesp/Bauru


Cidades publicadas, entre a auto-imagem e a propaganda
Esta comunicação objetiva problematizar os materiais publicados a respeito de cidades situadas à beira da linha da
Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e busca identificar as principais lógicas da formaçãoltransformação das localida-
des/região e os significados atribuidos a elas, Surgidas no processo de ocupação do Oeste de São Paulo, com a
expansão cafeeira, os municípios foram objeto de vários tipos de publicações nas primeiras décadas do século XX,
Almanaques, relatos jornalísticos, edições comemorativas, livros e revistas de divulgação das localidades articulavam
visões de vários personagens, de moradores dessas cidades, passando por intelectuais e políticos da capital e atingin-
do leitores europeus desconhecedores da região, Esses materiais expõem, ao leitor, as urbes existentes e as urbes
desejadas, enunciam suas potencialidades e entrecobrem suas carências, delineiam a sociedade presente e passada
ao mesmo tempo em que projetam a do futuro, hierarquizam agentes sociais, lançam mão de perspectivas científicas,
estabelecem identidades locais e regionais, aproximam a materialidade/espacialidade da estrutura urbana às repre-
sentações sociais do período,

Marcelo de Souza Magalhães - UERJ


Crônicas da vida na cidade: o cotidiano da politica nas charges das revistas ilustradas cariocas da virada do
século XIX para o XX
A comunicação tem por objetivo analisar as representações presentes nas charges publicadas nas revistas ilustradas
acerca do cotidiano da política municipal na capital federal, na virada do século XIX para o XX, A linguagem visual do
humor é entendida como uma das formas de vocalizar os problemas da cidade do Rio de Janeiro e de encaminhar
demandas da população em geral aos poderes municipais, Logo, a imprensa é compreendida como um importante
local de mediação política, podendo servir como uma das janelas para compreender os embates entre os habitantes da
cidade e os seus representantes políticos, que, na maioria das vezes, ocorrem em torno de questões da vida cotidiana
na cidade, tais como: o calçamento, o transporte público, os abastecimentos de água e de carne,

Angela Aparecída Teles - FASP


Cinema e Cidade: memória e experiência urbana na obra cinematográfica de Ozualdo Candeias(1967-1992)
Este trabalho foi realizado a partir de trocas entre os saberes constitutivos da prática historiográfica e da semi ótica,
buscando uma interpretação da obra cinematográfica do diretor paulista Ozualdo Candeias, Por meio dessa obra
pudemos acompanhar a problematização dos processos de desterritorialização e reterritorialização dos caipiras na
cidade de São Paulo entre os anos de 1960 e 1980, Os usos e disputas por territórios na cidade construídos pelo
cinema desse diretor, produziram uma memória que confrontou a memória oficial de uma São Paulo moderna e racio-
nalizada, Sua câmera acompanhou o deslocamento e o caminhar permanente do migrante, em especial do caipira
pobre, pelas ruas dos bairros centrais da capital paulista: Luz, Santa Ifigênia, Campos Eliseos e seu entorno, Nessa
região as práticas de grupos marginalizados e dos profissionais de cinema da Rua do Triunfo foram interpretadas pela
narrativa de Ozualdo Candeias como tensões e disputas que envolveram diferentes sujeitos sociais na construção de
territórios efêmeros na cidade de São Paulo, Nesse trabalho objetivamos uma discussão que articula a cidade, o
cinema e as questões teórico-metodológicas envolvidas na opção do historiador por trabalhar com as imagens em
movimento,

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José Veridiano dos Santos - ASCES
Retratos de uma Cidade Princesa: Caruaru nas representações de Mario Sette
O literato Mario Sette encontrou, nas várias temporadas que passou em Caruaru, cidade do agreste pernambucano, a
inspiração com a qual comporia muitas de suas crônicas, contos e até romance. Este trabalho, ao se apropriar dos
textos de Sette, objetiva estabelecer relações entre cidade, literatura e identidade. A comunicação propõe que uma
literatura sobre a cidade funciona como um poderoso emissor de signos e simbolos que concorrem para revelar a
cidade, prescrevendo significados e valores que se traduzem em laços iidentitários. Propõe-se o diálogo com a litera-
tura como chave para compreender aspectos históricos de uma cidade do interior do país começando a experimentar
a experiência urbana moderna entre os anos de 1915 a1930 em meio a um Brasil caracteristicamente rural e marcado
por relações de poder autoritárias.

Grazyelle Reis dos Santos - UEFS


Feira de Santana, "celeiro do progresso": representações literárias do urbano
No segundo quartel do século XX, o processo de urbanização da cidade de Feira de Santana, Bahia, provoca altera-
ções expressivas na paisagem e nos hábitos e valores da população. No semanário local Folha do Norte tais transfor-
mações adquirem significados particulares, especialmente em textos literários (poemas, crônicas e ensaios) aí publi-
cados, que abordam a temática da cidade. Esta literatura reinventa a realidade urbana a partir do estabelecimento de
novos signos culturais e identitários de apreensão deste tempo e lugar cambiante. Assim, as representações que dai
se depreende, conquanto funcionem como inventários das mudanças que acometem a cidade, oscilam entre imagens
negativas e positivas evidenciando o conflito entre tradição e modem idade que permeia suas construções. Para esta
exposição, foi selecionado o conjunto de textos que tratam das circunstâncias de renovação urbana feirense de modo
a ressaltar um sentimento de utopia do progresso. Busca-se investigar nesse corpus as estratégias discursivas, temas
ou elementos da realidade histórica de que os escritores se valem para focalizar imagens positivas da cidade, obser-
vando como eles tecem a relação entre passado, presente e futuro na construção dos ideais de cidade. A realização
desse trabalho tem o fomento FAPESB/CAPES.

Romulo Costa Mattos· UFF


As favelas na obra de Lima Barreto
No inicio da década de 1920, Lima Barreto abordou as favelas cariocas em contos incluídos no livro Histórias e Sonhos
e em crônicas publicadas na revista Careta. No primeiro caso, promoveu a representação positiva dos moradores das
favelas, de modo a negar os discursos pejorativos divulgados na grande imprensa do Distrito Federal. Nessa perspec-
tiva, acreditava que tais pessoas pertenceriam à classe trabalhadora e não às classes 'perigosas'. No segundo, criti-
cou o excesso de obras na zona sul e o abandono daquela parcela da população, que sentia fortemente os efeitos da
crise habitacional na capital republicana. Assim, apontava para a política de segregação espacial empreendida por
Carlos Sampaio, ao mesmo tempo em que via as favelas como espaços por excelência da pobreza na cidade. Com
base nesse conjunto de textos, podemos afirmar que Lima Barreto foi um dos intelectuais da Primeira República que
mais defenderam os habitantes das favelas do Rio de Janeiro.

I 19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h ás 16h30min) I


Zilma Isabel Peixer, láscara Almeida Varela, América Ishida e Luis Eduardo Teixeira - Uniplac
Tramas da cidade: Identidades, sociabilidades e espaços art déco em Lages/SC
®
Tramas da cidade é o resultado de uma pesquisa sobre espaços urbanos e históricos com objetivo de valorização e
preservação da memória e do patrimônio cultural e arquitetõnico em Lages/SC. Centrou-se no estilo construtivo Ar!
Déco, analisando o dialogo com a cidade e a criação dos espaços de sociabilidade e identidades sociais. Ao se
demonstrar a importância do Ar! Déco na constituição da cidade, evidenciam-se as potencialidades para subsidiar um ~
modelo de desenvolvimento sustentável para Lages, mediante projetos em que turismo e desenvolvimento, qualidade :g
de vida e valorização cultural são articulados e constituem-se dimensões das políticas de desenvolvimento da cidade .~
de Lages. Esse trabalho demonstrou a potencialidade do conjunto urbanoArt Déco e garantiu a visibilidade do patrimô- %
nio histórico e arquitetônico da cidade, consubstanciando ações para a valorização e recuperação dos diversos espa- ~
ços de interesse de preservação. Além de desvelar, nas cartografias sócio-culturais e arquitetônicas da cidade os ~
processos de constituição de práticas de cidadania e sociabilização dos seus habitantes. Instituições de fomento: ~
Fundação de apoio a Pesquisa de Santa Catarina (FAPESC), Prefeitura Municipal de Lages (PML), Universidade do co
Planalto Catarinense (UNIPLAC). :8
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Zueleide Casagrande de Paula - UEL
Questões urbanas: história, memória e identidade
A natureza da cidade é um dos temas mais debatidos no século XX. Isso ocorre frente ao significado que adquiriram as
espacial idades urbanas a partir dos deslocamentos humanos, nacionais ou internacionais, principalmente para locais
como Nova Iorque, Tóquio, Cidade do México e São Paulo, entre outras inúmeras grandes concentrações humanas ..
Nesse aspecto, o trabalho do historiador é de extrema relevância, já que oferece informações e confere ao movimento
de existência da cidade significados para a compreensão de sua história. Visamos, pois, a examinar a concepção de
Cidade Jardim e sua entrada no Brasil por meio da proposta de urbanização de bairros implantada pela antiga City of
São Paulo Improvements and Freehold Land Company Limited (hoje Companhia City de Desenvolvimento) e materia-
lizada no projeto de subúrbio do Jardim América na cidade de São Paulo. Ofereceu, igualmente, subsídios para que a
população desse bairro reivindicasse dos poderes instituídos o direito de ver registrados no Livro do Tombo Arqueoló-
gico, Etnográfico e Paisagístico do Condephaat - Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico
e Turístico do Estado de São Paulo - os limites territoriais do bairro.

Maria Rita Silveira de Paula Amoroso e Ivone Salgado - PUC Campinas


Arquitetura campestre na obra de Ramos de Azevedo: a Fazenda São Vicente em Campinas
Hoje, sabe-se que o arquiteto Ramos de Azevedo foi o autor dos projetos de duas sedes de fazenda em Campinas, a
Fazenda Pau O'Alho e a Fazenda da Serra, hoje Fazenda São Vicente, de propriedade da família Paes de Barros e
construída pela Baronesa de Limeira. Esta última foi objeto de uma restauração nos últimos anos, concluída em 2006,
e que é o objeto específíco desta comunicação. O complexo cafeeiro engloba a sede principal, projeto de Ramos de
Azevedo, a residência do administrador, a tulha com maquinários de beneficiamento, 8 terreíros de café, sistema
completo de lavagem, serraria, capela, de uma das maiores produtoras de café na cidade de Campinas no início do
século XX. A obra deste profissional tem sido estudada através de uma concepção interdisciplinar abrangendo diferen-
tes campos do conhecimento, como a própria história, as técnicas construtivas, a formação profissional, o urbanismo,
a arquitetura e engenharia, entre outras. O diálogo da hístória com outros campos do saber revelou, até o momento,
que Ramos de Azevedo produziu uma obra essencialmente urbana. Todavia, esta produção técnica também possuiu
uma dimensão rural e são estas relações entre o que seria uma arquitetura urbana e uma arquitetura rural que quere-
mos colocar em evídência.

Rafael Alves Pinto Junior· UFG


Imagem e cidade: Memória do (não) Monumento ao Homem Brasileiro no Palácio Capanema
Este trabalho objetiva estudar a proposta da realização do Monumento ao Homem Brasileiro, idealizado por Gustavo
Capanema para o átrio externo do Edifício do Ministério da Educação e Saúde (1943). Este Monumento não foi reali-
zado, apesar de incorporado aos estudos de Le Corbusíer para o edifício, e descartado pela equipe brasileira. Essa
obra, apesar de não ter sido realizada, é emblemática, por caracterizar uma preocupação de afirmação de uma visua-
lidade comum à arte e a arquitetura modemista brasileira das décadas de 1930-1940, bem como a construção de uma
identidade nacional.

I 20107 - Sexta-feira - Manhã (10h30min às 12h30min)

Valter Martins - UNICENTRO/IRATI


Tanguás: simulacros da liberdade nos últimos anos da escravidão em Campínas
Após a demolição do Mercado de Hortaliças de Campinas em 1885 muitos de seus comerciantes voltaram a vender
verduras, legumes e quitandas em estabelecimentos que ficaram conhecidos como tanguàs. Concentrados no centro
da cidade os tanguás assumiram múltiplas funções e se transformaram em motivo de preocupações por parte das
autorídades municipais, policiais, sanitárias e vigilantes da moral e dos bons costumes. Sob o pretexto das compras
cotidíanas para seus senhores ou de uma refeição, os tanguás logo se constituiram em pontos de encontro de escra-
vos. Nos tanguás havia comida, cachaça, diversão e 'liberdade' permitindo que em seu espaço, quase sempre camu-
flado por um beco ou cortiço, se desenvolvessem momentos de intensa vida social e trocas culturais das classes
populares. Os tanguás eram a síntese cotidiana de várias transgressões aos Códigos de Posturas Municipais. Neles
os escravos contavam com a proibida, mas bem vinda cumplicidade dos seus proprietários e com as vistas grossas da
polícia, não raras vezes criticada por confraternizar com quem devia vigiar e 'manter na linha'. Apresentar alguns
aspectos subversivos e ambíguos da ordem escravista urbana, revelada pelos tanguás de Campinas no fínal da escra-
vidão, constitui o objetivo dessa comunicação.

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Arnaldo Ferreira Marques Júnior· USP
Os espaços públicos urbanos brasileiros entre a escravidão e a modernidade
Ao longo do século XIX as elites brasileiras procuraram implantar no pais os novos equipamentos e hábitos que
surgiam nas maiores cidades do Ocidente. Contudo, a simples importação de melhoramentos como bondes, paralele-
pípedos, iluminação a gás, água e esgoto encanados, não foi suficiente para modificar as formas tradicionais de uso
dos espaços públicos urbanos no Brasil, tidos como locais de passagem e de trabalho. Aexplicação para tal persistên-
cia se encontra na manutenção da escravidão, a qual implicava em uma rígida segregação social dos espaços. Para
exercitar a sociabilidade ao ar livre, símbolo dos novos tempos, em lugar dos bulevares elegantes as camadas domi-
nantes implantaram parques públicos porém fechados, excludentes, onde podia passear sob o abrigo de grades e
agentes da ·ordem'.

Ricardo José Vilar da Costa - UFRN


A casa da Cidade Nova: moradia e modernização em Natal no início do século XX
A casa moderna e burguesa foi o local onde se articulou uma nova relação entre seus moradores e o espaço urbano.
No in ício do século XX, a modernização de Natal ocorreu de maneira acelerada. O bairro da Cidade Nova, planejado
por técnicos e urbanistas, representou a tentativa de substituir um tipo de moradia onde os espaços eram coletivos, por
outro que valorizava a individualidade de seus moradores. Cada vez mais, as residências mantinham um afastamento
maior em relação ao espaço público, paralelamente ao aumento e a intensificação da quantidade de serviços ofereci-
dos por este. Além disso, o predomínio do estilo eclético se deu á medida que representou a superação do 'atraso' por
um modo de vida baseada em referenciais 'modernos', sobretudo europeus, ao passo que conferia ao proprietário a
possibilidade de distinção social. Nesse sentido, este trabalho busca analisar a habitação em Natal, bem como sua
relação com o espaço público, sendo a esfera da domesticidade uma opção privilegiada para se buscar compreender
as alterações na sociedade.

Fabiano Aiub Branchelli - PUCRS


Vida material da Porto Alegre oitocentista
A presente pesquisa trabalha com a investigação, análise e interpretação da vida material presente na Porto Alegre do
século XIX, priorizando aspectos relacionados as práticas de consumo de segmentos da população (em especial,
segunda metade do século XIX, compreendendo o período que vai de 1850 a 1889), a partir da aquisição e uso da
cultura material, expressa em fontes escritas e materiais. Nesta perspectiva a pesquisa contemplará práticas de con-
sumo, venda de produtos importados da Europa, assim como o mapeamento das principais redes de importação e
distribuição destes artigos, até seu destino final, o descarte dos bens consumidos nas lixeiras. Objetivo em linhas
gerais analisar o processo de formação, crescimento e desenvolvimento da cidade de Porto Alegre, incorporando a
discussão de temas como, história das cidades coloniais, modernidade e modemização, consumo, buscando traçar
um panorama das relações econômicas e sociais, inseridas num contexto de transformação da sociedade escravista
para uma capitalista.

I 20107 - Sexta-feira - Tarde (14h ás 18h)


Eneida Maria Souza Mendonça - UFES
Urbanização e paisagem na região da Baía Noroeste de Vitória
Este artigo expõe pesquisa sobre as transformações na paisagem da região da Baía Noroeste de Vitória. Trata-se de
®
região atualmente composta de bairros, em sua grande parte, de ocupação em aterro de lixo sobre mangue, a partir da
década de 1970, apontada aqui como importante período de inflexão. As fontes para identificar as referências marcan-
tes da paisagem local até o século XIX foram os relatos de viajantes, iconografias, com desenhos por eles produzidos
e cartografia. As transformações do século XX foram investigadas a partir de crônicas e charges e análise de levanta- ~
mento aerofotogramétrico de temporalidades distintas. Até as primeiras décadas do século XX, a região estudada, ~
mantinha inalteradas suas referências paisagísticas principais. A manutenção da linha d'água, da vegetação de man- .~
gue e da visibilidade das elevações rochosas alcançava convivência diante das atividades econômicas da época, da ]-
ocupação humana ali presente e das visitas ocasionais. A abertura de estrada propiciando o transporte rodoviário, ao ~
mesmo tempo em que ofereceu novos pontos de vista para admiração da exuberante paisagem, neutralizou a utiliza- ~
ção do percurso maritimo e propiciou em tempos mais recentes ocupação urbana conflitante com a permanência de :
alguns dos referenciais da paisagem.

Cláudio Travassos Delicato


Condomínios Horizontais: a ilusão de viver juntos e isolados ao mesmo tempo a;
Abordaremos a opção de moradia em bairros fechados, nas cidades,considerando a preocupação com segurança ~
como justificativa. O medo orienta muitas práticas cotidianas e uma série de aparatos se desenvolve para criar a w

77
sensação de segurança entre os moradores.Disciplina e vigilância são conceitos que emergem nessa questâo e a
noçâo de panoptismo é muito útil para entendermos aspectos fundamentais da organização funcional de um condomí-
nio horizontal.

Jacy Alves de Seixas - UFU


A exclusão do outro: um olhar sobre a (in)visibilidade contemporânea
A proposta desta comunicação é discutir a aproximação, cada vez mais estreita e perversa, entre alteridade e exclusão
(social, política, cultural, psíquica) e as formas e sentimentos morais em que esta última vem se manifestando - ou
melhor, irrompendo - nas sociedades contemporâneas. Esta questão insere-se na percepção da cidade e do urbano
como "instabilidade" e movimento incessantes, revelando hoje formas que ao mesmo tempo são de grande visibilidade
e de difícil olhar. A noçâo de alter, retomada dos antigos gregos - para quem "o que somos, nosso rosto e nossa alma,
nós o vemos e conhecemos ao olhar o olho e a alma do outro" (Vernant) - e profundamente modificada na modernida-
de, foi se reconfigurando num longo processo histórico em que a ambivalência que inicialmente a instituía foi se
transformando na enfática dicotomia amigo/inimigo (Bauman), onde o outro é sistematicamente visto como aquele e
aquilo que excluo. As condições do exercício da alteridade transformaram-se substancialmente e o outro como exclu-
são foi ocupando o espaço de significação, reconhecimento e visibilidade social e simbólica. O outro é aquele e aquilo
que não apenas discrimino (o que carregaria uma positividade identitária qualquer), mas segrego, excluo e isolo num
recanto qualquer, próximo ou distante.

Clara Luiza Miranda - UFES


Além da cidade: história, etnografia, urbanismo e comunicação
A formação multifacetada da esfera pública global conduz a reavaliação da cidade como produto da manufatura,
localização e posição sensivel. Aorganização espacial de forças simultaneamente dispersas e concentradas depende
menos das distâncias do que da coordenação e da logística. As cidades, como repositórios sócio-técnicos, asseguram
sua participação neste processo, mas o controle estrito do espaço perde valor estratégico. A relação entre localidades
depende progressivamente de vetores móveis ou imateriais que as interconectam. A logística e as tecnologias da
informação e da comunicação permitem processos de intervenção territorial, que extrapolam o espaço físico tangível.
Estas promovem diversas situações de reconhecimento e de abordagem. A análise dos conseqüentes impactos espa-
ciais-temporais e dos dados macro-sociais duros, que descorporificam os lugares, conduz a investigação de dispositi-
vos sócio-culturais locais de ação e reação em tais processos. Além da adesão ao viés de pesquisa etnográfico, são
solicitados novos paradigmas que compreendam as mediações simbólicas e sociais da metapolis. A comunicação se
alia ás disciplinas que estudam a cidade, a fim de examinar criticamente a complexidade relacional entre as novas
tecnologias e os tecidos sociais e urbanos.

Thaís Troncon Rosa· UNICAMP


Olhar a cidade a partir das fronteiras: notas sobre a interdisciplinaridade no estudo das periferias urbanas
Este texto procura levantar questões acerca da interdisciplinaridade no estudo das periferias urbanas, a partir de
práticas e reflexões de uma pesquisa de mestrado em andamento. Tentando praticar a interlocução teórica e metodo-
lógica entre saberes arquitetõnicos, históricos, sociológicos, antropológicos e populares sobre as cidades - especifica-
mente as periferias urbanas, a pesquisa em questão trabalha com a idéia de fronteiras, questionando autonomizações
disciplinares ou dicotomizações conceituais por compreender que tais abordagens muitas vezes deixariam escapar a
complexidade de relações que caracterizam praticamente tais fronteiras - das cidades ou dos saberes -, podendo
construir interpretações homogeneizantes. Nesse sentido, um esforço da pesquisa tem sido problematizar a estan-
queidade das fronteiras estabelecidas teoricamente entre cidade e periferia, cidade formal e cidade informal, cultura
popular e cultura hegemônica, visando identificar perspectivas analíticas que dessem conta das relações que permei-
am tais pares, do que há entre cada um de seus pólos, a fim de compreender, sob outros enfoques, também a materi-
alização de tais relações no espaço das periferias urbanas, seja através de planos e intervenções urbanísticas ou dos
usos e apropriações populares e cotidianos.

Paulo Gracino Souza Júnior - UERJ


"Entre NÓS e eles": Mariana - da comunidade imaginada à cidade partida
O presente trabalho tem como objetivo mapear o recente processo de urbanização (1960-1990) sofrido pela cidade de
Marina-MG, bem como seus desdobramentos para a acomodação dos novos contingentes populacionais na cidade.
Mais especificamente, focaremos nossas atenções na polarização sócio-espacial entre a população estabelecida e a
recém-chegado, que vai marcar o cenário urbano da cidade após o referido processo de urbanização. Através de
algumas pesquisas realizadas na cidade, pudemos notar que a população tradicional ao sentir-se acossada pela
presença do novo tratou de traçar marcos e fronteiras que mapeassem o espaço urbano e garantissem seu poder.
Após o estabelecimento dessas fronteiras entre tradicional e forasteiro, a memória local é reevocada e chamada a
preencher seus interstícios, dando corpo ao 'empreendimento identitário". Em nosso entendimento, essa polarização

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entre o "marianense' e os "outros' vai incidir de forma crucial na organização do espaço urbano da cidade, refletindo na ~O
disparidade de acesso dos individuos em relação aos bens da cidade, ou seja, a um dos aspectos básicos da cidada- ~
nia. Pretendemos ainda, reconstruir as vicissitudes desse processo observando a atuação tanto de atores locais,
quanto supralocais.

José Adilson Filho - UFPBI FAFICAI FABEJA gj


Cidade e ambivalência: espaço, poder e representações ~
A vida urbana, segundo Bauman, é intrínseca e irreparavelmente ambivalente. Espaço do múltiplo e do singular, as '§
cidades apresentam-se, a despeito do seu tamanho e densidade demográfica, amalgamadas por diferentes valores, -E
tempos e identidades sociais. Pensá-Ia assim, implica apreendê-Ia para além do seu aspecto geométrico e ordenado. ~
Nossa pesquisa insinua tal desejo, isto é, de olhar a cidade na sua obliqüidade, a partir dos vários discursos e práticas ~
que se adensam nos lugares habitados pelos outsiders. A análise de algumas práticas discursivas sobre lugares -i5
"malditos' da cidade (favelas, bordéis, becos ... ) permite-nos visualizar ambigüidades e ambivalências presentes nos C/.)
vi
processos de significação e construção das identidades espacio-sociais. ~
:;::;
-Cl.)

Luciana Paiva Coronel- Centro Universitário metodista IPA E


o
A literatura e a cidade brasileira nos anos 90 as
A literatura, desde a origem das cidades modernas, invariavelmente desempenhou o papel de mapeadora das transfor- .~
mações econômicas, sociais, políticas e culturais que marcaram o processo de modernização no cenário urbano. .:53
Instrumento construtor de identidades, o texto literário será aqui analisado na condição de mediador simbólico capaz u
de expressar a dinâmica cultural brasileira no seu todo e também a particularidade dos grupos sociais de perifiria, cuja
exclusão social e cultural começa a ser rompida nos anos 90 com a publicação de obras de autores como Paulo Lins
e Férrez, que ampliam o âmbito de representatividade social da literatura brasileira a partir da sua inserção, como
autores egressos das classes menos favorecidas, no stablishment cultural, que passa a incorporar o discurso daqueles
que invariavelmente compareciam apenas como objeto da literatura.

Denise Gonçalves - UFV


Imagem e espaço - os limites de uma abordagem histórica da forma urbana na cidade contemporânea
A recente inserção da cidade no campo da história da arte trouxe importante contribuição para o estudo da forma
urbana em suas relações com aspectos culturais, e mais especificamente em suas relações com as questões espaci-
ais que permeiam a produção artística a partir da Idade Moderna. Com a era industrial, a nova experiência do espaço
constitui importante fator de modernização das artes, da arquitetura e da cidade, estas diferentes escalas sendo então
reunidas na construção de uma nova visual idade - ou de uma nova imagem - que caracterizasse o espaço moderno.
Em relação à cidade, a coerência histórica que se encontra na gênese do espaço urbano moderno, no entanto, encon-
tra-se quebrada nos dias de hoje: esvaziada de conteúdo a forma urbana perde sua qualidade de espaço e reduz-se a
uma imagem sem sentido, e a abordagem histórica de suas relações com a cultura fica assim dificultada. O fenõmeno
se acentua quando se trata dos centros antigos: a permanência do espaço construído, e reduzido a uma imagem
desistoricizada, mascara a dinâmica da cidade contemporânea e impede a compreensão do processo histórico de
criação das formas urbanas.

10. Ciências Biomédicas, Saúde e Enfermidades em perspectiva histórica


Luiz Antonio da Silva Teixeira (Casa de Oswaldo Cruz - Fiocruz) e Marta de Almeida (MAST)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h às 18h) I
Patricia Fortunato Dias - PUC·SP
Da higiene à eugenia: um percurso de salubridade francesa
Esta comunicação tem como objetivo analisar a peculiaridade do discurso eugenista francês herdeiro de um pensa-
mento pós-Pasteur e que se desenvolve nos primeiros quarenta anos do século XX. Nessas primeiras décadas a
medicina ganha direitos sobre os lugares privilegiados das praticas sociais, publicas e privadas (em seu discurso, «
higiene urbana », ({ higiene do corpo», ({ higiene da mente», « higiene da alma» ... ) com um claro sentido civilizatório
e preventivo. Assim, quando na França soma-se ao discurso da higiene social a grande preocupação com a procriação
encabeçada pela figura do Dr. Adolphe Pinard falar de eugenia é falar ao mesmo tempo em puericultura, diferentemen-
te da Inglaterra. A saber, o cuidado com a criança, com a mãe, a relação sexual e o parto, como características de uma
nova ciência que Pinard preferira chamar de puericultura antes da procriação ou eugenética.

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Hideraldo Lima da Costa - UFAM
Clima, Salubridade e Povoamento da Amazônia no século XIX
A discussão acerca do clima da Amazônia no século XIX tem uma estreita ligação com a salubridade da região e,
conseqüentemente, sobre a viabilidade ou não de seu povoamento por estrangeiros, sobretudo por europeus. Nesta
comunicação acompanharemos como este debate se desenvolveu entre os renomados cientistas da época, notada-
mente os europeus, e como esta discussão foi se adequando as necessidades políticas e econômicas da época, em
âmbito nacional e internacional, quando os países do capitalismo central passaram a necessitar cada vez mais de
matérias-prima, como a goma elástica, só encontrada nas regiões abaixo da linha do equador. No desenrolar desta
discussâo, veremos como questões eminentemente médico-cientificas, como a salubridade e condições de povoa-
mento, foram se adequando ás necessidades da legitimação política nacional da época na busca da superação dos
p'roblemas nacionais existentes como, por exemplo, a solução da questão da mão-de-obra, via estimulo da migração.
E interessante observar como profissionais e intelectuais radicados dentro e fora da Amazônia, como médicos, enge-
nheiros, participaram do debate dialogando com o saber produzido e interpretando-o a luz dos problemas locais.

Robert Wegner - Casa de Oswaldo Cruz


Leituras de Renato Kehl na década de 1920: Nietzsche entre o sanilarismo e a eugenia
A apresentação irá foc?lizar a trajetória de Renato Kehl, provavelmente o autor brasileiro que mais tenha identificado
sua obra à "eugenia". E possivel perceber uma virada em sua trajetória no fim da década de 1920. Se até então sua
militância eugênica o aproximava do sanitarismo, posteriormente Kehl viria a defender a clara separação entre eugenia
e sanitarismo, salientando que as soluções para os problemas nacionais passavam necessariamente por uma 'política
biológica'. Nestes dois períodos sua admiração por Nietzsche é explícita, mas a forma pela qual se apropria da sua
obra varia. Procurarei salientar que, enquanto Renato Kehl estava próximo de uma eugenia mais preventiva, sua
referência a Nietzsche tratava-o como um defensor do ideal grego de equilibrio e as medidas sanitárias e higiênicas,
apresentadas então sob a rubrica da eugenia, visariam a criação de 'homens normais'. Já na década de 1930, defen-
dendo uma eugenia mais radical e criticando medidas sanitárias e educacionais, Kehl passa a identificar o "homem
eugênico' do futuro ao conceito nietzscheano de 'super-homem'.

Vanderlei Sebastião de Souza - Casa de Oswaldo Cruz - FIOCRUZ


Regenerando a Nação: a política eugênica de Renato Kehl no entre-guerras
O objetivo deste trabalho consiste em analisar o projeto eugênico defendido pelo médico e eugenista Renato Kehl no
período entreijuerras. Pretendo discutir um pouco da trajetória intelectual deste autor e demonstrar que sua aproxima-
ção em relação á 'eugenia negativa', especialmente a que vinha se desenvolvendo na Alemanha e nos Estados
Unidos, conduziram suas idéias cada vez mais em direção ao racismo cientifico e ao determinismo biológico radícal.
Como o principal propagandista da eugenía no Brasil e na América Latina, Renato Kehl atuou não somente na organi-
zação de associações, congressos e periódicos eugênicos, como também na formulação de projetos políticos voltados
para a 'seleção eugênica', especialmente nos anos 1930. Fortemente influenciado pelo determinismo biológico, Kehl
entendia que uma verdadeira 'política nacional' só teria sucesso se fosse fundada nas leis da biologia, respeitando o
que ele chamava de uma 'política biológica'. Deste modo, a 'política eugênica' seria apropriada por este intelectual
como o projeto mais eficiente para regenerar a 'mestiça' e 'doente' nação brasileira.

Paula Arantes Botelho Briglia Habib - Casa de Oswaldo Cruz (COC) I FIOCRUZ
Saneamento, Eugenia e Literatura: os caminhos cruzados de Renato Kehl e Monteiro Lobalo (1914-1926)
Esta comunicação tem como objetivo discutir, através da relação entre o médico eugenista Renato Ferraz Kehl e o
escritor José Bento Monteiro Lobato, a criação de uma rede de ciência e literatura em torno da eugenia. Para compre-
endermos a eugenía é necessário estudar o movimento em si, suas formas de institucionalização, seus atores princi-
pais. Entretanto, acreditamos ser possível realizar um estudo sobre a eugenia a partir da maneira pela qual o movímen-
to e seus preceitos interagiram e repercutiram com a sociedade. Nessa perspectiva, a literatura torna-se um instrumen-
to interessante para o historiador, pois se vista como um testemunho histórico de seu tempo, descortina uma série de
possibilidades de reflexão sobre a sociedade. Nesse sentido, a literatura lobatiana, a relação de amizade entre Montei-
ro Lobato e Renato Kehl e a troca de correspondência, bem como os livros publicados pelas editoras de Lobato do
eugenista Renato Kehl ganham extrema relevância para uma melhor compreensão do movimento eugênico no Brasil
e suas formas de interlocução na sociedade nas décadas de 1910 e 1920.

Greyce Kely Piovesan - UFSC


A história da medicina do médico-intelectual Pedro Nava
Pedro Nava é muito conhecido por seus livros de Memórias, que misturam as lembranças pessoais de um médico
mineiro com a história cultural e política brasileira. Podemos ver também o envolvimento de Nava com as questões
culturais do Brasil em seus trabalhos que trataram da história da medicina, nos livros: Território de Epidauro (1947) e
Capítulos da História da Medicina no Brasil (1949). Nestas obras, Pedro Nava buscou utilizar fontes não-oficiais, como

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a literatura, as cartas e as receitas da medicina popular, escrevendo sobre uma época e o seu imaginário, investigando ~1O
estas fontes com seu olhar de médico-intelectual. Nava foi fortemente influenciado por sociólogos das décadas de ~
1930 e 1940 para escrever sua história da medicina. Suas pesquisas historiográficas trazem questões ligadas á cultura
brasileira e a formação étnica do país. Este trabalho tem por objetivo analisar estas duas obras, identificando as fontes
utilizadas pelo autor e as influências que intelectuais como Gilberto Freyre, Nina Rodrigues, Arthur Ramos e Mário de
v;
Andrade tiveram na obra historiográfica do médico, memorialista e historiador Pedro Nava. Q)
"O
co
"O
Andrezza Christina Ferreira Rodrigues - PUC-SP '§
"For the blood is the Life": O Discurso Médico-científico em Dracula de Bram Stoker -E
Este trabalho pretende fazer a análise de algumas das tensões historicamente ccnstituídas pelo avanço da modernida- ~
de durante as últimas décadas do século XIX, tendo como eixo norteado r das reflexões o livro Drácula (1897) de Bram Q)

Stoker (1847-1912). É possível vislumbrar traços culturais de um cientificismo triunfante em relação ás noções de ]
saúde, em especial no que tange ao sangue. Na década de 1880, o darwinismo social, propôs aos ingleses a cobertura (/.)
v:;
biológica para a teoria da degeneração urbana hereditária, reforçando a posição a chamada 'idéia sanitária' desenvol- ~
vida por Chadwick, encontrando sua expressão no controle de doenças e na degenerescência através da mistura do ~
sangue. As teorias médicas investem no sangue como condutor da carga humana que interfere no comportamento do §
corpo e da mente, as características de seus antepassados e habilitassem para desenvolvê-Ias ao longo de sua vida, 05
como por exemplo, a disposição para o trabalho, a loucura, a promiscuidade, a mendicância, entre outros. Tema que ,~
traz preocupação à sociedade inglesa do periodo, pois o alto indice de miséria da parte operária, e principalmente a .á3
prostituição exacerbada dessa população, fazem com que o sangue misture-se e provoque o aparecimento de novas w
feridas sociais:as patologias do sangue.

Leonor Carolina Baptista Schwartsmann - PUCRS


Relato de viagem de um médico italiano: fonte para o estudo das práticas de saúde
Através de um paralelo com o que encontrou no Brasil, em sua viagem pelo interior de São Paulo e Rio Grande do Sul,
no início do século XX, o médico itinerante italiano Giovanni Palombini discorre em seu relato de viagem sobre as
condições do exercício profissional e de vida na Itália, Entre as razões que causaram a sua vinda e estabelecimento no
Brasil, enccntram-se as dificuldades relativas ao exercício profissional (baixo salário, excesso de trabalho, falta de
perspectiva de carreira) associadas a sua percepção das dificuldades da vida no campo e violência existente nas
cidades italianas, e a idealização de uma nova vida. Verificou que no Brasil, apesar do excesso de alimentos disponi-
veis, as más condições alimentares estavam na origem de doenças como a tuberculose, o consumo disseminado de
bebidas alcoólicas ocasionava uma alta incidência de alcoolismo, a sifilis era freqüente, a auto-medicação era corri-
queira e o uso difundido de armas favorecia a criminal idade. Suas observações encontram-se dentro da perspectiva
dos higienistas.

I 17/07 - Terça-feira - Tarde (14h às 18h)


Maria Rachei Fróes da Fonseca - Casa de Oswaldo Cruz I Fiocruz
Uma Tribuna Médica: as Conferências Populares da Glória (1873-1880)
As Conferências Populares da Glória iniciaram-se em 23/11/1873 sob a iniciativa e coordenação de Manoel Francisco
Correia, senador do Império. Sua função primordial era a de se tornar um meio para despertar o espírito para os mais
diversos assuntos, para a ciência e a cultura, e assim transformar a nação. O temário das conferências era amplo e
eclético, apresentando temas de cultura geral (literatura, teatro, arte, história, educação) e temáticas intrínsecas ás
diversas ciências (matemática, biologia, medicina, botânica, astronomia, ciências físicas, farmácia, agricultura). A tri-
buna da Glória, como ficou conhecido este espaço, foi se transformando, ao longo do século XIX, em um verdadeiro
palco para as questões que polarizavam a sociedade, como a reforma do ensino, o contagionismo e o anticontagionis-
mo, as epidemias, as terapêuticas, a higiene, as quarentenas, a medicina legal, e o darwinismo. Entre os palestrantes
estavam Francisco Praxedes de Andrade Pertence, João Baptista Kossuth Vinelli, Antonio José Pereira da Silva Araú-
jo, Cypriano de Sousa Freitas, Augusto César Miranda de Azevedo, Bento Gonçalves Cruz, José Martins da Cruz
Jobim, João Martins Teixeira, e Nuno de Andrade.

Júlio Cesar Schweickardt - Fiocruz


Alfredo da Matta: um cientista na Amazônia
A intenção deste trabalho é compreender a circulação do conhecimento científico na região amazônica no periodo de
1890 a 1920, época marcada pela exploração da borracha. Partiremos da obra do médico-cientista social Alfredo da
Matta que atuou no Serviço de higiene do Estado e participou da criação de diferentes instituições de pesquisa no
trabalho de profilaxia das endemias que marcavam (e ainda marcam) a região. Através de um pensamento local
podemos problematizar a dinâmica da ciência em um contexto específico e suas relações com as idéias científicas

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nacionais e mundiais. As práticas científicas estavam relacionadas com o universo cultural mais amplo, com as refor-
mas urbanas, o controle sanitário, as condutas e posturas, as manifestações culturais e as instituições. Os cientistas
locais estavam inseridos ao projeto de uma 'ciência-mundo', mas nem por isso deixavam de dialogar com a realidade
mais imediata.

Marta de Almeida - Museu de Astronomia e Ciências Afins· MAST


Congressos médicos, redes e debates locais na América Latina no início do século XX
No âmbito da história da medicina faz-se necessário compreender o papel dos paises latino-americanos, no cenário
internacional dos debates sobre teorias, práticas médicas e políticas públicas de saúde, com a intenção de contribuir
para a revisão de algumas noções relativas ao atraso científico e á dependência tecnológica, cunhadas ao longo da
história das ciências e da América Latina. Neste trabalho pretendo destacar a realização dos Congressos Médicos
Latino-Americanos (CMLA) ocorridos entre os anos de 1901 e 1922 e das Exposições Internacionais de Higiene,
anexas aos CMLA, considerando tais eventos representativos de um movimento mais amplo de intercâmbios científi-
cos e de organização do campo profissional da medicina no continente. Destacarei a dinâmica local de redes médico-
científicas configuradas na série dos CMLA durante o início do século XX, os acordos firmados e as discussões em
torno dos problemas locais de saúde pública. A ênfase será dada para os temas da medicina tropical e a reelaboração
deste conceito nos anos 1910 na América Latina. A historicidade dessas iniciativas possibilita perceber aspectos da
intemacionalização das ciências médicas sob uma ótica centrada nas relações entre os países do continente.

Lausane Corrêa Pykosz - UFPR


A circulação das idéias médicas sobre educação: congressos de educação na década de 1920 no Brasil
No presente trabalho procura-se investigar historicamente os discursos médicos para a educação no Brasil, por inter-
médio de um dos principais meios de circulação dessas idéias: os congressos de educação. Tendo em vista a maior
profusão de discursos sobre higiene e saúde pública com a chegada do século XX e a necessidade de adequação às
novas demandas, como o crescimento demasiado da população principalmente nas capitais brasileiras, e á mudança
de comportamentos que isso impunha, muitas vezes por meio da educação, procura-se identificar os discursos de
médicos e educadores nos congressos de educação da década de 1920 no Brasil, dando ênfase ao contexto parana-
ense. Procurando compreender as principais proposições para a educação no que se refere á higiene, centra-se o
estudo no Congresso de Ensino Primário e Normal (1926) e na I Conferência Nacional de Educação (1927), ambos
sediados em Curitiba, sendo o primeiro de âmbito estadual e o segundo, nacional. A importância que a higiene teve no
conjunto dos temas abordados nos eventos se explica pelo fato de ser atribuída á questão hígiênica um dos principais
meios de construção da unidade nacional, por meio da educação higiênica, principal bandeira nos congressos, pela
busca da conscientização da população pela causa da saúde pública.

Luciana Cláudia Oliveira de Souza - UEMG


Da Liga Central ao Departamento Nacional de Higiene Pública: sete décadas de jornais como fomentadores do
ideal civilizador nos trópicos sul mineiros - notas de pesquisa
A presente proposta tem como objetivo apresentar questões referentes a um trabalho de análise de fontes sobre o
desenvolvimento de políticas urbanas sanitaristas, levantadas principalmente através de jornais sul mineiros, entre os
anos de 1850 a 1920. No período considerado, a fundamentação teórica para análise está inserida numa historiografia
basicamente cientificista, prevalecente desde os séculos XVI e XVIII, em grande parte alicerçada na filosofia de Des-
cartes. Já no século XIX, sob um imaginário apoiado pela corrente positivista, o corpo humano toma status de fonte
analítica do pensamento moderno, buscando compreender não mais apenas o lado mecãnico de seu funcionamento,
mas, inclusive sua fisiologia e patologias. Assim, a medicina assume um caráter mais preventivo, e a região sul mineira
ganha destaque nos periódicos, tendo como principal argumento a característica geo-climática regional. Além disso, a
presença de águas minerais, também chamadas de Santas ou Virtuosas, apregoa á região qualidades curativas. A
propaganda dessas atribuições causa um rápido desenvolvimento da região e constantes preocupações com reformas
urbanas e sanitárias, em busca da ênfase e melhoria dessas características, determinando-se, assim, o objeto de
pesquisa proposto para essa apresentação.

Júlio Cesar Paixão Santos - Casa de Oswaldo Cruz· Fiocruz


Saúde e Educação na Baixada do Estado do Rio de Janeiro durante a Primeira República: Uma convergência
Nas décadas 1910-20 da Primeira República, a campanha pelo saneamento do Brasil procurou levar o país, doente, á
salubridade pela divulgação de ideais higiênicos, pela proposição de uma agenda nacional em saúde e por suas ações
sanitárias sob o território nacional. Dentre os mais destacados militantes estava Belisário Penna. Na baixada, o dr.
Penna trabalhou no saneamento do Rio Xerém e das cercanias das linhas férreas, no princípio do século XX, conhe-
cendo as condições de (in)salubridade local e agindo para reverter a situação, procurando transformar a baixada num
exemplo a ser seguido. Numa visita a região, a professora Armanda Álvaro Alberto se sensibiliza com a situação da
população, criando em 1921 a Escola de Merity sob os princípios de Montessori e as bandeiras da Saúde, da Alegria,

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do Trabalho e da Solidariedade, abrindo assim suas portas a preleções e cursos de higiene. Este texto pretende ~
analisar conjuntamente é?s propostas e as ações em saúde e educação sanitária do dr. Belisário Penna e em educação
da professora Armanda Alvaro Alberto na primeira década da Escola de Merity, procurando compreender a atuação do
®
movimento sanitarista junto a população da baixada do Estado do Rio de Janeiro e de uma forma mais geral a conexão
entre Educação e Saúde naquele período.
.,;

José Leandro Rocha Cardoso - Casa de Oswaldo Cruz


'"
~
Saúde e desenvolvimento: a educação sanitária como instrumento do progresso '§
Nos anos de 1950, as ações governamentais de promoção de saúde e de bem estar da população, sobretudo no meio -E
rural, foram assumidas como estratégias nacionais de construção do Estado, acompanhando as diretrizes internacio- ~
nais do pós Segunda Guerra Mundial. Como síntese desse quadro, pode-se considerar a atuação do Serviço Especial ~
de Saúde Pública (SESP), que iniciou suas atividades em 1942, após acordo firmado entre o governo brasileiro e o -~
Instituto de Assuntos Inter-Americanos (lAIA). O SESP atuou em diversas áreas, entre elas: engenharia sanitária, C/)

administração hospitalar, assistência medica e educação sanitária. Dessas áreas, destaca-se a educação sanitária l§
como promotora da formação de pessoal e da divulgação de conhecimento, perpassando todas as demais áreas. A ~
educação sanitária, mais do que formar e informar, refletia o modelo de saúde pública a ser implementado, definindo o §
caráter da atuação do SESP no desenvolvimento econômico das diferentes regiões onde atuou. A partir da análise dos i:D
textos publicados pelo boletim do SESP, pode-se entender a educação sanitária como uma amálgama do trabalho do .~
SESP, formando quadros para a saúde pública e construindo uma consciência sanitária na população, além de forne- .~
cer elementos para se entender o projeto de construção nacional. u

Deisi das Graças Rizzo Lubenow - UFPR


Discurso Médico, Sanitarismo e Ocupação: oeste do Paraná (1948 a 1960)
A (re) ocupação da região oeste do Paraná que se procedeu a partir do final de 1940 está relacionada a transformações
mais amplas pela qual passava o Brasil. Estas transformações remetem-se prioritariamente à modificação do estatuto
do país, visto como exclusivamente rural e conseqüentemente atrasado a urbano ou moderno e civilizado. Esta forma
de compreensão marcou a colonização, as formas de ocupação, o surgimento das cidades e também os problemas
médico-sanitários decorrentes dela, que podem ser estudados a partir da leitura e da incorporação da visão dos
médicos pelos governantes do Estado naquele momento. O presente trabalho pretende discutir como o discurso de
médicos sobre sanitarismo marcou as políticas públicas e as falas produzidas pelo governo do Paraná no periodo que
vai de 1948 a 1960, momento em que se procedeu a (re) ocupação daquele espaço. Tais discursos ajudaram a formar
um conjunto de idéias e imagens que se fixou e criou uma memória sobre o processo e que perduram até o presente
momento.

I 18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h)


Danielle Sanches de Almeida - USP
O universo das práticas médico-curativas em Minas Gerais Setecentista
Pretende-se expor as variadas práticas de cura que eram utilizadas no cenário colonial do centro-sul do Brasil. Como
o contexto setecentista mineiro se mostra muito rico no comércio de medicamentos importados do Reino e em variadas
formas de utilização da medicina popular em consonância à medicina oficial apontaremos através das listas de gêne-
ros importados de Portugal o tipo de doenças que alguns desses remédios podiam curar contrastando com as variadas
terapias populares (descritas em tratados médicos coevos, devassas entre outras fontes) utilizadas para a cura. Tam-
bém serão levadas em conta os consumidores de ambas medicinas, ou seja, como se dava a utilização destas medi-
cinas por parte da população do centro-sul brasileiro.

Beatriz Teixeira Weber - UFSM


Igreja, Homeopatia, Saúde: O Olhar de João Pedro Gay no Rio Grande do Sul no Século
A documentação existente sobre homeopatia no Brasil é muito diversificada, apesar das dificuldades de acesso que
ainda temos, porque se encontra muito dispersa. Uma das preciosidades encontradas sobre o Rio Grande do Sul trata-
se de um acervo existente no arquivo do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, com registros pessoais do padre
João Pedro Gay. Ele atuou em Alegrete e Uruguaiana de 1848 a 1891 como sacerdote secular. Uma das inúmeras
atividades que exerceu como intelectual arguto e bem informado foi o exercício da homeopatia no interior do Rio
Grande do Sul. No desenvolvimento dessa atividade, trocou correspondência regular com o Instituto Hahnemanniano
do Brasil, na qual descreve as condições de vida e saúde na região e justifica porque se sentia comprometido com
aquela prática. Este artigo procura traçar um panorama da trajetória do Padre Gay como 'homeopata' no interior do Rio
Grande do Sul, constituindo uma proposta de como deveria ser organizada a saúde no interior do Brasil.

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Monique de Siqueira Gonçalves - Fiocruzl COC
A imprensa médica carioca em meados do século XIX: epidemias e combates na busca da legitimação sócio-
profissional
Durante a década de 1850, interessantes mudanças foram verificadas na imprensa médica na capital do Império. As
publicações médicas especializadas que surgiram durante este período, publicadas por membros da "elite médica',
apresentaram uma significativa mudança em seus perfis editoriais com relação ás publicações do mesmo gênero
editadas até então. Situadas num contexto de constantes surtos epidêmicos, que assolavam o Rio de Janeiro, passa-
ram a se dedicar com mais veemência ás doenças que preocupavam a população carioca, insistindo, sobretudo, na
necessidade de se aprovar medidas que inibissem a prática de outras formas de cura. Da mesma forma, resistindo aos
constantes ataques veiculados pela "elite médica', e fortalecidos pela grande procura de cuidados médicos durante os
periodos de surtos epidêmicos, os homeopatas também se empenharam em divulgar o seu saber, combatendo a
medicina alopata, por meio das páginas de periódicos redigidos por iniciativas particulares. As nuances desta disputa
pela hegemonia sócio-profissional foram exploradas na defesa de minha dissertação de mestrado e, neste trabalho
pretendo desenvolver uma reflexão sobre elas, a fim de contribuir para a expansão dos conhecimentos referentes ás
publicações especializadas nos oitocentos.

Flavio Coelho Edler - Casa de Oswaldo Cruz-Fiocruz


Diagnósticos, terapêuticas e distinção social na formação social brasileira
No campo da saúde, as ciências sociais, quando discutem as relações entre a medicina e o mercado, quase sempre
restringem seu foco á ingerência do chamado complexo médico-industrial - as indústrias farmacêuticas, de insumos e
equipamentos médicos - na prática médica: um elemento estrutural, que circunscreve e manipula a relação do médico
com seu paciente. Por outro lado, a crítica acadêmica contemporânea costuma enfocar o consumo e o consumismo,
ora como uma prática conspícua, ora como um culto ao supérfluo. Aqui, quase sempre aprendemos com teorias
hedonistas, denunciatórias e utilitaristas que supõem um consumidor marionete, presa das artimanhas dos publicitári-
os, ou consumidores que competem invejosamente, sem motivo sensato. Seguindo a hipótese de Mary Douglas, para
quem o consumo é algo ativo e constante no mundo em que vivemos e nele desempenha um papel central como
estruturador dos valores que constroem identidades, regulam relações e definem mapas culturais, nos propomos a
pensar as práticas terapêuticas - o uso de certos remédios, manipulações e dietas - e a atribuição (e aceitação) de
diagnósticos como parte integrante do processo de distinção social e construção de identidades coletivas no contexto
da escravidão brasileira.

Yonissa Marmitt Wadi - UNIOESTE


Processo de assistência psiquiátrica no Estado do Paraná: um ensaio sobre sua historicidade
O processo de assistência psiquiátrica no Estado do Paraná passa por drásticas transformações neste inicio de milê-
nio. A crítica a forma de tratar pessoas portadoras de sofrimento mental - os chamados loucos - está na origem da
forma contemporânea da assistência, quase exclusivamente institucionalizada. Transformações marcaram este pro-
cesso ao longo dos dois últimos séculos, com temporal idades diferentes em lugares diversos e vivemos hoje, no Brasil,
uma época conhecida como de desospitalização, marcada pelo avanço da Reforma Psiquiátrica. As instituições tradi-
cionais no cuidado dos chamados loucos, os hospitais psiquiátricos sofrem uma critica severa e caminha-se para sua
supressão como instrumento principal de exercício da psiquiatria, buscando-se formas institucionais novas (alternati-
vas ou substitutivas), como hospitais-dia, centros e núcleos de atenção psicossocial. Porém, mudanças no formato
institucional ou novos equipamentos, não significam necessariamente a adesão irrestrita dos agentes envolvidos a
novas lógicas ou novas concepções. Neste texto, enfrenta-se o desafio de compreender a historicidade das mudanças
e as multiplicidades que configuram a contemporaneidade da assistência psiquiátrica, considerando a trajetória de
algumas instituições paranaenses.

Ana Teresa Acatauassú Venâncio e Janis A1essandra Cassilia - Casa de Oswaldo CruzlFiocruz
História da polítíca assistencial à doença mental (1941-1956): o caso da Colônia Juliano Moreira no Rio de
Janeiro
Revendo trabalhos já existentes sobre o tema, buscamos analisar a história da política assistencial á doença mental,
tomando como estudo de caso a Colônia Juliano Moreira (CJM), criada em 1924 no Rio de Janeiro e, no período
estudado, subordinada ao Serviço Nacional de Doenças Mentais (SNDM). O marco temporal proposto refere-se, de um
lado á criação do SNDM em 1941 -, como um dos 23 órgãos do Departamento Nacional de Saúde do Ministério da
Educação e Saúde - e de outro, ao fim da gestão de seu primeiro diretor, o médico-psiquiatra Adauto Botelho, em
1956. Com base na análise de documentos e periódico do SNDM, e de publicação e prontuários da CJM, o trabalho
discute como, naquele período, a assistência psiquiátrica esteve articulada á politica para a área da saúde, centraliza-
dora e modernizadora, que acabou por incentivar a criação de ambulatórios e produzir a expansão de macro estruturas
hospitalares pSiquiátricas em vários estados brasileiros, como ocorreu na CJM. A especificidade da CJM revela-se no
modo como a politica pública que então se forjava reverberou no ideário original institucional, centrado no tratamento

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das doenças mentais pela praxisterapia e pela assistência hetero-familiar, o qual produzia uma vida social e urbana ~O
como parte da instituição. ~
Laurinda Rosa Maciel - FiocruzJCasa de Oswaldo Cruz
Titulo: Isolando a doença e o doente: os leprosários no Brasil (1930·1960)
Resumo: A lepra foi a partir dos anos 1930 até meados da década de 1960, alvo de grandes ações do governo federal gi
no sentido isolar os pacientes diagnosticados. Esta prática médica se amparava no conhecimento científico que se ~
tinha á época sobre a doença, agregado ao grande estigma social construido em torno da doença desde a época 'E
medieval. A política adotada para o combate à lepra desde os anos 30 foi fortemente isolacionista e se baseava na ~
constituição de três instituições: os asilos-colonia ou leprosários, os dispensários e os preventórios. Nos leprosários se ~
internavam os pacientes que passavam a viver isolados e esta internação normalmente durava toda a existência do :
doente; nos dispensários se atentava para o cuidado e a atenção aos novos casos e a observação dos comunicantes, ]
que eram os que mantinham contato com o paciente que estava internado. Nos preventórios se isolavam as crianças cn
sadias, filhos dos pacientes internados nos leprosários. Meu objetivo nesta comunicação é apresentar esta política de l§-
saúde no pais, enfatizando o funcionamento e a função dos leprosários e atentar para a importância das ações gover- ~
namentais empreendidas por Gustavo Capanema durante o governo Vargas, cujo impulso foi decisivo para a consoli- §
dação desta política pública de saúde. as
...,
co

Carlos Henrique Assunção Paiva, Una Rodrigues de Faria e Luiz Antonio de Castro Santos - Fiocruz c::
.Q)

A hanseníase como objeto histórico: o caso brasileiro U


Ao discutir a luta contra a hanseníase no Brasil, de fins do século 19 aos anos de 1940, o trabalho analisa as diferentes
concepções da doença, surgidas nos meios médicos, e das propostas de intervenção social como justificativas de
combate á doença. A lepra começou a ser vista como uma 'enfermidade', merecedora de atenção médico-social, a
partir de fins do século 19. Faz parte da dramaturgia do sofrimento humano desde a Antiguidade, mas sua identidade
etiológica remonta apenas ao final do século 19, quando G. Hansen descobriu o bacilo causador. No Brasil, até a
República Velha, os leprosos sobreviviam ao descaso das autoridades sanitárias ou, mais tarde, eram vítimas de
políticas de institucionalização cruéis. Desde 1920, o Departamento Nacional de Saúde Pública abrigava uma Inspeto-
ria de Profilaxia da Lepra e das Doenças Venéreas, voltada para o controle da doença pelo isolamento. As questões da
nacionalidade, ás quais se associavam o 'problema da raça' e a eugenia, passaram a demandar a eliminação da lepra
no país. O texto procurará explorar os significados epidemiológicos, médicos, culturais e sociais da hanseníase, esta-
belecendo traços comuns á sociedade brasileira e a outros países latino-americanos, em particular a Colômbia, para a
qual existe literatura de bom nível.

I 19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h ás 16h30min)


Maria Regina Cotrim Guimarães - Fiocruz I UFF
O desenvolvimento da pesquisa e do ensino médico nos dois mundos entre o século XIX e a primeira década
do XX
A medicina de grande parte do século XIX foi marcada pela hegemonia da anatomoclínica, que se caracterizava por
uma prática exercida na 'cabeceira do doente' associada a um raciocínio diagnóstico informado pelos achados da
anatomia patologia (principalmente pelas necropsias). No entanto, observamos que, entre a metade e o final dos
oitocentos, comunidades médico-científicas da Europa (como França, Alemanha e Inglaterra) e da América (no caso,
Estados Unidos e Brasil) passaram por um processo de revisão da anatomoclínica, colocando em relevo uma medicina
com bases principalmente laboratoriais, em que a quimica e a fisiologia se apresentavam como suas disciplinas em-
blemáticas. Este trabalho pretende analisar tal processo, que se constituiu de um debate mais ou menos tenso em
cada um desses países, e que ocorreu em per iodos distintos da segunda metade do século XIX, protagonizado pela
Alemanha e pelos países sob sua influência. Negociações intrínsecas á condução das duas ciências médícas em
questão, e contextos históricos e relativos á inserção das pesquisas nas instituições universitárias marcaram as dife-
rentes formas de expansão desse novo modelo.

Erica Piovam de Ulhôa Cintra - Universidade Federal do Paraná


A arte de curar faz escola em Curitiba. Caminhos de uma investigação histórica da Faculdade de Medicina do
Paraná (1912·1945)
O presente artígo aborda aspectos de parte da trajetória inicial da Faculdade de Medicina do Paraná que, no começo
do século XX, constituiu-se na primeira instituição educacional desta especialidade no estado contribuindo para a
institucionalização da ciência médica paranaense e, conseqüentemente, a formação e a organização da classe médi-
ca local. Na trajetória desta instituição educacional o destaque para os espaços, saberes e procedimentos de uma
formação seletiva - o ensino médico - e a visualização dos papéis de diferentes agentes na organização administrati-

85
va, burocrática e pedagógica no início deste primeiro projeto educativo no Paraná. Inserido no recorte de história das
instituições escolares e discutindo também as relações de saúde/doença na cidade que cresce rapidamente, o presen-
te artigo, decorrente de estudo em desenvolvimento no Programa de Pós-Graduação em Educação (Linha História e
Historiografia da Educação) da Universidade Federal do Paraná, abre questões e reflete sobre um pouco desta parti-
cular história que marcaria os caminhos da educação e da saúde pública em Curitiba na primeira metade do XX.

Gisele Sanglard - Casa de Oswaldo CruzlFiocruz


Do sonho à desilusão: reflexões sobre o Hospital de Clínicas Arthur Bernardes - (Rio de Janeiro, 1926-1934)
A demanda por leitos hospitalares na cidade do Rio de Janeiro dominou parte da agenda de discussões na década de
1920. Médicos, politicos, intelectuais e filantropos se uniram na proposição de soluções para o que eles consideravam
um grave problema de Saúde Pública. Até esse período a assistência hospitalar na cidade do Rio de Janeiro era
realizada nos hospitais da Santa Casa da Misericórdia e nessa época o Estado dá os primeiros passos na direção da
formação de uma rede de hospitais gerais públicos. Esse processo alcançaria seu ápice com a construção do Hospital
de Clínicas Arthur Bernardes para a Faculdade de Medicina que além de dotar de a Faculdade de um equipamento de
saúde próprio; resolveria o problema de falta de leitos na cidade. Projeto ambicioso, que atraiu a imprensa tanto
médica quanto quotidiana, acabou por não se concretizar. Esse trabalho pretende, então, refletir sobre algumas das
questões que impossibilitaram esse sonho se realizar: discussões acerca do bairro escolhido, sobre a tipologia do
edifício, da localização da maternidade - dentro ou a parte do hospital? Esses questionamentos advindos do seio da
própria corporação médica nos permitem seguir os vários projetos para a Facuidade de Medicina que estavam sendo
desenhados a época. Divergências internas

Fernando A Pires-Alves - Fundação Oswaldo Cruz


Recursos críticos: história da cooperação técnica OPAS-Brasil em recursos humanos para a saúde no Brasil
(1975-1983)
Desenvolvido no âmbito do Observatório História e Saúde, da Rede Observatório de RH em Saúde - esse trabalho
discute as políticas de recursos humanos em saúde no Brasil, a partir da cooperação técnica desenvolvida neste
campo entre a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) e o governo brasileiro. Examina o contexto de
formulação e a implementação do Acordo para um Programa de Desenvolvimento de Recursos Humanos para a
Saúde no Brasil, sobretudo a partir de 1975, quando tem inicio o Programa de Preparação Estratégica de Pessoal de
Saúde (PPREPS).O contexto de implantação do PPREPS é especialmente contemplado. Examinamos o papel do
estado brasileiro na organização das políticas sociais, particularmente no âmbito da saúde; a situação da formação
dos recursos humanos para a saúde no país à época de implantação do programa; a racionalização do setor público e
o planejamento social como idéias que organizaram o pensamento e as experiências institucionais mais relevantes
nesse setor. Da mesma forma, são discutidas as implicações do PPREPS na institucionalização da área de RH em
saúde como parte das instâncias de gestão pública da saúde, na organização do campo da saúde coletiva no Brasil e
na critica e reforma dos sistemas de saúde do país, cujos reflexos são presentes até hoje.

I 20/07 - Sexta-feira - Manhã (10h30min às 12h30min) I


Vanessa Lana - C. A. João XXIII- UFJF
Em defesa da "Manchester": a atuação dos médicos juizforanos na mudança da capítal mineira
No início da década de 1890, o Congresso mineiro aprovou a lei que indicava a mudança de sede do govemo do
estado, na época a cidade de Ouro Preto. Sancionada a nova lei, foi nomeada uma comissão encarregada de estudar
e relatar, através de um parecer técnico, pontos acerca das condições gerais das localidades concorrentes (Belo
Horizonte, Paraúna, Várzea do Marçal, Barbacena e Juiz de Fora). Naquele momento, receber os investimentos para
sediar o congresso estadual geraria crescimento e melhorias urbanas a quaisquer localidades. Em vista disso, iniciou-
se um impulso dos médicos juizforanos em defender a cidade de Juiz de Fora de possíveis acusações a seu estado de
salubridade pública e evidenciá-Ia como local apto a receber os investimentos e a continuar crescendo e se desenvol-
vendo ao longo dos anos. O objetivo deste trabalho é analisar o posicionamento dos profissionais associados à Soci-
edade de Medicina e Cirurgia de Juiz de Fora (SMCJF) em defesa da escolha da cidade de Juiz de Fora para sediar as
obras de construção da nova capital mineira. Em outras palavras, de que forma a instituição atuou no amparo aos
interesses do município, defendendo a aptidão da infra-estrutura juizforana para instalar o Congresso mineiro. Nosso
ponto de partida é um trabalho escrito pelo médico Ambrósio Vieira Braga, membro da SMCJF, com vistas a refutar as
considerações elaboradas pela comissão de avaliação das localidades, que questionou alguns pontos do clima e
salubridade juizforanos, excluindo-a do posto de capital de Minas. Tal trabalho foi elaborado a pedido da própria
Sociedade e, depois de concluído, foi apresentado em assembléia e aprovado em unanimidade pelos membros da
instituição. Interessa, pois, analisar a postura da Sociedade mediante parecer técnico elaborado sobre Juiz de Fora,
que considerou a cidade insalubre e não apta a ocupar a posição de capital do estado. Neste ponto, o foco principal é

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a luta destes profissionais para refutar as considerações negativas sobre o município, deslocando o argumento que ~
retirou Juiz de Fora da disputa pela nova capital para a esfera política, e não por falta de condições de sediar as obras
da nova sede do governo de Minas.
®
Marcelo Vieira Ferreira Ferro - UNIBENNETT
Discurso médico e Secularização dos enterramentos na Corte Imperial ~
Em 1850) o governo foi autorizado a regulamentar e a determinar o estabelecimento de cemitérios públicos na Corte ~
Imperial. A fundação e administração de cemitérios públicos extramuros na Corte foi cometida por 50 anos á Santa '§
Casa de Misericórdia, dando fim aos enterramentos no interior dos templos, prática tida como um foco de miasmas -E
pelo discurso médico, que propunha uma separação espacial entre vivos e mortos em nome da saúde dos primeiros. ~
Entretanto, tal privilégio funerário passou a ser questionado por inúmeros grupos políticos e religiosos a partir da -{g
década de 1870 por aqueles que entendiam o monopólio dos enterramentos por uma instituição religiosa católica -i5
como um ataque á liberdade religiosa e á igualdade civil em um momento de intensificação da politica imigrantista, de C/.) ",-

crise monárquica e de avanço do movimento republicano. Nesse momento, o discurso médico também é empregado B
como justificativa para promover mudanças na regulamentação dos enterramentos. Os cemitérios eram uma questão ~
de higiene pública e cabia ao Estado administrar os enterramentos sem diferenciação de cor, credo ou classe não por §
respeito religioso á figura do morto mas pelo respeito á saúde dos vivos. i:i5
'"
'"

Sônia Maria de Magalhães - Universidade Federal de Goiás· PRODOC/UFG c::

Clínica médica no sertão do Brasil


<'"
i::3
Se em grandes centros constituiu-se tarefa árdua impor um novo discurso médico e ao mesmo tempo combater práti-
cas populares há tanto disseminadas pelo território, pode se imaginar a ocorrência dessas na longínqua e isolada
provincia de Goiás durante o Oitocentos. As histórias de Vicente Moretti Foggia, Theodoro Rodrigues de Moraes e
Francisco Antõnio de Azeredo revelam aspectos, pouco conhecidos, da trajetória de profissionais desse ramo no
interior do Brasil- desde a formação, passando pelas dificuldades inerentes ao início da carreira até o reconhecimen-
to social. Eles deixaram pistas reveladoras, por meio de vários registros, sobre a complexidade da consolidação da
medicina científica no interior do Brasil. Mais do que isso, suas vivências revelam as diversas faces do profissional
médico em Goiás: conflitos, dificuldades no exercício da profissão, relações de poder, ascensão, etc. Três perfis
distintos: Foggia, aportou no pais fugindo da polícia italiana; Moraes, membro de familia abastada, não encontrou
muitas dificuldades para alcançar sucesso na carreira; Azeredo, ao contrário deste, enfrentou vários desafios de ordem
econômica para adquirir a tão almejada formação.

I 20/07 - Sexta-feira - Tarde (14h ás 18h) I


Luiz Antonio da Silva Teixeira e Maria Teresa Citeli - Casa de Oswaldo Cruz· Fiocruz
As vicissitudes de um pesquisador brasileiro no reconhecimento de sua contribuição à descoberta da pilula
anticoncepcional
Esse trabalho discute o desenvolvimento da pílula anticoncepcional feminina na década de 1950, explorando a contri-
buição do médico brasileiro Aloysio Neves nesse processo. Estudos recentes mostram como o surgimento dessa
inovação se relacionou às transformações sociais no pós-guerra, sobretudo em assuntos atravessados pela política
sexual, como controle do próprio corpo e da vida reprodutiva das mulheres. Tais questões, num contexto de irrestrita fé
na ciência, de desenvolvimento da indústria farmacêutica e de surgimento de concepções feministas, facilitaram a
produção e comercialização do novo produto. A sedimentação dos saberes sobre o ciclo reprodutivo feminino e ação
dos hormônios nesse processo, a partir da década de 1920 principalmente na Europa, foi a pré-condição para o
desenvolvimento da pílula. Nessa arena encontramos Aloysio Neves, primeiro brasileiro a publicar um artigo sobre
hormônios e supressão da fertilidade. Com base nas postulações dos estudos sociais das ciências nosso estudo
analisa a luta desse médico pela patente para 'sua descoberta". Objetivamos mostrar como questões (sociais/éticas/
culturais0 que atravessam a produção das ciências dificultaram o reconhecimento pleiteado pelo brasileiro.

Marilane Machado - UFSC


Vida em abundância e saúde para todos: Igreja e movimentos sociais pela saúde nos anos 1980
Com esta comunicação pretendemos relacionar os interesses da Igreja Católica e dos movimentos sociais pela saúde
nos anos 1980. Neste contexto, a reivindicação maior dos movimentos sociais pela saúde era a democratização dos
serviços públicos de saúde trazendo como lema: 'Saúde para todos", influenciados pelos ideais da Conferência de
Alma-Ata de 1978 e pelas reivindicações populares nos anos de ditadura militar no Brasil. Dentro desta perspectiva, a
Igreja Católica do Brasil lançou a Campanha da Fraternidade de 1981 trazendo como tema: 'Fraternidade é saúde para
todos" e como lema: 'Saúde para todos", esta campanha além de abrir espaços para debates entre grupos religiosos
católicos, estimulou ações populares na área da saúde. Nesta comunicação, portanto, pretende-se analisar a aproxi-

87
mação da igreja Católica e dos ideais desses movimentos sociais, percebendo ainda possíveis conflitos advindos
desta aproximação e destacando a atuação de um grupo específico: a Pastoral da Saúde.

Carla Francielle Kurz - UEM


Modificações dos costumes urbanos pela ótica da política de saúde pública
As Políticas de Saúde tornaram-se cartazes importantes para a promoção de uma boa saúde. Isso explica, em parte,
as tentativas do poder público em se apossar do espaço urbano imprimindo, no discurso e na prática, a marca de
higiene. O objetivo dessa comunicação é analisar as formas de afirmação dos agentes do discurso médico que fomen-
taram o processo de mudança dos costumes da população brasileira, particularmente do ponto de vista do papel
desempenhado pelo Estado, através do processo de configuração da base fisica das cidades e do discurso médico
pelo controle das doenças. Partindo da idéia que o discurso médico da higiene pública considera o homem um objeto
de conhecimento, o estudo está pautado na análise do saber médico enquanto prática disciplinar, bem como uma
forma de fiscalizar a vida do corpo social, pois através dele que se exercem os poderes políticos, econômicos e
culturais voltadas á coletividade.

11. Cinema-História: teoria e empiricidades numa perspectiva transdisciplinar (imagens e


audiovisuais nas suas transversalidades)
Miriam de Souza Rossini (UFRGS) e Jorge Luiz Bezerra Nóvoa (UFBA)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h às 18h)

Marcos Antonio da Silva· USP


Histórias de "Cabra marcado para morrer"
Uma equipe de jovens, do Rio de Janeiro, ligados ao CPC/UNE, com o apoio do similar pernambucano MPC, iniciou,
em 1964, no Engenho Galiléia (Pernambuco), urn filme sobre a atuação e a morte de João Pedro Teixeira, líder
paraibano das Ligas Camponesas, assassinado em 1962. As filmagens, sob direção de Eduardo Coutinho, foram
interrompidas pelo golpe de 1° de abril de 1964. Ern fevereiro de 1981, Coutinho apresentou o material bruto dos anos
60 a seus atores e colaboradores no Engenho Galiléia, filmando a exibição e as narrações dessas pessoas sobre suas
experiências de vida. O filme se construiu como memória reflexiva sobre seu próprio fazer, em diferentes temporal ida-
des e espaços. Conhecer as várias feituras de Cabra marcado para morrer e os trajetos de vida das pessoas envolvi-
das nessa experiência é compartilhar saberes e emoções. A ditadura não foi somente ditadura, porque saberes e
poderes outros se mantiveram dispersos entre setores da população, e podiam ser reativados ainda mais intensamen-
te naquele crepúsculo do regime.

Lúcia Teresinha Macena Gregory· UNIOESTE


Entre o sim e a fotografia: representações sobre o casamento
Trata-se de apresentar um estudo a partir de registros sobre casamentos ocorridos na região Oeste do Paraná (1954-
1970) com o objetivo de perceber a relação da cultura fotográfica com o poder religioso e o processo de construção de
identidade(s) e de modernidade local e regional. A apresentação será acompanhada de imagens e de tabelas elabora-
das no decorrer do diagnóstico sobre a coleção e auxiliará na exposição e análise do trabalho proposto. Esta comuni-
cação està inscrita no âmbito de nossa pesquisa de doutoramento Fotografias e Identidades: um estudo sobre a Foto
Kaeffer - Marechal Cândido Rondon/PR (1954-1985)'.

Jorge Luiz Bezerra Nóvoa - UFBA


A teoria da relação cinema·história na reconstrução do paradigma histórico
Essa comunicação trata da teoria cinema-história. Tal problemática-objeto pode ser abordada como lugar de memória ou
como representações cinemáticas sobre o presente, quanto sobre o passado. Analisa o imaginário, mas também lingua-
gens e suportes, inclusive para o ensino da história. As imagens áudio-imagéticas construíram, ao longo do século XX, um
imenso laboratório para a epistemologia que incluem, pesquisar o lugar da imaginação, das novas tecnologias ou da
inteligência sensível e da recepção e cognição para o historiador. Vislumbra-se tanto as narrativas que se constroem
através das imagens e do cinema e que recriam, representam, descrevem e/ou explicam a história, quanto os modos
pelos quais se dão a construção e a circulação desse discurso, quanto ainda os sujeitos que os absorvem. Diante da crise
de paradigmas e da história, a teoria da relação cinema-história é também carregada de pot~ncialidades capazes de
ajudar a reconstrução do pensamento e dos métodos da história e suas formas de exposição. E chegada a hora em que
o historiador se comunicará através do cinema. Assim, as novas práticas colocam a necessidade urgente de sua teoria.

88
Izabel de Fátima Cruz Melo - UFBA
História, Cinema e Prática Social: Jornadas de Cinema da Bahia (1972-1978)
Neste artigo apresento o início de uma trajetória investigativa a respeito das Jornadas de Cinema da Bahia, buscando
inseri-Ia no panorama dos estudos históricos, a partir da construção de um debate que nos permita discutir a ambiência
sócio-cultural soteropolitana na década de 1970, articulando-a com as discussões de cultura, participação política e
censura que existiam no Brasil nesse mesmo período. Para isto, compreendo que se faz necessário discutir em que
parâmetros as Jornadas foram pensadas, quais eram seus participantes, sua(s) concepção (ões) de cinema, seus
principais objetivos e sua relação com a censura.

Ana Cristina Venancio da Silva - USP


A videoteca pedagógica da Fundação para o Desenvolvimento da Educação de São Paulo (F DE) e o ensino de
História através do cinema
Entre 1988 e 1997, a Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE), órgão ligado à Secretaria de Educação
do Estado de São Paulo, convidou dois professores pertencentes ao seu quadro para a montagem de uma videoteca
para fins pedagógicos. A videoteca pedagógica da FDE, organizada pelo Centro de documentação e informação para
a educação (CEDUC) da instituição, atingiu em 1997 a marca de 5.200 fitas que circulavam constantemente pelo
correio, indo e vindo das escolas. Para além da questão de tornar acessível aos professores um determinado conjunto
de fitas VHS, dentre o qual existia filmes comerciais, educativos, de arte, experimentais, animações, etc. (nos formatos
de longa e curta metragem), a equipe pedagógica que esteve à frente desse projeto se preocupou em criar ferramentas
capazes de subsidiar uma utilização qualitativamente diferenciada dos recursos audiovisuais que disponibilizava, e
para isso criou uma série de publicações que visavam potencializar o uso do acervo. Foi assim que surgiram as séries
®
11
Apontamentos e Lições com Cinema e a revista Quadro-a-quadro. O presente trabalho se propõe a fazer uma reflexão
acadêmica acerca da maneira como essa iniciativa foi estruturada, bem como a forma como a videoteca foi apropriada
por professores de história.

Miriam de Souza Rossini - UFRGS


Reflexões sobre as relações entre o cinema e a história a partir das perspectivas do cinema brasileiro ~
Este texto pretende discutir alguns aspectos teóricos relacionados à problemática cinema-história, tendo como objeto ~
especifico de estudo as tendências dos filmes de reconstituição histórica feitos no Brasil desde os anos 70. Será :§
abordado o filme de reconstituição histórica enquanto espaço de representação de memória e de identidade cultural de .~
uma nação, bem como representante das diferentes tendências historiográficas sobre os assuntos abordados. Daí os QJ

constantes conflitos a que está sujeito. :


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e
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17/07 - Terça-feira - Tarde (14h às 18h) ~
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Cássio dos Santos Tomaim . Unesp/Franca E
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O documentário como atividade de luto: memória e identidade em Vlado, trinta anos depois 8
Este trabalho visa apresentar algumas reflexões a respeito do filme documentário sob a perspectiva da memória e da
identidade. Em Vlado, trinta anos depois (João Batista de Andrade, 2005) percebemos como o filme documentário
assume a conotação de uma atividade de luto, no sentido de que trava uma luta contra o esquecimento e a denegação
do passado. No caso especifico do filme selecionado, trata-se de um dever de rememorar os horrores da ditadura
militar, tendo o episódio do assassinato do jornalista Vladimir Herzog como fio condutor. Mas o que nos interessa em
Vlado, trinta anos depois é compreender que o documentário vale menos pelo o que testemunha do que como atualiza
e articula um passado no "tempo saturado de agoras.'

Mauricio de Bragança - UFF


Imagens da Revolução Mexicana: cinema e política em registros documentais
Esta comunicação pretende focar as relações entre cinema e política nas duas primeiras décadas do século XX no
México e as transformações na postura do realizador/cinegrafista com o desenvolvimento da Revolução. O cinema
chegou ao México apenas oito meses depois de sua estréia em Paris e foi apresentado pela primeira vez numa sessão
dedicada ao ditador Portirio Diaz. Percebendo o potencial propagandistico do cinematógrafo, o ditador logo se conver-
teria na primeira grande estrela do cinema mexicano. O cinema se forjava como 'documento histórico' stricto sensu,
num registro da verdade inquestionável. A Revolução de 1910 redefiniu seu papel, registrando a ebulição pela qual
passava a sociedade em documentários que aos poucos foram se distanciando do mero aspecto da curiosidade
espetacular para atingir uma verdadeira presença do realizador junto aos movimentos do cenário político nacional. A
Revolução passou a ser a grande protagonista desta fase. O desdobramento da Revolução, com a superação da fase
insurrecional, e o processo de domesticação do discurso revolucionário no âmbito oficial acabaram por esvaziar o teor

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de contestação das imagens documentais do cinema mexicano. A imagem do corpo de Zapata assassinado, que
circulou pelo território nacional, é um emblema deste projeto.

rtleize Regina de Lucena Lucas - UFCE


Etica e estética da imagem: o cinema documentário no Brasil dos anos 60
O cinema documentário brasileiro surgido nos anos 60 é freqüentemente associado ao cinema-verdade francês e ao
movimento cinemanovista. A partir do estudo de filmes nacionais e franceses, de artigos de jornais e revistas da época
e de livros publicados nos anos 60, levanta-se a hipótese de que o cinema documentário brasileiro teve uma funda-
mentação estética distinta da vinculada pelo cinema francês. Quanto ao Cinema Novo, ambos dividiram propostas
estéticas e politicas comuns. Parte-se da premissa de que o cinema nacional desse período (ou parte dele) pautava-se
pela adoção de 'uma atitude documentaria", segundo expressão de José Carlos Avellar, em que se buscava, pela
adoção de determinados temas e do tratamento dado aos mesmos, aproximar-se de realidades nacionais ausentes da
cinematografia brasileira ou que existiam sob formas estereotipadas. Dessa forma, o documentário brasileiro não
constituiu uma mera transposição ou adaptação do modelo francês pois integrava um movimento amplo de setores da
área cinematográfica nacional (diretores, produtores, atores, critica) que propunha uma nova forma de inserção do
cinema na cultura nacional.

Felipe Santos Magalhães - UEBA


Do Zoológico à tela: representações do jogo do bicho e dos bicheiros no cinema
Tendo iniciado sua trajetória no Jardim Zoológico de Vila Isabel na cidade do Rio de Janeiro no ano de 1892 e sido
posto na ilegalidade três anos depois, o Jogo do Bicho continua sendo praticado até hoje e em todo o território nacio-
nal. Se no inicio do século XX, vários cronistas e literatos como Machado de Assis e Olavo Bilac, por exemplo, dedica-
ram um pouco de sua atenção à loteria que surgia; na década de 1950 os cineastas passaram a construir suas
representações em torno do 'bicho' e dos bicheiros. O primeiro filme a trazer o assunto como mote principal foi Amei
um bicheiro, dirigido por Jorge lIely e Paulo Wanderley em 1952, contando no elenco com Grande Otelo, José Lewgoy,
Cyt Farney e Eliana Macedo. O objetivo é propor uma reflexão sobre a interpretação proposta neste filme sobre o
'submundo' do jogo do bicho, procurando articular o discurso aqui presente com a discussão em torno da legalização
ou da criminalização do jogo do bicho presente na imprensa ou nos textos de literatos como Rubem Braga e Rachei de
Queiroz.

Reynaldo França Lins de Mello - USP


THX 1138: uma história do futuro
Através do filme THX 1138 - uma história de ficção científica sobre um futuro incerto - podemos refletir sobre o presente
por intermédio da discussão entre duas categorias: utopia e distopia; levando, também, a formulações sobre o controle
social ao longo das diversas sociedades humanas.

Rosangela de Oliveira Dias - USS


História, nacionalidade, cinema
Oobjetivo deste trabalho é discutir a idéia de nacionalidade através do filme - documentário brasileiro UM PASSAPOR-
TE HÚNGARO, dirigido por Sandra Kogut. A partir de uma questão colocada por Sandra à embaixada da Hungria em
Paris, ela, sendo neta de húngaros que migraram para o Brasil fugindo do nazismo, teria direito a um Passaporte
Húngaro, o documentário se desenrola. A riqueza do filme é que várias questões e situações podem ser abordadas a
partir dai: idéias do que seja nacionalidade e seus direitos no mundo globalizado; a busca de uma segunda nacionali-
dade que seja mais vantajosa; a questão judaica no leste europeu contemporãneo; a busca de uma nova nação
quando a que vivemos não nos beneficia; a política de Vargas em relação aos refugiados judeus, e outras mais.
Considerando o filme auxiliar didático e rica representação de diversas práticas culturais é como pretendo conduzir e
discutir a abordagem que fiz deste documentário nacional.

Antônio da Silva Câmara - UFBA


O cinema documentário e a representação do conftito no mundo rural
Este texto partindo da discussão acerca da importância do cinema documentário como objeto histórico e sociológico,
reconhecendo que como produção imagética o documentário é uma recriação da realidade cotidiana, no entanto, isto
não o impede enquanto gênero a propiciar elementos para a compreensão da realidade social. Analiso três documen-
tários sobre o MST. Dois dele da cineasta Tetê Moraes: Terra para Rose e Sonho de Rose fomecem farto material
imagético que nos remonta às origens da lutas deste movimento no Rio Grande do Sul, em dois momentos distintos: o
primeiro enfoca a luta dos posseiros, a violência policial e a vitória conseguida; o segundo restringe-se à luta dos que
restam na terra como assentados dez anos depois, destacando-se as dificuldades da produção coletiva. O ultimo
documentário dirigido e produzido por Carlos Pronzato, enfoca a luta e a negociação do MST na disputa por terras com
a empresa multinacional Veracel no extremo sul da Bahia, já sob o governo Lula. O movimento cede às pressões para

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abandonar a fazenda por esperar soluções do governante, O cineasta Pronzato, mesmo fazendo um video para o MST
permite-nos compreender as contradições e fraturas geradas pela ascensão de Lula ao poder.

José Walter Nunes - UnB


Histórias nas narrativas filmicas: construção e desconstrução de identidades e memórias
A partir de uma pesquisa histórica que venho desenvolvendo com grupos da cultura pomerana no estado do Espirito
Santo, pretendo neste trabalho refletir sobre a construção de imagens filmicas dessa cultura, as quais se configuram
em narrativas que traduzem significados e sentidos diversos, segundo as perspectivas teórico-metodológicas de quem
as produz, Nesse processo, procuro incorporar também a visão que tenho construído e desconstruído, desde meu
contato inicial com esse grupo étnico, em 1984, quando elaborei um roteiro de gravação em vídeo. No momento, ao
retomar essa temática, e com trabalho de campo parcialmente concluido, elaboro outro roteiro, no qual as dimensões
da memória e da identidade - num universo de diversidade cultural - deverão orientar a produção de imagens que
constituirão o documentário em andamento. Assim, do cotejo e análise dessas diferenciadas narrativas filmicas ,
emerge este texto.

Carlos Eduardo dos Reis· UFSC


História e Cinema· O que é isso companheiro?
O objetivo desta comunicação é fazer uma reflexão em torno da relação Cinema e História tendo como ponto de
partida o filme intitulado 'O que é isso companheiro', adaptação para o cinema da obra do mesmo nome, do agora
deputado Fernando Gabeira, pelo cineasta Bruno Barreto. Escolhido para representar o Brasil por uma comissão do
Ministério da Cultura para ser candidato ao Oscar de melhor filme estrangeiro da academia de cinema de HOIlYWOOd'@1
o lançamento do filme foi marcado por discussões e controvérsias de todos os matizes. O filme foi acusado de não
retratar com fidelidade a atuação dos guerrilheiros que participaram do seqüestro do então embaixador americano no
Brasil Charles Elbrick em 1969, e de uma atitude pouco respeitosa para com a memória dos envolvidos no seqüestro.
Polêmicas á parte, o fato é que Bruno Barreto ao tratar de um período tão conturbado e violento da história recente do
pais, nos convida a refletir a respeito de como o cinema se apropria de uma determinada realidade história, como ele
a reconstrói, que memória histórica este esta forjando e para quem este quer falar. Eem torno destas questões que ~
esta comunicação discute a relação História e Cinema. ~
:~
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18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h) Q.)
Q.)

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Giovanni Antonio Pinto Alves - UNESP "§
O Mundo do Trabalho Através do Cinema· Uma Reflexão sobre o Cinema Como Experiência Critica ~

O objetivo do ensaio é apresentar, num primeiro momento, elementos metodológicos (e epistemológicos) do projeto ,ê
pedagógico Tela Critica - O cinema como experiência critica (www.telacritica.org) e num segundo momento, a partir ~
destes referenciais teórico-metodológicos, tecer considerações sobre o mundo do trabalho no século XX através dos ~
filmes clássicos do cinema mundial. A idéia é buscar nestes filmes elementos categoriais para uma reflexão critica ~
sobre a objetividade (e subjetivíaadejdo mundo do trabalho, O filme não é apenas representação ideológica ou proje- G
ção subjetiva do receptor, mas é também reflexo dialético do ser social capitalista. Deste modo, através de um 'diálogo'
crítico-hermenêutico numa perspectiva dialético-materialista, sugerimos ser possível explicitar categorias fundamen-
tais da sociabilidade do capital. A proposta analitica é multidisciplinar, mobilizando várias disciplinas das ciências
humanas e sociais para a experiência dialógica com o filme,

Soleni T. B. Fressato - UFBA


"Eu não tenho tempol": a preguiça não assumida. Representações no filme Jeca Tatu de Mazzaropi
Desde o final do século XIX, destacou-se no Brasil o discurso de valorização e 'positivação' do trabalho, que passou a
ser visto como o fator decisivo e constitutivo da existência social. Concomitantemente à formação da sociedade do
trabalho, era necessário construir uma sociedade disciplinada, com corpos dóceis e submissos. Nesse contexto, a
indisciplina e, principalmente, a preguiça, contrárias à sociedade ordeira e trabalhadora, idealizada e que se buscava
formar, passaram a ser condenadas e extirpadas do seio social. Nos anos de 1950 e 1960, periodo significativo da
urbanização e industrialização do pais, esse discurso ainda era, se ainda não o é, necessário e promissor. Contraria-
mente a essa perspectiva, Amácio Mazzaropi personifica, no filme homônimo, o preguiçoso Jeca Tatu (1959), no
entanto, a preguiça não é assumida, como em Macunaima (Mario de Andrade, 1928). Diante do exposto, a proposta é
analisar de que maneira e em que medida a preguiça do caipira Jeca Tatu de Mazzaropi se contrapõe e é contestador
ao discurso dominante da sociedade disciplinada e laboriosa.

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Marcus Marciano Gonçalves da Silveira· UFMG
O documentário "lhe Corporation" e o ensino de História Contemporânea
O trabalho pretende relatar a experiência de utilização do documentário 'The Corporation', de Mark Achbar, Jennifer
Abbott e Joel Bakan (Canadá, 2003) no ensino superior de História Contemporânea. Ao partirmos do pressuposto de
que o conhecimento histórico é fruto de um esforço contínuo do presente em se articular com as demais temporalida-
des (passado/futuro), iniciamos a abordagem da História Contemporânea com a problematização das principais con-
tradições e desafios do mundo atual. A idéia, aqui, é instigar questionamentos sobre os quais não se alcança melhor
compreensão sem o recurso à abertura da perspectiva histórica. Nesse sentido, o documentário 'The Corporation"
oferece preciosa chave de reflexão sobre o mundo contemporâneo: o predomínio institucional das grandes corpora-
ções transnacionais e seu impacto sobre a configuração do espaço público. Trata-se de uma linha argumentativa
bastante audaciosa: segundo seus autores, é possivel reconhecer traços evidentes de psicopatia quanto ao comporta-
mento social das corporações. Tal como foram configuradas a partir de uma série de decisões legais, as corporações
são membros da comunidade que, por lei, estão obrigados a cuidar apenas de seus próprios interesses, enquanto a
responsabilização por suas atitudes é difusa e limitada.

Hamilcar Silveira Dantas Junior - UFSE


Rebeldia Juvenil e Cinema: uma tradição inventada no século do espetáculo
O século XX teve como fundamento histórico, o movimento espetacular das relações sociais capitalizadas em ima-
gens. Também foi o século da juventude, que teve expandida uma cultura que lhe identificava como tal, e o século do
cinema, que catapultou a imagem juvenil assumindo-a como maior grupo social de consumo. Considerando que a
juventude é uma construção sócio-cultural, cheia de significados, símbolos e práticas sociais, este estudo parte do
princípio que a face da juventude como naturalmente rebelde foi uma tradição inventada, que se tornou paulatinamen-
te espetacularizada. Os movimentos estudantis, a exemplo do 'maio de 68', materializaram a crença numa identidade
que subvertia a lógica revolucionária clássica criando experiências de revolta. Tais experiéncias foram assimiladas
pela razão instrumental e a dinâmica dos protestos e reivindicações sociais tornou-se um apêndice da lógica espetacu-
lar. Tomando por base o cinema, concluiu-se que o cinema hollywoodiano construiu, a partir da década de 1950, uma
idealização pasteurizada da rebeldia juvenil, baseada em ícones como James Dean. Assim como o cinema brasileiro
tornou-se uma fonte de estereotipagem do jovem como 'naturalmente revolucionário', imerso nas experiências de
revolta de confronto à ditadura e à ordem social-moral.

Alexandre Maccari Ferreira· UFSM


A produção Disney em época de Segunda Guerra Mundial: Cinema, História e Propaganda
Conceber um filme como documento histórico é importante nos tempos de hoje em que as imagens são tratadas como
fundamentais na aceitação e na recepção de determinados propósitos sejam eles em nível de docência ou no cotidiano
das pessoas. Desse modo, a realização deste trabalho visa enfocar a produção cinematográfica de Walt Disney durante
o período da Segunda Guerra Mundial. A partir dos longas-metragens Saludos, Amigos (1942) e The Three Caballeros
(1945), que enfocam o incentivo do Estado norte-americano nas politicas de 'boa-vizinhança', instauradas e organizadas
a partir de um plano em angariar apoio e admiração da população latino-americana para a guerra contra os países do Eixo
ou de curtas-metragens como Der Fuehrer's Face (1943) que enfoca o horror do cotidiano nazista, temos as personagens
Disney, como Pato Donald e Pateta, apresentando elementos tradicionais de modo didático e caricato, agindo em prol dos
esforços de guerra. Amparados em uma análise cinematográfica e fílmica e em um arcabouço teórico acerca das relações
entre história e cinema, procuramos estudar as questões que remetem à propaganda política, à oifusão da ideologia, das
questões morais, e das proposições politicas que remetem à aceitação e a cooptação do espectador.

João André Brito Garboggini - PUC Campinas/UNICAMP


Goya em Burdeos: dos corredores que se bifurcam
Para este trabalho o filme selecionado é 'Goya en Buerdeos' (1999) do cineasta espanhol Carlos Saura. O a narrativa
filmica procura construir uma espécie de biografia não documental do pintor espanhol Francisco de Paula Jose de
Goya y Lucientes (1746-1828). Considerando o pintor mostrado no filme a ser estudado como um grande homem da
História da Arte, a idéia é analisar de que maneira as personagens, os cenários constroem as narrativas fílmicas,
criando sentidos, ao mostrar a vida do pintor espanhol. As análises das personagens do filme não devem ser tomadas
a partir de seu compromisso com verdades históricas. A proposta, nesse sentido, seria perceber como uma analogia
entre a personagem fílmica e a personagem histórica poderia construir a representação da personagem colocada em
cena no filme satisfazendo as pretensões de narrar uma 'biografia histórica'. Filmes como esse, procuram mostrar
como pinturas são realizadas e quem são as personagens envolvidas no processo que levam à concretização de um
objeto artístico. O filme coloca o pintor Francisco Goya y Lucientes por trás de suas pinturas. O Goya filmico não
ambiciona o Goya histórico. História e ficção se confundem, imperceptíveis, neste filme de Carlos Saura.

92
Valeria Camporesi - Universidad Autónoma de Madrid
EI pasado en el presente. Reflexiones sobre la construcción imaginaria de la decimonónica guerra de indepen-
dencia espaíiola en los medios audiovisuales
La comunicación se articulará en dos partes: la primera hará referencia a los presupuestos metodológicos y teóricos de
un proyecto de investigación colectivo ("EI archivo dei dos de mayo: mito, conmemoración y recreación artistica de una
memoria y una identidad compartida'); la segunda se centrará en un análisis de la recreación de Goya y su imagen
pública en los medias de comunicación. Aunque habrá que tener en cuenta la aportación dei cine a la construcción de
una biografia de Goya para uso y consumo de la contemporaneidad, la investigación se centrará sobre todo en un
documento audiovisual emitido por televisión en Espana en el momento dei asentamiento de la democracia. AI centro
dei análisis se situará la serie "Los desastres de la guerra', producida por TVE en 1983: el tema a la vez histórico y
universal, de los grabados de Goya, que inspiran la serie, otorga a esta producción, modélica de la cultura de la
Transición a la democracia, el valor de representar, en positivo, una construcción que se apropia dei pasado, y revela
los mecanismos de funcionamiento de esa apropiación; observada pues desde la primera década dei siglo XXI, se
puede leer como "pensamiento' sobre la relación de una "comunidad imaginada' con su pasado y sus nuevos valores.

Jailson Pereira da Silva - UFPEI FAFICA


A publicidade como fonte histórica: um diálogo multidisciplinar.
A publicidade tem se mostrado uma imensa força de atração cujo campo gravitacional tem atuado sobre diversas áreas
de pesquisa. Estudos sobre os seus significados e efeitos têm sido realizados na antropologia, na sociologia, na
filosofia, na psicologia, para citar apenas algumas. Recentemente, também os historiadores mostram-se sensíveis ás
possibílidades de análise histórica a partir de um diálogo com as produções publicítárias que pontuaram uma determi-
®
11
nada época. Em seu percurso de aproximação (apropriação) da publicidade, no entanto, o historiador poderá driblar
armadilhas e descobrir atalhos seguindo pistas que têm sido deixadas por aqueles trabalhos advindos de outras
ciências. Esse estudo procura, assim, dialogar com produções múltiplas que se debruçam sobre a análise da publici-
dade (particulanmente, as televisivas). Nosso intuito é perceber trajetórias teórico-metodológicas que possam colabo-
rar com o trabalho do historiador; ao mesmo tempo pretendemos discutir a tese de que, nesse debate, a contribuição
do historiador está na singularidade do seu olhar, caracterizada, sobretudo, pela capacidade de temporalizar as ações ~
da existência humana. ~
:g
Jair Diniz Miguel - USP 'Ci..
E
A História em Quadros ou o Filme como História: AELlTA (URSS, 1924) Q)

Três fatores devem ser levados em consideração no uso de filmes para fins didáticos, o primeiro é a narrativa que o .~
filme coloca, o segundo é sua capacidade de dialogar com o momento histórico e o terceiro é própria adaptação, no o
caso de Aelita, entre o texto publicado de A. Tolstoi e o roteiro de Protazanov. O texto de ficção científica funciona como !'!:l
metáfora e o roteiro baseado no livro é uma metáfora ainda mais contundente de um periodo de transformação e ·ê
reorganização política e social da Rússia. O uso desse filme, originalmente mudo e com uma forte presença da arte ~~
moderna russa, nos cenários, nas roupas e na própria forma de representação dos atores é ao mesmo tempo uma ~
fonte de informação e de conhecimento daquele momento. Para os professores em sala de aula, Aelita não é somente ~
um filme a ser trabalhado, mas também uma peça da própria revolução russa, pretexto, texto e contexto. 8

19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h ás 16h30min)

Roberval da Silva Santiago - UFCG


Metanarrativa do Herói Hollywoodiano
Nas vagas de ampliação dos estudos relativos ao uso da Imagem do Cinema no Ensino de História, a comunicação
Metanarrativa Mitica do Herói Hollywoodiano se propõe a identificar, mapear e analisar os principais Arquétipos das
Metanarrativas Miticas junto á Jornada do Herói, cujas tramas e personagens fazem parte das mais diversas mitologi-
as de povos e épocas distintas. Portanto, esta comunicação objetiva, em particular, abordar as Representações de
Arquétipos Mitopoéticas introduzidas na indústria cinematográfica hollywoodiana, tais como: Arauto, Picaro, Aliado,
Guardião do Limiar, Receptáculo, Oráculo, Mentor, Sombra, Herói (serão exibidas amostras recortadas de filmes no
decorrer da Comunicação). No cinema, tanto os respectivos personagens quanto aos seguimentos das narrativas
fantásticas, amplamente adaptadas nos mais celebrados roteiros de aventuras, configuram gêneros de filmes que têm
como vanguarda os premiados cineastas George Lucas e Steven Spielberg.

Eduardo José Afonso - USP


Filme como história ou História como filme?
Trata-se de uma reflexão sobre o texto de Patrick Vonderau - VONDERAU, Patrick. Historiography and Film: a dange-
rous Liaison? - e a posição adotada por Marc Ferro versus Robert Rosenstone . A história deve ser ensinada, apenas

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a partir dos filmes? Qual a relação que o aluno deve ter com essa mídia? No mundo globalizado, midiático e onde as
imagens comumente tomam o lugar da leitura e reflexão, qual deve ser o papel deste meio dentro do contexto de uma
sala de aula?

José Alberto Baldissera • Unisinos


Cinema como Alegoria e Narração Alternativa da História
Como sabemos, há inúmeras interferências entre cinema e história. Mesmo não tendo a intenção de focalizar um
episódio determinado da História, o cinema pode ser analisado através do contexto histórico em que foi realizado, e
muitas vezes como uma alegoria de fatos e épocas, e especificamente análises diversas a partir de culturas e seus
constructos para explicar aspectos históricos. Numa perspectiva transdisciplinar, imagem, aqui através do cinema, e
história tem uma importância, sem par, numa época dominada pela mesma (imagem), e fundamentalmente visual.

I 20/07 - Sexta-feira - Manhã (10h30min às 12h30min) I


Felipe Côrte Real de Camargo - UDESC
A construção da masculinidade em Casino Royale: um "mito de origem" para James Bond
O trabalho a ser apresentado faz algumas análises acerca do personagem de lan Fleming, James Bond, utilizando as
relações de gênero como categoria de análise, mais especificamente as representações simbólicas acerca da constru-
ção da masculinidade. Analisando a obra Casino Royale como aquela que dá origem ao personagem James Bond,
interrogo como esta torna-se fundamental não somente para o personagem como para a masculinidade que ele repre-
senta, criando uma espécie de "mito de origem'. As fontes a serem analisadas serão o filme e o livro 'Casino Royale'
- o livro de 1954 e o filme de 2006. Através destas obras, e consciente de ser o filme uma adaptação do livro, procuro
pensá-Ias em suas respectivas temporal idades e suportes, problematizando a produção dos sentidos no que tangen-
cia as masculinidades, as rupturas e continuidades que substanciam papéis de gênero nos filmes da série 007.

Rafael Hansen Quinsani - UFRGS


A História por um soldado. A Guerra Civil Espanhola e a escrita da História a partir do filme Soldados de
Salamina
A Guerra Civil Espanhola e a instalação da ditadura franquista marcam o processo histórico espanhol e a elaboração
da sua escrita no período posterior. A análise do filme Soldados de Salamina (David Trueba, Espanha, 2003) abre uma
possibilidade de dois enfoques de trabalho: a Guerra Civil Espanhola e a escrita da história. O filme aborda a busca por
um soldado republicano que em 1939 não executou o falangista Rafael Sánchez Mazas após este ter sobrevivido a
uma tentativa de fuzilamento. Insere-se a temática da falange que agrega o elemento fascista á direita espanhola e,
através do soldado republicano, os elementos de esquerda e a questão dos refugiados. Na pesquisa efetuada pela
personagem central, podem ser levantados os seguintes temas sobre a escrita da história: a questão da narrativa, a
objetividade e subjetividade, a testemunha como fonte histórica, a memória e sua relação com a história e a micro-
história e a biografia. Ressaltasse, também, como o cinema trabalha e imbrica esses elementos e sua possibilidade de
abordagem como fonte histórica. Como instrumentos metodológicos analisaram-se seus elementos internos: sua esté-
tica e dinâmica bem como seus elementos extemos, o contexto e a ótica de seus realizadores.

Joelma Ferreira dos Santos - UEBA


Amarelo Manga e O Beco dos Milagres: Cinema e Identidade Cultural na América Latina
Este trabalho tem como objetivo identificar elementos que expressem a identidade ou as identidades culturais na
América Latina a partir de dois filmes: O Beco dos Milagres (EI callejón de los milagros, México, 1994, direção de Jorge
Fons) e Amarelo Manga (Brasil, 2003, direção de Cláudio Assis). Devido á complexidade que envolve a questão da
identidade cultural, uma discussão acerca do tema é essencial. Para tanto são utilizadas, como referencial, as aborda-
gens teóricas de Stuart Hall e Nestor García Canclini. O trabalho está pautado na análise comparativa das narrativas
filmicas utilizadas como fontes, buscando pontos de semelhança e divergência, e usando como parâmetro a latinidade
expressa em alguns estereótipos.

I 20/07 - Sexta-feira - Tarde (14h às 18h)

Saulo Éber Társio de Souza - UFU


O cinema como recurso pedagógico (Uma experiência de ensino de História da Educação no Estado do Tocantins)
Propomos a reflexão sobre o uso do cinema como recurso pedagógico no ensino de História da Educação. Entende-
mos que o trabalho com tal instrumento pressupõe a compreensão de que a imagem não ilustra nem reproduz a
realidade, ela a reconstrói a partir de uma linguagem própria que é produzida num dado contexto histórico. Isso requer

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uma série de indagações que vão muito além do glamour visual, de forma que professores e alunos devem educar seu
olhar para a leitura das imagens cinematográficas. Nessa perspectiva, introduzimos a projeção de filmes (épicos,
ficção histórica e mito-ficção) na disciplina de História da Educação I, partindo da interpretação dos mesmos para o
estudo teórico de determinados processos educacionais relevantes. Esse trabalho foi realizado nos últimos 3 anos,
envolvendo 150 alunos do curso de Pedagogia da UFT, constatamos que cerca de 80% deles não tinham o hábito de
freqüentar cinemas ou locadoras de video, assim, sua cultura visual calcava-se na programação comercial da televi-
são. Por isso, percebemos um certo estranhamento diante da linguagem presente no gênero dos filmes exibidos,
revelando-se a necessidade premente de se ampliar a visão desses estudantes para que possam entender o cinema
como recurso didático e não apenas como entretenimento.

Johny Guimarães da Silva - Uneb


O Historiador, cineasta diante do processo da transposição histórica da memória para o cinema
Proponho discutir através do documentário Chuvas de Março, de Johny Guimarães e Volney Menezes e da película
Narradores de Javé, de Eliane Café, como o historiador, o cineasta lidam com a memória e a transpõe para uma obra
fílmica. Em relação a Chuvas de Março, trata-se de um video-documentário produzido em Feira de Santana, Bahia,
pautado em depoimentos de militantes de esquerda e de pessoas que deram apoio ao golpe de 1964. Diferenciando-se
dos filmes que abordam a temática tendo como referência os grandes centros políticos, a exemplo, de São Paulo, do
Rio de Janeiro, etc, o filme discute o golpe militar através do olhar de uma cidade do interior. Já o filme, Narradores de
Javé, trabalha a memória a partir de uma cidade fictícia, que esta sendo ameaçada pela construção de uma barragem.
E a memória das pessoas simples que vão aflorando no transcorrer da obra corrobora no sentido que a memória é
construída a parir da experíência de cada indivíduo. Não podemos, pois, perder de vista que o lugar da memória não é r;-:j'
algo dado como acabado, mas um lugar de diálogo marcado, sobretudo, por tensão e transformação. Espaço onde se \..!...V
constrói/reconstrói a todo instante o passado e os silêncios são prenhos de sentidos.

Iza Luciene Mendes Regis - UECE


O cinema ensina: o poder da sessão da tarde
Há um filme que não canso de tecer comentários e indicar aos amigos: Dogville, de Lars von Trier; quadro rico e 1í5
profundo da sociedade ocidental. Contudo, quando converso com meus alunos sobre cinema vejo que, em geral, os ~
filmes assistidos por eles não são os que trazem reflexões sobre intolerância ou conceitos como cidadania, liberdade, :g
ética, civilização; conceitos com os quais lidamos cotidianamente, ainda que não os reflitamos sistematicamente. A .~
grande maioria dos filmes assistidos por esse público jovem, que vai dos 15 aos 18 anos, é do tipo Rambo (e compa- w
nhia), pratos fartos servidos na sessâo da tarde. São filmes que, se não fazem maior reflexão sobre valores experien- :
ciados no dia-a..<Jia, trazem discursos persuasivos em favor da indústria e do modelo de sociedade que o produz. Isto '§
é, há um consumo diário, através do cinema norte-americano, dos heróis, do modelo político, do estilo de vida que os .s
E.U.A. pensam como o correto, o adequado e o legitimamente destinado para a humanidade, o que dificulta, em certa ·ê
medida, nossa labuta de professor a favor do respeito à alteridade dos povos. Com isso, nossa proposta para este t;
simpósio concentra-se na análise de algumas das "obras-primas' do estilo estadunidense de lidar com o outro, de ser ~
e fazer história através de seu cinema. E
w
c::
U
José O' Assunção Barros - USS
História, Cinema, Montagem· a linguagem e imaginação cinematográfica na Historiografia, antes da Era do
Cinema
Cinema e História constituem duas linguagens e dois modos de imaginação que se interpenetram, informam-se reci-
procamente, se inscrevem um no outro. Por isso mesmo, poucas expressões na Teoria da História foram tão felizes em
dar conta de uma relação tão complexa como o conceito de 'Cinema-História'. Postula-se aqui que o Cinema não só se
inscreve na História como qualquer outro fenômeno, mas que a arte fílmica contém algo da linguagem e da imaginação
historiográfica, dos seus modos de se construir como texto múltiplo, desdobrado sobre si mesmo, capaz de manipular
criativamente tempo e espaço. Concomitantemente, a História enquanto modo de conhecimento e discurso produzido
pelos historiadores sempre conteve em si mesma possibilidades cinematográficas, seja ao nível de sua Escrita ou no
âmbito da 'Imaginação Historiográfica' - e isto mesmo muito antes do surgimento do Cinema enquanto arte contempo-
rânea. Sustentaremos que, em todas as épocas, historiadores souberam se valer de recursos comparáveis à monta-
gem cinematográfica e outros, a começar pelo fato de que seu texto é já de si um discurso que se desdobra sobre si
mesmo, contrapondo a narrativa e análise do historiador ao discurso das fontes, o que nos faz pensar na arte da
Montagem, tal como a entenderia o cineasta Eisenstein.

Nancy Alessio Magalhães· UnB


Cinema e História: memória e vestígios em fazeres narrativos
Tenho abordado em sala de aula o filme Narradores de Javé, de Eliane Café, atraente convocação para encararmos
aspectos da História nem sempre tratados no ensino formal. Nesta experiência, dialogo com interpretações nesse

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filme, como idéias em estado nascente, que nos incitam a pensar sobre o que é mesmo História e não apenas em
personagens e temas já assim cristalizados, O fazer fílmico e o da História dirigem-se a nosso desejo, poder de decifrar
legados, presenças que são ausências, enigmas de nossa condição humana, o que não acontece sem riscos, Num
cotejo com a historiográfica, a narrativa fílmica consiste na faculdade de estabelecer relações, é uma construção de
pensamento, não simples soma dos elementos empregados, de modelos já formados ou adquiridos, segundo Mer-
leau-Ponty: algo se põe a significar, pelo arranjo temporal ou espacial de vestígios, da memória, sejam palavras ou
imagens visuais, Cineastas e historiadores têm de fazer recortes, não superados mesmo que eles sejam testemunhas
oculares de alguma experiência passada, que abordam no presente, Ressalto que o cinema pode se tornar um campo
inesgotável de possibilidades, de invenção de meios para que possamos pensar em outras vias da pesquisa e do
ensino da História, na construção de um espaço de reflexão critico,

Fátima Maria Neves - UEM


O filme "Desmundo", a História e a Educação
O objetivo desta comunicação é a de tecer relações entre Cinema, História do Brasil e a Educação Jesuítica, O recorte
temático para a análise é o da diversidade cultural e o da pluralidade lingüística, do Brasil, do inicio do século XVI. As
Fontes utilizadas foram textos jesuíticos, como Cartas e outros fragmentos, e o filme DESMUNDO (2003), dirigido por
Alain Fresnot. Considera-se, em termos de resultados, que apesar da artificialidade cênica, DESMUNDO permite
reflexões que tendem a promover a superaração de um deslumbramento ingênuo que permeia boa parte do imaginário
contemporâneo à cerca deste periodo histórico. Permite que a dificil fórmula - reflexão e o entretenimento - seja
equacionada e produza resultados significativos para o desenvolvimento da percepção humana.

12. Cultura e Cidade: experiências, memórias, e identidades


Claudia Musa Fay (PUCRS) e Maria Izilda Santos de Matos (PUC·SP)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h ás 18h) I
Maria Izilda Santos de Matos - PUC·SP
Santos: a cidade e o porto, entradas e saídas
Essa apresentação discutirá questões que envolvem as cidades portos, observando as referências do porto como
território de troca - porta de entrada e de saida-, Tendo como foco a cidade de Santos busca recuperar o cotidiano no
porto, resgatar várias experiências urbanas e suas perspectivas sensoriais, memórias e sensibilidades; passando
pelas ações, projetos e interferências urbanas implementadas na cidade-porto, finalizando com um questionamento
sobre a construção da memória urbana de Santos,

Claudia Musa Fay· PUCRS


Aeroporto de Congonhas: lugar de história e memória da cidade de São Paulo
Construido num descampado na década de 1930 e considerado como um espaço de lazer domingueiro nos anos
seguintes, é na atualidade, visto como caótico, embora símbolo do vaivém da capital paulista pela facilidade de estar
distante apenas oito quilômetros do centro, A industrialização, o incremento da economia e o crescimento urbano
transformaram o moderno aeroporto da década de 1950, num verdadeiro porta-aviões em meio ao concreto, Esta
situação causa problemas e descontentamento na vizinhança, tanto pelos engarrafamentos quanto pelo ruido dos
jatos e os riscos de acidentes, A presente comunicação fruto de uma pesquisa em andamento tem como objetivo
demonstrar a importância das transformações da estrutura urbana nas diversas temporalidades e, o valor simbólico do
Aeroporto de Congonhas como patrimônio afetivo e cultural da cidade de São Paulo,

Maria Apparecida Franco Pereira - Universidade Católica de Santos


Santos na Primeira República: as conseqüências sociais da modernização
De feições de acanhado núcleo colonial nos finais do século 19, a cidade de santos, acompanhando o ritmo das
grandes cidades brasileiras, modemiza-se, principalmente pelos frutos de sua inserção na economia capitalista inter-
nacional, da economia agro-exportadora do café, através de sua privilegiada posição marítima, que liga a região de
produção, o hinterland , ao mercado externo, Dentro do trinômio da modernização - higienização, urbanização, racio-
nalização - a cidade estende seus limites em direção á barra ( praias), à medida que se amplia a construção do porto,
o aumento vertiginoso da população, principalmente ocasionado pela imigração e por toda uma estrutura que vem
suprir as necessidades do comércio do café e da modernização (saneamento, serviços urbanos, transporte, ilumina-

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ção etc.). abrem-se duas grandes avenidas em direção á praia, que vão abrigar a elite da cidade e nas suas transver-
sais localizam-se os bairros de classe média e operários. elite e operários não estão isolados, geograficamente. novas
construções desenham uma nova paisagem, assim como novos hábitos, novos espaços de solidariedade ( clubes) e
novas oportunidades de acesso ao mundo civilizado ( escolas) para a elite e os trabalhadores.

Glaura Teixeira Nogueira Lima - PUC-SP


Identidades que seduzem, memórias que se constróem: a estação de águas de Araxá (anos 1930-1940)
A pluralidade das práticas sócio-culturais e as formas de representação - material e imaterial- nos espaços da cidade
modelam experiências pessoais e coletivas. Expressam maneiras de produzir, circular, apropriar, olhar e sentir as
várias faces da vida urbana. Nos anos 1930 e 1940, a estação hidrotermal de Araxá, em Minas Gerais, buscou suas
identidades para monumentalizar seus territórios, bem como, instituir seus tempos de curar, de embelezar e de divertir.
As múltiplas práticas e linguagens fizeram da estação de águas um lugar de memória. Simultaneamente concederam-
lhe outros espaços específicos constitutivos da memória do lugar.

Luiz Antonio Gloger Maroneze - FEEVALE


A Porto Alegre de Theodomiro Tostes: crônicas de uma antiga cidade moderna
O tema para esta apresentação é parte das reflexões sobre as representações e o sentido da modernidade no proces-
so histórico da cidade de Porto Alegre, desenvolvidas para o doutoramento na PUCRS. Nesta, objetiva-se, através da
comparação entre dois momentos especificos, descrever e interpretar as formas de representação do moderno na
cidade; do ufanismo ao caos através da cotidianidade criada pelos cronistas. Nos limites da comunicação que preten-
demos expor neste simpósio, serão apresentadas análises sobre a obra de memórias de Theodomiro Tostes intitulada
de "Nosso Bairro" e a obra de crõnicas relativas aos anos 1920 e 1930 reunidas na coletânea 'Bazar". O propósito é o
de partir de uma análise de conteúdo, que apresenta os principais temas sublinhados pelo autor, no intuito de inferir
sobre as representações e as idéias que compunham o cenário da época. Considerando que o atual contexto aponta
para uma crise do projeto moderno, como nos sugerem Morin e Bauman, entre outros pensadores, entende-se que a
análise daquele imaginário e de suas idéias se apresentem como uma necessidade para a relativização e o questiona-
mentos do atual "discurso social".

Tânia Soares da Silva - PUC/SP


Elite Paulista: Ciência, tecnologia e desenvolvimento
O propósito central desse trabalho é a análise do pensamento das elites paulistas, naquilo que se construiu como
distinção das demais elites do país: seu caráter liberal, empreendedor, moderno, ou seja, naquilo que pressuposta-
mente justificaria sua posição preferencial na liderança dos destinos do país frente aos demais grupos, usando como
fio condutor a família, a vida e a obra do engenheiro Antonio Francisco de Paula Souza (1843-1917), fundador da
Escola Politécnica de São Paulo. A análise do seu pensamento pode ser profícuo no entendimento do comportamento
das classes privilegiadas no país, seu projeto político e o papel que outorgam a si mesmos como os condutores da vida
dos demais em todos os sentidos possíveis. Assim tentaremos enfocar a atuação do engenheiro Antonio Francisco de
Paula Souza, revelando sua trajetória paralela á da sociedade da época, quando se vivenciava uma expectativa de
mudanças, tentando mostrar que essas mudanças, não implicavam uma total subversão da estrutura social de então.

Luiz Carlos Vidigal -P U C - S P @ 2


O prédio Martinelli e a verticalização de São Paulo - modernidade e verticalização de São Paulo (1910-1930)-
sensibilidades e sociabilidades, sensações e percepções
O processo de modernização da cidade de SP e, entre outros aspectos, seu crescimento vertical, exerceu fortes
influências sobre o comportamento dos indivíduos da sociedade paulistana do início do século XX: um novo ritmo se
impôs e mudou sua relação com o tempo e com o outro; alterou sua linguagem,seu modo de andar, seu visual, seus .~
gostos, suas sensibilidades, socialibilidades, sensações e percepções; aguçou sua sexualidade pelo aumento do -o
contato e proximidade entre as pessoas; mudou seus valores e criou novas necessidades. Rastreando a construção ~
(tendo em vista que o intenso processo de urbanização era marcado pelas constantes demolições e construções e :_
recuperando os debates em torno do prédio Martinelli, bem como as representações lá presentes, procurar-se-á iden- .~
tificar os seguintes aspectos: Martinelli-questão, envolvendo as tensões, as indagações e os diversos pontos de vista; .:i5
Martinelli-memória, buscando resgatar as representações e as vivências, identificar quem são os sujeitos que estão .~
contidos na memória desse período, na memória do próprio construtor Martinelli e nos textos jornalisticos; Martinelli- ~
documento, procurando fazer uma leitura do prédio e seu entorno, na intenção de entender o espaço público e o ~
privado e as inter-relações entre eles .g;
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97
Etelvina Maria de Castro Trindade - Universidade Tuiuti do Paraná
Cidade, um corpo em construção: projeto e controle
O estudo em questão teve por objetivo analisar a cidade como um corpo em constante construção e reformulação, a
partir de sinais remanescentes nos espaços edificados e nos materiais gráficos produzidos em Curitiba, na primeira
metade do século XX. Para tanto, o espaço urbano foi examinado numa realidade fisica e histórica, ligada as experiên-
cias espaciais e temporais percebidas e representadas por elementos que conservam as memórias de suas experiên-
cias. No caso da comunicação proposta, a análise foi conduzida sob o recorte que privilegia a preocupação com
saúde, doença e forma fisica, tendo como base a edificação de hospitais, centros de saúde e clínicas, além da divulga-
ção de propagandas e publicações especializadas

I 17/07 - Terça-feira - Tarde (14h ás 18h) I


Jurema Mascarenhas Paes - PUC-SP
São Paulo em noite de festa, trabalho e baião
A análise das manifestações, experiências e relações culturais dos migrantes nordestinos e de suas traduções através
da música, da dança e dos espaços de sociabilidade como casas de forró, feiras típicas, centros de cultura e tradições
na cidade de São Paulo, é o ponto central deste trabalho. Trata-se de um trabalho de história cultural e representação
da história da cidade e do cotidiano, permeando os modos de ser, de expressar e de viver, as diversas maneiras de
organização e de luta, concentrando atenções em experiências sociais compartilhadas e confrontadas, analisando
simbolos, imagens, mentalidades, práticas culturais como lugares de exercício de poder, dominação, resistência, luta,
negociação e conflitos estéticos, sociais. Trabalhando na intersecção dos acontecimentos: migração, campo e cidade,
cultura popular e indústria cultural, história e música, historia oral, fotografia e memória, cotidiano e cultura para melhor
compreender as imbricações dos amálgamas mestiços da cultura nordestina na cidade de São Paulo.

Marlise Sanchotene de Aguiar - PUCRS


O palimpsesto na arquitetura e no urbanismo pelotense
Este é um estudo sobre a reapropriação (econõmica e urbana) e a resignificação do espaço das antigas charqueadas
pelas indústrias, bem como a sua integração com a malha urbana da cidade de Pelotas. Pretende-se resgatar o lugar
- de valor simbólico e significado - e descobrir de que maneira o imaginário se expressou nos novos espaços que
surgiram. Os exemplares de patrimônio edificado (o Engenho Pedro Osório e o Frigorífico Anglo) foram selecionados
pela importância dentro do contexto em que hoje se encontram. São duas charqueadas que tomaram dois destinos
diferentes, dentro de um mesmo objetivo: a industrialização. Pretende-se identificar os produtores do espaço e as
representações que classificaram a realidade e atribuíram valores, levando os pelotenses a ver e qualificar as coisas
desta ou daquela maneira; e demonstrar a contradição entre os dois sistemas econômicos nas suas formas de produ-
ção do espaço. O projeto arquitetônico é um processo que se exprime, em idéias e imagens, a cidade de desejo, dentro
de um momento histórico específico. Eis uma tarefa engenhosa e difícil, compor o antigo com o novo, expondo ao olhar
dos habitantes o até então soterrado.

Marilecia Oliveira Santos - UNEB


"Ilha de ordem": Representações da Vila Operária da Boa Viagem
Nas últimas décadas do século XIX e primeiras do Século XX, as vilas operárias, comportando experiências distintas,
multiplicaram-se em várias partes do Brasil e alimentaram as expectativas de segmentos da elite sobre a ordem
urbana e o controle social. Esta comunicação visa analisar alguns depoimentos deixados por individuos que visitaram
a Vila Operária da Boa Viagem, idealizada pelo industrial Luiz Tarquinio e fundada na cidade de Salvador no ano de
1893. Percebe-se nesses registros a crença no meio como formador e/ou regenerador moral do pobre, justificando
intervenções sanitárias e morais que extrapolaram o espaço de produção da Fábrica.

Rosana Maria Pires Barbato Schwartz - Universidade Presbiteriana Mackenzie


A cidade e seus movimentos: a questão da moradia
Esta pesquisa questiona a trajetória das mulheres nos movimentos sociais de luta por moradia na cidade de São
Paulo, suas articulações diante das carências habitacionais, práticas cotidianas e correlações de forças no panorama
das decisões políticas. Destacando o processo de transformação da sociedade brasileira, por meio das ações partici-
pativas organizadas desses sujeitos históricos. Abordando a precariedade dos cortiços, favelas ou casas autoconstru-
idas, a desconcentração das moradias dos populares do centro da cidade e o padrão periférico de ocupação do solo
urbano, as formas de envolvimentos dos populares com relação aos problemas do déficit habitacional e a necessidade
da obtenção da 'casa" como passaporte para o reconhecimento de sucesso, segurança, valores morais e estabilidade.
As bases de formação das organizações que se formaram em alguns bairros, por melhores condições de vida, a
criação do movimento do sem teto, as interferências da Igreja católica e de alguns partidos políticos.

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Sueli de Araújo Montesano - Faculdade Campo Limpo Paulista e Sergio Araújo - Universidade Católica de
Goiás
O Poder Sutil da Gestão Paternalista
Essa comunicação refletirá a gestão paternalista de uma grande empresa sobre uma cidade, no interior de São Paulo,
nos anos 40 á 70. Adominação sutil, foi engendrada num contexto de expansão, tendo em vista a proporcionar privilé-
gios aos trabalhadores, para garantir a fixação da mão de obra no local, sua estabilidade e produtividade no interior da
organização. Era bem vista por eles e pela população que entendiam esta interferência benéfica para o crescimento da
cidade junto à empresa. Na fábrica, as relações de trabalho eram do tipo familiar, o industrial era visto como 'pai" e os
trabalhadores se sentiam protegidos, orgulhosos de pertencer à 'uma grande familia". Essa estratégia de
administração,contou com a adesão e aceitação por parte da força de trabalho, da população, mascarava os confron-
tos e antagonismos tanto dentro da empresa como na cidade, passava a idéia de harmonia entre eles. As atitudes
paternalistas geraram sentimentos de gratidão, porém não impediram contestações da população local, que reagiu a
essa dominação de diversas formas, ora silenciosas, informal,ora mais explícitas. Pelas concessões e repressões
construiu, geriu, disciplinou, por muitos anos seus trabalhadores fora da empresa e a população da cidade.

Dorval do Nascimento - UNESC


Uma Cidade Multi-étnica na Região Carbonífera de Santa Catarina (Criciúma, 1960-1980)
As cidades da região carbonifera de Santa Catarina se formaram a partir de um duplo registro, aquele da imigração que
forneceu o núcleo inicial de povoamento e o da indústria de extração de carvão mineral que moldou por longos anos as
suas identidades urbanas e conformou uma cidade que podemos chamar de carbonífera. No cruzamento desses dois
registros forjaram-se lutas de representações que implicaram num redimensionamento das identidades urbanas das
cidades em questão, em especial no pós-guerra. Tomando Criciúma, a cidade pólo da região, como campo de obser-
vação e as comemorações do Centenário de colonização italiana da cidade como ponto de partida, se analisará os
processos de mudança identitária da cidade, observando-se as novas representações que se estabelecem no imagi-
nário urbano, os interesses sociais envolvidos e os meios encontrados para operar a transformação identitária da urbe.

Esmeralda Rizzo, Ines Minardi, Nara Martins, Aurilu Torrente Lopes - Universidade Presbiteriana Mackenzie
Histórias e experiencias cotidianas das quebradeiras de coco de babaçu nas cidades do Médio Mearin
Este estudo questiona as interferências das mulheres quebradeiras de coco maranhenses nas cidades, do Lago do
Junco, Rodrigues e Esperantinópolis, região do Médio Mearim. Destaca as experiencias cotidjanas no agroextrativis-
mo, a valorização do meio ambiente e do ser humano por meio das ações da Associação em Areas de Assentamento
do Estado do Maranhão (ASSEMA), nas escolas dessas cidades. A participação ativa dessas mulheres foi fruto de
anos de luta por condições melhores de vida e de trabalho e de um longo processo de emancipação política que
interferiram nas cidades locais transformando saberes e conhecimentos na região.

Marlise M. Giovanaz - UFRGS


Pedras e Emoções: os percursos do patrimônio
As modificações que ocorrem no espaço onde habitamos afetam diretamente nossos trajetos ~iários e lugares referen-
ciais. No contexto em que vivemos, onde os espaços são duramente disputados pelo mercado imobiliário, o problema
da preservação do dito patrimônio histórico e cultural, apresentado de forma material ou imaterial, está na ordem do
dia. Neste texto me proponho a levantar alguns elementos para discussão a partir do problema da preservação patri-
@
1
monial na cidade de Porto Alegre. O objetivo do trabalho procura estabelecer um conceito de memória e de história que
transcenda os tradicionais conceitos de patrimônio e principalmente, que sejam incluidos nestes discursos as experi-
ências dos grupos sociais marginalizados pela antiquada concepção de patrimônio fundamentada em imóveis herda-
dos do periodo colonial e representativos de uma minoria social elitizada. ",-
co
Sênia Regina Bastos - Universidade Anhembi Morumbi ~~
A cidade dos saberes: o patrimônio histórico cultural de São Paulo E
A cidade de São Paulo abriga importante patrimônio histórico cultural. Dominio de saberes especializados, poucos são ",-
os moradores comuns consultados no sentido de identificar bens culturais significativos, que compõem as muitas .i:l
identidades de sua cidade e que, portanto, dignos do tombamento ou inscrição no livro de Registro de Saberes dos ~ê
nossos órgãos de preservação. Esse patrimônio caracteriza-se, sobretudo, por edificações que foram preservadas no ~
sentido de legar ao futuro determinadas modalidades arquitetônicas ou marcos históricos, independentemente de sua ;;:;
importância social. A diversidade cultural da cidade materializa-se na constituiçâo de áreas de forte concentração ~
étnica, como é o caso dos bairros dos imigrantes orientais, judaicos, italianos e árabes, que gradativamente vão sendo .gJ
influenciados por nordestinos, mineiros, nortistas e, recentemente, coreanos e bolivianos, alterando sua tessitura soci- ~
ai e arquitetônica. Essa pesquisa tem por objetivo, num primeiro momento, evidenciar essa cidade valorizada como
patrimônio histórico cultural e, num segundo momento, identificar outras identidades/cidades.

99
Claudia Helena Nunes Henriques - Universidade do Algarve e Maria Cristina Moreira - Universidade do Minho
O monumento escultórico em espaço urbano como identidade cultural luso-brasileira
Uma cidade, como realidade em mutação através dos tempos, constrói a sua identidade não só através do estabeleci-
mento de conexões entre as suas dinâmicas internas, mas também através das dinâmicas que estabelece historica-
mente com outras cidades, As cidades do Brasil e de Portugal, pela história que partilham, possuem uma inequívoca
identidade comum - a identidade cultural luso-brasileira - que cabe reforçar, interpretar e divulgar. No pós-fordismo, as
cidades na tentativa de se especializarem turisticamente, enfatizam amiúde os seus recursos patrimoniais e culturais
com a intenção de aumentar o seu perfil competitivo, Neste contexto, a presente comunicação pretende reflectir sobre
os desafios que a estruturação de uma rota turístico-cultural transatlântica - entre cidades brasileiras e portuguesas -
pode ter no desenvolvimento de experiências turísticas potenciadoras de uma aprendizagem de relacionamento entre
povos de países diferentes mas com culturas comuns, A rota apoia-se em três monumentos escultóricos em espaço
publico, nomeadamente D, João VI, no Río de Janeiro (Brasil) e no Porto (Portugal) e D, Pedro I em S, Paulo (Brasil),

I 18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h) I


Maria de Nazaré dos Santos Sarges - UFPA
Os "galegos" e as touradas: Belém no final do século XIX e início do XX
O artigo objetiva discutir as práticas culturaís dos 'galegos' numa cidade que inspirada no modelo haussmaniano
procurou dar nova feição ao seu espaço urbano, Ser "galego' na cidade de Belém coloca tanto os espanhóis da Galícia
como os portugueses, na mesma condição, sobretudo porque tinham em comum a prática das touradas, o que nos
leva a pensar que não seria apenas um divertimento, mas uma busca constante contra a perda de referenciais, de
afirmação da identidade, ou ainda, uma tentativa de minimizar a saudade da terra, É nesse contexto de uma cidade
amazônica que se moderniza no final do século XIX, que a presença de imigrantes espanhóis e portugueses com suas
práticas culturais expõe as múltiplas facetas de uma urbe que vai conviver com touradas, óperas e maxixes,

Roseli Boschilia - UFPR


Os territórios da cidade e a imigração portuguesa em Curitiba (séculos XIX e XX)
Os imigrantes portugueses que chegaram ao Brasil no contexto imigratório do século XIX, se preocuparam em manter
sua identidade cultural, criando associações, clubes e sociedades de assistência, do mesmo modo que os demais
grupos europeus, A criação de entidades como o Real Gabinete Português de Literatura (1837) e a Beneficência
Portuguesa (1840) exemplificam o esforço empreendido pelo grupo, com o intuito de demarcar um território, estreitan-
do os laços que uniam os portugueses ausentes de sua pátria,
Essa prática, como se sabe, estendeu-se por várias cídades brasileiras onde os lusitanos ganharam visíbílidade pelo
seu caráter marcadamente urbano, com forte vocação para as atividades ligadas ao comércio, É emblemático, no
entanto, que uma cidade como Curitiba - onde o percentual de imigrantes portugueses era ínfimo, se comparado com
outros grandes centros como Rio de Janeiro e São Paulo - tenha merecido, já em 1878, a criação de uma Sociedade
Portuguesa, É justamente a partir dessa problematização que estamos encaminhando o referido projeto, que tem
como baliza temporal o ano da fundação da Sociedade e se estende até 1930, quando os rumos tomados pelo governo
Vargas em relação à política imigratória deram um novo direcionamento ao fluxo de imigrantes portugueses ao Brasil.

Iris Verena Santos de Oliveira - UFCE


Astúcias do povo-de-santo pelas ruas de Salvador
Esta pesquisa trata das diversas maneiras encontradas pelos adeptos do candomblé para constituir o espaço urbano,
impregnando-o tacitamente de suas formas de viver e ver o mundo, Suponho que pais, mães e filhos-de-santo pratica-
vam a cidade de Salvador de maneira singular durante as primeiras décadas do século XX, sacralizando regiões tidas
como profanas pelos soteropolitanos que não freqüentavam os terreiros, Através da pesquisa em processos criminais,
texto de fOlcloristas, e principalmente, em jornais, da primeira metade do século XX, foi possivel verificar que as
disputas pela cidade ocorreram em um momento que a composição urbana adquiria significados especiais para as
autoridades soteropolitanas que acreditavam que a normatização de Salvador poderia contribuir para re-estabelecer a
importância da capital baiana no cenário nacional, através de seu progresso e modernização. Ainda assim, as práticas
religiosas de matriz africana ficaram marcadas na toponímia da cidade, mesmo que em alguns casos não fosse ofici-
almente reconhecida. O que reitera as formas peculiares através das quais o povo-de-santo leu e praticou as ruas,
becos, ladeiras e encruzilhadas de Salvador.

Adriana Berretla
Quando a "cobra-preta" (BR-101) "passou no fundo do meu quintal
Esta pesquisa enfoca as transformações decorrentes da construção da BR-101, na cidade de Itapema (Se), entre
1950-1970, que ao se deparar com as obras da rodovia, passam a ver ressignificados seus ritos, símbolos, tradições e

100
manifestações culturais até então vivenciadas em seu cotidiano. Com a inserção da rodovia, a cidade se vê transfor-
mada e a exigência de uma nova sociabilidade passa a ser imperativa nos ritos citadinos. A transformação inferida a
estas populações modificou não somente o seu cotidiano, mas a maneira como deveriam pensar-se, enquanto cidade
moderna, inserida num contexto também moderno. Nessa transição vivenciada por Itapema e seus sujeitos históricos,
a memória ressignifica os impactos causadas pela modernidade e reconstroem a experiência vivenciada de uma outra
cidade que se configura.

Elis Regina Barbosa Angelo - Universidade de Santo Amaro e Dolores Martin Rodriguez Córner· PUC-SP
A Festa do Divino Espírito Santo na Vila Carrão em São Paulo na Contemporaneidade: Espaço, Identidade e
Memória dos Açorianos
A investigação sobre a festa religiosa, conhecida como a Festa do Divino Espirito Santo, será analisada como uma
atratividade relevante para a comunidade dê! Vila Carrão em São Paulo advinda dos costumes açorianos mantidos ao
longo dos tempos em meio às adversidades da contemporaneidade. Ao passo que busca a percepção do território no
qual se desenlaçam atividades culturais luso-brasileiras como um emaranhado de elementos e traços da cultura e da
história dos açorianos, também analisa a perspectiva do espaço enquanto elo entre o passado e o presente, favore-
cendo a visibilidade das identidades.

Eliana Ramos Ferreira - UFPA


Entre a Cabanagem e a belle époque: Belém uma cidade labiríntica (1840-1860)
A cidade paraoara da segunda metade do século XIX, era uma cidade em profunda mutação, uma vez que a economia
gumifera propiciou o ambiente para a efetivação do discurso modernizador. Assim, uma 'cidade do progresso' 'emer-
ge' com melhoramentos dos serviços de saneamento, higienização e urbanização. Belém deveria ser uma cidade sem
problemas urbanisticos. Há uma produção historiográfica regional significativa, porém, pouco esclarecedora sobre em
que base estava sendo erguida essa cidade 'civilizada', pois Belém da primeira metade do século XIX é uma cidade
insurreta. Palmilhar quais as marcas que estavam sendo apagadas - de uma cidade 'colonial' ou 'cabana', as marcas
plasmadas na cidade e o impacto da Cabanagem no espaço urbano de Belém, bem como as tensões e de que forma
foram vivenciadas por seus habitantes, são algumas das questões que se pretende refletir no presente trabalho.

Maria de Fátima Duarte Tavares


Pilar de Goiás: paisagem de memória e de esquecimento
Pilar de Goiás é uma cidade de fundação colonial (1741), cuja história está vinculada à mineração e à ocupação do
território de Goiás. A paisagem circundante, o conjunto do construído e as manifestações festivas locais marcam sua
identidade urbana contemporânea. Ojogo da memória e do esquecimento transcorre em seus dois séculos e meio de
exístência. No século XIX, Pilar despertou o interesse de ilustrados viajantes, que ressaltaram a possibilidade de seu
desaparecimento. Na atualidade, o olhar distanciado de alguns observadores vem sucessivamente anunciando a
morte desse lugar. A permanência de Pilar conduz á reflexão sobre a construção da memória coletiva e sua relação
com práticas sociais e sistemas de valores locais. Por outro lado, a história da cidade demonstra que seu isolamento é
relativo, pois sua população não está isenta dos impactos das transformações regionais. Este trabalho pretende discu-
tir a construção da memória coletiva local em paralelo a um continuo e reiterado processo de esquecimento, conduzido
por agentes públicos ou privados, sejam estes vinculados a projetos de modernização ou a políticas de preservação ~
cultural. ®
Manuela Arruda dos Santos - UFRPE
No tempo dos tigres: o indesejável transporte de dejetos no Recife oitocententista
'Carniças, bichos mortos, imundícies eram abandonadas perto das pontes ou nas praias, [onde bando] de urubus
realizavam o trabalho de limpadores das ruas', é com esse relato que Gilberto Freyre descreve a paisagem cotidiana ~
das principais cidades brasileiras em meados do século XIX Afalta de salubridade das urbes também foi observada por ~§
vários cronistas e viajantes que estiveram no Brasil, durante o periodo tratado. Uma realidade que contrastava com o ~
ideário vindo da Europa que, propagava a cidade como o 'Iocus 'de modernidade, civilidade e higiene. O Recife sofria E
nesse período. com sérios problemas oriundos do lIínchaço" populacional, causado dentre outros fatores pelo êxodo .~
rural e pela abertura dos portos a partir de 1808. O déficit habitacional na parte central obrigou o crescimento vertical .~
da urbe, sob a forma dos sobrados. O abastecimento de água feito de forma manual era insuficiente e, os dejetos e .~
'águas servidas' produzidas no interior das moradias tinham que ser removidos manualmente devido á inexistência de ~
um sistema de esgotamento. Para esse trabalho deletério, não faltam escravos a carregar os barris de excrementos ~
até os locais de depósito, exalando nas ruas o infecto odor, causando um mal estar generalizado e cotidianamente ~
denunciado nos jornais da cidade. ~

101
19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h às 16h30min)

Eduardo de Souza Soares - PUCRS


Um Modesto Rabiscador de Notas Cinematográficas: Paulo Fontoura Gastai e a Construção de Espaços Cultu-
rais na Década de 1940 em Porto Alegre
Com nossa comunicação, pretendemos discutir a atuação de um importante personagem da vida política e cultural de
Porto Alegre: P. F. Gastai, profundo conhecedor e estudioso da sétima arte, dizia ser um "modesto rabiscador de notas
cinematográficas". Em sua atividade intelectual, deixou registrada a angústia quanto aos rumos da cultura local frente
ao avanço da influência norte-americana. Responsável maior pela fundação do Clube de Cinema em 1948, aproveitou
bem o prestígio adquirido ao promover diversificados eventos, encontros em que os grandes nomes da arte gaúcha em
suas diferentes expressões sempre estiveram presentes, Em plena Guerra Fria, em uma sociedade marcada pelo "way
of life', a voz dissonante de Paulo Fontoura Gastai nos leva a refletir sobre as experiências e memórias desta cidade,

Antonio Clarindo Barbosa de Souza - UFCG


O mundo que se ouve e o mundo que se imagina: Memórias do rádio em Campina Grande (1930-1970)
O presente trabalho pretende abordar a experiência radiofônica na cidade de Campina Grande-Pb, a partir da implan-
tação das primeiras difusoras até a implantação do sistema de rádio Im, Acreditamos que o rádio foi de extrema
importância para a constituição de sociabilidades e sensibilidades dos ouvintes campinenses, entre as décadas de
1930 e 1970, influenciando desde as suas decisões políticas até às formas comportamentais no que diz respeito às
roupas, aos gestos, aos gostos musicais e, principalmente, na constituição de um imaginário sobre o mundo que lhes
era transmitido via ondas sonoras.
A importância do resgate da história do rádio em diferentes partes do país é fundamental para entendermos o processo
de difusão de valores culturais, estéticos e políticos nos anos aqui estudados.

Luis Antonio Coelho Feria - PUC-SP


A utopia da cidade-máquina no cinema do entre-guerras
A utopia da estabilização social encontrou na metáfora da cidade-máquina uma formidável expressão. A sincronização
entre corpos humanos, instituições do Estado, máquinas e mercadorias que a metrópole industrial foi historicamente
capaz de lograr e o desenvolvimento de diversas estratégias de controle social que a acompanhou forneceram a base
objetiva para o aparecimento e a circulação daquela metáfora utópica, Já a persistência da dissonância e do caos que
igualmente caracterizaram o mundo urbano lhe conferiu urgência e lhe deu sentido. O presente estudo pretende
identificar no cinema do período do entre-guerras a presença dessa utopia maquínica, além de procurar reconhecer os
principais mecanismos utilizados para a sua tradução para a linguagem fílmica.

Nilsangela Cardoso Lima - UFPI


Invisíveis asas das ondas ZYQ-3: Sociabilidades, Cultura e Cotidiano na Teresina dos anos 1950-1960
Existe uma discussão veemente sobre a influência dos meios de comunicação de massa na sociedade, sobretudo, no
que se refere ás mudanças que este veiculo provocou não só em termos de tecnologia como também na alteração nos
costumes ao oferecer uma 'cultura de consumo'. Este trabalho faz um estudo sobre a Rádio Difusora de Teresina de
1948 a 1960, através do emprego do método/técnica da História Oral, sendo analisadas algumas mudanças que a
emissora promoveu na cidade, a partir do momento em que alguns programas ganharam atenção especial da socieda-
de, tais como: as radionovelas, programas de auditórios, radiojornalismo e programas esportivos, Dada a importância
dos programas, a atuação dos locutores e os artistas do rádio começaram a propor novos estilos de vida e formas de
sociabilidades, provocando mudanças comportamentais femininas e masculinas, que passa a ser vista pela igreja
católica com uma 'radiodite'. Embora tivesse esse propósito de entretenimento e informativo, a emissora também
assume um determinado comportamento político e partidário que provocava ruídos entre as agremiações políticas do
Piauí. Integrando ao cotidiano como mais uma opção de lazer, sorrateiramente, a RDT remodelava a cultura, os hábi-
tos e sociabilidade na Teresina dos anos 1950/60.

I 20/07 - Sexta-feira - Manhã (1 Oh30min ás 12h30min)

Sylvia Costa Couceiro - Fundação Joaquim Nabuco


A sedução da noite nos cafés do Recife dos nos 1920: entre prazeres e transgressões
Até recentemente os historiadores concentravam-se no estudo da cidade em seus aspectos diurnos, priorizando a
'cidade do trabalho' em suas diversas faces, Vista, durante muito tempo, como perigosa e ameaçadora, só mais
recentemente a noite se torna objeto de trabalhos e pesquisas históricas, iniciando o interesse pela construção da
história da vida noturna da cidade. Este trabalho tem como objetivo abordar uma das múltiplas faces dessa misteriosa
e ao mesmo tempo sedutora cidade: a cidade dos cafés e bares, lendo como palco o Recife nos anos 1920, Territórios

102
do prazer, da diversão e da transgressão, dirigidos aos segmentos da elite ou aos grupos populares, os cafés possibi-
litavam, para além dos conflitos e disputas, encontros de grupos sociais diversos, abrindo canais que permitiam a troca
de informações entre mundos culturais diferentes, representando um dos espaços onde havia a chance de se estabe-
lecerem redes de comunicação que escapavam á lógica do discurso técnico e racional que buscava disciplinar e
normatizar o espaço da cidade.

Dalila Muller - UFPel


Pelotas se diverte: os espaços de sociabilidade na metade do século XIX
Pelotas atingiu a condição de cidade em 1835, mas, com a Revolução Farroupilha sua população diminuiu em quase
a metade, em conseqüência os aspectos econômicos, políticos, sociais e culturais da cidade não se desenvolveram.
Com o declinio da Revolução, a cidade retomou seu desenvolvimento. A partir deste período começaram a se criar
novos locais de convivência social. As sociedades de baile, as apresentações no teatro, as festas religiosas, as ativida-
des recreativas na praça eram formas de sociabilidade que iam ocupando os espaços da cidade. A sociabilidade é
vista como um conjunto de formas de conviver com os pares, como um domínio intermediário entre a família e a
comunidade cívica obrigatória. A construção desses espaços de lazer indica novas formas de vida e estes espaços são
lugares privilegiados de observação da sociedade. Assim, busca-se mostrar nesta comunicação as primeiras formas
de sociabilidade dos pelotenses após a Revolução e de que forma representavam a sociedade da época.

Maria Beatriz Pinheiro Machado - UCS


A cultura de morar na serra gaúcha
Um olhar particularizado sobre a cidade permite apreender diferentes sinais sociais configuradores do sistema de
relações homem X espaço. Neste trabalho nosso olhar volta-se para a cultura de morar na serra gaúcha no contexto
histórico da modemidade. Propomos analisar os fatores intervenientes nas permanências e transformações do espaço
construído, partindo da tradicional casa do periodo da imigração italiana, para caracterizar o processo de incorporação
de elementos do novo paradigma de morar proposto pela arquitetura modernista.

Solange da Silva Portz - Uniamerica


Todas as Cores: estudo sobre a exposição fotográfica e a construção da identidade cultural da pós-moderni-
dade em Foz do Iguaçu
O trabalho procura realizar a leitura da exposição fotográfica permanente e itinerante, sob a temática 'Todas as Cores
do Mundo:, intitulada de "O Multiculturalismo de Foz do Iguaçu'. Exposição produzida e organizada pela fotógrafa
jornalista Aurea Cunha. As fotografias retratam mulheres de diferentes etnias que residem na cidade. O objetivo é
procurar analisar o processo formador da identidade cultural na pós-modernidade em Foz do Iguaçu, a partir do traba-
lho da fotógrafa.

I 20107 - Sexta-feira - Tarde (14h ás 18h)


Vanessa Spinosa - UFRN
Nos tempos em que a mulher é quem faz: afetividades e comportamentos 'modernos' na cidade (Belém, século XX)
O trabalho visa discutir a modem idade na cidade de Belém na década de 1930 a partir dos debates nos periódicos do
@
12
periodo. O recorte temático escolhido será o campo das afetividades e escolhas amorosas esboçadas em jornais e
revistas de época. A partir do trânsito pela cidade, das relações sócio-afetivas deflagradas no espaço urbano se
percebeu questões sobre trabalho, casamento e comportamentos femininos que repercutiam em debates sobre o que
era 'antigo' e 'moderno' nas estruturas cotidianas. Nesse sentido se tratará de relacionar as funções sociais desempe-
nhadas pela mulher, nessa vida 'modernizada' dos anos 30, partindo do olhar dos articulistas de época para entender .~­
as representações das atribuições femininas no meio sócio-urbano. -~
'"
Renato Coelho Barbosa de Luna Freire - UERJ :-
Em Busca Da Felicidade: Os Loteamentos como Construtores Do Imaginário Urbano - São Gonçalo, RJ .~
1950.. 1959 ~~
A busca pela felicidade motivou os homens, ao longo do tempo, a construirem variadas concepções de cidades idea- a:;
=
x
lizadas, seja no plano celeste, seja no plano terrestre. Omunicipio de São Gonçalo, na década de 1950, assistiu a uma
grande euforia urbana com a introdução de diversos loteamentos. Na esperança de alcançar a cidade perfeita através
'"
.gj
do Progresso, entendido como o estágio de realização plena, os políticos do município, tanto vereadores quanto .{g
prefeitos, no período compreendido entre 1950 e 1959, motivados pela questão urbana resultante da inserção dos ~
loteamentos, construíram cidades imaginárias vistas nos variados documentos necessários á prática política, expedi- co
dos pela Prefeitura e Câmara, bem como nas Atas de reuniões dos Vereadores e nas diversas reportagens do jornal §
"3
local O São Gonçalo. Alocada na história cultural do urbano, esta comunicação envereda pelas variadas representa- <....:>

103
ções do urbano de São Gonçalo /RJ, realizadas pelos políticos, refletindo menos nas construções materiais e mais nos
desejos de construção da cidade perfeita.

Erick Assis de Araújo - UECE


(In)justiças na/da Cidade
A cidade é uma fonte inesgotável de práticas sociais, onde estratégias e táticas são tramadas por instituições, órgãos
de comunicação e por individuos na esfera cotidiana. A experiência das classes populares durante o Estado Novo na
cidade de Fortaleza registrou inúmeras formas de relação desses habitantes com o Estado(polícia, judiciário), impor-
tando para isso uma série de conflitos que expressaram três formas de inserção polítíca e social dessas classes: a
adesão, a negociação e a resistência radicalizada. É inegável o papel desempenhado por jornais, com suas visões
esteriotipadas e policialescas do cotidiano dos empobrecidos da cidade, inquéritos policiais e processos judiciais com
suas formas nem sempre tão sutis de legitimar as falas, enfim, essa documentação, em parte, configura e expõe
algumas tensões sociais vivenciadas em torno de espaços de muito sofrimento, magia e solidariedade que são os
arrabaldes da cidade dessas diversas "Fortalezas'.

Francimar Ilha da Silva Petroli . UFSC


Construindo a cidade do futuro: a "modernidade" em Chapecó (1937·1945)
O que se propõe neste trabalho é efetuar uma análise cultural do urbano, em Chapecó, a partir do final dos anos de
1930, momento d~ consolidação do Estado Novo de Getulio Vargas. Romper com o passado. Transformar Chapecó na
cidade do futuro. E instigados por esse desejo de construir uma cidade moderna, civilizada, superando a então chama-
da 'Vila do sertão', que, a 'elite intelectual e política' chapecoense cria e faz usos de mecanismos para concretizar
seus objetivos. Discorrer acerca destes mecanismos, cruzando os discursos locais com os de Vargas e da intelectua-
lidade a ele ligada é um dos objetivos centrais desta pesquisa, para tentar decifrar os sentidos, os diferentes significa-
dos da noção de 'modernidade'. Perceber os contrastes entre o rural e o urbano é relevante, pois o passado, em
Chapecó, ainda estava 'vivo' no presente, ou seja, era difícil perceber as distâncias, os limites entre um e o outro, na
medida que estavam interligados, perpassando um pelo outro. Portanto, o problema colocado é o da modernidade,
sendo que através dos discursos e das imagens pretendo explorar com um olhar critico estas múltiplas linguagens da
cidade.

Rosana de Fátima Padilha de Sousa - UFPA


Reduto: História e memória de um bairro operário (1910·1930)
O Reduto é um bairro de Belém que surgiu no século XIX, mas, que somente na segunda metade do XX, com a
abertura de uma doca, foi efetivamente ocupado, tendo inicio um per iodo de intensa prosperidade comercial. Devido a
maioria das pessoas que ali moravam e circulavam ser de baixa renda, a Doca do Reduto ficou conhecida como 'o
mercado dos pobres, da gente dos bairros modestos'. A partir da primeira década do século XX, em decorrência de
obras que atendiam aos interesses do comércio internacional da borracha, como o aterramento da referida doca,
iniciou-se um movimento de declinio da atividade comercial naquele bairro. Com a queda da borracha houve uma certa
canalização de investimentos para a atividade industrial em Belém e, devido a sua localização, o Reduto passou a
abrigar as primeiras fábricas da cidade, e, deste modo, foi se constituindo em um bairro de periferia fabril, com uma
feição séria e de contido dinamismo. Reconstruir a história do bairro do Reduto a partir da memória de antigos morado-
res não significa apenas identificar as 'referências sociais' desses sujeitos históricos, mas, sobretudo, entender como
o bairro se configurou enquanto espaço de sociabilidade para aquelas pessoas que moravam, trabalhavam ou sim-
plesmente circulavam por ali.

13. Diferenças e desigualdades sociais


Eduardo Scheidt (USS I Universidade Gama Filho) e Marilene Rosa Nogueira da Silva (UERJ)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h às 18h) I
Silvio de Almeida Carvalho Filho - UERJ/UFRJ
A Vulnerabilidade Social nos Musseques Caluandas e nas Favelas Cariocas: uma análise comparativa
Cotejamos os processos de integração, vulnerabilidade e desvinculação sociais tal como são apresentados, sem
serem assim denominados, na bibliografia basilar sobre as favelas cariocas e os musseques luandenses. Ao estudar-
mos essas realidades, trazemos a tona um diálogo interdisciplinar com sociólogos, antropólogos ou outros especialis-
tas das ciências sociais, produtores de grande parte dessa literatura. A nossa comparação faz-se entre populações
possuidoras de um mesmo tipo de colonizador e uma língua oficial comum -a portuguesa -e que mantiveram, ao longo

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de suas histórias, vários intercâmbios entre si. Assim sendo, ás vezes, estamos comparando o comparável. Contudo, Q
apesar desses aspectos comuns, as duas cidades possuem estruturas sócio-econômicas, políticas e culturais muito
especificas, guardam composições populacionais extremamente diversificadas e se inserem em formações nacionais
®
em distintos estágios de consolidação. Ou seja, os musseques caluandas e as favelas cariocas possuem idiossincrasias
incomparáveis, portanto, nos possibilitam comparar o incomparável. Essa abordagem contrastante permite-nos desco-
brir dissonâncias, verdadeiros indicios, reveladores de uma "estranheza", que escapavam inicialmente à nossa intelecção
de observador.

Rogério Ferreira de Souza - UERJ 'iil


Dodsworth e Maia: o planejamento urbano como controle social e a fixação da subaltenidade 'g
A cidade do Rio de Janeiro é marcada, em seu processo histórico, por diversos planos urbanisticos de intervenção :;;
pública, principalmente no início do século XX. Estas intervenções públicas no espaço urbano buscavam instrumentalizar .g
a cidade para uma realidade moderna e capitalista. No entanto, apesar do discurso modernizador e a busca de um 7J
bem-estar urbano, as favelas cariocas e seus moradores receberam do Poder Público um tratamento diferenciado. É 5,
com esta perspectiva critica que este trabalho busca através de dois planos urbanisticos, um no período autoritário, .~
outro no período democrático, analisar as similaridades e as formas de efetivação do controle social da população ~
favelada marcando os espaços físicos e simbólicos de suas subalternidades.

Walace Rocha dos Santos - UFF


A Experiência da Pastoral Afro-brasileira
O alto percentual de cidadãos negros no contingente nacional, não necessariamente implicou na preservação e manu-
tenção de sua diversidade cultural naquele perímetro. Ao caráter tradicionalista dos ritos religiosos, diante do viés
secular de intolerância para com as notícias originadas no seio africano, a religiosidade oficial - católica - foi imposta e
aculturada, sendo apreendida grande parte de sua simbologia, o que através da atuação de agentes religiosos negros
têm veiculado a resistência cultural por via do culto oficializado, o que se observa desta análise, representando o
reconhecimento da demanda do segmento negro pela CNBB, de um claro desdobramento da cidadania afro-brasileira,
valendo como assertiva a interpretação de dados já catalogados na Região do Grande-Rio (RJ).

Joaquim Justino Moura dos Santos - UNIRIO


Diferenças e igualdades no tempo e no espaço: a formação dos lugares do subúrbio carioca - 1870/1930
Estudo sobre o processo de formação do subúrbio carioca, visando localizá-lo no tempo e no espaço, com base na
hipótese geral de que o mesmo nasceu e se consolidou inicialmente nos lugares onde hoje se situam os bairros do
Engenho de Dentro, Encantado, Piedade, Quintino e Cascadura, na antiga freguesia de Inhaúma, entre os anos de
1873 e 1930. Com a análise das funções exercidas por essa área de estudo, tipicamente rural e escravista a princípio,
em relação a cidade, veremos que a passagem da vida rural para a urbana, como as novas funções econômicas e
sociais ali introduzidas, resultaram de mudanças na cidade do século XIX, vinculadas ao processo de transição da
sociedade escravista para a capitalista na capital do pais. Também que, tais mudanças, combinaram-se a um conjunto
de ações do Estado, por suas instituições, além de outras, no sentido de adequar os espaços da cidade e do município
aos interesses dos capitais então dominantes. Capitais estes beneficiados por novas formas de ocupação e distribui-
ção econômica e social do espaço, visando a reprodução das novas diferenças e desigualdades em favor de seus
capitais, protegidos pelo Estado em detrimento dos pobres.

Lucia Helena Pereira da Silva - USS


A Pequena África e o plano de melhoramentos de 1874/76: como pensar historicamente território, etnia e
pensamento urbanístico
Este trabalho é parte do projeto intitulado 'gênese do urbanismo no Rio de Janeiro: projetos e modos de vida, desen-
volvido na Universidade Severino Sombra/USS- RJ. Este trabalho articula as primeiras discussões urbanísticas e as
intervenções propostas nestas discussões com a vida da população da freguesia de Santana. A idéia é vislumbrar
como os habitantes do Porto e a da pequena África experimentaram socialmente as propostas do Plano de melhora-'
mentos de 1874/76.

Julio Claudio da Silva - UFF


Os vários ângulos do "problema Negro": multidisciplinaridade e anti-racismo nos estudos das populações e
culturas de origem africana em Arthur Ramos (1935 e 1949)
Os estudos das populações e culturas de origem africana foram um dos temas mais importantes nas ciências sociais
do século XX. Seu relevo no campo intelectual brasileiro dos anos trinta e quarenta se deu, em parte, graças ao
empenho de Arthur Ramos e seus pares, ao organizarem o então denominado Estudos Afro-Brasileiros. Fez parte
deste engajamento o esforço multidisciplinar pela sistematização desses estudos e o posicionamento anti-racista de
seus trabalhos. Um dos objetivos de nossa comunicação é recuperar esses aspectos a partir de manuscritos, como a

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conferência "O Problema negro". Arthur Ramos foi um dos principais responsáveis pela substituição do conceito de
raça pelo de cultura. Pretendemos analisar os significados desses conceitos em sua trajetória. E alguns de seus
posicionamentos anti-racistas como o combate público ás teses de inferioridade biológica e cultural de africanos e
afro-descendentes, em particular a "do menor valor mental do negro". A documentação produzida por aqueles pesqui-
sadores tem indicado que no passado, assim como no presente, esses estudos muitas vezes estiveram ligados ás
estratégias de enfrentamento das desigualdades sociais.

Mateus Silva Skolaude - UNISC


A (in)visibilidade do negro em Santa Cruz do Sul (1980-1990)
A temática central desta comunicação, situa-se na (in)visibilidade do negro em Santa Cruz do Sul (1980-1990), cidade
que se caracteriza pelo predominio de uma narrativa identitária germânica. Para tanto, este espaço temporal corresponde
ao período de consolidação e internacionalização econômica do setor fumageiro e de grande aumento populacional -
urbano deste município. Além disso, este momento pode ser interpretado como de revigoramento do discurso étnico,
que começa a tomar fôlego, passado o tensionamento dos primeiros anos pós Segunda Guerra Mundial. A partir da
análise da ímprensa escrita, nomeadamente o jornal de maior circulação da região, a Gazeta do Sul, propõe uma
reflexão acerca dos dispositivos envolvidos na construção do discurso identitárío desdobrado no comunitarismo e o no
multiculturalismo. Problematiza, ainda, as implicações desta discursividade na construção dos espaços sociais de
existência para as comunidades afro-descendentes da região.

Miridan Britto Falei - USS


Mãe Luiza e Pai Joaquim; pretas e pretos velhos e a realidade social
As Diferenças e Desigualdades Sociais acompanham o nascer e o morrer das populações já que níveis de trabalho e
condições de vida diversas conduzem a diferentes índices de natalidade e mortalidade. O resgate e acompanhamento
da vída e morte de pretos e pretas velhas mortos com mais de 80 anos numa sociedade altamente escravocrata pode
nos apontar padrões demográficos. Como viveram, em que trabalharam, quais as origens étnicas, que família puderam
formar os pretos e pretas-velhos? Como interpretar os níveis de vida por eles alcançados?Qual o percentual dos
mesmos dentro da massa escravizada?Este trabalho baseia-se na exploração demográfica da população escrava no
município de Vassouras - no século XIX. O trabalho é resultado de pesquisa financíada pela USS e realizado no
Centro de Documentação Histórica e na Casa da Hera ( Vassouras).

I 17/07 - Terça-feira - Tarde (14h ás 18h) I


Eduardo Scheidt - USS I Universidade Gama Filho
Desigualdades em pensamentos igualitários: os intelectuais Esteban Echeverría e Pedro de Angelis e suas
propostas de construção das nações no Rio da Prata
O argentino Esteban Echeverría e o ítalo-argentino Pedro de Angelis, destacados intelectuais de meados do século
XIX, protagonizaram uma acirrada polêmica, bastante referida pela historiografia. O que pouco se analisou é que, em
meio a essas discussões, houve um confronto entre contrapostas concepções de nação e projetos para o país. Embo-
ra imbuídos de idéias igualitárias, ambos os intelectuais propuseram desiguais condições de cidadania em meio ao
confronto de propostas rivais. O presente estudo analisa as concepções de nação de Echeverría e De Angelis, toman-
do como fonte seus livros e artigos publicados durante o governo de Juan Manuel de Rosas, quando os intelectuais em
análise travaram a mencionada polêmica concomitante ao recrudescimento dos combates militares e de idéias acerca
da construção da nação.

Claudio Antonio Santos Monteiro - USS


A Proclamação da República brasileira e o Reconhecimento oficial francês na imprensa partidária e a na diplo-
macia francesas (1889-1891)
Nossa comunicação busca apresentar e compreender as repercussões negativas que tiveram na França da Terceira
República a Proclamação da República no Brasil. Nosso interesse é confrontar as representações feitas na França
sobre a monarquia brasileira e sobre o Brasil no primeiro ano da ordem republicana (1889-1891). Para tanto, analisa-
mos o discurso da imprensa partidária francesa na ocasião da passagem da monarquia para a república no Brasil, os
escritos de publicistas franceses e brasileiros, bem como as fontes diplomáticas do Ministério francês de Assuntos
Estrangeiros (Quai d'Orsay), no que concerne o processo de reconhecimento oficial francês da nova república latina
ocorrido em junho de 1890. Nosso interesse é confrontar os significados de monarquia e república no Brasil para os
observadores franceses, buscando situar os discursos que agiram sobre as práticas políticas, permitindo a manuten-
ção e o estreitamento das relações políticas entre a França e o Brasil republicanos.

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Luciano Mendes Cabral - USS ~
Imagens e Idéias, Diferenças e Semelhanças: um estudo comparativo da Cultura Política e da construção do
Estado no Brasil e na Argentina do século XIX
®
O presente trabalho procura desenvolver um estudo comparativo da construção do Estado no Brasil e na Argentina dos
oitocentos, e da cultura politica inerente a esse processo. Nesse sentido procuraremos analisar as evidentes diferen-
ças assim como, e principalmente, as semelhanças e pontos de convergência. Muito embora o objeto abordado já
tenha sido alvo de diversos estudos, acreditamos poder contribuir para o aprofundamento das discussões e debates
historiográficos em função das fontes que utilizaremos para tanto. Pretendemos lançar mão das imagens oficiais
produzidas pelos Estados em construção, nesse caso específíco dos selos postais, bem como de todos os elementos .iil
pertinentes a uma cultura politica dentro da qual foram produzidas. Para tanto utilizaremos os conceitos de cultura 'g
politica, símbolo, poder simbólico e capital simbólico, bem como o de ideologia, da forma como contemporaneamente :::
vem sendo desenvolvido. -i!5
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Surama Conde Sá Pinto - USS :::o
A arte da política: Como se construía uma carreira política no Distrito Federal nos anos vinte ""
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Ao longo do período em que sediou a capital da República, a cidade do Rio de Janeiro apresentou uma dinâmica Q,)

politica díferente das demais unidades da federação, marcada pela forte ingerência do governo federal no campo Ô.
politico carioca. Utilizando a abordagem da cultura politica, esta comunicação objetiva analisar as estratégias utiliza- ~
das pelos representantes da cidade nos Poderes Legislativo e no Executivo municipal e federal para construir e manter ~
uma carreira política no Distrito Federal nos anos vinte. o

Nara Maria Carlos de Santana - UFJF


Movimentos Sociais e Estado no Brasil: Cidadania e participação social nos primeiros anos da República
O objetivo deste trabalho é compreender o desenvolvimento dos movimentos e lutas sociais no Brasil nas três primei-
ras décadas do século XX, quando começa a república brasileira e a questão social torna-se um problema de Estado.
Com a abolição da escravatura e a substituição da mão-de-obra escrava pela do trabalhador livre, principalmente
imigrante, as lutas sociais urbanas ganham contornos mais nítidos, devido entre outros fatores, a aceleração do pro-
cesso de urbanização no país. A partir da Revolução de 30 e da implementação do projeto liberal industrializante, a
questão social e o problema das classes populares, especialmente dos trabalhadores, tornam-se a discussão central
do governo. Com isso, uma importante legíslação é criada, a fim de organizar e interferir nas questões que surgem,
visando o controle das lutas sociais e ao mesmo tempo a ampliação da cidadania.

Janaina Souza Teixeira - UNIFRA


Alianças e conflitos: peculiaridades de um contexto fronteiriço - a população de fronteira no contexto do
movimento artiguista (1815-1820)
Este trabalho aborda o comportamento da população fronteiriça do Rio Grande do Sul no inicio do século XIX ao se
desdobrar o movimento artiguista, liderado por José Gervásío Artigas na Banda Oriental de 1811 a 1820. A partir,
principalmente da atuação da.pQPlJl.?ção indígena e escravos do Rio Grande do Sul discute-se a identificação dos
setores sociais menos favorecidos com o movimento da Banda Oríental que, entre outros aspectos defendia uma
redistribuição da terra e, com isto, uma alternativa ao modelo de sociedade consolidado ao longo do período colonial e
posto em discussão no momento das independências por alguns setores. Através da documentação disponível na
compilação intitulada Archivo Artigas e de processos-crime existentes no Arquivo Público do Rio Grande do Sul, bem
como de correspondências das autoridades militares do Rio Grande do Sul deste período, buscou-se compreender a
forma como reagiram os habitantes dos domínios portugueses na região fronteiriça ao movimento e também a forma
como as autoridades trataram suas reações. Foi possível compreender, em alguma medida, uma identificação de
escravos e negros forros do RS com aquele movimento. Da mesma forma, foi possível visualizar uma tentativa de
colaboração com o mesmo por parte dos indígenas da área de missões.

José Ricardo Ferraz - UERJ


As redes de poder políticas e sociais na instalação da 18 indústria têxtil em Valença, RJ: 1880 1920
O objetivo deste projeto é identificar as relações de poder estabelecidas entre o Poder Público e o interesse privado, a
elite valenciana, que viabílizaram a instalação da 1a indústria têxtil em Valença, RJ. Abandonamos o viés econômico com
que o tema sempre foi tratado, e lançamos novo olhar sobre o período, investigando os mecanismos de contato dos mais
expressivos agentes políticos locais no período mencionado, pois, o poder não está somente associado a instituições ou
aos aparelhos que sujeitam os indivíduos, mas, a uma prática social. Esse grupo constituía uma densa rede de interesses
políticos e econômicos não limitados a Valença; sua área de influência se estendia também ao Rio de Janeiro através de
uma rede de contatos. Em outras palavras, privilegiaremos o processo como resultado das forças políticas que criaram as
condições para a industrialização valenciana. Buscamos, também, estabelecer uma revisão historiográfica sobre Valença
e o Vale paraibano fluminense, visando enriquecer a produção historiográfica da região.

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Monike Garcia Ribeiro - FAPERJ f Casa Rui Barbosa
Dom João VI, os Pintores Viajantes e a Cultura Política no início do século XIX
Em princípios do século XIX, o Rio de Janeiro vê radicalmente transformada a sua face cultural, e também política, com
a vinda da Familia Real Portuguesa para o Brasil em 1808. Pretende-se examinar como as relações entre Política e
Cultura, desdobram-se em uma diversidade de estratégias político-culturais específicas da Corte Portuguesa, que
incluem a constituição de novos ambientes artistico-culturais. Dentro deste quadro geral examina-se, em sintonia com
este contexto político-cultural, a atuação dos pintores viajantes na primeira metade do século XIX, bem como a vinda
de Missões Artisticas, Científicas e Diplomáticas, ao lado da criação de uma série de instituições culturais.

I 18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h) I


Brigitte Ursula Stach Haertel- USP
Crenças e valores na constituição de subjetividades legitimadoras das desigualdades· um recorte de gênero
com adolescentes em São Paulo
Sustentada nos pressupostos teóricos da Resolução de Conflitos e recorrendo à metodologia dos modelos Organizadores
do Pensamento, a apresentação desse trabalho tem por objetivo divulgar os resultados de uma pesquisa realizada
durante o primeiro semestre de 2005, com jovens de uma escola pública estadual localizada na periferia da zona sul da
cidade de São Paulo buscando identificar a influência de crenças profundamente arraigadas em uma lógica de pensa-
mento tipicamente ocidental na construção de valores durante a adolescência. A amostra analisada foi composta por
120 alunos, 40 em cada uma das faixas etárias sendo 20 do sexo feminino e 20 do sexo masculino aos 12, 14 e 16
anos respectivamente, utilizando como instrumento de pesquisa a narrativa de um conflito entre pares. As respostas
obtidas durante a coleta de dados parecem confirmar uma tendência à polaridade decorrente de nossa tendência à
dicotomia que se agrava com o passar do tempo evidenciando a naturalização da dominação de certos gnupos sobre
outros, justificando e reproduzindo a estratificação social e assumindo como legitimas hierarquias historicamente con-
solidadas que sustentam a discriminação e a exclusão seja de classe, raça, etnia, gênero, etc.

Joana D'Arc Fernandes Ferraz - UNIRIO


Por que lembrar? Para que lembrar? Dilemas sobre a Ditadura Militar Brasileira
A experiência da Ditadura Militar no Brasil (1964-1985) ainda está guardada na lembrança de muitas vitimas, de seus
familiares e da sociedade brasileira. O anjo da história, a quem Benjamin se refere marca um olhar entrecnuzado entre
presente, passado e futuro. A memória ressentida em Nietzsche perpetua as opressões e os horrores. Como compre-
ender uma visão sobre o passado em que o tempo e os sujeitos sejam ressignificados. De que maneira a memória, que
sai da oralidade e eterniza-se na escrita pode nos ajudar a compreender melhor um passado ainda tão mal resolvido
em nossa sociedade? Ou será que ela (a memória escrita) não permanecerá incapaz de transcrever os horrores, os
traumas, pela própria incapacidade da lingüistica de expressar o sentido benjaminiano da experiência? Ou será me-
lhor esquecer, como nos aponta Niezsche? Este trabalho tem como objetivo refletir sobre essas 3 abordagens em
relação ao tempo (lembrar, escrever e esquecer), contemplados nos trabalhos de Gagnebin.Para isso, interessa-nos
recolher, processar e analisar as histórias de vida desses ex-militantes ou simpatizantes políticos. Partimos de entre-
vistas a técnica de história oral, a fim de renovar as memórias desses atores, especificamente com dez ex-presos do
regime militar no Brasil.

Wolney Gomes Almeida· UESC


História dos surdos: uma trajetória de desigualdade social rumo à construção da identidade
Este artigo pretende focalizar a construção do sujeito surdo através dos discursos construidos por uma sociedade
ouvintista, em que a surdez se enquadrou por muito tempo nos moldes de uma anormalidade. Sendo assim, a identi-
dade do surdo se construiu nesse processo histórico e vem sofrendo ressignificações dentro de uma visão
multiculturalista, tendo a língua de sinais como elemento fundamental para a construção e legitimação de sua cultura.
O estudo problematiza a questão da desigualdade social dentro do contexto nacional a que os surdos estão inseridos,
repensando sobre a existência do outro não mais como desigual, mas a partir da diferença, da alteridade.

Priscila de Oliveira Xavier - UFMT


Pomeri: Máquina de Guerra
Escrevemos a história de uma guerra atual, próxima, passada entre os anos de 2004 e 2006, e que ainda não teve
desfecho Essa guerra acontece ao nosso lado, em nosso tempo, mas escapa aos olhos, pois entre nós e o centro da
luta há uma muralha estrategicamente erguida. O campo de batalha e palco da história que ora diagramamos é o
Centro Sócio-Educativo Pomeri-Lar do Adolescente, instituição total, única no estado de Mato Grosso responsável
pelo confinamento de adolescentes do sexo masculino, sentenciados ao cumprimento de medida 'sócio-educativa" de
privação de liberdade. Tatuagens, piercings, bonés, inversão de objetos, funk, rap, teatro, vocabulário próprio; são

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pistas, indícios que encontramos ao investigar práticas culturais, t,átiCaS e artimanhas construídas no interior desta ~3
máquina por adolescentes que insistem em abrir uma 'fissura no silêncio'. O olhar do adolescente em conflito com a ~
lei, sua maneira de entender e enfrentar a disciplina, a vigilância, o 'olhar que tudo vê', seus sentimentos, as vozes, os
silêncios, os murmúrios, se constituem também em 'pequenas' aberturas por onde atravessamos nosso olhar.

Anderson Jorge Pereira Bessa - UERJ


Tais civilizados, quais bárbaros? Prolegõmenos ao estudo do "terceiro·mundismo" no cinema político de
Glauber Rocha
Política e estética são atributos indíssociáveís na produção de Glauber Rocha. Isto porque a obra de arte se ídentifica- 'i(:l
va como ação política na medida em que o fenômeno da criação artística tonificava uma atitude politicamente 'g
inconformada - seja com as coações externas ao trabalho criativo; seja com as condições sociais desiguais. Então, :;:
trata-se, aqui, de acercar o ato político-€stético configurado em 'O leão de sete cabeças', rodado no Congo africano, i
segundo semestre de 1969. No filme sobredito, Glauber Rocha exercitou a possibilidade de fundar um cinema político ~
'terceiro-mundista'. No qual a tensão circundante ás noções de 'civilização' e 'barbárie' avulta como problemática basilar 5,
num momento em que as lutas de descolonização ainda não haviam cessado. Ao discorrer sobre o sentido das domina- '~
ções suscitadas por categorias taxionômicas tão decantadas como 'civilizado' e 'bárbaro', o cineasta travou um diálogo ~
belicoso com as matrizes discursivas imperiais com que o Ocidente arrogou sua superioridade em detrimento dos valores
torpes que distinguiam outros povos. Logo, a comunicação proposta almeja trazer á discussão as questões aludidas.

Ruth Pavan - Universidade Católica Dom Bosco


Desigualdade social e educação: a ausência da perspectiva histórica
Este trabalho é fruto da tese de doutorado. Considerando a dimensão histórica da desigualdade social, o trabalho tem
como objetivo analisar a reflexão que as professoras de educação de jovens e adultos fazem a respeito da desigualda-
de social. Para tanto, num primeiro momento, apresenta algumas explicações que foram dadas ao longo da história
para a desigualdade social. Inicia com a Reforma Protestante que introduz a idéia de que somente alguns são merece-
dores de caridade, passando por diversas mudanças até chegar as explicações para a desigualdade da
contemporaneidade O que mais chama a atenção nas explicações das professoras é que elas não fazem nenhuma
menção a fatores históricos responsáveis pela desigualdade. Adesigualdade aparece como sendo de responsabilida-
de de cada indivíduo, ou seja, a explicação da desigualdade é marcada pela concepção individualista e meritocrática,
estando, portanto, relacionada com uma concepção neoliberal de sociedade, que teve sua entrada na América Latina
na década de 1970 e que a partir da década de 1990 se torna cada vez mais evidente.

Francísco Canella - UDESC


Disputas simbólicas, desconstrução de subaltemidades e sentidos de comunidade na periferia urbana de
Florianópolis
A cidade de Florianópolis tem vivenciado um forte aumento populacional nas duas últimas décadas. Essa nova dinâmi-
ca favoreceu o crescimento desordenado da cidade e o aumento das desigualdades sociais e econômicas, desenca-
deando uma série de conflitos de interesses e disputas simbólicas entre os seus diferentes atores sociais. Assim,
movimentos sociais colocam em questão as representações da cidade como paraíso turístico, veiculadas em expres-
sões como 'ilha da magia' ou na idéia de 'capital campeã da qualidade de vida', ao mesmo tempo em que questionam
através de suas lutas a produção de subalternidades na cidade. Com base no acompanhamento das experiências de
uma comunidade que surgiu do Movimento dos Sem-Teto no final da década de 1980, busco neste trabalho analisar
tanto o processo de auto-organização do grupo de moradores como a construção de uma identidade coletiva consoli-
dada em torno da categoria comunidade. A partir de uma pesquisa de natureza etnográfica procuro discutir como tal
categoria foi sendo construída, que sentidos adquiriu em diferentes contextos e como a memória dos moradores
rearticula no presente as experiências vivenciadas no passado.

Marilene Rosa Nogueira da Silva - UERJ


A desordem como doença: A Casa de Correção da Corte na lógica do saber médico
Sob a lógica das teses racialistas é construida a Casa de Correção da Corte como um lugar dos deserdados sociais.
Assim no dizer de Ayres Gouvêa 'O criminoso é um enfermo, a pena um remédio e o cárcere um hospital'. ~ objeto
dessa comunicação analisar os relatórios dos médicos que atuaram na prisão. 'Pelos dados colhidos quando medico,
que fui dez annos nesta casa, estudando a Clinica especial da penitenciaria, cheguei a persuadir-me de que a pena
maior de 10 annos equivale em regra a uma sentença de morte .... Os moços se resistem ao vicio do onanismo ... tem
um horizonte largo, podem ser postos em liberdade muitas vezes ainda em tempo de ser úteis a si e a suas familias,
mas o homem, já na idade madura, ou na velhice, que em vez desse horizonte largo tem apenas as muralhas da
prisão, poderá suportal-a como o primeiro? A observação sempre convenceu-me do contrario. As enfermidades que
accomettem os homens maiores de 50 annos demandando alem do tratamento therapeutico- uma hygiene que não
pode ser observada nas Casas regidas pelo systema penitenciário'.

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19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h às 16h30min)

José Licínio Backes - Universidade Católica Dom Bosco


A identidade cultural dos pobres na percepção dos não pobres: usando a díferença para justificar a desigual-
dade
O texto, fruto da tese de doutorado e da pesquisa docente vinculada ao Programa de Mestrado em Educação - UCDB
trata das formas de perceber a diferença do outro e como esta é usada para justificar a condição social dos
subalternizados. Embora isso não seja um fenômeno novo, haja vista o processo de colonização da América onde o
outro, (fosse ele indígena ou negro) foi dominado e explorado com a alegação de que não era plenamente humano,
observamos que no contexto atual, esta lógica està ganhando uma nova legitimidade levando ao entendimento de que
o pobre é pobre devido a sua incapacidade ou indolência, desconsiderando completamente o processo histórico da
construção das diferenças e desigualdades. Considerando a dimensão histórica da desigualdade e da produção das
diferenças, foi desenvolvida uma pesquisa com jovens não pobres, onde foi possível observar que para estes a dife-
rença está no não ser pobre (o que na verdade é um equívoco, pois se trata de uma desigualdade). A identidade do
sujeito pobre é vista como "sem cultura', imoral, perigosa, degenerada, repugnante, indolente, preguiçosa.
Palavras-chave: Cultura, diferença, desigualdade.

Fernanda Soares Cardozo - UFRGS


Uma mudança de perspectiva analítica- o "surgimento" dos pobres na Argentina contemporânea
Este trabalho pretende debater algumas das novas identidades surgidas na Argentina após o processo de privatizações,
demissões em massa e crise econômica da década de 1990. Uma mudança muito importante é o 'surgimento' de
pobres em uma sociedade até certo tempo igualitária e a dificuldade de assimilar sua existência. A 'questão social'
entra muito tardiamente na pauta de discussões do país, especialmente enquanto prevalece o mito do 'país rico'. Hoje
a sociedade e a academia tentam estabelecer novos critérios de demarcação no interior de um mundo popular que
implodiu. Dentre essas novas identidades estão os "novos pobres', categoria dos que pertenciam à classe média e
passaram à pobreza, e os 'piqueteros', integrantes de um movimento social colocados pelo governo ou pelos meios de
comunicação em muitos momentos como indivíduos perigosos, vagabundos, desordeiros, agressivos, violentos, se
insere dentro da tentativa de criminalizar o protesto social. A hiperinflação de 1989 teria marcado o final de um período
da história argentina que havia começado na sociedade peronista. Nos anos 80, o Estado deixa de vincular-se às
classes populares como produtores e começa a relacionar-se com elas como pobres.

Marcus Vinicius de Freitas Rosa - UFRGS


O que é bom não se mistura: carnaval das elites em Porto Alegre durante a década de 1930
Esta apresentação faz parte de uma pesquisa mais ampla sobre as relações sociais estabelecidas por ocasião das
festas carnavalescas em Porto Alegre, entre 1930 e 1961. Aqui, especificamente, trato de evidenciar os modos práticos
e simbólicos como as elites locais, em suas festas privadas ou em aparições públicas, pretendiam se diferenciar dos
outros grupos sociais. Com isso, busco evidenciar uma fronteira entre os carnavais das elites e os das classes subal-
ternas. Embora o carnaval seja um bem cultural comum a diferentes grupos sociais, os modos como ele é apropriado
por esses grupos podem ser geradores de distinções, fronteiras e hierarquias. Essa abordagem pode, portanto, ser
enquadrada como uma história social da cultura, onde a cultura é tomada como um campo de conflitos.

Marcelo Vianna
Do favoritismo ao esquecimento: os pedidos de auxílio público durante o Estado Novo no RS (1937-1945)
Nossa pesquisa se propõe, a partir da apresentação de petições de alguns grupos sociais da população rio-grandense
a partir do advento do Estado Novo no RS, compreender como essas parcelas utilizaram esse mecanismo de aproxi-
mação do poder, representado pela autoridade máxima do estado, na época, o Interventor Federal. A partir de uma
série de correspondências, telegramas e até simples "bilhetinhos' direcionados a Daltro Filho (e seus sucessores), os
pedidos muitas vezes foram instrumentos da população mais humilde em busca da solução de dramas pessoais
através da concessão de empregos públicos e auxílios financeiros. Mais do que pleitearem a interseção do governante,
elas expunham trajetórias de vidas e concepções de mundo aos quais compreendiam uma série de valores, condutas
e práticas dentro das relações de poder na sociedade rio-grandense durante o Estado Novo. Propomos, por fim,
contextualizar essas práticas com a reforma administrativa promovida pelo DASP, o qual intentava estabelecer uma
nova série de valores em prol de uma moralização administrativa (cuja síntese estava instituição do concurso público),
objetivando justamente o fim dos apadrinhamentos e assistencialismos vigentes.

Mariangela Vasconcelos Nunes - UEPB


Os trabalhadores do agave: entre a sujeição e a resistência
Pretendo discutir como a cultura do agave nos cariris velhos paraibanos, no período de 1937 a 1966 possibilitou a
reorganização das relações sociais, a partir de outra lógica do trabalho, marcada pela mecanização. esse elemento

110
provocara profundas mudanças no cotidiano dos lavradores. Embora, esses aceitassem essa cultura, uma vez que ela
representava o seu sustento material e a sua esperança de riqueza, eles também resistiram á disciplina imposta pela
@
13
mesma. Assim, identifiquei duas formas de resistência articuladas entre si. uma que denominei de "cultura da esperte-
za', isto é, um conjunto de táticas acionadas pelos trabalhadores para sabotar a disciplinarização. E outra, que se
expressava nas leituras que esses fizeram sobre o agave demonizando-o, inspirados em uma antiga profecia que faz
parte da cultura oral sertaneja, e nas suas experiências de trabalho.

I 20/07 - Sexta-feira - Tarde (14h ás 18h) I .~


co
'u
o
Carlos Engemann - USS ~
Estudo de alguns elementos identificadores da desigualdade entre escravos de comunidades cativas do su- ~
deste brasileiro do século XIX ~
O presente estudo se dedica à identificação e estudo de elementos cotidianos que expressaram a hierarquização entre ~
os cativos de grandes escravarias do sudeste brasileiro. Baseando-se em inventários post-mortem e levantamentos .~
administrativos, por meio de metodologia essencialmente quantitativa, inventariou-se signos da diferenciação e desi- ~
gualdade intracativeiro. Aspectos da vida cotidiana e da cultura material foram interpretados como formas de expressar ~
a hierarquia social e a existência de uma complexa rede de relações políticas dentro dos plantéis. Por outro lado, a ~.
~
existência e variação na complexidade de tais aspectos, são tomados como referência para o nivel de complexidade ..'!:2
da própria estrutura comunitária cativa. i:5

Alberto Moby Ribeiro da Silva - USS


De escravo a soldado: a campanha dos Voluntários da Pátria no Vale do Paralba tiuminense
Nos primeiros anos da Guerra do Paraguai escravos recém-libertos eram enviados á frente de batalha em substituição
aos guardas nacionais provenientes de famílias abastadas ou para preservar guardas em seus postos nos municípios
escravistas. Quais as implicações dessas medidas do Estado imperial no sentido de garantir a consecução da guerra,
ainda que, eventualmente, indo contra interesses privados? Sendo o periodo de máxima produtividade na vida do
escravo de cerca de 12 anos, aproximadamente entre os 18 e os 30 anos, a queixa mais freqüente dos fazendeiros do
Vale do Paraiba fluminense era a da falta de mão-de-obra para o trabalho no campo, sendo esta a principal razão para
o desaparecimento gradativo de pequenas fazendas e sitias na região. Portanto, não seria de se estranhar se tivesse
havido alguma resistência ao envio de escravos á guerra e, paralelamente, forte repressão a tentativas de fuga de
escravos que porventura vissem no engajamento como Voluntários da Pátria altemativa mais promissora do que o
trabalho no eito. No entanto, como justificar a negação ao 'chamado da Pátria' para 'lavar a afronta aos brios nacio-
nais' perpetrada pelo "tirano do Prata' contra a nação brasileira? Que alternativas podem ter ocorrido no Vale do
Paraiba para enfrentar esta questão?

Marcelo Antonio Chaves· UNICAMP


"Raça" e classe: informações a partir de um estudo de caso, 1925-1940
Este artigo apresenta e analisa dados extrai dos de centenas de fichas de registro de trabalhadores da primeira grande
fábrica de cimento do Brasil, do periodo de 1925 a 1940, no Estado de São Paulo, a partir das quais, são postas em
perspectiva comparativa algumas informações sobre condições de trabalho de negros e brancos. O objetivo central é
verificar as disparidades sociais entre os grupos, inserir os resultados naquele contexto histórico e analisá-los á luz do
debate teórico que se desenvolveu em torno da questão da discriminação do negro na sociedade brasileira. Trabalho
fabril em São Paulo e aspectos raciais serão, portanto, discutidos a partir de informações empiricas reveladas de um
crucial momento histórico no Brasil.

Mozart Unhares da Silva - UNISC


Identidade Cultural, Etnicidade e Educação na Região do Vale do Rio Pardo
O objetivo desta comunicação é apresentar alguns dos resultados da análise acerca do processo de construção das
narrativas identitárias, sobretudo étnicas e culturais, no ambiente escolar da Região do Vale do Rio Pardo, nomeada-
mente nos municipios marcados pelo discurso identitário germânico. Problematiza-se, neste processo, os mecanis-
mos de subjetivação dos sujeitos afro-descendentes e as estratégias de visibilidade/invisibilidade sociais dai advindas
bem como o papel da educação, sobretudo o ensino de história, na fixação e naturalização das identidades. A partir de
dados recolhidos em entrevistas semi-estruturadas e questionários aplicados junto a docentes (na maioria professores
de história) e discentes das escolas foi instrumentalizado o método de análise de discurso, o que permitiu identificar
uma série de enunciados e dispositivos que norteiam as relações interétnicas no ambiente escolar; relações estas
caracterizadas pela hierarquização social, étnica e cultural, revelando ainda uma complexa relação entre pertencimento
identitário e racialização da alteridade.

111
Petrônio José Domingues - UFSE
Associação Cultural do Negro (1954-1976): um esboço histórico
Embora a escravidão já tivesse sido extinta a mais de meio século, o negro continuava sendo vitima de preconceito e
discriminação raciais em São Paulo, na década de 1950. No mercado de trabalho, ele era um dos últimos a ser
contratado pelas empresas e um dos primeiros a ser demitido. No campo educacional, enfrentava problemas crônicos,
como o do analfabetismo, evasão e repetência. Na área do lazer, era impedido de entrar em determinadas casas
noturnas e de se associar a alguns clubes. Para se contrapor a esse quadro de violação ou restrição de direitos, as
pessoas de ascendência africana fundaram aAssociação Cultural do Negro (ACN) em São Paulo, em 28 de dezembro
de 1954. A proposta desta pesquisa é, primeiro, recuperar a experiência de sujeitos coletivos ainda pouco visiveis na
historiografia brasileira; segundo, fazer uma análise do jornal da organização, O Mutirão. A Associação Cultural do
Negro desenvolveu muitas ações de caráter recreativo e, principalmente, cultural (como bailes, festivais, apresenta-
ções teatrais, musicais, declamações poéticas, palestras). A idéia principal é demonstrar que as práticas culturais
encampadas pela ACN não eram concebidas como um fim em si mesmo; pelo contrário, tratavam-se antes de um meio
de conscientização e mobilização racial.

Wlamyra Ribeiro de Albuquerque - UEFS


"Risque-se o termo escravo, conserve-se a palavra senhor": identidades e cidadania negra na época da aboli-
ção
Resumo: O objeto desse trabalho é o processo de racialização das relações sociais no processo emancipacionista no
Brasil. Considerando que a racialização e a abolição se constituiram de modo intrinseco na sociedade brasileira,
proponho a análise das estratégias políticas e culturais de preservação de hierarquias sociais que marcaram o fim da
escravidão, assim como a construção de identidades raciais nas duas últimas décadas do século XIX. Diversos perso-
nagens se envolveram nesse jogo que recriava hierarquias e constituía lugares sociais a partir do critério racial: conse-
lheiros do império, autoridades policiais, acadêmicos, abolicionistas, líderes republicanos, carnavalescos e intelectu-
ais negros, dentre outros. A pesquisa resulta do interesse pelas várias concepções de cidadania negra que ganhavam
visibilidade nos projetos e ações desses sujeitos sociais na década de 1880. Entretanto, neste trabalho trato especifi-
camente da atuação política de Rui Barbosa, um liberal, abolicionista e republicano que teve papel de destaque no
desfecho da sociedade imperial e escravocrata. Para tanto utilizo como fontes a correspondência policial da província
da Bahia, discursos, fotografias, textos jornalísticos e a correspondência particular de Rui Barbosa.

Eliane de Mello - Unisinos


"Estopim aceso nesta cidade que ainda vive o 'Neu-Württemberg .. .'''
Este artigo procura analisar as relações estabelecidas entre sociedade receptora e migrantes, especialmente as que
se referem á incorporação dos novos moradores ao lugar de destino. Para tanto, toma-se como objeto empirico ás
relações entre os dois grupos na cidade de Panambi/RS (antiga colônia Neu-Württemberg), na década de 1970. For-
mada por (i)mígrantes/descendentes de alemães e luso-brasileiros, a localidade viveu um processo conflituoso de
construção de identidade, o qual resultou numa suposta hegemonia econômica, cultural e política do grupo étnico
alemão. Todavia, na década de 70 o seu rápido desenvolvimento econômico desencadeou uma migração em massa
para a localidade, a qual possibilitou a posterior desestabilização dessa estrutura, tanto pelo conflito gerado pelas
diferenças culturaís, quanto pelo processo de urbanização desencadeado a partir desse período. Essas transforma-
ções refletiram-se na atitude defensiva da sociedade receptora, que intensificou sua busca por paradigmas identitários
calcados nos "valores' do grupo étnico alemão e voltados para a prOdução da diferença, Jedefinindo as fronteiras
étnicas.

Ana Maria leal Almeida - USS


Familias de Elite: Parentela, Riqueza e Poder no Século XIX.
Este estudo contribui para a construção da história de algumas famílias de elite em Vassouras, procurando determinar
as formas de inserção desses grupos na sociedade e como se cristalizou o seu poder pessoal seja político ou financei-
ro. Está restrito ao século XIX e se apóia principalmente em levantamento da documentação existente no Centro de
Documentação Histórica da USS, no Museu Casa da Hera e na Casa da Cultura Tancredo Neves, locais depositários
de fontes em Vassouras. Confronta e analisa, também, a historiografia relativa à região de Vassouras, constante tanto
de livros já publicados, quanto de teses acadêmicas de mestrado e doutorado defendidas nas universidades brasilei-
ras e estrangeiras. Tem sua relevância principal na busca de reconstruir a sociedade escravista fluminense a partir da
observação do conceito de família de elite sustentado pelo tripé: a parentela; a riqueza e o poder político.

112
14. Dimensões e dinâmicas da conquista e da evangelização na América: séculos XVI a XIX
Fernando Torres-Londoíio (PUC-SP) e Eliane Cristina Deckmann Fleck (UNISINOS)

16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h às 18h)

Maria Cristina Bohn Martins - Unisinos


A Relação que escreveu Fr. Gaspar de Carvajal, Orden de Santo Domingo de Guzmán, do novo descobrimento
do famoso Rio Grande (1540)
Entre os anos de 1541-42, acompanhado de pouco mais de 50 homens, F. de Orellana realizou a primeira navegação
completa do Amazonas, desde os Andes equatorianos, até sua desembocadura no mar. Com o objetivo de "servir a Su
Majestade", a expedição saiu de Quito, sob a chefia de G. Pizarro, motivada 'por la mucha noticia que se tenia de una
tierra donde se hacía canela". A 'Relação" da viagem, escrita por G. de Carvajal, permite perceber que este objetivo
seria logo ultrapassado pela busca desesperada por alimentos, e que os sofrimentos suportados se transformariam no
melhor serviço a ser ofertado à Monarquia, tema que nossa análise pretende explorar.

Anderson Roberti dos Reis - USP


Narrativas da conversão cristã na Nova Espanha do século XVI: interpretações, variações e descontinuidades
O tema da cristianização acompanhou de perto os debates em tomo da colonização da América. O objetivo desta
comunicação é discutir o problema da conversão cristã na Nova Espanha do século XVI. Em especial, nós queremos@4
trazer à tona as interpretações dadas a esse processo, bem como as variações e descontinuidades nas narrativas dos
frades que participaram ativamente da catequese. Nosso enfoque será nos textos dos frades franciscanos, notada-
mente nos relatos de Frei Toribio Motolinía. Desse modo, acreditamos poder esboçar algumas hipóteses que nos
auxiliem na compreensão da evangelização da América e, por conseguinte, das relações e dinâmicas estabelecidas
entre os integrantes da incipiente sociedade hispano-americana.

Luis Guilherme Assis Kalil - UNICAMP t;


Uma conquista sem santos: a ausência da Igreja na crônica de Ulrico Schmidl 'g.
Análise da crônica de Ulrico Schmidl, soldado bávaro que veio para o Novo Mundo em 1535 na esquadra comandada 8
por Pedro de Mendoza. Em sua 'Viaje ai Rio de la Plata' Schmidl ignora a presença dos clérigos católicos e as .g;
justificativas religiosas para o contato com os indígenas, apontando a busca por metais preciosos como o objetivo das ~
expedições realizadas. Esse silêncio fica evidente quando sua crônica é comparada com outras obras do periodo, .~
como as de Alvar Núiiez Cabeza de Vaca e Domingo Martínez de Irala, que enfatizam a busca pela 'salvação' dos 'ê
nativos e a influência dos clérigos nas expedições. A ausência da Igreja relaciona-se também com a provável conver- 'Õ
são de Schmidl ao protestantismo após sua volta á Europa, tomando-se assim uma forma de criticar os rumos da ::;
conquista comandada pelos católicos espanhóis. .5!
c::
c.>

Bruno Abrantes Amorin ~


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Feitos de Mem de Sá sobre os nativos: extermínio, escravidão e submissão indígena nos fins do século XVI
No século XVI, a instituição do Govemo Geral foi uma das medidas tomadas pela Coroa Portuguesa para unificar e
pacificar a sua colônia americana, fornecendo apoio bélico às capitanias, assumindo as que foram abandonadas e
trazendo os primeiros jesuitas. Contudo, mesmo com este apoio, os colonos enfrentavam ataques de tribos nativas
inimigas e a revolta das aliadas contra o trabalho nos engenhos, destruindo-os e vilas e matando vários colonos e
religiosos, dando espaço também para a presença francesa na baia da Guanabara que ameaçava dividir ao meio a
colônia, acabando com suas possibilidades de prosperidade. Aescolha de Mem de Sá para assumir o cargo de Gover-
nador Geral em 1557 vem atender as necessidades desta naquele momento: combater os nativos que faziam guerra
aos lusitanos, seja subjugando-os, exterminando populaçôes, escravizando-os ou aldeando-os. Como o mesmo narra
em diversos momentos em seu Instrumento de Serviços e suas cartas, ou no poema de Anchieta sobre este. Este
processo de submissão é o um dos principais fatores para a redução das populações nativas no litoral brasileiro nos
fins do século XVI, que foram exterminadas em combate ou posteriormente, vitimados por doenças as quais não
possuíam defesas, ou fugiram para o interior para não serem subjugados.

Edneila Rodrigues Chaves - UFF


Identidades culturais na América portuguesa
Na região norte da capitania das Minas, as incursões de caráter colonizador promoveram contato entre portugueses e
nativos. Partindo do litoral, os colonizadores se aventuraram pelo interior - denominado de sertão - com representa-
ções já construídas para esse território: era um lugar no qual se poderiam encontrar riquezas, mas era distante e não
colonizado. Lugar habitado por índios selvagens e animais bravios. Achegada de portugueses em áreas ocupadas por

113
nativos resultou em intensos confrontos entre ambos os povos. Pretensamente civilizados, os colonizadores objetiva-
ram civilizar e catequizar os indigenas, com a compreensão de que a cultura destes era extensão menor da cultura
européia. Por isso, foram vistos como bárbaros. Nesse contato de matrizes culturais distintas, as relações foram
conflitantes e acomodativas também. Práticas culturais diferenciadas foram desenvolvidas em um mesmo território,
promovendo um processo de sobreposição, mestiçagem e influência de costumes e de hierarquização de culturas.

Fernando Torres·Londono - PUC·SP


Os jesuítas e a cristianização dos tupis nas missões de Maynas
Na segunda metade do século XVII, missionários das missões de Maynas introduziram o cristianismo entre povos de
lingua tupi, localizados nos rios Huallaga, Ucayali e Amazonas. Temidos pelos seus vizinhos e pelos europeus que
transitavam a região, povos como os Cocamas e os Omaguas, foram trazidos para o cristianismo e cumpriram impor-
tante papel na afirmação espacial das missões. Que situações e mudanças demográficas, regionais e culturais pode-
riam explicar a aproximação duradoura entre missionários e povos considerados de dificil redução? Que tipo de pratica
missionária seria adotada pelos jesuitas que fizeram tal aproximação? No marco de estas indagações, esta comunica-
ção se propõe identificar nos missionários que atuaram com os tupis, traços que marcaram sua dinâmica de contato
com um caráter diferenciado, que lhes permitiu transitar culturalmente entre o projeto missionário e o universo indige-
na. Crônicas missionárias e registros da época serão utilizados como fontes.

Artur Henrique Franco Barcelos· UCS


Os "Embaixadores" indígenas dos jesuítas na exploração e evangelização em territórios americanos
Os missionários da Companhia de Jesus foram executores e promotores de uma evangelização em larga escala no
continente americano. Entre os séculos XVI e XVIII, exploraram áreas onde o contato entre indígenas e europeus era
apenas incipiente. Neste proceder, valeram-se do auxilio de indígenas que detinham os conhecimentos necessários
não apenas para estabelecer os contatos com grupos locais, mas também para os deslocamentos em regiões geográ-
ficas inacessíveis para missionários solitários. Desta forma, estes mediadores culturais exerciam múltiplas funções.
Encarregavam-se de passar as primeiras mensagens sobre os objetivos religiosos dos jesuitas; e guiavam as expedi-
ções exploratórias, garantindo a sobrevivência dos missionários frente á uma geografia, fauna e flora desconhecidas.
As fontes documentais escritas e cartográficas produzidas pelos jesuitas, embora marcadas pelos interesses particu-
lares de êxitos na ação evangelizadora, permitem uma aproximação com estes 'embaixadores' e 'guias', fundamen-
tais para a expansão da ação missionária da Companhia de Jesus na América colonial.

Inez Garbuio Peralta - FFLCH e Vara Kassab • : FINTEC e Uniítalo


O desvelar das interações cotidianas entre jesuítas e indígenas brasileiros, no século XVI: privilegiando o
lúdico
Pretende-se neste trabalho, analisar os espaços onde culturas dispares se encontram, se chocam e se entrelaçam,
freqüentemente em relações assimétricas de dominação e subordinação, tratando-se as relações entre jesuitas e
indígenas, não em termos de separação ou segregação, mas em termos de presença comum, interação, entendimento
e práticas interligadas. Busca-se resgatar demonstrações de alegria, senso de humor e de praticas lúdicas na cateque-
se jesuítica no Brasil do século XVI. Os jesuítas ao observarem as práticas dos indígenas brasíleiros, tais como o
canto, a dança, os jogos mímicos, e os discursos, decifram os códigos lúdicos dessas atividades, utilizando-as para
introduzir nas aldeias a religião cristã e a cultura européia representadas, ambas, pela coroa portuguesa. Logo que os
jesuítas aportaram nas terras brasileiras, munidos de um instrumental pedagógico, adrede preparado, preocuparam-se
em colocar em açâo a míssão inaciana no Brasil colônia, isto é educar e catequizar, utilizando-se da ludicidade. A
analise desta pesquisa se estrutura a partir dos estudos fundamentados em: cartas, informações, fragmentos, sermões
e poemas jesuíticos.

Antonio Oari Ramos - URI/Santo Ângelo


Negros, índios e brancos no discurso jesuítico dos séculos XVII e XVIII
Qual o tratamento dado pelos jesuítas nos relatos acerca do trabalho missionário realizado na Provincia Jesuítica do
Paraguai nos séculos XVII e XVIII ás relações étnico-raciais de negros, índios e brancos? Para responder a esta
questão, as fontes pesquisadas foram as crônicas, as correspondências dos missionários remetidas da América para
Roma, as Cartas Anuas, e os documentos da Ordem. A perspectiva historiográfica adotada é e da Nova História
Cultural, priorizando-se o diálogo entre História e Antropologia e as atuais discussões sobre o multiculturalismo.

114
17/07 - Terça-feira - Tarde (14h às 18h)

Eliane Cristina Deckmann Fleck - Unisinos


A conversão em três tempos: narrativa e experiência Jesuítica na Províncía Jesuítica do Paraguai
As experiências cotidianas vividas pelos Guarani e pelos missionários jesuitas nas reduções da Provincia Jesuítica do
Paraguai, registradas nas Cartas Ânuas, foram alvo - simultaneamente - da evocação de um passado condenável e de
um futuro promissor, determinando - em grande medida - o tratamento dado pelos missionários narradores ao tema da
conversão, ora exitoso, ora comprometido pelo retorno insistente do passado no presente. A análise que empreende-
mos da documentação jesuítica nos permite refletir sobre o impacto dessas experiências no exercício do apostolado
jesuitico e sobre a construção discursiva acerca da conversão dos indigenas Guarani. Tomando como referência três
momentos distintos da atuação missionária jesuítica na Província Jesuítica do Paraguai, esta comunicação considera-
rá não somente as prescrições normativas a que estavam sujeitas as Cartas Ânuas e os contextos políticos - marcados
por suas especificidades - nos quais atuaram, mas também a interferência da dimensão humana do misisonário-
narrador nas narrativas sobre a conversão.

Eduardo Santos Neumann - UFRGS


"Letra de índío": cultura escrita e memória indígena nas reduções- século XVIII
A prática da escrita entre os guaranis foi acentuada a partir da celebração do Tratado de Madri, em 1750. A permuta de
territórios sul-americanos, por parte das monarquias ibéricas, implicou em novas funções a cultura letrada indígena
nas reduções. Em meio à expressiva produção de cartas oficiais, com eminente caráter político-administrativo, e de
comunicação pessoal -através de bilhetes-, alguns guaranis aventuraram-se em uma escrita com características de
@
14
um relato. A elite letrada guarani recorreu a escrita tanto para transmitir informações, quanto para fixar determinados
fatos considerados dignos de memória. Em certo sentido, escrever havia assumido entre os índios letrados a condição
de um testemunho que imaginavam não seria superado facilmente. O interesse indigena em deixar registros de suas
experiências e inquietações demonstra como escrita e memória estavam imbricadas no cotidiano da população missi-
oneira. No século XVIII os guaranis letrados escreveram com freqüência e, por vezes, com maior desenvoltura do que {g
os colonizadores hispano-americanos. Q)

Beatriz Helena Domingues - UFJF


Platão e os Guaranis: uma análise da obra de Joseph Perramás à luz das utopias européias renascentistas e
das teorias ilustradas sobre o Novo Mundo

~t~~if:~:~:~c~~~is~:s(~~~su;g~~~~~l~~ ~b~~~eo:~~~s~toss t~~~~:d~~ ~i~;~~~u~~~~u~u~~~~~~~~~~~e~e~~: ~~ .;


nham por pressuposto e conclusão a inferioridade da América em relação à Europa. Diferentemente dos autores .~
renascentistas o autor enfatiza a veracidade do seu relato sobre a experiência civilizadora dos jesuítas entre os guara- ~
nis devido à sua longa vivência entre eles. Esta mesma vivência foi o argumento central utilizado pelo jesuíta ao reagir ~
contra os escritos dos 'filósofos de gabinete' europeus contemporâneos a ele, como Cornelius de Pauw e Raynal. .~
Enfatizo entretanto, neste texto, o pertencimento do autor ao pensamento ilustrado por ele criticado expresso, por E
exemplo, na coexistência em seus escritos uma crítica à Ilustração européia e uma adesão a alguns de seus princípios i:5
mais caros, como a oposição civilização/barbárie.

Luiz Estevam de Oliveira Fernandes· UNICAMP


A invenção de Anáhuac: a memória indígena e a conquista na Nova Espanha do XIX
Neste trabalho, comparamos duas importante obras escritas no XIX sobre a Nova Espanha: o "Ensayo Político de la
Nueva Espana' (1811), de Alexander von Humboldt, e "Historia de la revolución de Nueva Espana .. ,' (1813), de Frei
Servando Teresa de Mier. Os dois livros, o primeiro escrito por um europeu em terras mexicanas, e o segundo, feito por
um mexicano exilado na Europa, foram muito influentes para os ideólogos da nascente nação mexicana nos anos que
se seguiram às lutas de independência, e acabaram por eleger memórias que se consolidaram na historiografia se-
guinte e por relegar ao silêncio algumas que outrora haviam sido importantes para entender a Nova Espanha. Nessa
comunicação, procuramos analisar a construção da memória indígena e da conquista para seus autores, bem como o
impacto dessas edificações para a historiografia sobre o período colonial.

Bruna Rafaela de Lima· Unísinos


Os jesuítas no processo de conquísta da Capítanía do Rio Grande - os olhares de Tavares de Lira e Cãmara
Cascudo
A historiografia clássica norte-rio-grandense, responsável pela escrita da história do período colonial do Rio Grande do
Norte, tratou da atuação jesuitica como um elemento propiciador da colonização, apresentando os missionários inaci-
anos como plenamente identificados com a atuação dos colonos. Um dos indicios dessa percepção se evidencia no
uso de determinados conceitos como os de catequização e pacificação, a eles atribuidos e que reduziram o papel dos

115
jesuítas a um prímeíro momento do processo de colonização, obscurecendo toda uma complexidade que caracterizou
o período posteríor. Nesta comunicação, analisamos os discursos de Augusto Tavares de Lira e Luís da Câmara
Cascudo sobre a atuação jesuítica no Rio Grande do Norte durante o período colonial. A opção pelas obras dos dois
historiadores recai sobre o fato de que ambos são naturais do estado e se propuseram a escrever uma história-síntese
que aínda hoje influencia a produção local. Nossa intenção é, portanto, a partir de uma releitura das obras 'História do
Rio Grande do Norte', datadas de 1921 e 1955, respectivamente, verificar se Tavares de Lira e Câmara Cascudo
perceberam - em algum momento - os inacianos como mediadores culturais, no processo de Conquista da Capitania
do Rio Grande.

Luciano dos Santos Teixeira -IPHAN


Os Jesuítas no Espelho da Nação: o patrimônio jesuítico em Gilberto Freire, Sérgio Buarque de Holanda e Caio
Prado Jr.
O processo de colonízação e evangelização da América Portuguesa por parte da Companhia de Jesus gerou, desde o
início da historíografia brasileira, intensas discussões a respeito não somente do impacto de sua ação em nossa
história, mas também dos dilemas da formação de nosso estado-nação. A historiografia brasileira tem se utilizado,
muitas vezes, do estudo do legado jesuítico como um espelho pelo qual analisa os diversos modelos de formação
nacional propostos para o país. As obras clássicas de Gilberto Freire (Casa Grande e Senzala, 1933), Sérgio Buarque
de Holanda (Raízes do Brasil, 1936) e Caio Prado Jr. (Formação do Brasil Contemporâneo, 1942), sob perspectivas
diversas, ao renovarem a historiografia brasileira. proporcionaram também novos enfoques sobre este legado, questi-
onando a maneira pela qual os jesuitas eram tradicionalmente encarados: como formadores da nação, no mesmo
momento em que era críada pelo governo brasileiro uma instituição voltada para a defesa e promoção do patrimônio
histórico e nacional: o SPHAN, em 1937. O confronto entre essas abordagens distintas em relação à herança deixada
pelos soldados de Cristo durante o processo de colonização, marcaria uma nova visão sobre o patrimônio jesuítico.

Cíntia Régia Rodrigues - UCS


Os nativos sob a luz da modernidade: a política indigenista sul-riograndense na "era do progresso" no século XX
O presente trabalho tem como objetivo analisar as políticas públicas empreendidas pelo Estado do Rio Grande do Sul
para com as populações nativas, entre 1908 a 1928. O progresso neste período no país foi permeado principalmente
a partir de novas teorias filosóficas advindas da Europa, como o darwinismo, o spencerianísmo, o liberalismo, e princi-
palmente o posítívismo. Para Berman a modernidade pode ser entendida como um conjunto de transformações, expe-
riências quinhoadas pela sociedade, a partir de diversas e contínuas mudanças no cenário capítalista. Desta forma,
pretende-se apresentar o ideal de progresso no Estado Gaúcho para com os nativos, em especial, objetíva-se visuali-
zar a prática da proteção fraternal aos nativos, sob a égíde dos ideá rios comteanos que permeavam a política indige-
nista sul-riograndense. sendo que estes, eram contrários que os religiosos se encarregassem dos indígenas.

Josemary Omena Passos Ferrare - UFAL


O partido triádico enquanto indutor da "colonização" religiosa: análise espacial e de festejos tradicionais em
Marechal Deodoro-Alagoas
Configurar espacial idades para disciplinar comportamentos constituiu-se estratégia do Projeto Colonizador Português
para a ocup'ação do litoral brasileiro movido, dentre outras condicionantes político-econõmicas, pelo empenho de
difundir a FE Cristã, o que lhe fez condicionar a disposição do edifícío - igreja 1largos 1enfileirados bilateral de casas
como um 'partido triàdico', propiciador da assimilação da doutrina a partir da prevalência cênica das igrejas e disposi-
ção favorável para a realização de procissões ditadas pela conjunção Estado - Igreja, tanto para os aldeamentos
missionários como para os núcleos que se urbanizavam. Sob uma análise de tal ascendência da religião dos coloniza-
dores enfoca-se a ex-Alagoas do Sul da Capitania de Pernambuco (atual Marechal Deodoro) para discorrer sobre o
quanto a sua forma urbana e a permanência da ritualística de festas religiosas e folguedos tradicionais evidenciam a
tônica Contrareformista que impingiu à sociedade em formação, ao longo dos séculos XVII- XIX, não apenas o mesmo
calendário lítúrgico, mas também, o modelar de parâmetros espaciais que lhe impulsionariam o ideário de convencer
consciências e nivelar comportamentos para engajar as três etnias coexistentes: índios, brancos (colonos) e negros,
nesta empresa do COLONIZAR.

I 18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h)

Ana Raquel Marques da Cunha Martins Portugal- UNESP/Franca


Transformações do ayllu andino como reflexo de uma sociedade mestiça
O ayllu tem sido analisado com o intuito de se encontrarem as bases estruturais da atual comunidade indígena perua-
na, sendo que a palavra comunidade tem sua origem no período colonial, quando os espanhóis criaram as reduções
ou comunidades de índios, que eram territórios demarcados para atender às necessidades produtivas da Coroa. Os

116
primeiros trabalhos sobre esse assunto tratavam basicamente de sua origem e desenvolvimento até o período incaico.
A princípio, o ayllu foi definido como uma unidade de organização social ligada por laços de parentesco de origem
totêmica e que explorava coletivamente a terra. No início da colonização espanhola o ayllu prosseguiu com as mesmas
características, porém ao ser inserido num novo sistema político-administrativo as foi perdendo e já no século XVIII
passa a ter uma acepção territorial, quando esse termo é trocado pelo vocábulo 'barrio'. Essa mudança de terminolo-
gia expressa a influência da sociedade mestiça que se formava e também um distanciamento das formas de organiza-
ção política herdadas do incário.

Mirian Carbonera - Universidade Comunitária Regional de Chapecó


A Tradição Tupiguarani no alto Rio Uruguai
O trabalho objetiva discutir a Tradição Tupiguarani noAlto Rio Uruguai. Pesquisas arqueológicas realizadas durante as
últimas cinco décadas, especialmente por Schmitz (1957,1978). Rohr (1966), Piazza (1969,1971) e Goulart
(1980,1985,1989,1995,1997), revelaram que o Rio Uruguai foi o principal meio utilizado por esses grupos para povoar
a região. Notadamente percebemos variações regionais através da cultura material encontrada em centenas de sítios
arqueológicos, que estão distribuídos, especialmente nas subtradições: corrugada, pintada e escovada. A principal
fonte de dados deste trabalho, são as informações encontradas na bibliografia arqueológica produzida sobre o Alto
Uruguai e principalmente através da 'Coleção Marilandi Goulart'. O recorte selecionado, recai sobre a região atingida
pela UHE-Itá, que compreende os municípios de Ita, Concórdia, Ipira e Piratuba, onde nota-se uma variação cultural
expressa na mudança do estilo corrugado, até ali predominante, para o estilo escovado, ao que tudo indica, o limite de
ocupação da Tradição Tupiguarani e os primeiros contatos com os colonizadores europeus.

Amo Alvarez Kem - PUCRS @


Do pré-urbano ao urbano: a cidade missioneira colonial e seus territórios
Este é um estudo das aglomerações urbanas ibero-americanas coloniais fundadas por missionários no Rio da Prata,
na transição das aldeias ao urbano, a partir de suas origens históricas indigenas e européias. Interpretar a transição
das formas pré-urbanas às formas urbanas significa, antes de tudo, tentar compreender quando uma etnia e seus .g;
grupos sociais tornam-se sedentários e passam a se identificar em termos de uma identidade comunitária. A resposta
a esta questão não é nada simples, nem para arqueólogos e nem para historiadores. Entretanto, existem indicios sobre ~
o crescimento e o desenvolvimento destas novas aglomerações urbanas que podem ser obtidos na documentação 'g.
histórica e na cultura material remanescente. §
'"'co
Luis Alexandre Cerveira . Unisinos ~co
As paixões e a cidade platina: o urbano como espaço de transgressão (Assunção e Buenos Aires, primeira .~
metade século XVIII) <g?
Neste trabalho, nos propomos a refletir sobre as paixões - do corpo e da alma - vividas pelos colonos platinos, em 'Õ
especial, daqueles residentes nas maiores cidades do Prata na primeira metade do século XVIII. Paixões estas que ~
foram alvo do discurso missionário jesuíta, fortemente marcado pelo combate às paixões e pelo regramento dos com- .~
portamentos. Interessa-nos avaliar as reações dos colonos a esta pregação, isto é, se cumpriram fielmente às determi- ~
nações eclesiásticas ou se continuaram vivenciando suas paixões de forma clandestina; se enfrentaram e afrontaram ~
publicamente as decisões da Igreja ou viveram suas paixões de uma forma diferente, a partir de sua ressignificação.
Entre os muitos fatores que devem ser considerados, destacamos a ausência de privacidade - moradias muíto próxi-
mas - e o intenso fluxo de pessoas nos diversos espaços urbanos de sociabilidade ,e que, oportunizaram vivências
diferentes daquelas pensadas e propostas pela pregação de controle e supressão das paixões pelos jesuítas. Deve-
se, ainda, considerar, que a maior 'publicidade' da vivência das paixões provocou a ruina de muitos colonos - homens
e mulheres -, mas também aproximou espanhóis, criollos, negros, índios e mestiços sob a marca da dissimulação, da
transgressão e do pecado, enfim das paixões.

Sonia Maria Fonseca - UNICAMP


A formação para o trabalho na Companhia de Jesus no Brasil Colônia (1549-1759)
Esta comunicação tem como tema a questão da formação para o trabalho na Companhia de Jesus, sob a ótica das
relações entre educação e trabalho, encerrado entre as datas-balizas de 1549, com o estabelecimento da ordem
religiosa e 1759, quando da sua expulsão, período esse marcado por uma estrutura econômica e um sistema escravis-
ta que não se alteram substancialmente na sociedade colonial brasileira. Tal análise é feita a partir de fontes primárias
existentes no Archivio Storico della Compagnia de Gesu (Archivum Romanum Societatis lesu - ARSI) e na Biblioteca
dell' Istituto Storico, em Roma, e das obras dos cronistas da ordem inaciana, como Crônica da Companhia de Jesus no
Estado do Brasil, do Pe. Simão de Vasconcelos (c. 1596-1671), Cultura e Opulência do Brasil, de André João Antonil
(1649-1716) e Artes e Ofícios dos Jesuítas no Brasil (1549-1760), do Pe.Serafim Leite (século XX), além das cartas
jesuiticas dos padres Manoel da Nóbrega, José de Anchieta e Azpilcueta Navarro (século XVI), escritas nos chamados
tempos heróicos (1549-1570).

117
Dalila Zanon - Unicamp
<IA missa e a fábrica: tentativas de controle dos espaços das igrejas pelos bispos coloniais paulistas (1745-
1796)"
Segundo John Bossy, a partir do Concílio de Trento houve a intenção da Igreja em canalizar as atividades religiosas
para o espaço das paróquias, Partindo dessa assertiva analisaremos as tentativas de controle dos espaços das igrejas
pelos três primeiros bispos de São Paulo colonial. Os documentos que serão apresentados são as cartas pastorais dos
bispos e os registros das visitas pastorais das freguesias, Focalizaremos dois aspectos: primeiro, a igreja, especial-
mente a missa dominical, como espaço e momento privilegiado de doutrinação dos fiéis, inclusive com a tentativa de
imprimir uma espiritualidade que ultrapassasse as atividades exteriores da fé, Segundo, a igreja como lugar de super-
visão e controle episcopal passando pela administração das rendas e do patrimônio das igrejas e capelas depositados
em suas fábricas. Tais aspectos, fazem parte, a nosso ver, do esforço da Igreja em implantar a reforma tridentina no
território colonial, privilegiadamente a partir do século XVIII.

Patricia Carla de Melo Martins - FAECA


O ensino secundário na província de São Paulo e os capuchinhos franceses (1854-1879)
A presente exposição tem como propósito discutir os aspectos do catolicismo da Província de São Paulo que se
organizaram por intermédio do Seminário Episcopal. Discussão esta que perpassa o processo de criação do Seminá-
rio na cidade de São Paulo, o sistema educativo adotado, permeado pela aplicação de uma Filosofia Teológica produ-
zida na França no final do século XIX, O Seminário compactuou com a primeira fase de um desenvolvimento intelectu-
al brasileiro em que a elite política passa a ser configurada por intermédio dos cursos profissionalizantes, entrando em
contato com os conteúdos eruditos que se desenvolveram na Europa reinterpretados dentro da realidade brasileira.
Naquele contexto o Seminário de São Paulo se tomou um representante da tradição e do conservadorismo, concate-
nando interesses políticos da monarquia de Pedro 11, de uma ala do clero paulistano, dos capuchinhos franceses de
Savóia e do Vaticano, O Seminário proporcionou, ao longo da segunda metade do século XIX e início do século XX, a
manutenção dos conceitos teológicos, colaborando com as continuidades da legitimidade cultural do catolicismo na
organização do Estado Moderno Contemporâneo brasileiro,

Patrícia Ferreira dos Santos - USP


A ação pastoral nas Minas sob o Padroado Régio; convergências e divergências
Pretendemos analisar, em nossa comunicação, as diferentes situações de impasse na ação pastoral da Igreja, cujos
bispos vira-se por vezes entre um Sentir com o Reino e um Sentir com a Igreja.A ação pastoral nas freguesias setecen-
tistas de Minas deixou evidente preocupação em promover o culto católico tridentino. Paralelamente, teria se pautado
por diretivos que, conforme classificou Fernando Torres-Londofio, representavam sua consonância com o ambiente
politico da época: o Sentir com o Reino, Este diretivo dever-se-ia ás circunstâncias do Padroado, direito que acabava
por levantar questões políticas bastante melindrosas e que pressionavam os agentes da Igreja a tomarem posições,
por vezes, em momentos de ebulição. O bispo vir-se-ia, então, dividido entre suas próprias convicções ou simpatias e
a manutenção de um equilíbrio no governo que fazia de seu rebanho. Chocar-se-iam então dois diretivos da ação
pastoral: o Sentir com o Reino e o Sentir com a Igreja. Foi exemplo de tal situação o caso da expulsão dos padres
Jesuítas da América Portuguesa, em 1759, Dom Manoel da Cruz limita-se á publicação da carta que recebera de Sua
Majestade, publicando a sentença aos padres da Companhia por seus "atrocíssimos crimes' , analisaremos este
episódio de impasse e outros,

Luís Fernando da Silva Laroque - UNIVATES


Os Kaingang e sua relação com Missões Jesuítica, Capuchinha e Luterana no sul do Brasil
Os Kaingang são populações pertencentes ao grupo Je e sobreviveram ao impacto das expedições ibéricas do século
XVI ao XVIII. Tradicionalmente ocupavam espaços das Bacias hidrográficas do rio Tietê até os das Bacias Atlântico
Sul. Este trabalho, tendo como delimitação temporal o século XIX e a primeira década do século XX, objetiva estudar
os Kaingang como sujeitos históricos em relação á missão jesuítica, capuchinha e luterana, as quais, representando
mecanismos da Frente de Expansão, penetraram sobre o mundo nativo, Teórico-metodológico a pesquisa se compõe
de fontes documentais analisada com referenciais de Sahlins, Geertz e Clastres, Como resultado, apresentamos,
entre os anos de 1845/1852, as tentativas de Missão Jesuítica com os Kaingang no Rio Grande do Sul. Logo a seguir,
as Capuchinhas atuaram, por volta de 1855/1895, com os Kaingang no Paraná, no periodo de 1888/1889 e 1902/1907,
com os de São Paulo e, no decênio de 1903 a 1913, com os do Rio Grande, Entre 1900/1904, a Luterana atuou com os
Kaingang em territórios rio-grandenses, Em relação a estas missões, constatamos que os Kaingang, orquestrando os
eventos pelos seus próprios parâmetros culturais, em algumas situações, aceitaram as negociações propostas pelos
religiosos enquanto que, em outras, recorreram à guerra.

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Carlos Daniel Paz -IEHS-UNCPBA I CONICET
Menores necesitados de tutela ... pero sin sus Padres. Los caciques indígenas y sus gentes ante las autorida-
des residentes hispanas en el Rio de La Plata
La evangelización de los indígenas chaquenos, a manos de los Sacerdotes Jesuítas, suponía algunos requisitos que
debian ser cumplidos a los efectos de que la conversión diera frutos. Las tareas misionales, en el espacio chaqueiío
oriental, dieron sus frutos si es que pensamos en qué los mismos pueden ser evaluados desde la conformación de
pueblos que perduraron en el tiempo. A pesar de los esfuerzos jesuitas por detener la conflictividad indígena, que en
alguna medida contribuyó a que los pueblos de Misión se formaran, la misma continúo tanto durante el período misio-
nal como luego de la Expulsión. A posteriori dei extraiíamiento de la Compaiiia el proceso de complejización social, en
torno a la construcción de posiciones de rango, continúo el camino inaugurado desde la Misión. Algunos líderes indige-
nas, convertidos en caciques de sus pueblos, tuvieron una importante presencia en la historia colonial. EI objetivo de
esta presentación es volver sobre estos personajes y sus acciones a los efectos de poder pensarlos, desde la óptica
hispano-colonial como un efecto residual de la politica misional y como un relicto de una vieja política en tiempos
nuevos.

I 19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h às 16h30min)

Leandro Karnal - Unicamp


O Novo Mundo chega ao Céu: santidade, representação e identidade nas Américas
O processo da chamada "conquista espiritual" requeria que a vitória da Cristandade no Novo Mundo fosse acom panha-@4
da de confirmações celestes. A canonização ou beatificação de personagens nativas das Américas ou que aqui atua-
ram, faz emergir debates importantes. Os processos de Rosa de Lima, Toribio de Mogrovejo, Felipe de Jesus, Francis-
co Solano, Martinho de Porres, Mariana de Jesus, Roque González, Juan Masias e Juan Diego revelam uma fonte
extraordinária para entender a cultura e os jogos de poder entre as sociedades constituidas nas Américas, a coroa
espanhola e o papado. Pretendemos analisar questões como a identidade criolla, os modelos hagiográficos e a icono- -{g
grafia da santidade nas colônias espanholas. '"
!3
Olivia Barreto de Oliveira Cappi '"
'g.
Santa Rosa de Lima: Identidade Criolla e Santidade na América Hispânica dos séculos XVI e XVII ~
Isabel Flores de Oliva, ou Santa Rosa de Lima, nasceu em Lima no ano de 1586, e morreu ali em 1617. Seu periodo de -{g
vida coincide com o governo do vice-rei Francisco de Toledo, época de prosperidade no vice-reino do Peru devido à ~
otimização da exploração da prata nas minas de Potosi. Os criollos (nascidos na América, mas filhos de espanhóis) .~
também começaram a se consolidar como elite econômica nesta época, e exigir maior participação na política do vice- .'"
reinado e reconhecimento por parte da coroa espanhola, assim como da Igreja católica. Lima era um centro urbano ~
para espanhóis e depois para criollos desde o início, e concentrava a luta dos criollos por este reconhecimento. O ::;
projeto evangelizador da Igreja Católica se desenvolvia no Peru após o periodo conturbado da conquista e de sua .~
consolidação. Santa Rosa de Lima foi a primeira santa americana, canonizada em 1671. Todo seu processo foi finan- ~
ciado pela elite criolla limenha, e suas biografias destacam sua origem criolla e sua ligação com Lima. Tendo isto em ~
vista, faz-se importante pensar a possível relação existente entre sua canonização e a construção da identidade criolla
na Lima do século XVII, assim como as figuras de santidade e o catolicismo que se consolidaram na América durante
a colonização.

Renato Cymbalista - Escola da Cidade - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo


O território dos mártires: narrativas de martírios e a construção do território cristão na América Portuguesa
No início da Idade Moderna, o território das cidades portuguesas encontrava-se permeado por narrativas de martírios,
fundadoras e protetoras das cidades. Em um tempo e espaço altamente regulados pela dimensão religiosa, era impen-
sável para os cristãos do século XVI a idéia de viver e de construir territórios sem a mediação dos santos e dos
mártires. Este trabalho mostra que os mártires atravessaram o Atlântico e foram personagens fundamentais também
na construção e ocupação do território na América portuguesa: suas imagens, suas narrativas e até mesmo seus ossos
- as relíquias sagradas - eram contraparte simbólica da ocupação material e os mártires foram indispensáveis a cons-
tituição de todas as principais povoações da colônia. O trabalho traz fontes que mostram também que o poder dos
mártires no inicio da ocupação exerceu-se também entre os índios Tupi, veiculado principalmente pelos jesuitas. A
hipótese é a de a figura combativa e sagrada do mártir permitiu o estabelecimento de traduções e interlocuções entre
cristãos e Tupis, pela possibilidade de aderência com a figura dos grandes guerreiros, personagens estruturantes da
sociedade dos índios. O trabalho aciona fontes diversificadas: hagiografia, fontes impressas da época, teatro jesuitico,
entre outras.

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Luís Kist - Unisinos
A formação do jesuíta brasílico e do cristianismo tupi no século XVI
Após alguns anos instalada no Brasil, iniciou dentro da Companhia de Jesus um movimento preocupado com a exclu-
são da influência dos costumes brasílicos na ordem expresso no crescente rigor na seleção de seus candidatos, No
entanto, mesmo com essa preocupação e esse rigor, ela não conseguiu evitar que os jesuítas no Brasil incorporassem
elementos de ínfluência indígena e assumíssem características tipicamente brasílicas, Da mesma forma, embora os
jesuítas zelassem cada vez mais pelo rigor na catequese indígena brasileira, limitassem a concessão dos batismos
unicamente aos índios que davam mostras de sincero desejo de abandonar os costumes gentílicos e implicassem na
exigência de que os convertidos deviam assumir uma vivência caracteristicamente cristã, eles não conseguiram livrar
o crístianismo emergente no Brasil da marca indígena, Fica, pois, exemplíficado que o contexto brasileiro do século
XVI gestava transformações identítárias tantos nos europeus que vinham para cá, como no nos índios que aqui habi-
tavam,

Paulo Rogério Melo de Oliveira - UNIVALI


Nossa Senhora Conquistadora e a Conquista Espiritual da América
Na tradição cristã católica, especialmente na espanhola e jesuítica, a ímagem da Virgem foi presença constante ao
lado dos missionários e conquistadores como escudo protetor e estandarte da fé, Uma conhecida hístória de devoção
mariana é a de Roque Gonzalez, que levava consígo nas suas andanças missíonárías uma imagem de Nossa Senho-
ra, O padre provincial Diego de Torres em visita a redução de Santo Inácio Guaçu presenteou o padre Roque com um
quadro da Virgem, representando a Imaculada Conceição. A imagem foi recebida com grande regozijo e carregada á
redução por quatro caciques, Dois morubíxabas que acompanhavam á dístância a entrada da Virgem na redução
pareciam não estar muito tocados pela situação. Convidados a se catequizarem, recusaram e desapareceram na
selva, No dia seguinte os dois chefes retomaram a Santo Inácio, acompanhados de outro cacique, e se dispuseram a
aceitar a catequização, Entusiasmado pela presença prodigiosa da Virgem, padre Roque passou a chamá-Ia de Con-
quistadora. Dai para frente, até a sua morte em 1628, passou a levar sempre consígo a imagem a todas as novas
reduções, atribuindo a ela o sucesso das campanhas missíonárias, A partir desta metamorfose da Virgem, proponho
uma reflexão sobre o significado da Conquista para os jesuítas na América,

Fabiana Pinto Pires - Unisinos


Punições corretivas nas Reduções Jesuíticas do Rio da Prata (século XVII)
A pesquisa analisa os registros de punições corretivas em documentos jesuíticos referentes às Reduções do Rio da
Prata, no século XVII, Pensa-se em punições sob duas perspectivas: a primeira, utiliza-se do castigo como instrumento
de inserção de culpa cristã. A segunda, privilegia a descríção de delitos indígenas,

15. Dinâmica Imperial no Antigo Regime Português


João Luís Ribeiro Fragoso (UFRJ) e Maria de Fátima Silva Gouvêa (UFF)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h às 18h) I
Francisco Carlos Cosentino - UFV
Governadores gerais e governação no Estado do Brasil no pós-Restauração (1647-1694)
O objetivo dessa comunicação é identificar os poderes delegados aos governadores gerais do Estado do Brasil após a
Restauração portuguesa, por meio da comparação das cartas patentes que foram a eles concedidas pelos reis de
Portugal desse período, Tendo por base os poderes delegados aos governadores gerais pelas suas cartas patentes e
pelos regimentos em vigor durante esse momento - o de Diogo de Mendonça Furtado e o de Roque da Costa Barreto
- definidores das atribuições básicas desses servidores do Estado do Brasil, juntamente com a correspondência
trocada entre eles, os reis e outras órgãos da administração portuguesa e do Estado do Brasil, pretendemos recons-
truir parcialmente o exercício da governação nessa parte do império português, Assim, pretendemos com essa comu-
nicação tratar não só dos poderes delegados aos governadores gerais do Estado do Brasil, mas do exercício da
governação, dimensionando a sua autoridade e proeminência na América portuguesa,

Sandro Giovanni Mendes Cunha - UFMG


Cultura política nos Motins do Sertão do São Francisco, 1736
História colonial brasileira e o universo das Minas Gerais no século XVIII. As relações de força entre os poderosos no
período das descobertas de ouro e da ocupação do território, Com ênfase no tema dos motins e rebeliões e as suas

120
relações para a montagem da estrutura administrativa portuguesa e os reflexos na cultura política brasileira.

Carlos Alberto Medeiros Lima e Ana Maria da Silva Moura - UFPR


O espaço da América Portuguesa no Império Luso em dois momentos (a União Ibérica e o Tratado de Madri)
As discussões contemporâneas sobre o Império Luso têm dado lugar importante á projeção espacial das relações
sociais e políticas: o enraizamento de elites e das dinâmicas de crescimento; o lugar central das redes supra-regionais;
a importância das redes supra-regionais nos trajetos de acumulação; a incorporação da distância como raiz de renta-
bilidade nas descrições do comércio de grosso trato; a abertura de trajetos de circulação e de tráfico de escravos a
partir de mudanças políticas como a União Ibérica; as identificações socialmente reconhecidas derivadas de relações
de dominio sobre grupos diversos e, assim, distantes. Desse modo, aquelas discussões vêm conferindo um lugar
absolutamente fundamental ao modo de percepção e á prática das articulações espaciais (homogeneidade, conti-
güidade, controle; ou hierarquias de núcleos e subnúcleos, cunhas e cabeças-de-ponte). Abordamos dois momen-
tos de rearticulação da variável sócio-espacial, ambos em quadra de reformulação das relações com espanhóis.
Comparamos as projeções espaciais estabelecidas durante a União Ibérica (Livros Primeiro e Segundo do Governo
do Brasil, sobretudo) e na conjuntura que precedeu o Tratado de Madrid (trajetória intelectual e política de Alexan-
dre de Gusmão).

Enaile Flauzina Carvalho - UFES


Memórias do Espirito Santo no século XIX: entre o discurso político e a história econômica
As Memórias, relatórios escritos pelos governadores e presidentes de Provincias e enviados ao Govemo Geral do
Brasil, prestavam informações estatísticas sobie a sociedade do Espírito Santo. Farei a avaliação de alguns destes
ofícios escritos entre 1790 e 1830, evidenciando o discurso usado pelos políticos e a situação econômica da Capitania/
Província. A ligação da elite politica provincial com o Estado viabilizou em diversos momentos, a entrada de novos
investimentos para o Espírito Santo. No que tange a elite econômica, esta se servia de cargos e alianças, para estabe-
lecer-se como elite política, como foi o caso das famílias dos Monjardino, Ribeiro Pinto, Tovar, Batalha, Pinto Homem
de Azevedo, etc., em que seus membros exerceram cargos políticos através da força de seu patrimônio. Tais documen-
tos comprovam ainda, a autonomia da região capixaba no que se refere à subsistência, além de sua inserção como
entreposto comercial e provedor de víveres para outras regiões do Brasil. Os dados averiguados apontam para uma
balança comercial positiva, auto-suficiência em artigos de primeira necessidade com a produção praticada por propri-
etários/comerciantes, mas ainda assim, o discurso político era de desânimo, devido à inexistência do modelo ideal de
sistema colonial- a plantation.

Adriana Barreto de Souza - UFRRJ


O Conselho Supremo Militar e de Justiça e as instituições da justiça militar (1808-1831): notas sobre uma
tradição militar de Antigo Regime
O Conselho Supremo Militar e de Justiça era o órgão máximo da justiça militar criada por d. João quando da chegada
da corte ao Brasíl, em 1808. Ele era dividido em duas seções, o Conselho Supremo Militar e o Conselho de Justiça. O
primeiro deles dava continuidade à tradição do antigo Conselho de Guerra de Lisboa, sendo regulado, dentre outros
documentos, pelo Regimento de 22 de dezembro de 1643. Já o Conselho Supremo de Justiça seguia uma tradição
mais recente, fundada por d. Maria I, com decretos de 1777. Mas, além do Conselho Supremo Militar e de Justiça, a ~
justiça militar da época era integrada por outras instituições: os conselhos de guerra, as juntas de justiça militar e as
comissões militares. O objetivo dessa comunicação é compreender o funcionamento dessa juc;tiça militar herdada de
®
Portugal.
V)

.'"
:::J
Maria do Socorro Ferraz Barbosa - UFPE §'
Pernambuco: de Capitania mais extensa a uma Província de médio porte ~
Este estudo ressalta a ação e influência que Pernambuco exerceu no passado, de forma direta, sobre uma vasta QJ

extensâo do território brasileiro. A partir do século XVII, a expansão territorial do Império português, na América, deu-se .~
para o Norte e para o Oeste, a partir de Pernambuco. ~
o
Marilia Nogueira dos Santos - UFF .""c:: O>

O Império na ponta da pena: cartas e regimentos dos governadores-gereais do Brasil <:


o
O presente trabalho propõe analisar, num primeiro momento, os regimentos dados aos governadores-gerais do Brasil, c::
desde 1548, para posteriormente se passar a uma análise geral da correspondência destes mesmos ministros, Neste ~ Q)

sentido, elege-se como estudo de caso a correspondência de Antônio Luís Gonçalves da Câmara Coutinho, de modo ~
a, a partir dela, abordar algumas questões fundamentais para o entendimento da prática de se corresponder e do modo ~
de governar posto em prática em sociedades de Antigo Regime, mais especificamente naquela que se instalou na E
América portuguesa. ~~
o

121
Andrea Beatriz Wozniak·Gimenéz - SEED, FACET, FACEL
O Senado da Câmara de Macau, sua rede de relacionamentos e estratégias de sobrevivência nos séculos XVI
• XVII
A presente comunicação tem como objetivo analisar o Senado da Câmara da Cidade do Nome de Deus de Macau, na
China, principalmente no que se refere a sua dinâmica inicial, nos séculos XVI e XVII, centrando-se em sua sociabili-
dade, rede de relacionamentos e estratégias de manutenção de poder. Convivendo cotidianamente com as culturas
ocidental e oriental, o Senado da Câmara administrou o entreposto comercial e missionário, necessitando conciliar
interesses distintos e complexos, ao tratar e negociar com oficiais da Coroa Portuguesa, advindos de Lisboa ou de
Goa; autoridades imperiais e mandarins distritais do Império Chinês; missionários das ordens religiosas instaladas no
Extremo-Oriente; mercadores chineses; etc. Seus integrantes eram uma mescla de fidalgos-mercadores e missionári-
os, os quais, conhecedores da realidade, imprimiram a maleabilidade, entre as caracteristicas primordiais da institui-
ção, aspecto que influenciou suas táticas diplomáticas. Excelentes observadores e hábeis em negociações, estratégi-
as e domínio de etiquetas distintas, equilibraram-se na administração da cidade, ora estendendo e dominando as
adversidades enfrentadas, ora encontrando-se enredados a contatos mais exigentes e dominadores.

I 17/07 - Terça-feira - Tarde (14h ás 18h) I


Fábio Kuhn - UFRGS
"Nem eu não sou para estas terras, nem estas terras para mim" . A trajetória administrativa do governador
José Marcelino de Figueiredo (1769·1780)
A comunicação pretende apresentar um esboço biográfico de Manuel Jorge Gomes de Sepúlveda (1735-1814). conhe-
cido no Brasil como José Marcelino de Figueiredo. Serão considerados os seus antecedentes familiares, a sua carreira
em Portugal antes da vinda para o Brasil e as atividades exercidas na colônia antes da sua nomeação para governa-
dor. Com a patente de coronel (e depois de 1774, brigadeiro) ele governou a capitania subalterna do Rio Grande de
São Pedro por cerca de uma década, numa conjuntura bastante atribulada e que foi marcada na sua maior parte pela
guerra contra os espanhóis. A ênfase será dada ao estudo de sua trajetória administrativa durante o período 1769-
1780, procurando analisar principalmente as relações deste governador com algumas das maiores autoridades esta-
belecidas no Continente do Rio Grande (em especial, o provedor da Fazenda Inácio Osório Vieira, o comandante do
Exército João Henrique Bohm e os oficiais da Câmara local), bem como o seu conturbado relacionamento com as
elites locais, particularmente com seu desafeto, o coronel Rafael Pinto Bandeira, membro de "família das mais distintas
em qualidade e tratamento daquele Continente".

Maria do Carmo Pires - UFV


Juízes de vintena e o poder local na comarca de Vila Rica no século XVIII
Esta comunicação propõe analisar o aparato juridico-administratico do Brasil colonial, tendo como objeto o juiz de
vintena, oficial que ocupava cargos juridicos, fiscais e administrativos no âmbito das freguesias e arraiais. Pouco se
sabe a respeito do corpo de funcionários e das práticas das instituições judiciárias do Império português, principalmen-
te quando se trata dos oficios considerados menores e do poder local. Pretendemos também avaliar os problemas das
instâncias, ou seja, a local e a camarária, representada pelo juiz ordinário, além do juiz de fora. Os vintenários partici-
pavam ativamente do mundo da justiça e, mesmo sem possuir o conhecimento das Leis, todos que conseguimos
identificar, eram alfabetizados e seguiam as ordens e os modelos existentes para os processos cíveis ou criminais.
Eram de grande utilidade para a população dos arraiais e freguesias que se distanciavam várias léguas de suas sedes,
evitando mais trabalho, transtornos e despesas a seus habitantes. Por outro lado, eram úteis também á justiça e a
burocracia, visto que assumiam a maior parte das diligências realizadas em suas localidades. Eram portanto, oficiais
de 'grandes" causas.

Nauk Maria de Jesus - UEMT


Sociedade mercantil e conflitos de jurisdição: O caso do ouvidor João Antonio Vaz Morilhas - 28 metade do
século XVIII
A capitania de Mato Grosso estava localizada na fronteira ocidental da América portuguesa e era constituída por duas
vilas: a Vila Real do Senhor Bom Jesus do Cuiabá (1727) e Vila Bela da Santíssima Trindade (1752), fundada para ser
sede de governo. Mato Grosso era uma capitania-fronteira-mineira e as ações administrativas encaminhadas nesta
região levaram em conta essas particularidades. Neste sentido, deslocaremos o olhar para esta territorialidade tendo
como intuito analisar os conflitos de jurisdição envolvendo o primeiro governador e capitão-general da capitania de
Mato Grosso Antonio Rolim de Moura (1752-1765, a câmara da Vila Real do Senhor Bom Jesus do Cuiabá (1727) e o
ouvidor da comarca João Antonio Vaz Morilhas, que evidenciam, entre outros aspectos, a existência de redes de poder
- na qual algumas instituições foram envolvidas - unidas na perpetuação de interesses econômicos e políticos.

122
Mônica da Silva Ribeiro - UFF
A dinâmica administrativa de Gomes Freire de Andrada entre 1748 e 1763
A segunda metade do govemo de Gomes Freire de Andrada foi marcada pelo seu intenso deslocamento físíco entre as
capitanias que estavam sob sua jurisdição. No ano de 1748, quando a administração de Bobadela na América portu-
guesa completava 15 anos, período já extremamente extenso para um governador colonial, seu poder foi vastamente
ampliado por todo o centro-sul. Percebemos assim a essencialidade das novas formas de governação, que haviam
sido implementadas pelo governador no Rio de Janeiro, para a manutenção e desenvolvimento de uma política impe-
rial voltada para um maior ordenamento fiscal, admínistrativo, econômico e militar da América portuguesa, principal-
mente a partir da capitania fluminense, região onde se encontravam bastante concentrados os agentes de poder do
governo metropolitano. Nesse sentido, Bobadela movimentava-se bastante e constantemente entre essas diversas
localidades que passaram a estar sob sua tutela. A circulação constante do governador já era uma característica
marcante desde o início de sua administração, mas se revestia agora de uma mudança significativa: além da ida do
governador a Minas e São Paulo, como fazia anteriormente, entrava também no circuito a região meridional da Améri-
ca portuguesa, que passava a fazer parte da sua órbita jurisdicional.

Jonas Wilson Pegoraro - UFPR


Ouvidores régios e a centralização jurídico-administrativa na América portuguesa: a comarca de Paranaguá
(1723-1812)
Por meio da análise da ouvidoria de Paranaguá, no período entre 1723 e 1812, buscou-se investigar o movimento de
centralização jurídico-administrativa do Estado português. A discussão fundamental é questionar se as ações dos
ouvidores de comarca enviados para Paranaguá durante aquele período significaram um 'reforço' para a dissemina-
ção do poder régio na região. Dialoga-se com a historiografia contemporânea que, por sua vez, oferece novas interpre-
tações, com seus estudos específicos e comparativos, das distintas dinâmícas e relações que envolveram os espaços
do Império, tanto entre a metrópole e suas colônias como estas entre si. Ademais, a historíografia, ao conectar os
múltiplos espaços e dinâmicas, fez um paralelo entre as relações na América, África e Ásia, tendo a metrópole como
centro irradiador de uma política administrativa.

Marcos Aurélio de Paula Pereira· UFF


Os revezes da fortuna: o Conde de Assumar e a questão do enriquecimento dos governadores no ultramar
O presente artigo trabalha alguns dos elementos em torno da estrutura adminístrativa do império ultramarino português
que remetem as práticas dos governadores do além mar. Através do estudo biográfico que venho desenvolvendo sobre
D. Pedro Miguel de Almeida e Portugal, 3° Conde de Assumar e primeiro Marques de Alorna, governador das Minas e
posteriormente Vice- rei da índia, procura-se perceber as posições, razões e discursos da política ultramarina setecentista
na primeira metade do século, assim como as trajetórias dos agentes da Coroa nos principais postos de comando. A
historiografia sobre o antigo regime ao abordar o quadro dos administradores tem suscitado perguntas sobre as fortunas
que os governadores acumulavam no ultramar e as redes que participavam. Nesse sentido demonstra-se aqui, a experi-
ência do Conde de Assumar e o patrimônio adquirido nas duas vezes que serviu nestes postos. Do mesmo modo tenta-se
elucidar pontos sobre algumas redes que teria, diretamente ou indiretamente participado e das acusações de venda de
cargos, beneficiando-se assim, mesmo quando indicado a contra-gosto para os referidos govemos, da sua posição e seu
poder de vassalo a serviço do império em confrontação as circunstancias encontradas e da própria vida. ®
Adriano Comisso li - UFRJ
A administração da América portuguesa sob o foco das redes de poder e dominação: o caso do Rio Grande do
Sul, séculos XVIII·XIX .gJ
As redes de poder são fenômeno presente em larga escala na administração lusitana da América Portuguesa e foram ê
responsáveis pela configuraçâo das relações de dominação que se desenvolveram em tal sociedade, apresentando ci:
elementos característicos de Antigo Regime. A proposta de trabalho que apresento procura explorar a natureza e a Q.)

forma de tal relação de poder e exploração do ponto de vista das elites dirigentes da sociedade. Para tanto lanço mão .~
do uso da prosopografia dos integrantes do aparelho administrativo (nos moldes de Lawrence Stone), isto é, a constru- ~
ção de biografias coletivas que permitem reconstruir o perfil da elite politica. Paralelamente, utilizo os referenciais g,
teórico-metodológicos do antropólogo norueguês Fredrik Barth, operando a reconstrução dos grupos imersos em tais .~
redes de poder, a fim de melhor identificar os elementos constituintes de seu exercício. ~
c::

Arlene Guimarães Foletto .~ Q.)

Trajetória de Família: a Elite Agrária no Oeste do Rio Grande de São Pedro (segunda metade do XIX) E
O resumo apresenta um estudo de doutoramento que tem como objetivo principal analisar as trajetórias e estratégias co
das famílias que compunham a elite agrária na antiga Paróquia de São Patrício de Itaqui, no período de 1850 a 1889. .~
Denominamos de elite agrária aqueles que concentravam terras e rebanhos, utilizavam-se de escravos e trabalhado- ~~
res livres, ocupavam cargos administrativos e/ou militares. O trabalho contemplará a composição das fortunas, as Cl

123
diferenças intra-elite, as redes de relações sociais estabelecidas entre seus membros e outros grupos sociais, a impor-
tância da fronteira e dos cargos nas relações econômico-sociais, Para a efetivação da pesquisa uma gama variada de
fontes primárias será utilizada, Dois métodos guiaram o trabalho: o prosopográfico e o onomástico, pois enquanto um
fornece a perspectiva coletiva do grupo social estudado, o outro permite que se percorra as trajetórias individuais dos
principais expoentes do grupo, Buscar-se-á compreender como este grupo se constituiu e se modificou ao longo do
tempo, sua importância para a manutenção e afirmação do território pertencente ao estado monárquico e sua relação
com o mesmo, Para assim, observar a permanência ou não de padrões de comportamento da elite agrária já estuda-
dos em outras regiões do Brasil.

I 18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h ás 18h)

Maria Lucília Viveiros Araújo - USP


Rede de negócios no registro de Curitiba na passagem do século XVIII para o XIX
Entre os anos 1790 e 1810, duas sociedades de negociantes paulistas arremataram o registro de Curitiba e outras
passagens, Esses contratadores aproveitavam-se desses pontos estratégicos e da sua situação privilegiada para
desenvolver uma série de atividades comerciais com vistas á maximização dos seus lucros, Dessa forma, propomos
analisar os diversos negócios explorados nessas paragens, as estratégias de enriquecimento desses comerciantes,
assim como suas alianças comerciais e familiares, Conclui mos que esse comércio revitalizava a economia da parte sul
da América Portuguesa e favorecia o crescimento da burguesia regional, no entanto, parte dessas trocas ainda conti-
nuava ligada ao modelo comercial monopolista do Antigo Regime,

Roberto Guedes Ferreira - UFRRJ


Escravidão e Cor em Porto Feliz (São Paulo, 1798-1843)
A vila de Porto Feliz apresentou vertiginoso crescimento populacional durante a primeira metade do século XIX, o que
se deveu á transformação e á expansão de sua estrutura agrária, Ao longo do século XVIII, suas atividades agrárias se
voltavam á produção de alimentos, principalmente milho, para atender o mercado local e para abastecimento das
Monções, rota fluvial que ligava a vila à Cuiabá A partir de finais do século XVIII, formou-se um complexo açucareiro
que estimulou ainda mais a produção de alimentos para o mercado interno, Então, a presença da mão-de-obra escrava
assumiu importância cada vez maior, drenada, mormente, para as unidades produtoras de cana, Por sua vez, a imigra-
ção de livres também foi considerável, devido á atração exercida pelo crescimento econômico da vila, Testemunham
estas transformações as listas nominativas e os mapas de habitantes para os anos de 1798 a 1843, fontes que
permitem a análise de formas de classificação de cor da população, Supõe-se que ao acréscimo de cativos pretos ou
negros (em geral, africanos) correspondia o decréscimo de pardos entre escravos e agregados, Além disso, a proprie-
dade escrava, dentre outros aspectos, podia alterar a cor dos chefes de domicilio, Portanto, a hierarquia da cor da
população foi marcada pela escravidão,

Luís Frederido Dias Antunes -Instituto de Investigação Científica Tropical


Prata e escravos: comércio entre o Rio da Prata e o Indico, no início do século XIX
Durante todo o período colonial foram traficados pelos portos do Rio da Prata grandes quantidades de escravos
africanos, Sabemos, igualmente, que Montevideu e Buenos Aires constituíam dois dos mais importantes portos expor-
tadores da prata oriunda do Peru, metpl precioso tão necessário ás transacções comerciais portuguesas, tanto na
Europa quanto nos seus dominios do Indico, O tráfico negreiro era essencialmente praticado por navios saídos de
portos brasileiros, mas também foi exercido por navios portugueses. vindos directamente de Moçambique e, por navios
espanhóis que partiam dos portos do Rio da Prata em direcção ao Indico. O objectivo deste artigo é estudar este trato
que estabeleceu contactos directos entre a América do Sul e a costa oriental africana, no início do século XIX

André Dutra Boucinhas


O consumo de bens de luxo: integração econômica do Império Português a serviço da elite colonial brasileira
Pretendo mostrar como o consumo da elite da América portuguesa no s~culo XVIII, especialmente do Rio de Janeiro,
envolvia produtos de várias partes do Império português: Estado da India, Africa, Portugal e da própria América.
Produtos esses que, muitas vezes, não chegavam aqui através de uma reexportação da metrópole realizada por
comerciantes lusos, e sim diretamente, legal ou ilegalmente, pela ação de comerciantes freqüentemente brasileiros,
pelo menos no século XVIII. No entanto, para além de simplesmente exemplificar a integração comercial das diversas
áreas, esses bens possuíam um papel fundamental para a elite colonial: constituíam-se em elementos de identificação
social, tanto entre a própria elite, como para os outros grupos sociais, O trabalho não só tem como objetivo reforçar a
dinâmica econômica do Império português, cada vez mais realçada pelos historiadores, mas colocar o estudo do
consumo como meio de apreender aspectos sociais, econômicos e culturais de uma determinada sociedade, o que
também já vem sendo feito por uma historiografia recente,

124
Fabio Pesavento - UFF
"Sob as seguintes condições": uma nota sobre as sociedades mercantis no império ultramarino português na
segunda metade do século XVIII, Rio de Janeiro e Lisboa
Desde as primeiras décadas do setecentos a dinâmica colonial brasileira voltava-se, cada vez mais, para o centro-sul
do Brasil tendo em vista, principalmente, a pujança crescente do mercado interno fluminense e mineiro. A atuação de
agentes de 'grosso trato" apresentou-se de forma decisiva neste processo. Estes exerciam um papel fundamental no
fornecimento e na exportação do que se demandava e se produzia em diversas regiões da 'colônia". Uma maneira de
como se dava esta articulação, eram as sociedades mercantis entre diferentes agentes de diversas partes do ultramar. A
presente comunicação tem por objetivo descrever as sociedades mercantis existentes entre as praças do Rio de Janeiro
e Lisboa entre 1750 a 1790. A pesquisa baseou-se em escrituras de sociedade, depositadas no Arquivo Nacional do Rio
de Janeiro e na Torre do Tombo em Lisboa. Além das escrituras, trabalha-se com mais de 2.200 procurações levantadas
no mesmo arquivo lisboeta que tinham interesse o Rio de Janeiro. Aqui não se apresentará os pormenores do funciona-
mento das sociedades mercantis, mas sim uma primeira descrição da sua dinâmica com base na documentação encon-
trada. Além disto, busca-se remontar algumas redes comerciais existentes entres as duas praças comerciais citadas.

Nathália Maria Dorado Rodrigues - UFMT


Relações em conflito: os comerciantes de Vila Bela da Santíssima Trindade e a Companhia Geral de Comércio
do Grão-Pará e Maranhão (1752-1778)
Em 1755, foi criada por Pombal a Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão. Esta e outras companhias
monopolistas objetivavam recuperar e desenvolver os setores e espaços vitais da economia colonial. Os interesses
desta Companhia incluiram particularmente a Capitania de Mato Grosso, situada na fronteira oeste da colônia portu-
guesa na América. Por via dos rios Madeira-Mamoré-Guaporé (rota das monções do norte), vilas, arraiais e fortes, eram
abastecidos com variados gêneros de mercadorias, predominantemente manufaturas importadas da Europa, Asia e
África. Manter uma rota comercial na fronteira interessava à Coroa portuguesa, pois auxiliaria na ocupação desse
espaço. No entanto, os comerciantes de Vila Bela cogitaram abandonar o comércio com a Companhia, por considera-
rem abusivos os preços cobrados, a falta de bons produtos nos armazéns, dentre os quais escravos, e a irregularidade
das monções. Assim, este estudo objetiva analisar as relações comerciais entre a Companhia do Grão-Pará e os
comerciantes de Vila Bela que, ao longo da segunda metade do século XVIII foram permeadas por conflitos, negocia-
ções e acordos, nos quais interesses metropolitanos e locais se chocavam.

Gabriel Santos Berute - UFRGS


Negociantes de grosso trato: negócios, recrutamento e mobilidade social na comunidade mercantil rio-gran-
dense (1809-1850), Notas de pesquisa
A presente comunicação apresenta uma análise preliminar do grupo de negociantes estabelecidos no Rio Grande de
São Pedro que obtiveram a matricula de negociante de grosso trato na Real Junta do Comércio, Agricultura, Fábricas
e Navegação (Rio de Janeiro), entre 1809 e 1850. As fontes utilizadas foram os registros das matrículas destes nego-
ciantes e os testamentos e inventários post-mortem dos mesmos. Buscamos localizar nestas fontes elementos que
permitissem conhecer seus negócios, as rotas mercantis em que atuavam, suas vinculações comerciais e a composi-
ção do seu patrimônio. Embora a capitania rio-grandense se tratasse de uma economia voltada para o abastecimento
intemo e, portanto, com um grau de acumulação mercantil e abrangência da atuação comercial mais modesta em ~
relação aos grandes negociantes do Rio de Janeiro, trabalhamos com a hipótese de que existiam mecanismos que
permitiam a ascensão social e econômica daqueles agentes na atividade mercantil. Entre estes mecanismos destaca-
®
se a manutenção de negócios com a praça mercantil do Rio de Janeiro e seus agentes. Assim, parece-nos que o grupo
dos negociantes de grosso trato não era homogêneo e comportava uma hierarquia semelhante àquela que distinguia .~
os pequenos comerciantes dos grandes negociantes atacadistas. ê
o
José Roberto Pinto de Góes - UERJ ~
A diversidade da condição escrava .g,
A escravidão foi abolida há 119 anos no Brasil e, num aparente paradoxo, conforme vai se distanciando no tempo, ~
melhor é possível conhecê-Ia. Durante muito tempo, ao longo do século XX, os escravos foram tidos por quase ani- g,
mais, anômicos e testemunhas mudos de uma história para a qual não contavam. Ou como heróis proto-revolucioná- .~
rios. Conforme os historiadores foram aprimorando métodos e ampliando o universo de fontes, uma outra paisagem foi -;
surgindo e, nela, o escravo não estava só, mas acompanhado da família, dos parentes libertos e de uma porção de c::
ro
gente não escrava. Todo o progresso do conhecimento histórico tem tido por efeito tornar mais e mais complexa a idéia .~
que fazemos sobre a teia de relações sociais que envolvia escravos, senhores e os outros. A conclusão a que já se ~
pode chegar é que o lugar do escravo naquela sociedade dependia de tantas circunstâncias que a idéia usual que se co
tem do escravo não é capaz de dar conta. A contribuição que trago a este simpósio temático diz respeito a isso. Em .~
cartas de alforrias, inventários, processos criminais e relatos de viajantes, todos relativos ao século XIX, procurei 'g?
testemunhos da aludida complexidade da condição escrava. Ci

125
Guilherme de Paula Costa Santos - USP
O governo de D. João e o tráfico de escravos: a Convenção de 1817 e a sua repercussão na Corte do Rio de Janeiro
Trata-se de apresentar algumas considerações de pesquisa realizada em nível de Mestrado sobre a elaboração da
Convenção de 1817 e a repercussão da sua ratificação na Corte do Rio de Janeiro. Acordo diplomático celebrado entre
a Coroa portuguesa e a Coroa britânica, o qual estipulava o direito de visita reciproco á marinha de guerra de ambas as
nações e a formação de tribunais mistos para o julgamento de embarcações negreiras apreendidas ao norte da linha
do Equador. Parte da historiografia compreende a Convenção de 1817 como conseqüência da pressão exercida pela
Inglaterra, calcada em uma nova conjuntura econõmica instaurada pela Revolução Industrial ou pela ação humanitária
inglesa. Entretanto, outra parte da historiografia apresenta a sua ratificação como desdobramento de projetos políticos
suscitados durante o governo de D. João na América. Diante disso, a apresentação pretende discutir a elaboração e a
repercussão da Convenção, com base na leitura de oficios diplomáticos e nos artigos publicados por jornais portugue-
ses, impressos em Londres, reconstituindo o ambiente político do governo de D. João, marcado pelo amplo debate
seja em torno do tráfico seja em termos do futuro da Monarquia portuguesa, como indicaram as revoluções de 1817 em
Pernambuco e em Portugal.

I 19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h ás 16h30min)

Marcelo Ferreira de Assis - UFRJ


Os óbitos da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, padrões e elementos de análise para a história da
mortalidade escrava
A apresentação visa mostrar e avaliar, juntamente com os colegas da área, os primeiros resultados obtidos a partir dos
registros de óbitos da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, primeira fase de minha pesquisa de doutorado: 'O
precipício da Senzala, tráfico e mortalidade escrava no Rio de Janeiro e São João Del Rei, c. 1790 - c. 1830". Portanto,
tratarei de apontar algumas caracteristicas e padrões obtidos a partir da catalogação e confrontação dos dados anali-
sados até o momento. A partir dos resultados, poderei observar padrões estabelecidos nas formas de morrer de um
escravo da Cidade, posterior Corte do Rio de Janeiro, além de apontar possiveis estratégias de proteção para o seu
organismo e seu lugar na sociedade. Sempre dentro de eixos de pensamento que entendem a escravidão dentro de
uma perspectiva social e demográfica.

Idelma Aparecida Ferreira Novais - UFBA


Mulher, Família e Negócio: O Papel da Mulher no Sertão da Ressaca
Este trabalho tem por objetivo analisar a participação da mulher na vida socio-econômica da Imperial Vila da Vitória
(atual Vitória da Conquista, Ba.), no século XIX. Busca também identificar os fatores que ocasionaram a existência de
lares chefiados por mulheres, originando assim, a organização matrifocal. Com base em inventários, testamentos e
petições identificamos algumas funções exercidas pelas mulheres nesse período, entre elas as de serem proprietárias,
produtoras, comerciantes e chefes de família.

Mônica Ribeiro de Oliveira - UFJF


O comportamento familiar de comunidades rurais na América Portuguesa
A pesquisa que está sendo conduzida tem como tema central a história de família no século XVIII no Brasil, tomando
como ponto de partida a reconstituição dos destinos de uma comunidade fundada no contexto da febre do ouro em
Minas Gerais, mas que, no entanto, passou por um rápido processo de esgotamento das possibilidades de extração
aurífera, antes mesmo que essa se pronunciasse sobre toda a região mineira. Nossa análise não é interna á unidade
familiar, mas versa sobre as frentes familiares, ou seja, aquelas formadas por unidades que não residem juntas, mas
que mantém laços de consangüinidade e rituais. O reconhecimento das familias está sendo feito á partir de registros
paroquiais para se proceder, posteriormente, ao cruzamento com outras fontes de caráter mais qualitativo. Temos
como objetivos compreender o escopo de estratégias utilizadas por individuos e grupos destinadas á defesa do núcleo
familiar, á preservação da propriedade, ou mesmo, o recurso á migração, em uma região periférica, quase insignifican-
te no Império Português, mas plena de significados que remetem á sua matriz ibérica.

Martha Daisson Hameister - UFPel


Bons Compadres: observações as relações de compadrio e a gênese de poderes locais (Continente do Rio
Grande de São Pedro, 1738-1779)
A presente comunicação visa destacar e salientar aspectos das relações subjacentes ao batismo que indicam atuarem
de maneira positiva no estreitamento de relações sociais simétricas (entre pessoas de mesmo estatuto social) e,
principalmente, nas assimétricas (entre pessoas de estatutos social diferentes). indicando um possivellocus de gêne-
se e controle de poderes locais. Como fontes primárias foram utilizados, principalmente, os registros batismais da Vila
do Rio Grande entre 1738 e 1779.

126
20/07 - Sexta-feira - Manhã (10h30min às 12h30min)

João Luís Ribeiro Fragoso - UFRJ


A principal nobreza da terra, parentelas e clientes (homens livres, forros e escravos): hierarquias sociais
costumeiras nas freguesias do Rio de Janeiro, primeira metade do século XVIII
Estudo das relações de parentesco e de patronagem da nobreza principal da terra (descendentes de conquistadores
quinhentistas da capitania) nas freguesias rurais do Rio de Janeiro na primeira metade do século XVIII. Com isto se
pretende recuperar as estratégias utilizadas pelo grupo na produção de sua legitimidade social. Será dado principal-
mente atenção as práticas de matrimônio e de compadrio vividas pelas famílias da nobreza da terra.

Maria de Fátima Silva Gouvêa - UFF


Dinâmicas Governativas e as Instruções do Secretário de Governo da índia, 1700
As instruçôes do secretário de governo do Estado da índia, Antônio Coelho Guerreiro, enviadas a coroa em 1700,
apresentam um complexo e sofisticado conjunto de medidas que procuravam melhor viabilizar a maior articulação
entre o centro-sul do Estado do Brasil, a região de Moçambique e o Estado da índia. Essa singularidade é explicada em
grande medida pela diversidade de postos ocupados por esse oficial régio nas principais áreas do império português
ao longo de sua trajetória administrativa no último quartel do século XVII. Dinâmicas governativas foram então clara-
mente delineadas por esse oficial, revelando a plena articulação dos interesses da coroa com aqueles associados á
pessoa desse oficial, bem como de um grupo de pessoas à ele relacionados. A proposta do presente estudo é analisar
os principais aspectos que configuraram essa dinâmica, bem como identificar os principais circuitos político-institucio-
nais que deram forma a essa governação em fins do século XVII e início do XVIII.

Luiz Felipe Alencastro - Universidade de Paris IV Sorbonne


As múltiplas transformações do ano de 1808
A historiografia sublinha os efeitos políticos da transferência da Corte -, estabelecimento de um poder burocrático
centralizado no Rio de Janeiro -, juntados às conseqüências econõmicas -, fim do monopólio português no comércio
externo e emergência de redes de abastecimento internas -, que condicionam a Independência e a formação do
Estado nacional brasileiro. No entanto, outras transformações não tem merecido a mesma atenção dos historiadores.
A primeira delas é a efetivação, em 1808, da cessação do tráfico atlântico negreiro britânico e americano. Na seqüên-
cia, o Brasil se torna o mais importante importador de Africanos do Novo Mundo. De um lado, a retirada destas grandes
negreiras deixa os principais mercados africanos nas mãos de traficantes que fornecem o Brasil e, numa menor medi-
da, Cuba. De outro lado, as exportações britânicas e européias para o Brasil fornecem, a partir de 1808, novas merca-
dorias de troca que estimulam o tráfico negreiro para os portos brasileiros. No plano diplomático, a política anti-tráfico
inglesa atinge o pacto anglo-português e obriga D. João VI a procurar novas alianças entre as monarquias européias.
Vêm daí as negociações que desembocam no casamento, em 1818, entre D. Pedro e a princesa Leopoldina.

Antonio Carlos Jucá de Sampaio - UFRJ


As malhas do Império: o Rio de Janeiro no mundo português através das procurações (1736-1750)
O estudo sobre as relações existentes entre as diversas regiões que compunham o império português tem ganho, sem
dúvida, grande destaque nos últimos anos, sobretudo a partir da reconstituição dos laços mercantis que as uniam. Contu- (.;?\15
do, falta ainda um levantamento mais sistemático acerca de tais relações, que nos informe sobre suas características ~
essenciais: o peso relativo das diversas regiões, seus ritmos, os grupos sociais envolvidos etc. Dentro desse quadro, a
proposta de trabalhar com as procurações visa começar a cobrir tais lacunas com a utilização de uma documentação já '"
bastante conhecida dos historiadores mas ainda carente de uma análise mais sistemática. Com elas pretendemos indicar .~
desde a hierarquia das regiões com as quais o Rio de Janeiro se relacionava até os diversos ritmos de sua produção ao ê
longo do ano, passando por uma análise do perfil dos procuradores, com ênfase nos comerciantes locais. ~

20/07 - Sexta-feira - Tarde (14h às 18h)

Rossana Gomes Britto - UERJ c:


«
Processos inquisitoriais portugueses contra a heresia luterana - séculos XVI-XVII o
c:
Trata-se de uma pesquisa a respeito da penetração e da difusão do protestantismo na América Portuguesa entre os
séculos XVI e XVII através de fontes primárias inquisitoriais. Ao todo são 15 processos do Santo Ofício Lisboeta contra ~
os réus que de uma forma direla ou indireta se envolveram com as idéias dos seguidores de Martinho Lutero - pioneiro E
das reformas protestantes na Epoca Moderna. Neste simpósio nacional de História, pretendemos apresentar os casos B
dos desviantes da fé com base nos registros inquisitoriais, como também, apontar as relações destes réus com aE
Inquisição Portuguesa e com a sociedade colonial da época. Esta pesquisa integra o curso de doutorado em História ~~
Política da Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ. Cl

127
Thiago Nicodemos Enes dos Santos - UFF
Poder Local versus Estado Centralizado: a desregulamentação do direito milenar da almotaçaria
A prática cotidiana relativa ás três esferas de atuação do direito de almotaçaria, qual seja, o controle do mercado, das
questões sanitárias e do construtivo das cidades portuguesas apresentam-se como aspectos representativos para o
estudo do desenvolvimento do Estado centralizado em detrimento da dinãmica imperial que vigorou até o princípio do
século XIX. Na documentação relativa à administração dos domínios portugueses nos dois lados do Atlântico, notamos
que o moderno Estado de economias políticas arvorou-se contra a almotaçaria de forma diferenciada, mas invariavel-
mente, implementou a partir do terremoto de 1755 e sobretudo com a gestão de Pombal, agressiva política de gestão
urbana fundamentada no insurgente direito positivo. Visamos demonstrar como a municipalidade deixou de possuir
poderes deliberativos, passando a executora das ordens emanadas do Estado; além de discutir tal processo nada
pacífico que deu fim ao díreito consuetudinário e a esta tradição administrativa do poder local, que perpassou pratica-
mente incólume mais de setecentos anos somente no Reino cristão de Portugal.

Tiago Costa de Souza - UFRJ


Desenvolvimento urbano na América Portuguesa na virada do século XVIII para o século XIX
Esse trabalho propõe uma reflexão acerca do desenvolvimento urbano das principais cidades coloniais portuguesas
no Brasil, tendo como ponto de referência a cidade do Rio de Janeiro. Privilegiando a capital fluminense na transição
do século XVIII para o século XIX, partiremos para uma análise da dinâmica do espaço urbano de diferentes praças,
como Salvador, Belém, Recife, entre outras. Nesse sentido, objetivamos ainda estabelecer uma relação do comporta-
mento da urbe colonial com a movimentação de alguns grupos sociais, tornando mais claras as intervenções de certos
segmentos da sociedade, como a elite mercantil, na conformação do espaço urbano na América Portuguesa.

Luiz Guilherme Scaldaferri Moreira - UFRJ


As mercês e a manutenção da estabilidade e do equilíbrio social. Um estudo de caso: o Rio de Janeiro
(1660-61/97)
O Trabalho "As mercês e a manutenção da estabilidade e do equilíbrio social. Um estudo de caso: o Rio de Janeiro
(1660-61/97)', pretende contribuir nas discussões sobre o tema do simpósio; especialmente no que diz respeito ás
relações que se formarão nas redes de poderes locais com o poder central. Assim como nos conflitos que serão
estabelecidos, mediante esta relação entre a nobreza, beneficiada ou não. O lócus será a cidade do Rio de Janeiro,
após uma revolta contra a rede do Governador Salvador Correia de Sá e Benevides, 1660-61, e a descoberta das
minas, 1697, periodo após a Restauração, expulsão dos holandeses, do nordeste e de Angola e consolidação do
Estado Português. Consolidação esta que necessitava de apoio da nobreza da terra, que havia tido uma grande
participação na luta contra os holandeses. Logo, como o Estado Português negociou este apoio com uma nova rede de
nobres, visto que o próprio Estado havia afastado o influente grupo dos Sá e ao mesmo tempo continuou dando espaço
a pessoas ligadas a este grupo. Para isto como o Estado Português trabalhou na distribuição dos cargos militares, via
mercês, para a nobreza, fortalecendo um determinado grupo, uma vez que, na concepção jurídica do período o Estado
deveria retribuir os serviços prestados, de forma justa.

Marcia Eliane Alves de Souza e Mello - UFAM


Poder e Negociação: concepção e desdobramentos de uma legislação na América portuguesa
Incentivados com o desenvolvimento das investigações no âmbito da história política e das instituições sob diferentes
perspectivas metodológicas e, em torno das questões que privilegiam as relações de poder esua legitimação jurídica,
apresentamos um novo estudo de formação do Regimento das Missões do Estado do Maranhão e Grão-Pará (1686-
1757), com ênfase na análise das negociações entre o poder central e o poder local na confecção da nova legislação.
Observamos os diferentes agentes envolvidos na proposta (Conselho Ultramarino, Junta das Missões do Reino e do
Ultramar e Câmaras municipais) e, dos contraditóríos interesses locais em que se entrecruzavam (autoridades coloni-
ais, ordens religiosas e colonos), bem como a redefinição de estratégias de ampliação de poderes locais desenvolvi-
dos ao longo da concepção e aplicação da legislação. Desta forma pretendemos contribuir para uma melhor compre-
ensão das práticas da administração colonial e da política metropolitana naquela região do Império português.

Beatriz Catão Cruz Santos - UFRRJ


Irmandades e oficios no Rio de Janeiro do século XVIII
A comunicação pretende refletir sobre os meios de inserção dos ofícios na comunidade política do Rio de Janeiro no
século XVIII. Para isso, ela dará ênfase ás irmandades de oficios, como formas de socialização que tem como referên-
cia a Igreja Católica e a monarquia e em que o domínio de um ofício constituía um critério de ingresso, fossem os
irmãos livres, libertos ou escravos. Pretende também identificar outras formas de negociação, que permitiam aos
ofícios terem acesso á cidadania na sociedade colonial. Em termos gerais, objetiva-se investigar a natureza e as
condições da cidadania dos ofícios naquela sociedade do Antigo Regime português.

128
Micheline Maria de Albuquerque e Silva - UFPE ~
Uma história do pau-brasil em Pernambuco nos séculos XVII e XVIII. @
Teria sido mesmo o trato do pau-brasilL(ma febre com término exato quando da instalação da agro-indústria açucareira
em Pernambuco e demais capitanias? Esabido que não foi bem assim. O tema pau-brasil por si só está atrelado a uma
série de problemas, dentre os quais já teria sinalizado desde 1930, José Bernardino de Souza a continuidade do tráfico
da madeira desta árvore pelo menos até metade do século XIX. A esquematização por ciclos econômicos restringia
bastante esta atividade. Trataremos neste trabalho mais especificamente dos assuntos de ordem econômica e admi-
nistrativa. Propomos aqui a discussão sobre a continuidade da atividade extrativista exploratória com o pau-brasil
durante o século XVII até o XVIII. E inserido neste corte temos ainda as articulações entre metrópole e colônia acerca
do estanco real e os dispositivos utilizados para exercer e fiscalizar o controle sobre negócio do pau-brasil. Uma das
principais justificativas para este trabalho é ainda a carência de estudos sobre o tema, bem como sua relevância no
cenário metropolitano uma vez que o pau-brasil foi motivo, por exemplo, alteração da nomenclatura religiosa da colô-
nia por uma de apelo econômico.
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16. Educação Histórica u·

Maria Auxiliadora Schmidt (UFPR) e Katia Maria Abud (USP)


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I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h às 18h) I


Cristiani Bereta da Silva - UDESC
Narrativas e produção de sentidos sobre formação docente, História e ensino
Este trabalho investiga produções de sentido sobre a formação docente, História e ensino através de diferentes narra-
tivas de professores e professoras de História, egressos de cursos de duas universidades catarinenses: UDESC e
UFSC, entre as décadas de 1980 e 1990. As narrativas que estes sujeitos fazem de si, de suas experiências, de suas
práticas pedagógicas e históricas fornecem pistas importantes para pensarmos expressões e traduções de sentidos
sobre História, ensino, saberes e posições de sujeito em salas de aula. Além disso, perceber de que forma estas
narrativas estabelecem relações com outras narrativas históricas já produzidas constitui-se em oportunidade de refletir
como diferentes sujeitos partilham e ressignificam construções sobre a natureza da História com outras dimensões de
suas vidas.

Jaqueline Ap. Martins Zarbato Schmitt - UNISUL


Planejar na História: análise dos planejamentos escolares da disciplina de História
Neste texto, pretende-se analisar os planejamentos da disciplina de História, numa escola do município de Fpolis,
entre 1990 e 2006, como parte do projeto de pesquisa: a formação do profissional da educação. Os planejamentos
serão analisados como um documento histórico que aponta as questões implícitas no cotidiano escolar. Nesse senti-
do, serão analisados as perspectivas teóricas, os procedimentos avaliativos, utilização das matrizes curriculares, as
linguagens e abordagens utilizadas no planejamento.

Rosi Terezinha Ferrarini Gevaerd - UFPR


A produção dos alunos em aulas de História: idéias que o aluno tem em relação à narrativa histórica do Paraná
A preocupação com o ensino da História do Paraná esteve presente em pesquisa desenvolvida durante o mestrado.
Naquele momento, buscou-se investigar a presença desse ensino em escolas da Rede Municipal de Ensino de Curiti-
ba. Ficou evidenciado que existe um ensino desses conteúdos no Ciclo 11, mais especificamente, na 4a série. Dando
continuidade a essa pesquisa, pretende-se fazer um estudo pautando-se em pesquisas desenvolvidas na área da
Educação Histórica, mais especialmente, na linha de investigação da cognição histórica, a qual engloba estudos que
têm como perspectiva a compreensão das idéias dos alunos em contexto de ensino - aulas de História, Tomando
como referência pesquisas desenvolvidas por Peter Lee (2001), busca-se fazer uma relação entre os conceitos subs-
tantivos, nesse estudo, os conteúdos da História do Paraná, e o conceito de segunda ordem - narrativa. No processo
atual de pesquisa, buscam-se elementos para que se possa compreender qual a relação que existe entre a narrativa
histórica da professora e a narrativa produzida pelo aluno,

Thelma Cademartori Figueiredo de Oliveira - FE/USP


Currículo e programas: o ensino de História e a identidade nacional
O presente trabalho busca analisar o curriculo de História e sua prática em sala de aula a partir de uma abordagem
pós-critica, que permite o estudo das formações curriculares percebendo como nelas estão organizadas diferentes

129
perspectivas sobre o que se deve conhecer e como se ~eve conhecer. O currículo seleciona (incluindo e excluindo
conteúdos), organíza, molda visões do mundo e do "eu'. E construído, e constantemente reformulado, dentro de con-
cepções políticas e sociais que procuram disciplinar os indivíduos informando como se deve ver o mundo e estar nele.
A partir dessas referências e da pesquisa qualitativa realizada em uma escola pública de São Paulo, a presente análise
busca compreender como o currículo é trabalhado em sala de aula pelo professor de História. Procuramos perceber
como o professor se apropria de propostas institucionais como os PCN e dos conceitos da disciplina para organizar e
preparar suas aulas. Utilizamos como eixo de análise os conceitos de identidade nacional e cultural procurando obser-
var como aparecem no currículo de História institucionalmente proposto e como são inseridos na realidade do cotidia-
no escolar.

Katia Maria Abud - USP


Construção e desconstrução de um código disciplinar: a História no ensino médio (São Paulo, 2006)
Esta apresentação tem como finalidade discutir a construção de um código disciplinar nas aulas de História e para
tanto utiliza como documentação fundamental relatórios de estagiários da disciplina Metodologia do Ensino de Histó-
ria, que expressam as posições dos professores do ensino básico em relação á disciplina que lecionam. Para analisar
as posturas assumidas pelos professores e transmitidas pelos estagiários em seus relatórios, partimos do conceito de
código disciplinas expresso por Raimundo Cu esta Fernandez As informações foram colhidas na leitura e análise de
setenta roteiros de observação de estágio realizado em escolas públicas (estaduais e municipais) regulares de São
Paulo, a maioria delas de ensino médio (72%), no primeiro semestre de 2006. Os questionários e entrevistas realiza-
das pelos estagiários se completaram em duas etapas: a primeira, objetivava a elaboração do perfil docente das
escolas públicas abertas ao estágio e a segunda tinha como ponto central conhecer como aqueles docentes organiza-
vam seus cursos, selecionavam conteúdos e métodos de ensino e utilizavam o material escolar., como livros, filmes,
imagens fixas.

José Norberto Soares - USP


A introdução da definição de "raça" nas propostas curriculares brasileiras: a lente da nova lei e os olhos dos
alunos
Est? comunicação tem como objetivo discutir os conceitos de : "racialização' da auto-imagem dos alu~os; de História
da Africa, a partir do texto da lei 10639/2003, que introduziu a obrigatoriedade do ensino de História da Africa na escola
básica. Para tanto, aqui serão discutidos: a instrumentalização do ensino básico para atender a uma visão específica
e particularista do conceito de nação; a gradual substituição de conceitos universalistas por outros de natureza comu-
nitária; a introdução de uma taxonomia própria do mundo anglo-saxão no sistema educacional brasileiro. A discussão
que se pretende apresentar será fundamentada em textos de Zigmunt Bauman, Néstor Garcia Canclini, Peter Fry,
Mozart Unhares Silva e Alfredo Veiga-Neto, que fundamentam o arcabouço teórico da dissertação de mestrado, a ser
apresentada na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo.

I 17/07 - Terça-feira - Tarde (14h ás 18h) I

Maria Auxiliadora Schmidt - UFPR


Principios da didática na Educação Histórica
As questões relacionadas aos pressupostos de uma Didática da História têm sido relevantes em pesquisas e estudos
recentes, como atestam os trabalhos de Moniot (1993); Prats (2003); Fonseca (2003); Schmidt e Cainelli (2004). Entre
estes, destacam-se os que têm como objeto de estudo as relações entre professores e alunos com as idéias históricas
em aulas de História, constituindo o campo científico da Educação Histórica (BARCA,2005). Neste sentido, a discipli-
na Prática de Ensino e Estágio Supervisionado em História na Escola Fundamental do Departamento de Teoria e
Prática de Ensino de História, da UFPR, durante o ano de 2005, tomou como referência alguns pressupostos da
Educação Histórica para a concretização de uma didática da história no projeto de estágio supervisionado, tais como:
1.A investigação e análise dos conhecimentos tácitos dos alunos; 2. A tematização e problematização do conteúdo a
ser trabalhado; 3. A identificação e interpretação de fontes primárias e secundárias; 4. A compreensão contextualizada
(metacognição); 5. Aexpressão das experiências - como categorias a serem desenvolvidas pelos alunos-mestres.Assim
o presente trabalho tem como objetivo sistematizar reflexões desenvolvidas a partir de uma experiência com estágio e
prática de ensino de História re

Ida Hammerschmitt de Lima e Márcia Regina Araújo Partica - UFPR


As Relações Que Estabelecem Aluno e Professor com o Livro Didático de História
O texto relata o resultado das primeiras considerações acerca de uma pesquisa, na qual se procurou investigar e
analisar a relação que professores e alunos das séries inicias do Ensino Fundamental, estabelecem com o livro didá-
tico de história. A pesquisa foi desenvolvida na Escola Municipal Professora Elvira de França Buschmann, situada no

130
bairro Ipês do municipio de Araucária, região metropolitana de Curitiba, no Estado do Paraná. A pesquisa está inserida
no campo da Educação Histórica, e faz parte dos trabalhos de um grupo de professores pesquisadores do municipio
@
16
de Araucária sob a orientação da professora Maria Auxiliadora Schmidt e Tânia Braga Garcia. Busca-se investigar as
idéias que alunos e professores tem acerca da relação que estabelecem no uso do livro didático de história. Essa
relação é essencial para o processo ensino - aprendizagem? Como é trabalhado na escola com o livro didático?
Como são as experiências culturais vividas por professores e alunos com o livro didático de história? E, se de fato
contribui para a construção do conhecimento histórico?

José Ricardo Oriá Fernandes - USP


É de pequeno que se torce o pepino!: Viriato Corrêa e a Educação Histórica de nossas crianças
A educação histórica não se restringe ao universo escolar, mas passa por outras instâncias de sociabilidade da crian-
ça. Neste sentido, a comunicação objetiva analisar a concepção de História/ensino de História presente na obra do
escritor e autor de livros infanto-juvenis Viriato Corrêa. e de como ela foi importante para a construção de uma dada
educação histórica escolar afinada com o discurso da identidade nacional brasileira. Para tanto trabalharemos, a partir B
dos pressupostos teóricos de Choppin e Canclini, com as idéias de 'sujeito histórico" e 'nação' construídas pelo autor, ~
a serem incorporadas pelas crianças e jovens. Daremos ênfase ao livro 'História do Brasil para crianças', de 1934, que ~
teve maior repercussão no mundo editorial brasileiro. Com 28 edições, publicado pela Companhia Editora Nacional, '"
este livro circulou até 1984 e foi registrado pela Comissão Nacional do Livro Didático, do MEC, tendo integrado,
também, a 'Biblioteca Pedagógica Brasileira", coordenada por Fernando de Azevedo. Esta comunicação faz parte do
projeto de pesquisa que estamos desenvolvendo no Doutorado da Faculdade de Educação da USP, sob a orientação
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L..1.J

da Prot" Ora. Circe Bittencourt, intitulado 'A História contada ás crianças: Viriato Corrêa e a literatura escolar brasileira
(1921-1967)'.

Julia Bueno de Morais Silva e Gracy Tadeu Ferreira Silva - UnB/UEG/Unievangelica


O Ensino de História nas escolas quilombolas - o caso da escola Alexandrina P Santos uma escola quilombola
O objetivo desse texto á a reflexão sobre a função do ensino de história nas regiões quilombolas, com a finalidade de
perceber se este age como instrumento de valorização da identidade afro-descedente, bem como das especificidades
culturais do grupo. Traçamos uma relação entre o lugar e o processo de ensino, refletimos sobre o ensino de história e
a valorização da identidade negra, trabalhando a função que se propõe ao ensino de historia segundo a Lei 10.639/03,
a identidade afro-brasileira como um processo em construção,e ainda uma discussão entre identidade e representa-
ção. refletimos ainda sobre a experiências vividas na escola Municipal Alexandrina P dos Santos - escola quilombola,
localizada na zona rural, a escola atende as crianças e os adolescentes da região do quilombo, do assentamento e
filhos dos pequenos e médios proprietários rurais.

Lilian Costa Castex - UFPR


A Educação Histórica e a produção de manuais para professores: experiências da rede municipal de Curitiba
Esse trabalho apresenta as primeiras sistematizações de pesquisa realizada sobre a produção de manuais destinados
a professores das séries iniciais, na disciplina História, pela Secretaria de Educação do Municipio de Curitiba, que
envolve a equipe técnica da SME e todos os professores das séries iniciais do Ensino Fundamental. Desde 2006 o
ensino de História na Rede Municipal de Ensino de Curitiba inseriu na sua proposta curricular, os pressupostos da
educação histórica como referência para o Ensino Fundamental de Curitiba, resultado de estudos fundamentados em
pesquisadores como LEE, BARCA, SCHMIDT E GARCIA, os quais mostram a necessidade de se ter as idéias históri-
cas dos alunos e professores como ponto de partida e de chegada do ensino e aprendizagem em história. Visando á
implementação da proposta curricular foi elaborado um Caderno Pedagógico de História para o Ensino Fundamental
(SMEC-2006). A análise do processo de elaboração do referido Caderno, bem como de sua proposta, apontam as
possibilidades e limites da concretização dos pressupostos da Educação Histórica na produção de manuais destina-
dos a professores.

Luciana Rossato - UNIVALI


Conhecimento histórico entre os jovens: uma pesquisa sobre história local entre os alunos do Ensino Funda-
mentai da Rede Municipal de Ensino de Itajaí/SC
Esta comunicação pretende discutir o conhecimento histórico entre os jovens. Para isso utilizaremos os resultados de
uma pesquisa diagnóstica aplicada em turmas de 7" e 88 séries do Ensino Fundamental da Rede Municipal de Itajaí/
SC. A partir da fala dos alunos constatamos alguns pontos: enquanto o conhecimento da história do bairro está vincu-
lada á memória dos mais velhos, a história da cidade está muito sugerida pelos discursos turisticos veiculados principal-
mente através dos meios de comunicação em datas especificas, salientando uma origem única (portuguesa-açoriana) e
excluindo outras etnias, tais como alemães, africanos e afro-<lescendentes. Além disso, a identidade da cidade foi unida
ao mar e as suas atividades. Apartir destes dados pretendemos discutir as possibilidades e os limites do ensino de história
local e sua contribuição para a formação e o desenvolvimento da consciência histórica entre os jovens.

131
18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h)

Luzia Marcia Resende Silva - UFG Campus Catalão


O ensino de História no sudeste goiano: análise e reflexões
Projeto objetiva compreender práticas do ensino de história nas escolas de ensino fundamental e médio em catalão e
na região do sudeste goiano.O plano de trabalho desenvolvido durante o ano letivo de 2005, teve como objetivo
analisar material produzido em pesquisa de campo por alunos que cursaram a disciplina de didática e Prática de
ensino no ano de 2004, visando refletir sobre as concepções de ensino de história e as posições dos alunos das
escolas públicas pesquisadas, acerca do ensino da disciplina. Participaram da pesquisa de campo um total de 19
escolas de ensino fundamental e médio localizadas na região do sudeste goiano, e responderam voluntariamente ao
questionário aplicado um total de 485 alunos. O projeto objetivava também refletir sobre as concepções de educação
possuídas pelos alunos que responderam os questionários. O plano de trabalho ora em andamento tem o objetivo de
compreender como os professores do ensino fundamental e médio em catalão trabalham com a atividade de pesquisa
e com o princípio da indissociabilidade entre ensino e pesquisa em todos os níveis.

André Chaves de Melo Silva - USP I USJT


Produções midiáticas televisivas e ensino de história: representações sociais e conhecimento histórico
Este projeto de pesquisa de doutorado tem como principal objetivo a compreensão das formas pelas quais o uso das
imagens em movimento (fílmicas e televisivas) nas aulas de História pode interferir na construção do conhecimento
histórico dos alunos do Ensino Médio por meio de possíveis alterações em seu conjunto de representações sociais.
Para tanto, será utilizada uma metodologia desenvolvida especificamente para essa pesquisa a partir da união de
métodos historiográficos, recursos etnográficos, pesquisa participante, conceitos de representações sociais e decupa-
gem, usada para o cinema e para a televisão. Sendo assim, a iniciativa procura contribuir com respostas às dúvidas
dos professores de História sobre a validade do uso de filmes, séries de televisão, entre outros produtos midiáticos
constituidos de imagens em movimento buscando evidenciar algumas alternativas de trabalho prático, em sala de
aula, que possam contribuir para o aprimoramento da Didática da História.

Elizabeth Salgado de Souza - UESC • IIhéus/BA


Educação Histórica e as práticas urbanas
Pesquisa empírica que investiga as representações que os alunos tem sobre a cidade, segundo proposições de Serge
Moscovici e análises de Peter Lee e Isabel Barca, quando investigam o pensamento histórico dos jovens. Traçar o
perfil sócio-cultural dos alunos e professores, permitiu situar a escola no espaço urbano e problematizar o seu lugar na
perceptiva do cotidiano da cidade (Philippe Meirieu). As temáticas da mudança do paradigma da noção de tempo ( Paul
Virilio), a invenção do cotidiano (Michel de Certeau) e a proposta da cidade educativa (Gómez-Granell), embasam a
investigação das práticas cotidianas e a problematização das práticas escolares no espaço urbano. As representações
que os alunos elaboram sobre a cidade e como a vivenciam, identificam saberes e fazeres, apresentando algumas
questões: A realização de ações educativas extra-muros institucionais têm lugar e espaço nas práticas escolares? O
cotidiano dos alunos foi modificado pelas novas tecnologias? Dentro da 'nova mobilidade social' como o aluno estabe-
lece a relação entre a cidade e o ensino de História? Os resultados desta pesquisa tem por finalidade contribuir para
uma proposta teórica e prática da Educação Histórica, discutindo a importância do cotidiano escolar no contexto
urbano e a construção do currículo.

Murilo José de Resende· USP


O processo de formação inicial de professores de História para a educação básica: a manifestação de uma
consciência histórica na prática de ensino
Este trabalho está sendo construído através de análise de fontes escolares: são documentos produzidos por alunos
que cursaram a disciplina de Metodologia de Ensino de História na Faculdade de Educação da USP, elaborados entre
os anos 1999 e 2003. Ao elaborar um plano de aula o professor constrói uma narrativa composta por situações, dados
e informações que será divulgada aos seus alunos.
Os objetivos desta pesquisa são: verificar as opções teórico-metodológicas presentes nos planos de ensino elabora-
dos pelos licenciandos em História da USP na atividade de Estágio; identificar o modo pelo qual os planos de ensino
elaborados no Estágio realizam a transposição didática dos conhecimentos científicos da História e identificar as
possíveis formas de consciência história expressas nos planos de aula, conforme a tipologia criada por Rüsen (1992).
O trabalho empreendido será o de analisar qualitativamente um grupo de planos de aula selecionados, por categorias
de análise estabelecidas que possibilitem relacioná-los, gerando dados estatísticos que evidenciem ausências e per-
manências de temas, opções teóricas e etc. Nesta comunicação, será exposto o resultado parcial da pesquisa de
mestrado e conclusões que os dados coletados já permitem realizar.

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Fatima Aparecida Silva - UFCE
O movimento social Frente Negra Pernambucana -1936-1937. A história continua
@
16
O presente trabalho, tem como objetivo registrar a história do movimento social negro Frente Negra Pernambucana
aprofundando a proposta de educação defendida por esta instituição, vista como decisória na ascensão social do seu
grupo contra a discriminação racial. A Frente Negra Pernambucana transformada em 1937 em Centro de Cultura Afro-
Brasileiro defendeu que a educação era a solução para a ascensão social do negro na sociedade. Embora estes
aspectos tinham sido considerados por muitos estudiosos da organização da Frente Negra no Brasil, há muitas ques-
tões que necessitam ser elucidadas a partir do aprofundamento da organização do movimento, principalmente aque-
las relativas á especificidade e organicidade de cada movimento em seus estados. Já é possivel compreender que os
estudos da historiografia dos movimentos sociais devem ultrapassar os limites geográficos das regiões sul e sudeste.

Regina Maria de Oliveira Ribeiro - USP


O olhar das crianças sobre a memória e o patrimônio - implicações para a Educação Histórica
A comunicação apresentará as análises das idéias das crianças de 5° ano, coletadas durante atividades realizadas l:l
com alunos de uma escola municipal da periferia da zona leste de São Paulo. A apresentação das análises focará a
visita dos alunos á capela de São Miguel Arcanjo, construída em 1622, realizada no contexto do trabalho com a ~
:e
memória e historia local. O registro desse trabalho para a pesquisa teve como objetivos identificar e analisar as repre- o
sentações das crianças sobre a história e memória da comunidade. Partiu-se da hipótese que o estudo da história local '~.
e o contato com fontes da cultura material potencializassem a significação de conceitos históricos relativos á natureza
da história, particularmente os conceitos de tempo e passado. As atividades das crianças durante a visita, suas falas e L.LJ

interações foram registradas e analisadas para a compreensão da construção individual e coletiva do conhecimento
sob a perspectiva da psicologia do desenvolvimento e aprendizagem sócio-interacionista, da teoria das representa-
ções sociais e dos estudos sobre a construção do pensamento histórico em crianças e jovens. O conhecimento das
representações de conceitos históricos pelas crianças é fundamental para a reflexão teórica e metodológica da Educa-
ção Histórica.

I 19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h ás 16h30min)


Janete de Fátima Barause Néri - UFPR
O ensino de História e a seleção de conteúdos do ensino
O objeto de pesquisa que é apresentado neste trabalho de mestrado tem como tema central o estudo da seleção de
conteúdos na prática do professor de História no Ensino Médio. Junto ás propostas curriculares preparadas por espe-
cialistas, como são os Parâmetros Curriculares Nacionais e os PCN+, e dos livros didáticos, que também estabelecem
o que ensinar, os conteúdos que chegam aos alunos passam por outras instâncias de transformação, nas práticas
cotidianas, dando origem ao que se pode chamar de currículo real (Apple, 1989). Desta forma, esta investigação busca
perceber como este processo acontece e como ele é percebido pelos professores que o realizam. Para a produção de
material empírico foram realizadas aplicações de questionários e entrevistas. Para a organização deste material foram
estabelecidas 3 categorias: a natureza da intervenção nos conteúdos realizada pelo professor; os critérios ou motivos
da intervenção nos conteúdos e os suportes por meio dos quais os professores realizam a seleção dos conteúdos para
o ensino. Porém, após a aplicação dos questionários considerou-se pertinente a inclusão de mais duas categorias de
análise: uma que diz respeito a como os professores se vêem na seleção de conteúdos e a concepção de conteúdo
que os professores revelaram.

Marcelo Fronza - UFPR


As histórias em quadrinhos e o ensino de história: trajetórias de uma metodologia de investigação sobre a
significância histórica
Neste trabalho, tenho como objetivo perceber quais os significados históricos que os jovens fornecem a uma história
em quadrinhos que aborda temas históricos e descobrir quais as inferências que estes sujeitos produzem para signifi-
cá-Ia. Para isso, abordo a discussão teórica, advinda da Educação Histórica, referente á significância histórica a partir
de autores estudados por Fátima Chaves (2006). Por meio da explanação da metodologia de pesquisa baseada na
investigação qualitativa, confronto esta discussão conceitual com as respostas de jovens alunos de Ensino Médio de
um colégio público de Curitiba, produzidas a partir de um instrumento de investigação aplicado por mim em julho de
2006. Esse confronto teórico tem como finalidade, também, fundamentar as respostas atribuídas pelos alunos em
relação ao conhecimento histórico presente nesse artefato cultural.

Maria do Carmo Barbosa de Melo - Universidade de Pernambuco


O labirinto do conhecimento do professor e do ensino de Históría
Explorar o pensamento histórico, por parte dos professores, é fundamental, pois tem um papel central no Ensino.

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Considerando a importância do atual debate sobre Educação Histórica, procuro neste trabalho focar um estudo, reali-
zado com os professores de História, do ensino médio, da cidade do Recife, das concepções históricas que permeiam
no ensino-aprendizagem e os reflexos, tanto no conhecimento especifico, como nas práticas pedagógicas que se
complementam na Educação Histórica.

Milton Joeri Fernandes Duarte - USP


A música e a construção do conhecimento histórico
As representações históricas construídas pelos alunos, incentivadas pela música, podem ajudar na construção do
conhecimento histórico propiciando a identificação dos diferentes significados dos elementos definitivos e provisórios
contidos nas representações históricas dos alunos, que podem ser compreendidos e trabalhados de maneira diagnós-
lica pelo professor através da linguagem musical e assim se transformar em uma ponte entre a realidade atual e o
passado histórico.

I 20107 - Sexta-feira - Manhã (10h30min ás 12h30min)

Alamir Muncio Compagnoni - UFPRlARAUCÁRIA


Uma experiência educativa no ensino de História no contexto de sala de aula
Trabalhar, os conhecimentos prévios dos alunos, levam o professor a uma maior compreensão dos alunos, um melhor
preparo de suas aulas. A aula com imagens, e várias fontes do conhecimento histórico, em primeiro lugar deixam-na
participativa, os alunos mostram prazer e interesse no estudo. Outra grande implicação é em relação á questão do
tempo, o conhecimento científico sobre o conteúdo, é entendido de forma especifica em relação á questão temporal
descrita nos textos. Os alunos perceberam o tempo, da Primeira Guerra, identificando acontecimentos históricos espe-
cíficos daquela época. Há uma consciência histórica do passado sem fazer a confusão com o presente. As Guerras
não são descritas como todas iguais. Nós professores devemos observar, o tempo descrito pelos alunos, na sua
linguagem e não apenas quando eles colam os números.

Ricardo Barros - USP


O uso da imagem nas aulas de História
Estabelecer a relação entre mídia e educação. Esse é o principal objetivo desse trabalho, apoiado na dissertação de
mestrado apresentada na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo em março de 2007. Pesquisei, junto
a professores de História do ensino fundamental, o uso da imagem nas aulas de História. Para isso, procurei analisar
as imagens comumente utilizadas nos cursos do ensino básico. Parti do pressuposto que a sociedade atual se apre-
senta bastante influenciada pela midia. Crianças e adolescentes em idade escolar têm enorme contato com a televi-
são, com os videogames, com jornais, revistas ou mesmo com a internet, como evidenciam diversas pesquisas acerca
do tema. Contudo, quando entram na sala de aula, pouco dessa linguagem - a linguagem da imagem - é utilizada
pelos professores. Isso gera um aparente conflito entre os estudantes e o sistema formal de educação presente em
muitas unidades. Os Parâmetros Curriculares Nacionais incorporam a leitura e análise da imagem como fator impor-
tante do aprendizado de História. Na escola, todavia, poucos docentes se utilizam da imagem e o texto escrito ainda
predomina no ensino dessa disciplina escolar.

I 20/07 - Sexta-feira - Tarde (14h ás 18h) I


Marlene Terezinha Grendel - UFPR
Aulas de História com documentos históricos no livro didático
Descrição da forma de uso do livro didático realizada com uma turma de 5." série do ensino fundamental, no ano de
2006, em uma escola do município de Araucária, Paraná. Leva em conta os conhecimentos prévios demonstrados
pelos alunos e analisa a visão cultural e social dos mesmos, as ocorrências e as intervenções dos alunos e da profes-
sora no uso do livro. Apresenta uma reflexão sobre o ensino de História com base na perspectiva dos saberes dos
alunos, a qual faz ressaltar a importância do papel que a cultura em geral e a linguagem, em particular, desempenham
no processo de construção da Educação Histórica. Conclui que os processos de construção, presentes no desenvolvi-
mento de aula de História com a utilização dos documentos do livro didático, só se legitimam como mediadores da
Educação Histórica quando marcados pela historicidade da prática real que constitui a substância do próprio existir
dos sujeitos envolvidos.

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Ronaldo Cardoso Alves - USP
"Consciência Histórica e Cultura Escolar: um estudo das especificidades que atuam na construção e aplica-
ção do conhecimento histórico"
Essa pesquisa com vistas ao doutoramento, que se encontra num estágio inicial, parte das inquietações suscitadas da
dissertação de mestrado, de minha autoria, intitulada 'Representações Sociais e a Construção da Consciência Histó-
rica', apresentada no primeiro semestre de 2006, na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. À luz das
teorias de Jbrn Rüsen e Serge Moscovici, o trabalho discutiu a construção de consciência histórica em alunos do
ensino básico a partir do encontro/confronto, em sala de aula, dos diferentes saberes oriundos do senso comum e da
ciência da História, por meio da análise das representações sociais constituídas por seus sujeitos: alunos e professo-
res. A partir das constatações e limitações da aplicação dessas teorias européias em escolas públicas da periferia de
São Paulo, nossa pesquisa tem como objetivo construir parâmetros que possibilitem um adensamento do conceito de
consciência histórica, de forma a permitir maior efetividade de sua aplicação na realidade de regiões que possuam carac-
terísticas diferentes (no plano sócio-€conômico, político e cultural) do contexto no qual foi originalmente concebido.

Henrique Rodolfo Theobald - UFPR


Experiência de professores com a investigação em Educação Histórica
Trabalho de investigação no campo da Educação Histórica que pesquisa a formação do "Grupo Araucária' e sua
experiência coletiva de investigação de elementos de sua prática que vem sendo assumida como processo de forma-
ção continuada, em Araucária, Paraná. A experiência é analisada à luz da categoria da experiência de E. P. THOMP-
SON e dos teóricos da Educação Histórica, utilizando a metodologia da análise de conteúdo.
@
17. Enfoques multidisciplinares sobre normatização das condutas (séculos V-XVI)
Marcelo Cândido da Silva (USP) e Néri de Barros Almeida (UNICAMP)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h às 18h) I
Marília de Azambuja Ribeiro - UFPE '"
1i5
Da força da auctoritas: a fortuna de Tito Livio .'=
Uma análise do recurso às auctoritates na construção do discurso durante o período tardo-medieval e renascentista, %
seguido de um estudo específico sobre a fortuna da obra de Tito Livio: seus leitores e os autores que dele fizeram uso. :B
Nos deteremos, sobretudo, na influência que o autor romano exerceu nos tratados sobre a Arte da Guerra de autores ~
como Nicolau Maquiavel e Girolamo Frachelta. ~
Q;o
::J
C'
Marcelo Cândido da Silva - USP ..:::c:::
Justiça e violência no Reino dos Francos UJ

Desde o século XIX, os historiadores do direito e das instituições elaboraram uma noção de Estado na qual a espinha
dorsal era o monopólio da violência legítima. Dessa forma, toda forma de violência inter-pessoal era vista como um
atentado a esse monopólio, ou mesmo como a prova da fraqueza da autoridade pública. As reflexões da antropologia
jurídica sobre a vingança mudaram nossas perspectivas sobre as relações entre violência "legítima' e violência "ilegítima'.
Eles também tomaram inteligíveis as relações entre o poder e a sociedade, antes desprezados pela história do direito. A
historiografia tradicional também consagrou o "infra-judiciário' e o "judiciário' como duas instâncias distintas e mesmo
opostas no exercicio da justiça. O objetivo desta apresentação é salientar as trocas e a complementaridade entre esses
dois domínios, bem como discutir a relação entre violência "legítima' e violência "ilegítima' no Reino dos Francos.

Rossana Alves Baptista Pinheiro - UNICAMP


Penitência e autoridade nas "Instituições cenobiticas" de João Cassiano
A comunicação apresentará os casos de penitência existentes na primeira obra do abade de São Vitor, as Instituições
cenobiticas. Partindo do pressuposto de que a penitência é instrumento propiciatório de arrependimento, correção das
faltas praticadas e de normatização de condutas, sua análise será realizada conjuntamente com a investigação da
concepção de autoridade de João Cassiano, nos casos em que ela está relacionada á penitência.

Lucy Cavallini Bajjani - USP


Gregorio o Grande e o Estatuto da Imagem no Ocidente Medieval
A carta de Gregório o Grande a Serenus, bispo iconoclasta de Marseille, datada do ano 600, deu à cristandade ociden-
tal a justificativa para a existência das imagens. Escrita em um momento onde se lutava contra a idolatria pagã, a carta

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contém a idéia de que uma das funções das imagens é a de ensinar aos iletrados o que está escrito na Bíblia, idéia que
foi retomada durante os séculos seguintes - pelo menos até o XII -, norteando o pensamento medieval sobre o tema, e
que muitas vezes reduziu o estudo da produção artística do período a essa função. O objetivo desta comunicação é o
de refletir sobre o contexto em que a carta foi escrita e em como o seu conteúdo sofre modificações ao longo do tempo
para se adaptar a novas realidades.

Veronica Aparecida Silveira Aguiar· USP


Francisco de Assis e a dinâmica normativa de sua ordem
No século XI/I, Francísco de Assís (1182-1226) propôs um projeto de vida caracterízado pelo ideal de uma existência
pobre, que preconizava a ausência de propriedade, a recusa das provisões, do dínheiro, dos cargos e do poder, bem
como a disposição de viver de esmolas em favor de uma fraternidade equânime, universalmente pobre em bens
materiais. Inicialmente, essa interpretação da pobreza como modo de vida colocava-se de uma maneira bastante
primitiva. Mas, à medida que a fraternitas ia crescendo, a práxis e as regras franciscanas foram adaptando-se aos
novos tempos. Sendo assim, ao oficializar a Regra franciscana, a Igreja Romana instituiu a imitatio Christi e transfor-
mou a pobreza em virtude para todos os cristãos. A nova ordem mendicante transformou-se em um novo modelo a ser
seguido. Na presente comunicação, pretende-se avaliar a dinâmica das regras franciscanas através da análise da
Regra de 1210, de 1221, de 1223 e do testamento de 1226. Por um lado, verificar-se-á que o pensamento franciscano
foi enquadrado paulatinamente no modelo jurídico da Igreja da época, não se contrapondo em nada ao Corpus luris
Canonici e, por outro lado, a Igreja absorveu politicamente o pensamento franciscano em seu interior. Esta simbiose
resultou em diversas polêmicas e debates na Igreja.

Milton Mazetto Junior - USP


Os meios de resoluçâo de conflito no período merovíngio: entre a história do direito e a antropologia juridica
O estudo dos meios pelos quais os francos resolviam seus conflitos data, ao menos, da publicação da clássica obra de
Montesquieu, 'Do Espírito das Leís', em 1758. Nesse trabalho o autor aponta, a partir da análise de documentos
normatívos, que o papel da autoridade pública no reino dos francos em relação a resolução de controvérsias seria
apenas o de proteger os criminosos de atos de vingança. N. D. Fustel de Coulanges, cerca de um século mais tarde,
analisa o tema sobre a ótica da composição: acordos inter-pessoais que dispensariam uma punição por parte da
autoridade pública. Com esse estudo, Fustel demonstra a importância do campo infra-jurídico na resolução de conflitos
do mundo franco. Ao longo do século XX, os medievalistas passaram a utilízar métodos e conceitos provenientes de
outras cíências sociais para melhor compreender o funcionamento da justiça na Gália do período merovíngio, sobretu-
do a antropologia jurídica. Esses trabalhos passaram a dar uma maior ênfase ao campo infra-jurídico, privilegiando a
análise de temas como o funcionamento da vingança, em detrimento das instituições judiciárias provenientes da auto-
ridade pública.

I 17/07 - Terça-feira - Tarde (14h ás 18h)

Néri de Barros Almeida· UNICAMP


Foro interno e normatização pública na pastoral universitária da segunda metade do século XIII
Durante o século XIII os efeitos sociais da reforma romana no campo jurídico se tornam mais perceptíveis. Através do
sermão 15 de Ranulfo de la Houblonniére pretendemos discutir as relações entre o foro íntimo - igualmente divisado
pela reforma - e a conctituição de uma nova noção de espaço público.

lucas Bittencourt Gouveia - UFPE


Combater o bom combate: a defesa de um novo modelo de cavalaria em De laude Novae Militiae
No outono de 1095, o pronunciamento do papa Urbano 1/ no Concílio de Clermont foi ouvido por muitos. O que foi dito
ecoou pela Europa ocidental, e não tardou a apresentar resultados: ainda no século XI a Jerusalém terrestre era
tomada pelos cristãos. O 'sucesso' das Cruzadas pode ser percebido como uma vitória da Igreja, e esta vitória repousa
parcialmente na retórica e eloqüência de alguns de seus homens: caso do próprio Urbano 1/, de Pedro o Eremita, de
Bernardo de Clairvaux, a quem nos deteremos neste trabalho. Oinfluente abade cisterciense engajou-se pessoalmen-
te na propagação da cruzada, particularmente junto áqueles que melhor poderiam lhe trazer frutos: os cavaleiros.
Devotou uma de suas obras à exortação daquilo que ele chamou de 'nova cavalaria', referindo-se especificamente à
Ordem do Templo, fundada em 1128: 'De laude novae militiae' é o melhor exemplo da retórica utilizada por Bernardo
para persuadir os cavaleiros do século a se engajar nos combates contra os sarracenos, ou melhor, a se integrar a uma
ordem religioso-militar. Nosso objetivo é analisar a argumentação construída por Bernardo de Clairvaux dentro de um
âmbito mais amplo, o da atuação normativa da Igreja para com a sociedade, especialmente diante da cavalaria.

136
Cláudia Regina Bovo - Ceuclar
Os primórdios da reforma gregoriana na correspondência de Pedro Damião (1040-1049)
A reforma gregoriana tratou de disciplinar a vida eclesiástica e a vida laica. Uma de suas realizações foi a separação,
em termos claros e definitivos, entre as categorias sociais de clérigos e laicos e, por conseqüência, a sujeição moral
dos laicos á autoridade espiritual e normativa dos clérigos. Diante disso, nosso objetivo é analisar o processo de
construção dessa autoridade normativa, verificando a contribuição de Pedro Damião para a legitimação jurisdicional
do clero na direção político-espiritual da Cristandade. Para tanto, elegemos o primeiro volume de suas correspondên-
cias (cartas anteriores a 1049) como principal fonte documental, por envolver importantes debates a respeito da sepa-
ração e da conciliação entre o poder temporal e o poder espiritual.

André Luis Pereira· USP


O empenho franciscano-hagiográfico na pacificação das cidades: os vínculos morais da política (séc. XIII)
Uma leitura atenta das compilações hagiográficas franciscanas do século XIII nos possibilita descobrir o esforço discursivo
da hagiografia para a implantação de um projeto político de pacificação e ordenamento social. Tal esforço deu-se
concomitantemente aos movimentos pela paz entre as comunas da Itália centro-setentrionais envolvidas em conflitos
tais que os religiosos mendicantes sobretudo, precisaram intervir no intuito de restabelecer a ordem. Acreditamos que
a narrativa hagiográfica favorece uma leitura múltipla desse fenômeno de interferência mendicante no campo da
normatização das condutas políticas no âmbito citadino, o que, de resto, ainda permanece um campo de pesquisa
pouco explorado. Nessa comunicação, priorizaremos a Compilatio Assisiensis e o Memoriale in desiderio animae que,
juntos, nos dão uma idéia das principais preocupações pastorais e sociais do chamado franciscanismo do século XIII. @
Carolina Gual da Silva - uSP 17
Processo de normatização do casamento nos séculos XI e XII: a construção de uma doutrina do matrimônio
Do início do século XI até o final do século XII a doutrina da Igreja para o casamento foi sendo construida e fixada 6
através de várias obras. Dentro do processo de reforma moral, legal e papal, o matrimônio passou de um costume '~.
completamente dominado pelo laicado e sem leis específicas a uma conduta regulamentada e protegida pela Igreja e 'fi;
pelo papado. Este processo indica a crescente importância do direito canônico na sociedade cristã medieval e a §
consolidação do poder papal que havia começado com Gregório VII. O papa agora "legisla" sobre todos os assuntos da ~
cristandade. Esse domínio especificamente sobre o casamento é uma de suas maiores conquistas, uma vez que o ~
controle, ou a tentativa de controle da sexualidade e dos espaços onde ela se manifesta, se torna símbolo do exerci cio ~
de poder dentro da sociedade. '" eco
Luciana Fontes Parzewski - UNESP ~
Construções históricas da expansão maritima: Gomes Eanes de Zurara, Fernão Lopes de Castanheda e João .~
de Barros :g
-::;
Em meados do século XVI foram publicadas as primeiras narrativas portuguesas que se preocuparam exclusivamente E
com as viagens maritimas para o oriente. O trabalho versará sobre o modo como a Crônica da Guiné de Zurara, a História ~
do descobrimento e conquista da índia pelos portugueses de Fernão Lopes de Castanheda e a Ásia de João de Barros, 5-
.E
textos fundadores da hístória contada pelos portugueses sobre a expansão, apreenderam a empresa. De.sta forma, inici- .fi
amos com a idéia de que o Oriente, antes mesmo de ter sido descoberto o caminho marítimo para a India, já estava
presente, em especial a partir do século XII, nos escritos medievais. Além desse aspecto, tratou-se dos contornos do
gênero crônica e sua relação com outros textos que igualmente ajudaram a fixar uma certa idéia do 'grande feito portugu-
ês'. Finalizando com as impressões que as três narrativas, a de Zurara, a de Castanheda e a de Barros, responsáveis
pelos primeiros passos na divulgação das notícias sobre as viagens, trazem a respeito da predestinação dos portugueses,
já que esses autores apelam, em vários momentos de suas narrativas, para os argumentos de predestinação dos portu-
gueses como justificativa para a expansão e para as cenas nem sempre louváveis que a envolveram.

I 19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h ás 16h30min) I


Talita Cristina Garcia - USP
"A norma e a justiça como atribuições exclusivas do poder civil: O "Defensor pacis" de Marsílio de Pádua"
Influenciado por autores contemporâneos, protegido e patrocinado pela corte do imperador Luis da Baviera Marsílio de
Pádua (1280-1343?) inicia a composição de tratados políticos que tinham por objetivo negar qualquer tipo de poder do
pontífice romano, bem como defender a existência de um único e independente poder: o poder temporal. No entanto,
a política e a religião confundem-se e disputam o poder, definindo dois modelos políticos. Marsílio afirma que a dualidade
de poder prejudica e equivoca os 'súditos fiéis',·causando instabilidade social. Jesus veio a este mundo para ensinar
como se alcança o reino eterno, sem obrigar ninguém a fazer isso, pois todos têm uma liberdade comum em Cristo, o
que é verdadeiro em relação a liberdade espiritual. Não veio para governar como desejou o papa Bonifácio VIII (entre

137
outros) ao envolver-se em diversos conflitos com o rei da França Filipe o Belo e ao promulgar documentos importantes
sobre o poder do papa como, por exemplo, as bulas Clericis Laicos e Unam Sanctam a fim de reafirmar a imunidade do
clero em todos os aspectos temporais e espirituais.

Ana Paula Tavares Magalhães - USP


Soberania e Normatização: A concepção de poder civil no Defensor Pacis (1324), de Marsílio de Pádua
Em sua obra maior, O Defensor da Paz (1324), Marsílio de Pádua (1280-1343), médico e jurista da corte do imperador
Luís da Baviera, defendeu a idéia de um poder civil soberano, e tendo como atribuição fundamental a manutenção da
paz na comunidade de cidadãos. Sua tese decorria da longa discussão sobre a plenitudo potestatis papal ocorrida
sobretudo entre as décadas de 20, 30 e 40 do século XIV, e polemizava com os chamados teóricos curialistas, que
pretendiam atribuir o referido poder ao bispo de Roma. Afim de negar o mesmo poder ao papa, o paduano recorreu a uma
série de argumentos hauridos na Santa Escritura, nos Direitos Civil e Canônico e na Medicina. A paz não era de essência
teológica ou metafísica, mas antes, garantida pela justiça que só podia ser mantida pela ordem humana - temporal.
Tratava-se, portanto, de uma necessidade do govemo e de uma condição necessária e suficiente para a vida espiritual de
cada um. Ooficio da normatização e do controle cabia somente ao poder civil, e decorria de sua existência como entidade
soberana. Quanto à Igreja, ela consistia apenas no conjunto dos fiéis que acreditavam e invocavam o nome de Cristo,
encontrando-se repartidos entre os diversos Estados. Dessa forma, negava-se à Igreja o estatuto de instituição.

Cybele Crossetti de Almeida - UFRGS


O papel normatizador do Conselho da cidade de Colônia na idade média tardia
Direito e politica são aspectos indissociáveis da vida humana. Mas muitas vezes o Direito é relegado pelos historiado-
res a pesquisadores de outras áreas. Este trabalho busca agregar o estudo do direito à história política e social da
cidade alemã de Colônia em fins da idade média, quando a cidade era um grande centro econômico. Os impostos
permitiram que a cidade renana gradativamente comprasse a sua independência ao arcebispo, que era o seu senhor
de direito. A ele pertencia, entre outros, o direito a nomeação dos Schóffen/scabini, que em seu nome julgavam delitos
e contendas. Mas a progressiva independência política de Colônía fez com que o Conselho, inicialmente um órgão
administrativo de menor importância, se tornasse o centro político, ocasionando choques com o Schóffenkolleg. Por
isso, para analisar as concepções e práticas da justiça é preciso levar em conta não apenas os processos civis e
criminais, mas também as resoluções do Conselho, que demonstram que um dos últimos redutos da autoridade do
arcebispo estava sendo minada por uma nova elite, que pretendia não apenas tomar as decisões políticas mas tam-
bém ter o controle do âmbito jurídico. Desta forma a análise política e histórica só pode ser completada por uma análise
das normas e instituições do direito.

Maria Cristina Vidotte Blanco Tarrega - UFG


A universalidade da compreensão e a apreensão do Direito pelas História-as relações entre História,
Hermenêutica e Direito
Na concepção clássica, a História do Direito é problemática frente á pluralidade de abordagens possíveis de seu
objeto, sobretudo em razão da finalidade delas. A História do Direito revela-se para a dogmática jurídica, nesta concep-
ção, com fins de sistematização de regras para conhecimento/criação. Para a Hermenêutica Jurídica, especificamente
para os que pretendem uma epistemologia dessa área de conhecimento, a História do Direito serve como método de
compreensão para se criar regras operacionais de aplicação do direito. O presente estudo contrapõe-se a essa idéia,
com fundamentos na hermenêutica gadameriana, que reconhece a universalidade da compreensão pela unilateralidade
do objeto. É o que se pretende discutir com enfoque na justiça medieval.

Adriana Vidotte - UFMG


Reflexões sobre métodos e abordagens do direito público medieval
A pesquisa histórica sobre o direito público medieval obriga o historiador a buscar as vias diferenciadas do direito para
a compreensão do seu objeto. O pesquisador acaba se posicionando na encruzilhada da história do direito, onde se
cruzam as vias históricas e as jurídicas, e corre o risco de seu trabalho perder a identidade. Não é recente a discussão
sobre a natureza da história do direito, sobre seu pertencimento à ciência histórica ou á ciência juridica. O debate foi
especialmente intenso na década de 1950. Contudo, o estudioso da matéria ainda continua sendo - como muitos já
afirmaram - um sujeito de dupla cidadania que não sabe qual é a sua pátria. Propomos refletir sobre as possibilidades
de abordagem histórico-juridica do direito público na Espanha no final da Idade Média.

Irma Antonieta Gramkow Bueno - UFRGS


Representação dos Estereótipos Femininos no Fuero Juzgo e na legislação Afonsina: uma abordagem comparativa
A legislação de uma sociedade pode nos contar muito sobre ela. Através do estudo do seu conjunto de leis, somos
capazes de conhecer os hábitos, os costumes e a organização desta. Levando isto em consideração, neste trabalho
estamos utilizando o Fuero Real, as Siete Partidas - as duas mais importantes obras jurídicas de Afonso X -, e o Fuero

138
Juzgo - originário do período visigodo - para analisar como são apresentadas as questões dos direitos e deveres
femininos, buscando identificar como a mulher é representada e como estas imagens se encaixavam nos estereótipos
tradicionais da época: positivo ou negativo, identificados, respectivamente, com Maria e Eva. A escolha de códigos
legais confeccionados em períodos diferentes e para grupos sociais diferentes permite fazer uma comparação, tempo-
ral e cultural, sobre a maneira como os estereótipos femininos aparecem e se modificam. Verificando, então, as possí-
veis alterações e influências na assimilação destes no discurso jurídico dos períodos em questão.

I 20/07 - Sexta-feira - Manhã (10h30min às 12h30min) I


Renata Cristina de S. Nascimento - UFG
As Atitudes do Rei em favor da Nobreza e as Queixas Apresentadas em Cortes: A permanência dos abusos da
fidalguia durante o governo de D. Afonso V (1448-1481)
Os excessos da nobreza durante o governo de D. Afonso V em Portugal, só foram possíveis, devido ás omissões do
poder central e aos abusos cometidos por parte da fidalguia que provocavam enormes conflitos entre os povos e os
procuradores dos conselhos. As Cortes, mesmo que estivessem longe de representar um retrato total do que se
passava, eram, de certa forma, a imagem do vivido. Eram nelas que estes problemas se apresentavam ao rei. É nosso
objetivo proceder à sua análise, não perdendo de vista que essas arbitrariedades se davam em favor da nobreza e, de
forma geral, em prejuízo da centralização do poder.

Flávia Aparecida Amaral -U S P @ 7


Godofredo, o Dentuço e a justiça de Lusignan
A literatura pode ser considerada fonte privilegiada para a análise da resolução de conflitos e das idéias acerca da
justiça que se difundiram no período medieval. Documentos como tratados políticos e teológicos, ou mesmo documen- o
tos com objetivos nonmativos como as 'Capitulares' carolíngias, por exemplo, são de suma importância para o tipo de .~-

r~:~~~~çci~~ ~~~~:~ ~~~~~~~~~t~~ajt~~~ç~O;éd~' :~aa~~li~:~:Oc~: ~~t~~:~~~~i~~d~p~~~r~~n~~~r~~feo~~~:~~n~~~c~~ .~


para a anàlise de temas que estão longe dos mais comuns em relação à literatura medieval, como por exemplo, o ~
imaginário, as mentalidades, o amor cortês, etc. O objetivo desta apresentação é abordar algumas problemáticas ~
acerca da justiça na Idade Média privilegiando como testemunho histórico o Romance de Melusina ou a História dos ~
Lusignan. Destaca-se nessa narrativa a figura de Godofredo, o Dentuço um dos filhos de Melusina cujas aparições 1§
estão sempre relacionadas a resolução de conflitos e ao estabelecimento da justiça. Pretende-se analisar qual o papel .s
de Godofredo nesses episódios, e a razão de a justiça do Romance de Melusina se relacionar a esse temível, implacà- a.
vel e impulsivo personagem. .bi
'i3
.~

"3
Marília Pugliese Branco - USP E
A legitimação da figura do rei nomatizador: alguns aspectos da biografia de São Luís, de Joinville gj
No cerimonial de sagração as insígnias representavam suma relevância, Seu significado estava relacionado direta~ g.
l

mente à esfera política do religioso, ou seja, á ligação estreita da natureza política da monarquia com a religião- E .s
instituições nas quais o simbolismo estava incorporado. A união do abstrato - crença - com o material- insígnias e rítos
- resultou na idéia da monarquia sagrada. Esses objetos e esses poderes colocavam o rei em comunicação direta com
Deus, mantendo ao mesmo tempo o intermediário eclesiástico.
Uma caracteristica muito marcante na monarquia capetíngia e do reinado de Luís IX especificamente foi a forte aliança
com a Igreja. A Igreja era peça mestra do sistema feudal e justificadora ideológica desse sistema, sendo a principal
intermediária. entre o rei e seu populus, dando a ele posse através da cerimônia de sagração e unção. Segundo
Kantorowics (1998, p.49), da sagração emanava a capacidade espiritual na qual o rei figurava como persona mixta.
Mista na medida em que havia uma união de poderes e faculdades espirituais e seculares. Dessa maneira, reconhecia
no rei um homem individual, decorrente de sua natureza, e um Christus, pela graça. Mediante alguns traços de sua
biografia, podemos perceber ern São Luís a representação dessa pessoa gêmea.

Ana Cristina Campos Rodrigues - UFF - F. Biblioteca Nacional


Um modelo de corte: a descrição da casa do Duque Carlos da Borgonha (1467-1477)
Escrito a partir de 1471 por Olivier de La Marche a pedido do rei Eduardo IV de Inglaterra, 'L'état de la maison du duc
Charles de Bourgogne dit le Hardy' é tido como a obra mais importante desse retórico e pensador do fim da Idade
Média. Nesse tratado, o servidor borgonhês descreve em minúcias as formas de comportamento de seu senhor, Carlos
de Borgonha, tanto no governo quanto no trato social. Junto com as suas 'Mernoires', essa obra forma um testemunho
apaixonado do último duque Valois da Borgonha. Nesse trabalho, iremos de forma breve indicar como La Marche, ao
tornar a corte borgonhesa um exemplo e um padrão a ser seguido, foi crucial para conformar a imagem desta como a
mais suntuosa e importante de sua época, ao mesmo tempo em que servia aos interesses políticos dos duques.

139
18. Ensino de História: currículo, culturas e linguagens
Ana Maria Ferreira da Costa Monteiro (UFRJ) e Carmen Teresa Gabriel Anhorn (UFRJ)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h às 18h) I
Ana Maria Ferreira da Costa Monteiro - UFRJ
A historia ensinada: saberes docentes em narrativas da historia escolar
Esta comunicação apresenta os primeiros resultados de pesquisa que tem por objetivo investigar os saberes mobiliza-
dos pelos docentes no ensino da História, o que implica articular as questões da produção do conhecimento histórico
com os saberes e as práticas dos diferentes agentes da cultura escolar. Nesse sentido, o instrumental teórico que
fundamenta a análise dos saberes docentes (Tardif, 2002; Gauthier,1998; Shulman, 1986,1987) é utilizado, de forma
articulada, com aquele que, oriundo do campo teórico da História (Hartog, 1998 Burke,1992; 2005) oferece contribui-
ções para a compreensão da questão da narrativa como estrutura discursiva utilizada para a pesquisa, a produção e
expressão do conhecimento histórico e, também, da história escolar (Moniot, 2000;Lautier, 1997; Carretero,2005). Esta
pesquisa utiliza como pressuposto a concepção de currículo como prática de significação (Moreira, 2002; Silva,1999)
e que contribui para configurar o contexto de análise dos saberes mobilizados pelos docentes na busca da compreen-
são da relação entre a sua atuação no ensino da História e a produção de sentidos pelos alunos.

Carmen Teresa Gabriel Anhorn - UFRJ


"Relação com o saber" no currículo de história: sentidos e expectativas de aprendizagem em disputa
Este texto tem por objetivo mapear e analisar as expectativas e sentidos de aprendizagem em História atribuídos pelos
diferentes sujeitos - professores e alunos - envolvidos diretamente no currículo desta disciplina escolar. Apoiada nas
contribuições das teorias curriculares criticas e pós-criticas a análise procura sublinhar como a questão da relação que
os sujeitos estabelecem com o saber é central para a própria compreensão dos sentidos de sucesso /fracasso escolar
que orientam e influenciam a experiência escolar. A hipótese trabalhada é que o currículo de história, como espaço de
enunciação e negociação de sentidos onde se disputam também sentidos de aprendizagens, é igualmente espaço onde
as noções de sucesso e fracasso nesta disciplina são tecidas e legitimadas. O recorte privilegiado pressupõe que a
problemática dos "saberes aprendidos' permite operar com a dimensão relacional da aprendizagem pela qual o que
importa é a conexão entre o movimento daquele que aprende e as características daquilo que é aprendido. Para tal
trabalhamos com entrevistas semi-€struturadas de professores e grupos focais de alunos da educação básica de diferen-
tes escolas com o objetivo de perceber através de seus discursos os significados atribuídos ás aprendizagens em história.

Ana Luiza Araújo Porto - UFAL


Entre Práticas e Saberes Históricos: Um diálogo entre o ensino de História Contemporânea e as teorias
curriculares pós-críticas
O presente trabalho está inserido nas discussões do projeto de dissertação 'Uma história fora dos trilhos: a formação
do profissional de História da Universidade Federal de Alagoas' que aborda a Formação do Profissional de História em
Alagoas a partir da análise do currículo do curso de História da Universidade Federal de Alagoas. Nosso objetivo será
discutir através das teorias pós-críticas do currículo, que pensam o currículo enquanto território de saber, poder e
espaço de produção de identidades a composição curricular da disciplina História Contemporânea, a ausência de
articulação entre os conceitos de saberes históricos e prática educativa, na disciplina. Há um distanciamento entre a
produção historiográfica atual sobre a História Contemporânea e as discussões estabelecidas em sala de aula, a partir
do conteúdo programático da disciplina. Para isso, a pesquisa utilizará como material de análise a produção dos
alunos em sala de aula (anotações das aulas, questionários e provas), bem como a ementa da disciplina.

André Victor Cavalcanti Seal da Cunha - UFPE


Narrativas Históricas Escolares: Apropriações pela Prática Pedagógica dos Professores de História
A pesquisa compreende as apropriações das narrativas históricas escolares pela prática pedagógica dos professores
de História. Para tanto, buscou-se analisar a estrutura discursiva das narrativas para identificar as matrizes historiográficas
que lhes servem de referência, bem como as estratégias metodológicas privilegiadas. Tivemos como campo os ciclos
finais do ensino fundamental de quatro escolas da rede municipal do Recife. Elegemos como sujeitos cinco docentes.
Diversas matrizes historiográficas participaram das (re)invenções, não obstante, percebe-se uma preponderância do
Marxismo. Detectamos também os múltiplos usos da oralidade como forma privilegiada para as apropriações. Perce-
bemos que o repertório de saberes históricos escolares formados na graduação e nos anos iniciais da profissionalização,
representou um núcleo duro da transposição didática interna. Aoralização do saber histórico mostrou ser um elemento
intrinseco à cultura profissional docente, não podendo ser associada a uma perspectiva inovadora ou conservadora
em si mesma. A diversidade dos fenômenos nos possibilitou vislumbrar a complexidade que caracteriza o ensino de
História vivido nas salas de aula.

140
Luísa Teixeira Andrade· UFMG
Aula de História: cultura, discurso e conhecimento
Este trabalho compõe uma das dimensões da pesquisa de mestrado desenvolvida na Faculdade de Educação/UFMG
que buscou investigar os processos de ensino-aprendizagem de História nas interações discursivas da sala de aula.
Estabelecemos como foco as interações em uma turma do 20 ano do ensino médio da Escola Estadual Maestro Villa-
lobos da Rede de Educação de Minas Gerais. Os princípios teórico-metodológicos se basearam na abordagem
sociocultural e na Etnografia Interacional. Neste trabalho, privilegiamos o estudo de uma aula específica acerca da
temática da Revolução Francesa. Esta análise constituiu-se de dois focos: o primeiro, centrado no professor, buscou
caracterizar a dinâmica discursiva da aula selecionada. O segundo, centrado no aluno, procurou investigar quais tipos
de pensamentos/raciocínios históricos estão sendo produzidos nas interações registradas. Como resultado, analisa-
mos os vários elementos que concorrem para o desenvolvimento de conhecimentos e para a mobilização de raciocíní-
os históricos em uma aula de História, quais sejam, o tipo de mediação pedagógica que condicionou, em grande parte,
o aprendizado dos alunos, as caracteristicas epistemológicas do conhecimento histórico e as práticas culturais do
grupo que sustentam os processos de ensino-aprendizagem.

Fernando de Araujo Penna . UFRJ


A história ensinada no Imperial Colégio de Pedro Segundo: uma matéria escolar?
O meu objetivo nesta comunicação é colocar em questão se a história ensinada no Imperial Colégio de Pedro Segundo
(1837-1889) pode ser considerada uma 'matéria escolar". A questão se coloca porque, apesar do Colégio ser classifi-
cado no periodo como um estabelecimento de instrução secundária, uma quantidade pequena de indivíduos tinham a
oportunidade de cursá-lo, aprendia-se desde a retórica e a poética à matemática e as ciências naturais e aqueles que
concluíssem o curso tornavam-se Bacharéis em Letras. Estes e outros indicios fazem com que alguns pesquisadores
questionem se as cadeiras lecionadas no Imperial Colégio de Pedro Segundo podem ser consideradas matérias esco-
lares ou aproximar-se-iam mais das disciplinas acadêmicas. Argumentarei, através de uma discussão teórica (Goodson,
Chervel, Forquin e Chevallard), acompanhada de indícios encontrados na documentação do período, que as cadeiras
já apresentavam sim características distintivas daquilo que pode ser considerado uma matéria escolar.

I 17/07 - Terça-feira - Tarde (14h às 18h) I


Helenice Aparecida Bastos Rocha - UERJ
O paradoxo da agulha e a ambição do currículo de História
No paradoxo bíblico da agulha, Jesus Cristo teria afirmado a impossibilidade de entrada dos ricos no Reino dos Céus.
A partir dele, elaboro uma reflexão sobre a dificuldade do ensino do currículo de História tal como se apresenta na
contemporaneidade. Esse fenômeno ocorre tanto com o currículo que está prescrito em propostas oficiais, bem como
com o que consta da tradição escolar, nos planos de curso ou livros didáticos, nos mais ou menos econômicos em sua
extensão. Ali existe a tentativa frustrada de levar, do pólo do ensinante, com o apoio dos objetos mediadores que
utiliza, para o pólo do aprendente e seus recursos, a bagagem transbordante do conteúdo específico da História
escolar. No lugar de tomarmos o professor como o responsável pelo problema do currículo, proponho outra reflexão,
que comecemos conhecendo a extensão de sua tarefa e suas práticas como estratégias para fazer o camelo do
currículo tradicional ou não da História passar pela agulha do limite do tempo escolar. Essa reflexão é feita a partir de
@
18
um breve exercício de arqueologia de algumas práticas docentes, no que se refere ao currículo de História. O material
de pesquisa provém de projeto em que busquei as estratégias de professores de duas escolas sobre a compreensão ~
dos alunos em aulas de História. g>
:::>
O>

Antônio Aparecido Primo - UNICASTELO e CENPEC ao
"Ensino de História e multidisciplinaridade: experiências com leitura de diferentes linguagens na educação '"
~
básica" .'3
O professor de História deve considerar que é seu papel orientar a leitura dos principais tipos de textos usados em sua B
área. De que maneiras isso pode ocorrer? Dentre elas destacam-se o uso de livros didáticos e documentos históricos d
nas aulas. o que possibilita o trabalho com leitura de diferentes linguagens. Nesta comunicação pretendemos: refletir ~

~~~r~a {t~~foe~:;:cf;~~e~~~~; adt~~~~~i~r~~sdde~~~~~~~:;~~o ~~~~ioa~~~~~~o~~~~~~~~c~~~~I~~~~od~e~~~g~~~ ~


divulgar e debater experiências didáticas com leitura das seguintes linguagens: canções, imagens (fotografias e pintu- ~i
~~~~e~;~;~~sd:~~~~O:s ~~~~~~~Se~t~~~n~~sJ~~~'n~f~~e~eo~ãe;t~~~~c~~~):~~c~s~~~oe: ~~~~s ~~p~~~~g~~ ~~~~ ~
ticas relacionadas ao tema 'História, memória, juventude e famílias de escravos e de camadas pobres e livres no final ~
do século XIX', ,~
c::
LJ.J

141
Giovani Luiz Romani . UFSM
Ensino de História e a interdisciplinaridade
A interdisciplinaridade, surgiu no final do XIX, pela necessidade de dar uma resposta à fragmentação causada por uma
epistemologia de cunho positivista. As ciências haviam-se dividido em muitas disciplinas. A interdisciplinaridade visa a
garantir a construção de um conhecimento globalizante, rompendo com as fronteiras das disciplinas. A postura
interdisciplinar é uma atitude de busca, envolvimento, compromisso, reciprocidade diante do conhecimento. Oobjetivo
principal do estudo da história não é fazer reviver o passado, mas, sim, procurar compreendê-lo. Os objetos do conhe-
cimento histórico são o homem e as sociedades humanas no tempo. Em História, não existe um saber acabado. Não
existe a palavra final sobre qualquer tema. Novos documentos, novas abordagens e novas interpretações possibilitam
uma visão plural do conhecimento histórico. Mais do que nunca o educador de história deve fazer parte do coletivo e
ampliar sua postura interdisciplinar. Por isso, o saber, como expressão da prática simbolizadora dos homens, só será
autenticamente humano e autenticamente saber quando se der interdisciplinarmente.

Andreza de Oliveira Andrade - UFPB


Curriculo, Gênero e práticas culturais: desafios ao ensino de história
Os currículos escolares inscritos no contexto educacional enquanto instrumentos reguladores das práticas educativas
são legitimados a partir de discursos e práticas articuladas no interior de relações de poder multifacetadas têm histori-
camente se constituído como poderosos instrumentos de políticas culturais. Em sua constituição e na sua prática eles
carregam consigo uma miríade de valores e modelos a serem perseguidos pela educação e pelo ensino. O que em
certo sentido pode significar a segregação e o silenciamento de sujeitos, práticas e valores que historicamente têm
sido postos à margem dos valores culturais hegemõnicos. Nesse sentido, há um desafio lançado à historiografia da
educação e ao ensino de história em especial: é o de captar as experiências desses sujeitos marginais, no sentido de
problematizarmos a hegemonia de modelos e valores hegemônicos como os que instituem, por exemplo, a hegemonia
dos valores masculinos como prática cultural refletida pelo currículo e pelo ensino de história. O que acaba refletindo
ao mesmo tempo em que reforça a desigualdade nas relações entre os Gêneros no âmbito da cultura e da sociedade.
Nosso desafio é o de concebermos e vivenciarmos as diferenças a partir da lógica da alteridade através da inclusão
histórica e social do "outro'.

Edinalva Padre Aguiar e Selva Guimarães Fonseca


Currículo: seleção, concepção e práticas de Ensino de História
Este artigo é parte da Dissertação de Mestrado Currículo e ensino de história: entre o prescrito e o vivido. Vitória da
Conquista-BA, Brasil (1993/2000), cujo objetivo foi analisar os currículos de História prescritos e vividos no ensino
médio, como ocorria o processo de seleção curricular, as concepções dos professores/as sobre currículo e a influência
do currículo oficial sobre o vivido. A metodologia da pesquisa inspirou-se na abordagem qualitativa. As entrevistas
foram baseadas no modelo da história oral temática e os entrevistados/as concordaram em ter seus nomes e narrati-
vas divulgadas. Além disso, foram utilizadas diversas fontes escritas como indicações curriculares, diários de classe,
leis, decretos etc. Os resultados apontaram que a relação entre o curriculo oficial e o vivido na sala de aula é permeada
por conflitos. Algumas vezes eles se aproximam outras se distanciam.

Francisco das Chagas Silva Souza - Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio Grande do Norte
Novos tempos, temas e atitudes: o espaço do meio ambiente nas aulas de História
As catástrofes ambientais ocorridas no presente e outras anunciadas para o futuro demonstram claramente que a
ideologia do progresso rejeita ou minimiza as questões ambientais, seja no discurso ou na prática. As vitórias do
capitalismo produziram uma forma social caracterizada pela imprevisibilidade e pela autocritica - ela reconhece os
riscos que produz e reage diante disso. Isso explica o porquê dos encontros internacionais promovidos pela ONU
apontarem a Educação Ambiental (EA) como um mecanismo capaz de contribuir para minorar esses problemas, os
quais, pela sua complexidade, exigem interfaces entre as várias ciências. Por referir-se a uma nova forma de encarar
a relação do homem com a natureza, baseada numa nova ética e valores morais, a EA colabora na formação e no
exercício da cidadania. Dessa forma, a História, por compreender os fatos da contemporaneidade e do passado, e pelo
seu compromisso com a formação ética e cidadã, pode se inserir nesse grande desafio. Assim, algumas questões são
merecedoras de debate: como adequar o ensino dessa disciplina à formação das novas atitudes exigidas pela socie-
dade de risco? Como fazer as interfaces com as ciências da natureza? Como superar as limitações dos conteúdos dos
livros didáticos de História no que tange à questão ambiental?

142
18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h ás 18h)

Luciana Scheuer Brum - UFSC


As reformas curriculares e a formação do historiador: Em busca da indissociabilidade entre ensino e pesquisa
Este artigo tem como principal objetivo discutir as reformas curriculares no Ensino Superior a partir do estabelecimento
das Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e das Diretrizes Curriculares Nacionais, determinando a constru-
ção dentro de cada Instituição de Ensino Superior dos Projetos Políticos Pedagógicos (PPP) como instrumentos de
balizamento do fazer universitário. O Projeto Político do Curso de Graduação em História da Universidade Federal de
Santa Catarina será a base para análise destas transformações que buscariam romper com a tradicional dicotomia
entre ensino e pesquisa, através de alguns conceitos como os de competências e habilidades.

Roseane Maria de Amorim - PCR


A prática pedagógica dos docentes de Prática de Ensino: desafios e perspectivas para um novo tempo
Uma das problemáticas mais sérias que os docentes de Prática de Ensino de História enfrentam na sua prática peda-
gógica refere-se, a competência deste profissional para motivar os alunos no processo de ensino-aprendizagem. É
notório para qualquer professor e professora que de modo geral os educandos não gostam de ler, interpretar textos e
de ouvir o educador por mais de vinte minutos. Vivemos num mundo no qual as pessoas são impacientes e estão
saturadas de informações. Esse fenômeno atinge os discentes da Educação Infantil até os alunos e alunas do Ensino
Superior. Diante dessa realidade como professora de Prática de Ensino do curso de Licenciatura em História fiz, no
decorrer do meu trabalho, a seguinte indagação: que metodologias o/a educador/a desse campo de saberes pode
lançar mão para motivar os discentes aos estudos e compreender a importância da Prática de Ensino para a sua
formação? A resposta a esta questão é uma tarefa complexa na medida em que a cobrança para com esse/a educador/
a é grande, visto que, não se admite que esse docente não tenha competência metodológica para atingir esse fim, isto
é, o (a) professor (a)do campo pedagógico é considerado especialista na arte de ensinar e, portanto, precisa ter uma
metodologia de trabalho diferenciada.

Valeska Garbinatto - Col.Est.de 1° e 2° graus Elpídio Ferreira Paes e Maria Aparecida Gomes
O Ensino de História frente às discussões sobre Inclusão e Exclusão Social: uma questão de Ética
A temática da Inclusão e da Exclusão está muito em voga, nos últimos 20 anos, não só na área da Educação, mas
também da própria pesquisa nas Ciências Humanas. O questionamento principal é de que maneira esta discussão
perpassa a construção diária que é a relação professor-aluno, principalmente quando estamos falando do Ensino de
História. O ponto de partida inicial encontra-se justamente nos parâmetros que o MEC fornece a nós profissionais em
educação. Através do cruzamento dos textos legais que subsidiam a ação educativa num contexto mais amplo e das
entrevistas com professores da rede pública de ensino, pretendemos buscar respostas para este questionamento. Se
a escola deve ter como tarefa a formação da Cidadania e se esta ganha seu sentido pleno num contexto democrático,
é fundamental verificar que situação existe hoje no Brasil. As leis que regem as ações do povo brasileiro apontam
efetivamente na direção da cidadania? Mais ainda, que atitude têm os indivíduos diante delas? A educação que se
oferece nas escolas capacita de fato os indivíduos para atuar crítica e construtivamente? De que maneira nós, profis-
sionais do Ensino de História, nos posicionamos frente ás discussões sobre Inclusão e Exclusão Social, que são tema
das principais mudanças educacionais na atualidade? @
Regina Célia do Couto - UFPel/Unipampa '"
Multiculturalismo (s) e ensino de História na fronteira Brasil-Uruguai: revelando resistências e encontros g
Este trabalho é um desdobramento da pesquisa de Mestrado em Educação realizada na Universidade Federal de ~
Uberlândia, onde se entrevistou os formadores de professores de história sobre multiculturalismo. Neste sentido este ~
texto é um primeiro produto de uma investigação desenvolvida nas Escolas Públicas de Ensino Fundamental de '"
Jaguarão, cidade fronteiriça com o Uruguai. Intentou-se compreender como os professores que ensinam história se 1§
apropriam da questão (multi) cultural nos curriculos. Indagou-se sobre as perspectivas (multi) culturais explicitas e ~
implícitas nos curriculos de história utilizado nestas Escolas e sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educa- '-'
ção das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de,História e Cultura Afro-Brasileira e Africana (MEC, 2004) e as -3-
Orientações e Ações para a Educação das Relações Etnico-Raciais: ensino fundamental (MEC, 2006), Utilizou-se de ,~
entrevistas orais temáticas semi-estruturadas, dialogando com os professores de história sobre a questão do (multi) ~
culturalismo e análise dos curriculos prescritos (MEC,2004/2006). Esta investigação possibilitou estabelecer alguns co
encontros e embates que permeiam o (multi) culturalismo nas interfaces com as questões étnico-raciais, curriculo, e ~
ensino de história nessa região. :i?
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143
Amauri Mendes Pereira - Centro de Estudos Afro-Brasileiros-UCAM
O Minas Clube e a Lei 10.639/03: um entroncamento na História e Cultura Afro-Brasileira
Além do desafio político, do desafio acadêmico e do desafio da práxis dos educadores, venho identificando em cursos
de formação continuada de educadores de redes públicas, um desafio crucial á implementação da lei 10.639/03: a
própria conceituação do que seja História e Cultura Afro-Brasileira. Pretendo, então, apresentar a história do Minas
Clube, o 'Clube Negro" de Além Paraiba-MG, nos anos 50 e 60. Buscando recuperar a trajetória do protagonismo negro
numa pequena cidade, o texto aborda tipos de relações que eram estabelecidas por diferentes segmentos da popula-
ção negra com elites regionais, e com outros agentes sociais e políticos, a partir de fontes documentais e de depoimen-
tos de fundadores e participantes do clube; muitos deles, ativistas junto ás oficinas e ao sindicato dos ferroviários da
Leopoldina na região. A investigação problematiza sobretudo as visões: de uma História e Cultura Afro-Brasileira
construida em alteridade, ao largo do desenvolvimento da sociedade brasileira; e seu inverso -largamente difundido
no senso comum - que concebe uma História do Brasil, na qual as "agruras vivenciadas no meio negro': iniciativas e
processos intestinos de organização e ação, não passariam de epifenômenos, em relação aos contextos 'mais am-
plos' de lutas sociais no Brasil.

Hivana Mara Zaina de Matos - Faculdade Santa Izildinha


A prática historiográfica dentro da concepção ensino- aprendizagem: experiência docente em São Paulo
Ao ministrar a disciplina de Fundamentos e Métodos do Ensino de História para alunos do Curso de Pedagogia perce-
beu-se que desconheciam o conceito e a importância da História. Uma questão foi levantada: Se o aluno não tem a
história em sua prática cotidiana, se considera que a disciplina é composta por conteúdos para serem memorizados,
'decorados', ou consideram que o passado não faz parte do presente, como pode transmitir ao seu aluno, o saber
histórico? Freqüentemente professor considera a História como a concepção de fato, saber pronto, que não há necessida-
de de ser revisado. Odesinteresse, a aversão facilita uma formação generalista podendo, muitas vezes, reforçar valores
e preconceitos. A partir dai houve a necessidade de ressaltar que o conhecimento ocorre a partir da experiência dos
homens e sua relação com o mundo em que vivem. Oobjetivo era o fazer histórico, pensando na valorização do conheci-
mento. Partindo da vivência do aluno, foi apresentada a proposta de elaboração de um livro de História com o tema: A
História do meu bairro. A presente apresentação pretendeu refletir, através de um relato de experiência, ações que valori-
zem as práticas historiográficas e a conscientização de que cada um de nós faz parte do processo histórico.

I 19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h ás 16h30min) I


Helena Maria Marques Araújo - UERJ e UFRJ
Memória e produção de saberes em museus de História
Nos últimos anos cresceram as pesquisas que analisam os processos de ensino em espaços não formais na perspecti-
va dos estudos sobre transposição didática e/ou recontextualização. Os museus de História, assim como outros espaços
educativos não formais, são produtores de saberes próprios. Este trabalho tem o intuito de valorizar esses saberes,
produtos da experiência social e cultural, gerados em espaços educativos diferenciados do espaço da escola. Como base
teórica utilizaremos o conceito de recontextualização de Bernstein para melhor entender o processo de produção do
discurso expositivo nos museus e analisar o discurso pedagógico e suas formas de transmissão e aquisição.

Eloisa Maria Lima Souto Silva, Cinthia Campanari, Ingrid Guimarães e Luiz Antonio Alves - Unilasalle
Ensino de história e Educação patrimonial
Pretende-se discutir neste trabalho a importância do estudo patrimonial como parte do curriculo de História no Ensino
Fundamental e Médio. Busca-se, além de trabalhar a memória, mas também a identidade do aluno com a sua história
local, incentivando-o a conhecê-Ia e respeitá-Ia. Conhece--se o descaso e desrespeito do cidadão aos patrimônios. Incluir
nos programas escolares a educação patrimonial objetiva sensibilizar o aluno a respeitar o patrimônio histórico e a história
local, preservando sua memória e incluir uma nova linguagem para o campo do ensino de História. Tem sido desenvolvida
experiência no Curso de Licenciatura em História, da Unilasalle, onde um grupo realiza trabalho de levantamento histórico
de patrimônios da cidade de Niterói, para que seus alunos, nas escolas onde atuam, estudem sua relação com aformação
da identidade do sujeito histórico, que nada mais é do que o cidadão. Como estudo de caso, é apresentada a Ilha da Boa
Viagem, em Niterói. Assim, relacionam-se os estudos do patrimônio e construção da identidade do cidadão local. Cidade,
patrimônio e sujeito histórico convivem diariamente, simbióticos, articulando-se e influenciando-se.

Tathianni Cristini da Silva e Mirian Adriana Branco - FacvestlUSP


(Re)conhecendo a memória da cidade
Através da integração entre diferentes turmas do curso de História e Fotografia, pretende-se perceber a construção da
identidade a partir da análise dos espaços de guarda da memória urbana. Tendo como campo de pesquisa a cidade de
Lages/SC.

144
20/07 - Sexta-feira - Manhã (10h30min às 12h30min)

Warley da Costa - UNIRIO ~


Saber histórico e construção de identidades }g
O presente trabalho, elaborado para efeito de apresentação neste seminàrio, pretende analisar até que ponto a orga- f;

~~::;~ofv~~~C~I~a~~ ~~t~::q~fsdae ~~fl~:~~~r r~~~~~~~~~ i~fs~t~~~~ã~e J;~fr~d~e e~~~su~~J:~~~~~i~~r~~ea~~


Je
m

Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). A dissertação teve como objetivo central investigar de que forma as

.

imagens da escravidão nos livros didàticos de História utilizados nas escolas da Rede Municipal do Rio de Janeiro w
interferiram na construção das representações sobre o negro no Brasil. No caminhar da pesquisa de campo, percebe- ~..
mos certa dificuldade de alguns entrevistados negros em abordar o tema: não identificação com os personagens, o ~
silêncio, a mudança de assunto. Nesse sentido questionamos: de que forma a organização das bases curriculares u
pode se configurar como espaço produtor de identidades? Que identidades foram retratadas nas narrativas dos ex- ~. .
alunos? Apartir da riqueza dos dados da pesquisa e de referencial teórico pertinente, desenvolvemos o atual trabalho. ~
Buscamos sustentação teórica em autores como Stuart Hall, Kathryn Woodward, Tomaz Tadeu da Silva, entre outros, .~
o
V>

landra Pavanati - UTESC IINESA ,g


Implicações da utilização da fotografia no ensino de história 5~
Refletir sobre a presença das imagens na sociedade contemporânea, e a sua utilização didàtica para o ensino de ~
história é o foco desta produção. Em aproximação às anàlises de Le Goff, cabe um enfoque sobre a fotografia enquan- U.I

to documento/monumento, produzido intencionalmente numa época, sendo determinado histórica e socialmente. A


utilização didática da fotografia envolve implicações as quais devem ser consideradas pelos profissionais, como o
olhar atento sobre a aparente característica de objetividade e isençâo da fotografia, como se fosse de fato o real que
estivesse presente na foto, quando se trata de uma representação da realidade produzida intencionalmente por al-
guém e até pelos próprios atores da sala de aula, pois com a digitalização das imagens é crescente o acesso de alunos
e professores à produção e manipulação de fotografias. Ainda outra implicação é a saturação de imagens a que estes
sujeitos estão submetidos, situação que pode levar a uma dificuldade em distanciar-se suficientemente do objeto, a
ponto de estabelecer um olhar analítico que torne significativa a sua utilização no ensino. Contudo, apesar das dificul-
dades e dos riscos presentes neste novo objeto de estudo, é urgente a reflexão e a apropriação destas novas lingua-
gens no campo da história.

Silvia Maria Amancio Rachi Vartuli e Lana Mara de Castro Siman • UFMG
Tiradentes pelos pincéis: o imaginário nas interpretações dos vestibulandos
Este artigo é um desdobramento da pesquisa de mestrado em educação desenvolvida na Universidade Federal de
Minas Gerais que apresentou como foco de análise as interpretações de vestibulandos acerca das representações
iconogràficas do personagem histórico Tiradentes, a partir de referenciais teórico-metodológicos trabalhados pela
História Cultural. Especificamente aqui, buscaremos evidenciar, por meio da anàlise das escritas dos vestibulandos, a
força de determinadas idéias que cristalizam visões e versões heróicas em torno desse personagem com o objetivo
principal de refletirmos sobre as possibilidades pedagógicas decorrentes da utilização da linguagem iconográfica no
ensino de História.

19. Escravidão: sociedades, culturas, economia e trabalho


Eduardo França Paiva (UFMG) e Douglas Cole Libby (UFMG)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h às 18h) I
Daniel Camurça Correia - Universidade Cruzeiro do Sul
As negras famílias: entre bênçãos e resistências (Sul de Minas· século XIX)
Busca-se compreender o campo de atuação de homens e mulheres que burlavam o sistema eclesiàstico para consti-
tuirem suas famílias. Formal ou informalmente, em meio ao tràfico provincial mineiro, cativos de diversas cidades do
sul de Minas, criavam maneiras de manter a integridade de suas do corpo teórico casas, impossibilitando a venda de
maridos, esposas e filhos. Para a compreensão desta realidade foram utilizados inventàrios, escritura de compra,
venda e troca de escravos, bem como registro de batismo, óbito e casamento de escravos, no periodo de 1850 até
1888. A compreensão das categorias familia, trabalho, solidariedade e resistência foram fundamentais para a constru-
ção do trabalho.

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Ricardo Tadeu Caires Silva - FAFIPA·PR
Crime e cotidiano na Bahia oitocentista (1850.1888)
Fonte privilegiada para a compreensão do cotidiano escravo, os autos criminais tem sido utilizados nas últimas déca-
das pelos historiadores da escravidão no Brasil para evidenciar os embates travados entre senhores e escravos.
Tomando por base a análise de 192 processos crimes em que os escravos baianos se envolveram como vítimas e/ou
réus, busco problematizar a relação entre os crimes cometidos e sofridos pelos referidos cativos com as transforma-
ções ocorridas a partir de 1850, quando do fim do tráfico intemacional de escravos para o Brasil. Em especial busco
perceber até que ponto as disputas em torno da liberdade e da autonomia escrava acabaram em conflitos violentos,
tendo como vitimas os senhores e seus familiares, feitores e autoridades policiais.

Majô Schwingel - Núcleo de Cultura de Venâncio Aires


Entre a Pia Batismal e a Senzala: Um estudo sobre o Batismo de Escravos na Freguesia de Santo Amaro
O presente trabalho tem como objetivo fazer um estudo em torno dos registros de batismo de escravos na então
Freguesia de Santo Amaro-RS durante o século XIX. Destacando as relações de compadrio entre livres e cativos, a
ilegitimidade, usa-se a metodologia da história demográfica como base teórica para tratar da questão do contato entre
os escravos negros e os ritos da religião católica: no caso o batismo. O estudo analisa o Livro I de Batismo de cativos
da Freguesia citada, destacando a importância desta fonte para o estudo da escravidão negra, além do levantamento
de algumas hipóteses. A restrição das fontes faz com que a pesquisa seja apenas um ensaio para um trabalho ainda
maior com o cruzamento de outros registros documentais que tratem do mesmo objeto, no caso os escravos negros
em Santo Amaro.

Talita Gouvêa Basso - Universidade Metodista de Piracicaba


Relações múltiplas e visões de mundo em uma sociedade escravista: Rio Claro, na segunda metade do
século XIX
O presente trabalho organizado para fim de conclusão de curso em 2006, propôs-se a estudar as relações de escravi-
dão que se estabeleceram na sociedade rio-clarense da segunda metade do século XIX. Utilizando como fonte proces-
sos criminais disponíveis para pesquisa no Arquivo Público e Histórico do município de Rio Claro, procurei abordar a
multiplicidade e a complexidade que caracterizavam tais relações, decorrente das diferentes visões de mundo, que os
senhores e os escravos tinham sobre o periodo no qual viveram. Além disso, o trabalho evidencia a importãncia da
Justiça na formação das relações de escravidão, nesse periodo. Ora atuando como autora dos processos contra os
réus escravos, ora como elemento de intervenção acionado pelo escravo para a defesa dos seus interesses, contra os
de seu senhor, o poder público, a partir da segunda metade do século XIX, mostrou-se mais presente nas relações
entre senhores e escravos. O trabalho com essas fontes possibilitou pensar em um projeto de pesquisa, uma vez que
a maioria dos escravos envolvidos nesses processos trata-se de escravos 'migrantes', que transferidos pelo tráfico
interno para a região de Rio Claro - 'receptora' desses escravos -, demonstrou ser possivel o estudo de processos
criminais com esta característica.

Fernando Franco Netto· UNICENTRO


Relações entre senhores e escravos em área voltada para o abastecimento interno - Guarapuava século XIX
As possibilidades de formação da familia escrava em Guarapuava foram concretas durante todo o século XIX. Isso
porque, apesar de possuir uma escrava ria pequena para os padrões brasileiros, mas não com relação ao Paraná e
outras áreas voltadas para o abastecimento interno, demonstra que as propriedades e seus e,scravos possuiam estra-
tégias muitas vezes parecidas e complementares a fim de promover arranjos matrimoniais entre eles. Guarapuava foi,
uma dessas regiões do Brasil Meridional que prodUZiu relações relativamente estáveis para a população escrava,
onde a comunidade era provavelmente unida em se tratando de laços de afinidade e de estratégias parentais. Ao mesmo
tempo, a atitude de seus proprietários permite inferirmos que eles também participavam dessas estratégias, oferecendo
condições para que os escravos pudessem se relacionar melhor com outras pessoas, principalmente os livres,

lamara da Silva Viana - UERJ


Expectativa de vida escrava no Rio de Janeiro oitocentista: primeiras análises.
Este artigo tem por objetivo apresentar as primeiras análises de um dos vértices de minha pesquisa de mestrado, que
trata de vida, morte e expectativa de vida de cativos e libertos em Vassouras nos anos 1820-1880. Este vértice tem nos
registros de óbitos de cativos a sua principal fonte de análise. O trabalho consistirá na análise qualitativa e quantitativa,
que nos possibilita vasta riqueza de informações, tais como: nome, procedência, cor, idade do óbito, nome do proprie-
tário, local do sepultamento, nome do cônjuge, doença que levou ao óbito e se recebeu ou não algum sacramento.
Nosso objetivo se concentra em conhecer os maiores infortúnios dos cativos e entender as relações de poder entre
cativos e proprietários de escravos por meio do cruzamento das fontes a serem utilizadas na pesquisa: inventários post
mortem, cartas de alforria e registros de óbitos. A análise dos 4319 cativos que morreram entre os anos de 1820 e 1888
em Vassouras, nos permite entender alguns paradoxos sociais, quais os maiores danos causados à saúde dos negros

146
pelo cotidiano e pelas péssimas condições de vida, esta presente nas recorrentes causa mortis. Desta forma vislum- ~
brarei a escravidão de modo a contribuir para estudos atuais sobre cativos e libertos no Rio de Janeiro oitocentista. ®
Jovani de Souza Scherer - Unisinos
Um estudo sobre a posse de cativos e população escrava, Rio Grande, século XIX
O presente trabalho propõe-se a apresentar os resultados parciais sobre o padrão de posse de escravos em Rio
Grande (Rio Grande do Sul), observado a partir da análise dos inventários post-mortem abertos naquela cidade duran- .~
te quarenta anos do século XIX (1825-1865). A idéia é demonstrar como se configurou a concentração de cativos antes g
e após o inicio do tráfico interno e do conseqüente deslocamento de cativos dentro do território do Império, em uma á5
área economicamente menos dinâmica que o sudeste brasileiro. ~-
Serão apresentados também dados referentes a censos e estimativas da população livre e escrava de Rio Grande em Ei
diferentes momentos do século XIX, nomeadamente: no inicio do século (1819), a estimativa do viajante francês Saint- ~
Hilaire; no meio do século (1842), um mapa estatístico produzido pelo então subdelegado de Rio Grande; e no final do ~­
século, o censo de 1872. Com o cruzamento das informações destas fontes e dos inventários, pretende-se criar uma ~
perspectiva de análise que possibilite traçar um esboço de como se configurou a população de escravistas e dos .~
cativos de Rio Grande, e como estes reagiram ás transformações do século XIX, sobretudo em relação a abolição ~
efetiva do tráfico de africanos em 1850.

Marcia Amantino - Universidade Salgado de Oliveira UNIVERSO


A escravidão indígena e suas variações - Minas Gerais - séculos XVIII e XIX
A escravização indigena, legítima ou não, mas disfarçada quase sempre, pode ser vista de diferentes maneiras e em
locais e períodos distintos dentro do território que compreendia a Capitania e posteriormente, a Província de Minas
Gerais. O periodo coberto pela pesquisa insere-se nos séculos XVIII e avança para o século seguinte objetivando
compreender quais teriam sido as alterações neste complexo mecanismo de utilização de uma mão-de-obra que, em
teoria, estava sob proteção legal. As fontes utilizadas foram de caráter diverso e visaram fomecer um panorama acerca
da questão. Parte delas foi produzida no decorrer de expedições enviadas aos Sertões de Minas Gerais ao longo do
século XVIII. Outras foram provenientes do Conselho Ultramarino; Alguns inventários e testamentos também foram
usados, bem como requerimentos de indios solicitando liberdade do cativeiro. Para o século seguinte, foram usados os
relatórios dos Diretores de índios e alguns processos crimes.

I 17/07 - Terça-feira - Tarde (14h ás 18h) I

Fernanda Zimmermann - UFSC


Relações de Trabalho na Armação da Lagoinha: Da Caça a Baleia ao Beneficiamento do Azeite
AArmação da Lagoinha abrangia a região entre a baia sul e a costa atlântica da Ilha de Santa Catarina e pertencia a
freguesia de Nossa Senhora da Lapa do Ribeirão da Ilha. A baleia foi durante um longo período considerada um peixe
real, o que significava que a sua exploração dependia de uma concessão fornecida pela Coroa Portuguesa. O trabalho
nas Armações baleeiras envolveu um bom número de escravos, livres e libertos, e na Lagoinha não foi diferente. O
objetivo deste trabalho é discutir a distribuição das ocupações e as hierarquias estabelecidas conforme a condição
social (entre os escravos, libertos e livres), o sexo e a idade, com o objetivo de entender de que forma essas classifica-
ções interferiam no distribuir das tarefas durante a caça a baleia e o processo de beneficiamento do azeite. A hipótese
levantada é de que da mesma forma que acontecia nos engenhos canavieiros baianos, a hierarquia entre os escravos
além de bem delimitada, funcionava como um estímulo para o trabalho, já que a possibilidade de ascensão ou até
mesmo de alforria como recompensa por uma boa conduta, acabava atuando desta forma. Essas afirmações se
baseiam na análise de um corpo documental composto pelo inventário e o conjunto de prestação de contas e balanços
do período que vai de 1816 a 1818.

Emanuele_cm@hotmail.com - UFPE I Toulouse2 Le Mirail


O escravo no sertão pernambucano (1840-1888)
A questão escrava é mais uma vez revisitada pelo enfoque da cultura e do trabalho cativo visando aprofundar o
conhecimento que busca captar as características da vivência cotidiana. Identificando-se, assim, com a historiografia
que opta por um processo de construção do conhecimento através de estudos regionais que mostram as diferenças
dos processos em diversas regiões ou em diferentes setores de uma mesma sociedade. Revelando neste detalhamento
os padrões de uma organização social marcada por ritmos e nuanças próprias, á partir da valorização do sujeito.
Nesse contexto, busca-se contribuir para a compreensão da realidade do escravo no Sertão. Hoje a escravidão não é
mais considerada como estranha ao modo de vida da região, inclusive em épocas de crise como a segunda metade do
século XIX. Porém, considera-se que sua adaptação possui características particulares á realidade de uma região
marcada pela aridez e pelo isolamento. É á partir da análise de documentação cartorial e eclesiástica de municípios do

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Médio São Francisco que percebe-se tais especificidades no modo de viver dos cativos no sertão pernambucano. Tais
características referem-se à função social e econômica dos cativos, às relações existentes entre estes e outras parce-
las da população e aos hábitos e costumes escravo.

Maciel Henrique Carneiro da Silva - Centro Federal de Educação Tecnológica de Pernambuco


Vida doméstica e patriarcalismo no final do Império e no pós-escravidão: as criadas na literatura pernambucana
do período
Nascidos entre a segunda metade do século XIX e o início do século XX, muitos intelectuais pernambucanos constru-
íram quadros da vida doméstica no meio rural e urbano a partir de contos e romances. Escritores como José Lins do
Rego, Mário Sette, Carneiro Vilela, Theotônio Freire, entre outros, muitos formados na Faculdade de Direito do Recife
e membros da Academia Pernambucana de Letras, influenciados por diferentes estilos literários, teceram imagens e
representações de criadas (costureiras, amas-de-Ieite, lavadeiras, cozinheiras) negras e mulatas, algumas delas ex-
escravas, outras descendentes de pais escravizados, conduzindo consigo estigmas e estereótipos dos tempos "idos".
Elas povoam lares de abastadas familias aristocráticas, de familias burguesas abastadas e remediadas, ou habitam
cortiços decadentes. Estão no campo e na cidade. São figuras que, não raro, completam as tramas onde os protago-
nistas principais atuam. Testemunhas do ocaso das relações escravistas e das transformações urbanas porque passa
o Recife, esses escritores constroem memória, fixam argumentos sobre todas as classes sociais e seus costumes.
Desse modo, o que propomos é uma interpretação entre a Literatura e a História para compreender o limiar de uma
nem tão nova "ordem" doméstica em Pernambuco.

Alex Andrade Costa· UNEB


A produção da mandioca e o trabalho escravo no Recôncavo Sul da Bahia. 1835 a 1890
O objetivo deste trabalho é analisar a presença de escravos e libertos e seu cotidiano no Recôncavo Sul da Bahia,
especialmente em Nazaré das Farinhas e Santo Antonio de Jesus, e seu papel dentro da sociedade e da economia do
final do século XIX na região, que tem como característica a produção da pequena lavoura, da cultura da mandioca e
sua farinha. Ressalta-se que até meados do século XIX a população da região era majoritariamente negra e mestiça,
sendo que a população branca constituía cerca de um quinto. Já a produção da farinha, além do mercado intemo,era
destinada também para o abastecimento de Salvador através do comércio realizado pela baia.

Isnara Pereira Ivo - UESB


Entre as montanhas e o mar: Trabalho, conquista e aventura nos sertões mineiro e baiano
O mundo colonial português, interligado por diversos espaços transcontinentais, foi um cenário alicerçado em instãn-
cias propícias ao deslocamento de agentes sociais responsáveis por trânsitos e mediações inéditas. Analisa-se, breve-
mente, a trajetória de um aventureiro que durante o século XVIII, percorreu os sertões de Minas Gerais e da Bahia em
busca de conquistas e de riquezas. Os espaços das aventuras e conquistas foram a Barra do rio Doce, as margens do
rio São Mateus, nos sertões mineiros e, posteriormente, Alto Sertão e Sertão da Ressaca, na Bahia. O encontro com o
novo e o desconhecido foi marcado por experiências revertidas em alianças e confrontos. Seus relatos demonstram
que as aproximações com o distinto tonificaram seus sentimentos com sensações diversas de incerteza e de seguran-
ça, de reconhecimento público e de realização pessoal.

Sandra Paschoal Leite de Camargo Guedes - UNIVILLE


A Escravidão em uma colônia de "alemães"
Joinville, localizada no nordeste de Santa Catarina, é tradicionalmente conhecida como uma cidade de alemães.
Colonizada por intermédio da Companhia Colonizadora de Hamburgo, que trouxe os primeiros imigrantes de origem
germânica para a então Colônia Dona Francisca, em várias e sucessivas levas, é essa a imagem que ainda hoje é
passada pela maioria dos folhetos de divulgação da cidade. Essa imagem também foi reforçada pela historiografia
tradicional que por muito tempo não considerou a presença de outras etnias na cidade baseando-se no fato de ter sido
proibida a utilização do braço escravo por imigrantes no Brasil Imperial. Apesar de evidências terem mostrado a existência
de negros na cidade já no século XIX, a historiografia local ainda não abordou esse aspecto. Assim, este trabalho pretende
discutir a presença de escravos negros em Joinville e apontar algumas características dessa população principalmente
através dos registros paroquiais de batismo, casamento e óbitos ainda existentes. Trata-se de um fragmento de pesquisa
maior que tem a intenção de entender o processo de ocupação do território circunvizinho à baía da Babitonga, que
envolve Joinville e outros cinco municípios e está sendo financiada pelo FAP/UNIVILLE e pelo CNPq.

Emília Maria Ferreira da Silva - UEFS


As representações do viajante europeu sobre os africanos no Brasil oitocentista
O trabalho analisou como os viajantes europeus, que estiveram no Brasil no século XIX, particularmente Debret,
representaram as sociedades africanas. Em contato direto com os escravos, expressaram, em seus registros, suas
concepções e visões de mundo próprios da sociedade européia da época. Nesse sentido, o Brasil deve ser considera-

148
do como uma zona de contato privilegiada de europeus, brasileiros e africanos. Esses contatos se deram de forma ~
hierárquica, na qual os europeus exerciam dominação econômica e social. Os relatos foram utilizados como fonte e @
objeto, analisando os textos escrito e imagético. Conclui-se que os relatos revelam os modos de ver o Brasil do século o
XIX, sua geografia e sociedade. Destacando a forte presença da população africana, registrando sua diversidade ~
étnico-cultural, através da descrição de adereços, vestimentas e rituais reveladores de origem étnica específica. Essas ~
representações demonstram o quanto os europeus conheciam as especificidades e diversidades das sociedades ;
africanas e, ao descrevê-Ias revelaram uma visão científica predominante do século XIX, marcada pelo etnocentrismo, .§
eugenismo e evolucionismo; contribuindo para efetivação da dominação colonial, deixando marcas para hoje entender g
várias características da diversidade africana. á5
",-
co
Virginia Queiroz Barreto Castellucci . UNES ~
Trabalho e Vida: trajetória de vida de escravos e libertos no Recôncavo Sul Baiano. (1850-1900) ~
Este trabalho tem como foco principal á investigação das atividades desenvolvidas por escravos e libertos no Recôncavo 1íS-
sul baiano na segunda metade do século XIX. Apesar da importância econômica para o abastecimento da capital :gJ
Salvador esses centros urbanos; Nazaré, Jaguaripe e Maragogipe, diferentemente do Recôncavo tradicional açucarei- .~
ro, foram pouco estudados. A trajetória de vida e a importância dessa população de cor seja ela escrava, liberta ou ~
pobre livre, retrata um mundo de luta pela sobrevivência. São homens e mulheres que buscam, em um ambiente nem ,g
sempre favorável, meios de sobrevivência; praticando, nas brechas deixadas pelo comércio local, atividades ilícitas ~
como forma de garantir sua sobrevivência. Tendo como ponto de partida uma extensa documentação, de natureza 13
diversas, como: livros de registro de compra e venda de escravos, censos, livros fiscais, correspondências municipais .fl
entre outras, busco perceber, nesse estudo, a efetiva participação desses sujeitos nos mais diversos setores dessa
sociedade.

I 18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h ás 18h)

Larissa Moreira Viana - UCAM/UFRJ


Um santo pardo para o Brasil: notas sobre mestiçagem na sociedade escravista
Pretendo apresentar nesta comunicação algumas considerações sobre a mestiçagem no período colonial, valendo-me
da história do 'primeiro santo pardo das Américas' como fio condutor da reflexão. Trata-se de São Gonçalo Garcia, cujo
culto foi oficializado no Recife em meados do século XVIII em meio a uma forte disputa simbólica em relação à origem
do santo. Minha intenção é pensar nesta disputa simbólica como modo de traduzir aspectos do universo colonial
escravista, no qual as noções de desigualdade e diferença possuíam uma forte expressão na vida social e religiosa
através dos estatutos de 'limpeza de sangue' ,que disseminavam pelo corpo social a noção de 'puros e impuros'. Os
mulatos e mulatas eram alvos destes discursos, que criavam estigmas e impedimentos pretensamente ligados à cor e
ao sangue. Ao analisar o contexto da América Portuguesa, pretendo mostrar que os mestiços construíram versões
alternativas de suas identidades, distanciando-se dos estigmas da 'impureza', e aproximando-se de ideais de honra e
distinção.

Wellington Castellucci Junior - Universidade Católica do Salvador


Resistência Escrava e Quotidiano de Libertos na Comarca de Nazaré. Bahia 1830·1850
Entre as décadas de trinta e cinqüenta do século XIX uma série de ocorrências judiciais e decretos governamentais
impuseram severas punições aos cativos e tentaram disciplinar a vida dos alforriados que viviam nas imediações da
Comarca de Nazaré das Farinhas. Situada na parte Sul do Recôncavo baiano, aquela Comarca abarcava várias vilas,
povoações e distritos no seu entorno e se constituía num importante celeiro, fornecedor de gêneros de primeiras
necessidades para Salvador e demais cidades e Vilas baianas. Isso era fruto do trabalho diário de escravos, agrega-
dos e jornaleiros avulsos que eventualmente se apresentavam naquela região para prestar algum tipo de serviço. No
curso dos vinte anos que precederam o fim do tráfico de africanos, cativos e forros imprimiram variadas formas de
resistência manifestadas através de assassinatos, roubo, fugas e outras infinidades de crimes que aterrorizaram as
autoridades daquela região. Através de uma minuciosa análise das fontes judiciária e dos documentos do poder Públi-
co Municipal está sendo possível desvendar as múltiplas formas de resistência escrava e dos modos de viver dos
forros que habitaram aquela tensa região. É isso que vem sendo feito nessa pesquisa.

Daniela Fernanda Sbravati - UFSC


Mulheres proprietárias de escravos em Desterro na segunda metade do século XIX
O texto a ser apresentado é sobre mulheres proprietárias de escravos na Ilha de Santa Catarina na segunda metade do
século XIX, 1860 a 1888, período em há um crescimento urbano em Desterro em função da atividade portuária e do
tráfico interno de escravos. Não se pretende privilegiar a história somente a partir das proprietárias ou dos cativos, mas
sim buscar a relação destes dois grupos, seus pontos em comum e de conflito, dando ênfase em trajetórias específi-

149
caso Havia vínculos que uniam senhoras e escravos de forma complexa. Laços que talvez fossem interpretados de
maneiras distintas por ambos. Para alguns, tais práticas poderiam ser compreendidas como concessões, já para
outros, eram consideradas como conquistas. Mulheres solteiras ou viúvas, muitas vezes, buscavam sua sobrevivência
no trabalho de seus cativos, estabelecendo-se desta forma uma dependência entre ambos. Um dos objetivos deste
texto é buscar a partir da forma como agiam mulheres e cativos, seus pontos de solidariedade e conflito. Contrapondo
a idéia de passividade e conformismo, tanto as mulheres livres, quanto ás cativas e cativos agiam e reagiam contra
todo um sistema que insistia em silenciar.

Juliana da Cunha Sampaio - UFRPE


Os documentos administrativos das innandades de pretos da Vila do Recife e suas implicações na sociedade
açucareira no século XVIII
As irmandades leigas de pretos existentes nas vilas açucareiras e mineradoras da América Portuguesa, especialmente
entre os séculos XVII e XIX, desempenharam uma importante função na vida cotidiana de seus associados, uma vez
que possibilitaram a criação de redes de sociabilidade entre seus membros e a redefinição ou ratificação dos papéis
sociais que lhes eram atribuídos fora dessas instituições. Surgidas a partir de ligações consensuais de grupos especí-
ficos, étnicos ou profissionais, as confrarias eram regidas pelos compromissos - normas que 'orientavam' seu funcio-
namento. Eé através de uma análise dos compromissos de irmandades de pretos da Vila do Recife e livros de anuais,
entradas e eleições dessas irmandades, que procuramos verificar como eram 'aplicadas' essas normas e quais as
suas 'implicações' na sociedade açucareira no século XVIII. Nesse contexto, analisamos, principalmente, a participa-
ção de mulheres e cativos nessas confrarias.

Myziara Miranda da Silva Vasconcelos - UFMG


"Pela vontade de Deus e lei dos homens": o bem morrer nos documentos das irmandades de pretos do
Pernambuco colonial
Esta comunicação tem por finalidade observar as representações acerca da morte e a realização das cerimônias de
enterramento pelas irmandades de pretos - escravos, forros e livres - das vilas açucareiras pernambucanas, ao longo
do século XVIII e início do XIX. Tomamos por base a análise dos estatutos compromissais destas instituições, bem
como outros documentos nos quais os confrades legislaram sobre a forma de assistência aos irmãos defuntos. Através
da leitura e interpretação destas fontes, podemos reconstituir o imaginário colonial acerca da morte e perceber sua
influência nas práticas funerárias setecentistas.

Maria Elizabeth Ribeiro Carneiro - UnB


Avisos de fuga de escravas na capital da Corte imperial: estratégias traduzidas em marcas de corpos cativos
Escravas estavam entre os objetos de consumo da sociedade carioca oitocentista. O Jornal do Commercio publica
diariamente anúncios de compra e venda de seus corpos e de aluguel de seus serviços. Suas imagens aparecem
também em avisos de fuga, que anunciavam 20 a 100 mil réis de gratificação para aquele/a que resgatasse aos
proprietários a propriedade perdida. Fragmento da pesquisa de doutoramento, a comunicação resulta da análise de
alguns desses enunciados, onde se observam marcas - cicatrizes, fisionomias, roupas - que singularizam corpos que
transgridem, escapam e designam mulheres propriedades. A publicação sistemática dos avisos é observada como
uma tecnologia de produção de corpos de escravas 'fujonas' e 'viciosas'. Entretanto, estes desvelam o movimento de
micropoderes e encerram pequenas histórias de múltiplas resistências; expressam a violência da norma escravagista
e revelam espaços de sobrevida fora daquela ordem.

Marcus Joaquim Maciel de Carvalho - UFPE


Na companhia de negros: Os escravos fugidos no exército cabano (1832-35)
Ao se entregar ás tropas imperiais, Serafim Soares, um homem branco, declarou que 'nunca gostou da companhia de
negros'. Alegava assim que sua adesão á Cabanada nunca fora completa. A Cabanada em Pernambuco e Alagoas
(1832-35), congregou uma inusitada aliança de proprietários rurais, escravos fugitivos, índios e pequenos posseiros,
todos lutando pela volta de Pedro I ao trono brasileiro. Seu líder mais conhecido foi um homem de passado incerto,
conhecido por Vicente de Paula. Chamado de bandido por seus adversários, outras de caudilho, Vicente de Paula
liderava ul)1 exército de escravos fugidos, índios e pequenos agricultores independentes que viviam na imediações das
matas de Agua Preta e Panelas de Miranda. Os escravos sob seu comando eram temiveis. Formavam a nata das suas
tropas. Conhecidos por 'papa-méis', permaneceram ao seu lado, cuidando de sua proteção pessoal, mesmo depois de
debelada a insurreição em 1835, quando Vicente de Paula foi forçado a se retirar para o interior das matas onde
fundaria uma povoação, onde viveu até ser finalmente preso em 1850. Este trabalho investiga o exército cabana, mais
especificamente os papa-méis, a tropa de ex-cativos 'roubados' aos seus proprietários por Vicente de Paula.

150
Luiz Gustavo Santos Cota· UFJF ~
Uma onda entre as montanhas: o movimento abolicionista em Ouro Preto nas últimas décadas da escravidão @
O presente trabalho tem como objeto o estudo do movimento abolicionista na antiga capital de Minas Gerais, Ouro o
Preto, Através de jornais e relatos de época, tentamos perceber como se desenrolaram as ações antiescravistas na ~
capital oitocentista das Minas, entre os anos de 1871 e 1888, As primeiras reações ao processo de emancipação til
gradual, inaugurado no Império brasileiro através da chamada Lei do Ventre Livre (1871), a criação de jornais e socie- ';
dades abolicionistas, a promoção de alforrias, além das manifestações públicas contra o regime escravista são alguns '~
dos elementos que apresentaremos nesta comunicação, Tal proposta é parte integrante de uma pesquisa desenvolvi- g
da pelo autor no Programa de Pós-Graduação em História, Mestrado, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), á3

Paulo Cesar de Jesus - Universidade Federal do Recôncavo da Bahia


Outras palavras: contestações ao sistema escravista na Bahia de fins do século XVIII
Oficialmente, as primeiras iniciativas adotadas visando pôr fim à escravidão no Brasil ocorreram no inicio do século ~­
XIX, especificamente com a assinatura no ano de 1810 do Tratado de Comércio e Navegação entre a Coroa Portugue- ~
sa e a Grã-Bretanha, Assinado a 19 de fevereiro daquele ano, em seu artigo décimo afirmava a necessidade de ,~
construir as condições que possibilitassem "uma gradual abolição do comércio de escravos", Esse acontecimento teria 5l
inaugurado um debate, evidenciado em um primeiro momento a partir dos problemas que cercaram o fim do tráfico de ,g
africanos, que se estenderia até a abolição da escravatura em 1888, No entanto, é possivel afirmar, tendo por base ~
algumas evidências e acontecimentos já estudados, que em vários pontos da América portuguesa a idéia de pôr fim 13
regime de escravidão dos africanos já estava circulando anos antes do inicio das primeiras ações oficiais da metrópole éí3
neste sentido. Na Bahia alguns acontecimentos datados da última década do século XVIII, evidenciam a existência de
significativas manifestações contrárias à escravidão, antecipando debates que ganhariam grande impulso a partir das
primeiras décadas do século XIX.

I 19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h às 16h30min)

José Alberto Bandeira Ramos - Universidade Federal do Recôncavo da Bahia


Escravismo e Autoritarismo: o Brasil na História das Américas (do final do séc. XVIII ao inicio do séc. XX)
A presente Comunicação fornece alguns elementos para se discutir a hipótese historiográfica que afirma ser a forma-
ção social brasileira um caso extremo de reacionarismo político como trajetória histórica, quando comparada às de-
mais trajetórias da História das Américas, identificadas em quatro grandes categorias, como a seguir enunciado: O
Estado-nação norte-americano; O Mundo Caribenho; Os Estados nacionais hispano-americanos do Continente; O
Estado-nação brasileiro. Para isto o autor trabalhou com a abordagem historiográfica( dialético-marxista) adotada por
C.L.R. James em sua obra clássica "Os Jacobinos Negros" - assumida nas duas últimas décadas do século XX por
Robin Blackburn - e empreendeu uma reflexão sistemática sobre o acervo empírico da pesquisa de História Compara-
da da Escravidão nas Américas, realizada como trabalho de pós-doutoramento na USP/PROLAM entre 2004 e 2005.

Mario Maestri . UPF


Resistência versus negociação: totalidade e parcialidade na produção escravista colonial brasileira
As narrativas coevas à escravidão leram a resistência servil como sinal da desqualificação racial-cultural de africano
que viveria no Brasil condições de existência superiores às da África. Na Primeira República, narrativas dominantes
enfatizaram o caráter patriarcal da escravidão, nascido das raízes culturais e raciais do escravizador. Nos anos 1950,
leituras de corte materialista reinterpretaram a resistência como luta de classes e as condições servis de existência
como determinações da produção escravista. Nos anos 1980, propondo-se restaurar a subjetividade histórica do cati-
vo anulada pelas visão de sua reificação econômica, narrativas sobre a dominância de negociações sistêmicas entre
escravizados e escravizadores dissolveram a singularidade histórica da escravidão, ao autonomizar o agir de suas
categorias sociais determinantes das determinações materiais de produção necessárias, violando o princípio da tota-
lidade dos fenômenos históricos. A comunicação apresentará em forma sintética e crítica o percurso das grandes
interpretações metodológicas sobre o devir da sociedade escravista colonial brasileira.

Adelmir Fiabani - UNISINOS


O quilombo antigo e o quilombo contemporâneo: verdades e construções
No Brasil, e em outras regiões da América, os cativos procuraram lugares distantes do braço pesado do escravista,
onde pudessem usufruir de sua força de trabalho. Neste sentido, o quilombo constitui-se numa forma eficaz de resis-
tência e oposição ao sistema escravista. Após a promulgação da Constituição de 1988, intencionalmente, o quilombo
é tomado num novo sentido. Passou a ser chamado de quilombo contemporâneo, ou seja, foi transformado em movi-
mento, sobretudo, de luta pela terra. As comunidades negras rurais, oriundas ou não dos antigos quilombos, estão
inseridas numa questão politica que envolve a propriedade da terra. Sem dúvida, o conflito no campo corresponde ao

151
confronto entre a propriedade capitalista da terra e os regimes alternativos que nascem da crise do sistema. Portanto,
a luta pela terra das comunidades negras está posta num contexto que abarca todo o campesinato brasileiro, com as
devidas peculiaridades. Na maioria dos casos, as comunidades negras já ocupam pequenas porções de terras, porém
sem o título da propriedade.

Carmélia Aparecida Silva Miranda - UNEB


Vestígios Recuperados: experiências dos remanescentes do quilombo de Tíjuaçu-BA
Essa pesquisa discute sobre os diferentes fazeres de homens e mulheres remanescentes do quilombo de Tijuaçu - BA.
Analisa também, as práticas e representações que permanecem ainda vivas e outras que foram reiventadas por esses
remanescentes. Nessa perspectiva, reflete sobre as experiências vivenciadas por esses quilombolas, como: formas de
sobrevivência, manifestações culturais, religiosidade e relações de compadrio.

lacy Maia Mata - UEBA


Os limites da liberdade: a polícia na Bahia pós-abolição
O objetivo deste trabalho é discutir a polícia e os libertos na Bahia nos anos imediatamente posteriores á Abolição
(1888-1889), a partir de pesquisa feita em jornais, anais da assembléia legislativa provincial, registros de leis e resolu-
ções, falas e relatórios dos presidentes da província e em uma extensa documentação policial. Busca-se conhecer a
história das forças policiais na Bahia do século XIX, a imagem com que a polícia era vista pelos políticos e pelos
jornais, a crise de efetivos que antecedeu a abolição e a reação policial à extinção da escravidão. Discute-se ainda o
projeto de polícia apresentado e debatido na assembléia provincial e o papel atribuído às forças policiais no controle
dos libertos na Bahia pós-emancipação. Esse estudo permite perceber como, no período pós-abolição - tempo de
reordenamento das hierarquias sociais e de redefinição de relações de poder nas áreas escravistas rurais-, a polícia
baiana atuou na repressão ao liberto, contribuindo para mantê-lo num lugar de sujeição, e revela as diferentes formas
com que as forças policiais atuaram na Bahia na disputa em torno do significado da abolição e da liberdade.

Matheus Azevedo Silva - UEBA


Boitaraca: história e memória de uma comunidade negra no Baixo Sul da Bahia
A resistência dos negros à escravidão aconteceu de diversas formas, sendo a fuga e o aquilombamento as suas
formas mais emblemáticas, por seu caráter de ruptura com a ordem estabelecida. Inúmeras comunidades negras na
atualidade são consideradas herdeiras de antigos quilombos - ou ao menos guardiães de uma herança organizacional
que remete à luta pela sobrevivência durante a escravidão ou no pós-abolição. Uma destas comunidades é o povoado
de Boitaraca, localizado no Baixo Sul do estado da Bahia, área litorânea produtora de cana no passado colonial e
imperial. Esta comunidade notabiliza-se por uma população exclusivamente negra, pertencente a apenas duas famili-
as, Rosário e Conceição. O estudo a ser apresentado propõe uma análise da comunidade a partir das memórias de
seus habitantes - que atualmente contabilizam 72 pessoas - coletadas a partir de relatos orais. Tais relatos oferecem
um panorama da vida cotidiana na comunidade: a recentemente abandonada prática dos casamentos endogâmicos, a
noção de pertença ao território ocupado, as manifestações culturais como o samba de roda, as histórias de vida, as
festas religiosas de Cosme e Damião e Nossa Senhora do Rosário, e a base econômica, calcada na pesca e na
extração da piaçava.

Sarah Calvi Amaral Silva - UFRGS


O deslocamento retórico da noção de raça nos textos historiográficos do 111 Congresso Sul-Riograndense de
História e Geografia do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul (1940)
No momento em que cientistas sociais pensavam a construção de uma identidade nacional, as doutrinas raciais euro-
péias exerceram profunda influência na historiografia e nas discussões acadêmicas das universidades brasileiras. Tais
discussões (pautadas pela noção biológica de raça) estão relacionadas aos projetos de substituição do braço escravo
no período pós-abolição e, posteriormente, ao debate sobre o futuro do Brasil em termos de progresso sócio-econômi-
co, ambos relacionados ás políticas de imigração européia. Porém, segundo Lourdes Martínez, a partir da década de
1910, sob a influência da antropologia boasiana, inicia-se um processo de deslocamento retórico da noção biológica
de raça para a cultural. A obra de Gilberto Freyre é analisada pela autora para comprovar a sua tese: apesar de não
abandonar a lógica racialista, Freyre profere uma aparente dissociação entre as duas noções. Considerando as con-
clusões da autora e a influência de Boas nas ciências sociais, pretendo verificar se o deslocamento retórico da noção
biológica de raça para a cultural, foi utilizado como perspectiva teórica na compreensão da sociedade brasileira nos
trabalhos do III Congresso Sul-Riograndense de História e Geografia do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande
do Sul (1940).

152
20107 - Sexta-feira - Tarde (14h às 18h)
@)
Rafael Peter de Lima - UFRGS o
O poder do sistema escravista e as redes de tráfico terrestre na fronteira do Brasil Meridional (meados do ~
século XIX) ~
Resumo: Apesar das leis abolicionistas implementadas no território uruguaio nos anos 1840, ser negro na região de
fronteira com o Brasil significava conviver com a constante ameaça de uma (re)escravização. Partindo de casos docu- .~
mentados, o presente texto aborda a questão do 'tráfico terrestre' de cidadãos orientais, introduzidos no Império brasi- §
leiro para serem comercializados e conduzidos ao cativeiro. O artigo descreve e analisa alguns aspectos da organiza- Cl:>
ção e funcionamento destes aparatos destinados a dar suporte ao tráfico humano, suas formas de atuação, assim e"
como suas ligações com o poder público e privado. .§
'-'
Renata Romualdo Diório - USP ~-
A luta pela emancipação: os entraves judiciais na transição da escravidão para a liberdade ~
O reconhecimento do direito legal do escravo à alforria surgiu no Brasil no final do século XIX, já no contexto da crise .~
terminal da escravidão. No período colonial e nas primeiras décadas do Brasil independente, as alforrias se davam no ~
âmbito privado. Esse fator contríbuiu para que a sociedade escravista, sobretudo a mineira, incorporasse modalidades ,g
de manumissão concedidas costumeiramente, o que acabou gerando uma série de conflitos nos processos de liberda~ 3
~
de. Esses processos, quando não resolvidos no âmbito privado, transpunham as relações senhor - escravo em direção '-'
G3
às instâncias judiciais. Este trabalho analisará os principais motivos que impediram a efetivação de um processo de
alforria, a partir da análise das ações de liberdade ocorridas entre os anos de 1750 e 1800 na cidade de Mariana.
Essas ações também mostram que nem sempre a liberdade plena era garantida com a emancipação, pois sua legitimação
dependia ainda de uma série de condições que o contemplado deveria obedecer. Pretende-se, portanto, conhecer
quais as circunstâncias que levavam os senhores a cancelar um contrato de libertação, e, principalmente, quais os
contextos em que ex-senhores ou seus descendentes tentaram levar libertos de volta à escravidão.

Rafael da Cunha Scheffer


Comércio de escravos: escolhas e influências no tráfico interno de cativos no Brasil (1850-1888)
Esta comunicação tem como objetivo discutir uma série de questões ligadas ao comércio de escravos, especialmente
quanto à motivação dos senhores de comprarem e venderem seus cativos. A compra de escravos parece ter explica-
ções bastante simples, ligadas a necessidade de mão de obra. Durante séculos no Brasil, para garantir um suprimento
contínuo de mão de obra, bastava ao patrão recorrer ao mercado de escravos e obter trabalhadores que estariam
subordinados ao seu mando. Mas quais trabalhadores seriam adquiridos? Quais as questões que preocupavam os
senhores neste momento? E o que podemos dizer quanto a motivação da venda dos cativos? O que levava os senho-
res a se desfazerem de seus escravos? Por que desistir dessa relação de trabalho já estabelecida? A motivação
econômica aparece muitas vezes como a explicação para estes casos, mas creio que não elucida inteiramente este
fenômeno. A escolha do negócio parece refletir também uma série de questões ligadas ao contexto, como a possibili-
dade de substituir os escravos por mão de obra mais barata (ou menos dispendiosa em períodos improdutivos), e
principalmente a problemas ligados à disciplina dos cativos, sua manutenção e a ordenação desse mundo do trabalho.

Tatiane Cristina Bocchio de Oliveira - Universidade Metodista de Piracicaba


Quanto Custa a Escravidão? Preço de Escravos em Piracicaba de 1832 a 1887
Através da análise de inventários post-mortem, o presente trabalho, realizado a fim de conclusão de curso, teve por
objetivo investigar os preços de escravos em Piracicaba no século XIX, entre os anos de 1832 a 1887 . Trata-se de uma
averiguação da variação dos preços ao longo dos anos, tendo em vista as transformações na constituição do mercado
de trabalho escravo, provocados pela lei de repressão ao tráfico e pela chamada 'legislação emancipacionista', espe-
cialmente a Lei do Ventre Livre (1871) e a Lei dos Sexagenários (1885). Essa legislação imprimiu transformações nas
relações de trabalho, por isso, busquei investigar se provocaram alteração nos preços dos escravos. Além desses
aspectos, são considerados fatores intrínsecos ao trabalhador, como: origem, idade, sexo e habilidade; e áquele
relativo à demanda de mão-de-obra, definida pelo ritmo produtivo.

Eliane Brito Silva - UEBA


As translações) de liberdade: cativeiro, mercado e quase libertação
Otexto apresentado intitulado 'Uma leitura das Cartas de Alforrias: cativeiro, mercado e quase liberdade em Alagoinhas
do século XIX' é um estudo preliminar sobre a prática de manumissão na Freguesia de Santo Antonio de Alagoinhas,
provincia da Bahia, entre os anos de 1852 a 1888, a partir do exame de cartas de alforrias, registradas nos Livros de
Notas do Tabelião 1.0 Ofício arquivados no Fórum Des. Ezequiel Pondé, Comarca de Alagoinhas. O texto trata da
conquista da liberdade e a sobrevivência da escravidão mediante a concessão de alforrias sem condição, alforrias sob
condição, alforrias pelo Fundo de Emancipação. O trabalho examina também a vitalidade do regime servil extraídas

153
das escrituras de compra e venda de escravos, associada a prática de manumissão, detalhando questões relativas ao
estudo, tais como, cor e gênero, faixa etária e estado civil dos escravos entre a liberdade prometida e a escravidão
perpetuada.

Juliana Sabino Simonato - UFES


Escravidão, Baslardia e poder: a ascensão de forros na Provincia do Espírito Santo no final do século XIX ao
início do XX
Análise da situação dos mestiços e forros, descendentes de negros da sociedade do Espírito Santo, no recorte tempo-
ral do período final do século XIX e início do XX, possibilita-nos um novo enfoque e uma melhor compreensão em
relação ás práticas de sociabilidades que permitiam, mesmo dentro da organização hierárquica de caráter rigido, o
desenvolvimento de estratégias favoráveis á ascensão de alguns pardos e ex-escravos. Ocaso de Marcelino Bernardes
de Souza, filho de um grande proprietário de terras da região do Castello, o Barão de Guandu, com uma de suas
escravas, evidencia relações sociais diferenciadas das situações comumente estabelecidas pela historiografia tradici-
onal, que se utiliza de conceitos e cria padrões de homogeneidade social, baseados na defesa da existência de
apenas senhores e escravos. Através de fontes primárias, como inventários e livros de registros cartoriais, farei um
levantamento sobre Marcelino, bem como promoverei o relato de sua trajetória. Procuro demonstrar alguns dos 'espa-
ços' ou "brechas', encontrados por esse mestiço e forro para se distanciar das heranças do cativeiro, devido seu
parentesco com um membro da elite cafeeira do sul da Província do Espírito Santo, conseguindo adquirir por meio da
compra a sede da fazenda que pertenceu ao seu pai.

Kátia Lorena Novais Almeida


Da prática costumeira à alforria legal
Neste trabalho discuto a prática da alforria em Rio de Contas, sertão da Bahia, analisando os tipos de alforria e a sua
distribuição ao longo do século XIX. Dividimos o periodo estudado de 1800-1850; 1850-1871 e 1871-1888 buscando
perceber as peculiaridades na prática de alforriar. As fontes utilizadas foram cartas de alforria, registradas em livros de
Notas de Tabelionato, bem como as ações de liberdade por meio das quais pudemos acompanhar algumas experiên-
cias dos escravos sertanejos para concretizar a almejada liberdade.

Gabriel Aladren • UFF


De como deixar de ser escravo e viver em liberdade: padrões de alforria e inserção social dos libertos (Rio
Grande de São Pedro, 1800·1835)
A historiografia tradicional sul-rio-grandense desconsiderou a importância da cultura negra e da mão-de-obra escrava
na formação do Rio Grande do Sul, ou advogou a tese mitica da benevolência senhorial gaúcha. A partir da década de
1960, com estudos que enfocavam, sobretudo, o universo das charqueadas estas visões foram criticadas. No entanto,
é recente o esforço, a partir do tratamento sistemático de fontes primárias, de resgatar as diversas facetas que a
escravidão assumiu no Rio Grande de São Pedro. A comunicação que ora se apresenta faz parte deste esforço e
pretende abordar os padrões de alforria e a inserção social dos libertos na região de Porto Alegre, nas primeiras
décadas do século XIX. Como fontes, foram utilizadas cartas de alforria, inventários post-mortem de libertos e proces-
sos criminais. As cartas de alforria receberam um tratamento quantitativo, de modo a estabelecer o perfil dos escravos
alforriados e as modalidades de alforria. Os inventários e os processos criminais foram analisados qualitativamente, no
intuito de reconstituir aspectos da vida de alguns libertos nos meios rural e urbano. Nesse sentido, enfocamos especi-
almente as formas de inserção dos forros no mundo do trabalho, a constituição de seu patrimônio e suas relações com
escravos e homens livres.

20. Estado e Políticas Públicas no Brasil: Séculos XIX e XX


Théo Lobarinhas Piiieiro (UFF) e Sonia Regina de Mendonça (UFF)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h ás 18h) I
Débora EI·Jaick Andrade - UFF
As politicas públicas na esfera cultural no Império: o caso da Reforma Pedreira
O artigo avalia as faces e objetivos da Reforma Pedreira (1854-57), uma tentativa de modificar o cenário educacional
e cultural do Império implementada pelo ministro Luís Pedreira do Couto Ferraz, convidado pelo Marquês de Paraná
para integrar o Gabinete de setembro de 1853, chamado de Gabinete da Conciliação. Em meio a outras reformas do
Gabinete e á aprovação da Lei eleitoral, Couto Ferraz, Ministro do Império, tinha como atribuições zelar pela saúde

154
pública, instrução básica e profissional, habitações urbanas. Criou e interveio em várias instituições educacionais
como o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, os cursos juridicos, a Academia Militar, o Colégio Pedro 11, o Conserva-
tório de Música, a Academia Imperial de Belas Artes, estabelecendo regulamentos e formas de fiscalização com o
objetivo de garantir a uniformidade do ensino no Império. Constituiu comissões para pesquisa sobre sistemas de
educação em 'nações civilizadas européias', para coletar documentos relativos à história do Brasil e para procurar e
explorar riquezas e conhecimentos no Norte do pais.

Tatyana de Amaral Maia - UERJ


O regionalismo e as políticas culturais na ditadura civil-militar (1966-1975)
A proposta deste trabalho é investigar a noção de regionalismo presente nas políticas culturais implementadas durante
a ditadura civil-militar e organizadas pelo Conselho Federal de Cultura. O conceito de regionalismo elaborado na
primeira metade do século XX por Gilberto Freyre foi capitaneado pelo CFC, órgão ligado ao Ministério da Educação e
Cultura, tornando-se essencial na definição da 'identidade nacional" e nas manifestações culturais financiadas pelo
Estado. O regionalismo defendido por Freyre afastou-se das concepções modernistas das décadas de 1920 e 1930 e
esteve presente nos circulos intelectuais entre 1930-1970. Na década de 1960, com a criação do CFC por um grupo de
intelectuais da Academia Brasileira de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, o regionalismo foi incorpo-
rado como discurso político pelos agentes estatais, garantindo aos defensores do regionalismo projeção política e
cultural. Assim, o objetivo desta comunicação é compreender como o conceito elaborado por Freyre tornou-se uma
estratégia política dos intelectuais do Conselho ao projetar na cultura nacional caracteristicas opostas àquelas defen-
didas pelos movimentos culturais de vanguarda do periodo.

Cássia Rita Louro Palha - Universidade Federal de São João dei Rei
Política audiovisual e oligopólio dos meios massivos no pais
O trabalho discute as políticas públicas de regulação dos meios de comunicação de massas no Brasil. Em especifico,
aborda-se os embates dentro do setor político-empresarial pelas concessões televisivas e na construção de uma rede ~
de poder caracterizada pela literatura como "coronelismo eletrônico". Representando um elo estratégico de ligação ~
entre a sociedade política e a sociedade civil, entre o consenso e a força, o "coronelismo eletrônico" expressa seu ]
poder vinculando as programações regionais e locais das concessionárias e das retransmissoras de televisão aos C/)

interesses eleitorais de seus proprietários. Em outras palavras, aquilo que para Gramsci representa o controle politico 'C;;
~
estratégico da "opinião pública" nacional. m
o
o::::
Pedro Eduardo Mesquita de Monteiro Marinho - Museu de Astronomia e Ciências Afins/UFF .~
Política e engenharia: Os engenheiros brasileiros entre a sociedade civil e a sociedade política no Brasil ~
Império ';;;
O trabalho trata da ação institucional de uma parcela dos engenheiros brasileiros, particularmente aqueles ligados ao r3
:2
Instituto Politécnico Brasileiro (1862) e ao Clube de Engenharia (1880), no período final do Império brasileiro. Oestudo ~
aqui proposto focaliza, a partir da noção gramsciana de 'Estado ampliado", as relações profissionais e políticas que os
agentes vinculados às duas agremiações estabeleceram dentro da correlação entre sociedade civil e sociedade polí- ~
tica. Tendo em vista esta premissa e mediante o exame da produção de saberes especificos deste grupo de engenhei- .fí
ros - controvérsias cientificas, técnicas e políticas, intercâmbio profissional e ação junto a projetos estratégicos da
esfera administrativa -, objetiva-se analisar seu acesso a postos-chaves na formulação de políticas públicas do último
quartel do século XIX.

Nilton de Almeida Araújo - UFF


Da cadeira de agricultura ao anel de engenheiro agrônomo: ciência, civilização e Estado Imperial no coração
da produção açucareira baiana
Durante o Império, a Bahia foi palco de uma série de iniciativas para que o conhecimento científico em torno da
agricultura se imiscuisse ao processo de produção, especialmente para a agricultura. Este processo se inscreve nos
processos mais gerais de institucionalização das ciências no pais, e de construção do Estado nacional, mas entre o
esperado e o realizado, a institucionalização de um campo cientifico e a difusão de um projeto civilizatório e racista
foram resultado, e também engendraram, a formação do Estado imperial e de uma fração de classe dominante na
Provincia. A partir da organização dos cursos propostos para a Cadeira de Agricultura criada por D. João VI em 1812),
pelo Imperial Instituto Bahiano de Agricultura em 1861, e o curso de sua Imperial Escola Agricola da Bahia (IEAB)
finalmente instituida em 1877, mas também de fontes primàrias como relatórios do Ministério da Agricultura, Comércio
e Obras Públicas, Atas da Congregação da IEAB e principalmente as teses de conclusão de curso de seus diploma-
dos, reconstituir as principais mudanças e permanências na trajetória de um conjunto de agências e agentes que
deveriam "salvar a lavoura".

155
Valeria Araceli D'Agostino - Universidad Nacional dei Centro de la Pcia. de Buenos Aires
Agrimensores, Estado, propietarios: la conformación de las instituciones topográficas en el Rio de La Plata,
sigloXIX
A partir de 1820, el Estado provincial bonaerense creó diversas instituciones con el fin de organizar las tareas de
reconocimiento y medición de los territorios bajo dominio provincial, mensura, traza de caminos y pueblos, disel'io de
puentes, etc., destinadas, también, a impartir los saberes relacionados con la agrimensura. Nos parece importante
indagar en la conformación de estas instituciones, debido a que es éste un contexto en el cual tuvo lugar una importan-
te expansión dei territorio provincial, instrumentándose su cesión a manos privadas, lo cual otorgó a los saberes
topográficos y geodésicos una función de suma importancia. Intentaremos ahondar en la relación entre los diversos
actores involucrados: los agrimensores, las instituciones topográficas, el estado provincial y los propietarios de tierras.
También, comenzar la indagación de las formas en que se estableció un régimen de propiedad privada de la tierra.

Rodrigo Cesar da Silva Magalhães e Marcos Chor Maio· Casa de Oswaldo Cruz I Fiocruz
Desenvolvimento e Polítícas Públicas: os efeitos da proposta de criação do Instituto Internacional da Hiléia
Amazônica
O objetivo deste trabalho é abordar a proposta de criação do Instituto Internacional da Hiléia Amazônica (IlHA) e suas
interfaces com a implementação de políticas públicas voltadas para a região amazônica entre os anos 1940/50. No
contexto da emergência da questão do desenvolvimento, tema em voga no pós-Segunda Guerra, o projeto do ilHA
começou a ser discutido no Brasil quando diversos planos de valorização econômica da Amazônia eram debatidos. As
controvérsias suscitadas pela proposta da UNESCO tiveram com~ lócus privilegiado o Congresso Nacional, envolven-
do parlamentares, militares, intelectuais, jornalistas e cientistas. A medida que a discussão em torno do ilHA se inten-
sificava no parlamento e na sociedade, a Câmara dos Deputados foi gestando alternativas ao plano da UNESCO,
ecoando, em parte, reivindicaçôes de diversos grupos de pressão. Assim, apesar de não ter sido criado em função do
debate sobre a internacionalização da Amazônia, o IlHA desempenhou um importante papel no sentido de colocar a
região na agenda político-científica nacional. A criação do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) em
1952 e da Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA) em 1953 são evidências do
novo status que a Amazônia adquiriu nos planos governamentais.

I 17/07 - Terça-feira - Tarde (14h às 18h) I


Sonia Regina de Mendonça· UFF
Estado e Ensino Agrícola no Brasil Recente: O Caso do E.T.A.
O texto tem como objeto a análise do Escritório Técnico de Agricultura Brasileiro-Americano (ETA), fundado em 1953, sob
a dupla tutela do Ministério da Agricultura 1Foreign Office Americano, o qual ilustra cabalmente a reorientação da política
de "cooperação' internacional norte-americana, calcada na invenção do conceito de 'desenvolvimento' e seus desdobra-
mentos. Mediante o fornecimento de conhecimentos 'especializados', reproduziu-se no Brasil paradigma importado que,
além de expropriar o trabalhador rural de seus saberes próprios, submeteu-os à disciplinarização pelo capital, através de
novas práticas ditas 'educativas'. Por meio do Extensionismo, dos Clubes Agrícolas Escolares e de instituições como a
ABCAR, difundiu-se um dado 'modelo' de desenvolvimento que se adequou aos interesses dos grupos dominantes
agrários brasileiros, co-participes do deslocamento dos conflitos de classe da cena real, para o âmbito do simbólico,
retraduzido na dicotomia 'arcaicos" versus 'modernos". Assim, as intervenções do ETA, destinadas ao trabalhador do
campo, implicaram não apenas na ressignificação da própria Educação Rural, como também no adestramento "adequa-
do" desses trabalhadores, triplamente expropriados: de sua terra, de seu conhecimento e de sua própria identidade.

Beatriz Rietmann da Costa e Cunha - NEPHE-UERJ/CMRJ


Assistência e profissionalização no Exército: elementos para uma história do Imperial Colégio Militar
Este trabalho constitui uma reflexão acerca do processo de criação do Imperial Colégio Militar, em fins do século XIX,
e as relações deste com o Asylo dos Inválidos da Pátria e a Associação Comercial do Rio de Janeiro. Nesta pesquisa
busquei identificar as forças que definiram a existência e o funcionamento do colégio, em sua especificidade enquanto
instituição de ensino secundário de modelo militar.
Tais condições de existência se articulam com a emergência dos militares como novos atores políticos ao final do
Império, acompanhando a profissionalização do Exército, que se processava desde meados do século, notadamente
após a Guerra do Paraguai. Para tanto, considerei como fatores da profissionalização o incremento na formação dos
militares e o papel do Exército no projeto de reordenação e consolidação do Estado Imperial. Investiguei a presença do
caráter preparatório na instituição que, possivelmente, se justificaria pela necessidade de formar bons quadros milita-
res para o Exército, que atendessem ao projeto profissionalizante. Ao lado do levantamento historiográfico, integrou a
pesquisa um corpus documental que envolveu fontes tais como: a legislação do Império, os relatórios ministeriais da
Guerra, os Anais do Senado e da Câmara, além de jornais da época.

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Claudemir de Quadros - Centro Universitário Franciscano de Santa Maria
O discurso que produz a reforma: nacionalização do ensino e reforma educacional no Rio Grande do Sul
(1937-1945)
Entre os anos de 1937 e 1945 houve, no Rio Grande do Sul, um importante movimento de reforma educacional
conduzido pelo Estado. Esse movimento encontrou suas condições de emergência a partir do discurso formulado no
âmbito do projeto de nacionalização do ensino. Assim, o discurso da nacionalização do ensino produziu aquilo sobre o
que se pôs a falar, o outro - o estrangeiro - como perigo e informou a ação do governo que se reaparelhou para
enfrentar o problema. Em poucas palavras, o processo de reforma educacional, possibilitado pela nacionalização do
ensino, alterou, profunda e intensamente, as formas de gestão do sistema educativo no Estado do Rio Grande do Sul.
Este passou a afirmar-se sob as bases de uma gestão técnica, científica e racional, orientada por especialistas, envol-
vendo uma ampla e detalhada prescrição legal das atividades escolares e dos programas de ensino; uma forte incidên-
cia de controle e normatização; um conjunto de ações direcionadas para a formação continuada do corpo docente e a
instauração de ações relacionadas com o desenvolvimento de estudos e pesquisas educacionais que enfatizavam a
inovação e a modernização.

Claudia Alves - UFF


Território intelectual do exército no Rio de Janeiro do século XIX
A noção de campo intelectual tem fundamentado diversas análises a respeito das relações que se constroem historica-
mente entre indivíduos, grupos e instituições. O campo intelectual é, sobretudo, um campo de relações, cuja configu-
ração nunca é monolítica ou estática. Como todos os fenômenos temporais requerem uma espacial idade que os
abrigue e tome possível sua realização concreta, os campos intelectuais encontram sua correspondência com lugares t2(p
a eles associados. No Rio de Janeiro do século XIX, o desenho adquirido pela cidade foi sendo traçado de acordo com ~
as modificações, tanto da vida privada quanto da vida pública. Oobjetivo do presente trabalho é apresentar a constitui- ~
ção de espaços de escolarização, sob o controle do exército, instituídos entre 1810 e 1889, na cidade do Rio de Cl.)

Janeiro. Cruzando as informações obtidas nos Relatórios dos Ministros da Guerra com fontes cartográficas, tornou-se ~
possível construir alguns mapeamentos, que dão conta da expansão das escolas do exército e sua posição na cidade. ~
Pretendemos discutir a relação existente entre a emergência de uma intelectual idade militar e as redes de sociabilida- ]
de construídas na cidade, tanto entre os próprios oficiais do exército, como aquelas que os abrigavam, mas estendiam- C/.)

se para além da corporação. .;;;


e
co
o
Rita de Cássia Cunha Ferreira - Universidade Estadual Paulista - UNESP - Assis c
A Comissão Nacional do Livro Didático (1938-1945) no Arquivo Gustavo Capanema: um capítulo à parte .~
O arquivo pessoal de Gustavo Capanema possui importantes documentos referentes às politicas públicas realizadas @
pelo Ministério da Educação e Saúde durante o regime do Estado Novo. No que tange a política educacional, especi- c:;;;
ficamente o controle da produção e uso dos livros didáticos, o arquivo possui projetos de lei, parte dos papéis adminis- .~
trativos da secretaria da Comissão Nacional do Livro Didático, cartas e rascunhos que permitem o mapeamento da ~
influência de diversos setores, como os católicos, militares e editores no processo de elaboração das leis. A forma C;
como Capanema, autor do projeto, se apropriou destes elementos externos para reformulação da proposta inicial e a ~
disposição do que seria guardado ou não sobre esta atividade do MES, compõem uma linha, ainda que frágil, do Jí
percurso das idéias no campo político e as interferências do meio social.

Maria Teresa Cavalcanti de Oliveira - Universidade Estácio de Sá


O ISEB e seu projeto de "educação ideológica"
Situando-se no âmbito da história da educação brasileira, a presente pesquisa tem por objetivo identificar e compreen-
der o conjunto de estratégias político-educativas concebidas pelo ISEB - Instituto Superior de Estudos Brasileiros,
órgão vinculado ao MEC de 1955 a 1964, constituído através de um grupo de intelectuais radicados no Rio de Janeiro
que tinham por finalidade o estudo, o ensino e a divulgação dos saberes das ciências sociais (notadamente a história,
a sociologia, a economia e a política). O ISEB se singularizou por aplicar os conhecimentos gerados por essas ciências
sociais à análise e à compreensão crítica da realidade brasileira, visando uma ação de cunho político expresso na
intervenção e no direcionamento de uma nova mentalidade da sociedade voltada à superação do subdesenvolvi-
mento do país; algo que se configurou no Projeto "Nacional-Desenvolvimentista'. Definido como um curso de altos
estudos sociais e políticos de nível pós-universitário, o ISEB manteve um Curso Regular, promoveu Cursos Extraor-
dinários, Ciclos de Conferências e Conferências isoladas - um aparato singular para uma instituição que, mesmo
não sendo uma universidade, concentrou esforços na formação de quadros estratégicos e numa ampla produção
de nível acadêmico.

157
Leticia Carneiro Aguiar - UNISUL
Políticas públicas para a educação catarinense: a questão da formação de professores em nível superior na
década de 1960
O estudo problematiza a política educacional na constituição do projeto hegemônico das elites oligárquicas catarinen-
ses na década de 1960, com enfoque na formação de professores, sendo de natureza documental, com base teórica
nas categorias analíticas de Estado, hegemonia e intelectual orgânico de Antonio Gramsci. As fontes documentais
foram: planos de governo, leis, planos de educação e relatórios. Num contexto de domínio político oligárquico, de
ideologia desenvolvimentista de modemização conservadora, desafio posto pela lógica do ascenso histórico das for-
ças econômicas capitalistas, à educação estava reservado importante papel na configuração desse projeto societário
excludente. Numa realidade escolar onde a maioria dos docentes do ensino primário era de "leigos" e do ensino médio
de normalistas de 2° ciclo, a politica de formação de professores restringia-se ao oferecimento de cursos de 'treina-
mento' para a maioria dos professores da escola pública. E, para àqueles que ocupavam estratégicas funções no
aparelho governamental, a política voltava-se à formação em cursos superiores, no intuito de preparar intelectuais de
"alto nível técnico", constituindo-se num valioso instrumento de um grupo social dominante para o exercicio de sua
hegemonia.

Maria da Graça Nóbrega Bollmann - UNISUL


A re-significação da Universidade nos marcos da das mudanças no Estado Brasileiro nos anos de 1990
Este estudo trata do aprofundamento teórico da concepção de universidade no contexto da reforma educacional brasi-
leira, a partir da análise da Constituição da Repúblíca Federativa do Brasil de 1988 e do papel dos movimentos da
sociedade civil frente às ações da sociedade política, nos anos de 1990. Esse tema integra a pesquisa "A Educação
Superior em Santa Catarina-Brasil: um estudo na perspectiva do Direito à Educação', vinculada à linna de pesquisa
"Educação e Política no Brasil e na América Latina' do Programa de Pós-Graduação-Mestrado, da Universidade do Sul
de Santa Catarina.Toma-se como referência, a concepção de universidade, cuja legitimidade de suas atribuições lhe é
conferida pelo princípio da autonomia que a identifica como o lócus da produção de conhecimento, diferenciando-a de
outras instituições sociais. A concepção de universidade pública e autônoma, no Brasil, é influenciada na e pela rede-
finição da concepção de Estado, fruto da "nova' ordem capitalista neoliberal. Nesse "novo' modelo, redefine-se, tam-
bém, um "novo modelo' de universidade - funcional para atender à elite dominante do mundo capitalista, no âmbito do
chamado Estado Minimo -, uma 'universidade para o mercado', ou ainda, 'uma organização social'.

Maria Ivonilde Medonça Targino - UFPB


Educação Patrimonial e o processo de elaboração das "Cartilhas do Patrimônio" pelo IPHAEP
A pesquisa recuperou o processo de elaboração/produção da "Cartilha do Patrimônio: Centro Histórico de João Pes-
soa' editada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artistico do Estado da Paraíba, em 2002 e 2003, desde a confec-
ção de seu texto original nos anos de 1980, até sua aplicação nas escolas, no início doa ano letivo de 2003, como
iiciativa pioneira no estado da Paraíba. Seu foco temático está no estudo do processo histórico de elaboração da
noção de educação patrimonial e de seus instrumentos, no interior dos órgãos públicos estatais, gestores da preserva-
ção do patrimônio cultural, tanto em nível nacional quanto em nível estadual/local. Tratou de situar historicamente o
processo, pela pesquisa de domínio público, da bibliografia existente sobre o tema e, com a metodologia da história
oral, de depoimentos - testemunhos vivos- para aprofundar uma reflexão sobre essa experiência. Foram analisadas as
duas edições da cartilha, visando-se à identificação das razões, sentifod e significados desse suporte educativo, como
prática preservacionista e instrumento de 'alfabetização cultural', realizada pela instituição IPHAEP em conexão com
espaço escolar, na intermediação da Delimitação do Centro Histórico e a Educação Patrimonial e a sua necessária
inclusão no campo do conhecimento.

I 18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h)

Rafael Winter Ribeiro -IPHAN/UFRJ


Estado, Território e Exposição: o Museu Comercial e a diversidade territorial no Brasil no início do século XX
O ponto de partida do trabalho é a tese geral de que, com a proclamação da República e implantação do federalismo
no Brasil, a ascensão ao poder de partes das elites periféricas conferiu maior visibilidade a novos territórios e territori-
alidades dentro do aparelho do Estado, permitindo a representação de uma diversidade territorial que não era ressal-
tada pelo modelo anterior. O aparelhamento do Estado por parte dessas elites, ao mesmo tempo em que lhes confere
maior visibilidade e a seus territórios, foi um dos fatores fundamentais na construção de novas geografias do país. O
Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, instalado em 1909, funcionou como um locus privilegiado de identifica-
ção e exibição dessa diversidade. Este trabalho analisa o papel desempenhado por uma de suas repartições - o
Museu Comercial - que tinha como finalidade a propaganda de produtos brasileiros e o subsidio à participação do
Brasil em exposições internacionais. A ação do Museu e a sua exposição estão intimamente associadas ao direciona-

158
mento das políticas agrícolas e industriais do Brasil, sendo reveladora do tipo de país que se queria representar, no
qual a idéia de diversidade do território e da natureza representava um papel especial.

Carolina Torres Alves de Almeida Ramos· UFF


CONTAG: disputas em torno de sua fundação
Este trabalho pretende analisar os embates travados entre organizações dos trabalhadores rurais após o anúncio do
Estatuto do Trabalhador Rural, em 1963. Este consiste em uma legislação que, além de estender direitos trabalhistas
para o campo, estabeleceu diretrizes para a formação de sindicatos rurais nos moldes corporativistas. Será estudado
o contexto de formação da CONTAG - órgão sindical de representação máxima dos trabalhadores rurais -, atendo-se,
especialmente, para as disputas entre setores da Igreja Católica e do PCB pela hegemonia junto á direção desta nova
agremiação. Pretende-se ainda analisar os impactos sofridos pela CONTAG logo após a eclosão do golpe militar.

Antonio Cláudio Rabello - UNIR


Estado ampliado, fronteira e globalização: reflexões
A análise das políticas públicas de colonização oficial em Rondônia (1950-1975) usando o arsenal teórico gramsciano
são a razão do presente trabalho. O conceito de Estado Ampliado 'como equilíbrio entre a sociedade política e socie-
dade civil (ou hegemonia de um grupo social sobre a inteira sociedade nacional, exercidas através de organizações
ditas privadas)' aplicado á História de Rondônia, (região de fronteira) onde a presença da sociedade civil atuante na
região era ausente ou atrofiada. Becker definiu a fronteira como 'espaço não plenamente estruturado', o que. implica-
ria na subordinação plena da região á sociedade nacional ou na ausência de sociedade civil. A partir da década de 90
há uma presença hipertrofiada da sociedade civil com. o avanço da globalização. A Amazônia tem sido objeto de
visões de mundo distintas e, por vezes, antagônicas. A pressão do mercado internacional e de grupos ambienta listas ~
f'2O\
internacionais, que nos remetem á possibilidade de uma sociedade civil internacionalizada, em disputa pela capacida- ~
de de direção sobre a região. As reflexões presentes nesse trabalho dizem respeito ao estudo do conceito e sobre as Q)

possibilidades da utilização do mesmo nesses dois momentos da História de Rondônia. ~

Edison Antônio de Souza - UEMT


O Norte de Mato Grosso: Estado e Políticas Públicas
Oobjetivo dessa comunicação é fazer um balanço historiográfico das políticas públicas desenvolvidas para o Norte de .in
~
Mato Grosso a partir da década de setenta do século XX e qual foi o resultado dessas políticas tanto na dimensão CI:l
econômica, quanto na política, social e cultural. Através dos resultados de pesquisas, pretende-se articular uma refle- oc:
xão entre Estado e Políticas públicas no Brasil, possibilitando, dessa forma o debate sobre aquela região do país. ~
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Dilma Andrade de Paula - UFU C;;;
História, hegemonia e senso comum: a trama do agronegócio em regiões do Cerrado brasileiro .~
O agronegócio tornou-se a pedra de toque da economia brasileira, acima do bem e do mal, sendo considerado como ~
verdadeiramente responsável pela produção agrícola brasileira, por diferentes meios, veículos e estratos sociais. A C;
proposta do trabalho é investigar de que forma se reveste a produção hegemônica do agronegócio em regiões do .g
cerrado brasileiro, veiculada na mídia impressa. Tal hegemonia pressupõe uma série de desdobramentos em termos ~
de política agrícola e ambiental, de reconcentração de capital e de mudanças nas relações de trabalho. No campo do LJ..J
senso comum, no sentido gramsciano, existe de um lado o extremado otimismo e de outro, algumas denúncias e
lamentos - nem sempre relacionadas criticamente com o avanço do agronegócio e das rnonoculturas - sobre os
efeitos do êxodo rural, da destruição da flora e fauna nativas e com elas, a mudança climática, a poluição e esgotamen-
to progressivo de reservas de água, afetando progressivamente variados setores sociais.

Antônio de Pádua Chaves Filho - UFJF


Nas Fronteiras da Ordem: Segurança pública e questão social nas Minas Gerais
A transição do século XIX para o XX no contexto brasileiro assiste a novas demandas de inserção do individuo no
espaço do livre mercado de trabalho. Acompanhando este imperativo vem a necessidade de reorganização das insti-
tuições estatais num sentido que aponta para forrnulação de políticas públicas voltadas para controle e disciplinariza-
ção social. Neste sentido, este trabalho busca, através da análise dos relatórios anuais dos chefes de polícia no estado
de Minas Gerais, compreender o reflexo destas demandas de controle social sobre o gerenciamento da segurança
pública no estado bem como a construção de um novo discurso sobre a policia e a questão social destacando o que
pretendo chamar projeto republicano de polícia. Ainda demonstraremos a grande lacuna que existia entre a produção
desse discurso e a realidade do policiamento urbano usando como recurso a documentação policial produzida pela
cidade de Juiz de Fora (correspondências entre as delegacias e subdelegacias do distrito) que, dentro do contexto
estudado, era o pólo industrial e urbano de maior destaque no estado.

159
Magali Gouveia Engel - UERJ
"Os intelectuais e os prefeitos: convergências e divergências em torno das reformas do Rio (1902-1922)"
Esta comunicação apresenta alguns resultados da pesquisa 'Memória, história e cidade: os intelectuais e o Rio de
Janeiro (1870-1930)", sobre as crônicas escritas por expressivos nomes do rico e conturbado cenário literário da
época. Entre estes, destacam-se Coelho Netto (1864-1934); Olavo Bilac (1865-1918); Lima Barreto (1881-1922); e,
Paulo Barreto (João do Rio, 1881-1921) que por expressarem a diversidade do universo da criação cultural da época-
perpassado por tensões, conflitos, disputas, mas também por alianças e partilhas -, serão objeto do presente estudo.
Trata-se de buscar identificar as divergências e convergências entre as leituras que estes cronistas fizeram do proces-
so de modernização pelo qual passava a cidade do Rio, a partir dos lugares específicos que ocuparam na sociedade
e no campo intelectual da época. Procuro explicitar e discutir as diferentes posturas que manifestaram em relação às
reformas urbanas relativas ao período 1902 a 1922. Narrativas subjetivas do 'real vivido', espaços de construção e de
interpretação das memórias coletivas, considero as crônicas como lugares de conflitos entre interpretações que reme-
tem necessariamente ao universo das tensões sociais ou da luta de classes.

Claudia Regina Rodrigues Ribeiro Teixeira e André de Faria Pereira Neto - Fundação Oswaldo Cruz
A política de assistência médica de Pedro Ernesto (1930-1936): uma história em três tempos
A gestão de Pedro Ernesto Baptista na Prefeitura do Rio de Janeiro nos anos seguintes à Revolução de 1930 até o
Estado Novo pode ser considerada como um dos casos mais significativos da história das políticas públicas do Brasil
contemporâneo. Caracterizou-se por ações concretas em beneficio da educação fundamental pública, leiga, gratuita e
universal e pela organização de um complexo sistema de assistência médica à população. Entre 1931 e 1937, Pedro
Ernesto implementou a política de assistência médica nos cargos que ocupou. Tanto o locus para a implantação desta
política quanto a trajetória profissional e política de Pedro Ernesto são relevantes na sua passagem por estes cargos e
contribuíram para reafirmar a singularidade de sua gestão na então capital da República: dotar a cidade da maior rede
de hospitais públicos do País. O estudo deste tema resultou na dissertação de mestrado da autora, em 2004, do
Programa de Pós-Graduação em História das Ciências da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz e em artigo publicado no
'Cadernos de Saúde Coletiva'( .http://www.nesc.ufrj.br/cadernos/2005_2/resumos/CSC_2005 _2_claudiateixeira.pdD O
resgate do legado de Pedro Ernesto à frente do poder municipal visa recuperar um momento importante da História das
Políticas Públicas no Brasil.

Ricardo Augusto dos Santos - Casa de Oswaldo Cruz


A ilusão democrática. Sociedade e política no Brasil. 1943-1948
O surgimento de movimentos sociais urbanos é, de modo geral, expressão de condições de vida e trabalho, demons-
trando a situação dos trabalhadores diante de questões como habitação, alimentação, saúde, transportes e salários.
Estes movimentos sofrem atos repressivos quando reivindicam mudanças. No entanto, quando estudamos o periodo
de 1943 a 1948 deparamo-nos com um intenso processo de mobilização dos trabalhadores urbanos. Se, por um lado,
a redemocratização propiciava uma euforia, por outro, uma série de restrições impediam a participação política. O
objetivo deste trabalho é caracterizar o controle em relação a esses movimentos como estratégia política. Nesta pes-
quisa, percebemos que a repressão não diminuiu com o fim do Estado Novo. Notamos, que permanecem visões
equivocadas de que o Estado paira acima das classes. O Estado não é o arbitro imparcial das lutas sociais e, portanto,
não pode ser analisado isoladamente, desvinculado da conjuntura histórica. O 'Estado" promovendo um discurso da
igualdade será surpreendido pelos movimentos que reivindicando direitos, tornam os conflitos sociais mais aparentes,
constituindo-se assim um espaço de resistência.

Orlanda Rodrigues Fernandes - UFU


Políticas Públicas e Projetos de cidade: Uberlândia segundo a imprensa
Este trabalho tem como problemática central a construção de memórias históricas por meio da imprensa. Pensando
como esta produção compõe o enredo social, sendo necessário analisar sua construção para se problematizar os
projetos de cidade presentes nessas construções, indagando sobre suas interferências no real. O interesse por esse
estudo se fez necessário para entender como os sujeitos que construíam a interpretação colocada pelo jornal Correio
de Uberlândia durante a década de 1960 viam o Regime Militar, sua implantação e suas politicas públicas. Importa
refletir e indagar como estas questões influenciam a produção de determinadas memórias sobre o golpe, ou seja,
interpretações históricas que se constituem e dividem o campo de disputa conjuntamente com experiências da popu-
lação e com que interesse esses sujeitos articulam seu projeto de cidade com o militarismo. Dessa forma, compreendo
a imprensa como um objeto, não para comprovar uma tese prévia, mas como algo vivo que constrói opiniões contrárias
que são vivas e não apenas teóricas, que se constitui dentro do período histórico escolhido, analisando como ela se
insere nesse momento, como ela se forja.

160
19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h às 16h30min)

Alexandre Macchione Saes - UNICAMP


Aderrota da Light: estudo sobre os serviços de iluminação na cidade de Salvador, Bahia, na virada do século XIX
O presente artigo discute os conflitos entre o capital nacional e o capital estrangeiro em torno das concessões de
energia elétrica na cidade de Salvador, Bahia, na transição do século XIX para o século XX. Dividida geograficamente
entre cidade alta e cidade baixa, Salvador acabou por comportar em um curto periodo dois grupos rivais como conces-
sionàrios para os serviços de energia elétrica: a empresa nacional Companhia Brasileira de Energia Elétrica, com a
direção de Guilherme Guinle, e a empresa norte-americana The Bahia Tramway, Light & Power Co., sob o comando de
Percival Farquhar. O artigo busca analisar os conflitos entre as empresas e as articulações entre empresários e a
Câmara Municipal na consolidação do oferecimento dos serviços urbanos para a capital.

Cláudia Regina Salgado de Oliveira Hansen - UFF


Serzedelo Corrêa, A Companhia Brasileira de Energia Elétrica e Eletricidade no Distrito Federal no Início do
Século XX
Na década de 1910, os dirigentes da Companhia Brasileira de Energia Elétrica (CBEE) e da The Rio de Janeiro
Tramway Light and Power (Rio Light) - empresas produtoras, transmissoras e distribuidoras de energia elétrica -,
disputaram no Supremo Tribunal Federal o mercado dos serviços públiCOS e particulares de eletricidade do Distrito
Federal. Nos arquivos desse órgão da justiça republicana brasileira, ficaram registrados, os processo movidos pelos
advogados de ambas as empresas, os discuros e as estratégias adotadas pelos mesmos. Essa comunicação visa,
através da análise de alguns desses discursos, identificar as posições assumidas pelos dirigentes dessas empresas
@
20
nesse embate, e rassaltar a articulação existente entre os dirigentes da CBEE e Serzedelo Corrêa, prefeito do Distrito
Federal em 1910. A abordagem proposta trata a problemática da disputa judicial pelo controle do mercado de eletrici- ~
dade no local citado, a partir da correlação de forças vigente junto a sociedade civil/política no decorrer do periodo. ~
x
Marcelo Squinca da Silva - PUC-SP ~
"Um caso de desamor": obstáculos aos projetos da Eletrobrás no governo JK (1956-61)" - notas de pesquisa -1d
O presente texto aborda a polêmica acerca dos projetos para o setor de energia elétrica ao longo do governo Juscelino u:>
Kubitschek (1956-61). A pesquisa em andamento procura demonstrar - através do tripé Lukasiano - a ideologia que se .~
revela no discurso dos personagens - dento e fora do governo - ativamente envolvidos naquele debate e a função ~
social que essa ideologia ali cumpria. No governo Juscelino Kubitschek identificam-se alguns temas relevantes que :;;
buscaremos de forrna introdutória adentrar: o bloqueio do Plano Nacional de Eletrificação e do projeto da Eletrobrás no .~
Congresso; a disputa pelos recursos do Fundo federal de Eletrificação (FFE), a critica empedernida ao Código de ~
Águas e a ausência de um projeto próprio do governo Juscelino Kubitschek para o setor de energia elétrica que nos ~
leva a ajuizar que tal governo deu continuidade ao programa varguista. :eo
CL
Maria Leticia Corrêa - UERJ/FAPERJ '"
Estado e políticas públicas no setor de energia elétrica: a implantação do Ministério das Minas e Energia (1961-1968) -g
Estudo sobre a formação das políticas públicas voltadas para o setor de energia elétrica brasileiro a partir do Ministério J.í
das Minas e Energia (MME) e da Eletrobràs, considerando-se o processo de centralização institucional e concentração
de poder que se seguiu desde a criação desse ministério em 1961 até os primeiros anos do regime militar, em 1968,
bem como nacionalização desse setor, na etapa caracterizada pela incorporação, por empresas estatais e órgãos
públicos, de atividades até então exercidas predominantemente por empresas privadas estrangeiras, como os grupos
Light (canadense) e Amforp (norte-americano). A análise desse conjunto de iniciativas de políticas públicas remete
para a investigação sobre a atuação/composição das burocracias técnicas do MME e da holding federal, bem como
sobre a produção de um discurso sobre os temas da segurança nacional e do desenvolvimento econômico, priorizan-
do-se a pesquisa de documentação pública, como relatórios, exposições de motivos e documentos técnicos e buscan-
do-se, ainda, discutir as diversas nuances existentes entre dois extremos que correspondem de um lado à construção
do 'Estado autoritário', ou 'corporativo' e, de outro, ao fortalecimento do poder Executivo federal.

Fabio Ricci - UNITAU


Um Século de Benefícios Fiscais: Políticas públicas de atração de investimentos e desenvolvimento depen-
dente no Vale do Paraíba Paulista
O trabalho faz um levantamento das políticas de incentivos fiscais para a atração de indústrias e outras empresas nos
municípios de Jacarei, São José dos Campos, Taubaté e Guaratinguetá no inicio do século XX e em Taubaté no final
do mesmo século. Observa-se que essa política é destituida de um critério mais rigoroso em seus primórdios e que os
legisladores não possuem críticas quanto à sua adoção. A alternativa industrial como solução para o problema do
emprego criou raízes e sobrevive até o final do século. No entanto, as indústrias atraídas não garante a estabilidade do
desenvolvimento sustentável nos locais em que se instalam. Praticamente todas as empresas que receberam incenti-

161
vos no início do século não estão mais em atividade ou transferiram-se para outras regiões, Para as indústrias mais
recentes, a conclusão a que se chega é que as mesmas fazem parte de cadeias produtivas vinculadas ás empresas
matrizes, como montadoras de veículos, e portanto se instalaram nas proximidades das mesmas, usufruindo de bene-
fícios oferecidos pela guerra fiscal entre os municípios próximos, demonstrando uma continuidade da dependência
dos mesmos em relação às indústrias, principalmente transnacionais e que pouco benefício trazem para as cidades
que as recebem,

Esther Kuperman - Colégio Pedro 11


Oesenvolvimentismo - velhos conceitos, novos debates
Este trabalho procura recuperar o desenvolvimentismo, não só como conceito mas também como debate, Estendemos
nosso estudo dos anos 50 - quando as idéias desenvolvimentistas nortearam grande parte das políticas públicas no
Brasil- aos dias de hoje, quando são identificadas como contraposição às concepções que predominam nas ações do
Estado,

Rafael Vaz da Motta Brandão· UFF


A ABOIB E Política Industrial no governo Geisel
A política industrial do 11 PND teve como diretrizes principais o fortalecimento da empresa privada nacional e o desen-
volvimento do setor de bens de capital e insumos básicos, Partindo da concepção de Estado enquanto produto da
permanente inter-relação entre sociedade política e sociedade civil, a presente comunicação tem como objetivo anali-
sar a atuação de um dado aparelho privado de hegemonia, a Associação Brasileira para o Desenvolvimento da Indús-
tria de Base (ABDIB) no seu relacionamento com o governo Ernesto Geisel (1974-1979) em tomo da implantação de
uma política industrial que estabelecesse uma reserva de mercado para a produção nacional em oposição aos inves-
timentos estrangeiros, marcada por investimentos específicos para o setor de bens de capital.

Monica Piccolo Almeida· UFF


Programa Nacional de Oesestatização do Governo Collor: Uma Leitura Gramsciana
Este trabalho propõe-se repensar o Estado brasileiro no momento de implementação do receituário neoliberal (Gover-
no Collor) a partir de uma matriz gramsciana que o concebe enquanto Estado Ampliado no qual as relações entre
Estado e Sociedade são detalhadamente construídas e marcadas por embates entre as forças sociais, Partindo do
pressuposto de que é fundamental para a análise das políticas públicas entendê-Ias como resultado do embate entre
frações de classes diferentes em disputa pela inscrição de seus projetos junto às agências do Estado em seu sentido
restrito e que os embates inter e intra-estatais jamais se deslocam daqueles constituídos na própria Sociedade Civil e
tendo como objetivo desnaturalizar os mecanismos de funcionamento do Estado brasileiro durante o Govemo Collor,
torna-se necessário investigar como esses embates inserem-se na ossatura material do Estado, Nessa perspectiva,
será objeto de investigação uma das esferas da reforma estrutural, anunciada ainda durante a campanha eleitoral e
ponto importante da agenda neoliberal: o Programa Nacional de Desestatização, O PND é aqui caracterizado como
uma importante estratégia de em Estado Restrito que busca legitimar seu projeto em um contexto de lutas sociais
intraclasses dominantes e entre classes sociais.

Flávio Lúcio Rodrigues Vieira - UFPB


A pobreza do desenvolvimento no Nordeste: do Polonordeste às políticas de combate à pobreza
Neste trabalho, enfocamos a atuação do BIRD, analisando as mudanças ocorridas nas estratégias aplicadas no Nor-
deste e a crescente participação dessa instituição internacional no financiamento de políticas de desenvolvimento
voltadas para a região. Procuramos enfatizar as mudanças ocorridas na estratégia do Banco Mundial voltados ao
financiamento de projetos orientados pela idéia de desenvolvimento rural, experiências que foram fundamentais para
o aperfeiçoamento dos mecanismos de atuação do BIRD no Brasil e que constituem elementos antecedentes da
estratégia de combate à pobreza no Nordeste durante a década de 1990.

I 20/07 - Sexta-feira - Tarde (14h ás 18h) I


Théo Lobarinhas Piiíeiro . UFF
Estado e Política Tributária no Brasil Império: a Arrematação de Impostos
A cobrança de impostos é uma das ações da máquina estatal que está intimamente ligada ao próprio exercício do
poder. Há autores inclusive que associam o surgimento do Estado à existência de uma burocracia e ao recolhimento de
tributos. No Império do Brasil, a não ser pela cobrança nas alfândegas - e mesmo assim de forma precária - era prática
comum ceder a terceiros, mediante um adiantamento, a atividade de recolher tais direitos. Essa atividade era altamen-
te rentável e objeto de disputa entre os homens de negócios, uma vez que representava parcela importante de seus
lucros. O objetivo desse trabalho é discutir tal prática de cessão de direitos por parte do Estado Imperial, abordando, ao

162
mesmo tempo, uma reflexão sobre a organização de uma política acerca das rendas públicas e as formas de enrique-
cimento e acumulação privadas dela advinda.

Andréa Slemian - USP


A construção de uma legitimidade: constituição e administração nos primórdios do Império do Brasil (c. 1823-1834)
A comunicação pretende discutir o advento de uma ordem constitucional moderna no Brasil que, surgida a partir da
crise e desagregação do Império português na América, viabilizaria a independência e sustentaria a construção de
uma nova unidade política. Defende-se que, num ambiente marcado por violentos conflitos em torno de diferentes
projetos de unidade ao longo do Primeiro Reinado (1822-1831) e começo da Regência (1831-1834), a consecução de
um pacto politico mimetizado pela idéia de constituição teve papel fundamental, reconhecido na prioridade conferida
pelos nossos primeiros legisladores á implementação de reformas juridicas para funcionamento da máquina pública. A
experiência constitucional nesses anos iniciais do Brasil independente é entendida em conjunto com seus desdobra-
mentos na administração, tendo em vista que a criação das leis esteve intrinsecamente ligada á sua prática positiva, e
que ambas, como partes constitutivas do que se denomina como direito público, fomeceram os pilares de sustentação
do novo Império. A partir daí, sustenta-se que a Carta Constitucional de 1824, ao contrário do que se pode imaginar,
teve uma extraordinária eficácia na viabilização da estrutura de um novo Estado, como fica claro nos debates em torno
de sua reforma de 1831 a 1834.

Oanielle Figuerêdo Moura - UFPA


"Malfadada Província". Entre lembranças de anarquia e anseíos de civilização. Pará 1836 a 1859.
Este trabalho objetiva compreender como se constituíam os ideais de civilização pensados pelas elites dirigentes do f2Õ'
Grão-Pará no pós-Cabanagem (1836-1859) e os meios pelos quais as autoridades governamentais buscaram imple- ~
mentar tais ideais. Através de relatórios, periódicos e documentos judiciais, privilegia-se o estudo das ações das ~
autoridades provinciais em busca do que para elas representava o fim da ameaça cabana e a melhoria da província Q.)

paraense. Em meio aos discursos acerca da necessidade de reordenação da província, a construção de um imaginário ~
acerca dos revoltosos ganha destaque: os cabanos eram apresentados como bárbaros destituidos de religião, instru- ~
ção e respeito á ordem. O discurso de que os cabanos eram uma ameaça á civilização existente certamente embasava ~
as ações de uma elite comprometida com o fortalecimento e legitimação do império brasileiro. Dentre estas ações, a a
instituição do trabalho compulsório atenderia as demandas econômicas e de controle social, mas o incentivo a religião 'in
e
e a educação seria a chave para tirar da barbárie grande parte da população. Assim, este trabalho se volta para as os co
discursos e propostas de reordenação da província, certamente ligados a um ideal de civilização dentro de um contex- ê
to nacional, mas com dinâmica própria. .~
::o
-:::J
Mônica de Souza Nunes Martins - UERJ D....

Ascensão dos negociantes e decadência das corporações de ofícios após a chegada da corte no Rio de .~
Janeiro (1808 . 1824) ~
Com o estímulo á importação de produtos ingleses propiciada pelos tratados de 1808 e 1810, as corporações de ';;;
ofícios entraram em processo de decadência. Embora durante muito tempo a historiografia tenha afirmado que elas .g
continuaram existindo após sua extinção legal, na Constituição de 1824, procuro abordar os fatores que levavam á sua J3
decadência, mostrando que elas foram realmente extintas em 1824. Com a ascensão dos negociantes no meio urba-
no, afirmaram-se as tentativas de eliminar a influência das irmandades religiosas sobre os ofícios, bem como os
privilégios profissionais patrocinados por elas. Desta forma, pretendemos mostrar que após a Lei Magna de 1824 o que
permaneceram foram as relações pedagógicas entre mestrado e aprendizagem no universo fabril, sem mais o mono-
pólio comercial e profissional exercido pelas corporações de ofícios.

Saulo Santiago Bohrer - UFF


Política de Regulamentação dos Seguros no Brasil entre 1810 a 1822
A comunicação apresentará um balanço das regulações oficializadas a partir do ano de 1810, apontando como este
conjunto de leis e decretos, assim como a Provedoria dos Seguros do Rio de Janeiro, foram instrumentos importantes
na criação de políticas para as atividades das segurados e o mercado de seguros da corte. Ademais, busco relacionar
construção destas políticas às diversas formas de inserção dos homens de negócios do Rio de Janeiro no Estado
Joanino, apreendendo seus interesses e as disputas travadas.
Assim, considero possivel vislumbrarmos um quadro mais amplo da organização do aparelhO de estado e suas rela-
ções com a sociedade escravista, percebendo as transformações que estavam em curso naquele periodo.

163
21. Foucault, mutações do olhar
Luzia Margareth Rago (Universidade Estadual de Campinas) e Marilda lonta (Universidade
Federal de Viçosa)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h ás 18h) I
Helena Isabel Mueller e Maria Ignês Mancini de Boni - Universidade Tuiuti do Paraná
Olhares educacionais diferenciados: Anísio Teixeira e Erasmo Pilotto
As primeiras décadas do século XX foram, para a educação brasileira, um momento de intensas discussões sobre sua
formulação e o papel por ela desempenhado na elaboração dos saberes constitutivos da idéia de nação. A reconstru-
ção nacional, proposta pela Revolução de 1930, tem na educação um de seus elementos de sustentação e, objetivan-
do sua 'eficácia' é articulado um discurso educacional cientifico organizado. A proposta deste trabalho é a de pensar a
ação de dois educadores brasileiros que viveram e produziram nesse período e que, mesmo integrando as estruturas
de poder vigentes, formularam políticas educacionais questionaram os princípios constitutivos da modernidade: Anísio
Teixeira e Erasmo Pilotto. Aescolha desses educadores se dá em função daquilo que suas práticas discursivas têm de
diferenciado no olhar para a educação em relação a seus contemporâneos, formulando propostas que, poderíamos
dizer, se aproximam da utopia. Ambos ocuparam postos dentro da estrutura de poder que os possibilitavam interferir
nas políticas públicas educacionais, pensando-as como um cuidado de si e como uma maneira de questionar a lógica
de poder vigente.

Rogério Ivano - UEL


O Corpo Supliciado: dores e horrores da escravidão na literatura (1970-1920)
Em 'Vigiar e punir", Foucault trata do 'corpo supliciado', aquele que sofria os tormentos da dor como forma de punição
pelos crimes cometidos ou atribuidos. Antes que as penalidades recaissem sobre a 'alma', isto é, a subjetividade do
condenado, era o corpo o principal alvo dos castigos. Marcados pelos horrores do suplício, o sujeito castigado era
estigmatizado pelas cicatrizes e ausências (de membros, de valores, de razão). No Brasil de décadas antes e após a
abolição da escravidão negra, o suplício dos escravos mostrou-se ora como barbarismo arcaico, medieval, ora como
atavismo de uma sociedade escravocrata. Em exemplos literários do período, romances e contos, o corpo supliciado é
tanto o espetáculo de uma justiça privada e infame, como também a parte da sociedade mortificada pela cultura
escravista. Buscar a imagem do corpo supliciado na literatura brasileira é historicizar práticas de poder que não preten-
deram apenas arrancar a força de trabalho e as dores do escravo, mas exercitar ferozmente o exercício da autoridade,
da violência e do olhar.

Pablo Henrique Spíndola Tôrres - UNICAMP


A historicização do panóptico foucaultiano
Esse artigo se propõe fazer um levantamento biográfico do momento em que Michel Foucault escreve sobre a estrutu-
ra do Panóptico, estabelecendo uma outra interpretação do projeto arquitetural de Jeremy Bentham. Nosso objetivo é
perceber em que universo temporal estava inserido Foucault que fomentou sua interpretação do projeto arquitetural de
Bentham, denominado de Panóptico, onde a observação continua serviria de disciplina. Foucault alarga esse modelo
á sociedade como um todo na forma de 'docilização dos corpos": onde á busca da disciplina é. uma espécie de herança
das instituições criadas com a ascensão da sociedade burguesa, e a mesma opta por um modelo que vai imbuir-se da
vigilância constante para adequação e estabelecimento de outras relações de poder. Oassunto permite á historiografia
um debate multifacetado sobre um tema inserido na militância política do próprio Foucault, problematizando a socieda-
de moderna construída dentro do estabelecimento da razão vigilante. O conceito do Panóptico instrumentaliza uma
melhor percepção do funcionamento da sociedade e suas instituíções, sendo esta análise uma possibilidade de preen-
cher algumas lacunas historiográficas, pois privilegia temas como temporal idade e espacial idade, discussões presen-
tes nos debates mais contemporâneos.

Viviane Trindade Borges - UFRGS


A vida como obra: o cuidado de si na trajetóría de dois personagens tidos como loucos
Neste breve estudo objetivo estabelecer uma discussão inicial a respeito de um dos questionamentos que pretendo
aprofundar em minha tese de doutorado. Trata-se da análise de aspectos da vida e da obra de dois personagens tidos
como loucos: Arthur Bispo do Rosário (1909-1989) e Alceu Poeta (1932-1975). Sob a perspectiva foucaultiana do
cuidado de si, busco mostrar que estes personagens recriaram suas trajetórias num verdadeiro processo no qual criar
acarretava transformação, ocorrida através da invenção de um novo modo de existir. Através de decisões éticas e
estéticas moldaram suas vidas através de critérios próprios. Neste sentido,suas obras podem ser percebidas como
técnicas de subjetivação.

164
Thiago Fernando Sant'Anna e Silva - UFG
Meninas fabricadas nas escolas: a construção da diferença sexual na cidade de Goiás do século XIX
Propomos expor um caminho de interpretação da construção dos 'gêneros" nas práticas de escolarização das meninas
na Cidade de Goiás no século XIX. Tomadas como objeto histórico, problematizaremos algumas 'superfícies discursi-
vas' como uma fotografia de uma professora com alunos e alunas e fragmentos da legislação goiana da época. Para
tal, utilizaremos um arcabouço teórico-metodológico pautado em categorias construidas no interior dos Estudos Femi-
nistas e de Gênero e em procedimentos de interpretação proporcionados pelo filófoso-historiador Michel Foucault. Os
'encontros' entre feminismos e Foucault têm se revelado profícuos na elaboração de instrumentais de análise hístórica
por criticar o discurso científico enquanto capaz de produzir um conhecimento com base na coincidência entre pala-
vras e coisas, denunciar os limites do sujeito universal e das metanarrativas e, por meio do método da desconstrução,
revelar o processo artificial de 'fabricação' dos gêneros.

Alice Mitika Koshiyama - USP


Intelectuais feministas na imprensa brasileira
Foucault nos desafia a repensar a história que contamos e que lemos nos manuais dominantes sobre a históría da
imprensa no Brasil, que mal mencionam a presença de mulheres na imprensa (cf.: NW.Sodré. A história da imprensa
no Brasil). No entanto, elas estiveram presentes na luta pela ampliação dos direitos de cidadania desde o século XIX.
A partir de 1970 foram os movimentos feministas e suas repercussões na vida acadêmica que permitiram escrever
novas narrativas, novas problemáticas e explicações sobre a vida quotidiana e a imprensa (cf.: A.M. Koshiyama.
Mulheres jornalistas na história da imprensa brasileira). Já encontramos algumas revisões que expuseram o discurso
do poder com suas omissões, mitificações, e distorções, principalmente dissertações e teses. Atualmente, consolida-
se a possibilidade de um novo olhar que organiza um novo campo de estudo sobre jornalismo e mulheres, como
personagens da história do jornalismo no Brasil nas últimas décadas, a partir da perspectiva do feminismo. Destaca-
mos alguns trabalhos desenvolvídos como dissertaçoes ou teses de doutorado sob nossa orientação, comprovando a
carência de estudos mais detalhados.

I 17/07 - Terça-feira - Tarde (14h ás 18h)

Luana Saturnino Tvardovskas - Unicamp


A arte de Fernanda Magalhães - reflexões sobre obesidade, poder médico e subjetividade na cultura contem-
porânea
Inspirada pelas reflexões de Míchel Foucault a respeito do corpo e das normatizações que recaem sobre este, apre-
sentarei aqui a produção da artista visuallondrinense Fernanda Magalhães (1962). Em suas obras a artista promove
deslocamentos e mutações do olhar ao colocar em evidência os corpos gordos. Sua postura artística e política deixam
entrever um compromisso étíco com o presente, uma crítica contundente ás imposições de normas de beleza e de
saúde que estão arraigadas aos regimes de verdade de nosso tempo. Pensar as obras de Magalhães acompanhados
por Foucault permite, assim, compreender as potências criativas e rupturas no pensamento promovidas pela artista.
Seus trabalhos possuem alto rigor formal e são instigantes no que concerne á problematização das relações entre
corpo, mulher e cultura na atualidade. Através dos estudos de Foucault sobre a medicalização da sociedade pôde-se
desconstruir as práticas discursivas cindidas entre nomnal e patológico, saúde e doença, etc. A arte contemporânea
®
21
volta-se para estas questões adentrando o imaginário médico hospitalar, as doenças e as cirurgias e põe em cheque
um espaço antes protegido, discutindo o papel político dos saberes e poderes médicos sobre os corpos e as subjetivi-
dades na atualidade.

Vivian da Silva Paulitsch - Unicamp


Um novo olhar para a pintura de Weingartner
Nesta proposta de comunicação concemando o Simpósio Temático: Foucault, mutações do olhar, partiremos da pre-
missa de sua conferência intitulada 'La peinture de Manet'.Para assim, através de suas reflexões sobre a píntura,
buscar uma nova modalidade de olhar na obra de Pedro Weingartner (Porto Alegre-RS, Brasil, 1853-1929) com os co
tripticos 'Chez la faiseuse d'anges' , Roma, 1908 e 'As três fases da vida', Roma, 1919.Tentaremos nos apropríar ~
deste olhar fertil de Foucault e sua vontade de construir, a pintura como algo que procede da organização estabelecida -i5
pelo artista do 'visível e invisivel'.

Beatriz Scigliano Carneiro - PUC-SP


Arte como prática de liberdade: estudos de casos
A maneira com que Foucault lida com as obras de arte em seus trabalhos fornece indicações não só para analisá-Ias, :5
mas principalmente para se perceber as análises que a própria arte, obra e artista fazem. Por exemplo, a descrição do ~
quadro As Meninas de Velásquez na abertura de As Palavras e Coisas situa o leitor no centro da problemática tratada. c!:

165
Na composição do quadro estão condensadas relações de força que atravessam o restante do livro. Tal descrição traz
logo de inicio uma materialidade sensorial para além das palavras e das relações de significado. Ao mesmo tempo,
enseja um modo de ler em que não apenas as imagens devem ser alvo de atenção, mas principalmente a relação entre
elementos diversos. Foucault situa a arte como um saber, atravessada por relações de força, mas ela mesma forte o
suficiente para fazer parte ativa dos combates que a cercam e a constituem. A vida de alguém pode ser uma obra de
arte, reitera Foucault. Fazer arte, assim como pesquisar e pensar, só têm sentido se impulsionam para uma estética da
existência e transformam a vida. A partir da problematização das relações de poder e força, nas quais a arte pode
funcionar como arma sob a perspectiva da liberação, propõe-se aqui apresentar algumas sugestões de abordagem e
exemplos da atividade artistica.

Maria Rita de Assis César - UFPA


A (des)educação do corpo ou o pequeno desfile dos corpos contemporâneos e seus lugares da transgressão
Após várias décadas de historização, desnaturalização e descontrução os significados que rondam as possibilidades
de ocupar e ocupar-se de um corpo, são questões contemporâneas fundamentais. Em se tratando das nossas práticas
e saberes contemporâneos sobre o corpo, o que significa transgredir o corpo ou com o corpo? Em um mundo comple-
tamente territorializado por práticas e saberes que produzem controle de corpos, ainda há espaço para fugir ao contro-
le? Esse texto pretende explorar alguns lugares epistemológicos por meio dos quais as interrogações sobre o corpo
foram tornadas possíveis. Para tanto, aborda os conceitos de disciplina e vida em Michel Foucault, centrais para se
pensar o lugar do corpo na modernidade e, partir daí, as algumas possibilidades de transgressões no mundo contem-
porâneo, inspirada pelo "corpo sem órgãos' de Gilles Deleuze. A partir de uma reflexão sobre os novos territórios da
subjetividade, este texto procura abordar os significados do corpo e da transgressão. Nesse momento, realizarei uma
análise da obra de duas artistas contemporâneas, a francesa Orlan, criadora da carnal art e a brasileira Fernanda
Magalhães, criadora de uma obra/instalação sobre as classificações científicas da obesidade, além de uma leitura da
personagem "Agrado" de P. Almodóvar.

Norma Abreu Telles


A escrita como prática de si
Foucault se preocupa com a constituição do sujeito, com os jogos entre o verdadeiro e o falso através dos quais o ser
se constitui historicamente como experiência. O indivíduo não é dado, mas o sujeito se forma em práticas reais e
históricas. Reler a literatura, de mulheres e homens, no oitocentos nos ensinou que embora as opressões possam ser
invisíveis como o ar (Gilbert: 1985), elas estão presentes como o ar que respiramos e imperceptivelmente modelam as
formas e movimentos da vida. Esta apresentação se constrói em torno da noção de práticas de si e move-se para a
exploração de algumas linhas que a partir delas surgem, especialmente em relação à prática da escritura que pode nos
mostrar ser preciso inventar modos de existência capazes de resistir ao poder e, ao mesmo tempo, se furtar ao saber
meio ao qual se vive para deles se apropriar buscando novas possibilidades, pois, estas não cessam de se recriar,
como lembra Deleuze ao falar de Foucault cujo trabalho nunca cessou de tentar compreender a fronteira entre o visível
e o invisível para descobrir o invisível do visivel.

Ana Carolina Arruda de Toledo Murgel- Unicamp


"Nada no bolso ou nas mâos": contracultura e estética da existência no Brasil dos anos 1960 e 70
Este artigo discute algumas questões levantadas por Foucault sobre identidade e subjetividade, com o intuito de
pensar a poesia e a música tropicalista e pós-tropicalista, no Brasil dos anos 1960 e 70. Naqueles anos, para parte da
juventude brasileira, a palavra de ordem era 'dizer não ao não", quebrar tabus e questionar o poder estabelecido com
o intuito de criar uma revolução comportamental que partiria do individuo. Através de um olhar para as produções
artísticas de alguns autores desse tempo que se referenciaram pela contracultura como Caetano Veloso, Gilberto Gil,
Rita Lee, Jards Macalé, Capinan, Waly Salomão, Jorge Mautner, Alice Ruiz, Paulo Leminski e Torquato Neto, entre
outros, indago se criaram para si uma estética da existência da forma conceituada pelo filósofo francês.

Daniel Canecchio • USP


O som e as formas: As racionalidades do século XX e a História da Música sob o olhar de Foucault
A partir dos apontamentos feitos por Foucault sobre música, principalmente sobre o trabalho de Pierre Boulez, preten-
de-se cartografar uma linha estética desde o pensamento do compositor austriaco Arnold Schoenberg até o do compo-
sitor francês Pierre Boulez por meio dos escritos de diversos compositores contemporâneos. Busca-se, assim, uma
análise da forma musical como um campo da história da racionalidade. Apesar de ter como objeto de estudo a música
presente no pensamento de um grupo de compositores, não pretendemos realizar um estudo de musicologia, de
simples história da música ou apenas uma análise musical. Tenta-se, a partir de um estudo genealógico da história da
música, realizar apontamentos sobre as conexões entre o pensamento desses compositores e as importantes revolu-
ções do pensamento no século XX, mais precisamente as presentes na obra de Michel Foucault. Como o próprio
Foucault reconheceu, muitas de suas idéias sobre as relações de poder, saber e sujeito estão presentes nas discus-

166
sões sobre forma travadas na música do século XX. O estudo comparativo entre Foucault e a história da música pode,
em um movimento duplo, jogar uma nova luz sobre as formas de racionalidade do século XX e contribuir com novas
maneiras de abordagem sobre as obras de Michel Foucault.

I 18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h) I


Luzia Margareth Rago - UNICAMP
Práticas feministas em novos modos de subjetivação
Nesta comunicação, procuro perceber os efeitos produzidos pela irrupção do feminino na cultura, nos últimos 40 anos,
tendo como foco privilegiado de observação e análise as experiências de invenção subjetiva e da inserção política de
algumas mulheres brasileiras, hoje entre 50 e 60 anos. Jovens estudantes ou universitárias, no final dos anos sessen-
ta, romperam com os padrões tradicionais de conduta impostos às mulheres, com os valores e códigos morais estabe-
lecidos, questionando o regime de verdades de sua época, à direita e à esquerda. Trilharam caminhos próprios, novos,
dissidentes, dissonantes, abertos com trabalho árduo e com as sofisticadas ferramentas das desbravadoras.

Clementino Nogueira de Sousa - Unemat-MT


Entre o escritória Bar e o Bar Colorido: subjetvidade e pratica de si das figuras feminina e masculina na cidade
Cuiabá·MT
O texto "Nietzsche, genealogia e a história" de Foucault inspirou-me a tramar dois acontecimentos discursivos: o
primeiro ocorreu em agosto de 2003 em que alguns jornais veicularam a seguinte notícia: Secretaria de Meio ambiente
e a Policia militar fecharam pela terceira vez o prostíbulo "Escritório Bar" no centro histórico da cidade Cuiabá-MT. O
segundo, em junho de 1946, nessa mesma espacialidade, o assassinato da meretriz Sebastiana, na porta do bordel
Bar Colorido. O objetivo em conectar esses dois eventos não é para traçar uma linha de continuidade entre os mes-
mos, mas ao contrário, reencontrar diferentes cenas onde elas desempenharam papéis diferentes.Assim cada notícia
policial, cada processo de tentativa de homicídio, de homícídio, estupro e defloramento ressurgirá como um aconteci-
mento único, singular, carregado de experimentações e desterritorializações, forjadas nas experiências de vida dessas
figuras ordinárias que constituíram e constituem através de suas práticas desejantes uma cartografia sentimental do
desejo na cidade de Cuiabá.

Edson Passetti - PUC·SP


Anarquismo contemporâneo: uma história de sentenças de morte e vital permanência
O olhar da genealogia do poder para as manifestações atuais dos anarquismos. Problematização sobre as convales-
cenças e as resistências ativas.

Priscila Piazentini Vieira - UNICAMP


A história como guerra: Michel Foucault e os diagramas de Vigiar e Punir
Tentarei perceber como a maneira de Michel Foucault escrever a história, a genealogia, tem como modelo a guerra.
Desse modo, ao entender que a história só pode ser vista através de relações de dominação violentas e sangrentas, e
não de acordos ou contratos, Foucault produz transformações e deslocamentos importantes na produção do conheci-
mento histórico. O meu objetivo será destacar como essas mudanças aparecem em uma obra específica do filósofo,
®
21
Vigiar e Punir, principalmente a partir das instabilidades que compõem a sociedade disciplinar.

Magda Maria Jaolino Torres -IFCS • UFRJ


O teatro jesuítico da missão: mutações do olhar
Meu estudo insere-se numa perspectiva de análise que vem propondo ao trabalho do historiador novos pressupostos,
um olhar questionador que sem pretender criar novos paradigmas de valência universal para aprisionar a História, nela
está mergulhada para, no seu próprio elemento, formular novos objetos e novas perspectivas. Foi deste modo que
visei construir o meu objeto, as práticas discursivas jesuíticas, entre as quais, o teatro jesuítico da missão no Brasil da
segunda metade do século XVI, quando este irrompe e configura-se em seus modos próprios de vir a ser. Reconheço Cõ
minha dívida com Foucault assumindo que esta é a voz que me precede. Nos limites impostos á exposição, centro '5
minhas considerações a aspectos preliminares da construção de meu objeto, particularmente ao que chamo de teatro .g
jesuítico da missão. Proponho a possibilidade e necessidade de liberá-lo da comum identificação de "teatro de Anchi- ~
eta' e de substantivá-Io como um teatro, sem metáforas, frente a tantos estudos que o omitem ou desconsideram-no, .~.
por reputá-lo como não-teatro, como se a adjetivação "de colégio" ou catequético fizessem dele outra coisa que não -5
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fosse um absoluto "O teatro'. E


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167
Diva do Couto Gontijo Muniz - UnS
As marcas de Foucault na Historiografia: a produção do Programa de Pós-graduação em História da UnS
Busca-se fazer um balanço crítico da produção do PPGHis/UnB, atentando para o efeito Foucault na forma de se
pensar a História nesse espaço. No conjunto de 248 dissertações e 75 teses produzidas no período de 1976 a 2006 é
visível a contribuição do filósofo, um dos 10 autores mais citados nos trabalhos analisados. Aquela se explicita nos
deslocamentos operados, como a apropriação das noções de poder, de disciplina da micro-política, de normatização
das condutas, e aínda na ampliação temática, com estudos sobre os excluídos, sistemas de reclusão e medicalização,
prostituíção, mulheres, corpo, gênero, sexualidade, etc. Se é inegável sua contribuição nas "mutações de olhar' pro-
cessadas, trata-se, todavia, de uma mudança problemática porque feita por partes, já que apenas incorpora algumas
~oções na narrativa convencional, informada por modelos macro de interpretação. Excetuando-se alguns trabalhos da
Area de Estudos Feministas, que priorizam as descontinuidades, a inversão das evidências, o entrecruzamento de
séries, predomina uma história pensada sob a lógica globalizante, das continuidades e do sujeito centrado. Mal 'deci-
frado', Foucault teria sido 'devorado' pela história dos historiadores, justamente a história que ele tão ousadamente
questionou e desestabilizou?

Susel Oliveira da Rosa - Unicamp


Corpo torturado e escrita de si: o suplício de Manoel Raimundo Soares
Escrever é mostrar-se, dar-se a ver ao outro, diz Michel Foucault. Nesse sentido a escrita de si comporta uma presença
quase física de quem é lido. Analisar as cartas que o ex-sargento do Exército nacional - Manoel Raimundo Soares -
assassinado pelos agentes da repressão no ano de 1966 em Porto Alegre, escreveu a sua esposa quando estava na
prisão é o objetivo desse artigo. Depois de passar pelo DOPS, torturado e exausto, Manoel foi encaminhado a Ilha
Presídio (local para onde foram conduzidos inúmeros presos políticos durante a ditadura militar em Porto Alegre).
Ainda sentia-se vivo - apesar da sensação de destruição e abandono, do corpo torturado e roubado ao seu próprio
controle - para buscar na memória lembranças boas de outrora que o ajudassem a atenuar a dor. Escreveu, então,
inúmeras cartas para sua esposa, atribuindo um 'olhar possível" (Foucault) ao que viveu e pensou.

I 19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h às 16h30min) I


Olivia Lobo Goulart - PUC-SP
Atualizações de fascismos na sociedade de controle
Analisar a racionalidade do orkut ponto com, a partir de noções elaboradas por Michel Foucault acerca das técnicas de
poder, práticas biopolíticas e seus efeitos normalizadores, demarcando a atualização de assujeitamentos e submis-
sões, que fazem proliferar infimas e colossais práticas fascistas na atual sociedade de controle, intensificando e dissi-
pando tiranias.

Salete Magda de Oliveira - PUC-SP


Efeitos de contenção da vida de jovens, anarquia e dissonâncias abolicionistas
Para que servem os conceitos de qualidade de vida e vulnerabilidade social arregimentados, na atualização da preven-
ção geral, pelo discurso do combate à violência e à impunidade? A denominação atual do termo vulnerabilidade apare-
ce justificada como forma adequada à sua associação com qualidade de vida, mas não só, é entre os jovens que este
discurso vem encontrar o caso do vulnerável exemplar, promovendo conexões entre diversos saberes científicos que
refazem a defesa da ordem no combate à transgressão. Investe-se, assim na formação de jovens que apreciem ver e
ter suas vidas governadas. Sejam eles os covardes obedientes de antemão, sejam eles a expressão da tirania deriva-
da da obediência com sinal trocado. A vinculação de problema e projeção do perigo resultou, no século XIX, na
construção do conceito de criminoso como variação adjetiva para qualificar a figura do monstro que assumia o equiva-
lente a ser extirpado pela politica de prevenção, como mostrou Michel Foucault. O anarquista foi seu alvo exemplar, o
incorrigível, o indisciplinado, o desobediente, correlato à criança indócil. Era preciso defender a sociedade deste mons-
tro moral e político. A vitalidade anarquista habita em explicitar a urgência da vida livre de governo superior, ou ainda,
a vida liberada de ser governada.

Marilda lonta - UFV


Das cartas aos emails
As formas de escrever correspondem a estilo de vida e formas de existência. Oobjetivo desse texto é refletir, a partir do
conceito de escrita de si de Michel Foucault e de exemplo de troca epistolar dos anos 1920/30, algumas características
desse tipo de escritura que revelam formas de subjetividades e estilo de existência própria de uma época. A prática de
escrever cartas, por exemplo, é hoje uma arte em extinção, que alude as sendas abertas entre nossa atualidade e um
passado recente. A ausência da prática epistolar entre nós leva-nos a pensar o que não somos mais ou que estamos
em via de nos diferenciar. A partir dessa prática simples, cotidiana, busca-se problematizar a relação do historiador

168
com o passado e com a atualidade. Nesse sentido, compreende-se a história como uma ferramenta que possibilita
demarcar tudo aquilo que nos delimita, que nós singulariza e dispersa nossa identidade. Assim, como enfatizou Michel
Foucault a história não revela aquilo que somos mas ela indica o que nós já não somos mais, ou estamos em vias de
nos tornar.

Acácio Augusto Sebastião Júnior


A atitude anarquista como ofensiva dispersa e descontínua
Na aula que abre o curso "Em defesa da Sociedade', Michel Foucault, ao situar o interesse e o alvo de sua genealogia
do poder, se refere a 'dois fenõmenos" que se caracterizaram por 'uma eficácia das ofensivas dispersas e descontínu-
as'. Foucault aponta para o caráter local que assume a crítica, aproximando-se da temática anarquista; e ao que
denomina de insurreição dos saberes sujeitados, que tratam de 'conteúdos históricos que foram sepultados, massa-
crados em coerências funcionais ou em sistematizações formais'. Trata-se de uma instigante referência para pensar a
atuação dos anarquistas na conternporaneidade, na mediada que essa insurgência está localizada por Foucault entre
as décadas de 1960 e 1970, cabe perguntar, no que concerne á temática anarquista e sua oposição á prisão e ao
Direito moderno, qual a eficácia de suas ofensivas dispersas e descontínuas hoje. Para isso, recorre-se a atuação dos
anarquistas hoje e á história de suas lutas, na medida em que 'só os conteúdos históricos podem permitir encontrar a
clivagem dos confrontos, das lutas que as organizações funcionais ou sistemáticas têm por objetivo mascarar".

Cláudia Maia - Unimontes/UnB


Michel Foucault e a pesquisa históríca feminista
O trabalho tem por objetivo discutir algumas contribuições de Foucault para a pesquisa histórica feminista e para os
estudos de gênero, destacando principalmente a noção de sujeito constituinte e de dispositivo da sexualidade. propõem
a partir de textos que se tornaram referência para os estudos gênero fazer algumas aproximações com teóricas feministas
como Tereza de Lauretis e Judith Butler, entendendo, assim, que se o sujeito é constituido social e historicamente, o
gênero é um dos aparatos utilizados nesse processo, pois, ele é igualmente constituido como masculino ou feminino.

I 20107 - Sexta-feira - Manhã (10h30min ás 12h30min)


Alexandre Giovani da Costa Schiavoni - Feevale
O anarquismo de Foucault
Nesta comunicação explorarei o diálogo de Foucault e seu pensamento com o anarquismo. Não creio esta relação
tenha se constituido por filiação direta nem como desdobramento lógico ainda que se lhe tenha, em outro momento,
enquadrado nesta corrente. Em que pese a existência de semelhanças de temas e de problemas em comum emerge
uma série de dificuldades quando aproximamos ambos pensamentos. É possivel identificar algum tipo de anarquismo
em Foucault? Como isto se dá? O que resta do anarquismo - nas formas e variantes que conhecemos - quando
confrontado com as análises de Foucault? Será que Foucault inaugura um neo-anarquismo? Quais as especificidades
dessa invenção?

Lúcia Soares da Silva - PUC·SP


Mutações da Sociedade de Soberania
®
21
O Disque-Denúncia foi criado em 2000, exerce a função de ferramenta de controle com incentivo á participação pela
prática da denúncia e canalização do fluxo de informações referente á ocorrência de atos infracionais. A denúncia
como um mecanismo de controle não surgiu recentemente. Ela é um dispositivo que remonta a mentalidade policial da
sociedade soberana do século XVIII, na França com as "Iellres- de- cachet', como muito bem analisou FOUCAULT
(1996). Segundo FOUCAULT, a lellre-de-cachet era uma ordem do rei que poderia ser reivindicada não apenas por ele,
mas por qualquer pessoa que julgasse necessário fazer tal pedido, sendo usada para sujeitar outra a se submeter a
algum evento. Geralmente utilizava-se a lellre-de-cachet, como um mecanismo punitivo, pois seu objetivo era morali-
zar os desvios de conduta.

Maria Clara Pivato Biajoli - Unicamp


Memórias e subjetividades: estéticas da existência em autobiografias de militantes anarco·feministas
Pretendo problematizar a relação entre memória e construção de si presente nas autobiografias escritas, nas décadas ~

~~~:~~n~~~;~'de°~Tc~:~~~su~ea~:~~~~oe,~~f:~~s~~ ~i~t~~~ii~!P:~~~J:d~~~rr:i'c~~~ ~~~~~~~! 1i~~~~~;I~ ~~~ 'S'


renovam o olhar voltado para análises do discurso de memória, e permitem pensar nas maneiras através das quais
esses discursos, especificamente os aqui estudados, são construídos, como são atravessados por questões comple-
xas que vão desde a militância política, a propaganda e a própria sobrevivência social no decorrer das décadas após
--
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o fim do conflito espanhol. ~

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João Paulo Cordeiro Reis - UFRJ
Etno-grafando: a antropologia como prática discursiva
O objetivo deste trabalho é refletir sobre dois aspectos considerados centrais para o saber e o fazer antropológicos: o
trabalho de campo e a escrita monográfica. A partir das considerações de Foucault sobre subjetividade e poder, preten-
de-se problematizar as relações entre o pesquisador e seu 'objeto" de estudo, discutindo noções como pertencimento,
distanciamento e interação. Num segundo momento, busca-se refletir sobre a etnografia como prática discursiva de
um sujeito conhecedor sobre um "objeto" conhecido. O exercício antropológico é encarado como mediação entre dois
universos conceituais distintos: o do pesquisador e o do grupo estudado.

I 20107 - Sexta-feira - Tarde (14h ás 18h) I


Haroldo de Resende - UFU
O conceito de sistema carcerário no pensamento de Michel Foucault: algumas considerações
Trata-se do conceito de sistema carcerário em Michel Foucault a partir de suas análises sobre a dispersão de técnicas
disciplinares por toda a sociedade, fazendo funcionar uma rede de vigilância, controle e punição. Em uma palavra, é o
carcerário. É a migração dos dispositivos penais para todo o corpo social, provocando a difusão do instrumental
técnico da instituição prisão pela sociedade, produzindo determinados efeitos que estabelecem a formação de uma
rede, cujas ligações agrupam dispositivos disciplinares, configurando assim tal sistema em seu vivo e pleno modo de
materialização. Ao desenvolver o conceito de carcerário Foucault desloca a noção de sistema penitenciário do ambien-
te puramente prisional para a sociedade inteira, mostrando que tal conceito e suas relações não pertencem estritamen-
te ao campo jurídico-penal, propriamente dito, mas é algo que se generaliza, espraiando-se por todas as relações
sociais. A onipresença dos mecanismos disciplinares na sociedade garante o reinado do carcerário, permitindo com-
preender que a instituição prisão não se limita a muros e grades, mas está arraigada em nós, fazendo-nos exercer o
poder normalizador realizando, a cada dia, um pouco do carcerário.

Leandro Mendanha e Silva - UnS


Intersticios do poder entre a arqueologia e a genealogia
Existe um deslocamento importante na trajetória de Foucault no inicio da década de 70. A partir disso, pretende-se
apontar o que certos ditos e escritos entre 1970 e 1974 podem nos contar sobre essa mutação. Existe uma preocupa-
ção cada vez maior com as questões que envolvem a prisão, essa instituição signo do vigiar. Pois, para o Foucault,
importa saber o que nos ameaça, para saber como nos defendermos. O que o preocupa é que o sistema não oferece
meios de formular e organizar o pensamento sobre a angústia de estar continuamente sobre controle. No período
estudado estão implicadas questões que concernem aos sistemas de exclusão com seus corolários teóricos: recusa
qo reformisrno, preocupação com a transgressão da lei, com a repressão da ilegalidade e com a função do intelectual.
Epoca em que o trabalho do arqueólogo encontra muitas dúvidas que requerem o genealogista para serem mais bem
formuladas: Qual o estatuto enigmático do poder que é visível e invisível, presente e escondido e ínvestido em toda
parte? Essa, entre outras tantas perguntas sobre as relações de poder são fomnuladas nesse interstício entre a arque-
ologia e a genealogia. Em suma, entre 1970 e 1974, Foucault está transitando de uma idéia de poder que reprime para
uma idéia de poder que também produz.

José Carlos Leite - UFMT


Corpo, espaço e poder
O objetivo é explorar conceitos formulados por Foucault e relacioná-los a achados empíricos de projetos de pesquisa
no Vale Guaporé, em Mato Grosso. Os conceitos são disciplina, tecnologia do poder, biopoder, biopolítica, cunhados
por Foucault em diversas obras. O foco da análise incidirá sobre a biopolítica. Por este conceito Foucault designou o
modo como o poder se transformou, do séc. XVIII ao XIX, com vistas a governar não somente os indivíduos através de
um certo número de disciplinas, mas o conjunto daqueles - a população. Este conceito ganhou melhor contorno nos
anos de 75-6 quando Foucault tratou das metamorfoses operadas no direito político nos séc. XVIII e XIX; qual seja, a
passagem do direito de soberania ('o de fazer morrer e deixar viver") para o novo direito ('o de fazer viver e deixar
morrer"). A instauração do novo direito coincide com a emergência da doutrina do liberalismo econômico. Com tal
emergência, o biológico não constitui só um meio de pressão sobre a vida, mas 'um instrumento de poder a serviço do
político" .Os conceitos referidos têm contribuido para compreender processos de ocupação da terra e (re)distribuição
espacial da população seja pela mão invisivel do mercado, seja pelo braço explícito do Estado, na região referida, nas
últimas quatro décadas.

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Haroldo Gomes da Silva
A história social e a tecedura da fábula do trabalho no Brasil
A maioria dos estudos historiográficos realizados no Brasil sobre o tema do trabalho se agrupam no campo da história
social. Os trabalhos pioneiros foram realizados por sociólogos e remontam á década de 60, tratando principalmente da
trajetória do movimento operário, Trabalhos mais recentes incluem temas diversos: história do movimento operário e o
controle social nas fábricas e fora delas, o processo histórico de construção de uma identidade operária, Narra-se um
sujeito, seja o trabalhador ou suas formas de luta e de organização, registra-se a luta de uma classe (trabalhadora)
contra outra (burguesia) e, ao fazer isso, reproduz-se a noção de que o trabalho é central na sociedade, na política, na
vida de todos. Nessa perspectiva não se questiona como o trabalho foi historicamente construído no Brasil como um
enunciado que fundamenta a sociedade, que referencia as pessoas num tempo em que tudo é feito para torná-lo raro.
Ou seja, a história social, ao urdir os fios que tecem a fábula do trabalho no país acaba proclamando a vitória do capital
sobre uma humanidade subjugada de trabalhadores que não são mais, e que não podem ser, outra coisa, quando se
trata de quebrar a capacidade do trabalho de homogeneizar tudo o que não é com ele.

Maria Clarice Rodrigues de Souza - UFU


A violência contra mulheres legitimada pelas práticas sociais e culturais Montes Claros 1985-2006
A violência é um termo de múltiplos significados, e vem sendo utilizado para nomear desde as formas mais cruéis de
tortura até as práticas mais sutis de violência que tem lugar no cotidiano da sociedade. No presente trabalho, na
perspectiva do gênero, discutimos a violência contra as mulheres, perpetrada pelos homens e amparada por toda uma
sociedade patriarcal, o que a torna uma das mais invisíveis e menos reconhecidas do mundo. Como método de
pesquisa trabalhamos com a História Oral, que se tomou de extrema importância aos estudos dos historiadores pela
construção da memória daqueles que historicamente foram marginalizados pela nossa sociedade. Gostaríamos de
trazer ao debate a face oculta dessa violência muitas vezes não vista pelo fato de ser institucionalizada socialmente,
mostrando situações cotidianas onde a definição do paradigma feminino coloca a mulher como alvo da arbitrariedade
do sexo oposto.

Rafaella Sudário Ribeiro Franco - UnB


Fora da vida: as imagens das experiências das mulheres da família Fleury Godoy na passagem do século XIX
para o XX
A análise das imagens nos mostram que somos efeitos das praticas sociais e que quem escreve, escreve com suas
condições de produção; com as imagens enxergamos as representações sociais de mundos fragmentados e percebe-
mos um imaginário dentro de um recorte de tempo. As imagens das experiências das mulheres em suas crônicas,
contos poemas traz a leitura de mundo; a leitura da passagem do século XIX para o XX, e suas primeiras décadas.
Duas gerações de mulheres permitindo a interpretação histórica com outros olhares e novas possibilidades. Dar visibi-
lidade às mulheres, como Augusta Faro e suas filhas Maria Paula e Nita, mesmo com suas condições de produção se
libertaram da fomna como conseguiram, lutaram com as armas que tinham em mãos. Não pensem mal dessas mulhe-
res, as ouçam primeiro e vejam mais do que o texto possa dizer. Fazendo uma leitura das obras destas mulheres
percebe-se momentos de reiteração, performatividade do gênero e também momentos de descontinuidades. Mulheres
que fizeram politica, às vezes com a limitação do espaço fisico da casa, mas é valido considerar o privado como
político e fugir do binarismo que é produzido nas Representações Sociais, de que o espaço público é político, que o ~
homem pertence a esse o espaço da cultura e as mulheres restam o privado. @
Reginaldo Junior Fernandes
O Estado e a norma: sobre a governamentabilidade em Michel Foucault
Este estudo tem por objetivo abordar a temática da 'arte de governar" em Michel Foucault, constante no último capitulo
de Microfísica do Poder, onde discorreu sobre os problemas da relação entre o Estado e a população, o que denomi-
nou "governamentabilidade", Ao modo de governo predominante na estrutura feudal, fundado sobretudo na figura do
Rei, identificado com o conjunto dos súditos, sucedeu um processo de concentração estatal, dando origem aos gran-
des Estados territoriais, administrativos, coloniais, e com ele, novas estratégias de poder do Estado, denominadas por
Foucault de biopoderes. A governamentabilidade materializa-se, a partir do século XVIII, no conjunto de instituições, ro
procedimentos, análises e táticas cujo objetivo é 'administrar" a população, tendo por saber a economia política e por '6
instrumentos os dispositivos de segurança, enquanto modalidades de disciplinarização e produção das normas, o .g
elemento que atravessa as relações societárias.

171
22. Gênero, Memória e Ditadura na América Latina
Cristina Scheibe Wolff (UFSC) e Ana Maria Colling (UNIJuíl UNILASALLE)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h às 18h) I
Fernanda Gil Lozano - Universidad de Buenos Aires
Construcción de identidades de Género bajo la represión
Las dictaduras de los anos 70 en los países de América dei sur presentan ciertas particularidades con respecto a las
construcciones genéricas. En primer término, porque la represión política tuvo poca diferenciación en lo relativo a uno
y otro sexo. Hubo gran número de mujeres exiliadas, presas y detenidas - desaparecidas. Desde fines de los anos 50
las mujeres latinoamericanas comenzaron a ocupar un espacio creciente dentro de las organizaciones sociales y
políticas en sus màs variadas expresiones desde organizaciones populares de control dei abastecimiento hasta ser
cuadros militares en la lucha armada. Una lectura rápida podria lIevar a pensar en la trasgresión y castigo posterior de
estas mujeres por parte de sectores conservadores amparados en la doctrina de seguridad nacional, criterios católicos
y de los grupos de derecha en general. Me parece interesante indagar en los consensos que estos conceptos retrógra-
dos tuvieron en los grupos progresistas y revolucionarios durante los mismos anos. Esta puede ser una lIave para
com prender el trato tan brutal que tuvieron las mujeres, que se animaron ai protagonismo social, ai punto de provocar
una redefinición por parte de los represores. De ahí que muchas madres fueran increpadas "por no haber sabido
educar a sus hijos".

Maria Cecília Conte Carboni - PUC-SP


Maria Quitéria - Uma ruptura pela anistia
O objetivo deste projeto é analisar a trajetória do boletim do Movimento Feminino pela Anistia de São Paulo, Maria
Quitéria no período 1997 a 1979. No decorrer de sua publicação o boletim foi dinamizado como um instrumento de
articulação do MFPA em pleno momento de reivindicação de uma lei de anistia para presos e exilados políticos, na
vigência da ditadura militar brasileira, de 1964 até 1988. Sua linha editorial era voltada á aprovação da lei de Anistia,
com a particularidade de apresentar o tema sob a ótica feminina e não feminista. Traia-se de refletir sobre a linha
editorial e a rede de comunicação e ação que o constituía. A proposta consiste em entender toda sua trajetória,
identificar atores e agentes, suas propostas e posições, baseada numa análise detalhada sobre os textos, conteúdo
editorial e gráfico, diálogo com outros jornais de pequena imprensa ,alternativos ou da grande imprensa e a tônica dos
discursos, quem eram os profissionais envolvidos e como era o circuito de venda do jornal. Por se tratar de um foco de
resistência político contra o regime militar até o momento pouco estudado, a pesquisa irá refletir sobre as razões do
engajamento, analisar a natureza de suas propostas e estratégias e as diferentes nuances existente no interior desse
grupo de mulheres.

Andréa Bandeira - Facul de Ciên Hum e Soe. Aplicadas do Cabo de Sto Agostinho
Resistência Cor-de-Rosa-Choque: lutas femininas no período da ditadura militar
(Pernambuco, 1964-1985)
Observa-se um número crível de estudos sobre o período pós-Golpe de 64. Este número cresce á medida da abertura
e exposição dos arquivos ao pesquisador. Mas, esta literatura, normalmente negligencia o papel feminino no sucesso
ou na resistência do/ao Golpe e á ditadura instalada. Isto se deve em parte ás abordagens literária e historiográfica que
apenas recentemente têm valorizado as mulheres na construção e reconstrução da realidade e da História. A proposta
desta pesquisa é oferecer um modelo e uma narrativa que favoreça a observação desse grupo, ás vezes marginaliza-
do, tendo como corte histórico Pernambuco nos anos de 1964 a 1985, e como objetivo estudar as diversas formas de
resistência, paralelamente ás lutas em defesa do Estado Autoritário, de mulheres, praticadas neste lugar e período em
que vigorou o Governo Militar no Brasil. A partir da compreensão do conceito de Gênero, conclui-se que a economia
política do sexo faz parte de sistemas sociais totais, sempre costurados em arranjos econômicos e políticos. Conse-
qüentemente, a partir da análise de Gênero, observa-se a interdependência mútua da sexualidade, da economia e da
politica sem subestimar a total significação de cada uma na sociedade humana, restituindo, dessa forma, sujeitos e
sujeitas omissos das narrativas.

Ana Maria Colling - UNIJUÍI UNILASALLE


Feminismo ou lutas gerais: mulheres e ditadura militar no Brasil
A ditadura militar no Brasil acontecia a contrapelo dos movimentos liberais que varriam o mundo. OAto Institucional nO
5 de 1968, um golpe dentro do golpe, destinava o país às sombras e a escuridão. Se a juventude no mundo inteiro saía
às ruas para reivindicar mais liberdade, aqui se escondia nos "aparelhos" das garras da repressão. A história das
mulheres acompanha este movimento. A revolução em forma de pilula, transformava as mulheres em protagonistas e
senhoras de seu destino. No Brasil era diferente. Cartelas de anticoncepcionais eram exibidas pela polícia de repres-

172
são, no congresso da UNE em Ibiúna, por exemplo, para convencer as familias brasileiras que as jovens militantes ~
eram promiscuas e não militantes políticas. Por outro lado, para a esquerda, que fazia oposição ao regime militar, havia
um inimigo maior a ser combatido, o poder militar. E a contradição que norteava as discussões dos (as) militantes era
®
a que se dava entre a burguesia e o proletariado Adiscussão que envolvia as relações entre homens e mulheres era de
menor importância. Amaioria das mulheres militantes em partidos revolucionários concordava com esta premissa. Isto ..§
reforçava o poder masculino dentro das organizações e atrasava os avanços do movimento feminista. ~
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Cátia Cristina de Almeida Silva - UFMT -O,)

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Memória política: os brasileiros e a resistência à ditadura militar no Chile (1969-1973) <t:
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O exílio, como estratégia utilizada pelo governo militar para afastar a oposição ou como uma oportunidade de sobrevi- c::
vência, embora colocasse fim aos projetos individuais e políticos não anulava a resistência e a continuidade de contes- ~
tação ao regime militar instituído no Brasil em 1964. Vários foram os locais, dentro e fora da América Latina, buscados ]l
por homens e mulheres para exilarem-se. Enquanto no Brasil a repressão comandada pelo governo Médici intensificou i:5
e se especializou nesse período, o Chile, por sua tradição democrática e pelo início do governo socialista de Salvador :
Allende, tornou-se um dos lugares mais seguros e atrativos para os refugiados das ditaduras. A proposta do trabalho é :§
demonstrar a partir da análise das memórias, dos relatos orais e de documentos oficiais dos órgãos de repressão, ~
como foi a experiência do exílio brasileiro de homens e mulheres no Chile entre os anos de 1969 e 1973. A intenção é ~
apresentar os vários papéis assumidos, de sujeitos e agentes da resistência ou mesmo de apoiO àqueles que viviam 2-
na clandestinidade. O resultado tem sido muito interessante e aponta para experiências heterogêneas, evidenciando .~
que mesmo sob a vigilãncia brasileira além-fronteiras, houve participação e integração à vida política, econômica e (.!:J
social chilena.

Maria Cristina de Oliveira Athayde - UFSC


Sexualidade nos tempos de repressão: prazer, corpo no discurso da imprensa de Brasil e Argentina
A década de 60 é o período da explosão do movimento hippie, da contracultura, das passeatas pela paz, queima de
sutiãs, rupturas, quebra de paradigmas. Toda essa efervescência que acontecia em países europeus e norte-america-
nos, no Brasil não teve o mesmo percurso, em decorrência do golpe militar de 1964. Os homens e mulheres brasileiras(os)
canalizaram as suas energias para lutar contra o regime que acabara de se estabelecer. Objetivo nesta comunicação
analisar de que maneira temas relacionados à sexualidade, prazer e corpo foram apropriados e discutidos pelos
movimentos de mulheres e feministas em alguns periódicos no Brasil, Argentina e Chile, no período de 1974 a 1985.
Pretendo neste estudo pensar a sexualidade e a percepção corporal, assim como as questões relacionadas ao prazer,
pelo viés das relações de gênero. A feminista Rose Marie Muraro nos coloca que as brasileiras vivenciaram a sua
sexualidade de maneira diferente das outras mulheres sul-americanas. Esta afirmação me levou a indagar como a
autora podia afirmar que somos mais avançados em relação a vivenciar, experimentar e debater a sexualidade. Essa
é uma das questões que pretendo analisar nesta comunicação.

Roselane Neckel· UFSC


A 'liberação Sexual» em Tempos de Ditadura: uma análise comparativa entre Brasil e Uruguai
Pretendemos apresentar nesta comunicação aspectos dos debates sobre a liberação sexual feminina «, entre 1970 e
1985, presentes nos periódicos feministas brasileiros «Nós Mulheres» (1976-1978) , «Brasil Mulher» (1975-1980),
Mulherio (1981-1988) e no periódico uruguaio «Cotidiano e Mujer» (1985). Com este estudo estamos buscando perce-
ber o que liam, o que discutiam, quais as influências que contribuiram para a divulgação da «revolução sexuab) pelos
feminismos em regimes autoritários. Desta forma, estaremos apresentando através de uma história comparativa como
foram se constituindo os debates feministas em torno da sexualidade em paises que vivenciaram, quase no mesmo
período, ditaduras militares, traçando as especificiadades, os traços comuns e as linhas gerais sobre o que as feministas
liam e discutiam sobre sexualidade nestes países. Neste período um importante conjunto de pesquisas científicas veio
reafirmar « a importância da sexualidade na vida de homens e mulheres)). Estamos nos referindo ao Relatório Kinsey e
Hite. Nesta comunicação nos propomos a apresentar os saberes constituídos sobre a sexualidade feminina e masculina,
buscando identificar as apropriações realizadas das obras da «sexologia moderna)) nos periódicos feministas.

Deusa Maria de Sousa - UFSC


A angústia sem fronteiras· A reconstrução do mundo dos familiares de desaparecidos políticos do Araguaia
(Brasil) e da Argentina: um estudo comparativo
Esta comunicação visa discutir, ainda que preliminarmente, algumas reflexões acerca do tema que permeia a proble-
mática central dessa pesquisa, isto é, o estudo comparativo do processo de reconstrução do mundo e da vida dos
familiares de desaparecidos políticos na Guerrilha do Araguaia (Brasil) e da Ditadura militar na Argentina, a partir do
evento do desaparecimento de seus entes queridos, ou seja, diante de uma situação-limite. Pretende-se entender,
prioritariamente, as transformações ocorridas nas famílias dos desaparecidos no Araguaia, e, para tal perspectiva,
estabelecer como parâmetro comparativo estudos de transformações semelhantes ocorridas em famílias de desapare-

173
cidos da Argentina,Tal perspectiva de análise surgiu a partir do estudo de depoimentos orais e arquivos familiares de
desaparecidos políticos gaúchos na Guerrilha do Araguaia e ainda, principalmente, através de cartas entre mães,
esposas, amigas e sobreviventes do conflito do Araguaia, que levantaram indícios que apontam para processos e
acometimentos de múltiplos sentimentos e sentidos que passaram a reordenar o cotidiano e o mundo destes familia-
res, Uma destas reordenações diz respeito ás relações de gênero,

I' 17/07 - Terça-feira - Tarde (14h às 18h) I


Dharana Pérola Ricardo Sestini - USP
O apoio civil à intervenção militar de 1964: a questão das entidades femininas em São Paulo
Este trabalho busca compreender o apoio civil à intervenção militar de 1964, por meio das entidades femininas criadas
neste contexto, Dentre estas entidades destaca-se a União Cívica Feminina de São Paulo que esteve á frente da
"Marcha da Família com Deus pela Liberdade' de São Paulo ainda em 19 de março de 1964 desempenhando, desta
maneira, um papel fundamental na desestabilização do governo Goulart, De maneira muito contundente destaca-se a
figura de D, Leonor Mendes de Barros, que não apenas corrobora com a idéia de mulher com que as entidades
trabalham, mas também a reforça, Por isso, a pesquisa se dedicou especialmente a sua figura como exemplo emblemático
deste perfil de 'Mulher Brasileira',

Joana Maria Pedro - UFSC


Movimento de Mulheres e Feminismos no Cone Sul (1964-1989)
Na América Latina, o feminismo de Segunda Onda constituiu-se, discursivamente, através da apropriação de duas
grandes fontes: o Movimento de Libertação da Mulher, que vinha dos Estados Unidos; e o Movimento de Mulheres e
Feminista, que vinha de países da Europa Ocidental, especialmente da França, Muito dos contatos com estes movi-
mentos foi feito através da circulação de publicações, de notícias e de pessoas que viajavam para aqueles países,
Entretanto, grande parcela destes contatos foi motivada pelo constrangimento do exílio, Nos países do Cone Sul, neste
mesmo periodo, as lutas pela implantação de regimes socialistas - seguindo as trajetórias das lutas de Cuba e do Vietnã
-, e as lutas de resistência contra as ditaduras militares que aí se instalaram, levaram várias pessoas a se deslocarem para
outros paises em busca de exílio, Observar as formas de apropriação destas duas vertentes do movimento de mulheres
e feminismo, em alguns paises do Cone Sul, no período de 1964 a 1989, é o que se pretende nesta comunicação. As
fontes utilizadas serão entrevistas e, principalmente, periódicos do movimento de mulheres e feministas que circularam
neste periodo. Pretende-se, com isto, traçar uma trajetória desta circulação de discussões feministas.

Mozart Lacerda Filho - UNESP- Franca


As Tr~s Moças de Uberaba: A Participação Feminina nos Movimentos de Resistência à Ditadura Militar Segun-
do a Otica de Três Mulheres do Interior do Brasil
O presente trabalho tem por objetivo discutir a participação feminina nos movimentos de resistência à ditadura militar
instalada em abril de 1964. Para tanto, tomaremos como referência a trajetória política de três militantes de esquerda
do interior do pais: Marilete Otony Tibery, Tânia Cunha Braga e Ana Marta Chaves. As três militantes davam suporte
em Uberaba, MG, a uma célula da ALN montada em Ribeirão Preto, SP, auxiliando-a, basicamente, na divulgação de
idéias e arrecadação de fundos. As três foram presas, interrogadas e torturadas. A participação feminina em movimen-
tos de resistência no interior do Brasil guarda semelhança com o que se fazia em âmbito nacional, quais forças
motivacionais as impulsionavam nessa luta, quais as razões que as levaram a aderir a um projeto político de esquerda,
como suas famílias se posicionaram em relação a suas escolhas, onde a participação feminina se difere da masculina
em relação às atitudes de engajamento, são algumas das questões que são contempladas por essa pesquisa. Este
estudo tem como premissa maior a tese de que as escolhas individuais refletem o caráter coletivo, donde ser possivel
falar de contextos mais amplos tendo como base a investigaçâo historiográfica em menor escala.

Ana Rita Fonteles Duarte - UFSC


Em guarda contra a repressão: as mulheres e os movimentos de resistência à ditadura na América Latina
O trabalho busca refletir sobre a atuação de mulheres na resistência civil contra ditaduras militares na América Latina,
seja através de associações de familiares ou entidades exclusivamente femininas, centrando especial enfoque na
organização do Movimento Feminino pela Anistia (MFPA) no Brasil. Através da análise da bibliografia sobre o período
e de relatos orais e escritos de suas ex-integrantes, procura-se entender como o gênero foi instrumentalizado na
organização e ação política desses movimentos, o que os discursos e práticas dessas mulheres guardam em comum,
que léxico político novo eles trazem e quais os resultados de suas atuações num contexto de alto risco para a vida dos
individuos e de cerceamento das liberdades individuais.

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Maise Caroline Zucco - UFSC ~
Grupos de mulheres e feminismos em Florianópolis: a constituição de um movimento periférico
Sob diversas perspectivas a bibliografia disponivel sobre os vários feminismos e grupos de mulheres que estiveram
®
atuando no Brasil a partir de 1975 nos encaminha para a história do movimento com uma produção que, em sua '"
grande maioria, trata do país de uma forma geral. Uma parcela considerável desta produção bibliográfica não discorrer ,~
sobre as especificidades das diversas localidades brasileiras, atribuindo um caráter generalizante de "movimento femi- ..:::J
nista brasileiro" às mobilizações e grupos formados nos grandes centros, como Rio de Janeiro e São Paulo. Tendo em ô
vista a importância atribuída à determinados centros, este trabalho tem como proposta perceber as relações entre os ~~
movimentos feministas e de mulheres durante a ditadura militar em Florianópolis e determinadas capitais brasileiras. ~
'"
c::
Luciana Rosar Fomazari Klanovicz - UFSC ~
Imprensa no olho do furacão: censura na ditadura militar -5
.'!l
Esta comunicação apresentará as formas assumidas pela censura durante a ditadura militar. Acensura e/ou a interven- c;
ção govemamental sobre a imprensa é marcante e antiga na história do Brasil. Diversos trabalhos dão conta da :
historicidade e da relação estabelecida entre a imprensa e o Estado, entremeada pelas investidas públicas de ação :§
censora. A década de 60 assiste a medidas conservadoras como a proibição do uso do biquíni em 1961. É importante fij
lembrar que o conservadorismo não partia apenas do govemo, mas também da sociedade que se mobilizava contra :2
determinadas mudanças e até apoiava positivamente a manutenção dos posicionamentos de algumas instituições 2-
conservadoras (como a Igreja) em relação aos conceitos de liberdade e de democracia. Tais fatos evidenciam a neces- .~
sidade de perceber a censura em seu percurso histórico. A preocupação em definir o tipo de relação que se esta bel e- <.!J

ceu durante a ditadura militar e a censura fomece subsídios para que se perceba qual direção ela tomou, ou ainda, se
tinha adesão de grande parcela da sociedade e em que medida isso ocorreu.

Cristina Scheibe Wolff - UFSC


Gênero: militante. Uma perspectiva comparativa entre Brasil e Argentina no periodo das Ditaduras Militares
Na busca de uma perspectiva que permita a comparação de como as relações de gênero se constituíram em diferentes
organizações de esquerda armada no Brasil e na Argentina, empreendo neste trabalho a discussão de algumas ques-
tões que visam abrir caminho para o trabalho de análise mais amplo que é o objetivo de meu atual projeto. Em primeiro
lugar tento traçar os contomos de algumas das principais organizações de esquerda armada destes dois países e de
como apresentavam para seus militantes as tarefas da guerrilha, buscando nestes discursos as imagens de gênero.
Para isto utilizo documentos produzidos pelas próprias organizações. Após mostrar os personagens, procuro esboçar
o cenário: em que circunstâncias políticas, sociais e culturais estas organizações estão recrutando seus 'quadros" e
travando suas batalhas, como as questões de gênero estâo sendo difundidas e discutidas nestes países e nessas
organizações. Para traçar este cenário, a bibliografia e algumas entrevistas serão de fundamental importância. Final-
mente procuro encontrar as convergências e discrepâncias entre estas organizações e contextos, avaliar possíveis
trocas e debater a pertinência da comparação histórica neste caso.

Joselina da Silva - UFCE


A representação do corpo: Bandeira de identidade, raça, gênero e democracia, na década de sessenta
Em 1951, surge o Renascença Clube (RJ), visto como uma oportunidade de mostrar o poder econômico de uma classe
negra emergente. Uma de suas grandes inovações foi inclui uma representante sua no desfile de misses, do antigo DF,
como uma tentativa de positivar da imagem das mulheres negras. Em 1964, Vera Lúcia Couto - a quinta Rainha
Renascença - foi eleita Miss Guanabara, Miss Brasil 111, Miss Beleza Internacional e Miss Fotogenia, nos Estados
Unidos. Os concursos de misses, servem também, para pensar a sociedade brasileira nas suas atitudes raciais. Este
texto se propõe a discutir a representação racial de democracia brasileira, metaforizada em plenos anos de implanta-
ção da ditadura militar. Neste sentido, as vitórias consecutivas de Vera Lúcia Couto transformaram-na em bandeira
viva de mestiçagem, de produto nacional e, acima de tudo, da ausência de discriminação racial. Desta forma, O
Renascença Clube que justificou sua existência exatamente devido à discriminação racial sofrida por seus fundadores
teve uma representante sua - treze anos depois - transformando-se em símbolo da democracia racial brasileira. Este
artigo é parte da Dissertação de Mestrado realizada no Programa de Pós Graduação em Ciências Sociais - UERJ - em
dezembro de 2000.

I 18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h)


Marivaldo Cruz do Amaral - Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
Mães Educadas Para a Medicalização do Parto na Bahia Republicana (1910-1927)
Na Bahia do inicio do século XX os partos passaram por um processo de mudanças, sendo iniciado na medicalização
e inserido na nova ordem social. Discutiremos o papel da Faculdade de Medicina e da imprensa, que promoveu uma

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campanha educativa, através dos jornais, revistas, bailes e festas beneficentes, para tornar a Maternidade Climério de
Oliveira, uma instituição bem vista pelas mulheres que integravam as camadas pobres e privilegiadas. O parto feito no
interior da casa auxiliado por uma parteira, era visto como um atraso para o país. E os médicos da Faculdade de
Medicina da Bahia e do Rio de Janeiro imbuíram-se da missão de afastar o Brasil da ímagem de país atrasado.

Georgiane Garabely Hei! Vázquez - Colégio Sant'ana


Infanticídio e aborto: diálogos possíveis entre práticas femininas, medicina e justiça
Este trabalho tratará do tema desenvolvido em minha dissertação de mestrado na Universidade Federal do Paraná.
Por meio de fontes jurídicas (processos criminais e inquéritos), bem como de teses médicas, propomos a análise das
práticas feminas relacionadas ao abortamento e ao infanticidio entre o final do século XIX e ao longo do século XX na
região paranaense conhecida como «campos gerais», que engloba cidades de pequeno e médio porte do interior do
estado. Apresentaremos nesta comunicação os discursos médicos e jurídicos elaborados na tentatíva de incriminar ou
absolver as rés, as estratégicas e recursos dessas duas áreas do conhecimento para procurar entender os motivos
que levavam as mulheres a rejeitar de forma tão veemente a maternidade em um determinado período da vida, assim
como debateremos acerca do perfil socio-econômico das mulheres que foram processadas por estas práticas e a
situação final dos casos investigados, que apontou ao longo do trabalho desenvolvido a íneficiência do poder judiciário
em punir as indiciadas. Este fato demonstra que a aceitação da maternidade, bem como a punição tão fortemente
defendída do plano discurssivo entre médicos e juristas era passível de contestação. E na maioria dos casos estuda-
dos os argumentos femininos eram os vencedores.

Gilmária Salviano Ramos - UFPE


Desnaturalizando o mito do amor matemo: imagens e discursos sobre práticas infanticidas (Paraíba, 19601
1970)
A presente comunicação é parte da pesquisa que venho realizando no Mestrado em História da UFPE. Nela argumento
que a historiografia de gênero é também possível por meio de um repensar das várias condutas e comportamentos
femininos que não operacionalizam os preceitos moralizantes e disciplinarizantes no que diz respeito á maternidade.
Tais preceitos são investidos a partir de uma política de verdade que busca ditar regras de comportamento para a
mulher tendo como parâmetro a tríade mãe-esposa-dona-de-casa. Trata-se aqui de ver e dizer como tais preceitos
investem em reforçar pressupostos que consistem no mito do amor materno, traduzidos em diversos desdobramentos
discursivos contribuindo para uma conduta materna universal. Neste sentido, a partir da análise do discurso da impren-
sa e da justiça sobre práticas de infanticídio na Paraíba nas décadas de 1960 e 1970, pode-se assinalar que nem todas
as mulheres têm ou sentem desejo de ser mãe, o que significa que nem todas podem ser vistas e/ou classificadas
como dotadas de uma natureza imanente à maternidade. Assim, inseridas em um conjunto de normas e regras de
como se deve cuidar e amar os filhos, algumas mulheres paraibanas o fizeram diferente, 'desnaturalizando' o conceito
de ternura e de afabilidade construído em torno delas.

Maria Lucia Mott e Olga Sofia Fabergé Alves - Instituto de Saúde - SESSP
Mulheres dentistas em São Paulo
Desde os anos 1980, as faculdades de odontologia no Brasil têm formado mais mulheres do que homens, numa
crescente feminização da profissão. Poucas páginas, porém foram escritas sobre o início do acesso das mulheres à
profissão. Esta apresentação tem por objetivo discutir os primeiros resultados de uma pesquisa sobre os trabalhadores
de saúde em São Paulo, elaborada a partir dos documentos da antiga Divisão do Exercício Profissional da Secretaria
de Saúde do Estado de São Paulo (1892-1978), preservados pelo Centro de Memória da Saúde (Instituto de Saúde-
SESSP). Trata-se de uma coleção de 107 livros de registro de diversas categorias profissionais, nos quais é possivel
levantar local e data de nascimento, filiação, idade de formatura e registro, escola e tipo de credenciamento. Focamos
a apresentação na análise dos registros das dentistas, nas duas primeiras décadas do século XX. A pesquisa levanta
várias questões, a destacar: quais as possibilidades de formação profissional, de inserção no mercado de trabalho, as
semelhanças e diferenças entre o perfil social das diferentes trabalhadoras da Saúde (farmacêuticas, parteiras, enfer-
meiras e médicas), contribuindo desta forma para repensar a inserção das mulheres no espaço público e nas ciências
da saúde, no período.

Carlos Alexandre Barros Trubiliano - UFGDI Bolsista FUNDEeT


O progresso chega ao sertão: disciplinarização e higienização nas páginas de A Violeta (1937-1945)
A presente comunicação tem como finalidade apresentar algumas reflexões sobre as configurações identitárias femini-
nas construídas na revista cuiabana de variedades, A Violeta, durante o Estado Novo. O periódico, de expressiva
circulação em Mato Grosso, foi "a voz' do Grêmio Literário Feminino, Júlia Lopes de Almeida, instituição de grande
importância na vida literária e intelectual da capital e do Estado. Nosso objetive é discutir as imagens idealizadas,
apresentada nas páginas da revista, para as mulheres - boa esposa, virtuosa mãe e dedicada dona-de-casa, sendo as
mesmas entendidas como parte do projeto estadonovista de ordenação e civilização para Mato Grosso.

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Bianca Antunes Cortes, Luiz Otávio Ferreira, Nara Azevedo e Moema Guedes - Casa de Oswaldo Cruz -
Fundação Oswaldo Cruz
@
Gênero, Ciência e Educação: uma análise da produção científica feminina no Brasil, 1940-1960 co
Este trabalho procura somar-se aos esforços que vêm sendo empreendidos para institucionalizar os estudos de gêne- .E
ro e ciências no Brasil, em especial áqueles relacionados ás ciências naturais e ás biomédicas. Identificar a produção ~
científica das mulheres no periodo demarcado pelas décadas de 1940 e 1960, é um dos nossos principais objetivos. ~
Para tanto, montamos um banco de dados com todos os artigos de autoria feminina, no período em questão, em quatro :~
das principais revistas cientificas destes campos de conhecimento: Memórias do IOC; Revista Brasileira de Biologia; ~
Anais da Academia Brasileira de Ciências; Revista Brasileira de Malanologia e Medicina Tropical. Além de demonstrar a ê
presença e a contribuição das mulheres vis-á-vis a de seus colegas homens, para o desenvolvimento das ciências que \5
integram estes campos de conhecimento, buscamos, dentre outras, determinar as diferenças no que se refere á quantida- 19
de e temática dos artigos femininos em cada uma dessas revistas, a dinâmica por década dessa produção, origens o
institucionais das autoras, áreas de atuação prevalentes. Ao tomar visivel o trabalho de mulheres cientistas, podemos Q)

refletir sobre a estrutura social da ciência no Brasil num período marcado por mudanças institucionais significativas. :§
E
Q)

Una Rodrigues de Faria -Instituto de Medicina Social da Uerj :;E


A Educação Sanitária e a Formação das Profissionais em Saúde Pública o'
C;;
Este é um estudo sobre a história da formação de Educadoras Sanitárias e Enfermeiras de Saúde Pública na primeira .li5
metade do século 20. Tem por objetivo mostrar o desafio, ás mulheres, de demarcar um território de decisões e c..:>
atuação que não fosse simples 'poder delegado' pela profissão médica. O movimento de reconfiguração do campo
médico na área da saúde pública - iniciado nos anos de 1920, estreitamente ligado aos debates sobre a nacionalidade
- buscou instaurar novas práticas e concepções, ao mesmo tempo em que passou a exigir o concurso de novos
agentes, acentuando-se a especialização em saúde pública. A formação dessas novas profissionais e a difusão da
educação sanitária eram feitas nos cursos de higiene e saúde pública oferecidos pelo Instituto Oswaldo Cruz, pelo
Instituto de Higiene de São Paulo, pelas Faculdades de Medicina, pela formação nos Estados Unidos e também por
treinamentos em serviços. A formação de novas categorias seguiu um modelo de profissionalização baseado na
"feminização' da atenção ao paciente e ás famílias. Nesta fase, instaura-se no país uma nova concepção 'campanhista',
cujo elemento renovador estava na ênfase na saúde como um processo pedagógico. Nessa proposta, a educação
sanitária era o elemento-chave para a formação de uma consciência sanitária.

Ana Maria Araujo de Almeida - UFMG


Uvio de Castro e um outro olhar sobre a mulher em fins do século XIX
Este estudo se atém ás idéias propostas por Tito Lívio de Castro, médico e ensaísta brasileiro, que produziu um
trabalho ímpar sobre a natureza feminina em fins do século XIX. A discussão sobre a necessidade de inclusão feminina
á educação, bem como de sua capacidade intelectual para os estudos, encontrou em Lívio de Castro um fervoroso
debatedor, que direcionou seus esforços na defesa de uma educação feminina de qualidade, pois acreditava que esta,
contribuiria para a evolução mental de uma raça. Sua idéias se filiavam às teorias de hereditariedade mental, bem aos
moldes das propostas evolucionistas tão em voga em sua época. Para tanto, ele lançou um olhar bastante diverso
sobre temas como o papel da mulher na sociedade e na família, e sobre sua função de primeira educadora. Seu
trabalho deferiu muito dos demais produzidos em sua época, não encontrando muitos ecos entre seus contemporâne-
os. Contudo, trata-se de uma visão reveladora da maneira como a mulher foi examinada e diagnosticada em fins do
século XIX brasileiro.

I 19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h ás 16h30min)

Maria Beatriz Nader - UFES


Violência sutil e relações conjugais: reflexões acerca de agressões que fazem mal à alma feminina
A violência conjugal contra a mulher que utiliza investidas que não deixam seqüelas aparentes, por serem transparen-
tes e só fazerem .mal à alma, é a que impossibilita a mulher comprovar materialmente um fenômeno que vai além da
agressão fisica. E uma forma de agressão, que humilha e constrange, além de provocar a chamada dor moral. Consi-
derada atitude 'comum' na relação conjugal, essa violência passa despercebida pela sociedade, que naturaliza gestos
que oprimem e cerceiam desejos e ações, imprimindo argumentos voltados á proteção da mulher. Convidamos 30
mulheres a responder um questionário sobre sua relação conjugal e, na análise dos dados constatamos que mais de
90% das mulheres já passaram por alguma forma de violência sutil. Até hoje, muitas mulheres brasileiras ocultam da
própria familia as investidas agressivas que recebem de seus maridos, pelo medo e pela vergonha que sentem de
conviver com um homem que a maltrata e a humilha. E não denunciam às autoridades, que pouco fazem para lhes
proteger, apesar das políticas públicas destinadas ao combate á violência contra a mulher.

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Lana Lage da Gama Lima - UENF
Delegacias Especializadas de Atendimentento à Mulher: obstáculos para a implantação de uma política públi-
ca de gênero na área de Segurança Pública
As delegacias especializadas no atendimento à mulher vitima de violência constituem a mais importante política públi-
ca de gênero implantada no Brasil na área da Segurança Pública. No Estado do Rio de Janeiro, sua instalação data de
18 de julho de 1986 e, mesmo após vinte e um anos de existência, ainda são muitos os problemas enfrentados para
que essas unidades atendam plenamente aos objetivos com que foram criadas, como resposta a intensas campanhas
promovidas pelos movimentos feministas na luta por uma atendimento adequado e de qualidade à mulher vitima de
violência. Para além das dificuldades de ordem material, e talvez explicando porque estas persistem, fatores de ordem
cultural têm constituido obstáculos para que essa política pública consiga atingir, passados tantos anos, os resultados
esperados à época de sua criação. Nessa comunicação abordaremos alguns aspectos dessa questão.

Odila Schwingel Lange - UFGD


Caminhos e descaminhos: a criação de organismos de proteção à mulher
Este artigo aborda a criação e implementação de Políticas Públicas para as mulheres no municipio de Dourados, Mato
Grosso do Sul, tratando mais especificamente sobre a existência de organismos de proteção à mulher, assim como a
Delegacia da Mulher, o Conselho Municipal dos Direitos da Mulher, o Centro de Atendimento ({ Viva Mulher», aCoordenadoria
Especial de Políticas Públicas para as Mulheres e a Casa de Abrigo. Do ponto de vista histórico, pretende-se mostrar que
a Delegacia da Mulher, foi criada e instalada em Dourados, no ano de 1986, um ano após ser criada, no Brasil, a primeira
destas delegacias, no estado de São Paulo, durante o governo Franco Montoro. Do mesmo modo, constata-se que o
Conselho Municipal dos Direitos da Mulher, foi criado através da Lei 1.770, no ano de 1991. Levando-se em consideração
o tempo de existência destes órgãos, questiona-se a eficácia dos mesmos no combate à violência contra a mulher.

Andréa Mazurok Schactae - Policia Militar do Paraná - UFPR - UEPG


Fardas e batons, armas e saias: política, gênero e militarismo na Polícia Militar do Paraná -1977-2000
A década de 1970 é um período representativo para os estudos de gênero no Brasil e em outros países. Foi nesse
período que a OTAN autorizou o ingresso das mulheres nas Forças Armadas dos países membros. Espaços exclusiva-
mente masculinos foram abertos para as mulheres. Em 1977, foi assinado o decreto de criação do Pelotão de Polícia
Feminina na Polícia Militar do Paraná (PMPR). Diante desse fato é mister compreender os processos de incorporação
das mulheres e apropriação de elementos identitários femininos pela PMPR, entre 1977 e 2000, enquanto instituintes
de re-significação do masculino e do feminino pelo militarismo, cujos significados simbólicos objetivados - armas,
fardas, quartéis - estão relacionados a construção da masculinidade. A análise das diretrizes na política estadual,
nacional e internacional relacionadas com a perspectiva de gênero e com o poder militar possibilitará a reconstrução
da participação feminina em espaço eminentemente, contribuindo assim para releituras do espaço militar no Brasil.

I 20107 - Sexta-feira - Manhã (10h30min às 12h30min)


Nair Sutil - UEM
As Representações da Mulher no Pasquim
Nas décadas de 1960 e 1970, período forte da ditadura militar no Brasil, vários movimentos de contracultura começa-
ram a surgir, alterando comportamentos sociais anteriores. Nesse contexto de efervescência de movimentos surge a
imprensa alternativa que traz como fundamento principal a oposição ao regime militar. Nos primeiros 15 anos do
regime, entre 1964 e 1980, surgiram e desapareceram cerca de 150 periódicos, dentre eles o Pasquim. A grande
novidade ou a grande característica do Pasquim em relação aos demais jornais alternativos da época era o humor, isto
é, a forma até certo ponto debochada e descontraída de tratar de assuntos delicados naquele período. Duas razões
especificamente nos levaram a trabalhar com o Pasquim: a primeira delas é pela característica peculiar desse jornal ao
tratar de maneira criativa e bem humorada assuntos sérios e relevantes como as vozes femininas e feministas que se
manifestavam no período. Asegunda razão é pela sua longa circulação, aproximadamente 15 anos. Durante todo esse
período, apesar de ser acusado ferrenha e freqüentemente de ser um jornal machista, abriu sempre espaço para as
discussões feministas e para as mulheres em geral. A nossa proposta é analisar como se dava esse diálogo.

Glória Cristina Ferreira Gabriel e Lilian Rodrigues da Cruz - Colégio Anchieta e Colégio Marista São Pedro
Uma leitura dos gêneros feminino e masculino na música de Chico Buarque
Há uma tensão permanente entre considerar a música como arte ou com o bem de consumo, pois essa é passível de
reprodução. Mesmo assim a música vem ocupando um lugar privilegiado na história brasileira à medida que atinge
todas as camadas sócio-econômicas, além de revelar os conflitos cotidianos. Neste sentido, o presente trabalho obje-
tiva fazer uma leitura dos gêneros feminino e masculino na música de Chico Buarque de Hollanda, devido a sua
importância no cenário sócio-político brasileiro.

178
lia da Silva Brognoli - UFSC ~22
Cartas de Frida Kahlo \.!:!:)
As cartas de Frida Kahlo, compiladas e publicadas postumamente por Marta Zamora, configuram uma rica fonte de
informações a respeito desta figura tão importante no contexto artístico e revolucionário da América Latina. Assim co
sendo, me proponho a, partindo do exposto no livro "Cartas Apaixonadas de Frida Kahlo' - de autoria da referida autorag
- traçar um perfil preliminar da realidade de Kahlo dentro do contexto da Revolução Mexicana na primeira metade do ~
século XX, bem como as percepções da artísta acerca deste período históríco. Suas impressões quanto à vivência .~
deste momento foram expressas extensivamente através de seus quadros e de seus escritos; e as cartas que escre- -(1)

veu ao longo de sua vida demonstram alguns fragmentos dessas impressões. ~


co
c::
Giorgia de Medeiros Domingues - UFSC ~
Mulheres Catarinenses: discursos normatizadores :ê
O presente artigo pretende identificar nos discursos higienista, positivista e católico as razões que levaram a distinção Cl

acentuada entre os papéis femininos e masculinos em Santa Catarina. A pesquisa compreenderá o espaço temporal (1)

entre os anos de 1930 e 1945, momento no qual ocorreram inúmeras transformações no discurso político, médico e :§
religioso em relação ao corpo, ao ambiente familíar e social. O período em questão justifica-se pelo aumento quantita- ~
tivo da normatização das condutas sociais e da necessidade de continuar mantendo a mulher na esfera familiar. :2

I 20/07 - Sexta-feira - Tarde (14h às 18h) I


Angélica Aparecida Moreira da Silva e Maria da Penha Vasconcellos - USP
Os livros de Matricula de Enfermos da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e o papel desta instituição na
assistência à saúde da população (1895-1913)
Desde o século XVI a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo vem prestando inúmeros servíços de saúde para a
população na cidade de São Paulo. Desta experiência de longa data, entre diversas possibilidades de pesquisa sobre
sua atuação, chama-nos a atenção, especialmente os registros referentes ao final do século XIX e começo do século
XX produzidos pelo Hospital Central. O objetivo desta apresentação é discutir a atuação da instituição na virada do
século XIX para o XX, visto ter passado por mudanças significativas, com a construção do novo hospital. A discussão
será feita a partir da análise dos Livros de Matrícula de Enfermos. A documentação analisada refere-se ao período de
1895 a 1913 e traz diferentes informações sobre os doentes que recorreram aos serviços (filiação, estado civil, proce-
dêncía, sexo, ídade, endereço, díagnóstico, entre outras). A pesquisa objetiva fomecer subsídios para a História da
Saúde da população em São Paulo, sobretudo feminina, em um período de transformações não só econômicas, mas
também demográficas, sociais e institucionais.))

Renilda Barreto - Centro Federal de Educação Tecnológica


A Maternidade Santa Isabel e a assistência à parturiente na cidade do Rio de Janeiro
Quando a ginecologia e a obstetrícia se constituíram em especialidades médicas, no último quartel do século XIX,
intensificou-se o discurso em defesa da criação de um espaço destinado exclusivamente ao parto, ao puerpério e ao
cuidado com as crianças: a matemidade. Em 1877, a cidade do Rio de Janeiro fundou a primeira maternidade pública,
com objetivo de prestar assistência às mulheres pobres e "necessitadas', assim como dotar a Faculdade de Medicina
do Rio de Janeiro de um ambiente adequado às aulas da Clínica de Partos. Nesta comunicação iremos discutir os
conceitos de maternidade que subsidiaram o projeto de construção, implantação e funcionamento da Maternidade
Santa Isabel, bem como as implicações da abertura de um espaço diferente daquele onde se davam a assistência
pública e o ensino: o Hospital da Irmandade da Misericórdia.

Ana Paula Vosne Martins - UFPR


A LBA e a proteção à maternidade nas décadas de 1940 e 1950
A partir de 1945 a Legião Brasileira de Assistência - LBA - passou a se dedicar à proteção à maternidade e à infância,
especialmente no que se referia às medidas de combate à mortalidade infantil. Seguindo as diretrizes já estabelecidas
pelo governo Vargas desde a década de 1930, a LBA se transformou numa estrutura assistencial de grande abrangência
no território nacional, conseguindo articular as políticas públicas com as práticas assistenciais de caráter filantrópico.
Nesta comunicação vamos expor de que maneira esta instituição foi organizada e como criou uma rede de atendimen-
to às mães pobres e aos seus filhos.

Marcelo Ribeiro de Castro - Centro Universitário São Camilo-ES


A produção dos saberes médicos da faculdade de medicina do rio de janeiro e as normas de higienização
prescrita às escravas e às prostitutas nos anos 1832-1890
No presente estudo, realizamos uma pesquisa historiográfica tendo, como material empirico, as teses produzidas na
Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro (FMRJ) durante os anos 1832 a 1890. Questionamos por que os médicos do

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Império, na condição de intelectuais orgânicos da época, demonstravam preocupação com o corpo feminino das
escravas e prostitutas ao prescreverem normas de organicidade e controle sobre esses corpos. Pretendemos eviden-
ciar uma tendência higienista capaz de responder às necessidades de purificação moral, fisica e social do corpo
feminino das escravas e prostitutas. Adotamos a categoria histórica de gênero, enquanto instrumento metodológico
capaz de responder o não dito e não escrito nos trabalhos médicos do século XIX a respeito do corpo feminino da
cI asse operári a.

José Fernando Teles da Rocha e Heloisa Helena Pimenta Rocha· UNICAMP


Educação e infãncia : as amas·de·leite e o movimento higienista em São Paulo ·1892·1936
Este trabalho pretende analisar questões sobre o sistema das amas-de-Ieite e a rotina das crianças abandonadas,
órfãs, pobres ou desvalidas no final do século XIX e primeira metade do XX, mais exatamente entre 1892 a 1936. A
metodologia de pesquisa baseia-se nos relatórios da mordomia escritos pelos administradores da Santa Casa de
Misericórdia, os mordomos dos expostos. Por meio deles podemos obter informações para esta pesquisa. Outras fon-
tes primárias são analisadas como jornais e legislação na perspectiva de entender a politica de proteção e assistência
à infância em São Paulo no pós - República.

Sandra da Silva Careli . FAPA


A imprensa regional e construção da opinião pública em tomo do ofício de partejar nas duas últimas décadas
do século XIX
O trabalho analisa a forma como o oficio de partejar foi apresentado perante a opinião pública a partir dos jornais em
circulação no Rio Grande do Sul entre 1880 e 1900. Busca-se visualizar as estratégias dos articulistas nestes textos
com destaque a algumas recorrências na abordagem: os profissionais do parto que ganhavam destaque, a forma
como eram representados e as disputas que eram veiculadas - tanto as internas à categoria e com as travadas com
setores da sociedade em transformação. Também se almeja visualizar o papel que era reivindicado ao Estado nestas
construções.

Cecília Chagas de Mesquita· UFF


O movimento feminista e suas conquistas: a saúde da mulher na Nova República
Este trabalho é fruto de pesquisa iniciada no curso de pós-graduação lato sensu, a qual é base para um projeto de
mestrado sobre a história da saúde da mulher no Brasil contemporâneo. Afim de destacar a relevância do movimento
feminista na construção da Nova República no inicio dos anos 1980 do século XX, esboçamos o debate político interno
do movimento e sua relação com a política do Estado no periodo, partindo de entrevistas, periódicos e outras fontes.
Num momento chave de nossa história política, as feministas trouxeram o sujeito mulher para o centro das discussões,
promovendo reflexões e atuando na elaboração de políticas que ajudaram a fundar o novo periodo democrático.
Chamamos a atenção para a importância da luta das mulheres na implementação de uma política de planejamento
familiar pelo governo brasileiro em 1983, o PAISM - Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher, primeiro
programa desse tipo encampado oficialmente no pais, opção entre as tendências até então existentes sobre o assun-
to. No interior deste marco de intervenção as feministas apresentaram questões especificas e inovadoras que expres-
savam a existência de múltiplos sujeitos políticos, cujas necessidades e aspirações deveriam ser contabilizadas no
processo de reconstrução democrática.

23. Gênero, Poder e Representações Sociais


Rachei Soihet (UFF) e Lidia M. Vianna Possas (UNESP . Marília)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h às 18h) I
Margareth de Almeida Gonçalves - UFRRJ
Corpo e Subjetividade feminina: os desafios do misticismo no mundo luso
Esta apresentação propõe uma reflexão sobre o misticismo como uma modalidade particular de construção de subje-
tividades. Misticismo equivale aqui a uma dimensão religiosa que se refere ao percurso realizado pelo sujeito religioso,
através dos diferentes estágios que preparam a união com a divindade. Uma modelagem de subjetividade que encon-
trou na ascese um instrumento de descoberta de uma espiritualidade individual conduzida pela busca insaciável do
divino e que elegeu o corpo como território dessa aventura. Os tempos que assinalaram o nascimento da modernidade
do Ocidente, que se estenderam do século XVI ao XVIII, foram marcados pela explosão de movimentos religiosos que
deram expressão a relatos misticos, recheando a narrativa de imagens femininas, uma métrica de inspiração barroca

180
que configurou um campo de práticas de intervenção sobre o corpo, um território de batalha em que uma complexão
física associada à mulher se tornou manifesta. Se hoje o Barroco e as experiências religiosas tem uma afinidade com
a pós-modernidade e a hipermodernidade, acreditamos que uma reflexão sobre os místicos como um fenômeno singu-
lar que marcou a história do Ocidente, com desdobramentos no mundo ibérico-americano, traga contribuições aos
desafios do tempo presente.

Gilma Maria Rios - Universidade Presidente Antônio Carlos - UNIPAC I Araguari


"It" da mulher moderna: um outro olhar sobre o corpo e práticas femininas da mulher araguarina
O objetivo desse artigo é compreender e nos fazer compreender como Araguari, cidade do interior mineiro, viveu
mudanças e conviveu com permanências sobre os corpos femininos no período de 1940 a 1960. Imagens envolvendo
mulher, moda, lazer e maternidade, foram uma constante no jornal e revistas da cidade de Araguari, ao longo da
década de 40 a 60. Com as mudanças do pós-guerra, estas imagens intensificaram, possibilitando a construção de
novos sujeitos sociais. No interior dessas transformações, homens e mulheres pertencentes à sociedade araguarina
passaram a viver novas práticas sociais que estavam desestabilizando o 'cotidiano familiar tradicional de nossos
antepassados'. Entre essas mudanças temos as mulheres 'com e sem it', possibilitando novas perspectivas que
formaram opiniões e reconstituíram práticas sociais, fazendo com que as pessoas passassem a sentir e pensar de
maneira diferente às veiculadas através de mediadores, como rádio, imprensa e cinema. Nesse sentido, o 'it da mulher
moderna' propagado pela mídia, era visto em Araguari, como a 'desgraça dos casais' e 'um verdadeiro cancro social'.

Carlos Eduardo de Oliveira Bezerra - UNESP/CAMPUS DE ASSIS


Bom-crioulo: um romance da literatura gay made in Brazil ~
A presente comunicação tem por objetivo expor nossa leitura a respeito do romance Bom-crioulo, de Adolfo Caminha, ~
publicado em 1895 no Rio de Janeiro. Entre os aspectos destacados analisamos as suas recentes traduções e a sua
contribuição para os estudos na área de gênero, a qual incluímos discussões sobre trabalho, raça e representação
literária.

Miriam Cabral Coser - UFRRJ .*5


'u
Gênero e Identidade Nacional: estudo das crônicas oficiais do Reino Português (séc. XIV-XV) ~
O presente estudo tem como objetivo analisar o discurso produzido em Portugal, na passagem do séc. XIV para o XV, ~
acerca das mulheres, principalmente sob o viés das crônicas oficiais do reino. Trata-se de procurar analisar os perfis '8.
femininos traçados pelos cronistas portugueses, procurando perceber a forma como são inseridos nessas narrativas E
que em muito contribuem para a formação da identidade nacional portuguesa. Tal tarefa exige igualmente a análise de ~
um corpus documental mais amplo do discurso produzido acerca das mulheres no período, tanto laico quanto religioso, g.
que permite compreender os grandes modelos femininos produzidos ao longo da Idade Média e que tomam contomos ~
específicos em Portugal no final do séc. XIV. Na produção destes modelos, perpassam, por exemplo, conceitos de :;;
saúde e doença que estariam intrinsecamente relacionados à condição feminina e seriam essencialmente limitadores -g
da sua atuação social e política. Igualmente importante é a legislação produzida acerca das mulheres, num esforço de ~_
normatização de condutas que abrange o casamento, a maternidade e os direitos ou restrições impostas às mulheres, ~
presentes nas ordenações reais, chancelarias, etc. (3

Cristiane de Castro Ramos Abud - UDESC


Imagens femininas das igrejas de Florianópolis refletidas no outro: a produção dos discursos sobre o corpo
da mulher
Oobjetivo deste texto é propor uma reflexão crítica, evidenciando os discursos produzidos pelas imagens femininas de
vitrais e esculturas, de três igrejas de Florianópolis, demonstrando a memória, os vestígios, marcas destas imagens,
materializadas nos corpos femininos, através das condutas, costumes, práticas, comportamentos das mulheres desta
cidade. Atribuindo historicidade a estas imagens, enquanto discursos permeados por relações de poder e saber que
constituem um certo tipo de corpo e imagem do feminino. Tomando o olhar como um problema, algo a ser desvelado,
questionando como se constituiu aquilo que hoje se apresenta ao nosso olhar? Como essas imagens se apresentam
e se refletem em nós?Qual o sentido do feminino para a salvação da alma, corpo e da própria sociedade? Evidencian-
do o caráter histórico e cultural do corpo construído, também, através de imagens religiosas femininas, produzindo
uma genealogia do corpo, seja o nomeando, classificando, higienizando, purificando; no limite entre o sagrado e o
profano.

Élcia de Torres Bandeira - UFRPE


As mulheres de Debret
Analisar as pinturas de Jean-Baptiste Debret, francês que participou da Missão Francesa trazida por Dom João VI e
que permaneceu no Brasil entre 1816 e 1831, possibilita avaliar as relações sociais que se estabeleciam no Rio de
Janeiro em seus espaços públicos e privados. Desfrutar da companhia das 'mulheres de Debret' escolhidas entre

181
negras, índías, brancas e mestiças coloca o historiador diante de exuberantes fontes iconográficas para pesquisas que
tenham como objeto a identificação das mulheres brasileiras nos oitocentos como sujeitos individuais e coletivos e
suas relações de gênero. Imagens e imaginário estabelecem elos dialógicos no cotidiano representado pelo autor em
aquarelas que expõem as mulheres, mesmo as mais recatadas, no recôndito dos seus lares e nas vias públicas, aos
olhares inquietos dos leitores que podem visualizar as representações simbólicas criadas pelo autor e a captação de
fragmentos do universo feminino no Brasil do século XIX.

Nancy Rozenchan - USP


O romance por trás do romance: busca de raízes na obra hebraica Romance de Família, de Edna Mazya
Uma decepção amorosa e ruptura no relacionamento induzem uma editora, Naomi Keller, a buscar as suas raízes e a
tentar entender a solidão de sua vida neste romance israelense de 2005. Ao desvendar a história de seus antepassa-
dos por meio do diário da falecida avó, a narradora elabora, ela própria, um romance que retrata as tragédias da família
na Alemanha nazista e posteriormente na Palestina. Esta comunicação pretende abordar a vinculação que esta saga
elabora entre desgraças pessoais e familiares e eventos históricos e políticos nas duas ambientações.

Luciana Andrade de Almeida - UFCE


Francisca Clotilde: uma escrita pelo Ceará
Mulheres que rompiam estruturas sociais, mas não se permitiam libertar na escrita e vice-versa. Essa liminaridade
pautava a atuação da jornalista e escritora cearense Francisca Clotilde (1962-1935), em cuja trajetória apreende-se
uma visão diferente das tradicionais abordagens da história sobre mulheres, representadas quase sempre como opri-
midas. Em um tempo de conquista de espaços femininos, é emblemática sua participação no conturbado período da
candidatura oposicionista de Franco Rabelo ao oligarca Nogueira Accioly, nas eleições cearenses de 1911. A pesquisa
analisa a coletânea Pelo Ceará, editada em Aracati, que reúne textos publicados por ela na Folha do Commercio.
Clotilde redigia cartas aos políticos e generais e abraçava a candidatura de Rabelo, fazendo do jomal uma tribuna
aberta às expressões políticas de uma mulher do século XIX. No artigo 'A Mulher na Política', ela fala do papel
feminino nesta seara ocupada apenas por homens, evidenciando uma escrita e práticas cotidianas de leitura que não
se masculinizaram para angariar espaços. '(. .. ] o tempo do fuso e da roca já desapareceu na voragem do passado e
hoje a mulher [... ] tem o dever sagrado de acompanhar o homem, máxime quando ele se bate pela pátria em seus dias
nefastos e trabalha pela liberdade e pelo progresso'.

I 17/07 - Terça-feira - Tarde (14h às 18h)


Daniela Resende Archanjo - UFPR
A mulher na Realidade - a realidade da mulher: representações da mulher na Revista Realidade da década de
1960
A revista Realidade foi lançada em 1966, sendo apresentada pela Editora Abril como 'a revista dos homens e das
mulheres inteligentes que desejam saber mais a respeito de tudo'. Abordando temas bastante melindrosos para a
época, a proposta inovadora da revista levou à apreensão de algumas de suas edições, sob a alegação de que era
"obscena' e 'ofensiva à dignidade da mulher"'. Sem bater de frente com o contexto social no qual estava inscrito, o
periódico adotava estratégias interessantes para apontar possíveis releituras do papel da mulher frente à sociedade e,
especialmente, frente à família. Trazendo opiniões diversas sobre a virgindade antes do casamento, o planejamento
familiar, a fidelidade conjugal, o divórcio, dentre outros temas, a publicação permitia pensar uma mulher que fugia ao
padrão da 'dona-de-casa-mãe-de-família' projetado pela sociedade para satisfazer ao patriarcalismo na organização
familiar. O presente artigo analisa as representações da nova mulher produzidas e disseminadas nas edições da
década de 1960 da revista Realidade, explorando suas aproximações e distanciamentos em relação ao modelo de
família que predominava no imaginário social da época.

Ana Carolina Eiras Coelho Soares - UERJ


A produção da Família Brasileira através de uma Revista produzida em família: um estudo de gênero na expe-
riência da Revista Feminina no início do século XX
O presente trabalho visa descortinar a produção editorial de uma Revista de grande circulação no início do século XX,
buscando perceber como essa publicação atingiu tamanho sucesso entre as leitoras. Uma das hipóteses trabalhadas
seria que a revista se coloca como uma amiga e confidente da leitora criando, portanto, vinculos afetivos. Dentro desta
estratégia o argumento de que era uma revista feita por mulheres, e a visibilidade nas matérias a idoneidade dessas
senhoras funcionava como geradora da credibilidade necessária para angariar a confiança das leitoras. A Revista
Feminina foi fundada por Virgilina de Souza Salles em 1914, na cidade de Mogi das Cruzes. Os três primeiros exem-
plares saíram em formato de jornal editado com o nome de Luta Moderna, até que houvesse a mudança do nome. Sua
proposta era criar uma 'leitura sã e moral' para a 'educação doméstica e para a orientação do espírito feminino' dentro

182
de padrões que trouxessem uma verdadeira educação da mulher. A revista se pretendia ser uma produção feita por
mulheres para o público exclusivamente feminino. A Revista seria então uma produção sui generis, e seu estudo
permite identificar quais as representações e padrões de comportamento socialmente desejáveis para as mulheres
das camadas médias da sociedade brasileira.

Ana Maria Marques· UFSC


Representações de gênero e geração em revistas e jornais da década de 1980
Este trabalho tem como proposta: mostrar algumas imagens representativas e recorrentes em alguns jornais catari-
nenses e revista de circulação nacional, na década de 1980, que trazem como tema o envelhecimento; discutir como
estas imagens, ao mesmo tempo em que pode representar um ideal, são perpassadas por uma rede discursiva de
poderes que movimenta um mercado da beleza e da atividade dos corpos. As imagens são tidas como representação,
como produção e como desconstrução de modelos de velhice - que por sua vez são atravessadas pelas relações de
classe e gênero.

Maria Paula Costa - UNESPI Fapesp


As representações do trabalho feminino no mundo de Claudia - os afazeres domésticos x atividade profissio·
nal (1961·1985)
A temática do trabalho feminino sempre esteve presente nas páginas da revista Claudia, pois suas leitoras deveriam
estar preparadas para cuidar da casa, do marido e dos filhos, assim desde o início o periódico ressaltou a importância
de ensinar e fornecer para as mulheres informações que facilitasse seu cotidiano familiar, seja através de dicas de
decoração, receitas, moda para o marido ou para os filhos, como trabalhos manuais.Já o trabalho feminino fora do lar
foi sendo discutido e legitimado de forma lenta e gradual, sem abalar os valores da sociedade de classe média, que
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muitas vezes via tal questão de forma problemática e questionava como ficaria a estrutura familiar. No entanto a
dinâmica social levou essa mulher a buscar sua realização no trabalho fora do lar e o periódico ressaltou e incentivou
á sua maneira a mulher organizar sua vida.O objetivo desta comunicação, portanto é discutir como a revista tratou a
saída da mulher para o mercado de trabalho indicando questões que incidiram sobre os valores vividos e resolvidos no
âmbito familiar, social e cultural.

Alcilene Cavalcante - Unicamp ~


Uma escritora na "periferia do Império": Emília Freitas (1855·1908) 'S.
Emília Freitas, escritora cearense do século XIX, foi uma mulher de várias facetas, engajada e atenta aos movimentos ~
e acontecimentos de sua época. Sua atividade intelectual adquiriu caráter público quando ela passou a colaborar em §
diferentes periódicos de Fortaleza como, por exemplo, o jornal abolicionista Libertador, e a participar da Sociedade das ~
Cearenses Libertadoras - associação feminina em prol da abolição da escravidão. Ela publicou três livros, entre os ';
quais, o mais conhecido A Rainha do Ignoto: romance psicológico, de 1899, além de artigos em periódicos de Manaus <1.)

e Belém. Nessa produção intelectual, verificam-se suas idéias abolicionista, republicana e espiritista, além da aborda- 15
gem sobre a relação de gênero vigente nos Oitocentos - o que se imprime através do próprio silêncio sobre a escritora ~_
e sua obra. Tratar-se-á, pois, de uma comunicação que alinhava História e Literatura. ~
.<1.)

Renata Jesus da Costa - PUC·SP =


Subjetividades femininas: mulheres negras sob o olhar de Carolina Maria de Jesus, Maria Conceição Evaristo
Brito e Paulina Chiziane
Nesta comunicação, nos propomos a refletir sobre o sujeito feminino nas obras das seguintes autoras: as mineiras
Maria Conceição Evaristo Brito, Ponciá Vicêncio (2003), Carolina Maria de Jesus, Quarto de despejo (1960) e a mo-
çambicana Paulina Chiziane, Niketche: Uma história de poligamia (2004), com a finalidade de fundamentar um debate
sobre a mulher negra a partir da visão dessas escritoras. O fato de estas autoras pertencerem a espaços culturais e
períodos históricos distintos nos permitirá repensar a condição feminina a partir das peculiaridades e especificidades
apresentadas pela subjetividade de cada uma delas. Além disso, acreditamos que 'a coexistência de uma pluralidade
de tempos simultâneos abre uma vertente estratégica para o estudo da experiência histórica das mulheres' (DIAS,
1992). Nesta análise, interessa-nos, sobretudo, o estudo de elementos relacionados ao cotidiano, através do entrela-
çamento entre história e literatura. A partir dessa perspectiva é possível enxergar a experiência feminina negra sobre
outra ótica que não a de eterna submissão ou estereotipia, mas sim em uma luta diária pela sobrevivência na qual
reinventam a própria identidade.

Caetana Maria Damasceno - UFRRJ


Carolina e Francisca: da literatura memorialista à narrativa etnográfica e histórica
Neste trabalho procuro discutir a importância da literatura memorialista como narrativa etnográfica e histórica, abor-
dando o 'Diário de Bitita' (1986), de Carolina Maria de Jesus (escritora 'negra', ex-empregada doméstica e ex-catadora
de lixo) e 'Ai de Vós. Diário de uma Empregada Doméstica' (1983), de Francisca Souza da Silva (empregada domés-

183
tica 'negra', que escreveu este único livro de memórias). Estes textos me permitem retomar o discurso nativo sobre os
primeiros cinqüenta anos do século XX, para discutir certas representações sociais do 'pacto de silêncio' a respeito da
condição racial e de gênero no Brasil. Esta narrativa memorialista aparece como uma das possibilidades culturais que
contribuem para a ruptura desse pacto, na medida em que Carolina e Francisca detalham aspectos cotidianos da
instituição do 'racismo à brasileira', revelando estratégias culturais que expandem o campo de visão sobre o lugar do
racismo na construção das relações de gênero. Procuro, pois, considerar o uso que as escritoras fazem do vernáculo
(o estilo narrativo) como um meio para falarem de si e de outros, expressando formas complexas de construção de
suas próprias imagens e das múltiplas facetas identitàrias. Finalmente, justaponho as vozes de Francisca e Carolina,
sem silenciar a minha.

I 18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h)

lidia M. Vianna Possas - UNESP - Marília


O processo civilizador nas frentes pioneiras: as relações de gênero no âmbito do público e do privado
A partir do estudo sobre as cidades paulistas e as frentes pioneiras objetiva-se rever a construção social e cultural das
distinções baseadas nos sexos, pontuando espeCificidades históricas através da 'história do lugar'. Buscou-se enten-
der as distintas instãncias do processo de modernização que adentrou o Oeste paulista, com a expansão cafeeira e o
seu rush na primeira metade do séc.XX, desconstruindo as idéias de um cosmopolitismo 'harmônico'. A investigação
realizada em inquéritos policiais e jornais evidenciou movimentos sutis de disciplinamento que produzem as relações
de exploração e de poder e que deixam marcas profundas na construção das representações coletivas e individuais de
gênero bem como a reprodução dos estereótipos. A presença de um ideário civilizador expõe uma politica de controle
veiculado por discursos médico e jurídico que em nome da ordem, do combate ao 'caos' normatiza padrões de socia-
bilidade com a homogeneização de atitudes, de valores e comportamentos tanto no âmbito do privado como do públi-
co. Aanálise das práticas cotidianas desvelaram, na contra mão das normas instituídas, como a presença de formas de
subjetividade criaram novos sentidos e arranjos nas relações de gênero de diferentes grupos sociais.

Marisa de Fátima Lomba de Farias - UFGD


O enovelamento conflituoso nas relações de gênero em assentamentos de reforma agrária: olhares de uma
trajetória de pesquisa
Os aspectos intrafamiliares observados na trajetória de pesquisa em assentamentos de reforma agrária sul-mato-
grossense levaram-nos a desenvolver uma análise em que se destacam suas relações compondo um enovelamento
conflituoso por caracterizarem o vivido social pela ambigüidade e pela incerteza, em um movimento permanente entre
a dominação e a libertação. A convivência com as famílias assentadas tem revelado que as mulheres desejam partici-
par da vida rural em suas variadas dimensões e que almejam decidir, inclusive, nos rumos do projeto familiar, que
contempla o circuito da produção e da vida social mais ampla. Esse desejo é alimentado dia após dia e aflora como
forma de resistência nas mais variadas situações. Por isso, constatamos que, atualmente, as mulheres vivem movi-
mentos de resistência e de questionamento de diversas expressões de dominação. São dominações que se direcio-
nam aos sentimentos, às proibições, ao controle dos desejos e dos movimentos femininos. Portanto, evidencia-se que
nas relações cotidianas, essas famílias estabelecem ações em dois sentidos: da mesma forma que há o poder patriar-
cal e a dominação masculina alicerçando o controle sobre as mulheres, aflora um outro poder que vai sendo gestado
mediante as formas de resistência feminina.

Losandro Antonio Tedeschi - Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões
Do silêncio a palavras: identidades e representações sociais de mulheres camponesas no Noroeste do RS
Esta pesquisa aborda a história da mobilização social das mulheres agricultoras na região Noroeste do Rio Grande do
Sul, através do Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais, historiando as circunstâncias em que surgiu e se trans-
formou, examinando as influências recebidas do discurso da Igreja Católica e do Movimento Sindical Rural. Ao exami-
narmos essas relações com outros grupos sociais e instituições, vamos evidenciar as contradições que o Movimento
enfrenta, buscando entender como o imaginário e as representações sociais atuam sobre a vida das mulheres agricul-
toras. Através da metodologia da História Oral, foi possível analisar as funções e papéis sociais das mulheres agricul-
toras, os processos de reprodução e transformação sócio-culturais pelos quais estão passando, levando-nos a afirmar
que as identidades humanas são construidas ao longo da vida, pelos significados que os grupos sociais alimentam em
seus contextos culturais. As mulheres trabalhadoras rurais que guardam a história, que a contam a seus filhos e filhas,
mostram uma longa vida em que as mesmas, para não falar de outras dicotomias, tiveram que enfrentar permanente-
mente a desigualdade, embora nunca tenham se submetido completamente a isso.

184
Luiz Antonio de Castro Santos - UERJ
A duras penas: estratégias, conquistas e desafios da Enfermagem em escala mundial
Abordar a noção sobre territórios evoca, desde logo, a definição dos espaços profissionais. Busca-se discutir a emer-
gência - a duras penas - da profissão da Enfermagem em escala mundial, nas primeiras décadas do século 20: as
estratégias, conquistas e desafios enfrentados pelas lideranças, a partir da semente da mítica Florence Nightingale.
Dentre as profissões republicanas na Europa, nos Estados Unidos, na América Latina, foi esta a que se destacou pela
proposta altruísta e pelo espírito de vocação. Nessa ambigüidade constitutiva - vocação versus profissão - consoli-
dou-se a Enfermagem mundial. Os momentos ou episódios mais decisivos, como as Conferências e Encontros inter-
nacionais, foram verdadeiros ritos de iniciação para mulheres que pouco a pouco se apropriavam de um território
profissional e de uma práxis densamente humanitária. Propoe-se que, ao invés de vocação e profissão constituírem
uma polaridade na experiência do Cuidar, o conceito e a própria vivência do "ideal de servir' - isto é, o "chamado' -
representaram sempre um elemento dinamizador do ethos profissional entre enfermeiras de todo o mundo, desde a
criação do Conselho Internacional de Enfermeiras, no limiar do século passado.

Denise Ognibeni
Legados e Redes de Solidariedade: A Mulher nas Charqueadas Pelotenses no Século XIX
A participação das mulheres nos empreendimentos charqueadores na região de Pelotas, no decorrer do século XIX,
não se resumia a realização de bons casamentos, criação de filhos e manutenção de uma casa aparatada. Às mulhe-
res charqueadoras era preciso sobreviver em uma sociedade de grande instabilidade econômica. Neste sentido, esta-
beleceram-se redes de solidariedade vislumbradas por meio dos legados deixados em testamento por estas às suas
congêneres mais desprotegidas, onde evidencia-se a necessidade de criar soluções para sobreviver dentro do espaço ~
privado. Transitando pelas evidências deixadas nos testamentos e inventários do grupo charqueador vislumbra-se, por '\!::V
um lado, a esfera de poder exercido pelas mulheres como detentoras de parte do patrimônio familiar e, por outro, sua
posição de fragilidade quando não enquadradas em um bom casamento. Neste sentido, os acertos familiares e os
laços de solidariedade foram buscados como meio de sobrevivência.

Leonice de Lima Mançur Lins - Uneb I Faculdade Santíssimo :~


O Colégio Santíssimo Sacramento: uma escola feminina em Alagoinhas-BA a
Esta comunicação tem como finalidade apresentar e discutir resultados de uma pesquisa sobre Educação e Constru- ~
ção da Identidade de Gênero. Centramos a nossa análise numa escola religiosa e voltada para o público feminino, o 'S.
Colégio Santíssimo Sacramento (C.SS.S.), no período de 1940 a 1960, onde buscamos perceber como as alunas, a ~
partir da formação que recebiam, interiorizavam valores e normas morais, absorviam os papéis sociais historicamente ~
destinados ao sexo feminino - dona-de-casa, esposa e mãe - enfim, como através da educação recebida as alunas g-
construíam sua identidade de gênero e se colocavam no mundo tendo como parâmetro o seu sexo. Os ensinamentos ~
ali transmitidos eram apropriados e voltados à formação da mulher, aos modelos e comportamentos que deveriam Q)

seguir, enfim a aluna formada pelo C.SS.S. personificava um modelo de mulher da época: cristã, instruída, resguarda- -g
da, apta a desempenhar os papéis de esposa, dona-de-casa e mãe, e também o de professora primária. A identidade o...
de gênero construida na instituição era, evidentemente, uma identidade específica, uma vez que a categoria gênero é ~
relacional e define-se de acordo com as classes, etnia, religião, entre outros. O ser feminino formado pelo C.SS.S. era ~
um modelo de mulher que atendia perfeitamente aos anseios.

Nara Azevedo, Luiz Otávio Ferreira e Moema Guedes - Casa de Oswaldo Cruz - Fundação Oswaldo Cruz
Gênero, Ciência e Educação: uma análise da produção científica feminina no Brasil, 1940-1960
Este trabalho procura somar-se aos esforços que vêm sendo empreendidos para institucionalizar os estudos de gênero e
ciências no Brasil, em especial àqueles relacionados às ciências naturais e às biomédicas. Identificar e analisar, qualitativa e
quantitativamente, a produção científica das mulheres no período demarcado pelas décadas de 1940 e 1960, éum de nossos
principais objetivos. Para tanto, montamos um banco de dados com todos os artigos de autoria feminina, no período em
questão, em quatro das principais revistas científicas destes campos de conhecimento: Memórias do IOC; Revista Brasileira
de Malariologia e Medicina Tropical. Além de demonstrar a presença e a contribuição das mulheres cientistas, vis-à-vis a de
seus colegas homens, para o desenvolvimento das ciências que integram estes campos de conhecimento, buscamos deter-
minar as diferenças no que se refere à quantidade e temática dos artigos femininos em cada uma dessa revistas, a dinâmica
por década dessa produção, as origens institucionais das autoras, as áreas de atuação prevalentes, e a extensão das redes
científicas (invisibles coIleges) às quais pertenciam. Ao tomar visível o trabalho das mulheres cientistas, entendemos ser
possível refletir sobre a estrutura social da ciência no Brasil em um período marcado.

Adriana Dantas Reis Alves - UEFS


Economía da casa, governo dos escravos: paradoxos da mulher civilizada no Brasil do século XIX
Neste trabalho são analisados discursos do século XIX sobre o papel das mulheres na economia doméstica e na
gestão dos escravos, bem como as relações entre senhoras(es) e escravas(os) no cotidiano. As mulheres, como

185
administradoras de escravos, excluídas de manuais que tratavam do tema nos séculos XVII e XVIII, surgiram nas
propostas de educação da economia doméstica do século XIX. Essas incluíam o aprendizado de trabalhos manuais
para as senhoras e total responsabilidade pela administração e manutenção da limpeza, asseio e arranjo das casas. A
gestão dos escravos domésticos deveria garantir a disciplina, sem punições fisicas, mas através de exemplos e de
uma educação moral, principalmente para as escravas que possuiam uma tendência a 'imoralidade". Esses discursos,
em constante diálogo com contextos complexos e informações variadas, demonstram como diferentes decisões toma-
das por senhoras(es) e escravas(os) levaram a soluções diferenciadas e desfechos inesperados.

Elizabeth Sousa Abrantes - UEMA


liA educação de Sofia": as bases do pensamento burguês sobre a educação feminina
O século XVIII, considerado o século das Luzes pela profunda crença na Razão humana, elegeu a educação como o
instrumento para emancipação humana, no entanto, no que se referiu à educação feminina esse ideal racionalista não
foi suficiente para propiciar grandes transformações nas práticas educacionais, sendo a imagem de 'sombras" a que
mais se aproximava da situação das mulheres nesse século. Este estudo pretende situar as bases do pensamento
burguês sobre a educação feminina nos discursos pedagógicos do século XVIII, presente na literatura e nos manuais
educativos, cuja meta era a formação da mãe-educadora, para tornar a vida do homem 'agradável e doce' e formar os
bons cidadãos. Destacamos o pensamento pedagógico de Rousseau em suas obras 'Emílio ou da Educação' e 'Júlia
ou a Nova Heloisa'. A personagem Sofia da obra 'Emílio', será a representação do ideal da educação feminina, apren-
dendo apenas o que 'convém saber para o seu sexo'.

I 19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h às 16h30min) I


Temis Gomes Parente - Universidade Federal do Tocantins
Vozes de mulheres do Cárcere
O trabalho que se pretende apresentar busca dar voz às mulheres encarceradas na casa de prisão provisória de
Palmas-TO. Pretendermos entender como é seu cotidiano dentro de uma prisão, os espaços e tempos dentro de um
presidio, e sobre a subjetividade dessas mulheres presas e quais suas estratégias de adaptações e de resistências.
Tentaremos também entender as omissões de gênero que acompanham o sistema presidiário tocantinense, uma vez
que a reclusão masculina sempre estabeleceu os termos para esta instituição. Utilizamos a metodologia da história
oral e através das entrevistas de mulheres encarceradas foi possivel analisar as múltiplas formas em que a prisão afeta
o cotidiano dessas mulheres, às relações sociais e sua subjetividade.

Isabel Cristina Martins Guillen - UFPE


Dona Santa e Madalena: performance e memória de matriarcas e rainhas de maracatu.
Dona Madalena, quando da refundação do maracatu-nação Elefante, em meados da década de 1980, coloca em
circulação em uma série de entrevistas que deu para os jornais recifenses uma memória de Dona Santa, antiga rainha
do Elefante, e que de certa forma buscava legitimar o papel que Madalena reivindicava para si: o de matriarca da
cultura afro-descendente no Recife. Este trabalho busca discutir como, através do jogo de memórias e representações
as duas mulheres encenaram seu lugar social como rainhas de maracatu e matriarcas. Com essas performances,
ambas construiram, através das inflexões de gênero e etnia, um lugar social para si bastante destacado e cuidaram de
ao longo de suas vidas exercer principalmente o lugar de autoridade religiosa na cultura afro-descendente do Recife
graças à sua senioridade e uma bem construida posição de matriarcas.

Maria Teresa Garritano Dourado - FAP·USP


A construção de um mito: Elisa Lynch e Solano Lopez
Ao longo dos séculos XIX, XX e XXI, biógrafos, memorialistas, historiadores latino-americanos, dentre outros, traça-
ram, com propósitos diferentes, perfis de Elisa Lynch e Sola no López, dando a eles um lugar de destaque no confronto
conhecido como Guerra do Paraguai (1864-1870). Os autores oscilam entre o amor e o ódio, considerando o momento
em que suas obras foram escritas e divulgadas. Uma conclusão hipotética, que reúna os fragmentos numa explicação
coerente, poderia ser que eles tornaram-se mais poderosos, do que realmente teriam sido. Esta é mais uma das
funções do mito, quando ele se torna história, tal como demonstra Raoul Girardet: É erradamente que se crê que o mito
é sempre mentiroso. O mito torna-se história. Ele é o impulso psicológico, a inspiração ideal, que pode conduzir os
homens para o bem ou para o mal, mas que lhes é de qualquer modo indispensável. A construção e a consolidação do
mito Elisa Lynch e Solano Lopez, surgiu num determinado contexto histórico, quando o Estado necessitava de auto-
afirmação política, numa tentativa de moldar ou manipular a opinião pública. Portanto, analiso como as sociedades se
apropriam do passado e o recriam em função de suas necessidades,

186
Maria Ângela de Faria Grillo - UFRPE
Amas-secas e amas-de-Ieite: o trabalho feminino no Recife (1870-1880)
Não é raro vermos retratos e pinturas da segunda metade do séc. XIX que retratam a escravidão no Brasil, mulheres
negras cuidando ou amamentando crianças brancas. Isto nos remonta á idéia de que mulher branca, com alguma
freqüência, não possuía o hábito de amamentar ou cuidar de seus filhos. Assim, o objetivo deste trabalho é analisar no
campo das práticas discursivas e não-discursivas a importãncia do trabalho das amas-de-Ieite e de criação de bebês
lactantes ou não e sua inserção na economia escravista do Recife entre os anos 1870 -1880, que ampliava o trabalho
livre. A fonte documental privilegiada pela pesquisa são as matérias e os anúncios apresentados num dos principais
jornais que veiculavam pelo Recife neste período, o Diário de Pernambuco, onde buscaremos compreender que ima-
gens e representações foram construídas nesses jornais e como funcionava esse mercado de amas-secas e de amas-
de-leite, sem perder de vista que esse era um dos segmentos do espaço do trabalho feminino na cidade. Através de
uma análise sistemática desses anúncios pode-se chegar aimportantes conclusões ou interpretações, como por exemplo,
a condição social, o estado civil e a idade dessas mulheres, assim como a localização desse tipo de comércio.

Janine Gomes da Silva - UNIVILLE e AHJ


Memórias da cidade, narrativas femininas, práticas de mulheres: outros olhares para o patrimônio cultural de
Joinville
Esta comunicação objetiva apresentar algumas reflexões referentes ao projeto de pesquisa financiado pelo FAP/UNI-
VILLE, que busca articular a noção de gênero com os estudos no campo da memória e da história oral. Se as narrati-
vas, de homens e mulheres, por vezes, sugestionam a ausência de algo, também podem nos fazer pensar do como
ainda muito pouco problematizamos o patrimônio cultural da cidade, especialmente, nos que diz respeito aos 'bens de
natureza imaterial', pois, também podem ser considerados bens culturais 'as formas de expressão' e 'os modos de \.!::!)
f23'
criar, fazer e viver' dos diferentes grupos que formam a sociedade brasileira. Assim, ao pensar sobre o patrimônio
cultural de Joinville e as transformações ocorridas na cidade, no decorrer do século passado, mas, principalmente,
atenta á perspectiva da categoria de gênero na análise histórica, pretendemos problematizar, com o aporte da metodo-
logia da história oral, memórias femininas sobre histórias de diferentes lugares, instituições, períodos e práticas cotidi- '"
anas vivenciadas em Joinville no decorrer do século XX, contribuindo com a formação de acervos orais e, principal- :~
mente, com a possibilidade de novas pesquisas relacionadas com o patrimônio cultural da cidade. c55
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20/07 - Sexta-feira - Manhã (10h30min ás 12h30min) c::
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Rachei Soihet - UFF g.


Mulheres Investindo Contra o Feminismo: uma manifestação de violência simbólica? ~
A luta desenvolvida no Brasil por inúmeras mulheres para a conquista de direitos nos anos 1970/1980 propiciou a Q.)

emergência de várias críticas. Mas não apenas críticos masculinos se manifestaram, também, mulheres pronuncia- 15
vam-se contrariamente àquelas ações. Nesse sentido, procurarei analisar tais manifestações, privilegiando as femini- a...
nas, valendo-me de considerações, como as de Roger Chartier, a partir do conceito de violência simbólica, que supõe ~
a adesão dos dominados às categorias que embasam sua dominação. ~

Gloria Alejandra Guarnizo Luna - UNIVALI e Marlene de Fáveri - UFSC


Práticas possíveis de transcendêncía: o programa Suplemento Feminino na voz de Irene Boemer
A partir da história de Irene Boemer (1924-2003), radialista e jornalista por cinqüenta anos na cidade de Itajaí (Se),
analisamos as práticas de mulheres que ousaram romper com papéis sociais, num tempo em que eram reforçadas
crenças acerca de sua fragilidade e destino para o espaço privado. Irene trabalhou na Rádio Difusora desde 1947, e,
no início da década de 1960, passou a fazer um programa diário, o Suplemento Feminino, ouvido e lembrado como
aquele que formava desejos de acompanhar as novidades, mas também mostrava que as mulheres podiam ousar,
adquirir produtos que facilitavam na vida diária, serem belas, cuidarem-se, provocando mudanças de comportamento.
Eram práticas ousadas que estimulavam disputas de poder e criavam desconfortos para muitos homens, os quais
falam do programa com desdém e descaso, visto que se sentiam ameaçados. Irene trabalhava num ambiente majori-
tariamente visto como masculino, viajava muito, disputava espaços e era líder de audiência dentre o público feminino.
Mostramos que, se Irene não teve uma prática considerada feminista como forma de resistência, dada sua educação
para ser reservada e esposa, ousava romper á maneira que era possivel, e destacava-se das demais, transpondo
barreiras colocadas a elas, consegue 'transcender'.

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Claudia Regina Nichnig - UFSC
Resistência e opressão: a segunda onda do movimentos feminista no Brasil e as alterações no direito das
mulheres
Buscando aproximar a História e o Direito, a partir das discussões que tratam da categoria de análise gênero, preten-
demos contestar, historicizar e problematizar os embates e os debates que antecederam as mudanças legislações,
especificamente as que tratam dos direitos das mulheres. Analisando o que reivindicavam estas mulheres nas déca-
das de 1970 e 1980, para observar como foi dado voz a estas demandas. Assim, a partir da aproximação das análises
feministas e/ou de gênero ao direito, discutiremos as intersecções existentes entre as práticas e os discursos dos
movimentos feministas/gênero e as mudanças legislativas no periodo em questão. Observar a historicidade da legisla-
ção, desconstruindo as definições que apontam as leis como algo que é dado, como pronto e acabado: é a partir deste
olhar que pretendemos neste estudo apresentar as relações entre as mudanças nas leis referentes ás mulheres e a
constituição dos debates e anseios que caracterizaram e definiram as lutas feministas durante a Segunda Onda do
movimento no Brasil.

Suely Gomes Costa - UFF


Silêncios, diálogos e "Os Monólogos da Vagina": instantes dos feminismos (Brasil, 1970-1990)
Estranhamentos diante da versão brasileira de 'Os Monólogos da Vagina", peça teatral da norte-americana Eve Ensler,
sugerem a reavaliação de referências historiográficas sobre feminismos no Brasil, entre os anos 1970 a 1990, com
base em práticas políticas centradas na diferença sexual.

I 20/07 - Sexta-feira - Tarde (14h às 18h) I


Miguel Rodrigues de Sousa Neto - UFUI Fac. Católica de Uberlândia
Homoerotismo contemporâneo: do desejo libertário ao desejo consentido
Há séculos um embate tem sido travado: de um lado, os desejos da carne, de outro as normas a ele impingidas. O
Ocidente conhece um conjunto de normas bastante amplo e elaborado acerca das práticas sexuais, o que ficou a
cargo de diversos grupos sociais - religiosos, estatais, médicos, jurídicos - e muitos deles ainda tomam para si esta
tarefa. O desejo, porém, insiste em aconchegar-se na carne humana, levando os homens a um alargamento das
fronteiras entre o que é permitido e o que é interditado, por vezes suspendendo a fronteira e outras ultrapassando-a,
rompendo-a. Assim, o presente trabalho tem como proposta mapear a sociabilidade homoerótica e compreender a
problemática do desejo no interior dos grupos e espaços homossociais. Buscamos uma análise comparativa das
experiências dos anos 1960 contrapondo-as às dos anos 2000, verticalizando o olhar para a problemática que envolve
a sociabilidade gay e a homoafetividade, especialmente no que tange à mudança de comportamento dos indivíduos
homossexuais quanto à expressão de seus desejos e a função política e social de tal expressão. Procuramos compre-
ender o esvaziamento libertário do desejo homoerótico - característico dos anos 1960 - no transcurso dos anos 2000,
quando este adquiriu um caráter jurídico-reivindicatório e econômico.

Vera Lúcia Puga - UFU


Separações judiciais: o adultério como ponto da discórdia
A 'queima de arquivos" no Judiciário brasileiro foi alvo das preocupações de todos (as) pesquisadores (as) da violên-
cia. A Universidade Federal de Uberlândia, através do Núcleo de Estudos de Gênero e Pesquisa sobre a Mulher
(NEGUEM), lutou e conseguiu, junto ao Fórum Abelardo Penna, por volta de 12.000 processos da área criminal entre
os anos de 1890 e 1980, tornando-se, desta forma, firel depositária destas ricas fontes documentais. Para nós pesqui-
sadores da violência de gênero não bastava termos acesso aos processos criminais, era necessário também o trânsito
entre os processos da área cível, os chamados 'segredos de justiça", ou seja, processos que envolvem menores ou
separaçôes judiciais litigiosas. Essas últimas nos dão certeza da existência de problemas relativos à disputa de pode-
res pelos cônjuges, de traições, de opções sexuais que fogem às regras sociais, de envolvimento com questões
financeiras, falta ou excesso de dinheiro, de riquezas. Escolhemos, nesta comunicação, trabalhar, entre os processos
que tivemos acesso, com aqueles que dizem respeito aos adúlteros. lestes se resumem em treze processos, sendo
seis homens e sete mulheres acusados de adúlteros pelos respectivos (as) companheiros (as). Dentre os homens
acusados de adúltero apenas um foi por homossexualidade.

Maria Aparecida Prazeres Sanches - UEFS


Sob o jogo do Espelho: Imagens e estereótipos de gênero e raça na conformação de casais na republica.
Salvador 1900/1950
As relações sexo-afetivas entre homens e mulheres na Bahia do inicio da republica foi marcada por conflitos em
decorrência a quebras das promessas de casamentos. Tal atitude fez com que os familiares dessas mulheres, e, em
alguns casos, elas próprias, empreendessem uma batalha legal nas delegacias e tribunais cujo objetivo fundamental

188
era obrigar o namorado a cumprimento à promessa de casamento quebrada. Os processos de defloramento (pleito
judicial aberto por conta do litígio) revelaram-me o universo das relações sexo-afetivas e das expectativas matrimoni-
ais de mulheres e homens pobres, negros e mestiços nós permitindo, ainda que de forma preliminar para os objetivos
deste trabalho, analisar, a partir do discurso das vítimas e dos acusados, as aspirações com relação ao casamento, as
regras de conduta presentes nas relações de namoro e os padrões de escolha que presidiam estas relações profunda-
mente marcada por imagens e estereótipos de gênero e raça.

Márcia Maria da Silva Barreiros Leite· UEFS


Representações de Gênero na Bahia do século XIX: memórias e trajetórias da escritora Anna Autran
Este estudo analisa as representações sociais dos papéis de gêneros construídas por mulheres pertencentes às elites
baianas no Segundo Império. A partir da análise da obra, ainda inédita, da escritora soteropolitana Anna Teófila Filguei-
ras Autran (1856-1933), busca-se discutir as concepções sobre as atividades, competências e habilidades que as
mulheres de determinados setores sociais poderiam desenvolver nos espaços da casa e da rua nas últimas décadas
do Império. Com seus escritos literários cheios de registros autobiográficos, a jovem letrada e de cultura refinada se
constituiu numa das pioneiras na defesa dos direitos femininos na Bahia, apresentando, publicamente, uma visão de
mundo crítica e transgressora no contexto de relações senhoriais. A trajetória e as experiências de Anna Autran reve-
lam muito dos traços da cultura baiana do período, bem como do processo de socialização das meninas, filhas da elite,
que encontraram na prática da leitura e da escrita, meios significativos para transformar, em alguns aspectos, a condi-
ção das mulheres. Esta pesquisa tem ainda o objetivo de revisar os estereótipos da historiografia tradicional que
insiste em colocar as mulheres como passívas, incultas, iletradas e submetidas a uma ordem de dominação suposta- ~
mente natural. @
Elizangela Barbosa Cardoso - UFPI
Amor, namoro e casamento em quadrinhas populares
As quadrinhas são formas de expressão cultural constituintes das sociabilidades femininas e masculinas. Transmitidas
via tradição oral por mulheres e homens mais velhos às novas gerações, as quadrinhas veiculam concepções de '"
mundo, valores e conselhos, que atuam na constituição das diferenças de gênero, ora reforçando hierarquias, ora :~
contestando-as. Nesse sentido, o texto estuda um conjunto de quadrinhas que circularam e circulam, no Piauí, com o a
intuito de abordar representações de amor, namoro e casamento em perspectiva de gênero. Mediante a análise dos gj
versos, é possível acentuar que os sentidos atribuídos aos verbos amar, namorar e casar ora confirmam, ora rebatem 'g
concepções dominantes de amor, de namoro e de casamento. Expressas no feminino e no masculino, as quadrinhas ~ QJ
também remetem a dois processos que marcaram o período compreendido entre as últimas décadas do século XIX e 1§
o xx. O primeiro consistiu no enredamento do namoro, do amor, do casamento e da sexualidade, através do qual se g.
buscou restringir a sexualidade feminina legítima ao casamento. O segundo diz respeito ao descentrar da sexualidade C;
das mulheres do âmbito conjugal. QJ
co
C)
Cl...
Pedro Vilarinho Castelo Branco - UFPI
Sociabilidades juvenis na década de 1920 ~
A presente comunicação tem como proposta discutir as sociabilidades juvenis em Teresina nos anos 1920, período ~
caracterizado por significativas mudanças no viver cotidiano da cidade. As transformações podiam ser percebidas
especialmente no que se refere ao incremento na oferta de escolarização, na instalação de salas de projeções cinema-
tográficas, na criação do passeio público e na popularização do futebol e de outras atividades esportivas. Os novos
produtos culturais traziam consigo propostas de ressignificar os corpos masculinos e femininos, de reinventar as fases
da vida. É o mundo de rapazes e moças que agora se viam bombardeados por produtos culturais até então pouco
presentes na cidade, e sobremaneira, a forma como esses jovens foram consumindo e incorporando em suas vidas as
novas formas de vivenciar e significar a mocidade que discutiremos. Na análise utilizaremos textos de alguns literatos
formados pela Escola de Direito do Recife, onde tratam da escolarização, da cultura física, e das sociabilidades moder-
nas, assim como, crônicas e artigos de jornais onde encontramos farto material informando e problematizando sobre
as sociabilidades da mocidade nos anos 20 em Teresina.

Márcia Castelo Branco Santana - UFPI


Permanências e rupturas: mulheres, família e casamento em Teresina nos anos 1970
As discussões de gênero no Brasil apontam a segunda metade do século XX, como um período de significativos
deslocamentos nos papéis femininos nos espaços públicos. As mulheres que construíram seus processos de individu-
ação a partir dos anos 1960 tiveram suas vidas marcadas por novas experiências, principalmente no que se refere às
possibilidades femininas no mundo do trabalho e no processo de escolarização. Em Teresina, o impacto das novas
propostas vão ser sentidos e divulgados com intensidade nos jornais escritos, que abordam enfaticamente as tensões,
os medos e os desejos relativos ao universo feminino. Dessa forma o presente texto tenciona refletir sobre as sociabi-
lidades femininas, sobre as práticas familiares em torno do casamento e das novas possibilidades abertas às mulhe-

189
res, bem como, entender como tais mudanças foram sendo escritas e representadas pela imprensa. Na elaboração do
texto utilizamos crônicas e notícias veiculadas no Jornal O Dia na década de 1970. Acreditamos que esse acervo,
prospectado no Arquivo Público do Piauí, constitui um importante corpus documental para a compreensão de como a
sociedade teresinense problematízava o viver feminino na urbe.

Fábio Henrique Lopes - USS


(Re)invenções de si e do outro nas violências entre parceiros íntimos
De que forma a prática, o uso e as diversas maneiras de conceber, perceber e divulgar os casos de violência perpetra-
dos por parceiros íntímos ajudam a constituir determinadas relações de poder, normatização, disciplina e controle
entre e para homens e mulheres? O que esses casos podem nos dizer sobre os modos de subjetivação, ou seja, sobre
as maneiras pelas quais os indivíduos participam da construção de suas subjetividades no campo da violência? As
parcerias íntimas e afetivas possibilitam e evidenciam constituições de subjetividades, formas de sujeição e incorpora-
ção da(s) normaIs), bem como de resistências, mudanças, reelaborações, rupturas, linhas de fuga e novas formas da
subjetivação? Quais os efeitos dessas violências nas formações subjetivas? Em que medida permitem e em que grau
participam da construção de masculinidades e feminilidades? Esta comunicação apresentará as reflexões iniciais do
trabalho de pesquisa que busca responder essas questões.

Vânia Nara Pereira Vasconcelos - UNEB


Mulheres "esposas", "mães","largadas", "amigadas" ... : práticas e representações acerca das mulheres no
casamento em uma cidade do interior da Bahia
Este estudo se propõe a discutir concepções acerca das mulheres em uma pequena cidade do interior da Bahia.
Analisa práticas representações sobre as mulheres em Serrolândia entre as décadas de 1960 e 1980, enfocando a
sexualidade, o casamento e a família, além das formas de repressão e de resístência feminina. A importância do
casamento como a principal finalidade da vida das mulheres aparece na construção de um ideal da mulher 'honesta",
esposa e mãe. As mulheres que não se casavam eram vistas como rejeitadas, uma vez que não foram selecionadas
para cumprir o seu papel principal. A partir da década de 1980, o casamento perde em parte sua importância nessa
sociedade, visto que houve uma diminuição do número de pessoas casadas, uma ampliação das Uniões Consensuais
e um aumento sígnificatívo do número de processos de Separação e Divórcio. As mulheres separadas eram chamadas
'largadas", dando a ídéía de abandono; as que não eram casadas oficialmente eram chamadas 'amígadas'. As fontes
utilizadas foram processos judiciais, livros de registro de casamentos, entrevistas orais, dados dos Censos do IBGE e
alguns materiais dos entrevistados, como cadernos de confidências, diário, cartas de amor e outros.

24. GT . Mundos do Trabalho: Cultura, Cotidiano e Identidades


Alexandre Fortes (UFRRJ) e Evangelia Aravanis (ULBRA)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h ás 18h) I
Claudio Henrique de Moraes Batalha - UNICAMP
Anarquismo, sindicalismo-revolucionário e movimento operário no Rio de Janeiro (1903-1928)
A comunicação pretende explorar as distintas manifestações do anarquismo no Rio de Janeiro e seus diferentes
campos de atuação, com ênfase no movimento sindical e nos grupos de propaganda. As relações entre anarquismo e
sindicalismo-revolucionário e as múltiplas identidades que se constroem na confluência dessas duas categorias são
parte essencial da discussão proposta. Até que ponto o sindicalismo-revolucionário representa apenas uma forma de
atuaçáo dos anarquístas no movimento sindical ou se, de fato, constitui uma corente ideológica distinta do anarquismo,
está também entre os aspectos a serem explorados na comunicação. A crise do sindicalismo-revolucionário e o surgí-
mento de um 'anarco-sindicalismo" nos anos 1920, é também um dos aspectos a serem abordados.

Uassyr de Siqueira - UNICAMP


Sindicatos Paulistanos durante a Primeira Republica
Marcados pelas lutas em prol da melhoria das condições de trabalho, e também pela violenta repressão policial, os
sindicatos da cidade de São Paulo durante a Primeira Republica foram bastante abordados pela história social do
trabalho. Entretanto, dá-se pouca atenção aos aspectos mais internos das associações sindicais, como formas de
gestão e de funcionamento, condições para admissão de sócios, etc., aspectos esses que podem ser notados nos
estatutos sociais de algumas organizações sindicais. A partir desses estatutos, notamos também fatores que ajudam
tanto a entender suas ações reivindicatórias, quanto questões que dizem respeito á formação de identidades entre os

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trabalhadores, como as de oficio, por categoria profissional e de classe, identidades bastante mescladas na linguagem
empregada na redação dos estatutos sociais das entidades sindicais. Esses são alguns dos aspectos que nos propo-
mos a abordar em nossa comunicação.

Jefferson Carriello do Carmo - Universidade de Sorocaba/Unicamp


Indústria têxtil, movimento operário e a questão das greves na cidade de Sorocaba
O objetivo desse estudo, tendo como referência a indústria têxtil e a organização da classe trabalhadora sorocabana
do inicio do século XX, foi investigar as greves nesse periodo, as reivindicações presentes nesse movimento e a luta
politica e social instaurada nesse contexto. Verificou-se que, em Sorocaba, no final do século XIX, inicio do século XX,
a cidade passa do comércio de muares para uma cidade-vanguarda de produção industrial, o que propicia o inicio de
outra atividade econõmica: as indústrias têxteis. Nessa mudança produtiva ocorrem as primeiras ações para a organi-
zação da classe trabalhadora oriunda de imigrantes italianos, espanhóis e portugueses. Juntamente com o nascimen-
to da fábrica têxtil surge e se organiza a classe trabalhadora que traz no seu bojo reivindicações de natureza diversas
dentre as quais o aumento de salário, melhores condições de trabalho e jornada de 8 horas de trabalho, dentre outras.
Identificou-se que diante desse quadro, a adesão dos operários foi maciça, bem como a propagação de um ideário
contra esse estado de descontentamento. Nesse contexto, demarcados nos anos de 1914 a 1919, há registro

Mário Augusto Correia San Segundo - UFRGS


"Todos bem. Vanda espera cegonha antes do dia 26. Abraços Zéca" (A Greve Nacional dos Bancários em 1946
no Estado do Rio Grande do Sul)
O estudo é resultado da monografia de conclusão do curso de História da UFPel e trata sobre a greve nacional dos
trabalhadores bancários em 1946 no estado do Rio Grande do Sul. A pesquisa foi feita a partir de fontes encontradas
em cinco órgãos de imprensa de Porto Alegre e Pelotas. Tentou-se, através desta análise, perceber aspectos da
consciência de classe e da cultura associativa que levaram parte dos trabalhadores brasileiros a colocarem-se em
movimento no pós-guerra. A greve foi organizada a partir de comitês locais e sindicatos, contou com a participação
expressiva de mulheres e foi fortemente marcada por mobilizações de rua e debates na imprensa. No RS a greve
ocorreu em 36 cidades. Quanto á consciência de classe desenvolvida durante a mobilização, essa foi bastante influen-
ciada pela construção, em meio á greve, da figura do 'o bancário', trabalhador afinado com os anseios de seus colegas
e dos trabalhadores do Brasil, em antagonismo aos 'puxa-sacos", os que não participaram da greve e que estariam ao
lado dos banqueiros. O movimento caracterizou-se pelo legalismo, na tentativa de conquistar os mais variados setores
da sociedade para se posicionarem a favor dos trabalhadores e do direito de greve que estava sendo reconquistado
'na marra', após a ditadura do Estado Novo.

Teima Bessa Sales - UFCE


Canudenses na cidade de São Paulo: trajetórias
O trabalho é parte da tese intitulada: 'Experiências de canudenses na cidade de São Paulo: Memórias e Experiências
(1950-2000)', situada na área de História Social, da PUC/São Paulo. Objetiva-se discutir as experiências de canuden-
ses, não como unidade homogênea, mas sujeitos da própria ação, bem como retratar as maneiras de viver na cidade,
em determinado campo de forças e disputa por espaços, territórios, visões de mundo e símbolos. Busca a incorpora-
ção dos trabalhadores migrantes canudenses como um novo sujeito social, valorizando os aspectos culturais deste r.;:;'\
grupo, sua constituição na cidade, trajetórias, trabalho, relações sociais e modos de vida. O procedimento metodológi- ~
co se deu com a História Oral: trabalhadores canudenses que residem na zona sul da cidade de São Paulo e mantém
viva a ponte que liga São Paulo/SP a Canudos/BA, considerando experiências vividas com tradições, saberes e valo-
res. A proposta desse trabalho, além de participar da preservação do patrimõnio cultural imaterial nacional, apresenta c::i
reflexão sobre o cotidiano destes trabalhadores migrantes frente aos desafios do presente: a luta pela sobrevivência ~
na metrópole, a vivência da discriminação, a incorporação de códigos da vida urbana e a solidariedade entre os :-.§
conterrâneos, 8
Alex de Souza Ivo - UFBA
Gestão de trabalho e conflitos de classe na indústria do petróleo (1950·1964)
Em medos da década de 1940 começa a exploração de petróleo no estado da Bahia, pouco mais tarde, em 1950, é Jg
inaugurada uma refinaria do petróleo na entre as cidades de Candeias e São Francisco do Conde. Tal iniciativa se ]g
torna uma oportunidade para milhares de baianos adentrarem ao mundo do trabalho formal, no qual a carteira assina- ~
da e os direitos sociais eram a sua principal esperança. Entretanto, o sistema de dominação montado pelos gestores .g
da empresa limitava conquistas e segregava os trabalhadores de acordo com sua função e origem geográfica. As rg
reivindicações dos trabalhadores não tardaram a vir e no final da década de 1950 existiam dois sindicatos formados. A §
presente comunicação pretende apresentar qual o modelo de gestão implantado na RLAM (Refinaria Landulpho Alves :::2:
- Mataripe) e na RPBa (Região de Produção da Bahia), buscando compreender como os trabalhadores enxergavam o ~
sistema de dominação montado, bem como suas principais ações para reverter a situação em que se encontravam. <.:J

191
Antonio Luigi Negro - UFBa
Qual chapéu-de-couro? O trabalhador rural entre o banditismo e o desenvolvimentismo nos papéis da policia
politica
Apresentarei resultados parciais de pesquisa apenas iniciada. Irei trabalhar com um caso singular e, assim, explorar
anteriroes possibilidades de pesquisa, referidas ao debate sobre o trabalhismo no Nordeste.

Marcos André Jakoby - UFF


A construção de uma identidade e uma cultura de classe entre os trabalhadores metalúrgicos de Porto Alegre:
algumas experiências sindicais no ano de 1960
Neste trabalho, pretende-se analisar algumas experiências sindicais promovidas pelos trabalhadores metalúrgicos de
Porto Alegre, no ano de 1960, que contribuíram para a formação de uma cultura e uma identidade operária. Desta
maneira, examinam-se iniciativas como a formação do Teatro e do Coral Metalúrgico que almejavam garantir aos
trabalhadores a produção e o acesso a bens culturais que eram, muitas vezes, somente disponíveis a outras classes
sociais. Igualmente, essas iniciativas possibilitavam aos trabalhadores uma produção cultural que contribuia para a
expressão e reflexão das peculiaridades que fazem parte da classe trabalhadora. Outra iniciativa analisada, trata-se da
passagem do Primeiro de Maio de 1960 que foi programado "sem o calor oficial" do Estado. Neste sentido, procura-se
examinar os significados atribuídos pelos trabalhadores a esta data, a qual foi definida como um "dia de luta contra o
paternalismo governamental e patronal'. Desse modo, busca-se demonstrar que estas experiências representavam
avanços politicos, econômicos e culturaís conquistados pelos trabalhadores, bem como, procura evidenciar que estas
iniciativas eram elementos de uma estratégia que objetivava envolver mais trabalhadores na organização sindical e
nas lutas reivindicatórias.

I 17/07 - Terça-feira - Tarde (14h às 18h)

Benito Bisso Schmidt - UFRGS


Gilda e Lila: duas maneiras de ser mulher e comunísta em Porto Alegre nos anos 40
Partindo da análise de fontes orais e escritas, o trabalho investiga a produção de memórias a respeito de duas gaúchas
que militaram no PCB na década de 1940: a jornalista Gilda Marinho (1906-1984) e a professora e literata Lila Ripoll
(1905-1967). A primeira, apesar de haver participado de importantes organizações, campanhas e eventos promovidos
pelos comunistas, normalmente tem sua militância esquecida ou caricaturizada, sendo lembrada, sobretudo, como
uma mulher ousada, "à frente de seu tempo', extravagante e transgressora dos papéis de gênero vigentes, ligada à
"alta-sociedade' porto-alegrense. Já Lila é recorrentemente citada nas fontes do Partido, construída como a "comunista
ideal' por seus companheiros. A hipótese da pesquisa é que Gilda, ao contrário de Lila, não se adequava aos padrões
morais e estéticos dos comunistas brasileiros do período e, por isso, não foi incorporada ao "panteão' do Partido.

Rafaela Leuchtenberger - UNICAMP


Mutualismo e Beneficência em Florianópolis - SC (1890-1931)
O objetivo desta pesquisa é identificar quais eram as sociedades de socorro-mútuo organizadas pelos trabalhadores
na capital catarinense, assim como suas formas organizativas, princípios, intenções e o papel social que desempenha-
vam. Através destas instituições torna-se possivel traçar um perfil a respeito dos trabalhadores florianopolitanos, os
projetos políticos por eles desenvolvidos, suas necessidades e relações cotidianas. Esta pesquisa está em desenvol-
vimento como projeto de mestrado.

Vinicius Donizete de Rezende - UNICAMP


A experiência de sapateiras no Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Calçados de Franca nos anos
1980
As mulheres trabalhadoras ocuparam posição de destaque no processo de industrialização do município de Franca-
SP, compondo cerca de 40% da força de trabalho empregada no setor calçadista. Neste trabalho, buscou-se interpretar
a participação das operárias no cotidiano do Sindicato dos Sapateiros nos anos 1980, período de formação do novo
sindicalismo em Franca, bem como a incorporação de suas reivindicações específicas ao conjunto mais amplo das
lutas da categoria. Foi possível observar ambigüidades entre o discurso de defesa pela igualdade entre homens e
mulheres a prática cotidiana na direção da entidade. Muitos diretores não superaram a formação paternalista da soci-
edade em que viviam, o que resultou na incapacidade de se construir relações sociais igualitárias no próprio cotidiano
sindical.

192
Luigi Biondi - UNIFESP
Identidades em conflito na greve de 1917 em São Paulo
Neste trabalho. analisarei as complexas dinâmicas que levaram à eclosão e ao desenrolar-se. em 1917. da maior
greve geral da época na cidade de São Paulo. enfatizando os conflitos entre os elementos culturais identitàrios étnicos.
nacionais e de classe dos tantos trabalhadores brasileiros e estrangeiros envolvidos no movimento grevista.

Kenia Aparecida Miranda - UFF


Sindicalismo docente e identidade de classe: como os trabalhadores da educação pensam a educação dos
trabalhadores
Este trabalho analisa o pensamento pedagógico e o projeto sindical de três sindicatos docentes em atuação no estado
do Rio de Janeiro e que compõem camadas diferenciadas da organização docente da educação básica. Ou seja. o
presente texto tem como objeto o processo de construção de identidades que se delineia no embate de formulações
educacionais a partir da experiência sindical e do trabalho. Dessa forma. discute as transformações ocorridas na
prática política das entidades. seus conflitos extemos e internos e suas concepções educacionais. O trabalho possui
um recorte contemporâneo e recorreu a uma variedade de fontes primàrias e secundárias. estando organizado da
seguinte forma: O caràter multifacetado dos sindicatos docentes do Rio de Janeiro; O Pensamento Pedagógico e o
Projeto Sindical do SEPE. do SINPRO e da UPPES.

Fernanda Bem - Museu Histórico de Pinhalzinho e Sociedade Educacional Pinha


Na cadência da nória: experiências de operários da indústria frigorífica
Este texto tem por finalidade demonstrar as experiências vivenciadas pelos operários da indústria frigorífica de Chape-
cá, especificamente os da Sadia Avícola. O abatedouro de aves começou operar em 1973. Desde então, a procura por
emprego na Sadia e nas demais indústrias frigorificas que estavam se desenvolvendo em Chapecó, modificou o
cenário urbano alterado pelos novos moradores que chegavam, motivados pelas oportunidades de emprego. Esses
migrantes, a maioria de procedência rural, foram bem aceitos nas diversas modalidades de trabalho disponibilizadas
pelas indústrias frigorificas do municipio. Diante disso, intentamos apresentar quais foram os motivos que determina-
ram a saída do campo; como foi o processo de adaptação às condições de trabalho; como era o dia-a-dia e as relações
entre os operários na fábrica.

Allana Cristina de Amorim - Secretaria Municipal de Educação São Leopoldo


Construção da classe: relações internas e cultura operária no Rio Grande do Sul da Primeira República
Tendo em vista o patamar atual do debate sobre a construção da classe operária proponho uma reflexão que contem-
ple as relações estabelecidas entre os próprios integrantes da classe. No processo de formação da classe estiveram
envolvidas experiências de trabalho e também outras de caráter cultural, como as de gênero e étnica, as quais forne-
ceram traços especificos a este proletariado. Desta forma, ao mesmo tempo em que a classe se definia por oposição
à burguesia, ela consolidava suas relações internas com base em experiências e demandas comuns. Conforme Thomp-
son, a classe operária se forma através da luta, mas também com base nas suas experiências e heranças culturais
compartilhadas. Desta maneira, busco contribuir para o debate lançando mão de aspectos empíricos sobre a classe
operária do Rio Grande do Sul. mas sob a luz das questões teóricas apontadas por Thompson, especificamente aquela
que se refere às relações internas da classe no processo de sua formação. ®
Lúcia Helena Oliveira Silva - UNESP
Emancipados, afro-descendentes e imigrantes: solidariedades e conflitos no mundo do trabalho
A derrocada da escravidão, foi apenas uma das etapas do longo processo para obter o tratamento e direitos igualitários c::i
de cidadão entre brancos e negros. No Estado de São Paulo. essa situação foi particularmente complexa devido à .§
intensa imigração européia que rapidamente tornou-se mão-de-obra preferencial. Apesar dos estudos clássicos sobre ~
as relações entre negros e brancos em São Paulo , há uma ausência de pesquisas sobre os destinos dos afro- t...J

brasileiros após a Abolição em 1888. Como boa parte dos grupos das camadas populares, os libertos e seus descen- ~­
dentes produziram poucos registros diretos sobre suas vidas, mas podemos percebê-Ias nas marcas culturais deixa- .:§
das nos espaços onde viveram, nas queixas encaminhadas à polícia contra eles, na literatura, crõnicas e imprensa de t...J

época. Além disso. houve insistência na manutenção de distinções utilizadas antes da Abolição como a condição jg
liberto, livre e o item cor mesmo onde elas não são requeridas, como ocorria em processos e artigos de jornais. Todos ]g
estes dados são bastante reveladores das percepções da sociedade em torno do ex-escravo e do afro-descendente ~
que buscaremos trabalhar nesta comunicação.
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193
18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h ás 18h)

Márcia Janete Espig - Ulbra


liA nobreza do operariado está na própria liberdade": as representações do jornal O Progresso (Ponta Grossa)
sobre os operários da construção da linha sul da EFSPRG (1908-1910)
A linha sul da Estrada de Ferro São Paulo - Rio Grande (EFSPRG) percorria a região contestada entre Paraná e Santa
Catarina, e sua construção ocorreu entre os anos de 1908 e 1910. Neste período, afluiu para o local um grande volume
de operários, possivelmente em torno de 8.000 pessoas. Os periódicos em geral tratavam tais personagens de forma
genérica e por vezes esqueciam inclusive a importância de sua atuação, atribuindo a rapidez dos trabalhos tão somen-
te à operosidade dos grandes engenheiros envolvidos no projeto. Um jornal se destaca, entretanto, ao tratar da cons-
trução da linha sul: O Progresso, de Ponta Grossa. Nesta comunicação será meu objetivo apresentar o discurso
destoante desse periódico, que questiona as condições de trabalho às quais os operários se viam obrigados, comen-
tando ainda algumas de suas experiências cotidianas. Para tanto, irei relacionar a representação jornalística d'O
Progresso a dois importantes fatores: 1) a tendência socialista de seu articulista e 2) a campanha difamatória e pessoal
movida por ele contra o engenheiro chefe da construção e contra o engenheiro fiscal do governo.

Paulo Pinheiro Machado - UFSC


Aleãozinho e a memória das ordens
Esta comunicação tem como objetivo refletir sobre o uso que a historiografia fez sobre dois documentos capturados
pelas forças do exército quando grupos de sertanejos envolvidos no movimento do Contestado apresentaram-se na
região de Canoinhas. Os documentos foram apresentados por Henrique Wolland, o "Alemãozinho'. O primeiro docu-
mento é um conjunto de ordens deAlemãozinho aos membros de seu piquete de ataque, o segundo documento é uma
carta de 'habilitação' assinada pela 'virgem" Maria Rosa. Os cronistas militares e depois os estudiosos sobre o movi-
mento sertanejo, não preocuparam-se em refletir sobre as origens destes documentos e a estratégia de Alemãozinho
em negociar sua própria rendição.

Rogério Rosa Rodrigues - UFRJ


As condições de trabalho dos soldados que atuaram na Guerra do Contestado
Durante a guerra do Contestado o governo brasileiro, além de enfrentar a pressão dos coronéis locais para por fim ao
conflito liderado por sertanejos crentes na figura de João Maria, enfrentou ainda as denúncias que apareciam na
imprensa nacional acerca das condições de trabalho dos soldados do Exército Brasileiro presentes no fronl. Falta de
medicamentos, alojamentos deficientes, alimentação escassa e atraso nos soldos eram situações cotidianamente
apresentadas na imprensa tanto por meio de cartas anônimas quanto por parte dos jornalistas que escreviam sobre a
guerra. Essas noticias comprometiam a imagem do Exército que se empenhava numa campanha de modemização e de
profissionalização dos seus quadros, pois além de culpar o govemo pelas condições de servidores da pátria ainda ressus-
citava o fantasma das perdas sofridas pelo Exército durante a Guerra de Canudos. Tendo como fonte as denúncias
apresentadas na imprensa da época, bem como fotografias, relatórios militares e memórias de oficiais, essa comunicação
tem como proposta investigar as condições de trabalho dos soldados do Exército que atuaram Guerra do Contestado
durante a grande expedição militar comandada pelo General Fernando Setembrino de Carvalho (1914-1915).

Frederico Duarte Bartz - UFRGS


Equilíbrio Distante. A revolução russa como referência para múltiplas identidades no movimento operário
gaúcho.
A revolução russa foi um importante horizonte de esperanças para os militantes do movimento operário no fim dos
anos 10, principalmente para anarquistas e socialistas radicais, que viam na Rússia uma fonte de inspiração para
transformações revolucionárias na sociedade. Entretanto esta visão sobre a revolução não foi igual para todos, nem
mobilizou todos pelos mesmos motivos. Observando o caso de três militantes operários: o socialista e nacionalista Carlos
Cavaco, o barbeiro espirita Abílio de Nequete e o anarquista Zenon de Almeida, poderemos observar diferentes apropria-
ções, mobilizadas por diferentes identidades operárias. Podemos assim não só saber um pouco mais sobre a recepção da
revolução russa no Rio Grande do Sul, mas também conhecer as múltiplas faces da classe operária gaúcha.

Juçara da Silva Barbosa de Mello - UERJ


O Compasso da vida no ritmo da fábrica: identidade e memória do cotidiano operário em Santo Aleixo
As transformações na estrutura econômica do pais, iniciadas a partir da década de 20, impulsionaram a modernização
das indústrias têxteis já existentes em Magé, no Estado do Rio de Janeiro, especialmente em seu 2° distrito: Santo
Aleixo. Local onde as instituições sociais foram tornando-se todas de algum modo subordinadas as fábricas, estas
responsáveis pela criação de uma infraestrutura que contou com a construção de vilas operàrias, postos de saúde,
escolas, enfim, uma série de beneficios sociais, e mais a criação de clubes esportivos, cinemas e blocos carnavales-
cos. Todas estas implementações contribuiram, gradativamente, no decorrer das décadas seguintes, para o estabele-

194
cimento de uma nova dinâmica social. No estudo específico sobre as vivências do operariado de Santo Aleixo foi
privilegiada a margem de liberdade e criatividade na qual os mesmos foram capazes de fo~ar seus próprios padrões
culturais. Buscou-se, ainda, uma ampliação do conceito de classe, a partir da identificação das múltiplas e variadas
estratégias a que os trabalhadores recorreram diante das condicionantes estruturais a que estavam submetidos. Es-
sas estratégias ganham significado ao levar-se em conta, fundamentalmente, os contextos de vidas dos operários,
tudo isso observado nas falas e nos comportamentos

Alexandre Fortes· UFRRJ


O Partido dos Trabalhadores na voz de seus fundadores: a história oral como instrumento de revisão historio
ográfica
O projeto de História Oral do Partido dos Trabalhadores nasceu de uma parceria entre a Fundação Perseu Abramo e o
Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getúlio Vargas (CPDOC/
FGV). Foram entrevistados 25 depoentes, entre fundadores e outros militantes que tiveram papel de destaque na
construção do partido em âmbito nacional. A amostragem foi selecionada pela Fundação Perseu Abramo levando em
conta critérios de diversidade política, regional, ocupacional e de gênero. A implementação do projeto foi iniciada
em 2005, visando à publicação de um livro comemorativo aos 25 anos do partido. Com o impacto da crise política,
os trabalhos foram retomados apenas em 2006. O objetivo da apresentação é estabelecer um diálogo com a histo-
riografia relativa à trajetória histórica do PT a partir de novas hipóteses e abordagens derivadas da análise desses
depoi mentos.

Paulo Cesar Inácio - UFG • Campus de Catalão


A dialética da construção do campo nas memórias e vivências de seus moradores
O Trabalho de pesquisa tem sido realizado em um percurso no qual buscamos interpretar, em versões produzidas
sobre o passado no sudeste goiano, os significados que as mudanças adquirem para alguns de seus moradores.
Explorando nas lembranças a organização que fazem do período vivido, entre 1940 a 1970, recortando, para além de
um tempo 'passado", um campo de memórias, que apresenta impressões subjetivas impregnadas de interpretações,
permitindo tencionar as relações entre passado e presente na formação de uma história locai. No mestrado analisamos
as experiências de trabalhadores braçais da Estrada de Ferro Goiás, identificando as particularidades de uma memó-
ria destes trabalhadores forjadas nos valores que traziam na vivência no campo e nas tensões com a empresa. No
doutorado estamos destacando como o campo surge nas memórias dos trabalhadores, inclusive os que entraram para
o serviço ferroviário no sudeste goiano, dimensionando sua construção a partir das transformações em suas formas de
vida. No exercício, temos procurado refletir sobre as relações entre campo e cidade para além de recortes cronológicos
ou espaciais, a fim de idenficarmos como construções contínuas são expressas em práticas representações dos dife-
rentes sujeitos.

Osvaldo Batista Acioly Maciel - UEAL


Documentos para a história da classe trabalhadora em Alagoas· experiência de um projeto no interior do
concurso Memória do Trabalho no Brasil
Esta comunicação objetiva avaliar a experiência relativa ao projeto 'Coletânea de documentos sobre a história do
trabalho e da classe trabalhadora no estado de Alagoas (1870-1960)", realizado no interior do Programa Memória do ~
Trabalho (MTE;CPDOC-FGV). Além de relatar o processo de construção e realização de suas etapas, pretendemos
analisar alguns impactos apresentados de imediato pelo projeto, bem como realizar observações que contribuam para
®
o aperfeiçoamento do Projeto em nivel nacional.
o
Luiz Cláudio Moisés Ribeiro - UFES ~
Memória e História na gestão do conhecimento em entidades sindicais E
Trata da organização do Sindicomerciários-ES (1931) que teve seu acervo organizado e sua história de 75 anos de 8
existência publicada. Desconhecida dos próprios diretores no período anterior a 1982 a pesquisa revelou a atuação ('C-

durante o Estado Novo e nos períodos posteriores até o regime de 1964 quando a entidade organizou estratégias de ~
luta pela saúde, esporte, educação, moradia e crédito para seus associados, forjou a identidade profissional da catego- LJ
ria e soube articulando-se contra a jornada excessiva de trabalho até o advento do neoliberalismo. Tradicional centro ~
gerador de lideranças políticas capixabas, o Sindicomerciários-ES articulou a criação do PTB e, mais da tarde, esteve ]i
ligado ao surgimento do PT e da CUT apoiando a eleição de oposições às diretorias do regime militar. Em tempos de ~
shoppings centers e economia globalizada os comerciários adotam estratégias renovadas de luta pelos direitos ao -i5
descanso e lazer, retornando às grimeiras demandas da categoria.

195
19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h às 16h30min)

Evangelia Aravanis • Ulbra


A greve, o boicote e a "prudência procriadora": o corpo operário como uma arma de luta
O artigo visa expor e analisar o fato do corpo do operário ter se constituido em uma arma de luta contra o capital.
Objetivamente analisa-se como através de vários métodos de ação do período da República Velha, como o boicote
e a greve, este corpo veio a ser não só um objeto de dominação e exploração do capital, algo já muito explorado
pela historiografia, mas também um instrumento de combate contra o patronato em geral. A razão para tal emprego
encontrasse exatamente na condição a que este corpo foi relegado na ordem capitalista, o de ser um 'mero' meio
de produção.

Larissa Rosa Correa - Unicamp


A Greve contra a Carestia: trabalhadores em busca de novas formas de negociações na Justiça do Trabalho -
São Paulo, setembro de 1954
Neste trabalho analisarei as negociações e os conflitos entre operários e patrões travados na Justiça do Trabalho
durante a Greve da Carestia, ocorrida na cidade de São Paulo no dia 2 de setembro de 1954. Para tanto, serão
utilizados os dissídios coletivos das categorias dos trabalhadores têxteis e metalúrgicos arquivados no Tribunal Regi-
onal do Trabalho da Z' região de São Paulo, uma entrevista fornecida pelo líder sindical Antônio Chamorro, a documen-
tação do Dops, além da bibliografia sobre o movimento. Três fatores justificam o estudo dessa greve: 1 - uma greve
geral realizada no momento em que o país se encontrava abalado devido à morte de Getúlio Vargas, o que acabou
dividindo os trabalhadores e a opinião pública no tocante a pertinência da greve; 2- a tentativa de negociar um acordo
coletivo salarial reunindo as categorias mais combativas do movimento operário; 3- chama a atenção o pedido de
dissídio coletivo feito pelos empregadores. Vale ressaltar que a análise dessa greve apresentou muitas semelhanças
com a Greve dos 700 mil, realizada na cidade de São Paulo em 1963.

Cleidivaldo de Almeida Sacramento - UFBA


Trabalho, Poder, Cotidiano e Justiça no Recôncavo Sul
Em fins do século XIX e início do XX, a Província da Bahia vivia um significativo processo de 'modernização' e urbani-
zação. Foram criadas novas estradas, pequenas ferrovias e alguns serviços de cabotagem. Essas 'inovações', símbo-
lo do progresso material de outras nações, provocavam alterações no cotidiano dos chamados 'centros comerciais' da
Bahia, como por exemplo, o Recôncavo Sul, área historicamente marcada por uma economia agrária e sociedade
escravista. Ali, a indústria e o comércio se desenvolviam, a fim de atender não só a demanda local, como também, os
grandes mercados consumidores, externos. Percebe-se porém, que em face dessa nova dinãmica da economia local,
alguns meios 'modernizadores', como as ferrovias, por exemplo,representavam para os empresários, um meio facilita-
dor do escoamento da produção, lhes garantindo lucros certos e imediatos. Porém,ao passo em que ferrovias como a
'Tram-Road de Nazareth' estendia seus ramais modificando 'novas' e 'velhas' áreas de produção. O impacto causado
pela 'modernidade' fez surgir novos traçados urbanos e os já existentes, foram redesenhados, influenciando direta-
mente nas relações comerciais e sociais de trabalho exigindo-se dos trabalhadores o uso de estratégias solidárias de
sobrevivência e resistência.

Diego Luiz Vivian • UFRGS


Transgressões legais na orla portuária das cidades do Rio Grande/RS e de Porto Alegre entre os anos 1950 e
1960
Nas décadas de 1950-60 trabalhadores dos principais portos localizados no RS não deixaram o 'anonimato do cais'
somente durante suas participações em movimentos grevistas ou reivindicativos. Havia ocasiões menos 'nobres' em
que eles também chamaram a atenção das autoridades constituídas e da opinião pública, isto é, nos momentos em
que foram responsabilizados pela efetivação de práticas consideradas ilicitas, tais como o furto e o roubo de mercado-
rias. O presente estudo não aborda estas transgressões como se fossem meros comportamentos desviantes. Antes,
procura desvelar nestes fenômenos as possibilidades de construção de práticas criativas apoiadas na cooperação e
na solidariedade, as quais ajudaram a constituir uma 'cultura de resistência' orientada por interesses e práticas diver-
gentes daqueles supostamente dominantes no período. Ao partir desta premissa, estes supostos 'desvios de conduta'
podem ser compreendidos como uma espécie de contra-golpe a determinadas pressões estruturais decorrentes da
exploração cotidiana a que estavam submetidos estes trabalhadores. Transgredir, pois, podia significar uma tentativa
de inversão da lógica como o 'mundo do trabalho' estava estruturado. Afinal, em muitos casos se estava 'roubando'
ninguém menos que os próprios 'patrões' ou o 'Estado'.

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20107 - Sexta-feira - Manhã (10h30min ás 12h30min)
Isabel Aparecida Bilhão - UCS
"Quatro horas entre os anarquistas": O ensino racionalista e a imagem de Francisco Ferrer y Guardia na visão
de um clérigo católico
Na presente comunicação, pretendo, a partir da analise do opúsculo 'Ferrer 'Mártir' ou 'patife'?", publicado na revista
Vozes, em 1913, observar os principais argumentos utilizados por um representante do clero católico para contestar a
ação anarquista e a fundação de escolas modernas no Brasil, procurando identificar os principais enfrentamentos e
disputas entre essas duas correntes ideológicas na organização operária nas primeiras décadas do século XX.

Victória Gambetta da Silva - UFSC


Juventude Operária Católica (JOC) em Santa Catarina (1948-1970): Experiências e memórias
A história da JOC em Santa Catarina teve inicio a partir de 1948. Data em que oficializado pela Igreja Católica o
movimento jocista, centrado no objetivo de promoção humana e cristã da juventude, de ambientes operários, quer
industriais, quer comerciais, ganhou proporções e respaldo nacionais. Organizada inicialmente na capital Florianópolis
e, ao longo de sua trajetória, atingindo as quatro dioceses existentes no estado no periodo e um total de doze municí-
pios, a JOC catarinense estabeleceu-se inserida em um quadro de reorganização das formas de apostolado e recupe-
ração de influência no qual se pautava não apenas a Igreja Católica brasileira, mas a Igreja Católica de forma geral. No
entanto, ao mesmo tempo em que se estabelecia como um movimento de cunho nacional, com padrões organizacio-
nais e doutrinais divulgados e incentivados na perspectiva da manutenção de uma unidade de objetivos, a diversidade
dos contextos estaduais e também das Dioceses impunha á JOC uma dinâmica de adaptar-se ás necessidades do
meio ao qual se inseria. Dessa forma, nos é possível verificar na trajetória do movimento no estado uma diversidade de
experiências e memórias conseqüentes das particularidades encontradas em seus contextos e espaços de atuação.

Deivison Gonçalves Amaral - FEVALE-UEMGIDIAMANTINA


Confederação Católica do Trabalho: práticas discursivas e oríentação católica para o trabalho em Belo HorI-
zonte (1919-1930)
O objetivo do trabalho é analisar a atuação da Confederação Católica do Trabalho junto aos trabalhadores de Belo
Horizonte, entre 1919 e 1930. Foram consideradas as práticas discursivas da entidade, as campanhas empreendidas
pela conquista de direitos e melhores condições de vida e o papel de mediadora dos conflitos entre capital e trabalho
e difusora das diretrizes do catolicismo para as vivências no mundo do trabalho e no cotidiano da cidade. A metodolo-
gia da análise do discurso é utilizada com o objetivo de perceber o papel das práticas discursivas católicas e a pene-
tração do catolicismo. As fontes nucleares são: o órgão oficial O Operário e os Annaes do Conselho Deliberativo de
Bello Horizonte. Contrariam-se as críticas comumente feitas, que atribuem a esse tipo de ação reformista a responsa-
bilidade por um movimento operário pouco autônomo ou 'amarelo'. A penetração do catolicismo social, em Belo Hori-
zonte, é entendida como uma forma de consciência de classe assumida pelos trabalhadores da cidade. O catolícismo
teve penetração no mundo do trabalho e influenciou a o encaminhar das campanhas trabalhistas. Tentamos demons-
trar que a estratégia sindical reformista católica atendeu ás demandas mais urgentes dos trabalhadores: jornada de
oito horas, descanso dominical e habitações.

Alejandra Luisa Magalhães Estevez - UFRJ


A Juventude Operária Católica (JOC) e a Ação Católica Operária (ACO): Identidades e Especificidades
Este trabalho tem por objetivo analisar as atividades desenvolvidas por dois movimentos constituídos por trabalhado-
res católicos leigos: a Juventude Operária Católica (JOC) e aAção Católica Operária (ACO), entre as décadas de 1940 g
e 1980. Ambos os movimentos terminaram por introduzir práticas inovadoras no interior da Igreja católica a partir de :.@
suas experiências cotidianas e, ao mesmo tempo, vivenciaram, de maneira peculiar, as questões relativas ao mundo .~
do trabalho. Nesse sentido, importa entender as subjetividades de cada um desses grupos e os laços identitários W
criados a partir de sua religiosidade e de sua condição operária. A interação destes dois mundos - o operário e o ~­
católico - fizeram com que a Igreja se engajasse em diversos dos conflitos políticos e sociais que permeavam a classe "'5
operária, assim como fez com que diversas organizações operárias relativizassem seus antigos preconceitos, atuando W
o
freqüentemente ao lado destes trabalhadores católicos, nos múltiplos espaços por eles compartilhados. A metodologia ~
aqui empregada consiste na análise de documentos oficiais da JOC e da ACO, em nível nacional, juntamente com a ~
metodologia da História Oral. t=

197
20107 - Sexta-feira - Tarde (14h às 18h)

Adriano Luiz Duarte - UFSC


"O populismo visto da periferia: adhemarismo e janismo no bairro da Mooca, 1947-1953"
Este trabalho procura compreender a emergência de Adhemar de Barros e Jânio Quadros e suas relações com uma
sofisticada rede de contatos locais, bem como a montagem de máquinas politicas que forneceram a base para a
constituição de suas mitologias políticas. Para tanto, analisa o adhemarismo e o janismo no bairro paulistano da
Mooca. Grande parte das análises sobre a politica paulista no periodo entre 1945 e 1964 tem destacado o carisma, a
capacidade de manipulação das lideranças populistas e suas relações diretas - sem a intermediação das tradicionais
instituições - como a razão do seu sucesso. No entanto, sem menosprezar tais fatores, é preciso destacar que essa
perspectiva tem negligenciado o decisivo papel desempenhado por uma rede de contatos locais articulada e estabele-
cida nos bairros periféricos e, de modo geral, constituida antes da emergência de Adhemar ou Jânio. Foi essa teia de
organizações locais que, no cotidiano dos bairros periféricos, muitas vezes deu forma e conteúdo a essas lideranças
que então se constituiam. E, nos per iodos eleitorais, era o acionamento dessa teia que desencadeava e fornecia o
suporte para as campanhas. eleitorais.

Angela Bretãs - UFRJ


"Etelvina! Acertei no milhar!" - Os jogos de azar no discurso da Associação Comercial do Rio de Janeiro e a
criação do Serviço de Recreação Operária
Com o objetivo de ampliar a compreensão sobre a criação e o funcionamento do Serviço de Recreação Operária
(SRO), órgão criado em 1943, pelo Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio durante a gestão de Alexandre
Marcondes Filho, este trabalho apresenta a análise efetuada nos discursos sobre os jogos de azar emitidos no
âmbito da Associação Comercial do Rio de Janeiro entre 1922 e 1926. Para nós o Serviço de Recreação Operária
se constituiu em campos discursivos diversos e estes discursos isolados ao serem deslocados, interligados, colo-
cados em conjunto e tornados pertinentes geraram um campo de presença que tornou possivel sua criação. Nesta
perspectiva o discurso sobre os jogos de azar emitido pelo patronato comercial é considerado como uma das
dispersões que confluíram para formar o campo de presença do Serviço já que se referia ao processo de constru-
ção de um novo trabalhador e de seu controle, inclusive no tempo de repouso. Este trabalho é parte de uma
pesquisa de doutorado, na qual analisamos os debates e as posições adotadas pela Associação sobre a duração
da jornada de trabalho, sobre o tempo de férias e sobre os temas que os atravessam a fim investigar as dispersões
dos discursos sobre o tempo do não-trabalho.

Camilo Buss Araújo - Colégio Cenecista Elías Moreira


Politicas populistas em Florianópolis: cultura assistencial e sociabilidade no Morro da Caixa d'Água nos
anos 1950
Esta comunicação pretende observar as redes de relações entre grupos políticos, instituições sociais e classes traba-
lhadoras na Florianópolis dos anos 1950. Pretende-se, neste estudo, desestabilizar a idéia de cooptação das classes
trabalhadoras por lideranças políticas carismáticas, priorizando a investigação de como as experiências de cada grupo
social engendram noções de direitos, que são postos no balcão de negócios das políticas populistas. Neste sentido,
esta exposição analisa as diversas formas de negociação existentes entre trabalhadores e grupos políticos em Floria-
nópolis, tomando como ponto de partida o Morro da Caixa d'Água -localidade próxima ao centro da cidade e compos-
ta, em sua maioria, por negros, trabalhadores da construção civil e lavadeiras. Abordar -se-á como as disputas políticas
entre os dois maiores partidos da cidade, União Democrática Nacional e Partido Social Democrático, chegavam ao
morro, a influência de instituições de caridade -ligadas à Igreja e esposas de personalidades notórias locais - e de que
forma os trabalhadores, através de suas sociabilidades, redefiniam os sentidos das dádivas oferecidas.

Francisco Carlos Oliveira de Sousa - CEFET-RN


A cidade e os homens das salinas
Na segunda metade do século XX, o trabalho sazonal nas salinas de Macau, cidade situada no litoral do Rio Grande do
Norte, atraía milhares de trabalhadores para o município. No verão, período propício à colheita do sal, muitos desses
migrantes eram oriundos das atividades agricolas nas povoações circunvizinhas. Em busca da sobrevivência, os
homens do campo que migravam para a cidade eram confrontados com um cotidiano até então desconhecido. Na
labuta insalubre no território salineiro e no contato com os operários de origem urbana, foram mesclados dois mundos
distintos. Nesse contexto, aqui reconstituído na perspectiva de registrar experiências, suas vivências, costumes e
tradições receberam consideráveis influências com repercussões no âmbito das identidades.

198
Ramon Victor Tisott - Unisinos
Infância, trabalho e família (Caxias do Sul, início do séc. XX)
Este trabalho se insere numa pesquisa maior, que se propõe a estudar a relação entre a infância e a industrializa-
ção, tendo como foco as crianças operárias em Caxias do Sul durante os anos iniciais de seu processo de industri-
alização. Dessa forma, são trabalhados dois importantes temas da historiografia contemporânea, e dois valores da
cultura regional: o trabalho e a família. O objetivo deste trabalho é subsidiar a mencionada pesquisa, caracterizando
a noção de infância na região no período estudado, por meio da análise de relatos orais. Experiências de relações
com a família e com o trabalho durante os primeiros anos de vida estão registradas em muitos depoimentos, que
formam bancos de memória sobre a região da qual Caxias é parte. Desses bancos selecionaram-se algumas entre-
vistas que foram analisadas.

Maria Luiza Ugarte Pinheiro - UFAM


Nos Meandros da Cidade: Cotidiano e Trabalho na Manaus da Borracha, 1880-1920
A comunicação aqui apresentada propõe-se a refletir acerca das múltiplas dimensões do universo do trabalho e dos
trabalhadores em Manaus, durante o período de expansão da borracha, dentro de uma visão mais totalizada do viver
urbano, incorporando experiências para além das do viver do trabalho operário, recuperando outras dimensões do
viver desses trabalhadores. Temos buscado acompanhar outras trajetórias ainda pouco exploradas na escrita da His-
tória Amazonense, tentando iluminar experiências sociais concretas, do amplo e diversificado contingente de trabalha-
dores e de pobres urbanos que se formou na cidade de Manaus durante a República Velha.

Thiago Leitão de Araújo - UFRGS


Peculiaridade das manumissões na pecuária sulina
A pesquisa que estamos desenvolvendo tem como um de seus problemas centrais a apreensão das especificidades
da politica de domínio senhorial nas relações da escravidão na pecuária sulina. Em estudo sobre as alforrias na
Província de São Pedro deparamo-nos com uma forma peculiar de comprar liberdade. Esta diz respeito a formação do
pecúlio dos escravos e o pagamento da alforria com cabeças de gado. Esta forma de compra da liberdade nos dá
acesso a um universo específico da pecuária sulina, mesmo que a ocorrência de ditas alfornas seja uma prática
restrita. Propomos levantar questões e problematizar as relações tecidas entre senhores, escravos e libertos apresen-
tando as primeiras reflexões de um estudo em andamento

Luis Balkar Sá Peixoto Pinheiro - UFAM


Mundos do Trabalho em Manaus, 1920-1945: uma proposta de investigação
Esta comunicação discute proposta de investigação que tematiza o diversificado universo operário em Manaus nos
anos da mais notória crise econômica pela qual passou a região e de cujas implicações sociais não se pode duvidar. É
uma tentativa de contribuição à História Social da Amazônia que busca caminhar em espaços ainda pouco freqüenta-
dos da produção acadêmica amazonense. Nossa abordagem sinaliza diretamente para vivências e experiências sociais
que partiam de um universo social segmentado e conflituoso em que as distâncias sociais e culturais engendraram
caminhos não apenas diferenciados, mas também antagônicos. Longe dos benefícios da acumulação que a economia de
exportação da borracha engendrou, os trabalhadores urbanos não partilharam da ode ao progresso e á modem idade que
a historiografia regional registrou e consagrou. Como deserdados do látex sentiram o progresso e a modernização como ~
perda e, dessa forma, suas aspirações e demandas os impeliram á construção de instrumentos de organização, mobiliza- @
ção e luta que contraditavam o ideá no e as práticas dos segmentos patronais e dos grupos dominantes locais.

Luana Teixeira - UFSC o


Trabalho escravo na produção pecuária (São Francisco de Paula de Cima da Serra, Província de São Pe· ~
dro,1850-1871) E
O presente trabalho apresentará os resultados parciais da pesquisa sobre sociedade pecuária escravista no século 8
XIX. Debateremos dados quantitativos sobre demografia da população escrava, padrão de posse de escravos e ",-
estrutura de riqueza no distrito de São Francisco de Paula, noroeste do atual estado do Rio Grande do Sul. A partir ~
destes dados apontaremos as primeiras reflexões sobre a organização do trabalho no interior das fazendas de gado '-'
do distrito }g
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199
25. História &Música Popular
Tânia da Costa Garcia (UNESP . Franca) e Adalberto Paranhos (UFU)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h às 18h) I
Sonia Apparecida de Siqueira - USP
A cidade e a Música: Buenos Aires e o Tango
Esta é uma abordagem transdisciplinar que introduz na História Urbana nova fonte de conhecimentos a través da
Música. Nesta perspectiva duas plataformas essenciais se delineiam-se na busca da compreensão de Bs. Aires dos
fins do século XIX às primeiras décadas do XX: a paisagem humanizada de uma cidade que cresce e se transforma
com suas ruas, seus becos, seus bairros, seus arrabaldes, suas umidades, seus espaços tomados e vazios, seus
cafés, seus bares, suas casas de encontro, enfim, tudo o que compõe seu panorama. Em segundo lugar, sua confor-
mação moral, seu conjunto de relações sociais, seus costumes, suas tradições, seus empréstimos culturais, suas
recusas .. aquilo que Spengler chamou de 'sua alma'. A cidade enquanto geografia e enquanto cultura, sabendo-se
porém que a relação fisica e a realidade humana se compenetram indissoluvelmente e mutuamente se condicionam.
Essas duas faces projet,adas nas coordenadas do tempo vão sempre juntas. Das múltiplas faces da vida da cidade o
tango dà testemunho. E o único cancioneiro popular do mundo capaz de conter e difundir o drama da existência
humana. O tango atravessou os anos e ficou, 'como um pregão evocativo diante da imutabilidade do Passado e o
fatalismo do Tempo', retratando no conflito existencial do homem a Vida. Ontem e Hoje.

Antonio Rago Filho - PUC-SP


Con alma y vida: Astor Pantaleón Piazzolla e os dramas da cidade de Buenos Aires
Nosso intento visa a esboçar a modernidade musical de Astor Piazzolla e compreender como suas criações buscam
configurar a identidade da cidade de Buenos Aires. Considerado 'estrangeiro' pela ortodoxia 'tanguera', Piazzolla
comparava sua música com as transformações cotidianas que fazem a vida das cidades. S!,!m abandonar a história do
tango, em parceria com o cineasta Fernando Solanas, sua revolução musical amplifica nossa capacidade de sentir, de
sofrer e tomar posição diante dos atos desumanos e cruéis engendrados pela ditadura militar argentina. No filme Sur,
as canções de Anibal Troilo e Piazzolla, os grandes mestres do tango portenho, ancoram a narrativa-filmica e dão
expressividade aos dramas cotidianos. O cinema militante de Solanas evoca os exilios, os tormentos, os desapareci-
mentos e desfazimentos que não se apagam, o exílio interior, mas também os reencontros afetivos que nos fazem
recobrar o sentido de uma nova forma de vida. Sur (1987) é um drama musical atípico que plasma a tragédia de um
casal de trabalhadores impingida pela ditadura militar argentina que transfigurou por inteiro a vida cotidiana de seu
próprio povo. Volver é reencontro com a vida, com o amor, com a sua própria história, com a tentativa de resgatar a
realização de indivíduos livres num novo mundo.

Alessander Mario Kerber - FEEVALE


ídolos da música popular e construção de identidades coletivas: Carmen Miranda e Carlos Gardel como repre-
sentantes das identidades nacionais do Brasil e da Argentina
No presente trabalho, pretendo justificar a escolha de Carmen Miranda e Carlos Gardel como personagens privilegia-
dos para a anàlise das identidades nacionais do Brasil e da Argentina, bem como visualizar alguns exemplos da forma
de participação destes dois artistas na construção destas identidades. No contexto Entre-~uerras, identificado como
de máxima exaltação das identidades nacionais em todo o mundo, como afirmou Eric Hobsbawm, e de emergência de
novos meios tecnológicos, especialmente o rádio, que permitiram a emergência de cantores populares como ídolos
nacionais que se tornaram referencias na construção das identidades coletivas, percebe-se a importância dos casos
de Carmen Miranda e Carlos Gardel neste processo, como constituidos e constituintes deste contexto de negociações
sobre as identidades nacionais.

Tânia da Costa Garcia - UNESP - Franca


Música popular e identidade nacional: Um estudo comparativo entre Chile, Argentina e Brasil, no pós Segunda
Guerra Mundial
A presente comunicação tem por objetivo apresentar um estudo comparativo das relações entre música folclórica e
música popular como representações do nacional no Brasil, na Argentina e no Chile, tendo como cenário a nova ordem
mundial instaurada após a Segunda Grande Guerra. No Chile, até os anos 40, a 'música folclórica' chilena dividiu
espaço com os ritmos estrangeiros, para em seguida receber apoio do Estado e tornar-se uma área de pesquisa ligada
a Universidade. Tais iniciativas forneceram a base para os trabalhos de investigação desenvolvidos por Violeta Parra e
Margot Loyola nos anos 50. O cancioneiro folclórico, na Argentina, teve que disputar audiência com o tango. Com a
migração do meio rural para o urbano e o populismo peronista, a música do interior do país tomava conta dos meios de
·comunicação. No Brasil, o movimento folclórico mobilizou, nos anos 50, intelectuais de distintas regiões do pais, com

200
a missão de orientar a modernização brasileira, preservado o caráter nacional. Tal movimento teve influência direta
sobre a concepção de folclore urbano inaugurada em 1954, pela Revista da Música Popular Brasileira, a qual elegeu o
@5
samba dos anos 30 como a autêntica musica brasileira.

Celso Branco - UFRJ· IFCS


Noel Rosa e Chico Buarque comparados: A construção da tradição na canção popular brasileira
Esta pesquisa de mestrado pretende localizar, através das obras de dois autores de inegável popularidade, Noel Rosa
(1910-1937) e Chico Buarque de Hollanda (1944) a trajetória de uma mesma "linguagem' da música urbana, relacio-
nando-os às práticas e espaços musicais e literários que constituíram duas importantes fases de 'fixação' da canção
brasileira moderna: os anos 1930 e os anos 1960170 como maistream - tradição - da música popular brasileira.

Ricardo Alexandre de Freitas Lima - UFMGI CESAP/UCAM·RJ • Núcleo de Estudos Musicais co


::;
Ary Barroso e o engajamento da canção g.
Ao longo da história republicana do Brasil, mais precisamente quando se fez compulsório a arregimentação de cora- ~
ções e mentes com vistas a um objetivo político, não se abriu mão da utilização do código musical. Interessa ao estudo .1;5
uma forma específíca dessa linguagem artística amplamente encontrada no repertório da moderna música popular ~
brasileira e que se reconhece no tipo chamado canção. Chama a atenção o seu caráter polissêmico, que o caracteriza ~
como tipo aberto e acessível a usos e interpretações, muitas vezes norteados por vontades políticas. Assim, é a partir ·ê
do reconhecimento da canção enquanto fonte histórica e como lugar a ser ocupado pela ação interessada que o t;
trabalho objetiva, sob um olhar situado no estudo da hístória cultural, entender o processo de engajamento dos sam- z
bas-exaltação de Ary Barroso (1939 a 1948) em seu devido lugar histórico.

Márcia Ramos de Oliveira - UDESC


A rádio enquanto veículo e difusão da noção de homogeneidade na cultura na cultura brasileira
Esta Comunicação pretende abordar a questão da rádio, enquanto potencial difusora de um projeto de nação, destina-
da a construção de uma idéia de integração regional, como referência a identidade brasileira. Tal perspectiva baseia-
se especialmente na tendência nacionalista do Estado Novo, que apresentou entre suas ações, a criação da Rádio
Nacional, através da encampação de uma emissora do Rio de Janeiro/RJ. No desenvolvimento de determinados
temas poéticos e musicais percebidos nas canções que caracterizam o repertório e a programação apresentada,
possibilitou-se perceber a caracterização de determinados elementos que destacavam os aspectos regionais e nacio-
nais mencionados. Da audição e sistemática repetição destes temas, vem a afirmação quanto ao efeito que provoca-
ram (e/ou ainda provocam) no que se refere a construção de um sentimento de nação, assim como de novas maneiras
de compreender o país. Através da escolha de determinados exemplos, partindo de alguns estudos de caso de can-
ções, assim como de parte do levantamento das músicas gravadas que integraram o repertório neste periodo, especi-
almente entre o final da década de 1930 e década de 40, propõe-se discutir esta questão.

Guilherme José Motta Faria - UERJ . RJ


O Estado Novo da Portela: Tensões, contradições e apropriações na Era Vargas
Dentre os festejos característicos do período carnavalesco, as escolas de samba, criadas no final dos anos 1920,
foram galgando espaços e na virada do milênio alcançararn o posto de simbolo máximo do carnaval brasileiro. Pesqui-
sando periódicos dos anos 30/40 percebemos, entretanto que essa cobertura foi ganhando corpo e destaque por conta
do conteúdo dos desfiles. As escolas de samba e especialmente a Portei a durante o período do Estado Novo deram
destaque a essa visão ufanista de Brasil, afinando seu discurso com o do Governo. Aescolha dos enredos, a represen-
tação em fantasias dos símbolos e a composição dos sambas demonstram essa apropriação da agremiação de Madu-
reira dos discursos nacionalistas de cunho 'oficial' que se davam pelo contato dos sambistas com as cartilhas escola-
res. O material produzido pelo Ministério da Educação com colaboração do DIP, permitia uma circularidade cultural,
onde as 'verdades históricas' e o caráter de exaltação aos recursos naturais ganhavam a cadência do samba e inspi-
ravam os sambistas. A obrigatoriedade de um discurso oficial não partia somente do governo, mas sim da própria
Associação das Escolas de Samba, comprovando assim a existência de uma cultura estatal-nacionalista na própria
sociedade. Nosso recorte temporal se apropria do periodo do

I 17/07 - Terça-feira - Tarde (14h às 18h) I


Adalberto Paranhos . UFU
Enredos e desenredos: Minas no balanço da bossa
Nas leituras já cristalizadas sobre a emergência da Bossa Nova na cena musical brasileira e internacional, ela tomou
rosto como uma produção aclimatada aos novos ventos que sopraram na Zona Sul carioca, berço do movimento. Por
mais que o Rio de Janeiro tenha jogado um papel absolutamente decisivo na revolução sonora bossa-novista, tal fato

201
não deve nos fazer perder de vista que, qual um novelo de muitas pontas, outras histórias se desdobraram nas dobras
dessa história. Embaralhando as linhas dos tempos e lugares, é possível perceber que a Bossa Nova contou ainda
com outros lócus de produção e consumo da autodenominada 'moderna música popular brasileira'. São Paulo, como
é sabido, foi um deles. Minas Gerais, mais precisamente Belo Horizonte, ao contrário do que comumente se pensa, se
deixou também contagiar, aqui e ali, pelo balanço da bossa. É o que atestam as obras de Pacifico Mascarenhas (figura
de maior destaque da Bossa Nova com toque mineiro) e seu Conjunto Sambacana, assim como outras composições
com a caligrafia de Roberto Guimarães (que, em 1960, seria gravado por ninguém menos que João Gilberto em seu
emblemático LP 'O amor, o sorriso e a flor"). Identificar e analisar as pontes musicais lançadas entre o Rio e Minas é o
objetivo deste trabalho.

Ana Barbara Aparecida Pederiva - UNICSUL


Juventude e Música na Década de 60
Os movimentos musicais-culturais da década de 60 não foram homogêneos, mas criaram e difundiram múltiplos perfis
de comportamento para ajuventude. Essa diversidade pode ser notada nas canções e nos estilos de vida, nas atitudes
e discursos dos artistas, que apesar de carregarem permanências de gerações anteriores, não deixaram de questionar
algumas regras sociais consideradas conservadoras e ultrapassadas. O trabalho, portanto, pretende analisar os dife-
rentes estilos de comportamento, através das singularidades e, principalmente, das particularidades de cada grupo e
de cada jovem.

Eder Martins - PUC-SP


Edu Lobo e Caetano Veloso: criações e debates na gênese da MPB (1965-1968)
Esta pesquisa tem por objetivo analisar o modo específico em que as propostas e intervenções culturais produzidas
por Edu Lobo e Caetano Veloso, entre 1965 e 1968, estabeleceram um diálogo com o quadro de idéias em tomo do
processo de gestação da MPB, matizado por questões como: a necessidade de atualização da música popular brasi-
leira, 'resgate' da cultura popular e engajamento através da canção. Assim, esta investigação não se direciona para a
vinculação linear e imediata de Edu Lobo e Caetano Veloso, respectivamente, á canção de protesto e ao tropicalismo,
mas para a apreciação analítica das idéias e criações musicais que caracterizaram as suas produções e o modo
singular de inserção e diálogo com determinados grupos. Tendo a partir de artigos, entrevistas e depoimentos publica-
dos pela imprensa periódica da época, assim como, por meio dos LPs gravados por ambos o seu principal corpo de
fontes. Se atualmente há uma quantidade expressiva de trabalhos acadêmicos que investigaram os "grandes grupos e
movimentos musicais' da década de 60 e enriqueceram a reflexão historiográfica desse período, por outro tem se
tornado cada vez mais candente a necessidade de pesquisas voltadas para as propostas e projetos de agentes espe-
cíficos, lastro escolhido por este trabalho.

Eduardo Henrique Martins Lopez de Scoville - UNIFAE


Amigo é para essas coisas: o MAU e a televisão
O trabalho objetiva apresentar uma pequena discussão sobre a trajetória do Movimento Artístico Universitário (MAU) e
como este se relacionou com a televisão no periodo de 1969 a 1971. Surgido no final da década de 1960, O MAU
buscou passar para o público um sentido de unidade, porém havia diferenças nos estilos musicais e no discurso
político entre os seus componentes. O MAU vem á luz através dos Festivais Universitários da Tupi e alguns membros
como Luiz Gonzaga Jr., Aldir Blanc, César Costa Filho e Ivan Lins, passam a angariar certa notoriedade. Após as
excelentes premiações de Ivan Lins e Luiz Gonzaga Jr. no V FIC da TV Globo, a emissora carioca, na tentativa de
reviver o gênero musical na televisão brasileira, capitaliza a repercussão do MAU através da criação de um novo
programa: Som Livre Exportação. Com isso, percebe-se que o MAU, um movimento universitário, foi exposto através
dos festivais, fenômeno televisivo tipicamente brasileiro. Após, foi capitalizado pela TV Globo, que acabou focando
basicamente Ivan Lins, membro que melhor se adaptou ao formato da televisão e da indústria fonográfica do período.
Sendo assim, o Som Livre Exportação acabou por contribuir não somente para a exposição e o desgaste da imagem
de Ivan Lins como também para a dissolução do MAU.

Silvano Fernandes Baia - USP


Etnomusicologia, Musicologia Popular e História
O estudo da música popular, entendida como uma música urbana, mediatizada, massiva e moderna, requer a utiliza-
ção de um diversificado instrumental teórico metodológico na busca de uma visão integrada dos vários aspectos sobre
os quais esta música pode ser observada. Reconhecidamente multidisciplinar esta área de pesquisa tem evoluído na
construção de um instrumental adequado ao estudo do objeto, que vai se configurando nas elaborações, embates e
polêmicas internas e externas. Embora tenham ocorrido muitas confluências, ainda perduram tensões sutis entre
distintas abordagens. Esta comunicação discute as relações entre a Musicologia, a Etnomusicologia e a História no
estudo da música popular. Se a Musicologia tradicional historicamente pouca importância deu a este fenômeno, a
Etnomusicologia, surgida a mais de um século como um ramo da Musicologia voltado para o estudo das músicas

202
folclóricas e não européias, cada vez mais tem incorporado a música urbana em seu raio de atuação. Entretanto, há ~25
indícios de que os estudos da música popular vêm se constituindo num campo de pesquisa com dinãmica própria e ~
aspirações a autonomia metodológica, composto por diversas disciplinas, entre as quais a História, que alguns autores
têm denominado como Musicologia Popular.

Nilton Silva dos Santos - Universidade Candido Mendes/CESAP


Viagens folclóricas e etnográficas no Brasil: duas perspectivas de época na composição de acervos musicais
A década de 1930 foi rica em pesquisas e estudos afro-brasileiros, particularmente, na área musical, com a Missão de
Pesquisas Folclóricas, capitaneada por Mário de Andrade. A Missão de Pesquisas, que teve em Oneyda Alvarenga a
musicóloga responsável, percorreu diferentes estados brasileiros e recolheu exemplares musicais de variados estilos,
no ano de 1938. O resultado foi organizado, inicialmente, em um CO chamado The Discoteca COllection, editado pela
Library of Congresso Nos anos 1990, sob a coordenação do cineasta Beto ViII ares e do antropólogo Hermano Vianna, -3
realiza-se pelo Brasil uma outra viagem que recolhe imagens e sons - compila 108 canções em uma caixa com quatro g.
cd's, um livro de fotos, uma série de quinze programas para a televisão e um sítio na internet. A coleção resultante, ';
chamada de Música do Brasil, é composta por mais de 100 estilos musicais registrados, provenientes das cinco .~
regiões brasileiras, divididos por suas 'finalidades'. Nosso objetivo neste trabalho será o de pensar os pressupostos ~
que orientaram o trabalho de criação destes dois acervos, bem como, entender os suportes sobre os quais estas oõ
músicas estão sendo veiculadas, além do diálogo que estes pesquisadores travaram com os seus 'informantes". ·ê
'S
.~
Francisco Alberto Rocha - USP ::c
A Aventura da Modernidade ao Som do Foxtrote
A experiência de modernidade, após a Primeira Grande Guerra, terá, na estética musical do jazz e na experiência do
cinema, um dos seus signos mais representativos. No final dos anos 1920, o advento do filme sonoro permitirá a fusão
das imagens visuais e sonoras, celebrando, assim, determinado ideal de modernização, cujo modelo refere-se ao
triunfo da civilização norte-americana. O presente trabalho discute esses aspectos, a partir do filme Voando para o Rio
(1933).

Luiz Henrique Assis Garcia - Unileste MG


Na esquina do mundo: trocas culturais e música popular na cidade contemporânea
A formação cultural conhecida como 'Clube da Esquina', criada em Belo Horizonte, nos anos 60, tendo por principal
articulador o compositor e cantor Milton Nascimento, caracteriza-se por um conjunto de práticas musicais e opções
estéticas que implica fontes tão diversificadas quanto o interior de Minas, a música latino-americana e os Beatles,
representadas metaforicamente no espaço da cidade pela 'esquina'. Através da discografia, impressos e depoimentos
dos músicos procuro compreender o complexo fluxo de trocas desiguais inter e entre a escala global, nacional, regio-
nal e a local, num contexto de crescimento da indústria fonográfica e internacionalização da cultura, para mostrar que
as soluções encontradas pelo Clube da Esquina foram distintas de outros projetos ou caminhos de seus contemporâ-
neos, oferecendo uma proposta de interculturalidade que superava dicotomias tão ressaltadas em seu tempo, entre o
"nacional' e o 'estrangeiro', o "popular" e o "erudito', o 'tradicional' e a "vanguarda'. Seus músicos adotaram soluções
criativas usando estratégias de aproximação crítica que permitiram a adoção de uma identidade cosmopolita que não
descuidou do elemento local, mas também não o reduziu ao exótico ou ao típico, sendo a 'esquina' a expressão
simbólica dessa síntese.

I 18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h ás 18h)


Clarita Ribeiro Gonzaga - UFMG
Por Deus, pela Pátria e pelo coco da Bahia! O Tropicalismo como construção cultural
Estudar o Tropicalismo é lançar o olhar sobre um laboratório de expressão criativa que funcionava sob pressão políti-
ca, moral e comercial. Mais que um modismo, o Tropicalismo foi uma nova maneira de compor e cantar a MPB. Letras,
despojadas do tom militante que ditava os padrões estéticos da época mas ainda assim comprometidas com o que
tomavam por 'brasis'; as melodias contavam com arranjos refinados e recursos completamente inéditos até então;
aparentemente descompromissadas, as performances eram verdadeiros happennings, explosões de sons e corpos na
encenação do devaneio frenético que fundou a estética da inclusão. Mais que baianidade, anunciava-se como a
latinidade inerente ao "ser brasileiro' misturando odores e sabores em uma salada de elementos superficialmente
caóticos carregada de um gostinho de liberdade, com uma pitadinha de azeite de dendê talvez tenha passado desper-
cebido até mesmo aos grande "chefs" dessa cozinha tropical. O Tropicalismo foi o retrato sonoro de uma atitude muito
bem pensada. Construído detalhada e calculadamente pra cumprir o seu papel, foi o kit sem tirar nem por ou a tentativa
de se sonhar enquanto o mundo todo insiste na mesmice de "sempre e sempre, para todo o sempre, até que a morte
perca a paciência e faça alguma coisa, amém".

203
Enzio Gercione Soares de Andrade - UFRN
O Espaço Privado Na Canção Tropicalista: Uma Análise de "Deus Vos Salve Essa Casa Santa"
A proposta deste trabalho tem por objetivo analisar as fronteiras e a própria noção de espaço privado na canção 'Deus
Vos Salve Essa Casa Santa', parceria de Torquato Neto e Caetano Veloso, registrada em 1968 por Nara leão em seu
disco tropicalista. AArticulação do projeto será feita através de pesquisa bibliográfica,tendo por fundamentação a aná-
lise do historiador Michel de Certeau sobre a categoria 'Espaço' e as concepções do privado na mesma categoria
,inserida em uma visão burguesa a partir da conceituação do Historiador Antoine prost. O fio condutor do trabalho parte
da idéia que o espaço é produto de vivências históricas e sua articulação no âmbito do privado é produto de uma visão
burguesa que se cristaliza na primeira metade do século XX, sendo alvo de contestação na onda contracultural na fase
final do mesmo século. Apesquisa terá por modalidade a construção histórica e literária do texto,a disposição melódica
em diálogo com o canto,e a análise filosófica destes elementos na perspectiva do espaço privado, visando esclarecer
esta idéia complexa, mas atraente, alvo de pertinentes discussões no ãmbito acadêmico.

Miriam Hermeto de Sá Motta - Fundação Educacional de Divinópolis


Chico Buarque e Gilbert Gil: engajamento artístico em diálogo com as culturas políticas de esquerda (1966·
1976)
O trabalho toma como objeto a produção musical da primeira década das carreiras de Gilberto Gil e Chico Buarque
(1966 a 1976), examinando suas possíveis relações e interfaces com as culturas politicas de esquerda, cuja presença
era bastante forte no meio artístico-cultural brasileiro no periodo. Busca-se compreender se a obra destes 'cancionis-
tas" expressa uma vivência da prática cultural do engajamento artístico e como ela dialoga com os valores e as
representações, de cunho político e estético, próprias das culturas políticas comunista, socialista e libertária. A análise
procura identificar em que medida as produções destes cancionistas endossa e/ou questiona os projetos de sociedade
e de ação política dos grupos da esquerda brasileira atuante no cenário político da primeira metade do regime militar.

Priscila Gomes Correa - USP


Debates sobre a música popular: as intervenções dos intelectuais· anos 60/70
Em períodos de grande agitação política ou cultural, como ocorreu no Brasil entre as décadas de 1960/70, observa-se
a intensificação das intervenções dos intelectuais. Elaboram-se interpretações diversas sobre eventos e desenvolvi-
mentos da sociedade; e identidades, culturas ou paradigmas ideológicos são reavaliados pelo universo da critica. A
'consolidação' da música popular urbana como linguagem privilegiada, a partir de sua inserção no mundo do consu-
mo, provocou questionamentos e debates a respeito dos sentidos da arte/mercadoria sob um contexto de desenvolvi-
mentismo e massificação cultural. Diante disso, neste trabalho, apresentamos algumas considerações sobre esses
debates, em especial aquele despertado pelo movimento Tropicalista, justamente por abarcar a cumplicidade entre
artistas e críticos.

Theophilo Augusto Pinto - Universidade Anhembi Morumbi


A representação da música caribenha no Brasil por meio da Rádio Nacional do RJ ·1945·1948
Em meados do século XX, o Caribe e sua música tiveram grande divulgação no Brasil por meio de filmes vindos do
exterior, notadamente dos EUA. Além deles, outro meio de promoção foi o rádio, veiculando alguns programas especi-
almente dedicados a esta região e criando no imaginário de muitos brasileiros aquilo que Roger Chartier chama de
representação do Caribe - uma região desconhecida sendo substituida pela 'idéia' de Caribe, com várias distorções
em relação ao original, naturalmente. ARádio Nacional do Rio de Janeiro, entre os anos de 1945 a 1948, teve um papel
fundamental na criação e veiculação desta representação do Caribe por meio de programas como Aquarelas das
Américas e Nas Asas de um Clipper. Mesmo contribuindo fundamentalmente para a consolidação do samba como uma
música nacional, a veiculação de programas como esses criou uma certa resistência ao que se chamou de 'invasão' de
ritmos estrangeiros como o bolero, a salsa e a rumba. Ironicamente, algumas dessas músicas foram compostas por
brasileiros. Esta comunicação pretende mostrar o perfil de alguns desses programas radiofônicos por meio da análise
de suas gravações obtidas como parte do projeto de aquisição e restauração desses programas pela Universidade
Anhembi Morumbi.

Geni Rosa Duarte· UNIOESTE


Invenções a muitas vozes: música e poética em Nicolás Guillén
A escrita poética a partir do ritmo e dos sons, e a musicalização da palavra escrita: o objetivo da presente comunicação
é pensar essas questões a partir da obra do cubano Nicolás Guillén. Interessa-nos, nesse sentido, olhar para uma
produção musical que atravessa fronteiras espaciais e temporais, e se articula com compositores chilenos, uruguaios,
cubanos, argentinos, etc. Interessa-nos olhar para os diferentes tempos em que se dá a escrita poética e a escrita
musical, bem como as transformações que se processam e as contínuas apropriações e reapropriações que se ope-
ram. E ainda olhar para uma poesia que não fica estática, perdida no passado, mas que continuamente se reatualiza
através da vivência e pela militância do poeta.

204
Mariana Oliveira Arantes - UNESP ~
A Nova Canção Chilena no governo da Unidade Popular @
O movimento da Nova Canção Chilena aparece como um fenômeno musical relevante no Chile, desde a década de
1960 até meados da década de 1970, na medida em que seus desdobramentos extrapolaram o âmbito cultural pas-
sando a interferir na vida política do pais. Oobjetivo do presente trabalho é analisar o engajamento político dos artistas
do movimento durante os três anos de governo da Unidade Popular, de 1970 a 1973. Temos por escopo verificar de
que forma ocorreu a relação entre os intérpretes e compositores da Nova Canção Chilena com os partidos políticos de
esquerda no período.

Emilio Gonzalez - UNIOESTE


Música em movimento: experiências de músicos na Tríplice Fronteira (Brasil/Argentina/Paraguai)
O presente trabalho analisa a importância da produção de linguagens musicais próprias e a releitura de simbolismos -s
através de inovações estéticas, literárias e rítmicas desenvolvidas por músicos que vivem e atuam numa região de g-
tríplice fronteira entre Brasil (Foz do Iguaçu), Argentina (Puerto Iguazu) e Paraguai (Ciudad dei Este). A pesquisa '!;
envolve músicos que têm em comum o fato de viverem em uma fronteira híbrida e rica em experimentos e trocas, .1;5
estabelecendo também condições muito particulares e específicas para o afloramento dessa produção, tornando pere- ~
ne e em constante movimento noções como arte, artista e produção cultural. Em termos gerais, o trabalho busca o<!j
discutir a fragilidade de conceitos que muitas vezes são aceitos e utilizados acriticamente em análises musicais, como .!li!
'regional', 'nacional', 'identidades", etc. Também chamamos a atenção para a discussão dos papéis desempenhados ~
por uma dada produção musical regional no processo de desconstrução e/ou construção de identidades sociais políti- ::c
cas de luta e resistência, deixando exposto os riscos que se corre quando se tenta homogeneizar sujeitos e grupos
sociais distintos e em constante movimento, o que significa pensar o próprio sentido político inscrito no fazer artístico.

I 19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h às 16h30min) I


Cinthia Fernanda Barbosa da Silva - UFPE
Um olhar para o Recife: A Irmandade de Santa Cecilia e o desenvolvimento musical no Império
O trabalho a ser apresentado tem como ponto central um estudo sobre a Irmandade de santa Cecília e a sua relação
com a sociedade do Recife no século XIX. Essa irmandade possuía uma importante especificidade no quadro cultural
da cidade, o de profissionalizar os Irmãos interessados em instruir-se no ofício da música sacra e profana. Sendo a
música uma produção cultural tão importante quanto á criação das Igrejas, adota a postura de intermediar os entrecru-
zamentos entre as Ordens Religiosas e os grupos sociais, na medida em que a vida cultural da cidade depende
diretamente das festividades. Logo, lidar com um tema pouco explorado pela historiografia, é resgatar uma história
esquecida pelo tempo e imbuída de mistérios que por tantos anos esteve a encantar sociedades.

Maria Amelia Garcia de Alencar - UFG


Expressões do sagrado na música sertaneja urbana
Nas primeiras décadas do século XX, a chamada 'canção sertaneja' incluía temas religiosos não só por ocasião das
festas juninas mas também nas canções em que natureza e sentimento religioso se mesclam. São exemplos as
referências ao simbolismo lunar ou à terra natal,às serras e montanhas - ligações entre a terra e o céu - e às águas
cristalinas, imagens que se fazem presentes tanto nas letras como no desenho melódico dessas canções. Assim, na
polifonia que caracterizava a cidade moderna, havia espaço para temas de antigas tradições culturais, redimidos por
compositores de vivência urbana que traduziam sentimentos religiosos de antiguidade imemorial.

Fabiana Lopes da Cunha - UNESP/OURINHOS


Entres Zés-Pereiras, Dominós e Confetes: as diferentes festas carnavalescas na cidade do Rio de Janeiro (fins
do século XIX e início do XX)
O objetivo desta comunicação é discutir sobre as diferentes manifestações carnavalescas ocorridas na cidade do Rio
de Janeiro na virada do século XIX para o XX. O que pretendemos demonstrar, baseando-nos em periódicos do
período, partituras, crônicas e charges, é que as festas populares (no caso o Carnaval) e a canção popular urbana
foram importantes formas e meios das comunidades expressarem seus anseios, suas crenças e seus costumes.
Através das manifestações carnavalescas e das canções e sons que as embalavam podemos compreender os diferen-
tes matizes do cotidiano vivenciados pelos diversos grupos sociajs locados no meio urbano. Oespaço festivo também
propiciará o encontro de agrupamentos sociais muito distintos. E nele, que as diferentes camadas sociais, cantando
vários ritmos, através de distintos timbres e instrumentos irão conviver por certo período até que os festejos de Momo
se amalgamem e se transformem em uma festa com características mais homogêneas.

205
Rinaldo Cesar Nascimento Leite - UEFS
"Quem São Eles?": um samba de Sinhô e as suas polêmicas
Em 1918, o compositor carioca José Barbosa da Silva, mais conhecido como Sinhô, um dos principais responsáveis
pela consolidação do samba como gênero musical, lançou uma música que gerou grande polêmica. Seu titulo ("Quem
são eles?") e seus versos iniciais ("A Bahia é boa terra/ela lá e eu aqui .. .'), bastante provocadores, atingiram diretamen-
te o brio de alguns freqüentadores da casa da afamada Tia Ciata, dentre eles, Pixinguinha e Donga. Esta polêmica
musical, que originou a uma série de troca de ofensas, já foi comentada em obras especializadas na história da música
popular brasileira. Mas, além disso, produziu outras repercussões, ao atingir a sensibilidade identitária de certos gru-
pos de baianos estabelecidos no Rio de Janeiro. Alguns breves registros documentais revelam a indignação dos
baianos com as afirmações do trecho inicial da letra, que sugeriam alguma forma de,repulsa à Bahia ou uma dose de
"falsidade' nos baianos que diziam amar a sua terra mesmo residindo longe dela. E preciso ressaltar que tais fatos
ocorrem num contexto de intensas disputas regionalistas. Assim, o objetivo é lançar um olhar sobre os modos de
recepção, da atribuição de significados e as implicações que uma música pode gerar na sua época, ao mexer com
interesses, sentimentos e valores de grupos,

Virgínia de Almeida Bessa - USP


A cena musical paulista: o teatro musicado em São Paulo nas décadas de 1910 a 1930
Tornou-se lugar-comum entre os estudiosos da música brasileira identificar o teatro musicado como um dos principais
meios de divulgação da canção popular, sobretudo nos periodos anteriores à consolidação da fonografia e do rádio no
Brasil. Segundo J. R. Tinhorão, a comercialização da música popular sob a forma de partituras para piano ganhou força
a partir da década de 1880, com a popularização do chamado "teatro de variedades' (denominação imprecisa sob a
qual se reuniam diferentes gêneros do teatro musicado, tais como operetas e óperas-cômicas, burletas, vaudevilles e
revistas). Essa constatação refere-se, principalmente, às ribaltas cariocas, onde despontaram, nas décadas de 1920 e
1930, compositores de maxixe, samba e outros gêneros populares que também eram (ou se tornariam) estrelas do
disco e do rádio. Embora seja igualmente válida, a presença do binômio teatro/canção nos palcos paulistanos é menos
conhecida. A própria história do teatro popular na cidade de São Paulo permanece ignorada no meio acadêmico. No
entanto, boa parte do que hoje se conhece como "música paulista", em especial o gênero sertanejo ou caipira, quando
não adveio dos palcos, adquiriu nele suas feições modernas. Nesta comunicação, proponho alguns caminhos para a
investigação do teatro musicado paulista.

I 20/07 - Sexta-feira - Manhã (10h30min às 12h30min)

Carla Lisboa Porto - UNESP - Assis


Das partituras e cifras para as páginas dos jornais
Ismael Silva, um dos compositores mais representantes da música popular durante a década de 1930, tinha como
temática a malandragem, a liberdade e, na maioria das vezes, a mulher, porém, raramente de forma romântica. Ela
sempre aparece como a causadora de problemas, ou não é alguém digno de confiança, além de volúvel, perdulária,
infiel e "da orgia', Mas, afinal, quem é essa mulher 'da orgia', quais seus hábitos, costumes e valores? Para encontrar
algumas respostas, pretendo discutir a possibilidade de historicizar os elementos de representação das personagens
femininas presentes em algumas canções do compositor, Para tanto, busquei nas páginas policiais do Jornal Correio
da manhã, durante o período de 1930 a 1937.

Marta Adriana Schmitt - UFRGS


A História Oral no estudo do programa de rádio Clube do Guri (1950-1966)
A proposta deste trabalho é discutir os caminhos metodológicos percorridos na minha dissertação de mestrado, intitu-
lada 'O Rádio na formação musicar um estudo sobre as idéias e as funções pedagógico-musicais do programa de
rádio Clube do Guri (1950-1966)'. E possível resgatar a história de um programa de rádio veiculado há 50 anos? De
que forma recuperar o seu formato, o conteúdo e sua concepção? De que maneira pode-se apreender como se dava
a participação musical de jovens e crianças num programa de auditório? A metodologia da história oral viabilizou a
recuperação de um passado recente. As entrevistas com dois membros da equipe e cinco antigos participantes do
programa possibilitaram, através de suas memórias, a construção de um documento histórico, o corpus documental do
trabalho, material de referência para a análise do meu objeto de pesquisa. Neste texto abordarei sobre a opção pela
história oral, as fontes de documentação (fontes orais: entrevistas e memória, e outras fontes: revistas, fotografias,
gravações e objetos), a coleta de dados (localização dos entrevistados e realização das entrevistas) e registro e
análise dos dados.

206
Ricardo Santhiago Corrêa - USP
Negritude e polifonia: A presença da cantora negra na moderna canção brasileira
O período que compreende os anos de 1958 a 1964 é particularmente significativo para a eclosão e consolidação da
moderna música popular brasileira, sedimentada sobre as bases estéticas propostas pela bossa nova. Nesse contex-
to, as cantoras negras Alaíde Costa, Elizeth Cardoso e Elza Soares se apresentam como modelares, criando discos
emblemáticos e configurando três diferentes campos de atuação que têm sido visitados pelas profissionais surgidas
desde então. Cruzando dois tipos de fonte oral - a canção e a entrevista de história oral de vida -, este trabalho
apresenta as rotas abertas e percorridas ao longo da segunda metade do século XX por intérpretes negras de diversas
filiações estéticas. Dessa maneira, busca empreender uma análise da participação comprometida da cantora negra no
panorama recente da produção, circulação e divulgação da música brasileira, além de discutir as implicações atuais do
cruzamento de questões de raça e gênero sobre o trabalho.

Eleonora Zicari Costa de Brito e Mateus de Andrade Pacheco - UnB


Compondo identidades, fazendo histórias
Nesta comunicação objetiva-se discutir o trabalho que vem sendo desenvolvido por um grupo de professores e estu-
dantes da Universidade de Brasilia e que tem, como objeto de estudo e fonte, um repertório de cantores e/ou compo-
sitores da Música Popular Brasileira que atuaram entre os anos de 1960 a 1990. A unir esses estudos, há a preocupa-
ção comum em discutir questões acerca das identidades, da memória e das representações do mundo inscritas nes-
sas canções. Referimo-nos, por exemplo, ao movimento da Jovem Guarda, compreendido como fomentador de novas
identidades de parte da juventude brasileira; aos Mutantes, considerando sua performance em relação aos movimen-
tos contraculturais dos anos 60 e 70; à Lecy Brandão, cujo repertório dialoga com um discurso sobre a condição do
@
26
negro no Brasil; ao Rappa, que redesenha a cidade do Rio Janeiro em suas contradições e embates; e, ainda, à
performance de Elis Regina, a quem nesta oportunidade se dará maior ênfase, considerando seu repertório à luz das
práticas de engajamento político vigentes nos anos 60 e 70 do século XX, no Brasil.

Giovana Batista Tejo - UFCG


Entre sensibilidades e sociabilidades: a história do chorinho em Campina Grande (1950-2005)
Neste ensaio, recupero alguns traços do cotidiano de sociabilidades envolvido na apropriação singular feita pelos
intérpretes do gênero musical chorinho em Campina Grande, entre os anos de 1950 e 2005. Acompanhando a docu-
mentação e valendo-me de entrevistas de história oral, procuro apresentar ao público algo da vasta e rica produção
musical da maior cidade do interior do Nordeste.

26. História &Teatro


Kátia Rodrigues Paranhos (UFU) e Vera Regina Martins Collaço (UDESC)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h às 18h)
Orna Messer levin - UNICAMP
Teatro e política em torno da Independência (1808-1822)
Este trabalho pretende analisar a cultura teatral transplantada para o Brasil com a vinda da da família real, em 1808, e
verificar sua relação com a campanha pela independência. Trata-se de avaliar a composição do programa teatral, a
partir da constituição do repertório artistico e interpretar o papel que os gêneros dramáticos desempenharam, Oar-se-
á especial atenção aos entremezes e farsas, textos breves destinados ao divertimento final do espetáculo, por serem
esses um espaço de sátira e reflexão cômica sobre a sociedade a partir dos quais é possivel observar a aclimatação
dos tipos e a atualização dos temas. O palco do Teatro O.João a serviço da corte e dos brasileiros.

Ezio da Rocha Bittencourt - Universidade de Genebra, Suíça


Os primeiros teatros do Rio Grande do Sul
A documentação até agora encontrada revela que no Rio Grande do Sul do século XVIII somente as cidade~ de Porto
Alegre, Rio Pardo e Rio Grande parecem ter se beneficiado de casas públicas de espetáculos: as Casas da Opera. Na
primeira metade do século XIX outras localidades sulinas passaram também a possuir teatros: Pelotas, Bagé, São
Gabriel, Piratini, Jaguarão e Triunfo. Em Rio Grande e em Porto Alegre novas casas do gênero foram igualmente
erguidas neste periodo. Se várias localidades gaúchas já possuiam seus teatros nos primeiros decênios do Dezenove,
devo salientar que muitas dessas casas eram construções precárias, galpões adaptados aos espetáculos, freqüente-
mente em madeira e que não resistiram ao clima úmido do sul do país. É então correto afirmar que durante grande

207
parte do século XIX - e até 1858 quando se ergueu em Porto Alegre o elegante Teatro São Pedro - foram os teatros
Sete de Setembro, de Rio Grande (1832) e Sete de Abril, de Pelotas (1833) os que apresentaram as melhores condi-
ções às práticas cênicas no extremo-sul do pais.

Carolina Mafra de Sá • UFMG


A função educativa dos espetáculos teatrais na Corte e na Província Mineira. (1831 ao final do séc. XIX)
A partir de trechos de jornais, relatos de viajantes e leis que regulamentavam os teatros, analisamos a função educa-
tiva atribuída aos espetáculos teatrais pelos governantes, elites mineira e fluminense, após a abdicação de D. Pedro I.
Neste momento há expressiva mudança no repertório dos teatros públicos. As peças passam a conter valores iluminis-
tas, burgueses, como a democracia e a liberdade. Até esta data, estes espetáculos davam exemplos de respeito e
obediência ao rei/imperador, à lei e à fé. Percebemos que os espetáculos teatrais eram vistos como a escola do povo
que ensinava a moral, os bons costumes, imputava as virtudes e repelia os vícios. No entanto, para atingirem tal fim,
deveriam ser bem regulados. Os debates que ocorreram ao longo do tempo, com relação à função educativa do teatro,
giravam em torno da definição das características ideais do repertório que seria útil à sociedade, para instruir o povo,
civilizá-lo. Ou seja, que valores e costumes uma peça deveria abordar para instruir às virtudes, à civilidade. Os confli-
tos políticos ficam evidentes nessas discussões. Ogoverno preocupava-se com aspectos ideológicos dos textos, já os
homens de letras, comprometidos com o progresso da dramaturgia brasileira, se importavam com questões estéticas
e literárias do texto.

Elisa Maria Verona - UNESP·Franca


Mulher e discurso moral no Rio de Janeiro oitocentista
A condição feminina, no Rio de Janeiro, alterou-se de maneira substantiva ao longo do século XIX. A carioca abastada
do oitocentos deixou gradativamente a reclusão que lhe era habitual e passou a conviver em novos círculos de socia-
bilidade - ao mesmo tempo em que a capital adquiria contornos mais urbanos e europeizados, os padrões femininos de
comportamento ganharam maior elasticidade. Concomitantemente, atribuiu-se à mulher um papel de extrema relevân-
cia para a constituição de uma nação calcada nos valores da família; nessa nova etapa de construção do Brasil, coube
a ela a função de educadora dos filhos e, conseqüentemente, de formadora dos futuros cidadãos da pátria. Tendo em
vista a simultaneidade desses dois processos, pretendemos enfocar em nossa análise o papel do teatro na difusão de
um discurso moralizador referente à mulher. Os dramaturgos do período foram motivados por alguns propósitos parti-
lhados por parte substancial da elite letrada brasileira do oitocentos, propósitos que nos ajudarão a entender a escolha
de determinados modelos femininos para serem encenados pelas peças teatrais e de enredos marcados profunda-
mente por uma perspectiva pedagógica.

Vera Regina Martins Collaço • UDESC


No território masculino: as personagens cômicas femininas
Nesta comunicação tenho por objetivo analisar a dramaturgia encenada pelo Grupo Teatral João Dali Grande Brugg-
mann, vinculado à União Operária (UBRO), de Florianópolis, ao longo das décadas 1930 e 1940. Do conjunto textual
encenado o foco de atenção está voltado para os textos cõmicos. E num recorte mais preciso a análise se volta para a
compreensão do papel e da relevância das personagens femininas no corpus cômico encenado por este grupo, com o
intuito de trazer à tona as imagens e representações do feminino transpassadas por esta dramaturgia e que deveriam
reverberar no público feminino da União Operária.

Cássio Santos Melo - FCL . UNESP • Assis


Antonio de Alcantara Machado e o teatro nacional
Objetivamos nesta comunicação analisar as opiniões e posicionamentos do escritor paulista Antonio Alcântara Macha-
do com relação à situação do teatro brasileiro em meados da década de 1920. Utilizaremos como fontes alguns artigos
do autor publicados no efêmero periódico Terra Roxa ... e outras terras, os quais são marcados pelo debate em torno da
questão do nacionalismo brasileiro. Um dos nossos objetivos principais é correlacionar as opiniões de A. A. Machado
com a de outros intelectuais de períodos anteriores ao marco simbólico da Semana de 1922 de modo a explorar as
similitudes e afastamentos de tais interpretações.

Luciana Ferrari Montemezzo - UFSM


Federico Garcia Lorca: teatro na Espanha republicana
O presente trabalho aborda a relação da obra dramática de Federico García Lorca (1898-1936) com os acontecimen-
tos históricos imediatamente anteriores à tomada de poder pelos fascistas na Espanha, que culminaria n a ditadura
comandada pelo general Francisco Franco (1936-1975).

208
17/07 - Terça-feira - Tarde (14h ás 18h)

Heloísa Hírai Hecker - UNESP


Alfredo Mesquita e o teatro paulista (1930-1950)
Alfredo Mesquita iniciou seu trabalho de renovação teatral paulista com o Grupo de Teatro Experimental de Teatro, o
GTE. Seguiram-se empreendimentos como a Livraria Jaraguá, encontro de artista e intelectuais da época e a fundação
de sua Escola de Arte Dramática, a EAD. Essa investigação centra-se na trajetória e produção teatral de Alfredo
Mesquita. Ele aspirava renovar a cultura teatral paulista e conseqüentemente brasileira, tendo como proposta pensar
o novo teatro, fundado na expressão' renovar sem abandonar as tradições culturais'. Pretende-se recuperar a "pré-
trajetória', identificando seus momentos de ruptura com o passado do teatro brasileiro, além de tecer laços de relacio-
namento entre a figura de seu animador, Alfredo Mesquita, e as aspirações de mudança de toda uma geração de
autores, encenadores, artistas e técnicos teatrais. A pesquisa encontra-se apoiada na vasta documentação particular
de Alfredo Mesquita, arquivo inédito, constituído pela sua correspondência, fotografias, diários, peças teatrais, entre
outros escritos.

Victor Hugo Adler Pereira - UERJ


Modernidade em conflito: o teatro de Nelson Rodrigues
A obra de Nelson Rodrigues, apontada como marco de modernização do teatro brasileiro, na verdade, utiliza-se da
polifonia para trazer á cena as polêmicas e as contradições provocadas por processos de modernização em diferentes
setores da sociedade nas décadas de quarenta e cinqüenta do século XX. Nesse uso da polifonia, como em outras
oscilações pode ser aproximada da obra de outro artista conflituado diante da modernidade, Dostoievski. Procurarei
@
26
discutir como o uso original desse recurso e de outros procedimentos estéticos alimentam a tensão da obra de Nelson
diante da estética e do ideário modernista.

Henrique Buarque de Gusmão - UFRJ


Nelson Rodrigues leitor de Gilberto Freyre: aproximações entre Casa-grande & senzala, Sobrados e mucam-
bos e a dramaturgia de Nelson Rodrigues
Neste trabalho, estão colocadas as primeiras perguntas que guiam a minha pesquisa de doutorado. Investigo relações
e apropriações construidas entre a obra de Gilberto Freyre e a dramaturgia de Nelson Rodrigues, tendo em vista
elementos comuns ás duas obras e entendimentos próximos no que diz respeito ao processo de formação da familia e
da civilização brasileira. Em ambas as obras, pode-se perceber a análise de excessos de violência física, sexualidade
e sensualidade (marcas da hybris), assim como a análise da entrada de padrões de civilização importados que tam-
bém se impõe pela marca da violência da repressão. Entre estes dois campos, constroem-se tensões muito produtivas
para se pensar a formação da identidade brasileira, os padrões de civilização importados, a própria noção de civiliza- g
ção e a questões do discurso teatral na segunda metade do século XX. ~
I-
o<:!
Carla Michele Ramos - UNIOESTE .ê
"Teatro Popular": a dramaturgia nacional em debate "!3
Em fins da década de 1950 o teatro brasileiro passou por um processo de mudanças em relação à linguagem e às ~
temáticas abordadas. A realidade nacional passou a ser o foco de discussão entre jovens artistas que freqüentavam o
Teatro de Arena de São Paulo e que posteriormente passaram a fazer parte do Centro Popular de Cultura da União
Nacional dos Estudantes (CPC da UNE), movimento que teve inicio em 1961. Essa apresentação visa compreender o
debate em torno do 'teatro popular' realizado por dramaturgos e intelectuais que participaram dessas duas entidades
e que através de suas perspectivas contribuiram para a renovação da linguagem teatral. Na intenção de verificar como
esse debate se fez presente nas produções teatrais da época, o estudo irá privilegiar as peças Eles Não Usam Black-
tie (1958) de Gianfrancesco Guarnieri e A Vez Da Recusa (1961) de Carlos Estevam Martins.

Kátia Rodrigues Paranhos - UFU


Plínio Marcos e o Grupo de Teatro Forja: "Dois perdidos numa noite suja"
Teatro social e teatro engajado são duas denominações, entre outras, que ganharam corpo em meio a um vivo debate
que atravessou o final do século XIX e se consolidou no século XX. Seu ponto de convergência estava na tessitura das
relações entre teatro e política ou mesmo entre teatro e propaganda. Para o crítico inglês Eric Bentley, o teatro político
se refere tanto ao texto teatral como a quando, onde e como ele é representado. Esta comunicação aborda a questão
do engajamento a partir da trajetória do Grupo de Teatro Forja e do dramaturgo Plínio Marcos. Os temas da violência,
da miséria, da solidão, da inclusão social perversa, do individual e do coletivo na sociedade capitalista serão examina-
dos, particularmente na peça 'Dois perdidos numa noite suja', escrita em 1966 e encenada pelo grupo em 1985.

209
Vilma Campos dos Santos Leite - UFU
Um olhar sobre o texto dram[atico Cala a boca já morreu de Luís Alberto de Abreu
O texto 'Cala a boca já morreu' montado e escrito em 1981 retrata o periodo de 1960 a 1978 num enredo localizado na
cidade de São Paulo. A ação não se restringe a essa abordagem temporal, uma vez que acontecimentos históricos
anteriores interferem diretamente na trajetória dos personagens que se entrecruzam na execução da fábula. Todo o
primeiro ato com onze cenas acontece durante o ano de 1960. Os personagens espelham conseqüência de determinados
fatos e em determinados momentos opostos, como, por exemplo, Dona Maya que rememora a Revolução Russa e Sr.
Artidônio que dá testemunho de conseqüências em sua vida a partir da queda da bolsa em Nova York. Já o segundo ato
acompanha o ritmo galopante dos trabalhadores da indústria automobilística. Muitos personagens e flashes. Os próprios
encontros entre dois protagonistas Atilio, um anarquista e João, um saquarema sem nenhum posicionamento critico
chamam a atenção para uma multiplicidade de tramas. Que percepção do período o dramaturgo revela? A migração e a
imigração que perpassam o desenvolvimento da peça estão fazendo que representação de sujeito? É necessário uma
análise e uma reflexão vinculados que ponha em foco o discurso presente nesse texto dramático.

Maria do Perpétuo Socorro Calixto Marques e Juciany dos Santos Silva - UFAC
Reconstrução identitária em Chapurys, peça teatral do cenário acreano
A apresentação fará a análise da peça teatral intitulada Chapurys, da acreana Regina Cláudia, e encenada pelo grupo
Garatuja, da cidade de Rio Branco-Acre. Para análise, somaremos à ferramenta teórica inerentes à composição teatro
narrativo, as discussões que versam sobre as produções discursivas identitárias. O objetivo é destacar o princípio
ideológico que marcou a produção do teatro político em Rio Branco nas décadas de 80 e 90, do século passado, e a
reapropriação e deslocamento semântico marcado na peça Chapurys.

I 18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h) I


Evelyn Furquim Werneck Lima - UNIRIO
Modernidade e tradição na obra cenográfica de Lina Bo Bardi
Pretende-se discutir a produção cenográfica de Lina Bo Bardi que utiliza práticas surrealistas e, antagonicamente, neo-
concretas nas cenografias concebidas entre 1961 e 1985. Lina tenta destruir a fronteira metafisica congelada no ato da
fascinação do público. Estas práticas foram aplicadas em maior ou menor grau nas cenografias de Opera dos três
tostões, de Brecht (1960) e Calígula de Camus (1961), quando a inspiração vinha das raízes culturais baianas e a
arquiteta valoriza o distanciamento brechtiano deixando á mostra a construção do cenário no Teatro Castro Alves. Na
montagem de Na Selva das Cidades, de Brecht, (1969), encenada no Teatro Oficina, Lina idealizou um ringue, onde
todo o material utilizado era feito de lixo reciclado, destruído a cada espetáculo. Em 1972, Lina cenografa Gracias
Senhor, criação coletiva com participação ativa do público no Teatro Tereza Rachei, no Rio de Janeiro. Em1985, em
São Paulo, cria cenários e figurinos para Ubu - Folias Physicas, Pataphysicas e musicaes". A dialética do pensamento
de Lina nas obras citadas denota a articulação do individuo com a natureza, numa poética fundamentada na antropo-
logia e na história social da cultura.

João Gabriel Lima Cruz Teixeira - UnB


História, Teatro e Performance
Este trabalho busca inserir os estudos da performance, tal como desenvolvidos a partir do trabalho pioneiro de Richard
Schechner na Universidade de Nova Iorque (NYU) e a sua relação com a história do teatro contemporâneo. Tenta
também estabelecer, historicamente, uma hierarquia conceitual entre ritual, teatro e a linguagem artistica (ou fusão de
linguagens) denominada de arte da performance ('performance art"). Discute os conceitos de performance e suas
variantes (performance cultural, performance no quotidiano, performatividade), mostrando o crescimento de sua absor-
ção no Brasil. Finalmente procura descrever o processo de difusão dos estudos da performance em escala mundial,
através da apresentação das instituições e encontros internacionais criados nas últimas décadas.

Solange Pimentel Caldeira - UFV


A Cidade-Personagem na Dança-Teatro de Pina Bausch
Ler as representações da cidade contemporânea, percebendo a utopia em ruina e os traços infernais das megalópoles
em que se vive, faz parte da operação poética de muitos artistas. De tema privilegiado pelos modernos, a cidade torna.-
se problema, vê-se de repente no centro das atenções. Transforma-se em espetáculo, hipótese a ser investigada. E
esta hipótese que Pina Bausch, coreógrafa e bailarina alemã, fundadora de uma nova modalidade cênica, a dança-
teatro, explora, numa espécie de polifonia que toma a personagem-cidade como objeto de pesquisa, como persona-
gem que não tem fala, mas que é falada pelo discurso dos outros, pelos desdobramentos do discurso do narrador. Na
cidade-solidão da ficção de Bausch, a relação espaço-tempo dos percursos opressivos dos personagens, sem nome e
sem futuro, é marcada pela ausência de respostas, pela impossibilidade da linguagem e da fabulação.

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Luiz Humberto Martins Arantes - UFU
Teatro e História: fronteiras e tensões entre o local e o nacional
Esta proposta de comunicação de pesquisa pretende expor alguns caminhos e resultados que vem sendo pensados a
partir da implantação e desenvolvimento do projeto de pesquisa Memórias e processos do ator: vozes e imagens dos
artistas teatrais no triângulo das Minas Gerais (1970-1995), iniciado em fevereiro de 2007, na Universidade Federal de
Uberlândia e que tem objetivado pensar de forma conceitual e historiográfica questões em torno de uma necessária
história do teatro regional no interior de Minas Gerais. Para tanto, inicialmente, tem mapeado a existência de urna
historiografia do teatro regional no Brasil; depois, tem problematizado a pertinência do uso de categorias tais como
micro história e história local e, ainda, o necessário debate acerca da existência de uma hegemonia da idéia de
nacionalidade na escrita de uma história do teatro. Para isto, tem sido necessário pensar a necessidade de acervos
que cataloguem, organizem e disponibilizem esta memória teatral local/regional. Desse modo, tem se incentivado a
produção de pesquisas na graduação e na pós-graduação que foquem a questão dos espetáculos regionais e, princi-
palmente, a publicação de periódicos e livros resultantes das pesquisas realizadas.

Silvia Balestreri Nunes - UFRGS


"Da utilidade e dos inconvenientes" de uma história da obra de Carmelo Bene
Em minha tese de doutorado, por força de tentar uma contaminação da obra do italiano Carmelo Bene no teatro-fórum
de Augusto Boal, senti-me impelida a escrever 'uma historinha um tanto útil' do desenvolvimento da obra de ambos. O
risco era de, num acúmulo de dados e memórias, torná-Ias monótonas e trair suas forças especificas, especialmente
no caso de Carmelo Bene, multiartista que conheci somente através de textos, filmes, de emissões televisivas de suas
peças e de relatos de espectadores, jamais presencial mente. Inspirada em Nietzsche, Foucault e Deleuze, pretendo, f'26\
neste trabalho, discutir as vantagens e os riscos de se fazer história da obra de artistas de teatro como Bene, sob pena ~
de esvaziar sua potência, redefinindo ai o que pode ser elaborado como história de uma obra artística.

Stephan Aroulf Baumgartel - UDESC


Crises de legitimação política e o surgimento de um teatro pós-dramático na Alemanha no fim do século XX
O presente trabalho apresenta um panorama crítico de fatores sócio-políticos e econômicos que influenciaram na
formação de um teatro chamado pós-dramático na Alemanha. Indaga como a produção teatral reagiu, na estrutura de
montagens pós-dramáticas, ás transformações políticas ligadas á reunificação da Alemanha e sua crescente inserção
no processo de globalização, bem como a crescente especularização e midiatização da esfera pública alemã. Para tal
finalidade, faz uma leitura crítica de montagens de grupos como Hygiene heute e Gob Squad, e o trabalho de diretores
como René Pollesch.

Catarina Sant'Anna - UFBA ~


Para "desmontar o sistema": a atualidade no teatro de Michel Vinaver '"
Propomos analisar as relações entre História e Teatro, através da obra de Michel Vinaver (1927) - especialmente "O ~
Programa de Televisão' (1990) e 'O 11 de setembro de 2001' (2002). Trata-se de examinar a construção da atualidade ~
na representação teatral e na representação midiática nos referidos textos. Não se trata de um teatro político 'de 'E
denúncia" (ao menos nos moldes daquele praticado nos anos 1960), nem tampouco de "agit-prop' (1917-1932), se ~
bem que possa lembrar por vezes o 'teatro documento' (anos 1960). O autor evita a tentação das mensagens 'didáti-
cas' e dos grandes discursos a favor ou contra. Mas ambiciona um 'desmonte do sistema', para oferecer em seus
textos um 'diagnóstico' crítico da realidade em sua complexidade. Desse modo, todos os pontos de vista são válidos e
estão em jogo, sem hierarquizações. O plano macro da História surge, então, inscrito de viés, nos jogos de poder na
teia do micro - na banalidade do quotidiano. Ali, onde a História vai sendo gerada sem que disso nos apercebamos.

I 19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h ás 16h30min) I


Elizabete Sanches Rocha - UNESP
Teatro e História: cultura e política brasileiras sob o prisma da Estética do Teatro do Oprimido
O surgimento do Teatro do Oprimido é capaz de elucidar muito acerca dos eventos sociais e políticos dos tempos em
que o Brasil era obrigado a se curvar diante do poder dos militares. Em 1958, a representação da peça de Guarnieri,
Eles não usam black-tie, fez renascer das cinzas o Teatro de Arena, que vinha agonizando em termos econômicos e
criativos. Embalado pela bem sucedida experiência de público com a peça de Guarnieri, em 1960 é representada
Revolução na América do Sul, de Augusto Baal. Posteriormente, segue a fase nacionalista do Arena, com a encenação
de Arena conta Zumbi e Arena conta Tiradentes. Após um periodo de inquestionável salto qualitativo na produção do
grupo, passa a se tornar insustentável a presença de Augusto Baal, que vinha claramente desenvolvendo sua percep-
ção teatral para um caminho de novas rupturas em termos estéticos. Em 1971, Boal é obrigado a deixar o pais. No
exterior, o dramaturgo passa a desenvolver sua nova Estética, presente hoje em cerca de 70 países. Pretendemos

211
abordar as intersecções entre História e Teatro sob o prisma da criação e expansão do Teatro do Oprimido, consideran-
do seu engajamento político-cultural e sua compreensão dos sentidos atribuidos ao conceito de opressão no Brasil dos
anos de chumbo.

Érica Rodrigues Fontes - UFPI


Promovendo discussão sobre os males do século: o Teatro do Oprimido na aula de literatura
Este artigo resulta de observações feitas a partir de um projeto que objetivou uma melhor absorção de conteúdos
literários pelos alunos de literatura lusófona da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill. As observações
foram feitas de agosto de 2004 a maio de 2006. Neste artigo me concentrarei apenas no resultado concernente ao
trabalho desenvolvido com dois contos do escritor moçambicano Mia Couto, 'O fogo' e 'A princesa russa'. Nas aulas
supracitadas, usei a idéia geral do Teatro do Oprimido, que divide a sociedade no binário Oprimido/Opressor (todos os
jogos e exercícios deste tipo de teatro são moldados a partir desta mentalidade) para estudar as relações presentes
nos textos e a partir de então sugerir uma interpretação mais profunda do mesmo.

Roberta Paula Gomes Silva - UFU


Uma representação do mundo do trabalho a partir da peça Bumba, meu queixada, do grupo União e Olho Vivo
O objetivo desta comunicação é tecer algumas considerações acerca da peça teatral Bumba, meu queixada (1979), do
grupo União e Olho Vivo. Para isso, analiso as várias temáticas abordadas ao longo da estrutura dramática - acidentes
de trabalho, diferença salarial, movimento grevista, organização sindical e exploração patronal - com o intuito de
inseri-Ias nas discussões que permeavam a conjuntura social do pais no momento de sua produção. Busco também
refletir sobre a noção de teatro popular e de engajamento na década de 1970 com o propósito de entender como essas
questões estão presentes na narrativa de Bumba, meu queixada.

Thelma Lopes Carlos Gardair - FIOCRUZ I Casa de Oswaldo Cruz I Museu da Vida
História e Teatro no palco da Cidadania
O artigo 'Teatro e História no palco da cidadania' terá como objetivo principal discutir possibilidades de articulação da
linguagem teatral com o ensino na área de História, a partir da reflexão sobre a Mostra Teatro, Ciência e Cidadania. O
evento, produzido pelo 'Ciência em Cena' - espaço do 'Museu da Vida' dedicado à pesquisa e desenvolvimento de
atividades que relacionem Arte e Ciência - reuniu jovens de diferentes bairros da cidade do Rio de Janeiro, com o
objetivo de compartilhar experiências nos campos do Teatro e da Ciência e a relação de suas práticas com o exercício
da cidadania. Fruto de parceria entre duas instituições de referência em suas respectivas áreas de atuação - a "Fun-
dação Oswaldo Cruz' (FIOCRUZ) e a 'Casa das Artes de Laranjeiras '(CAL), o evento recebeu cerca de 400 especta-
dores e buscou promover o diálogo entre jovens de diferentes camadas sociais sobre temas relacionados à História do
Brasil, História do Teatro, cidadania e interfaces entre Ciência e Arte. No artigo a ser desenvolvido, serão discutidos,
também, temas de peças que focalizam aspectos históricos, bem como elementos de métodos de interpretação teatral
que possam estimular o debate sobre relações entre História, cultura, cidadania e Teatro.

I 20/07 - Sexta-feira - Manhã (10h30min ás 12h30min) I


Mario Fernando Bolognesi - UNESP
O nascimento do circo na época e no ideá rio romãntico
O circo moderno nasceu ás vésperas da Revolução Francesa. Imediatamente, ele adotou o ideário romântico em sua
formação espetacular, tanto no formato de variedades, quanto no teatral propriamente dito, através dos hipodramas.
Em muitos espetáculos, as conquistas de Napoleão foram levadas ao picadeiro com a grandiosidade que a empreitada
histórica desejava. Esse percurso se estendeu até o periodo da Restauração. Nos hipodramas, batalhas eram encena-
das; Nos espetáculos de variedades, animais ferozes, oriundos de países longínquos, eram dominados pelo conquis-
tador e apresentados ao público. O Imperador e suas conquistas eram figuras de proa nos espetáculos.

Fátima Costa de Lima - UDESC


Entre alegoria e política, entre as cavalhadas e as escolas de samba
Os carros alegóricos do carnaval são obras artisticas que permitem leituras de cunho formal que estabelecem
vínculos históricos com outros veículos que surgiram no Brasil colonial. Sua análise artística não dispensa e até
pode enriquecer-se com informações e dados politicos e da pesquisa histórica. As alegorias dos desfiles atuais das
escolas de samba do Grupo Especial do carnaval do Rio de Janeiro podem encontrar, assim, um lugar na história.
Esta é uma primeira tentativa de estabelecer um panorama do passado afim de alimentar o projeto de estudá-Ias no
tempo presente.

212
Jonas Rafael dos Santos e Diogo da Silva Roiz - Prefeitura de Campina
Um empresário teatral: Françóis Cassoulet, administrador do Teatro Carlos Gomes na cidade de Ribeirão
Preto/SP (1896-1917)
Aborda-se a trajetória de Françóis Cassoulet em Ribeirão Preto, interior do Estado de São Paulo, entre 1896 e 1917,
quando foi dono de restaurantes e administrador de empresas teatrais e cassinos. Discutem-se o como a imprensa
local se referia aos atores e aos temas encenados no palco, tendo como base sua administração junto ao Teatro Carlos
Gomes.

Caroline Cantanhede Lopes - Cedoc/Funarte


Centro de Documentação e Informação da Funarte: novas possibilidades para o exercício do historiador
Resumo: O Centro de Documentação e Informação da Funarte (Cedoc) tem como finalidade reunir, organizar, disponi-
bilizar e disseminar documentos e informações que apóiem e incentivem a produção artística e cultural e as pesquisas
em Artes e Cultura, além de apoiar atividades desenvolvidas pela própria instituição. O Cedoc reúne volumosa docu-
mentação de e sobre as artes cênicas, artes plásticas e gráficas, música e fotografia. Seu arquivo abrange uma grande
diversidade de documentos: livros, revistas, jornais, textos teatrais, cartazes, partituras, discos, fitas, fotografias, dese-
nhos originais de cenários e figurinos, programas e convites de espetáculos, recortes de jornais sobre eventos e
personalidades, fitas de vídeo, CDs, DVDs e CD-ROMs. A presente comunicação tem o objetivo de divulgar, ainda que
brevemente, dois acervos particulares, recentemente tratados pelo Cedoc: o acervo da Família Vianna, compreendida
por Oduvaldo Vianna, Deocélia Vianna e Vianninha; e o acervo de Paschoal Carlos Magno. Tais fundos documentais
podem fornecer aos pesquisadores importantes elementos para o resgate da memória do teatro, bem como para os
estL'dos que privilegiem a temática cultural, campo para o qual tem se voltado, cada vez mais, o olhar de vários ~
historiadores. ~
Sandra Parra Furlanete • UFOP
De Ressonadores a Vibradores de Grotowski . renomear o conhecido para conhecer o novo
No livro Em Busca de um Teatro Pobre, Grotowski chama de ressonadores os pontos de vibração da voz pelo corpo-
o que é uma impossiblidade científica. Acreditamos ser esse um dos principais motivos de J-J. Roubine, em AArte do
Ator, afirmar que 'os ressonadores são puramente metafóricos' - opinião difundida e compartilhada por grande número
de artistas e formadores da área de teatro. O próprio Grotowski, em textos posteriores, renomeia esses pontos como
vibradores da voz, mas como esses textos tiveram uma divulgação muitíssimo inferior à do ... Teatro Pobre, acredita-
mos que esses artistas e formadores não tenham tido acesso a essa informação. Assim, propomos que, para a real
compreensão do trabalho de Grotowski, será preciso, antes de tudo, mudar a designação universalmente divulgada de
'ressonadores de Grotowski' para 'vibradores de Grotowski'. Nossa contribuição para tal será feita a partir das ciências
cognitivas, que nos permitem compreender que metáforas e imagens mentais não são algo que possa ser relegado g
àquilo que se considera como puramente psicológico - ou seja, existente num plano 'mental' desconectado do corpo ~
físico (concepção oriunda do ponto de vista dualista, que considera corpo e mente como entidades separadas, inde- f-
pendentes uma da outra). ~
.!l2

Paula Regina Alvarenga - UFGD


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História e literatura: correlações a partir da peça teatral "Fuck Vou Baby" de Mário Bortololto
Qual a relação entre história e literatura? Como a literatura poderia por sua vez contar a história e torna-Ia verossimel?
Qual a relação entre ficção e realidade? Essas e outras questões de ordem metodológica nos levam a refletir sobre a
construção do texto, tropos do discurso, elementos que compõe a narrativa. Este artigo tem como objetivo desenvolver
uma reflexão a partir da peça teatral Fuck Vou Baby de Mário Bortolotto ao investigar como é composta a trama desta
obra, texto, tempo, leitor, personagem(s) que compõe a narrativa e que se choca em teias de relações que constituem
a história como, por exemplo, quanto às identidades e representações.

213
27. História agrária: estruturas, paisagens, direitos e conflitos
Helen Osório (UFRGS) e Márcia Maria Menendes Motta (UFF)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h ás 18h) I
Márcia Maria Menendes Motta· UFF
Consagração de domínios e gestação de conflitos (a concessão de Sesmarias 1795/1822. Rio de Janeiro,
Minas Gerais)
Em fins do séc.xVIII e início do seguinte a solicitação de sesmarias poderia referendar a ascensão desejada, inserindo
o lavrador nos quadros da categoria social de sesmeiro. Muitos haviam iniciado seus cultivos em terras de terceiros,
outros iniciaram suas atividades a partir de ocupação de terras devolutas, pretensamente sem donos. Além disso,
neste periodo, o Império adquiria uma territorialidade marcante e tal processo implicava o reconhecimento das inúme-
ras gradações de cultivadores, de perspectivas distintas na ação de ocupar. A partir da Chancela Real, é possível que
muitos passassem a almejar outras mercês, sentindo-se concretamente um privilegiado em relação a uma maioria que
apenas se amparava no auto-reconhecimento de ser um legitimo ocupante, mas que não podia usufruir de um título de
domínio em eventuais querelas com seus confrontantes. Ao intitular-se senhor de uma terra, chancelada pela Coroa
como mercê, o sesmeiro operava com os dispositivos da lei para consagrar-se como legal ocupante, como também
expressava seu poder na incorporação de terras ao arrepio da lei. Neste jogo de múltiplas faces, o estudo persegue a
trajetória de ocupação territorial de Ignácio Pamplona e de Paes Leme; exemplos emblemáticos das possiveis inter-
venções da Coroa em 'questão de terras'.

Helen Osório· UFRGS


"Campos indecisos", "intrusos" e fronteira: uma aproximação às práticas de apossamento da terra e seus
conflitos no Rio Grande na segunda metade do século XVIII
A comunicação aborda as formas de apropriação da terra -legais, com concessão de titulo (sesmarias e datas) e as de
fato, as diversas modalidades de posse - que se produziram historicamente nos territórios do atual estado do Rio
Grande do Sul, em uma situação de área fronteiriça do Império português, com movimentos bélicos intermitentes.
Analisa-se dois tipos de conflitos. Nas áreas de povoamento mais antigo, o principal tipo de disputa confrontava
camponeses com sujeitos que, dispondo de várias formas de poder, tentavam expulsá-los de suas terras, qualificando-
os de 'intrusos', ou sujeitá-los á compra ou ao pagamento de renda de campos e chácaras que já possuiam. Nos
'campos indecisos', na fronteira móvel do sul e oeste, os conflitos ocorreram, principalmente, entre soldados rasos que
ocupavam as terras recém conquistadas e seus comandantes e parentes, que obtinham datas, sesmarias e ordens de
despejo contra os primeiros ocupantes.

Francisco Eduardo Pinto· UFF


As sesmarias da Comarca do Rio das Mortes nas nascentes do São Francisco
Esta pesquisa visa estudar a opupação da Comarca do Rio das Mortes durante o século XVIII através da distribuição
de terras pelo instituto das sesmarias. Iniciamos o levantamento de dados pela região de povoação mais recente da
comarca que foi o oeste mineiro, nas divisas com as capitanias de Goiás e São Paulo. Figura central desse processo
foi o Mestre-de-Campo e Regente dessa conquista territorial Inácio Corria Pamplona. Personagem emblemática, inclu-
sive pela sua participação na Inconfidência Mineira, Pamplona teve papel central na povoação e ocupação dessas
terras na segunda metade dos setecentos. Na medida em que a documentação disponível permitir, iremos ainda
analisar os conflitos que estariam por trás dessa ocupação do território.

Vanda da Silva· Arquivo Público de Mato Grosso


A concessão de sesmaria e os litígios de terra na capitania de Mato Grosso na segunda metade século XVIII e
início do século XIX
A presente comunicação tem como objetivo analisar os litígios de terra ocorridos na capitania de Mato Grosso. Foi
realizado levantamento de fontes sobre concessões de sesmarias existentes no Arquivo Público do Estado de Mato
Grosso, Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso e Arquivo Histórico Ultramarino. O conjunto documental exis-
tente aponta a complexidade da concessão de terras e da estrutura fundiária implantada na capitania de Mato Grosso
durante a segunda metade século XVIII e inicio do século XIX. Os dados têm demonstrado questões interessantes da
configuração do espaço rural desta capitania, como as longas disputas judiciais pela posse da terra, ocorridas durante
processo de concessão de sesmarias. Conhecer essas querelas nos permite perceber os diferentes interesses políti-
cos e econômicos que envolviam a aplicação da legislação sesmarial e a prática efetiva da ocupação fundiária nesta
capitania.

214
Masília Aparecida da Silva Gomes - UFMT
O que se planta e o que se colhe no termo do Mato Grosso, fronteira oeste do Império Português (1748-1790)
A descoberta de ouro no Vale do Guaporé (1734) levou um grande contingente de pessoas à região, em busca de
riquezas. A proximidade com as missões espanholas de Chiquitos e Moxos fez com que a Coroa portuguesa imple-
mentasse uma política de povoamento, com privilégios e isenções para os que se deslocassem à zona de fronteira. A
documentação pesquisada evidencia as dificuldades pelas quais passaram esses colonos, dentre elas a escassez e
carestia de alimentos. Considerando os poucos estudos sobre o tema, procuramos informações sobre o que se produ-
zia no termo do Mato Grosso e o que se comprava de outros locais, sem deixar de destacar que a natureza era pródiga
na oferta de alimentos.
A delimitação temporal da pesquisa justifica-se, por ser 1748 o ano da criação da capitania de Mato Grosso, e 1790,
por marcar o início de uma grave crise de abastecimento, cujas raízes ainda não foram analisadas.
A documentação utilizada na pesquisa integra os acervos documentais pertencentes ao Arquivo Público do Estado de
Mato Grosso - APMT, ao Núcleo de Documentação e Informação Histórica Regional- NDIHRlUFMT e a Casa Barão
de Melgaço - CBM, além de um vasto conjunto de fontes publicadas.

Juliana Alves de Andrade - UFPB


Direito agrário, leis costumeiras e povos da matas reais: o universo dos pobres rurais nas províncias de
Alagoas e Pernambuco (1832-1850)
Nas fronteiras das províncias de Alagoas e Pernambuco, no século XIX, encontramos virgens e densas matas, carre-
gadas de madeiras de lei, objeto de interesse dos reis portugueses. Estendiam-se da costa maritima alagoana para o
norte, até as águas escuras do Vale do Rio Una, ao sul de Pernambuco. Estas matas eram tidas como fundamentais
para a Coroa portuguesa, uma vez que suas árvores eram utilizadas na construção naval. Era uma área de ricos
engenhos, além de possuir solo fértil para o preparo de roçados de mandiocae e milho, que sustentavam os pobres
rurais. Foi cenário da resistência dos pobres rurais nortistas nos Oitocentos: a Guerra dos Cabanos. Partindo desse
corpus, o objetivo do nosso trabalho consiste em entender as normas e regras estabelecidas pelos pobres rurais em
seu cotidiano, a partir do Direito Vivido e do Costume, para utilizarem o espaço das matas e transformá-lo em reduto de
sobrevivência e resistência a expansão dos bangüês, engenhos ou pequenas fábricas de açúcar. E perceber através
da relação das práticas agrárias e da legislação (direito), que os modos de vida dos pobres rurais estabelecem uma
cultura de morada habitual nas matas, constitui atos possessórios e a formula de leis dos pobres, quando violam o
principio da propriedade.

Vitória Fernanda Schettini de Andrade- UFRRJ


Ocupação e formação econômica dos sertões do Muriaé
Alguns trabalhos desenvolvidos para a Zona da Mata Mineira realçam a preocupação de detalhar a obscuridade
existente entre sua ocupação e seu desenvolvimento econômico, bem como sua ligação com o esgotamento das
lavras de ouro, creditando a região um diferencial específico. Assim sendo, teremos como objetivo nesta comunicação
resgatar o maior número possível de bibliografias referentes ao assunto e analisar especificamente o caso de São
Paulo do Muriaé, uma freguesia agrária do Leste da região analisada e cotejar esta análise com alguns estudos de
casos coletados dos inventários post-mortem e do Censo do Brasil Império, a fim de nos aproximarmos desta realida-
de, que permanece ainda, distante das discussões acadêmicas. ®
Carlos Eduardo Rovaron - USP
Refluxo populacional para o sul de Minas Gerais durante o último quartel do séc. XVIII. Pequena discussão
historiográfica §
O fenômeno do refluxo populacional para o sul de Minas Gerais no último quartel do século XVIII, seqüente a crise daê
economia mineradora, tornou-se bastante conhecido graças ao clássico Formação do Brasil Contemporâneo de Caio :.c
Prado Júnior. Desde que esse texto foi publicado na década de quarenta do século XX até hoje, alguns pesquisadores 'ie'
debruçaram-se sobre o tema, principalmente os profissionais ligados aos campos da demografia histórica e da história g
econômica. A partir da década de 80 do século XX, acompanhamos a generalização cada vez maior dos recursos da .~
informática nos campos de estudo citados e do conhecimento de séries de fontes que permitem tratamento estatístico. ::
Com o auxílio da montagem de bancos de dados e de programas de computador, tais profissionais tiveram a facilidade §
de manuseio de séries documentais extensas que Caio Prado não possuía nos anos 40. Alguns desses pesquisado- ~
res, utilizando tais técnicas, dedicaram-se ao tema do refluxo populacional e chegaram a praticamente a mesma ~
conclusão que Caio Prado. Contudo, graças aos recursos de informática, contribuem com uma riqueza de detalhes
maior. Apresentaremos uma breve discussão historiográfica sobre o tema com os seguintes autores: Caio Prado Júni- -~ ê
or, Laird W. Begard, Kenneth Maxwell e João Pinto Furtado. ~
co
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215
17/07 - Terça-feira - Tarde (14h ás 18h)

Marina Monteiro Machado - UFF


leis e embates: as terras indígenas no Império do Brasil
Lutas travadas por agentes sociais desiguais, os conflitos de terras foram constantes, ao longo do século XIX, no
Brasil. Em meio aos conflitos, percebemos um crescente interesse sob as terras indígenas, que vinham sendo legiti-
madas enquanto tais desde os anos coloniais, e muitos esforços empreendidos para conquistá-Ias.
Para compreender este universo de disputas em torno de interesses, o trabalho se debruça sobre as leis produzidas na
primeira metade do oitocentos, buscando compreender como este grupo social era encarado no interior da sociedade
em gestação. Ao estudar as leis, elucida-se também como a visão construída sobre os índios foi fundamental para
possibilitar a invasão de suas terras e posterior ocupação dessas.
Como conseqüência, tal processo de espoliação de terras indígenas marcou o desaparecimento de grupos indigenas
nas principais províncias do Império brasileiro. Tensões anunciadas entre o discurso da preservação e o desapareci-
mento dos povos nativos, inseridos em outro discurso, o da civilização dos ditos gentios.

Francivaldo Alves Nunes - UFPA


Núcleos coloniais e agricultura na Amazônia Imperial: uso e ocupação da terra
Fomento a produção, reforma das técnicas agrícolas, intensificação dos sistemas produtivos e aumento da produtivi-
dade são algumas diretrizes recorrentes nos projetos de reformulação da agricultura desenvolvidos no Brasil no perí-
odo Imperial. Na Amazõnia a criação dos Núcleos Coloniais, na segunda metade do século XIX, constituem ações
governamentais que buscam atender essas demandas. Analisar os elementos que estimulam a formação das Colõnias
Agrícolas e que nos ajuda a pensar a constituição de paisagens agrárias e os processos de apropriação da terra é a
tarefa que nos ocupamos nesta comunicação; entendendo que, além de uma questão de consumo e produção, os
Núcleos Coloniais na Amazõnia se evidenciaram como espaços de experimentação de novas técnicas produtivas,
melhor aproveitamento da terra, do exercício de domínio das matas, promoção do povoamento e disciplinarização dos
sujeitos sociais envolvidos na construção deste espaço.

luís Augusto Ebling Farinatli - UNIFRA


Abastadas Famílias: elite agrária na Fronteira Meridional do Brasil (1825-1865)
Na primeira metade do século XIX, a fronteira do Brasil com o Uruguai constituiu-se em uma região de grande pecuá-
ria, conectada com zonas de plantation de outras partes do Brasil. A elite agrária que se consolidou ali tem sido
associada á figura do estancieiro-militar. Mas não há estudos monográficos sobre o tema. Aqui, se apontam alguns
resultados de uma pesquisa dedicada a esse grupo, através do uso de larga base de documentação primária. As
famílias de elite atuavam em campos diversos e congregavam, em si, estancieiros, comerciantes e militares. Era assim
que enfrentavam um mundo que era marcado por uma verdadeira endemia bélica e pelas instáveis conjunturas de
fronteira. Também precisavam lidar com diversificada base de subaltemos: escravos, peões e um largo estrato de
pequenos produtores. Para reproduzir-se como elite, não bastava constituir latifúndios e esperar o gado engordar nos
bons pastos do sul. Por sua vez, a própria reprodução da estrutura agrária e da hierarquia social ganham novas
dimensões ao se contemplar o estudo das estratégias familiares com a análise das atividades 'sócio-profissionais' das
famílias de elite.

Graciela Bonassa Garcia - UFF


O fim da escravidão e o cercamento dos campos: tensão e transformação no Pampa rio-grandense
Em meados do século XIX, a estrutura agrária da Campanha rio-grandense sofreu muitas mudanças: o valor da terra
passou a comprometer a maior parte do patrimônio produtivo de chácaras e estâncias e houve uma redução drástica
na extensão dos estabelecimentos rurais, dos plantéis de escravos e dos rebanhos. Por volta de 1880 o processo de
cercamento dos campos tomou fôlego na região e passou a ser um novo elemento a incidir sobre a transformação
daquele mundo rural. Oobjetivo deste trabalho é investigar, a partir de inventários post-mortem e processos de despe-
jo, as tensões e transformações das quais o pampa rio-grandense foi palco em uma década que marcou o fim da
escravidão e o inicio do processo de cercamento dos campos na região.

Inoã Pierre Carvalho Urbinati - UERJ


Projetos de reforma agrária entre 1871 e 1889: um painel histórico
O artigo objetiva apresentar um painel das propostas de reforma agrária elaboradas no período, verificando o modo
como idéias reformistas estiveram presentes em discursos governamentais e focalizando os projetos de importantes
abolicionistas ligados ao Império. Situaremos a realidade fundiária do período, observando-se a importância da Lei de
Terras. Tendo como fonte relatórios do Ministério daAgricultura,examinaremos a perspectiva de incentivo da pequena
propriedade, como, por exemplo, através do plano de se fixar um Imposto Territorial. A questão fundiária é estudada
correlatamente com o imigrantismo e o abolicionismo - movimentos característicos do perído de transição do escravis-

216
mo para a economia capitalista no Brasil. Abordaremos os debates em torno das leis abolicionistas e uma proposta de
reforma da Lei de Terras, de modo a facilitar o acesso a terra. Serão examinados os programas de 'democracia rural'
concebidos por André Rebouças e Joaquim Nabuco, bem como a persistência de um plano de reforma agrária no Pós-
Abolição, observando-se o programa agrário do gabinete João Alfredo. Procuraremos, ainda, esclarecer as circunstân-
cias que terminaram por impedir a concretização de qualquer reforma mais ampla no setor agrário.

Joana Medrado Nascimento - UNICAMP


Boi fujão ou homem ladrão? Conflitos em tomo da posse de animais na região de Geremoabo/BAentre 1880e 1900
Esta comunicação analisa casos de roubo e furto de animais em Geremoabo, zona caracterizadamente de pecuária,
no sertão da Bahia, nas duas últimas décadas do século XIX. A leitura de processos criminais permite compreender os
símbolos estabelecidos para marcar a propriedade 'legitima' dos animais (tais como o ferro prensado no couro), os
personagens encarregados de identificar os animais eventualmente furtados e a rede de relações locais que defendia
os 'proprietários" ou os 'acusados". Revela também que ao denunciar o furto de seus criatórios, o proprietário afirmava
não apenas seu domínio sobre os animais, em geral criados á solta, mas também o domínio sobre as terras nas quais
os animais pastavam. Os réus, via de regra lavradores ou pessoas que eram acusadas de viver de 'furtar o alheio',
defendiam-se expressando outra concepção de propriedade, radicalmente materializada no furto, mas também argumen-
tada na defesa: afirmavam que os animais haviam sido comprados de outrem, ou trocados, ou mesmo que não tinham
dono. Assim, os conflitos sobre a posse de animais constituem formas de acesso importantes para o estudo das redes
sociais locais e dos significados de certos costumes para proprietários de terras, vaqueiros, criadores e lavradores.

Cristiano Luís Christillino - UFF


Legitimações de terras, imigração e a política da coroa na Província de São Pedro do Rio grande do Sul
Neste trabalho discutimos a política fundiária da Coroa na Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, em meio ás
especificidades políticas locais e do processo imigratório nesta Província. Diante das agitações políticas da década de
1870 e frente a iminência de um novo conflito político na Província, a Coroa utilizou os processos de legitimações de
terras para cooptar os chefes políticos locais, especialmente aqueles que possuíam postos de comandantes na Guar-
da Nacional. Era o presidente de provincia quem julgava, em última instância, os processos de legitimações. Sua ação
não fugiu aos propósitos da Coroa nesta conturbada Província, e que se mostrava disposta a pegar em armas outra
vez. Ao mesmo tempo em que era preciso alavancar o processo imigratório, como uma forma de limitar, paulatinamen-
te, o poder dos estancieiros da Campanha. Para isto utilisamos a metodologia de pesquisa da Micro-História, na
medida em que a redução da escala de análise nos permite ampliar a análise da dinâmica de nosso objeto, através do
estudo de caso do litígio entre Primórdio e Maria José, no Município de Taquari.

Mareio Both - PPG-Históría UFF


Babel do Novo Mundo: o espaço Norte Rio-Grandense entre 1889 e 1925
O objetivo da apresentação é discutir o modo como ocorreu o povoamento da região Norte do Rio Grande do Sul entre
1889 e 1925 priorizando a análise dos contatos estabelecidos entre os diferentes grupos sociais - negros, índios,
nacionais e colonos - envolvidos na ocupação. Assim, com base nos relatório da Diretoria de Terras e Colonização
(aparelho de Estado responsável por administrar o povoamento) e em descrições de época procuro compreender
como, a partir do encontro entre si e da relação que mantinham com o Estado, tais grupos passaram a constituir
identidades sociais diferenciadas.
®7
I 18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h ás 18h) I §
.~

José Evando Vieira de Melo - USP 'Õ


Escravidão e modernização nas fazendas de cana e de café de Piracicaba (1850-1888) ~-
O fim do tráfico internacional de escravos para o Brasil, em 1850, pegou a lavoura escravista mercantil de Piracicaba g,
em plena expansão. A manufatura escravista açucareira vivia seu auge e a cafeeira dava seus primeiros passos no .;g
município. Esse trabalho pretende discutir como os fazendeiros de Piracicaba conseguiram expandir sua lavoura :
comprando escravos de outras regiões do País, as dimensões dos plantéis de cativos e o processo de modernização ~
das fazendas de café e da criação do engenho central de Piracicaba, poupando assim braços cativos, no momento da .:3 ~
crise final do escravismo brasileiro. <n
Cl.)

ro
.",
Roberta Barros Meira - USP oro
A gênese da modernização do setor açucareiro: os engenhos centrais no Brasil e;,
ro
O objetivo deste trabalho é propor uma discussão acerca da importância da política de desenvolvimento dos engenhos .~
centrais no Brasil, na segunda metade do século XIX, mas especificamente durante os anos de 1875-1889. A lei n°. ~
2687 de 1875 tinha como objetivo desenvolver os engenhos centrais e, portanto, o Governo Imperial garantiria os juros ::c

217
para todas as companhias que construíssem engenhos centrais, mediante o emprego de aparelhos e processos mo-
dernos os mais aperfeiçoados. Esse sistema baseava-se na separação da agricultura e da fábrica. Porém, no Brasil, a
maioria desses engenhos centrais faliu. Apesar disso, os engenhos centrais criariam as bases tecnológicas para a
introdução das usinas.

Teresa Cribelli - Johns Hopkins


"Civilizar", "Moralizar" e "Aperfeiçoar": debates e projetos para a modernização da Nação
O presente trabalho estuda o projeto modernizador brasiliero no Segundo Império, com a ênfase nos anos de 1850 a
1859. Venho analisando o discurso oficial, através dos relatórios do governo e jornais do período e percebo a preocu-
pação em avançar em termos tecnológicos, e ainda, como fazer através de um modelo ad~quado ás necessidades
brasileiras, visto as particularidades do país, como a recente abolição do tráfico negreiro. E notória a existência de
denso conhecimento acerca do desenvolvimento tecnológico na Europa e nos Estados Unidos, e a necesidade de
buscar alternativas de mão-de-obra frente a escravidão.
Nos projetos discutidos há a incidência de temas ligados a agricultura, a educação, a criação de pequenas fábricas e
em especial a abertura da primeira estrada de ferro. Inicialmente venho analisando algumas palavras utilizadas no
período, para compreender o que se objetivava quando o discurso oficial calcava-se em termos como 'civilizar', 'mora-
lizar', 'aperfeiçoar" e 'indústria'. Entender até que ponto este projeto voltava-se para a população e no que lhe poderia
ser útil está entre as questões centrais que se pretende responder, percebendo ainda o que traziam os projetos para
que o Estado Brasileiro investisse nos mesmos e como era a aceitabilidade da população.

Eleide Abril Gordon Findlay - Univille


A ocupação territorial do município de Araquari em Santa Catarina
O estudo da formação econômica de Araquari, parte integrante da pesquisa intitulada 'Ocupação histórica do território
correspondente aos municípios de São Francisco do Sul, Araquari e Barra do Sul' confirma que, desde o inicio de sua
ocupação, a principal atividade do município era a agricultura, basicamente através de engenhos de farinha e de cana,
e que as propriedades registravam dimensões características de minifúndios. Os dados foram coletados em documen-
tos cartoriais e em livros de lançamentos de impostos municipais do final do século XIX os quais permitiram, além da
identificação dos contribuintes, a verificação dos tipos e valores de tributos cobrados e da dimensão das propriedade.
Já no século XX, de acordo com dados obtidos em livros de impostos de produção agrícola e industrial, e em documen-
tos cartoriais, constatou-se um processo de transferência de titulação de proprietários individuais para empresas situ-
adas na região, cujo objetivo era o desenvolvimento de atividades de reflorestamentos e industriais. Dessa forma
percebeu-se uma modificação da característica fundiária da cidade com o processo de concentração de terras, ocor-
rência que também é documentada na história agrária brasileira.

Antonio Marcos Myskiw - Unimeo/Famipar/UFF


Os colonos de Foz do Iguassú (1907)
Desde o início da década de 1880, o governo da Província do Paraná alertava o Governo Imperial com relação á
presença de argentinos e paraguaios realizando extração de erva-mate e madeira, na fronteira, em terras brasileiras.
Solicitava ao Ministério dos Negócios da Guerra a fundação de Colônias Militares na tentativa de inibir a presença
estrangeira e assegurar a posse e defesa daquelas paragens mediante a posse e uso da terra. A Colônia Militar de Foz
do Iguassú foi fundada em 1889, teve vida difícil nos primeiros anos, devido á distância das grandes cidades e o
precário estado de conservação das estradas carroçáveis. Para discorrer sobre a situação dos colonos na colônia
Militar de Foz do Iguassú, far-se-á uso de uma Ata de Audiência Particular com colonos feita por militares do Exército
em visita á referida colônia em fins de novembro de 1907. Nesse documento constam queixas e denúncias cm relação
à não demarcação e titulação de lotes rurais e urbanos; de dificultar a exploração e comercialização de madeira e erva-
mate que não fossem adquiridos por determinado grupo de pessoas; de violências físicas empregadas pelos militares
e outras sanções punitivas.

Daniel Schneider - UFSC


A Cultura Técnica da Agropecuária de Ijuí: A ocupação, adaptação e diferenciação sócio-cultural do espaço
agrário
Esta comunicação visa discutir o cotidiano agrário de uma colônia de imigração européia, a colônia Ijuí fundada em
1890, a primeira do planalto gaúcho. Objetivamos analisar as transformações operadas no espaço agrário por cabo-
clos/ nacionais, primeiros ocupantes da terra; imigrantes europeus; e o estado, sendo este fundamental em função de
Ijui ter sido uma colõnia estatal, e a conseqüente construção de um novo sistema agrário, de uma nova paisagem
agrária, bem como, de uma cultura técnica agropecuária, num local que designamos espaço de fronteiras, fronteira
política, ambiental, agricola e cultural. Entendemos que a forma de ocupação, diferenciação e adaptação sócio-cultu-
ral-ambiental desse espaço agrário lançará as bases constituintes de uma cultura técnica agropecuária que perdurará
até pelo menos a década de 1950. Nesse trabalho, utilizamo-nos de uma tipologia documental ainda pouco visitada

218
pelos historiadores, as imagens fotográficas produzidas por fotógrafos imigrantes que participaram desse processo
retratando o cotidiano da colônia de imigração nos seus mais diversos aspectos, especialmente o espaço agrário, além
de documentos como jornais da época e relatórios municipais.

Alejandro Jesus Fenker Gimeno - UFSM


O acesso a terra através da compra: reflexões e diálogos com a historiografia
A historiografia recente tem apresentado novas interpretações sobre as formas de apropriação da terra no Rio Grande
do Sul do século XIX demonstrando a existência de uma ampla parcela da sociedade que não se enquadrava no
modelo de grandes estancieiros, e igualmente, demonstrando a diversidade das formas de suas apropriações. Neste
trabalho nos propomos discutir as possibilidades de acesso á terra através da compra, considerando esta uma moda-
lidade utilizada por diferentes estratos da sociedade para alcançar a propriedade da terra. Partindo dos Registros
Paroquiais de Terras, e do cruzamento de fontes como escrituras de compra e venda, autos de legitimação de posses
e inventários post-mortem, ambos referentes ao municipio de Cachoeira do Sul do século XIX, investigamos as trans-
formações fundiárias ao longo daquele século. Constatamos que as compras de terras ocorriam e ocorreram por
diferentes atores sociais ao longo do periodo estudado na cidade de Cachoeira do Sul, e abrimos para a discussão
sobre as possibilidades de terem ocorrido em outras regiões do RS e do país.

Rosicler Maria Righi Fagundes - UNIFRA


Negócios no interior: o comércio em São João da Cachoeira no Início do século XIX
O presente trabalho buscou entender como se organizava o comercio em São João da Cachoeira na primeira metade
do século XIX, suas semelhanças e diferenças em relação a outras praças mercantis já estudadas pela historiografia.
Para isso explica o contexto econômico colonial brasileiro, e os modelos propostos pelas obras historiográficas. Tam-
bém trata da comercio em São João da cachoeira, os produtos comercializados, quem eram os comerciantes e a
questão do escravo como mão-de-obra e bem comercializável. O estudo utiliza como fonte primária, inventários post-
mortem, recibos de pagamento, emitidos pela Câmara Municipal de Vereadores e também faz um apanhado do tema
nas referencias bibliográficas que possibilita refletir a respeito do mesmo. A metodologia utilizada foi pesquisa no
Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul, no Arquivo Histórico de Cachoeira do Sul, nas obras bibliográficas
especificas sobre o tema, que possibilitaram a coleta de dados para a realização do estudo. Conclui mos que o comér-
cio era de produtos variados, quanto maiores as dívidas dos inventariados mais escravos possuíam e, o provável tipo
social dos negociantes seria o de criador-comerciante ou estancieiro-comerciante.

I 19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h às 16h30min) I


Marcus Ajuruam de Oliveira Dezemone - Colégio Pedro 11· RJ
Os impactos da Era Vargas no mundo rural: direitos, memória e identidades
A historiografia brasileira consagrou a tese do afastamento do campesinato do alcance da legislação social que teria
beneficiado, quase que exclusivamente, os trabalhadores urbanos durante os governos de Getúlio Vargas (1930-1945
e 1951-1954). O objetivo desse artigo é relativizar essa interpretação e as demais concepções dela decorrentes.
Busca-se, através de relatos da memória social de duas regiões rurais brasileiras - o sudeste cafeeiro e o nordeste ~
canavieiro, fontes primárias como processos judiciais e as cartas remetidas ao presidente, apontar os impactos simbó-
licos e materiais da legislação social para a formulação de noções de direitos no mundo rural brasileiro. Defende-se
®
que a apropriação sofrida pela legislação social no mundo rural contribuiu para a erosão da autoridade tradicional dos
grandes proprietários rurais, tornando-se ainda um importante aspecto da constituição de uma cultura política campo- §
nesa, fundamental para a compreensão das mobilizações politicas posteriores. .~
-.:::o
Vanderlei Vazelesk Ribeiro - UFF ~-
Cartas ao Presidente: Os Trabalhadores Rurais ante Vargas e Perón g
Neste trabalho, analisando cartas que os trabalhadores rurais escreviam a Vargas no Brasil e a Perón na Argentina .~
durante as décadas de quarenta e cinquenta buscamos observar como se apropriam do discurso oficial a fim de :-
1

defender seus interesses. Os mesmos podiam estar ligados a luta pela posse da Terra, a obtenção de um lote de terras §
ou mesmo a conseguir melhores condições de trabalho nas zonas rurais. ~
Este trabalho faz-se numa perspectiva comparada, destacando as similitudes e distinções encontradas nas duas ~
experiências. ro
. i::
-e
Gleyson Nunes de Assis· UERJ/FFP O>
ro
Os movimentos socíais do campo e seus grandes líderes de 1945 a 1964 ro
Com o fim do Estado Novo, em 1945, o Brasil se democratizava, e os indivíduos passaram a gozar de relativa liberdade ~~
de manifestação, de organização, de associação, de direito de trabalho e de escolha de seus representantes. Nesse I

219
contexto temporal do final do Estado Novo, em 1945, ao Golpe Militar de 1964. Vamos analisar a história dos movimen-
tos sociais do campo e seus grandes lideres. Nesse trabalho se analisa a atuação dos movimentos sociais do campo
e suas lideranças na busca por cidadania e direitos, já garantidos para os trabalhadores urbanos, porém, ainda, ausen-
te para os trabalhadores rurais. O momento era propício para a discussão sobre a importãncia da Reforma Agrária
Brasileira, tanto em termos de direitos sociais, ou como forma de desenvolvimento econômico. Desta forma, surgiram
várias iniciativas de mobilizações das massas camponesas no Brasil. O trabalho vai abranger, no ãmbito geral, a
questão da ReformaAgrária Brasileira, tendo como foco principal os movimentos que buscaram e lutaram pela reforma
agrária. E, ao mesmo tempo, suas lideranças, já que a história dos agentes de mediação e dessas entidades, ocorre
paralelamente e confunde-se forçosamente com a biografia política de várias lideranças e das organizações politicas
ás quais estavam ligadas.

Luciano Patrice Garcia Lepera - Nacional Sistema de Ensino


Ligas Camponesas, comunistas e o Triângulo Mineiro nos anos 1940
A criação de diversas Ligas Camponesas na região triangulina de Minas Gerais foi trabalho realizado notadamente por
militantes do PCB (Partido Comunista do Brasil), no breve período de legalidade vivida por esta agremiação politica
nos anos de 1945 a 1947 e nos que se seguiram. Foram as primeiras de que se têm notícias no Brasil, precedidas
apenas pela de Dumont, região de Ribeirão Prêto, interior de São Paulo, fundada em 1945 também sob a liderança dos
comunistas. Reprimidas duramente pelas forças dos poderes públicos e dos latifundiários, deixaram de existir após
alguns anos. Num país onde não se fez reforma agrária, é importante que melhor se estudem estas desconhecidas
lutas pela terra.

I 20/07 - Sexta-feira - Manhã (10h30min às 12h30min)

Cristina Dallanora e João Klug UFSC


Projetos para o mundo rural e a obra literária de Francisco Marins
Este trabalho analisa a relação entre a obra do escritor paulista Francisco Marins (Pratânia, 1922) e os projetos para o
mundo rural que circulavam no âmbito do Estado e da elite nacional durante o governo Vargas. A obra de Marins
caracterizou-se, sobretudo, por trazer à cena o campo e seu cotidiano, num período em que as conseqüências da crise
do sistema rural brasileiro causaram o esfacelamento das grandes propriedades em pequenos sítios. O sítio 'Taquara-
Póca' é o protagonista dos primeiros livros infanto-juvenis de Marins, onde são narradas histórias ambientadas num
universo rural tipico do interior paulista dos anos de 1930/40. A positivação do homem rústico marca fortemente sua
obra. Alguns autores consideram que esta positivação tem seu ponto de inflexão nos anos de 1930. Neste contexto, o
Brasil também passa a ser questionado enquanto um país 'por excelência' agrícola e o campo surge como uma
questão, um problema a ser resolvido. Na tentativa de compreender essa interlocução entre a literatura de Marins e os
projetos para o mundo rural, é que resulta este trabalho.

Fabian Serejo Santana


Trabalho escravo em propriedades rurais no Tocantins
Analisar os fatores que contribuem para a presença do trabalho escravo no Tocantins e de que forma esta realidade
favorece o atraso social e o desrespeito aos direitos humano. Circunscrevemos o norte do Estado do Tocantins, por se
tratar de uma região que contabilizou no período de 1994 a 2004, hum mil e quatrocentos e seis trabalhadores em
condições análogas à de escravos. O trabalho demonstra a expansão do trabalho escravo no Brasil,estabelecendo a
relação entre denúncia e fiscalização e seus efeitos nas estatísticas do trabalho escravo. A pesquisa permitiu estabe-
lecer um quadro das manifestações dos modelos de trabalho escravo e avaliar as medidas tomadas pelos órgãos
competentes com o escopo de coibir o alastramento deste abuso aos direitos do ser humano. Erradicar o trabalho
escravo é um compromisso, dando justiça social, àqueles que a vida lhes negou a cidadania.

Carlos Leandro da Silva Esteves - UFF


O ETPAR em Goiás: a atuação do Escritório Técnico Paulo de Assis Ribeiro na elaboração da política agrária
do Governo Mauro Borges(1961-1964)
Esta comunicação pretende discutir a presença de interesses de grupos de capital multi nacional e associados na
elaboração de políticas públicas voltadas para o campo no âmbito dos executivos estaduais no início da década de
1960 no Brasil. Partindo do estudo de Goiás, pretende-se demonstrar como foi determinante para a efetivação desse
projeto a atuação do Escritório Técnico Paulo de Assis Ribeiro junto a um complexo de agências estatais goianas na
construção de um modelo agrário baseado na conversão do latifíndio tradicional na moderna empresa agrícola e na
oposição a quaisquer modalidade de acesso à terra pelo campesinato pobre goiano. Tal experiência realizada em
Goiás durante o Governo Mauro Borges(1961-1964) anteciparia em muitos aspectos a perspectiva vitoriosa e consa-
grada posteriormente no Estatuto da Terra pelo regime militar.

220
Valdir Gregory - UNIOESTE
Migrações e identidades
A apresentação trata de cultura e memória social e está inserida na atividade do grupo de pesquisa, cultura fronteira e
desenvolvimento regional, e pretende estimular o aprimoramento e o intercâmbio científicos. Fala-se sobre Migrações
e a construção do Oeste do Paraná e analisa-se questões variadas sobre a vida de homens e mulheres nesta região.
Nossa intervenção pretende ser uma reflexão a respeito de migrações e a construção de identidades camponesas.
Grande parte da população recente do Oeste do Paraná teve experiências migratórias e a vida no meio rural teve e tem
um peso importante em suas vivências, como também na história local.

I 20107 - Sexta-feira - Tarde (14h às 18h) I


Arissane Dâmaso Fernandes - UFG
A fronteira agricola sob a perspectiva do desenvolvimento desigual e combinado do capitalismo no Brasil
Considerando-se os estudos relacionados ao processo de expansão da fronteira agrícola no país, de maneira geral,
tem-se dois tipos de abordagem: uma mais ampla (que acaba por apresentar uma perspectiva generalizada do proces-
so) e outra mais pontual, a qual se dá geralmente pautada nos denominados estudos de caso. Com base nessa
constatação é que se propõe uma análise desse processo a qual tem como base a teoria do desenvolvimento desigual
e combinado do capitalismo brasileiro, proposta por Oliveira (1981), demonstrando a heterogeneidade do processo de
expansão do capitalismo do qual a expansão da fronteira agrícola faz parte. Assim o objetivo desse artigo é demonstrar
a existência de especificidades na dinâmica da fronteira cuja importância não pode ser banalizada.

Beatriz Anselmo Olinto - Unicentro


Expectativas e conflitos na colonização do rocio no município de Guarapuava (1920-1930)
O trabalho visa apontar os primeiros levantamentos de fontes e análises sobre a ocupação da região denominada de
'rocio' na cidade de Guarapuava, entre 1920 e 1930. A pesquisa aponta esse momento como profícuo para reflexão
sobre a questão da terra no sul do Brasil, os conflitos e diferenças ali engendrados e a compreensão das visões de
futuro regional/nacional que respaldavam tal processo. As fontes já conhecidas mostram que na década de 20 do
século passado, a Prefeitura Municipal projetava estabelecer em tomo da cidade um cinturão de propriedades agríco-
las que abastecessem o Mercado Público com uma maior diversidade de gêneros alimentícios. Para analisar tal pro-
cesso pode-se acompanhar as descrições feitas nos relatórios anuais do prefeito municipal aos camaristas nos quais
a ocupação do rocio por colonos europeus é apresentada como base para o 'progresso municipal'. Busca-se compre-
ender as imagens da colonização construídas nas fontes para melhor entender o horizonte de perspectiva no qual a
colonização estava envolvida, focando principalmente a questão da terra, das gentes e do futuro ali desenhados e
desejados. Em seguida serão analisar-se-á os conflitos decorrentes dessa colonização, em contradição com a expec-
tativa criada pelo projeto.

João Carlos Tedesco e Joel João Carini - UPF


Governador Brizola, Master e o conflito na Fazenda Sarandi 1961-62
O trabalho analisa o conflito agrário na Fazenda Sarandi, capitaneado pelo Govemador Leonel Brizola e lideranças do r.;:;'\2
PTB do norte do Estado. O Movimento Master, no início da década de 1960, foi expressivo na luta pela terra no Rio
Grande do Sul, principalmente pelas suas estratégias, mediações, conquistas, repressão, lideranças e desencadea-
\!:JJ
mentos posteriores tanto nas reservas indígenas, quanto no interior de grandes latifúndios e fronteiras agrícolas do
país. A Fazenda Sarandi, histórico latifúndio localizado no norte do RS, foi paradigmático na questão das lutas sociais Ê
em torno do problema da terra no estado, realidade essa que se inicia com o Movimento Master nos anos 60 e se .~
estende até então. Busca-se centrar a análise em torno da figura do governador Brizola, a liderança regional do "C
Prefeito de Nonoai Jair Calixto, dos intelectuais do PT8, do papel da Igreja Católica, bem como de facções políticas no ~-
interior do Movimento. g
'"
'Cõ
Maria Sarita Mota - UFRRJ :.-
Regularização Fundiária e Patrimônio da União na Zona Oeste do Município do Rio de Janeiro §
Os processos de regularização fundiária revelam conflitos de diversas naturezas e permitem identificar uma grande ~
diversidade de situações relativas à posse e propriedade da terra. As explicações para as dificuldades encontradas na ~
implementação dos atuais programas governamentais recorrem à história fundiária, a inadequação das leis, aos agen- .ê
tes privados, etc. Soma-se à complexidade do problema a incapacidade do setor público de fiscalização e implemen- -~
tação da legislação urbanística e fundiária. Essa comunicação analisa, especificamente, ações voltadas para a solu- ~
ção dos conflitos pela terra, que envolvem posseiros em terrenos de marinha no entorno da Reserva Biológica e ·ê
Arqueológica de Guaratiba, localizada na zona oeste do Município do Rio de Janeiro. ~
:r:

221
Francisco Fagundes de Paiva Neto - UEPB
A Diocese de Guarabira/PS e a luta pela terra (décadas de 1980 e 1990): memórias do clero e dos camponeses
Neste trabalho procuramos as seguintes questões: Como a Comissão Pastoral da Terra (CPT), numa perspectiva
gramsciana, se tornou um verdadeiro "partido' que se voltou para os camponeses? Analisamos o papel do clero da
Teologia da Libertação e dos camponeses na construção de experiências pela reforma agrária e por direitos sociais.
Avaliamos o papel pedagógico, organizativo e gerencial da CPT em relação aos camponeses. A leitura das obras de E.
P. Thompson e Antonio Gramsci nos fizeram refletir sobre a quebra das relações tradicionais (a exemplo da questão da
economia moral); e, da ação da Igreja, do "partido católico', na constituição de um bloco junto aos camponeses, que na
experiência de luta não mais aspiraram a permanência das relações paternalistas (como a meia, a terça, a conga e o
cambão), mas a realização da reforma agrária. Utilizamos fontes bibliográficas, orais e os documentos do arquivo da
CPT (Guarabira/PB). A análise das fontes nos permitiu compreender as especificidades das recentes lutas sociais no
campo, além das estratégias empregadas para a constituição de vários projetos de assentamentos na área em ques-
tão. A metodologia da história oral nos lançou num campo de diversas memórias sobre a organização dos camponeses
na Paraíba.

Ely Souza Estrela - UNES


Resistência à "fome de terra": conHito fundiário e violência no médio São Francisco baiano (1970-2000)
As políticas desenvolvimentistas implementadas pelo governo federal no Vale do São Francisco, a partir da aplicação
do dispositivo constitucional que reservava um por cento do orçamento da união para investimento na região, consubs-
tanciada, sobretudo, através da criação, em 1948, da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco-
CVSF- , resultaram em expropriação de pequenos proprietários, de posseiros e agregados, gerando conflitos e violên-
cias. O reverso do processo de expropriação foi um forte movimento de resistência e de luta na terra e pela terra, dando
ensejo à criação, inclusive, de movimentos de trabalhadores sem-terra (MST, OlT, MLT, CETA), da resistência indíge-
na e da emergência das Comunidades Negras Rurais Quilombolas, sobretudo, a partir de 1988. O propósito desta
pesquisa é fazer um exercício de reflexão sobre o processo de expropriação do campesinato no Vale do São Franscis-
co, destacando, inclusive, o papel do Estado (ora ativo ora passivo), bem como dos meios os quais lançaram mão,
lavradores, posseiros e foreiros para resistir a "fome de terra' demonstrada portazendeiros da região ou por setores do
chamado agronegócio, de modo geral, vinculados e articulados aos centros de poder e de decisão.

Maria Celma Borges - UFMS


Práticas e Representações camponesas do MST no Pontal do Paranapanema: muito além da massa e da
vanguarda
Nesta comunicação buscaremos discutir o MST e os agentes sociais a compor-lhe, tendo por referência particularmen-
te os seus cademos de formação e as histórias narradas pelos assentados, militantes e dirigentes no Pontal do Para-
napanema -SP, em suas primeiras experiências de luta. Objetivamos apreender as histórias e memórias, principalmen-
te em relação à trama vivida entre organização e demais sujeitos do Movimento Sem Terra, no que se refere à estrutura
organizativa interna e ao trabalho na terra, num olhar que se tornou possível "para além da massa e da vanguarda'. Na
leitura das ações da organização e daqueles que fizeram da terra a sua morada da vida, percebemos que as experiên-
cias foram se desenhando em diversos tempos e espaços, quando da narrativa da participação dos camponeses nas
ocupações, acampamentos, marchas, entre outras práticas, até chegar a terra desejada. No assentamento, a peleja
com a terra tornou-se norteadora das práticas e representações de grande parte dos entrevistados, demonstrando
ações que, sendo individuais, familiares, não deixaram de se associar, em certos momentos, ao princípio do coletivo
desejado pelo Movimento.

Maria José do Santos - UERR


Organização e luta dos Trabalhadores rurais em São João da Baliza
O objetivo central desta pesquisa foi analisar como ocorreu a organização social e política dos(as) trabalhadores(as)
rurais dentro dos projetos de assentamento, como conseqüência do movimento migratório de milhares de
trabalhadores(as) rurais para a região Sudeste de Roraima na década de 1970. O PIN - Programa de Integração
Nacional, desencadeador de vários outros projetos como o Pólo-Roraima, teve início na década de 70, com o anúncio
da construção da Rodovia Transamazônica que ligaria Brasília-Rondônia-Manaus-Acre, Cuiabá-Santarém, pavimenta-
ção da Belém-Brasília e por último a construção da Perimetral-Norte. Neste artigo nos reportaremos especialmente a
implantação dos Projetos de assentamentos ao longo da BR 210, em Roraima. Buscamos refletir quais os fatores de
expulsão e atração destes colonos, assim como investigar o processo de organização e criação do sindicato dos
trabalhadores rurais de São João da Baliza. As principais fontes utilizadas na pesquisa foram as entrevistas com os
rurais e análise dos arquivos do INCRA e do STR-BALlZA.

222
28. História das Instituições Militares e do Pensamento Estratégico
Francisco Carlos Teixeira da Silva (UFRJ) e Sidnei José Munhoz (UEM)
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I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h às 18h) c::
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Roberto Loiola Machado - UFRJ '"~
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A Estratégia e a Guerra ~

;~~~a~~~t~~~~~:~~e~t~~~~~~I~!~t~~~~t~~g~~g~ae es:uuse~:(o~~rf~s~fsT~~~ud~ am~~:;~~ ~~~~~s sa~~~ ~~ ~:~i~~;~~ ~


dias. E, no decorrer da história, o estudo desses dois conceitos, seus princípios, seus valores, sua formas, sua ampli- .i_~
tude e uma série de outros aspectos foram e continuam sendo objeto de atenção de diversos pensadores. Autores ~
quando realizam um estudo da Guerra e da Estratégia procuram quase sempre contextualizá-Io, associá-lo a um momen- í3
to histórico e, a partir daí, procuram estabelecer relações, verificar o quantum do desenvolvimento e aplicação da Estraté- '8-
gia influencia ou interfere na condução da Guerra. Há os que privilegiam o estudo da Guerra ou, de outra forma, os que .~
privilegiam o estudo da Estratégia. Esta opção, no entanto, torna-se às vezes desnecessária e sem efeito, pois quase .~
sempre é impossível estabelecer uma separação entre o que diz respeito às lides da Guerra ou às lides da Estratégia. E, ~
da mesma forma que é quase impossível dissociar Estratégia da Guerra, é também quase que impossível dissociar ~
Estratégía da política, e consequentemente, separar historiograficamente Guerra, Política e Estratégia. ~
:r:'"
Marcelo Carreiro da Silva - UFRJ
União Européia e Mercosul: perspectivas e possibilidades de segurança e defesa na integração regional
Apresentação da corrente pesquisa de mestrado, que propõe uma análise das possibilidades reais de uma integração
regional de defesa e segurança, no âmbito do MERCOSUL, através do estudo comparado do processo de integração
europeu, no âmbito da União Européia, em seus projetos, idéias e iniciativas para a integração da defesa e segurança
do bloco.

Priscila Carlos Brandão Antunes - UFMG


A institucionalização dos sistemas de informações no Chile e na Argentina e o fracasso diante das ameaças
externas
Este texto possui como principal objetivo estabelecer uma discussão teórica sobre as missões e capacidades dos
chamados intelligence services e compará-Ia com a perspectiva militar latino-americana das décadas de 70 e 80,
considerando-se, para tanto, o processo de institucionalizaçâo dos sistemas de informações/inteligência no Chile e na
Argentina durante as recentes ditaduras militares. A análise recai tanto sobre os vários órgãos militares, quanto sobre
os órgãos civis [DINAlCNI e SIDE respectivamente], haja vista que ambos funcionaram como extensão do poder
castrense naquele período. A premissa é a de que apesar de os dois sistemas possuirem um grande número de órgãos
dotados de meios próprios de coleta de informações e de deterem altos graus de autonomia, desenvolveram capacidades
distintas no que diz respeito às necessidades da segurança intema e de defesa externa: por um lado a eficácia na
desarticulação da oposição política interna nos dois países, e por outro, o humilhante fracasso argentino na Guerra das
Malvinas e a surpresa chilena quando em maio de 77 aArgentina declarou seu interesse em estabelecer soberania sobre
o Canal de Beagle ou quando a Bolívia, às vésperas do centenário da Guerra do Pacifico, cortou relações com o pais.

Murilo Sebe Bon Meihy - PUC-Rio e UFRJ


As Mil e Uma Mortes: Nação e Conflito na Guerra Irã-Iraque
Ao longo da década de 1980, o conflito militar entre Irã e Iraque definiu novas regras na maneira como os conceitos de
'guerra' e 'nação' passaram a ser entendido pelos lideres da República Islâmica do Irã em seus discursos oficiais. As
atuações das forças militares envolvidas no confronto seguiram estratégias distintas para garantir a supremacia de seu
pais no cenário político regional e a construção de identidades coletivas capazes de alargar as fronteiras da nação.
Alinhados com projetos de política externa agressivos, os governos lutam não somente pelo aumento da atuação de
suas instituições militares em outros territórios, mas buscam também vencer um embate discursivo que apresenta
questões como: o uso de armas quimicas, genocidio e legitimidade internacional. A proposta deste trabalho é discutir
como a guerra Irã-Iraque se desenvolveu em duas frentes integradas: o desenvolvimento das ações militares e a
produção de discursos que reproduziam a assimetria de projetos de nação em confronto direto.

Sandro Heleno Morais Zarpelão - UEM


A Guerra do Golfo (1990-1991), os Estados Unidos, a Doutrina Powell e a Guerra Fria
A Guerra do Golfo foi o conflito que ocorreu em um momento importante da história contemporânea, de transição entre
a Guerra Fria e a chamada 'Nova Ordem Mundial'. Nesse sentido, a Guerra do Golfo foi um sintoma de mudança no
cenário das relações internacionais. Então, os Estados Unidos tinham interesse intervir no Kuwait e no Iraque almejan-

223
do resguardar os seus interesses geopolíticos e econômicos, a luz da Doutrina Poweli do Departamento de Estado dos
Estados Unidos. A presente temática é oriunda da pesquisa de mestrado, realizada na Universidade Estadual de
Maringá (UEM), sobre a tem~tica 'Golfo em Chamas: a Guerra do Golfo, a Doutrina Poweli e as suas contradições na
imprensa escrita brasileira". E feita uma discussão bibliográfica, tendo como fontes os jornais 'O Estado de São Paulo"
e 'Folha de São Paulo". É assaz necessário compreender melhor a Guerra do Golfo, através da análise da Doutrina
Poweli, ocorrida em um momento de transição na chamada Guerra Fria, à luz da Teoria as Relações Internacionais e
dentro da ótica das discussões historiográficas. Verificar que a Doutrina Powell possuía contradições latentes na
própria cobertura dos aludidos jornais, é bastante importante para entender a Guerra do Golfo e o fim da Guerra Fria,
ante o domínio estadunidense.

Sidnei José Munhoz - UEM


Política externa dos EUA e questão militar no governo George W. Bush
Nesse trabalho serão analisadas algumas das principais perspectivas relacionadas ao estudo das transformações
ocorridas na política externa dos EUA, após o 11 de setembro, com especial atenção ao campo militar. Para C. John-
son, na última década os EUA assumiram um novo papel imperial e estruturaram uma colossal máquina militar com o
objetivo de dominação mundial. A adoção desse imperialismo militar, segundo o autor, enfraquece a democracia e
tende à destruição da nação. Daalder e Lindsay criticam a administração Bush 11 pela condução da política de seguran-
ça dos EUA baseada no exercício unilateral do poder Para eles, ao adotar a doutrina da preempção, os EUA tornaram
o mundo mais instável e menos seguro. Barber recrimina os EUA pela imposição dos seus interesses e valores pela
força militar. Clyde Prestowitz critica a administração Bush 11 por adotar uma postura aventureira e por alimentar uma
retórica patriótica arcaica. Para ele, com a Doutrina Bush, os EUA estão a abandonar as instituições internacionais que
o país ajudou a criar. Por fim, serão expostas algumas das principais contribuições apresentadas na conferência The
Future of American Military Strategy (2005), de fundamental importância para a compreensão das recentes transforma-
ções no campo militar nos EUA.

I 17/07 - Terça-feira - Tarde (14h às 18h)

Francisco Eduardo Alves de Almeida - UFRJ


O Poder Naval segundo a concepção de Sir Herbert Richmond (1871-1946): uma análise comparada com AI-
fred Thayer Mahan (1840-1914)
Em 1890 foi lançado o livro 'The Influence of Sea Power upon History, 1660-1783" de Alfred Thayer Mahan (1840-
1914). O que Mahan desejou foi explicar por que e como a Inglaterra havia se transformado na principal potência
econômica ao final do século XIX e entender de que forma o Poder Naval inglês havia sido o principal elemento que
respaldou essa expansão. Ao mesmo tempo, quis apontar para a classe governante de seu país, os Estados Unidos da
América (EUA), a importância do fortalecimento do Poder Naval de modo a atender o seu 'destino manifesto". Do outro
lado do Atlântico, teóricos navais ingleses, percebendo a emergência desse novo ator internacional, formularam trata-
dos que indicaram caminhos a serem perseguidos pelos políticos ingleses de então, de modo a manterem a hegemo-
nia nos mares e assim no mundo. Era a resistência da Inglaterra que começava a perder sua supremacia no cenário
internacional. Herbert William Richmond (1871-1946) foi um desses teóricos. A pesquisa tem o propósito de discutir a
teoria de emprego de Poder Naval de Herbert Richmond e compara-Ia com a de Alfred Mahan. O que se pretende é
descobrir as similaridades e diferenças entre as duas teorias, utilizando-se a metodologia de História Comparada,
dentro do campo da História das Idéias.

José Carlos de Araujo Neto - UFRJ


A formulação estratégica do Programa de Reaparelhamento Naval brasileiro de 1906
O Brasil sempre tentou estabelecer uma política naval visando atender aos seus anseios geopolíticos. Pelo Decreto n.
1.568, de 24 de novembro de 1906, que aprovava o Programa de Reaparelhamento Naval, o então Ministério da
Marinha estabeleceu um marco no processo de renovação e modernização de seus meios. E isso foi uma resposta
rápida à evolução tecnológica que atingia todas as principais nações do mundo, principalmente em virtude das expe-
riências testemunhados na Guerra Russo-japonesa (1904-05), dos resultados de estudos teóricos de estrategistas
internacionais, além de outros fatores externos e internos. Este trabalho visa identificar essas principais determinantes
que direcionaram a elaboração estratégica do Programa Naval de 1906, aplicando pressupostos geopoliticos no estu-
do e análise das premissas estratégico-navais e seus principais teóricos na primeira década do século XX. Esse
estudo sobre a formulação da estratégia naval brasileira durante esse período apresentará resultados que poderão
contribuir para preencher lacunas na frágil historiografia estratégica brasileira.

224
Carlos André Lopes da Silva - Serviço de Documentação da Marinha ~
Ação da Marinha Imperial brasileira na supressão da Revolução Praieira - Província de Pernambuco entre
1848 e 1849
® :
O trabalho se apresenta como um texto de história militar, não somente por ter como objeto a atuação de uma institui- ~
ção militar em um conflito armado, mas porque este é interpretado como uma das inúmeras formas de exercício formal E
da violência pelo Estado Monárquico, perpassando, assim, a temática do poder, corroborando a inserção da vertente 5l
militar no campo da história política. O texto visa identificar a participação da Marinha de Guerra do Brasil no conflito ~
ocorrido na Província de Pernambuco, entre 1848 e 1849, reconhecido na historiografia como a Revolução Praieira. .g
Portanto, o objeto de análise deste estudo é ação da Força Naval estacionada em Pernambuco entre novembro de '"
1848 e julho de 1849, comandada por Joaquim José Ignácio. Abordaremos as peculiaridades e as limitações da ~
instituição militar como braço armado do Estado Monárquico, refletindo sobre seu papel naquele conflito onde não só ~
a guerra era uma continuação da política por outros meios, mas a ação militar e os atos políticos praticamente se ~
amalgamavam, tornando o mais objetivo planejamento militar restringido e redirecionado para atender as mais diver- t~
sas, e por vezes contraditórias, demandas políticas brotadas do encontro das esferas de poder central e provincial. .~.
't;
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Francisco José Corrêa Martins - PPGHS-USP
Soluções tardias: A evolução do sistema de defesa da Baia da Guanabara, Rio de Janeiro, ao longo de 5 .â
~w~ ro
O sistema de fortes, baterias e fortalezas localizadas em diversos pontos da Baia da Guanabara são partes de um ~
processo que se caracterizou pela busca de soluções após a ocorrência de problemas, não primando pelo caráter :I
preventivo. A fundação da cidade do Rio de Janeiro pelos portugueses só ocorreu depois que franceses ali se instala-
ram em 1555, tendo a luta se prolongado até 1567. Foi então que começou a se construir defesas perenes contra
agressões estrangeiras. Mas os franceses voltariam posteriormente duas vezes, e após a invasão de 1711, desastrosa
para os cariocas, buscou-se projetar novas medidas de proteção. O século XIX trouxe a autonomia do Brasil, mas os
problemas continuaram. Eram os ingleses, primeiro com o combate ao tráfico negreiro e, depois, com a "Questão
Christie'. E as revoltas da Armada, nos anos 1890, mostraram mais uma vez a ineficiência das defesas. As soluções
implementadas no século XX outra vez vinham tardiamente, na medida em que a evolução tecnológica das armas
tornavam obsoletas as defesas fixas de costa. Hoje, essas fortificações perderam seu caráter combativo, embora
agora guardem um patrimônio cada vez mais valorizado, que é o meio ambiente, através da preservação de seus
entornos, protegendo-os da especulação imobiliária e da expansão urbana.

Mayra Cristina Laurenzano - UEL


A Marinha de Guerra na Guerra de Cisplatina: Contribuições à compreensão da formação do Estado Nacional
O trabalho tem por objetivo o estudo da participação da Marinha de Guerra brasileira na Guerra de Cisplatina, de
maneira a compreender o cenário político, econômico e social brasileiro no período. Também pretende-se demonstrar
como as orientações presentes na formação do Estado Nacional Brasileiro moldaram suas forças armadas, principal-
mente a Marinha de Guerra. Especificamente, há a contribuição para a compreensão do momento em que está inseri-
da a Marinha e a questão da Banda Oriental. Quais os desdobramentos da guerra na política brasileira? O recrutamen-
to forçado, a impossibilidade da força naval manter, ao mesmo tempo, o bloqueio do Prata e o combate aos corsários
- cuja ação causava sérios prejuízos econômicos ao Império - repercutiu no meio político brasileiro, dando força à
oposição à D. Pedro I. O fracasso final da Campanha Cisplatina foi fator relevante na crise que culminou com a
abdicação do primeiro ImperadOr.

Fernanda das Graças Corrêa - UFRJ


A Soberania Brasileira no Atlântico-sul
O Brasil se apresenta como uma potência de médio porte e vem tentando demonstrar a sua capacidade de sustenta-
ção tecnológica, incluindo a auto-suficiência nas fontes naturais de energia consideradas estratégicas, como o petró-
leo e o urânio. A análise do reaparelhamento naval brasileiro, com enfoque no domínio da construção de submarinos
nucleares nacionais, pode permitir a contribuição para a concepção de uma estratégia nacional voltada para a garantia
da soberania brasileira no Atlântico-sul. É possível que os submarinos nucleares não possam garantir a total proteção
contra ataques estrangeiros, mas certamente se caracterizaria como um importante vetor do poder nacional brasileiro.
Kenneth Waltz apresenta alguns suportes teórico-metodológicos que podem direcionar a análise das repercussões do
domínio da tecnologia do submarino de propulsão nuclear no contexto globalizado de uma sociedade internacional. A
concepção de uma estratégia naval adequada aos interesses do Brasil deve respeitar diversas condicionantes, entre
outras o orçamento federal autorizado, a fim de agregar meios capazes, não de derrotar qualquer adversário, mas de
tornar nítido o possível custo a uma eventual opção militar, dissuadindo agressões e incentivando a solução diplomá-
tica das controvérsias.

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18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h)

Tania Regina Pires de Godoy - Academia da Força Aérea Brasileira - AFA


O Estudo da Guerra na Formação do Oficial Militar Brasileiro
A guerra, enquanto atividade intrinsecamente humana, é construída historicamente e se desenvolve através dos tem-
pos atrelada á organização das civilizações e dos Estados Nacionais, o que corresponde emprego calcado de simbo-
lismo e de tradições, além da configuração de seu agente direto: o soldado ou guerreiro. A presente pesquisa realiza
uma análise da relevância do estudo da guerra previsto no ensino de História na formação dos oficiais militares de
carreira das Forças Armadas brasileiras e os assuntos abordados, em linhas gerais, são comuns nas três Escolas de
oficiais militares: na Escola Naval (EN), na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) e na Academia da Força
Aérea (AFA). Dessa maneira, realizaremos uma reflexão acerca da maneira como a História é tratada na abordagem
da guerra, suas práticas educacionais, os vínculos entre a transmissão da História Militar no reforço da Doutrina e os
pareceres dos discentes quanto ao alcance de um dos principais objetivos previsto nos programas curriculares das
instituições castrenses nacionais, de formação profissional da oficialidade - um subsídio teórico de análise das opera-
ções militares do passado, consagradas na historiografia civil ou militar, que proporciona uma fundamentação ao
pensamento militar do futuro líder guerreiro.

José Tarcísio Grunennvaldt - UFS


A educação militar e a formação de oficiais para exercerem funções intelectuais na sociedade (1890-1929)
O estudo propôs compreender quais padrões a Escola Militar adotou no processo de formação dos oficiais do Exército
brasileiro na Primeira República. Buscou-se distanciamento das investigações em que o interesse centrou-se no papel
político exercido pelo Exército com o olhar que privilegiou a perspectiva da 'intervenção armada" na conjuntura política,
atribuindo-lhe a conotação de atuação espetacular. Aos oficiais coube o status de exercerem funções intelectuais,
processo que é evidenciado pelas bases de formação dos quadros e pela bagagem cultural requerida para o exercício das
funções.De 1890 a 1913, os regulamentos prescreveram que o ensino fosse ministrado a partir de planos cujas bases
teóricas precediam os exercícios práticos. De 1913 a 1923, os planos propuseram que o ensino fosse teórico-prático ou
tão-somente prático e que o conhecimento fosse apreendido do concreto para o abstrato. Em 1924 e 1929 houve uma
nova significação atribuída aos conhecimentos científicos, que nortearam o ensino militar teórico e prático, aliou a compe-
tência técnico-profissional da fase anterior aos aspectos da formação política. Trata-se de uma evidência, constatada no
decorrer na pesquisa, de que o Exército brasileiro formou quadros aptos para o exercício de funções intelectuais.

Adriana lop Bellintani - UnB


O Positivismo e a força terrestre Brasileira
Durante a Republica Velha, a Força Terrestre Brasileira foi fortemente influenciada pela doutrina positivista de Augusto
Comte. A filosofia positivista se baseava na cientificidade e na hierarquia das ciências. A Matemática era considerada
por Comte como a primeira entre todas as ciências, e foi por meio de seu ensino que o Positivismo adentrou nas fileiras
do Exército Brasileiro. Até 1920, militares utilizaram o Positivismo como doutrina nas academias, nas escolas militares
e no clube militar. 'Ordem por meio e progresso por fim', eis o lema da bandeira e das instruções militares. A doutrina
positivista empregada na casema foi considerada por muitos como a própria desmilitarização do quadro militar, ale-
gando que a filosofia de Comte estabelecia como estado ideal a paz e o fim das guerras; previa, portanto, o extermínio
das forças militares, o fim do estado de beligerância. Desta maneira, como era visto o Positivismo pelos militares e
como era empregado? Teria sido essa filosofia a base doutrinária do Exército ou teria havido uma ausência doutrinária
no período entre 1889 a 1920? Esse texto visa a discutir a posição do Exército e o Positivismo inserido no meio militar,
levando em consideração o pensamento estratégico do período.

Adalson de Oliveira Nascimento - UFMG


Forças armadas, pensamento militar e educação no Brasil na primeira metade do século XX
A comunicação apresenta os resultados parciais de uma pesquisa de doutorado sobre a militarização da educação civil
no Brasil na primeira metade do século XX. Nesse período foram implementadas diversas ações militarizantes nas
escolas brasíleiras. Essas ações embasavam-se em discursos e propostas oriundas de indivíduos e grupos organiza-
dos, civis e militares e visavam conformar o sistema educacional público e privado, inserindo, no ambiente escolar,
práticas e visão de mundo da casema. Tanto a escola básica quanto as forças armadas brasileiras passaram por
importantes transformações na transição do século XIX para o XX e algumas das idéias que perpassavam a escola, as
teorias educacionais e o pensamento militar eram comuns. Os ideais de racionalização, profissionalização, ordena-
mento, homogeneidade e disciplina social, civismo e fortalecimento da nacionalidade, dentre outros, estão vigorosa-
mente presentes na escola e no exército. O estudo busca verificar as relações entre forças armadas, pensamento
militar e educação, a partir da hipótese de que existiam elementos comuns que perpassavam o exército e a escola
naquele momento, ainda que nem todos esses elementos tenham a mesma origem ou o mesmo significado para essas
duas organizações.

226
Luiz Felipe Cezar Mundim - UFG ~
ESG: a intelligentsia militar e o Estado brasileiro
O objetivo desta apresentação é examinar, no contexto de um período da Revolução capitalista no Brasil contemporã-
®:
neo (1930-1964), as relações entre as práticas teórico-politicas dos militares Juarez Távora e Golbery do Couto e Silva B
e o desenvolvimento do Estado brasileiro, tendo a Escola Superior de Guerra (ESG) como o meio institucional catalisa- ~
dor dessas relações. Este estudo elaborou-se através da análise da obra e do percurso politico destes dois militares - 5l
também entendidos sociologicamente como intelectuais - em uma perspectiva que buscou observar, no meio interins- ~
titucional a que se vincularam ao longo de suas carreiras pública e militar, a construção e consolidação de um modelo .g
ideológico das Forças Armadas para a organização do Estado Brasileiro. Trata-se de uma breve apresentação dos <l)

resultados da pesquisa de minha dissertação de mestrado, que teve como objeto de estudo a ESG, principal instituição ê
que possibilitou a formação de uma intelligentsia militar (integrada à esfera civil) sólida nesse período. ~

Ronaldo Queiroz de Morais - USP .~


A Defesa Nacional e a coesão militar: normalização e relações de poder no interior da caserna .~.
Os Governos Militares elaboraram toda uma politica de normalização no interior do Exército brasileiro, objetivando 't;
inventar uma máquina de poder subserviente ao poder Executivo - na tentativa de evitar a formação de uma divisão :;
militar que pusesse em risco a dita Revolução Democrática. Destarte, a coesão total foi a utopia conservadora que .g
norteou as ações normativas político-miltares. A Revista 'A Defesa Nacional' que a partir de 1958 apresenta um papel ·ê
significativo na publicação de artigos políticos anticomunistas, num processo continuo de monstrualização dos corpos ~~
políticos de esquerda, se coloca como fonte importante a fim de compreender o processo normativo e as relações de ::r:
poder que pontuaram o poder político militar brasileiro.

I 19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h às 16h30min) I


Mariana Joffily - USP
No centro da engrenagem: os interrogatórios preliminares da Oban e do DOI (1969-1984)
Em um período em que os militares exerceram o poder político propriamente dito no Brasil, assumindo a direção do
país (1964-1985), foi criado um órgão de repressão misto, reunindo elementos das três forças armadas e das diversas
forças policiais, o Destacamento de Operações de Informação (DOI) - a partir de uma experiência piloto, a Operação
Bandeirante, cujas principais marcas eram as práticas ilegais e a brutalidade. Criado e desarticulado durante o regime
militar, o DOI foi um dos produtos mais específicos e marcantes da violência institucional praticada no período. A
proposta dessa comunicação é problematizar, partindo da análise de documentos internos do órgão, a função dos
interrogatórios preliminares nessa engrenagem repressiva, procurando compreender como se articulavam as duas
funções do DOI: informação e segurança.

Tiago Cavalcante Guerra - PUC-SP


A práxis e as representações ideológicas do General Jayme Portella: A 'linha-dura' no cenário politico brasilei-
ro (1964-1969)
Esta pesquisa analisa uma figura central na ditadura militar no Brasil e 'engenheiro' da candidatura e do governo Costa
e Silva, o Gal. Jayme Portella. A partir do estudo imanente de seus escritos, observando as condições históricas e
sociais da sua produção, pretendemos compreender a práxis política do general, desvelando a função social de sua
ideologia na realidade vivida. Apesar de numerosos livros sobre a ditadura militar, não se encontra um estudo especí-
fico sobre o Gal. Jayme Portella que foi um dos responsáveis pela articulação de parlamentares e militares na candida-
tura de Costa e Silva. Quando Chefe da Casa Militar, foi um dos responsáveis pela formulação do documento Conceito
Estratégico Nacional, matriz para a aplicação da Lei de Segurança Nacional. Tratado como um dos maiores expoentes
da 'Iinha-aura', a investigação pretende explicar as nuances históricas desta corrente militar, que tem no 'castelismo'
o seu principal contraponto e o golpe de estado de 1964, como mito fundador. Além da análise destes nexos, investiga-
mos as ideações do general quanto à conspiração militar e a consolidação da autocracia bonapartista no Brasil,
estabelecendo os vínculos concretos de sua ideologia no quadro histórico desnudado.

Celeste Maria Pacheco de Andrade - UNEB E UEFS


Ministério Público Militar: exercício do poder num regime de exceção
O Ministério Público Militar - MPM -, criado em 1920 com o Código de Organização Judiciária e Processo Militar é uma
àrea específica do Ministério Público da União; atua junto aos órgãos da Justiça Militar e sua história é, por extensão,
a própria história da Justiça Militar Brasileira. Responsável pelo controle externo sobre a Polícia Judiciária Militar, a
finalidade geral é promover a aplicação da Constituição Federal e dos atos emanados dos poderes públicos para
assuntos da Justiça Militar. O estudo se baseia em pesquisa bibliográfica, documental e história oral, tendo como
objeto o papel do MPM no período de 1964/84, correspondendo ao regime de exceção, mais conhecido como Regime

227
Militar. Neste período caracterizado pelo autoritarismo e práticas repressivas, o MPM atuou como 'fiscal da lei', mais
especificamente a Lei de Segurança Nacional. A pesquisa analisa o papel do MPM enquanto instituição no exercício
do poder diante de atos considerados como crimes militares e se baseia no que se convencionou chamar de Nova
História Política, visando romper com a visão institucionalizada do poder, comum da história política tradicional. A
intenção é contribuir para o debate sobre as instituições militares e para a ampliação de estudos sobre o Regime de
exceção no Brasil.

Erivaldo Sales Nunes - UNIME I FACULDADE DA CIDADE


Narrativas, história e memória do Ministério Público Militar
A história do sistema autoritário no Brasil, compreendido entre o período de 1964-1985, denominada de Regime Militar,
teve entre diversos órgãos governamentais, uma importante instituição que representava o papel de agente fiscaliza-
dor da Lei de Segurança Nacional: o Ministério Público Militar - MPM. Desde 2006, essa instituição vem desenvolven-
do Projeto de Pesquisa sobre sua Memória Histórica, coletando fontes documentais, bibliográficas e orais. A partir das
narrativas coletadas, foram analisados os enunciados discursivos produzindo novas interpretações para a História do
Brasil.

I 20107 - Sexta-feira - Manhã (10h30min às 12h30min)


Fernando da Silva Rodrigues - UERJ
Os jovens turcos e o projeto de modernização profissional do Exército brasileiro
No início do século XX, dentro do Exército Brasileiro havia entre a maioria dos oficiais um denominador comum: era o
Exército Brasileiro uma Instituição atrasada, o armamento utilizado era diversificado dificultando a instrução e a manu-
tenção, as instalações e os quartéis eram precários e eram baixos os orçamentos destinados a Instituição pelo Con-
gresso Nacional. No Alto Comando Militar havia a percepção da necessidade de ações mais imediatas com o objetivo
de operar mudanças significativas desse estado que se encontrava. Podemos dizer que foram providências importan-
tes tomadas para as futuras mudanças: a Lei de Reorganização do Exército de 1908; a reorganização do Estado-Maior
do Exército mais compatível com a preparação da guerra; a criação de Grandes Unidades permanentes, no início
chamadas de Brigadas Estratégicas, posteriormente substituídas pelas Divisões de Infantaria e Cavalaria; a Lei do
Serviço Militar Obrigatório de 1908; a elaboração dos regulamentos de emprego das Armas destinados à instrução da
tropa e dos quadros; a aquisição de armamento; e os projetos de modernização desempenhados pelos Jovens Turcos,
pela Missão Indígena na Escola Militar do Realengo e pela Missão Francesa.

Cristina Monteiro de Andrada Luna - UFRJ· IFCS • PPGHIS


Os jovens turcos no processo de desenvolvimento do Exército e da nação
O trabalho representa um esboço do meu projeto de doutorado, que visa analisar a ação dos jovens turcos no processo
de desenvolvimento do Exército e, conseqüentemente, da nação, durante os anos de 1906 a 1920. Os jovens turcos
consistiram em um grupo de jovens oficiais brasileiros que estagiaram no Exército Alemão, entre os anos de 1906 e
1912. Ao retornarem ao Brasil, engajaram-se em uma campanha em prol da profissionalização dos militares e do
aparelhamento do Exército. Para tanto, lançaram a revista A Defesa Nacional, defenderam o serviço militar obrigatório,
a vinda de uma missão militar alemã, o afastamento dos militares da política, a industrialização do país e o desenvol-
vimento de ferrovias capazes de conduzir as tropas a todas as fronteiras. Receberam o apodo de jovens turcos em
alusão aos jovens oficiais turcos que estagiaram na Alemanha e que promoveram profundas modificações no Exército
e no Império Otomano. Foram, também, identificados por alguns estudiosos como apolíticos, o que consideramos um
erro, pois, ao defenderem a modernização do Exército, acabaram por desenvolver um projeto de nação capaz de
influenciar militares, como Góis Monteiro, defensores da idéia da de que as Forças Armadas representam a única
instituição capaz de liderar o desenvolvimento do Brasil.

Andeza Santos Cruz Maynard - UFPE


Tenentismo em Sergipe: outras histórias
Na madrugada do dia 13 de julho de 1924, um grupo de oficiais do 28° Batalhão de Caçadores, unidade do Exército
presente em Sergipe, resolveu liderar uma revolta com o intuito de apoiar os colegas de farda que haviam se rebelado
em São Paulo, oito dias antes. O objetivo desse trabalho é investigar como se deu esse levante, pois os boletins
regimentais da unidade militar, alguns processos crimes e jornais da época apontam que os tenentes sergipanos foram
mais longe que os paulistas, dominando a unidade militar, mas também os meios de comunicação e os 'poderes legais
constituídos', tomaram inclusive o palácio do governo e o quartel da polícia. Os 'legítimos defensores da república',
como se autodenominavam os militares passaram a ser, em Sergipe, os legítimos representantes do Estado.

228
Rodrigo Udo Zeviani - UEM ~
Relações no campo das Forças Armadas entre Brasil e EUA no período de 1946 a 1952 - cooperação, resistên- @
cia, tensões :
Este trabalho pretende analisar as Forças Armadas no contexto de um govemo em processo de democratização S
duvidosa, que sucedeu 15 anos de ditadura varguista, no âmbito interno e o início da Guerra Fria no âmbito externo. ~
Essa análise das Forças Armadas será realizada sob a ótica norte-americana, em um momento de consolidação do Bl
poderio dos EUA e sua preocupação com o alastramento da ideologia comunista ao redor do mundo, mas em especial, êl
na América Latina. No contexto da Guerra Fria era vital para a hegemonia capitalista norte-americana manter a Améri- .g
ca Latina livre de tendências comunistas. No Brasil o Partido Comunista sofre uma série de perseguições. Documentos <l>

da embaixada norte-americana no Brasil sugerem certas tendências esquerdistas dentro das Forças Armadas. Aque ~
se devem estas tendências? Elas realmente existiram? Como se portaram os militares brasileiros neste contexto? ~
Estas são questões que desejamos abordar. ~
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I 20107 - Sexta-feira - Tarde (14h às 18h) I .."


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Francisco Cesar Alves Ferraz - UEL .rg
Os cidadãos-soldados vão à guerra: o recrutamento e a formação das tropas brasileiras e estadunidenses na .!!2
Segunda Guerra Mundial (1942-1945), em uma perspectiva comparada ~
A formação de uma força expedicionária para combater no Teatro de Operações do Mediterrâneo constituiu-se em I
grande desafio para a instituição militar brasileira: seria a primeira vez, desde a implantação do serviço militar obriga-
tório, que os conscritos seriam convocados para atuarem efetivamente em uma guerra externa. Como os expedicioná-
rios brasileiros atuaram ao lado das tropas estadunidenses, será realizado um estudo comparativo dos processos de
convocação, seleção física e psicológica, treinamento e preparação para o combate e suas conseqüências. Também
será discutida a relação que as sociedades civis das duas nações travaram com seus cidadãos-soldados, durante a
após o conflito, bem como suas repercussões nas memórias coletivas nacionais.

Dirceu Casa Grande Junior - UEL


O Exército Imperial no Brasil da Regência
O presente trabalho pretende discutir a tese de erradicação dos militares da cena política nacional durante os anos do
período regêncial. A referida tese, apresentada inicialmente por Edmundo Campos Coelho, contribui de forma conside-
rável para a identificação de aspectos importantes da relação entre a elite política civil e os militares. Vale resslatar que
outras contribuições de inúmeros pesquisadores, ora favoráveis, ora contrários a tese d~ erradicação, também lança-
ram novas luzes sobre o tema em questão e, desse modo, merecem atenção destacada.

Daniela Vallandro de Carvalho


Nas fronteiras da liberdade: As experiências negras nos conflitos armados (o caso da guerra civil Farroupilha).
Pretendemos analisar a incidência e as possibilidades da guerra de forma geral, e da arregimentação compulsória em
específico, no cotidiano dos escravos, na Província de São Pedro em meados do séc. XIX. Enfocamos em especial o
período Farroupilha mas, uma vez que as contingências da guerra não são estanques e imediatas a seu início e
término consagrados, pensaremos este evento histórico para além de suas marcas temporais. Trata-se de considerar-
mos os inúmeros contatos, acordos, buscas que ocorriam nos palcos da guerra civil, tanto no sentido do poder arregi-
mentador, como daqueles arregimentados. Neste sentido, acreditamos ser possivel vislumbrar olhares diferentes sa-
bre o mesmo processo, isto é, enquanto o poder recrutador via na arregimentação uma forma de punição para escra-
vos indisciplinados, à medida que rompia seus laços familiares e afetivos; os escravos viam nesta condição imposta
um caminho aberto para o agenciamento de suas liberdades, seja através da promessa de alforria, da mobilidade
proporcionada, seja pelas fugas facilitadas. Amparados por documentação do poder judiciário e policial, e de corres-
pondências da Coleção Varela, pretendemos pôr esta discussão em pauta.

André Atila Fertig - UFSM


A Guarda Nacional rio-grandense na construção do Estado e da Nação (1850-1873)
Esta comunicação objetiva apresentar, resumidamente, o papel da Guarda Nacional rio-grandense como instrumento
político-institucional a serviço da construção, ao longo do século XIX, do Estado nacional brasileiro. Para tanto, preten-
demos apresentar o caráter assumido pela milícia na Província do Rio Grande do Sul, principalmente em meados do
século XIX, e suas principais funções na execução do projeto imperial bragantino como, por exemplo, a sua atuação na
defesa da ordem interna e também como força militar nas guerras do Prata, bem como sua função simbólica na
tentativa de incentivar, no Rio Grande do Sul, uma identidade nacional.

229
Maria Adenir Peraro - UFMT
Assunção sob as Forças de Ocupação: matrimônios e amancebamentos entre militares brasileiros e paraguai-
as (1869-1876)
O presente trabalho aborda o contexto da ocupação de Assunção por parte das forças aliadas entre os anos de 1869
a 1876, com enfoque sobre os desdobramentos da desocupação, quando a emigração dos paraguaios rumo ao Impé-
rio brasileiro, foi protagonizada particularmente pelas mulheres que sobreviveram á guerra, Analisa ainda, mediante
estudos de caso, situações em que ocorreram casamentos e mancebias entre militares brasileiros e paraguaias, bem
como aspectos de trajetórias de vida desses desconhecidos protagonistas,

Aluisio Gonçalves de Farias - UFMT


Ações militares na Fronteira Oeste na província de Mato Grosso, durante e no período posterior à Guerra do
Paraguai (1865-1920)
Este trabalho tem como temática central a Guerra do Paraguai (1865-1870), Enfoca os estudos sobre o Exército
brasileiro, em especial o Batalhão 21 de Infantaria, objetivando analisar formação, organização e atuação do referido
Batalhão na Guerra do Paraguai, com enfoque no momento posterior ao conflito (1865-1920), especificamente na
região sul da Província de Mato Grosso,Utilizamos para a realização desta pesquisa, documentos oficiais pertencen-
tes ao Arquivo Público de Mato Grosso (APMT), dos anos de 1864 a 1920, tais como, correspondências do Comando
das Armas da Província de Mato Grosso, ofícios de Acampamentos militares, Relatório de Presidente de Província e
bibliografia referente ao período, A Província de Mato Grosso foi invadida em Dezembro de 1864 pelos paraguaios,
quando se apossaram das localidades de Corumbá e Miranda, Diante desse fato foi organizado o Batalhão de Infanta-
ria n° 21, por ordem do Império nO 1.246 em 28 de junho de 1865, na cidade de Uberaba (MG), para expulsar os
paraguaios e defender o território matogrossense, Este batalhão permaneceu na Província após a Guerra e, em 1920,
foi estruturado e transformado no 16° Batalhão de Caçadores, em Cuiabá

Braz Batista Vas - UFT


Considerações sobre a logístíca ao final da Guerra do Paraguai -1869-1870
Este trabalho visa apresentar e discutir alguns aspectos da estrutura material e logística utilizada pelas forças militares
brasileiras, em especial as forças terrestres, que compreendiam o Exército de linha, voluntários da pátria, guardas
nacionais e milicianos, nos anos finais do conflito, qual seja entre 1869 e 1870, como elemento de suma importância
para a dinâmica político-militar de se chegar ao fim do conflito.

29. História do Crime e da Justiça Criminal


Marcos Luiz Bretas (UFRJ)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h ás 18h) I
Maria de Lourdes da Silva - UERJ
Por uma Etnografia Histórica da Criminalização das Drogas no Brasil ,
O presente trabalho é parte da pesquisa que desenvolvo no doutorado, A investigação busca entender o processo de
negociação operada pela sociedade carioca após a criação da primeira lei de drogas no Brasil, em 1921, para conviver
com o novo estatuto assumido por estas, Procuro compreender como os diversos agentes sociais compõem arranjos
que os tornam capazes de lidar com a nova situação legal das drogas, Utilizando fontes como jornais da época, anais
das academias de medicina, registros policiais e processos criminais, além da produção literária sobre o tema, eu
procuro identificar as várias práticas empenhadas para poder elucidar os mecanismos de aceitação, negação, trans-
gressão e outros aos quais ainda não consigo nomear, resultantes da relação daquela sociedade com as drogas
criminalizadas, Procuro ainda entender como o álcool- já entendido como profundamente pernicioso - não foi crimina-
lizado a despeito de toda literatura médica e demandas policiais associadas ao uso desta substância, Alocada entre a
sanção da primeira e da segunda lei de drogas, em 1938, a pesquisa percorre dois momentos distintos do cenário
político e social da sociedade brasileira: os anos 1920 e o início da Era Vargas, cuja implicação direta sobre a temática
das drogas deve ser contrastada,

Elena Camargo Shizuno - UFPR


Vida Policial- "hebdomadário noticioso, critico e doutrinário" (1925-27)
Esta comunicação apresenta parte de minha pesquisa de doutorado cuja investigação é o conteúdo de um semanário
intitulado Vida Policial, sub-intitulado hebdomadário noticioso, crítico e doutrinário, editado no Rio de Janeiro entre os

230
anos de 1925 a 1927. Buscamos entender o histórico, os objetivos e as formas de classificação do mundo social
produzidas pela revista segundo dois eixos centrais: 1. a análise das propostas modernizadoras da policia, em sua
doutrina e práticas, e 2. a abordagem do crime e dos criminosos segundo as narrativas reais e as ficcionais.

Regina Helena Martins de Faria - UFMA


Homens em armas: o que e a quem defendiam?
Esta comunicação visa apresentar um aspecto trabalhado em minha tese de doutorado, que tratou da constituição de
aparatos de policiamento no universo luso-brasileiro nos séculos XVIII e XIX. Propõe-se a traçar um paralelo entre o
modelo defendido pelo filósofo suíço Benjamin Constant, no início do oitocentos, para o exercício da força armada em
um país democrático e o que foi implementado no Brasil Império. Toma como base empírica as instituições constituí-
das no Brasil, por legislação de âmbito nacional, bem como aquelas que foram criadas no Maranhão após 1834,
quando as províncias obtiveram o direito de legislar sobre a chamada força pública. Mostrará que as idéias liberais em
voga à época, no mundo ocidental, estavam presentes na legislação que criou as instituições encarregadas do polici-
amento militar. Mas, que o nível de estruturação do Estado nacional, no Brasil, as especificidades do tecido social e
das relações sociais então vigentes no país nortearam as práticas desenvolvidas por essas instituições, provocando
alterações em suas configurações iniciais.

José Ernesto Pimentel Filho - UFPB


Por uma história da "criminalité"
O presente trabalho explana sobre as condições de emergência do termo 'criminalité' no debate social francês durante
o século XIX. Visa apresentar as condições teóricas e metodológicas para viabilizar uma pesquisa acerca dos diferen- ~
tes sentidos da palavra 'criminalité' na cultura francesa do século XIX, estando aquela palavra presente no documento \.t:!)
de Estado, ou na opinião científica e pública. O projeto foi elaborado no curso dos dois últimos anos (2005 e 2006) e a
pesquisa está em andamento com previsão de término para o final de 2009.

Róger Costa da Silva - URI


Crime e escravidão: a criminalidade negra em Pelotas (1845-1888) ~
O objetivo principal desta pesquisa é reconstituir aspectos da vivência social dos escravos e libertos na cidade de 'E
Pelotas, na segunda metade do século XIX, a partir das evidências contidas nos autos judiciários que investigaram ;S
os crimes praticados por esses setores. Para isso, tais relações sociais serão analisadas através da documentação B.
judicial que examina os crimes contra a pessoa englobando intensidades distintas: homicídios, tentativas de homi- .~
cídios e lesões corporais. Tais fatos dizem a vítimas de categorias sociais diversas: capatazes, patrões, aos quais -:
os escravos prestavam serviços como alugados; vítimas que se colocavam frente aos cativos como autoridades, ~
desde soldados das patrulhas noturnas, capitães-da-mato e homens brancos sem sem relação direta com os escra- QJ

vos. Também são objeto de nosso estudo os crimes contra parceiros, brancos pobres ou indivíduos que mantinham .ê
com os escravos relações estreitas de compadrio. Nossa pesquisa também enfoca os crimes cometidos contra ~
escravos e negros livres. ~
'E
Ricardo Alexandre Ferreira - UNICENTRO .!!1
::I:
No mesmo banco dos réus: livres, escravos e a Justiça Criminal no Brasil dos oitocentos
Era o crime de um escravo, em qualquer tempo ou lugar, um ato contra a escravidão? Ao admitir, como pressuposto de
abordagem, que nem sempre existia uma relação linear entre qualquer tipo de crime atribuído a um escravo e a revolta
contra a instituição escravista, a presente comunicação pretende ir além dos estatutos jurídicos da época e penetrar no
universo das fronteiras que separavam cotidianamente a escravidão e a liberdade, com o intuito de compreender as
possibilidades de ambos os conceitos em lugares e arranjos sociais peculiares. Para tanto, são analisados os proces-
sos criminais remanescentes da região nordeste da Província de São Paulo e os relatórios da Secretaria de Estado dos
Negócios da Justiça, produzidos na vigência do Código Criminal do Império. Contemplados nos mesmos códigos de
leis penais desde o período colonial, livres e escravos indiciados em crimes sentavam-se no mesmo banco dos réus.
No cotidiano, contudo, a fronteira entre a escravidão e a liberdade reafirmava-se sempre que o limite do tolerável era
ultrapassado. Ainda assim, muitos livres e escravos ocuparam os mesmos espaços, lutaram pelos mesmos interesses
e praticaram crimes em comum que devem ser levados em conta para o entendimento da história da escravidão e da
liberdade no Brasil.

Mariana Flores da Cunha Thompson Flores


O Contrabando na fronteira oeste do Rio Grande do Sul (1851-1864)
O tema do contrabando é algo muito importante da história do Rio Grande do Sul, sobretudo, porque esta região se
constituiu enquanto uma zona de fronteira e que a prática do contrabando pode ser considerada como inerente ao
ambiente socioeconômico de um espaço de fronteira. Contudo, apesar de serem freqüentes as referências ao tema ao
longo da historiografia rio-grandense, são poucos os trabalhos que se dedicam a tratar especificamente da questão.

231
Uma das justificativas para a existência de poucos trabalhos sobre contrabando é a crença em que existe uma escas-
sez de fontes já que se trata de uma prática ilegal que por ser desempenhada na clandestinidade não foi registrada
abertamente. Nesse sentido, é comum que os trabalhos tenham poucas referências documentais e, em função disso,
apresentem análises superficiais. Uma delas é a tendência de 'naturalizar" a prática do contrabando compreendendo-
o como isento de conotação criminosa na sociedade fronteiriça e os contrabandistas vistos de forma mítica e heróica
criando uma idéia de vigência de uma espécie de 'economia moral' onde o contrabando fazia parte de um costume
popular. Nossa intenção foi justamente ir em busca dos vestígios do contrabando e, através de Processos Crimes,
desvendamos uma nova apreensão da prática do contrabando.

Marinete Aparecida Zacharias Rodrigues e Wilton Carlos Lima da Silva - UNESP


Crimes, leis e direito na comarca de Corumbá no século XIX
Buscamos analisar através dos processos judiciais da comarca de Corumbá, Mato Grosso, no século XIX, as relações
de conflitos envolvendo os trabalhadores livres e sua inserção em espaços sociais controlados e vigiados pelo poder
político e jurídico. Enquanto homens e mulheres, vivendo situações de constrangimentos e tensões, recorreram a
violência física na resolução de problemas cotidianos e na defesa de suas posições sociais. O poder da elite local,
formada por grupos de fazendeiros e comerciantes, utilizou os procedimentos jurídicos como instrumento de imposi-
ção de padrões de comportamentos e valores sociais aos trabalhadores. A partir do exame de três dimensões presen-
tes na atividade jurídico-forense (a caracterização do crime, a legislação específica e a prática do tribunal) podemos
abordar de forma crítica como a normalização da ordem se traduz na eficácia da lei através dos procedimentos subje-
tivos do Judiciário quando este é confrontado com as necessidades de determinação e defesa dos interesses políticos
e econômicos das elites locais e os costumes e práticas dos setores populares em uma sociedade de fronteira, institu-
cionalizando hierarquias e controles sobre o cotidiano popular.

I 17/07 - Terça-feira - Tarde (14h às 18h) I


Marcelo de Souza Silva -UFRJ
índices de Homicídio: metodologia e procedimento de análise da ação da justiça criminal numa zona de fron-
teira. Uberaba/MG, século XIX
Esta apresentação visa trazer ao público a discussão quanto à(s) forma(s) de obtenção dos índices de homicídio por
100 mil habitantes e, ainda, as possibilidades de análise destes números no cenário estudado - caracterizado pela
situação social e econômica de zona de expansão e fronteira entre mundos com processos de desenvolvimento distin-
tos, quais sejam, o centro-sul brasileiro e o oeste do país. Vamos analisar como se chegou aos dados que serão
apresentados, referentes à Comarca de Uberaba, Minas Gerais, com o intuito de trazer a público as características,
vantagens e problemas, que este tipo de abordagem pode trazer para a compreensão da ação da justiça criminal por
parte dos historiadores. Os indices de homicídio por 100 mil habitantes são uma ferramenta de uso comum na histori-
ografia, porém, seu estabelecimento deve ser acompanhado de alguns cuidados, devido à utilização de métodos da
estatística no processo. Muito mais do que explicar a maneira que utilizamos para chegar aos dados, pretendemos
analisá-los, trazendo o debate para as questões metodológicas que envolvem sua utilização para a formulação e
comprovação de hipóteses.

Anderson Domingos da Silva - UFMT


Calotes, Roubos e Furtos na Cuiabá da segunda metade do século XIX.
Este estudo tem por objetivo tratar dos crimes de natureza patrimonial: calotes, roubos e furtos no universo urbano de
Cuiabá MT, na segunda metade do século XIX. Esses Crimes, realizados por personagens pertencentes a diversos
segmentos da camada social, encontrados nas páginas dos jornais, nos boletins de ocorrência policial e nos proces-
sos criminais, em suas múltiplas formas, interesses e fins, apontam pistas valiosas para a composição de um vívido
quadro da criminalidade do Brasil no século XIX.

Rodrigo Cardoso Soares de Araujo - PPGHIS - UFRJ


Os pasquins e o submundo da imprensa na Corte Imperial (1880-1883)
Em meio a uma conturbada atmosfera política que culminaria com o fim do regime Imperial, observamos o apareci-
mento de determinado tipo de imprensa no início da última década de existência do Império, dita 'pasquineira' atuava
de forma diversa da demais imprensa da época. Alcançando popularidade na Corte, estes jornais vão ser combatidos
pelas forças repressivas do Estado pelos ataques virulentos feitos a importantes personalidades públicas e ao próprio
regime Imperial, em geral, por via da difamação. Além das vendas de seus diferentes exemplares, outra forma de
arrecadação adotada pelos pasquineiros era a chantagem e a extorsão, imposta àqueles que tinham seu nome estam-
pado nas colunas de tais periódicos. Atuando na esfera pública, os pasquins vão frequentemente invadir a esfera
privada gerando, com isso, tensas relações sociais extravasadas em táticas legais, ou clandestinas, de combate à

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existência dos 'pasquins" pelo lado dos adversários destas folhas e, do outro lado, a tentativa dos 'pasquineiros' de
manter estes jornais em circulação.

Yomara Feitosa Caetano de Oliveira - UDESC·SC


O processo do Barão: a elite e seu patrimônio. (Vale do Itajaí/SC, final do século XIX)
Resumo: O artigo pretende analisar os testemunhos dos processos de Tribunal do júri, por ser uma fonte produzida no
campo do direito público. Com objetivo em historicizar os diversos testemunhos contidos nas fontes, no qual a justiça
se esforçou em averiguar a 'verdade" sobre os fatos. Para tanto, seleciono processos envolvendo um representante da
elite local. As fontes são os crimes de fraude contra a Fazenda Nacional e maus-tratos de colonos, cometidos pelo
mesmo autor, que foram julgados pelo tribunal do júri da época. O tema principal do artigo é analisar as relações da
elite e seu patrimônio na sociedade do Vale de Itajaí/SC do final do século XIX. O meu interesse é discutir como a
justiça atuava nas relações dos envolvidos durante o julgamento, e, como a decisão do júri restabelecia as relações do
poder local e as suas relações étnicas.

Marcos Antonio de Oliveira - PUC·SP


Boca do Lixo. A construção da masculinidade dos "valentes"
Na cidade de São Paulo entre os anos 50 até 70 do século XX se organizou uma região conhecida como Boca do Lixo.
Espaço de circulação de vários tipos sociais urbanos como as prostitutas, os punguistas, traficantes e os chamados
'valentes", chefes do crime na região. Inúmeros deles conhecidos da imprensa e da polícia circulavam entre grupos
populares na noite paulistana tentando manter-se como organizadores do crime e controladores dos seus respectivos
espaços urbanos. Esses homens construiram sua masculinidade tendo o crime como ponto de referência e sustenta-
@
29
ção. Receberam de seus pares a alcunha de 'valentes', que representavam seus feitos e influência dentro do crime e
da sociedade que freqüentavam e de certa forma estabeleciam sua masculinidade no universo citadino que pertenci-
am. O texto procura aprofundar essa construção e suas relações com o espaço urbano que pertenciam.

Tania Regina Zimmennann - UEMS


Donos do Olhar: imprensa, violência e relações de Gênero no oeste paranaense ê
Nas décadas de 1960 a 1990 percebe-se na imprensa do Oeste do Paraná uma ênfase em enaltecer os municípios :g
através da imagem de cidades progressistas, associadas ao caráter ordeiro, hannônico, pacífico e trabalhador de seus u
habitantes. O processo de urbanização e de adensamento populacional contribuiu para o crescimento de tensões no ~.
cotidiano da cidade e nas áreas rurais. Tensões estas também presentes nas relações de gênero e que nos são .~
percebidas em jornais, revistas, boletins de ocorrência e nos processos crimes que envolveram mulheres e homens ~
nas suas tramas. Comportamentos vistos como desviantes da ordem instituída poderiam destruir a imagem das belas, :;
ordeiras e civilizadas cidades do interior do Paraná. Para esta tarefa o judiciário, a imprensa e os grupos da elite OJ
encarregaram-se de elaborar e reproduzir via práticas discursivas ás regras de convívio social. .~
u
C)

Carlos Eduardo de Albuquerque Filgueiras - UFPE ~


Crimes passionais e desigualdades de gênero na prátíca jurídica recifense da década de vinte ~
Nosso trabalho tem como objetivo apresentar a desigualdade de gênero no âmbito da prática jurídica no Recife da j§
década de 20. Através da análise de processos motivados por crimes passionais, buscaremos pontuar como a justiça
contribuía para acentuar ou não essas desigualdades. As falas das testemunhas, as estratégias de defesa dos advo-
gados e promotores para apresentar (e representar) suas partes e as justificativas dos juízes nas sentenças, bem
como a discussão jurídica em tomo do conceito de honra, são os nossos pontos de observação. Com isso, pretende-
mos apresentar as permanências de características culturais do patriarcado em uma sociedade urbana. Também
mostraremos que o modelo de mulher livre tão difundido pela mídia e pelas colunas sociais do Recife na década de
vinte estava muito distante da realidade de uma mulher que, mesmo numa condição social favorável, num momento de
tensão (no caso, o crime), voltava a ser tutelada e inferiorizada.

Maria Emília Vasconcelos dos Santos - UFPE


Os "ladrões da honra": homens e mulheres envolvídos em crimes sexuais em Pernambuco Imperial (1860-1888)
Os 'ladrões da honra": homens e mulheres envolvidos em crimes sexuais em Pernambuco Imperial (1860-1888).
Mulheres 'vítimas" de crimes sexuais foram parar na polícia ou na justiça para cobrar a sua honra e seus direitos. Mas
afinal, quem eram as mulheres/meninas 'vitimas' de crimes sexuais, que recorreram á justiça em Pemambuco de
meados dos oitocentos? E que eram os homens acusados por esses crimes? Para esta análise selecionamos 29
processos de crimes sexuais do Tribunal da Relação de Pernambuco. Esse registro documental é útil por nos ajudar a
refletir sobre nossa questão, pois, neles encontramos com maior freqüência dados acerca das mulheres e dos homens
pesquisados, se compararmos com as ocorrências policiais. Podemos ainda repensar a partir das informações coleta-
das os esteriótipos do senso comum a respeito das mulheres pobres 'vítimas' de crimes sexuais. Acreditamos que
essa discussão pode revelar novos perfis e comportamentos femininos.

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18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h ás 18h)

Wellington Barbosa da Silva - UFRPE


Entre a masmorra e o panóptico: considerações sobre o sistema prisional do Recife no século XIX (1830-1850)
Seguindo a trilha aberta por Foucault, vemos que, na Europa de fins do século XVIII e princípios do XIX, os macabros
espetáculos punitivos nos quais se transformavam as execuções de criminosos em praça pública foram, pouco a
pouco, cedendo espaço ao encarceramento disciplinar - encarado, a partir de então, como um meio mais humanizado
e moderno de punição dos criminosos, Porém, no Brasil do mesmo período, um país escravocrata e ás voltas com
insurreições de todo tipo, a pena de morte continuava a ser utilizada para punir a rebeldia extrema dos escravos e os
excessos políticos dos homens livres, E o encarceramento disciplinar ainda era uma possibilidade longínqua, Em
Pernambuco, na primeira metade do século XIX, esta questão já aparecia no discurso solitário de alguns cidadãos
ilustres e ilustrados, Mas, a Casa de Detenção, inspirada no modelo panóptico de Jeremy Bentham, somente seria
construída na segunda metade daquela centúria. Oobjetivo desta comunicação é justamente discutir as condições do
sistema prisional do Recífe entre os anos de 1830 a 1850 - um período em que os cárceres recifenses passavam ao
largo do panoptismo de Bentham e tinham muito mais um quê de masmorra.

Alan Nardi de Souza - UFJF


Encarcerados: os detentos da Cadeia Pública de Mariana nos primeiros trinta anos do século XIX
Este trabalho tem por objetivo apresentar os resultados da pesquisa desenvolvida junto ao Programa de Mestrado da
Universidade Federal de Juiz de Fora referente aos presos da Cadeia Pública de Mariana entre os anos de 1800 e
1830. Qual o número de presos registrados pela administração carcerária neste período? Quantos destes eram ho-
mens? Quantas eram as mulheres? Quantos eram escravos? Quais eram os principais crimes cometidos? Onde o
crime prevalecia, na sede ou nos distritos? Todas são questões que tentamos responder. Para isso utilizamos os
assentos de prisão, os alvarás de soltura e os processos crimes como fontes para discutir tais questões, A partir dos
dados gerados foi possível nos aproximarmos do ambiente vivido no periodo pelos infratores da lei e pelos responsá-
veis em fazer cumpri-Ia,

Flávio de Sá Cavalcanti de Albuquerque Neto - UFPE


A reforma penitenciária do Recife em meados do século XIX: tensões sociais numa grande capital do Império
(1842-1850)
No século XIX, o Brasil passou por uma reforma penitenciária ocorrida em várias provincias do Império, inclusive
Pernambuco, Esta reforma foi baseada no Código Criminal do Império, datado de 1830, diploma legal fortemente
influenciado pelas mais atuais concepções penais européias, calcadas na idéia de correção do criminoso e sua rein-
serção na sociedade por ele lesada, As primeiras províncias que pensaram seus respectivos sistemas penitenciários
foram o Rio de Janeiro e São Paulo, ainda na década de 1830, No Legislativo pernambucano, as discussões a respeito
da necessidade de se construir uma nova penitenciária na cidade do Recife tiveram início em 1842, e se fundavam na
precária situação das cadeias existentes, na inadequação do sistema carcerário recifense ao pensamento juridico
penal na época, e ao crescente índice de criminalidade, Assim sendo, este trabalho tem como objetivo discutir o
cenário em que se deu a reforma penitenciária recífense, analisando as tensões sociais do Recífe no inicio dos anos
1840 que fizeram com que o Legislativo pernambucano iniciasse, neste período, as discussões em torno da questão
penitenciária, que levou á construção da Casa de Detenção do Recife,

Erica Elizabete da Silva - UFRJ


Ilha-presídio: a instituição e os presos de Fernando de Noronha 1854 -1882
Apresentarei nessa comunicação a pesquisa que pretendo realizar no curso de mestrado em História Social da UFRJ.
Tenho como objetivo a análise do presídio, primeiramente militar e posteriormente civil, localizado no Arquipélago de
Fernando de Noronha entre o período de 1854 e 1882, Essa instituição, conhecida como 'prisão central' do Império
recebia presos de diversas províncias do Brasil e configurava-se como elemento importante na reformulação do papel
atribuido as prisões durante o século XIX, Pretendemos entender primeiramente as relações entre o Estado e a direção
do presídio, assim como os projetos relativos a instituição, Não nos detendo somente ao dia a dia burocrático da
instituição, buscaremos compreender como eram recebidos esses presos e como eles viviam no ambiente de reclu-
são, Para tal, utilizaremos as fontes sobre o presídio localizadas no Arquivo Nacional, como registro de presos, relató-
rios médicos e administrativos da direção do presídio,

Clóvis Gruner - UTP


O 'espírito' e a 'lei': o Conselho Penitenciário do Paraná e a querela entre 'antigos' e 'modernos'
Criado pelo decreto federal 16,665, de 6 de novembro de 1924, e instituído no estado do Paraná três meses depois, o
Conselho Penitenciário tinha, entre suas funções, a de analisar, os pedidos de livramento condicional apresentados
pelos sentenciados e seus advogados, deferindo-os ou indeferindo-os á luz do Código Penal e tomando como premis-

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sa o histórico do requerente antes e depois da sentença e do confinamento - aí inclusos as motivações do crime. No
Paraná, os membros do conselho não raro utilizavam a análise dos pedidos e dos processos e relatórios que embasa-
vam seu parecer para, ora afirmar, ora refutar, as bases supostamente científicas que orientavam o pensamento jurídi-
co e criminológico europeu desde o final do oitocentos e que ganham força no Brasil especialmente a partir da Primeira
República. Como resultado desta querela que coloca de um lado os adeptos do "direito positivo' e de outro herdeiros
do 'direito clássico', vislumbra-se não apenas o desejo de ruptura e a vontade de permanência, mas os caminhos
tensos pelos quais se constituiu, no Brasil, um novo olhar sobre o crime e o criminoso.

Lizete Oliveira Kummer - UFRGS


Crime e loucura: a psiquiatria forense no Rio Grande do Sul no início do século XX
A comunicação analisa a interface entre os campos da Medicina e do Direito em relação ao crime no Rio Grande do
Sul, no período de vigência do primeiro Código Penal da República. As fontes utilizadas são laudos das perícias
médico-legais, que avaliavam a sanidade mental e periculosidade de indivíduos que cometeram crimes, bem como
artigos e teses acadêmicas produzidos por médicos sobre o tema. Discute-se o significado da criação do Manicômio
Judiciário do Rio Grande do Sul em 1925 e o papel representado por seu fundador, o médico Jacintho Godoy, na
psiquiatria forense da época.

Carlos Martins Junior - UFMS


Abaixo as paixões; a civilização é a meta: uma reflexão sobre a Nova Escola Penal
A virada do século XIX para o século XX constituiu-se, no Brasil, num período de transformações estruturais. A implan-
tação do trabalho assalariado, o advento da República e a expansão das atividades econômicas, as quais se refletiam ~
no crescimento físico e populacional dos centros urbanos, aumentaram a preocupação das autoridades públicas e ~
reformadores sociais quanto ao refinamento dos mecanismos de controle social. Nesse contexto, e no bojo do debate
mais amplo suscitado pela formulação do criminoso nato por Cesare Lombroso, o Direito Penal brasileiro passaria por
profunda revisão, implementada pelo grupo de juristas vinculados à corrente criminalística que, a partir de 1870, seria
conhecida como a Nova Escola Penal. Esta comunicação objetiva discutir a influência da antropologia criminal sobre o
pensamento daquele grupo de juristas, destacando o fato de que, ao propor a implantação de um Direito Criminal ~
autônomo e científico, os mesmos procuraram garantir o estatuto científico que transformou a criminalística na porta de .E
entrada do debate em torno do ordenamento da nação. 23
co
'-'-
Sandra Cristiana Kleinschmitt - UNIOESTE .~
A justiça criminal e a relação crime I loucura: gênero, raça/etnia e dependência química como determinantes -:
de desfechos processuais ~
O presente trabalho propõe-se a entender, porque determinados crimes têm como desfecho processual, independente Q.)

de sentença absolutória ou condenatória, a aplicação da medida de segurança, com o internamento dos(as) S


indiciados(as), em hospitais de custódia e tratamento. Tal proposta parte da análise descritiva de três homicídios ~
passionais, pesquisados em processos criminais pertencentes a Jurisdição da Comarca de Toledo/PR, nos anos de ~
1956, 1957 e 1965. O trabalho insere-se na perspectiva histórica-cultural relacionando as problemáticas crime /Ioucu- :8_:
ra / sistema de justiça, buscando compreender como diferenças de gênero, étnico/raciais e certos comportamentos :::r:
sociais que causam dependência química (como o uso do álcool), convertem-se em determinantes dos destinos soci-
ais de determinados sujeitos levados aos tribunais. Para tanto, foi realizada uma revisão atenta da bibliografia de
referência teórica, no campo da medicina legal, da psiquiatria, da antropologia crimínal e do direito, sobre as relações
entre crime e loucura.

19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h às 16h30min)

Patricia Oaiane Ferreira


liA Ordem Transgressora": Os praças e Oficiais da Polícia Militar do Paraná ·1892·1920
Nos anos iniciais da construção da República no Brasil temos a consolidação de uma ordem em que a Polícia Militar
desempenhou papel regulador e autoritário na tentativa de estabelecer códigos de obediência e hierarquia. O presente
projeto tem por objetivo analisar as transgressões dos praças e oficiais da Polícia Militar do Paraná entre 1892 a 1920.
A partir desta análise, buscamos a possibilidade de investigar o sentido atribuído às transgressões e conseqüentemen-
te estabelecer laços entre a tentativa de se fazer instalar dentro da Polícia Militar os rigores como instituição disciplinar,
sobretudo pelo caráter de vigilância e estabelecimento da ordem social e política dentro da sociedade vigente. Dessa
forma, pretendemos analisar referenciais que possibilitem elucidar questões pertinentes às configurações sociais que
norteiam a sociedade do período, bem como a compreensão das punições e códigos disciplinares estabelecidos pela
Polícia Militar do Paraná.

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Cláudia Mauch - UFRGS
Na ponta da faca: ambigüidades da condição policial no inícío do século XX
O trabalho apresenta resultados preliminares e algumas interrogações de pesquisa realizada em inquéritos administra-
tivos movidos contra policiais da cidade de Porto Alegre no periodo da República Velha. Instaurados por superiores de
diferentes níveis hierárquicos a partir de denúncias de infrações disciplinares as mais variadas, bem como de contra-
venções e crimes, o conjunto de inquéritos permite, dentro das limitações desse tipo de fonte, analisar como policiais
dos escalões mais baixos qualificavam e davam sentido a suas práticas, como operavam estigmas e classificações,
como, enfim, representavam a 'autoridade' de que estavam investidos, a desordem, os desordeiros e o uso da
violência fisica. Além disso, inquéritos originados de queixas de pessoas que se consideravam vitimas de 'abuso de
autoridade' constituem-se em fonte importante para a análise tanto do nivel de tolerância de populares da época em
relação á intromissão dos policiais no seu cotidiano (o que remete á legitimidade da polícia), como também das
ambigüidades da condição social daqueles policiais, homens cuja ocupação principal deveria ser vigiar o meio no
qual foram recrutados.

Caiuá Cardoso AI-Alam - UNISINOS


Insultos e insubordinações: o nascimento da policia na cidade de Pelotas
Durante a primeira metade do século XIX, o Império brasileiro passou a construir a instituição a que hoje damos o
nome de polícia. Tivemos neste periodo a criação primeiramente de uma Guarda Municipal Permanente, depois,
tivemos a criação da Força Policial. O nascimento da polícia acompanhou o processo de burocratização do estado
brasileiro. Neste artigo analisaremos o inicio desta instituição na cidade de Pelotas, observando através das insubor-
dinações dos policiais, as dificuldades encontradas por parte dos oficiais relacionadas às palavras de ordem e discipli-
na. Uma Instituição que serviu para impor a ordem aos populares, aos escravos, a cidade, que passava a crescer.
Estes policiais, mesmo representando os interesses estatais, transgrediram, inventando no seu cotidiano um outro tipo
de moral policial, diferente dos impostos pelas autoridades oficiais.

Francis A1bert Cotta - UNI-BH


Exclusão sóciolespacial na primeira capital planejada do Brasil: favelas em Belo Horizonte seculos XIX e XX
Sob a euforia da jovem República brasileira inaugurava-se a pé da serra do Curral a Cidade de Minas. O antigo Arraial
do Curral D'el Rei dava lugar a uma cidade pretensamente alinhada com os valores republicanos. A despeito da sua
sofisticação urbanistica-arquitetônica ela se mostrou hierarquizante e excludente do ponto de vista humano: o belo
horizonte que se formava não era para todos. Simultânea a construção da cidade surgem as suas primeiras favelas. As
ações adotadas pelos administradores para lidar com essa população altemaram entre: a sua expulsão das áreas que,
gradativamente, se tornariam mais valorizadas; a contenção da população excluida em locais especificos; a transfe-
rências dessa população para regiões cada vez mais distantes, e, por fim, a construção da idéia de favela como um
lugar perigoso, 'Iócus' privilegiado para a repressão policial. Em decorrência do processo secular de exclusão social e
do direito ao uso da cidade, a favela se tomou o espaço singular engendrando uma pluralidade de representações
sociais. Entender a constituição dessa multiplicidade sociocultural como parte do processo histórico brasileiro é a
proposta deste trabalho.

I 20107 - Sexta-feira - Manhã (10h30min às 12h30min)


Alcidesio de Oliveira Júnior - COC/FIOCRUZ
"Penas especiais para homens especiais": as teorias biodeterministas na Criminologia Brasileira na década
de 1940: resultado de pesquisa
Neste trabalho exponho os resultados de minhas pesquisas de mestrado, onde analiso os conceitos de periculosidade
e de classificação dos criminosos na Revista de Direito Penal e Revista Brasileira de Criminologia na década de 1940.
O meu objetivo é exemplificar a continuidade, dentro do campo da Criminologia, das teorias que pregavam o determi-
nismo biológico, no pós-guerra. Inúmeros autores delimitaram o final da Segunda Guerra Mundial, em 1945, como
término de prevalência das teorias biodeterministas. O principal motivo alegado é a difusão dos excessos cometidos
pelos regimes nazi-fascistas. Nestes regimes, as teorias fundadas no determinismo biológico teriam chegado aos seus
limites. Procurei discutir neste trabalho a veracidade dessa afirmativa sobre o ocaso, sinalizando as continuidades e
adaptações que estas teorias sofreram no interior de alguns campos de conhecimento. Mapeio alguns dos manuais,
revistas, congressos, sociedades e associações deste periodo de construção do campo. E por fim, após fazer um
histórico dos dois conceitos centrais e também do órgão mantenedor da Revista, a Sociedade Brasileira de Criminolo-
gia, discuto as noções de periculosidade e a classificação dos criminosos nesta Revista.

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Mariseti Cristina Soares Lunckes - UFT
Ordem x desordem: os inquéritos sobre os policiais militares do Batalhão Tocantins do norte goiano
Durante o governo dos militares, os batalhões de polícia tinham como função garantir a ordem pública e a partir de
1964, tiveram também o papel de força auxiliar do Exército Brasileiro, inseridos nas ações de Segurança Nacional,
para eliminar os 'insurgentes e guerrilheiros'. No antigo norte goiano, os relatos sobre os movimentos de resistência
contra o Regime Militar são silenciados pelas autoridades do Batalhão Tocantins. Dentro desse contexto de silêncios,
algumas narrativas são encontradas nos inquéritos abertos para averiguações das atividades dos policiais militares
em serviço. Nesses inquéritos (IPM) encontram-se indícios sobre a atuação do Batalhão Tocantins contra a presença
de 'insurgentes e guerrilheiros' que traziam a desordem para a região. Os policiais militares, ao contrário, eram repre-
sentados como homens da ordem e eram vistos como defensores da pátria brasileira: homens de coragem, bravura e
heroismo em um período tenso e denso de conflitos da história brasileira.

Eronize Lima Souza - UFBA


O crime (re)escreve a cidade: as fronteiras da ordem e da desordem na Princesa do Sertão(1930-1950)
Neste artigo, pretendo contribuir para as discussões em torno da história social do crime. Tomando como fontes de
pesquisa a documentação jomalística e judiciária procuro perceber as diversas maneiras como a violência foi encara-
da em Feira de Santana-BA entre os anos de 1930-1950, quando se observou uma maior sensibilidade de parte da
classe dominante feirense em relação à criminalidade e à prática da violência interpessoal, entendidas como um dos
principais obstàculos a ser enfrentado pelo poder local na tentativa de consolidação da imagem de Feira de Santana
como uma cidade 'ordeira', 'moderna' e 'civilizada'. A partir da relação entre crime e cidade esta pesquisa tem procu-
rado descortinar nesse cenário de consolidação da dita 'modernidade feirense', certos lugares, personagens e pràti-
cas sociais que entraram no crivo da ordem, ainda pouco estudados na história dessa cidade.
f29\
\eJ
Philipe Murillo Santana de Carvalho - UNEB
Levando a vida na ponta do facão: crimes e cotidiano na urbanização de ltabuna (1925-1950)
Este trabalho visa pesquisar o cotidiano dos trabalhadores e os crimes praticados na cidade de Itabuna entre 1925-
1950, tendo como uma de suas principais fontes os jornais locais e os processos crimes. Da década de 1930 em ~
diante, o sul da Bahia já havia consolidado sua estrutura agrária latifundiária, concentrando terras na mão dos coronéis :~
locais. Ao mesmo tempo, o fluxo de migrante com destino a essa região continuava intenso. O resultado disso esteve u
no aumento demográfico e urbano da cidade de Itabuna, chamando à atenção das autoridades locais para a manuten- 1:5.
ção da ordem em meio ao processo de urbanização de Itabuna. Frustrados com as poucas oportunidades de trabalho, .~
esses migrantes acabam ficando marginalizado, sendo protagonistas nos crimes locais. Quase sempre acompanha- -:
dos do facão que deveria ser utilizado na lavoura do cacau, esses migrantes excluidos usavam o instrumento de ~
trabalho para resolver seus conflitos com a sociedade, seja na briga com vizinhos, seja no roubo de casas. A pesquisa
3
Q)

tem despertado o interesse em entender a origem dos grupos e/ou dos indivíduos marginalizados no cenàrio de
urbanização de Itabuna, assim como o discurso utilizado em periódicos locais contra a presença desses agentes
sociais na cidade.

I 20/07 - Sexta-feira - Tarde (14h às 18h)


Luiz Carlos Sereza - UFPR
Suportar o crime: o imaginário do controle social nos romances policiais da revista x-9 na década de 1950
Acriminalização de pessoas desprovidas de amparo social teve, na década de 1950, o auxilio de um conjunto de repre-
sentações marcadas por um imaginário de época. Suportadas por dispositivos dos mais diversos, de jomais ao cinema,
passando por revistas de entretenimento (como a x-9), as representações acerca do crime justificavam medidas policias
e aumentavam a insegurança, lançando mão de técnicas de nomeação e construção de imagens para crimes e crimino-
sos. Apoiadas pela cultura do crime existente no Brasil, o conjunto de representações policiais presentes na revista x-9,
seja em seus romances policias ou por meio da apresentação de narrativas veridicas, conduzia a uma atmosfera de
insegurança e apreensão. O objetivo deste trabalho é problematizar as maneiras de nomeação do crime na revista x-9
como uma patologia social, de modo a compreendê-Ia como uma peça do aparato simbólico de controle social.

Marcos Luiz Bretas - UFRJ


O funcionamento da Justiça criminal na República Velha
Esta trabalho busca apresentar resultados de pesquisa sobre a atuação de uma pretoria criminal do Distrito Federal
nnas décadas de 1910 e 1920. Busca-se avaliar os tipos de ocorrências que os juizes avaliavam, buscando encontrar
padrões que orientem decisões. A tentativa de compreender a lógica que preside as decisões judiciais passa pelas
características individuais dos juizes e por padrões consolidados de atuação. É nesse confronto que se abrem possi-
bilidades de luta para aqueles que caem nas malhas do poder judiciário.

237
Rosângela Pereira de Abreu Assunção
O DOPS/MG e a construção do perfil do criminoso político e social
O perigo suscitado pela "ameaça vermelha' no Brasil, desde os primeiros anos após a Revolução Russa, produziu um
imaginário anticomunista compartilhado por diferentes setores conservadores, possibilitando a formação de uma tradi-
ção anticomunista que serviu de base para a consolidação de uma estrutura policial autoritária e repressiva. A vigilân-
cia e a repressão policial em relação aos comunistas no Brasil foram facilitadas pela legislação brasileira, que ao
incorporar no discurso da segurança do Estado os fatores sociais e políticos, criou um discurso de ordem que atribuiu
ao criminoso político os traços que o definiriam em contraposição ao criminoso comum. A construção da imagem do
criminoso político pelo DOPS pode ser identificada a partir da criação do PCB, em 1922, e de sua atuação na política
brasileira por meio de sua influência em diversos sindicatos operários. O presente trabalho tem por objetivo apresentar
considerações acerca da utilização do anticomunismo pela polícia mineira para a definição de sua própria identidade e
demarcação de seu espaço na cena política, a partir da construção da imagem e delimitação da identidade do comu-
nista como criminoso político e social.

Admar Mendes de Souza - USP


Estado e Igreja: o movimento social do cristianismo de libertação sob o olhar do DEOPS/SP (1954-1974)
Entre 1962 e 1965 ocorreu em Roma o Concílio Vaticano 11. Entre suas diretrizes, a assembléia declarou sua opção
pelos pobres, pela luta contra as injustiças sociais e políticas do mundo moderno. Esta abertura conciliar foi assumida
e reelaborada pela Igreja latino-americana a partir de reflexões próprias. De uma Igreja europeizada em conduta e
valores, a instituição buscou refletir sobre a realidade latino-americana, e buscou influir numa possível transformação.
Declarou-se a opção pela libertação das opressões políticas, econõmicas e sociais vividas pela grande maioria da
população. Agíndo assim, passou também a questionar a secular aliança Igreja/Estado. No caso brasileiro, tinha-se
início um rompimento que põs na ordem do dia a ação política como via de libertação dos problemas sociais e da
repressão do regime militar. E essa ação política foí amplamente registrada pelo Departamento de Estadual de Ordem
Política e Social na cidade de São Paulo. A partir de uma reflexão das concepções político-religiosas vivenciadas por
religiosos e leigos católicos, buscamos apreender a leitura feita acerca desta conduta pelo DEOPS/SP, considerando
sobretudo o caráter do embate e do rompimento entre estes dois setores da sociedade brasileira entre os anos de
1954-1974.

Nanci Patrícia Lima Sanches - UFBA


O Crime e a História: Uma questão de Método, Fontes e Interpretação da História da Jurisdição no Império do
Brasil.
Este artigo pretende discutir o crime como objeto recente de estudo da História. A utilização dos processos-crime e
códigos de postura como fontes tendo a análise foucaultiana como base interpretativa das estruturas punitivas e
mantenedoras da ordem no Império do Brasil através da elaboração do Código Criminal de 1830.

30. História do Ensino de História


Arlette Medeiros Gasparello (UFF) e Kazumi Munakata (PUC-SP)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h às 18h) I
Eduardo Arriada - UFPel- FAE
O ensino de história: o papel desempenhado pelos livros didáticos no século XIX
Neste artigo buscamos caracterizar como foi construída a "idéia de Brasil' à partir do uso dos livros didáticos emprega-
dos na sala de aula no Brasil Império. Para a análise da construção de um "idéia de Brasil', utilizamos os compêndios
indicados e/ou aprovados pelos Conselhos de Instrução pública. Esse "corpus' é constituído dos seguintes livros:
"História do Brasil'. Paris: Aillaud, 1839 de Francisco Solano Constancío; "Compêndio ha história do Brasil'. Rio de
Janeiro: Laemmert, 1843, de José Inácio de Abreu e Lima; "Lições de história do Brasil para uso das escolas de
instrução primária', Rio de Janeiro: Garnier, 1884, de Joaquim Manoel de Macedo; "Lições de História do Brasil', Rio de
Janeiro: Tip. Brasiliense, 1855, de Antônio Álvares Pereira Coruja; "Epsódios da História Pátria contados à infância',
Rio de Janeiro: Garnier, 1887, de Fernandes Pinheiro. No Brasil Império, onde a centralização político-administrativa
era a norma, onde os "bons homens' continuavam dominando e mantendo o regime escravocrata, onde era necessário
e vital a manutenção desse "status quo', mais do que nunca tornava-se necessário "ordenar, civilizar e instruir'. Nessa
tarefa os compêndios didáticos de história tiveram um papel fundamental na construção de "uma idéia de Brasil'.

238
Laura Nogueira Oliveira - CEFET-MG
A biografia de Tiradentes na História geral do Brasil, de Francisco Adolfo de Vamhagen
O trabalho apresenta e analisa os topoi empregados por Varnhagen na construção de seu personagem Tiradentes, na
História geral do Brasil. O que se destaca é que a tipologia varnhageniana do personagem histórico tem origem nas
regras empregadas na composição dos gêneros epiditico e biográfico: Varnhagen imitava e emulava 'auctores de
vidas', e empregou os topoi próprios para os gêneros em questão e fez uso da censura para rebaixar o personagem
histórico. Dentre os julgamentos de personagens históricos feitos por Varnhagen, na HGB, o de Tiradentes tem mere-
cido comentários da crítica especializada desde o final do século XIX. Alguns estudiosos da obra de Varnhagen afir-
mam que ele adotou uma posição de condenação do personagem e o censuram pelas opiniões emitidas; outros
acreditam que o historiador foi justo em suas avaliações de Tiradentes e defendem seu ponto de vista; por fim, há
aqueles que afirmam ter Varnhagen adotado uma posição vacilante sobre o personagem, o que denunciaria falta de
segurança sobre os juízos emitidos. No entanto, ainda não se perguntou de que modo Varnhagen construiu seu
personagem histórico e nem se analisou e avaliou as mudanças que ele realizou, da primeira para a segunda edição
da HGB, no capítulo dedicado á Conjuração Mineira.

Maximiliano Mazewski Monteiro de Almeida - PPGH I PUCRS


Didática Cívico-Castilhista: livros de historiografia e geografia para as escolas elementares do Rio Grande do
Sul (1896-1902)
O objetivo desta comunicação é, na especificidade sul-rio-grandense, compreender e explicar como desenvolveu-se a
produção dos livros didáticos de história e de geografia durante a Primeira República. Investiga-se o papel dos agentes
partícipes: os representantes do Estado para a instrução pública, os autores dos livros didáticos e o livreiro responsá-
vel pela publicação do material. A atual pesquisa justifica-se pela ausência de estudos sobre os livros didáticos de
História e Geografia regional, utilizados nas escolas elementares do Rio Grande do Sul.

Arlette Medeiros Gasparello - UFF


O livro didático como questão pública no Império Brasileiro
O texto discute o livro didático como questão pública no século XIX brasileiro, na medida em que os livros escolares
foram objeto de preocupação do Estado imperial, o qual implementou uma série de medidas e procedimentos sobre os
materiais didáticos para a escola primária e secundária no Município da Corte Tais ações constituíram os passos
iniciais para a construção de uma política do livro didático no Brasil, tema ainda pouco referenciado na historiografia
educacional desse período. Nessa perspectiva, o texto explora uma visão mais incisiva do Estado imperial nessa
questão, geralmente associada ao período republicano no século XX. As conclusões resultam da análise de fontes
primárias do Arquivo Nacional, que formam um conjunto de processos da Inspetoria Geral de Instrução Pública do
Município da Corte. Destaca-se nesse processo que as ações do governo brasileiro, geradas a partir das questões
postas pela sociedade e pela instituição escolar, configuraram-se em políticas públicas e contribuíram para consolidar
o livro didático como objeto escolar no seu ambiente pedagógico específico e no interior e um contexto regulador do
sistema nacional em formação.

Maria Cristina Dantas Pina - UESB


República e Escravidão na escola secundária baiana: aparentes contradições nos manuais didáticos de João
Ribeiro e Antonio Alexandre dos Reis
@
30
Este texto identifica como o escravo negro foi retratado nos livros didáticos de História do Brasil dos professores João
Ribeiro (1900) e Antônio A. B. dos Reis (1915), utilizados no Ginásio da Bahia. Analisou-se como os livros pensaram a
escravidão na história do Brasil, como suas análises relacionavam-se com uma cultura hegemônica e os seus desdo-
bramentos na construção de uma cultura escolar, considerando a questão racial na Bahia. Utilizou-se as seguintes
categorias: concepção de história, de sociedade/nação, de escravo e de trabalho. Verificou-se que o escravo negro
aparece como elemento formador do Brasil, mas ocupa um lugar 'menor' que é atribuído a inferioridade da raça. Os
autores destacam a crueldade da escravidão, porém justificam sua existência em nome da construção da soberania
nacional. As obras atenderam á chamada 'pedagogia do cidadão', na qual papéis e funções sociais eram bem determi-
nados. AdsSiN~' oSRmdanuais constituídram em intstrumentos de ch~nst ol.idaçã ? de um~ ~liSã? eugêdn.ica, re~orçdanfdOt anális~s ~.~_
como a e Ina o ngues, apesar e sus ten arem-se numa IS onografla que pnvl eglava a Iscussao e a os SOCIO- ~
econômicos e não apenas os político-administrativos. Ou seja, legitimaram um projeto republicano no qual se manteve !
a hierarquia social do passado escravista. -o
o
c::
. i:?
Eliezer Raimundo de Souza Costa - UFMG ,jJ
Saber acadêmico e saber escolar: história, historiografia e sala de aula ..g
Este estudo é limitado por 1918, fim da I Guerra, e 1934, ano da constituição que pôs fim á República federalista no .~
Brasil, época do triunfo do nacionalismo para Hobsbawm. Objetivo verificar como as especificidades do período deter- ~
minaram a relação entre o saber acadêmico e o saber escolar. Estudo manuais didáticos, História do Brasil de J. I

239
Ribeiro e Epitome de História do Brasil de J. Serrano, porque, além do conteúdo, apoiavam o professor. O primeiro com
dois textos, um para o aluno e outro para o professor; o segundo com quadros sinóticos, sincrõnicos, biografias e
destaque de fatos. O ensino de história pode ser medido como elemento estimulador de um sentimento nacionalista.
Esse formato do texto aproxima tais manuais do conceito de Cultura Escolar de D. Julia e de A. Chervel e J. Fourquin.
As estratégias dos autores auxiliavam os professores a tornar o conhecimento acadêmico mais acessível ao nível
escolar. As fontes são Capistrano de Abreu (conhecimento acadêmico), os manuais de Ribeiro e de Serrano, artigos e
aulas premiadas na Revista do Ensino de MG e diários de classe do período. O suporte teórico é Eric Hobsbawm, na
análise do nacionalismo e construção de tradições nacionais e, Roger Chartier, na interpretação das estratégias de
leitura e apropriação dos textos.

lone Celeste Jesus de Sousa - UEFS


O que e como ensinar: práticas de escolarizaçao em primeiras letras na Bahia-1870/1889
Este texto trata de estratégias de implementação de uma escolarização pública na Província da Bahia, nas duas
últimas décadas do Império, caracterizada pela expansão das aulas públicas primárias, ainda que isoladas e separa-
das por sexo, constituídoras de um poder e um saber da Instrução Pública, através de dispositivos como os concursos
públicos para provimento de professores; a instalação de Conselhos Municipaes de Instrucção, Inspetorias Parochiais
e Inspetorias Litterarias ; a instauração da obrigatoriedade de envio de relatórios por parte de professores e presiden-
tes e inspetores litterarios ou parochiais. As práticas de escolarização foram se constituindo em um novo saber, apoi-
ado em normas e regras sobre como e o que ensinar, com crescentes tentativas de disciplinarização do saber-fazer
dos professores,vía a implementação de Regulamentos de Ensino; de programas oficiais, explicitados em pontos e
memórias de concurso; em pareceres sobre métodos de ensino; em elaboração e edição de livros; na escritura de
cartilhas, compêndios, syllabarios e translados, com o objetivo de uniformizar o quê e como ensinar:

I 17/07 - Terça-feira - Tarde (14h ás 18h) I


Maria do Carmo Martins - FElUNICAMP
História no Colégio Progresso Campineiro (1900- 1937): sobre arquivo, fontes e maneiras de ensinar
Nesse trabalho procuro discutir, á partir dos documentos encontrados n organização do arquivo histórico escolar do
Colégio Progresso Campineiro - instituição criada em 1900 para educação feminina em Campinas - os conteúdos e as
práticas pedagógicas utilizadas, na escola, para o ensino de história, durante seus 37 anos iniciais, quando a escola
atuava sob a direção de Emília de Paiva Meira, proprietária e diretora da escola. Trata-se de uma análise sobre os
documentos encontrados - planos de ensino, materiais educativos e fotografias, assim como um levantamento biográ-
fico dos professores dessa unidade escolar no período. Inseridas na discussões sobre história social da disciplina
escolar: Chervel (1990), Goodson (1990, 1995), na interface com a historiografia da educação brasileira, abordo a
organização do arquivo histórico e a busca pelos documentos curriculares no período em questão; as maneiras como
a escola elaborava seus registros, os vestígios dessa disciplina escolar nas fotografias e em outros materiais que
fazem parte da memória escolar da época e as formas como os conhecimento sobre história, arquivistica e educação
têm possibilitado o desenvolvimento da pesquisa sobre ensino de história.

Maria Aparecida da Silva Cabral - PUC-SP


O ensino de História no Primeiro Gymnasio da Capital, em São Paulo (1894-1925)
Este trabalho pretende problematizar a configuração da disciplina História no currículo do Primeiro Gymnasio da Capi-
tal, durante o período da Primeira República, em São Paulo, no intuito de verificar a relação entre o que é prescrito e o
que é ensinado. Elegendo como referencia teórica, as pesquisas sobre as disciplinas escolares e também as contribui-
ções dos estudos curriculares, as avaliações escolares, realizadas pelos alunos no final do ano letivo e os planos de
ensino foram utilizadas como fontes documentais na perspectiva de resgatar os diversos conflitos e negociações em
torno da legitimação de um determinado conhecimento histórico.

Kazumi Munakata - PUC-SP


Dois padrões de ensino de História: conflito em tomo de um livro de Delgado de Carvalho
Num artigo anterior, apontou-se para uma polêmica suscitada em torno de um parecer de Eurípedes Simões de Paula,
da Universidade de São Paulo, a um livro de Delgado de Carvalho, antigo catedrático do Colégio Pedro 11, escrito por
encomenda da Campanha do Livro Didático e Manuais de Ensino (Caldeme), do Ministério da Educação. Aqui, trata-se
de aprofundar a análise dessa polêmica, buscando aí a exemplaridade de dois padrões de formulação que persistem
até hoje a respeito do ensino de História. Para tal, recorre-se a análises de autores, nacionais e estrangeiros, que
tematizaram a relação entre a formação de professor e a de pesquisador ou entre a História ensinada e a História
acadêmica.

240
Renilson Rosa Ribeiro - UNEMAT
Zumbi - herói étnico, Tiradentes - herói nacional: Ojogo das representações didáticas nos manuais escolares
de História do Brasil
Esta comunicação pretende analisar a trajetória das narrativas sobre Zumbi e do Quilombo dos Palmares, produzidas
nos manuais escolares de História do Brasil a partir do século XIX e ao longo do século XX, fazendo um exercício de
comparação com as narrativas fabricadas sobre Tiradentes e a Inconfidência Mineira. A estratégia é perceber como os
discursos didáticos, por intermédio do uso do conceito de raça, nação e Estado, constituíram as imagens de Zumbi
como uma personagem (herói) étnica/racial e as de Tiradentes como uma personagem (herói) nacional.

Vera Lucia Cabana Andrade - COLÉGIO PEDRO li-UNIDADE CENTRO - NU DOM


Como ensinar história na visão do Professor Jonathas Serrano
O presente trabalho é um recorte da linha de pesquisa "História e memória do Colégio Pedro 11' desenvolvida no
NUDOM-Núcleo de Documentação e Memória do Colégio Pedro 11. Esta pesquisa tem por objetivo estudar os profes-
sores catedráticos de História do Colégio que se destacaram como professores-autores no período compreendido
entre 1850-1950. A análise está focada no livro 'Como se ensina história" do professor catedrático Jonathas Serrano
publicado em 1935. Este livro, pioneiro no campo específico da didática de história passou a ser fundamental para os
professores da disciplina, a partir do redimensionamento do conceito de História, da reorganização dos programas e
da redefinição do papel do professor e do aluno no processo de ensino.

Larissa Assis Pinho - UFMG


As Escolas Rurais na reforma Francisco Campos (Minas Gerais - década de 1920)
A década de 1920 constituiu-se um período importante na reestruturação do ensino no Estado de Minas Gerais. As
mudanças advindas da modernidade intervieram na relação que a população estabelecia com o espaço. Os valores
associados à modernidade relacionavam-se com a constituição da vida social no espaço urbano. Vê-se, então, um
aumento crescente na migração das populações rurais para o espaço urbano. A educação foi tomada, então, como
uma condição de desenvolvimento da população rural e, consequentemente, como possibilidade de conter esse pro-
cesso de migração. Em 1927, o Governo do Estado de Minas Gerais promulga a Reforma Francisco Campos, que
pretendeu instituir os pressupostos da 'Escola Nova", em um discurso de uma escola renovada. Assim, esse trabalho
pretendeu analisar a conformação das escolas rurais a partir do texto da Reforma, utilizando como fonte as teses do
Primeiro Congresso Instrução Primária (1927), os artigos publicados na Revista do Ensino (1925-1927), e o próprio
Regulamento e Programa da Reforma. Percebe-se uma especificidade do programa de disciplinas e da organização
escolar das escolas rurais ao compará-Ia aos grupos escolares.

Ivaneide Almeida da Silva - UESC


A educação dos dois gêneros: o Colégio da Piedade e o Colégio São José em Ilhéus (1916-1930)
A história construída pelo Colégio da Piedade está relacionada, inicialmente, com a necessidade de uma instituição
religiosa de educação feminina para a formação das moças de famílias abastadas da cidade. Para a Igreja, a instrução
escolar devia ser distinta para homens e mulheres, formando-os na concordância com os respectivos papéis masculi-
nos e femininos, já delineados pela sociedade, que além de diferentes, eram desiguais. O sistema de ensino laico já
tendia a ser misto ou co-educacional, mas o bispo de Ilhéus manteve as convicções católicas sobre o ensino privado, ~
e criou uma outra instituição escolar religiosa, para educar os filhos das famílias abastadas: o Colégio Diocesano São
José, que seguiu uma trajetória diferente do colégio feminino. O objetivo deste artigo é discutir os aspectos da educa-
®
ção feminina, relacionando com os da educação masculina, pois semelhantes foram os objetivos para a fundação dos
colégios em análise, porém, diferentes, ou apontados para lados opostos, a formação educacional pretendida e execu-
tada para o homem e para a mulher.

I 18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h)


José Cássio Másculo - Universidade Presbiteriana Mackenzie .~
Coleção Sérgio Buarque de Hollanda: livros didáticos e inovação no ensino de História no início dos anos ~~
19ro ~
Neste trabalho serão analisados os livros didáticos da Coleção Sérgio Buarque de Hollanda, bem como sua documen- ~
o
tação arquivada na Companhia Editora Nacional. Organizados por Buarque de Hollanda, esses livros didáticos foram .~
publicados de 1971 a 1989 pela Nacional, representando, à época, uma inovação na diagramação dos livros de ,fj
História. Apesar do caráter inovador, esses livros disputaram espaço no mercado editorial com outra coleção de diagra- .g
mação mais tradicional: a de Borges Hermida. Tal fato ensejou um questionamento a respeito de quais seriam as .~
estratégias adotadas pela editora para a publicação dessas coleções e o que levava os professores a escolher entre a ~~
coleção de Buarque de Hollanda e a de caráter mais tradicional mantida pela mesma editora. Constatou-se, inicialmen- ::I:

241
te, que a coleção de Buarque de Hollanda teve grande aceitação por parte dos professores, fazendo com que o número
de exemplares impressos rapidamente superasse os da coleção Borges Hermida e pôde-se verificar também que a
coleção, com suas inovações, atendia aos desejos de mudanças que professores manifestavam em cartas enviadas à
editora. Nesse sentido, este trabalho contará um pouco da história dessa importante coleção didática, praticamente
esquecida quando se fala das obras de Buarque de Hollanda.

Juliana Miranda Filgueiras - PUC-SP


O ensino de Educação Moral e Cívica e um novo modelo de cidadão
A formação política, moral e cívica do cidadão é pauta de discussão nos meios educacionais brasileiros desde a
implantação da República. Em alguns momentos sua formação é considerada prioridade das disciplinas História,
Geografia, etc., em outros, entende-se que seus conceitos devem ser apresentados por uma disciplina específica. Um
dos momentos históricos em que se priorizou a construção de uma disciplina única para o ensino moral e civico foi
durante a Ditadura Militar. Na Ditadura, os saberes relacionados à moral e ao civismo foram retirados de outras disci-
plinas e re-elaborados na disciplina Educação Moral e Cívica. O seu ensino teve características específicas, diferente
das propostas que existiram em outros momentos da história do Brasil. O ensino de EMC foi tornado obrigatório em
todas as escolas brasileiras, em 12/09/1969, por meio da lei n° 869. Oobjetivo inicial era torná-Ia a principal responsá-
vel pela formação do cidadão brasileiro. Para a nova disciplina todos os detalhes foram pensados: programas curricu-
lares, cursos de formação de professores e produção de livros didáticos. A presente comunicação tem por objetivo
apresentar a constituição da disciplina Educação Moral e Cívica, suas especificidades e a proposta de formação
política que pretendeu implantar.

Elaine Lourenço - OH - FFLCH - USP


Os currículos de História e Estudos Sociais nos anos 70: entre a formação dos professores e a atuação na
escola
Nos anos de 1970 a formação de professores para atuação na disciplina de História se dava em cursos diferenciados,
uma vez que era feita tanto nas licenciaturas específicas da área, como nas licenciaturas curtas de Estudos Sociais.
Por outro lado, a atuação dos docentes no estado de São Paulo tanbém se dava ora na disciplina de História, ora em
Estudos Sociais, uma vez que a legislação foi se alterando ao longo do período.
O objetivo deste trabalho é relacionar os conteúdos mímimos exigidos pela legislação para a formação dos professo-
res, com diferentes currículos praticados pela Universidade de São Paulo (USP), pela Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo (PUC/SP) e pelas Faculdades Integradas Nove de Julho. Além disso, pretende-se investigar as aproxi-
mações entre estes currículos e as exigências da legislação para o ensino das disciplinas no estado de São Paulo.

Eliane Mimesse Prado - UTP


O ensino profissional obrigatório de 2° grau nas décadas de 70 e 80 e as aulas da disciplina História
Este estudo pretendeu identificar a prática dos professores de algumas escolas estaduais paulistas nas aulas da
disciplina História. As aulas tiveram sua carga horária semanal reduzida e, assim, consequentemente, seus conteúdos
suprimidos. Essas aulas compuseram a grade curricular dos cursos profissionais obrigatórios de ensino do 2" grau,
instituídos na década de 1970. Apesar da obrigatoriedade poucas foram as escolas estaduais que cumpriram a legis-
lação. Os professores apresentaram na prática uma lenta mudança nos conteúdos por eles ensinados e nas metodo-
logias desenvolvidas com os alunos. Fez-se uso de fontes bibliográficas e de fontes primárias, essas últimas compos-
tas por relatórios de estágios de observação produzidos pelos alunos da disciplina Prática de Ensino ministrada nos
dois últimos semestres do curso de Licenciatura em História da Universidade de São Paulo.

Luís Edmundo de Souza Moraes - UFRRJ


História Nazista: uma história do futuro
O trabalho examinará o uso que a política faz do passado através da disciplina História. Para isto volto-me para um
caso particular de utilização do passado pela política através da disciplina, que é o caso do nacional socialismo.
Objetivo aqui discutir o lugar especifico da história como disciplina durante o Terceiro Reich e ainda apresentar os
contornos próprios da história produzida sob sua chancela. Para demonstrar a validade de seu programa ele recorre a
instrumentos propriamente modernos de legitimação das ações políticas, dos quais se destaca o uso especifico que o
nacional socialismo faz da História. O trabalho buscará demonstrar os fundamentos pelos quais a história como disci-
plina torna-se em suas dimensões de produção quanto de transmissão de conhecimento um instrumento da política
em seu sentido mais estrito. A disciplina reveste-se, assim, de um caráter "militante', passando a não ter outra função
além da pedagógica: o que é importante para o historiador é que ele produza algo que pode ser ensinado com o fim
último de legitimar as ações do Estado. Neste sentido, o nacional socialismo oferece-se como um caso extremo, que
ajuda a pensar as fronteiras próprias da disciplina, seu fazer específico e os critérios de validade do conhecimento
produzido pelo historiador.

242
Mateus Henrique de Faria Pereira e Andreza Cristina Ivo Pereira· UFMG
Evento e Escrita da História: os sentidos do Golpe de 1964 em livros didáticos de história (1973-2006)
Nossa pesquisa pretende problematizar algumas representações do Golpe de 1964 realizadas pelos livros didáticos
de história editados de 1973 até 2006. Utilizamos como corpus documental 60 livros e 30 autores. Fizemos uso de
duas periodizações para retratar, quantitativamente e qualitativamente, as mudanças e permanências das interpreta-
ções acerca do Golpe Militar utilizadas pelas narrativas dos livros didáticos. Os livros são analisados a partir dos
conceitos de 'representação" e 'evento". Tendo em vista que os eventos ganham sentido pelo que se tornam, procura-
mos apreender as metamorfoses do Golpe de 1964 na memória através da história escrita por autores de livros didá-
ticos. Pretendemos, assim, compreender e explicar como esses impressos de ampla circulação buscaram 'origens"
com fins de realizar didaticamente um trabalho de luto sobre o 'evento traumático" no tempo presente do próprio
evento. Trata-se, em última instância, de refletir sobre as possibilidades e limites da escrita da história do tempo
presente do evento em obras didáticas de história.

Adair José dos Santos Rocha - UFMG


Educação Feminina no Recolhimento Nossa Senhora de Macaúbas no século XIX em Minas Gerais
O objetivo deste estudo, ainda em andamento, é investigar as possíveís relações entre a educação feminina do Reco-
lhimento Nossa Senhora de Macaúbas e o surgimento das primeiras professoras do magistério mineiro no século XIX,
a fim de compreender a relevância da educação feminina deste Recolhimento para a feminização do Magistério primá-
rio em Minas Gerais. As primeiras professoras estão na base deste processo. Este fenômeno consolidou-se na passa-
gem do século XIX para o século XX. O Recolhimento Macaúbas, por outro lado, é uma das primeiras instituições que
educava mulheres em Minas Gerais no fim do século XVIII para o XIX. O recorte de tempo vai de 1846-1880, período
marcado pelo investimento de Dom Viçoso na educação como reação ao iluminismo e caracterizado pela inscrição da
instituição no cenário educacional. As fontes são o Livro de Matrículas do Convento de Macaúbas e a documentação
referente à Instrução Pública do Arquivo Público Mineiro da Seção Colonial. Após a elaboração de uma lista com os
nomes de todas as recolhidas que saíram de Macaúbas entre 1846-1880, cruzarei esses nomes com nomes das
professoras da época encontrados no Arquivo Público Mineiro, buscando encontrar alguma professora que tenha sido
ex-recolhida em Macaúbas.

Luiz Carlos Bento - UEG


Educação em litígio: Gustavo Capanema, Conciliação e Reforma nos anos 30
Este trabalho analisa as disputas ideológícas entorno das questões educacionais na era Vargas. O trabalho visa situar
num primeiro momento o processo de institucionalização do poder, ocorrido no país a partir da crise do liberalismo no
final do século XIX, com o intuito de compreender a ação dos intelectuaís neste processo.
A educação é utilizada como uma categoria de analise para se pensar este período, pois através dela analisamos a
atuação destacada de Gustavo Capanema na gestão dos conflitos ideológicos, travados entre os educadores e inte-
lectuais liberais, vinculados ao movimento da Escola Nova e os representantes do movimento católico, relacionados
ao Centro Dom Vital e a revista A Ordem. A atuação modernizadora de Capanema nos projetos culturais é confrontada
com a sua atuação conservadora na educação. Em linhas gerais, esta comunicação pretende analisar o período a
partir das categorias 'conciliação" e 'reforma" que acreditamos serem representativas deste contexto.

I 19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h às 16h30min) I


Blasius Silva no Debald - UNIAMÉRICA
O estágio supervisionado e a formação de professores de História
O estudo é o resultado do acompanhamento dos acadêmicos de História, nos últimos dois semestres do curso, entre
os anos de 2004 e 2006. Neste período, 93 acadêmícos passaram pela experiência do exercício da docêncía no
Ensino Fundamental - Séries Finais e Ensino Médio. O relato das experiências destes acadêmicos faz parte desta
pesquisa. Os dados foram coletados através de entrevistas com questões temáticas que consideravam a realidade do
campo de estágio. A finalidade do estudo é acompanhar o acadêmico no campo de estágio e verificar a forma como ·ê
relaciona, na prática docente, teoria e a prática. Identificou-se como a principal lacuna, a falta de uma formação mais ~
consistente na prática, motivando o repensar das dísciplinas de Oficina Prática de História. Em contrapartida, o aspec- ~
to positivo foi a formação teórica, reforçando a idéia da contextualização e problematização histórica. As entrevistas ~
revelaram que o curso de História não aborda questões relacionadas ao planejamento da carreira docente, faltando .~
aprofundar questões relativas de como trabalhar o limite em sala de aula, bem como as medidas sócio-educativas. é.5

243
Odaleia Alves da Costa - UFP
O livro didático na memória das professoras
Esse estudo tem como marco teórico a história cultural. Adotou-se como referencial de análise os estudos de Thomp-
son (2002); Chervel (1990); Juliá (2002); Bittencourt (1993) e Chartier (1990). A pesquisa trabalha com memórias de
professoras primárias em relação ao uso do livro didático. As professoras, sujeitos da pesquisa, foram escolhidas
considerando que a produção de livros didáticos visa como mercado o lócus de trabalho das professoras e, além disso,
elas mediatizam a relação dos alunos com os livros didáticos. Entrevistou-se quatro professoras de Estudos Sociais do
Maranhão que lecionaram no mínimo 10 anos essa disciplina. Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas, que
continham questões sobre planejamento, aulas, exercícios, avaliações e o uso dos livros didáticos. Dentre as conclu-
sões desse estudo, verificou-se que as professoras usavam os livros didáticos como material principal de apoio peda-
gógico, quer seja em seus momentos de planejamento, ou na execução das aulas. Foram elencados cinco livros
didáticos, revelando que os discursos dos docentes em torno da ausência de livros didáticos para essa disciplina não
diz respeito á quantidade dos mesmos, mas a relação dos livros didáticos com o ideal de livro e com o que desejariam
trabalhar as professoras na disciplina.

Rubia-Mar Nunes Pinto - UFG/UFF


Construir a Cidade, erguer a Escola, fazer a Nação: modernidade e nacionalismo no coração do Brasil (19371
1945)
O trabalho propõe abordar a história a educação primária em Goiânia no momento de seu surgimento como Cidade-
Capital de um estado pobre e periférico que tentava fo~ar para si mesmo uma identidade afirmativa que o tornasse
reconhecido e respeitado entre as unidades federativas da Republica. Goiás tentava ser Nação. Urbanização e esco-
larização se apresentaram, além de icones da Modernidade, como estratégias de inclusão e integração do regional ao
nacional. Na construção da 'vida espiritual' para Goiânia ganharam especial destaque as escolas e os esportes.
Temos assim, o lugar e o tempo: Goiânia, Goiás, 1937 a 1945. Aexperiência na história: o sertão de Goiás, no coração
geográfico do Brasil, se constituindo na periferia da Nação. Um objeto: os grupos escolares de Goiânia. Qual o seu
papel na civilização do sertão, como participaram da construção de identidades afirmativas para Goiás, como a Cidade
se inscreveu na escola e como a escola se apropriou a Cidade, são questões pontuais. Ganham realce, de qualquer
maneira, as relações entre o escolar e o urbano, entre a escola e a cidade. A microistória apresenta-se como perspec-
tiva que pode contribuir para a compreensão de "uma dialética da colonização' na historia da educação brasileira.

Matheus da Cruz e Zica - UFMG


A produção jornalística e literária de Bernardo Guimarães: educação e formação da nação no século XIX
Dentre as várias práticas culturais, uma, em especial, será tomada como base para entendermos o diálogo entre elas
no século XIX: a literatura. Mais especificamente, trabalharei com a Obra de Bernardo Guimarães entendendo-a como
uma prática cultural que tanto representou outras práticas como constituiu o contexto em que foi produzida. A idéia é
mapear as discussões em torno de temas que tocam as relações entre liberalismo e escravidão, discursos civilizatórios
e ilustrados, campo e cidade, civilização e barbárie, ciência e religião, escolarização e seus desdobramentos, infâncias
e adultez, gêneros masculino e feminino, na produção literária e jornalistica do autor. Num segundo momento, quere-
mos perceber como a circulação destes assuntos fazia parte de um processo de formação do leitor. Ressalto que
analisar a produção literária deste autor será impossível sem que se analise, também, os artigos do jornal e alguns dos
prefácios de seus romances. Com este procedimento, viso contribuir para um alargamento do uso da literatura como
fonte para a História da Educação, bem como para uma melhor compreensão de como a educação se dava por outras
vias no século XIX, que não pela escola.

I 20107 - Sexta-feira - Manhã (10h30min às 12h30min)

Isabel Cristina Arendt - UNISINOS


Escola alemã-brasileira e evangélico-Iuterana: imagens e representações construídas a partir de um jornal
A partir de uma perspectiva teórico-metodológica vinculada à história cultural e à história da educação, proponho
apresentar uma análise de um periódico editado por uma Associação de Professores Alemães Evangélicos no Rio
Grande do Sul, publicado mensalmente entre 1902 e 1938. Verifiquei que seus redatores e articulistas, predominante-
mente professores e pastores atuantes na escola evangélico-Iuterana no Estado, especialmente alocados em meio
urbano, constroem representações sobre escola 'alemã-brasileira' e seus professores, buscando torná-Ia instrumento
do germanismo, valendo-se da imprensa. Valem-se de um gerenciamento da identidade de seus leitores impondo-lhes
a germanidade e uma identidade especifica de escola e professor. Na década de 1930, utilizam estratégias de negoci-
ação, com o objetivo de manter o projeto de escola privada 'alemã' e 'evangélica', baseada no fomento da germanida-
de e na formação da cidadania brasileira. O objetivo específico é abordar como, nestes quase quarenta anos de
circulação, seus redatores e articulistas constroem e enfatizam imagens e representações em torno do que deveria ser

244
a escola 'alemã-brasileira e evangélico-Iuterana', mediante a análise de artigos e relatórios das Assembléias desta
Associação publicados em seu Jornal.

Cássia Daiane Macedo da Silveira - UFRGS


Professores e revistas literárias em Porto Alegre no século XIX
Esta apresentação é parte de uma pesquisa maior a respeito da Sociedade Parthenon Utterario, associação cultural
fundada em Porto Alegre na segunda metade do século XIX. Por ela passaram, escrevendo romances, poesias e
peças teatrais, muitos dos letrados rio-grandenses mais importantes da época, vários deles professores de escolas
primárias e secundárias. Em aparente contradição com isso, recentes pesquisas historiográficas chegaram à conclu-
são de que era muito comum, no período em questão, a existência, nessas escolas, dos chamados 'mestres ignoran-
tes': professores que não apresentavam o nível cultural exigido pelos padrões da época para ser considerado um
mestre competente. Meu objetivo, com essa apresentação, é tentar compreender, de forma ainda preliminar, a partici-
pação de tantos desses professores primários e secundários em periódicos literários da época, fenômeno que obser-
vei ser muito comum.

Rosilene Dias Montenegro - UFCG


A Poli: história e memória de uma construção identitária
O presente trabalho é um dos resultados do projeto Organização e preservação da memória da ciência e tecnologia em
Campina Grande (1952-2002). Nosso objetivo é levantar algumas questões que permitem interrogar o processo de
produção social da identidade local e sua contribuição para as configurações identitárias regionais. O recorte escolhido
é o imaginário político que motivou ações que na década de 50 do século passado contribuíram para a implantação do
ensino superior na cidade de Campina Grande, com a criação da Escola Politécnica da Paraíba. Para esta análise
recorremos aos poucos trabalhos produzidos sobre a Escola Politécnica, aos jornais de época, e a registros orais de
alguns dos fundadores dessa Instituição, bem como ex-alunos, professores e funcionários testemunhas dessa história.

lisiane Sias Manke - UFPel


História oral e Memória: os caminhos de uma pesquisa em História da Educação
O trabalho proposto corresponde à investigação realizada em minha pesquisa de mestrado, recentemente concluída.
De forma geral, a pesquisa teve como objetivo investigar e analisar a história de vida profissional de professoras
primárias leigas (sem formação pedagógica), buscando entender como estas profissionais tomaram-se professoras e
de que forma realizaram a prática pedagógica sem formação específica para o desempenho da profissão. O estudo
teve por essência o uso da história oral, de forma a buscar uma aproximação com a memória de treze professoras
leigas, assim, a memória foi revisitada e colocada em destaque por ser a principal fonte de investigação. Observou-se
que as histórias de vida das professoras foram narradas conforme suas trajetórias pessoais. Em alguns casos, as
lembranças brotavam a partir de recordações da vida profissional, em outros, a trajetória pessoal (de mulher, mãe,
filha) é que definiu a trajetória profissional. Por outro lado, a memória por ser fortemente envolvida a acontecimentos
sociais busca nestes as recordações pessoais. Através das lembranças individuais relacionadas com o contexto soci-
al, se estabelece a (re)construção da história de determinado grupo social que, neste caso, é representado pela
história de vida de professoras primárias leigas.

I 20107 - Sexta-feira - Tarde (14h às 18h) I


Janaína Dias Cunha - UNISINOS
Cooperação Técnica Brasil-Estados Unidos na Reforma Universitária de 1968
A politica educacional adotada pela ditadura civil-militar a partir de 1964 significou uma mudança em relação à platafor-
ma do governo anterior. Os projetos de reforma universitária foram adaptados conforme os objetivos e a ideologia do
govemo autoritário. A postura internacional alinhada aos Estados Unidos proporcionou a assinatura de convênios de
cooperação técnica entre o Ministério da Educação e Cultura (MEC) e a United States Agency for International Develo-
pment (USAID). Tais acordos possibilitaram, além de empréstimos e financiamentos, intercâmbios entre professores e co
alunos dos dois paises, e o estabelecimento de uma equipe de especialistas brasileiros e norte-americanos que con- ~~
tribuiu para a implementação da Reforma Universitária de 1968. A proposta deste trabalho é discutir os resultados ::c
destes acordos bilaterais, firmados entre Brasil e Estados Unidos entre os anos 1964 e 1968. .{g
o
c:
Fatima Bitencourt David - CEPEMHEdl Duque de Caxiasl RJ e UNIGRANRIO ]
Vozes da Educação: práticas, aHernativas e disputas politicas em Duque de Caxias (1997-2002) .g
Pretende-se inserir no debate educacional a memória da luta das trabalhadoras docentes da rede pública municipal e co
das professoras militantes sindicais que atuam em Duque de Caxias se contrapondo à implementação da política ~s
oficial de ensino, buscando assim, compreender como essas experiências pedagógicas e sindicais têm contribuído ~

245
para a formação de uma nova cultura política. Isto significa analisar as propostas, alternativas e disputas políticas, na
cidade, no campo educacional, no período de 1997-2002. Para tanto lançamos mão do acervo documental produzido
pela Secretaria Municipal de Educação, Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação/ Núcleo Duque de Caxias e
Escola IMunicipal Barro Branco, além dos testemunhos orais das professoras e militantes sindicais. Assim, este estudo
pode contribuir não só para ampliar o conhecimento sobre as políticas públicas implementadas na Baixada Fluminen-
se como também enriquecer a discussão sobre a importância de se considerar a experiência docente na formulação de
reformas educacionais que se pretendem inovadoras.

Maria Aparecida Figueiredo Cohn - UFJF


A Instrução pública para trabalhadores: o Grupo Escolar Estevam de Oliveira de Juiz de Fora-MG
O presente trabalho origina-se de uma pesquisa em desenvolvimento no Curso de Mestrado do PPGE da UFJF, JF -
MG, sob a orientação da Prof. Dr". Dalva Carolina de M.Yazbeck, tendo como objeto de estudo a história de uma
instituição escolar: o Grupo EscolarEstevam de Oliveira de Juiz de Fora - MG. O recorte temporal de 1926 a 1971
refere-se desde a sua criação até a sua extinção como grupo escolar. O objetivo é o de compreender os aspectos
ligados à organização e funcionamento da escola noturna: o ordenamento normativo, a representação de escola
noturna nos documentos, bem como os espaços, tempos, currículos, e o conhecimento dos sujeitos que freqüentaram
e produziram a primeira escola destinada aos trabalhadores. Recorremos às formulações teórico-metodológicas da
História Cultural cujos referenciais têm possibilitado o estudo e a compreensão de novos objetos da historiografia da
educação permitido um novo olhar sobre as instituiçõesescolares.Portanto, este trabalho se mostra relevante ao real-
çar alguns aspectos da história da população, do aluno/trabalhador e da cidade de Juiz de Fora e o meu desejo de
contribuir para o debate atual sobre o ensino público no Brasil.

Vanderlei Machado - Colégio de Aplicação - UFSC


As representações de corpo e gênero na escola pública primária catarinense (1920-1950)
Entre as décadas de 1920 e 1950, as escolas primàrias catarinenses adotaram um conjunto de livros de leitura deno-
minados de Série Fontes. Elaborados por Henrique da Silva Fontes, em 1920, os livros são compostos por textos de
escritores e escritoras que tiveram entre suas preocupações a questão da educação, na Primeira República. Ao longo
dos anos em que foram adotados nas ecolas publicas do Estado de Santa Catarina, os livros da Série Fontes fizeram
circular uma série de representações de corpo e gênero que deveriam instruir os comportamentos masculinos e femi-
ninos. Naquele material didático, os meninos aprendiam desde cedo a como se comportar no espaço público enquanto
que as meninas eram preparadas para a 'doçura do lar'.

31. História do Esporte e das Práticas Corporais


Luiz Carlos Ribeiro (UFPR) e Victor Andrade de Melo (UFRJ)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h às 18h) I
Mareei Diego Tonini - UNESP - Campus Araraquara
Ferrovia e Futebol: o caso da Companhia Paulista de Estradas de Ferro na cidade de Rio Claro, 1870-1930
O propósito desta pesquisa. em linhas gerais, é traçar a relação entre a ferrovia paulista, à medida que seus trilhos foram
sendo assentados rumo ao interior do estado, e a disseminação e posterior desenvolvimento do futebol. A pesquisa vai
privilegiar o caso da Companhia Paulista de Estradas de Ferro e o seu papel para a difusão do futebol na região de Rio
Claro entre as décadas de 1870 e 1920, abrangendo desde a chegada dos trilhos da Cia. Paulista á cidade, em 1876, até
a popularizaçâo do esporte no Estado de São Paulo, nas décadas de 1910 e 1920. Ao longo desse período, a ferrovia,
díreta ou indíretamente, possibilitou a consolidação da ocupação da cidade e o seu desenvolvimento econômico e urbano.
Este processo intensificou-se, em 1892, com a instalação das oficinas da Cia. Paulista na cidade, que garantiu a concen-
tração de muitos ferroviários em Rio Claro. OGrêmio Recreativo, agremiação dos funcionários da ferrovia, e os primeiros
clubes de futebol da cidade são fundados exatamente na passagem do século XIX para o XX. Sabendo, assim, que foi um
período de grande efervescência cultural e social para o municipio, esta pesquisa pretende analisar três relações: primeiro
entre ferrovia e futebol, depois entre Cia. Paulista e ferroviários e, por fim, entre estes e a cidade.

Euclides de Freitas Couto - Centro Universitário UNA


Conflito e integração social: paradoxos do futebol em Belo Horizonte (1908-1927)
O presente trabalho discute o futebol em Belo Horizonte no período de 1908 a 1927, buscando compreender como
esse esporte contribuiu para a integração social de grupos rivais presentes na elite local. Parte-se da abordagem
teórica proposta por Simmel que considera que os esportes competitivos, ao criar o espírito de rivalidade entre os

246
grupos sociais, contribuem decisivamente para a integração social desses grupos, No periodo analisado, o acirramen- ~31
to das disputas entre os dois principais times da cidade, o Atlético e o América, se tornou o elemento central da ~
convivência social na cidade, sendo reproduzido em várias esferas da vida cotidiana, O recorte temporal em questão
privilegia o momento de desenvolvimento do futebol na cidade como esporte e atividade de lazer, Propõe-se uma
análise multidisciplinar de modo a compreender como essa nova prática esportiva propiCiOU a construção de identida-
des coletivas entre os sportmen, os torcedores, dirigentes e demais atores que se envolveram com o futebol naquele -ê
período, Como fonte de pesquisa foram utilizados jornais e revistas que circulavam na cidade no período analisado, ~
Porém, devido á escassez desses materiais, recorreu-se também á utilização do recurso da história oral como metodo- 8
logia complementar de pesquisa, '"
co
'-'

Andre Mendes Capraro - UnicenP '"""


o:
-co

Um Período de Transição: o futebol na literatura nacional das décadas de 1920/30 ~


Após a Semana de Arte Moderna em 1922, o campo literário brasileiro teve uma abrupta mudança, A idéia de que a ~
identidade nacional poderia ser pautada em um plágio notório dos hábitos e costumes de origem européia, passa a -ê
receber uma embasada critica do Modernismo que, através da idéia/metáfora do "antropofagismo intelectual', passa a ~
ser o modelo intelectual norteador das artes brasileiras, principalmente da literatura, Logicamente, tal movimento .fl
artístico/intelectual não ficou restrito ao seu próprío campo, difundindo suas bases para vários outros segmentos da ~
cultura brasileira, Tratava-se, portanto, não apenas de uma reles mudança, mas de uma quebra de paradigmas que -ê
estava emergindo da capital paulista. Entretanto se na literatura os paulistas passavam a ser a principal referência ~
l

nacional, em se tratando do futebol o crescimento era vertiginoso e distribuido por todo o Brasil, consolidando o :::r:
esporte, como o mais popular no pais, Neste sentido, esta corrente literária concebia o esporte como outro elemento
europeu que poderia ser "deglutido' e incorporado à cultura nacional. Assim, o esporte acabou servindo de reforço para
a tese desenvolvida pelos intelectuais paulistas,

André Alexandre Guimarães Couto· CEFET/RJ


História da Imprensa Esportiva Brasileira: Estudo sobre o Jornal dos Sports na década de 1930
O presente trabalho tem a pretensão de estudar e analisar uma parte da história da imprensa brasileira, Para tanto, a
pesquisa se deteve numa área temática da imprensa pouco estudada ou menos procurada pelos historiadores e
cientistas sociais: a esportiva, Se levarmos em conta que a prática de esportes só se popularizou a partir da década de
1930, inclusive com apoio e incentivo de órgãos governamentais do primeiro período Vargas (1930-1945), podemos
compreender as razões por uma maior demanda de leitores curiosos e ávidos por informações, Não devemos esque-
cer a influência do avanço industrial capitalista no Brasil, neste período, e que possibilitou investimentos comerciais na
imprensa brasileira, tentando alcançar novos nichos como, por exemplo, a cobertura de eventos culturais e esportivos,
Desta forma, elegi o Jornal dos Sports, fundado no Rio de Janeiro, no início da década de 1930, como um periódico
exemplar das novas preocupações e representações das idéias e mentalidades de parte da população carioca e
fluminense, Por fim, mas não menos importante, pretendo debater sobre o profisSional de imprensa esportiva que,
invariavelmente, era oriundo da cobertura política e policial e trazia consigo os hábitos e linguagens destes meios,

Rodrigo Márcio Souza Pinto


A formação dos times de futebol proletário e as intervenções das elites
O texto apresentado faz parte do segundo capítulo da dissertação de mestrado em história social do trabalho pela
Universidade Federal do Ceará. Uma análise dos clubes de futebol dos trabalhadores durante a formação do futebol
local em Fortaleza, Um esporte que durante as primeiras décadas do século XX esteve em processo de popularização.
Essa popularização favoreceu a solidificação dos times proletários organizados durante a década de 1930. Observa-
mos como esses times que representavam empresas foram subsidiados por elas e viviam num processo ambíguo
construido dentro do Estado Varguista. A agremiação e a associação da classe operária em torno dos times perpassa
as linhas interpessoais dos trabalhadores e é aceito a participação de sujeitos advindos de outros setores sociais.
Nosso exemplo é o senhor Valdemar Caracas e sua relação com o Ferroviário Atlético Clube, Ele, o senhor Caracas,
era um escriturário da Rede de Viação Cearense(RVC), pertencente a uma família elitista da cidade, teve pleno acesso
e foi bem visto ao. inscrever oficialmente o time dos trabalhadores da estrada de ferro, na Associação Desportiva
Cearense (ADC). E essa relação de ambigüidade entre a elite e os trabalhadores, formando o futebol da década de
1930 em Fortaleza, que esse trabalho da conta.

Arlei Sander Damo· UFRGS


Artistas primitivos: os brasileiros na Copa de 38 segundo os jornais franceses
Este trabalho é resultado de uma pesquisa realizada junto aos periódicos parisienses acerca da participação dos
brasileiros na Copa de 1938, Realizada na França, no ano anterior à eclosão da lia Guerra, este evento teve acentuado
teor nacionalista, O selecionado brasileiro, único representante da América do Sul, despertou o interesse dos jornalis-
tas e do público desde sua chegada, a um mês do inicio da competição. A performance dos futebolistas, eliminados

247
nas semi-finais, conquistou o apreço do público e muitos comentários não apenas sobre o desempenho dos atletas,
mas também acerca da índole e do caráter dos brasileiros em geral. Como a Copa de 38 está na gênese da idéia de
que temos um estilo de jogo próprio - o "estilo brasileiro" ou o "futebol-arte" - é importante recuperar o modo como os
"outros" nos viram, matizando tais.impressões com as crônicas publicadas nos jornais brasileiros da época, cuja bibli-
ografia a respeito é relativamente extensa. Ver-se-á que o predicado de "arte/artistico", atribuido ao estilo brasileiro, é
permeado de ambivalências, por vezes tido como sinônimo de atraso em relação à forma de jogar e, por extensão, de
pensar, dos europeus.

João Fernando Pelho Ferreira - UFMS - Campus de Aquidauana


A construção do estadio Municipal do pacaembú - um ato politico
O presente trabalho busca compreender a construção do Estádio Municipal do Pacaembú, iniciada em 1936 e finaliza-
da em 1940, período correspondente ao Estado Novo. Pretende-se a partir disso, apontar os anseíos governamentais
referentes aos esportes e ao futebol em particular. Dessa forma, podemos constatar que o poder público paulista
estava interessado em interferir nos esportes na intenção de uma normatização. Assim, o trabalho se preocupa em
analisar tal obra sob uma perspectiva da história política, mostrando uma intervenção do poder público nos esportes no
sentido de disciplinar o corpo do "novo homem", projeto muito discutido pelo ideólogos estadonovista. Na época tal
construção representou um dos maiores empreendimentos do estado novo, já que a capacidade do poliesportivo era
de 80 mil espectadores. Nesse sentido, o poder público paulista tinha a intenção de aglutinação da população, ou seja,
de transformar o índivíduo em coletivo.

I 17/07 -Terça-feira - Tarde (14h às 18h)


Celso Luiz Moletta Junior e José Carlos Mosko - UFPR
Considerações sobre a sociedade no Prado Guabirotuba
O presente artigo tem como finalidade contextualizar algumas notas sobre a tendência elitista no turfe paranaense.
Analisando alguns acontecimentos bastante diversos sobre acontecimentos no Prado Guabirotuba, demonstra-se como
o turfe estava associado à classe burguesa-aristocrática, principalmente no processo de separação das classes.

Cleber Augusto Gonçalves Dias - URFJ


História comparada dos esportes de aventura: o montanhismo e o surfe no Rio de Janeiro
O objetivo deste trabalho é apresentar alguns dados referentes ao procedimento de comparação entre o desenvolvi-
mento histórico do surfe e do montanhismo no Rio de Janeiro. Trata-se de um procedimento inserido no âmbito de um
projeto maior desenvolvido atualmente como dissertação de mestrado no Programa de Pós-Graduação em História
Comparada da UFRJ. Esse trabalho diz respeito a uma confrontação entre o modo como a malha urbana da cidade do
Rio de Janeiro se re-configurou ao longo dos anos 60 e 70, em contraste com o aparecimento de novos símbolos de
consumo da cultura esportiva, onde a noção de esportes de aventura se apresenta, de fato, como uma das inovações
mais originais da época. Ainda nesse sentido, importa destacar que o surfe e o montanhismo, além do vôo livre, foram
as duas modalidades mais representativas dessas dinâmicas. Articulados com outros processos macrosociais - onde
podemos destacar, a título de exemplo, as próprias intervenções do poder público sobre o território da cidade - a
massificação do hábito de se praticar esportes em contato com a natureza (uma das principais peculiaridades desse
tipo de esporte) consolida determinados estilos de vida, que tem no contato com a natureza e na 'estética da ação'
seus principais traços definidores.

Victor Andrade de Melo - UFRJ


A presença do esporte no cinema da América do Sul: apontamentos para uma análise comparada
Em estudos anteriores, procurei demonstrar as fortes relações entre esporte e cinema no decorrer da história, notada-
mente suas articulações no âmbito da constituição do ideário da modernidade, bem como as potencialidades do uso
de filmes enquanto fontes, que podem permitir ampliar nossos olhares acerca da presença social das mais diversas
práticas corporais (esporte, educação fisica, dança, capoeira, entre outros). Inicialmente, abordei mais profundamente
tais relações no cenário brasileiro. Está investigação objetiva discutir a presença do esporte na cinematografia da
América do Sul, com especial interesse pela Argentina. O intuito é coletar elementos para a construção de um estudo
comparado, de maneira a testar as hipóteses do caso brasileiro, vislumbrando identificar se é possível pensar em
linhas gerais de constituição de uma possível cultura latino-americana desde o caso dos encontros entre esporte e
cinema. Para alcance do objetivo, analisou-se a cinematografia de 8 países (Argentina, Uruguai, Paraguai, Equador,
Colômbia, Venezuela, Peru e Chile), identificando-se em quais películas o esporte esteve presente. Posteriormente,
analisamos os sentidos e significados dessa presença no contexto de cada país. Por fim, pretende-se realizar a com-
paração com o caso brasileiro.

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Isabela Maria Azevedo Gama Buarque - UFRJ r:;:;'\
A Dança Contemporânea no contexto da História da Arte: uma análise comparada
Esse projeto de pesquisa visa o debate comparativo e crítico da história da dança contemporânea, partindo de análises
®
da historiografia do campo e pensando a formulação histórica, especificamente da dança contemporânea no Brasil,
apontando caminhos e descaminhos para um diálogo mais profundo sobre a construção desse estilo de dança, levan-
tando questões que possam mediar novos pensamentos acerca da dança que se constrói nos tempos atuais. Os livros '§
de História da Dança se parecem mais com catálogos que mostram datas e fatos. Essa dificuldade de encontrar :5..
bibliografias realmente especializadas na História da Dança acarreta algumas problemáticas que contribuem para que 8
o campo fique carente de sua própria história e, assim, poucos estudos são elaborados, poucas bibliografias encontra- ~
das, poucas comparações sendo traçadas, pouco avança o campo nas discussões teóricas cientificas. A proposta de .~
uma critica á historiografia da dança e de uma aproximação com a história da arte é fundamental, pois entende-se que ~
em função do atual estágio do campo da dança, sejam fundamentais trabalhos de investigação da linguagem para ~
ampliar as formas de se fazer/pensar a dança. ~
QJ
t::
Felipe Eduardo Ferreira Marta - Uesb/Puc ·SP :5..
Artes Marciais e Ditadura no Brasil: histórias que se cruzam? Incursões pelas páginas de "O Judoka" .r3
'O Judoka' foi uma revista em quadrinhos mensal publicada a partir de abril de 1969, pela Editora Brasil-América LTOA .g
(EBAL). Em seu sétimo número 'O Judoka' passa a ser escrito e desenhado no Brasil. Nesse momento há uma .S!
mudança no argumento das histórias, a roupa do herói passa conter as cores e a forma da bandeira nacional e o herói ~
deixa de ser representado por um soldado para se tornar um jovem estudante. Mas, qual o sentido de se desenhar um :x:
herói com as cores da bandeira do Brasil e ao mesmo tempo exaltar a prática das artes marciais nesse período? Um
possível caminho para respondermos a essa questão surge da suspeita de que a EBAL era muito próxima ao governo
militar dada propaganda encontrada nos exemplares de '0 Judoka' consultados. Aparentemente inocente para os
mais desavisados, a relação entre ditadura militar brasileira eArtes Marciais orientais está longe ser fruto de um acaso
insólito. Mais do isso reacende a discussão iniciada por nós no mestrado onde trouxemos á tona a papel de destaque
que essa relação exerceu no estabelecimento da colônia coreana na cidade de São Paulo e na difusão do Taekwondo.
Seria o binômio Regime Militar/Arte Marcial oriental uma possibilidade de explicação para o desenvolvimento além do
Taekwondo de outras Artes Marciais no Brasil?

Kimon Speciale B. Ferreira - UFRJ


"Os Jogos Olímpicos de 1936 (Berlim) e a busca da perfeição atlética"
Os Jogos Olímpicos de 1936 foram realizados em Berlim, já durante o período de governo do Partido Nazista Alemão.
Conhecidos como' Jogos de Hitler', argumenta-se que foram planejados para servir como demonstração do poderio do
novo sistema, algo que seria exibido tanto na grandiosidade da realização quanto na superioridade física e atlética dos
atletas alemães. Nesta comunicação buscamos refletir sobre essa realização tendo como foco central de discussão a
questão da perfeição atlética, buscando o conjunto de referências de pensamento que embasaram tal proposíção.

Vivian Luiz Fonseca - Fundação Getúlio Vargas


Capoeira sou eu: disputas de memória em depoimentos de mestres de capoeira do século XX
Este trabalho busca analisar as disputas de memória existentes no interior da capoeira entre os mais diversos grupos,
percebendo como as tradições são passadas nessa prática e quais os mecanismos utílizados para a manutenção e a
criação de determinadas tradições em momentos históricos especificos. Tomando como recorte privilegiado os estu-
dos do tempo presente, seu objetivo é saber como essa memória vem, em meio a conflitos, sendo construída e
reconstruída a partir dos anos 1930 (quando são formadas suas duas principais linhas: Angola e Regional), e como os
mestres enxergam a capoeira que praticam buscando relacioná-Ia, ou negar a relação, com uma dessas duas corren-
tes principais. E importante perceber que, ao buscarem e serem identificados como detentores da verdadeira tradição,
os mestres acabam por ser reconhecidos não só no grupo ao qual fazem parte e organizam enquanto lideres, mas
também em outras esferas sociais. Sendo assim, analisarei como, de anônimos pertencentes às classes menos favo-
recidas, como é o caso da maioria dos mestres atuais, passam a ilustres personalidades devido ás suas trajetórias na
capoeira, muitas vezes sendo reconhecidos em inúmeras cidades brasileiras como em outros países, circulando por
espaços que de outra maneira, possivelmente, não o fariam.

I 18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h ás 18h) I


Mauricio da Silva Drumond Costa - UFRJ
Identidades em Campo: Esporte, Política e Comunicação Massiva no Nacional-Estatismo de Vargas e Perón -
um Estudo Comparado
O presente trabalho tem por objetivo traçar uma análise comparada da utilização politica do esporte nos governos
nacionais-estatistas de Getulio Vargas, no Brasil, e Juan Domingo Perón, na Argentina. Trabalho com a hipótese de

249
que o futebol, entre outros, seria utilizado como um meio de consolidação de identidades nacionais, através da repre-
sentação do esporte e da nação - ou mesmo de seu lider. Assim, busco compreender de que forma os atos oficiais
destes governos na produção de espetáculos esportivos teriam sido utilizados como propaganda política, através da
mediação dos meios de comunicação massiva, e em especial da imprensa. Para tanto, procuro estabelecer uma
relação entre esporte, tendo no futebol seu principal simbolo, e cultura politica nos governos de Vargas e Perón,
comparando manifestações publicas - eventos esportivos, festas, comemorações civicas, discursos - e produções
culturais do Estado, envolvendo o esporte e a ideologia oficial do regime. Espera-se que este trabalho possa trazer
contribuições significativas para o debate sobre a formação de identidades através do esporte, assim como sobre o
processo de formação de identidades nacionais na América Latina, mais especificamente no Brasil e na Argentina.

Gerson Wasen Fraga - UFRGS/FURG


A "Questão Barbosa": futebol, nacionalismo e derrota na Copa do Mundo de 1950 através da imprensa escrita
brasileira
A realização da Copa do Mundo de futebol de 1950 no Brasil deveria assinalar um momento fundamental na afirmação
de nossa nacionalidade. Com efeito, tal evento deveria mostrar ao mundo - em especial através dos jornalistas que
aqui vieram para cobrir o certame - nossa condição de nação civilizada e desenvolvida, o que seria atingido não
somente pela perfeita organização do torneio, mas principalmente pela conquista do título máximo ao final do mesmo.
No entanto, a derrota frente ao Uruguai na partida derradeira acabou por gerar entre nós um efeito contrário, reforçan-
do antigos preconceitos que destacavam a complexidade de nossa formação racial, uma pretensa falta de fibra nos
momentos decisivos, ou mesmo uma incapacidade congênita para atingir grandes realizações. Um importante agente
na divulgação de tais idéias - anteriores e posteriores á derrota - foi a grande imprensa escrita, que, através de suas
páginas, atribuía ao Campeonato Mundial um valor que ultrapassava o meramente esportivo. Os artigos produzidos,
especialmente a partir da derrota, vão além de relatos sobre um simples campeonato de futebol, difundindo perspecti-
vas existentes á época (e em certa medida ainda vigentes) sobre nossa própria nacionalidade a partir do texto espor-
tivo. (Bolsista CNPq)

Alvaro Vicente Graça Truppel Pereira do Cabo - MUNICípIO-RJ e ESTADO-RJ


O olhar da Imprensa na Copa do Mundo de futebol de 1950: Brasil x Uruguai, uma análise comparada do
discurso jornalístico durante o torneio
O trabalho proposto trata-se de uma análise comparativa do discurso da imprensa esportiva brasileira x uruguaia
durante a realização da Copa do Mundo de 1950 sediada no Brasil. Isto posto, com auxílio da metodologia da História
Comparada serão demonstradas as diferenças e semelhanças entre a visões estabelecidas por determinados órgãos
de imprensa no Brasil e no Uruguai, sobretudo no que diz respeito a expectativa e ao resultado do jogo final do torneio
que reuniu os dois países. Neste sentido, está sendo utilizado um material coletado na Biblioteca Nacional de Monte-
vidéu referente a jornais como EI País, EI Plata, Mundo Uruguayo, dentre outros que serão contrapostos a periódicos
nacionais como o Jornal dos Sports, dirigido por Mario Filho e o Globo.
Assim sendo, o principal objetivo da presente comunicação é obsevar as matérias referentes aos jogos do torneio em
ambos países, buscando compreender também o discurso nacionalista e as expectativas estabelecidas que encon-
tram-se além das meras informações futebolísticas. A trágica derrota para o futebol brasileiro na partida final criou
mitos e estabeleceu verdades questionáveis no imaginário coletivo nacional, mas é importante dialogar com o outro e
tentar entender sua visão sobre os fatos e a vitória.

Cristina Ferreira - Furb


Os trabalhadores e os territórios do futebol em Blumenau-SC (1950-1970)
A pesquisa visa discutir a vida dos trabalhadores em Blumenau-SC, sobretudo no que se refere á sua atuação nos
clubes de futebol, espaços em que foram ativos no processo associativo. A problemática refere-se á análise da Cultura
Associativa como um conjunto de propostas e práticas culturais dos trabalhadores, para desvendar conflitos e valores
compartilhados em suas vidas no âmbito do associativismo desportivo. A abordagem teórica visa investigar a constan-
te interação e correlação de forças entre elementos de ligação e discórdia, semelhança e diferença suscitados pela
cultura associativa. A metodologia de pesquisa envolve análise documental; revisão bibliográfica e história oral. Os
estudos confirmam que o lazer dos operários está condicionado ao modelo ideológico incentivado pelas elites industri-
ais; mas, por outro lado, os trabalhadores buscaram rotas alternativas para suas práticas culturais. Práticas que se
tornaram rituais capazes de expressar não somente a recreação e a organização desportiva, mas para além disso, as
relações e os vínculos criados no interior dos clubes, os desejos e os encontros pessoais e comunitários e os modos
de apreender o mundo, com seus valores mais extensos, tais como a família, os amigos e o esporte como uma forma
de sobrepor as faltas da vida.

250
José Carlos Mosko - UFPR Q
A História da Seleção Brasileira de futebol a partir das crônicas de João Saldanha ·1966 a 1974
Este artigo tem o objetivo de discutir uma possibilidade de estudo da história do futebol brasileiro e da seleção brasilei-
®
ra de futebol, através da utilização de crônicas esportivas como fontes de pesquisa. Para desenvolver este trabalho
optou-se pela análise de várias crônicas de João Saldanha, escritas entre os anos de 1966 e 1974. O periodo citado
compreende a participação da seleção nacional em três Copas do Mundo, onde a grande conquista do Tri-Campeona- .§
to Mundial encontra-se entre duas participações consideradas desastrosas, o que permite comparar o reflexo das o
1::-
vitórias e derrotas nas análises observadas. João Saldanha, além de jornalista e cronista esportivo também teve uma 8
história de participação ativa nas questões políticas do pais. Integrante do Partido Comunista Brasileiro, sempre cau- ~
sou polêmica em suas declarações, que misturavam suas opiniões sobre o futebol e as suas convicções partidárias. .~
Acredita-se que a partir dos escritos de João Saldanha, consiga-se identificar fatos que possam auxiliar na construção ~
de um estudo relevante sobre o futebol no Brasil e suas relações sociais, politicas e culturais, buscando esclarecer as ~
caracteristicas do momento histórico em que estas ocorrem. ~

Plínio José Labriola de Campos Negreiros - Escola Nossa Senhora das Graças/Colégio Assunção
êg
A Invasão Corinthiana . Rio, 05 de Dezembro de 1976 cTI
Este trabalho analisa fenômenos em torno uma partida de futebol, entre Corinthians e Fluminense em dezembro de .g
1976, na qual ocorre o maior deslocamento de torcedores que se conhece na história do Brasil: entre 60 e 70 mil. ·ê
Emerge dessa partida e da presença dos corinthianos no Rio de Janeiro os mais diversos aspectos de um país sob ~
uma ditadura militar, assim como emerge uma cidade como São Paulo, palco de um fervor civico-esportivo pouca :c
vezes visto. E o Rio de Janeiro, uma "cidade invadida'.

Luiz Carlos Ribeiro - UFPR


Futebol, violência e globalização
A comunicação pretende tratar da relação entre futebol e violência na sociedade contemporânea. Será privilegiada a
análise das principais abordagens teóricas sobre a violência no futebol, em especial as realizadas na instância dos
governos nacionais europeus, da União Européia e da UEFA- Union of European Football Associations.

I 19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h ás 16h30min)


Ricardo Pinto dos Santos· UFRJ
Camadas Populares e Futebol: Por uma maior autonomia
Tradicionalmente a história do futebol no Brasil é contatada a partir de dois eixos centrais. Enquanto o primeiro privile-
gia fundamentalmente as elites, na tentativa de atribuir a elas a grande responsabilidade pela chegada e desenvolvi-
mento do futebol no Brasil. A segunda, desenvolvida a partir desta visão, constrói uma história do futebol onde as
camadas populares, de forma linear e muitas vezes despretensiosa e simplista, assumiram de maneira emblemática o
papel principal deste esporte. Neste sentido podemos dizer que, apesar de parecer uma história sólida, linear e sim-
ples a nossa tradição futebolistica, devemos demonstrar que o caminho foi muito mais complexo. Notadamente como
futebol ainda nos serve como exemplo emblemático da superação de uma prática de elite para uma que representaria
a miscigenação, a inclusão e principalmente o discurso de unidade no Brasil, devemos recuperar esta história de forma
mais adequada. Tentarei demonstrar neste trabalho que a história do futebol merece uma melhor discussão. Há a
necessidade de um estudo que apresente vestígios deste processo que demonstre a autonomia das camadas popula-
res, suas trocas constantes com as elites e alguns dos aspectos que contribuiram para as suas escolhas e que ao fim
e ao cabo conseguiu definir o futebol no

Miguel Archanjo de Freitas Jr - UFPR


Representações Sociais presentes na crônica esportiva
Este artigo apresenta uma proposta metodológica, que visa auxiliar no trato da crônica esportiva como uma fonte
literária privilegiada para se perceber os sentimentos presentes em um determinado momento social. Para atingir este
objetivo, trabalhou-se com a crônica intitulada: 'Complexo de Vira-latas', de autoria do dramaturgo Nelson Rodrigues.
Apresentou-se um quadro teórico, que pode subsidiar a análise deste tipo de documento. Este quadro foi criado
levando-se em consideração que é fundamental respeitar o momento da produção literária; quem a produziu; a quem
se destina e se algo significativo foi omitido. Entende-se que a riqueza deste tipo de análise está no processo tenso
criado entre a indeterminação presente no futebol, a liberdade de criação do autor da crônica e a flexibilidade do
conceito de verdade estabelecido pela Nova História Cultural. Percebeu-se que através deste tipo de documentação é
possivel analisar vários dos dilemas presentes na nossa sociedade e que o futebol é um objeto que possibilita a
determinação de singularidades presentes na cultura brasileira.

251
Écliton dos Santos Pimentel e Fernando Marinho Mezzadri - UFPR
O Estado Novo e a concepção de esporte no Decreto Lei 3199 de 1941
O Esporte como negócio está profissional e empresarial. Essa lógica sempre esteve presente, ou sofreu modifica-
ções? Este artigo analisa o Esporte no Decreto Lei 3199 de 1941, em etapas: atualidade; início no Brasil e advento do
Decreto Lei 3199/41; construção dos Estados para Norbert Elias; Estado Novo, Esporte e Decreto Lei 3199/41. Sendo
o Decreto Lei o início do controle da sociedade pelo Esporte, as mudanças ocorridas no tempo nem sempre alteraram
a estrutura esportiva. Então, necessária a análise das legislações surgidas após o Estado Novo. Apesar das questões
levantadas, não pode ser ignorada a relação entre poder governamental e constituição da sociedade e dos indivíduos.

Lennita Ruggi - Universidade de Coimbra


Modificações na legislação que regula as transferências de jogadores de futebol
Parte de uma pesquisa mais ampla que investiga as transferências internacionais de jogadores de futebol brasileiros
para Portugal, esta proposta pretende investigar as modificações nas prerrogativas legais que balizam as transações
entre clubes. No âmbito da legislação brasileira, o marco relevante é estabelecido com a instauração da Lei 9.615/
1998, conhecida como Lei Pelé, que transformou o estatuto dos atletas profissionais e sua relação com os empregado-
res ao substituir a vigência do passe e privilegiar os contratos como instrumentos de regulação. Na União Européia, o
veredito concedido em favor do jogador de futebol belga Marc Bosman condenou a diferenciação de atletas da comu-
nidade pelo critério de nacionalidade. Apesar de não afetar diretamente as transações internacionais com o Brasil, o
caso Bosman solidificou uma hierarquia de jogadores que tem como base a origem dos passaportes - isto em meio á
crescente limitação do número de atletas estrangeiros por time impostas pela UEFA. As modificações legais investiga-
das parecem todas tender para a construção da representação jurídica do futebol como prática primordialmente econô-
mica, na qual as transações de jogadores assumem plenamente seu caráter capitalista, em especial as internacionais.

Tony Honoralo - UEL


Artífices da gymnastica e a cultura escolar dos normalistas de Piracicaba/SP
O artigo propõe-se a refletir sobre a história da cultura escolar normalista a partir do início do século XX, quando ocorre
a inserção do professor de gymnastica na Escola Normal da cidade de Piracicaba, interior do Estado de São Paulo.
Utilizando-se, principalmente, de relatórios expedidos pelos diretores da Escola Normal, fonte primária localizada no
Arquivo da Escola Estadual 'Sud Mennucci', almejou-se pensar sobre a seguinte inquietação: como a presença das
práticas corporais no cotidiano de um dos mais antigos educandários paulista pôde significar possíveis transformações
nos comportamentos, costumes e habitus dos normalistas que seriam os professores do amanhã, encarregados de
colocar em circulação um modelo de conhecimento, modernidade e civilidade.

Sérgio Teixeira - UFU


O lazer e a recreação na Revista Brasileira de Educação Física e Desportos
Este artigo tem a finalidade de investigar as concepções do lazer e da recreação, que faziam parte das discussões da
Ed Fís no período militar. É utilizada como fonte principal a Revista Brasileira de Educação Física e Desportos, editada
pelo MEC de 1968 a 1984. Partimos da hipótese de que, sendo um veículo oficial, destinava-se a difundir ideais que
traduziam os anseios de formação de corpos disciplinados e produtivos, em busca da consolidação de um modelo que
almejava o desenvolvimento da nação, enaltecendo os feitos do governo militar. As teorizações sobre o lazer e a
recreação, encontraram respaldos nos artigos estudados, que propunham um receituário eivado por disposições que
deveriam ser cumpridas por diversas entidades e autoridades, estabelecendo um controle sobre os indivíduos, engen-
drando-se estratégias para o bom uso das horas de lazer. Assim, a escola seria uma instituição capaz de formar
sujeitos que se inserissem naquele modelo social, ou seja, moldavam-se os alunos para que, desde cedo, os anseios
da constituição de corpos disciplinados e úteis fossem contemplados. Denotam-se aí, concepções moralistas e funci-
onalistas, no que tange ás abordagens realizadas sobre o lazer e a recreação e uma vocação humanista que não
enfatizava as contradições sociais existentes.

André Maia Schetino - UFRJ


Ciclismo e Modernidade: apontamentos sobre a invenção da bicicleta e os primórdios do ciclismo no Rio de
Janeiro
A modernidade, especialmente o periodo de transição entre os séculos XIX e XX, foi um periodo onde se viu surgir uma
série de inventos, possibilitados pelos avanços na ciência e na tecnologia. Da mesma forma, as transformações nos
costumes / modos de vida da população nessa mesma época corroborou para o aparecimento de novas práticas
culturais, como por exemplo, os esportes. Nesse contexto, temos como objeto desse trabalho uma invenção e uma
prática cultural que dela deriva: a bicicleta e o ciclismo. Desde o seu modelo inicial, apresentado ao mundo em 1861
pelos irmãos Pierre e Ernest Michaux, a bicicleta passou por algumas transformações importantes, que, ao diminuírem
os ferimentos provocados pelas quedas, incentivaram também o aumento do número de ciclistas e de competições
realizadas. Esse trabalho tem como objetivo situar a invenção da bicicleta no contexto da modernidade, bem como

252
trazer apontamentos sobre os primórdios das competições de ciclismo na cidade do Rio de Janeiro. Pudemos perce- r;:;:;'\
ber, através de informações dos jornais da época, a importância dos clubes esportivos, notadamente o Club Athletico
Fluminense, na realização das primeiras competições regulares de ciclismo na cidade.
®
I 20/07 - Sexta-feira - Manhã (10h30min às 12h30min) I
co
Ana Cristina Arantes - UNIFIEO/UNIFMU :§
A cidade de São Paulo; a modernidade as atividades ribeirinhas o esporte e o lazer ~
Esta pesquisa teve por objetivo levantar e analisar quais eram as atividades motoras existentes na cidade de São ::2
Paulo nos anos finais do século XIX e início do XX. O estudo pode ser entendido como descritivo, qualitativo no qual o ;;
autor valeu-se da escassa literatura existente, jomais, folhetos artigos digitais e registros iconográficos de época. Os ~
dados encontrados evidenciaram: a cidade era pequena e sua gente possuía costumes discretos centrados na família, ~
a imigração e o progresso, impuseram novo estilo de vida ao paulistano da elite. As atividades físicas de lazer jogo e o
esportes tais como o remo, natação, futebol tênis ginástica foram entusiasticamente assimiladas pela sociedade da E
época. A atitude do fair play tão importante no "esporte' estendeu- se, por certo, a outras situações de vida cotidiana ~
mormente para os homens.

José Ronaldo Mendonça Fassheber - UNICENTRO


Kanjire X Estado: um etno-desporto Kaingang e a colonização brasileira no século XIX
Resumo: Esse artigo destaca alguns relatos construídos desde século XIX até as primeiras décadas do século XX, por
viajantes, missionários e militares em relação ao Kanjire. Sendo tradicionalmente praticado pelos índios Kaingang,
tratava-se de um jogo de guerra que foi paulatinamente desaparecendo de suas práticas corporais em decorrência do
processo cívilizador ocidental. Essa pesquisa quer contribuir para a sistematização de dados antropológicos e históri-
cos do Etno-desporto desse grupo indígena para assim compreendermos melhor o universo de sua cultura e as trans-
formações em suas práticas. O Kanjire é uma prática corporal abandonada pelos Kaingang e silenciada em sua memó-
ria. Em seu lugar, diferentes práticas coletivas passaram a fazer a metáfora dos jogos de guerra, como o Futebol,
renovando a identidade corporal Kaingang.

Luciana Gomes Ribeiro - UFG


A constituição de uma prática artística: os caminhos de institucionalização da dança na cidade de Goiânia.
Este trabalho investiga os caminhos de institucionalização da prática cultural da dança na cidade de Goiânia, identifi-
cando as distintas finalidades e desdobramentos alcançados. Ao mesmo tempo em que a dança era oficializada dentro
do currículo do curso de Educação Física da Escola Superior de Educação Física de Goiás, através da disciplina
rítmica, abriu-se a primeira escola de dança da cidade, para o ensino formal de uma técnica. Estas duas iniciativas vão
proporcionar à cidade formas distintas de identificar, vivenciar e representar a dança. Intenta-se aqui discutir que
formas são estas e quais os desdobramentos que elas trazem para a constituição da dança enquanto prática artística
em Goiânia, desde a sua produção, manutenção e circulação, ou seja, sua apropriação tanto para criadores quanto
para espectadores, até a formação de identidades dancísticas que propiciem seu desenvolvimento e diálogo nacional
e internacional enquanto corpus artístico. Quais são as especificidades que compõem uma prática artística? Que
efeitos e ecos ela produz? Estas serão algumas das discussões que fundamentarão a investigação desta história e a
produção de uma historiografia da arte dança em Goiânia.

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32. História do Tempo Presente e Memória
Lucilia de Almeida Neves Delgado (PUC Minas) e Marieta de Moraes Ferreira (CPDOC· FGV
UFRJ)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h ás 18h)

João Edson de Arruda Fanaia - UNEMAT


Mémória e História: o lugar do político no universo das lembranças
O artigo tem como propósito, desenvolver algumas reflexões preliminares tomando por base relatos obtidos a partir de
memórias individuais, transformadas em textos e, portanto, passiveis de utilização enquanto fontes de pesquisa para
a constituição da tessitura do campo político na cidade de Cáceres em Mato Grosso. As fontes orais são aqui aplicadas
na perspectiva renovadora dos estudos do político, área de investigação que nas últimas três décadas sofreu constan-
tes redefinições conceituais e ampliou as possibilidades de abordagem dos seus objetos, não ficando mais circunscrita
ao aconteci mental ou o episódico. O objetivo é perceber via depoimentos a forma como os individuos se relacionam e
constroem seus espaços de sociabilidade dentro do universo político, revelando, sobretudo, as práticas e estratégias
que lhes são inerentes, presentificando através de suas lembranças o passado e definindo deste modo as especificidades
da cultura política local.

Noé Freire Sandes - UFG


Memória e História: a disputa pela interpretação do passado
A escrita da história consagrou 1930 como marco e entronizou a modernização autoritária como modelo de auto-
reflexão histórica para compreensão do processo histórico brasileiro. A esta escrita contrapõe-se a memória dos derro-
tados em 1930 e a dos que passaram ao campo oposicionista, em especial os participantes do movimento paulista de
1932. Observa-se, portanto, uma disputa pela interpretação do passado, visando á reafirmação de diferenças e de
projetos políticos orientadores do presente e das expectativas de futuro.

Daniel Brauer - Universidad de Buenos Aires


La historia como memoria
En el presente trabajo me ocupo de la relación entre la historia dei presente y las formas sociales dei recuerdo.
Distingo la evocación dei pasado que (1) tiene que ver con la identidad colectiva y su celebración en actos públicos de
recordación como la conmemoración, el homenaje, las fechas patrias, etc .. La memoria colectiva esta teiiida de
normatividad.estos actos pueden calificarse tanto como ceremonias de evocación como de identificación, en ellos se
incorporan los ideales que definen la construcción de la epopeya identificatoria . EI segundo (2) fenómeno concierne a
tres formas de la memoria social que lIamo el recuerdo icónico, el recuerdo fantasmagórico y el recuerdo cristalizado.
Cu ando de lo que se trata es de estudiar las formas de la memoria colectiva no es posible prescindir de la analogia con
el recuerdo personal. a la inversa también Freud, que ha elaborado una serie de conceptos en torno a la memoria que
han resultado fructíferos en su aplicación a la sociedad - más aliá de que esta transposición analógica sea controversial
- como el de 'trauma', o el de 'recuerdo encubridor', se inspiró en la arqueología para pensa.

Hernán Ramiro Ramirez - UEL


Reflexões sobre fontes orais: desconstrução do depoimento Na periferia da História de Jorge Oscar de Mello
Flôres
Nos propomos realizar a desconstrução de partes de um depoimento que Jorge Oscar de Mello Flores prestara ao
CPDOC da FGV, publicado no livro Na periferia da História, capítulo 6, intitulado "Ibad e Ipes - o empresariado se
organiza', a partir do qual elaboramos uma reflexão mais ampla acerca dos desafios que representa trabalhar com
fontes orais como recurso empirico ou metodológico.

Ignacio José Godinho Delgado - UFJF


Empresariado e Política Industrial no Primeiro Governo Lula
A comunicação focaliza as percepções da CNI e IEDI sobre as ações desencadeadas pelO governo Lula em relação á
política industrial. A primeira, entidade central da indústria no formato corporativo, tem buscado fortalecer seus laços
com os setores mais dinâmicos da economia brasileira, num esforço de atenuação dos limites que a estrutura corporativa
impõe ao seu papel de entidade empresarial abrangente. O IEDI agrupa as maiores empresas brasileiras de capital
nacional. Delineiam-se, no trabalho, as perspectivas teóricas discrepantes que abordam o tema da política industrial e
da relação entre Estado e empresariado, junto a uma ligeira descrição da trajetória de ambos Brasil. Discorre-se,
também, sobre as formulações do governo Lula e das entidades empresariais sobre a política industrial, ressaltando o
balanço que a CNI e o IEDI efetuam a respeito do governo Fernando Henrique Cardoso, bem como as afinidades e
dissonâncias presentes na sua relação com o executivo lulista. Por fim, esboça-se uma apreciação sobre quais seriam

254
os riscos à possibilidade de uma colaboração virtuosa entre empresariado e Estado - no sentido da promoção do
desenvolvimento - a partir das iniciativas que vêm à luz no governo Lula.

Cleria Botelho da Costa - UnB


A magia do contar: a oralidade em Camara Cascudo
Neste texto busco tecer uma narrativa a partir dos fios da oralidade na obra de Camara Cascudo e da sedução que ela
exerce naquelas que a leem. O argumento utilizado é que o oral e o escrito não contam com posições fixas, predeter-
minadas, mas possuem uma dinamica que possibilita o oral se apresentar de forma escrita e o escrito de forma oral.
São portanto, permeados de uma relação de circularidade. Além disso, tentarei deslindar o fascinio da oralidade pre-
sente na voz do narrador, na sua performance cultural e, sobretudo e, sobretudo ao repassar as representações
miticas e religiosas do imaginario cultural brasileiro.

Andre de Faria Pereira Neto Fiocruz e Antonio Torres Montenegro • UFPE


A História do Tempo Presente e a História Oral no Brasil: Uma avaliação da produção recente
A História Oral é um dos recursos metodológicos mais utilizados pelos pesquisadores que se dedicam à História do
Tempo Presente. Durante os anos 1980 algumas iniciativas individuais de pesquisadores de História Oral puderam ser
observadas. Em 1992 foi realizada a primeira reunião nacional e dois anos mais tarde foi criada aAssociação Brasileira
de História Oral. Desde então foram realizados sete encontros nacionais em diferentes cidades do pais. Em 1998 foi
publicado o primeiro número da Revista 'História Oral": órgão desta associação. O objetivo desta comunicação é
analisar o perfil dos autores e dos temas discutidos tanto nos sete encontros quanto nos 10 números desta publicação.
Entre os resultados encontrados verificamos a presença de alguns pesquisadores estrangeiros, sobretudo europeus. ~
Entre os brasileiros existe uma sensível concentração de pesquisadores do sudeste. Majoritariamente os autores são \.f!!:)
professores de universidades públicas e têm sua formação em História. Entre os temas há uma concentração naqueles
voltados para o resgate da história dos iletrados seguido de artigos com ênfase teórica ou metodológica. As elites
ocupam lugar um terceiro lugar entre os temas preferidos. Este trabalho permitiu avaliar o desenvolvimento da produ-
ção de História Oral no Brasil.
.~

Ana Luce Girão Soares de Lima - FIOCRUZ .~


Ciência, Política e Paixão: trajetórias de cientistas e a política científica no Brasil no século XX ~
Este projeto estuda a implantação da política científica no Brasil a partir dos anos 30 (Séc. XX), abordando a trajetória w
profissional de Carlos Chagas Filho, registrada em seu arquivo pessoal. Está, portanto, inserido no método biográfico E
e aborda questões sobre o uso das biografias como fonte para a história. As opções profissionais deste cientista são ~
fundamentais para a compreensão da profissionalização da ciência: criador do Instituto de Biofisica e responsável pelo õ:
desenvolvimento da pesquisa experimental na universidade, marca sua trajetória pela militância por uma política cien- g
tífica nacional institucionalizada através de órgãos de financiamento e de associações nacionais e internacionais. ~
Como referenciais teóricos temos, entre outros, os trabalhos de Bourdieu, reabilitando o método biográfico para a ~
história política; o do historiador Gerald Geison, reavaliando a trajetória de Pasteur, usando como fonte seus cadernos ~
de laboratório; e o do historiador Jonathan Harwood afirmando: 'scientists correspondence provided an invaluable '. ~_
source of their views on matters nonscientific.' Outros aspectos como a influência das linhagens familiares na forma- :r:
ção da comunidade cientifica são comprovados através das trajetórias de cientistas registradas em seus arquivos
pessoais.

Douglas Attila Marcelino - UFRJ


Um novo objeto para os estudos sobre memória: mortes e funerais de presidentes republicanos
Recentemente, vários historiadores têm se voltado para o estudo dos mecanismos que perpassam a conformação de
memórias, haja vista as disputas que envolvem a construção de imagens de instituições e personalidades na história
contemporãnea. Nesse contexto, sobressaltam ao território do historiador novas temáticas como as festas cívicas, os
eventos rememorativos de acontecimentos históricos etc. Este trabalho procura interrogar-se sobre a morte e os fune-
rais de chefes de Estado como instrumentos relevantes à análise das reconstruções de uma memória política nacional,
compreendendo tais episódios como importantes para a conformação de uma determinada biografia do morto ilustre e
para a re-atualização da história nacional. Os funerais e as diversas formas de rememoração que se seguem às mortes
de presidentes como Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, João Goulart e Tancredo Neves, portanto, se tornam obje-
tos fundamentais de investigação, dada a importância dessas personagens nas reconstruções memorialísticas que
envolvem uma versão da trajetória do país. Assim, não somente as tentativas de canonização que perpassam eventos
como funerais ganham relevância, como também a construção de monumentos, de memoriais, ou mesmo outras
formas de rememoração provindas de setores populares.

255
17/07 - Terça-feira - Tarde (14h ás 18h)

Berenice Abreu de Castro Neves· UECE


Festas, Tempo Ruim, Chuvas e Temporal: O Raid da Jangada São Pedro
Em 1941, quatro pescadores artesanais urbanos (Jacaré, Tatá, Jerônimo e Manuel Preto), residentes na Praia de
Iracema, Fortaleza, Ceará, partiram, em uma jangada de piúba, com destino á Capital da República para levar ao
conhecimento do poder público as reivindicações da categoria. O objetivo dessa comunicação é analisar as dimen-
sões políticas desse primeiro raid reivindicatório. A pesquisa empreendida contemplou jornais do Rio de Janeiro, de
Fortaleza e da Baiha, dois diários da viagem, documentos oficiais do governo de Getúlio Vargas, revistas, filmes do
período, além de depoimentos orais dos contemporâneos dos jangadeiros. Ficou evidenciado na pesquisa que os
sujeitos centrais dessa história, os pescadores da jangada São Pedro, descobriram na viagem uma importante estra-
tégia política de dar visibilidade aos problemas enfrentados pela categoria; perceberam também que, naquele momen-
to da ditadura do Estado Novo, estava aberta uma porta de negociação direta com o Estado, e aproveitaram-se dessa
oportunidade para lutar por aquilo que consideravam seus direitos. Também o Estado se beneficou do ousado raid. A
viagem propiciou, além disso, um aprendizado de classe e um exercício de cidadania social, servindo de inspiração
para outras viagens reivindicatórias de jangada.

Ana Maria da Costa Evangelista e Dalva Carolina (Lola) de Menezes Yazbeck • UFJF
Sede de Leitura: nas vozes da comunidade juizforense a memória da Biblioteca Popular do Serviço de Alimen·
tação da Previdência Social (SAPSP)
A idéia nuclear do presente estudo é revisitar a política estatuída pelo governo Vargas em 1942 e traduzida como
Serviço de Alimentação da Previdência Social (SAPS). A proposta dessa autarquia era fornecer alimentação digna e
barata para a classe trabalhadora através de Restaurantes Populares. Agregadas a esses restaurantes, nasceram as
Bibliotecas e Discotecas Populares também destinadas ás camadas mais baixas da população. Esses serviços foram
extintos pelo governo ditatorial militar em 1967. Juiz de Fora, por sua característica de cidade de economia industrial,
foi aquinhoada com uma unidade do SAPS em 1948. A rememoração feita por essa pesquisa tem como objetivo
compreender o sentido dado pela classe trabalhadora e comunidade juizforense a esse espaço de alimentação e
cultura. Os fundamentos teóricos de E. P. Thompson, em sua interpretação da história como um permanente devi r
dialético, entretecidos ao dialogismo bakhtiniano e à teoria do desenvolvimento humano de Vygotsky fundamentaram
a análise dos dados. Devido ás especificidades do tema enfocado optou-se por uma abordagem qualitativa de cunho
histórico-cultural, utilizando-se da história oral como ferramenta metodológica.

Karla Guilherme Carloni - UFF


A espera do salvador: as biografias do marechal Henrique Teixeira Lott
Na tentativa de traçar a memória construida em torno do Marechal Henrique Teixeira Lotl, por parte de seus biógrafos,
faço a análise das obras que tentaram retratar, em diferentes épocas, a trajetória desse importante personagem na
história político-militar do Brasil. As biografias foram divididas em três temporalidades relevantes para a história recen-
te do país: a candidatura á presidência da República (1960), o Regime Militar e o atual período democrático. A luz da
literatura sobre cultura política contemporânea foi constatada a tentativa de construção de um mito político. O mare-
chal seria o braço forte da legalidade, da democracia e do nacionalismo. Não coincidentemente essa evocação como
figura salvadora foi presente em vários momentos da vida pública do marechal, a partir do contra-golpe liderado por ele
em novembro de 1955. Ela reflete a cultura política de uma época ou, mais precisamente, de uma nação. Lotl pode não
ter sido escolhido pelo povo para governar o país, porém o discurso em torno de sua candidatura, as justificativas para
a sua derrota e a memória que permanece em alguns grupos sociais sobre esse polêmico personagem refletem uma
sociedade a espera de um líder providencial que proporcione o desenvolvimento econômico da nação e maior igualda-
de social.

Lúcio Flávio Rodrigues de Almeida - PUC·SP


Nacionalismo e dominação burguesa nos anos JK: apontamentos para uma reflexão sobre a América Latina
contemporãnea
Várias opções adotadas no governo Kubitschek permanecem decisivas para os rumos seguidos pela formação social
brasileira e se entranham profundamente no imaginário político deste país. Meu ingresso na adolescência coincidiu
com o final deste governo que me despertou um misto de fascinio e estranhamento com o nacionalismo em geral e,
particularmente, o brasileiro daquele período, o que tem contribuído para que, ainda hoje, a ideologia nacional e suas
distintas variantes (apropriações sociais) constituam meu tema privilegiado de pesquisa. Nesta comunicação, onde se
entrelaçam recursos à Ciência Política, Sociologia e História, abordarei algumas de minha principais teses acerca do
nacionalismo dos 'anos dourados', especialmente no que se refere às variantes burocrática e burguesa industrial,
procurando detectar algumas diferenças e similitudes com nacionalismos em paises da América Latina contemporâ-

256
nea. As principais hipóteses apontam para as complexas relações entre as variantes do nacionalismo, bem como entre
este último e as diversas manifestações de antiimperialismo.

Silvio Luiz Gonçalves Pereira - USP


A memória dos leitores de Seleções do Reader's Digest
Seleções do Reader's Digest, lançada no Brasil em 1942, teve seu auge nos anos 1950 e 1960, quando atingiu cerca
de 500 mil exemplares vendidos, dos quais cerca de 70% destinados a assinantes. Portadora de uma visão unilateral
e representativa da dominação estadunidense no mundo durante a guerra fria, a influência da revista no país foi
marcante, principalmente no seio das camadas médias urbanas. As informações sobre sua penetração no mercado
editorial brasileiro foram obtidas de resultados de pesquisas de opinião realizadas pelo Ibope e de dados estatísticos
publicados pelo IBGE. O objetivo da minha apresentação, alinhado com as propostas do Simpósio Temático "História
do Tempo Presente e Memória", é relacionar esta "massa de números" com dados obtidos através de trabalhos de
história oral com ex-funcionários da Editora Ypiranga S.A., responsável pela publicação de Seleções em língua portu-
guesa. Este conjunto de informações permite delinear o público leitor da revista. Entretanto, os processos de significa-
ção de um texto apenas se materializam no ato da leitura e, portanto, também procuro abordar a questão da efetividade
das mensagens veiculadas pela revista através do registro da memória de seus ex-leitores.

Luis Reznik - PU C-Rio e UERJ


Os anos 1950: projetos políticos e debate eleitoral
Nação, democracia e desenvolvimento foram temas condensadores dos debates, projetos e utopias dos diversos
grupos e movimentos sociais que disputavam o cenário político e intelectual no pós 11 Guerra Mundiais, no Brasil. As
alternativas em jogo tinham como paradigma a tematização em torno do regime democrático, do desenvolvimento ~
f'32\
econômico e da soberania nacional. Diferentes projetos de modernização foram confrontados entre intelectuais, asso-
ciações, grupos e partidos políticos. Ao analisar os diferentes projetos político-sociais, ao longo da década de 1950, e
à luz da intensa transformação social e demográfica pelo qual o país passava, estamos atentos ás mudanças de
significado que os conceitos acima mencionados irão sofrer no interior de cada campo político. Nessa linha de pesqui-
sa, acompanhando as reflexões de Reinhart Koselleck sobre a condição histórica de todo conceito, buscamos identifi- .!.!1
car os principais núcleos argumentativos em torno daqueles conceitos nos anos 1950. Neste trabalho estamos anal i- .~
sando o debate político eleitoral das campanhas presidenciais de 1950,1955 e 1960, levando em consideração: 1) os ~
campos políticos e; 2) as ênfases e deslocamentos nos usos e apropriações dos conceitos ao longo da década. Q)

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Gustavo Coelho Farias - UFRGS '" Q)

A "cara" do voto em Porto Alegre: "geografia eleitoral" da capital gaúcha (1962-1966) D:


O fenômeno eleitoral tem um papel fundamental nas disputas políticas. Dentro de toda a sua complexidade, ele pode g,
funcionar como um indicador de determinados fatores. O presente trabalho corresponde à fase inicial de uma pesquisa §
que busca analisar o combate movido contra o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) nos períodos eleitorais. Nesta ~
etapa, a partir dos mapas eleitorais existentes no TRE-RS, pretendemos identificar as "áreas de influência' dos diferen- ~
tes partidos dentro de Porto Alegre, entre os anos de 1962 e 1966, bem como as principais características desta 'E
'geografia eleitoral". Em um segundo momento, através dos Anais da Assembléia Legislativa e da Cãmara Municipal, ~
tentaremos perceber como os diversos partidos tratam cada uma dessas áreas. Assim, buscaremos na capital gaúcha,
notório reduto petebista, as "trincheiras" dos trabalhistas e de seus adversários.

Marcelo de Freitas Assis Rocha - PUC Minas


liA longa luta contra o esquecimento: a história do Massacre de Ipatinga"
No dia 7 de outubro de 1963, soldados da Polícia Militar de Minas entraram em choque com trabalhadores da Usiminas,
em Ipatinga, no Vale do Aço. Oficialmente, morreram oito pessoas. Cinco meses depois, o golpe militar abafou o caso.
O conflito foi resultado do elevado nível de tensão que marcava o relacionamento entre a empresa e seus trabalhado-
res desde o início da construção da usina, em 1958, e que se materializava na forma violenta como estes eram
tratados pelos vigilantes da Companhia. Também contribuiu para o acirramento dos ânimos a precariedade da infra-
estrutura de apoio aos trabalhadores em termos de alimentação, transporte e moradia, principalmente, fator que era
agravado pelo elevado nivel de segregação existente em Ipatinga, cidade que estava dividida entre os que eram
funcionários da Usiminas e os que não eram. A pesquisa revela os antecedentes do Massacre de Ipatinga, descreve os
detalhes do que ocorreu no dia 7 de outubro e mostra como foi o processo de perpetuação da memória coletiva
daquele episódio, de forma a evitar que caisse no esquecimento. Tal cronologia encerrou-se em outubro de 2004,
quando, 41 anos depois, o Estado brasileiro reconheceu sua culpa, determinando o pagamento da indenização às
famílias das pessoas que morreram no conflito.

257
18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h)

Jorge Ferreira - UFF


Leonel Brizola, as esquerdas e a radicalização política no governo Goulart (1961-1964)
Durante o governo de João Goulart, uma ala de seu partido, o PTB, radicalizou à esquerda. Eles se chamavam de
nacional-revolucionários e seguiam a liderança de Leonel Brizola. Iniciativas nacionalistas no governo do Rio Grande
do Sul e a atuação ousada na Campanha da Legalidade deram a Brizola grande prestígio político no campo popular,
nacionalista e de esquerda. Intelectuais, partidos e organizações de esquerda, inclusive as que se diziam revolucioná-
rias, passaram a reconhecer sua liderança. No início de 1963, sob liderança de Brizola, surgiu a Frente de Mobilização
Popular. Na FMP estavam UNE, o CGT; os subaltemos das Forças Armadas; facções das Ligas Camponesas; partidos
da esquerda marxista, socialista, trabalhista e cristã, bem como políticos da Frente Parlamentar Nacionalista. A Frente
liderada por Brizola procurava convencer Goulart a implementar as reformas de base unicamente com o seu apoio
político, desconhecendo outras organizações do leque partidário brasileiro, inclusive os de centro. Com a crença
exagerada em suas capacidades e possibilidades, as esquerdas provocaram Goulart a embarcar no projeto radical.
Em uma conjuntura de crescente radicalismo, tanto os conservadores de direita quanto as esquerdas escolheram
como estratégia o confronto.

Américo Oscar Guichard Freire - CPDOC/FGV


Brizola e a via popular-democrática na transição política brasileira
Na última década, os historiadores do tempo presente têm voltado o seu foco de análise para o estudo das bases
constitutivas e da dinâmica do regime militar brasileiro, o que para isso tem contribuído, entre outros fatores, as políti-
cas adotadas pelos poderes públicos no sentido de liberar acervos relativos ao período. No bojo desses estudos, há os
que, por meio de um fértil diálogo com as ciências sociais, têm dirigido sua atenção para o exame do modus operandi
da transição política brasileira, ora registrando o seu caráter liberal conservador, ora sublinhando a importância das
lutas sociais naquele processo. Neste trabalho, pretendo tratar dessas questões tomando como objeto de análise as
estratégias políticas conduzidas naquele contexto pelo líder trabalhista e então governador do Rio de Janeiro Leonel
Brizola. Dentre outros, é meu objetivo explorar a maneira pela qual Brizola procurou ocupar o espaço popular no
campo de lutas concorrenciais que marcaram aquele processo.

Jean Rodrigues Sales - USP


O impacto da revolução cubana sobre as organizações comunistas brasileiras nos anos 1960
O objetivo principal desta comunicação é analisar as relações entre as esquerdas comunistas brasileiras e a revolução
cubana entre 1959 e 1974. Trata-se de entender em que medida essa revolução influenciou o debate ideológico dos
comunistas brasileiros e quais os desdobramentos para as suas formulações teóricas e prática política. A conclusão
geral é a de que o processo revolucionário cubano esteve presente, sobretudo, no debate a respeito da definição da
luta armada contra a ditadura militar e na adoção da bandeira do socialismo por uma parte dessa esquerda. Foi
importante ainda na crise que se abateu após 1964 sobre as organizações que já existiam antes do golpe militar, que
vieram a se fragmentar e dar origem a diversos grupos da Esquerda Revolucionária.

Reginaldo Benedito Dias - UEM


Como a Ação Popular escreveu e reescreveu o sentido de sua história
Inserido no campo de pesquisas que abordam o papel da memória na constituição da identidade dos partidos de
esquerda, este trabalho investiga como a Ação Popular, organização de esquerda das décadas de 1960 e 1970,
elaborou e reelaborou o sentido de sua experiência, em face das redefiniçães políticas que vivenciou. A particularidade
da Ação Popular reside no fato de ter se caracterizado por sua origem heterodoxa, aberta a diferentes influências
doutrinárias, e de, na conjuntura posterior a 1964, romper com sua identidade de origem e filiar-se à tradição do
marxismo-Ieninismo. Promoveu-se, a partir de 1968, uma espécie de refundação, por meio do qual se declarou morta
a 'velha a AP'. O caminho da definição da linha marxista levou a acirradas lutas internas e a dramáticas cisões.
Entretanto, consideradas as nuanças de cada período, a identidade marxista manteve-se até o fim, quando a AP se
transformou em tendência interna do PT. Analisa-se, enfim, como a AP, a fim de atualizar sua memória e identidade
política, reescreveu sua história. Verifica-se como, na busca de determinada ortodoxia, aAP procurou reler sua origem
heterodoxa e cada fase de sua existência, com o objetivo de legitimar, nos marcos do que se considerava o verdadeiro
marxismo-Ieninismo, as opções recentes.

Maria Helena Versiani - Museu da República


O impacto das cassações na política carioca: um olhar sobre as bancadas de deputados federais eleitas pelo
estado da Guanabara em 1962 e 1970
Nesta comunicação, intentamos abordar um tema que se insere num tempo histórico recente, vivenciado por muitos
atores sociais da atualidade, e que, portanto, enquadra-se na dimensão temporal pertinente ao campo da História do

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Tempo Presente. A idéia é realizar uma análise das formas de atuação politica dos deputados federais eleitos para
compor a bancada carioca á Câmara Nacional nas eleições de 1962 e 1970 - marcos eleitorais limites do período em
que é deflagrado o golpe de 1964 no Brasil e desencadeado um duro processo de cassações parlamentares dos
opositores do regime militar então instaurado. A investigação procurará, especificamente, identificar os principais pa-
drões de comportamento que orientavam o fazer politico em território carioca nos dois momentos assinalados e desen-
volver a tese de que, enquanto a bancada eleita em 1962 teve destacada participação nos debates sobre os rumos
politico-econômicos do pais - reafirmando assim o padrão de atuação comum aos deputados federais cariocas quan-
do o Rio de Janeiro era Capital do Brasil-, a bancada eleita em 1970 se distinguiu com um estilo de atuação politica
alheio ao debate nacional e marcadamente clientelista. Nossa opinião é que as cassações ocorridas favoreceram
sobremaneira esta mudança de perfil.

Marcelina Silveira de Queiroz - UFJF


Testemunhos do exílio: reconstruções de identidades mineiras (1964-2004)
Este estudo busca compreender e problematizar aspectos ligados á ditadura militar no Brasil implantada em 1964, e
seus desdobramentos, focando principalmente a trajetória de alguns exilados politicos, a volta do exílio, bem como a
inserção sócio-política e identitária dos mesmos no contexto da redemocratização brasileira (1979-1989). O desdobra-
mento desta pesquisa é marcado pelo fato de envolver as histórias de homens e mulheres que foram punidos por
denunciar ou combater a opressão do regime civil-militar, sofreram cortes e rupturas irreparáveis, ou até mesmo,
perdas definitivas e ainda não completaram seu trabalho de luto, já que muitos estão em processo de reivindicações
por reparações morais, financeiras e até mesmo históricas. Portanto, é através do relato e registro dessas experiências
que se buscou apreender a história e a memória desses atores sociais. Neste sentido, objetivou-se fazer o levanta-
@
32
mento das questões que se mostraram relevantes para a construção da memória desses sujeitos, bem como (re) situar
a importância das experiências vividas e a representação dos exilados sobre as mesmas, quando reintegrados no
cenário politico brasileiro.

Samuel Silva Rodrigues de Oliveira - UFMG


As passeatas do movimento de favelas em Belo Horizonte: ação e memória (1959-1964) .~
A presente comunicação abordará as passeatas organizadas pela Federação dos Trabalhadores Favelados de Belo 'E
Horizonte entre os anos finais da década de 1950 e 1964. A partir de testemunhos jornalisticos, policiais (produzidos e ~
acumulados pelo DOPS-MG) e orais analisaremos as estratégias de confronto e ocupação do espaço público utiliza- CD
das pelo grupo em foco para levar demandas ao Estado. Junto a isso, pretende-se tratar da forma como o movimento ~
social relembra tais performances para reafirmar uma identidade e auferir dividendos políticos. ~
ci:
Janaina Martins Cordeiro - UFF g,
"A Nação que se salvou a si mesma". Entre Memória e História, a Campanha da Mulher pela Democracia (1962- [ij
1972) ~
A proposta deste trabalho é verificar as tentativas de construção de uma memória dos segmentos sociais que participa- ~
ram diretamente das articulações gol pistas e que estiveram comprometidos com a consolidação do regime instalado ]i
em 1964. Particularmente, analisarei este processo tendo em vista um grupo em particular: a associação feminina ::i§
Campanha da Mulher pela Democracia, criada no Rio de Janeiro ainda em 1962. O discurso deste grupo constitui-se
em espaço privilegiado para compreendermos as especificidades da memória - permeada por silêncios - dos setores
que apoiaram o golpe sobre tal período, bem como para verificar a complexidade dos comportamentos sociais diante
da ditadura civil-militar, formando um consenso fundamental para que o regime se sustentasse.

Janaina de Almeida Teles - laboratório de Estudos sobre a Intolerância -USP


A impossibilidade do esquecimento: os testemunhos dos familiares de mortos e desaparecidos políticos no
Brasil
Essa pesquisa baseia-se nos depoimentos orais das famílias de mortos e desaparecidos politicos. Procuro recuperar
através de suas narrativas como sua ação política se desenvolveu ao buscarem legitimar a expressão pública da dor e
do luto. Procurei destacar o importante papel que esses personagens assumiram na luta contra a ditadura e na
redemocratização do país. Ao protagonizarem a luta por 'verdade e justiça', se tornaram os portadores da memória das
violações dos direitos humanos durante a ditadura. A interdição do passado, entretanto, não lhes permitiu concluir seu
luto. Busco traçar os limites jurídicos, políticos e subjetivos que impediram sua conclusão. No Brasil, a Lei de Anistia
garantiu a ampliação da atividade política, trouxe os perseguidos do exílio, mas ao impedir a investigação do passado,
negou aos familiares de mortos e desaparecidos politicos a pOSSibilidade de conhecer a verdade sobre esses crimes e
de contar sua história, dificultando a constituição da memória, no âmbito individual e no da sociedade. Lembrar o
passado, esquecendo-se ou ocultando suas fraturas e ausências registra uma continuidade aparente, mas enfatiza
também a sua perda pela memória. Entender essa maneira de lidar com o passado recente sem enfrentá-lo é parte do
objetivo dessa comunicação.

259
19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h às 16h30min)

Carla Simone Rodeghero - UFRGS


A escrita da história do regime militar no Rio Grande do Sul: desafios e possibilidades
Este trabalho visa explorar alguns desafios relacionados à história do tempo presente tomando por base um estudo
realizado sobre a história política do Rio Grande do Sul durante o regime militar. Discutirá questões referentes aos
estudos acadêmicos já existentes sobre o tema, a um significativo conjunto de livros de memória escritos por militantes
de esquerda gaúchos e ao uso de fontes como a imprensa e os Anais da Assembléia Legislativa. Procurará, com isso,
mostrar as dificuldades e as potencialidades da pesquisa histórica sobre este período recente da história Brasil, a partir
das particularidades do Rio Grande do Sul.

Cátia Faria - Universidade Estácio de SálUFF


A afirmação da identidade dos presos políticos durante seu convívio com os presos e comuns na ditadura
brasileira (1969-1979)
O decreto lei 898/69, conhecido como nova Lei de Segurança Nacional, não diferenciava as ações praticadas por
aqueles que se opunham à ditadura dos assaltos cometidos por bandidos. Assim todos os enquadrados nessa lei
respondiam a um Inquérito Policial Militar, eram julgados por um tribunal militar e cumpriam pena em uma galeria do
presídio da Ilha Grande. Através de pesquisa documental e da História Oral o trabalho pretende resgatar a memória e
a luta dos presos políticos para que a ditadura reconhecesse sua existência.

Ângela Flach - UNISINOS


Mílitãncia ou subordinação política? Memórias de ex-deputados participantes da Arena
Nos anos posteriores ao fim do regime militar verifica-se a gradual consolidação de uma imagem negativa em relação
à atuação da Aliança Renovadora Nacional. A trajetória desse partido está atrelada a uma idéia de subordinação,
frente à atuação de um Executivo extremamente fortalecido. O presente trabalho pretende perceber se e como essas
questões são referidas nos relatos de políticos que foram atuantes durante o regime militar, participando da Arena.
Será analisado um conjunto de entrevistas realizadas com ex-deputados estaduais, coletadas a partir do desenvolvi-
mento de um programa de Memória Oral, desenvolvido junto àAssembléia Legislativa do Rio Grande do Sul. A análise
pretende perceber de que forma, na atualidade, os ex-deputados avaliam a sua participação nesse movimento político.
Dessa forma, buscar-se-á estabelecer uma comparação entre o que efetivamente representou a sua participação no
'partido do governo', enquanto espaço de crescimento e consolidação de carreiras políticas, e a leitura que fazem hoje,
dessa atuação enquanto participantes desse partido.

Isabel Cristina Leíte - UFMG


A Politica Operária em Minas: rupturas e contínuidades
A Politica Operária (POLOP) é uma das primeiras e principais organizações integrantes da "nova esquerda" , surgida
em inicio da década de 1960. Tal organização, de caráter teórico, passou em 1967 pelo seu maior impasse: partir ou
não para a luta armada? Daí surgiram organizações como o COLINA e desta a VAR-Palmares. Destacamos a impor-
tância dos integrantes da Escola de Medicina da UFMG dentro desta discussão e do jornalzinho '0 Piquete', sendo
este o vínculo principal com o meio operário. Recorremos à história oral como apoio à pesquisa, sendo, desta forma,
apresentados alguns dos depoimentos de ex integrantes da POLOP.

Angélica Müller - USP


Os usos políticos do passado: a construção da história da UNE na sua reconstrução (1976-1979)
O presente trabalho tem por intuito analisar a construção do histórico da União Nacional dos Estudantes (UNE) através
da publicação Memorex, uma revista realizada pelo Diretório Central dos Estudantes da USP em 1979 que narra a
trajetória da entidade. Este é o momento de reconstrução da UNE e, baseado em uma nova cultura política centrada na
luta pela democracia, coube as diferentes tendências do movimento reconstruir seu passado a partir do presente como
forma de legitimar a batalha contra o regime militar.

I 20/07 - Sexta-feira - Manhã (10h30min às 12h30min)

Antonío Mauricio Freitas Brito - UNEB


(Ex)-Militantes e o movimento estudantil: ontem e hoje
A partir de diálogo com bibliografia sobre história oral, tempo presente e memória, a comunicação analisa entrevistas
realizadas no âmbito da pesquisa sobre o movimento estudantil na UFBA (1960-1968). O conteúdo dos relatos transita
entre temas como a efervescência política pré-1964, o golpe militar e sua recepção na universidade e alguns dramas
pessoais vividos a partir do AI-5. A riqueza das narrativas dos depoentes permite reflexões sobre experiência e subje-

260
tividade, memória herdada, fatos e representações, trajetórias sociais, critica e senso-comum, mitos da geração de
1968, etc.

Vanda Lucia Praxedes - Faculdade de Educaçãol Programa Ações Afirmativas na UFMG


Memórias de estudantes negros (as) na UFMG
Esta pesquisa buscou desvendar as questões relacionadas à temàtica étnico-racial, especificamente à condição de
negro, inscritos nos percursos acadêmicos de estudantes da UFMG que se auto-identificaram como negros(as). A
narrativa dos sujeitos foi o fio condutor deste trabalho. Buscamos compreender através dos percursos e das memórias
desse grupo minoritário no ensino superior, os processos que influenciaram a entrada na universidade e as experiên-
cias que marcaram os percursos acadêmicos desses estudantes afro-<lescendentes. Focalizamos dois momentos: o
que antecedeu a entrada na Universidade e o período da vida já na instituição de ensino superior, procurando conhecer
as configurações e dimensões étnico-raciais e como estas se articulavam a outros aspectos de suas vidas. Foram
privilegiados os aspectos relativos às experiências, significados, expectativas e possíveis situações de preconceito e
discriminação étnico-racial vivenciados ou observados neste percurso. A História Oral foi a metodologia adotada nesse
trabalho. Os dados foram obtidos por meio de entrevistas individuais, na perspectiva da entrevista narrativa, com
estudantes regularmente matriculados em diversos cursos de graduação da UFMG, no período de março a setembro
de 2006.

Tânia Maria Gomes da Silva - UFPR


Mulheres invisíveis: histórias de vida
Este trabalho é parte da tese de doutorado desenvolvida no programa de p6s-graduação em história na Universidade ~
Federal do Paraná. Nele apresentamos o resultado parcial das entrevistadas realizadas com mulheres pobres, mora- ~
doras dos principais bairros da periferia do município de Mandaguari, norte do Paraná. Estas mulheres foram escolhi-
das em função de terem vivido em algum momento de suas vidas a prática das uniões conjugais consensuais. para a
elaboração da tese foram entrevistadas vinte mulheres. para esta apresentação escolhemos três mulheres cujos depo-
imentos nos pareceram importantes para acompanhar a trajetória de vida e a experiência de uma relação pautada pela
informalidade.

Zilda Márcia Gricoli lokoi - LEI· USP


Latino Americanos e a escravidão na era da Globalização: estudo do caso em São Paulo
Os novos deslocamentos populacionais que têm ocorrido entre vários países da América Latina e o Brasil nos propõe ~
questões de ordem metodológica e teórica no entendimento do funcionamento de diferentes redes que se constituíram gj
na exploração dos pobres do continente. Tratam-se de migrantes ilegais que precisam estar invisíveis até que obte- o:
nham recursos para retomar ou tenham filhos no Brasil para assim obterem o direito de permanência. Neste estudo 2i
proponho um modo de investigação que proteja os colaboradores para que se possa produzir conhecimento sobre §
realidades que se formaram na última década a partir de atividades apoiadas na clandestinidade dos sujeitos que ~
migram de forma ilegal, atravessando as fronteiras e instalando-se em oficinas e pequenas fábricas em São Paulo, ~
graças a ação dos coyotes, eles se inseriram nas atividades ilícitas das fronteiras entre o Brasil, a Bolívia, ou Perú e -B
México. Parte significativa desses grupos, especialmente mulheres e homens, jovens, são deslocados para São Paulo :i§
por suas experiências como tecelões, no manejo de teares manuais do artesanato realizado nos países de origem.
Vivendo escondido, esse grupo sofre as mais complexas violências, sendo apoiados pela pastoral do migrante e da
área de saúde que os registra por códigos.

Eudes Fernando Leite· UFGD


O ontem e o hoje na narrativa de uma negra Guató: componentes da memória e da identidade
Esta comunicação objetiva tratar da memória individual no contex1o das preocupações com o passado de sociedades
ágrafas 'excluídas' de espaço de vivência histórica, pelo menos desde a presença humana na região do Pantanal
brasileiro. Para tal, tomo como temática a história de vida de uma índia Guató, a senhora Francolina Rondon cuja
trajetória apresenta elementos significativos para a compreensão da forma de vida no Pantanal em um contexto de
recuperação de sua memória como parte da memória do grupo. O tema em questão está sendo desenvolvido sob a
perspectiva de compreender os mecanismos de consolidação identitária sobre o qual implicam fenômenos como a
memória (individual e coletiva) e suas diversas manifestações na sociedade contemporânea. Nessa pesquisa a produ-
ção e utilização das fontes orais permitem a realização das propostas brevemente elencadas acima. Assinalada pela
complexidade inerente à vida nas áreas recônditas do Pantanal, a narrativa de Francolina Rondon expõe alguns
elementos que favorecem a compreensão da História de seu grupo e os significados da reelaboração identitária no
tempo presente.

261
20107 - Sexta-feira -Tarde (14h ás 18h)

Marieta de Moraes Ferreira - CPDOC . FGV UFRJ


Movimentos sociais e luta pela democracia no Brasil
O objetivo dessa comunicação é apresentar os primeiros resultados de um projeto sobre os movimentos sociais e
processos de organização partidária durante a ditadura militar no Brasil. O foco principal de nossas preocupações é
estudar as origens do Partido dos Trabalhadores (PT) tomando como perspectiva a ótica de seus fundadores. Para
tanto elegemos como fonte privilegiada um conjunto de entrevistas realizadas com militantes de movimentos sociais,
de diferentes regiões do país que participaram da fundação do partido. A idéia que orienta a pesquisa é procurar
construir uma narrativa sobre a memória da fundação do PT a partir do relato daqueles que vivenciaram esse processo
e que, ao contar suas histórias de vida relatam igualmente a trajetória do partido. Como estamos tratando de relatos de
cunho autobiográfico, deve ser lembrado que estão datados pelo presente, reconstruindo um passado individual ou
coletivo, conhecido direta ou indiretamente. Mais uma vez: a proposta é recuperar uma construção memorialística dos
depoentes e, ao mesmo tempo, enfatizar a riqueza que esses relatos trazem sobre uma história das lutas contra a
ditadura militar no Brasil.

Lucilia de Almeida Neves Delgado· PUC Minas


A Campanha das Diretas Já: memória e narrativas
A Campanha da Diretas Já, em 1984, foi o maior evento político popular da História Republicana Brasileira. Coordena-
do por uma frente supra partidária e por inúmeras organizações da sociedade civil, dentre as quais se destacaram a
OAB, ABI e o movimento sindical, reuniu milhões de pessoas em diferentes comícios. Nosso trabalho constitui-se em
interpretação sobre a construção e disputa pela memória da campanha das diretas já , através da análise crítica de três
fontes: narrativas orais de cidadãos que dela participaram, sites de partidos políticos (PT, PMDB e PDT), e bibliografia
específica sobre o tema.

Anderson dos Santos - UFPR


Revista Veja e Fernando Collor: o espetáculo na política brasileira (1988·1992)
O período que vai de 1988 a 1992, ficou marcado no Brasil, sobretudo, pela densidade política, pois neste intervalo
ocorreram eleições diretas para a presidência da República (1989), o que não acontecia desde 1960, e a derrubada do
presidente eleito, Fernando Collor de Mello, através de um processo de impeachment (1992), fato inédito na história do
país. Constatando que a imprensa teve um papel destacado durante esses dois processos, decidimos realizar uma
análise sobre como a revista Veja, um periódico de circulação nacional, posicionou-se em relação a Fernando Collor
neste intervalo de tempo. Georges Balandier constatou que o poder não consegue realizar-se e manter-se através do
domínio da força ou da violência, nem pela iluminação exclusiva da razão, mas tão somente pela 'transposição, pela
produção de imagens, pela manipulação de símbolos e sua organização em um quadro cerimonial' (BALANDIER,
1982, p. 7). Nessa direção, pretendemos analisar quais os mecanismos ou artificios utilizados pela Revista Veja para
ajudar a alavancar um personagem político (Collor), ao posto número um da política brasileira no ano de 1989, auxili-
ando-o a manter-se em tal posto por um determinado tempo e fornecendo importantes subsídios a sua queda algum
tempo depois (1992).

Mario Cleber Martins Lanna Junior e Evelyn Maria de Almeida Meniconi - PUC Minas e Fundação João Pinheiro
Historia institucional da Policia Civil de Minas Gerais
A memória da Polícia Civil de Minas Gerais, é parte de nossos atuais problemas e suas possiveis soluções. Um espaço
conquistado graças á sua capacidade de modificar-se, adequar-se ás necessidades de cada tempo, de ser parte de
nossa cultura. A Polícia Civil de Minas Gerais que conhecemos formou-se por um longo processo, responsável em
configurar a atual Polícia Civil de Minas Gerais. Os primeiros levantamentos sobre a história da Polícia Civil de Minas
Gerais mostraram a escassez de estudos sobre esse tema. Esse trabalho precisou partir da estaca zero, o que signi-
ficava algumas limitações metodológicas, afinal, tudo ainda precisava ser feito. Dessa forma, os objetivos traçados
foram humildes; o principal era realizar uma pesquisa histórica institucional sobre a Polícia Civil de Minas Gerais no
periodo republicano. Especificamente, pretendeu-se apontar e explicar as competências e as ações da Polícia Civil de
Minas Gerais e analisar seus processos de fundação, institucionalização e desenvolvimento histórico.

Juniele Rabêlo de Almeida - NEHO/USP e Unicentro Newton Paiva


Policiais militares brasileiros: ciclo de protestos e punições corporativas
O trabalho pretende investigar os policiais militares que integraram o ciclo de protestos nacional ocorrido no primeiro
semestre do ano de 1997, analisando, por meio da história oral de vida, as experiências relativas ás greves e ás
punições corporativas. A crise policial militar brasileira expressou uma inovação substantiva no repertório de ações
coletivas dos trabalhadores, tendo em vista a emergência de greves militares em treze (13) estados, de norte a sul do
pais {Pará, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Bahia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, São Paulo,

262
Rio de Janeiro, Santa Catarina e Rio Grande do Sul). O direito de greve garantido aos trabalhadores civis tornou-se
instrumento de pressão da categoria policial militar. O novo repertório de ação marcou, assim, não só a história da
corporação, como atingiu a estrutura administrativa federal em um ciclo de protestos policial militar sem precedentes
na história do Brasil.

Cassiana Buso Ferreira - USP


Os saques em São Paulo no ano de 1983 e a mídia impressa
A comunicação tem como objetivo expor os materiais coletados junto ás fontes utilizadas na pesquisa sobre os saques
ocorridos no mês de abril de 1983, na cidade de São Paulo. A partir da análise dos textos divulgados na mídia impres-
sa, a investigação visa compreender o movimento na sua amplitude, bem como entender a dinâmica e a lógica interna
destas manifestações. Em contato com os jornais Folha de S.Paulo, O Estado de S.Paulo, Jomal da Tarde e Folha da
Tarde pudemos identificar alguns elementos que constatam a dimensão adquirida pelos eventos: o espaço reservado
para sua divulgação; o debate estabelecido entre os diferentes setores da sociedade - político, empresarial, sindical-
na esfera municipal, estadual e federal; a abordagem dos saques nas diferentes seções - editoriais, notícias, reporta-
gens, artigos, charges e comunicados pagos. Acreditamos que o cotejamento destas fontes nos possibilitará verificar
se os saques de 1983 se tornaram um poderoso instrumento de coação em prol dos interesses de outros segmentos
sociais, políticos ou partidários, alheios á sua composição original, favorecendo a reflexão sobre a 'espontaneidade'
do movimento.

33. História e ações educativas em variados ambientes: novos territórios a serem explorados
Lana Mara de Castro Siman (UFMG I PUC·Minas) e Júnia Sales Pereira (UFMG)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h ás 18h) I
Júnía Sales Pereíra - UFMG
Formação Profissional e atuação em ação educativa em museus
O trabalho apresenta e discute alguns pressupostos da formação profissional, com especial atenção á formação para
atuação com ações educativas em ambientes sociais como os museus. Analisa as condições para a ação educativa,
os desafios e perspectivas colocadas ao profissional e ás equipes de ação educativa em museus, bem como as
diversas concepções de educação e de história em curso em ambientes sociais que têm na história sua centralidade.
Apresenta algumas contribuições ao debate sobre as relações entre museus, escolas e outros ambientes sociais de
educação histórica, contribuindo para compreensão de seus limites e das condições de atuação profissional.

Luciana Sepúlveda Kõptcke - Fundação Oswaldo Cruz - COC , Maria Margaret Lopes - UNICAMP e Marcelle
Pereira
A construção da relação Museu-Escola no Rio de Janeiro entre 1832 e o final dos anos de 1970. Análise das
formas de colaboração entre o Museu Nacional e as instituições da educação formal
O presente trabalho investiga as atividades de colaboração entre o Museu Nacional e as instituições de educação ~
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formal no periodo que vai de 1832, quando ainda não caracteriza uma ação sistemática, ao final da década de 1970, ~
quando se discute o descaso federal com o Museu e suas atividades educativas. Pretende-se identificar os processos ~
que orientam as iniciativas de colaboração, caracterizar as formas de relação construídas e analisar os sentidos que B
esta toma para profissionais dos museus e aqueles das instituições de ensino formal, no âmbito das práticas correntes ~
de educação, SOCialização e produção de conhecimento, em cada período. No Brasil, de modo semelhante à Europa e .g
aos Estados Unidos, a partir do século XIX, a escola elementar e o museu constituem tecnologias de transformação .~
social na cruzada pela formação do cidadão republicano. Os processos pedagógicos são regulamentados na socieda- ~
de por diversas instituições. Família, escola, igreja e museu representam instâncias tradicionais de transmissão de ~
conhecimentos, valores, práticas sociais e culturais consideradas como patrimônio do grupo. '"
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17/07 - Terça-feira- Tarde (14h ás 18h) "'"'"
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Paulo Afonso Zarth - UNIJUI
A babei do novo mundo: a história de Ijuí contada numa perspectiva étnica .;
O texto analisa a narrativa histórica veiculada por instituições culturais e pela imprensa da cidade de Ijuí (RS), conside- 'E
rando que o ensino de história se realiza também fora dos espaços escolares, sob influência de diversos meios e i§

263
ambientes de difusão de idéias. Destacamos entre as fontes, os textos do Correio Serrano e artigos de membros do
Grêmio Ijuiense de Letras. A característica maior das fontes é a narrativa étnica, que marca a história da cidade. A
perspectiva étnica foi inaugurada num artigo do padre Cuber, publicado no Kalendarz Polski de 1898 no qual menciona
19 idiomas falados na comunidade que parecia a 'Babel do novo mundo." Os textos revelam os esforços dos intelectu-
ais para superar os conflitos étnicos adotando a idéia de Melting Pot, dos ideólogos norte-americanos. Esta visao
aparece no artigo 'o melting-pot ijuiense', (1934) no qual o autor caracteriza a cidade como um exemplo desta concep-
ção. No cadinho proposto pelo melting pot, os afro-brasileiros e indígenas aparecem como ingredientes inexpressivos
diante dos europeus. Nos anos 80 o melting pot é substituído pela idéia de 'culturas diversificadas', versão local do
multiculturalismo. A nova orientação histórica está cristalizada num parque temático com bases étnicas.

Manuelina Maria Duarte Cândido - Museu da Imagem e do Som do Ceará


Educação patrimonial em variados territórios: relato de uma experiência itinerante
Texto com o relato e as reflexões decorrentes de uma experiência de educação patrimonial realizada em municípios do
interior do estado do Ceará durante o projeto Secult Itinerante (2005/2006), da Secretaria de Cultura do Estado, no qual
atuamos como educadora em 5 municípios. O maior desafio foi o território de aplicação: diferentes cidades do interior
do Ceará, nem todas conhecidas por mim. Admiti (e aprendi com isso) que de qualquer maneira não cabia ao professor
indicar as referências patrimoniais da cidade a serem estudados, a partir do seu 'olhar estrangeiro'. Assim, elaborei
uma estratégia para discutir com os alunos conceitos de patrimônio, História, memória, cultura e outros, mas captar
junto ao grupo seu próprio recorte do patrimônio a ser preservado localmente. O texto, portanto, discute esses concei-
tos e também o de educação, especialmente a educação patrimonial, que mais que qualquer outra metodologia,
precisa considerar os referenciais do educando, seu papel enquanto sujeito que participa da construção do processo
educativo, sua identidade e seus valores culturais; além de apresentar a experiência realizada e alguns resultados.

Maria da Luz Coelho - Centro Educacional Frei Seráfico


Professores de História na "histórica" São João del-Rei
São João del-Rei é uma cidade tricentenária que integra o chamado circuito mineiro de "cidades históricas'. Ela apre-
senta, no entanto, particularidades que a diferenciam, por exemplo, da vizinha Tiradentes, que mantém traços preser-
vados do século XVIII. O espaço urbano sãojoanense é uma mescla de monumentos, casario, logradouros, através
dos quais um visitante pode reconstituir a evolução histórica, os impulsos e os revezes econômicos que se refletiram
na produção artística e cultural. Desde as ruas, com suas construçôes típicas do século XVIII até os casarões da
segunda metade do século XX, passando pelos prédios datados do oitocentos. No entanto, é hegemônica na cidade a
idéia que contrapõe a opacidade do presente ao brilho da época da mineração e um sentimento de exclusão pelos
habitantes da periferia. Neste trabalho refletimos, a partir de entrevistas com seis professores de História do ensino
médio da cidade, comolou se eles relacíonam suas memórias e essa memória hegemôníca que relega ao esquecimen-
to os séculos XIX e XX e segrega os espaços urbanos. Analísamos os motivos pelos quais o espaço citadino sãojoa-
nense não tem se constituído num 'lugar" para seus habitantes e num 'texto' a ser lido por professores e alunos nas
aulas de História.

Érica Melanie Ribeiro Nunes - Fundação de Ensino de Contagem e Ligia Vilela Félix - UFMG
Apropriação de Espaços Culturais pelos alunos da Educação de Jovens e Adultos - EJA: um relato de experi-
ência
A atualidade das discussões sobre a educação em espaços não-formais nos coloca a questão das possibilidades e dos
desafios da educação histórica nestes locais. Segundo Robert Yves (YVES, 1984:p.205-214), o objetivo da história é
restituir a dinâmica do momento de forma a proporcionar a compreensão dos fatos. Aos museus e as casas de cultura
cabem, por sua vez, criar relaçôes entre os objetos, as idéias e os conceitos envolvidos num processo dinâmico que
proporciona 'fala' ao patrimônio. Estes locais estão se consolidando cada vez mais como espaços de educação, de
troca de opiniões e de convivência. Tendo em vista estas possibilidades de educação não-formal e as especificidades
dos educandos da EJA, o presente trabalho propõe-se, através de um relato de experiência, problematizar as questões
acerca da utilização destes espaços na EJA. A referência é uma experiência de visita guiada á exposição 'Arte Italiana
do MASP', na Casa Fiat de Cultura, com duas turmas da Fundação de Ensino de Contagem-FUNEC, em abril de 2006.
O que, em princípio, seria uma visita técnica, suscitou para alunos e professores uma reflexão profunda, trazendo
desdobramentos não previstos anteriormente, que contribuíram para repensar as formas de apropriação de bens
culturais e construção de conhecimentos na EJA

Joâo Carlos Ribeiro de Andrade - E.M.Maria Elena da Cunha Braz


O Ensino de História Com a Educação de Jovens e Adultos mediado por lugares históricos da cidade
A experiéncia educativa com o ensino de História, que pretendo apresentar, foi realizada através de um trabalho
interdisciplinar na E.M. Fausto F.de Oliveira, em Betim/M.G, no ano de 1998, com Educandos Jovens e Adultos.Tal

264
experiência, bem como a escolha dos lugares, partiu de demandas colocadas pelo processo de ensino e aprendiza-
gem com a História em sala de aula. Dentre elas, superação da prática livresca e de uma narrativa única sobre os
movimentos históricos, a necessidade de buscar contato mais imediato com fontes históricas e, ainda, estabelecer
uma relação mais dinâmica com as diversas temporalidades do processo histórico. Lugares visitados, Casa de Cultura
Josephina Bento e Praça Milton Campos, oportunizaram aos alunos construir uma re-significação do processo de
ensino e aprendizagem com a História.Em sua maioria, os alunos desconheciam a existência desses lugares no
município ou, apenas, ouviram falar. A interação com objetos de memória histórica desses lugares foi mediada por
intervenção direta do professor, por observações e atitude de contemplação ativa. Esses processos permitiram trocas,
reflexões acerca da historicidade daquelas fontes.Assim, a História põde contribuir para o conhecimento e contato dos
alunos com o patrimônio histórico da cidade onde moram.

Fabiana Nicolau - USP


Jardins que acolhem e educam: O Oratório São Francisco de Sales
O século XIX é marcado pela emergência de congregações católicas preocupadas com a educação dos jovens. Este
movimento se insere em uma rede de práticas e enunciados que apontava o comunismo, o protestantísmo e a pobreza
como o grande mal a ser aniquilado. A relação destes com a educação constituíam-se a partir da concepção de jovem
daquele período. Ou seja, corpo indolente, propenso ao mal e se não estivesse aos cuidados de um adulto poderia ser
corrompido moralmente. Neste sentido, nada mais urgente do que responsabilizar-se pela educação moral e escolar
dos jovens, assegurando-lhes a moralidade católica e trabalhadora. E será este o papel incorporado pelos Salesianos
- congregação emergente em 1948. para tanto criaram instituições visando a educação de jovens; a primeira fora o
Oratório São Francisco de Sales. Dada á importância deste para a constituição do Sistema Preventivo de Dom Bosco
- a pedagogia salesiana - este trabalho busca analisar as redes discursivas e não discursivas componentes da emer-
gência desta instituição, as práticas pedagógicas e disciplinares constituintes do Oratório e o grupo social a quem se
destinava, visando assim compor um olhar sobre a educação da juventude do século XIX.

Marina Fernandes Braga - UFPR


A cidade e os grupos escolares: arquitetura e espaço escolar em Minas Gerais (Juiz de Fora, 1907-1930)
Esta comunicação tem como eixo investigativo o estudo dos significados e das representações acerca da linguagem
espacial e arquitetônica escolar associados aos discursos educacionais e higienistas que foram construídos e direcio-
nados á escola primária republicana. Nesse sentido, privilegiarei a trajetória histórica dos edifícios que abrigaram os
primeiros grupos escolares na cidade de Juiz de Fora (Minas Gerais), durante o período de 1907 á 1930, caracterizado
como a fase de implantação desse tipo de organização escolar na cidade. Segundo a historiografia mineira, Juiz de
Fora foi protagonista de um intenso processo de modernização cuja proximidade com a cidade do Rio de Janeiro é
apontada como um dos determinantes na construção de cenários econômicos e culturais específicos que a destacava
das outras cidades mineiras. Foi neste ambiente que, em 1907, é inaugurado seu primeiro grupo escolar e, posterior-
mente, com a instalação de outros se formaria seu conjunto de escolas públicas primárias. É partir da análise deste
primeiro edifício que pretendo explicar como a linguagem arquitetõnica e os espaços escolares pretendidos e concebi-
dos pelo Estado mineiro se apresentaram na paisagem urbana da cidade de Juiz de Fora.

18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h) <n


~
Eucidio Pimenta Arruda - Universidade FUMEC ~
J5
A História é um jogo? Games, juventude e aprendizagens em história ~
O objetivo dessa pesquisa é investigar e analisar as concepções de história e formas de pensar historicamente cons- :g
truídos por jogadores adolescentes com idade entre 14 e 17 anos através dos usos e apropriações de videogames de ~
computador que simulam e concretizam 'situações históricas virtuais' em ambientes virtuais 'multijogadores'. Ao aprender .~
a jogar um game que simula a história, por meio das interações entre os jogadores, o jogador desenvolve concepções E
e raciocínios históricos? Essas formas de jogo estariam levando os jovens a pensarem e a conceberem a História ~
como produto de ações humanas complexas? Os referenciais teóricos da pesquisa tangenciam quatro eixos importan- .~
tes: Conceito de 'Empatia" histórica; Cultura tecnológica e cultura gamer; Cultura jovem (ênfase nas tecnologias digi- ô
tais) e Aprendizagem. Discutiremos os resultados parciais da pesquisa, dando destaque para: levantamento de lan- ~
houses em Belo Horizonte, levantamento de games nacionais e internacionais, inserção nos ambientes de interação e ~
socialização utilizados pelos jogadores do game Age Of Empires 111, análise inicial sobre os usos e apropriações do .~.
game em questão, bem como de suas formas de socialização. :

265
Roberto Radünz - UCS
O Museu de Venâncio Aires mostra o seu acervo - educação patrimonial e novas tecnologias em educação
O projeto O Museu de Venâncio Aires mostra o seu acervo - Educação Patrimonial e Novas Tecnologias na Educação,
tem por objetivo analisar as potencialidades do uso de novas tecnologias no espaço museal, dentro dos princípios da
Educação Patrimonial, contribuindo para a qualificação de um software educativo(CO - O Museu de Venâncio Aires
mostra o seu acervo), que está em processo de validação. Esse projeto estabeleceu uma parceria entre o Núcleo de
Cultura de Venâncio Aires - RS e as Universidade de Santa Cruz - UNISC e de Caxias do Sul- UCS. Para atender os
objetivos de validação, estabeleceu-se como meta instrumentalizar os profissionais da educação no município de
Venâncio Aires, em especial aqueles que atuam no ensino fundamental, envolvendo-os em todas as etapas do proces-
so de investigação, pesquisa e análise de dados que subsidiarão a finalização do software educativo e a conseqüente
qualificação da proposta educativa do Museu de Venâncio Aires.

Margarete da Costa Cardoso - Centro Universitário SantAnna


Ensino de História, Patrimônio e Memória: Parcerias Possiveis
Este trabalho surgiu do questionamento dos últimos três anos sobre as parcerias possíveis entre o ensino formal de
história, a memória e o patrimônio, como principais elementos da construção do saber histórico. Entendemos que a
escola não é a única responsável pela construção do saber histórico e compreensão da cultura; a memória, o patrimô-
nio material e imaterial, a oralidade, a iconografia, a tecnologia e outros contribuem para a formação do indivíduo,
interagindo com a educação formal. Para construção do saber, para a fruição e formação do cidadão, a educação
escolar se completa no entorno, nos lugares de memória, nos espaços expositivos - museus e outras instituiçôes -, na
tradição oral e na produção cultural de uma sociedade ou grupo. Por isso, as parcerias devem se estruturar na possi-
bilidade de aproveitar melhor nossa diversidade, na valorização da micro-história e no intuito de apreensão do devir,
situando sujeitos históricos que a partir da memória individual interagem com um grupo, com o entorno e sentem-se de
fato responsáveis pela constituição da memória coletiva e parte importante da História.

Soraia Freitas Dutra - Escola Fundamental do Centro Pedagógico da UFMG


Cultura material e conhecimento histórico em crianças
A complexidade acerca da aprendizagem da história pelas crianças é consenso entre pesquisadores do ensino e
aprendizagem em História. No entanto, grande parte dos estudos realizados aponta para a importância dos métodos
utilizados pelos professores no desenvolvimento e aprendizagem histórica, redobrando a importância na busca de
alternativas para tornar esse conhecimento acessível ás crianças. Neste artigo, discutiremos as possibilidades de
desenvolvimento do conhecimento histórico em crianças, por meio da ação mediada pelos objetos da cultura material
e pelo professor a partir de uma visita ao Museu do Escravo e à Fazenda Boa Esperança em Belo Vale - MG. Tal visita
teve o objetivo de ampliar as possibilidades de estudo sobre parte da memória histórica da escravidão em Minas no
século XVIII e XIX, por meio de objetos, documentos e da arquitetura de uma fazenda escravocrata de século XVIII. A
ação mediada dos objetos da cultura material e do professor relevou-se uma estratégia capaz de promover o desenvol-
vimento de habilidades cognitivas e operações de natureza temporal, favorecendo a aprendizagem da História pelas
crianças.

Suderli Oliveira Lima - UFPR


Ultrapassando as fronteiras do Colégio Estadual do Paraná: Uma análise das ações educativas das Atividades
Paraescolares
O objetivo deste trabalho foi o de verificar as ações educativas das Atividades Paraescolares (AP) do Colégio Estadual
do Paraná (CEP), na década de 1970. Para isso foram analisados alguns documentos da própria Instituição de Ensino
e as Leis 4024/61 e 5692/71, utilizando como pressupostos as obras de Roger Chartier (1990) e Norbert Elias (1994).
No decorrer de nossa análise, verificamos que as AP possuíam tanto um cunho pedagógico, principalmente no que se
referia a complementar a ação educativa das disciplinas obrigatórias, como também incentivava as aptidões vocacio-
nais e a procura por uma atividade profissional futura. Para tanto, foi necessário olharmos para o periodo ora estudado
por dois ângulos, de um lado pelas nuances notadamente nitidas de uma política autoritária, e do outro nas facetas da
interdependência entre desenvolvimento econômico e educação, pois com o surgimento da Teoria do Capital Humano
houve algumas tendências de referenciar a educação como sendo o principal requisito de um desenvolvimento econô-
mico. Portanto neste trabalho desenvolvemos alguns pontos referentes às relações entre educação e desenvolvimento
a partir ações educativas das AP no âmbito institucional do CEPo

Elmar Figueiredo
O ensino de História e a educação a distância em Mato Grosso
Este trabalho propõe analisar as diferentes formas de produção dos textos históricos nos ambientes da "Educação à
distancia'. Para tanto estamos realizando um levantamento dos textos produzidos para estes ambientes onde pode-
mos perceber a concepção de historia vinculadas nestes ambientes. Considerando a visão dos atores envolvidos

266
dentro do processo de produção do conhecimento histórico (professor/produtor, tutor e alunos). Como base para o
estudo trabalhamos com os textos do EAO da UFMT e EAO UNEMAT O reconhecimento da importância do EAO, como
alternativa para todos os níveis educacionais se fez sentir desde a LOB e os crescentes credenciamentos de escolas
pelo Brasil. Trata-se então dos Historiadores tomarem consciência desta estratégia educacional diferenciada, que
utiliza textos impressos, vídeo, tv, radio, Internet e o que mais tiver por perto.

Rosivaldo Pereira de Almeida - UFG


Educação não·formal: os cadernos de educação do MST e a identidade política dos "sem terra"
A partir da expansão dos cursos de pós-graduação em educação no Brasil, principalmente a partir da década de 70,
muito se produziu acerca da educação escolar e das práticas e teorias do ensino formal e muito pouco se fez sobre
outras modalidades, como a Educação Não-Formal. que para Gohn (2001) ocorre em processos organizativos da
sociedade civil, nos movimentos e organizações sociais. O MST desenvolve ações e práticas educativas que interfe-
rem na identidade política dos Sem Terra em movimento e produz uma vasta literatura e outros materiais impressos
possibilitando a formação ideológica dos militantes a partir da pedagogia que tem por princípio as múltiplas relações do
movimento com o estado e a sociedade. O que pretendo nesse trabalho é apresentar algumas categorias de análise
que são abordadas em uma pesquisa em andamento.

I 19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h ás 16h30min) I


Lana Mara de Castro Siman . UFMG I PUC·Minas
Cultura e educação histórica: intersecções entre ações educativas museológicas e escolares
Nosso trabalho pretende discutir a museologia como ação cultural e educativa e a ação educativa escolar como uma
ação cultural e patrimonial a partir de referencias da abordagem sociocultural (na tradição da psicologia sociohistórica
e de Bakthin) que, dentre os seus conceitos básicos, privilegiam os de sujeito histórico social, linguagem /discurso,
dialogia, ação comunicativa, ação mediada, meios mediacionais, ação contextualizada (institucionais, histórico e cul-
turais) que se influenciam, de forma múltipla e simultânea, na produção de sentidos e significados compartilhados por
diferentes sujeitos e grupos. Procuraremos, ainda, demonstrar por meio da análise do registro de alguns episódios de
salas de aula de história, como a introdução de novos meios mediacionais (no caso os artefatos culturais em exposi-
ções museais) tem o potencial de transformar a ação mediadora exercida tanto pelos professores, como pelos agentes
culturais dos museus. Esperamos que nosso trabalho possa contribuir para o avanço das discussões a respeito da
importância que o contexto da ação e dos discursos têm para que ações educacionais se tornem significativas para a
formação histórica dos sujeitos e das instituições que os formam.

Ivana D. Parrela - Universidade Fumec I UFMG


Ações educativas em arquivos: o caso do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte
Esta comunicação pretende discutir algumas possibilidades de ações educativas em arquivos, especialmente, nos
arquivos municipais. Apresentaremos como exemplos algumas estratégias desenvolvidas pelo Arquivo Público da
Cidade de Belo Horizonte (APCBH) nos últimos dez anos. O que incluirá a apresentação de alguns materiais produzi-
dos no período delimitado para abordagem e uma breve discussão dos resultados obtidos com os mesmos. Acredita- ~
mos que dentre as instituições arquivísticas os órgãos municipais são aqueles que têm maior chance de aproximação
com o público escolar e que este por sua vez pode ser um excelente divulgador dos seus acervos e um de seus
®'"
principais usuários. ~
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William Reis Meirelles - UEL E
cu
Manhosos, sapecas e matreiros ~
As mudanças no estilo de vida como resultado da Revolução Industrial, impulsionadas pelas inovações técnicas volta- -g
das para as grandes massas, manifestaram-se sob as mais diversas formas: valores, imagens, sentimentos, arte, .~
crença, trabalho, tradição. Tais manifestações constituem-se em uma profunda revolução no campo da cultura e atra- E
vés de vestígios e registros - nas suas mais variadas formas como escritos, objetos, palavras, música, literatura, ~
pintura, arquitetura, fotografia, filme, video - tornando-se objeto importante para a interpretação do passado. Assim. .];
para entender a articulações do social é necessário conhecer os elementos que nelas interferem, pois, na economia ~
capitalista as instituições culturais, entre elas o cinema, não são marginais ou sem importãncia. Nessa perspectiva ~
procuramos orientar nossas pesquisas para os imaginários sociais que circulam nos filmes populares - chanchadas - ;g
e que a história não pode ignorar o papel que cumprem no campo das manifestações culturais, pois compreender o '~.
mundo em nosso século será uma tarefa incompleta se não incluirmos o cinema por ele produzido e sua capacidade de :
penetrar em zonas encobertas pela penumbra, pouco conhecidas de nossa história contemporânea, com observa .~
Marc Ferro. 'E
.~
:r:

267
Suzana Cristina de Souza Ferreira - Centro Universitário UNA
Adhemar Gonzaga, o Sr dos Passos do Cinema Nacional
Foi no final dos anos 1920 e inicio dos anos 1930 que Adhemar Gonzaga inaugurou um outro papel para si mesmo
dentro da história do cinema brasileiro. Dessa data em diante, ele não mais apenas escreveu e liderou campanhas a
favor do cinema na imprensa: ele fez cinema. Com a construção da Studio Cinédia, Gonzaga materializou o meio para
realizar o seu projeto estético-cultural para o cinema brasileiro. Projeto orientado por um ideal de modernidade, de
nacionalismo, de desenvolvimento e, por mais que pareça incoerente, também pelo modelo norte-americano de fazer
cinema.

34. História e alteridade


Marion Brepohl de Magalhães (UFPR) e Elizabeth Cancelli (USP)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h às 18h) I
Izabel Andrade Marson - UNICAMP
Liberalismo e escravidão no Brasil do séc. XIX: a condição servil como alteridade e pedagogia da liberdade
O debate sobre a superação do tráfico e do cativeiro de africanos foi um episódio de destaque na experiência liberal
européia e americana ao longo de todo o século XIX. Não por acaso, envolveu politicos e estadistas nos dois lados do
Atlãntico e deu origem a diferentes argumentações e projetos. Um desses projetos concebeu a construção da igualda-
de jurídica fundando-se num princípio de sensível alteridade - a conquista da liberdade pelo exercício exaustivo do
trabalho escravo, ou seja, da compra da alforria com pecúlio amealhado pela vivência plena da escravidão. Dentre os
divulgadores dessa forma de superação do cativeiro encontram-se os "ameliorationists', cujas proposições ficaram
registradas na obra Travels in Brazil, do viajante inglês Henry Koster. Elas seriam recorrentemente lembradas e
(re)formuladas por importantes políticos brasileiros, a exemplo de José Thomaz Nabuco de Araújo, senador, ministro
da justiça do gabinete Paraná (1853-1856), membro do Conselho de Estado e chefe do partido liberal na década de
1870. Tais experiências sinalizam a complexidade das relações entre igualdade e alteridade dentro dos parâmetros
liberais, e evidenciam possíveis mediações entre liberalismo e escravidão, questões que essa comunicação se propõe
tangenciar.

Simone Tiago Domingos - UNICAMP/IFCH


Política e Memória: representações dos jesuítas na Revista do IHGB (1839-1889)
Nas páginas da Revista do IHGB, entre 1839 e 1889, é possível perceber que uma das preocupações dos sócios foi
buscar evidências tanto para se informarem sobre temas do passado da nação brasileira quanto para discutirem
questões do presente. Reeditou-se em outros termos e com objetivos próprios dos meados do XIX, conflitos ocorridos
no passado da Companhia de Jesus. O debate sobre os jesuítas ficou registrado nas publicações da RIHGB tanto em
memórias contemporâneas quanto em registros antigos dos séculos XVI ao XIX, testemunhando as origens e o percur-
so da polêmica em relação a esses religiosos. Entre as diferentes representações, destacamos aquela que aponta os
loyolanos como o Outro - estranho às necessidades do Brasil oitocentista, um inimigo da nação capaz de destruir os
poderes e ordens instituídas. A partir de então, a discussão a propósito do trabalho daqueles religiosos toma contornos
radicalmente opostos, ou seja, o jesuitismo e o anti-jesuitismo se acentuam. As falas críticas tornam-se mais. expressi-
vas e, lembrando as restrições do período pombalino, transpiram o discurso mitológico e conspiracionista. E possível
que este discurso tenha alimentado a corrente anti clerical que atuou nas discussões em tomo da separação ou não da
Igreja do Estado no final do Império.

Rossana Samarani Verran - PUC-RS


O indígena na visão do naturalista: final do século XVIII
A proposta deste trabalho é apresentar uma interpretação a respeito do modo como eram descritos e analisados os
indígenas pela Filosofia Natural no final do século XVIII. Com esta finalidade será analisado parte do acervo documen-
tai de Alexandre Rodrigues Ferreira, naturalista português que chefiou uma expedição científica pela região amazônica
empreendida pela Coroa Portuguesa entre 1783 -1792. Procurou-se analisar as questões suscitadas pelo contato do
europeu com alteridade e as alternativas de respostas dadas pelo naturalista.

268
Marcia Regina Capelari Naxara - UNESP-Franca ~
Formas de apreensão do Brasil (séculos XIX-XX) ~
Pretendo, nesta comunicação, tecer algumas reflexões a propósito de como as leituras de Brasil realizadas a partir do
século XIX estiveram pautadas pelas propostas de conhecimento do mundo produzidas pelo iluminismo e pelo roman-
tismo. Considero que o conhecimento da nação, em seus espaços de alteridade e de encontro/almágama de diferen-
ças foram sendo formados a partir de princípios que mesclaram, não sem ambigüidades e ambivalências, a busca da
objetividade cara ao conhecimento científico, herança iluminista, e as concepções de mundo pautadas pelo romantis-
mo, ou melhor, por uma sensibilidade romântica que atravessa o tempo, com caráter de permanência na cultura e
formas de representação do Brasil. Procuro destacar a presença marcante e constante de leituras realizadas na con-
traposição mundo urbano e mundo natural (civilização/barbárie), tão próprio á cultura ocidental e traço marcante das
nações de formação colonial.

Celso Rodrigues - Centro Universitário Metodista IPA


Patrimonialismo e Modernidade na ordem política e jurídica brasileira do século XIX ~
O artigo discute o processo de construção do pensamento político e juridico brasileiro na conjuntura histórica de :g
elaboração dos ordenamentos jurídicos e instituições estatais, que envolvem a primeira metade do século XIX. Nesse ~
âmbito, problematiza as relações desse pensamento com o 'pensamento do século' e com as estruturas escravistas e w
patriarcais. Enfatiza, por fim, a necessidade de compreender as idéias políticas no Brasil a partir das imbricações entre .§!
uma modernidade politica que se configurava nos trópicos e a ordem social patrimonial. t;
:I:
José Alves de Freitas Neto - UNICAMP
Carniceros degolladores: as marcas da violência em EI Matadero - uma abordagem sobre literatura e política
na origem argentina
A proposta desta comunicação é investigar as projeções e preocupações políticas expostas no conto 'EI Matadero'
(1838) do argentino Estebán Echeverría. O discurso literário concomitante às questões políticas da 'fundação da
nação' constrói um percurso de diferenciações ao abordar os semelhantes ("o argentino') no discurso da jovem Repú-
blica. No conto, à parte a famosa proposição do embate entre 'civilização e barbárie' e entre a capital e o interior na
Argentina do século XIX, descreve-se a população urbana de Buenos Aires que apóia o governo do caudilho Juan
Manuel de Rosas e a violência política daquele período, na qual federalistas e unitaristas se enfrentavam. A violência,
no entanto, não reside apenas da descrição física dos conflitos políticos da época, mas na própria composição do
relato com as formas e juízos estabelecidos pelo político literato sobre o povo que emerge de suas páginas. O texto de
Echeverría permite uma reflexão histórica sobre o imaginário da primeira metade do século XIX argentino rastreável
em um de seus relatos fundacionais.

Carla Renata Antunes de Souza Gomes - UFRGS


A última guerra entre a Província e a Corte é pelo poder de nomear
Perseguir as palavras 'rio-grandense' e 'gaúcho' nas narrativas literárias de gêneros variados tentando captar as
alternâncias de sentidos conforme o emprego destes vocábulos nos textos, a fim de compreender como e quando o
nome 'gaúcho' é adotado pelos regionais suplantando ao fim e ao cabo o adjetivo gentílico, 'rio-grandense', tal foi o
propósito fundamental da pesquisa desenvolvida para a realização da dissertação: 'De Rio-Grandense a Gaúcho: o
triunfo do avesso'. Que teve como ponto de partida o aprofundamento da questão proposta por Augusto Meyer, no
clássico estudo 'Gaúcho: história de uma palavra', ou seja, de 'como o termo [gaúcho] adquiriu lentamente novos
matizes de sentido' e de vocábulo depreciativo tornou-se um apelido regional ampliado. No presente artigo serão
apresentados quatro poemas que se referem ao gaúcho e apresentam uma possibilidade de acompanhar o percurso
do termo, visando demonstrar como tais indivíduos - os gaúchos - eram percebidos pelos intelectuais nativos, e em
que medida os rio-grandenses se distinguiam ou não deles conforme o olhar dos escritores de fora do Rio grande
durante o século XIX, a fim de recompor pelas variações de sentido da palavra um conjunto de representações da
identidade regional via Literatura.

Ruth Maria Chittó Gauer - PUC-RS


Diálogos Sobre o Outro: A Igualdade e a Discriminação nos Discursos dos Deputados Constituintes de 1823
Proponho analisar os discursos de alguns Deputados Constituintes de 1823, partindo da premissa do autor, em sua
tese central, manifesta-se radicalmente contrario a Heidegger quando afirma: 'a relação ao outro consiste certamente
em querer compreendê-lo, mas a relação (da alteridade) excede essa compreensão'. Significa 'que outrem não é,
primeiramente objeto de compreensão e, depois, interlocutor'. Não se trata de uma forma dialógica especial, compará-
vel com aquela que foi proposta por Buber, além de outros. Para Levinás, este nível de intersubjetividade permanece
insuficiente para romper as amarras ontológicas e para garantir a radical idade da relação com a alteridade. A ser
assim, questões históricas importantes necessitam serem reinterpretadas entre elas o conteúdo de vários discursos de
Deputados Constituintes de 1823 muitos deles representantes da intelectualidade brasileira do inicio do século XIX. As

269
discussões sobre nacionalidade mantidas durante o período que a Assembléia manteve o debate sobre quem seriam
as pessoas consideradas brasileiras, constituem um material fundamental para a reflexão sobre alteridade. Priorizo
alguns fragmentos das falas de vários deputados.

I 17/07 - Terça-feira - Tarde (14h às 18h)

Vavy Pacheco Borges· UNICAMP


Identidade, alteridade e biografia
Ao nos preocuparmos em pensar o indivíduo na história por meio de uma biografia, passa-se necessariamente pelo
problema identidade-alteridade. A tentativa de se escrever uma biografia é um desafio para se pensar tanto o outro -
objetivo fundamental - como a si mesmo: falar do outro é falar de si. Hà a necessidade de uma atração para se
enfrentar o « desafio biográfico », como chama Francois Dosse - isto é, um longo casamento, uma união estável sem
a qual não há uma verdadeira biografia; essa atração é o que já foi chamado de « encanto radical », aquilo que o
biógrafo sente pelo biografado. A partir dessa relação, desenrola-se o trabalho de construção de uma história pelo
recolhimento e seleção de evidências empíricas que acabam por alinhavar uma multiplicidade de facetas dos « eu »
(biografadol biógrafo), na permanente constatação da fragmentação do ser humano e de suas contradições.

Marion Brepohl de Magalhães - UFPR


Diálogos entre literatura e alteridade: Alfred Dõblin e o romance O tigre azul
No romance o Tigre Azul, Alfred D6bin inspira-se nas reduções Jesuíticas, estabelecidas entre o Paraguai e o Brasil,
para tematizar a questão da alteridade, neste caso, as relações entre indígenas e europeus. Neste romance histórico,
o autor desenvolve toda uma crítica à colonização, oferecendo o convívio harmonioso das Reduções como contra-
modelo á escravidão e á violência. Também o primitivismo versus a civilização, a esperança, enquanto abertura de
novos horizontes, contra a des-civilização e a filantropia religiosa em confronto com a sede de lucro são tematizados.
Duas novidades, em relação às visões da América Latina naquele período (1937), podem ainda ser evidenciadas: a
presença do demoníaco, introduzido na cosmogonia dos nativos pelos jesuítas, e o estranhamento da sociedade
indígena com relação á cultura européia. Assim procedendo, Dõblin inverte os discursos convencionais do eurocentris-
mo: o outro, neste romance, é o branco, que acaba por se render á cultura nativa. A partir deste livro, pretendo realizar
uma reflexão sobre como a questão da identidade, formulada a partir das noções de alteridade e diferença foi uma
construção da era dos impérios, e afetou profundamente o princípio da igualdade entre os homens.

Virginia Celia Camilotti . UNIMEP


A Revista Atlantida e a constituição da latinidade
Fundada em 1915, por um grupo de intelectuais portugueses e brasileiros, dentre eles João de Barros e João do Rio,
a Revista Atlantida visava cumprir o papel de veículo de afirmação e de constituição de uma configuração cultural
identificada como latinidade. Tal configuração, ao pressupor a noção de um Nós expandido, não se definia como
formulação vinculada ás tentativas de individuação da substância brasileira e tampouco se restringia, nos seus contor-
nos, ao lusitanismo ou panlusitanismo, base da constituição da identidade portuguesa. 'A Revista Atlantida e a consti-
tuição da latinidade" objetiva explorar os mecanismos inerentes á operação com a idéia de latinidade, por parte desses
intelectuais, a partir da composição e dinâmica de produção da revista, uma vez que seu próprio nome - Atlândida, o
antigo continente, ou ilha, que supostamente existira entre a Europa e aAmérica - operava alegoricamente como ponte
de ligação entre os diversos lugares onde a língua portuguesa se espraiara, bem como elo entre todos os paises que
conheceram a civilização romana diretamente ou pelo idioma.

Leonardo O'Reilly Brandão - PUC·RJ


O Sultão Transfigurado· Saladino e a relação com o Outro no mundo árabe medieval
Este trabalho busca a origem de um mito político do mundo árabe - o sultão Saladino ibn Ayyub (1138 -1193), adver-
sário dos cristãos na Palestina durante as Cruzadas. Devido a reutilização e ressignificação da figura de Saladino ao
longo dos séculos XX e XXI, no mundo árabe-muçulmano, para fins politicos diversos (de nacionalistas, como Nasser
e Saddam Hussein, a fundamentalistas, como a rede al-Qaeda), fica a indagação acerca das origens desta mitologia
politica e do significado original do Saladino histórico. Para tanto, analisamos o documento "AI-Nawadir al-Sultaniyya",
relato biográfico do sultão escrito por seu secretário particular, Bahaheddin ibn Shaddad.

Tatiana Zismann - UFRGS


A vocação sul·rio·grandense em ser brasileiro e a opção em negar o Prata: uma leitura da obra de Moysés
Vellinho
Esta comunicação objetiva analisar como é articulada a referência de identidade nacional para o Rio Grande do Sul
nos discursos de Moysés Vellinho (1901-1980). Para isso, se observará como o intelectual constrói por meio de sua

270
crítica literária - assinada sob o pseudônimo Paulo Arinos - e em sua interpretação historiográfica, uma narrativa da ~34
identidade nacional para o Rio Grande do Sul e o gaúcho. A análise dos dois discursos permite compreender como a ~
preocupação nacionalista, sendo comum aos dois, os irmanará em objetivos que extravasam a crítica literária pura-
mente formal e a interpretação histórica neutra - ou estritamente baseada em pressupostos científicos, já que a mani-
pulação analítica da região e da nação se dá pelo ângulo de quem as observa, não com a rigidez metódica dos que se
pretendem neutros, mas por meio do mergulho nas categorias em análise.A interpretação de Vellinho busca espantar
concepções que tomam o Rio Grande do Sul como bifrontal, porque de influência platina. Para afirmar o próprio,
rebaixará à condição de outro tudo o que for considerado desviante ao luso-brasileiro.Tem-se, assim, um Rio Grande
do Sul que nega o mundo platino, abdica de uma memória missioneira, rebaixa o colonizador espanhol, menospreza
os Guarani e o culto cívico de Sepé Tiaraju.

Carlos Eduardo Frankiw de Andrade - USP


O lúmen e a Fúria: Ressentimento e Revolta na Imprensa Anticlerical Anarquista Paulistana
Esta apresentação tem por objeto os discursos de cunho anticlerical veiculados pela imprensa anarquista paulistana ~
no período compreendido entre 1907 e 1916. Tem-se por ênfase a análise específica dos elementos de crítica presen- ~
tes em tais discursos através de artigos, colunas, editais e poesias publicadas acerca do 'Caso Idalina' nestes periódi- ~
coso O desaparecimento de Idalina, criança órfã designada aos cuidados de um orfanato católico paulistano, veio a O>
levantar rumores de um pretenso crime de estupro seguido de homicídio cometido pelos padres dirigentes da institui- ·ê
ção entre a imprensa libertária, rumores estes que serviram de ponte para a construção de toda uma dinâmica de ~
identidades através de discursos notadamente retóricos por parte desta mesma imprensa. Identidades estas que, na :::c
dinâmica de sua representação nestes discursos, não deixariam de reter, a título de autolegitimação, toda uma con-
cepção de ordem moral posta de forma tensa entre um maniqueísmo brutal e o reconhecimento da alteridade na cena
pública, tensão esta expressa entre elementos próprios à noção nietzscheana de ressentimento e a noção camusiana
de revolta, que norteariam a construção destes mesmos discursos.

I 18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h) I


João de Azevedo e Dias Duarte - PU C-Rio
Simpatia, imaginação e sentimentos em Adam Smith
Este trabalho foca-se na A Teoria dos Sentimentos Morais (1759), obra de Adam Smith, interpretando-a na chave da
formação da subjetividade moderna e das modernas relações de sociabilidade. A TSM é um teoria das "paixões', dos
'sentimentos, ou 'emoções' e, fundamentando-se numa psicologia moral, busca oferecer uma resposta ao problema
moderno da harmonização do 'eu' e do 'outro'. Adam Smith está interessando em propor uma alternativa à visão, que
dá origem à moderna teoria do direito natural, da primazia do conflito no mundo social. O problerna do 'egoísmo', que
ocupa grande parte da reflexão dos pensadores ilurninistas, sobretudo, na linha da filosofia moral inglesa pós-hobbe-
siana, encontra na noção de 'simpatia' uma solução. Derivada da nossa sensibilidade à situação de outros, a simpatia
é o fundamento das percepções e juízos morais cotidianos. Esta, em um sentido estrito, é uma emoção; e, num sentido
mais amplo, smithiano, é o meio através do qual somos capazes de extrapolar as fronteiras físicas que nos separam e,
via imaginação, penetrar no mundo alheio, compreendendo as motivações e as circunstâncias sob as quais age o
outro. Portanto, as emoções têm, para este autor, uma dimensão cognitiva indispensável, ocupando um lugar central
na moralidade e sociabilidade.

Elizabeth Cancelli - USP


Alteridade: ódio e ira à sombra da política
O trabalho que apresentaremos procura seus eixos de análise em construções discursivas no pós-Segunda Guerra
Mundial que transformam a discriminação em argumento político. Fundamentalistas, na maior parte das vezes, estes
atores políticos que analisaremos produzem uma distinção bastante profunda entre o ódio e a ira, no sentido de
encontrar uma justificativa cristã para a essência do Estado e da exclusão . Significativo, nesse sentido, foi que,
embora vários atores políticos importantes na contemporaneidade ainda se dissessem abalados pelo trauma do holo-
causto, a humanidade não se escusou de alimentar a ira como justificativa de seu designo, e justificou-se, mais do que
nunca, no grande pano de fundo da discriminação que se assenta em uma espécie de legítima justiça divina.

Cristina Maria Barros de Medeiros - Fundação Oswaldo Cruz


Historicidade e subjetividade entre preconceito e deficiência. Uma abordagem antropológico-filosófica em
Martin Buber e Emmanuel lévinas
A recepção da presença é condição de uma decisão livre do Eu de entrar em relação, de responder e acolher o destino
autêntico que vem a seu encontro, enquanto palavra que lhe é dirigida. Para essa atitude requisita-se, da essência do
homem, a ação essencial dialógica que pressupõe o movimento básico de 'voltar-se-para-o-outro', que se contrapõe

271
ao "dobrar-se-sobre-si-mesmo', O "voltar-se para o outro' é uma atitude simples que não depende de esforço ou
reflexão para ser conquistada ou feita: é o encontro do homem com seu semelhante, Mas é algo que foi desprezado e
esquecido de tal modo que as condições da vida contemporânea entorpeceram até mesmo nossa capacidade de nos
encontrar conosco mesmo, Preconceito e deficiência inserem-se na perspectiva da afirmação de uma normalidade
absoluta e numa negação da diversidade humana, Vida é relação, É o exercício de alteridades distintas no entre, Esse
trabalho discute e reflete sobre a possibilidade de protagonismos para além de preconceitos como fator essencial de
uma identidade cultural; afeta ao elemento puro e simplesmente humano em relação com o Outro, em presenças
subjetivas distintas apoiando e sendo responsável e não a perspectiva do Outro ser o mesmo

Daniel Barbosa Andrade de Faria - Unicamp


Quando o busto silencia o herói: a homenagem e a citação como formas de silenciamento do outro. Brasil,
1943
Em 1943, Graciliano Ramos foi homenageado num banquete organizado por figuras importantes do meio literário do
período, como Augusto Frederico Schmidt. A homenagem resultou num livro, no qual constam os discursos de celebra-
ção e a resposta do autor. No mesmo ano, a revista Cultura Política publicava um artigo de Wilson Lousada sobre o
livro O Louco do Cati, de Dyonélio Machado. Os dois autores tinham passado, poucos anos antes, pela experiência do
cárcere, a qual é constantemente aludida na homenagem a Graciliano e está no cerne do romance do Dyonélio, Diante
destas duas situações, o objetivo deste trabalho é investigar os mecanismos de incorporação tensa de discursos que
expunham os nervos do terror estatal a um meio literário tido como homogêneo, e mesmo inofensivo, A homenagem
como estratégia de figuração de uma alteridade "benéfica'.

Rita de Cassia Thomaz - Unesp-Assis


O fator psicológico na mobilização de massas durante o regime fascista
Tendo em vista a temática do Simpósio, este trabalho consiste numa abordagem da obra Psicologia de Massa do
Fascismo de Wilhelm Reich como subsidio para uma utilização do modelo de interpretação histórico desenvolvido pelo
autor, A análise contida nesta obra se dá a partir da aplicação de conceitos teóricos da psicanálise ao regime fascista,
sobretudo ao fenômeno de manipulação das massas pelo líder, peculiar ao regime, Uma certa irracionalidade que
toma conta dos individuas e que recebe uma explicação apoiada no conceito de inconsciente freudiano, Tendo em
vista que o próprio Reich não é servil a teoria psicanalítica, pelo contrario, desenvolve uma teoria que obedece aos
caminhos de sua própria investigação; a reflexão sobre a obra aponta os caminhos para aplicar a teoria à realidade
antevendo os limites e as possibilidades do cruzamento de fronteiras entre as disciplinas

Celia Szniter Mentlik - USP


Transmissão psíquica intergeneracional e História
Esta comunicação visa apresentar a questão da transmissão psíquica intergeneracional, um tema emergente na pro-
dução teórica mais recente da Psicologia Social e da Psicanálise à apreciação dos pesquisadores da área de História,
Com base nos trabalhos clínicos e teóricos de René Kaes, NicholasAbraham, Maria Torok, Haydée Faimberg e Olga
B, Ruiz Correa, entre outros, buscaremos avaliar em que medida os últimos estudos e achados realizados nesse
campo de conhecimento podem estabelecer um diálogo fértil com o conhecimento histórico, e reforçar ou sugerir
assim, eventualmente, nova práticas e abordagens à pesquisa de fatos passados no presente, bem como ao trabalho
educacional e cultural.

Bruna Aparecida Mendes de Sá


Representações Político-Culturais em Seleções do Reader's Digest
Proponho neste trabalho pensar sobre as representações e discursos que envolvem conceitos de democracia e a
questão da alteridade presentes na revista Seleções do Reader's Digest. Discursos que foram construídos durante o
°
período democrático, entre governo de Getúlio Vargas e o Golpe Militar de 1964, e que foram responsáveis por fazer
de Seleções a segunda revista mais lida desses anos. Esses discursos foram responsáveis também por apresentar
uma leitura das relações políticas e culturais que envolviam bem mais do que o cotidiano brasileiro, inserindo o Brasil
no contexto internacional da Guerra Fria, O modo de vida americano, American way of life, bem como o anticomunismo
e a oposição à União Soviética são temas recorrentes na revista tanto na parte literária quanto iconográfica, As pesqui-
sas sobre os costumes dos brasileiros que determinavam muitas vezes os temas e abordagens que seriam discutidos
nos artigos da revista, associadas às temáticas referentes a moral, a busca da felicidade, e os infortúnios pelos quais
passavam as pessoas submetidas ao regime soviético podem ser analisados pensando-se a alteridade presente den-
tro da revista,

272
Marçal de Menezes Paredes - UFGRS ~
Identidade Brasileira e Alteridade Portuguesa: as Demarcações da História nas alegorias da "mestiçagem" @
(Sílvio Romero) e do "mal de origem" (Manoel Bomfim)
O afastamento identitário de Portugal representa um importante marco da fundação da nacionalidade brasileira. Resul-
tante de um complexo multifatorial - ao mesmo tempo político, estético, filosófico e social -, a assunção de uma
"brasilidade" essencial passou pelo gerenciamento de seus liames com uma "Iusitanidade" a ser contrastada. Este
processo teve nas mobilizações da história um agente demarcatório de acentuada relevância: dele nascerá o escopo
identitário da nacionalidade brasileira. Através da análise das alegorias da "mestiçagem", propagada por Sílvio Romero
na sua História da Literatura Brasileira (1888), e do "mal de origem", exposta por Manoel Bomfim em América Latina:
males de origem (1905), buscar-se-á perscrutar a forma como a alteridade portuguesa foi mobilizada para a demarca-
ção da identidade brasileira.

I 19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h às 16h30min) '"co


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Gilberto Cézar de Noronha - UFU ~
Sertões Enunciados: Imagens e representações do sertão do oeste de Minas Gerais nos discursos da impren-
sa local e da literatura nos primeiros anos da República
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O texto discute as imagens e representações do sertão do Oeste de Minas Gerais e Alto São Francisco apreendidas na ~
produção discursiva da imprensa local e da literatura dos primeiros anos da República Brasileira que tem como tema ::c
ou lugar de produção este espaço específico. São os primeiros resultados de uma pesquisa desenvolvida no Programa
de Doutorado em História Social da Universidade Federal de Uberlândia que procura pensar a constituição histórica
deste espaço específico, em suas diferentes dimensões constitutivas. Pretende contribuir para o desenvolvimento dos
estudos sobre os espaços interioranos do Brasil em sua relação com aqueles de maior dinamismo e cosmopolitismo
pela discussão das complexas relações entre local e global bem como para a compreensão das relações de poder,
simbólicas e de construção de sentido envolvidas nos processos identitáríos regionais. O trabalho com fontes de
natureza diversa: a jornalística e a literária, analisadas de modo combinado tem a preocupação de consíderá-Ias
sempre como formas singulares de manifestação dos anseios, das racionalidades, dos sentimentos: lugares de cria-
ção de imagens "mentais' sobre o sertão.

Dannyely Messias de Souza - UFMT


Sales ia nos e Bororo Orientais: (RE)Criando a imagem do outro (1902-1918)
Este artigo discute a atuação dos padres salesianos junto aos índios Bororo Orientais no antigo leste mato-grossense.
Analiso como esse "encontro" foi estabelecido e, como as diferenças culturais, as estratégias de dominação e as
resistências foram entendidas por esses dois grupos. Percebi que a avaliação resultante dependerá não apenas do
estabelecimento do contexto em que as respectivas "representações de si' estavam inseridas, mas também da justa
delimitação de elementos tais como as próprias dimensões destas representações e as atuações efetivas que delas se
poderá deprender. Sob esse enfoque é possível perceber como as diversas facetas do "real' eram entendidas pelos
agentes históricos em questão, e , como essas percepções da realidade, mantendo-se ligadas às respectivas partes e
momentos, variavam, não só pelos elementos que as combiam, como também pelos elementos que as diferenciam,
dependendo do ponto de referência que se parte.

Gilberto Marcos Martins - Faculdade de FiI. Ciências e Letras do Alto São Francisco
Cultura, Colonização e Alteridade no Alto São Francisco
O artigo mostra como se deu o processo de colonização da região do Alto São Francisco. Que representações e visões
de mundo tinham os colonizadores e como se relacionavam com o desconhecido, com a alteridade. Mostra como o
colonizador ia se tornando colono e sendo tragado pelo espaço do desconhecido através do isolamento em que
acabava vivendo, o que o levava a criar um universo bem particular, mas que não lhe tirava a condição de súdito fiel.

Rosana Ulhoa Botelho e Helen Ulhôa Pimentel - Centro Universitário de Brasília - UniCEUB
Presença nipônica em Paracatu: a nova geração (1978-2007)
A constituição das subjetividades está atravessada e tensionada por inúmeros processos, entre os quais os decorren-
tes de marcas físicas associadas ao pertencimento a etnias e culturas específicas que se encontram inseridas numa
sociedade nacional cujo mito de origem reforça o hibridismo cultural num quadro histórico emoldurado por uma deter-
minada imagem de nação mestiça. No caso da pesquisa em questão, o interesse se volta para a nova geração de
filhos de imigrantes japoneses que se fixaram no noroeste de Minas Gerais, integrando um dos projetos de desenvol-
vimento do cerrado iniciados na segunda metade dos anos 1970. A pesquisa focaliza e discute as referências histórico-
culturais dessa geração de brasileiros que, querendo ou não, trazem em sí as marcas de 'um certo oriente'.

273
35. História e Comunicação: Mídias, Intelectuais e Participação
Beatriz Kushnir (Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h às 18h)

Gisele Becker - Feevale


A construção da imagem da prostituição em Porto Alegre pelo jornal Gazetinha: Uma análise dos códigos
sociais segundo a Hipótese de Agendamento (1895-1897)
Este estudo se volta para o jornal a Gazetinha, publicado em Porto Alegre em fins do século XIX e que, neste momento
e através de diferentes espaços em suas páginas, constrói uma fala de que as famílias de bem encontravam dificulda;
des de transitar nas ruas da cidade, ocupadas por bêbados, vândalos e mulheres que agarravam os homens à força. E
o que alguns estudos históricos já chamaram de processo de saneamento moral. Entretanto, a proposta de análise
aqui apresentada pretende se debruçar não apenas sobre a fala do jornal em si, mas sobre a maneira como ele é
assimilado por meio da construção de códigos de agenciamento de poder das mensagens elaboradas, transmitidas e
recebidas. Somado a este agenciamento de poder, formulado através de códigos, percebe-se que a Gazetinha agen-
dou a temática da prostituição e da moralidade entre os anos de 1895 e 1897, marco cronológico deste estudo.
Trabalha-se, portanto, com a hipótese de que a insistência de uma fala ritmada, empregando códigos e termos seme-
lhantes e em diferentes espaços do jornal (textos, colunas, anúncios publicitários e caricaturas, estas publicadas
somente nas edições ilustradas da Gazetinha) elabora códigos que contribuem para a elaboração de uma mentalidade
coletiva a respeito de um grande problema social antes já existe.

Bruna Scheifer - Unioeste


Identidades em Revista: Itiberê, 1919-1930
Nossa intenção é discutir, a partir da revista o Itiberê (revista literária), publicada em Paranaguá a partir de 1919, a
construção de identidades (como constructo, artefato, daí o papel da imprensa na difusão destas imagens mentais),
seja regional e nacional, percebendo de que forma a revísta representa o Paraná e sua relação com a Nação brasileira.
Colaboravam com a revista, criada sob iniciativa do Clube Literário de Paranaguá, diversos autores que tinham víncu-
los como Instituto Histórico e Geográfico e o Movimento Paranista. Ao publicar artigos biográficos de escrítores de
Paranaguá e do Paraná, a revista investe na idéia de uma intelectualidade 'autóctone', a qual, em maior ou menor
medida, contribuía para a difusão de representações sobre o Paraná e, desta forma, para a afirmação de uma identida-
de paranaense, seja através de artigos, de imagens, de poesias, de símbolos - destacadamente o pinheiro - da divul-
gação de festas civicas. A afirmação de uma identidade paranaense, através deste periódico, não descartava a valori-
zação de 'vultos" e símbolos nacionais.

Denise Castilhos de Araújo e Claudia Schemes - Feevale


A midia e a construção da memória do setor coureiro-calçadista no Vale do Sinos, pelo Jornal NH
Este trabalho pretende investigar e compreender o papel que o Jornal NH, considerado o veículo de maior alcance na
região do Vale dos Sinos, teve/tem na construção da memória do setor coureiro-calçadista, através das produções
discursivas, desde sua criação (1960) até os dias atuais. A metodologia utilizada nessa pesquisa é a análise de conteú-
do, a análise de discurso e a semiótica, através da qual pretendemos perceber como foram/são construídos os concei-
tos relativos ao processo de estruturação da memória e identidade do setor pela midia impressa.

Teresa Cristina Schneider Marques - UFRGS


Ataque aos "gorilas": A crise Brasil-Uruguai no traço dos caricaturistas de "Marcha" (1964-1967)
O primeiro grupo forçado a deixar o Brasil após o golpe de 31 de março tinha em comum a atuação através de práticas
políticas tradicionais, e, além disso, a escolha pelo Uruguai, então conhecido pela sua tradição democrática. Muito
embora em 1964 este país vivesse um periodo de transição, nele, os exilados - entre eles o presidente deposto, João
Goulart, e o seu cunhado, Leonel Brizola -, encontraram uma boa recepção e apoio às suas motivações políticas. Isso
ficou claro através de diversas manifestações da sociedade uruguaia nos meios de comunicação do país. Entre tais
manifestações de apoio, destacamos as charges e caricaturas que depreciavam os governantes militares brasileiros,
publicadas nas páginas do semanário uruguaio "Marcha'. Nestas imagens os militares eram retratados como gorilas e
acusados de terem interrompido o poder constitucionalmente instituído no Brasil por meio de um golpe de Estado, e de
burlar as leis internacionais sobre o direito a asilo político. Assirn, a partir da análise de tais imagens com o apoio da
metodologia da iconografia e da iconologia, objetivamos compreender a visão de uma considerável parcela da socie-
dade uruguaia sobre a ditadura brasileira e a crise que passou a existir entre os dois países com a chegada dos
exilados no Uruguai.

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Ozias Paese Neves - Universidade Tuiuti do Paraná
Entre tensões e estratégias: a cultura política da Revista Civilização Brasileira como instrumento de combate
ao regime militar
Este trabalho enfoca a Revista Civilização Brasileira -RCB- como uma amostra da ação e dos valores que compu-
nham a cultura política dos intelectuais de esquerda durante a primeira fase do regime militar estabelecido em 1964. A
publicação trazia diversos textos de áreas distintas com enfoque em política nacional, política internacional, questões
filosóficas, científicas e artísticas. Utilizamos a história intelectual e o conceito de cultura política para buscar a delimi-
tação das transformações, das tensões internas e das estratégias da revista que atuou sob a sob a mira do governo
ditatorial entre 1965 e 1968. A magnitude e a densidade teórica da RCB podem ser percebidas pela ampla gama de
autores de distintos matizes que nela publicaram constando dentre eles ex-integrantes do ISEB, como Nelson Werne-
ck Sodré e Roland Corbisier; filiados ao PCB, como Ferreira Gullar, Leandro Konder e Dias Gomes; intelectuais de
diversos matizes como José Honório Rodrigues, Olto Maria Carpeaux, Octávio lanni, Fernando de Azevedo, Florestan
Fernandes, Paulo Francis; e autores estrangeiros cuja lista incluia nomes de peso como Bertrand Russel, George
Lukács, Lucien Goldmann, Herbert Marcuse, Jean Paul Sartre, Louis Althusser, Walter Benjamin, dentre outros.

Andréa Cristiana Santos - Universidade do Estado da Bahia


Tribuna da Luta Operária e a organização dos movimentos sociais (1979-1980)
Periódico criado pelo Partido Comunista do Brasil, Tribuna da Luta Operária circulou de 1979 a 1988, com a proposta
de publicizar um conjunto de representações sociais e políticas referentes á participação dos trabalhadores urbanos e
rurais no processo de redemocratização do pais. Apesar de ser um periódico com vínculo partidário, o jornal reuniu um
conjunto de normas e formatos caracteristicos do jornalismo informativo, principalmente por ter pautado assuntos que ~
faziam parte do cotidiano, como as greves na Grande São Paulo, a luta contra a carestia e a defesa pela reforma ~
agrária. Esta pesquisa faz uma análise de como a Tribuna da Luta Operária exerceu um poder de mediação na socie-
dade contemporãnea e como conseguiu tornar visivel uma série de representações do mundo do trabalho que propici- w
am a formação da opinião pública, rede de sociabilidade e inter-relações sociais e políticas. Como diretriz metodológi- V>
ca, utilizamos contribuição da História Política e estudos de Newsmaking (critérios de noticiabilídade) aliada à análise .~
de conteúdo das edições dos anos 1979-1980, a fim de identificar de que forma o periódico inseriu noticias referentes á:i
ao mundo do trabalho e se consolidou como organizador do coletivo partidário. ]l
Allysson Fernandes Garcia - UFG/UEG
A coisa já chegou preta!: negros no jornal O Popular -1985-1995
A imprensa escrita e a mídia, em geral, desempenham um papel importante na comunicação entre os homens, como ,g
meio de informação e mesmo de entretenimento. Sua importância e as conseqüências sócio-culturais para o mundo ~­
moderno ocidental, já há algum tempo têm se tornado freqüente nos trabalhos históricos. O poder de nominar e "E
normat(l)izar cabe a quem pode fazer circular idéias, conceitos, símbolos. Pensamos a produção mídiatica como E
espaço de domínio, poder, percebemos a situação de privilégio do jornal em relação aos leitores, levando em conta 8
que a leitura é sempre determinada pelo lugar ocupado por um leitor na sociedade, num dado momento histórico. .~
Assim, na analise da escrita e imagem do jornal goiano O popular - afiliado as Organizações Globo, procuraremos ._~_
perceber os lugares dos negros e das relações raciais no âmbito do embate politico existente durante o processo de ::c
redemocratização do país nos anos 1980 ás comemorações em torno dos 300 anos da morte de Zumbí dos Palmares
em 1995.

I 17/07 - Terça-feira - Tarde (14h ás 18h)

Jucineide Moreira de Souza Pereira - UFMT


Estado Novo: Propaganda Política e convencimento nos Jornais de Mato Grosso
A integração nacional como meta governamental, o uso de midias e a preocupação constante com a comunicação, não
é uma novidade sobre o Governo Vargas. Sabemos e várias estudos abordam a temática da atuação dos meios de
comunicação, em especial, os jornais e o rádio. E de como essa construção do discurso para manutenção de uma
disposição para o crescimento e pró-Vargas e anticomunista transparece em diversos periódicos do Estado de Mato
Grosso. Nosso objetivo é acompanhar as estratégias propagandisticas utilizadas pelo regime Varguista no Estado,
sejam elas as de convencimento, ou de controle repressivo, através dos órgãos especificas criados pela ditadura, tais
como, representações locais do DIP ou aparelhos de força repressiva. Buscamos refletir sobre os meios que foram
utilizados para conseguir manter aceso o ideário político do período, em uma região, geograficamente distante, com
entraves de acesso e de comunicação devido as limitações infra-estruturais do período. Identificamos junto às leituras
e comparações documentais a diretriz doutrinária da política de convencimento e seus métodos mais comuns: man-
chetes chamativas e de apelo emocional, visando a manutenção de urna situação emotiva do público eleitor em prol
das decisões do executivo.

275
Aline Ramos Brandão - UERJ I AGCRJ
O Poder das Imagens nos Governos Vargas
O Correio da Manhã, um matutino carioca fundado em 1901, é objeto valioso a ser estudado devido o seu posiciona-
mento ao longo da Hist6ria, sendo grande influenciador no cenário político brasileiro, O seu relacionamento com os
governos Vargas foi marcado por criticas acirradas, o que o torna revelador ao se falar de oposição da imprensa no
Estado Novo, Para além dos seus artigos, visitando o Correio da Manhã e observando suas fotografias, percebi que
era possível fazer uma leitura que não fosse somente da linguagem escrita e remontar o ideário do jornal nos governos
Vargas através das imagens, Destaco que as fotografias foram produzidas e selecionadas, são recortes e produtos da
encomenda de um agente contratador -o pr6prio governo, fazendo parte de um projeto fotográfico, Somente conjugan-
do o contexto da época, ideário do jornal, produção e seleção da fotografia será possivel chegar á relevância do
documento no olhar crítico do jornal contra o governo de Getúlio Vargas, No seu segundo governo, o democrático,
Vargas enfrentou forte oposição e o Correio da Manhã sempre rei em brava as experiências passadas, fazendo compa-
rações e demonstrando a periculosidade da presença de Vargas no governo em qualquer que seja o regime, pois o
totalitarismo era uma característica pessoal.

Heber Ricardo da Silva - UNESP


A democracia impressa: Transição democrática e a cassação do PCB nas páginas da imprensa brasileira -
(1945-1948)
O objetivo desta comunicação é historiar e analisar o papel da grande imprensa do eixo Rio-São Paulo no campo
político quando da transição do regime estadonovista para a ordem democrática, destacando as suas apreciações e
posicionamentos diante da cassação do PCB, ocorrida em maio de 1947, e dos mandatos de seus parlamentares, em
janeiro de 1948, atos que feriram a noção democrática de liberdade de expressão e que fora invocada anteriormente
pela imprensa escrita contra o Estado Novo, Objetivamos ainda, precisar historicamente o papel e as relações da
imprensa brasileira como agente político numa situação de dupla transição, tanto política, pautada pela retomada da
democracia parlamentar representativa, como jomalística, marcada pelos iniciais passos em direção ao modelo im-
prensa-empresa, ou seja, quando os grandes jornais viam-se obrigados, pelas transformações na política e no merca-
do, a atenuar sua condição de veículo de expressão de grupos políticos específicos e nem se caracterizavam, ainda,
totalmente como típicos jornais empresariais, Para tanto, foram analisados os jornais O Estado de S. Paulo, Diário de
S. Paulo, Folha da Manhã, Correio da Manhã, Jornal do Brasil e O Globo,

Jayme Lúcio Fernandes Ribeiro - UFF


As "metamorfoses de Moscou": a imprensa brasileira e a repressão aos movimentos sociais veiculados pelo
PCB durante o governo Dutra (1946-1950)
O governo brasileíro, inserido na política da Guerra Fria e apoiando as decisões da diplomacia norte-americana, põe-
se a condenar os movimentos sociais organizados e articulados pelo PCB e a persegui-los. O combate ao comunismo,
ap6s a ilegalidade do Partido, em 1947, estava na ordem do dia, As campanhas do "Movimento pela Paz' e a campa-
nha pela nacionalização do petr6leo, organizadas e propagandeadas pelo PCB foram duramente perseguidas e repri-
midas, Nesse contexto, a imprensa não comunista retratava tais movimentos sociais como uma enorme falsidade.
Segundo relatos da grande imprensa, a URSS era a verdadeira responsável pelas diversas tentativas infrutíferas de
acordos intemacionais de redução de armamentos, de controle da energia atômica, propostas de paz e, sobretudo, por
ser a causadora de uma possível nova guerra mundial. Desse modo, o objetivo do trabalho é mostrar que, mesmo os
comunistas se dedicando á defesa da paz, participando de movimentos sociais de cunho nacionalista e, sobretudo,
utilizando um discurso não-revolucionário, os jornais da grande imprensa continuaram a persegui-los e a divulgar
notícias e artigos condenando suas ações, não permitindo o debate entre discursos, idéias e posições políticas, como
deveria ocorrer num regime dito democrático,

Maristel P.Nogueira . PUC·RS


O anticomunismo nas páginas dos jornais de Porto Alegre entre 1960·1964
É objeto desta pesquisa o anticomunismo difundido pela imprensa escrita em Porto Alegre, durante o período compre-
endido entre janeiro de 1960 e março de 1964, buscando identificar e analisar os mecanismos utilizados pela imprensa
no combate ao comunismo, Nesta pesquisa devemos perceber de que forma os jornais diários apresentavam o comu-
~ismo para a sociedade Porto Alegrense e, a partir disso, como se posicionavam junto à mesma frente ao comunismo,
E através do estudo do conjunto de mecanismos impressos utilizados no combate ao comunismo que poderemos
compreender como, neste período, o tema foi trabalhado,

276
Célia Aparecida Rocha - UFMG
O imaginário científico sobre o corpo construído pela mídia a partir de 1950
Este estudo visa compreender as mudanças das representações sociais acerca do corpo humano na segunda metade
do século XX, a partir da análise da mídia impressa. Entendemos que a midia é um gênero de discurso significativo na
compreensão da formação do imaginário social acerca da ciência e sobre formas de ser e agir na sociedade contem-
porânea. No caso deste estudo, os meios de informação de massa escolhidos como fonte de pesquisa foram as
revistas de publicação semanal: Manchete (1952-1968) e Veja (1968-2006). Entendemos que a contínua e acelerada
mudança tecno-científica impactou profundamente os corpos na sociedade contemporânea, cuja construção acontece
pela vivência da tecnologia, mas também, através da veiculação de representações construidas pela grande imprensa.
Através do mito ciborgue visamos pensar o aumento exponencial da tecnologia na reconfiguração dos corpos e da vida
na contemporaneidade, cujas conseqüências afetam a sociedade em relação às categorias de classe, gênero e raça.
O complexo da tecno-ciência é entendido como forma de saber-poder, por isto, nossa intenção é também investigar
este conhecimento tecno-cientifico de dimensões extraordinárias e perigosas como forma de biopoder, através de uma
atualização do conceito de biopoder do filósofo Michel Foucaull.

luisa Quarti lamarão - UFF


José Ramos Tinhorão: a música popular em debate (1974-1982)
A comunicação pretende fazer uma breve apresentação da trajetória intelectual do critico musical José Ramos Tinho-
rão a partir da análise de suas idéias na coluna semanal do Jomal do Brasil intitulada 'Música Popular", entre os anos
de 1974 e 1982. Tinhorão tem uma carreira jomalística bastante polêmica, por unir, em seus artigos, categorias distin-
tas como folclore e materialismo histórico. A coluna 'Música Popular' refletiu a situação de debates e renovações
@
35
políticas e culturais no Brasil desse período. Nesses artigos, Tinhorão tomava o lançamento de discos de música
popular como pretexto para apontar problemas da realidade sócio-econômica cultural do momento, de um ponto de
vista de discussão ideológica. Ressaltarei o caráter nacionalista e marxista de suas críticas musicais, a fim de compre- ."
ender as idéias deste jornalista e os diversos matizes de seu ideário sobre o nacional-popular.
'"
'Cõ
~
Thiago Monteiro Bernardo - UFRJ ~
~~r ~:~~~m~~ Batcaverna: um debate teórico-metodológico sobre HQs e História através do universo Ficcio- :g
",'

Neste trabalho apresentaremos através de um estudo caso do universo ficcional do personagem Batman, uma propos- :i3
ta teórico-metodológica sobre as possibilidades de uso das histórias em quadrinhos como fontes documentais para a ~
pesquisa histórica. Buscaremos, aqui, analisar a cultura visual na qual se insere a construção deste universo ficcional, ,g
ao longo do século XX, bem como, os referencias culturais com os quais suas narrativas dialogam como a televisão, a ~.
literatura, o cinema e a internet. Neste sentido, é necessário investigarmos os circuitos de produção/circulação destas 'E
histórias em quadrinhos e os papeis de seus principais atores sociais. Desta forma, pretendemos estabelecer a histo- E
rieidade do universo ficcional do Batman, identificando alguns de seus elementos de continuidade e ruptura. 23

I 18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h) I


luis Carlos dos Passos Martins - PUC-RS
Nacionalismos em disputa na grande imprensa brasileira: o processo de criação da Petrobrás nas páginas do
Diário de Noticias e da Última Hora (1951-1953)
Com base na noção de Campo de Produçãq Ideológica de Bourdieu (la Distantion), este trabalho avalia o posiciona-
mento dos jornais Diário de Noticias (RJ) e Ultima Hora no processo de criação da Petrobrás. Simbolo do 'nacionalis-
mo" de Getúlio, esta empresa foi alvo de enormes disputas durante a discussão, no Congresso Nacional, do projeto
que lhe deu origem porque, originalmente, Vargas propôs uma companhia de economia mista, que aceitava a partici-
pação do capital estrangeiro e não estabelecia o monopólio estatal. Por esta razão, o questionamento do projeto
remeteu ao questionamento do próprio 'nacionalismo" de Getúlio e de seu programa de desenvolvimento, obrigando o
presidente a mudar seu plano inicial, diante da acusação de ser um 'entreguista'. Última Hora e o Diário de Notícias
participaram ativamente desta disputa. Ambos os jornais procuravam se identificar com os grupos ditos 'nacionalistas",
mas a UH era um periódiCO getulista, enquanto o DN fazia oposição cerrada a Getúlio. Em conseqüência, os jornais
estabeleceram uma verdadeira guerra de representações sobre o nacionalismo da Petrobras e de Vargas, apresentan-
do diferentes definições do próprio nacionalismo, as quais refletiram as divisões internas a esta corrente pouco consi-
deradas pela historiografia.

277
Beatriz Kushnir - Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro
Desbundar na TV: militantes da VPR e seus arrependimentos públicos
Análise dos 'arrependimentos públicos" feitos por militantes da VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), espon-
taneamente ou não, ás TVs e jornais,

Lucia Grinberg - Universidade Cândido Mendes


A "Coluna do Castello": jornalismo e mobilização política
As crônicas politicas de Carlos Castelio Branco são fontes primárias recorrentes nos estudos sobre o movimento de
1964 e a ditadura militar, Ao longo dos anos, Castelinho procurou informar a sociedade sobre os meandros do cenário
político nacional, mas também procurou formar em seu público leitor a convicção de que os formalismos liberais de
representação política são princípios fundamentais, As lideranças políticas e os intelectuais participam ativamente do
processo de construção do campo político e de legitimação da democracia representativa, A análise da consolidação
da democracia pressupõe, em primeiro lugar, que a democracia representativa deve ser entendida como um regime
em que a representação se faz através de partidos polítiCOS, uma espécie de premissa institucional. Em segundo lugar,
a democracia representativa não é necessariamente uma conseqüência lógica da mobilização dos individuos, mas o
resultado do trabalho de mobilização feito por políticos profissionais e por intelectuais, como jornalistas, A trajetória
profissional de Carlos Castello Branco é um caso exemplar para o estudo desse processo de reflexão sobre a demo-
cracia representativa no Brasil.

Cristiane Rodrigues Soares - Universidade Federal de Uberlândia


Reforma Agrária: na lei ou na marra? Representações do jornal Folha de S. Paulo
No decorrer do seu governo, principalmente após o restabelecimento do presidencialismo através de um referendo
popular, João Goulart apresentou várias propostas para implementação das reformas de base, O carro chefe dessas
reformas foi a reforma agrária, Neste trabalho atribuirei ênfase as questões que giraram em torno desta última, Viso
fazer uma abordagem, a partir da análise de editoriais e artigos publicados no jornal Folha de S, Paulo, sobre as
representações desse periódico a respeito dessa campanha de Goulart, A minha análise atenta-se ás disputas e lutas
que caracterizam a produção por uma representação, considerando a imprensa um dos lugares de construção de
sentidos sobre uma determinada realidade. De uma forma ou de outra, a Folha divulgou representações que reforça-
vam os valores e concepções de determinados grupos, Sendo assim, é primordial observar, no periodo abordado,
esses campos de tensões, no qual certos grupos estão inseridos, na busca por imporem suas visões sobre a realidade,

Francisco César Pinto da Fonseca - Fundação Getúlio Vargas


Capitalismo contemporâneo e conflitos sociais: imprensa e democracia no Brasil
Objetiva-se desvendar a concepção sobre a democracia da grande imprensa brasileira (isto é, os periódicos Jornal do
Brasil, O Globo, Folha de S,Paulo e O Estado de S, Paulo), por meio de sua visão sobre o conflito de classes, expresso
especificamente no direito à greve, O contexto para tanto é o Congresso Constituinte, havido entre 1987 e 1988, em
que o direito de greve foi debatido e introduzido após décadas de cerceamento, Nesse momento, a disputa pela
hegemonia fez explicitar visões de mundo e interesses, sendo a imprensa um ator fundamental. Esta é aqui considera-
da "aparelho privado de hegemonia", empresa capitalista e "intelectual coletivo' das classes médias e do Capital
Global: conceitos advindos de Antonio Gramsci, No periodo em foco o capitalismo estava passando por enormes
transformações, que perduram até os dias de hoje, provenientes da 3" revolução industrial e da hegemonia das idéias
neoliberais, o que vem implicando a supressão de direitos e a substituição do emprego formal por ocupações precári-
as, Concluiu-se que os periódicos adotaram posições conservadoras e patronais - sempre em nome do "bem comum'
-, dado que vetaram e deslegitimaram as greves tanto na Constituição como no cotidiano dos conflitos sociais, pois
enviesadas pelas coberturas e editoriais,

Sylvia Moretzsohn - UFF


A mediação jornalística e seus desvios: a mistificação do "jornalismo verdade"
Este artigo procura fundamentar o caráter político da mediação jornalística associado ao conceito de "quarto poder" e
demonstrar que certos procedimentos corriqueiros no exercício profissional, como a prática do disfarce e o uso da
câmera oculta, embora freqüentemente saudados como exemplo de prestação de serviço público, representam de fato
um desvirtuamento desse papel de mediador,

Regina Flora Egger Pazzanese - UEL


Os Movimentos Populares Urbanos e os Meios de Comunicação: desafios e possibilidades de transformação
social no Século das Imagens
A pesquisa pretende apresentar como a midia brasileira exerce significativa influência na construção de valores e
referenciais na sociedade atual. Um breve olhar histórico sobre a formação dos meios de comunicação de massa no
Brasil será apresentado para justificar a constatação acima, assim como reflexão teórica pertinente ao tema. A partir

278
desta análise pretende-se conhecer a ação dos movimentos populares de massa neste panorama. Por meio de conta-
to com integrantes de um movimento popular, o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) de São Paulo, será
analisado o sujeito "sem" possibilidades da história social presente e o como estes movimentos se organizam político-
culturalmente frente ao modelo de reprodução de informações propagado pelas midias no Brasil. Quais as possibilida-
des de atuação critica e formação de valores frente a este espelho de recepção do real delineado pelos meios de
comunicação de massa brasileiros. Como a midia televisiva, através da análise de discurso de três meios de comuni-
cação de massa: Jornal da Globo, SBT e Rede Record, documenta e informa seus telespectadores a respeito dos
movimentos de massa urbanos. E como através desta informação veiculada se organiza o MTST em sua prática social
e em sua dinâmica cultural.

Jorge Miklos - PUC·SP


Protesto: Espaço de liberdade
Esta comunicação pretende promover uma reflexão sobre o significado do ato de protestar engendrando uma interface
entre História e Comunicação. Procuramos compreender o protesto como estabelecimento de vinculos comunicacio-
nais. Embora a comunicação possa ser vista como um aparato e uma invenção da modernidade, comunicar-se é uma
das experiências mais arcaicas da humanidade. O estudo do protesto, enquanto ato comunicacional, prescinde da
análise do ambiente cultural, pois é nele que a comunicação acontece. Isso significa dizer que a comunicação possui
uma natureza histórica. Partindo da 'Reforma Protestante' e do comicio das 'Diretas Já', pretendemos mostrar como o
protesto participa nas produções do imaginário da sociedade repercutindo em seus produtores, alterando as formas de
convivência e sociabilidade no cotidiano.

I 19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h às 16h30min)


Edvaldo Correa Sotana - Faculdade de Presidente Prudente .~
O discurso pacifista veiculado nos periódicos brasileiros: uma análise dos jornais como fontes de pesquisa 3
O desfecho da Segunda Guerra Mundial gerou uma breve expectativa em torno do estabelecimento da paz mundial. á5
Essa expectativa materializava-se na união de forças complemente opostas para derrotar o nazi-fascismo. Mas a ~
união entre os norte-americanos e os soviéticos foi desfeita logo após o fim da Segunda Guerra. A oposição entre as ",-
duas grandes potências provocou a divisão do mundo em dois blocos que passaram a rivalizar ainda no ano de 1947. =ª
As imediatas tensões geradas pela Guerra Fria também mobilizaram a população civil em inúmeras campanhas paci- ::2:
fistas, pois o temor de uma nova guerra voltará a figurar naquele momento. O pacifismo também apareceu como tema ,g
tratado pelos jornais brasileiros nesse quadro de Guerra Fria, tal como pode demonstrar um levantamento de periódi- ~.
cos como OEstado de S. Paulo, Folha da Manhã e Correio da Manhã. De modo geral, os editoriais, os artigos assina- .~
dos e as reportagens mostravam-se contrários à realização de guerras. Dessa forma, inicialmente essa comunicação E
objetiva pensar a utilização desse material como fonte de pesquisa histórica. Em seguida, busca refletir brevemente 8
sobre o discurso pacifista publicado em órgãos da grande imprensa brasileira, no periodo inicial da Guerra Fria. co
. i::
·S
Regma Maria dos Santos - UFU .!!?
:r:
Jornalismo e literatura: a memória e a história na produção de cronistas brasileiros
O trabalho de pesquisa a ser apresentado caracteriza-se por se estabelecer uma relação entre jornalismo, literatura e
história na produção de diversos jornalistas e escritores ao longo do século XIX e XX. Foram selecionados autores que
expressavam, em situações e épocas distintas, opiniões diferenciadas em relação à produção literária e ao papel do
jornal e do jornalista. Procuramos, inicialmente, investigar, de forma comparativa as obras de Balzac Ilusões Perdidas
e de Lima Barreto Recordações do Escrivão Isaias Caminha. Posteriormente elegemos cronistas como Carlos Drum-
mond de Andrade, Carlos Heitor Cony e atualmente Rachei de Queiroz como foco de pesquisa. Selecionadas obras de
Lima Barreto como: Marginália e Vida Urbana, e de Drummond, Confissões de Minas, Passeios na Ilha e Fala, Amen-
doeira, A bolsa e a vida, Cadeira de Balanço. Caminhos de João Brandão, O Poder Ultra Jovem. Do escritor Carlos
Heitor Cony foram selecionadas: O harém das bananeiras, O Ato e o Fato, Posto Seis e Os anos mais antigos do
passado. Da produção da cronista Rachei de Queiroz selecionamos 100 crõnicas escolhidas e o Caçador de Tatu. As
produções literárias destes cronistas terão, nesse sentido, a possibilidade de revelar ao historiador a memória constru-
ida sobre o seu tempo e impressa nos jornais.

Isabela de Fátima Schwengber - UEMS/Uniderp


A (im)parcialidade da imprensa sob o olhar do historiador
Ao utilizar a imprensa como fonte para a pesquisa da História do Tempo Presente, cabe ao historiador compreender os
percursos subjetivos da produção de tal documento. Este trabalho objetiva apresentar as teorias do jornalismo formu-
ladas para responder por que as noticias do século XX são como são e como elas (as teorias) podem ser utilizadas no
ofício de historiar.

279
20/07 - Sexta-feira - Manhã (10h30min ás 12h30min)

Jocyleia Santana dos Santos - Universidade Federal do Tocantins


Relações de poder: o percurso da tv no Tocantins
Discutir a implantação de uma retransmissora de televisão e sua inserção no processo separatista do norte do Estado
de Goiás. Refere-se ao papel histórico da televisão como protagonista de um processo que pretendia a criação do
Estado do Tocantins. Primeiro, nasceu o desejo de ver a televisão, em seguida nasceu o desejo de 'se ver na telinha".
Depois de visitar a capital Goiânia, as autoridades politicas da época voltavam para seus municípios do norte de Goiás
seduzidos pela idéia de que a televisão também poderia ser a salvação da região. Fascinados, buscavam incutir em
seus eleitores o desejo de visualizar as informações propagadas na televisão. Tais conquistas nem sempre eram
acessiveis á população e tornavam-se objetos de disputa politica e cultural por parte de autoridades administrativas.

Marcos Fernando de Souza - UNIOESTE


Características do surgimento da radiodifusão em Cascavel Paraná
As teóricas Vara Khoury, Maria do Rosário e Maria do Pilar Vieira, colocam alguns questionamentos como essenciais
para a análise histórica das diversas linguagens, quais sejam, quem fala, de onde fala, como fala e para quem fala, no
sentido de decifrar os lugares socíais de produção da específica linguagem. Nesse sentido busco atrelar tais questio-
namentos ao surgimento da radiodifusão na cidade de Cascavel no Paraná. Isto possibilita uma análise pormenorizada
das relações que se constituem, neste momento específico da história da cidade. A rádio colméia, primeira emissora
de Cascavel, vai começar as suas atividades no ano de 1960, desta forma, o contexto rural específico da época, faz-se
imprescindível para que se perceba a linguagem radiofônica não como neutra ou despolitizada. Outrossim, as análises
que dizem respeito ao 'confronto" entre o mundo ruralizado e a cultura urbana que vai se instaurando na cidade serve
de parâmetro para a percepção da relação dialogal entre a produção radiofônica e os ouvintes em geral. Esta relação
dialogal permite também que se analise as questões que concernem á homogeneização cultural transmitida pelo rádio
em suas primeiras transmissões.

Tiago Silva Giorgiani - Centro Universitário Barão de Mauá


Rádio PRA·7: relações de poder e representação
Esse trabalho tem como objetivo relacionar os interesses de um grupo social, detentor do poder político e econômico
da região de Ribeirão Preto, ao conteúdo veiculado por meio das transmissões radiofônicas realizadas pela Rádio
PRA-7 entre as décadas de 1920 e 1950. Essa relação é construída por meio da análise do discurso e das representa-
ções contidas na programação da Rádio. Operando com os conceitos de lugar social, representação e modernização,
nossos estudos demonstram como um grupo social formado basicamente por cafeicultores, politicos, comerciantes e
profissionais liberais se apropriaram da PRA-7 para propagar valores que tinham como ideais e assim, 'civilizar' o
restante da população para que pudessem freqüentar a nova cidade que surgia do processo de transposiç.ão dos
modelos de vida europeu e norte americano para Ribeirão Preto, processo esse que denominamos de 'Belle Epoque
Caipira". Assim, é possivel perceber a forma como os programas da Rádio PRA-7 são manipulados por sujeitos impor-
tantes da sociedade ribeirãopretana, com intuito de normatizar uma recente realidade da cídade.

20/07 - Sexta-feira - Tarde (14h às 18h)

Felipe Ronner Pinheiro Imlau Motta - PUC·SP


Jornalismo, Fotografia e Romance na obra de José do Patrocínio: fronteiras da linguagem nas representações
da Grande Seca de 1877
Instado, pela Gazeta de Notícias, a cobrir os efeitos da Seca que assolava as províncias cearenses, em 1878, José do
Patrocínio escreveu várias reportagens sobre a calamidade sofrida pelos retirantes. Percebeu, ainda, o que chamo
aqui de déficit jornalístico, a incapacidade de apresentar por meio do texto de imprensa, uma imagem vigorosa do
drama vivido no Ceará. Destarte, tomou a iniciativa de fazer fotografar retirantes e enviou duas dessas imagens ao
caricaturista Raphael Bordallo, para que fossem divulgadas na revista O Besouro. Bordallo respeitou o realismo das
fotografias, entretanto, algumas intervenções carregaram a transcriação litográfica com excessos significativos, tor-
nando as imagens poderosas ferramentas políticas. Patrocínio também publicou, em 1879, um folhetim intitulado Os
Retirantes. Assim, garantiu uma visão onimoda da calamidade, para além da imagem potente, porém fugaz, publicada
no Besouro, e dos limites da prática jornalística. Em diálogo com a semiótica da cultura, proponho analisar as estraté-
gias discursivas das linguagens referidas e o processo dialógico intenso que articulou fotografia, arte gráfica, jornalis-
mo e literatura, para forjar, através da mídia do século XIX, um potente mecanismo de confrangimento da opinião
pública.

280
Marcelo Gonzalez Brasil Fagundes - UFSC
Ideologia e ativismo político na vida e obra de Alejo Carpentier (1904-1980)
Na busca por uma compreensão das relações entre a arte e a política observamos que a vida e a obra do escritor
cubano Alejo Carpentier se apresenta como emblemática para o desenvolvimento dessas discussões. Nascido no
inicio do século XX, ele vivenciou o inicio da modernização na América Latina, integrou movimentos intelectuais em
Cuba e França, presenciou a ascensão do fascismo, narrou os bombardeios de Franco durante a Guerra Civil espa-
nhola, viajou para o México, Haiti e Venezuela em busca do mundo latino-americano e se engajou nas transformações
promovidas pela Revolução Cubana. Todos esses eventos exerceram influência no seu amadurecimento artístico e na
formação de sua consciência sobre a América Latina, refletidos na sua produção literária e jornalística, bem como, na
sua atuação política frente a essas mudanças. Buscamos, desta forma, perceber o universo vivido e o universo de
idéias que habítou a mente de Carpentier. Enquadrá-lo em seu contexto para tecer considerações sobre as transforma-
ções ideológicas sofridas por ele no decorrer da sua vida. Dado o caráter emblemático de sua experiência e a vasta e
variada publicação cremos ser notório a importãncia de uma análise da vida e obra de Carpentier para melhor vislum-
brar essa complexa relação entre a arte e a politica.

Luciana Pessanha Fagundes - UFRJ


"Banho de mar e feijoada: a visita do rei Alberto nas páginas da imprensa carioca (1920)"
Este trabalho tem como objetivo analisar o papel da imprensa carioca na visita dos reis Alberto I e Elisabeth ao Brasil
em 1920. Convidados pelo então presidente Epitácio Pessoa, os soberanos belgas permaneceram quase um mês no
pais, de 19 de setembro a 16 de outubro. Tanto os preparativos, quanto os vários eventos realizados durante a estada
dos monarcas belgas, foram acompanhados de perto pela imprensa carioca, ocupando inúmeras páginas de jornais e
revistas. Pensar como a imprensa apropria-se desse acontecimento, implica compreendê-Ia dentro do espaço social
que ocupava, com todas as peculiaridades que permeavam sua produção e, principalmente, observar quem estava
atuando nos periódicos e revistas cariocas das primeiras décadas do século XX. Entre os banhos de mar quase diários
do rei em Copacabana e o saborear de uma feijoada nas refeições reais, a imprensa ia construindo intensamente o
personagem do rei Alberto, 'fabricando' a imagem de um rei popular, adorado e admirado por todos. É crucial, portanto,
observar a maneira corno os vários episódios ocorridos durante a visita dos reis belgas foram 'lidos' por essa imprensa,
e de que forma as criticas ou elogios que suscitaram fizeram referência a conflitos e tensões presentes na sociedade
brasileira da época.

36. História e Historiografia: teoria e prática contemporâneas


Estevão de Rezende Martins (UnS) e Pedro Spinola Pereira Caldas (UFU)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h às 18h) I
Estevão de Rezende Martins - UnB
Tempo e memória: a construção social do passado na história
Lembrar e esquecer são dois atos humanos que constituem um dos procedimentos mais elementares do conhecimen- ~
rJ6'
to. Cada ato presente torna-se inelutavelmente uma lembrança ou um esquecimento, seja por força de mecanismos
psiquicos seja como resultado de opções de registro decorrente de decisões de cunho valorativo. Lembrar, esquecer e
perdoar são momentos instituidores da coesão social do tempo, ou seja, da história. Os modos pelos quais se fixam as
lembranças na memória são decisivos e constituem, por assim dizer, um enigma típico da investigação histórica. O
enigma não se esgota nela. O registro da lembrança, o testemunho, revela uma determinada dose de intencionalidade .~
no agir de cada indivíduo e transpõe para o conjunto interpretado do tempo, como história, o sentido atribuído ou .~
apreendido a cada ação. As lembranças são como os componentes de um mosaico conhecido como memória coletiva. Q)

Se há uma prioridade entre os elementos particulares da memória individual ou se, pelo contrário, prevalece a memória .§
coletiva, corresponde a outro enigma. O pensamento histórico nutrido pela memória elabora-se em consciência histó- ~
rica como fator de situação social e cultural de indivíduos e de comunidades. co
=co
o,
Pedro Spinola Pereira Caldas -U F U §
Johann Gustav Droysen e a cultura grega clássica .~
Como parte de meus estudos sobre a cultura histórica alemã, pretendo, nesta comunicação, compreender a influência :::c
da cultura grega antiga na obra do historiador Johann Gustav Droysen. Não se compreende a concepção de história na :
Alemanha do século XIX sem que se considere a relação dos alemães com a antigüidade clássica grega em sentido ~
mais amplo, a saber: historiográfico, filosófico e artístico. Neste sentido, deve ser salientada a importância dos tragediá- :i§
grafos e de Aristóteles para a estruturação do historicismo alemão.

281
Cássio da Silva Fernandes - UFJF
Werner Kaegi: o pequeno-Estado e a crise européia
O historiador suíço Werner Kaegi (1901-1979) é reconhecido corno autor da biografia intelectual de seu concidadão e
também historiador, Jacob Burckhardt (1818-1897). Neste escrito, Kaegi fundia a personalidade de Burckhardt ao
ambiente cultural helvético no século XIX e ressaltava a importância da cultura citadina de Basiléia na vida e na obra
de seu biografado. Porém, nas décadas de 1930 e 1940, Werner Kaegi, professor na Universidade de Basiléia, profere
uma série de conferências sobre a posição do pequeno-Estado na história da Europa, e conseqüentemente sobre o
teor da crise européia no contexto das duas grandes guerras. A fina interpretação de Kaegi sobre a trágica realidade
européia, sobre o papel desempenhado neste contexto pelo ideal do Estado nacional como potência política, aproxi-
mava-lhe dos cursos dados pelo piemontês Federico Chabod na Universidade de Milão, nesta mesma época; aproxi-
ma-lhe ainda de dois outros significativos historiadores na primeira metade do século XX, e com os quais manteve
profunda relação de amizade: Delio Cantimori, da Scuola Normale de Pisa, e o holandês Johan Huizinga. Analisare-
mos as citadas conferências de Kaegi, com o intuito de compreender os influxos de sua concepção política fundamen-
tando o caráter de sua perspectiva histórico-cultural.

Edmar Luis da Silva - Escola Americana de Belo Horizonte


As ciências do espírito no âmbito da discussâo interdisciplinar
Wilhelm Dilthey foi um dos principais teóricos das chamadas ciências particulares do espírito. Seu trabalho ganhou
notoriedade devido á insistência na discussão acerca de um fundamento específico para esse grupo de disciplinas. As
chamadas Geistewissenchaften deveriam ter uma abordagem epistemológica diferenciada, pois suas estruturas se
baseiam na vida e na compreensão desta vida. Ao enfatizar a necessidade do 'trabalho em grupo" dessas ciências-
no esforço de interpretar as manifestações vividas - Dilthey teria abordado pontos relevantes da discussão interdisci-
plinar nas ciências humanas.

Carlos Alvarez Maia - UERJ


Verdade e realidade na crise da história promovida pelo linguistic turn
Os historiadores do séc. XX dissolveram certezas positivas do discurso histórico herdadas do XIX, porém, contradito-
riamente, também deixaram em geral intocável os fundamentos filosóficos do saber histórico. Eles tomaram como
praxe o afastamento das discussões de meta-história que emergiam e, na sua rotina de pesquisa, trabalharam efetiva-
mente dentro de um pragmatismo simplificado no qual o fato-documento persistia como ancoradouro da positividade.
Neste cenário desprotegido de uma Teoria, a emergência do linguistic turn causou uma turbulência ôntico-epistêmica
ao questionar o Real da narrativa. Fala-se em crise do saber histórico. Examino aqui duas posições antagônicas de
historiadores no Brasil, a de Ciro Cardoso e a de Francisco Falcon, ante essa crise e questiono: crise da história ou
crise dos historiadores? Em apoio á legitimidade do saber histórico convoco Ludwik Fleck, autor canônico da história e
da sociologia das ciências, para equacionar as aporias postas pelo linguistic turno Em Fleck os conceitos de 'verdade"
e de 'realidade' eclodem como produtos de protocolos discursivos de coletivos de pensamento. Essa postura coloca-
se contra a ruptura entre a ordem das coisas e a ordem das palavras e postula por uma concepção de linguagem como
agenciamento concreto no mundo.

Teresinha de Jesus Mesquita Queiroz - UFPI


Escrita e Sociedade: os homens de letras e suas múltiplas produções
A pesquisa é uma proposta para apropriar-se historicamente das escritas jornalística, histórica e ficcional de intelectu-
ais brasileiros com atuação nos séculos XIX e XX. O principal objetivo do trabalho é abordar as relações entre a
História, a Literatura e o Discurso historiográfico a partir de uma reflexão que tanto permita repensar as fontes em uma
investigação histórica quanto possibilite o oferecimento de parâmetros conceituais para se identificar, categorizar e
catalogar os diferentes repertórios que dão suporte ás relações possíveis entre estes dois campos. O estudo é opera-
do, principalmente, a partir de três focos analíticos: abordagem do produto ficcional como um repertório que é, em si,
indicativo das virtual idades da história; consideração de que as relações entre autor e autoria são configuradas em um
amplo e complexo universo social; e, finalmente, a consideração de que a história ou o contexto é maior que o produto-
objeto, maior que o produtor-sujeito e modelador tanto do produto quanto do produtor.

I 17/07 - Terça-feira - Tarde (14h ás 18h)

Diogo da Silva Roiz - UEMS


O curso de História e Geografia no Brasil: o caso da FFCUUSP entre 1934 e 1956
Discute-se, nesta comunicação, sob quais condições foram incorporadas medidas federais e estaduais que delibera-
vam novo formato curricular para os cursos de Geografia e História, no Brasil, tendo em vista que entre as décadas de
1930 e 1940, almejava-se, na esfera política, nacionalizar o funcionamento dos cursos universitários brasileiros. Toma-

282
se por base o curso de Geografia e História da FFCUUSP, que foi um dos pioneiros a serem criados na década de
1930. Os informes selecionados, para esta pesquisa, foram os Anuários da Faculdade de Filosofia, nos quais publica-
vam-se parcialmente as atas do conselho da Faculdade de Filosofia e os relatórios das cadeiras dos cursos. A impor-
tância em se estudar as mudanças da estrutura curricular no contexto de funcionamento do regime de cátedras e da
nacionalização dos programas curriculares das Faculdades de Filosofia, encontra-se na possibilidade de demonstrar,
no quadro das transformações e debates, o processo de institucionalização do ensino universitário de História, na
medida em que se destacam os caminhos que levaram a autonomia dos cursos de Geografia e História, na década de
1950, quando se tornaram independentes. O texto que deu base a esta comunicação foi originalmente apresentado
como dissertação de mestrado em 2004 na Unesp.

Raquel Glezer - Dep. História/FFLCH/USP


O campo da história e as "obras fronteiriças": algumas observações sobre a produção historiográfica nacional
Este artigo tem o objetivo de identificar uma situação que é relativamente nova na produção historiográfica nacional -
o surgimento de 'obras fronteiriças', e iniciar uma discussão sobre o fenômeno em questão. No último quarto de século
a produção acadêmica nacional tem apresentado crescimento constante, tanto decorrente da expansão dos cursos
graduação como dos de pós-graduação, como do crescimento quantitativo do público leitor de nível educacional mais
elevado. Em paralelo, surgiu uma outra produção historiográfica, que atinge um público leitor quantitativamente maior
que a produção acadêmica, que não contem em sua elaboração todos os elementos da produção acadêmica. Estou
denominando tal produção de 'obras fronteiriças', que são as que contemplam em sua produção alguns elementos da
produção acadêmica, tais como a consulta bibliográfica e uso de algumas fontes, mas que em sua construção narrativa
utilizam elementos da narrativa literária com liberdade e liberalidade. Incluo nelas as biografias romanceadas, que desper-
tam tanta atenção do público leitor, as obras de divulgação histórica destinadas ao público leitor comum e alguns trabalhos
que, apesar de se apresentarem como obras históricas, fogem aos parâmetros da produção acadêmica.

Ana Carolina Barbosa Pereira - UnB


Os riscos de uma análise unilateral da obra historiográfica
A unidade metodológica da ciência da história é o que lhe garante um terreno comum de debate, imprescindível à vida
acadêmica. Somente através de critérios e procedimentos metódicos específicos, reconhecidos consensualmente
pela comunidade especializada, pode-se abrir o conhecimento histórico à crítica e ás possibilidades de aperfeiçoa-
mento. Como garantia de verdade das sentenças históricas, as informações extraídas das fontes exercem papel deter-
minante. Através destas últimas, as asserções históricas podem ser avaliadas e reguladas, por meio da adequação ou
inadequação empírica. Isto quer dizer que, no processo de verificação do conteúdo empírico das histórias, exige-se que
aquilo que se afirma ter ocorrido no passado, da forma como está sendo dito e não de outro modo, seja corroborado pelas
fontes. Nesse sentido, uma história cujo conteúdo dispõe de suporte empírico duvidoso não pode se sustentar. Entretan-
to, um problema surge quando o conteúdo empírico das histórias é negligenciado, ao mesmo tempo em que são
destacados os elementos formais da narrativa, através da qual os resultados da pesquisa histórica são materialmente
apresentados. Este trabalho propõe uma reflexão sobre os riscos de uma análise unilateral da obra historiográfica.

Karina Anhezini de Araujo - UNICENTRO


A escrita da história de um metódico à brasileira: Afonso de Taunay ~
Compreender como se escrevia a História no Brasil nas primeiras décadas do século XX foi a questão que norteou o
desenvolvimento de minha tese de doutoramento Para tanto, buscou-se historiar os procedimentos que fundamenta-
®
ram a escrita da História de Afonso de Escragnolle Taunay entre 1911 e 1939 por meio da interpretação das obras e da
correspondência do autor e de alguns de seus correspondentes. Nesta comunicação pretende-se apresentar alguns
resultados deste trabalho. Concluiu-se, dentre outros aspectos, que Taunay como um "mosaísta' que reúne as peças
dispersas nos documentos produzidos no passado e descobertos no presente acreditava que a História devia ser ô
composta por diversas "monografias pormenorizadas' que se detivessem ao pitoresco, á vida comum, aos costumes. ._~
Para a composição destes mosaicos da História Taunay divulgou, em suas aulas inaugurais e discursos, que era ~
preciso seguir os procedimentos da crítica externa e interna do documento em busca da verdade moderna. Dessa '"
forma, ele reuniu os ensinamentos adquiridos com os historiadores franceses que resumiu em 1911 e as orientações§;
~
de Capistrano de Abreu, tornando-se um metódico à brasileira.
='"~
João Alfredo Costa de Campos Melo Júnior - Centro Universitário UNA g
A Ação Coletiva e seus intérpretes: as perspectivas teóricas de Charles Tilly e Mancur Olson 's
O trabalho em questão intenciona discutir a produção teórica sobre a ação coletiva. Para tal, serão utilizados compa- ~
rativamenle duas diferentes concepções sobre o tema. De um lado Charles Tilly, que atualmente é um dos pesquisado-
res mais revisitados nas Ciências Sociais e de outro, Mancur Olson um dos responsáveis pelas mudanças interpreta- .ê
tivas vivenciadas pelas Ciências Sociais norte-americanas com a criação da nova corrente interpretativa denominada -~
Teoria da Mobilização de Recursos. Este trabalho histórico-comparativo visa apresentar duas escolas diferentes de :r:

283
pensamento; enquanto o primeiro autor delineia claramente a continua mudança de postura dos atores sociais, com o
deslocamento do foco das mobilizações para locais anteriormente pouco explorados, o segundo autor enquadra os
movimentos sociais a grupos de interesses que seriam a mola propulsora para a organização e/ou estruturação dos
movimentos sociais na atualidade. Enfim, o quê se pretende é apresentar de modo comparado, as aproximações e as
exclusões teóricas e práticas de dois autores norte-americanos contemporâneos que refletem sobre as ações coletivas
coletâneas.

Igor Guedes Ramos· UEL


A classe operária na produção acadêmica brasileira
Trata-se da exposição de resultados preliminares de um estudo das representações da classe operária e da concep-
ção de história, na produção acadêmica de sociólogos e historiadores brasileiros, entre as décadas de 1960 e 1980.
Os livros e autores analisados foram escolhidos por estudarem o mesmo objeto, a classe operária brasileira, em seu
processo de formação, ou seja, o período entre 1890 até 1930. Estes textos foram produzidos em épocas distintas e
apresentam abordagens e temáticas diferentes do mesmo objeto. Isso possibilita analisarmos, de forma mais especí-
fica, as representações de classe operária e as concepções de história dentro das estruturas dos textos e sua articula-
ção com as práticas sócio-culturais do momento em que foram produzidos. A intenção deste estudo é perceber a forma
como se organizam as representações em diferentes correntes de análise da classe operária, discutir como o momen-
to e as condições históricas interferem nas concepções de história e nas representações sobre um determinado objeto
de análise; compreendendo, assim, a constituição de campos analíticos em diferentes períodos acadêmicos como
conseqüentes de um quadro sócio-cultural nacional.

João Kennedy Eugênio - UFPI


Raízes: Ecos de Sílvio Romero no organicismo de Sérgio Buarque de Holanda
Há um fio condutor, espécie de filtro ou moldura, na produção de Sérgio Buarque de Holanda. Trata-se da visão
organicista que, sem ser exclusiva, orienta a maioria dos textos do autor, dos textos de juventude a Raízes do Brasil e
Caminhos e fronteiras. O organicismo, raramente explicitado, funda ao mesmo tempo as simpatias monarquistas e a
militância modernista do jovem Sérgio, a partir de um horizonte que privilegia o próprio, o autêntico e o espontâneo
ante o alheio, o postiço e o modelo. Essa visão converge com idéias de Sílvio Romero, que o jovem Sérgio cita no seu
artígo de estréia, reaparecerão durante a aventura modernista e repontam em trechos de Raízes do Brasil.

I 18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h) I


Gilmara Lane Tito Silva
Materialismo Histórico e Literatura: algumas reflexões sobre Edward Palmer Thompson
O artigo em questão busca traçar um paralelo entre a perspectiva historiográfica de Edward Palmer Thompson e sua
influência literária. Pretende-se analisar em que medida a narrativa literária de William Morris contribuiu para o fortale-
cimento das críticas de Thompson ao marxismo ortodoxo/ evolucionista! reducionista. Isto é, a análise da sociedade
através de modelos mecânicos, pré-determinados, a uma simples equação de explorados 'versus' exploradores. De
outra vertente, o trabalho busca evidenciar o 'romantismo' marxista de Thompson no decorrer de sua produção histo-
riográfica, especialmente no que tange sua redescoberta do materialismo histórico, e consequentemente a recusa do
autor as propostas estruturalistas clássicas nas ciências sociais.

Janaína Oliveira - PUC·Rio


O sentido trágico da modernidade: Burckhardt, teologia e história
A sensação de crise, marcada pela consciência da finitude e da efemeridade dos fenômenos do mundo, que caracte-
riza o tempo moderno, também esteve presente na decisão de Jacob Burckhardt de dedicar-se à investigação históri-
ca. O caminho para a história, no entanto, não foi percorrido sem sofrimento. Burckhardt viveu uma crise de fé e dela
partiu sua principal motivação para a escolha da história como campo de atuação e reflexão. Entretanto, não se tratava
de buscar uma solução para a crise de seu tempo e sim um modo de compreendê-Ia e de sobreviver a ela. O desapon-
tamento com a teologia levou Burckhardt a dedicar-se ao estudo e à escrita da história, mais especificamente, à
história da cultura. O trabalho ora proposto trata deste momento de surgimento da concepção de história de Burckhar-
dI. Pretende-se desse modo apresentar os primeiros passos dessa proposta historiográfica que se permanece atual
até os nossos dias, uma vez que possui, entre os eixos centrais de sua reflexão, questões como o papel desempenha-
do pelo historiador e o problema da continuidade histórica.

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Sara Albieri - USP
O papel dos conceitos na explicação histórica
O questionamento radical da cientificidade da história desembocou num perigoso vale-tudo hermenêutico que é preci-
so começar a diagnosticar. Há algumas décadas, Dray já destacava o papel dos conceitos nas explicações históricas,
não necessariamente derivados de leis abrangentes. Veyne depois defendeu que a conceituação em história não se
assemelha à explicação a partir de teorias ou leis, mas tem função descritiva e heuristica. Discutiremos então o
emprego de conceitos em história à luz de concepções recentes em teoria da ciência, visando restabelecer um padrão
de cientificidade a partir do reconhecimento do valor epistêmico dos conceitos para qualquer interpretação.

Marcelo de Mello Rangel - PUC-Rio


Alguns apontamentos sobre o passado, a memória e a ciência histórica em Nietzsche, ou da utilidade da
ciência histórica para a vida
Pretendemos destacar a importância da ciência histórica para a vida, segundo Friedrich Nietzsche. Ocorre que, inde-
pendente das fases que se costuma atribuir ao pensamento de Nietzsche, há um eixo motivador de suas reflexões ao
longo de toda sua existência - a vida. Vida aqui deve ser entendida como uma força, um movimento originário que
desde antes de experiências individuais e coletivas, conscientes ou inconscientes, comanda o nosso dia-a-dia. Falo de
um movimento imanente e gratuito, sem razões lineares e finalísticas que pode e tem, a todo o momento, seus vetores
apontados para direções diferentes, num sempre-re-começo essencial, etema abertura para múltiplas possibilidades.
O passado é parte efetiva desse movimento que aqui chamamos de Vida, e que para Nietzsche é tudo o que há de
mais essencial. Quanto mais corremos, mais as correntes do passado, da memória - individual e coletiva, nos acompa-
nham. Assim, Nietzsche critica o mau uso da história, uma ciência que se renderia à escritura de um passado excessi-
vamente objetivo. Veremos que dentro da dinâmica da vida, perfazendo-se também através da efetividade do passa-
do, o agora do presente tem o poder de refazer os sentidos do olhar humano que se arrisca a narrar histórias.

Rosa E. Belvedresi - U.N. Gral. Sarmiento • U.N. La Plata • CONICET


Las narraciones históricas y la representación dei pasado
En la filosofía de la historia actual parece haberse impuesto una forma de 'idealismo lingüístico', representado por
posiciones que desmitifican la supuesta transparencia dei lenguaje y rechazan, por lo tanto, la importancia de su
función representativa, remarcando la dimensión retórica dei texto como 'artefacto". Pretenden así problematizar las
fronteras entre lenguaje y realidad, e insisten en que en lugar de mirar ai pasado a través de las narraciones, las
narraciones deben verse ellas mismas como objetos. Este trabajo analiza algunas consecuencias de estas tesis,
denominadas narrativistas o textualistas, y defiende la posibilidad de que las narraciones históricas sean representaci-
ones dei pasado dei cual hablan. Para ello se analizan las características diferenciales que poseen, y se distinguen los
distintos factores que deben tenerse en cuenta para valorar a una narración como una representación adecuada o
correcta dei pasado.

Affonso Celso Thomaz Pereira - PUC· Rio


O conceito de República e teoria da história em Kant
A partir da segunda metade do século XX renovou-se o interesse pelo conceito de República, ao mesmo tempo que
houve um envziamento de sua efetividade. O trabalho propõe avaliar a pertinencia de pensar o conceito de república ~6
em seus fundamentos na obra do filosfo alemão I. K ant e as implicancias para a disciplica histórica. ~

Fernando Gil Portela Vieira - USP


No limite de Clio: a dimensão ticcional na escrita da história
A influência do 'paradigma pós-moderno' na historiografia tem levado, entre outras questões teóricas, à redefinição da
interdisciplinaridade. Neste sentido, o diálogo entre história e literatura ocupa papel central como uma das mais polê- g
micas relações interdisciplinares da atualidade. Se no século XIX a história se afastou da literatura devido ao compro- .~
misso com o real, monopolizando o 'fato' e relegando a 'ficção' aos literatos, no limiar do século XXI se questiona até ~
mesmo a possibilidade de a história alcançar um conhecimento objetivo do passado. A presente comunicação destaca .!!1
um aspecto particular no âmbito do diálogo histórico-literário: o conceito de ficção, que encarna a separação entre a o
história e a literatura. Partindo da observação de Carlo Ginzburg sobre a etimologia da palavra latina fictio, aparentada ~
ro
com figulus ('oleiro"), pretende-se demonstrar que a ficção é uma força operante na escrita da história, não enquanto '§
invenção, mas uma construção do historiador. O discurso histórico é dissecado a partir do seu caráter indireto (por via g.
das fontes), parcial (os documentos são necessariamente limitados) e imaginativo (na medida em que o historiador 's
conjectura sobre as lacunas documentais), revelando seu caráter ficcional. ~

285
19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h às 16h30min)

Israel Sanmartín - Universidad de Santiago de Compostela


Los fines de la Historia
'Los fines de la Historia" ofrece un estudio de las interpretaciones teleológicas de la historia postmodernas, conserva-
doras y progresistas. EI objetivo es mostrar las debilidades de estos razonamientos teleológicos en relación a sus
construcciones teóricas, políticas e historiográficas en todas sus modalidades, con el objetivo de plantear la necesidad
un nuevo pensamiento más contingente y sostenido en la importancia de los acontecimientos, de la acción de seres
humanos (individual y colectivamente) y de una mayor conexión entre historia, política y teoria.

Pablo Diener - UFMT


Considerações sobre o uso de registros visuais como instrumentos para a História
Os registros visuais têm sido incorporados como fontes para o trabalho do historiador com crescente ênfase, e a
História Cultural proporcionou a carta de naturalidade á imagem no espaço da produção historiográfica. Chama aten-
ção, porém, que ainda hoje paire um ecletismo teórico e metodológico no tratamento destes materiais. Num sentido
amplo, continua vigente a crítica que David Topper (1996) formulou ao livro Voyage into Substance de Barbara Stafford
(1984), quanto à compreensão do valor epistemológico da própria imagem. Seguindo a vereda aberta por Topper, esta
comunicação propõe uma análise sobre a confiabilidade do conhecimento histórico que é construído com base neste
tipo de fontes, quando a sua avaliação e o seu controle epistemológico não se apóiam num marco teórico consistente
nem numa metodologia rigorosa. Analisar-se-á uma série de pesquisas realizadas nesta área, tanto na produção
historiogràfica brasileira como estrangeira, com o intuito de pôr em evidência alguns dos principais problemas que os
historiadores têm tido ao trabalhar com conjuntos iconográficos e, quiçá, de vislumbrar caminhos de saida.

Renato Lopes Leite - UFPR


Cinema e historiografia: o atual debate sobre a Independência Norte-Americana
A reflexão pretende analisar o sentido e as mudanças da identidade dos norte-americanos a partir da narrativa histori-
ogràfica e cinematográfica de alguns filmes sobre a Revolução da Independência dos Estados Unidos.

Fabio Sapragonas Andrioni - USP


Futurologia e suas representações: uma Filosofia da História contemporânea a partir de O Ano 2000, de Her-
man Kahn (1966-1967)
Este trabalho trata sobre a Futurologia, baseando-se em um significativo trabalho desta proposta, o qual foi publicado
em 1967. É ele: O ano 2000, de Herman Kahn e Anthony J. Wiener. A Futurologia foi, de maneira geral, entendida por
esses autores como o planejamento de determinadas ações no futuro a partir de uma projeção científica feita no
presente. Com esse trabalho, busca-se entender qual a visão de história desse pensamento científico e, com isso, qual
a defesa de ciência pelo mesmo. Para isso, deve-se passar tanto pelas diversas filosofias da história pensadas ante-
riormente, assim como pelas teorias da ciência, tentando identificar, então, o que permitiu tal possibilidade. Para
realizar tais articulações, ou seja, entender como as filosofias da história e as teorias da ciência possibilitaram que, no
contexto do fim dos anos 60, a obra OAno 2000 pudesse ser realizada, Roger Chartier, Giovanni Levi e Jacques Revel
serão utilizados. Levi e Revel serão úteis para o desenvolvimento das articulações do movimento com o espaço social
e histórico no qual ele está inserido. Já, Chartier, será usado para entender como essas articulações foram realizadas,
uma vez que elas serão entendidas como leituras e apropriações que os autores realizaram de outras obras.

Manoel Gustavo de Souza Neto - UFG


A Razão Imagética: Teoria da História e Hermenêutica Urbana em Walter Benjamin
Seguir rastros, decifrar pistas, honrar os resíduos 'da única maneira possível: utilizando-os". Em Walter Benjamin não
é possivel separar o detetive que, com olhar poético, recusa a ilusão de objetividade engendrada pelo positivismo -
assumindo a contingência e a tragicidade inerentes à existência -, daquele outro observador, que não pretende apenas
'desvelar" o passado, mas redimí-Io, num instante outro, da implsoão de uma concepção linear de temporalidade,
típica de uma 'história dos vencedores", e onde passado, presente e futuro se articulariam num impeto ético. Esse
observador é o Benjamin historiador. Aqui, ontologia e epistemologia histórica articulam-se numa teoria da modernida-
de que se apropria, de forma bastante heterodoxa, do marxismo (sem jamais se comprometer com o comunismo), do
judaísmo (sem vestígios de sionismo), do romantismo alemão e da psicanálise. O saber que disso se desdobra é
essencialmente histórico. Seu locus, a cidade. Trata-se de interpretar toda sorte de sinais, imagens - iconograficas,
oniricas, 'de pensamento" e residuos para se escrever uma 'história a contra-pelo". O presente texto pretende esboçar
as relações entre epistemologia e teoria da história nessa hermenêutica urbana que é, essencialmente, uma história
cultural.

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Renato da Silva Melo - UEMG
Metodologia da Interrupção Dialética
A concepção de história de Walter Benjamin liga-se ao conceito de interrupção dialética. Esta expressa o instante em
que os subalternos podem resignificar a história. A partir desse método, Benjamin busca um conceito de história que
possa atualizar o passado no 'tempo de agora'. Com o uso do método da interrupção dialética, o autor berlinense faz
desabrochar as contradições inerentes à história causal.

I 20/07 - Sexta-feira - Manhã (10h30min às 12h30min)

Anna Maria Dias Vreeswijk· UFG


História e movimento social: a construção historiográfica vinculado ao MST
Um dos principais elementos constitutivos da identidade do Movimento Nacional dos Sem Terra é um discurso de
cunho historiogràfico que insere esse movimento social na história do conflito agrário brasileiro. Tal elemento pode ser
relacionado com o conceito de consciência histórica formulado pelo historiador Jôrn Rüsen. Para o autor, consciência
histórica é entendida como a construção de uma narrativa historiográfica que sustenta a identidade do grupo social
assim como institui orientação para a vida prática. A presente comunicação propõe analisar a construção historiográfi-
ca vinculada ao MST, tanto de autores ligados ao movimento social quanto da própria direção do movimento, buscando
compreender como que, nesse movimento social, uma narrativa sobre o passado, relacionada com um determinado
projeto político, dá sentido e orientação para ações políticas no presente. Assim, espera-se que esse trabalho possa
contribuir para o proposta de um teoria que vincula a narrativa aos efeitos que ela produz no grupo social do qual ela
emerge e ao qual se dirige.

Alex A1varez Silva - UFMG


Historiografia Brasileira e Manoel Bomfim: do "Brasil Heróico" à "Revolução Brasileira"
O objetivo deste trabalho é apresentar alguns dos principais eixos da narrativa historiográfica de Manoel Bomfim
(1868-1932) sobre o Brasil, com a intenção de promover uma reflexão a respeito de seu diálogo com a produção
historiográfica brasileira do inicio do século XX. Bomfim procurou sintetizar, em uma narrativa historiográfica, a história
brasileira desde suas origens até a atualidade que viveu. A partir de uma reflexão sobre a produção historiográfica de
sua época, Bomfim rearticulou diversos elementos da história e historiografia brasileiras em uma nova narrativa, atribu-
indo-lhes novos sentidos e significados. Ao mesmo tempo, ele realizou essa nova articulação a partir das questões de
seu presente sobre as heranças do passado e das esperanças e temores quanto ao futuro brasileiro. Abordaremos sua
narrativa a partir das perspectivas de Paul Ricoeur e de Reinhart Koselleck, destacando sua configuração especifica
da temporal idade brasileira. Qual é o Brasil elaborado por Manoel Bomfim em sua narrativa historiográfica? Como sua
narrativa se aproxima ou se distancia de outras reflexões sobre o Brasil? Desejamos, com estas questões que orien-
tam nosso trabalho, contribuir para uma reflexão mais ampla sobre a história da prática historiográfica brasileira.

Christiane Marques Szesz - UEPG


Citações de almanaques populares no romance "A Pedra do Reino": um exemplo de apropriação
O conceito de apropriação, elaborado por Roger Chartier, tem sido usado como instrumento para os estudo da história ~
intelectual. Este trabalho faz um estudo de história intelectual e analisa como o escritor Ariano Suassuna se apropria
do texto popular, mais especificamente, do almanaque popular e o cita em seus textos.
®
Wagner Geminiano dos Santos - UFPE
Filhos de Dioníso: por uma nova historiografia das festividades carnavalescas
Esta comunicação busca apresentar as discussões teorico metodológicas que norteiam e constiuem a base para a ~
construção da minha dissertação de mestrado. Diante da impossibilidade de estabelecer conexões satisfatórias entre ~~
a historiografia das festas, ao menos boa parte dela, e o problema que ora evidenciava e procurava historicizar busquei ~
constituir um novo espaço de experimentação, procurando delinear caminhos transitáveis adentrando por searas teó- co
ricas, até certo ponto, marginalizadas pela historiografia das festas; rompendo e derrubando fronteiras e fortificaçõesj
teorico metodológicas bem estabelecidas, neste campo do saber. Foi abrindo e trilhando este caminho que me foi
possível trabalhar com e a partir de Foucault, Deleuze, Certeau e Nietzsche fazendo-os, muitas vezes, caminharem ~
~
lado a lado, em outras se conectarem, nem sempre na mesma ordem, e estabelecerem ressonâncias. Só assim me foi 8'
possivel constituir um outro espaço de experimentação, para além dos estabelecidos, que possibilitasse constituir um .~
corpus documental e produzir uma narrativa inteligível para dar respostas ao problema que evidencio na dissertação, ~
qual seja: A partir de que momento e de que condições históricas as festividades carnavalescas se apresentam como
um problema para a sociedade campinense.

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37. História e Linguagens: território multidisciplinar da pesquisa histórica
Rosangela Patriota (UFU) e Arnaldo Daraya Contier (USP I Universidade Mackenzie)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h às 18h)

Arnaldo Daraya Contier - USP I Universidade Mackenzie


Canto Orfeõnico, Villa-Lobos e as manifestações culturais do periodo getulista (1930-45)
A escolha da obra villalobiana para o canto orfeônico como objeto central de nossa reflexão enfatiza, de um lado, a sua
singular importância para os estudos da contemporaneidade musical e de outro lado às analises do textos verbaliza-
dos sobre o canto coral, que denotavam fortes matizes ideológico-políticos. Esses matizes simbolizavam a chamada
"democratização'da música e, paralelamente, a massificação do cidadão fortemente envolvido pelos signos da propa-
ganda varguista, que buscava traçar o perfil sonoro do Estado Autoritário, fundamentando-se numa determinada con-
cepção de brasilidade. A decodificação deste discurso sonoro harmonizava-se com as falas dos ideólogos getulistas,
calcadas nas seguintes palavra-chaves: fé, trabalho, disciplina e civismo.

Vânia Carvalho Lovaglio - UFU


A música brasileira e latino-americana na segunda metade do século XX
Este trabalho busca compreender o processo histórico de inserção e valorização da música contemporânea latino-
americana nos principais eventos de música contemporânea realizados no pais, incluindo-se a participação de seus
coordenadores. Instaladas as querelas entre o nacionalismo musical e a vanguarda nos anos 50 e 60, representados
pelas escolas de composição de Camargo Guarnieri e H.J. Koellreuter, as décadas de 70 e 80 foram as grandes
produtoras de obras experimentalistas, uma tendência universal que começou a ganhar espaço nos festivais e cursos
de música contemporânea realizados por diversos locais do país e em alguns centros da América Latina. Koellreutler
deu o pontapé inicial quando criou, em 1950, o I Curso Internacional Pró-Arte de Férias de Teresópolis, dando oportu-
nidade a jovens estudantes e profissionais de terem contato com obras inéditas do repertório tradicional e com a
música de vanguarda.

Manoel Dourado Bastos - Unesp/Assis


Pau linho da Viola: tradição e modernidade entre forma e expressão
Desde o musical (logo em seguida transformado em disco) Rosa de Ouro (1965), seu primeiro trabalho profissional em
música, Paulinho da Viola deu seguimento no interior da indústria fonográfica ao samba. Este percurso histórico,
fundamentalmente tradicional, desdobra-se numa resposta também moderna à experiência musical brasileira. Se num
primeiro instante as canções de Paulinho da Viola se baseavam apenas no samba (como em Samba na Madrugada,
1966, com Elton Medeiros), num segundo momento (mormente após 'Sinal Fechado', de 1969) seu trabalho busca
conciliar a estrutura tradicional com a ampliação do material musical. Disto surge uma ambivalência entre tradição e
modernidade (latente desde sempre na experiência do samba), apresentando-se na tensão entre forma e expressão
musicais. Ainda que as canções de Paulinho da Viola continuem baseadas estruturalmente no samba, a expressão
musical não se fundamenta mais necessariamente neste, o que define a substância da totalidade de sua obra como ao
mesmo tempo moderna e brasileira. Acompanharemos neste trabalho o caminho percorrido por Paulinho da Viola,
tomando a canção 'Para ver as meninas' (1971) como ponto-chave para compreender o percurso em que a forma
musical do samba ganha nova expressão moderna, sem perder sua base tradicional.

Luciano Carneiro Alves - UFMT


Construindo a Linguagem Jovem: A Revista BIZZ e a Cultura Juvenil no Brasil dos Anos 1980
No ano de 1985, uma das repercussões da realização do festival Rock'n'Rio, foi a confirmação de quem produtos
culturais direcionados aos jovens efetivamente tinham demanda. Isto era o que faltava para que o Grupo Abril, o maior
conglomerado brasileiro de publicações impressas, definitivamente apostasse em uma nova publicação direcionada
para este segmento de leitores: chegava às bancas, mensalmente, a revista BIU. Desde então, a BIZZ ao longo seus
22 anos de existência caracterizou-se por ser uma revista com conteúdo de cultura pop-rock para jovens brasileiros,
sendo referência para o conhecimento dos lançamentos musicais nacionais, estrangeiros, e manifestações do com-
portamento juvenil em geral. Durante a década de 1980, foi a principal revista de afirmação do rock produzido no Brasil
e espaço privilegiado para que artistas, jornalistas e críticos musicais participacem do debate musical de então. O
objetivo deste trabalho é discutir quais as características editoriais da BIZZ ao longo dos anos 1980, destacando
particularmente qual a cobertura dada aos artistas do rock brasileiro, procurando mostrar quais referenciais estéticos e
permearam suas páginas e hierarquizações.

288
Marcos Rizolli - Universidade Presbiteriana Mackenzie ~
Artista-Pesquisador: a construção de uma historiografia crítica
A Universidade Contemporânea tem estabelecido cada vez mais espaço para os domínios da criatividade e da expres-
®
sâo humana - em suas formas de arte. Assim, este presente estudo busca identificar e registrar, de modo critico, os
percursos e carreiras de artistas-pesquisadores de uma universidade brasileira - devidamente envolvidos com ações .~
de ensino, pesquisa e extensão. Compreender os processos criativos, as dimensões expressivas, os dominios mate- %
riais e técnicos e conseqüentes inovações de procedimentos -que incidem sobre o campo significativo da arte contem- :g
porânea tem sido o nosso interesse de reflexão critica e meta-criativa. Delineia-se, assim, um conjunto de textos, :!5
diagramas semióticos e ensaios críticos que analisam obras artísticas e experiências estéticas. Voltando-se para a E
constituição de uma identidade coletiva - necessariamente contemporânea - no esforço de configuração da figura do ·ê
Artista-Pesquisador. A presença interventora do artista na formação universitária parece oferecer novos formatos ~
rei acionais ... em registros que sugerem, além das imagens autorais, a construção de uma historiografia critica. ~
o.;
Fernando Kolleritz - FHDSSPI-Franca I Unesp
Totalitarismo em suas linguagens
Várias linguagens aproximaram-se do mundo totalitário, um universo de vida que abrangeu, segundo discussões entre ~
ª'
~

especialistas, os países comunistas, o fascismo italiano e o nazismo. Com otimismo, defende-se aqui que esta polifo- '"
nia de linguagens trouxe progresso no conhecimento do fenômeno totalitário. Estas linguagens, tentemos esquemati- .~
zar, contam-se em número de quatro, tomando a forma a) do testemunho e da ficção b) da filosofia política, c) da teoria ~
política e d) da História. Como se pode observar desde já, testemunho e ficção expressam a realidade totalitária a partir ::r::
de viés subjetivo; são referências internas ao vivido, real ou imaginário, constituem percepções e sentimentos elabora-
dos a partir de vivências reais ou ficcionais; retratam o mundo vivido da maneira como é existido, a partir de dentro dos
afetos emocionais, dos sentimentos e das avaliações morais, com reconhecimento explícito da sensibilidade e da
imaginação. Por sua vez, os três outros 'gêneros' constroem-se em exterioridade, versam 'sobre' a formação social
totalitária, tentam objetivar o mundo de que falam, recortando aspectos, distinguindo níveis de realidade, estabelecen-
do cronologias, permanências e durações, determinando variáveis e períodos e apreendendo o sentido dos aconteci-
mentos.

Paulo Roberto Monteiro de Araújo - Universidade Presbiteriana Mackenzie


A Linguagem Estética de Edward Hopper como Expressão do Zeitgeist Contemporâneo
Um dos maiores pintores americanos do século XX, Edward Hopper consegue transmitir, por meio da linguagem
artistica, a dor e a solidão do homem urbano contemporâneo. As cenas cotidianas dos quadros de Hopper perdem todo
o seu caráter objetivado, em termos representacionais, para revelar a dor e a solidão que se mostram na dimensão da
vida sócio-cultural do homem ocidental do século XX. Deste modo, Hopper ganha uma importância no que se refere à
compreensão histórica do homem ocidental em sua vida cotidiana, marcada por relações impessoais. São essas
relações que fazem com que a indiferença se torne um dos pont9s centrais para o pensamento teórico relacionado à
história da cultura. Seguindo o conceito de Zeitgeist (Espirito de Epoca) cunhado pelo pensamento alemão, podemos
dizer que Hopper consegue por meio da linguagem expressiva da arte apreender elementos significativos da cultura
contemporânea ocidental, os quais nos possibilitam analisar a raiz da indiferença no seio da vida social. A presente
comunicação tem como propósito relacionar a questão da linguagem estética de Hopper com o modo de ser sócio-
cultural do ocidente contemporâneo.

Guilherme Cantieri Bordonal - UEL


A mudança de linguagem em Nietzsche: uma possibiliade historiográfica
Configura-se na contemporaneidade a preocupação com uma historiografia que reflita em como escrever e adotar
novas possibilidades teórico-metodológicas, mesmo que para isto seja necessário estabelecer o diálogo da História
com outras disciplinas.
Este trabalho analisa a mudança de linguagem dentro da filosofia de Friedrich Nietzsche. A análise deste movimento,
é fundamental para entendermos a critica que Nietzsche tece aos valores modernos, e a própria idéia de cultura no
Ocidente. Na passagem da segunda para a terceira fase de seu pensamento, Nietzsche molda novas formas expres-
sivas de linguagens. Para questionar a cultura e toda a tradição filosófica no Ocidente é preciso estabelecer uma
mudança de linguagem. Não seria possível superar os cânones filosóficos trabalhando com um estilo de linguagem
que repetia formas padronizadas por um estilo sisudo que prioriza a coerência e a racionalidade como instâncias
fundamentais para se poderfilosofar. Temos em "Assim falou Zaratustra' (1885), uma mudança vertiginosa na lingua-
gem de Nietzsche. Escrita em estilo poético e bíblico, é colocada por muitos pesquisadores como a principal obra da
filosofia nietzscheana. Encontra-se aqui, uma porta de entrada para discutir formas de linguagens que para a historio-
grafia apresentam-se gastas.

289
17/07 - Terça-feira - Tarde (14h às 18h)

Joao Pinto Furtado - UFMG


Canção e cinema; apontamentos teórico-metodológicos para o estudo das relações entre linguagens
Tomando como referência a problemática das migrações no Brasil do desenvolvimentismo militar e sua re-elaboração
pela produção cultural do período, propomo-nos a investigar alguns aspectos teórico-metodológicos das relações
entre diferentes linguagens, em especial canção e cinema. Nosso corpus documental privílegia duas peças que ora se
complementam, ora se distinguem, dependendo do contexto de recepção. Colocar em relação o filme "Bye, Bye,
Brasil" e sua canção-tema, nos parece um bom exercício para investigar as relações entre os diferentes registros, da
escuta e da spectatorship (E. Kaplan). O que se percebe a partir do cotejamento das peças é sensível diferença entre
as percepções da canção, quando inserida no filme, ou quando simplesmente ouvida. No primeiro caso, prevalece a
dimensão da crônica do cotidiano, que é reiterada pela experiência mambembe do grupo, ao passo que no segundo, o
registro de crítica social parece mais acentuado. Discutir os problemas teóricos advindos, através de audição comen-
tada e visualização editada destes registros é nosso objetivo. O conjunto de reflexões está, portanto, estruturado em
torno da investigação acerca das ligações entre o processo vivido e as diferentes linguagens nas quais esta experiên-
cia se traduz e ao mesmo tempo se revela.

Edwar de Alencar Castelo Branco - UFPI


Cinema marginal e nanâncias juvenis pela cidade
Neste trabalho, o centro do argumento consiste na idéia de que num momento em que a realidade brasileira tendia a
uma crescente complexificação, em razão do também crescente processo de mundialização, jovens cineastas propu-
nham intervir nessa realidade com o intuito de provocar uma ampliação conceitual no campo artístico, formulando não
apenas novos objetos, mas uma nova relação com aquilo que seria o objeto da arte. O trabalho visa refletir sobre a
inventividade do cotidiano efetuada pelos cineastas ditos marginais do ínício da década de 1970. Trata-se, do ponto de
vista do trabalho, de sujeitos que, sob o impacto da pós-modernidade, buscavam, através da linguagem filmográfica,
ressignificar o mundo à sua volta. Os filmes que serão tratados aqui expressariam, à luz da teoria que se está utilizan-
do, um movímento sub-reptício e astucioso, através do qual fragmentos da juventude brasileira compunham, face às
formas dominantes de pensamento no período, suas artes de fazer. O corpo de fontes é composto por seis filmes do
"espectro Torquato Neto', rodados entre 1972 e 1974 nas cidades de Teresina e do Rio de Janeiro.

Kellen Cristina Marçal de Castro Neves - UFU


Cinema na cidade: a resignificação da linguagem social em Uberlândia-MG
A constante resignificação das sociabilidades proporciona discutir parâmetros nos quais novas linguagens se estabe-
lecem. Desta forma, o ato de ir ao cinema experimentou e ainda experimenta mudanças significativas decorrentes das
transformações sócio-culturais. Neste sentido, a discussão sobre as novas formas de sociablidade estruturadas em
novos referenciais permite problematizar a reorganização urbana da cidade de Uberlândia, sentida nos mais diversos
aspectos dé! vida em sociedade, principalmente no tocante à abertura e valorização de novos espaços em detrimento
de outros. E particularmente perceptível em relação ao desaparecimento das antigas salas de cinema centrais e a
consequente incorporação ao shopping-center nas décadas de 1980 e 1990. Adaptado ao novo espaço, o ato de ir ao
cinema ganha novos contornos no exercício da sociabilidade em Uberlândia. A proliferação de shoppings e a incorpo-
ração das salas de cinema aos mesmos não se constitui como um processo isolado e restrito da cidade. Muito pelo
contrário, é um processo global. No entanto, é interessante discutir a resignificação desse hábito social reestruturado
em seu novo espaço de acordo com as peculiaridades da cultura local.

Tania Nunes Davi - Faculdade de Ciências Humanas e Sociais


Gracialino Ramos no cinema: representações do Brasil no século XX
Literatura e Cinema são instâncias privilegiadas para o historiador depreender construções de representações, estéti-
ca e recepção dos diversos projetos e visões de mundo de uma época. Utilizando os filmes e os livros Vidas secas, São
Bernardo e Memórias do Cárcere, procuraremos percepcionar, questionar e analisar algumas das representações
tecidas pelos cineastas Leon Hirszman e Nelson Pereira dos Santos e pelo escritor Graciliano Ramos sobre a socieda-
de brasileira ao longo do século XX. Os filmes estão recheados de representações sobre categorias sociais, visões
de mundo e projetos que se desenvolveram no Brasil e proporcionam abundante material de trabalho para uma
pesquisa que abordará aspectos estéticos, sócio-culturais e temporais da produção, difusão e recepção dos livros
e dos filmes, assim como da visão de mundo de seus produtores, desvendando posições de empecilho ou promo-
ção das referidas obras.

290
Alcides Freire Ramos - UFU ~
O cinema de João Batista de Andrade e a resistência à ditadura militar brasileira: análise e interpretação de
"Doramundo" (1977) e "O Homem que Virou Suco" (1980)
®
Ao longo de sua trajetória artistica e política, o cineasta João Batista de Andrade dirigiu filmes empenhados na proble- ...:
matização da realidade brasileira e, sobretudo, na crítica á ditadura militar. Nesta comunicação, apresentaremos refle- .s
xões em torno de dois importantes filmes deste diretor: "Doramundo' (1977) e 'o Homem que Virou Suco" (1980). Eles ~
foram produzidos e lançados numa conjuntura particularmente conflituosa, marcada pela repressão, censura, e contro- ;o_~
le ideológico-cultural, mas, ao mesmo tempo, pela reorganização dos movimentos sociais, em especial dos operários ::::>

do ABC paulista. O objetivo principal desta apresentação é discutir o modo como esses filmes respondem a essa E
conjuntura.

Rodrigo Poreli Moura Bueno - UNESP/Assis-SP


Por um Cinema Performático e Político: Transe e Cultura Popular na obra "O Dragão da Maldade contra o u;
Santo Guerreiro" de Glauber Rocha ~
Pode-se dizer que em fins dos anos 60, com o enrijecimento da ditadura militar e a crise dos ideais revolucionários, o ~
cineasta brasileiro Glauber Rocha buscou a constituição de um cinema "terceiro-mundista' que recusasse, os modelos :.S
cinematográficos norte-americanos e europeus, e fosse capaz de se comunicar com o grande público. Para isso, era
necessário reinterpretar símbolos da mitologia cultural brasileira e projetá-los em uma linguagem fílmica singular. O ·ê
seu filme, "O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro' (1969), insere-se nessa proposta estética, no qual a ]i
apropriação das figuras do "Dragão' e de 'São Jorge' representam a possibilidade de um destino ético-político para o :r:
Brasil. Nesta obra, as manifestações da cultura popular, com seus cantos e danças, dão a tônica do espetáculo. Já a
montagem teatralizada e a performance dos personagens, atores de suas próprias lendas, expressam disposições
inconscientes e descontroladas na textura de imagem e som, negando uma idéia linear de história e aproximando-a da
noção de transe. Este, aponta para a compreensão de que o passado e o futuro não mais designam o antes e o depois,
eles tornam-se dimensões do próprio presente. Assim, a arte cinematográfica seria uma mediação interativa entre mito
e realidade.

Flávia Cópio Esteves - Fundação Educacional de Volta Redonda


"Sob" sentidos do político: história, gênero e poder no cinema de Ana Carolina (Mar de rosas, Das tripas
coração e Sonho de valsa, 1977-1986)
Ocinema, como um veículo para uma interpretação de um tempo histórico particular, mantém estreitas relações com o
contexto no qual é concebido e visto. O diálogo entre filmes e História é focalizado neste trabalho, resultado de minha
dissertação de mestrado na UniverSidade Federal Fluminense, através da trilogia escrita e dirigida pela cineasta brasi-
leira Ana Carolina. Em Mar de rosas (1977), Das tripas coração (1982) e Sonho de valsa (1986), estão em cena
relações de poder na esfera familiar, as faces femininas que habitam os sonhos de um homem em um colégio católico
de meninas e os desejos românticos de uma mulher de trinta anos. Relações sociais cotidianas e conflitos subjetivos
compõem, por meio das personagens femininas, um espaço de análise do poder em suas múltiplas dimensões - em
outras palavras, concebendo e vivenciando o pessoal como político.

Flávio Vilas-Bôas Trovão - USP


Discurso político e linguagem cinematográfica: um filme de Robert Altman nos anos 80
Buscando uma aproximação com as reflexões entre história, cinema e política, este trabalho de pesquisa de doutorado
se volta para o filme Streamers (O Exército Inútil), dirigido por Robert Altman e lançado em 1983. O filme narra a
história de um grupo de jovens soldados estadunidenses que, aquartelados, aguardam para serem enviados ao Vietnã
em guerra. Conflitos de gênero, raça e classe social destacam esta obra frente aos demais filmes de guerra produzidos
durante o governo de Ronald Reagan. Tanto a crítica especializada da época, quanto as informações da linguagem
cinematográfica, obtidas com a decupação do filme, podem servir como elementos para a construção de representa-
ções políticas. A partir da análise desses dados podemos inferir algumas considerações sobre a relação entre política
e cinema no governo de Ronald Reagan.

I 18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h ás 18h)

Rodrigo de Freitas Costa - Universidade Presidente Antônio Carlos


História e Cultura em Bertolt Brecht e Walter Benjamin: convergências entre dois intelectuais da República de
Weimer
Tomando os Diálogos da Compra do Latão, de Bertolt Brecht, como corpus privilegiado de análise, essa comunicação
busca compreender as aproximações entre as noções de História e Cultura expressas na obra do dramaturgo alemão.
Para tanto, utilizarei como centro de discussão as análises e considerações de Walter Benjamin sobre os temas

291
tratados, especialmente por meio de suas teses Sobre o Conceito de História. As ligações entre Brecht e Benjamin,
obviamente, não são aleatórias e visa, portanto, evidenciar os meandros sociais e culturais que aproximam esses dois
autores e teóricos alemães.

Thaís Leão Vieira - UFMS


Da tragédia à comédia: Vianinha no teatro de revista durante a ditadura militar
O dramaturgo Oduvaldo Vianna Filho tem lugar na memória historiográfica fundamentalmente por sua produção enga-
jada. Nas diversas interpretações que pesquisadores fizeram de sua obra, houve a eleição da obra prima - Rasga
Coração - e daquelas consideradas de menor valor. Em Dura Lex Sed Lex no cabelo só Gumex (1967) e Tem Banana
na Banda (1970), escrita juntamente com Paulo Fontes e José Wilker, Vianinha usa a forma da revista como estrutura
dramática. Mais do que mera opção individual ou estética, a desvalorização das peças de teatro de revista é também
reafirmação de determinada produção historiográfica sobre o teatro brasileiro, forjada ao longo do século XX. Esta
perspectiva desmerece o teatro brasileiro desde o início do século, especialmente por estar vinculado á comédia.
Nesse sentido, refletir sobre essa historiografia teatral, poderá revelar importantes aspectos da historicidade das hie-
rarquias construídas. Assim, o teatro de revista é o objeto privilegiado para problematizar essa dada interpretação.

Rosangela Patriota· UFU


Companhia Estável de Repertório (C.E.R.): cena, interpretação e dramaturgia· marcas da história no teatro
brasileiro contemporâneo
Este trabalho analisará o significado da Companhia Estável de Repertório (C.E.R.) e do ator Antonio Fagundes na cena
teatral brasileira da década de 1980. Oriundo do Teatro de Arena de São Paulo, Fagundes marcou sua presença no
teatro brasileiro inicialmente como ator em montagens de distintas companhias e elencos variados. Entretanto, em
meados da década de 1970, com a intenção de estabelecer, como ator e produtor, uma marca autoral, Fagundes levou
a público a sua primeira produção: "Muro de Arrimo" de Carlos Queiroz Telles. Neste espetáculo, o autor deu vida ao
cotidiano de um operário da construção civil de maneira pungente e solidária. Em compasso com os embates políticos
do período, vivenciou profissionais liberais em crise, refletiu sobre o lugar da opinião e dos valores em uma sociedade
de mercado e, mais ainda, buscou, por intermédio de uma dramaturgia diversificada, estabelecer as nuanças do Brasil
de então. Foi nesse processo que nasceu, na década de 1980, a CER, responsável por trabalhos memoráveis como
"Fragmentos do Discurso Amoroso", "Cyrano de Bergerac", "Xandu Quaresma", "Morte Acidental de um Anarquista'.
Nesse sentido, refletir sobre o diálogo Arte e Sociedade, na sociedade brasileira, não mais sob a égide da ditadura
militar, é a proposta deste trabalho.

Talitta Tatiane Martins Freitas· UFU


Uma arte milenar em meio à globalização: o fazer teatral à luz de Antonio Fagundes
A proposta desta pesquisa é a análise da peça teatral "Sete Minutos', escrita (2000) e protagonizada (2002) por Antonio
Fagundes, na qual o dramaturgo discute a comunicação entre público e teatro, e como este vínculo vem sendo cons-
truído em diferentes momentos históricos. Nesse sentido, a recepção se tornou o ponto crucial da análise para compre-
ender o diálogo Arte-Sociedade. Assim, observando a velocidade das transformações neste inicio do século XXI,
percebemos que estas também influenciaram o campo teatral. Globalização, internet, televisão, agora fazem parte do
dia-a-dia da população, que resignifica o lugar do teatro na sociedade. Em meio a essa efervescéncia de informações,
Fagundes discute qual o papel do teatro neste contexto, ou quaiS as expectativas que o público de teatro possui. "Sete
Minutos" é, neste sentido, uma ponderação dos últimos 40 anos do teatro brasileiro, ou da trajetória teatral do seu autor, uma
vez que este manteve ininterrupta a sua carreira todos esses anos.

Sandra Rodart Araújo - FAVA


História e Recepção: o espetáculo "Corpo a Corpo" visto pela ótica da crítica jornalística
O tema geral deste XXIV Encontro propicia a retomada da discussão do fazer Historiográfico. A abrangência dos
temas, documentos e trabalhos cientificos acaloram o debate e aponta para a inevitabilidade do encontro da história
com outras disciplinas e saberes. Em consonância com esta proposta, o presente trabalho sugere o estudo das dife-
rentes encenações da peça teatral "Corpo a Corpo" escrita em 1970 por Oduvaldo Vianna Filho. As apresentações do
espetáculo (1971, 1975 e 1995) são repensadas por meio de suas críticas jornalisticas veiculadas nos seus respecti-
vos momentos. A documentação selecionada possibilita reconstruir apenas alguns meandros da totalidade daquelas
encenações. A ressalva mostra-se fundamental visto que as discussões sobre cena esbarram quase sempre na idéia
da efemeridade do ato teatral, entretanto, a cena do passado, mesmo que não trazida na sua amplitude, cria outras
significações que também a completa como, por exemplo, os seus processos de recepção. Portanto, a recepção
apreendida pelos textos jornalísticos aponta a historicidade das apresentações de "Corpo a Corpo", que em cada
momento atende aos anseios dos grupos criativos nos três espetáculos, sendo estes últimos pensados como agentes
do seu tempo e a obra que criaram como produto de suas aspirações.

292
Alexandre Pacheco - Universidade Federal de Rondônia ~
O poder da imprensa na construção da imagem do escritor no Brasil na década de 1970
Neste trabalho, discutimos as formas de construção por parte da imprensa do Rio e de São Paulo da imagem do autor
®
literário, em especial, do escritor Rubem Fonseca entre os anos de 1975 e 1980, Imagens que, apesar de terem sido
impostas como universais para todo um público leitor, foram apresentadas a partir das intenções da imprensa em não ,~
só explorar a literatura e o autor literário de acordo com interesses mercadológicos, mas também a partir de interesses %
políticos ante o regime ditatorial. Estudo importante por nos revelar a figuração de uma situação no campo das rela- ~
ções entre imprensa e autores, onde pudemos perceber como certas disposições e interesses da imprensa, ao serem ~
incorporados como formas de legitimação da construção da imagem do escritor, representaram a hegemonia dos E
poderes políticos e econômicos das elites no campo da cultura, em especial da literatura,

Victor Miranda Macedo Rodrigues - UFU


Teatro e critica teatral: as reflexões de Fernando Peixoto nos jornais Opinião (1972-1977) e Movimento (1975- O?
1981)
Pelo fato de conceber a atividade teatral de maneira orgânica, ou seja, um conjunto de atividades, conseqüências e
significados que não se resume ao espetáculo em si, o ator e diretor Fernando Peixoto, nos anos de 1960 e 1970, :.5
~
ª'
exerceu, paralelamente, a função de crítico teatral em diversos jornais e revistas do país e do exterior, Assim, neste
trabalho, buscamos refletir especificamente sobre sua atividade como crítico em dois periódicos da 'imprensa alterna- ,~
Uva": Opinião (1972 -1977) e Movimento (1975 -1981). Ambos os jornais são, naquele momento, bastante expressi- ~~
vos pelo engajamento politico de esquerda e pela critica ao Regime Militar, De certa maneira eles tinham característi- ::r::
cas específicas de apresentação e de posicionamentos que os diferenciavam da chamada 'grande imprensa', Os
escritos de Fernando Peixoto fazem parte destes projetos diferenciados e neles estão presentes posicionamentos,
opções e pontos de vistas que são essenciais para compreendermos uma série de questões que estavam sendo
postas para a atividade teatral brasileira naquela conjuntura.

Gilmar Alexandre da Silva - UFU


A receptividade crítica do Bandido da Luz Vermelha nas décadas de 1960 & 1970
O presente trabalho tem por objetivo colocar em debate as críticas direcionadas ao filme O Bandido da Luz Vermelha
(1968), do cineasta Rogério Sganzerla, pelos criticos especializados em cinema no Brasil após o lançamento do
referido longa metragem, O Bandido da Luz Vermelha foi um filme que, em certo sentido, levou adiante as perspectivas
estéticas de cineastas que procuraram, de diferentes maneiras, romper com os preceitos estéticos-políticos do Cinema
Novo, Freqüentadores, quase todos, da região da Boca do Lixo na cidade de São Paulo, tais cineastas (entre eles,
Rogério Sganzerla), passaram a realizar um cinema logo rotulado de Marginal.Neste sentido, faz-se necessário avali-
armos a importância, não apenas estética, mas também política quando do lançamento do Bandido e, mais importante,
do posicionamento de seu diretor, Rogério Sganzerla perante as críticas recebidas pelo filme e diante das querelas
envolvendo cinemanovista e marginais,

I 19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h ás 16h30min) I


Katia Eliane Barbosa - UFU
Teatro Oficina e a encenação de O Rei da Vela (1967): uma representação do Brasil da década de 1960 à luz da
antropofagia
Esta pesquisa, por meio da análise da peça O Rei da Vela, de Oswald de Andrade, levada aos palcos pelo Teatro
Oficina no ano de 1967, procurou, á luz dos pressupostos teórico-metodológicos da História Cultural, apreender o
diálogo entre arte e sociedade, estética e política, história e teatro e suas contribuições para o debate historiográfico,
Nessa perspectiva, explorar a linguagem teatral propiciou visualizar como o grupo Oficina, nos anos 1960, por meio da
construção de uma cena antropofágica e da releitura cômica da nossa história, representou os contrastes da realidade
brasileira, trazendo para o seu palco diferentes percepções do processo histórico, Ao discutir temas que pulsavam
naquele momento, tais como: a crise do populismo, os impasses dos segmentos de esquerda, a emergência da indús-
tria cultural, essa encenação propiciou compreender os embates da sociedade do período, Diante do exposto, obser-
vou-se que a estética presente nas produções do Teatro Oficina esteve diretamente relacionada ás questões políticas
de seu tempo e, portanto, analisar historicamente, essa encenação permitiu revisitar a década de sessenta, bem como
rever as noções de teatro político, engajado e revolucionário, contribuindo, assim, para repensar a história contempo-
rânea sob aquela conjuntura,

Jacques Elias de Carvalho - FAVA


Roda Viva: questões para uma análise tropicalista da cena teatral
Nos últimos anos, a década de 1960, no Brasil, tornou-se um período privilegiado por diversos historiadores pelo vigor

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Jacques Elias de Carvalho - FAVA
Roda Viva: questões para uma análise tropicalista da cena teatral
Nos últimos anos, a década de 1960, no Brasil, tornou-se um período privilegiado por diversos historiadores pelo vigor
estético de suas produções artisticas, pela capacidade criativas dos movimentos e pela luta de grupos sociais oposito-
res do regime ditatorial instaurado a partir de 1964. Nesse contexto, o texto teatral Roda Viva, de Chico Buarque,
ganha contomos específicos nas mãos do diretor José Celso Martinez Correa. O espetáculo Roda Viva aprofunda os
questionamentos estéticos e políticos do diretor num momento crucial do regime militar, no qual o recrudescimento do
sistema torna-se sua marca principal. O espetáculo foi alvo de um grupo de extrema direita, o Comando de Caça aos
Comunistas, sintetizando assim a situação nacional de profunda repressão no qual as artes, a partir daquele momento,
tornavam-se um elemento a ser combatido e sufocado pelo Estado militarizado. A postura desses artistas diante dessa
realidade nacional é profundamente questionada, pois diversos setores optam por uma outra forma de atuação que,
posteriormente, ficaria conhecida por Tropicalismo. Assim, tal movimento marcou época por uma diversidade estética
em que cada segmento das artes incorporava elementos externos e trilhava caminhos diferenciados propondo ques-
tões específicas de cada linguagem.

Nádia Cristina Ribeiro - UFU


"Galileu Galilei" em cena: o Brasil de 1968 palco no Oficina/SP
Evidenciar a historicidade do texto teatral Galileu Galilei, de Bertolt Brecht, e da encenação efetivada pelo Teatro
Oficina de São Paulo, no ano de 1968, foi a proposta deste estudo, que procurou fornecer elementos para compreen-
der o papel desempenhado pelo grupo no debate político e cultural da década de 1960. Para isso, foí imprescindivel
analisar esse momento de intensa efervescência, numa perspectiva de constante relação passado/presente e arte/
política, de forma a desvelar como o processo histórico esteve presente no debate estético. Ao pôr em cena o intelec-
tual díante da repressão inquisitorial, evidenciando sua luta contra a intolerãncia, pode-se dizer que Galileu constituiu-
se numa possibilidade de trazer á tona novas experiências para se refletir sobre as questões culturais, que traduziam
a realidade social e a forma como uma parcela da sociedade pensava e expressava aquele momento histórico, marca-
do pela ditadura militar, censura, repressão política e ídeológica. Portanto, repensar a encenação de Galileu Galilei, de
Bertolt Brecht, faz-se primordial, pois suas reflexões, ainda hoje, iluminam questões históricas, e em 1968 fizeram
rever, histórica e criticamente, a realidade, traduzindo uma das mais inquietantes experiências da história brasileira.

Macelina Gorni - UEG


Bandeiras de "carne seca" - arte, indústria e artesanato na obra de Flávio Império no final dos anos 70
Flávio Império (1935-1985) foi mais do que cenógrafo e diretor teatral. Ele era ainda arquiteto, artista plástico, profes-
sor, animador cultural, e atuante em diversas áreas artísticas. Durante víagens pelo Recife em 1978, ele descobriu os
panos de "carne seca", retalhos de tecidos que eram refugos das indústrias de tecelagem, vendidos á preços de
banana em mercados do Brasil ínteiro. A partir desses panos ele desenvolve uma série de trabalhos que caracteriza-
ram-se principalmente pela ressemantização dos mesmos, imprimindo-lhes através da serigrafia, um novo status de
'obras de arte", agregando a eles um novo significado artístico. Trabalhar com rejeitos industriaís caracteriza um novo
olhar do artista sobre aquilo que é descartado pelo senso comum, pela sociedade brasileira dos anos 70 que encontra-
va-se em pleno desenvolvimento industrial. O trabalho com o reaproveitamento de materiais e objetos que são rejeita-
dos pela sociedade era uma prática usual para Flávio Império desde seus primeiros anos no teatro, em seu trabalho
artístico como um todo. Em seu trabalho ele sempre colecionou e requalificou materiais e objetos que eram descarta-
dos. Tratava-se de uma postura artística e política que era crítica e ao mesmo tempo afinada com o Movimento
Moderno Brasileiro.

I 20/07 - Sexta-feira - Manhã (10h30min ás 12h30min)

Maria Aparecida Peppe - UnG


Eles não usam black-tie: os possíveis diálogos entre dramaturgia e política
Enfatizando um tema urbano, colocando no palco os problemas sociais provocados pela industrialização e a luta do
proletariado, Eles não usam black-tie, encenado pela primeira vez em 22 de fevereiro de 1958, pelo Teatro de Arena de
São Paulo, constitui-se num marco dentro da dramaturgia brasileira, trazendo para o teatro um novo público, de estu-
dantes e trabalhadores que viam no espetáculo a preocupação com questões do cotidiano da realidade nacional.
Abordando um tema polêmica como a da organização da classe operária e o desenvolvimento de sua concepção
enquanto classe, o estudo de Black-tie permite um diálogo multidisciplinar entre dramaturgia, política e história, trazen-
do á tona o debate sobre nacionalismo, populismo e engajamento político que marcou acentuadamente a história do
país na década de 1950 e início de 1960.

294
Sandra Alves Fiúza - UFU ~
A poética do curinga na dramaturgia de Augusto Boal
Para o estudo interdisciplinar entre História e Teatro é tão importante a investigação dos modos como os conteúdos da
®
experiência social são internalizados nos textos dramáticos, quanto da forma específica dada a estes conteúdos, uma ....:
vez que ela também nos informa sobre aspectos da experiência social de um determinado momento histórico. Nesse .~
sentido, esse trabalho tem como objetivo historicizar a poética do curinga, elaborada e teorizada pelo dramaturgo 'Q.
Augusto Boal durante a década de 1960, em três momentos distintos da sua atividade teatral, considerando que essa ]
estrutura dramática assumiu diferentes funções nas peças Arena conta Zumbi (1965), Arena conta Tiradentes (1967) e ~
Torquemada (1971). Destacar-se-á também o debate no seio da critica teatral, desencadeado a partir da encenação de E
Arena conta Tiradentes, acerca do desencontro entre experiência social e formas artisticas. Alguns críticos interpreta- .2
-E
ram que a ênfase de inspiração brechtiana - sobretudo a idéia de distanciamento e os procedimentos da narrativa - na '!::
dramaturgia de Boal foi inadequada, pois a produção teatral de Boal conclamava á revolução e se apropriava da forma ~
épica, denotando aí o descompasso entre uma estética revolucionária, pertinente antes do golpe de 1964, em um (,? c::
momento de evidente derrota políti cu
O)
co
5,
Cláudia Helena da Cruz - Instituto Luterano de Ensino Superior - ILES/ULBRA c::
:..::J
Diálogos entre a Criação Literária e a Militância Política: Quarup (1967) de Antônio Callado
EstQe estudo(109b6j7et)ivOaba relação interdiscdiPlinar entre Histórida edLiteratura, ten d0 como docubme nto privilegiado o roman- ~~
ce uarup . ra representativa a literatura engaJa a a década de 196O, que esta elece constante comunica- .'0
ção entre 'ficção" e "realidade", trazendo no seu enredo temas candentes da sua contemporaneidade, como a luta do :r:
camponês pernambucano, o Movimento de Cultura Popular - MCP -, entre outros. Contudo, a narrativa de Callado
também mostra a desintegração destes movimentos a partir do Golpe Militar de 1964. Haja vista que Quarup surgiu no
período em que a censura e a repressão permeavam todos os espaços, e a arte tornou-se uma forma de combater,
denunciar e resistir á usurpação do poder, ás arbitrariedades e á soberania de um governo ditatorial. Nessa perspecti-
va, a obra literária foi capaz de abarcar representações de acontecimentos de nossa história recente, com base na
criação/produção da narrativa de Callado, tornando possivel pensá-Ia historicamente, á luz dos pressupostos teórico-
metodológicos da História Cultural, que concebe o profícuo diálogo com a obra de arte, urna vez que a criação artística
é dada a partir de uma determinada realidade, conjuntura e historicidade específica.

Cláudia Regina dos Santos - ILES/ULBRA -GO


O teatro de Chico Buarque: a história sob a perspectiva de Calabar
A peça 'Calabar", escrita por Chico Buarque e Ruy Guerra em 1973, remonta ao período em que o Brasil foi ocupado
pela Holanda (1630 a 1645), quando se disputavam, então, o tipo de co)onização a ser implantado - o civilizador de
Maurício de Nassau, ou o de interesses econômicos da Companhia das Indias Ocidentais. Em meio a isso, portugue-
ses e holandeses concorriam por um bem bastante precioso: o açúcar. Redimensiona-se na peça o papel histórico da
personagem Calabar, considerado oficialmente o traidor por excelência da 'pátria', na medida em que os autores
revêem os fatos de maneira independente, e não sob a ótica do vencedor da guerra, Portugal. Levanta-se, ainda, o
problema da ação do intelectual e dos dilemas da esquerda pós-68 diante da omissão da intelectualidade brasileira
nos idos de 70. Tais considerações são, assim, fundamentais para se compreender o vinculo desta obra com a história,
permeado pela proposta dialógica que Guerra e Buarque procuram tecer com o leitor-espectador, de modo a refletir
sobre o próprio presente. Nesse sentido, procuramos, aqui, sustentar que rediscutir uma dramaturgia, constituída de
referenciais históricos, ideológicos, é buscar as potencialidades que a arte é capaz de suscitar no que no que tange a
uma possível transformação do instituído.

Dolores Puga Alves de Sousa - UFU


Paulo Pontes, Vianinha e Chico Buarque: visões do teatro engajado brasileiro
Por meio da teledramaturgia Medéia, de 1972, criada por Oduvaldo Vianna Filho e a peça teatral Gota D'água, de
1975, por Chico Buarque e Paulo Pontes, este trabalho busca discutir as respostas dos dramaturgos brasileiros aos
acontecimentos que iam da década de 1950 à, principalmente, 1970, momento de criação das obras aqui analisadas.
Com o Golpe Militar e a repressão que se instaurava, iniciou-se um debate que se aprofundaria cada vez mais os anos
de 1970: desenvolver as caracteristicas revolucionárias - decisão daqueles que se manifestaram ou tiveram empatia
com a luta armada - ou ainda absorver a derrota da esquerda e organizar um movimento de resistência democrática.
A escolha de muitos, como o próprio Vianinha - que foi um dos membros do Partido Comunista Brasileiro (PCB) -,
Chico Buarque e Paulo Pontes, foi justamente se engajar nas bases da resistência. A sociedade brasileira, que estava
marcada por um acúmulo de ideologias e encarando os indivíduos somente pelos seus princípios políticos, buscava
neste momento, por meio da dramaturgia, aprofundar no seu cotidiano e retomar suas identidades através de uma
"linguagem de fresta', criando alegorias e metáforas.

295
20107 - Sexta-feira - Tarde (14h às 18h)

Dislane Zerbinatti Moraes - FEUSP


Os professores e seus romances: o estudo de obras ficcionais escritas por professores paulistas (1920-1935)
Nesta comunicação efetuamos a análise retórica e literária dos prefácios e enredos de quatro romances escritos por
professores paulistas (1920-1935). Refletiremos sobre o significado que os professores-escritores conferem aos seus
romances e sobre as formas pelas quais se dá a ver, nos textos, o cenário escolar e as práticas da profissão. Não só
pelos conteúdos veiculados, mas pela própria disposição em escrevê-los, parece-nos que os professores atribuem aos
romances um poder mágico de intervenção na realidade, pois dialogam com os discursos políticos e pedagógicos
relacionados à carreira docente. A pesquisa trata também dos processos de recepção destas obras, procurando iden-
tificar os destinatários ideais propostos pelos escritores e alguns indícios das formas de leitura efetivamente realiza-
das. Para tanto analisamos documentação indíreta, recolhidas nos meios impressos em que circulavam as idéias de
professores: os periódicos educacionais e jornais da época, especialmente o jornalOESP. Nesse sentido, situamos
nossa perspectiva de análise na interface dos estudos da História Cultural e da Crítica Literária.

Antonio Germano Magalhães Junior - Universidade Estadual do Ceará


A utilização da literatura no ensino de História: estabelecendo a trama como fronteira
Ensinar história utilizando obras literárias é um tema que estimula questionamentos sobre os quais nos propomos a
desertar de forma reflexiva. Serão objeto de nosso olhar investigativo três situações que permeiam a temática em
questão: a possibilidade da utilização da literatura no ensino da história, suas dificuldades e práticas. A intenção de
escrever sobre a práxis dos espaços fronteiriços existentes na utilização da literatura no ensino de história parte da
tomada de consciência de que não devemos, nem mesmo podemos, separar o que se realiza; nomeamo-Ia de prática
do que acreditamos ser a teoria que norteia esta ação. Nossa escritura possibilita demonstrar que a constituição da
trama pode ser uma fronteira que enlace a literatura e o ensino de história.

Francione Oliveira Carvalho - Universidade Presbiteriana Mackenzie


A recepção, a apropriação e a exploração das imagens do negro no cotidiano escolar
Ao analisarmos as imagens dos negros no Brasil, inevitavelmente, chegaremos em quem as produziu e em quem as
escolheu. E nessa confrontação é possivel percebermos que as imagens estendem-se além do outro que é visto,
porque contam sobre a identidade e as ações morais que orientam aquilo que somos, no sentido de nos dá formas de
avaliação para aquilo que vemos e sentimos. Daí o cuidado que devemos ter para avaliar as imagens que elaboramos
do outro. No caso, o cuidado que o professor deve ter nessa nova ordem educacional fundada em um currículo que traz
à tona o universo da imagem cultural negra.

Tercia de Tasso Moreira Pitta - Universidade Guarulhos


Desenho animado: um olhar interdisciplinar e sua influência na formação da criança
O estudo trata de uma pesquisa interdisciplinar, sobre um desenho animado analisado sob várias linguagens.
A linguagem musical utilizada nos desenhos e as influências dos sons para estímulos e agitação do comportamento
infantil, fundamentada teoricamente por David Tame, em seu livro 'O poder oculto da música'. A linguagem visual e sua
influência, ARHEIM, Rudolf, é o teórico que faz este estudo e as conseqüências psicológicas das cores, figuras, etc.
PIAGET, VIGOTSKY, FREUD apóiam, teoricamente, o desenvolvimento infantil e quais as transformações do compor-
tamento da criança, após a exposição dos desenhos animados atuais, que são sustentados pelos mitos da cultura
japonesa.

Márcia Juliana Santos - PUC-SP


"O Cine Jornal Brasileiro e as imagens do projeto propagandístico e educativo do Estado Novo". (1937-1945)
O presente trabalho busca analisar algumas imagens produzidas pelo 'Cine Jornal Brasileiro' entre os anos de 1939-
1945 como um projeto de propaganda e educação veiculado pelo governo de Getúlio Vargas durante o Estado Novo.
A partir da apreciação de temas, como 'Trabalho', 'Guerra' e 'Propaganda' discutiremos as imagens de alguns docu-
mentários produzidos pelo Departamento de Imprensa e Propaganda (D.l.P), com o objetivo de entendê-Ias enquanto
um empreendimento cultural na formulação e divulgação de práticas sociais, políticas e culturais do período.

Sírley Cristina Oliveira - CEFET-URUTAí- Unidade de Ensino Descentralizada de Morrinhos


Inconfidência Mineira no Palco do Teatro Brasileiro: Em Cena as Peças Gonzaga ou Revolução de Minas
(1867), Arena Conta Tiradentes (1967) e As Confrarias(1969)
Através de uma relação interdisciplinar entre e História e Teatro, a presente comunicação tem como proposta realizar
um debate acerca da representação da Inconfidência Mineira, a partir de três objetos privilegiados, os textos teatrais
Gonzaga ou Revolução de Minas de C. Alves, Arena Conta Tiradentes de G. Guarnieri e A. Boal e As Confrarias de J.
Andrade. Nota-se, que as obras ao recorrerem ao cenário político, econômico e social do séc.XVIII em Minas, apresen-

296
tam uma capacidade em dialogar criticamente com o presente. Dessa forma, a Inconfidência Mineira ao ser relida
pelos textos teatrais, aponta uma correspondência de idéias entre os episódios políticos do passado e do presente,
associando a questão da liberdade, participação e soberania nacional, tema que concentra o enredo das peças. Embo-
ra, na criação de suas obras os dramaturgos tenham escolhido posicionamentos politicos e estéticos diferenciados,
Gonzaga ou Revolução de Minas é uma obra que mostra o posicionamento político de seu autor frente aos trabalhos
realizados no Instituto Histórico Geográfico Brasileiro no séc. XIX. Enquanto Arena Conta Tiradentes e As Confrarias
são textos que inseriram os dramaturgos na luta política do seu tempo - na resistência aos acontecimentos políticos
inaugurados pelo Golpe Militar.

Aline Fonseca Carvalho


Tiradentes, o teatro e a poesia no jornal 'Estado de Minas' durante o período militar
A presente comunicação é parte de um projeto maior que se tornou uma dissertação de mestrado intitulada A conveni-
ência de um legado adequável: representações de Tiradentes e da Inconfidência Mineira durante a Ditadura Militar.
Aqui será abordado o tratamento dado pelo jornal Estado de Minas ás produções teatrais e poéticas que enfocaram a
Inconfidência Mineira entre 1964 e 1984. Entre as produções abordadas por esse jornal estão a peça Arena conta
Tiradentes e Tiradentes na praça, que obtiveram grande repercussão na época. O poema se chama Inconfidência, de
novo, é de Djalma Andrade. O objetivo é perceber como o mito inconfidente é tratado e o que essas manifestações
representam em tempos de ditadura e em relação á censura imposta pelo governo da época.

Robson Mendonça Pereira - Universidade Estadual de Goiás


Registros autobiográficos e a intimidade do poder: o diário de governo de Altino Arantes e o epistolário de ~
Washington Luis ~
Proponho a análise dos registros privados ou íntimos de dois atores políticos significativos durante a Primeira Repúbli-
ca que tiveram trajetórias paralelas ao longo das primeiras décadas do século XX. Destacamos o diário de governo de
Altino Arantes e a correspondência de Washington Luís, fontes documentais que apresentam elementos incomuns se
comparados à documentação oficial ao revelar aspectos recõnditos de suas personalidades. Nestes momentos que se
aproximam de um exame de consciência, o narrador, e em especial o político com pretensões intelectuais refaz sua
própria biografia, para si mesmo e para os outros, praticando uma espécie de 'ato autobiográfico", exercicio de 'quase"
reconstrução histórica, representando ao mesmo tempo a saída de uma sociedade tradicional e um certo sentimento
de história como aventura autõnoma, individual, própria do processo de modernização vivido pelo país naquele mo-
mento. Pretendemos perceber de que maneira estes atores praticaram esse tipo de escrita narrativa, procurando
assim reconstruir suas trajetórias pessoais frente aos acontecimentos, dando-lhes uma espécie de coerência ficcional. ]§
A análise da 'escrita de si' apresenta-se como pOSSibilidade de leitura privilegiada das ações da geração de políticos 25
anterior à ReVOlução de 1930. ~
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38. História e Teoria Social


Karl Martin Monsma (UNISINOS) e Marcos César Alvarez (USP)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h ás 18h) I
Maria Thereza Rosa Ribeiro - UFPel
Os guardiães da modernidade. Debate jurídico na virada para o século XX
Esta apresentação articula três tradições, o saber jurídico, o histórico e o sociológico para interpretar o embate jurídico
travado na controvérsia do projeto do Código Civil, em 1902, entre o jurista Clóvis Bevilaqua e o senador Ruy Barbosa,
acerca do uso da linguagem da codificação civil brasileira e da concepção diferencial do direito atinente ao cientificismo
e ao liberalismo. A tensão entre estas distintas filiações acadêmicas remete-nos aos dilemas do sociedade brasileira,
que seguindo padrões tradicionais já experimentava mudanças nas relações sociais propiciadas com a expansão das
formas mercantis e industriais. A entrada de novas técnicas de produção nas fabricas em fins do século XIX coincidiu
com a expansão das cidades, com o aumento da massa de trabalhadores, com a inovação dos meios de locomoção e
de comunicação e com a importação de bens de consumo. A repercussão desse processo de modernização, embora
fosse quase exclusivamente assimilada pelas elites, outra camada social quando o presenciava, usufruía-o de manei-
ra precária. Neste cenário de mudança despontou o debate da classificação dos direitos reais e pessoais, reservado
aos bacharéis habilitados para nomear os direitos longe da compreensão dos leigos.

297
André Luiz Faisting - UFGD
O processo contemporâneo de Informalização da Justiça e a Justiça Informal no Brasil: origens e dilemas
Embora o movimento contemporâneo de informalização da justiça pareça apontar para uma mudança do sistema de
justiça, os contornos de tal mudança ainda são incertos, pois não se sabe exatamente o que estaria mudando: ideolo-
gia, normas, processos ou instituições. No Brasil, a prática institucionalizada da conciliação pode ser encontrada já no
periodo imperial, na figura do juiz de paz como magistratura leiga. Contudo, a análise do desenvolvimento histórico da
justiça de paz demonstrou que ela foi perdendo importância tanto na função conciliatória quanto na função politica, que
tinha por finalidade o fortalecimento do poder local. Na década de 1980 ressurgem os métodos informais para resolu-
ção dos conflitos com a promulgação da lei 7.244/84 que criou os chamados Juizados Especiais de Pequenas Causas,
incorporada pela Constituição de 1988 através do artigo 98. Em 1995, a lei n.O 9.099 manteve os fundamentos da lei
anterior e deu ao Juizado a atribuição para atuar em pequenas causas na área penal, criando, assim, o Juizado
Especial Criminal. Para muitos especialistas, com a criação desses Juizados no Brasil o Poder Judiciário passou a
incorporar conflitos que antes não chegavam à justiça. Contudo, trouxeram outras conseqüências para a dinâmica do
sistema de justiça.

Edmundo Alves de Oliveira - UNIARA


O paradigma desenvolvimentista: apontamentos para superação de um padrão social
O trabalho analisa a reestruturação do Estado Brasileiro nas décadas de 80 e 90 do século XX considerando-a como
fonma de superar antigas estruturas do Estado e também, como tentativa de constituir novas fonmas sócio-organizacionais.
Metodologicamente, entendemos que mais do que um modelo de definição dos aspectos econômicos o
desenvolvimentismo à brasileira acaba por promover novos fundamentos de estruturação das organizações sociais e
politicas, bem como, é a pedra angular de uma nova ideologia que mais tarde será expressa pelos militares na preten-
são de construir o 'Brasil potência". Dessa forma, o desenvolvimentismo no Brasil, constituiu-se em um sistema de
organização social que padroniza a ação pública e privada, assentando-as em bases ideológicas e teleológicas auto-
ritárias que definem o desenvolvimento a partir de critérios econômicos, industrializantes e urbanos. O 'Estado
desenvolvimentista" compreendido, por nós, como elemento primordial de implementação e aprofundamento do 'siste-
ma desenvolvimentista" entra em crise primordialmente pelo esgotamento do próprio modelo sistêmico. Assim, consi-
deramos que os limites da reestruturação de um novo Estado estão definidos pelos padrões estruturais da sociedade
brasileira gerados pelo 'desenvolvimentismo" e ainda não superados.

Wagner Ricardo Santos - UCAM


A História das Idéias e o Mercado: análise multidisciplinar de um conceito
Na perspectiva da história dos conceitos, as palavras em geral e os conceitos em particular são portadores de experi-
ências existindo uma relação direta entre, de um lado, a historicidade de grupos sociais (comunidades e sociedades)
e, de outro, entre os conceitos e as idéias por eles veiculadas. Giovanni Sartori ressalta que 'as vicissitudes da termi-
nologia estão ligadas ao destino das sociedades e das suas instituições". Nesse sentido, o artigo volta-se à apresenta-
ção da metodologia denominada história dos conceitos e dos principais resultados decorrentes de sua aplicação ao
estudo do conceito de mercado. Centra-se nos sentidos e acepções adquiridas pelo conceito na produção acadêmica
selecionada de autores como Max Weber, John Keynes, Joseph Schumpeter, Karl Polanyi, C. B. Macpherson, Milton
Friedman, Friedrich Hayek, Fernand Braudel e Albert Hirschman. Da análise das obras selecionadas foi possível
extrair quatro perspectivas disciplinares distintas: a econõmica (existindo substantivas diferenças entre a história e a
teoria econômicas), a sociológica, a histórico-antropológica e a da politica. Vistas em conjunto, evidenciam o papel
assumido pelos mercados, estados, individuos e pela politica na organização das sociedades contemporâneas.

Flávia Cristina Silveira Lemos - UNESP e Hélio Rebello Cardoso Jr.


Interrogando a biografia das infâmias como dispositivo de normalização social
Nos últimos anos, haveria com uma intensa publicação de caráter biográfico (GOMES, 2004). Acontecimento que teria
relação com os processos intimistas, na sociedade ocidental e com a emergência do modo indivíduo como efeito das
tecnologias disciplinares e biopoliticas (FOUCAULT, 1999). A curiosidade em tornar público o mundo privado ganha
importância à medida que nos afastamos da esfera pública e passamos a cultivar a privacidade (SENNETT, 1988).
Foucault (2002) assinalou como o dispositivo da confissão surgiu, primeiramente, no cristianismo, por volta do século XVI
e, a partir do século XVII, foi apropriado por médicos, psicólogos, trabalhadores sociais e operadores do direito. O cotidi-
ano de populações pobres passa a ser registrado nos dossiês de instituições de controle social e passa a compor o
material de arquivos de diversas instituições, como as ligadas ao Poder Judiciário, que deslocam sua preocupação com o
crime para o criminoso, buscando recompor a história de vida deste suposto ser criminoso. A pergunta que se impôs foi:
Como se produziu o indivíduo criminoso? A delinqüência foi construída como uma carreira, como o resultado da soma de
pequenos desvios ao longo da vida, tendo na primeira infância seu momento fundante (FOUCAULT, 1999; 2002).

298
Alisson Droppa - UNISINOS
A exclusão social a partir da rotulação de patologias: ijuí 1890 a 1940.
Este trabalho visa analisar as práticas sociais desenvolvidas no município de Ijuí, no interior do Estado do Rio Grande
do Sul, apresentando como objeto de estudo as práticas de controle às populações 'indesejadas'. Essas populações
são representadas em um primeiro momento pelos caboclos e em seguida pelos imigrantes à margem do processo de
acumulação capitalista, ou seja, os imigrantes pobres. O trabalho tem como objetivo principal descrever e analisar as
práticas de controle e exclusão das pessoas consideradas 'indesejadas' por não enquadrarem-se no padrão imposto
pelas elites locais, buscando interpretar os discursos tidos como científicos pela medicina e pelos meios políticos. A
metodologia utilizada baseia-se no cruzamento de fontes, com o objetivo de reconstruir os discursos que visavam à
exclusão das pessoas indesejadas, no período de 1890 a 1940. Esse período justifica-se pelo inicio da industrialização
do município de Ijuí e pelo inicio da chamada 'vida urbana'. Foram utilizados como fontes, documentos relacionados à
prefeitura municipal de Ijuí que se encontram no MADP - Museu Antropológico Diretor Pestana, no AI - Arquivo Ijuí e
processos cíveis criminais disponíveis no Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul.

Romeu Adriano da Silva· Unifal· Universidade Federal de Alfenas


Trabalho e Educação no Brasil: história e historiografia
A re-configuração do capitalismo contemporâneo tem-se mostrado vigorosa para impor determinados padrões de
sociabilidade que passam pelas mais variadas instâncias da vida social, entre elas a educação, importante processo
de mediação de relações sociais. Nos discursos acerca da referida re-configuração do capitalismo encontramos a
produção de teorias e discursos com o objetivo de legitimar o próprio sistema. No que diz respeito à educação, há uma
orientação hegemônica que busca subordiná-Ia aos processos de qualificação e treinamento para o trabalho, que ~
aparece, por exemplo, no emprego de termos como 'competências', 'habilidades', 'empregabilidade', 'ética', 'cidada- ~
nia'. Temos, também, uma produção teórica no campo da educação que busca dar conta de estudar as relações entre
trabalho e educação. Essa produção existe nas áreas dos estudos educacionais e fazem surgir discursos que assu-
mem e orientam posturas determinadas diante da relação trabalho-educação, também verificadas nas produções em
História da Educação, o que nos leva a propor uma investigação acerca dos pressupostos e concepções teórico-
metodológicas da História que orientam os estudos e pesquisas sobre as relações entre trabalho e educação e suas
implicações nos processos educacionais na formação social brasileira.

Daniel Pereira Andrade - USP


Para uma história da experiência contemporânea do sofrimento
Desde meados da década de 1970, a psiquiatria debruçou-se cada vez mais sobre o tema da depressão, divulgando Cõ
diversas pesquisas, índices epidemiológicos alarmantes e novos tratamentos. Diante deste atual quadro de crescenteg
patologização do sofrimento anímico, propõe-se uma história critica a seu respeito. Para realizá-Ia, foi preciso encon- ~
trar uma solução metodológica que atendesse à complexidade do tema. A solução encontrada, e que deve ser subme- .§
tida à discussão, foi uma combinação entre a genealogia foucauldiana e a sociologia das emoções de Rom Harré e lan ~
Burkitt. Tal combinação permite pensar o sofrimento como algo socialmente construído, largamente moldado por prá- :
ticas sociais e discursivas, mas sem reduzi-lo à idéia de que é inteiramente construido pelos saberes. A sociologia das ~
emoções, especialmente na versão de lan Burkitt, permite pensar as emoções como uma reação corporal experimen- ::r:
tada no contexto de relação com outros corpos, inclusive relações de poder, aproximando-se da fenomenologia. A
aposta da pesquisa é que, ao fazer uma história dos limites desta experiência a partir da perspectiva daquele que
sofre, é possível revelar aspectos importantes das relações de poder e saber que permeiam a sociedade de consumo
e desvendar o tipo de subjetividade que ela produz.

I 17/07 - Terça-feira - Tarde (14h às 18h) I


Elaine Cristina Carraro - IFCH/UNICAMP
História e ciências sociais no Instituto Histórico de Paris
Este estudo trata da emergência de um pensamento sociológico na França através da produção intelectual dos mem-
bros do Instituto Histórico de Paris (IHP), entre os anos de 1834 e 1850. A primeira fonte desse trabalho se encontra
nos documentos manuscritos e nas publicações do Instituto. Esses documentos foram microfilmados e estão arquiva-
dos noAEUUnicamp. O Instituto Histórico de Paris, criado em 1834, por E. G. de Monglave, pretendia dar exclusivida-
de aos estudos históricos, mas ao promover uma 'históra positiva' e defini-Ia como o 'estudo das sociedades huma-
nas', estabelece uma intensa e variada relação entre essa história e um pensamento sociológico. Ela pode ser perce-
bida nos estatutos da Sociedade; em um projeto de definição da "ciência social', proposto pelos membros no IHP;
pelas enquetes estatísticas; e por publicações que afirmam a influência das raças humanas sobre o desenvolvimento
das sociedades. Assim, de acordo com esta pesquisa, um pensamento sociológico esteve presente no discurso assu-
mido pelo IHP, e essas fontes podem esclarecer a história do surgimento da sociologia, precisar quais eram suas

299
mido pelo IHP, e essas fontes podem esclarecer a história do surgimento da sociologia, precisar quais eram suas
preocupações, suas relações com o conhecimento histórico, com a idéia de progresso e de reforma moral e social,
assim como sua relação com as enquetes sociais.

Marcia Cristina Consolim - USP


Psicologia Social e Campo Intelectual na França do Século XIX: o caso de Gabriel Tarde
Pretendo analisar os textos de psicologia de Gabriel Tarde (1843-1904). publicados na década de 1890, a partir dos
debates, das redes e do campo intelectual na última década do século XIX. Uma das bases da psicologia social
tardeana é a oposição entre o conceito de 'imitação', caracterizado como processo social ou coletivo, e o de 'inven-
ção', eminentemente individual. Considero o elitismo psicológico de Tarde um produto de sua trajetória e do modo
como se deu sua profissionalização no campo intelectual. A partir de 1880, as reformas do ensino favoreceram as
carreiras universitárias e a profissionalização da pesquisa cientifica, o que significou que as carreiras não universitári-
as, como a de Tarde, passaram a depender de meios de divulgação e de intermediários culturais independentes
(revistas e sociedades cientificas). Os meios institucionais aos quais pertenceu reconheceram e impulsionaram sua
sociologia 'psicológica' ou 'individualista'. Além disso, sua formação autodidata, interiorana e a carreira na magistratu-
ra deram-lhe as disposições necessárias para angariar o apoio da ala eclética da filosofia, junto da qual combateu o
materialismo sociológico. Seu conservadorismo intelectual é, portanto, a representação invertida de sua posição (do-
minada) no campo.

Nicolas Alexandria Pinheiro - UERJ/ISERJ


A relação entre Teoria Social e História: Émile Durkheim e a Evolução Pedagógica
Objeto de discussão e polêmica, as relações entre Teoria Social e a História são estabelecidas muitas vezes fundadas
no litigio entre esses dois campos de saberes. Através de uma leitura crítica sobre o processo de mudança social e de
uma investida no trabalho historiográfico Émile Durkheim propõe uma problematização da História do Ensino Secun-
dário na França, no livro: Evolution et lê role de I'enseignement secondaire em France - apresentando nessa obra um
modelo de estudo para as instituições de ensino levando-se em conta marcos históricos. Nesta comunicação busca-
mos refletir sobre o debate da utilização da História em reflexões próprias das Ciências Sociais e potencializar as
questões que envolvem Cientistas Sociais e Historiadores em trabalhos multidisciplinares examinando as apropria-
ções feitas por este autor clássico na utilização que fez da História.

Rogerio Reus Gonçalves da Rosa - UFPEl


A contribuição de Claude lévi·Strauss na discussão de fronteira entre antropologia e história
No jogo de alteridade das ciências humanas, no século vinte, a discussão de fronteira entre Antropologia e História foi
marcada seja pela colaboração, pela diplomacia, seja pelo conflito, pelo enfrentamento. Pode-se dizer que, alguns
textos clássicos produzidos por antropólogos e historiadores desse período possibilitaram, por um lado, manter acesa
a vivacidade do diálogo e, por outro, tomar o bodoque e arremessar algumas pedras na vidraça alheia. Melhor assim.
Por conta desse agitado relacionamento as noções de sincronia/diacronia, inconsciente/consciente, estrutura/evento,
universal/particular, natureza/cultura, simples/complexo, estático/reversível, arcaico/complexo, frio/quente ganharam
relevo nos textos de grandes intelectuais dessas ciências coirmãs. Mas, o artigo abaixo tem nome e endereço estabe-
lecido: Claude Lévi-Strauss e Etnologia. Esse texto analisará a contribuição desse antropólogo estruturalista francês
na discussão de fronteira entre Antropologia e História, considerando os trabalhos Antropologia Estrutural (1958), O
Pensamento Selvagem (1962) e O Cru E O Cozido (1964).

Neuma Brilhante Rodrigues· UnB


"Como se deve escrever a história do Brasil": uma leitura de von Martius
A história foi vista quando da formação do Estado nacional brasileiro como um caminho privilegiado para a formação
da idéia de nação e encontro de elementos que pudessem marcar uma certa singularidade brasileira. A fim de incenti-
var a produção dos seus sócios, fossem eles nacionais ou estrangeiros, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro
criou concursos e ofereceu prêmios aos melhores trabalhos apresentados. Entre esses, o vencido por von Martius viria
a ser o mais célebre, sendo considerado por vários historiadores como uma das principais referências para a escrita da
história brasileira, desde a publicação da obra de Varnhagen.
A proposta de von Martius se constituía em um projeto centralizador, monarquista, filosófico, pragmático e, apesar de
ter como sua base fundamental a questão da miscigenação racial, era essencialmente branca. O presente trabalho
propõe uma leitura do famoso texto de von Martius a partir da perspectiva de que a sua escolha deu-se muito mais por
seu papel sintetizador das idéias que já direcionavam os trabalhos do IHGB, mas que se encontravam dispersas, do
que pela existência nele de pressupostos inovadores ou pelo rigor metodológico de sua proposta.

300
José Martinho Rodrigues Remedi • UNISC
Notas acerca da honra e da violência na literatura gauchesca: entrecruzamentos entre história, literatura e
antropologia.
Esta comunicação pretende propor a discussão de alguns dos problemas enfrentados pelo historiador na construção e
na adaptação de suas ferramentas teóricas e pressupostos metodológicos de pesquisa, em nossa dupla prática
historiográfica contemporânea: da interdisciplinaridade teórica e da super-especialização temática. Especificamente,
transitaremos no entrecruzamento de história, literatura e antropologia. Intenta-se abordar as possibilidades e os limi-
tes da utilização dos referenciais antropológicos para a compreensão das narrativas acerca das práticas violentas de
defesa da honra. Estas fontes narrativas serão buscadas na literatura gauchesca e, mais do que avaliar o grau de
veracidade e confiabilidade das fontes literárias, busca-se analisar as intencionalidades e formas de representação da
honra nascidas da tensão entre ficção e realidade. Baseando-nos na idéia de que os conflitos motivados pela defesa
da honra ocultam relações de poder que atuam na afirmação das diferenças sociais, acreditamos que o estudo das
narrativas desses eventos em diferentes esferas da sociedade, portanto, permitirá melhor compreender o significado e
o alcance do conceito honra que sempre esteve presente no processo histórico de formação e diferenciação da socie-
dade gaúcha.

Demian Bezerra de Melo - UFF


A "consciência de classe" de Marx a Thompson
O propósito desta comunicação é discutir o conceito de 'consciência de classe' a partir da formulação de Edward P.
Thompson. Para tanto é necessário localizar em que medida a proposição thompsoniana continua ou rompe com os
termos do debate marxista, inaugurado com a célebre distinção feita por Marx em Miséria da filosofia, entre 'classe-
em-si' e 'classe-para-si', passando pelo debate iniciado por Karl Kautsky em O caminho do poder, Lênin em O que ~
fJ8\
fazer?, Lukács em História e consciência de classe eAntonio Gramsci em sua discussão sobre os 'intelectuais orgâni-
cos'.

Lidiane Soares Rodrigues - USP


A tripartição de um projeto de modernidade: a democracia segundo Florestan Fernandes, Fernando Henrique
Cardoso e Francisco Weffort
Esta apresentação consiste nos esboços iniciais de uma pesquisa de doutorado dedicada ao estudo comparativo das
concepções de democracia que figuram, no final dos anos setenta, nas obras de três intelectuais brasileiros: Florestan
Fernandes, Fernando Henrique Cardoso e Francisco Correa Weffort. Oriundos de uma mesma célula mater, a Univer-
sidade de São Paulo em seu áureo período de formação, esses sociólogos partilham preocupações similares: a ques- ro
tão da modernidade e da democracia no Brasil. Contudo, especialmente durante os anos da ditadura, o equacionamento .g
dessa problemática toma rumos - teóricos e políticos - distintos em cada um dos autores. Ganha relevo, nesse ~
processo, a imbricação entre aspectos que inflexionam suas trajetórias e reflexões - sua elaboração sociológica acer- '§
ca da modernidade nacional, sua concepção do papel da intelectual idade e seus vínculos e rupturas com a instituição ~
universitária. Esses fatores nos orientam na pretensão de colocar em tela o diálogo entre os autores e analisar a :
diferenciação de seus posicionamentos, á luz do núcleo de questões definidoras da 'escola paulista de sociologia' e :.~_
dos desafios que a singular modernidade brasileira e as vicissitudes do final da ditadura lhe colocam. ::c

18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h ás 18h)

Sonia Maria K. Guimaraes - UFRGS


Impasses e Dilemas da Teoria Social
Motivada pelas questões sobre muldisciplinaridade, em especial, sobre as relações entre História e Teoria Social,
propostas pelo Simpósio, a comunicação a ser apresentada tem por objetivo apontar aspectos que são avaliados
como dificuldades para o efetivo desenvolvimento da Teoria Social, no Brasil. O texto divide-se em duas partes: na
primeira, a) resume alguns aspectos teóricos e epistemológicos que caracterizariam as teorias sociais no século xx,
destacando contribuições, impasses e dilemas; b) discute a influência do meio sócio-<:ultural, dos acontecimentos
históricos, como fatores que contribuiriam para retificação e desenvolvimento da Teoria Social; na segunda parte,
destaca pontos que ilustrariam a 'história' da teoria social produzida no Brasil, propondo respostas a algumas indaga-
ções, entre elas: de que forma a referida Teoria Social enquadra-se face ao dilema ciência e ideologia; em que medida
as formulações hegemõnicas, no Brasil, contribuem para uma melhor compreensão do mundo, oferecendo sentido,
motivação e sensibilidade histórica?

301
Angela Maria Alonso - USP
Cultura e ação coletiva
Desde os anos 90, sociólogos e historiadores vêm enfrentando o desafio de explicar conjugadamente as dimensões
simbólicas e práticas da ação coletiva, a permanência dos símbolos culturais e a capacidade dos agentes de transformá:-
los durante seu uso. Nesse debate, surgiram novas abordagens dos processos de inovação e difusão cultural e concei-
tos foram criados ou redefinidos, caso da noção estruturalista de 'repertório de ação coletiva' e da fenomenológica de
'frame'. O objetivo dessa comunicação é avaliar o alcance delas, tomando por parâmetro um caso, o movimento
reformista da geração 1870.

Karl Martin Monsma - UNISINOS


Narrativa como método: estrutura, ação e evento na análise da mudança social
Com a re-emergência da sociologia histórica nas décadas de 1970 e 1980, sobretudo nos EUA, houve certa preocupa-
ção em legitimar esta subárea frente ás abordagens positivistas predominantes, mostrando como a comparação de
trajetórias históricas permite a análise causal controlada, de maneira semelhante á análise multivariada. Entretanto,
com a institucionalização da sociologia histórica, aumentou-se o diálogo com a História, onde havia muita discussão
em tomo da 'volta da narrativa". Hoje a sociologia histórica focaliza sobretudo processos, seqüências e temporalidades.
Parte importante das discussões metodológicas diz respeito ao uso da narrativa para o estudo de processos históricos.
Esta comunicação, baseada principalmente no trabalho de William H. Sewell Jr., discute concepções de estrutura e
evento, as relações de ambas com a ação humana e como esses conceitos podem ser usados para a análise narrativa
de processos de mudança social.

Marcos César Alvarez - USP


O debate acerca da punição na teoria social: algumas reflexões teóricas e metodológicas.
A questão da punição ganhou destaque nos debates da teoria social ao longo do século XX. O trabalho pioneiro de
Rusche e Kirchheimer (1939) estudou a relação entre a estrutura social e as formas de punição, ao enfatizar que as
transformação nos sistemas penais não poderiam ser explicadas somente a partir da necessidade de mudanças im-
postas pela guerra contra o crime mas deveriam ser relacionadas ás mudanças históricas nos modos de produção das
diferentes sociedades. Os trabalhos de Michel Foucault - sobretudo a partir do livro Vigiar e Punir (1975) - deslocaram
novamente o foco de análise das práticas de punição, estudadas por esse autor como tecnologias de poder complexa-
mente articuladas ás demais práticas sociais. Em anos mais recentes, David Garland tem buscado desenvolver uma
análise mais ampla do papel da punição na sociedade moderna. Em Punishment and Modern Society - A study in
Social Theory (1990), Garland reconstrói criticamente as análises que buscaram contribuir para a compreensão da
questão da punição, ao recuperar as contribuições de Durkheim, Weber e Elias, entre outros, sobre o tema. Na presen-
te comunicação, busca-se enfatizar a importância de tal debate teórico para a orientação de pesquisas empíricas no
âmbito da Sociologia Histórica.

Antonio Sergio Araujo Fernandes - UFRN


Path dependency e os Estudos Históricos Comparados
Este artigo tem o objetivo de apresentar o conceito de path dependency (dependência de traje-tória), mostrando que a
perspectiva adotada nesse pensamento dentro da ciência política mais recente é comum e originária dos estudos de
sociologia política comparada. Para isto, observam- se os aspectos essenciais que compõem o conceito: filiação
teórica oriunda da economia de tecnologia e vinculação com a abordagem institucionalista histórica. Além disso, ana-
lisa-se a perspectiva teórico-metodológica dos estudos históricos comparados em sociologia política a fim de mostrar
sua proximidade com a abordagem da path dependency.

André Borges de Carvalho - UFRGS


Desenvolvendo Argumentos Teóricos a partir de Estudos de Caso: o debate recente em torno da pesquisa
histórico-comparativa
O artigo apresenta uma revisão do debate metodológico em torno da pesquisa histórico-comparativa na ciência políti-
ca. São discutidas as críticas que foram feitas á metodologia de estudos de caso tradicionalmente utilizada pelos neo-
institucionalistas históricos, no que tange á invalidade das inferências causais obtidas e problemas de amostragem
enviesada. Oartigo apresenta, por outro lado, as estratégias advogadas pelos pesquisadores desta tradição metodológica
com o intuito de aumentar o poder explicativo das comparações de pequena amostra e estudos de caso. Em particular,
é discutida a aplicação da técnica de 'mapeamento de processo' na produção e teste de argumentos teóricos a partir
de estudos de caso.

302
Samir Perrone de Miranda - UFRGS
Apontamentos sobre a análise política e discursiva em uma perspectiva histórica
Resumo: Este trabalho tem por fito explorar possibilidades e limites metodológicos relacionados á pesquisa de discur-
sos políticos em uma perspectiva histórica, Nesta linha, procura-se destacar algumas das principais potencialidades
da articulação interdisciplinar entre História, Ciência Política e Análise do Discurso de linha francesa, Deste último
campo, o conceito de interdiscurso, derivado especialmente dos trabalhos de Michel Pêcheux e seus colaboradores,
apresenta-se como um instrumento fundamental para a apreensão da relação entre sujeito, discurso, sentido e memó-
ria, Com base nesta noção de interdiscurso, as pesquisas acerca do campo político que contemplam contextos histó-
ricos recuados podem ter suas perspectivas e seu potencial explicativo enriquecidos, A partir destes pontos, o trabalho
busca analisar algumas pesquisas empíricas que apresentem o referido caráter interdisciplinar, observando: os funda-
mentos teórico-metodológicos, as preocupações especificas de cada campo de conhecimento e os resultados decor-
rentes de tal interação,

Maurício Fonseca da Paz - Escola Mario Quintana


A aplicabilidade do roleplaying game como ferramenta historiográfica
Os jogos de RPG tem sido objeto de estudo das diferentes áreas de conhecimento recentemente, A ligação entre o
RPG e a Historia na academia surgiu justamente da possibilidade relativamente simples de uso no ensino, Uma das
razões que pode ser facilmente explicada para tal convergência entre História e RPG é simples: a plausibilidade do
jogo é diretamente dependente de uma história que lhe confere algum grau de realidade, De fato, segundo Jórn Rüsen,
o desenvolvirnento de qualquer texto é um exercício de ligação entre o discurso e a consciência histórica necessárias
para a verificação desta plausibilidade, A teoria dos jogos, desenvolvida por John von Newmann e o conceito de
@
38
Herbert Simon sobre racionalidade limitada tem estendido a game theory além do campo das ciências exatas: na
matemática e na estatística, das ciências humanas aplicadas: administração e na economia, Nessas, o desenvolvi-
mento dos conceitos de teoria dos jogos vem abrindo caminhos para sua aproximação com as ciências humanas: o
antropólogo Fredrik Barth analisou a aplicabilidade de teoria de jogos nas ciências sociais em 1959, Este trabalho
procura analisar possíveis usos dos RPGs como reflexão ao exercício historiográfico e a construção de textos históri-
cos e narrativas apoiado em conceitos da game theory,

I 19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h ás 16h30min) I


Silvia Regina Ferraz Petersen - UFRGS co
Relações sociais de dominação e resistência: História e Ciências Sociais 'g
A comunicação pretende discutir algumas questões referentes á incorporação de contribuições teóricas das ciências ~
sociais á cultura historiográfica através da análise do tema das relações sociais de dominação e resistência, As linhas '§
gerais desta exposição procedem do trabalho que desenvolvi e das dificuldades enfrentadas para organizar o progra- ~
ma e ministrar a disciplina teórica da linha de pesquisa 'Relações sociais de dominação e resistência" do PPG em ,;
História da UFRGS, De um modo geral a tendência da historiografia tem sido colocar o estudo do poder dentro da
história política e sobretudo na dimensão do Estado, Mas logo nos damos conta de que os conteúdos por ela aborda-
dos não são suficientes para entender as múltiplas figuras da dominação, da resistência e do conflito que inevitavel-
ª
-o

mente emergem nas análises da matéria histórica, Por isso o objetivo da apresentação é discutir a complexidade que
o estudo das relações sociais de dominação e resistência apresenta e comentar algumas tendências teórico-
metodológicas que contribuem para sua análise,

Alfredo Alejandro Gugliano e Mario Ricardo Maurich . UFPel


A articulação entre teoria social e história nos estudos sobre a democracia
A proposta deste trabalho é analisar a contribuição da articulação entre História, Sociologia e Ciência Política para os
estudos sobre o desenvolvimento da democracia, Tradicionalmente os trabalhos sobre o sistema político democrático
estiveram baseados em parâmetros bastante restritos que privilegiaram uma análise conceitual da questão, Desde
esta perspectiva, a democracia vem sendo classificada preferencialmente de acordo com algumas características
procedimentais ou, como explicitam diversos autores, a partir do cumprimento de um conjunto de regras de funciona-
mento (eleições livres, parlamento independente, etc,), Contudo, pelo menos nos últimos trinta anos vem sendo publi-
cados um conjunto de trabalhos, ora identificados enquanto sociologia histórica, ora história social, dedicados a anali-
sar o desenvolvimento da configuração histórica de elementos centrais no processo de democratização, como o Esta-
do ou a cidadania, Neste sentido, a proposta deste trabalho é analisar a contribuição de uma perspectiva de análise
sociohistórica para os estudos contemporâneos sobre a democracia e suas transformações,

303
Giralda Seyferth - Museu Nacional/UFRJ
Imigração: tradição multidisciplinar e usos da teoria social
As migrações internacionais tem sido objeto de estudo de diferentes disciplinas, cada uma delas com seus interesses
especificos, caso da Geografia, da Demografia, da História, da Psicologia, das Ciências Sociais. No que se refere às
práticas interdisciplinares, houve uma aproximação maior entre a História e as Ciências Sociais, envolvendo principal-
mente o debate entre historiadores e antropólogos, iniciados no século XIX. O uso de metodologias e abordagens
teóricas comuns intensificou-se nas últimas décadas, acompanhando as mudanças ocorridas no âmbito de cada disci-
plina. Olhando para esta tradição multidisciplinar, o presente trabalho enfoca formas de apropriação das teorias da
identidade, etnicidade, cultura, territorialização - envolvendo temporal idade - em estudo sobre a imigração no Brasil,
apontando à interface entre Antropologia e História e, eventualmente outras disciplinas acima citadas.

Claudia Turra Magni - UFPel


A narrativa autobiográfica como trânsito entre antropologia e história
Biografias, em suas diversas modalidades, constituem um tipo de narrativa cujo potencial analítico para a História e as
Ciências Sociais carece ainda de legitimidade. Como todo exercicio de memória, elas não dão acesso aos fatos
narrados, mas às representações individuais e coletivas do autor e da sociedade a que pertence. Através de um
esforço intelectual que considere seus pretextos, contextos, intertextos e intratextos, o pesquisador é capaz de estabe-
lecer conexões de sentido entre a experiência singular de um indivíduo e regularidades observadas no segmento
social a que pertence em sua interação com o todo social. Neste paper, explorarei alguns dados empiricos colhidos por
minhas pesquisas sobre a população em situação de rua feitas em Porto Alegre e Paris. Pretendo demonstrar como
duas auto-biografias - de um beneficiário e da diretora de uma associação humanitária - postas em relação, permitem
evidenciar percepções antitéticas sobre essa entidade, embora ambas sirvam-se de figuras de linguagem similares,
provenientes de um mesmo sistema de crenças. Uma terceira biografia permitirá pensar a morte como situação
paradigmática da passagem do âmbito da Antropologia para o da História.

20/07 - Sexta-feira - Manhã (10h30min às 12h30min)

Adhemar Lourenço da Silva Junior - UFPel


"Raça" e ocupação em Estados pós-coloníais: Chile, México e Peru (1858-1872)
O uso de estatísticas como instrumento para pensar o exercicio da soberania já foi objeto de estudo. Na verdade, a
produção de recenseamentos e corografias corresponde, ao mesmo tempo, à definição preliminar e identificaçâo dos
fenômenos considerados relevantes. Nos Estados pás-coloniais, ao longo do século XIX, a produção de estatísticas
dependeu de vários fatores, entre os quais a superação das desconfianças da população sobre seu registro e a
superação das desconfianças de certos setores da burocracia sobre sua eficácia. Se é temerário que os pesquisado-
res contemporâneos utilizemos os números encontrados como representação da realidade, os sistemas de classifica-
ção utilizados são capazes de nos subsidiarem elementos acerca das formas de auto-compreensão daquelas socieda-
des. Nesta comunicação, utilizo comparativamente estatísticas do Chile (1872), México (1862) e Peru (1858) para
verificar como os fenômenos da 'raça" e da ocupação aparecem. Ao final, ensaio possibilidades de generalização dos
resultados para pensar também a forma como tais critérios de identificação da população aparecem em estatisticas
brasileiras.

Natália Gil- USP


Escola e Grupo Escolar: a ambigüidade das categorias e a descríção que prescreve
Este trabalho discute a questão da possibilidade de ambigüidade das categorias utilizadas nos levantamentos estatís-
ticos sobre educação realizados no Brasil nas primeiras décadas do século XX. Buscou-se enfatizar que as estatísti-
cas, comumente consideradas como elementos objetivos de descrição da realidade, menos do que descrever o real,
colaboram na sua construção, na medida em que circunscrevem, ao fixarem as categorias de contagem, as possibili-
dades da imagem delineada e conformam determinadas maneiras de ver. Tomando como exemplo o termo escola,
procurou-se ressaltar, a partir da análise de textos oficiais em que são examinados os números do ensino, que, mesmo
palavras comumente consideradas inequívocas, podem ter significados especificos em diferentes momentos. Assim, a
palavra escola, que na estatística de 1907 era correspondente a um prédio adaptado em que um grupo de crianças de
adiantamentos diversos tinham aulas num mesmo horário com um(a) mesmo(a) professor(a), passa, na década de
1930, a designar predominantemente um prédio especificamente construido para a finalidade de ensino, onde várias
salas de aula são ocupadas, ao mesmo tempo, por crianças de idades e/ou adiantamentos diferentes.

304
André Rosemberg - USP
O perfil da praça do Corpo Policial Permanente em São Paulo, no fim do Império
Em 1873, a Guarda Nacional foi destituida, por lei de suas funções policiais. A partir desse momento, coube ao Corpo
Policial Permanente, uma força militarizada, voluntária e profissional a incumbência privativa de garantir a ordem
pública, capturar criminosos, prevenir ocorrências ilícitas e perseguir escravos fugidos. Tornou-se, enfim, a instituição
policial por excelência. No entanto, apesar do papel destacado que jogava em relação à manutenção da ordem na
província e do processo da ampliação da maquina estatal na esfera privada, muito pouco se sabe desse corpo. Ainda
permanecem ignorados aspectos fundamentais do CPP, tais como seu arcabouço funcional-administrativo, as missões
que desempenhava, as práticas cotidianas das praças, a relação com a população e com os poderes locais. Proponho
nessa comunicação expor alguns resultados parciais da minha pesquisa de doutorado - realizar um retrato desse
policial-soldado, recenseando dados fundamentais de sua biografia, tais como local de nascimento, idade ao se engajar,
estado civil, altura, cor da pele, residência quando engajado, ofício anterior. A partir daí será possível traçar algumas
hipóteses e estabelecer relações entre as informações específicas do policial com informações maís gerais da popula-
ção brasileira e de São Paulo.

Thais Battibugli - Faccamp - Faculdade Campo Limpo Paulista


Reflexão sobre técnicas de pesquisa histórica a partir de estudo de caso sobre a polícia paulista (1946-1964)
O texto realiza uma reflexão sobre o uso técnicas pesquisa a partír de estudo sobre o sistema público de segurança
paulista entre 1946 e 1964. É salientada a importância de se conjugar o uso da pesquisa qualitativa e quantitativa
como estratégia para o refinamento da pesquísa históríca e sociológica.

I 20107 - Sexta-feira - Tarde (14h às 18h) I


Rosane Siqueira Teixeira - UFSCar
Referencial metodológico para o estudo retroativo do capital social
Existe um interesse crescente pelos estudos que englobam o conceíto de capital social, contudo, a grande concentra-
ção de publicações sobre o assunto do ponto de vista teórico e empíríco são voltadas para a realidade atual em
pesquisas, por exemplo, nas áreas de desenvolvimento sóci(Hlconômico, agrário e regional, desigualdades sociais,
democracia, criminologia etc., permanecendo aínda em aberto (pelo menos no caso brasileiro) estudos que trabalham
com eventos retroativos sobre este tema. Tomando como objeto de pesquisa uma associaçâo italiana de socorro
mútuo - Società Italiani Uniti -, cujo período de existência compreende os anos de 1920 a 1940 e vinculando-a ao Cõ
estudo do capital social, objetiva-se, nesta comunicação, traçar uma metodologia de pesquisa baseada em processos 'g
de longa duração e na interdisciplinaridade, neste caso, a sociologia e a história. Para tal, focaliza-se como expoente ~
maior os estudos de Norbert Elias. '§
'"
f-

Virginia Ferreira da Silva .ê


Migrantes no Interior de São Paulo: redes sociais, trajetórias e pertencimentos 'E
Pretendo discutir aspectos sociais e históricos do fenõmeno migratório a partir de pesquisa que teve como objeto as ~
redes de relações sociais em que migrantes estão envolvidos (realizada no bairro Cidade Aracy, São Carlos, interior de
São Paulo). Díante de diversas trajetórias que se estendiam no tempo e no espaço, a questão da origem e pertencímento
dos migrantes foi repensada, uma vez que me deparei com 'paranaenses da Bahia', 'paranaenses de Minas'. Isso
remeteu a uma 'desterritorialização' da origem do migrante, a qual teve sua importância relativizada para a compreen-
são das redes sociais. Migrantes integram uma ou outra rede menos em função da trajetória de cidades pelas quais
passaram, e mais em função da trajetória social definida em termos do ter, categoria importante no bairro (me mantive
atrelada à história e estrutura dele), que divide migrantes entre os que 'não tinham nada' - posíção descrita pelo
sentimento de iminência da fome - e os que tinham 'muito mais que uma casa'. Por meio de aproximação dos relaci-
onamentos sociais concretos dos migrantes (pesquisa etnográfica) as redes sociais puderam ser descritas segundo os
tipos de vínculo em seu interior: rede de malha frouxa e rede de malha estreita (conceitos rediscutidos de Elizabeth
Botl).

Sílvio Marcus de Souza Correa - UNISC


Linha de cor e fronteiras étnicas: brancos e negros em área de colonização no Rio Grande do Sul
Com base nos 'estudos de comunidades', o presente trabalho trata da trajetória de negros em área de colonização
alemâ no RS. A tese defendida é que, apesar da mobilidade das 'fronteiras étnicas', a linha de cor permaneceu entre
brancos (teuto-brasileiros) e negros (afro-brasileiros) em áreas de colonização alemã. A coexistência entre linha de cor
e fronteiras étnicas particulariza as relações entre os grupos hifenizados em certas regiões do Brasil meridional, pois,
em área de colonização alemã, a mobilidade social dos indivíduos de cor não implica em branqueamento, tal como
estudos clássicos apontaram para outras regiões do Brasil. A primeira parte (1849-1888) do trabalho trata das relações

305
entre negros escravos e brancos livres na colônia de Santa Cruz, fundada por imigrantes alemães em 1849. Na
segunda parte (1889-1949), tem-se o acirramento dessas relações desde a abolição da escravidão até o final da
Segunda Guerra, quando a integração dos imigrantes alemães e de seus descendentes também foi considerada
problemática. A terceira parte (1949-... ) trata de uma nova fase dessas relações, quando a integração dos teu to-
brasileiros passou a ser vista como um sucesso em contraste com aquela dos afro-brasileiros.

José Paulo Eckert - UNISINOS


Erva mate e fronteira- considerações teóricas
Abordar o uso da lIex paraguariensis, através da história da colonização européia do território sulino brasileiro, é
buscar objeto privilegiado para reflexão a respeito da constituição da(s) fronteira(s). Assim, o trabalho em questão traz
algumas considerações teóricas a respeito das relações possíveis de se estabelecer entre o objeto erva mate e sua
característica de fronteira. Tal objeto está presente há muito na experiência dos povos americanos e sua utilização é
tão larga quanto os contatos que se construíram a partir dos últimos séculos no continente. Todo este processo, este
fenômeno da difusão da utilização da lIex paraguariensis ocorre graças a uma, ou melhor, a várias fronteiras. E neste
caso, não só de fronteira relacionada a limite no sentido mais burocrático e territorial da palavra, mas fronteira como
essencialmente o lugar da alteridade, um lugar de descoberta e desencontro. O lugar de múltiplos interesses, por
vezes existentes no interior de um mesmo indivíduo. Em suma, pensar a respeito de questões deste tipo é o que se
propõe esta comunicação.

Miriam de Oliveira Santos - CPDAlUFRRJ e Maria Catarina Chitolina Zanini- UFSM


Distintos percursos dos imigrantes italianos: Analisando a História da Imigração Italiana para o Rio Grande do
Sul
Resumo: Esta proposta tem por objetivo analisar, partindo de duas experiências etnográficas distintas, uma realizada
na região da serra gaúcha e outra na região central do Rio Grande do Sul, os distintos rumos de dois fluxos migratórios
de italianos para o Brasil iniciados no final do século XIX e a importância da estrutura familiar para ambos. Foram
processos inicialmente semelhantes, mas que, devido as diferentes trajetórias destas colônias, sua localização e suas
relações com o contexto regional e nacional, desenvolveram-se de forma distinta, gerando diferentes contatos cultu-
rais e identidades diversas. Neste caso, a história oral, a historiografia e as fontes escritas surgem como auxiliares
preciosos para compreender essa diferenciação e o papel fundamental exercido pela ordem familiar na manutenção
das identidades étnicas de pertencimento.

Joana D'Arc do Valle Bahia - UERJ


De como os Etnic Brokers fabricam seus demarcadores históricos e identitários ?
Neste artigo analiso matérias escritas nos boletins da Associação Scholem Aleichem, instituição judaica localizada na
cidade do Rio de Janeiro, por seus articulistas nos últimos 10 anos. Esta associação foi criada, em 15 de agosto de
1964, permanecendo ativa até os dias hoje, pelas gerações que se identificaram com as lutas políticas e sociais da
esquerda nacional e internacional. A referida instituição é produto dos descendentes dos imigrantes progressistas
oriundos em grande maioria da Europa Oriental. que criaram a BIBSA, Biblioteca Scholem Aleichem em 1915, na
Praça Onze, localizada na cidade do Rio de janeiro. Busco rever as implicações dos marcadores de tempo e espaço no
material analisado e de que modo os intelectuais do referido grupo, pensados como mediadores (etnic brokers), os
elaboram como demarcadores de construção identitária.Os limites interdisciplinares entre história e antropologia serão
redimensionados a partir de um estudo de caso que possibilita tanto rever a ausência de critica interna nos estudos
sobre comunidade judaica quanto pensar o papel deste grupo quando relacionados aos demais grupos étnicos e aos
modos como reconstroem os processos históricos.

Jeffrey Lesser - Emory University


Memorias da morte: etnicidade e luta armada no Brasil
As vidas e mortes de dois militantes Nikkei, Andre Massafumi Yoshinaga e Suei Yumiko Kanayama, oferecem a opor-
tunidade repensar o lugar de etnicidade na memória da luta armada brasileira. Usando fontes como historia oral,
posters de procurados, documentação do DEOPS, e textos escritos (ambos ficção e não-ficcão) tentarei mostrar como
ideias bem divulgadas sobre etnicidade nipo-brasileira influenciaram tanta a participação político como a construção
da memória dos dois militantes

Valquiria Pereira Tenório - UFSCar


A história de um baile negro de Araraquara-SP e sua importância na construção de identidade
A história de um evento conhecido como Baile do Carmo, realizado pela população negra de Araraquara, interior de
São Paulo, há mais de 70 anos, tem proporcionado a reflexão sobre a construção de identidade negra. Os bailes
negros são espaços importantes de sociabilidade, de memória e de elevação da auto-estima dos grupos neles envol-
vidos. As narrativas sobre o Baile do Carmo construidas por seus participantes trazem á tona as dificuldades na

306
vivência dos espaços fisicos da cidade. Os registros oficiais da história de Araraquara ignoram a presença da popula-
ção negra e suas manifestações, no entanto a existência do Baile do Carmo se coloca como um registro vivo, impres-
cindível para se recontar essa história. Mais do que um baile re~lizado uma vez por ano esse evento tem a capacídade
de estabelecer uma estreita relação entre diferentes gerações. E na memória de velhos, adultos e jovens, na experiên-
cia vivida ou herdada dos familiares e amigos que a história do Baile do Carmo é (re)contada e (re)construída, mas não
só a história do evento é recontada, a história da própria população negra também vem à tona, tal a força que este
evento tem como um elemento de ligação e de construção de uma memória negra coletiva.

39. História Indígena e Interdisciplinaridade


Jorge Eremites de Oliveira (UFGD) e Carlos Xavier de Azevedo Netto (UFPB)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h às 18h) I
lecy Figueiredo Rocha - Universidade Federal de Mato Grosso
Ka Ba Boe Ba? A indagação da nação Bororo diante das guerras e conflitos travados contra seus co-irmãos
Cabaçais - 1750 a 1843
O presente trabalho pretende estudar os Bororo Ocidentais, tendo como objeto as formas de contato, 'pacificação" e
extermínio de indígenas em Mato Grosso. Privilegiar-se-á a nação dos Cabaçais, habitantes da margem direita do rio
Paraguai, jauru e Cabaçal, focalizando, mais precisamente, o período compreendído entre 1750 a 1843. Seu objetivo
é ínquirir as causas dos conflitos e guerras lançados contra os Bororo Cabaçaís, buscando conhecer o destino dado às
suas terras e aos remanescentes desta nação. Como metodología para o desenvolvimento desta pesquísa trabalhar-
se-á com conjunto de fontes manuscritas, impressa, a exemplo dos Anais de Vila Bela e os Relatórios de Presidentes
da Província de Mato Grosso. Buscar-se-á também suporte nas produções historiográficas concernentes ao tema,
como Claude Léví-Straus (1996), Sylvia Caiuby Novaes (1993), Renate Brigitte Viertler(1990 e 1991), Manuela Carnei-
ro da Cunha(1987), José Afonso Botura Portocarrero (2001), Marli Auxiliadora de Almeida (2002), Maria de Fátima
Costa(1999), Jackson da Silva Castro(2006).Contudo, a principal fonte para se conhecer o povo Bororo é a Enciclopé-
dia Bororo, de autoria de Cezar Albisetti e Angelo J. Venturelli (1962).

Jorge Eremites de Oliveira e levi Marques Pereira - UFGD


A história indígena no Programa de Pós-Graduação em História da UFGD
O objetivo deste trabalho é apresentar uma avaliação geral das dissertações de mestrado defendidas na linha História
Indígena, do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), antigo
Campus de Dourados da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), o qual teve ínicio no ano de 1999. A
avaliação indica uma tendência para o diálogo interdisciplinar entre a Antropologia e a História, dentre outros campos
do conhecimento, como a Arqueologia e a Educação. As dissertações defendidas até o ano de 2007 deram preferência
para o estudo de temáticas indígenas recentes, com recortes cronológicos que abrangem, sobretudo, da primeira
met~de do século XX até os dias de hoje, o que sugere a preferência pela compreensão da questão indígena contem-
@
39
poranea.

Marta Coelho Castro Troquez - UFGD


Educação Escolar Indígena em Dourados (MS): as instituições e os professores índios
A educação escolar na Reserva Indígena de Dourados esteve a cargo do órgão indigenista oficial (SPI - FUNAI) até
1991. Neste período, o SPI e, posteriormente, a FUNAI manteve escolas na reserva em acordos com a Missão Evan- ..;g
gélica Caiuá e a Prefeitura Municipal de Dourados. A partir de 1991, por conta da legislação nacional, o Estado (MS) e :g
o Municipio (Dourados) assumiram, oficialmente, esta responsabilidade. Este trabalho destaca a participação das diver- .~
sas instituições envolvidas no processo de educação escolar indígena em Dourados na formação e na constituição do 'O..
quadro de professores índios de Dourados evidenciando as relações estabelecidas entre eles e estas instituições. :~
'O

~
Raphael Rodrigues Vieira Filho - UNEB DEDC I c::

Contatos e Solidariedades: negros e payayas no sertão de Jacobina, BA :


Utilizando como fontes principais os documentos sobre os Payaya e as poucas informações sobre Jacobina, Bahia, ~
nos séculos XVII e XVIII, principalmente, as publicadas nos Anais doAPEBA, Anais da Biblioteca Nacional, Documen- :.S
tos Históricos da Biblioteca Nacional e o conjunto de CDs do Projeto Resgate referente à Bahia, pretendo falar um :
pouco sobre os primeiros contatos entre os grupos nativos da região, e os grupos imigrados de africanos e seus ~
descendentes. Os documentos possibilitam alguns flashs sobre como foram as primeiras investidas dos colonizadores ~

307
no território indígena e como os conquistadores chegaram, fixaram-se e implantaram uma nova forma de relaciona-
mento entre os diversos grupos, seguindo uma lógica de ocupação partindo do litoral e apropriando-se das zonas mais
afastadas. O movimento rumo ao sertão trouxe outro grupo populacional: os africanos e seus descendentes. Eles
encontraram, nos indígenas, companheiros nas desventuras nos trabalhos compulsórios e fortes aliados para suas
aspirações de vida autônoma.
Esses lampejos iluminam pistas de como foi o relacionamento entre os váríos grupos populacionais nos prímeiros
tempos de exploração da região, mostrando os embates e aproxímações, e também desnublando as solidariedades
construídas no cotidiano compartilhado.

Helena Alpini Rosa· UFSC


A presença da escola na comunidade Tekoa Guarani
O tema acima surgiu a partir do trabalho com professores Guarani dos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina,
Paraná, Rio de Janeiro e Espirito Santo no Curso de Magistério: Kuaa-M'boe = Conhecer-Ensinar, desenvolvido pelas
Secretarias de Educação, Ministério da Educação (MEC) e Fundação Nacional do índio (FUNAI). Pretende-se refletir
sobre a presença da escola na comunidade Guarani nas três últimas décadas do século XX e anos iniciais do século
XXI traçando a trajetória históríca recente dessa nova prática educacional, pensando a escola como interface da
cultura para os Guarani. O foco principal são as comunidades de Maciambu e Morro dos Cavalos, no município de
Palhoça (SC), nas Escolas Indígenas de Ensino Fundamental Cacupé e Itaty, respectivamente, através da pesquisa
qualitativa, com fontes orais a partir de entrevistas com professores das escolas referídas e pessoas da comunidade
Guarani. A educação escolar formal é uma prática recente para as populações índígenas, no entanto, possuíam e
possuem formas próprias de aprendizagem e de produção e reprodução de saberes, através da tradição oral transmí-
tida nos mais diferentes idiomas, sem escríta. Para os Guarani a escola é um espaço de fronteira cultural.

Priscila Viudes - Uniderp


As representações da desnutrição no periódico O Progresso, de Dourados MS (Janeiro e fevereiro de 2005)
Esse trabalho pretende discorrer sobre as representações da questão indígena, através da análise do material publica-
do sobre o tema em um dos principais periódicos de Mato Grosso do Sul: O Progresso, durante os meses de janeiro e
fevereiro de 2005, período em que uma série de reportagens sobre a desnutrição indígena das aldeías do sul do Mato
Grosso do Sul foi destaque na mídia local e nacional. O periódico em questão é edítado em Dourados-MS e distribuido
na região em que ocorreram as mortes das crianças indígenas por desnutrição. A relevância dessa proposta baseia-se
no conceito de que, em geral, a sociedade contemporânea se utiliza do que é veiculado na mídia para formular os seus
conceitos e dialogar com os fatos cotidianos. O levantamento dos significados do discurso sobre a questão indígena
nos jornais pode revelar como a sociedade encarou esse fato, que pode se utilizado como amostra para compreender
como as pessoas representam a questão indígena. Esses fatores influencíam na tomada de decisões políticas e
sociais voltadas para as comunidades índígenas, localizadas, em geral, em áreas de conflitos de terras, como na
regíão de Dourados.

I 17/07 - Terça-feira - Tarde (14h ás 18h)

Renata Lourenço Girotto - ~EMS


O Serviço de Proteção aos Indios e a Política Indigenista Republicana junto aos índios da Reserva de Doura·
dos e Panambizinho na área da Educação Escolar Indigena ·1929 a 1968
Esta apresentação é resultado de uma pesquisa que buscou analisar a política indigenísta do Estado Republicano de
acordo com o título proposto. Os referenciais teórico-metodológicos adotados basearam-se, primordialmente, na His-
tória Cultural na sua ligação com a Antropologia, e História Oral. Demonstramos o entrelaçamento do Serviço de
Proteção ao índio com a "Missão Evangélica Caiuá', o prímeiro abdicando da sua proposta inicial de secularização das
prátícas sociais para processar, em parceria com esta Instituição religiosa, um projeto de escola alicerçado num ideário
que combinava catequização e educação. visando garantir a 'civilização e a íntegração' dos índios á sociedade local,
a ponto de fazer daquela última, parte constitutiva da estrutura politica do Órgão Tutor. A escola como objeto desta
análise é entendída como palco privilegiado desta ação de conjunto - do S.P.I. e " Missão - que processaram um tipo
específico de poder, o poder disciplinar voltado para o "adestramento' (Focault, 1987) dos indígenas para o mundo do
trabalho na sociedade capitalista e ao mesmo tempo justificar o desterro e o confinamento a que foram submetidos.

Adriana Machado Pimentel de Oliveira Kraisch .- Núcleo de Documentação e Informação Histórica Regionall
NDIHR e Carlos Xavier de Azevedo Netto· UFPB
A Relação entre História, Memória e Arqueologia: a arte rupestre no município de São João do Cariri
Nossa proposta é abordar as relações entre arqueologia, história e memória, discutidas no Projeto "Arqueologia do
Cariri', como forma de contribuir aos estudos de história indígena, em especial na região Nordeste. O referido projeto

308
tem como um de seus objetivos analisar as teorias, métodos e técnicas da arqueologia como uma forma de construção
da história do cotidiano das populações ágrafas, pré-históricas ou históricas, delimitada espacialmente pela região do
Cariri paraibano. Para atender aos seus objetivos, nos propomos discutir os conceitos de arte rupestre, memória,
cultura material, identidade cultural e as formas de disseminação dessas informações para a população local, bem
como, questionar a dispersão e a temporalidade das populações que viveram nesta região, desde os registros mais
recuados até a chegada do europeu á América. Adotou-se a área de estudo o municipio de São João do Cariri, por ter
sido uma das primeiras e mais estudados localidades pelo projeto acima citado. Cumpre ressaltar que foi observado a
carência de pesquisas arqueológicas realizadas na área do Estado da Paraíba.

Thiago Leandro Vieira Cavalcante· UFGD


Culturas em contato e a tradução resignificadora do mito do Sumé
Neste trabalho analiso as apropriações e representações do mito indígena Sumé por parte dos colonizadores da
América, tanto espanhola quanto portuguesa. Ao chagar á América os europeus se depararam com culturas bastante
diferentes das suas, os 'índios" ao receberem os conquistadores também se viram diante do outro desconhecido. A
partir dos primeiros contatos iniciaram-se as traduções culturais, que se realizaram em processo de mão dupla. Em
meio a esse processo o 'civilizador" indígena Sumé foi resignificando em São Tomé e apropriado pelos europeus,
religiosos ou laicos, de formas diferentes, adquirindo significados bem distintos daqueles originais da cultura indígena.
Essas apropriações e resignificações ultrapassaram o período colonial, mas sem dúvida foram mais intensas nos
séculos XVI e XVII, periodo no qual concentro a presente analise. Nesse período colonos, jesuitas e franciscanos se
utilizaram dessas resignificações para incluir o índio no mundo cristão, afirmando sua humanidade e também se
beneficiaram autoproclamando-se sucessores do Santo Apóstolo Tomé.

Cleube Alves da Silva


Contatos e novas territorializações indígenas em Goiás (séculos XVIII e XIX)
Embora vivessem em uma espacial idade disputada, no mínimo a centenas de anos, os grupos indígenas tiveram sua
territorialidade modificada com a chegada dos luso-brasileiros no inicio do século XVIII para a mineração na área que,
mais tarde, se tornou a Capitania de Goiás. Essa nova situação criou novas relações e conflitos. A conquista não-
indígena produziu reacomodações entre grupos indigenas e criou novas situações territoriais. Neste processo, aldea-
mentos, fugas, combates com vitórias e derrotas, alianças ou recusa do convivia com os luso-brasileiros levaram os
nativos, cada grupo de modo diferente, a reconfigurarem seus espaços de habitação, provavelmente seguindo um
modelo de interpretação que suas particularidades culturais lhe informavam. O objeto do presente trabalho é apontar
alguns aspectos do processo de reconfiguração territorial do grupo xerente no período de 1778 a 1851. A proposta
metodológica do trabalho procura caminhar rumo a etno-história no sentido de abrir o leque de fontes a ser consultado
e à abordagem da informações no desenvolvimento do texto histórico.

Talita Daniel Salvaro . UFSC


A retomada da língua Kaingáng na E.I.E.B. Cacique Vanhkrê: um fator de identidade étnica
Este artigo objetiva mostrar como a língua Kaingáng é ministrada na Escola Indígena de Educação Básica Cacique
Vanhkrê - E.l.E.B.C.v., após os direitos garantidos pela Constituição Federal do Brasil de 1988. A mesma escola
localiza-se na Terra Indigena Xapecó no oeste de Santa Catarina, atendendo em torno de 800 alunos. Como fontes ~
para dar suporte a este estudo, trabalhamos com atas de reuniões de pais e professores da E.l.E.B.C.v. no periodo de
1988 a 2006, Constituição Federal do Brasil de 1988, entrevistas com professores de língua Kaingáng e membros da
®
comunidade, além da bibliografia complementar. Busca-se visualizar a lingua materna como fator de identidade étnica,
haja vista que essa identidade foi negada durante o periodo de atuação do Serviço de Proteção ao índio, com a
proibição da lingua. Alíngua materna é parte essencial da cultura indígena, mantendo seus aspectos tradicionais como
religião, mitos, alimentação, artesanato, passados de geração para geração, através da oralidade. A retomada da Q.)

lingua na escola serve como fortalecimento e valorização da mesma, onde os professores de Língua Kaingáng produ- -g
zem os seus próprios materiais didáticos e lutam pela autonomia, ~
.S
'Q.
Sonia da Silva Rodrigues - UNICASTELO .~

As relações interétnicas no povoamento do Vale do Paranapanema 'O


Kaingang, Oti-Xavante, Guarani e não-índios mantiveram contato, fizeram alianças e lutaram entre si, no intuito de §
c:::
garantirem ou conquistarem seu espaço de autonomia no processo de povoamento do Vale do Rio Paranapanema, na
provincia de São Paulo, durante a segunda metade do século XIX. Este trabalho aponta os interesses, as resistências, ~
as apropriações e espoliações advindas destes contatos. O outrora sertão desconhecido, povoado na verdade por três .!2>
etnias, foi invadido por não-indios, que fizeram uso da brandura dos aldeamentos para civilizar e catequizar o indígena ~
para utilizá-lo como mão-de-obra no que necessitavam, e a violência das dadas e bandeiras para capturá-los, expulsá- .~
los para outras regiões ou simplesmente exterminá-los, liberando assim, mais terras para a agricultura e a pecuária. ~
Nessa região, os índios resistiram através dos inúmeros embates contra os não-índios; da atuação dos magotes; das :r:

309
excursões que faziam á capital da província, em busca dos objetos de que necessitavam; da prática no dia-a-dia dos
aldeamentos e dos contatos esporádicos nos povoados e matas.

I 18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h ás 18h) I

Jackson Alexsandro Peres - UFSC


A Lei de Terras e os Xokleng: Santa Catarina (1850-1890)
Este artigo trata sobre a relação entre indígenas (Xokleng) e não indígenas em Santa Catarina na segunda metade do
século XIX a partir da Edição da Lei Imperial N" 12, chamada também de Lei de Terras. Nele analisamos a Lei de
Terras de 1850 e seu regulamento de 1854, pontuando artigos importantes que tratam sobre os indígenas. Para atingir-
mos os objetivos utilizamos como fontes principais os documentos oficiais da Repartição Especial de Terras e Coloni-
zação. Contudo, utilizamos também documentos relacionados á ordem pública, como relatórios de delegados e subde-
legados da Provincia. A metodologia aplicada para dar tratamento a estes documentos consta da Análise de Discurso
e da Etnohistória.

Antônio Brand, Eva Maria Luiz Ferreira e Fernando Augusto Azambuja de Almeida - Universidade Católica
Dom Bosco
O Processo d~ demarcação das reservas indígenas Kaiowá e Guarani, no Mato Grosso do Sul, pelo Serviço de
Proteção aos Indios (1910-1940)
O trabalho apresenta resultados parciais de projeto de pesquisa em andamento sobre a demarcação das terras dos
Kaiowá e Guarani, no período de 1910-1940. Estes povos ocupavam amplo território ao Sul de Mato Grosso. Com o
término da Guerra do Paraguai (1860-1864), instala-se, na região a Companhia Malte Larangeira, voltada para a
exploração dos ervais nativos, abundantes nesse território. Na seqüência chegam os primeiros imigrantes sulistas, em
busca de terras, consideradas "devolutas'. Por último, a politica de marcha para o Oeste, que objetivava a nacionaliza-
ção das fronteiras, do Governo de Getúlio Vargas, instala a Colõnia Agrícola de Dourados-CANO. E assim, aos índios
restam os oito lotes demarcados pelo governo, através do SPI, que somam 18.124 há. A pesquisa está apoiada em
ampla bibliografia e trabalho de campo, com levantamento de fontes orais. Conclusões parciais permitem concluir que
no final da década de 1950, do território original indígena, que era de aproximadamente 20.000 km, restava, legalmen-
te, aos Kaiowá e Guarani apenas um total de 18.124 hectares, restando ás populações nativas da região, como única
alternativa, instalar-se nas reservas demarcadas pelo órgão tutelar.

Victor Hugo Veppo Burgardt - UnB


Autodeterminação dos povos indígenas: mitos e realidades
A partir de um estudo comparativo realizado para elaboração de minha tese, com o foco na área de fronteira Brasil/
Venezuela (Terra Indígena Raposa Serra do Sol e Parque Nacional Canaima), ocasião em que propus uma reflexão
sobre a questão da autodeterminação dos povos indígenas, abordando questões que envolvem a chamada "soberania
nacional', retomo o tema chamando a atenção para alguns pontos que refletem uma visão de mundo já incrustada no
pensamento de grande parte das sociedades brasileira e venezuelana, fruto de um trabalho muito bem articulado entre
mídia e discurso nacional, o que vem mostrar a carência de um melhor entendimento do problema abordado, procuran-
do não vê-lo como uma tentativa de secessão destes Estados Nacionais, nem de criação de uma nova nação, mas,
como um repensar a questão nacional e um fortalecer as pequenas nações pré-colombianas que fazem parte das
sociedades das chamadas Grandes Nações. Tais agregados humanos, como povos que são, têm encontrado, no
caminho de seu autodesenvolvimento, alguns mitos politicos que se tornam entraves para que a sociedade envolvente
os reconheça como 'povos culturalmente diferentes", mas que nem por isto devam ser condenados ao atraso tecnoló-
gico e a exclusão do conjunto da nação.

Neimar Machado de Sousa - Universidade Católica Dom Bosco


A paidéia de Cristo nas reduções guarani do ltatim
A análise da tentativa de levar a paidéia jesuítica aos índios Guarani nas missões espanholas do Itatim (1631-1659), no
Vice Reino do Peru, passa pelo filtro da catequese, ou seja, pelas orientações catequético-pastorais da Companhia de
Jesus dentro do contexto de expansão das fronteiras do reino e da fé. Nos séculos XVI e XVII, não era possível
separar o colonialismo luso-espanhol da religião, a viabilização econõmica dos pueblos coloniais passava pelos
soldados de Cristo encarregados de converter ao catolicismo os pagãos do Novo Mundo. O objetivo é investigar os
princípios fundamentais do projeto educacional jesuítico para os índios que habitavam a região do Itatim, designa-
dos pelo gentílico de itatines relacionando educação, catequese e economia colonial. A conversão e a ocupação do
território indígena implicaram no estabelecimento de processos de negociação estabelecidos entre índios, missio-
nários, colonos, encomendeiros espanhóis e bandeirantes paulistas. O procedimento metodológico utilizado neste
estudo é histórico-crítico, documental, bibliográfico e comparativo. Assim, a contextualização das estratégias edu-

310
cativas dos jesuítas será estabelecida a partir do plano de estudos da Companhia de Jesus, o Ratio Atque Instituto
Studiorum e em suas fontes.

Sandra Cristina de Souza - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul


Trajetória do Povo Terena no Século XX
Pretendemos estudar os Terena em Mato Grosso (desde 1977 dividido em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, este
último o território ocupado pelos Terena). Sua trajetória durante boa parte do século XX (das demarcações oficiais, a
partir de 1904 a conscientização de suas próprias formas de luta com criação de órgãos de defesa, como a fundação
da UNI (União das Nações Indígenas) em 1979, em Aquidauna, local que agrega a maior população Terena hoje
existentes. Num ambiente tão hostil, quais as formas de resistência á violência em relação a sua cultura e a sua própria
sobrevivência. Vivendo na fronteira entre o mundo do não-índio, como construir sua própria forma de ser e existir, num
mundo em rápida mudança como o é o do século XX?

Beatriz dos Santos Landa - UEMS


Os Nandeva-Guarani na região sul de Mato Grosso do Sul e oeste do Paraná e os processos de territorializa-
ção vivenciados na contemporaneidade
A antiguidade de povos falantes da língua Guarani na região sul do estado de Mato Grosso do Sul e oeste do Paraná
é atestada por diferentes áreas do conhecímento, tais como a Arqueologia, a História e a Antropologia. A região faz parte
do amplo território tradicional dos Guarani, e desde a chegada dos europeus tem passado por profundas transformações
em todos os aspectos. Estudos recentes realizados considerando esta porção do território ocupada pelos iiandeva-guara-
ni, sob a perspectiva da etnoarqueologia e da história oral, tem apontado para questões como a mobilidade interna das
terras indígenas, para a reocupação de áreas tradicionais - algumas efetuadas através do enfrentamento com o poder
estabelecido -, para a desterritorialização de áreas, e para a ampliação de espaços que permitam novas alternativas de
sustentabilidade, aqui entendida de uma forma mais ampla ao considerar os aspectos culturais também. Objetiva-se fazer
uma reflexão sobre estas novas territorialidades e uso do espaço vivenciado por este povo a partir dos dados sobre esta
temática, obtidos na reserva Porto Lindo e na terra indígena Cemto, ambas no MS , e no tekohá Porá, no PR.

I 19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h ás 16h30min)

Sônia Maria Campelo Magalhães - UFF


Registros Rupestres e História: Interfaces
O domínio da arte rupestre é o da chamada pré-história, que, por tradição, se opõe à noção de história. Todavia, se
esta última for tomada no sentido de uma construção que privilegia a experiência humana, a arte rupestre pode ser
considerada uma forma de história, pois constitui-se de narrativas do cotidiano, expressão de técnicas e representa-
ções simbólicas de grupos culturais do passado.

~osely Batista Miranda de Almeida - UFMT


Indios de Mato Grosso no século XIX: Política Indigenista em tempos de guerra.
Este trabalho pretende analisar as representações sociais sobre alguns grupos indígenas que ao longo do século XIX ~
habitavam as terras da Província de Mato Grosso, mais diretamente àqueles cujos territórios estavam situados na
região do Pantanal, a saber: terena, Guató e Guaikuru. Busca-se demonstrar como estes indios foram submetidos e
®
quais as estratégias de submissão utilizadas, desde catequese até o recrutamento militar. O interesse maior é discutir
a participação desses indigenas na Guerra com o Paraguai (1864-1870), quando somaram-se a outros soldados como
braços nos campos de batalha. Nossa proposta tem como fonte documentos manuscritos do Arquivo Público de Mato
Grosso e abordagens bibliográficas, como Manuela Carneiro da Cunha e Cláudio Alves de Vasconcelos. c.:o
-o
ro
Francismar Alex Lopes de Carvalho - Unicentro ~
Disputas fronteiriças: estratégias de conquista colonial e processos étnicos entre os Mbayá-Guaykuru no vale ~
do rio Paraguai (ca. 1775-1800) .i2l
No último quartel do século XVIII, acirraram-se as disputas entre portugueses e espanhóis pela posse do vale do rio -o
Paraguai. A estratégia adotada pelas duas Coroas para tentar obter o livre acesso aos territórios indígenas e defender ~
as fronteiras coloniais da cobiça da Coroa rival constituiu-se na instalação de fortes militares. Somados ao avanço dos
estancieiros pelos territórios, os fortes militares procuravam pressionar os grupos étnicos para que fossem confinados ~
aos limites das fronteiras coloniais. Na presente comunicação, analiso a atuação do grupo étnico Mbayá-Guaykuru g;,
'O
nesse processo. Defendo que os Mbayá, conscientes da situação histórica em que estavam inseridos diante da dico- c::
tomização colonial, procuraram manipular com habilidade suas alianças políticas, jogando o jogo das rivalidades e ro
procurando obter vantagens ora dos portugueses, ora dos espanhóis, ora de outros grupos étnicos, a fim de manter a ~
autonomia territorial que possuíam. ~

311
Danielle Moreira Brasileiro - UNEB
O Aldeamento Indígena Nossa Senhora dos Anjos.PACÓ: Memória, Identidade e indigenismo no Vale do Mu-
curi- MG
O presente artigo analisa a identidade indigena após a politica indigenista do século XIX no Vale do Mucuri - MG
partindo do depoimento deixado pelo índio Domingos Ramos Pacó. O texto pauta-se na discussão de memória en-
quanto recurso para uma construção historiográfica. Constituindo o que chamou de fábula justa e verdadeira, Pacó
construiu sua memória a cerca da criação do Aldeamento de Itambacuri. Tal Aldeamento representou a missão indíge-
na mais bem sucedida de todo Império, sua criação caracterizou o encontro entre os ditos 'selvagens' e civilizados nas
selvas do Mucuri. Mas, todavia, percebe-se hoje que, o significado de tais conceitos no decorrer do oitocentos muito se
confundiu. Os indígenas dessa região, considerados no século XIX de selvagens, antropófagos, violentos dentre ou-
tras denominações, foram tendo gradativamente seus costumes, crenças e rituais modificados. A criação do Aldea-
mento enquanto um espaço pensado para a catequização e 'domesticação' dos indígenas no Norte de Minas Gerais
se deu através de um acordo reatado entre Igreja (Ordem Franciscana dos Padres Capuchinhos Menores) e Estado no
ano de 1840. O referido acordo tinha como sua base fundamental o discurso civilizador dos costumes através da
instrução á fé católica.

I 20/07 - Sexta-feira - Manhã (10h30min ás 12h30min)

Alice Rubini liedke - Instituto do Patrimônio Artístico Nacional


Hístória, Identidade e territorialidade no Vale do Rio Mamanguape, litoral norte da Paraíba
Nas duas últimas décadas do século XX no Brasil, a mudança no cenário político decorrente do processo de redemocra-
tização andou junto com uma série de mudanças de enfoques analíticos de temas clássicos da sociologia como a questão
fundiária e questões étnicas e culturais, além da emergência da questão ambiental. Ao longo desse período é possível
identificar a institucionalização destas questões na esfera pública a partir da implementação de políticas públicas, acom-
panhadas por uma redefinição de conceitos e categorias tanto no plano teórico quanto no plano jurídico. Este estudo
apresenta uma interpretação sócío-histórica da dinâmica dos conflitos socioambientais resultante da presença humana
em áreas de sobreposíção de TI e UC tendo como foco de análise o caso de Barra do Rio Mamanguape, no litoral norte da
Paraíba. Destaca-se a especificidade desse tipo de conflito ao sobrepor questões ambientais com questões relativas aos
processos de afinnação identitária remetendo á discussão sobre pluralidade cultural e territorialidade, reivindicações
expressas no âmbito da questão indígena no Brasil. Objetiva compreender esses conflitos em sua expressão jurídico-
política através da análise da documentação dos processos do Ministério Público Federal no Estado da Paraíba.

Poliene Soares dos Santos - UEG e UnB


Etnia e Cidadania Indígena no Brasil: Reflexões Histórico-Antropológicas
Diante da internacionalizacão da questão indígena nas últimas décadas, ressaltamos nesta discussão a atualidade da
questão indígena no Brasil, a partir de dois vieses de análises: Estado e Etnia (observando a diversidade étnica no
Brasil e o discurso homogeneizador da cultura) e o longo caminho rumo á Cidadania no Brasil. Para tanto, priorizamos
alguns temas e conceitos centrais.: Unidade e Diversidade Cultural; Localizacão e Globalizacão; Cidadania e Estado;
Identidade Nacional e Identidade Etnica; Soberania Nacional e Organizacões Supranacionais e Não-Governamentais;
Nacão Pluriétnica e Multiculturalismo, etc. Nosso objetivo ao propor tais temas e conceitos está em sugerir um debate
sobre a questão indígena atual, frente aos tantos impasses que ainda hoje se vivencia no que se refere à concretiza-
cão dos direitos à cidadania indígena, mesmo depois do reconhecimento do Estado, com a Constituição de 1988, dos
direitos de cidadão brasileiro delegados aos indios.

Elisabeth Weber Medeiros - Unifra


As imagens do mundo andino construída pelos cronistas do século XVI
Oestudo das crônicas, escritas nos séculos XVI e XVII, permite elaborar novas interpretações sobre o passado andino.
As crônicas são testemunhos históricos da chegada e dominação do europeu e do contexto andino na época da
conquista. O trabalho de pesquisa tem por objetivo a análise e interpretação das crônicas do século XVI, especialmen-
te a de Pedro Cieza de Leon, 'Crônica dei Peru' e a de Pedro Sarmiento de Gamboa, 'Historia de los Incas', ambos
espanhóis, que apresentaram visões opostas sobre os incas. Analisando as narrativas e relacionando-as com a origem
e intenções dos cronistas é possivel perceber e explicar a realidade andina com novas informações. Deve-se, porém,
atentar para as contradições das diferentes fontes históricas, observando-se: a origem e intenção do cronista; a defesa
de interesses coloniais ou linhagens reais; a falta de habilidade dos cronistas europeus em entender o que os infor-
mantes indígenas relatavam; a influência da mentalidade européia nos relatos; o momento e local onde foram recolhi-
dos os relatos e o contexto instável e fragmentado em que se encontrava o Império Inca no século XVI. O estudo
dessas crônicas permite identificar como cada um dos cronistas construiu a imagem da civilização inca, a partir de
suas origens, percepções ou interesses.

312
Luciene de Morais Rosa - UFG
Encontros e desencontros entre os A'uwê Uptabi e os waradzu no espaço urbano de Barra do Garças-MT
A história dos A'uwê Uptabi, mais conhecidos pela sociedade abrangente como Xavante é marcada por muitos encon-
tros e desencontros com os não-índios, chamados por eles de waradzu. Nesses encontros o que se coloca em jogo de
um lado são as condições de sobrevivência, de reverência e consagração dos costumes ancestrais A'uwê, de outro
lado, estão os interesses por terras da população waradzu e o forte preconceito advindo pelo desconhecimento do
"outro' e de sua cultura. O objetivo desse trabalho é ao buscar uma aproximação entre história e antropologia, discutir
a reelaboração cultural e as novas formas de atuação /l:uwê que lhes permita conviver entre dois mundos sem deixa-
rem de ser quem são.

I 20107 - Sexta-feira - Tarde (14h ás 18h)

Sonia Maria Couto Pereira - UFGD


Os relatos de Hercules Florence (1825-1829): um registro da visualidade dos povos indígenas
Este trabalho pretende discorrer sobre as construções imagéticas e seus desdobramentos no momento do contato
inter-étnico, tendo como base as contribuições do pintor-viajante Hercules Florence que, durante a Expedição Langs-
dorff (1825-1829), viajou pelo interior do Brasil e registrou ampla iconografia dos grupos indígenas com que teve
contato. Investigando os usos desta iconografia na escrita da história indigena e nas discussões do campo de conhe-
cimento da antropologia observa-se que as obras de Florence são de grande valor etnográfico e trazem particularida-
des culturais dos povos indígenas que favorecem o debate da visualidade étnica nos estudos da antropologia visual e
etnoistóricos.

Patrícia Duarte e Marcus Ferreira Soares Junior - NDIHRlUFPB


Distribuição espacial de sinalações de arte rupestre no Cariri paraibano - resultados parciais
Entendendo que os indígenas que o europeu encontrou são, na totalidade ou em parte, descendentes dos grupos pré-
históricos que habitaram o Brasil, o presente trabalho tem como objetivo apresentar a distribuição espacial dos sítios
arqueológicos encontrados nos Municípios de São João do Cariri, Serra Branca e Sumé, demarcando suas áreas no
espaço geográfico, localizados através do uso de GPS e mapas geo-referenciados, informando suas localizações,
com suas devidas coordenadas geográficas, as distâncias entre os sítios, suas orientações, medidas estimadas, aces-
so aos sítios e os grafismos que os compõem. As características morfológicas dos sitios são: matacães, lajedos e
abrigos sobre rocha. Os tipos de gravuras encontradas têm motivos geométricos semicirculares, circulares pontilhados
e lineares com o uso de técnicas de picoteamento e ou raspagem utilizando instrumentos de pequeno e médio porte.
As pinturas têm caracteristicas geométricas com os mesmos motivos das gravuras, e naturalistas, com motivos zoo-
morfos e antropomorfos, tendo seus painéis de composição monocromática e bicromática. As técnicas utilizadas nas
pinturas são: impressão das mãos, utilização do próprio dedo e uso de instrumentos no auxílio á pintura.

Protasio Paulo Langer - UFGD


Conhecimentos e encobrimentos: indígenas e caboclos na historiografia do Sudoeste Paranaense
O presente trabalho propõe uma análise do discurso historiográfico sobre as alteridades étnicas que, nas décadas de ~39
40 e 50 do século XX, se defrontaram com o fluxo de colonização sulista, no Sudoeste do Paraná. Analisaremos, \f!5!)
portanto, os clichês e os postulados que permeiam o conhecimento acadêmico e que corroboram o ocultamento e a
depreciação dos grupos indígenas e dos caboclos envolvidos pelas intensas transformações instauradas pela expan-
são do espaço colonial movido por familias eurobrasileiras procedentes do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina.

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313
40. História Política: pensamento e interpretação
Tiago Losso (CESUSC) e (UFSC)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h ás 18h)

Ariston Azevedo - UEM


A sociologia antropocêntrica de Guerreiro Ramos
Esta pesquisa parte da sugestão de Mark Bevir para que os intérpretes das obras dos autores do passado, antes de
preocuparem-se com as contradições, inconsistências e incoerências de determinado autor, procurem orientar sua
análise pela pressuposição de coerência entre as crenças sustentadas pelo autor, tanto sincronicamente, quanto ao
longo do tempo de produção de sua obra. Neste sentido, perguntamos: que convicções perpassaram os escritos
poéticos, literários, sociológicos, politicos, além dos discursos parlamentares e administrativos, elaborados por Guer-
reiro Ramos ao longo de seus mais de quarenta anos de produção intelectual? Para levar a cabo a resposta a esta
pergunta, procuramos nos centrar nas inter-relações entre alguns conceitos fundamentais para o autor e em algumas
crenças e posicionamentos afirmados e reafirmados por ele ao longo de sua trajetória. Aanálise desses posicionamen-
tos nos leva a sustentar que em Guerreiro Ramos é possível encontrar uma teorização da vida humana associada
marcantemente antropocêntrica.

Wilma Peres Costa - UNIFESP


Chateaubriand e a América: pensamento e ação política (1815-1822)
Estudo sobre os escritos de Chateaubriand referentes à emergência das nações da América, no contexto de sua ação
como diplomata, pensador político e construtor de uma nova percepção do tempo histórico. É dada ênfase à sua
atuação no Congresso de Verona (1822), quando se definiu a intervenção francesa na Espanha e a restauração do
Absolutismo. Decisões fundamentais foram tomadas nesse congresso, referentes também ao tráfico de escravos.

Marcos Alves Valente - UFSC


Celso Furtado, Republicanismo e Liberdade Política no Brasil pré-64
O presente trabalho propõe uma interpretação política dos principais textos produzidos por Celso Furtado no período
de 1956 a 1965. Recorre à orientação metodológica fornecida pelo contextualismo lingüístico, surgido nos anos ses-
senta a partir dos trabalhos pioneiros de Quentin Skinner, John Pocock e John Dunn, da chamada Escola de Cambrid-
ge de Pensamento Político. O objetivo é interpretar sua obra no contexto de crise política e econômica, e indagar qual
a concepção de liberdade depreende-se de seus textos, e avaliar em que medida é possivel concebê-Ia como uma
economia política neo-republicana. Procura-se mostrar que ao escrever seus textos Celso Furtado tinha a clara inten-
ção de intervir no debate político, valorizar o papel do conflito mediado pelas instituições em contraposição ao perigo
de autoritarismo presente no debate ideológico protagonizado pelo liberalismo econômico e pelo marxismo-Ieninismo
nos anos que antecederam o Golpe de 1964. Conclui-se que Furtado promoveu uma transformação na economia
política da CEPAL, recorrendo aos valores humanistas e a uma concepção de liberdade política afeita ao republicanis-
mo, como recurso retórico que julgou capaz de persuadir os atores relevantes da época para a importância de evitar a
ruptura institucional da República brasileira.

Adriano Nervo Codato - UFPR


Entre elites e instituições: a favor de uma revisão conceitual e empirica da dinâmica politica do Estado Novo
O historiador Boris Fausto, em seus Pequenos ensaios da história da República (1889-1945), publicados em 1972,
notou que nas visões difundidas sobre o Estado Novo 'A afirmação de que entre os dois pólos (Estado/Sociedade) o
primeiro se tornou dominante é lugar comum. O que importa saber - e para isso nos faltam estudos - é como se
efetivou concretamente esta dominância, precisando-se o grau de autonomia do Estado diante das diferentes pres-
sões articuladas pela sociedade'. Sem abandonar completamente, mas também sem enfrentar diretamente essa agenda
de pesquisa, a historiografia sobre o período 1937-1945 voltou-se desde então muito mais para temas da História
Cultural e da História Social (ou mesmo da História Econômica) do que para os problemas tradicionais da História
Política. O objetivo desta comunicação é analisar a relação entre as elites políticas regionais e as instituições nacio-
nais a fim de compreender e explicar as formas concretas de representação de interesses políticos durante o Estado
Novo e, por essa via, (re)discutir dois tipos de problemas: um de tipo conceitual, ligado à questão da 'autonomia do
Estado' e á noção de 'Estado de compromisso'; outro de tipo empírico, ligado á questão do federalismo e da centrali-
zação.

Luciano Aronne de Abreu - PUC-RS


A questão do federalismo no Estado Novo: ideologia e prática política
Se, na fase de implantação e consolidação do regime Republicano, acreditava-se que o sistema federativo seria capaz
de eliminar os males do antigo centralismo monárquico, dada a imensa diversidade regional do país, logo começaram

314
a aparecer as primeiras críticas ao novo regime e ao próprio federalismo, que passou a ser visto por muitos como ~
sinônimo de provincialismo e de defesa de interesses locais, em detrimento da união nacional. Oliveira Viana, por ~
exemplo, dizia que em 1822 o Brasil fundou um Império, não uma nação e, portanto, não se formou no país nenhum
objetivo nacional a realizar ou a defender; desse modo, conclui ele, a vida política e os partidos no Brasil não tem
nenhum sentimento nacional, sendo apenas o reflexo de interesses locais, provincialismos e partidarismos regionais. o
Tais idéias, que tiveram grande penetração e difusão nos meios intelectuais e políticos nacionais a partir dos anos 20, .~.
serviram de base e de justificativa ideológica ao Estado Novo e ás suas práticas políticas centralistas e autoritárias, ~
desta vez em detrimento do federalismo e das práticas politicas de cunho localista , ainda que estas não tenham sido c.
completamente eliminadas. Busca-se, então, compreender as principais questões políticas e ideológicas relativas ao .s ~
federalismo nos anos 30. Q.)

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Luiz Alberto Grijó - UFRGS E
A fundação das escolas superiores no Rio Grande do Sul no novo contexto federativo republicano C'C

A partir da Constituição Federal de 1891 e da chamada politica dos governadores (segundo a qual os estados maiores
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da Federação se impunham frente aos demais numa relação entre o centro e as periferias a partir da relativa autono- ~
mia das unidades estaduais capitaneadas por seus governadores, os quais o centro utilizava como mediadores entre ~'='
ele, os oligarcas regionais e a população em geral) abriu~se espaço para estados economicamente não muito impor- ~
tantes e politicamente menos influentes afirmarem uma relativa autonomia. Os líderes do Partido Republicano Rio- ·ê
Grandense (PRR) se propunham justamente a garantir para o Rio Grande do Sul uma tal posição. Para isto, a forma- ~~
ção de uma elite culturalmente instrumentalizada para traduzir pOliticamente os posicionamentos do governo estadual :c
frente ao central foi muito importante, o que explica em parte o apoio dado por Júlio de Castilhos e Borges de Medeiros
á instalação de cursos superiores no estado e, principalmente, do curso de direito. Isso a despeito do que pregava a
ideologia positivista, que explicitamente influenciava a ação destes lideres e que desprezava os títulos "escolásticos' e
se opunha ao uso de recursos públicos para a manutenção de instituições de ensino superior.

João Paulo Rodrigues - UNESP


Autonomia versus Centralização: O caso da "Revolução Constitucionalista de 1932"
A luta de São Paulo insurrecto, em 1932, desencadeou-se poucos anos depois da tomada do poder federal pela
'Aliança Liberal', da qual fizeram parte grupos do próprio estado, na ocasião militando ao lado do 'tenentismo' e de
Getúlio Vargas em prol a dissolução da 'República Velha'. A mudança de grupos na direção nacional, contudo, foi
acompanhada pela acentuada centralização do regime federativo, em detrimento á autonomia estadual, transforma-
ção que de forma alguma ocorreu em ambiente pacifico, como testemunha a reação armada de São Paulo contra os
aliados de outrora. Almeja-se, por meio do estudo do levante de 1932, discutir os novos sentidos que a questão do
federalismo assumiu nos anos inaugurais da década de 1930, conjuntura decisiva no cenário nacional que, em última
instância, redundaria na instauração do Estado Novo. Interessa, igualmente, averiguar as especificidades de um movi-
mento que, sob a capa da autonomia regional, se apresentava como caminho alternativo ao regime que se erigia.

I 17/07 - Terça-feira - Tarde (14h ás 18h) I


Oaniella de Almeida Moura· UFPA
Os festejos republicanos paraenses (1890)
Passado um ano do Golpe Militar que inaugurou a República no Brasil e sua chamada Aclamação no Pará, o clima de
festa para os republicanos históricos era visivel ao planejarem com ostentação as comemorações cívicas, visando a
participação de toda a sociedade. Por outro lado, a oposição se demonstrava imbatível em evidenciar os pontos que
consideravam negativos do novo regime, bem como as falhas existentes no programa das festas patrióticas, em
especial, o sentimento e a forma com que o povo participou. Nesse confronto de afirmação e negação os festejos
republicanos foram organizados e apresentados nas ruas de Belém nos dias 15 e 16 de novembro de 1890. As razões
de tanta grandeza e propaganda intensa, quem participou e como a imprensa paraense da época noticiou esses fatos
serão os questionamentos levantados nesse artigo.

Cesar Augusto Barcellos Guazzelli . UFRGS


Federação ou confederação? Visões do federalismo na imprensa da República Rio·Grandense
A imprensa foi considerada pelos líderes da República Rio-Grandense como uma "arma" essencial para divulgação e
legitimação dos anseios por autonomia que motivaram sua luta contra o Império do Brasil no decênio 1835-1845.
Especialmente no jornal "O Povo', foi marcante a defesa das idéias republicanas e federalistas, afirmadas como con-
dição para a superação da herança colonial; neste sentido, os redatores insistiam na continuidade de um processo que
iniciara na independência das treze colônias norte-americanas e sua organização nacional como Estados Unidos da
América, e passava pelo movimento de Maio de 1810 que culminara nas repúblicas platinas. Ao contrário disto, o

315
Império do Brasil, monárquico e centralizador, representava a preservação do Antigo Regime e um caráter opressor
intolerável para os tempos que se viviam. Resgatar as concepções de federalismo propaladas pela imprensa farroupi-
lha, tendo em vista as referências evocadas pelos seus redatores das experiências norte-americana e platina, possibi-
lita uma reflexão sobre os limites destas propostas: a República Rio-Grandense foi pensada como 'federativa' ou
meramente "confederativa'? Quais eram, pois, as chances de afirmação no complicado cenário político na fronteira do
Império com os paises do Rio da Prata.

Artur José Renda Vitorino - PUC-Campinas


Economia Política, Federalismo e Elites Regionais: Os Impactos Sócio-Econômicos da Política Financeira da
Corte Imperial na Província de São Paulo, décadas 1850-1880
Na exposição procuraremos mostrar que historicamente a região "Oeste Paulista' conseguiu efetuar uma oposição ao
regime centralizado da monarquia a partir de sua independência financeira. O surgimento de novas áreas de expansão
econômica na Província de São Paulo, em especial a produção cafeicultora na região denominada 'Oeste Paulista', e
a sua manifestação a favor de uma república federativa, com uma autonomia das províncias o suficiente para que
pudessem arrecadar impostos, formular seu próprio programa de imigração, criar sua força militar e contratar emprés-
timos no exterior foi um projeto político almejado a partir do momento em que foram criadas as condições materiais
dessa região para se desligar das amarras político-financeiras erguidas pela corte Imperial. O regime centralizado da
monarquia estruturado politicamente pelos Saquaremas na década de 1840 conseguiu ainda mais força a partir de
1850, com o fim do tráfico negreiro, momento em que a vida urbana da Corte ganha caracteristicas próprias, com a
circulação subjugando a produção.

Débora Kfuri Regal- PU C-Rio


A estratégia varguista nas eleiçôes presidenciais de 1950: um caso de sucesso
O objetivo desta pesquisa é acompanhar as etapas da campanha de Getúlio Vargas às eleições presidenciais de 1950.
Tendo chegado à presidência duas vezes através de golpes de Estado e uma vez por voto indireto, Vargas voltaria ao
poder através do voto popular, graças a uma campanha inteligente e moderna. Em menos de dois meses, sua comitiva
visitou todas as capitais do país, o Distrito Federal, e mais de 50 cidades, estabelecendo uma comunicação direta
entre candidato e eleitores. Em cerca de 80 discursos, Vargas apresentou um projeto politico nacional, entremeado por
assuntos de interesse local, valorizando a participação de cada Estado no crescimento da Federação como um todo.
O sucesso no pleito de 1950 foi em parte conseqüência de um cuidadoso trabalho de construção de sua imagem,
realizado por Vargas desde seu primeiro mandato. Apesar de muitos autores concordarem que o Marketing político
surgiu no Brasil na década de 1980, Vargas, utilizou procedimentos sistemáticos de comunicação e propaganda eleito-
ral. Ações direcionadas a um público-alvo e uso inteligente dos meios de comunicação são técnicas da estratégia
varguista e também do que hoje chamamos de marketing politico.

Cássio Alan Abreu Albernaz - UFRGS


Entre o Nacional e o Regional: aspectos do pensamento político de Alberto Pasqualini durante a reorganiza-
ção política e partidária (1945)
A historiografia, de uma forma geral, afirma que o Estado Novo tinha como uma de suas diretrizes a supressão da idéia
de regionalismo em prol de um Estado Unitário para acabar com os resquicios da República Velha. Entretanto, boa
parte da produção acadêmica mais atual tem mostrado que não há uma ruptura absoluta do Estado Novo com as
influências regionais e oligárquicas. Durante a crise estado-novista é outorgado Decreto Lei n° 7.856, de 28 de maio de
1945, que declarava as condições para a reorganização partidária. Entre essas destacava-se a orientação para que as
agremiações partidárias, obrigatoriamente, possuíssem representação em âmbito nacional (adesão de 10 mil eleito-
res distribuídos, pelo menos, em 5 estados com no minimo 500 adeptos). Dessa forma, o Decreto Lei marcava um
novo combate aos regionalismos. Esse trabalho tem por objetivo analisar o pensamento político de Alberto Pasqua-
lini durante a conjuntura de 1945. Busca-se através do pensamento polítiCO de Pasqualini - claramente marcado
pela ambivalência nacional/regional- subsidios para a compreensão da reestruturação politica e partidária no Rio
Grande do Sul.

Roni César Andrade de Araújo - UFPB


Imprensa, Política e História do Maranhão nas páginas do jornal 'O ARGOS DA LEI': a idéia de nação nos
discursos de Odorico Mendes
O periódico 'O Argos da Lei', primeiro jornal maranhense a ser escrito por um brasileiro: o poeta, político e jornalista
Odorico Mendes, circulou em São Luis, capital da Província do Maranhão, nos primeiros meses do ano de 1825. Este
periódico representou um importante meio para a divulgação de idéias favoráveis à causa brasileira, em tempos onde
a imprensa brasileira - e em particular a maranhense - ainda dava os primeiros passos. Os temores, os anseios, as
esperanças e o antilusitanismo determinavam o sentido das notícias e fatos divulgados. O discurso liberal-moderado,
expresso em artigos que tratavam de temas como Constituição, Liberdade e Democracia, apresentava-se no intuito de

316
criar uma idéia da nação que se esperava construir. Escrito com paixão, "O Argos da Lei", típico jornal do século XIX, foi ~40
o espaço onde Odorico deixou registrado muito da realidade vivida pela sociedade maranhense do primeiro quartel ~
daquele século.

Adilson Júnior Ishihara Brito - UFPE o


Retóricas da Hydra: papéis. impressos e revolução na cultura política popular no Grão·Pará da independência. '~.
Este trabalho tem como objetivo discutir indícios de uma cultura política popular e suas relações com as práticas ~
políticas que estavam sendo forjadas nos circulos letrados do Grão-Pará. A produção e circulação de papéis e impres- E-
50S com a retórica liberal produziram inúmeras interpretações do processo político vigente r inclusive com grande .~
impacto nas atitudes cotidianas dos homens e mulheres comuns, principalmente se inseridos no contexto militarizado Q,)

da sociedade de Belém e do interior da provincia, que, difusamente, expressavam suas opiniões políticas por entre o Bc::::
controle das autoridades públicas. As retóricas liberais e anti-colonialistas, portanto, não fizeram parte somente dos E Q,)

círculos letrados da sociedade paraense, mas se espraiaram por cantos ainda pouco estudados pela historiografia da cro
independência brasileira.
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Murilo Eugenío Bonze Santos - UERJ ~'"
Dinâmica política no Rio de Janeiro: um olhar sobre a Câmara Municipal e suas interações com a cidade ~
durante o Segundo Reinado ·ê
Este trabalho visa discutir o que era essa instituição política, a Cãmara Municipal da cidade do Rio de Janeiro no ~~
período imperial, com ênfase no Segundo Reinado. Durante o reinado de D. Pedro 11, muitas reformas e disputas ::r::
politicas ocorreram, o que nos traz a curiosidade de saber como a política local era tratada, a política além dos grandes
atores e dos temas nacionais. Tal estudo torna-se relevante na medida em que não há pesquisas acerca da estrutura
e funcionamento da Câmara Municipal do Rio de Janeiro nessa fase da nossa história. Assim, a análise dessa questão
poderá contribuir para um melhor entendimento do que foi a politica carioca durante o império, e demonstrar como
ocorriam as práticas politicas na cidade, levando em conta a participação tanto dos agentes que atuavam diretamente
na Câmara, os vereadores, quanto ao conjunto dos habitantes da cidade. As eleições para o preenchimento das vagas
de vereadores são um momento privilegiado para se entender as disputas políticas da época, mas nos interessa saber
também como eram as relações dos vereadores eleitos com os habitantes da cidade do Rio de Janeiro e as formas de
comunicação que existiam entre eles, além das questões caras aos habitantes da cidade nesse momento histórico.

I 18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h) I


Carlos André Macêdo Cavalcanti· UFPB
A Vocação Política no Imaginário da Ciência Moderna: Maquiavel e outros paradigmas
Uma exaurida ciência racionalista ainda nos permeia. Vem de uma aplicação do mecanicismo das 'ciências da nature-
za' às humanidades. Seu legado tornou-se incongruente com os novos - já não tão novos! - saberes relativistas e
quânticos da própria Física. Mas ainda é ele, o velho legado, que faz com que muitos imaginem ser possível explicar?
"evolução' da política na sua totalidade. Será que Maquiavel teve esta ilusão em mente ao escrever O Príncipe? E
provável que não. Não era uma questão tipica da sua época. Seu interesse prático está muito mais para constatar a
simbologia e o significado das ações políticas e aplicá-los às normas de um manual de conduta. Depois dele, porém,
muitas ciências em versões prometeicas (a sociológica, a política, a histórica, a antropológica, etc.) tentaram buscar,
majoritariamente, o desvendamento dos "mistérios da natureza" da política. E mais: o fizeram - uns ainda fazem - na
maior parte das vezes com um ar de aparente superioridade ética que pretensamente conferiria a tais estudos cientí-
ficos uma autoridade escatológica. O debate entre a postura menos permeável de um saber científico cosmopolita
pretensamente universal e a postura metanóica - ou aproximadas - já vem provocando muito interesse: há valor
universal ou não no paradigma iluminista?

Ricardo Silva· UFSC


O significado além do texto: contexto e intencionalidade na história das idéias
No curso das últimas décadas, diversas tendências intelectuais têm difundido a sugestão de que os estudiosos da
história intelectual devem ocupar-se exclusivamente da "textualidade" das idéias legadas do passado. Em defesa do
principio da autonomia semântica do texto, este novo textualismo têm denunciado: 1) a inocuidade dos esforços
interpretativos que buscam compreender o significado dos textos a partir da reconstrução de seus respectivos contex-
tos históricos; 2) a impossibilidade de resgate das "intenções autorais" subjacentes à escritura ou publicação dos
textos. Este trabalho destina-se ao exame de abordagens contemporâneas que têm procurado responder a estas
denúncias, reafirmando a importância de se olhar além dos limites do texto para uma adequada compreensão do
significado das crenças expressas no passado. Após analisarmos alguns dos argumentos centrais do "caso antiinten-
cionalista", que encontra seu apogeu na célebre máxima de Derrida de que "não há nada além do texto', examinare-

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mos, comparativamente, os alcances e limites de duas abordagens atuais - parcialmente concorrentes - empenhadas
na defesa dos pressupostos contextualistas e intencionalistas na história das idéias: o 'contextualismo lingüistico' de
Quentin Skinner e o "novo intencionalismo' de Mark 8evir.

Alexandre Vieira - UFSC


Durkheim, pensamento social e político e a onda neo-republicana
Há pouco mais de 30 anos a teoria social e política do ocidente vem sofrendo uma importante interferência acadêmica
resultante de uma reação anglófona a hegemonia francesa no campo da história das idéias e das teorias do significa-
do. Antes de Marx e Weber, Emile Durkheim (1858-1917), ao que nos parece, tem despertado um inusitado interesse
nessa nova onda de estudos centrados nos contextos linguisticos, nas motivações e nas intenções dos autores. Discu-
tiremos aqui com estudiosos como Muchielli, Richter e La Capra uma série de questões teóricas e metodológicas que
tem sugerido que Durkheim mais do que ter sido um pensador liberal e eminente catedrático foi um teórico e um ativista
da terceira república francesa. Ou, mais do que um pensador alinhado com as positividades dos saberes, seria Du-
rkheim um filósofo social preocupado com a tradição pOlítica da ilustração e suas raízes ontogênicas. Ao fazer isso,
esperamos aproximar da teoria social e política brasileira uma agenda de investigação sobre um determinado modo de
encarar a história do pensamento que se oponha a história das idéias e a sociologia da ciência, uma vez entendidas
como aquelas que até então tem se ocupado com a descrição estrutural e funcionalista da história e das dinâmicas
internas das 'disciplinas científicas'.

Gisele Oliveira Ayres Barbosa - Univ. Severino Sombra I Centro Univ. Geraldo di Biasi
Reflexões acerca da participação popular na República Romana: a contribuição da multidisciplinaridade
A República Romana era uma democracia na qual o poder era exercido pelos cidadãos que realmente iam escutar os
discursos e votar ou um governo dominado pela aristocracia como sempre se acreditou? O objetivo do trabalho é
apresentar algumas das mais recentes teorias que os autores têm elaborado para responder a esta pergunta e como
outras disciplinas como a Arqueologia, a Topografia e a Sociologia vêm ajudando os historiadores em seus estudos.

Leticia Borges Nedel - Cpdoc/FGV


Os papéis de Alzira Vargas: biografia política de um arquivo pessoal
A comunicação explora as condições de acumulação, transmissão e circulação dos acervos textuais reunidos por
Alzira Vargas do Amaral Peixoto, desde o período em que se mantiveram em ambíente privativo até a cessão e
transferência de seu arquivo pessoal e familiar ao Cpdoc/FGV. Tendo em vista o papel definidor de condutas, estraté-
gias e inserções sociais adquirido pela atividade arquivística na trajetória da titular, ressalta-se, de um lado, a função
mediadora exercida por esses suportes materiais de memória no exercicio, pela personagem, de uma atividade política de
bastidores, desempenhada dentro e fora do meio familiar. De outra parte, recuperam-se os laços que a 'guardiã' da
memória varguista passa a entreter com praticantes da disciplina histórica, em especial as polêmicas entre pesquisadores
'nacionais' e 'brasilianistas' surgidas no curso dessa aproximação. Ao abordar as tensões surgidas na interação entre
depositários de acervos auto-referenciais e historiadores, a comunicação propÕ€-se a problematizar não só os diferentes
'sentidos da idéia de verdade' constituintes das relações entre história e memória, mas os constrangimentos de ordem
técnica e política implicados nas relações dos pesquisadores acadêmicos com suas fontes e objetos de análise.

Antônio Manoel Elíbio Júnior - UNISUL


Gestão Política e Confrontações Pessoais: Trocas epistolares no Brasil de 1930
As questões que orientam essa comunicação giram em torno da gestão política, tendo como objeto de análise a
correspondência trocada entre o Governo Vargas e o Governador do Rio Grande do Sul José Antônio Flores da Cunha.
Nesse sentido, as perguntas às quais procuramos responder podem ser formuladas nos seguintes termos: Quais eram
os liames políticos estabelecidos por Flores da Cunha e o Governo Federal? Como situar a gestão política de Flores da
Cunha no âmbito dos Partidos Políticos do Rio Grande do Sul? Quais os embates travados pelo político nos momentos
da Revolução de 1930, Revolução Constitucionalista de 1932, durante os trabalhos da Assembléia Nacional Constitu-
inte em 1934 e a partir da decretação do Estado de Sitio em 1935? Quais as fronteiras e relações entre a gestão
governamental e os dissabores pessoais presentes na escrita epistolar?

Ricardo de Oliveira - UFRRJ


O Amigo do Rei. O problema do valímento e do favoritismo Régio no Pensamento Político Ibérico do Antigo
Regime
Durante os séculos XVI e XVII, a problemática do valimento esteve presente de maneira significativa no pensamento
político europeu. Desde textos dedicados à educação do príncipe a tratados teológicos ou políticos a temática foi
debatida e constituiu-se em verdadeiro topos discursivo do período. Filósofos, teólogos, políticos, e letrados estão
entre aqueles que dedicaram parte de sua reflexão para discutir a questão dos validos, privados ou favoritos enquanto
problema relativo à constituição do poder monárquico. Para atacar ou reprovar a presença de validos junto à esfera

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central do poder, seja justamente com a intenção oposta, isto é, legitimar ou exaltar o valimento ou algum favorito em ~40
particular, o que se pode perceber é a grande importância que a temática ocupou no pensamento político do período, ~
em particular no Mundo Ibérico. Esta comunicação pretende problematizar algumas dimensões conceiturais e histori-
ográficas desse fenômeno no pensamento político Ibérico entre os séculos XVI e XVII.

I 19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h ás 16h30min) I


Isadora Volpato Curi . USP
O debate acerca dos conceitos de populismo e a noção de manipulação na historiografia contemporânea w
brasileira .'3
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A discussão a respeito do conceito de populismo é controversa. Os autores que se tornaram clássicos sobre esse tema E
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no Brasil, como Francisco Weffort (O populismo na pOlítica brasileira, 1978) e Octávio lanni (O colapso do populismo C
no Brasil, 1968), partem da idéia de que o Estado brasileiro, em determinado período do século XX, possuía caráter =.
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populista, dada a sua forma peculiar de atuar sobre a sociedade. Através do instrumento da manipulação, o Estado, ô
nele alocadas as classes dominantes, faria valer seus interesses com uma política social populista, dando-lhes a :e
feição de interesse geral. A questão da manipulação servirá de base ao presente estudo. Pretende-se analisar em que ~
medida pode ser aceita como conceito válido para uma teoria do populismo. Em primeiro lugar, será feita análise do ro
tema do populismo para Weffort. Num segundo momento, serão apresentados os autores que discordam do conceito -~
para a realidade brasileira. Por fim, pretende-se introduzir as primeiras noções acerca da reconstrução do termo popu- :r:
lismo para a política nacional atual.

Tiago Losso - CESUSC


Estado e Sociedade: apontamentos para a compreensão do papel assumido pelo Estado no pensamento soei·
ai brasileiro
A configuração do Estado é um tema recorrente no pensamento social brasileiro. Suas prerrogativas e sua relação com
outras dimensões sociais são dois pontos que mereceram a atenção de um conjunto razoável de intérpretes, resultan-
do em escritos que pretenderam compreender e, por vezes, propor alterações da realidade brasileira. Deste conjunto
bibliográfico podem ser destacados dois homens de letras, que apesar de suas discordâncias, ao longo da primeira
metade do século XX, influenciaram largamente a reflexão e a prática políticas brasileiras. Ambos portadores de
perspectivas conservadoras, Plínio Salgado e Oliveira Vianna dedicaram sua atenção á conformação do aparato esta-
tal, creditando a esta engenharia política um papel singular na conformação da sociedade. Esta pesquisa pretende
contrastar os escritos destes dois intérpretes do Brasil, circunstanciando e contextualizando sua produção, na procura
de significados não somente para suas elaborações discursivas acerca da dimensão do Estado brasileiro, mas tam-
bém para a configuração estatal que foi historicamente elaborada ao longo do período em que se desenrola este
debate.

Françoise Jean de Oliveira Souza - UERJ


Religião e Política no Primeiro reinado e regênicas: a atuação dos padres politicos no contexto de construção
do Estado nacional brasileiro
Os anos transcorridos entre a independência do Brasil e o término da experiência regencial (1822-1840) caracteriza-
ram-se pelo processo de construção das bases do Estado brasileiro. A pesquisa sobre a qual me debruço visa analisar
a atuação política do clero neste momento de formação do Estado Imperial, demonstrando como os padres-politicos
estabeleceram diálogos com os acontecimentos da época, marcados pelas discussões em torno da definição das
linhas mestras da nova ordem que se formava. Em particular, pretendo discutir o peso político das questões eclesiás-
ticas e o lugar ocupado por estas nos debates parlamentares, na imprensa e demais espaços de manifestação da
opinião pública. Trata-se de um estudo prosopográfico que busca levantar a origem, formação e trajetória política do
conjunto composto pelo clero e que procura identificar as correntes de pensamento existentes no seu interior e as
matrizes filosóficas que embasaram a formação de diferentes segmentos políticos-religiosos, como o catolicismo libe-
rai e o catolicismo conservador, percebendo em que medida esses discursos religiosos forneceram contornos para a
constituição de determinadas culturas politicas brasileiras.

I 20/07 - Sexta-feira - Manhã (10h30min ás 12h30min) I


Carla Menegat· UFRGS
Ecos federalistas no Sul da América do Sul: o liberalismo e um estadista na República Riograndense
Domingos José de Almeida foi encarregado de prover a República Riograndense de um aparato estatal, ao ser nome-
ado Ministro do Interior. Além de um precioso conjunto de documentos privados que nos permitem percorrer o pensa-

319
mento desse comerciante de grosso trato, charqueador e estancieiro, temos o jornal republicano: O Povo. Mesmo que
como redator conste Luigi Rossetti, praticarnente todo o noticiário nacional, a matéria doutrinária, necrológicos, esta-
vam a cargo da pena de Almeida. Tal fato nos permite captar do pensamento desse ilustrado autodidata as aspirações
para a nascente República, as influências e especialmente a rede de contatos que permitiam a circulação de ideais.
Especialmente cabe destacar que a versão farroupilha para os fatos passa pelo filtro de Almeida. Propomos percorrer
essas páginas buscando as concepções associadas ao federalismo, como elas se expressam na revolta contra o
Império e demonstram aquilo que se tornaria uma constante na relação entre centro e província: uma tensão que oscila
entre a unidade e a crise.

Wlaumir Doniseti de Souza - Centro Universitário Barão de Mauá


As interfaces e continuidades dos distritos eleitorais e do federalismo
O sistema eleitoral distrital no Império e na Primeira República, enquanto mecanismo intermediário entre o poder local
e o regional-distrial-central e/ou Estado-"União' é o foco de análise deste trabalho. Compreender o embate das forças
descentralizadoras e centralizadoras na demanda de construção e reconstrução dos distritos e o papel desempenhado
no federalismo são as marcas deste trabalho em meio á análise do processo histórico de avanço do capitalismo e do
Estado. Não por acaso os distritos eleitorais existentes no Império foram parte da bandeira do Partido Republicano.
Reconheciam os distritos eleitorais a existência de grupos organizados macrorregionalmente que poderiam suavizar
os impactos dissidentes no centro das cisões. O sistema distrital reconhecia a diversidade de interesses das classes
dominantes e viabilizava maior estabilidade nas posições ocupadas nos Estados e na 'União'. Os distritos organiza-
vam, legitimavam e conduziam a interdependência do poder local ao grupo dominante da circunscrição distrital e desta
á relações hierarquizadas entre os Estados na Federação em proveito da manutenção e aprimoramento da Política
dos Coronéis e dos Governadores. Destarte, analisar-se-á o papel das estruturas nas dinâmicas polítícas dos atores
sociais.

Álvaro Antonio Klafke - UFRGS


Pelo Império, contra os farrapos: a centralização em construção desde a província
A construção do Estado imperial brasileiro não pode ser vista apenas como resultado da atividade centralizadora das
elites da Corte, pois também corresponde às demandas locais - e ao trabalho - de grupos que, nas provincias, viam na
unificação do Império uma alternativa que correspondia aos seus anseios, projetos ou interesses. Sob este prisma, a
proposta do trabalho é analisar as posturas dos agentes que, na província do Rio Grande do Sul, desde o início do
problemático período regencial até o final da Revolução Farroupilha, colocaram-se no campo contrário ao das preten-
sões autonomistas que embasavam as posições dos farrapos. Para este objetivo, a análise da imprensa periódíca
torna-se imprescindivel, pois os jornais representavam um espaço privilegiado para a exteriorização da crítica, da
pressão política e da teorização acerca da estruturação do Estado e da Nação que se constituía. A leitura dos periódí-
cos 'legalistas' permíte discutir os fundamentos do discurso de uma parcela da elite local que se posicionava em
defesa do Império e, neste sentido, para o bem e para o mal, exerceu papel importante no processo de constituição e
consolidação da Nação e das noções de cidadania a ela associadas.

I 20/07 - Sexta-feira - Tarde (14h às 18h) I


César Daniel de Assis Rolim - FAPA
As relações de Leonel Brizola com os setores subalternos das Forças Armadas Brasileiras entre 1959-1964
A ascensão deA ascensão de Leonel Brizola ao governo do Estado do Rio Grande do Sul, em 1959, significou o início
de uma administração que se tornou modelo para o trabalhismo no Brasil. Com forte inserção no meio urbano, Brizola
conseguiu articular ligações corn parte significativa das camadas médias da população. Esse ex-governador acredita-
va no forte poder de mobilização de setores das Forças Armadas. A pesquisa se propõe analisar as relações desse
político com os setores subalternos das Forças Armadas Brasileiras, em especial o círculo dos sargentos, interessados
em maior participação política, durante o período em que esteve no comando do Executivo do Rio Grande do Sul
(1959-1962), até o golpe civil-militar de 1964. Busca-se também analisar a conjuntura político-partidária sul-riogran-
dense do período delimitado, verificar se a influência de Brizola em setores militares proporcionou uma divisão na
instituição das Forças Armadas Brasileiras nesse periodo, analisar as conseqüências para o círculo dos sargentos de
seu apoio para as ações politicas de Brizola e identificar as conseqüências políticas desse apoio para as ações do
mesmo durante sua gestão até o final do governo Goulart.

Carlos Eduardo Moura de Mendonça - UFSC


A Ação Popular (AP) e o I Encontro Nacional Operário
No ano de 1966 a organização de esquerda Ação Popular (AP) realizou o I Encontro Nacional Operário. Tinha como
objetivo indicar a posição a ser tomada por seus militantes frente aos trabalhadores urbanos, bem como, avaliar o

320
potencial quantitativo do operariado no interior da organização indicando as condições em que estavam sendo efetu- ~
ados os trabalhos de luta contra a ditadura militar nas diferentes regiões em que se encontrava dividida. Pretendemos ~
nesse trabalho analisar os resultados do encontro relacionando-os com a conjuntura do período. Valemo-nos para isso
do relatório do Encontro. Este é parte integrante de documentação gerada no interior da AP no mesmo ano e distribu-
ída para os diversos comandos regionais.

Bianca Silva Costa - PUCRS


Revista(ando) o passado através de uma política "esclarecedora": o discurso da Reforma Universitária Brasi·
leira através do "MEC em revista" e da "Veja" (1968·1970)
Esta pesquisa pretende analisar de que forma o regime ditatorial brasileiro utilizou o "MEC em revista" e a 'Veja' para QJ

divulgar a sua nova política de ensino superior entre 1968-70. Para responder este questionamento almeja-se investi- 8co
gar a elaboração e a aplicação da Reforma Universitária, enfatizando os princípios que nortearam as mesmas; relaci- E QJ

onar o contexto internacional com a política ditatorial brasileira, enfatizando as relações existentes entre o Brasil e os co
C
V>

EUA; observar a posição editorial das revistas do "MEC" e "VEJA' referente á Reforma de 1968, buscando perceber se o.. QJ

houve modificações no discurso das mesmas; estabelecer possíveis comparações entre os conteúdos da Reforma de ~
68, apontando possíveis semelhanças e divergências nos artigos de ambas. A importância desta pesquisa encontra-se :~
no fato de trazer á tona a discussão sobre as fontes primárias selecionadas. Assim, este trabalho atuaria como apoio ~
aos profissionais da área histórica e educativa, que se dedicam a estudar o contexto da Ditadura Militar brasileira por .~
meio de sua política educacional de ensino superior e através dos meios de comunicação. ~~
::I:

Paulo Giovani Antonino Nunes - UFPB


Estado e Sociedade Civil na Paraíba na época da transição para democracia (1974-1985)
No Estado da Paraiba, devido a algumas de suas características, tais como: atraso econômico, cultura política oligár-
quica e autoritária, a sociedade civil é considerada frágil. No entanto, isto não impede que em determinadas conjuntu-
ras ela possa ter uma atuação contestadora da ordem vigente. Esta pesquisa pretende analisar a atuação política,
social e cultural da sociedade civil paraibana -Igreja, partidos políticos, sindicatos, associações de classe, movimentos
sociais, etc. - na época da transição para democracia no Brasil, com objetivo de verificar a importância da mesma para
a redemocratização do país. Também iremos observar a forma como o Estado, em nivel federal, estadual e municipal
reage ao desempenho da sociedade civil no território paraibano.
Palavras-Chave: Estado. Sociedade Civil. Democracia.

Viviane Maria Zeni·Leão - Universidade Tuiuti do Paraná


Mulheres comunistas e a institucionalização social dos sentidos
Com a presente preocupação sobre a importância do discurso jornalístico na formação do imaginário social, sedimen-
tação da memória passada e construção da memória futura, a proposta deste trabalho consiste em apresentar como as
mulheres que militavam no PCB, entre os anos de 1945 e 1956, utilizaram a imprensa partidária para veicular as suas
idéias, crenças e aspirações. Além disso discutiremos de que forma as militantes interpretavam a realidade em que
viviam, suas representações sociais e em que medida contribuíram para a efetivação do projeto utópico proposto pelo
Partido Comunista do Brasil.

Carla Brandalise . UFRGS


América do Sul e Itália frente aos conflitos africanos: a busca de alianças
Em meados de 1935, a Itália está decidida a tomar medidas drásticas com vistas a desenvolver sua política colonial e
sua expansão territorial na África oriental. Nesta conjuntura, o presente trabalho pretende analisar os meandros diplo-
máticos da guerra travada entre a Itália e a Etiópia, enfocando as negociações estabelecidas pelo país alpino no
sentido de legitimar suas ações através do aval da Sociedade das Nações (SDN). Frente á resistência de potências
européias, como a Inglaterra e a França, a Itália volta-se, entre outros países, para as nações latino-americanas que
participavam da SDN, em especial, para a Argentina, tida até então como um país aliado.

321
41. História, Ensino de História: memórias, saberes e práticas
Helenice Ciampi Ribeiro Fester (PUC·SP), e Maria Carolina Bovério Galzerani (UNICAMP)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h ás 18h) I
Helenice Ciampi Ribeiro Fester - PUC-SP
Formação de Professores: uma experiência de pesquisa
Segundo Mirian Warde e Marta Carvalho,"uma das principa'ls vertentes da produção historiográfica sobre a educação
no Brasil tem mantido forte interlocução com a historiografia francesa.Nessa interlocução ganha central idade a ques-
tão que Roger Chartier toma de Pierre Bourdier: ' o que as pessoas fazem com os modelos que lhe são impostos ou
com os objetos que lhe são distribuídos? '( Chartier, 1987) . Por outro lado, André Chervel questiona por que a escola
ensina o que ensina? Entendendo a escola como uma construção histórica, e o saber docente como multifacetário -
possível integrador dos saberes disciplinares ,curriculares, da formação acadêmica e da experiência de vida pessoal e
social - a exposição objetiva relatar o processo, metodologia e resultados parciais, de uma pesquisa em desenvolvi-
mento, com alunos de Historia, da graduação e do mestrado lato sensu da PUCSP. Subsidiam a pesquisa, para as
dimensões das práticas e saberes escolares, trabalhos de Chervel (1990) Dominique Julia ( 2001, 2002),Tardif (2002
),Forquin (1993), Lopes (1997,1999) e Monteiro ( 2002,2003).No trabalho sobre a memória, a pesquisa ancora-se nas
colocações de Walter Benjamin,Ecléa Bosi, Jeanne M.Gagnebin e Raphael Samuel, entre outros.

Claricia Otto • UFSC


Estágio Supervisionado: limites na articulação entre teoria e prática
O presente artigo, com base em memórias saberes e práticas docentes, apresenta uma reflexão sobre algumas dificul-
dades vivenciadas por estudantes de História, no campo de estágio. Entre outras, a principal dificuldade na prática de
alunos estagiários, como também de professores, é a ausência de articulação entre teoria e prática. Tal lacuna, em
parte, se deve a uma concepção tradicional de História, desconectada e deslocada da experiência pessoal e social de
alunos e docentes.

Alexandre Pianelli Godoy - UNICASTELO/COGEAE-PUC/SP


O estágio supervisionado em história como pesquisa: desafios de sua implantação no contexto da expansão
do ensino superior privado
O objetivo deste artigo é o de refletir sobre a possibilidade de se implantar no ensino superior privado uma forma
alternativa de estágio supervisionado em história que leve em consideração a quantidade de alunos, a qualidade da
aprendizagem e o regime de trabalho da maioria dos professores, coordenadores e orientadores de estágio nessas
instituições. Por meio de uma pesquisa de campo no espaço escolar e de anotações em um diário de bordo, os
estagiários deverão observar a 'cultura escolar' (Dominique Julia), os 'saberes docentes' (Maurice Tardiff), e os 'sabe-
res ensinados' (Jean-Claude Forquin) a fim de levantar possíveis temas de intervenção na escola e, posteriormente,
delimitar uma proposta e sua justificativa. A partir da definição da proposta, deverão elaborar um projeto de intervenção
na escola que revele a participação do estagiário no processo de ensino/aprendizagem articulando 'pesquisa biblio-
gráfica e de campo' (Selma Garrido Pimenta e Maria Socorro Lucena Lima). Por fim, poderão executar a intervenção
na escola que explicite tanto a sua formação como professor/pesquisador, ampliando assim o conceito de 'regência'
(Helenice Ciampi), quanto á especificidade do 'saber histórico escolar' (Ana Maria Monteiro).

Elison Antonio Paim - UNOCHAPECO


A pesquisa como um elemento constitutivo do fazer-se professor(a) de história
Esta comunicação expressa elementos parciais da tese de doutorado, 'Memórias e Experiências do Fazer-se Profes-
sor (a) de História'. Como professor de Prática de Ensino freqüentemente, tinha alguns retornos da parte dos ex-alunos
quanto ao que e como estavam trabalhando nas escolas - a sobrecarga de atividades e turmas, a falta de material e de
tempo para preparar aulas melhores, a necessidade de recorrem aos livros didáticos. Com a pesquisa busquei respos-
tas para o seguinte problema: Como os alunos egressos, do Curso de História da UNOESC - Chapecó nos anos de
1998 e 1999, avaliam as experiências vivenciadas na passagem de acadêmicos para profissionais? Como objetivo
central, defini: Perceber como é o fazer-se profissional dos professores de História em início de carreira. O principal
instrumento de coleta de informações foi através de depoimentos orais, gravados. Como ferramentas teóricas utilizei
as contribuições de Bakhtin, Benjamin, Thompson e Vygotsky para perceber os sujeitos na totalidade do seu fazer-se.
No dialogo com os professores foi possível captar elementos que vão além da idéia de formar professores, que há um
fazer -se professor.

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André Luiz Onghero - Escola Municipal de Educação Básica José Theobaldo Utizig
Práticas de ensino de EMC na região Oeste de Santa Catarina
Com este artigo, elaborado a partir de pesquisa em andamento para dissertação de mestrado, procuro abrir o debate
e possibilitar uma análise sobre as práticas de ensino da Educação Moral e Civica. Para isto, utilizo os depoimentos de
professores que lecionaram esta disciplina na região Oeste de Santa Catarina. As entrevistas permitem conhecer
diferentes narrativas sobre as experiências destes professores, que revelam diferentes formas de ministrar as aulas,
avaliar os alunos e realizar as atividades extra-classe, assim como suas formas particulares de interpretar a própria
experiência.

Roberto Elisalde - UBA


La ensenanza de la Historia en Bachilleratos populares. Experiencias en Movimientos Sociales de la Argenti-
na. (1998-2006)
En la Argentina y como respuesta a la crisis económica dei 2001 y ai retroceso dei estado en política social fueron
creciendo iniciativas educativas de carácter autogestivo en el terreno de los movimientos sociales. Instalando un
proceso, que ai igual que en el resto Latinoamérica colocaba en tensión y a la vez cuestionaba la función social de la
escuela, el rol dei estado, por ejemplo, en áreas habitualmente olvidadas como la educación de jóvenes y adultos. La
expresión de esta reacción fue lIevada a cabo por movimientos de desocupados, organizaciones de trabajadores que
recuperaron sus fábricas y un amplio abanico de organizaciones territoriales que desplegaron tareas de indole comu-
nitaria, construyendo y dando cuenta de las demandas y necesidades de la pOblación de sus barrios, mayoritariamente
con necesidades básicas insatisfechas, a la vez de manifestarse contrarios a las reformas de los noventa. Poco a poco
se plantearon la necesidad de "tomar la educación en sus manos', creando escuelas populares, jardines de infante, @
espacios de alfabetización y centros culturales. Este trabajo focaliza su investigación en la ensefíanza de la Historia \!V
lIevada a cabo en dos organizaciones sociales en las que se formaron escuelas populares: una empresa recueperada
y una cooperativa.

Gonzalo de Amézola - Universidad Nacional de La Plata e Luis Fernando Cerri


Jovens diante da História - Ensino, aprendizagem e consciência histórica de jovens no Brasil e na Argentina '"
O que pensam os jovens brasileiros e argentinos sobre a História, a identidade nacional, a política? Como se posicio- ~§
nam e agem politicamente? Como o ensino de História vem sendo oferecido a eles? Como esse ensino de História §
pode atender melhor às demandas por qualidade? Na década de 90, os paises da Europa testemunharam um amplo E
survey no qual essas questões foram pesquisadas, através de questionàrios aplicados a professores de História e a co
alunos de 15 anos de idade em praticamente todos os paises europeus. O survey possibilitou afirmações generalizà- ~
veis sobre o estado e os resultados do ensino de História naqueles paises. Na comunicação, pretendemos expor e I
discutir o projeto de pesquisa piloto similar. Exporemos o trabalho de adaptação e reelaboração dos questionàrios, ~
adaptando-os à realidade regional, que envolveu adaptar os temas que são postos para a consideração de alunos e g
professores, dentro de quadros culturais - particularmente no que se refere à cultura histórica e política -Iatinoameri- .~
canos. Esse novo instrumento será testado em escala restrita, propiciando a produção de dados que permitam avaliar c;;:-
o próprio questionário, bem como as estratégias para o tratamento estatístico de dados em uma pesquisa posterior. ~
-~
:o::

17/07 - Terça-feira - Tarde (14h às 18h)

Aida Rotava Paim - UNOCHAPECÓ


Aproximações sucessivas uma forma de construir reformas curriculares
Este texto faz parte da tese de doutorado que venho construindo junto a Faculdade de Educação da UNICAMP, no
Grupo Memória, cujo objetivo é Historicizar o processo de construção da Proposta Curricular de Santa Catarina 1991
apontando as permanências e as mudanças. Tomo por fontes os documentos Democratização da Educação: uma
opção dos catarinenses de 1984, Plano de Ação da Secretaria de Estado da Educação de 1988 e a Proposta Curricular
de Santa Catarina de 1991, produzidos no período de democratização após regime militar, que registram o movimento
da reforma educativa. Neste texto em especial analiso a metodologia de aproximações sucessivas como forma de
construção do texto da proposta curricular.

Ana Regina Pinheiro - UNICAMP


Escola Caetano de Campo: a escola vanguardeira e as reformas educacionais do Governo Vargas
Esta comunicação tem como finalidade debater as relações entre as reformas educacionais promovidas pelo Governo
Vargas e os educadores da Escola Caetano de Campos - conhecida como Escola Normal da Praça - nas décadas de
1930 a 1950. A leitura dos documentos produzidos por alunos do curso primário e educadores (em especial Carolina
Ribeiro, Iracema Marques da Silveira e João Lourenço Rodrigues), evidenciaram o culto à educação paulista, que em
suas práticas, buscava preservar e perpetuar a memória de uma escola que foi implantada para ser o modelo de

323
educação da república, rememorando vida e obra de seus educadores. Do ponto de vista das forças que apoiavam o
govemo Vargas, as reformas educacionais estabeleceram um ordenamento legal, em bases nacionais como expres-
são de progresso; na memória dos citados educadores as mudanças pelas quais passou o modelo escolar paulista
representam uma "marcha-a-ré" do ensino, cujo marco é a Revolução de 1930. Com vistas a garantir autonomia desta
escola como espaço decisório, suas práticas demonstram que os processos educativos não são definidos exclusiva-
mente pelo Estado mas a partir das tramas politicas dos sujeitos que participaram do processo de escolarização
naquele periodo.

Ana Paula Taveira Soares - UFRJ


Curriculo, culturas e identidade: possibilidades para um estudo sobre saberes e práticas da história ensinada
O objetivo do presente trabalho é verificar algumas possibilidades de leitura, por meio da articulação currículo, culturas
e ídentidade, sobre a mobilização de saberes e práticas da disciplina escolar história. Para tal, busco aproximações
possiveis entre conceitos e idéias trabalhados e desenvolvidos em pesquisas contemporâneas no campo da Educa-
ção, em geral, e no campo do currículo, em particular. A revisão de literatura especializada realizada aponta para
investigações que, ao estabelecerem um diálogo entre as Teorias Críticas e Pós-Críticas, constituem um referencial
teórico-metodológico fértil para a pesquisa sobre saberes mobilizados na prática curricular de professores de história
da Educação Básica. Identidade social, hibridismo, ambivalência, regulação, representação, subjetividade e poder,
são conceitos destacados para a análise do objeto em pauta.

Claudia Oenardi Machado· UNICAMP


O Centro Paula Souza e a construção da história
O Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza (CEETEPS), criado em 1969, é uma autarquia estadual
responsável por oferecer educação profissional pública nos níveis técnico, tecnológico e de pós-graduação no Estado
de São Paulo. Por ocasião de seu aniversário de vinte e cinco anos de funcionamento, a instituição financiou um
projeto que visava escrever sua história através da metodologia da história oral. Desenvolvido por uma equipe de três
pesquisadores e um coordenador, tal projeto resultou na publicação, em 1995, do livro Educação técnica e tecnológica
em questão. 25 anos do CEETEPS. História vivida. Esta comunicação procura analisar as concepções de história e de
educação contidas nessa publicação de 1995 e mostra como tais conceitos se constituíram como um paradigma que
delimitou o conhecimento de professores do Centro sobre a história da instituição.

Irene Quaresma Azevedo Viana· UFGO


O Ensino de História, nas escolas da Rede Pública de Dourados· MS, no período de 1971 a 2002, um estudo de
caso da E.E. Presidente Vargas - Reflexões Preliminares
O presente trabalho corresponde à parte da Dissertação de Mestrado em História, que está em andamento:O Ensino
de História nas escolas da rede pública de Dourados, no período de 1971 a 2002 - "um estudo de caso da E. E.
Presidente Vargas'. Pretendemos fazer uma introdução fundamentada em aspectos que efetivaram o ensino público
de História nas escolas brasileiras, onde teceremos algumas considerações relevantes para entender as razões da
introdução do Ensino de História na Educação Básica no então Estado de Mato Grosso e particularmente nas escolas
públicas de Dourados-MSDiscorreremos sobre o processo de escolarização e como a Disciplina de História foi sendo
incorporada no currículo escolar, apontando os objetivos e a importância deste ensino na formação dos alunos sempre
envolvendo elementos que fizeram parte deste processo e especificamente tratar das práticas escolares que envolve-
ram o Ensino de História no período de 1971 a 2002 na E.E. Presidente Vargas em Dourados-MS.

Leila Lourenço - UFRGS E UNESC


Ensino e aprendizagem: revisitando alguns modos do fazer pedagógico em uma escola do campo
O artigo é sobre a Escola de Ensíno Fundamental "Honóno Dal Toé', bairro Verdinho, Criciúma (SC). No texto, procura-
se apresentar práticas curriculares que marcaram os modos de saber e poder desta escola desde o início até meados
do século XX, por meio da análise da presença ou ausência de políticas públicas para as escolas do campo; a questão
da utilização de uma 'pedagogia do medo" para a aprovação ou reprovação de determinados comportamentos das
°
crianças bem como para processo de aprendizagem tanto dos alunos/as quanto dos/as professores/ras; a questão
da regulação da leitura/interpretação por meio dos livros de leitura; a criação de associações para a organização dos
trabalhos escolares. Algumas constatações, tais como, a falta de implementação de políticas públicas para a educação
rural, para as escolas multisseriadas; o processo de ensino e aprendizagem funcionando por meio de uma pedagogia
do medo, sendo que a utilização de castigos corporais nos alunos/as, nos professores essa pedagogia funcionava com
a presença dos/as inspetores/ras nas escolas; os livros de leitura traziam uma interpretação regulada por meio da
memorização dos textos; a criação de associações escolares para a implementação de determinadas regras sociais.

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Luiz Carlos Barreira - Uniso
Uma nova forma de pensar e educar: a escola única em Portugal no início do século XX
Este trabalho apresenta e discute aspectos do movimento de renovação educacional em Portugal, no início do século
XX, na ótica e conforme a experiência de um dos mais eminentes educadores portugueses de então, Adolfo Lima.
Destaca, em especial, a discussão que se começou a fazer e a praticar naqueles anos em torno de uma escola que
deveria ser única. Uma escola que, do ponto de vista social, atendesse a todos os segmentos da sociedade, indepen-
dentemente de sua origem social, e que, do ponto de vista pedagógico, superasse a divisão entre trabalho manual e
trabalho intelectual, entre teoria e prática. Uma escola que é apresentada, portanto, como resposta científica para "o
grande mal' que, segundo Adolfo Lima, fomentava o ódio e o desprezo entre os indivíduos e que, em conseqüência,
produzia ondas de violência que se manifestavam de diferentes formas, como a guerra. Os fundamentos e as princi-
pais características dessa escola, tal como apresentados por Adolfo Lima em textos de sua autoria publicados em
periódico editado em Portugal entre 1924 e 1927, são os aspectos privilegiados neste trabalho.

Ricardo de Aguiar Pacheco - FURG


Saberes que a história ensina: proposições para um currículo escolar
As grandes transformações sociais da virada do milênio afetaram sobremaneira a sociedade contemporãnea. Nesse
cenário as relações.de ensino-aprendizagem, suas instituições, objetivos e abordagens se tornaram objeto de profun-
da reflexão crítica. E lugar comum dizer que a disciplina escolar história estuda o passado para aprendermos a viver o
presente e construir o futuro. Contudo, refletir sobre as experiências vividas pela humanidade no tempo-espaço cria
oportunidade para que o educando tome contato não apenas com um conjunto de informações, mas também se
aproprie de um conjunto de conceitos próprios das ciências humanas, bem como de uma série de procedimentos @
técnicos próprios para o entendimento das relações sociais. Dessa maneira propomos que um currículo contemporâ- \!V
neo para a disciplina escolar história que trabalhe com essas três ordens de saberes: as informações históricas, os
conceitos próprios das ciências humanas e os procedimentos de coleta e organização de dados sociais.

18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h ás 18h)


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Maria Carolina Bovério Galzerani - UNICAMP E Q.)

A cidade como lugar das memórias: patrimônios histórícos e educação política dos sentidos E
Elegemos como temática central a produção de saberes histórico-educacionais (pelos docentes e discentes partici- co
pantes), através do diálogo com os marcos patrimoniais da cidade, os quais foram analisados na relação com a macro- .~
história.O que se objetivou, fundamentalmente, foi fortalecer a dimensão de cidadania dos sujeitos envolvidos, com- :::r::
:e
preendo-a como participação ativa, coletiva, capaz de ressignificar as experiências passadas, na relação com as ~
possibilidades transformadoras e os desafios do presente. No diálogo com W. Benjamin, F. Choay, D. Borne, P. Gay, ê
dentre outros, um dos principais desafios educacionais que assumimos foi como transformar a percepção unidimen- .~
sional dos patrimônios históricos locais, prevalecente culturalmente, em "lugares da memórias', capazes de poten- ~
cializar o diálogo desconstrutor das suas contradições, e, ao mesmo tempo, a inclusão de "outras' memórias, -.s
colocando em ação "outra' educação política dos sentidos. Este é o tema que priorizamos para discussão neste ~
fórum, revisitando para tal documentos, tais como, rememorações escritas, orais, iconográficas - tanto dos pro-
fessores, como dos alunos.

Adriana Carvalho Koyama - Fundação Pró-Memória de Indaiatuba


Indaiatuba, 1910: a cidade vista através das memórias do músico Nabor Pires de Camargo. Relato de uma
experiência de educação patrimonial no Arquivo Municipal de Indaiatuba, SP
Neste trabalho apresentamos algumas possibilidades educacionais de leituras cruzadas de documentos primários,
escritos e iconográficos, em uma experiência de sensibilização para questões de educação patrimonial e de investiga-
ção histórica realizada no Arquivo Público de Indaiatuba, no contexto do Programa de Integração Arquivo-Escola.
Propomo-nos a expor parte de um projeto educacional, criado a partir de documentos do Arquivo e do livro de memó-
rias do músico Nabor Pires Camargo (1902-1996). A experiência compõe-se, inicialmente, de uma exploração do
acervo do arquivo, inclusive do Fundo Nabor, que possui documentos escritos - manuscritos e impressos, discos em
vinil, partituras ilustradas, contratos de trabalho, cartas e objetos pessoais. Em seguida os estudantes são convidados
a participar de um jogo no qual, em equipes, terão propostas de investigação a desenvolver, debruçando-se sobre
reproduções de documentos escritos e iconográficos do acervo. O material estimula diferentes aproximações dos
documentos, que dialogam e remetem á cidade de Indaiatuba do in ício do século XX e ao mundo da arte e da infância,
vislumbrada a partir da escola, do trabalho e das brincadeiras infantis.

325
Cláudia Engler Cury - UFPB
Museus de Rua ou Museus de Bairro na cidade de São Paulo: articulações com a constituição da memória
histórica
Este artigo destaca a pesquisa realizada sobre os Museus de Rua ou Museus de Bairro na cidade de São Paulo e as
articulações com a questão da constituição da memória histórica. Partiu-se de uma abordagem geral em relação à
apropriação dos espaços públicos como depositàrios de memórias e identidades para, em seguida, focalizar-se a
história dos Museus de Rua como uma política cultural de intervenção em espaço público e se pensar de que forma
esses museus se transformaram em pràticas educacionais. Preferimos analisar os Museus de Rua por 'fugirem' ao
padrão convencional de museus para os quais se exige a disponibilidade das pessoas para visità-Ios. E também
porque, analisando esses Museus, pudemos aproximar nosso olhar de um tipo de organização de museu cuja propos-
ta é a da intervenção direta na vida dos passantes. Os Museus de Rua não fecham, não têm horàrios e nem placas do
tipo: 'é proibido aproximar-se'. A ação das intempéries da natureza é deixada propositalmente, sobre os painéis expos-
tos, determinando, inclusive, o tempo de duração do próprio museu. A intenção dos organizadores era a de criar uma
metàfora visual entre o desgaste dos painéis pela ação do tempo e esta mesma ação da passagem dos anos sobre a
nossa memória histórica que aos poucos vai esmaecendo.

Fátima Faleiros Lopes - UNICAMP


A cidade e a produção de conhecimentos histórico-educacionais: aproximações entre a Campinas moderna
de José de Castro Mendes e a Barcelona "modelo"
A investigação diz respeito à temàtica da cidade na relação com o processo de expansão da modernidade capitalista,
assim como com os conceitos de história, memória e educação. O eixo teórico-metodológico é a questão da produção
de conhecimentos histórico-educacionais. Analiso a inserção social do intelectual José de Castro Mendes (1901-1970)
em Campinas-SP, bem como as visões desta cidade por ele elaboradas e divulgadas na imprensa local, no início da
década de 1960. Estabeleço aproximações entre Campinas e Barcelona (Espanha) pertinentes à construção, nestas
duas cidades, da concepção de cidade moderna e, no caso de Barcelona, também de cidade "modelo'. Interessa-me
investigar as potencialidades histórico-educacionais contidas no espaço urbano, sendo este enfocado como patrimô-
nio cultural.

Maria de Fátima Guimarães Bueno - Unicamp


O corpo como teatro das práticas socio-culturais: por entre sensibilidades modernas Bragança (1900-1920)
Este trabalho focaliza sensibilidades relativas ao corpo no cotidiano de uma cidade do interior do Estado de São Paulo,
então conhecida por Bragança, entre fins do século XIX e as duas primeiras décadas do século XX. Na pesquisa
atentou-se para pràticas relativas à produção de saberes históricos, considerando-se as potencialidades de trabalhos
que estimulam o entrecruzamento de memórias, os conhecimentos historiogràficos e a educação política dos sentidos
na produção de saberes. Na busca de tais sensibilidades considerou-se as visões de civilização, de privacidade e de
individualismo, porque estas tendem a balizar o imaginàrio de uma época, identificada por modernidade. Observou-se
que tais visões estão ancoradas em idéias liberais, positivistas e românticas e que estas, por sua vez, são perpassa-
das pela emergência de novas pràticas de leitura. Periódicos, processos judiciais e fotografias foram tomados como
fontes privilegiadas da pesquisa. As contribuições teóricas de Peter Gay, Michel Foucault e Walter Benjamin foram
fundamentais para este trabalho. Esta pesquisa deu origem a tese defendida na FE-UNICAMP.

Maria Helena Bittencourt Granjo - Universidade Católica de Santos


História e Memória da Escola na Cidade de Santos: (1930-2006)
O presente trabalho, pautado nos parâmetros da História Socio-Cultural, teve como fontes de inspiração teórica histo-
riadores contemporâneos como E. Tompson e C. Ginsburg. O estudo liga-se à pesquisa desenvolvida desde 2000,
cujo objetivo é compreender as relações entre escola e vida urbana. Visou perceber as relações da comunidade com
a escola, do ponto de vista de três gerações de moradores da cidade de Santos. Foram ouvidos alunos de escolas da
região dos quais pais e avos quisessem partilhar conosco sua experiência. Levou-se em conta a bibliografia a respeito
da cidade de Santos que abriga um dos maiores portos do hemisfério Sul. Mostrou-se fecundo o esforço para perce-
ber-se a visão que as gerações mais velhas têm da escola atual, em virtude do acompanhamento do caminho percor-
rido por filhos e netos.

Maria Silvia Duarte Hadler - Unicamp


Trilhos de modernidade: memórias e educação urbana dos sentidos
Memórias diversas, em grande parte nostàlgicas e idealizadas, encontradas a respeito do tempo em que o bonde foi
presença significativa no espaço urbano de diversas cidades brasileiras, levaram a considerà-Io um objeto cultural-
mente significativo, capaz de conduzir à apreensão de determinadas pràticas culturais de uma cidade na relação com
a modernidade capitalista. Tendo sido um dos ícones da modernidade urbana entre décadas finais do século XIX e as
iniciais do XX, e nos anos 1960 simbolos de entrave ao progresso, foram expressão de uma dada forma de circulação

326
e de temporalidade, fazendo parte de um processo de produção de relações sócio-culturais no espaço urbano, de
conformação de sensibilidades urbanas. Nesse trajeto histórico-cultural percorrido pelos bondes, a pesquisa buscou
flagrar, mais especificamente na cidade de Campinas, através de memórias que foram se delineando em torno da
figura do bonde, entrelaçamentos sugestivos entre presente e passado, articulações com as vivências e inquieta-
ções do presente. Por outro lado, rastreando imagens que se formaram sobre a vida urbana da época, buscou
estabelecer relações entre a cidade e seus equipamentos e o processamento de uma educação histórico-política
das sensibilidades.

Sonia Regina Martim - UNIFAI-SP e FIZO-Osasco


A escola e a cidade - Osasco 1950/1960
Este trabalho aborda a origem e instalação da escola secundária pública em Osasco, nos anos 1950/60, avaliando as
implicações advindas das relações existentes entre a escola e seus sujeitos com os movimentos sociais. Relaciono as
ações empreendidas entre o Movimento Autonomista, o Movimento Estudantil e o Movimento Operário com a Escola
Secundária, uma vez que muitos dos sujeitos que participaram dessas ações atuavam, ao mesmo tempo, nesses
vários espaços de convivência. Com a instalação do Ginásio Estadual de Osasco, jovens operários passaram a ter
acesso ao ensino secundário fazendo com que os operários que trabalhavam durante o dia e estudavam á noite
passassem a atuar também no Movimento Estudantil. Acrescente-se a esta relação o fato de que vivia-se também um
periodo de luta pela autonomia política do bairro e que, diferentemente das emancipações ocorridas á época, seu
desenrolar foi peculiar, uma vez que apesar do plebiscito de 1958 ter dado a vitória aos emancipacionistas foram
necessários ainda mais de 3 anos de luta para que a autonomia fosse reconhecida. Esse episódio promoveu a discus-
são em torno da política local e em muitos momentos percebemos ser bastante tênue a linha que separa cada um dos
@
41
movimentos, sendo a escola um espaço privilegiado nessas discussões.

I 19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h ás 16h30min) I


Isléia Rõssler Streit - UPF <n'
t'O
Investigando o ensino de História: algumas percepções ~§
O presente trabalho consta no relato e na análise de uma das etapas de um projeto de investigação do ensino de E
História na rede pública do município de Passo Fundo. Tal projeto está vinculado a um grupo de estudo, composto por E'"
professoras da rede pública municipal, que percebe a necessidade da observação e reflexão constante de suas práti- ·ê
cas pedagógicas. a partir da amostragem colhida no grupo de investigação, foram retiradas e analisadas algumas ]i
temáticas norteadoras que serão condutoras da elaboração da nova proposta curricular para o ensino de História ::I:
municipal. Bem como as informações percebidas e sistematizadas, oriundas dos questionários aplicados com os ~
alunos, refletem a angústia do corpo docente, que em sua maioria comprometido com o ensino da História, vê-se ~

~~i~~~j~fo~~~~~~;:ti~í.r~~a~~:~~~~~ã~a~~~~~~a~~~f?e~~ad~~;~~~~~e~~~~f:r::~~~u~~ ~::bi~z~~~~~~~v~I~~~~nJ~ ~.
ensino fundamental. ~
::I:
Isabelle de Luna Alencar Noronha - UFPB
Livro Didático e Ensino de História Local no Ensino Fundamental
O presente artigo tem por objetivos: discutir o cenário político-educativo atual, tendo foco na politica nacional do livro
didático, o livro didático e o ensino de história local no ensino fundamental, para tanto se aparta em autores como
Fonseca (1993), Nosella e Lourdes (1981), Bittencourt (2000), Hófling (2000) dentre outros, e em documentos oficiais
do MEC; apresentar e discutir um projeto educativo do Instituto da Memória do Povo Cearense - IMOPEC, uma
organização não governamental que prima pela preservação da memória e dos lugares da memória no estado do
Ceará, oferecendo ás escolas material didático-pedagógico como alternativa para o ensino de história local.

Jaquelini Scalzer - UFES


Ensino de História e Parâmetros Curriculares Nacionais: do proposto ao efetivado - Apropriações e táticas dos
professores na elaboração da História ensinada
Minha pesquisa se insere no contexto de ressignificação do ensino de História e sua prática, e teve como objetivo
investigar as apropriações que os professores de História do Ensino Fundamental, fizeram e fazem, dos Parâmetros
Curriculares Nacionais, bem como seu emprego na elaboração do saber histórico escolar, mais especificamente da
História ensinada, parte que lhe é atribuída diretamente neste processo. Busquei identificar, também, as estratégias e
táticas que permeiam este processo, que vai do proposto ao efetivado, envolvendo relações de poder nem sempre
identificáveis pelos sujeitos nele envolvidos. Para tanto estarei me fundamentando no campo da História Cultural e nos
estudos de alguns de seus teóricos. Como resultado da análise dos dados obtidos, conclui-se que os professores de
História ressignificaram a proposta do documento em questão, apropriando-se somente do que lhes convinha em

327
fun~o de seu contexto e de sua estrutura de trabalhão e, para efetivar esta proposta, fazendo valer no cotidiano escolar
suas atribuições de sentido, utilizaram-se de táticas diante do elemento normatizador que pretendia modelar sua prática.

Rosa Maria Godoy Silveira - UFPB


Epistemologia da História e sua reterritorialização no ensino
O texto debate os deslocamentos epistemológicos no campo da História (processo e conhecimento), mapeando os
seus condicionantes e os seus efeitos na reconfiguração de seus dominios anteriormente estabelecidos e na instaura-
ção de novos dominios, com ênfase nos processos educacionais e nas investigações em torno dos mesmos. Neste
tocante, analisa- se as virtualidades das novas formas de pensar tanto do ângulo da reiteração de práticas tecnicistas
educativas que eles possam conter quanto das possibilidades de inovações no ensino de História que possam abrir.
Na terceira parte, é examinado mais detidamente o trinômio memórias-conhecimentos historiográficos e conhecimen-
tos educacionais: as memórias como agenciamento da(s ) identidade(s ) dos sujeitos- educandos; a historiografia
como o conhecimento sistematizado e sistematizador do patrimônio cultural da espécie, mais especificamente, sobre
experiências vividas, possibilitando ao educando o diálogo com alteridades de outros temporal idades; e os conheci-
mentos educacionais como elaborações articuladoras entre memória-identidade-historiografia, possibilitando ao edu-
cando o diálogo com as alteridades do seu tempo presente. Ao final, é feita uma reflexão sobre os deslocamentos
necessários à reterritorialização do ensino de História.

Stela Pojuci Ferreira de Morais - Unama


O ensino de história e cultura afro- brasileira nas séries iniciais: que saberes e práticas estão sendo cons-
truídas?
A Lei 10.639 aprovada em janeiro de 2003 tornou obrigatório o ensino de história e da cultura afro-brasileira no ensino
fundamental e médio constituiu-se em um desafio para os professores. Reconhecendo a importância das séries iniciais
na formação do ser humano, buscamos investigar como professores(as) que atuam nesse nivel de ensino estão
construindo seus saberes e práticas de modo a desenvolver essa temática considerando que a maioria não tem
formação especifica em história.

I 20107 - Sexta-feira - Manhã (10h30min às 12h30min)

Ana Heloisa Molina - UEL


Construção do conhecimento histórico e imagens: limites e possibilidades de investigação
Há um longo caminho percorrido nas últimas décadas por pesquisadores interessados no uso da imagem como ferra-
menta didática no ensino de História comunicados em encontros e eventos cientificos da área. O objetivo desta comu-
nicação é refletir a 'utilização educativa das imagens', proposta por Calado (1994), onde se considera os limites e
possibilidades do ensino através das imagens transportando para a especificidade do conhecimento histórico.

João Batista Gonçalves Bueno - Unicamp


Permanências e transformações nas práticas de leitura de representações iconográficas, propostas nos livros
didáticos de história - do final do século XX até início do século XXI
Este estudo faz parte da pesquisa de Doutorado desenvolvida na FE da UNICAMP e tem como objetivos fazer o
levantamento e a análise das variadas propostas de práticas de leitura de representações iconográficas, que se encon-
tram em livros didáticos de História, a partir do final da década de 1960 até os dias de hoje. Proponho também,
examinar as metodologias de ensino de leitura de iconografias, utilizadas na formação de professores de História, para
estabelecer as semelhanças ou diferenças ou relações com as práticas de leitura propostas nos livros didáticos.
Trabalho com os diversos tipos de representações iconográficas que são impressas nos livros didáticos, e que tem
origens em suportes distintos como: fotografias, desenhos, gravuras, pinturas, esculturas, cartões-postais e charges.
Analiso este escopo de representações relacionando-as com as trajetórias dos autores e com as variáveis que carac-
terizam os códigos que compõe as iconografias. Nesta pesquisa faço ainda, uma articulação entre os conceitos de
história e as categorias formais que envolvem a produção e leitura das iconografias. Discuto finalmente, as variedades
de pontos de vistas desveladas nas leituras intertextuais confrontado-as com os gestos e as cenas das figuras repre-
sentadas nas imagens impressas nos livros.

Maria Angela Borges Salvadori - Universidade São Francisco


Concepções de tempo, memórias docentes e fazeres pedagógicos
Oque pensam os professores sobre o tempo? Que sentido atribuem a ele? De que maneira o tempo vivido, (re)inventado
pela memória, informa, conforma e orienta saberes pedagógicos e práticas de ensino? Como estas concepções de
tempo participam do relacionamento com os alunos? Qual a (i)mobilidade de categorias tais como passado, presente
e futuro? Como sentem as especificidades relativas às noções de ritmo, processo, temporalidade e cronologia? Estas

328
são algumas das questões colocadas por este trabalho, resultado de um dos desdobramentos do projeto "Representa-
ções de infância e juventude na cultura escolar', desenvolvido por docentes do Programa de Mestrado em Educação
da Universidade São Francisco em parceria com a EMEF Profa. ElieteAp. Sanfins Fusussi, localizada no município de
Itatiba, interior do estado de São Paulo, com apoio da FAPESP - Fundação de Amparo á Pesquisa do Estado de São
Paulo - na linha de financiamentos voltada á melhoria do ensino público. Como fontes, consideram-se as memórias e
narrativas de professores relativas ás suas próprias experiências de infância e juventude nas quais, em geral, o tempo
presente se dilui entre saudades e expectativas, conferindo á experiência escolar de mestres e alunos perfis específi-
cos que precisam ser discutidos.

Marluce de Lima Macedo· UNEB


O Som de muitas vozes: O significado da Tradição Oral Afro-Brasileira no cotidiano de Santa Bárbara
Nesse artigo procuro analisar o que é a tradição oral afro-brasileira no município de Santa Bárbara - Ba, a partir de
narrativas orais de professores, estudantes e pessoas da comunidade, refletindo como esta tradição permaneceu, foi
silenciada ou transformada no cotidiano desses sujeitos. Reflito, também, sobre quais os significados dessas tradições
na atualidade das pessoas com que dialogo. Esse diálogo, como uma encruzilhada de múltiplas opções, entrelaça-se
com outras vozes, presentes na literatura, que refletiram e refletem sobre a tradição, a tradição oral e, em especial, a
tradição oral afro-brasileira. Nessa reflexão, tomo como referência importantes autores da contemporaneidade, que
refletem sobre cultura e tradição, a partir dos chamados "Estudos Culturais' e com outros autores, que me permitiram
ampliar o olhar sobre a cultura negra e suas formas de (re)apresentação. Realizo também um proficuo diálogo com a
História oral, enquanto técnica e metodologia de pesquisa.

Miriam Bianca Amaral Ribeiro - UFG @


O local e o regional no ensino de história
Este trabalho, em processo de publicação pela Pós-graduação em Educação da UFG, resulta do trabalho do Grupo de ~
Estudos e Pesquisas em Educação e Ciências Humanas da Faculdade de Educação da UFG e discute os limites e as -*
possibilidades no ensino da história local e regional nas séries iniciais do Ensino Fundamental.Como limites, destaca- ~
mos o localismo como método de abordagem dos conteúdos, o ufanismo nacionalista reeditado para as dimensões do ~-
local e do regional, as reminicências do mandonismo local, a hierarquia nas relações escolal academia, a sobrevivên- :§
cia do positivismo, a antecipação e aceleração dos conteúdos relativos ao local e regional, considerados banais e a ~
intervenção conservadora dos PCNs do Mec.Como possibilidades de superação, apontamos a abordagem conceitual E
dos conteúdos, o trato dos conteúdos como área de humanas,o uso das fontes primárias como objeto da ação co
pedagógica. Essa abordagem materializou-se, ainda, além do trabalho teórico, como experiência pedagógica, em um :~
livro didático de história de Goiás para crianças, hoje adotado no estado e que também pretendemos submeter a :c
avaliação dos colegas presentes ao evento.
<:>
<=
Sérgio Onofre Seixas de Araújo - UFAL ]j
Imagens e Ensino de História ro
A presente comunicação apresenta uma reflexão sobre nossa experiência com Projetos em sala de aula com alunos :§
da Rede Pública de Ensino em Alagoas, buscamos, no presente trabalho refletir sobre o Brasil escravista a partir das ~
imagens (pinturas, desenhos e gravuras) que retratam esse período histórico, explorando suas diferentes possibilida-
des interpretativas, confrontando diferentes fontes iconográficas de diferentes autores, levando os alunos a refletirem
suas significações. Sistematizamos, a partir destas experiências, um conjunto de procedimentos - que não intenciona-
mos propor como modelo, mas que somados a inúmeras outras iniciativas de professores e pesquisadores -, buscam
refletir sobre a utilização de fontes iconografias no ensino da História. pretendemos assim contribuir para a reflexão do
trabalho com outras linguagens no ensino da História e, neste caso em particular, o trabalho com imagens como fonte
para a construção do saber histórico escolar.

Thaís Otani Cipolini - UNICAMP


Ruth Rocha: tecelã de histórias na história
Em minha pesquisa de mestrado analisei as obras escritas para crianças por Ruth Rocha desde o período inicial de
sua produção literária, 1976, aos dias atuais, mais precisamente 2005. Nesta pesquisa busquei responder algumas
questões, como quais as visões de crianças, adultos, alunos, professores e escola representadas em seus trabalhos
(ressaltando que seu trabalho não é individual e isolado, mas relacional com o de ilustradores, pesquisadores, editores ... ).
Para este congresso, centrei-me principalmente nas obras: 'Um cantinho só para mim' (2005), 'O reizinho mandão'
(1978), 'O rei que não sabia de nada' (1980), 'O que os olhos não vêem' (1981), 'Sapo-vira-rei-vira-sapo: ou a volta do
reizinho mandão' (1983) e "Uns pelos outros' (1986), visando uma relação autora-obra-contexto histórico: como a autora
representa o contexto histórico e seus questionamentos aos leitores e quais as pemnanências e as transformações que
ocorrem no período em questão e como são representadas? Neste recorte de obras, entrelaço questões como neolibe-
ralismo, ditadura militar brasileira, formação por meio das histórias representadas pela autora e narrativas.

329
42. História, Imagem e Cultura Visual
Charles Monteiro (PUCRS) e Iara Lis Franco Schiavinatto (UNICAMP)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h às 18h) I
Mariana de Campos Françozo - Unicamp
O Brasil na parede: Mapas e pinturas do Brasil nos interiores de casas holandesas (1642.1724)
No século XVII, os holandeses que viajaram com as Companhias das índias Orientais e Ocidentais levaram para seu
país de origem o conhecimento de novas terras: diferentes locais, diferentes povos, novos animais e plantas. Duas das
formas de expressão desse conhecimento do novo eram justamente a cartografia e a pintura. Nesta apresentação,
pretende-se investigar o lugar do Brasil nessa circulação de saberes, imagens e representações. Através da análise de
35 inventàrios de moradores das cidades de Haarlem e Amsterdam, registrados entre os anos de 1642 e 1724, procu-
raremos responder as seguintes questões: que tipos de representação visual do Brasil eram produzidos? Quem eram
seus autores? Quem eram seus compradores? Em que cômodo das casas eles eram pendurados e ao lado de que
outros quadros? Desta forma pretendemos discutir o espaço social da circulação dessas imagens, bem como formular
algumas hipóteses sobre o significado da mesma.

Eneida Maria Mercadante Sela - Unicamp


Rugendas e Oebret em molduras de álbuns pitorescos
Esta apresentação pretende discutir alguns significados culturais das apropriações de imagens dos pintores-viajantes
Johann Moritz Rugendas e Jean-Baptiste Debret por parte dos autores de dois álbuns pitorescos sobre o Rio de
Janeiro, lançados entre as décadas de 1830 e 1840. A idéia principal é pensar nos diálogos entre a iconografia produ-
zida pelos viajantes e a tradição imagética à qual pertencem tais álbuns.

Valéria Alves Esteves Lima - Universidade Metodista de Piracicaba


Do linear ao pictórico na iconografia de viajantes: alterando modos de ver
Sabemos que o olhar dos viajantes que percorreram o Novo Mundo estava marcado pelo sentido do exótico e do
singular e que a produção iconográfica entre os séculos XVI e XIX dividiu-se entre o relato fantasioso, o registro
científico e a representação do que identificamos como 'hábitos e costumes'. O sentido dessas imagens não deriva
apenas do tema tratado ou dos motivos de sua elaboração, mas igualmente do efeito produzido pelas diferentes
escolhas estéticas que as orientam. Pensando as categorias de linear e pictórico enquanto distintos modos de ver,
esse trabalho pretende investigar os efeitos provocados pela adoção de uma ou outra dessas categorias na iconogra-
fia de viajantes no Brasil. A inspiração teórica desse trabalho encontra-se no texto de Wiilfflin, "O linear e o pictórico',
onde o autor atribui à representação linear a capacidade de traduzir as coisas como elas são, enquanto que a repre-
sentação pictórica traduz o que parecem ser. Segundo ele, da visão linear à visão pictórica, estaríamos aptos a perce-
ber o mundo de uma forma respectivamente tátil e visual. Ao perceber como operam tais mecanismos na produção e
recepção da iconografia de viajantes é possível indicar novas leituras dessas imagens.

Leticia Squeff
Pintura histórica e festa no império: a coroação de d. Pedro 11
A coroação de d. Pedro 11 foi um acontecimento de grandes proporções - a festa durou mais de uma semana, congre-
gando rituais de diferentes tradições que tomaram conta de toda a cidade do Rio de Janeiro. Por isso, nada mais
natural que o tema tenha atraído a atenção de artistas contemporâneos. O objetivo desta comunicação é comparar
duas representações do evento: a feita por Araújo Porto Alegre (1806-79) e a por François -René Moreau (1807-1860).
A análise das duas obras permite uma reflexão não apenas sobre a pintura histórica oitocentista, bem como uma
interpretação dos impasses e demandas políticas do Segundo Reinado que se iniciava.

Clarice Caldini Lemos e Maria de Fátima Fontes Piazza . UFSC


A ilustração na América Brasileira: entre a tradição e a modernidade
O objetivo da comunicação é mostrar a ilustração numa revista literária, a América Brasileira: Resenha da Actividade
Nacional (1922-1924), que teve a sua trajetória vinculada ao mito de origem da cultura brasileira: o seu passado
colonial português, porém encarado não com a concepção moderna de 1922 - da busca das raizes étnicas, linguisticas
e culturais -, mas com uma noção nacionalista e conservadora a respeito de Portugal e do Brasil. A opção por dois
ilustradores, o brasileiro Emiliano Di Cavalcanti (1897-1976) e o português Jorge Barradas (1894-1971) mostram duas
propostas: quanto ao primeiro, inovadora e com uma concepção moderna de arte e a outra, voltada à tradição, ou seja,
retomou na arte gráfica o tema dos costumes portugueses: retratou os tipos sociais.

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Sonia Cristina da F.M. Uno - UFJF
Mídias audiovisuais e a banalização antropofágica
A utopia modernista de Oswald de Andrade representada pela vertente antropofágica do modernismo brasileiro foi uma
das primeiras tentativas da intelectualidade brasileira de pensar positivamente a mestiçagem cultural. Para além das
inovações estéticas e lingüisticas expressas nos textos literários e manifestos das décadas de 1920 e 1930, Oswald de
Andrade teria, na maturidade, estendido a antropofagia à categoria de reflexão filosófica possibilitando uma nova
leitura da história do Brasil. Este texto busca enfocar tanto as caracteristicas de resistência anticolonialista deste
pensamento entre as décadas de 1920 e 1950 quanto sua vulgarização através da criação de estereótipos sobre a
brasilidade pelas produções audiovisuais que ganharam força com a popularização dos meios de comunicação audi-
ovisuais e, em particular, a televisão nas décadas seguintes.

Ivoneide de França Costa - UEFS


Os mapas como fonte de pesquisas históricas: análises metodologicas
Desde a pré-história a confecção de mapas se faz presentes na história da humanidade como uso para orientação e
registro. Os mapas também fornecem interpretações, para o qual se constituem em Atlas históricos de onde se podem
perceber processos históricos em interpretações e relações dos espaços, fornecendo subsídios para acompanhar a
evolução das épocas. Os mapas também são utilizados no âmbito dos ínteresses políticos como instrumento que
podem assegurar seu uso nas negociações territoriais, meio de delinear fronteiras e em momentos de guerras. Com
esse pensamento, o presente artigo busca compreender a função dos mapas como fonte para pesquisas históricas.
Paralelamente, procuraremos perceber se é possível determinar uma metodologia ou metodologias que possibilitem
essa prática. Para entendermos como poderia se dar essa sistemática, utilizaremos mapas confeccionados por Theo-
doro Fernandes Sampaio da região da Chapada Diamantina no Século XIX como fonte, para percebemos o processo
evolutivo da região.

Maria Lucia AbaurreGnerre - Universidade Estadual da Paraíba


Rios da Amazônia, século XVIII: Imagens cartográficas e textuais
Neste trabalho apresento alguns aspectos de minha tese de de Doutorado, desenvolvida no Programa de Doutorado
em História Social da Unicamp. Minha proposta é desenvolver um cotejo entre algumas representações dos rios
amazônicos ( especialmente oTocantins e Amazonas) em textos e mapas, produzidos por viajantes portugueses po
fim do século XVIII. As imagens fluviais neste período oscilam entre a beleza idílica e o horror -presentado por uma
série de perigos mortais, como cachoeiras e índios gentios, sempre à espreita dos viajantes nas margens dos rios.
Tanto os textos de roteiros e diários de viagens, quanto a cartografia do período, registram, de diferentes maneiras,
estas imagens dispares dos rios, e constituem importantes narrativas sobre os caminhos fluviais do estado do Grão
Pará e Maranhão.

Aline Lopes de Lacerda - Fundação Oswaldo Cruz


A fotografia nos arquivos
Partindo do questionamento sobre como as fotografias pertencentes a coleções e arquivos históricos são tecnicamen-
te organizados nas instituições de guarda desses documentos, o trabalho busca investigar as origens do documento
fotográfico como objeto de questionamento teórico e metodológico na área da arquivística, disciplina cuja vocação
consiste no tratamento dos registros de valor permanente com sua classificação, descrição e disponibilização para
@
42
pesquisa. Focado na análise dos manuais de arquivologia escritos desde o final do século XIX, o trabalho analisa o
enfoque dado ao documento fotográfico por diferentes teóricos em momentos diversificados na historia do desenvolvi-
mento da disciplina arquivística e aponta para uma visão desses registros compartilhada por aquela área que marcará
sua identidade como documento e, conseqüentemente, a forma através da qual são disponibilizados como fontes
históricas.

Maria Teresa Villela Bandeira de Mello - Casa de Oswaldo Cruz I Fiocruz ro


A fotografia como fonte para a história da medicina e da saúde pública no Brasil ~
O trabalho tem por objetivo levantar algumas questões relacionadas à utilização da fotografia como fonte para a ~
história da medicina e da saúde pública no Brasil. A tradição de utilização de imagens pela medicina é bastante antiga. a
A fotografia ampliou, diversificou e multiplicou esses usos. No entanto, apesar de sua disseminada utilização, o poten- ;3
cial cognitivo da imagem fotográfica para a história da saúde e da medicina tem sido pouco utilizado. Nesse sentido,
pretendemos apontar e discutir elementos de caráter teórico e metodológico que permitam uma melhor compreensão cu E
do papel da fotografia como fonte histórica. O pressuposto básico é de que a fotografia é o resultado de um trabalho ro O)

social de produção de sentido, fundamentando sobre códigos convencionalizados culturalmente. Ela é um artefato E
cultural utilizado de várias maneiras, em diferentes circunstâncias e, enquanto tal, participa das relações sociais e das~­
práticas materiais, médicas e cientificas. ~E
:I:

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17/07 - Terça-feira - Tarde (14h às 18h)

Ivo Canabarro - UNIJUI


O fotógrafo, o olhar e a história
Ofotógrafo não é apenas um sujeito que produz tecnicamente a imagem, mas um mediador cultural, que constrói o seu
olhar moldado pela cultura, pelas representações de uma época, e também pelo desejo de quem demanda a produção
fotográfica, O fotógrafo pode ser definido com um filtro cultural, o qual seleciona do real um aspecto determinado,
realiza a organização visual dos detalhes que compõem o assunto fotografado, o mesmo também explora os recursos
oferecidos pela tecnologia; são esses fatores que incidem diretamente no resultado final, A fotografia traz consigo a
própria atitude do fotógrafo perante a realidade, mediada pelo seu estado de espírito e sua ideologia impressa na
imagem. Sobre a atuação dos fotógrafos é importante observar a inserção social dos mesmos, como esses selecionam
ou exacerbam as modalidades de ser dos sujeitos fotografados. Num sentido mais amplo como a sociedade é implica-
da pelas obras dos fotógrafos, em que medida essa obra vai além do olhar ordinário, podendo criar novas representa-
ções visuais. As produções fotográficas devem permitir a reconstrução da história, neste sentido é importante situar-
mos a obra em seu tempo, não apenas enquanto continuidade, mas como uma certa arqueologia de toda a produção,
a tecnologia empregada e a linguagem fotográfica.

Marli Marcondes - UNICAMP


Fotografia sobre tela: novos paradigmas de representação
Afotografia sobre tela teve início em 1857 a partir da invenção da câmera solar. A imagem obtida pela ação da luz era
projetada sobre uma tela que, posteriormente, era colorida pelo pintor. Esse trabalho pretende discutir as característi-
cas técnicas desse processo fotográfico, a estética pictórica que envolvia a coloração dessas telas e a circulação
dessas imagens, uma vez que se tornaram populares somente na década de 1870. O pano de fundo para a análise
proposta baseia-se na mudança dos paradigmas de representação detectado nesse tipo de produção, ou seja, onde a
pregnância do referente deixou de ser determinante para o processo de especularização, como vinha acorrendo desde
o ínício da imagem fotomecânica. Quais os aspectos técnicos, econômicos e sociais que justificam essa mudança no
estaturo da imagem?

Rodrigo de Souza Massia - PUCRS


O lugar da fotografia na cultura visual: A profissionalização do ofício da fotografia em Porto Alegre nos anos
1940 e 1950
O foco de análise é o circuito social da fotografia em Porto Alegre, tendo como base a organização dos fotógrafos
porto-alegrenses em agremiações como aAssociação dos Fotógrafos Profissíonaís do RS em 1946, o Foto Cine Clube
Gaúcho em 1951 e aAssociação dos Repórteres Fotográficos do RS, em 1956. A produção de fotografias para os mais
diversos fins passaram pelos fotógrafos filiados nessas agremiações. O levantamento da bibliografia existente em
relação ao tema abordado revelou um campo ainda a ser explorado, que visa à compreensão dos mecanismos encon-
trados pelos fotógrafos porto-alegrenses para o exercício de uma atividade em vias de profissionalização. As fontes
arroladas são os relatos orais de fotógrafos, estatutos e o perfil da produção nas associações. A imprensa gaúcha,
notadamente a Revista do Globo e o jomal A Hora, mostram-se importantes mananciais sobre o ofício da fotografia em
Porto Alegre, principalmente o fotojornalismo. O cruzamento com o referencial teórico da história cultural e da cultura
visual tem mostrado resultados, no sentido de vislumbrar perspectivas de ínterpretação sobre o lugar da fotografia na
cultura visual em Porto Alegre em uma conjuntura importante de crescimento urbano.

Adríana Maria Martins Pereira - USP


O espaço de lazer, no Rio de Janeiro, visto pelo fotógrafo amador (1900-1910)
Este trabalho tem por objetivo analisar alguns aspectos da representação do espaço de lazer na cidade do Rio de
Janeiro, através dos registros do fotógrafo amador Alberto de Sampaio (1870-1931), realizados na primeira década do
século XX. Utilizamos, na investigação, imagens que documentaram a ocupação de bairros da zona sul carioca, área
que teve seu crescimento intensificado a partir da reforma Pereira Passos (1902-1906). Buscando identificar padrões
visuais que estão presentes na fotografia amadora, usamos como referência um conjunto de tomadas, dessas regiões,
que circularam por meio de cartões-postais e de estereoscopias produzidas por fotógrafos profissionais do periodo.

Adríane Acosta Baldin - PUCCAMP


A Cidade de São Paulo Contada Através das Imagens, Militão Augusto de Azevedo no século XIX e Geman
Lorca no século XX
MilitãoAugusto de Azevedo e German Lorca são nomes importantes dentro da história da fotografia da cidade de São
Paulo. Em comum, eles têm o "olhar' para o urbano. Cada um a seu tempo, amava o cotidiano paulistano e era atraído
a registrá-lo.A obra destes dois artistas apresenta algumas características que os aproximam, enquanto intérpretes
das cenas urbanas passadas. Porém, a qualidade formal e o conteúdo, remetem a modos especificos de tratamento

332
fotográfico do espaço urbano, sendo importante destacar a distância de quase um século entre o trabalho de ambos.
Militão fotografou, em 1860, uma São Paulo que estava prestes a sofrer uma enorme reurbanização. Lorca, por sua
vez, produziu um dos maiores acervos da cidade de São Paulo no século XX .. Na obra de Militão Augusto de Azevedo
e German Lorca é possível descobrir o talento de mestre destes dois fotógrafos que foram testemunhas do desenvol-
vimento escarpado por que passou São Paulo.

Zita Rosane Possamai - UFRGS


Uma narrativa visual da cidade nos álbuns fotográficos
Pretendo discutir a tessitura de narrativas visuais a partir dos álbuns fotográficos. Analiso dois álbuns fotográficos
produzidos pelos dois dos maíores fotógrafos de Porto Alegre das primeiras décadas do século XX: Jacinto Ferrari e
Virgílio Calegari. Esses dois artistas mantiveram grande produção de retratos da sociedade porto-alegrense e também
de vistas urbanas. No caso dessas últimas fizeram surgir forma peculiar de circulação e comercialização das mesmas,
através da venda por assinatura e da edição de álbuns fotográficos. O trabalho de Ferrari e de Calegari não apenas
fornece fontes preciosas ao historiador da fotografia sobre o circuito social desse engenho da modem idade na capital
do estado mais meridional do Brasil, como também dá a ver um imaginário visual sobre a cidade de Porto Alegre do
início do século XX.

Carolina Martins Etcheverry - UFRGS


Visões de Porto Alegre nas fotografias dos irmãos Ferrari (c. 1888) e de Virgílio Calegari (c. 1912)
Esta comunicação tem por objetivo apresentar os resultados finais da dissertação de mestrado desenvolvida a respeito
de dois álbuns fotográficos sobre a cidade de Porto Alegre, no final do século XIX e inicio do século XX. Estes álbuns
foram produzidos por fotógrafos renomados estabelecidos na cidade: os irmãos Ferrari (proprietários da Photographia
Ferrari e Irmão) e Virgílio Calegari. Os primeiros produziram um álbum colecionável a partir de fascículos e a cada mês
o assinante recebia uma fotografia da cidade. Já o segundo é editor de um livro, intitulado Porto Alegre, composto por
uma série de fotografias dos principais pontos da cidade e dos arredores. Estes profissionais são responsáveis por um
levantamento iconográfico da cidade de Porto Alegre, estabelecendo uma visualidade específica. Ao organizar suas
imagens em álbuns ou livros, suas imagens engendram sentido à cidade. Esta dissertação partiu da hipótese de que
existiam padrões visuais estabelecidos para determinados tipos de imagens. A partir disso fez-se um percurso a fim de
perceber as características formais próprías das paisagens urbanas, não apenas nas fotografias, mas também na
pintura, com o objetivo de estabelecer possíveis influências para a composíção das fotografias do corpus documental.

Rosa Cláudia Cerqueira Pereira - ETRB- Escola Tenete Rego Barros


Paisagens Urbanas: fotografia e modernidade na cidade de Belém (1898-1908)
Paisagens Urbanas: fotografia e modemidade na cidade de Belém (1898-1908) propõe uma discussão sobre os docu-
mentos fotográficos que serviam de instrumentos de propaganda dos governantes na última década do século XIX e
no início do século XX. A linguagem visual nesta pesquisa permite mostrar a forma como os indivíduos se fizeram
representar nos cenários urbanos, dando visibilidade aos tipos sociais que foram flagrados sutilmente pelas câmeras
fotográficas a serviço da propaganda do governo que tinha por objetivo divulgar uma cidade moderna, revelando a
intensidade e a rapidez com que desejava alcançar a modernidade, ao mesmo tempo em que traz a luz uma cidade de
acordo com os modelos provenientes da Europa, percebe-se o registro de uma outra cidade que nos remete a espaços
de convivência de diferentes realidades. Aimagem fotográfica, assim como outras fontes e objetos visuais, constitui-se
@
42
em importantes instrumentos de investigação histórica para identificar novos objetos e novos problemas. Este artigo
busca analisar a relação entre fotografia e cidade a partir da narrativa visual dos álbuns e relatórios de Belém que
foram produzidos no períodO de 1898 a 1908.

Rosane Marcia Neumann - PUCRS


Imagens das colônias da Empresa de Colonização Meyer no Rio Grande do Sul, 1906
Este trabalho tem por objetivo investigar o uso da fotografia pela Empresa de Colonização Dr. Herrmann Meyer como ro
suporte para divulgar seu projeto de colonização, implantado no norte e noroeste do Rio Grande do Sul a partir de i;;
1897. Perceber como Herrmann Meyer representou suas colônias e os colonos na seqüência de fotografias reunidas :;:
no prospecto Ansichten aus Dr. Herrmann Meyers Ackerbaukolonien Neu-Württemberg und Xingu in Rio Grande do Sul ~
(Südbrasilien), editado pelo Instituto Bibliográfico de Leipzig, do qual era sócio-proprietário, em 1906. A publicação 3
destinava-se ao público europeu - os emigrantes alemães em potencial - e tinha a pretensão de vender a sua merca- ""
daria - um lote de terras. De forma implícita, indicava o perfil do imigrante desejado: aquele disposto a se adaptar ao ~
modo de vida representado nas fotografias. Paralelo, editou outras publicações no mesmo período, reiterando o seu ~
posicionamento sobre a imigração e colonização no estado. .s
",-

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333
18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h ás 18h)

Cristina Meneguello - UNICAMP


Modos de ver, modos de registrar: a fotografia de arquitetura na virada dos séculos XIX e XX
O século XIX estabeleceu a fotografia como um padrão de visualidade, como um registro científico e como a transfor-
madora do olhar, No caso especifico da fotografia de arquitetura, a tensão entre agir como o registro acurado do real e
propor a reinvenção das formas plásticas foi sempre presente, desde as primeiras imagens "arquiteturais" de Daguer-
re, Talbot e Bayard e as "vistas" obtidas nas Grand Tours arquiteturais, transformadas em álbuns e postais, até os
trabalhos dos 'fotógrafos-arquitetos" de tradição moderna, nas primeiras décadas do século XX, Dando continuidade
ás nossas indagações no campo da cultura visual, esse trabalho objetiva investigar três hipóteses de compreensão da
fotografia, centrados no caso italiano: 1) as possibilidades de utilização da fotografia como complementar aos estudos
"clássicos" da arte do desenho na Academia de Belas Artes de Veneza, pelo padovano Pietro Estense Selvatico, nas
últimas décadas do século XIX; 2) a "reinvenção" da fotografia dentro da estética futurista, a partir do Manifesto da
Fotografia Futurista (16 de abril de 1930) de F.T. Marinetli; 3) e a experienciação prática da fotografia de arquitetura na
obra do arquiteto milanês Gió Ponti, um dos principais expoentes do modernismo italiano,

Ana Maria Mauad de Sousa Andrade Essus - UFF


Embrulhado para presente? Fotografia, consumo e cultura visual no Brasil (1930-1960)
O fenômeno do consumo de massa consolidou-se nos Estados Unidos e na Europa, nas duas primeiras décadas do
século Xx. Constituiram mercados nacionais, possibilitados pela modernização da infra-estrutura de transporte, comu-
nicação e pela adoção dos princípios "científicos' de produção, Surgem grandes lojas de departamento, como Prin-
temps (França) e Bloomingdale's (EUA), e se consolidam as grandes marcas, Ir ás compras se torna passatempo e
estilo de vida das classes médias. No Brasil, tal processo evidenciou-se, claramente, no pós Segunda Guerra Mundial,
com a consolidação do padrão norte-americano de representação visual tanto para a mercadoria a ser consumida,
quanto para os processos de representação social do consumidor/cidadão. Dessa forma, a cultura visual elaborada no
período reúne o estatuto técnico da imagem fotográfica ao espaço de sociabilidade das revistas ilustradas, produzindo
representações sociais sobre produtos e mercadorias e definindo novos códigos de comportamento social consumista.
A proposta tem como objetivo discutir tal relação tomando as imagens publicitárias e as fotografias das reportagens
sociais na elaboração da intertextualidade do mundo do consumo.

Maria Lúcia Bastos Kern - PUCRS


Imagem, memória e tempo
A comunicação visa discutir a premissa da eucronia, com a qual o historiador tem analisado a imagem, isto é, conec-
tando-a ao seu próprio tempo e contexto. Entretanto, Aby Warburg já identificava nos seus estudos a presença de
sobrevivências, de memórias inconscientes. Na atualidade, Georges Didi-Huberman revisa as reflexões de Warburg e
Benjamin para demonstrar a complexidade temporal da imagem e questionar os métodos presentes na historiografia.
A imagem apresenta distintas temporalidades e memórias, sendo o seu tempo heterogêneo e impuro e formador de
anacronismos. Ele defende o anacronismo como meio fecundo de se entender as obras, quando afirma que o histori-
ador não pode se contentar em fazer apenas a história a partir da eucronia. As imagens exigem que se aborde sob viés
da memória, de suas manipulações do tempo e diálogos estabelecidos entre elas. Para ele, diante da imagem contem-
porânea o passado não cessa de se reconfigurar e vice-versa, porque ela é uma construção de memória. Ela é elemen-
to de passagem e também de futuro. Essas questões se aplicam ás diferentes imagens, da arte á publicidade e á
fotografia, devendo ser objeto de debate, visto que apontam o anacronismo como meio de repensar o saber histórico.

Jens Michael Baumgarten - Unifesp


Hanna Levy - fonte de novas abordagens para uma história da arte latinoamericana?
A partir da obra da historiadora da arte Hanna Levy a palestra tem a intenção de analisar as suas pesquisas no
contexto historigráfico sobre o 'barroco' no Brasil. Assim seria necessário discutir abordagens atuais quebrando o
eurocentrismo na história da arte atual, Abiografia de Hanna Levy demonstra a influência da experiência da emigração
para as reflexões intelectuais. A pesquisadora, uma aluna de Heinrich Wiilfflin, emigrou em 1934 para Paris publicando
a primeira critica vinda de uma sociologia da arte aos conceitos wiilfflinianos, Com o começo da segunda guerra
mundial ela conseguiu ficar a salvo no Brasil, onde trabalhou no Instituto de Patrimônio Histórico e Artistico no Rio de
Janeiro e publicou uma série de artigos teóricos, sobretudo ligados aos estudos da história do 'barroco" no Brasil. A
palestra inclui também uma proposta de releitura da autora para estabelecer novas abordagens na análise de obras
artísticas da época colonial.

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Rachei Duarte Abdala - USP
A fotografia além da ilustração: Malta e Nicolas construindo imagens da reforma Fernando de Azevedo no
Distrito Federal (1927-1930)
Esta pesquisa, desenvolvida como Dissertação de Mestrado, objetivou analisar a forma pela qual, a partir de represen-
tações fotográficas foi construída uma imagem da reforma educacional, realizada por Fernando de Azevedo entre 1927
e 1930, no Distrito Federal. Considerando a fotografia como fonte documental e como objeto, buscou analisar a refor-
ma azevediana, fundamentando-se no referencial teórico da História Cultural. Ao analisar as imagens fotográficas
geradas durante a reforma procurou perceber o modo como a renovação escolar foi representada pela produção dos
dois fotógrafos responsáveis por registrá-Ia: Augusto Malta e Nicolas Alagemovits. O objeto desta pesquisa foi a alte-
ridade de expressão entre esses dois olhares e a forma como suas produções fotográficas foram apropriadas por
Fernando de Azevedo e pela imprensa. A fotografia foi utilizada como recurso para imprimir maior visibilidade ás
realizações renovadoras. Apesar do objetivo comum de documentar a reforma, Malta e Nicolas diferenciavam-se
pela autoria, expressão e temática. Malta, fotógrafo oficial da prefeitura, registrava principalmente eventos e práti-
cas escolares. Enquanto Nicolas, fotógrafo autônomo e prestigiado no meio artístico, restringia-se ás novas edifica-
ções escolares.

Rogério Pereira de Arruda - Faculdades Pedro Leopoldo


História da fotografia em Belo Horizonte como história da cidade
A presente comunicação apresenta resultados iniciais de uma pesquisa de doutoramento em História, em curso na
Universidade Federal de Minas Gerais. O trabalho faz uma incursão pela história e pela memória visual da cidade de
Belo Horizonte, no período compreendido entre 1894 e 1947 por meio da investigação da atuação de alguns fotógrafos
na capital mineira. Pretende-se com a comunicação enfatizar o quadro de referência teórico-metodológico que orienta
o levantamento da atuação/produção fotográfica na capital mineira. Uma primeira aproximação do tema em destaque
sugere uma central idade do que atualmente pode-se definir como o fotográfico, ou seja, uma dimensão da vida social
que abarca diferentes processos, práticas e atitudes em torno da fotografia. É a partir desta compreensão que se
busca relacionar a atividade fotográfica e a constituição simbólica da cidade. Assim, abarcadas pelo fotográfico, a
prática fotográfica e a produção de fotografias fornecem modos de aproximação de uma realidade social e enquanto
fenômenos sócio-culturais ambas permitem compreender de que modo, em um espaço e tempo definidos, uma deter-
minada sociedade se organizou, se representou, escolheu caminhos a serem trilhados.

Luana Carla Martins Campos - UFMG


Do Gabinete Fotográfico a Pampulha: Representações de Belo Horizonte
Essa comunicação, fruto de pesquisas realizadas para a dissertação de mestrado desenvolvida sob a orientação de
Maria Eliza Linhares Borges (UFMG), busca estabelecer um diálogo entre dois tempos e espaços na cartografia urba-
na de Belo Horizonte por meio dos fotógrafos e de sua produção imagética. A partir das representações do novo
espaço planejado pela Comissão Construtora da Nova Capital (CCNC) e fotografado pelo seu Gabinete Fotográfico
(1894 -1898), deseja-se discutir em que medida a construção do bairro da Pampulha iniciada na gestão de Otacílio
Negrão de Lima (1935-1938) e concluída na administração de Juscelino Kubitschek de Oliveira (1940-1945), preten-
deu modificar radicalmente o padrão de visualidade estabelecido na capital de Minas. Observa-se que o projeto desen-
volvimentista de JK trouxe ares de uma modernidade industrial que rompeu com aquela modernidade estabelecida nos
tempos da CCNC. Analisar o ofício dos fotógrafos que trabalharam nesses dois empreendimentos significa, assim,
@
42
tentar revelar um dos vários suportes da memória de uma capital que já nasceu para ser moderna.

Charles Monteiro - PUCRS


A construção da imagem dos "outros" sujeitos urbanos na elaboração da nova visualidade urbana de Porto
Alegre nos anos 1950
O objetivo dessa comunicação é problematizar a construção da imagem dos 'outros' sujeitos urbanos (criminosos,
mendigos, crianças de rua, migrantes), aqueles que não são tidos como os cidadãos-construtores da cidade moderna Cõ
e que constituem o avesso da ordem urbana, no processo de elaboração de um novo padrão de visualidade do espaço i;;
urbano nas fotorreportagens sobre a cidade de Porto Alegre na Revista do Globo nos anos 1950. As imagens produzi-
das pelos fotógrafos, editadas e diagramas pelos redatores da Revista do Globo, selecionam espaços, enquadramen- z
=;
tos, ângulos e sentidos construindo significados sociais modernos para o processo de crescimento, verticalização e ;3
expansão da cidade nos anos 1950. Porém, a presença dessas imagens também nos faz pensar na ausência da
E
"outra' cidade permeada de conflitos, atravessada por contradições e com zonas de sombra que contrariariam o discur- ao
so de uma modernidade triunfante. O)

'"
E

335
Valter Gomes Santos de Oliveira - Universidade Federal da Bahia
Imagens da modernidade em Jacobina: Narrativas fotográficas em um contexto desenvolvimentista (1955-1963)
Este trabalho consiste numa abordagem em torno da relação entre fotografia e cidade. O objeto de análise são as
narrativas fotográficas da cidade de Jacobina, interior da Bahia, entre 1955 a 1963. Este periodo foi marcado pela
influência na cidade das idéias desenvolvimentistas, de progresso e de modernidade, identificados nas imagens de
intervenções urbanas, de edificações, ou dos aspectos da sociabilidade, produzidas através das lentes dos fotógrafos.
O estudo investiga a cidade de maneira fragmentária e a partir dos seus espectadores fotográficos, procurando anali-
sar através deles ícones da modernidade em Jacobina. Interessa perceber neste momento algumas questões: Que
importância teve a fotografia para a cidade no contexto em análise? Quais as impressões produzidas pelos fotógrafos
acerca daquela experiência urbana?

I 19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h ás 16h30min)

Vanessa Sobrino Lenzini - Unicamp


Faces do 'moderno' na fotografia do Foto-Cine Clube Bandeirante (1948-1951)
Pretende-se mostrar parte da pesquisa de mestrado que identifica a polissemia do 'moderno' na produção do Foto-
Cine Clube Bandeirante, em São Paulo, durante 1948-1951. O ideário de modernidade pode ser visto tanto nas aspi-
rações por um cosmopolitismo, com a publicação de artigos traduzidos de revistas estrangeiras especializadas e a
realização dos Salões Internacionais, quanto na sociabilidade dos fotógrafos em contato com o circuito artístico e
cultural da capital paulista no pós-guerra. A valorização da fotografia como linguagem de comunicação imagética,
intencionava transmitir mensagens a um observador que participava de uma cultura urbana dinâmica, favorecendo a
constituição de noções de 'moderno'.

Eduardo Augusto Costa - Unicamp


Fotografia de arquitetura: A apropriação iconográfica do Brazil Builds na construção de um ideal moderno da
arquitetura brasileira
Este texto pretende introduzir a documentação fotográfica de arquitetura produzida por Kidder Smith , para a publica-
ção "Brazil Builds' , e seu papel num período de construção da identidade arquitetônica moderna do país, procurando
esclarecer a relação entre a produção de arquitetura e esta série de registros fotográficos em questão. O texto busca
demonstrar como as fotografias atuaram como documentos potenciais na construção de um ideal moderno de arquite-
tura e principalmente na constituição de um repertório iconográfico seguida pelos grandes expoentes desta atividade.
Para tanto, parte de textos críticos de arquitetura produzidos durante o movimento moderno e sua circulação na
sociedade, além da identificação das técnicas e resultados formais, que caracterizaram um ideal de fotografia de
arquitetura, representada nesta iconografia em estudo.

Jorge Luiz Romanello - UEL


A revista O Cruzeiro e a propaganda do desenvolvimentismo: construção de estradas e imagens do progresso
no governo JK
O objetivo desta comunicação é analisar a forma como a revista o Cruzeiro pretendeu estruturar parte da propaganda
do desenvolvimentismo durante o governo de Juscelino Kubitschek, a partir do estudo das fotografias da construção
de estradas de rodagem publicadas no periódico no período de 1956 á 1961. A revista O Cruzeiro - o mais importante
veículo de comunicação de massas do periodo, integrante do poderoso grupo Diários Associados - desempenhou um
importante papel na divulgação do ideário do desenvolvimentismo e na construção da imagem do presidente JK como
homem dinâmico e realizador. O periódico serviu-se para tanto de uma série de artifícios, entre os quais talvez o mais
importante tenha sido a publicação de uma grande quantidade de fotografias sobre os mais diversos assuntos. Neste
contexto destaca-se a cobertura da construção de milhares de quilômetros de estradas de rodagem. Consideradas
como importantes veias de comunicação e progresso, suas construções eram apresentadas como batalhas heróicas
do hornem contra a natureza, representada pelas selvas cortadas e pelas dificuldades geográficas vencidas.

Elio Cantalício Serpa - UFG


Revista Cruzeiro de 1310911972: "força de invenção"nas imagens do passado e do presente
A Revista O Cruzeiro de 13/09/1972 produziu um repertório de imagens (fotojomalismo)ern comemoração ao Sesqui-
centenário da Independência. As imagens transitam, lidam e depuram o passado, apontando para um presente gran-
dioso e próspero, calcado na idéia de modernização como 'superação das nossas deficiências'. Está em curso o
desejo de constituição e mudança de subjetividades, no qual técnica e tecnologia tornaram-se suportes fundamen-
tais para constituir processos de identificação e(des)identificação de homens e mulheres, consigo e com a ordem
política vigente.

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20107 - Sexta-feira - Tarde (14h às 18h)

Luiz Lima Vailati


Tradição e ruptura nas fotografias de "anjos" do acervo iconográfico do Museu Paulista
A apresentação pretende examinar as fotografias de crianças mortas produzidas em São Paulo no século XIX de modo
a pensar a sensibilidade em relação à infância e à morte na época bem como algumas transformações operadas nesse
âmbito. A estratégia de análise privilegiará a identificação, nesse material, de elementos constitutivos das atitudes face
à morte infantil no Brasil para o período em questão, tratando daqueles relacionados às práticas e representações para
com a criança morta cuja origem é bem anteríor à prática de registro fotográfico dos 'anjos' e, na mesma medida, dos
que estão associados às mudanças que nesse universo tiveram lugar na segunda metade do século XIX e que, como
cremos, acompanharam e fomentaram não só o advento mas também a extinção desse costume.

Francisca Ferreira Michelon - UFPel


Entre fotografias e roupas: uma aparência da moda na cidade de pelotas (1900-1930)
Sobre dois trabalhos que oriento no curso de Especialização em Patrimônio Cultural (IAD/UFPel), elaboro a reflexão
que constitui o tema deste texto, relacionando questões culturais situadas no âmbito da moda com a sua representa-
ção fotográfica, nas primeiras três décadas do Séc. XX e com base nos acervos fotográfico e têxtil que estão sendo
sistematizados no Museu Parque da Baronesa em Pelotas/RS. De tipologia Museu Histórico, a linha temática desse
museu é a história dos costumes no período que se situa do final do século XIX até a década de 30 do século XX. No
acervo permanente há discriminadas 1.043 peças que estão sendo inventariadas em projeto da própria instituição.
Além do acervo há o centro de documentação no qual estão as fotografias do período indicado. Os trabalhos orienta-
dos desenvolvem investigação cujo fim busca ser a identificação das peças, operando assim como processo auxiliar
na catalogação. Relacionando os dois acervos e os dados entabulados pelas investigações e tendo como considera-
ções básicas a modo na condição do fato pelo qual se geram os artefatos têxteis e a fotografia na condição de memória
artificial da cultura e artefato de considerável competência de registro, operam-se sugestões sobre as inerentes adap-
tações da moda à sociedade local.

Silvana Barbosa Rubino - Unicamp


Cadeiras e colares: gênero e domesticidade no trabalho de Lina Bo Bardi e Charlotte Perriand
A pesquisa teve início a partir de duas imagens semelhantes: Lina Bo Bardi recostada em sua cadeira Bardi's Bowl, de
1951 e Charlotte Perriand posando em sua Chaise Longue em 1928. Em comum, os corpos de suas autoras serviam
de medida, de escala ergonométrica para os móveis expostos, ainda que elas não mostrassem o rosto. Em comum
também, as duas projetistas desenharam suas próprias roupas, seus colares, como um manifesto a favor da moderni-
dade. A partir dessas imagens de cadeiras e colares, a pesquisa busca comparar as trajetórias da designer Perriand e
da arquiteta Bardi, perseguindo a hipótese de que no chamado modernismo arquitetônico operava uma silenciosa
divisão de trabalho por gênero: aos homens definiram os espaços coletivos enquanto as mulheres redesenharam a
esfera doméstica. O que não era uma novidade, visto que a Chicago World Exibition expôs artefatos feitos por mulhe-
res em 1893, um ano depois da primeira Exposition des Arts de la Femme em Paris. Mas é possível que as duas
artistas aqui estudadas (ao lado de outras da Bauhaus, do Vhutemas, da engenheira Carmen Portinho e de Eileen
Grey) tenham logrado uma revolução simbólica, profissionalizando os saberes 'do lar" e participando da consolidaç ão@2
do desenho industrial.

Rafaela de Andrade Oeíab - UP


Retratos de amas negras com crianças brancas: muitas interpretações e diferentes abordagens historiográficas
Esse trabalho tem como objetivo discutir as interpretações dos retratos fotográficos de amas negras com crianças
brancas, largamente produzidos em todo Brasil desde meados do século XIX. Estes documentos iconográficos tiveram
uma vasta gama de interpretações: por vezes eram tidos como símbolos da relação íntima e amorosa entre senhores
e escravos; em outros momentos, foram vistos como 'auto-imagem' da classe proprietária, que ostentava sua riqueza ~
por meio de escravos bem trajados; foram ainda interpretados como reveladores de uma forma sinistra de exploração 5
do corpo feminino e da negação da maternidade escrava. Estas análises feitas a partir de um mesmo tipo de documen- ~
to iconográfico se revelam muito diversas, senão contraditórias. Tal fato acaba por levantar alguns questionamentos: .3
seria a qualidade imagética do documento que levaria a interpretações tão díspares? Essas análises são contraditóri- ;3
as por que evidenciam diferentes parcelas da relação paradoxal existente entre escrava e criança branca? Ou ainda,
cada interpretação acionaria diferentes arcabouços teóricos, que implicariam em distintos modos de estudar a escravi- ~ O)

dão no Brasil? Partindo dos retratos pretendo estudar a vinculação de suas diversas análises com linhas da historio- .§
grafia da escravidão brasileira.

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Paula Martins de Barros Gioia - UFF
Alemanha Turca em Preto-e-Branco: reelaboração identitária sob a ótica fotográfica
O movimento migratório Turquia-Alemanha constitui um dos casos mais representativos no contexto das imigrações
de mão-de-obra barata para o continente europeu no pós-Segunda Guerra Mundial. Buscando revelar conflitos e jogos
identitários desencadeados por tal processo e vivenciados, principalmente, pelas gerações mais jovens e pelos inte-
lectuais no interior da comunidade étnica constituida pelos turcos na Alemanha, na transição do século XX para o
século XXI, a fotografia foi tomada como fonte e objeto da pesquisa histórica. A poética visual do intelectual turco
imigrado na Alemanha, Kemal Kurt, foi relacionada a sua trajetória de vida e ás redes sociais tecidas. Neste sentido,
proponho ao simpósio temático apresentar os resultados finais de minha dissertação de mestrado, demonstrando
como o cruzamento de palavras e imagens produzidas por um mediador cultural possibilitou a reconstrução de uma
história e o estabelecimento de um elo entre passado e presente.

Erika Cazzonatto Zerwes - UNICAMP


Arte e política na fotografia de Aleksandr Rodchenko
Resumo: o estudo busca pesquisar a relação que o artista estabeleceu entre seu trabalho fotográfico e sua crença e
postura política relativa aos acontecimentos e transformações ocorridos em outubro de 1917 na Rússia.

Alice Fátima Martins - UFG


Fahrenheit 451: a memória como instância inviolável de resistência da cultura
Neste trabalho, a partir de uma leitura do filme Fahrenheit 451, de François Trouffaut, são discutidas as relações entre
as narrativas literárias, do cinema e da tradição oral na sistematização das visões de mundo na sociedade contempo-
rânea, tendo em consideração os contextos sócio-culturais de produção do filme, e as metáforas que transitam entre o
texto literário e a narrativa filmica. Trata-se da história de uma cidade ficcional onde os livros foram banidos da legali-
dade. Cabe aos bombeiros rastrear esconderijos de livros e bibliotecas clandestinas para queimá-los. Os infratores
são denunciados e perseguidos. Montag, bombeiro, deixa-se seduzir pelos livros, passando a lê-los e a defendê-los.
Em fuga, encontra homens e mulheres que, escondidos nos arredores da cidade, preservam, em suas memórias,
livros inteiros, repassando, oralmente, de geração para geração, seus conteúdos. Cultivam a esperança de que, quan-
do essa nova idade das trevas tenha passado, possam recuperar todo o conhecimento contido nas obras literárias.
Várias gerações de jovens inspiraram-se nesse filme em suas lutas contra quantas formas de repressão e totalitaris-
mo, compreendendo que a instância inviolável de defesa e preservação da cultura está na memória e no seu exercício
por meio da tradição oral.

Cláudio de Sá Machado Júnior - UFRGS


A Memória Vai ao Cinema: visualidade e convívío social nas lembranças de vida no Cine Theatro Capitólio
(Porto Alegre, 1928-1994)
A presente pesquísa objetiva o estabelecimento de vínculos entre a experiência visual do cotidiano como parte inte-
grante de uma rede mais ampla que compõe os ciclos de experiência de vida. Ao longo do século XX, o cinema
constituiu-se num dos principais atrativos da esfera visual das sociedades urbanas, proporcionando potenciais efeitos
culturais, numa fusão entre imagem e, posteriormente, som. As projeções ganharam espaços próprios na arquitetura
das cidades e as salas foram verdadeiros lugares para o desenvolvimento da diversão, de discussões políticas, de
relações pessoais, amorosas e até mesmo de vivência infantil e familiar. Com o passar dos anos, o cinema de rua
perdeu seu charme, transferindo-se para os grandes centros de lojas. Algumas das experiências pessoais vivenciadas
a partir deste espaço da visual idade são trabalhadas na pesquisa de resgate da memorial oral do Cine Theatro Capi-
tólio, localizado em Porto Alegre. Ainiciativa resultou da parceria de fomento entre a Fundação Cinema RS (FUNDACI-
NE) e a Petrobrás, com auxílio administrativo da Prefeitura Municipal de Porto Alegre e da Associação dos Amigos do
Capitólio (AAMICA). O resultado visa à publicação de obra comemorativa à entrega do prédio, patrimônio histórico
municipal, e à criação da Cinemateca Capitólio.

Alberto Gawryszewski - UEL


Imperialismo, Guerra e Paz
O objetivo deste do trabalho é mostrar como o Partido Comunista do Brasil (PCB) pretendeu construir uma visão, por
meio das caricaturas e charges políticas, de alguns aspectos apresentados por sua imprensa, no período 1945/57. A
quantidade produzida deste material é enorme. Mas qual o tema a estudar? Qual deixar de fora? Qual imagem esco-
lher? Qual representava melhor a mensagem a ser passada? Qual associava mais de um tema? Enfim, foram ques-
tões feitas e que tinham que ser respondidas. Assim, optamos por mostrar as caricaturas e charges políticas que
ajudaram a construir o imaginário comunista sobre o imperialismo e sua relação com a guerra e a América Latina.
Destacaremos a Guerra da Coréia e as denúncias do uso de armas bacteriológicas; os símbolos criados para o impe-
rialismo norte-americano, bem como o uso do simbolo da estátua da Liberdade como desarme do discurso da liberda-
de nos EUA. O combate à Guerra foi ponto primordial nos discursos e imagens da imprensa comunista, tal como a

338
temática da Paz, a ponto de fazerem uma campanha mundial pela Paz. Nesse sentido, os artistas engajados, brasilei- ~
ros ou não, ilustrando textos ou não, dialogavam entre si, criando uma linguagem única, dentro dos ideais dos partidos ~
comunistas nacionais, conforme as linhas estabelecidas pelo PCUS

Lorena Avellar de Muniagurria - UFRGS


Ações educativas e arte contemporânea: bases do "encontro do público com a arte"
Nas últimas décadas, no Brasil, a proliferação de grandes exposições de artes visuais resultou na situação paradoxal
de divulgação massiva, junto ao "público leigo", de uma produção artística considerada erudita e tradicionalmente
restrita a poucos. Nesse contexto, Ações Educativas (AEs) e visitas monitoradas ou mediadas têm ganhado força e
visibilidade. Espaço de atuação de arte-educadores, artistas, museólogos, curadores e historiadores de arte, têm sido co
também o principal instrumentos das instituições culturais para "favorecer e qualificar o encontro do público com a .,5
arte'. Considerando o direito de acesso a bens culturais, mas evitando idealizar e naturalizar os valores da cultura e da ~
arte (posto que estes são social e historicamente estabelecidos)! propomos analisar os entendimentos de arte que z
permeiam essas ações educativas. A partir de um estudo etnográfico em importantes instituições culturais de Porto ::;
Alegre/RS, mostramos que as noções e os valores que embasam as AEs são próprios á chamada arte contemporânea; ~§
e que, para além de noções particulares relativas á arte (artista, obra, fruição, História da arte etc), articulam-se tam- ~
bém com um entendimento particular e específico sobre o mundo e o tempo atualmente vividos, e sobre o lugar e o :2
papel da arte neles. .~-
'~
:I:

43. História, Memória e Narrativa


Antonio Torres Montenegro (UFPE) e Regina Beatriz Guimarães Neto (UFMT)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h ás 18h)

Antonio Paulo de Morais Resende· UFPE


A literatura e a narrativa histórica
O diálogo da história com outros campos dos saberes não é recente. Há questões que permanecem polemizando,
dividindo os caminhos. Prefiro não entrar nas controvérsias, mas afirmar, com clareza, meu caminho. Considero impor-
tante a proximidade com a literatura, não apenas como fonte, para contemplar a diversidade de olhares históricos
sobre o que foi vivido. Não há como negar a dimensão criativa e a capacidade de compreender a aventura das grandes
obras literárias. A narrativa quebra monotonias, estabelece dissonâncias, multiplica as alternativas, estica a medida de
compreensão da convivência social. O texto histórico se alarga, quando acolhe contraponto e não fica escravo de
fontes oficiais ou bem-comportadas, em nome da existência de uma verdade cientifica. Mas há outros entrelaçamen-
tos com a literatura que me atraem. Estão relacionados com uma dimensão mágica da palavra e do seu poder de
sedução.

Valéria Gomes Costa - UFRPE


Nação Xambá: memória e configuração de identidade étnica
A busca por uma identidade africana, pelos(as) adeptos(as) dos cultos de orixás e/ou das demais práticas religiosas
elaboradas a partir de narrativas de pertencimento ao mundo africano, vem sendo objeto de estudos em diversas áreas
do conhecimento, como a antropologia, a sociologia, a lingüistica e a história. Em suas abordagens, percebemos como
ponto de interseção o debate em torno da apropria.ção e ressignificação da cultura e identidade africanas realizadas
pelos grupos religiosos, isto é, da busca por uma Africa no Xangõ/Candomblé. Para S. Capone, a reconstrução dos
vinculos rompidos com a cultura africana "original' e a afirmação da tradição, no NE, passam pelo debate sobre o
sincretismo no Candomblé/Xangô, predominante na luta pela supremacia que opõe os terreiros entre si. O presente
trabalho se propõe a discutir as elaborações e reelaborações simbólicas dos membros da Nação Xambá, pratica
religiosa afrodescendente em Alagoas e Pernambuco, que teve seu apogeu entre os anos de 1930-60, na empreitada
de construção de sua identidade étnico-religiosa africana. Toma-se como ponto de partida, para estudar as elabora-
ções e ressignificações de identidade africanizada, a memória das pessoas que pertencem ou pertenceram, em Ma-
ceió/AL e Recife/PE, á prática de cultuar orixás Xambá.

Mauro Passos - PUC·MG


Com lenço e com documento: proximidades e fronteiras no oficio docente (1961·1971)
O processo de conhecimento é um trabalho coletivo. Na história, os homens mudam, assumindo novas formas, tornan-
do realidade seus sentimentos. O ser humano vive da memória. A pesquisa histórica vem ampliando seus objetos de

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estudo. A História Oral ligou-se ao mundo acadêmico, deixando de ser uma manifestação espontânea, sem método.
Quando se procede à reflexão sobre o Outro, passa-se do nível da observação para o analítico. Esta comunicação
destaca questões sobre a história da profissão docente em Minas Gerais, a partir de depoimentos orais de duas
professoras primárias. As entrevistas revelam a compreensão que se tem do magistério. O trabalho de enquadramento
da memória ajusta-se à ênfase que quero dar à idéia de ação da memória. Através desses depoimentos, reconstitui a
ponta de uma memória sobre o trabalho docente no período de 1961 (promulgação da LDB) a 1971, nova regulamen-
tação (Lei 5.692). Meu interesse está circunscrito no tratamento dado às questões profissional e salarial. Na década de
1960, o atraso para o pagamento das professoras primárias gerou uma movimentação da categoria. Qual o significado
desse movimento? Os depoimentos apontam para uma nova visão do trabalho docente. O magistério é um fenômeno
social, historicamente situado num quadro de relações mais amplas.

Venize Nazaré Ramos Rodrigues - Universidade do Estado do Pará


Memórias de guerra em histórias de velhos na cidade de Belém
Este trabalho apresenta recortes da segunda guerra mundial em Belém, em memórias de velhos asilados na Institui-
ção Pão de S. Antonio, asilo centenário existente na cidade. Compõe uma pesquisa maior que permitiu (re)construir
painéis contextuais de Belém de antigamente, onde a cartografia urbana e o cotidiano da cidade foram analisados, de
modo a deixar entrever a pulsação da história no modo de viver, nas dificuldades e desafios das pessoas que habita-
vam a Belém de outrora. As lembranças de guerra foram bastante recorrentes nas falas, justificando a urdidura deste
texto, onde as apreensôes, as dificuldades no abastecimento, a engenharia da guerra, as medidas de governo e a
alegria coletiva com o final do conflito, são marcas indeléveis nos relatos e testemunhos, propiciando leituras diferen-
ciadas dos registros oficiais. Tal pesquisa foi desenvolvida por docentes da Universidade do Estado do Pará, pelo
grupo de pesquisa Culturas e Memórias Amazônicas e aprovada no Programa do Desenvolvimento de Apoio à Pesqui-
salUEPA.- 2006.

Maria Aura Marques Aidar - Universidade de Uberaba


Os confins de Mário Palmério: história e literatura regional
Em Os confins de Mário Palmério: história e literatura regional pesquisamos as questões históricas, regionalistas,
ficcionais e literárias que se apresentam no, e a partir do romance Vila dos Confins. O livro nos possibilita analisar o
imaginário que o interior do Brasil de 1956 construía a seu respeito e o aprofundamento no estudo da Região do
Triangulo Mineiro. Vila dos Confins foi ambientado no tempo de sua escritura. Havia uma discussão no Congresso
Nacional à respeito da necessidade da alteração do código eleitoral para evitar as fraudes. O livro relata várias falca-
truas ocorridas em uma eleição para prefeito no interior de Minas Gerais e a cultura popular triangulina. Foi sucesso
nacional, de critica e de público e parece demonstrar que o autor tinha um compromisso político, de denúncia dos
conflitos sociais e políticos da realidade brasileira de então, além de divulgar sua região. Ficção e história: onde a
narrativa histórica se aproxima e se afasta do discurso literário? A obra ajudou em alguma coisa a mudança da lei?

Paulo Santos Silva· UNEB


Escritos partidos: participação política, história e literatura na Bahia
Analisa as relações entre participação política, atuação no universo das letras e as diversas formas de expressão
escrita, enfocando-se a produção ensaística histórico-sociológica e ficcional. Ocupa-se de individuos que se destaca-
ram nas atividades partidárias e na imprensa local, em particular durante os anos 1930 e 1940. Dicutem-se as repre-
sentações construídas por letrados locais ao recorrer à história e á ficção no processo de construção de memórias,
voltadas estas para a legitimação de projetos políticos de setores das elites baianas.

I 17/07 - Terça-feira - Tarde (14h às 18h) I


Antonio Torres Montenegro . UFPE
Os dilemas epistemológicos das fontes historiográficas
Um aspecto do debate contemporâneo da historiografia brasileira, refere-se à relação história e memória. Existem
algumas dimensões significativas deste debate a serem destacadas que remetem essencialmente às especificidades
teórico/metodológicas das fontes escritas e das fontes orais de memória. Uma dessas dimensões, que durante muitos
anos foi alvo de críticas por parte de uma parcela de historiadores, refere-se ao caráter considerado subjetivo dos
relatos de memória. No entanto, as transformaçôes no conceito de objetividade e subjetividade por parte da física, da
matemática, bem como da psicanálise, produziram importantes ressonâncias no campo das ciências humanas e, em
especial, no campo da históría. Nesse sentido, é que esse texto se propõe a refletir acerca do significado de todo
documento, como registro e ao mesmo tempo como construção de acontecimentos, vivências, experiências produzi-
das por uma parcela de homens e mulheres de uma sociedade, em um determinado período histórico. A ruptura com a
totalidade e a objetividade como critérios fundadores da verdade implica em novos desafios, que remetem à constru-

340
ção de novas maneiras de pensar o significado do documento e da verdade no conjunto de procedimentos do fazer ~43
historiográfico, ~

Eduardo Romero de Oliveira - Unesp


Histórias de vida às margens do Rio Paraná
Este texto tem por objetivo apresentar alguns resultados da pesquisa histórica sobre o povoamento das margens do
Rio Paraná no século XX, A pesquisa é baseada essencialmente na coleta de histórias de vida dos moradores de 16
municipios às margens do Rio Paraná (tanto aqueles da margem do Estado de São Paulo quanto do Mato Grosso do
Sul), E sua iniciativa foi decorrente dos trabalhos de resgate da memória das comunidades ribeirinhas, em função do
impacto do enchimento do lago da Usina Sérgio Mota, Foram selecionadas de 10 a 30 pessoas de cada municipio ro
(enquanto um número percentual em relação ao número de habitantes e de família afetadas em cada município pela '.5
construção da Usina), Foi priorizada a entrevista com antigos moradores, líderes de comunidade, trabalhadores na ~
construção da usina ('barrageiros') e reassentados (resultantes do enchimento do lago da usina), As entrevistas procu- z
raram recolher depoimentos, primeiramente, sobre as condições humanas de ocupação da população ribeirinha e :::
suas diversas relações com o ambiente natural. Em segundo lugar, atentaram sobre algumas formas de vida rural. Por ~§
terceiro, recolhemos relatos da cultura material (práticas de trabalho), E por quarto, os depoimentos sobre as altera- ~
ções decorrente do enchimento do lago da usina, :2;
.~...

Nilceu Jacob Deitos - UNIOESTE '8


As relações de familia e práticas religiosas a partir da memória de colonizadores no oeste do Paraná z'"
A pesquisa que desenvolvo consiste na investigação da construção da memória a partir de depoimentos gravados que
fazem parte do acervo documental do Museu Histórico Willy Barth de Toledo-PR. Os depoimentos foram feitos há
alguns anos através de uma iniciativa do Poder Público do municipio e do próprio museu, Na ocasião, o trabalho
consistiu na gravação de vários depoimentos de personalidades do município os quais aconteceram através de con-
versas realizadas de maneira um tanto informal. A escolha dos entrevistados teve como critério o período em que
chegaram a Toledo, privilegiando aqueles que vieram nas décadas de 1940 e 1950, época que se registrou o início da
colonização daquele município, A partir da transcrição dos depoimentos, o objetivo do trabalho consiste em apontar
para alguns temas que são mais recorrentes nas falas, entre eles destacam-se as relações de família e a religiosidade
presente entre os migrantes, Estes temas, entre outros, aparecem com muita freqüência nos depoimentos, e apontam
para a reconstrução das experiências de um passado, cuja memória possibilitou a re-elaboração deste mesmo passa-
do, perceptível através dos depoimentos registrados,

Roberto Abdala Junior - UFMG I UnilesteMG


O Brasil dos anos 1990: ação política, tele-ficção e as lutas pela memória nacional
Nas intrincadas relações entre história, teledramaturgia e a imaginação dos brasileiros é que se inscreve o tema do
trabalho que ora apresentamos: os processos de construção da memória nacional brasileira. O texto procura refletir
sobre as lutas pela memória nacional e a participação da televisão, especialmente a ficção que enfoca a história do
país e analisar suas possiveis implicações nos processos históricos dos quais participaram, Um tema polêmico por
excelência, sobretudo quando se trata de memórias do período da ditadura civil-militar implantada no Brasil a partir de
1964, No caso do presente estudo estaremos nos debruçando sobre a sociedade brasileira dos anos noventa, anali-
sando, especialmente, o ano de 1992, no qual a minissérie Anos Rebeldes, da Rede Globo de Televisão foi exibida,
Neste mesmo ano também ocorreu uma das maiores mobilizações populares das últimas décadas, juntamente com a
única deposição constitucional de um presidente eleito, Um tema assim complexo exige também que algumas refle-
xões teóricas venham a ser realizadas, pois são decisivas ao debate,

Uz Andréa Dalfré - UFPR


Narrativas da nacionalidade: o caso de Euclides da Cunha e do Contestado
No início do XX foi marcante no pensamento social brasileiro a presença de algumas noções apropriadas do darwinis-
mo social, do positivismo e do cientificismo, Esse pensamento foi paradigmático das formas de se pensar o Brasil e os
brasileiros, estando presente nas obras de diversos intelectuais, literatos e jornalistas do período, entre os quais
podemos citar Euclides da Cunha, A mais conhecida obra euclidiana, Os sertões, encontrou eco nos mais diversos
cantos do Brasil. Foi lido, citado, comentado, discutido, traduzido e apropriado das mais variadas formas, Solicitar a
influência desta obra e deste autor, nas primeiras décadas do século XX, demonstrava erudição e o dominio de uma
cultura letrada, bastante valorizada neste período, Neste artigo, pretendemos discutir uma das apropriações de Os
sertões, obra concebida a partir da experiência vivida por Euclides da Cunha como relator da Guerra de Canudos.
Tentando seguir os seus passos, diversos narradores da Guerra do Contestado fizeram uso do texto euclidiano, evi-
denciando uma grande preocupação com os rumos adotados pelo governo republicano no Brasil e uma sintonia com o
pensamento social da época,

341
Alessandra Gasparotto - UFRGS
"Viver ou morrer na guerrilha" - Reflexões sobre o testemunho de um militante da resistência armada contra
a ditadura que participou dos processos de retratação pública. Brasil-1970 - 1975
Entre os anos de 1970 e 1975, inúmeros militantes de organizações armadas que combatiam o regime civil-militar
brasileiro protagonizaram, em situações e por razões diversas, episódios de retratação pública, conhecidos como "os
arrependimentos". Estes episódios ficaram marcados de forma negativa e muitos dos protagonistas evitam falar sobre
o tema. Celso Lungaretti, porém, é aquele que fala. Já concedeu entrevistas, escreveu artigos, participou de progra-
mas de televisão, tem uma 'página" no site de relacionamentos Orkut e, em 2005, lançou o livro "Náufrago da Utopia -
Vencer ou morrer na guerrilha. Aos 18 anos", na tentativa de dar o seu testemunho e tentar responder as inúmeras
perguntas que ainda pairam sobre aqueles episódios. Este trabalho tem por objetivo então discutir algumas questões
relacionadas ao testemunho de Lungaretti. Propõe-se a fazer uma análise de suas falas e refletir sobre seus limites e
possibilidades, tentando perceber como a experiência vivida foi reelaborada e é contada, o que se quer lembrar e o que
se quer esquecer. E pensar também como estas memórias podem contribuir para o debate coletivo sobre questões que
envolvem as práticas da militância dos anos 1960 e 1970, a forma como estas foram reprimidas e o trauma social
causado pela ditadura brasileira.

I 18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h)

Regina Beatriz Guimarães Neto - UFMT


A história, a memória e a polissemia dos relatos
Este texto coloca em discussão duas ordens de reflexões que se imbricam em suas várias dimensões. Em primeiro
lugar, as análises destacam a importância da estrutura narrativa dos textos historiogràficos, tecendo considerações
acerca da produção da escrita com base no uso das diversas fontes, segundo os procedimentos metodológicos que
guiam a historia como disciplina. Em segundo, tomando por base estudos realizados em pesquisas que focalizaram
algumas cidades - cidades da mineração - em Mato Grosso, na primeira metade do século XX, as análises tomam
como referência os relatos de memória de certos moradores e algumas matérias de um jornal literário ('Novo Mundo"),
privilegiando o universo cultural das ações cotidianas. Nessa trilha, apresenta-se um mosaico de recordações que
fragmentam o tempo e captam o movimento de mulheres e homens nos espaços múltiplos da memória. Assim, espaço
e tempo se entrecruzam em diversas visões que produzem uma cartografia da experiência e da vida nas cidades.

Denise Rollemberg - UFF


Caminhos para o passado. Memórias da Associação Brasileira de Imprensa (1964-1974)
A comunicação visa a apresentar resultados da pesquisa intitulada As relações entre sociedade e ditadura: a OAB e a
ASI, no Brasil de 1964 a 1974, desenvolvida no Núcleo de Estudos Contemporâneos (NEC), da UFF. Nela, trabalharei,
especificamente, com a Associação Brasileira de Impensa, entre os anos 1964 e 1974. A proposta é, a partir das atas
das reuniões ordinárias e extraordinárias do Conselho Administrativo, acompanhar e compreender os debates, na
instituição, dos vários temas presentes no momento estudado: o golpe civil-militar e os dez primeiros anos da ditadura,
até o in icio do projeto de abertura política Geisel-Golbery. Se a ASI, a OAB e a CNBB são grandes referências da luta
contra a ditadura, segundo a construção da memória da resistência democrática, a leitura das fontes, à luz das refle-
xões teóricas e metodológica do historiador francês Pierre Laborie, revela uma realidade mais complexa e incômoda a
esta memória tão consagrada pela historiografia e pelo senso comum.

Leticia Cantarela Matheus - UFF


O tempo do progresso nas narrativas jornalísticas: uma história da imprensa fluminense
O artigo representa uma tentativa de elaboração de uma história do jornalismo no Rio de Janeiro, tendo em conta o
trabalho de temporalização efetuado por meio das narrativas postas em circulação midiaticamente. Trata-se de meta-
narrativas que realizam uma espécie de historiografia das práticas jornalisticas voltada para opúblico geral. O corpus
é composto por edições comemorativas de periódicos fluminenses com mais de 100 anos. Nessas edições, são verifi-
cadas as articulações temporais das histórias do jornalismo, dos títulos celebrados e do Brasil, de modo a evidenciar
as trajetórias e explicações que os periódicos atribuem a si bem como sua inscrição nos quadros temporais contempo-
râneos ás edições.

Luis Manuel Domingues do Nascimento - Universidade Católica de Pernambuco


Modernizações urbanas na cidade do Recife (1969-1970): a construção do complexo viário das Cinco Pontas e
os seus custos sociais e a desorganização das memórias e das histórias
Entre 1964 a 1985, na cidade do Recife teve lugar um processo de modernização urbana que a integrou aos padrões
de uma sociedade de consumo e industrial e promoveu um reordenamento urbano de sua área central, uma reurbani-
zação viária do seu espaço urbano e a instalação de equipamentos urbanos. As ações foram arquitetadas e executa-

342
das pelo poder público em associação ao capital ávido por novas oportunidades de negócios e aliado ás classes ~
sociais mais abastadas com interesses numa mobilidade territorial eficaz num tempo hábil. Na gestão do prefeito ~
Geraldo Magalhães (1969-1970), a politica estatal definiu ~ consolidou um perfil autoritário e tecnocrático, impondo ao
conjunto social da cidade os custos dessa modernização. A época foi construido o primeiro complexo viário destinado
preferencialmente ao automóvel de passeio, com o aterro e construção do estacionamento do Cais de Santa Rita, o
alargamento da Av. José Estelita e a construção do viaduto das Cinco Pontas, integrando a área central ao bairro da
Boa Viagem, com os custos dessa intervenção recaindo sobre os segmentos das classes subalternas estabelecidos
na área. Analisar e criticar essa intervenção, os custos e conflitos sociais suscitados e desvelar a memória e narrativas
ai presentes é o propósito do presente trabalho.
co
Marcelo Santos Rodrigues - Universidade Federal do Tocantins .~
Brados de agonia e clamores sem nome: a morte nas narrativas de médicos na Expedição do Mato Grosso ~
(1864-1870) Z
A Guerra contra o Paraguai começou em novembro de 1864 e terminou em março de 1870: durante todo o período do ~
conflito, as partes, em luta, enfrentaram a morte de diversas formas não somente vitimados pela bala inimiga. A morte ~§
apresentava-se através em suas variadas facetas a diarréia, a varíola, o cólera-morbus, o frio e a fome gracejavam ~
entre as tropas de soldados, aliadas de um lado e paraguaios de outro. Ador e a morte conviviam no mesmo campo de :2
batalha. Baseado em pesquisa feita em fontes primárias, nos relatos médicos e de soldados que presenciaram as .~-
cenas de carnificina nos acampamentos e hospitais, essa é uma narrativa sobre a presença da morte entre as tropas ~~
expedicionárias do Brasil. No final da guerra muitos cemitérios mantiveram a lembrança dos soldados e na memória :::r::
dos médicos, dor e sofrimento.

Taciana Mendonça Santos· UFPE


Mudança de Foco· Possiveis desdobramentos políticos ocorridos a partir da lei de autonomia do Recife (1955)
Buscando compreender como ocorrera a criação e consolidação da frente oposicionista consagrada na historiografia
como 'Frente do Recife' nos deparamos com a questão da concessão de autonomia ás capitais de estado do Brasil. A
conquista da autonomia da cidade do Recife parece ter contribuído para que ocorresse uma mudança nas estratégias
adotadas pelos partidos politicos locais. O PSD, partido de grande penetração eleitoral no agreste e no sertão e que
até aquele momento negligenciara o eleitorado urbano em expansão, passou a voltar sua atenção á população da
capital, visto que a partir de 1955, com a lei de autonomia, o Recife teria seu prefeito indicado pelo voto direto e não
mais pelo governador do Estado. Os ditos grupos de esquerda, detentores de uma sólida base eleitoral na capital,
passaram então a vivenciar uma acirrada disputa com os seus opositores.

19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h ás 16h30min)

Talita Veloso Cerveira - UERJ


"Memória da independência 1808·1825": a construção de um discurso através da celebração do sesquicente·
nário da Independência do Brasil
Em 1972, foi montada no Rio de Janeiro, no Museu Nacional de Belas Artes, a exposição 'Memória da Independência
1808-1825', cujo objetivo era comemorar a Independência do Brasil. Em meio a diversas comemorações, esse evento
oficial tinha como objetivo não apenas homenagear o passado e seus principais personagens históricos, mas construir
um discurso bem específico que começava em 1808, tinha em 1822 seu ponto culminante e terminava em 1972
apontando projeções para o futuro. Em um momento bem delicado para a história política do Brasil, a celebração, por
meio dessa leitura, pretendia elaborar um discurso histórico e transformá-lo em memória nacional. Dessa forma, seria
mais fácil transmitir a mensagem que os militares pretendiam: levar a população a acreditar que a transferência da
corte portuguesa para o Brasil e a independência politica alcançada em 1822, graças principalmente a D. Pedro I, eram
o princípio de um caminho para a civilidade e para o progresso econômico. Este último, contudo, só seria alcançado
com a ajuda dos militares, que se colocavam como fundamentais para o alcance desse objetivo.

Andrea Silva Domingues - Universidade do Vale do Sapucai


Cultura e memória: O festejo de Nossa Senhora do Rosário em Silvianópolis - MG
A pesquisa Cultura e memória: O festejo de Nossa Senhora do Rosário em Silvianópolis - MG, tem como objetivo
estudar os costumes, a performance, as artes de viver e fazer, constituídos no cotidiano do espaço urbano e rural; a
partir dos valores, trajetórias de vida e lutas sociais dos agentes históricos que participam da festa; entendo cultura
como parte integrante de um campo de mudanças e disputas sociais e politicas; cercado de interesses e reivindica-
ções. O estudo desenvolve-se através da História Oral refletindo sobre as maneiras de viver dos participantes da
Festa, na tentativa de entender essas experiências, valores, cotidianos e costumes que auxiliarão na reflexão da

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maneira de pensar o coletivo. Buscando a todo o momento perceber essas experiências e processos relacionados ao
festejo, observando que a história, por mais distante que seja, tem por objetivo provocar reflexões sobre o mundo atual.

Cristiano Pereira Alencar Arrais - UFG/UFMG


O Passado Remodelado: a "Coleção Brasilia" (1960) e o problema da experiência temporal
O presente trabalho é parte constituinte de minha tese de doutoramento acerca das formas de representação do tempo
no processo de construção das cidades de Belo Horizonte - MG, Goiânia - GO e Brasília - DF. Neste momento
procuro analisar uma coletânea de documentos publicados á época dos festejos de inauguração da nova capital
federal, em 1960. A 'Coleção Brasília' constitui-se numa série documental de dezesseís tomos organizada sob os
auspicios da Presidência da República, que pode ser compreendida como uma obra produtora de uma memória sobre
a capital federal visto que narra, através de documentos, aquilo que seus idealizadores conceberam como a hístória
mais legitima acerca de seu processo de construção. Dessa maneira, a origem da idéia de Brasília é transportada para
meados do século XVI. 'Brasília' já estaria representada no imaginário brasileiro desde antes da fundaçâo do Brasil
como nação. Neste caso, as expectativas do presente foram projetadas num passado que foi cronologicamente re-
constituído e, em alguns casos, orientado, no intuito de corresponder ao campo de experiência das forças políticas e
sociais envolvidas na construção da nova capítal do País.

José Roberto Severino - Univali/Furb


Memória e identidade: interfaces em um museu histórico
O presente trabalho avalia os aspectos da memória como substrato de organização museal partindo do caso do Museu
Histórico de Itajaí. A análise segue o roteitor de um projeto de memória social e seus desdobramentos em ações
educativas, produção de material didático e redesenho da expografia do museu local.

Aldo Nelson Bona - UNICENTRO


História e Memória: a complexidade de uma relação
O presente trabalho é uma pesquisa teórica sobre as relações entre história e memória, questão sobre a qual os
historiadores têm voltado seus interesses. A tônica do trabalho é discutir as relações entre história e memória a partir
do paradigma da complexidade, de Edgar Morin, pensador francês que teve, entre suas principais contribuições á
história do pensamento, a de propor conceber sempre as coisas em complexidade, superando a visão linear, evolutiva,
simples, que quase sempre orienta o nosso olhar. Assim, o intuito é mostrar como que, num primeiro momento da
historiografia, memória e história eram entendidas como sinônimos, para, em seguida, a partir de M. Halbwachs, com
sua discussão sobre a memória coletiva, serem concebidas em radical oposição. Tal oposição, que foi reforçada por P.
Nora, passa a ser questionada por pensadores como F. Dosse e P. Ricoeur. Esse pensador entende que,mais do que
simples objeto da hístória, a memória pareces er uma de suas matrizes, pois ainda é a melhor forme de saber sobre
algo que aconteceu no passado. História e memória têm, portanto, um relação complexa que passa da fusão total á
radical oposição, e desta para a interelação ao ponto de uma fecundação recíproca. É essa trajetória que o presente
trabalho pretende traçar.

Pablo Francisco de Andrade Porfírio - UFPE


Narrativas sobre Revolução: a desapropriação do Engenho Galiléia, as Ligas Camponesas e as disputas polí-
ticas em Pernambuco, 1959 a 1962
Nossas pesquisas atualmente buscam reconstruir as ressonâncias provocadas pela desapropriação do Engenho Ga-
liléia, localizado no município de Vitória de Santo Antão, Zona da Mata do Estado de Pernambuco, ocorrida em feverei-
ro de 1960, após alguns anos de reivindicação dos foreiros que trabalhavam e moravam naquelas terras. Procuramos
entender como se construíram os cenários narrativos em torno daquele acontecimento, ou seja, como os discursos
narraram a desapropriação e como tais narrativas ressoaram em meio as disputas políticas e sociais que se desenvol-
viam em Pernambuco e no Brasil no final da década de 1950 e início dos anos 60. Para tanto, utilizamos como
documentação: a imprensa, relatórios de polícia, debates parlamentares e algumas entrevistas. Nesse sentido, espe-
ramos contribuir com uma historiografia sobre o período pré-golpe de 1964, buscando entender como o Nordeste - e
principalmente Pernambuco - foi se tornando o centro das atenções de setores sociais locais, nacionais e internacio-
nais (notadamente os EUA), os quais tinham medo de que uma revolução, como a ocorrida em Cuba, se desenvolves-
se também naquela região do Brasil.

344
20/07 - Sexta-feira - Manhã (10h30min ás 12h30min)

Francisco Fabiano de Freitas Mendes - Universidade do Estado do Rio Grande do Norte


Graciliano Ramos historiador?: a história de uma pequeníssima república
Há algum tempo a relação história-literatura passou a ser uma questão maior nos debates historiográficos contempo-
râneos, por ser "caliope' uma das protagonistas da chamada crise dos paradigmas de 'clio'. Fonte para a história da
cultura; objeto para a história cultural; para alguns narrativa equiparada ao discurso historiográfico, o fato é que a
literatura tornou-se indispensável ao conhecimento histórico. E a obra do escritor alagoano Graciliano Ramos, "Peque-
na História da República", concluída em 1940 e só publicada em 1962 é rico exemplo para análise da relação já
destacada por Aristóteles a mais de 2000 anos, por Engels, no século XIX e por autores contemporâneos como Paul ~
Ricoeur. Constituída de curtos tópicos e aguda ironia a 'Pequena História ... ' parece zombar da república á brasileira, .~
que nasceu e permaneceu pequena e confusa, e também da historiografia que a cantou. O alvo da obra - o publico co
jovem - leria os mesmos temas da história tradicional, mas os encontraría numa aura de 'desilustração' do recente ~
passado politico brasileiro. Ou seja, sem o compromisso de produzír historiografia, Graciliano discutiu a história oficial co
a partir de seus temas sagrados, mostrando que o conhecimento histórico deva ser visto como lugar da versão possí- ~§
vel e não da verdade indiscutível. ~ :2

Rejane Meireles Amaral Rodrigues· UNIMONTES :8co'


Outras histórias sobre Antônio Dó: Imprensa e memória do Norte de Minas .~
O presente projeto se propõe a investigar as memórias do povo da cidade de São Francisco. Localizada no norte de =
Minas Gerais, acerca da vida de Antônio Dó, com o intuito de perceber elementos da identidade e a releitura que o
sertanejo faz de si. Objetiva contribuir com o entendimento sobre os discursos produzidos sobre o sertão norte mineiro
para analisar o tratamento dedicado por parte de governos a esta região. Utilizaremos como fonte, entrevista com
vários moradores da cidade de São Francisco e com a população que habita a área rural desta cidade, jornais locais e
nacionais que divulgaram notícias sobre o norte de Minas durante a Primeira República.

Cristina Aparecida Reis Figueira· PUCSP


Uma reflexão sobre o método da narrativa histórica e sobre a produção de documentos historiográficos: dois
exemplos com entrevistas e com o uso de textos memorialistas
A narrativa histórica ancora-se no uso do 'documento' seja escrito, imagético ou oral. Os artigos jornalísticos, os textos
biográficos entre outras fontes emprestam autoridade ao trabalho realizado pelo historiador na reconstituição do tempo
vivido. Quando a tarefa é a reconstrução da trajetória de vida de um indivíduo, o historiador de ofício, se quiser escapar
da biografia que acumula fatos estará obrigado a transcender o perfil do personagem-foco de sua investigação. Seu
trabalho implicará em considerar as situações concretas na qual seu objeto de estudo encontra-se inserido. Os vestí-
gios desta vida em reconstituição, na maioria das vezes, estão espalhados, estando a sua organização vinculada aos
interesses de pesquisa do sujeito da investigação. Assim, o historiador, além de utilizar os documentos 'garimpados'
em arquivos e bibliotecas pode produzi-los por meio da coleta, transcrição e análise de entrevistas, como também
pode construir diálogos historiográficos ao utilizar textos memorialistas. A presente comunicação tem como proposta
debater sobre estes procedimentos da pesquisa historiográfica, exemplificando-os com entrevistas realizadas pela
pesquisadora, e da análise de textos memorialistas utilizados em sua pesquisa.

Edinelia Maria Oliveira Souza· UNEB


Cultura Popular no Recôncavo Sul da Bahia: oralidades e perfomances
Este texto pretende refletir sobre movimentos, linguagens e símbolos presentes em manifestações da cultura popular
no Recôncavo Sul da Bahia durante a segunda metade do século XX. Buscou-se interpretar o narrado e o vivido a
partir de memórias, cantos e imagens de pessoas que construíram suas trajetórias imbuídas de elementos festivos
populares, como os brinquedos de roda, as festas juninas, as práticas devocionais, a 'baiação' de presépios natalinos,
etc. Nesse sentido, fizemos uso da história oral e de imagens como instrumentos teórico-metodológicos que oportuni-
zaram a problematização da voz, do corpo, de ruídos e sons, redimensionando a importância de trabalhar e pesquisar
os fazeres e viveres de sujeitos sociais. O trabalho com memórias permitiu transitar entre subjetividades vividas por
homens e mulheres dessa espacial idade baiana que, de alguma forma, estiveram no limbo, na penumbra da história.
Foi possivel perceber uma cotidianidade articulada á sabedoria empírica e ao enfrentamento da natureza e das coisas,
numa relaçâo contínua com a re-energização do corpo e do espírito a partir dos elementos culturais, re-atualizados e
imbricados com a luta intensa e ativa pelos meios de sobrevivência.

Diogo Arruda Carneiro da Cunha· UFPE


História, Memória e Imagem: as fotografias do caso do assassinato do padre Henrique
Em maio de 1969, foi encontrado nos arredores da Cidade Universitária em Recife o corpo do padre Antonio Henrique
Pereira Neto. Nesse periodo, dom Hélder Câmara era o arcebispo de OI inda e Recife e vinha, sobretudo a partir de

345
1968, após um gradual afastamento do establishment, sofrendo uma sucessão de ataques e ameaças por parte do
aparato repressivo e de grupos paramilitares por conta da sua postura crítica com relação ao regime. Após essas
sucessivas ameaças ao arcebispo, o padre Henrique, responsável pela Pastoral da Juventude da Arquidiocese, foi
violentamente assassinado. Apesar de indícios do envolvimento da repressão, sobretudo dos policiais que atuavam na
SSP, os assassinos do padre Henrique nunca foram presos. O estudo do seu assassinato e das investigações que se
seguiram posteriormente resultou numa dissertação de mestrado que foi desenvolvida na UFPE e está em sua fase
final. A leitura atenta de algumas fontes, entre elas várias fotografias, nos possibilitou ver, sob um novo ângulo, alguns
aspectos importantes do regime militar brasileiro. O objetivo dessa comunicação é discutir a utilização das imagens
como uma fonte privilegiada na pesquisa sobre o assassinato do sacerdote.

Alan Kardec Gomes Pacheco Filho - UFF


Varando mundos: sociedade e navegação fluvial no vale do rio Grajaú (1920-1970)
O processo de colonização e ocupação do Maranhão foi efetivado por duas frentes de expansão: uma litorânea que
data do século XVII, a outra que partiu do interior nordestino, ocupou e conquistou o sul maranhense. Responsável
pela integração de dois mundos distintos - o centro-sul e o norte maranhense - o rio Grajaú foi cenário de histórias de
duas sociedades diferenciadas: a sertaneja, e a litorânea. As relações sócio-econômicas estabelecidas pela via fluvial
entre essas regiões promoveram possibilidades de encurtamento dessas fronteiras históricas. Orio Grajaú, tinha como
agente da integração das duas fronteiras históricas os vareiros, cuja atividade consistia em empurrar canoas carrega-
das de mercadorias ao longo do leito desse rio. Este estudo utiliza-se da história oral e entende a memória como um
conjunto de funções psíquicas passadas, baseada na ordenação e releitura de vestígios Le Goff (1992). O objetivo
deste estudo é dar visibilidade aos vareiros do rio Grajaú, homens que empurravam canoas cheias de mercadorias
entre o rio Grajaú o rio Mearim e que contribuíram para o desenvolvimento da região e continuam no anonimato.

I 20/07 - Sexta-feira - Tarde (14h ás 18h) I


Bianca Nogueira da Silva - UFRPE
Cultura popular: um conceito circular na experiência do MCP (1960-1964)
O Movimento de Cultura popular - MCP - criado na cidade do Recife nos anos 1960, foi uma das mais plurais atuações
das massas populares no período que antecedeu a ditadura militar no Brasil. Sob a bandeira da alfabetização de
crianças, jovens e adultos o MCP gerou uma grande onda difusora do conhecimento e disseminação de atividades
culturais como dança, teatro, cinema e artes plásticas, uma experiência que agitou as estruturas sociais do período.
Mesmo trazendo o povo, como agente ativo e passivo desse processo, o MCP concentrou em sua constituição ele-
mentos da burguesia e da intelectualidade pernambucana, num esforço de estender a cultura dos "letrados" para os
'iletrados". Partindo da definição histórica de cultura popular como a manifestação feita pelo 'povo', encontramos nas
práticas emecepistas uma dicotômica realidade: uma cultura popular pensada por intelectuais atendendo a uma popu-
lação pobre não alfabetizada. Afim de problematizar a questão, confrontamos conceitos de alguns teóricos como Carlo
Guinzburg, Roger Chartier e Michel de Certeau fato que ampliou as discussões sobre o objeto de estudo da história
cultural e da cultura, numa tentativa de compreendermos as esferas de influência que permearam a política e eferves-
cente sociedade pernambucana da década de 1960.

Regina Coelly Fernandes Saraiva - UniCEUB


Memória, tradição e sustentabilidade: um estudo dos saberes tradicionais na Chapada dos Veadeiros - Goiás
Saberes tradicionais do cerrado são parte do legado cultural dos moradores da Chapada dos Veadeiros - Goiás,
herdados a partir da interação de homens e mulheres com uma inigualável biodiversidade natural. O processo moder-
nizador voltado para a região, causou mudanças no modo de vida das comunidades tradicionais formadas por garim-
peiros, lavradores, sitiantes e fazendeiros que tiveram seus saberes silenciados. Com a intenção de desvelar silêncios,
o estudo parte das vozes e experiências daqueles homens e mulheres, a partir de um enfoque teórico-metodológico
que trabalha com memórias e narrativas. Esse enfoque foi utilizado tendo como pressuposto que o passado lembrado
tem um caráter ilimitado, uma profusão de sentidos que, ao serem trazidos para o presente, tornam possível (re)escrever
histórias e contemplar visões omitidas. As narrativas analisadas trouxeram tensões, conflitos, saberes, alegrias, dese-
jos frente à relação que essas comunidades viveciaram especialmente com a presença do Parque Nacional da Chapa-
da dos Veadeiros, criado em 1961. Nessa relação estão presentes a vontade daquelas comunidades de deixarem
marcas de seus saberes e experiências num enfrentamento de que o conhecimento popular tem muito a contribuir com
as propostas de sustentabilidade voltadas para a região.

346
Rafael Eisinger Guimarães - UFRGS ~
As visões sobre Getulio - aproximações e distanciamentos entre história, romance e cordel ~
Seja para identificar traços de proximidade, seja para estabelecer nítidas e intransponíveis fronteiras, inúmeros teóri-
cos e críticos buscaram, ao longo dos tempos, com maior ou menor brilhantismo, pensar e definir as relações que a
Literatura e a História mantêm entre si, Dentre tantos nomes que se debruçaram sobre o assunto, Walter Benjamin
parece fornecer o embasamento mais adequado à aproximação que propomos entre as duas disciplinas, tanto por sua
visão a respeito da práxis do historiador, expressa em suas Teses sobre a filosofia da história, quanto por suas consi-
derações acerca do narrador arcaico, registradas em O narrador, Nesse sentido, tendo em vista as convergências e as
divergências entre as narrativas historiográfica e literária, buscaremos estabelecer uma tríplice aproximação entre o
registro histórico, a literatura de cordel e a literatura dita canônica - a partir da obra Agosto, de Rubem Fonseca -, com
o objetivo de identificar as semelhanças e diferenças na construção da figura de Getulio Vargas nessas três formas ,~
discursivas distintas, ~
ro
:z:
Luiz Gustavo de Souza Lima Junior - UFMT .~
ClJ

Comissão Rondon e o discurso cartográfico: um estudo sobre a formação territorial brasileira (1900-1930) '0
O presente trabalho busca situar as ações da Comissão Rondon por um viés ainda pouco utilizado pela historiografia: ~
os mapas e sua discursividade, Assim, a instalação telegráfica e a 'exploração científica" executada durante os primei- ::2:
ros anos do século XX nos estados do Mato Grosso e Amazonas são visualizados através da cartografia elaborada,ê
demonstrando a força desta na disseminação de uma espacialidade 'brasileira", Assim, esse grupo de militares inter- ~~
nados nos sertões do noroeste do pais tem seu trabalho assimilado pelo projeto nacional, cujo intento era reforçar uma :r:
identidade brasileira e delimitar em definitivo seu território,

Márcio Ananias Ferreira Vilela - UFPE


O coronelismo em questão: Francisco Heráclio do Rêgo, Limoeiro, 1945 a 1955: um outro olhar
Existe uma série de obras que tratam das atuações de inúmeros chefes polítícos no Brasíl. Algumas são reconhecidas
na academía como clássicas, é o caso de Victor Nunes Leal em Coronelismo, enxada e voto, e de Raymundo Faoro
com Os donos do poder, publicadas em meados do século XX, Tais obras pensam a participação desses políticos,
sobretudo, para a Primeira República a partir de abrangentes e homogêneas formulações encerradas naquilo que ficou
denominado fenômeno do coronelismo, Com isso inauguram toda uma forma de pensar as atuações de certos agentes
políticos para além da Primeira República, Ao mesmo tempo, ainda é possível localizar autores que pensam as ações
de certos políticos na atualidade fazendo uso da clássica definição do fenômeno do coronelismo, Dito isto, objetivamos
compreender a participação de Francisco Heráclio no cenário político de Pernambuco no período que vai da Redemo-
cratização até 1955, ou seja, construir uma abordagem levando em conta outros caminhos delineados por uma série
de registros, Documentação que tem nos revelado complexas práticas eleitorais no estado: práticas que fogem a
certas naturalizações antes encerradas em fechadas e consagradas definições,

Eloy Tonon - FAFIUV


Cultura Popular no Movimento do Contestado
O Movimento do Contestado foi estudado e tido como um movimento popular, milenaristal e messiânico de rebeldia
fanática e irracional e que ainda desafia e suscita o interesse de pesquisadores, Podemos afirmar, o messianismo é
uma característica da cultura popular no meio sertanejo, um fenômeno que se repete na história de vários movimentos
sociais brasileiros, em diferentes tempos, atrelado sempre às reivindicações para o estabelecimento de mais justiça, O
Movimento do Contestado, transcorrido nos sertões catarinenses, no limiar do século XX foi sem sombra de dúvidas,
um acontecimento singular, onde podemos identificar manifestações milenaristas e messiânicas na cultura dos sujei-
tos sociais que compunham o espaço e o tempo do acontecimento.

347
44. História, Multidisciplinaridade e Patrimônio Cultural
Janete Ruiz de Macedo (UESC)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h ás 18h)

Ana Carla Sabino Fernandes - Associação dos Amigos do Arquivo Público do Estado do Ceará
História, Documentos e Ação Patrimonial: Estudo do Fundo Executivo Provincial, Série Ministérios (1822-
1909) IArquivo Público do Estado do Ceará-APEC
Este trabalho pretende fazer uma discussão acerca dos princípios, normas e conceitos pertinentes ás práticas de
gestão de documentos, a pesquisa histórica e as politicas de proteção e fomento do patrimônio documental em arqui-
vos públicos, em especial, no APEC. Para tanto, faz-se relevante o papel da história e o ofício do historiador no
tratamento das fontes documentais, considerando-as como fonte e objeto de ensino e pesquisa, que se inserem no
âmbito dos bens culturais, associado aos saberes de arquivistas, paleógrafos e aos trâmites do poder público. Nessa
perspectiva, o estudo do conjunto documental composto por Avisos, Ofícios (manuscritos) e 'Anexos' (leis, decretos,
artigos da Constituição e recortes de jornais) referentes aos Ministérios do Império e a Província do Ceará no século
XIX, possibilitam identificar os processos de produção, circulação, guarda de documentos e os sujeitos envolvidos, tais
como, o segundo escalão da monarquia, ou seja, funcionários públicos chefes de seção, diretores, secretários, arqui-
vistas, amanuenses, pessoas que davam 'fé' aos tantos avisos e ofícios. A inventariação proposta ao acervo em pauta
busca garantir aos consulentes do APEC o acesso ás formas de 'edição' e recepção do documento histórico, a história
e memória do Ceará

Janice Gonçalves - UDESC


Registros para a História: a avaliação de arquivos na contemporaneidade
Nas últimas décadas, a Arquivística tem procurado se firmar como campo disciplinar integrado ás demandas do pre-
sente (dai a intensa preocupação com a geração e o destino dos registros em meio digital). Ao lado disso, notam-se
concepções que envolvem tanto um distanciamento da Arquivística em relação á História como uma reafirmação dos
laços entre os dois campos disciplinares (embora em nova clave). Parcela significativa de profissionais da área arqui-
vística tem enfatizado questões ligadas ao tratamento da 'informação', mais que propriamente dos 'documentos'; o
recalque da dimensão material dos registros arquivísticos guarda correspondência com a rejeição de um paradigma
entendido como 'custodial', não raro acompanhado dos epítetos de 'positivista' e 'historicista'. Por outro lado, o fascí-
nio contemporâneo pelas questões relacionadas á memória penetrou profundamente nas discussões que envolvem a
avaliação de documentos de arquivo (avaliação que é determinante para a guarda ou destruição de tais documentos).
Pretende-se examinar os principais questionamentos e argumentos que, sobretudo nas últimas duas décadas, no que
se refere á avaliação arquivística, têm assinalado maneiras de perceber a História vivida, bem como projetado pers-
pectivas quanto ás formas de registrá-Ia e narrá-Ia.

Elizabeth Johansen e Myriam Janet Sacchelli - Universidade Estadual de Ponta Grossa


Fontes para a História Eclesiástica dos Campos Gerais
O presente projeto não objetivou ações direcionadas a uma determinada comunidade externa á UEPG, mas sim
salvaguardar, através de procedimentos técnicos específicos, toda a documentação produzida pela Congregação do
Verbo Divino, desde a sua instalação na cidade de Ponta Grossa, em 1903, até a atualidade. Além da documentação
interna da Congregação, também compõem o acervo: coleções de jornais da congregação, periódicos encadernados,
livros, panfletos, relatórios, atas e anais de encontros nacionais, catálogos, fotografias etc. Tal quantidade se justifica
pelo fato do Seminário Verbo Divino funcionar como sede da província SVD e, por este motivo, centralizar e recolher
todos os materiais escritos que interessam á mesma. O projeto permite aos acadêmicos do Curso de Bacharelado em
História a oportunidade de colocar em prática os conhecimentos teóricos adquiridos com as disciplinas de Arquivos,
Museus e Patrimônio Histórico I e 11. Com tamanha variedade documental, os alunos podem conhecer e desenvolver
diversas formas de organização e catalogação, conforme o suporte do documento. Optou-se por desenvolver o pro-
cesso de ordenamento do acervo dando início á montagem de um banco de dados virtual, que possibilitará a abertura
do acervo para a comunidade de pesquisadores.

Roberta Nobre da Camara - Fundação Oswaldo Cruz


Patrimônio e Coleções Cientificas
Pretendemos no trabalho Patrimônio e Coleções Cientificas refletir sobre os documentos que asseguram a salvaguar-
da do patrimônio cientifico nacional. Veremos como o patrimônio se situa diante da legislação brasileira, a partir de leis
específicas promulgadas no estado-Novo. Discutiremos no desenvolvimento do artigo documentos referentes ao patri-
mônio científico, que enfatizam sua importância, formas de preservação e guarda e a necessidade de sua valorização.
Refletiremos como uma instituição de porte da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) tem agido para a divulgação e

348
apreensão de seu patrimônio a partir da reflexão sobre a exposição FIOCRUZ: Patrimônio Científico e Cultural da
Saúde. Veremos a importância da divulgação desse patrimônio, muitas vezes restrito a laboratórios para que seja
apreendido e valorizado, uma vez que coleções científicas são referência de patrimônio natural, de produção de saber
e de pesquisas cientificas. Mais que isso, coleções cientificas muitas vezes são fruto de expedições j de noites em
acampamentos, de troca entre coletores, da busca por exemplares raros em terras desconhecidas. E isso que nos
interessa, perceber esse patrimônio de forma emotiva, que para ser conservado deve funções mais amplas do que
estar restrito a cepas laboratoriais.

Valeria Azucena Palavecino - UNCPBA


Comercio, pueblos y patrimonio histórico. Posibilidades y límites de la historia económico-social en la recons-
trucción dei patrimonio histórico. EI caso de la Casa de Comercio "EI Progreso", 1920-2003
Como sostiene Joseph Ballart ellegado material que los hombres reciben dei pasado se denomina patrimonio; él nos
permite establecer vinculos con nuestro pasado, cumpliendo la función de brindarnos un conjunto de elementos que
nos permiten hallar un anclaje continuo en el tiempo, dándonos la posibilidad de identificarnos con una determinada
tradición. Para esto el hombre debe conocer su patrimonio, identificarlo, construir y reconstruir los diferentes lasos que
lo unen a él creando así un sentido de pertenencia e identidad que lo une a un espacio, a un objeto, etc., fusionándose
así lo tangible y lo intangible, sin olvidar que esos cambios también tiene que ver con lo que las personas eligen,
eligieron o se les presenta como significativo de su pasado. Apartir de estas nociones y de un conjunto heterogéneo de
fuentes que conformaban el archivo privado de una familia de un comerciante rural de la provincia de Buenos Aires,
buscamos entender el significado y las posibles formas en que el patrimonio de un pequeno pueblo de esta se construyó
y se re-significá durante el siglo XX, entendiendo como ese proceso no solo involucró lo estrictamente material, sino ~
también un conjunto de relaciones de sociabilidad que definieron aquellos espacios significativos para la memoria local. ~

Márcia Almada - UFMG ~


A contribuição dos conhecimentos técnicos do restaurador para a História da Arte ;3
A obra de arte testemunha relações culturais, percebidas pela análise das referências e empréstimos, da clientela e c::>

suas preferências plásticas, da formação do artista, bem como da disponibilidade dos materiais e técnicas que são ~§
dados á sua execução. q efeito da apreensão dos objetos depende não só da idéia que estes veiculam, mas também .~
da forma que possuem. E através dos sentidos e da matéria que o primeiro contato se estabelece com o observador. &
Desvendar a materialidade do objeto artístico possibilita a revelação do modo de fazer próprio de um dado momento ::;
histórico. Explicitar o que é usado e como é usado indica as opções tomadas dentro de um rol de possibilidades. Para ii5
a análise material da obra de arte, destaca-se a contribuição do restaurador, especialista nos materiais em suas ~
qualidades fisico químicas e nas especificidades das técnicas. Através de critérios de análise bem definidos, apresenta ~
informações primordiais para a identificação dos elementos utilizados que, em última instância, possibilitam a reflexão .~
sobre o objeto em sua natureza histórica. Estabelecimento de autorias, circulação de obras ou de artistas, comércio 'E
regional ou internacional, são apenas alguns exemplos de como a determinação de materiais e técnicas é essencial ~
para o historiador da arte.

Ursula Rosa da Silva - UFPel


Estética e Educação do Olhar: Espaços para Ressignificar
Este texto apresenta uma abordagem da critica, da arte e da estética contemporâneas como instâncias de reflexão e
expressão de territorialidades culturais e como espaço para a ressignificação, entendida como capacidade de instau-
rar sempre o novo. Na busca dessa ressignificação, o presente estudo permeia as noções que vão desde a concepção
de Ivani Fazenda - que aborda a interdisciplinaridade entre as áreas de conhecimento tendo como base a troca, o
diálogo e a palavra que se encontra em constante processo de nova significação -, as noções de Merleau-Ponty -
seg.undo o qual á arte é permitido ir ao mundo sem o compromisso de atribuir-lhe um significado exato - e a proposta
de Italo Calvino que trata da arte do novo milênio a partir de um olhar literário. A seleção destes autores deu-se por
minha vivência como docente e pesquisadora: ressalto aqui a pesquisa sobre Nelson Abotl de Freitas - critico de arte
do RS, nos anos 1980 - instaurador de uma pedagogia da sensibilidade, que concebia a tarefa da crítica com um
caráter didático-pedagógico, não no sentido de dar significados prontos, mas de preparar o olhar do público para a
apreciação.

I 17/07 - Terça-feira - Tarde (14h ás 18h)

Mirza Maria Baffi Pellicciotta - Prefeitura Municipal de Campinas


Um percurso de reflexão e pesquisa acerca da cultura material/imaterial das cidades
A vida nas cidades brasileiras carrega particularidades que, em grande medida, se originam das singularidades da
população brasileira. Submersas em um contexto amplamente identificado como de 'terceiro mundo', nossas cidades

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testemunham a vitalidade de uma sociedade diversa (em sua composição étnica) e desigual (em sua estruturação
social), de grande riqueza cultural, mas também de profundas adversidades oriundas da condição de pobreza. Em um
breve relato, procuraremos descrever uma trajetória especifica de reflexão e pesquisa acerca da cultura material!
imaterial das cidades brasileiras que ao longo de vários anos e em meio a uma sucessão de projetos, ganhou forma.
Com base em estudos focados na formação de uma região (antigo norte de Goiás), em um território mais desagregado
(oeste de São Paulo) e em uma cidade em especifico (Campinas), tivemos a oportunidade de vislumbrar e pensar
acerca do caráter histórico da construção das cidades, ao mesmo tempo que refletir e propor ferramentas de preserva-
ção histórica do universo urbano sob novos formatos, decorrendo daí uma proposta de investigação e intervenção
voltada para a cultura material e imaterial das cidades.

Janete Ruiz de Macedo - Universidade Estadual de Santa Cruz


Fotografia e patrimônio: memórias da folia - ltabuna-BA
Desde antes da fotografia, a humanidade sente a necessidade e o prazer de registrar os momentos familiares, sociais
e políticos em pinturas, as quais revelam verdadeiras preciosidades. O advento da fotografia ampliou e democratizou
essa possibilidade de eternizar momentos e espaços. Foi no âmbito do privado que a fotografia avançou e se consoli-
dou como elemento da nossa memória, esses registros, muitas vezes já amarelados pelo tempo, bem ou mal guarda-
dos, consubstanciam uma espécie de memória histórica do cotidiano Nesse trabalho perseguimos os vestígios de um
tempo, tempo de festa, tempo de folia, nas imagens do passado registradas através da maquina de fotógrafos amado-
res e profissionais da cidade de Itabuna/Bahia. Uma coleção de instantes, cortes no espaço/tempo, mas que constitu-
em registros de memória capazes de evocar lembranças, remover apagamentos, suscitar emoções e sentimentos e
constituem parte da cultura itabunense. Patrimônio documental que se reporta ao um bem intangível, ao folguedo
carnavalesco, a esse momento especial de convivência social, pontuado pela alegria e o júbilo com um forte nuance
transgressor. Buscamos apresentar aspectos dos festejos carnavalescos e algumas etapas das reinvenções e trans-
formações ocorridas no movimento historiai da festa.

Liane Maria Nagel - UFSC


As Missões Guarani - Jesuíticas enquanto patrimônio cultural e objeto multidisciplinar no Rio Grande do Sul
As Missões Guarani-Jesuíticas são analisadas enquanto patrimônio histórico-cultural no Rio Grande do Sul, principal-
mente através de seus monumentos arquitetônicos. Necessários porém, se fazem estudos que tratem não só dos
remanescentes dos Sete Povos, mas também de obras artísticas,literárias, peças teatrais, vídeos, filmes,letras de
músicas,realizadas durante a segunda metade do século XX. Estudar utilizando essas manifestações do imaginário
dos artistas e o significado das mesmas em seu contexto,permite realizar uma leitura que, articulada aos depoimentos
orais de seus produtores, possibilita a construção de uma memória visual das Missões. Por outro lado, é importante
destacar o quanto essas imagens constituem um patrimônio cultural digno de ser referenciado na história, presente e
vivo no cotidiano do povo gaúcho.

Eloisa Dezen-Kempter - Unicamp


Patrimônio Industrial: em busca da sobrevivência
A importância da preservação da estrutura fisica da cidade, através do seu conjunto arquitetônico-urbanistico, não
pode ser colocada em segundo plano no processo de gestão urbana. Este interesse é relevante, principalmente por-
que mais freqüentemente nos deparamos com o fenômeno de desaparecimento dos lugares, que são destruidos,
eliminados, abandonados, ignorados. Lugares caracterizados por uma gama de signos e símbolos, materializados nos
conjuntos arquitetônicos de cada periodo histórico vivido por uma determinada cidade, que dão caráter, unicidade e
significado a este lugar. A singular participação do passado nos acontecimentos urbanos do presente não funciona
somente como memória, mas como cenário da cena urbana atual. O período fordista deixou como legado uma estru-
tura construída rica em signos e símbolos industriais, principalmente os ambientes de trabalho e aqueles a ele relaci-
onados, que devido a uma nova dinâmica sócio-econômica, na qual a indústria do lazer e do entretenimento ganha
cada vez mais espaço, as instalações industriais, para não desaparecerem, acabam transformando-se em espaços
cuja expressividade industrial dá vida e lugar a uma atividade diversa da original. Este artigo propõe estudar estas
transformações nos espaços industriais na cidade de Salto, SP.

Roswithia Weber - FEEVALE


Turismo, identidades locais e história
Este trabalho apresenta aspectos desenvolvidos numa pesquisa que abordou as relações entre história, identidade e
turismo nos municipios que integram o projeto turístico Rota Romântica no Rio Grande do Sul. Analisa as possibilida-
des do turismo como objeto de estudo no campo da história, tendo em vista suas relações com a configuração de
modalidades de turismo (étnico-cultural) e sua forma de interferência na seleção e construção de identidades locais.
Enfoca as circunstâncias que favoreceram o que hoje se pode identificar como um reavivamento étnico e o processo
de homogeneização identitária que tem papel fundamental na produção de um patrimônio cultural específico.

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Astor Vieira Júnior e Pricilla de Souza Andrade - UESC
Da Capitania de São Jorge dos Ilhéus à Costa do Cacau: a memória como subsídio na construção de um
produto turístico GLS
A Costa do Cacau, sul da Bahia, outrora Capitania de São Jorge dos Ilhéus, tem encarado a atividade turistica como
uma possibilidade econômica. Seu patrimônio cultural, que abarca mais de 500 anos de história, entre outros feitos,
abriga uma inusitada memória de práticas divergentes a heteronormatividade que antecede a chegada dos coloniza-
dores, percorrendo até a contemporaneidade. Como a atividade turística se faz por meio da segmentação, a região,
que tem buscado no turismo uma saída para os problemas da cacauicultura, poderia se beneficiar tornando-se urn pólo
de turismo cultural voltado ao publico GLS, pois, além de efetuar rnaiores gastos com a atividade, tal segrnento possui
elevados índices de escolaridade, emprego e renda.

Leila Bianchi Aguiar - IPHAN/UNILASALLE


Turismo e políticas de preservação no Brasil
Esse trabalho analisa o desenvolvirnento da atividade turística no Brasil, explicitando a importância assumida por esse
fenômeno na história recente da preservação do patrimônio cultural nacional, mais especificamente entre as décadas
de 1960 e 1980, quando muitos dos conjuntos preservados no Brasil assumiram a função de atração turística. Para
tanto, acompanhamos a trajetória do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, assim como as formas de
atuação do setor turístico no Brasil, atentando, sobretudo, para as influências internacionais recebidas. Buscamos
analisar ainda as visões sobre a preservação de bens imóveis e conjuntos urbanos, apresentada nos sucessivos
acordos e legislações que objetivaram a regulamentação do turismo, ao mesmo tempo em que investigamos as refe-
rências ao seu desenvolvimento nos encontros, legislações e documentos produzidos pelas agências de preservação.
Durante o período analisado, acompanhamos uma significativa complexificação do fenômeno turístico que também ~
t44'
pode ser compreendida como conseqüência da aceleração do mecanismo de acumulação e de internacionalização da
economia brasileira. ~
'S
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o
'i::
18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h) <o
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Carolina Ruoso . UFPE '"
CL
Encontros de trabalhadores de museus no Brasil na década de 1970; por entre práticas de um museu histórico :
oo~~ ~
Os anos 70 e 80 do século XX, foram de ebulição para o pensamento museológico brasileiro. Muitas foram as preocu- ~
pações voltadas a este área a fim de produzir uma política museológica no Brasil. Em 1975, o Instituto Joaquim ~
Nabuco de Pesquisas Sociais organizou um Encontro Nacional de Dirigentes de Museus. Produziu um livro com os .~
relatórios do evento que serviu como roteiro para projetos durante esse período. Participou deste encontro o diretor do 'E
Museu do Histórico e Antropológico do Ceará com a sua idéia de Museu- Escola. Foram convidados para as palestras ~
e coordenações dos diferentes GT's profissionais de diferentes áreas que se preocupam com os museus. Analisando ",-
esta documentação podemos compreender as diferentes maneiras de conceber os museus e suas ações no periodo ~B
~~ ~

Fernanda Mota Thomaz Leboeuf· UNIAMÉRICA


Educação Patrimonial: A Experiência de Restauração do Museu Moisés Bertoni
A educação, além de transmitir saberes, busca a formação integral do ser social participativo, fomentando a auto-
reflexão permanente através de suas relações com o meio ambiente e a cultura. Logo, a preservação do patrimônio
cultural representa um avanço considerável dos esforços dos organismos governamentais em prol da Educação e da
Cultura, contribuindo para a auto-estima individual e coletiva de um país. Este artigo apresenta os resultados prelimi-
nares de um projeto binacional, envolvendo instituições, públicas e privadas de educação e pesquisa do Brasil e do
Paraguai, agregadas em torno do objetivo de restaurar as edificações e o acervo do Museu Moisés Bertoni, localizado
na reserva natural do Bosque Mbaracayu, Paraguai. A participação no projeto dos alunos do curso de História da
Faculdade União das Américas - Uniamérica de Foz do Iguaçu 1 Brasil, traduz uma tentativa de desenvolver nesses
futuros professores, a sensibilidade para as questões ligadas à preservação do patrimônio histórico-cultural, com o
objetivo de alcançar a "teática' (teoria + prática) referente á educação patrimonial.

Roseli de Fátima Brito Netto Barreto - Museu Antropológico da UFG


Sobre o ponto de vista técnico e metodológico de um sistema de comunicação museal
A exposição do Museu Antropológica da UFG - Lavras e Louvores- inova as atividades do museu, destacando a sua
singularidade acerca da decodificação da identidade regional, na construção da memória social e de preservação do
patrimônio coletivo. A construção do projeto expográfico, o conceito gerador para todas as unidades de execução,
coloca em ação a concepção museográfica previamente planejada. Utiliza-se, então, de recursos de linguagem de

351
apoio, recursos sensoriais, design, a partir de uma rede de trocas e de construção de conhecimentos, para além de
uma construção teórica. A proposta assegurará a ixtroversão, a conservação, a informação e segurança dos objetos
museológicos. Assim que o Museu Antropológico pretende divulgar as formas da cultura e da sociabilidade e as narra-
tivas soterradas, por meio de seu acervo, coletado em sua maioria, através de pesquisas realizadas no âmbito do MA
da UFG.

Almir Félix Batista de Oliveira - UFRN


A Criação de Memoriais e a Preservação do Patrimônio Cultural
Resgatar a memória e a história institucional é uma exigência primordial de uma sociedade que busca reforçar as
raizes identitárias e manter coeso os vinculos que ligam os membros pertencentes á mesma. Umas das práticas mais
contundentes para propiciar este resgate, prática que se tornou comum, no final do século passado e inicio deste, foi à
constituição dos Memoriais. O presente trabalho, ora apresentado ao Simpósio Temático: História, Multidisciplinarieda-
de e Patrimônio Cultural- têm por objetivo refletir acerca da constituição dos chamados Memoriais na preservação do
patrimônio histórico de uma determinada instituição. Porém de imediato logo surge uma questão: O que é um Memo-
rial? Podemos assim defini-lo: uma instituição museológica, cujo objetivo é o de reunir, preservar, pesquisar, documen-
tar e divulgar a história e a memória de instituições ou mesmo de individuos. Serão apresentadas duas propostas em
andamento na cidade de Natal, a constituição dos memoriais do Ministério Público do Rio Grande do Norte e da LIGA
Norte-Riograndense contra o Câncer.

Marilda Batista Mitidiero - Universidade Católica Dom Bosco


Museu José Antônio Prereira: história, partimônio e identidade no contexto da territorialidade urbana
A pesquisa destaca a figura do fundador de Campo Grande - MS José Antônio Pereira, por meio de um estudo aprofun-
dado do museu que leva o seu nome, bem como as formas de visitação e a falta de conhecimento da população sobre
esse patrimônio tão importante para a cultura local. Há uma preocupação em se perceber o patrimônio como instru-
mento da construção da identidade e não como um lugar distante, com objetos valiosos, intocados, e sim representar
ampla maioria da população com os objetos que lhe digam respeito, encontrando um acolhimento largamente favorá-
vel ao museu. O acervo foi analisado de forma criteriosa, gerando uma publicação, com a qual se elaborou uma
proposta de modelo de acompanhamento, contemplando: os meios de comunicação, orientações aos voluntários,
ações educativas com trabalhos in loco com: escolas, centros sociais, universidades, mercados, feiras, exposições
itinerantes dentre outras.

Maria do Carmo Marcondes Brandão Rolim - Faculdades Integradas Curitiba e Maria Henriqueta Sperandio
Garcia Gimenes - Universidade Federal do Paraná
Do Patrimônio Gastronômico: o papel da história da alimentação na valorização das comidas tradicionais no
Brasil
A definição da dieta alimentar extrapola fatores objetivos, sendo carregada de simbolismos que a convertem em uma
poderosa modalidade de consumo simbólico. A abrangência da relação alimentação/cultura não se restringe aos pro-
cessos de seleção e manipulação da iguaria, mas se estende aos modos à mesa e às circunstâncias em que a
degustação ocorre, fazendo com que a alimentação humana tenha marcas de mudanças sociais, econômicas e tecno-
lógicas, fornecendo informações preciosas sobre os grupos sociais que as praticam. Entendendo a alimentação huma-
na como uma prática cultural que transcende a saci ação de necessidades fisiológicas, discute-se a importância do
reconhecimento do patrimônio gastronômico como patrimônio imaterial, principalmente diante da tensão entre inova-
ções e permanências gastronômicas que se verifica na atualidade. No pais, algumas iniciativas de salvaguarda dessas
manifestações já ganharam corpo por meio do IPHAN, entretanto, o alimento e seus rituais ainda enfrentam resistên-
cias no âmbito da historiografia Desta forma, juntamente com a discussão da gastronomia como patrimônio imaterial
propõe-se uma reflexão sobre a pertinência dos estudos de História da Alimentação neste processo, levantando al-
guns dos desafios vinculados a pesquisas deste caráter, no Brasil.

Maurí Luiz Bessegatto - UFRGS


Patrimônio: responsabilidade por principio no trato com a complexidade histórico-cultural-ambiental
Uma derrama reflexiva e de ações sobre a problemática ambiental ('patrimônio ambienta!') se faz presente em nossa
contemporaneidade. Por outro lado, o patrimônio histórico-cultural é tratado quando se considera um cenário de 'histo-
ricidade densa'. Assim, se o meio ambiente tem se mostrado em vertentes desastrosas atribuidas à ação do homem,
que urgem mudanças afrontadas numa complexidade ambiental, temos o patrimônio histórico-cultural sendo discutido
nas categorias de preservação/tombamento 'retirado' de sua inserção do cenário ambiental em que foi concebido e
usufruido. Assim, se é notório a interdependência homem e meio ambiente, esta complexa relação simbiótica necessi-
ta de comandos não dicotomizados. ou seja, a complexidade ambiental ('Educação Ambienta!') direcionada à comple-
xidade histórico-cultural - o fazer cultural material e imaterial humano ao longo da história ('Educação Patrimonial') - e
vice versa. Tais considerações visam pensar uma prática pedagógica que caminha na direção que pensa e age através

352
de uma conceituação denominada de 'complexidade patrimonial' em que ética é também o agir e esta tenha em seu
preceito a responsabilidade, pois o homem fez, faz e fará cultura 'com' e 'no' meio ambiente.

I 19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h ás 16h30min) I

Fábio Andreas Richter - UDESC


Memória e História em Florianópolis: sua construção na ação governamental
O presente trabalho é uma comunicação sobre a pesquisa que está sendo realizada no âmbito do programa de pós-
graduação em História da Universidade do Estado de Santa Catarina/UDESC. A pesquisa busca identificar e analisar
o papel das abordagens historiográficas presentes na criação e atuação das instituições governamentais situadas em
Florianópolis/SC procurando entender o processo de construção de uma memória oficial para a região. Para alcançar
esse objetivo, procura: identificar o contexto de criação das principais instituições govemamentais que atuam naquela
região (IPHAN, SEPHAN, FCC - Fundação Catarinense de Cultura, Arquivo Público do Estado, Arquivo Histórico do
Municipio e Casa da Memória) ligadas a construção de uma memória oficial; caracterizar as principais ações desenvol-
vidas pelas respectivas instituições no período compreendido entre os anos 1980 e 2006; e identificar e analisar as
abordagens historiográficas que subsidiam as ações desenvolvidas pelas instituições, bem como o próprio surgimento
das mesmas, buscando entender a sua relação com os programas políticos-ideológicos das diferentes administrações
públicas que assumiram as instituições analisadas, bem como sua concepção de memória.

Ana Maria Alves Machado - F U N C E S I @ 4


Da tutela do Patrimônio Históríco e Cultural
O trabalho intitulado: 'Da Tutela do Patrimônio Histórico e Cultural: doutrina e legislação', pretende dar uma contribui-
ção ao avanço das discussões sobre o patrimônio histórico e cultural brasileiro através da revisão da legislação espe- ~ E
cifica sobre o assunto, além de fazer uma incursão histórica sobre a Constituição Brasileira revisando artigos de lei que c3
versam sobre a proteção ao Patrimônio Cultural e Histórico no Brasil. Este estudo visa, também, ampliar a discussão .~
sobre o Patrimônio Cultural e Bens Culturais, definindo as competências em matéria de Patrimônio Histórico, descre- ' 0
vendo os instrumentos de proteção ao Patrimônio Cultural e Histórico; reforçando a necessidade de se estudar a .~
legislação especifica sobre o patrimônio brasileiro tecendo considerações gerais sobre a responsabilidade e deveres 8:.
do Estado sobre essa matéria. Dessa forma, empreender-se-á uma reflexão que se funda muito mais no valor outorga- (lJ

do aos bens culturais e ao patrimônio histórico em si. "O


co
"O
.~

Homero Gomes de Andrade - Uníversidade Estadual de Feira de Santana ~


A Princesa e os Touros: Futebol, Símbolos e Memórias (1949-1969) .~
Este trabalho, desenvolvido no âmbito do programa de Mestrado em Desenho, Cultura e Interatividade da Universida- :g
de Estadual de Feira de Santana - UEFS, mobiliza e conjuga elementos de três áreas de conhecimento: Desenho, ~
História e Antropologia Cultural. O tema em foco é a trajetória histórica do futebol e a sua popularização, consolidando- co
se como uma marca de identidade nacional. O objeto deste estudo é a história da cidade de Feira de Santana, a ~e
Princesa do Sertão e do Fluminense de Feira Futebol Clube, os Touros do Sertão, entre os anos de 1941 e 1969. A :!Ê
pesquisa apresentará um panorama das relações sócio-culturais de identidade mediadas pelos símbolos, pela memó-
ria e pela cultura da cidade e do clube de futebol.

Letícia Dias Schirm - IEPHA


Tombamento: multidiscíplinaridade na preservação do patrimônio cultural
O Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artistico de Minas Gerais -IEPHA/MG é responsável pela aplicação das
legislações que regulam a proteção patrimônio cultural com interesse de preservação para Minas Gerais. A jurispru-
dência sobre o patrimônio estabelece o Tombamento como um dos instrumentos jurídicos e administrativos de prote-
ção do bem cultural de valor coletivo que está exposto ao risco de perda ou degradação. As motivações são as
características do bem cultural a ser preservado, considerado-o como portador de referências culturais dos grupos
formadores da sociedade brasileira. A presente comunicação pretende compartilhar as experiências multidisciplinares
na elaboração dos processos de tombamento, tanto na parte metodológica, quanto na utilização das fontes e nas
discussões sobre patrimônio. Espera-se, portanto, demonstrar a importância e necessidade da existência de profissi-
onais formados em diversas áreas para a realização de trabalho com patrimônio cultural.

Juliana Ferreira Sorgine - IPHAN


A campanha em beneficio da preservação dos imóveis de Ouro Preto e o inventário da DPHAN: uma análise da
gestão federal do patrimônio cultural (1949-1950)
A virada da década de 1940 para a de 1950 foi marcante para a história da gestão da Diretoria do Patrimônio Histórico
eArtistico Nacional (atual Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) na cidade de Ouro Preto, MG. Nos anos

353
de 1949 e 1950, foram realizados: uma campanha de angariação de fundos particulares em beneficio da preservação
do casario da cidade, liderada pelo próprio diretor da instituição e sua esposa; um extenso trabalho de inventário dos
imóveis da cidade, sob a orientação dos técnicos da DPHAN, para subsidiar a atuação do órgão na região; e, por fim,
uma série de intervenções em casas daquele centro histórico, custeadas pelo montante arrecadado na campanha.
Sobretudo, foi um momento em que as elites intelectuais, artisticas, econômicas e políticas do país foram chamadas a
colaborar com a "causa' da preservação e valorização do patrimônio nacional brasileiro, e no qual esta "causa" ganhou
espaço nas páginas dos principais jornais da capital federal. A análise destes breves episódios nos permite identificar
certas práticas de preservação do patrimônio cultural próprias do período, inferir sobre as concepções que subsidia-
vam essas práticas, bem como refletir sobre questões concernentes à relação entre intelectuais e Estado no Brasil da
década de 1940.

I 20/07 - Sexta-feira - Manhã (10h30min às 12h30min)

Hanayana Brandão Guimarães Fontes Lima· UESC


Identídade e Memória na região cacaueira: análise de seus principais elementos
A memória, elemento essencial para delinear a identidade coletiva ou individual, pode representar além de uma con-
quista, um instrumento de poder. Diante disso, este artigo pretende analisar de que forma a memória coletiva conse-
guiu configurar a identidade coletiva na região cacaueira. A análise baseia-se no levantamento bibliográfico acerca dos
principais componentes da identidade regional com foco no periodo 1890 até 1930, que compreende os anos de
expansão econômica e populacional relacionados ao desenvolvimento da lavoura cacaueira. A análise se dedica ao
estudo deste periodo uma vez que ele é recorrentemente lembrado quando se busca referência no passado regional,
ao contrário do periodo colonial que foi intencionalmente esquecido.

Cleodir da Conceição Moraes· UFPA


Conselho Estadual de Cultura do Pará: a contribuição local na formação da "cultura nacional"
Se integração e desenvolvimento eram justificativas sempre aceitas para as estratégias - e aqui o termo é apropriado
por se tratar de governos militares -, adotadas pelo governo federal em relação às questões econômicas e politicas
nacionais no final de 60 e a primeira metade da década de 70, elas não são menos importantes nos discursos em torno
da elaboração da "cultura nacional", levada a efeito pelo Conselho Federal de Cultura (CFC) e seus congêneres
estaduais. Nesse período, o reconhecimento das diversidades regionais, apoiado em uma dada noção de federalismo,
levou à criação dos Conselhos Estaduais de Cultura no país no final da década de 1960, entre os quais o Conselho
Estadual de Cultura do Pará (CEC-PA), composto por 'personalidades eminentes" e de "reconhecida idoneidade" na
sociedade paraense, que tinham em suas mãos a 'missão civilizadora' de promover a "expansão' e o "aprimoramento
da cultura regional". Por esse motivo, importa discutir neste artigo o papel do CEC-PA na configuração de uma dada
interpretação da Amazônia e da cultura amazônica e sua contribuição para o entendimento da 'cultura nacional", num
período em que a região ganhava destaque nos debates e projetos de desenvolvimento nacional.

Daise Aparecida Palhares Diniz Silva· UFMG


Patrimônio e Memória· uma discussão universalizada
A discussão do tema Patrimônio e Memória sempre foi restrita ao meio acadêmico e profissional, apesar das mudan-
ças conceituais já realizadas. Essa mudança precisa chegar a população que está fora dessa discussão, pois, não
justifica discutir, selecionar e divulgar aquilo que é patrimônio se este não é reconhecido por sua comunidade. Este
artigo trata do desenvolvimento de um material didático que busca atender essa demanda, de forma que o usuário do
material possa construir seu conceito, sabendo criticar, opinar e participar mais conscientemente do bem cultural. O
material foi desenvolvido após alguns trabalhos realizados com comunidades quilombolas, grupos culturais e escolas
de Belo Horizonte. O grupo de pesquisa Centro de Convergência de Novas Mídias, desenvolve pesquisas destinadas
ao letramento digital e à educação baseadas no trabalho colaborativo. Suas pesquisas são disponibilizadas em ambi-
ente on line como forma de universalizar seu acesso e possibilitar a autonomia de seu usuário. O diferencial do
material está nas atividades interativas, que incentivam o aluno a opinar sobre diversas situações, e possibilitam a
discussão entre escolas e localidades distintas. O site será atualizado com assuntos de interesse para alunos, profes-
sores e comunidade em geral. .

Claudia Correa de Almeida Moraes - Unesp


Memória a preservar: Vilas Operárias Barrageiras
As vilas operárias aparecem dentro do contexto da industrialização trazendo uma nova forma de morar e conviver. A
construção de hidrelétricas no Brasil, geralmente em locais de baixa ocupação populacional, exigiu a criação de vilas
operárias para os trabalhadores das barragens. O presente trabalho busca a compreensão de uma situação especifi-
ca, a criação de vilas operárias barrageiras, em particular a vila de Primavera e a preservação da sua cultura imaterial

354
e material, tendo como referência a dinâmica das relações sociais e o espaço habitado. A opção por restringir os
estudos apenas em Primavera, deve-se a situação singular desta vila como a única aberta e a última a ser construída
pelas Centrais Elétricas de São Paulo - CESP em grandes barragens.

45. História, Natureza e Território


Haruf Salmen Espindola (UNIVALE) e Gilmar Arruda (UEL)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h ás 18h)

Danyllo Di Giorgio Martins da Mota - UFG


Entre o Homem e o Espaço: o regionalismo de Monteiro Lobato
Analisando a obra de Monteiro Lobato, é possível mapear inúmeras questões que estavam postas para os intelectuais
de sua época. A consolidação de uma identidade paulista, através do trabalho de uma elite intelectual local, adquiriu
traços de identificação do homem nacional. Inserida em um contexto regionalista, a obra de Lobato apresenta caracte-
rísticas que a distinguem das obras de outros autores que seguiram essa linha. Uma dessas características é a relação
entre o homem e o espaço. Nessa relação, a desqualificação do caipira e a valorização do espaço caracterizam o
regionalismo da obra de Lobato.

Dora Shellard Corrêa· UNIFIEO


Revelando territórios através de descrições de paisagens: o sertão de Guarapuava no século XVIII
Ainda marca a historiografia brasileira a idéia de que durante o período colonial o Brasil possuía uma fronteira política,
fixada por tratados, a qual encerrava duas frentes: uma dominada pelo Estado e sociedade colonial e a outra destituída
de qualquer tipo de soberania, ocupada por grupos indígenas dispersos e isolados, pintada no passado e concebida no
presente como um espaço natural, livre para a expansão colonial. Questionamos, a partir das descrições elaboradas
sobre o sertão por aqueles que o penetraram no século XVIII, que se possa definir essas terras como uma fronteira
aberta no sentido Turneriano. Para discutir essa matéria analisamos as paisagens retratadas nos relatórios das expe-
dições organizadas a mando do Governador da Capitania de São Paulo D. Luis Antonio de Sousa Botelho Mourão -
Morgado de Mateus - no ultimo quartel do século XVIII e que adentraram o sertão de Guarapuava.

Liliane da Costa Freitag - UNICENTRO


Do Guairá ao Iguassú: território e paisagem fazendo a nação
Nesse texto a natureza do extremo-oeste paranaense é seu personagem de primeira grandeza. Analisamos sua exis-
tência a partir da elaboração de discursos: narrativas construídas por viajantes brasileiros em torno de suas trajetórias
percorridas entre Guaira a Foz do Iguaçu no final do século XIX e início do século XX. As narrativas compõem o acervo
da literatura de viajem existente sobre essa região fronteiriça produzida em um período que colocava em relevo neces-
sidade do reconhecimento de suas fronteiras internas: 'sertões da nação." Nessa análise a identidade territorial é
entendida a partir de uma dinâmica que se re-afirma e se modifica a partir de práticas sociais e de representações
lhe atribuem sentidos. Sua essência é, portanto, social pois (o espaço) não é formado apenas por objetos geográficos,
que@s
naturais e artificiais: é a composição de todos esses aspectos acrescido da sociedade envolvente: a nação.

Jó Klanovicz e Eunice Sueli Nodari


"Controlar a natureza": uma história ambiental da produção de macieiras no sul do Brasil
A partir de uma análise de História Ambiental de fontes orais, iconográficas e escritas das décadas de 1960 a 1990
sobre a produção de maçãs nos municípios de Fraiburgo/SC, São Joaquim/SC e Vacaria/RS, discute-se a relação
entre populações humanas e não-humanas na construção histórica dos pomares de macieira da região. Conceitos
específicos de tecnologia e progresso agrícola, aliados a instrumentos pedagógicos, promoveram uma postura tecni- o
cista da idéia de 'natureza'. 'Controlar a natureza', transformar ostensivamente a paisagem, 'corrigir os erros ambien- ~s
tais" e Mexpandir o equilíbrio ecológico" tornavam-se práticas que justificavam a devastação de remanescentes de Mata .~
Atlântica, enquanto limitações ambientais por vezes criavam embaraços para esse projeto tecnicísta. ~
~
Thiago Juliano Sayão - UFRGS ~
Da mata à natureza: apontamentos sobre as representações da paisagem da Ilha de Santa Catarina CP

O presente texto surge como resultado de pesquisas e reflexões acerca das representações da paisagem da Ilha de ~_
Santa Catarina, e, busca levantar a discussão sobre determinadas transformações sócío-culturais que se processaram ~s
em Florianópolis, no final do século XIX e começo do XX. Em meio as reformas urbanas (arquitetônicas e de higieniza- .~
:::r::

355
ção) e a presença de novos habitantes que aportavam na pequena cidade (principalmente descendentes de alemães),
começava a se instaurar uma nova sensibilidade em relação a natureza. Seja através do jardim público (com plantas
catalogadas e monumentos comemorativos), seja por meio da imagem iconográfica da paisagem, as representações
da natureza são lidas enquanto dispositivos de apropriação do espaço e de delimitação de territórios. As paisagens,
por sua vez, são entendidas aqui em um sentido amplo: como representações lingüisticas; representações literárias,
orais ou escritas; representações pictóricas; e representações de jardins. Neste sentido, podemos perceber a paisa-
gem como resultado de uma dupla artilisation: enquanto resultado da domesticação da natureza em um espaço reser-
vado - jardins, ou como representações da natureza em forma de linhas, cores e/ou palavras - imagens e/ou discur-
sos. Assim, das paisagens surgia uma natureza ...

Ana Paula de Oliveira Lopes - SEDUCICEEI- Conselho de Educação Escolar Indígena de MT


A leitura da paisagem no momento da definição da fronteira oeste no Guaporé
Na segunda metade do século XVIII, a fronteira Oeste da colônia portuguesa na América vi venci ou o processo de
disputa pela sua posse entre Portugal e Espanha. Na região do vale do Guaporé, esse momento foi marcado pela
fundação de núcleos urbanos como a Vila Bela da Santíssima Trindade, Vila Maria de Cáceres, Casalvasco, e pela
edificação de fortes como do Principe da Beira; como parte da estratégia defensiva também foram realizados acordos
'diplomáticos' com os povos indígenas, transformando-os em súditos reais da majestade lusitana. É neste cenário de
mutação da região da fronteira banhada pelo rio Guaporé, Mamoré, Mageira e Abunã em território lusitano, que situo a
trabalho aqui proposto. Pretende-se realizar uma leitura da paisagem Agua, Terra e Povos, através dos documentos
construídos pelo português Ricardo Franco de Almeida Serra, membro das Comissões de Demarcação e Limites. As
paisagens serão analisadas como uma construção cultural, pois o ato de identificar a paisagem traz consigo a baga-
gem cultural de quem o identifica a partir de um rico depósito de mitos, lembranças e obsessões.

Ana Carolina da Silva Borges - UFMT


Sociedade e Natureza no Pantanal Norte: cotidiano, lógicas locais e circularidade cultural (1870-1930)
A partir de 1870, algumas modificações ocorreram na província de Mato Grosso com o fim da Guerra do Paraguai e a
reabertura da navegação fluvial. A utilização e manejo dos recursos disponíveis passaram a serem mais exploradas.
Essas modificações provocaram alterações no cotidiano dos trabalhadores rurais que viviam nos caminhos percorri-
dos pelas embarcações, cuja intensificação da utilização dos recursos naturais ocasionaram mudanças na paisagem,
nas relações entre si e seu ambiente natural, além de conflitos nas lógicas locais. O objetivo deste trabalho é analisar
as modificações na relação da sociedade e natureza ao longo de 1870 a 1930, percebendo os conflitos simbólicos
desencadeados por estas mudanças na região do Pantanal Norte e a maneira como elas se materializavam nas
relações sociais, entre os moradores fixados ao longo dos rios São Lourenço e Cuiabá. Procura-se entender a forma
como as práticas desses ribeirinhos eram vistas pela elite e pelos viajantes através das idéias e percepções de mundo
que circulavam na provincia de Mato Grosso ao longo deste período. Para isso conceitos como circularidade cultural
(Ginzburg), habitus(Bourdieu), economia moral e direitos costumeiros(Thompson) e táticas(Certeau) serão utilizados
na pesquisa.

I 17/07 - Terça-feira - Tarde (14h ás 18h)


Haruf Salmen Espindola - UNIVALE
Transitividade entre história-espaço e história-natureza
O objetivo é refletir a relações história-espaço e história-natureza, discutindo a transitividade reflexiva entre história,
natureza e território. Compreende-se a relação natureza-sociedade não como suporte físico ou estrutura atemporal. A
presença e atividade humana no espaço são acompanhadas por sistemas de controle, construído e reconstruído no
jogo de forças, regulação social e apropriação. Critica-se o conceito de região, na medida em que é objeto de disputa
no campo simbólico e político, que a vivifica como sujeito. Região não se desenvolve, cresce ou regride, mas são as
pessoas, grupos e firmas que existem, prosperam, quebram e morrem; são relações entre atores na contigüidade
espacial ou por redes que prescindem desta contigüidade. Por isso, o regional deve ser reduzindo ao recorte espacial,
bem fundamentado, e nunca uma realidade dada. Devemos considerar objetivamente a estrutura natural e social e os
processos sociais e ambientais. Isso exige uma abordagem transitiva e reflexiva do tempo e espaço e da sociedade e
natureza. A noção de território contribui, ao identificar-se como campo de força de relações transitivas e reflexivas entre
história, natureza e território, abarcando dimensão do poder, multidimensionalidade, pluralidade, sobreposições e alte-
ridades.

356
José Josberto Montenegro Sousa - PUC-SP
Olhares sobre natureza e cultura em comunidades sertanejas do vale do Rio Jaguaribe - Ceará
Analisar a historicidade de culturas de populações rurais do sertão cearense,em particular a indissociabilidade sujeito/
natureza de moradores do vale do Rio Jaguaribe - Ceará, em seus modos de pensar, agir e transmitir conhecimentos.
Os significados de experiências sociais de homens e mulheres sertanejos reconhecidos em suas comunidades como
portadores de saberes tradicionais populares, asseguram-lhes meios de sobrevivência, uma vez preservados como
conjuntos de saberes próprios, aos quais estão associados costumes, ritos e valores fundamentados em tradições
culturais vinculadas á preservação da natureza. Esses saberes e experiências lhes possibilitam lidar com as variações
climáticas, como seca e inverno, a partir de observações de fenômenos naturais, comportamentos de pássaros e de
plantas, capacidade para localizarem reservas subterrâneas de água, dentre outros. Os saberes tradicionais resultam
de práticas culturais históricas transmitidas por seus antepassados, de interações com a natureza, constituindo o
alicerce de sua existência. Nesse sentido, abordarei experiências natureza/cultura de populações sertanejas, transmi-
tidas por tradições de oralidade e mantidas em diferentes suportes de suas memórias. Palavras chave: Natureza/
sociedade/cultura; Saberes tradicionais

Tathiane Gerbovic - USP


Informação e poder econômico: viajantes e relatos de viagens - São Paulo oitocentista
Durante muito tempo as potencialidades econômicas do território português na América do Sul foram consideradas
segredo de Estado, sendo raras expedições científicas organizadas sob auspícios da Coroa. Somente no início do
século XIX, com a transferência da Corte portuguesa ao Rio de Janeiro começaram a ser emitidas permissões para
incursões estrangeiras no território americano. Após a permissão da Coroa portuguesa, governos e companhias de
comércio enviaram viajantes a capitania e província de São Paulo, cujas informações e observações foram registradas
em relatos escritos. Tais relatos, longe de serem simples observações aleatórias feitas durante os 'passeios' em
lugares distintos, exóticos e/ou desconhecidos, resultam de análises específicas e precisas sobre temas diversos
feitas pelos viajantes, tendo como finalidade a formação de um corpo de conhecimento estratégico, com objetivos que
podemos classificar de geopolíticos.

Ana Rosa de Oliveíra - Instituto de Pesquisas Jardím Botânico do Rio de Janeiro


Natureza domesticada, Arcádía idílica: Transformações na paísagem do Jardím Botãníco na segunda metade
do século XIX
A presente comunicação apresenta uma análise introdutória acerca de algumas transformações ocorridas na paisa-
gem do Jardim Botânico do Rio de Janeiro ao longo da segunda metade do século XIX, tomando por base os relatórios
da diretoria do órgão, do Ministério da Agricultura e do Imperial Instituto Fluminense de Agricultura do referido período.
Tal como um 'Éden intramuros' - expressão cunhada por Simon Schama (1996) -, o Jardim Botânico foi palco, nas
últimas décadas dos oitocentos, de uma série de transformações voltadas para a construção do que se poderia chamar
de um recinto da natureza ordenada. Foi também nesse período, conforme se apreende dos relatórios, que o número
de visitantes do Jardim deu um salto considerável. Essa 'popularização' implicaria igualmente uma série de mudanças
na paisagem. O fato é que, além de recinto para plantas aclimatadas, de experimentos agrícolas diversos e de abrigo
de plantas autóctones, a instituição adequava sua paisagem como cenário para o lazer - como local idílico e aprazível
onde se reuniam entre outros, além da população local, grupos oriundos das finas sociedades recreativas e literárias
cariocas, incluindo bandas de música que animavam o ambiente.
@
45
Juliano Loureíro de Carvalho - UFBA
Natureza e poder na estruturação territoríal do Río Paraíba do Norte, 1585-1799
O presente trabalho busca entender a estruturação territorial da várzea do rio Paraíba do Norte (no litoral da antiga
Capitania da Paraiba) a partir da atuação, ora conjunta, ora conflituosa, de Estado e Igreja, entre o fim do século XVI e
o fim do século XVIII. Como proposto neste simpósio, entende-se aqui a estruturação territorial como o processo que
gera forma e sentido para o território, dentro de um determinado universo cultural, através da apropriação do espaço
natural, gerando sucessivas subdivisões espaciais. Estas, por sua vez, guardam lógicas próprias e refletem uma o
hierarquia de estruturas de poder e posse. A análise da cartografia e da documentação oficial do Estado Português ~
permitiu elaborar sinteses gráficas do processo estudado, acompanhando, assim, a divisão das freguesias, a elevação .E:
dos aldeamentos indígenas a vilas e a distribuição da população pelos termos dos concelhos que surgem. A leitura ~
proposta identifica três diferentes momentos neste processo, em que se sucedem, como seus principais agentes, ;
senhores de terras, Igreja e Estado, ao mesmo tempo que, em cada um destes momentos, as territorialidades funda- e
mentais derivadas do quadro natural se aprofundam. ~
:z:
-~-

357
Neli Teresinha Galarce Machado - UNIVATES
Análises e perspectivas geoambientais da arqueologia e seus reflexos na cultura humana do Vale do Taquari
-RS
Este trabalho tem o objetivo de ressaltar o grau de significância das possibilidades sobre estudos em sítios arqueoló-
gicos e a relação entre a arqueologia, geografia, geologia, geomorfologia e história. Considerando a potencialidade de
ocupações pré-coloniais e coloniais de grupos, caçadores-coletores, horticultores e primeiros imigrantes africanos e
europeus no Vale do Taquari. Além de levantar o patrimônio arqueológico do Vale do Taquari, principalmente no que se
refere a sítios de caçadores-coletores e de horticultores pretende-se ao mesmo tempo estudar as primeiras ocupações
humanas no Vale, difundindo a história de centenas de anos e resgatando momentos peculiares desconhecidos para
tantos. O principal resultado é o adequado tratamento do patrimônio histórico-cultural da comunidade do Vale do
Taquari.

Luciene Pereira Carris Cardoso - UERJ


Sociedade de Geografia: espaço como projeto político
A Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro foi fundada em 1883, na capital do Império, e desenvolveu um projeto
acadêmico direcionado para às demandas do Estado. A presente comunicação pretende demonstrar que a instituição
contribuiu para o descortinamento do hinterland brasileiro aos seus habitantes, através de trabalhos de campo e pela
sistematização das informações, por ela, levantadas, participando, por assim dizer, do processo de definição dos
contornos da nação. A necessidade de conhecer com profundidade a nação brasileira de norte a sul, apontava que
com a interiorização, certamente, deveriam ser encontradas terras e riquezas abundantes. Descortinar o território
brasileiro foi uma preocupação constante do Estado imperial. A partir de meados dos oitocentos, quando jà se conse-
guia formar uma visão de conjunto do espaço nacional, emergiu a necessidade de se assegurar sua integridade fisica,
volta e meia abalada pelos sucessivos conflitos platinos e depois pela guerra contra o Paraguai.

João Marcelo Barbosa Dergan - UFPA


A modernidade na insularidade da cidade de Belém-Pa: olhares sobre natureza e cultura
O cenàrio amazônico foi ocupado há longos períodos e tempos por gente que viveu, sonhou e modificou a si e o meio.
O trabalho trata da construção histórica da modernidade sobre as representações de natureza/cultura que construímos
para explicar as relações sociais nos espaços insulares e continentais de Belém-Pa, para a compreensão e inferências
da atualidade. Trata-se de um passeio no longo percurso da modernidade para a contextualização e compreensão das
representações, imagens e simbologias que afetam e inferem as percepções dos espaços insulares, para a vida
presente, guardadas as devidas continuidades e descontinuidades históricas. As representações desses espaços no
XVIII tinham múltiplos significados, ora sendo utilizados e explorados para o progresso econômico, ora servindo como
rotas de fugas de índios e negros, dependendo da posição na rede de exploração da metrópole. Importante é desna-
turalizar a idéia dos cenários de matas e rios como espaços com excesso de natureza, e poucos braços afeitos ao
trabalho - essa era a representação oficial - pois havia os sujeitos digamos, oficiosos, habitantes há muito desses
locais. A naturalização das relações sociais e a domesticação da natureza, sob determinado viés, marca o processo da
modernidade e a vida na cidade de Belém-PA.

I 18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h) I


Juliana Bublitz - UFRJ
O Rio Grande das Matas como fronteira verde da americanização
O presente artigo aborda o processo de colonização européia no Rio Grande do Sul do século XIX a partir da perspec-
tiva da história ambiental, enfatizando as relações entre os colonos europeus e a natureza sul-brasileira. Mais precisa-
mente, atenta para o papel da fronteira, aqui representada pela floresta subtropical, no processo de americanização
desses imigrantes. Longe de convergir com a tese da suposta marcha épica de uma nação rumo a seu destino 'natu-
ral', como quis Frederick J. Turner para o caso norte-americano, pode-se dizer que a fronteira verde teve um papel
preponderante ao moldar as relações dos europeus com os ecossistemas do Brasil meridional. Mais do que isso: teve
relação direta com a própria configuração de uma identidade colonial e de uma mentalidade de conquista, fortemente
marcada por um ethos cristão e pela oposição entre civilização e natureza.

Renê Wagner Ramos - Faculdades Novo Ateneu de Guarapuava


As transformações na cultura cabocla no médio vale do Rio Iguaçu (PR): a desagregação dos sistemas de
produção de porcos de safra, as tropeadas de porcos e as indústrias de banha (1950-1980)
O artigo discorre sobre a pesquisa que busca compreender historicamente as transformações da cultura, do modo de
vida dos caboclos, e a relação destas mudanças com o novo modelo agro-exportador introduzido no centro-sul e
sudoeste do Paraná, que estabeleceu a desagregação dos sistemas de criação de porcos de safra, suas tropeadas e

358
o desaparecimento das indústrias de banha. Sendo que o epicentro dessa pesquisa esta na apreensão da visão dos
caboclos frente a esse processo de tensão/modificação em suas vidas, aspectos importantes e intocado pela historio-
grafia. Nesse cenário, realizamos a reconstituição da história dessas populações, para identificar como viviam as
populações de caboclos que habitavam as margens do médio Vale do Rio Iguaçu. O recorte temporal foi de 1950-1980,
estabelecido em função da crise no tropeirismo de gado no início do século XX, além de possibilitar uma melhor
compreensão do processo de migração para a região supra citada. Exploramos o processo de instalação da criação de
suínos de 'safra'. Sobre essa questão ressaltamos que as tropeadas de porcos foi uma atividade econômica de desta-
que na região sudoeste e centro-sul do estado, essa atividade foi um dos primeiros contatos dos caboclos com um
modelo de economia capitalista.

Miguel Mundstock Xavier de Carvalho - UFSC


A crítica ambiental e o processo de devastação das florestas de araucária no Sul do Brasil
A Floresta de Araucária, ou Floresta Ombrófila Mista, já ocupou no passado cerca de 200 mil km 2 dos planaltos do Sul
do Brasil. Hoje ela está restrita a pequenos remanescentes bastante degradados e que continuam a sofrer pressão de
atividades agropecuárias, extração de madeira, crescimento urbano, etc. Iniciado no final do século XIX, esse proces-
so de devastação praticamente esgotou as florestas de araucária já por volta da década de 1970. No entanto, apesar
de ter se mostrado incontrolável, a devastação das matas de araucária foi alvo também de severas críticas e preocu-
pações de alguns observadores. Principalmente a partir da década de 1940, no contexto da criação do Instituto Naci-
onal do Pinho, alguns políticos, madeireiros, engenheiros, geógrafos, entre outros, criticaram a forma como se desen-
volvia a indústria madeireira sulina, sem a menor preocupação com a reposição do imenso stock florestal que estava
sendo consumido pelas serrarias. Nesse artigo, o objetivo é analisar o conteúdo dessa crítica em alguns intelectuais
como Romário Martins, F. C. Hoehne e R. Maack e outros menos conhecidos. Com isso, esperamos contribuir para
entender os rumos que tomaram mais tarde as políticas ambientais do IBDF, como os reflorestamentos com exóticas,
que mudaram a paisagem da região.

Ely Bergo de Carvalho - USFC


legislação Florestal, Território e Modernização: O caso do Estado do Paraná 1907-1960
O Código Florestal paranaense de 1907 foi o primeiro do Brasil, sendo que apenas em 1934 foi elaborado um Código
Florestal federal. Todavia as disposições de tais códigos, em grande parte, não foram aplicadas. Disto resulta a ques-
tão deste trabalho: entender a função de leis que se constituíram 'mera decoração na legislação'. O caminho seguido
foi o de pensar seu contexto de aplicação, ou melhor, os seus efeitos no controle e configuração do território paranaen-
se, e pensá-los como parte dos projetos de um Estado Providência. Assim, por meio da análise da legislação e de
relatórios governamentais sobre a aplicação da legislação no 'sertão paranaense', nas décadas de 1930 a 1950, é
possível compreender as funções de tais leis que, se não garantiram a manutenção da floresta, não eram apenas
idéias fora do lugar.

Adalmir leonidio - USP


Matar e desmatar. A ocupação inicial do Pontal do Paranapanema (1850-1930)
A ocupação inicial da região conhecida hoje como Pontal do Paranapanema, entre 1850 e 1930, se caracterizou por
uma relação conjugada de três processos extremamente violentos: grilagem de terras, extermínio das populações ~
indígenas e destruição do ambiente natural. Sobre os dois primeiros aspectos desta totalidade histórica há uma quan- ~
tidade de informações relativamente grande, embora ainda insuficientemente trabalhada. Quanto ao último aspecto,
apesar de não haver indicadores diretos, existe uma série de vestígios que nos permitem inferir as transformações
ocorridas. São eles de três tipos principais: dados climáticos, fornecidos, sobretudo, pela Comissão Geográfica e
Geológica que, em várias expedições ao local, coletou essas informações; dados sobre a produção de café, que
passou a ocupar vastas áreas a partir de 1880; informações fornecidas por viajantes que percorreram a região, como
Teodoro Sampaio, Cornélio Schmidt e Amador Cobra. Mas o mais importante, e que se constitui no foco central deste
trabalho, é que estes três processos têm sido analisados separadamente, enquanto propomos sejam vistos como
parte de uma mesma mentalidade predatória que guiou tal ocupação.

Paola Beatriz May Rebollar - UFSC


Interações entre a comunidade ítalo-brasileira de Urussanga e a Mata Atlãntica (1878-1920)

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dades agropecuárias e depois com a exploração carbonifera.O objetivo desta pesquisa é registrar as peculiaridades 3
locais da interação entre os colonos ítalo-brasileiros e a floresta entre 1878 a 1920, que levaram a fortes transforma- z
ções ambientais. A bibliografia local, arquivos regionais, as imagens, fotografias, locais de memória e entrevistas ,,,.-
membros da comunidade foram as fontes de pesquisa utilizadas neste trabalho. Estas fontes foram analisadas a partir .~
da perspectiva da História Ambiental. As interações entre os imigrantes e a floresta em Urussanga promoveram o I

359
desaparecimento de muitas espécies animais e vegetais, o extermínio dos indígenas que vivam na região e a poluição
de rios e solos com dejetos da exploração carbonífera.

Marcos Gerhardt - UNIJUI


Erva-mate no Rio Grande do Sul: uma abordagem ambiental
A história da extração, do preparo e do comércio da erva-mate no Rio Grande do Sul do século XIX recebe, neste texto,
uma abordagem ambiental, construída a partir de relatos de má conservação dos ervais nativos escritos por viajantes
e engenheiros ligados ao governo da província e também dos códigos de postura das câmaras municipais, onde
encontram-se evidentes o esforço de regulamentar o acesso e de promover a conservação dos ervais considerados
públicos e o objetivo de evitar a falsificação do produto. Utilizando ainda outras fontes, como testamentos e inventários
post-mortem de ervateiros do norte da província, processos criminais e o testemunho de cronistas da época, o texto
apresenta a erva-mate como um importante bem natural, em torno do qual se estruturava parte significativa da econo-
mia extrativista gaúcha do século XIX e se configurava um território que incluía a Argentina, o Paraguai e o Uruguai,
lugares vinculados à rede de comércio criada a partir da erva.

I 19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h às 16h30min) I


Gilmar Arruda - UEL
Gestão dos recursos hídricos e história ambiental
A Lei n° 9.433/97, propôs a gestão dos recursos hídricos através de um sistema compartilhado entre estado, usuários
e sociedade civil através da constituição de comitês de gerenciamento por bacias hidrográficas. Esse gerenciamento
ou gestão não será bem sucedido se não tiver informações suficientes da história das relações estabelecidas entre os
homens e o corpo d'água que se pretende gerir. Nesse sentido, examinando os conflitos ocorridos em um processo
concreto de apropriação das águas do rio Tibagi-PR para o abastecimento da cidade de Londrina, entre as décadas de
1970 e 1990, procuramos desvendar como as paisagens(representações) construídas sobre o rio, sobre suas águas,
pelos diversos setores envolvidos no processo, a favor ou contra a sua utilização, contribuíram para as decisões
tomadas pelos grupos envolvidos. O campo da história ambiental, numa perspectiva interdisciplinar com a geografia,
pode contribuir para a gestão sustentável da água desvendando as razões e as memória construídas pela população
diretamente envolvida. Essa comunicação pretende, por fim, discutir como a história ambiental poderia passar da
constatação para ação.

Cezar Karpinsk e Marcos Fabio Freire Montysuma - UFSC


Disputas e resistências territoriais na construção de barragens no Paraná
Nesta pesquisa procuramos discutir as diversas representações sociais de um território submetido à construção da
Usina Hidrelétrica Salto Caxias, no Rio Iguaçu - Região Oeste do Paraná, ocorrida entre os anos de 1993-1999.
Primeiramente discutimos como ocorreu o mapeamento do espaço através do Estudo de Impacto Ambiental, proble-
matizando a legitimação da viabilidade ambiental, econômica e social da obra. Sob esta ótica o espaço inundado se
tornou um "território do desenvolvimento'. Tomando como referência a História Oral, abordaremos como a população
da área se relacionou com o espaço manifestando suas representações referentes às terras inundadas pelo reservató-
rio. Nesta incursão percebemos um 'território' de lembranças, de valores e sentimentos ligados aos fatores ambientais
que dão conta de um outro discurso, o das histórias de vida pautadas nas várias relações com o meio ambiente.

Enmelinda Moutinho Pataca - Universidade São Marcos


A água: análises históricas e ambientais na América Portuguesa (1500-1822)
Neste trabalho reflito sobre a importância das fontes de água provenientes do Oceano Atlântico e das bacias hidrográ-
ficas no processo de colonização brasileiro. Numa associação entre ciência, tecnologia, sociedade e ambiente avalio
as estratégias e técnicas de utilização dos recursos hidricos durante a configuração do Império Ultramarino, assim
como no processo de expansão territorial e de dominação humana na América portuguessa. Numa análise geo-políti-
ca, o dominio do território se consolidava devido ao reconhecimento e à utilização das bacias hidrográficas, associado
ao planejamento urbano que incluía a construção de cidades em pontos estratégicos na costa brasileira e na foz de
alguns rios. A água era também um elemento centralizador nos traçados urbanos, pois as cidades seguiam a configu-
ração dos rios. Sob uma perspectiva tecnológica, avaliamos a utilização dos recursos hídricos para a geração de
energia, consolidado na roda dágua que era utilizada nos engenhos produção agrícola (como açúcar e arroz) e mine-
ral, onde a água servia ainda para a separação dos minerais. As alterações nos cursos dos rios para a mineração,
também eram constantes e causavam um grande impacto ambiental, cujas áreas ainda estão alteradas ainda hoje e
que devem ser avaliadas dessa forma.

360
Marcos Lobato Martins - Faculdades Pedro Leopoldo
Mineração, identidade garimpeira e meio ambiente: os conflitos em torno da extração de diamantes no Alto
Jequitinhonha, 1989-1995
Este trabalho analisa o processo de formação e as características da identidade garimpeira no Alto Jequitinhonha,
Minas Gerais. Em seguida, examina os eventos que culminaram no embargo dos garimpos na região, ocorrido nos
anos de 1989-1990, determinado pelo IBAMA, em função das pressões ambientalistas crescentes que pesaram sobre
a tradicional atividade minerária do Nordeste de Minas. As reações dos garimpeiros ao novo contexto gerado pelo
embargo são analisadas a partir dos valores, idéias e normas de conduta preconizados pela identidade garimpeira
tradicional, de modo a compreender os limites e as dificuldades que a ação coletiva dos garimpeiros encontrou no
processo de ajuste e negociação com os atores estatais e ambientalistas envolvidos no processo. A conclusão é que a
identidade garimpeira tradicional constitui um obstáculo de monta à continuidade e à reestruturação da mineração na
região. O trabalho utilizou depoimentos orais, documentos da Cooperativa Regional dos Garimpeiros de Diamantina,
jornais de época e textos da literaura regional.

José Jonas Duarte da Costa - UFPB


Políticas públicas e os impactos sócio-ambientais no semi-árido nordestino
O processo de modernização do semi-árido nordestino ocorreu sob a lógica econômica desenvolvimentista, conduzida
pelos governos autoritários do Regime Militar. No imaginário dominante à época, não era possível conviver com o
Semi-árido e sob a Caatinga. Nessa direção, a substituição da flora nativa e de lavouras de subsistência, por produtos
exóticos e por grandes fazendas de pecuária foi a tônica, provocando, por um lado, o empobrecimento de populações.
Por outro, intensa destruição ambiental com a devastação do bioma Caatinga e o aumento do processo de degradação
dos solos, ou seja, a aceleração da desertificação. A crise dos anos 80 abateu-se de forma especial sobre o semi-árido
nordestino. Concomitante com o desaparecimento da cultura do algodão, o desemprego, a pobreza e a falta de pers-
pectivas sociais levaram a um intenso processo migratório. Levas de sertanejos deixaram suas terras com destino às
capitais da Região e aos grandes centros urbanos do país. Cerca de 5 milhões de sertanejos tiveram de abandonar
suas terras na década de 80, deixando em seus territórios os impactos sócio-ambientais, identificado no alto grau de
desertificação como marca de um modelo de desenvolvimento concentrador e excludente.

I 20107 - Sexta-feira - Manhã (10h30min às 12h30min) I


Roberto Massei - FAFIJAlUENP. PUC-SP
A construção da usina hidrelétrica Barra Bonita e a relação homem-natureza: vozes dissonantes, interesses
contraditórios! (1940-1970)
Esta comunicação objetiva discutir e problematizar o papel instrumental da tecnologia na construção da Usina Hidrelé-
trica Barra Bonita, no trecho Médio-Superior do rio Tietê, na região central do estado de São Paulo, e o impacto social,
econômico, ambiental e cultural que a formação de seu lago provocou sobretudo à população oleiro-cerâmica de Barra
Bonita e da região. Ela orienta-se, teoricamente, pela História Oral e pela História da Cultura Material. A partir das
experiências dos trabalhadores oleiros, antigos moradores do município e técnicos (engenheiros), que vivenciaram ou
participaram diretamente da construção da usina, foi possível estabelecer uma relação entre tecnologia, natureza, ~
ambiente e sociedade, que se constitui o suporte de toda a vida material. O estudo da Cultura Material pressupõe a ~
compreensão do modo como o homem transformou o ambiente em que viveu - e ainda vive - por meio da técnica,
confeccionou seus objetos e construiu seu mundo material.

Lorena de Pauli - UFSC


Ode a água da Serra do Mar do Paraná
A utilização da água para o consumo humano é um dos principais problemas ambientais mundiais, problema agravado
pelo aumento da população e a formação de grandes cidades. Como no caso de Curitiba e do uso da água dos
Mananciais da Serra do Mar para seu abastecimento no principio do século XX. Pretendo discutir aqui a relação entre
a água e a vida da população, a partir dos discursos políticos do estado do Paraná, e do discurso cientifico dos ~§
engenheiros, entre os anos de 1904 e 1905. Para tanto, esta discussão terá como fonte os relatórios do Presidente dOE
Governo e da Secretária de Obras Públicas, nos anos estipulados, assim como os vestígios do projeto do primeiro ~
sistema de abastecimento de água de Curitiba. Utilizo para articular tais discursos o conceito de biopoder, de Michel Q.)

gJ
Foucault. Estes discursos argumentavam a favor da água como fonte da vida e visavam justificar a construção do e::
primeiro sistema de abastecimento de água público da cidade, assim como anunciar a escolha do manancial, que ti;
favorecia a conservação da vida dos curitibanos. Portanto, a intenção é localizar nos discursos a concepção de quali- z
dade da água, dos mananciais, logo, uma concepção de qualidade de vida no início do século XX.

361
Eder Jurandir Carneiro - UFSJ
Apropriação de condições naturais e construção histórica de territórios em São João del-Rei (MG)
O trabalho analisa processos históricos de construção (material e simbólica) de territórios urbanos de classes popula-
res em São João del-Rei (MG). Orienta-se pela hipótese de que a construção desses territórios resulta da interação
entre, de um lado, a espacialização urbana das desigualdades socioambientais geradas pela economia de mercado,
conservadas e aprofundadas por omissões e ações seletivas do Estado, e, de outro, as lutas e práticas coletivas
organizadas pela população para imprimir aos territórios que habitam determinados significados e provimento de
serviços de infra-estrutura, conferindo-lhes habitabilidade 'urbana" . Os processos examinados desenvolveram-se ao
longo do esforço desenvolvimentista mineiro e de seu colapso. A dinâmica espacial de São João del-Rei se viu afetada
por esses processos: situada em mesorregião periférica ao núcleo da industrialização mineira, a cidade tornou-se pólo
de atração das populações carentes de municipios do entorno. Desenvolve-se, assim, nos últimos vinte anos, intenso
processo de formação de subúrbios na cidade. Para a pesquisa, realizaram-se, em oito bairros de classes populares,
observação participante, pesquisa em arquivos relevantes, survey domiciliar, levantamento fotográfico e entrevistas
semi-estruturadas.

Gislaine de Oliveira Silva - UFMT


As canoas de guerra usadas na defesa da fronteira guaporeana (1756-1801)
Nesta comunicação se pretende discutir um lugar de fronteira, localizado na região da bacia do rio Guaporé; espaço
que no século XVIII foi disputado pelas coroas de Portugal e Espanha. Como objeto de análise tem-se um dos meios
de defesa dos mais utilizados na região nesta época: as canoas de guerra. Trata-se de embarcações de formato
indígenas às quais foram acrescentadas pequenas peças de canhões. Estuda-se como estas canoas foram transfor-
madas em instrumento de guerra, inicialmente contra os indígenas, habitantes da bacia do rio Paraguai e depois na
guarnição e manutenção da fronteira oeste da América Portuguesa, em águas guaporeanas. O período do estudo esta
compreendido entre 1756 a 1801, tempo no qual o Guaporé foi cenário de disputas territoriais. O objetivo é o de
demonstrar a importância destas embarcações na consolidação do extremo-oeste da América Portuguesa; para tanto
se utiliza como fontes as cartas régias e ofícios dos governadores e capitães-generais correspondente ao período
proposto, pertencente ao Arquivo Público de Mato Grosso. Trata-se de uma pesquisa ainda em andamento.

Carlos Renato Carola - UNESC


Agricultura brasileira e impactos ambientais no século XIX: a grande lavoura, a agricultura de subsistência e o
diagnóstico do atraso tecnológico
A agricultura, juntamente com a domesticação de animais, foi uma das invenções mais importante de toda história da
sociedade humana; e a metalurgia foi a invenção que mais propiciou conforto material e ao mesmo tempo a que mais
potencializou o poder tecnológico de domínio sobre a espécie humana e a natureza não-humana. Este trabalho analisa
alguns dos aspectos relacionados com a agricultura brasileira e os impactos ambientais, no século XIX, na perspectiva
da história ambiental. O foco da discussão gira em torno do diagnóstico que procura explicar as causas do atraso
tecnológico da agricultura, problematizando o trabalho escravo e a destruição ambiental provocada pela grande lavou-
ra de exportação. Entre as fontes selecionadas, foram analisados obras clássicas da historiografia brasileira e publica-
ções e documentos que abordaram a história da agricultura e a vida rural no Brasil.

Diogo de Carvalho Cabral - UFRJ


Teorias da devastação ecológica colonial na historiografia brasileira contemporânea: algumas notas críticas
O artigo faz um mapeamento preliminar e critico das teorias históricas contemporâneas que procuram explicar a
formação sócio-econômica do Brasil como um processo de degradação ecológica. As origens dessas teorias remon-
tam às obras fundadoras de Sérgio Buarque de Holanda - cuja base metodológica weberiana é seguida, mais tarde,
por Warren Dean - e Caio Prado Jr., com sua abordagem macro-econômica 'dependentista". Mais recentemente, S. W.
Miller deslocou a discussão para os parâmetros micro-econômicos, aventando com um modelo que postula a perdula-
ridade ecológica da economia colonial como decorrente da ausência de um mercado capitalista auto-regulável.

362
46. História-Ciência-Tecnologia-Sociedade
Ivan da Costa Marques (UFRJ) e Lorelai Brilhante Kury (Fiocruz I UERJ)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h às 18h) I
Carlos Henrique Barbosa Gonçalves - USP
Intercursos intelectuais entre gregos e mesopotâmios no período selêucida: um caso matemático .g;
O conjunto das similaridades culturais entre a Grécia e o Oriente Próximo aponta uma participação oriental, ainda que ~
controversa em sua extensão e intensidade, na formação da mítica, poética e filosofia gregas nos períodos arcaico e .~
clássico. No período helenístico) porém) a caracterização do contato entre os povos dessas regiões não admite uma c55
fórmula tão direta) não sendo aplicável nem o conceito de helenização nem o de orientalização. Com interesse nos .~
possíveis intercursos culturais entre gregos e mesopotâmios desse período, apresentamos uma nova leitura para um ~
trecho do tablete matemático cuneiforme selêucida BM 34 568, remetendo-o a conhecimentos presentes entre os g
gregos do Egito ptolomaico e da Grécia clássica. Aspectos técnico-matemáticos à parte, procuramos, no quadro geral ~
das sociedades e tradições em questão, dar sentido ao paralelo entre o texto selêucida e o material da tradição grega.g
Tal sentido traduz-se não em uma influência decisiva de um contexto sobre o outro, mas no potencial de comunicação G
de ambos e no discernimento de como cada um deles impregnava-se de características específicas. Do resultado, ro
avaliamos a adequação da nova leitura, assim como a contribuição desta questão para o amplo tema dos contatos ~8
entre leste e oeste. :i?
Eduardo Moraes Warpechowski - USP
Debate social em torno da biotecnologia: o caso dos alimentos transgênicos
Este trabalho pretende discutir a mobilização de diferentes agentes sociais frente às complexas questões suscitadas
pela introdução das biotecnologias agricolas, ou seja, dos produtos transgênicos, em território nacional. Os transgêni-
cos se tornaram tema de inúmeras controvérsias, devido a seus possiveis impactos econômicos, ambientais e filosó-
ficos sobre a sociedade. Como artefato tecnocientífico, os transgênicos modificaram parte do processo produtivo de
alimentos, possibilitando às empresas transnacionais um maior domínio sobre a natureza e seus componentes. A partir
disso, faremos uma análise mais detalhada a respeito do desenvolvimento do processo técnico que possibilita esse
maior "domínio' sobre a natureza e as reações de diversos grupos (associações, organizações não governamentais,
entidades agrícolas etc.) no que diz respeito à relação entre desenvolvimento técnico e direitos sociais.

Leandro Miranda Malavota - UFF


Sobre a estrutura de proteção à atividade inventiva no Brasil (1830-1882): notas de pesquisa
O artigo procura promover um estudo a respeito da construção e funcionamento de uma estrutura jurídico-institucional
de proteção à atividade inventiva no Brasil, tendo como recorte cronológico o período compreendido entre 1830, ano
da introdução da primeira lei especifica para a regulação dos direitos de propriedade intelectual no país, e 1882, ano
de sua primeira revisão significativa. Partindo-se de uma análise comparativa entre a legislação patentária brasileira e
suas congêneres na Inglaterra, França e Estados Unidos, importantes centros de inovação cientifico-tecnológica no
período, conclui-se ter sido o caso brasileiro marcado por uma interpretação sui generis a respeito dos limites da
propriedade privada sobre os bens imateriais - conhecimento, tecnologia -, permitindo-se a construção de um sistema
dual de proteção ao inventor, no qual "apropriação' e "premiação" funcionavam como elementos complementares.

Carla Cristina Barbosa - Universidade Estadual de Montes Clarosl PUC-SP


Saberes de cura:curandeiros no mercado de Montes Claros/MG
Esse trabalho faz parte da pesquisa, em andamento, "Curandeiros e Benzedeiras: medicina popular nas Feiras e
Mercados do Norte de Minas Gerais/MG". Seu pressuposto é o desenvolvimento da ciência e da técnica como face da
mesma moeda. A partir da medicina popular será discutido a ciência, a técnica, a doença e o remédio. Dai a importân-
cia do estudo e levantamento das ervas e raizes comercializadas no mercado municipal de Montes Claros como objeto
de análise. Nosso objetivo é a descrição das ervas ,raízes e garrafadas utilizadas pelos curandeiros e como se dà o
diagnóstico e prescrição das plantas para a cura da enfermidade. Para tanto, pretendemos discutir a partir dos relatos
dos viajantes, quais as ervas, raízes e plantas descritas nos diários de viagens são encontradas no mercado de
Montes Claros.

Diogo Franco Rios - UFBAlUEFS


Historiografia da matemática e a memória dos matemáticos no Brasil: Possibilidades e usos da memória na
narrativa histórica da corporação
A historiografia da Matemática produzida no país, referente ao período compreendido entre o inicio da década de 1930,
com a fundação da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, e a atualidade, é compos-

363
ta basicamente de textos clássicos da historiografia própria da categoria, e de textos produzidos mais recentemente
em cursos de mestrado e doutorado no pais e no exterior. Existe ainda um outro material referente a esse período;
composto por relatos, entrevistas, depoimentos e livros de memórias dos personagens que participaram da trajetória
da evolução da matemática no Brasil contemporâneo, incluindo tanto as lembranças dos cientistas proeminentes,
quanto dos anônimos, que não tiveram seus nomes reconhecidos particularmente, mas que também fizeram parte
desse grupo de cientistas e que possuem suas próprias versões desse mesmo processo. Porém, ainda não existe uma
análise que, utilizando esses materiais, discuta a relação entre as memórias dos matemáticos e da matemática e a
historiografia da matemática neste período considerado, apesar da relação entre história e memória, há muito tempo
ser objeto de discussão dos historiadores. Este trabalho, portanto, traz uma análise da relação entre a memória dos
matemáticos e a historiografia da matemática.

Nilda Nazaré Pereira Oliveira -Instituto Tecnológico de Aeronáutica


Entre o "criar", o "copiar" e o "comprar pronto"
O objetivo deste texto é explorar as opções para a possível reconstrução da indústria de construção aeronáutica no
Brasil no 2° pós-guerra. Essa discussão, datada de 1934, quando ocorreu o 1° Congresso Brasileiro de Aeronáutica,
em São Paulo, foi revitalizada com o início das obras de construção do ITA, em 1947, e a realização do 2° Congresso,
no Rio de Janeiro em 1949. As teses apresentadas neste congresso apontavam o mesmo caminho como solução: que
caberia ao Estado fomentar a Indústria Aeronáutica realizando encomendas programadas ás fábricas existentes. Re-
comendações estas que não foram consideradas. As indústrias pré-existentes faliram ou foram vendidas. E aAeronáu-
tica resolveu investir na construção de seu Centro Técnico, seguindo o plano desenvolvido pelo Professor Richard
Smith, chefe do Departamento de Aeronáutica do Mil As opções diante das quais se encontrava a sociedade brasilei-
ra em geral, e os militares em particular: importar aeronaves; produzir sob licença; formar mão-de-obra no exterior; ou
investir na formação de massa crítica no próprio país, ainda que em longo prazo, são as mesmas que se apresentavam
para todos os setores de P&D. Neste caso, a construção do ITA é entendida como fundamental para o sucesso da
indústria aeronáutica brasileira.

Fábio Luciano lachtechen - Universidade Tecnológica Federal do Paraná


Os couraçados terrestres ticcionais e a invenção dos carros de guerra
Esta pesquisa tem por finalidade traçar um breve histórico de um artefato bélico que se tornou definitivo durante o
século XX, e passou a ser utilizado em praticamente em todos os conflitos significativos após sua concepção em 1916:
o tanque de guerra. O ponto de partida desta análise é o conto The land ironclads publicado em 1903 pelo escritor
inglês H. G. Wells, que descreve uma situação de guerra de trincheiras decidida pela aparição de uma máquina
semelhante aos tanques concebidos mais de uma década depois.

Rodolpho Gauthier Cardoso dos Santos - UNICAMP


Imaginário e representação· a história dos discos voadores e seres extraterrestres no Brasil
Os primeiros relatos sobre discos voadores apareceram nos jornais norte-americanos em junho de 1947. A ampla
cobertura da imprensa internacional fez com que, em questão de dias, surgissem várias ocorrências também no Brasil.
Considerados inicialmente possíveis armas secretas das potências da Guerra Fria, os discos voadores passaram, no
começo da década de 1950, a ser associados a visitantes de outros planetas. Desde então, as representações a
respeito do assunto mantém-se em constante mutabilidade. Na década de 1950, por exemplo, o principal aviso dos
supostos visitantes era em relação ao perigo das guerras nucleares. Um discurso bem diferente de alguns 'alieníge-
nas' atuais, muito mais preocupados com a destruição da natureza. Essa mutabilidade, entre outros aspectos, eviden-
cia o caráter humano e cultural envolvido na criação do imaginário do tema. Nesse sentido, historicizar tais idéias pode
ajudar a compreender as preocupações de uma época, o imaginário cientifico e a maneira como os cientistas e o
Estado foram vistos por quem partilhava desse corpo de representações. Iniciativas acadêmicas semelhantes têm
surgido em paises como Espanha, Estados Unidos e Suécia. Este trabalho pretende comentar as possibilidades e
potencialidades de uma história dos discos voadores no Brasil.

I 17/07 - Terça-feira- Tarde (14h ás 18h) I


Heloisa Meireles Gesteira . MASTlRJ
A Galeria do Mundo: Pieter van der Aa e a imagem da América na cultura neerlandesa (1624/1729)
No inicio do século XVIII Pieter van der Aa, impressor e comerciante de gravuras e livros na cidade de Leiden, na
República das Províncias Unidas, organizou um catálogo de seu acervo e o publicou no ano de 1729, oferecendo a um
público restrito, pois só imprimiu 100 cópias, uma bela coleção de mapas e gravuras sob o título 'Galerie Agreable du
Monde'. O autor do catálogo o apresenta como uma obra que visava atrair os amantes da Geografia e da História, o
trabalho resultou numa narrativa do mundo através de imagens e de textos. O objetivo central dessa comunicação será

364
identificar o lugar ocupado não só pela América mas sobretudo pelo Brasil numa perspectiva da História e da Geografia ~46
tal qual percebidas por Pieter van der Aa, ~

Luiz Carlos Soares - UFF


Ciência Aplicada e Ilustração na Inglaterra do Século XVIII: Dois Newtonianos Eminentes e sua Obra
Em meados do século XVIII, verificou-se na Inglaterra uma grande onda de "fascinação" pela Ciência Aplicada, que,
segundo o historiador Paul Langford, chegou a caracterizar o movimento ilustrado naquele país como uma 'Ilustração
da mentalidade prática", O interesse pelo conhecimento científico aplicado e experimental transcendeu á esfera dos .g;
grandes especialistas e passou a ser cultivado pelos segmentos sociais mais diferenciados, desde cavalheiros e ~
damas, cujo único interesse era um aprendizado para refinamento sócia,1 até proprietários manufatureiros, engenhei- 'g
ros e mecânicos, que procuravam aplicar esse novo conhecimento ás necessidades cotidianas das indústrias e da ~
produção e ao aperfeiçoamento do maquinismo utilizado, Em Londres e nas principais cidades do interior, professores 'g
independentes e/ou itinerantes - que não tinham vínculo com universidades ou instituições de ensino médio - come- §
çaram a ministrar cursos de Filosofia Natural e Experimental Newtoniana para uma audiência bastante diversificada, '"
Destacaremos, aqui, a atuação e a obra de dois eminentes professores independentes, que foram Jean-Théophilus ~
Desaguliers e Benjamin Martin, O primeiro se sobressaiu entre os anos 1710 e início dos anos 1740 e o segundo entre 'g
os anos 1730 e 1770, mas ambos foram importantes. G
cO
';::
Alex Gonçalves Varela - Museu de Astronomia e Ciências Afins 'B
,~
O processo de formação, especialização e profissionalização (1783-1800) do ilustrado Manuel Ferreira da Câ- :::c
mara
O personagem Manuel Ferreira da Câmara ficou conhecido na historiografia pelo seu perfil político de estadista e
parlamentar, sobretudo por sua atuação no periodo da Independência, Sua trajetória histórica, contudo, caracteriza-se
pela associação entre os interesses políticos e a face de estudioso das ciências naturais. O objetivo deste trabalho
consiste em analisar o processo de formação, especialização e profissionalização do personagem no âmbito da políti-
ca estatal de renovação cultural-científica do governo de Dona Maria I. Essa política buscava criar um novo corpo de
funcionários Ilustrados para fornecer pessoal à burocracia e formar uma 'elite do conhecimento' interessada na explo-
ração do mundo natural do Reino e das colônias. Analisar-se-á quatro momentos desse processo: os estudos na
Faculdade de Filosofia da Universidade de Coimbra; a entrada para a Academia Real das Ciências de Lisboa; a
viagem de especialização científica pelos principais centros de mineração da Europa Central e Setentrional; e, por fim,
o cargo de consultor do governo em Assuntos de Minas e Metalurgia.

Lorelai Brilhante Kury - Fundação Oswaldo Cruzl UERJ


A ilustração científica como objeto histórico (séculos XVIII e XIX)
As imagens científicas, longe de constituírem registros 'neutros'ou "fiéis' da natureza, dialogam com a descrição da
espécie estabelecida pela história natural. Com as transformações ocorridas nas técnicas de gravação e impressão, os
livros ilustrados tornam-se mais populares e mais importantes para o próprio trabalho dos naturalistas. As ilustrações
podiam em parte ser feitas com espécimens vivos - in situ, por ocasião de viagens ou observados em jardins e zooló-
gicos - ou inteiramente baseadas em material de coleções, tais como herbários e animais empalhados. As pranchas
científicas tornaram-se objetos presentes no cotidiano do trabalho de zoólogos e botânicos. O desenho e a pintura
estabeleceram, no entanto, principalmente no século XIX, uma relação tensa com as formas escritas de registro,
estabelecidas pelos naturalistas e não pelos artistas. Assim, para compreender a ilustração científica nos séculos XVIII
e XIX é necessário entrecruzar questões que dizem respeito a diversas esferas: técnicas artísticas e cientificas, teorias
de história natural, circulação de imagens impressas e manuscritas, instituições e coleções.

Bruno Martins Boto Leite - MAST


A filosofia corpuscular na Europa do século XVII
As teorias da matéria assumiram diversas formas entre os filósofos europeus do século XVII. No que diz respeito as
teorias atomistas, duas orientações estruturaram todas as discussões a respeito do tema em questão, Por um lado, o
atomismo matemático, derivado diretamente do atomismo democritiano e caracterizado pela indagação sobre a maté-
ria no ambito da matemática, De outro lado, o atomismo físico ou o corpuscularismo, advindo das inovações de Lucré-
cio neste terreno da filosofia, caracterizado por indagações de natureza qualitativa. Esta segunda versão do atomismo
no período moderno foi objeto de interesse de diversos pensadores, sendo a maioria deles médicos. O corpuscularis-
mo dos médicos europeus do século XVII será o tema proposto para este seminário e os personagens analisados
serão, entre outros, Estevão Rodrigues de Castro, Daniel Sennert, Sebastiano Basso, Joachim Jungius, Tomas Harriot
e Johannes Chrysostomos Magnenus,

365
Flávia Kurunczi Domingos - UFMT
Os diários de viagem de Antônio Pires da Silva Pontes: ciência e diplomacia no interior da América portuguesa
Esta comunicação tem por proposta apresentar alguns dos escritos produzidos pelo astrônomo-matemático Antônio
Pires da Silva Pontes Lemos (1750-1805), buscando estabelecer uma relação entre a teoria e a prática científica
durante a execução dos trabalhos de demarcação dos limites territoriais sul-americanos entre os anos de 1780 e 1790.
Nascido na Comarca de Mariana, Minas Gerais, Silva Pontes doutorou-se em matemática pela Universidade de Coim-
bra em 1777, ano em que também foi nomeado para compor a Terceira Partida de Demarcação, por ocasião do Tratado
Preliminar de limites assinado pelas coroas portuguesa e espanhola em 1777. Durante as viagens de reconhecimento
do território a ser demarcado, Silva Pontes escreveu diversos diários. Nestes a matematização da natureza evidencia
a racionalidade de uma educação iluminista e os interesses de uma política de ocupação e reconhecimento territorial
por parte do governo português, mas tamb~m lança luz sobre a relação entre a forma de ver e sentir a natureza, a
política e a ciência no final do século XVIII. E este aspecto que se quer evidenciar e discutir.

Ana Emílía da luz lobato - USP


O Rio Amazonas pelo olhar epistêmico do padre jesuíta João Daniel (séc. XVIII)
Esta comunicação tem por objetivo levantar algumas hipóteses acerca da Idéia de Natureza e do conhecimento do
mundo natural presentes na obra Tesouro Descoberto no Máximo Rio Amazonas. Escrita pelo padre jesuíta João
Daniel em meados do século XVIII, a obra representa uma das mais importantes referências sobre a natureza e o
cotidiano da região amazônica nos séculos XVII e XVIII. Está dividida em seis partes e versa sobre temas relativos ao
mundo natural, aos homens e aos saberes e fazeres da região que compreende as margens do Máximo Rio Amazona,
desde sua nascente, em terras espanholas, até sua foz, incluindo seus afluentes. Seu argumento é o de que esta é
uma das regiões mais ricas do mundo e a penúria de seus habitantes se devia aos métodos inadequados que utiliza-
vam na agricultura, navegação e extração das riquezas produzidas por suas matas. Apesar da aparente 'modernidade'
de suas proposta, no que diz respeito á elaboração do conhecimento, aproxima-se muito mais dos autores do séc. XVI,
herdeiros do aristotelismo-escolasticismo. Enfocando apenas a primeira parte da obra, na qual ele trata especifica-
mente do meio natural, pretendemos, então, discutir alguns paradigmas epistemológicos que o orientaram na constru-
ção de um conhecimento sobre a natureza da região.

César Agenor Fernandes da Silva - Universidade Estadual Paulista


A ciência e a técnica como instrumento para a civilização do Brasil nas páginas do Correio Braziliense de
Hipólito da Costa (1808-1822)
O Brasil conheceu, entre os anos de 1808 e 1822, uma empresa com relevante influência sobre a elite intelectual do
período, o jornal mensal Correio Braziliense ou Armazém Literário, editado em Londres, redigido por Hipólito da Costa
(1774-1823). O principal objetivo do periodista era propagar as luzes entre os portugueses de todos os cantos e, em
especial, entre os habitantes do Brasil, pois julgava que a condição das ciências e da literatura - principais meios para
a ilustração - era aí bastante atrasada. Daí o jornalista ter veiculado no seu jornal, na seçã,o Literatura e Ciência, as
novidades literárias e científicas européias (inventos, patentes, viagens científicas, etc). E sobre essa partição do
periódico que este trabalho trata, com objetivo de compreender o papel da ciência e da técnica no projeto de civilização
de Hipólito da Costa. Ao abordar os assuntos literários e científicos, Hipólito legou aos seus contemporâneos o que
acreditava ser os caminhos que os brasileiros deveriam tomar para desenvolver o país e elevá-lo ao status de nação
civilizada, e somente o desenvolvimento da técnica e da ciência permitiria tal empresa. O Correio Braziliense foi
pioneiro na divulgação científica no pais, valorizando e incentivando a incorporação social destes conhecimentos.

I 18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h) I

Ana lucia Villas-Bôas e Luiz Carlos Borges - Museu de Astronomia e Ciências Afins
Estado nacional, soberania e a questão científica: o imperativo transfronteiriço
Face ás questões históricas, politico-sociológicas, discursivas e científico-tecnológicas em torno das tecnologias espa-
ciais, pretendemos analisar, com relação às políticas e práticas científico-tecnológicas, a posição e a situação do
estado brasileiro no âmbito mundial, dando ênfase a problemas concernentes ao alcance transfronteiriço dos rnecanis-
mos de supervisão que envolvem a produção, utilização e transferência desse tipo de conhecimento; e, diante de uma
governabilidade global, examinar criticamente as noções de soberania e sustentabilidade nacionais. A transfronteiridade
e a governabilidade mundial são correlatos sócio-políticos que caracterizam a atual conjuntura globalizada, perante a
competência de atuação e controle por parte das nações detentoras de um forte poderio científico e tecnológico. Mobiliza-
remos, com base em uma abordagem combinada de sociologia e análise de discurso, os conceitos de global-local, de
desenvolvimento científico-tecnológico e de soberania nacional para discutir a atual situação do Brasil, particularmente no
que respeita às relações entre políticas cientificas e politicas de estado, tendo por horizonte que a sociedade hodierna
caracteriza-se pelo alto grau atingido pela participação da ciência e da tecnologia no devir cotidiano das nações.

366
Heloisa Maria Bertol Domingues - Museu de Astronomia e Cíências Afins ~46
A Teoria da colonização e a Amazônia ~
As expedições naturalistas e sua relação com a questão da colonização tem sido muitíssimo discutidas; a esta discus-
são este trabalho vem se somar. Não é comum encontrar naturalistas dizendo-se teóricos da colonização, mas este foi
o caso de Henri Coudreau, professor universitário em Paris, que viajou pela Amazônia, na década de 1880. Ele fez
várias publicações sobre sua expedição, numa delas, intitulada A França Equinoxial - Estudos sobre a Guiana e a
Amazônia (1886), ele fez apologia da colonização, dizendo-se um seu teórico. Esta publicação foi prefaciada pelo
brasileiro (amanuense) Frederico José de Sant'Anna Néry,que se mostrou um entusiasta divulgador da 'teoria' de ~
Coudreau: -"O Sr. Coudreau nos dá a nota atual, a sensação do dia, o progresso da hora presente e o boletim da vitória ~
do amanhã." A simetria dos discursos sobre a colonização seria proporcional á dissemetria da posição político-social .~
~~~. ~
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Nisia Verônica Trindade Lima e Dominichi Miranda de Sá - Casa de Oswaldo Cruz - Fiocruz 'O
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As atividades cientificas da Comissão Rondon '-'
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f0-
As atividades de construção de infra-estrutura de comunicações realizadas ao longo de mais de vinte anos pela cO
Comissão Construtora de Linhas Telegráficas, mais conhecida como Comissão Rondon, se notabilizaram por suas 'u
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políticas indigenistas. Além dos contatos com sociedades indígenas, a Comissão, integrada por militares brasileiros do U
setor de engenharia e construção do exército, realizou trabalhos de instalação de linhas telegráficas e estratégicos cO
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serviços de demarcação e inspeção das fronteiras brasileiras. Seu principal objetivo era a integração do interior do '8
Brasil. Pouco conhecidas são as importantes pesquisas cientificas feitas nas viagens que ocorreram, primordialmente, I'"
entre 1907 e 1915. Nesse período, os membros da Comissão empreenderam a exploração científica do território, com
ênfase no conhecimento da geografia do país. Este trabalho pretende analisar o impacto das viagens e pesquisas
científicas da Comissão em áreas diversas como a cartografia, botãnica, geologia, zoologia, antropologia e etnografia
de populações indigenas e sertanejas; o enriquecimento que possibilitaram das coleções de instituições como o Mu-
seu Nacional; e o inédito campo de trabalho que ofereceram para pesquisadores e naturalistas brasileiros.

Miguel antonio Buzzar - Escola de Engenharia de São Carlos USPI Depto Arq, e Urb.
Técnica, Cultura, Política e Arquitetura Moderna
O trabalho pretende analisar como a produção de Sérgio Ferro, Flávio Império e Rodrigo Lefévre, que de forma equivo-
cada entraram para a história da arquitetura como opositores da industrialização na construção civil, identifica-se com
a crítica a neutralidade da técnica de forma exemplar. Primeiro, pela amplitude de suas atividades: cenografía, pintura
(de cavalete e mural), comunicação visual e a própria arquitetura, ou seja, a produção deles é artística num sentido
amplo, mas sobretudo profundo. Ao singrar várias disciplinas artísticas, estas se contaminam, deixam de ser estan-
ques. Depois, na busca de uma renovação do papel da arquitetura moderna, que não se submetesse ao traço mais
instrumentalizador de sua poética, a saber: a utilização convencional da técnica, ou a transposição da idéia de uso da
técnica de forma direta, sem interpretar os elementos que interferem nesta transposição. A artisticidade do fazer arqui-
tetônico seria reencontrada na busca de relações mais próximas com a realidade. As contradíções, arcaico versus
moderno, subdesenvolvimento versus imperialismo, o saber do arquiteto versus a prática do trabalhador, não são
escamoteadas nem seriam uma página a ser virada por um plano de desenvolvimento nacional, são matérias da
elaboração da arte e da arquitetura.

André Luís Mattedi Dias - Universidade Estadual de Feira de Santana


História das ciências e História cultural: comparando aspectos das trajetórias
Em 1985, Roger Chartier escreveu uma resenha sobre o livro de Robert Darnton, "O grande massacre dos gatos".
Houve uma réplica, seguida de um terceiro texto onde os dois e Pierre Bourdieu discutiram aspectos cruciais da
história cultural. Ambos concordaram com uma série de críticas contra uma história das idéias abstraída de certos
elementos contextuais e bastante em voga nos Estados Unidos 70. Todavia, embora fossem criticadas a história da
filosofia, a história da literatura ou mesmo a história das artes, a história das ciências ficou de fora desse debate de
historiadores. Todavia, quase ao mesmo tempo em que Chartier questionava certas delimitações clássicas no âmbito
da história da cultura, tal como aquela que opunha produção e recepção, criação e consumo, David Bloor criticava
outras delimitações clássicas no âmbito dos estudos sobre as ciências e propunha no Programa Forte um princípio de
simetria e outro de imparcialidade. Tentaremos analisar neste trabalho de cunho historiográfico alguns aspectos destes
debates e algumas de suas implicações para as tendências atuais de uma história social/cultural das ciências e da
matemática.

Ivan da Costa Marques - UFRJ


Década de 1980: estudos de laboratório e propostas de novos rumos para a história das ciências
Boa parte da história da ciência vive uma dificuldade peculiar: embora se queira história, acredita nos cientistas quan-
do eles dizem que seus objetos fazem parte da Natureza, de um mundo incorruptível separado da Sociedade, portanto

367
fora da História. Assim, ao aceitar o divisor Natureza x Sociedade que os cientistas propagam como algo dado, a
história da ciência aceita a priori limites ao grau de historicidade que possa estabelecer, arriscando ver sua maior
importância reduzida à cronologia de descobertas cientificas dos objetos ditos naturais, que 'sempre estiveram là." Vou
argumentar que o espaço da história (tout court) se abre para o historiadorla da ciência se elela desconstruir o divisor
buscando contar histórias de hibridos natureza-sociedade, a partir da constatação etnogràfica de que os cientistas
nomeiam objetos selecionado performances em laboratórios.

Dante Marcello Claramonte Gallian - UNIFESP


A História do Coração Humano: uma proposta
Centro do espirito humano ou músculo responsàvel pela circulação do sangue? A partir de discussões e conversas
com médicos e estudantes de medicina da Escola Paulista de Medicina da UNIFESP, a propósito da leitura da obra de
Susanna Tamaro, surgiu a idéia de se pesquisar a história do coração humano. Objeto da ciência, o coração foi e é
também sujeito e objeto central de outros saberes: religiosos, filosóficos e literàrios. Diante dos dilemas éticos e
humanisticos do tempo atual, debruçar sobre a história das interpretações, representações e visões sobre o coração
humano apresenta-se como uma tarefa extremamente pertinente. Procurando relatar detidamente os passos do proje-
to, o trabalho a ser apresentado pretende mostrar o porquê, para quê e como escrever hoje uma história do coração
humano. Uma história que procura responder questões como esta: "quando o coração deixou de ser o centro do
espirito para a passar a ser um 'mero músculo'''? - feita por uma estudante do terceiro ano do curso médico da EPM;
Ou, em que medida é possivel conceber, tal como se tronou comum na modernidade, um coração simbólico diferente
de um coração orgânico. Enraizado nos dilemas da pós-modernidade, o projeto pretende contribuir para a discussão
sobre os caminhos do pensamento cientifico na atualidade.

I 19107 - Quinta-feira - Tarde (14h às 16h30min)

Mirian Jorge Warde - PUC-SP


As estatísticas escolares na França e nos Estados Unidos do século XIX: da conformação das nações aos
empréstimos transnacionais
Este trabalho apresenta resultados preliminares de pesquisa sobre as primeiras iniciativas francesas e norte-america-
nas de produção de estatisticas escolares. No caso da França, as estatisticas elaboradas a partir do inicio do séc. XIX
centravam-se no ensino primàrio, marcando nitida distinção entre informações sobre a situação do ensino propriamen-
te dito e os dados sobre os resultados do ensino: os primeiros se referiam ao número de escolas, prédios escolares,
alunos, professores, distribuição geogràfica etc.; quanto aos resultados, registravam-se os analfabetos, os que sabiam
apenas ler ou apenas escrever etc. A prioridade conferida ao primeiro tipo de estatisticas remete às vertentes socioló-
gicas que se afirmam a partir de fins do séc. XIX, com forte marca quantitativa. Por outro lado, as estatisticas escolares
norte-americanas padronizadas, inicialmente, segundo o 'modelo francês', incluíram, desde os anos '70 resultados de
estudos de uma nova psicologia de base experimental que ensaiava a descoberta de leis do desenvolvimento e do
ajustamento mental. Apóiam este estudo, além dos estudos especializados: as séries estatisticas publicadas pelo
Ministério da Educação e pelo Bureau de Statistique da França, e as estatisticas compiladas pelo Bureau of Education
dos EUA.

Simone Petraglia Kropf - Casa de Oswaldo Cruz I Fiocruz


Calamidade nacional ou raridade nosográfica? A polêmica em torno da "doença do Brasil" (1915-1923)
Focaliza as controvérsias em torno da doença de Chagas (descoberta em 1909 e reverenciada como grande contribui-
ção brasileira à medicina tropical), iniciadas na Argentina em 191511916 e aprofundadas no campo médico brasileiro
entre 191911923. Confrontando a caracterização clinica e epidemiológica proposta por Carlos Chagas, pesquisadores
na Argentina questionaram a idéia de que se tratava de uma endemia de vastas proporções e impacto médico-social
no continente americano. No Brasil, no contexto do debate nacionalista da década de 1910, a polêmica de natureza
científica revestiu-se de conteúdos explicitamente políticos. Na Academia Nacional de Medicina, alguns médicos reto-
maram os questionamentos feitos no pais vizinho e acusaram Chagas de 'antipatriotismo', por fazer de uma doença
controversa, que se resumiria a poucos casos no interior do Brasil, o grande emblema para a denúncia de que o Brasil
seria um 'vasto hospital'. Expressando diferentes posicionamentos em torno da relação medicina tropical! identidade
nacional, a controvérsia é emblemàtica do processo de construção e reconhecimento social desta enfermidade que,
tanto em sua afirmação quanto em sua negação, foi concebida como "doença do Brasil', a representar uma dada visão
da nação e do papel social da ciência brasileira.

368
Graciela de Souza Oliver - UFMG ~
Divulgação Científica para a Agricultura brasileira no século XIX: iniciando um debate ~
A comunicação apresenta as premissas necessárias para o estudo das publicações que divulgaram conhecimentos
científicos para a agricultura brasileira no século XIX. Partindo de uma perspectiva da História das Ciências, explora os
marcos conceituais e contextuais do período, destacando o cenário de Minas Gerais, fazendo uso de bibliografia sobre
a história da divulgação científica, da institucionalização científica e da leitura.

Ana Cláudia Ribeiro de Souza - Centro Universitário da FEl ~


Profissão:Engenheiro Politécnico ~
O engenheiro não possuía no início do século XX o prestigio de outras profissões liberais como médico ou advogado, 'g
que desde o período Colonial ocupavam os principais cargos públicos da estrutura administrativa do País. Diz a '6
tradição familiar das elites brasileiras do período colonial e imperial que o filho primogênito estava destinado a ser .g
bacharel; o segundo deveria ser padre; o terceiro médico; os demais, fazendeiros. Assim sendo, engenharia não fazia ê
parte dos planos de nossa elite, e isso não só naqueles tempos mais remotos. Engenheiro era, no entendimento da ~
época, uma profissão sem valor, destinada aos pouco inteligentes e de condição social inferior. Fato é que a engenha- ro
ria, bem como a arquitetura não eram consideradas como uma profissão e se confundiam, inclusive, com uma ativida- 'g
de popular. Na primeira metade do século XX a engenharia teria uma trajetória em busca ainda do reconhecimento ~
jurídico da profissão no Brasil, e neste trabalho analisaremos uma parte da pujança desse caminho histórico pelo .~
reconhecimento da profissão de engenheiro. ~~
:::r::
Christina Helena da Motta Barboza - Museu de Astronomia e Ciências Afins
O planeta Vulcano e a (des)construção de uma descoberta científica
De acordo com a historiografia, a principal motivação dos astrônomos da segunda metade do século XIX com a
observação de eclipses do Sol foi a astrofisica. No entanto, após a divulgação de uma carta de Urbain Le Verrier
defendendo a existência de planetóides com órbita infra-mercurial, parte da atenção durante aqueles eventos foi des-
viada para a busca de um planeta infra-mercurial, observado em 1859 e denominado Vulcano. Do Brasil a existência
de Vulcano foi imediatamente contestada por Emmanuel Liais, cientista francês recém-contratado pelo governo impe-
rial para organizar e dirigir expedições científicas em território nacional. Liais apresentou como contraprovas suas
próprias observações do Sol, realizadas no Rio de Janeiro. A controvérsia estava instalada, e durante sucessivos
eclipses solares os telescópios foram ajustados para a região onde deveria situar-se o novo planeta. Esta comunica-
ção pretende resgatar a história do planeta Vulcano, cuja descoberta só foi definitivamente refutada no início do século
XX, após o acúmulo de evidências empiricas e a emergência da teoria da relatividade. Em particular, interessa-nos
analisar a controvérsia estabelecida entre Le Verrier e Liais utilizando as ferramentas teóricas do modelo de ciência
latouriano ator-rede.

Manoel José Porto Júnior - UFPel


As políticas públicas para a Educação Profissional e suas conseqüências na vida escolar dos estudantes: a
evolução da evasão escolar nos cursos técnicos do CEFET-RS desde 1980
Resumo: O presente trabalho é parte da pesquisa elaborada para o curso de mestrado do PPGE da UFPel, sob o titulo:
As políticas públicas para a educação profissional e suas conseqüências na vida escolar dos estudantes: estudo de
caso do CEFET-RS a partir de 1980. A motivação para tal pesquisa é a discussão que ocorre, atualmente, a respeito da
estrutura dos cursos técnicos de nivel médio, sobretudo no que se refere à sua forma de articulação com o ensino
médio. Durante o periodo estudado, ocorreram profundas modificações no modelo de produção adotado por grande
parte das indústrias. Submetidas à lógica de acumulação do capital, as novas tecnologias e os novos modelos de
gestão flexivel procuram ampliar as formas de exploração do trabalho, avançando sobre capacidades intelectuais e
criatividade dos trabalhadores. Nesse contexto de transformações, foram implementadas sucessivas políticas públicas
para a modalidade chamada Educação Profissional, com conseqüências importantes para a vida escolar dos estudan-
tes da Rede Federal de Educação. Analisar o sucesso escolar dos estudantes durante o periodo, relacionando-o com
as diferentes estruturas de cursos técnicos implementadas, é um aspecto importante para auxiliar na construção uma
educação tecnológica transformadora das relações sociais.

Janúzia Souza Mendes de Araújo - UFBAlUEFS


Evolução histórica do sistema de C&T na Bahia
A pesquisa pretende estudar a evolução histórica da formação do sistema de C&T no Estado da Bahia, tomando como
ponto de partida a criação, em 1945, do Instituto de Química Agrícola e Tecnologia da Bahia chegando aos dias atuais
com a reabertura da Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação - SECTI e da implantação da Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia - FAPESB. O estudo visa estudar as condições de institucionalização, consi-
derando o contexto de descentralização das políticas públicas de C&T no Estado. Assim, procurar-se-à analisar as
ações do Estado como indutor e produtor do desenvolvimento da ciência e da tecnologia, principalmente no que

369
concerne à infra-estrutura da pesquisa e o fomento às atividades de C&T, analisando-as a partir da organização e
funcionamento do sistema estadual de C&T, identificando as relações do Estado com os agentes envolvidos nesse
processo, quais sejam: o setor produtivo e a comunidade científica e tecnológica. O método de pesquisa contempla
revisão da literatura específica, compulsão de documentos relevantes, levantamento de dados secundários e entrevis-
tas com informantes qualificados, entre eles professores pesquisadores e os atores políticos que participam do proces-
so de institucionalização de C& T no Estado da Bahia.

Catarina Capella Silva - UFMG


O mundo científico ao alcance de todos: a revista Ciência Popular e a divulgação científica no Brasil (1948-1956)
Nos últimos anos, investigações sobre publicações periódicas de divulgação científica se tornaram uma importante
fonte de estudo e têm contribuído para uma maior compreensão de aspectos ainda pouco conhecidos da história da
divulgação científica no Brasil. Após a Segunda Guerra Mundial, a divulgação científica no Brasil encontrou nos meios
de comunicação, principalmente jomais, revistas e rádio importantes canais de popularização. O grande interesse
pelas novas conquistas da ciência despertou, em parcela da população brasileira, a busca por novas informações na
crença de que as possibilidades que a ciência apontava representavam uma solução para o desenvolvimento do pais.
Nesse contexto, destaca-se a Revista Ciência Popular, uma publicação periódica mensal editada no Brasil entre 1948 e
1966, exclusivamente dedicada à difusão de temas relacionados às ciências. A Revista Ciência Popular procurava aten-
der aos anseios da sociedade em conhecer e ter acesso a um saber diferenciado e, sobretudo, inserida em seu tempo,
refletiu as percepções e imagens acerca da ciência que circulavam na época. Propõe-se neste trabalho examinar tais
percepções, bem como apresentar os aspectos relacionados à constituição da revista no periodo de 1948 a 1956.

I 20107 - Sexta-feira - Tarde (14h às 18h) I


Silvio Cezar de Souza Lima - COC-FIOCRUZ
Concepções sobre o negro na obra "Ou climat et des maladies du Brésil" de José Francisco Xavier Sigaud
José Francisco Xavier Sigaud, médico higienista francês radicado no Brasil, editou em 1844 o livro Du climat et des
maladies du Brésil. Obra fundamental do pensamento higienista brasileiro e um dos mais importantes estudos sobre
medicina tropical de sua época, é considerado pelos historiadores como 'expressão do pensamento médico brasileiro
da primeira metade do século XIX'. A abordagem mesológica feita por Sigaud levou em conta não só aspectos da
natureza do Brasil, mas também os costumes e cotidiano de seus habitantes. Neste contexto, o médico francês analisa
as doenças dos negros, principalmente sob a ótica do tráfico de escravos e regime de trabalho dos cativos. Através do
estudo da obra de Sigaud é possível compreender a relação entre o médico e a sociedade brasileira da primeira
metade do século XIX, principalmente suas concepções acerca do negro e da escravidão.

Arthur Arruda leal Ferreira - UFRJ


Do expert ao sujeito ingênuo: as transformações nos testemunhos dos experimentos e pesquisas psicológicas
A meta deste trabalho é mapear toda uma série de transformações nos experimentos psicológicos, apontando especi-
almente para os deslocamentos no lugar dos sujeitos participantes destes. Pois que se nos laboratórios do século XIX,
os sujeitos deveriam ser treinados para fornecer uma descrição precisa das suas experiências, sendo vedado o aces-
so aos laboratórios de crianças, pessoas de culturas ditas primitivas, doentes e deficientes mentais, a partir da década
de 1910, o sujeito dito ingênuo passa a se tomar o padrão, assim como passa a ser privilegiado um tipo de design em
que este sujeito não tenha clareza do que está sendo experimentado. Esta transformação será discutida com base nos
trabalhos de Bruno Latour, Isabelle Stengers e Vincianne Despret, e mais exatamente nos conceitos de docilidade e
recalcitrância. Se a recalcitrância, ou possibilidade de resistência e colocação de novas questões por parte dos seres
pesquisados já é considerada menor nas ciências humanas, a docilidade, ou o assentimento perante as operações da
pesquisa tenderia a se tornar maior nas operações com os sujeitos ditos ingênuos. Mesmo que estes sujeitos não se
revelem tão ingênuos como suposto, o que este tipo de pesquisa acabaria por conduzir seria a redução da possibilida-
de de recalcitrância.

Rícardo Alexandre Santos de Sousa - Fundação Oswaldo Cruz


Classificação, o ideal moderno de ordenar o Mundo
A Modernidade vem acompanhada inevitavelmente da intenção de atribuir ordem ao Mundo e à natureza por meio da
classificação. A taxonomia que emerge juntamente com as ciências do séc XVIII tem a intenção clara de classificar,
ordenar o mundo e controlar o caos que seria o grande inimigo do pensamento moderno. Essa prática ordenadora, no
entanto tem conseqüências não somente no saber científico, mas na sociedade em geral, já que o ideal ordenador
coloca à margem aquilo que não se encontra passível de uma classificação clara.

370
Odair Sass - PUC-SP
Controle social e individualidade: convergências entre a Psicologia e a Estatística
Discute-se o vínculo histórico da Psicologia e da Estatística, disciplinas que, na constelação das ciências modernas,
estavam distantes entre si; a primeira brota do liberalismo para exaltar as qualidades do indivíduo emergente, a segun-
da visa à produção de informações sobre a natureza e a sociedade. As aproximações dessas disciplinas- indagar de
que modo convergem, no século XIX, e os termos em que a quantificação psicológica ou das qualidades humanas foi
sedimentada-são exploradas conforme a seguinte hipótese: aproximam-se por meio de correspondências funcionais
e redutoras das categorias psicológicas às técnicas estatísticas, resultantes, na sociedade industrial, do deslocamento
das questões sociais e políticas para a esfera tecnológica do controle social e da eficácia da produção, em suma, do
deslocamento da resolução de problemas sociais do plano político para o plano tecnológico. Analisa-se: a quantifica-
ção psicológica, pela lei de Weber-Fechner e os experimentos de Taylor acerca da fadiga do trabalho, exemplares
científico e industrial do século XIX; noções de probabilidade como explicação do comportamento; reciprocidades da
Psicologia com a Estatística, pela produção de psicólogos que desenvolveram métodos estatísticos para investigar a
conduta humana.

47. Histórias transatlânticas: africanos e descendentes


Marina Gusmão de Men~onça (FAAP), AntoniaAparecida Quintão dos Santos Cezerilo (Uni- ~
versidade Mackenzie), Angela Porto (Fiocruz) e Mariza de Carvalho Soares (UFF) ®
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h às 18h) I v.>
~
c::
cu
Marina Gusmão de Mendonça - FAAP ~
Sobre a dinâmica dos movimentos religi,osos africanos ~
O inicio da penetração européia efetiva na Africa, a partir do século XIX, e a posterior partilha do continente, provocou ~
a desagregação das formas de vida tradicionais, engendrando o aparecimento de movimentos de caráter profético, 13
messiânico ou milenarista. Surgiram, assim, lideranças religiosas capazes de mobilizar grandes contingentes, os quais ~
passaram a resistir não apenas à dominação, mas também à própria cultura do dominador. :E
<tO
c,;
Marcos Cordeiro Pires - Unesp - Marília ~
As relações entre os países africanos a República Popular da China: novo colonialismo ou uma oportunidade ~~
para a saída do atraso? ~
O continente africano é aquele em que os níveis de desenvolvimento estão em patamares mais baixos no mundo. O ~
colonialismo, a escravidão, as guerras civis e, mais recentemente a AIDS, são flagelos que fincaram profundas raízes <tO
no Continente. A adoção de politicas impostas pelo FMI e BIRD só fizeram piorar o que já era ruim. No entanto, o
desenvolvimento econômico da Rep. Popular da China tem dado um novo alento às economia africanas. A grande .!<2
:s
demanda por matérias-prin:as e os grandes investimentos chineses tem estimulado economias como as de Angola, ::c
Sudão, Nigéria, Namíbia, Africa do Sul, entre outras. Em 2006, o fluxo de comércio entre a China e o continente
~fricano ficou em torno de 56 bilhões de dólares, com pequeno superávit em favor dos africanos. O papel central da
Africa na política internacional chinesa pode ser comprovado pelas recentes viagens do presidente Hu Jintao (abril de
2006 e fevereiro de 2007) ou pelo Fórum de Cooperação China-África, que reuniu representantes de 48 países africa-
nos em Pequim. Diante disso surge a seguinte questão: até que ponto o interesse chinês pode ser visto como uma
janela de oportunidade aos africanos ou pode ser encarado como mais um colonialismo. Levantar elementos para
responder a tal pergunta será o cerne deste artigo.

Luiz Eduardo Simões de Souza - FICS


Transformações econômicas em Moçambique, 1975-2000
Neste texto são analisados, a partir da história política e social de Moçambique no último quartel do século XX, as
transformações estruturais de sua economia e em suas contas nacionais, a partir da experiência socialista do governo
da FRELlMO.

Alexandre Kohlrausch Marques - UFRGS


Etiópia: símbolo de africanidade
A Etiópia (ou Abissinia) representou um elemento importante de referência â África na construção da identidade dos
afro-brasileiros e, de forma mais geral, dos negros da diáspora. Durante fins do século XIX até meados do século XX,
os descendentes de africanos que viviam no Brasil fizeram menção à Etiópia, como uma forma de estabelecer um

371
vínculo com o continente de origem. Apesar da Abissínia não estar diretamente ligada ao tráfico de escravos, muitos
negros no novo mundo denominavam-se etiopes. Apartir de fragmentos e citações á Etiópia encontrados na imprensa,
em livros e trabalhos acadêmicos, este trabalho busca discutir os significados desta identidade, tentando entender sua
origem, importância e relação com a realidade mais imediata das populações afro-americanas da época e com a
própria história deste país.

Gabriela Aparecida dos Santos - USP


Reino de Gaza: o desafio português na ocupação do sul de Moçambique (1821-1897)
Sob o signo dos valores civilizatórios e da superioridade da raça branca, a ocupação efetiva do território africano,
pressuposta pela Conferência de Berlim (1884-1885), conjugou um discurso no qual as diferenças entre negros e
brancos foram insistentemente proclamadas e o colonialismo representado como a possibilidade do africano evoluir,
aba~donando a 'barbárie" e assumindo a "civilização". Nesse contexto, as expedições expansionistas e de interiorização
da Africa ocorreram sob a crença de que era a oposição selvageria/civilização que estava em jogo e, por isso, a
resistência que muitos povos africanos empreenderam contra esse processo teve como resposta o uso da força e da
violência. Mas essa 'pacificação", tal como ficaram conhecidos os esforços militares no sentido de submeter os que
"recusavam a civilização', não representou o fim dos movimentos de resistência nem o seu controle por completo.
As expedições portuguesas que se organizaram visando à ocupação encontraram, em terras moçambicanas, resistên-
cias diversas e uma se destacou por sua amplitude e pelos desdobramentos que teve: a do Reino de Gaza no sul de
Moçambique em 1895, centrada na figura de seu soberano e líder, Gungunhana.

Alexsander Lemos de Almeida Gebara - Universidade de Taubaté


Delta do Niger no século XIX - encontros, resistências e negociações
a trabalho procura apresentar a dinâmica de crise do poder "tradicional' em Bonny Town ao longo do século XIX, frente
às constantes interferências inglesas na política local, analisando especificamente o caso do Rei William Pepple. a
objetivo é mostrar como estas relações atlânticas - no contexto do período final do tráfico escravo - foram importantes
para configurar a estrutura sócio política em Bonny, enfatizando a situação de contato que domina a cena na costa
ocidental africana. Por outro lado, as resistências africanas também revelam-se como importantes elementos na cons-
tituição deste contexto histórico, e não devem ser desprezadas. Para a consecução destes objetivos, o trabalho tam-
bém realiza uma breve apresentação da formação histórica das sociedades do delta do Níger, com base em trabalhos
clássicos como "Trade and politics in the Niger Delta' de K. a. Dike além de uma bibliografia um pouco mais recente
que reavalia esta historiografia. a principal corpo de fontes são os relatos de viagem de Richard Francis Burton, cônsul
inglês na Baia de Biafra entre 1861-64, além dos relatórios consulares que se encontram no Public Record affice, em
Londres. Estas reflexões fazem parte de minha tese de doutorado, defendida no depto de história da FFLCH-USP, em
2006.

Alexsandro Bastos de Brito - UFBA


Soletrando em África: história e literatura na compreensão de Angola
Desde a implantação da lei que obriga o ensino da História e Cultura africana no Ensino Bàsico no ano de 2003
percebem-se as dificuldades nas diferentes instâncias educacionais para a real implantação desta norma. a caminho
inverso começa a ser proposto agora. Iniciar por um pais africano que tem forte aproximação histórica com o Brasil,
certamente facilitaria a empreitada. Compreender os problemas relacionados à construção da identidade e a noção de
gênero em Angola, pode ser um bom caminho. Assim, através do literato Pepetela, que se comprometeu a denunciar e
tentou agregar a sociedade em torno da luta pela independência de Angola, temos em sua obra, um variado leque de
informações sobre a organização social e cultural daquela sociedade, não só em dias de dominação colonial portugue-
sa. Através do seu texto os que sempre ficavam a margem na estrutura administrativa e social do território angolano
ganham o direito de expressar seus sentimentos, sonhos e projetos para o futuro território que um dia seria livre. Neste
sentido, analisando um romance atrelado às informações fornecidas por uma literatura especializada no campo da
história, propomos a discussão no intuito de possibilitar meios de compreensão e conhecimento deste território.

Mamuel Jauará - Universidade Federal de São João Del Rei


A Recente História Política da Guiné-Bissau
Nesta comunicação discutirei a complexidade da composição social e étnica e a falta da devida atenção a esta com-
plexidade, transformou-se numa das causas centrais da dificuldade do processo da construção da nação e da instabi-
lidade política da Guiné-Bissau. Este fenômeno persiste e perpassa o período colonial, pós-colonial sob a hegemonia
do partido único, e ainda prevalecendo com algumas nuances no pluralismo partidário. Nos anos oitenta, prevalecia o
consenso intra-elite de que o uni partidarismo era a melhor opção para o pais. Mas, com o curso dos acontecimentos
recentes, e do vento das mudanças ter atingido o continente africano, o partido no poder, depois de ter constatado a
erosão do consenso intra-elite e na sociedade em geral em torno do unipartidarismo, aprovou um novo diploma legislativo
que instituiu pluripartidarismo no pais desde 1991. A relação entre a elite luso-africana e as lideranças etnorurais têm

372
sido de difícil apreensão. A primeira leitura dela sugere que a elite detém a hegemonia absoluta; mas quando se
examina de perto, começa-se a perceber sinais de resistência latente dessa comunidade ao reconhecimento dessa
hegemonia.

I 17/07 - Terça-feira - Tarde (14h às 18h)

Maria Cristina Cortez Wissenbach - USP


A escravidão, o tráfico e outros males: as doenças de escravos numa perspectiva histórica
Tendo como base os tratados médicos luso-brasileiros produzidos nos finais do século XVIII e inicios do século XX, a
comunicação busca estabelecer as caracteristicas históricas de um conhecimento médico vinculado diretamente ao
trato dos escravos. Realizada a partir dos finais do século XVIII, esta produção sublinha determinados tipos de doen-
ças - a bouba, o maculo, a doença dos engenhos - e estabelece um diálogo com a produção médica realizada nas
áreas de plantations das Antilhas. Evidencia neste sentido, um conhecimento que é produzido e destinado ao contexto
da escravidão atlântica, num momento em que esta adquire uma nova racionalidade.

Ana Maria Galdini Raimundo Oda . Unicamp


A história do banzo e os territórios da história
O banzo é uma entidade tão popular como pouco esclarecida. Assinale-se que a análise de seu debate historiográfico
revela vicissitudes das histórias da escravidão e da medicina. No século XVI, cronistas descrevem quadros onde
prostração, palidez, profunda tristeza e desejo de morrer são ligados ao ato de ingerir terra, entre indios e negros@7
insubmissos ao cativeiro. No XVIII, surge a visão clàssica do banzo, melancolia ligada à perda da liberdade. Ambas
descrições estão em textos de estrangeiros que viajaram ou viveram no Brasil do XIX, e em estudos históricos subse- ""
qüentes. Este estudo revisa tais relatos, sem negligenciar suas dimensões sociais e políticas. Procura ainda verificar E
conexões da concepção de banzo a teorias médicas sobre: melancolia (na tradição hipocrática), nostalgia (entidade do ~
XVIII), melancolia (de Pinel) e lipemania (de Esquirol) e também a condições relacionadas à geofagia (caquexia africa- ~
na, opilação, hipoemia tropical, ancilostomose). Em resumo, se examina como as perspectivas sobre o comportamen- ~
to, a moralidade e a mentalidade das ditas raças primitivas articularam-se às visões sobre as doenças físicas, a Q)

loucura e o suicidio entre os cativos. Adicionalmente, observa-se a necessidade de abordagens multidisciplinares na ""
o
c:::
história das doenças dos escravos. co
:Eco
Diana Maul de Carvalho· UFRJ c,;
Escravidão transatlântica e doença: a esquistossomose mansônica como exemplo .~
Durante a primeira metade do século XX consolidou-se a visão de que doenças endêmicas parasitárias de alta prevalência .~
em grupos de ascendência africana nas Américas, foram trazidas da África pelo tráfico de escravizados. Utilizando ~
como modelo a esquistossomose mansônica, provavelmente a mais conhecida e prevalente destas doenças no Brasil, ~
discutimos o anacronismo implícito na consideração da estabilidade dos determinantes das doenças. As fontes histó- .!2
ricas e os argumentos biológicos mostram a forte dependência da visibilidade desta doença nas condições de ocupa- -B
ção do território, inclusive o acesso à água, nas formas de organização do trabalho, no tipo de produção agrícola e na ~
mobilidade e densidade da população humana e de outros hospedeiros do parasita. Mostramos como no Brasil pré-
colombiano dificilmente a esquistossomose poderia ter visibilidade como doença. E como as mudanças, no contexto
da escravidão transatlântica, seriam capazes de 'revelar' a doença. Utilizamos na discussão fontes documentais e os
resultados de um trabalho de campo de epidemiologia histórica em que simulamos e testamos alguns dos parâmetros
biológicos envolvidos na determinação da visibilidade desta endemia. Discutimos também os limites desta abordagem
metodológica e as possiveis conclusões.

Nikelen Acosta Witter . UNIFRA


Negociando a "Arte": a cura como moeda de troca social (Século XIX)
O adoecer e o curar têm sido geralmente, interpretados como uma relação desigual entre aquele que sofre o mal e, por
isso, ocupa uma posição inferior e dependente, e aquele que tem (ou diz ter) o poder de aliviar este sofrimento. Ao
tentar compreender a cura como uma moeda de troca social é forçoso, no entanto, repensar esta interpretação. Tanto
mais numa sociedade desigual e hierarquizada como a do Brasil do século XIX e aonde o poder de curar encontrava-
se pulverizado entre diversas categorias de curadores, oriundos das mais diferentes classes e situações sociais. Logo,
tanto para cima, quanto para baixo na escala social, as relações entre os curavam e seus clientes podiam revestir-se
de interesses mais amplos que a melhoria em um estado de moléstia e o pagamento por um trabalho realizado. A
aplicação dos conceitos de dom e contra-dom - e da sua impossibilidade de restituição em alguns casos - aos proces-
sos de cura pode fornecer respostas possíveis aos diferentes tipos de relações estabelecidas entre curadores e os
grupos sociais em que atuavam encontradas nos documentos do século XIX.

373
Heitor Pinto de Moura Filho
Demografia do tráfico transatlântico. Um modelo para Pernambuco (1650-1872)
Resumo: São notórias as dificuldades de se obter séries de dados confiáveis que descrevam o conjunto padrão de
características demográficas (número de pe?soas existentes, nascidas e falecidas, distribuídas por idade, sexo e
condição social, em certa área geográfica). A falta de todos esses elementos, tem-se recorrido a diversas técnicas
estatísticas ou à modelagem econométrica. Em situações de escassez de dados sistemáticos, nem sempre os resulta-
dos obtidos por esses métodos se mostram adequados. Este texto apresenta um modelo demográfico de simulação da
evolução da população de escravos em Pernambuco a partir de dados recentes sobre o tráfico chegado nessa capita-
nia/província. São examinados os totais da população e seus subgrupos, bem como a dinâmica das taxas de mortali-
dade, fecundidade, natalidade e migração. Os resultados calculados são comparados com indicadores históricos.

Paulo Roberto Staudt Moreira - UNISINOS


E o Cadáver é Escravo: Comentários sobre Doença e Morte entre a População Cativa de Porto Alegre no
século XIX
Nos propomos nesta comunicação a apresentar dados preliminares de uma pesquisa que estamos desenvolvendo
junto aos livros de óbito de escravos das paróquias de Porto Alegre. Percebemos nos últimos anos o crescimento das
pesquisas que tem enfocado a temática da saúde e das doenças, mas ainda poucas destas pesquisas voltaram-se
para a população escravizada. No Arquivo Histórico da Cúria Metropolitana de Porto Alegre encontramos 5 paróquias
que abarcam o periodo de nosso estudo: (1°) Nossa Senhora Madre de Deus, que possui 5 livros de óbitos de escravos
(1801-1859) e 1 de libertos (1871-1885); (2°) - Nossa Senhora das Dores: dois livros de escravos (1859-1881) e 1 de
ingênuos (1872-1883); (3°) - Nossa Senhora do Rosário: dois livros de escravos (1844-1867) e 1 de ingênuos (1872-
1884); (4°) - Belém Velho: um livro de ingênuos (1876-1887) e dois de livres, onde constam também os escravos; e (5°)
- Menino Deus: um livro, onde constam juntos livres, ingênuos e escravos (1884/1888). Nosso objetivo é um estudo
que estabeleça como variáveis as causas das mortes, cruzando-as com as faixas etárias, origem e gênero.

Tiago Manasfi Figueiredo - UFF


A mortalidade de escravos no século XVIII na Freguesia de Nossa Senhora do Loreto de Jacarepaguá e Fre-
guesia de Nossa Senhora da Apresentação de Irajá na cidade do Rio de Janeiro
Pretendo mostrar na minha apresentação do Simpósio Temático o nível de mortalidade do escravo na cidade do Rio de
Janeiro, principalmente na área rural da cidade, pesquisando em arquivos da Catedral do Rio de Janeiro, podendo
identificar a nacionalidade do escravo, sexo e a distribuição de escravos falecidos por proprietários.

Fabiana Schleumer - UNIBAN


Caminhos da morte entre escravos na São Paulo colonial
Esta comunicação tem como objetivo apresentar dados e reflexões referentes a minha tese de doutorado, que tem
como tema central à morte de escravos negros em São Paulo no século XVIII. Em primeiro lugar, descrevemos as
condições da cidade, os locais de sepultamento, os sacramentos identificados, assim como as Causas Mortis e a
origem étnica dos cativos mortos, com base em 3.398 registros de óbitos de escravos negros localizados no ACM-SP.
Posteriormente, analisamos a organização dos escravos frente á morte, através da análise do compromisso da Irman-
dade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de São Paulo, percebendo entre a população escrava colonial
uma preocupação com a morte, que pode estar vinculada á importância desta questão nas sociedades africanas pré-
coloniais. Para finalizar apontamos a relação existente entre a doença, a morte e o universo sobrenatural existente na
São Paulo do século XVIII, perceptivel através da análise de processos crimes de feitiçaria. Entre outras coisas,
percebe-se que o adro das igrejas foi o local onde predominou uma maior concentração de sepultamentos escravos.
Além disso, a alta taxa de mortalidade infantil e o baixo número de registros que identificam a causas mortis constituem
fatores observados.

I 18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h)

Kaori Kodama - Casa de Oswaldo Cruz - Fiocruz


"O debate sobre doenças africanas no contexto da cessação do tráfico negreiro: o caso do semanário O
Philantropo
No momento dos debates pelo fim do tráfico e da promulgação da lei Euzébio de Queiroz surgia no Rio de Janeiro um
periódico de propaganda contra o comércio de escravos denominado O Philantropo. Veículo da Sociedade contra o
tráfico e promotora da civilização dos indígenas, o semanário que circulou entre 1849 e 1852 tratou de formar uma
opinião pública inserida na discussão sobre o problema da escravidão a partir da ênfase na questão nacional. Esta
comunicação pretende abordar alguns aspectos daquela discussão, e que diziam respeito às doenças de escravos e
ao tema da saúde pública. Como parte dos argumentos contra a escravidão e seu comércio era apresentado o proble-

374
ma dos riscos trazidos à população por doenças de suposta origem africana. Dois males foram tratados no jornal: a
sífilis e a febre amarela. A apresentação procurará contextualizar o conhecimento sobre as doenças no jornal e no seio
das discussões mais amplas sobre a escravidão na sociedade imperial.

Alisson Eugênio. USP


A crítica dos autores das artes de curar que atuavam no Novo Mundo ao tráfico atlântico de escravos
Nas décadas finais do século XVIII, médicos e cirurgiões atuantes no Novo Mundo, em sintonia com o pensamento
crítico da Era das Luzes,começaram a criticar a permanência do tráfico atlântico de escravos. Não obstante,continuaram
aceitando a escravidão como um mal necessário à prosperidade econômica das colônias e, assim, esforçaram-se para
propor aos senhores de escravos a melhoria das condições de vida desses indivíduos,evocando o sentimento huma-
nitário e a noção de interesse econômico em voga em tal Era.Como as referidas críticas foram construidas e quando
começaram a aparecer nos textos médicos no Brasil é o objeto dessa comunicação.

Marcia Moises Ribeiro - USP/IEB


Medicina e escravidão nas dimensões do mundo atlântico no século XVIII
Resumo: O objetivo da comunicação é mostrar como os livros de medicina e cirurgia que circularam no Brasil durante
o século XVIII abordaram a questão da saúde dos escravos e ao mesmo tempo estabelecer comparações com traba-
lhos similares destinados a outras áreas de colonização européia da América.

Luiz Carlos Nunes Martins· Fiocruz


Com ou sem cria: medicina e escravidão no Rio de Janeiro oitocentista @
O presente trabalho busca lançar luz sobre um tema que, se comparado aos trabalhos desenvolvidos em outros paises '!..!)
que viveram sob o impacto da escravidão, ainda é pouco estudado pela historiografia brasileira. A relação saúde/ '"
ciência/escravidão tem alcançado gradativamente maior interesse de pesquisadores e, assim, produzido uma série de E
estudos que ajudam a conhecer os pormenores de nossa história. A abordagem deste trabalho possui como norte ~
compreender a participação da medicina oficial e demais manifestações sociais, a partir da segunda metade do século ~
XIX, na construção do imaginário coletivo acerca da relação do intitulado aleitamento mercenàrio com os complicadores ~
produzidos pela presença da criança escrava junto à ama. Desse modo, a condição de saúde das amas, a constnução Q;)

da nacionalidade brasileira, o desenvolvimento do pensamento racial, a consolidação da crise moral escravista, a §l


prática de abandono de crianças e o elevado número de mortes nesta faixa etária, são questões de fundamental ~
importância para a compreensão de como diversos discursos, científicos ou não, colaboraram para que se solidificas- ~
se, no Rio de Janeiro, o receio social referente à presença de filhos junto a escravas adquiridas para o serviço de v;
amas-de-Ieite. .~
c:::
-co
Ângela Porto· Fiocruz ~
O escravo na Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro g
O objetivo do trabalho é mostrar a diversidade das fontes e as possibilidades construção de análises sobre a saúde ct>
dos escravos, no século XIX, a partir da documentação do Arquivo da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro. A ~
"presença' do escravo no hospital é multifacetada. Pode-se encontrá-lo exercendo as artes de curar, como enfermei- :i§
ros, sangradores ou boticários; engrossando a lista de desvalidos de toda a sorte ou, simplesmente, como enfermos e,
no mais das vezes, defuntos enterrados pela Irmandade. A Santa Casa foi, até meados do século XIX, o único hospital
de tratamento para os escravos e reúne, portanto, documentação primordial para o estudo do sistema de saúde do
escravo. No momento atual de nossa pesquisa "O sistema de saúde do escravo no Brasil do século XIX: instituições,
doenças e práticas terapêuticas', desenvolvida na COC/Fiocruz, nos detemos na análise do conjunto documental do
Arquivo da SCM/RJ. Pretendemos mostrar nessa comunicação as condições de trabalho neste acervo e de preserva-
ção da documentação, bem como a metodologia utilizada para realizar os levantamentos, oferecendo, a partir da
seleção de alguns conjuntos, uma pequena mostra das possibilidades de cruzamento de informações que podemos
obter para compor o quadro que desejamos.

Tânia Salgado Pimenta - CCVISAlISC/UFBA


Escravos no hospital da Santa Casa de Misericórdia da Bahia na segunda metade do século XIX
Entre os estudos sobre escravidão, a investigação sobre 'saúde' não tem se destacado como um objeto privilegiado,
assim como nos estudos sobre história da saúde, os escravos têm sido pouco contemplados. Esta comunicação
pretende contribuir para o desenvolvimento do tema 'saúde e doença dos escravos' ao analisar a presença dos cativos
no hospital da Santa Casa de Misericórdia da Bahia (SCMBA) durante a segunda metade do século XIX. Os livros de
registros clinicos e de pagamento de despesas hospitalares, pertencentes ao acervo da SCMBA, indicam a presença
desse grupo social como doentes internados. Através dessas fontes, podemos identificar, por exemplo, as doenças
que os levavam com mais freqüência àquela instituição, a proporção de escravos entre os internados e a relação do
número de cativos internados com a ocorrência de certas epidemias em Salvador. Esses dados podem nos ajudar a

375
esclarecer mais sobre o cotidiano e as condições de vida de importante parcela da população, bem como sobre o dia
a dia de um dos palcos fundamentais em que se desenvolveram as mudanças no exercício e na formação médica
observadas ao longo do Oitocentos.

Jorge Luiz Prata de Sousa - Universidade Salgado de Oliveira


Tratamento e cuidados dispensados aos africanos livres, 1831·1853
A partir de 1831, o governo brasileiro proibiu o tráfico atlântico o que levou ao seqüestro de várias embarcações que
traficavam na costa brasileira e em alto mar praticando o comércio ilícito. O navio e a carga apreendida, a partir de
então, ficavam juridicamente submetidos ao julgamento de uma Comissão Mista Brasil-Inglaterra que julgava a legali-
dade ou não do carregamento aprisionado. Os africanos aí apreendidos foram considerados 'africanos livres' subme-
tidos a uma jurisdição especial sob a custódia do governo. Meu objetivo é analisar o tratamento e os cuidados dispen-
sados a esses africanos livres contrastando, quando possível, com os cuidados dispensados aos escravos de particu-
lares. Darei destaque em minha análise aos cuidados médicos e á dieta alimentar fornecida a esses africanos enquan-
to esperavam o julgamento final do processo de aprisionamento.

André Nogueira - Consórcio CEDERJ


Batuques e curas: Pai Caetano em ação (Vila Rica -1791)
A presente comunicação objetiva discutir como nas Minas do 'século do ouro' muitos africanos e seus descendentes
realizavam práticas de cura como meio de angariar pecúlio e visibilidade social. Para tanto usaremos o caso do negro
angola Caetano da Costa, enredado numa devassa civil e preso na cadeia de Vila Rica por conta de suas curas e
calundus, vistos pelas autoridades civis como feitiçaria.

I 19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h ás 16h30min) I


Antonia Aparecida Quintão dos Santos Cezerilo - Universidade Mackenzie
Irmandades negras: estratégia de resistência e solidariedade dos africanos e seus descendentes no Brasil
O objetivo mais geral deste simpósio é analisar a presença do negro e da sua religiosidade nas instituições da Igreja
Católica, particularmente as irmandades. A proposta é rediscutir o papel dessas associações, que por serem autoriza-
das pelos reis e eclesiásticos, foram classificadas e rotuladas como 'instrumento de alienação dos negros', concepção
largamente difundida e que se tornou predominante e aceita por vários historiadores. As pesquisas referentes ás
alternativas de resistência da população negra são sempre atuais, pois as instituições brasileiras, ao longo da nossa
história tem excluido o negro de todo o processo decisório, reforçando uma politica racista e discriminatória. No nosso
cotidiano nos deparamos diariamente com manifestações racistas, diretas ou indiretas, silenciosas ou verbalizadas
por políticos, veiculadas por jornalistas, apresentadas pela mídia. E se a imagem é negativa, a realidade é desastrosa,
sobretudo quando se pensa em termos de distribuição de renda, de emprego, qualidade de vida e oportunidades
educacionais. Para a criação de uma identidade brasileira ocupa um papel importante o estudo da herança cultural
africana presente nas tradições religiosas populares. Esta é a contribuição que este simpósio pretende oferecer.

Paulino de Jesus Francisco Cardoso e Maristela Santos Simão· UDESC


Tecendo sociabilidades: A Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e Sao Benedito dos Homens Pretos·
Desterro, séc.XIX
Nesta comunicação pretendemos apresentar um balanço de dois anos de trabalho, realizado no projeto Irmandades e
confrarias de Africanos e Afrodescendentes na Cidade de Desterro, no século XIX. Nele, investigamos espaços de
sociabilidade organizados por pessoas cativas, libertas ou 'homens livres de cor', no esforço para reconstituir e dar
visibilidade ás vivências, modos de vida: relações familiares, manifestações culturais, locais de moradia, profissões e
as redes de solidariedade por eles construídas na capital catarinense do oitocentos. Diante do volume de trabalho,
decidimos nos concentrar no estudo da Irmandade do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos, instituição criada
na primeira metade do século XVIII e, ainda hoje, ativa na cidade, envolvida com o culto aos mortos, assistência
religiosa e auxilio aos irmãos desvalidos. As informações levantadas, cruzadas com outros materiais pesquisados por
integrantes do Grupo de Pesquisa Multiculturalismo: História, Educação e Populações de Origem AfricanalNEABI
UDESC, nos permitirá, a partir de diferentes fontes, apreender aspectos da história das populações de origem africana
na cidade de Florianópolis, de modo a vislumbrar formas de organização, interação cultural e controle social desenvol-
vidos naquela localidade.

Angelo Adriano Faria de Assis· UFV


As mestiçagens da fé: mulheres cristãs·novas e heresia no Nordeste colonial
Desde o inicio da colonização, as capitanias do Nordeste brasílico receberam grande número de cristãos-novos,
interessados pelos negócios do açúcar e desejosos de fugir das pressões sociais e perseguições levadas a cabo pela

376
instauração da Inquisição em Portugal, a partir de 1536. Durante o Quinhentos, a convivência entre cristãos novos
velhos foi relativamente harmônica, se comparada à situação vivida no reino. Porém, a chegada da primeira visitação
do Santo Oficio ao Brasil, em 1595, transformaria este quadro. Os cristãos-novos - judeus batizados ao catolicismo
pelas leis portuguesas de 1496-97 e seus descendentes - estariam entre as principais vitimas das acusações feitas à
mesa do visitador. Dentre estes, chama a atenção o alto grau de denúncias contra as mulheres, acusadas de principais
responsáveis pela manutenção do judaismo proibido. Este trabalho visa discutir a importância das mulheres cristãs-
novas para a sobrevivência do judaismo no mundo colonial, partindo de denúncias e confissões feitas ao Santo Oficio
durante a visitação de 1591-95, com ênfase em casos que se destacam pela riqueza da documentação que deixaram
para o oficio histórico, como Branca Dias, Ana Rodrigues, Gracia Fernandes e Ana d'Oliveira, verdadeiras rnatriarcas
judaizantes do Brasil colônia.

José Carlos Vilardaga . USP


Fluxos humanos, relações de poder e sociabilidades numa vila de fronteira: São Paulo na União Ibérica
Nesta pesquisa estudamos a vila de São Paulo no contexto da União Ibérica (1580-1640). Acreditamos na efetiva
existência de interferências de ordem direta e indireta da Coroa espanhola sobre a Améríca portuguesa neste período,
e analisamos o caso de São Paulo como um exemplo das novas possibilidades abertas com o império Filipino, com-
preendendo a vila como inserida no grande espaço de trânsito e fluxo de pessoas, idéias, culturas e mercadorias que
a chamada Monarquia Católica propiciou. O objetivo da pesquisa é relacionar a vila de São Paulo às mais diversas
rotas e interesses que se constituiram nas capitanias do sul da América portuguesa, mas também nas conexões que
se estabeleceram com as partes da América espanhola, em especial com a bacia do Prata e com o Paraguai. Visamos,
através de uma pesquisa que nos permita acompanhar a trajetória de alguns personagens e famílias desta vila cOloni-@7
ai, perceber os fluxos de colonos, de mercadorias e os rearranjos políticos e familiares que se constituíram no planalto
de Piratininga em função do contexto da União Ibérica. Com isso, objetivamos também revisitar episódios clássicos da
historiografia paulista e, talvez, jogar novas luzes sobre eles, tais como a expulsão dos jesuítas de 1640 e a suposta
aclamação de Amador Bueno.

Ana Mónica Henriques Lopes - FUNEDI· UEMG


A construção da identidade do outro ou o esvaziamento do sujeito na alteridade (],)

Pretendemos refletir como mecanismos de reafirmação de uma identidade construiram e, ainda constroem, imagens ~
sobre os outros que apoiadas em valores pré-definidos esvaziam, redimensionam e ressignificam as estruturas forma- ]
dores do outro. Neste sentido, observamos que tanto em alguns trabalhos historiográficos como em produções co
audiovisuais o africano ou afro-descendente muitas vezes é apresentado num lugar desconfortável e, por vezes,
menor. Esse processo produz imagens e referências que pouco se relacionam com as práticas e vivências desses
povos, gerandO o não reconhecimento pelos mesmos das construções. Trata-se construir por via de um procedimento .~
meton ímico e metafórico leituras que na tentativa de desconstruir um estereotipo promovem a permanência do mesmo ~
com roupagens modernas. Neste sentido, o passado colonial que apoio suas práticas na retórica da necessidade de ~
entender a civilização transformou-se hoje no discurso dos povos que necessitam de intervenção internacional por não co
conseguirem se organizar política, econômica e militarmente. Nossa questão é: em que medida conhecemos a realida- ~
de do outro a ponto de descrevê-Ia, interpretá-Ia e defini-Ia? ~

20/07 - Sexta-feira - Tarde (14h às 18h)

Rangel Cerceau Netto - UFMG


O viver de portas adentro: Concubinato, Família e Mestiçagem na Comarca do Rio das Velhas (1720.1780)
O trabalho analisa as relações de concubinato firmadas como opção familiar dos diversos agentes sociais que habitam
a Comarca do Rio das Velhas, na Capitania de Minas Gerais, no periodo de 1720 a 1780. Por meio de duas tipologias
de fontes ( devassas eclesiásticas e testamentos) foram examinados aspectos referentes à mestiçagem biológica e
cultural de homens e mulheres que em momentos diferentes da vida recriaram modos de viver e instituíram caminhos
e alternativas que lhes possibilitaram condições objetivas de inserção social e familiar numa sociedade escravista.

Juliana Darós dos Santos· UFSC


Uma nação mestiça: a positivação de indios e mestiços nos discursos proferidos pela intelectualidade brasi·
leira no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. 1900·1930
Este trabalho tem como intuito analisar os discursos proferidos pela revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasilei-
ro durante o periodo de 1900-1930, perceber como os discursos do IHGB passam a positivar a presença dos indígenas
na formação de uma identidade nacional para o país. Através de algumas categorias metodológicas como a de análise
do discurso, identidade e representação, este trabalho busca perceber como: indios, brancos e negros foram integra-
dos, assimilados e representados etnicamente nos discursos proferidos pela revista do Instituto Histórico e Geográfico

377
Brasileiro no período em que se buscava construir uma identidade nacional para o país. A partir de teóricos como
Michael Foucault, para o qual saber e poder estão sempre numa relação estreita de complementação. Este trabalho
busca analisar práticas sociais que articulam saberes e poderes no interior de instituições como o IHGB, visto que se
trata da construção de um saber que declaradamente visa a idéia de identidade nacional e, portanto, de um saber cuja
articulação com o poder é explícita.

Elio Chaves Flores - UFPB


Cenas da Negritude: a África no Teatro Experimental do Negro (1944-1966) .
O presente trabalho, originário de pesquisa em andamento, procura analisar as representações da Africa elaboradas
pelos intelectuais da negritude brasileira que se reuniram em torno do Teatro Experimental do Negro (TEN). Desde sua
fundação, em 1944, até o Festival Mundial de Artes Negras, realizado na capital do Senegal, Dacar, em 1966, Abdias
Nascimento, Guerreiro Ramos e os demais componentes do TEN organizaram eventos, escreveram peças, artigos e
manifestos sobre as questões raciais no Brasil e o lugar da África no mundo contemporâneo. A drarnaturgia dos
negritudinistas e os seus escritos políticos constituem o corpus documental da p~squisa. Por sua vez, os aportes
teóricos que lhe dão embasamento são os inscritos nos Estudos Culturais sobre a Africa e os africanos na diáspora,

Fabíola Martins Bastos


O Correio da Victoria e os capixabas: o uso do jornal como mediador entre o Governo Provincial e os habitan-
tes de Vitória
Na segunda metade do Dezenove, houve o surgimento de diversos periódicos impressos no império brasileiro. No
Espírito Santo, em 1849, veio à luz da publicidade o jornal noticioso e literário, segundo testemunhos da época,
alcunhado Correio da Victoria. Composto por quatro páginas e mais de oito sessões, esse veículo de comunicação
figurou como uma tribuna popular durante os quase vinte anos ininterruptos em que esteve circulando pelas mãos dos
leitores capixabas, Espaço para resolução dos conflitos interpessoais, mediador das relações estabelecidas entre os
indivíduos e o governo, o periódico afigura-se de fundamental relevância para a compreensão das sociabilidades
capixabas, Uma análise dos números do Correio possibilita reconhecer indicios acerca da relação dos cidadãos com o
governo provincial. Nesse sentido, identificam-se cartas particulares anõnimas enviadas à tipografia do periódico re-
querendo providências quanto ao asseio das vias publicas, à iluminação das ruas e calcadas, à lisura dos processos
eleitorais, entre outros. Com efeito, o estudo do jornal capixaba permite observar evidências da formação de alguns
princípios da cidadania na Província do Espírito Santo coexistindo com um costume fortemente enraizado, responsá-
vel pela informalidade das relações sociais.

Luciana Farias Santana e Luana Carla Martins Campos - UFMG


Mudanças e Permanências dos modos de viver: Alto Jequitinhonha em dois tempos
Essa comunicação busca estabelecer um diálogo entre dois tempos no que diz respeito aos modos de viver da popu-
lação do Alto Jequitinhonha. Em um primeiro momento, apontaremos os diferentes traços culturais das experiências do
viver e fazer no cotidiano de suas comunidades. Observamos traços de permanências na cultura miscigenada que ali
se instaurou em inícios do século XVIII e mudanças resultantes do processo de modernização que se deu em dois
momentos principais, um localizado nos anos 30 e 40 e outro nas décadas de 60 e 70 do século XX. Pretende-se com
isso problematizar a dinâmica e as relações sociais manifestas atualmente na região do Vale do Jequitinhonha.

Josane Rodrigues Boechat - Universidade Salgado de Oliveira


No anonimato da ilegalidade do tráfico atlântico
'A ilegalidade do tráfico negreiro no município de Macaé (1808 a 1856)'.
Não foi a proibição do tráfico, que atenuou o modo de transportar os africanos negros, nem impediu que cessasse o
contrabando. Em Macaé, como em todo o litoral norte fluminense, as diversas pesquisas mostram ao contrário, que
houve épocas de um aumento do trânsito do tráfico negreiro, do contingente transportado e do preço da mercadoria
humana. Pretendemos chamar a atençâo para os navios que atuavam nessa atividade ilegal em Macaé, mas que não
foram autuados no tráfico de contrabando de africanos negros boçais vindos da áfrica, muitos deles apareceram
apenas como suspeitos de tráfico, como também, sua tripulação isenta de qualquer crime de contravenção. Os própri-
os traficantes, ou mesmo os donos dos navios negreiros, muitos deles são apenas suspeitos de tráfico e contrabando.

Mariza de Carvalho Soares - UFF


A Lagoa Santa e a cura das doenças
A comunicação trata de um pequeno folheto sobre as curas milagrosas ocorridas em Minas Gerais no século XVIII e
trazidas a publico através do dito folheto que narra as maravilhas das águas da lagoa. O texto procura estabelecer a
ligação entre médicos e cirurgiões da época para pensar as estratégias de cura então vigentes.

378
48. Historiografia e Escrita da História: multidisciplinaridade
Durval Muniz de Albuquerque Júnior (UFRN) e Manoel Luís Salgado Guimarães (UFRJ)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h às 18h) I
Ricardo Marques de Mello - UnB
Hayden White: entre a filosofia e a literatura a caminho da historiografia
A participação nesse simpósio terá como objetivo apresentar os resultados preliminares da pesquisa que está sendo
empreendida em teoria da história por ocasião da dissertação de mestrado. em curso, na Universidade de Brasília,
cujo eixo norteador é a relação que o teórico da literatura e historiografia estadunidense Hayden White estabelece
entre linguagem e produção historiográfica. Para tal, a apresentação pautar-se-á sob dois aspectos constitutivos e
que, em certo sentido, embasam e possibilitam a posição teórica de Hayden White. O primeiro consubstancia-se em
influências específicas da filosofia da linguagem. O segundo aspecto está mais intimamente ligado ao método forma-
lista que ele desenvolveu para analisar algumas produções hístoriográficas e filosóficas do século XIX e que repousa
suas raízes intelectuais em teorias literárias características do século XX, mais especificamente da lingüística.

Patricia Horvat - UNIRia


História como Arte em Benedetto Croce
A obra de Benedetto Croce é uma análise sistemática do conhecimento histórico, decorrente da necessidade de
consolidar sua tese da "história subsumida no conceito geral de arte'. Tomado em seu conjunto, o pensamento de
Croce consiste em uma discussão teórica dos seus dois pontos principais: estética e história. Trata-se de um grande
'organon' de crítica "par excellence', poís além de ser uma crítica de outras filosofias, sua obra é crítica de si mesma.
Pretendemos demonstrar que Croce, mesmo após o estabelecimento de suas premissas e postulados na tetralogía da
"Filosofia dello Spirito', buscou um sistema que apresentasse uma solução plausível para o problema da realização do
universo cognitivo imagético e do universo das representações conceituais no mundo da representação histórica que
reconciliasse idéia e experiência. Utilizaremos, para tal, uma análise da idéia de história de Croce, com base em "La
storia come pensiero e come azione', de 1938, no qual ele delimita o conhecimento histórico em sua especificidade.

Temistocles Cezar - UFRGS


a historiador e o poeta. Varnhagen face à obra de Robert Southey
O objetivo desta exposição é o de analisar o uso que o historiador Francisco Adolfo de Varnhagen (1816-1878) faz da
obra do poeta inglês Robert Southey (1774-1843), autor de uma extensa "History of Brazil', publicada na Inglaterra
entre 1810 e 1819. Através desta aproximação é possivel se verificar como a emergente narrativa cientifica, através de
um intenso trabalho critico, procura se posicionar diante dos impases gerados pelo debate com a dimensão poética da
escrita da historia no século XIX.

Gustavo Naves Franco - PUC-Rio


"Bajo los tumultos no hay nada": Edward Gibbon e Jorge Luis Borges
A apresentação tem como objeto a experiência de leitura da obra do historiador inglês Edward Gibbon pelo escritor ~
argentino Jorge Luis Borges. Mais especificamente, ela refere-se à maneira como Borges se apropriou do espírito e da ~
temática do "Decline and Fali of the Roman Empire' (1776-1778) ao escrever a sua "Historia Universal de la Infamia'
(1935), buscando representar a degradação de virtudes e ideais clássicos sob um olhar irônico em relação às aparên- il
cias tumultuosas de um mundo que terá perdido seus fundamentos. Trata-se então de investigar as razões que justifi- ~
cariam uma retomada deste diagnóstico na modernidade, e os mecanismos que permitiram a exposição do argumento .~
em uma obra ficcional - tendo em vista, por um lado, a trajetória intelectual de Borges, e por outro sua criatividade no %
ato de ler, interpretar e reinventar os textos da tradição. :g
::;
Renato Amado Peixoto - UFRN E
a Poeta e o Mago: uma problematização da micro-história através do estudo literário .~
A partir da transformação na produção literária de Fernando Pessoa ocorrida após seu encontro com Aleister Crowley, ~
este ensaio visa concatenar a discussão do que entendemos ser um problema historiográfico pertinente, a 'anexação' :i:
dos métodos micro-históricos à História Social, com certas possibilidades do estudo literário, as quaiS podem ser ~
identificadas com uma herança filosófica, lingüística e historiográfica do romantismo alemão do século XIX.

Daniel Wanderson Ferreira - PUC-Rio


História e dramaturgia em a 18 de Brumário .~
Ao iniciar Odezoito de Brumário com uma observação feita na Crítica à filosofia do direito de Hegel (1843), Marx afirma ~~
que os movimentos sociais ocorridos na França entre 1848 e 1852 foram uma repetição histórica de 1789, ainda que ::I:

379
não como tragédia, mas como farsa. Vemos ai não apenas uma enunciação de caráter introdutório. Nossa hipótese é
que Marx reconstrói discursivamente os fatos e personagens da história francesa como se escrevesse uma peça
teatral. Empreende, assim, uma reflexão que associa a história à experiência estética, fugindo da idéia de inevitabilida-
de histórica. Esse ponto, presente na primeira edição do texto na primavera de 1852, parece ter sido eclipsado pelo
prefácio que o filósofo fez ao texto ao reeditá-Io em 1869. É que nesse adendo Marx vincula O dezoito de Brumário à
Contribuição à economia politica (1859).

Raquel Machado Gonçalves Campos - UFG


A idéia de história em Machado de Assis e a promoção dos anônimos
Uma relação estreita com a história. O desenvolvimento desta tese tem sido responsável, nas últimas décadas, pela
afirmação de um "novo Machado de Assis' (John Gledson) ou de um "Machado de Assis historiador" (Sidney Cha-
Ihoub). Em comum, a certeza de que, em suas histórias, o escritor contou a história do Brasil oitocentista. Certeza de
que, de sua literatura, pode-se depreender um certo conteúdo da história nacional. E, pode-se supor, uma certa idéia
de história. Tal questão não se tornou, entretanto, objeto de discussão entre os estudiosos do romancista. O objetivo
desta comunicação é propor uma abordagem para este problema, sugerindo que a concepção de história de Machado
de Assis desviava-se da dominante entre historiadores, escritores e pintores, e relacionava-se à emergência de um
regime estético das artes no Brasil.

Mareio Romão Brantuas Barcia - UFRJ


ltalo Calvino e a construção de passados invisíveis
Retomando discussões iniciadas por Paul Veyne, Michel de Certeau, Roland Barthes e Hayden White, este trabalho
pretende se aventurar no arriscado território de confluência entre História e Literatura. Temos como fio condutor de
nossas reflexões o livro As Cidades Invisíveis, escrito por Italo Calvino. Ao fazer isso, tencionamos utilízar a Literatura
como ferramenta teórica para se pensar a escrita da História. Em As Cidades Invisíveis a relação que se desenvolve entre
Marco Polo e Kublai Khan nos permite refletir sobre o oficio do historiador. O modo como Polo narra suas viagens ao
imperador demonstra como um tipo de passado específico é produzido através da linguagem. De que forma as lacunas do
passado são preenchidas pelo discurso de Polo? Como os ausentes se fazem presentes? Estas são algumas das muitas
indagações que o texto de Italo Calvino permite que nos façamos. Consideramo~ que teorizar a História e seus postulados
cientificos através de um texto literário é um caminho possível de ser seguido. E nessa direção que desejamos desenvol-
ver este trabalho, pois o encontro da História com a Literatura tende a enriquecer estes dois tipos de narrativas, que não
precisam ser pensadas sempre em oposição, ou como formas de conhecimento que se anulam.

I 17/07 - Terça-feira - Tarde (14h às 18h) I


Manoel Luís Salgado Guimarães - UFRJ
Textos de fundação: o passado em escrita
A presente comunicação tem por objetivo, a partir de um conjunto de textos representativos da cultura histórica oito-
centista no Brasil, investigar os regimes de escrita que tomaram possível a definição de um objeto: 'a história do
Brasil'. Parte-se da constatação que uma intensa disputa marcou esses regimes de escrita, mostrando que os sentidos
recobertos pelo termo História na primeira metade do século XIX são múltiplos e plurais, longe, portanto, de uma
natureza consensual a respeito do que deveria tratar um texto denominado de História. Para além de um debate com
demarcações acadêmicas próprias a um campo em constituição, a discussão recobria um conjunto de preocupações
fundadas no projeto político da afirmação do Estado Imperial no Brasil.

Ivan Norberto dos Santos - UFRJ


Tensões, continuidades e rupturas: passagens e fronteiras entre produção historiográfica e escrita didática
em História no trabalho de Rocha Pombo
A crescente especialização estabelecida no século XIX entre a construção de um saber eminentemente historiográfico
e de uma escrita voltada para o ensino escolar da disciplina histórica, teve, no Brasil do início do século XX, um caso
de fronteiras esgarçadas ou transgredidas, na produção do historiador paranaense José Francisco da Rocha Pombo.
Apresentando o resultado parcial de pesquisa em curso acerca das relações entre os campos da historiografia e da
escrita didática em História na Primeira República, o trabalho proposto tem como objetivo indicar algumas das tensões,
continuidades e rupturas que emergem na produção historiadora de Rocha Pombo, na medida em que esse autor
opera com as duas formas de narrativa, bem como alguns dos desdobramentos decorrentes de suas escolhas. Uma
discussão acerca de temas como a multidisciplinaridade, a produção do conhecimento histórico e os deslocamentos
possíveis dos limites da História, vem ao encontro de algumas das questões lançadas como um desafio da atualidade
a essa disciplina. Que a problematização da experiência de Rocha Pombo seja pertinente para se pensar certos
aspectos dessa discussão, é uma das questões que este trabalho pretende postular.

380
Danilo José Zioni Ferretti - UFSJ
A emergência de um discurso Etno-Historiográfico nos primórdios do IHGB: o caso do brigadeiro Machado de
Oliveira
Busca-se estudar a emergência de um discurso etno-historiográfico sobre o indígena no interior do IHGB em um
contexto de incipiente especialização dos saberes entre as décadas de 1840 a 1860. Procuro entendê-lo como uma
dimensão ainda pouco estudada do indianismo, contribuindo para a revisão em curso desta que talvez tenha sido a
primeira tentativa de elaboração coletiva e sistemática de um discurso sobre a identidade nacional, aliado a uma
prática efetiva de construção de um 'povo' brasileiro. Estas questões serão tratadas através do estudo da produção
intelectual do brigadeiro José Joaquim Machado de Oliveira. Trata-se de um militar paulista, comandante de tropas nos
conflitos da região platina no início do séc.xIX, que se destacou no interior do IHGB devido ao seu conhecimento direto
de populações indígenas e familiaridade com a literatura da ilustração. Oestudo de sua produção possibilitará compre-
ender não somente elementos da inserção brasileira na 'querela da América', de que fala Antonello Gerbi, mas tam-
bém o modo como se deu a articulação entre a etnologia ilustrada e a escrita de uma história da nação brasileira,
contemplando assim a questão da multidisciplinaridade.

Bruno de Macedo Zorek - UFRGS


Economia e história: Contribuições de Caio Prado Jr. para os debates interdisciplinares
Do início da década de 1930 até o final da de 1970, período em que Caio Prado Júnior produz sua obra, o campo
intelectual brasileiro sofreu profundas modificações. No caso da escrita da história, de uma maneira geral, vai-se da
'revolução' interpretativa dos anos 30; passa-se pela consolidação de um espaço autônomo de produção científica,
resultado da criação de instituições de amparo à pesquisa, do fortalecimento das universidades brasileiras e da incor-
poração de um 'espírito cientifico' nos ambientes intelectuais; e chega-se a um momento de maior especialização dos
saberes, onde as disciplinas acadêmicas tornam mais nitidas suas diferenças entre si. Através da análise da obra de
Prado Jr., que foi um intelectual que contribuiu em diversas áreas do saber, é possível recortar aspectos importantes do
debate entre a história e a economia no campo intelectual brasileiro. E o objetivo deste trabalho é justamente discutir
qual é a contribuição de Prado Jr. para o desenvolvimento do diálogo entre historiadores e economistas no Brasil.

Lilian Beatriz Carlos - UNISINOS


Relação entre História e Geografia no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, no século XIX.
História e Geografia foram inicialmente consideradas indissociáveis pelos membros do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro (IHGB). Nas palavras do primeiro-secretário perpétuo, Januário da Cunha Barbosa, na comemoração do
segundo a.niversário do Instituto: 'Separar a História da Geografia é fazer retroceder a ciência, é não querer atingir o
seu fim'. E por esse motivo que a instituição, apesar de se inspirar no Institut Historique de Paris, foi constituída
histórica, mas também geográfica. O objetivo inicial do IHGB, fundado em 1838, era acumular documentos que viabi-
lizassem uma futura escrita da história e da geografia do império brasileiro. Este material, que ia sendo guardado no
Instituto, passava pela critica que as comissões de história e geografia faziam no intuito de avaliarem o que realmente
tinha valor para a história e a geografia da 'nação'. Publicada nas revistas trimestrais do Instituto, essa crítica determi-
nava o que qualificava e o que desqualificava uma obra ou documento histórico e geográfico. Por isso, para se enten-
der como se dava a relação entre história e geografia, no Brasil oitocentista, é preciso compreender quais eram esses .
critérios que definiam esses dois ramos que começaram a ser pensados e organizados paralela e concomitantemente (";6\48 I
dentro do IHGB. ~

Rodrigo Turin - UFRJ .g


Em busca do tempo perdido: notas sobre o uso da arqueologia e da filologia no discurso etnográfico do IHGB 't>
(1840-1870) .~
O trabalho tem por objetivo analisar o modo de constituição e o lugar ocupado pelos saberes arqueológico e filológico 'O..
dentro do debate etnogràfico ocorrido no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, em meados do século XIX. As ~
possibilidades e os limites de cada um desses saberes podem ser melhor compreendidos quando identificadas as ::;
expectativas que orientavam o olhar etnográfico dos sócios do Instituto: a reconstrução de uma historicidade própria E
aos indígenas e seus conseqüente posicionamento na história da nação. A necessidade de reconstrução da historici- .~
dade de sociedades que não deixaram rastros escritos implicou o uso de métodos que permitissem deduzir a mobilida- .~
de temporal escondida sob a aparente superficialidade do espaço. Mas esse interesse pela obscura história indigena, :i:
mais do que apontar para o passado do 'outro', também delimitava a concepção de história dos letrados do IHGB e os ~
conceitos que definiam sua identidade. Na busca de um tempo outro, não deixavam de encontrar a si mesmos.

381
Bernardo Medeiros Ferreira da Silva - Dep. Ciências Sociais - UERJ
"Do Brasil colônia de ontem ao Brasil nação de amanhã": interpretação marxista da história e revolução em
Caio Prado Jr.
A comunicação tem por objetivo discutir, a partir da análise de Caio prado Jr. sobre a natureza da "revolução da
independência', algumas das premissas da sua proposta de uma 'interpretação materialista' da história brasileira.
Dessa forma, espera-se pôr em evidência como esta proposta condiciona a abordagem de Caio Prado Jr. sobre a
história brasileira e, ao mesmo tempo, é condicionada pela oposição entre o 'colonial' e o "nacional' que estrutura a
sua narrativa sobre o desenvolvimento histórico do país.

Fábio Franzini - OH - FFLCH - USP


Como nascem os clássicos: Raízes do Brasil aos 30, 50 e 70 anos
Muito antes de completar seus setenta anos, em 2006, Raizes do Brasil já figurava com destaque no panteão da
moderna historiografia brasileira, e isso graças não apenas ao teor e à profundidade da análise de Sergio Buarque de
Holanda, mas também às apreciações críticas que, notadamente a partir da década de 1960, o estabeleceram como
um clássico de nosso pensamento social. Atentando a tal aspecto particular, esta comunicação irá analisar um conjun-
to de leituras significativas acerca da obra, que, sem dúvida, contribuíram sobremaneira para a sua consagração: os
prefácios de Antonio Candido às quarta e quinta edições (1963 e 1969, respectivamente), o número especial da Revis-
ta do Brasil dedicado a Sergio Buarque (1987) e, finalmente, os textos constantes da edição comemorativa dos 70
anos, recentemente publicada (2006). O objetivo é perceber, a partir delas, como elas próprias criaram uma visão
também consagrada do livro, que em larga medida o mitifica e, sendo assim, o tolhe naquilo que ele trouxe de mais rico
quando apareceu: a sua originalidade.

I 18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h)

Durval Muniz de Albuquerque Júnior - UFRN


A Gente é Cria de Frases: sobre história e biografia
O texto tratará da relação entre história e biografia, ou mais claramente, da relação entre narrativa historiográfica e a
produção de figuras de sujeito. Gênero que vem ganhando novamente notoriedade entre os historiadores, a biografia
história nos permite discutir questões de cunho teórico e metodológico que são muito caras aos profissionais de
história, como: a relação entre indivíduo e sociedade, a relação entre subjetividade, relações sociais e temporal idade,
a relação entre cultura, poder e identidades. Os historiadores devem refletir sobre o papel da própria narrativa histórica
na construção de seus personagens, como na tentativa de se dizer a vida, de torná-Ia dizivel, legível, visível, legitima-
da, o profissional de história exerce um importante papel político que é o de definir o que seria o ser de seus persona-
gens. Refletir pois, sobre a relação entre ser, poder e linguagem se coloca na ordem do dia para um profissional como
o historiador que lida permanentemente com relatos sobre sujeitos.

Francisco Firmino Sales Neto - UFRN


Narrativas de uma vida, escritas da história: (re)pensando a exaltação biográfica da experiência modernista do
escritor Luís da Câmara Cascudo
Há algum tempo as biografias têm se constituido no novo filão historiográfico, sendo resignificadas como gênero da
pesquisa histórica. Refletir sobre a vida de sujeitos, consagrados ou não, tem sido o viés escolhido por muitos histori-
adores para analisar o passado. Nesse sentido, as biografias são entendidas como uma das maneiras possiveis de
escrever história e, conseqüentemente, também estão sujeitas à análises historiográficas. Nosso trabalho, pois, dialo-
ga com esses estudos, uma vez que parte desse tipo de escrita da história para mostrar como as narrativas de vidas,
sobretudo as de sujeitos ilustres, estão atravessadas por um risco teórico de controle discursivo, que define quais
elementos são biográficos e quais pontos devem ser esquecidos. Mais especificamente, nosso trabalho pretende
examinar o capitulo biográfico do escritor norte-rio-grandense Luís da Câmara Cascudo, referente à sua atuação
intelectual nos anos de 1920, mostrando como sua experiência modernista foi tomada como eixo explicativo para toda
sua obra. Portanto, refletir sobre a dimensão da escrita no gênero biográfico é, também, pensar esse tipo de análise
historicamente e/ou historiograficamente.

Maria da Glória de Oliveira - UFRGS


Traçando a vida dos brasileiros distintos com escrupulosa exatidão: biografia, erudição e escrita da história
na Revista do IHGB (1839-1850)
Um levantamento do material indexado na Revista do Instituto Histórico Geográfico e Brasileiro demonstra a expressi-
va produção de biografias entre 1839 e 1850. A hipótese a ser examinada neste trabalho diz respeito às condições com
que esses escritos incorporavam-se ao projeto historiográfico que então se materializava, concomitantemente à insti-
tucionalização da construção do saber histórico como discurso dotado de regras próprias de validação. A idéia é

382
estudar as biografias de brasileiros distintos como um corpus de textos indissociável do lugar institucional (o IHGB) em
que foram produzidos e como modalidade de escrita condicionada pelos procedimentos e dispositivos de uma opera-
ção historiográfica. Assinadas por letrados ilustres do Império como Januário da Cunha Barbosa e Francisco Adolfo de
Varnhagen, a publicação de notícias biográficas não se fazia sem a observação de certos critérios relacionados á
ambição de verdade com que a própria tarefa da escrita da história era concebida. A pretensão de produzir relatos
biográficos fidedignos mostrava-se em plena consonância com a missão programática de 'reparar os erros e preen-
cher as lacunas da nossa história', bem como com as práticas eruditas de coleta e compilação de documentos em que
se empenhavam os sócios do IHGB.

ltala Byanca Morais da Silva -UFRJ


A memória na História: a Sociedade Capistrano de Abreu e as estratégias de consagração de seu patrono na
historiografia brasileira (1927-1969)
Quando da criação da Academia Brasileira de Letras, o historiador João Capistrano de Abreu (1853-1927) recusou
fazer parte do seleto grupo que constituiria os primeiros imortais das letras nacionais. Alegando ser avesso a institui-
ções com estas características e acreditando que a sociedade humana já seria mais que suficiente para suas relações
de sociabilidade, Capistrano se distanciou em vida destes ambientes intelectuais e de legitimação. Contudo, alguns
dias após a sua morte, este recebeu como homenagem uma sociedade com o seu nome e com o fim deliberado de
preservar a sua memória. Dessa forma, esta comunicação tem o objetivo de discutir as representações e estratégias
de consagração utilizadas pela Sociedade Capistrano de Abreu para garantir a memória de seu patrono como um dos
principais historiadores brasileiros, percebendo momentos nos quais a História com disciplina sofre as intervenções da
memória. Esta exposição também procura refletir sobre o campo dos historiadores - como figuras são construídas
como referenciais e fundadoras de uma atividade letrada especifica - e as formas de se escrever a História, pois a
instituição aliava a memória de seu patrono códigos especificos para a historiografia, através do que corriqueiramente
chamavam de 'Escola Capistraneana'.

Luiz Barros Montez - UFRJ


Os discursos do eu e a objetividade histórica na obra de Goethe
A obra de Goethe traz um aporte muito maior do que se costuma pensar á reflexão historiográfica alemã do inicio do
século XIX. O escritor estabelece para si, desde o inicio de suas atividades literárias, a tarefa de tematizar por meio da
linguagem (não somente ficcional) as questões fundamentais evidenciadas ou ocultadas á razão humana pelo desen-
volvimento social. Conceitos como o de mudança, totalidade, poética (entendida como intervenção narrativa), relação
eu/mundo etc. são utilizados por Goethe em seu permanente debate com as concepções mecanicistas ainda existen-
tes no pensamento historiográfico do século XVIII e que, por outras vias, se aprofundavam no início do século XIX. A
comunicação procura localizar em diversos momentos da obra de Goethe - não somente literária, mas igualmente nas
obras autobiográfica, científica, nas correspondências, depoimentos e conversas - reflexões sobre o ofício do historiador
que, embora desconhecidas ainda por boa parte dos historiadores brasileiros (por motivos que vão da barreira do idioma
ao preconceito), representam um marco importantíssimo na evolução historiográfica dos países de língua alemã.

Marcia de Almeida Gonçalves - UERJ/PUC-RJ


Gênios e heróis do Brasil: narrativa biográfica e escrita da história nas páginas da Revista do IHGB r:;6\
No campo da cultura letrada, em sociedades européias e americanas, no curso do século XIX, narrativas irmãs em sua ~
genealogia, a história e a biografia tornaram-se gêneros, e, nessa condição, vieram a ser concebidas como criações
particulares, possuidoras de formas e funções especificas, reguladoras, ao fim, de seus códigos de significação. Nes- .{!5
se trabalho, buscamos caracterizar alguns usos do biográfico, em especial aqueles que os qualificaram como registros :g
fundadores do imaginário nacional do Império do Brasil. Nossas reflexões se pautam, por um lado, no entendimento da .~
biografia como estratégia discursiva centrada na figuração de subjetividades individuais; e por outro, na construção :e.
desse entendimento por meio da análise dos conceitos de gênio e de herói, em textos biográficos publicados na ~
Revista do IHGB, nas décadas de 1840 e 1850. Nessas narrativas, instituiu-se uma série de recursos, entre eles a ~
aplicação particular de conceitos tomados como sínteses de valores e idéias acerca da ação dos homens no mundo. E
Sob a alcunha de gênios e heróis, imprimiram-se os juízos qualificadores do conjunto dos atos biografados e, por ro
conseguinte, uma produção de sentido para os mesmos, em muito comprometida com a invenção de pertencimentos ~~
nacionais. I

João Carlos Vieira da Costa Cavalcanti da Rocha - UFRN ~


Uma amizade, um discurso: a atuação intelectual de Henrique Castriciano e Luís da Câmara Cascudo na cons- .~
trução dos lugares generizados da Natal da Modernidade ~
Este trabalho tem por objetivo compreender a atuação de dois intelectuais norte-rio-grandenses - Henrique Castricia- .ê
no e Luís da Câmara Cascudo - na construção dos lugares generizados durante a modernização de Natal nas primei- ]i
ras décadas do século XX. Por meio de fontes literárias, uma vez que ambos ocuparam o lugar social de escritores na ::I::

383
literatura potiguar, utilizamo-nos das discussões sobre História e Literatura propostas por Hayden White e Paul Ri-
coeur, com as quais buscamos nos discursos dos dois intelectuais, relações muito maiores do que aquelas que possu-
em. Marcados pelo patriarcalismo e ruralismo existente em suas formações, Castriciano e Cascudo, amigos por longos
anos, procuraram defender os antigos pressupostos da sociedade tradicional nortista, objetivando, na capital potiguar,
a formação de uma 'modernização conservadora'. Considerados representantes do saber, terminaram atribuindo-se
ás funções de agentes da consciência e do discurso, auxiliando o poder e seus dispositivos coercitivos e de controle da
população, uma vez que lutaram pela construção de espaços utópicos - utilizando do termo criado por Michel Foucault
- onde haveria uma 'sociedade aperfeiçoada', fato que pode ser exemplificado na luta pela edificação da Escola
Doméstica de Natal.

Leandro Augusto Martins Junior - UERJ


Galeria dos Brasileiros Ilustres: escrita biográfica e imaginário nacional na consolidação do Império do Brasil
(1840-1860)
Em um momento duplamente marcado pelo uso da História como via de legitimação dos Estados Nacionais e pelo
reconhecimento da mesma como um saber disciplinar, o século XIX assiste igualmente a ampliação do debate acerca
da relação entre os gêneros histórico e biográfico. Entre repúdios e aceitações, tal proximidade caracterizou-se ainda
por se inscrever, em terras brasileiras, na construção de um projeto de nação baseado no principio monárquico de
governo, e em valores e práticas de um certo imaginário nacional garantidor, entre outros aspectos, do caráter unitaris-
ta e centralizador do regime então instaurado. Neste contexto, o francês Sebastião Augusto Sisson produz sua Galeria
dos Brasileiros Ilustres (1859-1861), obra por nós entendida como manifestação do uso da biografia na qualidade de
discurso fundador e difusor da memória e da identidade da nação brasileira. Pretende-se, então, investigar e caracte-
rizar o lugar de tais textos biográficos nessa estratégias discursivas, promovendo, em especial, uma discussão acerca
do uso e significação dos conceitos de ordem e civilização, entre os esforços investidos da tarefa de elaborar os
retratos de papel e letras daqueles personagens cujas vidas individuais vieram a ser tomadas como referenciais para
a escrita de uma história da nação.

I 19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h ás 16h30min)

Ana Paula Sampaio Caldeira - UFRJ


A Memória do Império: O papel de uma coleção na história de Portugal e suas conquistas
No século XVIII, o abade português Diogo Barbosa Machado dedicou-se a montar uma coleção de imagens, mapas e
folhetos referentes a vários momentos e personagens da história lusitana. Atualmente, estes materiais fazem parte do
acervo da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e foi justamente sobre eles que nos debruçamos ao longo de nossa
pesquisa de mestrado, buscando entender esta coleção como um arquivo e também como uma forma particular de
escrita da história. Neste trabalho, pretendemos refletir sobre a importância do trabalho de historiadores e colecionado-
res letrados como Barbosa Machado na construção retórica e histórica do império português.

Eduardo Sinkevisque - UNICAMP/FAPESP


O Quo Modo Historia de Luciano de Samósata: três traduções portuguesas do século XVIII
Desde a Antigüidade até hoje, o Como se Escreve a História, de Luciano de Samósata (séc. II d.C.), é um texto
estudadíssimo. Traduzido para várias línguas, pelo menos desde o século XVI, o texto, embora seja uma carta familiar-
negociai, de gênero epidítico, de variante vituperadora, é, talvez, um dos únicos tratados antigos que preceituam,
especificamente, a escrita da história. Pretende-se confrontar três traduções portuguesas dele do século XVIII. A
hipótese é a de que, embora as traduções respeitem o texto em grego, cada uma delas constitui destinatários diferen-
tes, pois dedicadas a mecenas diferentes, produzidas segundo padrões retóricos diferentes, em ocasiões políticas e
em círculos letrados históricos diferentes. Objetiva-se discutir a doutrina do gênero histórico setecentista português em
. algumas apropriações e moralizações católicas do texto de Luciano de Samósata.

Maria Aparecida Rezende Mota - UFRJ


Oliveira Martins, Teófilo Braga e a(s) escrita(s) da História de Portugal
Atentas á historicidade do próprio conhecimento histórico, as investigações em historiografia têm demonstrado as
possibilidades do campo, ao destacar sua dupla dimensão de objeto e fonte histórica. Nas duas vertentes, o diálogo
com outras áreas do conhecimento vem estimulando novas indagações e enfoques; é neste sentido que a teoria
literária - gênero, estilo, recursos lingüísticos e elementos estruturais da narrativa - pode enriquecer o estudo da escrita
da história. Considerar o estatuto literário do texto historiográfico não significa, contudo, perder de vista seu vinculo
com o mundo das ações humanas no tempo. Por outro lado, pensar a literariedade da narrativa historiográfica pode ser
vantajoso, por exemplo, quando examinamos a historiografia portuguesa oitocentista. Teófilo Braga e Oliveira Martins
pretendiam superar o cânone romântico numa dupla perspectiva: a construção da história de Portugal em bases

384
'modernas" implicava uma parte essencial da reinvenção da própria nação. Em que medida essas elaborações do
passado e os modos através dos quais foram expostas e dispostas nessas histórias podem indicar os dilemas da
sociedade portuguesa àquela altura, constitui-se em um dos eixos da investigação que estamos desenvolvendo.

Naiara dos Santos Damas Ribeiro- UFRJ


A Civilização em jogo: considerações sobre a crítica cultural de Johan Huizinga
Em 1935, o historiador holandês Johan Huizinga foi convidado pelo Instituto Warburg para proferir uma palestra sobre
os seus trabalhos como historiador da cultura. Contrariando a expectativa de seus pares, que esperavam assistir ao
aclamado estudioso da Borgonha medieval, Huizinga propôs como tema de sua palestra uma discussão sobre o elemento
lúdico da cultura e o seu papel na civilização contemporânea. Desse evento pode-se, então, vislumbrar um problema
histórico: há na trajetória de Huizinga uma inflexão que marca o seu posicionamento como um crítico da cultura de seu
próprio tempo. Nesta comunicação pretende-se, pois, analisar esse discurso critico e avaliar, por meio dos textos 'Espítiro
norte-americano' (1927), 'Nas sombras do amanhã' (1935) e 'Homo Ludens' (1938), como a idéia de ludicidade da cultura
era, para Huizinga, o conceito central que norteava as suas reflexões sobre a crise da civilização.

Miguel Palmeira - USP


Multidisciplinaridade na produção de uma inovação historiográfica: Moses Finley e a 'economia antiga'
Nas controvérsias acadêmicas sobre a história econômica da Antigüidade, as relações entre disciplinas cumpriram
papel fundamentai. Foi nas alianças com, ou oposições a, antropólogos, sociólogos, economistas, arqueólogos, filólo-
gos etc. que os historiadores procuraram definir o objeto 'economia antiga' e o transformaram em arena nobre de
debates dentro dos Estudos Clássicos. Pela análise da construção das concepções de história econômico-social de M.
i. Finley e de outros historiadores de sua geração que inovaram as perspectivas sobre a 'economia antiga', esta
comunicação explorará os significados sociais e epistemológicos da multidisciplinaridade para a produção de conheci-
mento histórico sobre Antigüidade greco-romana.

Andrea Cristina Fontes Silva e Marcos Fernandes


A Genealogia sob Perspectivas de Nietzsche e Foucault: repensando o sujeito histórico
Até os meados do século XIX, temos que o termo genealogia abarcava construções que objetivavam, sobretudo, o
enaltecimento ou legitimação de dada ordem. A partir das proposições nietzschenianas, a idéia de genealogia adquire
nova configuração: não mais visando o enaltecimento ou legitimação de dada ordem, mas a sua depreciação e contes-
tação - perceptível em 'Genealogia da Moral' e 'O Anticristo'. Pretendemos abordar neste trabalho, as influências de
Nietzsche no projeto de Michael Foucault em observar a genealogia não como legitimadora de dada ordem, mas capaz
de oposição a ela, contestando a marca cristalizada de acontecimentos singulares, ou mais, questionando a própria
possibilidade dos acontecimentos. Para Foucault, a genealogia não nos diz quem somos no sentido de determinar
nosso agir e ser no mundo, mas nos indica a possibilidade de repensarmos nossa posição no mesmo, objetivando o
que podemos ser. Fatos que sem dúvida, afetam o 'fazer histórico'".

I 20107 - Sexta-feira - Manhã (1 Oh30min às 12h30min)


Eduardo Gusmão de Quadros - UEG
Derrida revoluciona a história?
@
A dicotomia criada entre autores considerados 'pós-modernos', anti-cientificistas e relativistas, e os 'modemos', su- 1;l
postos defensores do saber racional, gerou uma série de incompreensões. As categorias de interpretação terminaram :g
sendo mais políticas que epistêmicas. A recepção do pensamento de Jacques Derrida no Brasil continua limitada a .~
alguns guetos, em especial ligados a teoria literária. Mas um pensador que constituiu sua obra no combate à metafísi- o..
ca não teria algo a ensinar aos historiadores? Nesta apresentação, pretendemos analisar alguns dos conceitos - ~
diferensa, traço, escritura, arquivo, temporal -propostos pelo eminente pensador africano, relacionado-o com a teoria ~
do conhecimento histórico. E
·ê
Arthur Lima de Avila - UFRGS -8
"Um novo Oeste para uma nova América": a New Westem History e a reescrita do passado norte-americano ~
(c.1985-c.1995)
A New Western History foi um movimento historiográfico que tentou reescrever o passado do Oeste norte-americano 'E
durante fins da década de 1980 e inicio dos anos 1990, opondo-se tanto às leituras supostamente 'mitológicas', j3
realizadas por historiadores não-acadêmicos e escritores populares, da história local, quanto aquelas produzidas pe- Q)

las gerações acadêmicas anteriores, fazendo uso de uma escrita que afirmava a pretensa postura revolucionária daê
nova historiografia, contrapondo-a constantemente aos 'velhos" e 'conservadores' paradigmas anteriores. Esta escrita ~~
dava esteio a um projeto político e social mais amplo que buscava 'mudar o Oeste para mudar a América". Neste ::I:

385
sentido, e seguindo as considerações téoricas de David Harlan (1997), tentarei analisar como a NWH elaborou um
novo passado para dar vazão a um presente conturbado e aparentemente inexplicável pela historiografia anterior a
partir dos escritos de seus três expoentes maiores: Donald Worster, Richard White e Patricia Limerick.

Marcos Guedes Veneu - FCRB


Entre filosofia e história: A primeira geração dos Annales e o conceito de duração
Marc Bloch e Lucien Febvre adotaram uma atitude ambigua frente á obra do filósofo Henri Bergson, por um lado
rejeitando o bergsonismo como 'filosofia da história', notadamente na forma exposta no livro 'A Evolução Criadora',
por outro lado incorporando sua critica à representação cronológica do tempo, consubstanciada no conceito de dura-
ção. Procuro mostrar que essa recepção dúplice fundamenta-se em caracteristicas do próprio conceito, sobretudo seu
caráter individualizante, que tiveram de ser transformadas para incorporá-lo às 'ferramentas mentais' dos historiado-
res. Tal transformação foi levada a cabo por pensadores que exerceram um verdadeiro papel de 'intermediários' para
os fundadores dos Annales, como Charles Péguy, em sua crítica da historiografia metódica, e Maurice Halbwachs, em
seus trabalhos sobre a memória coletiva.

Elson de Assis Rabelo - UFRN


O segundo sol na história: a prática historiográfica e a prática científica sob o signo do acontecimento
Este trabalho pretende discutir a noção de acontecimento em sua possibilidade de articulação da História com as
demais Ciências Humanas e, especialmente, com as Ciências Naturais, suscitando uma nova relação de aliança sem
determinismos entre os saberes. Após a desvalorização do acontecimento pelos Annales, e considerando-se como foi
ressignificado por Foucault e Deleuze e retomado contemporaneamente por um pensamento que re-concilia natureza,
sociedade e discurso em diferentes campos cientificos, o acontecimento tem sido destacado enquanto ponto de parti-
da para as produções de sentido, para a elaboração do conhecimento e para a cristalização da memória. A 'aconteci-
mentalização' da História permite aos historiadores perceber os eventos como atualização das estruturas sociais e
culturais, e igualmente integrar as diversas camadas de temporalidades - incluindo as temporalidades da natureza e
da cultura, psicológicas e cosmológicas, tal como fazem as artes e a literatura.

I 20107 - Sexta-feira - Tarde (14h às 18h) I


Andre de Lemos Freixo - UFRJ
Entre Musas e Paradigmas: memória, historiografia e a produção de conhecimento sobre o passado
Mnemosyne e Clio. Deusa e musa, respectivamente, da memória e da História para os antigos. O processo de discipli-
narização da história no XIX instaurou rígidos paradigmas metodológicos modernos que separaram memória e histó-
ria. Porém, observa-se a partir de meados do século XX um relativo consenso dentro dos 'domínios' da História: a
história não mais se propõe a estabelecer os 'fatos' como 'realmente aconteceram'. Tal asserção transpõe ou desloca
a já tênue linha fronteiriça que separa memória e história. Neste sentido, uma discussão centrada na idéia de como um
conceito tão ligado á história quanto 'memória' - que ao mesmo tempo em que se confunde com ela, cria-se a partir
dela e também a antecede - pode permitir reflexões acerca do próprio ato de produção do conhecimento histórico. A
memória abre possibilidades para a discussão das relações entre a escrita da história e sua aproximação com outras
disciplinas e campos do saber. Os embates entre diferentes correntes historiográficas (bem como suas diferentes
versões para 'o passado') podem ser melhor mensurados através da apreensão da memória (sempre vinculada à
produção de identidades). Através da análise da memória podemos descortinar as estratégias de definição do próprio
oficio do historiador, seus limites e possibilidades.

Cristina Pessanha Mary - UFF


A Seção da Sociedade de Geografia de Lisboa no Brasil e o sonho de um novo império africano
Esta pesquisa busca compreender o significado da geografia nos últimos anos do Império. Para tal, concentramos
nossa atenção no funcionamento da Seção da Sociedade de Geografia de Lisboa no Brasil, na sua composição social,
e, sobretudo, na análise do periódico editado por esta filial.Durante os anos em que circulou, entre 1881 e 1886 e,
acompanhando as sucessivas diretorias da Seção, a linha editorial da Revista da Sociedade de Geografia de Lisboa
no Brasil alterou-se, ao sabor de perspectivas diferenciadas para a geografia, dentre elas, a aspiração portuguesa de
engajar o Brasil nas disputas pelo continente africano. Todavia, a nova conjuntura politica, republicana terminou por
inviabilizar este projeto luso, de um Brasil como continuidade ibérica, esvaziando de sentido a própria Seção.

Gilmara Yoshihara Franco - UFGD


A Construção da Identidade Mato-grossense na obra de Virgílio Corrêa Filho - 1920-1940
O presente trabalho objetiva apresentar uma análise de parte da obra de Virgílio Corrêa Filho, considerado um dos
mais importantes historiadores mato-grossenses. As obras aqui analisadas - Mato Grosso, Monografias Cuiabanas e

386
As Raias de Mato Grosso - foram escritas entre os anos de 1920-1940 - período em que novos refenciaís ídentitários de
nação e região estavam sendo construidos no Brasil. Em Mato Grosso, esse período foi marcado por intensas lutas
intra-digáquicos e por um rearanjo econômico, sobretudo, a partir do estabelecimento da Ferrovia Noroeste do Brasil,
ocorrido em 1914. Em nível nacional, um novo refencial de identidade também estava sendo construído. Dessa maneira,
a interpretação dos trabalhos de Corrêa Filho toma-se importante, na medida em que, revela as características da cons-
trução da identidade local a partir das questões colocadas no contexto da Primeira República, buscando, assim, preser-
var, sobretudo, os valores do grupo social que ele representava. Sua escrita parte da 'preservação' do chamado sentimen-
to de cuiabanidade,do culto aos defensores fronteiriços e integração da história de Mato Grosso com a história do Brasil.

Rui Aniceto Nascimento Fernandes - PUC·Rio


História e região ou história regional. O lugar da região na historiografia brasileira
A história da história no Brasil é um campo em expansão nas últimas décadas. Esses estudos vêm problematizando a
trajetória dos estudos históricos no país. Seguindo essa vertente, pretendemos discutir o lugar que a historia regional
ocupa na historiografia brasileira. Muitos estudos construíram uma memória disciplinar ressaltando os elementos de
continuidade e/ou superação de um modelo narrativo por autores/escolas que os sucederam. Esses estudos, comu-
mente, nos apresentam a historiografia pátria como um continnum evolutivo na busca pela cientificidade do saber
histórico. Tal processo teria iniciado no século XIX, com o IHGB, e atingido o ápice com as teses e dissertações oriunda
dos cursos de pós-graduações, surgidos a partir da década de 1970. Privilegiou-se aqueles autores e esquemas que
pretenderam construir uma compreensão unitária da história do país. Relegou-se para um plano secundário outros
estilos/modelos historiográficos que não tinham como objeto primeiro a nação. A história regional foi um desses discur-
sos silenciados. Pretendemos mostrar que esse gênero sempre este presente nos estudos históricos brasileiros cons-
tituindo-se em uma das possibilidades da construção da história nacional e que sua marginalização ocorreu em decor-
rência dos elementos que o compõem.

Rebeca Gontijo - UERJ


Caminhos e fronteiras da história no Brasil, 1870-1920: etnologia, historiografia e corografia
Um dos caminhos da reflexão sobre o saber histórico e a multidisciplinaridade é aquele trilhado pela investigação
acerca de um período crucial na constituição de um campo de estudos históricos no Brasil: o século XIX e o início do
século XX. Inexistiam, então, distinções disciplinares nítidas, sendo difícil delimitar uma produção como sendo especí-
fica do historiador. Apesar dessa ausência de delimitações ou fronteiras nítidas é possível identificar um conjunto de
temas, procedimentos, referências teóricas e organizacionais, obras e figuras-chave, interpretações e significados
compartilhados, que, de modo efetivo, possibilitavam a construção do conhecimento e a escrita da história. O objetivo
dessa comunicação é explorar esse vasto território composto por estudos sobre a história e a corografia nacional, a
etnologia e a lingüística indígena, procurando observar semelhanças e diferenças na apropriação do passado, bem
como as possíveis estratégias de definição do território do historiador, de modo a compreender parte do processo de
construção daquilo que foi definido como um 'campo de domínio comum' (Bresciani, 2005) denominado moderna
historiografia do Brasil. Como guia nessa empreitada está um velho vaqueano: Capistrano de Abreu (1853-1927).

Mara Cristina de Matos Rodrigues - UFRGS


"Capitania d'EI Rei" e a epistemologia da formação do Rio Grande do Sul na interface entre história, literatura ~
e sociologia ~
Capitania d'EI Rei, de Moysés Vellinho, é um livro sobre a formação do Rio Grande do Sul. Escrito durante a década de
1950 e publicado em 1964, pode ser visto como um produto tardio da obsessão dos anos 1930 pelas 'raízes' nacio- {g
nais, narradas comumente sob a forma de "ensaios sociológicos" nesta época. Neste trabalho, baseando-se em um :g
capítulo da tese defendida recentemente pela autora, busca-se analisar as estratégias narrativas que revelam e legiti- .~
mam as concepções teóricas sobre a escrita da história em 'Capitania d'EI Rei', os seus vínculos com a sociologia e a %
literatura e suas relações com o lugar social de produção do conhecimento. ~
.;::;
::;
Taise Tatiana Quadros da Silva - UFRJ E
Retórica, Jurisprudência, Moral e História: saberes entrelaçados no Portugal do século XVIII .ê
No século XVIII em Portugal academias, associações literárias e meio universitário compunham um mundo letrado em 'ti
que as manifestacões intelectuais do período pré e pós pombalino encontravam-se confluindo com formas literárias I
originais e distintas daquelas há muito reconhecidas. Nesse universo de conservadorismo e inovação e diante de ~
debates intelectuais bastante abrangentes estabeleceu-se a possibilidade de pensar uma nova forma de expressão ~
escrita do passado que ganhé!ria também outro sentido em meio as mudanças sociais decorrentes desde a administra- .~
ção do Marquês de Pombal. Areas diversas do saber, como a teologia e a jurisprudência, conviviam com uma noção ';::;
emergente de ciência ampliando, inéditamente, a forma do texto acadêmico e erudito. Entre a ficção e a noção deê
verdade da ciência, entre o respeito às autoridades e a nova pesquisa arquivistica moldaria-se a nova estética do ~E
passado dos historiadores. ::c

387
Josiane Roza de Oliveira - Fiocruz
Capistrano de Abreu: territórios geográficos e disciplinares
O trabalho é um exercício aproximativo do projeto de pesquisa desenvolvido no doutorado: Cartografia de territórios:
imaginário e política na construção de fronteiras na historiografia brasileira do século XIX e início do século XX. Procu-
ro refletir sobre a forma de construção narrativa que contribuiu para a formação do território enquanto brasileiro e
unificado. A análise parte dos lugares de produção historiográfica, e da investigação de como a história e a geografia
se articulam e se excluem, na construção de um mesmo tema de estudo e de discurso, num período de formação
disciplinar e amplo debate sobre as ciências. Neste seminário, apresento a análise de artigos e traduções, que abor-
dam geografia e território, do chamado 'primeiro historiador moderno brasileiro', Capistrano de Abreu. Iniciar por este
autor confere uma movimentação particular á pesquisa. Tanto pela importância que a geografia teve em seus trabalhos
quanto pelo significado das metodologias, por ele utilizadas, para disciplinarização da história no Brasil, o que implica
o entendimento da história como um oficio dentro do campo científico. Território, fronteira, cartografia, portanto, apare-
cem como metáforas e como artefatos fisicamente localizáveis no espaço e na teia discursiva da história brasileira.

49. Idéias, intelectuais e instituições: história e multidisciplinaridade


Fernando Antonio Faria (UFF e UERJ)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h ás 18h) I
Fernando Antonio Faria - UFF e UERJ
Política e letras no Brasil na 2" metade do século XX
A comunicação trata de algumas questões relacionadas com a vida intelectual urbana brasileira, enfatizando o papel
dos intelectuais não acadêmicos, tanto do ponto de vista de sua formação quanto de sua vinculação institucional. Para
tal lança-se mão de um estudo de caso, referente ao tradutor Jungmann, visto como um elo de ligação entre a cultura
norte-americana do pós 2" Guerra e o mercado editorial brasileiro.

Daniel de Pinho Barreiros - Colégio Militar do Rio de Janeiro


Teoria Econômica e intelectuais em dois séculos: entre o otimismo e o equilíbrio
O pensamento econômico ocidental, desde sua fundação com a Escola Clássica até a chamada 'Revolução Keynesi-
ana', teve como principal pilar de sustentação a idéia de Equilibrio. Dos clássicos aos neoclássicos, entendeu-se que
o funcionamento 'natural' dos mercados conduziria otimamente a um ponto estável entre oferta e procura, o que
tornava as intervenções 'não-econômicas' nas relações entre produtores e consumidores um elemento pernicioso.
Neste trabalho, analisamos as principais idéias destes intelectuais em torno da questão do Equilíbrio, relacionando sua
consolidação no século XIX ao 'espírito do tempo' vitoriano, defendendo a idéia de que, em função do 'otimismo', os
neoclássicos descartaram de seus sistemas teóricos as mudanças relacionadas à Segunda Revolução Industrial.

Bruno Bontempi Jr - PUC SP


O Inquérito sobre a situação do ensino primário em São Paulo e suas necessidades (O Estado de S.Paulo,
1914): fonte para o estudo do imaginário republicano
Em 1875, um grupo de liberais paulistas congregados na defesa de interesses econômicos ligados à produção cafeei-
ra criou o jornal A Província de São Paulo. Sob a batuta de Rangel Pestana, a instrução pública passou a figurar como
pilar de um projeto político federalista, liberal e civilizador. Com a Proclamação da República, esse grupo pôde promo-
ver no estado a reforma da instrução pública, que reabilitou a escola de professores, introduziu a escola graduada e
adotou métodos e padrões de ensino baseados na experiência dos paises 'civilizados'. Em 1914, passados pouco
mais de vinte anos das primeiras reformas, O Estado de S. Paulo promoveu uma enquête sobre a situação da instrução
pública no estado, permitindo que dirigentes, professores e jornalistas avaliassem o quanto havia sido feito e sugeris-
sem reparos e reformas para um futuro próximo Os temas abordados no inquérito, embora referidos diretamente à
instrução pública, conduziram os respondentes a refletir sobre a experiência republicana e a projetar o reajuste da
vinculação entre a sustentação do regime e a formação do cidadão. Tal esforço de reflexão e projeção revela os traços
característicos do imaginário político de uma fração da intelectualidade paulistana.

Alexandre Pinheiro Ramos - UERJ


O boneco de carne: o olhar de Plínio Salgado sobre o homem moderno (1932-1937)
Neste trabalho pretende-se apresentar a maneira como Plínio Salgado, chefe nacional da Ação Integralista Brasileira
(AIB), através de suas obras produzidas durante o período da existência legal daquela, vê as mudanças que se
operam no seio da sociedade brasileira - mudanças estas já observadas na Europa - no contexto da industrialização

388
e urbanização do Brasil, sobretudo as relativas ao próprio ser humano. Desta maneira, procura-se demonstrar como ~
Plínio Salgado avalia tais transformações, tecendo criticas severas aos modelos político-econômicos que as engen- ~
dram, ou seja, o capitalismo e o comunismo, ambos considerados nocivos e ineficientes no que diz respeito a viabiliza-
ção de mudanças nos individuos na tentativa de se produzir uma sociedade mais igualitária. Tudo isto, claro, analisado
à luz da ideologia integralista desenvolvida pelo mesmo Plinio Salgado.

Ricardo E Ismael de Carvalho - PU C-Rio .ê


Oesvaziamento das Políticas Federais de redução das desigualdades regionais no contexto histórico da Cons- ~~
tituição de 1988 ..c::
v;
Embora se possa falar em iniciativas do governo federal no Nordeste na primeira metade do século passado, pode-se .~
dizer que apenas no governo Kubitschek tornou-se freqüente a formulação de políticas públicas voltadas para a redu- -~.
ção das desigualdades regionais no país. Com a chegada do regime militar, continuou presente a preocupação com a 't;;
distribuição territorial das atividades econômicas, sendo amparada pelo fortalecimento do planejamento no plano naci- -S
onal. A partir do início dos anos de 1980, entretanto, observa-se uma mudança no padrão de atuação da União, .~
apontando para um esvaziamento da questão regional no federalismo brasileiro. O objetivo deste artigo é discutir o a
declínio das politicas federais voltadas para a redução dos desequilíbrios econômicos regionais, no ambiente da á:l
Constituição de 1988. Nesse sentido, pretende destacar alguns fatores associados como as dificuldades de financia- ]l
.S
mento do setor púbico, a descontinuidade administrativa na área de política regional do govemo federal, a oposição vi
dos estados das regiões Sul e Sudeste ás tentativas de ampliar as iniciativas cooperativas da União na direção das ~1il
outras regiões, e a crescente ênfase na agenda pública do tema da inserção do país na economia internacional em :S!
detrimento da redução das assimetrias federativas.

Nathacha Regazzini Bianchi Reis - Fiocruz


História, saúde pública e produção de documentos: um estudo sobre a Fundação Nacional de Saúde
Esta comunicação apresenta os marcos iniciais de uma pesquisa que articula História e Arquivística, com o intuito de
analisar o processo de produção e acumulação de documentos no âmbito de uma instituição pública federal: a Funda-
ção Nacional de Saúde - FUNASA. Criada em 1991, como resultado da incorporação da Fundação Serviço Especial de
Saúde Pública e Superintendência de Campanhas de Saúde Pública, a FUNASA tem como missão o saneamento
ambiental e a atenção integral à saúde indígena. Seus antecedentes históricos descortinam uma longa trajetória de
atividades, que se inscrevem no âmbito da constituição das políticas públicas de saúde, com a estruturação do Minis-
tério da Educação e Saúde Pública em 1930. As etapas de consolidação dessas políticas foram permeadas por suces-
sivas reformas na composição do Departamento Nacional de Saúde, num quadro que permanece mesmo após a
criação do Ministério da Saúde, em 1954. Parte-se do resgate da história da instituição, para que, ao se reconstituir
toda sua evolução administrativa pregressa, seja possível uma discussão acerca da dinâmica de produção, acumula-
ção e guarda de documentos no âmbito de instituições públicas de saúde no Brasil.

Gleudson Passos Cardoso - UECE


"Adesistas de plantão": o Centro Republicano Cearense a Eloqüente Imprensa "de Última Hora" durante os
primeiros anos do novo regime no Ceará (1889- 1892)
O Centro Republicano Cearense (CRC) foi a primeira entidade que, na antiga província, substancialmente arregimen-
tou intelectuais, ex-abolicionistas e militares em tomo da implantação do novo regime político sobre a Monarquia.
Mesmo surgido no calor da hora (01fjulho/1889), o respectivo núcleo construiu para si uma memória histórica que,
após o golpe de 15 de novembro, se projetou como 'ponta de lança', referência maior do programa e da agenda
republicana, a combater as demais adesões 'de plantão', provenientes dos antigos partidos monárquicos. Neste sen-
tido, o objetivo deste trabalho é analisar as estratégias deste núcleo em favor da implantação e da adesão dos cearen-
ses á República, no combate ao oportunismo dos antigos chefes liberais e conservadores, a destacar seus discursos
de matriz evolucionista e positivista na imprensa local através dos jornais 'A Pátria', 'O Libertador' e 'O Norte', perce-
ber a implantação de clubes republicanos pelos municípios e vilas do interior cearense, ligados ao projeto orgânico-
político deliberados pelo CRC, bem como entender o desgaste do seu projeto a partir do surgimento da União Republi-
cana e a nova direção do Partido Republicano Federalista, em 1892.

Renata Lima Barboza - UERJ


"Momento Literárío": a República das Letras em debate na obra de João do Rio
No ano de 1905, o jornalista e cronista Paulo Barreto, mais conhecido sob o pseudônimo de João do Rio, publicou
uma série de entrevistas, para o jornal Gazeta de Notícias, na qual foram ouvidos cerca de trinta e sete dos mais
proeminentes escritores brasileiros do início do séc. XX. Esse inquérito, intitulado Momento Literário, seria considera-
do, posteriormente, como uma fonte indispensável para o estudo do pensamento literário do mencionado período, ao
retratar algumas das principais questões presentes no campo intelectual do pais sob a perspectiva dos próprios escri-
tores. Esta comunicação tem por objetivo analisar os pontos essenciais desse trabalho singular de João do Rio,

389
concedendo especial ênfase ás discussões em torno das influências literárias fundamentais da época; do desenvolvi-
mento dos centros-literários dos Estados; e, sobretudo, da opinião critica sobre o estreitamento das relações entre
jornalismo e literatura na década de 1900.

Eduardo Gomes Silva· PPGH/UFF


Desvendando a rede - a defesa da democracia como estratégia golpista
A presente comunicação objetiva aprofundar o debate sobre o papel da imprensa brasileira no Golpe de 1964 através
de um paradigmático exemplo: a Rede da Democracia.
Programa radiofônico diário, de caráter anticomunista e com pretensões 'apartidárias', a Rede da Democracia foi
levada ao ar, já em 1963, graças a um inédito alinhamento editorial entre as empresas Globo, Jornal do Brasil e Diários
Associados - que os transmitia simultaneamente através de suas respectivas emissoras, além de publicá-los em seus
diários impressos -, representando palco privilegiado de parlamentares, empresários, clérigos, jornalistas e toda a
sorte de opositores ao Governo João Goulart e aos demais grupos de matizes nacionalistas, reformistas ou socialistas.
Localizada no interior de uma disputa hegemônica travada nas esferas sócio-econômica, político-partidária e ideológi-
ca - exacerbada no Governo Goulart, todavia presente no Brasil há algumas décadas -, acredita-se que a Rede da
Democracia tenha desempenhado papel ativo e crucial no período iminentemente anterior ao Golpe de 1964; lançando
mão, para tanto, de sua principal estratégia: a defesa intransigente do regime democrático.

Léo Posternak • PUC·Rio


Revisitando a idéia de populismo no pensamento social brasileiro
O esforço para um melhor entendimento sobre o populismo no Brasil está ligado, e com grande aceitação na literatura
a este tema relacionada, á utilização deste termo para o período de 1945 até 1964, ou seja, da redemocratização do
pós-guerra até o movimento militar de 1964. As interpretações de Francisco Weffort e Octávio lanni apontam, no
populismo, uma cooptação que não passa pelo plano ideológico, mas sim, pela política social. No processo de urbani-
zação e industrialização pelo qual passava o Brasil, formavam-se atores sociais qualitativamente diferentes daqueles
da Primeira República. Quem controlaria essas massas emergentes? O modelo corporativo fortalecia o Estado através
da criação dos sindicatos, da possibilidade de intervenção nos sindicatos, e da atuação da Justiça do Trabalho. Neste
novo mundo urbano, o controle era precário. O viés de cooptação presente na política populista teve papel fundamen-
tai para a dominação política. A classe trabalhadora teria sido encorajada a postergar a busca dos seus interesses
mais amplos, e se satisfazer com o que seriam (no ponto de vista da revolução) conquistas menores.

I 17/07 - Terça-feira -Tarde (14h ás 18h) I


Maria Emilia Prado - UERJ
Os intelectuais e a nação. Considerações acerca das concepções de Hélio Jaguaribe e do papel do Instituto
Superior de Estudos Brasileiros no decênio de 1950
Na década de 1950 um conjunto de intelectuais reuniu-se em torno de Hélio Jaguaribe para discutir temas relaciona-
dos ao atraso do Brasil diante dos países centrais. Economistas, historiadores e cientistas políticos comporiam, a partir
de 1955, o ISEB (Instituto Superior de Estudos Brasileiros), cujo objetivo o estudo, ensino e divulgação das ciências
sociais. Objetivava-se também que os dados e as categorias formuladas servissem para análise e compreensão do
Brasil contribuindo para promoção do desenvolvimento nacional. Objetiva-se aqui refletir sobre o papel dos intelectuais
no debate sobre a questão nacional no decênio de 1950, atentando para o significado da ação política desenvolvida
neste momento que se caracterizou pelo fato dos intelectuais poderem atuar num cenário político democrático unindo
reflexão, planejamento e assessoria. com vistas a atuação na esfera política. De modo particular, esta comunicação
estará centrada na análise de alguns aspectos da vida e da obra de Hélio Jaguaribe. Dessa forma, buscar -se-á recons-
tituir sua formação intelectual, as influências teóricas presentes em sua produção bem como os conceitos básicos
presentes nas obras escritas entre 1954 e 1960.

Jorge Claudio Bastos da Silva· Colégio Militar do Rio de Janeiro


A Carta Constitucional Portuguesa de 1826 - uma abordagem introdutória
A comunicação "A Carta Constitucional Portuguesa de 1826 - uma abordagem introdutória' busca analisar a citada
Carta Constitucional mediante três enfoques: os contextos históricos de sua elaboração e vigência; as suas principais
características internas e, por fim, os princípios políticos nela constantes e que nortearam a ação política de seus
defensores, o grupo liberal denominado Cartista.

390
Jorge Batista Fernandes - UERJ ~
Autor e réu: um estudo do acesso à justiça no Brasil Republicano (1890-1930) ~
Este trabalho visa apresentar os resultados preliminares de pesquisa sobre o tema do acesso á justiça ao longo da
chamada República Velha. Nosso estudo envolve a análise dos processos judiciais cujos autores acionaram o poder
público em busca de soluções para questões referentes ao seu cotidiano, além de apresentar considerações sobre o
tratamento com as fontes e a sua organização e disponibilidade. Trata-se de abordagem que procura contribuir com os w
estudos sobre a cidadania no Brasil dos primeiros anos republicanos. As delimitações do espaço e do tempo se .~
circunscrevem à cidade do Rio de Janeiro, Capital Federal, e ao período de 1890 a 1930 e se justificam pelas caracte- ~~
rísticas singulares da cidade, incluindo a sua população, a politização dos grupos e dos movimentos sociais e, funda- Ev;
mentalmente, á sua estrutura administrativa. Quanto ao período, buscamos compreender a própria questão institucio- ,g;
nal e organizacional do Poder Judiciário ao longo dessas quatro décadas, ou seja, 1890 é o ano da publicação do .~.
Código Penal e de uma sucessão de decretos tratando da organização do Poder Judiciário e 1930 um marco do inicio 't;;
das principais alterações nesta mesma organização. .~

Rodrigo da Nóbrega Moura Pereira - UERJ '"


.~
Catequizar e civilizar: o debate sobre a educação religiosa como instrumento das políticas públicas do Estado á:l
Imperial Brasileiro ~
.S
Durante a maior parte do século XIX, houve, entre os políticos e intelectuais brasileiros, um razoável consenso sobre a ",-
idéia de que a educação religiosa do povo era uma tarefa indeclinável do Estado Imperial, e também uma condição ~1il
indispensável para a manutenção da ordem social. Esta comunicação tem como objetivo analisar o debate entre os -c::J
políticos e intelectuais brasileiros que, especialmente entre as décadas de 1860 e 1870, em meio aos conflitos que
opunham católicos liberais e ultramontanos, discutiram o papel do Estado na formação religiosa das classes popula-
res. Interessa examinar como a elite brasileira percebia a religiosidade popular e como, em sua visão, a educação
religiosa poderia servir de instrumento civilizatório e contribuir para a edificação da identidade nacional.

Bernardino da Cunha Freitas Abreu - UERJ


Leitores e produção bibliográfica no Brasil - A biblioteca de Oliveira Lima e a obra perdida de Aluisio Azevedo
Este artigo constitui parte de uma pesquisa cujo objetivo consiste em esboçar um mapeamento historiográfico da
gênese das relações político-diplomáticas entre o Brasil e o Japão, tendo como fio condutor de análise a obra No
Japão -Impressões da terra e da gente, de autoria do diplomata e historiador pernambucano Manoel de Oliveira Lima
(1867 -1928). A singularidade da obra de Oliveira Lima, um estudo sobre o espaço geográfico, a sociedade, a cultura
e os aspectos sócio-políticos daquele país, reside no fato de ser o primeiro texto publicado por um brasileiro sobre o
Japão.

Claudia Wasserman - UFRGS


Repertórios: revolução social, pré-revolução, revolução brasileira, revolução e subdesenvolvimento
O objetivo dessa exposição é apresentar as interpretações sobre a Revolução Brasileira, realizadas na mesma época
em que personagens, organizações, partidos e movimentos sociais tentavam fazer dela uma realidade. Permito-me
separar as interpretações realizadas por autores da época sobre a revolução brasileira e a existência substantiva da
'revolução' na sociedade nacional, concentrando meus esforços investigativos nas primeiras. Serão privilegiados te-
mas como a origem social dos intérpretes, as instituições ás quais pertenciam, quais eram seus objetos de estudo,
argumentos e debates. Também resulta interessante detectar os motivos da existência de defasagens entre o discurso
intelectual a respeito da realidade e a realidade em si. Entre os autores consagrados que escreveram sobre a Revolu-
ção Brasileira, ao longo das décadas de 1960 e 1970, foram selecionados os trabalhos de Caio Prado Junior, A
Revolução Brasileira; de Paulo de Castro, Subdesenvolvimento e Revolução; e de Celso Furtado, A pré-revolução
brasileira, os três publicados em 1962; de Nelson Werneck Sodré, Introdução á Revolução Brasileira, em 1967; de Ruy
Mauro Marini, Subdesenvolvimento e Revolução, em 1969; e de Florestan Fernandes, A revolução burguesa no Brasil:
ensaio de interpretação sociológica, em 1974.

Maria Teresa Toribio Brittes Lemos - UERJ


Leopoldo Zea e o pensamento americano no século XX e XXI
Leopoldo Zea foi um dos mais expressivos pensadores da América Latina dos séculos XX/XXI. Filósofo, influenciado
pelos revolucionários espanhóis que se se encontravam exilados no México, na década de 1920, lutou contra o modelo
político norte-americano que dominava os governantes latino-americanos. Influenciado por Vasconcelos e a expansão
da 'raça cósmica, Zea acreditava que a América Latina podia desenvolver um pensamento autônomo, revolucionário
que acabasse com a miséria, as diferenças sociais e a exclusão social. Assim, escreveu várias obras que nortearam as
formas de pensar na A. Latina, lutando por uma liberdade de expressão frente aos EUA e a URSS. AAmérica Latina
deveria encontrar por si só um caminho de liberdade e livre expressão.

391
Marcos da Costa Braga - USP
O Design brasileiro de eletrodomésticos nos anos 1960: o caso da Walita
Os anos 1960 podem ser considerados como um momento importante para o campo profissional do design, por ter
sido a década em que se inicia o ensino regular do desenho industrial e a organização profissional. Os anos de 1960,
marcam não só o início da institucionalização do campo profissional, mas também o crescimento das áreas de atua-
ção, decorrentes da industrialização e do desenvolvimento urbano ocorrido desde os anos de 1950. O otimismo do
período JK e seu processo de industrialização ainda ecoavam no Pais e entre os profissionais das áreas projetuais.
Nesta época, ocorreu um grande impulso na produção de eletrodomésticos. Algumas empresas nacionais chegaram a
contratar profissionais brasileiros para realizar o design de seus produtos. Estes casos podem ser considerados contra
a corrente predominante marcada pela importação de projetos e produtos, prática da cópia ou adaptação do modelo
estrangeiro e falta de infra-estrutura de apoio ao desenvolvimento do projeto do produto nacional. Entre esses casos
destacamos a empresa Walita que nos anos 1960 tinha um setor de desenho industrial com profissionais brasileiros
pensando seus produtos. Seu estudo é parte de uma pesquisa sobre design brasileiro de eletrodomésticos na mesma
década, que está em andamento.

Guilherme Cunha Lima e Ana Sofia Mariz - UERJ


Design editorial, conceitos e processos: editora Civilização Brasileira (1959-1970)
A editora Civilização Brasileira foi, sem dúvida, um marco na história moderna brasileira. Não apenas por ter sido um
veículo de um discurso político-ideológico de vanguarda, mas também por servir de exemplo de excelência em vários
aspectos da produção editorial. Neste trabalho enfocaremos o design gráfico de seus livros publicados no período de
1959 a 1970, quando a produção da editora atingiu seu ápice de qualidade visual, gráfica e editorial. O regente deste
período áureo foi Ênio Silveira, editor que ficou a frente da empresa de 1952 a 1996. Fruto de uma pesquisa que se
estendeu por cerca de 4 anos e contou com grande quantidade de fontes primárias, este trabalho apresenta, por um
lado, uma parte influente da memória material de uma época e local. Por outro, pretende-se aqui revelar, dentro do
possível, o processo que concretizou estes resultados - vanguardistas, mesmo para hoje. Apontamos para o fato de
que subjacente ao processo de trabalho em questão, existia o design de um projeto editorial próprio, orquestrado pelo
editor Ênio Silveira, expresso num discurso institucional forte e singular. Discurso esse que, pode ser observado nas
capas dos livros publicados durante o período estudado.

Névio de Campos - Universidade Estadual de Ponta Grossa


Formação intelectual de Rocha Pombo e seus interlocutores teóricos (1879-1892)
O objetivo deste artigo é analisar a formação intelectual de Rocha Pombo, político e pensador paranaense, que viveu
entre as últimas décadas do século XIX e as primeiras dezenas de anos do novecentos, privilegiando o processo de
sua interlocução com teóricos europeus e brasileiros no período entre 1879 e 1892. Apóia-se nas obras escritas por
este intelectual, intituladas A supremacia do ideal: estudo sobre educação, publicada em 1883 e Petrucello, editada em
1892. Inscreve-se na história intelectual, portanto, propõe-se a restituir do ponto de vista sociológico, filosófico e
histórico, o contexto de produção de sua obra, garantindo a compreensão das formas de percepção e de apreciação,
ou seja, das modalidades específicas de pensar e de agir deste intelectual paranaense.

André Fabiano Voigt - UFSC/FURB


A "batalha historiográfica" entre Oberacker, Freyre e Buarque de Holanda: o início de uma convergência sobre
o teuto-brasileiro
O presente artigo pretende analisar a discussão entre Carlos H. Oberacker Júnior, Sérgio Buarque de Holanda e
Gilberto Freyre sobre as populações teuto-brasileiras na década de 1950 no Brasil.

I 18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h) I


Aline Camara Zampieri e Rogério Silva Pereira - UFGD
Idéias e Instituições: imagens do intelectual na poesia de Manuel Bandeira
Em um primeiro enfoque, a poesia de Manuel Bandeira é intimista e confessional, porém, se for analisada no contexto
histórico-cultural em que foi produzida (Modernismo literário e os desdobramentos da Revolução de 1930) pode ser
vista como espécie de programa de inclusão social, ideário comum ao Estado e ao tipico intelectual de então. A partir
do conceito de intelectual de Miceli (2000) e Candido (2000), do conceito de metáfora de White (1994), poderemos
entrever um outro Bandeira, um intelectual problematizador do projeto político-ideológico de inclusão nos anos 30.

392
Ivo Coser - PUC-Rio ~
O debate entre centralização e federalismo no Brasil: idéias e intelectuais ~
O debate entre centralização e federalismo no século XIX. A formação do conceito de federalismo: a definição do
conceito frente ao conceito de confederação. O debate político em torno do código do processo (1832) e do ato
adicional (1834). A emergência da idéia de 'interesses provinciais'. O conceito de centralização:a precedência da
construção do Estado nação frente a uma sociedade marcada pela dicotomia civilização/sertâo. A incapacidade dos ai
interesses provinciais na construção do Estado nação. O debate entre Visconde de Uruguai e Tavares Bastos. A ·ê
recepção do debate entre centralização e federalismo do século XIX nos trabalhos de Oliveira Vianna, Alberto Sales e ~~
Alfredo Ellis. O tema da precedência do interesse das províncias/estados versus a construção do Estado nação no -:
pensamento federalista. A emergência da idéia da excpcionalidade da formação histórica de São Paulo: o estado no ,~
qual a inciativa individual e os interesses moldam a sociedade. O pensamento de Oliveira Vianna: a idéia da sociedade .~.
brasileira marcada pela 'insolidariedade' e a necessidade da ação do poder central de maneira a introduzir o 'interesse 't;
geral". .~

Bruno Barretto Gomide - OLO/USP a


'"
O tolstoismo na belle époque brasileira ~
Quando, entre 1883 e 1886, o mercado francês foi tomado por incontáveis volumes de traduções de autores russos, ~
.~
Tolstóí ainda não completara sessenta anos. Era um artista e pensador no auge da atividade, estendida ainda por duas ",-
décadas e meia até a sua morte, em 1910. Tolstói, àquela altura, estava reelaborando de forma dramática o seu :~
pensamento e a sua persona de escritor. Colocava em primeiro plano as tendências não-ficcionais que o vínham J:
inquietando desde a juventude e que seriam, a partir de crises pessoais víolentas, expressas em polêmica doutrinação
filosófica e ética. Com textos que ganharam ampla repercussão, Tolstói tornou-se uma das personalidades públicas
mais importantes na virada do século XIX para o XX. No Brasil do mesmo período, o pensamento de Tolstóí, assím
como a sua imagem, teve enorme circulação entre diversos grupos de artistas, polítícos e intelectuais. O objetivo
dessa comunicação é apresentar um mapeamento dessa presença em escritores como André Rebouças, José Verís-
simo, Tasso Fragoso e outros.

Cibele Barbosa da Silva Andrade· Fundação Joaquim Nabuco


A intelectual idade francesa e as idéias sobre o Brasil nos anos 50
O objetivo geral do trabalho a ser apresentado consiste no estudo das relações culturaís franco-brasileíras entre os
anos 30 e os anos 50. Em termos específicos, a pesquisa concentra-se no estudo da recepção das idéias de Gilberto
Freyre pela intectualidade francesa nos anos 50. Destacamos os artigos acadêmicos produzidos sobretudo por his-
toriadores da Revista dos Annales, como um dos principais meios de inserção da obra de Freyre na França. A partir
destas fontes ensejamos analisar a repercussão das ídéias freyreanas nos círculos de debates franceses do pás
segunda guerra bem como as polêmicas suscitadas no Brasil diante da repercussão internacional do sociólogo-escri-
tor de Apipucos.

Giselle Laguardia Valente - UNIRIO


Semeador da história, do patrimônio e dos museus: o pensamento museal de Sérgio Buarque de Holanda
Entendendo os museus e o patrimônio cultural como narrativas e práticas sociais, o trabalho examina o pensamento e
a ação de Sérgío Buarque de Holanda em relação à construção de certa tradição museológica e patrimoníal no Brasil.
A pesquisa tem por objetivo geral analisar a constituição do campo do patrimônio cultural no Brasil e estabelecer um
campo de discussão acerca da memóría como construção no processo dinâmico da vida social. O presente trabalho
objetiva também refletir sobre a memória e os usos políticos do passado, especialmente no que diz respeito ao lugar
que as políticas de memória ocupam na dinâmica das chamadas sociedades políticas. No plano mais específico
busca-se analisar os marcos através dos quais o intelectual brasileiro Sérgio Buarque de Holanda elaborou seu traba-
lho de memória, tentando verificar em suas narrativas e em sua trajetória no Museu Paulista as relações entre patrimô-
nio e memória socíal.

Manoel José Ávila da Silva - UNILASALLE


Os membros do Partido Republicano Rio-grandense (PRR): política, intelectuais e a criação da República no
Rio Grande do Sul (1882 -1902)
O trabalho tem o objetivo de relacionar a ativídade política desenvolvida pelos membros que formaram o Partido
Republicano Rio-grandense (PRR), nas duas últimas décadas do século XIX no Rio Grande do Sul, com o que pode
ser definido com uma ação intelectual. Procura-se demonstrar que as atividades políticas do grupo condutor da criação
republicana no estado foram acompanhadas de características que as vinculam ao que pode ser definido como práti-
cas intelectuais. Considera-se aqui a possibilidade de abordar essa questão associando à discussão sobre a política o
debate sobre as perspectivas intelectuais dos componentes do PRR. Para a compreensão da própria conformação de
um grupo politicamente orientado, aglutinado em torno de uma agremiação partidária é oportuno associar a afirmação

393
de uma ação de intelecção da realidade da qual a ação política, no periodo histórico estudado, depende, é concomitan-
te e simultãnea. Por intermédio dessa ação intelectual é possivel perceber que possibilidades de análise e de interven-
ção política na realidade que os circundava os republicanos gaúchos estabeleceram no final do século XIX. E nisso
estava incluido a sua própria definição como republicanos, seus vínculos com as teorias políticas existentes e com
temas como o federalismo e o positivismo.

Mônica Martins da Silva - UnB


Enredos da Tradição. Intelectuais, lugares de fala e modos de apropriação na construção do folclore regional.
Goiás (1940-1980)
O interesse pelo povo e suas práticas constituiu matéria recorrente no processo de reflexão, debate e representações
da nação brasileira no século XX. Nos anos de 1940, contexto de marcha para o Oeste, intensifica-se a construção do
hinterland como o locus da tradição, sobretudo, pelos intelectuais memorialistas e folcloristas que, em Goiás, são
autores responsáveis pela organização de enredos amparados por linguagens populares como poesias, lendas, mitos
e folguedos que são ressignificadas a partir de pesquisas e coletas in loco que resultam em artigos, livros, boletins e
revistas. Os lugares de fala da tradição são construidos a partir de diferentes modos de apropriação do passado que
convergem na organização do folclore regional.

Dante Flávio da Costa Reis Júnior - Unicamp


As pesquisas em História do Pensamento Geográfico no Brasil: casos recentes mais uma ilustração temática
Nos últimos vinte anos verifica-se que, junto a Programas de Pós-graduação em Geografia, mestrandos e doutorandos
têm desenvolvido pesquisas de cunho historiográfico, mesclando-o aos marcos ou às pendências teóricas da discipli-
na. Boa parte do espectro temático tem a ver com os agentes e o especifico papel que estes jogam na disseminação
de determinados ideários: professores vinculados a departamentos de universidade, periódicos de divulgação, profis-
sionais lotados em órgãos de governo, sociedades científicas. Como se deduz, as investigações pretendem apontar
(dissertando sobre ou sugerindo nexo causal, supostamente ainda não desvelado) o condicionamento dos modelos
teóricos a uma série de fatores de ordem contextual - o que, indiretamente, institui o valor de uma sociologia do
conhecimento. Esta prerrogativa que o contexto tem de patrocinar preceitos também induziu a Geografia a desenvol-
ver escolas de pensamento e, no caso do Brasil, epicentros desde os quais ferramentas metodológicas (consagradas
na cena internacional) puderam ser propagadas. Comentaremos a constituição recente dessas pesquisas, chamando
a atenção, em seguida, para o exame de uma particular escola geográfica (para o teor conceitual e os agentes promo-
tores da chamada 'Geografia Teorética e Quantitativa').

Nancy A. Campos Muniz - Unb


Tecnocratas ou técnicos? A história do planejamento da C&t no CNPq
A pesquisa tem por objetivo analisar as representações sociais dos técnicos/tecnocratas do CNPq, no período 1975-
1995, enquanto formuladores de políticas públicas de ciência e tecnologia, mediante a construção de uma história do
planejamento da instituição CNPq. O estudo se desenvolve através da construção de dois cenários constituídos a
partir dos periodos 1975-84, periodo da ditadura militar e 1985-95, período dos governos democráticos. Através da
comparação entre os cenários, o objetivo é constituir a trajetória do tecnocrata/técnico em planejamento do CNPq
iluminando a história política do setor de C&T que se entremeia com a história do próprio CNPq. Odelineamento dessa
trajetória permite visibilizar as transformações ocorridas nas representações da importância das atividades de planeja-
mento no setor de C& T que reverbera nas representações sociais dos técnicos/tecnocratas, que são valorizados pelo
regime militar e desfigurados pelos governos democráticos, pós 1985.

Priscila Maddalozzo Pivatto - USP


Alberto Torres e a organização nacional: críticas ao modelo republicano brasileiro (1914)
Passados alguns anos da proclamação da República e diante da experiência como personagem da dinâmica interna
das instituições públicas do Brasil, Alberto Torres, Ministro de Estado, Deputado Federal, Governador do Estado do Rio
de Janeiro e Ministro do Supremo Tribunal Federal, dedicou-se a elaboração de um livro intitulado 'A organização
nacional'. Nessa obra de 1914, Torres apresenta suas criticas ao modelo liberal republicano implementado no pais.
Segundo seu entendimento, a absoluta impraticabilidade da Constituição de 1891 e a desorganização política explica-
vam as dificuldades do progresso social e do individuo. A análise do seu discurso materializado em livro possibilita
reflexões acerca das dificuldades da consolidação da República brasileira, bem como sobre a circulação de idéias por
meios impressos no pais.

André Vianna Dantas - Fundação Oswaldo Cruz - EPSJV


Pensamento social brasileiro e canção: memórias da malandragem entre os anos 1930 e 1970
Esta comunicação propõe uma discussão sobre as diversas memórias produzidas acerca da malandragem pelo que
se convencionou chamar de pensamento social brasileiro e também por segmentos específicos do cancioneiro popu-

394
lar, em dois momentos distintos do século XX, quais sejam, os anos 1930 e 1970. Partindo do rico aparato ideológico ~49
que se consolida no primeiro período referido, com a instauração do Estado Novo, propomo-nos, em um primeiro ~
momento, a avaliar o impacto das produções ideológicas refletidas nos discursos de intelectuais e compositores popu-
lares, a partir da correlação de forças estabelecida entre estes atores e o Estado. No momento seguinte, sob o contex-
to também de um Estado autoritário, procuramos perceber não só os traços de permanência das memórias acerca da
malandragem produzidas em 1930, como também interpretar as sutilezas do discurso malandro na 'fala" dos mesmos a.i
atores, agora alocados em posições distintas das anteriores, e que também por isso contribuem para um melhorê
entendimento acerca do significado da malandragem no imaginário social brasileiro, bem como dos papéis díspares ~~
desempenhados por determinados segmentos intelectuais nos períodos referidos, tanto em um quanto em outro sob E
regimes de exceção. r~
u-
'3
Carlos Eduardo Bartel .~

O Movimento Sionista e a Intelectualidade Sul-rio-grandense - 1945-1952 .S


O,)
O artigo analisa as estratégias utilizadas por emissários sionistas e demais militantes para a difusão do nacionalismo
""
ro
judaico no Rio Grande do Sul, no período de 1945 a 1952. A participação e o envolvimento de intelectuais gaúchos ;3
u
nesse movimento facilitou a propagação e a circulação das idéias sionistas no Estado sulino. O,)

e
.S
Renato Gross - UTP ",,'
Casas grandes e cidades: Gilberto Freire e Sérgio Buarque de Holanda,e a interpretação do Brasil ,~
Desde os tempos colonais são muitos os livros e os autores que, com suas idéias, procuraram mostrar, ler e interpretar 'O

o Brasil. Pode-se citar o Pe. Antonio Vieira, Oliveira Lima, Caio Prado Jr, Florestan Fernandes, Euclides da Cunha,
Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, Raymundo Faoro, Mário de Andrade, Darcy Ribeiro, Celso Furtado, Gilberto
Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, e outros, muitos outros. A literatura dos viajantes e brazilianistas são exemplos
destes muitos outros. Todos elesprocuraram ostra r o Brasil, seus homens, seus cenários, suas lutas,suas formas de
opressão (da natureza e de outros homens). Este trabalho, de natureza monográfica, objetiva uma analise histórico-
critica de dois destes autores: GilbertoFreyre e Sérgio Buarque de Holanda, em dois de seus trabalhos capitais: Casa
Grande e senzala (1933) e Raíses do Brasil (1936). Ambos da década de trinta, inserem-se na categoria de 'intérpretes
do Brasil' e são inovadores na abordagem: o primeiro faz uma análise histórico estrutural do cotidiano do brasieiro e
Holanda introduz um ângulo ainda não presente nas interpretações da época: uma visão moderna e democrática. Qual
a mensagem que ambos remetem para a geração atual de leitores? É esta a resposta que esta texto busca analisar.

I 19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h às 16h30min)

Cláudio Roberto Dornelles Remião - UFRGS


O Mário de Andrade de "Número especial"
Em 18 de maio de 1944, o jornal Folha da Manhã fazia publicar mais um artigo de Mário de Andrade na sua coluna de
o Mundo Musical. O texto, de título 'Número especial', referia-se a uma importante publicação que então seria realiza-
da em homenagem à música brasileira - o número 6 do Boletín Latino-Americano de Música -, e trazia à tona dois
assuntos que o escritor paulista pouco escrevera ao longo de sua vida: a música produzida no Brasil do período
colonial e o estado da pesquisa musicológica no país. O presente texto, que pode ser definído como um trabalho de
história da musicologia, é uma análise desse artígo muito pouco comentado de Mário de Andrade.

Ney Paes Loureiro Malvasio - IFCS/UFRJ


A Marinha de Guerra e o Império: a marinha brasileira como instrumento da política externa imperial
A comunicação trata do uso por parte do governo imperial brasileiro de sua Marinha de Guerra como instrumento de
garantia de sua vontade no âmbito da política externa. A utilização da Esquadra pelo Império requeria a manutenção de
unidades e tripulações eficientes, para demonstrar isso, nos servíremos de três exemplos que abrangem tanto o perí-
odo do 1°, como do 2° Reinado. A análise sucinta de cada um desses eventos históricos servirá para o entendimento da
projeção política do Império brasileiro no cenário do Atlântico Sul, atuando como potência regional face às nações sul-
americanas (região do Prata) e demonstrando boa vontade diplomática no que concerne às relações mantidas com
potências estrangeiras.

Dulce Portilho Maciel- UEG


O Estado na integração de territórios vazios à Nação brasileira (1943-1968): atuação da Fundação Brasil Cen-
trai na região do Médio Araguaia
Durante a Segunda Guerra Mundial, esteve em voga a tese de que as áreas vazias e/ou mal-aproveitadas do planeta
deveriam ser ocupadas por nações que anteriormente tivessem demonstrado eficácia na gestão de territórios, no
sentido de obter deles a produção de riquezas. Na época, o governo brasileiro adotou medidas com vistas ao povoa-

395
mento e á ocupação econômica de áreas então pouco povoadas, algumas ainda desconhecidas, nos estados de
Goiás, Mato Grosso e Pará. A Fundação Brasil Central (FBC) foi criada para levar a efeito ações com esse objetivo. O
trabalho trata de sua atuação (1943-1968), principalmente na região do Médio Araguaia, onde implantou um modelo de
colonização a partir de núcleos urbanos, chamados 'núcleos de civilização', que veio a resultar em conflitos agrários,
envolvendo grupos indigenas, agricultores pobres e proprietários de terras absenteistas.

Eugênio Rezende de Carvalho - UFG


Idéias, intelectuais e instituições: o movimento latino-americano de História das Idéias
O trabalho explora a natureza e trajetória de um movimento intelectual organizado na América Latina por volta da
década 1940, que fundou uma vigorosa corrente de reflexão e estudos sobre a História das Idéias ou do Pensamento
Latino-americano. Entre os seus principais teóricos, líderes e articuladores encontram-se o filósofo mexicano Leopoldo
Zea Aguilar (1912-2004), o uruguaio Arturo Ardao (1912-2000) e o argentino Arturo Andrés Roig (1922-). Para além de
uma mera vertente particular da História das Idéias, tratou-se de um movimento intelectual organizado e articulado por
todo o continente americano, que fundou destacadas organizações e instituições - dentro e fora dos meios universitá-
rios -, com o propósito de promover o intercâmbio e a articulação dos inúmeros investigadores que atuavam na área da
História das Idéias na América Latina. A partir dessas instituições, o movimento elaborou procurou implementar um
programa de orientação dos estudos latino-americanos no campo das idéias, segundo certos pressupostos teóricos,
metodológicos, filosóficos e epistemológicos relativamente claros. Mas, acima, de tudo procurou associar o seu projeto
de uma História das Idéias latino-americana a uma perspectiva de auto-afirmação nacional e continental.

50. Identidade e integração das Américas


Philomena Gebran (USS) e Heloisa Jochims Reichel (UNISINOS)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h ás 18h) I
Philomena Gebran - USS
Intelectuais dos Anos Vinte no Peru -Século XX
No processo de construção do conhecimento histórico da América Latina e, em especial do Penu, a historiografia dos
anos vinte foi, particularmente caracterizada pela posição intelectual, ideológica e política de dois grandes intelectuais
peruanos: José Carlos Mariátegui e Luis E. Valcárcel. Graças a obra desses intelectuais, a historiografia dos anos vinte
deu um salto qualitativo não só devido a qualidade de suas produções como, principalmente, pelos seus posiciona-
mentos teóricos, metodológicos e ideológicos, denunciadores da violência e injustiça, as quais os povos andinos fotam
submetidos desde a época da colonizaçâo. Devido aos seus trabalhos teóricos e as suas práticas politicas eles conse-
guiram realizar uma sistemática oposição ao 'status quo' vigente; o nenhum intelectual havia ousado questionar até
aquele momento, com uma única exceção, a de Gonzales Prada ao final do século XIX, cujos trabalhos foram inspira-
dores para Mariátegui e Valcárcel. Ambos evidenciaram uma afinidade teórica e ideológica, com a criação de grupos
de discussão que resultou da criação do Grupo Ressurgimento criado por Valcácel e da revista Amauta criada por
Mariátegui ambos em oposição a ditadura de Leguia. Esse movimento intelectual renovador de idéias e ações ultra-
passaram as fronteiras peruanas.

Fabio Muruci dos Santos - UFES


Identidade e questão nacional no pensamento caribenho no final do século XIX
O pensamento político no Caribe no fim do século XIX, centralizado na figura do cubano José Marti, se destacou pela
forma original com que enfrentou o problema da construção de comunidades políticas em sociedade marcadas pela
multiplicidade racial. Contra a tendência dos pensadores liberais e republicanos latino-americanos anteriores, Martí e
alguns de seus contemporâneos destacaram a necessidade de ampla inclusão política de negros, indios e mestiços
nas futuras democracias. Suas posições a respeito de alianças de classes e miscigenação até hoje suscitam debates,
devido ao papel de destaque que esses pensadores vieram a ocupar na memória política de seus paises. Este trabalho
procurará mapear algumas dessas divergências e discutir uma visão mais precisa sobre a questão das identidades
naquele período.

396
Camila Bueno Grejo - Unesp - Assis
Carlos Octavio Bunge e José Ingenieros: entre o científico e o político. Pensamento racial e identidade nacio-
nal na Argentina (1880 -1920)
Na Argentina - principalmente no final do século XIX - foi freqüente a utilização da etnicidade pelas elites intelectuais
como uma das maneiras de formular questões referentes ao processo de formação da pátria. Os cientificistas argenti-
nos utilizaram - se, muitas vezes, de apelações biologistas e de concepções do darwinismo social, produzindo a teoria
do 'crisol de raças" como mecanismo de controle social e étnico para nacionalizar as massas chegadas durante o
processo de imigração européia, a partir de 1880. Neste trabalho, buscaremos compreender as relações que existem
entre Carlos Octavio Bunge (1875-1918) e José Ingenieros (1877-1925), partindo da análise de sua produção intelec-
tual do inicio do século XX e de suas publicações em revistas do período - Revista de Derecho, Historia y Letras,
Revista Argentina de Ciencias Políticas e Revista de Filosofia; uma vez que estes compartilhavam de semelhantes
idéias étnicas e da preocupação em decifrar a história nacional, podendo ser considerados, por isso, pertencentes à
corrente cientificista.

Mateus Fávaro Reis - UFMG


"La sensibilidad americana" ou "EI nuevo acento": as identidades latino-americanas e os projetos de integra-
ção continental na perspectiva uruguaia (1925-1938)
A presente comunicação tem por objetivo mapear os caminhos percorridos pelos intelectuais uruguaios em busca das
identidades americanas, bem como de seu engajamento na batalha entre o pan-americanismo e o latino-americanis-
mo, durante as décadas de 1920 e 30. Neste período, atuando nos círculos intelectuais e políticos do Uruguai, Emílio
Frugoni, José Antuna e Carlos Quijano edificaram significativas interpretações sobre a América Latina e os Estados
Unidos, que se transformaram nos alicerces das posições que ocuparam na defesa ou no ataque ao projeto pan- ~
f'5õ\
americanista, latino-americanista ou hispano-americanista.

Paul Juan Montoya Vasquez - UFRGS


Estados sem Nação. O discurso nacionalista e o evolucionismo andino 1890-1930
Nas últimas décadas do século XIX, os aparelhos estatais do bloco centro-andino (Equador, Peru, Bolívia) atingem de '"
diferentes formas um mínimo de 'penetração institucional' (Oszlak 1999). O Estado consegue expandir sua jurisdição ~
ao longo de um basto território. ~~
Este processo coloca aos Intelectuais frente ao problema das maiorias que habitam o interior dos seus países e que <t
permanecem alheias ao 'Projeto de Nação' ideado pela geração liberal das pós-independências. Ter o interior mais .rg
próximo das capitais (visível) impele aos intelectuais a pensar o modelo necessário para lidar com as grandes maiorias ,~
'não integradas à vida nacional' (língua, cultura, ordem institucional). No caso específico dos intelectuais dos paises ~
centro andinos, serão as teses positivistas difundidas no período (Spencer, Mill, Haeckel) nas quais se tentará legitimar ~
esforços de 'integração' das maiorias dirigido a ocidentalizar efetivamente a cultura nacional (educação, imigração, .!:
etc) e manter a ordem vigente (primazia da elite). O objetivo da comunicação é analisar os usos ('ferramentas intelec- :
tuais', Alonso 2002) das teses positivo-evolucionistas do período, presentes nos escritos e discursos de alguns destes -g
intelectuais na sua tentativa de legitimar um modelo nacional de 'integração aculturada'. ~
o.>
::!2

17/07 - Terça-feira - Tarde (14h ás 18h)

Heloisa Jochims Reichel- UNISINOS


Identidade e integração da América Latina na visão dos intelectuais da década de 1960-70
No contexto dos anos 60, marcado pelo incremento da guerra-fria no território latino-americano, faziam-se presentes
estratégias de domínio econômico e ideológico dos EUA e tentativas de maior penetração do comunismo na América
Latina. Ao mesmo tempo, a sociedade latino-americana, especialmente a sua intelectual idade, vivenciava uma etapa
critica do desenvolvimento da autoconsciência e da identidade latino-americanas. Surgiram duas matrízes de pensa-
mento distintas e discordantes quanto ao conteúdo das mesmas. Em ambas, porém, a dimensão América Latina se
sobressaia, realizando-se todo um esforço de interpretação sobre sua realidade atual e passada. Nessa comunicação,
analisamos artigos que, focalizando o tema, foram publicados em revistas especializadas. A opção por essa fonte de
pesquisa esteve condicionada, em parte, pela abundância e pela diversidade da produção intelectual da época, bem
como pela impossibilidade de reunir, na integra, a produção individual dos autores que para ela contribuíram. Também,
pela convicção de que elas constituem "redes', através das quais é possível identificar a estrutura do campo intelectual.Os
periódicos selecionados foram: Revista Mexicana de Sociologia, Cuadernos Americanos, Revista Desarrollo Económi-
co e Revista Civilização Brasileira.

397
Maria Luisa Nabinger de Almeida - Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro/UNIRIO
Representações culturais e imigração: estudo comparativo entre o Vale do Saint-Laurent e o Vale dos Sinos
(século XIX)
Trata-se de estudar a produção das representações culturais através do trabalho agricola dos imigrantes, particular-
mente alemães, no Vale do Rio Saint-Laurent (Québec, Canadá) e o Vale do Rio dos Sinos (Rio Grande do Sul, Brasil),
na primeira metade do século XIX, Entendemos que a construção de uma cultura pós-colonial, em conformidade com
o pensamento de Homi Bhabha, introduziu um 'entre-lugar' na tênue fronteira cultural das representações das antigas
relações entre o colonizador e o colonizado, Desta forma, os diferentes modelos e sistemas culturais do trabalho
agrícola com o assentamento dos imigrantes-colonos nos permitem não só observarmos as formas de ocupação da
terra - pequena propriedade e sistema de colonato, respectivamente, como também os processos sociais de acultura-
ção constituídos pelos novos sujeitos históricos,

Cleide de Lima Chaves - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia


A Conferência Sanitária Internacional de 1873 na América do Sul: a integração do Império do Brasil e das
Repúblicas da Argentina e Oriental do Uruguai
O objetivo do presente trabalho é discutir a primeira Convenção Sanitária Internacional celebrada entre o Império do
Brasil e as Repúblicas da Argentina e do Uruguai, ocorrida em 1873 e evidenciar os diversos interesses envolvidos
para o relacionamento e integração entre esses países, como a rede internacional estabelecida entre os médicos e
produção científica ocorrida dentro da Convenção, O contexto de produção da conferência sanitária foi marcado pelo
fim da Guerra do Paraguai, grande responsável pela disseminação de epidemias entre os países envolvidos direta-
mente no conflito, As Convenções Sanitárias Internacionais ocorridas na América do Sul nas décadas de 1870 e 1880
estiveram interligadas diretamente com suas similares européias, e a preocupação européia em prevenir a propaga-
ção de doenças epidêmicas - e as conseqüências econômicas das interrupções do comércio - ecoou nos eventos
realizados em Montevidéu no ano de 1873 e no Rio de Janeiro em 1887, O movimento de cooperação e integração
internacional entre as nações da América do Sul surgiu, assim, da necessidade de controlar surtos epidêmicos que
atingiam grandes extensões de terra e ultrapassavam as fronteiras legais constituídas entre os países,

Clifford Andrew Welch - Grand Valley State University


A experiência das organizações internacionais na construção de uma identidade camponesa por uma América
integrada (1947-1997)
O trabalho vai historizar a experiência das maiores instituições internacionais que tentaram unir as organizações dos
trabalhadores rurais das Américas após a Segunda Guerra Mundial. Vinculado com a União Soviética, a Confederaci-
ón de los Trabajadores de América Latina (CTAL) lutou para construir uma identidade Latino-americana em oposição
ao 'American Way of Life', Já a ORIT - Organización Regional Interamerican a de Trabajadores - foi criada com o apoio
do governo norte-americano e assim apoiou uma identidade que juntou os países da América Latina com os EUA em
um sistema interamericano, Em contraste, a CLOC - Coordinadora Latino-americana de Organizaciones dei Campo,
que foi fundado depois da Guerra Fria em Peru em 1994, tenta construir uma identidade transnacional do campesinato,
que mostra respeito para a diversidade regional, enquanto faz a solidariedade com organizações estado-unidenses
que também lutam contra as políticas neoliberais, No contexto de globalização, os capitalistas das Américas se uniram
em torno de uma identidade com o agronegócio, procurando lucros em um mundo sem fronteiras, enquanto os traba-
lhadores rurais e seus intelectuais estão formando uma identidade camponesa que os ajuda atravessar as divisas do
mundo em busca da solidariedade,

Pio Penna Filho - UFMT


A História e a Construção de Uma Identidade Regional no Cone Sul
Foi no contexto de acirramento do processo de globalização e da remodelação da idéia de Estado-nação que o mundo
viu o relançamento de alguns blocos regionais e o surgimento de outros, No caso do Cone Sul, assistimos ao lança-
mento do Mercado Comum do Sul, inspirado no modelo de integração européia, que contemplava não somente a
criação de uma zona de livre comércio, mas também a idéia de uma união política e econômica, indicando tendência
de criação de uma nova identidade, No caso do Mercosul existe a consciência de que os paises membros possuem
uma história em comum e são muitos os pontos de convergência que envolvem aspectos culturais e que poderiam ser
mais intensamente explorados para consolidar a integração, Pretende-se nessa comunicação abordar uma das primei-
ras medidas colocadas em prática pelo chamado Mercosul cultural, que é reescrever a História da região, dando
destaque aos aspectos que mostram que a nossa história não possui apenas elementos de rivalidade, como enfatiza-
do com certo exagero durante o período das ditaduras militares, Como membro de um grupo de historiadores argenti-
nos, brasileiros e paraguaios, o autor está participando da iniciativa de reescrever a História Regional numa perspec-
tiva integradora e é essa experiência que se pretende colocar em debate,

398
Antonio Carlos Amador Gil - UFES
O embate entre Identidade nacional e etnicidades no México. O projeto indigenista de Gonzalo Aguirre Beltrán
e a critica indianista contemporânea
A história mexicana do século XX é profundamente marcada pela ideologia da mestiçagem. Diversos antropólogos e
historiadores indigenistas sustentaram esta ideologia que foi definida como elemento da nacionalidade e, portanto,
qualquer reivindicação cultural específica deveria ser tratada num contexto de contribuição á cultura nacional mestiça
considerada como um todo orgânico. Diversos movimentos indígenas contemporâneos polemizam com o indigenismo
uma vez que privilegiam a pluralidade étnica na formação da cultura nacional. Pretendemos, nesta comunicação,
analisar o pensamento de Gonzalo Aguirre Beltrán. Sua obra foi profícua e influenciou, enormemente, o indigenismo
mexicano. Bastante polêmico, suas pesquisas de campo o levaram a concluir que o mundo comunitário indígena foi
instrumento e resultado de um triplo processo de subordinação, exploração e exclusão e que, portanto, para Beltrán, o
fim da sujeição cultural indígena estaria ligado á desaparição das instituições tradicionais do poder comunitário. Privi-
legiaremos, nesta discussão, as relações entre etnicidade e identidade nacional e tentaremos relacionar as principais
críticas que se desenvolvem a partir do esgotamento deste modelo e do surgimento dos movimentos indianistas.

I 18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h ás 18h) I


Maria Elisa Noronha de Sá Mãder - PUC-RJ
Um olhar sobre o Império do Brasil
Domingo Faustino Sarmiento esteve três vezes no Brasil. A primeira em 1846 relatada em seu livro Viajes. A segunda,
em 1852, registrada no livro Campana en el ejercito grande. A última e menos conhecida viagem de Sarmiento ao ~
'sO'
Brasil, ocorreu em 1868. Desta há registros no volume 29 de suas Obras Completas. Sobre estas viagens existe uma
vasta e inédita documentação - cartas, artigos e outros manuscritos que nos permitem mapear não só seus contatos
oficiais com membros do governo imperíal, como também com outros intelectuais e políticos brasileiros. Penso ser
este um bom caminho para conhecer como as idéias e as obras de intelectuais como Sarmiento, circulavam entre o
Brasil e a Argentina, dialogavam entre si e com o contexto mais específico de elaboração de projetos que iriam dar '"
forma aos nascentes Estados nacionaís americanos que estes tentavam construir. Mais do que tudo estes escritos .~
trazem um olhar muito rico sobre temas como o Império, a escravidão, a natureza, a questão das raças, que, se 'E
estudados, podem revelar significativas impressões acerca de como este intelectual entendia o Império do Brasil- um <C
'outro' bastante peculiar por representar uma espécie de antítese ao projeto de nação republicano que ele pretendia ~
para a Argentina. o
""
e

Cecilia da Silva Azevedo - UFF O>


~
América Latina: o que deu no New York Times? .S
Este trabalho.visa mapear as imagens da América Latina e o debate em torno da política externa norte-americana para :
a região através de editoriais, cartas e charges publicados no New York Times, entre 1960 e 1980. Nas páginas deste ii5
jornal de indubitável repercussão nacional, agentes governamentais, intelectuais e ativistas políticos avaliavam o peso ~
específico da América Latina no cenário mundial e o impacto das diferentes estratégias adotadas pelos governos do ~
período, com destaque para o chamado internacionalismo de cooperação - envolvendo assistência econõmica e
intercâmbio cultural- transformado em bandeira e alvo preferencial por segmentos políticos antagônicos. Em termos
teóricos, o objetivo do trabalho é relacionar posicionamentos relativos á política externa com culturas políticas mais
amplas, verificando nexos entre doutrinas, projetos nacionais, tradições partidárias e representações de identidade
nacional que concorrem no universo político norte-americano. Diante das insuficiências no tratamento concedido aos
fenômenos políticos situados entre os fatos de opinião e os sistemas de representação coletivos, o propósito é recupe-
rar tais discursos associando-os a lugares sociais, processos conjunturais e também a fenômenos de mais longa
duração.

Gabriela Pellegrino Soares - USP


Sociabilidades intelectuais e circulação cultural: Gabriela Mistral na Argentina, no México e no Brasil
Esta comunicação pretende discutir a temática das identidades e da integração americana a partir das relações de
sociabilidade estabelecidas entre escritores, intelectuais e artistas na América Latina dos anos 1920 aos 1940. Em
suas andanças pela Argentina, pelo México e pelo Brasil, a poetisa chilena Gabriela Mistral aproximou-se de destacadas
personagens dos circuitos culturais desses países, contribuindo para fazer circular perspectivas políticas e referenciais
culturais que acreditava poderem ser partilhados por essas sociedades. Envolveu-se, com marcada repercussão, em
debates sobre políticas educacionais e de difusão da leitura, e em diálogos voltados á literatura e á modernidade. Ao
recuperar trajetórias de Gabriela Mistral em cenários latino-americanos, esta comunicação também espera indagar sobre
as esferas da realidade social em que ganham concretude veios de integração e de afirmação identitária.

399
Mary Anne Junqueira - USP
O relatório de viagem de Charles Wilkes, Narrative of United States Exploring Expedition (1838-1842), e a sua
relevância como fonte histórica
Pretende-se discutir o relatório da primeira viagem científica de circunavegação norte-americana, realizada entre 1838
e 1842, como fonte histórica. Tal relato segue o formato e o padrão de linguagem verificados em relatórios de viagens
semelhantes realizadas por europeus. São espécies de documentos oficiais publicados após a execução da expedi-
ção e que justificavam os altos custos da exploração, além de em muitos casos garantir a ascensão profissional dos
oficiais e dos cientistas nas suas carreiras. No caso da Narrative of United States Exploring Expedition (1838-1848),
elaborada por Charles Wilkes, capitão da expedição exploratória, nota-se o cuidado na construção da narrativa e a
clareza com relação á exposição e á Classificação do que se via e procurava apreender. O relato mencionado, além de
ser um documento dirigido ao secretário da marinha e ao Congresso norte-americano, circulou entre a Europa e as
Américas, no século XIX, especialmente entre as comunidades cientificas.

Kátia Gerab Baggio - UFMG


Viajantes hispano-americanos pelo Brasil no século XIX
Os relatos de viagem de hispano-americanos pelo Brasil constituem fontes significativas para compreendermos as
visões construidas, nos demais paises do continente, sobre o vizinho de imenso território. No século XIX, muitos
intelectuais, naturalistas e aventureiros empreenderam viagens pelas Américas. Entre eles, o argentino Domingo Faustino
Sarmiento, que esteve no Rio de Janeiro em 1846; o porto-riquenho Eugenio Maria de Hostos, que também conheceu
a capital do Império em 1874; e o venezuelano Francisco Michelena y Rojas, que viajou pela Amazônia brasileira e
peruana, além de ter visitado, também, o Rio de Janeiro, entre 1855 e 1859. Nesta comunicação, pretendemos anali-
sar essas impressões e relatos de viagem (ainda que breves, nos dois primeiros casos), na busca por compreender as
imagens sobre o Brasil elaboradas pelos hispano-americanos, levando em consideração que as viagens e seus relatos
contribuem significativamente para a construção de identidades.

Fabiana Fredrigo - UFG


As guerras de independência, as práticas sociais e o código de elite na América do século XIX: leituras da
correspondência bolivariana
Ler a correspondência de Simon Bolivar é ser perturbado por sinais que foram pensados e emitidos para destinatários
especiais: um nome, um lugar, um valor, um principio; todos esses signos faziam sentido no universo que ligava o
remetente aos seus destinatários. O desafio é decifrar tais sinais, expondo esse mundo diverso e seus códigos. Para
a presente comunicação importa traçar a ambiência do missivista e, para tanto, o primeiro destaque deve ser conferido
á guerra. O seu discurso sobre as diferentes perspectivas trazidas pelas também diferentes tipificações da guerra
revela que a autoridade e a legitimidade que Bolivar buscava alcançar e conservar, além de estratégia necessária á
sua sobrevivência politica, era um meio de garantir estabilidade ao território americano. Nesse sentido, a guerra é
elemento central para desvendar o personagem-missivista; portanto é fundamental expor esse projeto narrativo e sua
relação com o cotidiano das guerras de independência.

I 19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h ás 16h30min) I

José Pedro Cabrera Cabral - Universidade do Oeste de Santa Catarina


Origem e evolução do pensamento tercerista uruguaio: 194()'1973
A origem do pensamento tercerista, ou terceira posição, dentro da esquerda democrática uruguaia remonta á década
de 1940. A sua influência no meio intelectual permeou várias correntes da esquerda nacional até o Golpe Militar de
1973. Surgiu como uma posição, em matéria internacional, a partir de um movimento revi sionista dentro da historiogra-
fia nacional, e rapidamente adquiriu outras dimensões, principalmente pelo aporte de intelectuais, tais como Carlos
Quijano, Roberto Ares Pons, Carlos Real de Azúa, ArturoArdao, entre outros. A este movimento revisionista somou-se
parte do movimento estudantil centrado na Federação de Estudantes Universitários do Uruguai - FEUU. Constituiu-se
em uma corrente que pensou um modelo "nacional', dentro da esquerda democrática, para o pais, e que influenciou,
de diversas formas, várias gerações de uruguaios.

Ulia In és Zanotti de Medrano - PUCCAMP


A emigração de cientificos, profissionais e técnicos da Argentina para o Brasil. O caso de Campinas e Região
(1960-2000)
A complexidade da problemática das migrações contemporâneas latino-americanas tem atraido a atenção dos estudi-
osos. Particularmente, na Argentina, a imigração foi tradicionalmente associada ao desenvolvimento do pais e contem-
plada nos projetos das elites do século XIX. Assim a historiografia argentina conta com importantes obras que abordam
o processo imigratório. Porém, nas últimas décadas, este pais assistiu a um processo inverso: a saida de argentinos

400
rumo aos países desenvolvidos, particularmente, Estados Unidos e Europa, ou latino-americanos como Venezuela,
México ou Brasil. Assim, as pesquisas concentram seu interesse na saída de profissionais, científicos e técnicos
considerados como 'recursos qualificados'. Neste contexto, o objetivo central desta comunicação é abordar a especi-
ficidade histórica da emigração argentina contemporânea que chegou á cidade de Campinas, a partir da década de
1970, integrada por pessoal qualificado que foi captado pela Universidade Estadual de Campinas, pelos Centros de
Pesquisa ou empresas multinacionais da região. Este processo deve ser avaliado tanto pela relevância do intercâmbio
profissional, social e cultural, como pela complexidade do período em estudo.

Libertad Borges Bittencourt - UFG


As comemorações do bicentenário das Independências na América do Sul: entre a memória e as identidades
A presente proposta tem como objetivo refletir sobre os processos de independência na América Espanhola, uma vez
que entre 2008 e 2010 inaugurar-se-á um período pródigo em comemoração ás datas magnas nacionais, que propici-
am espaço para a retomada do debate em torno da formação dos Estados Nacionais na América Latina. Na maioria
das vezes, esses momentos podem ensejar temáticas memorialísticas que tendem a se desdobrar em perspectivas
essencialistas. Na América Espanhola, a ocupação da Espanha por Napoleão e a deposição de Fernando VII são
acontecimentos 'rememorados' por meio de comemorações já anunciadas e postas em andamento. Essas comemora-
ções contribuem para repensar o presente á luz da tensão entre a História e a Memória, contribuindo, também, para a
efetivação de novas e diversas identidades.

Frederico Castilho Tomé - IESB


O processo de independência da América Ibérica nas páginas do Correio Braziliense
É latente a sintonia existente entre o processo de independência da América Ibérica e as conturbações que assolaram ~
'sõ'
as nações européias na virada para os oitocentos. Os primeiros anos do século XIX, ao mesmo tempo em que foram
para a Europa um tempo de incertezas, exigiram das colônias americanas uma redefinição de seu espaço político.
Após 1808, várias regiões da América buscavam soluções para os novos problemas enfrentados: metrópoles ocupa-
das territorialmente; desenvolvimento econômico de novas áreas - tais como Caracas, Buenos Aires e Rio de Janeiro
- que contrastavam com os velhos domínios coloniais e a necessidade de criar condições para o exercício dos mono- '"
pólios tipicos de Estados autárquicos. O curioso é perceber que a historiografia brasileira, por vezes, trata a questão da .~
independência do Brasil de forma isolada, como se os contatos entre aqueles que pensavam e agiam em favor de uma 'E
autonomia ibero-americana fossem inexistentes. O presente artigo procura investigar a visão conjuntural do caminhar <:
emancipacionista na América Ibérica por meio das páginas do Correio Braziliense, periódico de suma importância na ~
veiculação de idéias associadas á determinados grupos de pressão situados tanto no Brasil quanto do outro lado do .~
Atlântico. ~'
O)

Samantha Viz Quadrat - UFF .g


O labirinto da memória: os 30 anos do golpe na Argentina (1976-2006) :
O presente trabalho tem como objetivo analisar os debates e enfretamentos ocorridos durante o ano de 2006, na ~
Argentina, por ocasião dos 30 anos do golpe de 24 de Março de 1976. Nesse sentido, serão analisados os posiciona- ~
mentos do governo Kirshner, das organizações de direitos humanos e dos militares e/ou simpatizantes do periodo ~
ditatorial.

Maria Paula Nascimento Araújo - UFRJ


Memórias da resistência na Argentina e no Brasil (1970-1980)
Vivendo sob ditaduras militares durante as décadas de 1960, 70 e a primeira parte dos anos 80, as sociedades brasi-
leira e argentina engendraram diferentes formas de enfrentamento e de resistência política. Algumas destas formas de
enfrentamento se assemelham, como por exemplo, a opção pela luta armada que mobilizou, durante um certo tempo,
parte da juventude dos dois países. Outras destas formas de resistência evidenciam justamente as diferenças das
sociedades em questão. Este trabalho pretende fazer uma reflexão sobre as semelhanças e diferenças entre os dois
países no campo da luta política travada contra os regimes mílitares: a presença e a influência das correntes de
esquerda e do pensamento marxista, o peso da luta armada, os processos de negociação, os canais de participação
política preservados ou criados pelos atores sociais do período, a importância das organizações sindicais, a atuação
da imprensa de opinião. Enfim, a pesquisa pretende abordar, de forma comparativa, as diferentes formas de resistên-
cia e enfrentamento desenvolvidas nos dois países que se expressaram, igualmente, em diferentes processos de
restauração democrática. Este estudo tem por objetivo compreender as especificidades da história, da sociedade e da
cultura política de cada um destes dois países.

401
20/07 - Sexta-feira - Manhã (10h30min ás 12h30min)

Karla Pereira Cunha· Universidade Federal de Juiz de Fora


Aspectos políticos presentes na novela Cien Alios de Soledad
Neste ano em que se comemora os quarenta anos da primeira edição de Cien Anos de Soledad, muito já foi debatido
e teorizado sobre a mais conhecida obra do colombiano Gabriel Garcia Márquez. Esta pesquisa propõe levantar a
problemática do elemento político presente nesta obra, em particular as guerras partidárias travadas entre o Partido
Conservador e Liberal da Colômbia. Tais rivalidades políticas marcaram de forma trágica a história do pais e contribuiu
para configurar a identidade nacional, com a dissolução de laços de solidariedade entre as pessoas, sem um imaginá-
rio de nação que estivesse acima destas frações partidárias.

OanJel Lopes Bretãs - UFRGS


As Asias de Pablo Neruda e Octávio Paz
O presente trabalho investiga as concepções da Ásia de dois hispano-americanos que residiram nesse continente,
Pablo Neruda (1904-1973) e Octavio Paz (1914-1998). A partir do conceito de "orientalismo" de Edward Said (entre
outras referências teóricas), refletimos sobre a capacidade hispano-americana de perceber a alteridade de outra parte
"geográfica" do mundo e de apreender o mundo de forma original, indo além das idéias legadas pelo Ocidente. Intelec-
tuais, poetas e diplomatas, os dois autores podem ser vistos como fonte importante - embora, obviamente, não sufici-
ente - para uma pesquisa sobre o orientalismo em sua vertente latino-americana,

Urda Alice Klueger


Equador: a queda de braço?
Partindo dos acontecimentos de março de 2006 (movimentação popular que vai conseguir, entre outras coisas, a não-
assinatura do TLC e a quebra do contrato petrolifero com a OXY, e que vai desembocar na eleição do presidente
Rafael Correa, socialista e indio), fazer uma análise do que se passa no Equador, e o que poderá vir a acontecer,
Rafael Correa governa com minoria no Congresso e seu apoio vem da população, principalmente de organizações
como a CONAIE, Seu governo sofre já um grande revés nos primeiros dias, quando, provavelmente em um atentado,
é morta a ministra da Defesa, No entanto, Rafel Correa continua afirmando que não refará o contrato de aluguel da
Base Estadunidense de Manta, o que deverá acontecer em 2009, Será que vai ser no Equador a grande queda de
braço entre o Império Estadunidense e a América Latina? Considerações possiveis,

51. Igreja, Sociedade e Poder na Idade Média


Andréia Cristina Lopes Frazão da Silva (UFRJ) e Rejane Barreto Jardim (UCS)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h às 18h) I
Marcus Silva da Cruz· UFMT
O ser cristão e o triunfo da Igreja. Um estudo acerca das transformações da identidade do homem ocidental
Os primórdios do IV século marcam um momento decisivo na história da religião cristã e de sua Igreja, A liberdade de
culto concedida em 313 pelo poder imperial abre amplas perspectivas de crescimento tanto geográfico quanto socioló-
gico ao cristianismo, Por outro lado, significará, do mesmo modo, um estreitamento das relações entre a comunidade
cristã e o estado tardo romano, Um dos desdobramentos deste processo de aproximação será a discussão sobre o
papel dos cristãos e de sua Igreja na sociedade romana tardia, bem como a reflexão concernente à definição do ser
cristão diante desta nova realidade, Neste trabalho nosso objetivo é empreender a discussão acerca do impacto das
profundas transformações ocorridas tanto no seio da Igreja cristã quanto da sociedade tardo romana no que concerne
à questão da identidade do cristão, Estamos diante de uma problemática de crucial importância na medida em que
observamos o progressivo abandono da antiga partilha que fundamentava a identidade no mundo antigo clássico e o
surgimento de uma nova clivagem que caracterizará a Idade Média, Neste processo a Igreja assumirá um papel
fundamental, pois será a principal responsável pela construção do discurso que implanta e su'stenta a concepção de
ser cristão no Medievo, em outras palavras a própria ide

Sergio Alberto Feldman • UFES


Isidoro de Sevilha: integração e discriminação no reino hispano visigótico de Toledo
Esta pesquisa direciona seu olhar ao relacionamento entre Igreja e Estado na Hispânia visigótica, no periodo isidoriano
(inicio do séc, VII), A busca da unidade político-religiosa aproximou a monarquia e o clero católico, dentro do projeto de

402
construção de uma sociedade uniforme e coesa, que propiciasse o fortalecimento da instituição monárquica e a propa-
gação da fé católica. O elemento divergente era considerado um opositor do sistema e deveria ser 'evangelizado" e
integrado a fé verdadeira. Hereges, pagãos e judeus se enquadravam na categoria de 'outsiders" que deveriam ser
convencidos da verdadeira fé. A visão isidoriana mescla os objetivos políticos da monarquia com a visão histórica
agostiniana que concebia a história como estruturada em sete eras. A sexta era se iniciara com a primeira vinda de
Jesus e se resumiria na sua segunda vinda, que se aproximava. A preparação das condições era uma missão sagrada:
a Igreja se apropriava do Estado e o sacralizava para atingir suas metas escatológicas. Isidoro concebe as heresias, o
paganismo, e em particular os judeus como elementos nocivos que contaminavam a pureza da fé e impediam a
consecução do projeto divino. O Estado visigótico deveria servir de veículo para a expansão da fé e servir de esteio do
Milênio que se avizinhava.

Paulo Duarte Silva e Leila Rodrigues da Silva - UFRJ


Aspectos da organização litúrgico-eclesiástica no século VI: uma análise comparativa dos episcopados de
Cesário de Arles e Martinho de Braga
Nesta comunicação, propomo-nos a comparar os governos bispais de Cesário de Arles (502-542) e Martinho de Braga
(561-580), tendo em vista o processo de organização litúrgica e disciplinar sob a liderança destes na primeira e segun-
da metade do século VI, respectivamente na região da Provença e da Galiza. Considerando as relações assumidas
pelas lideranças episcopais junto ás cortes germânicas e a diocese de Roma, interessa-nos, sobretudo, ressaltar
aspectos da conformação dos elementos litúrgicos - mormente, prescrições acerca da celebração da Páscoa, do
Batismo e das missas - engendrados no decorrer de suas trajetórias como prelados. Nosso aporte documental contem-
pla atas de concílios nos quais os bispos tomaram parte, bem como o epistolário e a Vita Cesarii - válidos para o
bispado de Cesário - e os tratados doutrinais inscritos na carreira de Martinho.

Kelly Sórensi Naves


Cristianismo Celta: imanência e trascendência
Na história da humanidade, a religião tem exercido papel fundamental na formação de valores e a Idade Média foi um
período de grande poder e influência da Igreja Católica. Existiu, a partir do século V d.C., um sincretismo religioso entre
a religião pagã, dos celtas, e o Cristianismo Romano. A ele deu-se o nome de Cristianismo Celta, suprimido pelo
catolicismo medieval. Os celtas vivenciavam uma religião na qual toda a Natureza era sagrada. No Cristianismo Roma-
no medieval, essa relação era mais distante e o homem era o senhor de tudo. Pertencemos a uma sociedade com
grande desafio à frente: a questão ambiental, em seus diversos aspectos, entre eles o econômico e o social. Práticas
'esotéricas', várias com grande semelhança às célticas, têm surgido na busca por uma religiosidade alternativa à do
Cristianismo, como forma de um 're-ligare' com a Natureza. Se o desenvolvimento humano é importante e o Cristianis-
mo o tem como seu grande mandado, também a religião dos celtas, imprime a sua significância no respeito à Natureza.
Este trabalho é um estudo e uma reflexão sobre este sincretismo, desde seu surgimento e perseguição no passado ao
vislumbre de uma possível contribuição para a preservação do Meio Ambiente e de toda a raça humana.

Maria Eugênia Mattos Luchsinger - UFAM


O Rector a serviço da concepção ministerial de poder de Gregório Magno
Ao entender a teoria gregoriana da origem e finalidade do poder na Regula Pastoralis, destacamos o termo rector, ~
vocábulo que o papa Gregório Magno prefere para designar aqueles que exercem a autoridade e que insere a função de
agente. Ao lado de rector com a mesma função de agente do poder, Gregório utiliza outros termos como: pastor, doctor,
®
praedicator. Nesse trabalho, através da análise morlo-semântica desses vocábulos, pretendemos demonstrar como são
utilizados com uma intenção política que reforça sua concepção ministerial, na qual o poder se define pelo serviço.

Raquel de Fátima Parmegiani - Unesp


Homem: um universo em miniatura
Temos como proposta de pesquisa, investigar a utilização do imaginário ligado à literatura apocalíptica no processo de ~
normalização do cristianismo no Norte da Hispania, durante o século VIII, a partir da obra Comentário ao Apocalipse 32
escrito pelo monge Beato de Liébana. Na presente comunicação abordaremos a apreensão da idéia de escatologia c: co

dentro da obra e suas implicaçôes processo de cristianização. A nosso ver, a obra veio de encontro com um trabalho de w
evangelização em uma região em que o cristianismo confrontava-se com outras formas de compreensão do sagrado ~
ainda muito presentes, por isso, ela expressa-se Gomo um anseio da Igreja por englobar todo o universo vivido pelos w
homens e mulheres para os quais destinou-se. A exegese do texto bíblico - Apocalipse - fez aqui, parte de um trabalho .g
de evangelização, e por isso nos permite vislumbrar como estes homens experimentaram sua realidade, como pensa- 13
ram sua relação com o mundo, e foram determinando o que seria ser cristão, ao definir as fronteias nas condutas oug
atitudes consideradas incompatíveis com a vinculação do fiel a Cristo. C/)
co'
.~

403
Renata Vereza - Universidade Severino Sombra
Espacialidade e integração da comunidade moçárabe em Toledo após a conquista cristã - Castela século XI
Esta pesquisa tem como objetivo analisar as principais transformações na comunidade cristã moçárabe toledana após
a conquista crista de 1085 partindo da análise dos espaços destinados a ela. Após a conquista os espaços destinados
ao culto de rito visigótico e a residência destes moçárabes são transferidos da Vega toledana para dentro da cidade de
Toledo. Mesmo que o clero reformado continue a tentar eliminar o rito moçárabe e que eles permaneçam sendo vistos
como cristãos diferentes, a trasferencia para o inteior da cidade gera diversas novas trajetórias urbanas, possibilitas
novos espaços de sociabilidade e contribui para a integração desta comunidade. Essas novas trajetórias, possibilita-
das pela cristianização da cidade, são determinantes no estabelecientos de laços com as novas comunidades cristãs
instaladas na cidade (hispânicas e não hispânicas) e na constituição de traços culturais marcantes da metrópole
toledana, consolidando gradativamente o papel da comunidade moçárabe junto ao poder

I 17/07 - Terça-feira - Tarde (14h às 18h)

Celso Silva Fonseca - UnB


Cristão e fé: o Estado e a Igreja
Nesse artigo proponho realizar uma interpretação das relações que se estabeleceram entre a fé e a lei, como institui-
ções e práticas de poder, na história medieval portuguesa, notadamente nos séculos XIII a XV. Será uma anàlise na
perspectiva de que a fé e a lei, enquanto conteúdos de subjetividades e objetividades distintas, postos nos conjuntos
das inter-relações dos homens buscam resultados presumidos. Ou seja, ao afimnar gratia Dei, o rei assume dupla
condição. Primeiro, assume, com humildade, a sua pequenez frente à onipotência divina e, segundo, reafirma sua
autoridade pelo fato de ser depositário dessa graça divina. A seguir, exige aos homens do reino a obediência ao que se
seguia no documento transcrito por seus escribas. Era a lei. A lei e a fé não se esgrimam nas consciências coletivas,
desde que não rompessem à unidade que os fiéis lhes atribuíam.

Teresinha Maria Duarte - UnB


D. Frei Tello e o Sínodo Bracarense de 1281
D. Frei Tello, frade dotado de sólida formação teológica, havia sido leitor no convento de São Francisco de Burgos e
provincial de Castela, quando foi indicado, em 1278, pelo papa Nicolau 111 para o arcebispado de Braga, o maior posto
eclesiástico, no reino de Portugal. A escolha papal, com certeza, levava em conta, também, as habilidades diplomáti-
cas de D. Fr. Tello, já provadas quando mediou partes beligerantes, no reino de Castela. Entre o Reino português, a
Igreja e o clero português, acontecia um longo conflito que remontava a 1267, no reinado de D. Afonso 111, por conta de
um interdito. O relacionamento entre as partes piorou na década de 1270 e as populações portuguesas viviam uma
dura realidade para o tempo: o país sob interdito, o rei excomungado, os sinos emudecidos e as igrejas fechadas e
sem culto. D. Tello encontrou esta situação, quando assumiu a sua diocese. Enquanto trabalhava junto ao novo rei, D.
Dinis, para estabelecer uma concórdia, preparou e realizou, em Braga, no ano de 1281, um dos mais importantes
sínodos ocorridos, na Idade Média Portuguesa.

Lukas Gabriel Grzybowski - UFPR


A construção do Rei através da Narrativa: A imagem de D. Fernando na Crônica de Fernão Lopes
Esta comunicação pretende analisar o perfil de monarca que o cronista Fernão Lopes constrói do rei português D.
Fernando, que reinou em Portugal, entre 1367 e 1383. Foi o último rei da dinastia de Borgonha, a primeira daquele
reino. Durante seu reinado esteve constantemente em conflito com o reino de Castela, seu vizinho, como desdobra-
mentos ibéricos das disputas entre França e Inglaterra na Guerra dos Cem Anos (1337-1453). Em vistas disso, foi um
período de grande agitação no reino português, que o cronista Fernão Lopes contrapõe ao período de relativa paz que
marca o reinado de D. Pedro I, pai e antecessor de D. Fernando. Ao final do reinado de D. Fernando ocorre uma
mudança dinástica. O rei D. Fernando morre em 1383 sem deixar herdeiros homens para assumirem o trono. Fernão
Lopes se baseará nestes eventos para traçar o perfil do monarca D. Fernando.

Rodrigo da Costa Dominguez - Universidade do Porto - Portugal


Entre o discurso e a prática: religião, comércio e negócios em Portugal nos finais da Idade Média
Neste texto, analisaremos alguns aspectos que dizem respeito a uma relação complexa e, sob certo ponto de vista,
caracterizada pela tentativa de adaptação das actividades que envolviam as ocupações dos mercadores e dos ho-
mens de negócios - e daqueles que, por alguma razão, não podiam desempenhar esta ocupação mas ainda assim o
faziam -, assim como da economia em geral às normas impostas por uma Igreja Católica rígida e que necessita
combater determinadas práticas para manter a sua coerência perante os seus fiéis. Estas relações serão de extrema
importância para a economia européia e, no caso deste texto, para a economia portuguesa no transcorrer do processo
de transição da Idade Média para a Idade Moderna.

404
Adriana Maria de Souza Zierer • UEMA
Os Franciscanos e o messianismo régio na Crónica de D. João I, de Fernão Lopes
Na Crónica de D, João I Fernão Lopes (c, 1380-1460) visou legitimar o fundador da Dinastia de Avis, que era um
bastardo, no poder. Por isso, o cronista associou o monarca ao messianismo régio através de uma série de milagres e
vitórias em conflitos bélicos que representariam a aprovação de Deus ao 'eleito' para governar Portugal. No contexto
do chamado Cisma do Ocidente, com dois papas na Cristandade, D, João é explicitamente intitulado como o 'Messias
de Lisboa", estando associado ao modelo de bom cristão, ao passo que os seus oponentes, sintetizados na figura do
rei de Castela, são apresentados como ligados ao Anticristo, Neste período de final da Idade Média, contribuiu para a
construção desta imagem a crença de alguns grupo~ (como beguinos e franciscanos espirituais) em idéias milenaristas
e na chegada de uma espécie de Imperador dos Ultimos Dias que estabeleceria um período de felicidade na Terra,
Visando reforçar os aspectos do messianismo régio, após a vitória nas batalhas aparecem no relato do cronista as
figuras de dois franciscanos, Frei Rodrigo e Frei Pedro, os quais legitimam os dados apresentados, explicam os
milagres acontecidos e fazem comparações com eventos bíblicos, visando dar maior veracidade aos aspectos do
messianismo régio associados a D, João,

Michelle Tatiane Souza e Silva· Unesp


Modos de Leitura em Portugal no século XV
Os tratados pedagógicos produzidos na Corte de Avis, no Portugal do século XV, versam sobre diferentes matérias:
sobre os benefícios dos desportos, sobre os mistérios da fé e da igreja, sobre as virtudes e"Os vicias dos nobres, sobre
ideais políticos e sobre os comportamentos de uma forma geral. Esse conjunto de ensinanças tem em comum a
preocupação de estabelecer critérios, modelos e regras para uma satisfatória vida em corte, tópico esse explorado
com especial ênfase no Leal Conselheiro. Escrito pelo rei Dom Duarte, este livro utiliza-se da tópica do exemplo para
instituir modelos destinados aos homens de corte e que vivem na corte, Todavia, um outro livro contemporâneo a este,
o Boosco deleitoso, caminha em um sentido aparentemente contrário, ao realizar uma apologia á vida solitária como
conduta necessária para a ascese da alma, Nossa proposta é tentar perceber o porquê de dois tratados pedagógicos,
contemporâneos e destinados a um mesmo tipo de leitor, proporem modelos diferenciados de leitura e, a partir daí,
interrogar sobre qual o lugar conferido aos livros e a leitura em Portugal no século XV,

Rafael Farias de Menezes


Rede particular de ensino - RS
O presente estudo tem por objetivo apresentar uma proposta de pesquisa sobre a participação da África na Rota da
Seda, Tendo como eixo temporal o medievo, descortino aqui as principais características e dificuldades desta tarefa,
além de potenciais recursos para uma investigação desta natureza, Diante de tema tão amplo, efetuarei apenas uma
análise panorâmica, para que se possa ter uma visão de conjunto - evidentemente com o suporte de algumas fontes
documentais e bibliografia especializada disponível-levando em consideração os limites e as possibilidades de tal
estudo,

I 18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h) I


Danielle Kaeser Merola . UFRJ
Aspectos da normatização na sociedade visigoda no século VII: uma abordagem comparada entre os âmbitos
®
religioso e civil da conduta sexual das viúvas
O contexto analisado é o de difusão da doutrina cristã no reino visigodo, Nele se insere a elaboração de uma série de
normas que vai reger não só o espaço religioso como também o laico, O presente trabalho tem por objetivo analisar ctl

nuanças do comportamento sexual na sociedade visigoda em duas esferas de atuação social: a religiosa e a civil. ~
Fundamentada na análise de materiais produzidos no período, as atas dos concílios gerais de Toledo, para o âmbito ::2
religioso, e a Lex Visigothorum, para o âmbito civil, observaremos o que foi normatizado quanto à conduta sexual das ~
viúvas, Para tal, buscaremos separar e comparar elementos das duas esferas identificados com um modelo ideal de ~
comportamento, bem como, a repercussão das infrações normatizadoras, que podem ser consideradas no âmbito ê
religioso como pecado e no âmbito civil como crime,

Andréia Cristina Lopes Frazão da Silva· UFRJ


A diocese de Calahorra e as normas sinodais sobre o monacato feminino no século XIII ~
Desenvolvemos desde janeiro de 2007, com o apoio financeiro do CNPq, a pesquisa A Vida de Santa Orla e omonacato ~
feminino em La Rioja no século XIII: uma análise a partir da categoria gênero. Segundo Scott, o gênero, ou seja, o 'g
saber socialmente construido sobre as diferenças sexuais, compreende quatro elementos que atuam juntos, mas não VJ
estão articulados mecanicamente: os símbolos; os conceitos normativos; as identidades genéricas e as noções, insti- .~
tuições e organizações políticas. Neste sentido, na pesquisa em curso, estamos relacionando a Vida de Santa Oria, a E'

405
única obra redigida em castelhano no século XIII que apresenta a biografia de uma reclusa, com textos normativos e
documentos notariais sobre a vida religiosa feminina elaborados no mesmo período, visando examinar como os aspec-
tos constitutivos do gênero atuaram nas relações de poder estabelecidas pelas religiosas riojanas no século XIII. A
regíão de La Rioja era uma das que constituíam a diocese de Calahorra, Nela existiam dois mosteiros femininos: Santa
Maria dei Salvador de Canas e Santa Maria de Herce, No presente trabalho vamos apresentar algumas conclusões
parciais dessa pesquisa em andamento a partir da análise dos cânones dos três sínodos calagurritanos realizados no
século XIII, destacando e discutindo as norm

Rejane Barreto Jardim - UCS


Virgindade e reclusão: Submissão ou resistência
Esta comunicação resulta de um trabalho de investigação sobre as mulheres na Castela do século XIII. Nessa pesqui-
sa o objetivo foi verificar se as mulheres eram parte constitutiva de uma rede de diferentes tipos de poder que compu-
nham aquela sociedade, Essa rede de poderes permitiu a construção de um ideal de feminino, no qual as mulheres
assumem determinados papéis, Assim, quero discutir a idéia de que virgindade e reclusão podem ser interpretadas, ao
mesmo tempo, como submissão e como resistência, procurando observar em que medida ocorre a intervenção das
próprias mulheres na elaboração das imagens do feminino dai decorrentes,

Gabriel de Carvalho Godoy Castanho - USP


O poder do discurso e a eficácia da palavra produzindo o social
Todos sabem a importãncia dos relatos escritos para o trabalho do medievalista, Seu manuseio define nosso ofício, No
entanto, a alteração de vogais como indício de mudanças sociais ainda é capaz de nos surpreender e causar polêmi-
cas tantos anos depois dos aclamados reis de Marc Bloch, Vivemos hoje um momento de retorno e ampliação dessas
preocupações, Sinal disso é a 'semântica histórica' defendida visceralmente por A, Guerreau em um de seus últimos
trabalhos, De fato, o estudo histórico que se utiliza de fontes escritas deve estar sempre atento aos modos de produção
das mesmas a fim de tentar compreender as organizações sociais pesquisadas. Daí ser preciso entender esse tipo de
documento como um ato social que no mesmo instante em que tenta cristalizar alguns aspectos da organização
coletiva, interfere neles por meio de uma unidade discursiva que se apresenta homogênea, atendendo às necessida-
des culturais amplas e especificas dos autores, Na Idade Média a escrita é evidentemente um ato de poder. Ela
organiza e instaura uma ordem, uma hierarquia, definindo grupos sociais, Em nossa apresentação teremos tais consi-
derações em mente ao abordarmos a criação de um ser: o eremita medieval.

Josu Curiel Yarza - Universidad dei País Vasco


Iglesia y poder local en el norte de la Península Ibérica - País Vasco- durante da Baja Edad Media
Durante los siglos XIV-XV, persiste en el norte de la peninsula Ibérica un régimen de iglesias desaparecido en gran
parte de Europa: las iglesias propias, Este tipo de iglesias estuvo muy extendido durante la Alta Edad Media pero fue
desapareciendo como resultado de la aplicación de la reforma Gregoriana, Dichas iglesias se convirtieron en uno de
los principales elementos de poder para la baja nobleza, Su posesión concedía ciertos derechos a los senores, como
la presentación de clérigos, la preeminencia en el templo en tumbas y asientos y, principalmente, la posibilidad de
percibir diezmos y otras rentas eclesiásticas, Así, a través dei control de las iglesias, los senores reforzaban su condición
social y su dominio sobre las comunidades campesinas, Su importancia se acentuaba en una zona donde el escaso
desarrollo de las elites feudales había impedido la constitución de nuevos mecanismos de poder económico y social,
como podrían ser los senoríos jurisdiccionales, De este modo, las iglesias parroquiales formaron parte dei aparato de
dominación de los senores locales,

Marta Silveira Bejder e Rosiane Graça Rigas Martins - Universidade Gama Filho
A monarquia castelhana e as penalidades no séc. XIII
O séc, XIII foí um momento onde os monarcas castelhanos buscavam reforçar a autoridade interna e consolidar o
projeto de unidade jurídica e territorial do reino castellhano-Ieonês. Um dos principais mecanismos utilizados para
levar adiante este projeto foi o implemento de uma reformulação jurídica. Diante disso analisaremos as penalidades
propostas no Fuero Real, que podem ser classificadas em corporais, morais e indenizatórias, compreendendo-as
como instrumentos utilizados pelos monarcas para consolidação do seu poder.

Marcelo Pereira Lima - UFF/UFRJ


Gênero e política da/na História Medieval: um elogio ao movimento (séc.XIII)
Nos últimos anos, as pesquisas sobre o medievo têm se modificado graças ás reflexões produzidas nas esferas de
numerosos ramos dos Estudos de Gênero. Elas têm incluído a categoria gêneno na reavaliação dos parâmetros
teórico-metodológicos na história da história politica, mas também têm apontado a necessidade de pensarmos sobre
os processos políticos por meio dos quais significados 'genderizados' são criados, legitimados, mantidos, criticados e
alterados. Em nossa pesquisa, temos nos dedicado a distinguir o gênero como objeto a ser normatizado ou o gênero

406
como um dos fatores constituintes do poder monárquico e/ou eclesiástico no período afonsino, século XIII. Assim, por
um lado, desejamos pensar se a dimensão onde está em jogo a validade das formas de poder monárquico e/ou
eclesial fundamenta-se explícita e/ou implicitamente em diretrizes de gênero. Por outro, procuramos refletir se o gêne-
ro é um elemento importante para explicar os processos de regulamentação de acordo com uma retórica normativa,
prevendo distinções, classificações e punições simétricas, horizontais, assimétricas e hierárquicas entre homens e
mulheres. Para tanto, priorizaremos o conteúdo da Primeira Partida, através de uma versão publicada pela Hispanic
Society of América e organizada por Francisco Bossini.

I 19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h às 16h30min) I


Carlile Lanzieri Júnior· UFES
"Para mim, morrer por ti é viver, e viver sem ti é morrer". O soldado de Deus e o jovem desertor: a Carta (c.
1125) de São Bernardo de Claraval Claraval (1090-1154) a seu sobrinho Roberto
Uma das figuras mais influentes da cristandade no século XII foi São Bernardo de Claraval. Homem ativo e de grande
prestígio, Bernardo tornou Cister uma das ordens monásticas mais famosas da História, contrapondo-a à ordem de
Cluny. Bernardo foi arguto defensor de uma volta triunfal às origens beneditinas do monasticismo, assim como ao
modo de vida que Jesus levou ao lado de seus apóstolos: uma vida frugal e austera. Ao se entregar de corpo e alma a
essa tarefa, Bernardo escreveu diversas cartas pregando, entre outras coisas, o que acreditava serem os verdadeiros
valores que norteariam a existência de um monge. Das muitas cartas deixadas por este santo, analisaremos nesta
comunicação a que ele redigiu a seu sobrinho Roberto, jovem monge que abandonou Cister para ingressar na ordem
de Cluny.

Bruno Tadeu Salles - UFMG


O novum militiae genus entre a cristianização da militia e a militarização do cristianismo: habitus, relações de
poder e espaços de socialização em São Bernardo de Claraval
Explicar o Novum Militiae Genus de São Bernardo nos leva a problematizar a idéia de cristianização da Militia, ou o
esforço da Igreja em direcionar os cavaleiros para o caminho da salvação. Examinamos a relação entre aquela idéia e
o que se pode definir como militarização do cristianismo. Buscamos assim discutir a concepção bernardina acerca da
Cavalaria nos espaços de socialização que foram estabelecidos entre São Bernardo, o miles Hugo de Payens e o
monasticismo. Portanto, mobilizando o conceito de habitus, enfocamos as interações nas quais São Bernardo dialo-
gou com as estruturas culturais e sociais de seu tempo. Neste diálogo o Santo teria formatado de maneira específica
suas idéias sobre a Militia.

Mariano de Azevedo Júnior - UFRN


O Banquete do Faisão para Cavaleiros, Nobres e Outros Cristãos: Discurso e Espaço de Poder nas "Mémoires"
de Olivier de La Marche (1454)
O Banquete do Faisão foi uma festa dada pela corte da Borgonha do duque Filipe 111 de Valois, "O Bom', em 1454, na
cidade de Ulle. Segundo as 'Mémoires' de Olivier de La Marche, a cerimônia revestia a intenção do duque de anunciar
uma cruzada contra os 'infiéis' que tomaram Constantinopla em 1453. Nas descrições de La Marche existe um discur-
so representado nos valores cavaleirescos, o que torna a cavalaria uma permanência ao invés de uma decadência no
®
51
século XV medieval e, particularmente, borgonhês. Tais "relatos de cavalaria' se inserem na relação discurso e poder
que é designadora dos espaços, de modo que possamos entender estes como representações, superando a sua
definição física ou natural. Com isso, é possível afirmar que os relatos das crônicas sobre o Banquete geraram poder
e inventaram um espaço onde a política foi simbolizada por url)a nobreza cavaleiresca que se colocou a serviço da '"
Cristandade, tendo estado mais ainda a serviço de si própria. E que a intenção de cruzada de Filipe "O Bom' foi na ~
verdade a prática da propaganda principesca, comum entre as grandes cortes do século XV. Assim, com a literatura de ~
corte, se trabalhou as construções discursivas acerca do Banquete do Faisão, identificando-o como um lugar da ~
Cristandade e também um espaço de poder. ~

Moisés Romanazzi Tôrres • UFSJ Cl.)

Metamorfoses no Princípio da Distinção dos Poderes na Idade Média ~


Meu trabalho visa apresentar, em linhas gerais, os processos históricos que caracterizam, no correr da Idade Média, a Cl.)

evolução do principio filosófico da Distinção dos Poderes (Poder espiritual e Poder Temporal, via de regra ligados, fil
respectivamente, a Igreja e ao Estado). Durante toda a Alta Idade Média e durante os três primeiros séculos da Baixa ]'l
Idade Média desenvolve-se uma perspectiva de Distinção de Domínios, esta serviu de base para a concepção hierocrática f5
do Papado. As rupturas ocorrem no século XlV. Foi então que se desenvolveram, seqüencialmente, três novos princí- <;:_
pios: a Distinção de Ordens com Jean Quidort, a Distinação de Vias com Dante Alighieri e, finalmente, a Reductio ad E
Unum de Marsílio de Pádua. ~

407
20107 - Sexta-feira - Manhã (10h30min às 12h30min)

José Rivair Macedo· UFRGS


Os pecados capitais e a tradição ibérica medieval
Embora muito difundida junto ao grande público, e freqüentemente empregada como recurso retórico, a idéia dos
pecados capitais não recebeu dos pesquisadores a atenção que merece. Poucos foram os trabalhos que se propuse-
ram a abordar as vicissitudes históricas do sistema do setenário no conjunto da Europa, e menos ainda em conjuntos
sócio-culturais particulares, como é o caso da Peninsula Ibérica. No presente estudo, apresentaremos algumas refle-
xões preliminares a respeito das formas de apropriação do setenário na tradição erudita portuguesa e castelhana dos
séculos XIV e XV, centrando a atenção em três importantes focos de enunciação discursiva. Primeiramente, a Univer-
sidade, onde eram produzidos os textos de teologia e de pastoral, sobretudo os manuais de confessores. Depois, o
meio monástico, onde vicejavam as obras de espiritual idade e ascetismo, em que os pecados eram em geral postos
em evidência. Finalmente, a corte principesca, onde se produzia uma literatura destinada à formação ético-religiosa
calcada em rigidos principios morais, em que a distinção entre os vicios e as virtudes estabelecia uma regra de
conduta modelar para a aristocracia, vindo a constituir um dos principais tópicos de reflexão dos principes e governantes
portugueses da Dinastia de Avis.

Terezinha Oliveira· UEM


Os Mendicantes na Universidade Medieval: Boaventura e Tomás de Aquino
Ao estudarmos estes dois mestres mendicantes e cânones do pensamento escolástico universitário pretendemos
demonstrar como as diferenças teórico-políticas influenciaram o ensino no periodo. Ao conservar e difundir o pensa-
mento agostiniano e as escrituras sagradas como o saber válido no seio da Universidade medieval Boaventura man-
tém uma posição distinta da de Tomás de Aquino. Santo Tomás considera essencial para o conhecimento o saber
presente nos escritos sagrados, mas efetivamente, difunde e aceita, também, como parte fundamental do conheci-
mento o saber aristotélico. Estas duas concepções de saberes implicará, necessariamente, em posições distintas
diante do ensino. Para Boaventura, somente Deus pode ensinar e, ao colocar esta formulação, reduz a atuação do
homem no processo do conhecimento. Tomás, por sua vez, ao aceitar as idéias aristotélicas, sem negar as verdades
sagradas, identifica no homem, também, um ser que ensina. Ao se posicionarem deste modo, apresentam dois cami-
nhos para o conhecimento: o primeiro mantém-se inserido na forma primeira do ensino medievo, o segundo aponta
para uma abertura do saber humano.

Conceição Solange Bution Perin - Uniandrade e Terezinha Maringá Oliveira· UEM


A Educação No Século XIV: Guilherme de Ockham
Este estudo propõe uma reflexão sobre as mudanças nas relações educacionais, especialmente a partir dos séculos
XIII e XIV, inseridas no conflito estabelecido entre a Fé e a Razão. Para essas considerações, nos fundamentaremos
fazendo uma análise da importância que exerceu o pensamento de Guilherme de Ockham (1290?-1349?) dentro do
seu contexto histórico, século XIV, abordando as mudanças educacionais. Esse autor tratou sobre as questões postas
pela autoridade divina (fé) e o direito humano de poder agir e conhecer pela sua própria vontade (razão). Ele conseguiu
tratar dos dois temas, Fé e Razão, colocando em evidência a importância de cada um deles e explicando que os
homens poderiam conciliá-Ias sem que uma, obrigatoriamente, precisasse submeter-se à outra. Desse modo, preten-
demos compreender o que levou os homens do século XIV a colocar na ordem do dia a exigência de interpretar a vida
pelo caminho da experimentação, analisando a importância do papel de Guilherme de Ockham nesse entrever de
tantas mudanças, entendendo que, esse autor se utilizou de algumas vias de afirmações para provar que a experiên-
cia, o conhecer empirico era, extremamente, necessário e estava incluído na prática social da época.

Djaci Pereira Leal· UEM·PR I PPE


Uma discussão acerca da educação e das influências medievais no "Ensaio sobre a moral e os costumes",
de Voltaire
Discutir na obra de Voltaire, 'Ensaio sobre a moral e os costumes", as influências medievais e os possíveis apontamen-
tos para a educação, tendo em vista a busca de orientação e formação do homem do século XVIII. Considera-se que
Voltaire em sua análise histórica na referida obra, dedica-se a identificar as permanências medievais na sociedade
francesa de seu tempo. Em sua abordagem da história demonstra a necessidade de enfrentamento dos resquícios
medievos para que seja possível a construção e o desenvolvimento de um novo homem, apto aos novos tempos que
se vislumbram. Nesse sentido, detém-se de forma acentuada critica sua leitura das instill.lições Igreja e Estado.

Jacqueline da Silva Nunes Pereira· Centro de Ensino Superior de Maringá


Baixa Idade Média, mulher e povo em Michelet: um projeto político de nação para o século XIX
Esta comunicação tem por objetivo analisar como o historiador francês Jules Michelet, do século XIX, apresenta e
valoriza a Idade Média. O aspecto principal da análise consiste na forma como o autor relaciona as questões medie-

408
vais do século XIV, com os conflitos politicos de seu tempo. A partir deste olhar, enfocaremos duas questões que, a
nosso ver, são importantes para entender o pensamento do autor. A primeira vincula-se ao papel que a educação
desempenha no processo de transição do medievo para a modernidade. Asegunda, diz respeito á forma como, Michelet
concebe o papel educacional da mulher e do povo neste processo.

I 20/07 - Sexta-feira - Tarde (14h ás 18h) I


Priscila Gonsalez Falci . UFRJ
Os movimentos heréticos e a Legenda Áurea: uma análise do martírio imaginário de Domingos de Gusmão
Esta comunicação é parte da pesquisa desenvolvida no mestrado do Programa de Pós-graduação em História Compa-
rada, desde 2006/1, inti~ulada "Os martírios na construção de santidades gendereficadas: uma análise comparativa
dos relatos da Legenda Aurea'. Considerando que a temática do martírio foi mais característica no início do cristianis-
mo, nossa preocupação inicial é o questionamento acerca da retomada desse tema na produção hagiográfica do
século XIII. Assim, nesse trabalho analisaremos esse fenômeno pensando como as relações estabelecidas entre a
Igreja, a Ordem Dominicana e os movimentos heréticos influenciaram na construção dos relatos dos mártires da LA
Por fim, optamos por traçar uma correlação dessas conclusões co~ a análise do relato sobre o martírio imaginário de
Domingos, fundador da Ordem Dominicana, narrado na Legenda Aurea.

Bruno Gonçalves Álvaro. UFRJ


O monge e o rei: um estudo sobre a construção do religioso ideal na Vida de Santo Domingo de Silos
Em nossa pesquisa desenvolvida junto ao mestrado em História Comparada da UFRJ, temos discutido, através da
análise comparativa de dois textos medievais - o poema-hagiográfico Vida de Santo Domingo de Silos e o poema
épico Poema (ou Cantar) de Mio Cid -, a aproximação/ distanciamento na caracterização dos protagonistas das obras.
Nossa meta é discutir como se constituíram em Castela, nas primeiras décadas do século XIII, os ideais-tipo de clérigo
e cavaleiro, verificando como essas representações se aproximam e se particularizam á luz das relações de poder
presentes nessa sociedade. Nesta comunicação, trabalharemos apenas com uma das fontes em questão, fixando-nos
no embate entre Domingo de Silos e o rei Garcia de Nájera, narrado na Vida de Santo Domingo de Silos. Nosso
objetivo é analisar como no confronto desses dois personagens são delineadas virtudes do clérigo ideal.

Carolina Coelho Fortes - UFF e Igor Salomão Teixeira· UFRGS


Arcaísmo ou Inovação em duas fontes dominicanas do Século XIII
Tradicionalmente, é atribuído aos intelectuais medievais pouca inventividade em suas produções. É recorrente no
período a utilização de autoridades antigas para justificar argumentos. Como enfatiza Aron Gurevitch, o medievo é um
tempo em que se considerava meritório repetir o pensamento dos antigos. Condenava-se a expressão de novas idéias,
o plágio não era objeto de perseguição, e a originalidade poderia ser tomada como heresia. Ao analisarmos a Legenda
áurea e a Suma Teológica deparamo-nos com aparentes contradições na historiografia. Essas contradições estão
relacionadas á atribuição de termos, como "arcaico' e 'sofisticado' indicados por comparações superficiais entre as
obras e/ou ausência desta perspectiva comparada. Procuraremos neste trabalho, questionar essas idéias a partir
dessas obras tão significativas para a formação cultural do Ocidente Católico. ®
Ana Paula Lopes Pereira· UERJ
A influência da doutrina cisterciense da Caridade e da amizade espiritual nas biografias espirituais das beatas
da diocese de Liége no século XIII
O ideal de amizade espiritual como virtude monástica foi elaborado ao longo do século XII, tornando-se um dos temas cc
maiores da antropologia cisterciense. Bernardo de Clairvaux, em sua doutrina sobre a Caridade e em suas reflexões ~
sobre a humanidade do Cristo e sobre a vontade do homem de agir pela própria salvação, levou toda uma geração a :2

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no século XIII, um estudo da concepção de Caridade e do vocabulário afetivo empregado pelos hagiógrafos, herdados ê
da antropologia cisterciense, é necessário. Pretendemos, através da análise comparativa entre o De Diligendo Deo, de ~
Bernardo, e as narrativas hagiográficas, reconstruir uma significação onde se encontram os valores sociais e espiritu- ~
ais dados aos sentimentos. Visamos compreender a percepção de um novo comportamento, sistematizado e integrado a>
ao aparelho conceitual que fundamenta a teologia mistica cisterciense e que foi adaptado para um grupo específico - ~
as mulheres religiosas da diocese de Liége -, expressando uma nova realidade: sua espiritual idade afetiva. ~
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C/.)

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409
Angelita Marques Visalli - UEL
A devoção aos santos entre os leigos laudantes entre os séculos XIII e XIV
Através do canto de laudas, poesias religiosas difundidas especialmente no ambiente das confratemidades religiosas
entre os séculos XIII e XIV, os leigos expressavam sua devoção, Os textos analisados (de origem italiana), apesar da
visível preponderância do louvor marial, apresentam versos dedicados a santos que também poderiam desempenhar
a função de intercessores (Francisco, Domingos, Guido, Lúcia, Madalena etc), Através da análise das poesias dedicadas
a eles (as alterações nas laudas repetidas, as permanências, inclusões e ausências) podemos acompanhar a evolu-
ção da devoção: á princípio mais sentimentais, sugerem uma participação mais efetiva dos laudantes, apresentando
os santos mais próximos dos homens, Mas tendem, no decorrer do tempo, a cumprir função mais teatralizada, apre-
sentando textos dramáticos, apontando-nos para um processo de distanciamento do leigo e de normatização da ex-
pressão de devoção, Esse processo ilumina o entendimento sobre e evolução do movimento confratemal e sobre o
lugar dos cristãos leigos na eclesiologia.

Vandergleison Judar - UEL


A apresentação da morte de São Francisco de Assis nos Fioretti
Os Fioretti compõem o quadro de fontes franciscanas que nos remetem ao século XIII-XIV, Esta precisamente,
situa-se neste último século, sendo considerada de autoria anônima, Durante muito tempo esta obra foi ignorada
pelos historiadores, mas este posicionamento tem sido revisto, uma vez que tal fonte recebe importância por des-
crever e estar ligada ao ambiente sócio cultural de nosso personagem, Deste modo, nosso objetivo é buscar com-
preender por que a morte de São Francisco de Assis nesta fonte é descrita de maneira tão singela, diferente de
outras narrando o mesmo fato,

52. Imagens de Arte: fronteiras disciplinares entre história da imagem e história da arte
Luciene Lehmkuhl (UFU) e Paulo Knauss (UFF)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h ás 18h) I
Paulo Knauss - UFF
Arte e diplomacia: exposições de arte no contexto da Segunda Guerra Mundial nas Américas
O trabalho pretende abordar as relações entre história e arte a partir do campo da história das exposições, Para tanto,
o estudo pretende tratar das exposições de arte francesa e norte-americana organizadas no contexto da Segunda
Guerra Mundial, que promoveram a arte moderna por meio da apresentação de obras de grandes mestres da pintura
na França e nos EUA .. Nesse contexto, a arte se definiu como recurso da diplomacia cultural e propaganda nacional e
polítíca de díferentes países, O quadro das rivalidades polítícas se traduzíu na afirmação de sentidos diferentes de arte
moderna, A Guerra definiu assim bases para a promoção da arte moderna em vários países das Américas, ínclusive,
no Brasil. A pesquisa se sustenta em fontes de arquívos diplomáticos e de museus, bem como na imprensa de época,

Helder Manuel da Silva de Oliveira - UNICAMP


Castagneto e o Contexto Artístico Paulista do Século XIX
O pintor Giovanni Battista Castagneto fez duas exposições em São Paulo em 1895, e a partir destas pretendemos
traçar um panorama do contexto artístico paulista do final do século XIX, destacando a importância deste artista para
a cidade, O pintor traz â São Paulo dois novos elementos para a sensibilidade artística: (1) uma pintura lírica, fora dos
padrões acadêmicos, baseada em grande parte na prática da pintura 'en plein air' ; e (2) a utilização dos rios locais
como motivo de inspíração para a produção de seus quadros - por exemplo, a pintura Paisagem com rio e barco ao
seco em São Paulo 'Ponte Grande' (1895), Estes dois aspectos permitem um instigante diálogo com a produção
paulista, em especial a dos artistas Almeida Júnior e Benedito Calixto, As mostras de Castagneto são relevantes casos
exemplares das transformações que ocorriam em São Paulo, tanto que estas causaram impacto no ambiente artístico,
como podemos perceber a partir dos artigos publicados nos jornais de São Paulo e Rio de Janeiro sobre as exposições
do pintor,

Emerson Dionisio Gomes de Oliveira - UNB


A exposição que sonhou com um museu
Este trabalho procurou investigar um ponto chave na constituição do acervo do Museu de Arte de Brasília (MAB): a
produção, a execução e a divulgação da mostra intitulada 'Sala Brasília', componente da XII Bienal Internacional de
São Paulo, em janeiro de 1976, Uma parcela das obras desta mostra foi, posteriormente, assimilada pelo MAB, funda-

410
do em 1985. A mostra nasceu da parceria entre a Fundação Bienal e a Fundação Cultural de Brasília e era, a principio, Q
o início do acervo do Museu do Artista Brasileiro (MArB), planejado para ser implantado na capital federal. A pesquisa
empreendida buscou compreender quais as motivações da seleção das obras que constituíram tal exposição e, por
®
conseguinte, quais obras foram assimiladas pelo tardio MAB. Da mesma forma, nesse percurso institucional, aborda-
mos os motivos que fizeram do MArB um empreendimento irrealizado. Tal enlace entre exposição, museus 'desejados' ~
e acervo(s), também permitiu que nos aproximássemos das razões que fizeram com que a capital federal só viesse a ~
ter um museu de arte trinta anos após a sua concepção e os possíveis porquês da ausência de um museu no projeto '" ~
inicial. co
.~
"O..
Claudia Thurler Ricci . Revista de Historia da Biblioteca Nacional .~
Estilo: um problema histórico ~
Pretende-se nesta comunicação historicizar e problematizar a noção de 'estilo" apontando para o seu estabelecimento .~
no século XVIII como uma categoria do pensamento que nos auxilia no estudo da arte, e não um dado natural, intrinse- ~
camente associado as produções artísticas do passado. O objetivo é perceber como o surgimento da noção de estilo ~
se dá em um momento em que era necessário fazer com que as obras de arte se tornassem 'objetos' catalogáveis ou S
elementos dispostos ordenadamente, tal como foram produzidos em uma linha espaço tempo. Ou seja, acreditou-se 4:
que o conceito de estilo possibilitaria ao historiador - como afirma Hippolyte Taine - observar a sucessão da produção ~
artística com imparcialidade, abordando as diversas criações passadas como o botânico analisa seu material, ou seja, ~
sem se preocupar se são belas ou feias, venenosas ou não. Propõe-se assim avaliar quais sãos os problemas decor- li3'
rentes da naturalização deste conceito e como ele se desenvolveu e foi apropriado pelos historiadores da arte ,em E
especifico no século XIX.

Rogéria Moreira de Ipanema . UFF


Imagem impressa: os lugares da gravura na historiografia
A historiografia da gravura é identificada para além do campo da arte, ela se constrói antes sim, na historicidade de
outras áreas de conhecimento que se alinham á construção da história da imagem impressa, justificando a dispersão
de suas formas técnicas. Uma enorme rede de relações com a questão da reprodutibilidade da imagem faz com que o
estudo da gravura seja possível, numa composição de elos de uma mesma corrente, ou em práticas isoladas. Princi-
palmente até o momento, em que as técnicas de gravuras tradicionais eram o que existia para multiplicação da ima-
gem até fins dos oitocentos. Porque, já para pensar as artes gráficas no século XX é deslocar a artesania existente até
o século XIX e compreender sua industrialização. Construir a história da arte de meados do século passado até o início
do século XXI, sobre uma produção que se pode alinhar num conceito primeiro de reprodução, é instalar novos códigos
tecnológicos e conceituais para a uma metodologia da crítica.

Maria de Fátima Morethy Couto· Unicamp


A "Nova Objetividade Brasileira" e a historiografia da arte no Brasil
Minha comunicação pretende analisar os objetivos e a repercussão de uma das mais importantes exposições de
vanguarda ocorrida nos anos 1960 no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro: a Nova Objetividade Brasileira.
Realizada poucos meses antes da promulgação do AI-5, a exposição reunia mais de 40 artistas, vários deles recém
ingressantes no mercado das artes e tinha como meta revelar as características da 'nova vanguarda brasileira'. O texto
do catálogo, escrito por Hélio Oiticica, marcou época e tornou-se referência obrigatória para o estudo das artes do
período. Nele, Oiticica aponta o que considera os 'pontos em comum" da produção vanguardista do país, conferindo-
lhe forte cunho político. Em que medida Oiticica recupera questões por ele trabalhadas em seu período neoconcreto e
qual o alcance da influência das idéias de Ferreira Gullar em sua análise serão questões por mim abordadas. Amplian-
do o escopo de minha discussão, pretendo ainda refletir sobre a inserção do texto de Oiticica na historiografia da arte
brasileira.

Beatriz O' Agostin Oonadel UFSC


Além do Visual: Arte Experimental no Brasil entre "Imagens" e a Crítica ao Mundo da Imagem
A comunicação pretende enfocar as especificidades de uma critica á Imagem Visual que emerge nos processos artis-
ticos da arte experimental brasileira. Para tanto são observadas as propostas artísticas esboçadas em 'Tropícália"(1967)
e 'Crelazer'(1969) de Hélio Oiticica. O texto seguirá a idéia de que, ao valorizar em seus trabalhos aspectos táteis,
olfativos, auditivos além dos estímulos visuais, Oiticica problematiza a questão da Cultura Visual o que o leva a expan-
dir a experiência estética para além do jugo da visão.

Nara Cristina Santos· UFSM


História da arte e história da imagem: entrecruzamentos com a arte, tecnologia e mídias digitais
Os entrecruzamentos da história da arte e da história da imagem proporcionam uma discussão dos seus respectivos
domínios na experiência artística, tendo em vista o que a obra pode despertar. Ao aproximarmos a arte, tecnologia e

411
mídias digitais, a produção e recepção da obra são redimensionadas por uma dinâmica em que o 'artista, a obra, o
interator, o entorno e o contexto', marcam uma mesma presença no tempo. Este fato desencadeia questões emergen-
tes para a elaboração de um discurso, permeado pelas inter-relações da história da arte e da história da imagem.
Nesse sentido a pesquisa em arte, a partir do contexto cultural e do entorno digital em que se inserem as imagens e as
instalações multimídia, por exemplo, pode colaborar para nos interrogarmos sobre a história e a teoria da arte contem-
porânea.

I 17107 - Terça-feira - Tarde (14h às 18h)

luciene lehmkuhl- UFU


Arte na cidade - exposições, obras e artistas na cidade moderna.
Esta comunicação abordará alguns acontecimentos, do campo artístico, ocorridos em Florianópolis nas décadas de
1940 e 1950, quandO importantes processos de modernização estavam acontecendo. Exposições foram organizadas,
novos e jovens artistas surgiram, obras de arte se consagraram como icones de uma época alargando-se, assim, o
campo artístico da cidade que se queria e se fazia modema. Interessa pensar aqui as características dessa moderni-
dade através das obras produzidas e expostas, interessa evidenciar os artistas, dar a conhecer as obras e apontar sua
relação com os ambientes modernos em efervescência na cidade e no pais.

Suzana Cristina Souza Guimarães - PUCRS


Um Olhar sobre a Obra de Alcides Pereira dos Santos
O presente ensaio é resultado do projeto de pesquisa (doutorado) cuja inspiração vem da possibilidade de investigar a
produção plástica do artista Alcides Pereira dos Santos, a partir da década de setenta, na cidade de Cuiabá-MT, cuja
criação artística opera com elementos oriundos do universo popular. Trabalhando numa perspectiva artistica e históri-
ca pretendo interrogar o trabalho de Alcides do ponto de vista da criação, buscando entender a sua relação com o
momento histórico e as mudanças socioculturais da sociedade contemporânea, sem, contudo fazer dessa relação
estética tão somente reflexo dessas mudanças sociais ou vice-versa.Desta forma, compartilho do pressuposto de que
o real é construído a partir de variadas tramas que se movem segundo uma combinação de operações indeterminadas,
uma organização provisória de possíveis formas do ser. Nesse contexto contemporâneo, o desejo da imagem e a
presença obsessiva da cultura visual na vida cotidiana, ampliando, inclusive, a noção de texto, tornam cada vez mais
necessário e instigante, inquirir a trama discursiva em que se cruzam história e imagem. Tendo, sempre, a história
como seu sistema constitutivo, o conhecimento historiográfico, simplesmente, não pode desprezar a linguagem visual
funcionando como máquina produtora de um real.

Arthur Gomes Valle - FAETEC-ISEI


A imagem do sertanejo nas pinturas de Carlos Chambelland
Na década de 1910, o pintor e ilustrador fluminense Carlos Chambelland (1884-1950) se radicou por alguns anos, a
trabalho, no Estado de Pernambuco. Julgando ter ali encontrado a própria essência da cultura brasileira, o artista
começou a produzir então uma série de quadros que figuravam os tipos humanos do sertão nordestino, os seus modos
de vida e o seu ambiente. Na presente comunicação, além de procurarmos apontar quais teriam sido as fontes inspira-
doras dos quadros 'sertanejos' de Chambelland, apresentamos uma análise dos procedimentos com positivos presen-
tes em algumas de suas obras, que configuram uma imagem muito particular do homem do sertão, da qual se encontra
ausente qualquer tentativa de exaltação heróica. Além disso, procuramos discutir de que maneira os quadros do artista
se inseriam no debate mais amplo sobre a questão da identidade cultural brasileira, uma das preocupações constantes
nos circulos intelectuais da 1" República e que foi marcante não só no campo das artes visuais, como também no da
literatura, como evidenciam as obras dos escritores Coelho Neto, Euclides da Cunha, Afonso Arinos, entre outros.

Caroline Fernandes Silva - UFPAlUFF


A vendedora de cheiro: narrativas visuais da etnicidade amazônica
Artista que compôs o cenário da arte moderna na Amazônia no século XX, Antonieta Santos Feio nasceu em Belém em
1897, teve sua formação na Europa, estudou desenho e pintura na Escola de Belas Artes de Florença. 'Vendedora de
cheiro' é um retrato de meio corpo, pintado em 1947 e exibe a figura de uma mulher de meia idade, cafuza, vestindo
blusa branca bordada e saia estampada; no pescoço carrega uma corrente de onde pendem um crucifixo e uma figa;
nos cabelos, uma flor vermelha e outra branca; ao fundo aparecem as tábuas de uma casa de madeira. Considerada
como referência para debater a visual idade amazônica, a tela compõe a obra da artista paraense, que manteve em sua
produção artística constante diálogo com as transformações sociais vivenciadas no país. Com um olhar profundamen-
te preocupado e voltado para Amazônia, Antonieta é capaz de nos fornecer importantes contribuições para os estudos
sobre a cultura e representação na sociedade brasileira contemporânea, possibilitando-nos articular complexas tra-
mas de relações que envolveram a construção de uma identidade nacional, representativa das diversas particularida-

412
des regionais perante o cenário politico então constituido, e os diversos movimentos de vanguarda que agitaram as ~52
primeiras décadas novecentistas em todo país. \.B!:)
Carla Mary da Silva Oliveira - UFPB
O forro da Casa de Oração dos Terceiros no Convento de Santo Antônio da Paraiba: algumas questões sobre
suas imagens e a vida de São Francisco de Assis
Não se sabe quando surgiram os terceiros franciscanos na Paraíba, mas se acredita que isso ocorreu pouco após a ~
chegada dos frades menores à Capitania, ainda em fins do século XVI. O forro de sua Casa de Exercicios, obra da .~
segunda metade do século XVIII, é mais uma, dentre as inúmeras pinturas nas igrejas barrocas do Brasil, de que não a..
se conhece a autoria e, tampouco, qualquer documento a seu respeito, Seu tema central, no entanto, continua a :~
fomentar discussões sobre seu sentido e o que está ali representado. Desde os anos 1950 alguns autores o identificam ~
como o arrebatamento do profeta Elias aos céus, fato descrito no 11 Livro dos Reis do Antigo Testamento. Essa tese não .~
se sustenta quando são consultadas as várias biografias medievais de São Francisco de Assis, onde uma cena seme- ~
Ihante, ocorrida ainda durante a vida do santo, é descrita minucíosamente. As implicações simbólícas dessa imagem e -
sua relação com a estrutura social em que os terceiros se inseriam na Paraíba Colonial é o tema central deste trabalho. S
~
André Cabral Honor ~
Igreja, Estado e símbolos: a apoteose barroca no conjunto carmelita da cidade de João Pessoa ~
O conjunto carmelita de João Pessoa teve sua construção iníciada em 1730, e foi concluído somente em 1777. A ~
ordem teve importância significativa no que se refere à catequese na sede da Capitania nos séculos XVII e XVIII, É
chegando a manter um hospício como posto avançado de atuação junto aos indígenas, junto à foz do Río Paraíba.
Pretendemos, de forma ainda inicial, proceder a um levantamento histórico da construção do conjunto Carmelita pes-
soense, composto pela Igreja de Nossa Senhora do Carmo, pela Igreja de Santa Teresa de Jesus da Ordem Terceira e
pelo Convento da ordem. Nossa intenção é procurar desvendar em que contexto se insere a edificação de tais monu-
mentos, principalmente como subsídio para uma análise iconológica e iconográfica do conjunto de representações
visuais existentes na decoração interior das duas igrejas do complexo, que inclui pinturas sobre madeira, em partes do
forro e medalhões em algumas paredes, e azulejaria portuguesa da segunda metade do século XVIII.

Márcia Cristína Leão Bonnet - UFRGS


Em direção ao sul: os caminhos e a arte colonial no extremo sul da América Portuguesa
Muito pouco se tem estudado e publicado acerca da arte colonial produzida no extremo sul da América Portuguesa.
Alguns autores chegam mesmo a afirmar seu desinteresse pelo assunto, já que supostamente o território ao sul de
Laguna pertenceria á Coroa Espanhola. Uma breve incursão pela história da conquista do sul, entretanto, seria sufici-
ente para desfazer este mal-entendido. O território colonial que se estendia entre Laguna e a Colônia de Sacramento,
íncluindo a região missioneira, talvez exatamente por configurar uma zona de fronteira, apresenta em suas manifesta-
ções artísticas uma série de aspectos específicos, que refletem o processo singular que teve a colonização do extremo
sul da América Portuguesa. Uma parte considerável deste patrimônio já está irremediavelmente perdida. Os exempla-
res que sobrevivem, entretanto, demonstram que o caminho percorrido pelos homens parece ter determinado em
muito o trânsito de modelos formais entre vilas e capitanias. Entre São Paulo e Sacramento, as formas foram se
adaptando e se transformando, conferindo assim características únicas à arte produzida ao longo dos caminhos que
conduziam à expansão territorial em direção ao extremo sul.

João Dalla Rosa Júnior - UFOP


As ímagens devocionais e o Continente de São Pedro: relações e questionamentos sobre a imaginária religio-
sa e o extremo sul da América Portuguesa
Ao longo do periodo colonial, na América Portuguesa, diversas técnicas e artifices estiveram a serviço da religiosidade
cristã, fator que caracterizou o processo de colonização. Dentre os vestígios deste periodo, têm-se as imagens sacras
coloniais, hoje consideradas obras de arte. Elas foram fruto das práticas de representação vigentes entre os séculos
XVI e XVIII e, portanto, desempenharam determinadas funções de modo a atender aos designios religiosos da fé
cristã. Tais propósitos acompanharam a expansão para o extremo sul da América Portuguesa, legando ao Rio Grande
do Sul um conjunto de imaginária religiosa que se encontra espalhado por algumas das cidades que compuseram o
antigo continente de São Pedro. Entretanto, estas imagens têm sido contempladas somente por olhares devotos. Sob
uma perspectiva historiográfica, as imagens se apresentam descontextualizadas e muito pouco se tem estudado sobre
elas. Além disso, algumas comparações com o restante da América Portuguesa fazem o extremo sul parecer menos
importante, tanto pela quantidade quanto pela qualidade das obras. Mas, redirecionando o foco para as imagens,
através de análises iconográficas e iconológicas, busca-se levantar e confrontar questões que propõem novos olhares
sobre as peculiaridades destes remanescentes.

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18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h ás 18h)

Maria Bernardete Ramos Flores - UFSC


Catolicismo versus catolicismo na obra plástica de Ismael Nery - A imagem como conhecimento sensível.
Ismael Nery, poeta e pintor modernista do início do século XX, associado á práticas expressionistas, futuristas e
surrealistas, expressa em imagens pictóricas questões de androgenia (Auto-retrato de 1925), interpretações orgãnicas
(Rio de Janeiro, 1926) e representações eróticas (Homem e mulher, 1928). O artista revela um modo de vida, resultan-
te da mistura de elementos que provém de uma natureza exuberante e de um tipo humano sensual na dimensão de
relacionamentos diversos, criando um universo pictórico onde carnalidade e misticismo não se contrapõem .. Num país
católico, cuja sexualidade do brasileiro á época era problematizada, encontrou o artista o caminho para pôr em relação
sexualidade e catolicismo, como se vê no quadro Duas amigas ou Eva (1923). Se o surrealismo, como aventura do
espírito humano, teve no sonho e no marxismo as suas fontes, como coadunar o surrealismo de Ismael Nery com o seu
catolicismo, fruto de sua intensa leitura da Biblia e de sua admiração a Cristo como o maior poeta? Mas, de que
catolicismo trata Ismael Nery? O texto pretende trazer a tensão e a oposição do pensamento católico, especialmente o
de Tristão de Ataíde como crítico de arte e literatura, ás adesões ao surrealismo no Brasil.

Agenor Soares e Silva Júnior - UVA


Imagens urbanas, imagens religíosas: Ceará, a terra dos Santos Gigantes
Pretendemos com este trabalho desenvolver algumas reflexões sobre a presença dos monumentos religíosos que
pontuam algumas cidades do ínterior do Ceará Imagens de santos e santas que anunciam nas entradas e saídas das
cidades, nas praças ou colinas, a presença da religiosidade enquanto expressão que institui sentidos aos espaços
urbanos. Produzidas a partir de uma tradição que remonta os santeiros, artistas populares, mestres em esculpir na
madeira imagens que 'povoavam' as igrejas e oratórios particulares, essas imagens religiosas gigantes, agora em
ferro e concreto, exteriorizam a fé, elaborando o sentido do sagrado aos espaços. Discutimos esses monumentos além
da intencionalídade estética, compreendendo-os enquanto símbolos que tendem a resumir a cidade de forma didática
e ideológica, assim como elementos que expressam o sentido de permanência, produzindo uma memória urbana
sedimentada na religião, remontando o significado religioso dado ás cidades em tempos remotos.

Flavia Klausing Gervasio - UFMG


Emblemas luso-brasileiros: imagens faladas
A teoria artística européia dos séculos XVI, XVII e XVIII, descrita em inúmeros manuais e tratados, era ambasada em
fundamentos retóricos e na autoridade de grandes pensadores antigos. Um grande ponto de discussão desta época
era a teoria da correlação das artes, que refletia sobre a complementariedade entre suportes diversos, como por
exemplo entre a escrita e a imagem. Foi a partir desta discussão que surgiu a literatura emblemática, uma espécie de
enciclopédia de símbolos que reunia imagens conceituais junto a um mote, ou frase explicativa. Os livros de emblemas
circularam não só na Europa como também na América Portuguesa. O objetivo deste trabalho é analisar a circularida-
de das ilustrações emblemáticas na produção artística luso-brasileira, especialmente em impressos ilustrados relati-
vos á festas ocorridas na Colônia. Nestes impressos, estas imagens eram utilizadas de maneira pedagógica e visando
reforçar conceitos e moralídades á população.

Jamila Ithaia dos Santos Wawzyniak - Escola de Musica e Belas Artes do Paraná
Arte Postal: presença não institucionalizada no museu
Este ensaio estuda como a Arte Postal mesmo sendo incorporada pelos sistemas institucionais de arte, (museus,
galerias, mercado, crítica, etc) mantém seu caráter contestador de sistemas oficiais (politicos, sociais e artísticos)
Desde seu surgimento a Arte Postal esteve distante dos museus, a margem da Instituição e mercado da arte e hoje o
ao observarmos a incorporação do que é material na Arte Postal pelos museus, não parece ser possível a obtenção por
parte deles do que seria a essência do Movimento. Provavelmente para conseguir atingir uma forma próxima, mas
ainda não ideal, de apresentação, aquisição, preservação e catalogação da Arte Postal, os museus precisariam criar
novas estruturas, sistemas e paradigmas. Freire observa serem obras feitas em meios de pouca durabilidade, preser-
var esses trabalhos envolve reconstituição do contexto político-social e cultural, o repertório individual do artista, e
também das condições de exibição da obra, pois todas as definições para abarcar esses trabalhos ainda encontram-se
por fazer, já que as categorias tradicionais não dão conta dessas manifestações, portanto, 'preservar significa, dar
inteligibilidade'.

Aristeu Elisandro Machado Lopes - UFRGS


Imagens da República: a campanha republicana na imprensa ilustrada e humorística fluminense do século XIX
A imprensa ilustrada fluminense notabilizou-se por suas criticas e sátiras destinadas a temas variados da vida da
Corte. A politica tornou-se um dos mais privilegiados; as caricaturas de Dom Pedro 11 e de seus ministros eram constan-
tes e usadas para satirizar a administração imperial. A campanha republicana iniciada com o Manifesto Republicano

414
em 1870 também não passou despercebida. A partir desse periodo e sobretudo nos anos 1880 os ideais republicanos
conquistaram adeptos e a campanha se expandiu. Concomitante, circularam no Império periódicos ilustrados de gran-
®
52
de relevância. Entre eles, Revista IIlustrada comandada por Angelo Agostini e caracterizada pela campanha abolicio-
nista e simpática aos republicanos e Semana IlIustrada dirigida por Henrique Fleiuss amigo pessoal de Dom Pedro II e,
devido a esta amizade, seguidamente rechaçado pelos demais caricaturistas. O objetivo da comunicação é averiguar ~
quais as posições tomadas durante a campanha republicana pelos caricaturistas e colaboradores da imprensa ilustra- ~
da fluminense, se favoráveis ou contrários á mudança do regime de governo. Será analisado o emprego do arsenal ~
simbólico republicano traduzido em alegorias e emblemas ilustrados nos periódicos nos anos que antecederam a .~
Proclamação da República em 1889. c. '13
<n

Paulo Roberto de Jesus Menezes· UFRJ ~


Sociedade, Imagem e Biografia na litografia de Sebastião Sisson .~
As biografias foram meios importantes para a consolidação da idéia de persona exemplar e indivíduo no Brasil do ~
século XIX. A revista do IHGB consolidou uma forma de escrita biográfica que tinha na história magistra vitae sua fonte -
de inspiração. Criar a imagem do biografado através do uso de palavras enaltecedoras foi o recurso dos biógrafos que e
se dispuseram a narrar vidas naquela revista. outras obras biográficas surgiram no oitocentos sob a influência deste .d:
modelo. No entanto uma delas destacou-se com o advento da fotografia e da litografia: a Galeria dos Brasileiros
l ~
Ilustres de Sebastião Sisson. Esta associação de imagens e texto ocorre no bojo daquilo que Sthephen Bann denomi- ~
nou de "cultura visual do ocidente'. O objetivo deste trabalho é analisar a questão da introdução da imagem na escrita ~
biográfica do oitocentos, mais especificamente a obra do litógrafo Sebastião Sisson. O que estava em jogo na edição E
daquela obra? Qual o seu significado sócio-cultural? Qual o capital simbólico que ela encerrava e divulgava? Essas
são as indagações que esta comunicação pretende explorar. Esse trabalho é fruto das minhas pesquisas para o
PPGHIS/UFRJ, onde desenvolvo meu mestrado e pesquiso sobre a escrita biográfica do oitocentos sob a orientação
da prof. Norma Côrtes.

Ana Beatriz Fernandes Cerbino . UFF


Imagans da dança e do corpo: o caso do Ballet da Juventude
Uma das primeiras experiências de companhia privada de balé no Brasil, o Ballet da Juventude foi constituido em um
rico e complexo momento da história da cidade do Rio de Janeiro e do pais. Inserida no contexto ideológico do Estado
Novo, a companhia construiu sua imagem a partir de ideais de juventude e de educação, para assim atuar na formação
cultural da sociedade por meio da dança. Ao compreender o discurso de seus fundadores a partir desta perspectiva, é
possível perceber nas imagens produzidas sobre o Ballet da Juventude a legitimação não só de um 'balé brasileiro',
mas, sobretudo, de um 'corpo brasileiro'. Interessa, portanto, refletir sobre essa prática e como ela se insere no proces-
so de construção de uma história da dança no Brasil.

Mário César Coelho· UFSC


Na linguagem dos quadrinhos: algumas adaptações literárias
O uso da linguagem em quadrinhos é versátil e algumas formas narrativas são diferenciadas de acordo com a temáti-
ca. Quadrinhos podem ser usados para evidenciar episódios históricos, guerras, biografias, tratados cientificos entre
muitos outros exemplos. Por sua facilidade de entendimento, propiciado pelo uso das imagens, várias obras literárias
são adaptadas para os quadrinhos no intuito de aumentar o número de conhecedores e, provavelmente, posterior
leitura da obra original. Entre o público interessado estão evidentemente crianças e jovens, não só porque quadrinhos
têm mais figuras e menos textos, mas, pela inclusão de personagens aos quais podem se familiarizar. Isso não quer
dizer apenas que se trata de uma mensagem fácil. Entre publicações recentes, temos a adaptação de "Em busca do
tempo perdido" de Marcel Proust que vem sendo realizada por Stéphane Heuet. Muitos trabalhos demonstram o quan-
to histórias em quadrinhos podem abordar temas complexos.

l 19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h ás 16h30min) I


Maraliz de Castro Vieira Christo . UFJF
A visibilidade tardia: a circulação da obra "Tiradentes esquartejado"
Difundida pelos livros didáticos, enciclopédias, grandes exposições - como a XXIV Bienal Internacional de São Paulo
(1998) e a Mostra do descobrimento (2000) -, apontada como alicerce visual para a edificação do mito de Tiradentes,
a tela de Pedro Americo, 'Tiradentes esquartejado', permaneceu, na verdade, esquecida por mais de meio século.
Rechaçada pela crítica, quando de sua exposição no Rio de Janeiro, em 1893, por denegrir a imagem do herói, a tela
não circulo como imagem, não foi reproduzida em gravuras ou ilustrou textos sobre a Confidência Mineira. Coinciden-
temente ou não, a representação proposta pelo artista apenas se tornara conhecida, pelo grande público, a partir dos
anos de chumbo da ditadura militar.

415
Elisabete leal - CNPq/UFRGS
Arte e civismo na obra dos artistas positivistas Décio Villares e Eduardo de Sá
A República no Brasil chegou de surpresa a muitos brasileiros e às diversas categorias profissionais, inclusive aos
pintores e escultores. Imperava em fins de 1889 um clima de euforia patriótica e de adesismos ao novo regime. O
paper discutirá o papel da obra de arte no projeto de educação cívico-sentimental republicana no Brasil, especialmente
na obra dos artistas positivistas Décio Villares e Eduardo de Sá.

Ana Rita Uhle • UNICAMP


Os monumentos públicos e os arranjos da história
Neste trabalho debruçamo-nos sobre os monumentos celebrativos de temátíca republicana produzidos no Brasil na
primeira metade do século XX, com ênfase nas negociações em torno da história narrada e na escolha das alegorias
que compõem a obra. Buscamos enfocar seu processo de construção, tendo em vista os diversos papéis desempe-
nhados, tanto pelo do escultor, quanto pelo poder público, ou por intelectuais na produção historiográfica do período. A
idéia é pensar o discurso construído por esses monumentos como parte de um projeto conflituoso com interesses
diversos e agentes diversos, ou seja, de modo algum como um discurso único e fechado. Ou seja, construir uma
análise que leve em consideração a construção de símbolos e narrativas históricas a partir das obras em espaço
público, vista como um processo, ao que parece arduamente negociado.

Taís Gonçalves Avancini


"México, hoje e amanhã": uma leitura da memória nacional
A pesquísa objetivou analísar o afresco de Diego Rivera, 'México, hoje e amanhã', 1935, relacionando-o com o proces-
so de elaboração da memória nacional e de construção da identidade da nação mexicana. Na analise do afresco, estabe-
leceram-se relações entre a obra, o contexto histórico e outras obras do período presente e do passado, considerando o
fenômeno aurático da imagem, e as noções de representação e memória. A análise do afresco 'México, Hoje e Amanhã',
mostrou que alguns elementos iconográficos entraram para o panteão da memória nacional: o mestiço, o operário, as
lutas sociais, a herança indígena e, acima de tudo, a glorificação do povo. Este panteão contribuiu, portanto, para a
formação de uma memória nacionalista ligada aos ideais da revolução na qual o povo é seu sujeito principal.

I 20107 - Sexta-feira - Manhã (10h30min às 12h30min)


Rafael Cardoso Denis - PUC·RJ
Vida artística e boemia na belle époque carioca
Exame do meio artistico carioca entre 1900 e 1920, enfocando as redes de sociabilidade ligadas ao conceito de
"boemia' e a relação estreita entre praticantes de belas-artes e artes gráficas. O trabalho será estruturado a partir da
análise de algumas imagens emblemáticas, dentre as quais as telas 'Boemia', de Helios Seelinger, e 'Baile a fantasia',
de Rodolpho Chambelland.

Marize Malta· UFRJ


Imagens porta adentro e uma história com móveis
Pretendemos apresentar caminhos de leituras sobre os móveis domésticos oitocentistas consumidos e vivenciados no
Rio de Janeiro que ultrapassem as abordagens tradicionais da história da arte. Partindo do diálogo com os estudos da
cultura visual e observando os ambientes da casa de Rui Barbosa, traremos questões que considerem os móveis em
situação, as imagens que proporcionavam e o aspecto decorativo que construiram.

Camila Dazzi . UFRJ


"Profissionais da luxuria"·lmagens do Corpo Feminino na Arte no "Fin de Siecle" Carioca
O trabalho tem como objetivo a análise de duas obras do pintor Henrique Bernardelli: Dicteriade e Messalina - http://
www.dezenovevinte.neUanpuh.htm. As telas se apresentam como uma excelente oportunidade para nos indagarmos
sobre papel da mulher no contexto histórico do final do século XIX, e a forma como ele foi abordado pela cultura visual
do período - sobretudo no que se refere a sua mitificação através do tipo da femme fatale.
Apesar de feitas na Itália, pais onde Bernardelli estuda entre 1879 e 1888, as obras tinham como destino certo o Rio de
Janeiro, para onde são enviadas com propósito de participar de um acontecimento artistico de monta, a Exposição
Geral de Belas Artes de 1890, a 1° do periodo republicano. A partir das criticas de arte que saem na imprensa carioca
sobre as obras, podemos perceber que elas agradaram, na mesma medida em que chocaram nossos articulistas. A
femme fatale foi um assunto de interesse comum aos artistas do último oitocentos, por isto, na busca de compreender-
mos Messalina e Dicteriade em sua individualidade, procuraremos responder as seguintes perguntas: Como a imagem
da femme fatal e era pensada em fins do XIX? Quais foram as escolhas técnicas e temáticas de Bernardelli? Como se
deu a recepção das obras pelo meio artístico fluminense?

416
Marilda Lopes Pinheiro Queluz • Universidade Tecnológica Federal do p a r a n á @ 2
O humor gráfico da década de 20: entre o art nouveau e o art deco
Resumo: Este trabalho faz parte de uma pesquisa mais ampla sobre humor gráfico, tecnologia e linguagens. Oobjetivo
aqui é estudar as representações de modernização da década de 20, considerando o caráter ambivalente e polissêmi-
co das charges como elementos fundamentais que revelam a complexidade e a dinâmica dos processos de leitura. ~
Parte-se do pressuposto de que as caricaturas e charges são signos que refletem e refratam a sociedade. A caricatura g§
do início do século, de um modo geral, voltou-se para a cidade, para os que nela viviam e transitavam, para as novas 1§
experiências urbanas, ajudando a re-elaborar os significados dessa modernização. O humor gráfico dos anos 20 deu .~
visibilidade a outras faces do modernismo brasileiro, deixando entrever a cidade e o cotidiano nos embates entre 'ü o..
conservadorismo e vanguarda. Nos desenhos de J. Carlos e Belmonte, por exemplo, o humor se consagra na rapidez ~
dos traços, reciclando e contaminando-se dos discursos da ciência, da arte, da publicidade, da moda, do design '"
gráfico, do teatro, da imprensa. As caricaturas e charges pluralizaram os olhares sobre as mudanças sociais e cultu- .§
rais, a moda e a arte, as novas construções da imagem do feminino e masculino, reinventando as páginas das revistas ~
nas fronteiras entre o art nouveau e o art deco. ~

20107 - Sexta-feira - Tarde (14h ás 18h)

Roberto Luís Torres Conduru • UERJ


Reverbera Zumbi
As diversas representações de Zumbi existentes, configuradas desde o início do século XX, por Antônio Parreiras,
Darcy Ribeiro, João Filgueiras Lima e Cabelo, entre outros, em pintura, ilustrações para capas de revistas e livros,
imagens na rede eletrônica, monumentos públicos e intervenções urbanas, permitem e ensejam análises que articu-
lem questões artísticas, étnicas, políticas, históricas, antropológicas, sociais, do líder do Quilombo de Palmares, mártir
e herói da causa negra, da luta contra a opressão e pela liberdade no Brasil.

lohana Brito de Freitas· UFF


Construindo o Outro: Categorias de Identificação nas Viagens Pitorescas de Jean Baptiste Debret e Johann
Moritz Rugendas
Este trabalho tem por objeto de estudo as obras de Jean Baptiste Debret e de Johann Moritz Rugendas sobre o Brasil.
Através do diálogo texto-imagem nas Viagens Pitorescas destes autores, procura-se entender o projeto que gestam
para o Brasil, atentando-se aí a forma como estes artistas se utilizam das imagens na organização de seus discursos
e, principalmente, ao papel destinado aos negros e tipos negros mestiços neste processo. Pensar, pois, a imagem
como uma construção discursiva, desconstruindo a suposta polaridade existente entre real e imaginário. Afinal, o olhar
do viajante tem a capacidade de instituir conhecimentos; daí as diferentes formas e estratégias de representação, as
quais devem ser entendidas buscando relacionar a história enquanto expressão de um movimento de mudanças e
permanências ao longo do tempo.

Cláudia Maria de Moura Possa· UFBA


Imagem e alteridade: Pierre Verger nos anos 30
O tema aqui abordado é a formação estética de Pierre Verger. No decorrer da investigação de doutorado sobre sua
obra fotográfica, um dos resultados do estudo foi recuperar os momentos de formação do fotógrafo, com o objetivo de
compreender a quais demandas respondeu o seu trabalho, tanto demandas pessoais quanto demandas coletivas,
relativas ao grupo de pessoas com as quais convivia e ao contexto cultural ao qual pertencia. Só se pode compreender
a fotografia de Verger dentro da história da fotografia, francesa e brasileira, a partir de múltiplas relações e conexões.

Monique Sochaczewski Goldfeld • Fundação Biblioteca Nacional


Imagens do Oriente Médio na Coleção Theresa Christina
O trabalho em questão visa apresentar e analisar as fotografias relativas ao Oriente Médio que integram a Coleção
Theresa Christina sob guarda da Divisão de Iconografia da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro. D. Pedro 11, a
imperatriz Theresa Christina e grande comitiva realizaram duas viagens à região, sendo a primeira circunscrita somen-
te ao Egito em 1871, e a segunda, em 1876, englobou além da Turquia, o Líbano, a Síria, a Palestina e o Egito. Destas
viagens foram reunidas cerca de mil imagens de autores diversos como Felix Bonfils, Francis Frith, Hippolyte Delie e
Emile Bechard que retratam a família imperial em locais como a esplanada das pirâmides no Cairo, assim como as
paisagens e tipos humanos da região. O artigo se inscreve no âmbito da pesquisa que realizo na Biblioteca Nacional
desde dezembro de 2006, como bolsista da casa, intitulado 'O Oriente Médio no acervo da Fundação Biblioteca
Nacional', e busca não só apresentar o histórico de como se formou tal coleção como inseri-Ia no contexto do interesse
pessoal e filosófico do imperador para com a região.

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Rosângela Miranda Cherem - UDESC
História, modernismo e anacronismo na poética Meyer Filho
Considerando a história num diálogo com a teoria e da crítica de arte, a produção plástica de Meyer Filho (1919-1991)
constitui-se num território propício para armar problemas e pensar uma história da arte menos através de um campo
cronológico-evolutivo e mais como etiologia, ou seja, considerando as questões que retornam pelo recalque do olhar.
Como tal, cabe pensar, de um lado, como se operam, mesmo para artistas inseridos num circuito periférico, as referên-
cias e remetências que resultam na incorporação de uma perspectiva modernista, enquanto que de outro lado, conflui
o paradoxo da arte que se opõe ao tempo, tornando-se resíduo e rastro, espectralidade de outras temporal idades.
Assim, a obra deste pintor apresenta um conjunto de elementos intempestivos e anacrõnicos, trazidos de diferentes
temporalidades e tradições, potencializando-se como um leque de possibilidades interpretativas relacionadas sobretu-
do com as análises do historiador e filosofo francês Didi-Huberman em Devant I'image. Este procedimento torna-se
particularmente interessante para obras que não pertencem ao repertório canônico mas podem ser abordadas pelo
seu caráter de recorrência e sobrevivência, fenômeno a que Nietzsche chamou de Nacheleben.

Jacqueline Wildi Lins - UDESC


História e Arte, Vida e Obra: a produção plástica de Valda Costa
Acreditando que os cruzamentos de disciplinas ajudam a pensar o amplo campo da história e da arte, defini como foco
da minha tese de doutorado a obra e a vida de uma artista plástica florianopolitana. Trata-se de Valda Costa, uma
negra, moradora do Morro do Mocotó (bairro de baixa renda), falecida em 1993 que, entre os anos 1970 e 1980,
alcançou a condição de pintora com grande aceitação no mercado de arte local. Mergulhar na produção de Valda
Costa permitirá não somente tecer considerações sobre as inquietações da artista, traduzidas nas suas obras onde
são presenças constantes figuras humanas (retratos e auto-retratos), naturezas mortas, paisagens urbanas (cenas da
ilha de Santa Catarina, principalmente em seus aspectos culturais) e figuras sagradas, como também possibilitará
produzir articulações através das possíveis analogias entre a narrativa da produção da artista em questão e o discurso
retórico contemporâneo dentro do qual podem se inserir as imagens analisadas.

Marilange Nonnenmacher - UDESC


Tércio da Gama: a arte como salvação
Florianópolis é apresentada pelo artista plástico Tércio da Gama através de composições de um colorido frenético que
conciliam mitos e ritos da Ilha que protagonizam os autos populares. Entre eles, destacam-se: a morte e a ressurreição
do boi, as rendeiras, as crianças e suas pipas, a Maricota, a Bernúncia, os folguedos das festas do divino, as bruxas,
as estrelas, o trapiche Miramar, entre outros. O artista prima pela memória como recurso para mergulhar em suas
experiências vividas e transportá-Ias para a tela, plano sobre o qual sua imaginação escorre e cobre todas as fissuras
do tecido, num êxtase de completar todos os vazios, de enchê-lo de cores e pinceladas, no intuito de esquivar-se do
inexorável esquecimento histórico.

53. Império e Colonização: economia e sociedade na América Portuguesa


Vera Lucia Amaral Ferlini (Universidade de São Paulo)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h às 18h) I
Rodrigo Monteferrante Ricupero . USP
Trabalho e acumulação: a transição da mão de obra indígena para a africana na virada do século XVI para o XVII
Um dos momentos decisivos para a história da força de trabalho no Brasil foi o processo de transição do trabalho
escravo indígena para o africano nas áreas centrais da colônia na virada do século XVI para o XVII. Tal processo foi
marcado pela disputa entre interesses diversos, tais como a liberdade e o papel dos índios na ordem colonial, o
problema do tráfico negreiro e a necessidade de braços para a economia açucareira em expansão. Nesta comunica-
ção pretendemos problematizar algumas das visões sobre os motivos que levaram a substituição da mão-de-obra e
discutir as conseqüências de tal mudança, além de apontar algumas perspectivas de pesquisa para a questão.

Gustavo Acioli Lopes· USP


Ligações Venturosas: o lugar do tráfico de escravos entre Pernambuco e capitanias anexas e a Costa da Mina
na economia da América portuguesa, 1675-1760
Pretende-se discutir o papel que o tráfico de escravos de capitania de Pernambuco e suas anexas com a Costa da
Mina na recuperação da economia da região e no fornecimento de escravos às áreas mineradoras. Outrossim, discute-

418
se a percepção que a coroa revelou a cerca do lugar deste tráfico bipolar entre suas colônias americanas e a África
Ocidental.

Tiago Kramer de Oliveira - UFMT


Formação e reprodução de espacialidades rurais no extremo oeste da América Portuguesa (1719-1748)
No processo de expansão das atividades sertanistas ocorreram significativos descobertos auríferos na região que
passou a ser denominada de 'minas do Cuiabá', no extremo oeste da América Portuguesa, administrativamente sub-
metida á capitania de São Paulo. Além da mineração outras atividades foram fundamentais para a conquista. A produ-
ção de mercadorias no meio rural possibilitou a estruturação de um mercado interno e, a expansão deste mercado
(com a intensificação da conquista, a abertura de vias terrestres e fluviais e a integração a outras praças mercantis)
impulsionou a expansão das atividades agro-pastoris, do extrativismo vegetal e animal e a produção de derivados. O
meio rural foi espaço de disputa de diferentes grupos sociais e possuía territorialidades distintas: sítios, fazendas,
engenhos, territorialidades camponesas. Em nosso estudo sobre a 'ruralidade' em Mato Grosso, entre 1719 e 1750,
percebemos que a formação do meio rural não ocorria de forma espasmódíca, determinada por fatores externos e, ao
mesmo tempo a formação e a expansão desta 'ruralidade' não pode ser compreendida sem analisar suas articulações
com: a mineração, o poder local e metropolitano, o mercado interno e o comércío (atlântico, entre capitanias e entre as
coroas ibéricas).

Lucas Jannoni Soares - USP


Presença dos homens livres pobres na sociedade colonial da América Portuguesa
A partir do século XVIII a população livre pobre colonial constituiu-se em grave problema para a Coroa portuguesa. ~
Dadas as intensas disputas intermetropolitanas, estadistas e pensadores ilustrados portugueses puseram-se a refletir ~
sobre a relação de Portugal com suas posses ultramarinas. A colônia portuguesa na América ocuparia um lugar privi-
legiado nestes 'projetos' imperiais. E sua população livre, principalmente na capitania de São Paulo, teve um papel ê
fundamental a desempenhar para garantir a manutenção e funcionamento da estrutura colonial lusitana. Este trabalho ~
visa reconstituir o papel destes homens, 'nem senhores, nem escravos", dentro da sociedade colonial, mais especifica- .g
mente na Capitania de São Paulo. Busca-se verificar como os impasses gerados pela demanda da administração 'g
colonial, emblemadas na figura do Morgado de Mateus (1765 - 1775), recaíram sobre eles no que diz respeito às :
guerras do sul, à povoação daquelas terras e à garantia da posse efetiva dos territórios meridionais das possessões ""
portuguesas. .~
c::
o
'-'
Luciane Cristina Scarato - UNICAMP Cl.)

Os caminhos do ouro nas Minas Gerais do século XVIII e a dinãmica imperial portuguesa .~.
O objetivo deste trabalho é demonstrar' como as Minas Gerais setecentistas estiveram inseridas na dinâmica imperial .§
portuguesa. Partindo da relação existente entre História e espaço, analisamos os caminhos que se espalharam pelas g
Minas como um suporte físico para as relações de trocas não apenas econômicas, mas também culturais, políticas e 8
sociais. Do Caminho Novo e de outras tantas 'picadas', emergem os homens e mulheres que por elas passavam ou ~
nelas mantinham residência: viandantes, tropeiros, índios, militares, quilombolas, roceiros, 'vadios", estalajadeiros, :ii3
bandidos, fazendeiros e contrabandistas. A partir da análise do cotidiano dessas pessoas e do tratamento dispensado ~
pela Coroa e pelos colonos à abertura e conservação de estradas na capitania - entendidas aqui como vias de comu-
nicação essenciais entre a região mineradora e o restante da América portuguesa - buscamos identificar o elo dos
caminhos com a administração colonial ibérica e a estruturação da sociedade mineradora. Acreditamos que existem
vários elementos em comum entre as Minas Gerais do século XVIII e os demais pólos do Império luso, principalmente
no que diz respeito aos modos de pensar e agir politico-administrativamente, destacando-se, por exemplo, o contra-
bando, a monarquia e o sistema de mercês.

Adriana Romeiro - UFMG


Do nativismo ao Império dos vassalos d'EI Rei: reflexões sobre a Guerra dos Emboabas
Oobjetivo da apresentação é propor uma reflexão mais ampla sobre a natureza das revoltas ditas nativistas, a partir de
um estudo de caso - a Guerra dos Emboabas. Consagrado pela historiografia oitocentista, de inspiração nacionalista,
o tema do nativismo projetou-se na história colonial como etapa necessária de um processo mais complexo que
desaguaria necessariamente na Independência de 1822, fazendo emergir o antagonismo fundamental que dividia os
naturais da terra e os reinóis. Tal abordagem, considerada ultrapassada e altamente ideologizada, foi substituída nos
estudos mais recentes pela idéi? de pertencimento, que, disseminada em todo o Império português, unia os vassalos
das mais distantes conquistas. A imagem de um Império fragmentado em múltiplas identidades locais, sobrepôs-se a
imagem de um Império estruturado em torno da noção de pacto político, constituído por vassalos todos portugueses.
Considerada uma revolta nativista, a Guerra dos Emboabas traz à luz uma série de subsídios capazes de reformular a
problemática tanto do nativismo, quanto do pacto político, proposta mais recentemente.

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Pablo Qller Mont Serrath - USP
Dilemas & Conflitos na São Paulo restaurada. Formação e Consolidação da Agricultura Exportadora (1765-
1802)
Na América portuguesa, a partir da segunda metade do século XVIII, foi marcante a política de maior centralização
administrativa no esforço de manter e expandir o domínio colonial. As medidas adotadas a partir do ministério pomba-
lino não cessaram com a ascensão de Dona Maria, em 1777, nem com o príncipe dom João, a partir de 1792 .. Caso
exemplar das diretrizes adotadas a partir da segunda metade do século XVIII foi a restauração de São Paulo enquanto
capitania-geral, em 1765, visando não só as necessidades de conquista territorial, defesa das fronteiras e centraliza-
ção administrativa mas, igualmente, o estímulo e desenvolvimento econômico da capitania. Na tarefa de incrementar
a agricultura exportadora, a Coroa portuguesa dependeu da elite colonial paulista, possuidora de riqueza anteriormen-
te acumulada nos negócios de abastecimento das regiões extratoras de metais e pedras preciosas. Esta pesquisa visa
estudar a relação entre essa elite colonial e os diferentes governadores e capitães-generais da capitania de São Paulo,
enquanto agentes das decisões e do poder régio, durante o período de formação e consolidação da produção açuca-
reira paulista voltada para o mercado externo.

Maximiliano Mac Menz - CEBRAP


Crises de abastecimento e crise do sistema colonial, a conjuntura atlântica na passagem do século XVIII para
o XIX
Na década de 1790 secas relacionadas com o fenômeno do EI Nino atingiram praticamente de maneira simultãnea o
nordeste do Brasil e o centro-oeste africano. Tais fenômenos afetaram de maneira oposta a economia exportadora
brasileira, contribuindo para caracterizar de maneira contraditória a conjuntura do final do século XVIII e início do XIX.
Reinterpretando séries de preços e de exportação/importação, pretende-se retomar o debate a respeito da crise do
sistema colonial português, incluindo o problema das crises de abastecimento e relacionando a conjuntura econômica
com os fenômenos políticos do início do século XIX.

Vera Lucia Amaral Ferlini - USP


Uma capitania dos novos tempos: economia, sociedade e política na São Paulo restaurada (1765-1822)
Discute-se o quadro das modificações sociais, na Capitania, gerada pela economia de exportação e pelo esforço de
conquista e defesa das partes meridionais, ( a arregimentação de tropas, o incremento da produção açucareira, a
sistematização do abastecimento, a disciplinarização das populações livres pobres e a cooptação das elites locais)
objetivando constatar, em seus variados níveis, conflitos sociais e econômicos gerados pela implementação, na capi-
tania de São Paulo, da grande lavoura de exportação. Como pressuposto, considera-se que a instalação da grande
lavoura de exportação, em São Paulo, não constituiu a simples reprodução dos padrões produtivos e de configuração
social que se haviam formado, no Nordeste e no Rio de Janeiro, nos primeiros séculos. O padrão produtivo, as técni-
cas, a mentalidade empresarial forjaram-se dentro de uma nova relação, de um novo padrão de colonização exigindo
arranjos e acomodações da estrutura social, frente ao escravismo e à necessidade de mobilizar a população livre
pobre e as elites locais para a produção.

José Jobson de Andrade Arruda - USP


Impasses do Império Tripolar Atlântico ao final do Antigo Regime. Repensando a relação colonial- história e
historiografia
Retoma-se as interpretações sobre a natureza do Império português, sobrelevando a face colonial, a necessária rela-
ção de complementaridade entre Portugal, África e Brasil no processo intercontinental de reprodução que une indele-
velmente, apesar dos vastos espaços, os núcleos fornecedores de força de trabalho, as unidades produtoras de mer-
cadorias apetecíveis ao mercado e os centros consumidores ou redistribuidores que finalizam o circuito do capital e
possibilitam a retomada do processo produtivo. Tal perspectiva tem a virtude de relativizar a excessiva ênfase na
relação bipolar, Africa-Brasil, apontando para a necessária retomada da relação tripolar que, longe de minimizar a
importãncia fundamental do binômio terra-trabalho, reforça-o, para torná-lo historicamente viável e compreensível. O
repasse historiográfico apelará às circunstâncias históricas especificas em cujos contextos goram produzidas as obras
históricas, seja do momento presente, seja dos circunstanciamentos político-ideológico-culturais que o agasalharam,
seja da especialização temática do intérprete em questão.

I 17/07 - Terça-feira - Tarde (14h às 18h) I

André Félix Marques da Silva - USP


Q governo da capitania do Ceará nos primórdios da sua colonização (1679-1700)
Esta comunicação tem por objetivo apresentar algumas considerações sobre a 'arqueologia do poder' na capitania do
Ceará nas duas primeiras décadas da sua colonização. Buscaremos a partir da leitura da documentação do Conselho

420
Ultramarino identificar as diversas instâncias de poder que integravam a estrutura político-administrativa da capitania
no período do seu primeiro surto de povoamento (1679-1700), bem como circunscrever sua atuação no processo de
ocupação, valorização econômica e enquadramento institucional daquele espaço.

Fernanda Trindade Luciani . USP


Poder local no Brasil Holandês: confronto entre colonização portuguesa e colonização neerlandesa
Em seus estudos sobre o Império Português, Charles Boxer já havia indicado as câmaras municipais como elementos
de continuidade e unidade entre o Reino e seus domínios ultramarinos. Através delas, a metrópole conseguia promo-
ver e consolidar os elos com as colônias, mantendo-se informada e administrando os conflitos por meio das informa-
ções e reclamações destas instituições locais. No Brasil, não foi diferente, as Câmaras, além de um órgão através do
qual as elites coloniais exerciam seu poder, eram instituições que se destacaram como agentes no processo coloniza-
dor português. O estudo do poder local no período do Brasil Holandês, sobretudo através das correspondências entre
os oficiais camarários luso-brasileiros e o govemo neerlandês no Recife, explicita a vontade destes colonos em manter
seus privilégios e em estabelecer um vínculo com o poder, o que muitas vezes não era bem compreendido pelos
funcionários neerlandeses. Isto pode demonstrar como o sistema de dominação colonial português divergia do neer-
landês, tomado muitas vezes como mais moderno, mas que no Brasil mostrou-se pouco eficiente. Oepisódio do Brasil
Holandês pode revelar, portanto, as relações estabelecidas entre os vassalos e o Rei no Império Português e, assim,
as estruturas do Antigo Sistema Colonial.

Alexandre Mendes Cunha· Cedeplar I UFMG


Contos do Reino e das Minas: as relações entre a Junta da Real Fazenda de Minas Gerais e o Erário Régio na
segunda metade do século XVIII ~
f53\
Com o foco nas profundas transformações na administração da fazenda processadas no Império português a partir do
consulado pombalino, e nas relações entre a administração central e a administração colonial, o que se propõe é uma ê
reflexão da trajetória das instituições fazendárias, a partir do destaque à Junta da Real Fazenda de Minas Gerais, e do ~
próprio discurso relativo às finanças públicas no século XVIII português. É importante destacar que a história dessas ~
instituições e de seu funcionamento, Erário Régio e juntas da real fazenda, a despeito da importância crucial que .~
passam a assumir na estrutura de poder do Império português, e em particular essas últimas dentro da esfera colonial, :;:;
permanece como capítulo pouco cultivado de nossa historiografia. Como demonstramos na tese de doutorado que dá <tl
origem a esta proposta de comunicação, recentemente defendida junto ao PPGH da UFF, o estudo da administração .~
fazendária é ponto do mais interesse uma vez que tanto ilumina aspectos da autonomia da esfera colonial, fazendo S
mais complexa a leitura da relação colônia-metrópole, quanto, por outro lado, recoloca os limites evidentes que se a>
estabelecem. ,g (,.).
<tl
N
'c
Elaine Cristina Gomes da Cunha· UFRPE o
"O
"Todos fazem aqui o que querem": conflitos pelos espaços de poder entre Professores Régios e Autoridades c...J

Coloniais em Pernambuco na segunda metade do séc. XVIII e princípio do XIX ~


Em recentes trabalhos e artigos de historiadores da educação é freqüente a crítica sobre a recorrência de estudos ~ii5
acerca do papel da educação jesuítica e das reformas pombalinas na instrução. Entretanto, ao analisar-se alguns ..ê
trabalhos que se voltam para o estudo da educação no período colonial, observou-se que estes se referiam às didáti-
cas jesuíticas, às aulas régias, ao projeto pedagógico jesuítico e à emergência do Estado frente à educação. A partir de
um corpo documental diverso e amplo entre a segunda metade do século XVIII e início do XIX na Capitania de Pernam-
buco, observa-se uma ativa atuação e conflito dos professores régios pelos espaços de poder e de legitimação diante
de outras autoridades régias. Tais embates propiciaram a compreensão de uma complexa estrutura de organização,
reprodução e manutenção de poder político na referida capitania onde a simples carta de um docente no final do século
XVIII era essencial para a sua perpetuação. Desta maneira, e apesar de recorrer a documentos oficiais e se voltar às
relações do Estado e sociedade coloniais, pretende-se mostrar como os professores régios foram essenciais para a
reprodução junto às elites daquela estrutura, ampliando-se assim a abordagem analítica a respeito da atuação destes
docentes.

Augusto da Silva - UNOCHAPECÓ


De Praça Militar à Capitania: o governo da Ilha de Santa Catarina, 1738·1807
Apresenta-se nesse trabalho uma análise sobre o estatuto politico-administrativo da unidade colonial que se formou na
Ilha de Santa Catarina e seu continente adjacente no decurso do século XVIII. O estabelecimento que se começou a
implantar na Ilha, em 1738, não tinha o mesmo significado e nem a mesma dimensão para os diferentes agentes
imperiais portugueses, o que evidencia uma certa tensão existente entre as distintas perspectivas sobre o que era ou
tinha de ser aquela colônia. Enquanto as autoridades metropolitanas - o rei, os secretários de estado, os conselheiros
do Conselho Ultramarino - concebiam-na como um 'governo" ou uma 'praça militar", as autoridades COloniais - gover-
nadores, provedores, oficiais da câmara, entre outras - tomavam-na como uma 'capitania", ainda que subalterna.

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Nelson Mendes Cantarino - USP
De Mariana a Timor: um estudo da trajetória administrativa de João Batista Vieira Godinho
Com o objetivo mais geral de analisar as relações entre a intelectual idade luso-brasileira e a Coroa Portuguesa no
periodo de 1750 a 1808 - ou seja, da aclamação de D. José I e inicio do governo do futuro Marquês de Pombal até a
chegada da família real ao Brasil- resgata-se neste trabalho a figura de João Batista Vieira Godinho (1742-1811).
Exposto, natural de Mariana, através da carreira militar atingiu postos de destaque na administração dos dominios
ultramarinos da Coroa no Oriente, alcançando o cargo de Capitão General e Governador das Molucas Portuguesas,
território formado então pelas Ilhas do Timor e de Sólor. Através da leitura de fontes referentes á sua atuação adminis-
trativa iremos destacar a influência da Ilustração em seu pensamento, tomando, como pano de fundo, a central idade
do projeto da Coroa Portuguesa, ao longo da segunda metade do século XVIII, que visava á superação do pensamento
tradicional, á modernização administrativa e ao fortalecimento do poder monárquico, inserindo-se, assim, no quadro
geral do Reformismo Ilustrado europeu.

Ana Paula Medicci - USP


Administrações locais na crise do Antigo Regime Português - o caso paulista
Este artigo aponta questões relativas ao exercicio do poder na Capitania de São Paulo, entre meados do século XVIII
e o inicio do XIX, periodo em que a região passou por intenso crescimento populacional e produtivo e por profunda
reorganização administrativa, consubstanciada na subordinação de São Paulo ao Rio de Janeiro (1748), na sua rees-
truturação enquanto unidade administrativa autônoma (1765) e na substituição dos capitães generais por Juntas de
Governo (1821). Analisando este movimento, marcado pelo desenvolvimento econômico da América Portuguesa e
pela crise mais ampla do Antigo Regime, aponta-se indicios dos conflitos engendrados pela atuação dos governadores
enviados pela metrópole e do modo como a intrincada rede estabelecida entre administração, política e negócios
influenciava a atuação das autoridades locais.

Marca Eckert Miranda - UNISINOS


Fronteira, guerra e tributos: Rio Grande de São Pedro do Sul (1750-1825)
No Rio Grande de São Pedro do Sul, por sua posição fronteiriça, ocupação tardia e instabilidade do domínio, consti-
tuiu-se uma sociedade militarizada, na qual o controle dos recursos para a guerra e a garantia de acesso ás pastagens
e ao gado estabeleceram as bases da ação cooperativa entre as elites locais e o poder central. Mas, as profundas
transformações relacionadas á crise do Antigo Sistema Colonial e á construção do Estado brasileiro modificaram esse
complexo jogo de cooperação e subordinação, abrindo espaço para novos conflitos e arranjos de interesses. O texto
tem por objetivo discutir esse processo através da análise das características do sistema de contratos régios e dos
conflitos gerados pela sua abolição e pela construção de um novo sistema fiscal, analisados enquanto indicadores das
transformações nas relações entre setores da elite regional e o centro político do Império. Busca-se demonstrar que
esse sistema de contratos régios foi utilizado como mecanismo de cooptação de setores da elite regional e que a lenta
extinção desse sistema e a construção de novos instrumentos de extração de recursos geram resistências e oposições
ao projeto centralizador.

Marilda Santana da Silva - UFC


A Capitania do Ceará no Período Colonial: A Autonomia Política na Crise do Antigo Regime Português
A temática proposta nesta comunicação busca dimensionar a reestruturação do poder político da Capitania do Ceará
após 1799, quando conquistou a sua independência da Capitania do Pernambuco. O processo de conquista e coloni-
zação do solo da América portuguesa nos moldes do mercantilismo, se deu de forma diferenciada entre as capitanias.
Na região nordeste, no período colonial, apenas a Capitania de Pernambuco se firmou como centro exportador açuca-
reiro. As outras, inclusive a cearense, tiveram um destino diferenciado, ou seja, não desenvolveram com a mesma
intensidade nos moldes adotados por Pernambuco, uma vez que no caso do território do Ceará, a qualidade dos solo
e as caracteristicas da faixa litorânea impediram a implantação do empreendimento açucareiro. No periodo entre 1656
a 1799, quando a Capitania do Ceará esteve subordinado a Pernambuco tornou-se uma Capitania secundária, o
dirigente máximo na esfera do território era o Capitão-mor, sendo responsável pelo comando da chefia militar e admi-
nistrativa da Capitania. Nesta perspectiva, podemos considerar que o território do Ceará, apenas em fins do século
XVIII torna-se uma região estratégica na colonização portuguesa na América, conquistando sua independência política
e administrativa da Capitania do Pernambuco.

Maria Aparecida Silva de Sousa - UESB


Estado, administração e crise política: questões sobre o Império português nos projetos para o estabeleci-
mento do Reino Unido
A elevação do Brasil á condição de Reino, oficializado com a Carta de Lei de 16 de dezembro de 1815, resultou em
medida de grande impacto no quadro de uma conturbada conjuntura mundial marcada pelas restaurações monárqui-
cas na Europa bem como pelo processo de organização das repúblicas independentes nas ex-colônias espanholas. A

422
redefinição do império português, considerando as alterações políticas entre Portugal e Brasil nas primeiras décadas
do oitocentos, constitui o foco nos projetos para a efetivação do Reino Unido nos quais formulações quanto a abran-
gência da autonomia política entre as partes indistintas no interior da nação lusitana e os mecanismos necessários à
preservação e prosperidade da Monarquia portuguesa fornecem elementos importantes ao debate sobre o modelo de
Estado pretendido nos marcos da crise do Antigo Regime.

I 18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h ás 18h) I


Ângelo Emílio da Silva Pessoa· UFMS ,
Família, Propriedade, Tradição e Poder no Nordeste Colonial: a Casa da Torre de Garcia d'Avila
Historiadores e estudiosos de diversas linhas teóricas e de diversas épocas destacaram a presença fundamental da
familia (em suas diversas configurações) como elemento essencial da organização social da América lusitana. No que
tange á questão do exercício de relações de poder, a família patriarcal ocupou parte importante de reflexões de diver-
sos intelectuais preocupados em entender a formação social brasíleira.
Nossa proposta é a de revisitar os debates em torno,da questão, tomando como objeto de reflexão uma destacada
família baiana entre os séculos XVI e XIX, os Dias dAvila, que constituíram a famosa Casa da Torre, que obteve ao
longo de três séculos e dez gerações um dos maiores patrimônios fundiários já constituídos no Brasil, além de exercer
destacados cargos na administração local e em prestigiosas instituições na Bahia e comandar tropas armadas em
combates contra indígenas e outros reinos europeus que disputavam o controle da terra com os portugueses. Aprovei-
taremos a ocasião para dimensionar certos aspectos do exercício das relações de poder no mundo colonial, confron-
tando o poder privado de uma grande família com as autoridades governamentais e a população em geral. ~
fs3\
Marisa Marques· CHAM • Universidade Nova de Lisboa '"
c::
Os primeiros Sás no Rio de Janeiro: o início da tradição familiar na administração carioca ~
À afirmação do sistema colonial pela criação de instituições, garante do funcionamento jurídico-administrativo e de .g
subordinação à Coroa estabelecido por Mem de Sá a partir da capital, S. Salvador da Baía de Todos os Santos, centro .~
do novo Estado administrado segundo o sistema de capitanias e centralizado na figura do governador-geral, seguiu-se ;;;
a criação da cidade de S. Sebastião do Rio de Janeiro, para defesa das capitanias do sul e a nomeação dos seus '"
primeiros capitães-mores, Estácio de Sá (1565-1567) e Salvador Correia de Sá (1568-1571; 1577-1598). Primos e .~
sobrinhos do primeiro, capitães-mores do Rio de Janeiro, mantêm, consolidam e adaptam o seu poder na administra- 8
ção carioca pelo apoio ao crescimento económico, á fixação populacional e ao estabelecimento de serviços de justiça Q)

e fazenda. Matérias que nos propomos analisar no estudo em questão. .~


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Roberta Giannubilo Stumpf • UNB o


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As nobrezas na Capitania de Minas Gerais (1750-1792) u
Há muito a historiografia tem apontado para as especificidades da organização social nas Minas no século XVIII, ,~
principalmente ao enfatizar que a riqueza ali, mais do que qualquer atributo, era a principal via de ascensão social. No .Q:;
entanto, nossos estudos nos têm mostrado que os critérios societários vigentes na capitania não se distanciavam de ~
todo daqueles que tradicionalmente hierarquizavam os individuos no Reino já que os valores estamentais também
influenciaram no estabelecimento das clivagens sociais. Através da análise dos requerimentos de alguns habitantes
que solicitavam mercês nobilitadoras ao rei, percebe-se que nas Minas Gerais muitos eram aqueles que percorriam as
vias tradicionais de enobrecimento, reconhecendo assim que o monarca era a instância máxima da organização soci-
al. Assim, como a importância social dos indivíduos dependia não só do reconhecimento local, como também do
reconhecimento régio, que este trabalho pretende apontar para dois tipos de nobreza ali existentes: a nobreza da terra
e a nobreza civil. Entender esses dois grupos como distintos nos tem permitido notar a coexistência de padrões
hierárquicos de distintas matrizes (reinol/local) na consolidação das hierarquias sociais nas Minas.

Christiane Figueiredo Pagano de Mello


Privilégios e Elites locais. A isenção ao serviço militar
OAlvará Régio de 24 de fevereiro de 1764 vem a detalhar toda a matéria concernente ao recrutamento militar. O que
nos interessa analisar, é o fato deste Alvará, manter uma considerável lista de privilégios de isenção ao serviço militar.
Assim, uma considerável parcela da população, passível de ser recrutada, encontrava-se fora do alcance dos agentes
recrutadores. Para se entender o aparente paradoxo estabelecido pelo Alvará de 1764, é preciso inseri-lo na dinâmica
das negociações e trocas responsáveis por alimentar continuamente o pacto entre o poder monárquico e seus vassa-
los. Nesse sentido, a formação dessa força militar não deveria colidir frontalmente nem com os respectivos interesses
dos notáveis locais e nem, tampouco, com os daqueles que desenvolviam atividades econômicas consideradas úteis
ao Estado.

423
Raquel Torres da Costa e Silva - UFPE
Açúcar, mais que uma mercadoria colonial: um elemento constitutivo da dinâmica alimentar da colônia
A historiografia brasileira acerca do açúcar é bastante rica e variada, e muitos são os estudos que analisam aspectos
como a importância econômica dessa mercadoria, seu processo de produção, sua tecnologia, seu comércio, seu
transporte, sua dinâmica. Outros tantos trabalhos dão ênfase à sociedade que se constrói em torno desse complexo
canavieiro, sua relação com a escravidão e com o latifúndio. No entanto, o açúcar e os subprodutos resultantes do seu
fabrico encontram-se presentes na dinâmica alimentar mestiça da Colônia, com variados usos e significados, seja na
aguardente ou na rapadura consumidas pelos escravos, seja à mesa dos senhores de engenho, muito apreciadores
dos doces e das compotas de frutas. Tais usos e significados estavam diretamente relacionados ao valor que o açúcar
tinha na Metrópole e nas outras nações européias, interligadas social e economicamente dentro do complexo da
incipiente 'economia-mundo'. Nosso objetivo consiste em abrir uma nova perspectiva de abordagem histórica para
esse tema tão trabalhado dentro da historiografia brasileira, mas ainda insuficientemente explorado em algumas de
suas nuances bastante significativas, como o universo de seu consumo.

Joana Monteleone - USP


Açúcar e insdustrialização: padrões de consumo europeu e produção colonial, 1750-1840
A presente comunicação aponta elementos associados ao açúcar e à industrialização, que dá origem a hábitos alimen-
tares ligados à nascente sociedade industrial. Nesta perspectiva, a revolução industrial teria estimulado a produção
açucareira colonial e, no caso da América portuguesa, estabelecido um novo padrão de colonização.

Vanicleia Silva Santos - USP


As Bolsas de Mandinga na Bahia - século XVIII
O espaço Atlântico no Antigo Sistema Colonial foi local de trocas de idéias e coisas. O uso de amuletos junto ao corpo,
para proteger as pessoas era uma prática disseminada entre a maioria dos povos africanos. As bolsas de mandinga,
largamente utilizada na Costa Ocidental entre os povos islamizados e de outras crenças tradicionais foram também
usadas, a partir do século XVI, em Portugal e na América Portuguesa, tanto por negros quanto por brancos. Esta
comunicação tem como objetivo mostrar o universo no qual estavam inseridos negros africanos, crioulos, pardos,
forros, livres e escravos que portavam ou faziam as bolsas de mandinga no sertão da Bahia, e os novos sentidos e
significados atribuídos ao amuleto em lugares onde havia ausência do poder catequizador da Igreja. O sertão, apesar
de ser visto como um lugar onde os negros aproveitavam as matas para formarem quilombos, também era o lugar que
os obrigava a enfrentar todo tipo de perigo, que iam desde as sevícias do senhor até as doenças e conflitos com
indígenas. O estudo do uso das bolsas de mandinga levará-nos a entender que apesar de toda a violência sofrida e
perigos, isso não excluiu processos de reconstrução e recriação cultural.

Carlos de Faria Júnior - Universidade Gama Filho


A censura no Brasil no período joanino
O presente trabalho é fruto da pesquisa referente à minha tese de doutorado, já em sua fase final, pela Universidade de
São Paulo, sob a orientação da Prof' D~ Maria Beatriz Nizza da Silva. O tema da pesquisa é o pensamento político de
José da Silva Lisboa, e uma das abordagens mais importantes da mesma é a sua atividade como 'Censor Régio'. Para
poder melhor visualisar esta condição, tive de observar amplamente as determinações políticas referentes à censura
desde o período de D. Maria I. O texto que pretendo apresentar observa a censura em sua generalidade no período
referido, e não apenas no especifico da atuação de Silva Lisboa como censor. Pretendo discutir as determinações
régias referentes à censura e ao que deve ser censurado. À partir de tais determinações, discuto a posição dos
censores, dos autores e dos editores quanto à censura e à publicação de livros, periódicos e quanto à divulgação das
obras publicadas no estrangeiro. No que se refere à proibição das publicações, aponto as propostas do governo no
sentido de resolver os casos em que as partes interessadas desejem reverter o parecer da censura, ou em que dois ou
mais censores apresentem divergências em seus pareceres. Termino analisando a polêmica em torno da própria idéia
de censura neste periodo.

Cláudia Fernanda de Oliveira - UFMG


Educação Feminina na Colônia: aprendizado e possibilidades de uso dos ofícios manuais em Minas Gerais
(1750-1800)
O objetivo deste trabalho, portanto, é apresentar os resultados parciais da pesquisa que venho desenvolvendo no
mestrado cuja proposta é compreender as práticas educativas através da aprendizagem de oficios manuais destina-
das às mulheres e a inserção dessas mulheres na sociedade mineira colonial, por meio dessa educação, no período
de 1750 a 1800. Essa educação era constituída pelo aprendizado de oficios manuais variados, como a costura, o
bordado e as técnicas para se fazer rendas. Esses ofícios eram ensinados nos recolhimentos, juntamente com alguns
rudimentos de leitura e escrita e preceitos religiosos, ou em outros em outros espaços, como nas casas das mestras de
costura e bordado. As mulheres que detinham esse conhecimento o ensinavam a outras mulheres, muitas vezes

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quando as aprendizes ainda eram crianças órfãs, durante o exercício da tutoria, Em geral, as mulheres, ao ficarem
órfãs, passavam pelo processo de tutoria, que envolvia o encaminhamento para algum tipo de educação, o que,
segundo nossas fontes, costumava envolver o aprendizado da costura, mesmo para aquelas cujos pais eram homens
de posses, sendo comum que as filhas aprendessem esse mesmo tipo de oficio,

José Newton Coelho Meneses - UFMG


Formas, cores e efeitos: emblemas, simbologias e manifestações da identidade dos ofícios mecânicos no
mundo português dos séculos XVIII e XIX
A comunicação objetiva refletir sobre a identidade dos oficiais mecânicos no mundo português dos séculos XVIII e XIX,
tomando como fundamento as apresentações e representações pÚblicas do trabalho e do trabalhador manual naquele
período, Toma de exemplo a participação dos artesãos na procissão de Corpus Christi no Reino, em cortejos religiosos
nas Minas Gerais, em cerimônias civis ou de representação do corpo da cidade, no espaço colonial e metropolitano,
em representações escultóricas dos ofícios em templos de Lisboa e de Baependi, em Minas e, por fim em painel de
azulejo auto-elogioso de artesão português, no Reino, Problematizar a emblematização que busca dar visibilidade ao
trabalho e à identidade do oficial mecãnico em Lisboa e em Minas Gerais, no transcorrer deste espaço temporal e a
variedade dos arranjos sociais do mundo dos trabalhadores mecânicos é tarefa que a comunicação inicia. Com formas
ricas, mesmo que em cores discretas, homens de ofícios mecânicos em uma sociedade de corte que se aburguesa,
evidenciam seu trabalho, sua participação na construção das urbes portuguesas, no Reino e na América. Marcam suas
identidades com signos e emblemas de valores correntes. Documentação das Câmaras, relatos e imagens são as
fontes primordiais utilizadas na interpretação.

Myriam Paula Barbosa Pires - UERJ


Zeferino Vitor de Meirelles - da Imprensa Régia à Tipografia do Diário: uma trajetória de dedicação à imprensa
@
O presente trabalho objetiva analisar a trajetória do tipógrafo Zeferino Vitor de Meirelles às vésperas da fundação de co
c:
sua tipografia: a Tipografia do Diário. Deste modo, está circunscrito entre os anos de 1813 e 1822, época em que ~
Zeferino atuou como funcionário da imprensa oficial: A Tipografia da Imprensa Régia. Trazemos como principal hipóte- ~
se que durante este tempo, o redator estabeleceu contatos que o auxiliaram posteriormente quando decidiu montar 'g
'empresa' própria. As fontes utilizadas estão na seção de documentos biográficos, da seção de manuscritos, existente ~
na Biblioteca Nacional. Por estas fontes é possível verificar de que modo se estabeleciam algumas das relações do co
tipógrafo com o seu entomo -dentro e fora da Imprensa Régia - recebendo, entre variados cargos, elogios de secretá- .~
rios da Junta Diretora e até mesmo de censores. ~
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o
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I 20107 - Sexta-feira - Manhã (10h30min às 12h30min)~'
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Ágatha Francesconi Gatti - uSP 8
A Junta das Missões de Pernambuco: pela conquista e colonização do 'sertão de fora' do Estado do Brasil ~
Na comunicação que apresentarei pretendo analisar a Junta das Missões de Pernambuco criada em 1681, no que diz ~~
respeito à sua importância e funcionalidade enquanto parte do quadro administrativo do sertão nordeste do Estado do l'
Brasil. Considerando alguns momentos de sua atuação e buscando desenvolver o significado, na prática, da atribuição
de 'promover as Missões' - estipulada na carta régia que determinava sua criação -, procuro mostrar que a Junta das
Missões de Pernambuco constituiu-se como uma importante Instituição de poder regional, cuja criação deu-se no
contexto de 'ocidentalização' da politica metropolitana na segunda metade do século XVII. Tendo efetiva jurisdição no
chamado sertão 'de fora', ou seja, nas Capitanias de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande e Ceará, entendo que a Junta
das Missões de Pernambuco não foi mero instrumento de viabilização da política indigenista portuguesa, mas, tam-
bém, uma Instituição ativa no processo de conquista e colonização da região, deliberando, 'in loco', medidas de
contenção e eliminação das ameaças aos domínios portugueses na sua área de atuação.

Luiz Antonio Sabeh - UFPR


Colonização salvífica: o empreendimento missionário de Manoel da Nóbrega na América portuguesa -1549-1560
A aprovação da Ordem dos jesuítas durante o movimento Contra-Reformista demonstra, em parte, as medidas toma-
das pela Igreja diante do crescimento das heresias. A ação missionária dos jesuítas, na América portuguesa, eviden-
ciou também o dever apostolar dos portugueses de defender e difundir a fé cristã. Iniciar o projeto de cristianização no
Brasil significava expandir a fé, a cultura e a riqueza reais. Nóbrega desempenhou importante papel na evangelização
dos amerindios. Homem influente na sociedade lusitana, contribuiu sobremaneira na lide colonialista dando conta à
Metrópole das principais necessidades no além-mar. É possível, entretanto, desassociar religiosidade e povoamento
da sua ação missionária? Uma análise sensível de suas cartas mostra-nos que colonização e evangelização são
discursos que caminham juntos e estão intimamente relacionados. No sentido de melhor ocupar o território, seus
pedidos de homens de ofícios e de mulheres associavam-se à correção da fé dos europeus cristãos residentes na

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colônia. Nesse sentido, entendemos seu empreendimento religioso como uma colonização salvífica: a tentativa de
povoar a terra motivava-se, também, pela correção da fé dos portugueses nela residentes para que estes fossem
exemplos aos indigenas a serem convertidos á fé de Cristo.

Katiane Soares Verazani - USP


Assenhorear-se de terras indígenas: o Aldeamento de Barueri
A comunicação enfoca o aldeamento de Barueri, como unidade fornecedora de mão-de-obra, mas principalmente de
terras, na medida em que os aldeamentos serviam como fator de desobstrução de terras, as quais a partir daí torna-
vam-se disponíveis para a exploração colonial. O estudo enfoca o periodo colonial e avança até o século XIX, período
de maior efervescência na legislação relacionada a questão territorial em geral, e na das terras indígenas em particu-
lar, que definiram a estrutura agrária do país atual, e causaram intenso reflexo sobre os aldeamentos indígenas,
levando-os ao total desmantelamento ainda nesse século.

Anderson Batista de Melo - UNB


Tempos de Rendição: A Política Racial Pombalina No Brasil Colonial (Goiás na Segunda Metade do Século
XVIII)
De 1773 a 1776 os grupos indigenas localizados na capitânia de Goiás foram assolados por um período de secas que
facilitou a rendição de grupos que a várias décadas resistiam belicamente ao projeto colonizador lusitano. As proce-
dências adotadas pela administração colonial local (aldeamentos e inclusôes civilizatórias) eram orientadas pelo Dire-
tório Indigena (1758), instrução funcional e de influências advindas da Ilustração, marca indicativa da política pomba-
li na aplicada no Brasil.

I 20107 - Sexta-feira - Tarde (14h às 18h)


Leandro Calbente Câmara - USP
A carestia de sal e a atuação da edilidade paulistana na segunda metade do século XVIII
O objetivo do presente trabalho é analisar a atuação dos oficiais camarários no episódio de carestia de sal na cidade
de São Paulo nos últimos anos do século XVIII. Na tentativa de solucionar a questão, a edilidade adotou uma série de
medidas para controlar o armazenamento e o comércio do produto. Nesse sentido, o interesse dessa situação é a
possibilidade de observar os meios concretos que a instituição municipal possuía para gerir e controlar a vida cotidiana
no espaço urbano de São Paulo. Além disso, é possivel identificar as relações de poder estabelecidas entre os oficiais
e outras instâncias atuantes nesse espaço, como o govemador. Dessa forma, por meio da análise desse episódio,
pretendo discutir alguns aspectos da gestão do poder municipal na cidade de São Paulo nesse periodo.

Avanete Pereira Sousa - UESB


Monopólio, comércio e redes familiares (Bahia, século XVIII)
A colonização do Brasil, a partir da segunda metade do século XVI, teve na produção de gêneros tropicais para
exportação seu elemento dinâmico. A Bahia, sem dúvida uma das principais capitanias da América portuguesa, tornou-
se um dos mais bem sucedidos exemplos de exploração econômica nos moldes citados, passando de pólo simples-
mente administrativo a um forte núcleo de homens de negócio, ou melhor, de homens e negócios, de gente e de
coisas. Dos trânsitos produtivos e comerciais viviam grandes, médios e pequenos negociantes. As caracteristicas, o
caráter e monopólio familiar das atividades comerciais desenvolvidas na capitania constituem o eixo-central desta
comunicação. A ênfase recairá na forma através da qual foram se tecendo redes familiares em torno de determinados
'fazeres mercantis' transformando-os em instrumentos de controle e aquisição de poder e prestigio.

Caroline Silva Severino - Unesp


Negócios e negociantes paulistas na Comarca de Curitiba
Esta comunicação de pesquisa irá levantar algumas indagações sobre as relações entre autoridade e circuitos mer-
cantis existentes na Comarca de Curitiba no periodo de 1765 a 1822, a partir da correspondência administrativa
publicada nos Documentos Interessantes para a História e Costumes de São Paulo. Essa documentação chama a
atenção para a problemática do poder local e do mercado interno ao apontar negociações e conflitos existentes entre
autoridades régias e locais, ao mostrar negociantes pressionando a câmara ou negociando diretamente com autorida-
des régias, além de esclarecer disputas existentes entre negociantes com atuação no mercado local ou inter-regional
da região centro-sul da América Portuguesa. Estas reflexões se inserem nas preocupações historiográficas atuais que
visam melhor compreender o complexo e dinâmico funcionamento do Império Português.

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Denise A Soares de Moura - UNESP
Relações inter-camarárias e comércio vicinal e inter-regional em São Paulo (1765-1822)
Resumo: Esta comunicação de pesquisa discutirá as tensões existentes entre a Câmara da vila de Santos e o Senado
da Câmara de São Paulo em relação aos circuitos mercantis de abastecimento local e inter-regional. Não desconside-
rando a complexidade das relações no interior do organismo imperial português, pautada por negociações, acordos e
conflitos, serão priorizados dados levantados em documentação camáraria e correspondência oficial produzida por
autoridades locais e régias que vêm sugerindo que grupos no interior do Senado da Câmara de São Paulo procuraram
fortalecer o circuito local de abastecimento de alimentos e de carne, visando favorecer, especialmente, os criadores
locais de animais. Para tanto, assumiram uma política de negligência em relaçâo ao projeto régio de viabilização do
Caminho Mar, pressionaram as câmaras de vilas próximas da cidade em relação à comercialização dos gêneros de
suas unidades produtivas e exerceram uma política de boicote aos projetos de negociantes e autoridades locais da vila
e praça de Santos. Através destas questões pretende-se contribuir para as investigações e debates que vêm tentando
melhor compreender os vàrios níveis de funcionamento do Império Português diante do 'novo padrão de colonização'
vigente a partir dasegunda metade do século XVIII.

Maria Aparecida de Menezes Borrego - USP


Negócios e fortunas na São Páulo setecentista
O objetivo da comunicação é analisar os papéis socioeconõmico e político desempenhados pelos comerciantes atuan-
tes na cidade de São Paulo ao longo do século XVIII, em especial, no período compreendido entre os anos de 1711 e
1765. Figuras centrais para o abastecimento da população, para a articulação da urbe com outras regiões da América
Portuguesa e com a metrópole, e para a concorrência com a elite agrária nos postos de mando, são eles uma chave
para o entendimento da dinâmica de Piratininga naquele momento histórico. Por meio da riqueza avaliada nos inven- ~
fs3\
tários post-mortem e dos cabedais declarados no censo de 1765, pretende-se refletir sobre a posição de destaque
assumida pelos agentes mercantis que partiram de longinquas freguesias de Portugal, ainda rapazes atravessaram o ê
atlãntico, se dedicaram ao comércio na colônia e alcançaram proeminência econômica e política na sociedade paulis- .g;
tana setecentista. Para tanto, serão levados em consideração a composição das fortunas do grupo comercial, os ~
padrões de investimentos, os múltiplos negócios realizados, as alianças matrimoniais tecidas e a sua participação nos 'g
órgãos de poder local- câmara municipal, misericórdia, irmandades, juizo de órfãos e companhias de ordenanças. ::;;
co
Marcia Naomi Kuniochi - FURG E
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Redes de comércio no porto do Rio Grande co
'-'
Em meados do século XIX, a cidade do Rio Grande abrigava uma série de casas comerciais estrangeiras e represen- OJ
tantes comerciais de negociantes do Rio de Janeiro. A presença de um significativo corpo mercantil remete ao fato de .~_
o
que o comércio, lícito e ilícito, está na origem da ocupação da fronteira meridional do Brasil por causa da bacia do Rio .§
da Prata. A localização estratégica, como último porto brasileiro antes do Rio da Prata, fez com que, pouco mais de um §
século após sua fundação, ocorrida em 1737, a vila de Rio Grande São Pedro transformar-5e-ia em um dos princi- 8
pais centros fornecedores de carregamentos de mercadorias enviadas ao Rio de Janeiro. As mercadorias enviadas .~
consistiam em subprodutos do gado: charque, para o mercado interno; e couros e sebo, para serem reexportados, -~
principalmente, para a Europa. Essa divisão refletia-se em redes de comerciantes diferenciadas: aquelas que ex- E
portavam para o exterior eram compostas majoritariamente de negociantes estrangeiros, enquanto que as redes
que distribuíam derivados do gado para o mercado interno eram compostas de negociantes de Rio Grande. Este
artigo deve apresentar um pequeno estudo da sociedade mercantil riograndina, que atuava no comércio marítimo,
em meados do século XIX.

427
54. Infância e juventude na História do Brasil: abordagens e perspectivas
Esmeralda Blanco B. de Moura (USP) e Silvia Maria Fávero Arend (UDESC)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h às 18h) I
Ivonete Pereira - UNIOESTE
Universo infanto-juvenil: a historicidade da história da infância no Brasil
O presente trabalho, enquanto pequena parte de nossa pesquisa de doutorado, tem por objetivo trazer algumas refle-
xões acerca da historicidade da história infanto-juvenil no Brasil. Nossas reflexões têm como ponto de partida a con-
cepção de que as duas principais vertentes de pesquisa, que deram origem à História da infância e juventude no Brasil,
foram os estudos realizados por pesquisadores ligados ao CEDHAL- .USP, composto basicamente por historiadores e
das pesquisas dos integrantes do antigo CESPI-Universidade Santa Ursula/RJ, o qual aglutinava diferentes pesquisa-
dores das áreas de Ciências Sociais e das Ciências humanas. Partindo desta perspectiva, fazemos uma breve análise
acerca dos dois Centros de Pesquisas e, em seguida apresentamos algumas reflexões sobre as diferentes aborda-
gens do universo infanto-juvenil no Brasil, apresentadas pelos pesquisadores dos respectivos Centros, bem como
suas contribuições à criação de um novo campo de pesquisa histórica no Brasil: A história da infância e da juventude.

Lilian Rodrigues da Cruz e Glória Cristina Ferreira Gabriel- Universidade Santa Cruz do Sul
Os Caminhos da História: uma leitura sobre a produção da infância no Brasil
Este trabalho objetiva discutir, a partir das formas pelas quais se constituiu a categoria infância no Brasil, a atual
configuração das políticas públicas voltadas para esta área. As problematizações apóiam-se teoricamente em elemen-
tos da obra de Michel Foucault.

Valéria Aparecida Bressianini - Escola Municipal Afrânio Peixoto


O uso de fontes orais no estudo da história da infância no meio rural
O foco de nossa comunicação é a experiência da pesquisa de História Oral realizada com a família Servilheri e Mori,
ex-moradores da área rural Água Jacutinga no município de Ivatuba (PR), na qual analisamos as experiências vividas
pelas crianças no meio familiar, escolar e social no período correspondido de 1960 a 1980. A pesquisa foi desenvolvida
em uma das linhas de trabalho do Laboratório de Apoio à pesquisa Histórica da Infância e da Adolescência (LAPHIA-
UEM), ou seja, a produção de fontes orais. para pesquisas regionais e da infância no meio rural. A pesquisa realizada
com entrevistas com os ex-moradores da Agua da Jacutinga permitiu um contato com o cotidiano infantil na zona rural
como brincadeiras, educação escolar, vida familiar entre outros aspectos. No processo de realização das entrevistas a
compreensão da importância do estudo de historia da infância foi fundamental nesse trabalho.

Alcileide Cabral - UFRPE


A Sorte dos Enjeitados no Recife (1789-1832)
O tema desta comunicação versa sobre A Sorte dos Enjeitados no Recife entre os anos de 1789 e 1832, quando
inúmeras crianças eram abandonadas muitas vezes para a morte. Essas práticas corriqueiras - o abandono e o
infanticidio - se tornaram um problema de ordem pública que levou o governo a criar, no final do século XVIII, a Casa
dos Expostos. Contudo, o combate ao infanticidio e a assistência ás crianças abandonadas não foram políticas isola-
das, mas fizeram parte de um plano geral de "governamental idade', no dizer de Foucault, que enredou a cidade e a
população. Neste sentido, a virada do século trouxe novas questões, entre elas, o problema do que fazer com meninos
e meninas que, à revelia do precário sistema de criação, sobreviviam. Para as elites, esses enjeitados passaram a
fazer parte dos segmentos da população potencialmente perigosos, deixando de ser crianças em perigo para se tornar
crianças perigosas. As estratégias de disciplinarização e assimilação dos expostos reproduziram os mecanismos de
discriminação social, de gênero e racial. Porém, houve os que conseguiram escapar desse sistema excludente. A sorte
sorria diversamente para cada um deles, e era preciso ser esperto, ágil e corajoso para fazer de uma centelha um
facho de luz a iluminar rotas alteradas.

Beatriz T. Daudt Fischer - UNISINOS


Vale dos Sinos, primeiras décadas do séculoXX: histórias de atenção à infância
Percebendo a criança como um ser frágil, ou como um futuro cidadão ameaçador da ordem discursos sustentaram
práticas e políticas diversas, indicando relações de poder conflitantes, não necessariamente visíveis. A presente pes-
quisa tem como objetivo analisar tal complexidade, tendo como campo empírico um dos municipios do Vale dos Sinos.
Adotando como recorte temporal as primeiras décadas do século XX, coleta dados a partir de fontes orais, escritas e
iconográficas, encarando tais documentos enquanto discursos e práticas que ajudaram a instituir regimes de verdade.

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Alexandre Ramos de Azevedo· UFRJ
Abrigos espiritas para a infância: uma descoberta da infância sob o lema "fora da caridade não há salvação"
Quando o juiz de menores do Rio de Janeiro, Saul de Gusmão, deu inicio, em 1940, ao serviço de recenseamento e
fiscalização das casas de proteção à infância, constatou que dos 33 estabelecimentos registrados, 27 eram católicos
e 6 espiritas. Apesar desse e de outros registros significativos, a atuação dos espiritas no campo da assistência à
infância tem sido pouco investigada. Resolvemos, então, empreender uma 'arqueologia' dessas instituições, no intuito
de averiguarmos os motivos que levaram os referidos atores sociais a entrarem na longa história da institucionalização
da infância, passando a disputar espaço com outros atores mais antigos nesse campo. Para produzirmos este traba-
lho, tivemos que remontar ao nascimento do Espiritismo, na França, consultando os livros e a revista mensal publica-
dos por Allan Kardec entre 1857 e 1869. Entretanto, foi no periodo entre 1904 e 1922 que pudemos acompanhar de
perto, na revista 'Reformador", órgão de divulgação da Federação Espirita Brasileira, fundada em 1884, como as
'obras de caridade', dentre as quais os abrigos ou asilos destinados aos 'órfãos' ou à infância desamparada, ajudaram
na construção da identidade do movimento espirita brasileiro.

Ismael Gonçalves Alves· UOESC


O projeto moralizador das famílias mineiras na Vila Operária Prospera - Criciúma
Pesquisando sobre a classe operária de Criciúma, mais especificamente sobre os trabalhadores mineiros e as familias
que habitavam a Vila Operária Próspera, um bairro ligado ás atividades extrativas do carvão, chamou-me atenção a
atuação de um grupo de religiosas pertencentes à Congregação das Pequenas Irmãs da Divina Providência. O inicio
da extração do carvão mineral pela Carbonifera Próspera desencadeou um fenõmeno comum a vários núcleos indus-
triais, ou seja, a vinda de pessoas das regiões vizinhas em busca de emprego. Para abrigar e comportar a mão-de-obra
atraida pelo emprego, a Sociedade Carbonifera Próspera serviu-se de um instrumento muito utilizado nas grandes
cidades européias e brasileiras, a vila operária. Esse trabalho tem como intuito analisar a participação das Pequenas
Irmãs da Divina Providência dentro de um processo de normatização aos quais foram submetidas às familias mineiras
da Vila Operária Próspera, em Criciúma. A ação das Irmãs consistia na então na reeducação e na reestruturação
familiar, onde a mulher e as crianças eram peças mestras deste processo.

Fabio Macedo - UOESC e Mery·Ann Furtado e Silva· CEJA·SC


Filhos no Mundo: discursos e experiências sobre a adoção internacional (Santa Catarina, 1994-2006)
Em um mundo globalizado a denominada adoção internacional tem adquirido grande importância. A partir de 1990, o
Estado brasileiro, tendo em vista a doutrina da proteção integral que fundamenta o Estatuto da Criança e do Adoles-
cente, procurou regulamentar as ações relativas á adoção internacional. Dentre estas ações destaca-se a criação das
Comissões Estaduais Judiciárias de Adoção (CEJA's), que gerenciam todo o processo que envolve a criança ou o
jovem a ser adotado - os pais consangüineos, os adotantes estrangeiros, as instituições para adoção dos paises de
acolhimento e os operadores do Direito brasileiros. Nessa pesquisa, através dos autos de habilitação para a adoção
internacional de casais franceses, emitidos entre 1994 e 2006, pela CEJA do Estado de Santa Catarina, analisamos
parte desse processo. Em primeiro lugar esboçamos um perfil dos adotados, pais consangüineos e adotantes. Poste-
riormente identificamos as diferenças presentes nos discursos dos agentes que operacionalizam as adoções, tais
como os operadores do Direito brasileiros, psicólogos e assistentes sociais brasileiros e franceses e os membros das
instituições estrangeiras. Por fim, procuramos conhecer as experiências dos adotados em sua nova familia na França Q
ao longo do periodo. ®
I 17/07 - Terça-feira - Tarde (14h ás 18h) I
Nucia Alexandra Silva de Oliveira· UOESC .<;;

Uma História da educação das crianças no Brasil: questões de ontem e hoje e


=
Este trabalho pretende discutir questões referentes a História da educação no Brasil priorizando a educação destinada .g
as crianças. Como se sabe, a educação é questão central nos dias de hoje e muitos são os que apontam como saida Ct'l

para os tantos problemas sociais enfrentadoslvivenciados especialmente pelas crianças e adolescentes. No que diz ~
respeito ao hoje, sabe-se também que as políticas não têm sido suficientes para resolver tais problemas nem para ::c
assegurar a permanência e continuidade do ensino, especialmente para as crianças de camadas populares. Os núme- ~
ros oficiais ou não, mostram realidades de privilégios e exclusões, constituindo assim a educação como algo a ser {g
resolvido. Esta realidade certamente não foi construída em nosso tempo. Um longo processo de decisões e opções ~Q)
equivocadas e mesmo boas propostas que não tiveram continuidade, são algumas das páginas da História da Educa- .~
ção no Brasil. Entre outros temas, são estas as questões que este trabalho pretende discutir: as políticas para a Q)

educação das crianças; os principais programas educacionais no Brasil de hoje e seus objetivos; os resultados de tais .~
políticas e programas em nossas escolas. :.&
E

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Lais Viena de Souza - UFBA
Padre Alexandre de Gusmão, o Seminário de Belém e o Ensino das "Letras" e "Honestos Costumes" na Amé-
rica Portuguesa (séculos XVII-XVIII)
No ano de 1686, o padre lusitano Alexandre de Gusmão S, J, (1629-1724) iniciou no Recôncavo baiano a fundação do
Seminário de Belém, para instrução de meninos do 'sertão" e 'partes desamparadas' da doutrina cristã. Literato e
educador, padre Gusmão foi professor, mestre de Noviços, reitor nos Colégios do Rio de Janeiro, Espírito Santo e
Bahia e provincial da Companhia de Jesus, O Regimento do Seminário (1694 e 1696), redigido pelo padre, atesta a
preocupação com o ensino das primeiras Letras, e também do Latim, da Solfa e das Humanidades, enfatizando a
formação de 'bons cristãos', nos "santos e honestos costumes' de acordo com a Fé Católica, Segundo relatos de
cronistas e literatos, o Seminário de Belém contava com uma ordenada estrutura física, com alojamento para mais de
200 estudantes, A Igreja de Nossa Senhora de Belém, anexa ao Semínário, foi descrita como muito bem ornada e
paramentada, como se lê em seu Inventário de Bens (1759), e de grande devoção e religiosidade, Nesta comunicação,
busco discutir o Seminário de Belém enquanto instituição religiosa de ensino, apresentando suas normas e práticas
pedagógicas embebidas na devotio católica de fins do século XVII, visando assim contribuir para os estudos históricos
da infância e da educação no período colonial brasileiro.

Joyce Mary Adam de Paula e Silva - UNESP


O Ateneu: uma visão histórica e cultural da violência escolar
O presente trabalho trata-se de um ensaio sobre a violência escolar e seus aspectos históricos e culturais por meio da
análíse do romance o Ateneu de Raul Pompéia. OAteneu foi escrito no inicio de 1888 e narra as agruras pela qual passa
um adolescente em um internato descrevendo a organização dessa instituição educacional e a violência institucionalizada
ali instalada. Serão abordados os diferentes tipos de violência, tanto a física quanto a simbólica, protagonizada tanto pela
instítuição ( diretor da instituição, professores, funcionários) quanto pelos próprios alunos, configurando-se o bülling ou as
íncivilidades como afirma Debarbieux. O objetivo da reflexão apresentada é lançar um olhar sobre a instituição escola,
destacando os preconceitos, valores e pressupostos que historicamente legitimam a violência escolar. A opção pelo
estudo do texto literário, como afirma Roberto Da Malta ( 1994), se justifica por ser este um espaço privilegiado que faz a
sociedade falar. Nesse contexto, a narrativa pode ser tomada como a própria sociedade, percebida (lida, entendida,
falada, classificada) por meio de um certo código.

Judite Maria Barboza Trindade - UFPR


Crianças e Jovens: Adestramento e Violência
Esta comunicação é parte integrante de um projeto de pesquisa, mais amplo, que venho desenvolvendo sobre crian-
ças e jovens nas primeiras décadas do século XX. No levantamento geral de fontes nos chama atenção alguns casos
de violência. O pequeno número de casos trazidos a público não parece indicar pouca incidência da prática de violên-
cia, mas sim a naturalidade com que esta era vista. Destacamos na análise dos procedimentos violentos contra crian-
ças e jovens os tratamentos rígidos e severos onde os adultos buscam controlar os comportamentos. E nesta prática
se apela não raro para a violência física. Tanto no que se refere a crianças, como aos jovens o embasamento para
estas práticas de exercicio de poder e autoridade, não raro com violência, é a ideia de 'ser em construção', que precisa
ser corrigido, aperfeiçoado.

Tânia Mara Pereira Vasconcelos - USP/UNEB


De criança a aluno: a escola numa comunidade rural do interior da Bahia (1940-1970)
Esse estudo analisa concepções de infância e educação em Serrolândia, uma comunidade do interior da Bahia, dos
anos quarenta aos sessenta. Levando em conta ser a infância um conceito construído historicamente analisa discur-
sos e práticas que refletem a mentalidade em relação á criança a partir da análise histórica da escola nessa comunida-
de. São identificados três tipos de escola: a escola particular rural, a escola paroquial e a escola pública. Apesar de
serem organizadas de formas diferentes, em todas elas aparece o objetivo de moldar a criança, variando, no entanto
as formas utilizadas para alcançar este fim. A relação entre os paiS e os professores aparece como essenciais nesses
processos. As fontes utilizadas se constituem centralmente de entrevistas com pessoas que vivenciaram experiências
como filhos(as), pais, alunos(as) e professores(as) no período estudado, além de documentos escolares como livros
de matrícula, assiduidade e fotografias do período estudado.

Marli de Oliveira Costa - UFRGS E UNESC


"Aquele tempo era assim": experiências de infâncias na E.M. E. I .F Honório Dal'Toé. Criciúma SC 1930-1970
O texto é resultado de pesquisas do Grupo de Pesquisa: 'História e memória: o processo de educação escolar em SC'-
GRUPEHME-SC, cadastrado no Cnpq e vinculado a Diretoria de Pesquisa da Universidade do Extremo Sul Catarinen-
se -UNESC. As discussões buscam perceber, no espaço da EMEIF Honório Dal Toe, escola municipal de Criciúma
SC, experiências de uma infância plural, constituidas por diferenças econômicas, etárias e étnicas e, pela forma como
cada criança lidou com a experiência de estar aluno/a nessa escola entre 1930 a 1970. Utilizei como ferramenta de

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pesquisa a História Oral de Vida, sendo que ao todo foram analisadas 09 entrevistas. Depois de apresentar as narra-
ções de cada entrevistado/a, busco d'lscutir nas lembrança, as seguintes questões: Qual a idade de vir para a escola?
Quanto tempo permaneciam na escola? Como era a freqüência? Havia brincadeiras? Trabalhavam? Como concilia-
vam trabalho e estudos? Havia momentos de solidariedade entre as crianças? Como se davam os conflitos? Como as
crianças lidavam com as 'ordens' dos adultos? Enfim, tendo, embora pelo olhar do adulto que recorda o passado,
trazer pistas do 'ponto de vista das crianças'.

Ronaldo Aurélio Gimenes Garcia - UFSCar


Arthur Ramos: higiene mental e psicanálise para superar os dramas da educação brasileira (Rio de Janeiro
1930-1940)
No início do século XX o Movimento Escola Nova, liderado por Anísio Teixeira e Fernando Azevedo, fortaleceu-se com
a entrada de novos intelectuais de diversas áreas do conhecimento, especialmente da medicina e do direito. Entre
estes, estava a figura do médico psiquiatra alagoano Arthur Ramos que foi um dos pioneiros do estudo da psicanálise
e da psicologia social no Brasil, além de ter desenvolvido importantes estudos no campo da antropologia cultural. O
mencionado autor colaborou com Teixeira na implantação da reforma do ensino na cidade do Rio de Janeiro na década
de 1930. Ramos foi o idealizador do Serviço de Ortofrenia e Higiene Mental, cuja função era diagnosticar possiveis
transtornos de comportamento em crianças matriculadas no ensino público tidas como "anormais' e desajustadas. O
intelectual defendia a contribuição da psicanálise para a solução dos problemas pedagógicos. O objetivo desta pesqui-
sa é compreender o funcionamento deste serviço no contexto da reforma educacional e o papel que as idéias do
médico de Alagoas teve no Escolanovismo. As fontes utilizadas foram obras escritas e publicadas por Arthur Ramos,
entre os anos de 1930 e 1940 e envolviam temas como a 'criança problema', psicanálise e educação e higiene mental.

Frederico Brittes Nordin Garcia - PUCRS


Colônias de Férias: A Formação do Estudante Ideal no Rio Grande do Sul (19381943)
Durante o Estado Novo, percebe-se uma série de medidas que, de alguma maneira, visavam ao controle e à sistema-
tização de hábitos, e que tinham como objetivo a homogeneização da sociedade brasileira. Dentro dessa perspectiva,
foi dada uma grande ênfase no que tange à saúde infanto-estudantil, desembocando em diversas práticas destinadas
aos escolares. Dentre as inúmeras práticas levadas a efeito nesse campo, temos a realização de Colônias de Férias,
colônias promovidas pelo Estado Novo, que tinham como objetivo a higienização física e mental dos escolares. O
objetivo da presente pesquisa são a análise e o estudo das Colônias de Férias ocorridas entre 1938 e 1943 no estado
do Rio Grande do Sul e que se inserem no contexto citado. Procurarei analisar e compreender de que maneira essas
Colônias funcionavam, como se articulavam as diversas atividades nelas inseridas e como se tentava atingir os obje-
tivos citados. Como metodologia, analisarei uma série de documentações, como, por exemplo, Arquivos do Departa-
mento Estadual de Saúde (DES), Arquivos da Secretaria da Educação, bem como uma série de artigos publicadOS na
Revista do Ensino, todos documentos produzidos durante o período de vigência do Estado Novo.

I 18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h) I


Esmeralda Blanco B. de Moura - USP ~
Experiências infantis e imigração na cidade de São Paulo: atividades produtivas, práticas ilegais e possibilida-
des de escolarização (1889-1937)
®
Os primeiros decênios republicanos coincidiram, em São Paulo, com o ingresso significativo de imigrantes, italianos
em sua maioria. Essa presença - freqüentemente analisada em termos dos adultos - tem sido estudada em seus
múltiplos aspectos, sendo, no entanto, um campo de estudos ainda pouco explorado à luz das atuais tendências
historiográficas. A proposta desta comunicação - que integra análise mais ampla sobre a infância em São Paulo - .<;;
consiste em situar as crianças imigrantes e descendentes de imigrantes na cidade, a partir de suas próprias experiên ~ w

cias. Realizada em jornais paulistanos, em documentação processual - assim como em fontes de outra natureza -, a .g
pesquisa selecionou, com o intuito de construir uma amostragem, casos em que a nacionalidade da própria criança e/ê
ou de seus pais havia sido indicada, bem como sobrenomes notadamente estrangeiros. A partir dessa amostragem, -~
são analisadas as situações em que essas crianças viram-se envolvidas, compondo um interessante mosaico sobre a I
relação por elas estabelecida com a cidade. Relação, que se estabeleceu através de experiências múltiplas, muitas ~
delas, indicativas de uma inserção social e econômica permeada, em larga medida, pela tensão entre atividades ~
produtivas, práticas ilegais e possibilidades de escolarização. E
'"
>
.~
Humberto da Silva Miranda - UFRPE
Gazeteiros do Recife: crianças e jovens no mundo do trabalho (Décadas de 1920 e 1930) ·El
Paulo, João, José e tantos outros. Crianças e jovens no mundo do trabalho, que transitaram no cotidiano da exclusão ~
social. Para enfrentar a rotina diária, nas ruas e esquinas do Recife, disputavam espaços, competiam entre si, conviviam c:::

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com o perigo, organizavam-se de modo coletivo ou criavam outras formas de resistência. Neste trabalho, pretendemos
analisar a partir da perspectiva da história social, o cotidiano dos gazeteiros da cidade do Recife, nas décadas de 1920 e
1930. Por meio dos jornais da época e dos documentos que compõem o acervo da Casa de Detenção do Recife, procu-
ramos recompor o passado destas crianças e jovens que vivenciavam o universo da pobreza, da criminalidade e da
exploração do trabalho infanto-juvenil. Uma história 'vista de baixo', onde os protagonistas são os gazeteiros do Recife.

Daniel Alves Boeira - UFSC


A transformação do delinqüente juvenil em trabalhador: o caso do Patronato Agrícola de Anitápolis (Santa
Catarina, 1918-1930)
Os patronatos agricolas, implementados em vários estados do Brasil, foi uma das mais importantes ações do governo
republicano na área das políticas sociais infanto-juvenis até a instituição do Código de Menores de 1927. Essas
instituições correcionais foram criadas visando á socialização, sob uma ética do trabalho agrícola, das crianças e dos
jovens oriundos das camadas populares urbanas (principalmente do Rio de Janeiro) que eram considerados pelas
autoridades policiais e judiciárias delinqüentes juvenis. Essa pesquisa analisa discursos e experiências relativos aos
meninos ejovens do Patronato Agrícola de Anitápolis, situado no estado de Santa Catarina, entre 1918 e 1930. Através
dos relatórios dos funcionários enviados ao Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio (MAIC) e dos prontuários
dos internos procuramos traçar um perfil dos abrigados no que tange a etnia, idade, local de procedência dos mesmos
e o que motivou o ingresso na instituição, bem como descrever o cotidiano dessas pessoas no interior do Patronato
Agrícola de Anitápolis. Por sua vez através de reportagens presentes em jornais publicados em Florianópolis e região
no periodo apreendemos os discursos enunciados pelos diferentes atores sociais acerca dessa experiência.

Silvia Maria Fávero Arend - UDESC


Infância e trabalho no Brasil: programas sociais, norma familiar burguesa e ascensão social (Florianópolis,
1930-1945)
No século XX, o Estado brasileiro, através de um conjunto de procedimentos engendrados no campo juridico, das
políticas sociais e da mídia, procurou regulamentar as relações de trabalho infanto-juvenis no mundo rural e urbano.
Na era Vargas, em função da legislação instituída pelo governo federal e da implementação pelos Juizados de Meno-
res de programas sociais que visavam reordenar o mercado de trabalho infanto-juvenil, tais ações adquiriram maior
vulto. Nessa pesquisa, através da documentação emitida pelas autoridades judiciárias, de informações presentes em
artigos de periódicos e de fontes orais, buscamos analisar como esse processo foi operacionalizado na cidade de
Florianópolis entre 1930 e 1945. Pautada na noção de infância vigente na norma familiar burguesa, esses mecanismos
garantiram, minimamente, a proteção das crianças, moças e rapazes que atuavam nos setores comercial e industrial.
Contudo, nos setores agrícola, artístico e no relativo ao trabalho doméstico, o quadro permaneceu inalterado, impedin-
do que aquelas pessoas pudessem exercer o chamado 'oficio de criança', isto é, galgar o saber escolar. Tal constata-
ção é importante porque, para os pobres brasileiros, rurais ou urbanos, a escolarização tornou-se paulatinamente uma
das principais vias de ascensão social.

Antero Maximiliano Dias dos Reis - UDESC


Relações de Trabalho no Mundo Juvenil: O Caso da Corporação McDonald's (Florianópolis, 2000-2006)
O McDonald's é um dos principais ícones do capitalismo no âmbito dos fast- foods na contemporaneidade. Grande
parte dos trabalhadores da corporação McDonald's no Brasil possui entre 14 e 24 anos e recebe uma remuneração por
hora trabalhada. Esse estudo visa analisar as relações de trabalho no mundo juvenil no Tempo Presente tendo em
vista a experiência dos funcionários do sexo masculino e do feminino de lojas McDonald's situadas em Florianópolis
(SC), entre 2000 e 2006. Através das fontes orais buscamos identificar quais são os modelos produtivos idealizados no
século XX que norteiam a cadeia de produção nos restaurantes, bem como traçar um perfil sócio-econômico desses
jovens trabalhadores na capital do Estado de Santa Catarina. Fontes documentais escritas, tais como as notificações
do Ministério do Trabalho, corroboram com os relatos orais na tentativa de compreender o porquê da grande rotativida-
de de funcionários nas lojas da cidade.

Vera Lúcia Braga de Moura - UFPE


Infância:Signos, Imagens, Representações em Pernambuco no inicio do século XX
Existe um consenso de que cada sociedade constrói sua própria noção de infância. Dessa forma a idéia de criança e
infância antes de ser visto a partir de um conceito biológico é antes uma construção cultural. De caráter simbólico onde
há uma articulação entre um lugar social e um período histórico específico. No início do século XX em Pernambuco a
criança teve um papel muito importante na imprensa. Os anúncios em jornais apresentam as crianças como signos de
cura em propagandas de medicamentos tendo as crianças como protótipos dos novos pressupostos medicamentosos.
Prontuários médicos do Hospital Psiquiátrico Ulisses Pernambucano também constroem uma noção de que a criança
passa a representar um lugar que lhes garante a saída do aparente anonimato. A violência ocupa também um espaço
de lugar para esta criança. Portanto, a construção da noção de infância em Pernambuco será refletida nesse estudo.

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Cristiano José Pereira - USP
Çoncepções de infância no livro de Roberto Carlos, o cantor
E notória a atuação de Roberto Carlos na música popular do Brasil desde a década de 60. Ele, tal como os Beatles,
estrelou filmes que foram sucesso de bilheteria. Por outro lado, o seu único livro "Roberto Carlos em Prosa e Verso' é
pouco conhecido do público em geral. Este artigo possui o objetivo de resgatar a existência e a importância desse livro
para compreendermos um pouco da história da cultura brasileira, tendo como objetivo especifico conhecermos as
concepções sobre infância que o livro encerra.

I 19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h às 16h30min)

Márcio Santos de Santana - USP


Questão Social e Juventude: a contribuição da esquerda (São Paulo, 1924-1945)
A primeira metade do século XX foi marcada por uma profunda alteração de rumo no que se convencionou chamar de
Questão Social. A maneira de lidar com o segmento pobre da sociedade foi alterada, pois o Estado assumiu o papel
gerenciador do problema, especialmente na intermediação das negociações entre empresários e trabalhadores e
mesmo na assistência social. O Brasil também atravessou tal conjuntura, tendo sido palco de experiências diversas. A
proposta é estudar se os comunistas foram ou não atores relevantes, na formulação ou na pressão pela formulação, de
projetos para a juventude, especialmente no que se refere à Questão Social. O nosso recorte temporal inicia-se em
1924, quando diversos registros apontam como o ano de preparação e montagem da Juventude Comunista, até 1945,
quando o projeto do Estado Novo chega ao seu fim. A partir de 1946, com a redemocratização do país, os comunistas
refundaram a organização para jovens. Nesse ínterim, projetos de diversas procedências ideológicas trabalharam
problemas ligados à juventude.

Claudía Maria Gusson - USP


Os estudantes brasileiros e o regime militar: análise de processos criminais contra a militância estudantil
Esta pesquisa trata da relação entre o Estado autoritário brasileiro e os militantes do movimento estudantil no período
de 1964 a 1979. O início do recorte no ano de 1964 trata da instauração do golpe civil-militar em 31 de março e da
instauração do primeiro processo crime contra estudantes, e finaliza no ano de 1979 quando houve refluxo da quanti-
dade de processos contra os militantes estudantes devido à sua desarticulação perante a extrema força repressiva da
polícia politica do regime autoritário. Constantemente os jovens são referenciados como um dos principais grupos
contestadores do regime estabelecido naquele período, sendo o ambiente das universidades o principal reduto destas
atividades contestadoras, local de organização e gestação do movimento estudantil, com parte dos militantes menores
de 25 anos de idade. A análise de processos criminais contra estes jovens durante o governo militar proporciona o
esclarecimento de como funcionava parte da sociedade brasileira à época, através da identificação de condicionamen-
tos econômicos e sócio-culturais que estavam conectados com a realidade do jovem daquele período. Contribui tam-
bém para uma produção historiográfica a respeito da condição do jovem na nossa sociedade durante o regime militar.

Michele Rodrigues Tumelero - UNOCHAPECÓ


Da Rua ao Lar: O discurso moralizante e disciplinador dos postos e puericultura e da LBA em Chapecó nas Q
décadas de 1940 e 1950
Com a intenção de constituir um Estado brasileiro forte e coeso, Getúlio Vargas cria, em 1942, a Legião Brasileira de
®
Assistência - LBA. Esta instituição, preocupada em garantir a moralização e o reajustamento infantil, se disseminou
por todo o território nacional imbuída do discurso de proteção á maternidade, à infãncia e à adolescência desprovidas
de recursos. Esta politica respinga também no Oeste Catarinense através da implantação da LBA e dos postos de
puericultura nas décadas de 40 e 50 que, em parceria com a Liga Brasileira de Higiene Mental, buscava educar e 'i@
disciplinar os futuros brasileiros que habitavam na região. Neste sentido, a pesquisa procura analisar em que medida cD
a instalação da LBA e dos postos de puericultura se relaciona com a implantação do projeto da civilidade e da morali- .g
zação da sociedade chapecoense.

Ailton José Morelli - UEM


ct)
O processo de urbanização de Maringá (PR) e as políticas públiéas sobre infância e adolescência (1970 e 1980) c::
O objetivo dessa comunicação é apresentar alguns resultados de pesquisa em desenvolvimento, onde analisamos o ..gs
impacto do processo de crescimento e urbanização de Maringá sobre crianças e adolescentes bem como a resposta E
I

dada pelas politicas públicas municipais nas décadas de 1970 e 1980. Para tanto, estamos analisando os acervos do g;
IBC/GERCA (Instituto Brasileiro do Café/Grupo Executivo de Racionalização do Café) da regional Maringá (1963 a '=:.
1982), da Fundação do Desenvolvimento Social de Maringá, além do acervo oral da Prefeitura Municipal de Maringá ·13
(entrevistas com pioneiros). O acervo oral, que iremos nos deter mais nessa comunicação, foi produzido entre 1985 e ~
1995 priorizando pessoas que chegaram no periodo de loteamento e ocupação oficial da região em estudo (1930- c::

433
1950). Essas entrevistas foram produzidas buscando uma visão mais geral da ocupação da região de Maringá e
apresentam alguns trechos relacionados á família, á infância e à juventude. Destacamos as entrevistas com profissio-
nais da área de saúde e educação e dos políticos, enfocando melhor a transição do rural para o urbano em uma regiâo
que em menos de quatro décadas passou de região 'desabitada' para um dos municípios mais importantes do estado
do Paraná.

Eliana Silvestre - UEM


A política de direitos da criança e do adolescente: financiamento e controle social
A pesquisa objetiva o estudo da política de direitos da criança e do adolescente no Brasil, enfocando dois de seus
aspectos: a gestão do Fundo para a Infância e Adolescência (FIA) e o controle social da política. O FIA é um fundo
especial assumido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei Federal n. 8069 de 1990. A delimitação do período
de análise a partir de 1990, deve-se a essa regulamentação. O estudo privilegiará a gestão do fundo especial e o seu
controle tomando-o na sua relação entre os três conselhos: o Conselho Nacional de Direitos da criança e do Adoles-
cente (Conanda), o Conselho Estadual de Direitos da Criança e do Adolescente do Paraná (CedecalPR) e o Conselho
Municipal de Direitos da Criança e do adolescente de Maringá (CMDCA)/PR). Os dados coletados serão cruzados com
os dados dos Fóruns de Direitos da Criança e do Adolescente e Conferências de Direitos nos âmbitos municipal
(Maringá), regionais e estadual (Paraná) e Nacional. A pesquisa será de natrureza documental, tendo como procedi-
mento o mapeamento dos dados coletados e análise das fontes. os resultados da análise poderão trazer elementos
para reorientar o debate e as ações dos gestores da política de direitos, tendo em vista que o FIA é elemento novo na
área da infância.

55. Instituições, Poder e Justiça


Gizlene Neder (UFF) e Amo Wehling (UNIRIO)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h às 18h) I
Arno Wehling - UFRJ e Maria José C. de Macedo Wehling - Unirio e Gama Filho
Justiça Real e Justiça Eclesiástica no contexto do Regalismo
O trabalho propõe-se analisar as relações entre a justiça real e a justiça eclesiástica no Brasil colonial, entre 1750 e
1808, considerando a existência de uma política regalista particularmente acentuada no período. Como preliminar, são
fixadas algumas nuances do regalismo ibérico e colonial, quer sob o ângulo conceitual, quer quanto à sua evolução
conjuntural no Brasil. Analisa-se, em seqüência, os pressupostos doutrinários de atuação das justiças real e eclesiás-
tica, particularmente sua delimitação e complementariedade, conforme são referidos na legislação da época (leis,
decretos e regimentos de instituições). Completa a análise o estudo de algumas situações tópicas em diferentes
capitanias no período considerado, buscando identificar formas de atuação de ambas as justiças em situações de
interface. Conclui-se sobre os processos, harmônicos ou tensionais, de acomodação e conflito verificados, bem como
sobre os mecanismos que os sustentaram nos âmbitos estatal e social.

William de Souza Martins - UGF/UNIRIO


As Ordens Terceiras e o poder régio no Rio de Janeiro (1790-C.1808)
A comunicação pretende analisar a ampliação da administração 'ativa' da Coroa, em detrimento da 'salvaguarda de
uma organização natural e tradicional da sociedade', no contexto indicado. As referidas questões serão examinadas
levando-se em particular consideração o caso das ordens terceiras de São Francisco e do Carmo fundadas no Rio de
Janeiro. Serão avaliadas três medidas tomadas pela Coroa que interferiram na administração das referidas associa-
ções religiosas: a administração de legados pios; a implantação da décima eclesiástica; e, sobretudo, a venda compul-
sória do patrimônio imobiliário das referidas associações. Por fim, serão vistas as reações de ambas as associações
diante das referidas medidas.

Léa Maria Carrer lamashita - UNB


Modernização no Primeiro Reinado e as Instituições de Controle Social: a Polícia e a Câmara Municipal (Rio de
Janeiro 1822-1840)
Este trabalho "Modernização no Primeiro Reinado e as Instituições de Controle Social: a Polícia e a Câmara Municipal
(Rio de Janeiro 1822-1840)" analisa o projeto modernizador na cidade do Rio de Janeiro, na primeira metade do século
XIX, e atenta para as práticas cotidianas das populações menos favorecidas daquela sociedade. Nesse sentido, histo-
riciza a construção do aparato jurídico e institucional criados para a efetivação do projeto, priorizando a ação de duas

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instituições: a Polícia da Corte e a Câmara Municipal. Nossa análise da relação entre governo e governados priorizou ~55
os primeiros códigos legais do Império, as Posturas Municipais da cidade do Rio de Janeiro e as queixaslrepresenta- ~
ções dos segmentos populares da sociedade. A ação modernizadora emanada do Estado Monárquico, centrada em
iniciativas políticas, disciplinadoras e civilizadoras revelou-se um processo tensionado, atravessado por conflitos entre
sociedade e Estado, entre classes e inter grupos. A ação política dos grupos populares explicitou-se nas resistências e
agenciamentos junto ás autoridades para defesa dos seus interesses.

Janio Gustavo Barbosa - UFRN


O individuo e o Estado familíar: Coulanges e a história das instituições na França
No Oitocentos Estado e Nação foram temas recorrentes na historiografia européia. Os historiadores em países de
recente formação nacional, como a França, esforçaram-se em definir as origens da Nação. Parte destas discussões ~,
concluíam que a união e a criação do sentido imanente do sujeito para com a idéia nacional somente era possível pela .~
criação da instituição republicana. Com base nisto, visamos entender como as pesquisas centradas na questão naci- ~
onallevaram em conta formações históricas especificas para a justificativa institucional do Oitocentos. Nesse sentido Q)

nos utilizaremos dos escritos de Fustel de Coulanges, historiador que considerou a família como instituição básica e -g
comum capaz de arregimentar as diferenças, propor novas tradições e unir os povos. Ele destacou a importâncía da CL ",-

família na formação do interesse geral dos sujeitos, na construção do Estado e deste na formação de indivíduos .~
institucionalizados, ou seja, cidadãos. Objetiva-se evidenciar três questões: como a construção da nação foi uma .~,
estratégia de composição do Estado territorial; sob quais bases institucionais o espaço nacional foi constituído; e de .~
que forma a concepção do Estado nacional passou pela definição de nação, família, territórío, leis, religião, etc., na c:
obra de Coulanges.

Evaristo Caixeta Pimenta e Paulo de Tarso Frazão Linhares


Instituições eleitorais e cultura política no Brasil Monárquico
Este trabalho aborda a históría das instituições eleitorais brasileiras á época do Segundo Reínado. Enfatiza-se a
concentração de poderes nas mãos do Executivo proporcionada pela Constituição de 1824. A despeito disso, a profun-
da dependência do Governo em relação ao apoio da câmara temporária orientava-o a adotar práticas que visavam
manipular as eleições a seu favor. Deste modo, a análise das instituições eleitorais e das sucessivas tentativas de
aperfeiçoá-Ias torna-se especialmente importante para o entendimento da ação política no Brasíl deste período. Em
face á tensão entre Governo e Parlamento, observa-se que as práticas de seus atores correspondem a uma cultura
política que os levava a compartilhar, independentemente de seus vínculos partidários, visões em comum a respeito da
melhor forma de se alcançar o poder. Esta cultura, partilhada por uma elite política ilustrada nas principais questões do
século XIX, apresentava, contudo, contradições fundamentais. Estas se refletiam no choque entre tendências moder-
nizadoras e o que se poderia identificar como o 'hardcore" da organização social G0 Império: a discricionariedade das
ações do imperador e a centralização administrativa, na dimensão polítíca, e o sístema escravísta, na econômica,
ambas sustentadas pela Constituição.

I 17/07 - Terça-feira - Tarde (14h ás 18h) I


Alessandra David Moreira da Costa e Lilian Silva na Perilli de Pádua - Centro Universitário Moura Lacerda
O paradigma epistemológico do normativismo-positivista no ensino jurídico
O presente trabalho tem como objetivo historicizar o processo de criação dos cursos jurídicos no Brasil e a predomi-
nância da visão positivista na cultura jurídica. O princípio norteador da pesquisa é o paradigma epistemológico repre-
sentado pela dogmática jurídica e pelo normativismo positivista, adotado como paradigmas científicos da ciência jurí-
dica, em que os juristas se baseiam para atuar no exercício profissional. Enfocaremos a conceituação e distinção entre
o positivismo jurídico e o positivismo filosófico, e como as idéias positivistas de Augusto Comte e Hans Kelsen foram
incorporadas ao cenário político brasileiro, desde a criação das primeiras faculdades de Direito do país, especialmente
na Academia de São Paulo. Pretendemos demonstrar que o liberalismo como paradigma ideológico exclusívo e a
mentalidade positivista como base do saber jurídico conduziram a ciência jurídica numa direção distanciada da função
social do direito. Os resultados da pesquisa indicam que a opção epistemológica pela dogmática jurídíca, que desde o
século XIX orienta a teoria e a prática da ciência jurídica no Brasil e ampara as oligarquías do poder social, econômico
e político nacional, representa também uma opção ideológica pelos valores do capitalismo.

Wilton Carlos Lima da Silva - UNESP - Assis


Entre a imortalidade e o esquecimento: Rui Barbosa como símbolo literário e jurídico
Rui Barbosa (1849-1923), dentro da tradição polivalente e erudita do século XIX, foi jovem poeta, jornalista, tradutor,
professor, advogado, deputado, ministro, senador e diplomata. Membro fundador da Academia Brasileira de Letras (e
sucessor de Machado de Assis em sua presidência), candidato três vezes á Presidência do País, encarnação de um
modelo de bacharelismo liberal e exemplo vivo de um estilo de linguagem escrita e oral, com uma trajetória de consa-

435
gração pública incomparável. No entanto, a memória de Rui Barbosa tem sido campo da manutenção dos mitos
criados em vida (como as alcunhas sempre reafirmadas de 'o baiano genial' ou 'a Águia de Haia') ao mesmo tempo em
que surgiu um redimensionamento de seu valor intelectual, literário e político (como na sua identificação como dono de
'reduzidas idéias e de escassa originalidade', por Alfredo Bosi, ou simples tagarela que 'diminui impressionantemente
de estatura a medida que desaparecem os que ainda o ouviram', por Antônio Cândido). Propomos discutir a partir da
produção literária e jurídica a forma como a memória de Rui Barbosa é apropriada por diferentes grupos intelectuais ao
longo do tempo, na tensão entre a manutenção do mito e em sua reavaliação.

Jérri Roberto Marin - UFGD


A Igreja Católica em Mato Grosso: relações de poderes e controle social
Propõe-se analisar a presença da Igreja Católica em Mato Grosso, sobretudo na diocese de Corumbá, nas primeiras
décadas do século XX. A ofensiva católica tinha como fim reverter a situação de lateral idade do catolicismo na socie-
dade e impor como legítima sua representação do mundo. Homens, mulheres e crianças não aceitavam as normas
católicas e não manifestavam publicamente sua fé. Nesse sentido, pretende-se enfocar as estratégias disciplinares do
epíscopado e do clero para controlar os católicos e as relações de poderes que permeavam o campo religioso.

Anna Marina Madureira de Pinho Barbará Pinheiro - UFRJ/Unibennett


Igreja, Família e Poder no Brasil Republicano
Dada a importância do papel desempenhado pela Igreja Católica na formação social brasileira, temos como obejetivo
neste trabalho, pensar as possibilidades de análise que a contemplem, bem como identificar as múltiplas contradições
que caracterizam as relações historicamente construidas entre esta instituição, o Estado e as classes dominantes no
Brasil, no período posterior a 1930.

Guido Coelho de Magalhães Bastos - UFF


Entre a Ordem e a Justiça Social: A Igreja Católica e o Governo João Goulart, no tocante a Reforma Agrária
A questão social, que emerge das contradições inerentes do capitalismo, passa a ser analisada historicamente pela
Santa Sé, a partir de Leão XIII. Com o avanço do comunismo e das desigualdades sócias capitalistas, a Igreja no Brasil
dos anos 1960 começa a se aproximar dos pobres em busca da justiça social. Esse movimento vem da ala progressis-
ta da Igreja, bem exemplificada pelo jornal Brasil, Urgente. Esta é uma tendência em pleno Concílio do Vaticano II
(1962-65). O crescimento da ala progressista na CNBB se dá em pleno processo de radicalização das esquerda e
direita no Governo Goulart, no tocante as Reformas de Base. Como a Igreja se insere nos debates sobre a Reforma
Agrária? Esta e outras são algumas questões aqui lançadas.

Fabiana Cardoso Malha Rodrigues - UFF


Análises do Código Civil: considerações sobre filiação e casamento na passagem à modernidade
Nesse artigo é nosso objetivo discutir as idéias que estavam presentes na passagem á modernidade no Brasil no
campo jurídico sobre política de filiação e casamento nas disputas em torno da aprovação do Projeto de Código Civil,
confrontando os debates em torno desse projeto, muito tencionados pelo discurso religioso.

I 18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h ás 18h) I

Augusto César Acioly Paz Silva - UFPB


Maçonaria e República em Pernambuco: organização, difusão e propaganda (1900-1912)
Os estudos sobre a maçonaria no Brasil, tiveram nos últimos anos, um forte desenvolvimento. Muito desta visibilidade
ocorreu em consonância com todo um conjunto de transformações no interior da disciplina História, que fizeram com
que instituições, problemas, grupos sociais e culturais, antes visto como 'sem importância', começassem a ocupar
espaço privilegiado nas reflexões dos historiadores. Dentro deste contexto, o estudo de uma instituição como a Maço-
naria justifica-se. Porém, boa parte destas análises do ponto de vista temporal ficaram relegadas ao, Período Imperial,
perpetuando a idéia de que a Maçonaria não tinha se desenvolvido e participado das discussões que. animaram a
constituição da República, e se posicionado sobre questões importantes durante seus primeiros anos. E na corrente
contrária a esta visão que pretendemos nos enquadrar. A nossa comunicação tem como objetivo discutir os campos de
ação, as práticas políticas, sociais e culturais desenvolvidas pela maçonaria nas duas primeiras décadas da República
em Pernambuco, a fim de desconstruir um pouco esta visão.

436
Gizlene Neder - UFF ~
Idéias Jurídicas e Direitos Civis de Imigrantes no Segundo Reinado
Este trabalho enfoca o debate em torno dos direitos civis de estrangeiros residentes do Brasil em meados do século
®
XIX. Analisa especificamente a polêmica entre Carlos Kornis Totvárad, jurista húngaro que residiu no Rio de Janeiro
entre 1854 e 1862, e os intelectuais do campo do direito no Brasil. O tema do casamento civil para os não católicos
mobilizava o campo intelectual, e contou, ainda, com a participação do clero. A polêmica foi travada através da publica-
ção de livros e de artigos de opinião. Vincula-se a projeto de pesquisa desenvolvido desde 2005 (CNPq), intitulado
'Direitos Civis e Questões Diplomáticas no Segundo Reinado'.

Elaine Leonara de Vargas Sodré - PUCRS


A Organização Judiciária na província de São Pedro: Da criação do Código de Processo Criminal à Reforma de ~.
1~ ~
Nas primeiras décadas do século XIX, o Estado brasileiro organizava-se entre a legislação colonial, antiga e ultrapas- -=5
sada; e a imperial, nova e insuficiente. Nesse contexto, em 1832, foi promulgado o Código de Processo Criminal, obra ~
de orgulho dos liberais. Se por um lado, o Código contemplava as teorias do liberalismo; por outro, ele seria executado 15
por homens do Antigo Regime. Diante de tão evidente dissonância; seria de se prever algumas dificuldades na organi- CL ",-

zação da nova estrutura judiciária. Elas foram tantas que mal se executavam as primeiras diretrizes do Código e ,ê5
surgiam críticas de vários seguimentos, desde o magistrado de alguma longínqua comarca, até o ministro da justiça.~·
Após uma década de reclamações, em 1841, foi aprovada a Reforma na tentativa de tornar exeqüível muitas determi- 't;
nações do Código que se mostraram impraticáveis. Enquanto o país tentava se organizar, algumas províncias mostra- c:
vam-se instáveis. Foi assim com o Rio Grande do Sul, que passou uma década envolvido numa guerra civil. Esse
'período de adaptação' é o objeto deste trabalho, que pretende apresentar como ocorreu a organização judiciária na
província de São Pedro entre 1833 e 1845.

Edson Alvisi Neves - UFF


O Tribunal do Comércio no aparato estatal: julgamento e encenação
Este estudo privilegiou as funções realizadas pelo Tribunal do Comércio no Impérío do Brasil, com um mapeamento
quantitativo a partir dos documentos encontrados, e as ligações decorrentes ou incidentes desta atividade com as
demais instituições do império, principalmente a influência da imprensa e o seu uso como detenminante de alguns
resultados em posicionamentos oficiais.

Rachei de Souza Galante - UFF


O Parlamento Brasileiro no Segundo Reinado: Palco de exclusão dos não-católicos através das metáforas
religiosas
O mote desta apresentação enquadra-se no bojo das discussões na câmara dos deputados, no Segundo Reinado, em
torno do projeto de lei elaborado por Nabuco de Araújo que criava dispositivos para resolução dos casamentos entre
não-<:atólicos e dos casamentos mistos. Enfocaremos a relação entre as idéias religiosas e o não-reconhecimento do
outro, corporificado pelos protestantes que estavam no Brasil. O recorte temporal para a presente apresentação faz-se
entre 1858 e 1860, pois nestes dois anos o projeto foi discutido na câmara dos deputados. No âmbito destas discus-
sões presenciamos a produção de metáforas religiosas cujo efeito político foi a ausência de resolução dos referidos
casamentos. Destacamos que através da metodologia indiciária, percebemos que a utilização destas metáforas religi-
osas, que excluiam os protestantes,propiciou a convergência de posições políticas aparentemente distintas, tais como
as posições de Pinto de Campos e Villela Tavares.

Delton Ricardo Soares Meirelles e Luiz Cláudio Moreira Gomes - UFF


Magistrados e processo: impressões da literatura jurídica nacional (1832-1876)
O direito desempenhou um papel de destaque na construção do Estado brasileiro, quer pela inserção dos juristas
enquanto agentes históricos, quer pela participação e envolvimento direto dos 'bacharéis' na vida pública e na fonma-
ção ideológica brasileira. (Neder). A influência desta cultura jurídica pode ser verificada na relação construida entre
magistrados e demais atores durante o processo judicial. Com isto, este trabalho analisa os manuais adotados pelas
faculdades de direito de São Paulo e Olinda, entre a promulgação do Código de Processo Criminal do Império (1832)
e a Consolidação das Leis processuais do Conselheiro Ribas (1876), verificando-se em que medida tal literatura
construída neste periodo se limitaria a narrar a práxis forense, ou se seria possível perceber uma ideologia construida
para legitimar um determinado modelo de Estado.

437
Eliane Martins de Freitas - UFG
Sob "o prestígio da autoridade, a soberania da lei e o império da Justiça": a organização do Poder judiciário
em Goiás 1890-1905
Desde a Constituição de 1891 até o Código de Processo Penal de 1941, os estados brasileiros tiveram a competência
para legislar sobre a organização do funcionamento da Justiça em seu território, tanto no que se refere ás funções e á
carreira da magistratura, quanto á aplicação do direito processual. Esse processo tem recebido pouca atenção da
historiografia que, na sua maioria, aceita interpretações já cristalizadas sobre o periodo, em particular, aquela que
constrói a imagem de uma sociedade mediatizada pela violência e pelo favor, resultado da luta entre o poder público e
o poder privado, com o predomínio do segundo sobre o primeiro. Donde surge a figura fragilizada do Judiciário, subme-
tido ao privatismo em virtude da inexistência de garantias nos estados, além da larga esfera de poderes, formal ou
informalmente, atribuída a juízes leigos. Em nosso estudo buscamos discutir o funcionamento da Justiça em Goiás, no
período de 1891 a 1905, procurando compreender a forma de organização do Poder Judiciário, com o objetivo de, de
um lado, analisar a legislação que regulamentou o assunto e sua relação com o contexto político da época, em espe-
cial com as disputas políticas que ocorreram em nível estadual e, de outro, refletir sobre o papel assumido pela
magistratura no novo regime.

I 19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h ás 16h30min)

Carlos Henrique Aguiar Serra - UFF


Direito e pathos: intelectuais e política no Brasil
Pretende-se problematizar as articulações existentes entre o Direito e pathos tendo como pano de fundo a relação
complexa que se estabelece entre intelectuais e política no Brasil. Na verdade, esta relação é chave para se tentar
compreender, do ponto de vista analítico, como se estabelece o nexo entre Direito e pathos. Desta forma, parte-se do
pressuposto de que o Direito também pode ser concebido enquanto 'sinthomen'; ou seja, instância perpassada pelo
gozo e produtora, portanto, de fantasias. Então, sob esta perspectiva, o Direito também produz múltiplas fantasias. A
relação entre o Direito enquanto 'sinthomen' e o pathos, este percebido como sofrimento, paixão, configura-se como
pertinente na medida em que há uma tentativa de se investigar, como estudo de caso, as trajetórias de alguns intelec-
tuais no Brasil, inscritos no campo jurídico, que personificam no pathos o sintoma e a essência das relações estabele-
cidas com a política. Intelectuais como San Thiago Dantas e Roberto Lyra, por exemplo, em suas respectivas trajetó-
rias, no campo acadêmico e político, ilustram muito esta instigante relação entre Direito e pathos.

Gisálio Cerqueira Filho - UFF


Direito Patriótico e príncipe (im)perfeito
Este trabalho visa discutir o conceito de Jürgen Habermas 'Patriotismo da Constituição' (Verfassungspatriotismus) em
relação á exclusão/ incorporação de amplos setores populares da América Latina, tais como sindicalistas, indigenas,
afro-descendentes moradores de favelas nas periferias das grandes cidades, militantes de ONGs, entre outros. As
lideranças políticas emergentes deslâs categorias sociais, necesariamente 'incompletas' para a tradição letrada ilumi-
nista, apareceriam inscritas em modelos de principe (im)perfeito. Referimo-nos aquí a Carl Schmitt (1888-1985) e á
categoria kantiana de Einbildungskraft, o poder transcendental da imaginação, para identificar o inimigo plausivel
quando a política é pensada nos termos da divisão entre amigo e inimigo.

Ana Paula Barcelos Ribeiro da Silva - UFF


Ricardo Levene e Max Fleiuss - Idéias Jurídicas e História. Diálogos Intelectuais e Circulação Cultural e de
Idéias
O trabalho se insere numa pesquisa sobre reconhecimento e legitimidade no campo intelectual. Nele refletimos acerca
da conjugação entre idéias juridicas e história na produção de uma reinterpretação da história latino-americana no final
do século XIX e inicio do século XX. Partimos dos empreendimentos do intelectual argentino Ricardo Levene, parte do
campo juridico e do historiográfico, num diálogo intelectual com o Brasil. Este foi em muitos momentos representado
pela relação com Max Fleiuss, secretário perpétuo do IHGB. Utilizando correspondências, convênios intelectuais e
atas de congressos de história, demonstramos aqui a possibilidade de construção dialógica do conhecimento a partir
de um processo de circulação cultural que põe em contato diferentes áreas, indivíduos e idéias.

Vera Lúcia Bogéa Borges - Colégio Pedro 111 UERJ


Entre máscaras e serpentinas: a campanha civilista na crônica carnavalesca
No Brasil, a sucessão presidencial de 1910 contou com a participação de dois candidatos, de um lado Hermes da
Fonseca e do outro Rui Barbosa. Inaugurou-se, assim, um nota etapa na vida política do pais, uma vez que temos a
primeira disputa à presidência da República com campanha eleitoral. Neste confronto, há um palco privilegiado: a
capital federal, centro das decisões políticas da nação. No final do ano anterior, a campanha hermista apresentou sua

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plataforma no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. A chapa opositora reagiu e dois meses depois, nesta mesma cidade, r;;;"\SS
a campanha civilista publicou um manifesto à Nação. Em tempos de carnaval esta movimentação política não passou ~
desapercebida. A chegada do século XX assinalou a afirmação da grande imprensa marcada por modificações tanto
nos planos de produção e circulação quanto nas relações dos jornais com o anunciante, com a política e com os
leitores. Assim, a imprensa passou a ter interesse particular pelo fato político uma vez que este afetava diretamente os
seus projetos e negócios. Neste momento, uma das inovações era a crônica carnavalesca que se consagrou enquanto
forma de noticiário especializado na cobertura da festa. Discutiremos os ecos da política pela ótica da folia a partir da
Gazeta de Notícias e do Jornal do Brasil.

20/07 - Sexta-feira - Manhã (10h30min ás 12h30min)

Wilmar da Silva Vianna Júnior - UERJ ~


Espelho dos governadores do Brasil, a administração de Mem de Sá -g
Mem de Sá foi o terceiro governador-geral do Estado do Brasil, tendo permanecido a frente do governo da colônia de :
1557 até 1572, quando faleceu ainda no exercício do cargo. Durante seu período de governo, enfrentou problemas .~
com a presença dos franceses nas terras da Baía de Guanabara e a ameaça dos índios revoltados. Frei Vicente do .~.
Salvador, em sua História do Brasil, afirmou que a administração de Mem de Sá era "o espelho dos governadores do 't:;
Brasil'. Bem mais tarde, no inicio do século XX, Carlos Malheiro Dias comparou-o a Afonso de Albuquerque, que c:
governou a índia no início do quinhentos. Nesse artigo, analisamos o período de governo de Mem de Sá, enfatizando
as questões relacionadas com a defesa do território americano. Essa matéria sempre possuiu relevância para os
quadros da administração metropolitana, uma vez que a manutenção da posse sobre as terras americanas estava
relacionada com a dominação portuguesa sobre o Atlântico Sul e com o comércio realizado pelos portugueses com o
Oriente.

Álvaro de Araújo Antunes - UFOP


Corpo e sangue de Têmis: os homens de letras e a prática da justiça em Minas Gerais, 1750-1808
A comunicação apresenta a perspectiva adotada em nossa investigação de doutorado acerca da prática da Justiça em
Minas Gerais, entre 1750 e 1808. Na pesquisa, um grupo de advogados de Vila Rica e Mariana foi analisado de
maneira a revelar aspectos socioculturais que envolviam e conformavam a prática local da administração da Justiça -
representada pela deusa Têmis na mitologia grega. Para além detalhar os referenciais historiográficos que nos leva-
ram a uma abordagem sociocultural da prática da Justiça, esta comunicação chama a atenção para o perfil social e
cultural desses "homens de letras', dos conhecedores de uma linguagem escrita, donos de tornidas livrarias, profissi-
onais de formação universitária, mediadores e difusores das leis. Quem eram esses advogados? Que lugar ocupavam
no campo social? Qual a representatividade e a efetiva participação desses profissionais na administração da justiça
em Mariana e Vila Rica na Segunda metade do século XVIII e início do XIX? No encalço das respostas às perguntas
colocadas, pretendemos sublinhar a pertinência e a riqueza de uma análise dos elementos juridicos que extrapolavam
as determinações da norma escrita e que davam corpo e sangue ao fluxo cotidiano da Justiça em Minas Gerais, na
segunda metade do século XVIII.

Marcos Guimarães Sanches - UNIRIO/Gama Filho


Conveniência e zelo do Real Serviço
A administração colonial portuguesa na segunda metade do século XVII pautou-se por sucessivas tentativas de apri-
morar/reforçar o controle sobre a colônia, cuja importância no conjunto do mundo português era cada vez maior. Na
fazenda são conhecidas as reiteradas medidas de reforço fiscal e a correspondente reação dos colonos. As descober-
tas minerais no final da centúria deram ensejo ao aprofundamento de tais práticas, mas também amplificaram diferen-
tes formas de resistência dos colonos. A comunicação estuda a atuação do governador Artur de Sá e Menezes como
representativa do processo, pois incumbido de organizar a exploração e a produção das minas gerias adotou medidas
de fomento e controle cujo sucesso dependeram do reconhecimento e do apoio dos diferentes grupo de interesses
existentes na colônia. A gestão do governador tradicionalmente entendida como típica de uma época de afirmação do
absolutismo, passa a ser pensada na sua interface com as diferentes redes sociais interessadas na exploração mineral
e que dela esperava tirar beneficios, como o próprio govemador logrou auferir.

Lincoln Marques dos Santos - UFF


Das qualidades de um governante para as Minas: A trajetória político-administrativa de Dom Lourenço de
Almeida
O presente trabalho discute os critérios de seleção para o cargo de governador das possessões ultramarinas, especi-
almente a capitania das Minas Gerais, nas primeiras décadas do século XVIII. São consideradas, em particular, as

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dificuldades inerentes ao exercício do poder político no governo de uma sociedade que se constitui em ambiente
altamente mercantilizado, irrigado por ouro e diamantes, reforçando contraditoriamente os principios de hierarquia e
honra social provenientes dos padrões europeus. Em suma, pretende-se problematizar a política metropolitana de
enrijecer o controle político e fiscal sobre a sociedade mineira e sua relação com a governança de D.Lourenço de
Almeida (1721-1732).

Cláudía Tomaschewski - PUCRS


A caridade e a Assistência Pública: o Estado, Misericórdias e a distribuição da assistência no Rio Grande do
Sul-1850-1900
A comunicação apresenta uma discussão sobre o financiamento do Estado ás instituições de assistência (especial-
mente as Misericórdias que centralizavam boa parte da assistência) no Rio Grande do Sul na segunda metade do
século XIX. Neste momento, passada a Revolução Farroupilha, as instituições governamentais funcionaram com rela-
tiva estabilidade, e as três principais cidades, Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande, já contavam com serviços de
assistência organizados. O termo Assistência Pública passou a ser utilizado em documentos oficiais a partir da criação
de uma instituição homônima pelo governo estadual em 1898 e, que deveria ser organizada pelos municípios. Anteri-
ormente o termo 'caridade pública' foi comumente utilizado em documentos do Estado e das associações filantrópicas.
Ao contrário do que se poderia pensar, o Estado subvencionou regular e significativamente estas instituições. Desta
forma, ocorria a participação do Estado que financiava e fiscalizava as Santas Casas, que por sua vez eram dirigidas
por homens das elites locais, que controlavam de perto a distribuição da assistência e determinavam quem era mere-
cedor ou não dos cuidados.

I 20107 - Sexta-feira - Tarde (14h ás 18h)

Bruno Fonseca Ratton - Fundação Monsenhor Messias


Realismo e Republicanismo
Nosso trabalho tem como objetivo discutir o sentido da tese realista no pensamento político de Maquiavel. Nossa
hipótese é a de que o conceito de inovação constitui-se como o núcleo semântico principal. Abordaremos nosso
objetivo especificando o diálogo de Maquiavel com Leonardo Bruni, a partir de sua representação acerca das leis, das
instituições, do corpo político. Lefort, Bignotto, Pocock, Mansfield serão nossos interlocutores.

Úrsula Andréa de Araújo Silva - UFRN


Corpo Missionário e Natureza Amazônica na formação da fronteira Norte
Samuel Fritz era um missionário da Companhia de Jesus que para realizar o ideal religioso de transformar a sociedade
foi enviado ao Novo Mundo e designado ao serviço nas missões de Maynás, em 1686, onde havia um grande contin-
gente indígena -os Omágua- que solicitava um missionário que lhe protegesse dos portugueses, de acordo com as
informações do Diário. Essa fonte que ainda é pouco conhecida devido ao pequeno uso na sua totalidade é de grande
importância por relatar uma experiência naquela região de fronteira no século XVII e a conseqüente inclusão de diver-
sas tribos indígenas á sociedade colonial, vem sendo referência em trabalhos que tem o indígena amazônico como
foco e apresenta o corpo como instituição defensiva, além de demarcar territorialidades. No relato do padre observa-se
um importante momento do processo de conquista da Amazônia, com a transformação da cultura e do espaço envol-
vendo as disputas entre as Coroas Ibéricas e o conjunto dos povos europeus e a colocação do corpo como uma
instituição de fronteira. Exploraremos aqui a relação entre o espaço e o homem, considerando que esta é a primeira e
mais importante condição para a definição do território; a ação de Fritz representou naquele momento o mais importan-
te avanço institucional e fronteiriço.

Edna Mara Ferreira da Silva - UEMG


Crimes interpessoais e a Ação da Justiça em Minas Gerais: uma análise dos processos-crime, Mariana (1747-
1820)
A presente proposta de comunicação tem como objetivo apresentar os resultados finais obtidos pela minha dissertação
de mestrado intitulada 'A Ação da Justiça e as transgressões da moral em Minas Gerais: uma análise ds processos-
crime da cidade de Mariana (1747-1820)'. Ao eleger os processos - crime como fonte para a pesquisa, buscamos
recuperar os códigos de valores morais que regiam e ordenavam a sociedade marianense e talvez mineira no século
XVII I, por meio da fala de seus moradores, ouvidos como testemunhas, depositários de costumes. Da mesma maneira,
por meio da ação dos juizes, procuramos analisar os procedimentos da justiça contra os desvios de conduta, estabe-
lecendo assim as relações entre justiça e sociedade. Mais que nomear as transgressões da moral em Mariana na
segunda metade do século XVIII procuramos entender e explicitar os mecanismos de repressão a esses desvios de
conduta as margens do poder visível. Dessa forma, acreditamos que mesmo sendo um dos mecanismos da justiça
colonial, os processos-crime podem apresentar tentativas de subverter as normas, dentro do espaço da justiça oficial.

440
Jeannie da Silva Menezes - UFPE ~
Discurso normatizador e práticas civis de mulheres no século XVIII
Este é um estudo que inicia um debate sobre as representações das normas metropolitanas e que lança algumas
®
questões sobre as percepções do direito e da justiça na vida colonial. Sobretudo, é também uma abordagem sobre
mulheres que contrariaram com suas práticas o ideal de virtude e castidade. Nosso aporte documental reside em dois
tipos de fontes: um primeiro grupo, a legislação geral contida nas Ordenações do Reino, bem como As Constituições
Primeiras do Arcebispado da Bahia; nosso segundo grupo de fontes sintetiza-se em cartas de mulheres dirigidas ao rei.
No percurso desta análise, será traçado um esboço dos tópicos que definiam as condicionantes civis da vida em
colônia. Para esta primeira parte reservamos as construções elaboradas no ordenamento civil e eclesiástico tecendo
paralelos com as práticas dos colonos como fontes do discurso construido para a civilidade no espaço colonial. As
representações serão aqui pensadas, a partir dos mecanismos para adaptar ao contexto colonial o direito elaborado na ~.
metrópole. Somamos também a idéia de que estas representações são também negociadas, entre grupos e persona- .~
gens subalternos e aqueles que são investidos de poderes e de comando na sociedade elegendo como referencial ~
Edward Thompson sobre o costume e a lei no século XVIII. Q;
'O
o
Maria Eliza de Campos Souza - Centro Universitário Newton de Paiva Ferreira ~_
Os Ouvidores de Comarca e sua relações com as Câmaras Municipais nas Minas setecentistas ,ê5
O presente trabalho tem como objetivo tratar das relações de poder entre os Ouvidores de Comarca e as Câmaras .~.
Municipais no século XVIII em Minas Gerais. Analisar os conflitos e diálogos entre essas duas instituições para dimen- .~
sionar de que forma a atuação dos Ouvidores interferia no funcionamento das Câmaras como órgãos de representa- c:::
ção dos poderes locais, possibilitando compreender suas inter-relações a partir de uma dinâmica de negociações
próprias ao governo do Império Português na América. Os autos de Contas, Vistas em correição e os termos de
Acórdão e Vereação fazem parte da documentação trabalhada e permitem analisar o funcionamento dessas institui-
ções para dimensionar o grau de intervenção dos magistrados régios, os Ouvidores de Comarca, sobre as Câmaras.

Marieta Pinheiro de Carvalho - UERJ


Instituições administrativas na corte de d. João VI: a Secretaria de Estado dos Negócios do Brasil e a Intendên-
cia Geral da Policia (1808-1821)
A administração do principe regente d. João estabelecida após a sua chegada ao Rio de Janeiro, em 1808, é o tema de
análise dessa comunicação. Mais precisamente, ela visa discutir alguns aspectos sobre duas instituições então cria-
das - a Secretaria de Estado dos Negócios do Brasil e a Intendência Geral de Polícia da Corte do Rio d.~ Janeiro - por
meio das quais é possível investigar o enraizamento da Corte portuguesa na América, questão central para a compre-
ensão do processo de formação do Estado Brasileiro. Partindo-se do princípio de que a dominação se estabelece pela
administração, pretende-se, pelo estudo desses dois órgãos perceber qual foi o eixo da política de d. João para o
Brasil. Tal propósito será alcançado tanto sobre o ângulo da estrutura organizativa, ou seja, pelo exame do seu corpo
burocrático, como através da identificação das principais focos de ação política desses órgãos na sociedade.

Alexandre Garrido da Silva - UERJ


Poder Judiciário, sociedade civil e politica: limites e rumos do processo de judicialização da política no Brasil
O recente protagonismo institucional experimentado pelo Poder Judiciário nas democracias contemporâneas e, em
particular, no sistema político brasileiro, tem conduzido a uma crescente tematização e revisão das clássicas relações
entre o constitucionalismo, a sociedade civil e a democracia representativa. Esta temática tem despertado, nos últimos
anos, a atenção crescente de cientistas sociais, historiadores e juristas para o problema. No Brasil, a ampliação do
processo histórico-institucional de judicialização da política ao longo do periodo de redemocratização do pais passou
a representar, em muitos casos, uma importante estratégia política para a luta e o reconhecimento de novos direitos e,
ao mesmo tempo, uma preocupação justificada de monopolização de importantes decisões sobre temas profundamen-
te controversos na sociedade. Neste sentido, com apoio em pesquisa empirica atualmente realizada sobre as relações
entre o Poder Judiciário e as organizações não-govemamentais de direitos humanos no âmbito do municipio do Rio de
Janeiro, pretende-se construir um panorama do desenvolvimento histórico do fenômeno de judicialização da política no
Brasil, destacando os limites, impasses e possíveis rumos desse processo na história ínstitucional brasileira.

Paulo José Koling - UNIOESTE


Conquistando pertencimento e ampliando direitos: um estudo de caso em Marechal Cândido Rondon/PR (1991-
2006)
Nesta comunicação abordaremos uma experiência de inserção social da Unioeste na luta dos moradores do Lotea-
mento Ceval, localizado no municipio de Marechal Cândido Rondon, extremo Oeste do PR, pelo reconhecimento do
direito à moradia e à cidade. Iniciado no ano de 1991, o referido loteamento resultou de uma negociação entre o
governo municipal, seu agente habitacional e a empresa Ceva I Alimentos S/A, que tinha o interesse de reestruturar a
planta do frigorifico de carne suina às exigências de exportação e de retirar a vila operária do interior da área da

441
indústria, O projeto habitacional de caráter popular foi executado á revelia de qualquer legislação sobre o planejamen-
to do espaço urbano e a preservação ambiental. Diante do descaso das autoridades municipais e da sujeição ao jogo
eleitoreiro, após um estudo da trajetória das irregularidades, realizado por professores e alunos da universidade, no
início de 2003, os moradores encaminharam ao Ministério Público do Paraná - 2" Promotoria de Proteção ao Meio
Ambiente, da Comarca local-, o pedido de abertura de procedimento administrativo, Tendo por base os direitos difusos
e o direito ambiental, em 2005, a Promotoria transformou o processo numa Ação Civil Pública Ambiental, exigindo a
remoção das casas e a recuperação da área,

56. Integralismo, nacional-sindicalismo e nazi-fascismo


Giselda Brito Silva (UFRPE) e António Costa Pinto (Universidade de Lisboa)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h às 18h)

Emília Camevali da Silva - PUC/SP


A Legião Cearense do Trabalho como resposta aos problemas sociais e políticos da classe trabalhadora cea-
rense nos anos 30: um dos pilares da Ação Integralista Brasileira
O objetivo deste trabalho é estabelecer um olhar mais apurado sobre como se efetivou uma da bases mais sólidas do
integralismo 'a Legião Cearense do Trabalho' ,nascida no estado do Cearáem 1931, a LCTse colocava como uma
alternativa entre o capitalismo e o comunismo, a ponto de ser vista como um divisor de águas pela historiografia
brasileira, pois que, foi um movimento político e social marcante em uma época de intensos confrontos políticos-
ideológicos das décadas seguintes, A LCT, criada por Severino Sombra e Hélder Câmarateve uma grande penetração
dentro dos meios trabalhistas nordestinos, a ponto de ser cortejada e acoplada por Plínio Salgado, dando base a uma
das mais fortes raízes do integralísmo nas terras de Alencar. Dona de um forte tom autoritário, a LCT usou de um
discurso misticoonde eram discutidas questões como: o estabelecimento de 8m cotidiano perfeito; a elaboração de
uma CÍ'íticaá modernidade; questionamentos aos donos do poder e etc, Por esta razão ela foi vista como um movimen-
to fascista,

Gustavo Felipe Miranda - UERJ


Os Integralistas: organizações e atuação no Rio de Janeiro (1938-1947)
Com a decretação do Estado Novo em 10 de novembro de 1937, o governo Vargas ampliava ainda mais a face
ditatorial de seu regime, Como toda ditadura, o Estado Novo, tinha um caráter político restritivo, neste caso, além de
seus inimigos, essa restrição atingiu também seus antigos aliados, os membros da Ação Integralista Brasileira, Boa
parte da historiografia que se preocupou a explicar a intervenção dos integralistas no processo político brasileiro
entende que seu enfraquecimento ficou bastante visível após a proibição do funcionamento de qualquer organização
partidária em dois de dezembro de 1937, algo que veio a se agravar com o início e desfecho da Segunda Guerra
Mundial. Considero essas conclusões, contudo as vejo também como uma problemática a ser investigada com maior
atenção, O que me proponho a investigar neste trabalho é fundamentalmente o papel desempenhado pelos integralis-
tas no cenário político nacional durante o período que se estende dos primeiros anos do Estado Novo aos primeiros
meses de funcionamento da Câmara Distrital do Rio de Janeiro em 1947,

René Emaini Gertz - PUCRS/UFRGS


Direita no Brasil; alguns estudos recentes
O integralismo brasileiro vem sendo estudado com intensidade desde a década de 1970, existindo, hoje, um amplo
leque de trabalhos acadêmicos a seu respeito, Gradativamente, também a presença dos fascismos europeus (o fascis-
mo italiano, o nazismo alemão, entre outros) foí se tornando objeto de estudos, Aesses objetos históricos, juntaram-se,
mais recentemente, movimentos contemporâneos, que vão desde as tentativas de reorganização do integralismo, o
neonazismo, o revisionismo, o separatismo, indo até gangues de jovens, Também esses fenômenos receberam aten-
ção da imprensa e do mundo acadêmico, No presente trabalho, se pretende fazer uma tentativa de avaliação crítica
dos estudos mais recentes, comparando, por exemplo, o senso comum refletido nas matérias jornalísticas com traba-
lhos acadêmicos, em especial, dissertações de mestrado e teses de doutorado,

Francisco Josênio Camelo Parente - UECE


Realidade nordestina: a especificidade integralista cearense
No contexto da década de 1970, com o processo programado de abertura lenta, gradual e progressiva, liderado pelo
governo Geisel, o tema Integralismo passou a ser estudado como uma forma de ver na história uma experiência de

442
ideologia autoritária associada á burguesia e sua transição para a democracia, fomentadora de um comunismo. Atu-
almente, uma grande quantidade de trabalhos tem propiciado tratar de uma série de estudos que se dedicam ás lacunas
que foram ficando em função dos momentos de abordagem do tema. Novas formas de ver, estudar e escrever o político
favorece os olhares para as relações deste campo com o religioso. Os Estados Unidos buscam uma liderança neo-
conservadora e o papel da religião aparece como associado á construção de uma nova ordem intemacional. Assim, rever
o movimento integralista é buscar na experiência histórica um horizonte para as próximas gerações. E qual o papel do
Nordeste brasileiro nesse contexto? Defendemos que foi mais importante do que a literatura já apresentou.

Pedro Ernesto Fagundes - UFRJ


Os batinas-verdes (1932-1937)
Nesta comunicação pretendo focalizar as ligações entre padres e organizações do laicato católico, especificamente, o
Centro Dom Vital e a Liga Eleitoral Católica (LEC) com aAção Integralista Brasileira (AIB). O objetivo central é verificar
como foram construídas as relações polítícas e as alianças eleitorais entre os chamados 'camisas-verdes' e essas
personalidades e organizações católicas. Para tanto, pretendemos analisar alguns episódios da trajetória histórica da
AIB nos estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo.

Edgar Bruno Franke Serratto - UFPR


Problemas da historiografia: o Integralismo como objeto de estudo
O presente artigo tem por objetivo sublinhar algumas discussões pertinentes acerca da historiografia que abordou o
Integralismo como principal objeto de estudo, suas interpretações mais correntes, as problemáticas desenvolvidas e
as utilizações de conceitos mais recorrentes. Segue-se assim, uma breve análise dos principais trabalhos que contem:rs6'
piaram a Ação Integralista Brasileira, devidamente interpretados dentro das vicissitudes da sua data de produção. ~

I 17/07 - Terça-feira - Tarde (14h ás 18h)


Patricia Schmidt - UFSC
A sacralização de um movimento político-cultural na década de 30: o integralismo de Plínio Salgado ~
Não há nenhuma novidade em afirmarmos que a religião influência nossas vidas em vários âmbitos, e que exerce
poder sobre nossa maneira de estar no mundo, em nossas práticas cotidianas. Interessante é podermos pensar que a
religião forma opiniões e exerce uma influência muitas vezes silenciosa, camuflada, principalmente quando formos
'*
E

:i5
falar em legitimar ações e consagrar personalidades. A política faz uso de todo poder simbólico e do apelo imagético .~
como recurso de auto-representação. Sabemos que muitos no decorrer da nossa história utilizaram-se da função ê
ideológica da religião, da sacralização da política para manter e criar a sensação de que o poder nas mãos de alguns .~
indivíduos fosse "natural", Buscamos discutir como o discurso religioso é apropriado na construção de uma doutrina ê
político-cultural: o integralismo, dirigido por Plínio Salgado, durante a vigência da Ação Integralista Brasileira (1932-
1937); percebendo que Plínio Salgado não abriu mão da legitimação de seu discurso pela via da religião, num pensa-
mento centrado no espiritualismo cristão, proclamando uma doutrina "redentora' para o povo, cujo lema: 'Deus, pátria
'Ef*
o,
e família" é pronunciado em alto e bom tom, propondo uma ~revolução espiritual", ~

Rodrigo Christofoletti - FGV - CPDOC


Simbologia e política: as memórias da Enciclopédia do Integralismo
Esta comunicação visa apresentar os elementos mais representativos da leitura de um conjunto de escritos editados
pelos integra listas quando da celebração de seu Jubileu de Prata no ano de 1957. A Enciclopédia do Integralismo
surgiu simultaneamente como uma aglutinadora das memórias integralistas e como uma propagadora de suas idéias
mais radicais, idéias estas que visavam dar conta de uma proposta de Nação. Tudo isso mediado pela lente do
superlativo, pois nestes escritos tudo o que se relaciona ao integralismo é superdimensionado. Das simbologias revi-
vidas, aos juramentos políticos tudo se mostrou maior do que realmente foi. Busca-se, portanto, interpretar o que havia
nesta enciclopédia e quais os anseios que os integralistas possuíam no periodo pós-guerra.

Silvia Regina Ackermann - UFSCar


A memória vestida de romance: algumas questões sobre o integralismo a partir da literatura
Desde o lançamento da tese de Hélgio Trindade nos anos 70, inúmeros cientistas sociais e historiadores têm escolhido
o integralismo como tema de pesquisa. Porém, no Espírito Santo, apenas atualmente o assunto tem merecido a
atenção de alguns poucos interessados. Em 2001 um escritor capixaba publicou um livro de literatura abordando o
tema. Na trama estão presentes questões, frequentemente abordadas, tais como: os possíveis motivos que levaram
imigrantes e descendentes a ingressar no movimento; as representações de integralistas e comunistas ou a participa-
ção da Igreja Católica. Mas, interessa, sobretudo, as outras pistas deixadas pelo autor que relacionam poder local e
integralismo; a criação de novas fronteiras no interior de um grupo étnico; além dos ressentimentos e desconfortos

443
presentes na memória dos moradores de Floresta, hoje, Burarama, lembrando-nos que as paixões e outros sentimen-
tos não estão distantes da politica.

Leandro Pereira Gonçalves - Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora


O nacionalismo literário: o pensamento político de Plínio Salgado em Trepandé
Este trabalho pretende analisar a obra literária de Plinio Salgado como testemunho de uma determinada classe social,
seguindo o referencial teórico proposto por Lucien Goldmann. Nessas obras, pode ser encontrada uma fonte historio-
gráfica reveladora para a compreensão da ideologia presente na Ação Integralista Brasileira. A partir daí, foí possível
observar um discurso conservador e autoritário para o desenvolvimento da sociedade brasileira. Utilizou-se o estrutu-
ralismo genético goldmanniano a fim de se verificar a existência de artifícios e formas que possam comprovar se as
obras literárias de Plínio Salgado são consideradas romances e, portanto, expressão burguesa.

Rodrigo Santos de Oliveira - PUCRS


A imprensa integralista
AAção Integralista Brasileira (AIB), surgida em outubro 1932, foi o primeiro movimento de massas organizado nacio-
nalmente no Brasil. Teve grande inserção na sociedade brasileira da época.
Como em todo movimento de massas, a AIB utilizou a imprensa de forma intensa com o objetivo de expandir sua
ideologia na sociedade e atrair novos adeptos para suas hostes. A imprensa acabou se transformando num dos princi-
pais meios de difusão ideológica do movimento, sendo um dos grandes responsáveis pela grande inserção social da
AIB. Até os dias de hoje a rede de imprensa desenvolvida pela AIB foi a maior organização de imprensa político-
partidária no Brasil. Englobando um total cento e oito periódicos, entre jornais e revistas. A partir de 1935 a imprensa
estava tão bem organizada que fundaram a Sigma Jornaes Reunidos, órgão responsável por manter uma certa unifor-
midade nos periódicos da AIB, além de organizar a circulação e fazer a censura. O objetivo dessa comunicação é
apresentar o tema da tese de doutorado que estou desenvolvendo sobre a imprensa no movimento integralista em seu
período de existência legal, entre 1932 e 1937.

Marcelo Timotheo da Costa - UNIVERSO


Nadando contra a corrente: Alceu Amoroso Lima leitor de "Deus é de Direita?"
No fim dos anos 1920, recém-convertido ao catolicismo romano, Alceu Amoroso Lima (1893-1983) assumiu a liderança
do laicato nacional, notabilizando-se pela fidelidade ao projeto de neocristandade da Igreja brasileira, ideário prosélito
na fé e anticomunista politicamente. Neste sentido, é conhecida a aproximação de Alceu com o integralismo nos anos
1930, mesmo que dela não resultasse adesão formal do intelectual ao movimento. Porém, na primeira metade dos
anos 1940, Amoroso Lima vai se distanciando da tradicional associação entre fé católica e pensamento autoritário
direitista. Iniciava-se o processo lento e não linear de revisão do registro eclesial de Alceu, cãmbio que o levará ao
catolicismo liberal e à defesa da democracia, marcas de sua posterior militãncia. Na presente comunicação, quer-se
iluminar peça fundamental da mencionada transformação: a leitura, por Amoroso Lima, do texto 'Oieu, est-II à Oroite?',
publicado pela revista dominicana francesa Vie Intellectuelle. Texto importante - paradoxalmente ausente nas discus-
sões especializadas - que, ao precipitar e informar a mudança eclesiológica de Alceu, motivou também a transforma-
ção da ação amorosiana na esfera pública.

I 18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h)

Ana Maria Dietrich - UFV


Nazismo Tropical? Conflitos raciais e especificidades regionais
O partido nazista no Brasil (1928-1938) estava inserido em uma rede de filiais deste partido instaladas em 83 países do
mundo e comandadas pela Organização do Partido Nazista no Exterior, cuja sede era em Berlim. Ogrupo instalado no
Brasil teve a maior célula fora da Alemanha com 2900 integrantes sendo estruturado de acordo com regras e diretrizes
do modelo organizacional do III Reich. A realidade brasileira interveio nesse processo causando o que chamamos de
tropicalização do nazismo. A história do desenvolvimento da ação do partido no Brasil serà analisada nos 17 estados
brasileiros onde estava presente, tendo como contexto histórico a complexidade das relações Brasil e Alemanha
durante o período da Era yargas, a relação com o integralismo e eventuais conflitos raciais com a população brasileira
e C(l"1 judeus imigrados. Enfase será dada ao papel do chefe do partido nazista no Brasil, Hans Henning von Cossel,
considerado como Führer tupiniquim, tendo como fonte entrevistas com seus familiares.

Carlos Gustavo Nóbrega de Jesus - Unesp-Assis


Anti-semitismo e negacionismo, nacionalismo e memória: Revisão Editora e as estratégias da intolerância
O intuito desta comunicação é apresentar a trajetória e as propostas da Revisão Editora, desde sua fundação, em
1987, até o ano de 2003. A editora especializou-se em difundir propostas que contestam a existência do Holocausto, o

444
que a insere no movimento denominado revisionismo histórico. Com número não desprezível de adeptos nos Estados
Unidos e Europa, o movimento propõe-se a reinterpretar os acontecimentos da Segunda Guerra Mundial, o que lhe
valeu, nos meios acadêmicos, a denominação de negacionista, pois, analisando-o detalhadamente, nota-se que a
principal característica de seus adeptos é a defesa do anti-semitismo e, principalmente, a negação do Holocausto. A
Revisão Editora constituiu-se no principal pólo dessas propostas no Brasil, além de figurar, em textos especializados,
como responsável por atitudes neonazistas. A análise atenta da trajetória da Revisão Editora evidenciou que ela
passou por três momentos distintos. Neste sentido, pretende-se apresentar, por meio de documentação específica,
quais estratégias utilizadas pela empresa, nestes três momentos, para divulgar suas propostas racistas e para fugir
das proibições legais.

Márcia Regina da Silva Ramos Carneiro· UFF


A construção de um projeto político: os caminhos da memória e cultura integralistas
Desde 1932 até à atualidade, os ideais da Ação Integralista Brasileira vêm sendo cultivados por grupos que almejam
fazer florescer e chegar à hegemonia da sociedade política brasileira o modelo de Estado Integral. Os ideais doutriná-
rios são recuperados na atualidade por grupos que se organizam em várias partes do Brasil com o objetivo de reestru-
turação do movimento. Estes grupos propõem, a partir de releituras da Doutrina e da absorção de memórias constru-
ídas ao longo do tempo, seja pelo acúmulo das produções endógenas seja pelas lembranças que buscam extrair dos
"velhos militantes', a definição de uma História Integralista. Assim sendo, a memória do movimento vem sendo recons-
truída ao longo de setenta anos, considerando-se que cada grupo que se organiza se considera portador da verdadeira
idéia integralista. A Doutrina do Sigma permanece como parâmetro para a construção de uma História a partir dos que
participam do movimento que congregue, em uma síntese anti-dialética os aspectos em conflito da construção de uma
memória integralista. Neste sentido, os estudos de cultura e política podem contribuir para o entendimento da tentativa ~
's6'
de recuperação dos ideais produzidos em inícios do século XX e que são apresentados como projetos de futuro para
o Brasil.

Hugo José Guedes Moura - UFRPE


O Estado de Pernambuco a partir do ano 1945: Conflitos e Acomodações
Esta comunicação tem como proposta expor questões sobre o estudo das relações sociais, políticas e culturais cons- ~
truídas no Estado de Pernambuco, em virtude das eleições para o executivo federal no ano de 1945. Tal pesquisa ~
pretende discutir os conflitos e acomodações que se fizeram necessárias durante o período de final do governo auto- ~
ri;~rio e retorno ao democrático. Trabalhando com os jornais diários de Pernambuco (DP) e folha da manha, por serem 'g
esses os jornais que se partidarizaram e deixam claras suas opiniões. O jornal folha da manha foi construído durante '0
a interventoria de Agamenon Magalhães e vai se posicionar a serviço do Estado. O diario de Pernambuco que nesse ~
momento fazia parte da rede "associados" vai ter uma postura de maior llliberdade" editorial e com isso vai servir de .~
propagador dos pensamentos mais democráticos do momento. Esses Jornais vão servir de locais aonde ocorrem os ê
debates a respeito da sucessão de Vargas. No diario de Pernambuco as discussões são acaloradas a favor de uma Ef
democracia junto com liberdade social. Em oposição se encontra a folha da manha jornal criado para servir como .~
propagador das idéias do regime anterior, e que divulga discursos a favor de uma democracia mais moderada e de ~
uma transição organizada. ~

Imgart Grützmann . Unisinos


NSDAP· Grupo Local de Porto Alegre: organização, atividades e difusão simbólica do nacional·socialismo
O projeto de pesquisa "NSDAP - Grupo Local de Porto Alegre: organização, atividades e difusão simbólica do nacional-
socialismo' tem por finalidade analisar a formação, o desenvolvimento e a atuação do Grupo Local do Partido Nazista
em Porto Alegre durante o período de 1931 a 1938 e estudar as formas simbólicas, as representações, as festas e os
rituais acionados pelo Grupo para a difusão do ideário nacional-socialista. Na presente comunicação, pretende-se
apresentar em linhas gerais as principais diretrizes deste projeto, o embasamento teórico-metodológico norteador de
sua realização e as fontes utilizadas.

Ania Cavalcante· USP


Perseguição, trabalho forçado e exterminio dos ciganos durante o nazismo, 1933·1945
O Porrajmos - termo romano similar a Holocaust em alemão e inglês, e Shoah em hebraico - vitimou aproximadamen-
te metade da população cigana da Europa (500 mil ciganos) e foi direcionada, sobretudo, contra os ciganos nômades.
O Porrajmos foi resultado de uma política estatal nazista planejada na Alemanha e nos países ocupados que se
caracterizou pela exclusão sócio-econômica, "guetoização', trabalho forçado para firmas alemãs em campos de con-
centração ("Vernichtung durch Arbeit', "extermínio pelo trabalho"), experiências pseudo-científicas, eutanásia, fome,
doenças. A esse fenômeno também se acrescentam, especificamente nos países ocupados, os fuzilamentos em mas-
sa pelas Einsatzgruppen (forças-tarefa especiais) e, na Polônia ocupada, o gaseamento por gás Zyklon B nos campos
de extermínio. Todo esse processo de genocídio cigano é desconhecido em pesquisas no Brasil. Passou a ser objeto

445
de estudos na Europa a partir de 1972 e se intensifica a partir da década de 90. Pretendemos, com essa apresentação,
lançar luz á "Solução Final da Questão Judaica" no contexto do fenômeno do Holocausto e suas discussões e debater
as etapas da perseguição, exploração econômica e exterminio desse grupo a partir dos documentos e historiografias
européia, sobretudo alemã, e norte-americana.

I 19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h ás 16h30min)

Fábio Chang de Almeida - UFRGS


Extrema-direita na América Latina: grupos de inspiração nazi-fascista na Internet
Este trabalho apresenta um panorama sobre os grupos de inspiração nazi-fascistas latino-americanos que possuem
páginas na Internet, dando ênfase para os casos da Argentina e Brasil. Tal estudo insere-se na categoria História
Imediata, sendo parte de minha pesquisa de mestrado desenvolvida atualmente na UFRGS, sob orientação da Prof.·
Ora. Carla Brandalise.

António Costa Pinto - Universidade de Lisboa


O Salazarismo e o Fascismo Europeu
Os estudos do Fascismo Europeu se centraram por muito tempo nos casos centrais (Alemanha e Itália), negligencian-
do outros casos por considerá-los atipicos, a exemplo do caso português tido como uma ditadura conservadora, corpo-
rativa e católica. Depois dos anos 1960, o Salazarismo passa a fazer parte de algumas das discussões centrais dos
fascismos, se bem que ainda muito conceituais, refletindo muito mais a dicotomia fascismo/autoritarismo, sendo o
salazarismo ainda tratado como um movimento distinto. Na atualidade, ainda predominam uma série de lugares histo-
riográficos indefinidos sobre essa relação. Contudo já se pode falar de uma quantidade significativa de estudos que
passaram a incluir o salazarismo na pauta do tema "Fascismos". Alguns Colóquios e Congressos têm promovido
momentos de grandes reflexões sobre essa relação resultando em produções historiográficas de peso para os estudos
dos movimentos totalitários e autoritários do século XX, nos quais se observa forte preocupação com o caso portugu-
ês. Minha participação nesse Simpósio Temático tem, então, a preocupação de trazer ao Brasil o resultado de algumas
discussões acerca da relação salazarismo e fascismo europeu com o integralismo brasileiro e o nacional-sindicalismo
português, temas centrais do nosso Simpósio.

João Fábio Bertonha - UEM


Integralismo e nacional-sindicalismo: um possivel padrão latino dentro do universo fascista?
O objetivo dessa comunicação é comparar as experiências históricas do Integralismo no Brasil e do Nacional-sindica-
lismo em Portugal. O surgimento, desenvolvimento e esforço para atingir o poder dos dois movimentos serão compa-
rados, com especial ênfase nas relações de ambos com os regimes de Getúlio Vargas e Sal azar. As biografias dos
seus dois maiores líderes, Rolão Preto e Plínio Salgado, também serão enfatizadas. Em última instãncia, o objetivo é
analisar as experiências fascistas no Brasil e em Portugal (assim como, lateralmente, as da Espanha, Chile e outros
países latinos) para discutir a viabilidade de pensarmos num padrão latino, ou, ao menos, ibérico, para a análise da
experiência fascista no mundo ocidental no periodo entre-guerras.

Maurício Barreto Alvarez Parada - Puc-Rio/Universo


Brasileiros em Portugal: Plinio Salgado no exilio
Esse trabalho faz parte de uma pesquisa mais ampla sobre a presença de brasileiros -literatos, políticos, diplomatas,
cientistas etc. - que estiveram em Portugal durante o período salazansta. Nessa comunicação, o interesse está volta-
do para o período de exílio de Plínio Salgado entre 1938 e 1945. Sob o impacto desse deslocamento geográfico e
intelectual, Plínio Salgado organizou um volume denominado de Madrugada do Espírito. Este livro, com escritos do
início dos anos 1930, foí publicado em 1946, posteriormente a outros como A vida de Jesus (1942) e O Rei dos Reis
(1945), ambos atravessado por intensa religiosidade. A linha de coerência nessa biografia intelectual- entre o militante
político e o crente fervoroso - recaiu no que poderíamos denominar de "crítica á modernidade'. Sobre ela, Salgado
escolheu situações e momentos claramente identificados por ele como associados a uma decadência ou crise do
pensamento ocidental. Discutir o impacto desse exílio sobre a vida de Plínio Salgado, que o obrigou a reinventar sua
biografia e também a se transformar como intelectual, é a proposta dessa comunicação.

Juan Manuel Padrón - Universidad Nacional dei Centro de la Provincia de Buenos Aires
Nacional-sindicalismo, fascismo y nacionalismo en la Argentina, 1943-1966
La crisis dei liberalismo en el período de entreguerras, el ascenso de los regímenes nazi-fascistas y el comienzo de la
Segunda Guerra Mundial, marcaron intensamente tanto la historia europea como la de América Latina. Profundas
convulsiones políticas, sociales y económicas marcaron un quiebre significativo para amplios sectores de las derechas
locales, que vieron \legada su hora de acabar con el orden demo-liberal. Sin embargo, el vuelco de la conflagración

446
mundial en 1943 pareció asestar un golpe definitivo a esos sectores nacionalistas identificados con los regimenes
fascistas europeos: ~cómo sobrevivi r a la nueva coyuntura? ~desde donde reivindicar la defensa de ideologías derro-
tadas y condenadas mundialmente? ~cómo pensar, desde allí, un 'nuevo orden' político y social? En este trabajo
presentamos algunos elementos para pensar ese fenómeno en el caso argentino, rastreando las formas en que el
nacionalismo de derecha reconstruyó una ideología aparentemente derrotada, para recrear y pensar una realidad tan
compleja como la dei período peronista y los tempranos anos sesenta. Para esto nos detendremos en algunas de las
publicaciones de estos sectores durante el período, e intentaremos presentar algunos elementos que permiten recons-
truir esos itinerarios políticos e ideológicos.

Maria das Graças Ataíde de Almeida - UFRPE e Luis Reis Torgal- Universidade de Coimbra-Portugal
Discurso, cultura e autoritarismo: Portugal e Brasil durante o Estado Novo
A década de 30 vê emergir em Portugal (1932) e no Brasil (1937) o autoritarismo estadonovista tendo á frente as
figuras de Sal azar e Vargas.Uma política de aproximação entre as duas ditaduras é encetada a partir de 1939 entre o
DIP (Brasil) e o SNP (Portugal). Portugal e Brasil buscam parceiros na chamada' democracia autoritária'. A Revista
Atlãntico será o porta-voz desta política, que visa estreitar as relações entre os dois Estados. A Igreja católica, tanto em
Portugal como no Brasil vai ter um papel relevante nestas relações. Esta comunicação tem com objetivo analisar a
produção de discurso que alardeia o ' destino comum' em torno dos dois países, procurando ver as diferenças e
similitudes presentes no ideá rio do discurso de Portugal e do Brasil.As fontes para esta pesquisa foram revistas e
jomais laicos e religiosos em acervos de arquivos portugueses (Coimbra,Braga,Lisboa) como em brasileiros (Recifel
Rio de Janeiro). Esta pesquisa foi resultado de estágio pós-doutoral desenvolvido na Universidade de Coimbra, subsi- ~
diado pela Capes. ®
Giselda Brito Silva - UFRPE o
O pensamento político de Ant6nio Sardinha no Brasil ~
Resumo: Considerando-se a data da circulação das idéias de António Sardinha no Recife, entre 1925 a 1950, acredi- 'ti
tamos que seu pensamento entrou no país como ilustração de um movimento político e movimento de idéias em ~
momentos diversos de suas relações com o salazarismo. No Brasil, contudo, o momento também se mostra heterodo- ~
xo com propaganda do pensamento de António Sardinha circulando ao lado de homenagens a Sal azar em revistas ~
católicas que ora apoiavam, ora criticavam os integra listas brasileiros, que também viviam situações diversas na E
realidade brasileira. A propaganda do pensamento de António Sardinha circula, então, no Brasil em grupos e situações ~
diversas e se amplia no momento de queda do Integralismo Brasileiro, entre 1939-1945. Como se pode daí perceber, :g
nossos interesses numa compreensão do pensamento de Sardinha e sua circulação em nossa sociedade, vai além de 2
uma análise de suas idéias. Trata-se de compreender uma circulação complexa que se estabelece entre integralistas, ~
intelectuais, jesuítas, Vargas e Salazar em meio á circulação de idéias autoritárias e totalitárias européias. .~
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20107 - Sexta-feira - Manhã (10h30min às 12h30min) a,
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Karl Schurster Veríssimo de Souza Leão - UFRPE
Recife nas tempestades da Segunda Guerra Mundial: olhares e mem6rias plurais sobre a convocação entre
1942 e 1945
Recife, cidade dos mercadores aberta ao oceano, presenciou em posição privilegiada um dos mais ativos fronts da
guerra: a Batalha do Atlântico, que durou de 1939 até 1945, com a derrota final do Reich e o avanço dos Aliados na
Europa. Em nossas pesquisas, centradas na propaganda da guerra em Recife, procuraremos analisar como foram
montadas as estratégias de publicidade e propaganda nos principais jornais da cidade e quais os mecanismos utiliza-
dos para atrair o apoio e adesão dos jovens a participar da Segunda Guerra Mundial sob o regime varguista. Em
seguida, pretendemos analisar os discursos do governo durante o conflito, objetivando compreender a construção da
guerra pelos enunciados do regime. Neste momento, pretendemos levar ao evento alguns dados coletados do Jornal
'Folha da Manhã' durante o conflito, procurando situar a propaganda de guerra defendida por Agamenon Magalhães
no Estado de Pernambuco. Por outro lado, além dos discursos e propaganda do governo, nos interessa permear esse
momento com as narrativas de guerra; com a guerra vista e sentida pelos cidadãos comuns que dela fizeram parte ou
que vivenciaram a participação de outros. Assim, pretendemos narrar o lugar da cidade do Recife na II Guerra Mundial
e a memória cotidiana desse conflito.

Carlos André Silva de Moura - UFRPE


Os intelectuais e sua participação na formação discursiva da Ação Integralista Brasileira em Pernambuco
Em nosso trabalho estaremos discutindo as atuações dos intelectuais católicos e leigos do início do século XX que
apresentaram participação na formação discursiva de recristianização e valorização intelectual, religiosa, política e

447
social deste período no Estado de Pernambuco. Ainda sobre esta perspectiva, analisaremos como a direção da Ação
Integralista Brasileira no Estado, entre os anos de 1932 e 1937, apropriou - se das relações interdiscursivas para a
legitimação de suas alocuções de formação de uma nação forte, baseados no lema Deus, Pátria e Família, fundamen-
tados na erupção discursiva propagada pelos pensadores das décadas de 1920 e 1930. Para esta apreciação nos
debruçaremos sobre as principais produções documentais dos pensadores da Faculdade de Direito do Recife, consi-
derado um dos principais centros de propagação das concepções políticas e sociais no Nordeste Brasileiro, agregando
grande parte da intelectual idade pernambucana que difundiu, em toda a região, os ideais da formação de um Estado
autoritário baseados nas teorias do Movimento Integralista.

Taís Campelo Lucas· UFRGS


Cortando as Asas do Nazismo: Plínio Brasil Milano e a memória da "Quinta Coluna" no Rio Grande do Sul
Celebrado como o maior combatente da espionagem nazista no sul do Brasil, Plínio Brasil Milano (1908-1944) esteve
á frente do Departamento de Delegacia de Ordem Política e Social do Rio Grande do Sul (DOPS-RS) no período de
mais intensa repressão ás atividades vinculadas ao Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP).
O estudo da trajetória do patrono da Polícia Civil do estado tem por objetivo analisar a interferência do jogo político
regional na reorganização do aparato policial do primeiro governo Vargas e nas ações estratégicas da Polícia Política
gaúcha, especialmente na fronteira com o Uruguai. Faz-se necessário, portanto, compreender a constituição dessa
instítuição policial ao problematizar as concepções de crime político, segurança nacional e ordem social reiteradas na
construção da memória do processo histórico em questão.

Giane Maria de Souza· Unicamp


A Manchester Catarinense e o I Congresso Operário: A difusão do autoritarismo e a gênese do sindicalismo
amarelo
Este trabalho analisa a formação histórica dos sindicatos amarelos na cidade de Joinville - SC, a partir do I Congresso
Operário ocorrido em 1934. O escopo deste resgate histórico é evidenciar que desde o início da década de 1930, os
sindicatos joinvilenses já defendiam a ideologia autoritária de subordinação e aquiescência social. Destarte, o I Con-
gresso Operário oficializou o papel estratégico dos sindicatos operários na defesa do capital honesto, da indústria
nacional e do trabalho disciplinado. Dentro de uma perspectiva materialista-histórica pretendeu-se analisar o trabalho
como categoria ontológica central para a compreensão das múltiplas relações sociais que se forjam no trabalho e a
partir dele, como os sindicatos. Nesse sentido, o movimento operário joinvilense, adquire novas configurações no
início do século XX, caracterizando uma nova formulação nas organizações da classe trabalhadora de não contesta-
ção e de institucionalização e difusão do Estado autoritário. Constatou-se que esse contexto político de Joinville,
propiciou as condições favoráveis para a instalação de um governo integralista em 1936 e a difusão aquiescente dos
ideais nacionalistas e autoritáríos durante o período do Estado Novo (1937-1945).

57. Leis para o trabalho


Joseli Maria Nunes Mendonça (UNIMEP) e Keila Grinberg (UNIRIO)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h ás 18h) I
José Raimundo Fontes - UESB
Trabalhadores, Estado e as origens da Previdência Social no Brasil
Esta comunicação aborda a relação entre o movimento operário e o Estado na dinâmica de criação, ampliação e
consolidação dos mecanismos previdenciários no Brasil, entre fins do século XIX e meados do XX. Previdência, aqui,
será entendida como um conjunto de arranjos societais, organizatórios e jurídíco-institucionais através do qual contin-
gentes de trabalhadores tecem estratégias de proteção coletiva para a reprodução física, biológica e social de seus
membros. Dialoga com a produção historiográfica que concebe as iniciativas do Estado enquanto domesticação e
cooptação dos trabalhadores como se estes fossem massa passiva no processo de montagem do Estado Varguista.
Contrapõe á tese de um protagonismo estratégico e negociado, no qual os trabalhadores agem pressionando e ocu-
pando os espaços institucionais, em muitos casos com o desencadeamento de tensões e conflitos, para obterem e
ampliarem direitos sociais, entre eles os previdenciários.

Maria Sangela de Sousa Santos Silva· UNICAMP


Justiça e Trabalho: processos trabalhistas de Fortaleza nas décadas de 30 e 40
A pesquisa busca analisar os processos trabalhistas da Junta de Conciliação e Julgamento de Fortaleza, nas décadas
de 30 e 40 do século XX, de trabalhadores das várias categorias profissionais, como padeiros, serventes, operários,

448
comerciários, auxiliar de leiloeiro, de escritório, buscando perceber os conflitos, intolerâncias e negociações entre
patrões, trabalhadores, advogados e juízes, quando da aplicação ou não das leis trabalhístas, bem como os sígnifica-
dos da Justiça do Trabalho para a sociedade local. Buscamos realizar uma discussão historiográfica e suas relações
no mercado de trabalho. A história oral é mais um instrumento para a discussão da temática, em que os depoimentos
podem evidenciar os (re)significados das teias de relações estabelecidas entre justiça, patrão e empregado. A impren-
sa local também contribui na compreensão desses emaranhados mundos do trabalho.

Valéria Marques Lobo· UFJF


Estado, Sindicatos e Políticas de Inclusão no Brasil Contemporâneo
Este trabalho visa indicar as perspectivas desenvolvidas pelo movimento sindical em relação aos excluídos do merca-
do formal de trabalho na segunda metade do século XX. Salienta-se que a postura adotada pelos trabalhadores
organizados é distinta conforme o periodo analisado, sobretudo em função da interação desse ator com outros movi-
mentos sociais presentes na cena política e da perspectiva estatal referente à política social. Assim, na década de 50,
os sindicatos revelam uma forte preocupação com as garantias estabelecidas para os trabalhadores formais, dentro
dos parâmetros da 'cidadania regulada', ao passo que nos anos 80 defendem explicitamente a universalização da
política social. Nos anos 90, sob o impacto do desemprego e das iniciativas governamentais orientadas para o Merca-
do, as centrais sindicais vêem-se diante de uma encruzilhada. Enquanto o Estado adota medidas desregulamentado-
ras das relações de trabalho, informadas pelo discurso segundo o qual a ampliação de vagas no mercado de trabalho
depende da redução do custo do trabalho, os sindicatos são levados a posicionar-se diante da crise de empregos sem
abrir mão de direitos, ao mesmo tempo em que têm que cuidar de sua própria sobrevivência num ambiente político
crescentemente hostil à ação reivindicativa.

Samuel Fernando de Souza· UNICAMP


Desventuras na lei: década de 30 e a legislação social
Pretende-se discutir as relações entre as primeiras propostas de regulamentação das relações de trabalho, no início
dos anos 1930 e as tentativas de aplicação das leis então instituídas. Enfoca-se a articulação entre os órgãos da
primitiva justiça do trabalho em torno do direito de estabilidade dos trabalhadores, no âmbito "individual'; e as discus-
sões de direitos na Comissão Mixta de Conciliação, para a arena considerada "coletiva'.

Flavio Limoncic . UNIRIO


Legislação e Políticas de imigração no Brasil e nos Estados Unidos
Resumo: Na virada do século XIX para o XX, diversos paises americanos, dentre eles Brasil e Estados Unidos, recebe-
ram grandes levas de imigrantes, ocasionando profundos impactos sobre suas demografias, culturas e mercados de
trabalho. Nos anos 1920 e 1930, estes dois paises implementaram políticas de restrição a entrada de novos imigran-
tes, positivadas em leis de cotas. A imigração e um tema clássico da historiografia norte-americana e tem sido crescen-
temente visitada pela brasileira. O objetivo desta comunicação e contribuir para a compreensão das políticas de restri-
ção a imigração do Brasil através de um esforço comparativo com as políticas norte-americanas, com ênfase nas
questões relativas aregulação do mercado de trabalho.

Michelle Reis de Macedo· UFF


Os trabalhadores exigem: o movimento queremista e a candidatura Vargas
®
57
Os trabalhadores participaram ativamente do processo de democratização ao longo do ano de 1945, sobretudo no
movimento conhecido como "queremismo', reivindicando a permanência de Vargas na presidência da República. Mi-
lhares de telegramas foram enviados por trabalhadores e populares ao Comitê Pró-Candidatura Getúlio Vargas do
Distrito Federal pedindo a Getúlio que aceitasse a indicação de seu nome como candidato para as eleições presiden-
ciais que ocorreriam a 2 de dezembro daquele ano. Em seus textos, os trabalhadores traduziam a importância das
políticas públicas patrocinadas pelo Estado na década de 1930 e, no momento da transição democrática, demonstra-
vam o temor de perder os direitos de cidadania social que alcançaram nos anos anteriores. Portanto, exigir a candida-
tura de Vargas era uma das possibilidades que encontram para garantir a manutenção das leis sociais.

I 17/07 - Terça-feira - Tarde (14h às 18h) I


Patricia Maria Melo Sampaio· UFAM
Incapazes de viver sobre si: legislação e trabalho indígena na Amazônia em finais do século XVIII
Esta comunicação pretende analisar o contexto de formulação e aplicação da Carta Régia de 12 e maio de 1798 que o
aboliu o Diretório Pombalino (1757-1798) e estabeleceu novos procedimentos para regular o trabalho indígena na
Amazônia do final do século XVIII e início do século XIX.

449
Maria Isabel de Siqueira - UNIRIO/UGF
leis aplicadas aos índios: a regulamentação da mão-de-obra no período Filipino
Resumo: No final do século XVI, às vésperas de 1580, a insatisfação entre os colonos no Brasil era evidente. O
governo português havia incrementado, pelo menos, em duas frentes, os seus objetivos quanto á sua relação com os
indigenas por meio da obra jesuítica de "proteção' aos indios e a regulamentação da captura do nativo pelos colonos
que buscavam mão-de-obra para seus engenhos. A política indigenista Filipina para a colônia brasileira inaugurada
com a Lei de 1587 determina o pagamento ao trabalho prestado pelos índios aos colonos - no que se aproxima da
legislação implementada às colônias hispano-americanas - e os decretos de Mem de Sá representam os primeiros
exemplos de uma legislação referente ao trabalho indígena no Brasil. Neste sentido, objetivamos analisar a legislação
aplicada aos índios no Brasil, privilegíando o período que vai do final do século XVI e meados do século XVII, permitin-
do assim recuperar a intenção do legislador de remunerar, pelo menos na lei, o trabalho do índio.

Paulo Cavalcante - UNIRIO


leis para descaminhadores
O descaminho, tecnicamente sonegação ao tríbuto (ou direitos fiscais) daquilo que lhe estava sujeito, na Améríca
portuguesa ganha foros de prática social instituinte. Especialmente nas primeíras décadas do século XVIII, como
decorrência das substanciais mudanças propiciadas pela míneração, o combate ao descaminho exigiu grande empe-
nho da coroa portuguesa e dos seus prepostos coloniais. Todo um arco de ilicitude, ambiguo e contraditório, no exato
momento em que se constituía, teve de ser apreendido para ser combatido. Assim sucedeu em Minas Gerais quando,
para reprimir atividades ilicitas de escravos faiscadores, o rei foi obrigado a publicar uma lei (11/02/1719) que alcan-
çasse judicialmente o seu dono e não apenas o escravo. Esta comunicação aprofunda a análise do descaminho em
seu movimento instituidor da totalidade social por intermédio da legislação específica e de uma sentença do desem-
bargador Rafael Pires Pardinho pela qual são confiscados dois negros (Tejuco, 14/09/1734).

Keila Grinberg - UNIRIO


A lei de 1831: o que os ingleses não viram na fronteira sul do Império Brasileiro
O presente paper tem como tema geral o papel da escravidão nas relações internacionais estabelecidas entre o Brasil
e seus países vizinhos - notadamente a Argentina, o Uruguai e o Peru - ao longo do século XIX, já que o primeiro foi
o único dentre estes países a manter o regime de trabalho escravo até o fim deste periodo. Seu principal objetivo e
analisar a forma como, ao longo da década de 1860, a situação peculiar da região de fronteira foi utilizada em ações de
liberdade que, utilizando a lei de 1831, argumentavam dever ser libertado o individuo por haver pisado em solo livre.
Com isto, pretende-se refletir sobre os significados do conceito de fronteira e sua relação com as noções de território,
cidadania e aquisição de direitos no Brasil oitocentista.

Beatriz Gallotti Mamigonian - UFSC


O tratado anti-tráfico de 1826, a lei de 1831 e a interferência inglesa na escravidão no Brasil
O tráfico atlântico de escravos para o Brasil foi totalmente proibido a partir do tratado bi-Iateral com a Inglaterra, em
vigor a partir de março de 1830 e também pela lei regencial de 7/11/1831. Esta proibição implicou em transformações
na escravídão brasileira. Por um lado, o preço dos escravos aumentou e as chances de alforria se alteraram; por outro
a continuação do tráfico, na fomna de contrabando, trouxe para o pais até a década de 1850, 760 mil africanos que
foram mantidos sob a escravidão ilegal. Co-signatária do tratado de abolição do tráfico, a Inglaterra, passou, principal-
mente a partir de 1840, a extrapolar os limites do acordo. Através da Royal Navy e dos representantes diplomáticos da
Coroa britânica no Brasil, a política abolicionista ganhou, entre 1840 e 1865, contornos intervencionistas. Esta comu-
nicação aborda, a partir da correspondência contida na série FO 84 (SI ave Trade) e da correspondência diplomática
entre a Grã-Bretanha e o Brasil, a política de recrutamento de trabalhadores para as colônias britânicas, a defesa dos
africanos livres e a campanha pela liberdade dos africanos ilegalmente escravizados. Além disto, procura avaliar o
impacto sobre a escravidão brasileira destas políticas conduzidas pelos agentes britânicos no país entre 1840 e 1865.

Maria Angélica Zubaran - Ulbra


"Sepultados no Silêncio": Alei de 1831 e as Ações de Liberdade nas Fronteiras Meridionais do Brasil (1860-1880)
Trata-se de analisar as apropriações da Lei de 7 de Novembro de 1831 por escravos e curadores públicos nas Ações
de Liberdade na Provincia de São Pedro, na segunda metade do século XIX, particularmente, para o caso dos escra-
vos que regressaram ao território brasileiro depois de terem residido no Estado Oriental com o consentimento de seus
senhores. O objetivo deste trabalho é chamar a atenção para as peculiaridades da aplicação da Lei de 1831 nos
Tribunais de primeira instância na Província de São Pedro, particularmente, na década de sessenta, onde a Lei de
1831 foi utilizada para argumentar em favor da liberdade daqueles escravos que tendo passado a fronteira para o
Estado Oriental, ao regressarem ao Rio Grande do Sul, requereram judicialmente a sua liberdade. Pretende-se enfati-
zar que o acesso dos escravos á justiça na segunda metade do século XIX possibilitou-lhes de um lado, encaminhar a
defesa de seus interesses, particularmente, da sua liberdade e, por outro lado, desafiar o "direito' de propriedade dos

450
senhores. Desta forma, esses escravos que retornaram à Província após terem residido no Estado Oriental, com a
ajuda de curadores, apropriaram-se da Lei de 1831 e a ressignificaram em defesa das suas liberdades, produzindo
novas interpretações da Lei de 1831.

Angela de Castro Gomes - CPDOCI FGV e UFF


Trabalho escravo no Brasil contemporâneo: construindo um problema
Esta comunicação tem como objetivo trazer para o campo dos estudos sobre escravidão, o debate acerca da prática
contemporânea de utilização de mão-de-obra, nomeada e reconhecida como 'trabalho escravo'. O primeiro aspecto
que se deseja apontar, é que tal designação foi produto de um processo de lutas, que mobilizou organizações interna-
cionais e atores politicos nacionais. Nesse sentido, a criminalização da prática de utilização do "trabalho escravo" - Lei
n. 10.803/2003, que deu nova redação ao artígo 149 do Código Penal-, deve ser entendida, ao mesmo tempo, como
um ponto de chegada e um ponto de partida para seu entendimento e combate no Brasil. A utilização dessa categoria,
que não é ingênua, estabeleceu novos problemas de interpretação, até porque trouxe para o campo juridico-político
todo um passado de representações sobre o trabalhador escravo ao longo da História do Brasil. Exatamente por isso,
um segundo objetivo, é compreender os argumentos desse debate, que é tanto acadêmico, como político. Para tanto,
pretende-se retomar seus termos e trabalhar com alguns de seus atores: historiadores e cientistas sociais; agentes
governamentais, como auditores fiscais e procuradores do Ministério Público do Trabalho; magistrados da Justiça do
Trabalho, por exemplo.

Ricardo Marcelo Fonseca - UFPR


Thompson, a história e o direito: repensando algumas conexões
Este texto busca (re) discutir algumas convicções estabelecidas a respeito da utilização das idéias do historiador inglês
Edward P. Thompson no que concerne às relações entre direito e história, sobretudo no que se refere aos estudos sobre
a escravidão - onde as pesquisas recentes enxergam a lei como urn 'espaço de conflito' entre dominantes e dominados.
Sem buscar desmentir esta dimensão, o texto enfrenta, todavia, duas questões importantes que boa parte dos historiado-
res, ao usarern aquela referência teórica, costuma ignorar: em primeiro lugar, o fato de que Thompson sempre tem em
vista um modelo jurídico estranho ao Europeu continental (e ao latino-americano), que é o "common Iaw"; em segundo
lugar, a leitura muitas vezes excessivamente instnumental dada ao direito pelo historiador inglês, que, ao ignorar uma
espessura histórica própria da instância jurídica, acaba por redundar em perdas compreensivas importantes.

I 18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h) I


Joseli Maria Nunes Mendonça - Unimep
Leis para o trabalho livre, em tempos de escravidão
A comunicação será uma notícia de pesquisa em andamento, por meio da qual pretendo estudar a atuação de Nicolau
Pereira de Campos Vergueiro, conjugando sua ação como homem público e homem de negócios - empresário, propri-
etário de terras empregador de mão de obra. A intenção é apresentar, no Simpósio, uma análise preliminar dos contra-
tos de trabalho realizados entre Vergueiro e trabalhadores imigrantes por ele contratados, confrontando-os com a
legislação vigente sobre a matéria - as leis de locação de serviço de 1830 e de 1837. ®
Henrique Espada Rodrigues Lima Filho - UFSC
Ambigüidades do contrato: amparo legal dos arranjos de trabalho dos libertos no século XIX
Resumo: Esta apresentação pretende discutir o amparo legal que, direta ou indiretamente, esteve no horizonte dos
contratos de trabalho envolvendo ex-libertos durante o século XIX. Para isso, o trabalho se lança em duas frentes: em
primeiro lugar explorando a história e a historiografia sobre o corpo juridico dedicado a regular ou amparar as relações
de trabalho na América portuguesa e no Brasil, na tentativa de pensar suas especificidades; em segundo lugar, tentan-
do explorar, através de um estudo circunscrito, algumas das conseqüências dessa bagagem legal sobre as expectati-
vas quanto às relações de trabalho, tal como inscritas nos contratos de trabalho envolvendo ex-escravos durante o
século XIX. As fontes principais para este segundo movimento desta apresentação serão os contratos de locação de
serviços envolvendo ex-escravos na Ilha de Santa Catarina, entre 1840 e 1888, registrados nos diversos cartórios de
registros de notas de Florianópolis (SC).

Cristiana Schettini Pereira - Universidad Nacional de San Martin (Argentina)


Experiências de trabalho sexual através dos processos de expulsão de estrangeiros: Buenos Aires e Rio de
Janeiro, no começo do século XX ~
Esta apresentação analisa acordos em torno ao trabalho sexual através de processos de expulsão de estrangeiros no ~
Rio de Janeiro e em Buenos Aires. As investigações policiais contra estrangeiros acusados de lenocínio, que deriva- '"
ram em portarias ministeriais de expulsão (na Argentina a partir de 1902, e no Brasil, de 1907), foram tomadas pelos ~

451
historiadores como evidências de políticas repressivas republicanas contra os trabalhadores e também como registros
dei tráfico internacional de mujeres. Além dessas duas dimensões, argumento que essas fontes iluminam uma varieda-
de de arranjos de trabalho sexual, assim como de uma diversidade de práticas de coerção que estão longe de se
resumir á difundida relação entre "escravas brancas" e seus exploradores. O confronto entre os registros de expulsão
produzidos em cada cidade permite uma reflexão sobre diferentes trajetórias legais no que se refere à regulamentação
da prostituição. Mas principalmente, o exerci cio confrontativo permite investigar as estratégias das prostitutas para
intervir nesses arranjos em cada contexto. Neste sentido, as leis que regulamentaram a expulsão de estrangeiros sao
um âmbito de negociação entre prostitutas e seus interlocutores, como amantes, cônjuges e senhorios, sobre suas
condições de trabalho e de vida.

Bruno Augusto Domelas Câmara - UFPE


Trabalho livre no Brasil oitocentista: o Regime de Engajamento e as Leis de Locação de Serviço de 1830 e 1837
Entre outubro de 1844 e janeiro de 1845, o jornal Diário de Pernambuco anunciava a fuga de 17 trabalhadores livres do
Engenho Suassuna. Provenientes dos Açores, esses trabalhadores desembarcaram do patacho Alberto e foram enga-
jados no serviço de campo pelo proprietário do engenho. Afuga desses açorianos é ilustrativa. Escapando das adver-
sidades econômicas em sua terra natal, um grande número de trabalhadores estrangeiros desembarcava no Recife
em busca de melhores condições de vida. Os custos da viagem eram assumidos, no desembarque, por um emprega-
dor em troca de um contrato de engajamento. Assim, esses imigrantes ficavam presos a patrões que tratavam muitas
vezes seus "trabalhadores livres" como escravos. Os rigores no tratamento e os desentendimentos levavam esses
trabalhadores à fuga do local de trabalho. Aos moldes de uma sociedade escravista, esses homens eram perseguidos
pelas autoridades policiais, principalmente os Juizes de Paz, e obrigados a ressarcir seus empregadores. A partir da
análise dos anúncios de jornais de trabalhadores em fuga e dos oficios do Consulado Português no Recife e da Justiça
de Paz, demonstraremos que as leis de locação de serviços serviam mais como meio de controle social do que como
garantia de direitos a esses trabalhadores.

Luís Eduardo de Oliveira - UFF


A campanha dos empregados no comércio de Juiz de Fora pela regulamentação do descanso hebdomadário
(1880-1905)
Na passagem do século XIX para o XX, os empregados no comércio de Juiz de Fora, a exemplo de seus companheiros
do Rio de Janeiro, empenharam-se na luta pelo fechamento das casas de negócios aos domingos. Nesse processo,
valeram-se não apenas de argumentos humanitários e de justificativas retiradas diretamente da doutrina cristã, que
consagra tal dia a Deus, como também exploraram habilmente o fato de que muitos comerciantes locais manifesta-
vam-se publicamente, então, pela interrupção da concorrência e das atividades comerciais no sétimo dia da semana.
Por meio de comicios, assembléias, abaixo-assinados e petições - que se tornaram mais freqüentes com a formação,
em janeiro de 1903, da Associação dos Empregados no Comércio -, a classe caixeiral juizforana pressionou fortemen-
te as autoridades municipais para que proibissem o comércio aos domingos, reivindicação finalmente conquistada em
fevereiro de 1905, quando a Câmara Municipal aprovou uma resolução nesse sentido.

Fabiane Popinigis
Nos limites da dependência: acordos e contratos de trabalho em Santa Catarina, meados do século XIX
Esta apresentação trata da análise de contratos de trabalho para avaliar a convivência de várias fonmas de trabalho em
Desterro, meados do século XIX. Analisando os registros e pagamentos de contratos de serviços entre várias catego-
rias de trabalhadores e seus empregadores com a diversidade de implicações e significados para os envolvidos,
observamos como a situação de trabalho dessas pessoas se mescla no ãmbito das relações de dominação e depen-
dência, invalidando a construção artificial de uma nitida delimitação entre trabalho coercitivo e trabalho livre. A leitura
dos registros também lança luz sobre as estratégias desses homens e mulheres para construir acordos positivos para
si dentro do próprio sistema legal, com mais ou menos sucesso, contradizendo a imagem simplificadora de passivida-
de e total impotência dos dependentes. Os trâmites legais, em muitos casos, serviam não apenas como mediadores
desses conflitos, mas também forneciam aos dominados brechas para que, manipulando o discurso dos dominantes,
conseguissem vitórias dentro do próprio sistema de dominação.

I 19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h às 16h30min)

Maria Verónica Secreto - UFRRJ


Trabalhadores rurais: os fora da lei. Os contratos de encaminhamento de trabalhadores para Amazonas (1942-1945)
Dentro de um periodo privilegiado pelos estudos sobre a legislação e as experiências de trabalho, como é o "Periodo
Vargas", um setor da sociedade tem recebido pouca atenção: o amplo setor da população rural. Este quase vazio se
origina na exclusão dos trabalhadores rurais das leis trabalhistas direcionadas ao "amparo" dos trabalhadores urbanos.

452
Segundo o discurso oficial veiculado através de uma imensa rede de propaganda os trabalhadores rurais seriam
"atingidos' por essa legislação num momento posterior. O ingresso na segunda guerra mundial e os acordos de Wa-
shington obrigaram o Brasil a contribuir com um recurso considerado estratégico: a borracha. O escândalo sobre as
condições de trabalho no período áureo da borracha (1870-1913) não permitia - pelo menos não permitia sem um alto
custo político - reproduzir o modelo. Por isto foi desenhado um esquema de recrutamento e encaminhamento de
trabalhadores para serem conduzidos para Amazonas. Este esquema implicava: contrato de encaminhamento e de
condições de trabalho no seringal e assistência ás famílias. Propomos-nos analisar todos estes instrumentos e avaliar
sua (in )eficácia para salvaguardar os direitos básicos dos trabalhadores e suas famílias.

Eliane Menezes - UNEB


Sociedades beneficentes no Recôncavo Sul da Bahia: associaçôes de auxilio mútuo entre trabalhadores autô-
nomos ( 1930-1960)
Dentro de uma perspectiva regionalista o mutualismo praticado no seio das Sociedades Beneficentes dos Artistas de
Nazaré, de Santo Antonio de Jesus e de Cruz das Almas, cidades do Recôncavo Sul da Bahia, tornou-se assunto digno
de ser historicizado.O intuito é apresentar o cotidiano das Associações, dentro do marco temporal estabelecido entre
1930-1960,apreendendo o porquê da sustentação destas entidades com fins beneficentes nurn período em que as
organizações de classes forarn muito rnais reivindicatórias do que assistencialistas. Evidenciar os seus propósitos, os
seus raios de abrangências, suas organizações internas, bem como, o contexto que explique um triunfo retumbante
como também o quase esvaziamento dos seus quadros sociais são outros interesses que envolvem a pesquisa ora em
curso. Metodologicamente refelrtir-se-á sobre os anseios, as condições de vida, de trabalho e de lutas dos sujeitos que
um dia participaram destas Associações, a partir das memórias, ou seja, a partir do diálogo com as fontes, sobretudo
a utilização da História Oral, cuja importância tem crescido por ser mais uma alternativa para desvendar aspectos que
as fontes escritas e ou outras, se calam.

Luciano Barandiaran - UNCPBAlCONICET


EI Estatuto dei Peón Rural (Argentina) y el Estatuto do Trabalhador Rural (Brasil): una primera comparación
A pesar de las similitudes mencionadas ampliamente por la historiografía regional en torno ai peronismo y ai varguismo
como representantes arquetípicos dei populismo, una de las diferencias más importantes entre ambos regímenes fue
su apelación y su política social de cara ai campo, en especial a los trabajadores rurales asalariados. La sanción en
1944 dei Estatuto dei Peón Rural en Argentina significó un importante apoyo a Perón durante toda su gestión, mientras
que en Brasil, si bien Vargas impulsó las primeras medidas a favor de ese mismo sector, el Estatuto do Trabalhador
Rural sólo se sancionó en 1963. Este trabajo pretende realizar una primera aproximación entre ambas normas, en
tanto en los dos paises la historiografía ha considerado que estos estatutos establecieron el fin de la exclusión de los
trabajadores rurales de la norma. En ambos casos, conceptos como 'éxodo agrario', 'ideología dei otorgamiento' y
'reforma agraria' estuvieron presentes en el contexto social y político, si bien en cada caso la naturaleza y la posterior
evolución de los mismos fue muy diferente, particularmente debido a las diferencias estructurales de cada país.

Clarice Gontarski Esperança - UFRGS


A lei 4.330 e os caminhos da (i)legalidade das greves durante o regime militar
Resumo: A comunicação pretende apresentar uma análise da lei 4.330, promulgada em 1964 e conhecida como lei
'antigreve'. Apesar de não proibir totalmente os movimentos paredistas, esta legislação, detalhista ao extremo, estabe-
®
57
lecia requisitos minuciosos que, na prática, obstaculizavam ao máximo o reconhecimento legal das paralisações do
trabalho durante o regime militar. Sua derrubada foi um dos cavalos-de-batalha do movimento sindical emergente no
final dos anos 70 e início dos 80 e sua aplicação pelo governo pairava como ameaça constante aos sindicalistas. No
entanto, em algumas ocasiões específicas, a lei foi empunhada em favor dos trabalhadores, ajudando a legalizar
alguns movimentos e garantindo a grevistas vantagens como a impossibilidade de demissão pelo empregador. A
comunicação objetiva tentar compreender o uso e as críticas a esta legislação autoritária, bem como a postura aparen-
temente ambígua dos sindicalistas. A partir do tema, o trabalho pretende discutir como a perspectiva legal integra as
estratégias de mobilização e a própria constituição do trabalhador brasileiro enquanto classe.

Ligia Barros de Freitas - UFSCar


O posicionamento da Justiça do Trabalho sobre a legislação trabalhista no período de 1946 à Constituição
~1~8 ~
O estudo tem como objetivo apresentar a análise dos debates ocorridos no Tribunal Superior do Trabalho (TST), órgão 15
de cúpula da Justiça do Trabalho Brasileira, sobre as leis que regularam as relações de trabalho no periodo de 1946 a ~
1988. Nesta construção da evolução do pensamento jurídico trabalhista brasileiro, demonstramos a prioridade dada o
aos direitos individuais do trabalho se comparados com os direitos sindicais e coletivos do trabalho. Ademais, aponta- ~
mos que, nesse aspecto, o consenso histórico na Justiça do Trabalho, em garantir ao menos uma pauta mínima de ~
direitos individuais do trabalho, esteve afinado com a opção da Assembléia Nacional Constituinte de 87/88 de expan- ~

453
são dos direitos do trabalho, a qual teve forte fundamento de justiça comutativa, dado o passado de privações e
exclusões de direitos a que sindicalistas e trabalhadores haviam sido submetidos.

Edinaldo Antonio Oliveira Souza - UNEB


Entre a lei e o Costume: uma (re) visita ao paternalismo trabalhista através das experiências de trabalhadores
do Recôncavo-Sul da Bahia (1940-1960)
Esta comunicação pretende apresentar alguns resultados parciais de uma pesquisa, com o mesmo título, que estou
desenvolvendo como crédito do Mestrado em História Social da UFBA. Lançando mão de um conjunto de fontes
(Reclamações Trabalhistas, Jornais, Dados Estatísticos da Justiça do Trabalho, Depoimentos orais, etc) procuro com-
preender as formas como algumas categorias de trabalhadores do Recôncavo-Sul da Bahia - região cujas práticas de
trabalho carregam fortes vínculos com um passado escravista - se relacionaram com a Legislação e a Justiça Formal
e, em última instância, com o projeto trabalhista no período compreendido entre 1940 e 1960.

58. Livros, leitores e leituras, séculos XVIII ao XX


Nelson SChapochnik (USP) e Giselle Martins Venâncio (UFMG/CNPq)
I 16/07 - Segunda-feíra - Tarde (14h às 18h) I
Eliana Ventorini - UFRGS
leituras sob interdição no Rio Grande Sul- segunda metade do século XX
Através deste trabalho, proponho-me a apresentar os resultados iniciais da pesquisa de Mestrado que desenvolvo pelo
Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul- UFRGS. A pesquisa tem
como objetivo central discutir práticas de interdição da leitura adotadas, no Rio Grande do Sul, durante a década de
1950, pela 'Comissão Especial de Estudo e Classificação de Publicações Periódicas' ligada ao CPOE (Centro de
Pesquisas e Orientações Educacionais) - órgão que regulava e normatizava a educação pública no estado. A Comis-
são, constituídalnomeda, em 1955, pelo então Secretário de Educação e Cultura do Rio Grande do Sul, analisava e
classificava as publicações periódicas destinadas ao público infanto-juvenil, 'desaconselhando' e 'reprovando' aque-
las consideradas 'prejudiciais à boa formação da infância e da juventude'. Impressos criticados menos pelo suporte
que os comunicava (Revistas em Quadrinhos), mas, especialmente, por seu conteúdo e linguagem. Através deste
trabalho, pretendo, assim, discutir as práticas de interdição da leitura no contexto especificado acima, bem como suas
implicações.

Gisella de Amorim Serrano - UFMG


A promoção da cultura pelo livro: o DIP e o SPN/SNI (1933-1950)
Dois órgãos voltados à propaganda de governo foram criados durante os governos autoritários de Getúlio Vargas e
Sal azar. Respectivamente, foram criados, em 1939 o Departamento de Imprensa e Propaganda e a partir de 1933 o
Secretariado Nacional de Propaganda (SPN), posteriormente transformado em Secretariado Nacional de Informação e
cultura popular (SNI). Embora a historiografia tenha sempre se debruçado sobre a análise dos dois órgãos sobre o
prisma de suas ações propagandísticas, há que se consiqerar a amplitude das iniciativas dos dois organismos sem
relação às politicas culturais por meio deles instauradas. E sob a ordem da promoção de uma 'cultura de livros' que
distingue-se a análise aqui proposta. Cumpre investigarmos as duas politicas editoriais implementadas em conjunto (
por um acordo de cooperação cultural a partir de 1941) e separadamente e ainda as investidas dessas políticas na
implementação de prêmios literários, feiras, exposições e ainda, pode-se dizer, de um certo 'investimento' no mercado
editorial brasileiro e português (notado sobretudo, no aumento de obras publicadas no período). Cabe o desafio de
investigar uma nova abordagem possível a respeito da execução de uma política cultural pelo livro implementada
pelos dois órgãos.

Eloisa Aragão Maués - USP


Em cãmara lenta, de Renato Tapajós: a história do livro, experiência histórica da repressão e narrativa literária
Lançado em 1977 pela editora Alfa-Omega, de propriedade de Fernando Mangariello, o livro Em Cârnara Lenta. de
Renato Tapajós, é distribuído ern quase todo o Brasil, tendo a obra que remar, em tempos de censura, contra a
classificação de subversiva que vieram a lhe dirigir numerosas críticas de jornais conservadores. A partir das intrinca-
das repercussões desse fato, o propósito desta pesquisa será, em um primeiro plano, fazer um estudo da produção, da
publicação e da censura da obra e da prisão de seu autor mediante a análise dos documentos guardados no Arquivo
do Estado de São Paulo, no acervo do Deops. Igualmente, em urn segundo mornento, a proposta inclui investigar a

454
relação entre a experiência histórica do autor na luta armada e os elementos constituintes da narrativa literária, vista ~58
sob o ângulo da literatura de testemunho. ~

Flamarion Maués Pelúcio Silva - USP


Livros e oposição durante a ditadura militar no Brasil ~
No processo de reorganização da oposição ao governo civil-militar resultante do golpe de 1964, os livros de oposição o
desempenharam um papel político de destaque, colaborando para a construção de um campo oposicionista a partir da co
década de 1970, por meio tanto da denúncia da ditadura como por se constituírem em fator aglutinador de setores :>
sociais de oposição que buscavam formas e meios de ação política legal e pública. ::;
Ao desempenhar este papel, os livros de oposição cumpriram uma função política pública e legal- que de certo modo -3
era também desempenhada pela imprensa alternativa -, tornando-se sujeitos na luta política oposicionista. A partir ~~
dessa hipótese, e considerando a importância e repercussão políticas que tiveram, pretendo verificar como os livros de ",,-
oposição colaboraram para conformar um 'programa' oposicionista neste período. Acredito que os livros de oposição ~
representaram o resultado da rearticulação de setores oposicionistas, expressando um certo grau de organização e 2
aglutinação desses setores. Ao mesmo tempo em que eram fruto dessa rearticulação, estes livros e as editoras res-
ponsáveis por sua edição - as editoras de oposição -, ajudaram também a configurar o campo oposicionista no Brasil
nos anos 1970/80.

Rita Sampaio - USP


Livro didático, modernismo e formação do canone
O presente trabalho tem por objetivo acompanhar o percurso e a inserção de autores modernistas e seus textos nos
livros didáticos de ensino de literatura da Companhia Editora Nacional, a partir de 1930.

Cristina Moerbeck Casadei Pietraróia - USP


Hugo, Maupassant, Racine, Balzac e Flaubert na formação escolar de parte do século XX
Hugo, Maupassant, Racine, Flaubert .... Para muitos dos aprendizes do século XX, os textos desses autores eram
conhecidos, estudados e cobrados na sala de aula de língua francesa, disciplina escolar obrigatória até os anos 70 e
que foi responsável por parte da formação literária e humanística de muitos brasileiros.
Tendo nos textos em língua francesa não apenas uma fonte de estudo literário e cultural, mas também um modelo
lingüístico a ser ensinado, a metodologia mais empregada para seu estudo era a tradicionou, ou de "gramática-tradu-
ção', que consistia no estudo do vocabulário, da gramática e das principais idéias do texto seguido da prâtica da
tradução. A leitura dos textos propostos era feita em etapas, da leitura linear e em voz alta até o completo exercício de
tradução. Mesmo com o advento da metodologia direta e mais tarde da áudio-oral e áudio-visual, com foco na comuni-
cação, a leitura e estudo de textos de referência permaneceram presentes dessa forma no ensino do francês, pelo
menos nos níveis mais avançados. E o que significou para os aprendizes ler, estudar e muitas vezes memorizar textos
franceses? O objetivo dessa comunicação é o de examinar essa questão, trazendo também para a discussão o impor-
tante papel da leitura literária na formação do leitor.

Carlota Boto - USP


Registros da vida escolar pelo tecido literário: instantâneos
A comunicação aqui proposta procura abordar o tema da escola primária em Portugal do século XIX, á luz de vestígios
apresentados por textos literários, eruditos e populares. Assim, são enfocadas algumas imagens, pinceladas de obras
clássicas, populares, por vezes anônimas, as quais, pelo registro da literatura, capturam descrições da realidade,
mediante o entrelaçamento da figura do professor com a do aluno e a da aula; o que, em seu conjunto, oferece
subsidios para a reconstituição de recortes sociais do ambiente cultural que lhe conferia suporte. Nesse sentido, o
objetivo do trabalho é o de averiguar como o registro literário pode contribuir para dar a ver as representações acerca
da escolarização em uma dada época, mediante a reconstituição de vestígios históricos relativos, em especial, ao
cotidiano educativo.

Juliano Rosa Gonçalves e Manoel Rodrigues Chaves - Secretaria de Educação e Cultura do Estado do Tocantins
Fragmentos históricos da geografia escolar: raça, riquezas naturais e princípios religiosos no livro 'Geografia:
Curso Elementar', de Cláudio Thomas, na década de 1940
A análise do discurso geográfico presente no livro didático 'Geografia: Curso Elementar', de Cláudio Thomas, editado
na da década de 1940, é o principal objetivo deste trabalho. Para desenvolver o trabalho, se fez necessário recorrer a
uma literatura específica, envolvendo a História da Educação, História das Idéias, Teoria da Geografia e a história da
disciplina de Geografia no Brasil. À luz de uma análise conjuntural, esse discurso fornece importantes subsídios para
reconstituir o quadro da Geografia Escolar Brasileira na década de 1940. No referido livro, raça, riquezas naturais e
principios religiosos fornecem elementos para construção simbólica da nação brasileira, exercitando o desenvolvimen-
to do sentimento pátrio. Na análise, identificamos três importantes fatores na elaboração do discurso geográfico esco-

455
lar no Brasil: 1 - A herança jesuítica, influenciando no caráter livresco e descritivo da Geografia. 2 - Influência da
ideologia católica na educação brasileira. 3- Presença de uma retórica cientificista, norteada teoricamente pelo evolu-
cionismo/determinismo etno-geográfico.

I 17/07 - Terça-feira - Tarde (14h às 18h)


Mariane Werner Zen - UDESC
Brasileiros pelas letras: a ação educativa presente nos Clubes de Leitura e Bibliotecas Escolares em Santa
Catarina - o caso do Grupo Escolar Alberto Torres (Brusque-SC-1938-1950)
Para conhecer uma cultura escolar, presente no processo de nacionalização de ensino em Santa Catarina, foi feito um
estudo de algumas ações educativas presentes em Associações Auxiliares da Escola organizadas no ensino primário.
Foram eleitos, para estudo, alguns Relatórios Anuais elaborados durante o Estado Novo até o final da década de 1940,
da Biblioteca Escolar e do Clube de Leitura que funcionaram no Grupo Escolar Alberto Torres (Brusque-SC) neste
periodo. A pesquisa analisou Relatórios da Biblioteca, observando um conjunto de regras envolvendo livros, leituras e
leitores nesse tempo eivado de regulamentações para se alcançar um cidadão brasileiro desejado. Os Relatórios
permitiram conhecer um acervo de livros entendidos como boas leituras e autorizados pelo Departamento de Educa-
ção. Os Relatórios do Clube Leitura destacaram a formação de um bom leitor, aquele com competências de leitura
para ler corretamente, tanto no que se refere à entonação e pronúncia, quanto à interpretação entendida como a
adequada. Apresentando também uma preocupação em ler com os estudantes tanto as biografias dos grandes ho-
mens quanto outras obras que pudessem tornar o hábito da leitura um recreio para o espírito e uma poderosa fonte
para sua cultura e desenvolvimento social.

André de Araújo - USP/Mosteiro de São Bento de São Paulo


Bibliotheca Monasterii Sti. Benedicti Sti. Pauli: história cultural, bibliografia histórica, preferências e práticas
de leitura e sentido de ordem acerca da coleção de livros antigos (Sécs. XVI-XVIII)
Considerando o valor histórico e a importância da Biblioteca do Mosteiro de São Bento de São Paulo pela conservação
de um singular patrimônio bibliográfico, pretendemos compreender parte de sua história. Para tanto, a pesquisa tem
sido empreendida em três vertentes: a primeira é a análise de obras que nos permitam resgatar os aspectos histórico-
culturais que proporcionaram a formação da Biblioteca, a segunda é o projeto e a elaboração do Catálogo da Coleção
de Livros Antigos da Biblioteca e a terceira é a análise da Coleção à luz da bibliografia e dos documentos utilizados -
o que constitui um cruzamento de fontes essenciais ao entendimento das preferências e das práticas de leitura. Busca-
mos não só compreender as histórias do livro e da leitura na Biblioteca em questão, mas também, refletir sobre
possíveis relações entre estas, a própria ordem dos livros e do conhecimento. A partir da pesquisa preliminar, entende-
mos que entre os monges beneditinos sempre houve diversos sinais de uma reflexão e orientação coerente a respeito
de bibliotecas e de livros e que a própria Biblioteca é reflexo da mentalidade beneditina, de modo que os aspectos
espirituais e históricos da Ordem Beneditina constituem elementos configuradores de todas etapas de formação de
sua identidade bibliográfica.

Gustavo Henrique Tuna - USP


Livros e Luzes: a livraria de Manuel Inácio da Silva Alvarenga(1749-1814) e(m) seu tempo
Esta comunicação visa discutir de que maneira a livraria de Manuel Inácio da Silva Alvarenga, mineiro nascido em Vila
Rica e estudante de Cânones na Universidade de Coimbra, insere-se no espectro das bibliotecas de letrados da
América portuguesa em fins do século XVIII e inicio do século XIX. Após formar-se em Coimbra, Silva Alvarenga
retornou ao Brasil, estabelecendo-se como professor régio de Retórica e de Poética no Rio de Janeiro. Foi o principal
articulador da Sociedade Literária, fundada em 1786, cujos membros foram acusados de promover a circulação de
idéias francesas e conspirar contra a Coroa portuguesa. Com base no levantamento dos titulos que compuseram sua
biblioteca particular, uma das mais significativas da América portuguesa, e comparando-a às de advogados, clérigos e
outros homens de letras do mesmo período, o trabalho ora apresentado vislumbra compreender como o acervo de
Silva Alvarenga pode ser inserido no quadro das livrarias de sua época.

Rosane Maria Nunes Andrade - Fundação Biblioteca Nacional


Bibliotecas: lugar de leitura, de memória e de preservação- o caso da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro
As bibliotecas possuem três registros centrais no que se refere a sua inserção cultural. São lugares de leitura, no
sentido de terem em seu cotidiano a função de armazenar acervos documentais e de formarem leitores. São lugares de
memória nacional, na medida em que sua configuração política e técnica requer que ela seja o espaço de ordenação
das políticas do Estado e da manifestação da sociedade em suas demandas culturais. São lugares de preservação do
patrimônio intelectual porque concentram na sua estrutura uma história cultural e as idéias de um povo. A Biblioteca
Nacional pela especificidade da formação brasileira assumiu uma dimensão central na configuração da memória naci-

456
onal e do patrimônio intelectual porque foi a ferramenta fornecedora das bases de constituição da cultura material t;;;)
brasileira. O resultado foi que a nossa modelagem intelectual seguiu esse modelo e, por isso, a história da Biblioteca
Nacional se confunde com a luta pela formação de urna cultura brasileira.
®
Luciano da Silva Moreira - UFMG ><
Leituras na província: impressos e práticas de leitura na província de Minas Gerais (1828-1842) ><
o
Esta comunicação detém-se sobre as práticas da leitura na província de Minas Gerais entre 1828 e 1842. Nesse cc

interstício, percebemos um quadro híbrido, em que as práticas da leitura ligavam-se às permanências e alterações do ;;:
universo cultural mineiro: de um lado, a continuidade presente no apelo à oralidade na formação discursiva e na ::;
própria prática da leitura; de outro, a ruptura no sentido de uma leitura crítica, coletiva e extensiva, influenciada pelo -s
contexto liberalizante da "era das revoluções'. Durante as regências, a província de minas gerais foi inundada por .~
produções impressas de variados tamanhos, formas e gêneros. Ademais, dos prelos mineiros saíam publicações que ~
ganhavam os mais diversos espaços, como as casas, as tabernas, as sociedades políticas e a praça pública. Portanto, .3
abordaremos as práticas - distintas e difusas - da leitura, atentando para os espaços de sociabilidade nos termos ~
propostos por Marco Morei, sobretudo as sociedades politicas e literárias que se formaram na província de minas.
'"
~
Gilda Maria Verri - UFPE 8
~
livros e leituras em Pernambuco no século XVIII ",'
As reformas pombalinas no sistema educacional aumentaram a circulação de livros e leituras, embora os livros esti- .~
vessem sujeitos á trajetória interna definida pela aliança entre a Igreja e a Coroa Portuguesa. Primeiro pela Real Mesa -'
Censória, depois pela alfândega, passavam todos os pedidos para embarque ou desembarque de livros para o ultra-
mar. Quais autores foram autorizados para leitura em Pernambuco? Quais os títulos lidos em uma sociedade sem
imprensa, no século do Iluminismo europeu? As respostas firmaram-se em Lisboa, no conjunto de manuscritos preser-
vados, indicando um total de 650 referências liberadas para leitura de vários temas além de religião, tais como História,
Biografias, Aritméticas e outros. Um universo de novos conhecimentos foi difundido.

Maria Margarete dos Santos - USP


Os Jardins Abençoados de um Franciscano - Discurso sobre a Leitura de Frei Pedro Sinzig: 1915-1923
O livro Através dos Romances: Guia para as consciências, foi organizado pelo franciscano Pedro Sinzig (1876-1952) e
publicado pela Editora Vozes (1° Vol. 1915; 2° Vol. 1917; 2" edição 1923). Constituiu-se num esforço de intervenção
cultural de um grupo de religiosos e seculares que, por meio de um discurso sobre a leitura, tentaram construir um
compêndio o qual se pretendia o condutor e orientador da leitura do amplo públiCO católico. Este trabalho é um esforço
para reconstruir, não apenas parte da história da elaboração deste compêndio, mas também contribuir, na medida do
possível, para vê-lo como um signo indicativo do perfil do públiCO leitor da época.

Hélio Sochodolak - UNIOESTE


Ojovem Nietzsche, um leitor intempestivo
Esta comunicação tem por objetivo discutir algumas posições que fizeram do jovem Nietzsche um leitor intempestivo,
um leitor subversivo por excelência. Como vivenciador e pensador das mudanças na forma de ler de seu tempo ele
mostrou-se sensível ao processo que foi da qualidade à quantidade do lido, o processo da substituição de uma leitura
intensiva por uma leitura extensiva dos textos (o jornalismo). Para ele, esse fenômeno provocava um empobrecimento
da língua e do pensamento, ao mesmo tempo que sobrecarregava o leitor com informações consideradas importantes
ao homem civilizado. Igualmente, preocupou-se com a constituição de comunidades de leitores: por um lado, tornou-
se avesso a toda e qualquer docilização dos corpos leitores através dessas comunidades, por outro, ficou fascinado
com o ato da partilha da leitura, com uma leitura sonora. Nesse sentido, o encontro casual com a obra de Schopenhau-
er foi decisivo para ele que passou a considera-lo um "pai espiritual'. Com Wagner, outro leitor de SChopenhauer,
esperava alcançar um público ideal que soubesse valorizar e harmonizar música e palavra. Um público leitor e apreci-
ador de música que percebesse o dionisíaco na bela forma apolínea, do palCO e do texto: leitores artísticos capazes de
'ler para além do livro'.

I 18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h)


Marisa Midore Deaecto - USP
"Leituras a vapor: novos caminhos para a difusão de livros em São Paulo (1870-1890)"
Resumo: Foram muito celebradas na Europa e nos Estados Unidos as edições de bolso, que passaram a ser vendidas
de forma regular a partir da segunda metade do Oitocentos, nas ruas, em quiosques e, novidade!, nas estações de
trem. Alguns destes projetos se notabilizaram e atravessaram o século, conquistando leitores em todo mundo até
nossos dias, a exemplo dos livros editados pela Penguim Books. Atento a estas inovações no comércio das letras e

457
ciente das novas potencialidades observadas na praça paulista nos últimos decênios do século XIX, Abílio Marques
une dois íncones da modernidade: os livros e os vapores. O presente trabalho investiga o projeto "Biblioteca dos
Caminhos de Ferro", anunciado por Abílio Marques, em 1870. Interessa retraçar as estratégias de publicidade então
empregadas, as formas de captação de recursos para a produção dos livros e uma visão bastante particular do empre-
endedor a respeito dos títulos que deveriam compor a coleção, noutros termos, do gênero de literatura que tal empresa
esperava oferecer ao público.

Valdeci Rezende Borges - UFG


José de Alencar, leitor de Karl Marx?
Alencar, em A Pata da Gazela, realizou um diálogo intertextual com várias obras, delas apropriando. Mapeando essas
leituras a referência mais evidente é a história do sapato como símbolo de identificação da mulher, da qual Cinderela
tornou a versão mais famosa. Mas ele recorreu ainda a Kant, em suas Observações sobre o sentimento do belo e do
sublime e ao Ensaio sobre as doenças mentais, ao edificar seu texto. Porém, nossa hipótese é que seu diálogo mais
oculto e surpreendente, talvez seja com Marx, ao abordar a fantasmagoria que envolvia os objetos num mundo novo
que surgia a seu redor. Alencar, ao que tudo indica, recorreu as reflexões de Marx sobre "A Mercadoria" n'O Capital,
lançado três anos antes do seu romance. Aconcepção de fetiche e de como superá-lo aparece, de modo próprio, no texto
alencariano. Ele construiu sua leitura sobre a questão recorrendo, ao que parece, ás idéias de Marx sobre o processo de
investimento de atributos mistificadores aos objetos, de transferência das relações humanas e sociais para as coisas, de
coisificação das pessoas, dos sentidos fantasmagóricos dados aos objetos e das condições para seu desaparecimento.
Objetiva-se apontar os indícios dessa experiência de leitura de Marx reconstruída no livro citado.

Ana Paula Carneiro Renesto - USP


A constituição de jovens leitores de literatura nos meios populares
Este projeto insere-se no campo das discussões sobre leitura e visa a elucidar questões referentes ao processo de
formação de leitores adolescentes nos meios populares, da perspectiva da psicologia histórico-cultural.
Por meio de entrevistas com adolescentes de 14 a 16 anos, pretende-se investigar quais as experiências e interações
com o texto escrito, com a leitura e com outros leitores são significativas para a constituição de sujeitos leitores de
literartura e compreender melhor como se dão as mediações nos contextos familiar, escolar e em eventuais outras
agências socializadoras. Nossa investigação alimenta-se dos pressupostos teóricos de autores como L. S. Vygotsky,
Bernard Charlot e Bernard Lahdire. Também são nossos referenciais os autores Alexander R. Luria, Norbert Elias,
Jerome Bruner, Teresa Rego, além daqueles que discutem especificamente a questão do letramento e da formação de
leitores como Magda Soares, Angela Kleiman e Anne-Marie Chartier e os pesquisadores do Grupo de Pesquisa do
Letramento Literário (GPELL) do CEALE da UFMG. Nosso estudo poderia levar a ampliar o olhar sobre o problema da
formação de leitores, contribuindo para a compreensão das características do indivíduo e de suas relações com a
cultura letrada.

Larissa Camacho Carvalho - UFRGS


Práticas de Leitura e de Escrita de Jovens Leitores d'O Senhor dos Anéis
O historiador francês Roger Chartier investiga a História do Livro e todas as práticas que permeiam esse campo; mas,
do estudo das práticas de leitura da França do século XVIII, das produções editoriais da Bibliotéque Bleue, das repre-
sentações de leituras, e outros estudos de Chartier muitas curiosidades emergem. Ainda, voltando-me para uma cate-
goria geracional específica, vemos, em nossa sociedade, educadores, professores, declararem que os jovens não
lêem. Será que de posse de todas pesquisas a respeito do livro e suas práticas, do crescente aumento de leitores, de
impressos e da multiplicação dos suportes, podemos afirmar que, hoje, os jovens não lêem? Frente a isto, iniciei
estudos a respeito da Comunidade de Leitores da obra fantástica O Senhor dos Anéis do autor J.R.R. Tolkien e fui
apresentada a novos mundos de práticas de leitura e de escrita de jovens da atualidade: mangás, fanfics, comunida-
des virtuais, RPG, e-books, orkut, MSN e muitas outras práticas por vezes indissociável do mundo virtual. Diante do
livro de mais de mil páginas O Senhor dos Anéis e da multiplicidade de relações e de produções textuais de autoria
jovem sobre este livro será que professores, educadores, formadores de opinião, pais e adultos em geral sabem o quê
e como lêem os jovens da atualidade?

Cristiana Facchinetti - Casa de Oswaldo Cruz - FIOCRUZ


Leitores de Freud no Brasil e seus projetos de nação (1920-1940)
O Brasil, de 1920 a 1940 foi pontilhado por projetos de nação que enfatizavam desde a cultura até a educação e saúde.
Neste período, Freud se difundiu no país, influenciando, de modo múltiplo, de literatos como Oswald e Mário de
Andrade, a eugenistas e higienistas como Renato Kehl e Júlio Porto-Carrero. A presente proposta - a leitura de Freud
no Brasil pelo movimento da higiene mental e eugênico, bem como pelos modernistas e sua apropriação criativa -
pretende apresentar recortes de leitura que servem como argumento para apoiar projetos políticos muitas vezes con-
traditórios. Com este intuito, irei focalizar nestes dois grupos de intelectuais a sua explícita admiração por Freud, mas,

458
igualmente, pretendo demonstrar que, enquanto os literatos apresentavam uma leitura da obra freudiana que a fazia ~58
instrumento para a revolução cultural e para a construção de uma identidade nacional particular a partir do conceito ~
central de retorno do recalcado, os médicos, neste mesmo periodo, tratavam-na como aporte de base das medidas
sanitárias e higiênicas, que visavam a criação de homens "normais', i.e, marcados pelo recalque como referência
necessária para a construção dos cidadãos. ><
><
o
Patrícia Coelho da Costa - UERJ '"
Uma nova leitura do Brasil a partir dos gabinetes idealizados por Delgado de Carvalho :;:
Na década de 1930, a geografia era uma ciência recém institucionalizada no Brasil, que tinha entre suas preocupações >;:;
a atualização dos métodos utilizados em nossas escolas, como forma de divulgar uma imagem mais fiel do que era a ~
nação. Deste contexto, participou Carlos Delgado de Carvalho, intelectual com formação francesa, defensor da Escola -el
Nova e professor dos primeiros cursos universitários desta disciplina. Planejou o gabinete de Geografia, onde todos os '"
objetos estavam voltados para proporcionar várias formas de leitura do Brasil:livros, mapas, tabelas, fotos e gravuras. ~
O objeto desta pesquisa é a análise destes gabinetes como espaços didaticamente inovadores para formar leitores :§
com um novo olhar sobre o Brasil.Compartilhando da perspectiva que a arquitetura da sala de aula á capaz de perpe- ~
tuar em sua materialidade a disputa entre a permanência e a mudança das práticas presentes na cultura material da e
E
escola, elegi como fonte principal a planta.Ao entrecruzá-Ia com os manuais e a historiografia,este trabalho irá possi- :§
bilitar novos olhares sobre a formação de leitores em nossas escolas, bem como a luta de Delgado de Carrvalho em
transformar a forma de ler o pais através da Geografia, a partir da incorporação das mudanças deste campo científico
aos métodos de ensino.

Luciene Soares de Souza - USP


A Biblioteca Escolar: Um Espaço de Leitura nos Grupos Escolares de São Paulo (1890-1920)
Entre os estudos acerca dos contextos de recepção e circulação de livros encontram-se aqueles que relacionam a
leitura á escola e também os trabalhos referentes ao estudo de diferentes tipos de bibliotecas (particulares, públicas,
associativas). Entretanto, no Brasil, são poucos os estudos que relacionam a biblioteca e a leitura na escola por meio
da História da Leitura. Nesse sentido, este trabalho pretende analisar a existência de bibliotecas nos Grupos Escolares
de São Paulo (1890-1920) para entender quais razões, finalidades e práticas permearam a instalação e uso desses
espaços. Ao investigar, por meio da biblioteca escolar, a difusão e circulação de livros pode-se entender a constituição
de um espaço de leitura específico e compreender essas práticas no contexto educacional das primeiras décadas da
República. Refletindo sobre o passado das bibliotecas escolares busca-se compreender a sua função, seu uso social
e seus modos de leitura, contribuindo para o debate sobre as bibliotecas atuais. A pesquisa se baseia na análise de
fontes documentais impressas e manuscritas encontradas no Arquivo do Estado de São Paulo, tendo como referencial
teórico a abordagem historiográfica identificada como História Cultural, centrando-se em uma de suas vertentes: a
História da Leitura.

Felipe Matos - UFSC


Livros para desemburrar ou calçar pé de mesa? A circulação da cultura letrada em Nossa Senhora do Dester-
ro, Século XVIII
A presente comunicação pretende evidenciar um gradual aumento da circulação de cultura letrada na ilha de Santa
Catarina em meados do século XVIII quando a ilha foi inserida como parte integrante da expansão territorial do império
português no Atlântico Sul. Pretende-se também analisar a remessa dos livros da Tipografia do Arco do Cego para a
cidade em 1799, caracterizados pela historiografia como inúteis e exemplos do atraso e do isolamento da ilha em
relação ao seu tempo. Um novo olhar busca romper com o estereotipo do atraso e da inutilidade dos livros, caracteri-
zando-os como frutos do projeto para a publicação de livros de divulgação de novas técnicas e culturas capazes de
promover "o progresso do Brasil', elaborado por D. Rodrigo de Sousa Coutinho e executado por Frei Mariano da
Conceição Veloso, em sintonia com os horizontes culturais de seu mundo contemporâneo.

I 19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h às 16h30min)

Beatriz Polidori Zechlinski - UFPR


Representações da África e dos africanos em O Coração das Trevas - uma reflexão sobre literatura e impe-
rialismo
O romance de Joseph Conrad, O Coração das Trevas, publicado na Inglaterra em 1902, narra uma viagem do mari-
nheiro Marlow pela Africa. Nessa narrativa podemos perceber noções de Civilização e de barbárie associadas às idéias
de raça, especialmente à divisão aceita naquele momento entre raça branca e negra. A partir da análise desse roman-
ce, discuti-se neste trabalho os sentimentos de alteridade próprios do imperialismo, baseados nos conhecimentos da
ciência racialista daquele período e no racismo vulgar. Este estudo busca pensar como o livro O Coração das Trevas,

459
muito popular na Inglaterra e em outros países da Europa no início do século XX, pode ter contribuído para a divulga-
ção de representações dos africanos e da África na Europa, que tiveram um forte papel na justificação da exploração
desse continente pelos europeus e na discriminação dos negros.

Marcus Vinicius Duque Neves - UFMG


Fontes lacunares e literatura nas Minas Gerais do século XVIII:
Esta comunicação apresenta o início de uma nova abordagem da inconfidência mineira (1788/89) pelo resgate de uma
de suas personagens, o contratador de impostos João Rodriguez de Macedo. A insuficiência da documentação relativa
a sua vida e idéias prescrevem a necessidade de buscar uma abordagem transversal. Aqui se percorre o possivel
universo desta personagem por duas vias: uma faz-se pela análise da única biografia existente, do final dos anos 1970,
discutindo-se como foi interpretado o corpus documental principal, sua correspondência pessoal e comercial. A seguir,
pela análise da noção sobre o "bom governo' baseada na leitura da obra literária de maior circulação nas Minas Gerais
do final do século XVIII, o Telêmaco de Fenelón. A obra foi escolhida por sua influência potencial no contexto, ainda
pouco discutida.

Nelson Schapochnik - USP


Os Mistérios de Paris: edição, tradução e modos de apropriação
Lançado inicialmente no dia 19 de junho de 1842, nas páginas do conservador periódico parisiense Journal des Dé-
bats, o romance de Eugéne Sue Les mystéres de Paris conquistou leitores e rapidamente se converteu num estrondo-
so best-seller. A crer nos comentaristas do romance, esta data também marcou o nascimento de um mito, a do herói-
providência, Rodolfo, príncipe de Gerolstein, protagonista central da trama pelos subterrâneos de Paris. Esta obra não
só recebeu inúmeras edições na sua língua original, como também foi objeto de pirataria e de traduções para cerca de
20 linguas ao longo do século XIX. Além das diversas adaptações para os palcos, sob a forma de representações
dramáticas e operísticas. Esta comunicação tem por objeto a reconstrução parcial da história editorial dos Mystéres de
Paris e os diferentes modos de apropriação daquele enredo melodramático. A invenção de uma "misteriomania' indica
o triunfo comercial de uma fórmula narrativa, como também um empreendimento cultural de letrados interessados na
criação de um mercado narrativo nacional.

Ana Gomes Porto - Unicamp


O circuito de recepção das histórias ficcionais de crime no Brasil
A publicação de histórias ficcionais de crime no Brasil, em grande parte romances, foi bastante comum a partir, princi-
palmente, da segunda metade do século XIX. Esta comunicação pretende detalhar o circuito de recepção destas
narrativas, especialmente no Rio de Janeiro e São Paulo, mostrando que havia uma disseminação destas publicações,
editadas em diversos formatos: folhetim, livro, fascículo. Uma ampla circulação destas histórias sugere que existia um
interesse de leitores, editores e autores nesta produção, que foi facilitado por um incipiente mercado das letras, gerado
pela diversidade de jornais e livreiros-editores. A perspectiva de análise parte da preocupação de compreender estas
narrativas a partir da forma de publicação e edição, além de considerar que havia um diálogo possível entre leitores,
autores e editores que fazia com que elas obtivessem sucesso. É viável uma discussão acerca do papel destas
narrativas de crime naquele momento histórico e cabe indagar sobre os significados e interesses de leitura das histó-
rias ficcionais de crime. Neste sentido, pode-se apreender as imagens e representações do crime e do criminoso
através de uma abordagem que pressupõe uma interação entre leitor, autor e editor.

I 20/07 - Sexta-feira - Manhã (10h30min às 12h30min)


Bruno Flávio Lontra Fagundes - UFMG
Guimarães Rosa e Editora José Olympio nos anos 40/50 brasileiros
A comunicação irá interpretar dados de pesquisa de projeto de doutorado sobre a relação entre a obra de João Guima-
rães Rosa e as edições de seus livros pela Casa José Olympio Editora no contexto das linhas de força da sociocultura
brasileira dos anos 40/50. Acomunicação vai enfatizar, especialmente: os livros de Guimarães Rosa na perspectiva de
que sua editora - e talvez certa indústria do livro - pressupõe um leitor identificado pelos paratextos escritos e visuais
que confeccionam o livro, e, dai, investigar os leitores pressupostos pelo autor e editora e os leitores representados
pela literatura de Rosa. Mais: a comunicação pretende informar da atuação de Guimarães Rosa sem restringi-lo a
condição de escritor de palavras, mas de desenhista de ilustrações e imagens que o conectam ao livro - talvez a um
mercado internacional de livros - e ao leitor de sua época, cogitando de que práticas de leituras de livros podem
conviver com outras práticas. O pressuposto da comunicação é o de que a autoridade conquistada pela literatura de
Rosa combina um repertorio de indices de autoridade e poder próprios de uma cultura da escrita e do livro com
outro repertório de indices que são mais próprios de uma cultura da imagem e da palavra que não se transmite
através do livro.

460
Silvia Asam da Fonseca - PUC-SP r.;;"\
O projeto de nutrição intelectual da Biblioteca do Espírito Moderno da Companhia Editora Nacional (1936-
1946)
®
A coleção 'Espirito Moderno', da Companhia Editora Nacional, surgiu de um projeto editorial de Monteiro Lobato e cujo
primeiro editor foi Anísio Teixeira. Seu objetivo era, segundo palavras de Lobato, em 1936, a nutrição intelectual porque x
'Quando não há nutrição intelectual é indispensável logo depois dietas especiais - e temos Itália e Alemanha e Rús- >;;
sia ... Ora, a nutrição de hoje é o pensamento elaborado à vista do avanço das ciências e da democracia ... A coleção cu
serviria pois de alimentos dessa espécie. Coleção de civilização contemporânea. Para dizer os corolários da ciência e :;:
da democracia." Dessa maneira, a coleção destinava-se a formar o leitor fora dos bancos escolares nos temas da ::;
democracia, ciência e cultura. Seguindo essa lógica, organizaram-se 4 séries: Filosofia, Ciências, História e biografias ~
e Literatura. Em cada uma dessas séries, constariam as obras "que mais diretamente buscam condensar, esclarecer e ~~
popularizar a herança cultural da espécie'. Este estudo objetiva analisar a materialidade dos primeiros livros das ",,-
séries, assim como os principais temas e autores escolhidos pelo editor para 'combater a desnutrição' do leitor brasi- ~
leiro, bem como as estratégias de divulgação adotadas nos catálogos da editora para colocar a coleção em circulação. :§
Q.)

""
Maria Rita de Almeida loledo - PUC-SP e Marta Maria Chagas de Carvalho -UNISO 8'"

Biblioteca para professores e modelização das práticas de leitura: análise material das coleções Atualidades ",,-
Pedagógicas e Biblioteca de Educação ~
A proposta deste trabalho é analisar as estratégias editoriais mobilizadas por educadores, entre as décadas de 1920 e ~
1940, para por em circulação um modelo alternativo de leitura e formação de professores: a Biblioteca para professo-
res. Essas Bibliotecas pretendiam intervir na conformação do campo educacional, introduzindo novos contornos à
pedagogia e à prática pedagógica, visando, em última instância, instalar um programa político-pedagógico de forma-
ção do professorado e de inovação das práticas na escola. Com essa perspectiva analisa duas bibliotecas que circu-
laram no período: a Atualidades Pedagógicas, dirigida por Fernando de Azevedo e a Biblioteca de Educação, dirigida
por Lourenço Filho. Nas análises que serão realizadas, é central o conceito de materialidade do impresso como forma
produtora de sentido. Atentando para os dispositivos textuais e tipográficos que ordenam o conjunto dos livros editados
como Coleção, o texto pretende analisar a configuração material das duas coleções, como estratégia inscrita no pro-
grama de reforma da sociedade pela reforma da escola de que seus organizadores foram mentores.

I 20107 - Sexta-feira - Tarde (14h às 18h) I


Giselle Martins Venâncio - UFMG/CNPq
Ler ciência nas páginas da Revista Popular (1859-1862)
A partir dos anos 50 do século XIX, surgiram, no Brasil, variadas manifestações de difusão de massa dos conhecimen-
tos científicos buscando vulgarizar a idéia de aplicabilidade e de utilidade prática da ciência. Entre estes impressos,
destaca-se a Revista Popular, periódico editado pela Livraria e Casa Editorial Garnier. Esta revista publicou, ao lado de
artigos de literatura e variedades, diversos textos sobre ciência e de vulgarização científica. Esta comunicação tem,
portanto, o objetivo de analisar os textos pUblicados na Revista Popular, identificando os autores e temas tratados,
buscando, desta forma, contribuir para a melhor compreensão do processo de popularização dos conhecimentos
científicos no Brasil do século XIX.

Jefferson Cano - UNICAMP


José de Alencar e a invenção do sertão na imprensa da Corte
Esta comunicação pretende apresentar uma leitura das concepções de José de Alencar acerca da literatura nacional e
da poesia popular. Tais concepções são entendidas aqui como um espaço onde ser revelam representações perpassa-
das de tensões que se cruzam em diferentes niveis, um dos quaiS é o das tensões sociais inerentes ás relações de
dominação do periodo. Longe, porém, de pretender refletir essas tensões, o texto de Alencar só as torna acessíveis
após compreendermos uma outra camada de significados presentes e que remetem às tensões culturais nas quais se
encontra imerso: ora como leitor erudito das tradições populares, ora como observador de um sertão que já ficou
distante na memória de um habitante da Corte, ora ainda como portador de um projeto político conservador em um
momento em que se colocam em xeque as tradicionais políticas de domínio.

Méri Frotscher - Unioeste


Imprensa, migração e propaganda: o almanaque Wille (Blumenau - SC)
Práticas de escrita e leitura em língua alemã eram muito presentes no Vale do Itajaí - se antes da Segunda Guerra
Mundial. A multiplicidade das formas impressas nesta língua era assegurada principalmente pela presença significati-
va de um público-leitor e pela atuação de alguns editores e gráficas. Ali eram publicados dois grandes jornais em língua

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alemã, além de outros periódicos menores, livros e um tipo especifico de literatura, muito comum no Sul do Brasil, os
almanaques. Um deles, o Wille Kalender, será nosso objeto de análise. Este almanaque obteve alcance em diversos
estados do pais e foi publicado entre 1934 e 1940 e entre 1954 e 1965. Além da caracterização do seu suporte
material, perfil editorial, público-alvo, financiamento, "lugar" na imprensa local e conteúdo em geral, será analisado o
enfoque dado pelo editor na tematização e valorização de experiências migratórias passadas e contemporâneas e de
ocupação territorial no pais. Além de propagar a lingua alemã, este almanaque procurava aproximar diferentes locais
ocupados por populações falantes da lingua alemã no Brasil, muitas vezes geograficamente longínquos entre si,
evidenciando ainda o envolvimento das novas gerações num intenso processo de migração interna e ocupação de
novos espaços.

Daniela Magalhães da Silveira· UNICAMP


Do jornal ao livro: a organização da coletãnea de contos Papéis Avulsos
A coletânea de contos, Papéis Avulsos, de Machado de Assis, é formada por 12 histórias que tiveram ao menos uma
versão anterior publicada em algum jornal ou revista. Embora seu titulo possa sugerir o contrário, na 'Advertência' que
abre o livro, seu autor afirma que aquelas são histórias de uma mesma família. A partir disso, pode-se conjeturar que a
escolha dos contos para edição do livro não foi feita ao acaso, ou entre aquelas que pudessem ter feito mais sucesso
entre os leitores. Ao contrário, existe algum ponto de união, ou algo que fez com que fossem organizadas no mesmo
livro. Esse trabalho tem como objetivos localizar e estabelecer a relação dos contos com os periódicos nos quais foram
publicados originalmente, e, em seguida, pensar na organização da coletânea por Machado de Assis. Sem deixar de
levar em consideração a afinidade desse escritor com seus leitores, lembrados tanto ao relacionar suas histórias ao
possível público dos periódicos para os quais escrevia, quanto ao levantar e discutir questões próximas às preocupa-
ções imediatas deles, como a reforma eleitoral, a participação das mulheres na política vigente e os debates cientificos
que tanto interesse causavam.

Ana Carolina Galante Delmas . UERJ


"Do mais Fiel, e humilde Vassalo": as dedicatórias impressas para os monarcas D. João VI e Dona Carlota
Joaquina no Brasil
A transferência da Corte em 1808 e a abertura da Impressão Régia possibilitaram o desenvolvimento das relações
sociais através das páginas das dedicatórias impressas. Investigar tais homenagens significa debruçar-se também
sobre a história do livro, penetrando em seus significados e símbolos em seus diferentes aspectos, especialmente
acerca da utilização do livro como instrumento de poder. Os esforços de minha pesquisa direcionam-se a uma análise
da prática das dedicatórias impressas no Brasil do início do oitocentos, em sua busca pelas boas graças do soberano.
Privilegiando as homenagens dirigidas aos monarcas D. João VI e Dona Carlota Joaquina, objetiva-se demonstrar a
expressividade da prática e de que forma está presente nas permanências culturais; quaiS as implicações destas
relações no ambiente político e cultural; que outros fatores alinhados ao ato de dedicar uma obra tornavam possível a
relação de mecenato; e quais as repercussões das dedicatórias no contexto social. Além disso, uma comparação das
homenagens aponta grupos aliados a cada um dos soberanos, auxiliando a desvendar questões relativas às identida-
des nacionais, às linguagens e culturas políticas. Contribuindo da mesma forma para formação do conhecimento
acerca da história do livro e da leitura no periodo.

Paulo Miguel Moreira da Fonseca· UERJ


Cartas do contratador: a escrita epistolar na administração comercial de Paulo Pereira de Souza
Resumo: Essa apresentação tem como foco a produção epistolar de Paulo Pereira de Souza, atuante em Minas Gerais
durante as décadas de 1750 e 1760. A partir da análise da documentação autógrafa do contratador, existente na
Coleção Casa dos Contos da Biblioteca Nacional, tentaremos identificar o papel da comunicação escrita na condução
dos negócios reais e particulares administrados por ele. Buscamos, desse modo, dissecar as redes de sociabilidade
comercial e pessoal de nosso colono, demarcando eventuais diferenças de formas e estilos de escrita. Igualmente, se
faz necessário abordar as dinâmicas comerciais do contratador, seja com a administração real portuguesa ou os
demais colonos mineiros, diferenciando os negócios do Rei dos negócios dos súditos. A escrita epistolar, por ser uma
escrita de sociabilidade - dessa forma voltada para o outro, o leitor - nos permite analisar não só o autor mas também
a imagem que esse construiu para si. Paulo Pereira de Souza, como tantos outros missivistas de seu tempo, foi
verdadeiramente um personagem do Antigo Regime.

Silvia Oliveira Campos de Pinho· UFMG


Intelectuais nacionalistas no Brasil dos anos 1970 e sua leitura de Alberto Torres
Resumo: Pode um autor ser lido e relido das formas mais diferentes, em uma mesma época ou ao longo do tempo,
ganhando os sentidos mais distintos? Há limites para essas releituras e, se há, quais são eles? Quais os significados
dessas apropriações? Até que ponto a leitura é historicamente determinada e quais são os fatores que a condicionam?
Por outro lado, qual o poder do autor e de seu texto? Nosso trabalho procura refletir sobre essas e outras questões,

462
ligadas principalmente á História do Livro e da Leitura. Para tanto, partimos do estudo da recepção da obra do político
e escritor Alberto Torres (1865-1917) em vários momentos. Autor que se tornou "tema de uma geração' entre os
intelectuais das mais variadas matizes ideológicas nas décadas de 1920 e 1930, referência entre os cientistas ligados
ás primeiras iniciativas de conservação da natureza no Brasil, e que por muito tempo foi considerado leitura 'non
grata", sendo associado diretamente ao autoritarismo. Torres ganhou ainda outras leituras, tendo sido resgatado pelos
intelectuais nacionalistas brasileiros dos anos 1960 e 1970, surgindo como símbolo da luta contra o imperialismo das
grandes potências e contra os governos militares que queriam "vender" nosso país. E é essa leitura em particular que
vamos abordar nessa comunicação.

Cilza Carla Bignotto . FACAMP


Monteiro Lobato e a rede dos homens de letras
Resumo: No período de 1918 a 1925, Monteiro Lobato esteve á frente de editoras paulistas consideradas revolucioná-
rias na história do livro brasileiro: a Revista do Brasil, a Monteiro Lobato & Cia. e a Cia. Graphico-Editora Monteiro
Lobato. O editor é visto como revolucionário, entre outros motivos, por ter criado uma rede nacional de distribuição de
livros. Ao que indicam cartas recém-descobertas, trocadas entre Monteiro Lobato e homens de letras de pontos diver-
sos do país, como Câmara Cascudo, Mário Setle, Lourenço Filho, Antônio Sales e Rodrigo Octávio Filho, intelectuais
tiveram importância fundamental na criação e na manutenção dessa rede. Os diretores regionais das editoras lobatia-
nas eram todos intelectuais. Sua função era obter leitores assinantes para a Revista do Brasil e para as obras lançadas
por Lobato. Em troca, ganharam comissões, tiveram livros e artigos publicados e puderam contar com outros favores
do editor. O presente trabalho, que apresenta e analisa algumas dessas cartas, é parte de minha tese de doutorado
'Novas perspectivas sobre as práticas editoriais de Monteiro Lobato (1918-1925)', orientada pela professora Marisa
Lajolo e defendida no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), da Unicamp, em janeiro de 2007. ~
f59\
o
'+=
co
59. Marxismo e multidisciplinaridade: o desafio da totalidade. Ciência, trabalho, cultura e ~
o
poder
Virgínia Maria Gomes de Matos Fontes (UFF) e Eurelino Teixeira Coelho Neto (UEFS)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h às 18h) I
Virginia Maria Gomes de Matos Fontes· UFF
Liberdade e determinação no mundo contemporãneo
A determinação econômica que caracteriza a sociedade capitalista tornou-se especialmente enrijecida ao longo dos
últimos 40 anos, exigindo uma releitura dos conceitos de liberdade e determinação para uma reflexão histórica consis- '"
o
tente e coerente. O imperialismo, ou o predomínio do capital monetário (ou portador de juros), que se evidenciou de ~
8
forma mais brutal a partir da década de 1970, implicou em transformações nas relações sociais concretas, reduzindo o '"
espaço real de liberdade social (cujo sentido é propriamente histórico) e aprofundando as formas de determinismo. Por ~
um viés peculiar, cujo percurso será demonstrado, tal redução do âmbito das características mais propriamente huma-
nas foi apresentada como sendo a irrupção da própria liberdade na história ao lado, simultaneamente, da suposição do
próprio fim da história. Enfrentar tal problema exige retomar a questão da determinação, criticando rigorosamente
todos os determinismos, de forma a reencontrar uma reflexão histórica adequada ás condições de internacionalização
do capital e de bloqueio subnacional da força de trabalho. Este trabalho retoma as bases clássicas do marxismo,
buscando explicitar as categorias de determinação e liberdade através das relações entre natureza, sociedade e
história.

Maria Ciavatta - UFF


O cidadão produtivo emancipado: o desafio da totalidade social
Abordamos, de modo abreviado, a questão da totalidade social como exigência de uma visão emancipatória e como
desafio teórico na produção do conhecimento. O desenvolvimento do tema se faz a partir da história como processo e
a história como método dentro da crise dos referenciais teóricos na sociedade capitalista atual.

Milena Fernandes de Oliveira· UNICAMP


Consumo e Materialismo Histórico: Novas Perspectivas do Marxismo Aplicado à História
Josep Fontana em História Análise do Passado e Projeto para Futuro deixa explícito que a teoria do materialismo
histórico é uma das únicas capazes de abarcar a totalidade do universo social e a complexidade da relação estabele-
cida entre passado, presente e futuro. Sua visão do materialismo histórico como análise do passado e projeto de futuro

463
deixa claro que, para além do estudo da esfera da produção e da luta de classes, o marxismo continua a ser um
poderoso instrumento de compreensão da história. Pretendemos aqui restabelecer a importância do materialismo
histórico como teoria da história a partir dos estudos que se desenvolveram sobre o papel do consumo no capitalismo.
Os pioneiros nos estudos sobre consumo,pretendiam desvincular as origens das sociedades capitalistas modernas a
uma pretensa revolução industrial. Neste sentido, o capitalismo e o conflito de classes também poderiam ser estuda-
dos a partir de outras relações que se estabelecem ora no mercado ora na esfera do consumo que diluem e/ou
reafirmam as relações estabelecidas na esfera produtiva. A intenção é a de ressaltar que, apesar da mudança de
enfoque, continua válido o recurso dialético da compreensão do capitalismo como uma síntese de opostos e, portanto,
do materialismo como teoria totalizante da história.

Antônio de Pádua Bosi - UNIOESTE


Sobras da vida: o trabalho dos catadores de recicláveís no Brasil
Esta comunicação de pesquisa discute o trabalho dos catadores de recicláveis no Brasil nos últimos 25 anos a partir de
fontes referentes às cidades de Foz do Iguaçu, Toledo, Guaíra e Marechal Cândido Rondon, localizadas no extremo
Oeste do Paraná. Contrariamente às leituras que geralmente mostram o trabalho dos catadores como uma atividade
'informal', não subordinada diretamente a patrão ou empresa, as evidências levantadas e problematizadas nesta
comunicação indicam que a organização desse trabalho é realizada a partir dos interesses do capital mobilizado na
compra, reciclagem e comercialização todo material recolhido por esses catadores. Examinados nesta perspectiva,
elementos tais como a renda e a jornada de trabalho não têm sua lógica ditada e ordenada pelos catadores. De outro
modo, a hipótese aqui desenvolvida sugere que o trabalho dos catadores de recicláveis no Brasil está integrado ao
processo acumulação de capital e que a suposta situação de exclusão dos catadores (desempregado, baixa escolari-
dade, faixa etária elevada) o qualifica para esse tipo de ocupação.

Renake Bertholdo David das Neves - UFF


Novo mundo do trabalho e o movimento de trabalhadores desempregados na Argentina
Nosso trabalho pretende indicar de que forma o movimento de trabalhadores desempregados na Argentina, desenvol-
vido desde meados da década de 1990, constitui-se numa novidade em termos de movimentos sociais emergentes
desde o fim da Era de Ouro, naquilo que se refere às questões mais propriamente concernentes ao mundo do trabalho
e também no que toca ao problema do sujeito da revolução social.

Gildasio Santana Junior - UESB


Economia Solidária e formas não-capitalistas de produção: avanços ou retrocessos na luta pela emancipação
dos trabalhadores?
Neste trabalho analisou-se o papel das formas não-capitalistas de produção no processo de emancipação dos traba-
lhadores frente ao capitalismo. Fez-se referência à economia popular, ao cooperativismo, á economia camponesa e
por fim á economia solidária (ES); esta última foi privilegiada na análise devido a sua crescente atuação. Apropriedade
coletiva dos meios de produção, a utilização de processos produtivos 'alternativos', a democratização do processo
decisório, a apropriação coletiva dos resultados, a ação pública e a auto-organização dos trabalhadores foram catego-
rias analíticas da investigação. Concluiu-se que a relação daquelas formas sociais de produção com a acumulação
não pressupõem sempre a mesma coisa. Vários caminhos foram historicamente experimentados: a via da integração
(cooperativismo) e da subordinação (eco. camponesa e eco. popular). Quanto a ES observou-se particularidades. Sua
ação abrange tanto a reprodução simples, quanto a reprodução ampliada e mobiliza atores institucionais diversos em
torno da busca de soluções para problemas públicos concretos. Com efeito, a ES, mesmo passível dos efeitos da
acumulação capitalista, encontra-se em patamar superior frente ás outras formas de produção, ampliando as possibi-
lidades de resistência e avanço dos trabalhadores.

Valéria Cristina Lopes Wilke - UNIRIO


Informação, Economia Política e Capital-Informacão: elementos para a Construção do Dispositivo Informacio-
nal Contemporâneo
Discutir a informação em termos de um Dispositivo Informacional Contemporâneo enfocando as relações presentes na
diade saber-poder, a partir da concepção materialista-dialética das relações de produção capitalistas. As referências
centrais são a contribuição foucaultiana para o entendimento do saber-poder, a análise do Estado, desenvolvida por
Poulantzas, e a abordagem de M. Dantas da etapa contemporânea do capitalismo (capital-informação). O Estado é
investigado em suas relações com as relações produtivas e com a divisão do trabalho, sendo o local contínuo dos
embates das classes que o compõem. Nestas relações, os saberes são relevantes como forças produtivas açambarca-
das pelo capital e ainda como moduladoras da individualidade. A informação esteve sempre presente nos saberes e
nas práticas de poder (Foucault) e nas relações produtivas que seguem a lógica do capital, a base do Estado em
Poulantzas. Hoje, conforme Dantas, neste quadro há uma novidade motivada, basicamente, pela revolução informaci-
onal. Ele procurou mostrar como o capital fez da informação, paulatina e acentuadamente, seu objeto de trabalho e de

464
acumulação, dai seu conceito de capital-informação. Com estas três referências visamos continuar nosso trabalho de
delineamento do Dispositivo informacional Contemporâneo.

Mauricio Cesar Vitória Fagundes - UNISINOS


Viajando com um Projeto Político-Pedagógico (PPP) de intencionalidade emancipatória e ad-mirando a forma-
ção universitária e a ação de seus sujeitos
A discussão que apresento tem por objetivo construir alguns caminhos para conhecer a formação acadêmica e suas
possíveis ações na perspectiva emancipatória. Utilizo o PPP como veículo por possibilitar um olhar crítico por dentro
do processo; por entendê-lo como totalidade concreta que concentra as múltiplas relações de seus sujeitos e com o
meio, considerando suas construções históricas e suas condições objetivas. A educação de forma geral e o PPP em
particular, a partir de uma compreensão dialética, possibilitam compreender para além dos fenômenos e conhecer 'a
lei de sua transformação, do seu desenvolvimento, isto é, da transição', para intervir na vida social (Marx, 1989:427).

I 17/07 - Terça-feira - Tarde (14h ás 18h) I


Adriana Facina - UFF
íntima poesia da vida: Lukács e a questão do realismo
Para Lukács, o realismo crítico, mais do que um estilo literário com características formais estabelecidas, era um
método de criação artística associado a uma perspectiva anticapitalista. Nesse sentido, as obras literárias realistas
trariam em si a possibilidade de conjugação de fruição estética e produção de conhecimento, desvendando o capitalis-
@
59
mo como um processo histórico contraditório e desnaturalizando sua inumanidade.
Oobjetivo deste trabalho é debater essa concepção, assim como defender a idéia de que as considerações de Lukács
acerca do formalismo e seu caráter conformista e alienante podem servir para refletir criticamente a produção historio-
gráfica brasileira contemporânea. Assim como a literatura formalista deshistoriciza a experiência humana e naturaliza c:i
a fetichização das relações sociais sob o capitalismo, o formalismo historiográfico pés-moderno também culturaliza os ~
processos históricos e retira de cena a luta de classes. Ambos, em sua cruzada contra a noção de totalidade, abando- ~
nam o que Lukács define como a 'intima poesia da vida': 'a poesia dos homens que lutam, a poesia das relações inter- o
humanas, das experiências e ações reais dos homens'. a.;
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Pedro Leão da Costa Neto - Universidade Tuiuti do Paraná '~


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A Influência da concepção de política e educação dos socialistas fabianos na formação do pensamento de Ci.
Karl Korsch: Notas introdutórias .~
'i5
Apesar da importante presença do Socialismo Fabiano, na última década do século XIX e nas duas primeiras do ';::;
século XX e das importantes polêmicas por ele suscitadas no interior do marxismo (críticas de Engels, influência sobre ~
Eduard Bemstein), esta corrente foi pouco estudada pela tradição marxista. Por outro lado, foi dada pouca atenção,
aos anos que Korsch passou na Inglaterra (1912-1914), trabalhando na tradução alemã de um livro sobre o Direito Civil E
e Processual Inglês. Neste período, entra em contacto com a Fabian Society e redige para a revista alemã Die Tat, '8
diversos artigos (entre os quais um nomeado 'Socialismo Fabiano'), onde se encontram presente motivos do pensa- ~
mento Fabiano. Podemos afirmar, que esta sua experiência deíxará fortes traços em sua trajetória posterior, como por
exemplo nas suas críticas ao fatalismo da social democracia alemã a partir de uma concepção anti-metafísica e prática
do socialismo, no papel atribuido a educação e a divulgação teórica, na utilização do conceito de 'democracia industri-
al' de origem fabiana, assim como, na organização em 1919, da tradução alemã de uma obra de Bemard Shaw. Por
fim, podemos interrogar se a relativa simpatia de Korsch para com Bernstein, não se justifica a partir da experiência de
ambos com o pensamento fabiano.

Gilberto Grassi Calil- Unioeste


A contribuição de José Carlos Mariátegui à compreensão da realidade latino-americana
José Carlos Mariátegui (1894-1930), marxista revolucionário peruano é considerado, com justiça, o fundador do mar-
xismo na América Latina, tendo produzido em sua curta vida uma obra imprescindível á compreensão da realidade
latino-americana. Reivindicando expressamente sua filiação marxista e revolucionária, Mariátegui produziu uma inter-
pretação criativa e inovadora, atenta às especificidades de cada formação histórica, o que implicou no aprofundamento
da reflexão sobre a questão indigena, de decisiva importância no Peru e em toda América Andina. Ao mesmo tempo,
combateu os primeiros passos do processo de burocratização imposto pelo stalinismo, bem como as concepções
etapistas do processo revolucionário. Sua reflexão põe em evidência questões que permanecem atuais, como a com-
pleta ausência de papel revolucionário das burguesias nacionais, a importância dos movimentos camponeses para um
projeto revolucionário, a necessidade de pensar a questão indígena e o caráter necessariamente socialista da revolu-
ção latino-americana. A proposta deste trabalho é indicar as principais questões que constituem a problemática maria-
teguiana, refletir em torno de sua importância na constituição do marxismo latinoamericano e discutir sua atualidade.

465
Ana Maria Motta Ribeiro - UFF
Reflexões Metodológicas: A Produção do Laudo Multidisciplinar sobre Conflito Agrário Ambiental no entorno
da Rebio Poço das Antas. Um enfoque marxista
Pesquisa Institucional envolvendo conflito fundiário e ambiental, reforma agrária e ecologia, trabalhadores sem terra
cadastrados pelo INCRA impedidos pelo IBAMA de serem assentados nas proximidades de uma Reserva de Proteção
Integral - que não admite presença humana, nas bordas da Mata Atlântica e envolvendo trabalhadores acampados e a
preservação do mico Leão Dourado à beira da extinção. Demonstra-se o uso público e político do patrimônio acadêmi-
co da universidade pública e a vantagem metodológica da utilização da multidisciplinaridade. Defende-se uma inter-
venção na realidade, a empatia com agentes sociais organizados e a crítica da justaposição de ofícios como funda-
mento da pesquisa multidisciplinar. Chama-se a tenção para uma hierarquia de saberes como condição de aproxima-
ção da teoria com o real e da importância da Teoria Crítica na construção do Objeto.

Joana EI·Jaick Andrade - USP


A social-democracia e a "nova mulher": o feminismo revolucionário de Alexandra Kollontai
As profundas transformações econômicas, políticas e sociais em processo na Europa no final do século XIX e inicio do
século XX decorrentes da expansão das relações de produção capitalista afetaram indelevelmente inúmeros aspectos
da vida privada, trazendo à lume as contradições insertas no modelo de familia reproduzido pela sociedade patriarcal
burguesa. O relevante papel desempenhado pelas militantes socialistas neste período histórico possibilitou a criação
de grupos femininos organizados no interior dos partidos social-democratas. Tais grupos concebiam a luta pela eman-
cipação da mulher como parte integrante do projeto emancipatório socialista, cuja concepção radical de igualdade
afastaria todas as formas de opressão. O trabalho em questão pretende analisar a contribuição de Alexandra Kollontai
- célebre revolucionária russa - para a articulação teórica entre as categorias de gênero e classe social no âmbito da
teoria marxista, bem como sua importância para o desenvolvimento e organização de estratégias de ação das "novas
mulheres revolucionárias".

Felipe Abranches Oemier - UFF


A lei do desenvolvimento desigual e combinado de León Trotsky: um breve histórico do conceito
Nosso objetivo na futura comunicação será, de forma bastante resumida, apresentar a evolução das reflexões do
revolucionário russo León Trotsky acerca das particularidades históricas do desenvolvimento do capitalismo nas cha-
madas nações atrasadas. Desse modo, percorreremos algumas de suas principais obras nas quais essa temática foi
abordada, com o intuito central de mostrar como a produção intelectual de Trotsky foi marcada por um reconhecimento
de uma historicidade própria aos paises que tardiamente realizaram seu processo de modernização capitalista e,
consequentemente, por um combate a qualquer tipo de evolucionismo esquemático e anti-dialético. Desse modo,
realizaremos um breve histórico da chamada lei do desenvolvimento desigual e combinado, conceito-chave do pensa-
mento de Trotsky e umbilicalmente vinculado à sua "teoria da revolução permanente" (divisora de águas do movimento
comunista internacional a partir de fins da década de 1920), ambas categorias que constituem-se em aportes funda-
mentais para o entendimento da natureza holistica do imperialismo.

João Alberto da Costa Pinto - UFG


O Marxismo de João Bernardo - a propósito dos 30 anos de "Marx Crítico de Marx" (1977 - 2007)
Apresento uma análise da obra· Marx Critico de Marx (03 volumes) - do pensador marxista português João Bernardo,
publicada em 1977 no contexto de refluxo das lutas sociais autonomistas ocorridas no processo da Revolução dos
Cravos em Portugal. Com essa obra o autor sintetizava as possibilidades de transformação social que a revolução dos
gestores derrotava e, ao mesmo tempo, marcava o inicio de formulações de um longo projeto de investigações teórico
- políticas que se estruturaram nas décadas seguintes num conjunto de trabalhos que se reputam como um dos mais
sólidos projetos teóricos do marxismo contemporâneo.

Fernando Silva dos Santos· UNESP


Os dilemas da práxis revolucionária: Uma introdução à trajetória da Social·democracia alemã na Segunda
Internacional
Este artigo busca analisar a influência da Social-democracia alemã na história do movimento operário no periodo da
Segunda Internacional (1889-1914), a importância da difusão da teoria marxiana na formulação das estratégias da luta
da classe trabalhadora e o debate intemo entre seus expoentes teóricos acerca dos dilemas suscitados pela prática
revolucionária. O autor analisa os efeitos da ascendente trajetória do Partido social-democrata alemão (SPD) e da
concepção das idéias do que conhecemos como Marxismo da Segunda Internacional.

466
18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h)

Eurelino Teixeira Coelho Neto - UEFS


A transição do Partidão: notas preliminares
Apresentamos resultados iniciais de um estudo sobre o modo como o processo de transição política no Brasil (1979-
1988) foi concebido por um segmento de intelectuais ligados ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), com ênfase para
textos de Luís Werneck Vianna. O enfoque recaí com prioridade sobre as discussões travadas acerca do primado da
"questão democrática' sobre a 'questão nacional', do papel e das formas de atuação da classe operária e da proposi-
ção de novas orientações teóricas e políticas para os comunistas. Vistos contra o pano de fundo da emergência das
lutas sociais dos anos 80, os posicionamentos defendidos por Víanna sobre aquelas questões revelam elementos
significativos para a análise das formas de relação de diferentes grupos de comunistas com aquele período da luta de
classes no Brasil. Os textos analisados indicam deslocamentos programáticos e teóricos de sujeitos que foram impor-
tantes protagonistas das grandes reviravoltas experimentadas pelo PCB em sua última década. Acomunicação é parte
de uma pesquisa mais ampla sobre as interpretações da última transição política brasileira que está em desenvolvi-
mento no Laboratório de História e Memória da Esquerda e das Lutas Sociais da UEFS.

Carlos Zacarias F. de Sena Junior - UNEB


A estratégia no impasse: os comunistas, a União Nacional e a Revolução Democrático-Burguesa no Brasil -
1936-1948
O objetivo deste trabalho é analisar a trajetória do Partido Comunista do Brasil desde o balanço político sobre o
fracassado levante de 1935 até a cassação do registro em PCB, em 1947, e a cassação dos mandatos dos parlamen-
@
59
tares comunistas em 1948. Abordando, principalmente, as opções tático-estratégicas dos comunistas brasileiros no
período, buscaremos discutir a atuação dos pecebistas diante das principais questões colocadas pela luta de classes
no Brasil, como a questão da guerra, da aliança antifascista, da União Nacional, da legalidade, da organização dos
trabalhadores e da democracia. Em se tratando de uma abordagem sobre variadas conjunturas macro-políticas, bus- o
caremos analisar os desdobramentos das opções tático-estratégicas dos comunistas em cada momento, na tentativa ~
de compreender os significados da luta pela conformação da União Nacional em busca da revolução democrático- ~
burguesa e a libertação nacional do Brasil. '" Q)

-=
lincoln de Abreu Penna . Universidade Salgado de Oliveira ~
A Imprensa Comunista e Progressista e o Projeto Nacional e Democrático :~
Com base em periódicos de orientação comunista (PCB) e progressista (trabalhistas e da esquerda democrática) é ~
possível identificar a construção de um projeto político a partir dos anos de 1930 até o Golpe de 64 baseado no ~
nacionalismo e nas lutas em defesa da soberania nacional. Teve a imprensa importante papel na construção desse ~
ideário veiculado durante esse período, através de seus editoriais, objeto desse estudo. E

Elisa de Campos Borges - UFF '"


~
Omovimento operário chileno no Governo de Salvador Alfende (1970-1973): o caso dos Cordones Industriales .~
Opresente trabalho se dedica a estudar a atuação dos trabalhadores chilenos durante o governo do presidente Salva- ::;;:
dor Allende (1970-1973), enfocando principalmente a constituição dos Cordones Industriales em 1972. Allende foi
eleito por uma coalizão de esquerda, a Unidade Popular, e propunha a mudança do regime capitalista para socialista
a partir da manutenção da institucionalidade vigente. Em 1972, o governo Allende passou por uma de suas piores
crises: o boicote do setor patronal, onde a Confederação de Transporte, a Confederação do Comércio e Produção e a
Sociedade de Fomento Fabril promoveram uma greve geral, causando sérios problemas de abastecimento no Chile.
Neste momento, os trabalhadores chilenos organizaram os chamados Cordones Industriales. Ocuparam as indústrias
paralisadas e passaram a dividir entre si todas as funções relativas à produção e à distribuição dos produtos para a
população chilena, sem a participação dos sindicatos. Questionavam a divisão do trabalho, a hierarquia da fabrica e a
propriedade privada dos meios de produção, reivindicando a construção, de fato, do poder popular. A atuação dos
Cordones provocou importantes debates teóricos na esquerda chilena e no movimento operário sobre sua organiza-
ção e constituição de nova base econ. e politica.

Rodrigo Jurucê Mattos Gonçalves - UNIOESTE


Política, conciliação e revolução passiva no Brasil: as concepções de Paulo Mercadante e José Honórío
Rodrígues
No Brasil, os anos 60 foram marcados por um contexto onde posicionavam-se antagonicamente as classes populares
em crescente mobilização, a burguesia - destacando-se sua fração hegemônica, representante dos interesses multina-
cionais e associados. Esta, estendendo seus braços tanto na intelligentsia empresarial, quanto no oficialato das For-
ças Armadas, afluiu contra o governo populista de João Goulart e os interesses populares e, visando colocar o país no
rumo de uma modernização-conservadora, desferiu o golpe de Estado (1964) em conjunto com os militares. Neste

467
período, surgem interpretações da história política do Brasil que, em vista da truculência do golpe, passaram a pensar
a conciliação como uma alternativa. Ternos aqui dois intelectuais que pensaram de modo diferenciado a conciliação:
Paulo Mercadante - que enxerga a história do Brasil positivamente, de um modo incruento e conservador, enxergou as
políticas conciliatórias como o grande elemento de nossa formação -, e José Honório Rodrigues - que, através de urna
visão crítica á conciliação-conservadora, viu na possibilidade de urna conciliação ampliada a opção que denominou
'neoconciliação'. Como o conceito gramsciano da revolução passiva pode ajudar-nos a problematizar a conciliação?

Fabiano Godinho Faria - UFF


A Crise de Hegemonia do PCB e a esperança na luta armada
Oobjeto desta comunicação é a crise de hegemonia do PCB na década de 60, a qual significou a perda do monolitismo
do movimento comunista em torno deste partido e o surgimento de várias organizações de esquerda, muitas voltadas
para a luta armada. Enquanto durou a hegemonia do PCB, a maiorias dos que se denominavam comunistas acredita-
vam que só havia um único partido da classe operária, o qual deveria ser filiado através do COMITERN ou através do
COMINFORM, ao Partido Comunista da União Soviética - PUCS - o Partido de Lênin e Stalin. No entanto, a denuncia
dos crimes de Stalin, em 56, no XX congresso dos PUCS, o impacto gerado pela Revolução Chinesa e principalmente
pela Revolução Cubana e as grandes mobilizações da década de 60 estremeceram o modelo de partido stalinista.
Como hipótese, uma das principais razões para o esfacelamento da esquerda brasileira, não foi a grande divergência
entre os militantes quanto ao que fazer, nem a desilusão com o PCB, mas justamente um novo modelo de revolução
que despontava e seduzia e que desempenhou papel fundamental em acelerar e dar nova dimensão á crise interna do
PCS, neste modelo, o princípio não era o grande partido da classe, mas a existência de várias organizações que
deveriam multiplicar-se para a revolução no continente.

Pâmella Passos Deusdará - UERJ/FAPERJ


A conquista do Estado para além das armas. O IPES como órgão produtor de consenso
O histórico pronunciamento que declarou vaga a presidência da república em 1964, marcou fortemente a história
política brasileira. O golpe que se concretizava, simbolizou a vitória não somente dos militares, mas também de um
importante setor da sociedade civil. Porém, que elementos colaboraram na legitimação desta vitória? Partindo desta
indagação tomamos como referência a concepção de estado ampliado proposta por Gramsci, na qual articula-se
sociedade política (coerção) + sociedade civil (consenso), ressaltando as disputas políticas presentes na construção
da hegemonia de uma classe.optamos assim, por investigar os episódios que antecedem o golpe de 1964 sob a ótica
da construção de consenso. Partindo deste pressuposto elegemos como objeto de nosso estudo o instituto de pesqui-
sas e estudos sociais (IPES), tomando como fontes alguns materiais produzidos por este órgão, como:folhetos, bole-
tins e resumos taquigráficos de programas televisivos. Propomos uma reflexão acerca do discurso anticomunista do
IPES, que em nossa hipótese muito colaborou na produção do consenso necessário para a conquista do estado por
uma parcela da classe dominante, parcela esta composta por empresários da incipiente burguesia nacional de capital
associado e militares de alta patente.

Tatiana Poggi - UFF


Os opositores do New Deal
Resumo: Esta comunicação pretenderá explorar, dentro da perspectiva ampliada de Estado desenvolvida por Antonio
Gramsci, o impacto dos discursos contra-hegemônicos de natureza conservadora e xenófoba á época do desenvolvi-
mento e consolidação do Estado de bem estar social nos EUA. Concentraremos-nos nos conflitos travados durante a
Guerra Fria, momento no qual podemos perceber os primeiros avanços em direção á uma reação coletiva e organiza-
da com o objetivo de deter o avanço keynesiano. Tal reação apresentar-se-á na forma da aliança fusionista, constituin-
do aparelhos privados, desenvolvendo materiais de mídia e lançando candidatos á sociedade política.

Wanderson Fabio de Melo - Faculdade de Mauá - FAMA


O movimento pelas "Eleições Diretas-Já!" nas representações de Fernando Henrique Cardoso e Roberto Cam-
pos
A apresentação tratará de analisar as posições de dois intelectuais e senadores: Fernando Henrique Cardoso e Rober-
to Campos acerca da campanha pelas 'diretas-já'. Naquele momento, Cardoso era senador por São Paulo, pelo PMDB
e uma dos principais lideres da oposição. Ademais, desempenhou um papel importante na condução política do movi-
mento, sobretudo na 'transformação' da campanha pelas 'diretas-Já!' em 'Mudança-Já!'. Roberto Campos foi eleito
senador Mato Grosso, pelo PDS e representava grupos opostos ás propostas das 'Diretas'. Assim, a apresentação
versará sobre a noção de 'autoritarismo' que os dois senadores fizeram uso, analisaremos as posições dos dois
políticos diante da Ementa Dante de Oliveira e explicitaremos os grupos sociais que eles desempenharam as funções
de intelectuais orgânicos, Portanto, explicitaremos as articulações políticas dos senadores e suas ligações com seto-
res da sociedade civil.

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19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h ás 16h30min)

Carla Luciana Souza da Silva - UNIOESTE


A revista Veja e o governo Lula
A pesquisa visa analisar a relação entre a revista Veja e o governo Lula no que diz respeito ao seu programa de política
econômica. Através da análise sistemática dos editoriais da revista pretendemos verificar seu posicionamento com
relação às políticas neoliberais, especialmente as reformas de estado (previdência, trabalhista, fiscal), observando em
que medida ela busca influenciar a posição da sociedade politica brasileira, averiguando qual a noção de democracia
deriva das posiçôes verificadas nas posições da revista quanto aos pOderes constituídos. A história recente tem sido
registrada e interpretada por aqueles profissionais que produzem para a imprensa, na maior parte das vezes jornalis-
tas. Nossos referenciais teóricos e metodológicos não se confundem com os da comunicação, é necessário problema-
tizarmos a questão, a fim de distinguir as formas e conteúdos das distintas áreas. Não podemos desconhecer o caráter
intencional que está presente nos textos jornalísticos, fruto dos projetos políticos aos quais se enquadram os diferen-
tes veículos de comunicação. Por isso o principal referencial teórico é a noção da imprensa como partido, que se
vincula com a concepção de que os órgãos de imprensa são também aparelhos privados de hegemonia, portanto,
atendem a interesses de classe.

Marly de Almeida Gomes Vianna - Universidade Salgado de Oliveira


As Idéias Socialistas na Imprensa Brasileira
Resumo: A pesquisa visa estudar, através da imprensa socialista, anarco-sindicalista e comunista a elaboração das
idéias socialistas no Brasil, identificando as diversas conotações do socialismo da 11 Internacional que por aqui aporta-
@
59
ram, acompanhando a adaptação dessas idéias ao pensamento democrático-progressosta e revolucionário do país,
fosse entre o movimento operário fosse entre a intelectual idade, incluidos nela os militares. Não se trata de pesquisar
a imprensa operária em geral mas procurar identificar, através desses jornais, assim como revistas, panfletos e mani-
festos, a mentalidade que vigorava entre os operários e seus aliados ideológicos e a forma pela qual seus programas ó
e propostas eram transmitidos. ~
cu
"O

Priscila Marchini Marins - UNIOESTE o


Revista Isto É: agente interventor político e ideológico na sociedade brasileira ~
Nesta proposição de trabalho será feita uma apresentação de um projeto de mestrado que ~stá sendo desenvolvido, ~
que intenta uma possibilidade de concepção de pesquisa sobre a atuação da revista Isto E em nossa sociedade. A .~
escolha da revista Isto É como fonte se dá pelo poucos estudos com a mesma. Como os meios de comunicação ~
executam seus projetos políticos - ideológicos, possuem diversas opções entre o domínio da consciência e da liberda- ~
de, como também a manipulação e a distorção na produção de suas matérias, resultam numa interpretações duvido- ~
sas. Diante disso, está pesquisa visa investigar e entender a posição política - ideológica da revista Isto E, a partir do E
discurso e versão da revista no que se refere ao enfrentamento entre o trabalho e o capital nacional na política brasilei- ~
ra, no periodo de 1976 - ano do surgimento da revista - até 1988 - ano da promulgação da Constituição Federal. ~
Procurando entender a estratégia utilizada por Isto É em suas matérias e editoriais que atuaram como força política na .8
sociedade brasileira e na disputa com outros meios de comunicação na disputa pelo poder. ~

Fábio Ruela de Oliveira - Unioeste


O Portugal Democrático (1956-1975): um jornal/movimento português de esquerda, na ditadura brasileira
A presente comunicação tem o objetivo de apresentar o jornal Portugal Democrático (1956-1975), composto em sua
maioria por militantes do PCP (Partido Comunista Português), que recebia a colaboração de vários intelectuais portu-
gueses refugiados no Brasil e também de intelectuais brasileiros. O jornal/movimento foi o principal veículo de oposi-
ção ao salazarismo português (1926-1974), um dos mais duradouros governos autoritários da história contemporânea.
Este jornal constitui fonte primordial no desenvolvimento da minha pesquisa de doutorado em andamento no Programa
de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense (UFF), que trata da trajetória de três personagens
exilados, Adolfo Casais Monteiro, Jorge de Sena e Vítor Ramos, também colaboradores do Portugal Democrático.
Pretende-se apresentar os resultados parciais da pesquisa desta fonte, com ênfase nos textos dos três intelectuais
citados e os seus principais temas de interesses nos artigos publicados no jornal. Não obstante, serão tratados tam-
bém aspectos mais gerais sobre esta fonte, como estudos já realizados sobre o Portugal Democrático, as principais
questões discutidas pelos seus colaboradores e a inserção dos intelectuais brasileiros no movimento.

469
20/07 - Sexta-feira - Manhã (10h30min ás 12h30min)

Maria Lúcia Duriguetto - UFJF


A lógica mercantil do planejamento estratégico de cidades
O presente trabalho coloca em discussão os aspectos teórico-conceituais e politico-institucionais que balisam a reali-
zação do planejamento estratégico de cidades. Também é analisado o processo de sua realização no município de
Juiz de Fora, com foco na dinâmica de envolvimento de seus formuladores e na direção hegemônica de suas diretrizes
interventivas na cidade. Apontando questões, mais que oferecendo respostas, o desafio posto é o de explicitar preocu-
pações, compreender processos e refletir sobre a ideologia do planejamento estratégico de cidades, hoje tão em moda
no cenário nacional.

Aparecida Darc de Souza - USP


O espaço urbano definido pelas relações sociais de trabalho: o fazer-se da cidade de Foz do Iguaçu
Resumo: Esta comunicação originou-se das atividades de pesquisa cujo objetivo é investigar as práticas sociais que
constituíram a cidade de Foz do Iguaçu/PR. Nesse sentido, procuro compreender esta cidade problematizando-a a
partir dos significados e usos de quem nela vive, trabalha e transita, revelando, assim, a cidade como processo social,
como espaço transformado em lugar pelos viveres, pelas lutas, pelas disputas entre grupos e classes sociais. Isto
implica discutir e investigar a dinâmica social das lutas urbanas, observando não só o modo como os trabalhadores,
tomados como sujeitos sociais atuam, mas também as condições históricas reais e concretas que exercem pressões
sobre suas ações efetivas. Lembrando sempre que essas condições concretas nem sempre são forjadas pela vontade
e pela determinação destes sujeitos, mas que são, muitas vezes, impostas e opõem-se aos seus interesses, tento
discutir a cidade de Foz do Iguaçu indagando os sentidos de 'progresso' e 'modernização' impregnados em sua
trajetória urbana histórica, questionando a idéia consagrada da vocação para o turismo como mito fundador de sua
existência.

Claudia Peçanha da Trindade - FIOCRUZ - Casa de Oswaldo Cruz


Favela: não um problema em si
Os estudos de história urbana do Rio de Janeiro ao longo do século XX estão, em grande parte, voltados para a
questão da habitação, em particular da habitação popular. Cortiços, vilas operárias, parques proletários e favelas são
considerados, em geral, em diferentes campos do conhecimento, como problemas específicos de moradia, com inicio
e fim em si mesmo. Com essa perspectiva foram feitos projetos governamentais que tiveram como possibilidade de
superação da questão a consolidação da casa como objeto, deixando de ver que a disparidade entre as condições de
moradia de 'uns' e 'outros' é assinalada por um processo oriundo das contradições de classe, marcadamente repre-
sentado na disputa pelo acesso e uso do solo urbano. Assim, o estudo que se apresenta pretende observar a questão
da moradia na cidade do Rio de Janeiro, nas décadas de 1960 e 1970, analisando os discursos e práticas relacionados
ao processo de remoção de favelas.

Renata Costa Reis de Meirelles - UFF


Um retrato das classes médias urbanas: os profissionais liberais presentes em Olhai os lírios do campo
Este trabalho tem como objetivo mostrar em que medida o romance Olhai os lirios do campo, de Érico Verissimo, pode
constituir uma fonte histórica relevante para o estudo das classes médias urbanas da década de 1930. Em sua escrita,
Érico Verissimo foi capaz de condensar experiências concretas vivenciadas por trabalhadores urbanos em busca de
realização profissional, no momento de consolidação das relações capitalistas no Brasil. O escritor gaúcho, talvez
justamente por pertencer á classe dos profissionais liberais, percorreu este universo, retratando visões de mundo,
experiências concretas e os anseios da classe média urbana brasileira.

I 20/07 - Sexta-feira - Tarde (14h ás 18h) I


Gelsom Rozentino de Almeida - UERJ
A Reforma Sindical do Governo Lula: interesses e perspectivas
Resumo: O PT e a CUT formularam a proposta do FNT acreditando nas teses de um desenvolvimentismo nacional,
tendo como interlocutores o Estado e organizações empresariais. As propostas de reforma sindical e trabalhista já
constavam em seus programas ao longo dos anos 90 e eram apresentadas como demandas históricas dos trabalhado-
res, sobretudo dos setores modernos, sob influência liberal, e vistas como conciliáveis com o capital. O presente
trabalho visa contribuir para a análise da Reforma Sindical resultante do FNT e a busca de um consenso entre empre-
sários e trabalhadores tendo como referência a noção de 'pacto social'. Aintenção do governo federal seria atualizar a
legislação do trabalho e sindical, adequando-a as novas exigências do desenvolvimento nacional, de maneira a criar
um ambiente propício á geração de emprego e renda. De forma critica, caracteriza o processo de elaboração da

470
reforma sindical do Governo Lula, a composição das bancadas de representantes dos trabalhadores e dos empresári-
os, bem corno os interesses representados ao longo dos debates e no resultado final.

Fernando Sergio Dumas dos Santos· Fundação Oswaldo Cruz


Alcoolismo e controle dos trabalhadores no século XIX
A medicina desempenhava, no século XIX, um importante papel no sentido de preservar as forças dos corpos e das
mentes dos trabalhadores para o mercado assalariado, que estava em formação e que exigia jornadas diárias extenu-
antes. Uma questão central era o difícil equilíbrio entre o uso e o abuso das bebidas alcoólicas. A experiência histórica
do capitalismo pressupunha indivíduos cujas energias estivessem completamente concentradas na esfera da produ-
ção. Fosse no local de trabalho, fosse em casa ou no lazer. Amores arrebatadores, ambientes viciados e promíscuos,
noites mal dormidas ou nem dormidas erarT) características que deviam ser banidas do trabalhador ideal, embora
fizessem parte da realidade dessas classes. E interessante perceber que, ás classes dominantes, interessava discipli-
nar os hábitos dos trabalhadoras e não criar uma sociedade onde um único padrão moral valesse para todos. Nessa
análise estarei utilizando, como marcos teóricos, trabalhos de E. P. Thompson, Hobsbawn e Michelle Perrot, além de
M. Foucaull.

Enrique Serra Padrós . UFRGS


Terrorismo de Estado e Luta de Classes: repressão e poder na América Latina sob a Doutrina de Segurança
Nacional
O presente trabalho discute o estabelecimento de práticas repressivas de terrorismo de Estado no Cone Sul latino-
americano, a partir das experiências concretas das Ditaduras de Segurança Nacional surgidas na região, a partir dos
anos 60. A análise assenta-se na avaliação do desafio político em que se constituíram, aos olhos dos setores conser- ~
f59\
vadores e daqueles vinculados ao grande capital, as mobilizações sociais de denúncia e de exigência de mudanças
profundas emolduradas pela crise sistêmica da década de 60. A diversidade nacional e as diferenças de intensidade e
de velocidade na aplicação das práticas repressivas não esconderam sua concretude e, simultaneamente, reforçaram o
a necessidade do enquadramento da contestação e da luta social (tanto nas suas formas reformistas quanto revoluci- ii3
onárias) assim como de socialização dessas experiências repressivas e, num processo de maior sofisticação, do ~
silenciamento da oposição através da conexão repressiva internacional. A tortura, a censura, o uso de legislação o
restritiva, a perseguição psicológica, a aplicação sistemática de medidas de força, a imposição do medo e a aplicação ~
da política de desaparecimentos foram fomnas específicas da manifestação desse fenômeno autoritário. ~
.;::
'"
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Ana Paula Kapusniak • UNIOESTE C5.
A Relação entre Democracia Representativa e Democracia Participativa a partir da implantação do Orçamento 'ü cn
Participativo em Mundo Novo·MS, entre 1997 à 1999 .'6
."
::;
A proposta apresentada consiste em discutir a existência do embate entre a representação e a participação política, na E
relação entre o Orçamento Participativo e a Câmara de Vereadores de Mundo Novo-MS, dentre 1997 à 1999. O
Orçamento Participativo implantado pelo PT, em 1997 em Mundo Novo-MS, foi a primeira experiência do Estado do ~
Mato Grosso do Sul que constituiu numa participação direta do cidadão nas instituições políticas locais, atribuindo '8
apoio do governo petista, governado pela prefeita Dorcelina Folador juntamente com a articulação do MST. Contudo ~
neste evento buscarei mostrar os efeitos políticos da criação do OP sobre a Câmara Municipal, e demais graus de
conflitos entre as duas instâncias decisórias, supondo as divergências e convergências entre a democracia represen-
tativa e democracia participativa, analisando a construção do próprio espaço democrático.

Renata Gonçalves· UEL


Entre o Estado e o Movimento: participação política das mulheres no MST
Foram muitas as dificuldades para as mulheres atuarem no interior de processos de transformação social. Represen-
tavam uma dupla ameaça: um atraso decorrente da ausência da esfera política ou necessitavam de um esforço espe-
cial, o que poderia comprometer as realizações dos objetivos fundamentais. Na prática, o enfrentamento da desigual-
dade de gêneros foi adiado para quando as transformações infra-estruturais estivessem consolidadas. O MST tem
inovado nesta área. A prioridade de suas ações na luta pela reforma agrária exige a participação de todos (homens,
mulheres e crianças) os trabalhadores sem-terra. As mulheres são visíveis nas ocupações de terra e nos acampamen-
tos onde se verificam verdadeiras invenções democráticas. Porém, na fase dos assentamentos, as desigualdades
entre homens e mulheres são reestabelecidas de modo explícito. Porquê isto ocorre? Refutamos as análises que
naturalizam o recuo da participação política das mulheres por causa de um modo de vida rural com socialização
diferenciada de homens e mulheres. Ora, boa parte dos integrantes do MST é oriunda de experiências urbanas e esta
"essência' rural, se existir, foi desmontada ou abalada nos acampamentos. Este recuo, mais do que derivado de uma
essência, reside na relação entre o Estado e o MST.

471
Vagner José Moreira - UFU
Histórias e memórias sobre o levante comunista de Fernandópolis em 1949
As histórias e memórias sobre o movimento de trabalhadores ocorrido em Fernandópolis em 1949 constituem parte
significativa da pesquisa em desenvolvimento sobre as culturas, memórias e experiências comunistas no Noroeste do
Estado de São Paulo, 1945-1955. A historiografia tem ignorado os movimentos de trabalhadores e suas diversas lutas
no periodo delimitado nessa região, quando muito se limitam a análises generalizantes e reducionistas não dando
conta da multiplicidade e pluralidade de culturas e experiências. Assim, a partir da perspectiva teórica e metodológica
da tradição marxista inglesa da História Social, a problemática da pesquisa são os significados que adquiriram para os
trabalhadores os projetos de 'revolução agrária" e 'comunista" na cidade e sua relação com significados, práticas e
valores hegemonizados. Os trabalhadores vivenciaram situações extremadas envolvendo a luta politica, a luta pela
terra, a organização de movimentos diversos, a repressão política e policial do DEOPS. Os processos sociais de
construção de memórias sobre as experiências de luta e militância política em Fernandópolis levou-me a identificar a
memória como um lugar de disputa pela hegemonia na cidade e o movimento de 1949 como um ambiente de confluên-
cias de conflitos e culturas de classe.

Lorene Figueiredo de Oliveira - UFF


O sindicato de trabalhadores em educação do Estado de Minas Gerais e seus embates com o Estado neoliberal
Este trabalho analisa o Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação do estado de Minas Gerais, desde a sua
formação em 1990. A análise procura identificar os elementos que levaram às mudanças na concepção de sindicato,
de educação, de política sindical e suas implicações para a organização destes trabalhadores ante a reforma adminis-
trativa levada a efeito no Estado em Minas Gerais. A matriz da organização desses trabalhadores remonta ao ascenso
das lutas pela redemocratização do pais, bem como as reformas administrativas. Assim sendo a pesquisa se reporta
também a esse periodo. Tentamos responder a uma pergunta fundamental: Por que o Sind-UTE, que em sua origem se
apresentou como um sindicato combativo e classista, em ruptura com a burocracia sindical instaurada nas associa-
ções e entidades de representação, mudou? Também objetiva compreender a influência que a reforma administrativa
exerceu sobre esse processo de mudança. Parte da hipótese de que o processo de burocratização dessa organização
que se instaurou com a hegemonia da corrente Articulação, de orientação reformista, está na raiz desta mudança.

Luis Fernando Guimarães Zen - UNIOESTE


Da opressão militar à opressão das urnas 1985-1989
Esta é uma pesquisa em fase inicial e faz parte do projeto apresentado ao programa de Mestrado em História da
Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE. O objetivo é analisar como se desenvolveu a proposta de
democracia no Brasil após o fim da ditadura militar em 1985, analisando como a imprensa, em especial a revista Veja,
colaborou na construção de uma hegemonia em torno da democracia, em um pais que após vinte anos de restrições
politicas teria novamente a oportunidade de eleger seus representantes, como essa população encarou as eleições e
o que significava a democracia após um periodo de tantas lutas populares pelo fim da ditadura e pelas 'diretas já.' A
idéia é discutir qual era o projeto de democracia para o pais ou se havia mais de um projeto, questionando criticamente
a quem esses projetos interessavam e quem eram os principais beneficiados nessa nova democracia. Essa pesquisa
buscará dissertar sobre a existência ou não de uma democracia brasileira e a forma como o sufrágio universal foi
apresentado para os eleitores criando uma 'cidadania democrática".

Mirna Aragão de Medeiros - UFF


Estado Novo e a censura teatral
Este trabalho pretende abordar a relação entre Estado Novo (1937-1945) a e censura teatral. Para tal, partimos do
conceito de Estado ampliado, de Antonio Gramsci, que entende o Estado não apenas em seu sentido estritamente
político, mas também cultural e ideológico. É importante ressaltar que nesse periodo a questão da cultura foi concebi-
da visando a uma organização política, ou seja, à criação de instituições culturais próprias, destinadas à produção e à
propagação da concepção de mundo e se utilizava também do setor artistico para tal. Este campo era especialmente
ligado ao governo Getúlio Vargas, e particularmente ao ministro Gustavo Capanema. Procuramos mostrar que além da
censura do Serviço Nacional do Teatro (SNT) e a do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), existiam também
a censura do gosto e a imposta através dos financiamentos estatais. Para tal, considerando que nos textos de Oswald
de Andrade "A Morta', 'O Rei da Vela', 'O Homem e o Cavalo', dentre outros, há um caráter contrahegemônico, e
levando em conta a afirmação de Bakhtin de que 'a palavra é a arena onde se confrontam os valores sociais contradi-
tórios; os conflitos da língua refletem os conflitos de classe no interior do mesmo sistema', tomaremos esses trabalhos
como objeto de análise.

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60. Minha Terra, Minhas Terras: Imigração, Memória e História
Frederico Alexandre Hecker (UNESP . Assis! Univ. Mackenzie) e lená Medeiros de Mene·
zes (UERJ)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h às 18h)
Ismenia de Lima Martins· UFF
Imigração e História Social
a autora analisará a importância da imigraçâo para a realidade social brasileira e apresentar é uma discussão histori-
ográfica sobre o tema, Problematizará os referenciais teóricos pertinentes ao campo estudado, destacando o debate
atual sobre o conceito de elimigrante.

Sylvia Ewel Lenz • UEL


O corpus documental na pesquisa sobre os alemães no Rio de Janeiro
Na pesquisa sobre a história da migração alemã para a capital imperial, primeira metade do século XIX, tratou-se
desde as relações diplomáticas de alguns Estados alemães com a única monarquia americana, à identificação do
perfil profissional até as formas de associação dos imigrantes. Para tanto recorreu-se à ampla bibliografia em bibliote-
cas alemãs e brasileiras, a relatos de viagem e a obras celebrativas da Sociedade Germania, da Igreja Evangélica
Alemã e da Escola Alemã captando momentos de seu cotidiano. Os Almanaques Laemmert, disponíveis no IHBG-RJ,
foram fundamentais para levantar dados sobre as suas atividades laboriais assim como diversos documentos paroqui-
ais para indicar suas atividades religiosas, sociais e educacionais. O resultado demonstrou uma imigração urbana,
formada, em sua maioria, por homens de negócios da área de exportação/importação, além de artífices e fabricantes.
A construção da identidade deu-se mais em torno de interesses comerciais, como no caso da associação com estran-
geiros no Germania, ou protestante, em torno de uma congregação luterana e calvinista que atendia não só aos
alemães, como também aos suíços franceses.

Luiz Fernandes de Oliveira - UERJ


Reterritorialização africana no Brasil: continuidades e invenções de processos civilizatórios afro-descenden-
tes na diáspora ausentes nos livros didáticos de história.
Resumo: A migração forçada de africanos para as Américas, a partir do sécul9 XVI, já foi objeto de estudo em várias
áreas de conhecimento, entretanto, a tese de que a chegada de europeus na Africa interrompeu um processo civiliza-
tório negro-africano, e que esses africanos e seus descendentes, reelaboraram suas bases civilizatórias no Brasil,
ainda é pouco divulgada nos livros didáticos de história. O texto apresentará uma reflexão sobre as narrativas eurocên-
tricas presentes nos livros didáticos de história adotados em escolas da Fundação de Apoio as Escolas Técnicas do
Rio de Janeiro (FAETEC) no Ensino Médio. Tendo como referência as noções de reterritorialização de Muniz Sodré,
africanidade brasileira de Henrique Cunha Jr. e civilização africano-brasileira de MarcoA. Luz, discutiremos a ausência
das reelaborações civilizatórias africanas na constituição da identidade nacional que, no trato didático, se expressa
nos livros adotados na FAETEC, ~brindo um leque de tensões teóricas diante da Lei 10.639/03 que institui a obrigato-
riedade do ensino de história da Africa nos currículos do ensino básico.

Mônica Regina Ferreira Lins· UERJ


O povo de origem africana no Brasil e a violação dos direitos à escolarização no pós-abolicionismo
O tráfico de africanos escravizados para o Brasil caracterizou-se pela violação dos direitos e interdição do povo negro ·ê
no acesso à educação formal. Atualmente as políticas de discriminação positiva como ação reparadora por séculos "E
marcados pela desigualdade social trazem para a temática da cidadania o campo educacional enquanto um espaço ~
privilegiado na luta pela superação das desigualdades. Este texto busca refletir sobre a herança histórica de exclusão ,~-
do povo negro a partir da categoria exclusão. Trabalharei textos de Joaquim Nabuco, que considerava os africanos 15-
vítimas sem reparação, e a penetração de idéias liberais nos pareceres e discursos de Rui Barbosa, que juntamente a,
com alguns avanços contidos na legislação do pós-abolicionismo não se efetivaram na prática. Discutirei as identida- ~
des produzidas no universo de cultura da época pensando as iniciativas de inserção do povo negro em prol da escola- 1§-
rização e no combate ao analfabetismo no pós-abolicionismo. Este texto utilizará como referencial os estudos de Lilia ~
Schwacz, Hebe Mattos, Gislene A. dos Santos, José C. dos Reis e outros, para entender as noções de identidade
nacional e de raça construídas no Brasil nesse periodo. '"'"
..r::::
.S

Priscila Nucci - Unicamp ~-


Emilio Willems e os estudos sobre os imigrantes japoneses ~
Analisa-se a produção de Emilio Willems, que teve papel destacado nos rumos dos estudos sobre a aculturação da ..§
população de origem japonesa no Brasil. Seus textos apontam a possibilidade de existência de preconceito racial ~

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contra os imigrantes japoneses e seus descendentes por parte dos brasileiros e mostram uma atuação contra os
discursos preconceituosos, presentes em parcelas da sociedade brasileira.

Lená Medeiros de Menezes - UERJ


Imigração e importação de bens culturais: A música de Offenbach e a cocotte comédienne no Rio de Janeiro
A influência francesa na capital brasileira teve inúmeras facetas, dentre as quais destacamos a importação de bens
culturais, vocacionada para a recriação de uma verdadeira Paris nos trópicos. Nesse universo, a atividade teatral não
ficou imune às novidades que chegavam do outro lado do Atlântico, em uma velocidade surpreendente; caso da
introdução do 'teatro ligeiro', a partir da inauguração do Alcazar Lyrique na virada dos anos 1860, maldito aos olhos
mais conservadores da época, O trabalho utiliza como fontes principais anúncios publicados em jornais e revistas de
época, com destaque ao Diário do Rio de Janeiro, Jornal do Commercio, Ba-ta-Clan e Entrteactos, e destaca a tempo-
ralidade 1861-1890. Compõe-se pela análise da influência da música de Offenbach e do 'trio infernal' formado por
Offenbach, Meilhac et Halévy no Rio de Janeiro e pela discussão acerca do processo de consagração da opereta e da
figura da cocotte comédienne, que transformou artistas como Aimée e Delmary, estrelas de primeira grandeza em
peças como La Belle Héléne e Orphée aux Enfers, em divas de uma nova época.

Angela Maria Roberti Martins - ISERJ


Anarquismo e imigração: a trajetória de J. Mota Assunção como estudo de caso
O trabalho pretende discutir a experiência libertária do anarquista português J. MotaAssunção no Brasil entre os anos
finais do século XIX e as primeiras décadas do século XX, levantando e analisando suas principais idéias e ações,
Nesse sentido, explorará sua militância ativa e decisiva na difusão do ideário anarquista, tomando por base a imprensa
operária de tom libertário, livros, peças de teatro social e discursos, considerados aqui como espaços privilegiados de
crítica social e de projeção de um ideal.

Leila Medeiros de Menezes - UERJ


Imigração portuguesa e processos de assimilação: O fado virou samba?
A Tijuca pode ser considerada um reduto luso-carioca, pois são muitas as marcas portuguesas nela encontradas,
Estão localizadas no bairro oito agremiações culturais, dentre as quais Vila da Feira, Casa dos Poveiros e Orfeão
Portugal servem de exemplo, além da Casa de Portugal. Todas elas continuam preservando e divulgando as tradições
lusas. Para além dessa presença, porém, várias mercearias e bares espalhados pelos bairros que compõem a Grande
Tijuca (Tijuca, Andaraí, Grajaú, Maracanã, Vila Isabel e Estácio) são de propriedade de portugueses e portuguesas,
Não só as tradições lusas, entretanto, se fazem presentes nesse espaço: inúmeros foram os processos de assimilação
ocorridos no passado que hoje permitem a participação de imigrantes lusitanos em manifestações culturais original-
mente gestadas e criadas em redutos cariocas, com destaque para o samba, O trabalho utiliza a História Oral como
caminho de investigação e depoimentos prestados por imigrantes portugueses e portuguesas como fontes principais
da investigação, com destaque à figura de Antonio Horta que, há mais de uma década, vem presidindo o Grêmio
Recreativo Escola de Samba Unidos da Tijuca, com sede no Morro do Borel.

Paula Viviane Ramos e Paulo César Ribeiro Gomes - Centro Universitário Ritter dos Reis
Desenho Anônimo: Um Olhar sobre a Cultura Material dos Imigrantes Alemães e Italianos no Rio Grande
do Sul
A proposta de comunicação é sobre a pesquisa que vem sendo desenvolvida junto ao Curso de Design do UniRitter,
em Porto Alegre, acerca da cultura material dos imigrantes alemães e italianos no Rio Grande do Sul. A investigação,
em curso desde o início de 2006, tem seu foco na coleção de cerca de 4000 objetos (entre móveis, ferramentas,
brinquedos, fotografias, louças e peçcas de caráter religioso",) pertencentes ao arquiteto Calito Moura, Interessa-nos
estudar, a partir desse acervo, as soluções desenvolvidas pelos imigrantes na confecção de tais objetos, a partir da
relação entre (1) formas de longa duração na cultura material européia e (2) a nova realidade brasileira, com suas
condições e matérias-primas diferenciadas, Entre os objetivos da nossa pesquisa está a criação de um banco de
dados digital, trazendo informações de caráter técnico e comentários que contextualizem as condições de surgimento
e as referências estéticas e tecnológicas das peças, Desta forma, acreditamos, estamos contribuindo para a escrita de
uma história da cultura material no Rio Grande do Sul e no Brasil, de um ponto de vista multidisciplinar.

I 17/07 - Terça-feira - Tarde (14h às 18h) I


Núncia Santoro de Constantino - PUCRS
Imigrantes Italianos, espaço urbano e a narrativa de viajantes no final do século XIX
A partir de relatos de viajantes italianos, em grande parte desconhecidos no Brasil, propõe-se refletir sobre a identida-
de de imigrantes italianos no espaço urbano, considerando a construção de representações fundamentada no conceito

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de memória de Halwachs, assim como no conceito de etnicidade definido por Konzen. Por outro lado, propõe-se
apresentar resultados de uma Análise de Conteúdo neste corpus documental, destacando como categoria principal a
questão imigratória. Conclui-se sobre o envolvimento dos viajantes com a mesma questão, com sentido manifesto ou
oculto nas suas narrativas, enfatizando como aspecto positivo a mesma etnicidade e como aspecto negativo a saúde
pública no Brasil ,assim como as chamadas" características psicológicas do povo brasileiro', numa abordagem tipica-
mente lombrosiana.

Regina Weber • UFRGS


Romances sobre imigrantes e identidade étnica
Resumo: Aexistência de escritores que sejam descendentes de imigrantes e que escrevam histórias sobre seu próprio
grupo pode ser associada ao fato de que, após sucessivas gerações, este grupo atingiu um certo grau de adaptação á
nova sociedade. Como se tentará demonstrar, a própria obra literária pode ser vista como mais uma forma de afirma-
ção identitária do grupo étnico, independente da intenção do autor. Enquanto os imigrantes eram passiveis de análises
quantitativas, com dados obtidos em fontes oficiais, mesmo que reconhecidas suas imprecisões, seus descendentes,
para os quais o passaporte deixa de ser um elemento diferenciador, demandam dos historiadores que pretendam
estudá-los a utilização de categorias analíticas mais familiares ás ciências sociais. Visibilidade, nominação, fronteiras
culturais, lutas simbólicas, honra étnica, são algumas destas categorias que permitem discorrer sobre a proposição
acima, da literatura como forma de reconhecimento étnico.

Celi Silva Gomes de Freitas· UERJ


Sangue, suor e elegâncias· os imigrantes nas crônicas de Lima Barreto
A intenção da presente comunicação é contribuir para a identificação de textos de literatos como corpus documentais
para o estudo da imigração na vida social brasileira. Da obra de Afonso Henriques de Lima Barreto (1881-1922),
recortamos para este trabalho um conjunto de artigos e crônicas escritos entre 1911 e 1922, no qual são apresentadas
situações que envolvem diferentes aspectos das interações sociais entre brasileiros e imigrantes realizadas no espaço
público. Nesse corpus, identificamos imagens produzidas a partir dos 'olhos de um carioca, que nunca saiu de sua
cidade natal': umas distinguem os modos pelos quais as mães inglesas, francesas e portuguesas tratam seus filhos e
estes a elas nas ruas; outras contrastam as indumentárias para afirmar as identidades de homens e mulheres que se
espremem nos vagões de segunda classe dos trens suburbanos; outras ainda mostram aqueles estrangeiros que
'suam por aí' nas 'lavouras imigrantes'; há também as que promovem reflexões acerca dos padrões de beleza e de
elegância; por último, trazemos as imagens dos anarquistas, reveladas na crônica 'Palavras de um Snob Anarquista',
publicada originalmente em maio de 1913 no periódico 'A Voz do Trabalhador".

Endrica Geraldo· Unicamp


A Revista de Imigração e Colonização durante o Estado Novo
Diversos estudos têm elucidado elementos da ação repressiva contra a imigração e contra as populações de origem
estrangeira no Estado Novo, seja por meio de políticas educacionais, ações policiais ou mesmo na imprensa e publica-
ções oficiais. Em quase todas essas instâncias, o Conselho de Imigração e Colonização possuiu um importante papel.
Criado em 1938, o Conselho era um órgão destinado a orientar e controlar os serviços de imigração e colonização, e a
distribuição dos trabalhadores estrangeiros no país. A publicação oficial deste órgão teve início em 1940 com o título de ~60
Revista de Imigração e Colonização, e continuou até 1955, com artigos relacionados á questão imigratória e á situação ~
desses trabalhadores e dos núcleos coloniais. A revista divulgava a legislação em vigor, relatórios e estudos realizados
pelos membros do Conselho e por outros personagens relevantes do próprio governo que, em sua maioria, relaciona- .,;
vam ideais eugenistas a projetos de seleção da imigração e de políticas de assimilação. Estes artigos são muitas ~§
vezes utilizados como fontes em pesquisas que tendem a selecionar um foco temático, como a imigração japonesa ou ~
a judaica. Porém, continua necessária uma análise do significado dessa publicação, dos autores e do conteúdo, :2
durante o Estado Novo. ,~-
u-
'"o,
Frederico Alexandre Hecker· UNESP· Assisl Univ. Mackenzie ~
A "colônia" italiana entre o autoritarismo fascista e o arbitrarismo da polícia política paulista ",-
A colônia italiana de São Paulo sofreu consequências irnediatas da instituição do regime fascista na Itália. Ainda nos ~
anos 20, boa parte de suas instituições tiveram de ceder á avalanche autoritária. Conforme os socialistas-reformistas I-
que aqui atuavam, o móvel de impedimento para a transferência do fascismo europeu para uma sociedade como a ..ê
brasileira, deveria ser a 'educação civica dos italianos". Por isso tratava-se de propor algo diferente do que outros ~
setores da esquerda operária tentararn anteriormente fazer. Segundo os socialistas-reformistas aquelas tentativas ~­
haviam provocado a liberação de uma 'massa ignorante" sem oferecer-lhe um parâmetro, um limite: 'Pensou-se unica- ~
mente em despertar o descontentamento nas consciências, em acariciar as paixões menos nobres, dando a massa o '"
sentido da própria necessidade, sem contemplá-Ia com os meios ativos para a conquista ... reduziu-se tudo a um ~
simples problema de pão .. .' Entretanto, para tentar realizar este projeto político educacional os antifascistas de São :2

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Paulo depararam-se também com os limites impostos pela repressão policial desfechada contra os militantes de ori-
gem estrangeira. Travaram então uma batalha em duas frentes.

Rosane Aparecida Bartholazzi de Carvalho - UFF


Apreensão social de um registro contábil: o italiano no noroeste fluminense
No presente estudo analisamos o registro contábil de uma fazenda pertencente a um italiano que, inicialmente, se
estabeleceu como colono, em 1897, numa fazenda cafeicultora no município de Varre-Sai, interior do Rio de Janeiro.
Neste registro encontramos no período de 1925 a 1942,56 trabalhadores nas terras do imigrante, entre eles: italianos,
turcos, portugueses e brasileiros. Trata-se de apreender a reprodução social da experiência vivida pelo italiano, en-
quanto colono, caracterizada na fonte estudada.

Tatiane dos Santos Virtuoso - UFSC


Professores/as nas escolas italianas do extremo sul catarinense
Resumo: Limiar ao século XX, a imigração européia efetivada em solo brasileiro delineia um novo contexto social. No
extremo sul catarinense, os imigrantes envolvem-se na busca do suprimento de algumas necessidades básicas como
a construção de casas, início das plantações de subsistência, entre outras. Aestas se aliam outras lacunas, entre elas,
a instrução. Assim, as colônias, articuladas ao governo italiano, iniciam uma rede de escolas que pretendia, entre
outros interesses, a ensinar as primeiras letras àqueles que estavam instalados em um país desprovido de um sistema
escolar. Por meio de fontes como relatórios consulares, oficios e relatórios governamentais, correspondências dos
imigrantes a autoridades públicas, fonte oral, entre outras, pretende-se buscar reflexos destas escolas italianas, assim
como, dos professores que atuavam nelas. Uma questão pertinente a ser explorada nestes documentos será a análise
das representações dos professores/as, assim como, suas condições de trabalho. Parece-me igualmente ínteressante
perceber como se estabelecia as lutas de representações existentes dentro de uma escola italiana inserida em solo
brasileiro, isto é, como se construíam as identidades divididas entre doís estados nação.

Elaine Cátia Falcade Maschio - Faculdade Internacional de Curitiba


A contribuição dos imigrantes italianos na expansão da escola pública paranaense
O presente trabalho analisa as iniciativas empreendidas por imigrantes italianos em prol à expansão da escola pública
paranaense no final do século XIX. Procura compreender o processo de abertura de escolas públicas nas primeiras
colônias italianas do estado, buscando identificar os sujeitos que fizeram parte daquele processo e reconhecer os
anseios daqueles pela escolarização na língua nacional. Para este estudo, foram privilegiadas fontes documentais
como: ofícios, requerimentos, legislação, relatórios e regulamentos de ensino. As reivindicações empregadas pelos
primeiros imigrantes italianos que se estabeleceram no estado para assegurar a educação de seus filhos em idioma
nacional, contribuiram significativamente para a expansão e constituição do sistema de ensino público paranaense.

Maira Ines Vendrame - PUCRS


"Lá eramos servos, aqui somos senhores": a organização dos imigrantes italianos na ex-Colônia Silveira
Martins (Rio Grande do Sul 1877-1914)
Organizar uma sociedade de acordo com seus anseios e expectativas era o objetivo dos imigrantes italianos que
chegaram à região central do Rio Grande do Sul, a partir de 1877, formando a Colônia Silveira Martins. Quando da
instalação nas comunidades coloniais, uma das primeiras metas era a edificação de uma capela, e logo após a busca
por um padre residente. Na concepção dos imigrantes, o desenvolvimento do lugar só seria alcançado se os povoados
desfrutassem de total independência, cuidando da sua própria administração, longe do controle de forças externas.
Para realizar tais intentos, os colonos - com destaque para os comerciantes - não se furtaram em confrontar com
sacerdotes, autoridades municipais e provinciais e até contra as leis do pais. Assim, longe de se comportarem passiva-
mente, os imigrantes reagiram quando viram seus interesses ameaçados.

I 18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h) I


Jaelson Bitran Trindade - Instituto do Patrimônio Histórico e Artistico Nacional
A grande imigração (1880-1930): portugueses no mundo urbano brasileiro
Até o meio do século XX, o fato imigratório mobilizou em torno de si estudiosos que se colocavam claramente a serviço
da política econômica. Era assunto de política estatal ("ciências aplicadas'). A partir da década de 1960, já passados os
grandes fluxos de imigração estrangeira, a historiografia e a sociologia brasileira abraçam o fenômeno imigratório
moderno como objeto de investigação, inserindo-o no binômio industrialização-monocultura de exportação - o mundo
urbano aparece como palco e efeito dessa dinãmica. O objetivo era compreender a economia cafeeira e o mundo fabril
e, consequentemente, os imigrantes como fator de trabalho na grande lavoura e nas fábricas. As categorias que vão
desenhando o arco do debate político e das ciências do homem na vida brasileira dentro da Universi'dade, das

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instituições públicas, do Congresso Nacional e até mesmo fora, nas ruas, apontam para o desenvolvimento nacional. ..
Fica fora dos quadros de análise, entretanto, o contingente ibérico, um dos mais expressivos, em especial a gente
portuguesa, contribuindo com centenas de milhares de pessoas que se concentraram em grande medida no meio
urbano - o mundo do comércio, dos serviços, das "indústrias urbanas', do abastecimento ... A comunicação pretende
expor essa questão historiográfica.

Paula Leitão Cypriano - UERJ


Varejistas e atacadistas portugueses no Rio de Janeiro, 1851-1868
A extinção do tráfico de escravos em 1850 representou um marco para o progresso econômico do país. O rompímento
com o sistema de produção colonial possibilitou liberação de capital, empregado em serviços e atividades manufaturei-
raso O dinheiro circulante criou um ambiente propício ao desenvolvimento urbano do Rio de Janeiro e, dentre todas as
atividades envolvidas nesse desenvolvimento, a atividade comercial registrou significativo incremento. Nesse proces-
so, os portugueses ocuparam papel proeminente, tanto no comércio varejista quanto no atacadista. Concentrados
majoritariamente no Rio de Janeiro, atuavam, notadamente, no comércio alimentício e naquele voltado para os têxteis
e vestuário. A partir de pesquisas realizadas nos livros de registro de matrícula dos comerciantes, corretores, agentes
de leilões, trapicheiros e administradores de armazéns de depósito na Junta Comercial, o trabalho pretende mapear a
distribuição dos portugueses nos diferentes ramos do comércio e analisar a relação entre a expansão da atividade
comercial e o desenvolvimento urbano da cidade do Rio de Janeiro.

Ryan de Sousa Oliveira - UNB


Etnicidade e poder: a construção da cidadania entre os colonos de origem alemã e seus descendentes no Rio
Grande do Sul (1824-1889)
O processo de construção da cidadania nas áreas de colonização alemã no Rio Grande do Sul e suas conseqüências
na conformação do grupo étnico teuto-brasileiro e de sua identidade, apesar de já estudado na historiografia da colo-
nização alemã no Brasil, ainda se mostra algo desafiador e, dessa forma, será o objeto de nossa discussão. A coorde-
nação pelo Estado brasileiro do processo de colonização no sul do país, a administração estatal nas colônias oficiais,
o próprio relativo abandono deste Estado em relação a algumas áreas coloniais e o ordenamento jurídico brasileiro são
pontos relevantes a serem considerados quando pensamos na relação, mais intima do que alguns historiadores costu-
mam afirmar, entre o Estado brasileiro e os teuto-brasileiros. Estes fatores contribuíram na construção da cidadania
nas áreas de colonização, pois, esta é estabelecida pela forma na qual se relaciona o Estado e a sociedade. Ao longo
do século XIX, o Estado brasileiro exercerá influência considerável no modo de vida nas colônias e terá laços estreitos
com o processo de constituição do grupo étnico teuto-brasileiro e sua identidade. Da mesma sorte, os teuto-brasileiros,
passaram a ter uma participação na vida pública e a influenciar o destino do Estado brasileiro, mesmo que de forma
limitada.

Ricardo Pires de Paula - E.E. Monsenhor Samon


Movimentos migratórios. xenofobia e separatismo: dilemas do mundo globalizado
Pretende-se nesta comunicação, abordar algumas das conseqüências advindas com a instauração de uma nova or-
dem internacional após o fim da Guerra Fria. Em meio a um mundo onde os limites territoriais tornam-se cada vez mais
fluidos, em virtude da universalização de determinadas práticas econômicas, nova onda migratória avança sobre r;;;\\60
diferentes paises, gerando reações diversas. Em muitos casos, as pessoas têm se unido em torno de determinados ~
elementos (idioma, religião, região ... ) a fim de se proteger dos 'estrangeiros', dos 'valores ocidentais' e de práticas
políticas consideradas alheias a suas tradições, a partir da xenofobia e de movimentos seccionistas. Embora a globa- cri
lização tenha, por um lado, servido para aproximar culturas e experiências diferentes, por outro, ela tem acentuado as :§
desigualdades sociais e regionais, intensificando movimentos migratórios, reacendendo tensões raciais que se julga- fl3
vam superadas, além de fazer ressurgir movimentos reivindicando a soberania sobre uma determinada unidade terri- :2
torial com base, supostamente, em caracteristicas étnicas, lingüísticas ou religiosas. Partindo desse contexto será .~~
possível explorar suas implicações no Brasil durante a década de 90, em particular na região Sul, devido á propagação 5,
do ideal separatista naquele momento. :g
",'

Maria de Fátima Carvalho Alves - UERJ ~


Fenõmeno migratório cabo-verdiano e construção de uma identidade no entrecruzamento das culturas cabo- ~
verdiana e brasileira: uma análise inicial ~
A origem da emigração cabo-verdiana situa-se por volta de 1830 quando os baleeiros americanos e de outras naciona- ~
lidades desencadearam a pesca da baleia nos mares das ilhas de Cabo Verde. A partir de então a 'cultura de migrar' ~.
tem sido uma constante, na vida da população, sejam por catástrofes naturais ou determinantes conjunturais (seca, c;;
fome, miséria e desemprego, etc.). Este artigo traz como proposta uma análise inicial sobre o fenômeno migratório ~
cabo-verdiano seu processo de deslocamento e as representações sociais da comunidade cabo-verdiana residente no -§
Rio de Janeiro: Estudantes, Imigrantes e Descendentes, sobre diversos objetos, que estão implicadas no processo de ~

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reconstrução da sua própria identidade no entrecruzamento das culturas e identidades de origem e do destino. Pressu-
põe-se que diferenças significativas, no que se refere ao processo de reconstrução da identidade sócio-cultural sejam
encontradas, assim como, em termos das representações sociais construídas a cerca do país de origem, e de aspec-
tos comparáveis da cultura dos dois países. Este estudo permite ampliar o conhecimento da realidade psicossocial da
diáspora caboverdiana, uma questão cultural, política e econômica, importante para os dois paises.

Maria Aparecida Macedo Pascal - Universidade Presbiteriana Mackenzie


A Imigração portuguesa em São Paulo: Trabalho, Identidade, Tensões e Gênero
Este trabalho de pesquisa discute como a questão do trabalho no Brasil converteu-se num dos grandes desafios em
fins do século XIX. Em São Paulo a solução implementada foi o imígrantismo. Para tanto a política imigratória deveria
ser familiar, subsidiada e contínua. Governo e elite paulista fizeram um grande esforço para atrair a mão de obra livre
européia, contornando críticas e fazendo muita propaganda nos países europeus. As tensões européias facilitaram a
vinda de imigrantes portugueses em função de questões politicas, relações capitalistas no campo, fuga do serviço
militar e crescimento populacional. No imaginário social português o Brasil era o país das possibilidades. Analisa-se
também os fluxos imigratórios e financeiros, as redes sociais o mutualismo, a historiografia sobre a imigração portu-
guesa e sobretudo a presença feminina no processo imigratório. Através de história oral resgatou-se a memória e o
olhar feminino sobre a imigração. Com a emigração masculina cresce a influência feminina na família devido o papel
econômico exercido pelas mulheres em Portugal. Com a imigração familiar pecúlios femininos originários de rendas
tais como: venda de leite e ovos, hortaliças, doces, trabalho doméstico, deram origem a negócios familiares bem
sucedidos.

Martha Victor Vieira - UH


Construção do Estado, Política Imigratória e Cidadania
Analisando a legislação e os debates relativos á naturalização de estrangeiros no periodo de 1822 a 1843, observa-
mos que essa temática adquiriu especial relevância no processo de construção do Estado nacional, sendo pivô de
controvérsias entre os deputados e senadores do Império. No Primeiro Reinado, porém, uma das principais preocupa-
ções dos parlamentares era dificultar a concessão de cidadania brasileira aos estrangeiros, especialmente aos portu-
gueses, porque tal medida lhes possibilitaria o acesso aos cargos públicos. Já, no início da década de 40, defendia-se
uma maior flexibilização na legislação, referente à naturalização, como uma estratégia jurídica para atrair os imigrantes
europeus, os quais, além de substituir o escravo nas grandes lavouras, serviriam para incrementar o povoamento do
território, sobretudo a região sul, e promoveriam o progresso e a civilização do Brasil. Nesses dois momentos, nota-se
que, embora tenha havido uma modificação no enfoque dos debates, permanece patente o ranço antilusitano, assim
como a idéia de que a cidadania brasileira era um título, que deveria ser concedido apenas àqueles que possuissem
determinados requisitos e fossem julgados dignos dessa honraria.

Maria Suzel Gil Frutuoso - Unisantos


Imigração Portuguesa em São Paulo: breve estudo
Resumo: O objetivo do trabalho é fazer um breve estudo da imigração portuguesa em São Paulo. Inicialmente buscou
mostrar através de dados estatísticos e interpretativos a evolução da imigração lusa. Passou então a traçar as carac-
terísticas desse movimento, de meados do século XIX a 1950 e mostrar a importância da imigração lusitana no que
tange a sua participação na população de São Paulo e nas atividades desenvolvidas, rurais e urbanas, como trabalha-
dores e proprietários.

Daniele de Oliveira Silva - UERJ-FFP


Os japoneses no contexto da política imigrantista no governo Vargas (1930-1945) enfatizando o Estado Novo
(1937-45)
Estamos investigando a questão asiática durante a Era Vargas. Queremos saber se houve restrição aos japoneses,
como ocorreu por exemplo, com os judeus. Verificar as relações entre Brasil e Japão antes das cotas para a entrada de
imigrantes, que foram estabelecidas na Constituição de 1934; depois das cotas, e principalmente durante o Estado
Novo, momento em que as restrições à entrada de imigrantes ficou maior. Estudo a questão asiática, as vias legais
utilizadas para justificar a não entrada dos imigrantes japoneses no Brasil, mostrando que o Governo era antiimigran-
tista. Este trabalho se justifica pela comemoração do centenário no próximo ano, da imigração japonesa, iniciada na
manhã de 18 de julho de 1908, desembarcando no Porto de Santos 781 japoneses à bordo do navio Kasato-Maru. A
partir daí, vieram muitos japoneses, tanto que na década de 1940 eles jà eram cerca de 190mil, tendo 75% entrado no
país entre 1925 e 1935. Hoje, o Brasil possui o maior número de japoneses fora do Japão. As fontes utilizadas estão no
Arquivo Histórico do Itamarati (RJ), além das fontes secundárias. Trataremos de Rio de Janeiro e São Paulo, pois eram
regiões onde aportavam a maioria dos imigrantes, segundo a maioria da documentação a ser estudada.

478
Lucelinda Schramm Corrêa - UFF
Memória das colônias alemãs na Bahia do século XIX
O presente trabalho tem como objetivo resgatar a memória de algumas colônias alemãs estabelecidas na Bahia do
século XIX, com destaque para a sua região sul. A implantação de colônias germânicas deve ser inserida no contexto
da política do estado português, depois brasileiro, de expansão da fronteira agricola, e a sua conseqüente territorializa-
ção. Para além de incrementar a economia buscava substituir a mão-de-obra escrava pelo trabalho livre, com a forma-
ção de uma classe média rural de origem européia. De acordo com a crença das autoridades políticas e intelectuais
dos oitocentos, além do branqueamento da população, quase que totalmente composta por elementos não-europeus,
ou mestiços, haveria o 'aprimoramento moral' tendo em vista a 'superioridade moral' dos imigrantes germânicos.

Terezinha de Jesus Lopes Barbosa Gerolomo - PUCSP


A presença feminina de ascendência portuguesa na cidade de São Paulo: trabalho, sonhos e esperanças
(1925-1945)
Nesta dissertação ressalta-se a presença feminina, sua condição ao longo das gerações, desde as raizes portuguesas
até as filhas brasileiras. Busca-se contextualizar econômica, politica e socialmente Portugal, a terra natal dos avós e
pais, até o momento da sua imigração para o Brasil, retoma a trajetória na cidade de São Paulo, refinando o interesse
e analise para os anos de nascimento das luso-brasileiras (1925-1945), ampliando-o conforme a história de vida
exposta pelas entrevistadas. Tais abordagens tornaram-se possíveis por meio de consulta bibliográfica e entrevistas,
cujo roteiro incluía tópicos direcionados á procedência dos pais, á .moradia, à escola, á religiosidade, às núpcias, ao
trabalho extradoméstico, ao lazer, às relações e á mobilidade social. Portanto, utilizou-se a fonte oral e a historiografia.
Trabalham-se então com a memória e as lembranças dessas senhoras, investigando-se suas trajetórias descritas e
buscando-se por intermédio do diálogo, a substância social da memória tanto individual quanto coletiva. Acredita-se
dessa forma estar cruzando a tradição e a cultura luso-brasileira, quanto ás figuras femininas, estas não foram silenci-
adas porque, a historiografia ao registrar os seus depoimentos lhes presta o devido significado.

I 19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h ás 16h30min) I


Viviane Procaska Bilo - FAPA
A Comunidade Judaica de Porto Alegre e Suas Relações Com o Estado de Israel
Opresente trabalho, originalmente intitulado 'Repercussões na sociedade porto-alegrense das relações entre Brasil e
Israel',é parte integrante da Monografia 'A Comunidade Judaica de Porto Alegre e Suas Relações Com o Estado de
Israel (1948 - 2005)", apresentada ao curso de Especialização em História Contemporânea da FAPA, em 2006, e, faz
um resgate histórico da trajetória da comunidade judaica de Porto Alegre, desde a chegada das 38 famílias no estado
do Rio Grande do Sul em 1904, até a sua total inserção na sociedade porto-alegrense. Os membros da comunidade
judaica foram identificados (a partir de dados quantitativos encontrados no decorrer da pesquisa) que possibilitaram a
visualização do espaço urbano, econômico e social ocupado por esta comunidade em nossa cidade. Posteriormente,
foi analisada a forma como a sociedade judaica se organiza em Porto Alegre, bem como suas inúmeras instituições
que tem por objetivo concomitante a manutenção do vinculo com o Estado de Israel e a inserção na sociedade porto-
alegrense. Na pesquisa foram utilizadas diversas fontes de informação como bibliografia especializada nos assuntos ~
referentes á imigração judaica e aos conflitos no Oriente Médib, periódicos diversos judaicos ou não, depoimentos e
materiais disponíveis em meio eletrônico.
®
<ti
Vanessa dos Santos Bodstein Bivar - USP ~§
Franceses na São Paulo oitocentista: imigração, ofícios e relações comerciais ~
A imigração francesa tão pouco estudada na historiografia por conta de seu pequeno quantitativo apresenta facetas :::;;:
qualitativas relevantes inseridas em quadros econômicos e sociais. A São Paulo do café tornou-se atrativa a esses ,g
imigrantes e descortinar seu cotidiano também significa perceber as relações articuladas entre Brasil e França nesse ~
contexto. Ao longo da pesquisa tem-se denotado o quão o comércio se revela importante no dia-a-dia dessa popula- ~
ção. Com a propagação do ideário cultural francês, em especial na segunda metade do século XIX, é estratégia de ",-
sobrevivência do imigrante articular-se a esse universo. Assim, estão presentes, dentre os ofícios urbanos, casas de e
negócio que vendiam artigos importados da França, os quais eram anunciados com alarde nos jornais. Logo, formou- ~
se uma verdadeira teia de expansão comercial francesa em concorrência aos produtos ingleses e alemães, E é sob ..ê
essa égide que para este trabalho recorreu-se a documentação, existente em arquivos parisienses, remontante ao ~
comércio e ás relações consulares. O cônsul tinha função estratégica. Era intermediador das relações entre franceses
na cidade e, sobretudo, elo dos interesses comerciais da França.

479
Roney Salina de Souza - UFGD
Árabes no sertão do Brasil: o caso de Dourados no Sul de Mato Grosso (1910-1980)
Imigrantes árabes sírio-libaneses estabeleceram uma rede de relações econômicas e identitárias, por volta de 1910,
na cidade de Dourados atravéz de uma movimentação comercial pela prática da mascateação e, posteriormente
estabelecimento de casas comerciais, intensificando-se nos anos 1950, com a política da Marcha para Oeste de
Vargas. Este fenômeno acelera a urbanização desta cidade, localizada no antigo Sul de Mato Grosso, atual estado de
Mato Grosso do Sul. A imigração destes sírios e libaneses, em finais do século XIX, deve-se á intervenção do capital
europeu imperialista ao fazer do Oriente Médio sua área de influência; da perseguição por parte do Império Otomano
aos grupos nacionalistas; aumento populacional de jovens e melhoria de transportes e comunicações. Mesmo estando
ligados á agricultura, a oferta e a estrutura do latifúndio brasileiro não atrai os sírio-libaneses, que acabam embrenhan-
do-se no comércio, tanto no litoral quando no interior do pais, onde atrelam ao trabalho toda uma complexidade de
elementos das identidades brasileiras e douradenses ás suas próprias identidades gerando um modo de ser híbrido
formando uma Colônia que usa destes elementos conforme suas necessidades.

Gilbert Anderson Brandão - UFMT


Sírios e Libaneses em Cuiabá: De imigrantes a Comerciantes
A comunicação trata da imigração de Sírios e Libaneses para Cuiabá ocorrida em fins do século XIX, a partir da
abertura da navegação do rio da Prata. Será destacado as a constituição dos espaços de relações sociais, entre esses
imigrantes e a sociedade cuiabana, nas suas práticas cotidianas. Nas primeiras décadas do século XX, os sírios e
libaneses correspondiam a mais de 20% da população imigrante em Cuiabá, já havendo estabelecido sólidas relações
sociais econômicas e ate participação na política local. A ascensão social e econômica destes imigrantes em Cuiabá
se deve em parte pela formação de uma rede de solidariedade e ajuda mútua entre os membros da colônia. Aqueles
que chegavam a Cuiabá recebiam apoio dos já estabelecidos em comércios, para trabalhar na mesma atividade -
quase sempre o de mascate - atendendo a diversas localidades do estado, inclusive via fluvial.

Andréa Telo da Corte - UFF


Os Judeus em Niterói. 1910-1980
O Trabalho objetiva contextualizar e traçar o perfil da coletividade judaica de Niterói, comparativamente aos grupos do
Rio, São Paulo e Belo-Horizonte, sobre os quais já existem trabalhos acadêmicos, observando sua origem, suas
estratégias de sobrevivência na cidade, e seu enraizamento na história local. Para tanto serão utilizadas fontes diversi-
ficadas, principalmente as fontes orais.

I 20107 - Sexta-feira - Manhã (10h30min ás 12h30min)

Alzira Salete Menegat - UFGD


Imagens da vida nos assentamentos rurais
Este estudo é resultado de uma pesquisa em andamento, desenvolvida com apoio da FUNDECT, intitulada 'Retratos
da vida nos assentamentos Taquaral e Sul Bonito, as fotografias como instrumentos reveladores na (re) construção de
novos lugares'. Nela estudamos a vida de familias assentadas, observando suas trajetórias e as estratégias criadas
nos novos lugares. Para isso fazemos uso de fotografias como um recurso de pesquisa, vendo-as como guardiãs da
memória, que retém uma fração do tempo, como mostram Le Goff (1992) e Pollak (1989), Entendemos a fotografia
como fonte histórica partindo da concepção de Chartier (1990), como 'uma forma de representação da realidade'
utilizada para compreensão da história. Para dar vida as imagens, ouvimos as familias e a partir de seus relatos,
reconstruindo suas trajetórias, desde a fase que antecedeu os acampamentos, passando pela vida de acampadas e
de assentadas, considerando o processo de produção das imagens e os acontecimentos que marcam sua produção,
para assim entender o seu sentido social. Os primeiros resultados evidenciam que o modo de vida nas novas terras
resulta de um diálogo entre os projetos iniciais e a realidade que nem sempre é fácil de ser vivida.

Carlos Fernando Comassetto - UPF


A posse e a comercialização da terra no núcleo colonial Rio Uruguay entre 1920 e 1950
A crise da produção e do trabalho escravizado no Brasil coincidiu com a transformação agrária promovida pelo avanço
do capitalismo na Europa. Este processo motivou a migração e a travessia transoceãnica de trabalhadores, sobretudo
rurais, para o continente americano. O governo da República do Brasil executou os princípios da Lei de Terras, para
sustentar o padrão agroexportador dependente e colonizar áreas consideradas devolutas. Esta Lei findou a concessão
gratuita de terras e possibilitou a especulação imobiliária privada. A ocupação do atual Estado catarinense ocorreu
principalmente com companhias particulares de colonização. Que lotearam e venderam parte do espaço geográfico. A
construção da estrada de ferro São Paulo Rio Grande ocorrida em meados do século 20, foi determinante para o Alto
Uruguai. O Estado, este poder, parceiro do capital estrangeiro, como pagamento deu as empresas internacionais, uma

480
superfície de 15 km do eixo para ambos os lados da estrada, com direito à exploração da madeira e posse da terra. A
comercialização de terras trouxe a lógica da acumulação capitalista. O objetivo príncipal dessa comunicação é com-
preender a atuação das companhias colonizadoras e a ocupação da região, entre 1920-50, por colonos camponeses,
tendo como eixo a Colônia Rio Uruguay.

José Carlos Ziliani - UFMS


Companhia Viação São Paulo Mato Grosso e a Colonização do Oeste de São Paulo e Sudeste de Mato Grosso
(1930 a 1960)
Dentre outras companhias particulares que estiveram envolvidas na expansão da Fronteíra Oeste, como parte do
movimento histórico também conhecido como Marcha para o Oeste, a Companhia de Viação São Paulo Mato Grosso
destacou-se pelo desenvolvimento de empreendimentos colonizadores como: venda de terras; empresas de extrativis-
mo florestal; construção de estradas e pontes; olarias; extração de resinas vegetais, cujos desdobramentos marcantes
tiveram como marca a crição de inúmeros povoados, logo transformados em vilas e núcleos urbanos propriamente
ditos. Como núcleos urbanos, destacam-se: Indiana, Caiabú, Maríàpolis, no Oeste do Estado de São Paulo na região
da Alta Sorocabana; e Batayporã e Bataguassu no Leste de Mato Grosso, hoje Mato Grosso do Sul. Nestes novos
'lugares' constítuiram-se comunidades com traços característicos de íntensas mediações culturais entre imigrantes de
varias origens e nacionalidades. Foi intensa a presença de imigrantes de outras regiões basileiras, bem como italia-
nos; alemães; espanhóis; e, para o caso específico desta pesquisa evidencia-se a presença de imigrantes de origem
Tcheca e Eslovaca, destacando-se o imigrante Tcheco Jan Antonin Bata proprietário da referida Companhia de coloni-
zação.

Marcos Nestor Stein - UFSC


Um povo luta pelo seu futuro: memória e identidade na Colônia Entre Rios, Paraná
Sob o título Ein Volk Kampft Um Seine Zukunft ( Um povo luta pelo seu futuro), no inicio da década de 1990, o jornal
Entre Rios, periódico suábio-brasileiro do distrito de Entre Rios, localizado no município de Guarapuava, Paraná,
publicou uma série de entrevistas com imigrantes que vieram para o Brasil na condição de refugiados da Segunda
Guerra Mundial. As narrativas versam sobre o período em que os depoentes viviam na antiga Iugoslávia e na Romênia,
bem como acerca do contexto de sua imigração para o Brasil e a fundação da colônia Entre Rios, em 1951. Assim, a
presente comunicação objetiva apresentar uma análise dos relatos, enfocando, principalmente, as representações dos
depoentes acerca de seu passado e as relações dessas publicações com a manutenção de uma identificação etno-
cultural em Entre Rios.

Maria Aparecida Ferreira Carli - UFMS


A origem dos migrantes e o processo de assentamento e a produção dos colonos na colônia agricola munici-
pal de Dourados
Esta comunicação se refere a parte da pesquisa desenvolvida durante o curso de Pós-Graduação para obtenção do
Titulo de Mestre. A pesquisa completa versa sobre a implantação da Colônia Agrícola Municipal de Dourados, atual
município de Itaporã, no período de 1946 a 1956. Essa Colônia destinava-se a fixação de agricultores, em regime de
pequena propriedade, com vistas à diversificação econômica regional e ao fortalecimento do mercado interno. Averi-
gou-se no desenvolver da pesquisar as formas de organização e funcionamento da Colônia, bem como de sua produ- Q
ção, dentro das condições gerais da época. Um outro assunto discutido, (tema desta comunicação), foi a questão dos ~
migrantes e imigrantes e o processo de assentamento dos colonos, que se estabeleceram na Colônia, cujos desloca-
mentos estão vínculados ao projeto colonízador do Governo Vargas 'Marcha para Oeste'. :
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-o
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481
61. Mundos do Trabalho: as fronteiras entre as diferentes formas de coerção e os diversos
caminhos da liberdade
Beatriz Ana Loner (UFPEL) e Maria Cecília Velasco e Cruz (UFBA)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h ás 18h) I
Regina Célia Lima Xavierl- UFRGS
Africanos e seus descendentes na historiografia sul-riograndense
O trabalho a ser apresentado pretende contribuir para o debate do GT: Mundos do Trabalho ao propor uma releitura da
historiografia gaúcha - abrangendo trabalhos p~blicados entre as décadas de 1910/1950. O objetivo é dialogar sobre
as condições de formulação de idéias sobre a Africa e os africanos, sobre o papel que desempenharam na formação
da sociedade sul-riograndense e a recepção de teorias raciais.

Eduardo Ramon Palermo lopez - UPF


Trafico esclavista en la frontera oriental en la segunda mitad dei siglo XIX
EI presente trabajo investiga una realidad poco estudiada de la frontera uruguayo.brasilera en la segunda mitad dei
siglo XIX, el tráfico sub regional de esclavos y el secuestro de afrodescendientes para ser vendidos como esclavos en
RS. La historiografia uruguaya considera el fin de la esclavitud hacia 1846, esta investigación demuestra que con
posterioridad a esa fecha los esclqavos seguia existiendo en territorio nacional, especialmente en la region dei Norte
uruguayo con predominancia de propietarios de la tierra riograndenses. EI trabajo identifica rutas de comenricalizaci-
on, personas, insituciones y relaciones politicas entre los estados para encontrar soluciones a este conflicto, alli se
desnudan multiples intereses y juegos de poder.

Beatriz Piva Momesso - UFF


Ligações nada ocultas: o Estado Imperial e o Estabelecimento de Ponta d'Areia (1846-1861)
Irineu Evangelista de Sousa, o Barão de Mauá, foi deputado Pelo Partido Liberal em 1845. No entanto, sua correspon-
dência epistolar revela as relações travadas com integrantes do Gabinete Conservador a partir de 1848, especialmen-
te com o Visconde de Monte Alegre. Durante a gestão Conservadora, o Estado Imperial, através da Junta Comercial,
favoreceu o estabecimento de Ponta d' Areia na medida que o considerou' oficina em ponto grande'. Desde então, os
Relatórios Ministeriais e de Presidente de Província omitiram ou mascararam o emprego de mão-de-obra escrava.
Contrariando a lei de 1847, o Governo continuou subvencionando um estabelecimento escravista. A única revolta de
escravos documentada em Ponta d' Areia foi prontamente sufocada, sem espaço para qualquer tipo de negociação. O
objetivo dessa comunicação é refletir acerca da formação do Estado Imperial e de suas práticas, tendo como foco o
Estabelecimento de Fundição e Máquinas de Ponta d' Areia de propriedade do Barão de Mauá.

José Alexandre da Silva


Uma proposta de estudo da criminalidade escrava no Paraná: Castro 1853-1888
O presente trabalho visa estudar áluns aspectos de uma sociedade escravista embasada num economia de abasta-
cimento onde por bastante tempo se acreditou que a escravidão não fosse significativa. Diversos estudos surgem desde
os anos 1980 e permitem questionar a visão antes difundida do escravo africano coisificado, rebelde e infantilizado que
não tinha nenhuma margem de autonomia e era amplamente solapado de sua humanidade pela dureza da relação senhor
escravo. Também na região sul do Brasil longe das grandes escravarias das plantações de café a instituição da escravi-
dão se fez presente com suas próprias características, mas disseminada em todos os setores da da vida produtiva.

Maria das Graças de Andrade leal- UNEB


A dimensão do trabalho na vida e obra de Manuel Querino - Bahia: 1851-1923
Discute o mundo do trabalho na Bahia nos períodos pré e pós abolição da escravidão, a partir da experiência e do
pensamento de Manuel Querino. Afro-descendente nascido no período de transformações político-econômicas e soci-
ais marcadas pelo fim do tráfico negreiro e pelos projetos de civilização e progresso no contexto de aprofundamento
das forças liberais, consolidadas com o advento da República. Foi militante operário durante o Império, politico atuante
na República e intelectual que pensou a Bahia e o Brasil do ponto de vista do negro oprimido e discriminado. Através
da sua vida e da obra que produziu, tornam-se visíveis aspectos ainda não revelados pela historiografia oficial e
mesmO' pela historiografia do trabalho, a partir da voz de quem representou os excluídos, fazendo ecoar críticas,
proposições e valores do povo trabalhador. Inaugurou uma forma de contar a história, trazendo á luz do conhecimento
sujeitos que viviam na penumbra social e que com ele compartilharam situações de preconceito e discriminação em
conseqüência da origem de classe e de raça. É uma oportunidade de vislumbrar aspectos importantes que revelam
experiências culturais e de lutas cotidianas pela sobrevivência de trabalhadores escravos, livres e libertos nos espaços
produtivos e da militância política.

482
Beatriz Ana Loner - UFPEL Q61
A recusa ao trabalho ~
Nada torna mais evidente a diferenciação de status jurídíco entre os trabalhadores livres e aqueles sujeitos a formas de
coerção extra-econômica, do que o modo como são tratados pelos seus patrões/senhores escravizadores ou pelo
Estado nos momentos de enfrentamento, de lutas contra a exploração de que são vitimas. Se algumas de suas estra-
tégias podem ser iguais, especialmente aquelas que dizem respeito a pequenas resistências, como "corpo mole' e ~
furtos, outras, entretanto, podem diferenciar-se radicalmente, em alguns casos assumindo conotações de luta, em ~
outros de crime. Esta comunicação pretende discutir algumas formas como, historicamente, as paralisações de traba- ~
lho foram entendidas na sociedade brasileira. '"~
-~

Marcelo Badaró Mattos - UFF ~


Experiências comuns: escravizados e livres no processo de formação da classe trabalhadora no Brasil '"
Nos últimos anos, uma série de pesquisas vêm revelando a necessidade de, nos estudos sobre os processos de :
formação da classe trabalhadora, em diversas regiões do país, atentar-se para a central idade da presença da escravi- ~
dão e das lutas pela liberdade, particularmente na segunda metade do século XIX. A experiência comum da convivên- .g
cia entre escravizados e livres em ambientes de trabalho, moradia, circulação e sociabilidade urbanas; o compartilha- ~
mento de formas e modelos associativos; as trocas entre movimentos de luta coletiva e os valores compartilhados que .g
se combinariam como elementos da nova consciência de classe em formação foram objetos destacados nestas pes- .g
quisas. Esta comunicação propõe-se a sintetizar algumas das conseqüências e das possibilidades abertas por tal viés §
de investigação histórica. ~

Glaucia Cristina Candian Fraccaro - Unicamp


Experiências de trabalho na EFCB no Rio de Janeiro
O tema dessa exposição é a experiência de trabalho no pós-abolição na Estrada de Ferro Central do Brasil. A EFCB,
empresa estatal mostrou-se um rico cenário que deixou evidente diferenças fundamentais de categorias de trabalho
que, estruturadas hierarquicamente, revelavam-se no cotidiano em pequenas disputas. Ademais, o direito à licença e
a aposentadoria de alguns de seus funcionários públicos convivendo com a ausência de garantias e a carestia de vida
de muitos de seus operários também se refletia nas elaborações de visões de mundo desses agentes históricos.

Vera de Oliveira Dias - UERJ


Opinião pública na Corte Imperial: debates acerca da questão servil (1867/1871)
Variadas relações podemos estabelecer entre escravismo e Imprensa. O recorte que procuramos, trabalha com o
debate político na Imprensa acerca da questão servil anterior ao seu clímax entre 1880 e 1888, discutido na historio-
grafia tradicional referente ao tema. No contexto específico estudado há um debate que reflete as contradições da
sociedade escravista nos anos finais de 1860 e a promulgação da Lei de 1871 considerada como marco inicial da
tomada de posição do governo Imperial acerca da questão servil. A princípio, a pesquisa está pautada em dois perió-
dicos "Opinião Liberal" e A Reforma', especificamente entre 1867 e 1871, em uma análise destes jornais enquanto
espaços de sociabilidades e de debates políticos.

I 17/07 - Terça-feira - Tarde (14h às 18h) I


Aldrin Armstrong Silva Castellucci - UNEB
A experiência da escravidão e a constituição de uma identidade operária na Bahia da Primeira República
A comunicação analisa o Projeto de Código Rural, apresentado à Assembléia Legislativa da Bahia em 1893, instru-
mento legal por meio do qual os representantes das elites agrárias pretendiam impor regras que visavam compelir os
trabalhadores baianos - em sua maioria, ex-escravos - ao trabalho disciplinado e regular, tutelado pelo Estado e pelos
proprietários rurais. Além disso, o texto procura mostrar que os mecanismos de controle social, formulados pelas
classes dominantes, visavam não apenas os trabalhadores do campo, mas também o operariado urbano. Nesse
sentido, a comunicação tem o objetivo de mostrar como a experiência da escravidão marcou o processo de formação
de uma identidade operária.

Simone Medeiros - UFSCar


Coerção e resistência: a luta social cotidiana no contexto das fazendas de café do Oeste Paulista, 1888-1914
Partindo da análise de processos criminais e inquéritos policiais, o estudo investigou em que medida a violência -
principal marca da coerção no regime escravista - continuou permeando as interações sociais entre fazendeiros e
trabalhadores rurais livres, nos anos posteriores à abolição. Revelando que negros e imigrantes trabalharam juntos
nas fazendas de café de São Carlos, as fontes apontam para uma complexidade social, muitas vezes, desprezada por
estudos que tratam das relações de trabalho após a escravidão. possibilitando uma abordagem comparativa a respeito

483
do processo de inserção tanto de brasileiros negros (ex-escravos, nacionais livres) quanto de imigrantes (especifica-
mente, os italianos) no mercado de trabalho livre. Além de focalizar as diversas formas de coerção - econômica e
simbólica - aplicadas por patrões a seus empregados, o trabalho priorizou a análise das diferentes formas de resistên-
cia e rebeldia dos trabalhadores rurais frente ao sistema de dominação do trabalho, ressaltando que a instauração da
nova ordem trabalhista resultou de um processo constante de negociação e conflito entre, pelo menos, duas partes
opostas no âmbito das relações de poder na vida cotidiana das fazendas.

Manoela Pedroza - UNICAMP


Crise econômica, autonomia social e conflitos de terra: arrendatários, posseiros e sesmeiros na Freguesia de
Campo Grande (Rio de Janeiro, 1822-1889)
O problema central deste texto é mostrar as alternativas que foram postas em ação pelos produtores agricolas que
conseguiram ou quiseram permanecer na freguesia de Campo Grande, Rio de Janeiro, no decorrer do século XIX.
Particularmente, nos interessará a compreensão da dinâmica e dos resultados gerados pela tentativa dos grandes
proprietários de aumentar a subordinação ou a exploração da terra e/ou do trabalho dos pequenos sitiantes aos médi-
os arrendatários. Nossa hipótese central é que, a partir da compreensão da teia de relações sociais, da estrutura
econômica e das caracteristicas da ocupação fundiária do local, é possível compreender porque alguns setores locais
não proprietários de terras conseguiram manter sua autonomia - preservando suas posses e sítios - ou coibir interfe-
rências excessivas no circuito da produção agrícola. No caso específico dos arrendatários, procuraremos analisar
suas tentativas de manter a autonomia a partir do recurso ao direito á posse da terra presente na legislação colonial.

Beatriz de Miranda Brusantin - UNICAMP


As estratégias de luta e de resistência cultural dos trabalhadores dos engenhos da zona da mata norte de
Pernambuco 1880-1930
Meu objetivo nesta comunicação é sugerir uma investigação das experiências de vida dos trabalhadores dos enge-
nhos da zona da mata norte e Pernambuco entre 1880 e 1930, interpretando-as como área de potencialidade de
conflitos políticos em que se multiplicavam formas peculiares de luta. Uma investigação que também prestigie os
aspectos culturais como possíveis expressões de resistência. Assim, pretendo desenvolver a hipótese de que a iden-
tidade classista dos trabalhadores rurais do século XX teve suas raizes plantadas através de suas vivências e embates
durante a escravidão e no periodo pós-abolição.

Harley de Araújo - Universidade de Uberlândia


Professores: resistência, experiência e vivência - a educação no terceiro milênio
Resumo: Tendo em vista a crise dos movimentos sociais, devido em grande parte pela dura ofensiva que pode gerar o
desmonte do sindicalismo em fase da consolidação do neoliberalismo, e da politica de globalização da economia
mundial, a cada dia tornam-se mais pertinentes estudos que viabilizem a análise, a pesquisa critica da participação
dos docentes nos movimentos sociais, fundamentando a questão da desvalorização desses trabalhadores, trazendo
conseqüências sociais negativas para toda a sociedade, crescendo constantemente a baixa qualidade do ensino
público. A pesquisa em andamento ressalta a importância da luta dessa categoria na região do Triângulo Mineiro,
cidade de Uberlândia-MG, delimitando o período a partir da década de 1990, momento que se verifica a intensificação
das práticas neoliberais e o desmantelamento gradativo da organização, (pelos menos nos termos pensados em
décadas anteriores), dos professores. Analiso ainda como os docentes (re)elaboram a questão resistência/contesta-
ção/conformismo, corno se dá o embate no interior das instituições onde estão inseridos e se suas experiências
cotidianas, sejam elas pessoais ou profissionais, interferem em sua subjetividade no que tange essas questões pro-
postas.

Ana Luiza Jesus da Costa -: UERJ


Formação do trabalhador brasileiro: educação e controle social na sociedade oítocentista
O presente trabalho procura analisar o projeto de intervenção da escola oitocentista nas condutas, formação técnica e
constituição da própria concepção social do 'ser trabalhador' nas últimas décadas daquele século. Projeto que ganha
relevância num momento de crise do escravismo e forte demanda por mão-de-obra, quando se discutia a solução do
problema via imigração, mas também, a possibilidade de utilização do trabalhador nacional, desde que devidamente
educado. Trabalho aqui com discursos presentes na imprensa, em documentos oficiais do governo e documentos de
associações privadas com pretensões de participação na esfera pública, como a Sociedade Auxiliadora da Indústria
Nacional, a Sociedade Reunião dos Expositores da Indústria Nacional, ou a Sociedade Promotora das Bellas Artes,
todas elas mantenedoras de alguma iniciativa em educação para trabalhadores. Durante muito tempo, não foi comum
encontrar nas páginas da historiografia, o tema 'educação no Império". Ausência que nos causava a impressão de um
vazio em iniciativas daquela sociedade sobre esse tipo de serviço, ou concorria para reprodução de idéias como da
exclusividade da educação para as elites. Entretanto, pesquisas recentes em história da educação vêm mostrando,
como já apontava limar R. Mattos, a importância

484
Teresa Vitória Fernandes Alves - UFJF Q
O Rio de Janeiro do "GRAPHICO"; visão de uma cidade e de uma época
As diferentes visões do cotidiano servem de base para criar uma conexão entre as diversas camadas sociais, na
®
medida em que, cada uma delas demonstra uma determinada consciência dos problemas pelos quais os homens
passam e a forma para tentar transpã-Ios. Através de "velhos artigos' publicados em um jomal operário, levanta-se a
formação e a evolução cultural de uma sociedade. Nas letras de forma, percebem-se emoções e reações baseadas ~
numa imprensa que nasce a partir dos sonhos, idealismos e muita vontade de se fazer ouvir. Nos artigos editados e ~
publicados em seu jornal, os tipógrafos do Rio de Janeiro de 1916 tentavam expressar suas opiniões acerca das ~
transformações e dos problemas existentes, não só na cidade, como também sobre fatos ocorridos dentro e fora do ~
seu país. Osaber ler e escreve fez com que eles terminassem por perceber o mundo com outros olhos. O seu olhar era§
mesclado com outros, contidos em livros e artigos que liam, construindo uma visão incomum ao seu meio social. ~
<n
Clarice Nascimento de Melo - UFRN :
Trabalho docente, gênero e poder em denúncias e defesas públicas da década de 1880 ~
A década de 1880 se fez no Brasil como um período de pulsantes debates nos campos político e educacional, que se -g
configuram no interior das disputas em torno da manutenção do regime imperial ou da adoção do regime republicano. ~
É nesse intervalo de tempo que as discussões em torno da legitimidade das prescrições para a instrução pública .g
tomam conta do cenário, de modo contundente, espraiando-se às práticas cotidianas de professores e professoras .g
vinculado/as administrativamente ao governo. São freqüentes em jornais de circulação diária na capital paraense, §
denúncias de ações de professores e professoras, consideradas repreensíveis pelos denunciantes e, em resposta, as ::2
defesas também são publicadas. Para este texto tomo por objeto de estudo as notas que apresentam essas conten-
das, publicadas nos jornais O Liberal do Pará e A Constituição, nesse período. Com elas é possível mostrar as falas
que dimensionam o trabalho docente perpassadas por representações de gênero feminino e masculino, na medida em
que as práticas docentes não recomendadas conformam tipos de comportamento idealizado para a profissão, diferen-
ciados para homens e mulheres. Essas diferenças são postas nos interstícios disputa política pelo poder local que
marca sociedade paraense imperial.

Daniel do Vai Cosentino


O olhar das autoridades: projetos e processo para a transição do trabalho escravo para o trabalho livre na
Província de Minas Gerais
Apresentamos a transição do trabalho escravo para o livre em Minas Gerais, a partir do olhar das autoridades locais e
provinciais, usando a documentação dos Inquéritos Provinciais, dos Relatórios de Presidente de Provincia e dos Anais
da Assembléia Legislativa Provincial de Minas Gerais. Acreditamos que o processo teve suas particularidade e diferen-
ças em relação a outras regiões do Brasil, sendo condicionado pela realidade da província mineira. O trabalho sugere
que este processo, como em grande parte do Brasil, foi lento e teve dificuldades na formação do mercado de trabalho,
com a incorporação do homem livre e do ex-escravo. Logo, foi um processo que ressalta problemas nacionais, de
cunho regional e social, e a forma incompleta de constituição do nosso mercado interno, incapaz de ser inclusivo e
acarretar um desenvolvimento mais justo e igual.

I 18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h) I


Vitor Wagner Neto de Oliveíra - UFMS
As fronteiras nacionais e a circulação de trabalhadores no Cone-Sul Americano no início do século XX
Pretendo apresentar para discussão a fluidez das fronteiras nacionais no Cone-Sul, forjada na realidade transnacional
da migração de trabalhadores. Desde a segunda metade do século XIX, o continente americano passou a ser o
principal receptor de populações vindas, sobretudo, dos países europeus, mas também do Oriente Próximo e do
Japão. Pelo estuário do Prata entrou a maior parte dos imigrantes destinados ao sul do continente, colaborando no
aumento vertiginoso da população da região. Montevidéu e especialmente Buenos Aires, transformaram-se nas princi-
pais cidades receptoras de imigrantes no Prata. Incentivada pelas políticas públicas de colonização, parte dos estran-
geiros preferiu se deslocar para o interior, em direção ao pampa e ao chaco. Alguns chegaram ao Paraguai e em menor
quantidade alcançou Mato Grosso. Os desenhos das fronteiras nos pampas, no chaco paraguaio e argentino, e nos
pantanais brasileiros, eram linhas políticas imaginárias desrespeitadas pelos ameríndios e pelos nacionais. Essas
fronteiras incertas, marcadas pela ausência do Estado, eram pouco significantes como limites também para os imi-
grantes que se aventuravam na busca de riqueza fácil ou na luta pela vida. Dinâmica que permitiu a configuração de
culturas de classe marcadas pela transnacionalidade.

485
Rogério Luis Giampietro Bonfá - UNICAMP
As Expulsões de Estrangeiros na Primeira República
Esse artigo pretende discutir as leis de expulsão de estrangeiros no Brasil da Primeira República, enfatizando a elabo-
ração, aprovação e vigência desses dispositivos. Pretendo, com isso, analisar o embate entre os poderes constituídos,
principalmente o conflito entre o Executivo e o Judiciário em relação a aprovação e aplicação de leis anti-imigrantes
indesejáveis. Por fim, almejo iniciar um debate sobre a importância da lei nesse período, pensando a lei de forma
ampla e complexa, ou seja, como um dos mecanismos de repressão estatal contra os imigrantes e trabalhadores em
geral e, também, como uma forma possível de defesa dos estrangeiros, via poder Judiciário, contra as arbitrariedades
e ações ilegais da polícía e do Executivo.

Tiago Bernardon de Oliveira· UFF


Entre a solidariedade e a rivalidade, anarquista acima de tudo
A relação entre anarquistas e comunistas oscila, por vezes, entre a oposição e a solidariedade. No caso especifico da
história brasileira, diante do declínio da influência libertária nos meios operários a partir da década de 1920, geralmen-
te a percepção de sua militância é ofuscada pela atuação do Partido Comunista do Brasil, ainda quando se recorde da
luta anti-fascista, que contou com alianças entre anarquistas e comunistas contra o inimigo comum. Esta comunicação
visa discutir alguns parâmetros desta relação na primeira metade do século XX, no sentido de depreender: os limites
da solidariedade entre anarquistas e comunistas na luta contra o fascismo; como eles procuravam reafirmar as suas
posições e conquistar a legitimidade de apresentarem-se como porta-vozes da classe operária; e como isso era perce-
bido pela policia política.

Edileuza Pimenta De Lima· UFRJ


"Guerrilha operária derrota o arrocho": a Ação Libertadora Nacional (ALN) e a resistência operária guerrilheira
As relações entre luta armada e movimento operário no Brasil são estudadas neste trabalho a partir dos guerrilheiros
operários da Ação Libertadora Nacional (ALN), organização de luta armada contra a ditadura cuja existência é situada
entre 1968 e 1974. A partir da metodologia da História Oral, realizamos entrevistas com ex-militantes; estas entrevis-
tas, trabalhadas em conjunto com a análise de documentos tais como jornais e textos teóricos da organização (redigi-
dos em sua maioria por seu fundador e líder Carlos Marighelia), nos permitiram concluir que a presença dos operários
nas organizações armadas e em especial na ALN é bastante considerável, pois a historiografia destaca quase que
unicamente a participação dos estudantes nos movimentos guerrilheiros, e é contra essa tendência que é configurado
nosso estudo. As fontes evidenciam ações como expropriações aos patrões, ocupações de fábrica e propaganda
armada junto ao operariado, demonstra que aALN entendia que 'a violência das massas contra a violência das classes
dominantes' era muito mais que uma prática, era um projeto, que, entre muitas ações, se refletia em palavras de ordem
como 'guerrilha operária derrota o arrocho'.

Maria Cecília Velasco e Cruz· UFBA


Trabalhadores e Patrões Negros: lealdades e conflitos na fundação da União dos Operários Estivadores na
Cidade da Bahia
A pesquisa analisa a cisão da força de trabalho e os conflitos surgidos quando a política de classe da recém fundada
União dos Operários Estivadores revolve hierarquias e lealdades de uma comunidade estivadora fortemente enraizada
no mundo afro-baiano.

Marcela Goldmacher
Associações operárias do Rio de Janeiro: histórico e atuação na "greve geral" de 1903
O ano de 1903 foi o de maior número de greves no Rio de Janeiro, levando-se em conta toda a Primeira República.
Naquele ano os trabalhadores em fábricas de tecidos realizaram uma greve que, em seu desenvolvimento, tornou-se
'greve geral" com duração de 26 dias. A greve de 1903 foi uma greve relevante não só por ter sido uma greve de várias
categorias, mas por estas terem sido representadas por suas associações. Estas associações, no entanto, apesar de
terem se unido em torno de um objetivo comum, não necessariamente seguiam uma mesma forma de ação e nem
possuiam o mesmo tipo de organização. Nesta comunicação apresentarei as associações operárias envolvidas na
greve de 1903, com base na análise de seus estatutos, comparando as associações que apoiaram a greve com as que
não apoiaram. Serão também analisadas quais associações defendiam que tipo de atuação, qual a relação da atuação
da associação com o ramo da produção e ainda, se quando da sua fundação já possuiam a finalidade de defesa do
associado enquanto trabalhador, ou se a sua fundação atendia a objetivos educativos ou assistenciais que teriam
tomado o rumo da defesa do trabalhador devido à força dos acontecimentos, fazendo-as expandir a sua atuação para
além daquelas primeiras funções de educação e de assistência mútua.

486
Luiz Rafael Gomes Q
Cortando Fios, Unindo Laços: a Liga Operária de Piracicaba e a Greve Geral de 1919
Através da observação de fontes da justiça, da imprensa local e da produ~ão cultural do interior paulista, a pesquisa
®
por hora apresentada foi desenvolvida como Trabalho de Conclusão de Curso visando compreender o complexo
cotidiano dos trabalhadores da cidade de Piracicaba no inicio do século XX. Em julho de 1919, um grupo de trabalha-
dores organizados através da Liga Operária de Piracicaba iniciou uma greve geral sob influência dos movimentos ~
grevistas realizados no Rio de Janeiro e em São Paulo. Para isolar o município e impedir que a força policial pedisse ~
socorro, os trabalhadores cortaram todos os fios telefônicos que ligavam Piracicaba aos municípios circunvizinhos. O ~
estudo dos depoimentos e declarações, relatórios oficiais, artigos jornalísticos e poemas caipiras proporcionaram-me ~
o contato com um espaço de convívio onde trabalhadores urbanos dividiam suas experiências, expectativas e valores e
socioculturais com trabalhadores rurais, possibilitando a pesquisa, entre outras questões, abordar aspectos do proces- ]
so de organização da greve geral de 1919, as diferentes lideranças políticas e ideológicas da Liga Operária de Piraci- <n
caba e o papel dos periódicos que observaram, noticiaram e condenaram os trabalhadores envolvidos com a organiza- :
ção grevista daquele ano. ~
..c
co
César Augusto Bubolz Queirós - UFRGS ~
o
Conflitos e Identidades: a Greve Geral de 1919 em Porto Alegre 'O

Este trabalho tem como objetivo analisar a greve geral de 1919 na cidade de Porto Alegre dando ênfase aos conflitos .g
ocorridos tanto entre os grevistas e o Estado quanto entre os grevistas e os não grevistas. Pretende ainda ressaltar as §
identidades construídas no decorrer desta greve, formando construções imagéticas instrumentalizadas tanto dos tra- ::2:
balhadores em greve quanto daqueles que não aderiam ao movimento.

I 20107 - Sexta-feira - Manhã (10h30min às 12h30min)


Anderson Romário Pereira Corrêa - PUCRS
Unidades produtivas urbanas, trabalho e movimento operário em Alegrete (1898-1935)
O presente trabalho analisa as características do movimento operário em Alegrete, no período da República Velha. O
estudo proposto busca contribui para o enriquecimento da historiografia sobre o movimento operário gaúcho pois
existe uma lacuna a ser preenchida na temática 'mundos do trabalho', que focaliza as pesquisas no litoral (Porto
Alegre, Rio Grande e Pelotas) e não abarca outras características regionais, debilitando a compreensão do processo
como um todo. Busca-se aqui romper com a dicotomia base versos superestrutura, para identificar alguns aspectos
das experiência de trabalho dos operários alegretenses Tem-se como fonte uma série de documentos fiscais, (Livro de
cobrança de Impostos da Intendência de Alegrete sobre Indústria e Profissões de 1901 a 1935).Os Relatórios da
Intendência Municipal do mesmo período serão utilizados.Para identificar as formas organizativas, experiência e mani-
festação do movimento operário alegretense existem diversas referências em fontes bibliográficas e em fontes primá-
rias, como a imprensa local da época. O fio condutor para uma panorâmica do movimento operário em Alegrete seguirá
os seguintes tópicos: a mobilidade da mão-de-obra, a mobilidade dos militantes, a rede de congressos, a imprensa
operária.

Murilo Leal Pereira Neto - Centro Universitário Claretiano


Produção, cidade, consumo e politica: classe trabalhadora, lutas e projetos em São Paulo 1950-1964)
O crescimento industrial na cidade de São Paulo no pós-Segunda Guerra, os processos migratórios, o crescimento
periférico da cidade e as novas práticas pol íticas criaram as condições para o surgimento de movimentos por melhores
condições de trabalho, pelo direito à cidade, ao consumo e à uma maior influência nas decisões políticas. Surgiram,
então, novas formas de organização, valores e projetos. As contradições e possibilidades de mudanças políticas e
sociais abertas por esse processo serão analisadas.

Fernando Cauduro Pureza - UFRGS


A economia moral de guerra - uma abordagem preliminar sobre os trabalhadores de Porto Alegre e a experiên-
cia de escassez na Segunda Guerra Mundial
Esse trabalho se resume a uma abordagem inicial acerca das relações que os trabalhadores urbanos de Porto Alegre
construíram a fim de enfrentar a economia de guerra proposta pelo Estado Novo. Mais especificamente ele remete às
tentativas de superação da escassez de alimentos e da especulação sobre diversos produtos que os trabalhadores
tiveram de criar a fim de enfrentar a situação econômica de Porto Alegre nos anos de 1942 à 1945. O termo 'economia
moral de guerra' deve ser pensado aqui como uma reação popular diante de um quadro de implementação de uma
'economia de guerra', uma reação que surge diante de um quadro de economia inflacionada e da conseqüente desva-
lorização do recém implementado salário minimo. Trabalhando com processos criminais e jornais da grande imprensa
da época foi possível encontrar casos em que os trabalhadores tiveram de recorrer à diferentes táticas a fim de lidar

487
com problemas tais como a escassez de pão, carne e leite, assim como a especulação acerca de diversos alimentos.
A denúncia policial, as cooperativas de consumo patronais, os programas de subsistência do Estado são apenas
algumas das relações em que é possivel perceber as diferentes possibilidades de ação do proletariado diante de uma
nova situação trazida pela Segunda Guerra Mundial.

Carlos Gonzalo Mignon - Universidad Nacional de Córdoba


Algunos elementos para el análisis sobre los orígenes dei peronismo: la clase obrera argentina durante la
década dei 30
Es posible identificar en el caso de la Argentina, a partir de la solución burguesa a la crisis de 1930, el fin de condicio-
nes históricas determinadas y el inicio de nuevas, a través de respuestas politicas a ciertos cambios ocurridos en la
estructura socio-económica y por consiguiente en la estructura de clases, producidos tanto por factores internos como
extemos. Con la crisis de los aíios treinta, la industria manufacturera local encontró posibilidades de expandirse,
consolidando de manera intensiva la relación capital-trabajo asalariado, proceso denominado tradicionalmente como
de 'industrialización por sustitución de importaciones.' La atención de este trabajo está puesta en los cambios que
repercutieron en la clase obrera argentina durante dicha década, tanto en su composición material como en los aspec-
tos ideológicos. EI análisis de la situación de la clase obrera argentina durante la denominada década infame es de
trascendencia para vislumbrar el contexto en el cual el movimiento obrero argentino ingresaría en un nuevo período en
el que algunos de los elementos aquí mencionados -oeciente sentido de la participación política y conciencia nacio-
nal- le darian una fuerte impronta ai movimiento que se gestará a mediados de los cuarenta, más conocido como
peronismo.

José Bento Rosa da Silva - UNIVALI


Escravidão, liberdade e cidadania de africanos e de afro-descendentes na Foz do ltajaí (1860-1950)
O presente trabalho investiga a escravidão e as possibilidades de liberdade dos africanos e crioulos na Foz do Rio
Itajaí-Açú, no litoral norte do estado de Santa Catarina no século XIX; e as organizações negras em busca da plena
cidadania, na primeira metade do século XX. A relevãncia do tema se expressa na medida em que a discussão sobre
a realidade da população afro-descendente, sobretudo os descendentes de escravos e ex-escravos, vem sendo discu-
tida ao mesmo tempo em que políticas compensatórias são implementadas em nível municipal, estadual e federal.

I 20107 - Sexta-feira - Tarde (14h às 18h) I


Fabiana Scoleso - PUC/SP
A nova configuração do mundo do trabalho dentro e fora das fábricas - Anos 90 no ABC Paulista entre a
inovação e o desemprego
Perceber as mudanças ocorridas no interior de uma indústria automobilística do ABC e também o processo de desre-
gionalização não é privilégio apenas daqueles que conseguiram permanecer nos seus postos de trabalho ao longo da
década de 90. Qualquer usuário ou proprietário de automóveis no Brasil consegue diferenciar as inovações e profun-
das modificações ocorridas no desempenho e na qualidade do produto nos últimos tempos. É este o sinal de mudança.
Mudança que representa o lado vantajoso da introdução de novas tecnologias aplicadas no desenvolvimento de pro-
dutos cada vez mais complexos, mas principalmente, o lado oposto que, ao serem atingidos por tais mudanças revelou
a fragilidade imposta ao trabalho e aos trabalhadores, ao Sindicato e à sociedade. Neste "ciclo virtuoso' desenvolvido
e manipulado pelo capital, a fase de prosperidade e progresso, associados com redução de postos de trabalho, rees-
truturação produtiva e boa taxa de produtividade produziu seqüelas na grande massa de trabalhadores que num certo
período aínda tinha como arma de luta contra o capital a greve, a organização por fàbricas, repr

Hilton Barros Coelho


Policiais na contra-ordem: mobilizações e greve da PM baiana
Inserido no projeto de pesquisa 'As greves das polícias militares brasileiras em finais de 1990 e início dos 2000', este
trabalho tem por objetivo analisar a trajetória das articulações e mobilizações que culminaram na greve dos policiais
militares baianos, no final da década de 90 e início dos anos 2000, num contexto nacional de insubordinação das
corporações militares nos mais diversos estados, a exemplo de Minas Gerais, Tocantins e Pernambuco. Recorrendo
principalmente a fontes orais e jornalísticas e tendo como referência as discussões sobre a história do presente, é
possível perceber que tal movimentação social, particularmente da Polícia Militar baiana, teve decorrências muito mais
amplas, como saques, 'arrastões', depredações, assim como constituiu laços com movimentos sociais com uma diver-
~idade e representatividade bastante expressivas, como o movimento estudantil, o movimento sem-terra e a Central
Unica dos Trabalhadores.

488
Marcia De Melo Martins Kuyumjian - UNB Q
Encenação e retórica do trabalho informal no espaço urbano ®
A história cultural ao alargar suas fronteiras disciplinares para práticas intersolidárias abre um fértil canal para a com-
preensão dos modos como a realidade adquire forma na experiência cotidiana e sentidos nas narrativas. Consideran-
do os modos como a cultura se estende por sobre o solo da história e do saber científico, refinando entendimentos e
práticas discursivas, as narrativas apontam para um ~spaço fronteiriço da cultura, um 'entre-lugar' no qual a história ~
explode em estratégias, encontros e deslocamentos. E nesta perspectiva que é pensado o trabalho informal, como a ~
fronteira entre o possível e o autorizado. Ajuizamento e autoridade são os coelhos da cartola da retórica como encena- ~
ção estética da intervenção estatal para lidar com o estranhamento e o distanciamento, geralmente inscrito ora em §
silenciamento, ora em repressão. O historiador investiga o jogo das enunciações e memórias em seus intermináveis '§
diálogos sobre o limite da cultura e o limite da ordem social. Esta é a proposta deste ensaio, refletir sobre as memórias ]
e as narrativas do trabalho informal, na perspectiva dos indivíduos colocados sem situação, problematizando o imagi- V)

nário sobre a sociedade instituída e a complexidade da realidade social. :


,E

Anderson Rodrigo Tavares Silva· UFPA ~


"Operários do Manganês": o cotidiano do trabalho dos mineradores da ICOMI nas jazidas de Serra do Navio, ~
Amapá (1974-1984)
Trata-se de um pequeno recorte dentro da pesquisa desenvolvida por mim sobre a história social do projeto ICOMI no
Amapá. O projeto teve início em 1953 e consistia na exploração industrial das minas de manganês descobertas na §
ª
região de Serra do Navio, perdurando até o ano de 1997 quando a empresa responsável encerrou oficialmente suas :2
atividades no Estado. Buscou-se um enfoque micro-histórico deste cotidiano do trabalho a partir da leitura de reclama-
ções trabalhistas efetuadas por mineradores da ICOMI junto à Justiça do Trabalho. Enfatizando não apenas os gran-
des enfrentamentos como também os pequenos conflitos travados no dia-a-dia nos locais de trabalho, pretendeu-se
identificar as diferentes formas de identidade, solidariedade e rivalidade desse grupo de trabalhadores no contexto da
primeira década de funcionamento da 1" Vara do Trabalho do Amapá.

Walter de Assis Alves - UFU


A indústria têxtil e as novas relações de trabalho em Três Llagoas-MS
Esta comunicação tem como objetivo discutir as experiências vividas pelos trabalhadores das fábricas têxteis, durante
a tentativa de fundação de um sindicato da categoria em Três Lagoas. Com a chegada das primeiras fábricas em Três
Lagoas, em meados da década de 1990, os trabalhadores passaram a conviver com uma rotina diferenciada do
tradicional contexto social local mantido pela concentração fundiária. Dentro das fábricas essas novas relações de
trabalho surgem e aos poucos vão ultrapassando os seus portões, culminando em pràticas sociais que supomos
poSSibilitar a construção de um novo 'modo de vida'. Percebemos esses agentes como provedores da integração
política e cultural, capas de levar o trabalhador a uma possível percepção como sujeito pertencente a relações de
trabalho onde os interesses se mostram divergentes e conflitantes.

Iracilda Pimentel Carvalho - UNB


Marcas femininas nas agroindústrias do Distrito Federal
A pesquisa revelou a presença de mulheres trabalhadoras rurais, mulheres fortes e ativas que estão à frente de
suas agroindústrias e são responsáveis pelo trabalho, pela produção e pela distribuição dos produtos. Os depoi-
mentos coletados apontam para perfis identitários outros que os disseminados no senso comum, revelam trajetóri-
as de vida em que elas foram autoras de seus projetos, explicitam mudanças em suas relações com outras pesso-
as, consigo próprias e com a vida. Mudanças de posturas relacionadas às suas vivências, nos ãmbitos da família,
da comunidade e do mundo do trabalho, como a conscientização dos problemas produtivos, econômicos. E isso
porque, se antes não ocorria ali a preocupação com uma política de gênero, a inclusão de tal recorte tornou-se
incontornável, graças às demandas, ao trabalho e ás experiências das trabalhadoras rurais, Esses empreendimen-
tos se apresentam com um desenho em que as marcas das mulheres ganham contornos fortes, desde o modo
como foram regularizados e utilizados como referência para os financiamentos, até o modo como são administra-
dos e representados.

João Carlos Gomes - Universidade Católica de Santos


Cultura Portuária e Transformação do Trabalho
Este trabalho analisa, a partir dos aportes teóricos de Edward Palmer Thompson, a trajetória de um coletivo de traba-
lhadores que hoje vivência um forte impacto produzido pelo processo de modernização dos portos: o 'Consertador de
Carga e Descarga do Porto de Santos' . O estudo se insere num dos temas clássicos da história social do trabalho ao
tratar das conexões entre organização do trabalho, constituição da classe, articulação com outras classes e ação no
processo de constituição. Procura-se, relacionar dialeticamente, estrutura e ação pelo fato de articular, no desenrolar
da história desses trabalhadores, a cultura do trabalho com ações objetivas no interior das instituições coletivas de

489
seus movimentos. Privilegia-se o conceito de experiência como instrumento para analisar comportamentos, condutas
e costumes na sua relação com a transformação.

62. Nação e cidadania no Oitocentos


Gladys Sabina Ribeiro (UFF) e Lucia Maria Paschoal Guimarães (UERJ)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h às 18h) I
Adriana Pereira Campos - UFES
Casamento escravo: representações e significações
A proposta desta comunicação consiste em apresentar as representações e os significados das diferentes concepções
de casamento escravo nas sociedades norte-americana e brasileira. Pretende-se discutir comparativamente as tradi-
ções, normativas ou não, que regiam tais matrimõnios de modo a identificar seu escopo. Busca-se, igualmente, obser-
var o papel da religião na disciplina dos enlaces entre escravos, bem como o significado de ordenamentos mais laicos.
Enfim, trata-se de um esforço interpretativo voltado à compreensão, por meio da comparação, da força estruturante do
um conjunto de normas aplicadas ao conjúgio de cativos. Estabelecendo semelhanças e diferenças entre tais fenôme-
nos, objetiva-se acentuar a historicidade das práticas discursivas que, a partir do campo jurídico, destinam-se a orga-
nizar a vida social.

Walter de Mattos Lopes - UFF


A Real Junta do Comércio, Agricultura, Fábricas e Navegação: Um Tribunal a serviço do Império luso-brasilei-
ro (1808-1822)
Após a chegada da Corte portuguesa ao Rio de Janeiro, uma séria de medidas foram tomadas com o escopo de
transformar a cidade em centro do Império português, no processo de enraízamento do Estado e dos interesses que
gravitavam em torno de sua órbita. Criado por Alvará Régio de 23 de Agosto de 1808, o Tribunal da Real Junta do
Comércio, Agricultura, Fábricas e Navegação deste Estado do Brasil e Domínios Ultramarinos manifestou importância
singular na resolução de conflitos jurisdicionais no interior do "sistema luso-brasileiro". Assentando nas cadeiras de
deputado magistrados de carreira e poderosos homens de negócios, que encontravam no Tribunal um importante
espaço para a defesa de seus interesses, o estudo da referida instituição ilumina a compreensão das continuidades
institucionais durante a transição do Brasil colonial para o Império e lança luz sobre o processo de construção do
Estado português no Rio de Janeiro e formação de uma "unidade nacional' luso-brasileira ao longo da administração
joanina.

Carlos Gabriel Guimarães - UFF


O Comittee de 1808 e a defesa dos interesses ingleses com a Corte no Brasil
O trabalho tem como objetivo analisar a organização de um Comitee dos negociantes ingleses situados no Rio de
Janeiro, na defesa dos seus interesses, com a chegada da Corte em 1808. Presentes no comércio colonial português
desde o século XVIII, seja legal, seja "ilegal" (contrabando), os negociantes ingleses organizaram um Comitee face á
nova realidade política do Império Português com a Corte no Rio de Janeiro. Essa transferência, que contou com a
participação do governo britânico, possibilitava aos negociantes ingleses rediscutirem com a Corte portuguesa a revi-
são da tarifa de 1782, que incidia uma taxa de 20% ad valorem às mercadorias importadas, bem como a manutenção
de seus interesses, como a permanência do Juiz Conservador. A Abertura dos Portos (temporária) e os Tratados de
1810 significaram uma dupla vitória aos negociantes ingleses. Favorecidos com a diminuição da tarifa ad valorem, de
20 para 15%, como também a manutenção do Juiz Conservador, os negociantes ingleses não precisavam mais do
Comitee.

Paulo Cruz Terra - UFF


~s posturas municipais sobre transporte como campo de conflitos (Rio de Janeiro-1830-1870)
A medida que aumentava a circulação de veículos, no decorrer do século XIX, crescia também a tentativa de controlar
e fiscalizar esse serviço por parte da Câmara Municipal e da Polícia. As posturas da Câmara incidiam sobre os mais
diversos aspectos do setor transporte de veículos, como, por exemplo, as ruas em que poderiam transitar. Por sua vez,
as pessoas envolvidas nesse setor tinham diferentes maneiras de agir diante das posturas que objetivavam controlar
e regulamentar esse serviço. Uma das principais formas de ação da população eram os requerimentos enviados a
Câmara. A grande maioria deles era feita por uma só pessoa, embora houvesse também os abaixo-assinados, e os

490
assuntos eram bem diversificados, iam desde reclamações diretas sobre posturas editadas, até o perdão de uma
dívida. Esses requerimentos permitem visualizar que a legislação municipal não era só um instrumento a serviço da
dominação, mas também um palco de conflitos. Eles representam ainda a leitura que os atores sociais faziam da
legislação municipal, e a visão que tinham do que era justo ou não por parte da municipalidade.

Álvaro Pereíra do Nascimento - UFRRJ


Marcílio Dias ... um herói morto
Objetivamos descrever a criação e a reprodução do heroísmo do marinheiro Marcílio Dias na Marinha de Guerra.
Estando ao lado do almirante Tamandaré, patrono daquela força armada, no rol dos heróis da Marinha de Guerra este
marinheiro morreu bravamente na Guerra do Paraguai sendo a partir daí lembrado por oficiais, que deram seu nome a
navios e outras unidades navais. Diferentemente de outro marinheíro, João Cândido Felisberto, líder da revolta dos
marínheiros de 1910, Marcílio Dias foi reconhecido por diversos oficiais. Ambos, porém eram marinheiros negros em
meio ao racismo que imperava na Marinha. Assim sendo, procura-se entender o contexto em que Marcílio Días foi
alçado a herói. O diálogo entre a literatura e a historiografia do século XIX em torno da construção da nacionalidade
brasileíra será abordado na pesquisa.

KellyCarvalho - UNICAMP
Nação e Cidadania em Vamhagen
Em 1854 veio á luz a obra 'História Geral do Brasil' de autoria de Francisco Adolfo de Varnhagen, nela o autor expõe
sua tese acerca do caráter da Nação e da Nacionalidade brasileira. Leitor de Tocqueville e Humboldt, Varnhagen irá
apresentar uma teoria que rompe com a tradição iluminista francesa, principalmente com Rosseau, influente presen ça@2
no IHGB; propondo uma teoría inovadora e polêmica, cujas raízes estão fortemente alicerçadas no historicismo e no
liberalismo econômico. Esta proposta de simpósio temático se propõe a discutir os traços mais relevantes da idéia de
Nação e Nacionalidade apresentadas pelo autor.

Alexandre Lazzari - UNILESTEMG


A nação na província: o IHGB, o Rio Grande de São Pedro e a história nacional
A construção histórica de diversas versões para identidade nacional brasileira tem uma importante e pouco estudada
relação com seus equivalentes regionais. As identidades regionais, por seu lado, não se definiram sem considerar seu V>

lugar no todo nacional. Este trabalho analisa o debate do pertencimento da província do Rio Grande do Sul á naciona- 8~
lidade brasileira durante o século XIX. Pretende-se evidenciar como as narrativas da história provincial estiveram 8
relacionadas com o projeto de história nacional do IHGB no oitocentos, época em que esta instituição preocupava-se (5
com um melhor conhecimento das diversas regiões e com a unidade do país. Da criação do Instituto Histórico e oc::
Geográfico da Província de São Pedro (1860) á Sociedade Partenon Literário (1868), sucederam-se tentativas de 'E
compor narrativas sobre o lugar dos rio-grandenses na História e nas Letras nacionais. Ou seja, a historiografia e a {g
literatura lá produzidas afirmavam a diferença local, e ao mesmo tempo declaravam um patriotismo extremado e {g 'u
beligerante. Imitavam os modelos de interpretação da Corte sobre a nacionalidade brasileira, mas adaptando-os ás <l>
questões e experiências das elites letradas da provincia. o
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José Henrique de Paula Borralho - UEMA
Identidade, Nação e Integração: a invenção da Athenas Brasileira entre o regionalismo maranhense e a cons-
trução do Império brasileiro no oitocentos
Este trabalho visa discutir a noção de identidade cultural forjada no século XIX no Maranhão em meio á construção do
império brasileiro a partir da literatura enquanto espaço privilegiado de criação, codificação e decodificação dos senti-
dos sociais de brasilidade que os alguns maranhenses passaram a incorporar a partir da invenção do epíteto da
'Athenas Brasileira'. No momento de consecução da nação brasileira, posterior ao rompimento político com Portugal,
consubstanciado pela idéia romântica de genialidade, diferenciação, valorização da singularidade, intelectuais, políti-
cos, tipógrafos, biógrafos, literatos, evocando a noção de pertencimento a um lugar social, histórico e cultural, embora
de forma difusa, disléxica, idiossincrática, disputando espaço político-intelectual na composição da nação emergente,
a partir do exponencial de determinadas figuras que se transformam em 'ilustres', tais sujeitos construíram um projeto
político-intelectual que as historiografias literária e histórica consolidaram, repetiram, reverberaram. Entre esses inte-
lectuais figuram nomes como Francisco Sotero dos Reis, Manoel Odorico Mendes, João Francisco Lisboa, Gonçalves
Dias, Sousândrade, Raimundo Corrêa, Arthur Azevedo, Aluizio Azevedo, Coelho Neto, entre outros.

491
17/07 - Terça-feira - Tarde (14h ás 18h)

Silvana Mota Barbosa - UFJF


laca rias de Góes e Vasconcelos como presidente do Conselho de Ministros
Zacarias de Góes e Vasconcelos foi um dos maiores políticos do Segundo Reinado. Seja por sua atuação nos diversos
cargos públicos que ocupou, seja por seu inconfundível estilo, o certo é que ele construiu uma longa e admirável
carreira e esteve ligado a eventos dos mais importantes, como a guerra do Paraguai ou as mudanças partidárias das
décadas de 1860 e 1870. O objetivo desta comunicação é destacar a maneira como este político desempenhou o
cargo de presidente do conselho de ministros. A análise dos relatórios ministeriais e dos discursos parlamentares nos
permite observar a criação de um modo peculiar de compreender a função dos ministérios na estrutura de governo
monárquico, já que Zacarias de Góes buscava, de certa forma, instituir o principio da responsabilidade ministerial em
sua prática política.

Maria Marta Martins de Araújo - Fundação João Pinheiro


Os conselheiros provinciais de Minas e a construção do Estado imperial
A Constituição de 1824 criou no âmbito da administração provincial o Conselho de Governo, que tinha por atribuição
propor, discutir e deliberar sobre os negócios provinciais, exceto projetos de interesse geral da Nação. O Conselho de
Minas Gerais foi o primeiro organizado no país, em 1825, e existiu até 1834, quando foram criadas as Assembléias
Legislativas Provinciais com a reforma da Constituição. A análise dessa experiência é bastante reveladora dos instru-
mentos de ação política utilizados pelos nossos liberais da época para fazer valer no cenário político nacional os
interesses locais. No Conselho, por exemplo, Bernardo Pereira de Vasconcelos, também deputado, e dos mais atuan-
tes, exercia importante liderança, como no caso da batalha que se travou nos anos de 1825-26 contra a tentativa de um
monópolio dos ingleses sobre a exploração dos diamantes em Minas. Além de Vasconcelos, praticamente todas as
principais figuras politicas mineiras passaram pelo Conselho, o que já denota o seu interesse enquanto importante
canal de participação e representação política, mas também de discussão e circulação das idéias liberais nesse mo-
mento inicial da configuração política da Nação.

Marcello Otávio Neri de Campos Basile - UFRRJ


"O negócio mais melindroso": reforma constitucional e composições políticas no parlamento regencial (1831-
1834)
O trabalho analisa o debate parlamentar acerca das reformas constitucionais - em particular, a questão do sistema de
governo (centralização, descentralização, federalismo) -, transcorrido desde 1831, com a elaboração do projeto Miran-
da Ribeiro, até 1834, com a aprovação do Ato Adicional á Constituição. Serão abordadas as diversas propostas então
apresentadas e as diferentes posições a respeito assumidas pelos representantes das três facções políticas concor-
rentes no período: os chamados liberais moderados, liberais exaltados e caramurus. Breves relações serão feitas com
as discussões sobre o assunto travadas por esses grupos em outros espaços, mais informais, de ação política, como
a imprensa, as associações e os movimentos de rua. Tais embates são vistos, portanto, como um importante indicador
das composições políticas regenciais e também, ao culminarem no Ato Adicional, como um divisor-de-águas dessas
tendências, suscitando uma rearticulação do campo político imperial.

Maria Fernanda Vieira Martins - FFP/UERJ


Da perseverança das atrevidas doutrinas centralizadoras: a política imperial entre a Corte e as províncias
(1842-1889)
Uma das principais ações que envolveram a elite política imperial após o Regresso dizia respeito á construção de uma
autoridade central, medida vista como fundamental para a consolidação do regime constitucional após os conturbados
anos das Regências. Entretanto, o governo viu-se diante de um poderoso obstáculo, representado pelo crescimento
das autoridades locais e das assembléias provinciais em decorrência das disposições descentralizadoras do Ato Adi-
cionai de 1834. O objetivo desse trabalho é analisar a ação política imperial no sentido da centralização - consideran-
do o controle das disposições autonomistas provinciais e a consolidação da unidade política e administrativa -,
tomando por base os debates, projetos e pareceres do Conselho de Estado (1842-1889), instituição á qual se conce-
deu amplos poderes sobre a política provincial. Assim procura-se demonstrar como a eterna vigilância sobre as ações
dessas câmaras gerava uma tensão latente, que impunha ao governo um enorme esforço de negociação cujo sucesso
parecia cada vez mais incerto, uma vez que crescia progressivamente a intolerância provincial frente ás ações centra-
lizadoras, que engessavam o desenvolvimento da política regional.

492
Vitor Izecksohn - UFRJ
O conflito entre poderes centrais e locais no Rio de Janeiro e Nova Iorque. Recrutamento militar, elites políti-
cas e conflitos raciais na década de 1860
O objetivo deste trabalho é comparar as condições de incorporação de negros aos exércitos Imperial e da União
durante a década de 1860. No caso fluminense, analisarei as políticas de alforria, implementadas para a rápida incor-
poração de ex-escravos às forças imperiais. No caso nova-iorquino, analisarei os debates sobre a formação do New
York Colored Troops (NYCT), os batalhões negros locais que participaram da guerra civil. Classificarei os repertórios
de resistência das lideranças locais à extensão do recrutamento militar, bem como as medidas de emergência imple-
mentadas para suplantar esses obstáculos, efetivando maior controle dos poderes centrais e a construção de burocra-
cias especializadas. Detalharei os padrões das negociações sobre direitos, bem como as formas como o crescimento
dos poderes centrais, nos dois casos, foram percebidas pelas populações mais diretamente afetadas por sua expan-
são.

Rodrigo da Silva Goularte - UFES


Assembléias Provinciais e a cidadania no Brasil: o caso do Espírito Santo
No contexto composto pela instauração do Ato Adicional (1834) e de um sistema eleitoral indireto e censitário, são
criadas as Assembléias Legislativas Provinciais. São espaços políticos institucionais onde os cidadãos da época depo-
sitavam suas demandas provinciais. No espirito santo a elite política regional, em formação desde o inicio do XIX, se
consolidou nesse parlamento e buscou lidar com as demandas locais, intercedendo junto ao Governo Geral, num
momento favorável à ruptura com o centro.

Nancy Rita Sento Sé de Assis - UNEB @


Império de Magistrados: Cultura Política, Poder e Cidadania na Bahia oitocentista.
Maior instância juridica fora dos limites territoriais da metrópole do Império Português, até 1751, a Relação da Bahia
ainda espera uma abordagem mais aprofundada da sua história. Criada efetivamente em 1609, contou em seus qua-
dros os nomes mais importantes da Colônia e do Império do Brasil. Passagem obrigatória para as Assembléias e o
Senado do Império, as comarcas do recôncavo baiano e o Tribunal de Relação da Bahia são aqui objeto de nossa
análise. Interessa-nos examinar, através do estudo da trajetória de alguns magistrados baianos, a atuação de juízes e
desembargadores nos processos de consolidação do poder político das elites baianas e de construção da cidadania ""
E
no Brasil do século XIX. c:::
Q)
'-'
E
Santiago Silva De Andrade - UERJ 6
co
A Casa Imperial do Brasil: o difícil começar de uma tradição (1821-1831) c:::
Este trabalho tem como objetivo discutir algumas questões relativas ao processo de construção de uma casa dinástica '2
em solo americano, entre a partida de D. João VI do Rio de Janeiro, em 1821, e a abdicação do Imperador D. Pedro I, ~
em 1831. Herdeiro das tradições que compunham o material simbólico da Casa Real portuguesa desde o século XVII, ~

o jovem D. Pedro logo teve que lidar com as dificuldades inerentes a tarefa de construir um universo doméstico no qual Q)

fosse ele o pater familias: problemas de legitimação de autoridade frente aos criados da Casa, composição dos (no- .~
vos) quadros dirigentes da Casa Imperial do Brasil, dificuldades administrativas e financeiras, dentre outras. Ao levar a ~'
cabo tais esforços, D. Pedro não hesitou em lançar mão de velhos artifícios característicos das cortes ibéricas, dentre
eles o mais comentado por seus adversários, a escolha de 'preferidos' para cargos importantes da Casa Imperial, Este
trabalho visa levantar alguns questionamentos acerca dos primórdios da organização doméstica daquela que seria a
única casa dinástica em território americano até o final do século XIX.

Vantuil Pereira - UFF


"Ao Soberano Congresso": Petições, requerimentos e queixas ao parlamento - A construção dos direitos
civis e do cidadão no Primeiro Império brasileiro (1822-1831)
O presente trabalho procura discutir a inserção das camadas populares no contexto da construção da cidadania no
Primeiro Império brasileiro. Através da apresentação de requerimentos populares, pode-se vislumbrar a luta pelos
direitos civis, bem como a consolidação de uma perspectiva de cidadania. Pretendemos contextualizar o nosso traba-
lho através da análise da dissensão política presente nessa conjuntura, envolvendo a Câmara dos Deputados, o
Senado Imperial e o próprio Imperador. Num segundo momento, faremos uma análise mais detalhada dos requerimen-
tos, evidenciando uma relação ambígua no pensamento destes populares no que se refere à permanência do Antigo
Regime e a própria constitucionalidade, fruto das Revoluções iniciadas na Europa em finais do século XVIII. Destaca-
remos que a apresentação de requerimento ao parlamento estaria relacionada com uma estratégia dos requerentes
face à nova consolidação institucional ocorrida nos primeiros anos da Independência do Brasil.

493
18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h ás 18h)

Serioja Rodrigues Cordeiro Mariano - UFPB


Nacionais X Europeus: as luzes contra as trevas na Província da Paraíba (1823-1824)
Em uma proclamação de 23 de agosto de 1823, a Junta Governativa da Província da Paraíba solicitava que os habitan-
tes da vila de Itabaiana não machucassem os portugueses, porque chegavam notícias de que a população local estava
expulsando-<ls. Podemos perceber, nos decretos enviados á Província pelo poder central, nos anos de 1822 e 1823, a
existência de um discurso que pregava a necessidade de se criar uma 'identidade brasileira', de se contrapor o 'ser
brasileiro' ao 'ser português'. Os discursos antilusitanos foram usados, no dia-a-dia, para fundamentar as represálias
aos portugueses, o que se justificava pelo temor das autoridades locais de que os estrangeiros agissem contra a
'Causa do Brasil', ou mais especificamente, contra a 'pátria local'. Neste trabalho pretendo mostrar as estratégias
utilizadas na teia de relações de poder local para a manutenção, ou aquisição, de cargos que, até então, eram ocupa-
dos, em grande parte, pelos portugueses. As atitudes tomadas remontam ás questões políticas e á construção do "ser
brasileiro' e do "ser português', estratégias discursivas que buscavam, fundamentalmente, resguardar o prestígio e o
status social das camadas dominantes locais.

Rosângela Ferreira Leite - PUCCAMPINAS


Nos Limites da Colonização: ocupação territorial, organização econômica e populações livres pobres (Guara-
puava 1808-1821)
Nesta comunicação pretende-se discutir o processo de colonização da região de Guarapuava. Por meio das medidas
tomadas a partir da chegada da corte portuguesa ao Brasil, procura-se analisar a relação entre ocupação dos sertões,
organização da mão-de-obra e das terras. Ao mesmo tempo, busca-se refletir sobre o contexto de implementação
dessas medidas, e as transformações do próprio paradigma de colonização, encetadas no periodo entre 1808 e 1821.

José Iran Ribeiro - UFRJ


A Guerra dos Farrapos e a construção das identidades brasileiras
Durante o decênio da Guerra dos Farrapos milhares de militares foram deslocados para formar o Exército Imperial em
luta contra os republicanos rio-grandenses. Eram paulistas, baianos, pernambucanos, entre os muitos que vieram lutar
ao lado dos sulinos fiéis ao trono. Esta guerra já foi tratada por diversos autores de inúmeras maneiras, mas até o
agora não se analisou como estes individuos, de tão diferentes origens provinciais, foram reunidos no Exército e,
principalmente, o que esta reunião pode ter significado para os que faziam parte dele, assim como para os habitantes
do Rio Grande do Sul. O agrupamento de tantos 'Brasis' num determinado espaço, tanto contribuiu para ampliar as
noções de brasilidade daquelas gentes, como lhes permitiu uma melhor definição das suas próprias identidades.

Aline Pinto Pereira - UFF


Da reciprocidade entre os Estados: as convenções de paz e o término da Guerra da Cisplatina
A presente comunicação pretende analisar o processo que deu origem a Convenção de Paz, assinada em 27 de
agosto de 1828, sob intermediação inglesa, selando o término do conflito entre Brasil e Buenos Aires pela Provincia
Cisplatina. Argumentamos que o acordo de paz firmado entre as partes tinha como base o principio de reciprocidade
entre os Estados. Estes, salvaguardando suas especificidades, estavam se inserindo no cenário intemacional da
época, tendo como pano de fundo a consolidação da Soberania e de um projeto de nação. Pretendemos demonstrar
também como as pretensões hegemônicas no Prata expressaram a capacidade de mobilizar e dirigir o Brasil para a
sua consolidação como Estado Imperial - o que se cristalizava por meio de sua política externa e interna.

Silvia Cristina Martins de Souza - UEL


O teatro de São Januário e o " corpo caixeiral: teatro, cidadania e construção de identidade no Rio de Janeiro
da segunda metade do século XIX
Este texto tem como objetivo acompanhar algumas questões e dimensões que marcam o processo de construção da
experiência de cidadania no Brasil Imperial a partir de um grupo de trabalhadores do Rio de Janeiro: os chamados'
rapazes do comércio' ou caixeiros. Elegendo o teatro de São Januário como seu teatro cativo, os caixeiros o transfor-
maram num espaço de reivindicação de seu pertencimento social, de luta por reconhecimento de seus direitos sociais,
e numa tribuna privilegiada para dar visibilidade ás suas idéias e visões de mundo contando, para tanto, com o apoio
de empresários teatrais e dramaturgos que nele atuaram.

Alexandre Mansur Barata - UFJF


Joaquim Gonçalves Ledo: idéias e práticas políticas no tempo da Independência
Joaquim Gonçalves Ledo nasceu no Rio de Janeiro em 1781 e morreu em 1847 aos 66 anos de idade. Foi editor,
juntamente com Januário da Cunha Barbosa, do periódico Revérbero Constitucional Fluminense (1821-1822) e atuou
decisivamente nos principais acontecimentos que tiveram lugar no Rio de Janeiro na conjuntura da Independência do

494
Brasil. Desta forma, o objetivo dessa comunicação é analisar, a partir da trajetória político-intelectual de Joaquim
Gonçalves Ledo, algumas das principais questões que mobilizaram os anos iniciais da construção do Estado Imperial
brasileiro: cidadania, nação, soberania, autonomia e liberdade.

Gladys Sabina Ribeiro· UFF


Nação e cidadania no jornal O TAMOIO. Algumas considerações sobre a Independência e a Constituinte de
1823
Analisaremos os conceitos de nação e de cidadania no jornal o TAMOIO, situando-os á luz do contexto brasileiro e
português. Depois de proclamada a Constituição portuguesa, o constitucionalismo em Portugal terminou com o golpe
de Vila Francada. No Rio, uma Comissão enviada por D. João VI tentou a reunificação politica. D. Pedro só ordenou o
desembarque com o reconhecimento da Independência, caso contrário, deveriam retirar-se. Saída a Comissão, uma
carta do Conde de Subserra pedia a Antônio Carlos, que julgava ainda ministro, apoio para a reunião dos Reinos - o
que foi estopim para a oposição andradina. O Tamoio publicou o documento e fez leitura própria da Independência:
resssaltou o papel dos Andradas no processo. Segundo afirmavam, a Nação brasileira era dividida nos que queriam a
separação e em uma porção "fraca e diminuta', amiga da união com Portugal. Os partidos dividir-se-iam ainda em
"absolutistas' e "corcundas', "constitucionais' e "exagerados ou democratas'. Os primeiros procuravam segurança
embaixo da sombra dos segundos; uma parte dos terceiros, aumentavam o número dos segundos. Todos queriam a
Independência, mas os primeiros, com a Monarquia Absoluta; os segundos, com a Constituição Monárquica, por fim,
os terceiros, "federando os Estados (sic)'.

Marcelo Cheche Galves . U E M A @ 2


"Homens de cor" no processo de independência da província do Maranhão
A provincia do Maranhão recebeu nos primeiros decênios do século XIX um grande contingente de escravos, em sua
maioria destinado à florescente lavoura de algodão. Dados de 1822 indicam que 77,8% da população da provincia era
composta por escravos e libertos. Objeto de preocupação dos autores que se dedicaram à elaboração de propostas
para o crescimento econômico da província, entre 1810 e 1820, estes 'homens de cor' ocuparam também espaços nas
cartas, folhetos políticos e periódicos que circularam em meio às lutas pela independência da província, permitindo
entrever os objetivos da elite local em restringir a potencial participação desta parcela da população e os sentidos
'perigosos' que termos como liberdade e independência poderiam expressar, perante a configuração de um novo B
Estado. Em 1825, o bacharel Manoel Paixão Santos Zacheo, personagem importante no debate jornalístico da provín- ~
cia, encaminhou a D. Pedro I o "Projeto do Novo Código Civil e Criminal', em que demonstrava a preocupação com as B
politicas a serem implementadas com relação a escravos e libertos. No projeto, a formalidade da linguagem jurídica (5
c::>
fundia-se com a aplicabilidade dos preceitos defendidos à realidade da província do Maranhão. c::
co
'E
Humberto Fernandes Machado· UFF .fg
Intelectuais, Imprensa e Abolicionismo no Rio de Janeiro :3
Apagar a "mancha da escravidão' era o objetivo de intelectuais que atuavam na imprensa ou no Parlamento, na '"
década de 1880, no Rio de Janeiro. Para que a propaganda abolicionista atingisse maior número de pessoas, eles 'B.
também participavam de diversos eventos, como conferências e comicios, para denunciar as mazelas do cativeiro. Os ~
senhores, representantes do 'atraso e conservadorismo' eram acusados de dificultar a entrada do Brasil no rol das
'nações civilizadas'. Faziam também parte do movimento grupos urbanos que não dependiam diretamente do braço
escravo.

I 19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h às 16h30min)


Tania M T Bessone Da Cruz Ferreira· UERJ
Imprensa e resenhas no Brasil: divulgação, críticas e polêmicas
As resenhas a livros apareceram nos primeiros jornais brasileiros, e originalmente se caracterizaram como caudatárias
de uma tradição existente em jornais ingleses do século XVIII. Um dos precursores, no Rio de Janeiro, foi O Patriota
(1813-1814). Por decisão do editor era um espaço fixo, na última página do jornal, na qual havia referências às publi-
cações recentes, com uma pequena ementa, a guisa de comentário, sobre o autor e a obra. Posteriormente, em
periódicos como o Jornal do Commercio, O Pais, Diário do Rio de Janeiro, Gazeta de Notícias as resenhas tomaram
uma dimensão mais ampla, e passaram a ocupar maior número de colunas, além de incorporarem criticas políticas e
literárias, ampliando dessa forma o seu público, Em alguns jornais apareciam como desdobramentos dos reclames de
livrarias que divulgavam as obras mais recentes. Em outros, eram acompanhados de textos que além de divulgar
novas publicações, eram assinados, com comentários politicos e literários, de um número cada vez mais significativo
de homens de letras. Um dos casos que destacarei é a polêmica em torno da obra de Júlio Ribeiro - A carne, que

495
sofreu profundas criticas do padre português Sena Freitas, e atraiu réplicas e tréplicas, em virtude das posições
político-religiosas conflitantes.

Moema de Rezende Vergara - Museu de Astronomia e Ciências Afins/MCl


Ciência, cultura e público: periódicos cientificos-literários no Rio de Janeiro oitocentista
Nas últimas décadas do Império era inegável a importância que a ciência tinha no Brasil, seja pelas iniciativas do
Imperador, seja pelos esforços de nossa elite letrada. Uma via de análise para conferir tal afirmação está na leitura dos
periódicos científico-literários que então circulavam na Corte. Dentre eles, destacamos 'O Vulgarizador: jornal dos
conhecimentos úteis" (1877 -1880), que tinha por objetivo 'estar ao alcance de todas as inteligências', entretendo o
leitor com as novidades do mundo da ciência". Além disto, era objetivo da publicação a formação de um pensamento
genuinamente brasileiro, no qual ciência e literatura tinham um lugar de destaque. O editor desta revista era o literato
Augusto Emílio Zaluar, que publicava em suas páginas tanto obras literárias de José de Alencar e Araripe Jr., quanto os
trabalhos dos cientistas nacionais, como Batista de Lacerda e Barbosa Rodrigues. Cabe chamar a atenção para o fato
de que nesse periódico havia um projeto de modernização nacional, que ganhou interessantes contornos, como por
exemplo, no contexto do debate abolicionista. Assim, observamos o papel que a ciência e a tecnologia desempenha-
ram na questão da substituição da mão-de-obra escrava, num momento de profundas mudanças sociais e políticas da
sociedade brasileira.

Julio Cesar Bentivoglio - UFG


A nação sob o olhar das paixões e das razões politico-partidárias: o Império do Brasil no panfleto A Dissolu-
ção do Gabinete de 5 de maio de Firmino Rodrigues Silva
Panfletos políticos constituíram uma prátjca corrente nas disputas pelo poder na Europa e no Brasil. Aqui, foram
decisivos nas jornadas da emancipação. Acidos e inflamados, estes textos permitem compreender da arena polítíca,
seus atores e projetos, elaborando imagens da nação em construção. Esta comunicação toma um panfleto redigido por
Firmino Rodrigues Silva, em 1847, intitulado A Dissolução do Gabinete de 5 de maio ou A Facção Áulica, para analisar
o modo como ele apresenta a trajetória da jovem nação e a atuação das forças políticas existentes. Este impresso fez
uma denúncia que abalou o império e suas instituições: a de que um grupo agia nos subterrâneos da corte e do Estado,
decidindo a sorte de ministros e gabinetes - a facção áulica. Valendo-se de argumentos racionais, mas tingido pelas
paixões políticas, este panfleto pouco explorado pela historiografia, face a outros mais conhecidos como ação reação
e transação, revela, sob o olhar de um conservador, a história política da nação. Ele introduziu uma polêmica que
inflamaria representantes de diferentes partidos e aqui permitirá analisar o panfletismo político no segundo reinado e
também servirá de mote para se propor uma nova interpretação sobre o processo de formação dos partidos políticos
brasileiros.

Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves - UERJ


Avisos de livros nos periódicos luso-brasileiros: um instrumento dos acontecimentos políticos (1808-1824)
Na conjuntura histórica das primeiras décadas do século XIX, os anúncios em jomais - chamados à época, muitas
vezes, de avisos - surgiram como um elemento primordial para a venda de qualquer produto, pois constituíam-se
como ofertas públicas. No caso deste trabalho, pretende-se analisar os anúncios de livros, que, para além de seu
caráter comercial, apresentavam um caráter informativo, por meio de algum tipo de comentário acerca da obra publica-
da. Através desses pequenos avisos, é possível, então, estabelecer uma relação com a conjuntura política. Desse
modo, se, entre 1808 e 1820, os anúncios, sobretudo de livros de história e escritos de circunstâncias, procuravam
moldar o súdito ao novo império luso-brasileiro, a partir de 1821, com a eclosão do movimento constitucionalista e o
advento de uma relativa liberdade de imprensa, os avisos começaram a indicar, ainda que de forma tênue, a formação
de um cidadão. Sem dúvida, tanto num caso como no outro, significava um processo que ocorria de cima para baixo,
através da função diretiva das elites ilustradas, que pretendiam representar um ponto de equilíbrio entre o soberano e
o povo.

Wlamir Silva - UFSJ


"Amáveis Patrícias": o Mentor das Brasileiras e a construção da identidade da mulher liberal em Minas Gerais
(1829-1830)
O Mentor das Brasileiras foi um periódico voltado para o público feminino na vila de São João dei Rei, província
brasileira de Minas Gerais, no contexto de ampliação do espaço público e expansão da imprensa periÓdica de fins do
Primeiro Reinado e início do período regencial (1829-1830). Aquele periódico interagiu com um público feminino de
certa importância social e instrução, no contexto de uma pedagogia liberal-moderada, e, dentro desses limites, propi-
ciou-lhe argumentos emancipatórios, uma incipiente aproximação da esfera pública e construiu a identidade da mulher
liberal.

496
Lucia Maria Paschoal Guimarães UERJ
A Guerra do Paraguai nas páginas da "Semana Ilustrada"
A comunicação abordará o projeto de publicação da história ilustrada da Guerra do Paraguai em fascículos, par e
passo ás ações do conflito, desenvolvido pelo caricaturista Henrique Fleiüss, por meio de suplementos incorporados
ao conteúdo da revista "Semana Ilustrada'. Se, por um lado, a iniciativa deve ser considerada um trabalho de jornalis-
mo pioneíro, pela qualidade das imagens e das informações divulgadas, por outro, constituiu um dos principais ele-
mentos de propaganda em prol do esforço de guerra, que buscava despertar os sentimentos cívicos dos cidadãos do
Império.

I 20107 - Sexta-feira - Manhã (10h30min ás 12h30min)


Frederico de Castro Neves UFCE
O "bolsinho do Imperador': caridade e crise do paternalismo nos anos de 1870
As relações estabelecidas entre os milhares de retirantes da seca de 1877, no Ceará, e o Imperador D. Pedro 11 ainda
estão por serem esclarecidas do ponto de vista da História Social. Registradas aos olhos de contemporâneos letrados,
como Rodolfo Teófilo ou José do Patrocínio, tais relações aparecem marcadas pelo paternalismo e pela confiança de
que os pobres não deixarão de ser assistidos pelO piedoso monarca. D. Pedro, assim, parece centralizar uma rede de
beneficiáríos diretos, que passa por fora dos mecanismos políticos nacionais em formação. A caridade, portanto, pare-
ce organizar essas relações; mas a seca vem desorganizar essa aparência de harmonia social entre pobres e ricos,
provocando fraturas no paternalismo, quando aparecem críticas permanentes aos procedimentos oficiais de assistên- ~
cia aos pobres retirantes. Do ponto de vista dos retirantes, contudo, a crise talvez apareça como incapacidade ou ~
íncompetência dos governantes locais em satisfazer as vontades do Imperador. Do ponto de vista dos intelectuais
letrados da Província e da Corte, contudo, o momento é propício para repensar a própria estrutura política do Pais.

Célia Regina da Silveira· UEL


Erudição e Ciência: as procelas de Júlio Ribeiro no Brasil Oiticentista
Este trabalho tem como objetivo empreender uma análise conjugada da experiência social de Júlio Ribeiro e de seus
textos no âmbito das letras paulistas, entre as décadas 1870 e 1890. Num contexto marcado pela inexistência de um ""
campo intelectual autônomo, o autor em estudo foi um exemplo típico do letrado, pois atuou como professor, jornalista, Bli5
publicista e literato - enfim, um homem de letras no rigor da expressão. Entretanto, a imagem preponderante que se .ê
cristalizou dele foi a de um autor de um romance "obsceno' - A Carne (1888) -, elaborada por seus coetâneos e D
perpetuada na memória histórica. Na presente comunicação, busca-se ultrapassar esse rótulo estigmatizador, privile- oc::
giando o conjunto de .seus escritos - os quais contêm importantes marcâs de sua trajetória e, além de permitirem .~
alcançar uma visão menos restrita da atuação do autor, possibilitam reconstituir suas relações sociais no universo .{g
letrado. .{g
'u
Anita Correia Lima de Almeida· Unirio '"
.~
Em nome da reputação pública: a Memória sobre o governo de Macau de Lucas José de Alvarenga ~.
Nascido em Minas, na Vila de Sabará, em 1768, Lucas José de Alvarenga formou-se na Universidade de Coimbra e
em 1808 foi para Goa como ajudante de ordens do vice-rei Conde de Sarzedas. Em seguida foi nomeado govemador-
geral de Macau, exercendo o cargo até 1810. Como governador, viveu um período conturbado da história de Macau,
com a luta contra os piratas chineses e a presença dos ingleses. Depois de deixar a China, instalou-se no Rio de
Janeiro, onde estava a corte. Nunca mais tendo ocupado cargos na administração, dedicou-se á literatura, escreveu
peças de teatro, uma novela - obra pela qual é mais conhecido hoje - um livro de poemas e uma Memória sobre a
expedição do governo de Macau [... ] em socorro ao Império da China contra os insurgentes piratas chineses (RJ,
1828), acrescida mais tarde de Observações á Memória [... ] com um resumo da sua vida. A obra foi escrita como
resposta à publicação de um livro sobre o episódio no qual a participação do governador não é ressaltada. A intenção
aqui é tratar mais particularmente dessa Memória. O objetivo é estudar as relações entre a trajetória de Lucas José de
Alvarenga na administração ultramarina, os contatos que travou com a imprensa da época e a maneira como, afinal,
elaborou a narrativa sobre sua atuação no governo de Macau.

Ariane Norma de Menezes Sá . UFPB


A elite política paraibana: entre a permanência e a desvinculação ao Império Ultramarino Português
A pesquisa identifica a participação dos mernbros da elite política paraibana no processo que levou o Brasil a se
desvincular do império ultramarino português, buscando equacionar suas ações e manobras para se inserir nas Juntas
Governativas designadas pelo governo estabelecido em Lisboa e as nomeadas pelo Rio de Janeiro, analisando as
acomodações políticas e os discursos utilizados para defender suas posições.

497
20107 - Sexta-feira - Tarde (14h às 18h)

Silvia Carla Pereira de Brito Fonseca - UERJ


170 anos da Sabinada: história e historiografia
Com a passagem dos 170 anos da aclamação da Bahia como 'Estado independente' até a maioridade de d Pedro 11,
como consignava a ata de 11 de novembro de 1837, quatro dias após o primeiro pronunciamento, a Sabinada ainda
desafia os historiadores. Algumas questões suscitam polêmicas entre os estudiosos do assunto como por exemplo:
quais seriam os laços que uniam os federalistas dos primeiros anos do período regencial e os sabinos, ou mesmo a
proclamação da república na Bahia em 1837, associada ao juramento de fidelidade ao Imperador. A partir da polisse-
mia do conceito de República naquele momento indaga-se qual seria seu entendimento pelos integrantes da Sabinada.
Em que medida este conceito seria relacionado à federação, entendida esta como autonomia legal, jurídica e administra-
tiva nos moldes do federalismo norte-americano ou, por outro lado, assinalaria a recuperação do registro do Antigo Regi-
me, orientando-se pelos parâmetros de um Império pluralista que consignasse a autonomia local. Esta comunicação tem
por finalidade abordar tais questões à luz dos jornais que circularam na Bahia em 1837, em particular O Novo Diario da
Bahia, A Luz Bahiana e O Novo Sete de Novembro, bem como avaliar a historiografia pertinente ao tema.

Karoline Carula - Unicamp


As Conferências Populares da Glória como espaço de sociabilidade e formação de opinião pública, 1873/1880
Na década de 1870, no Rio de Janeiro, foram realizadas conferências na escola pública da Freguesia da Glória,
conhecidas como Conferências Populares da Glória. Idealizadas e organizadas pelo conselheiro Manoel Francisco
Corrêa, tinham como objetivo divulgar a ciência, as artes e a literatura. Pertencer ao mundo civilizado era o desejo de
larga parcela da elite brasileira, e a ciência era vista como o veiculo que levaria o país a percorrer o caminho rumo à
civilização. O público freqüentador era composto pela camada letrada da sociedade, que acolheu de forma positiva as
Conferências, que se firmaram como mais um espaço de sociabilidade na Corte. Com isso, discutirei como as Confe-
rências obtiveram força política, constituindo-se como um espaço público privilegiado para a formação de opinião
pública. A repercussão na imprensa foi importante tanto por dar legitimidade ao espaço das Conferências, quanto por
reverberar discussões sucedidas, colaborando na disseminação e cristalização das idéias apresentadas. A relação
entre as Conferências e a imprensa era uma via de mão dupla, visto que esta se definia como uma tribuna pública.
Desta forma, analisarei o papel deste local de formação de opinião pública para a discussão de temas que também
eram abordados em outros espaços públicos.

Cláudia Rodrigues - Universidade Salgado de Oliveira


Cidadania e morte no Oitocentos: as disputas pelo direito de sepultura aos não-católicos na crise do Império
(1869-1891)
A segunda metade do século XIX evidenciou de modo candente as demandas dos não-católicos num Império fundado
sob o sistema de união entre Igreja e Estado. Por mais que a Constituição lhes garantisse o direito de culto privado,
reconhecesse como cidadãos os estrangeiros naturalizados e afirmasse que ninguém poderia ser perseguido por
motivo de religião, na prática, ser católico era condição e critério para o exercicio da cidadania. A inexistência de um
Código Civil e do Registro Civil de nascimentos, casamentos e óbitos, tornavam a ação da burocracia eclesiástica um
forte empecilho ao pleno gozo de direitos civis aos não-católicos, a exemplo do de transmissão de heranças. Em fins
da década de 1860, na conjuntura das acirradas disputas entre regalismo e ultramontanismo e da intensa campanha
em defesa da causa protestante, a hierarquia eclesiástica promoveu uma série de interdições ao sepultamento dos
não-católicos em cemitérios 'públicos', sob o argumento de que eram destinados aos cidadãos do Império. Questões
que pretendo analisar, na busca de compreender de que modo a morte e o morrer foram significativos aspectos através
dos quais se expressaram as disputas em torno da ampliação dos direitos de cidadania num Império escravista e
católico.

Alessandra Frota Martinez de Schueler - UERJ


Professores primários como intelectuais da cidade: um estudo sobre produção escrita e sociabilidade intelec-
tual (Corte Imperial, 1860-1889)
No campo da história da educação, o estudo, em andamento, tem como objetivo analisar as experiências profissionais,
coletivas e individuais de professores primários na Corte Imperial, contemplando suas possiveis origens sociocultu-
rais, assim como os espaços de participação política e as possibilidades de diálogos acerca das questões educacio-
nais que circulavam no Oitocentos. A pesquisa visa a investigar a formação, o ingresso e a trajetória no magistério
público bem como as contribuições de professores e professoras primárias na construção da cultura escolar, sua
participação nos grupos de sociabilidade intelectual e sua produção escrita no campo dos saberes e das práticas
pedagógicas. O recorte temporal contemplado corresponde a segunda metade do século XIX, um período de transfor-
mações políticas, econômicas, sociais e culturais, no qual tanto o Estado quanto as instituições escolares estavam se
constituindo, juntamente com novas representações sobre a nação e a educação brasileiras.

498
63. O ensino de história e os desafios do tempo presente
Nilton Mullet Pereira (UFRGS) e Sirlei Teresinha Gedoz (UNISINOS)
16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h às 18h)

Flávia Eloisa Caimi - UPF


Uma mirada sobre o livro didático regional de História: o caso do Rio Grande do Sul
O estudo comporta uma análise das condições de produção e consumo do livro didático no/do Rio Grande do Sul,
problematizando questões da seguinte ordem: por que um estado com tão fortes raízes e tradições culturais não
consegue fazer penetrar na escola básica o conhecimento cientifico produzido acerca da sua história? Como se articu-
la a qualificada pesquisa acadêmica desenvolvida no âmbito dos programas de pós-graduação em História com a
produção didática? Em que medida essa produção alcança efetivamente o espaço escolar pela via do livro didático e
produz ressonância no trabalho pedagógico dos professores e professoras de séries iniciais? Trilhando os caminhos
de uma pesquisa documental, seu corpus é constituído de dois tipos de fonte: 1) os Guias de 1" a 4" séries do PNLO,
em especial os referentes aos anos de 2004 e 2007; 2) uma amostra dos livros didáticos tidos como os mais adotados
nas escolas gaúchas, nas décadas de 1990 e 2000, indicados ou não no PNLO.

Andrés Alarcón Jiménez • UNICAMP


Construção do sujeito e do individuo no "Compendio da Historia de Colômbia", de Jesus Maria Henao e
Gerardo Arrubla
O livro didáctico mais importante destinado ao ensino da História de Colômbia, parte de uma politica estatal de nível
nacional, foi redigido por Jesús Maria Henao e Garado Arrubla, advogados que, em 1910, ganharam o concurso
público criado para celebrar os primeiros 100 anos da independência do país. A maioria de historiadores colombianos
contemporâneos e de colombianos em geral, de mais de 50 anos, educaram-se com ele. Se un dos objetivos dessas
histórias e dar aos cidadãos uma visão para compartilhar, as perguntas a serem respondidas serão: qual é a visão do
sujeito que eles contêm, qual é a importância deles na formação de uma ideia de história e qual e a importância da
ideia da história na formação do sujeito?

Luiz Alberto de Souza Marques· UNISUL


Encontros e desencontros entre a história local e regional eos textos didáticos estudados nas escolas da
região colonial italiana do RS
O presente trabalho apresenta resultados de uma pesquisa realizada junto a 15 professores atuantes em séries iniciais
do Ensino Fundamental, em quatro comunidades, nos municipios de Bento Gonçalves e Garibaldi/RS, realizada em
2001. Objetivou a construção de proposta metodológica de iniciação ao ensino de História nas séries iniciais do Ensino
Fundamental- Estudo do Meio -A escolha desta região deveu-se ao fato de os atores envolvidos - alunos, professores
e comunidade - serem descendentes de imigrantes italianos. O recorte no estudo a ser mostrado no evento se refere
ás discrepâncias detectadas entre os elementos simbólicos de uma cultura presentes nos textos didáticos ao tratar da
ocupação do Rio Grande do Sul por diferentes grupos de imigrantes e a realidade histórica/cultural na construção da
história local e regional. Para tanto, foram analisados seis autores e nove obras que produziram textos didáticos entre
1985 e 2000 distribuídos pelos programas oficiais destinados ao ensino de História do Rio Grande do Sul nas séries
@
63
iniciais do Ensino Fundamental.

Neide Almeida Fiori • UNISUl

ª
O livro didático na perspectiva dos autores - desafios e dilemas: o caso do livro didático "Santa Catarina de
todas as gentes: história e cultura" 8.
Esta comunicação refere-se ao livro 'Santa Catarina de todas as gentes: história e cultura' (base editora) destinado à
3" série do ensino fundamental- plano nacional do livro didático/2007. O livro, ilustrado com mais de 300 imagens, foi .g
escrito a partir de um convite formulado por editora. Uma das autoras assume a presente proposta e seu objetivo é ~
analisar desafios e dilemas enfrentados. Alguns, de natureza operacional como organização da equipe, obtenção de 'g;
apoiO financeiro mediante a concessão de -horas de pesquisa" etc. Outros, de natureza teórica que levaram à tomada ~
de duas decisões fundamentais: 1) a reflexão teórica deveria estar presente mas situada como pano de fundo em '" o
relação ao texto elaborado (o que Jurandir Malerba fez em 'a corte no exílio', companhia de letras, 2000); 2) os :
conceitos teóricos, todavia, deveriam ser explicitados sempre que se julgasse necessário, o que está bem evidente no ~
manual do professor em análises como teoria histórico-cultural; a nova história; cultura e teoria curricular; a teoria da ~
avaliação; história e arte. Ocorreram também decisões de ordem política como a de privilegiar grupos sociais que ~
historicamente estiveram oprimidos ou limitados em sua ação - as populações indígenas e de origem africana. o
c::
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Cl)

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499
Fernando Seffner - UFRGS
Das (possíveís) perversas faces das políticas de inclusão escolar: o que o ensíno de História tem a ver com
isso
Em conexão com o foco do simpósio temático - o ensino de história e os desafios do tempo presente - elegemos como
campo de reflexão para esta comunicação a inclusão escolar, ou as politicas de inclusão, que constituem hoje um
importante discurso na área de educação e na elaboração de políticas públicas. A idéia de 'incluir"; o desejar-se
"incluído"; a reivindicação de "inclusão" e o combate aos mecanismos de 'exclusão' estão presentes de forma potente
nas falas de muitos atores sociais. Dentre desse campo recortamos as seguintes questões: a inclusão é "sempre boa"?
Os processos de inclusão são sempre desejáveis? Quem desenha, gerencia e controla as políticas de inclusão? De
que formas serão conduzidas às negociações com a cultura de grupos específicos ao longo de um processo de
inclusão? Demais indagações, nesse eixo já delineado. Questões que serão abordadas na comunicação: o exame dos
conceitos de inclusão e exclusão na ótica de Foucault; a inclusão como estratégia de 'normalização" cultural; diferen-
ças entre simples acesso (aos bancos escolares) e inclusão 'de verdade"; conexões entre processos de inclusão,
identidade cultural, diversidade e diferença; inclusão e aprendizagem; tarefas do ensino de História nas políticas de
inclusão escolar.

Márcia Blanco Cardoso - Centro Universitário Feevale


Múltiplas leituras: o conceito de diversidade e a formação de professores
Esse trabalho visa apresentar algumas das atividades realizadas junto ao projeto "Múltiplas leituras: etnicidade, iden-
tidade e memória", vinculado ao programa de extensão universitária "Identidade, etnia e gênero", com os acadêmicos
do curso de História. Essas atividades ocorreram junto á comunidade kaingàng de São Leopoldo e foram organizadas
a partir de diagnóstico e planejamento com os professores indígenas, e que resultou numa série de oficinas denomina-
das "Jogos e brincadeiras de indios e não-índios", com a participação das crianças da comunidade. Um dos objetivos
do projeto é contribuir para a qualificação do profissional em formação, o fortalecimento do vínculo entre ensino,
extensão universitária e pesquisa, bem como entre a Instituição, comunidade e movimentos sociais. A partir dessa
articulação, acreditamos que é possivel refletir sobre a diversidade cultural, bem como a construção de espaços
promotores da cidadania, cujo respaldo deve ser, necessariamente, o respeito às diferenças étnicas e as singularida-
des dos sujeitos.

Patricia Cerqueira dos Santos - EE Professor Samuel Morse


Só para inglês ver? O Desafio Curricular do Ensino de História da África e Cultura Afro-brasileira ,
Para felicidade de vários movimentos sociais, foi instituida a obrigatoriedade do ensino de História da Africa e da
Cultura Afro-brasileira através da Lei 10639/03. Mas, para a inquietação de muitos, a falta de recursos que acompanha
sua implementação, revelam a fragilidade do sistema educacional brasileiro, trazendo para os docentes do ensino
básico, novos desafios. Para os docentes de história, que pelo menos em tese, já trabalhavam com a diversidade
étnico-cultural nos conteúdos em sala de aula, ensinar tornou-se uma tarefa ainda mais àrdua, por se tratar da história
(as) de um continente multicultural até então pouco estudado. Surgem questionamentos sobre os conteúdos e as
estratégias de ensino que evitem o afrocentrismo, idealismo e estereótipos. Como professora de história na Rede
Pública de Ensino do Estado de São Paulo, apresento neste paper parte de minha experiência com o objetivo de
provocar o debate na construção de ações que nos oriente e auxilie cotidianamente. Investir adequadamente na
instrumentalização sistemática de todos os educadores responsáveis pela formação de crianças e jovens é um apon-
tamento para que não fiquemos mais uma vez com uma lei, "só para inglês ver', como a lei de 1831 supostamente
terminaria com o tráfico de escravos da África.

Claudia Pons Cardoso - UNEB


Ensino da história e cultura afro-brasileira e africana: desafio para a diversidade étnico-cultural
A obrigatoriedade da inclusão da história e cultura afro-brasileira e africana nos curriculos escolares traz em seu bojo
novas demandas teórico-metodológicas que precisam ser incorporadas ao debate sobre ensino de História, objeto de
reflexões de profissionais da área empenhados em desenvolver novas abordagens e linguagens de ensino que propi-
ciem aos alunos condições para aprenderem a realizar uma leitura, histórica do mundo, transformando-os de especta-
dores em sujeitos produtores da História. O ensino da história da Africa e dos afro-descendentes apresenta-se como
perspectiva de mudança de uma educação eurocêntrica e excludente para uma educação pautada pelo respeito á
diversidade étnico-cultural, possibilitando de modo geral aos discentes o estudo de um conteúdo até então ocultado e
em particular aos estudantes negros a apropriação de sua historicidade, contribuindo para a sua construção identitária.
O trabalho, parte de uma pesquisa com 48 professores de história de escolas públicas do Recôncavo baiano em que
investigamos os referenciais teórico-metodológicos adotados, tem como objetivo analisar as práticas pedagógicas e
metodologias de ensino e o alcance das propostas dos docentes para a promoção da igualdade racial e valorização da
diversidade no cotidiano da sala de aula.

500
17/07 - Terça-feira - Tarde (14h ás 18h)

Marlene Rosa Cainelli . UEL


Apropriações e representações sobre a História:como os professores das séries iniciais lêem os manuais
didáticos
Esta comunicação pretende apresentar parte da pesquisa realizada pelo projeto: Educação Histórica iniciando crian-
ças na arte do conhecimento histórico. Esta investigação vem sendo realizada na cidade de Londrina, desde 2005, sob
minha coordenação. Os objetivos de nosso trabalho são investigar como crianças de 8 a 10 anos aprendem história e,
também, temos especial interesse em como os professores do ensino fundamental das séries iniciais ensinam Histó-
ria. Pretendemos delinear os caminhos do ensino de História nas séries iniciais e criar subsidias para a proposição de
uma metodologia específica para o ensino de História nos primeiros anos do ensino fundamental. Nesta comunicação
apresentaremos as conclusões parciais de nossa investigação sobre como os professores, em sua maioria formada
em pedagogia, entendem a História, se apropriam do conhecimento histórico e dos conceitos históricos presentes nos
livros didáticos de história. Nesse sentido, pretende-se refletir como o professor lê o manual, quais informações sele-
ciona para ensinar, em suma,qual história é ensinada nas séries iniciais do ensino fundamental.

Aléxia Pádua Franco· UFU/UNICAMP


AApropriação Docente dos Livros Didáticos de História: um processo de hibridização
Nesta comunicação pretendo apresentar resultados parciais de uma pesquisa de doutorado que tem como objetivo
investigar a apropriação, pelas professoras das séries iniciais do ensino fundamental de escolas públicas de Minas
Gerais, dos livros didáticos de História recomendados pelo Plano Nacional do Livro Didático (PNLD)/2004, desde seu
processo de escolha até sua utilização em sala de aula, analisando os limites e as possibilidades deles contribuírem
para uma maior valorização e construção de um ensino de História que rompa com a tradição dos Estudos Sociais, nos
10 e 20 ciclos do ensino fundamental. As análises até então desenvolvidas apontam para um processo de hibridização
entre o saber histórico escolar proposto pelo livro didático adotado e aqueles construídos pelas professoras em sua
trajetória profissional e pessoal. Vamos refletir sobre este processo através da exposição de um dos episódios obser-
vados em uma turma de 3" série de uma escola estadual de Uberlândia, Minas Gerais e analisado em diálogo com os
conceitos de apropriação (Chartier, De Certeau, Bourdieu, Foucault), saberes e práticas docentes (Tardif, Sácristan),
cultura escolar (Julia, Fraga, Forquin), saber histórico escolar (Rusen, Chervel).

Arnaldo Pinto Junior· UNICAMP


Livros didáticos de História para as séries iniciais do Ensino Fundamental: entre propostas estimulantes e
abordagens tradicionais
O trabalho procura analisar as propostas de ensino das coleções recomendadas pelo "Guia do Livro Didático 2007 -
História' aos professores das séries iniciais do Ensino Fundamental. Partindo da idéia de que a qualidade dos livros
didáticos melhorou desde a implantação do PNLD, acredito que os avanços alcançados na última década estão ainda
relacionados a linguagens aplicadas por manuais didáticos produzidos anteriormente. As mais recentes coleções
incorporaram inovações historiográficas e pedagógicas, trabalhando com referenciais estimulantes para a produção
de conhecimento. Em geral, os livros do primeiro ciclo (1' e 2" séries) buscam valorizar o estudante, suas experiências
e memórias, procurando construir conceitos fundamentais da disciplina através de diferentes fontes e atividades. Em ~63
contrapartida, os livros do segundo ciclo (3" e 4" séries) retomam práticas consolidadas de estudos baseados em ~
visões tradicionais, destacando grandes personagens, datas e fatos, entre outros aspectos. Nesse sentido, discuto as ~
potencialidades e limitações das coleções que abordam os estudos históricos com as especificidades descritas acima. c:: Cl>

'"
~
Cl.
Sandra Regina Ferreira de Oliveira· UNIOESTE g,
Por que este e não aquele? O processo de escolha dos livros didáticos de História nas séries iniciais do E
ensino fundamental ~
O trabalho a ser apresentado é resultado de pesquisa desenvolvida no ano de 2006 nas cidades de Cascavel e Santa ~
Helena, estado do Paraná. Por meio de entrevistas com professores e professoras da rede municipal de ensino ma- .g
peou-se como se procede a escolha e a utilização dos livros didáticos de História para as séries iniciais do ensino ~
fundamental. Os resultados nos levam a conhecer o cenário no qual as escolhas dos livros são realizadas e as estra- ~
tégias utilizadas pelas secretárias de educação, gestores e professores na busca de fazer uma escolha que atenda as ~
necessidades dos educandos e que se aproxime mais da proposta de História a ser ensinada, contemplada nosê
Projetos Pedagógicos. Ao estudar o processo de escolha dos livros didáticos adentra-se nas contradições do espaço t;
escolar e, principalmente, nos problemas quanto ao ensino de História. Por fim, busca-se com a divulgação destes ~
resultados, convidar os agentes envolvidos no processo de elaboração, avaliação e divulgação dos livros a conhece- ~
rem um pouco mais sobre o professor, esse agente que mediará a relação do aluno com o conteúdo e as atividades .~
propostas no livro didático. ~

501
Sirlei Teresinha Gedoz - UNISINOS
Aluno na Universidade, Professor na Escola Básica: (Des) Encontros no Estágio Supervisionado
Esta comunicação tem origem nas discussões do GT Estadual de Ensino de História e Educação/RS e da reflexão
decorrente da docência em disciplinas de prática de ensino na Universidade. A mesma aborda questões que se colo-
cam alunos/professores na hora de preparar seu estágio supervisionado. Nestas situações percebe-se o quanto de
conexão desconexão o aluno em situação de estágio apresenta em relação ao processo de conhecimento histórico no
curso de graduação. Paralelo a essa necessidade prática de conectar saberes do campo da história, do ensino e da
educação o estagiário se depara com a necessidade de estabelecer critérios, selecionar e preparar aulas que façam
sentido na escola básica. Discute-se, então, essa relação rica e conflituosa no campo de ensinos de história.

José Martins Ribeiro


A história ensinada por eixos temáticos:reflexões sobre a prática de professores do litoral sul do Estado de
São Paulo
Este trabalho é baseado no estudo realizado para o programa de mestrado da UNISANTOS entre 2004 - 2006. Pro-
põe-se a instigar uma reflexão sobre as apropriações que tem sido desenvolvida pelos professores da rede estadual
paulista sobre a proposta de ensino de história por eixos temáticos. Esta maneira de orgél:lIzar ensino de história foi
oficializada com a implantação da proposta de história da CENP (órgão da Secretaria do Estado de São Paulo) em
1992. A pesquisa orientou-se pela questão: "Passada mais de uma década da proposta dos eixos temáticos, como os
professores de História do ensino fundamental, na rede estadual paulista, têm-se apropriado desse procedimento de
ensino na prática cotidiana?' O estudo foi feito com professores que lecionam na rede estadual, litoral sul do Estado de
São Paulo. O objetivo é chamar a atenção para a importãncia de discutir a escola e as mudanças propostas levando
em conta o tema do desenvolvimento profissional dos docentes. Esse é um dos elementos importantes para se enten-
der como anda o trabalho do professor e o ensino de história nas escolas de Ensino Básico.

Maria Luiza Fernandes - UFRR


O ensino de história nos cursos de graduação e as novas demandas
Debater o ensino de história tem sido tema recorrente nos eventos acontecidos no Brasil nas últimas décadas, como os
promovidos pelaANPUH. No entanto, muito ainda precisa ser discutido, tendo em vista o que continuamos presencian-
do. Nos casos dos cursos de graduação estes ainda estão formatados no mesmo modelo de décadas passadas.
Assim, por mais que se venha questionando determinados temas considerados essenciais nesse debate, os cursos de
história do Brasil afora seguem os mesmos principios de quando havia um currículo mínimo, ou seja, são conteudistas,
com bastante apreço pelo factual, partem de uma história linear, com uma proposta cronológica única, presente a partir
da ordem de apresentação das disciplinas. O que fazer para romper com este tipo de história? O que fazer, principal-
mente quando outras demandas batem as portas das universidades reivindicando cursos específicos diferentes deste
modelo, como é o caso dos professores indigenas do estado de Roraima que solicitam uma outra formação, tendo em
vista que pretendem uma outra educação nas escolas de suas aldeias? Pretende-se, então, discutir aqui tanto os
cursos de graduação em história quanto outras possibilidades para o ensino de história, sobretudo na formação de
professores para as escolas indígenas.

Claudira do Socorro Cirino Cardoso - UFRGS


Desafios do cotidiano escolar: problemas enfrentados no estágio docente
A presente comunicação trata de situações presentes no cotidiano de sala de aula. Nesse sentido, este trabalho busca
refletir acerca de alguns desafios enfrentados pelos alunos da disciplina de Prática de Ensino de História durante o
periodo de estágio em escolas públicas de Porto Alegre, no segundo semestre de 2006. A partir dos registros em
relatórios e outros instrumentos exigidos na cadeira, procuramos destacar os problemas com os quais os alunos
estagiários se depararam em sua atuação em sala de aula e ao mesmo tempo, os mecanismos alternativos por eles
criados na tentativa de solucionar questões, como a pouca participação dos alunos, disciplina, violência, dificuldade de
compreensão de conteúdos, dentre outros.

Emanuel Pereira Braz e Anadja Marilda Gomes Braz - UERN


Concepções dos alunos do Curso de História sobre Sujeito Histórico, Tempo Histórico e Cidadania
Este artigo é parte de uma pesquisa maior que se inscreve no campo das discussões relativas a formação inicial do
professor de História. Objetiva-se refletir as concepções de 35 alunos (40 Período do Curso de História - UERN) sobre
os conceitos de Sujeito Histórico, Tempo Histórico e Cidadania, com a finalidade de subsidiar uma ação docente
mediadora e interventiva capaz dos alunos apreenderem os conceitos históricos articulados aos aspectos didáticos e
metodológicos do ensino. Para realizarmos a leitura dessa realidade, nos apoiamos nas concepções paradigmáticas
de Ciro Flamarion Cardoso. A condução metodológica privilegiou o enfoque qualitativo através de questionário aberto.
Os resultados da pesquisa apontam que majoritariamente as concepções conceituais reveladas, estão inseridas no
paradigma da História Tradicional. Esta constatação impõe repensar o processo formativo do professor de História,

502
através de um diálogo propositivo entre as Disciplinas Específicas e as Disciplinas Pedagógicas, de modo que favore-
ça a formação de novas concepções históricas para os alunos.

I 18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h)


Ana Paula Squinelo • UFMS
A História sob vigilância: a Guerra do Paraguai nos livros didáticos brasileiros
A Guerra do Paraguai, ocorrida entre os anos de 1864 e 1870, envolvendo Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, tem
sido ao longo dos séculos alvo de inúmeras e diferenciadas manipulações ideológicas em momentos políticos os mais
diversos das citadas nações. Proponho-me nessa reflexão analisar como a temática Guerra do Paraguai vem sendo
abordada nos livros didáticos brasileiros tomando como referencial três momentos historiográficos diferenciados: o
primeiro que abrange os livros escritos por protagonistas ou não do conflito, no periodo que se estende do final da
guerra até a década de 1960, oferecendo uma visão 'patriótica' do conflito; o segundo que compreende os estudos
divulgados a partir da década de 1960, que desenvolveram a visão 'imperialista' do litígio; e por último as obras
editadas a partir da década de 1980, que se caracterizam por apresentar uma visão inovadora e menos tendenciosa. Tendo
como referencial esses momentos históricos busco refletir como essas versões historiográficas são apresentadas e
representadas nos livros didáticos de História, ao mesmo tempo em que discutirei como os docentes absorvem e
assimilam essas explicações sobre o conflito platino em sua prática docente, e também como os alunos apreendem o
conhecimento sobre a temática proposta.

Isaide Bandeira Timbó . UECE


O Livro Didático no Cotidiano: a atuação do professor de História em questão
Um dos objetivos desta pesquisa em andamento é identificar como acontecem os processos de escolhas e usos dos
livros didáticos de História nas escolas públicas, através da atuação do professor de História. Acreditamos que a
percepção do que existe para além do dito nas linhas e entrelinhas desta literatura, dependerá muito da formação/
preparação do docente. Assim, é mister indagar: em que momento o professor em formação é habilitado de forma
concreta, para além da teoria, a compreender e desenvolver um trabalho direto com o livro didático?Como acontece o
processo de escolha dos livros didáticos de História nas escolas da rede pública do Ceará? Quais as coleções mais
adotadas nestas escolas? Quais os usos que se faz do livro didático em sala de aula? Neste perspectiva estamos
trabalhando com documentos oficiais como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Diretrizes Curriculares Nacionais
do Curso de História e o Programa Nacional do Livro Didático, e com a metodologia de realização de entrevistas com
professores de estágio supervisando dos cursos de licenciatura em História do Estado do Ceará e ainda com aplicação
de questionários a professores de História do Ensino Fundamental I!. Acreditamos que a postura teórico-metodológica
do educador faz a diferença na processo de ensino.

Marta Margarida de Andrade Lima· UFRPE


livro didático e formação histórica: o trabalho de mediação pedagógica realizado nas séries iniciais do Ensino
Fundamental
O presente texto apresenta um estudo, em andamento, sobre como os professores das séries iniciais do Ensino
Fundamental, das escolas públicas municipais da cidade de Garanhuns/PE, trabalham a mediação entre o aluno e o
@
63
livro didático de história, de forma a desenvolver uma formação histórica pautada na introdução de noções e conceitos
básicos da área de conhecimento, a serem gradualmente aprofundados e complexificados bem como em principios ~
éticos, na perspectiva da construção de uma consciência cidadã. Nessa pesquisa utilizamos diferentes procedimentos gj
metodológicos, com diferentes sujeitos participantes: primeiramente, um levantamento acerca da inserção do livro 5.
didático no contexto escolar municipal, quanto às suas formas de seleção e distribuição, através de entrevistas com ~
coordenadores da Secretaria de Educação; em seguida, a observação do trabalho de duas professoras com o livro ~
didático em sala de aula, sendo uma na 2" série e a outra na 4", selecionadas pelos critérios de melhor acesso à escola .g
e aceitação na participação no trabalho. Apesar dos dados serem parciais, configurando assim, informações em pro- ~
cesso de análise, consideramos que as questões suscitadas n05 convidam a um diálogo interessante, que exige ~
reflexão contínua e compartilhamento de aprendizado. ~
V)
o
Ana Gabriela de Souza Seal • UFPE :
As proposições de produção de textos da ordem do argumentar nos livros didáticos de História de 11 a 41 ~s
séries do ensino fundamental ~
Partimos da concepção sobre livro didático proposta por Bittencourt (1998, 71-74) na qual este é identificado enquanto: ~
uma mercadoria, depositário de conteúdos escolares, instrumento pedagógico, veiculo portador de uma ideologia. g
Nessa pesquisa, centraremos nosso olhar à sua função enquanto instrumento pedagógico. Assim, estaremos nos .~
propondo a pesquisar nos livros aprovados pelo PNLD 2005, as ocorrências e os tipos de propostas de produção de o

503
textos da ordem do argumentar nos livros didáticos de história de 1" a 4" séries. Nossa opção pelos gêneros da ordem
do argumentar deve-se inicialmente pela sua relação com a finalidade que vem sendo apresentada desde a década de
oitenta para o ensino de História: possibilitar a formação de alunos criticos e autônomos. Neste sentido, os gêneros da
referida ordem englobam as capacidades de linguagem dominantes: sustentação, refutação e negociação de tomadas
de posição, o que pressupõe a necessidade do desenvolvimento de um pensamento crítico, necessário á elaboração
de pontos de vista, argumentos e defesa, habilidades fundamentais ás discussões traçadas pelos saberes histórico-
escolares.

Nilton Mullet Pereira· UFRGS


Representações da Idade Média no Livro Didátíco
O ensino de Idade Média na escola ainda está demasiado impregnado do olhar que renascentistas e iluministas
lançaram sobre o medievo. Le Goff argumenta que desde o século XIX, apesar de uma relativa reabilitação - como
fonte de inspiração ou como fonte de estudo cientifico -, a Idade Média se converteu em uma espécie de folclore:
época de caos e trevas, na qual ainda não se haviam formado nações e os homens europeus ainda viviam num estado
de sono profundo, desde a decadência do Império Romano e a derrocada do mundo clássico. Esse modo de olhar para
a Idade Média inicia a ser construído no Renascimento, época na qual, supunham os pensadores novecentistas, teria
ocorrido o início do amadurecimento das nações. O mundo medieval se tornou, então, o lugar da "infância das nações',
que apenas teriam ingressado na idade adulta com o Renascimento. O objetivo deste artigo é discutir como essa
concepção tem sido reproduzida através das publicações didáticas de história, apesar de todo o avanço dos estudos
medievais, nos últimos tempos, no Brasil

Solange Aparecida Zotti • UnC IUNICAMP


A produção da história regional como instrumento de formação do professor de História
O objetivo deste trabalho é apresentar a experiência de pesquisa em história regional, do curso de História da Univer-
sidade do Contestado - UnC de Concórdia/Se, como instrumento central na formação do professor. A metodologia de
trabalho adotada proporciona aos acadêmicos a prática da pesquisa no decorrer de sua formação e permite o envolvi-
mento da comunidade na coleta de fontes documentais e orais, o que propicia a valorização dos sujeitos locais como
produtores da história. Na seqüência, a intervenção dos acadêmicos no espaço escolar vincula-se a produção realiza-
da, objetivando a socialização do conhecimento, numa lógica dialética entre o particular e o geral e vice-versa. Esta
proposta objetivou romper com a idéia de que o professor é apenas um repassador de informações já sistematizadas.
Pela pesquisa o professor amplia os seus conhecimentos o que interfere no seu trabalho em sala de aula. Deve ser um
pesquisador, dominar as técnicas de pesquisa, como instrumento pedagógico, vinculado á realidade social em que
está inserido. O resultado desse trabalho coletivo, que iniciou em 2001, materializou-se em 2006, com a publicação do
livro 'História faz História: contribuições ao estudo da História Regional', organizado pelo Grupo de Pesquisa 'História,
Sociedade e Educação'.

José Evangelista Fagundes . UERN


A história local e seu lugar na História:o ensino sob o olhar de Clio
Pesquisa sobre o ensino de história voltada para a compreensão da prática docente em escolas do ensino fundamen-
tai do município de Ceará-Mirim/RN. O propósito é entender as formas de abordagem da história local em turmas de 5"
a 8" séries á luz de recentes inovações historiográficas e do ensino. Parte-se da compreensão de que os conteúdos da
história local podem se constituir em componentes significativos na produção do conhecimento histórico escolar nes-
sas séries. A análise é pautada em depoimentos de três professores do referido município no que diz respeito ás suas
concepções de historiografia e de história enquanto disciplina escolar. A investigação é de natureza qualitativa e tem
como principal estratégia metodológica para a construção dos dados a realização de entrevistas com os professores.
O estudo indica que as práticas docentes, embora apresentem inovações, trazem implícita uma hierarquia valorativa
na qual as temáticas locais ou não são contempladas nos conteúdos escolares ou aparecem subjugadas á história do
Brasil ou á história geral, permanecendo a relação hierárquica das problemáticas históricas predominante no século
XIX e na maior parte do século XX.

Janderson Bax Carneiro· Prefeitura Municipal de Armação dos Búzios


Escravidão no Brasil: entre o texto e o visual
A oficina 'Escravidão no Brasil: entre o texto e o visual', apresentada aos professores da rede municipal de Armação
dos Búzios, área de concentração de expressiva população afro-descendente, buscou analisar o imaginário da escra-
vidão no Brasil, expresso em iconografias e textos, contemporâneos á instituição analisada. Lançamos mão de refe-
renciais teóricos da história cultural, vislumbrando a intensificação de um diálogo entre saber acadêmico e educação
escolarizada, capaz de viabilizar o apontamento de alternativas para a atuação do professor/pesquisador, nas discus-
sões pertinentes á elaboração do currículo. O conceito de representações, foi o lócus das discussões entre os profes-
sores participantes, na busca de construir, com seus alunos, um esforço reflexivo acerca dos processos de significação

504
e ressignificação, engendrados pelos sujeitos históricos, a partir de múltiplas linguagens. A relevância da proposta
lançada consiste, ainda, em suscitar, nos professores, o exercicio de um papel mediador na identificação do aluno
como agente produtor/receptor de imagens acerca de fatos e instituições, contemporâneas ou passadas. Concebemos
o curriculo como território dinâmico, sujeito ás circularidades e embates culturais, inerentes á construção identitária.

Serlei Maria Fischer Ranzi - UFPR


Cabra Marcado para Morrer: uma experiência com cinema na formação continuada de professores de História
objetivo deste texto é analisar uma experiência desenvolvida, em cursos de formação continuada com professores de
História do ensino médio e fU,ndamental, utilizando a linguagem fílmica, em particular, o filme Cabra Marcado Para
Morrer de Nelson Coutinho. E uma película que versa sobre tema histórico e nesse sentido foi utilizado como um
documento que pode problematizar uma determinada representação do passado para fins de ensino. Pretendemos, no
texto completo, explicitar a metodologia utilizada com os professores para desenvolver uma aprendizagem em Histó-
ria, utilizando a linguagem do cinema, destacar as etapas no encaminhamento do trabalho e apontar alguns resultados
conseguidos. O filme selecionado é reconhecidamente complexo pra ser trabalhado em sala de aula por ser demasia-
do longo, não possuir um apelo imagético que cative os alunos e conseqüentemente não teria no ensino médio uma
aceitação imediata. Exigiria uma preparação sobre a importância temática que ele aborda e uma disposição do docen-
te para enfrentar num primeiro momento 'um certo descaso' dos

I 19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h ás 16h30min) I


Margarida Maria Dias de Oliveira - UFRN
A educação histórica fora da sala de aula: o Programa Nacional Biblioteca na Escola e a formação de leitores
O PNBE enquanto política pública de formação de leitores vem distribuindo nas escolas coleções de livros. Literatura,
teatro, poesia, documentos históricos, são alguns dos gêneros presentes nestes livros. Este trabalho objetiva analisar
a concepção de formação de leitores presente no PNBE e, ao mesmo tempo, refletir sobre o aprendizado de História
que os livros proporcionam.

Maria Inês Sucupira Stamatto - UFRN


Entre a Pedagogia e a História: os livros didáticos de História - uma década de mudanças (Br. 1997 - 2007)
Apresenta pesquisa sobre livros didáticos de História para a I Etapa do Ensino Fundamental (1" a 4" séries - 2· ao S'
anos), avaliados pelo Programa Nacional de Livros Didáticos - PNLD em uma década. Analisaram-se as concepções
pedagógicas subjacentes nas Coleções e Livros Didáticos Regionais examinados em 2000, 2004 e 2007. Distingui-
ram-se claramente conjuntos com as mesmas caracteristicas, em cada destes momentos, que permaneceram no
mercado editorial. Constataram-se, ainda, outros grupos em que se observam elementos inovadores, constituindo-se
uma ruptura a antigas formas de ensino de História. Também foi possivel perceber, com estes resultados, uma renova-
ção de tendências pedagógicas efetivada entre os últimos anos do século passado e os primeiros deste, evidenciadas
neste material didático, além das transformações teórico-metodológicas na área da ciência de referência e que vêm
sendo incorporadas no curriculo de História, via livros didáticos. quisa sobre livros didáticos de História

Olavo Pereira Soares - UNIFAL


A cultura midiática e a produção do conhecimento histórico escolar
A cultura midiática, teoricamente analisada como sendo o resultado das interações que os sujeitos sociais estabele-
cem com as diferentes midias contemporâneas, é compreendida em nossas pesquisas como um elemento importante
da cultura escolar. Compreende-se que a produção do conhecimento histórico escolar não pode passar ao largo desta o
cultura cotidiana trazida pelos alunos para a sala de aula. As pesquisas identificaram que a partir das interações com =
E
as midias, os alunos formulam conceitos e concepções sobre conteúdos históricos e que em função da metodologia de ~
ensino utilizada pelo professor, tais interações podem dificultar sobremaneira a construção do conhecimento histórico .g
escolar por parte dos alunos. Acultura midiática está na sociogênese de nossos alunos. Portanto, há de se estabelecer .g
~O~~~~il~~~~o ~rs~~~~oe~~~~~~s ad:u~n~~~~~~ ~~~o~~~ep;b~~~~t~:n~~~~~~~o~~~~~~ ~i~t~t:~a~~a~ ~~~~~~~v~~ ~
estão referenciadas teoricamente em uma historiografia que permite reflexões acerca deste objeto, e, em função desta ~
reflexão teórica propomos metodologias de ensino capazes de incorporar a cultura midiática dos alunos nas metodolo- :
gias de ensino de h i s t ó r i a . · S
'"
~

Ana Lúzia Magalhães Carneiro - PUC-SP


Concepções de Currículo e de Pesquisa na Formação de Professores do Ensino Fundamental ~
Este trabalho parte de pesquisas desenvolvidas para o Programa de Pós- Graduação em Currículo da Pontifícia Uni- .§
versidade Católica de São Paulo e para a preparação das aulas das disciplinas de Práticas e Projetos de Pesquisa em o

505
Educação práticas interdisciplinares que ministro em um Curso de Pedagogia.Tem como proposta discutir a importân-
cia das concepções de currículo na formação de um professor que tenha consciência das necessidades e das novas
demandas da sociedade contemporânea sobre o conhecimento escolar. Coloca em pauta a pesquisa como fomento e
caminho para a realização de um trabalho de formação do pedagogo como um professor-pesquisador, possibilitando
que sua prática educativa tenha um caráter interdisciplinar de forma que o ensino de disciplinas como história, geogra-
fia, português e matemática não seja uma mera reprodução de conteúdos fragmentados dos livros didáticos, mas com
significados atrelados ás representações sociais. Propõe questionamentos e reflexões sobre nossa prática como pro-
fessores formadores de professores, para que possamos encontrar novas alternativas e caminhos para os problemas
e dificuldades encontrados no cotidiano da prática educativa no atual contexto histórico, político e econômico em que
está inserido o sistema escolar brasileiro.

I 20107 - Sexta-feira - Manhã (10h30min ás 12h30min)


Sérgio Ricardo Aboud Dutra· UFF
Ensino de História: Novos sujeitos e Novas Abordagens
O trabalho procura desenvolver uma historiografia que dê conta de questões contemporâneas e como introduzi-Ias no
cotidiano escolar. Desenvolvido na UFF, no Laboratório de História e Educação e no Programa Rede de Direitos
Humanos da UFF. Desenvolvendo pesquisa e extensão, está em andamento, com três etapas já cumpridas. Temos
trabalhado com uma população GLBT, estudantes com idades entre 13 e 21 anos. Na 1" etapa levantamos os proble-
mas encontrados nos seus cotidianos escolares. Na 28 etapa abordamos conteúdos de História, não pensando em
sujeitos históricos diversos, somente nos já abordados pelos livros didáticos encontrados. O relato destes foi de que
não se identificavam com essa história conhecida. Na próxima etapa através de várias fontes, literatura, filmes, jogos
elaborados pelos bolsistas envolvidos no projeto, dentre outras, apresentamos sujeitos que se relacionavam homoafe-
tivamente ao longo da história da sociedade global, aproveitando assim para percebermos que a História é construída
por todos e todas, trabalhando com a interseção entre classe, gênero e identidade sócio-sexual, raça e etnia. O
próximo passo é a confecção de mais jogos para serem trabalhados em três escolas, uma particular, uma estadual e
no próprio Colégio Universitário da UFF.

Oilse Piccin Corteze • IDEAU


Tendências atuais do ensino de História
Vivemos em uma época de grandes e rápidas modificações em todos os setores da sociedade mundial: a globaliza-
ção; o avanço tecnológico de uma maneira frenética está aí a exigir uma adaptação constante em nossas maneiras de
ver o mundo.Neste contexto, é visível a insatisfação das pessoas no sentido de se reorganizar para acompanhar o
ritmo desta crescente e rápida evolução. Crianças e adolescentes estão desencantados com as formas de ensino por
estas estarem em descompasso com o seu cotidiano e seus interesses. O ensino da História também apresenta
embates, e estes não são atuais: cada época tem seus desafios. Na tentativa de contornar tais problemas, precisamos
ter em mente alguns questionamentos: Para que serve a História como disciplina escolar? Por que ensinar história na
escola? Qual o sentido do ensino da História hoje? Se olharmos a trajetória da ciência histórica nas últimas décadas é
possível constatar a existência de muitos debates e desafios. As diversas correntes teóricas e polêmicas levantadas
constituem de fato, a melhor prova da vitalidade da história e que os problemas colocados têm possibilidade de
solução.

Fabiana de Fatima Bruce da Silva· UFRPE, Lúcia Falcão· UFRPE e Maria Thereza Oidier· UPFE
O Ensino da História na Perspectiva da Nova História Cultural
O presente trabalho pretende discutir e abordar novas formas do fazer historiográfico como possibilidade para se
estabelecer a compreensão de diferentes meios de pensarmos o ensino de história. Para tanto, devemos situar as
discussões em torno do conceito de história bem como abordar algumas mudanças, tendências e tensões em torno do
debate historiográfico. Nesse sentido, o estudo de outras linguagens a partir do entendimento da Nova História Cultural
pode proporcionar uma concepção de ensino de história que trata a compreensão desta disciplina não apenas como
um estudo do passado em suas narrativas cronologicamente seqüenciadas e unificadas, mas como tentativa de com-
preender a complexidade do presente, admitindo que o estudante/sujeito para o qual pensamos o ensino de história é
plurifacetado e transita por diversos 'mundos' informacionais que não se restringem ao espaço escolar. Assim sendo,
a literatura, a música, a fotografia e o cinema são linguagens que se apresentam como textos passíveis de análise para
a historiografia.

506
20107 - Sexta-feira - Tarde (14h às 18h)

Eliane Lucia Colussi . UPF


O livro didático e a prática docente: uma experiencia no ensino de história da maçonaria
O presente estudo propõe-se a fazer uma reflexão sobre a experiência de elaboração de um livro de apoio didático
direcionado aos alunos do ensino básico. Entre os objetivos aqui propostos, destaca-se a tentativa de aproximação
entre a produção historiográfica acadêmica e a sua transposição didática para alunos e professores da rede de ensino
básico. Acredita-se que esta aproximação possa ocorrer a partir do aprofundamento do diálogo entre dois espaços de
educação formal oportunizando uma interlocução mais efetiva entre os diferentes agentes envolvidos no processo de
ensino-aprendizagem por meio da ferramenta que se constitui o livro didático. A experiência aqui relatada foi fruto de
uma pesquisa de cunho acadêmico, cuja temática versou sobre a presença da maçonaria no Brasil. Posteriormente,
parte da pesquisa empíríca e bibliográfica serviu de base para a preparação de uma obra de apoio didático dirigida ao
ensino básico, sobre a presença da maçonaria no Brasil do século XIX.

Araci Rodrigues Coelho· FaE/UFMG


O ensino de história nos primeiros anos do Ensino fundamental e o lugar ocupado pelo livro didático de
história melhor avaliado pelo PNLD 2004
O artigo pretende discutir os primeiros exercícios de sistematização dos trabalhos realizados até agora na pesquisa de
doutoramento que tematiza o ensino de história no primeiro segmento do ensino fundamental. Seu objetivo é investi-
gar, em meio às práticas pedagógicas das professoras ao ensinar essa disciplina, o lugar ocupado pelo livro didático
de história melhor avaliado pelo PNLD 2004. A fim de investigar tal objeto buscamos a articulação das categorias
cultura escolar, saberes e práticas docentes, viabilizada pelo dialogo entre os campos do Ensino de História, da Soci-
ologia da Educação e História da Educação. Processo inspirado nos trabalhos de autores que pesquisam nesses
campos, tais como Tardif (1997 e 2005) Julia (2001) Chartier (2000) Chartier (1990), Vidal (2005) Bittencourt (1996 e
1997) Munakata (1997), e Monteiro (2002). Realizaremos, então, um estudo de caso -Escolas Públicas de Betim,
região metropolitana de Belo Horizonte, MG - onde o livro didático melhor classificado pelo PNLD 2004 foi recebido
pela maioria das escolas deste município. Esperamos, dessa forma, contribuir para o debate sobre o livro didático de
história, em especial os que se refere aos primeiros anos do Ensino fundamental.

Alexsandro Donato Carvalho· UFRN


A temporalidade histórica presente nos livros didáticos de história
Objetiva analisar a concepção de tempo histórico presente nos livros didáticos de história do 1° e 2° ciclos do Ensino
Fundamental. Parte de uma experiência anterior na qual tínhamos analisado a concepção de tempo histórico para os
professores do 1° e 2" ciclo, onde percebemos que os mesmos, na sua grande maioria, desenvolvem no seu trabalho
em sala de aula, algumas concepções de tempo histórico, porém sem um conhecimento dos fatos da História. A
elaboração da noção de tempo se apresenta, dessa forma, como um dos principais problemas do ensino de história.
Essa representação de tempo histórico produzido pelos professores indica a importância das mesmas na produção do
conhecimento histórico em sala de aula. Portanto, voltamos a nossa preocupação para o livro didático de história, por
entender que se traduz como material didático fundamental para quem ensina história nas séries iniciais. Buscamos
portanto, refletir sobre como a concepção de tempo vem sendo abordada entre os professores. @
Celenia de Souto Macedo e Mércia Rejane Rangel Batista· UFCG ~
O convívio na diferença e o respeito à diversidade cultural: questões presentes nos livros didáticos 1Jj
Este trabalho discute a educação indígena em torno das aldeias a partir da educação contextualizada, mostrando ~
como esta se relaciona com a educação tradicionalmente aplicada no mesmo recorte. AConstituição estabelece que a g
educação é um direito de todos, apesar de que não foram estabelecidos padrões de modelos que atendam à demanda E
nacional. A educação pública, ainda em fase de expansão, não estimula a visão crítica e relativista em relação ao ~
'outro'. O Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), busca oferecer materiais condizentes com o contexto dos ~
educandos, mas apenas a educação indigena conquistou o direito de produzir materiais de acordo com sua realidade. .g
Os recursos pedagógicos utilizados no processo educativo não-indígena, dentro da escola pública. esbarram na difi- ~
culdade de uma atualização que acompanhe o processo educativo, bem como as mudanças de paradigmas impostos ~
por este, produzindo, desta forma, abordagens preconceituosas em relação aos indigenas. Assim, procura-se, com o ~
presente estudo, abrir espaço a uma critica ao planejamento pedagógico brasileiro, por não contemplar as diversida- ,~
des culturais existentes no Brasil, t;
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507
64. O ensino de História nas Américas
Luis Fernando Cerri (UEPG) e Maria de Fátima Sabino Dias (UFSC)
I 18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h) I
Cristiano Gustavo Biazzo Simon - UEL
O rap londrinense e o ensino de História; diálogos e perspectivas
Baseados nas reflexões advindas das experiências do projeto de pesquisa 'Leitura, ritmo e poesia: práticas poéticas
orais entre rappers londrinenses', propomos um diálogo entre as idéias e práticas pertencentes aos jovens participan-
tes do movimento hip hop e os temas concementes aos debates acerca do ensino de História (identidades, historicida-
des e inclusão social). Nesse sentido, essa proposta desdobra-se nas relações desses sujeitos com a escola e a
escolaridade. A partir de entrevistas de história oral de vida e temáticas com integrantes do movimento e das letras de
rap, analisaremos as relações anteriormente colocadas e as possibilidades de emprego dessas fontes, bem como, as
problematizações daí decorrentes no ensino de História, para os níveis fundamental e médio.

Mariela Alejandra Coudannes Aguirre - -Universidad Nacional dei Litoral


De la Universidad a la Escuela con humor: una propuesta de materiales alternativos para la enseiianza de la
historia
La preocupación por incorporar materiales alternativos a la enserianza no es nueva. Éstos no sólo posibilitan diferentes
puertas de entrada ai conocimiento sino también formas peculiares de motivación para el alumno nirio y adolescente,
un acercamiento a su cotidianeidad y a lenguajes que no tenian cabida en la escuela tradicional. En el presente trabajo
realizamos consideraciones sobre el uso dei humor gráfico en el ámbito escolar y su potencialidad para interesar a los
alumnos en el conocimiento histórico y lograr comprensiones significativas. Reflexionamos sobre las condiciones de
producción y difusión dei humor gráfico, también las peculiaridades narrativas, que condicionan su uso didáctico.
Exponemos los fundamentos que lIevaron a la cátedra de Práctica Docente dei Profesorado de Historia de la Universi-
dad Nacional dei Litoral a elaborar un trabajo de narrativa ilustrada sobre historia argentina y algunas conclusiones
sobre su aplicación en aulas santafesinas.

Selma de Fátima Bonifácio - Secretaria de Educação do estado do Paraná


Quadrinhos e ensino: o conhecimento histórico e suas representações na arte seqüencial
O artigo propõe a análise de construções teóricas que discutem a consciência histórica e a presença do conhecimento
histórico em produções em quadrinhos. Compreende-se que o conhecimento histórico é multifacetado em termos de
fontes, mensagens e linguagens, que não ~~ limitam ao ambiente ~cadêmico. Para a elaboração dessa análise, utiliza-
mo-nos, sobretudo das construções de RUSEN (2001) e GARCIA (1998), cujas concepções incorporam a idéia de
consciência histórica enquanto atributo inerente a todo ser humano em sua situação no mundo e, nesse aspecto, como
um elemento que se apresenta nos mais diversos meios. A partir dessa identificação, analisamos as alterações ocorri-
das com o conhecimento histórico, ao passar da linguagem textual/acadêmica à linguagem dos quadrinhos, portado-
res de características específicas. Tomados como um produto da cultura de massa, os quadrinhos possuem uma
indubitável penetração na sociedade contemporânea. São objetos de pesquisas em diferentes áreas, mas ainda pouco
desenvolvidas se pensarmos o âmbito do ensino de História. Utilizamo-nos, para a construção de nossa análise, de um
levantamento de obras quadrinizadas com conteúdos acerca da História do Brasil, buscando compreender como o
conhecimento histórico se apresenta em tais produções.

Ivonete da Silva Souza - UFSC


Estudos Latino-Americanos: dilemas e perspectivas de uma disciplina escolar no ensino de uma escola brasi-
leira
No bojo de um processo de construção de um Projeto Político Pedagógico no Colégio de Aplicação da UFSC, foi
apresentada uma proposta de criação da disciplina escolar Estudos Latino-Americanos. Aprovada por unanimidade,
ela passou a fazer parte da grade curricular já em 2003, ano de sua criação. Decorrente de uma longa trajetória de
pesquisa em busca do conhecimento e da aproximação com países latino-americanos, a criação dessa disciplina é um
passo fundamental no sentido de apontar questões relevantes a respeito da superação da perspectiva quadripartite no
ensino de história.

Léia Adriana da Silva Santiago e Maria de Fátima Sabino Dias - UFSC


As imagens dos indios na cultura escolar no Brasil
O presente trabalho tem como objetivo apresentar os resultados de uma pesquisa sobre o ensino de História e as
identidades étnicas, com a intenção de refletir e compreender o que tem sido veiculado sobre a questão indígena na

508
cultura escolar no Brasil, especialmente nos manuais didáticos destinados as primeiras séries do ensino fundamental, Q64
e se esses conteúdos, idéias, imagens têm contribuído para estimular á formação de uma consciência histórica e ~
cidadã.

Federico Alvez Cavanna . UEPG


O ensino da ditadura militar. O caso uruguaio 1985·2006
Durante 20 anos (1985-2005) o tema da ditadura militar esteve fora das aulas do ensino médio e fundamental. Mesmo
sem a proibição por parte da lei, os professores sabiam que abordar o tema era gerar um problema com as autorida-
des. Quando novas autoridades da educação consideraram conveniente introduzi-lo ao final do ano 2005, fomenta- ~
ram-se muitas discussões: os usos políticos nas aulas de história para a construção de uma idéia nacional (no caso ~~
uruguaio a idéia de um país democrático) e os usos dos 'silêncios' na referida construção. O enfrentamento mais forte E
foi entre os historiadores e os políticos ante duas visões antagõnicas acerca da história e de seus usos e critérios. !
Neste sentido, o Uruguai atual não pode ser compreendido sem o estudo das últimas décadas. Porém, há divergênci- ê
as, pois muitos dizem que considerar a história recente não é considerar historia, é fazer política e incitar a divisão do .~
país violando a laicidade nas aulas. O problema que será discutido neste artigo será: como se introduzem os 12 anos ~~
da ditadura em um discurso que até 1973 fazia a construção discursiva e linear de um país "democrático" e "sem =;
grandes conflitos"? Como isso modifica toda a visão da história nacional do Uruguai e os interesses para manter o ~
silencio? .~
c::
ao
Cl

19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h ás 16h30min)

Getúlio Nascentes da Cunha e Welington César Silva· UFG


A América Latina nos PCN's de História dos Ensinos Fundamental e Médio
~esumo: Desde o inicio do Governo Lula a discussão em torno da necessidade da introdução do ensino de História da
Africa e de cultura negra no Brasil tem sido uma constante. Apesar da importância dada pelo governo á manutenção do
MERCOSUL, uma movimento semelhante não é percebido em relação á História da América latina. O trabalho se
propõe a analisar a forma como a história da América Latina se encontra atualmente inserida dentro dos PCN's de
História, procurando avaliar a importância que lhe foi dado, bem como a forma como ela foi relacionada com a História
do Brasil, que deveria ser a norteadora de todos os conteúdos de história. Trabalhamos com a hipótese de que ao
contrário do que o govemo Lula se propõe a fazer com a África, criando laços de identidade, os PCN's, elaborados
durante o govemo Fernando Henrique, tinham uma visão fundamentalmente de oposição da história brasileira em
relação á da América Latina, nos identificando sobretudo com a história européia.

Angela Ribeiro Ferreira· UEPG


PNLD: "Garantia de qualidade dos livros didáticos de História"?
Resumo: O texto trata a respeito da mediação didática dos saberes cotidiano e acadêmico relativos à História das
Mulheres, que se efetiva na elaboração e utilização dos livros didáticos. Procura-se traçar um panorama de como, se
e até que ponto as demandas sociais por representação igualitária das mulheres e as possibilidades originadas da
pesquisa acadêmica sobre o tema encontram correspondência nos livros didáticos de História do ensino fundamental.
A nova perspectiva de pesquisa histórica, que contempla os sujeitos antes esquecidos, é incluída muito lentamente na
produção didática. Nos livros didáticos, a maior parte dos textos continua dando ênfase ao político e ao econômico; as
mulheres continuam aparecendo em textos complementares, separados do texto principal, ou seja, as novas discus-
sões historiográficas não fazem parte da escolha de conteúdos dos livros. Para atingir o objetivo do ensino de História
de formar a consciência histórica, as mulheres têm que começar a se ver na História como sujeito. Tais elementos são
colocados em discussão diante da necessidade da sua urgente consideração para a formação de identidades pesso-
ais e políticas que condigam com o atual estágio das práticas e reconhecimentos jurídico e socíal dos direitos referen-
tes á condição feminina.

Maria de Fátima da Cunha· UEL


Temas Transversais dos PCNs: Uma análise de gênero e sexualidade
No volume 10 dos Temas Transversais intitulado "Pluralidade Cultural e Orientação Sexual", aborda-se a necessidade
de se trabalhar com questões ligadas á necessidade de se trabalhar com questões ligadas à gênero e sexualidade.
Afirma-se a urgência de se discutir sobre sexualidade e sobre a desconstrução de estereótipos ligados ao masculino e
ao feminino. Entretanto, as imagens ali contidas e que não são trabalhadas no texto escrito, parecem indicar um outro
discurso que aponta para um outro discurso que se opõe àquele que se propões no texto escrito. A anàlise dessas
imagens e do texto escrito é o objetivo dessa comunicação.

509
Caroline Pacievitch - UEPG
Guerrilheiros ou sacerdotes? Consciência histórica, identidades e professores de história
Este trabalho apresenta os resultados finais do projeto de pesquisa desenvolvido no Programa de Mestrado em Edu-
cação da Universidade Estadual de Ponta Grossa. A investigação versa sobre o fenômeno da consciência histórica de
professores de história, centralizado no eixo da construção de identidades históricas e profissionais. Objetivos princi-
pais: a) compreender os processos de constituição de consciência histórica a partir do caso dos professores de história
e b) verificar potencial explicativo destes processos na construção de identidades. Utilizaram-se, principalmente, os
referenciais de Jórn Rüsen e Agnes Heller. A metodologia incluiu duas fases: 1) fase qualitativa, quando cinco profes-
sores de história forneceram seus depoimentos orais e/ou escritos a partir de entrevistas abertas e questionários semi-
estruturados e 2) fase quantitativa, em que cerca de 70 professores de história da rede pública estadual do Paraná
foram consultados através de questionário estruturado. Constatou-se que os professores, de modo geral, lançam mão
de diferentes estratégias de atribuição de sentido e significado ao tempo vivido e que suas experiências, conhecimen-
tos acadêmicos, posições políticas e valores transcendentais articulam-se de forma imbricada em suas narrativas de
vida e formação.

Julio Cesar Virginio da Costa - Cólégio Loyola/UFMG/FAE/LABEPEH


Os estágios na formação do professor de história:
Essa comunicação apresenta algumas reflexões que vêm sendo realizadas na pesquisa de mestrado de Júlio César
Virgínio da Costa, com orientação da profa.dra. Cláudia Sapag Ricci no Programa de Pós-Graduação da Faculdade de
Educação / UFMG. Essa pesquisa tem como eixo temático a formação do professor de História, especialmente os
significados dados pelos próprios participantes das experiências vividas no Estágio Supervisionado nos anos iniciais
do século XXI e na cidade de Belo Horizonte. O referencial teórico está ancorado na concepção de 'reflexão-na-ação'
(Donald Schon, 2000; Selma G Pimenta, 2004) e na concepção de Práxis (Vásques, 1977; Freire, 1996). Este trabalho
busca dar voz aos participantes do estágio supervisionado oportunizando que suas experiências, angústias, reflexões
e dúvidas possam vir a auxiliar os cursos de formação docente. O destaque se encontra - até o presente momento-
na importância para alguns dos participantes no/do estágio da própria definição de sua inserção na profissão docente
ou não.

Maria Antônia Marçal - UEPG


"Quem Vai me Ensinar de Novo?" Ninguém se Educa Sozinho -Experiências de Constituição Docente Através
de Grupos de Estudos de Professores de História
As reflexões que integram esta pesquisa diz respeito a três experiências de grupos de estudos de professores de
História que se realizaram entre os anos de 2004 e 2006. O principal objetivo deste trabalho é analisar o exercício da
autonomia docente no interior de grupos de estudos. Estes grupos possuem características distintas porque foram
'gestados' por instituições diferenciadas.

I 20/07 - Sexta-feira - Manhã (10h30min ás 12h30min)


Maria Aparecida Lima Dias - USP
As estratégias do dizer e a consciência histórica: estudo de produçôes escritas de crianças e adolescentes do
Ensino Fundamental
As relações entre língua escrita e consciência histórica são o objeto central de análise deste trabalho, o qual apresen-
tará os resultados da pesquisa desenvolvida em nivel de doutorado. O corpus é composto por produções escritas de
70 estudantes de 5a e 8a séries do Ensino Fundamental de uma escola pública da periferia da cidade de São Paulo.
Os dados sugerem a existência de uma tendência evolutiva na qualidade da produção escrita do aluno, seja de
aspectos referentes ás reflexões sobre as formas do dizer, seja sobre a explicitação de aspectos da consciência
histórica, quando as mesmas encontram-se dentro de uma relação dialógica, onde o professor assume uma postura de
responsividade ativa frente ao que o estudante pretende comunicar.

Marcos Roberto Kusnick - UEPG


Aproximações entre o conceito de Consciência Histórica e a Teoria das Representações Sociais
Resumo: Oobjetivo do trabalho é contribuir para uma melhor compreensão do fenômeno de aprendizagem da história.
A hipótese inicial de pesquisa levou em conta que ao se defrontarem com os conteúdos propostos pela disciplina de
história, os alunos já possuem matrizes de conceituais e representações de determinados eventos ou conceitos insta-
lados de forma mais ou menos estável. Um maior conhecimento da natureza dessas idéias e da dinâmica da sua
construção e transformação ajudaria a compreender melhor os processos de ensino e aprendizagem de histórias além
de melhor identificar as demandas de orientação dos alunos. Afundamentação teórica do estudo encontra-se, basica-
mente, em dois campos conceituais com os quais se procurou formular um construto teórico que permitisse um melhor

510
potencial heurístico para o fenômeno: ATeoria da Consciência Histórica, conforme apresentada por de Jorn Rüsen e a Q64
Teoria das Representações Sociais na linha inaugurada por Serge Moscovici. A categoria 'progresso' foi o elemento ~
privilegiado por demonstrar de maneira mais eloqüente como uma matriz cultural pode servir como organizadora do
pensamento histórico e como a formação dessa matriz está sujeita á assimetria de poder e à conformação ideológica.

Regina Célia Alegro· UEL


Conhecimento prévio e aprendizagem significativa em História: idéias de alunos do ensino médio
Relata resultado de estudo que, orientado pela teoria da aprendizagem significativa de Ausubel, identifica atributos
criteriais de conhecimentos prévios relativos à disciplina de História, apresentados por estudantes ao ingresso no ~
ensino médio, e verifica ocorrência de variações das idéias dos ingressantes quando comparadas com aquelas dos ~~
concluintes. O processo de estudo, com base no método de análise de conteúdo e nos conceitos de diferenciação E
progressiva e reconciliação integrativa, de Ausubel, buscou aspectos comuns entre as idéias manifestas, agrupadas -::;
segundo os conteúdos substantivos claramente evidenciados e prevalecentes, gerando categorias e níveis de análise, ~
em vista da identificação de conceitos, de contextos (tempo e espaço), de causas possiveis e conseqüências, de ·ê
juízos, de possíveis fontes de informação dos participantes da pesquisa. Entre os temas de história do Brasil, indicados ~~
pelos estudantes como os mais importantes, destaca-se 'descobrimento do Brasil', com 73 amostras num total de. O :c
estudo permitiu a identificação de quatro categorias: quadro descritivo do achado de Cabral; encontro de pessoas e ~o
culturas; início do processo de confronto, ocupação e exploração, que estão na origem do desenvolvimento econômico .~
brasileiro, e, outras idéias. ~
o
Janaina de Paula do Espírito Santo· UEPG
Ensino de História: algumas reflexões sobre seleção, tradição e currículo
O presente trabalho constrói suas indagações principais a partir de algumas das questões pertinentes para o processo
de estruturação dos conteúdos em História no Brasil, e sobre a forma como estes são apresentados hoje, propondo
uma reflexão em cima de algumas aproximações possíveis entre a produção da história escolar comum ao primeiro
período republicano e a produção atual, como uma tentativa de perceber algumas das características que marcaram o
processo histórico de seleção dos 'conteúdos', em alguns dos livros de História adotados pelo sistema escolar brasilei-
ro, e suas adequações durante a constituição de uma pretensa identidade coletiva da nação. Propõe uma reflexão
sobre as escolhas que marcam o trabalho educativo em história, para uma análise do processo de constituição e
transmissão deste conhecimento escolar, suas rupturas, tensões e permanências.

I 20/07 - Sexta-feira - Tarde (14h às 18h) I


Alexandre Felipe Fiúza . UNIOESTE
As relações entre a música popular e o ensino de história na Argentina e no Brasil: o período ditatorial
Resumo: Esta comunicação resulta de minha tese de doutorado sobre a censura e a repressão aos músicos no Brasil
e em Portugal, durante as décadas de 1960 e 1970. Em razão do exílio de músicos brasileiros na Argentina na década
de 1970, foi possível nesta nova análise estabelecer relações entre outras duas realidades nacionais através do
método comparativo, das trajetórias e das canções dos músicos de oposição às ditaduras argentina (1976-1983) e
brasileira (1964-1984). Portanto, por meio da atuação dos músicos nas intersecções do campo artístico e político,
igualmente pela produção musical daí advinda, propõe-se reflexões no ensino de história sobre os dois países e no
mesmo período. Tal perspectiva busca analisar a importância da preservação da memória do período ditatorial a partir
de canções, a exemplo das compostas e/ou interpretadas pelos argentinos Maria Elena Walsh, Mercedes Sosa, Charly
García e León Gieco, e pelos brasileiros Raul Ellwanger, José Rogério Licks e Manduka. Na perspectiva dos regimes,
analísar-se-á a documentação produzida pelas ditaduras, como os documentos dos Departamentos de Ordem Política
e Social- DOPS e da Dirección de Inteligencia de la Policía de la Provincia de Buenos Aires - DIPBA.

Marise da Silveira· Colégio de Aplicação· UFSC


Caminhos de um Projeto Autoritário·A construção dos Imaginários e das Representações
Esta pesquisa é parte de uma tese de doutorado em andamento. Enfoca o ensino de História da América Latina
durante o regime militar, em duas escolas de universidades federais no Brasil e na Argentina, especificamente o
Colégio de Aplicação da UFSC - se e a Escola Superior do Comércio Manoel Belgrano em Córdoba, na Argentina.
Olhando os regimes de exceção nos dois países nos perguntamos: que representações de nação e identidade nacio-
nal procurou-se construir através da disciplina de história? e através do ensino de História da América Latina, quais
projetos traçaram o seu caminho e influenciaram a construção das identidades latino americanas?
A história nos tem mostrado que a intervenção de governos nos curriculos da diSCiplina de História resulta na sua re-
escritura, apagando aquilo que se quer esquecer e introduzindo, ou re-introduzindo o que parece necessário para a
construção ou consolidação da memória coletiva que se quer, e do caráter do cidadão que se almeja construir. Nesta

511
perspectiva arma-se um aparato de legalidade na busca da legitimação de um poder instituido, onde este possa,
assim, desempenhar o exercicio da governabilidade.

Luis Fernando Cerri e Gonzalo de Amézola - UEPG


Jovens diante da História - Ensino, aprendizagem e consciência histórica de jovens no Brasil e na Argentina
Resumo: O que pensam os jovens brasileiros e argentinos sobre a História, a identidade nacional, a política? Como se
posicionam e agem politicamente? Como o ensino de História vem sendo oferecido a eles? Como esse ensino de
História pode atender melhor ás demandas por qualidade? Na década de 90, os países da Europa testemunharam um
amplo survey no qual essas questões foram pesquisadas, através de questionários aplicados a professores de História
e a alunos de 15 anos de idade em praticamente todos os países europeus. O survey possibilitou afirmações genera-
lizáveis sobre o estado e os resultados do ensino de História naqueles países. Na comunicação, pretendemos expor e
discutir o projeto de pesquisa piloto similar. Exporemos o trabalho de adaptação e re-elaboração dos questionários,
adaptando-os á realidade regional, que envolveu adaptar os temas que são postos para a consíderação de alunos e
professores, dentro de quadros culturais - particularmente no que se refere á cultura histórica e política - latino-
americanos. Esse novo instrumento será testado em escala restrita, propiciando a produção de dados que permitam
avaliar o próprio questionário, bem como as estratégias para o tratamento estatístico de dados em uma pesquisa
posterior.

Vitória Rodrigues e Silva - USP


Concepções de História e de ensino em manuais para o ensino médio brasileiros, argentinos e mexicanos
Resumo: Tomando os livros didáticos como objetos de investigação e fazendo uso da metodologia de estudos compa-
rados, a pesquisa proporcionou não só a confirmação da intrínseca relação entre as concepções de Hístória e de
ensino expressas pelos livros didáticos, como possibilitou aferir como as reformas educacionais realizadas no Brasil,
na Argentina e no México nos anos 1990, apesar de se darem dentro dos mesmos referenciais educacionais, redunda-
ram em situações muito diversas no tocante ao ensino de História no nível médio nos três países, e os livros didáticos
parecem ter desempenhado papel central para essa situação. A pesquisa procurou realizar a análise dos livros didáti-
cos a partir de uma abordagem abrangente, envolvendo diversos âmbitos, embasando-se nos fundamentos teóricos
da História das disciplinas. A pesquisa possibilitou concluir ainda que a questão do ensino de História da América no
Brasil é muito mais complexa do que a mera inclusão desses conteúdos nos programas escolares, exigindo uma
reflexão mais profunda.

Cláudia Sapag Ricci - UFMG


O ensino de história como objeto de pesquisa: mapeamento de estudos e pesquisas
Nos últimos anos os programas de pás-graduação de universidades brasileiras vêm se consolidando através do cres-
cente número de pesquisas acadêmicas desenvolvidas tanto em nível de mestrado como doutorado. A área educacio-
nal tem participado intensamente dessa ampliação e em seu interior inúmeras questões transformam-se em objeto de
estudo e pesquisas. É significativo, nesse sentido, o aumento de estudos e pesquisas sobre o ensino de História. No
entanto, são incipientes ainda as iniciativas que buscam a sistematização e socialização dessas pesquisas. O projeto
O ensino de história como objeto de pesquisa: mapeamento de estudos e pesquisas tem como objetivo propiciar essa
sistematização e socialização através da constituição de um banco de dados e articulação entre pesquisadores de
diferentes universidades brasileiras. A intenção dessa comunicação é apresentar algumas reflexões provenientes des-
sa pesquisa.

Priscila Ribeiro Dorella - UFMG


Silvio Julio de Albuquerque Lima: um intelectual deslocado
Esta comunicação pretende apresentar e discutir parte da vida e da obra do intelectual brasileiro Silvio Julio de Albu-
querque Lima (1895-1984 l, um precursor dos estudos acadêmicos sobre a América Hispânica no Brasil. Seus escritos
testemunham a militância do autor em prol do mútuo conhecimento entre os países ibero-americanos ao lidar, por
exemplo, com questões tão pouco visitadas pela intelectual idade brasileira como é o caso das culturas hispano-
americanas, fato que por sinal o autor procurava chamar a atenção do público, atuando através de uma linguagem não
poucas vezes passional e mesmo agressiva. Isso tudo, aliado a seu temperamento difícil, contribuíram em grande
medida não só para fazer dele, entre seus contemporâneos, um intelectual deslocado tanto do ponto de vista da
sociabilidade e das posições ideológicas defendidas, quanto das temáticas trabalhadas, como também torná-lo, entre
aqueles que mais tarde se dedicariam ao mesmo universo temático que lhe era tão caro, a América Latina, um autor
esquecido. Dessa forma, a trajetória de Silvio Julio possibilita observar o que está em jogo no reconhecimento intelec-
tual: suas escolhas tocantes ao objeto, ás linguagens e perspectivas teóricas bem como á habilidade em estabelecer
relações em seu círculo profissional.

512
65. O estatuto do cinema e da televisão na pesquisa histórica: documento, memória, re·
presentação e interdisciplinaridade
Eduardo Victorio Morettin (Universidade de São Paulo)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h ás 18h) I
Ismail Norberto Xavier -Escola de Comunicações e Artes
A construção visual do nexo entre industrialização e urbanização num documentário dos anos 1920: raciona·
lidade ideal e desalinhos caipiras
A comunicação tem como foco a análise das formas pelas quais Sociedade Anônima Fábrica Votorantin (1926), com-
põe um discurso imagético concentrado na descrição de operações industriais, de modo a salientar a simultânea
construção da unidade produtiva e dos espaços sociais conectados a ela, seja no pólo da localização e transporte dos
que atuam nesta unidade em contato com as máquinas, seja no pólo dos que gerenciam todo o processo, seja no pólo
do consumo daquilo que é produzido na fábrica. Há, então um nexo entre a urbanização e a industrialização que se faz
imagem, nexo materializado na velocidade dos transportes capazes de oferecer as condições técnicas para que pro-
dução e consumo possam constituir tal unidade, numa dinâmica própria que gira em torno da noção do progresso
técnico como uma benesse universal. De forma particular, interessa analisar o privilégio dado aos movimentos de
câmera sobre as operações de montagem, de que resulta uma noção muito particular do ritmo da produção e da vida
social, destacando-se, entre outros aspectos, a ação 'natural' do mundo fabril sobre a paisagem. No plano do intertex-
to, haverá um comentário sobre o que está implicado na presença, neste filme, dos motivos clássicos do 'primeiro r;;;;...65
cinema', como, por exemplo, a chegada do trem. ~

Mariarosaria Fabris· USP ~


Pietro, Rocco e seus irmãos: caminhos e descaminhos da migração interna na Hália pré·boom~
Como Luchino Visconti em "Rocco e seus irmãos" (1960), em IIAssim é que se ria" (1998), Gianni Amelio faz explodir na ~
tela os sentimentos de emigrantes do Sul da Itália que levam para as grandes cidades do Norte industrializado sua fala ~
e seus costumes. Num filme marcado pelas elipses narrativas e pela ambigüidade da trama e das personagens, .~
Amelio focaliza os primeiros anos da migração interna, quando os italianos se descobrem diferentes entre si. .~
'"
~
Marcos Francisco Napolitano de Eugênio - USP
Cinema brasileiro, música popular e identidade nacional: o caso de "Favella dos meus amores".
O filme 'Favela dos meus amores', de Humberto Mauro, cujas cópias se perderam, foi muito bem recebido pela crítica '"E
e pelo público da época (1935), tornando-se objeto de culto e memória. Nesta comunicação pretendo articular, a partir .~
dos fragmentos documentais que nos informam sobre o filme, os seguintes pontos: 1) o papel do filme na construção ~
de uma nova identidade nacional e de uma nova cultura popular urbana, tendo como centro o Rio de Janeiro; 2) o papel "O

da música popular e as representações do universo do samba neste filme específico e no 'film musical' dos anos 1930, ~
como um todo; 3) os aspectos ideológicos e estéticos contidos na sua recepção crítica. A partir destes três eixos de t;
análise pretendo mapear o impacto de 'Favella .. .' na formatação de uma nova cultura 'nacional-popular' no Brasil, cujo '"
sentido ideológico era disputado á esquerda e á direita. Cl

Eduardo Victorio Morettin • USP


A representação do espaço do trabalho no documentário brasileiro do período silencioso
Pretendemos examinar a representação do espaço do trabalho na produção documental brasileira do período silenci-
oso, através de filmes paulistas como Companhia Fabril de Cubatão (1922), Companhia Docas de Santos (1928) e O
progresso da Noroeste (1928). A intenção é analisar a construção de um discurso que elege o progresso, a máquina e
a fábrica como um dos eixos de celebração de uma modernidade entendida como vocação histórica. Ao mesmo tempo,
procuraremos situar esta produção fílmica dentro de um quadro mais geral das relações entre cinema e história no
período.

I 17/07 - Terça-feira - Tarde (14h ás 18h)

Daniela Giovana Siqueira - UFMG


Cenas de um horizonte político - o ano de 1963 e a produção de cinejornais a serviço de uma administração
municipal na capital de Minas Gerais
Esta proposta tem por objetivo apresentar um estudo de caso sobre a realização de cinejornais produzidos pela admi-
nistração Jorge Carone Filho á frente da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, Minas Gerais. As obras administrati-
vas, os festejos públicos que tiveram como cenário as ruas da cidade, os encontros do poder público com o povo são

513
algumas das imagens registradas que compõem o escopo do acervo pesquisado. uma produção que teve condições
estabelecidas pelas características locais, mas que dialoga pela permanência no tempo em sua forma e conteúdo com
realizações de vários governos que utilizaram o cinema para estabelecer um esforço de comunicação junto à popula-
ção. são discursos que assumem os contornos de verdadeiros rituais do poder, e pelo poder.
Para tanto, tomou-se a cidade no ano de 1963, no ápice de seu movimento modernizador, para entender as tensões
políticas e as ações administrativas da prefeitura em relação ao movimento da própria cidade. uma cena pública que
se configurou em elemento na composição de uma linguagem do cinema de propaganda política, dada em uma produ-
ção específica de cinejornais.
os cinejornais nesta perspectiva são entendidos como fontes para a história, uma vez que são estudados sob a pers-
pectiva do cinema na história e na sociedade.

Mônica Almeida Komis • CPDOC/FGV


Narrativas biográficas como representação de tempos heróicos: uma análise dos filmes alga, Lamarca e Zuzu
Angel
Examinar como narrativas audiovisuais estruturam um determinado conhecimento da história republicana brasileira é
a questão mais geral que norteia esse artigo. O objetivo central é analisar como os filmes Olga (Jaime Monjardim,
2004), Lamarca e Zuzu Angel (ambos de Sergio Rezende, produzidos respectivamente em 1994 e 2006), centrados
em personagens vítimas de regimes ditatoriais, representam, para além de histórias individuais, conjunturas históricas
marcadas por uma intensa atividade repressiva: o Estado Novo e os governos militares (1964-1985). A investigação
sobre os parâmetros nos quais se opera a construção narrativa desses filmes se articula a outras variáveis posto que,
realizadas num período democrático, essas produções são exemplares de um momento de retomada do cinema bra-
sileiro com um viés sobretudo comercial e de aprofundamento das relações entre cinema e televisão.

Renata Vellozo Gomes· UFRJ


As possibilidades de pesquisa histórica em arquivos audiovisuais: um estudo das imagens do Rio de Janeiro
nos cinejomais da Agência Nacional nos anos 50
Otrabalho analisa um conjunto de imagens extraídas de variados cinejornais produzidos pela Agência Nacional duran-
te década de 1950. O termo Agência Nacional, nos remete à questões políticas e de poder, e quase não associamos a
possibilidade de poder fazer uso desse material para descobrir registros, formas de ver e mostrar outros aspectos do
Brasil. Para tanto escolhemos imagens produzidas na cidade do Rio de Janeiro. Quer-se investigar, portanto, o que se
mostra nessas imagens e ir além do caráter oficial que é inerente ao órgão de notícias do governo. Desse modo,
deixamos de lado as imagens oficiais e verificamos o seu potencial documental de registros dos aspectos culturais e
dos costumes e eventos do cotidiano na cidade carioca, assim como alguns acontecimentos marcantes. Através dessa
pesquisa, pôde-se chegar em diferentes temáticas: Crianças, Mulheres, Novidades, População, Carnaval, Lazer, Es-
portes e Artes Visuais. São analisadas ao todo 23 reportagens cinematográficas pertencentes ao arquivo da Agência
Nacional e entrevistas com profissionais que viveram e acompanharam o meio de produção de cinejornais no século
XX no Brasil.

Maria Leandra Bizello • Unesp


Cinejomais nos anos dourados: JK e Brasília em imagens em movimento
Os cinejornais e os filmes institucionais representam uma das faces da propaganda oficial durante o período da presi-
dência de Juscelino Kubitschek. Ao lado da produção cinematográfica nacional de ficção os cinejornais e a produção
institucional mesclavam uma preocupação em construir e legitimar imagens. Este estudo analisa esses filmes enten-
dendo-os como documentos históricos desse período e discute a construção das imagens de Juscelino Kubitschek e
Brasília. Analisa as imagens oficiais de JK, reflete em que medida as imagens da construção da então nova capital
federal contribuíram para legitimá-lo como um presidente dinâmico, visionário e moderno. Procura também discuti-Ias
como elementos importantes para a propaganda oficial num período dito como democrático e de franca expansão dos
meios de comunicação de massa e que relações o Estado estabeleceu com essa produção cinematográfica.

Cristina Souza da Rosa· UFF


Imagens do DUX: o cinema e o fascismo
Esta comunicação tem por objetivo discutir o papel do cinema com instrumento de propaganda fascista. Os anos trinta
marcaram o inicio da fascistização da sociedade italiana. Foi ainda neste período que o mito do Duce foi fabricado
através de uma série de eventos quotidianos encenados nos espaços públicos. O cinema, pelo seu poder de conven-
cimento e pela atração que exercia sobre os expectadores, foi encarado por Mussolini como um importante aliado no
processo de conquista das massas. O LUCE, instituto nacional de cinema educativo, foi o órgão responsável pela
divulgação da ideologia fascista e do mito do Duce através do cinema. Seus documentários e cine jornais davam
visibilidade a figura idealizada de Mussolini que, diante das câmeras, encenava o papel do grande líder. No mesmo
sentido, Mussolini fazia pessoalmente a censura dos filmes, com isto, evitando que uma imagem humanizada de si

514
mesmo chegasse ás salas de projeção. O uso do cinema como fontes de pesquisa ou como sujeito da história pelos
pesquisadores permite compreender o imaginário social e político de uma sociedade. Nesta comunicação o cinema é
visto como sujeito da história, onde, o pesquisador do fascismo pode estabelecer uma discussão sobre a ideologia
fascista e suas estratégias políticas.

Reinaldo Cardenuto Filho - USP


As crises e soluções para a sociedade brasileira nos filmes do Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (Ipês)
e nos filmes do Centro Popular de Cultura (CPC da UNE)
Entre 1962 e 1964, dois grupos de militância ideológica produziram filmes que investigaram as crises e esboçaram
soluções para a sociedade brasileira. O Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (Ipês), formado principalmente por
empresários liberais e anticomunistas; e o Centro Popular de Cultura (o CPC da UNE), constituido por intelectuais
jovens vinculados ás idéias marxistas, financiaram curtas-metragens na tentativa de investigar e propor as melhores
saídas para o subdesenvolvimento social, econômico e cultural do país. Trafegando pelas teorias desenvolvimentistas
da década de 1950 e 1960, o lpês exortou o caminho do liberalismo e do cristianismo como ideais: a iniciativa privada
e uma elite responsável seriam capazes de acelerar a economia nacional e promover, conseqüentemente, o equilíbrio
social. O CPC, também banhado pelo ideário desenvolvimentista, determinaria uma outra direção, em que exalta o
nacional-popular: o subdesenvolvimento somente seria vencido a partir da união do povo com o intelectual esclarecido
de esquerda contra os detentores do capital privado. O objetivo do estudo é comparar as produções audiovisuais,
revelando aproximações e distanciamentos entre as teorias e propostas de atuação dos grupos.

Rodrigo Archangelo - USP


Antes do filme ... a política: uma possível leitura histórica da São Paulo que se democratizava ~
f65\
A democratização da participação política a partir de 1946 caminhou por estratégias que visaram, sobretudo, um maior
alcance da mensagem ao eleitorado. Tomando como exemplo as campanhas políticas de Adhemar de Barros em São ~
Paulo, a visualidade nelas trabalhada contou com um veículo já testado numa experiência ditatorial (então recente) e 'g.
capaz de 'dar vida" ao seu o discurso: o cinejornal. E neste caso, o cinejornal Bandeirante da Tela, da Divulgação ~
Cinematográfica Bandeirante. Seu formato filmico e conteúdo traduzem signos e valores latentes na sociedade paulis- '"c
ta, de modo que a sua produção, veiculação e mesmo uma "estética politica' (e por que não uma estética adhemaris- .~
ta?) para ele pensada, nos oferecem a possibilidade da releitura histórica de uma sociedade que, estando (ou não) .~
representada naquele discurso, ao menos motivou a construção de uma realidade encenada nas telas. Desta forma, o ~
cinejornal e o adhemarismo ilustram como o complemento nacional- manifestação cinematográfica tida por 'menor' - {g
representa um momento em que a política e o cinema estiveram ligados, participando efetivamente nas decisões de Q.)

uma sociedade que se democratizava. '"E Q.)


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18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h ás 18h) "C

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Mônica Cristina Araujo Lima - USP ti
O filme ORG (1967-1978) - Por un cine cósmico, delirante y lumpen: (ou o processo de desilusão política e ~
desconstrução estétíca de Fernando Birri)
Org, filme do diretor argentino Fernando Birri foi realizado durante seu exílio na Itália, entre 1967 e 1978. É um suges-
tivo documento para a compreensão das propostas políticas, cinematográficas e estéticas das esquerdas entre os
anos 50 e 70. A base teórica da obra está no pensamento de três personalidades originais: George Méliés, Che
Guevara e Willian Reich. O lançamento de ORG, em 1978, foi acompanhado do terceiro manifesto escrito por Bim:
Manifesto dei Cosmunismo o Comunismo Cósmico - Por un cine cósmico, delirante y lumpen. Elaborado em momento
de profunda depressão, foi uma tentativa de acerto de contas com o passado e rompimento com sua proposta de
cinema nacional, popular e realista defendida até então. A partir da análise de ORG, e a história de sua 'desconstru-
ção', como o autor prefere chamar, podemos vislumbrar as mudanças das formulações estéticas e teóricas da esquer-
da do período. Ela vem associada, em um primeiro momento, á crença na possibilidade do realismo estético de
conscientizar os povos, desvendar o mundo e ajudar a transformá-lo. E, num segundo momento, á radicalização
política e sua crítica, até a derrota e desilusão com os projetos ligados ao nacional populismo e ás propostas revoluci-
onárias da época.

Fábio Raddi Uchôa - Escola de Comínacações e Artes - USP


A cidade como horizonte esfacelado em Aopção, de Ozualdo Candeias
Abrangendo quase cinco décadas , a obra cinematográfica do cineasta Ozualdo Candeias dialoga com o cinema
brasileiro moderno e, mais especificamente, com o contexto da passagem dos anos 60-70. De especial interesse em
alguns de seus filmes: a transição de párias anônimos, do campo em direção á cidade ou no próprio contexto urbano.
Pensada a partir do tipo de tensão existente entre corpos e espaço e de sua relação com as motivações dos persona-

515
gens, tal transição contribui para caracterizar a cidade nos filmes representada como um espaço de confluência dos
movimentos; uma superfície porém tensa, visceral e esfacelada.
No filme Aopção ou as rosas da estrada (1981), cortadoras de cana tomam o rumo da estrada sem um projeto definido:
apenas escapar da exploração, oferecendo seus corpos por carona. Sem direção, caminhando entre beiras de estra-
das e horizontes esfacelados, confluem para São Paulo, horizonte urbano apresentado por meio de um sky line esfu-
maçado, indistinto. A análise do filme,tomando por base a relação dos personagens com o espaço (viário/urbano) e as
suas motivalavanca a discussão da referida São Paulo cinematográfica e suas consonâncias com: a deambulação de
filmes da Nouvele Vague; a deterioração urbana de filmes produzidos durante a ditadura militar brasileira.

Roberta Maria Lobo da Silva - UFRRJ


Movimento de Renovação da Educação e o Cinema Educativo
O pensamento sobre o cinema educativo no Brasil deve ser analisado a partir de um projeto de educação elaborado na
década de 1930. Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo, Lourenço Filho, dentre outros, iniciam a construção dos prin-
cípios da educação brasileira já na década de 1920. Com base na análise do projeto de educação da época e da
produção de Humberto Mauro e de um conjunto de profissionais ligados ao INCE, buscaremos relacionar os limites e
as potencialidades do filme educativo na formação de uma consciência social e política da educação no Brasil.

Hilda Machado - UFF


Cinema científico: o caso Alberto Federrnan
A recente localização no Instituto Biológico de cópia das microfotografias em movimento de A broca do café realizadas
em 1924 por Alberto Federman, reconhecido por B.J. Duarte como pioneiro do filme científico permitem a discussão
das sequências que instauraram novo regime de visibilidade, combinado a procedimentos ficcionais, à estética melo-
dramática e aos pactos vigentes de espectorialidade daquela década. Afita combina externas definitivamente instituci-
onais de A. Pamplona ás referidas sequências inaugurais de vernacularização científica de micro descrições do inseto
de comprimento de 1,65 mm. A mise-en scene a que foi submetido o referido inseto coloca a questão da ficcionalização
das imagens ditas científicas. A broca do café é corpus privilegiado para aproximar os conceitos filme cientifico e
educativo, ficção, não-ficção e documentário. Odebate será possivel à luz do pensamento e das práticas e políticas de
saúde da comunidade científica da época, bem como do pensamento da educação brasileira elaborado pelo movimen-
to dos renovadores.

Marcia Regina Barros da Silva - Centro de História e Filosofia das Ciências da Saúde I UNIFESP
Educando os sentido: B. J. Duarte e o cinema científico
A produção de Benedito Junqueira Duarte é extensa. Sua ligação com a área científica se deu sobretudo dentro da
temática médica. Recentemente foi encontrada no Arquivo Histórico da Universidade Federal de São Paulo, cópia em
16 e 35 mm de um filme realizado, muito provavelmente, em 1963. Ofilme intitulado 'Uma escola de médicos' apresen-
ta a então Escola Paulista de Medicina, segunda escola médica do Estado de São Paulo, fundada em 1933. A intenção
deste trabalho é discutir tal material, em fase de restauro, a partir de duas perspectivas: como um filme promocional
que procura registrar uma memória institucional e ao mesmo tempo como um esforço em prol da construção de um
discurso científico de base experimental e tecnológico. A analise realizada procurará enfatizar sobretudo certa idéia de
'educação visual' apontada pelo filme, tentando discutir a perspectiva da divulgação científica como um procedimento
de vulgarização do discurso da medicina.

Fátima Sebastiana Gomes Lisboa - UFSC


Imagens para a memória: o subdesenvolvimento em Tomás Gutiérrez Alea
Tomás Gutierrez Alea, cineasta cubano, realiza em seu filme Memórias do Subdesenvolvimento (1968) uma reflexão
sobre a sociedade cubana pós-revolução e sobre o conceito de subdesenvolvimento em sociedades com um passado
colonial. Construindo uma cinematografia nacional as imagens do projeto político cultural do ICAIC registram a memó-
ria do processo revolucionário cubano. Meu trabalho quer refletir sobre as imagens construtoras de memória colocan-
do a seguinte questão ao filme de Alea! Pode o compromisso com a denúncia de uma 'mentalidade subdesenvolvida'
deixar margem para elaboração de imagens que questionem o próprio conceito de subdesenvolvimento?

I 19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h às 16h30min) I


Ana Carolina de Moura Delfim Maciel- UNICAMP
"Star System Made in Brazil (década de 1950)
Este trabalho tem por objetivo analisar, através da imprensa e de alguns textos teóricos, como se deu a eleição de um
sistema estrelar brasileiro na década de 1950, fenômeno que ocorreria paralelamente ao consumo de icones do cine-
ma estrangeiro, notadamente norte-americano. Embora coincidente com um periodo de decadência do hegemônico

516
modelo importado, isto não impediria que este fosse adotado como forte referência para a publicidade e divulgação de
astros e estrelas nacionais. O Brasil, como vários outros paises da América Latina (e do mundo) integrava amplo
público consumidor e sedento por informações, necessidade que os periódicos de cinema buscavam sanar.

Margarida Maria Adamatti - ECA-USP


Revistas de fãs e a representação do cinema brasileiro através do star system
A cobertura jornalística do cinema brasileiro nas revistas de fãs durante a década de 50 era baseada na fotogenia e na
presença das estrelas brasileiras, muito mais do que na crítica e na análise da atuação. Incentivadoras de um star
system brasileiro, enquanto a critica intelectualizada condenava um tipo de cinematografia brasileira como as chan-
chadas, as revistas Cena Muda e Cinelândia auxiliaram a aumentar o processo de identificação dos espectadores com
as atrizes brasileiras. Não eram as duas publicações meras divulgadoras do star system. Sua legitimidade simbólica
residia exatamente no caráter antagônico de ser ao mesmo tempo incentivadora e crítica do cinema nacional. Coexis-
tiam em suas páginas editoriais, a fabricação de pin ups convertidas em futuras estrelas brasileiras com severas
críticas quanto ao nível da cinematografia, chegando até ao questionamento do star system. As fofocas e os eventos
produzidos mediaticamente para manter acesso o interesse do leitor são elevados "à dignidade de acontecimentos
históricos destituídos de qualquer significação política' (Morin, 1962: 105). levando muitas vezes para a fronteira da
representação simbólica eventos de maior relevância política.

I 20107 - Sexta-feira - Manhã (10h30min às 12h30min) I


Wolney Vianna Malafaia - Colégio Pedro 11- RJ
Memórias do Desenvolvimento: O Cinema Novo e a Construção de uma Memória Social em Tempos de Transi-
@
ção (1973-1980) g
Análise da produção cinematográfica de cineastas ligados ao Cinema Novo, realizada no período compreendido entre .
1973 e 1980, tendo como pano de fundo o processo de redemocratização da sociedade brasileira e as conseqüências
ª'
*-
sociais e culturais produzidas pela 'modernização autoritária', imposta pelo Regime Militar instaurado em 1964. Esta '"c::
análise privilegiará as narrativas fílmicas, sem deixar de considerar outras espécies de fontes como textos, artigos, .~
críticas, declarações e entrevistas, tanto dos cinemanovistas quanto de seus críticos e interlocutores, produzidos no .~
período considerado, Objetiva, portanto, desvendar a construção de uma memória social, através da linguagem cine- ~
matográfica e de suas interfaces, como um testemunho de uma época de transição e de profundas transformações que .g
acabarão por moldar o Brasil contemporâneo. Q)

'"
E
Rosane Kaminski - UFPR .~
A "trilogia do Sul" de Sylvio Back nos debates sobre brasilidade ::::;
Entre 1968 e 1975, Sylvio Back dirigiu três longas-metragens de ficção: Lance Maior (1968), A Guerra dos Pelados B
(1971) e Aleluia, Gretchen! (1975). Em cada um deles o cineasta buscou inserir questões históricas e culturais do Sul .'3
do Brasil no domínio das discussões sobre a brasilidade e o 'conceito de nação'. Eram temas presentes nos debates ~
culturais entre 1960/70 e permearam muitas produções cinematográficas daqueles anos. A certa altura, Back nomeou ~
aquele conjunto de filmes como "trilogia do Sul', propondo uma nova perspectiva para pensar os dilemas nacionais. O
objetivo desse trabalho é discutir possíveis origens do projeto cinematográfico sulino de Back a partir da observação
das fontes impressas que divulgaram essa trilogia, incluindo as declarações do cineasta e sua repercussão na mídia.
Segue-se a hipótese de que tal projeto sulino seria uma contrapartida ao olhar cinematográfico que tentava definir um
suposto 'homem brasileiro', pautando-se na realidade sócio-cultural do Nordeste e do Rio de Janeiro, o que, acredita-
va-se, permitiria visualizar uma "identidade nacional'. Atrilogia sulina de Back, enfim, antes de apresentar-se como um
cinema regionalista, parece fundamentar sua busca de legitimação no campo cinematográfico nacional.

Regina Maria Rodrigues Behar - UFPB


Cultura histórica e narrativa cinematográfica: uma reflexão sobre a relação cinema-história
Partindo da constatação de que o cinema, ao longo de sua história buscou no âmbito dos temas históricos um mote
recorrente de suas narrativas, o presente trabalho tem como objetivo a reflexão a propósito desse diálogo, que se dá
para além de uma perspectiva documental estrita, e estabelece um padrão de narrativa ficcional imagética nas socie-
dades contemporâneas. Partimos da idéia de que a narrativa cinematográfica contribui para a constituição de cultura
histórica, não apenas quando se volta para os episódios históricos, mas sempre que narra ficionalmente processos
históricos e formula discursos que pretendem estabelecer parâmetros de identidade nacional, local ou de grupos de
interesse. Tais narrativas, por seu turno, têm sido frequentemente utilizadas no ensino de história, o que torna a
discussão uma necessidade. Nesta reflexão buscaremos compreender como as cinematografias nacionais, a exemplo
da que caracteriza o cinema americano dirigido ao grande mercado, têm contribuido para criar ou reforçar padroões
identitários que têm implicações nas representações históricas que veiculam para seus espectadores.

517
Karla Adriana Martins Bessa - Universidade Federal de Uberlândia
Sylvio Back e Cruz e Souza. Poética-visual em Preto & Branco
A partir da análise do filme 'Cruz e Souza- o Poeta do Desterro' (1999) de Sylvio Back, pode-se vislumbrar as múltiplas
temporal idades e produções subjetivas que cruzam o universo estético/poético de Back ao recriar em estrofes visuais
fragmentos biográficos do 'maior poeta negro da lingua portuguesa'. A personagem/vida de Cruz e Souza (1861-1898)
provoca um encontro com as condições do negro e do literato, na sociedade brasileira novecentista, sem contudo,
pretender se constituir em retrato social de época. Pelo contrário, o diálogo de Back com a estética fílmica dá o tom
politico de sua própria poética. Paixões, cenários, conflitos sociais e racialização das sensibilidades perpassam tanto
o diálogo que se estabelece entre o filme (o cineasta) e a literatura (o Poeta), quanto a narrativa histórica que se
pretende construir a partir desta experiência, o filme e o cinema, que marcou e marca a sensibilidade e imaginários
contemporâneos. Uma velha problemática dará contorno á reflexão: como construir uma narrativa histórica a partir e
sobre práticas culturais específicas (cinema e poesia) sem minimizar a singularidade de suas linguagens á equação
comum do 'texto' e, ao mesmo tempo, sem maximizar as distâncias que as isolariam na intradutibilidade de seus
próprios meios e usos.

I 20/07 - Sexta-feira - Tarde (14h ás 18h)


Luana Chnaiderman de Almeida - USP
História e Inversão: o humor na representação fílmica do Holocausto. O trem da vida (2000)
Esta comunicação pretende analisar o filme 'O trem da vida' (2000), discutindo o uso do humor na construção de uma
narrativa sobre o o Holocausto. O filme mostra uma fábula na qual judeus fantasiam-se de nazistas para escapar num
trem que os levará á Palestina. Cada um representa o seu papel na farsa e invertem-se papéis: nazistas e judeus
fundem-se numa mesma comunidade. Ao representar o impossível, mas com coerência e verossimilhança, o filme
alcança uma qualidade poética significativa, e se abre a diversas análises e interpretações que podem refletir sobre
questões que o nazismo e a época suscitam. No entanto, pode-se acusar o filme de 'falsear' a história, e conferir-lhe
uma leveza que não existiu. A nosso ver, dentro da fábula do filme, permanece, entretanto, uma corda tensa e trágica
que soa o tempo inteiro, na qual se representam angústias e tensões, conflitos sociais e éticos e que de maneira
alguma minimizam o que foi a catástrofe do nazismo. O humor mostrando o impossível acaba por representar o
acontecido pelo reforço do impossível e pela retórica da inversão - característica fundante da comédia - consegue dar
conta do Horror.

Flávia Cesarino Costa - ECAlUSP


As comédias de Cavalcanti e o Cinema Brasileiro dos anos 50
O embate entre temas locais e cineastas estrangeiros imigrados tem uma longa tradição no cinema paulista desde os
cavadores do início do cinema. Mas agora, nos anos 1950, este dilema se refaz em termos industriais. O padrão
internacional de qualidade se defronta com a tradição bem paulista de filmar não o que é tradicional mas sim o que é
novo, recém construído, o moderno, associados agora a uma idéia de progresso inexorável. Se a realidade social
paulistana dos anos 1950 é povoada de imigrantes estrangeiros e migrantes brasileiros de outras regiões, e está
mergulhada em crescente urbanização e industrializaçação, os filmes vão se adaptar a esta tradição local, de ver a
cidade com um olhar de fora. Há entretanto o reverso desta multiplicidade de perspectivas: um ponto de vista mais
local que apenas recentemente deixou de ser rural, pacato e simples, um olhar' nativo' que insiste em ver as coisas
sem esta mediação cosmopolita e se sente desconfortável dentro dela. Cria-se ai um desacerto, um descompasso
entre a idéia de uma cidade que não pára, sempre crescendo e se modernizando, e a idéia de uma certa simplicidade
mais local. Esta dinâmica pode ser vista nos filmes de Cavalcanti, Simão o caolho (1952) e Mulher de verdade (1954),
e também em outras comédias do período.

Sergio Alves de Souza - SMElSão Paulo


Colônia/Império/Ditadura: Iracema e o nascimento da nação
O filme Iracema, a virgem dos lábios de mel, dirigido por Carlos Coimbra, estrelado pela atriz pornô Helena Ramos e
baseado no romance de José de Alencar, foi co-produzido pela Embrafilme a partir da politica desta entidade de
incentivo a obras baseadas em clássicos da literatura brasileira. O objetivo da comunicação é refletir sobre o jogo
intertextual existente na obra: a leitura de colônia do projeto nacional alencariano, o projeto de nação da ditadura
militar, o erotismo presente na escolha da atriz, o projeto cinematográfico da Embrafilme.

Monica Brincalepe Campo UNICAMP /IFCH


Olhar Eletrônico e a produção alternativa para a televisão dos anos 80
Este trabalho tem por objetivo pesquisar a produção realizada para a televisão pela produtora Olhar Eletrônico ao
longo dos anos 80. Visa analisar como foram concebidos e quais as intervenções que produziram na forma e no

518
conteúdo predominantes da produção televisiva. A idéia da produtora de video surgiu entre alguns colegas da FAU-
USP (Fernando Meirelles, Paulo Morelli, Marcelo Machado e Beto Salatini) que perceberam a oportunidade de adquirir
equipamento de video e entrarem no mercado de audiovisual. A participação na televisão veio a partir de convite que
fez Goulart de Andrade para a preparação de programas na televisão Gazeta. Este convite possibilitou a eles a opor-
tunidade de praticarem a elaboração de produtos audiovisuais e, a partir da experiência obtida, ampliarem seus obje-
tivos. A participação ativa da Olhar Eletrônico nos principais palcos políticos e sociais daqueles agitados anos de
retomada do estado civil e democrático estimula o estudo destas produções, especialmente tendo em vista a delibera-
da prática que implementaram para a experimentação em linguagem audiovisual em busca de forçar fronteiras estabe-
lecidas para a abordagem de temas políticos, sociais e culturais marcados pela censura e auto-censura existentes
naqueles anos.

Flavio Rgerio Rocha - PUC - PR


Experimentalismo como linguagem: Super-8 x Vídeo
Este trabalho quer estudar as possibilidades da intersecção entre arte e a tecnologia no que diz respeito ás expressões
audiovisuais. Para isto, nos utilizamos dos suportes Super-8 e Vídeo, procurando semelhanças e diferenças na forma
como ambos são feitos. O que de início nos chama a atenção é que ambos surgem praticamente numa mesma época
e representaram a possibilidade de acesso a um maior número de pessoas aos suportes de imagens e sons em
movimento. Suportes estes, que rapidamente foram incorporados pelos artistas como meio de expressão artística.
Bem como tornaram-se potentes armas de contestação e agitação política.

Fabiana de Paula Guerra - Universidade Federal de Uberlândia


Em foco: representações e memórias no filme "Araguaya: a conspiraçâo do silêncio"
O presente trabalho tem o intuito de discorrer sobre aspectos da relação História/Cinema a partir da análise do filme
recentemente lançado Araguaya: a conspiração do silêncio, de Ronaldo Duque. A película busca reconstituir o episó-
dio ocorrido na região sul do Pará, conhecido como guerrilha do Araguaia. Para isso, traz como protagonista um padre
que d.á assistência aos moradores do local, tornado-se amigo dos guerrilheiros, sem saber ao certo quem realmente
são. E através do olhar dessa personagem - que vivencia o drama da miséria e do abandono a que aquela população
é relegada - que a história vai se desenvolvendo no desenrolar da trama.
Partindo dessa produção cinematográfica, podemos nos indagar sobre o modo como os historiadores têm utilizado
filmes como documentos a partir dos quais é possível produzir conhecimentos históricos. Em contrapartida, também
podemos observar o modo como o cinema vem se apropriando da história e representando determinados fatos por
meio de imagens. Nesse sentido, busco discutir sobre quais são os significados de se produzir um filme que retrata
aspectos da luta armada, assim como qual é a representação da guerrilha contida nas cenas, o que se relaciona com
a difusão de uma determinada memória sobre esse episódio, que ainda hoje se tenta ocultar.

66. Os índios na História: Fontes e Problemas


John Manuel Monteiro (UEC) e Maria Regina Celestino de Almeida (UFF)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h às 18h) I
Eduardo Natalino dos Santos - FFLCH/USP ~
Fontes nativas pré-hispânicas e coloniais da Mesoamérica e Andes: principais conjuntos e problemas de ~
entendimento e interpretação :g
Grandes conjuntos de vestígios arqueológicos e de fontes figurativas e escritas, produzidos pelas populações nativas a:
tanto na época pré-hispânica quanto após o contato, procedem da Mesoamérica e dos Andes. Entender e interpretar ~
esses vestígios e fontes com base em procedimentos e teorias relacionados às Ciências Humanas, sobretudo à Histó- g
ria, Arqueologia e Antropologia, tem sido uma tarefa feita e refeita desde o século XIX. Nesta comunicação, apresenta- w...
rei as características de alguns dos principais conjuntos de fontes figurativas e escritas provenientes dessas duas ·ê
macro-regiões, bem como os principais problemas relacionados ao seu entendimento e as grandes linhas interpretati- ~
vas que têm marcado seus estudos. Por fim, procurarei mostrar que os trabalhos interdisciplinares realizados nas =;
últimas três ou quatro décadas - principalmente por historiadores, antropólogos e arqueólogos, mas também por ~
estudiosos de outras áreas - têm se mostrado um caminho promissor para a compreensão dos múltiplos e mutáveís ~
significados e usos que essas fontes teriam em suas sociedades de origem e, conseqüentemente, para a superação c::
da busca de sentidos universais e imutáveis de suas imagens e textos.

519
Maria Cristina dos Santos· PUCRS
A voz do índio? A articulação dos mediadores entre a história contada e a história escrita
Na documentação colonal produzida por cronistas, missionários, funiconários da(s) coroa(s) para dar conta dos suces-
sos da conquista e evangelização dos indígenas, não raro sugem reproduções de "falas" ndiígenas ou de diálogos
entre indígenas e ocidentais. Se por um lado a reprodução destas falas indica uma condescendência do autor do
registro aos indígenas por otro inidcam também os condicionantes interpostos pelos mediadores na reprodução da fala
indígena e da condição destes de sujeitos ativos no processo colonial. A proposta aqui, é analisar o papel e as condi-
ções colocadas pelos mediadores enquanto hierarquizadores da condição do indígena como sujeito de "falas" e de
atitudes. Para realizar esta análise serão estudados as 'falas" atribuídas aos indígenas reproduzidas por diferentes
mediadores culturais em diferentes momentos do processo colonial da América Platina; são eles, um conquistador do
século XVI, um missionário do século XVII e um funiconário do século XVIII.

Maria Regina Celestino de Almeida· UFF


índios, Negros e Mestiços: algumas reflexões
Os processos de mestiçagem cultural e étnica nas Américas têm sido repensados á luz de novas proposições teóricas
e conceituais da História e da Antropologia. A idéia de identidades plurais e de historicização das categorias raciais e
étnicas, bem como dos próprios processos de mestiçagem nos permite perceber que ser índio, ser negro ou ser
mestiço podem ter significados diversos conforme os tempos, os espaços e os interesses dos agentes sociais que
interagem. Nesta comunicação pretende-se refletir sobre tais significados no Rio de Janeiro oitocentista, enfocando
priroitamente os índios que ainda habitavam antigas aldeias colonais.

John Manuel Monteiro· UEC


Tapanhunos, Caripunas e Curibocas: as relações entre ameríndios e africanos na América Portuguesa
Esta comunicação avalia contribuições recentes sobre as relações entre povos ameríndios e escravos africanos e
afrodescendentes, mostrando a importância deste tema para a compreensão da história social, econômica e cultural
da América Portuguesa. A pouca visibilidade do tema na historiografia se deve, em parte, à divisão de tarefas entre os
cientistas sociais, circunscrevendo os índios aos estudos etnográficos e à etnologia, por um lado, e os africanos aos
estudos da escravidão e das relações raciais, por outro. Novos estudos, potencializados não apenas pelo melhor
acesso à documentação colonial como também pelas perspectivas analíticas que marcam os debates sobre a história
indígena e sobre as comunidades quilombolas, abrem possibilidades para pesquisas futuras nesta área.

Juliana Fujimoto • USP


A leitura Tupinambá da alteridade: os mitos sobre a origem dos bens culturais
Analisarei os mitos Tupinambá sobre a origem dos bens culturais presentes nos textos dos viajantes, missionários e
colonizadores que vieram ao Brasil entre a segunda metade do século XVI e o final do século XVII, avaliando a
influência do contato desses índios com os europeus na elaboração e re-elaboração desses mitos cujo tema traz
também a visão do índio sobre as diferenças culturais entre ele e o europeu. Partirei de uma concepção de mito que
tenha em conta sua historicidade: utilizarei a crítica histórica tanto para a reavaliação das minhas categorias de análise
quanto para a contextualização dos meus documentos. Esta linha teórica é dada pela Escola Italiana de História das
Religiões que utiliza um método histórico comparativo na análise dos fatos religiosos. Considero a situação em estudo
como um fator de ordem religiosa, pois é a linguagem da religíão cristã uma das mediadoras da comunicação entre
missionários e indígenas, e o principal instrumento de tradução da alteridade americana para a cultura européia (POM-
PA, 2003). Essa adaptação da religião católica ao mundo indígena gerou mal-entendidos que resultaram em uma
religião híbrida (AGNOLlN, 2006). E esse hibridismo religioso constatado por vários estudiosos em sua dimensão
ritual, que pretendo verificar nesses mitos.

Bartira Ferraz Barbosa· UFPE


Cartasem Tupi
Este trabalho pretende discutir a memória indígena do século XVII, contida em cartas alfabéticas escritas por líderes
indígenas de diferentes povos existentes na costa do Nordeste brasileiro.

Vera Chacham . UFMG


A história na fonte: cenas, detalhes e ruínas dos povos indígenas em narrativas de viagem de Saint·Hilaíre ao
Brasil
Para Saint-Hilaire, 'As viagens são uma das fontes da história."A frase, extraida por ele de Viagem à América, de
Chateaubriand, é um argumento e uma idéia recorrentes nas narrativas que o naturalista escreveu sobre o Brasil.
Consciente de ser testemunho histórico para o futuro, e de que 'nossa civilização é toda baseada na idéia de futuro",
Saint-Hilaire parece ter sua imaginação voltada para o tempo enquanto percorre o espaço. E, assim como o futuro está
'presente" nas suas considerações sobre as regiões que descreve, também o passado encontra-se ali, não somente

520
enquanto vestígio de transformações na paisagem, mas como uma forma de compreender conflitos entre brancos e
índios, e sobretudo a situação de decadência em que se encontravam estes últimos. Ainda que de forma fragmentária,
o viajante procura contar uma históría que seja capaz de fazer perceber que tais ruínas, estes restos de povos, que
seriam os índios, revelam-se, segundo ele, 'cousas interessantes', á medida que procuramos saber 'a que edifício
pertencem e que mãos bárbaras vieram demoli-lo'. Minha proposta, assim, é lermos a narrativa de viagem de Auguste
de Saint-Hilaire como historiografia, como uma espécie de escrita da história.

Eunícia barros Barcelos Fernandes· PUC·Rio


Imagens de índios em O MALHO: a imprensa como mediadora de representações
O MALHO foi uma revista publicada de 1902 a 1954 no Rio de Janeiro. Semanal, o periódico representou, junto com
outros, um incremento da imprensa ilustrada na recente república brasileira. Assumiu um caráter eminentemente de
crítica e sátira política, repleto de charges e caricaturas produzidas por expoentes de então como Kalixto - um de seus
editores -, Pederneiras e Leônidas, sendo significativo o uso que tais artistas fizeram de figuras indígenas para expres-
sarem seus posicionamentos diante da sociedade em que viviam. A pesquisa que ora venho desenvolvendo procura
mapear as imagens de índios em periódicos cariocas da Primeira República e O MALHO foi o primeiro a ser rastreado.
A comunicação visa apresentar os resultados do trabalho, enfatizando a imprensa como um mediador cultural, tanto
como receptáculo como propagador de representações. Apresentar imagens encontradas entre 1902 e 1930, limite
temporal da pesquisa, assim como as reflexões derivadas, esclarecendo o 'lugar de fala' do periódico e sugerindo que
ele assume a mediação na continuidade e/ou transformação de representações acerca dos indígenas por ser lócus de
construção de um discurso sobre eles.

I 17/07 - Terça-feira - Tarde (14h às 18h) I


Silvana Alves de Godoy • Uniabeu - Centro Universitário
A vila de Itu e os negros da terra· séculos XVII e XVIII
Os estudos que abordam a capitania paulista, tradicionalmente, enfatizaram o período bandeirante (século XVII) e
cafeeiro (século XIX). Em geral, considera-se que o final do século XVII e início do XVIII- tempo das descobertas do
ouro, seria um período de rupturas em relação ao século XVII. Atualmente a historiografia destaca que, para além
deste viés de ruptura, o século XVIII foi caracterizado também pela contínuidade em relação ao século anterior. Ao
recuar no tempo para buscar respostas para o processo de formação da vila de Itu, observa-se que a descoberta do
ouro não significou necessariamente o fim do apresamento de índios, ainda que a escala tenha sido vertiginosamente
menor do que a verificada no século XVII. Portanto, o que se percebe é um redirecionamento das atividades a partir
das possíbilidades que a descoberta do ouro trouxeram, mas ainda calcadas na mão-de-obra indígena. Com ela,
desenvolveu-se uma estrutura agráría voltada para a produção de mantimentos e a proliferação de ofícios que deram
suporte às expedições monçoeiras. A partir do cruzamento de informações obtidas em fontes como testamentos,
inventários, cronistas, ordenanças e de pagamentos de donativos reaís analisaremos a presença de indígenas na vila
de Itu no final do século XVII e inícios do XVIII.

Mareio Marchioro - UFPR


Fontes aróquias e história indígena: um estudo sobre aldeamentos paulistas (século XVIII) ~
A intenção deste trabalho é investigar a dinâmica das famílias indígenas aldeadas em São Paulo do século XVIII e
início do século XIX. Por meio, sobretudo, de registros paroquiais como listas nominativas e autos de casamento,
®
tentaremos trazer a tona modalidades índígenas de aliança fora e dentro do aldeamento. Dando prioridade aos casa-
mentos e as agregações de índios nos respectivos fogos das aldeias, estaremos dando alento ao diálogo entre história
e antropologia. Característica sempre presente, desde os primeiros trabalhos, o diálogo entre essas duas disciplinas V>
das humanidades, é, para a história indígena vital. Neste trabalho, então, para estudarmos as formas de aliança E
indígena nos aldeamentos coloniais, nos reportaremos a teoria etnológica de parentesco . Mesmo que seja somente :;5
para ressaltar as diferenças entre o contexto atual e o antigo, esse trabalho é necessário. E através dele que a devida !r.
historicidade das formas culturais indígenas será pelo menos parcialmente resgatada.

Teresinha Marcis - Universidade Estadual de Santa Cruz


O cotidiano das famílias indígenas da Comarca de São Jorge dos Ilhéus através dos documentos, 1758-1820
O período histórico marcado pela implantação das reformas do Marques de Pombal favoreceu a produção de informa- ~
ções importantes sobre vários aspectos geográficos, sociais, econômicos e políticos da Colônia, aqui destacando a .~
área que compreendia a antiga capitania de São Jorge dos Ilhéus, então Comarca. No que se refere aos índios !
habitantes desse espaço, vistos como potenciais súditos, além de serem citados nos relatórios gerais a cerca dos ~
recursos naturais e humanos da Comarca de Ilhéus, foram feitos recenseamentos e outros levantamentos específicos, ~
principalmente sobre os antigos aldeamentos elevados a condição de vilas. A grande parte desses documentos já se -~
encontra publicada e subsidiando produções de conhecimentos importantes e, nesse conjunto, esse trabalho pretende Cl

521
ampliar a leitura e análise enriquecendo com novas fontes primárias e abordagens, buscando perceber o cotidiano das
famílias indígenas comuns ao focalizar os papéis sócio-econômicos dos homens e mulheres das vilas de Barcelos,
Santarém e Olivença no período entre 1758 a 1820.

César de Míranda Lemos - UFRJ


Fontes para um debate: Os índios na urbanidade carioca no início do oitocentos
A Comunicação objetiva apresentar os resultados de levantamentos de fontes sobre a presença indígena na cidade do
Rio de Janeiro na primeira metade do século dezenove. Essas informações compõe o acervo de pesquisas que funda-
mentam o doutoramento que realizo na ESS/UFRJ, sob o título de 'Registros de papel branco: a presença indígena,
relações interétnicas e suas representações no Rio de Janeiro, do Império á República.'
Enfim, a comunicação pretende oferecer uma abordagem desta presença em seus mais amplos sentidos: étnico,
social, simbólico e cultural. Sentidos e espaço são conectados numa perspectiva de abordagem que salienta a territo-
rialidade política da cidade do Rio de Janeiro em tempos de forjamento de uma nação e com ela das representações
de capitalidade e civilidade investidas neste espaço - território no início do oitocentos.
A presença indígena nessa territorialidade é, portanto, a chave de acesso ao universo complexo de relações interétni-
cas e de interações societárias que forneceram oxigênio e textura ao tipo de edificio nacional desenhado na primeira
metade do dezenove na Cidade-Corte-Capital do Brasil.

Paulo Henrique Marques de Queiroz Guedes - UFPB


A colonização do sertão da Paraíba: agentes produtores do espaço e contatos interétnicos (1650-1730)
O presente trabalho é resultado de minha dissertação de mestrado defendida em 2006 no Programa de Pós-Gradua-
ção em Geografia da Universidade Federal da Paraíba e tem como objetivo principal analisar a ocupação colonial do
sertão da Paraíba tomando por base os agentes produtores deste espaço e os contatos interétnicos, realizados entre
índios e colonizadores, num período que compreende a segunda metade do século XVII e as três primeiras décadas
do século XVIII. Assim, nosso principal problema foi avaliar a atuação social de colonizadores e índios na reorganiza-
ção do espaço-sertão em meio a sua colonização.
Desta maneira, procuramos demonstrar que a colonização do sertão da Paraíba e sua reorganização espacial não foi
obra apenas dos diversos grupos sociais colonizadores, mas, sobretudo, contou com a participação de vários grupos
indígenas que igualmente protagonizaram este processo de expansão territorial do império português constituindo um
processo dinâmico de inserção, rejeição e transformações constantes ante a nova ordem que se estabelecia no sertão.
Objetivamos desta maneira destacar a importância e a influência dos índios nesse processo enfatizando suas estraté-
gias de resistência e/ou assimilação ao mundo colonial.

Maria da Glória Porto Kok - UNICAMP


Relações interétnicas nas fronteiras da América Meridional
Esta comunicação pretende abordar a problemática dos confrontos e interações entre grupos indígenas e agentes da
colonização ibérica que se desenharam durante a conquista do extremo oeste e do sul da América portuguesa, impul-
sionada pela descoberta de ouro em Cuiabá (1718) e em Goiás (1725). Ao longo do século XVIII, três grupos indígenas
destacaram-se pelos conflitos renitentes contra espanhóis, portugueses, colonos e grupos nativos que colaboravam
para efetivar a colonização das fronteiras entre Cuiabá e Assunção: os Kaiapá meridionais, que ocupavam do sudeste
do Mato Grosso até a embocadura do Araguaia; os Mbayá-Guaicuru, distribuídos na parte meridional e central do
Chaco; e os Payaguá, que dominavam os rios Paraguai e Cuiabá. Diante do contexto descontínuo e violento da
história colonial, novas identidades emergiram no dinâmico processo chamado de 'etnogêneses' pelo historiador Jo-
nathan Hill. Os territórios indígenas foram redefinidos de modo a significar não apenas o marco de um domínio territo-
rial das Coroas ibéricas, mas, sobretudo, um divisor de águas entre etnias distintas, acarretando mudanças profundas
tanto nas culturas nativas quanto nas européias.

Vãnia Maria Losada Moreira - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro


Entre índios e negros do mato: antinomias da construção da ordem nos sertões do Espírito Santo durante o
século XIX
Nas últimas décadas, os avanços dos estudos históricos sobre indios e quilombolas foram notáveis. Apesar disso,
ainda sabemos pouco, principalmente sobre as possíveis interconexões entre ambos nas diferentes temporalidades e
nos variados sertões do Brasil. Na presente comunicação, discutiremos as potencialidades da documentação existen-
te no acervo do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo no sentido de recuperar a história e a dinâmica étnico-
social dos sertões e zonas de contato daquela região durante os oitocentos. Lá se reuniam, em um mesmo tempo e
lugar, dois temidos 'inimigos internos" da sociedade dominante em expansão do século XIX: os 'ferozes Botocudos' e
os 'quilombolas criminosos". Na análise documental, destacaremos a presença de índios, quilombolas, escravos e
autoridades locais e as relações interétnicas criadas nas zonas de contato durante o proceso de construção da chama-
da 'ordem" ou 'segurança pública". Procuraremos demonstrar que aqueles sertões, então vistos pelo sistema dominan-

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te como refúgio de índios, renegados e criminosos, foi também palco de surpreendentes relações interétnicas, como a
união entre senhores e escravos contra os 'bárbaros' da terra, mesmo em meio à crise do sistema escravista e à
intensificação das fugas e da formação de quilombos.

Marta Maria Lopes - UFMT - Campus Rondonópolis


Grupos indígenas na fronteira oeste de Mato Grosso e suas relações com os militares no século XIX
O objetivo deste trabalho é compreender como se davam as relações entre os índios e os militares na fronteira oeste
da Provincia de Mato Grosso no século XIX, 1840-1850, pois estas não se resumiram a momentos de conflito e
submissão ou barreira impeditiva da penetração de paraguaios e bolivianos em território brasileiro. Os militares foram
atendidos pelos indígenas em trocas/comércio, no conhecimento da região, utilização de recursos naturais, no forneci-
mento de alimentos, cavalos, panos, etc. Os indígenas atuaram nas milícias, receberam patentes, como se pode
constatar, nesse período bem anterior à Guerra com o Paraguai.

I 18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h) I


Mário Fernandes Correia Branco - UFF
Entre a Informação e o Diálogo: a percepção jesuítica acerca da cristianizaçao dos indígenas em dois escritos
do Padre Manuel da Nóbrega
O objetivo desta comunicação é apresentar uma breve exposição sobre a 'Informação das Terras do Brasil', de 1549 e
o 'Diálogo sobre a Conversão do Gentio', de 1556-57, escritos pelo padre jesuita Manuel da Nóbrega, primeiro provin-
cial da Companhia de Jesus em terras brasílicas. Como se sabe, a correspondência jesuítica constitui um rico repos-
tório de fontes sobre os primórdios da colonização da América Portuguesa. Entretanto, para além das informações
sobre a terra e a gente dos trópicos, permite, por outro lado, o acompanhamento da gênese e desenvolvimento de
novas percepções dos inacianos acerca dos brasis.
Nesse sentido, a 'Informação das Terras do Brasil' assinala as primeiras impressões dos missionários sobre a nova
face da humanidade com que se defrontavam nos trópicos. Abordagem marcadamente europocêntrica, a qual não falta
a emissão de inúmeros juizos de valor. Já o 'Diálogo', escrito ainda na primeira década da atividade missionária dos
inacianos, é um pequeno tratado que defende a capacidade dos nativos em aceitar, compreender e agir politicamente,
no sentido de aliar-se ao projeto jesuítico de conversão e catequese.

Almir Diniz de Carvalho Júnior - UFAM


O Mundo Gentílico no Mundo Cristão - confrontos e diálogos
No mundo colonial amazônico um conjunto de práticas culturais de caráter diverso subsistia através do diálogo e do
confronto de significados. Esta comunicação procura destacar algumas delas. Elas eram mantidas pelas populações
indígenas evangelizadas, alicerçadas em suas tradições, mas reinventadas num contexto novo. O confronto de signi-
ficados se evidencia na medida em que foram lidas, registradas e representadas pelos missionários católicos e pelos
funcionários da inquisição de Lisboa, vinculando-as às heresias. De outra forma, o diálogo se fazia presenta na medida
em que eram resignificadas e compartilhadas por grupos de origem cultural diversa, incluindo a população colonial de
origem européia e mestiça, negros de origem africana e a população indígena oriunda de etnias diversas. @
Guilherme Galhegos Felippe - PUCRS
A Confissão Cristã e sua Assimilação Indígena nas Reduções Platinas
Antes de instalarem as primeiras reduções na região platina, os jesuítas já procuravam difundir a fé cristã em suas
missões itinerantes catequizando e batizando os nativos. Frente ás inúmeras dificuldades surgidas, iniciou-se a insta- '"
lação das reduções jesuiticas que teriam o objetivo de abrigar, proteger e facilitar o acesso indígena ao conhecimento E
católico. Desta forma, sacramentos como a confissão teriam mais facilidade para serem implantados no meio reducio- ~
nal. Analisando-se a correspondência jesuitica escrita entre os anos de 1609 a 1640 observa-se um fato peculiar: li:
existe uma grande incidência de relatos envolvendo a confissão sacramental, porém apenas uma minoria deles com- '"
provam a eficácia da realização do sacramento. O presente estudo tentará compreender o que provoca esta desigual- §
dade no discurso jesuitico registrado. §
L..1...

Carla Berto .ê
Milagres e Indígenas em perspectiva: Autores, Personagens e Circunstâncias no discurso jesuítico (séc. XVII) ~
Este estudo busca analisar os registros de milagres, selecionados em documentação jesuítica, a partir de elementos !
discursivos que viabilizam possibilidades de questionamentos e reflexões sobre o projeto reducional na América, ~
juntamente com o complexo fenômeno de contato cultural. O milagre apr~senta-se como via de acesso para a carac- -i3
terização da construção do discurso religioso, e não um fim. Nas Cartas Anuas há a ocorrência de uma repetição nos '-:;
relatos, que apesar da quantidade, constituem-se bastante semelhantes entre si. Entre 1600 e 1640, em um período de D

523
contato e primeiras consolidações reducionais, os relatos de fenômenos fantásticos constituem-se abundantes na
documentação jesuítica. Estendendo a leitura dessas cartas para a segunda metade do século XVII, em um suposto
período tradicionalmente definido pela estabilidade do projeto jesuítico, milagres continuam fazendo parte do discurso
religioso. Portanto, cabe a questão sobre o porquê de permanecer evidenciando resultados do projeto missional e,
ainda, buscando a conversão de gentios. O objetivo da pesquisa não inclui divagações sobre a natureza e empiricida-
de dos fenômenos milagrosos; e sim, a análise do discurso jesuítico, sendo este religioso personagem e autor do
mesmo.

José Luiz Costa Neto· PUCRS


Poligamia guarani e metodologia inaciana: reflexões acerca de uma fonte
Uma conhecida passagem da obra 'Conquista espiritual', do padre Antonio Ruiz de Montoya, tem sido utilizada para
corroborar a tese de que a poligamia se configuraria na principal prática da cultura guarani e, portanto, no maior
empecilho ao projeto reducional no periodo imediatamente posterior ao contato com os inacianos. O presente estudo
configura-se numa crítica a essa proposta interpretativa. A partir de uma problematização distinta acerca da referida
fonte, alvitra-se que tal passagem apresenta sobretudo uma metodologia inaciana que visa a cristianização dos Gua-
rani. Essa metodologia, dando maior flexibilidade à poligamia, conduziria os Guarani reduzidos a ocultarem as demais
práticas, investindo todos os seus esforços na tentativa de negociar abertamente a possibilidade de dar continuidade
à poligamia. Haveria assim uma redução dialógica que muitas vezes antecederia a redução de fato.
Desse modo, propõe-se que se a poligamia está no cerne das contendas entre jesuitas e ameríndios reduzidos, isto
não é fruto de uma maior essencialidade dessa prática. É antes o resultado de uma metodologia inaciana - justificada
e com um prazo estipulado - e da permanência oculta de antigas práticas guarani.

Lígio José de Oliveira Maia· UFF


A construção retórica da Edificação. Vieira, os índios e a missão nas Serras de Ibiapaba
A comunicação proposta é um exercicio de reflexão histórica sobre um dos escritos mais conhecidos do Pe. Vieira:
Relação da missão da Serra de Ibiapaba (1660). Paradoxalmente, 'conhecido' porque sempre publicado - junto aos
Sermões ou coletâneas de textos vierianos -, por outro lado, em minha opinião, ainda não estudado demoradamente.
O motivo, talvez, seja porque alguns autores não conseguem encaixá-lo nos textos proféticos do autor; ou mesmo, por
se referir à região do Ceará - uma das portas de entrada do imenso Maranhão -, ainda considerado pela historiografia
de somenos importância no âmbito da história colonial. A Relaçâo de Vieira é uma continuação retórica dos trabalhos
missionários no (e para o) imenso Maranhão; porém, para dar conta de sua complexidade - pois não se trata da
construção de um quadro objetivo da realidade colonial -, busca-se um diálogo estreito, hoje, envolvendo historiado-
res, antropólogos e lingüistas para compreender os limites deste discurso e a construção de seus mediadores, sobre-
tudo, apontando o lugar do índio e do trabalho catequético neste que considero ser uma retórica de edificação, sem
perder de vista o contexto conflituoso entre jesuítas e colonos, pelo uso da mão-de-obra indígena ao final da década de
1660.

Jean Baptista· FURG


Igrejas, capelas e Opy: espaços religiosos reducíonais
A religiosidade reducional, gerada no contato entre jesuitas e sul-amerindios, ganhou espaços especificos para ser
exercida nas reduções paraguaias do século XVII e XVIII. Longe de tal fato excluir outras tantas áreas do gênero,
igrejas e capelas configuram-se na documentação missionária como áreas de culto reconhecido e normatizado. Por
outro lado, a distribuição espacial das capelas, especialmente aquelas pertencentes a cada familia extensa, aponta
para a geração de espaços onde a liderança espiritual de cada cacique pode ser exercida - o Cabildo, outro importan-
te espaço das lideranças, garantia apenas o exercício coletivo sobre o temporal. Apresenta-se, com isso, a possibilida-
de de religiosidades distantes das normativas da catequese, singulares conforme suas origens étnicas e/ou culturais,
assim como a institucionalização estratégica de caciques-feiticeiros encabeçando grandes grupos. A garantia de êxito
da conversão e, num plano geral, da ocidentalização, assim, podem ser reavaliadas mediante ações, atribuições e
reflexões indigenas registradas pelos próprios missionários. Trata-se, portanto, de apresentar um debate religioso que
permeou a história reducional, marcando, por extensão, a religiosidade indigena contemporânea.

Jaci Guilherme Vieira· UFRR


M~!iges Beneditinos no Vale do Rio Branco
Este trabalho vai enfocar a vinda da ordem de São Bento para o Rio Branco, atual estado de Roraima em 1909. O
objetivo é expor quais as condições que os monges Beneditinos encontraram para desenvolver um projeto de catequi-
zação entre as populações indígenas, além de mostrar, um grande projeto empreendedor dos monges e os primeiros
problemas enfrentados com a elite local, em sua maioria fazendeiros de gado.

524
19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h às 16h30min)

Ricardo Pinto de Medeiros - UFPE/UFPB


Participação, conflito e negociação: principais e capitães-mores índios na implantação da política pombalina
em Pernambuco e capitanias anexas
O presente trabalho pretende, a partir de fontes manuscritas e à luz de estudos recentes sobre a política indigenista do
período pombalino, analisar o papel que os principaís indígenas tiveram no processo de implantação das modifícações
advindas com implantação do Diretório e de sua versão local, a 'Direção" para Pernambuco e suas capitanias anexas.
Além dísso, problematiza a importância que os capitães e sargentos-mores indios tiveram no processo de prisão,
repressão, transferência e redução em vilas dos índios aldeados e dispersos do sertão.

Elisa Frühauf Garcia - UFF


A construção de alianças entre os portugueses e os índios missioneiros durante as tentativas de demarcação
do Tratado de Madri
Durante as tentativas de demarcação do Tratado de Madri na região sul, o general Gomes Freire de Andrada, instruido
por Sebastião José de Carvalho e Melo, desenvolveu uma política de atração da população missioneira para os
domínios portugueses. Em alguns encontros com os índios durante o conflito conhecido como 'guerra guaranítica"
(1754-1756), assim como depois da sua entrada nos povos, Gomes Freire se valeu de todo um cerimonial caracterís-
tico da sociedade de Antigo Regime visando demonstrar aos missioneiros a maior 'bondade" e 'justiça" dos portugue-
ses se comparados aos espanhóis. A partir, principalmente, dos relatos escritos pelos jesuítas e pelos oficiais portu-
gueses pretende-se perceber como o general colocou em prática a sua estratégia e quais foram as respostas da
população indígena, considerando-se que uma parte desta seguiu os portugueses após a sua retirada das missões.

Silvana Cassab Jeha - PUC-Rio


O padre o militar e os índios. Chagas Lima Guido Marliére, civilizadores de kaingangs e botocudos nos sertões
de Minas Gerais e São Paulo, século XIX
Esta dissertação defendida na UFF em 2005 é uma pesquisa sobre a atuação, na primeira metade do século XIX, de
dois agentes indigenistas. O primeiro é o padre curitibano Francisco das Chagas Lima, responsável pela catequese e
civilização dos índios durante a Real Expeidção de Guarapuava, região localizada à época na Provincia de São Paulo.
O segundo é Guido Thomaz Marliére, militar de origem francesa, diretor-geral de índios de Minas Gerais e comandante
-geral das Divisões do Rio Doce. Após uma breve exposição dos debates indigenistas na Corte, são analisados os
discursos e as narrativas de Marliére e Chagas Lima sobre as relações sociais nas duas frentes de expansão. Além
disso, este trabalho propõe-se a editar as informações etnográficas sobre botocudos e kaingangs produzidas por
esses autores colocá-Ias numa perspectiva comparativa com outras etnografias e etnologias, a fim de interpretar as
ações dos índios diante da colonização. Trata-se enfim, de um estudo de história com incursões pela antropologia.

Francieli Aparecída Marinato - UFES


A Diretoria do Rio Doce: um projeto de pacificação dos índios Botocudos (ES, 1824-1845)
A Diretoria do Rio Doce foi instalada no Espírito Santo atendendo ao Regulamento interino de 1824, a mais completa
legislação indigenista do Primeiro Reinado. Seguindo o processo de colonização desencadeado no Doce desde 1800, ~66
a Diretoria tinha caráter militar e priorizava esforços para reunir os índios Botocudos em aldeamentos. Utilizando as ~
inúmeras correspondências dos diretores com os Governos provincial e imperial, analisamos o discurso de pacifica-
ção, tão apregoado no contexto histórico em questão, e a relação desenvolvida entre índios, militares e colonos. Neste
trabalho, que foi desenvolvido em nível de Mestrado na UFES, evidenciamos a falência do empreendimento colonial e
da política de pacificação em função, dentre outros, da obstinada resistência dos Botocudos; e demonstramos as '"
formas de adaptação e convivência dos grupos índígenas com a rarefeita sociedade formada no Doce espírito-santen- E
se, negociando interesses, mantendo um intenso trânsito entre as florestas, aldeamentos e povoados, e recusando a ~
condição subalterna de integração oferecida pelo Governo. ~
ao
Raimundo Nonato Gomes dos Santos - UFRR l§
Luta para encontrar o rumo certo: lideranças indígenas em Roraíma (1978-1990) Ji
Tomando como fonte documental as atas das assembléias de tuxauas realizadas entre os anos de 1978 e 1990, o .~
presente artigo reflete sobre as representações elaboradas nesse material pelas lideranças indigenas em Roraima, '.~_
que se consolidaram na construção de um movimento político desses povos. Este ensaio investiga, nos discursos :c
registrados, as propostas que orientaram a construção de uma nova identidade indígena, bem como as características c:
co
de suas lideranças.

525
20107 - Sexta-feira - Manhã (10h30min ás 12h30min)

Almir Antonio de Souza - UFSC


Vida, Trabalho e Morte: A História Social da caça e apresamento dos Xokleng e seus caçadores na selva
sulbrasileira(1850-1950)
O texto procura pontuar algumas questões relevantes á complexidade social vivida por colonos, Xokleng, e caboclos
durante os sangrentos embates entre bugres e seus caçadores quando do processo de colonização e ocupação da
selva ao sul do Brasil, desencadeado pela imigração e conseqüente desejo do governo brasileiro em invadir as terras
habitadas pelos povos indígenas, desejo que alcançado concorreu diretamente no desaparecimento de grupos étnicos
em um extenso território catarinense, e boa parte dos vizinhos estados. Durante quase todo o século XIX e já bem
adiantado o XX, enquanto se estabeleciam ás cidades, e as vias de ligação entre elas, os indígenas foram submetidos
a um processo de invasão, extermínio e escravidão, resultando numa situação presente, de alguns restantes descen-
dentes dos sobreviventes e 'sobreviventes', confinados em poucas reservas em Santa Catarina. Uma das investiga-
ções que aqui iremos proceder vai de encontro á premissa de que no Brasil, a ocupação da terra, com a expulsão e
domínio sobre as populações nativas, não sofre soluções de continuidade, tem suas permanências no contemporã-
neo, e como tal deve ser avaliado e desmontado como esquema perverso de eliminação étnica.

~uisa Tombini Wittmann - (UNICAMP)


Indios e brancos no Vale do ltajaí (1850-1926)
Esta comunicação tem como objetivo apresentar a publicação integral da minha dissertação de mestrado, que discute
o contato do povo indígena Xokleng com imigrantes alemães e funcionários do SPI, na região do Vale do Itajaí, no
Estado de Santa Catarina (1850-1926). O livro aborda três momentos: os embates entre os nativos e os recém-chega-
dos, as adoções de crianças indígenas e o cotidiano do Posto Indígena Duque de Caxias. Buscou-se compreender as
formas de pensar e agir dos diferentes sujeitos históricos envolvidos no contato, conferindo visibilidade aos atores
indígenas na História, dando voz ás suas próprias interpretações e ações diante da nova realidade.

Ninarosa Mozzato da Silva Manfroi - UFSC


A questão indígena nas páginas dos jornais sob a ótica do jurista Antonio Selistre de Campos -1940 a 1950
Com base em periódicos, especialmente o Jornal 'A Voz de Chapecó', pretende-se abordar a questão indígena e suas
repercussões a partir dos relatos jornalísticos do jurista Antonio Selistre de Campos. Nascido em Santo Antonio da
Patrulha - RS, formou-se em Direito em Porto Alegre - RS e a partir de 1931, já nomeado Juiz de Direito, optou morar
definitivamente em Chapecó - SC, após passar por outras localidades do mesmo Estado. Como um dos fundadores do
jornal 'A Voz de Chapecó', Antonio Selistre de Campos trazia á comunidade local a situação dos indígenas da região,
os Kaingáng, abordando questões sobre a saúde, educação e terra. A metodologia utilizada no manuseio da fonte de
época é da etno-história, da memória, da história oral e das fontes escritas sobre os Kaingáng como Herbert Baldus,
Telêmaco Borba, Pierre Mabilde, Alfred Métraux. Sendo os teóricos que orientam esta pesquisa José C. Sebe Bom
Meihy, Alessandro Portelli, Maurice Halbwachs, Michael Pollak, Maria H. Capelato perfazendo a análise desta pesqui-
sa com enfoque nas repercussões dos artigos jornalísticos na sociedade indígena e na sociedade não indígena local,
na Câmara Municipal de Chapecó e na Assembléia Legislativa de Florianópolis - SC.

Carla Cristina Nacke Conradi - UFGD


A trajetória política dos Guarani Nandeva no Oeste do Paraná
Esta comunicação pretende discutir o devir recente dos Guarani Nandeva no Oeste do Paraná em decorrência da
construção da Usina Hidrelétrica Itaipu Binacional. O período dos anos de 1977, início da construção da Itaipu, até
1997, quando foi demarcada a segunda reserva indígena no Oeste do Paraná. Duas questões básicas nortearam a
discussão: as estratégias estatais visando desconfigurar a região enquanto um espaço indígena; e a trajetória de
mobilização política dos Guarani que resultou na demarcação das duas reservas indígenas no Oeste do Paraná, Santa
Rosa do Oco'y e Tekoha Anetete. Com a construção da Usina a comunidade indígena foi reconhecida oficialmente
pela Funai e passou a ser tutelada por este órgão estatal. Depois de muitas negociações entre Usina, Funai e os
índios, os Guarani foram assentados numa pequena área considerada imprópria para a sua organização socio-espa-
cial. Todavia, foi nesse novo estabelecimento que eles reelaboraram suas práticas de luta e iniciaram um processo de
denúncias, tanto no contexto nacional quanto internacional, sobre o descaso do Estado em relação á sua cultura e aos
seus direitos. A partir desta mobilização política a recuperação de seu território tradicional (de 1500 hectares) foi
possível. Conquistaram assim, o Tekoha Anetete.

526
20/07 - Sexta-feira - Tarde (14h ás 18h)

Izabel Missagia de Mattos - UCG


Domingos Pacó e a Missão do Itambacuri
O estudo da trajetória do intérprete e professor bilíngue do aldeamento do Itambacuri (1873-1917) Domingos Ramos
Pacó, autor de uma minuciosa descrição da história e da vida social da missão indígena, revela aspectos diferenciados
do destino dos índios ali aldeados. Fruto primeiro das relações de mestiçagem deliberadamente produzidas pelos
diretores do mais bem estabelecido aldeamento imperial entre os regidos pelo Decreto 426 de 1845, seu registro
batismal inaugura uma longa série de sacramentos realizados pelos díretores capuchínhos, sob os desígnios da roma-
nização eclesiástica. Instruído pelos missionários, Pacó tornou-se secretário e ecônomo do aldeamento ao longo de 18
anos, sendo demitido após a revolta índígena de 1893. Deprímido, ele escreveu o manuscrito Hámbric anhamprá ti
mattâ nhiiichopón? (1918), no qual teceu crítícas severas á política dos missionários, que passou a não reconhecer a
identidade indígena dos aldeados, em consonância com os interesses nacionalistas da nascente república. Os des-
cendentes de Pacó se encontram atualmente na zona rural do município de Campanário, MG, se autodesignam Mucu-
rim e reinvindicam ao Estado reconhecimento étnico e direito á políticas públicas diferenciadas.

Edson Hely Silva - UFPE/UNICAMP


"Isso aqui é nosso I Isso é da gentel". O perigo comunista e os índios ígnorantes: a participação dos Xukuru
nas Ligas Camponesas (Pesqueira-PE, 1961)
A partír de regístros das memórias orais indígena, jomais da época, documentação do DOPS e relatórios oficiais que
alertavam a doutrinação dos índios em sua "ignorância" pelos comunistas, discutiremos a mobilização e participação
dos Xukuru nas Ligas Camponesas em Pesqueira-PE, na ocupação de terras onde viviam na condição de moradores
e trabalhadores assalariados, os chamados "caboclos" da Serra do Ororubá, um antigo aldeamento indígena invadido
pelos latifundiários.

Ádria Borges Figueira Cerqueira - UFG


Narrativas Tapuías: a construção do passado, do nós e dos outros
Com ênfase no processo histórico de ressurgimento de grupos étnicos no cenário nacional e de afirmação de uma
pluralidade de identidades em um contexto global nas últimas décadas, tem-se como proposta compreender através
das narrativas como os Tapuios do Carretão articulam sua visão de mundo e suas experiências em um momento em
que o grupo vi venci ou uma situação traumática de negação de sua identidade e de direitos adquiridos. As problemáti-
cas apontadas ao longo dessa pesquisa dizem respeito a uma delimitação temporal que abrange a década de 1980,
em que o grupo tratou de buscar estratégias que validassem sua reinvidicação pelo reconhecimento étnico. Nesse
contexto a memória coletiva adquire uma grande relevância, pois trata de formular uma problematização capaz de
levar ao entendimento dos fatores presentes nas narrativas orais registradas. A pretensão de investigar a constituição
das narrativas no processo que visava o reconhecimento da identidade e de direitos, se ampara na e pela historicidade
desse grupo indígena do estado de Goiás, na relação desses sujeitos com o tempo e o espaço. Nessa pesquisa, o uso
da narrativa como estratégia usada pelo grupo, que foi registrada na década de 1980 torna-se fonte significativa.

Jóina Freitas Borges - UFF r;;;;-..66


Documentos, cacos cerâmicos e fragmentos de memórias: Os tremembés descalços sobre os mosaicos de ~
suas histórias
Os indígenas, além de todo massacre sofrido durante a época colonial, foram extintos por decretos em diversas
províncias durante o império. A política imperial, e mais tarde republicana, assegurou sua transformação em "cabo-
clos', potencial massa trabalhadora a ser integrada na "sociedade civilizada". No caso dos tremembés do Ceará, '"
muitos ainda hoje recordam a época em que não podiam sequer afirmar que eram índios, ou tremembés, sob risco de E
perderem a própria vida. A partir da experiência de uma semana de aula entre os professores das escolas diferencia- :5
das indígenas tremembés, quando foi apresentada a dissertação de mestrado Sob os Areais: Arqueologia, História e ~
~~~aó:~ii~:~~~~~a~~~~~~~~aneax~f;~er~ ~~~ç~~~~;~r~:t~~r~q~~ae~:i~~~~~õ~~up:~~~~~t:si~t~~~~i6I:~:~~~~~~ ~
academia é recebido pelos descendentes dos sujeitos do processo histórico em estudo. Como eles redimensionam o ~
papel da história nas suas vidas e, no caso, como a história oral aparece como uma espécie de salvaguarda das co
tradições. Analisando documentos, sítios arqueológicos e as fontes orais eles assumem o compromisso, e lutam pelo '. ~_
direito, de ensinarem e construírem a própria história. :c
co
Kalna Mareto Teao- UFES ~
.9
Os Guarani Mbya: interfaces entre Antropologia e História 'C

Mesmo sendo os Guarani Mbya amplamente retratados no campo do discurso antropológico, quando se refere a .~
construção da história do Espírito Santo, os Mbya são silenciados e tornados invisíveis na maioria dos livros didáticos o

527
regionais e também na imprensa. Dessa forma, neste trabalho, pretendemos analisar o levantamento de fontes histó-
ricas e antropológicas desde a chegada dos Mbya ao estado (1967 aos dias atuais). Ao efetuar tal análise, a relação
entre História e Antropologia possibilita uma compreensão mais aprofundada acerca dos Mbya ao contribuir para o
levantamento de fontes acerca desses povos indígenas. Além disso, promove a interdisciplinaridade ao fornecer, no
campo teórico, conceituações fundamentais e no campo metodológico, a etnografia. A relação entre as duas áreas do
conhecimento humano recupera, sobretudo, a história e o protagonismo dos povos indígenas, anteriormente silencia-
dos nos documentos escritos oficiais. Essa interface apresenta-se como uma tentativa de inserção da história indigena
no contexto da história da sociedade nacional.

Vera Lúcia Ferreira Vargas· UCDB/NEPPI


Os Terena no sul de Mato Grosso: a conquista de seu território
Este trabalho tem por objetivo apontar algumas das ações que os índios Terena tiveram junto ao governo brasileiro,
para garantir a posse de seu território no final do século XIX. Para isso, estabeleceram uma suposta relação de
amizade com as autoridades brasileiras. Realizando certas tarefas, como a de ajudar na catequese das demais etnias
indígenas, dentre outras ações exercitas pelos Terena, que por sua vez, permitiram a eles estabelecer acordos de
troca de favores com o Império.

lára Quelho de Castro· UFMS


Relatos sobre os Guaná·Kinikinau: uma nova história indígena sob antigas fontes
Opção analítica adotada especialmente a partir dos anos de 1980, a busca do olhar indígena nas fontes escritas
tornou-se uma via de acesso privilegiada para a construção de uma nova história indigena. Tendo por horizonte essa
perspectiva de análise apresentamos uma breve reflexão sobre relatos e narrativas que registraram a presença dos
Guaná-Kinikinau na região do Alto Paraguai, na área correspondente ao atual Mato Grosso do Sul, entre o final do
século XVIII e as primeiras décadas do seguinte, apontando a existência de fendas na documentação que, embora
carregando as marcas do seu tempo e os códigos culturais dos seus autores, permitem vislumbrar as táticas forjadas
pelos indígenas na demarcação de um espaço político no interior da sociedade mais ampla da qual passaram a fazer
parte.

Giovani José da Silva· UFGO I UFMS


Os índios Kadiwéu na História: problematizando fontes
A comunicação tem por objetivo problematizar algumas informações freqüentemente relacionadas à constituição da
Reserva Indígena Kadiwéu, localizada ao norte do municipio de Porto Murtinho, Estado de Mato Grosso do Sul, fron-
teira Brasil/Paraguai. Muito se fala, por exemplo, em uma suposta doação de terras aos Kadiwéu por parte de D. Pedro
11, em reconhecimento pela participação dos índios na Guerra contra o Paraguai (1864-1870). A primeira demarcação
da Reserva ~orreu entre 1899-1900 (a mando de Antônio Pedro Alves de Barros) e a última, realizada pela Fundação
Nacional do Indio (Funai) com apoio do Exército, em meados dos anos 1980. Em relação à primeira demarcação, a
documentação pesquisada revela uma outra história, diferente daquela contada por índios e repetida por pesquisado-
res não-indígenas. Atenção especial é dada á percepção e ao entendimento de como os próprios indígenas Kadiwéu,
ao longo do século XX, elaboraram internamente a delimitação de um espaço físico para viverem e quais estratégias
adotadas pelo grupo lhes garantiram a sobrevivência física e cultural até os dias atuais. Nesta elaboração estão
presentes importantes elementos na construção do território para os indígenas, tais como a memória social e a identi-
dade étnica, analisadas em perspectiva histórica.

528
67. Patrimônio, Cultura e Identidade ~
Mara Rúbia Sant'Anna (UDESC), Maria Cristina Volpi Nacif (UFRJ), Silvia Helena Zanirato ®
(UEM) e Sandra de Cássia Pelegrini (UEM)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h às 18h)

André Luis Ramos Soares - UFSM e Sergio Celio Klamt


Levantamento do Patrimônio e Educação Patrimonial na Vila de Santo Amaro, distrito de General Câmara, RS
No ano de 2006 a Universidade de Santa Cruz do Sul- UNISC, através do Centro de Ensino e Pesquisas Arqueológi- -g
cas - CEPA, realizou uma atividade de salvamento arqueológico na Igreja Matriz da Vila de Santo Amaro, datada de :g
1787. AVila de Santo Amaro possui, além da igreja, mais de 14 prédios tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico ~
e Artistico Nacional-IPHAN. Por outro lado, além dos prédios terem caráter e importância histórica, algumas institui- ::;;;
ções, como a Irmandade de Santo Amaro, funciona desde 1814, mantendo a religiosidade da população de origem ~
açoriana. Este trabalho apresenta as atividades de Levantamento do Patrimônio e as ações de educação patrimonial ;3
desenvolvidas pelo Núcleo de Estudos do Patrimônio e Memória - NEP. vinculado a Pró-Reitoria de Extensão da 8
Universidade Federal de Santa Maria - UFSM. '2
Õ
'0

Regina Quintanilha Azevedo - URCAMP-Bagél UFPel-Pelotas e Clarisse Ismério .~


Os Primeiros Passos da Experiência com a Educação Patrimonial no Curso de Pedagogia da URCAMP - Bagé ~
O programa que aqui apresentaremos tem como objetivo geral priorizar a valorização do patrimônio cultural, material e
imaterial, começando pela cidade sede da URCAMP - Universidade da Região da Campanha, estendendo-se aos
demais Campus (Alegrete, Caçapava do Sul, Dom Pedrito, Itaqui , São Bo~a, São Gabriel e Sant'Ana do Livramento),
promovendo um processo de preservação sustentável dos bens locais, como também a apropriação consciente de sua
história, através da educação patrimonial. Na etapa inicial a preocupação maior está sendo em atingir os/as alunos/as
da Pedagogiada URCAMP - Bagé, na qual fizemos parte do quadro de professores/as, acreditando que eles/as pode-
rão ser os/as desencadeadores/as das idéias, proporcionando as crianças e adolescentes dos primeiros anos do
ensino fundamental as noções básicas sobre patrimônio e a conscientização da sua importância. Neste trabalho esta-
remos retratando nossas primeiras experiências e a maneira que foi desenvolvida a sua metodologia.

Maria Aparecida Carbonar - Prefeitura Municipal de Ponta Grossa


Resgatando nossa História: Educação Ambiental e Patrimonial
Este estudo visa resgatar a memória de Ponta Grossa, no Paraná, através da leitura de seus patrimônios históricos e
culturais, fornecendo subsídios para conhecer e valorizar sua história.

Valéria Lucas Filgueiras - Faculdade Sul de Mato Grosso


Apetrechos da Memória
No ocidente contemporâneo os objetos têm assumido uma perspectiva econômica, destinados à satisfação de neces-
sidades materiais. Contudo, nos relatos de lavradores (as) do município de Rondonópolis é possível descobrir outras
práticas e apropriações simbólicas que são construídas incorporando os objetos ao seu possuidor como parte de suas
lutas pessoais e de suas técnicas de trabalho. Na vida de lavradores sem terra os seus bens são os objetos voltados
ao trabalho cotidiano. 'Apetrechos de sobrevivência, opostos à terra bem de raiz, que dá sentido ao trabalho do homem
do campo'(MARTINS, 1997). Revelando as constantes mudanças em busca da terra, as narrativas estão povoadas de
coisas perdidas, deixadas nas veredas de vidas errantes. A mobilidade é condição desagregadora da memória quan-
do, no percurso da vida e dos caminhos, são deixados os objetos que se constituem um elo familiar com o passado,
uma experiência de vida insubstituível.

Silvia Helena Zanirato - UEM


O patrimônio imaterial, os conhecimentos tradicionais e os direitos de propriedade intelectual: dilemas de
preservação
Discutir a relação estabelecida entre a proteção do patrimônio imaterial e a proteção da propriedade intelectual é o que
se pretende com essa apresentação. Dentre as várias possibilidades de se abordar essa relação, optei por circunscre-
vê-Ia aos embates que se colocam para a proteção dos conhecimentos das populações tradicionais em sua estreita
relação com a preservação dos recursos naturais. A questão central, nesse aspecto, reside em compreender o que as
organizações internacionais responsáveis pelo patrimônio cultural (UNESCO), pelo meio ambiente (PNUMA) e pela
propriedade intelectual (OMPI) entendem por proteção. Além disso, não se pode esquecer que esse tema também se
tornou objeto de deliberações da Organização Mundial do Comércio (OMC). O assunto é, sem dúvida, bastante com-
plexo, posto que se refere à proteção de uma modalidade do patrimônio imaterial, ou seja, de um elemento considera-
do fundamental para a constituição da identidade de um povo. Proteger esse tipo de patrimônio implica em apoiar seus

529
portadores e o contexto social e cultural nos quais estes se encontram, pois disso depende a transmissão desse saber.
Nesse ponto se encontra a dificuldade maior para a definição de normas legais para a proteção dos conhecimentos
das populações tradicionais.

José Adilçon Campigoto • UNICENTRO


Hermenêutica e história cultural
Estudo sobre a produção dos sentidos a partir de textos sobre o sistema de faxinais enfocando as relações entre o
método histórico e a interpretação sociológica. Com base na hermenêutica gadameriana e na perspectiva da história
cultural, propõe-se a superação dos problemas relativos à pesquisa de origem, aqui considerados como entraves para
a investigação histórica. Os faxinais representam um modo de utilização em comum das terras para a criação de
animais existente na região sul do Brasil e que se tem classificado como manifestação cultural pertencente à categoria
dos chamados povos tradicionais. Como parte das populações excluídas os faxinais tem vivido a tragicidade da histó-
fia. Conforme Relatório Técnico do Instituto Ambiental do Paraná, apenas quarenta e quatro das mais de uma centena
das áreas mapeadas são consideradas como remanescentes, ou seja, mantém a organização social típica do sistema
e a paisagem de matas de araucária; cinqüenta e seis, estão desativadas; e cinqüenta e duas estão extintas. Há os que
aigumentam ter se originado tal sistema nas terras da Europa. Outros defendem serem as culturas indígenas do sul do
Brasil o berço de origem dos faxinais. A história cultural se apresenta como alternativa para a superação da pesquisa
de origem.

Antonio Gilberto Ramos Nogueira· UFCE


Diversidade cultural: patrimônios, identidades e outras memórias
Se até há pouco tempo atrás a idéia de patrimônio cristalizada no imaginário brasileiro era sinônimo de edificações e
obras de arte erudita. Igualmente a exclusividade do tombamento como referente da prática preservacionista contri-
buiu para a redução do Brasil ao conjunto de bens de 'excepcional valor'. Era da 'sacralização da memória em pedra
e cal'. Ao privilegiar as expressões culturais de uma determinada classe ou grupo social como a de tradição européia,
a noção de patrimônio e a política oficial de preservação revelaram-se elitista e conservadora, principalmente num país
caracterizado pela contradição e diversidade étnica como o nosso. Com a valorização da dimensão intangível do
patrimônio uma perspectiva mais ampla e plural começou a delinear seu novo sentido. Tal perspectiva, responsável
pela constituição de um rico acervo composto de expressão das línguas, festas, rituais, danças, lendas, mitos, músicas
e artes gráficas, saberes e fazeres diversificados e dos lugares é reveladora de uma visão menos redutora do Brasil.
Também a relevância e a central idade dos inventários como instrumentos de reconhecimento da diversidade cultural e
orientação para as políticas públicas de patrimônio é objeto da reflexão.

Araci Gomes Lisboa· Museu de Astronomia e Ciências Afins


Intelectuais, ciência e patrimônio
Esse artigo pretende refletir sobre o papel do Conselho de Fiscalização das Expedições Artisticas e Científicas no
Brasil (CFEACB), nos anos 1930, apontando-o como sendo o embrião das instituições pensadas para o controle do
patrimônio brasileiro. A criação do CFEACB, põe em evidência os debates, entre intelectuais da ciência, envolvendo
questões relacionadas com as políticas de conservação do patrimônio científico e natural. Quando iniciamos, no MAST,
a organização desse arquivo, em 1987, realizamos entrevistas com Luis de Castro Faria, antropólogo que participou
ativamente do CFEACB e que ficou muito contente e surpreso em saber que a documentação estava recuperada,
Repetidamente, interrogava: 'Como ela veio parar aqui? eu procurei por essa documentação em Brasília mas ninguém
tinha conhecimento dela". Ou seja, o CFEACB, antes de 1987, contava apenas com os depoimentos de Castro Farias
e de alguns expedicionários que tiveram suas expedições vigiadas, tendo sido omitido pela historiografia e, principal-
mente, pelas Ciências Sociais brasileiras. Se essa massa documental, num total de 10.576 documentos textuais, 257
fotos e 22 cartografias tivesse sido descartada na época de sua extinção, a história desse Conselho não passaria de
memória daqueles que por ali passaram.

I 17/07 - Terça-feira - Tarde (14h ás 18h)


Leonardo Rodrigues de Moraes· UEG
Deslocamentos e (Re)Construções da Folia de Reis
A pesquisa em andamento busca compreender a partir dos pressupostos do patrimônio imaterial e da identidade
cultural, os deslocamentos que as Folia de Reis vem sofrendo nos últimos tempos. Estes deslocamentos sinalizam,
dentre outros aspectos as tentativas dessa manifestação da cultura imaterial em se 'adaptar' às novas realidades
sociais e culturais a que os sujeitos que integram-na estão submetidos. Trata-se de uma pesquisa que envolve os
estudantes de graduação em História e também professores de história de uma rede municipal, na busca de compre-
ender os novos significados incorporados a Folia de Reis, já que esta manifestação é tradicional na cidade de Senador

530
Canedo(GO). Tem-se como delimitação do objeto de estudo uma festa de Reis que aconteça há mais de 40 anos na ~67
cidade citada, mas que vêm no decorrer da ultima década sofrendo algumas mudanças e deslocamentos, que \!!..!J
fazem com esta festividade esteja passando por significativas mudanças? Dai a pesquisa problematizando esta
realidade, questiona: até que ponto essas mudanças (deslocamentos) estão de fato interferindo nesta manifesta-
ção e na sua identidade cultuai? Que motivos estão levando a estas alterações? Que alterações podem ser senti-
dos/experimentadas?

Angelita da Rosa - Núcleo de Cultura de Venâncio Aires


Entre o Sagrado e o Profano: O Patrimônio Imaterial da Festa de Santo Amaro (RS) Q.)

Na pequena localidade de Santo Amaro, no centro da vila está a imponente igreja inaugurada em 1787, a qual faz parte -g
do maior conjunto arquitetônico luso-açoriano tombado pelo IPHAN no RS, cujo nome do padroeiro batiza a comunidade. ~
Venâncio Aires já pertenceu ao antigo município de Santo Amaro e assumiu a luta para restaurar a referida igreja, -ê5
aprovando projeto junto ao MINe/ Mecenato. Com isso, a execução teve três frentes de trabalho: arquitetônica, arque-
ológica e histórica. Na parte histórica, constatou-se que a evolução dessa comunidade se confunde com o povoamento e
do RS a partir de 1752. Em 1814, surge a Irmandade do Santíssimo Sacramento de Santo Amaro que promove a fé (o ~
sagrado) e as festividades (o profano), sendo uma tradição repleta de ritos e significados. Por isso, objetiva-se estudar '-'
e inventariar o patrimônio imaterial dos festejos, juntamente com seu povo, sua história, suas procissões, entre outros, .~­
pois se percebe que as manifestações simbólicas misturam aspectos míticos com identidade cultural. Com isso, pre- 'E
tende-se apresentar um exemplo da cultura popular, onde existam as reflexões sobre o processo e as produções .~
dessa imaterialidade, sendo assim pauta para um trabalho educativo que irá aproximar as pessoas de seu patrimônio, n...
tanto material como imaterial.

Renata Maria Tamaso - UFG


Tradições, ações e distorções: festas religiosas, identidades culturais e atividades turísticas
Este trabalho tem por objetivo refletir sobre o aproveitamento de elementos sócio - culturais em atividades turísticas,
a partir da valorização e preservação da identidade e das tradições culturais. Para tanto, escolhemos a Festa de Santa
Luzia na cidade de Espírito Santo do Pinhal/SP como objeto de investigação. Tal festa ocorre todos os anos, desde
1904, no Bairro de Santa Luzia, habitado por imigrantes italianos desde o final do século XIX. Por meio de tal análise
buscamos repensar a maneira como os bens culturais - especificamente as festas religiosas - vêm sendo apropriados
por atividades turísticas colocando em risco tradições e identidades e levando à distorções de suas práticas, valores e
representações. É nossa proposta refletir sobre um "novo' e consciente aproveitamento turístico de bens culturais, elegen-
do, entretanto, como preocupação maior a preservação das tradições culturais por meio de sua sustentabilidade.

Luis Gustavo Molinari Mundim - IEPHA


Festa de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de Chapada do Norte: abordagens, ações e metodo-
logias na salvaguarda do Patrimônio Imaterial
O inventário da Festa de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de Chapada do Norte do ano de 2006 foi, em
muitos aspectos, surpreendente e interessante. Os eventos acompanhados pela equipe multidisciplinar do IEPHA-MG
mostraram-se bastante diversificados, apresentado uma festa rica culturalmente e repleta de possibilidades de inter-
pretação Através dos diversos olhares lançados sobre o objeto, diferentes impressões foram coletadas e analisadas
permitindo uma visão ampliada do evento. A presente comunicação visa compartilhar tal experiência, tanto no que se
refere à metodologia empregada na abordagem da festa e das fontes, quanto nos produtos decorrentes desse trabalho
como, por exemplo, os levantamentos documentais, transcrições, mapas, estudos comparativos, fotos, sons, comidas
e tantos outros. Levantamento e produtos confeccionados, tendo em vista cumprir uma premissa do órgão e salvaguar-
dar um Patrimônio Imaterial de Chapada que, com suas práticas, representações e expressões, promovem, ao longo
do tempo e através de gerações, um sentimento de identidade e pertencimento para àquela comunidade.

Helder Cyrelli de Souza


Educando por imagens: a representação do patrimônio imaterial nos selos postais brasileiros a partir da
década de 1970
O governo militar reforrnulou os correios, transformados em empresa pública, em 1969. Na modernização da institui-
ção, conduzida durante a década de 70, o selo postal mereceu a atenção especial. Além do substancial aumento do
número de tipos anuais, assim como das tiragens, os correios investiram em papéis e tintas de qualidade, em equipa-
mentos de impressão e na contratação de desenhistas. A filatelia foi estimulada através da disseminação de agências
filatélicas, da publicidade e da criação de literatura especializada. O público infantil foi o alvo prioritário dessa campa-
nha, que propugnava o colecionismo de selos como uma atividade lúdica e pedagógica, fonte de conhecimento da
cultura do país. Os correios procuraram chegar às crianças com selos visualmente atrativos, materiais de iniciação
filatélica em linguagem apropriada e, ainda, através de materiais destinados a instruir os professores na utilização dos
selos em sala de aula. Dentre os novos temas introduzidos, o patrimônio imaterial é dos mais importantes, pelo espaço

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que ocupa no conjunto da produção, pela criação de um novo estilo e por afirmar uma identidade nacional. A represen-
tação dos usos, costumes e saberes tradicionais é interessante também por revelar sintonia com órgãos governamen-
tais relacionados ao patrimônio.

Sandra de Cássia Pelegrini . UEM


A diversidade e os impasses da desmaterialização do patrimônio cultural
A presente comunicação visa a enfrentar alguns desafios teóricos e metodológicos que o reconhecimento da diversida-
de e da "desmaterialização' do patrimônio vem experimentando na aurora do século XXI. Para isso, problematiza as
relações entre as memórias, as identidades e os bens culturais tomados como referenciais para a análise das transfor-
mações sofridas pelos rituais no Brasil, em especial aquelas detectadas no "Círio de Nazaré' - uma das expressões da
religiosídade celebradas desde os tempos da colônia. De pronto, observa-se, por um lado, o equívoco de se pensar a
cultura em termos "evolutivos', uma vez que esse enfoque impõe-se como uma das formas de hierarquização das
culturas. E por outro, a pouca consistência da denominada "reciprocidade' e a "interação' salientadas pelos adeptos
das tendências multiculturalistas. Em termos práticos, nota-se ainda a imposição de vontades dominantes e a eclosão
de embates em prol da pluralidade, não raro, informada por interesses individuais e coletivas divergentes.

Joubert Paulo Teixeira - UEM e Sandra de Cássia Araújo Pelegrini


A terra sem mal: construções de identidades a partir do mito da fraternidade na cidade de Santa Fé/Pr na
década de 1950
Atualmente há em nossa sociedade um crescente interesse em relação à diversidade cultural, bem como da necessi-
dade de preservação dos patrimôníos intangíveis, visto a ímportãncia destes no processo de construção de identida-
des. Nesse sentido pretendemos nos utilizar de documentos fOiográficos, entrevistas orais e filmes produzidos na
década de 1950, na cidade de Santa Fé (noroeste do Estado do Paraná) para analisar os signos de memória dos
primeiros moradores da cidade. Sendo a memória um fenômeno socialmente construído, um campo de lutas, exclu-
sões e seleções, buscamos analisar possíveis influências do "mito da fraternidade' construído entre os prímeiros
moradores da cidade. Vendo este mito como um dos elementos forjadores de identidades desse grupo, pretendemos
entender como esta representação de 'uma terra sem mal', na qual todos supostamente compunham uma grande
família, corrobora para a construção identitária acima mencionada.

José Augusto Alves Netto FAFIPA


O signo e o emblema - a formação da identidade histórico cultural paranaense na obra de Poty Lazzarotto
Nossa proposta é a de efetuar um estudo historiográfico conjugando as abordagens sobre o contexto histórico do
Paraná entre os anos de 1940 a 1990, e as representações plásticas de Poty Lazzarotto período que o artista retrata as
paisagens interioranas e urbanas, bem como registra a gente e os costumes do povo paranaense. O desafio reside em
articular coerentemente as abordagens sobre a contextualização histórica da cidade de Curitiba e região, a inserção e
o desenvolvimento do Estado do Paraná no século XX (1940 -1990), e por fim desenvolver uma análise de como se
deu a representação plástica criada pelo artista articulando todos esses elementos sociais, históricos e artísticos em
suas obras. O estudo também consiste em se efetuar uma análise que contemple não apenas uma abordagem base-
ada nos cânones estabelecidos pela "História da Arte' em seu caráter mais formal, no sentido de classificação em
escolas e estilos, mas exercitar o ofício do historiador, seja no desenvolvimento de uma metodologia de investigação
que privilegíe o documento imagético tal qual as demais fontes, destacando os seus limites e possibilidades interpre-
tativas, seja no desvendamento do contexto histórico que propiciou ao artista produzir suas obras.

18/07 - Quarta-feira -Tarde (14h às 18h)

Maria Cristina Volpi Nacif - UFRJ


O vestuário como princípio de leitura do mundo
O vestuário, utilizado como interface entre o corpo humano e o meio natural e cultural, tem múltiplas funções cujas
origens são complexas, não podendo ser reduzido unicamente à sua funcionalidade. Seus aspectos práticos e simbó-
licos parecem estar indissociáveis, resultando da elab~ração cultural da qual fazem parte a linguagem abstrata e a
confecção de objetos. Integrando as teorias de RUFFIE, BARTHES e BOURDIEU, consideramos o vestuário como
uma forma de expressão, ou seja, uma linguagem visual que remete ao mesmo tempo ao indivíduo e à sociedade que
o produziu. O estudo das formas vestimentares revela as condições econômicas e os conhecimentos tecnológicos, os
modos de produção, os sistemas de pensamento, organização social e as representaçôes simbólicas da sociedade e
dos indivíduos. De modo a operacionalizar tal estudo, tendo como fonte imagens, neste caso a fotografia, utilizamos a
metodologia histórico-semiótica desenvolvida por ANDRADE, aplicada ao estudo tias formas vestimentares.

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Maria Claudia Bonadio - Centro Universitário SENAC ~
O Brasil na ponta do lápis: Alceu Penna, moda e modernidade
Alceu Penna (1915-1980) é conhecido como criador da seção 'As Garotas', veiculada semanalmente pela revista O
®
Cruzeiro entre 1938 e 1964. Entretanto sua atuação nesse e em outros periódicos editados pelos Diários Associados
estendia-se também á criação de capas, ilustrações para contos, quadrinhos e em especial na elaboração de seções
de moda. Neste estudo pretendo recuperar a importância de seu trabalho através da análise dos figurinos, textos e
layouts criados por ele para a seção de moda das revistas O Cruzeiro e A Cigarra. Observarei como, ao apresentar as
últimas novidades da moda internacional em fusão com signos de brasilidade e dedicar um espaço privilegiado para os
figurinos de Carnaval e Festa Junina, o ilustrador mostra preocupação com o fortalecimento de uma identidade cultural '"
nacional e com a construção da imagem de 'Brasil moderno'. Inicialmente pretende-se estudar as imagens produzidas -g
e veiculadas entre 1938 e 1959, período em que sua colaboração com as seções de moda é mais assídua. A produção :g
editorial de moda no país era, então, incipiente, e os figurinos desenhados por Alceu Penna (reproduzidos em cores e ~
::s?
veiculados em periódicos de grande tiragem e circulação nacional) se constituíam no principal veículo de divulgação '"
da cultura visual de moda no país.

Rita Morais de Andrade - UFGO


Vestindo o corpo, a cidade e o museu: um vestido e uma história, São Paulo 1927-2007 .~­
Viver o sonho de integrar-se ao mundo cosmopolita vestindo o corpo de uma casca que, ao tocar a pele, nos insere na 'E
história do aqui e agora. O quanto esta sensação seria multiplicada na experiência daquela que, morando em São .~
Paulo no entreijuerras, rumava ao Norte, de poros abertos, á espera de absorver a intensidade do luxo na textura das o...
sedas, nos ruídos dos passos nos salões, na agilidade das mãos dos couturiers? O sonho empacotado, dobrado,
reunido a traços de Paris que voltavam para casa nas valises viveriam em outra realidade. Esta, mais dura, caótica de
um calor mais úmido que muda os ruídos no movimento de um corpo que não está mais naqueles salões, naquelas
ruas da cidade. Quais negociações tiveram que ser feitas para que a moda não familiar pudesse existir e habitar os
corpos e as vidas das mulheres brasileiras? Um traço dessas relações está presente no acervo têxtil do Museu Paulis-
ta. Um vestido de couture francesa revela e hospeda evidências de uma moda que foi vestida, costurada, copiada e
criada na cidade que maquiava sua face com a sofisticação da arquitetura, das ruas, e dos gestos dos corpos da moda.
Através dos vestígios impregnados a este vestido, reconhecemos certas práticas comerciais e a formação do gosto e
das formas de produção nacionais.

Ivana Guilherme Simili - UEM


Educação e Moda na Segunda Guerra Mundial: asVoluntárias da Legião Brasileira de Assistência (1942-1945)
A Legião Brasileira de Assistência foi criada em 1942, por Darcy Vargas, esposa de Getúlio Vargas, com a finalidade de
amparar os soldados e seus familiares. Durante o período da participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial (1942-
1945), característica marcante da instituição foi a atuação de mulheres, como voluntárias. Esta comunicação tem por
objetivo examinar o voluntariado feminino criado pela Legião Brasileira de Assistência, sob o foco da educação e da
moda de Guerra. Apoiando a análise em documentos escritos e imagéticos, deslindo os modos pelos G:Jais os concei-
tos patrióticos de cooperação entre os sexos ao serem usados pela instituição na mobilização, na preparação e nos
serviços instaurados foram desenhando tipos e estilos de voluntárias, com maneiras de as mulheres serem, agirem,
comportarem-se, vestirem-se e se apresentarem, conformando-lhes aparências que sinalizam para os processos edu-
cativo-pedagógicos e a produção de moda. A hipótese do estudo, que teve o apoio financeiro do CPNQ, foi a de que,
nas voluntárias, estavam algumas das chaves para o conhecimento e a compreensão das mudanças introduzidas pelo
conflito mundial na educação e na moda para as mulheres, mediante a inserção de comportamentos, atitudes, valores
e formas de compor o visual.

Edna Maria Nóbrega Araújo - UFPE


Corpos esculpidos, corpos desenhados: constructos do belo no final do século XX
Não é possível ao historiador não pensar seu próprio tempo. A beleza, nos tempos em que a imagem, a mídia e a
cibernética imperam é enunciada de diferentes maneiras. Não é possível fechar os olhos ao caminhar dos seres
humanos as clinicas de estética, as compras dos melhores e mais recentes cosméticos, as modernas academias de
ginásticas que prometem maravilhas, através dos inúmeros aparelhos, cada qual dedicado a uma parte do corpo, as
próteses de silicone, o botox, a bioplastia, o peeling, e as lipoaspirações, que desenham e reinventam corpos. Cada
parte do corpo pode ser modificada, reesculpida, consertada e, para isso, na sociedade brasileira parece não haver
limites. Neste sentido na presente comunicação pretendemos mostrar que, a partir das últimas décadas do século XX,
o modelo de beleza da sociedade brasileira passou a ser associado a tríade beleza-saúde-juventude. Onde, a obses-
são com a saúde, a angústia da idade, das rugas, da obesidade, de todo e qualquer sinal de 'degradação' do corpo
passou a ser combatido por meio de uma 'reciclagem permanente'.

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Sueli Maria Vanzuita Petry FURG
Na trama do cotidiano: a indumentária oitocentista de Blumenau·SC
A pesquisa pretende investigar mudanças e adaptações ocorridas na indumentária de Blumenau (1850 -1900) em
suas relações com o corpo, espaço social, familiar e cultural. A proposta procura analisar o quanto a indumentária
interfere e interage no comportamento dos homens, mulheres e crianças. Na construção desta trama a indumentária é
estudada enquanto componente do processo colonizador.. Os aportes teóricos que fundamentam a pesquisa perpas-
sam pela história do cotidiano e história da vida privada. E nesta esfera que as fronteiras entre o público e o privado
desaparecem ou se modificam refletindo-se também na indumentária. A metodologia utilizada envolve um levantamen-
to bibliográfico e documental do período. Além da investigação iconográfica enfatizam-se os acervos particulares
detentores de materiais voltados á indumentária. A pesquisa perpassa pelo registro das vivências do cotidiano da
cidade. O vestuário por sua vez, ganhou o seu lugar na história das conquistas individuais e sociais, nos múltiplos
procedimentos de controle do corpo, até o reconhecimento pelo grupo familiar e local.

Mara Rúbia Sant'Anna - UESC - e Paula Consoni . UESC)


Feminilidade e consumos no Brasil imperial
O presente estudo analisa a interface cultural entre a experiência vivida no Brasil, entre 1850 e 1890, e os modelos de
ser feminino provindos da Europa, com ênfase no consumo do vestuário e na recriação de uma imagem corporal
compatível com a desejada. A discussão se ocupará dos objetos consumidos, como estes eram transformados medi-
ante o uso, as estratégias de remodelação do corpo ao modelo europeu e o conjunto desses consumos intervindo na
construção da subjetividade feminina das mulheres que o consumiam. As fontes trabalhadas são imagens da época,
tanto publicitárias como outras, que abordam o tema e especialmente o trabalho memorialista de Osvaldo Rodrigues
Cabral, no que tange ao contexto florianopolitano.

Sheyla Farias Silva· Secretaria de Estado da Educação de Sergipe


Fortunas femininas na Estância Oitocentista(1850·1888)
Esse trabalho tem por objetivo demonstrar através do estudo dos inventários post-mortem, a composição das fortunas
das mulheres residentes em Estância/Sergipe, no período de 1850 - 1888. Essa periodização é justificada por em
1850 serem sancionadas as leis de Extinção do Tráfico Internacional de Escravos e Lei de Terras, posturas que
repercutiram e possibilitaram mudanças no perfil de riqueza. A segunda data estabelecida corresponde à abolição da
escravatura, que rompe com a então forma de trabalho compulsório. Nestes inventários identificamos e quantificamos
os bens tais como: escravos; jóias (peças de ouro e de prata), bens de raiz (casas, terrenos, fazendas, chácaras e
lavouras), semoventes (bovinos, eqüinos, muares, caprinos e ovinos), bens móveis (imagens, roupas, trastes de casa,
louça etc.), ferramentas (arreios, martelos, moinhos, foices, enxadas, machados etc.), ações, dívidas ativas (valo-
res a receber referente a empréstimos em dinheiro ou venda de bens), mercadorias, dinheiro, além de outros bens
que compunham o monte-mór e seus respectivos valores, o que permitiu a visualização do movimento da riqueza
estanciana.

I 19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h ás 16h30min) I


Rosângela de Lima Vieira - UEP - Marília
Globalização econômica, cultura material e consumo na perspectiva histórica
No momento histórico de crise ambiental planetária, como conseqüência do modelo de produção capitalista, que
ameaça em futuro próximo a vida na Terra, se faz necessário e urgente refletir como o padrão de consumo contribui
para esta realidade. Ao longo do processo histórico da expansão capitalista, constituiu-se também a construção de um
modelo de consumo que pode explicar, pelo menos em parte, a realidade em que vivemos. Neste estudo, em anda-
mento, pretende-se comprovar a hipótese de que a globalização econômica capitalista somente foi possível devido à
expansão concomitante de uma determinada cultura material, com patente ocidental, cuja sustentação está também
nos hábitos cotidianos. Uma vez caracterizada a globalização da cultura material ocidental, a investigação deverá
demonstrar a relação desta com a crise ambiental planetária por que passa a humanidade. No interior da cultura
material optou-se em observar os diferentes tipos de consumo. Devido á enorme abrangência dos hábitos de consu-
mo, a pesquisa está delimitada no consumo dos produtos do vestuário, uma vez que ele caracteriza bem a velocidade
e a variedade do consumismo no mundo capitalista.

Laura Ferrazza de Lima - UFRGS


Moda e formas de conhecimento: verdade, estética e identidade.
A moda é um fenômeno das aparências. Essa simples afirmação implica muitos questionamentos. Filósofos antigos
como Sexto Empírico e outros mais contemporâneos como Hannah Arendt consideram que a verdade está no nivel do
aparente. Contudo, a filosofia tradicional nega a possibilidade de alcançar a verdade através das aparências. Os

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historiadores que não almejam alcançar a verdade tradicional podem estabelecer relações entre a verdade aparente e ~67
a moda. A aparência implica também uma idéia estética, de belo, ou de socialmente aceito. Seria a moda um fenômeno I.!!.V
estético? Existem, porém, diversos conceitos de estética, dependendo de qual for considerado a moda terá seu lugar
garantido. É inegável que o vestir acompanha as transformações de uma época. Essas podem ser culturais, como
novos movimentos artisticos, um estilo musical, um gosto literário. A sociedade molda o traje conforme seus anseios,
seus desejos, suas necessidades. A moda formaria a idéia do parecer para ser. Através dela as pessoas constroem
uma imagem para si e para os outros. O estilo de vestir une grupos e contrapõe outros, mas acima de tudo marca a
individualidade dos sujeitos.

Liliane Edira Ferreira Carvalho· Universidade do Sul de Santa Catarina e Suzana Ferrnina Pereira ~
A grife e o capital simbólico: o poder de consagrar em Gesoni Pawlick ~
Uma grife, geralmente articulada em torno do nome de um costureiro, reúne em seu meio um prestígio carregado dos ~
sentidos que foram construídos social e culturalmente ao longo de seu funcionamento. Quem é seu criador? Qual a Q)

história do criador? E da grife? Quem usa essa grife? Qual a opinião da mídia sobre essa grife. As respostas a essas co
questões permeiam o universo de sentidos que é criado, caracterizando o reconhecimento da autoridade de uma grife ~
ou de um costureiro e seu poder de consagrar, balizando o que Bourdieu chama de 'capital de prestígio". Portanto, este c....>
trabalho busca constatar a importância dos elementos que são utilizados no processo de conferir prestígio á grife .~­
Gesoni Pawlick no campo de produção de moda em Santa Catarina, trazendo à tona a experiência profissional e de <E
vida de um dos nomes do mercado de luxo no Brasil. Os elementos que compõe sua história pessoal e profissional, .~
permitem a análise da constituição da autoridade de uma grife, ou seja, os diferenciais que levam ao sucesso financei· CL
ro e ao reconhecimento social numa indústria altamente competitiva.

Patricia Sant'Anna IFCH/UNICAMP


Arte Popular e a Moda dos anos 60
A arte popular e a moda nos anos 60 criaram diálogos pertinentes, que hoje podemos visualizar na Coleção Rhodia
(coleção de vestuários do Museu de Arte de São Paulo 'Assis Chateaubriand' - MASP). Esta coleção é um conjunto de
vestuários, que para sua confecção, demandou o envolvimento não só dos agentes de moda atuantes no Brasil, mas
também de um grande contingente de artistas plásticos, estes responsáveis pela criação das estampas. Boa parte
desta produção em estampas estava imbuída das discussões artísticas contemporâneas, isto incluía a questão - e
valorização - da cultura e arte popular como substrato para a criação de uma arte enraizada e substancialmente
brasileira. Processo este, que abrangeu também a relação arte e moda, emergindo nesta via as estampas presentes
nos vestuários dos desfiles-show Rhodia. Pretendemos, nesta apresentação adentrar na discussão de como as apro-
priações feitas da arte popular construíram objetos-vestuário que alimentaram a formação de um gosto das formas
vestimentares usadas no Brasil dos anos sessenta, e dialogaram com a produção e o discurso artístico do período.
Assim como avaliar as relações criativas entre as tendências (artísticas e de moda) intemacionais e as temáticas
nacionais na construção destes objetos-vestuário.

Viviane Lima de Morais - PUC·SP


O costume de se mascarar: Brasil e África ligados pelo trabalho e pela festa
Uma das festividades populares mais tradicionais do Brasil é o 'Bumba-meu-boi" que, apesar de não ter surgido junto
com a atividade da pecuária, está ligada à mesma pelo tema que a origina. A festa do boi se associa diretamente ao
espaço de trabalho por meio de críticas dançadas e cantadas. O festejo gira em torno da ridicularização de certos
costumes e sujeitos da vida nas fazendas, mesclando a diversão á prática de velhos cultos africanos a animais. No
cotidiano de povos tradicionais africanos há rituais religiosos e não religiosos que utilizam as máscaras como um
elemento fundamental de diversos cultos. Mascarar-se, entre alguns povos do ocidente africano, consiste em se reves-
tir da ancestral idade invocada no momento do ritual através deste objeto. Por essa razão, as máscaras não se limitam
a uma cobertura do rosto ou da cabeça, mas sim de toda a extensão do corpo. Esta maneira de usá-Ias, bem como o
seu caráter zoomorfo podem ser percebidos claramente na vestimenta da festa do boi no Brasil. Nesta discussão,
apresentaremos esse elemento da cultura material de alguns povos africanos escravizados que constitui um aspecto
importante para compreendermos a relação entre trabalho e festa na sociedade brasileira do século XIX.

I 20107 - Sexta-feira - Manhã (10h30min ás 12h30min)


Carlos Eduardo Sampietri - USP
A Díscoteca Pública Municipal de São Paulo
Um grupo de intelectuais ligados ao movi meto modernista e encabeçados por Mário de Andrade, após acalatentar o
sonho de uma instituição pública que trabalhasse como mecenas da cultura, cria, em 1935 o Departamento de Cultura
de São Paulo. Chefiado pelo próprio Mário de Andrade, o Departamento de Cultura passa a trabalhar políticas públicas

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culturais no sentido de fixar e fruir as manifestações culturais brasileiras na cidade de São Paulo. Nas estruturas do
Departamento de Cultura, Mário de Andrade cria uma Discoteca Pública Municipal e encarrega de sua função a etno-
musicóloga Oneyda Alvarenga, pupila do chefe do Departamento. A Discoteca Pública Municipal tem como objetivo
democratizar o acesso á discos, um bem cultural caro, através de consultas públicas e registrar manisfestações cultu-
rais brasileiras em matrizes de acetato, disponibilizadas ao público e à especialistas encarregados de estudar essas
manifestações musicais e propor um novo formato para a música brasileira, alicerçado nas suas características mais
genealógicas.
A mais importante reaização ligada à Discoteca, foi sem dúvida a Missão de Pesquisas Folclóricas, que em expedição
ao Norte e Nordeste do país, em 1938, recolheu e registrou fragmentos de toda a sorte da cultura musical popular
brasileira.

Alix Pinheiro Seixas de Oliveira - UERJ


Memória Urbana: Lembranças dos Bairros de São Gonçalo - O caso de Neves
A História Oral e a Memória Local estão presentes na opção teórico-metodológica feita pela linha de pesquisa História
de São Gonçalo: Memória e Identidade (FFP/UERJ). Tendo como eixo fundamental a inserção da Universidade em sua
comunidade circundante, passamos (coordenação e estudantes bolsistas do curso de História) a desenvolver um
trabalho envolvendo entrevistas de moradores idosos locais (nativos e imigrantes), detentores de perfis heterogêneos,
a partir de uma entrevista-piloto, configurando um esforço para a produção de fontes para a preservação da memória
urbana da cidade de São Gonçalo. Encontra-se já concluído o estudo referente ao bairro de Neves, que, originalmente
agrícola e já com um parque industrial em formação durante as décadas de 1920 e 1930, passa a ser o grande
catalisador das políticas públicas de urbanismo do periodo. Suas ruas, calçadas anteriormente às da sede do municí-
pio, e a intensa concentração operária, promovem incentivos à construção de vilas, clubes e sindicatos. A partir desse
quadro, os depoimentos dos idosos nos auxiliam a compreender uma trajetória local, que revela, nos dias de hoje, ruas
mal conservadas, patrimônio arquitetônico abandonado ou descaracterizado e um certo ar de 'cidade fantasma" em
sua via principal.

Alex Ricardo Medeiros da Silveira - UNB


Brasil e Cuba: diálogos e sintonias na construção do patrimônio cultural
A pesquisa que apresento ao XXIV Simpósio Nacional de História observa duas trajetórias de conservação do patrimô-
nio cultural do ponto de vista da construção de referências conceituais, incluída aí a emergência da dimensão imaterial:
trata-se do discurso oficial brasileiro e do cubano, dados em leis, programas, estudos e práticas patrimoniais. Estes
são investigados em dois períodos, os anos setenta do século XX e do início do século XXI até a atualidade, que
balizam períodos de efervescência na discussão internacional sobre o patrimônio. Refiro-me à 'Convenção sobre a
salvaguarda do patrimônio mundial, cultural e natural', de 1972, e a 'Convenção para a salvaguarda do patrimônio
cultural imaterial', de 2003, elaboradas no âmbito da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura). Proponho, assim, um estudo histórico e como Choay, em sua Alegoria do Patrimônio, utilizo
'figuras [relatos, eu diria] e pontos de referência concretos, mas sem a preocupação de fazer um inventário" sobre o
debate do patrimônio cultural no Brasil e em Cuba e, sim, sublinhar idiossincrasias e, especialmente, diálogos e
sintonias ainda pouco conhecidos.

Mariana Corção
Memória Gustativa e Identidades: de Proust à Cozinha Contemporânea
Odesenvolvimento da industria alimentícia ao longo do século XX fez com que crescesse a padronização dos sabores
dos alimentos. Nesse sentido, a peculiaridade e a historicidade de culinárias tradicionais se tornam significativas
fontes de rememoração, pois conservam elementos do passado vivos em meio à sociedade contemporânea e; conco-
mitantemente, dá conteúdo concreto a memória social, o que as fazem fontes significativas nos estudos de História da
Alimentação. A importância dos estudos das memórias sociais e coletivas no período contemporâneo está comumente
suportada na qualidade de fatores primordiais para a constituição de identidades. A proposta do presente texto é aliar
considerações a respeito desses conceitos: memória, recortada no âmbito gustativo, e identidade, termo em constante
revisão, a fim de prestar como elemento inicial de discussão para o entendimento do conceito de memória gustativa
dentro dos estudos de História da Alimentação.

I 20/07 - Sexta-feira - Tarde (14h às 18h) I


Thais Gomes Fraga· IPA - Rede Metodista do Sul
Os donos do Poder: a construção social da masculinidadeatravés da moda
No século XIX, segundo a lógica burguesa, o homem bem sucedido estava inserido na esfera da produção e a identi-
dade masculina retirava seus signos do mundo do trabalho, da racionalização e da funcionalização dos objetos, dessa

536
maneira, a demonstração do sucesso estava relacionada ao tempo livre, ao lazer e ao luxo, visíveis na figura da ~
esposa como uma insignia desses sinais de fortuna. Havia um frenesi alimentado por intensas atividades de visitas,
almoços, jantares, festas, férias em hotéis, ações beneficentes, e outras tantas atividades públicas que creditavam aos
®
homens de prestígio a confirmação de sua boa performance na sociedade. Os homens e seu sistema de dominação
em relação ás mulheres suscitam muitas discussões que dificilmente são abordadas numa problemática de gênero.
Perceber as relações que ligam os homens, suas representações e práticas, seus valores identitários, sociais, políti-
cos, éticos ao controverso tema do vestir, tornados aparentes na moda, são questões recentes que possibilitam uma
análise das relações sociais de sexo sobre o sentido da masculinidade, suas linguagens e formas da dominação

Leticia Ricci Aparício Centro Universitário Barão de Mauá ~


A figura feminnina e sua indumentária na Belle Époque parisiense e seus reflexos nas terras brasileiras e na 15
capital do café -1890/1930 ~
O século XIX nos passa uma imagem de um século sombrio e triste, austero e opressivo para as mulheres. É certo que ~
esse foi um momento que repensou a vida das mulheres como o desenrolar de uma história pessoal submetida a uma ~
codificação coletiva precisa e socialmente elaborada, assinalando o nascimento do feminismo e designando significa- ~
tivas mudanças estruturais (trabalho assalariado, autonomia do indivíduo civil, direito á instrução), como o apareci- L.)

mento coletivo das mulheres na cena política. .~­


Em uma sociedade patriarcal, uma mulher impotente, tola e bela era o referencial para os homens ricos que optam por 'E
sustentá-Ia como demonstração de seu poder econõmico e social. Em termo de status, tal mulher não deve ter nenhu- .~
ma utilidade prática, tem de ser incapaz de datilografar, limpar, cuidar de crianças, administrar uma propriedade ou o-
acompanhar seus investimentos - todas essas coisas devem ser feitas por empregados pagos. Teoricamente, as
roupas que essa mulher veste a identificarão como uma peça de luxo.
No início do século XX, as maneiras de comportamento feminino sofrem mudanças significativas, que podem ser
notadas pela vestimenta: o vestido alcançou uma reforma considerável.

Jefferson José Queler - UNICAMP


A roupa nova do presidente
Gostaria de discutir algumas questões relativas á produção e ao uso de símbolos na luta política. Em meu estudo
acerca da construção da imagem pública de Jânio Quadros, entre 1959 e 1961, lido com uma série desses problemas.
Talvez o símbolo mais conhecido e bem sucedido associado ao político em questão seja a vassoura. Junto desta, em
geral, aparecia a mensagem de que Jânio conduziria uma 'limpeza' numa administração pública tomada pela corrup-
ção. Contudo, nessa ocasião pretendo centrar minha análise num outro simbolo: os slacks indianos trajados então
freqüentemente por ele. Tais vestimentas foram logo pejorativamente apelidadas de 'pijânio' por setores da oposição,
de modo que seus possíveis significados foram, muitas vezes, reduzidos a meras excentricidades de Jânio. Dessa
forma, procurarei sugerir a presença de outros sentidos no uso daquelas roupas, passando por temas como naciona-
lismo, 'política externa independente' e reorganização da máquina pública e da visibilidade do poder. Para tanto,
utilizarei principalmente as revistas O Cruzeiro e Manchete, veículos de circulação relativamente ampla em âmbito
nacional no período.

Ana Beatriz Simon Factum - UNEB e Maria Cecília Loschiavo dos Santos
Jóia Escrava Baiana: Questões de gênero e raça na história do design no Brasil
A Joalheria 'escrava' baiana produzida nos séculos XVIII/XIX eram artefatos projetados para o uso específico das
mulheres negras ou mestiças, na condição de escravas, alforriadas ou libertas. Este artigo considera as particularida-
des de gênero e de raça com o propósito de revelar como as relações de poder se manifestam no mundo material, ou
seja, para compreender o fenõmeno joalheria 'escrava' se impõe o estudo do contexto social em todos os seus aspec-
tos. O objetivo é revelar como os objetos de adorno foram utilizados para estabelecer diferenças de gênero e raça na
historia do design no Brasil, no sentido de provocar uma reflexão sobre as atuais práticas de projeto que costumam
perpetuar os objetos como simbolo de desigualdade entre os sexos e os povos. Produzindo material bibliográfico para
o desenvolvimento da pesquisa em história do design no Brasil, através de uma revisão da historiografia de caráter
androcêntrico e etnocêntrico, que costuma não considerar as contribuições das mulheres afrodescendentes. Como
estrutura metodológica emprega-se á teoria de Michel Foucault, que ainda é uma das mais valiosas fontes usadas
para desvelar relações de poder que atuam sobre o corpo, e como os efeitos do poder são distribuídos através dos
mais finos canais e artefatos materiais.

Maria Angela Peter da Fonseca e Elomar Tambara . UFPEL


Sprachen Sie Deutsch in der Schule? Wenn? In 1913 un 1923. (Você falava alemão na escola? Quando? Em
1913 e 1923.)
Esta comunicação faz parte de uma investigação mais ampla denominada 'Gênese e Consolidação de Escolas Teuto-
Brasileiras Urbanas em Pelotas-1898/1942', que vem sendo desenvolvida no CEIHE (Centro de Estudos e Investiga-

537
ções em História da Educação) e no Curso de Mestrado em Educação, na linha de História da Educação, sob a
orientação do Professor Doutor Elomar Tambara, na Faculdade de Educação da Universidade Federal de Pelotas.
Neste trabalho, contemplo especificidades da lingua alemã, presente no curriculo do Collegio Allemão de Pelotas,
através da análise dos Relatórios Escolares dos anos de 1913 e 1923, tecendo aproximações e diferenciações entre
os dois periodos históricos. O Collegio Allemão de Pelotas, teve suas bases lançadas no final do século XIX, a partir de
uma associação escolar e religiosa de imigrantes alemães, em sua maioria luteranos, comerciantes e industriais,
radicados nesta cidade. A educação escolar, na zona rural, tem sido privilegiada com estudos de Kolling (1999) sobre
escolas pomeranas em Pelotas. E, em nivel de estado, Kreutz (1991) e Rambo (1994) abrangem a questão escolar
teuto-brasileira católica. Meyer (2000) enfoca a vertente evangélica. No entanto, em relação à educação urbana,
especificamente em Pelotas, não há registro de pesquisa até o momento.

Vinicius Pereira de Oliveira· SMED . São Leopoldo/RS


O Inventário Nacional de Referências Culturais 'Massacre de Porongos' e o ofício do historiador
Desde 2004, o Instituto de Patrimônio Histórico e Artistico Nacional (IPHAN) vem aplicando um novo instrumento de
pesquisa denominado Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC) junto à população do Cerro de Porongos/
RS. Tal estudo objetiva documentar os modos como a memória local se refere ao episódio da Guerra dos Farrapos
conhecido como Massacre de Porongos, quando soldados imperiais praticamente dizimaram um pelotão de lanceiros
negros farroupilhas na noite de 14/11/1844, gerando posteriormente acalorada controvérsia entre estudiosos, tradicio-
nalistas e ativistas sociais negros.Tradicionalmente dedicado à proteção de bens materiais (edificações, coleções de
objetos, vestígios arqueológicos) o IPHAN vem ampliando sua atuação ao agregar o estudo do patrimônio cultural de
caráter imaterial, visando identificar, documentar e reconhecer referências culturais que fundamentam as identidades
de diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, alguns dos quais foram, até recentemente, ignorados pela
política de preservação. Nesta comunicação, nos propomos a tecer um breve panorama da dinâmica desta pesquisa,
bem como apresentar as publicações que estão sendo elaboradas como forma de dar retorno à sociedade (audiovisu-
ais, exposições, livro, guia de referências históricas).

68. Política, Imprensa e Cultura


Marisa Saenz Leme (UNESP . Franca) e Maria de Lourdes Monaco Janotti (USP)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h ás 18h) I
Katia Aily Franco de Camargo· UFRN
Agentes de intermediação entre França e Brasíl
De 1829 a 1893, foram publicados 27 artigos sobre nosso pais na afamada revista francesa Revue des Deux Mondes,
somando um total de 706 páginas escritas por quinze autores distintos. Dentre eles encontramos: Ferdinand Denis,
Saint-Hilaire, Théodore Lacordaire, Francis Castelnau, Élisée Reclus, Adolphe d'Assier, L. de Chavagnes e Émile Adêt.
Agentes da intermediação entre os dois mundos, todos esses autores, sem exceção, tinham como objetivo maior,
discorrer sobre o estágio civilizatório do Brasil. Para tanto, baseavam-se em suas experiências ou numa bibliografia
existente a respeito, apesar de ser escasso o número de referências por eles citado. Nesses artigos, encontra-se uma
profusão de imagens do Brasil que não desviam de todo das representações comumente elaboradas sobre nosso pais
durante o século XIX, ou seja, a exuberância da fauna e da flora, com sua vegetação edênica, suas riquezas minerais,
o alto grau de miscigenação, o índio e a escravidão. Elas adquirem, no entanto, um sentido especial ao serem analisa-
das como fazendo parte do suporte impresso no qual se inserem, isto é, na Revue. Dai o objetivo desta comunicação:
analisar as imagens elaboradas sobre o Brasil pelos intermediadores franceses sem menosprezar, no entanto, o meio
de divulgação no qual eram divulgadas.

Marisa Saenz Leme - UNESP - Franca


Dissidências regionais e articulações nacionais nos projetos de Independência: O Conciliador Nacional em
Pernambuco"
Na avaliação dos comportamentos políticos apresentados pelas elites regionais no processo de Independência do
Brasil, com manutenção da unidade territorial, evidencia - se progressivamente a importância de se aprofundar o
conhecimento das suas dissidências internas. Por intermédio desse foco de observação, dilui-se a contraposição
linear entre diferentes projetos regionais, para se recompor um todo mais matizado em que, a par de comportamentos
que adquiriram maior visibilidade como expressão das elites locais, sobressaem-se outras visões, regionalmente dis-

538
sidentes. Problemática essa que, entre outras províncias, também se observa em Pernambuco, com forte expressão
na imprensa local. No presente trabalho analisa-se o pensamento manifesto no jornal O Conciliador Nacional, publica-
do no Recife entre julho de 1822 e outubro de 1823, período em que avultaram temas fundamentais para a construção
do estado no Brasil independente. Nesse contexto, o Conciliador defendeu posicionamentos diferenciados dos então
hegemônicos na Província.

Janaina Cardoso de Mello - UNEAL.


A sanha brejeira contra os jacobínos regenciais. Os cabanos de PE-AL (1832-1836)
Em abril de 1833, uma carta escrita pelo líder cabano Vicente Ferreira de Paula no Brejo (interior de Pernambuco)
expressava com veemência a ira dos 'pobres das matas' contra os representantes regenciais, responsabilizados pela
queda do Imperador D. Pedro I. Na escrita rebelde, os ideais políticos restauracionistas de um movimento social que
aglutinava também outras demandas como: posse territorial para índios e mestiços, liberdade religiosa, abrigo para
negros fugidos da escravidão, fim dos recrutamentos compulsórios. Palavras contestadas pelos governantes nas cor-
respondências provinciais que passaram a circular nos periódicos oitocentistas de PE, AL e RJ. Discursos que ora são
intensificados para marcar a 'selvageria' das 'gentes do sertão' e ora são silenciados da memória historiográfica por
revelarem a fragilidade da Nação frente rebeldes multifacetados de um movimento que postulou até mesmo a separa-
ção norte-sul. Uma fragilidade exposta nos desacertos militares e políticos da administração provincial, bem como do
próprio centro-sul, como pode-se perceber nos Relatórios de Ministros. Mais do que um jogo de manipulação, os
cabanos envolveram-se numa negociação de interesses. Sendo fundamental correlacioná-los as pesquisas de E.P.
Thompson, George Rudé e James Scott.

Erik Hõrner - USP


Artículação, representação e ação política: a formação partidária no Brasil da primeira metade do século XIX
@
Esta exposição pretende abordar e discutir a formação dos "partidos' na primeira metade do século XIX e a trajetória
histórica da compreensão de seu papel na política imperial por meio dos debates surgidos na imprensa paulistana e na
Assembléia Provincial de São Paulo entre 1838 e 1842, dialogando com estudos relativos ao Rio de Janeiro e Minas
Gerais. Pretendemos analisar o partido não por um viés generalista, e sim como fruto de uma prática política especifica
e geradora de novas formas de ação. Acostumamo-nos a utilizar os termos Liberal e Conservador para definir os
partidos no Império brasileiro. Uma bipolarização que muitas vezes se mantém vaga, em especial se remontarmos ao
final do período Regencial quando, segundo Paulo Pereira de Casto, os partidos começaram a se formar. No entanto,
o fenômeno partidário como uma das conseqüências do constitucionalismo liberal não surge como algo pronto, opera- ~
cional e claramente definido. De acordo com G. Sartori, o partido resulta da prática política e do entendimento de que ::;
ele representa um canal de expressão e de ação. Ou seja, o estabelecimento de partidos depende da compreensão da ~
existência de situação e oposições sem que isso implique no questionamento do regime monárquico constitucional. ro
'"
c:
~
Flavio José Gomes Cabral - FAINTVISAI UFPE I
"Matérias elétricas": falatórios, escutas, panfletagens e outros tipos de informações em Pernambuco no tem-
po da Independência do Brasil :~
Até o momento da chegada das notícias em Pernambuco sobre a eclosão da revolução constitucionalista deflagrada ~
na cidade portuguesa do Porto em 1820, era proibido se comentar assuntos relativos á política. A dita revolução
desatou esses nós. Utilizando-se de uma variada rede de propaganda, entre elas a imprensa, pôde o catecismo liberal
ser discutido na província em vários pontos de encontro. Entretanto, os velhos hábitos de se comunicar e de se
informar coexistiram. As escutas de paredes ocorridas no gabinete de D João VI quanto no do governador pernambu-
cano, a boataria, os derrames de pasquins, tudo isso contribuiu para a que as elites e até os populares pudessem
tomar parte no processo político que originaria a Independência de 1822, uma vez que as pessoas falavam o que viam
e ouviam, tirando daí suas próprias leituras.

Rodrigo da Silva - FFLCH/USP


A cidade apropriada: As representações da cidade de São Paulo no século XVIII nas obras de Frei Gaspar da
Madre de Deus e Ernani da Silva Bruno e suas dimensões políticas
Dois escritores de feições profundamente distintas, porém com um laço que os une apesar da distância inclusive
temporal: a apropriação da história da cidade de São Paulo em suas respectivas obras com objetivos que transcendem
o historiográfico. Tanto Frei Gaspar quanto Ernani Bruno não só se debruçaram sobre a história da constituição da
cidade de São Paulo bem como se valeram dela, interpretando-a, de acordo com seus momentos históricos, mas,
sobretudo, dando fortes cores políticas a essas interpretações. Da mesma forma ambos os autores exerceram forte
influência na constituição das interpretações sobre a cidade de São Paulo na segunda metade do século XVIII e
primeira do XIX, inclusive fortalecendo vertentes historiográficas que se tornaram muito influentes. Essa exposição
busca problematizar justamente essa complexa constituição das narrativas sobre a cidade de São Paulo e a íntima
relação entre a escrita da história e os processos políticos.

539
Vera Lucia Nagib Bittencourt - USP
José da Silva Lisboa e o "Fico": na luta política, a "Reclamação do Brasil".
Em 9 de janeiro de 1822, no mesmo dia em que foi encaminhada 'Representação do Senado da Câmara do Rio de
Janeiro" ao Príncipe D. Pedro solicitando sua permanência no Brasil, entrou em circulação, na Corte, publicação
assinada por 'Fiel à Nação", pseudônimo de José da Silva Lisboa. Mais catorze partes semanais, sempre sustentando
os interesses do Rio de Janeiro enquanto capital do Reino do Brasil, no seio da nação portuguesa, foram editadas, até
23 de maio do mesmo ano. Nesta data, outra questão agitava o Rio de Janeiro - a convocação de uma Assembléia
Geral Constituinte no Brasil. Lisboa, em 'Reclamação", parte XIV, condenou as iniciativas neste sentido.No entanto,
entre 19 e 23 de julho do mesmo ano, achou necessário sair a público para se defender de acusações de venalidade
política, através do 'Memorial Apologético das Reclamações do Brasil". Estes debates na imprensa contribuem para
problematizar projetos políticos em confronto, quanto às iniciativas a serem tomadas a partir do Rio de Janeiro e em
torno de D. Pedro.

Fernando Lóris Ortolan - UFPR


O discurso de gênero na imprensa política do pós-Guerra do Paraguai. (1869-1904)
A imprensa paraguaia no pós-Guerra do Paraguai converteu-se num verdadeiro poder público, exercendo um impor-
tante papel de protagonista e orientadora da opinião nacional. Nas primeiras décadas da reconstrução (1869-1904), a
imprensa participou ativamente do debate dos problemas nacionais e suas páginas serviram de veículo para violentos
ataques entre os partidos políticos. Pretendemos, pois, analisar como os discursos de gênero foram organizados
ideologicamente pela imprensa, apoiando-se em determinados padrôes e paradigmas a respeito das mulheres naque-
le momento. Através do discurso de gênero, há um abuso de estereótipos para enquadrar as mulheres em determina-
dos parãmetros, o que contribuiu para a dominação de algumas pessoas sobre outras, por meio de um discurso de
senso comum e pelo modo como esse discurso pode ser ideologicamente condicionado pelas relações de poder.

I 17/07 - Terça-feira - Tarde (14h às 18h) I


Almir de Carvalho Bueno - UFRN
O jornal como fonte histórica: Uma experiência em história política do século XIX
Esta comunicação pretende discutir a utilização de jornais como fonte histórica a partir da experiência com periódicos
políticos do século XIX no Rio Grande do Norte. Adesconfiança com que a historiografia metódica via a imprensa como
fonte histórica, que se perpetuou por muito tempo no século XX, mesmo depois da 'revolução annaliste', acabou por
consolidar preconceitos que se reproduziram na formação profissional dos historiadores por gerações. A 'ida aos
jornais', a pesquisa empírica propriamente dita, pelo menos nesse caso, mostrou que isso não correspondia ao que
representaram os jornais para a sociedade brasileira da época, particularmente a norte-rio-grandense. Mesmo sendo
porta-vozes de grupos político-partidários, os jornais não se limitavam a esse papel numa sociedade em que pratica-
mente todos eram analfabetos e se tornavam, por via da transmissão oral, quase exclusivamente, o único meio pelo
qual essas populações tinham acesso a informações não só políticas mas, diríamos hoje, sociais e de entretenimento,
como os folhetins.

Maria da Conceição Francisca Pires - Fundação Casa de Rui Barbosa


Humor e Republicanismo no Eclipse do Império
A proposta é discutir as manifestações de crença nos ideais propulsores do republicanismo presentes na produção
humorística do caricaturísta Angelo Agostini veiculada nos periódicos ilustrados que circulavam na cidade do Rio de
Janeiro nas três décadas finais do século XIX. Embora não seja possível afirmar o caráter republicano de suas obser-
vações, é inegável que muitas vezes essas se fundaram em vários elementos da propaganda republicana. Centrarei
minha análise nos desenhos assinalando o explícito posicionamento crítico com relação às ações do Estado e de seus
representantes no parlamento. O italiano Ângelo Agostini se tornou referência na imprensa satírica brasíleira da segun-
da metade do século XIX pela forma como utilizou seu oficio de caricaturista na defesa da causa abolicionista, na
exposição dos conflitos sociais existentes e na crítica de determinados vícios e práticas políticas. Após uma significa-
tiva atuação na imprensa ilustrada paulista Agostini se instalou na capital do Império no momento de expressiva
transformação e amadurecimento da imprensa, se integrando prontamente à tendência liberal que se avolumava na-
qu,,:e momento e ao confronto estabelecido com as revistas e jornais conservadores que não poupavam linhas para
defender a Monarquia.

Alex Hagiwara - USP


Política, imprensa e cultura: a imagem de Floriano Peixoto nos jornais
A rapidez e a velocidade com que as informações são geradas no mundo de hoje permitem ao historiador vislumbrar
um horizonte intangível de propostas de reflexão. Num breve olhar pelos catálogos das editoras, é possível perceber

540
que a historiografia contempla os ávidos leitores com estudos renovados. Em sua maioria, alentados com uma riqueza
de fontes que possibilita novas indagações, formas de análise e, muitas vezes, o impensado. Ao mesmo tempo, a
História Política, de acordo com a Nova História, foi acusada de episódica e centrada no jogo de poder entre grandes
homens ou países. Além disso, o estudo das questões políticas ganhou outras adjudicações, tais como: psicologizan-
te, subjetiva e frívola. Nos últimos anos, a História Política ganhou um novo significado. Nesses termos, o objetivo do
trabalho é analisar em que medida as imagens, as crônicas, os editoriais dos jornais apreendem a figura de Floriano
Peixoto, as vicissitudes e as imbricações que as suas ações tomaram no correr daqueles anos iniciais do regime
republicano. Assim, retirar a névoa e as polêmicas que nos incitam áquela época, e refletir sobre a política e os seus
homens num momento cheio de incertezas e decepções tal como ora atravessamos.

Jesana Lilian Siqueira - UFJF


Modernistas mineiros: periódicos e produção cultural
O Movimento Modernista em Minas ganhou expressividade ainda na década de 1920 na produção de jovens intelectu-
ais que objetivavam participar da construção de uma cultura genuinamente brasileira. Tanto na capital Belo Horizonte
quanto no interior (Cataguases) estes intelectuais constituíram redes de sociabilidades e convivência que marcaram a
formação de grupos e a produção modernista no Estado. Resultado deste movimento foram os dois periódicos publica-
dos no período, A Revista de responsabilidade dos intelectuais da capital e Verde: revista mensal de arte e cultura
organizada em Cataguases. Os periódicos em questão constituem-se enquanto porta-vozes de importantes atores,
produtores culturais que buscavam agir através da imprensa. Neste sentido, a análise dos periódicos e de seus res-
ponsáveis torna-se relevante se entendidos como locais de sociabilidade, de produção cultural e de ação dos intelec-
tuais modernistas em Minas.
@
68
James William Goodwin Junior - CEFET-MG
Melhoramentos Urbanos e Política Local: o jornal "A Idéia Nova", Diamantina, MG, década de 1910
A imprensa do início do século XX conservou, em muitos lugares do Brasil, o papel de tribuna política daqueles que a
redigiam, e/ou dos grupos aos quais suas redações estavam ligadas. Na década de 1910, em Diamantina, Minas
Gerais, o jornal 'A Idéia Nova" surgiu como porta-voz da oposição local, a qual assumiu o governo municipal pouco
tempo depois. A questão dos melhoramentos urbanos aparecia recorrentemente em seu discurso político, primeiro
como denúncia das falhas da administração local, depois como exaltação do novo grupo no poder. Há uma óbvia mudan-
ça de tom, decorrente do posicionamento de sua redação na política local, embora permaneça o estilo bem-humorado de
escrita. Entretanto, para além desse jogo de prós e contras os textos nos permitem perceber como os articulistas do jomal ~
compreendiam o espaço urbano, seu uso de conceitos em voga á época (tais como "progresso" e "civilização"), sua 'S
postura face às novidades tecnológicas e aos "sinais visíveis de civilização'. As marcas deixadas no papel ajudam-nos a ~
interpretar o tipo de cidade que os "homens de imprensa" de então queriam imprimir na realidade local. '"
'"
c

Everton Costa Santos - UERJ


'"o..
Cidadania, Imprensa e Governo: "As Queixas do Povo" do Jornal do Brasil (1900-1910)
E",'
Esse trabalho pretende tecer reflexões sobre a questão da cidadania na Primeira República, mais especificamente na :~
primeira década do século XX (1900-1910), na cidade do Rio de Janeiro -então capital federal- através das reclama- ~
ções dos citadinos expostas na coluna Queixas do Povo do Jornal do Brasil. Sustentamos a idéia de que parte da
população da urbe carioca, frente às limitações institucionais impostas pelos primeiros governos republicanos, reco-
nheceu na imprensa um grande aliado na sua relação com o governo. O nosso objetivo é analisar como esse espaço
destinado pelo Jornal do Brasil às demandas da população da urbe carioca cumpria o papel de elo entre os citadinos,
a própria imprensa e o poder público, engendrando, assim, uma relação, cujo intuito último dos cidadãos era a obser-
vância de direitos para o bem viver na cidade, como a oferta de água, saneamento, saúde, segurança, transporte.

Alexandre Nicolae Muscalu - FFLCH/USP


EI Liberal -Imprensa e Política na construção da 11 República espanhola
Ao reconhecimento da excepcionalidade na produção de um diário bilbaíno com o nome de 'EI Liberal', sob proprieda-
de de um líder socialista basco, Indalecio Prieto, durante a vigência da II República na Espanha (1931-1939), acres-
centa-se a dimensão regional de sua Circulação, entre os três maiores jornais do País Basco além de ter se tratado do
impresso de maior aceitação junto à classe operária basca, em detrimento de outros veículos noticiosos facilmente
associados à causa. Somava-se o fato de que Prieto assumiu diversos cargos públicos, como seguidas legislaturas
provinciais e no Congresso de Deputados, somadas às suas atróuições ministeriais durante a II República - Fazenda,
Obras Públicas, Marinha e Ar e Defesa, estas últimas em plena guerra civil (1936-39). Assim como seu dono, o perió-
dico atendia ao discurso republicano, vezes revolucionário, mas não associado às correntes mais radicais do PSOE.
Tratava-se de uma pregação reformista democrática que, num contexto de radicalização, apresentava-se ora com um
discurso de moderação, ora de exaltação às massas. Daí a compreensão do jornal como um instrumento de propagan-
da político-ideológica balizado sobre disputas com desafetos internos e externos.

541
Hernán Eufemio Gómez - PPGAS/UFRJ
Consagração da imprensa maciça e transformação dos significados sociais da opinião pública. O caso da
charge d'O Malho (Rio de Janeiro, setembro de 1910)
Baseando-se em perspectivas que analisam historicamente a gênese e os usos de categorias sociais, este trabalho
pretende discutir as implicações do fenômeno do surgimento da imprensa maciça na mudança dos significados da
opinião pública. O foco é colocado na análise de um evento que comoveu os mundos político e jornalístico no Rio de
Janeiro em setembro de 1910, quando uma charge do semanário humorístico O Malho, a qual satirizava o presidente
da Cãmara dos Deputados, provocou uma série de atos de desagravo, matérias jornalísticas, discursos parlamentares
e um aumento nas vendas da publicação. Através de uma cronologia do evento, da descrição das suas manifestações
e dos seus contextos, assim como das próprias interpretações dos acontecimentos que efetuaram os atores Uomalis-
tas ou políticos), podem-se observar diversos elementos que estes perceberam estar em jogo: a honra do presidente,
a integridade das sessões parlamentares, a independência jornalística, o respeito á opinião pública. Num processo de
crescente autonomização da imprensa (em relação ao espaço político), a defesa da opinião pública foi um dos argu-
mentos pelos quais os jomalistas legitimaram um lugar relevante naquele mundo social.

I 18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h ás 18h) I

Marcia Yumi Takeuchi - USP


A questão imigratória japonesa no periodismo republicano brasileiro (1889-1954)
Esta comunicação terá como tema a mentalidade anti-nipônica no imaginário político brasileiro tendo como pano de
fundo a política imigratória brasileira. As fontes principais se constituem na documentação diplomática e nas revistas
ilustradas publicadas no Brasil do final do século XIX até os anos 1950. Encarados inicialmente como substitutos
temporários dos trabalhadores brancos, os japoneses surgiram no cenário nacional enquanto representantes de um
povo exótico do qual pouco se sabia, além do que fora divulgado no Ocidente, a partir do século XIX, pelos escritores
japonistas, atraídos pelo Império do Sol Nascente. Alvo de xenofobia e da intolerância por parte das autoridades
contrários a sua presença no território nacional, antes mesmo que ela se concretizasse, o japonês se tornou presença
assídua nas revistas ilustradas até a segunda metade do século XX. Tornou-se também personagem de charges
políticas, permeadas de reflexões políticas e raciais, e símbolo de perigo. Através da análise desse corpus documental,
podemos avaliar o impacto dessas imagens junto á opinião pública e na postura oficial das autoridades, influenciados
pelos discursos racistas importados dos EUA, além de demonstrar o papel da imprensa como porta-voz dos sentimen-
tos da elite nacinal.

Tania Regina de Luca - UNESP - FCUDepto de História/Assis


A missão da imprensa de acordo com o DIP: uma leitura do Anuário da Imprensa Brasileira (1942)
O Anuário da Imprensa Brasileira, publicação oficial lançada pelo Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) em
1942, sintetizava as propostas do Estado Novo em relação á difusão e controle da informação. Obra rara, disputada
por colecionadores, o Anuário foi organizado uma única vez, apesar do título. O objetivo desse trabalho é analisar
detidamente a organização do livro, seu conteúdo e as estratégias discursivas mobilizadas para apresentar o novo
enquadramento da imprensa que, de acordo com o famoso artigo 122 da Constituição de 1937, relativo aos direitos e
garantias individuais, considerava a imprensa como um serviço de utilidade pública, o que alterava profundamente a
natureza de sua relação com o Estado. A ampla legislação que, sobretudo a partir de dezembro de 1939, data da
criação do DIP, regulou a circulação dos impressos foi aí reproduzida e fartamente comentada. Por intermédio dessa
fonte é possível vislumbrar o projeto do executivo para os meios de comunicação, especialmente a imprensa, e os
instrumentos legais que forjou para tentar impor seus desígnios.

Jailma Maria de Lima - UFRN/UFF


Imprensa e política no Rio Grande do Norte (1950 e 1952)
O trabalho analisa o cotidiano das disputas eleitorais de 1950 e 1952 a partir de três jornais potiguares, o Diário de
Natal, o Jornal de Natal e a Tribuna do Norte. As campanhas políticas de 1950 e de 1952, no Rio Grande do Norte,
mobilizaram o eleitorado para votar em ocupantes de cargos eletivos em âmbito federal, estadual e municipal. A
eleição de 1950 foi a mais completa de todo o período republicano brasileiro, com o eleitor sendo convocado para, em
uma única votação, eleger representantes para 09 cargos. A eleição de 1952 foi municipal, com escolha de prefeitos
para 48 cidades do RN. Ambas as campanhas foram acompanhadas e vivenciadas minuciosamente pela imprensa
local. Neste estudo, a imprensa é considerada como fonte/objeto com seu engajamento político, com suas imagens e
representações, apresentando-se como uma via para, lembrando Chartier, identificar como uma determinada realida-
de social é construída, pensada e dada a ler. As campanhas políticas de 1950 e 1952, por sua vez, são analisadas
considerando-se a representatividade dos embates e conciliações políticas do periodo, as mobilizações e tentativas de

542
convencimento do eleitorado através de estratégias de propaganda politica que começavam a ser utilizadas, bem
como a organização/reorganização da justiça eleitoral.

Gabriela Carames Beskow - CPDA - UFRRJ


Marchando para Oeste - Discursos sobre as Políticas Varguistas de Integração Nacional
Este trabalho tem como objetivo analisar os discursos elaborados por intelectuais e técnicos ligados ao Estado durante
o primeiro governo Vargas (1930 - 1945), através de seus artigos divulgados em produções oficiais, que buscavam
legitimar as políticas de integração nacional promovidas neste período. Nestes discursos são destacados temas como
o da integração do campo e do homem rural ao processo de desenvolvimento nacional, e os debates sobre a organiza-
ção territorial do país, que visava promover o desenvolvimento das regiões e a ocupação racional do interior. Esses
discursos enfatizavam a necessidade de ocupar os espaços considerados 'vazios" do Brasil. O Departamento de
Imprensa e Propaganda constituído neste período permitiu a produção e difusão de discursos legitimadores das polí-
ticas estatais. Neste trabalho, as fontes utilizadas são, principalmente, os artigos das revistas Cultura Política e da
Revista Brasileira de Geografia, que permftem analisar diferentes estratégias de abordagem sobre o tema em questão.

Teresa Maria Malatian - UNESP


São Paulo, 1924 e a imprensa
Neste trabalho será comentado e debatido o livro de IIka Stern Cohen, cujo tema consiste na destruição da cidade de
SP em função da presença dos batalhões rebeldes na cidade. A abordagem privilegia a cobertura dada pela imprensa
local ao evento, além de apresentar coleções de fotos, além de memórias e depoimentos dos contemporãneos .

IIka Stern Cohen


São Paulo, 5 de julho de 1924
A presença de tropas rebeladas e o cerco à cidade de São Paulo em julho de 1924 vistos atrasvés de duas coleções de
fotos e depoimentos dos contemporaneos. O conflito teve dimensões inusitadas e provocou um posicionamento anti-
bernardista por parte das elites políticas paulistas, que acabaram por fundar um novo partido politico em 1926.

Zélia de Oliveira Gominho - UFPE


Redemocratizar, Democratizar... Momentos finais do Estado Novo através do Diário de Pernambuco. Recife,
julho a dezembro de 1945
Pesquisando em jornais do Recife de julho a dezembro de 1945 observamos a utilização do termo democratizar e ~
redemocratizar; e nos questionamos se a compreensão da época era que a democracia estava retornando ao país, ou, "S
enfim, se estabelecendo. As leituras que são expostas nos jornais a esse respeito são diversas em suas origens, ~
motivações e formas; nesse aspecto, e por ser um período eleitoral, cada jornal tomava uma posição, um partido, a ~
defesa de um candidato; mostrava-se engajado num projeto de democracia e possuía um público leitor característico, e
e é interessante observar a discussão dos jornais entre si numa disputa pela razão e pelo voto do eleitor. Aforma como E
se percebem uns aos outros é revelada pela linguagem direta, muitas vezes depreciativa e irônica. Como também a co'
forma como se explicam e justificam posicionamentos do tempo da ditadura e as referências que buscam para se :E
apoiar e mobilizar a opinião pública é bem singular. Selecionamos assim, para esse simpósio, o estudo do Diário de ~
Pernambuco. Buscamos compreender como esse jornal pensa, se posiciona, age e reage nesse processo dito de
redemocratização; quê representações de democracia o jornal defende, com destaque para a atuação de vários inte-
lectuais, entre eles, Assis Chateaubriand, o dono do jornal.

João Carlos de Souza- UFGD


Imprensa, vida urbana, discursos e o projeto Marcha para Oeste
A 'Marcha para Oeste", projeto desenvolvido pelo governo de Getúlio Vargas, entre outros objetivos pretendia integrar
territórios vinculados às atividades agrícolas e pecuárias às regiões em processo de industrialização, que particular-
mente expandia-se no Sudeste do país. Nesse contexto, muitos olhares se voltaram para o sul da região do atual
estado de Mato Grosso do Sul. Apreendo esse momento através da imprensa periódica, ao longo da década de
quarenta estendendo-o à primeira metade da década seguinte. Os jornais são analisados com a finalidade de debater
sobre momentos decisivos nesse processo, como o da Criação do Território Federal de Ponta Porá e as disputas com
a empresa Mate Laranjeira, a principal favorecida com cessões estatais de arrendamento de terras. Analiso os discur-
sos sobre a idéia de desenvolvimento das cidades, o que significava o progresso e a inserção nos processos culturais.
Como os agentes sociais daquele momento se auto-referenciavam, que expectativas geravam e difundiam. A incorpo-
ração de novas tecnologias é outro aspecto das transformações que são ressaltadas, busca-se entender seu significa-
do para os atores de então.

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I 19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h às 16h30mmQ

Maria de Lourdes Monaco Janotti - USP


Política, religião e mídia: o Espiritismo no Brasil
O trabalho é um estudo das tensões entre os domínios da política, os da religião e os da mídia, tendo como referências
empiricas a história do Espiritismo no Brasil e como referências teóricas as posturas da 'nova história política' e as da
antropologia cultural. Partindo das questões - 'Por que a religião é um elemento chave para estudarmos a cultura?' e
'Como as ciências humanas explicam a atualidade do tema Religião?' -, analisaremos algumas perspectivas teóri-
cas sugeridas pela produção historiográfica. Por ser a religião uma das principais maneiras de representação do
espaço vivido, seu estudo tornou-se um dos grandes paradigmas para a compreensão da diversidade cultural
brasileira. Embora o Espiritismo tenha se expandido consideravelmente no século XX, ocupado largo espaço na
mídia, provocado confrontos ideológicos e políticos, poucos estudiosos a ele se dedicaram. Seria este um caso
revelador de preconceito?

Maria Eloisa Cavalheiro - UPF


História política, cultura e imaginário: dimensões teórico-metodológicas
A grande novidade da denominada Nova História Política, se comparada àquela história 'tradicional' do século XIX,
que se encontra situada em relação às fontes, ao padrão da narrativa dos acontecimentos, ao trabalho proposto em
moldes de longa duração é, fundamentalmente, em termos da abordagem do papel do Estado. A cultura politica é
aquela que envolve elementos relacionados ao Estado e as instituições de poder vinculadas a ele, mais diretamente.
Já em termos dos partidos políticos, das disputas eleitorais, das ideologias políticas, do imaginário político enfim, fato
que demonstra a vitalidade da ciência política no interior da produção historiográfica será também objeto de análise,
buscando identificar a ação dos homens no campo político. A imprensa, como fonte histórica, tem também um papel
fundamental no sentido de permitir captar as aspirações e decepções que envolvem relações de poder, bem como
influenciar a opinião pública.

Andrea Braga Fonseca - UERJ


Representaçoes da imprensa protestante historica (seculo XIX)
No mundo contemporâneo, podemos observar um ressurgimento do sagrado em suas mais variadas instancias. Nesse
processo, nota-se a contribuição dos chamados protestantes históricos. O protestantismo de origem pentecostal ou
neopentecostal tem tido visibilidade através de midias variadas para veicular mensagens. No entanto, o uso de midias
para difundir os ideais do grupo protestante não é uma novidade. Desde sua chegada ao Brasil, inícios do XIX, os
protestantes perceberam a imprensa com uma ferramenta para cristalizar suas idéias em um mundo católico, firmar
suas opiniões e atrair um publico maior. Ao ler, porém, a bibliografia sobre o Protestantismo histórico no Brasil, perce-
be-se que esse tema continua repleto de lacunas. A questão de estudar a imprensa evangélica se agrava pelo fato de
muitos de seus jornais jà terem desaparecidos, outros estão em estado de decomposição. A proposta deste projeto
visa trabalhar a imprensa protestante histórica no Brasil, mas especificamente as representações elaboradas por essa
imprensa. Como através dessa midia, esses grupos forjaram tradições, discursos que legitimaram suas posições.

Lindsay Borges - UFGO


A Revista da Arquidiocese e a afirmação da autoridade do primeiro arcebispo de Goiãnia
O presente trabalho tem por objetivo refletir sobre as relações entre mídia e Igreja Católica, associando-as ao conceito
de representação. O núcleo do estudo centra-se na representação de Dom Fernando - primeiro arcebispo de Goiânia
(1957 -1985) - como forma de sustentação política e doutrinária não apenas da sua autoridade eclesiástica, mas dos
valores da Igreja Católica em um contexto histórico-geográfico marcado pela modernização regional. Nesse contexto,
ressalta-se a importância da Revista da Arquidiocese como articuladora das principais tendências católicas em Goiás
em um momento de transição de uma sociedade mais tradicional para uma sociedade mais moderna, a partir do
debate ideológico entre essa instituição, a maçonaria, o comunismo, o espiritismo e o protestantismo que se difundiam
amplamente no Estado de Goiás.

I 20/07 - Sexta-feira - Manhã (10h30min às 12h30min)

Êça Pereira da Silva - USP


A relação entre política e cultura na revista Araucaria de Chile (1978-1990)
Este trabalho apresenta as discussões sobre a relação entre cultura e política realizadas pelos intelectuais chilenos
exilados que participaram da revista Araucaria de Chile, especialmente na seção Capitulos de la Cultura Chilena. Esta
revista tinha como propósito criar um espaço para a discussão cultural e política e também servir de ponte entre os
chilenos exilados e os que permaneceram no país. O caráter engajado da publicação era explicito: era uma revista

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cultural que se posicionava contra a ditadura de Pinochet e todas os governos latino-americanos da mesma natureza,
foi publicada na França, depois na Espanha. Na seção Capítulos de la cultura chilena, organizada por Luiz Bocaz -
professor de literatura latino-americana na universidade de Concepción até o momento do golpe - foram discutidos os
temas pintura, a música, a universidade, as ciencias sociais, o cinema, o teatro e a pesquisa científica. Esta seção era
composta por entrevistas e artigos de intelectuais das áreas em questão. A importância desta seção consiste em tentar
traçar um panorama do desenvolvimento da cultura chilena até o momento do golpe, preparar um instrumento de
reflexão sobre esta cultura e tecer e divulgar estratégias de resistência destas manifestações culturais durante a
ditadura pinochista.

Michele Rossoni Rosa - UFRGS


Ditadura, intelectuais e imprensa: a resistência a Revista Civilização Brasileira (1965-8)
O período posterior á instauração da ditadura militar (e anterior ao AI-5) demonstra-se privilegiado á análise dos
intelectuais, em suas proposições e atuação. É marcado pelo esgotamento das possibilidades "populistas" de atuação
junto ao Estado, quando os intelectuais tributários, sobretudo, das perspectivas pecebista e isebiana, recompõem-se e
ampliam a disposição ao combate para o retorno á democracia. Detectam a falência do modelo teórico-político da
"revolução brasileira" em etapase promovem autocrítica que renova a apropriação marxista no Brasil. Surgem diversos
grupos que propõe, sobretudo através da imprensa, sua luta contra a ditadura, ancorada na idéia de poder mobilizador
da palavra. A Revista Civilização Brasileira, editada no RJ entre 1965-8, atuou como importante veículo de divulgação
no período e representa fonte privilegiada para o estudo das idéias sociais no Brasil, bem como das dinâmicas internas
do universo intelectual, em seus recursos - ou 'capitais' - específicos, estratégias, posições sociais, trajetórias indivi-
duais e institucionais, influência política e social etc. A presente comunicação demonstra os resultados parciais de uma ~
pesquisa mais ampla que toma como fonte e objeto a Revista Civilização Brasileira e que discute as questões expostas ~
acima.

Ivone Gallo - PU C-Campinas


Contra-informação e cultura política
As formas de comunicação alternativas têm se tornado um objeto de interesse geral e desde algum tempo tema que
figura em trabalhos acadêmicos. Os grafites políticos e/ou artísticos, as mídias independentes, o TAZ, as inscrições
sobre o próprio corpo e outras formas de expressão tornaram-se de uso corrente, sobretudo para os jovens. Fenômeno
da atualidade, o jogo de informação/contra-informação aponta para a crescente necessidade de indivíduos e grupos
de imporem-se como agentes, sem mediadores e de fazerem-se ouvir, o que não poderiam fazer pelos canais oficiais, ~
autorizados, de comunicação. O ponto de partida de nossa análise é a poesia e o grafite político dos anarco-punks que ""5
ocuparam a Estação Guanabara de Campinas entre os anos de 2001 e 2004. ~
'"
Joana Neves - UFPB §'"
Imprensa e renovação educacional; a tramitação das LDBs (1961 e 1996): polítca e cultura em debate
Nesse trabalho, a imprensa escrita é tratada, sobretudo, como fonte para o estudo das propostas de renovação educa-
.!",'
cional, presentes na sociedade brasileira e debatidas nos momentos de tramitação das Leis de Diretrizes e Bases da :e
Educação Nacional, aprovadas nos anos de 1961 e 1996. A primeira nos interessa por contextualizar a criação e ~
atuação das escolas experimentais paulistas - dentre as quais se inseriu o Sistema de Ensino Vocacional, cuja pro-
posta de ensino de história é nosso atual objeto de estudo - e a segunda por se constituir na legislação em vigor. Em
ambos os casos, pesquisas preliminares revelam que a cobertura jornalística enseja mais confusões e equívocos do
que veicula informações e promove esclarecimentos ao público comum, isto é, os não especialistas da área. A questão
educacional não ocupa, nem mesmo nesses momentos mais expressivos de deliberações legais, o centro de um
debate cultural que deveria ser, em princípio, inerente á questão educacional. No entanto a documentação jornalística
representa uma importante fonte documental e, por isso, parece-nos fundamental analisá-Ia ao se discutir as propos-
tas de renovação educacional, obviamente presentes no processo de elaboração das LDBs.

I 20/07 - Sexta-feira - Tarde (14h ás 18h) I


Heloisa Amelia Greco - UNI-BH
A estratégia do esquecimento: o tratamento dado pela mídia e pela legislação ao contencioso da ditadura
militar no início do chamado 30 milênio (1999-2005)
Procurarei analisar a maneira como é construida pela midia, hoje, a memória da ditadura militar e da resistência contra
ela, a partir das matérias, edições e editoriais veiculados pela revista Época (1999-2004). O ponto de partida é a
problematização da maneira como tem sido tratados os elementos que compõem o contencioso da ditadura militar: a
questão dos mortos e desaparecidos políticos; a mal chamada reciprocidade, núcleo da cultura da impunidade vigente;
a tortura enquanto instituição; os avanços e limitações da legislação sobre o tema, com destaque para os obstáculos

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interpostos à abertura dos arquivos da repressão. Parto da hipótese de que os meios de comunicação se tornaram os
principais formuladores da história oficial constituindo-se, assim, em articuladores da estratégia do esquecimento em
relação à memória instituinte .. Neste caso, o que tem prevalecido é que as noticias sobre o tema en questão engen-
dram mais esquecimento e conciliação do que propriamente memória e indignação: são tratadas quase exclusivamen-
te como entretenimento.

Alvaro Augusto de Borba Barreto - UFPEL


Cenários e perspectivas da reforma partidária (1979-1982): o caso do município de Pelotas (RS)
O trabalho busca analisar o processo de organização dos partidos políticos no município de Pelotas, então segundo
maior colégio eleitoral do Rio Grande do Sul, no período 1979-1982. O recorte temporal é delimitado pela reforma
política que extinguiu a Arena e o MDB e obrigou à formação de novas legendas, e pelo primeiro teste eleitoral do
pluripartidarismo. A ênfase é dada às opções de filiação realizadas pela elite política, em especial os detentores de
cargos eletivos (Prefeito, vice-prefeito, vereadores e deputados que tem o município como base). Ao invés de simples-
mente identificar as escolhas feitas por essas personagens e verificar como se deu a passagem do bi para o pluripar-
tidarismo, a abordagem procura problematizar tal processo, perceber as diferentes conjunturas formadas naquele
período, bem como as ambigüidades surgidas em um cenário de indefinição quanto aos rumos da transição brasileira
e ao papel a ser cumprido pela instituição partidária, as quais reverteram em acirramento da disputa política. O trabalho
serve-se de três fontes básicas de pesquisa (imprensa, depoimento das personagens e pronunciamentos legislativos)
e de um diálogo com a historiografia e o pensamento social sobre a redemocratização.

Suzana Arakaki - UEMS


Imprensa, cultura e política: 1964 em O Progresso
A presente comunicação tem por objetivo analisar o papel da imprensa local em 1964 na cidade de Dourados, no
interior do estado de Mato Grosso do Sul. A exemplo da grande imprensa, os jornais locais tiveram importante papel na
condução e legitimação do golpe civil-militar que culminou com a renúncia de João Goulart e instaurando a ditadura
militar no Brasil. As particularidades locais conduzem para as ligações político-partidárias dos proprietários das empre-
sas jornalísticas e seus interesses em jogo. De defensor ardoroso dos primeiros momentos, logo após o golpe, a
imprensa local decretava a morte da 'revolução'. As interpretações levam a leituras diversas, como uma provável
resistência ao golpe. Todavia, uma análise doa atos emanados pelo Comando Supremo da Revolução oferece outra
interpretação. A opinião dos jornais variou entre apoio e repúdio dependendo de como partidos políticos a que jornais
eram ligados, eram atingidos.

Osvaldo Mariotto Cerezer - Unemat


Imprensa e Estado autoritário no Brasil (1964-1970): a construção da dominação
O presente trabalho realiza uma análise da relação entre imprensa e Estado autoritário no Brasil nos anos de 1964 a
1970, buscando compreender a relação existente entre ambos na construção da dominação social. A pesquisa foi
realizada utilizando como fonte documental o Jornal A Razão, jornal de abrangência regional, situado em Santa Maria,
RS. A pesquisa possui como foco de análise editorias do jornal e reportagens publicadas por representantes do Exér-
cito Nacional com sede na mesma cidade. Constatou-se uma relação extremamente próxima entre o jornal e o Estado
autoritário no sentido de exaltação e defesa do golpe de 1964. A proximidade aparece nas idéias defendidas por
ambos e na busca da construção de uma imagem de um 'Estado todo poderoso', centrado na erradicação das amea-
ças à sociedade brasileira, representada pelo suposto avanço de idéias comunistas e na reconstrução nacional.Os
discursos publicados pelo jornal, produziam uma realidade pautada na necessidade de construção de uma imagem
adequada ao projeto político do Estado autoritário. Nesse contexto, a imprensa possui papel relevante na divulgação
de dados e informações e na construção de idéias que passam a interagir no tecido social e produzir novos olhares e
comportamentos sobre uma dada realidade.

Cecilia Helena Omellas Renner - Laboratório de Estudos sobre Intolerância


A luta contra a censura durante o regime militar: o caso do jornal OESP.
Resultados preliminares da análise da resistência do jornal O Estado de S. Paulo (OESP) à censura, a partir do AI-5,
até à liberação da censura pelo presidente Geisel, em janeiro de 1975, em homenagem ao centenário do jornal. O
jornal OESP era ao tempo o mais importante jornal da América Latina. Foi o único jornal da grande imprensa a sofrer
censura por um período prolongado, alternando-se as várias modalidades de censura. Esta pesquisa tem por objetivo
estudar a censura do OESP no âmbito das circunstâncias imediatas do jornal e dos jornalistas. Pretende, também,
caracterizar as estratégias adotadas, indo aos detalhes da rotina de trabalho com a censura, traçando perfis individuais
dos personagens principais e reconstituindo episódios exemplares. Nesta reunião será exposta a análise preliminar
das entrevistas gravadas, a história falada. A flexibilidade do roteiro dessas entrevistas e a sua fraca diretividade
permitiram recolher os testemunhos e as interpretações dos interlocutores na sua linguagem e categorias mentais.

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Essas entrevistas foram realizadas com redatores e ex-redatores do jornal, diretores e ex-diretores, resultando numa
reconstituição substanciosa da experiência dos que dela participaram,

Adrianna Cristina Lopes Setemy - UFRJ


Censura moral na imprensa: o regime militar entre a repressão e a legitimação
Este trabalho irá abordar a censura de imprensa durante o regime militar, diferenciando-se dos demais estudos sobre
o tema por contemplar não apenas o aspecto repressivo desse mecanismo, mas também o seu poder de legitimar o
regime perante setores da sociedade, que viam a censura de temas morais na imprensa como uma forma de conter a
'onda de pornografia e subversão' que ameaçava invadir o Brasil. Ao contrário de algumas teses que vêem na vigilân-
cia á moral e aos bons costumes apenas uma estratégia do regime para encobrir uma censura que, na realidade,
estaria voltada apenas para temas políticos, iremos revisitar os anos de ditadura, através de documentos secretos
produzidos no âmbito do regime e das cartas enviadas por pessoas comuns à Divisão de Censura de Diversões
Públicas, na tentativa de compreender quais eram os canais de participação e comunicação de setores conservadores
da sociedade com o regime militar, no sentido de controlar as crescentes transformações dos padrões comportamen-
tais que vinham se operando na sociedade brasileira, tais como o uso da pílula anticoncepcional, a liberação feminina,
o divórcio, a propagação das drogas e a sexualidade da juventude,

Selma Martins Duarte - FAD


A "redemocratização" nos discursos de Isto É
Em sua primeira fase, de 1976 a 1981, a revista Isto É abordou com grande ênfase a conjuntura política do período,
com muitos artígos tratando do projeto distensionista dos governos de Geisel e Figueiredo, Nesta comunicação preten-
do fazer uma análise desses discursos, com enfoque nas disputas pela manutenção do poder entre os militares, e a ~
's8'
preocupação de Ernesto Geisel em fazer um sucessor que desse continuidade ao projeto de abertura 'lenta, gradual e
segura',

Rosalba Lopes - UFF


Clandestinos debates no Brasil da ditadura: 1974-1978
O trabalho faz parte da tentativa de analisar o processo vivido pelas esquerdas brasileiras após a derrota da perspec-
tiva da luta armada, Estaremos abordando apenas o período que vai de 1974 a 1978, sendo que a intenção constrói-
se a partir de um diálogo com as análises de Denise Rollemberg, sobretudo no artigo intitulado Debate no exílio: em
busca de renovação (em fase de pré-publicação), No trabalho, a autora busca desvendar o processo vivido pela §
esquerda brasileira que viveu o exílio tomando a imprensa como um lugar privilegiado para a reflexão acerca da ::;
maneira como a esquerda incorporou temáticas que até então desconsiderava ou secundarizava, Como teria ocorrido ';;;
em terras brasileiras? É a questão que nos move desde a elaboração da dissertaçáo de mestrado, Acreditamos que '"
também no processo vivido internamente destaca-se aimportãncia da imprensa, Assim, a intenção é acompanhar os '" co

jomais MOVIMENTO e EM TEMPO, vale dizer, aquela parte da imprensa alternativa que segundo Bernardo Kucinski Ci.
'"
E
tornou-se sucedânea de organizações políticas clássicas e, dentro destes jornais, centrarmos nossas análises naque-

las seções identificadas como sendo o espaço de expressão de militantes clandestinos e, portanto, de organizações ~E
político partidárias (KUCINSKI, 1991), ~

Regina Maria Gonçalves Curtis - ULBRA


Representações da Revolução Cubana na Imprensa (1959-1969)
Nesta comunicação iremos apresentar os resultados de uma pesquisa que trata da construção de representações
acerca da Revolução Cubana de 1959 na imprensa, Para tanto foram selecionados jornais de alta circulação, de modo
a verificar as diferentes formas de apropriação deste acontecimento histórico pela imprensa, O período abordado,
restringe-se aos dez primeiro anos corresP9ndentes ao processo revolucionário, Ao longo da investigação foram ana-
lisados os jornais 'Diário de Notícias', a 'Ultima Hora' e a 'Zero Hora', O objetivo da pesquisa é demonstrar como
através da apresentação de diferentes representações sobre a Revolução Cubana foi possível a construção de deter-
minado imaginário político sobre este acontecimento histórico, de modo a influir na politica brasileira dos diferentes
governos que perpassam o período histórico abordado,

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69. População, família e migração: os desafios da multidisciplinaridade
Ana Silvia Volpi Scott (UNISINOS) e Carlos de Almeida Prado Bacellar (USP)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h ás 18h)

Maria Silvia Casagrande Beozzo Bassanezi - NEPO-UNICAMP


A escolha dos padrinhos e dos nomes dos filhos entre os colonos do café.
Este trabalho procurar verificar a existência de padrões de compadrio e as redes estabelecidas através deles, entre os
colonos do café - principalmente imigrantes estrangeiros, mas também nacionais e, entre estes, descendentes de
antigos escravos - assim como a existência de padrões de nomeação dos batizandos entre esses diferentes segmen-
tos. Para tanto, analisa as informações contidas em cerca de duas mil e duzentas atas de batismos, ocorridos, entre os
anos de 1899 a 1930, na capela da Fazenda de Santa Gertrudes (importante fazenda cafeeira do Velho Oeste Paulis-
ta) e informações complementares obtidas em registros de casamentos e óbitos do Registro Civil do Município de
Santa Gertrudes (SP).

Oswaldo Mario Serra Truzzi - UFSCar


Italianos no altar: padrões nupciais no início da imigração em massa: São Carlos (SP), 1880-1900
Durante os anos oitenta, a imigração de origem italiana começou a se avolumar em todo o estado de São Paulo e, em
particular, em São Carlos. Em 1894, esse município liderou o ranking dos municípios que mais abrigaram imigrantes no
interior paulista, em sua maior parte italianos. Esse trabalho explora os casamentos religiosos ocorridos em São Carlos
envolvendo pelo menos um cônjuge de nacionalidade italiana, nas duas últimas décadas do século XIX. Sociologica-
mente, o casamento encerra em si todo um conjunto de significados: estratégia de seleção de parceiros, de negocia-
ção entre famílias, de reprodução do grupo, e - no caso de imigrantes - sinaliza a disposição em permanecer na terra
de destino. Dentre as fontes disponíveis, os dados de registros paroquiais arquivados na Cúría Diocesana foram
considerados mais apropriados por registrar com maior precisão a procedência dos cônjuges. Para selecionar os
dados pesquisados, foi desenvolvida uma tabela com os seguintes campos a serem preenchidos para ambos os
cônjuges: data do casamento, nome, idade, procedência e profissão dos cônjuges. Após serem preenchidas, as tabe-
las foram digitalizadas num software específico para facilitar a análise dos dados coletados.

Margarida Pereira Varela dos Santos Montenegro Durães - UNIVERSIDADE DO MINHO


Migrações: trajectórias e impactos na reprodução e organização da família camponesa minhota
Em 1948, Amorim Girão, estudando os resultados dos recenseamentos dos últimos cinco decénios (1890 -1940) toma
consciência da importância das migrações internas no povoamento e desenvolvimento das regiões do sul de Portugal.
A deslocação da população portuguesa das regiões do norte para o sul do território é um movimento com profundas
raízes históricas e na opinião de geógrafos, historiadores e antropólogos, é um fenómeno que se desenvolveu por
etapas. Inicialmente, sós ou em grupo, os minhotos deslocavam-se num movimento de ir e voltar procurando fora da
sua região de origem trabalho e um salário que complementasse os seus fracos recursos provenientes da agricultura.
Na fase seguinte estas deslocações teriam dado origem ás migrações permanentes e mesmo ás migrações intercon-
tinentais. Assim, no texto que apresentamos, a mobilidade da população será abordada a partir das regiões de origem
dos migrantes procedendo-se à análise dos deslocamentos internos da população afim de estabelecer a amplitude do
movimento migratório, traçar as trajectórias escolhidas e conhecer os impactos sobre a reprodução e composição das
famílias e sociedades camponesas minhotas ao longo dos séculos XVIII e XIX.

Cristina Donza Cancela - UFPA


Imígração portuguesa, casamento e riqueza em Belém (1870-1920)
Este trabalho analisa a imigração portuguesa no período da borracha para uma das capitais da Amazõnia, Belém,
entre os anos de 1870 a 1920, observando o perfil dessa imigração quanto ao gênero, a origem e a atividade exercida.
Destaca as alianças matrimoniais e familiares, a formação de riquezas e contratos nupciais, bem como a inclusão dos
portugueses enriquecidos nas famílias da elite local, agregando poder e prestígio à fortuna. Pontua ainda, as particu-
laridades e dificuldades da imigração, os arranjos domésticos necessários para trazer a familia de Portugal e a presen-
ça feminina nesses deslocamentos, viajando sós ou acompanhadas de seus maridos e/ou filhos.

Hamilton Afonso de Oliveira - UEG


A marcha das migrações: ocupação e colonização da região sul de Goiás -1800-1850
Este trabalho pretende abordar o processo de migração que culminou com a colonização e povoamento da atual
região sul de Goiás na primeira metade do século XIX. Fluxo migratório composto em sua maioria, por lavradores
mineiros que possuíam unidades produtivas de produção familiar tipicamente voltada para o abastecimento familiar,
oriundos das regiões de Rio das Velhas, Sabará e Paracatu. Migração que pode ter sido impulsionada nestas regiões,

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em consequência do desenvolvimento de atividades econômicas voltadas para a exportação em São Paulo, Rio de
Janeiro e, posteriormente, em Minas Gerais com o desenvolvimento da cultura do café. No entanto, Minas Gerais
caracterizou-se desde a primeira metade do século XIX, pelo desenvolvimento de atividades econômicas diversifica-
das, voltadas em grande parte para o abastecimento dos mercados do Rio de Janeiro e São Paulo.

Milton Cleber Pereira Amador UnC I UNISINOS


Italianos para o Rio Grande do Sul: um novo conceito de família
O trabalho propõe-se a analisar o novo conceito de familia estabelecido no Rio Grande do Sul a partir da imigração
italiana. A nova relação de produção e mudanças no plano social com a presença da família. Aborda-se a situação na
Itália no final do século XIX, e os problemas do camponês após a unificação. As razões para que ocorresse a imigração
para o Brasil e especificamente para o Rio Grande do Sul. As dificuldades para chegarem ao local de destino, desde a
partida, passando pelas viagens e a chegada na colônia. O papel do Estado e agentes de colonização. A diferença da
colonização que irá ocorrer no Rio Grande do Sul com o restante do país, principalmente tendo a familia como a célula
do processo produtivo. O porquê da região serrana, ser reservada para os imigrantes italianos. A região foi dividida em
pequenos lotes que foram distribuídos para as famílias, ocorrendo um novo modelo de ocupação da terra que rompeu
o histórico de latifúndio, dando início ao surgimento de minifúndios com produção familiar. As famílias aumentam e a
falta de terra provocou um suceder constante de imigração para outros espaços.

Aurélia H. Castiglioni - UFES


Impactos da imigração européia no Espírito Santo
Este estudo focaliza alguns impactos da imigração européia ocorrida na segunda metade do século XIX no Espírito
Santo. Este processo imigratório, intenso, porém de curta duração, foi o motor do povoamento e da colonização do
território do Espírito Santo, que até então ficara afastado das principais correntes econômicas e de povoamento do
país. Atransferência deste importante contingente populacional produziu, no contexto de destinação, efeitos de ação
imediata, mas também transformações que operaram a curto, a médio e a longo prazo. O trabalho examina efeitos
demográficos produzidos pelo afluxo de imigrantes e pela composição seletiva do fluxo migratório - modificação do
efetivo populacional e de sua composição -, assim como indicadores econômicos relacionados aos resultados do
trabalho dos imigrantes. São analisadas algumas especificidades do Espírito Santo decorrentes do tipo de coloniza-
ção, que se fizeram presentes na estrutura demográfica e sócio-€conômica do estado até meados do século XX, tais
como as bases tradicionalmente agrícolas da economia local, os traços fortemente rurais da sociedade e as caracterís-
ticas da estrutura fundiária, menos concentrada que o modelo brasileiro.

Paulo Cesar Gonçalves - FFLCH/USP


O Outro Lado da Imigração. Contratos para introdução de europeus no Estado de São Paulo no final do Oito-
centos
No final do século XIX, a organização da imigração transatlãntica movimentou milhões de pessoas. Negócio que exigiu
grande capacídade de articulação e aporte financeiro possível apenas aos Estados. Desse empreendimento participa-
vam instituições públicas, companhias de navegação, companhias ferroviárias, agências de recrutamento e de coloni-
zação, propagandistas, agentes e subagentes, bancos, casas de cãmbio e hospedagem nas cidades de embarque e
desembarque. Deve-se mencionar, ainda, as remessas de dinheiro dos imigrantes para os países de origem, que no ~
caso italiano, representaram importante fator de aquecimento da economia interna. Esta comunicação busca compre-
ender essa outra face das grandes migrações. Enfocando a emigração em massa para o Brasil, mais especificamente
®
para São Paulo, são analisados alguns contratos firmados entre o governo paulista e agências de introdução de
imigrantes com dois propósitos: entender porque certas nacionalidades foram preferidas e qual a importãncia dessas <O
empresas na corrente que ligou os mais remotos vilarejos da Europa às fazendas do interior paulista. ~
~
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17/07 - Terça-feira - Tarde (14h às 18h)

Odair da Cruz Paiva - UNESP - Marília r~.


Migrações para São Paulo pós Segunda Guerra Mundial. Desafios de normatização da diversidade ~
Esta comunicação centra-se na experiência de trabalho com documentação relativa a imigração para São Paulo entre .E
947 -1980. No pós Segunda Guerra, uma mudança do perfil das migrações européias esteve em curso. A maior parte ~
dos imigrantes entrados neste período destinavam-se às atividades urbano-industriais. Os registros sobre estes traba- 'E
Ihadores estão inscritos em vários conjuntos documentais depositados no acervo do Memorial do Imigrante em São .!!"
Paulo. O acesso à essa documentação apresentava muitos desafios aos pesquisadores, dentre eles, sua fragmenta- ,g
ção, volume e diversidade. Aproximadamente 60.000 registros informam dados como nacionalidade, região de origem ~'
e destino, sexo, profissão, religião, empresas empregadoras e salários. A reunião desse conjunto documental, sua ~
classificação, organização e inserção das informações num banco de dados, foram as alternativas encontradas para cf:

549
possibilitar o resgate, análise e quantificação de perfis coletivos ou de trajetórias individuais. O uso dos recursos da
informática continua sendo um desafio na medida das multiplicidades de acervos e demandas. Um olhar multidiscipli-
nar, envolvendo sociólogos, historiadores e profissionais de informática foi fundamental para a consolidação da pro-
posta de informatização documental.

Eloisa Helena Capovilla da Luz Ramos - UNISINOS


Museus e monumentos ao imigrante no sul do Brasil: muito além das lembranças da terra natal
O texto que trazemos para este simpósio busca analisar os Museus e os Monumentos sobre a imigração enquanto
lugares de memória e de representação da identidade étnica desses diferentes grupos que vieram para o sul do Brasil
a partir do séc. XVIII. Açorianos, alemães, italianos, japoneses, judeus, poloneses e árabes, entre outros, ao se deslo-
carem para o nosso país, trouxeram consigo uma bagagem cultural que os diferenciava dos luso-brasileiros. Os imi-
grantes, ao cruzarem o Atlântico, traziam uma cultura que, em contato com a cultura local foi influenciada e também
influenciou dada a dinamicidade do processo cultural. Nesse contexto, como construir/preservar sua identidade étni-
ca? Uma das possibilidades foi dada pelos Museus como casas de memória. A outra, foi dada pelo Estado, na medida
em que o patrimônio e/ou os monumentos à imigração foram construídos/preservados. Os Museus, neste trabalho,
portanto, serão tomados como um dos lugares onde a cultura materia oriunda da imigração é elaborada, interpretada
e comunicada ao público. Já os Monumentos serão olhados como expressões da participação do Estado, isto é, serão
tomados como manifestações políticas já que são homenagens especiais prestadas em geral pelos órgãos públicos
em datas especiais como cinquentenários e centenários

Nileide Souza Dourado - UFMTlNDIHR


Familias itinerantes: leituras transversais da viagem
O presente trabalho refletira a memória, as lembranças, o cotidiano, os registros e representações da viagem de
famílias itinerantes. A montagem do mosaico dessas histórias possibilita leituras transversais de cenários vividos pelas
famílias nos caminhos da viagem. Das narrativas, as famílias revelam o cotidiano, o todo dia da viagem, o despertar, a
fadiga, o peso da vida, a dificuldade de viver a trajetória. Enfim, trata-se de memória dos gestos, dos lugares, das
comidas, dos corpos e dos prazeres da viagem. Portanto, o trabalho privilegia os relatos orais de memória das famílias
migrantes rumo à região Leste de Mato Grosso na primeira metade do século XX.

Anael Pinheiro de Ulhôa Cintra - UFPR


Fluxos migratórios no Espaço Rural Paranaense: uma leitura preliminar
O presente artigo reflete sobre as dessemelhanças marcantes dos fluxos migratórios do espaço rural das mesorregi-
ões paranaenses, a partir da análise dos dados de migração e deslocamento oriundos dos microdados do Censo
Demográfico 2000. Procura-se observar, na análise destes dados, elementos que permitam compreender tanto a
dinâmica ou 'modos de vida' destas regiôes paranaenses como a resposta das políticas públicas a elas destinada.
Entende-se que as diferenças destas mesorregiões específicas possam ser compreendidas não só, mas inclusive
pelos processos de ocupação histórica do território paranaense e que demandaria dinâmicas distintivas para cada
região. Neste sentido, entende-se él necessidade de uma abordagem multidisciplinar para compreensão destas dinâ-
micas e que alie: sociologia, demografia e história. E mais, que estas dinâmicas distintivas, a primeira vista, não vêm
sendo levadas em conta na aplicação de políticas públicas locais nos municípios aí envolvidos - o que, numa prelimi-
nar análise, significa afirmar o distanciamento destas políticas com a realidade dos municípios das regiões observa-
das. O presente artigo é decorrente de estudo em desenvolvimento no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da
Universidade Federal do Paraná.

Sandro Aparecido Lima dos Santos - UFMT


Percursos e percalços no cerrado mato-grossense: memórias sobre a cooperativa e a migração - Lucas do Rio
Verde I MT (1981-1987)
No final da década de 1970, famílias oriundas da região Oeste e Sudoeste do Estado de São Paulo, constituído por
descendentes de holandeses e suiços, arrendatários, empregados rurais, meeiros ou pequenos proprietários rurais se
deslocaram para a Gleba de Lucas do Rio Verde em busca de condições para adquirir ou ampliar propriedades fundi-
árias e se reproduzirem enquanto agricultores, organizando-se na Cooperativa Agropecuária Mista de Lucas do Rio
Verde (COOPERLUCAS). Para tanto, realizamos pesquisas nos arquivos da COOPERLUCAS e em órgãos públicos
como INTERMAT, INCRA, Banco do Brasil e cartórios e recorremos à construção de fontes orais, por meio de depoi-
mentos coletados junto às familias que ainda vivem na cidade de Lucas do Rio Verde. Conseguimos identificar, a
representação do espaço mato-grossense como território hostil, a reformulação das estratégias de vida e de trabalho
diante o cotidiano de privações dos confortos usufruidos, a importância das redes sociais neste processo migratório, o
significado da permanência e a reconsideração dos planos, das aspirações e do modelo de cooperativa a partir da
interação com outros atores sociais e com novas condições.

550
Sinara Santos Robin - UFRGS/UNISINOS
Escritos de pesquisa: entre as alteridades e as urgências no estudo de populações tradicionais
O trabalho expõe os escritos de pesquisa dom os pescadores açorianos do PNLP -RS. Aborda questões sobre heran-
ças, hereditariedades, territorialidadese identidades bem como discute as alteridades necessárias de serem estabele-
cidas na elaboração de estudo com populações tradicionais, no caso, pescadores açorianos. Aborda também as exi-
gências que o tema faz disciplina história.

I 18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h)

Maria Luiza Andreazza - UFPR


Concepções de familia em testamentos de mulheres. America Meridional, século XVIII
A reflexão a ser desenvolvida focaliza apenas as decisões de algumas mulheres setecentistas: aquelas a quem, por
sua ascendência e condição, era atribuído o tratamento de 'donas'. Em largos traços sabe-se que no Antígo Regime
prevaleceu o paradigma patriarcal, isso não significando ausência de contradições na dinâmica das relações sociais
desenvolvidas naquele período. Ao contrário, farto material empírico apóia estudos que destacam a tensão permanen-
te nas interações dos universos masculino e o feminino. É importante considerar que o comportamento social, quando
acompanhado de perto, caso a caso, mostra-se irregular e contraditório. Ele nem sempre espelha o modelo em que se
presume inserida a ação social; ao contrário, mostra-se inesperado, inusitado. Com base nessas premissa, o estudo a
ser apresentado recompõe pequenas histórias de vida de mulheres, com vistas a estabelecer relações entre as deci-
sões que elas tomaram ao organizar seus testamentos e concepções de família presentes no periodo colonial.

Antonio Otaviano Vieira Junior - UFPR


Família e Migração no Ceará (1780-1850)
Entre os anos de 1780-1850 o Ceará conheceu vários momentos de escassez de chuvas e má distribuição de águas.
Tais períodos instituíam dinâmicas populacionais de sobrevivência, onde o deslocar efetivava-se como importante
estratégia. Odeslocamento interno e as 'visitas' a outras capitanias (Províncias), adotados de maneira significativa por
parcela da população, buscavam apoio em redes de solidariedade familiar. Baseado na análise da trajetória de algu-
mas dessas famílias em anos de seca nossa pesquisa busca enveredar pelas múltiplas relações inter e intra familiares.

Paulo Eduardo Teixeira - UNESP-Marília


A mulher na família oitocentista.
Este trabalho pretende abordar alguns aspectos ligados a imagem da mulher nos séculos passados de nossa história,
tendo em vista as informações colhidas em uma variada documentação, tal como as Listas Nominativas de Habitantes,
os Inventários, os Testamentos, e os Registros Paroquiais de batismo, casamento e óbito. Essa exploração da referida
documentação permitiu aprofundar os debates acerca do papel da mulher nas sociedades pretéritas, onde as mesmas,
além de realizarem diversos tipos de atividades, chegavam também a dividir a chefia dos domicílios com os homens.
A localidade estudada foi Campinas, vila que se tornou importante pólo produtor de açúcar no início do século XIX, e
que certamente favoreceu a expansão econômica da região, impulsionando inclusive a imigração de nacionais, africa-
nos - em sua maioria pela escravização, e a partir de meados do século com a chegada de europeus. Enfim, tais ~
mudanças concorreram para abrigar diversos tipos familiares, onde mulheres solteiras, casadas e viúvas construíram
laços de sociabilidade que lhes permitiram viver de modo muito mais pleno, e de certa maneira contrário à visão de
®
uma certa historiografia que procurou congelar o papel da mulher à sua função de esposa e mãe.

Thiago do Nascimento Torres de Paula - UFRN :g


Entre números: o modelo do abandono de recém-nascidos na Freguesia de N" Sr" da Apresentação, na segun- ~
da metade do SECo XVIII- Capitania do Rio Grande do Norte ~
Segundo a historiadora diane valdez, a história da criança abandonada não é recente. Sendo assim, o objetivo de :g
nossa pesquisa é demonstrar como se comportou o processo de abandono de crianças recém-nascidas na Freguesia o
de Nossa Senhora da Apresentação na segunda parte do Século XVIII. Autores como, Carlos de Almeida Prado Bace- '~,
lIar, Renato Pinto Venâncio, Maria Luiza Marcílio entre outros, foram referenciais importantes para nortearem a busca 15,
de nosso objeto nos documentos de batismo e óbito da dita Freguesia, Tais fontes foram tratadas e analizadas, segun- 'E
do o método quantitativo-serial-demografico, que não só nos permitiu saber da existência de recém-nascidos abando- ,i
nados naquela região da américa portuguesa, como também possibilitou a elaboração de um conjunto de tabelas que 'E
nos revelou informações como: o índice do abandono; a freqüência; os locais; etc. .$!?
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551
José Luiz de Castro - UNESP-Franca
Familía e Concubianto na Capitania de Goiás(1753-1808)
O objetivo da nossa comunicação é analisar as várias configurações de família que caracterizaram o processo de
ocupação territorial de Goiás. A igreja católica, por meio do bispado do Rio de Janeiro, tentou difunfir a família monogâ-
mica na tentativa de colocar em prática os ideiais do Concílio de Trento. Mas algumas fontes documentais, como os
registros de batismos, casamentos, Rol dos Culpados e Registro de Denúncia nos apontam que o concubinato foi uma
das caracteristicas marcantes da vida em familia desta região mineradora. A chegada de imigrantes de algumas regi-
ões do Brasil, Porgugal e da África interferiu profundamente no processo de reprodução biológica, social e ética da
sociedade de Goiás. Pode-se mapear a geografia do concubianto, seguindo o nitido rastro da ilegitimidade nas atas de
batiismo de Vila Boa e nas acusações de mancebia registrados nos tribunais eclesiático. Por outro lado, o livro de
Registro de Denúncia nos permite conhecer o perfil e a prática moral destes emigrantes. Além disso, esta documenta-
ção nos pemite conhecer alguns aspectos do cotidiano da vida em família na antiga Vila Boa onde ciúmes, 'bulhas',
tiros de espingarda em padre, prática de usura, aborto, incesto e filhos sacrilegos fizeram parte da vivência familiar na
Capitania de Goiás.

Alina Silva Sousa - USP


Casamento civil: reflexões acerca da família na Primeira República
1890. Céu de janeiro. A repercussão da imoderada faina governativa republicana, com seus decretos de reorganização
e reconstrução, foi variada. Em uma época em que os jornais eram, por excelência, locais de debate é possível, a partir
de sua leitura, perceber não apenas o cotidiano, a vivência das pessoas, mas a interferência na formação da opinião
pública que o jornal desempenha. Focalizando o decreto do casamento civil, esta proposta de comunicação quer, com
um olhar multidisciplinar, des-cobrir sua riqueza inaudita: o casamento é caracteristicamente um ato que aglutina
espectros múltiplos de uma realidade e pouco se sabe do impacto causado à família e à vida social quando da exigên-
cia de uma nova forma de casar. Os jornais, partidários da Igreja ou republicanos, debateram ativamente sobre este
decreto, aplaudindo-o ou não, deixando à vista sua atuação efervescente na formação de idéias acerca da família, e
sobretudo o relevo desta instituição na reorganização política. A leitura de jornais em atividade na agitada São Luis,
capital do Maranhão, entre 1890 a 1908 deixa evidente o espaço de poder exercido pela imprensa e nos guia na tarefa
de compreender os valores e os significados atribuidos à família em uma época de profundas mudanças na vida
política e social dos brasíleiros.

Romilda Oliveira Alves - UFMG


Nos limites do patriarcalismo: gênero, identidade e chefia feminina de domicílios em Mariana, c. 1800 - c. 1822
O presente trabalho tem como objetivo apresentar parte de um estudo sobre a chefia de domicilios por mulheres
solteiras, em Mariana, Minas Gerais, nas primeiras décadas do século XIX. Ancorando-se nos procedimentos metodo-
lógicos da demografia histórica e da categoria gênero, através de uma abordagem qualitativa dos testamentoslínven-
tários bem como quantitativa das listas nominativas, este estudo pretende analisar a estrutura e organização dos fogos
rurais e urbanos, procurando simílaridades e diferenças entre eles. Mostrar-se-á a condição e o perfil social dessas
mulheres chefes solteiras: quem eram elas, quantas eram, se tinham filhos (ilegitimos ou naturais) e a que etnia
pertenciam.

Conceição Maria Rocha de Almeida - UFPA


A lavadeira, o taberneiro e o poço (histórías sobre famílias e usos da água na Belém do Grão Pará do
século XIX)
Em 1890, a lavadeira brasileira Jeronima da Conceição desentendeu-se seriamente com o comerciante e proprietário
português João de Castro Neves. Jeronima residia com sua filha numa casa alugada por João e segundo os autos
crimes, 'achava-se pacificamente em sua casa', quando João apareceu indagando quando ela se mudaria. Sabendo
que o motivo da pergunta eram os aluguéis que devia, Jeronima respondeu que pagaria a divida e também se mudaria,
que só ficara devendo em virtude da doença que acometeu a ela e a filha impossibilitando-as de trabalhar. Para lavar
as roupas, as duas mulheres recorriam à água do poço, situado no quintal da casa da cunhada de João. Este por sua
vez entendia que o uso do poço era uma concessão sua aos demais. O poço era compartilhado por outras lavadeiras
como Vitalina de Sousa, moradora próxima. Na Belém dos oitocentos, a freqüência aos poços constituiu o cotidiano
familiar de inúmeros moradores. Ás vezes devido às atividades laborais que sustentavam a família, ou para abastecer
os interiores das moradas, dai a recorrência aos potes, bacias, bilhas enfim. Ao redor dos poços tramas foram tecidas,
contribuindo para organização familiar do uso da água. Discutir preliminarmente essa questão é o objetivo deste
trabalho.

552
Gian Carlo de Melo Silva - UFRPE
Famílias, Casamentos e Mestiçagens no Recife Colonial
Opresente estudo é parte de uma pesquisa maior em que buscamos entender o processo de mestiçagem em que vivia
a sociedade recifense no final do século XVIII, por meio da formação de famílias legitimadas e originadas no 'santissi-
mo sacramento do matrimônio'. Utilizando como fonte assentos de casamento encontrados na Igreja Matriz do Santis-
simo Sacramento de Santo Antônio do Recife, observamos uma variedade enorme de pessoas das mais diversas
localidades, dentro dessa pluralidade colorações somáticas de origens, portugueses, africanos e brasileiros. Afregue-
sia se revela emblemática na compreensão de uma coletividade, que encontra-se residindo na fronteira entre o porto e
o acesso para o interior da capitania congregando nesse cotidiano, diversas misturas étnicas e culturais. A falta de
estudos e pesquisas que abordem como se processa a mestiçagem em Pernambuco colonial e no Brasil de modo
geral, nos mostra a necessidade de uma abordagem histórica do processo que tem início desde a colonização no
século XVI. Assim, é através da família, da sua origem no casamento que tentamos encontrar respostas, pistas e sinais
que nos revelem um pouco de uma sociedade mestiça que se mistura e forma o brasileiro desde os primórdios da
colonização.

I 19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h às 16h30min)

Carlos de Almeida Prado Bacellar - USP


Os compadres e as comadres nas redes de sociabilidade escravas, São Luis do Paraitinga, capitania de São
Paulo, 1776-1840
Esta comunicação pretende discutir as práticas de escolha de compadres e comadres a partir da análise de pequenas
escravarias, buscando perceber lógicas políticas no estabelecimento de laços entre os atores sociais. Tais análises
serão desenvolvidas seja sob o ponto-de-vista da família escrava quanto da senzala, buscando perceber práticas
diferenciadas ou coincidentes no interior da escravaria.

Cacilda da Silva Machado - UFRJ


Casamento e migração no processo de constituição da hierarquia no Brasil escravista (Paraná, secs.
XVIII-XIX)
Por meio do cruzamento dos dados de registros de casamento e de censos domiciliares, complementados com infor-
mações de autos de casamento busco reconstituir a história de casais formados por escravos e pardos ou negros
livres, ou por pardos e brancos de acordo com a naturalidade dos cônjuges. Os casos analisados sugerem que o alto
percentual de migrantes nas freguesias e vilas do Brasil escravista, especialmente naquelas com predomínio de pe-
quenos escravistas e de uma vasta população de negros e pardos livres, interferia consideravelmente no processo
político que envolvia os os diferentes grupos sociais, todos eles informados por um mesmo contexto (escravista), cada
um, porém, buscando alcançar ou consolidar interesses distintos, por vezes conflitantes.

Sergio Luiz Ferreira - Centro Universitário Municipal de São José


Atribuição de prenomes entre afro-brasileiros como forma de individualização numa freguesia do Sul do Bra-
~ Q
O presente trabalho é parte da minha tese do doutoramento em História que foi defendida em 2006 na Universidade
Federal de Santa Catarina - UFSC. Procurei fazer uma história cultural a partir dos dados demográficos da freguesia de
®
Nossa Senhora das Necessidades (atual Santo Antônio de Lisboa, Florianópolis, SC). Utilizei a Metodologia de Re-
constituição de Paróquia, criada pela professora Maria Norberta Amorim, da Universidade do Minho, Portugal. A popu- ro
lação desta freguesia foi constituída basicamente por açorianos e africanos. Apliquei, na medida do possível, esta ::;
metodologia também para os escravos. Pude perceber que entre os escravos e seus descendentes há uma variedade ~
de prenomes muito maior do que entre a população livre. Há muitos casos de nomes que foram atribuídos a uma única ~
pessoa durante o período pesquisado. Dessa forma o prenome adquiriu uma força maior do que o sobrenome para ::;
muitas familias, a ponto de muitos desses prenomes se tornarem sobrenomes. ~
.ro
u"
Silmei de SanfAna Petiz - UNISINOS ~
O>
Compadrio e Escravidão na Fonteira Oeste do Rio Grande, 1750 -1835 'E
O presente trabalho é parte da tese que desenvolvo sobre a família escrava na fronteira oeste do Rio Grande entre ,i
1750 e 1835. O objetivo é colocar em pauta frente ao contexto regional a discussão historiográfica recente que enfoca "E
o escravo como agente histórico capaz, mesmo sob as pressões da lógica escravista, de desenvolver e manter rei a- ~
ções estáveis com outros cativos, possibilitando a construção de uma comunidade escrava, com relativa autonomia .~­
quanto às interferências senhoriais. O estudo conta com uma base de dados alímentada por fontes seriais composta 1;5"
por registros paroquiais de batismos, casamentos e óbitos. O banco de dados suplacitado possuiu séries desses ~
documentos que estão sendo analisados no âmbito da Deografia e da História Social. Como análise parcial e demons- ci:

553
trativa da composição da famílía escrava, o atual estágio da pesquisa indica que cerca de 30% dos 6800 inocentes
batizados eram filhos legitimos. Encontramos, ainda, forte indicativo de alrgamento das relações sociais entre adultos,
visto que, entre as possíveis combinações de condição social dos casais padrinhos, aqueles onde, ambos são escra-
vos, ocorreu em cerca de metade dos casos, demonstrando uma clara preferência dos escravos da região por estabe-
lecer relações de compadrio com outros escravos.

I 20/07 - Sexta-feira - Manhã (10h30min ás 12h30min)


Ana Silvia Volpi Scott- UNISINOS
Uma proposta para o tratamento de fontes nominativas para o estudo da família: o exemplo dos registros
paroquiais
Um dos grandes desafios para os pesquisadores interessados em analisar a família numa perspectiva histórica diz
respeito ao tratamento das fontes nominativas. Um dos problemas principais está ligado á identificação dos indivíduos
e ao cruzamento nominativo das informações provenientes de fontes variadas. Esta comunicação pretende apresentar
e discutir alguns procedimentos desenvolvidos ao longo dos últimos anos, com base em pesquisas que se utilizaram
dos registros paroquiais de batizado, casamento e óbito, que estão entre as fontes mais utilizadas nos estudos sobre
a história da família. Além da discussão dos procedimentos em si, apresentaremos um programa informatizado desen-
volvido para a coleta dos dados oriundos dos registros paroquiais, que está habilitado ainda para efetuar uma recons-
tituição semi-automática das famílias.

Tarcísio R. Botelho, Marco H. D. van Leeuwen e Ineke Maas - PUC-Minas


Desigualdade social no Brasil da primeira metade do século XIX: Minas Gerais e São Paulo em perspectiva
comparada
Oobjetivo do paper é analisar a desigualdade social, via estratificação social, a partir de listas nominativas de habitan-
tes da década de 1830 para as províncias de São Paulo e Minas Gerais. Pretende-se observar os traços comuns e as
especificidades de cada região a partir de uma codificação padronizada de ocupações, a HISCO. Tal codificação
adapta, para períodos históricos, a International Standard Classification of Occupation (ISCO), que é a base da Classi-
ficação Brasileira de Ocupações (CBO), utilizada contemporaneamente pelo IBGE e outros órgãos produtores de
estatísticas. Trata-se de um projeto internacional visando o desenvolvimento de estudos comparados, tanto no tempo
quanto no espaço, pois se parte de uma mesma lógica para classificar as ocupações de diferentes períodos históricos
e de diversos paises. Procura-se analisar a estratificação social a partir das declarações de ocupação das listas
nominativas, reagrupando-as em conformidade com o modelo HISCLASS (Maas, Leeuwen, 2005), uma adaptação
para períodos históricos do modelo de Goldthorpe (Erikson, Goldthorpe, 1992). Entretanto, pretende-se agregar ao
modelo HISCLASS outras dimensões fundamentais para a descrição do status social na América Latina, notadamente
a condição social (se livre ou escrava) e a corraça.

Dario Scott - UNISINOS


Realce de Imagens Digitais de Documentos Históricos: As fontes para o estudo da História da Família
Em tempos de multidisciplinaridade, uma temática que merece uma reflexão diz respeito á contribuição que o realce de
imagens digitais pode trazer ás diferentes áreas do conhecimento. Na História, os problemas enfrentados pelos histo-
riadores colocam questões que nos estimularam a encontrar soluções viáveis para o tratamento de fontes documen-
tais que podem ter sofrido a ação do tempo e/ou as más condições de conservação e armazenamento. Para além das
vantagens óbvias que representam a melhoria da definição e qualidade das imagens das fontes manuscritas, uma
outra ordem de considerações deve ser ressaltada, e que está ligada á própria preservação de um patrimônio histórico
documental, que em certos casos pode estar correndo risco de se perder. Uma das formas mais eficiente de se
conseguir alcançar o realce dessas imagens digitais é através da morfologia matemática, ramo do processamento e
análise não linear de imagens que permite processar imagens com o objetivo de realçar, segmentar e detectar bordas,
entre várias outras aplicações. O objetivo deste trabalho é mostrar as possibilidades que o realce de imagens pode
trazer para facilitar o trabalho do historiador na leitura e interpretação dos documentos manuscritos.

Daniela Gonçalves Amaral- UNISINOS


Mulheres sós em Porto Alegre (1772-1822)
Para o estudo dos fenômenos da ilegitimidade e exposição de crianças em Porto Alegre entre 1772 a 1822, pesquisa
com a qual se tem trabalhado sistematicamente, privilegiou-se para a análise as fontes eclesiásticas, tais como os
Registros Paroquiais de Batismo e Róis de Confessados. A apresentação pretende expor aspectos metodológicos e
instrumentos de pesquisa, tratando especificamente de seus problemas, possibilidades de exploração e resultados
obtidos com a análise. Tratamos de uma estrutura familiar específica conduzida por mulheres sós, cuja presença tem
sido expressiva desde os tempos do Brasil colônia até os dias atuais. Caracterizada pela pobreza, está família formada

554
por mães e sua prole, conta com a instabilidade e transitoriedade da presença do cônjuge-pai. A complexidade e as ~
possibilidades de informação destas fontes permitem revelar a estrutura familiar da população ilegítima e exposta e as
redes solidárias formadas através das relações de compadrio.
®

70. Raízes do Privilégio


Ronald José Raminelli (UFF) e Bruno Feitler (USP/FAPESP)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h ás 18h) I
Rogério de Oliveira Ribas· UFF ,5,
~
Mouriscos Cavaleiros e mouriscos de Bens no Império Português .;;;
Não obstante a pobreza e degradação que, no geral, marcavam a condição dos mouriscos, incluindo os forros, é-nos &
possível constatar, alguns e algumas que desfrutavam de certas posses que os fazia, por vezes, passar por gente rica. ª
Houve mesmo casos em que alguns mouriscos alcançaram 'graças, mercês' e posições, que os levavam a gozarem .~
de honras e liberdades que tangenciavam privilégios de fidalgo e certa respeitabilidade em termos de status. A comu- ~
nicação busca mostrar alguns destes casos, ocorridos na comunidade mourisca do Reino e domínios do Portugal
quinhentista.

Hebe Mattos· UFF


Guerra Preta e Hierarquias de Cor no Mundo Atlântico
A comunicação revi sita a trajetória de Henrique Dias e de alguns dos oficiais que o sucederam no comando do Terço da
Gente Preta de Pernambuco, no contexto das guerras entre Portugal e Holanda pelo controle das áreas de produção
de açúcar e escravos no Atlântico Sul. Henrique Dias chegou a ser nomeado, por D. João IV, comandante geral de toda
a guerra preta no Brasil e em Angola, mesmo que, ao final, não tenha embarcado junto á tropa dos seus soldados que
viajou em 1644 para o Reino de Angola. Procurarei demonstrar que a noção de guerra preta, referida á incorporação de
líderes africanos com tropas próprias ao exército português, pode ser importante chave de leitura para entender o
Terço da Gente Preta na guerra de restauração pernambucana, bem como as incertezas relativas a seu papel institu-
cional e às possibilidades de mobilidade social de sua oficialidade na sociedade colonial, fortemente presentes en-
quanto se manteve a conjuntura de guerra. Versões preliminares do trabalho foram discutidas no seminário 'Na trama
das Redes' (UFF, 2006, organizado por Maria de Fátima Gouveia e João Fragoso) e em simpósio organizado pelas
Universidade de Michigan e Michigan State University (Atiantic History Workshop, 2006).

Ronald Jose Raminelli - UFF


Honra e privilégio da família Camarão 1630-1720
Felipe Camarão e Diogo Pinheiro Camarão lutaram contra os neerlandeses e receberam, inicialmente, do monarca
castelhano o título de Dom, a promessa de comenda e hábitos de cavaleiro das Ordens Militares. O primeiro potiguar
não gozaria das merecidas honras e privilégios, pois veio falecer logo após as primeiras vitórias luso-brasileiras. O
segundo, nomeado Dom Diogo Pinheiro Camarão teve mais sorte, por traçar estratégias mais sólidas para usufruir das
benesses. Em companhia de Martins Soares Moreno, ele esteve no reino para reafirmar sua lealdade ao rei e á fé
católica, além de narrar seus feitos nas guerras de Pernambuco. Como reconhecimento dos serviços prestados, rece-
beu o título de cavaleiro da Ordem de Santiago e a patente de sargento mor e governador dos índios de Pernambuco.
Esses privilégios foram também concedidos pela monarquia lusitana restaurada a seu filho, Dom Sebastião Pinheiro
Camarão e a seus descendentes. Entre 1639 e 1722, a família Camarão recebeu títulos e patentes militares, demons-
trando que os potiguares estavam completamente inseridos na lógica da sociedade portuguesa do Antigo Regime.

José Eudes Arrais Barroso Gomes - UFF


O Real Serviço ao som de caixas: tropas militares, cotidiano e poder na capitania do Ceará (século XVIII).
A partir da posse de grandes extensões de terra e dos principais rebanhos, Na capitania do Ceará um restrito número
de grupos familiares dominava os principais cargos de governança coloniais, sobretudo militares e camaristas. Con-
trastando com um reduzido investimento em suas tropas militares profissionais, que durante a maior parte do século
XVIII resumiam-se a uma única companhia de tropas de linha que guarnecia a Fortaleza de Nossa Senhora da Assun-
ção, sede do governo lusitano na capitania, os poderosos do sertão impunham o seu domínio arvorados nos seus
cabedais e no poder que lhes era instituído através das patentes de comando das tropas militares auxiliares - milícias
e ordenanças. Atuando como importante elemento de viabilização da administração imperial lusitana nos vastos ser-

555
tões da capitania, a organização das tropas militares coloniais cearenses mostrava-se como palco privilegiado de
negociação entre os interesses metropolitanos e os potentados locais capaz de revelar as práticas da sua governança
e os limites de sua governabilidade e, mais que isso, a própria estruturação do poder na sociedade pecuária colonial.

Vllan de Mattos Oliveira· UFF


De índios a vassalos: colonização e hierarquia social no tempo do diretório dos índios
A comunicação tem por objetivo repensar a construção hierárquica da sociedade Colonial no Grão-Pará após a fixação
do Diretório dos índios. Dessa forma, pretendemos demonstrar que a transformação dos indios em vassalos, para usar
a fórmula já consagrada por Angela Domingues, serviu a um plano efetivo de colonização colocado em prática por
Francisco Xavier de Mendonça Furtado. Suas atribuições baseavam-se na preservação da soberania territorial e na
conversão do indio em súdito do rei e de Deus, ou seja, valorizando o amerindio enquanto elemento estratégico da
ocupação do território limitrofe no norte da América portuguesa.

I 17/07 - Terça-feira - Tarde (14h ás 18h) I


Célia Cristina da Silva Tavares· UERJ
O clero goês e as estratégias de inserção na hierarquia eclesiástica (século XVII): os casos de Mateus de
Castro e José Vaz
Goa foi a capital do Estado da índia e possuía uma espécie de espelho das instituições que existiam em Lisboa, capital
do reino: Senado da Câmara, Santa Casa da Misericóridia, Tribunal da Relação, Tribunal do Santo Oficio, Confrarias,
entre tantas outras insituições portuguesas. No entanto, a sociedade goesa era resultado de uma curiosa mistura de
culturas que resultava em muitas tensões. Um dos problemas que existiam em Goa era a necessidade de alocação do
cle~o nativo. Esse quadro resultou da própria contradição do processo de cristianização promovido pelos portugueses
na India. A ação evangelizadora, que não se limitava apenas á conversão, mas que também fomentava a formação de
um clero arregimentado entre os convertidos da sociedade local, ao mesmo tempo mantinha critérios de segregação
responsáveis por enorme pressão no equilíbrio social local. De um lado, havia um número crescente de religiosos
seculares não-europeus e, do outro, colocações eclesiásticas muito aquém desse número. O presente trabalho preten-
de estudar os casos emblemáticos de Mateus de Castro e José Vaz, que, cada um a seu modo, formularam maneiras
de enfrentar os obstáculos·existentes para limitar a mobilidade social de grupos cristianizados de origem goesa.

Patricia Souza de Faria· UFF


Nascer sem mácula na índia Portuguesa: clérigos indianos convertidos e a inserção subordinada na ordem
imperial
Analisamos as restrições á formação do clero nativo na índia Portuguesa no século XVII, uma vez que indianos conver-
tidos ao catolicismo estiveram restritos a posições subalternas na hierarquia do clero secular, não sendo, freqüente-
mente, admitidos no clero regular. Franciscano nascido na índia, Miguel da Purificação, defendeu os direitos dos
indianos que fossem filhos de portugueses e isentos de sangue mestiço, contudo, clérigos indianos destituidos de
"sangue' português e oriundos de castas indianas produziram escritos em defesa de uma participação menos subalter-
na na hierarq~ia eclesiástica e depreciaram a casta 'rival' cristianizada, disputando as melhores posições no Estado
português da India. Atentativa de construção de fidelidades no seio do império português a partir da cristianização dos
povos do ultramar esbarrou nos limites apresentados á participação da elite local em posições eclesiásticas elevadas.
Assim como os indianos convertidos incorporaram o discurso legitimador vinculado à expectativa de inserção social, o
qual se pautava na identidade católica e na fidelidade ao monarca, exaltando-se o papel da nação portuguesa (e da
casta a que pertenciam) no processo de expansão européia e na destruição das crenças não-cristãs da índia.

Pollyanna Gouveia Mendonça. UFF


Em meio às "gentes de pouca conta" e os "principais da terra": hierarquia social manifesta nos processos da
Justiça Eclesiástica no Maranhão setecentista
A sociedade que compunha o Maranhão nos idos do séc. XVIII se apresentava multifacetada e multiétnica. Essa
sociedade era em muito herdeira de matrizes portuguesas e dos próprios critérios que demarcavam as sociedades do
Antigo Regime, ressignificados, é claro, num novo espaço de apropriação além-mar. Nesse sentido, a documentação
da JlJ~!iça Eclesiástica é um lugar privilegiado para penetrar na complexidade social e nos critérios de "qualidade' que
recrudesciam as relações entre os individuos á época. As próprias normas de inquirição das testemunhas desses
processos já demonstram a grande importância dada á origem étnica e á condição jurídica (fossem livres ou cativos).
como critério de valoração dos testemunhos e das denúncias. As Ordenações Filipinas e as Constituições Primeiras do
Arcebispado da Bahia dão as coordenadas para que se compreenda como se comportavam as autoridades perante as
diferenças que separavam os indivíduos. Essa comunicação visa analisar em que medida questões tais como presti-
gio, ascendência familiar, defeito mecânico e posse de fortuna influenciavam nos rumos dos processos.

556
Helidacy Maria Muniz Corrêa - UFF ~
Diálogos historiográficos e presença missionária no Maranhão e Grão-Pará: discursos e documentos
A ação missionária no Maranhão Colonial contou com a presença de capuchos, inacianos, carmelitas, franciscanos,
®
mercedários, além do clero regular. Clero secular e clero regular ocuparam e disputaram espaços de poder - religioso,
político, econômico e cultural- na expansão de suas práticas missionárias e colonizadoras, na região norte da América
Portuguesa. Os missionários costumavam escrever á Coroa Portuguesa denunciando as atitudes dos colonos em
relação aos religiosos ou aos índios. Os colonos, por sua vez, escreviam denunciando os abusos de poder dos missi-
onários, sobretudo, os jesuítas. Além disso, havia as correspondências de religiosos denunciando outros religiosos,
especialmente jesuítas. Entretanto, o discurso historiográfico maranhense silenciou esse ambiente de intrigas que
predominou no Maranhão Seiscentista. Este estudo está inserido na perspectiva analítica discursiva visando refletir
sobre os jogos de poder entre essas esferas - religiosa e política - por meio das correspondências entre o Senado da
Câmara de São Luís e a metrópole portuguesa reinscrevendo, desse modo, o debate historiográfico acerca da ação
missionária no Maranhão.

I 18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h ás 18h)


o
Sérgio Alcides Pereira do Amaral - FFLCH-USP ~
A liberdade e as esperanças. O poema de Sá de Miranda a seu irmão Mem de Sá .~
Oobjeto desta comunicação é uma epístola em verso escrita por Sá de Miranda, dedicada a seu irmão Mem de Sá, na o::
primeira metade do século XVI. Trata-se de um poema admoestativo, no qual o autor opõe a liberdade do homem
prudente ás 'baldias esperanças' do cortesão. A contraposição espelha os destinos divergentes dos dois irmãos letra-
dos: o poeta deixara a corte de D. João 111 em troca da vida senhorial, em suas terras, no Minho; seu irmão, futuro
governador-geral do Brasil, fazia uma carreira ascendente na magistratura. São dois modos contraditórios de 'seguir
as letras' (na expressão de Sá de Miranda). O poeta, buscando uma identificação retórica com o modelo clássico de
Horácio, reivindica uma filiação ética, de feição estóica, para a cultura letrada - e é neste sentido que se pode recons-
truir o conceito que ele exprime como a sua 'muito amada e prezada liberdade'. Por sua vez, o magistrado - que o
irmão retrata andando, em vão, 'de esperança em esperança' - manifesta o vínculo político da cultura letrada com a
Monarquia e, em particular, com a justiça e a administração. Condenando as 'baldias esperanças', Sá de Miranda
recorre ao tópico que aproxima, como afetos indissociáveis a esperança e o temor, inimigos da liberdade assegurada
só pela prudência.

Ana Paula Torres Megiani - DH-FFLCH/USP


Entre palavras e coisas: práticas de escrita e mecanismos de circulação de noticias no mundo ibérico (1580-1640)
Este estudo voltar-se-á para a analise de práticas e mecanismos de escrita, memória e circulação de notícias entre as
partes dos Impérios português e espanhol, durante a União das Coroas (1580-1640). Enquanto os monarcas Filipe 11,
Filipe 111 e Filipe IV aprimoram seus sistemas de impressão de livros e arquivos de Estado e o Santo Ofício acelerou a
produção de índices de livros proibidos nos reinos e nas conquistas, centenas de correios legais ou clandestinos levam
e trazem notícias manuscritas e objetos exóticos, que passam a compor conjuntos de 'coleções' pessoais, tais como
as de Manoel Severim de Faria (Portugal) e Jerônimo de Mascarenhas (Espanha) . Oestudo do processo de formação
desses gabinetes em Portugal e Espanha, bem como das formas de comunicação a eles relacionadas durante a
Monarquia Católica, pretende contribuir para a História do conhecimentos e da cultura no mundo ibérico no início da
Época Moderna, tendo como sustentação a idéia de que os centros de poder, ao criarem seus mecanismos de controle
e limitação dos saberes, reproduzem-se, gerando redes de comunicação ora engrenadas a tais mecanismos, ora
descoladas e reativas á lógica imposta.

Luís Filipe Silvério Lima - UNIFESP


As analogias no Corpo do Império: narrativa histórico-profética e hierarquia das partes na teologia política do
século XVII
A proposta dessa comunicação é discutir o papel da analogia nas representações do chamado Império Português no
século XVII. A operação analógica, fundamental no pensamento aristotélico tomista e na segunda escolástica, em
especial com a obra de Tomás Vio Cajetano, foi uma das chaves centrais para constituir uma idéia de soberania e
ordem no espaço ibérico e tridentino, seja em seu espelhamento com Deus seja na organização das partes da Repú-
blica. Mais do que isso, era por meio da analogia que se pensava o tempo e os sucessos históricos, fundados em uma
concepção figurai de cosmos que era regulada pela Presença Divina. Pretende-se demonstrar essa centralidade da
analogia a partir de duas frentes: seu uso na construção de exemplos eficazes para a ordenação do corpo do reino e do
ultramar, demonstrando os lugares hierarquicamente dispostos pela necessidade do bem-comum; sua utilização nas
narrativas histórico-proféticas a fim de justificar a expansão ultramarina e o destino católico, universal da coroa e nação
lusitanas.

557
Rodrigo Bentes Monteiro - UFF
Raizes de um privilégio: história da coleção Barbosa Machado
A comunicação visa informar ao público sobre as etapas vividas desde a montagem da coleção por Diogo Barbosa
Machado (1682-1772), sua doação á Real Biblioteca, sua vinda para o Brasil e sua história na Biblioteca Nacional,
passando pela intervenção de bibliotecários, até a pesquisa atual. Pretende-se ressaltar a memória construida sobre a
monarquia portuguesa e seus posteriores significados para os estudiosos que se debruçaram sobre este vasto conjun-
to documental.

íris Kantor - USP


Politicas cartográficas no continente sulamericano durante a segunda metade do século XVIII
A comunicação apresenta um quadro comparativo das políticas cartográficas imprementadas Coroas Espanhola e
Portuguesa na América do Sul ao longo da segunda metade do século XVIII. Pretende-se explorar as noções de
territorialidade e soberania veiculadas nas fontes coevas, dando especial ás dinâmicas sociais e territoriais que envol-
veram o processo de fixação das fronteiras inter-imperiais.

André Figueiredo Rodrigues - DH/FFLCH-USP


A nomeação do poeta Alvarenga Peixoto para o ofício de Ouvidor da comarca do Rio das Mortes (1776-1780)
Em 19 de agosto de 1776, realizou-se no Senado da Câmara da vila de São João dei Rei a solenidade de posse do
bacharel e poeta Inácio José de Alvarenga Peixoto no cargo de Ouvidor da comarca do Rio das Mortes, em Minas
Gerais. A historiografia menciona que sua nomeação deveu-se a uma Ode que proclamou em homenagem ao marqu-
ês de Pombal, em 1774. Pretendemos discutir esta versão, explicitando que sua indicação deveu-se a uma intensa
disputa pelo poder político da região, a partir de "ofertas generosas' de dinheiro aos membros da Junta da Real
Fazenda de Minas pela venda do ofício de Ouvidor. Discutiremos, assim, os aspectos financeiros e políticos que
levaram o poeta ao cargo jurídico mais importante da comarca do Rio das Mortes.

I 19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h ás 16h30min) I


Luciana Mendes Gandelman - Cátedra Jaime Cortesão/USP
A trajetória de João de Mattos de Aguiar e as relações entre atividades financeiras e distinção social no século
XVII
João de Mattos de Aguiar nasceu no norte de Portugal e migrou para aAmérica portuguesa em meados do século XVII.
Tendo se estabelecido na Bahia, exerceu diversas funções junto a governança local, ocupou cargos na Misericórida,
adquiriu engenhos e se tornou um dos maiores credores particulares da Bahia seiscentista. A presente comunicação
tem por objetivo discutir a relação entre as atividades financeiras e a distinção social no império português na segunda
metade do século XVII.

Anna Laura Teixeira de França - UFPE


Enriquecimento e conquista de mercês e privilégios na formação do grupo mercantil no Recife Colonial
O objetivo deste trabalho é analisar a fomnação e organização da sociedade colonial na povoação do Recife após a
Restauração Pernambucana, existindo então a abertura, a partir da expulsão de holandeses e judeus, de espaços nos
níveis econômicos e sociais. Com a consulta á bibliografia centralizamos a atenção para os aspectos que envolveram
o alcance das oportunidades de crescimento econômico e de mobilidade social no Nordeste colonial, em especial na
capitania de Pernambuco, para imigrantes portugueses desprovidos de riqueza e prestígio. Os estudos apontam que o
Recife, a partir do governo do conde Maurício de Nassau, ultrapassou suas funções de simples porto e ponto de
armazenamento de produtos, se transformando em um novo centro de comércio burguês, sob os moldes pré-capitalis-
tas. Podemos assim entender, mediante esse momento singular da história do Brasil, que após a reconquista da
capitania do poder dos holandeses, a povoação do Recife se tornará um 'celeiro' para novas oportunidades de suces-
so econômico e social para um segundo fluxo de migração de colonos portugueses. E essas mesmas chances de
ascensão serão alcançadas por alguns indivíduos naturais deste meio urbano colonial, mesmo aqueles pertencentes
a um estamento mais inferior.

Mara Regina do Nascimento - UFRGS


Irmandades religiosas em Porto Alegre, no século XIX: entre a devoção católica e o privilégio
A presente comunicação pretende ser uma contribuição ao estudo da propagação e da permanência, no tempo, de
instituições típicas aos moldes do Antigo Regime português. Para tal, analisa as hierarquias internas das associações
leigas (mais conhecidas como irmandades religiosas) e as formas de promoção social oportunizadas por estas. Inter-
namente, os compromissos que as regiam baseavam-se, quase todos, em critérios que vislumbravam a pureza de
sangue, a exclusão étnica, a honra e o prestígio social. O exame de tal documentação permite observar, em pleno

558
século XIX, a repetição exaustiva de princípios e valores caracteristicos de instituições criadas ainda no século XVII, ~70
em Portugal, como a Mesa de Consciência e Ordens. Externamente, nas comemorações católicas, os cerimoniais, a ~
etiqueta, os gestos, a disputa pela precedência tinham um significado social de primordial valor por representarem -
nas solenidades públicas principalmente - a reconstituição hierárquica ideal da sociedade palaciana. Assim, parece
fundamental que, para compreender-se tanto o fenômeno do associativismo religioso da sociedade oitocentista, como
para elucidar-se a lógica que o regia, faz-se necessário traçar a ligação entre a devoção católica e a conquista de
algum privilégio, nos seus mais variados graus.

I 20/07 - Sexta-feira - Manhã (10h30min ás 12h30min)


Bruno Feitler • USP/FAPESP
A carreira inquisitorial: a centralidade do tribunal de Lisboa

&l~~U~~ ~~~~~~I~i6~~r~~ ~\t~~~i~}~;~~~tn~~~~;~:1&1~~n~~~~~:s!~;;~~;~:~~~~:~~sú~~~~~~~i~~~ ~~S~~~ j


em 1560. Neste ano, fixou-se o número de tribunais portugueses em quatro: os três metropolitanos de Lisboa, Coimbra :~
e Évora, e o asiático; todos eles subordinados ao Conselho Geral do Santo Oficio, presidido pelo inquisidor geral. ~
Contudo, o tribunal de Lisboa revelou-se estar acima dos outros por várias razões, entre as quais contamos sua ~
posição no cursus honorum inquisitorial. Este estudo pretende analisar esta centralidade do tribunal lisboeta sobretudo ~~
através do seu lugar na carreira dos ministros do Santo Ofício. a:

Daniela Buono Calainho . UERJ


Agentes da fé nas malhas da Inquisição
Esta comunicação pretende discutir a ação inquisitorial no Brasil colonial a partir da análise dos agentes do Santo
Ofício que atuaram irregularmente, abusando de suas prerrogativas de Familiares da Inquisição - importante funcioná-
rio encarregado de prestar serviços policiais e investigatórios á máquina do Santo Ofício, tanto no próprio reino, como
em todo o império colonial português. A simples menção ao Santo Oficio, o apenas dizer-se Familiar ou mostrar a
medalha que os distinguia, mesmo toscamente falsificada, já era suficiente para causar pânico generalizado na popu-
lação. A ação dos Familiares estava, pois, não apenas no que estava prescrito em seu Regimento, mas também na
disseminação quotidiana do pavor e da repressão inquisitorial. Assim, através destes casos, podemos vislumbrar não
só o funcionamento do aparelho inquisitorial no Brasil, como também o grau de arbítrio que sua ação podia atingir,
espelhando o próprio caráter da Inquisição enquanto aparelho de poder no mundo ibérico e em suas colônias.

Juliana de Holanda Alves Rocha· UFRPE


Da fama ao cargo: habilitações à Familiar do Santo Ofício na Capitania de Pernambuco no final do século XVIII
São vastas na documentação inquisitorial portuguesa as referências acerca dos Familiares, porém poucas se encon-
tram na historiografia brasileira sobre os mesmos. Sua presença na colônia remonta ainda ao século XVI, contudo, foi
na 2" metade do século XVIII que houve um aumento significativo no número de Cartas de Familiaturas expedidas,
sobretudo em Pernambuco. Ao Familiar cabia efetuar prisões, participar de inquéritos e policiar as consciências. Ti-
nham privilégios como isenção de diversas taxas, desobrigação do recrutamento militar e do confisco de bens. Dentre
os requisitos para a ocupação do cargo, destacamos: a ascendência limpa de sangue até a 4" geração; ter posses de
letras; ser pessoa de bom procedimento, vida e costume. Nas diligências realizadas para investigar a vida do solicitan-
te, buscava-se em seu passado e no de sua família indícios que poderiam excluí-lo do cargo, garantindo a preservação
'institucional' do Santo Oficio. O alto número de candidaturas na colônia no periodo estudado bem como uma docu-
mentação assertiva do estado de falência da família de alguns dos nomeados chamou-nos atenção para a importância
do estudo acerca desse cargo tão 'cobiçado' entre os colonos em meio a uma sociedade tão marcada pela força do
status que um cargo público oferecia.

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71. Relações Internacionais: História e Historiografia
Helder Volmar Gordim da Silveira (PUCRS) e Ana Luiza Setti Reckziegel (UPF)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h ás 18h) I
Jacqueline Angélica Hernández Haffner - ULBRA
Desenvolvimento econômico na América Latina: uma análise sob a perspectiva histórica
O período posterior á segunda guerra mundial caracteriza-se por uma conjuntura complexa, cuja especificidade e
riqueza exige uma análise profunda e detalhada. Foram anos significativos em que se despertou para necessidade de
um amplo debate sobre as questões relacionadas, principalmente, á política econômica dos países em desenvolvi-
mento. A grande discussão mundial da época apontava para os efeitos negativos que produzia o livre comércio nos
países periféricos. Este ataque ás economias primárias ou desenvolvidas - já que elas comandavam este processo -,
supunha um posicionamento por parte dos governos dos países em desenvolvimento, em particular sobre planejamen-
to e o protecionismo, que eram vistos como meios de se alcançar a industrialização rápida e eficiente e, conseqüente-
mente, de se alterar o curso da história da forma como vinha acontecendo. Isto significava modificar as estruturas
dominantes a fim de diminuir a dependência externa destes países via industrialização, o que se constituía no grande
argumento preconizado pela Comissão Econômica para América Latina e o Caribe (CEPAL) para atingir o desenvolvi-
mento.

Sabrina Evangelista Medeiros - UFRJ - PPGHC


Fluxos Imigratórios, regulação e economia: dilemas do desenvolvimento no tempo presente
Este trabalho tem como objeto as relações econômicas envolvidas com o processo de circulação de pessoas interfron-
teiras com base na prestação de serviços, realidade presente para países desenvolvidos e em desenvolvimento na
contemporaneidade. Tal foco corresponde a um dos três pilares da formação de políticas imigratórias - a intemaciona-
lização, as políticas públicas domésticas e as relações econômicas - presentes em minha tese de doutoramento. São
estas algumas das condições essenciais que acreditamos corroborarem com um complexo sistema de relações políti-
cas e econômicas entre países e imigrantes, onde a política imigratória parece-nos como imprecisa, incompleta e não
adequada aos reais efeitos envolvidos neste ciclo. Assim, procuramos demonstrar quais as reflexões teóricas que
envolvem as democracias no âmbito doméstico e no âmbito internacional, partindo ás condições econômicas fomenta-
das e envolvidas nas contradições inerentes á existência de políticas imigratórias. Por fim, este estudo tem como
propósito a capacitação interdisciplinar desta pesquisa, que tem como fim a construção da história do tempo presente
para este tema, na América Latina - em curso atualmente como propósito da minha estada na Universidade Federal do
Rio de Janeiro.

Rodrigo Perla Martins - FEEVALE


Momentos e Processos da inserção internacional do Brasil: 1969-1989
O presente trabalho tem por objetivo discutir, de uma maneira geral, os momentos e os processos vividos pelo Brasil,
entre 1969 e 1989, pelo âmbito de sua inserção externa. Como parte de minha pesquisa de doutorado, o mesmo,
elenca a retomada de pontos importantes da Política Externa Independente no governo Costa e Silva, suas rupturas e
continuidades ao longo do regime militar brasileiro (Médici, Geisel e Figueiredo) e na redemocratização do país. Ao
longo desses 20 anos a inserção internacional do Brasil buscou a construção de mercados consumidores para produ-
tos manufaturados brasileiros. Nesse processo, consolidou-se uma inflexão do caráter de inserção do pais. Isso por-
que, se entre 1930 e 1964, substituiu-se importações, agora, a partir de 1964, substituiu-se as exportações.do Brasil.
Mesmo em um contexto macro-histórico determinado pela Guerra Fria e por uma opção pelo mundo ocidental (leia-se
EUA), o Brasil disputou mercado e consolidou sua posição no sistema interncional de então.

Haroldo Loguercio Carvalho - UPF


América do Sul: aspectos contemporâneos da dinâmica de integração
O trabalho faz uma abordagem comparativa entre as décadas de 1990 e atual, procurando delimitar as principais
caracterísitcas da ação diplomática desempenhada pelo Brasil, seja na atuação individual ou na mediação via Merco-
sul em relação aos temas da agenda econômica, política e cultural. O pressuposto orientador do trabalho diz respeito
á percepção de mudanças de foco e objetos como caminhos para viabilizar a constituição de um processo efetivo de
integração física do sub-continente. Esta percepção decorre da consolidação democrática na região e da identificação
de interesses comuns que passam gadativamente ao papel de prioritários numa clara ação estratégica de desenvolvi-
mento.

560
Domingos Savio da Cunha Garcia - UEMAT
A Era dos Impérios e as fronteiras sul-americanas: considerações sobre as dicotomias entre o resultado e o
processo
Este trabalho desenvolve uma discussão sobre o domínio que alguns Estados sul-americanos exerciam sobre o seu
território durante a Era dos Impérios (Hobsbawm), dialogando com as interpretações de diferentes autores, de diferen-
tes correntes historiográficas, acerca desse domínio. Procura chamar atenção para o anacronísmo que permeía a
historiografia em geral que discute a geopolítica internacional desse período, quando trata do domínio territorial exer-
cido por diferentes Estados da América Latina e em especial da América do Sul. Para essa historiografia, o territórío
dos diferentes Estados sul-americanos não sofreu nenhuma investida colonialista nesse período, tendo passado
i.ncólume ao processo que atingiu e marcou de forma indelével outras regiões do mundo, em particular a África e a
Asia. O trabalho desenvolve uma discussão sobre o erro que é confundir o resultado do processo pelo próprio
processo, quando se trata de discutir e interpretar a afirmação dos Estados sul-americanos sobre seus territórios
nesse período. Com esse método anacrônico, toda a riqueza do processo é apagada pelo resultado, como se este
tivesse dado e não fosse produto de uma teía de acontecimentos, da ação dos homens, cujo resultado não estava
determinado de antemão.

Rafael Chaves Ferraz - UFF


O desenvolvimento na OMC: o caso do contencioso Brasil x EUA do algodão
O trabalho que pretendemos apresentar é uma síntese da dissertação de mestrado '0 desenvolvimento na OMC: o
caso do contencioso Brasil x EUA do algodão', fruto de pesquisa desenvolvida no âmbito do Programa de Pós-Gradu-
ação em Relações Internacionais da UFF. Trata-se de uma pesquisa em andamento cujo objeto é o conflito entre ~
países desenvolvidos e em desenvolvimento nas relações internacionais, a partir de uma análise do contencioso do ~
algodão entre Brasil e Estados Unidos na Organização Mundial do Comércio (OMC). Devido á grande utilização de
subsídios pelo governo norte-americano, as exportações agrícolas brasileiras tiveram queda entre 1998 e 2000. Gran- ~
de parte da pauta de exportações brasileira sofre com a concessão de subsídios e com outras medídas protecionistas c;,
por parte de outros países, do que o algodão é um exemplo clássico. O Brasil entrou com o pedido de disputa no Órgão .§
de Solução de Controvérsias (OSC) da OMC em 2002, tendo vitória confirmada em 2005. Nossa hipótese é a de que '"
este contencioso representa uma mudança no relacionamento entre países desenvolvidos e em desenvolvímento, :I:
com estes últimos passando a exercer pressão nas negociações na OMC sem, contudo, atingir a consecução de seus :
objetivos. Isto só seria possível ao recorrerem ao OSC. ]
'"
:I:
Vívian da Silva Cunha - FIOCRUZ <n
Centro internacional de estudos sobre a lepra: ciência, saúde e relacões internacionais no Brasil do entre .~
guerras .~
Essa comunicação visa analisar o Centro Internacional de Estudos sobre a Lepra e as relações internacionais que ~
foram travadas entre o Brasil e a Liga das Nações no período do entre guerras, ressaltando a questão das relações c:::
entre ciência nacional e o contexto de saúde internacional, com ênfase na leprologia, como especialidade médica. O ~
Centro Internacional de Estudos sobre a Lepra, ou, como ás vezes encontramos citado, o Centro Internacional de '~.
Leprologia (CIL), foi uma instituição criada no Brasil, especificamente no Rio de Janeiro, em julho de 1934, funcionan- ~
do até 1939. A criação do CIL impulsionou a pesquisa científica direcionada para essa doença. Resultado de um
acordo entre o Governo Brasileiro e a Liga das Nações, o Centro Internacional de Estudos sobre a Lepra contou
também com o apoio financeiro de Guilherme Guínle, e teve Carlos Chagas como seu primeiro diretor, sendo sucedido,
após sua morte, por Eduardo Rabello. A Liga das Nações estava particularmente envolvida, após a primeira Guerra
mundíal com a promoção da saúde e do bem estar das populações atingidas. A partir da metade da década de 1920
despertou o interesse também pela região da América Latina, impulsionando a criação de instituições científicas nes-
ses países. O CIL está inserido nessa perspectiva.

Albene Miriam F. Menezes - UNB


Mercosul Político e Comunitário: aspectos do aprofundamento da integração
O presente trabalho tem por escopo identificar, analisar e interpretar as iniciativas que visam aprofundar a integração
no âmbito do Mercosul. Nessa perspectiva, considera-se, em primeira linha, o processo de críação e instalação do
Parlamento do Mercosul e as iniciativas governamentais dos Estados- Partes nas estruturas espaciais de descontinui-
dade das soberais e identidades nacionais, ou seja as fronteiras. A abordagem do tema parte do presuposto que para
aprofundar e consolidar o processo de integração além das iniciativas de políticas macroeconômicas, de liberalização
do comércio e do setor de serviço, de livre fluxo de bens materiais, mister se faz promover e aprofundar ações de
caráter social e cultural. Estas, impulsionariam a participação dos cidadãos e por conseguinte o fortalecimento de um
espaço social e cultural compartilhado. Embora a importância das políticas de integração social e cultural sejam desta-
cadas, tem-se em conta suas limitações. Como síbolo dessas limitações, pode-se destacar as identidades nacionais.
Assim, adentra-se as questões relacionadas aos dilemas do aprofundamento da integração - o enfraquecimento da

561
soberania do Estado nacional ante as tendências relacionadas com o exercício da cidadania em novos espaços comu-
nitários.

I 17/07 -Terça-feira - Tarde (14h ás 18h)


Ana Luiza Setti Reckziegel- UPF
O fator norte-americano na crise do segundo governo Vargas
Esta comunicação tem como objetivo abordar a relação dos Estados Unidos com o Brasil no período 1950-54 e espe-
cialmente, analisar o papel que o governo norte-americano representou na crise que culminou com o suicídio de
Vargas, em agosto de 1954. A partir da análise da documentação diplomática percebe-se que os EUA estiveram
atentos 'a condução da política interna e externa de Vargas acompanhando particularmente o desenrolar do projeto de
formação de blocos regionais no Cone Sul.

Carlos Roberto Benjoino da Silva· UFMT


O conflito armado na Colômbia: guerrilhas, drogas e influências exteriores (1964-2004)
A sociedade colombiana, na maior parte do século XX, teve sua história atrelada a um extremo sistema de violência
civil. A disputa interna pelo poder comandada pelos dois principais partidos colombianos, o conservador e o liberal,
vitimou milhares de almas ao longo dos anos e acabou por afundar o país em uma realidade de sangue. No início dos
anos 1960, o Estado colombiano presenciou o nascimento daqueles que nas próximas décadas se apresentariam
como os novos protagonistas do conflito. Nesse período surgiram movimentos guerrilheiros no pais, como as Forças
Armadas Revolucionárias da Colômbia - Exército do Povo (FARC-EP), e o Exército de Libertação Nacional (ELN). No
ano de 1998, o conflito colombiano conheceu uma nova fase. Neste ano assumiu o governo Andrés Pastrana, que logo
no início de seu mandato apresentou ao povo colombiano um pacote de medidas que visavam diminuir a tensão no
país: o Plano Colômbia. Com este plano Pastrana propõe uma volta ás tentativas de paz há muito estagnadas e passa
novamente a negociar a paz com a guerrilha. A presente comunicação tem como objetivo apresentar o Plano Colômbia
com todos os seus detalhes: seus custos, áreas de atuação e influências para os países vizinhos da Colômbia.

Márcia Solange Volkmer - UNISINOS


A "Entente da Fronteira": economia do charque e relações diplomáticas entre o Rio Grande do Sul e o Uruguay
(1897-1915)
Ao findar o século XIX, a indústria do charque gaúcha recebeu um novo impulso econômico. Ao longo da fronteira
oeste do Rio Grande do Sul, constituir-se-iam grandes empresas charqueadoras, de propriedade de saladeristas uru-
guaios que perceberam no 'cruzar la frontera' uma possibilidade de melhor acesso ao mercado brasileiro. Para além
dos motivos econômicos, no entanto, este grupo de empresários soube aproveitar a especificidade do momento polí-
tico vivido nos dois lados da 'linha geopolítica'. Com o objetivo de evidenciar os interesses e formas de ação -ou poder
de atuação- deste grupo (agente de um específico e datado cenário de 'relações internacionais'), este estudo concebe
a organização empresarial constituída na fronteira a partir dos vínculos interpessoais dos envolvidos no negócio. Com
a participação do coronel João Francisco Pereira de Souza, do grupo pecuarista e republicano da fronteira gaúcha e
dos saladeristas uruguaios, blancos que 'cruzan la frontera', constituir-se-ia uma renovada indústria pecuária, confor-
mada num espaço regional e por forças regionais. Este grupo, com amplo poder de barganha diante do ainda instável
govemo republicano gaúcho, conquistaria uma série de benefícios que, no entanto, instigariam ameaças de represália
por parte da diplomacia uruguaia.

Thiago Rabelo Sales - UFMT


As relações entre o Brasil e o Paraguai no contexto do pós-guerra (1870-1875)
O presente trabalho se propõe a analisar, no campo das relações internacionais, como se deu a ocupação da cidade
de Assunção nos momentos finais da Guerra do Paraguai. A instituição do governo provisório, bem como a assinatura
do Tratado de Paz entre os dois países serão analisados. A atuação marcante dos diplomatas brasileiros e do exército
também serão observados. Um dos objetivos mais imediatos colocados pela diplomacia brasileira durante a ocupação
foi a tentativa de estabelecer instituições que transformassem o Paraguai num estado 'normal', nos moldes dos exis-
tentes na Bacia do Prata. E importante lembrar que essa atitude brasileira também se deu devido á intenção do
governo de colocar o Paraguai em sua órbita de influência, na tentativa de conter as pretensões argentinas sobre o
território paraguaio, aspecto que quase levou a uma guerra entre o Império brasileiro e a República Argentina. Podere-
mos observar isso, ao analisarmos as atitudes do corpo diplomático brasileiro, sobretudo, durante as negociações de
paz entre Argentina e Paraguai. Este artigo é parte integrante de um projeto de mestrado em histéria que visa estudar
as relações entre o Brasil e Paraguai no contexto do pós-guerra, e conta com o apoio da Fundação de Amparo a
Pesquisa do Estado do Mato Grosso - FAPEMAT.

562
Lídia Nunes Cunha - UESB
A educação entre o nacionalismo e o internacionalismo: considerações histórico-conceituais
Este estudo tem por meta estabelecer parâmetros, ainda que preliminares, a respeito de considerações histórico-
conceituais que demarcam o lugar da educação no plano das relações internacionais, especialmente a partir dos
espaços que foi ocupando no desenrolar da organização dos estados nacionais modernos. Nosso pano de fundo será
o Brasil durante os anos iniciais do século XX tentando compreender a relação que se desenhava de um lugar para a
educação no campo da política externa brasileira. As considerações histórico-conceituais estarão limitadas aos con-
ceitos de nação e internacionalismo pensados a partir da concepção de educação como instrumento que viabilizaria o
fortalecimento de uma identidade nacional.

Fábio Ferreira - PPGHIS/UFRJ


A política de D. João VI para as províncias do Rio da Prata: o caso da Cisplatina portuguesa
Com o processo de independência dos antigos domínios espanhóis na América e a conseqüente desagregação do
Vice Reino do rio da Prata, a parte denominada Banda Oriental (atual República do Uruguai) atravessa uma árdua
guerra civil. Neste quadro, D. João VI organiza expedição militar, liderada pelo general Carlos Frederico Lecor, para
invadir o território oriental. Em 1817 Lecor ocupa pacificamente Montevidéu, após um processo de negociação com o
Cabildo desta cidade. Concomitantemente, segmentos da sociedade oriental favoráveis ao poder luso no Prata pedem
a D. João a anexação da Banda Oriental aos seus domínios, inclusive o Cabildo de Montevidéu envia comissão ao Rio
de Janeiro para fazer a petição ao monarca. Em 1821, com a ascensão do liberalismo e a perspectiva da sua volta à
Europa, o rei reconhece a independência dos governos platinos e ordena a Lecor que realize um Congresso para
definir o futuro da Banda Oriental. Entretanto, o general e seus aliados manipulam o Congresso para incorporar o ~
território oriental ao Reino Unido português, criando o Estado Cisplatino Oriental. Assim, o trabalho pretende analisar \!})
a política de D. João VI para a região do rio da Prata, a partir do caso da Cisplatina.
Jg
Andrea Marcia de Toledo Pennacchi - UNESP - Assis/SP ~
George F. Kennan e as origens da política de contenção da Guerra Fria (1946-1950) .~
Por meio da análise dos campos intelectual e político e do habitus configurado na ultima metade da década de 1940 , .~
pretende-se investigar o modo como o discurso institucional elaborado por George F. Kennan - historiador, diplomata =;
de carreira e especialista em assuntos soviéticos -foi apropriado por uma fração da classe dominante norte-americana co
para dar origem à política externa de contenção praticada pelos Estados Unidos durante a Guerra Fria. Pretende-se :B
ainda determinar os laços de interdependência que regulavam as relações entre o campo político e intelectual ao qual :5§
Kennan estava inserido e de que forma essas relações contribuíram para a consolidação do complexo industrial-militar v;
norte-americano e para o aumento do poder coercitivo dos Estados Unidos sobre os demais países do concerto .~
internacional. .iil
E
~
Leonam Lauro Nunes da Silva - UFMT c:
A participação da Bolívia no contexto da "Guerra Grande" (1865-1868) g;
O cenário que se apresenta, norteado por discussões a respeito da integração dos países sul-americanos, exige '~.
respostas que venham aclarar questões referentes às relações do Brasil com seus vizinhos de fronteira (aqui, especi- ~
ficamente, Paraguai e Bolívia) em momentos cruciais da história dessas nações, como no episódio da 'Guerra Grande'
(1864-1870). Tratar das relações desenvolvidas entre os vizinhos sul-americanos, Brasil, Paraguai e Bolívia, durante o
maior conflito armado já ocorrido no continente, entre os anos de 1864 e 1870, é o objetivo do artigo. A análise recai
sobre o período em que Corumbá ficou ocupada por tropas do presidente paraguaio Francisco Solano López, entre os
anos de 1865 e 1868, e as relações mantidas com a Bolívia no tocante à diplomacia, bem como a interação comercial
entre os povos durante o período delimitado. Negócios extra-oficiais eram fechados entre autoridades paraguaias e
negociantes bolivianos. A Bolívia não fora um mero espectador do embate militar. Ao contrário, suas ações não só reper-
cutiram ao longo do conflito como ajudaram a compor um quadro sob o qual se debruçam agentes contemporâneos.

Suzeley Kalil Mathias e Leandro L. Pepe- FHDSS- UNESP, Franca


O envolvimento do Brasil na questão timorense
Discute-se neste texto como o processo de desocupação do Timor Leste pela Indonésia, coincidente com as mudan-
ças processadas no cenário internacional em razão do fim da Guerra Fria, redundaram em uma nova postura
brasileira frente à segurança internacional, traduzida na crescente participação deste em missões de paz dirigidas
pela ONU, e como os interesses gerados no Brasil pelo processo de globalização, levou a uma aproximação maior
deste relativamente aos países de língua portuguesa, redundando na construção de uma nova política exterior do
país para o século XXI.

563
18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h ás 18h)

Helder Volmar Gordim da Silveira - PUCRS


A Institucionalização do Regime Militar Brasileiro na Visão da Diplomacia Argentina
A implantação do regime civil-militar após o Golpe de 1964 no Brasil apresenta relevância politica e estratégica de
primeira grandeza na ordem internacional da Guerra Fria, nos anos 60 e 70, particularmente para o contexto hemisfé-
rico e latino-americano. O regime então implantado, direta ou indiretamente, constituiu um núcleo de iniciativas politi-
cas e de irradiação ideológica a partir do qual implantaram-se ou consolidaram-se projetos autoritários e anti-inssurre-
cionais em toda a região. Nessa perspectiva, o presente trabalho busca analisar as formas de interpretração produzi-
das pelo serviço diplomático argentino, entre 1964 e 1968, acerca do processo de instituciobalização da nova ordem
civil-militar brasileira como possivel paradigma de uma solução autoritária para os impasses da ordem civil tutelada
que neste pais se estabeleceu desde a deposição de Perón, em 1955. Busca-se enfatizar as formas pelas quais este
discurso desde o interior do Estado constói identidades sociopolitcas entre ambos os paises e suas conjunturas poli-
ticas e econômicas internas na direção de uma ideologia da solução militar no Cone Sul do continente.

Bruno Henz Biazetto - PUCRS


A insurreição no meu quintal: a visão da diplomacia americana em relação a Revolução Cubana (1958-1960)
A presente pesquisa pretende trabalhar com a percepção da diplomacia estadunidense em relação aos eventos culmi-
nantes da Revolução Cubana,entre os anos de 1958 e 1960.0 objetivo principal é entender de que forma os america-
nos procedem e interpretam de um desafio a sua hegemonia no continente americano, dentro do complexo contexto da
Guerra Fria.Entre outras metas estão a interpretação do discurso WASP em relação a América Latina, bem como
evidenciar o jogo de forças entre Realistas e Idealistas, e Democratas X republicanos nas decisões dentro do Departa-
mento de Estado.O Corpus Documenal utilizado é a coleção Foreign Relations of the United States, coletada em
jornada de pesquisa nos EUA entre 2003 e 2004.

Eduardo Munhoz Svartman - UPF


Oficiais do Exército Brasileiro nos EUA: experiência, memória e incorporação seletiva de idéias nas décadas
de 1930 e 40
O texto investiga as experiências acumuladas e memórias produzidas por oficiais do Exército Brasileiro que estagia-
ram ou atuaram junto aos EUA no âmbito da cooperação militar estabelecida entre Brasil e Estados Unidos nas déca-
das de 1930 e 1940. No plano militar estes acordos operacionalizaram a reconversão doutrinária e operacional do
Exército Brasileiro do modelo francês para o norte-americano, o que foi viabilizado, em parte, pelo envio de oficiais
para estagiar naquele pais antes e pela vinda ao Brasil de missões e consultores. Esta experiência de internacionaliza-
ção de uma fração do oficialato brasileiro consolidou, no Exército, uma disposição geral pró-Aliados durante a 11 Guerra
e a difusão de uma visão predominante favorável aos Estados Unidos até o final da década de 1940. Paralelamente, a
experiência junto aos EUA tendeu a reforçar antigas disposições para a intervenção politica entre oficiais brasileiros,
de modo que os sentidos produzidos pelos agentes pesquisados afastaram as disposições germanófilas e reforçaram
a crença não necessariamente na democracia liberal, mas no planejamento, na necessidade de fortalecimento militar,
na urgência do combate ao comunismo e na necessidade de um maior protagonismo dos militares na política interna.

luri Cavlak - UNESP


Brasil e Argentina nos anos 1950: Aproximações e Distanciamentos
No desabrochar da nova ordem mundial, forjada pelas caracteristicas do desenvolvimento e da finalização da Segun-
da Guerra Mundial, Brasil eArgentina se viram numa nova configuração diplomática no sub-continente. O primeiro, fiel
aliado dos Estados Unidos. O segundo, tentando saidas da dominação da potência hegemônica. Divergentes então.
Todavia, no inicio dos anos 1950, o nacional populismo coincidiu nos dois paises, com Vargas no Brasil e Juan Perón
na Argentina. Uma tentativa de união foi levada a cabo, o chamado Pacto ABC. Embora frustrada, essa tentativa
ecoaria ainda nos governos nacionais desenvolvimentistas de Arturo Frondizi e Juscelino Kubitschek. Convergentes
em muitos aspectos. Assim, estaremos refletrindo nesta comunicaçaõ sobre a conjuntura que levou os dois maiores
paises sul americanos á importantes aproximações, num momento onde havia margem de manobra para a diplomacia
"terceiro mundista', o que deveras tencionou nosso contexto regional.

Tomaz Esposito Neto - FAD-UNIDERP


Navegando em meio à tormenta: A Politica Externa do Governo Figueiredo (1979-1985)
A sociedade internacional viveu um periodo conturbado entre o final da década de 70 e o inicio dos anos 80. Diversos
eventos, como o Segundo Choque do Petróleo (1979), a Guerra das Falklands/Malvinas (1982), a crise da divida
(1982), entre outros, desestabilizaram a ordem política econômica mundial, o que tornou mais delicada as relações
entre os paises pela diminuição da previsibilidade das ações estatais nas relações internacionais. No âmbito interno, o
Brasil retornava de forma lenta e gradual ao Estado Democrático de Direito, graças ás ações de algumas forças

564
políticas e sociais que ergueram a voz contra o regime militar, trazendo novas demandas para ação estatal. A crise
econômica, não obstante, agravou a insatisfação popular com o regime militar. Assim, o Itamaraty viu-se obrigado a
enfrentar na arena externa uma série de questões e desafios que envolviam diretamente os interesses nacionais.
Enquanto, concomitantemente, buscava incorporar as demandas dos novos atores da política nacional para legitimar
as ações diplomáticas. O atual artigo apresenta as linhas gerais da condução das relações exteriores brasileiras
durante o governo Figueiredo, demonstrando como o Brasil enfrentou os desafios postos por uma conjuntura comple-
xa, e, muitas vezes, adversa.

Magali Romero Sá & André Felipe Cândido da Silva - Casa de Oswaldo Cruz - FIOCRUZ
Por entre as páginas do imperialismo germânico na América Latina: a Revista Médica de Hamburgo e a Revista
Médica Germano-Ibero-Americana (1920-1933)
A Revista Médica de Hamburgo (RMH) foi criada em 1920 por Bernhard Nocht e Ludolph Brauer - respectivamente
diretor do Instituto de Medicina Tropical de Hamburgo e do Hospital Eppendorf, e teve como objetivo divulgar a ciência
alemã entre os meios cientificos da Espanha e América Latina. A Revista fez parte de um movimento mais amplo de
aproximação da Alemanha com os paises latino-americanos no contexto do póslluerra, em que os cientistas alemães
procuraram compensar a perda das colônias africanas advinda com o Tratado de Versalhes (1919) e recuperar o
prestigio da ciência alemã no cenário internacional. De periodicidade mensal, a RMH circulou até outubro de 1928,
quando fundiu-se com a revista La Medicina Germano-Hispano-Americana, dando origem à Revista Médica Germano-
Ibero-Americana, que perdurou até 1938. O presente trabalho explora o perfil de ambas as revistas, de modo a com-
preender como a política internacional alemã valeu-se da ciência médica não só para concretizar os interesses das
instituições e do Estado germânicos, como também os das grandes indústrias farmacêuticas. A análise dos atores
associados às revistas permite ainda mapear a rede de personagens e instituições latino-americanos que deu susten- ~
0i"
táculo a este movimento engendrado pela política externa alemã.
jg
Caren Santos da Silveira - PUCRS l3,
O contexto internacional dos anos 80 do século XX através de Veja como elemento da construção discursiva .~
de um modelo democrático-liberal de redemocratização para o Brasil .~
A redemocratização do país foi tema recorrente na grande imprensa brasileira ao longo dos anos 80 do século XX. =;
Observou-se, portanto, que através desse segmento foi constituido sob o ponto de vista político e ideológico, um <'O

modelo de democracia a ser seguido. A partir do presente trabalho, objetiva-se analisar como esse modelo democráti- ]
co-liberal foi constituído no plano discursivo, tendo como ponto de partida visões acerca do contexto internacional da ~
época. Para isso, foram tomadas como fontes de análise matérias produzidas na Revista Veja (representante modelar c,;
da grande imprensa no Brasil) datadas de 1982 a 1987 referentes aos processos de abertura ocorridos na Argentina, .~
URSS e China. Mediante esse procedimento metodológico foi possível definir os elementos teóricCH:onceituais funda- .~
mentais que constituíram o que foi aqui referido como o modelo democrático-liberal apresentado como alternativa de ~
redemocratização para o país. E:
'"
Q)

Humberto de França e Silva Júnior - Fundação Joaquim Nabuco '~.


A Evolução do Pensamento Americanista de Joaquim Nabuco -1876-1910 ~
Análise da evolução do pensamento filoamericanista e antiamericanista de Joaquim Nabuco, enquanto diplomata.
Primeiras impressões do Adido de Embaixada nos Estaods Unidos: 1876-7. Joaquim Nabuco e a interfvenção estran-
geira e a Revolta da Armada 1893-4. A segurança da Amazônia e a Questão da Guiana Inglesa: Oretorno à diplomacia:
1899. Joaquim Nabuco embaixador nos Estados Unidos e a tentativa de 'instrumentalização' do Monroísmo: 1905-
1910. Formulação de uma estratégia de política externa visando uma estreita aliança com os Estados Unidos, no
intento de assegurar a inviolabildiade do território nacional.

I 19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h às 16h30min) I

Julia Faria Camargo - UnB


O papel da informação-comunicação na Historiografia das Relações Internacionais: Uma análise da Escola
Francesa
O papel da comunicação é um tema presente na Historiografia das Relações Internacionais. Nas Escolas Inglesa e
Italiana, o tema é bastante discutido.O objetivo do trabalho concentrou-se na análise do papel da informação na
literatura da Escola Francesa das Relações Internacionais. Na obra de Renouvin e Duroselle, 'Introdução à História
das Relações Internacionais', estudou-se a importância que estes autores oferecem à comunicação no que diz respei-
to à formação das mentalidades coletivas ou 'forças espirituais'. No livro de Duroselle, 'Todo império perecerá', nos
concentramos na importância da informação no que tangencia a sua classificação, acessibilidade e as fontes sobre o
estrangeiro. E analisamos as ligações entre diplomatas e propagandistas, e a ação psicológica da propaganda. De

565
René Girault, Robert Frank e Jacques Thobie estudou-se o papel dos meios de comunicação na mobilização dos
espíritos durante a Segunda Guerra Mundial, como explicado na obra 'La lois des géants 1941-1964". Concluiu-se que
o papel oferecido á informação na Escola Francesa das Relações Internacionais é relevante, podendo ser até mesmo
considerado como uma das forças profundas que ajudam a compreender a vida internacional, pelo menos em parte de
sua totalidade.

Hugo Arend - Escola Panamericana de Porto Alegre


O "Terceiro Debate" das Relações Internacionais: As Contribuições de Richard K. Ashley, Robert B. J. Walker
e Michael J. Shapiro - Epistemologia e Soberania
O objetivo desta comunicação é apresentar as contribuições daqueles três autores para o debate epistemológico da
disciplina de Relações Internacionais e da Ciência Política. Interpretamos de que forma eles pensam os desafios da
ciência contemporãnea á luz do princípio de soberania, que permeia a imaginação científica moderna. Nossa comuni-
cação pretende, primeiramente, apresentar o pensamento destes três intelectuais tão importantes para a Teoria das
Relações Internacionais na atualidade e que permanecem um tanto inexplorados teoricamente e, num segundo, tecer
algumas observações a respeito de suas teorias de suas potencialidades para uma abordagem mais radical e comple-
xa dos fenômenos internacionais.

Eduardo Mei - UNESP


Raymond Aron: A Teoria da História e a Gestação da Teoria das Relações Internacionais
Raymond Aron ocupa um lugar peculiar na intelectualidade francesa: embora sua tese doutoral sobre os limites da
objetividade histórica seja considerada obra de referência, jamais ele exerceu uma influência realmente positiva entre
os historiadores do hexágono; além disso, embora filósofo de formação, é reconhecido mais como sociólogo, ou
politólogo e teórico das relações internacionais do que entre os filósofos. Sem deixar de considerar a Teoria da História
que informa toda a obra de Aron, nosso propósito é analisar sucintamente a gestação da teoria das relações internaci-
onais, consumada em 1962 em 'Paz e guerra entre as nações', em artigos publicados por Aron entre 1945 e o início
dos anos dos 60.

Mathias Sei bel Luce - UFRGS


O subimperialismo na política externa brasileira: revisitando o enfoque de Ruy Mauro Marini
Na historiografia das relações internacionais do Brasil, a obra de Marini representa uma abordagem inovadora surgida
nos 70, com o conceito de subimperialismo. Este foi empregue no exame do Brasil como potência regional, ao suplan-
tar a economia argentina ao término da 11 Guerra e consolidar uma posição intermediária entre centro e periferia na
divisão internacional do trabalho. Ao lado da componente econômica, Marini definiu o subimperialismo como uma
política externa relativamente autônoma frente ao imperialismo dominante. Ao contrário daqueles que viam no regime
militar mero satélite dos EUA, o autor analisou-o sob a categoria da cooperação antagônica, conceito do marxista
alemão August Thalheimer aplicado ao estudo da política externa brasileira. Na atualidade, fatos como a expansão da
liderança regional do Brasil, o envio de tropas ao Haiti e a exportação de capitais das firmas brasileiras na América
Latina suscitaram o retorno do termo subimperialismo. Porém, essa retomada carece muitas vezes da necessária
reflexão teórica sobre as transformações que a história trouxe ás relações definidas como subimperialismo. Este
trabalho pretende revisitar o enfoque de Marini, resgatar seu aporte teórico e discutir sua vigência á análise da política
externa brasileira em nossos dias.

I 20107 - Sexta-feira - Tarde (14h ás 18h)

André Luiz Reis da Silva - FAPA


A identidade africana no discurso diplomático brasileiro: avanços e recuos nas relações Brasil-África
(1930-2007)
Baseado em pesquisa bibliográfica e documental, este trabalho tem como objetivo analisar as relações do Brasil com
o continente africano desde os anos 1930 até a atualidade. Embora metade da população do Brasil ser representada
por afro-descendentes, da cultura brasileira ser permeada pela cultura africana e das possibilidades políticas e econô-
micas oriundas da aproximação do país com o continente africano, este representou espaço diplomático de menor
interesse ao longo dos governos brasileiros. Apenas nas últimas décadas a nossa diplomacia iniciou um processo de
aproximação com os países africanos, embora marcado também por indefinições e distanciamentos, oriundo da pró-
pria indefinição interna e dos impasses no modelo de desenvolvimento e de inserção internacional. Analisando diver-
sas variáveis (conjuntura internacional, conjuntura brasileira, conjuntura africana) podemos verificar que as aproxima-
ções estavam relacionadas com o fortalecimento das nações africanas em momentos específicos, como das indepen-
dências africanas, ou da necessidade de apoio ao modelo de desenvolvimento brasileiro. Atualmente, se verifica uma

566
nova aproximação das relações Brasil-África, impulsionado pelo neodesenvolvimentismo e pela redefinição da identi-
dade diplomática.

Ismara Izepe de Souza - USP IFFLCH


Tempo de incertezas: as relações diplomáticas entre Brasil e Espanha durante a 2a Guerra Mundial (1939-
1945)
Neste trabalho pretendemos apresentar algumas reflexões acerca das relações diplomáticas entre o Brasil e a Espa-
nha durante o período da 2a Guerra Mundial, tendo como fonte principal a documentação do Arquivo Histórico do
Itamaraty. As relações políticas entre os dois países, a partir do término da Guerra Civil Espanhola em 1939, estiveram
marcadas pela cordialidade e pela reafirmação das semelhanças de caráter político entre os governos de Getúlio
Vargas no Brasil e o de Francisco Franco na Espanha. No entanto, de 1942 a 1945, o relacionamento oficial entre os
dois países alterou-se em função da participação do Brasil no conflito mundial ao lado dos Aliados. O Ministério das
Relações Exteriores voltou suas atenções á Embaixada espanhola, que representou durante o conflito, os interesses
alemães e japoneses no Brasil. Havia fortes indícios de que essa representação atuava a favor das atividades de
espionagem nazista no país. Nesse período, as relações políticas entre Brasil e Espanha passaram a se deteriorar,
comprometendo assim o intercâmbio na esfera comercial e cultural.

Adriano de Freixo - CEFET-RJ


As Pressões Internacionais e a Crise do Último Império: A Política Colonial Portuguesa nas Décadas de
1950 e 1960
Ao longo das décadas de 1950 e 1960, no auge do processo de descolonização afro-asiática, Portugal sofreu diversas
pressões internacionais - principalmente por parte das nações recém-independentes que passaram a atuar em bloco
f71\
~
na Assembléia Geral das Nações Unidas - devido à sua política colonialista. Sendo um Estado marcado historicamente
por sua debilidade econômica, Portugal implementou um modelo colonialista baseado na abertura de seus domínios .ê
ultramarinos à atuação do capital internacional, fazendo com que ele assumisse um papel secundário em suas própri- 13,
as colônias, definindo assim um modelo de 'colonialismo dependente'. Este fato, aliado aos interesses estratégicos ·ê
dos EUA e de seus aliados da OTAN, no contexto da Guerra Fria, fez com que as grandes potências acabassem ~
esvaziando as pressões contrárias ao colonialismo português. Assim, apesar da 'política isolacionista' deliberadamen- :c
te implementada pelo regime salazarista e da condenação da opinião pública internacional à sua política colonial, os :::
interesses econômicos e financeiros das grandes potências e as determinações político-estratégicas da conjuntura :e
mundial naquele momento acabaram por garantir alguma sobrevida ao Império Colonial Luso. ~
v;
Ananda Simões Fernandes - UFRGS 'ê
Presença e influências da ditadura brasileira no Uruguai (1964-1972): as conexões repressivas ""
.~
Este trabalho pretende demonstrar as relações e conexões repressivas estabelecidas entre os governos brasileiro e E
uruguaio no período de 1964 a 1972. O cenário uruguaio gerou dois tipos de preocupações para a ditadura brasileira. ~
O primeiro, entre 1964 e 1967, pelo fato do Uruguai concentrar importante exílio brasileiro que deveria ser monitorado, ~
controlado e infiltrado, o que levou a ditadura brasileira a pressionar o governo democrático daquele país para que '~.
impusesse o cerceamento sobre os exilados. O segundo, entre 1968 e 1972, pela radicalização da situação interna do &
pais vizinho e o surgimento da guerrilha urbana, assim como da Frente Ampla, organizações de esquerda vistas pelo
Brasil como potenciais fatores de perturbação da sua segurança nacional e das suas 'fronteiras ideológicas' (na
concepção da Doutrina de Segurança Nacional), o que levou o regime brasileiro a contribuir na espiral autoritária
desencadeada pelas administrações Pacheco Areco (1968-1971) e Bordaberry (1972-1973). Assim, pretende-se de-
monstrar como a ditadura brasileira colaborou para estender aos países vizinhos mecanismos repressivos que vinham
sendo aplicados na sua política interna e que foram importantes na implantação do Terror de Estado nos países do
Cone Sul, dentre eles, o Uruguai.

Adelar Heinsfeld - UPF


A ruptura diplomática Brasil-Portugal: um aspecto do americanismo do início da República Brasileira
Em 1894, decorrente da intervenção de um comandante de navio português na Revolta da Armada, no Rio de Janeiro,
o governo de Floriano Peixoto rompeu as relações diplomáticas com Portugal, que foram reatadas no ano seguinte, já
no governo de Prudente de Moraes. Este texto visa analisar esta ruptura como afirmação da política americanista
adotada pela recém instalada República Brasileira. Para isso, utilizar-se-á além da documentação diplomática, a im-
prensa governista regional, que repercutiu aquele incidente.

lone de Fátima Oliveira - UnB


Política externa e interesses econômicos - Brasil e República Federal da Alemanha
Uma das abordagens mais recorrente da produção historiográfica sobre as relações entre o Brasil e a República
Federal da Alemanha defende que as relações diplomáticas entre estes países foram essenciais para o desenvolvi-

567
mento industrial brasileiro e para atenuar a hegemonia norte-americana no Brasil, durante a guerra fria. Em outra
perspectiva, este trabalho analisa as dificuldades dos agentes diplomáticos brasileiros em tirar proveito destas rela-
ções para dinamizar o desenvolvimento econômico do Brasil. Mostra como as negociações dos representantes do
capital privado alemão alcançaram demandas significativas para impulsionar o modelo de desenvolvimento industrial
brasileiro. Baseado em fontes extraidas de arquivos no Brasil e na Alemanha podemos averiguar que parte dos inves-
timentos privados alemães fluiu para o Brasil após algumas mudanças no cenário externo - o processo de reconstru-
ção do parque industrial da Alemanha Ocidental a partir de 1956 e a expansão dos investimentos multinacionais no
bloco ocidental. A adoção de incentivos fiscais no Brasil para as indústrias estrangeiras também contribuiu para atrair
as empresas estrangeiras, inclusive ás alemãs. Entretanto, a exportação de capitais advindos da RFA permaneceu
acanhada em comparação com a originada dos EUA.

Andrea Helena Petry Rahmeier • PUCRS


As relações diplomáticas entre Brasil e Alemanha durante o ano de 1937
O presente trabalho tem por característica discutir o contexto histórico do Brasil e da Alemanha no decorrer de 1937.
Este ano foi significativo no rumo das negociações diplomáticas destes dois paises. No Brasil, Getúlio governou o país
desde 1930, mas em novembro decretou o Estado Novo, passando de um regime constitucional para um ditatorial. Na
Alemanha, Hitler era o governante desde 1933, no entanto foi em 1937 que a política diplomática do Ministério das
Relações Exteriores (Auswartiges Amt) sofreu alterações. Neste contexto político e diplomático as relações entre os
dois países sofrem impactos, sendo que em algumas situações houve aproximações nas relações entre os dois países
e em outros distanciando.

Renato Arruda de Rezende· UFGD


1947 • O Ano em que o Brasil foi mais realista que o Rei· O fechamento do PCB e o rompimento das relações
Brasil·União Soviética
O objeto do presente trabalho consiste na análise dos significados de dois importantes eventos ocorridos no Brasil no
ano de 1947, durante o governo do general Dutra: o fechamento do Partido Comunista Brasileiro (maio) e o rompimen-
to das relações diplomáticas entre o Brasil e a União Soviética (outubro). O trabalho situa-se no campo da Nova
História Política. A pesquisa nos levou a concluir que tanto o fechamento do Partido Comunista Brasileiro (PCB) como
o rompimento de relações do Brasil com a União Soviética se explicam, em primeiro lugar, pela preocupação das
classes dominantes brasileiras em manter seu controle sobre a sociedade, em face do crescimento do movimento
operário e do PCB. Assim, o governo Dutra aproveita-se da representação negativa do comunismo na sociedade,
obtendo uma justificativa não só para conter a oposição comunista como para reprimir o conjunto do movimento
operário (associado, pelo governo, ao comunismo). O rompimento das relações com a União Soviética vem a ser uma
conseqüência dessa política interna, tornando-se o Brasil o primeiro país ocidental a romper, nessa época, com a
União Soviética. Desse modo, o Brasil, que se colocava sob a liderança dos Estados Unidos, excede a estes na Guerra
Fria e torna-se portanto mais realista que o próprio Rei.

72. Religiões, Religiosidades e Identidades


Marco Antonio Neves Soares (UEL) e Solange Ramos de Andrade (UEM)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h às 18h) I
Mírian Aparecida Tesserolli (UH)
A presença do orixá Nanã na Umbanda Omolocô de Araguaína.
Nanã é ul)1 orixá de essência feminina dito arcaico, pois é um dos primeiros do panteão das religiosidades de matriz
africana. E um orixá ligado às águas profundas e lamacentas, ligado à vida e a morte devido a ser a lama o elemento
primordial da vida, segundo a cosmovisão de várias tradições dessa religião. O projeto mosaico encontrou, na cidade
de Araguaína, uma casa de Umbanda Omolocô. Essa religiosidade de matriz africana reúne várias caracteristicas do
culto dos orixás e do culto dos ancestrais, africanos e brasileiros. Nosso objetivo, aqui, é mostrar um pouco do culto
desse orixá na tradição religiosa da Umbanda Omolocô.

568
Eisa Gonçalves Avancini - Centro Universitário La Salle, Canoas/RS
Identidade e tradição na prática dos cultos de origem afro-brasileira em Canoas/RS
As estratégias de definição identitária em grupos de religião de origem afrodescendente em Canoas IRS. A partir de
estudo histórico e etnográfico ainda em andamento, observaram-se jogos de distinção entre grupos religiosos locais,
suas práticas legitimadoras no campo religioso e as suas disputas pela hegemonia no espaço do sagrado local. A
definição das identidades dos grupos religiosos em questão se dá através de tensões recorrentes e jogos interativos
em que a auto-identidade se constrói diretamente na relação com o outro. O 'batuque' nas práticas de Umbanda e de
Nação aparece como expressão atribuida externa, de caráter muitas vezes pejorativo, mas assumida por lideres
religiosos dos dois grupos com outros significados associados, ora como modelo de festa relacionada ao elemento
musical dos cultos, ora como modelo de manifestação religiosa de matriz africana. O conceito de tradição buscado nos
cultos caboclos ou africanos aparece como estratégia legitimadora das práticas dos grupos, conferindo-lhes um 'status
de integridade' e garantia de sua preservação. Essas tradições fornecem aos participantes dos cultos modelos opera-
dos através de história míticas, ou reais, reinventadas, ressemantizadas e ressimbolizadas no campo da disputa por
hegemonia social.

Érika do Nascimento Pinheiro Mendes - UERJ


A lavagem das escadarias do Nosso Senhor do Bonfim da Bahia: identidade e memória no final do oitocentos
As autoridades eclesiásticas, através de uma portaria em 1889, proibiram a lavagem da igreja de Nosso Senhor do
Bonfim, em Salvador. A festa do Senhor do Bonfim era uma festa popular que seguia o modelo ibérico. Após o ritual
religioso, que começou no século XVIII, os fiéis se encaminhavam para o entorno da igreja onde estava montada uma
espécie de feira. A partir de meados do século XIX, ocorreu uma maior participação de negros e mestiços livres e a
implantação de novos costumes na festa do Senhor do Bonfim. Alavagem das escadarias do Bonfim é um momento de
formação de identidades, detenho-me, principalmente, nos afro-descendentes ligados ao culto aos orixás; de come-
moração, pois traz para o cotidiano a memória ancestral em uma experiência religiosa concreta. A análise será feita a
partir dos conceitos de identidade, comemoração e memória. Tendo em vista este tripé de análise, demonstrarei como
a lavagem da escadaria pode ser compreendida como peça chave para a compreensão da sociedade de Salvador
deste momento. Utilizarei os jornais como fonte privilegiada de análise. Afesta sempre repercutia nos jornais baianos,
principalmente falando do descontentamento da população, considerada 'civilizada', em relação às formas de condu-
ção da lavagem resultando na portaria de 1889

Dirceu do Socorro Pereira - UNEB


Dupla Pertença: Vivências Religiosas Afro-Católicas em Salvador no período de 1970-1990
O tema dupla pertença se pauta na vivência religiosa do povo brasileiro, especificamente, em alguns Estados aonde a
presença do negro vindo da África marcou sensivelmente a cultura e, por conseguinte, fomentou uma outra forma de
religiosidade, onde os elementos de sua religião de origem em confronto com o catolicismo imposto pelos europeus se
assimilaram gerando o que para muitos é uma mistura e fora denominado pejorativamente de sincrética. Tratar desta
realidade de dupla pertença é mergulhar num contexto complexo e desafiador, pois traz consigo outras questões que
ultrapassam as fronteiras do campo meramente religioso. O que ocorreu durante o processo de escravidão foi a
imposição de um padrão de religiosidade, que tinha no catolicismo a sua vertente de religião modelo. Logo, todos os
escravos deveriam buscar viver estas práticas para que assim pudessem ser considerados seres humanos. Dentre os ~72
Estados onde esta presença negra é marcante, a Bahia guarda as suas especificidades. Criou-se uma forma própria I...!.!:)
de viver a religiosidade nesta terra, que é possível perceber as manifestações durante todo o ano e de forma 'harmo-
niosa' caminham lado a lado práticas cristãs católicas e práticas do culto afro-brasileiro - candomblé.

Uberdan Cardoso dos Santos - UNEB


A pesca e o sagrado:a festa da sereia como prática cultural no Municipio de Aratuípe-BA
O enfoque prioritário do trabalho será a FESTA DA SEREIA,realizada anualmente no município de Aratu ípe-Ba. Sendo ~
objeto de pesquisa referente à linha Cultura,Memória e Identidades doPrograma de Pós-Graduação da UNEB-Univer- ~
sidade do Estado da Bahia,o Trabalho será focado em reflexões sobre as relações de solidariedade e sociabilidade .~
dos pescadores do município deAratuípe-Ba,sobretudo os das comunidades do Camamú,Tombo eAlto da Favela,bairros ~
caracterizados pela extrema pobreza da sua população,mas que na contramão das adversidades sociais,são tomados ~
de uma fé incomensurável pela SEREIA. lemanjá, Iara ou mesmo Sereia,mito europeu, indígena e africano parecem se i;l
fundir em um ritual de fé,que é realizado no último dia do ano ,quando a imagem de uma Sereia é conduzida pelos 1'l
pescadores pelas ruas da cidade para depois,em uma 'palhoça' construida para a visitação pública,em um ritual de
candomblé que ultrapassa os limites da madrugada,a FESTA torna-se o espaço do transe. dos traseuntes curiosos,dos ~
:ª'
'iniciados',dos velhos e moços,todos envoltos em um rito de um mito que se construiu,de forma diferente em cada ",-
civilização embora tenha no culto às águas seu sustentáculo mas que em Aratuípe,se erigiu de um 'tal' José .~
Cilirio,pescador que teria encontrado uma SEREIA viva . ~
cc

569
Oenísia Martins Borba - UFMG
Fragmentos da nação Yorubá no Brasil
Este trabalho tem como principal objetivo discutir a presença da cultura Yorubá na formação do estado nacional brasi-
leiro, bem como as semelhanças e diferenças dessa cultura vivenciada no continente africano. As práticas religiosas,
herdadas das senzalas brasileiras têm ao longo do tempo se voltado para o continente africano buscando 'uma (re)
africanização'. A cultura afro-brasileira é uma das que mais se destacam no cenário religioso brasileiro. A música e a
dança dos descendentes africanos são exemplos vivos do que é o patrimônio cultural do continente negro amadureci-
do ao longo do milênio. Uma história antiga e valiosa pode ser contada através da música, da dança, do teatro, das
artes visuais, da indumentária, da culinária e das tradições. A produção de conhecimento acerca das tradições Yorubá
deve deixar de lado as vaidades inerentes ao ser humano e que sucumbiu vários personagens importantes de nossa
história. Situações comuns no seio das casas de Candomblé brasileiras como iniciação em terras africanas, iniciação
ao culto de Ifá, titulos honorificos concedidos a personalidades afro-brasileiras sem qualquer conhecimento real de
nossas instituições, devem ser analisadas com critérios mais rigorosos.

Joseph Espindola - UFGD


O Orixá Ogum e os Filhos de Fé: devoções, mudanças e permanências nas manifestações ritualísticas na
Umbanda Douradense (1950 a 2000)
As relações entre os humanos e as divindades, bem como as implicações na organização das sociedades, principal-
mente no aspecto sócio-cultural, desde longa data têm sido objeto de análise, tanto empírica quanto cientifica. O
objetivo desta pesquisa é a busca de elementos que possibilitem uma reflexão crítica, á luz de procedimentos teórico-
metodológicos próprios da História, associados aos da Etnohistória e da Antropologia, das relações entre o Orixá
Ogum e os praticantes da religião de matriz africana Umbanda, chamados de umbandistas ou ainda de 'filhos de fé'.
As mudanças e permanências nas formas e aspectos das manifestações desta divindade, as características que esta
relação assume no contexto eminentemente rural em um processo de urbanização e posteriormente na cidade (Doura-
dos entre 1950 e 2000), as contribuições culturais geradas ou desenvolvidas a partir das práticas ritualísticas das
manifestações da divindade Ogum. O espaço de representações ocupado e ainda a profundidade dessas representa-
ções, as características assumidas pelas devoções ao Orixá ao longo do recorte temporal que proponho. São aspectos
que considero como delineadores ou orientadores destas relações, que se evidenciam a partir de uma investigação
mais amiúde nas atitudes cotidianas dos umbandistas.

Ana Paula Nadalini - UFPR


Mitologia e práticas alimetares do povo-de-santo e Orixás: uma ponte entre a história da aliemtnação e o
estudo das religiões
Através de uma pesquisa que une duas áreas do conhecimento - a história da alimentação e o estudo das religiões-
pretende-se demonstrar como os hábitos alimentares são determinados também por práticas religiosas. Para tanto,
foram realizadas entrevistas, com base na metodologia da história oral, com membros do Candomblé de Curitiba.
Esses registros reúnem informações de diversos niveis de especificidade, tais como a mitologia preservada sobre os
Orixás e como a comida aparece nessas histórias, os rituais de sacrifícios e oferendas, o cotidiano do povo-de-santo e
sua rotina alimentar, tanto em dias comuns quanto durante as festividades. Essa complexa cadeia, que permeia as
relações entre os deuses e a alimentação, a alimentação e os homens e os homens e os deuses, ilumina o campo da
história da alimentação com a problemática que trata as práticas religiosas como modificadoras do gosto alimentar.

Carlos Antonio dos Reis - UNESP/Franca


Identidade, Raça e Interpretação do Brasil em Manuel Querino
Pretendo, nesta comunicação, realizar uma reflexão em torno de temas como raça, mestiçagem, religiosidade, funda-
mentais para se pensar a constituição de uma identidade para o Brasil em finais do século XIX, momento profunda-
mente marcado por modelos cientificistas de interpretação. Para tanto privilegio a obra de Manuel Querino, folclorista
e militante das causas negras na Bahia, diretamente envolvido por tais modelos em suas considerações sobre a raça
e as religiosidades afrodescendentes ao pensar o nacional. Proponho uma releitura do pensamento do autor afim de
situá-lo dentro de um grupo de intelectuais preocupados com a construção de uma nacionalidade brasileira resultante
direta da mistura das raças, dentre os quais destacam-se nomes como Silvio Romero, Nina Rodrigues e Manoel
Bomfim, em que pesem suas diferentes filiações e abordagens. O objetivo central é demonstrar como as motivações
de Querino, essencialmente políticas, levaram a que seu pensamento quanto ao papel do negro na história do Brasil
fosse, por vezes, depreciado, além de procurar expor a forma pela qual ele se interessou em reverter a situação de
inferioridade atribuida a tais camadas da população.

570
17/07 - Terça-feira - Tarde (14h ás 18h)

Roberta Alexandrina da Silva· UNICAMP


O Poder do Bispo: Segregação Feminina nas Comunidades Paulinas na Grécia e na Ásia Menor
O trabalho consiste numa análise.da relação entre o poder do Bispo e a restrição da participação feminina no espaço
comunal Paulino, nas regiões da Asia Menor e Grécia durante os três primeiros séculos. A partir disso se tem o intuito
de observar os discursos utilizados para justificar a segregação da mulher nas comunidades e, consecutivamente, nas
funções eclesiais.

Wilma de Lara - UTP/UFPR e Wilma de Lara Bueno


Vida religiosa no século XX; monjas beneditinas no Paraná (1964-1999)
A documentação referente ao mosteiro beneditino feminino, instalado no Paraná em meados do século XX, revelou o
seu papel na história da Igreja da América Latina, bem como possibilitou conhecer as mudanças e permanências das
práticas religiosas relacionadas á vida monástica, cuja origem remonta á Idade Média. No estudo do conjunto de
atividades que integra o cotidiano religioso foi possivel refletir acerca das concepções do sagrado que norteiam esse
modelo de organização e lhe atribuem significado. Os resultados parciais da pesquisa contribuíram, sobremaneira,
para situar o lugar que a religião vem ocupando no contexto das relações sociais no mundo contemporâneo e as
estratégias utilizadas pelas religiosas para corresponder a uma vida virtuosa, em consonância com as exigências do
tempo presente.

Marli José Tavares


Os fundadores do Instituto das Irmãs Catequistas de N. Sra. da Visitação: aspectos biográficos
O estudo em questão partiu da biografia dos fundadores do Instituto: Ir. Yolanda de Mendonça Vaz e Frei Conall
O'Leary. A primeira, nascida na cidade Catalão, Goiás, em 28 de fevereiro de 1915 e o segundo frade franciscano, de
nacionalidade irlandesa, mas que veio para o Brasil, mais precisamente para Goiás, em uma missão franciscana norte-
americana, em 1943. O desejo de instruir, na fé e na doutrina católicas, as populações da zona urbana e da zona rural
de Catalão e região, levou-os a fundar o Instituto das Irmãs Catequistas de N. Sra. da Visitação, em 1962. Trabalhar
com a biografia exige muita cautela, poiS ainda está associada á 'História' dos grandes heróis, que foi duramente
criticada e inovada com a escola dos Analles. Partindo desta fonte, buscou-se compreender a história do catolicismo
no Brasil, especialmente, na segunda metade do século XIX e no transcorrer do século XX, como as orientações
ultramontanas, chegadas aqui a partir do final do século XIX e implementadas ao longo da primeira metade do século
XX. Foram relevantes, também, neste estudo, as relações entre sagrado e profano e o papel da mulher na Igreja
Católica.

lolanda Canal Abati· UPF


Os Camilianos e as Vias de Convencimento
Este artigo pretende analisar a atuação da Igreja Católica Romanizada no Meio Oeste Catarinense a partir do terceiro
decênio do século XX, através da atuação da Ordem Camiliana, na Paróquia São Luiz Gonzaga de lomerê. Evidenciar
as caracteristicas da nova orientação hierárquica, organizacional e devocional, as principais estratégias utilizadas
para implementação do novo catolicismo e como os Padres Camilianos procuravam adaptar os valores locais aos@2
valores religiosos visando assim, influenciar o cotidiano da comunidade pela religiosidade. Através das fontes de
pesquisa, encontradas nos arquivos das paróquias São Luiz Gonzaga de lomerê, da Paróquia Imaculada Conceição
de Videira, da Cúria Diocesana de Lages e dos Seminários São Camilo de lomerê -SC- e de Pompéia -SP-, foi
possível fazer uma investigação da conduta social, moral, religiosa e político-ideológica no cotidiano da comunidade,
condicionado pelo clero católico romanizado.
v:>
Claudete Soares de Andrade Santos· UFGD ~
A inserção das missões católicas na Colônia Agrícola Nacional de Dourados, M.S: a Igreja, e a construção de :3
espaços de poder 83
As missões católicas, ao longo da história da Igreja, têm se configurado em importante mecanismo para que esta ~
instituição pudesse ver concretizadas suas ações, atuando, pois, de forma expressiva no meio social. A Colônia Agrí- ~
cola nacional de Dourados criada em Mato Grosso do Sul na década de 1940 pelo governo federal, representou, ao :g
mesmo tempo, um projeto governamental de expansão econômica, e um projeto de expansão de trabalhos religiosos. .gj
Tal fato que se verifica através da presença de ordens religiosas como a dos padres palotinos, franciscanos e diocesa- ª
:
nos que direcionaram seus trabalhos para o atendimento das populações que se estabeleciam na Colônia. Essas ~
ordens religiosas atuavam de forma mais extensiva, transcendendo o campo da religiosidade. Em relação aos paloti- ~­
nos, por exemplo, exerceram, em muitos momentos o papel de lideranças políticas. Iniciativas como de criar escolas, ~ª'
fundar instituições para assistência social, tornava os padres e, Por conseqüência a Igreja Católica, referência para a Q)
sociedade, mesmo entre as pessoas que não eram católicas. Tal contexto permite constatar que a Igreja pode conquis- c:::

571
tar, através de sua atuação tida como missionária, importantes espaços de poder e uma identidade católica no meio
social que atuou.

José Joaquim Pereira Melo - UEM


Sêneca e o Cristianismo
A obra de Sêneca, já na sua época, obteve uma grande divulgação, graças ao interesse que o filósofo despertava no
círculo social do qual fazia parte.Para os primeiros autores cristãos as suas reflexões ganharam novo sentido, por
representarem um referencial que poderia responder a muitas das suas necessidades doutrinais, particularmente
daquelas relacionadas à fundamentação filosófico-teológica do seu magistério. Essa simpatia dos apologistas pode
ser entendida, em parte, pelo contato que tiveram com a obra senequiana, por ser a moral por ele defendida muito
próxima da moral cristã. Enfim, os primeiros apologistas voltavam-se para suas idéias, suas sentenças e sua doutrina,
a ponto de considerá-lo, contraditoriamente, um cristão, mesmo sendo ele pagão. A importância dessa relação entre o
cristianismo e Sêneca pode ser dimensionada no suposto epistolário entre Sêneca e Paulo de Tarso.

Leandro Gonsales Ciccone- USP


Liames da virtude - ética e moral no mundo romano
Como parte de um ciclo de pesquisas para um futuro projeto de pós-graduação em História Antiga - focado no plano
das idéias e no processo de declínio do paganismo e ascensão do cristianismo - gostaria de apresentar um trabalho
analítico sobre a Epístola aos Romanos, destacando seus vínculos com o helenismo então prevalecente no Mediterrâ-
neo e seu papel-chave no processo de universalização da mensagem cristã.

Cristiane Almeida de Azevedo - UFJF


Dioniso: o divino da vida a partir da tragicidade da religião Grega
A dimensão trágica presente na religião grega, além de evidenciar-se na relação entre homens e deuses, está presente
também entre os próprios deuses. Entre os homens, o trágico leva às festas, aos banquetes, às transgressões, às
libações, ao êxtase, à explosão dionisíaca. Entre os deuses, é o próprio Dioniso que morre para se mostrar indestrutí-
vel, para mostrar que, como ele, a vida é também indestrutível e poderosa. O presente trabalho pretende mostrar, a
partir da ação do deus, a transformação do trágico em um elemento positivo para os homens, pois Dioniso representa
a possibilidade de brindar aquilo que é divino na vida, ou seja, a própria vida.

I 18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h) I


Solange Ramos de Andrade - UEM
A análise do culto aos santos a partir do conceito de arquétipo
A partir do conceito junguiano de arquétipo, usado por Mircea Eliade para pensaar as relações entre sagrado e profa-
no, este trabalho objetiva apontar algumas reflexões sobre a utilização do conceito de arquétipo para pensar o compo-
nente exemplar do culto aos santos, visto sob a ótica não do modelo a ser seguido, mas como um componente
identitário que o fiel detecta no santo e o faz reverenciá-lo como tradução de sua situação mundana.

Márcia Fabiani - UNIAMERICA


Maria Elizabeth de Oliveira: religiosidade, devoção e a experiência do milagre em tomo da "santinha" passo-
fundense
O presente texto tem como objetivo analisar a religiosidade, a devoção e a experiência do milagre existente em torno
da 'santinha' passo-fundense - Maria Elizabeth de Oliveira. Para tanto, utilizar-se-á como base de estudo, num primei-
ro momento, as cartas que os devotos depositam junto ao túmulo da santa, com o intuito de traçar um perfil do devoto.
Indo além, a religiosidade expressa por esses permite problematizar as relações entre indivíduos, religião e sociedade,
ao revelar aspectos culturais de uma época que tem em sua face religiosa uma importante expressão da vida social.
Além disso, através das cartas e livros de registro deixados junto ao túmulo, é possível entender o que os fiéis buscam,
suas necessidades, angústias e aflições. Some-se a isso, outro objetivo se refere à identificação desses devotos.
Tentar classificar e quantificar esses devotos. Quem são? De onde vêem? Qual o gênero predominante? Qual a faixa
etária majoritária? Que profissão? O que buscam? Enfim, tentar montar um quadro geral desses devotos. Tudo isso,
bL!~cando entender que toda essa experiência religiosa pode ser aprendida enquanto vivência, que busca uma inter-
venção intencional na existência concreta.

Lourival Andrade Júnior - UFPR


Sebinca Christo: cigana milagreira na terra dos coronéis
A região serrana de Santa Catarina é marcada por uma religiosidade não oficial que denota um catolicismo popular
pouco freqüente em outros pontos do Estado. Somente em Lages são cinco túmulos permanentemente cultuados por

572
pessoas vindas de diversas regiões. 'Irmãos Canozzi', Menina Salete, Menina Ivone, Frei Silvério e com destaque o
túmulo de Sebinca Christo, cigana, morta em 1965, passou a operar milagres. Estes lugares sacralizados pelo povo,
levantam a tese dos milagreiros de cemitério, que sem um templo de devoção oficial, o povo encontra nestes lugares
seus espaços de demonstrar sua religiosidade. Nestas terras dos coronéis e de uma politica intensa da Igreja Católica
por meio dos franciscanos em desqualificar estas devoções, o cemitério e seus túmulos de milagreiros pervertem esta
ordem e fazem destes locais um abrigo seguro para demonstrar sua religiosidade e por conseqüência seus agradeci-
mentos pelos pedidos atendidos. No túmulo de Sebinca, além de poucas velas, muitos cigarros, baralhos, perfumes,
brincos, colares, bebidas e batons (onde os devotos escrevem com eles seus pedidos no túmulo). A cigana Sebinca
que sofria os mesmos preconceitos que ainda sofrem os ciganos, hoje opera milagres e possui respeito da sociedade
onde está enterrada.

Luciana Aparecida de Souza Mendes - UFMS


As folias de Reis em Três Lagoas-MS: circularidade religiosa
A presente comunicação tem por objetivo refletir a respeito da Festa de Santos Reis na cidade de Três Lagoas, que se
inicia anualmente no dia vinte e quatro de dezembro com término em seis de janeiro. A partir do panorama dado pela
discussão em torno do religioso e do sagrado, pontuaremos a forma como as Folias de Reis atuam na cidade, e como
seus devotos vivenciam esta experiência. É importante ainda apontar os trânsitos religiosos que ocorrem na festa na
referida cidade, pois mesmo que os devotos dos Reis Magos definam-se unanimemente como católicos, é possível
observar como transitam por outros grupos religiosos como o espiritismo e a umbanda.

Lemuel Rodrigues da Silva - UERN


Religião e migração nos sertões do Nordeste: Um estudo de caso sobre o Arraial do Caldeirão do Beato Zé
Lourenço
A região sul do Ceará caracterizou-se nos anos de 1930 pela concentração de romeiros oriundos de várias partes do
Nordeste numa comunidade conhecida como Arraial do Caldeirão na cidade do Crato. O indício da forte presença de
famílias potiguares no arraial nos levou a realizar estudos sobre o mesmo numa perspectiva de verificar a religião
como fator dessa migração. O trabalho partiu num primeiro momento da análise de autores como QUEIRÓZ (2003),
FACÓ (1988) e LOPES(1991), dentre outros; posteriormente seguiu-se a pesquisa de campo com coleta de dados
juntos as dioceses do Crato/Ce e Mossoró/Rn, além de jornais, revistas e entrevistas com remanescentes. Os resulta-
dos dos estudos até então realizados não só comprovam a presença de famílias do oeste potiguar no arraial como
apontal\l à religião como um fator essencial dessa migração, contrariando a bibliografia existente. Além desses resul-
tados preliminares constatamos também uma forte reação da diocese de Mossoró que incitava a população contra os
"falsos' profetas que percorriam a região pregando o evangelho. Outro aspecto que chamava a atenção no arraial era
a união e a solidariedade entre as famílias, sustentadas na religiosidade e crença na possibilidade da construção de
um paraíso cristão

Ordália Cristina Gonçalves Araújo - UEG


Passagens: aspectos identitários da religiosidade vivenciada em Goiás no início do século XX
Pretendemos abordar a religiosidade praticada em Goiás a partir da obra autobiográfica de D. Eduardo Duarte Costa,
bispo de Goiás no início do século XX. Esta obra nos permite visualizar vários tipos de religiosidades: de um lado
temos uma religiosidade sistematizada propagada pelos líderes católicos e protestantes; do outro, temos uma prática
@
72
religiosa definida pela sociologia weberiana como religiosidade mágica. Durante as viagens em que entravam em
contato com a cultura local, o bispo produziu diversos registros sobre a relação dos goianos com o sagrado. Algumas
vezes, esses registros estavam em consonância com os discursos negativos produzidos pelos representantes protes-
tantes sobre a mesma região. Desta maneira, tanto o catolicismo quanto o protestantismo, disputavam praticamente o
mesmo espaço religioso. Portanto, apresentar aspectos dessas religiosidades bem como os sentidos e significados
produzidos nos representantes do cristianismo em suas práticas convergentes e divergentes constitui-se no nosso ~
objetivo básico. ª
.~

c:::
Silveli Maria de Toledo Russo .. USP ~
Celebrações domésticas: oratórios constituídos em altares de missa na São Paulo setecentista ~
O trabalho que pretendo apresentar insere-se numa pesquisa de âmbito maior, que caracteriza um conjunto de infor- iil
mações de valor histórico, artístico e religioso sobre oratórios produzidos no Brasil nos séculos XVIII e XIX, e que hoje ~
compõem acervos oficiais do estado de São Paulo. Para esta comunicação, não obstante às considerações sobre asª,
especificidades arquitetõnicas e artísticas dessa produção, tenho por objetivo ater-me ao dinamismo inerente a trajetó- ~
ria desses objetos como pólo de orientação para a liturgia católica doméstica, no Bispado de São Paulo no século ",'
XVIII. Atenção especial é dedicada aos oratórios domésticos constituídos em altares de missa, compreendendo as .• ~
disposições respeitantes aos usos dos mesmos, emanadas pelas autoridades eclesiásticas, sob o regime de padroado ~
régio. Utilizo como base documental para esta análise registros levantados nos arquivos históricos, oficiais e eclesiás- ex::

573
ticos, de providências de ordem burocrática e determinações de ordem canônica necessárias á autorização de cele-
brações eucarísticas no recinto das habitações, levando a interpretar que houve um grande cuidado por parte da Igreja
e da Coroa portuguesa no sentido de moralizar e normatizar tais cerimônias na supracitada conjuntura.

Iracema Andrade de Alencar Rosas - PEM/UFRJ


Para além do texto: as representações da fé nos "Beatos"
O uso da iconografia nos estudos históricos é um instigante desafio para os pesquisadores. Nos trabalhos atuais, a
imagem saiu do lugar complementar do texto para ocupar um espaço de protagonista. É cada vez maior o número de
análises do uso social da imagem, identificando as múltiplas representações que os indivíduos fazem de si e dos
outros. Nesta perspectiva, a imagem se torna objeto constituinte de uma rede simbólica permeada de elementos
identitários. Com este olhar, além de ampliarmos as questões teóricas concernentes á aplicação da imagem no campo
historiográfico, analisaremos o corpus imagético da obra Comentario ai Apocalipsis, de Beato de Liébana, produzido a
partir da tradição de suas cópias. Priorizaremos dois aspectos importantes: o primeiro deles é a dinâmica das repre-
sentações do fim do mundo na península Ibérica através dos séculos VIII ao XIII; o segundo é a influência, a partir do
século XIII, da visão trinitária do mundo na construção da identidade religiosa.

I 19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h ás 16h30min) I


Marco Antonio Neves Soares - UEL
A construção de identidades no exílio: alemães de origem judaica e o judaísmo possível no Norte do Paraná
(1932-2002)
Entre 1932 e 1941, centenas de alemães de origem judaica estabeleceram no Norte do Paraná, na e em torno á Gleba
Roland, fugindo das políticas de exceção do regime nazista. Membros da burguesia alemã, deixaram na Europa seus
oficios - políticos, advogados, médicos, artistas - e passaram a dedicar-se á agricultura. Ligados muito mais aos
valores da cultura alemã, não se organizaram em termos comunais religiosos, restando apenas os vestigios de uma
identidade judaica, sobretudo nos nomes familiares e nas atitudes ante a morte. Este trabalho busca apresentar e
discutir os elementos teórico-metodológicos necessários para a constituição de um campo da história que objetive os
estudos das formas religiosas que o judaísmo pode assumir longe da vida comunal organizada. Para isso faz esforços
multidisciplinares, recorrendo, sobretudo, aos instrumentais antropológicos e filosóficos que permitem problematizar e
relacionar cultura material (arquitetura tumular e material bibliográfico), tradição oral, obras memorialísticas e dados
censitários.

Cristine Fortes Lia - UCS


Imigrantes judeus no Rio Grande do Sul: identidade & relígiosidade
Durante a Era Vargas, determinados grupos de imigrantes foram considerados indesejáveis ás necessidades imigrató-
rias do país. O grupo judaico passou a ser visto como inassimilável, pois, além de não se dedicarem á agricultura,
professavam uma religião considerada não legitima. A propaganda contra a imigração desses indivíduos destacava os
riscos de 'poluir' a religiosidade brasileira com a fé propagada pelos considerados 'deicidas'. Diante disso, a comuni-
dade judaica, que se estabeleceu no Rio Grande do Sul no período, precisou ser capaz de negociar a manutenção de
sua identidade étnica, demonstrando o caráter positivo de sua cultura e religião. Para garantir flexibilidade da política
de quotas e a permanência no sul do Brasil os imigrantes judeus deram visibilidade as suas atividades culturais,
buscando evidenciar que eram 'bons cidadãos', engajados nas questões nacionais. Essa engajamento promovia uma
equivocada idéia de fragilização da identidade religiosa dos imigrantes judeus. Mas, dentro da comunidade judaica a fé
no judaísmo se intensificava, pois era o elo de solidariedade entre os membros da mesma, promovendo um aumento
da devoção religiosa entre os indivíduos que chegavam em terras brasileiras.

Valdir Pimenta dos Santos Junior - UEL e Marco Antonio Neves Soares
História, Memória e Ressentimento: as narrativas do casal Maier
O trabalho intitula-se História, Memória e Ressentimento: as narrativas do casal Maier. A partir das obras memorialís-
ticas de Max Hermann Maier e Mathilde Maier, ambos descendentes judaicos e imigrados no Brasil no ano de 1938 á
cidade de Rolândia-PR após os episódios que culminam com a Noite dos Cristais na Alemanha, pretende-se explorar
a idéia de Ressentimento possivelmente explícita em suas narrativas, uma espécie de História do Sofrimento. Ligado
a esta perspectiva os esforços concentram-se em discussões e abordagens multidisciplinares para estabelecer um
campo mais amplo de reflexão. O Ressentimento surge como uma manifestação, embora sempre percebido e carac-
terizado diferentemente através dos tempos, intimamente relacionado a questões políticas e sociais, a uma reação de
grupos frente a manifestação hostil em suas relações interétnicas, acarretando inclusíve em manifestações contrárias
ao próprio grupo de pertença, o sentimento de auto-ódio possivelmente percebido em diferentes narrativas, o chamado
humor melancólico judaico, visível em Kafka ou Clarice Lispector. As questões se multiplicam ao passo que evolui a

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investigação, e parte deste trabalho investigar aspectos mais sensiveis nas relações de intolerância, sofrimento, religi-
osidades e identidades,

Marcos Ursi Corrêa de Castilho - UEL e Marco Antônio Neves Soares


Fugir da morte: a finitude como paradigma identitário dos refugiados da Shoah em Rolândia·PR
A década de 1930 foi de intensa na imigração de judeus para o Brasil, em especial os originários dos países sob o
dominio do partido nacional-socialista alemão, Há um elemento fundamental a ser considerado em relação a estes
refugiados do horror totalitário e eugênico alemão, a presença central que a experiência da morte, da violência e da
desumanização sofrida tem sobre a identidade judaica que estes grupos desenvolveram, O presente trabalho, fruto
das pesquisas desenvolvidas para composição de dissertação de mestrado, busca exatamente refletir sobre esta
questão a partir da obra de Elias Canetti 'Massa e Poder' e do caso da imigração judaico-alemã para a cidade de
Rolândia no Paraná.

Lívía Harfuch - UEL e Marco Antonio Neves Soares


Sepulturas de israelitas em cemitérios não judaicos na cidade de Rolãndia·PR - Uma análise da cultura material
No final da década de 30 do século XX, chegaram a Rolândia muitos refugiados do regime nazista, entre eles judeus
e pessoas de origem judaica, mesmo que convertidas ao cristianismo. Embora houvesse um número significativo de
judeus na região, nunca chegaram a constituir uma comunidade judaica. No entanto, na hora da morte apresentam sua
identidade nos túmulos e lápides que são construídos e arquitetados com vestígios da tradição judaica. Neste sentido
este projeto tem por objetivo analisar a cultura material - túmulos e material bibliográfico - relacionando-a com a
identidade dos imigrantes judeus de origem alemã instalados em Rolândia-PR, a fim de estabelecer ilações com a
etnicidade e a religiosidade. Para tal, um dos procedimentos aplicados é o trabalho de campo realizado nos dois
cemitérios da cidade de Rolândia, o São Raphael e o cemitério Municipal com a finalidade de inventariar a arquitetura
tumular e compará-Ia com registros cartoriais. Esta comunicação tem como objetivo discutir a pertinência da análise da
cultura material para a pesquisa histórica, apresentar as fundamentações do trabalho de campo, e ressaltar a impor-
tância do trabalho de higienização e restauro do material bibliográfico, trazido pelos imigrantes.

I 20/07 - Sexta-feira - Manhã (10h30min às 12h30min) I


Maria Augusta de Castilho· UCDB
História, memória e identidade dos 50 anos do Bispado em Campo Grande· MS
A presente pesquisa tem como papel principal resgatar a história eclesiástica na territorialidade de Campo Grande,
reconhecendo as formas sociais, as estruturas econômicas, os sistemas de representações sociais construídos com a
igreja, com enfoque na realidade e linguagens simbólicas, repletas de significados da doutrina católica, sinalizando
uma Igreja como força institucional de sua prática espiritual, seu planejamento e práticas intervencionistas enquanto
diocese representante do episcopado brasileiro. A Igreja Católica deve ser reconhecida como um elemento de produ-
ção do espaço, bem como o sustentáculo de construções de idéias de uma sociedade, suas formas de organização, e
autoridade (religiosa), com suas crenças, valores e símbolos. Percebe-se por meio de um olhar sobre a cidade, um elo
de ligação entre a religião católica e a gênese da urbanização (como é o caso de Campo Grande em sua fase inicial de
formação espacial) no dimensionamento da história eclesiástica da diocese. A urbanização constitui uma mudança na
@
72
maneira pela qual os homens vivem em sociedade, o que pode afetar vigorosamente a forma de entenderem o signi-
ficado da vida. O estudo terá como dinâmica a pesquisa arquivística e bibliográfica.

Célío Marcos Pedraça· UFMT


Arquidiocese de Cuiabá e Estado Novo: aliança consolidada e díscurso alínhado
O presente estudo tem por objetivo fazer uma análise das relações entre a Arquídiocese de Cuiabá e o Estado Novo .gJ
entre os anos de 1937 a 1945. Durante esse período estava a frente da Arquidiocese de Cuiabá o arcebispo Dom .g;
Francisco de Aquino Corrêa, figura católica de grande expressão durante os anos Vargas. Entre outros aspectos, Dom .~
Aquino que dirigiu a Arquidiocese de Cuiabá até o ano de 1956, ano de sua morte, durante a vigência do Estado Novo :E
foi apontado por muitos, como o grande orador das solenidades oficiais promovidas pelo Governo Federal. Sendo ~
assim, as análises aqui elaboradas serão no sentido de promover uma discussão referente a postura de Dom Aquino, .g
e por consequência, seu episcopado, no que diz respeito a algumas politicas implementadas pelo Estado Novo no ~
período mencionado. :~
a;
Caroline Jaques Cubas· UFSC ~_
Encantos e desencantos de um sonho de libertação: a vida religiosa pós Concílio Vaticano 11 !S?
A partir de uma troca epistolar mantida ao longo do ano de 1989 entre uma aspirante da Congregação das Irmãzinhas ~
da Imaculada Conceição, em SC e de um noviço Capuchinho, na Bahia, nos propomos a discutir com foram interpre- cc

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tadas e implementadas as resoluções Conciliares e como as mesmas engendraram uma série de modificações (de
sentidos e práticas) no cotidiano daqueles que se dedicavam à vida institucionalmente consagrada a religião. Para
tanto, os documentos conciliares serão contrapostos a depoimentos e relatórios institucionais, os quais possibilitam-
nos pensar acerca de incoerências e dificuldades as quais eram vividas pelos religiosos em formação. Além disso, a
presença marcante da teologia da libertação, aliada as peculiaridades das congregações as quais nossos persona-
gens estavam ligados compõe aquilo que chamamos territórios formativos, os quais serão problematizados ao longo
desta comunicação.

Marcia Maria Pereira - UFGD


A Igreja Católica em Maringá PR: uma atuação significativa
O trabalho aqui apresentado é resultado de uma pesquisa de mestrado em fase de defesa, derivada da análise de
acervos e leituras de cunho sagrado e profano, que procura o entendimento de como se deu a presença e atuação da
Igreja Católica em Maringá no Estado do Paraná. Este estudo analisa a atuação da instituição no local, desde o
período de implantação e fundação da cidade, que se deu em 1947, e se estende até a década de 1980, analisando
como a instituição e seus membros procuraram se consolidar no local e como essa presença foi aceita e incorporada
na sociedade que ali se iniciava, sociedade essa caracterizada por uma heterogeneidade cultural, derivada da intensa
imigração de colonos, naturais de diversas partes do Brasil e do mundo. A pesquisa destaca as necessidades e
problemas que a Igreja Católica enfrentava no período e também os interesses da empresa responsável pela 'coloni-
zação' do município.

Vivian Staroski - UFSC


Casamento e Abjuração: tensões entre católicos e protestantes no Alto Vale do ltajaí em Santa Catarina (1940-
1950)
Em 1953, na paróquia de Salto Grande (atual Ituporanga), a protestante Teonilda Truppel, então com 16 anos, foi
levada a assinar um termo de abjuração para ser aceita na igreja católica e poder casar com um membro da referida
igreja. A abjuração de Teonilda não foi um caso isolado, excepcional. Casos como esse, eram comuns na Paróquia de
Salto Grande, onde católicos e protestantes, alemães e brasileiros, passaram a conviver por força da colonização
européia da região. O casamento entre membros das duas igrejas era proibido, e a união só era aceita e reconhecida
se um dos noivos abandonasse a sua igreja e ingressasse na do outro. Esta pesquisa busca analisar as tensões
religiosas entre católicos e luteranos no Alto Vale do Itajai (região de colonização européia em Santa Catarina) entre as
décadas de 1940 e 1950. Neste período as duas instituições se consolidavam na região, com construção de capelas e
locais para os cultos e, ao mesmo tempo, procuravam demarcar seus espaços, ressaltar suas diferenças e fortalecer
suas identidades e tradições.

Simone Aparecida Rengel - UFSC


A Formação do Movimento Circulista em Santa Catarina na Década de 1930
Este artiigo analisa a a formação dos Círculos Operários e a atuação da Igreja Católica no mundo do trabalho em Santa
Catarina, especificamente nas cidades de Florianópolis e Joinville, a partir da segunda metade da década de 1930.
Fundado sob a liderança de Leopoldo Brentano em 1932 no Rio Grande do Sul, o movimento circulista baseava-se nas
encíclicas Rerum Novarum e Quadragesimo Anno, em que a Igreja via a necessidade de retomar seu espaço junto aos
trabalhadores e discutia a questão social, propondo a 'harmonia' entre as classes, o corporativismo e o combate ao
liberalismo e o comunismo.

I 20107 - Sexta-feira - Tarde (14h às 18h)


Eduardo Guilherme de Moura Paegle - UFSC
A memória política e eclesiástica de Paulo Stuart Wright
A presente comunicação tem como objetivo discutir a memória política e eclesiástica de Paulo Stuart Wright. O referido
esboço biográfico de Paulo Stuart Wright, permite realizarmos um debate acadêmico envolvendo a sua fé religiosa
(presbiteriana) e a sua fé política (socialismo), sendo bastante incomum essa associação no campo evangélico nas
décadas de 1950, 1960 e 1970.

Jadir Gonçalves Rodrigues - UEG


IURD (Igreja Universal do Reino de Deus): carisma, riqueza e poder
Esta comunicação tem por objetivo discutir as categorias de carisma, riqueza e poder enquanto elementos presentes
no discurso mágico-religioso da Igreja Universal do Reino de Deus. As práticas religiosas e o conjunto doutrinário desta
instituição baseiam-se na utilização de uma retórica que se propõe a articular ritos e rituais específicos dos cultos afro-
brasileiros e da Igreja católica. Deste modo, a inversão do discurso religioso elaborado pelos dirigentes 'iurdianos'

576
apresenta uma forte penetração entre as classes populares, consubstanciando-se em um dos fatores que explicitam o
êxito desta igreja.

Marco Aurélio Monteiro Pereira - UEPG


A "Imprensa Evangélica" e a formação da identidade religiosa presbiteriana no Brasil do Século XIX
O trabalho apresenta uma proposta de pesquisa sobre a formação da identidade religiosa evangélica, especificamente
presbiteriana, no Brasil, nos primórdios de sua presença em terras nacionais, na segunda metade do século XIX.
Fundamenta-se na análise do primeiro veículo impresso de divulgação evangélica e presbiteriana no Brasil, o jornal
'Imprensa Evangélica', fundado por Ashbel Green Simonton em 1864. A 'Imprensa Evangélica' constrói, em seus
artigos, não apenas a proposta missionária e evangelística protestante presbiteriana, mas também uma nova proposta
de concepções e práticas religiosas num Brasil que, mesmo inserido na tradição católica, está, no Segundo Império,
em processo de abertura para a modernidade capitalista. Esta proposta, que configura uma nova territorialidade religi-
osa, se articula, não apenas no contraponto à religiosidade católica e afro-brasileira, mas também na propositividade
de um novo conjunto de formas, conceitos e práticas religiosas que configurariam parte do que hoje é o campo evan-
gélico histórico, mais especificamente o campo reformado, expresso na Igreja Presbiteriana do Brasil e, posteriormen-
te, na sua mais importante dissidência, a Igreja Presbiteriana Independente do Brasil.

Claudia Neves da Silva - UEL


Caridade: manifestação religiosa ou instrumento de controle social?
A idéia e a ação de ajuda aos excluídos dos bens materiais da sociedade promovida por uma instituição religiosa já
vem de longa data. Se voltar a atenção para a Igreja Católica, verifica-se que desde o início da expansão de seu papel
social na Europa (século IV), a caridade foi pregada como valor a ser cultivado para quem desejava a salvação eterna.
Por outro lado, essa expansão possibilitou à Igreja seu fortalecimento político, com a ingerência em assuntos antes
restritos aos funcionários do Império Romano, no caso em questão, a assístência material aos pobres dos centros
urbanos. Neste contexto, a caridade serviu como um instrumento para aliviar as tensões sociais nas cidades, contribu-
indo para manter uma aparente paz social. E hoje, quais as motivações materiais e espirituais para a prática da
caridade? Quais as conseqüências deste ato para quem o pratica e para a população carente?lndagações cujas
respostas procuramos tanto em entrevistas com padres e pastores, considerados agentes sociais privilegiados no
exercicio da caridade, como nos documentos Uornais, folders, livros e outros) das igrejas que incentivam tal prática.

Celia Santana Silva - UEFS


Buscando Pertencer: Identidade Feminina no Contexto Pentecostal de Assembléia de Deus
Esse texto propõe-se a discutir Identidade como construção processual feita através das relações específicas que os
grupos estabelecem em sua história. Assim sendo, é a partir da negociação, aceitabilidade, disputas e conflitos que se
constroem a identidade. A pesquisa realizada em duas denominações pentecostais da Assembléia de Deus em Recife-
Pe, fornece pistas acerca dos caminhos trilhados pelas mulheres pentecostais no seu processo de construção identi-
tária que em suas relações históricas criam signos e significados de pertencimento. A identidade nesse contexto
projeta-se enquanto uma constante, permeada de valores culturais e por isso, dotada de sentido histórico, capaz de
revelar aspectos de sociedade e grupos sociais específicos, sendo pertinente sua utilização para a investigação histó-
rica. No caso especifico dessa pesquisa, onde foi utilizada, com fonte de pesquisa entrevistas, leitura do material ~2
publicado pela denominação em estudo, e visitações aos templos, percebe-se que a Identidade esta intimamente
relacionada à religiosidade.
\!.!:J

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73. Religiosidades e narrativas: entre o sagrado e o profano
Artur Cesar Isaia (UFSC) e Maria Clara Tornaz Machado (UFU)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h às 18h)

Geraldo Pieroni - UTP


Entre o sagrado e o profano: a confissão sacramental e os padres libidinosos banidos para o Brasil
Estudo dos processos inquisitoriais referentes ao crime de Solicitatio, isto é, delitos cometidos pelos padres que duran-
te a confissão sacramental, solicitavam os penitentes que participassem de 'atos libidinosos torpes e desonestos".
Privilegiaremos os confessores 'solicitadores' que tiveram suas penas culminadas com o degredo para o Brasil (sécu-
los XVII e XVIII). Este trabalho permite enxergar matizes da cultura e representações referentes ao discurso comporta-
mental sócio-religioso dos portugueses que vieram degredados para o Brasil. As abordagens das fontes primàrias
(manuais de confissões e processos inquisitoriais) serão analisados sob a ótica da circularidade dos discursos, entre o
sagrado e o profano, e suas diversidades na construção da cultura religiosa portuguesa e brasileira.

Mauro Dillmann Tavares· UNISINOS


Reformando a vivência da fé, alterando a sensibilidade religiosa: irmandades e um Bispo ultramontano em
Porto Alegre (século XIX)
Dom Sebastião Dias Laranjeira foi o Bispo que se empenhou na consolidação da religiosidade católica ultramontana
na Província do Rio Grande do Sul, especialmente na Porto Alegre das últimas décadas do século XIX, e visou a alterar
as manifestações de devoção existentes, por não condizerem com o desejado 'espirito religioso' ultramontano. A
vivência religiosa da população, organizada em irmandades leigas, foi considerada profana e imoral pela Igreja, a qual
procurou divulgar os sacramentos, constituir um Cabido, organizar o Seminàrio e aumentar o poder dos pàrocos
perante os fiéis irmanados. Estas medidas, entretanto, não estiveram orientadas para o confronto entre o catolicismo
reformador, representado pela Igreja, e o catolicismo tradicional, representado pelas irmandades, na medida em que
ambos apresentavam um fundo em comum - a religiosidade católica - que precisava ser avivada, mas sim, orientadas
para a renovação da sensibilidade religiosa.

Alexandre de Oliveira Karsburg • PUCRS


Sobre as ruínas da velha matriz: catolicismo e sociedade no tempo do progresso (Santa Maria· Rio Grande do
Sul 1885·1915)
Com a chegada da ferrovia em 1885, as autoridades públicas da cidade de Santa Maria (interior do Rio Grande do Sul)
iniciaram uma transformação da vivência religiosa de sua população. Hàbitos identificados ao passado deveriam ser
modificados, e ao demolirem a velha matriz estavam apagando os vestígios do catolicismo luso-brasileiro. Quando
uma congregação de padres europeus chegou à cidade, em 1896, houve uma aproximação entre a sociedade e o
catolicismo ultramontano visando reformar a religião católica, no entanto, vàrios conflitos surgiram entre as partes.

Maria Clara Tomaz Machado - Universidade Federal de Uberlândia


Ainda se benze em Minas Gerais
No limiar do século XXI a benzeção e o curandeirismo ainda são práticas religiosas populares, em plena vigência,
mesmo que resignificadas. É o que tem sido constatado no 'Inventàrio das Práticas Culturais Populares em Minas
Gerais', resultado de pesquisa multidisciplinar realizada na UFU. Ao penetrar no território das doenças religiosas e, por
conseqüência, da 'medicina rústica", desvela-se um mundo de magia, cujos códigos de linguagem e rituais simbólicos
permitem o contato entre o material e o espiritual. O conhecimento divinatório navega em um campo eminentemente
propiciatório, cuja sabedoria é parte de uma tradição secular que migra do espaço rural para o urbano. Nele, os dons
de curar são astúcias que permeiam as pràticas culturais de grande parte de sujeitos sociais que, contra as próprias
limitações que cercam sua luta pela sobrevivência, recorrem a este lugar utópico, ao mesmo tempo palpàvel e real.

Maria da Conceição Amaral Miranda de Carvalho


De bexiguenta a Mártir: a trajetória de uma narrativa sacralizante
Essa pesquisa, amparada nas proposições da História Cultural, objetiva entender as relações estabelecidas entre os
araxaenses e os símbolos mortuàrios (túmulo e cruz) da última vítima de uma epidemia de varíola (bexiga-preta) que
se abateu sobre Araxá, Estado de Minas Gerais, nos últimos anos de século XIX, e como essas relações se estende-
ram até convergir no crescente número de peregrinos que buscam amparo espiritual na Capela da 'Màrtir Filomena'.
O recorte historiográfico para entendimento das questões que envolvem essa 'canonização popular" possibilitou com-
preender como a tradição popular de uma cidade interiorana, ancorada em simbolismos religiosos, teceu, à margem
das instituições públicas, religiosas e privadas, um processo narrativo que se consubstanciou na sacralização de uma
mulher cujo único dado biográfico conhecido é o primeiro nome, Filomena, que teria sido supliciada até a morte e

578
enterr~da fora do campo santo, no alto de uma colina, no meio do 'pasto', como 'simpatia' para pôr termo á epidemia ~73
de vanola. \!..:!J
Isaque Pereira de Carvalho Neto - UniOf
Os Espelhos de Vieira: Mito, História e Simbolismo nas Origens do Brasil Q.)

A intenção deste trabalho é empreender uma deambulação pelo pensamento de Antônio Vieira, destacando alguns .g
aspectos de sua mundividência, o que conduzirá á imagem/metáfora barroca dos espelhos convergentes fanzendo da ~
atividade missionário e do Brasil, símbolos e reflexos especulares da liberdade (como plenificação do Espírito) e da ~
consumação da História no Quinto Império, para, a partir daí, captar a concepção vieirina sobre o movimento histórico ~
em sua dinâmica com a revelação/inspiração do Espírito. Resulta desta proposta de leitura uma oportunidade para se E
perceber o nascimento de um esboço de uma Filosofia da História repleta de elementos simbólicos que pode contribuir :
para a superação de uma suposta cisão entre Mito e História ou entre o sagrado e o profano, na qual o Brasil é ~
investido de suma importância na medida em que, no discurso do jesuíta luso-brasileiro, confirmava no tempo o .~
anúncio do Eterno proferido pelos seus mediadores, isto é, os profetas da tradição judaico-cristã. Vieira entendia que ê
o Brasil havia conjugado em sua formação estas duas dimensões, sendo por isso possível concebê-lo como um
='"
espelho convergente integrador de realidades complementares e, por isso, como um símbolo. Q.)

cc
=
Suely Creusa Cordeiro de Almeida - UFRPE .~
A Experiência Religiosa Feminina numa Sociedade Mestiça ~
A experiência do sagrado nas colônias portuguesas seguiu um processo que nos remete as vivências de uma religião n::
calcada nos moldes europeus, mas miscigenada com as formas de culto e tradiçôes incorporadas pelos indígenas e
africanos. A mística feminina experimentada na colônia portuguesa da América, mais especificamente ao norte do
Brasil, nos remete a noção de que elementos inconciliáveis encontraram-se, estabeleceram relações inclusive de
força, o que levou a promoção de uma recriação e uma reinterpretarão dos códigos religiosos, promovendo um novo
cristianismo que qualificamos como brasílico. Foram mulheres andarilhas, que esmolaram pelo sertão, que se enclau-
suraram em casa para viver uma vida de santidade, ou que ousaram sonhar com a ereção de casas religiosas lutando
efetivamente para isso, enfrentando os poderes instituídos. Nossa perspectiva nessa comunicação é abordando histó-
rias pontuais demonstrar que as vias de fuga, implementadas para buscar uma conformação entre o que chamamos de
realidade e o sonho, pode encontrar um ponto interseção na formação de práticas e instituições. Tudo será adaptado e
resignificado na colônia: religião, instituições e formas de viver e de pensar.

Carlos Wellington Martins de Melo


"Chaga perniciosa que vae corroendo nosso organismo social e religioso": educação e exercício da profis-
são docente nos escritos pastorais de O. Silvério Gomes Pimenta
Aspecto relevante no processo de reforma romanizadora do catolicismo no Brasil, empreendido a partir da segunda
metade do século XIX, a formação de uma elite eclesiástica, identificada com a perspectiva ultramontana, assume
singular importância no quadro de afirmação do catolicismo como única e verdadeira religião da nação brasileira. Aos
bispos e arcebispos caberiam, em seus territórios eclesiásticos, defender a fé, combatendo as falsas religiões, a
imoralidade e a apostasia (dadas as seduções do 'mundo moderno'), não admitindo, também, a completa laicização
da sociedade por meio da ação do Estado. Frente a tais desafios, a formação de 'bons e verdadeiros católicos', aptos
a defenderem, sob a tutela e direção do episcopado, a manutenção dos vínculos entre nação e catolicismo, dá á
educação lugar de destaque na perspectica romanizadora e ultramontana que se delineia, particularmente, entre o
Segundo Reinado e as primeiras décadas republicanas. A trajetória de D. Silvério Gomes Pimenta no governo da
diocese e, posteriormente, arquidiocese de Mariana, Minas Gerais (1877-1922), dá-se nesse quadro. Nessa comuni-
cação, nos dedicaremos ao estudo de tal trajetória tendo como referência o seu olhar sobre a educação e a atenção
dada ao exerci cio da profissão docente.

I 17/07 - Terça-feira - Tarde (14h ás 18h)


Luiz Carlos Luz Marques - UNICAPE
Operadores sociais do sagrado, direitos e deveres civis
Busca-se discutir, enquanto fenômeno de longa duração, as raízes da pretensão dos "operadores sociais do sagrado'
(bruxos, adivinhos, magos, xamãs, sacerdotes) e seus assemelhados (homens e mulheres que se consagram a um
particular caminho de "santidade', entre os tantos que as mais diversas religiões institucionalizadas vêm oferecendo ao
longo da história), de serem portadores de prerrogativas e merecedores de privilégios que os distingam dos comuns
mortais e os preservem, imunizando-os das vicissitudes destes, para que possam melhor dedicar-se ás 'coisas do
alto'. Quem, no mundo real, pode viver sem trabalhar ou exercer cargos por "direito divino' ou, tendo problemas de
comportamento e desvios de personalidade, pretender que seus erros sejam abafados e lhe seja garantida a imunida-

579
de diante da lei dos homens? Pois os operadores do sagrado e seus assemelhados tantas vezes pretenderam e
continuam pretendendo. Talvez reconstruindo a história das relações promiscuas das religiões institucionalizadas com
o poder e o fenômeno social do 'privilégio-imunidade', buscando-lhe raizes e processos, seja possivel repropor uma
dimensão 'cidadã' para as religiões mesmo no século XXI, comprometendo-as com a construção de uma 'cidade dos
homens' digna deste nome.

Ana Paula Rezende Macedo


O Misticismo e Sua (Re) Significação: Um estudo atrvés das cantigas da Capoeira Angola
A partir da pesquisa realizada sobre as ladainhas da Capoeira Angola, adentramos no universo da religiosidade. Nesta
apresentação destacam-se os diversos elementos misticos presentes na capoeiragem, sejam santos da Igreja Católi-
ca, sejam divindades das religiões afro-brasileiras, alguns com caracteristicas peculiares. Dessa forma, evidenciare-
mos o universo do catolicismo popular no interior da Capoeira, construído a partir de uma transculturação e resignifica-
ção de símbolos. Muitas destas cantigas são compostas a partir de rezas e 'benzeções' que, quando visualizados,
muitas vezes com reconhecido fundamento, identificam o mandingueiro, o conhecedor das 'coisas ocultas'.
A circularidade entre a religiosidade afro e o catolicismo popular presentes nas ladainhas, além dos gestos, símbolos
que têm o místico como referência no ritual na Capoeira estão presentes neste estudo, onde destacam-se santos tais
como: São Bento, Santa Bárbara, São Cosme e São Damião, São Mateus, Santo Antônio Pequenino e sua cosmogo-
nia com os Orixás e a religiosidade afro, ressaltando: o mensageiro Exu e os Orixás, sobretudo, lemanjá, Ogun e
lansã.

Artur Cesar Isaia - UFSC


Franaciscanos de Umbanda em Porto Alegre
O trabalho tem como objetivo trazer para a discussão histórica as práticas e representações peculiares a uma comuni-
dade umbandista de Porto Alegre. A referida comunidade, existe desde os anos 1930 até os dias de hoje. Caracteriza-
se por sua inspiração explícita na Ordem Terceira Franciscana, por um rígido código de conduta entre seus membros,
além de um ritual totalmente próprio, denominado 'semiromba'.

Gerson Machado - Instituição: Fundação Cultural de Joinville/Museu Sambaqui


O Sagrado na terra do trabalho: memória e narrativas de experiências religiosas afro-brasileiras em JoinvillelSC
Na cidade de Joinville o trabalho apresenta-se como o valor fundamental que perpassa todas as relações, inclusive a
experiência com o sagrado, a qual deveria estar em consonância com os princípios da produção e do lucro. Entretanto,
em virtude da dinâmica que a cidade assume, principalmente a partir do boom industrial, ocorrido desde a década de
1960, irromperam no cenário urbano espaços outros que possibilitaram práticas e significados múltiplos, dissonantes
da harmonia compassada das narrativas oficiais e do ritmo monótono das empresas e do capital. Assim, vários perso-
nagens passam a dialogar com esse cenário incluindo na paisagem urbana, novas expressões, lugares, comporta-
mentos, vestimentas, etc. Dentre as várias manifestações temos as práticas religiosas afro-brasileiras, as quais possi-
bilitam aos seus adeptos experiências e valores profundamente distintos da identidade oficial da cidade. Destarte,
nossa pesquisa discute, a partir da coleta de depoimentos, as narrativas de dois membros do candomblé, suas trajetó-
rias religiosas e o significado construído por eles em torno dessa religião em diálogo com o espaço urbano. Dessas
narrativas evidenciam-se, sobretudo, zonas de tensionamentos, conflitos e acomodações, próprias de um espaço
moderno e fluído.

Mario Teixeira de Sá Junior - FAD


Malungos do Sertão: cotidianno e práticas mágicas de africanos e afro-descendentes nas monçoes sete-
centista
O presente trabalho pretende discutir como as práticas mágicas, feitiçarias e religiosidades contribuiram para que o
africano e afro-descende, escravo ou livre, pudessem suportar as adversidades da rota monçoeira de Araritaguaba á
Cuibá e como, através dessas práticas, esses homens puderam colocar-se como sujeitos nesse processo histórico.

Daniela de Oliveira - UFGO


Comunidade e Religiosidade: as visualidades sagradas e profanas do Vale do Amanhecer
Este trabalho, que é parte da minha dissertação de mestrado, tem como objetivo discutir o estudo das práticas cotidi-
ano-ritualísticas da comunidade religiosa Vale do Amanhecer (DF) e seu contexto sócio-cultural, a partir dos estudos
da Cultura Visual e da Performance. O estudo proposto enfatiza os componentes expressivos e estetizantes da ação
sócio-religiosa, associando os aspectos da formação dessa religiosidade sincrética ao desenvolvimento e a organiza-
ção dos seus espaços mágicos e das práticas corporais de seus adeptos, que transitam concomitantemente e cotidia-
namente entre o sagrado e o profano. Uma abordagem interdisciplinar possibilita constatar que as performances rituais
do Vale do Amanhecer, uma comunidade pautada pelo sagrado, com mais de quatro décadas de existência, configura

580
sua territorialidade marcada por uma exacerbação visual e dotada de uma forte plasticidade e comoção estética. Estas ~
características re-atualizam a história local, interpenetrando na vida cotidiana e reafirmando sua identidade e memória
coletivas, dentro e fora da comunidade, imbricadas as questões sócio-religiosas, econômicas, políticas e de gênero,
®
no contexto e na cena contemporânea.

André Luiz Caes - UEG ~


Em busca de Ananda: reflexões sobre o crescimento da devoção a Sathya Sai Baba no Brasil e no Ocidente 13,
Um número crescente de brasileiros e de ocidentais tem procurado nos ensinamentos de Sathya Sai Baba inspiração ~
para uma renovação da vida espiritual, sendo que, em muitos casos, passam a participar ativamente das atividades ~
devocionais e de serviço promovidas pelos centros e grupos sai existentes hoje em todo o brasil e em pelo menos 136 E
países. Neste trabalho, apresentamos algumas reflexões sobre o crescimento da devoção a Sai Baba a partir de três :
perspectivas: a de seus ensinamentos, a de entrevistas realizadas com alguns devotos brasileiros e a de impressões ~
colhidas pessoalmente em recente viagem à índia. .~
co
c:
André de Oliveira Pinheiro - UFSC
Revista Espiritual de Umbanda: um olhar sobre a produção de representações acerca da religião umbandista ~
'"
A Revista Espiritual de Umbanda é uma publicação da Editora Escala, de São Paulo (SP). Atualmente em sua 14" .{g
edição, a revista, dirigida ao público umbandista, tem periodicidade esporádica. 'i3
O objetivo deste trabalho é lançar um olhar sobre as representações da própria Umbanda produzidas pela revista. Para ~
isso, temos como ponto de partida as matérias publicadas, que, com suas abordagens, refletem a linha editorial da a:
publicação.

I 18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h)

Edison Minami - USP


Ecumenismo e casamento misto em São Paulo, SP (1958-1978)
A comunicação procura compreender o casamento misto e o ecumenismo na cidade de São Paulo, SP no período
compreendido entre os anos de 1958 até 1978. O casamento misto ocorre quando um dos cônjuges é cristão mas não
pertence à Igreja Católica. Para os protestantes, o equivalente seria o chamado casamento ecumênico, modelo mais
simplificado, onde basta que um dos conjuges pertença a mesma denominação religiosa (Iuterana ou metodista, por
exemplo) para que o casamento possa ser celebrado. O casamento misto serviria para boa parte dos fiéis como
apresentação formal ao ecumenismo, ao diálogo inter-religioso, além de colocar a questão da conversão para outra
denominação cristã ou mesmo para uma nova religião, como por exemplo o budismo, o hinduísmo, que conseguem
boa aceitação entre setores médios da sociedade brasileira. O tema remete a leituras sobre o ecumenismo, o relativis-
mo religioso, o papel da mulher nas Igrejas, podendo também servir de termômetro para a situação da família brasileira
no séc. XXI, que nas últimas décadas sofreu profundas transformações, assim como transformações no perfil religioso
do brasileiro, devido ao intenso movimento de conversão para novos movimentos religiosos de dentro ou de fora do
cristianismo.

Maria Lúcia de Souza Rangel Ricci - Centro Memória Unicamp (CMU)


Religiosidade, cultura e sociabilidade em algumas antigas igrejas e largos de Campinas (SP): Santa Cruz, São
Benedito e do Rosario
O presente estudo faz parte de uma ampla pesquisa que venho desenvolvendo há alguns anos sobre Bairros e Distri-
tos de Campinas (SP), abrangendo desde a análise do espaço urbano, meio ambiente, religiosidade, cultura popular,
à reconstituição da memória, formação da identidade, surgimento de movimentos sociais e/ou étnicos e os rituais
encontrados, considerando-se que a vida social é marcada por eles, onde a natureza dos mesmos é variada e estão
presentes no cotidiano transmitindo valores, conhecimentos e reproduzindo as relações sociais. À medida que uma
cidade apresenta muitas formas de se deixar ver e poder ser lida, encaminho ao XXIV Simpósio Nacional de História,
uma parte da análise já efetuada sobre religiosidade e suas distintas manifestações que marcaram a história, a cultura
e a sociabilidade dos moradores da cidade de Campinas de final do século XIX até meados do XX que, ao freqüenta-
rem as igrejas e os largos priorizados na pesquisa, com apresentações que variavam em sua forma cênica, motivaram
não apenas o crescer da religiosidade, bem assim a promoção de encontros sociais quebrando a rigidez dos costumes
principalmente de sua elite pouco aberta ao convívio com o espaço público.

581
Cairo Mohamad Ibrahim Katrib . UFU
Entre o Sagrado e o Profano: múltiplas narrativas em torno das festividades em louvor a Nossa Senhora do
Rosário
A presente reflexão tem por finalidade dialogar com a festa em louvor a Nossa Senhora do Rosário da cidade de
Catalão-GO, localizada na região sudeste do estado de Goiás, que acontece sempre na primeira semana de outubro,
numa área central da cidade, onde se localiza a igreja em devoção á Santa. Tal diálogo será pautado na perspectiva de
análise da manutenção do Sagrado e do Profano como interdependentes na dinãmica que movimenta a festa e os
seus diversos espaços, atribuindo estatuto ás vivências, experiências e forma de perceber e movimentar-se na/pela
festa pelos diferentes sujeitos que dela participam.

Larissa Oliveira Gabarra - PUC·RIO


Congado: religião e poder Minas Gerais século XIX
O objetivo deste trabalho é apresentar um caminho na contra mão dos estigmas preconceituosos e racistas construi-
dos a partir de uma idéia negativa para as pessoas de um determinado lugar. Um dado lugar social, onde o estigma de
ser 'macumbeiro', ou feiticeiro ultrapassa a questão religiosa e afeta o negro de forma geral. Esse negro recebe uma
marca de irracional e, portanto, sem conciência política. O cotidiano dessas pessoas ficam impregnado de olhares
desprestigiosos em relação a sua cultura, a sua sabedoria, a sua religião, a sua política. O estudo das relações de
poder entre os congadeiros, as irmandades do Rosário e a sociedade mais ampla em Minas Gerais no século XIX
mostra algumas das estratégias políticas dessa comunidade. Afirmando, assim, que esses negros foram sujeitos histó-
ricos, pois através dos instrumentos religiosos que conheciam fazem sua política.

Iara Toscano Correia· Centro de Educação Integrada do Vale do São Francisco


Permanências e resistências religiosas no sertão de Minas Gerais: interfaces entre as festas religiosas e a
SUDENE • Januária 1962/2006
Esta pesquisa propõe o estudo das culturas populares no Vale do Rio São Francisco, na margem direita deste rio, na
região Norte de Minas Gerais. Nosso interesse relaciona-se ás práticas e representações da religiosidade popular que
se expressam através de diferentes tipos de festas religiosas. Buscamos entender as transformações e (re)arranjos
operados na cultura dos povos que habitam essa região, analisando a tradição que as constituiu e as transformações
que se operaram a partir dos projetos de modernização implantados, pelo Estado brasileiro, a partir de 1950. Dentre as
políticas desenvolvimentistas aplicadas na região destacamos a criação da SUDENE - Superintendência para o De-
senvolvimento do Nordeste - em 1959. No momento em que essas terras passaram a ser alvo de interesse de políticas
'desenvolvimentistas', as populações tiveram que encontrar novas formas de viver. Para além dos dados econômicos
e estatísticos, que para nós constitui o contexto, cremos que a História Cultural de um lugar é capaz de tornar compre-
ensivel o processo de mudanças, os conflitos sociais vividos e as resistências/conformismos dai resultantes. Perceber
as mudanças operadas na religiosidade popular permite identificar os novos mecanismos que foram sendo criados, na
forma de crer das pessoas.

Wagner Cesar Rédua . UFU


Catira do São Gonçalo: Entre o profano e o sagrado, a permissão divina e a invenção dos homens
A festa de São Gonçalo, iniciada no Brasil sob influência portuguesa no início do século XVIII, se insere no quadro de
festa religiosa do catolicismo popular como parte dos vários aspectos do folclore brasileiro. As formas de expressões
desse ritual religioso se diversificam no ãmbito nacional manifestando-se especificamente e peculiarmente em cada
região, agregando os valores redutivos dessas culturas na representação da concepção divina. Rica de significados, a
função ou festa de São Gonçalo apresenta-se como fonte expressiva da produção cultural humana em suas inúmeras
performances, trazendo compreensão sobre enfoques específicos da cultura popular tão diversificada nos dias atuais
provenientes da dialética. A pesquisa em desenvolvimento tem a finalidade de ampliar a visão acerca desse folclore
popular religioso que se reproduz em suas práticas culturais revelando princípios a ela inerentes devido á fragmenta-
ção de parte do ritual primitivo como o catira, que ficava á margem do sagrado, como profano legítimo. Para isso
utilizamos como fontes de pesquisa, além de depoimentos dos devotos de São Gonçalo, jornais, fotografias, dados
estatísticos, filmes, entre outros.

Paulo Sérgio Moreira Da Silva· UFU


Identidade e Religiosidade: olhares sobre a Caretagem
Procurar-se-á analisar a folia da Caretagem num contexto cotidiano quanto as suas representações religiosas, cultu-
rais, econômicas e políticas existentes no interior da mesma. Analisar -se-á como a mesma se manifesta e se movimen-
ta com base na dinãmica das representações simbólicas, acompanhadas pelo pagamento de 'promessas' pelo uso da
máscara, em devoção a São João, pelas melodias e coreografias.

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Ricardo Neumann - UFSC ~
A Cultura Racional: apropriações e letramento
Cultura Racional' e o campo religioso brasileiro. Está relação é ambigua, uma vez que a "Cultura Racional' não se
®
mostra, nas fontes já consultadas, como uma religião. Contudo, a mesma parece estar impregnada da lógica que
preside as religiões formalmente constituídas e integrantes do campo religioso contemporâneo. A "Cultura Racional' a.õ
surgiu em 1935, quando o então médium de "Umbanda Branca', Manoel Jacintho Coelho, teria "recebido' o chamado .g
"Racional Superior' . Essa entidade suprema da "Cultura Racional' é quem ensinaria aos "estudantes' de onde vem o 13,
homem, para onde vai e o que ele é. Esses ensinamentos são obtidos através da Imunização Racional, que seria o ~
conhecimento que "libertaria' as pessoas, através da leitura da obra "Universo em Desencanto', obra imensa com mais ~
de 1000 volumes. A primeira sede da "Cultura Racional' foi no Rio de Janeiro- RJ, no bairro do Méier. Já em Belford E
Roxo-RJ, na década de setenta, a "Cultura Racional' atingiu o auge de sua popularidade, atraindo "estudantes' famo- :
sos, como por exemplo, Tim Maia. Atualmente a "Cultura Racional' tem sua sede em Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, ~
chamada de retiro racional. Após a morte do líder, em 1991, quem assumiu sua direção foi, Atna Jacintho Coelho, filha .~
do mesmo, que dirige o movimento até hoje. ~

I 19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h ás 16h30min)


Frank Antonio Mezzomo - FECILCAM
Proselitismo e intolerância religiosa nas igrejas neopentecostais
A segunda metade do século XX marcou uma grande reviravolta no campo religioso. O famigerado vislumbrar do novo
milênio com suas ameaças catastróficas, a mudança da era de peixes para a era de aquário conforme a astrologia, os
conflitos sócios-políticas-ideológicos intercontinentais travados pelos blocos norte-americano e soviético e o fluxo da
contracultura dos anos 60 pareciam delinear um momento de insegurança que se fazia sentir no campo epistemológi-
co ao decretar o fim das verdades estáveis e objetivas. Tendo presente esse cenário em transformação, convém
chamar atenção para um aspecto específico do campo religioso brasileiro que passou a ganhar notoriedade dado seu
crescimento quantitativo com suas implicações axiológicas e cognitivas. Está-se falando do neopentecostalismo. Afim
de demarcar o problema a ser explorado, busca-se fazer alguns apontamentos sobre as disputas travadas pela Igreja
Universal do Reino de Deus e a Igreja Internacional da Graça de Deus, apresentando os virulentos ataques ás religiões
afro-brasileiras e o espiritismo kardecista. Além das pesquisas bibliográficas efetuadas, priorizou-se a análise de dois
livros que guardam parte dos princípios doutrinários das respectivas religiões.

Lúcio Vânio Moraes - UNESC


Pentecostais, discursos "demonizantes" e Memória: O "outro" nas Representações Biblicas dos Fiéis da Igre-
ja Evangélica Assembléia de Deus de Maracajá- SC (1947)
A presente comunicação objetiva apresentar como se deu as representações bíblicas construidas por fiéis da IEAD,
após sua presença em uma localidade predominantemente católica nos anos de 1947 na cidade de Maracajá. Como
forma de justificar as resistências apresentadas por católicos como forma de não aceitar outra igreja na localidade,
percebeu-se na memória dos evangélicos, que representavam-se com os povos bíblicos do Antigo Testamento. Assim,
Moisés representava Jesus; Egito (representava o mundo, local de pecado e escravidão); Faraó representava o 'inimi-
go', que, no imaginário pentecostal seria o diabo.

Catarina Maria Costa dos Santos - Escola Tenente Rêgo Barros


Discursos, imagens e práticas dos batistas brasileiros na Amazônia
Este trabalho é sobre a presença dos batistas brasileiros na Amazônia nos anos de 1970 a 1980. O objetivo é analisar
esta presença a partir dos discursos, práticas e imagens que este grupo religioso difundiu sobre a região amazônica
através do principal veículo principal meio de divulgação institucional dos batistas. Na década de 70, os batistas se
expandiram no hinterland brasileiro. Motivados pela política de colonização da Amazônia, os batistas brasileiros trans-
feriram seu foco evangelizador para as cidades próximas às áreas de colonização. Engajados num projeto integrado
de missões e de evangelização, os missionários queriam chegar ás fronteiras mais distantes do território brasileiro. A
Rodovia Transamazônica, neste contexto, se tornou a principal rota dessa expansão. Seus discursos publicadas em O
Jornal Batista manifestam as percepções que eles tinham da Amazônia neste periodo e enfocam as práticas que
realizaram para realizar a conquista e ocupação das áreas de colonização.

Rangel de Oliveira Medeiros - UFGD


Discursos sobre Doença e Cura na Igreja Universal do Reino de Deus
O presente trabalho trata de analisar o fenômeno da "guerra espiritual' inserido no discurso e prática da Igreja Univer-
sal do Reino de Deus (lURD). bem como das argumentações utilizadas pela liderança da igreja em torno da temática

583
e de como a ação de 'espírítos malignos" pode afetar a vida de uma pessoa, além disso, analisamos também a oferta
de cura e resolução de problemas por parte da IURO a partir da perspectiva da guerra espiritual.

I 20107 - Sexta-feira - Manhã (10h30min às 12h30min) I


Elaine Cristina Maldonado - UNESP
Machado de Assis e o Espiritismo: uma análise dos elementos espíritas presentes em contos machadianos
Desde o inicio de sua trajetória no Brasil, a doutrina espírita recebeu a atenção de Machado de Assis que periodica-
mente incluía esse tema em suas crônicas, em seus contos e até mesmo em seus romances, como é o caso do
último deles, Esaú e Jacó, que possui vàrios personagens espíritas. Para esta comunicação, o objetivo é apresen-
tar os elementos da doutrina espírita presentes nos contos 'Uma Visita de Alcibíades", escrito em 1876, apenas um
ano depois de O Livro dos Espíritos ter sido publicado no Brasil, e também do conto 'A Segunda Vida"," A Cartoman-
te" e" O Alienista" publicados posteriormente, quando a doutrina jà estava institucionalizada. Mais que apenas
apresentà-Ios, o objetivo é discutir quais aspectos da doutrina eram inseridos pelo autor no enredo destes contos e
analisar em que momento encontrava-se a trajetória da doutrina quando os mesmos foram publicados. O presente
tema constitui parte de pesquisa de mestrado em andamento na Unesp, campus de Assis, sob orientação do Prof.
Or. Eduardo Basto de Albuquerque.

Raquel Marta da silva


O discurso da mineiridade no contexto espírita mineiro
Esta comunicação objetiva discutir como a União Espírita Mineira (UEM) - sediada em Belo Horizonte e que se consi-
dera liderança do movimento espírita no estado - trabalhou, ao longo da primeira metade do século XX, para construir
a representação de que Minas seria um importante 'Centro Irradiador da Luz Espírita". Aproveitando-se da presença do
médium Chico Xavier no estado, a UEM, por meio de seu jornal, lançou mão do discurso da mineiridade e, aproprian-
do-se deste discurso, ressignificou a idéia da suposta 'vocação religiosa" do povo mineiro, para afirmar que este
possuía 'vocação" para o espiritismo. É com o intuito de demonstrar a apropriação, ressignificação e construção desse
discurso por essa instituição, é que essa pesquisa que ora apresentamos se inscreve.

Raphael Alberto Ribeiro - UFU


Loucura e Espiritismo: atuação política e legitimação social
Toda história da loucura, (re)contada nas vastas obras sobre o tema hoje existentes têm algo em comum: a retirada dos
'anormais' das ruas, da convivência com o mundo são, com o propósito não apenas de isolar o irracional do racional,
mas de promover a sua cura. Esta preocupação com os personagens estranhos, os 'doidos' caricatos, feios e desajei-
tados que perambulavam por qualquer cidade dos fins do século XIX, alvo da caridade pública, não por mera coinci-
dência, na implantação da República brasileira, tornou-se objeto de investigação, e gerou medidas de controle tanto
por parte do Estado quanto da própria medicina. A loucura na cidade de Uberlândia passa a ser tratada, em 1942, por
uma instituição espírita. O intuito deste trabalho é investigar a atuação dos kardecistas junto aos portadores de trans-
tornos mentais, refletindo o seu campo de legitimação social associada à pràtica do assistencialismo.

Angélica Aparecida Silva de Almeida - UNICAMP


"Uma Fábrica de Loucos": Psiquiatria X Espiritismo no Brasil (1900-1950)
O objetivo foi investigar o processo de construção da representação da mediunidade enquanto loucura, definida como
'loucura espírita'. Houve um conflito entre dois grupos (psiquiatras e espíritas) com visões e abordagens diferentes
sobre a mente e a loucura, disputando um mesmo espaço no campo científico. Os médicos publicaram livros, teses e
artigos combatendo o Espiritismo. Os espíritas publicaram livros, escreveram artigos, produziram uma tese em medi-
cina e fundaram hospitais psiquiátricos espiritas. A resolução deste conflito se relaciona com o alcance de inserção e
de legitimação social pelos dois grupos, mas em campos diferentes. A Psiquiatria conquistou o seu espaço majoritari-
amente no meio médico-acadêmico, enquanto o Espiritismo se legitimou basicamente dentro do campo religioso.
Entretanto, as representações sobre a doença mental junto à sociedade brasileira apresentam influências dos dois
grupos. Esta disputa simbólica entre representações colaborou na constituição da Psiquiatria e do Espiritismo como os
entendemos hoje no Brasil.

584
20107 - Sexta-feira - Tarde (14hs ás 18hs)
@
Marta Rosa Borin - UNISINOS
A religião civil numa "batalha com Maria"
No Brasil, a popularização da devoção a Nossa Senhora Medianeira de Todas as Graças está relacionada à Revolução ~
de 1930 quando, á época, a população da cidade de Santa Maria, RS, não foi atingida pelos revoltosos. A partir das ~
iniciativas do Bispo desta cidade, D. Antônio Reis, e do apoio de D. João Becker, arcebispo de Porto Alegre, Medianei- ~
ra foi projetada em nivel estadual e nacional, com o propósito de cristianizar os operários. A credibilidade da Igreja :;;
possibilitou a este icone religioso católico ser transformado em simbolo do poder civil, o qual havia se intitulando laico t;
com a implantação da República. Em 1939, com o empenho dos jesuitas, Medianeira tornou-se 'Padroeira dos Circu- c: Q.)

los Operários Católicos do Brasil', periodo em que o 'culto civil', em nivel nacional, transformou Getúlio Vargas em i@
'herói' da pátria brasileira. A devoção áAparecida fez parte deste projeto cristão junto aos operários e do governo que.s
se aproximava do eleitorado católico e do imaginário do povo brasileiro. Uma mescla de religião e patriotismo. A Igreja ~
defendia os valores e a moral cristã e não só a Instituição que estava separada do Estado. Tratava-se da 'casecratia ê
mundi', e isto incluia os operários, pois estava em questão a justiça no trabalho.
'"
Q.)
'O

Gizele Zanotto .. UFSC ~


'in
"Estética tefepista": Contribuições acerca do sensível na prática e vivência dos membros do movimento cató- ],
lico Tradição, Família e Propriedade (TFP) - 1960/1995 Q.)

Este trabalho pretende analisar os elementos basilares do que estou denominando de uma 'estética tefepista', ou seja, a::
a utilização, pelos membros da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP), do 'conhe-
cimento sensivel': as percepções, prazeres e emoções decorrentes de um contato sensorial com o 'belo' e o 'sublime'.
Considerando a preocupação dos tefepistas com a aparência, vestimentas, porte, formação durante as campanhas,
músicas, simbologia e beleza dos seus emblemas e insignias, etc., pretendemos destacar seus principais eixos norte-
adores e a importância destes em sua formação (religiosa, política, moral e cultural). Mais do que preocupação estética
em si, a TFP preconiza a utilização do conhecimento sensivel como instrumento de empatia, recrutamento e doutrina-
ção, inserindo-a com destaque na semântica global que rege seu discurso.

Cássia Maria Baptista de Oliveira - UERJ


Manifestações Religiosas na Escola Pública do Rio de Janeiro
Este trabalho pretende refletir com o fato inédito do retorno da obrigatoriedade do ensino religioso, os desafios singu-
lares do capitalismo contemporâneo que perpassam na educação. Por meio das manifestações religiosas no cotidiano
escolar e daquilo que acontece no ensino religioso, destacaremos tensões políticas singulares para a reflexão das
relações escola pública e contemporaneidade. O que a religião poderá nos fornecer para pensar a atualidade? A
importância de uma reflexão sobre as manifestações religiosas, sobretudo no campo educacional, se deve a uma
preocupação em relação aos desafios, conflitos e tensões gerados no âmbito da cultura da escola pública brasileira
provocados pelo ensino religioso e pela presença do pentecostalismo. Podemos afirmar que a defesa da educação
pública e a discordância dessa disciplina 'ensino religioso' nas escolas, nos levou a reconhecer que 'os movimentos
religiosos de hoje têm uma capacidade singular de revelar os males da sociedade, sobre os quais eles têm seu próprio
diagnóstico'. (Bauman, 1998,p.226) No Brasil, o pentecostalismo significa a guerra declarada ás religiões de origem
africana, candomblé e umbanda, como também tem sido visto como a religião que se choca com a nossa tradição
cultural da religiosidade popular católica.

Vitor Otávio Fernandes Biasoli - UFSM


Maçonaria versus Igreja Católica: o caso do periódico Reação em Santa Maria (1915-1917)
Na década de 1910, a Igreja Católica e a Maçonaria, na cidade de Santa Maria (interior do Rio Grande do Sul) viviam
fortes confrontos. Além das questões doutrinárias (que vinham desde a segunda metade do século XIX) a disputa da
Diocese local pelo controle da Irmandade de N.S. do Rosário acirrava os embates. Na seqüência desse episódio, a
Maçonaria santa-mariense publicou um periódico intitulado 'Reação', entre maio de 1915 a fevereiro de 1917. Foram
33 números. Os artigos versavam principalmente sobre os principios gerais da Maçonaria, mas alguns temas locais
eram abordados: o caso da Irmandade do Rosário e a sátira ao vigário local. Este artigo tem como propósito uma visão
geral deste periódico maçônico, entendido como instrumento de reação á reestruturação e ao avanço político-cultural
da Igreja Católica no Rio Grande do Sul.

Carla Xavier dos Santos - PUCRS


Nossa Senhora Medianeira, Rogai por Nós. A Relação entre a Igreja Católica e o Estado Novo, através dos
Cirlulos Operários e da Imprensa Católica no Rio Grande do Sul
O presente trabalho tem por objetivo analisar a relação entre o Estado ditatorial do presidente Getúlio Vargas e a Igreja
Católica, através dos artigos destinados aos Circulos Operários na imprensa católica e como esta, foi utilizada para

585
demonstrar o apoio e por muitas vezes, a pressão, do clero em prol do governo. As características não revolucionária,
ordeira e nacionalista dos Círculos Operários, que visavam o entendimento entre trabalhadores e o sistema político
vigente, foi o que desenvolveu a simpatia de Vargas, fazendo que este, adotasse o movimento circulista, com o propó-
síto de disciplinar e supervisionar o operariado brasileiro. A motivação da Igreja para a formação do movimento circu-
lista vem desde a divulgação das encíclicas "Rerum Novarum' e 'QuadragésimoAnno', que eram inspiradas na doutri-
na católica do Socialismo Cristão. Além disso, tinham o interesse em controlar e organizar a classe operária nas suas
lutas em busca de melhores condições de trabalho. Com isso, a aproximação com o Estado possibilitaria a ampliação
de sua base social e daria segurança ao temor que a Igreja tinha em relação à difusão do comunísmo ateu, entre
outros. Para isso a Igreja usou não só o operariado, mas também os jornais e revistas católicos que se propagavam
pelo Rio Grande do Sul.

Emanuela Sousa Ribeiro· UNICAP


A conversão dos costumes segundo o espírito da Regra: oblatos da ordem Benedítina em Olinda no início do
século XX
Os oblatos são leigos que buscam viver segundo o espírito da Regra de alguma Ordem religiosa. Este tipo de consa-
gração foi, ao longo da história do catolicismo, incentívada nos momentos em que a Igreja buscava reforçar seus laços
com a sociedade civil. O período que estamos analisando é um destes momentos históricos de aproximação da Igreja
com a sociedade: o ínício do século XX, a época moderna. Neste trabalho analisamos a oblação, e os elementos
símbólicos que a cercam, como uma das estratégias utilizadas pela Igreja para se aproximar das camadas médias e
das elites sociais pernambucanas, compreendendo a cidade de OI inda como irradiadora da piedade beneditina e,
principalmente, irradiadora desta antiga/nova forma de ser católico(a). Aoblação é compreendida como mais uma das
ações do catolicismo característico do início do século XX: um catolicismo com atuação social. Não por acaso, são
os(as) beneditinos(as) alemães os responsáveis pela sua reinserção na comunidade católica, afinal, o ethos germâni-
co era, no olhar brasileiro daquele período, o ethos do trabalho, consoante, tanto com o espírito da Regra Beneditina,
como com o que se esperava dos cidadãos do Brasil republicano.

Sara Cristina de Souza· UNICAMP


A Cristandade De Colores. Os Cursilhos de Cristandade e a Igreja Brasileira durante a Ditadura Militar
(1964·1985)
O presente trabalho analisa as atividades da Igreja Católica Brasileira durante a Ditadura Militar no país (1964-1985) a
partir do Movimento de Cursilhos de Cristandade (MCC). Interessado em uma religião mais privada e conservadora, o
MCC chama atenção não apenas por sua rápida aceitação por parte expressiva dos católicos brasileiros - principal-
mente paulistas - mas também por ser um importante exemplo de diversidade dentro da Igreja brasileira. Suas postu-
ras e interpretações sobre a doutrina e a religião diferem em especial daquelas pensadas pelos seguidores da Teologia
da Libertação, o que possibilitou a construção de uma cultura católica diversa daquela esperada pelos católicos cha-
mados progressistas - geralmente escolhida como objeto de estudo das pesquisas sobre o tema.

Rosângela Wosiack Zulian . UEPG


Ambigüidades e conflitos na formação da diocese de Ponta Grossa (PR)
A diocese de Ponta Grossa (PR), implantada em 1926, teve provimento apenas em 1930, quando assumiu o primeiro
bispo, D. Antonio Mazzarotto. Homem de seu tempo, D. Antonio fundamentou seu projeto apostólico em sintonia com
as diretrizes da santa Sé. Pregador famoso e eloqüente, construiu ao longo de seu bispado, uma imagem de austerida-
de e de defesa das verdades da fé, expressas em pregações, visitas e cartas pastorais. Nelas registrou, como boa
parte dos prelados de seu tempo, um programa para a diocese, espaço sagrado atravessado por múltiplos conflitos e
diferentes projetos, num esforço normatizador e unificador. Os embates entre o bispo e o movimento na época chama-
do de 'heresia polonesa' trazem a percepção de que o processo de romanização da Igreja católica, especialmente
nesta diocese, foi plural e conflituoso. Compreender esses 'embates simbólicos de representações" e alguns discursos
produzidos, é a proposta da comunicação.

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74. Revoltas e insurreições no Brasil- do séc. XVII ao XIX
Marco Antonio V. Pamplona (PU C-Rio I UFF) e Luciano Raposo de A. Figueiredo (UFF)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h ás 18h)
Guilherme Paulo Castanholi Pereira das Neves - UFF
Será que as inconfidências de final do período colonial ainda têm algo a nos oferecer?
O título, á maneira antiga, desta comunicação pretende chamar a atenção para duas preocupações que ela encerra. A
primeira, de natureza mais epistemológica, quer sugerir que não cabe ao historiador esgotar um assunto, como fazem
os cientistas, mas, sim, usar o material da História para refletir sobre o presente e a sua condição. Mais propriamente
histórica, a segunda quer aproveitar alguns aspectos da chamada Conjuração Carioca de 1794, da Inconfidência
Baiana de 1798 e, em Pernambuco, da Conspiração dos Suassunas de 1801 - mais do que da Inconfidência Mineira
de 1789 e da Revolta Pernambucana de 1817, episódios ainda insuficientemente examinados no projeto em curso-
para discutir o lugar que esses acontecimentos ocuparam no imaginário do país. Afinal, enquanto elementos fundado-
res de uma certa idéia de nação, não teriam eles escondido, mais do que revelado, algumas contradições básicas da
sociedade brasíleíra? Ou seja, em que implica, hoje, considerarmos, ou não, as inconfidências como a expressão do
aparecimento de uma sensibilidade nacional?

Sheila Conceição Silva Lima - UFF


Rebeldia no Planalto: A expulsão dos Jesuítas da Vila de São Paulo
Esta comunicação pretende abordar a expulsão dos reverendos padres jesuítas da Vila de São Paulo de Piratininga,
@
74
no contexto da Restauração Portuguesa em 1640, entendendo-a como um epísódio de revolta, típico de Antigo Regí-
me. Expulsão alavancada pela querela política entre jesuítas e homens bons - isto é, camaristas e sertanistas de São
Paulo - em relação ao processo de colonização do Planalto de Piratininga, cujas idéias sobre a administração dos
indígenas e suas terras eram bem diversas. Ou seja, a luta dos reverendos padres de Jesus pela liberdade dos
gentios, alicerçada pela discussão jurídico-teocrática da sociedade e do poder contra as contestações do poder secu-
lar, aqui representadas pelos camaristas, que queriam obter a administração dos gentios da terra, como lhes garantia
a leí dos 'usos e costumes do Bem Comum'. Para tanto, os paulistas se apropriaram do discurso jesuítico para defen-
der seus privilégios e liberdades; e combater o que consideravam os abusos dos inacianos.

Antonio Filipe Pereira Caetano· UNEAL g


A Revolta de Beckman pelo olhar de João Felipe Betendorf e da documentação do Conselho Ultramarino .~
A Revolta de Beckman, ocorrída no antigo Estado do Grão-Pará e Maranhão, no último quartel do século XVII, contou .~.
com a produção de uma farta bibliografia seja de cunho acadêmico ou literário. Tão dívergentes entre sí, a mesma :5
traduz o impacto causado pelo movimento para a compreensão da região, todavía os mesmos acontecimentos ainda .~
encontram-se preso ao estigma da primeira 'grande revolução' do Brasil Colonial e de uma luta dos colonos contra a ~
coroa portuguesa. Um dos principais responsáveis por essa construção remete-se ao próprio conjunto documental s
essencial para a análise do movimento como as informações deixadas pelo jesuíta português João Felipe Betendorf, ~
fonte primária e vítima dos amotinados. No entanto, a burocracia administrativa documentada nas relações do Conse- ~
lho Ultramarino e a capitania do Maranhão também podem revelar um outro olhar sobre o episódio. Desta forma, a
presente comunicação tem por objetivo fazer uma comparação entre estas versões, olhares e maneiras de ver o
mesmo acontecimento.

Luciano Raposo de A. Figueiredo· UFF


Revoltas coloniais: balanço historiográfico
Oaparecimento de diversos estudos sobre as revoltas coloniais na última década assinala uma espécie de refundação
da temática. Ainda que o enunciado apareça desde os primeiros trabalhos recortados pela noção de 'movimentos
nativistas', atravessando os debates sobre a crise do Antigo Sistema Colonial na década de 70, só recentemente o
tema vem merecendo esforços empíricos mais sistemáticos e uma reflexão teórica calcada no pensamento político da
Época moderna. Ainda que incipiente esse movimento tem consistência e tem permítido fixar perspectivas, recortar
linhas de análises e debater limitações.

587
17/07 - Terça-feira - Tarde (14h às 18h)

Fernanda Borges de Moraes - UFMG


Espaços da ordem e da desordem na formação da rede urbana das Minas Gerais setecentistas
No complexo mundo colonial, ora as ações da Coroa Portuguesa, da Igreja e de particulares confluíam em interesses
comuns, ora se opunham em acirrados conflitos, o que implica considerar uma série de articulações expressas na
organização dos espaços macro e microrregionais e na formação de territórios políticos, sociais, étnicos e simbólicos.
A Coroa implantou nas Minas Gerais todo um aparato político-administrativo, judiciário e militar de uma complexidade
até então inédita na América Portuguesa. Urdindo o lado 'direito' do tecido, foi responsável pela constituição dos
espaços da ordem, organizados hierarquicamente e recortados segundo as diversas jurisdições e funções. No avesso
desse tecido - os espaços da desordem - viviam aqueles que enfrentavam as violências e conflitos do cotidiano das
minas urbanas e dos sertões, à mercê dos crimes generalizados, de imposições tributárias, de dissensos localizados
ou de maior amplitude, envolvendo-se em motins, refugiando-se em quilombos e fugindo das milícias. Longe de gerar
desestruturações expressivas, emergiram crises e conflitos - na maioria pontuais, se considerarmos a natureza mais
reformista do que revolucionária de seus desdobramentos - que provocaram, sobretudo, reestruturações e acomoda-
ções territoriais, enfoque deste trabalho.

Tarcísio de Souza Gaspar - UFF


Motins e opinião pública: dimensões políticas e sociais da linguagem oral no Século XVIII
O trabalho pretende analisar o papel politico desempenhado pelas murmurações e linguagens orais em meios aos
motins e revoltas ocorridos na capitania de Minas Gerais durante o século XVIII. Destacar-se-a o enredo de boatos e
vozes públicas perpados no interior dos eventos, procurando desvendar as características e os atributos de uma
possível opinião pública existente no período.

Carolina Chaves Ferro - UFF


A Bahia no tempo do terremoto de Lisboa: uma devassa contra o donativo (1757)
Com o estabelecimento do subsídio voluntário a pedido de Sua Majestade para a reconstrução da devastada cidade
de Lisboa à época do Terremoto de 1755, cujos alicerces foram profundamente abalados, cada uma das Câmaras do
Brasil se movimenta e se prontifica para contribuir com tão penosa situação, havendo agitação nas mesmas para
estabelecer o valor das mercadorias que incidiriam sobre produtos comercializados na América. Apesar de a grande
maioria das Câmaras aceitarem prontamente o pedido do Rei D. José I, alguns comerciantes, e religiosos, membros da
elite da terra se reúnem em Salvador para protestar contra o que eles consideravam injusto, o valor do subsídio.
Baseados na documentação do Conselho Ultramarino, trabalharemos a devassa no que diz respeito ao protesto, além
de aspectos essenciais para o Antigo Regime, tais como: a lealdade ao Rei, os poderes centrais e periféricos, as
hierarquias, trocas simbólicas, e principalmente o discurso político produzido pela elite colonial.

Ana Renata do Rosário de Lima - UNIFAP


Olhares sobre o outro: palavras e imagens das autoridades provinciais em tempos de rebeldia (Grão-Pará
Séc. XIX)
Na documentação oficial organizada em códices, disponíveis no Arquivo Público do Pará, temos uma leitura, que já
não é mais de primeira mão, sobre os modos de vida, trajetórias, lutas, relações com a terra, a política, a religião,
daqueles que foram denominados cabanos. No período da Cabanagem, identificamos que foram cunhadas diferentes
expressões, menos conhecidas. Algumas como Partido Cabanal, Cabilda, facciosos, malavado, são expressões que a
cultura da revolta produziu, e nesse caso pelas autoridades provinciais, nossos inforrnantes-<:have. Segundo Gada-
mer, a experiência no mundo nada mais é que uma experiência linguística (entendida como oral, escrita, corporal etc).
Uma posição hermenêutica não é somente interpretar um texto, mas também se refere ao modo como o homem
enfrenta o mundo e é capaz de dialogar com ele. A partir dos textos disponíveis procuro 'mergulhar' na linguagem da
vida social essencialmente agrária da Província no início do século XIX.

Virgínia Maria Almoêdo de Assis - UFPE


Revoltas, motins e insurreíções em Pernambuco pelo traço dos promotores de justiça
Revoltas, motins e insurreições em Pernambuco, durante o século XIX, foram temas recorrentes nos relatórios que os
promotores de justiça periodicamente enviavam aos presidentes da província. Assim, tendo essa documentação como
referencial básico, procuramos identificar algumas características desses movimentos sociais , alguns deles, bem
pouco trabalhados pela historiografia.

588
Juliana Serzedello Crespim Lopes - USP
Através do espelho: identidades políticas de rebeldes e legalistas na Sabinada (Bahia, 1837-38)
Este trabalho propõe a investigação das identidades politicas envolvidas na revolta liberal conhecida como Sabinada
(Bahia, 1837-1838). Aanálise basear-se-á na documentação produzida pelos próprios envolvidos e também nas fontes
referentes á repressão do movimento, de modo que se ofereça um panorama comparativo entre a auto-identificação
dos rebeldes e a identificação destes pelos seus adversários. A investigação proposta se insere no amplo debate a
respeito da formação da identidade nacional brasileira, dada a partir do reordenamento das múltiplas identidades
engendradas no processo de formação e desagregação do Império Português na América.

I 18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h) I


Gefferson Ramos Rodrigues - UFF
No sertão, a revolta: Práticas políticas e formas de contestação na América portuguesa, Minas Gerais - 1736
Tendencialmente as revoltas que se passaram na América portuguesa, são vistas como movímentos desmobilizados,
elitistas e ausentes de projeto politico consistente. Os motins do sertão do São Francisco que ocorreram na Capitania
de Minas Gerais em 1736, entre outras vicissitudes tiveram, uma composição social diversificada, o estabelecimento
de um auto-govemo além de demandas fundamentadas na conquista do território, características até então não obser-
vadas em outros protestos das Minas setecentistas. Os protestos, de origem fiscal, estouraram em função da cobrança
da taxa de Capitação no governo interino de Martinho de Mendonça, também responsável pelo estabelecimento da
nova forma de arrecadação dos quintos reais. O trabalho tem por escopo, estudar as formas de resistência desenvol- f'j4\
vidas pelos envolvidos que, ora procuravam conferir uma face legal ao protesto, ora apelavam para a violência, no \..!..:!)
encaminhamento de suas demandas. Adocumentação, apesar de eminentemente oficial- correspondências trocadas
entre autoridades da Capitania e oficiais que se encontravam na região dos tumultos -, consta também de propostas,
requerimentos e pasquins produzidos pelos próprios rebeldes, o que permite contrastar os discursos que eram produ-
zidos sobre eles e os que os mesmos produziam.

Fabiano Vilaça dos Santos - USP


"Com as fardas nos braços": motins de soldados no Pará e no Rio Negro (1755-1757) 'õõ
No Estado do Grão-Pará e Maranhão, dois motins marcaram a posição da tropa diante das determinações régias e dos e
desmandos dos administradores coloniais. Um deles ocorreu em 1755, em Belém, quando soldados armados de paus, ~
cumprindo um ritual, tomaram a praça do Palácio do Govemo, despiram as fardas e declararam-se fora do Real ~
Serviço. A razão das alterações foi uma ordem régia que determinava o desconto da farinha de munição, contrariando ,~.
o costume da terra. Dois anos depois, na capitania do Rio Negro, militares de Mariuá se rebelaram contra o governador .~
Gabriel de Sousa Filgueiras, prendendo-o e praticando uma série de assaltos no arraial e nos rios próximos. Os dois ~
motins estão relacionados, pois em virtude da experiência de Belém, Sousa Filgueiras recebera instruções de Lisboa .~
para não descontar a farinha e os fardamentos da tropa. A sua desobediência provocou os distúrbios e levou os V)

amotinados a fugirem para dominios espanhóis. É interessante perceber que enquanto as autoridades reiteraram sua ~
desconfiança quanto à lealdade dos soldados - desconforto revelado durante a criação da Companhia de Comércio do ~
Grão-Pará e Maranhão e a libertação dos índios - os amotinados mostraram-se conscientes de seu papel na defesa
das fronteiras da região ao negociarem o perdão.

Clécia Maria Da Silva - UFPE


Militares e civis de cor em levantes políticos na primeira metade do século XIX na província de Pernambuco
No inicio do século XIX, a cidade do Recife, à semelhança de outros centros urbanos como Salvador e o Rio de
Janeiro, enfrentou levantes politicos que tiveram uma grande participação da população de cor comandada por milita-
res. Esta junção foi motivo de grande temor na província de Pernambuco porque houve uma intensa a presença de
negros e pardos no movimento anticolonialistas de 1817 e 'separatista' de 1824, promovidos pela elite branca, os
negros e pardos sejam eles civis ou militares procuraram minimizar ou mesmo acabar com a desigualdade racial e
ingressar nas decisões politicas imprimindo assim uma tendência mais radical nestes movimentos. Tal situação au-
mentou o pesadelo que assombrava as casas senhoriais de uma haitianização do Brasil, principalmente quando o
capitão de artilharia Pedro da Silva Pedroso, apoiado pelas tropas auxiliares que eram as Companhias de Monta
Brechas, os Bravos da Terra e os Intrépidos tomaram as ruas provocando a sedição de fevereiro de 1823, a qual
resultou na posse de Pedroso como Governador das Armas, posto até então assumido apenas por portugueses envi-
ados de Portugal. Tal medo não podia ser ignorado porque havia um ambiente de inquietação generalizado, que se
manifestava na organização de quilombos, revoltas e assassinatos.

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Argemiro Ribeiro de Souza Filho - USP
Salteadores ou rebeldes políticos: a atuação dos Mucunãs no processo de independência no Alto Sertão da
Bahia
A formação do Estado imperial brasileiro apresentou-se como um processo de densa complexidade capaz de assegu-
rar a hegemonia da classe senhorial em ascensão á medida que procurou controlar a participação dos demais estratos
sociais. Esta comunicação tenciona discutir as condições sócio-políticas que favoreceram o surgimento no Alto Sertão
da Bahia de um pequeno agrupamento de homens livres do comum, autodenominados Mucunãs, que no decênio de
1820 desafiou o poder institucional, inclusive frente aos rumos da Independência do Brasil. Em meio as agitações do
pós-independência, os Mucunãs foram acusado de perpetrarem diversos crimes no Sertão baiano, dentre os quais
merece destaque as ações violentas contra os portugueses, a recondução á liberdade a indivíduos recrutados sob a
ordem do governo imperial e, principalmente, a divulgação de idéias subversivas, razão pela qual o governo provincial,
em entendimento com a Corte do Rio de Janeiro, mobilizou um considerável aparato repressor para perseguir e extin-
guir, o que considerou como sendo o bando de facínoras mais perigoso da Bahia no período.

Lavínia Coutínho Cardoso - UFES


Revolta Negra na Freguesia do Queimado:síncopa libertáría, trabalho e memóría na províncía do Espírito
Santo no Séc. XIX
'Insurreição do Queimado", como ficou conhecida a Revolta Negra é o nome da obra de Afonso Cláudio, publicada em
1884 se constituindo como construtora do 'Espaço de Memória" que tornou os fatos ocorridos no dia 19 de março de
1849 relevantes para a comunidade capixaba e, principalmente, para o Movimento Social Negro na atualidade. A
Revolta do Queimado é resultado da construção de processo político na luta pela liberdade empreendida pelos negros
escravizados, ao contrário do que afirma Afonso Cláudio, esta se insere na busca de inclusão dos negros escravizados
na sociedade da época. A rede de ações que antecede o dia 19 de março de 1849 se traduz no que denominamos
Sincopa Libertária, na medida em que estabelece um diálogo para negociar a liberdade nos espaços de improviso do
cotidiano, e exercita o diálogo como forma de fazer ou promover políticas emancipatórias. Para os negros escraviza-
dos do Queimado isso significa possuir a Carta de Alforria; ou seja, sair da condição jurídica de cativo para tornar-se
dono de sua liberdade nos termos do que esta significa no séc. XIX. A Síncopa é construída a partir do escambo, do
trabalho dos negros na construção da Igreja de São José do Queimado que em troca receberiam a carta de alforria,
com o não cumprimento do trato eclode a revolta.

Luís Fernando Prestes Camargo


1848: O grande medo.Os ideais radicais europeus de 1848 estimulando levantes escravos no interior da pro-
vincia de São Paulo
Esta pesquisa teve como objetivo principal a compreensão de um plano de rebelião escrava, ocorrido em 1848, em
uma série de localidades do Oeste Paulista. O ano em que a rebelião foi planejada, 1848, foi marcado pela instabilida-
de política. No Brasil, conservadores e liberais se digladiavam para tentar impor seu modelo de organização ao país.
Na Europa, a Revolução de 1848 derrubou as principais casas monárquicas européias. Semanas depois do início da
Primavera dos Povos na Europa, desembarcou no Brasil um mascate francês que, em suas andanças pelo interior de
São Paulo, convenceu escravos a organizar um grande plano de rebelião, marcada para acontecer no dia 7 de setem-
bro de 1848. Na análise do plano de insurreição, foi dado destaque especial ao aporte das novas idéias européias, que
pressionavam e deslegitimavam o regime escravista, e ás relações familiares e demais laços de solidariedade e
sociabilidade que estimularam a tentativa de rebelião. Por meio do testemunho dos rebeldes, obtido nos Summarios-
Crime, em cruzamento com correspondências do governo provincial, ofícios de Câmaras Municipais, correspondênci-
as entre juízes, promotores, entre outras fontes primárias, foi tentado não somente resgatar este plano, mas descobrir
as razões que possibilitaram a sua emergência.

Patrícia Valim - USP


Pronta entrega de escravos: tensão política e negociação na Conjuração Baiana de 1798
Na manhã de 8 de novembro de 1799 quatro homens livres, pobres e pardos foram enforcados e esquartejados na
Praça da Piedade em Salvador. Condenados por conspirarem contra a Coroa de Portugal, esses homens foram execu-
tados porém não foram os únicos condenados de participarem da 'projectada revolução", em agosto de 1798. Segundo
os Autos das devassas, 39 pessoas foram presas, sendo que entre elas 9 eram escravos domésticos. Após as inves-
tigações, alguns escravos foram condenados á pena de degredo. Outros tentaram fugir assim que perceberam o que
se avizinharia com o fim das investigações. Outros, ainda, além de merecerem justificação no decorrer das devassas,
foram inocentados de qualquer culpa. A principal razão para a variação das penas imputadas aos cativos relaciona-se
com os proprietários. Esses escravos eram de propriedade de um grupo de notáveis. Homens de muita opulência e
luzimento, que tinham em comum o fato de ocuparem cargos estratégicos na administração local e colaborarem dire-
tamente com o governador d. Fernando José de Portugal e Castro na condução das investigações, fazendo pronta-

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entrega de seus cativos para que os desembargadores do Tribunal da Relação descobrissem os culpados de matéria
'tão delicada e melindrosa".

I 19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h às 16h30min)

Monica Duarte Dantas· USP


Antes de Canudos: a sedição de 1893
No dia 10 de abril de 1893 parte da população do Soure, vila da comarca de Itapicuru (Bahia), protestando contra
novos impostos, destruiu as tabuletas afixadas no barracão da feira. A população manteve-se levantada por 17 dias,
até que, em 27 de abril, frente à iminente chegada de tropas do governo, evadiu-se do local. Antonio Conselheiro, que
chegara ao Soure depois do dia 17, quando a sedição já atormentava as autoridades, saiu da vila acompanhando os
levantados. Revoltas contra cobranças de impostos ou quaisquer alterações que pudessem significar um agravamento
das condições de vida da população foram comuns na história do Império e até mesmo da colônia portuguesa na
América. A quebra das tabuletas do Soure foi um acontecimento em muitos sentidos similar e mesmo tributário de
outros movimentos ocorridos no século XIX. Se o Conselheiro, a partir das desavenças ocorridas no Soure, resolveu
encampar a briga contra as cobranças, isso não quer dizer que o protesto partira única e exclusivamente de sua
pessoa ou mesmo de uma conjuntura momentânea. A presente comunicação visa justamente discutir as condições de
vida daqueles que se levantaram, a existência ou não de uma liderança e as particularidades do movimento de 1893
(em comparação com outros ocorridos no Império).

Vanessa Sattamini Varão Monteiro· PUC·RJ @


Aprender a Esquecer: A República e as Crianças de Canudos
Este trabalho tem por objeto as crianças sobreviventes da guerra de Canudos que foram distribuidas e levadas por
soldados a titulo de lembrança viva. Membros do Comitê Patriótico da Bahia, organização da sociedade civil que
socorreu as vitimas do conflito, se referem à situação como uma nova escravidão assola a Bahia. Apesar dos esforços
em encaminhá-Ias para orfanatos ou restitui-Ias as suas famílias, muitas foram repassadas e convertidas em mão-de-
obra. O objetivo primordial é a tentativa de ouvir o eco desta memória apagada. O próprio Euclides da Cunha trouxe
para São Paulo um jaguncinho de Canudos. Movida pelo questionamento do professor Calasans: Qual teria sido, 'v.;
depois de 1908, o destino do jaguncinho (de Euclides) que se fez professor primário em São Paulo? Empreendi uma ~
pesquisa seguindo as pegadas deste menino até a vida adulta. É no eixo em que se cruzam o desenraizamento de ~
crianças vistas como filhas do atraso do sertão com a utopia republicana do progresso e da civilização que estruturo esta ~
análise. É ainda, a partir do entendimento da memória enquanto instrumento de dominação que proponho uma reflexão ,~.
sobre a relação entre história, memória e esquecimento na guerra de Canudos e especificamente no caso dos órfãos. .~
::J
v:o
Silvia Capanema Pereira de Almeida· Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales, Paris .~
Marinheiros em revolta em 1910: um perfil coletivo de soldados e homens do mar na virada do século XIX para v:o
on ~
A partir de diversos traços de identificação presentes nos arquivos do Gabiente de Identificação da Marinha e nos ~
processos do T8M, pretende-se estabelecer um perfil coletivo dos marinheiros brasileiros do fim do século XIX e inicio
do século XX, muitos dos quais teriam participado da revolta de 1910, questionando em que medida existiriam naquele
universo delineamentos de identidades e pertencimentos comuns que poderiam ter motivado essa revolta, no contexto
do longo século XIX. Algumas descobertas sobre as origens dos marujos bem como sobre a construção da identidade
profissional de marinheiro sugerem novas indagações sobre a 'Revolta da Chibata" que não podem ser interpretadas
separadamente do contexto do pás-abolição num sentido amplo, indo além das identificações como 'pretos' ou 'par-
dos". Pretende-se apresentar os primeiros resultados de uma biografia dessa população, contrariando certas crenças
e mitos surgidos em torno do levante, bem como algumas idéias formadas sobre o recrutamento na marinha, mostran-
do as diversidades de percusos e os diferentes enquadramentos. Indaga-se ainda sobre a construção de uma consci-
ência coletiva e sobre as formas de produçâo de sentido das classes 'trabalhadoras" e talvez 'perigosas" na virada do
século.

Marco Antonio V. Pamplona . PUC·RJ/UFF


Revoltas urbanas do inicio do periodo republicano na imprensa carioca: 1891, 1901 e 1904
Analisar as revoltas doTeatro Lyrico (1891), da Cia de Bondes S. Cristóvão (1901) e da Vacina (1904). Discutir as
percepção dos incidentes pela imprensa carioca e o papel desta na construção de uma memória social das revoltas.
Comentar os padrões de manifestação dos revoltosos evidenciados em cada caso: forma de ação coletiva, rituais e
representações utilizados, composição social dos revoltosos, abrangência das revoltas (no tempo e no espaço) e sua
repressão.

591
75. Tempo, Narrativa e Invenções de Si: (re)pensando as pesquisas biográficas
Iranilson Buriti (UFCG) e Juçara Luzia Leite (UFES)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h ás 18h) I

Vicentonio Regis do Nascimento Silva - UNESP


Clóvis Bevilaqua e a multidisciplinaridade na invenção de si
Pretendemos analisar a correspondência de Clóvis Bevilaqua (1859-1944) - membro da Escola de Recife, intelectual,
professor, crítico literário, escritor, filósofo, advogado, consultor juridico do Ministério das Relações Exteriores, além de
criador do Código Civil Brasileiro de 1916 - que, apesar de sua intensa colaboração em diversas áreas do saber, teve
a obra e o pensamento pouquíssimo estudados no âmbito acadêmico. A correspondência do jurista, acondicionada no
Memorial do Judiciário Cearense, localizado no Tribunal de Justiça do Ceará, está sendo examinada levando-se em
consideração sua significativa rede de sociabilidade, conforme se depreende do estudo de 352 cartas, recebidas ou
enviadas, de instituições como Ministério da Justiça, Ministério das Relações Exteriores ou Academia Brasileira de
Letras e de personalidades, entre as quais políticos como Barão do Rio Branco e Epitácio Pessoa ou críticos
literários como Silvio Romero e José Veríssimo. Pretendemos apresentar, a partir da análise desse material, uma
compreensão da rede de relações estabelecida por este intelectual e um dimensionamento de sua figura pública e
privada no período.

Mairon Escorsi Valério - IFCH/UNICAMP


Dom Pedro Casaldáliga e a memória hagiográfico-profética
A presente comunicação analisa a construção de uma narrativa hagiográfico/profética sobre a vida de D. Pedro Casal-
dáliga e sua trajetória como bispo da Prelazia de São Félix do Araguaia - destacada por seu enfrentamento do latifún-
dio e ditadura militar no contexto dos anos 1970 e 1980 - por meio de sua autobiografia ('Creio na justiça e na
esperança') e da biografia de Francesc Escribano ('Descalço sobre a terra vermelha'). Analisa também como tais
narrativas se articulam com as proposições da teologia da libertação acerca da fé católica e de uma noção de santida-
de política. Questiona o caráter profético das representações identitárias do bispo e da Prelazia de São Félix do
Araguaia como frutos de uma memória que significou a si e o Araguaia religiosamente.

Iranilson Buriti - UFCG


Imagens pessoais: escritos e escrituras de si na literatura de José Lins do Rego
Desenhos, narrativas, retratos feitos em forma de enredo. Um homem, um literato regional, um escritor que pinta e que
borda pedaços de si. Escritos que proclamam o espaço de si enquanto sagrado, lócus de apropriação familiar. Uma
escritura que narra as entranhas (auto)biográficas e procura dar voz e sentido ao eu. Sujeito paraibano de Pilar,
nascido nos primeiros raios solares do século XX, Lins do Rego escreve a partir de suas próprias vivências, de suas
angústias e (in)certezas. Meus Verdes Anos, escrita em 1956, é um traço biográfico que mostra os tráficos e tráfegos
do autor, suas infâncias, seus dias angustiantes nas cidades por onde passou: Parahyba, Maceió, Recife, Rio de
Janeiro. Esta pesquisa, portanto, problematiza a literatura de Zé Lins, lendo seus escritos a partir de um olhar da Nova
História Cultural, além de se apropriar de leituras pós-estrutralistas, a exemplo de Foucault, particularmente sua obra
O Que é um Autor. Que sujeitos o escritor desenhou para si? Quais as tramas vividas por Lins do Rego que ganham
visibilidade na obra Meus Verdes Anos? Dessa forma, procuramos problematizar como o autor foi elaborando uma
escrita de si, uma autobiografia calcada na saudade do engenho, da terra, do avô, da famítia.

Marcelo Homos Steffens - Centro Universitário Newton Paiva


Getúlio Vargas biografado
Várias biografias foram escritas sobre Getúlio Vargas. Da década de 1930 até o ano de 2006 elas têm sido publicadas,
retratando de formas distintas um dos personagens políticos mais importantes da história republicana brasileira. Este
trabalho pretende analisar as transformções ou permanências nas formas do escrito biográfico, tanto nas suas carac-
terísitcas como gênero de escrita, quanto no uso que historiadores deles fizeram, e vêm fazendo, particularmente em
relação as biografias escritas sobre Vargas.

Ana Maria Ribas Cardoso - Colégio Pedro 11 e UERJ


Juscelino Kubitschek - na encruzilhada da história com a memória ...
Debruçar-se sobre a trajetória do homem/presidente da República Juscelino Kubitschek, sob uma perspectiva teórico-
metodológica que acolhe os vínculos, ditos, não-ditos e interditos, entre história, política, cultura e memória, enuncia
como a sua biografia se fundiu, no imaginário social, á 'biografia da nação', esclarecendo o lugar dele na gestação e
cristalização de uma cultura política entrelaçada a uma idéia de Brasil moderno. E, ao (re)elaborar a história de Jusce-
lino Kubitschek, historiciza-se, com outro olhar, ern uma outra temporalidade, o drama que esculpe, durante a vida,

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múltiplas clivagens entre os desejos humanos individuais e a conduta pública, formatando uma dada percepção de
mundo e de sociedade et pour cause desvelando os dilemas infinitos do homem em torno da sua identidade. O uso da
biografia e da autobiografia - tanto como fonte, quanto como objeto - justifica-se, na interseção entre a história política
e a história cultural, em nossa pesquisa. As memórias e as diversas biografias sobre Juscelino Kubitschek - percebidas
enquanto testemunhos históricos - possibilitam representar a história através de um homem e ressignificar uma certa
leitura do passado, a sorver o presente e projetar o futuro, expressando a construção e difusão de uma dada mitologia
política.

Fernando C. Boppré • UFSC


Na sacristia, o inventário do mundo: Arthur Bispo do Rosário e Hassis
Mantos, estandartes, séries de objetos: a obra sacra de Arthur Bispo do Rosário (1909-1989) assinala uma reconstru-
ção do mundo a sua volta com o objetivo de preparar a 'passagem" para o além. Fotos, filmes, pinturas, desenhos:
variações em um mesmo tom dos trabalhos do artista Hassis (1926-2001) em torno de uma memória de si. Diferentes
experiências de subjetividade que, no entanto, a partir de um arquivo pessoal todo-próprio, produziram múltiplas e
instigantes narrativas de si através da visualidade, seja tendo em vista a eternidade (no caso de Bispo), seja o campo
artístico (no caso de Hassis). Vida e obra de dois artistas distantes no espaço (e também no tempo) que, todavia,
configuram um potencial exerci cio comparativo, anacrônico e poético.

Bruno de Araújo Mendes


Histórias e as memórias do Coronel Américo Teixeira em Cachoeira da Prata, Minas Gerais
'Já não tinha mais o coronel Américo, tinha era o símbolo dele." Essa é a maneira como Célis de Paula expressa a
mudança dos tempos em Cachoeira da Prata, região central de Minas Gerais. Neste depoimento e em diversas outras
fontes consultadas, percebemos que o estudo da trajetória do Cel. Américo permite tanto o debate sobre as noções de
temporalidade como discussões acerca da construção memorialística da história de empresas e localidades queAmé-
rico Teixeira Guimarães participou da formação. Nascido em 1861 e falecido em 1947, esse personagem foi um dos
pioneiros da industrialização na microrregião de Sete Lagoas, sendo o principal fundador da Companhia Têxtil Cacho-
eira dos Macacos, empreendimento que deu origem ao núcleo urbano de Cachoeira da Prata. Neste trabalho, a partir
da análise conjugada de depoimentos sobre a história de Cachoeira da Prata em meados do século XX e documentos
escritos e iconográficos criados para promover a memória e trajetória do Cel. América, buscaremos compreender e
explicitar como o processo de transformação desse personagem em simbolo da identidade cultural e da memória da
cidade serve como referência para que seus antigos moradores estabeleçam critérios de reconhecimento e avaliação
das mudanças e permanências da história local.

Eduardo Ferraz Felippe . PUC· Rio


Uma imagem atlântica: o ilustrado em vestes jesuíticas, Antonio Vieira por João Lúcio Azevedo e Capistrano
de Abreu
Amizade e troca intelectual foram, em alguns casos, moedas fortes na produção letrada de alguns autores. Interessa,
nesse trabalho, investigar caso dessa natureza: a composição da imagem atlãntica de Antônio Vieira, elaborada pela
biografia assinada por João Lúcio Azevedo, escrita, em certa medida, a quatro mãos, como fruto da parceria com o
amigo brasileiro Capistrano de Abreu. Através da troca epistolar, para além de simples envio de documentos, houve ~75
intervenção direta na composição do perfil e das marcas identitárias do personagem. No enunciado biográfico produ- ~
zido, Vieira assumiu fisiognomias, encarnadas em certo tipo de ação intelectual, numa narrativa onde sua história de
vida tornou-se o enredo para a compreensão de experiências luso-brasileiras no século XVII. Nessa senda, a intenção
é, por um lado, problematizar a noção de autoria e questionar a operação intelectual capaz de construir certo ser
racional chamado autor. O Vieira que emerge é o personagem compreendido como unidade sólida fundamental, guar-
dando os atributos do gênio, servindo como âncora para a leitura de sua produção escrita e oratória. Por outro lado,
uma matriz discursiva, como se fosse uma narrativa (auto)biográfica, que associa labor jesuíta e ação politica, o que se
quis ver do mundo seiscentista. ~
'C

'"
Q.)
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I 17/07 - Terça-feira - Tarde (14h às 18h)
(,,),
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Q.)
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Francisca Carla Santos Ferrer
-=
Q)

Oiario pessoal do Cel Manoellucas de Oliveira- Guerra do Paraguai .~


O diário enquanto objeto de estudo tem um sabor especial para o historiador,pois ao registrar mudanças de tempera- ~
menta e de observação, revela impressões que a escrita imediata poderia efetuar. Estes relatos enquanto narrativas z
pessoais interessam aos pesquisadores não somente como histórias individuais, mas como representações do que foi g
vivido, sentido e lembrado. Nesta perspectiva o diário possibilipa ao estudioso compreender uma determinafda inter- ~
pretação da sociedade e seu tempo histórico, já que o autor é parte constitutiova do real. Assim o propósito da pesqui- f -

593
sa desenvolvida no Doutorado é compreender o sujeito social Manuel Lucas de Oliveira, seguindo os caminhos trilha-
dos por seu diário pessoal escrito no Rio Grande do Sul no período da Guerra do Paraguai. Afim de aprenndermos seu
universo mental, sua vida privada, seu cotidiano" em diferentes temporalidades como: o tempo familiar, tempoda
memmória,tempo contextual (político,econônomico e cultural), podendo investigar as experiências de vida enquanto
homem, marido, filho, estancieiro, militar e polítclo na região meridional do Brasil e ainda sua compreensão sobre a
Guerra do Paraguai, seu espaço territorial, a nação, a pátria.

Juciene Batista Félix Andrade - UFRN


Tempo, Narrativa e Escrita de Si no Jornal das Moças (Caicó - RN)
No ano de 1926, a publicação de um jornalzinho é o frenesi da cidade de Caicó, no interior Rio Grande do Norte. O
Jornal das Moças, dirigido por Dolores Diniz e Giorgina Pires, tem sua saída semanalmente aos domingos. É um
'órgão' onde mulheres (e alguns homens, a exemplo do pseudónimo Flor de Liz) letradas da cidade o conduzem
abordando, nas crónicas produzidas, matérias que refletem sobre diversas temáticas que vão desde a condição femi-
nina na sociedade passando por reflexões sobre os novos signos de modernidade. Interagindo com os anseios de uma
nova sociedade, imprimem desejos e sonhos nos seus discursos, buscando redefinir as sociabilidades de um mundo
em permanente conflito entre o velho e o novo bem como entre o singular e o coletivo.

Débora Clasen de Paula· UNISINOS


"Isto é só para não deixares de ter por este vapor, uma carta minha.": a correspondência de uma baronesa na
virada do século XX
A comunicação tem como objetivo analisar parte das cartas escritas por uma baronesa na virada do século XX. As
missivas enviadas pela baronesa a filha estão carregadas de subjetividade buscando construir uma 'imagem de si' e
lançando luz sobre os fios que tecem a relação entre mãe e filha. Remetente e destinatária revezam-se, assumindo os
mesmos papéis ao longo do tempo e satisfazendo as condições necessárias a manutenção do 'pacto epistolar'. Sem
deixar de observar as normas e protocolos que regem a escrita deste tipo de documento, as cartas materializam
marcas de intimidade que lhes conferem singularidade. Reflexões sobre sua escrita, cotidiano, sociabilidades e preo-
cupações ocupam diferentes espaços ao longo do texto ao mesmo tempo em que recompõem parte do mosaico da
vivência da baronesa no Rio de Janeiro. Mesclam-se na análise destes documentos categorias como gênero, sensibi-
lidade e condição social afim de que estas ferramentas auxiliem na interpretação das escolhas e dos silêncios presen-
tes nas cartas. A existência destes documentos necessita de distãncia, ausência, alfabetização, serviço postais que
possibilitem a troca, mas também está relacionada de forma muito profunda a maneira de viver o vínculo social.

Carla Rodrigues Gastaud • CEFET RS/UFRGS·PPGEdu


Notícias de família: relações familiares e sociabilidades nas cartas da Baronesa Amélia
O Museu da Baronesa em Pelotas, RS tem em seu acervo um conjunto de 230 cartas endereçadas a D. Sinhá, filha da
Baronesa dos Três Serros, que dá nome ao museu. Essas cartas foram enviadas de vários lugares, por dois de seus
filhos, Rubens e Mozart, e por sua mãe, a Baronesa Amélia, entre os anos de 1883 e 1928. Prosaicamente escritas
para dar notícias, para - como diz a Baronesa - 'sentir que converso contigo', perguntar das crianças ou recomendar
cuidados e condutas As cartas cumprem 'um papel na construção cultural da sociedade' diz Peter Burke e, tomadas
em seu contexto, 'dão acesso a visões contemporâneas daquele mundo'. Alguns temas característicos das correspon-
dências familiares são freqüentes nas cartas da Baronesa: os resultados escolares, o andamento dos negócios, as
peripécias infantis, nascimentos, casamentos, mortes. Há uma atenção especial ao relato das doenças - próprias ou
alheias, graves ou não - e aos tratamentos de saúde, compondo quase uma 'autobiografia médica', como escreve
Peter Gay. Este artigo trata das relações familiares e dos vínculos sociais, de aspectos da intimidade e do privado, a
partir das cartas escritas por Amélia á sua filha Sinhá.

Regina Coelli Gomes Nascimento· UFCG


Narrativas de si: as construções (auto) biográficas de docentes do seridó potiguar
Esta proposta de reflexão está relacionada ás possibilidades de exercícios de análise centrados no trabalho da
escrita de si relacionados a diários, biografias e autobiografias, sejam memórias, sejam entrevistas de história de
vida que constituíram e constituem as identidades docentes que através de suas práticas e falas se desatacaram no
Seridó Potiguar no período de 1970 a 1990. Nesse sentido, buscaremos analisar como esses docentes narram suas
memórias, reconstruindo lembranças das diferentes épocas de suas vidas. O referencial teórico que permeia este
trabalho está relacionado aos seguintes autores: Jorge Larrosa, Stuart Hall e Kathryn Woodward, dentre outros que
compartilham das novas abordagens sobre os objetos da historia, a pesquisa e as fontes. Metodologicamente
buscaremos realizar entrevistas orais e autobiografias inseridas num campo de trabalho da pesquisa biográfica e
das narrativas de si

594
Lena Benzecry· UNIRIO
ouso de narrativas biográficas como fonte de pesquisa que tecem redes de sociabilidade e revelam memórias
do samba carioca oriundas do intercâmbio cultural entre o "morro" e o "asfalto"
Partindo do pressuposto de que as narrativas biográficas são capazes de recompor a memória de indivíduos e grupos,
desvendar redes de sociabilidade e traduzir contextos sociais, históricos, políticos e culturais, este artigo visa a inves-
tigar e descrever encontros entre representantes do universo do 'morro' e do 'asfalto', no contexto do samba carioca,
a partir da análise de biografias, correspondências e crônicas. Além de discutir a importância desse tipo de encontro
para o processo de legitimação do samba carioca e a sua institucionalização como gênero musical mais marcante da
identidade cultural brasileira, o trabalho apresenta uma comparação entre os argumentos de Bourdieu (1986) em 'A
ilusão biográfica' e Foucault (1992) em 'A escrita de si' que auxiliou no desenvolvimento de critérios de seleção e
interpretação das narrativas estudadas na pesquisa. Tomando como encontro-representativo o ocorrido entre Manuel
Bandeira e Sinhô, em fins da década de 1920, o trabalho apresenta ainda os conceitos de mediação e mediador
cultural para justificar os fatores que acarretaram no evento.

Luciana Lopes dos Santos· UFRGS


"No me deje de escribír": escrita epistolar e vida religiosa feminina na Espanha (séc. XVI)
A escrita epistolar se destaca como uma entre tantas práticas de 'escritas de si', mas com algumas particularidades. A
pesquisa tem como objetivo abordar tais particularidades, pelo estudo das cartas de Teresa de Jesus (que viveu entre
1515 e 1582) para uma de suas amigas, Maria de Sal azar (que viveu entre 1548 e 1603 e que, ao se tornar religiosa,
recebeu o nome de Maria de São José). A escrita epistolar esteve bem presente no cotidiano dos conventos femininos
no 'século de ouro' espanhol. Proibidas de estudar o latim e discriminadas ao tentarem escrever, as mulheres usaram
as cartas como uma 'válvula de escape' frente as pressões, já que, constituindo uma escrita que se propõe confiden-
ciai, escapava do controle dos confessores e da Inquisição. Pretendo também apontar características dessas fontes
que possam ajudar a decifrar como tais personagens históricas se relacionaram entre si e com os outros. Interessante
será também abordar as relações que Teresa de Jesus e Maria de São José estabeleceram com a cultura escrita e,
principalmente, com a escrita epistolar. O trabalho a ser apresentado faz parte do projeto de tese desenvolvido no PPG
de História da UFRGS, denominado: 'A Madre Fundadora e os Livros: um estudo sobre santidade e cultura escrita no
'século de ouro' da Espanha'.

Regina Bittencourt Souto· Secretaria Municipal de Educação de Florianópolis


"Meu diário": narrativas autobiográficas na escolarização de jovens e adultos
Esta comunicação pretende examinar os registros deixados nos diários individuais pelos estudantes do curso de
Educação de Jovens e Adultos, da Secretaria Municipal de Educação da cidade de Florianópolis. Como uma prática
cotidiana, esses diários são considerados, além de um instrumento de avaliação nos processos de escolarização, um
suporte de escritura escolar possibilitando aos estudantes o acompanhamento de sua trajetória de vida escolar. A
análise desse material revela o deslocamento das escrituras escolares para as escrituras pessoais, demonstrando
assim que os registros individuais estão relacionados aos sentidos e significados subjetivos da vida existencial de
cada sujeito escritor. Concebe-se essa prática de escrita como objeto de estudo, percebidas aí as marcas da constru-
ção das subjetividades e das alteridades, já que são textos autobiográficos, expressando um jeito de ser e uma manei-
ra de falar, e estabelecem uma representação de si e do outro, uma vez que quem escreve, o faz para alguém ler. ~
Observa-se que essa prática escolar cotidiana afeta tanto os estudantes quanto os professores que realizam, diaria-
mente, as leituras dessas escritas.
®
I 18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h ás 18h) I
Antonio de Pádua Carvalho Lopes· UFPI
As escritas de si masculinas: entre memórias e autobiografias - elementos para pensar as masculinidades ~
O estudo analisa 28 textos de autores piauienses, escritos no século XX, nos quais eles falam de si. A definição do ~
corpus considerou a existência nos textos de uma identidade entre autor, narrador e protagonista (LEJEUNE, 1994), ,~.
embora 'os gêneros existam não só como modo de escrever e falar, mas também como de ler e ouvir' (BRUNER E ~
WESER, 1995). Nos estudos sobre gênero, como afirma Vifiao (2000), este tipo de escrita foi importante, especialmen- ~
te, para revelar as experiências femininas. Contudo, como afirmam Catani, Bueno, Sousa e Souza (1997), o lugar Q)

social possibilitador de trajetórias de vida do masculino e do feminino constroem tipos de memórias diferenciadas. Não .~
há, porém, uma homogeneidade do masculino, existindo masculinidades (CONNEL, 1995). O uso da categoria grams- ~
ciana de hegemonia possibilita a compreensão dessas masculinidades e suas interrelações, considerando que a z
masculinidade hegemônica tem a capacidade de impor uma definição específica sobre outros tipos de masculinidade 6o..
(ALMEIDA, 1995). Concluiu-se, dentre outros aspectos, que há predomínio da escrita de memórias, nas quais a defini- E Q)
f-

595
ção de si pelo espaço público vincula as masculinidades ao modelo hegemônico, revelando a complexidade dessa
construção relacionada, especialmente, com os tempos de vida.

Carlos Gilberto Pereira Dias - UFRGS


Costurando vidas: Os itinerários das professoras Ana Aurora do Amarallisboa (1860-1951) e Júlia Malvina
Hailliot Tavares (1866-1939)
Este resumo apresenta uma proposta de estudo sobre o itinerário das professoras Ana Aurora e Malvina, observando
os aspectos paralelos de suas trajetórias e entrecruzando suas experiências individuais. Nosso enfoque volta-se para
a maneira como estas duas mulheres re (construíram) suas vidas se contrapondo e resistindo aos padrões culturais na
transição do século XIX e início do século XX, na medida em que exploram através de suas práticas educacionais uma
possibilidade de atuar no espaço público. Uma das contribuições desse estudo é, sem dúvida, dar voz a personagens
por muito tempo silenciados pela história: as mulheres. Nesta perspectiva, o cruzamento dessas trajetórias colabora
para compreendermos que mesmo diante das limitações impostas pelo contexto, as duas personagens encontram um
campo de possibilidades para realizar seus projetos e esta prática "tensa' traduz-se, sobretudo, numa reação, numa
resistência tolerante à época em que suas trajetórias se desenrolam. Por outro lado, repensar os estudos sobre a
'escrita de si", observando o alcance e os limites de tal enfoque, nos leva a compreender as ambigüidades que permei-
am nossas vidas.

Uiran Gebara da Silva - USP


A Poética de Eucharisticos: um estudo sobre o gênero de uma autobiografia metrificada do século V d.C.
O objetivo desta comunicação é apresentar a relação que se estabeleceu entre uma pesquisa em história antiga - a
investigação histórica do relato feito por um monge cristão sobre sua vida na Gália do século V d.C. - e a necessidade
que esta despertou de um conhecimento em letras clássicas e estudos sobre gêneros literários clássicos - uma vez
que se trata de um poema autobiográfico. A pesquisa exigiu que se verificasse o impacto dos instrumentos da retórica
e da escrita metrificada clássicas no discurso de Paulino (ainda mais sendo ele neto de um poeta como Ausônio).
Sendo que a expressão dessa educação em Paulino é também a forma poética de sua obra, entender a forma é parte
do processo para entender a representação da sociedade da época que a poesia realiza.

José Otávio Aguiar - UFCG


Entre a ilusão e o efeito de real: sobre a experiência de se escrever uma biografia histórica
Entre os anos próximos passados de 2000 e 2003 empenhei-me na construção de um relato biográfico. Estudei a
trajetória de vida de um militar francês napoleônico no Brasil (1808-1836), procurando fazer da recuperação dos frag-
mentos e vestígios sobre a vida de um homem a construção de uma janela de observação para a historicidade e o
cotidiano de seu tempo. Este pequeno ensaio dedica-se ao estudo e à partilha de experiências sobre a elaboração de
um trabalho biográfico em história.

Olivia Morais de Medeiros Neta - UFRN


História, escrita e espaço: configurações do seridó potiguar
Oobjetivo deste trabalho é pensar as configurações espaciais do Seridó potiguar - situado na porção centro-meridional
do Estado do Rio Grande do Norte - a partir da análise das seguintes obras: "Homens de Outrora" (1941), de Manuel
Dantas; 'Seridó' (1954), de José Augusto Bezerra de Medeiros; 'Velhos costumes do meu sertão' (1965), de Juvenal
Lamartine de Faria e "Sertões do Seridó' (1980), de Oswaldo Lamartine de Faria. O discurso historiográfico será
indagado quanto as representações de espaço e as configurações que o (de)marcam, estas passam pela idéia de
sertão e de luta entre o homem e a natureza. Destacamos o Espaço do Eu (de)marcado pelas subjetividades e signi-
ficações de cada autor, considerando a relação entre autor, escrita e corpo, seja o da historiografia ou dos sujeitos que
dão forma ao Seridó em seus escritos. Objetivamos dar voz à arregimentação dos sentidos sobre o Seridó, entenden-
d<Xl como subjetivado e significado por autores a partir da noção de sertão e a relação homem e natureza. Neste
sentido, abordaremos as cartografias expressas para o Seridó na historiografia, sua paisagem e sua natureza.

Francisco Francijési Firmino - UFRN


Narrativas do espaço e de si: o Ceará na Trilogia da Maldição de José Alcides Pinto
Neste trabalho propomos estudar a construção do Ceará, tendo por fonte a 'Trilogia da Maldição' - composta pelos
romances "O Dragão' (1964), 'Os Verdes Abutres da Colina' e" João Pinto Maria: a biografia de um louco' (ambos de
1974) - do literato José Alcides Pinto. Buscamos tecer a relação entre o Ceará configurado nestas obras e a crise da
esquerda no Brasil. Nos utilizamos também de uma autobiografia do autor, intitulada "Manifesto Traído', cuja publica-
ção acontece em 1984, na qual José Alcides narra sua prisão dada pela militância no Partido Comunista Brasileiro
(PCB). O encarceramento é apontado na obra como momento em que o autor rever sua trajetória politica, cujas
considerações encaminhavam-no a um duplo movimento: um, que avultava a vontade de afastamento do PCB; ao
mesmo tempo que buscava também enveredar-se na elaboração da Trilogia da Maldição, a qual marcaria seu "retorno"

596
às suas memórias da infância no interior do Ceará. Tratamos, então, da intersecção entre biografia e obra, percebendo
como José Alcides lança mão de uma política de sentidos para refigurar um tempo e um espaço, para reconciliar-se
consigo, ou seja, justificar sua posição de ex-militante comunista e uma construção poética do Ceará

Joel Carlos de Souza Andrade - UFRN


Entre Ferro e Quadros: o luso-brasileirismo e a arte de continuar português (1940-1980)
Esta comunicação tem como objetivo principal discutir o projeto de reaproximação luso-brasileira através de dois
pensadores portugueses: António Ferro e seu filho António Quadros. O primeiro quando esteve à frente do Serviço
Nacional de Informação, do Estado Novo salazarista e articulou vários projetos: a criação da Atlântico: revista luso-
brasileira em parceira com o governo brasileiro (1942-1950); a criação do Instituto de Estudos Brasileiros (1941) e da
revista Brasília (1942-1968). Já António Quadros através da revista Espiral (1964-1968) deu continuidade a um projeto
de valorização da singularidade portuguesa, pautando-se invocação do mito e da tradição histórica contra os estran-
geirismos. Neste sentido, a proposta desta comunicação é analisar como no âmbito das articulações destes autores
emerge um diálogo com autores brasileiros, Câmara Cascudo, Gilberto Freyre, Ariano Suassuna e outros que reforçam
a ideia retomada na obra de António Quadros: 'a arte de continuar português' de 1978.

Maria Bernadete Moreira Kroeff- PUCRS


Narrativas de memoriais: histórias de um tempo vivido
O presente trabalho objetiva reconstruir a história de professores(as), doutorandos, que se encontram nas salas de
aula do Rio Grande do Sul, buscando apreender através de seus memoriais, experiências pessoais e profissionais,
observando as práticas pedagógicas e a História da Educação brasileira, que permearam suas trajetórias. Possibilitan-
do a reflexão sobre as narrativas de um tempo vivido guardados na memória, destacando e ampliando as discussões
sobre os aportes teóricos metodológicos da produção Auto-biogràfica.

I 19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h às 16h30min) I


Marcos Luis Ehrhardt - UNIOESTElUFPR
História e Filosofia: a interdisciplinaridade nos estudos de Lucius Seneca
O presente trabalho objetiva evidenciar a relação entre a filosofia e a formação do homem público nas reflexões de
Lucius Seneca. A grande importância do papel do filósofo, a iniciação e domínio da filosofia, faz, segundo Sêneca, o
iniciado mais seguro de si, auxilia a enfrentar os problemas cotidianos e os temores da vida. Para ele era preciso
interiorizar a filosofia no mais íntimo do ser, torná-Ia uma amiga inseparável. Para tanto, propõe que ela seja um refúgio
que prepara e fortalece para enfrentar os inimigos, os golpes da fortuna, a refrear os vícios e as paixões e a adotar uma
postura de indiferença perante a morte inexorável. A filosofia serviria ainda, para uma utilidade prática, atuando de
forma direta na vida política da cidade e preparando o homem para auxiliar seus semelhantes e se colocar a serviço do
bem comum. Constantes referências aos estudos filosóficos e a sua importância, na obra de Sêneca, permite-nos
pensar por meio da interdisciplinaridade em seus significados para a formulação de um modelo de 'homem senequia-
no' no primeiro século da era cristã.

Monica dos Santos Quaresma - UNISANT'ANNA


A Primeira República na Bahia através de José Joaquim Seabra
®
O presente trabalho pretende discutir o papel do indivíduo na História.Através de aspectos biográficos do político
baiano José Joaquim Seabra, pretende-se aqui 'iluminar" aspectos políticos da Primeira República na Bahia.Também
objetiva explorar as múltiplas possibilidades da pesquisa biográfica.

Hileia Araujo de Castro - Centro de Ensino Superior Anísio Teixeira


Os negros livres e contrução das narrativas de si: Luiz Gama e André Rebouças ~
As divergências nas construções autobiográficas de Gama e Rebouças, ao mesmo tempo que explicitam as contradi- ~
ções relativas ao sistema escravista, deixam em evidência tanto as discriminações raciais inerentes àquela organiza- 'B.
ção social como os limites por ela estabelecidos para a ascensão social do negro e do mulato, quais sejam, o cultivo de ~
amizades com pessoas de alguma forma vinculadas ao poder político ou econômico e o domínio do saber. Mais que a ~
observação da existência de pontos de contato e de antagonismo entre as histórias de vida de Gama e Rebouças, Q.)

quero detectar também as diferenças de tratamento dadas a estes negros de acordo com suas origens, opções políti- .~
cas, e práticas profissionais, demonstrando ainda que eles tinham tratamento social diferenciado de acordo com as ~
suas posições frente a sociedade brasileira do século XIX. ~
0-
e.
E
Q.)
f-

597
Aline de Souza· UFES
"Cenas Martianas": Revisitando os discursos de José Marti
Apresentaremos algumas considerações sobre os discursos de José Martí e suas representações. A obra martiana
caracterizou-se por buscar configurar um pensamento identitário para a América latina na segunda metade do Séc.
XIX, tendo como característica a formação de enunciados carregados de forte conteúdo utópico, em discursos onde a
literatura ocupou lugar de crítica social. Por meio do ensaísmo e da poesia, Martí repensou a condição das diferentes
repúblicas hispano-americanas, com enfoque peculiar sobre o indígena, o mestiço e sobre si próprio, colocando-se
num limite muito tênue entre a descrição da realidade vivida e a representação da sociedade sonhada.

I 20107 - Sexta-feira - Manhã (10h30min às 12h30min) I


Tereza Cristina Pereira Lima· UnB
Duas narrativas para um mito: Tiradentes nas obras de Lúcio José dos Santos e Francisco de Assis Cintra
A presente pesquisa se propõe a analisar as representações historiográficas sobre o papel de liderança de Tiradentes
na Inconfidência Mineira e identificar o processo de mitificação de Tiradentes como herói deste movimento nas obras
de Lúcio José dos Santos e Francisco de Assis Cintra. A Inconfidência Mineira tem sido elemento de suporte a uma
determinada construção historiográfica, Tiradentes desponta como seu símbolo, síntese das idéias das quais o movi-
mento seria o precursor, no Brasil. Para a historiográfica clássica Tiradentes foi o principal líder e herói da Inconfidência
Mineira, simbolo do mais destemido altruísmo, morreu por idealizar e desejar a libertação da nação brasileira do
domínio colonial português.

Isabel Valente· Universidade de Coimbra


Memória, História e Comemorações: alguns aspectos contextualizadores
As palavras memória e história evocam o mesmo tempo - o passado. Contudo memória e história não se confundem.
Ainda que directamente relacionada com a história a memória é vista como fonte de experiência ou como suporte da
identidade colectiva. A memória pode também apresentar-se de fonma individualizada podendo ser também, social ou
nacional. A este propósito, não deixa de ser oportuno, recordar as palavras de Fernando Catroga - 'existe um relativo
consenso acerca da necessidade da anamnesis na formação das identidades pessoais e sociais'. A memória pode ser
analisada como um sistema onde se cruza todo o tipo de estruturas culturais, políticas e económicas enquanto códigos
de representação. Assim sendo, as 'representações do passado e do presente bem como as idealizações do futuro
também convivem na memória, conferindo ao individuo identidade cultural e grupal'. Neste contexto, Candau destacou
a existência de três tipos de memória: proto-memória, memória propriamente dita e metamemória.

Regina M. M. C. Dantas· Museu Nacional- UFRJ


O Museu do Imperador: a apresentação de D. Pedro 11 colecionista
O trabalho é um dos resultados da dissertação sobre o cotidiano de d. Pedro 11 no Paço de São Cristóvão (atual prédio
do Museu Nacional). Com a pesquisa foi descoberto o espaço privado do monarca pouco conhecido pelos historiado-
res - o Museu do Imperador. Seus objetos foram identificados dentro das coleções do Museu Nacional Uá ressignifica-
dos) que, para isso, foram utilizadas narrativas do monarca (diários), de naturalistas viajantes, além de manuscritos do
Museu Imperial e Nacional (antigo Museu Nacional), manuscritos do imperador (no Museu Imperial de Petrópolis),
Relatórios Ministeriais e jornais da época. A descoberta do espaço e dos objetos representou um melhor entendimento
sobre a transferência do Museu Nacional para o prédio do Paço de São Cri~tóvão (em 1892) e a relação entre o
monarca e a instituição no desenvolvimento das ciências no Brasil do séc. XIX. E uma novidade para os pesquisadores
do Museu Nacional, guardiões de um acervo que desconheciam a sua procedência ligada ao monarca e a instituição.
O acervo será exposto pela primeira vez no próximo ano nas comemorações da instituição pelos 200 anos da chegada
da Família Real ao Brasil. Apresentado pela primeira vez, trata-se de um trabalho que articula história, memória e
narrativas.

Juçara Luzia Leite· UFES


Práticas de leitura e escritas de si:livro didático regional e identidade geracional
A História tem sido apropriada, servindo para legitimar pensamentos, valores e relações de poder, e seu ensino,
vigiado e manipulado. O livro didático de História, devido ao seu alcance, é, reconhecidamente, um dos mais fortes
instrumentos dessa ação e entendido, aqui, como objeto cultural. Mercadoria, veiculo transmissor e consolidador de
representações, além de instrumento pedagógico, o livro didático regional de História é a base deste trabalho sobre o
seu contexto de produção, considerando o processo de escrita didática da História como uma forma de 'escrita de si'
e de construção de sentido identitário de uma geração de historiadores e intelectuais, possibilitando, assim, diferentes
leituras. Este é o objetivo deste estudo, baseado em Chartier (1990), Koselleck (1990), e Pécaut (1990).

598
20107 - Sexta-feira - Tarde (14h às 18h)

Hilda Pivaro Stadniky - UEM


Watakushi no Kiroko: memória e construção da narrativa histórica nas fronteiras dos estudos literários e de
gênero
A historiografia contemporânea tem reservado espaço cada vez maior à escrita autobiográfica, ás memórias e ao
romance biográfico e nossa proposta é uma reflexão sobre a memória, a escrita da história e as representações do
passado a partir das primeiras obras literárias escritas por isseis e nisseis no Brasil. O exerci cio autobiográfico ocupa
lugares mentais por excelência, o autor recapitula o espaço e o tempo, contribuindo para a elaboração de uma história
individual e coletiva. No interior de uma ordem simbólica, onde a própria lingua'gem é um instrumento de opressão, os
gêneros masculino e feminino expressam concepções acerca da vida e da natureza, são capazes de reconstruir o
sentido da experiência do cotidiano na pluralidade da vivência familiar. A família de nipo-brasileiros, suas práticas
culturais, as estratégias de manutenção da identidade grupal e os espaços vivenciados são os focos centrais de
análise e que nos permitem refletir acerca das relações entre memória e construção da narrativa histórica nas frontei-
ras dos estudos literários e de gênero.

Tereza Bressan de Souza· UNIDERP


Rompendo Desafios na Luta como Mediadora em Ações Político· Pastorais
Historiar sobre pessoas não é tarefa fácil. Sempre temos a sensação de sermos superficiais. Este trabalho trata-se de
uma pesquisa em andamento, que tem por objetivo sistematizar alguns passos e ações de alguém que se destacou na
luta pelos Movimentos Sociais. O período de sua atuação foi um dos mais difíceis. No final dos anos 70, a ditadura
Militar estava no auge da repressão. Em São Paulo, surgiam as greves do ABC. Os Sindicalistas tomavam a Nicará-
gua, e a Teologia da Libertação parecia ser o caminho revolucionário das mudanças pela expansão das CEBS. Na
Igreja, foi o momento em que, pelas conclusões de Medellín e as teorias de Leonardo Boft, centenas de religiosos
partiram para o campo pastoral junto aos operários, camponeses e marginalizado. Foi neste contexto que Irmã Olga
Manosso iniciou sua trajetória, assumindo uma ação político-pastoral-mediadora, atuando na organização da Comis-
são Pastoral da Terra (CPT) e no Movimento de Mulheres em Mato Grosso do Sul.

Fernanda Rodrigues Galve • PUCSP


Memória das águas
A idéia de que o rio simboliza a força criadora da natureza, do tempo e da memória adicionada, ainda, à fertilidade e á
irrigação da terra, em João Cabral, cresce de tal maneira que as várias imagens que inundam o poema 'Morte e Vida
Severina" estão ligadas ao fio mais precioso nesta grande jornada, o Capibaribe. O rio delicado na nascente, seco no
Agreste e grandioso na cidade, corre para o mar e, em seu caminho, produz ou encaminha vidas. Ao chegar em Recife,
encontra seu grande amigo em um belo abraço, o rio Beberibe. Estes dois rios aventureiros, em estado de boemia, se
avolumam, perdem o rumo e formam canais e os mangues da cidade, onde, como bons e velhos amigos, resumem
suas aventuras heróicas, até o grande encontro com o Atlântico.O rio Capibaribe conduz ao tempo do reencontro, liga
o campo à cidade, o rural ao urbano, a nascente ao mar, e a morte à vida. Ele nasce pequeno, cresce pensando que é
grande e morre gigante, pois encontra o seu destino, o oceano. É identificado ao homem nordestino e retirante, que,
assim como ele, tem uma sina a cumprir. É local de vida e de morte, de inicio e de fim. É o grande fio desta trama de ~75
História poética e de crítica social que é habitada por todos nós e representada na obra de João Cabral, pela imagem ~
poética do rio Capibaribe.

Abrelino Carlos Tenedini • UFMT


MemÓria de Arlindo Ignácio de Oliveira em Diamantino Mato Grosso (1955 a 1999)
Nesta presente comunicação pretende-se apresentar uma reflexão sobre a atuação do jesuíta Arlindo Ignácio de
Oliveira, no período de 1955 a 1999. Nascido no Estado de Santa Catarina, esteve a serviço da missão jesuítica em ü)
Diamantino no Mato Grosso com propósito de catequizar, propagando também os costumes e sentimentos da socieda- .g;
de ocidental aos habitantes e principalmente aos povos indígenas da nação Irantxe e Paresi. Tencionamos analisar ~
cartas pessoais, que servem de suporte privilegiado para uma argumentação com a finalidade de evidenciar questões 'f;.
envolvendo o trabalho do padre em Mato Grosso. Embora permeadas de aspectos íntimos, estas correspondências ~
não raro apresentam resquícios de motividades e demonstra as representações que o mesmo tinha do território mato- E
grossense e das populações indigenas Irantxe e Paresi. Neste sentido as cartas revelam a construção de um discurso :
que traz realidades construídas por seu autor. No campo da memória está sendo fundamental a fonte oral, cujas .,5
informações trazem sensibilidades e emoções o que possibilita construir uma narrativa criteriosa ao relacionar com a ~
documentação produzida pela missão religiosa. Assim, a pesquisa possibilitará compreender o processo de coloniza- ~
ção dos espaços da região de Diamantino em Mato Grosso 6
c.
E
a>
f-

599
Hilda Agnes Hübner Flores· PUCRS
Anita Garibaldi: mito e realidade
2007 é o transcurso do bicentenário de nascimento de José Garibaldi. Cabe um olhar sobre Ana Maria de Jesus
Ribeiro, a Anita, sua companheira e mãe de seus filhos. Humilde e iletrada, poucas informações documentais ficaram
sobre Anita. Então biógrafos, literatos e até historiadores usam de hipóteses e da criatividade para preencher lacunas.
Da contradição de dados e informações antagônicas resulta a exaltação da 'Heroína dos dois mundos', o surgimento
do mito Anita Garibaldi. O presente trabalho mostra (des)informações e equívocos que alimentam o imaginário popular,
traçando paralelo entre mito e realidade. Pretende-se mostrar também Anita como feminista, atribuição que os biógra-
fos e nem mesmo o imaginário lhe atribuem. Feminista porque optou por abandonar marido e sua pacata e preconcei-
tuosa vila de Laguma para ir ao encalço do homem que lhe inspirou sentimentos de paixão e apontava com um tipo de
vida alternativo, embora de futuro incerto. Como feminista, Anita não fez escola, mas meio século mais tarde a socie-
dade brasileira se debatia em campanhas políticas a favor/contra o divórcio 'pleno', aquele que daria direito a refazer
a vida em um segundo casamento.

76. Territorialidades da memória: espaços, identidades e conflitos sociais


Icléia Thiesen (UNIRIO) e Marco Aurélio Santana (UFRJ)
I 16/07 - Segunda-feira - Tarde (14h às 18h) I
Icléia Thiesen - UNIRIO E Marco Aurélio Santana - UFRJ
A política e a cidade: memória e identidade de movimentos sociais no Rio de Janeiro (1980/1990)
O presente trabalho analisa as formas pelas quais militantes dos movimentos sindical e popular constroem suas
memórias acerca das mobilizações experimentadas no município de Volta Redonda nos anos de 1980/1990, verifican-
do as representações de cidade que perpassam esse trabalho de memória. Na verdade, o que se tem é uma leitura da
cidade - concreta e simbólica - pela lente da política. A pesquisa é feita via utilização da metodologia da História Oral,
desenvolvida através de entrevistas com militantes e outros atores sociais participantes daqueles movimentos. As
falas dos entrevistados nos servem como portas de entrada às suas representações acerca do espaço em que atua-
ram. Sente-se claramente a diferenciação e qualificações que buscam evidenciar entre os dois períodos. A partir das
falas dos entrevistados, se pode perceber as estreitas relações entre a construção de sua memória e o espaço no qual
atuaram.

Raphael Jonathas da Costa Lima· UFRJ


Participação e Representação Política em Volta Redonda (RJ): a trajetória do MEP·VR
Oobjetivo deste trabalho é apresentar a trajetória do Movimento Ética na Política de Volta Redonda (MEP-VR), entida-
de que há 10 anos vem se consolidando como a mais representativa experiência de associativismo da região sul
fluminense, ocupando o lugar do Sindicato dos Metalúrgicos (SMSF) como porta-voz dos setores populares diante do
poder econômico da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e dos abusos do poder público municipal. O MEP é uma
organização estruturada sob a forma de rede que reúne uma série de outros movimentos sociais, além de representan-
tes de Igrejas (católicas e evangélicas), ONGs e do Ministério Público (Estadual e Federal). A proposta é fazer uma
reflexão acerca dos elementos responsáveis pela constituição desse movimento, sugerindo a existência de raízes
históricas que nos remetem a um processo gradual de acumulação de experiência política e de construção de uma
identidade local (cujo fio condutor teria sido a Igreja Católica). A constituição dessa experiência inovadora é, acima
de tudo, reflexo da consolidação de uma memória coletiva e do amadurecimento de Volta Redonda enquanto muni-
cipalidade.

Cristiane Muniz Thiago· UNIRIO


Rio de Janeiro Operário: memória dos trabalhadores do bairro do Jacaré .
O presente trabalho tem como tema a memória dos ex-trabalhadores do complexo industrial do bairro do Jacaré, Zona
Norte da cidade do Rio de Janeiro. Entre os anos 1960 e 1990 esta região foi caracterizada pela forte presença dos
trabalhadores. A maior parte da mão-de-obra empregada no complexo industrial residia no bairro, na Favela do Jaca-
rezinho. O objetivo deste trabalho é, através da memória, analisar a história desse grupo de trabalhadores, sua a
atuação no movimento operário e a importância da esfera comunitária para a formação da identidade de classe.
Aspectos do desenvolvimento urbano, do lazer e da religião também serão abordados, além do processo de migração
que impulsiona a formação do Jacarezinho. O cenário do bairro (Jacaré e Jacarezinho) é um dos destaques na memó-

600
ria desse grupo de operários. Refletir sobre o espaço é, portanto, fundamental para uma melhor análise da história
desses trabalhadores, valorizando os contextos em que os movimentos operários delineiam suas histórias. A principal
@
76
metodologia utilizada foi a da história oral, as entrevistas privilegiaram moradores e operários desse bairro operário. :
Os resultados da pesquisa apontam para a forte mobilização desse grupo em torno das questões referentes ao mundo ~
do trabalho e a vida comunitária. 1i5
:-g
c:::
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Ricardo Medeiros Pimenta - UNIRia :Q
Memória do trabalho: estratégias de produção e consumo de uma classe longe do fim
Buscamos analisar o novo papel social do sindicato enquanto 'guardião' de uma memória cujos representantes ale-
gam ser representativa de sua classe. Afinal, nos últimos vinte anos pudemos ver que a classe trabalhadora foi profun-
damente marcada pelas intensas mudanças sociais, políticas e econômicas do mundo capitalista ocidental. No Brasil .ê
os anos noventa foram em especial singulares pelo processo de transição, não apenas politico, mas principalmente 'E
econômico. Nesse panorama, uma crise de identidade sem precedentes se instaurou no interior da classe trabalhado- E
ra, recolocando a memória na pauta de grupos de trabalhadores e sindicalistas. Nesse enfoque consideramos que a ~
'produção' e disseminação de uma memória representativa desses grupos vêm sendo realizadas através de novas ~
estratégias e lutas por novos espaços, novos territórios. Através de alguns estudos de casos podemos considerar que 1i5
a experiência da utilização do ciberespaço por esses sindicatos, por exemplo, mostra que as antigas instituiçôes estão :Q
longe de protagonizar seu fim e que elas vêm aprendendo a se locomover também nos não-lugares do espaço virtual, ~ .1ª
utilizando-os de maneira a combater o desvanecimento de uma memória do trabalho no Brasil. -
~
Rosana Costa Gomes - UNEB
No vai-e-vem das marés: Vivências das marisqueiras de Salinas da Margarida: 1960-2000
Esta pesquisa se refere as marisqueiras de Salinas da Margarida, município localizado no Recôncavo Sul da Bahia,
situado na Bacia Hidrográfica do Rio Paraguaçu, na Baia de Todos os Santos. A mariscagem feita por estas mulheres
é uma prática que consiste no processo de catar pequenas conchas nas areias das praias, das quais são retirados os
mariscos, conhecidos no local como chumbinho ou sarnabitinga. Esta atividade envolve relações de trabalho em
grupo, que perpetua uma tradição marcada por aspectos próprios, referenciando a luta pela sobrevivência das maris-
queiras e suas famílias. Foram feitas entrevistas com as marisqueiras, compreendendo assim, seus costumes, os
mecanismos de socialização, como a prática é passada de geração para geração, as formas utilizadas na superação
das dificuldades, seus sonhos, desilusões e as mudanças sócio-geográficas ocorridas na cidade que interferiram na
mariscagem.

Verônica Sales Pereira - Centro Universitário Belas Artes


Comércio informal, segregação sócio-espacial e memória urbana: repensando as temporalidades do espaço
urbano em São Paulo na década de 90
A cidade de São Paulo, no final da década de 90, foi objeto de projetos de 'revitalização urbana' do seu centro antigo,
tendo como pano de fundo a busca de sua elevação ao posto de cidade global. A municipalidade (entre 1997 e 2000)
tentou a retirada do comércio informal das ruas, tornando-as palco de conflitos entre ambulantes, fiscais municipais e
a policia, que culminaram com denúncias de corrupção e a abertura de uma CPI cuja repercussão foi nacional. O lugar
destes conflitos foi o bairro do Brás, caracterizado pela 'desindustrialização', pelo 'multiculturalismo', pela informalida-
de e pela precariedade tanto no trabalho como na moradia. Assim, nestes conflitos sobrepunham-se ainda disputas
identitárias, entre migrantes nacionais (ambulantes) e estrangeiros (comerciantes), às territoriais. Abordaremos os
significados da reconstrução da memória neste processo: na ocupação das ruas; na construção de táticas de resistên-
cia; na disputa entre os vários sujeitos em torno das representações do passado díl cidade a fim de, no presente,
construir a legitimidade em torno do direito á apropriação do espaço público urbano. Por fim, discutiremos alguns
limites interpretativos da literatura sociológica ao não problematizar as questões da temporal idade e da memória
urbanas nestes processos.

Frederico Sidney Guimaraes • UNIRia


"Zona" Organizada: A memória do caminho para a cidadania trabalhista das Prostitutas do Rio de Janeiro
Este trabalho tem como objetivo analisar a memória das prostitutas da cidade do Rio de Janeiro que participam dos
projetos politico-sociais em prol do reconhecimento de sua cidadania, saúde e da obtenção de seus direitos trabalhis-
tas. Através de um inicio de mobilização em seus locais de trabalho, foi-se estabelecendo contatos de parceria até que
se efetivou o I Encontro Nacional de Prostituas, em 1987, quando foi criada a Rede Brasileira de Prostituas. Este
evento marcou o início da luta institucionalizada, o que nos permite discutir as formas encontradas para a criação da
representação política e as atividades que contribuíram não somente para as questões politicas, como também para a
prevenção de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs), além das campanhas para conscientização, para as
próprias prostitutas, de que suas práticas de trabalho se enquadram numa categoria profissional. O trabalho conta com
a metodologia da História Oral através da coleta de entrevista das lideranças politicas e das prostitutas que se concen-

601
tram suas atividades na Prevenção de DSTs. Também temos a oportunidade de analisar documentos disponibilizados
no Centro de Memória da ONG Davida.

Regina Soares de Oliveira - UNICAMP


Formação identitária e segregação social: encontros e desencontros no bairro operário Belenzinho, São Paulo
Pensar as cidades requer observá-Ias por meio de outra perspectiva que não somente sua constituição espacial. Este
olhar pode deter-se sobre as múltiplas identidades que a perpassam, refletir sobre as relações entre os habitantes,
suas percepções sobre as transformações sociais e constituição de identidades especificas, baseadas em memórias,
muitas vezes, fragmentadas. Reafirmar identidades pode converter-se em segregação de espaços específicos a deter-
minados grupos sociais dentro da cidade, gerando conflitos que se tornam perceptíveis através de embates, discursos
e narrativas de memórias. Pretende-se encontrar os antecedentes da formação do bairro operário Belenzinho, em São
Paulo, compreender como a fragmentação desse espaço geográfico, provocada por grandes intervenções urbanas a
partir de 1960, deixou marcas na paisagem e contribuiu à preservação da identidade e memórias que ali estão. Os
conflitos sociais decorrentes da reafirmação identitária estão expostos através de zonas de segregação de grupos
dentro do território. Busca-se a trajetória e constituição dessas identidades, presentes nos discursos e caminhos cons-
truidos pelos diversos segmentos sociais deste bairro.

I 17/07 - Terça-feira - Tarde (14h às 18h) I


Ana Elizabeth Costa Gomes - UFBAlCEAO
Porto do Campo: vivências, memórias e construção da(s) identidade(s) em uma comunidade negra rural
O presente trabalho tenta compreender movimentos, conflitos e (re)negociações em torno da construção e reconstru-
ção da memória social, em uma comunidade negra rural, denominada de Porto do Campo, localizada na Baía de
Camamu, no Estado da Bahia. Ao refletir sobre identidade étnica em Porto do Campo e analisar vivências desse grupo
social, verifica-se que as memórias que dão sentido à sua história e cotidianidade estão alicerçadas em uma história
factual e nas tradições que passam de geração em geração, ambas relacionando-se e sedimentando-se em um campo
vivencial multifacetado no qual identidades são (re)feitas. Pretende-se compreender as estratégias (re)elaboradas
pelos africanos e seus descendentes pela construção e conquista dos direitos de cidadania, visando a apropriação de
espaços e a busca da afirmação das identidades. Não se pode desconsiderar que, se, de um lado, é fundamental
considerar que os processos identitários são mutáveis, de outro, não se pode esquecer que suas transformações se
dão dentro de teias e relações sociais, históricas, políticas e culturais especificas. Como afirma Appiah (1997:243),
'toda identidade humana é construida e histórica' .

Valéria Nogueira Rodrigues - UFMT


De Guaikuru a Kadiwéu: conflito e transculturação
Os índios Guaikuru viviam no território dominado pelos castelhanos e daí forçosamente mudaram-se após inúmeros
conflitos com os espanhóis. Fixaram-se, então, no Pantanal, e aí mantiveram intensa amálgama cultural junto a seus
cativos, bem como desenvolveram a criação de gado e, sobretudo de cavalos que montavam habilmente e sob os
quais eram quase imbatíveis nos combates. No início do século XVIII a mineração abria os caminhos luso-paulistas na
região, erígíndo seu aparato polítíco e admínístrativo, as relações entre os Guaíkuru e os paulistas foi marcada, em
geral, pelo conflito, poís inúmeros embates foram travados com perdas para ambos, porém no final do século estes
puseram em prática uma política de amizade promovendo significativas mudanças nas relações sociais dos Guaikuru.
Também os Kadíwéu, de ancestralidade Guaikuru, já no século XIX, sofreram transformações culturais, de suas rela-
ções simbólicas e representações através dos conflitos e da transculturação.

Cristiano Nicolini - UNISINOS


"Entre Vales e Montanhas ... ": análise das representações históricas dos imigrantes e a construção da identi-
dade regional no Vale do Taquari
No Vale do Taquari, região situada ao centro do estado do Rio Grande do Sul, vem-se construindo, ao longo do séxulo
XX, uma determinada imagem acerca dos municípios pertencentes a este espaço geográfico e cultural. Ocupada por
diferentes povos (indígenas, portugueses, espanhóis, negros, açorianos), no século XIX o Vale passou a ser povoado
pelos imigrantes alemães e italianos. O passado colonial, portanto, marcou de forma intensa a cultura local, sendo que
a trajetória destes imigrantes foi eleita como elemento central das representações históricas regionais. Cada município
integrante desta territorialidade busca, de formas variadas, mostrar a sua identidade aos munícipes e visitantes, atra-
vés da veiculação de livros, manuais escolares, folders, calendários, adesivos, botons, etc. Todo este material, sujeito
a uma análise historiográfica, acaba revelando as intenções e perspectivas daqueles que desejam fazer do Vale do
Taquari uma 'pequena Alemanha e uma pequena Itália' dentro do Brasil. Os materiais podem revelar os valores e as
crenças daqueles que se dizem herdeiros de um passado idealizado, bem como são capazes de apontar os preconcei-

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tos, as homogeneizações e exclusões étnicas e culturais que determinado projeto pode desencadear, sendo este o ~76
objetivo do presente trabalho. \!.!!)
Paula Durgante Ritter - UFRJ ~
Entre a terra e o mar: A construção da identidade dos maricultores de Jurujuba (Niterói, RJ) :§
Este trabalho visa analisar como a formação de uma associação de maricultores no bairro de Jurujuba, Niterói (RJ) 'E
propiciou ao grupo proveniente do estado de Alagoas na década de 1970, uma nova forma de apropriação e uso desse ~
espaço, servindo mesmo como instrumento no sentido da construção de sua identidade. Antes da Associação, os o ",'


marisqueiros do local, trabalhavam juntos, organizando-se conforme as relações de parentesco, de amizade e de Cl. ctl

vizinhança. O trabalho se dava em bancas simples, sem preocupação com a higiene e qualidade do produto. Em 2000, '"
quando do inicio das atividades do Centro de Beneficiamento de Mexilhão, se estabeleceram os principais conflitosê '"
entre os marisqueiros do bairro. A iniciativa de formar uma associação estava relacionada à tentativa do grupo de 'E
salvaguardar e reforçar sentimentos de pertencimento, de vínculo e de identidade, tanto no que concerne a atividade E
no marisco como também a sua origem, pois a maioria dos associados são membros das famílias provenientes do {g
nordeste. Em termos metodológicos, foi através das histórias de vida, da memória do grupo e da observação partici-
pante que os resultados foram obtidos. '"
'"ctl
'O

:'=!

Artur Monteiro Bento - UNIRIO ~


A Associação Caboverdiana no Rio de Janeiro: territorialidade da memória social E
Este trabalho constitui um capítulo da tese de Doutorado em memória Social na UNIRIO. Nele trataremos da territori- ~
alidade da memória social de imigrantes caboverdianos no Rio de Janeiro (1950-1973), através das suas narrativas. O
nosso objetivo é compreender as peculiaridades da (re)construção da memória no contexto sociocultural da região
metropolitana do Rio, e refletir sobre as questões relacionadas à refundação de algumas características caboverdia-
nas, que se efetiva no novo espaço social e geográfico. Para o alcance dos objetivos este estudo utiliza a metodologia
de História Oral, priviligiando os relatos orais de alguns atores sociais, além da revisão bibliográfica sobre a imigração
caboverdiana no Rio de Janeiro, a análise da construção social da memória e a observação participante. O estudo
sobre o processo de territorialidade da memória social pode ser capaz de revelar a refundação de uma memória
coletiva através da relação desses imigrantes com a Associação Caboverdiana no Rio de Janeiro consturida em 1983
pela comunidade local. Situada, especialmente, na Baixada Fluminense, a referida Instituição se encontra dotada de
representações sociais capazes de envolver os imigrantes caboverdianos através das lembranças que permanecem
no imaginário dos associados.

Magna Lima Magalhães - Centro Universitário FEEVALE


Associação e Visibilidade Negra em Novo Hamburgo
A proposta de trabalho pretende estudar a etnicidade negra na região do Vale do Rio dos Sinos, mais especificamente
na localidade de Novo Hamburgo, na primeira metade do século XX. O recorte temporal estabelecido respalda-se em
dois fatores relevantes: a fundação de uma associação negra, a Sociedade Cruzeiro do Sul no ano de 1922; e a
emanciapação de Novo Hamburgo, em 1927. A partir da investigação de periódicos locais, como o jornal 'O 5 de Abril'
e a 'Gazeta de Novo Hamburgo', bem como dos registros contidos no 'Livro de Queixas', busca-se elementos que
possibilitem configurar o cenário e o cotidiano local, identificando a presença negra na sua construção histórica. Tam-
bém como forma de ampliar análises e subsidiar o trabalho, o uso da História Oral é importante; já que permite o
contato com depoimentos que contribuem para uma reflexão acerca da história local e da participação dos negros.

Antônio Carlos Pinto Vieira -UNIRIO


Favela e território: memória e conflito na construção do lugar
Apesar de um rico processo de construção do espaço, de criatividade cotidiana e de organização social, as favelas
ainda são depreendidas como lugar do ilegal, do informal, do precário, do provisório, o não-lugar. Faz-se necessário
lançar um novo olhar sobre esse fenômeno cada vez mais presente no cenário das cidades modernas: as favelas são
lugares de vida e o processo que nelas se desenvolve é justamente o de construção, conquista, afirmação e reconhe-
cimento. O caso da Maré, na cidade do Rio de Janeiro, é emblemático. Surgida na década de 1940 com a ocupação de
parte da orla da Baía de Guanabara por palafitas, se tornou a partir das estratégias de permanência, das formas de
viver, dos processos de organização política um espaço estruturado e urbanizado. Por outro lado, a perda de referên-
cias sobre esse processo trouxe graves consequências para a compreensão da dinâmica do lugar e para a formação
da identidade de seus moradores, situação agravada pelo recrudescimento de grupos criminosos e para-militares, que
impõem permanente tensão em disputas pelo controle territorial. Nesse escopo a memória assume um papel funda-
mentai, o de superar o desenraizamento e revelar para a cidade que produz, pela segregação, os não-lugares, que a
favela é lugar, parte dessa mesma cidade.

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Antonio Carvalho Costa - PUCSP
Constituição de memórias e identidades étnicas na comunidade quilombola de Ivaporunduva
Nossa pesquisa de mestrado está em andamento junto ao Programa de Estudos Pós-Graduados em História Social da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo/PUC-SP. Temos como objetivo evidenciar os processos de constituição
e reconstituição de memórias e identidades negras em Ivaporunduva (Eldorado-SP) diante de seu reconhecimento
como remanescente de quilombo e decorrente demarcação e titulação de suas terras no cumprimento do Artigo 68 do
Ato das Disposições Transitórias Constitucionais da Constituição brasileira de 1988. A agricultura familiar e o comércio
de produtos como a banana garante a subsistência de Ivaporunduva e sua vida comunitária é postulada por valores
étnicos e solidariedade produtiva. A identidade como remanescente de quilombos tem permitido uma nova forma de
enfrentamento diante dos conflitos fundiários, ambientais e desenvolvimentistas latentes no Vale do Ribeira/SP. À luz
dos métodos da História Oral e História Social da Cultura, buscamos não apenas constatar os conflitos inerentes a esta
experiência de territorialidade negra no Estado de São Paulo, mas evidenciar processos de mudanças em suas formas
de ser, lembrar e fazer na perspectiva das mulheres e homens que a compõe.

I 18/07 - Quarta-feira - Tarde (14h ás 18h) I


Luitgarde Oliveira Cavalcanti Barros - UERJ
Memória e história do nacionalismo: território, povo e cultura - Nelson Werneck Sodré e a criação da Petro-
brás
O conceito de nacionalismo em Nelson Werneck Sodré se estrutura nas concepções de território, povo e cultura como
elementos constitutivos da nação. Neste tipo de enfoque, a identidade nacional só se concretiza enquanto articulação
de um povo em defesa de sua soberania territorial (propriedade da terra e dos recursos naturais), política e sócio-
econômico-cultural. Enfoco neste trabalho o papel de Nelson Werneck Sodré, membro da diretoria do Clube Militar
atuando, através da Revista do Clube Militar, no intenso processo de luta em defesa do monopólio estatal do petróleo
no Brasil, que resulta na fundação da Petrobrás. Enquanto intelectual e militar, Sodré vive o processo com intensa
produção cultural, enfrentando o drástico conflito da divisão que marca o período, pela disputa de concepções ideoló-
gicas, acirradas pela guerra fria, que opõe, no interior do Clube Militar, facções denominadas entreguistas (exploração
do petróleo por firmas estrangeiras) e nacionalistas (defensores do monopólio estatal, denominados comunistas). Na
memória dessa luta destaca-se a figura de Nelson Werneck Sodré como o mais importante pensador dos setores
militares brasileiros. Integra a memória social brasileira dos perseguidos, presos e cassados pelo golpe de 64.

Andrea Lúcia da Silva de Paiva - UFRJ


Espaço de devoções: o Museu do Negro narrando histórias
O Museu do Negro encontra-se localizado na Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos
sob os cuidados de uma irmandade setecentista. O objetivo deste trabalho consiste em descrever os diversos enqua-
dramentos de memórias observados neste museu, com base em suas coleções e nas ações de alguns indivíduos, a
fim de nos revelar as estratégias de apropriações e usos que percorrem esse espaço. Sendo assim, o Museu do Negro
se apresenta como um locus capaz de nos revelar um 'trançado' de narrativas onde uma memória histórica se posici-
ona como luta pela permanência de um grupo religioso e pela resignificação das culturas negras. Como metodologia
de trabalho utilizaremos a observação participante, entrevistas e análise de alguns documentos.

Alexandre Fernandes Corrêa - UFMA


Museu Mefistofélico: o significado cultural da Coleção Museu de Magia Negra, primeiro patrimônio etnográfi-
co do Brasil (1938)
Estudo sobre o estatuto museológico da Coleção Museu de Magia Negra da Polícia Civil do Rio de Janeiro, inscrita
como patrimônio etnográflco no Livro do Tombo do antigo SPHAN, em 1938. Trabalho final da pesquisa de pós-
doutoramento sobre os usos do conceito de patrimônio etnográfico no Brasil, através da análise do significado cultural
do tombamento desse acervo museológico heteróclito. Por meio de um mapeamento sumário das significações que o
termo etnográfico pôde adquirir na história, almejou-se compreender como emergiu a idéia de bem cultural de natureza
etnográfica. Observa-se que o conceito de etnografia apareceu no momento em que se elaboravam, e disputavam,
diferentes versões do mito nacional brasileiro. Como pano de fundo da análise colocou-se o movimento artístico e
cultural modernista, que eclodiu na década de 1920. Nesse período histórico ocorreram diversas ações policiais,
jurídicas e psiquiátricas contra as práticas de magia, feitiçaria e bruxaria. No estudo buscou-se também analisar a
biografia e a obra do poeta carioca, Dante Milano, primeiro diretor do Museu da Polícia Civil. Essa pesquisa desenvol-
ve a teoria do 'retorno do encoberto' e da 'distabuzação' através da antropologia do olhar e da análise intercultural
desse acervo museológico.

604
Oilza Pôrto Gonçalves - PUCRS ~
Manuel do Rego: uma congregação de "negros" na Igreja dos "alemães"
A Igreja Evangélica Luterana do Brasil por muito tempo foi conhecida como a 'igreja dos alemães', mas em Canguçu,
®
:
no Sul do Rio Grande do Sul, também pode ser a 'igreja dos negros'. A Congregação Manuel do Rego, localizada no ~
distrito de Solidez, é formada em sua maioria por negros. Neste contexto, ser 'alemão' , ser 'brasileiro' ou ser 'negro' ~
consiste numa multiplicidade de representações e de significados. Por isso, este texto procura abordar relações interé- 'g
tnicas, através da metodologia de História Oral, destacando a memória destas relações como construtoras de identida- ~
des. Para a análise destas relações utiliza-se bibliografia que perpassa os campos da História, da Antropologia e da 13-
Sociologia. ~

'"cc '"
Maricélia Cardoso Matos Neves· UFBA
Estado de Santa Cruz· o separatismo no mosaico baiano :~
Este trabalho é resultado da pesquisa de mestrado realizada através do Programa de Pós-Graduação em História da E
Universidade Federal da Bahia. O objetivo específico da pesquisa foi analisar historicamente as manifestações sepa- ~
ratistas ocorridas dentro da sociedade cacaueira da Bahia, entre 1930 e 1980, bem como, investigar quais as origens ~
desse sentimento separatista. Buscou-se perceber em que momento e de que forma as lideranças da região cacau- i5
eira passaram a elaborar um projeto de desmembramento do Estado da Bahia, concretizado no projeto de criação 12
do Estado de Santa Cruz. Coube perceber, também, a gama de interesses dos grupos políticos adeptos ou não do ~ 8
ideal separatista, bem como, as relações políticas e econômicas que essa região manteve com o Governo do 'C
Estado da Bahia. ~
Mirian Silva de Jesus· UFRN
Um espaço colonial: o sertão da capitania do Rio Grande e a participação dos "paulistas" nos Séculos XVII E
XVIII
Contratados pela Coroa Portuguesa como instrumento de repressão e controle social entre os séculos XVII e XVIII, os
'paulistas', ou seja, os bandeirantes da Vila de São Paulo de Pirati~inga foram empregados nos conflitos das Capita-
nias do Norte do Estado Brasil após a expulsão da Companhia das Indias Ocidentais (WIC). As autoridades locais aos
poucos incentivaram a colonização do sertão, compreendido como toda área que estivesse fora da jurisdição portu-
guesa, e caracterizado pela ausência de súditos do Rei. Apecuária foi a atividade que encaminhou esse movimento de
ocupação dos espaços acessórios à lavoura do açúcar, penetrando pelo sertão na tentativa de dota-lo de um sentido
próprio: o de espaço colonial. Contudo, a conquista do sertão não seria um empreendimento pacífico, devido à resis-
tência oferecida pelos negros e indios do interior do continente, que representavam obstáculos ao projeto colonial
português. Com isso, buscamos compreender a participação dos 'paulistas' durante e após a chamada 'Guerra dos
Bárbaros' na Capitania do Rio Grande, bem como a produção desse espaço a partir do estabelecimento dos grupos
mobilizados para o conflito, e as possíveis novas identidades sociais construídas por eles.

Fabiana Martins Bandeira - UNIRIO


"Escola dos incorrigíveis": recrutamento militar e enquadramento social na Corte 1870-1889
As estratégias de alistamento militar levadas a cabo pela Armada Imperial são o objeto de estudo desta pesquisa.
Através do estudo do recrutamento forçado na cidade do Rio de Janeiro, realizado durante grande parte do século XIX,
bem como pela instalação das Companhias de Aprendizes Marinheiros nas provincias do Império, podemos depreen-
der a importância da instituição militar na manutenção da ordem urbana e nacional. Se por um lado, o serviço das
armas é visto como um castigo por parte do indivíduo que cai nas 'malhas do recrutamento' (Mendes, 2005), por
outro lado, é entendido como um instrumento moralizador das populações marginalizadas da Corte pelas autorida-
des imperiais. Para o estudo deste tema, utilizamos bibliografia geral referente ao período final do Império, bem
como aquela específica sobre as Forças Armadas, principalmente a Armada Imperial, na qual se destacam as obras
de Álvaro Pereira do Nascimento, José Miguel Arias Neto e Ricardo Salles. Além disso, utilizamos os relatórios
ministeriais do Império e correspondência da Inspetoria do Arsenal de Marinha, depositadas no Arquivo Nacional e
Arquivo da Marinha.

Vera lucia Cortes Abrantes - IBGE


O IBGE e a formação da nacionalidade: território, memória e identidade em construção
Ao criar o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -IBGE com o propósito de produzir e sistematizar informações
sobre o povo e o território brasileiro, o governo estava buscando respostas seguras e regulares a uma série de ques-
tões recorrentes na história do país. Como era o Brasil? Quantos e quem eram os brasileiros? Onde estavam localiza-
dos e como viviam? Diferentemente dos levantamentos realizados pelos departamentos de estatístíca das unidades
da federação em décadas anteriores, a atuação do órgão seria diferente porque teve que acompanhar a diretríz funda-
da na centralização do poder do Estado. Essa característica leva a busca de um modelo de divisão do espaço geográ-

605
fico brasileiro visto pelo viés regional, que valorizava diferenças de clima, vegetação, alimentação, religiosidade ou
trabalho. Dessa maneira, proponho mostrar as transformações na organização do espaço nacional desde a Revolução
de 30, enfatizando a década de 40 até o final dos anos 50, periodo registrado nas fotografias de Tibor Jablonszky,
recorte do arquivo fotográfico ilustrativo dos trabalhos geográficos de campo realizados por pesquisadores do IBGE
com o objetivo de fornecer subsidios ao governo federal para seus projetos de reconhecimento e ocupação do território
nacional.

I 19/07 - Quinta-feira - Tarde (14h às 15h30min)

Priscila Cabral Almeida· UNIRIO


"Zona Sul cheia de blues": a (re)construção da memória da bossa nova átravés da ótica do espaço
Despontando no cenário musical em fins da década de 1950, o gênero musical conhecido como bossa nova conquis-
tou seu espaço no imaginário social. Apesar das suas quatro décadas de existência, o constante trabalho de memória
realizada pelos seus integrantes permite que o gênero se reinvente e ocupe lugar de prestígio na mídia e na indústria
fonográfica. Através da realização de entrevistas com músicos, intérpretes e compositores que tiveram em suas traje-
tórias incursões pela bossa nova, percebemos que para além do instinto criador de seus músicos, uma série de fatores
sociais e culturais permeiam a construção de suas identidades. Destacamos neste trabalho, em particular, a importân-
cia da relação dos bossa-novistas com o espaço fisico e simbólico da Zona Sul do Rio de Janeiro para construção de
suas identidades, além de analisar o significado de alguns de seus lugares de memórias presentes em suas narrativas.

Maria Fatima de Souza Silva· UERJ


Das Terras de Mutambó ao Município de Mesquita ·RJI Memórias da Emancipação nas Vozes da Cidade
O presente trabalho é resultado da dissertação de mestrado defendida no ano de 2005, na Universidade Federal do
Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO, no Programa de Pós Graduação em Memória Social. Visa investigar as formas de
reconstrução da memória do movimento emancipacionista de Mesquita, municipio localizado na Baixada Fluminense,
região metropolitana do Estado do Rio de Janeiro. A pesquisa buscou evidenciar as representações dos grupos sociais
envolvidos, acionando repertórios individuais com o intuito de analisar a trajetória coletiva desse movimento. Foi utili-
zada a metodologia da História Oral, como um instrumento capaz de auxiliar na compreensão do debate. A memória
em sua dimensão coletiva é o eixo norteador da pesquisa, por apresentar a possibilidade da articulação das lembran-
ças e dos esquecimentos entre os diferentes agentes. Considerando-a como uma construção social balizada em
referenciais do presente e no contexto social de pertencimento dos sujeitos, a memória aliada com a metodologia da
história oral nos forneceu as condições sedimentais para o entendimento de alguns parâmetros porque passou o
processo de emancipação de Mesquita.

Beatriz Juana Isabel Bissio Staricco • UFF


Islã medieval: o espaço teorizado e o espaço vivido
A minha comunicação (parte da tese de doutorado 'Percepções do espaço no Medievo islâmico. Séc. XIV. O exemplo
de Ibn Jaldún e Ibn Battuta') mostra a auto-percepção, na historiografia muçulmana medieval, dos domínios do Islã
como lugar da civilização, em detrimento da Cristandade, carente de interesse. Mostra-se ainda a divisão do mundo
(assim definida inclusive no direito muçulmano) entre Dar-al-Islam (domínios do Islã) e Dar-al-harb (domínios da guer-
ra, ou seja, todas as outras regíões do mundo). Apresenta-se a percepção do mundo islâmico como unitário, mesmo
que politicamente dividido, e mostra-se a ausência do conceito de fronteira dentro dos dominios do Islã. Analisa-se
também o papel da cidade muçulmana, lugar do poder. (Relação entre espaço civilizado e não civilizado). No Medievo,
para apreender o espaço islâmico e para produzir conhecimento sobre ele, a viagem se fazia imprescindível. A comu-
nicação mostra que apesar de operar com os mesmos meios da experiência ocidental, a viagem e a sua escrita
cumprem na sociedade islâmica medieval uma função diferente. Não é um movimento em relação ao Outro, como
costumam ser interpretadas as travessias na Cristandade. No Islã, a viagem é uma construção exegética dele próprio
e o principal instrumento da hermenêutica do espaço.

leila Beatriz Ribeiro· UNIRIO


Memórias de guerra do passado: objetos, indivíduos e diferenças culturais que iluminam o presente
No filme Uma Vida Iluminada, Jonathan - colecionador de objetos familiares - um jovem judeu americano vai à Ucrâ-
nia, para tentar encontrar a mulher que um dia salvara seu avô da execução nazista durante a II Guerra. Na viagem,
conta com a ajuda de um jovem guia - o único outro personagem a falar inglês no filme - e de seu avô (Alex) que
também tem seu passado entrelaçado com a região. Através de deslocamentos materiais e imaginários, os objetos do
privado, no caso as coleções, vêem a público agregados de sentidos próprios, autônomos nas relações sociais que
eles engendram e funcionando como vetores de subjetividade. Se a biografia dos objetos traz à tona a biografia dos
individuos, será a partir de alguns objetos semióforos da coleção de Jonathan que emerge para nós o presente re-

606
significado. Esse compromisso com o presente será estabelecido quando a terra que é recolhida de Trachimbrod é ~
deslocada para o túmulo de Alex realizando uma mediação entre o visível e invisível. Nesse sentido, a estranheza
acerca das diferenças culturais e lingüísticas vivenciadas pelos personagens é reduzida quando no circuito de objetos :
®
e indivíduos, as redes de relações se constroem afirmando e reforçando os laços identitários que realizam uma cele- Ki
bração atual da preservação das memórias de guerra. ~
.;::
c::
Isabel Cristina Medeiros Mattos Borges - UFJF '"
:E
Entre a 'ordem' e o 'progresso': uma cidade de portas fechadas o
",-


Esse trabalho pauta-se em informações encontradas nos jornais da Cidade de Juiz de Fora, na zona da mata mineira, co
no período de 1896 a 1914, destacando aspectos sobre as dificuldades encontradas com a convivência, geralmente '" =
marcada por conflitos, preocupações e esperanças, que permeavam as vidas das pessoas em um centro urbano, que, .ê '"
como muitos outros no Brasil naquele momento, crescia envolto por muitas potencialidades e contradições. Os princi- -E
pais jornais da cidade assumem os propósitos tanto de atuarem como formadores de opinião, como o de servirem aos E
ideais daqueles que se beneficiavam do crescimento da cidade, promovendo um exercicio diário de seleção do que ~
era 'certo' ou 'errado', 'bom' ou 'ruim', 'progressista' ou 'atrasado', ajudando a construir a imagem de juiz de fora ~
como 'modelo' de prosperidade e bem viver. Além da vigilância aos 'indesejáveis', da constante preocupação com a ~
implantação e controle das politicas de saúde pública, encontramos o choque entre os hábitos e costumes de uma :E
população que, predominantemente, nascida e crescida no campo, lutava para se adaptar aos novos espaços e for- ~ s
mas de convivência na cidade, em constante transformação, num contexto embrionário de inúmeras problemáticas .~
que permeiam a convivência urbana na contemporaneidade. t-

Guadalupe Salazar González - Universidad Autónoma de San luis Potosí


EI Obispado de San luis Potosi (México). Un proyecto social de identidad
La aparente estabilidad de la estructura y dei funcionamiento dei Obispado michoacano parece no fue tal. Abiertamen-
te durante el siglo XVII y sobre todo en el XVIII, los deseo y solicitudes de fundación de nuevos obispados, en detrimen-
to de la secesión de los existentes, muestran una clara intención de autonomías regionales, impulsadas por sus elites.
La erección de la nueva parroquia en el siglo XVII con el programa y partido de una catedral revela esos deseo de
autonomía eclesiástica y el anhelo de constituirse en sede episcopal. En el trabajo se expondrá el proceso de la
erección dei Obispado de San Luis Potosí, en el que la edificación de la parroquía tuvo dicho fin y evidencia la identi-
ficación de una entidad política, administrativa y territorial.

I 20/07 - Sexta-feira - Manhã (10h30min às 12h30min) I


Maria Manuela Alves Maia- Faculdades Moraes Junior/Mackenzie
Territorialidades e reterritorialidades da memória: imigrantes portugueses em movimento
A reconfiguração da identidade de imigrantes portugueses, instalados na cidade do Rio de Janeiro, no pás-guerra,
constitui o tema de análise deste trabalho. Ao longo de suas vidas esses atores sociais voltam, com alguma freqüência,
ao seu pais de origem, restabelecendo contatos com parentes, antigos vizinhos e amigos. Temos por objetivo caracte-
rizar traços identitários que os configuram nos encontros e reencontros empreendidos quando dos retomos ao local de
origem, ou seja, às aldeias do norte de Portugal. Discutiremos, ainda, com base nos relatos colhidos segundo a
metodologia da história oral, a experiência migratória desses portugueses, considerando suas visões do local de
acolhimento e do lugar de origem, sempre reinventadas segundo estratégias de conservação da afetividade.

Amilcar Araujo Pereira - UFF


O "Atlântico negro" e a constituição do movimento negro contemporâneo no Brasil: memória e identidade
O objetivo deste trabalho é analisar a importância das lutas de libertação nos paises africanos e dos movimentos pelos
direitos civis nos Estados Unidos para a constituição do movimento negro brasileiro a partir da década de 1970.
Observando as 36 entrevistas de história oral com lideranças do movimento negro contemporâneo de todo o Brasil,
realizadas no âmbito do projeto 'História do movimento negro no Brasil: constituição de acervo de entrevistas de
história oral', implementado pela Ora Verena Alberti e por mim no Centro de Pesquisa e Documentação de História
Contemporânea do Brasil da Fundação Getúlio Vargas (CPDOC-FGV), percebe-se que essas lutas fazem parte de
uma 'memória coletiva' e são recorrentemente citadas pelos entrevistados como importantes referenciais para cons-
trução de suas próprias identidades como negros e como militantes políticos. Nesta comunicação, à luz das entrevis-
tas, já referidas, e de jornais e revistas da chamada 'imprensa negra', que ganhou novo fôlego a partir da década de
1970, será feita uma análise sobre a importância dessa 'memória coletiva' para a construção das identidades dos
militantes negros brasileiros e sobre a relação dessas identidades com as lutas ocorridas no chamado 'Atlântico
negro', ao longo da segunda metade do século XX.

607
Sidinalva Maria dos Santos Wawzyniak . UTP
Território Nipo·Brasileiro: a constituição da Colônia Japonesa no Brasil
Este estudo tem como objetivo a análise da imigração japonesa, para o Brasil, no periodo de 1908 a 1970. Para tanto,
procedeu-se a uma abordagem da estratégia da reativação de valores que permeavam a sociedade de origem e que
ficaram latentes, por longo período, criando elos que permitiriam o estabelecimento de uma rede de relacionamen-
tos que configuraram opções coletivas de 'ser japonês', na sociedade brasileira. Essa análise das estratégias,
postas em prática pelos imigrantes japoneses para recriar seu universo cultural na terra de adoção, trouxe à tona os
valores família, educação e relígião, tomados como os mais representativos dessa construção. A partir desses
valores, foi possível perceber as articulações realizadas por esses imigrantes na constituição da identidade nipôni-
ca e do grupo étnico, assim como as estratégias de inserção à sociedade local, e a criação de espaço singular,
denominado 'Colônia".

Rodrigo Salles Pereira dos Santos· UFRJ


Trajetória de ruptura: motivação, contexto e estrutura social na zona da mata pernambucana
Este trabalho explora uma narrativa biográfica singular em termos da problemática da migração Nordeste-Sudeste e
do processo de urbanização brasileiros. Apresenta a trajetória de vida de um trabalhador migrante nordestino, eviden-
ciando suas condições de vida familiares e a motivação individual envolvida na decisão de migrar. São abordados, em
detalhe: sua trajetória profissional dos 8 aos 23 anos, em face de suas opções acerca de atividades produtivas tradici-
onais; assim como suas reflexões pessoais sobre o caráter do trabalho; sobre a estrutura fundiária da região e sobre
suas chances de sobrevivência e ascensão social neste contexto socioeconômico. O trabalho discute os elementos de
intencionalidade presentes na ação, que neste caso, envolve a negação de uma estrutura socioeconômica asfixiante,
a partir da perspectiva de um autêntico outsider na Zona da Mata Pernambucana. Desse modo, propõe uma visão
sintética e fundamentalmente relacional desta trajetória individual com a estrutura socioeconômica que a circunscreve;
relaciona, portanto, ação e estrutura sociais de forma plástica. Esta reflexão é finalmente enquadrada na discussão
acerca do manuseio da história oral como técnica de pesquisa, exemplificando os conceitos de memória, seletividade
e esquecimento.

Renata Sopelsa . UEPG


"Estabelecidos e outsiders": um estudo sobre memória e identidade de grupos sociais em Ponta Grossa - PR
Surgida no antigo Caminho das Tropas no início do século XIX, cerca de um século mais tarde, Ponta Grossa configu-
rava-se como o principal espaço urbano do interior do estado do Paraná. Tratava-se de uma cidade de porte médio,
para os padrões habitacionais da época, porém descrita euforicamente por seus moradores como uma 'urbs moderna',
perante o crescimento comercial e populacional trazido pelas estradas de ferro. Importa-nos vislumbrar que, a par do
discurso de modem idade, surgiram diversas tensões sócio-culturais motivadas pelo variado número de grupos sociais
que passaram a tecer redes de interdependência nesse meio urbano. Com efeito, tais grupos construíram seus territó-
rios, suas identidades e memórias a partir das suas relações não somente com o meio físico em que estavam inseri-
dos, mas sim, por certo principalmente, perante o convívio com o 'outro". Nesse caso, acentuava-se o conflito entre
aqueles que percebiam-se com moradores mais antigos e aqueles que vieram em busca de melhores condições de
vida. Assim, é interesse desse trabalho discutir essas vivências e tramas urbanas, alinhando-se, em alguns momentos,
aos estudos dos sociológicos Norbert Elias e Pierre Bourdieu.

I 20107 - Sexta-feira - Tarde (14h às 18h) I


João Miguel Teixeira de Godoy • PUC·Campinas
Memória, história e poder
Todo agrupamento humano elabora mecanismos a partir dos quais sua relação com o passado se estabelece. Tais
mecanismos denominamos memória coletiva. Como tal cumpre o papel de fator instituinte da sociedade e identidade
humana. Operam pela seleção, exclusão e recombinações de elementos herdados, nunca imunes ás formas pelos
quais o poder se institui. Assim como os mitos, lendas e representações figuradas, a história é uma forma específica de
elaboração da memória coletiva que a nossa sociedade escolheu. Ambiciona ocupar todo o espaço da memória e
regulamentar-se por meio de procedimentos racionais. Constitui-se a partir de um projeto de revisão crítica e esfacela-
mento das tradições cristalizadas, mas guarda igualmente uma filiação íntima com as linhas de força que definem a
arena do poder. O objetivo da comunicação é analisar e explicitar dimensões não previstas, presentes no exercício de
reconstituição histórica, que as relações entre memória coletiva, historiografia e poder guardam a partir do estudo de
um conjunto de obras que elaboradas sobre a cidade de Campinas, desde o início do século XX até o momento atual,
passando por tradições mais memorialísticas de início, próxima da erudita em determinados momentos, até a produ-
ção elaborada no interior das universidades atualmente.

608
Sérgio Martins Pereira - UFRJ ~
Um historiador em cada esquina, uma vivência a cada texto: pesquisando em Volta Redonda - RJ
Pesquisar na cidade ou pesquisar a cidade? Essa foi uma entre outras questões levantadas durante minha pesquisa
®:
sobre lideranças metalúrgicas em Volta Redonda. Concebida e construída para abrigar os trabalhadores da Compa- 1íÍ
nhia Siderúrgica Nacional (CSN) nos anos 1940, a cidade de Volta Redonda observou em sua existência o poder ~
autoritário do Estado entre os anos 1940 e 70, a eclosão dos movimentos sociais e da luta pela democracia nos anos .~
1980 e os impactos da privatização da CSN nos 1990. Para além das adversidades impostas pelas conjunturas políti- ~
co-econômicas, trabalhadores e moradores da Cidade do Aço desenvolveram uma cultura de reivindicação que, em ~
diversos momentos, reafirmaria seu papel de protagonistas de seus destinos. Em um movimento semelhante, a histó- ~
ria de Volta Redonda encontra-se presente em estudos, teses e publicações produzidos por aqueles que, de uma ou ~
outra forma, fizeram parte da experiência dessa Cidade Operária. Nessa relação rica e tensa entre as identidades co
pessoal e coletiva, observaremos não só como esses trabalhadores, lideranças e moradores de Volta Redonda fize- ~~
ram e fazem sua história, mas sobretudo como a memória e a escrita desta são constantemente reconstruidas em face E
dos destinos pessoais e coletivos experimentados na Cidade do Aço. ~
~
Mariana Esteves de Oliveira - FIRB e UFMS 1il
lutar, Anotar e lembrar - uma reflexão sobre a produção da memória dos movimentos populares e suas ~
possibilidades de pesquisa .~
Na pesquisa intitulada 'O grito abençoado da periferia: trajetórias e contradições do lajes e dos Movimentos Populares
na Andradina dos anos 1980', procurei desvendar os caminhos e descaminhos dos grupos (Movimentos de Mulheres, ~
Negros, Saúde, Bairros) organizados por uma instituição católica progressista do noroeste paulista, por meio de uma
massa documental diversa, densa e até então não organizada, legada pela entidade. Hoje, no processo de transporte
e organização dessa massa documental para o Arquivo da UFMS, através de projetos de extensão, novos olhares
sobre as fontes revelam a importância de tecermos outras questões a essas experiências tão ricas e contraditórias. A
grande massa documental começa a revelar a importãncia que o Centro de Documentação da entidade tinha para os
movimentos, que realizavam cursos sobre arquivos e discutiam a necessidade de 'gravarem' suas experiências, seu
cotidiano de lutas e suas expectativas. Assim, se para além de uma grande produção e acumulação de documentos
correntes, os grupos revelam uma preocupação com a História, acreditamos que é possível uma investigação acerca
dessa 'produção de memória' dos movimentos populares, no entender de que este é mais um espaço de lutas, práticas
e representações dos 'excluídos da memória oficial'.

Elza M M I Costa
Memória e identidade através dos discursos parlamentares do PCB às vésperas do golpe de 1964
Este trabalho é fruto de uma pesquisa maior sobre a atuação parlamentar dos deputados do PCB, abrigados sob
outras legendas partidárias, ás vésperas do golpe de 1964. Areconstituição da movimentação dos deputados de todos
os partidos que integravam a Cãmara na legislatura de 1964, permitiu examinar os embates ali travados em tomo do
projeto politico do Presidente João Goulart e defendido pelo PCB. Na verdade, eles traduziam os conflitos entre os
diferentes estratos sociais da sociedade brasileira que serão estudados aqui sob a perspectiva que privilegia o papel
social da memória na afirmação de identidades e como os grupos a utilizam para fundamentar suas lutas através
dos discursos parlamentares. Quer dizer, num primeiro momento serão reconhecidos os estratos sociais em luta
representados por parlamentares e uma segunda parte trata de identificar as maneiras pelas quais os partidos,
inclusive o PCB, recorrem á noção de memória para se fazer reconhecer pelos grupos sociais que pretendem
representar. Os pronunciamentos feitos pelos parlamentares, a partir da sessão do dia 16 de março, a primeira
sessão legislativa de 1964, três dias depois do monumental comício na Central do Brasil, no Rio de janeiro, consti-
tuem o marco inicial desta investigação.

Maria Fernanda Magalhães Scelza - UNIRIO


Entre o controle e a resistência: o Presídio da Ilha das Flores como espaço de luta e afirmação de identidade
de ex-prisioneiros políticos
O presente trabalho tem como objetivo caracterizar o espaço físico e social do Presídio da Ilha das Flores, relacionado
á construção da identidade de ex-prisioneiros políticos nele encarcerados no período de 1969 a 1971. A reconstituição
do olhar desses atores sociais que vivenciaram experiências-limite nesse espaço de clausura priorizou a análise das
suas memórias, no que diz respeito a atividades de resistência e sobrevivência na referida instituição prisional. Cabe
ressaltar que tais memórias são seletivas, fruto de processos de rememoração e ressignificação, marcados por esque-
cimentos e silêncios. As informações foram coletadas na forma de narrativas de ex-prisioneiros políticos que vivencia-
ram a experiência da clausura, segundo o método de História Oral. O estudo, em andamento, visa ainda analisar
impressões sobre o período do Regime Militar.

609
Émerson Neves da Silva· UNISINOS
Selva Lacandona mutante: a construção social do Neozapatismo
A perplexidade instalou-se na corriqueira San Cristóbal de las Casas, no estado de Chiapas, no México. Na manhã do
dia 01/01/1994, o grupo denominado Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), constituído por indígenas da
região, deflagrou sua ação, não por coincidência, no mesmo dia da assinatura do Tratado de Livre Comércio (TLC). Os
Neozapatistas não podem ser confundidos com movimentos guerrilheiros anteriores. Os Neozapatistas defendem a
paz e rejeitam a estratégia da luta armada como meio principal de suas atividades. Apostam no diálogo com a socieda-
de civil como meio de transformação do Estado Mexicano e negam que disputam o poder. Como antecedentes mais
significativos do Neozapatismo estão o processo de territorialização da Selva Lacandona, ocorrido a partir da década
de 1950, e o substanciamento da organização social indígena, na década de 1970 e 1980, sob influência da Igreja
Católica. O presente trabalho reflete sobre a contribuição da Igreja ao ideário do EZLN, a partir da análise da relação
da Igreja local com a cultura popular existente na Selva Lacandona. De outra parte, procura verificar como essa cultura
permeia o ideário do Movimento.

Ernesto Cerveira de Sena • UFMT


O movimento do "30 de maio" ou da "Rusga" e a construção de sua memória
O período das regências foi farto de movimentos sociais e políticos. Em Mato Grosso, em 1834, aconteceu o '30 de
maio', posteriormente conhecida como 'Rusga'. Essa rebelião forçou a mudança no governo da província fronteiriça e
desencadeou violentos assassinatos e saques. Durante o Segundo Reinado, o '30 de maio' era lembrado como movi-
mento infenso à ordem. O Partido Liberal na província, na década de 1840, devido aos constantes desafios às autori-
dades constituídas, era associado como o grupo 'herdeiro do 30 de maio'. Já no século XX, a historiografia passou a
chamar o movimento de 'Rusga', certamente na perspectiva de construção de uma identidade permeada pela 'docili-
dade' dos brasileiros, e, nesse caso específico, dos habitantes de Mato Grosso.

610
índice Remissivo

Abrelino Carlos Tenedini, 599 Albene Miriam F. Menezes, 561


AcácioAugusto Sebastião Júnior, 169 Alberto Gawryszewski, 338
Adair José dos Santos Rocha, 243 Alberto Moby Ribeiro da Silva, 111
Adalberto Paranhos, 200, 201 Alcides Freire Ramos, 291
Adalmir Leonidio, 359 Alcidesio de Oliveira Júnior, 236
Adalson de Oliveira Nascimento, 226 Alcileide Cabral, 428
Adelar Heinsfeld, 567 Alcilene Cavalcante, 183
Adelmir Fiabani, 151 Aldo Nelson Bona, 60, 344
Adhemar Lourenço da Silva Junior, 304 Aldrin Arrnstrong Silva Castellucci, 483
Adilson Júnior Ishihara Brito, 317 Alejandra Luisa Magalhães Estevez, 197
Admar Mendes de Souza, 238 Alejandro Jesus Fenker Gimeno, 219
Ádria Borges Figueira Cerqueira, 527 Alenuska Kelly Guimarães Andrade, 61
Adriana Barreto de Souza, 121 Alessander Mario Kerber, 200
Adriana Berretta, 100 Alessandra David Moreira da Costa, 435
Adriana Carvalho Koyama, 325 Alessandra Frota Martinez de Schueler, 498
Adriana Dantas Reis Alves, 185 Alessandra Gasparotto, 342
Adriana Facina, 465 Alex Alvarez Silva, 287
Adriana lop Bellintani, 226 AlexAndrade Costa, 148
Adriana Machado Pimentel de Oliveira Alex de Souza Ivo, 191
Kraisch, 308 Alex Gonçalves Varela, 325
Adriana Maria de Souza Zierer, 405 Alex Hagiwara, 540
Adriana Maria Martins Pereira, 332 Alex Ricardo Medeir0s da Silveira, 536
Adriana Pereira Campos, 490 Alexandra Biezus Kunze Duquia, 20
Adriana Romeiro, 419 Alexandre de Oliveira Karsburg, 578
Adriana Vidotte, 139 Alexandre Felipe Fiuza, 511
Adriane Acosta Baldin, 332 Alexandre Femandes Corrêa, 604
Adriane M.Eede Hartwig, 37 Alexandre Fortes, 190, 195
Adrianna Cristina Lopes Setemy, 547 Alexandre Galvão Carvalho, 45
Adriano Comissoli, 123 Alexandre Garrido da Silva, 441
Adriano de Freixo, 567 Alexandre Giovani da Costa Schiavoni, 169
Adriano Luiz Duarte, 198 Alexandre Kohlrausch Marques, 371
Adriano Nervo Codato, 314 Alexandre Lazzari, 491
Affonso Celso Thomaz Pereira, 285 Alexandre Maccari Ferreira, 92
Ágatha Francesconi Gatti, 425 Alexandre Macchione Saes, 161
Agenor Soares e Silva Júnior, 414 Alexandre Mansur Barata, 494
Aida Rotava Paim, 323 Alexandre Mendes Cunha, 421
Ailana Cristina de Amorim, 193 Alexandre Nicolae Muscalu, 541
Ailton José Morelli, 433 Alexandre Pacheco, 293
Alamir Muncio Compagnoni, 134 Alexandre Pianelli Godoy, 322
Alan Kardec Gomes Pacheco Filho, 346 Alexandre Pinheiro Ramos, 388
Alan Nardi de Souza, 234 Alexandre Ramos de Azevedo, 429

611
Alexandre Vieira, 318 Ana Carolina Vimieiro Gomes, 52
Aléxia Pádua Franco, 501 Ana Carrilho Romero Grunennvaldt, 14
Alexsander Lemos de Almeida Gebara, 372 Ana Cláudia Ribeiro de Souza, 369
Alexsandro Bastos de Brito, 372 Ana Cristina Arantes, 253
Alexsandro Donato Carvalho, 507 Ana Cristina Campos Rodrigues, 139
Alfredo Alejandro Gugliano, 303 Ana Cristina Pereira Lage, 11
Alice Fátima Martins, 338 Ana Cristina Venancio da Silva, 89
Alice Mitika Koshiyama, 165 Ana Elizabeth Costa Gomes, 602
Alice Rubini Liedke, 312 Ana Emília da Luz Lobato, 366
Alicia Mariani Lucio Landes da Silva, 18 Ana Gabriela de Souza Seal, 503
Alina Silva Sousa, 552 Ana Gomes Porto, 406
Aline Andrade Pereira, 38 Ana Heloisa Molina, 328
Aline Camara Zampieri, 392 Ana Livia Bomfim Vieira, 46
Aline de Souza, 598 Ana Luce girão Soares de Lima, 255
Aline Fonseca Carvalho, 297 Ana Lucia Villas-Bõas, 366
Aline Lopes de Lacerda, 331 Ana Luiza Araújo Porto, 140
Aline Pinto Pereira, 494 Ana Luiza Jesus da Costa, 484
Aline Ramos Brandão, 276 Ana Luiza Setti Reckziegel, 562
Alisson Droppa, 299 Ana Lúzia Magalhães Carneiro, 505
Alisson Eugênio, 375 Ana Maria Alves Machado, 353
Alix Pinheiro Seixas de Oliveira, 536 Ana Maria Araujo de Almeida, 177
Allysson Fernandes Garcia, 275 Ana Maria Colling, 172
Almir Antonio de Souza, 526 Ana Maria da Costa Evangelista, 256
Almir de Carvalho Bueno, 540 Ana Maria Dietrich, 444
Almir Diniz de Carvalho Júnior, 523 Ana Maria Ferreira da Costa Monteiro, 140
Almir Félix Batista de Oliveira, 352 Ana Maria Galdini Raimundo Oda, 372
Aluisio Gonçalves de Farias, 230 Ana Maria Leal Almeida, 112
Álvaro Antonio Klafke, 320 Ana Maria Marques, 183
Alvaro Augusto de Borba Barreto, 546 Ana Maria Mauad de Sousa Andrade Essus, 334
Álvaro de Araújo Antunes, 439 Ana Maria Motta Ribeiro, 466
Álvaro Pereira do Nascimento, 491 Ana Maria Ribas Cardoso, 592
Alvaro Vicente Graça Truppel Pereira do Cabo, 250 Ana Maria Ribeiro de Andrade, 590
Alzira Salete Menegat, 480 Ana Mónica Henriques Lopes, 377
Amauri Mendes Pereira, 144 Ana Paula Barcelos Ribeiro da Silva, 438
Américo Oscar Guichard Freire, 258 Ana Paula Carneiro Renesto, 458
Amilcar Araujo Pereira, 607 Ana Paula de Oliveira Lopes, 356
Ana Barbara Aparecida Pederiva, 201 Ana Paula Kapusniak, 471
Ana Beatriz Fernandes Cerbino, 415 Ana Paula Lopes Pereira, 409
Ana Beatriz Simon Factum, 537 Ana Paula Medicci, 422
Ana Carla Sabino Fernandes, 348 Ana Paula Nadalini, 570
Ana Carolina Arruda de Toledo Murgel, 166 Ana Paula Rezende Macedo, 580
Ana Carolina Barbosa Pereira, 283 Ana Paula Sampaio Caldeira, 384
Ana Carolina da Silva Borges, 356 Ana Paula Spini, 56
Ana Carolina de Moura Delfim Maciel, 516 Ana Paula Squinelo, 503
Ana Carolina Eiras Coelho Soares, 182 Ana Paula Tavares Magalhães, 138
Ana Carolina Galante Delmas, 462 Ana Paula Taveira Soares, 324

612
Ana Paula Torres Megiani, 557 André Luiz Reis da Silva, 566
Ana Paula Vosne Martins, 179 André Luiz Rosa Ribeiro, 34
Ana Raquel Marques da Cunha Martins Portugal, 116 André Luiz Vieira de Campos, 59
Ana Regina Pinheiro, 323 André Maia Schetino, 252
Ana Renata do Rosário de Lima, 588 André Malverdes, 36
Ana Rita Fonteles Duarte, 174 Andre Mendes Capraro, 247
Ana Rita Uhle, 416 André Nogueira, 376
Ana Rosa de Oliveira,357 André Nunes de Azevedo, 21
Ana Silvia Volpi Scott, 548, 554 André Rosemberg, 305
Ana Sofia Mariz, 392 André Vianna Dantas, 394
Ana Teresa Acatauassú Venancio, 84 André Victor Cavalcanti Seal da Cunha, 140
Ana Teresa Marques Gonçalves, 38 Andréa Bandeira, 172
Ana Waleska Poli o Campos Mendonça, 14 Andrea Beatriz Wozniak-Gimenéz, 122
Anadja Marilda Gomes Braz, 502 Andrea Braga Fonseca, 544
Anael Pinheiro de Ulhôa Cintra, 550 Andréa Cristiana Santos, 275
Ananda Simões Fernandes, 567 Andrea Cristina Fontes Silva, 385
Anderson Batista de Melo, 426 Andrea Helena Petry Rahmeier, 568
Anderson Domingos da Silva, 232 Andrea Lúcia da Silva de Paiva, 604
Anderson dos Santos, 262 Andrea Lúcia Dorini de Oliveira Carvalho Rossi, 39
Anderson Jorge Pereira Bessa, 109 Andrea Marcia de Toledo Pennacchi, 563
Anderson Roberti dos Reis, 113 Andréa Mazurok Schactae, 178
Anderson Rodrigo Tavares Silva, 489 Andrea Silva Domingues, 343
Anderson Romário Pereira Corrêa, 487 Andréa Slemian, 163
Anderson Zalewski Vargas, 39 Andréa Telo da Côrte, 480
Andeza Santos Cruz Maynard, 228 Andréia Cristina Lopes Frazão da Silva, 405
André Alexandre Guimarães Couto, 247 Andrés Alarcón Jiménez, 499
André Atila Fertig, 229 Andreza de Oliveira Andrade, 142
André Borges de Carvalho, 302 Andrezza Christina Ferreira Rodrigues, 81
André Cabral Honor, 413 Anelise Martinelli Borges de Oliveira, 22
André Chaves de Melo Silva, 132 AngelaAparecida Teles, 74
André da Silva Bueno, 41 Angela Brandão, 32
André de Araújo, 456 Angela Brêtas, 198
Andre de Faria Pereira Neto, 160, 255 Angela de Castro Gomes, 451
Andre de Lemos Freixo, 386 Ângela Flach, 260
André de Oliveira Pinheiro, 581 Angela Maria Alonso, 302
André Dutra Boucinhas, 124 Angela Maria Roberti Martins, 474
André Fabiano Voigt, 392 Ângela Porto, 371,375
André Felipe Cândido da Silva, 565 Angela Ribeiro Ferreira, 509
André Félix Marques da Silva, 420 Angélica Aparecida Moreira da Silva, 179
André Figueiredo Rodrigues, 558 Angélica Aparecida Silva de Almeida, 584
André Luís Mattedi Dias, 367 Angélica Müller, 260
André Luis Pereira, 137 Angelita da Rosa, 531
André Luis Ramos Soares, 529 Angelita Marques Visalli, 410
André Luiz Caes, 581 Angelo Adriano Faria de Assis, 376
André Luiz Faisting, 298 Ângelo Emílio da Silva Pessoa, 423
André Luiz Onghero, 323 Ania Cavalcante, 445

613
Anita Correia Lima de Almeida, 497 Ariel Salvador Roja Fagúndez, 53
Anita Silva de Souza, 73 Arissane Dâmaso Fernandes, 221
Anna Beatriz de Sá Almeida, 53 Aristeu Elisandro Machado Lopes, 414
Anna Laura Teixeira de França, 558 Ariston Azevêdo, 314
Anna Maria Dias Vreeswijk, 287 Arlei Sander Damo, 247
Anna Marina Madureira de Pinho Barbará Pinheiro, 436 Arlene Guimarães Foletto, 123
Anny Jackeline Torres Silveira, 51 Arlette Medeiros Gasparello, 238, 239
Antero Maximiliano Dias dos Reis, 432 Arnaldo Daraya Contier, 288
AntoniaAparecida Quintão dos Santos Cezerilo, 371,376 Amaldo Ferreira Marques Júnior, 77
Antônio Aparecido Primo, 141 Arnaldo Haas Junior, 64
Antônio Brand, 310 Arnaldo Pinto Junior, 501
Antonio Carlos Amador Gil, 399 Arno Alvarez Kern, 117
Antonio Carlos Ferreira Pinheiro, 15 Arno Wehling, 434
Antonio Carlos Jucá de Sampaio, 127 Arthur Arruda Leal Ferreira, 370
Antônio Carlos Pinto Vieira, 603 Arthur Gomes Valle, 412
Antonio Carvalho Costa, 604 Arthur Lima de Avila, 385
Antonio Clarindo Barbosa de Souza, 102 Artur Cesar Isaia, 578, 580
Antonio Cláudio Rabello, 159 Artur Henrique Franco Barcelos, 114
António Costa Pinto, 442, 446 Artur José Renda Vitorino, 316
Antônio da Silva Câmara, 90 Artur Monteiro Bento, 603
Antonio Dari Ramos, 114 Astor Vieira Júnior, 351
Antônio de Pádua Bosi, 464 Augusto César Acioly Paz Silva, 436
Antonio de Pádua Carvalho Lopes, 595 Augusto da Silva, 421
Antônio de Pádua Chaves Filho, 159 Aurélia H. Castiglioni, 549
Antonio Edmilson Martins Rodrigues, 19 Avanete Pereira Sousa, 426
Antonio Filipe Pereira Caetano, 587 Bartira Ferraz Barbosa, 520
Antonio Germano Magalhães Junior, 296 Beatriz Ana Loner, 482, 483
Antonio Gilberto Ramos Nogueira, 530 Beatriz Anselmo Olinto, 221
Antonio Herculano Lopes, 26, 29 Beatriz Catão Cruz Santos, 128
Antonio Luigi Negro, 192 Beatriz D'Agostin Donadel, 411
Antônio Manoel Elíbio Júnior, 318 Beatriz de Miranda Brusantin, 484
Antonio Marcos Myskiw, 218 Beatriz dos Santos Landa, 311
Antonio Mauricio Freitas Brito, 260 Beatriz Gallotti Mamigonian, 450
Antonio Otaviano Vieira Junior, 551 Beatriz Helena Domingues, 115
Antonio Paulo de Morais Resende, 339 Beatriz Juana Isabel Bissio Staricco, 606
Antonio Pedro Tota, 54, 55 Beatriz Kushnir, 278
Antonio Rago Filho, 200 Beatriz Piva Momesso, 482
Antonio Sergio Araujo Fernandes, 302 Beatriz Polidori Zechlinski, 459
Antonio Torres Montenegro, 255, 339, 340 Beatriz Rietmann da Costa e Cunha, 156
Aparecida Darc de Souza, 470 Beatriz Scigliano Carneiro, 165
Aparecida Maria Almeida Barros, 12 Beatriz T. Daudt Fischer, 428
Araci Gomes Lisboa, 530 Beatriz Teixeira Weber, 83
Araci Rodrigues Coelho, 507 Benito Bisso Schmidt, 192
Argemiro Ribeiro de Souza Filho, 590 Berenice Abreu de Castro Neves, 256
Ariane Norma de Menezes Sá, 497 Berenice Corsetti, 16
Ariel Finguerut, 60 Bernardino da Cunha Freitas Abreu, 391

614
Bernardo Medeiros Ferreira da Silva, 382 Carla Rodrigues Gastaud, 594
Betzaida Mata Machaod Tavares, 28 Carla Simone Rodeghero, 260
Bianca Antunes Cortes, 177 Carla Xavier do S., 585
Bianca Nogueira da Silva, 346 Carlile Lanzieri Júnior, 407
Bianca Silva Costa, 321 Carlos Alberto Cunha Miranda, 47
Blasius Silvano Debald, 243 Carlos Alberto de Oliveira, 65
Bráulio Silva Chaves, 52 Carlos Alberto Medeiros Lima, 121
Braz Batista Vas, 230 Carlos Alexandre Barros Trubiliano, 176
Brigitte Ursula Stach Haertel, 108 Carlos Alvarez Maia, 282
Bruna Aparecida Mendes de Sá, 272 Carlos André Lopes da Silva, 225
Bruna Rafaela de Lima, 115 Carlos André Macêdo Cavalcanti, 317
Bruna Scheifer, 274 Carlos André Silva de Moura, 447
Bruno Abrantes Amorin, 113 Carlos Antonio dos Reis, 570
Bruno Augusto Domelas Câmara, 452 Carlos Daniel Paz, 119
Bruno Barretto Gomide, 393 Carlos de Almeida Prado Bacellar, 553
Bruno Bontempi Jr, 388 Carlos de Faria Júnior, 424
Bruno de Araújo Mendes, 593 Carlos Edinei de Oliveira, 18
Bruno de Macedo Zorek, 381 Carlos Eduardo Bartel, 395
Bruno Feitler, 559 Carlos Eduardo Calaça Costa Fonseca, 12
Bruno Flávio Lontra Fagundes, 460 Carlos Eduardo De Albuquerque Filgueiras, 233
Bruno Fonseca Ratton, 440 Carlos Eduardo de Oliveira Bezerra, 181
Bruno Gonçalves Alvaro, 409 Carlos Eduardo dos Reis, 91
Bruno Henz Biazetto, 564 Carlos Eduardo Frankiw de Andrade, 271
Bruno Martins Boto Leite, 365 Carlos Eduardo Moura de Mendonça, 320
Bruno Tadeu Salles, 407 Carlos Eduardo Romeiro Pinho, 49
Cacilda da Silva Machado, 553 Carlos Eduardo Rovaron, 215
Caetana Maria Damasceno, 183 Carlos Eduardo Sampietri, 535
Cairo Mohamad Ibrahim Katrib, 582 Carlos Engemann, 111
Caiuá Cardoso AI-Alam, 236 Carlos Fernando Comassetto, 480
Camila Bueno Grejo, 397 Carlos Gabriel Guimarâes, 490
Camila da Silva Condi lo , 46 Carlos Gilberto Pereira Dias, 596
Camila Dazzi, 416 Carlos Gonzalo Mignon, 488
Camilo Buss Araujo, 198 Carlos Gustavo Nóbrega de Jesus, 444
Caren Santos da Silveira, 565 Carlos Henrique Aguiar Serra, 438
Carine Dalmás, 38 Carlos Henrique Assunção Paiva, 85
Carla Berto, 523 Carlos Henrique Barbosa Gonçalves, 363
Carla Brandalise, 321 Carlos Henrique de Carvalho, 11, 15
Carla Cristina Barbosa, 363 Carlos Leandro da Silva Esteves, 220
Carla Cristina Nacke Conradi, 526 Carlos Martins Junior, 235
Carla Francielle Kurz, 88 Carlos Renato Carola, 362
Carla Lisboa Porto, 206 Carlos Roberto Antunes dos Santos, 49
Carla Luciana Souza da Silva, 469 Carlos Roberto Benjoino da Silva, 562
Carla Mary da Silva Oliveira, 413 Carlos Wellington Martins de Melo, 579
Carla Menegat, 319 Carlos Xavier de Azevedo Netto, 307, 308
Carla Michele Ramos, 209 Carlos Zacarias F. de Sena Junior, 467
Carla Renata Antunes de Souza Gomes, 269 Carlota Boto, 455

615
Carmélia Aparecida Silva Miranda, 152 Celso Branco, 201
Carmen Teresa Gabriel Anhorn, 140 Celso Luiz Moletta Junior, 248
Carolina Celestino Giordano, 72 Celso Rodrigues, 269
Carolina Chaves Ferro, 588 Celso Silva Fonseca, 404
Carolina Coelho Fortes, 409 Ceres Moraes, 59
Carolina Gual da Silva, 137 César Agenor Fernandes da Silva, 366
Carolina Mafra de Sá, 208 Cesar Augusto Barcellos Guauelli, 315
Carolina Martins Etcheverry, 333 César Augusto Bubolz Queirós, 487
Carolina Ruoso, 351 César Daniel de Assis Rolim, 320
Carolina Torres Alves de Almeida Ramos, 159 Cesar De Miranda e Lemos, 522
Caroline Cantanhede Lopes, 213 Cezar Karpinski, 360
Caroline Fernandes Silva, 412 Charles d'Almeida Santana, 65
Caroline Jaques Cubas, 575 Charles Monteiro, 335
Caroline Pacievitch, 510 Christiane Figueiredo Pagano de Mello, 423
Caroline Pereira Leal, 24 Christiane Laidler, 58
Caroline Silva Severino, 426 Christiane Maria Cruz de Souza, 49
Caroline Silveira Bauer, 60 Christiane Marques Szesz, 287
Cássia Daiane Macedo da Silveira, 245 Christina Helena da Motta Barlboza, 369
Cássia Maria Baptista de Oliveira, 585 Cibele Barbosa da Silva Andrade, 393
Cássia Rita Louro Palha, 155 Cilza Carla Bignotto, 463
Cassiana Buso Ferreira, 263 Cinthia Fernanda Barbosa da Silva, 205
Cássio Alan Abreu Albernaz, 316 Cíntia Régia Rodrigues, 116
Cássio da Silva Fernandes, 282 Claércio Ivan Schneider, 30
Cássio dos Santos Tomaim, 89 Clara Luiza Miranda, 78
Cássio Santos Melo, 208 Clarice Caldini Lemos, 320
Catarina Capella Silva, 370 Clarice Barbieri Shinyashiki, 71
Catarina Maria Costa dos Santos, 583 Clarice Gontarski Esperança, 453
Catarina Sant'Anna, 211 Clarice Nascimento de Melo, 485
Cátia Cristina de Almeida Silva, 173 Claricia Otto, 322
Cátia Faria, 260 Clarisse Ismério, 37
Cecília Chagas de Mesquita, 180 Clarita Ribeiro Gonzaga, 203
Cecilia Cotrim Martins de Mello, 23 Claudemir de Quadros, 157
Cecilia da Silva Azevedo, 399 Claudete Soares de Andrade Santos, 571
Cecilia Helena Ornellas Renner, 546 Claudia Alves, 157
Celenia de Souto Macedo, 507 Claudia Beltrão da Rosa, 39
Celeste Maria Pacheco de Andrade, 227 Claudia Correa de Almeida Moraes, 354
Celi Silva Gomes de Freitas, 475 Cláudia de Oliveira, 31
Célia Aparecida Rocha, 277 Claudia Denardi Machado, 324
Célia Cristina da Silva Tavares, 556 Cláudia Engler Cury, 326
Célia Maíra da Silva Estrella, 69 Cláudia Fernanda de Oliveira, 424
Célia Regina da Silveira, 497 Cláudia Helena da Cruz, 295
Celia Santana Silva, 577 Claudia Helena Nunes Henriques, 100
Celia Szniter Mentlik, 272 Cláudia Maia, 169
Célio José Losnak, 74 Cláudia Maria de Moura Pôssa, 417
Célio Marcos Pedraça, 575 Claudia Maria Gusson, 433
Celma Paese, 65 Cláudia Mauch, 236

616
Cláudia Mesquita, 30 Cristiano Gustavo Biazzo Simon, 508
Claudia Musa Fay, 96 Cristiano José Pereira, 433
Claudia Neves da Silva, 577 Cristiano Luís Christillino, 217
Claudia Peçanha da Trindade, 470 Cristiano Nicolini, 602
Claudia Pons Cardoso, 500 Cristiano Pereira Alencar Arrais, 344
Cláudia Regina Bovo, 137 Cristina Aparecida Reis Figueira, 345
Cláudia Regina dos Santos, 295 Cristina Dallanora, 220
Claudia Regina Nichnig, 188 Cristina Donza Cancela, 548
Claudia Regina Rodrigues Ribeiro Teixeira, 160 Cristina Ferreira, 250
Cláudia Regina Salgado de Oliveira Hansen, 161 Cristina Maria Barros de Medeiros, 271
Cláudia Rodrigues, 498 Cristina Meneguello, 334
Cláudia Sapag Ricci, 512 Cristina Moerbeck Casadei Pietraróia, 455
Claudia Schemes, 274 Cristina Monteiro de Andrada Luna, 228
Claudia Thurler Ricci, 411 Cristina Pessanha Mary, 386
Cláudia Tomaschewski, 440 Cristina Scheibe Wolff, 172, 175
Claudia Turra Magni, 304 Cristina Souza da Rosa, 514
Claudia Wasserman, 391 Cristine Fortes Lia, 574
Claudio Antonio Santos Monteiro, 106 Cybele Crossetti de Almeida, 138
Cláudio de Sá Machado Júnior, 338 D'Agostino Valeria Araceli, 156
Claudio Henrique de Moraes Batalha, 190 Daiana Crús Chagas, 53
Cláudio Roberto Dornelles Remião, 395 Daise Aparecida Palhares Diniz Silva, 354
Cláudio Travassos Delicato, 77 Dalila Müller, 103
Claudira do Socorro Cirino Cardoso, 502 Dalila Rosa Hallal, 12
Cleber Augusto Gonçalves Dias, 248 Dalila Zanon, 118
Cleber Eduardo Karls, 29 Daniel Aarão Reis Filho, 28
Clécia Maria da Silva, 589 Daniel Alves Boeira, 432
Cleide de Lima Chaves, 398 Daniel Barbosa Andrade de Faria, 272
Cleidivaldo De Almeida Sacramento, 196 Daniel Brauer, 254
Clementino Nogueira de Sousa, 167 Daniel Camurça Correia, 145
Cleodir da Conceição Moraes, 354 Daniel Canecchio, 166
Cleria Botelho da Costa, 255 Daniel de Pinho Barreiros, 388
Cleube Alves Da Silva, 309 Daniel do Vai Cosentino, 485
Cleusa Maria Gomes Graebin, 26 Daniel Lopes Bretas, 402
Clifford Andrew Welch, 398 Daniel Pereira Andrade, 299
Clóvis Frederico Ramaiana Moraes Oliveira, 33 Daniel Pimenta Oliveira de Carvalho, 22
Clóvis Gruner, 234 Daniel SChneider, 218
Conceição Maria Rocha de Almeida, 552 Daniel Wanderson Ferreira, 379
Conceição Solange Bution Perin, 408 Daniela Buono Calainho, 559
Cristiana Facchinetli, 458 Daniela de Oliveira, 580
Cristiana Schetlini Pereira, 451 Daniela Fernanda Sbravati, 149
Cristiane Almeida de Azevedo, 572 Daniela Giovana Siqueira, 513
Cristiane De Castro Ramos Abud, 181 Daniela Gonçalves Amaral, 554
Cristiane Muniz Thiago, 600 Daniela Magalhães da Silveira, 462
Cristiane Rodrigues Soares, 278 Daniela Resende Archanjo, 182
Cristiani Bereta da Silva, 129 Daniela Vallandro de Carvalho, 229
Cristiano Cezar Gomes da Silva, 32 Daniele de Oliveira Silva, 478

617
Daniella de Almeida Moura, 315 Dirceu Do Socorro Pereira, 569
Danielle Figuerêdo Moura, 163 Dislane Zerbinatti Moraes, 296
Danielle Kaeser Merola, 405 Diva do Couto Gontijo Muniz, 168
Danielle Moreira Brasileiro, 312 Djaci Pereira Leal, 408
Danielle Sanches de Almeida, 83 Djessika Lentz Ribeiro, 36
Danilo José Zioni Ferretti, 381 Dolores Martin Rodriguez Comer, 101
Dannyely Messias de Souza, 273 Dolores Puga Alves de Sousa, 295
Dante Flávio da Costa Reis Júnior, 394 Domingos Savio da Cunha Garcia, 561
Dante Marcello Claramonte Gallian, 368 Dominique Vieira Coelho dos Santos, 43
Danyllo Di Giorgio Martins da Mota, 355 Dora Shellard Corrêa, 355
Dario Alberto de Andrade Filho, 55 Doris Bittencourt Almeida, 13
Dario Scott, 554 Dorval do Nascimento, 99
Darlan Amorim Maia Mendes, 24 Douglas Attila Marcelino, 255
Débora Clasen de Paula, 594 Douglas Cole Libby, 145
Débora EI-Jaick Andrade, 154 Dulce Portilho Maciel, 395
Débora Kfuri Regai, 316 Durval Muniz de Albuquerque Júnior, 382
Débora Taísa Krebs, 31 Êça Pereira da Silva, 544
Deise Zandoná, 42 Éditon dos Santos Pimentel, 252
Deisi das Graças Rizzo Lubenow, 83 Eder Jurandir Carneiro, 362
Deivison Gonçalves Amaral, 197 Eder Martins, 202
Delton Ricardo Soares Meirelles, 437 Edgar Bruno Franke Serratto, 443
Demian Bezerra de Melo, 301 Edileuza Pimenta de Lima, 486
Denise A Soares de Moura, 427 Ediná Alves Costa, 54
Denise Bemuzzi de Sant'Anna, 48 Edinaldo Antonio Oliveira Souza, 454
Denise Castilhos de Araujo, 274 Edinalva Padre Aguiar, 142
Denise Gonçalves, 79 Edinelia Maria Oliveira Souza, 345
Denise Ognibeni, 185 Edison Antônio de Souza, 159
Denise Rollemberg, 342 Edison Minami, 581
Denísia Martins Borba, 570 Edmar Luis da Silva, 282
Deusa Maria de Sousa, 173 Edmundo Alves de Oliveira, 298
Dharana Pérola Ricardo Sestini, 174 Edna Mara Ferreira da Silva, 440
Diana Maul de Carvalho, 373 Edna Maria Nóbrega Araújo, 533
Diego Finder Machado, 65 Edneila Rodrigues Chaves, 113
Diego Luiz Vivian, 196 Edson Alvisi Neves, 437
Dilene Raimundo do Nascimento, 49 Edson Arantes Junior, 43
DilmaAndrade de Paula, 159 Edson Hely Silva, 527
Dilma Cabral, 47 Edson Passetti, 167
Dilmar Kistemacher, 17 Eduardo Arriada, 238
Dilse Piccin Corteze, 506 Eduardo Augusto Costa, 336
Dilton Cândido Santos Maynard, 28 Eduardo de Souza Soares, 102
Dilza Pôrto Gonçalves, 605 Eduardo Ferraz Felippe, 593
Diogo Arruda Carneiro da Cunha, 345 Eduardo França Paiva, 145
Diogo da Silva Roiz, 282 Eduardo Gomes Silva, 390
Diogo de Carvalho Cabral, 362 Eduardo Guilherme de Moura Paegle, 576
Diogo Franco Rios, 363 Eduardo Gusmão de Quadros, 385
Dirceu Casa Grande Junior, 229 Eduardo Henrique Martins Lopez de Scoville, 202

618
Eduardo José Afonso, 93 Elizabeth Johansen, 348
Eduardo Mei, 566 Elizabeth Salgado de Souza, 132
Eduardo Moraes Warpechowski, 363 Elizabeth Sousa Abrantes, 186
Eduardo Munhoz Svartman, 564 Elizangela Barbosa Cardoso, 189
Eduardo Natalino dos Santos, 519 Elmar Figueiredo, 266
Eduardo Ramon Palermo Lopez, 482 Eloisa Aragão Maués, 454
Eduardo Romero de Oliveira, 341 Eloisa Dezen-Kempter, 350
Eduardo Santos Neumann, 115 Eloisa Helena Capovilla da Luz Ramos, 550
Eduardo Scheidt, 104, 106 Eloisa Maria Lima Souto Silva, 144
Eduardo Sinkevisque, 384 Eloy Tonon, 347
Eduardo Victorio Morettin, 513 Eisa Gonçalves Avancini, 569
Edvaldo Correa Sotana, 279 Elson de Assis Rabelo, 386
Edwar De Alencar Castelo Branco, 290 Ely Bergo de Carvalho, 359
Elaine Cátia Falcade Maschio, 476 Ely Souza Estrela, 222
Elaine Cristina Carraro, 299 Elza M. M.l. Costa, 609
Elaine Cristina Maldonado, 421, 584 Emanuel Pereira Braz, 502
Elaine Leonara de Vargas Sodré, 437 Emanuela Sousa Ribeiro, 586
Elaine Lourenço, 242 Emanuele_cm@hotmail.com, 147
Élcia de Torres Bandeira, 181 Emerson Dionisio Gomes de Oliveira, 410
EleideAbril Gordon Findlay, 218 Émerson Neves da Silva, 66, 610
Elena Camargo Shizuno, 230 Emery Marques Gusmão, 28
Eleonora Zicari Costa de Brito, 207 Emilia Camevali da Silva, 442
Eliana Ramos Ferreira, 101 Emília Maria Ferreira da Silva, 148
Eliana Silvestre, 434 Emilio Gonzalez, 205
Eliana Ventorini, 454 Enaile Flauzina Carvalho, 121
Eliane Brito Silva, 153 Endrica Geraldo, 475
Eliane Cristina Deckmann Fleck, 113, 115 Eneida Maria Mercadante Sela, 330
Eliane de Mello, 112 Eneida Maria Souza Mendonça, 77
Eliane Lucia Colussi, 507 Enrique Serra Padrós, 471
Eliane Martins de Freitas, 438 Enzio Gercione Soares de Andrade, 204
Eliane Menezes, 453 Erica Elizabete da Silva, 234
Eliane Mimesse Prado, 242 Érica Melanie Ribeiro Nunes, 264
Eliézer Cardoso de Oliveira, 33 Erica Piovam de Ulhôa Cintra, 85
Eliezer Raimundo de Souza Costa, 239 Érica Rodrigues Fontes, 212
Elio Cantalicio Serpa, 336 Erick Assis de Araújo, 104
Elio Chaves Flores, 378 Erik Horner, 539
Elis Regina Barbosa Angelo, 101 Erika Cazzonatto Zerwes, 338
Elisa De Campos Borges, 467 Érika do Nascimento Pinheiro Mendes, 569
Elisa Frühauf Garcia, 525 Erivaldo Sales Nunes, 228
Elisa Maria Verona, 208 Ermelinda Moutinho Pataca, 360
Elisabete Leal, 35, 416 Ernesto Cerveira de Sena, 610
Elisabeth Weber Medeiros, 312 Eronize Lima Souza, 237
Elison Antonio Paim, 322 Esmeralda Blanco B. de Moura, 431
Elizabete Mayumy Kobayashi, 52 Esmeralda Rizzo, 99
Elizabete Sanches Rocha, 211 Estevão de Rezende Martins, 281
Elizabeth Cancelli, 271 Esther Kuperman, 162

619
Etelvina Maria de Castro Trindade, 98 Fabíola Martins Bastos, 378
Eucidio Pimenta Arruda, 265 Fabrina Magalhães Pinto, 21
Euclides de Freitas Couto, 246 Fatima Aparecida Silva, 133
Eudes Fernando Leite, 261 Fatima Bitencourt David, 245
Eugênio Rezende de Carvalho, 396 Fátima Costa de Lima, 212
Eunícia barros Barcelos Fernandes, 521 Fátima Faleiros Lopes, 326
Eurelino Teixeira Coelho Neto, 467 Fátima Fontes Piazza, 330
Eva Maria Luiz Ferreira, 310 Fátima Machado Chaves, 11
Evangelia Aravanis, 190, 196 Fátima Maria Neves, 96
Evaristo Caixeta Pimenta, 435 Fátima Sebastiana Gomes Lisboa, 516
Evelyn Furquim Werneck Lima, 210 Federico Alvez Cavanna, 509
Everton Costa Santos, 541 Federico Sandoval Olvera, 51
Éverton Reis Quevedo, 46 Felipe Abranches Demier, 466
Ezio da Rocha Bittencourt, 207 Felipe Côrte Real de Camargo, 94
Fabian Serejo Santana, 220 Felipe Eduardo Ferreira Marta, 249
Fabiana Fredrigo, 400 Felipe Matos, 459
Fabiana Cardoso Malha Rodrigues, 436 Felipe Ronner Pinheiro Imlau Motta, 280
Fabiana de Fatima Bruce da Silva, 506 Felipe Santos Magalhães, 90
Fabiana De Paula Guerra, 519 Fernanda Barros, 17
Fabiana Lopes da Cunha, 205 Fernanda Ben, 193
Fabiana Martins Bandeira, 605 Fernanda Borges de Moraes, 588
Fabiana Nicolau, 256 Fernanda Cristina Campos da Rocha, 14
Fabiana Pinto Pires, 120 Fernanda das Graças Corrêa, 225
Fabiana SChleumer, 374 Fernanda Gil Lozano, 172
Fabiana Scoleso, 488 Fernanda Mendonça Pitta, 26
Fabiane Popinigis, 452 Femanda Mota Thomaz Leboeuf, 351
Fabiano Aiub Branchelli, 77 Fernanda Rodrigues Galve, 599
Fabiano Godinho Faria, 468 Fernanda Soares Cardozo, 110
Fabiano Vilaça dos Santos, 589 Fernanda Tondolo Martins, 58
Fábio Andreas Richter, 353 Femanda Trindade Luciani, 421
Fábio Chang de Almeida, 446 Fernanda Zimmemnann, 147
Fábio de Souza Lessa, 44 FemandoA. Pires-Alves, 86
Fábio Duarte Joly, 42 Fernando Antonio Faria, 388
Fábio Ferreira, 563 Fernando Augusto Azambuja de Almeida, 310
Fábio Franzini, 382 Fernando C. Boppré, 593
Fábio Henrique Lopes, 190 Fernando Cauduro Pureza, 487
Fábio Kühn, 122 Fernando da Silva Rodrigues, 228
Fábio Luciano lachtechen, 364 Fernando de Araujo Penna, 141
Fabio Macedo, 429 Fernando Franco Netto, 146
Fabio Muruci Dos Santos, 396 Fernando Gil Portei a Vieira, 285
Fabio Pesavento, 125 Fernando Kolleritz, 289
Fábio Raddi Uchôa, 515 Fernando Lóris Ortolan, 540
Fabio Ricci, 161 Fernando Seffner, 500
Fábio Ruela de Oliveira, 469 Fernando Sergio Dumas dos Santos, 471
Fabio Sapragonas Andrioni, 286 Fernando Silva dos Santos, 466
Fábio Vergara Cerqueira, 40 Fernando Torres-Londofio, 113, 114

620
Flamarion Maués Pelúcio Silva, 455 Frank Antonio Mezzomo, 583
Flávia Aparecida Amaral, 139 Frederico Alexandre Hecker, 475
Flávia Cesarino Costa, 518 Frederico Brittes Nordin Garcia, 431
Flávia Cópio Esteves, 291 Frederico Castilho Tomé, 401
Flávia Cristina Silveira Lemos, 298 Frederico De Castro Neves, 497
Flávia de Sá Pedreira, 58 Frederico Duarte Bartz, 194
Flávia Eloisa Caimi, 499 Frederico Sidney Guimaraes, 601
Flavia Galli Tatsch, 24 Gabriel Aladren, 154
Flavia Klausing Gervasio, 414 Gabriel de Carvalho Godoy Castanho, 406
Flávia Kurunczi Domingos, 366 Gabriel Santos Berute, 125
Flávio César Freitas Vieira, 16 Gabriela Aparecida dos Santos, 372
Flavio Coelho Edler, 84 Gabriela Carames Beskow, 543
Flávio de Sá Cavalcanti de Albuquerque Neto, 234 Gabriela Dias de Oliveira, 52
Flavio José Gomes Cabral, 539 Gabriela Pellegrino Soares, 399
Flavio Limoncic, 449 Gefferson Ramos Rodrigues, 589
Flávio Lúcio Rodrigues Vieira, 162 Gelsom Rozentino de Almeida, 470
Flavio Rgerio Rocha, 519 Geni Rosa Duarte, 204
Flávio Vilas·Bôas Trovão, 291 Georgiane Garabely Heil Vázquez, 176
Francesca Focaroli, 45 Geraldo Mártires Coelho, 27
Francieli Aparecida Marinato, 525 Geraldo Pieroni, 578
Francimar Ilha da Silva Petroli, 104 Gerson Machado, 580
Francione Oliveira Carvalho, 296 Gerson Wasen Fraga, 250
Francis Albert Colta, 236 Getúlio Nascentes da Cunha, 509
Francisca Carla Santos Ferrer, 593 Gian Carlo de Melo Silva, 553
Francisca Ferreira Michelon, 337 Giana Lange do Amaral, 13
Francisco Alberto Rocha, 203 Giane Maria de Souza, 448
Francisco Alcides do Nascimento, 61 Gilbert Anderson Brandão, 480
Francisco Assis de Queiroz, 16 Gilberto Cézar de Noronha, 273
Francisco Carlos Cosentino, 120 Gilberto Grassi Calil, 465
Francisco Carlos Jacinto Barbosa, 49 Gilberto Marcos Martins, 273
Francisco Carlos Oliveira de Sousa, 198 Gilda Maria Verri, 457
Francisco Cesar Alves Ferraz, 229 Gildasio Santana Junior, 464
Francisco César Pinto Da Fonseca, 278 Gilian Evaristo França Silva, 25
Francisco Das Chagas Silva Souza, 142 Gilma Maria Rios, 181
Francisco Eduardo Alves de Almeida, 224 Gilmar Alexandre da Silva, 293
Francisco Eduardo Pinto, 214 Gilmar Arruda, 355, 360
Francisco Fabiano de Freitas Mendes, 345 Gilmara Lane Tito Silva, 284
Francisco Fagundes de Paiva Neto, 222 Gilmara Yoshihara Franco, 386
Francisco Firmino Sales Neto, 382 Gilmária Salviano Ramos, 176
Francisco Francijési Firmino, 596 Gilvan Ventura da Silva, 40
Francisco José Corrêa Martins, 225 Giorgia de Medeiros Domingues, 179
Francisco Josênio Camelo Parente, 442 Giovana Batista Tejo, 207
Francisco Canella, 109 Giovana Carla Mastromauro, 72
Francismar Alex Lopes de Carvalho, 311 Giovani José da Silva, 528
Francivaldo Alves Nunes, 216 Giovani Luiz Romani, 142
Françoise Jean de Oliveira Souza, 319 Giovanni Antonio Pinto Alves, 91

621
Giralda Seyferth, 304 Hanayana Brandão Guimarães Fontes Lima, 354
Gisálio Cerqueira Filho, 438 Harley de Araújo, 484
Giscard Farias Agra, 51 Haroldo de Resende, 170
Giselda Brito Silva, 447 Haroldo Gomes da Silva, 171
Gisele Becker, 274 Haroldo Loguercio Carvalho, 510
Gisele Oliveira Ayres Barbosa, 318 Haruf Salmen Espindola, 355, 356
Gisele Sanglard, 86 Hebe Mattos, 355
Gisele Thiel Della Cruz, 53 Heber Ricardo da Silva, 276
Gisella De Amorim Serrano, 454 Heitor Pinto de Moura Filho, 374
Giselle Laguardia Valente, 393 Helder Cyrelli de Souza, 531
Giselle Martins Venâncio, 461 Helder Manuel da Silva de Oliveira, 410
Gislaine de Oliveira Silva, 362 Helder Rodrigues Pereira, 62
Gizele Zanotto, 585 Helder Volmar Gordim da Silveira, 564
Gizlene Neder, 437 Helen Osório, 214
Gladys Sabina Ribeiro, 494 Helen Ulhôa Pimentel, 273
Glaucia Cristina Candian Fraccaro, 483 Helena Alpini Rosa, 308
Gláucia de Oliveira Assis, 66 Helena Amália Papa, 43
Glaura Teixeira Nogueira Lima, 99 Helena Bomeny, 17
Gleudson Passos Cardoso, 389 Helena Isabel Mueller, 164
Gleyson Nunes de Assis, 219 Helena Maria Marques Araújo, 144
Gloria Alejandra Guamizo Luna, 187 Helenice Aparecida Bastos Rocha, 141
Glória Cristina Ferreira Gabriel, 178,428 Helenice Ciampi Ribeiro Fester, 322
Gonzalo de Amézola, 323 Helidacy Maria Muniz Corrêa, 557
Graciela Bonassa Garcia, 216 Hélio Sochodolak, 457
Graciela De Conti Pagliari, 55 Heloisa Amelia Greco, 545
Graciela de Souza Oliver, 369 Heloísa Hirai Hecker, 209
Graziele Regina de Amorim, 51 Heloisa Jochims Reichel, 397
Grazielle Rodrigues do Nascimento, 55 Heloisa Maria Bertol Domingues, 367
Grazyelle Reis dos Santos, 75 Heloisa Meireles Gesteira, 364
Greyce Kely Piovesan, 80 Henrique Alonso de Albuquerque Rodrigues Pereira, 54
Guadalupe Salazar González, 607 Henrique Buarque de Gusmão, 209
Guido Coelho de Magalhães Bastos, 436 Henrique Espada Rodrigues Lima Filho, 451
Guilherme Cantieri Bordonal, 289 Henrique Modanez de Sant'Anna, 42
Guilherme Cunha Lima, 392 Henrique Rodolfo Theobald, 135
Guilherme de Paula Costa Santos, 126 Henrique Zeferino de Menezes, 60
Guilherme Galhegos Felippe, 523 Hermetes Reis de Araujo, 56
Guilherme José Motta Faria, 201 Hernán Eufemio Gómez, 542
Guilherme Paulo Castanholi Pereira das Neves, 587 Hernán Ramiro Ramírez, 254
Gustavo Acioli Lopes, 418 Hideraldo Lima da Costa, 80
Gustavo Biscaia de Lacerda, 59 Hilda Agnes Hübner Flores, 600
Gustavo Coelho Farias, 257 Hilda Machado, 516
Gustavo Felipe Miranda, 442 Hilda Pivaro Stadniky, 599
Gustavo Henrique Tuna, 456 Hileia Araujo de Castro, 597
Gustavo Naves Franco, 379 Hilton Barros Coelho, 488
Hamilcar Silveira Dantas Junior, 92 Hivana Mara Zaina de Matos, 144
Hamilton Afonso de Oliveira, 548 Homero Gomes de Andrade, 353

622
Huener silva Gonçalves, 52 Isadora Volpato Curi, 319
Hugo Arend, 566 Isaíde Bandeira Timbó, 503
Hugo José Guedes Moura, 445 Isaque Pereira de Carvalho Neto, 579
Humberto da Silva Miranda, 431 Isléia Rõssler Streit, 327
Humberto de França e Silva Júnior, 565 Ismael Gonçalves Alves, 429
Humberto Femandes Machado, 495 Ismail Norberto Xavier, 513
Humberto Perinelli Neto, 25 Ismara Izepe de Souza, 567
lacy Maia Mata, 152 Ismenia de Lima Martins, 473
lamara da Silva Viana, 146 Isnara Pereira Ivo, 148
landra Pavanati, 145 Israel Sanmartín, 286
lára Quelho de Castro, 528 Itala Byanca Morais da Silva, 383
Iara Toscano Correia, 582 luri Cavlak, 564
Idéia Thiesen, 600 Ivan Aparecido Manoel, 13
Ida Hammerschmilt de Lima, 130 Ivan da Costa Marques, 367
Idelma Aparecida Ferreira Novais, 126 Ivan Esperança Rocha, 40
Ignacio José Godinho Delgado, 254 Ivan Norberto dos Santos, 380
Igor Guedes Ramos, 284 Ivana D. Parrela, 267
Igor Salomão Teixeira, 409 Ivana Guilherme Simili, 233
lia da Silva Brognoli, 179 Ivaneide Almeida da Silva, 241
IIanil Coelho, 63 Ivanilda Aparecida Andrade Junqueira, 63
IIíada Pires da Silva, 17 Ivo Canabarro, 332
IIka Stem Cohen, 543 Ivo Coser, 393
Imgart Grützmann, 445 Ivone Gallo, 545
Inez Garbuio Peralta, 114 Ivone Salgado, 71, 72
Inoã Pierre Carvalho Urbinati, 216 Ivoneide de França Costa, 331
lohana Brito de Freitas, 417 Ivonete da Silva Souza, 508
lolanda Canal Abati, 571 Ivonete Pereira, 428
lone Celeste Jesus de Sousa, 240 Iza Luciene Mendes Regis, 95
lone de Fátima Oliveira, 567 Izabel Andrade Marson, 268
Iracema Andrade de Alencar Rosas, 574 Izabel de Fátima Cruz Melo, 89
Iracilda Pimentel Carvalho, 489 Izabel Missagia de Maltos, 527
Iranilson Buriti, 592 Jaci Guilherme Vieira, 524
Irene Quaresma Azevedo Viana, 324 Jackson Alexsandro Peres, 310
íris Kantor, 558 Jacqueline Angélica Hemández Haffner, 560
Iris Verena Santos de Oliveira, 100 Jacqueline da Silva Nunes Pereira, 408
Irma Antonieta Gramkow Bueno, 138 Jacqueline Wildi Lins, 418
Isa Paula Zacarias Ribeiro, 63 Jacques Elias de Carvalho, 293
Isabel Aparecida Bilhão, 197 Jacy Alves de Seixas, 78
Isabel Cristina Arendt, 244 Jadir Gonçalves Rodrigues, 576
Isabel Cristina F. Auler, 598 Jadir Peçanha Rostoldo, 71
Isabel Cristina Leite, 260 Jaelson Bitran Trindade, 476
Isabel Cristina Martins Guillen, 186 Jailma Maria de Lima, 542
Isabel Cristina Medeiros Maltos Borges, 607 Jaílson Pereira da Silva, 93
Isabela de Fátima Schwengber, 279 Jaime Rodrigues, 48
Isabela Maria Azevedo Gama Buarque, 249 Jair Diniz Miguel, 93
Isabelle De Luna Alencar Noronha, 327 James William Goodwin Junior, 541

623
Jamila Ithaia dos Santos Wawzyniak, 414 João Carlos Ribeiro de Andrade, 264
Janaina Cardoso de Mello, 539 João Carlos Tedesco, 221
Janaina de Almeida Teles, 259 João Carlos Vieira da Costa Cavalcanti da Rocha, 383
Janaina de Paula do Espírito Santo, 511 João Dalla Rosa Júnior, 413
Janaína Dias Cunha, 245 João de Azevedo e Dias Duarte, 271
Janaina Girotto, 36 João do Prado Ferraz de Carvalho, 18
Janaina Martins Cordeiro, 259 João Edson de Arruda Fanaia, 254
Janaína Oliveira, 284 João Eduardo Cezar de Vilhena, 37
Janaina Souza Teixeira, 107 João Fábio Bertonha, 446
Janderson Bax Carneiro, 504 João Fernando Pelho Ferreira, 248
Janete de Fátima Barause Néri, 133 João Gabriel Lima Cruz Teixeira, 210
Janete Ruiz de Macedo, 348, 350 João Henrique dos Santos, 22
Janete Santos Ribeiro, 67 João Kennedy Eugênio, 284
Janice Gonçalves, 348 João Luís Ribeiro Fragoso, 120, 127
Janine Gomes da Silva, 187 João Marcelo Barbosa Dergan, 358
Janio Gustavo Barbosa, 435 João Masao Kamita, 24
Janúzia Souza Mendes de Araújo, 369 João Miguel Teixeira de Godoy, 608
Jaqueline Ap, Martins Zarbato Schmitt, 129 João Paulo Cordeiro Reis, 170
Jaquelini Scalzer, 327 João Paulo Rodrigues, 315
Jayme Lúcio Fernandes Ribeiro, 276 Joao Pinto Furtado, 290
Jean Baptista, 524 Joaquim Justino Moura dos Santos, 105
Jean Rodrigues Sales, 258 Jocyleia Santana dos Santos, 280
Jeannie da Silva Menezes, 441 Joel Carlos de Souza Andrade, 597
Jefferson Cano, 461 Joêlle Rachei Rouchou, 30
Jefferson Carriello do Carmo, 191 Joelma Ferreira dos Santos, 94
Jefferson José Queler, 537 John Manuel Monteiro, 520
Jeffrey Lesser, 306 Johny Guimarães da Silva, 95
Jeniffer Alves Cuty, 32 Jóina Freitas Borges, 527
Jens Michael Baumgarten, 334 Jonas Rafael dos Santos, 213
Jérri Roberto Marin, 436 Jonas Wilson Pegoraro, 123
Jesana Lilian Siqueira, 541 Jorge Batista Fernandes, 391
Jhoyce Póvoa Timóteo, 73 Jorge Claudio Bastos da Silva, 390
Jó Klanovicz, 355 Jorge Eremites de Oliveira, 307
Joana D'Arc Fernandes Ferraz, 108 Jorge Ferreira, 258
Joana O'Are do Valle Bahia, 306 Jorge Luiz Bezerra Nóvoa, 88
Joana EI-Jaick Andrade, 466 Jorge Luiz Prata de Sousa, 376
Joana Maria Pedro, 174 Jorge Luiz Romanello, 336
Joana Medrado Nascimento, 217 Jorge Miklos, 279
Joana Monteleone, 424 Josane Rodrigues Boechat, 378
Joana Neves, 545 José Adilçon Campigoto, 530
João Alberto da Costa Pinto, 466 José Adilson Filho, 79
João Alfredo Costa de Campos Melo Júnior, 283 José Alberto Baldissera, 94
João André Brito Garboggini, 92 José Alberto Bandeira Ramos, 151
João Batista Gonçalves Bueno, 328 José Alexandre da Silva, 482
João Carlos de Souza, 543 José Alves de Freitas Neto, 269
João Carlos Gomes, 489 José Augusto Alves Netto, 532

624
José Bento Rosa da Silva, 488 Joseph Espíndola, 570
José Carlos de Araújo Neto, 224 Josiane Roza de Oliveira, 388
José Carlos Leite, 170 Josianne Francia Cerasoli, 70
José Carlos Mosko, 248, 251 Josineide da Silva Bezerra, 70
José Carlos Vilardaga, 377 Josu Curiel Yarza, 406
José Carlos Ziliani, 481 Joubert Paulo Teixeira, 532
José Cássio Másculo, 241 Jovani de Souza Scherer, 147
José D' Assunção Barros, 95 Joyce Mary Adam de Paula e Silva, 430
José Ernesto Pimentel Filho, 231 Juan Manuel Padrán, 446
José Eudes Arrais Barroso Gomes, 555 Juçara da Silva Barbosa de Mello, 194
José Evando Vieira de Melo, 217 Juçara Luzia Leite, 598
José Evangelista Fagundes, 504 Juçara Nair Wollf, 73
José Fernando Teles da Rocha, 108 Juciene Batista Félix Andrade, 594
José Henrique de Paula Borralho, 491 Jucineide Moreira de Souza Pereira, 275
José Iran Ribeiro, 494 Judite Maria Barboza Trindade, 430
José Joaquim Pereira Melo, 572 Julia Bueno de Morais Silva, 131
José Jobson de Andrade Arruda, 420 Julia Faria Camargo, 565
José Jonas Duarte da Costa, 361 Juliana Alves de Andrade, 215
José Josberto Montenegro Sousa, 357 Juliana Bastos Marques, 42
José Leandro Rocha Cardoso, 83 Juliana Bublitz, 358
José Licínio Backes, 110 Juliana da Cunha Sampaio, 150
José Luiz Costa Neto, 524 Juliana Darás dos Santos, 377
José Luiz de Castro, 552 Juliana de Almeida, 61
José Maria Vieira de Andrade, 37 Juliana de Holanda Alves Rocha, 559
José Martinho Rodrigues Remedi, 301 Juliana Ferreira Sorgine, 353
José Martins Ribeiro, 502 Juliana Fujimoto, 520
José Newton Coelho Meneses, 425 Juliana Mesquita Hidalgo Ferreira, 23
José Norberto Soares, 130 Juliana Miranda Filgueiras, 242
José Otávio Aguiar, 596 Juliana Sabino Simonato, 154
José Paulo Eckert, 306 Juliana Serzedello Crespim Lopes, 589
José Pedro Cabrera Cabral, 400 Juliane Conceição Primon Serres, 47
José Raimundo Fontes, 448 Juliano Loureiro de Carvalho, 357
José Ricardo Ferraz, 107 Juliano Rosa Gonçalves, 455
José Ricardo Oriá Fernandes, 131 Julio Cesar Bentivoglio, 496
José Rivair Macedo, 408 Júlio Cesar Paixão Santos, 82
José Roberto Pinto de Góes, 125 Júlio Cesar Schweickardt, 81
José Roberto Severino, 344 Julio Cesar Virginio da Costa, 510
José Rogério de Oliveira, 47 Julio Claudio da Silva, 105
José Ronaldo Mendonça Fassheber, 253 Júlio Mangini Fernandes, 55
José Tarcisio Grunennvaldt, 226 Júnia Sales Pereira, 263
José Veridiano dos Santos, 75 Juniele Rabêlo de Almeida, 262
José Walter Nunes, 91 Jurandir Malerba, 21
JosebelAkelFares,69 Jurema Mascarenhas Paes, 98
Joseli Maria Nunes Mendonça, 448, 451 Kalina Vanderlei Paiva da Silva, 24
Joselina da Silva, 175 Kalna Mareto Teao, 527
Josemary Omena Passos Ferrare, 116 Kaori Kodama, 374

625
Karina Anhezini de Araújo, 283 Leandro Henrique Magalhães, 21
Karina Camarneiro Jorge, 72 Leandro José Nunes, 28
Karl Martin Monsma, 302 Leandro Karnal, 119
Karl Schurster Verissimo de Souza Leão, 447 Leandro Mendanha e Silva, 170
Karla Adriana Martins Bessa, 518 Leandro Miranda Malavota, 363
Karla Guilherme Carloni, 256 Leandro Pereira Gonçalves, 444
Karla Pereira Cunha, 402 Lecy Figueiredo Rocha, 307
Karoline Carula, 498 Léia Adriana da Silva Santiago, 508
Katani Maria Nascimento Monteiro, 73 Leila Beatriz Ribeiro, 606
Katia Aily Franco de Camargo, 538 Leila Bianchi Aguiar, 351
Katia Eliane Barbosa, 293 Leila Lourenço, 324
Kátia Gerab Baggio, 400 Leila Medeiros de Menezes, 474
Kátia Lorena Novais Almeida, 154 Leila Mezan Algranti, 48
Katia Maria Abud, 129, 130 Leila Rodrigues da Silva, 403
Katia Maria Paim Pozzer, 40 Leisa Robles Borba da Silva, 61
Kátia Rodrigues Paranhos, 209 Lelio Luiz de Oliveira, 21
Katiane Soares Verazani, 426 Lemuel Rodrigues da Silva, 573
Kazumi Munakata, 240 Lena Benzecry, 595
Keila Auxiliadora Carvalho, 50 Lená Medeiros de Menezes, 473, 474
Keila Grinberg, 450 Lennita Ruggi, 252
Keite Maria Santos do Nascimento Lima, 61 Léo Postemak, 390
Kellen Cristina Marçal de Castro Neves, 290 Leonam Lauro Nunes da Silva, 563
Kelly Carvalho, 491 Leonardo Ayres Padilha, 29
Kelly Sórensi Naves, 403 Leonardo O'Reilly Brandão, 270
Kenia Aparecida Miranda, 193 Leonardo Rodrigues de Moraes, 530
Khalil A. B. Nogueira, 71 Leonice de Lima Mançur Lins, 185
Klmon Speciale B. Ferreira, 249 Leonor Carolina Baptista Schwartsmann, 81
Lais Viena de Souza, 430 Leticia Borges Nedel, 318
Lana Lage da Gama Lima, 178 Leticia Cantarela Matheus, 342
Lana Mara de Castro Siman, 145, 267, 263 Leticia Carneiro Aguiar, 158
Larissa Assis Pinho, 241 Letícia Dias Schirm, 353
Larissa Camacho Carvalho, 458 Leticia Ricci Aparicio, 537
Larissa Moreira Viana, 149 Leticia Squeff, 330
Larissa Oliveira Gabarra, 582 Liane Maria Bertucci, 50
Larissa Rosa Correa, 196 Liane Maria Nagel, 350
Laura Ferrazza de Lima, 534 Libânia Nacif Xavier, 13
Laura Loguercio Cánepa, 36 Libertad Borges Bittencourt, 401
Laura Nery, 31 Lidia M. Vianna Possas, 184
Laura Nogueira Oliveira, 239 Lidia Nunes Cunha, 563
Laurinda Rosa Maciel, 85 Lidiane Soares Rodrigues, 301
Lausane Corrêa Pykosz, 82 Ligia Barros de Freitas, 453
Lavinia Coutinho Cardoso, 590 Lígio José de Oliveira Maia, 524
Léa Maria Carrer lamashita, 434 Lilia Inés Zanotti de Medrano, 400
Leandro Augusto Martins Junior, 384 Lilian Beatriz Carlos, 381
Leandro Calbente Câmara, 426 Lilian Costa Castex, 131
Leandro Gonsales Ciccone, 572 Lilian Henrique de Azevedo, 435

626
Lilian Marta Grisolio, 57 Luciana Medeiros de Araújo, 70
Lilian Rodrigues da Cruz, 178, 428 Luciana Mendes Gandelman, 558
Liliane da Costa Freitag, 355 Luciana Paiva Coronel, 79
Liliane Edira Ferreira Carvalho, 535 Luciana Pessanha Fagundes, 281
Lina Rodrigues de Faria, 85, 187 Luciana Rosar Fornazari Klanovicz, 175
Lincoln de Abreu Penna, 467 Luciana Rossato, 131
Lincoln Marques dos Santos, 439 Luciana Scheuer Brum, 143
Lindsay Borges, 544 Luciana Sepúlveda Kõptcke, 263
Lisiane Si as Manke, 245 Luciane Cristina Scarato, 419
Lívia Carolina Vieira, 14 Luciano Aronne de Abreu, 314
Lívia Harfuch, 575 Luciano Barandiaran, 453
Liz Andréa Dalfré, 341 Luciano Carneiro Alves, 288
Lizete Oliveira Kummer, 235 Luciano da Silva Moreira, 457
Lorelai Brilhante Kury, 365 Luciano dos Santos Teixeira, 116
Lorena Almeida Gill, 48 Luciano Mendes Cabral, 107
Lorena Avellar de Muniagurria, 339 Luciano Patrice Garcia Lepera, 220
Lorena de Pauli, 361 Luciano Raposo de A. Figueiredo, 587
Lorene Figueiredo de Oliveira, 472 Luciene de Morais Rosa, 313
LosandroAntonio Tedeschi, 184 Luciene Lehmkuhl, 412
Lourival Andrade Júnior, 572 Luciene Pereira Carris Cardoso, 358
Luana Carla Martins Campos, 335 Luciene Soares de Souza, 459
Luana Chnaiderman de Almeida, 518 Lucilia de Almeida Neves Delgado, 262
Luana Neres de Sousa, 45 Lúcio Flávio Rodrigues de Almeida, 256
Luana Satumino Tvardovskas, 165 Lúcio Vânio Moraes, 583
Luana Teixeira, 199 Lucy Cavallini Bajjani, 135
Lucas Bittencourt Gouveia, 136 Luigi Biondi, 193
Lucas Jannoni Soares, 419 Luis Alexandre Cerveir3, 117
Lucelinda Schramm Corrêa, 479 Luis Antonio Coelho Ferla, 102
Lúcia Falcão Barbosa, 506 Luís Augusto Ebling Farinatti, 216
Lucia Grinberg, 278 Luís Balkar Sá Peixoto Pinheiro, 199
Lúcia Helena Oliveira Silva, 193 Luis Carlos dos Passos Martins, 277
Lucia Helena Pereira da Silva, 105 Luís Edmundo de Souza Moraes, 242
Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves, 496 Luís Eduardo de Oliveira, 452
Lucia Maria Paschoal Guimarães, 497 Luis Fernando Beneduzi, 33
Lúcia Soares da Silva, 169 Luis Fernando Cerri, 512
Lúcia Teresinha Macena Gregory, 88 Luís Fernando da Silva Laroque, 118
Luciana Andrade De Almeida, 182 Luis Fernando Guimarães Zen, 472
Luciana Aparecida De Souza Mendes, 573 Luís Fernando Prestes Camargo, 590
Luciana Beatriz de Oliveira Bar de Carvalho, 17 Luís Filipe Silvério Lima, 557
Luciana Cláudia Oliveira de Souza, 82 Luís Frederido Dias Antunes, 124
Luciana Coelho Barbosa, 38 Luis Guilherme Assis Kalil, 113
Luciana Farias Santana, 378 Luis Gustavo Molinari Mundim, 531
Luciana Ferrari Montemezzo,208 Luís Kist, 120
Luciana Fontes Parzewski, 137 Luís Manuel Domingues do Nascimento, 342
Luciana Gomes Ribeiro, 253 Luis Reznik, 257
Luciana Lopes dos Santos, 595 Luisa Quarti Lamarão, 277

627
Luisa Teixeira Andrade, 141 Mairon Escorsi Valério, 592
Luisa Tombini Wittmann, 526 Maise Caroline Zucco, 175
Luitgarde Oliveira Cavalcanti Barros, 604 Majô Schwingel, 146
Luiz Alberto de Souza Marques, 499 Mamuel Jauará, 372
Luiz Alberto Grijó, 315 Manoel Dourado Bastos, 288
Luiz Antonio da Silva Teixeira, 79, 87 Manoel Gustavo de Souza Neto, 286
Luiz Antonio de Castro Santos, 85, 185 Manoel José Ávila da Silva, 393
Luiz Antonio Gloger Maroneze, 97 Manoel José Porto Júnior, 369
Luiz Antonio Sabeh, 425 Manoel Luis Salgado Guimarães, 379, 380
Luiz Barros Montez, 383 Manoela Pedroza, 484
Luiz Carlos Barreira, 325 Manuela Arruda dos Santos, 101
Luiz Carlos Bento, 243 Manuelina Maria Duarte Cândido, 264
Luiz Carlos Borges, 366 Mara Cristina de Matos Rodrigues, 387
Luiz Carlos Luz Marques, 579 Mara Regina do Nascimento, 558
Luiz Carlos Nunes Martins, 375 Mara Rúbia Sant'Anna, 534
Luiz Carlos Ribeiro, 251 Maraliz de Castro Vieira Christo, 415
Luiz Carlos Sereza, 237 Marca Eckert Miranda, 422
Luiz Carlos Soares, 365 Marçal de Menezes Paredes, 273
Luiz Carlos Vídigal, 97 Marcel Diego Tonini, 246
Luiz Carlos Villalta, 27 Marcela Goldmacher, 486
Luiz Cláudio Moisés Ribeiro, 195 Marcelina Silveira de Queiroz, 259
Luiz Eduardo Simões de Souza, 371 Marcello Otávio Neri de Campos Basile, 492
Luiz Estevam de Oliveira Fernandes, 115 Marcelo Antonio Chaves, 111
Luiz Felipe Alencastro, 127 Marcelo Badaró Mattos, 483
Luiz Felipe Cezar Mundim, 227 Marcelo Cândido da Silva, 135
Luiz Felipe Falcão, 64 Marcelo Carreiro da Silva, 223
Luiz Fernandes de Oliveira, 473 Marcelo Cheche Galves, 495
Luiz Guilherme Scaldaferri Moreira, 128 Marcelo de Freitas Assis Rocha, 257
Luiz Gustavo de Souza Lima Junior, 347 Marcelo de Mello Rangel, 285 .
Luiz Gustavo Santos Cota, 151 Marcelo de Souza Magalhães, 74
Luiz Henrique Assis Garcia, 203 Marcelo de Souza Silva, 232
Luiz Humberto Martins Arantes, 211 Marcelo Ferreira de Assis, 126
Luiz Lima Vailati, 337 Marcelo Fronza, 133
Luiz Rafael Gomes, 487 Marcelo Gonzalez Brasil Fagundes, 281
Luiza Larangeira da Silva Mello, 27 Marcelo Hornos Steffens, 592
Lukas Gabriel Grzybowski, 404 Marcelo Pereira Lima, 406
Luzia Marcia Resende Silva, 132 Marcelo Ribeiro de Castro, 179
Luzia Margareth Rago, 164, 167 Marcelo Santos Rodrigues, 343
Lyvia Vasconcelos Baptista, 44 Marcelo Squinca da Silva, 161
Macelina Gorni, 294 Marcelo Timotheo da Costa, 444
Maciel Henrique Carneiro da Silva, 148 Marcelo Vianna, 110
Magali Gouveia Engel, 160 Marcelo Vieira Ferreira Ferro, 87
Magali Romero Sá, 565 Márcia Almada, 349
Magda Maria Jaolino Torres, 167 Marcia Amantino, 147
Magna Lima Magalhães, 603 Márcia Azevedo de Abreu, 27
Maira Ines Vendrame, 476 Márcia Blanco Cardoso, 500

628
Márcia Castelo Branco Santana, 189 Marcos Fernando de Souza, 280
Marcia Cristina Consolim, 300 Marcos Francisco Napolitano de Eugênio, 513
Márcia Cristina Leão Bonnet, 413 Marcos Gerhardt, 360
Marcia de Almeida Gonçalves, 383 Marcos Guedes Veneu, 386
Marcia de Melo Martins Kuyumjian, 489 Marcos Guimarães Sanches, 439
Marcia de Souza Santos, 35 Marcos Lobato Martins, 361
Marcia Eliane Alves de Souza e Mello, 128 Marcos Luis Ehrhardt, 597
Márcia Fabiani, 572 Marcos Luiz Bretãs, 237
Márcia Helena Saldanha Barbosa, 29 Marcos Nestor Stein, 481
Márcia Janete Espig, 194 Marcos Rizolli, 289
Márcia Juliana Santos,296 Marcos Roberto Kusnick, 510
Márcia Maria da Silva Barreiros Leite, 189 Marcos Roberto Martins, 11
Márcia Maria Fonseca Marinho, 62 Marcos Rogério Cordeiro, 31
Márcia Maria Menendes Motta, 214 Marcos Ursi Corrêa de Castilho, 575
Marcia Maria Pereira, 576 Marcus Ajuruam de Oliveira Dezemone, 219
Marcia Moises Ribeiro, 375 Marcus Joaquim Maciel de Carvalho, 150
Marcia Naomi Kuniochi, 427 Marcus Marciano Gonçalves da Silveira, 92
Márcia Ramos de Oliveira, 401 Marcus Silva da Cruz, 402
Marcia Regina Barros da Silva, 516 Marcus Vinicius de Freitas Rosa, 11 O
Marcia Regina Capelari Naxara, 269 Marcus Vinicius Duque Neves, 406
Márcia Regina da Silva Ramos Carneiro, 445 Margaret Marchiori Bakos, 40
Márcia Severina Vasques,41 Margarete da Costa Cardoso, 266
Márcia Solange Volkmer, 562 Margareth de Almeida Gonçalves, 180
Marcia Yumi Takeuchi, 542 Margarida Maria Adamatti, 517
Márcio Ananias Ferreira Vilela, 347 Margarida Maria de Carvalho, 41
Mareio Both, 217 Margarida Maria Dias de Oliveira, 505
Mareio Marchioro, 521 Margarida Pereira Varela dos Santos Montenegro
Marcio Romão Brantuas Barcia, 380 Durães,548
Márcio Santos de Santana,433 Margarita Victoria Rodríguez, 12
Marco Antonio Neves Soares, 574 Maria Adenir Peraro, 230
Marco Antonio V. Pamplona, 591 Maria Amelia Garcia de Alencar, 205
Marco Aurélio Monteiro Pereira, 577 Maria Angela Borges Salvadori, 328
Marcos Alexandre de M. S. Arraes, 56 Maria Ângela de Faria Grillo, 187
Marcos Alves Valente, 314 Maria Angela Peter da Fonseca, 537
Marcos André Jakoby, 192 Maria Angélica da Gama Cabral Coutinho, 67
Marcos Antonio da Silva, 88 Maria Angélica Rodrigues de Souza, 44
Marcos Antonio de Oliveira, 233 Maria Angélica Zubaran, 450
Marcos Antônio Lopes, 20 Maria Antonia Dias Martins, 38
Marcos Aurélio de Paula Pereira, 123 Maria Antônia Marçal, 510
Marcos César Alvarez, 302 Maria Aparecida Carbonar, 529
Marcos Chor Maio, 156 Maria Aparecida da Silva Cabral, 240
Marcos Cordeiro Pires, 371 Maria Aparecida de Menezes Borrego, 427
Marcos da Costa Braga, 392 Maria Aparecida Ferreira Carli, 481
Marcos Edilson de Araújo Clemente, 32 Maria Aparecida Figueiredo Cohn, 246
Marcos Fábio Freire Montysuma, 360 Maria Aparecida Lima Dias, 510
Marcos Fernandes, 385 Maria Aparecida Macedo Pascal, 478

629
Maria Aparecida Peppe, 294 Maria de Fátima Guimarães Bueno, 326
Maria Aparecida Prazeres Sanches, 188 Maria de Fátima Morethy Couto, 411
Maria Aparecida Rezende Mota, 384 Maria De Fátima Oliveira, 68
Maria Aparecida Silva de Sousa, 422 Maria de Fátima Sabino Dias, 508
Maria Apparecida Franco Pereira, 96 Maria de Fátima Silva Gouvêa, 120, 127
Maria Augusta de Castilho, 575 Maria de Lourdes da Silva, 230
Maria Aura Marques Aidar, 340 Maria de Lourdes Monaco Janotti, 544
Maria Auxiliadora Schmidt, 129, 130 Maria de Nazaré dos Santos Sarges, 100
Maria Beatriz Nader, 177 Maria do Carmo Barbosa de Melo, 133
Maria Beatriz Pinheiro Machado, 103 Maria do Carmo Marcondes Brandão Rolim, 352
Maria Bernadete Moreira Kroeff, 597 Maria do Carmo Martins, 240
Maria Bernardete Ramos Flores, 414 Maria do Carmo Pires, 122
Maria Berthilde de Barros Lima e Moura Filha, 25 Maria do Perpétuo Socorro Calixto Marques, 210
Maria Carolina Akemi Sameshima, 23 Maria do Socorro Ferraz Barbosa, 121
Maria Carolina Bovério Galzerani, 325 Maria Elena Bernardes, 27
Maria Cecília Conte Carboni, 172 Maria Elisa Lemos Nunes da Silva, 50
Maria Cecília Velasco e Cruz, 486 Maria Elisa Noronha de Sá Mãder, 399
Maria Celma Borges, 222 Maria Eliza de Campos Souza, 441
Maria Ciavatta, 463 Maria Elizabeth Ribeiro Cameiro, 150
Maria Clara Pivato Biajoli, 169 Maria Eloisa Cavalheiro, 544
Maria Clara Tomaz Machado, 578 Maria Emilia Monteiro Porto, 23
Maria Clarice Rodrigues de Souza, 171 Maria Emilia Prado, 390
Maria Claudia Bonadio, 533 Maria Emília Vasconcelos dos Santos, 233
Maria Conceição da Costa, 52 Maria Eugênia Mattos Luchsinger, 403
Maria Concepta Padovan, 47 Maria Fatima de Souza Silva, 606
Maria Cristina Bohn Martins, 113 Maria Fernanda Derntl, 70
Maria Cristina Cortez Wissenbach, 373 Maria Fernanda Magalhães Scelza, 609
Maria Cristina Dantas Pina, 239 Maria Fernanda Vieira Martins, 492
Maria Cristina de Oliveira Athayde, 173 Maria Helena Bittencourt Granjo, 326
Maria Cristina Dos Santos, 520 Maria Helena Versiani, 258
Maria Cristina Gomes Machado, 16 Maria Ignês Mancini de Boni, 164
Maria Cristina Vidotte Blanco Tarrega, 138 Maria Inês Sucupira Stamatto, 505
Maria Cristina Volpi Nacif, 532 Maria Isabel Brito de Souza, 41
Maria da Conceição Amaral Miranda de Carvalho, 578 Maria Isabel de Siqueira, 450
Maria da Conceição Francisca Pires, 540 Maria Ivonilde Medonça Targino, 158
Maria da Glória de Oliveira, 382 Maria Izilda Santos de Matos, 96
Maria da Glória Porto Kok, 522 Maria José do Santos, 222
Maria da Graça Nóbrega Bollmann, 158 Maria José Mesquita Cavalleiro de Macedo Wehling, 434
Maria da Luz Coelho, 264 Maria Leandra Bizello, 514
Maria da Penha Vasconcellos, 179 Maria Letícia Corrêa, 161
Maria das Graças Ataíde de Almeida, 447 Maria Lucia Abaurregnerre, 331
Maria das Graças de Andrade Leal, 482 Maria Lúcia Bastos Kern, 334
Maria de Fátima Carvalho Alves, 477 Maria Lúcia de Souza Rangel Ricci, 581
Maria de Fátima Costa, 31 Maria Lúcia Duriguetto, 470
Maria de Fátima da Cunha, 509 Maria Lucia Motl, 176
Maria de Fátima Duarte Tavares, 101 Maria Lucilia Viveiros Araújo, 124

630
Maria Luisa Nabinger de Almeida, 398 Marieta Pinheiro de Carvalho, 441
Maria Luiza Andreazza, 551 Marilane Machado, 87
Maria Luiza F. Martini, 30 Marilange Nonnenmacher, 418
Maria Luiza Fernandes, 502 Marilda Batista Mitidiero, 352
Maria Luiza Ugarte Pinheiro, 199 Marilda Bonini Vargas, 12
Maria Manuela Alves Maia, 607 Marilda lonta, 164,168
Maria Margaret Lopes, 263 Marilda Lopes Pinheiro Queluz, 417
Maria Margarete dos Santos, 457 Marilda Santana da Silva, 422
Maria Marta Martins de Araújo, 492 Marilecia Oliveira Santos, 98
Maria Medianeira Padoin, 16 Marilena Vizentin, 42
Maria Paula Costa, 183 Marilene Rosa Nogueira da Silva, 104, 109
Maria Paula Nascimento Araújo, 401 Marília de Azambuja Ribeiro, 135
Maria Rachei Fróes da Fonseca, 81 Marilia Nogueira dos Santos, 121
Maria Regina Candido, 44 Marília Pugliese Branco, 139
Maria Regina Celestino De Almeida, 520 Marina Fernandes Braga, 265
Maria Regina Cotrim Guimarães, 85 Marina Gusmão de Mendonça, 371
Maria Rita de Almeida Toledo, 461 Marina Haizenreder Ertzoguie, 32
Maria Rita de Assis César, 166 Marina Monteiro Machado ,216
Maria Rita Silveira de Paula Amoroso, 76 Marina Regis Cavicchioli, 43
Maria Sangela De Sousa Santos Silva, 448 Marines Dors, 29
Maria Sarita Mota, 221 Marinete Aparecida Zacharias Rodrigues, 232
Maria Silvia Casagrande Beozzo Bassanezi, 548 Mario Maestri, 151
Maria Silvia Duarte Hadler, 326 Mário Augusto Correia San Segundo, 191
Maria Stella Martins Bresciani, 74 Mário César Coelho, 415
Maria Suzel Gil Frutuoso, 478 Mario Cleber Martins Lanna Junior, 262
Maria Teresa Cavalcanti de Oliveira, 157 Mário Femandes Correia Branco, 523
Maria Teresa Garritano Dourado, 186 Mario Femando Bolognesi, 212
Maria Teresa Santos Cunha, 33 Mario Teixeira de Sá Junior, 580
Maria Teresa Toribio Brittes Lemos, 391 Marion Brepohl de Magalhães, 270
Maria Teresa Villela Bandeira de Mello, 331 Marisa de Fátima Lomba de Farias, 184
Maria Thereza Negrão de Mello, 68 Marisa Marques, 423
Maria Thereza Rosa Ribeiro ,297 Marisa Midore Deaecto, 457
Maria Verónica Secreto, 452 Marisa Saenz Leme, 538
Mariana Corção, 536 Marisa Varanda Teixeira Carpintéro, 72
Mariana de Campos Françozo, 330 Marise da Silveira, 511
Mariana Esteves de Oliveira, 609 Mariseti Cristina Soares Lunckes, 237
Mariana Flores da Cunha Thompson Flores, 231 Maristel P. Nogueira, 276
Mariana Joffily, 227 Marivaldo Cruz do Amaral, 175
Mariana Oliveira Arantes, 205 Mariza de Carvalho Soares, 378
Mariane Werner Zen, 456 Marize Malta, 416
Mariangela Vasconcelos Nunes, 110 Marlene de Fáveri, 187
Mariano de Azevedo Júnior, 407 Marlene Rosa Cainelli, 501
Mariarosaria Fabris, 513 Marlene Terezinha Grendel, 134
Maricélia Cardoso Matos Neves, 605 Marli de Oliveira Costa, 430
Mariela Alejandra Coudannes Aguirre, 508 Marli José Tavares, 571
Marieta de Moraes Ferreira, 262 Marli Marcondes, 332

631
Marlise M. Giovanaz, 99 Miguel Antonio Buzzar, 367
Marlise Sanchotene de Aguiar, 98 Miguel Archanjo de Freitas Jr., 251
Marluce De Lima Macedo, 329 Miguel Mundstock Xavier de Carvalho, 359
Marly de Almeida Gomes Vianna, 469 Miguel Palmeira, 385
Marta Adriana Schmitt, 206 Miguel Rodrigues de Sousa Neto, 188
Marta Coelho Castro Troquez, 307 Milena Fernandes de Oliveira, 463
Marta de Almeida, 79, 82 Milton Cleber Pereira Amador, 549
Marta Margarida de Andrade Lima, 503 Milton Joeri Fernandes Duarte, 134
Marta Maria Lopes, 523 Milton Mazetto Junior, 136
Marta Mega de Andrade, 44 Miriam Bianca Amaral Ribeiro, 329
Marta Rosa Borin, 585 Miriam Cabral Coser, 181
Marta Silveira Bejder, 406 Miriam de Oliveira Santos, 306
Martha Daisson Hameister, 126 Miriam de Souza Rossini, 88, 89
Martha Eugenia Rodríguez Pérez, 51 Miriam Hermeto de Sá Motta, 204
Martha Victor Vieira, 478 Mirian Adriana Branco, 144
Martine Suzanne Kunz, 38 Mírian Aparecida Tesserolli, 568
Mary Anne Junqueira, 400 Mirian Carlbonera, 117
Masília Aparecida da Silva Gomes, 215 Mirian Jorge Warde, 368
Mateus de Andrade Pacheco, 207 Mirian Silva de Jesus, 605
Mateus Fávaro Reis, 397 Miridan Britto Falci, 106
Mateus Henrique de Faria Pereira, 243 Mima Aragão de Medeiros, 472
Mateus Silva Skolaude, 106 Mirza Maria Baffi Pellicciotta, 349
Matheus Azevedo Silva, 152 Moema de Rezende Vergara, 496
Matheus da Cruz e Zica, 244 Moisés Romanazzi Tôrres, 407
Mathias Sei bel Luce, 566 Mônica Almeida Komis, 514
Maurí Luiz Bessegatto, 352 Monica Brincalepe Campo, 518
Mauricéia Ananias, 13 Mônica Cristina Araujo Lima, 515
Maurício Barreto Alvarez Parada, 446 Mônica da Silva Ribeiro, 123
Maurício Cesar Vitória Fagundes, 465 Mônica de Souza Nunes Martins, 163
Mauricio da Silva Drumond Costa, 249 Monica dos Santos Quaresma, 597
Maurício de Bragança, 89 Monica Duarte Dantas, 591
Maurício Fonseca da Paz, 303 Mônica Martins da Silva, 394
Mauro Castilho Gonçalves, 12 Monica PiccoloAlmeida, 162
Mauro Dillmann Tavares, 578 Monica Pimenta Velloso, 30
Mauro Gaglietti, 29 Mônica Regina Ferreira Lins, 473
Mauro Passos, 339 Mônica Ribeiro de Oliveira, 126
Maximiliano Mac Menz, 420 Monica Selvatici, 41
Maximiliano Mazewski Monteiro de Almeida, 239 Monike Garcia Ribeiro, 108
Mayra Cristina Laurenzano, 225 Monique de Siqueira Gonçalves, 84
Meize Regina de Lucena Lucas, 90 Monique Sochaczewski Goldfeld, 417
Méri Frotscher, 461 Mozart Lacerda Filho, 174
Michele Rodrigues Tumelero, 433 Mozart Linhares da Silva, 111
Michele Rossoni Rosa, 545 Murilo Eugenio Bonze Santos, 317
Micheline Maria de Albuquerque e Silva, 129 Murilo José de Resende, 134
Michelle Reis de Macedo, 449 Murilo Leal Pereira Neto, 487
Michelle Tatiane Souza e Silva, 405 Murilo Sebe Bon Meihy, 223

632
Myriam Paula Barbosa Pires, 425 Norma Musco Mendes, 39
Myziara Miranda da Silva Vasconcelos, 150 Nucia Alexandra Silva de Oliveira, 429
Nádia Cristina Ribeiro, 294 Núncia Santoro de Constantino, 474
Nadia Gaiofatto Gonçalves, 19 Odair da Cruz Paiva, 549
Nádia Maria Weber Santos, 26 Odair Sass, 371
Naiara dos Santos Damas Ribeiro, 385 Odaleia Alves da Costa, 244
Nair Sutil, 178 Odila Schwingel Lange, 178
Nanci Patricia Lima Sanches, 238 Olavo Pereira Soares, 505
Nancy A. Campos Muniz, 394 Olga Sofia FabergéAlves, 176
Nancy Alessio Magalhães, 95 Olivia Barreto de Oliveira Cappi, 119
Nancy Rita Sento Sé de Assis, 493 Olivia Lobo Goulart, 168
Nancy Rozenchan, 182 Olivia Morais de Medeiros Neta, 596
NaraAzevedo, 177,185 Orlanda Rodrigues Fernandes, 160
Nara Cristina Santos, 411 Orna Messer Levin, 207
Nara Maria Carlos de Santana, 107 Osvaldo Batista Acioly Maciel, 195
Natália Gil, 304 Osvaldo Mariotto Cerezer, 546
Nathacha Regazzini Bianchi Reis, 389 Oswaldo Mario Serra Truzzi, 548
Nathália Henrich, 57 Ozias Paese Neves, 275
Nathália Maria Dorado Rodrigues, 125 Pablo Diener, 186
Nathalia Monseff Junqueira, 45 Pablo Francisco de Andrade Portirio, 344
Nauk Maria de Jesus, 122 Pablo Henrique Spíndola Tôrres, 164
Neide Almeida Fiori, 499 Pablo Oller Mont Serrato, 420
Neimar Machado de Sousa, 310 Pâmella Passos Deusdará, 468
Neli Teresinha Galarce Machado, 358 Paola Andrezza Bessa Cunha, 19
Nelson Mendes Cantarino, 422 Paola Beatriz May Rebollar, 359
Nelson Schapochnik, 460 Patricia Carla de Melo Martins, 118
Néri de Barros Almeida, 135, 136 Patricia Cerqueira dos Santos, 500
Neuma Brilhante Rodrigues, 300 Patrícia Coelho da Costa, 459
Névio de Campos, 392 Patricia Daiane Ferreira, 235
Ney Paes Loureiro Malvasio, 395 Patrícia Domingos Woolley Cardoso, 21
Nicolas Alexandria Pinheiro, 300 Patrícia Duarte, 313
Nikelen Acosta Witter, 373 Patrícia Ferreira dos Santos, 118
Nilceu Jacob Deitos, 341 Patricia Fortunato Dias, 79
Nilda Nazaré Pereira Oliveira, 364 Patricia Horvat, 379
Nileide Souza Dourado, 550 Patricia Maria Melo Sampaio, 449
Nilsangela Cardoso Lima, 102 Patricia Martins Castelo Branco, 21
Nilton de Almeida Araújo, 155 Patricia Sant'Anna, 353
Nilton Mullet Pereira, 504 Patricia Schmidt, 443
Nilton Silva dos Santos, 203 Patricia Souza de Faria, 556
Ninarosa Mozzato da Silva Manfroi, 526 Patrícia Valim, 590
Nisia Verônica Trindade Lima, 367 Patrícia Vargas Lopes de Araújo, 71
Noé Freire Sandes, 254 Paul Juan Montoya Vasquez, 397
Norberto Dallabrida, 11 Paula Arantes Botelho Briglia Habib, 80
Norberto Luiz Guarinello, 39 Paula Durgante Ritter, 603
Norberto Osvaldo Ferreras, 48 Paula Ester Janovítch, 35
Norma Abreu Telles, 166 Paula Francineti da Silva, 69

633
Paula Leitão Cypriano, 477 Priscila Maddalozzo Pivatto, 394
Paula Martins de Barros Gioia, 338 Priscila Marchini Marins, 469
Paula Regina Alvarenga, 213 Priscila Nucci, 473
Paula Viviane Ramos, 474 Priscila Piazentini Vieira, 167
Paulino de Jesus Francisco Cardoso, 376 Priscila Ribeiro Dorella, 522
Paulo Afonso Zarth, 263 Priscila Viudes, 308
Paulo Cavalcante, 450 Protasio Paulo Langer, 313
Paulo Cesar de Jesus, 151 Rachei de Souza Galante, 437
Paulo Cesar Gonçalves, 549 Rachei Duarte Abdala, 335
Paulo Cesar Inácio, 195 Rachei Saint Williams, 22
Paulo César Possamai, 24 Rachei Soihet, 187
Paulo César Ribeiro Gomes, 474 Rafael Alves Pinto Junior, 76
Paulo Cruz Terra, 490 Rafael Araldi Vaz, 47
Paulo Duarte Silva, 403 Rafael Cardoso Denis, 416
Paulo Eduardo Teixeira, 551 Rafael Chaves Ferraz, 561
Paulo Giovani Antonino Nunes, 321 Rafael da Costa Campos, 42
Paulo Gracino Souza Júnior, 78 Rafael da Cunha Scheffer, 153
Paulo Henrique Marques de Queiroz Guedes, 522 Rafael Damasceno Dias, 65
Paulo José Koling, 441 Rafael Eisinger Guimarães, 347
Paulo Knauss, 410 Rafael Faraco Benthien, 46
Paulo Miguel Moreira da Fonseca, 462 Rafael Farias de Menezes, 405
Paulo Pinheiro Machado, 194 Rafael Hansen Quinsani, 94
Paulo Roberto de Jesus Menezes, 415 Rafael Peter de Lima, 153
Paulo Roberto Monteiro de Araújo, 289 Rafael Vaz da Motta Brandão, 162
Paulo Roberto Staudt Moreira, 374 Rafael Winter Ribeiro, 158
Paulo Rogério Melo de Oliveira, 120 Rafaela de Andrade Deiab, 337
Paulo Santos Silva, 340 Rafaela Leuchtenberger, 192
Paulo Sérgio Moreira da Silva, 582 Rafaella Sudário Ribeiro Franco, 171
Pedro Eduardo Mesquita de Monteiro Marinho, 155 Raimundo Nonato Gomes dos Santos, 525
Pedro Ernesto Fagundes, 443 Rainer Gonçalves Sousa, 36
Pedro Ipiranga Júnior, 42 Ramon Victor Tisott, 199
Pedro Leão da Costa Neto, 465 Rangel Cerceau Netto, 377
Pedro Spinola Pereira Caldas, 281 Rangel de Oliveira Medeiros, 583
Pedro Vilarinho Castelo Branco, 189 Raphael Alberto Ribeiro, 584
Petrônio José Domingues, 112 Raphael Jonathas da Costa Lima, 600
Philipe Murillo Santana de Carvalho, 237 Raphael Rodrigues Vieira Filho, 307
Philomena Gebran, 396 Raquel de Fátima Parmegiani, 403
Pio Penna Filho, 398 Raquel Glezer, 283
Plinio José Labriola de Campos Negreiros, 251 Raquel Machado Gonçalves Campos, 380
Poliene Soares dos Santos, 312 Raquel Marta da Silva, 584
Pollyanna Gouveia Mendonça ,556 Raquel Torres da Costa e Silva, 424
Priscila Cabral Almeida, 606 Rebeca Gontijo, 387
Priscila Carlos Brandão Antunes, 223 Regina Beatriz Guimarães Neto, 342
Priscila de Oliveira Xavier, 108 Regina Bittencourt Souto, 595
Priscila Gomes Correa, 204 Regina Célia Alegro, 511
Priscila Gonsalez Falci, 409 Regina Célia de Melo Morais, 21

634
Regina Célia do Couto, 143 Renilson Rosa Ribeiro, 241
Regina Célia Lima Xavier, 482 Reynaldo França Lins de Mello, 90
Regina Coelli Gomes Nascimento, 594 Ricardo Alexandre de Freitas Lima, 201
Regina Coelly Fernandes Saraiva, 346 Ricardo Alexandre Ferreira, 231
Regina Flora Egger Pazzanese, 278 Ricardo Alexandre Santos de Sousa, 370
Regina Helena Martins de Faria, 231 Ricardo Augusto dos Santos, 160
Regina M. M. C. Dantas, 598 Ricardo Barros, 134
Regina Maria da Cunha Bustamante, 39 Ricardo de Aguiar Pacheco, 325
Regina Maria de Oliveira Ribeiro, 133 Ricardo de Oliveira, 318
Regina Maria Gonçalves Curtis, 547 Ricardo E. Ismael de Carvalho, 389
Regina Maria Rodrigues Behar, 517 Ricardo José Vilar da Costa, 77
Regina Quintanilha Azevedo, 529 Ricardo Machado, 71
Regina Soares de Oliveira, 602 Ricardo Marcelo Fonseca, 451
Regina Weber, 475 Ricardo Marques de Mello, 379
Reginaldo Benedito Dias, 258 Ricardo Medeiros Pimenta, 601
Reginaldo Junior Fernandes, 171 Ricardo Neumann, 583
Regma Maria dos Santos, 279 Ricardo Pinto de Medeiros, 525
Reinaldo Cardenuto Filho, 515 Ricardo Pinto dos Santos, 251
Reinaldo Lindolfo Lohn, 62 Ricardo Pires de Paula, 477
Rejane Barreto Jardim, 406 Ricardo Santhiago Corrêa, 207
Rejane Meireles Amaral Rodrigues, 345 Ricardo Silva, 317
Rejane Silva Penna, 64 Ricardo Tadeu Caires Silva, 146
Renake Bertholdo David das Neves, 464 Rinaldo Cesar Nascimento Leite, 206
Renata Cerqueira Barbosa, 45 Rita de Cássia Cunha Ferreira, 157
Renata Costa Reis de Meirelles, 470 Rita de Cássia Marques, 52
Renata Cristina de S. Nascimento, 139 Rita de Cassia Thomaz, 272
Renata Gonçalves, 471 Rita Morais de Andrade, 533
Renata Jesus da Costa, 183 Rita Sampaio, 455
Renata Lima Barboza, 389 Robert Sean Purdy, 57
Renata Lourenço Girotto, 308 Robert Wegner, 80
Renata Maria Tamaso, 531 Roberta Alexandrina da Silva, 571
Renata Palandri Sigolo, 50 Roberta Barros Meira, 217
Renata Romualdo Diário, 153 Roberta Giannubilo Stumpf, 423
Renata Sopelsa, 608 Roberta Maria Lobo da Silva, 516
Renata Vellozo Gomes, 514 Roberta Nobre da Câmara, 348
Renata Vereza, 404 Roberta Paula Gomes Silva, 212
Renato Amado Peixoto, 379 Roberto Abdala Junior, 341
Renato Arruda de Rezende, 568 Roberto Elisalde, 323
Renato Coelho Barbosa de Luna Freire, 103 Roberto Guedes Ferreira, 124
Renato Cymbalista, 119 Roberto Loiola Machado, 223
Renato da Silva Melo, 287 Roberto Luís Torres Conduru, 417
Renato Gross, 395 Roberto Massei, 361
Renato Lopes Leite, 286 Roberto Radünz, 266
René Ernaini Gertz, 442 Roberval da Silva Santiago, 93
Renê Wagner Ramos, 358 Robson Mendonça Pereira, 297
Renilda Barreto, 179 Rodolpho Gauthier Cardoso dos Santos, 364

635
Rodrigo Archangelo, 515 RosanaAreal De Carvalho, 14
Rodrigo Bentes Monteiro, 558 Rosana Costa Gomes, 601
Rodrigo Cardoso Soares de Araújo, 232 Rosana de Fátima Padilha De Sousa, 104
Rodrigo Cesar da Silva Magalhães, 156 Rosana Maria Pires Barbato Schwartz, 98
Rodrigo Christofoletti, 443 Rosana Ulhoa Botelho, 273
Rodrigo da Costa Dominguez, 404 RosaneAparecida Bartholazzi de Carvalho, 476
Rodrigo da Nóbrega Moura Pereira, 391 Rosane Dias de Alencar, 43
Rodrigo da.Silva, 539 Rosane Kaminski, 517
Rodrigo da Silva Goularte, 493 Rosane Marcia Neumann, 333
Rodrigo de Freitas Costa, 291 Rosane Maria Nunes Andrade, 456
Rodrigo de Souza Massia, 332 Rosane Siqueira Teixeira, 305
Rodrigo Jurucê Mattos Gonçalves, 467 Rosãngela Aparecida de Souza Reis, 70
Rodrigo Márcio Souza Pinto, 247 Rosângela de Lima Vieira, 534
Rodrigo Monteferrante Ricupero, 418 Rosangela de Oliveira Dias, 90
Rodrigo Perla Martins, 560 Rosângela Ferreira Leite, 494
Rodrigo Poreli Moura Bueno, 291 Rosângela Miranda Cherem, 418
Rodrigo Ribeiro Paziani, 35 Rosangela Patriota, 292
Rodrigo Salles Pereira Dos Santos, 608 Rosângela Pereira de Abreu Assunção, 238
Rodrigo Santos de Oliveira, 444 Rosângela Wosiack Zulian, 586
Rodrigo Turin, 381 Roseane Maria de Amorim, 143
Rodrigo Udo Zeviani, 229 Roselâine Casanova Corrêa, 67
Róger Costa da Silva, 231 Roselane Neckel, 173
Rogéria Moreira de Ipanema, 422 Roseli Boschilia, 100
Rogério de Oliveira Ribas, 555 Roseli de Fátima Brito Netto Barreto, 351
Rogério Ferreira de Souza, 105 Rosely Batista Miranda de Almeida, 311
Rogério Ivano, 164 Rosi Terezinha Ferrarini Gevaerd, 129
Rogério Luis Giampietro Bonfá, 486 Rosiane Graça Rigas Martins, 406
Rogério Pereira de Arruda, 335 Rosicler Maria Righi Fagundes, 219
Rogerio Reus Gonçalves da Rosa, 300 Rosilene Dias Montenegro, 245
Rogério Rosa Rodrigues, 194 Rosilene Gomes Farias, 50
Rogério Silva Pereira, 392 Rosimar Serena Siqueira Esquinsani, 18
Rogério Souza Silva, 57 Rosivaldo Pereira de Almeida, 267
Romeu Adriano da Silva, 299 Rossana Alves Baptista Pinheiro, 135
Romilda Oliveira Alves, 552 Rossana Gomes Britto, 127
Romulo Costa Mattos, 75 Rossana Samarani Verran, 268
Rômulo de Paula Andrade, 60 Roswithia Weber, 350
Ronald Jose Raminelli, 555 Rubens Leonardo Panegassi, 25
Ronaldo Aurélio Gimenes Garcia, 431 Rubia-Mar Nunes Pinto, 244
Ronaldo Cardoso Alves, 135 Rui Aniceto Nascimento Fernandes, 387
Ronaldo Queiroz de Morais, 227 Ruth Maria Chittó Gauer, 269
Roney Salina de Souza, 480 Ruth Pavan, 109
Roni César Andrade de Araújo, 316 Ryan de Sousa Oliveira, 477
Rosa Cláudia Cerqueira Pereira, 333 Sabrina Evangelista Medeiros, 560
Rosa E. Belvedresi, 285 Salete Magda de Oliveira, 168
Rosa Maria Godoy Silveira, 328 Samantha Viz Quadrat, 401
Rosalba Lopes, 547 Samir Perrone de Miranda, 303

636
Samuel Fernando de Souza, 449 Sidnei José Munhoz, 224
Samuel Silva Rodrigues de Oliveira, 259 Silmei de Sant'Ana Petiz, 553
Sandra Alves Fiúza, 295 Silvana Alves de Godoy, 521
Sandra Cristiana KleinschmiU, 235 Silvana Barbosa Rubino, 337
Sandra Cristina de Souza, 311 Silvana Cassab Jeha, 252
Sandra da Silva Careli, 180 Silvana Mota Barbosa ,492
Sandra de Cássia Pelegrini, 532 Silvano Fernandes Baia, 202
Sandra Jatahy Pesavento, 26 Silveli Maria de Toledo Russo, 573
Sandra Makowiecky, 68 Silvia Asam da Fonseca, 461
Sandra Parra Furlanete, 213 Silvia Balestreri Nunes, 211
Sandra Paschoal Leite de Camargo Guedes, 148 Silvia Sapanema Pereira de Almeida, 591
Sandra Regina Bom, 63 Silvia Carla Pereira de Brito Fonseca, 498
Sandra Regina Ferreira de Oliveira, 501 Silvia Cristina Matins de Souza, 494
Sandra Rodart Araújo, 292 Silvia Helena lanirato, 529
Sandro Aparecido Lima dos Santos, 550 Silvia Maria Amancio Rachi Vartuli, 145
Sandro Dutra e Silva, 66 Silvia Maria FáveroArend, 432
Sandro Giovanni Mendes Cunha, 120 Silvia Oliveira Campos de Pinho, 462
Sandro Heleno Morais larpelão, 223 Silvia Patuzzi, 20
Santiago Silva de Andrade, 493 Silvia Regina Ackermann, 443
Sara Albieri, 285 Silvia Regina Ferraz Petersen, 303
Sara Cristina de Souza, 586 Silvio Cezar de Souza Lima, 370
Sarah Calvi Amaral Silva, 152 Silvio de Almeida Carvalho Filho, 104
Saulo Santiago Bohrer, 163 Silvio Luiz Gonçalves Pereira, 257
Sauloéber Társio de Souza, 94 Silvio Marcus de Souza Correa, 305
Selma de Fátima Bonifácio, 508 Simone Aparecida Rengel, 576
Selma Martins Duarte, 547 Simone Cordeiro Costa Guedes, 46
Sênia Regina Bastos, 99 Simone Medeiros, 483
Sergio Alberto Feldman, 402 Simone Petraglia Kropf, 368
Sérgio Alcides Pereira do Amaral, 557 . Simone Tiago Domingos, 268
Sergio Alves de Souza, 518 Sinara Santos Robin, 551
Sergio Chahon, 26 Sirlei Teresinha Gedoz, 502
Sergio de Sousa Montalvao, 19 Sírley Cristina Oliveira, 296
Sergio Luiz Ferreira, 553 Solange Aparecida loUi, 504
Sérgio Martins Pereira, 609 Solange da Silva Portz, 103
Sérgio Onofre Seixas de Araújo, 329 Solange Pimentel Caldeira, 210
Sérgio Ricardo Aboud Dutra, 506 Solange Ramos de Andrade, 572
Sergio Ricardo Pereira Cardoso, 15 Soleni T. B. Fressato, 91
Sérgio Teixeira, 252 Sonia Apparecida de Siqueira, 200
Sergio Xavier Gomes de Araújo, 20 Sonia Cristina da F.M. Lino, 331
Serioja Rodrigues Cordeiro Mariano, 494 Sonia da Silva Rodrigues, 309
Serlei Maria Fischer Ranzi, 505 Sônia Maria Campelo Magalhães, 311
Severino Cabral Filho, 63 Sonia Maria Couto Pereira, 313
Sheila Conceição Silva Lima, 587 Sônia Maria de Magalhães, 87
Sheila Schvarzman, 35 Sonia Maria Fonseca, 117
Sheyla Farias Silva, 534 Sonia Maria K. Guimarães, 301
Sidinalva Maria dos Santos Wawzyniak, 608 Sonia Regina de Mendonça, 154,156

637
Sonia Regina Martim, 327 Tatiana Zismann, 270
Soraia Freitas Dutra, 266 Tatiane Cristina Bocchio de Oliveira, 153
Stanley Plácido da Rosa Silva, 73 Tatiane dos Santos Virtuoso, 246
Stela Pojuci Ferreira de Morais, 328 Tatyana de Amaral Maia, 155
Stephan Arnulf Baumgartel, 211 Teima Bessa Sales, 191
Suderli Oliveira Lima, 266 Temis Gomes Parente, 186
Sueli de Araújo Montesano, 99 Temistocles Cezar, 379
Sueli Maria Vanzuita Petry, 534 Tercia de Tasso Moreira Pilla, 296
Suely Creusa Cordeiro de Almeida, 579 Teresa Cribelli, 218
Suely Gomes Costa, 188 Teresa Cristina Schneider Marques, 274
Surama Conde Sá Pinto, 107 Teresa Maria Malatian, 543
Susel Oliveira da Rosa, 168 Teresa Vitória Fernandes Alves, 485
Suzana Arakaki, 546 Teresinha de Jesus Mesquita Queiroz, 282
Suzana Cavani Rosas, 69 Teresinha Marcis, 521
Suzana Cristina de Souza Ferreira, 268 Teresinha Maria Duarte, 404
Suzana Cristina Souza Guimarães, 412 Tereza Bressan de Souza, 599
Suzeley Kalil Mathias, 563 Tereza Cristina Pereira Lima, 598
Sylvia Costa Couceiro, 102 Terezinha de Jesus Lopes Barbosa Gerolomo, 479
Sylvia Ewel Lenz, 19,473 Terezinha Oliveira, 408
Sylvia Moretzsohn, 278 Thaís Battibugli, 305
Sylvia Regina Bastos Nemer, 34 Thais Gomes Fraga, 536
Taciana Mendonça Santos, 343 Thaís Leão Vieira, 292
Taís Campelo Lucas, 448 Thaís Otan i Cipolini, 329
Taís Gonçalves Avancini, 416 Thaís Troncon Rosa, 78
Taise Tatiana Quadros da Silva, 387 Thelma Cademartori Figueiredo de Oliveira, 129
Talita Cristina Garcia, 137 Thelma Jackeline de Lima, 68
Talita Daniel Salvaro, 309 Thelma Lopes Carlos Gardair, 212
Talita Gouvêa Basso, 146 Théo Lobarinhas Pineiro, 154,162
Talita Veloso Cerveira, 343 Theophilo Augusto Pinto, 204
Talilla Tatiane Martins Freitas, 292 Thiago do Nascimento Torres de Paula, 551
Tânia da Costa Garcia, 200 Thiago Fernando Sant'Anna e Silva, 165
Tania M. T. Bessone da Cruz Ferreira, 495 Thiago Juliano Sayão, 355
Tânia Mara Pereira Vasconcelos, 430 Thiago Leandro Vieira Cavalcante, 309
Tania Maria Fernandes, 53 Thiago Monteiro Bernardo, 277
Tânia Maria Gomes da Silva, 261 Thiago Nicodemos Enes dos Santos, 128
Tania Nunes Davi, 290 Thiago Pereira Caldas Brum, 58
Tania Regina Zimmerrnann, 233 Thiago Rabelo Sales, 562
Tania Regina de Luca, 542 Tiago Bernardon de Oliveira, 486
Tania Regina Pires de Godoy, 226 Tiago Cavalcante Guerra, 227
Tânia Salgado Pimenta, 54, 375 Tiago Costa de Souza, 128
Tânia Soares da Silva, 97 Tiago Kramer de Oliveira, 419
Tarcísio de Souza Gaspar, 588 Tiago Losso, 319
Tarcísio R. Botelho, 554 Tiago Manasfi Figueiredo, 374
Tathiane Gerbovic, 357 Tiago Silva Giorgiani, 280
Tathianni Cristini da Silva, 144 Tomaz Esposito Neto, 564
Tatiana Poggi, 468 Tony Honorato, 252

638
Uassyr de Siqueira, 190 Vera de oliveira Dias, 583
Uberdan Cardoso dos Santos, 569 Vera Lucia Amaral Ferlini, 420
Uiran Gebara da Silva, 596 Vera Lúcia Bogéa Borges, 438
Urda Alice Klueger, 402 Vera Lúcia Braga de Moura, 432
Úrsula Andréa de Araújo Silva, 440 Vera Lucia Cabana Andrade, 241
Ursula Rosa da Silva, 349 Vera Lucia Cortes Abrantes, 605
Vagner José Moreira, 472 Vera Lúcia Ferreira Vargas, 528
Valdeci Rezende Borges, 458 Vera Lucia Nagib Bittencourt, 540
Valdelice Borghi Ferreira, 16 Vera Lúcia Puga, 188
Valdir Gregory, 221 Vera Regina Beltrão Marques, 54
Valdir Pimenta dos Santos Junior, 574 Vera Regina Martins Collaço, 208
Valéria Alves Esteves Lima, 330 Veronica Aparecida Silveira Aguiar, 136
Valéria Aparecida Bressianini, 428 Verônica Sales Pereira, 601
Valeria Azucena Palavecino, 349 Vicentonio Regis do Nascimento Silva, 592
Valeria Camporesi, 93 Victor Andrade de Melo, 248
Valéria Cristina Lopes Wilke, 464 Victor Hugo Adler Pereira, 209
Valéria Gomes Costa, 339 Victor Hugo Veppo Burgardt, 310
Valéria Lucas Filgueiras, 529 Victor Miranda Macedo Rodrigues, 293
Valéria Marques Lobo, 449 Victória Gambetta da Silva, 197
Valéria Nogueira Rodrigues, 602 Vilma Campos dos Santos Leite, 210
Valeska Garbinatto, 143 Vinícius Donizete de Rezende, 192
Valquiria Pereira Tenório, 306 Vinicius Pereira de Oliveira, 538
Valter Gomes Santos de Oliveira, 336 Virginia Celia Camilotti, 270
Valter Guimarães Soares, 34 Virgínia de Almeida Bessa, 206
Valter Martins, 76 Virginia Ferreira da Silva, 305
Vanda da Silva, 214 Virgínia Maria Almoêdo de Assis, 588
Vanda Lucia Praxedes, 261 Virgínia Maria Gomes de Matos Fontes, 463
Vandergleison Judar, 410 Virginia Queiroz Barreto Castellucci, 149
Vanderlei Machado, 246 Vitor Izecksohn, 493
Vanderlei Sebastião de Souza, 80 Vitor Otávio Femandes Biasoli, 585
Vanderlei Vazelesk Ribeiro, 219 Vitor Wagner Neto de Oliveira, 485
Vanessa dos Santos Bodstein Bivar, 479 Vitória Fernanda Schettini de Andrade, 215
Vanessa Lana, 86 Vitória Rodrigues e Silva, 512
Vanessa Sattamini Varão Monteiro, 591 Vívian da Silva Cunha, 561
Vanessa Sobrino Lenzini, 336 Vivian da Silva Paulitsch, 165
Vanessa Spinosa, 103 Vivian Luiz Fonseca, 249
Vanessi Reis, 64 Vivian Staroski, 576
Vânia Carvalho Lovaglio, 238 Viviane Lima de Morais, 535
Vânia Maria Losada Moreira, 522 Viviane Maria Zeni-Leão, 321
Vânia Nara Pereira Vasconcelos, 190 Viviane Procaska Bilo, 479
Vanicleia Silva Santos, 424 Viviane Trindade Borges, 164
Vantuil Pereira, 493 Wagner Cesar Rédua, 582
Vanuza Ribeiro de Lima, 67 Wagner Geminiano dos Santos, 287
Vavy Pacheco Borges, 270 Wagner Ricardo Santos, 298
Venize Nazaré Ramos Rodrigues, 340 Walace Rocha dos Santos, 105
Vera Chacham, 520 Waldeci Ferreira Chagas, 66

639
Waldir José Rampinelli, 56 Wilton de Araujo Medeiros, 68
Walter de Assis Alves, 489 Wlamir Silva, 496
Walter de Mattos Lopes, 490 Wlamyra Ribeiro de Albuquerque, 112
Wanderson Fabio de Melo, 468 Wlaumir Doniseti de Souza, 320
Warley da Costa, 145 Wolney Gomes Almeida, 108
Washington Dener, 27 Wolney Vianna Malafaia, 517
Wellington Barbosa da Silva, 234 Vara Kassab, 114
Wellington Castellucci Junior, 149 Yllan de Mattos Oliveira, 556
Wenceslau Gonçalves Neto, 11 Yomara Feitosa Caetano de Oliveira, 233
William De Souza Martins, 434 Yonissa Marmitt Wadi, 84
William Reis Meirelles, 267 Zélia de Oliveira Gominho, 543
Wilma de Lara, 571 Zilda Márcia Grícoli lokoi, 261
Wilma Peres Costa, 314 Zilma Isabel Peixer, 75
Wilmar da Silva Vianna Júnior, 439 Zita Rosane Possamai, 333
Wilson Sandano, 15 Zueleide Casagrande de Paula, 76
Wilton Carlos Lima da Silva, 435

640

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