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MecAplic Cap1 PDF
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Capítulo I
J.C.Pimenta Claro
[e-version: 2003, rev.2004]
MECÂNICA APLICADA - Análise Descritiva de Mecanismos 1
1.1 INTRODUÇÃO
DEFINIÇÕES GERAIS
A ciência dos mecanismos estuda os movimentos dos diversos componentes que constituem uma
máquina ou equipamento, assim como as forças que esses componentes transmitem.
Um movimento fica integralmente definido através do conhecimento do deslocamento, velocidade e
aceleração.
Máquina define um único, ou vários, mecanismos associados a uma fonte de energia.
Mecanismo define um conjunto de corpos rígidos de tal modo interligados que o movimento de um
dos seus componente provoque o movimento dos restantes componentes desse mecanismo.
Num Mecanismo, os componentes susceptíveis de transmitirem força designam-se por Ligações.
rotóides - permitindo a rotação ou oscilação num plano (também designados como Articulações)
esféricos - permitindo rotação ou oscilação em qualquer plano (também referidos como Rótulas)
deslizantes - permitindo a translacção rectilínea (o componente fixo toma a designação de Guia e
o componente móvel a designação de Corrediça)
Outras definições podem ser estabelecidas, e são usuais em mecânica, tais como:
ligação binária - se possui apenas dois componentes de par cinemático
ligação ternária - se possui três componentes de par cinemático
manivela - ligação que roda ou oscila em torno de um eixo fixo
biela - orgão que estabelece a ligação entre duas manivelas ou entre uma manivela e uma
corrediça
componente motor - ligação que, num mecanismo, recebe o movimento que se pretende
transformar
componente movido - ligação cujo movimento se pretende utilizar
MECÂNICA APLICADA - Análise Descritiva de Mecanismos 2
a) chumaceira radial de escorregamento de 360o b) chumaceira radial de escorregamento ≤ 180o c) chumaceira de rolamentos de esferas ou rolos
par rotóide inferior fechado par rotóide inferior aberto par rotóide superior fechado
d) chumaceira axial de escorregamento, cónica e) chumaceira axial de escorregamento, cilíndrica f) cilíndro com êmbolo
par rotóide superior aberto par rotóide inferior aberto par deslizante inferior fechado
1.3 MOVIMENTOS
No movimento de translação rectilínea todos os pontos de uma ligação descrevem trajectórias rectas
e paralelas. Como exemplo, temos o movimento da 'corrediça', num sistema biela-manivela - Fig.1.2.
No movimento de translação curvilínea as trajectórias descritas pelos pontos de uma ligação são
linhas curvas paralelas entre si. Como exemplo, pode tomar-se o movimento da ligação que une as
rodas motoras de uma locomotiva - Fig.1.3
No movimento de rotação, cada ponto de uma ligação que descreve um movimento plano
permanece a uma distância constante, relativamente a um eixo fixo normal ao plano do movimento.
Se a rotação for alternada, dentro de um certo ângulo limíte, é denominada Oscilante. Na Fig.1.4 a
rotação da barra 2 implica a oscilação da barra 4, dentro do ângulo [B"O4 B'].
No movimento misto (de translação e rotação) os pontos de uma ligação têm simultaneamente as
características dos movimentos de translação e de rotação. Na situação ilustrada na Fig.1.3, os pontos
das ligações 2 e 4 descrevem uma translação curvilínea em simultâneo com um movimento de rotação.
No movimento helicoidal os pontos de uma ligação movem-se com rotação em torno de um eixo
fixo e translação paralela a esse eixo. É o caso do movimento descrito por um ponto pertencente a uma
porca, enquanto esta é apertada num parafuso ou perno.
No movimento esférico cada ponto da ligação mantem-se a uma distância constante de um ponto
fixo.
Se, num mecanismo, libertarmos a ligação fixa e fixarmos uma ligação anteriormente livre, dizemos
que o mecanismo foi invertido.
A inversão do mecanismo não modifica o movimento relativo entre as ligações, mas modifica o
movimento absoluto de cada ligação em relação a um referencial fixo.
Assim, e por exemplo, para o sistema biela-manivela representado na Fig.1.5, o facto de ter quatro
ligações faz com que disponha de três inversões possíveis, correspondentes à fixação das ligações 2, 3
ou 4. Estas inversões estão representadas(na Fig.1.6.
a)
b) c)
Figura 1.6 - Inversões do sistema biela-manivela
A transmissão de movimento entre duas ligações de um mecanismo pode ser efectuada de três
formas diferentes, a saber:
- por contacto directo, como nos casos das cames e das engrenagens
- por ligação intermédia, como no caso da biela do sistema biela-manivela
- por ligação flexível, caso das transmissões por correia e por corrente
Na Figura 1.7 a ligação 2 é motora e a ligação 3 movida. O contacto dá-se no ponto P, no instante
aqui representado.
O valor de [PM2] - velocidade da ligação 2 no ponto P, ou seja, a velocidade do ponto P - é
determinável através do conhecimento da velocidade angular da ligação 2 [ω2] e da distância [PO2].
Por sua vez [PM2] pode ser decomposto segundo as direcções normal e tangencial.
Considerando as ligações como rígidas, estas não poderão interpenetrar-se. Por outro lado, supondo
que as duas superfícies não perdem o contacto, a componente normal da velocidade no ponto P,
enquanto pertencente à ligação 2, será igual à componente normal da velocidade desse mesmo ponto,
enquanto pertencente à ligação 3.
Conhecida a componente normal, e como a direcção de [PM3] é conhecida (perpendicular a [O3P],
podemos conhecer o valor de [PM3]. Assim, torna-se possível determinar o valor da velocidade de
rotação da ligação 3, (ω3).
A velocidade de escorregamento é também, neste caso, determinável. Este valor é dado pela
diferença entre as componentes tangenciais, no ponto de contacto, e corresponde à distância [t2t3], uma
vez que a componente [Pt3] tem direcção oposta à componente [Pt2].
MECÂNICA APLICADA - Análise Descritiva de Mecanismos 6
Se o ponto P estiver segundo a linha de centros [O2O3] as componentes tangenciais têm o mesmo
valor e sentido, ou seja, nessa situação a velocidade de escorregamento é nula, sendo o movimento de
rolamento puro. Assim, a condição de rolamento puro é que o ponto de contacto se situe na linha de
centros.
Geometricamente é também possível relacionar [ω2] com [ω3]. Para isso a traçagem de paralelas à
linha de acção, passando pelos centros de rotação das ligações 2 e 3, definem os pontos e e f por
intercepção com a normal comum, e sabendo que:
donde:
ω3/ω2 = [PM3] · [PO2] / [PM2] · [PO3]
[PM2]/[PO2] = [Pn]/[O2e]
[PM3]/[PO3] = [Pn/O3f]
donde:
ω3/ω2 = [Pn]/[O3f] · [O2e]/[Pn] = [O2e]/[O3f]
MECÂNICA APLICADA - Análise Descritiva de Mecanismos 7
[O2e]/[O3f] = [O2k]/[O3k]
ω3/ω2 = [O2k]/[O3k]
ω4/ω2 = [O2k]/[O4k]
Um corpo livre tem, por definição, possibilidade de movimentos de translação e de rotação livres,
em relação aos três eixos coordenados do espaço carteziano. Cada uma destas possibilidades designa-
se por grau de liberdade. Portanto, num espaço tri-dimensional, um corpo dispõe de seis graus de
liberdades.
O número de graus de liberdade pode ser reduzido, por introdução de constrangimentos. Assim,
um corpo deslocando-se livremente num plano possui apenas três graus de liberdade: translacção
segundo os dois eixos coordenados do plano e rotação em torno de um eixo normal ao plano.
Aqui, nesta disciplina, vamos restringir-nos aos movimentos planos, uma vez que constituem a
grande maioria dos casos típicos empregues em máquinas e mecanismos usuais.
Considerando um grupo de quatro ligações movendo-se livremente no espaço - Fig.1.10
e, de acordo com o referido atrás, o conjunto possui doze graus de liberdade. Para que estas quatro
ligações constituam um sistema com apenas um grau de liberdade, é necessário remover onze graus de
MECÂNICA APLICADA - Análise Descritiva de Mecanismos 9
liberdade, o que se consegue constrangendo as ligações - unindo-as entre si e fixando uma delas ao
plano que constituirá o fixe, por exemplo.
A união entre ligações consegue-se por intermédio dos pares cinemáticos.
Se uma ligação é unida a um corpo fixo através de um par rotóide, como no caso da Fig.1.11a),
poderá apenas rodar. Um par rotóide retira, assim, dois graus de liberdade.
Na Fig.1.11b) está esquematizada a união entre duas ligações livres, através de um par rotóide. Os
movimentos possíveis são os de translacção conjunta e, para cada uma das ligações, o de rotação
relativamente à outra. Assm, os graus de liberdade foram restringidos de seis para quatro.
Generalizando, temos que quatro ligações unidas por quatro pares rotóides possuem quatro graus de
liberdade e, se unirmos uma delas ao fixe, são suprimidos mais três graus de liberdade. O resultado é
um sistema articulado com um único grau de liberdade - o sistema representado na Fig.1.12 designa-se
por quadrilátero articulado ou mecanismo de quatro barras.
a) b)
Figura 1.11 - União por par rotóide
Várias referências foram já feitas a pares rotóides (superiores ou inferiores). A Fig.1.13 contém
outros tipos de uniões:
a) b) c)
Figura 1.13 - Outros exemplos de pares cinemáticos
a) par deslizante inferior - retira dois graus de liberdade
b) par deslizante superior - retira um grau de liberdade
(permite translacção linear e rotação em torno da aresta de apoio)
c) par rolante superior - retira dois graus de liberdade
(excluindo a possibilidade de deslizamento, apenas permite rotação)
MECÂNICA APLICADA - Análise Descritiva de Mecanismos 10
Pode igualmente concluir-se que um par esférico (rótula) retira ao sistema três graus de liberdade e
que um par cilíndrico retira quatro graus de liberdade, este último permitindo somente uma rotação e
uma translacção.
O número de graus de liberdade de um mecanismo pode ser determinado, com algumas restrições,
pelo denominado Critério de Grübler que se baseia no excesso de incógnitas (coordenadas dos pontos
das ligações) relativamente ao número de equações de ligação passíveis de ser estabelecidas entre
aquelas.
Na Fig.1.14 está representado um mecanismo de quatro barras, antes e depois da introdução dos
pares cinemáticos que promovem a união entre as ligações.
A posição de cada ligação pode ser determinada pelas coordenadas cartezianas dos seus pontos
extremos (quatro por ligação). Considerando as ligações com um carácter rígido, podemos estabelecer,
para cada uma, uma equação. Assim:
Se fixarmos a ligação [AoDo], retirando-lhe todos os graus de liberdade, teremos para cada uma das
restantes ligações uma equação e quatro incógnitas. ou seja, um excesso de três incógnitas
relativamente ao número de equações. Teremos assim (3 x 3) = 9 graus de liberdade para o sistema.
Em conclusão, para um sistema com L ligações, sendo uma fixa, teremos um número de graus de
liberdade X, dado por:
X = 3⋅(L-1)
MECÂNICA APLICADA - Análise Descritiva de Mecanismos 11
Quando, na Fig.1.14 b), as ligações são unidas através de quatro pares cinemáticos, podem
estabelecer-se mais oito equações (duas por cada par):
X = 3⋅(L - 1) - 2⋅P
No caso de as uniões entre as ligações serem promovidas não só por pares cinemáticos primários,
que retiram dois graus de liberdade (como os rotóides) mas também por pares secundários, que retiram
apenas um grau de liberdade, a expressão toma um carácter mais geral. Assim, e designando os pares
primários por P1 e os pares secundários por P2, vem:
a) b)
c) d)
e) f)
É o mecanismo articulado mais simples, constituído por quatro barras: uma fixa, outra motora, uma
intermédia e uma movida.
Consoante as ligações motora e movida tenham movimento de rotação ou de oscilação, assim se
designam por manivelas ou barras oscilantes.
O quadrilátero articulado pode ser classificado tendo em consideração a relação entre a soma dos
comprimentos das ligações maior e menor e a soma dos comprimentos das outras duas ligações.
A regra de Grashof diz que, quando a soma dos comprimentos das barras maior e menor é inferior
ou igual à soma dos comprimentos das outras duas barras, então a barra mais curta pode rodar de 360o
em relação às outras.
MECÂNICA APLICADA - Análise Descritiva de Mecanismos 13
Os quadriláteros articulados que verificam esta condição - como o representado na Fig.1.16 a) - são
chamados mecanismos de Grashof. Os que não verifica a regra dizem-se não-Grashof - tal como os
representados na Fig.1.16 b).
a) b)
Para que a ligação 4 esteja em equilíbrio (desprezando as forças de inércia) a soma dos momentos
no ponto C deve ser nula, pelo que:
em que [F3,4] é o módulo da força exercida pela ligação 3 sobre a ligação 4. Pela equação anterior
pode constatar-se que, para um dado binário resistente [T4], a força em A, B e ao longo da ligação 3
será mínima quando γ=90o e aumentará à medida que [γ] decresce, tornando-se infinita para γ=0o.
O ângulo [γ], medido entre a linha de acção da força na ligação movida [F3,4] e a linha definida
pela ligação movida, é denominado ângulo de transmissão.
Voltando à Fig.1.17, verifica-se que o ângulo de transmissão se anula quando o mecanismo se
encontra numa fase de ponto-morto. Assim, excepto no caso de o mecanismo se destinar a fornecer
uma força estremamente elevada (como, por exemplo, no caso do mecanismo denominado de alavanca
articulada), as fases de ponto-morto são de evitar, de forma a minimizar os esforços nas barras e
articulações e a assegurar sempre a transmissão do movimento.
Na prática, não é aconselhável que o ângulo de transmissão seja inferior a 40o nem superior a 140o.
O valor deste ângulo pode ser determinado através de relações geométricas simples. Assim, e para o
mecanismo da Fig.1.19:
sendo:
z2 = r12 + r22 - 2⋅r1⋅r2⋅cos θ
bem como:
z2 = r32 + r42 - 2⋅r3⋅r4⋅cos α
MECÂNICA APLICADA - Análise Descritiva de Mecanismos 15
vem que:
cos α = (r12 + r22 - r32 - r42 - 2⋅r1⋅r2⋅cos θ)/(-2⋅r3⋅r4)
Na Fig.1.20 encontram-se representados dois mecanismo em que a ligação fixa é adjacente à ligação
de menor comprimento.
O mecanismo (a) é idêntico ao (b), excepto no comprimento da ligação 1 [CD] - no caso (b) a soma
dos comprimentos das ligações maior e menor iguala a soma dos comprimentos das outras duas
ligações, enquanto no caso (a) isso não se verifica.
Ambos os mecanismos se designam por sistemas manivela-barra oscilante, uma vez que a uma
rotação completa da ligação motora corresponde uma oscilação da ligação movida.
No entanto, enquanto o mecanismo (a) não tem fases de ponto-morto, considerando a ligação 2
como motora, o mecanismo (b) tem uma fase de ponto-morto, na posição A", B", quer a ligação
motora seja a 2 ou a 4.
a) b)
Figura 1.20 - Exemplos de mecanismo de Grashof
Um caso de aplicação usual, em que a soma dos comprimentos das ligações maior e menor iguala a
soma das restantes, é o da ligação entre as rodas motoras de um veículo de tracção - Fig.1.21.
Neste mecanismo, quando A e B estão nas posições A' e B' nenhuma das rodas consegue mover a
outra. Para ultrapassar este problema (ponto-morto) é usual promover a ligação do outro par de rodas
MECÂNICA APLICADA - Análise Descritiva de Mecanismos 16
desfazado de 90o (A'B' de um lado e A"B" do outro). A utilização de contra-pesos é também uma
medida preventiva desta situação, muito embora traga problemas de desiquilíbrio dinâmico das rodas.
Outro exemplo é o da máquina de desenhar, representado na Fig.1.22.
Na Fig.1.23 está representado ainda um outro mecanismo de Grashof, mas em que a ligação fixa é a
mais curta.
Este mecanismo é designado por dupla manivela e apresenta algumas características particulares.
Assim:
- não tem pontos-mortos;
- ambas as ligações, 2 e 4, são rotativas;
- qualquer das ligações, 2 ou 4, pode ser motora ou movida;
- a uma entrada (motora) a velocidade constante corresponde uma saída (movida) a velocidade não
constante.
Esta última característica - velocidade de saída não constante - pode ser demonstrada da seguinte
maneira:
- quando o ponto C se move ao longo de [C'CC"], equivalente a uma rotação de 180o da ligação 4,
a ligação 2 roda de um ângulo [α] > 180o;
- quando C descreve o arco [C"C], descrevendo a ligação 4 os restantes 180o até ao ponto inicial, a
ligação 2 roda de um ângulo [β] < 180o.
Esta característica é, muitas vezes, empregue em equipamentos em que a parte útil do ciclo de
operação se dá apenas numa direcção, utilizando-se o movimento inverso do ciclo para aquilo que,
geralmente, se designa por retorno rápido.
x4 = R2 + L3 - R2⋅cos θ2 - L3⋅cos φ3
ou ainda:
x4 = R2⋅(1-cos θ2) + L3⋅(1-cos φ3)
pelo que:
x4 = R2⋅(1-cos θ2) + L3⋅{1-[1-(R2/L3)2⋅sin2θ2]½}
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B2 B4 1⋅3⋅B6 1⋅3⋅5⋅B8
2 ½
(1 ± B ) = 1 ± - ± - ± ...
2 2⋅ 4 2⋅4⋅6 2⋅4⋅6⋅8
tomando B = R/L⋅sin θ, e sendo uma solução suficientemente aproximada a consideração apenas dos
dois primeiros termos da série, vem que:
[1-(R2/L3)2⋅sin2θ2]½ = 1 - ½⋅(R2/L3)2⋅sin2θ2
pelo que, finalmente:
x4 = R2⋅(1 - cos θ2) + R22/(2⋅L3) ⋅ sin2θ2
que, como se pode constatar, é equivalente à equação atrás apresentada para o sistema biela-manivela,
considerando L3 = ∞.
MECÂNICA APLICADA - Análise Descritiva de Mecanismos 19
Este mecanismo - Fig.1.26 - deriva do sistema de dupla manivela, sendo a ligação 2 motora,
rodando com velocidade constante.
Este sistema é o único, dentre os de retorno rápido, em que não há pares cinemáticos deslizantes (de
escorregamento) entre as ligações básicas.
De notar também que a velocidade da corrediça 6 é aproximadamente constante, na maior parte da
extensão do percurso de avanço.
Igualmente baseado no sistema biela-manivela, este sistema obtem-se por deslocação do eixo da
manivela para fora da linha de deslizamento da corrediça - Fig.1.29.
As razões de tempo (α/β) que se conseguem, por este meio, são relativamente pequenas. A sua
aplicação impõe-se, sobretudo, pela simplicidade e reduzido atravancamento.
Este mecanismo aplica-se quando é necessário superar uma grande resistência à custa de uma
diminuta força motriz. Utiliza-se, por exemplo, em prensas, máquinas de rebitar, britadoras,
embraiagens, dispositivos de fixação de peças a maquinar, etc.
sendo que, enquanto as ligações 4 e 5 tendem para a colinearidade, o ângulo (α) tende a diminuir pelo
que [Q] tende para infinito.
Como o nome indica, este mecanismo emprega-se usualmente para o traçado de elipses - Fig.1.31.
O seu funcionamento baseia-se no facto de um ponto P, situado sobre [EC] ou no seu
prolongamento, se mover com uma trajectória elíptica cujos eixos são as trajectórias rectilíneas dos
pontos E e C, sendo os semi-eixos iguais a [PE] e [PC]. Se [PC] for menor que [PE], o eixo menor
coincide com a trajectória do ponto E. Se [PC] for maior que [PE], o eixo menor corresponde à
trajectória do ponto C.
Pn = x Pr = y
PE = a PC = b
x2/a2 + y2/b2 = 1
Pr/PC = nE/PE
MECÂNICA APLICADA - Análise Descritiva de Mecanismos 23
Pn Pr Pn nE
+ = +
PE PC PE PE
ou seja:
Pn2 Pr2 Pn2 + nE2 Pn nE Pr
+ = + 2 -
PE2 PC2 PE2 PE PE PC
Pn2/PE2 + Pr2/PC2 = 1
que é igualmente a equação de uma elipse com centro na origem A dos eixos coordenados.
O elemento central (3) tem movimento de escorregamento, relativamente aos outros dois.
Este sistema é mecânicamente semelhante ao compasso elíptico, sendo possível estabelecer um
paralelismo funcional entre o eixo e a ranhura do elemento 2 e, respectivamente, o ponto E e a
corrediça a que este pertence, na Fig.1.31, e de igual modo para o elemento 4 e a corrediça de C. Por
MECÂNICA APLICADA - Análise Descritiva de Mecanismos 24
sua vez, o elemento central 3 corresponde à ranhura cruciforme em que as corrediças se deslocam, na
mesma Fig.1.31.
Trata-se de mecanismos em que se pretende que uma ligação tenha movimento alternativo, segundo
uma trajectória rectilínea, evitando os problemas de atrito apresentados por sistemas de corrediça
guiada, como o de biela-manivela, por exemplo.
Alguns destes mecanismos não são capazes de proporcionar um movimento exactamente recto, pelo
menos em pontos da trajectória mais afastados do ponto médio, apresentando assim limitações de
curso útil.
Esquematizado na Fig.1.33, tem como elemento motor a manivela [AB], que oscila num ângulo (θ)
para cada lado do ponto médio. As barras [AB], [BC] e [BE] têm o mesmo comprimento.
Caso o deslocamento do ponto C fosse rigorosamente ao longo do eixo xx, então E deslocar-se-ia
segundo o eixo yy. Como C oscila em torno de D, a trajectória de E não será rectilínea, apenas
coincidindo com o eixo yy nos pontos E, A e E1 e desviando-se do eixo yy nos pontos intermédios.
Pode verificar-se que este desvio será tanto menor quanto maior for o comprimento de [CD] e
menor o ângulo (θ) descrito pela manivela [AB].
Variantes deste sistema são, por exemplo, aquela em que [BE] é maior que [AB] - não passando
então a trajectória de E pelo ponto A - e aquela em que, fazendo [BC] meio proporcional a [AB] e
[BE] - isto é, em que (AB/BC) = (BC/BE) - se consegue uma substancial aproximação à
rectilinearidade.
MECÂNICA APLICADA - Análise Descritiva de Mecanismos 25
O mecanismo da Fig.1.34 foi criado por James Watt, para permitir uma maquinagem
suficientemente rectilínea das guias dos pistões das primeiras de máquinas a vapor produzidas
industrialmente.
BP/CP = CD/AB
pelo que o ponto P descreve uma trajectória em 8 (a traço interrompido, na figura), sendo uma parte
apreciável da estensão percorrida aproximadamente recta.
A maximização deste efeito consegue-se posicionando A e D de modo a que, ao paralelismo das
ligações 2 e 4, corresponda a perpendicularidade relativa da ligação 3.
Básicamente, trata-se de um quadrilátero articulado em que as ligações [AB] e [DC] têm igual
dimensão e a ligação [BC] tem metade do comprimento das outras duas - Fig.1.35.
O mecanismo fica completo com uma extensão da ligação [BC] na sua perpendicular e com um
comprimento tal que o ponto P fique sobre o ponto médio de [AD], quando [BC] se encontrar paralelo
MECÂNICA APLICADA - Análise Descritiva de Mecanismos 26
a [AD]. O movimento de rotação das manivelas [AB] e [CD] é limitado, para um e outro lado, à sua
co-lineariedade com [AD].
O ponto P passa pelo ponto médio de [AD] - posição da figura - e, próximo dos extremos do
percurso, passa por A e por D, segundo uma trajectória aproximadamente recta.
O comprimento de [AB] e de [CD] deve ser, pelo menos, igual a 60% de [AD] e quanto maior for
esta relação mais rectilínea, e próxima de [AD], será a trajectória de P.
AD = 4 BC = 2 AB = CD = 5
Neste mecanismo - Fig.1.37 - o ponto P traça rectas exactas, tendo aplicação prática em sistemas de
controlo, registadores, aparelhos de leitura e seguimento, etc.
1.9.9 Pantógrafo
Fig.1.38 - Pantógrafo
A demonstração do seu funcionamento pode ser feita, supondo, por exemplo, o movimento do
ponto F para F1. Assim:
- a nova posição do quadrilátero será A1, B1, C1, D1;
- sendo o ponto H definido pelo cruzamento da linha imaginária [FE] com a ligação [BC] então H1
será definido pelo cruzamento de [F1E] com [B1C1].
Tratando-se de um quadrilátero, então a ligação [FD] é, por definição, paralela a [HC]. Logo os
triângulos [FED] e [HEC] dão semelhantes, pelo que:
FD/HC = F1D1/H1C1
donde, como:
FD = F1D1 ⇒ HC = H1C1
Por sua vez, da semelhança dos triângulos [FED] e [HEC] também resulta que:
FE/HE = F1E/H1E
ou seja, que os triângulos [FEF1] e [HEH1] também são semelhantes e, portanto, que [FF1] é paralelo
a [HH1].
Finalmente, para provar que os deslocamentos são proporcionais às suas distâncias ao ponto fixo E,
basta considerar que, por semelhança dos triângulos [FEF1] e [HEH1], se verifica que:
FF1/HH1 = FE/HE
Genericamente, definem-se assim sistemas articulados que, unindo dois veios, permitem a
existência de desalinhamentos angulares significativos entre eles. Destinadas primordialmente a
transmitir potência (sob a forma de binário e velocidade de rotação) não admitem, no entanto,
apreciáveis desalinhamentos lineares entre os veios, isto é, implicam que os respectivos eixos se
interceptem.
Usual na ligação dos semi-eixos de veículos de tracção rodo e ferroviários, é constituída por dois
garfos, solidários com os veios, e uma cruzeta de ligação entre eles - Fig.1.42.
Embora estruturalmente simples, este sistema apresenta características cinemáticas específicas que
justificam uma análise cuidada.
Assim e considerando que, na Fig.1.43, o garfo 2 está solidário com o veio motor e o garfo 4 com o
veio movido, fazendo os eixos um ângulo (β) entre si, a cruzeta encontra-se ligada ao garfo motor nos
pontos A e B e ao garfo do veio movido nos pontos C e D.
Assim,
cos β = tg φ ⋅ cotg θ
ou, ainda:
tg φ = cos β ⋅ cotg θ
Diferenciando, vem:
sec2 φ dφ = cos β ⋅ sec2 θ dθ sendo que cos β = const.
Como:
(dφ/dt) = ω4 e (dθ/dt) = ω2
ou, ainda:
ω4/ω2 = (cos β ⋅ sec2 θ) / (1 + cos2 β ⋅ tg2 θ)
Se considerarmos que o ângulo (β) entre os veios é constante, então a razão (ω4/ω2) será:
pelo que pode ser traçado um gráfico tendo por ordenada a diferença entre as relações máxima e
mínima de velocidades [(ω4/ω2)máx - (ω4/ω2)mín] e por abcissa o ângulo [β] entre os dois veios -
Fig.1.45.
De notar que, usualmente, o valor do ângulo (β) é limitado a um máximo de 15o, de forma a evitar
problemas de vibrações induzidas pela variação da velocidade angular de saída, para uma velocidade
de entrada constante.
Em aplicações em que seja de todo de evitar flutuações da velocidade emprega-se um veio
intermédio, entre o de entrada e o de saída, formando um mesmo ângulo (β) com estes e anulando,
assim, o efeito indesejado - Fig.1.46.
Como nem sempre é viável a utilização de duas juntas do tipo Cardan, para a obtenção de razões de
velocidade constantes, torna-se necessário recorrer a um tipo de união em que não exista veio
intermédio. A mais comum, em aplicações mecânicas, é aquela em que o contacto é estabelecido por
intermédio de esferas.
Este tipo de junta, designada como homocinética, implica um contacto pontual que seja
simultaneamente centro instantâneo de rotação dos veios motor e movido. Para que isso se verifique, o
contacto deve situar-se no plano bissectriz do maior ângulo que os veios fazem entre si - Fig.1.47.
O valor do ângulo (β), que define o plano homocinético, varia com o ângulo (α) do veio movido.
Assim:
θ = β + (90 - α)
e também:
θ = 90 - β
pelo que:
β + 90 - α = 90 - β ⇒ β = α/2
donde se pode concluir que, para uma junta homocinética em que os veios de entrada e de saída façam
um ângulo (α), o plano de contacto deve estar num ângulo de (α/2).
Junta de Bendix-Weiss
Junta de Rzeppa
Neste tipo de junta seis esferas, colocadas numa armadura (gaiola), rolam constrangidas por duas
superfícies esféricas concêntricas, uma interior outra exterior, solidárias com os respectivos veios.
Uma haste comanda a posição da gaiola, obrigando o ponto de contacto das esferas a situar-se no plano
homocinético - Fig.1.49.
Uma variante desta junta consiste na particulariedade de o centro das duas superfícies esféricas não
coincidir com o ponto de intersepção dos eixos dos dois veios. Na verdade, e para cada veio, o centro
da respectiva superfície esférica encontra-se 'adiantado' em relação ao ponto de intersepção. Esta
excentricidade leva a que as esferas se coloquem automáticamente no plano homocinético, evitando a
necessidade de existência da haste de comando da gaiola.
Estes tipos de junta permitem um ângulo máximo de desalinhamento que não ultrapassa os 35o.
Utilizável apenas em aplicações envolvendo cargas leves e em que os choques não sejam
importantes, possui uma roda motora 1 com um só dente e uma roda movida 2 dotada do número de
dentes necessário para a obtenção do ângulo de rotação (intermitente) desejado - Fig.1.52.
A travagem da roda 2, durante o período de não actuação, pode ser conseguido pelo traçado côncavo
da crista dos seus dentes, adaptando-se à superfície lateral da roda 1 e impedindo, assim, a sua rotação
livre.
Um mecanismo de escape é um sistema no qual uma roda dentada move duas ligações distintas,
designadas por linguetas, unidas a uma armação que tem um movimento alternativo de rotação ou de
translação.
A disposição das linguetas é tal que, quando um dente da roda 'escapa' de uma das linguetas, outro
entra em contacto com a outra lingueta.
MECÂNICA APLICADA - Análise Descritiva de Mecanismos 37
Neste mecanismo simples - Fig.1.53 - a roda motora A é dotada de três dentes e a armação B, com
duas linguetas, desliza nas guias C.
A roda de balanço encontra-se ligada a um pêndulo de período fixo (designado por cabelo, nos
sistemas mecânicos de menor dimensão) não mostrado na Figura. A roda de escape é, geralmente,
movida por uma mola de torção (também não representada) e possui um movimento intermitente,
comandado pela alavanca ou âncora.
Por cada oscilação completa da roda de balanço, a âncora permite o avanço de um dente da roda de
escape. Simultaneamente, o movimento da roda de escape promove o retorno da âncora à sua posição
anterior, transmitindo energia à roda de balanço para iniciar um novo ciclo.
MECÂNICA APLICADA - Análise Descritiva de Mecanismos 38
Numa análise mais detalhada ao funcionamento deste mecanismo pode considerar-se, como ponto
de partida, a posição em que a âncora se encontra encostada ao pino-batente do lado esquerdo:
- nesta situação, o dente A da roda de escape actua contra a lingueta da esquerda;
- a roda de balanço, rodando no sentido anti-horário por acção da energia acumulada no pêndulo,
leva a que o rubi mova a âncora no sentido horário;
- o movimento da âncora levará a lingueta a soltar o dente A, empurrando a lingueta para cima e, a
partir deste instante, a âncora fará movimentar o rubi, transmitindo energia ao pendulo ligado à
roda de balanço;
- após um certo ângulo de rotação da roda de escape, o seu dente B será blocada pela lingueta direita
que, entretanto baixou devido à rotação da âncora; o movimento desta é restringido pelo pino-
batente da direita, enquanto a roda de balanço inverte o seu sentido de rotação, por acção do
pêndulo que, entretanto, adquiriu energia suficiente para o efeito;
- uma vez que o rubi contacte a face esquerda do garfo no topo da âncora, esta inicia o movimento
de rotação no sentido anti-horário, destravando o dente B da roda de escape;
- após certa rotação da roda de escape, a lingueta esquerda da âncora bloca um novo dente,
reiniciando-se o processo.
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