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AGROENERGIA

www.cnpae.embrapa.br

V I S TA
e m RE
Ano II, nº 2, maio de 2011

Palmas para o
dendê

1
Agroenergia em Revista ■ Edição 2 ■ Maio 2011
Editorial
Dendê

A
produtividade e sustentabilidade das os caminhos para uma participação integrada e
espécies cultivadas e dos sistemas objetiva dos setores público e privado, para uma
agrícolas encontram grandes e crescentes dendeicultura competitiva e sustentável.
apelos em um mercado de produtos e serviços,
competitivo e profissional. A palma de óleo Nesta segunda edição da AGROENERGIA em
(dendê) enquadra-se neste foco, e, por tratar-se Revista (maio de 2011), editada pela Embrapa
de uma palmeira oleífera, produtiva em óleos e Agroenergia, são apresentados temas em
coprodutos, constitui-se em uma cultura de valor execução de pesquisa com palma de óleo
agroindustrial para alimentos, cosméticos e com (dendê), com resultados atuais ou potenciais,
potencial para utilização agroenergética. desenvolvidos por equipes de Unidades
Descentralizadas da Embrapa, em Manaus-
O Brasil reconhece, atualmente, três elementos AM (Embrapa Amazônia Ocidental e Embrapa
relevantes para alavancar a expansão da dendei- Negócios Tecnológicos), Belém-PA (Embrapa
cultura nacional e definiu políticas públicas para Amazônia Oriental), e em Brasília-DF (Embrapa
o ordenamento territorial, o financiamento da Agroenergia, Embrapa Recursos Genéticos e
produção e a capacitação da assistência técnica. Biotecnologia e Embrapa Cerrados).
Primeiro, definiu os critérios, limites e possibili-
dades para o marco regulatório básico, focando Os temas mostram que a dendeicultura é uma
no zoneamento agroecológico e econômico da atividade agroindustrial complexa, em escala
palma de óleo, na legislação ambiental e regulari- e tempo variáveis, e que requer planejamento,
zação fundiária como medidas balizadoras para a execução, acompanhamento e controle contínuos,
expansão de cultivo no território nacional. Segun- incluindo aportes adequados e constantes de
do, colocou o fator inovação como um dos pilares recursos públicos e privados. Por demanda dos
centrais para a dendeicultura, e aloca os recursos setores públicos e privados, a Embrapa participa
e meios para a Pesquisa, Desenvolvimento e Ino- do esforço para dar suporte à dendeicultura
vação (PD&I), sob a coordenação e execução da nacional, e identificou e busca soluções para
Embrapa, visando obter saltos de competitivida- questões técnico-científicas e de mercado,
de. E, terceiro, coloca o componente social como focando PD&I em vertentes agrícolas e industriais,
fator de desenvolvimento regional, ampliando infraestrutura e tecnologias de sementes e mudas,
as bases de participação da agricultura familiar, modernização de estação experimental, visando
melhorando as condições para mais emprego e disponibilizar nova genética, maior produção de
renda. sementes e mudas de qualidade, e mais rápidas
soluções visando as boas práticas agrícolas e
O Programa de Produção Sustentável da Palma industriais, processamento e tecnologias de
de Óleo no Brasil cria um novo cenário para a resíduos e coprodutos.
expansão da dendeicultura no Brasil, e pavimenta

Frederico Ozanan Machado Durães


Chefe-Geral
Embrapa Agroenergia
EXPEDIENTE

Esta é a edição nº 2, de maio


de 2011, da Agroenergia em
Revista, publicação quadrimestral
de responsabilidade da Área
de Comunicação da Embrapa
Agroenergia
Chefe-Geral
Frederico Ozanan Machado Durães
Chefe Adjunto de Pesquisa e
Desenvolvimento
Esdras Sundfeld
Chefe Adjunto de Comunicação e
Negócios:
Bruno Galveas Laviola
Chefe Adjunta de Administração
Maria do Carmo de Morais Matias
Jornalista Responsável
Daniela Garcia Collares
(MTb/114/01 RR)
Revisão
José Manuel Cabral de Sousa Dias
Diagramação, capa e arte-final

Sumário
Maria Goreti Braga dos Santos
Foto da capa
Siglia Souza

Todos os direitos reservados.


Permitida a reprodução das
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produzidos pela equipe de
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http://twitter.com/cnpae
3 Dendê
6 A importância do Programa de Produção Sustentável de Palma de Óleo: Produtividade e sustentabilidade
8 Requerimentos de PD&I na Agroindústria de Palma de Óleo no Brasil: O papel da Embrapa
10 PD&I em suporte ao melhoramento genético de Palma de Óleo na Embrapa
12 Análise de sustentabilidade para gestão ambiental na produção de palma de óleo
14 Zondendê
16 Zondendê x Amarelecimento Fatal
17 Pesquisas buscam a causa do amarelecimento fatal do dendezeiro
18 Evolução da área plantada com palma de óleo no Brasil, com ênfase no estado do Pará, AM
19 Enzimas nos biocombustíveis
20 Embrapa participa de iniciativas de sequenciamento de genômica palma de óleo
22 O dendê do Cerrado
24 Ações de pesquisa no Campo Experimental do Rio Urubu
26 Catálise enzimática produz biodiesel mais verde
28 Biofábrica: produção em escala piloto de clones de dendê
29 Melhoramento genético
30 Produção de cultivares e sementes de dendê na Embrapa
32 Programa capacita multiplicadores na cultura de dendê
33 Perspectivas de futuro em relação à produção de óleo para alimentação, cosméticos e o biodiesel
34 Óleo de palma já ganha espaço entre os produtores
36 A agroindústria do dendê na Amazônia: Expansão acelerada e o dilema da modernização tecnológica
38 Zoneamento Agroecológico para o Dendezeiro na Amazônia
39 Dendê: Importante matéria-prima para a produção do biodiesel
40 Biodiesel no Brasil
41 Câmara Setorial da Palma de Óleo realiza terceira reunião
A importância do Programa
de Produção Sustentável
de Palma de Óleo:

Foto: Sophia Gebrim


Produtividade e
sustentabilidade
Por: Manoel Vicente Bertone, Secretário Nacional de Produção e
Agroenergia – MAPA

I
nclusão social, emprego e renda, plantio e par- ses ambientais e sociais sustentáveis.  O progra-
ceria, ordenamento territorial, produtividade e ma que engloba o controle de áreas de plantio,
competitividade, sustentabilidade e biodiversi- crédito, pesquisa e formação técnica, está sendo
dade e investimento aliado ao desenvolvimento implementado com suporte da iniciativa privada e
são pressupostos que dão suporte ao Programa de uma política pública consistente para o setor.   
de Produção Sustentável de Palma de Óleo no
Brasil. Diferente de outras experiências, o programa bra-
sileiro de produção de palma de óleo nasceu com
Em iniciativa inédita, o Governo Federal lançou, diretrizes e normas ambientais que disciplinam a
em 6 de maio de 2010, em Tomé Açu-PA, um expansão do cultivo. A produção ficará restrita às
conjunto de ações para disciplinar a expansão do áreas desmatadas no passado. O programa nas-
cultivo de palma de óleo no território brasileiro. ceu sob o signo da sustentabilidade. Para isso, o
Para garantir a sustentabilidade da produção, fi- Governo Federal estabeleceu critérios ambientais
cou proibida a utilização de 86,4% das áreas aptas à frente dos exigidos pelos compradores interna-
para plantio da palma de óleo, e de 96,3% da área cionais, como a vedação expressa de supressão
total do território brasileiro. de vegetação nativa em todo o território nacional.

O óleo de palma é hoje o mais utilizado pela in- ►Restrições


dústria alimentícia em todo o mundo, porque é o
melhor substituto para gordura trans, por ser rico O Zoneamento Agroecológico e Econômico da
em vitaminas A e E, além de ser recomendado Palma (ZAE-Dendê) é um instrumento de orde-
como complemento nutritivo para populações de namento territorial utilizado pelo governo federal
baixa renda. Também está presente nos produtos para que o País garanta a expansão do cultivo da
de higiene e limpeza, lubrificantes e até mesmo na palma de óleo em bases sustentáveis.  O levan-
produção de biocombustível. Tantos usos fizeram tamento das terras aptas para o cultivo foi reali-
o consumo mundial do óleo de palma saltar cerca zado sob a coordenação da Empresa Brasileira
de 4 vezes, no período de 1998 a 2010 (Ano base de Pesquisa Agropecuária Embrapa e somente
1998: 17 milhões de toneladas). Hoje, o produto indicou áreas já antropizadas. As tratativas legais
responde por mais de um terço do total de óleo em curso prevêem a proibição da supressão de
vegetal consumido no planeta. vegetação nativa em todo o território nacional e
a exclusão de todas as áreas de conservação, re-
O principal objetivo do Programa de Produção servas indígenas e áreas de quilombo para plan-
Sustentável de Palma de Óleo no Brasil é disci- tio da palma de óleo. As áreas priorizadas pelo
plinar a expansão da produção de óleo e ofertar programa são as degradadas na Amazônia Legal
instrumentos para garantir uma produção em ba- (Acre, Amazonas, Amapá, Maranhão, Mato Gros-
6
Agroenergia em Revista ■ Edição 2 ■ Maio 2011
so, Pará, Rondônia e Roraima) e as áreas utilizadas compromissos e parcerias internacionais de
para cana-de-açúcar do Nordeste. excelência em palma de óleo.

►Agricultura familiar 4. Ampliação da oferta de assistência técnica: es-


As áreas destinadas pelo ZAE ao cultivo da palma truturação de qualificação de técnicos exten-
de óleo são também regiões com forte presença sionistas em parceria com o MDA, Embrapa e
da agricultura familiar. A proposta do programa é governos estaduais. Este ano 80 técnicos re-
oferecer condições para que os investidores incor- ceberão qualificação sobre a cultura da palma
porem estes agricultores como parceiros. A palma
de óleo.
pode oferecer uma alternativa de produção sus-
tentável, com alta produtividade e rentabilidade. A
projeção é de que uma família consiga aumentar a 5. Criação da Câmara Setorial de Palma de Óleo:
renda mensal de R$ 415, provenientes do trabalho será composta por representantes do Governo
nas lavouras de mandioca ou na extração do açaí, Federal, dos produtores e dos consumidores
para até R$2 mil. e funcionará como espaço institucional para
identificar oportunidades de desenvolvimento
►Produto estratégico para o Brasil
da cadeia produtiva.
A indústria, os agricultores e o governo federal
vêem no cultivo do óleo de palma uma atividade Transcorrendo quase um ano de lançamento do
econômica com uma série de vantagens e opor- Programa de Produção Sustentável de Palma de
tunidades. Para se ter uma idéia do tamanho do
Óleo no Brasil podem-se observar resultados
mercado nacional, em 2008 o Brasil importou 63%
altamente significativos. Atualmente, cerca de 15
do produto destinado à indústria, um crescimento
de 45% em relação a 2003. Isso sem contar com empresas privadas participam desse esforço, e de
o mercado internacional, que cresce em igual pro- uma área histórica de 70 mil hectares observada
porção. em 2008, implantada nos últimos 40 anos, para
uma área física total de 188 mil hectares, mapeada
Os Instrumentos indutores do Programa de Pro- em 2011. A Agricultura Familiar está recebendo
dução Sustentável de Óleo de Palma no Brasil:
treinamento e oportunidades de inserção
1. Zoneamento Agroecológico: para garantir a econômica na expansão da cultura do dendê,
sustentabilidade da produção, a área máxima especialmente no estado do Pará. Cerca de 80
autorizada será de 13,6% da área apta ou 3,7% técnicos foram treinados em 2010, e outros tantos
da área total do território brasileiro. serão treinados ainda em 2011, nas boas práticas
agrícolas e industriais para suporte à expansão da
2. Crédito: aprimoramento dos instrumentos de
dendeicultura. As operações de crédito continuam
crédito.
em curso, e as ações de pesquisa, desenvolvimento
Pronaf-Eco - para agricultores enquadrados no e inovação estão sendo reestruturadas, sob a
Programa Nacional de Agricultura Familiar. Juros coordenação da Embrapa. A Câmara Setorial
de 2% ao ano em até 14 anos e carência de 6 anos. da Cadeia Produtiva de Palma de Óleo teve uma
atuação importante desde sua criação em agosto
Proflora - para produtores rurais (pessoas físicas de 2010, e realizou duas reuniões históricas,
e jurídicas), associações e cooperativas. Juros de
com a participação dos Senhores Presidente
6,75% ao ano em até 12 anos e carência de 6 anos.
da República, Ministros de Estado, e de outras
Produsa - para produtores rurais e cooperativas, autoridades. Em 2011, essa Câmara retoma suas
inclusive para repasse a cooperados. Juros de atividades em maio, buscando cumprir sua missão
5,75% a 6,75% ao ano em até 12 anos e carência em prol dos interesses da dendeicultura do Brasil,
de 6 anos. e ajustamentos úteis para catalisar uma adequada
participação de atores e instituições, nos vários
3. Mais investimento em pesquisa e inovação:
segmentos da cadeia produtiva da palma de óleo.
repasse de R$ 60 milhões para melhoramen-
to genético de mudas e sementes de palma; Há um enorme trabalho pela frente. Vislumbra-
ampliação e modernização da produção de se uma grande oportunidade para a expansão da
mudas com genética definida; articulação de produção de palma de óleo no Brasil.
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Agroenergia em Revista ■ Edição 2 ■ Maio 2011
Requerimentos
de PD&I na

Foto: Leonardo Ferreira


Agroindústria de
Palma de Óleo no
Brasil: O papel da Embrapa
Por: Frederico O M Durães, Chefe-Geral, Embrapa Agroenergia

O
Programa de Produção Sustentável de cia de tecnologias, sobretudo na região na Ama-
Palma de Óleo no Brasil tem foco temático zônia. A primeira ação prática é a capacitação de
em produtividade com sustentabilidade. 120 agentes da assistência técnica.
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária ►Ações da Embrapa para a Agenda
(Embrapa) dará suporte ao Programa. As ações Dendê em Áreas Selecionadas do Brasil:
que visam esse foco precisam estar baseadas em Metas para PD&I, IEB-Sementes e Mudas, e
argumentos técnico-científicos; portanto, inves- Estação Experimental
timentos consistentes em Pesquisa, Desenvolvi-
O Programa de Produção Sustentável da Palma de
mento e Inovação (PD&I) são relevantes para as-
Óleo no Brasil consolida importantes instrumen-
segurar o êxito do Programa.
tos legais que delimitam as áreas aptas ao culti-
A expansão da dendeicultura no Brasil requer vo; restringem a expansão da produção apenas
contínuo trabalho de pesquisa focado em novas às áreas antropizadas já desmatadas; proíbem a
cultivares melhoradas e adaptadas a diferentes derrubada de vegetação nativa para o plantio de
condições ambientais, boas práticas de manejo palma de óleo; e, direcionam a expansão da ativi-
da cultura e de processos de conversão de óleos dade produtiva para recuperação de áreas degra-
e resíduos. Além disso, de dados que suportem dadas; bem como, orienta e incentiva a solução
estratégias e logística de produção e de mercado de possíveis restrições na oferta de sementes e
de óleos e co-produtos. mudas geneticamente adequadas às condições
do País.
Quase toda a produção de óleo de palma concen-
tra-se no Pará, hoje estimada em 160 mil tonela- As ações principais do programa são voltadas à
das de óleo/ano. Esta produção vem de grandes produtividade e sustentabilidade. Estruturada-
empresas e produtores independentes de médio mente, o Programa apresenta cinco eixos: Refe-
e grande porte. Menos de 10% desse número é rência territorial do programa (agendas am-
resultado da agricultura familiar. São três pólos biental e fundiária); Requerimentos de PD&I;
produtores consolidados, envolvendo nove mu- Mecanismos de Financiamento; Articulação
nicípios paraenses (Moju, Tailândia, Acará, Tomé- com Agricultura Familiar; e, Infraestrutura e
-Açu, Bonito, Igarapé-Açu, Santo Antônio de Tauá, Logística.
Santa Izabel do Pará e Castanhal). Quase tudo vai
para a indústria de alimentos. Mas é o mercado Nesse contexto, está em andamento um pro-
do biocombustível, cada vez mais forte no País e jeto de médio prazo (10 - 12 anos) de PD&I em
no mundo, que está elevando a demanda da pro- palma de óleo, coordenado pela Embrapa. Essa
dução e buscando novas fontes de matéria-prima. ação envolverá recursos públicos da ordem de
R$ 60 milhões e está estruturada em cinco temas-
Para apoiar os trabalhos de PD&I, a Embrapa está -foco, que serão implementados em iniciativas
fortalecendo equipes de pesquisa e de transferên- público-privadas:
8
Agroenergia em Revista ■ Edição 2 ■ Maio 2011
• Pesquisa e desenvolvimento para melhora- Amazônia, resistência ao Amarelecimento Fa-
mento genético de palma de óleo, obtenção tal; foco: mapa físico e WGS - Whole Genomic
de novos cultivares e busca de soluções para Sequence, transcriptmics bank);
anomalias, em especial do Amarelecimento
Fatal; • Investimentos em soluções genéticas para
• Ampliação e modernização da infraestrutura Amarelecimento Fatal (AF): Genômica e me-
botânica para produção de sementes e mudas tagenômica de microrganismos (p.ex., Phyto-
com genética definida; phora palmivora e fitoplasmas);
• Revitalização, modernização e expansão da in- • Plano de uso dos dados genômicos junto ao
fraestrutura e facilidades físicas para produção programa de melhoramento, facilidades labo-
de plantas matrizes e conhecimento;
ratoriais (equipamentos, reformas lab., bolsas
• Ampliação da capacidade de produção e ofer- pós-doutorado, serviços terceiros Pessoa Jurí-
ta de sementes de palma de óleo com genética
dica e Pessoa Física, materiais e custeios trans-
definida para o Brasil;
porte);
• Articulação de compromissos e parcerias in-
ternacionais com institutos de excelência em • Acordos de cooperação técnica e operacional
palma de óleo. com iniciativa pública e privada;
• Treinamento e capacitação em produção de
Em síntese, a Embrapa, coordenadora do sementes e mudas e tratos culturais.
Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuá-
ria - SNPA, organiza, coordena e executa os 2) Infraestrutura botânica para produção de se-
“Requerimentos de PD&I de Palma de Óleo”,
mentes e mudas com genética definida (IEB)
focando em 5 ações/temas:
(ajustes de protocolos eficientes e implantação
1. Reestruturar programa nacional de PD&I den- de biofábrica modular para produção em escala
dê; experimental/comercial, em cooperação técnica e
2. Ampliar a disponibilidade de sementes e mu- operacional).
das com genética definida;
• Acordos de cooperação técnica e operacional
3. Identificar/avaliar situação de banco de se-
mentes e variedades e estabelecer acordos de com iniciativa pública e privada;
cooperação com centros de referência de den- • Treinamento e capacitação em produção de
deicultura (e países limítrofes); sementes e mudas e tratos culturais.
4. Buscar solução para a anomalia amareleci-
mento fatal; 3) Infraestrutura e facilidades físicas para pro-
5. Focar soluções (agregar valor e destinar) para dução de plantas matrizes e conhecimento (EE):
resíduos e co-produtos da agroindústria do (recursos genéticos, introdução/quarentena, me-
dendê.
lhoramento de plantas, biotecnologia, novas cul-
tivares, boas práticas agrícolas, anomalia amare-
►Ações da Embrapa para ampliar a contribuição
na nova e incremental Agenda Dendê para o lecimento fatal):
Brasil: • Revitalização da Estação Experimental do Rio
1) PD&I (Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação): Urubu, Amazonas - Implantação de Estação
Experimental no Pará (e foco complementar:
• Programa de melhoramento genético de den- escape ao AF e introdução de material genéti-
dê;
co de “savanas”, com potencial para tolerância
• Sistemas de produção de dendê; a estresses ambientais. Opção complementar:
• Processos de conversão de óleos e resíduos avaliar a ampliação/qualificação da Estação
• Solução genético-cultural para a anomalia Experimental, em “área de escape” ao AF, em
Amarelecimento Fatal;
acordo de cooperação com Embrapa;
• Rede de Avaliação de genótipos elites de Elaeis
spp. (diferentes cultivares em multilocais); • Acordos de cooperação técnica e operacional
com iniciativa pública e privada;
• Parcerias nacionais e internacionais (economia
de tempo na obtenção de novos cultivares); • Rede de ensaios de materiais elites pré- e co-
• Investimentos em Elaeis oleifera caiaué (ra- merciais de dendê, nacionais e internacionais,
zões: genoma completo, espécie nativa da em parceria público-privada.
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Agroenergia em Revista ■ Edição 2 ■ Maio 2011
PD&I em suporte ao
melhoramento genético de
Palma de Óleo na Embrapa
Por: Manoel Teixeira Souza Júnior, Pesquisador da Embrapa Agroenergia

A
demanda mundial de óleo de palma cres- nótipos superiores; e c) produção e disponibiliza-
ceu 167% entre 1998 e 2010, passando de ção de sementes e mudas.
17 para 45.5 milhões de toneladas. Essa de-
manda continuará crescendo nos próximos anos, O programa de PD&I de Palma de Óleo da Em-
devendo chegar a 63 milhões em 2015. O óleo de brapa, no que tange a acesso e conhecimento da
palma já responde por 57% das exportações de variabilidade genética disponível, esta na seguin-
óleo vegetal no mundo. Essas informações foram te situação: É detentor de dois bancos ativos de
divulgadas no “22nd Palm and Lauric Oils Confe- germoplasma (BAG), sendo um de dendê (Elaeis
rence and Exhibition (POC 2011)”, que aconteceu guineensis – de origem africana) e um de caiaué
na Malásia no último mês de março. (Elaeis oleifera – de origem americana), montados
a partir de ações de coleta e intercâmbio de aces-
Esse cenário de crescimento de demanda por óleo sos realizadas em diferentes locais do Brasil e do
de palmaexplica em parte as diversas iniciativas exterior. Estes BAGs, embora já tenham sido ob-
estabelecidas nos últimos anos, tanto no setor pri- jeto de alguns estudos de caracterização de varia-
vado quanto no Governo Federal, para promover bilidade genética, ainda carecem de estudos mais
uma expansão significativa da área plantada com amplos e profundos que possam dar a verdadeira
esta cultura no Brasil. A outra parte da justificativa dimensão da variabilidade disponível para ser uti-
leva em consideração o fato da palma de óleo ser lizada na geração e seleção de genótipos superio-
uma excelente opção para a fabricação de biodie- res. Técnicas novas de seqüenciamento de DNA e
sel. As principais iniciativas governamentais que de genotipagem em larga escala estão sendo uti-
se destacam para viabilizar o incremento da pro- lizados pela Embrapa Agroenergia para preencher
dução de óleo de palma no Brasil são: o Programa essa lacuna de informação. A expectativa é que até
Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB) e o final de 2012 um amplo estudo de variabilidade
o Programa de Produção Sustentável de Palma de genética do BAG de caiaué, utilizando marcadores
Óleo, lançados respectivamente em 2004 e 2010. moleculares do tipo SNPs, seja concluído. Atrela-
do a essa iniciativa de genotipagem é imperativo
Porém, para que essa expansão ocorra é impres- garantir a manutenção e a fenotipagem dos BAGs;
cindível que exista uma oferta de sementes e mu- desafio laborioso, a ser realizado em longo prazo
das de cultivares superiores em quantidade sufi- e com alto custo.
ciente para atender a demanda. Esses cultivares
serão oriundos de programas de PD&I que tenham No que tange a geração e seleção de genótipos
um componente de melhoramento genético, se- superiores, o programa de PD&I de Palma de Óleo
jam eles realizados no Brasil ou no Exterior. O pro- da Embrapa, que existe desde a década de 1980,
grama de PD&I de Palma de Óleo da Embrapa é o priorizou nos últimos anos o desenvolvimento de
único atualmente em curso no Brasil que tem o híbridos interespecíficos (entre E. guineensis e E.
melhoramento genético como um dos seus focos. oleifera) resistentes ao Amarelecimento Fatal (AF),
principal estresse associado a essa cultura no Bra-
Para ser eficaz no desenvolvimento de cultivares sil. Um dos resultados desse trabalho foi o lança-
superiores, um programa de PD&I com foco em mento da cultivar BRS Manicoré, que ocorreu em
melhoramento genético precisa ter bem sedimen- 2010.
tadas estratégias que o possibilitem ser eficiente
em: a) acesso e conhecimento da variabilidade O renovado interesse por genótipos superiores
genética disponível; b) geração e seleção de ge- levou a Embrapa a promover um plano de

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Agroenergia em Revista ■ Edição 2 ■ Maio 2011
reestruturação e realinhamento de seu programa aprimoradas pela Embrapa e transferidas para os
de PD&I de palma de óleo. Esse plano, que esta produtores de sementes.
se viabilizando devido a recursos oriundos do
componente de PD&I do Programa de Produção A clonagem de plantas in vitro é outro caminho
Sustentável de Palma de Óleo, tem como a ser utilizado para garantir a oferta satisfatória
prioridades do seu componente de geração e de mudas de palma de óleo. Este caminho seria
seleção de genótipos superiores: a) melhorar a principio, complementar ao de produção de se-
a infraestrutura de laboratórios e campos mentes. Porém, como já visto em outras culturas,
experimentais; b) alavancar estratégias de seleção apresenta potencial para no futuro dominar o mer-
recorrente tanto para dendê quanto para caiaué; e cado de mudas de palma de óleo no Brasil. Para
c) promover a inserção de técnicas da chamada que isso ocorra é necessário validar em média e
biologia avançada, tais como: citogenética, larga escala a tecnologia de clonagem já desen-
genômica, proteômica, genética reversa, volvida em escala de laboratório pela Embrapa. É
genotipagem em larga escala, imperativo que esses estudos de validação se-
entre outras. jam executados paralelamente a estudos de
análise da manutenção da fidelidade ge-
Ainda no seu início, nética dos clones; os quais precisam
este plano é conside- ser feitos tanto em laboratório quanto
rado como funda- a campo. Nesse sentido, a Embrapa
mental para garan- solicitou recursos do componente
tir que o programa de PD&I do Programa de Produ-
de PD&I desta cul- ção Sustentável de Palma de Óleo
tura na Embrapa para estabelecimento de uma
seja eficiente na Biofábrica modular a ser estabe-
geração de co- lecida na sua unidade de Manaus,
nhecimentos e no Estado do Amazonas. Embora
tecnologias que dimensionada para atender a de-
garantam a eficácia manda de clonagem do programa
no desenvolvimento de melhoramento genético da em-
dos genótipos superio- Foto: Simone Mendonça presa, essa Biofábrica modu-
res tão necessários para lar servirá de base para a
garantir a competitividade da transferência dessa tec-
agroindústria da palma de óleo no nologia a empresas
Brasil. interessadas na pro-
dução comercial
Por fim, temos o componente de de mudas in vitro
produção e disponibilização de de palma de óleo.
sementes e mudas. Considerado
por muitos o principal gargalo
à efetividade dos genótipos
superiores junto aos produtores
rurais, este componente
demanda não só estratégias de
desenvolvimento de técnicas de
produção em larga escala de sementes
e mudas, como também de logística de Foto: Robinson Cipriano
disponibilização destas para os clientes.
Estratégias essas que, no caso da Embrapa,
precisam ser necessariamente traçadas em um
ambiente de parceria público-privada.

O estabelecimento e manutenção pela iniciativa


privada de campos de produção de sementes ou
mudas, utilizando material genético desenvolvi-
do pela Embrapa, é um dos caminhos a seguir.
Tecnologias tanto para manejo desses campos,
quanto para controle da fidelidade genética des-
sas sementes, já existentes, continuariam a ser Foto: Daniela Collares

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Agroenergia em Revista ■ Edição 2 ■ Maio 2011
Análise de sustentabilidade
para gestão ambiental na
produção de palma de óleo
Por: Geraldo Stachetti Rodrigues, Pesquisador da Embrapa Meio Ambiente

O
s lançamentos, há um ano, do Programa de sificação produtiva e a geração de renda no meio
Produção Sustentável de Palma de Óleo no rural, contribuindo para o desempenho agropecu-
Brasil e do Protocolo Socioambiental para ário no atual ciclo de crescimento econômico que
Produção de Óleo de Palma no Estado do Pará o país atravessa.
vieram a fornecer bases de políticas de crédito,
assistência técnica e zoneamento agroecológico Mas é preciso avaliar, analisar, conferir e, quando
para a cultura, como formas de, ao mesmo tem- necessário, corrigir o desempenho agropecuário,
po, incentivar e regrar a prevista forte expansão em particular na escala dos estabelecimentos ru-
do plantio dessa importante oleaginosa no país. rais, na qual se pode efetivamente executar a ges-
Cercados de cuidadosa precaução técnica e es- tão ambiental no campo. Para tanto, requerem-se
merado discurso em defesa do meio ambiente procedimentos de Avaliação de Impactos Am-
e em favor de pequenos agricultores, esses do- bientais que integrem as dimensões ecológicas,
cumentos visam evitar que se repitam, no Brasil, econômicas e sócio-culturais da sustentabilidade.
impactos socioambientais negativos observados Um tal sistema de avaliação de impactos desen-
nas principais regiões produtoras – um objetivo volvido na Embrapa, e que integra critérios e in-
que vem sendo perseguido mundialmente desde dicadores para gestão ambiental de atividades ru-
a criação, em 2004, da ‘Roundtable on Sustaina- rais, tem favorecido a análise de sustentabilidade
ble Palm Oil’ (RSPO). A despeito dos riscos as- em estabelecimentos dedicados a culturas ener-
sociados a uma cultura que depende de grandes géticas, em diversos contextos regionais e de es-
investimentos para implantação, e que se dirige cala produtiva, no projeto-componente ‘Bioener-
às áreas de ambientes considerados frágeis da gia e impactos na biodiversidade’, vinculado ao
Amazônia, a expectativa é que a atividade venha a Probio II (GEF/Banco Mundial/Ministério do Meio
contribuir para o desenvolvimento sustentável da Ambiente).
agricultura regional.
Estudos de caso de análise de sustentabilidade re-
A iniciativa de focar a cultura da palma de óleo é alizados em estabelecimentos dedicados à palma
extremamente vantajosa e traz uma série de valo- de óleo demonstram o potencial da cultura para
res interessantes para a Embrapa e parceiros do promoção do desenvolvimento local, e confir-
sistema nacional de pesquisa, desenvolvimento mam a oportunidade dos preceitos e o inestimá-
e inovação. Em primeiro lugar, ao referir-se ao vel valor do zoneamento agroecológico proposto
bioma amazônico, atende às prioridades gover- no Programa de Produção Sustentável, que reser-
namentais de integração nacional, conservação va somente áreas edafoclimáticas aptas, já ante-
ambiental e desenvolvimento sustentável (leia-se riormente alteradas (desmatadas), e direciona a
combate à pobreza). Ademais, ao inserir-se no expansão da atividade para recuperação de áreas
contexto da Política Nacional de Produção e uso degradadas – ou seja, em favor da biodiversida-
do Biodiesel, pode favorecer fortemente a diver- de e da diversificação e intensificação produtiva.

12
Agroenergia em Revista ■ Edição 2 ■ Maio 2011
E exemplos há a seguir, que demonstram a viabi- Essa preponderância da dimensão Gestão e ad-
lidade do desenvolvimento sustentável do setor, ministração levanta uma interessante hipótese
no Brasil, em conformidade com os enunciados
de trabalho – que procedimentos de gestão am-
preceitos.
biental permeiam o conjunto de indicadores de
Um estudo de caso recente, realizado em parceria desempenho e promovem a sustentabilidade de
com a maior produtora de óleo-de-palma do país, forma integrada. Os resultados do estudo de caso
documenta as excepcionais características da de análise de sustentabilidade em estabelecimen-
empresa como protagonista e líder no cenário
to de produção de palma de óleo no Brasil, que
tecnológico e de responsabilidade socioambiental
no setor de oleaginosas, em nível mundial. Os constatam a excelência dos indicadores de gestão
resultados dessa análise mostram excelentes e administração, corroboram esta hipótese.
índices de desempenho em todas as dimensões
de sustentabilidade. Com um tal desempenho, a É daí que se reconhece o valor e a necessidade de
empresa se destaca entre os mais elevados índices
adotar os preceitos enunciados no Programa de
integrados de sustentabilidade observados no
universo de estudos já realizados com a citada Produção Sustentável de Palma de Óleo no Brasil
abordagem metodológica, que envolve mais e no Protocolo Socioambiental para Produção de
de 180 unidades produtivas, incluindo desde Óleo de Palma no Estado do Pará. Para tanto, é
comunidades tradicionais e produtores familiares
nosso papel manter e ampliar as pesquisas e os
até grandes empreendimentos de inserção
internacional – ver Figura. Ressalta-se que, nesses processos de transferência tecnológica da Embra-
estudos de caso, as dimensões Ecologia da pa, contribuindo com capacitação de produtores e
paisagem (marcada com p na Figura) e Gestão trabalhadores, sementes adaptadas e certificadas,
e administração (□ na Figura) têm sido aquelas embasamento científico para dirimir incertezas da
que mais proximamente se correlacionam com o
legislação/licenciamento e sistemas de suporte à
índice integrado de sustentabilidade, explicando,
respectivamente, 78 e 62% da variação desse decisão para a gestão ambiental dos estabeleci-
índice. mentos produtivos.

Posição comparativa dos índices de desempenho ambiental observados em estabelecimento


produtor de palma de óleo no Brasil, em relação ao conjunto de estudos de caso já realizados
com o sistema APOIA-NovoRural (2003-2010).

13
Agroenergia em Revista ■ Edição 2 ■ Maio 2011
Zondendê
Aplicação dos zoneamentos agroecológicos como
instrumento de suporte às políticas públicas para
ordenamento territorial e fomento da produção agrícola:
vantagens e limitações
Por: Paulo Emilio Ferreira da Motta e Maria de Lourdes M. S. Brefin, pesquisadores da Embrapa Solos

Q
uando se pretende orientar o melhor apro- delimitação das diferentes nuances climáticas que
veitamento do espaço agrícola de uma re- ocorrem na Amazônia. Trata-se, portanto, de um
gião existem duas maneiras usuais: mapear estudo de natureza generalizada, porém baseado
esta região indicando as melhores opções de uso na melhor informação disponível para a região,
para cada situação de solo e clima, tendo em vis- ou seja, foi feito o que se pode fazer de melhor
ta as necessidades agroecológicas das culturas, de posse das informações existentes. A aplicação
através da elaboração do zoneamento agroecoló- das informações contidas num zoneamento feito
gico e outra é mapear a região indicando as me- nessa escala a locais muito específicos, sofrem
lhores e piores áreas para uma cultura específica, grandes restrições e só podem ser realizadas com
também com base na informação de solo, clima e muito critério.
da espécie vegetal, o que vai gerar o zoneamento
agroecológico para a cultura específica. A carência de informações de solo e clima infe-
lizmente é uma constatação geral em todas as
O zoneamento agroecológico constitui um ins- regiões do país e traz conseqüências indesejá-
trumento valioso, elaborado em harmonia com a veis, sobretudo com relação à utilização racional
legislação ambiental do país, baseado no conheci- das terras.
mento científico atual e isento de quaisquer outros
interesses que não o de conjugar uma exploração Não seria aqui exagero afirmar que o
econômica e sustentável da atividade agrícola conhecimento dos recursos naturais - entre
com a máxima proteção ao meio ambiente. eles o solo e o clima - é um fator de soberania
nacional, cabendo ao Estado promover o
O grande desafio para a apresentação de um zo- inventário sistemático, contínuo e meticuloso
neamento realmente eficaz, porém, é a disponi- dos mesmos. Constata-se hoje a necessidade
bilidade de informações em nível de detalhe sufi- premente de se dar continuidade ao detalhamento
ciente. Cita-se aqui o exemplo do zoneamento da do conhecimento dos solos brasileiros, ampliando
palma de óleo, recém publicado pela EMBRAPA. e reforçando as equipes existentes através da
A informação mais detalhada que se dispõe so- capacitação de novos técnicos. A este esforço
bre os solos da Amazônia é aquela armazenada deve ser também prevista a utilização de todo o
no banco de dados do SIPAM, provinda por sua aparato de novas geotecnologias que se mostrem
vez do trabalho exploratório do RADAMBRASIL comprovadamente úteis, além da promoção da
nos anos 70 e elaborada sobre imagens de sa- expansão da rede de postos meteorológicos.
télite, o que permitiu a publicação de mapas na
escala 1:1.000.000, acrescidas de informações Além da melhoria da informação dos solos e do
mais detalhadas porém de algumas áreas restritas clima, o aperfeiçoamento contínuo da tabela de
distribuídas na Amazônia. Estes dados foram re- conversão, que promove a comparação entre as
trabalhados, complementados e apresentados em necessidades das culturas e a oferta ambiental
mapas 1:250.000 o que, não significa dizer que o regional, merece atenção, tendo em vista que as
detalhamento destas informações estejam com- pesquisas evoluem e um melhor conhecimento
patíveis com esta escala de publicação. A infor- das necessidades da planta deve ser incorpora-
mação de clima, por sua vez, provém de uma rede do sempre que identificado. Como exemplo, cita-
de postos meteorológicos extremamente rarefei- -se o caso do amarelecimento fatal da palma de
ta, o que dificulta sobremaneira a identificação e óleo, o chamado “AF”, um distúrbio fisiológico de
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Agroenergia em Revista ■ Edição 2 ■ Maio 2011
causa ainda desconhecida e que pode inviabilizar Da incerteza inerente deste tipo de trabalho, de-
o cultivo desta palmeira nas regiões onde ocor- terminada pela adequabilidade das informações
re. Uma vez identificado do seu agente causal, o disponíveis, conforme discutido acima, dois pro-
zoneamento pode ser revisto de maneira a evitar
blemas podem ocorrer: áreas inaptas a uma deter-
as zonas mais suscetíveis. O desenvolvimento de
novas variedades ou de novos clones com maior minada cultura serão consideradas como aptas, o
resistência às adversidades do pedoambiente, que gerará prejuízos econômicos e ambientais se
também deve ser considerado. Outro fator dinâ- forem utilizadas, ou algumas áreas aptas deixarão
mico que deve ser considerado são as mudanças de ser utilizadas gerando prejuízo econômico.
climáticas e seu efeito sobre a produção e produ-
tividade das culturas.
A condição sine qua non para a melhor aplicação
e uso dos zoneamentos é portanto, a adequação
A nosso ver é necessário, portanto, desenvolver
maneiras de tornar o zoneamento, enquanto su- da escala da informação de solos e clima, à es-
porte à política pública, um instrumento dinâmico cala de decisão. E no Brasil, isso significa investir
e flexível, apto a receber novas informações, em na obtenção da informação básica sobre nossos
diferentes níveis de detalhe, processá-las segun- solos a nível estadual em escala de pelo menos
do a tabela de conversão, aberta à evolução do 1:100.000.
conhecimento, e permitir ajustes nas indicações e
restrições para a implantação de atividades agrí-
colas comerciais, sempre com o objetivo de pro- ►Mais informações no link:
mover uma melhor aproximação com a realidade, http://www.cnps.embrapa.br/zoneamento_
procedendo a um melhor ganho em termos so- dende/
ciais, econômicos e ambientais.
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Agroenergia em Revista ■ Edição 2 ■ Maio 2011
Zondendê x
Amarelecimento Fatal
Mapeamento de áreas com potencial de expansão e de
ocorrência de amarelecimento fatal em palma de óleo
(dendê) na Amazônia Legal, com ênfase no Estado do
Pará
Por: Adriano Venturieri, Pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental

O
Zoneamento Agroecológico (ZAE) da palma de óleo (dendê) identicou as áreas mais adequadas à
expansão sustentável do seu cultivo. O somatório das áreas identificadas no ZAE da palma de óleo
corresponde a 31,8 milhões de hectares.

Um exercício técnico relevante é a justaposição das áreas preferenciais de cultivo de palma, normalmente
plantadas com o Hibrido intraespecífico tenera de Elaeis guineensis, com a ocorrência da anomalia
Amarelecimento Fatal (AF), que causa mortalidade de plantas de dendezais. Esforços de mapeamento
estão em progresso para ordenar a perspectiva de aumento de expansão de cultivo de novos dendezais
e o potencial de ocorrência do AF.

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Agroenergia em Revista ■ Edição 2 ■ Maio 2011
Pesquisas buscam a causa
do amarelecimento fatal do
dendezeiro
Por: Ana Laura Lima, Embrapa Amazônia Oriental

A
pesquisa está cada vez mais próxima de (Rio de Janeiro, RJ), Embrapa Amazônia Ocidental
descobrir a causa do Amarelecimento Fatal (Manaus, AM), Embrapa Roraima, Embrapa Milho
(AF) do dendezeiro e conseqüentemente a e Sorgo (Sete Lagoas, MG), Embrapa Agroenergia
solução tecnológica para a produção de dendê li- (Brasília, DF), Instituto Biológico de São Paulo
vre da doença. A Embrapa desenvolve pesquisas e Universidade Federal do Pará tem apontado
com melhoramento genético e manejo fitossani- resultados interessantes como a não ocorrência do
tário da cultura que já apresentam resultados pro- AF em áreas com déficit hídrico, o que pode indicar
missores. áreas de escape à ocorrência da doença. Outra
iniciativa de pesquisa, aprovada recentemente,
O amarelecimento fatal é uma doença ainda com estuda a possibilidade de implantação do
sua causa desconhecida. Há suspeitas que as cau- dendezeiro irrigado em áreas não preferenciais
sas sejam bióticas (causada por fitopatógenos) e da cultura no Brasil. “Pode ser uma maneira de
abióticas (encharcamento, toxidez ou desequilí- escapar de áreas cujas condições edafo-climáticas
são propícias a acontecer o amarelecimento fatal”,
brio nutricional da planta). A doença pode ocorrer
explica a pesquisadora Alessandra Boari.
em qualquer idade da planta, e caracteriza-se pela
ocorrência de amarelecimento e seca das folhas
No campo do melhoramento genético do dende-
em desenvolvimento. A pesquisadora Alessan-
zeiro, o principal resultado foi o lançamento da
dra Boari, da Embrapa Amazônia Oriental, expli-
BRS Manicoré (em maio do ano passado), híbrido
ca que quando começam a aparecer os sintomas,
que apresenta resistência à doença. Desenvolvido
as plantas deixam de produzir cachos e nunca se
pela Embrapa Amazônia Ocidental, o material é
recuperam totalmente. Além disso, em áreas de fruto do cruzamento entre Elaeis guineensis (den-
ocorrência do AF, a mudas replantadas apresen- dê de origem Africana) e Elaeis oleifera (origem
tam a doença em menos de um ano. Americana). O melhoramento do dendê no Brasil
também é o objetivo de outra iniciativa, o PRO-
Um projeto em rede liderado pela Embrapa DENDÊ. As ações desse trabalho aliam o método
Amazônia Oriental (Belém,PA) com a participação tradicional do melhoramento com técnicas biotec-
da Embrapa Solos nológicas como a genômica e propagação in vitro.

►Novos métodos
A metagenômica é uma ferramenta da biotecno-
logia que vem sendo utilizada para tentar desco-
brir se causa do amarelecimento fatal é de origem
biótica, ou seja, causada por fungos ou bactérias.
Alessandra Boari explica que “trata-se de uma
técnica relativamente nova que visa construir bi-
bliotecas de metagenômicos pertencentes a es-
ses microrganismos (fungos ou bactérias) asso-
ciados com plantas com AF”. O sequenciamento
desses microrganismos indicará quais seriam os
Fotos: Raimundo Rocha prováveis causadores da doença.

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Agroenergia em Revista ■ Edição 2 ■ Maio 2011
Evolução da área plantada
com palma de óleo no
Brasil, com ênfase no
estado do Pará
Por: Adriano Venturieri, Pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental

O
Brasil teve uma visão conservadora quanto ao plantio de palma de óleo (dendê), e nos últimos
quarenta anos as estatísticas totalizavam cerca de 70 mil hectares plantados com dendê, com
cerca de 90% plantados no Estado do Pará, em 2010. Este esforço deveu-se às iniciativas pioneiras
de 3-5 empresas privadas, e o trabalho de pesquisa da Embrapa revigorado na década de 1980.

O Programa de Produção Sustentável de Palma de Óleo, lançado pelo Governo Federal em 2010, criou as
condições técnicas, econômicas e ambientais para a expansão ordenada dos cultivos de dendê no Brasil.
Os esforços públicos e privados tem mostrado evidentes resultados já neste curto prazo.

Os mapeamentos e levantamentos de campo realizados, demonstram os esforços atuais de cerca de


20 empresas no mercado de produção agroindustrial da palma de óleo, e perfazem cerca de 118 mil
hectares de área plantada com dendê no Brasil. Os dados e análises estão em progresso, e a considerar a
quantidade de mudas e áreas em preparo para plantio de dendê no Brasil, o potencial atual está estimado
em cerca de 180 mil hectares de dendê de cultivo.

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Agroenergia em Revista ■ Edição 2 ■ Maio 2011
Enzimas nos
biocombustíveis
Enzimas produzidas por microrganismos do
dendezeiro podem ser alternativa para a produção de
biocombustíveis
Por: Daniela Collares, Embrapa Agroenergia

A
s plantas em geral são consideradas um podem substituir os catalisadores químicos que
ambiente propício para a busca de novas são utilizados na maioria das indústrias para a pro-
espécies microbianas que podem apresen- dução de biodiesel. “Embora ainda não seja uma
tar grande potencial biotecnológico. Visando des- opção economicamente viável é ecologicamente
cobrir o potencial biotecnológico da microbiota correta, pois não gera resíduos tóxicos”, destaca
associada ao dendezeiro, cientistas da Embrapa a pesquisadora Thaís Salum.
Agroenergia (Brasília/DF) selecionaram microrga-
nismos para fins energéticos. Com a seleção, os Salum ressalta que devido a grande quantidade
novos microrganismos e suas enzimas que pode- de microrganismos isolados, a equipe já está se-
rão ser produzidas serão mais uma opção para lecionando microrganismos que produzam outras
produção de etanol e biodiesel. enzimas, como amilases, celulases, ligninases, en-
tre outras que poderão ser utilizadas na fabricação
As pesquisas, iniciadas no início deste ano, são de etanol de 1ª e 2ª geração, uma das plataformas
conduzidas pelas pesquisadoras, Léia Fávaro e de pesquisa da Embrapa Agroenergia.
Thaís Salum, e pelas analistas de laboratório Ca-
rolina Poletto e Thais Mendes. Até o momento, já Para realizar os trabalhos, a pesquisadora Léia
foram realizadas a triagem e o isolamento de cen- Favaro explica que foram coletadas amostras de
tenas de microrganismos. O estudo da produção frutos, folhas e solo, de diversas plantas de den-
de enzimas de interesse está em andamento. Os dezeiro de experimentos da Embrapa Cerrados,
próximos passos serão a caracterização dos mi- em Planaltina (DF). “Toda planta, assim como o
crorganismos isolados e aplicação das enzimas solo, tem microrganismos naturalmente presen-
em escala laboratorial. tes, pois são encontrados em praticamente todos
os ambientes”, salienta.
►Os trabalhos
Nos laboratórios, os microrganismos foram culti-
A proposta, que será finalizada em dezembro des- vados em placas contendo meios de cultura, onde
se ano, é procurar enzimas que podem ser utili- cresceu uma grande variedade de fungos filamen-
zadas na produção de biocombustíveis. A idéia tosos, leveduras e bactérias. Até o momento, já
inicial era selecionar apenas microrganismos pro- foram isolados mais de 1000 microrganismos. Os
dutores de lipases, que geralmente, são encontra- microrganismos isolados serão incluídos na cole-
dos em materiais com grande quantidade de óleo, ção de microrganismos do Laboratório de Proces-
como é o caso dos frutos do dendê. As lipases sos Bioquímicos da Embrapa Agroenergia.

Fotos: Thaís Salum


Embrapa participa
de iniciativas de
sequenciamento de
genômica palma de óleo
Montagem dos genomas de caiaué e de dendê será
finalizada até o final de 2012
Por: Daniela Collares, Embrapa Agroenergia

A Embrapa Agroenergia (Brasília/DF) acaba de Para realizar esses estudos diversas técnicas de
obter aproximadamente 60 Gbp de dados de ge- biologia avançada estão ou estarão sendo em-
nômica de palma de óleo (“reads” de 100 nucleo- pregadas, entre elas a microscopia ótica e de
tídeos). Este é o primeiro passo no Brasil rumo a varredura, citometria de fluxo, “RNA-seq”, “High
obter a completa caracterização do genoma dessa Throughput SNP Genotyping” e bioinformática.
importante cultura. A conclusão das versões ini- Para realizar esses estudos foi estabelecida uma
ciais da montagem dos genomas de caiaué e de parceria com as unidades de Recursos Genéticos
dendê está prevista para o final de 2012. e Biotecnologia (Brasília/DF), Amazônia Ocidental
(Amazonas/AM) e Informática Agropecuária (Cam-
Esta estratégia é dividida em dois componentes, pinas/SP) da Embrapa.
um a ser realizado completamente no Brasil – se-
qüenciamento “de novo” do caiaué (Elaeis oleife- O pesquisador adianta que estudos da chamada
ra) -, e o outro mediante participação em consór- “pós-genômica” em caiaué serão iniciados até o fi-
cio internacional - seqüenciamento “de novo” de nal deste ano, com o objetivo de identificar genes
dendê (Elaeis guineensis) e transcriptoma de den- e promotores candidatos, e validar os mesmos
dê e caiaué. O consórcio internacional é o OPGP para uso futuro tanto em palma de óleo quanto
– Oil Palm Genome Project, coordenado pelo CI- em outras culturas.
RAD e Neiker Tecnalia, respectivamente da Fran-
ça e Espanha. Diversas ações de pesquisa estão ►O sequenciamento
sendo realizadas em conexão com a estratégia de O sequenciamento de DNA se tornou uma realida-
WGS de caiaué (E. oleifera), explica o pesquisa- de na segunda metade da década de 1970. Neste
dor da Embrapa Agroenergia, Manoel Souza. Ele período de pouco mais de 30 anos as tecnologias
destaca estudos básicos de morfologia reproduti- utilizadas com esse fim experimentaram, e conti-
va e de citogenética, de confirmação do tamanho nuam experimentando, grandes aprimoramentos
do genoma, do nível de homozigose em indivídu- que viabilizaram um aumento geométrico da ca-
os dos principais acessos do BAG, de caracteri- pacidade de geração de dados por máquina por
zação qualitativa e quantitativa das seqüências minuto, a um custo cada vez menor. Este cenário
repetitivas presente nos genomas dessas duas foi utilizado como referencial no desenho da estra-
espécies, e de identificação e validação de marca- tégia de genômica de palma de óleo da Embrapa,
dores do tipo SNPs passíveis de uso em estudos sob a coordenação da Embrapa Agroenergia. Os
de diversidade genética, mapeamento genético e 60 Gbp de dados de genômica foram obtidos me-
seleção assistida. diante contratação de serviço de seqüenciamento

20
Agroenergia em Revista ■ Edição 2 ■ Maio 2011
Além de viabilizar projetos institucionais de WGS
para culturas fora do grupo das commodities agrí-
colas, principalmente para as espécies nativas do
Brasil – que não necessariamente encontram inte-
Fotos: Marcelo Picanço

resse fora do país para ter seu genoma caracteri-


zado -, essa nova realidade torna factível a partici-
pação da Embrapa em projetos mais audaciosos,
como aqueles objetivando re-sequenciamento de
populações segregantes inteiras ou de coleções
“core” de germoplasma; assunto já frequente em
fóruns internacionais de genômica.
Morfologia da inflorescência de caiaué com destaque
para desenvolvimento inicial das flores

no exterior, que custaram aproximadamente


R$ 1,00 cada 2 Mbp de dados. “Esse custo ten-
de a se reduzir ainda mais nos próximos anos”,
enfatiza.

O acesso da Embrapa a serviços de sequen-


ciamento de DNA ao custo apresentado acima,
ou menor, em combinação com as ações em (1)
curso na empresa de aumento da capacidade
de armazenamento e processamento de dados

Fotos: Marcelo Picanço


de sequenciamento - mais especificamente
o recém inaugurado Laboratório Multiusuá-
rio de Bioinformática da Embrapa -, viabiliza
de vez o acesso das dezenas de programas
de melhoramento genético da empresa à era
dos projetos de “Whole Genome Sequencing” (2)
(WGS), destaca Manoel Souza. “Esses projetos
só eram possíveis até agora para algumas cul-
turas – normalmente commodities agrícolas,
e mediante participação em consórcios inter- Estudos iniciais de citogenética - Pólen de caiaué mostrando
nacionais – tipo de parceria que aumentava as detalhe da fase de tétrade (1) e de célula de flor basal em
chances de obtenção dos volumosos recursos leptóteno (2)
até então necessários para executar esse tipo
de projeto”, salienta.
Gráfico: Julcéia Camillo
Foto: Daniela Collares

Citometria de fluxo para quantificação de


conteúdo genômico de palma de óleo

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Agroenergia em Revista ■ Edição 2 ■ Maio 2011
O dendê do Cerrado
Foto: Embrapa Cerrados

Por: Liliane Castelões Gama, Embrapa Cerrados e Fábio Reynol,


Embrapa Pesca, Aquicultura e Sistemas Agrícolas

O
cultivo do dendê só é possível em áreas O dendê não foi a única aposta do projeto. Entre
quentes e úmidas? Se a resposta for basea- as fontes alternativas, os pesquisadores estuda-
da nas referências bibliográficas, sim. Mas, ram a macaúba e o tucumã. Isso sem contar as
na prática, pesquisas desenvolvidas no projeto pesquisas com as mais tradicionais, tais como,
“Fontes alternativas potenciais de matérias-pri- soja, cana-de-açúcar, mamona e pinhão manso.
mas para produção de Agroenergia” têm provado De acordo com Junqueira, a cultura que torna
o contrário. Em área de altitude elevada, tempera- estável a produção de biocombustível é o den-
tura e umidade baixas e sem condições hídricas dê. Como é uma espécie perene, com duração
é possível produzir. Isso abre oportunidade para de 30 anos, dificilmente o agricultor tem interesse
que a lavoura de dendê seja expandida para o Dis- em substituí-la ou comercializar para outros fins.
trito Federal, Tocantins, Mato Grosso, São Paulo e Além disso, as plantas perenes já têm o processo
tecnológico definido.
estados diversos da região Nordeste.
►Manejo de irrigação
“A produção no Distrito Federal é um termôme-
tro. Se conseguimos produzir aqui, será possível Um componente fundamental para viabilizar o cul-
em qualquer outro lugar”, afirma Nilton Junquei- tivo do dendê fora da Amazônia é a irrigação. Pes-
ra, pesquisador da Embrapa Cerrados e líder do quisas desenvolvidas na Embrapa Cerrados e em
projeto. As características do Cerrado são opostas unidades experimentais no Mato Grosso, Piauí e
às áreas tradicionais de cultivo. Enquanto na Ama- Tocantins avaliam o comportamento de materiais
zônia, a umidade é acima de 90%, no Cerrado, no sob as condições de plantio irrigado. Os resulta-
período seco, oscila entre 10% a 55%. A tempe- dos determinarão o melhor manejo de irrigação
ratura noturna no Cerrado varia entre 7º a 18º, na para a cultura do dendê.
Amazônia entre 21º a 25º. Como no Cerrado não
chove com a frequência da Amazônia é preciso No Tocantins o projeto mantém dois experimen-
utilizar a irrigação. tos, um no extremo norte do Estado, em regime
de sequeiro, e outro na região central tocantinen-
se com dendê irrigado por microaspersão. A plan-
No experimento conduzido na Embrapa Cerrados
tação do norte está localizada na zona de transição
são testadas quatro cultivares de dendê. Em agos-
entre os biomas Cerrado e Amazônico. Porém, por
to será colhida a primeira safra, com expectativa
ter um regime de chuva aquém da média amazô-
de alta produtividade. Por mais três anos, será ava- nica, a região não tem apresentado uma produti-
liada a produtividade desse plantio. Estima-se que vidade satisfatória.
em 2014, seja possível recomendar as variedades
de dendê irrigado. “Normalmente, leva entre oito Já o experimento irrigado em pleno Cerrado tem
a nove anos para estabilizar a produção. Se, nesse mostrado resultados promissores. Com apenas
período, não ocorrer nenhum problema sério, não quatro anos, a cultura já obteve um rendimento
vai ocorrer mais. Os resultados dessas avaliações médio de 20% de óleo, o principal produto do
serão encaminhados para órgãos públicos para dendê. Nada mal se comparado aos 22% de ren-
que sejam formuladas políticas públicas de incen- dimento dos dendezeiros maduros do Amazonas
tivo ao cultivo de dendê”, explica Junqueira. e do Pará.

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Agroenergia em Revista ■ Edição 2 ■ Maio 2011
O pesquisador Gustavo Campos, do núcleo de chuva. A irrigação, desde que atenda a legislação,
Sistemas Agrícolas da Embrapa Pesca e Aquicul- mantenha a recarga natural e cumpra os critérios
tura e responsável pelo experimento no Tocan- de uso, não é prejudicial ao meio ambiente”, ob-
tins, aponta para a possibilidade de o Cerrado ser serva Antonini.
uma área isenta das principais pragas e doenças
do dendezeiro como o anel vermelho e o ama- Os custos para a irrigação ainda são altos, princi-
relecimento fatal. O monitoramento de pragas e palmente para o pequeno agricultor. No entanto,
doenças também deve detectar se o Cerrado pos- com a produtividade do dendê irrigado é possível
sui outros agentes nocivos para essa cultura. “Até amortizar o investimento em 25 anos. Uma alter-
agora as notícias são boas, as pragas não apare- nativa é utilizar canais de irrigação já existentes
ceram e a produtividade tem respondido bem”, no Nordeste que atualmente estão subutilizados
contou Campos. ou mesmo sem nenhum tipo de aproveitamento.
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abasteci-
Contudo, o cientista acha que ainda é cedo para mento (MAPA), ao apoiar o projeto de irrigação,
comemorar. “Teremos de esperar mais dois anos demonstra interesse em incentivar o cultivo de
para ver se a produtividade supera a das lavouras dendê irrigado no Nordeste.
de clima úmido a ponto de compensar o custo da
irrigação, mesmo assim os resultados iniciais são O dendê ainda pode ser responsável pela criação
muito bons”, ponderou ressaltando que o Tocan- de pólos de desenvolvimento regionais. O pes-
tins tem um potencial de quatro milhões de hec- quisador Antonini, líder do projeto de irrigação,
tares irrigáveis e boa parte dessa área poderia ser explica que o fruto precisa ser industrializado no
destinada ao dendê. máximo em 24 horas após a colheita, ou seja, a
fábrica deve estar próxima a área de plantio. “O
De acordo com o pesquisador Jorge Antonini, da processo de industrialização deve ocorrer em um
Embrapa Cerrados, o consumo de água na cultu- raio de 50 km da área de plantio para não apresen-
ra do dendê é pequeno. De apenas dois a três e tar problemas. Isso gera empregos na região onde
meio milímetros de água por dia. “A cultura usa há o plantio do dendê e ainda faz uma integração
no máximo 4% da água, o restante entra no ciclo entre os produtores e pequenas empresas, crian-
hidrológico, vai purificar e cair novamente como do arranjos produtivos locais - APLs”, acrescenta.
Foto: Gustavo Campos

Foto: Embrapa Cerrados

Experimento com dendê em Tocantins

Experimento com dendê irrigado conduzido pela


Embrapa Cerrados em Planaltina/DF

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Agroenergia em Revista ■ Edição 2 ■ Maio 2011
Ações de pesquisa no
Campo Experimental do Rio
Urubu
Entrevista com o pesquisador da Embrapa Amazônia
Ocidental (Manaus/AM), Raimundo Nonato da Cunha
►Agroenergia em Revista ►Raimundo Nonato

Qual foi o enfoque dado no começo do Programa O CERU foi planejado para, em última instância,
de Dendê na Embrapa? Quando foi isso? atender à demanda nacional de sementes germi-
nadas de dendê, a qual, até meados da década de
►Raimundo Nonato 90, era totalmente dependente de fornecedores
estrangeiros. Para tanto, 490 famílias de genitores
O Campo experimental de dendê do Rio Urubu de diversas origens foram avaliadas em ensaios,
(CERU) foi implantado em 1982, na cidade de Rio totalizando uma área experimental de aproxima-
Preto da Eva/AM com o objetivo de desenvolver damente 220 ha. Bancos de germoplasma das es-
pesquisas em diversas áreas do conhecimento pécies E. guineensis e E. oleifera também foram
agronômico, tais como melhoramento genético, implantados: atualmente o banco de palma de
fertilidade, manejo, entomologia e fitopatologia. óleo é assim constituído: 320 acessos de material
Os materiais genéticos utilizados foram cedidos não melhorado, ocupando uma área de aproxi-
pelo I.R.H.O (atualmente CIRAD), no âmbito de madamente 25 ha e 223 acessos de material em
um convênio firmado entra a Embrapa e o institu- estádio avançado de melhoramento, ocupando
to francês para troca de germoplasma de E. guine- uma área de 91 ha. O banco de caiaué constitui-se
ensis e E. oleifera. atualmente de 238 acessos, em uma área de apro-
ximadamente 30 ha. Não obstante essa grande
►Agroenergia em Revista disponibilidade de materiais, é forçoso dizer que
o programa de melhoramento genético do CERU
Qual a importância da fazenda do Rio Urubu para não atingiu o objetivo ao qual nos referimos em
o programa de melhoramento genético do dendê? virtude de uma série de fatores, destacando-se
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Agroenergia em Revista ■ Edição 2 ■ Maio 2011
Foto: Siglia Souza
dentre estes, a escassez de recursos, notadamen- a única alternativa para dar suporte à pesquisa. É
te financeiros, para manutenção e avaliação des- oportuno ressaltar que em todos os países que se
ses materiais no momento devido. destacam pela excelência da pesquisa com a pal-
ma de óleo, há institutos públicos e/ou empresas
►Agroenergia em Revista privadas que se dedicam integralmente à pesqui-
sa com a cultura.
O que se planeja fazer para revitalizar o Campo Ex-
perimental? ►Agroenergia em Revista

►Raimundo Nonato Quais os resultados mais significativos de todo o


programa?
A revitalização do CERU deve contemplar priorita-
riamente a interligação do campo à rede elétrica ►Raimundo Nonato
do Município de Rio Preto da Eva. Recuperação
ou construção de prédios para administração, la- Mesmo a despeito de todos os obstáculos en-
boratório, armazenagem de adubos, moradias e frentados ao longo desses quase 30 anos de
aquisição de máquinas, veículos e equipamentos pesquisa, sete variedades foram registradas no
diversos. Espera-se que no decorrer do ano cor- Registro Nacional de Cultivares do Ministério
rente recursos do Governo Federal sejam libera- da Agricultura, com produtividade entre 4 e 6 t/
dos para viabilização dessas demandas. óleo/hectare/ano,  fruto principalmente do con-
vênio que havia entre a Embrapa e o CIRAD.
A forma de gestão do campo experimental e os Em 2009 foi efetuado o registro da cultivar BRS
recursos necessários para mantê-lo em funciona- Manicoré, que é um híbrido entre o caiaué, pal-
mento são pontos importante que também devem meira de ocorrência natural na América do Sul e
ser considerados, visando à revitalização das pes- Central, e a palma de óleo. Este material pode ser
quisas com a palma de óleo no Brasil. A experiên- tão produtivo quanto às cultivares de palma de
cia já demonstrou que projetos pontuais, com fi- óleo, além de não haver registros até hoje de que
nanciamento do Governo Federal, não podem ser tenha sido afetado pelo amarelecimento fatal (AF).
Foto: Siglia Souza

►Raimundo Nonato Vieira da Cunha


Possui graduação em Engenharia Agronomica pela Universidade Federal do Ama-
zonas (1983), mestrado em Agronomia (Genética e Melhoramento de Plantas) pela
Universidade de São Paulo (1996) e doutorado em Agronomia (Genética e Melho-
ramento de Plantas) pela Universidade de São Paulo (2004). É pesquisador da Em-
brapa Amazônia Ocidental. Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase
em Melhoramento Vegetal, atuando principalmente nos seguintes temas: dendê (Elaeis guineensis) e
caiaué(Elaeis oleifera).

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Agroenergia em Revista ■ Edição 2 ■ Maio 2011
Catálise enzimática
produz biodiesel
Foto: Daniela Collares

mais verde
Por: Thaís Fabiana Chan Salum, Pesquisadora da Embrapa Agroenergia

A
s fontes limitadas de combustíveis fósseis, com o diesel em qualquer motor a diesel sem a
o aumento do preço do petróleo e a cres- necessidade de modificações no sistema de igni-
cente preocupação ambiental têm sido as ção ou no injetor de combustível.
principais razões para os investimentos em pes-
quisa na área de biocombustíveis. No Brasil já existem dezenas de indústrias desse
biocombustível em operação. A produção do bio-
Não é recente o interesse nacional na produção diesel é principalmente realizada a partir da rea-
de biocombustíveis. Grandes projetos datam da ção entre um óleo vegetal e um álcool. Para tornar
década de 1970, com a criação do Pró-Álcool e isto possível, um catalisador é adicionado a fim de
do Pró-Óleo (Plano de Produção de Óleos Vege- aumentar a velocidade da reação. Nos processos
tais para Fins Energéticos). Mais recentemente o industriais utiliza-se um catalisador alcalino (hidró-
governo brasileiro lançou o Programa Nacional xido de sódio ou de potássio). No processo, além
de Produção e Uso do Biodiesel e o Plano Nacio- do biodiesel, é também formado o co-produto gli-
nal de Agroenergia (PNA) 2006-2011, que possui, cerol, que pode ser recuperado e tem amplas apli-
entre outros objetivos, o de assegurar o aumento cações nas indústrias farmacêutica, alimentícia,
da participação de energias renováveis na matriz cosmética e de plásticos.
energética nacional e contribuir para a redução
das emissões de gases de efeito estufa. O Plano A produção do biodiesel por catálise alcalina, en-
Nacional de Agroenergia determinou ainda a cria- tretanto, possui diversos problemas: o consumo
ção da Embrapa Agroenergia, uma unidade des- de energia no processo é alto, a recuperação do
centralizada da Embrapa, com o objetivo de con- glicerol produzido na reação é difícil e o catalisa-
tribuir para superar os desafios definidos nesse dor alcalino solúvel precisa ser removido do pro-
plano. duto. A necessidade de tratamento do efluente
alcalino gerado e o alto consumo de água durante
Uma das plataformas de pesquisa previstas no a lavagem nas etapas de purificação do biodiesel
PNA é a plataforma do biodiesel. Tendo em vis- fazem com que o processo alcalino tenha um im-
ta que cerca de 50% da matriz de combustíveis pacto significativo no meio ambiente. Além dis-
veiculares nacional é composta por diesel, o bio- so, se o óleo contiver pequenas quantidades de
diesel aparece nesse cená-

"
rio como um combustível
promissor, já que suas pro-
priedades físicas e quími- Os estudos que vêm sendo realizados com o intuito
cas são similares ao diesel de viabilizar a produção do biodiesel utilizando enzi-
convencional, permitindo mas como catalisadores são promissores e podem

"
o seu uso em misturas levar à produção de um biodiesel ainda mais 'verde'.

26
Agroenergia em Revista ■ Edição 2 ■ Maio 2011
ácidos graxos livres há a formação de sabões, o A produção do biodiesel em escala industrial utili-
que leva a uma redução no rendimento da reação, zando enzimas, no entanto, não tem sido adotada
além de dificultar o processo de purificação. principalmente devido ao alto custo dos biocata-
lisadores. Por este motivo, encontrar processos
Tendo em vista esses problemas, uma alterna- que reduzam o custo do processo enzimático tor-
tiva que vem sendo estudada é a utilização de na-se essencial. Uma das possibilidades é a reuti-
enzimas como catalisadores para a produção de lização do biocatalisador, o que pode ser possível
biodiesel. Enzimas são catalisadores biológicos através da fixação das enzimas em suportes sóli-
(biocatalisadores) que podem ser produzidos por dos. Outra alternativa seria utilizar resíduos agro-
microrganismos e são biodegradáveis. A produ- -industriais para o cultivo de microrganismos para
ção de biodiesel por via enzimática tem potencial a produção de lipases. A aplicação destes resídu-
para superar os problemas da catálise alcalina. os fornece substratos alternativos de baixo custo
Além de as enzimas serem biodegradáveis, não e é economicamente interessante para países que
há a formação de sabões no processo, o glicerol são grandes produtores agrícolas, como o Brasil.
pode ser facilmente recuperado sem tratamento
complexo, o consumo de energia no processo é Assim, os estudos que vêm sendo realizados com
menor (a temperatura de reação é mais baixa), há o intuito de viabilizar a produção do biodiesel uti-
uma drástica redução na quantidade de efluentes lizando enzimas como catalisadores são promis-
e, além disso, as enzimas podem ser recuperadas sores e podem levar à produção de um biodiesel
e reutilizadas. ainda mais “verde”.
Foto: Léia Fávaro

Pesquisadora Thaís Salum coleta frutos de dendê na Embrapa Cerrados, uma das matérias-primas para
produção de "biodiesel verde".

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Agroenergia em Revista ■ Edição 2 ■ Maio 2011
Biofábrica:
produção em
escala piloto
de clones de
dendê

Foto: Daniela Collares


Embrapa instalará em
Manaus, laboratório para
melhoramento genético,
produção e avaliação de
clones de dendê
Por: Siglia Souza, Embrapa Amazônia Ocidental e Daniela Collares, Embrapa Agroenergia

A
Embrapa está realizando um grande esfor- de infra-estrutura para a produção de clones para
ço para que nos próximos 20 anos possa estabelecimento de ensaios de alta produtividade,
ter um programa de melhoramento do den- em áreas de incidência de amarelecimento fatal,
dezeiro competitivo com os melhores programas e para o aumento de número de genitores para
no mundo, coordenando diversas ações que vi- a produção de sementes comerciais. “Associada
sam acelerar o ganho genético do programa de à clonagem, pretende-se estabelecer um progra-
melhoramento dessa cultura. Neste sentido, a Em- ma de seleção genômica assistida por marcado-
presa está viabilizando a aplicação de ferramentas res moleculares para reduzir o ciclo e a dimensão
biotecnológicas para a clonagem de genótipos ou dos testes de progênies e aumentar a eficiência
cruzamentos superiores por meio da tecnologia do programa de melhoramento com ampliação de
de propagação massal in vitro em escala piloto ganho e redução de custo por unidade de sele-
que atenda às demandas do programa. Para isso, ção”, salienta Quisen.
adianta a pesquisadora da Embrapa Amazônia
Ocidental, Regina Quisen foi elaborado um Plano De acordo com a proposta, elaborada pelas pes-
Executivo que propõe a ampliação da infraestrutu- quisadoras Regina Quisen e Daniela Bittencourt,
ra do Laboratório de Dendê e Agroenergia, com a as instalações para genotipagem serão também
instalação de uma biofábrica que será o primeiro utilizadas para caracterização e estudo de diversi-
laboratório de clonagem e genotipagem para den- dade dos bancos de germoplasma e populações
dê no Brasil. de melhoramento, análise de identidade genética
de cultivares e sementes comerciais e também
A estrutura laboratorial será instalada na Embra- para controle da identidade genética dos clones
pa Amazônia Ocidental (Manaus/AM) e irá dispor produzidos in vitro.

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Agroenergia em Revista ■ Edição 2 ■ Maio 2011
Foto: Embrapa Cerrados
Melhoramento genético
Dendezeiro híbrido de dendê resistente ao
amarelecimento, BRS Manicoré faz parte de programa de
melhoramento genético que visa o desenvolvimento de
variedades superiores da oleaginosa
Por: Kamila Pitombeira, Portal dia de campo

C
om o objetivo de gerar ferramentas e co- para o estado do Pará. Mas como é um processo
nhecimento para fortalecer o Programa de contínuo, novos trabalhos estão sendo realizados
Melhoramento Genético que a Embrapa tem com o objetivo de gerar novas variedades — diz o
com o dendê, o projeto ProDendê conta com cul- pesquisador.
tivares como a BRS Manicoré, que promete facili-
tar a vida dos produtores do Pará, principalmente. Ele completa ainda que o amarelecimento é um
Isso porque o híbrido oferece resistência ao ama- fator limitante da produção do dendê no país,
relecimento fatal (AF), doença responsável por principalmente no estado do Pará. Segundo ele,
grandes perdas de produtividade. não se sabe o que causa o amarelecimento, mas
sabe-se que um tipo de dendê nativo do Brasil
► O objetivo do programa é viabilizar o desen- tem se mostrado resistente à esse problema.
volvimento de novas e superiores variedades a
serem disponibilizadas para o público que planta ► Essa característica foi transferida para o dendê
dendê — afirma Manoel Souza, pesquisador da africano através do cruzamento entre essas duas
Embrapa Agroenergia. espécies e geração desse híbrido. Além disso,
dentro desses programas, existe uma preocupa-
Segundo ele, o projeto se insere no Programa de ção com a questão de óleo produzido e porte das
Palma de Óleo, lançado pelo governo federal no plantas — explica Souza.
ano passado, e no Plano Nacional de Produção
de Biodiesel. Também estão sendo geradas uma O pesquisador conta que, comparado à um dendê
série de informações em relação ao controle do normal, a produtividade do BRS Manicoré é me-
amarelecimento fatal, um problema limitante do nor. Mas ressalta que, para as regiões onde ocorre
dendê no Brasil. Além disso, novos conhecimen- o AF, o híbrido é a uma tecnologia capaz de produ-
tos de genética e genoma também estão sendo zir o dendê sem que o produtor se preocupe com
estudados. o problema da doença.

► O processo de melhoramento genético é conti-


►A entrevista pode ser ouvida no link:
nuo. A Embrapa já tem alguns materiais que foram
lançados para uso dos produtores no país. Um http://www.diadecampo.com.br/zpublisher/materias/
exemplo é o lançamento, no ano passado, do BRS M a t e r i a . a s p ? i d = 2 4 1 9 7 & s e c a o = Pa c o t e s % 2 0
Manicoré, um híbrido com resistência ao ama- Te c n o l % F 3 g i c o s & c 2 = Pa c o t e s % 2 0
relecimento fatal e desenvolvido principalmente Tecnol%F3gicos#null

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Agroenergia em Revista ■ Edição 2 ■ Maio 2011
Foto: UBRABIO

Produção de
cultivares e
sementes
de dendê na
Embrapa
Como resposta ao incentivo e apoio que o governo
brasileiro vem dando ao dendê, a Embrapa está se
estruturando para responder à crescente demanda de
sementes
Por: Daniela Collares, Embrapa Agroenergia

O programa de melhoramento de palma de óleo da hectares. “Para 2011, a estimativa é de produzir


Embrapa foi iniciado em meados de 1980 e, como 800.000 sementes dessas variedades”, declara An-
resultado desse programa, foram cadastradas, no drade. A Embrapa é a única empresa nacional abas-
Registro Nacional de Cultivares do Ministério da tecendo o mercado de sementes dessa espécie no
Agricultura, Pecuária e Abastecimento, sete cultiva- Brasil.
res de tenera ou híbridos intra-específicos da espé-
cie Elaeis guineensis. Esta é a palma de óleo culti- A grande novidade resultou do cruzamento da pal-
vada no Brasil e no mundo. ma africana com uma espécie (Elaeis oleifera) de
ocorrência da Amazônia Tropical Úmida, tendo pro-
De acordo com o Gerente-Geral da Embrapa Trans- duzido o BRS Manicoré, que é um híbrido de palma
ferência de Tecnologia, Ronaldo Andrade, a partir de óleo ou dendezeiro de alta capacidade produtiva.
da área de produção localizada na Fazenda Ex-
perimental do Rio Urubu, em Rio Preto da Eva, no “O Manicoré se destaca em relação às demais cul-
estado de Amazonas, a Empresa já comercializou, tivares produzidas”, adianta Frederico Durães, Che-
desde 2000, o total de 6.540.000 sementes de va- fe-Geral da Embrapa Agroenergia, de Brasília/DF.
riedades de palma de óleo da Embrapa. Dessa “Produtividade alta, em torno de torno de 30 ton/ca-
quantidade, excluindo-se o que foi exportado, foram chos/ha, resistência a uma anomalia que ocorre na
comercializadas sementes suficientes para o plantio palma africana, semelhante a uma doença ou uma
de uma área de aproximadamente 23 milhões de disfunção que é o amarelecimento fatal, reduzida

30
Agroenergia em Revista ■ Edição 2 ■ Maio 2011
taxa de crescimento de caule, portanto com porte
baixo, capaz de viabilizar um ciclo da cultura mais
longo e tem alto teor de oleína, uma fração de acido
graxo, que coloca o óleo produzido pelo Manicoré
em condições de produzir biodiesel de alta qualida-
de, salienta Durães.

A produção de sementes da BRS Manicoré está


sendo feita pela Embrapa e, através de um contra-
to de licenciamento, pela Denpasa, uma tradicional
empresa privada do setor de óleo de palma. Para o
ano de 2011, a meta de produção de BRS Manico-
ré pela Denpasa e pela Embrapa é de 2.500.000 e
200.000 sementes, respectivamente.

Está prevista a expansão da área de produção


de sementes em mais 18 ha, com estabelecimen-
to de cerca de 2.300 matrizes de Elaeis guineen-
sis var. dura, que irão garantir, após 6 a 7 anos de
estabelecimento, a produção de aproximadamente
12.000.000 de sementes por ano, informa o Geren-
te-Geral.

Considerando o grande incremento de área com


palma de óleo que ocorrerá no nosso País, e “como
resposta ao incentivo e apoio que o governo brasi-
leiro vem colocando nessa cultura, a Embrapa está
se estruturando para responder a essa crescente
demanda de sementes”, ressalta Andrade

Rosildo Costa, Gerente do Escritório de Negócios


da Embrapa Transferência de Tecnologia em Ma-
naus/AM, explica como o produtor rural pode adqui-
rir sementes de dendezeiro. Além da BRS Manicoré,
o escritório comercializa outras variedades de se-
mentes de dendezeiro para o plantio. Rosildo alerta
que o produtor antes de fazer seu pedido deve ter
definido a área a ser plantada para que a Embrapa
possa ajudar com quantidade de sementes, catego-
rias e período de pré-viveiro.

Quem tiver interesse em adquirir sementes de den-


dê pode entrar em contato com o Escritório de Ne-
gócios pelo telefone (92) 3303- 7897 ou 3303-7848.
Rosildo esclarece que o pedido deve ser feito com
um prazo de 6 a 8 meses de antecedência, devido
ao tempo de preparo das sementes, para posterior
produção nos viveiros dos produtores.

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Agroenergia em Revista ■ Edição 2 ■ Maio 2011
Foto:Mazillene Borges

Programa capacita
multiplicadores na
cultura de dendê
Embrapa e parceiros promovem capacitação em diversos
aspectos da cultura da palma de óleo
Por: Ana Laura Lima, Embrapa Amazônia Oriental e Daniela Collares, Embrapa Agroenergia

U
ma das ações previstas no Programa de Pro- dio Carvalho, a expansão da dendeicultura é um
dução Sustentável de Palma de Óleo no Bra- enorme desafio, mas uma excelente oportunidade
sil é a capacitação de agentes de assistência para o desenvolvimento das regiões consideradas
técnica e extensão rural, tanto de empresas públi- aptas pelo Zondendê.
cas quanto de empresas privadas, sobre as estra-
tégias produtivas de agricultura familiar e suas re- De acordo com Mazillene Silva, coordenadora do
lações com o desenvolvimento rural na Amazônia. Programa, em 2011 está prevista a capacitação de
uma terceira turma de 40 técnicos, a ser realizada
Atendendo a essa demanda, a Embrapa Amazô- no início do segundo semestre.
nia Oriental (Belém/PA) formulou o Programa de
Qualificação de Extensionistas na Cultura do Den- Mazillene destaca que a realização dos cursos só
dê, visando à capacitação de técnicos da Emater, foi possível devido ao esforço conjunto de diver-
Ceplac, Petrobras Biocombustível, de secretarias sos parceiros, tanto da esfera pública quanto pri-
municipais e da iniciativa privada. O programa, vada. Os técnicos da EMATER-PA, por exemplo,
desenvolvido pela Embrapa é coordenado pelo foram os facilitadores dos dois primeiros módulos
Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), em que foi dado destaque à agricultura familiar e
contanto também com suporte financeiro do Mi- às metodologias de assistência técnica.
nistério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(MAPA). Em relação ao módulo referente às bases técni-
cas para o cultivo de dendê, a Embrapa Amazônia
O curso foi dividido em cinco módulos com aulas Oriental atuou em conjunto com empresas pro-
teóricas e práticas na sede da instituição, em Be- dutoras de dendê no estado do Pará: Marborges
lém, e em áreas das empresas Denpasa, Natura, Agroindústria S.A, Dendê do Pará S.A. (Denpasa),
Marborges, Biopalma, Palmatec em outros muni- Biovale, Dendê do Tauá S.A. (Dentauá) e Agropal-
cípios. Em 2010, o Programa de Qualificação de ma,. Nesse módulo participaram também, como
Extensionistas na Cultura do Dendê capacitou 77 facilitadores, técnicos da Embrapa Transferência
multiplicadores em duas turmas. de Tecnologia e a Embrapa Amazônia Ocidental.

O engenheiro agrônomo da Emater/PA, Emerson Para apresentar o planejamento e a gestão das uni-
Pinheiro Penha, que trabalha na região de Moju, dades produtivas, a Universidade Federal de Viço-
a 264 Km de Belém, falou da importância da ca- sa disponibilizou o software “BiodieselFAO”.
pacitação. “Os extensionistas conseguiram adqui-
rir conhecimentos aprofundados com a cultura do No último módulo da capacitação, o MDA enfo-
dendê, que até pouco tempo não tinha muita divul- cou o Programa Nacional de Produção e Uso do
gação”, salientou Biodiesel, o Banco da Amazônia discorreu sobre
as linhas de crédito disponíveis para o Programa e
A capacitação dos extensionistas é a primeira disponibilizou as planilhas de crédito Pronaf/Ater e
ação prática do programa governamental. Para o a Secretaria de Estado de Meio Ambiente de Pará
Chefe-Geral da Embrapa Amazônia Oriental, Cláu- apresentou a legislação ambiental vigente.
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Agroenergia em Revista ■ Edição 2 ■ Maio 2011
Perspectivas de futuro
Foto:Simone Mendoça

em relação à produção
de óleo para alimentação,
cosméticos e o biodiesel
Por: Wanderlei Lima, Pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental

A
palma de óleo é a oleaginosa que, atual- quantidades significativas de óleo de palma para
mente, mais produz óleo por unidade de tender o mercado interno.
área plantada e tem seu cultivo adequado
para as condições do tropico úmido. É uma cul- A dendeicultura nacional, impulsionada pelo au-
tura perene, o que proporciona proteção do solo mento da demanda por óleos para diversos fins,
contra o efeito da erosão e possui alta capacidade passa pelo momento de expansão mais intenso
de seqüestro de carbono. A exploração econômi- desde o inicio de sua exploração comercial. Essa
ca da cultura se estende por mais de 25 anos e expansão é reflexo, dentre outras, de ações e po-
como a cultura não possui, praticamente, entres- líticas governamentais como a criação através do
safra permite a utilização intensiva de mão de obra Programa Nacional de Produção e Uso de Biodie-
e interiorização e fixação do homem ao campo. sel em 2004 (PNPB), com o objetivo de implemen-
Atualmente o óleo de palma ocupa o primeiro lu-
tação sustentável da produção e uso do Biodiesel,
gar na produção mundial de óleos.
com enfoque na inclusão social e no desenvolvi-
mento regional, o qual incentiva o cultivo de ole-
O óleo de palma, ou óleo de dendê como é co-
aginosas baseado-se em áreas aptas tais cultivos,
mumente conhecido no Brasil, é o óleo mais co-
que no caso específico para o dendê, prioriza a
mercializado no mundo. Está presente na indús-
Região Norte. Também o Programa Sustentável
tria alimentícia na forma de margarinas, sorvetes,
da Palma de óleo no Brasil, lançado em 2010, tem
biscoitos, tortas e outros, além de ser substituto
como objetivo disciplinar a expansão e oferecer
para gorduras tipo trans e ser rico em vitamina A
e E. Na indústria de higiene e limpeza na forma instrumentos para produção sustentável de óleo
de sabões, sabonetes, detergentes e cosméticos. de palma no Brasil. Este programa é composto
Na indústria química, faz parte da composição de por um conjunto de ações e diretrizes para a ex-
lubrificantes e também pode ser utilizado como pansão sustentável do cultivo de palma de óleo
biocombustível. Essa diversidade de uso fez com no território nacional. Para isso, proíbe a derruba-
que a demanda mundial por esse óleo incremen- da de floresta, determina áreas aptas para plantio,
tasse o seu consumo, o qual mais que dobrou nos oferece linhas de crédito especiais e amplia a as-
últimos 10 anos. Hoje representa em torno de 1/3 sistência técnica e extensão rural.
de todos os óleos comercializados no mundo.
Desta forma, acredita-se que num futuro próxi-
Apesar de o Brasil possuir grande potencial e ap- mo, a sociedade brasileira terá o óleo de palma
tidão agrícola para o cultivo do dendezeiro, sua ou dendê não somente como iguaria da culinária
participação nas estatísticas mundiais como pro- Nacional ou oferenda para orixás, mas também
dutor de óleo de palma ainda é muito baixa. Atual- como um importante segmento do agronegócio
mente, o Brasil não produz quantidade suficiente Brasileiro e, quiçá que a cultura da palma de óleo
de óleo de palma para atender a necessidades das venha atender a demanda nacional por seu óleo
indústrias citadas acima, necessitando importar em todos os segmentos.
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Agroenergia em Revista ■ Edição 2 ■ Maio 2011
Óleo de palma já ganha
espaço entre os produtores
Por: Assessoria de imprensa da UBRABIO

O
óleo de palma ou dendê apresenta exce- de Biodiesel (PNPB) por meio do fomento à
lentes perspectivas na sua utilização como agricultura familiar e o aproveitamento das ap-
matéria-prima para a produção de Biodie- tidões regionais, com o estímulo ao cultivo de
sel. Segundo alguns produtores, a principal van-
novas oleaginosas, em especial naquelas áreas
tagem desta oleaginosa é o fato de oferecer bai-
xo custo em relação a outras culturas, cerca de até então consideradas pouco atrativas à agri-
R$ 600 por tonelada de óleo, o que o torna muito cultura.
competitivo no mercado.
Hoje, existe um grande número de famílias in-
O dendê também representa a melhor produtivi- cluídas no PNPB. Segundo dados do Ministério
dade óleo/hectare. A produção pode chegar até do Desenvolvimento Agrário (MDA), divulgados
oito mil litros/hectare. Comparando com a soja, no último dia 23 de fevereiro, mais de 276 mil
que rende até 500 litros por hectare, a palma famílias participam do programa, produzindo
torna-se muito mais atrativa. soja, mamona, girassol, palma (dendê), canola,
algodão e amendoim.
E os benefícios do uso do dendê não param
por aí. Na conversa com produtores de Biodie- Segundo o MDA, a renda média anual dos Agri-
sel que já investem no plantio do óleo de pal- cultores Familiares que participam do PNPB
ma é possível perceber reações entusiasmadas gira em torno dos R$ 5 mil por família. Em al-
com essa “nova” possibilidade de matéria-prima guns casos, isso significa o dobro da renda fa-
para o Biodiesel. miliar alcançada antes do programa.

Eles alegam, entre outros aspectos, que, por Apenas com a palma, as famílias que a plantam
ser uma cultura já conhecida – já são mais de em até 10 hectares de terra  podem ter renda
25 milhões de hectares plantados no mundo – mensal superior aos R$ 2 mil. Além disso, a co-
é possível utilizar as melhores práticas, sem
lheita do dendê exige mais mão de obra, uma
desperdiçar tempo com o desenvolvimento de
vez que não poder ser mecanizada.
novas técnicas de manuseio, o que aconteceria
com culturas mais recentes.
A Biocapital, associada à Ubrabio, é uma das
empresas que apostam no óleo de palma para
Além disso, com o zoneamento já aprovado
produção de Biodiesel. Por meio de uma par-
pelo governo federal, o Brasil possui cerca de
30 milhões de hectares com potencial de plan- ceria com a Brasil BioFuels, já tem mais de mil
tio, em áreas já degradadas. Hoje, já são apro- hectares plantados com a oleaginosa em áreas
ximadamente de 80 mil hectares plantados. próprias, no estado de Roraima. “Estamos no
processo de levantamento de dados nos assen-
A União Brasileira do Biodiesel (Ubrabio), única tamentos da região, junto ao MDA, para iniciar o
entidade representativa do setor produtivo, vê trabalho com a agricultura familiar. O objetivo é
com bons olhos a utilização do óleo de palma, trabalhar inicialmente com 500 famílias”, afirma
bem como a diversificação de matérias-primas o presidente da empresa, Roberto Engels.
no geral.
Segundo o empresário, a aceitação do Biodie-
Para a entidade, isso reforça o forte caráter so- sel de dendê pelo mercado é boa. “No início, a
cial do Programa Nacional de Produção e Uso aceitação do biodiesel de palma teve um pou-
34
Agroenergia em Revista ■ Edição 2 ■ Maio 2011
co de rejeição, pois é de cor escura, mas essa dora para processar toda a produção de dendê
questão já foi totalmente superada”, diz. originada nessas áreas.

A questão da fácil cristalização (numa tempe- “O nosso projeto, em sua primeira fase, contem-
ratura aproximada de 13ºC, similar ao sebo pla 800 famílias no Município de Rorainópolis,
animal) ainda é vista como uma limitação do em Roraima. A Oleoplan fornecerá mudas qua-
óleo de palma, mas pode ser minimizada com lificadas, assistência técnica direta e por convê-
a mistura de Biodiesel de soja. “Por outro lado, nio, com entidades privadas e governamentais,
o Biodiesel de dendê tem um índice de cetano além de garantir a compra de toda produção
elevado, se comparado ao índice do diesel con-
durante o período útil das lavouras”, afirma o
vencional e também possui um elevado grau de
presidente da empresa, Irineu Boff.
lubricidade, ou seja, podemos afirmar que é um
excelente aditivo para o óleo diesel mineral”,
Diante desses benefícios e experiências que já
acrescenta Engels.
se mostram bem sucedidas, o óleo de palma ou
Outra associada à Ubrabio, a Oleoplan, também dendê indica sua importância para uma indús-
investe na cultura do dendê. A empresa tem um tria recente como a do Biodiesel e que já figura
plano inicial de investimentos em plantio de cin- como um segmento muito promissor para o se-
co mil hectares próprios com a oleaginosa e tor agrícola nacional, com sua capacidade pro-
outros cinco mil hectares ou mais, por meio de dutiva anual girando em torno dos cinco bilhões
produtores familiares, além da usina processa- de litros do biocombustível Biodiesel.
Foto: Geraldo Stachetti

Viveiro de mudas de palma


da Biocapital, associada à
Ubrabio, que em parceria com
a Brasil Bio Fuels, já tem mais de
mil hectares próprios plantados
com a oleaginosa, no estado de
Roraima.
Foto: UBRABIO

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Agroenergia em Revista ■ Edição 2 ■ Maio 2011
A agroindústria do dendê
na Amazônia: Expansão
acelerada e o dilema da
modernização tecnológica
Por: Marcos Ene Chaves Oliveira, pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental

A
pesquisa com dendê no gerando cerca de 1100 empregos
estado do Pará iniciou- na agroindústria e um total de
se em 1951 no então cerca de 7000 empregos
IPEAN, hoje Embrapa diretos em toda a cadeia
Amazônia Oriental, da palma. Esta produção
e adquiriu porte representa mais de
industrial a partir da 90% da produção
década de 60 do brasileira de óleo de
século passado palma e o incentivo
com projetos ao crescimento da
pioneiros no Pará, cadeia fornecido
incentivados pelo programa
pela SUDAM. PALMA DE ÓLEO
O avanço da deve-se ao fato de
cadeia da palma
que o Brasil ainda
foi lento, mas
importa cerca de
tem-se observado
50% do óleo de palma
nos últimos cinco
consumido no país.
anos uma expansão
acelerada com aumento Cachos maduros do Híbrido
Interespecífico (HIE) A ampliação e modernização
de cerca de 150% da área
plantada no estado do Pará, e do setor agroindustrial, entretanto,
que se intensifica mais ainda a partir implicam decisões estratégicas a serem
do lançamento do programa PALMA DE ÓLEO tomadas pelos produtores de palma. Dentre estas
do governo federal em 2010, levando a uma decisões está o dilema de que por um lado a mo-
estimativa de que ao término de 2011 a área com dernização se impõe como elemento de aumento
palma no estado ultrapassará 150.000 hectares, de competitividade, mas, por outro lado, na Ama-
o que consolidará definitivamente o Pará como o zônia, a modernização implica em importação de
principal produtor de óleo de palma do Brasil. tecnologias e de toda a manutenção e assistên-
cia técnica necessárias para lidar com esta nova
O aumento de área plantada implica em uma tecnologia, o que implica em aumento do custo
pressão para ampliação, e também modernização, de produção. Este elemento, somado à entrada
da cadeia agroindustrial que hoje no estado conta do produtor de palma com foco em biodiesel, são
com 11 agroindústrias de extração, 2 de refino motivos pelos quais se observa que a adoção de
e 1 de produção de gorduras e margarinas novas tecnologias ocorre a velocidades diferentes
vegetais. Em 2010, este setor foi responsável pelo entre as agroindústrias da região e, especialmen-
processamento de 200.000 toneladas de óleo te, entre as agroindústrias já existentes e os novos
de palma bruto provenientes de 6 empresas e projetos de agroindústrias.
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Agroenergia em Revista ■ Edição 2 ■ Maio 2011
Fotos: Marcos Oliveira

Área de estocagem dos cachos frescos


Cachos de dendê chegando à agroindústria antes do processamento

Nas agroindústrias já existentes, que têm foco na Nas novas agroindústrias em projeto, e que se
produção de óleo de palma para o mercado de instalam com maior foco no mercado de biodiesel,
alimentos, há tanto uma tendência de agregação tem-se observado que o nível tecnológico já será
de tecnologia para verticalização da produção até caracterizado por processos contínuos e com
o refino quanto uma tendência diferenciada para maior foco na minimização de efluentes e controle
mudança de tecnologia na agroindústria de ex- de processo. Além disso, entre estes projetos fala-
tração do óleo de palma bruto. A verticalização
se muito no conceito de agroindústria de extração
até o refino é vista por alguns produtores como
modular capaz de se expandir à medida que
estratégica para fugir ao “oligopólio” de compra-
dores de óleo de palma bruto que hoje é consti- aumenta a produção e também na possibilidade
tuído por no máximo três empresas no mercado de incorporação de processos de co-geração de
brasileiro, enquanto que o mercado para o óleo energia a partir dos resíduos lignocelulósicos
refinado é mais diversificado. Entretanto, embora da palma. Entretanto, ainda não está claro qual
seja previsível que o aumento da agroindústria de tecnologia será adotada por cada novo projeto
extração seja de certa forma proporcional ao au- e parece não haver uma linha uniforme de
mento da área plantada com palma, não está claro tecnologias, o que poderá implicar em tecnologias
se o aumento da agroindústria de refino seguirá de diferentes origens.
esta mesma proporcionalidade, especialmente
considerando-se que parte significativa da produ- O cenário descrito anteriormente mostra clara-
ção futura vá para o mercado de biodiesel no qual mente uma expansão acelerada da cadeia agroin-
não há necessidade de refino como acontece no
dustrial da palma, levando não somente à criação
mercado de alimentos.
de novas agroindústrias de extração como tam-
bém a novas agroindústrias de refino e também
A agregação de tecnologia na cadeia de extração
agroindústrias com foco na produção de óleo
já existente, por outro lado, tem como objetivos
tanto a otimização econômica do processo como para biodiesel. Observa-se também que o nível
também a minimização da geração de efluentes tecnológico da cadeia agroindustrial da palma
que, além da diminuição de custo de produção, será ampliado às custas de uma importação em
implica também em melhorias da imagem am- massa de tecnologia, o que faz com que o pro-
biental das empresas. Neste sentido, tem-se ob- dutor tenha uma elevação de custos de produção
servado que a mudança tecnológica caminha no tanto pela compra da tecnologia importada como
sentido de processos contínuos de esterilização, também pela dificuldade e elevados custos para
novas tecnologias para minimização de consu- manter uma logística adequada de fornecedores
mo de água e geração de efluentes, como os tri- de equipamentos e assistência técnica. Esta situ-
-decanter, novas alternativas de prensas expeller, ação deixa clara a necessidade de uma política
e controle automático de processo. Entretanto, industrial, nacional e também estadual, para este
a adoção destas tecnologias vem ocorrendo a
setor na região Amazônica, e no Brasil, e também
velocidades diferentes entre as agroindústrias
a necessidade de investimentos em pesquisa e
da região. Assim, entre as agroindústrias exis-
tentes observam-se aquelas que já adotaram formação de recursos humanos qualificados para
um nível significativo destes elementos, aquelas a agroindústria da palma. Tal política no momen-
que adotaram pelo menos um novo processo to se justifica pela importância desta cadeia para
para minimização de efluentes líquidos e aque- a economia brasileira, bem como pela expansão
las nas quais nenhuma nova tecnologia foi ou acentuada que leva a uma condição mínima de
vem sendo adotada. nucleação tecnológica para o setor.
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Agroenergia em Revista ■ Edição 2 ■ Maio 2011
Zoneamento
Agroecológico para
o Dendezeiro na
Amazônia
Por: Carlos Dias, Embrapa Solos

A
Embrapa Solos lançou o livro Zoneamento cos. Além disso, descreve estratégias de amplia-
Agroecológico, Produção e Manejo para a ção da economicidade dos empreendimentos,
Cultura da Palma de Óleo na Amazônia (215 destacando: as alternativas de convivência e con-
páginas), editado pelos pesquisadores Antonio trole dos agentes de sua doença mais grave – o
Ramalho Filho, Pedro Luiz de Freitas, Paulo Emilio Amarelecimento Fatal. Também aborda as possi-
Ferreira da Motta e Wenceslau Geraldes Teixeira. bilidades de adoção da cultura da palma de óleo
como alternativa econômica e sustentável viável
A obra Zoneamento Agroecológico, Produção e tanto pela agricultura de base familiar como para
Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Ama- grandes empreendimentos no contexto da agroe-
zônia é a reunião de dois livros em um. O primeiro nergia, com reflexos diretos na redução da pres-
trata do zoneamento agroecológico das áreas des- são do desmatamento na Amazônia.
matadas da Amazônia para o cultivo da palma de
óleo (dendezeiro). Nele são identificadas em ma- Os assuntos abordados estão ordenados em se-
pas as unidades ambientais da paisagem desma- quência, que vai do planejamento conservacio-
tada na Amazônia, ocupadas com terras na gran- nista das áreas aptas à implantação de palmares
de maioria, esgotadas e ocupadas com pastos em à escolha do material genético para a produção
estado avançado de degradação, que tenham ap- sustentável da palma de óleo.
tidão para o cultivo da palma de óleo, e também
aquelas que se excluem dessa possibilidade por Esta obra é resultado de uma ação para a Ama-
serem matas nativas, áreas de reserva legal ou zônia com recursos do Fundo Nacional de Desen-
inaptas para tal cultivo. Traz ainda, como bônus, volvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), que
atualização metodológica, que permite total infor- tem o objetivo de criar bases científicas para a
matização dos procedimentos de elaboração de produção de biocombustível nas regiões remotas
zoneamentos agroecológicos, seja na avaliação de fronteira da Amazônia.
das aptidões de solo e de clima, na organização
da informação ou na produção cartográfica. Acompanha o livro CD contendo o Zoneamento
Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo
O segundo livro reúne em quatorze capítulos todo nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal.
o conhecimento disponível para a implantação e
o manejo eficientes e sustentáveis de lavouras de Quem tiver interesse em adquirir o livro deve en-
palma de óleo em terras com diferentes níveis de trar em contato com sac@cnps.embrapa.br ou
aptidão agrícola sob variados aportes tecnológi- (21) 2179-4507.

Foto: Robinson Cipriano


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Agroenergia em Revista ■ Edição 2 ■ Maio 2011
Dendê:
Importante

Foto: Siglia Souza


matéria-prima
para a produção
do biodiesel
Por: Daniela Collares, Embrapa Agroenergia

I
nclusão social, emprego e renda, ordenamen- toneladas de óleo/ha/ano. Além disso, o óleo do
to territorial, produtividade e competitividade, dendê tem amplo uso nas indústrias de alimentos,
sustentabilidade e biodiversidade, aliados ao farmacêutica e química e representa grande opor-
desenvolvimento, são pressupostos que dão su- tunidade para a produção de biodiesel.  
porte ao Programa de Produção Sustentável de
Palma de Óleo no Brasil que o Governo Federal De acordo com dados de pesquisa, o dendê apre-
lançou em 2010. Incentivar a produção de dendê senta um balanço de energia entre 8,6 e 9 unida-
para diversos fins, em especial para a produção des de energia disponíveis por unidade de energia
de biodiesel é um dos focos da Embrapa. O tema aportada. Com tudo isso, a expansão dessa olea-
é do programa de rádio da Embrapa - Prosa Rural, ginosa no Brasil é indicada como uma das princi-
produzido pela Embrapa Informação Tecnológica pais alternativas para a agricultura sustentável na
(Brasília/DF) com entrevista principal do chefe- Amazônia.
-geral da Embrapa Agroenergia, Frederico Durães,
sobre o uso do dendê como matéria-prima para a A expansão da dendeicultura no Brasil, segundo
produção do biodiesel.   o chefe-geral da Embrapa Agroenergia, requer
contínuo trabalho de pesquisa focado em novas
Durante o programa, Durães explica o funciona- cultivares melhoradas e adaptadas a diferentes
mento do Programa e como o agricultor pode se condições ambientais, boas práticas de manejo
integrar à cadeia produtiva do biodiesel. Também da cultura e de processos de conversão de óleos
participam do Prosa Rural o gerente do escritório e resíduos. Além disso, de dados que suportem
de negócios da Embrapa Transferência de Tecno- estratégias e logística de produção e de mercado
logia, em Manaus, Rosildo Costa; o pesquisador de óleos e co-produtos.
da Embrapa Amazônia Oriental (Belém/PA), Rui
Gomes; e o técnico em extensão rural da Emater/ Mais de 70% dos óleos do mundo são oriundos de
PA, Anderson Penha. 4 espécies vegetais, soja, dendê, girassol e cano-
la. “No Brasil um Programa dessa natureza associa
O dendezeiro é, entre as espécies oleaginosas, a o ordenamento territorial e desenvolvimento com
de maior produtividade. No País, especialmente as boas práticas agrícolas e industriais e foca pro-
no Pará, as melhores plantações tem atingido 6 dutividade com sustentabilidade”, conclui Durães.

►Escute a matéria do Prosa Rural, no link:


http://hotsites.sct.embrapa.br/prosarural/programacao/2011/dende-importante-materia-prima-
-na-producao-de-biodiesel-1
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Agroenergia em Revista ■ Edição 2 ■ Maio 2011
Biodiesel no Brasil
Produção de biodiesel está concentrada nas regiões Sul
e Centro-Oeste

Foto: istockphoto
Por: Daniela Collares e José Manuel Cabral, Embrapa Agroenergia

D
e acordo com a Agência Nacional de Petró- Os três principais estados produtores em 2010,
leo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), segundo o relatório já citado, são:
biodiesel é um combustível composto de
alquilésteres de ácidos graxos de cadeia longa,
Estado Produção %
derivados de óleos vegetais ou de gorduras ani-
mais, atendendo as especificações da resolução RIO GRANDE DO SUL 605.998 m3 25,3
ANP Nº 7 de 19/03/2008. Atualmente, o biodiesel
MATO GROSSO 568.181 m 3
23,7
é misturado, na proporção de 5% a todo o óleo
diesel comercializado no país. GOIÁS 441.976 m3 18,4

Os dados do relatório de fevereiro de 2011 da


ANP indicam que existem 69 plantas produtoras Esses três estados produzem mais de dois terços
de biodiesel autorizadas para operar no País, cor- (67,4%) de todo o biodiesel do país. A principal
respondendo a uma capacidade total de 17.415,95 matéria-prima para biodiesel é a soja, a partir da
m3/dia ou cerca de 5.224 bilhões de litros por ano, qual são produzidos cerca de 80% de todo o pro-
considerando 300 dias de operação das indústrias. duto no Brasil. A gordura animal contribui com
cerca de 15% e o caroço de algodão com 4%.
Desde o lançamento do Programa Nacional de
Produção e Uso de Biodiesel (PNPB) em 2005, a O programa de transferência de tecnologias em
produção desse biocombustível tem sido crescen- girassol, mamona e dendê, a ser realizado em
te, no país, sendo que em 2010 houve aumento conjunto por Embrapa e Petrobras Biocombustí-
porcentual de 49% em relação à de 2009. veis, tem como objetivos, incentivar a diversifica-
ção das matérias-primas, buscar a regionalização
A produção brasileira está concentrada nas regi- da produção e incentivar a inclusão produtiva de
ões Sul e Centro-Oeste. produtores familiares.

Produção de biodiesel no Brasil (em metros cúbicos) por ano


2005 2006 2007   2008  2009  2010
736 69.002  404.329  1.167.128 1.608.448 2.396.955    

►SAIBA MAIS
No vídeo “Produção de Biodiesel” a pesquisadora Simone Mendonça explica os passos da reação
de transesterificação e a purificação de biodiesel, em escala de laboratório.

Veja em www.cnpae.embrapa.br/videos/ano-2010/producao_biodiesel.wmv/view

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Agroenergia em Revista ■ Edição 2 ■ Maio 2011
Câmara Setorial da Palma
de Óleo realiza terceira
reunião ►No dia 12 de maio de 2011, é realizada a 3ª
Reunião Ordinária da Câmara Setorial da Palma

C
riada por meio da Portaria MAPA No. de Óleo que tem como pauta da reunião:
592/2010, de 17/08/2010, a Câmara Setorial
da Palma de Óleo é um espaço institucional
que tem como propósitos identificar oportunida- 09:00h - Abertura da Reunião - Presidente da Câ-
des para o desenvolvimento da cadeia produtiva, mara, Manoel Vicente Bertone.
estabelecer prioridades para a política pública e
articular Governo e agentes privados. O concei- 09:05h Leitura e Votação da Ata da 2ª Reunião da
to de Câmara Setorial, no Ministério da Agricul- Câmara.
tura, Pecuária e Abastecimento está fortemente
relacionado com a idéia de um agrupamento de 09:10h Informações e deliberações da reunião
representantes dos organismos, órgãos e entida- anterior. Ayrton J. Ussami CGAC/ MAPA.
des, públicas e privadas, que compõem os elos
de uma cadeia produtiva do agronegócio, que tem
09:20h Apresentação do levantamento de Safra
por substrato um ou mais produtos. Tratam dos
da Palma de Óleo. Conab/ SPAE MAPA.
setores produtivos da Agropecuária, tendo sem-
pre um enfoque sistêmico – Visão de Cadeia Pro-
09:50h Apresentação sobre Ações de Regulariza-
dutiva.
ção Fundiária. Terra Legal. MDA
A Câmara Setorial da Palma de Óleo, composta
10:20h Apresentação do Grupo de Trabalho Co-
por representantes do Governo Federal (MAPA,
mércio e Logística. Milton Takano. MDIC.
MDA, MME, MMA, MDIC, Embrapa e Casa Civil)
e por representantes dos produtores de palma de
óleo, dos consumidores dos produtos derivados, 11:00h Assuntos Gerais.
dos trabalhadores, tem caráter consultivo e propi-
cia um diálogo organizado em torno do interesse 12:00h - Encerramento.
comum de garantir a expansão sustentável da pro-
dução no Brasil. A primeira reunião ocorreu no dia
18 de agosto de 2010. “A criação desta
câmara mostra o comprometimento do Programa de
Produção Sustentável de Óleo
governo com o fomento à cultura da pal- de Palma no Brasil
ma que, além de gerar emprego e renda
ao produtor da Região Amazônica, vai
auxiliar na recuperação de áreas degra-
dadas”, disse o Ministro da Agricultura .

  De acordo com o ministro, a câmara se-


torial vai traçar as políticas públicas para
a área e defender projetos de aproveita-
mento da palma, promovendo mudança
estrutural no mercado, hoje dominado
por dois países: Indonésia e Malásia.

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Agroenergia em Revista ■ Edição 2 ■ Maio 2011

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