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INSTITUTO

EDIÇÃO Nº 04 | ANO 1 | ABRIL 2018 | MMXVIII


JOÃO CALVINO

Ofício e
Confessionalidade

revistadiakonia.org
E X P E D I E N T E
EDITORES Adriano Gama
Elienai B. Batista

REVISÃO Ester Conceição dos Santos


Arielle de Eça

TRADUÇÃO Morgana Mendonça dos Santos

PROJETO Thiago A. Nunes


GRÁFICO
EDITORAÇÃO Thiago A. Nunes

WEBSITE Israel F. B. Batista

FALE contato@revistadiakonia.org
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S U M Á R I O
ELIENAI EDITORIAL
BATISTA 04

ADRIANO
06
SUBSCRIÇÃO DAS CONFISSÕES:
GAMA UM INSTRUMENTO DE
SEGURANÇA ESPIRITUAL PARA
A IGREJA

JIM
10
O LUGAR DAS CONFISSÕES
WITTEVEEN NO TREINAMENTO PARA O
MINISTÉRIO

DR. A PREGAÇÃO CATEQUÉTICA —


NICOLAAS
H. GOOTJES
PARTE 1
14

JIM A NATUREZA PASTORAL DOS


WITTEVEEN CÂNONES DE DORT
29
EDITORIAL
Elienai B. Batista

É com alegria que apresentamos aos pessoa se una aos demais membros na unida-
nossos leitores a quarta edição da Revista de da verdadeira fé. Porém, não se requer de
Diakonia. Desta vez, trataremos da relação quem deseja se tornar membro da igreja uma
entre os ofícios e as confissões reformadas. subscrição confessional.
Sem dúvida, é um tema pertinente não só para
entendermos o compromisso dos oficiais com Já em relação aos oficiais, depois de todo
suas confissões, mas também para perceber- um processo para a eleição, estes só podem ser
mos como as confissões são úteis aos oficiais ordenados após subscreverem as Três Formas de
no desempenho de seu serviço. Unidade. Por que se requer tal coisa dos oficiais?
Como surgiu tal prática? Qual o seu objetivo? Que
Uma das primeiras coisas que devemos compromissos assumem os oficiais ao subscreve-
notar quanto ao tema em questão é que se re- rem as confissões das Igrejas Reformadas? Estas
quer dos oficiais, mais do que se requer dos e outras questões são esclarecidas no artigo do Pr.
membros da igreja. Quando uma pessoa de- Adriano Gama - Subscrição das Confissões: Um
seja se tornar membro comungante em uma Instrumento de Segurança Espiritual para a Igre-
das igrejas da Confederação das Igrejas Refor- ja. O artigo, além de apresentar dados históricos,
madas do Brasil, geralmente receberá instru- demonstra a importância da subscrição confessio-
ção no Catecismo de Heidelberg, pelo menos nal para a igreja e seus oficiais.
uma visita pastoral que tratará sobre a fé e a
vida da pessoa, e depois serão feitos anúncios, Compreendendo esta importância, as
por dois domingos, à igreja, para verificar se Igrejas Reformadas do Brasil requerem dos
não há objeções de que a pessoa seja recebi- candidatos ao ministério da Palavra, que me-
da como membro. E, finalmente, em um culto morizem o Catecismo de Heidelberg na sua
solene a pessoa fará a sua pública declaração totalidade, e o conteúdo da Confissão Belga e
de fé perante Deus e Sua igreja. dos Cânones de Dort. Além disso, em seus es-
tudos no Instituto João Calvino, os candidatos
Esta declaração de fé é simples e toca ao ministério da Palavra dedicarão em sala de
apenas nos principais pontos da fé cristã. É aula, mais 105 horas no estudo das confissões.
evidente que durante a visita pastoral, an- Esse cuidado tem como objetivo conceder ao
tes da recepção de tal pessoa, os presbíteros futuro ministro uma compreensão das confis-
perguntarão sobre aquilo que ela aprendeu sões que lhe permita fazer com entendimento
na catequese, isso porque se espera que esta a subscrição que lhe é requerida. É isso que

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nos explica o Pr. Jim Witteveen em seu arti- ensino das confissões na igreja. Os dados his-
go - O lugar das confissões no treinamento tóricos apontam para a preocupação das igre-
para o ministério. No artigo em questão, ele jas reformadas e a utilidade das confissões
oferece além de dados históricos, as razões para a saúde das igrejas. Creio que o artigo do
para tal cuidado. Ele mostra que o estudo das Dr. Gootjes contribui de forma significativa
confissões no seminário é importante não só para percebermos que a pregação catequética
porque funciona como uma forma de defesa não foi um desenvolvimento posterior ou res-
contra erros e heresias, mas também, porque trito às Igrejas Reformadas dos Países Baixos,
o conhecimento das confissões serve como mas que é uma prática histórica nas Igrejas
uma ajuda imensa ao pastor no seu trabalho de Cristo ao longo dos séculos.
de pregação, ensino e evangelização.
Concluímos com mais um artigo do Pr.
Esta segunda razão, a utilidade das con- Jim Witteveen - A Natureza Pastoral dos Câ-
fissões para o trabalho pastoral, pode ser perce- nones de Dort. Neste artigo percebemos que
bida nos dois últimos artigos desta edição. esta confissão da igreja considerada a mais
complexa e talvez mais teológica das confis-
O primeiro deles é o artigo do Dr. Niek sões, é não só um instrumento útil aos mi-
H. Gootjes - A Pregação Catequética. Neste nistros da Palavra, mas também aos demais
artigo, o Dr. Gootjes apresenta uma introdu- pastores (presbíteros) da igreja no seu traba-
ção histórica à pregação catequética, que lida lho de cuidar das ovelhas de Cristo. E eu diria,
com três pontos levantados por Ph. Schaff com as devidas adaptações, que é também um
em sua obra “The Creeds of Christendom” instrumento muito útil no exercício do minis-
(Os Credos da Cristandade). O artigo começa tério da misericórdia.
com a pregação catequética em Heidelberg e
retorna a Genebra, à Reforma Luterana, ao Seja você ou não um oficial em uma
período antes da Reforma chegando até aos igreja de Cristo, ao ler esta edição da Revista
pais da Igreja. Depois, demonstra como a pre- Diakonia você será muitíssimo edificado. Se
gação catequética foi desenvolvida nas Igrejas isso acontecer, eu o encorajo a compartilhar
dos Países Baixos, e como no Grande Sínodo o conteúdo da revista com os oficiais de sua
de Dort (1618-1619) delegados de vários países igreja (talvez você queira imprimir e presen-
falaram sobre o tema. Apesar de o artigo apre- teá-los) e com outras pessoas. Esperamos que
sentar o tema de uma perspectiva histórica, o Supremo Pastor da Igreja utilize estas pági-
através dela somos lembrados de nossas pró- nas para promover a edificação de Sua Igreja
prias responsabilidades no que diz respeito ao e a glória do Seu nome.

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SUBSCRIÇÃO DAS CONFISSÕES:
UM INSTRUMENTO
DE SEGURANÇA ESPIRITUAL
PARA A IGREJA

Adriano Gama

Quando se fala a palavra “subscrição” tinental os oficiais subscrevem um documen-


lembramo-nos do ato de assinar algum docu- to por meio do qual se comprometem a ensi-
mento, confirmando ou firmando o conteúdo nar, a defender e a se submeter às doutrinas
nele escrito. Nós conhecemos bem o que seja bíblicas expostas nas confissões adotadas por
uma subscrição, pois assinamos certidões de suas igrejas.1 Por meio desse mesmo docu-
casamento, habilitações, contratos, cheques, mento, os oficiais também se colocam debai-
recibos ou outros documentos que exigem de xo da disciplina eclesiástica, se não cumpri-
nós uma confirmação ou um compromisso com rem seu compromisso com suas confissões.
algo ou alguém. O Brasil é o país dos cartórios e Esse documento é conhecido como Forma de
de muitas assinaturas em pedaços de papel! En- Subscrição das Confissões.2
fim, uma subscrição, apesar de ser apenas uma
assinatura posta em um pedaço de papel, pode No estudo da história da Igreja, desco-
servir como um instrumento de segurança para brimos uma antiga relação entre unidade na
quem assina ou para quem depende da assina- doutrina cristã e a subscrição de credo e de con-
tura colocada no papel. fissões. A Igreja Antiga para manter a unidade
definiu sua fé no credo Apostólico, Niceno e Ata-
Na Igreja de Cristo também há lugar nasiano (Credos Ecumênicos). A Igreja que con-
para subscrições. Existe a subscrição das cer- tinuou na Reforma fez o mesmo para se manter
tidões de casamento, das atas de cada conse- na unidade da fé cristã e para se distinguir da
lho e dos concílios que confirmam as decisões igreja do Papa e dos movimentos radicais de sua
tomadas por essas assembleias eclesiásti- época. Temos uma multiplicidade de confissões
cas. Os concílios reformados e presbiteria- e catecismos confeccionados durante e depois
nos somente recebem delegados com cartas da Reforma que testemunham que os cristãos
credenciais assinadas por seus respectivos reformados estão unidos à Igreja Antiga na fé re-
conselhos. E dentro da prática reformada con- velada e encerrada na Escritura.

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Sabemos que os credos antigos e as con- meiras décadas da Reforma do Século XVI, as
fissões não são a Palavra de Deus, mas são o en- igrejas da Holanda não tinham uma Forma de
sino fiel dela (até que se prove o contrário). As Subscrição. Os ministros faziam apenas uma de-
igrejas de Cristo sempre entenderam que a uni- claração verbal de concordância e depois, uma
dade na Doutrina é o fundamento da unidade simples subscrição foi usada, que não mostrava
entre elas. Podemos dizer que as confissões são um compromisso muito claro com as confissões
a pedra fundamental de nossa existência como da confederação. Mas, com o passar do tempo,
uma denominação e da vida confederacional. apareceu a necessidade das igrejas estabelece-
rem uma Forma de Subscrição que firmasse o
Dentro da grei reformada temos, no compromisso e concordância plena dos oficiais
exemplo de João Calvino (1509-1564), um bom com as Confissões Reformadas.
entendimento da importância de confissões
para unidade e existência denominacional. Uma Essa necessidade se mostrou mais ur-
das primeiras coisas que ele fez quando come- gente por causa dos Arminianos (seguidores de
çou seu ministério em Genebra (Suíça) foi escre- Jacó Armínio: 1560-1609). Tanto Armínio como
ver uma Confissão de Fé. os ministros arminianos, subscreveram a Con-
fissão e o Catecismo, porém, continuaram a
Vemos o amor pela unidade no exemplo expressar suas ideias contrárias a doutrina re-
de diversas igrejas. As igrejas na França, em seu formada, especialmente, contra a doutrina da
primeiro Sínodo (1559), aceitaram uma Confissão eleição (Confissão de Fé Belga Arts. 16 e 17).
de Fé comum. As Igrejas Reformadas do Sul da
Holanda (hoje Bélgica), da mesma maneira, aceita- No início do ano 1608, um concílio regio-
ram a Confissão de Fé Belga no seu primeiro Síno- nal na Holanda (Alkmaar) considerou que seria
do (Armentieres, 1563). As Igrejas das províncias importante uma Forma de Subscrição mais bem
do Norte da Holanda fizeram também o mesmo elaborada, que desse segurança às igrejas con-
no seu primeiro Sínodo (Enden, 1571). Elas rapi- tra heresias. Essa Forma de Subscrição conti-
damente adotaram, obrigatoriamente, a mesma nha uma declaração de plena concordância com
Confissão e o Catecismo de Heidelberg. Todo esse o Catecismo de Heidelberg, a Confissão de Fé
testemunho histórico ensina como reformadores Belga e uma promessa que obrigava os seus as-
e as igrejas de Cristo sentem a necessidade de as- sinantes de “manter a doutrina neles contidos
segurar a pureza da doutrina e unidade na fé cristã e que ele abertamente rejeitava todas as doutri-
desde o início de sua história. nas que se opusessem ao Catecismo e a Confis-
são de Fé Belga”.
Sobre os oficiais recai maior peso de man-
ter protegida a pureza e a unidade na Fé. E, por Essa Forma do concílio regional foi ado-
isso, antes de começarem o exercício em seus ofí- tada (com certas modificações) por outras as-
cios, os oficiais têm o dever de subscreverem a For- sembleias eclesiásticas (concílios e sínodos) e,
ma de Subscrição. Essa prática também é antiga. finalmente, o Grande Sínodo de Dort (1618-1619)
definiu que ministros e os professores das uni-
Os credos ecumênicos foram subscritos versidades teriam que assiná-la (Art. 53 do Regi-
pelos bispos de suas épocas.3 Durante as pri- mento de Dort). Essa subscrição tornou público

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e claro o compromisso dos oficiais e professores mos nosso pensamento ao Conselho para que
com a Fé Bíblica ensinada nas Três Formas de seja investigado por ele”.
Unidade: Confissão de Fé Belga, Catecismo de
Heidelberg e os Cânones de Dort. Quarta parte, uma promessa de sub-
missão à investigação e disciplina por parte do
A Forma de Subscrição adotada pelas Conselho: “Prometemos que sempre estaremos
igrejas no Grande Sínodo de Dort foi com o tem- dispostos a explicarmos melhor nosso pensa-
po sofrendo pequenas adaptações. Hoje, a forma mento a respeito de qualquer parte da doutrina
que os oficiais das Igrejas Reformadas do Brasil reformada, caso o Conselho exija isto por moti-
assinam tem a mesma natureza. E todos oficiais vos fundamentados, a fim de reservar a unida-
destas igrejas são conscientes das suas respon- de e a pureza da doutrina. Se quebrarmos esta
sabilidades bem expressas nas partes da Forma promessa, também seremos suspensos, embora
de Subscrição. fique preservado nosso direito de apelar contra
decisões consideradas injustas. Mas durante o
Podemos dividir a Forma de Subscrição período de apelação nós nos conformaremos
das Igrejas Reformadas em 4 partes:
com a sentença do Conselho.”
Primeira, uma declaração de concordân-
O final da Forma de Subscrição mostra
cia plena, não parcial, com as Três Formas de
claramente o objetivo de se assinar tal docu-
Unidade: “Estamos plenamente convictos de que
mento: “Assim declaramos e prometemos agir
a doutrina reformada, expressa nas Três Formas
para a glória do Senhor e para a edificação da sua
de Unidade – a Confissão de Fé, o Catecismo de
Heidelberg e os Cinco Artigos da Fé Contra os Ar- Igreja”. Este final é muito importante, pois decla-
minianos – está em plena conformidade com a Pa- ra qual o fim principal dos ofícios dados à Igreja:
lavra de Deus, em todas as suas partes.” o SENHOR chamou e ordenou homens para Sua
Glória e para a edificação da Sua Igreja (Ef 4.1-16).
Segunda parte, uma promessa para ensi-
nar e defender a doutrina reformada, e rejeitar Os oficiais agem para glória de Deus
e refutar todo erro doutrinário: “Por isso prome- quando mantém pura a Sua doutrina, que é bem
temos que nós, cada um em seu próprio ofício, en- exposta em nossas Confissões. Os oficiais só
sinaremos esta doutrina com dedicação, a defen- edificam a Igreja quando mantém a unidade da
deremos fielmente e rejeitaremos qualquer ensino igreja na mesma Fé. Por isso, se justifica a boa
que esteja em conflito com a doutrina reformada.” prática de exigir a subscrição de compromisso
dos oficiais com as Confissões, especialmente,
Terceira parte, uma promessa para no meio de um mundo onde se prega e se vive o
expor dúvidas ou mudanças de pensamento relativismo e uma diversidade doutrinária que
quanto à doutrina: “Prometemos que, caso fi- não glorifica a Deus nem edifica Sua Igreja.
quemos com uma objeção contra esta doutrina
ou mudemos de pensamento, não ensinaremos Devo encerrar dizendo que, a Forma de
ou defenderemos nosso pensamento, nem publi- Subscrição não é a segurança plena para man-
camente nem de outro modo, mas apresentare- ter a glória de Deus e a edificação da Igreja.

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Pode haver mil tipos de subscrições, e todas 2 Há igrejas de tradição e doutrina reforma-
elas serão sem efeito se não houver a discipli- das que não adotam um documento de subscrição,
na eclesiástica dentro da Igreja. É a disciplina por exemplo, a Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB).
Essas igrejas não têm uma forma de subscrição,
na Igreja que vai fazer valer o que se diz e se
mas exigem de seus oficiais e seminaristas licen-
assina na Forma de Subscrição. Por meio da ciados declarações e votos de aceitação e de fide-
disciplina bíblica, a Forma de Subscrição se lidade aos Padrões de Westminster, a saber: Con-
torna um eficiente instrumento de seguran- fissão, Catecismo Maior e Menor (ver: Constituição
ça espiritual para a Igreja de Cristo. A Forma da IPB, Artigos: 1º; 114; 119 Parágrafo Único. Cf.:
lembra e firma o compromisso dos oficiais em Manual Presbiteriano, Perguntas Constitucionais 2
proteger o rebanho do erro doutrinário e in- de cada uma das quatro formas adotadas para orde-
dica o caminho como eles devem tratar suas nação de presbíteros, diáconos, para licenciatura de
pregadores e ordenação de ministros da Palavra).
possíveis dúvidas sobre a fé. Além disso, a
Forma orienta como também o conselho pode 3 Simões, Ulisses Horta. Subscrição Con-
proteger a igreja de oficiais que queiram se fessional – Necessidade, Relevância e Extensão, p.
rebelar contra a doutrina da Escritura e assim 33, 45. Belo Horizonte: Efrata Publicações e Distri-
ameaçarem a segurança espiritual da igreja. buição, 2002.

Portanto, encerro este artigo na esperan- Bibliografia recomendada:


ça de que minhas palavras tenham esclarecido
você sobre a prática reformada de termos uma 1. Degier, K. Explanation of the Church Or-
der of Dordt: In Questions and Answers – Netherlands
Forma de Subscrição e a importância desta for-
Reformed Book and Publishing Committee. Grand
ma como instrumento de segurança espiritual Rapids: 2000.
para igreja. Faço isto para que você, entendendo
essa importância, seja estimulado a orar e traba- 2. Van Dellen and Monsma. The Church Or-
lhar a fim de que essa boa prática seja mantida e der Commentary: A Brief Explanation of the Church
promovida no Brasil. Que o SENHOR Deus, em Order of the Christian Reformed Church.
Jesus Cristo, nos guarde por Seu Espírito Santo
e Sua Palavra. 3. Van Oene, W. W. J. With Common Con-
sent – A practical guide to the use of the Church Or-
der Of the Canadian Reformed Churches - Premier
Notas:
Publishing.
1 Regimento das Igrejas Reformadas do
4. Feenstra, Peter G. Unspeakable Comfort
Brasil, Artigo 21 - Subscrição da Confissão: “Todos
– A Commentary on The Canons of Dort - Premier
os ministros da palavra, presbíteros e diáconos subs-
creverão as confissões das Igrejas Reformadas do Bra-
sil, assinando a forma adotada para este fim. Quem
Pr. ADRIANO GAMA é ministro da Palavra
recusar a subscrevê-la não será ordenado ou instala-
servindo na Igreja Reformada em Colombo - Paraná.
do ou será imediatamente suspenso do seu ofício pelo
Ele é um dos editores do site e da revista Diakonia.
conselho, e os concílios não o receberão como delega-
do. Se um oficial persistir na sua recusa, será deposto
de seu ofício”.

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O LUGAR DAS
CONFISSÕES
NO TREINAMENTO PARA O
MINISTÉRIO

Jim Witteveen

No Instituto João Calvino, o seminário futuros ministros da Palavra e dos sacramentos.


das Igrejas Reformadas do Brasil, uma discipli- Antes da sua ordenação, desde a época da Refor-
na central é chamada “Simbólica” - o estudo dos ma, os candidatos ao ministério precisam mos-
“símbolos” da fé cristã, os credos ecumênicos e trar seu entendimento destes símbolos da fé - o
as confissões reformadas. Nossos alunos preci- conteúdo, o significado, e a base bíblica das ver-
sam decorar o Catecismo de Heidelberg na sua dades que a Igreja confessa e ensina. As Igrejas
totalidade, e o conteúdo da Confissão Belga e Reformadas sempre entenderam que este co-
dos Cânones de Dort. Nos quatro anos dos estu- nhecimento das confissões é um dos propósitos
dos, mais do que 105 horas na sala de aula são fundamentais da preparação de um ministro.
dedicadas ao estudo das confissões.
Em segundo lugar, temos que destacar a
Por quê? Obviamente, nós acreditamos Forma de Subscrição Para os Ministros da Palavra
que o estudo das confissões das Igrejas Refor- das Igrejas Reformadas do Brasil, que todos os mi-
madas é essencial à educação teológica, para ho- nistros precisam assinar. Quando novos ministros
mens que estão se preparando para o ministério são ordenados, eles fazem um voto solene, em que
do Evangelho. Mas, você pode dizer, por que não eles declaram, “Estamos plenamente convictos de
usar este tempo para estudar a Bíblia, em vez que a doutrina reformada, expressa nas Três Formas
das confissões, que são, afinal, documentos não de Unidade... está em plena conformida-de com a Pa-
inspirados, escritos por homens? lavra de Deus, em todas as partes”.

Em primeiro lugar, precisamos enfatizar Para fazer este voto, o ministro pre-
que esta prática não é uma novidade. Na história cisa saber o que ele está dizendo. Não pode-
da Igreja, especialmente desde a Reforma Pro- mos dizer honestamente, “Estou plenamente
testante, o estudo dos credos e confissões tem convicto de que a doutrina reformada, expres-
sido visto como fundamental na preparação de sa nas Três Formas de Unidade, está em plena

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conformidade com a Palavra de Deus”, se não evangélico cuja doutrina e prática ainda têm
sabemos o conteúdo destes documentos! O muita influência (negativa) no mundo evangé-
voto não é simplesmente uma questão de lico. Finney, que abertamente negou muitas
tradição. Para permanecer significativo, e doutrinas reformadas, incluindo a imputação
não apenas um ritual que fazemos porque da obediência de Cristo aos crentes, e pregou
é algo que os nossos antepassados na fé fi- uma forma de pelagianismo, foi ordenado
zeram, o voto precisa ser feito com pleno numa igreja presbiteriana. Mas na autobio-
entendimento e com honestidade. Este voto grafia, The Memoirs of Charles Finney: The
exige estudo cuidadoso destes documentos Complete Restored Text (Grand Rapids: Aca-
que o ministro declara ser verdade e um re- demie, 1989), 53-54, ele escreveu isso sobre a
flexo acurado do ensinamento da Palavra. confissão da igreja:

O ministro também promete que ele “Eu não tinha examinado isso, isto é,
ensinará “esta doutrina com dedicação, e a de- o grande trabalho, contendo os catecismos e a
fenderá fiel-mente.” Ele promete que não ensi- Confissão Presbiteriana. Isso não fazia parte do
nará ou publicará “nada, o que diretamente ou meu estudo. Eu respondi [aos examinadores] que
indiretamente esteja em conflito com esta dou- o recebi por substância da doutrina, na medida
trina”. E ele promete que não somente rejeita- em que entendi. Mas eu falei de uma maneira
rá “qualquer ensino que esteja em conflito com que claramente implicava, eu acho, que eu não
a doutrina reformada, mas que também ajuda- pretendia saber muito sobre isso.”
rá a contestar e refutar tal ensino.”
De fato, a evidência do ministério de
Para ensinar, o professor precisa co- Charles Finney e a herança que ele deixou à
nhecer a sua disciplina. O professor de Bio- igreja evangélica, mostram que esta ignorân-
logia precisa conhecer o material que ele vai cia (e, na verdade, esta rejeição) das doutri-
ensinar. O professor de História precisa saber nas da igreja, resumidas nas confissões, não
as questões básicas da História que ele quer somente prejudicou a igreja durante o minis-
comunicar aos alunos. Imagine um homem tério dele, mas continua a prejudicando até
que tenta ensinar a doutrina cristã sem saber hoje. Sabemos que Charles Finney estudou a
o conteúdo daquela doutrina - seria um absur- Bíblia, que ele conheceu o conteúdo da Bíblia
do! Se o estudo de disciplinas como a Biologia mais do que muitos. Mas ele também expres-
e a História exige este esforço na parte daque- sou certo orgulho sobre o fato de que ele leu
les que querem ensiná-las, quanto mais aque- a Bíblia como um ser independente, sem de-
les que ensinarão assuntos com consequên- pendência na interpretação da igreja nos sé-
cias eternas? culos passa-dos. Ele disse coisas como:

Mesmo assim, não podemos negar o “Eu não tinha lido nada sobre o assunto,
fato de que, muitas vezes na história da Igre- exceto a minha Bíblia... Não me lembro de ter
ja, isso é exatamente o que aconteceu. Pense, lido uma página sobre o assunto, exceto o que
por exemplo, em Charles Finney, o pregador encontrei na Bíblia... Não tive para onde ir, mas

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diretamente para a Bíblia... Eu digo que Deus mentos têm raízes no ensino de Pelágio, de-
me ensinou, e eu sei que deve ter sido assim, teólogos da Idade Média, e de Armínio. Todos
porque, com certeza, eu nunca obtive essas no- leem a Bíblia com certos pressupostos desde
ções de um homem... E muitas vezes pensei que o início - é impossível abordar o texto da Escri-
poderia dizer com perfeita sinceridade como tura sem estes pressupostos, sem influências
Paulo disse, que nenhum homem me ensinou externas. Precisamos reconhecer este fato, e
o Evangelho, mas somente o Espírito do Cristo assegurar que nossos pastores começam com
mesmo” (Finney, p. 44, 45, 57, 87, 94). os pressupostos corretos e ortodoxos, confir-
mados não por homens individuais, mas pela
No livro The Gospel and Charles Fin- própria igreja. E são as confissões, os docu-
ney: The Tragic Pastoral Results of Pastoral mentos da igreja, não dos indivíduos, que rea-
Theology (Myrrh Books, Overland Park, Kan- lizam este propósito.
sas, 2018: p. 76,77), John. D. Gillespie escreve:
Nossa última razão pode ser expressa
“Tal afirmação, quando nativamente em uma forma mais positiva. Até aqui nós vi-
acreditada, coloca a teologia de Finney fora do mos como o estudo das confissões funciona
alcance do exame e escrutínio. Esta afirmação, como uma forma de defesa contra erros e he-
sendo amplamente aceita, fez muito para con- resias. Mas podemos destacar também o lado
tribuir ao mito de Charles Finney. Ao dissecar positivo, a bênção que temos nas confissões.
a teologia de Finney, devemos procurar o his- Porque um forte conhecimento das confissões
tórico Charles Finney. Porque enquanto o mito serve como uma ajuda imensa ao pastor no
existir, a sua teologia continua sendo algo que seu trabalho de pregação, de ensinamento, e
ninguém pode questionar, e muito menos repro- de evangelização. As confissões fornecem res-
var, nas mentes dos crédulos.” postas prontas que os pastores podem usar
para responder às perguntas dos membros
Gillespie está correto. Como podemos da congregação, às dúvidas de novos crentes,
julgar a teologia de Finney, quando ele reivin- e os desafios de descrentes no contexto de
dica que ele recebeu esta doutrina diretamen- evangelização.
te das páginas da Bíblia, sendo ensinado pelo
Espírito Santo, e não por homens? O que é Podemos pensar no exemplo do Dia do
que podemos usar para julgar o ensinamento Senhor 1 do Catecismo de Heidelberg. A pri-
de um pastor, quando ele faz uma declaração meira pergunta e resposta do nosso Catecismo
deste tipo? nos fornece um ponto de partida em conversas
iniciais com novos contatos. Podemos usar a
Realmente, o ensinamento de Finney pergunta para destacar a falta de consolo na
(e os discípulos modernos de Finney, que tem vida do descrente, e a resposta como resumo
muita influência entre os evangélicos no Bra- do evangelho. Nosso único consolo é diferente
sil) não vem diretamente das páginas da Bí- do que o consolo do mundo, e completamente
blia, sem mediação, ou diretamente por meio contracultural. O Catecismo nos fornece o pa-
de revelações do Espírito Santo. Esses ensina- drão que podemos usar para salientar, simples

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e claramente, a diferença entre a cosmovisão No final das contas, as confissões são
do cristão e a cosmovisão mundana. indispensáveis no ministério pastoral dos pas-
tores, em todos os seus aspectos. Além de pro-
Adicionalmente, a Confissão Belga pode tegerem a ortodoxia da igreja, as confissões
ser usada como esboço para ensinar novos cren- providenciam recursos vitais para os pastores
tes sobre as bases da fé reformada. A igreja re- do rebanho de Deus, ferramentas que podem
formada tem um recurso precioso nesta confis- ser usadas efetivamente por aqueles que têm
são, e quando os ministros da Palavra conhecem treinamento adequado no uso delas.
o recurso, e como este pode ser usado neste con-
texto, ele tem uma ferramenta poderosa; não As igrejas reformadas receberam um
precisamos “reinventar a roda” quando já temos grande dom nas confissões produzidas pelos
recursos de alta qualidade e confiabilidade pron- nossos antepassados na fé. Cabe a nós usar
tamente disponíveis! este dom, e assegurar que as próximas ge-
rações, os nossos herdeiros, tenham acesso
E finalmente, os Cânones de Dort ob- a este dom também. Por isso, treinamento e
viamente nos dão a ferramenta perfeita na de- instrução nas confissões e credos da igreja
fesa bíblica das doutrinas da graça, os assim devem permanecer como o aspecto central da
chamados “cinco pontos do Calvinismo.” Mas educação dos nossos futuros pastores.
não somente isso: esta confissão também for-
nece um poderoso recurso pastoral que os
pastores podem usar no trabalho de aconse- Pr. JIM WITTEVEEN é ministro da Palavra
lhamento pastoral, encorajando, por exem- servindo como missionário da Igreja Reformada em
plo, membros que estão lutando com dúvidas Aldergrove (Canadá) em cooperação com as Igrejas
e dificuldades na vida da fé. Reformadas do Brasil.

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A
PREGAÇÃO
CATEQUÉTICA
(PARTE 01)

Dr. Niek H. Gootjes

Introdução credos, ele dedicou um dos maiores parágra-


fos a esse catecismo. Sobre a pregação cate-
A pregação catequética não é uma prá- quética, ele afirmou o seguinte:
tica geral dentro das igrejas que formam jun-
tas a Conferência Internacional das Igrejas Bibliotecas inteiras de paráfrases, co-
Reformadas (ICRC).1 Em geral, pode-se afir- mentários, sermões, ataques e defesas fo-
mar que o Catecismo é pregado nas igrejas de ram escritos sobre esse assunto. Em mui-
origem reformada, holandesa, e que as igre- tas igrejas reformadas, especialmente na
jas de origem presbiteriana, inglesa/escoce- Holanda (e também nos Estados Unidos),
sa, não têm esse costume. Quando as igrejas foi e é, de certo modo, obrigatório ou con-
que têm pregação catequética e as igrejas que vencional explicar o Catecismo do púlpi-
não têm se encontram em uma organização to todos os domingos à tarde. Por isso, as
como a ICRC, pode ser útil discutir tal dife- questões estão divididas em cinquenta e
rença. Para uma boa discussão, no entanto, é dois domingos, seguindo o exemplo esta-
preciso, em primeiro lugar, um entendimento belecido pelo catecismo de Calvino.2
comum sobre o assunto.
Em uma nota do rodapé, ele acres-
O que é a pregação catequética, e por centou sobre a divisão em cinquenta e dois
que surgiu? Nosso ponto de partida será aqui- domingos:
lo que Ph. Schaff escreveu em The Creeds of
Christendom (Os Credos da Cristandade). O Esta divisão foi primeiro introduzida na
que ele disse pode, até hoje, expressar o en- edição latina de 1566, talvez antes.3
tendimento geral da pregação catequética.
Schaff era um admirador do Catecismo de O que Schaff disse sobre a pregação cate-
Heidelberg. Em seu livro sobre a história dos quética pode ser resumido em três afirmações:

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1. Schaff é vago sobre a pregação ser deu uma data precoce para a divisão em Dias
ou não um dos propósitos originais do Cate- do Senhor. No entanto, essa divisão era ainda
cismo de Heidelberg. Se não foi um propósito mais precoce do que Schaff sabia, e aconteceu
original, foi, ao menos, precoce. Esse catecis- durante o mesmo ano em que o catecismo foi
mo foi publicado inicialmente em 1563; a divi- publicado pela primeira vez.
são em 52 domingos na edição de 1566, mos-
tra que, a partir desse momento, o catecismo É interessante ler na Ordem da Igre-
teve de ser pregado. ja como o lar, a escola, e a igreja, tinham que
cooperar na instrução no catecismo. Os alu-
2. A divisão em 52 domingos aponta nos tinham que aprender as perguntas e as
para Calvino. A partir disso, pode-se concluir respostas do catecismo na escola e em casa.
que o costume da pregação catequética re- No culto vespertino, eles tinham que dizer as
monta a Calvino. perguntas e as respostas que o ministro ha-
-via pregado no domingo anterior, bem como
3. A pregação catequética foi e é espe- as perguntas e as respostas para aquele culto.
cialmente um costume das igrejas holandesas Para esse propósito o Catecismo havia sido di-
e das igrejas de origem holandesa. vidido em Dias do Senhor. Ao menos uma vez
por ano, o ministro tinha de pregar através do
Na visão de Schaff, e provavelmente catecismo.6 A Ordem da Igreja mostra que a
também na visão da maioria das pessoas re- divisão em Dias do Senhor estava relacionada
formadas no mundo, a pregação catequética com a pregação.
tem uma dupla limitação: ela pertence à tradi-
ção calvinista, e dentro da tradição calvinista, Apesar disso, ainda pode permanecer
ela pertence à Holanda. a impressão de que a pregação sobre o Cate-
cismo de Heidelberg foi uma consideração
A seguir, examinaremos as três afir- a posteriori. Pois o catecismo foi publicado
mações de Schaff. Isso nos dará a base neces- em janeiro de 1563, e a Ordem da Igreja, que
sária para discutir adequadamente o valor da prescreve a pregação sobre o catecismo, não
pregação catequética. foi publicada até novembro daquele ano. Con-
tudo, a história ensina de forma diferente. Há
O Catecismo de Heidelberg e a Pregação vários indícios de que a pregação catequética
foi planejada desde o início, quando o Catecis-
O Catecismo de Heidelberg foi adotado mo de Heidelberg foi elaborado.
oficialmente em janeiro de 1563. Este Catecis-
mo passou por algumas mudanças antes de Um indício pode ser encontrado em uma
ser incluído na Ordem da Igreja do Palatinado, carta que Ursino, o principal autor do Catecismo
a qual o Eleitor do Palatinado publicou em 15 de Heidelberg, escreveu em 1563. Nessa carta,
de novembro de 1563.4 A divisão em 52 Dias ele se queixa de que tinha muito a fazer. As au-
do Senhor, ocorre pela primeira vez nesta edi- toridades haviam adicionado à sua carga de tra-
ção.5 Schaff então, estava certo quando defen- balho a pregação catequética no culto dominical

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das três horas, sermão que, anteriormente, era tina é notável. A versão em latim foi destina-
pregado por Oleviano.7 Isso mostra que a prega- da para o mundo eclesiástico em geral, para
ção catequética, pelo menos em Heidelberg, a mostrar como a doutrina reformada era en-
capital do Palatinado, antecede a publicação da sinada em Genebra. Portanto, não era neces-
Ordem da Igreja. sário marcar uma divisão dos Dias do Senhor.
Mas, a versão francesa foi feita para Genebra,
Provavelmente, podemos identificar a para a membresia da igreja. Eles precisavam
pregação catequética com o início da sua ela- da divisão em Dias do Senhor uma vez que
boração. No prefácio da primeira edição do esse catecismo era pregado no Dia do Senhor.
Catecismo de Heidelberg, datado de 19 de ja- Ele não tem, contudo, uma divisão em 52 Dias
neiro de 1563, o eleitor encorajou e orientou do Senhor, como no Catecismo de Heidelberg,
os pregadores e professores de seu principado mas uma divisão em 55 Dias do Senhor. Isso
a inculcá-lo nos jovens, nas escolas e igrejas, e significa que Genebra não tinha a mesma re-
nos homens comuns a partir do púlpito.8 gra que Heidelberg, de pregar anualmente
através de todo o catecismo? Como era orga-
O Catecismo de Heidelberg foi feito nizada a pregação catequética em Genebra?
para ser ensinado nas aulas, bem como para
ser pregado na igreja. Calvino fez o catecismo para cumprir
as regras da Ordem da Igreja de Genebra de
A Pregação Catequética antes do Catecismo 1541 concernente à pregação. Esta Ordem
de Heidelberg prescrevia que três cultos deveriam ser re-
alizados a cada domingo; desses, o culto in-
Schaff afirmou que a divisão do Cate- termediário, que começava ao meio-dia era
cismo de Heidelberg em 52 Dias do Senhor re- o culto de catequese: “Ao meio dia deve haver
monta a Calvino. Isso implica, embora Schaff catequese, isto é, a instrução das crianças em
não diga tão explicitamente, que pregar o ca- todas as três igrejas”.10 Quando essa instrução
tecismo todos os domingos também era costu- é repetida, mais adiante, na Ordem da Igreja,
me na Genebra de Calvino. A primeira afirma- algo é adicionado: “Uma Forma definitiva deve
ção não está completamente correta embora ser elaborada, pela qual elas serão instruídas e,
a segunda esteja. tendo sido ensinadas, elas serão interrogadas
sobre o que foi dito, para que se verifique se elas
Calvino escreveu dois catecismos: um escutaram e memorizaram bem”.11
antes de ser expulso de Genebra, e outro de-
pois do seu retorno. O segundo catecismo tem Esses regulamentos oferecem-nos
a mesma forma do Catecismo de Heidelberg, uma percepção das tradições dessa época. A
em perguntas e respostas. Ele foi publicado instrução catequética da igreja não acontecia
em duas línguas: em 1542, em francês; e em durante a semana, mas no domingo.12 O pró-
1545, em Latim. A edição francesa tem, em for- prio culto era usado como uma classe de cate-
ma de notas de rodapé, uma divisão em Dias cismo. Desta forma, os alunos tinham que re-
do Senhor.9 A falta dessa divisão na versão la- citar o catecismo durante o culto, e responder

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a outras perguntas, para mostrar que tinham Então, Lutero revisou os sermões que
entendido o sermão. Quem participava desses havia pregado nos Dez Mandamentos, no
cultos de catequese? Não somente as crian- Credo Apostólico, na Oração do Senhor e nos
ças, embora os regulamentos não deixem isso Sacramentos e publicou-os sob o título “Cate-
completamente claro. Os professores e os cismo Maior” (1529). Eles tinham o propósito
pais tinham que acompanhar as crianças, os de servir como modelos de pregação para os
criados deveriam participar igualmente, e os ministros, para que pudessem pregar sobre
estrangeiros que viviam em Genebra.13 as principais partes da doutrina.14 A este Ca-
tecismo Maior, Lutero adicionou o Catecismo
Em lugar algum na Ordem da igreja de Menor, um catecismo que deveria ser lido dia-
Genebra, contudo, encontramos uma regra de riamente e usado na instrução das crianças. A
que o catecismo deveria ser pregado em um instrução catequética foi a resposta de Lutero
ano. Eis uma diferença entre Genebra e Hei- quando o movimento da Reforma tropeçou na
delberg. Mas, em geral, existe uma surpre- falta de conhecimento.
endente semelhança a respeito da pregação
catequética. Contudo, seria um erro concluir Isso levou à instrução a respeito da
que a pregação do Catecismo de Heidelberg pregação catequética na Ordem da igreja
foi derivada de Calvino. De fato, isso era o cos- por Wittenberg em 1533. Todo domingo, de
tume geral nas igrejas da Reforma. manhã cedo, o sacerdote ou diácono tinha
que pregar a partir do catecismo. Quando
A Pregação Catequética nas igrejas da todo o catecismo já havia sido tratado, ele
Reforma tinha que começar tudo novamente. As-
sim, o pregador tinha a oportunidade sufi-
A pregação catequética pode ser en- ciente para explicar bem e diligentemente
contrada já em Lutero. Em 1527, dez anos todo o catecismo, especialmente aquilo que
após Lutero ter publicado suas 95 teses, as pessoas comuns necessitavam.15 Pregar
as visitas pastorais foram organizadas nas a partir do Catecismo significa, aqui, pre-
igrejas que seguiram Lutero no caminho da gar sobre as partes principais nas quais as
Reforma. Um dos primeiros visitantes foi crianças e os membros da igreja tinham que
o próprio Lutero. Ele agora teria oportuni- ser instruídos: O Credo, os Dez Mandamen-
dade de ver por si mesmo como a reforma tos e a Oração do Senhor, à qual uma parte
que ele havia começado estava progredindo sobre os sacramentos foi adicionada. Havia
a nível local. Ele ficou chocado, pois desco- diferenças entre a prática luterana e calvi-
briu que as pessoas comuns da igreja não nista da pregação catequética. O Catecis-
sabiam quase nada, particularmente nas mo Maior de Lutero, oferecia exemplos de
áreas rurais. Uma das principais razões era sermões catequéticos, o Catecismo de Ge-
que os ministros não haviam sido treinados nebra, por outro lado, não consistia de ser-
para serem ministros da Palavra. Na maio- mões, mas deveria ser usado como ponto de
ria das vezes, eram ex-padres que não ha- partida para a pregação. Outra diferença é
viam aprendido a pregar. que, no luteranismo, a pregação catequéti-

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ca foi, desde o início, diferenciada da ins- A Pregação Catequética antes da Reforma
trução catequética dos jovens membros da
igreja. A instrução catequética particular já Seria a pregação catequética, conside-
existia desde 1521. As igrejas reformadas rada no sentido de pregação nos resumos da fé
chegaram só mais tarde à conclusão de que cristã (o Credo, os Dez Mandamentos, a Ora-
a instrução catequética que leva à admis- ção do Senhor e o significado dos Sacramen-
são na Ceia do Senhor poderia ser melhor tos), uma invenção da Reforma? Lutero dizia:
conduzida separadamente da pregação ca- “Nós temos o catecismo no púlpito, algo que
tequética. Este foi o início de mais de dois não acontecia há mil anos”.19 Isso está correto,
séculos de pregação catequética nas igrejas no sentido de que, geralmente, os ministros
luteranas.16 não pregavam sobre o catecismo. No entan-
to, pode-se demonstrar que a necessidade da
A necessidade da pregação catequética pregação catequética foi reconhecida durante
foi sentida não apenas dentro do luteranismo, a Idade Média.
como também dentro da reforma zwingliana.
Em 1532, Bullinger e Leo Judae fizeram um Para começar com a Holanda, no final
regulamento para os ministros da cidade de do século XIII, os sacerdotes locais eram ins-
Zurique. Uma das regras era que os ministros truídos a expor a Oração do Senhor e o Cre-
deveriam pregar um artigo da fé cristã no cul- do Apostólico todos os domingos, e os Dez
to vespertino. Quando, no ano seguinte, o Cate- Mandamentos e os sete Sacramentos da igre-
cismo de Leo Judae, foi publicado, ele foi usado ja, uma vez por mês ou, pelo menos, três ou
como base para a pregação do catecismo.17 quatro vezes por ano. Da observação adicional
de que esta exposição deveria ser entregue de
Podemos concluir que a pregação cate- maneira facilmente compreensível e na lín-
quética foi instituída nas três principais cor- -gua materna, parece que a intenção era que
rentes de reforma no continente: no Lutera- os membros comuns da igreja compreendes-
nismo, no Zwinglianismo, e no Calvinismo. sem esses artigos de fé.20 A exposição não te-
Inglaterra e Escócia parecem ter sido a exce- ria sido pesada se tivesse ocorrido aos domin-
ção. Não pude encontrar vestígios da prega- gos, junto aos sermões no evangelho ou nas
ção catequética lá. Com exceção da congrega- epístolas. Porém, uma enxurrada de exposi-
-ção de refugiados que se reunia em Londres, ções sobre os resumos catequéticos revelam
pois de acordo com a Ordem dessa igreja, o que a instrução de 1294 teve seu efeito.21
catecismo tinha que ser pregado.18
Alguns anos antes, uma decisão simi-
Schaff, portanto, estava muito limitado lar havia sido tomada na Inglaterra. O Sínodo
quando viu por trás da pregação do Catecismo de Lambeth, em 1281, queixou-se sobre a falta
de Heidelberg apenas a reforma de Calvino de conhecimento entre o clero. Todos os pas-
em Genebra. A pregação catequética era uma tores locais foram ordenados a ensinar o Cre-
instituição comum nas igrejas da reforma no do, os Dez Mandamentos, os dois mandamen-
continente europeu. tos principais, as sete obras de misericórdia,

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os sete pecados capitais, as sete virtudes e os com que os sacerdotes mantenham a verda-
sete sacramentos.22 deira fé, e compreendam a oração do Senhor,
e a preguem de maneira que seja compreensí-
Na Alemanha, Johannes Gerson pre- vel a todos. Uma instrução de 852 diz que cada
gava um material catequético: ele discutia os sacerdote deveria estudar extensivamente a
Dez Mandamentos e o Credo. Muitos outros explicação do Credo e da Oração do Senhor,
pregadores populares pregavam sobre os te- de acordo com a tradição dos pais ortodoxos,
mas do catecismo.23 Isso deve ter levado a um e então, pregando (isso), instruir as pessoas
costume de pregação catequética. Um livro que lhe são confiadas.28 Estas regras mostram
sobre o ministério enaltece esse tipo de pre- que a pregação catequética foi negligenciada,
gação. É chamado de bom costume quando os mas que, ao mesmo tempo, sua importância
sacerdotes explicam no culto da manhã ou da foi reconhecida.
tarde os Artigos de Fé e os Dez Mandamen-
tos, para jovens e velhos, e perguntam-lhes o A pregação catequética remonta ao tem-
quanto eles têm entendido. Esse livro foi pu- po anterior à Idade Média. Podemos encontrar
blicado em 1498, menos de 25 anos antes do sermões para a instrução catequética já duran-
início do movimento reformado.24 te o período patrístico. Bem conhecidos são os
sermões que Agostinho (354-430) pregou sobre
A pregação catequética existia an- o Credo. Ele também pregou uma série de ser-
tes da reforma luterana. Podemos usar o pró- mões no Decálogo. Outros exemplos de prega-
prio Lutero como prova disso. O próprio Lu- ções catequéticas podem ser encontrados em
tero pregava o catecismo antes de 1517.25 E Cirilo de Jerusalém, em torno de 350 d.C. Ele
no seu prefácio ao Catecismo Maior, Lutero explicou o Credo, os Sacramentos e o serviço29
mencionou os nomes de diversos manuais da de culto nesses sermões.30
Idade Média que continham tudo que os pas-
tores deveriam ensinar.26 Lutero, ao instituir Catecismos, bem como a instrução
a pregação catequética, apenas aplicou uma nos fundamentos da religião cristã, são tão
regra da Idade Média que nunca havia sido re- antigos quanto o Cristianismo. Já na época
almente implementada nas igrejas.27 A insis- dos Pais da Igreja, um dos meios de instrução
tência de Lutero, de que sua reforma foi a que catequética era a pregação sobre o catecismo.
primeiro trouxe o catecismo para o púlpito,
está correta apenas no sentido de que a regra A Pregação Catequética na Holanda
foi estabelecida e conservada.
A terceira observação feita por Schaff
Até que ponto este costume ascende foi que a pregação catequética manteve-se es-
à Idade Média? Pelo menos até cerca de 800 pecialmente na Holanda e nas igrejas descen-
d.C. A pregação catequética foi enfatizada na dentes da Holanda. Isso está correto, mas, al-
restauração da igreja sob a influência do im- gumas observações precisam ser feitas. Essa
perador Carlos Magno, da França. Uma regra pregação não criou raízes sem oposição e não
que data de 789 ordena aos bispos que façam manteve-se sem o apoio das igrejas em outros

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países. Primeiro, veremos como a pregação mesmo no culto vespertino em que a Ceia do
catequética se estabeleceu na Holanda. Senhor fosse celebrada,“a pregação catequéti-
ca será mantida como de costume”.34
Já em 1566, três anos após sua adoção
em Heidelberg, esse catecismo foi pregado re- Essa não é a única razão pela qual a
gularmente em Amsterdã.31 Isso significa que a pregação catequética foi discutida nesse síno-
pregação catequética havia sido estabelecida de do. A questão levantada foi se não seria ade-
forma local, antes mesmo que a Ordem da Igreja quado ter boas homilias sobre o Catecismo
para as Igrejas Reformadas tivesse sido adotada. de Heidelberg. Provavelmente, os ministros
não achavam tarefa fácil pregar em materiais
O primeiro esforço para organizar a tais como o Credo, os Dez Mandamen-tos e a
vida das Igrejas Reformadas na Holanda foi Oração do Senhor. Nesse ponto, lembramos
feito em uma reunião realizada em Wezel, em de Lutero, que pretendia que o seu Catecismo
1568.32 Nos regulamentos elaborados, a prega- Maior fosse como uma coleção de sermões
ção catequética foi considerada. Destacam-se modelo sobre o material catequético. O síno-
três formas de instrução catequética: junto à do, no entanto, trouxe uma solução diferente.
igreja, os pais e os professores precisam en- Nas reuniões dos classis,35 os ministros deve-
sinar o catecismo. Acerca do dever da igreja, riam revezar-se para oferecer breves exposi-
a regra geral é a de que todos os esforços de- ções sobre algumas perguntas e respostas do
vem ser feitos para que as crianças não apenas catecismo. Desta forma, eles poderiam ajudar
aprendam a recitar o catecismo ao pé da letra, uns aos outros e aprender a explicar o cate-
mas também entendam o seu significado. Des- cismo “de forma completa e edificante”.36 Con-
te modo, as crianças deveriam ser interrogadas tudo, isso parece não ter sido suficiente. O sí-
(publicamente, durante o culto!) para verificar nodo nacional de 1581,37 teve de lidar com um
se conheciam as palavras e também se enten- pedido para que as homilias do Dr. Bastingius
diam o conteúdo. Os irmãos que se reuniram ou algumas outras explicações do catecismo
em Wezel perceberam, então, que era neces- fossem impressas, após terem sido examina-
sário uma linguagem simples para a pregação das por pessoas nomeadas pelo sínodo.38 Foi
catequética. Usando as palavras dos artigos de decidido, então, que Bastingius e o classis a
Wezel: “Ao explicar o catecismo, acima de tudo, que pertencia sua igreja fariam as explicações
é necessário uma linguagem que, na medida do sobre o catecismo.39
possível, seja muito clara e ajustada à compre-
ensão das crianças”.33 A pregação catequética, O sínodo de 1586, fez novamente uma
como uma forma de instrução primária, requer regulamentação a respeito da pregação cate-
linguagem simples. quética.40 Os ministros, em todos os lugares,
deveriam manter a regra de pregar o catecis-
No momento em que o sínodo provin- mo no culto vespertino. Desta forma, eles pre-
cial de Dordrecht se reuniu, em 1574, a pre- gariam através do catecismo em um ano, de
gação catequética parece ter se estabelecido acordo com a divisão do catecismo nos Dias
nas igrejas. Este sínodo regulamentou que do Senhor.41

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Essas decisões poderiam causar a im- seu próprio prazer. Levou cerca de um século
pressão de que a pregação catequética teria para que a pregação catequética fosse firme-
sido estabelecida na Holanda sem muita difi- mente estabelecida. Todavia, uma vez estabele-
culdade. É verdade que, no fim, o catecismo cida, a pregação catequética resultou “em con-
foi pregado em todas as igrejas, mas esse cos- gregações maduras que não eram lançadas de
tume não foi firmemente estabelecido até cem um lado para o outro e levadas por todo vento
anos após essas decisões. Antes desse tempo, de doutrina”, segundo as palavras de Schotel,
a pregação catequética teve que superar dois que investigou sua história.44
desafios: a primeira objeção era de natureza
prática, e a segunda era um ataque contra a A segunda objeção contra essa forma
pregação catequética como tal. de pregação tinha maior peso. O ministro da
igreja de Gouda45 quebrou a regra do sínodo de
Surgiram muitos problemas práticos. 1586 e recusou-se a pregar o catecismo. Apa-
A pregação do catecismo nem sempre era fá- rentemente, a razão era que um texto escrito
cil de organizar, especialmente nas pequenas por homens não deveria ser lido e pregado nas
vilas do interior. Alguns ministros serviam igrejas. As principais assembleias não permi-
em várias congregações rurais e pregavam tiram isso. Um sínodo provincial admitiu que
em três ou quatro lugares por vez. Nessa situ- um catecismo na forma de perguntas e respos-
ação, era difícil ter uma pregação catequética tas não está prescrito nas Escrituras. Porém,
regular. Porém, o mais importante é que o cul- ter e ensinar um resumo dos artigos funda-
to catequético não era um culto popular. Uma mentais da religião cristã é uma tradição apos-
reunião eclesiástica decidiu que os ministros tólica, conforme Hebreus 6.1, que sempre foi
do país que tinham apenas uma congregação mantida na igreja e tem grande utilidade.45
deveriam pregar o catecismo à tarde, mesmo
quando poucas pessoas estivessem presentes. A verdadeira razão por trás da recusa de
A justificativa foi impedir a profanação do sa- se pregar o catecismo, era o fato de que mui-
bbath.42 A frequência no culto de catecismo era tos ministros, especialmente os de convicção
reduzida. Em um dos classes, a frequência em arminiana, tinham objeções contra a doutrina
diferentes igrejas foi analisada. A igreja “A” ha- do Catecismo de Hei-delberg. Isso tornou-se
via convocado o culto catequético três vezes, conhecido em um incidente em particular, pou-
mas ninguém havia comparecido. Na igreja co antes do sínodo de Dort. Os ministros me-
“B”, não mais do que duas pessoas estiveram monstrantes foram convocados a declarar sua
presentes durante três cultos catequéticos se- concordância com uma série de proposições ex-
guidos. A igreja “C” havia tentado muitas vezes traídas do Catecismo de Heidelberg. Esses mi-
realizar um culto catequético, mas não houve nistros, entretanto, não puderam declarar que
quem frequentasse. Na igreja “D”, o zelador concordavam com a doutrina do catecismo.46
era o único ouvinte.43 Isso não deveria ser vis-
to como uma rejeição da pregação catequética Como resultado dessas objeções, a
propriamente dita. As pessoas haviam se acos- pregação catequética foi discutida no Sínodo
tumado a ter as tardes de domingos livres para de Dort, em 1618.47

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A discussão no Sínodo de Dort pelas respostas, parecer que a explicação foi
compreendida, ele poderia dar-se por satis-
Convém ressaltar que a pregação cate- feito; caso contrário, ele deveria (se possível)
quética foi discutida no Sínodo de Dort quan- repetir e explicar o assunto mais claramente.
do não somente os representantes nacionais Outra observação interessante é a de que o go-
estavam presentes, mas também os represen- verno deveria apoiar a pregação do catecismo.
tantes de igrejas estrangeiras. A pregação ca- Se o ministro fosse negligente, ele deveria ser
tequética não foi vista apenas como um assun- punido, e se as pessoas mais velhas não es-
to holandês. É notável que nas atas do sínodo tivessem presentes no sermão catequético,
apenas os conselhos dos delegados estrangei- elas deveriam ser multadas.
ros tenham sido preservados. Tendo em vista,
que esses conselhos formam uma fonte dire- Os teólogos do Palatinado afirmaram
ta para a história da pregação catequética nas que não duvidavam que a principal razão pela
igrejas Reformadas da época, mencionaremos qual tantas heresias podiam ser encontradas
aqui alguns fragmentos.48 em todos os lugares fosse a negligência da ca-
tequese. Eles descreveram a situação em seu
Os teólogos da Grã-Bretanha partiram estado. Aos domingos à tarde, um breve ser-
da regra geral de que a prática dos apóstolos, mão catequético era pregado. Depois disso, o
a razão e a experiência nos ensinam que a ca- ministro descia do púlpito, lia algumas partes
tequização é necessária. Existem duas opor- da doutrina e explicava algumas perguntas e
tunidades para se explicar as doutrinas sagra- respostas selecionadas do catecismo para os
das da fé: a habitual ocorre todos os domingos adultos que nunca haviam frequentado a esco-
e a especial pertence à preparação para com- la. O culto vespertino, aqui, tinha uma dupla
parecer à Ceia do Senhor. À primeira, isto é, função: ele servia para a pregação catequéti-
ao culto catequético, pessoas de todas as ida- ca, bem como para o ensino daqueles que não
des devem comparecer, mas apenas os jovens haviam aprendido o catecismo nas escolas.
deverão ser submetidos ao interrogatório.
Isso mostra que os representantes ingleses Os teólogos de Hessia, outro estado da
entendiam o culto catequético como uma aula Alemanha, declararam que, em primeiro lugar,
pública de catequese. A recitação pública das deveria haver um catecismo que não apenas
perguntas e respostas é percebida como im- estivesse em conformidade com as Escrituras,
portante não apenas para os jovens, mas tam- mas também que fosse adequado à compreen-
bém para as pessoas mais velhas. Também os são dos estudantes. As igrejas holandesas ti-
ajuda a memorizar o catecismo. nham isso no Catecismo de Heidelberg. Esses
teólogos, então, desejaram documentar que não
Os Britânicos também tinham um con- concordavam com a oposição dos remonstran-
selho para o ministro. Ele deveria explicar tes contra o Catecismo de Heidelberg.
cada resposta o mais claramente possível. E
deveria perguntar aos seus alunos sobre a sua Os ministros teriam o dever de ensinar
explicação, para ver se foi compreendido. Se, o catecismo e pregá-lo nas horas regulares.

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Aqueles que fossem negligentes deveriam ser pessoas a frequentar (o culto) catequético pa-
punidos. Os pais deveriam estar presentes nos rece ser bem conhecido. Os ministros, então,
interrogatórios catequéticos públicos, para deveriam insistir que, pelo menos, as crian-
que pudessem repetir a instrução aos filhos. ças pequenas e as crianças mais velhas esti-
Nas vilas seria suficiente se o catecismo fosse vessem presentes. Uma advertência especial
ensinado depois da pregação catequética; nas é acrescentada contra longas explicações ora-
cidades, haveria, além disso, duas aulas de ca- tórias do catecismo. A explicação do catecis-
tecismo durante a semana. mo deveriam discutir o assunto das pergun-
tas, evocando o assentimento dos ouvintes.
Os teólogos da Suíça explicaram que exis-
tiam diferenças na prática de suas repúblicas, Então, segue o conselho dos teólogos
mas que a instrução no catecismo era mantida nas cidades da Alemanha. Aqueles de Bremen
em todos os lugares. Aos domingos, muitos ser- começam com uma forte declaração: a ins-
mões eram ministrados nas cidades e vilas, um trução catequética seria a base para a edifi-
deles era o sermão catequético. O catecismo era cação da igreja. Três maneiras de aprender o
pregado a cada ano, para que, pela repetição, catecismo são mencionadas e discutidas: na
fosse mantido na memória. escola, nos lares e na igreja. Sobre o catecis-
mo na igreja, é declarado que seria realizado
O culto catequético aos domingos de- no lugar do segundo sermão, ou depois dele.
veria ser frequentado por aqueles que não Esta seria, então, uma parte bastante infor-
iam à escola. Em um dia de trabalho, duran- mal do culto, pois aqui também encontramos
te a semana, o catecismo era pregado para os um interrogatório público. Ao final de seus
estudantes. Isso significa que todos os mem- conselhos, esses teólogos novamente fizeram
bros da igreja, semanalmente, escutavam o uma forte declaração: se as pessoas jovens fo-
sermão catequético. rem bem instruídas no catecismo, então, pos-
teriormente, não será preciso se preocupar
A prática de Genebra não está incluída muito com os adultos.
no relatório dos teólogos da Suíça, mas é ex-
plicada separadamente. Os representantes de A explicação da instrução catequética
Genebra afirmaram que era necessário uma em Emden começa com uma observação his-
Forma em que o Credo dos Apóstolos, a Ora- tórica: uma vez que nada é mais necessário
ção do Senhor, os Dez Mandamentos e a dou- para obter um firme conhecimento da doutri-
trina dos sacramentos fossem esclarecidos e na da salvação do que a catequização, e isso é
brevemente explicados. Dois ou três trechos como o fundamento de uma casa espiritual,
desta Forma, juntamente com algumas passa- nossos antepassados, portanto, no começo da
gens pertinentes das Escrituras seriam expli- Reforma, em 1520, fizeram o máximo para
cadas no culto à tarde aos Domingos. que as crianças, e os jovens também, apren-
-dessem os primeiros princípios da doutrina
Aqui, também, o problema de que os cristã. Essa observação nos mostra que os re-
ministros dificilmente conseguiam levar as formados sabiam que estavam em conformi-

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dade com a reforma luterana com respeito à a pregação catequética, juntamente com ensino
instrução catequética. do catecismo pelos pais e professores. O Síno-
do decidiu que é o dever dos ministros manter
O relatório de Emden também é inte- os sermões catequéticos devidamente curtos e,
ressante porque mostra como era organizado tanto quanto possível, adequa-dos à compreen-
um culto catequético. Os professores levavam são, não apenas dos adultos, mas também dos
seus alunos para a igreja todos os domingos jovens.49 Na Ordem da Igreja manteve-se a regra
à tarde. Os ministros primeiramente oravam de que o catecismo deveria ser pregado no culto
nesses cultos, depois mencionavam as prin- vespertino, Art. 68.50
cipais partes da religião cristã: os Dez Man-
damentos, o Credo, a instituição do batismo, Voltando mais uma vez a Schaff, ele dis-
a Ceia do Senhor, a disciplina eclesiástica e a se corretamente que a pregação do catecismo
Oração do Senhor. Em seguida, eles exigiam foi estabelecida particularmente nas Igrejas Re-
que as crianças recitassem as perguntas e formadas da Holanda. Contudo, é também dig-
respostas que seriam explicadas durante o no de nota que, no momento do Sínodo de Dort,
culto. (As crianças, até os dez anos de idade, todo o mundo reformado concordou com a pre-
deveriam conhecer de cor todo o catecismo gação catequética e a praticou.
de Emden). Após isso, os ministros explica-
vam brevemente as perguntas e as respostas NOTAS:
recitadas, e as aplicavam à vida das pessoas,
1 A International Conference of Reformed
tal como um sermão sobre uma passagem da
Churches (ICRC) é uma entidade de reúne 31 con-
Escritura. Dentro de três meses eles teriam federações de igrejas reformadas presentes em di-
repetido todo o catecismo. versos países. Ela existe desde de 1982. Para mais
informações sobre a ICRC, acesse: https://www.icr-
A parte norte da Alemanha experimen- conline.com. [N. do E.]
tava o mesmo problema para estabelecer a
pregação catequética que era sentido em to- 2 Schaff, Ph. Os Credos da Cristandade.
Com uma informação Histórica e Critica (revisado
dos os lugares. Mas, os ministros não deve-
por Da-vid S. Schaff; 3 vols. 6ª edição; Grand Rapids:
riam desistir. Os ministros das vilas, inclusive Baker Book House, 1990) 1, pp. 536f.
naqueles lugares onde apenas poucas pes-
soas frequentavam os cultos, faziam breves 3 Ibid. Schaff fez essa observação contra os
sermões catequéticos durante a primavera, o acadêmicos como Van Alphen e Niemeyer, que afir-
outono e o inverno. Pois a experiência havia maram que a divisão era ainda posterior a 1566.
ensinado que os ouvintes tinham aversão a
pregações de longos sermões. 4 “Ordem da Igreja” é um dos nomes dados
ao documento que serve para regular a vida confe-
deracional ou federacional de determinadas igre-
Tais foram os conselhos dos represen- jas. O documento que regula a vida confederacional
tantes estrangeiros. Todos eram a favor da prá- das Igrejas Reformadas do Brasil recebeu o nome
tica estabelecida da pregação catequética. Não é de “Regimento”. As igrejas presbiterianas no Brasil
de admirar que o Sínodo de Dort tenha mantido (IPB, IPI, IPC) escolheram o nome de Constituição

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para o documento que define a convivência de suas P., Niesel, W., Joannis Calvini Opera Selecta (vol.
igrejas federadas. [N. do E.] 2; Mo-nachii in Aedibus: Kaiser, 1970), pp. 72ss; a
divisão nos Dias do Senhor é apresentada em ca-
5 Bakhuizen Van Den Brink, J.N. As Con- pítulos. Uma tradução em inglês foi publicada em
fissões holandesas em textos autênticos com intro- Calvino: Tratados Teológicos (vol. XXII da Livraria
dução e comparações de textos (2. ed., Amsterdã: de Clássicos Cristãos; tr. J.K.S. Reid; Philadelphia:
Uitgeverij Ton Bolland, 1976) p. 30. Westminster Press, n.d.) pp. 88ss.

6 Ver o texto em Niesel, W. Confissões e or- 10 Ver a tradução em Reid, op. cit. p. 62.
denanças da Igreja, reformadas de acordo com a Pa-
lavra de Deus (3. ed. Zurich: Zollikon, n.d.) p. 149. 11 Ibid., p. 69.
A regra em si é formulada de forma bastante com-
plicada, tentarei uma tradução para o inglês: “Além 12 A instrução catequética não se limitava à
disso, a pregação catequética, também, deve ser ob- igreja, entretanto. Os pais e os professores também
servada todo domingo à tarde na hora que for mais deviam instruir as crianças, veja em Van’t Veer, MR,
adequada a cada lugar... Depois disso (o ministro) Catequese e material catequético em Calvino (doct.
pedirá que alguns dentre os jovens digam um certo diss. Free University; Kampen: Kok, 1942) pp. 61ss, 90.
número de questões do catecismo explicadas nos
domingos anteriores e especialmente as que serão 13 Ibid., p. 171.
tratadas no sermão (visto que deixamos divididos
em Dias do Senhor por essa razão), as quais eles já 14 Uma versão em latim e em alemão do Ca-
teriam aprendido na escola ou em casa. E quando tecismo Maior pode ser encontrada em Miller, J.C.,
as respostas já tiverem sido dadas na presença de Os livros simbólicos da Igreja Evangélica Luterana
todas as pessoas, o ministro deverá explicar as pró- (New edition, 9th impression; Gutersloh: E Ber-tel-
ximas perguntas, para que ele pregue anualmente smann, 1900) p. 375ss. Uma tradução em inglês
pelo catecismo ao menos uma vez por ano”. Exis- está disponível em O Livro da Concórdia, As Con-
tem, ainda, mais regulamentos sobre o catecismo fissões da Igreja Evangélica Luterana (tr. and ed. by
na Ordem da Igreja. Todo domingo à tarde, um re- Th. G. Tappert; Philadelphia: Fortress Press, 1959)
sumo de três páginas do catecismo deveria ser lido pp. 358ss. Os sermões fundamentados no Catecis-
(pp. 184ff.) Nas cidades e vilas, o culto catequético mo Maior, estão publicados nas Obras de Lutero vol
deveria ser observado em todos os domingos e da- 51: Sermões (ed. and tr. by John W. Doberstein; Phi-
tas festivas. A Ordem da Igreja também inclui uma ladelphia: Fortress Press, 1559) pp. 137ss.
oração especial, para ser utilizada depois do sermão
catequético (p. 200). 15 Ver o texto Th. L. Haitjerna, “A pregação
como pregação catequética” in Manual para a Prega-
7 Ver a citação em Hollweg, W., Novas In- -ção (edd. S. F. H. J. Berkelbach van der Sprenkel; P. J.
vestigações sobre a História e Ensino do Catecismo Roscam Abbing; Amsterdam: Holland, 1948) 11, p. 287f.
de Heidelberg (Neukirchen: Neukirchener Verlag,
1961) p. 137. 16 T. Hoekstra diz que durante o século
XVI, regras excelentes foram dadas para a instru-
8 Ver Bakhuizen Van Den Brink, op.cit., p. 151. ção catequética nas igrejas luteranas, mas que, na
realidade, isso não trouxe muito resultado, veja seu
9 Ver o texto em francês do Niesel, op. cit., artigo “Catechese” em Christelijke Encyclopaedie
pp. 3ff; a divisão nos Dias do Senhor não é apre- (Kampen: Kok, 1925ff.) Vol, 1, p. 428, W. Jetter, po-
sentada. O texto em latim foi publicado por Barth, rém, mostra com muitos exemplos que a pregação

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catequética foi completamente desenvolvida nas so costume ensinar os elementos e os fundamentos
igrejas luteranas, veja seu artigo sobre a pregação do conhecimento e da vida cristã quatro vezes por
catequética em TRE vol. 17 (Berlin; New York: W. de ano e temos, portanto, providenciado pregar sobre
Gruyter, 1988) p. 753-769. A pregação catequética essas coisas por duas semanas a cada trimestre,
era, de acordo com Jetter, responsável pelo estabe- quatro dias por semana às duas horas da tarde”.
lecimento de um novo tipo de cristianismo evangé- Em Sermões 1, As Obras de Lutero, vol. 51 (ed. and
lico (p. 756). Ele responsabiliza o Iluminismo pelo transl. John W. Doberstein; Philadelphia: Fortress
seu desaparecimento (p. 774ss). Press, 1959), p. 135.

17 Ver em Dijk, K. O ministério da pregação 26 J. T. Muller, op. cit. p. 375; traduzido em


(Kampen: Kok, 1950) p. 406. Th. G. Tappert, op. cit., p. 358.

18 Micron, M.,De Christlicke Ordinancien 27 Ver em A. Troelstra, op. cit., p. 127ss; M.


der Nederlandtscher Ghemeinten te Londen (ed. B. Van ‘t Veer, op. cit., p. 153ss.
W.F. Dankbaar; ‘s Gravenhage: Martinus Nijhoff,
1956) p. 68. Digno de nota, são os princípios em que 28 Ver a citação em Gieseler, J. C. L., Livro
os filhos mais velhos devem dizer de cor uma parte didático da história da igreja (3. ed.; Bonn: Adolph
do catecismo, e que toda a congregação deve estar Marcus, 1831) vol. 2/1, p. 71. Como também no arti-
presente nesses cultos. go “Pregação do Catecismo” p. 747.

19 Em seu Table Talk, no. 4692, ver em M.B. 29 Este “serviço de culto” se refere a litur-
Van I Veer, op. cit., p. 153, nota de rodapé 16. gia do culto. A palavra tem origem no grego leitour-
gos, palavra que servia para descrever alguém que
20 O texto dessa instrução foi publicado e fazia serviço público ou liderava uma cerimônia sa-
explicado em Troelstra, A., O estado da catequese gra’da. Aplicando ao contexto do artigo, a liturgia é
na Holanda durante o século pré-reformado. (diss. a ordem e a forma com que se realizam os atos nos
Utrecht; Groningen: J.B. Wolters, 1901) pp. 105ss. cultos. [N. do E.]

21 Ver em A. Troelstra, op. cit., p. 112ss. 30 Os sermões sobre Credo, na época, ge-
ralmente não eram pregados em público, uma vez
22 A. Troelstra, op. cit p. 108. W. Jetter que o Credo era visto como algo apenas para os ini-
menciona que a pregação catequética tornou-se ciados. Portanto, os sermões sobre o Credo só pode-
uma tradição estruturada na igreja; Sínodo Lambe- riam ser pregados em ocasiões especiais para pes-
th exigia isso do Clero quatro vezes por ano, veja soas especiais, veja I N. D. Kelly, Credos Cristãos
seu artigo em “Pregação do Catecismo” p. 747. Primitivos (New York: Longman, 3rd ed. repr. 1983)
ss. 32; 62.
23 Ver o artigo “Pregação do Catecismo”
p. 747. 31 T. Hoekstra, Homilética Reformada (Wa-
geningen: Zomer & Keuning, [1937]) p. 369.
24 A citação é dada em A. Troelstra, op. cit.,
p. 126. 32 As Igrejas Reformadas da Holanda sur-
giram por volta do ano 1544. Nessa época as Provín-
25 M.B. van ‘t Veer, op. cit., p. 169. Veja tam- cias Unidas dos Países Baixos (Holanda e Bélgica)
bém a introdução de Lutero para a sua pregação ca- estavam em luta por sua emancipação do tirânico
tequética, em 1528: “Até o momento tem sido nos- Império Espanhol. Este império tinha aliança com a

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igreja do papa. Por isso, seus governantes objetiva- 37 Este foi o Sínodo Nacional de Middelburg
vam exterminar as igrejas reformadas. Por motivo (cidade no sudoeste da Holanda). [N. do E.]
de segurança a cidade de Wesel, na Alemanha, foi
a sede escolhida pelas igrejas para a realização da 38 Jeremias Bastingius (1551-1595) foi um
primeira assembleia geral de ministros e presbíte- teólogo reformado holandês mais conhecido por sua
ros de Igrejas Reformadas da Holanda e de cidades exposição do Catecismo de Heidelberg. Bastingius
alemãs. Essa assembleia foi a secreta Conferência foi treinado por vários proeminentes reformadores
de Wezel. O Dr. Gootjes no seu livro The Belgic de segunda geração. Ele estudou em Heidelberg sob
Confession: Its History and Sources, na p. 99, diz Zacharius Ursinus em 1573, onde Petrus Dathenus
o seguinte sobre a Conferência em Wezel: “... não foi seu companheiro de quarto, e em Genebra, sob
foi um sínodo com autoridade para fazer decisões Theodore Beza, em 1574, onde ele embarcou com
concernentes a matérias eclesiásticas, esta foi uma Lambert Daneau. Ele também recebeu instruções
reunião de ministros que foram juntos a Wezel na de Gaspar Olevianus e formou-se sob Girolamo
Alemanha, na preparação da organização das igre- Zanchi como doutor em teologia em Heidelberg
jas reformadas na Holanda”. Apesar de não ter sido (1575-1576). Fonte: https://deovivendiperchristum.
um sínodo, a conferência de Wesel foi muito impor- wordpress.com/tag/jeremias-bastingius. [N. do E.]
tante para a história, liturgia e política eclesiástica
das igrejas reformadas. Em Wezel foram tomadas 39 F. L. Rutgers, resp. p. 418 e p. 438, veja
decisões que providenciaram regulações para vida também p. 371. Duas palavras foram usadas na soli-
e ordem eclesiásticas das Igrejas Reformadas da citação, homilia e exegemata. O sínodo decidiu que
Holanda. A conferência de Wezel preparou o cami- não deveria ser feita homilia, mas exegemata. S. C.
nho para o primeiro sínodo geral das Igrejas Refor- Grobler afirma que homilia são sermões populares
madas que foi realizado em 1571 na cidade alemã de direcionados a aplicação nas vidas das pessoas, e
Emden. [N. do E.] que exegemata são sermões fundamentados exe-
geticamente. De acordo com Grobler, isso significa
33 O texto em Rutgers, F.L., Ata dos Síno- que o sínodo de Middelburg em 1581, decidiu que
dos Holandeses do século XVI (2. ed.; Dordrecht: não deveriam ser feitas explicações populares do
Van den Tol, 1980) p. 21. catecismo, mas explicações exegéticas das [passa-
gens das] Escrituras conectadas com o conteúdo do
34 F. L. Rutgers, op. cit., 148. A regra foi re- catecismo; veja seu artigo em “Pregação do Cate-
tificada no Sínodo nacional de Dordrecht, 1578, op. cismo e Construção da Igreja” em Venter, C. J. H.,
cit., p. 251; e enfraquecida pelo Sínodo de Middel- (ed.) Deus constrói por Sua Palavra (Potchefstroom:
burg, 1581, op. cit. p. 409. Departamento de Publicações Centrais Potchefs-
troom Universiteit vir CHO, 1988) p. 128. Penso que
35 A palavra “classis” (plural classes) vem Grobler está correto em deduzir da decisão que o
do latim e indica uma divisão ou classe de pessoas Sínodo considerava que os sermões simples (homi-
ou de outros objetos. No governo eclesiástico refor- lia) não eram suficientes. Não existe base, no entan-
mado continental essa palavra foi escolhida para to, para a suposição de que exegemata são expla-
designar uma das assembleias maiores. O “classis” nações exegéticas da Escritura. O sínodo desejava
é a assembleia maior equivalente aos antigos concí- que Bastingius escrevesse exposições exegéticas do
lios regionais das IRB ou aos concílios particulares catecismo. Essa explicação do Catecismo de Heidel-
de igrejas reformadas na Holanda. [N. do E.] berg foi publicada em 1588, e republicada por F. L.
Rutgers: Hieremias Bastin-gius, Verclaringe op den
36 F. L. Rutgers, op. cit., p. 160; ver a ques- Catechisme der Christelicker Religie (Amsterdam:
tão, p. 212. J.A. Wormser, 1893).

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40 Este foi o Sínodo Nacional de Hague (ci- de Roy, 1612) p. 10.
dade na costa oeste da Holanda). Esté foi o último
sínodo nacional antes do Grande Sínodo de Dort 48 H. Kaajan resume as dificuldades acerca
(1618). da pregação catequética do seguinte modo:
• a negligência dos próprios ministros,
41 Rutgers, F. L., Ata dos Sínodos Holande- que não pregavam ou não exortavam as pessoas a
ses do Século XVI, p. 501. comparecerem ao culto;
• os ministros tinham que cuidar de
42 Ver a decisão do Sínodo Provincial de duas os mais igrejas, e não conseguiam supervisio-
Brielle, em A- N. Hendriks’ “A pregação do Catecis- nar a ambas adequadamente;
mo” 3 artigos em Reforma, Vol. 54, Nrs. 48ss. (1979) • a dificuldade das pessoas de absterem-
p. 757s. -se dos jogos ou do trabalho aos domingos;
• a relutância dos remonstrantes em
43 De um artigo do S. Tuininga, em Refor- pregar o Catecismo de Heidelberg;
ma, Vol. 62, No. 33 (1987), p. 683. • o fato de que o governo permitia que
as pessoas trabalhassem no campo aos domingos.
44 Ver o desenvolvimento em Schotel, G. D. Veja em O grande Sínodo de Dordrecht em 1618-
J., História da Origem, Implementação e Riquezas 1619 (Amsterdam: De Standaard, n.d.) p. 94,
do Catecismo de Heidelberg (Amsterdam 1863).
49 Ver em Ata ou Atos do Sínodo Nacional
45 A cidade de Gouda fica próxima de (Dordrecht: Canin, 1621) 1, p. 30-41. Os conselhos
Amsterdã. geralmente dizem respeito ao ensino bem como à
pregação catequética; em nosso resumo, nos limi-
46 Ver em A. N. Hendriks, “A Pregação do ta-remos às observações sobre a pregação.
Catecismo” p. 774; como também em S. C. Grobler,
“Kategismusprediking en gemeente-opbou” p. 123s. 50 op. cit p. 51.

47 Isso aconteceu na Conferência de Delft 51 No Regimento das Igrejas Reformadas


em 1613, veja esses em I D. De Lind Van Wijnga- do Brasil temos o Artigo 42: “Pregação sobre o Cate-
arden, A Pregação do Catecismo e a Edificação da cismo: O conselho cuidará de que, por via de regra,
Congregação (2. ed.; Utrecht: Ruys: 1905) p. 52ss. a doutrina da palavra de Deus, resumida no Cate-
É interessante nesse contexto, que a Ordem da cismo de Heidelberg, seja ensinada uma vez a cada
igreja de Utrecht, 1612, foi publicada sob a influên- domingo”. [N. do E.]
cia dos remonstrantes. Ela possui um artigo sobre
a pregação catequética. Essa pregação deveria ser
preservada naqueles lugares onde já havia sido es- O DR. NIEK H. GOOTJES é ministro da Pala-
tabelecida (isso é contrário à regra nacionalmente vra das Igrejas Reformadas Canadenses (Emeritus).
adotada pela Ordem da igreja, de que o catecismo Ele serviu como Professor de Dogmatologia no The-
deveria ser pregado em todas as igrejas). Essa Or- ological College das Canadian Reformed Churches.
dem da igreja também afirma que a regra sobre a
pregação catequética é temporária (por provisie),
veja em Christelijcke kerckenordeninge der stadt, Tradução: Morgana Mendonça dos Santos.
steden, ende landen van Utrecht (Utrecht: Samuel Revisão: Arielle de Eça.

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A NATUREZA
PASTORAL DOS
CÂNONES
DE DORT

Jim Witteveen

Quando pensamos no uso pastoral das É a mensagem da gloriosa graça de Deus, que
confissões reformadas, provavelmente, a pri- é vital ao ministério pastoral, a pregação do
meira coisa que virá a mente será o Catecis- Evangelho, o encorajamento dos crentes que
mo de Heidelberg, e talvez nem nos lembre- estão sofrendo e lutando contra dúvidas e fa-
mos dos Cânones de Dort. O Catecismo tem lhas e pecados, e a admoestação daqueles que
um lugar proeminente na liturgia das igrejas estão se desviando do caminho de Cristo.
reformadas, uma vez que o usamos na prega-
ção semanalmente. Esta confissão também Nos Cânones de Dort, a igreja reforma-
começa com a declaração pastoral sobre nos- da começa com a Escritura. A doutrina central
so único consolo na vida e na morte – que não da Reforma Protestante, “Sola Scriptura,” fica
pertencemos a nós mesmos, mas ao nosso fiel no fundo da doutrina deste símbolo da fé, em
Salvador, Jesus Cristo. Mas quanto aos Câno- contraste com os arminianos, que queriam jul-
nes... talvez consideramos que estes são pou- gar a Escritura conforme o padrão da lógica
co mais do que uma declaração doutrinária humana, e o intelecto humano. Enquanto os
sobre os “cinco pontos de Calvinismo,” assun- Cânones, ao contrário do Catecismo de Heidel-
tos técnicos e polêmicos, e não algo importan- berg e da Confissão Belga, não é uma tentativa
te na caixa de ferramentas pastoral. da igreja em criar um resumo da doutrina bíbli-
ca, mas sim uma resposta a uma controvérsia
Mas no trabalho pastoral, no nosso específica. Essa base em “Sola Scriptura” afeta
aconselhamento, qual é a arma mais poderosa tudo na vida dos crentes.
que temos? É a graça de Deus. E quando pensa-
mos nos cinco pontos do Calvinismo como as Então, começamos com a Palavra de
doutrinas da graça, somos levados a considerar Deus - perfeita, inerrante e infalível, confiável
esta confissão como algo mais do que uma de- e verdadeira. É a Palavra de Deus, a revela-
claração intelectual sobre assuntos teóri-cos. ção de Deus, que fica no centro. Na Palavra,

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temos tudo que precisamos para viver a vida cer que estou vendo e entendendo essas coi-
cristã - a revelação do Criador, recebida pelas sas erroneamente. Eu preciso permitir que a
criaturas dependentes. E esta realidade tem Palavra de Deus corrija o meu pensamento.
muito a ver com muitas questões pastorais.
Significa que, nem sempre podemos respon- Então, começando com a Palavra de
der aos “por quês”, pois, muitas vezes essas Deus, vemos a soberania e a majestade dEle
perguntas não são respondidas por nós. Mas em todos os aspectos de nossa salvação. Sa-
é comunicado a nós o que é, na verdade. Deus ber que Deus é soberano em nossa eleição nos
é soberano, e Ele se revelou nas páginas da leva a humilharmos diante dEle em primeiro
Sua Palavra como a autoridade final. lugar. Somos totalmente depravados, dignos
de receber nada mais que o julgamento e pu-
Todos nós fomos criados com cére- nição eterna dEle. E assim, não pensaremos
bros, como seres intelectuais. Podemos pen- mais do que deveríamos sobre nós mesmos, e
sar e usar a lógica e a razão. Mas no final das daremos a Deus a glória que Ele merece.
contas, apesar de nossa incrível capacidade
intelectual, precisamos nos lembrar de que A doutrina da eleição incondicional
somos seres criados e dependentes. Nós não nos lembra da graça de Deus e do fato de que
somos a autoridade final em nada. Meu pró- não há nada dentro de nós que o tenha leva-
prio intelecto deve estar subordinado àquele do a nos escolher. Ele não nos escolhe para
que é a fonte desse intelecto – Deus. Nós pre- sermos Seus filhos porque somos dignos - Ele
cisamos perceber as nossas limitações. Nós nos escolhe por causa do Seu bom e soberano
não sabemos tudo, não temos tudo planejado, prazer. Então, quando consideramos a eleição
e certamente não entendemos tudo. Nosso incondicional dos pecadores por Deus para a
intelecto é limitado por sua própria natureza. salvação, somos também levados a nos humi-
Há coisas que não sabemos - e muitas vezes lharmos e louvarmos a Ele - Soli Deo Gloria
não sabemos o que nós não conhecemos! - só a Deus seja a glória!

Mas desde a queda no pecado, há ou- Desta forma, quando consideramos a


tro aspecto do nosso intelecto, isto é, somos doutrina da expiação limitada, somos também
criaturas caídas. Somos afetados pelo peca- levados a louvar a Deus por nos escolher den-
do em todas as partes do nosso ser, incluindo tre todas as pessoas do mundo. Ele não apenas
nossas mentes. Portanto, não somente há cer- tornou a salvação possível para todos – Ele fez
tas coisas que não sabemos, como também há a salvação uma realidade para aqueles a quem
coisas que escolhemos deliberadamente não Ele escolheu. Quando pensamos na Sua graça
conhecer. Então, como existe Alguém infini- irresistível, vemos a nossa fraqueza em con-
tamente maior, eu devo me submeter a Ele e traste com o poder de Deus Novamente, a in-
ao que Ele diz. Se Ele me diz algo que eu não crível diferença entre Deus e o homem é des-
entendo, ou se eu penso que a minha própria tacada. E mais uma vez, Deus recebe a glória.
opinião e experiência é um contra-argumento Nós não temos que “permitir” que Ele faça o
efetivo ao que Ele me diz, eu preciso reconhe- Seu trabalho em nós. Deus não é impotente

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dessa maneira. Ele tem o poder. A Sua graça Há também informações sobre o que
é irresistível. E, finalmente, quando pensamos fazer quando você não sente confiança nem a
na perseverança dos santos, somos lembrados paz de Cristo, se você se encontra sem zelo e
de que até mesmo nossa perseverança na fé é não se gloria em Deus através de Cristo. O Ar-
uma questão da obra de Deus, não da nossa. tigo 16 do primeiro capítulo nos diz o que preci-
Ele nos preserva. Ele nos mantém fiéis. Isso samos fazer: devemos usar os meios que Deus
não é motivo de orgulho para os seres huma- nos deu. Não se assuste quando o pregador
nos, mas, outra vez, de humilhação. menciona a reprovação, se você está lutando
para ser fiel. Não se conte entre os réprobos.
Porém, ao mesmo tempo, o povo de Se você está lutando contra o pecado, mesmo
Deus também recebe um conforto vivo, com quando você falhar, é um sinal de que o Espí-
segurança e confiança em Deus. Então, antes rito Santo está operando em você. Confie na
de tudo, há um foco em Deus e em Sua glória Palavra de Deus, confie em Suas promessas,
– isso é central. Mas quando da-mos a glória use os meios que Ele forneceu. Não seja um
a Deus, também recebemos. Nós recebemos fatalista. E, ao mesmo tempo, não tente dis-
um conforto verdadeiro e vivo. Nós podemos cernir os planos secretos de Deus. “As coisas
viver em confiança. Nós não temos que viver encobertas pertencem ao SENHOR, nosso Deus,
com medo e dúvidas. Podemos ter certeza de porém as reveladas nos pertencem, a nós e aos
nossa salva-ção, pois Deus é absolutamente nossos filhos” (Dt 29.29).
soberano sobre tudo, e nada está fora de seu
controle. E também aprendemos a responder É assim que os Cânones de Dort ensi-
à graça de Deus. E esse encorajamento e esse nam sobre a eleição. Você vê como esta men-
chamado para responder, é a natureza pesso- sagem pode ser um grande conforto para o
al e pastoral dos Cânones de Dort. povo de Deus? Muitas pessoas lutam com a
dúvida e com segurança. E os escritores dos
Os Cânones de Dort enfatizam o amor Cânones sabiam disso. Então, quando eles
de Deus e a graça de Deus. No primeiro ca- escreveram essa declaração doutrinária, eles
pítulo, sobre a eleição e a reprovação divina, não fizeram isso de uma maneira seca e abs-
somos informados de que podemos ter cer- trata. A eleição de Deus é um conforto para
teza de nossa eleição – uma firme confiança o povo de Deus, não uma doutrina abstrata.
de que as promessas de Deus são para mim e O Deus que elege é um Deus bom e gracioso.
não apenas para os outros. Somos informados “Não esmagará a cana quebrada, nem apagará
de como a doutrina da eleição deve ser ensi- a torcida que fumega” (Is. 42.3). Estas são as
nada - não tentando intrometer-se na mente doutrinas da graça – doutrinas de um Deus
de Deus. Não tentando discernir quem são os perfeito, amoroso, fiel, compassivo, justo e
eleitos e quem são os réprobos. Esta doutrina santo - e não as doutrinas da construção teo-
é principalmente destinada à igreja. Na igreja, lógica lógica e racionalista.
podemos e devemos pregar a eleição, com um
espírito de discrição, para a glória de Deus e Encontramos também uma mensagem
para o conforto do Seu povo. importante para os pais. Artigo 17 do primei-

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ro capítulo fala sobre os filhos de crentes que que Cristo tenha realizado tudo por nós, nun-
morrem na infância. Seus pais não precisam ca seremos salvos. Somos fracos. Falhamos.
viver com medo e dúvidas sobre o que acon- Pecamos. Tropeçamos. Somos pequenos, mas
tecerá com seus filhos. Essas crianças não Deus é grande, e a salvação é inteiramente de-
tiveram a oportunidade de responder ao cha- pendente dEle.
mado do Evangelho, mas a certeza é dada: a
salvação está nas mãos de Deus. Não depende Os arminianos ensinaram que sem
de humanos. Assim, os pais piedosos não de- uma revelação especial, não podemos ter cer-
vem duvidar a salvação dos seus filhos quan- teza da perseverança futura nesta vida. Nunca
do morrem na infância. podemos realmente ter certeza de que somos
salvos. E assim, o evangelho arminiano tem
Um dos grandes problemas do arminia- muito em comum com o ensino da igreja ro-
nismo, pastoralmente falando, é que o evan- mana. Um cristão nunca pode estar certo. De
gelho arminiano nunca pode realmente pro- fato, os arminianos disseram que é realmente
porcionar um conforto completo para o povo “louvável” duvidar. A dúvida, eles disseram,
de Deus. Se você sabe que “engano-so é o cora- é uma coisa boa – porque se você tem uma
ção, mais do que todas as coisas, e desesperada- confiança firme, não terá motivação para vi-
mente corrupto” (Jr 17.9), e se você sabe que ver uma vida santa.
“não há justo, nem um sequer” (Rm 3.10), você
não pode ter confiança em si mesmo, nunca Mas essa ideia é completamente erra-
pode ter certeza de que será salvo. Você vai da. Nós só viveremos verdadeiramente para
constantemente viver em dúvida, com medo, Cristo se tivermos uma firme confiança em
ansioso sobre se será salvo ou não. Deus, se soubermos que a nossa salvação e
perseverança na fé está completamente em
Agora, pense sobre a doutrina da ex- Suas mãos. É assim que os escritores bíblicos
piação limitada ou definida. Como essa doutri- nos encorajam a sermos santos - nos dando o
na pode ser útil para nós como povo de Deus? indicati-vo em primeiro lugar (dizendo quem
Como pode ser um conforto para o povo de somos em Cristo), e somente depois disso nos
Deus que Cristo morreu por um número limi- dando o imperativo (o mandamento). Pode-
tado de pessoas e não por todos? mos ver isso em muitas passagens como, por
exemplo, esta em Colossenses 3.1:
Na verdade pode ser, e de fato é um
conforto vivo para o povo de Deus porque “Portanto, se fostes ressuscitados juntamen-
Cristo morreu, não para possibilitar a salva- te com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde
ção para todos (que, por causa da nossa morte Cristo vive, assentado à direita de Deus.”
espiritual, realmente não salvará ninguém),
mas para garantir a salvação daqueles que são Os Cânones concluem dizendo que es-
Seus. Novamente, se entendermos realmen- sas doutrinas são odiadas por Satanás, mas
te a natureza humana, saberemos que não amadas pela Igreja. Por que Satanás odeia es-
podemos confiar em nós mesmos. A menos ses ensinamentos? Porque ele não quer que

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confiemos em Deus. Ele não quer que amemos cristã. Para aqueles que experimentam difi-
a Deus. Ele não quer que sejamos confiantes e culdades na vida, para aqueles que lutam com
seguros em nossa vida cristã. Ele quer que du- a dúvida, para aqueles que se perguntam, “Eu
videmos e vacilemos. Ele quer que pensemos sou suficientemente bom para entrar o reino
que somos mais poderosos do que Deus, que do céu?” ou “Deus realmente me ama?” ou
nossa vontade pode impedir Deus, que nossas “Eu perseverarei?” os Cânones nos fornecem
escolhas são mais efetivas do que as forças do as respostas Bíblicas. E essas respostas, da-
Criador. Porque ele sabe que quando pensa- das por Deus, fornecerão um conforto vivo – o
mos dessa maneira, nunca viveremos o tipo conforto da própria Palavra de Deus.
de vida cristã que podemos viver. Nunca expe-
rimentaremos o conforto vivo do Evangelho e
nunca responderemos em fiel obediência à PR. JIM WITTEVEEN é ministro da Pala-
mensagem de conforto que Deus nos dá. vra servindo como missionário da Igreja Reforma-
da em Aldergrove (Canadá) em cooperação com as
Igrejas Reformadas do Brasil.
Esse ensinamento é lindo, em sua te-
oria e prática, na aplicação pessoal na vida

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