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Após decisão do STF, Senado deve

decidir futuro de Aécio na próxima semana


Por 6 a 5, após o voto de desempate da ministra Cármen Lúcia, Supremo
decide que o afastamento do mandato parlamentar deve ser submetido ao
aval da Câmara ou do Senado

PT Paulo de Tarso Lyra (mailto:jornalismo@uai.com.br)

RS Renato Souza (mailto:jornalismo@uai.com.br)

postado em 12/10/2017 12:47

Em uma sessão que começou pela manhã e só terminou às 22h, o plenário


considerou procedente a ação que pede que o Judiciário submeta ao crivo do
Legislativo medidas cautelares
(foto: Lula Marques)

Em um julgamento que cindiu o Supremo Tribunal Federal ao meio e


provocou polêmicas e bate-bocas diversos antes de o resultado final
ser proferido ontem, a maioria dos ministros da Suprema Corte
definiu, por 6 votos a 5, que medidas cautelares que envolvam
mandatos parlamentares terão de ser analisadas pelo Congresso para
ser convalidadas.

Na prática, isso significa que, na próxima terça-feira, os senadores


vão avaliar, em plenário, a manutenção das sanções impostas pela
Primeira Turma do STF ao senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG).
A polêmica não acabou após o voto de desempate proferido pela
presidente Cármen Lúcia. Ao contrário, só aumentou.
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A presidente do STF afirmou que concordava com a aplicação de


medidas cautelares, mas que, no caso de ações que atrapalhem
diretamente o exercício parlamentar, elas deveriam ser analisadas
pelo Congresso, pois o mandato é concedido pelo eleitor.

Instalou-se, então, uma grande confusão. Os ministros que


defenderam a análise das medidas pelo Congresso questionaram os
limites das mesmas. O mais enfático era Alexandre de Moraes. “Você
proibir um parlamentar de estar no Congresso após as 18h, período
em que se iniciam as votações, significa, na prática, a cassação do
mandato parlamentar”, defendeu. Os ministros passaram quase duas
horas debatendo o caso até que Celso de Mello definiu, como linhas
gerais do voto final que ainda será redigido, que serão analisadas as
medidas que, “direta ou indiretamente”, afetem o mandato
parlamentar.

A tensão da sessão refletia o clima de embate travado entre os dois


poderes desde que, por 3 votos a 2, os titulares da primeira turma
definiram o afastamento de Aécio do mandato e o obrigaram a
permanecer em casa à noite. Na semana passada, parte dos senadores
defendeu que a decisão fosse descumprida pela Casa. “Há notícias de
que o Senado poderia descumprir a decisão a depender do resultado
deste julgamento. Isso seria um desrespeito, porque o STF exerce a
atividade prevista pela Casa Legisladora”, atacou Celso de Mello.

Voto vencido desde a primeira turma, Marco Aurélio era um dos mais
indignados com a situação.  Quando chegou a vez de ele votar, o
ministro foi irônico ao dizer que o tribunal estava dividido. “Esta
história de que o STF pode tudo não vinga, não pode vingar. Porque
ele também está submetido à Constituição Federal”, criticou.

Nitidamente, os ministros trouxeram para o plenário divergências


anteriores que vêm se agravando nos últimos debates. Luís Roberto
Barroso, que votou contra Aécio na primeira turma, lembrou que,
manter restrições aos demais investigados, e não impor as mesmas
sanções ao senador mineiro, seria perpetuar a tese de que “só peixes
pequenos no Brasil são punidos”.

“O Brasil é um país que se perdeu na história e está em busca de


reencontrar o próprio mundo. É possível um país fundado no
progressismo, no liberalismo, no conservadorismo. Não se pode um
país fundado na desonestidade”, declarou Barroso.

Trégua
Mais cedo, na abertura da sessão, o relator do processo, ministro
Edson Fachin, afirmou que a imunidade material poderia representar
um privilégio injustificado. “Cabe ao Congresso relaxar a prisão, e
não revisar as decisões do Judiciário.” Foi enfaticamente rebatido por
Moraes. “As ações do STF, em medidas cautelares, devem ser
interpretadas nos estritos ditames da lei. Não estamos tratando de
privilégios a parlamentares, nem tampouco de algo que só existe no
Brasil. É algo a favor da lei, a favor da Constituição. A imunidade
legislativa não pode ser colocada na mesma altura das demais
imunidades”, disse Moraes.

O resultado também é fruto de uma costura feita pela presidente


Cármen Lúcia e o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE).
Os senadores se insurgiram contra a decisão da primeira turma e
queriam derrubá-la havia duas semanas. Cármen apressou-se e
marcou para ontem a sessão do plenário para debater a questão,
obtendo uma trégua dos parlamentares. Era tão tênue a linha entre a
crise e o fim dela que Cármen abandonou uma das suas práticas mais
corriqueiras: a de encerrar a sessão por volta das 18h. Os trabalhos
ontem só terminaram às 22h.

Almirante solto
A 1ª Turma do Tribunal Regional Federal da 2ª Região revogou a
prisão preventiva decretada pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara
Criminal Federal, e concedeu habeas corpus ao almirante Othon Luiz
Pinheiro, ex-presidente da Eletronuclear condenado a 43 anos de
prisão. Preso em julho de 2015, foi para o regime aberto em
dezembro, mas voltou a ser preso em julho de 2016 pela PF durante a
Operação Pripyat acusado de continuar a exercer influência na
Eletronuclear.

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