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A complexidade dos problemas de segurança pública exige buscar alternativas que melhorem a

prestação do serviço. A produção de conhecimento científico constitui-se em uma variável estratégica das
transformações necessárias para enfrentar os novos desafios da segurança pública e de proteção dos
direitos dos cidadãos.
Este curso de Metodologia é um guia prático sobre a pesquisa científica. O pesquisador iniciante
encontrará aqui uma disciplina metodológica, prática e objetiva que o auxiliará na elaboração de projetos de
pesquisa, monografias e artigos científicos relevantes para sua área de atuação.
Bom estudo!

Objetivo do curso

Ao final do estudo deste curso, você será capaz de:


• Reconhecer a importância da pesquisa científica para produção do conhecimento;
• Compreender os procedimentos metodológicos da pesquisa científica;
• Elaborar projeto de pesquisa, monografia e artigos científicos.

Estrutura do curso

Este curso compreende os seguintes módulos:

• Módulo 1 – Aspectos introdutórios


• Módulo 2 – Elaboração do projeto de pesquisa: o que pesquisar e como planejar a pesquisa
• Módulo 3 – Procedimentos metodológicos
• Módulo 4 – Tipos de pesquisa, técnicas de coleta e de análise dos dados
• Módulo 5 - Elaboração de trabalhos científicos

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MÓDULO
ASPECTOS INTRODUTÓRIOS
1

Apresentação do módulo

Neste módulo você estudará a natureza da prática científica, mais especificamente sobre a diferença
entre o conhecimento científico e o conhecimento vulgar) ou senso comum). Estudará também as características
dos principais métodos científicos e o problema da subjetividade e da objetividade na construção do
conhecimento.

Objetivo do módulo

Ao final do estudo desse módulo, você será capaz de:

• Diferenciar o conhecimento científico do conhecimento vulgar ou de senso comum;


• Caracterizar o método científico; e
• Compreender o problema da objetividade e subjetividade na produção do conhecimento
científico.

Estrutura do Módulo

Esse módulo compreende as seguintes aulas:

• Aula 1- Conhecimento vulgar ou de senso comum;


• Aula 2 - Método científico e conhecimento científico;
• Aula 3 - Subjetividade e objetividade científica.

Aula 1 – Conhecimento vulgar ou de senso comum

Nesta aula você estudará a natureza do conhecimento vulgar ou de senso comum, suas principais
fontes e sua relação com o conhecimento científico.

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Antes de iniciar a leitura da aula, assista ao filme franco-canadense “A Guerra do Fogo” (Disponível
em http://www.ustream.tv/recorded/5564454), de Jean-Jacques Annaud, produzido no ano de 1981.

Após assistir ao filme, reflita sobre as seguintes questões:


• Como o homem pré-histórico construía seu saber?
• Para que servia esse saber?
• Qual relação se apresenta no filme entre a experiência e o saber?

1.1 O conhecimento baseado no saber-fazer


Os seres humanos procuraram o conhecimento da natureza e dos objetos próximos, pois disso dependia
a sua sobrevivência. Esse conhecimento é, antes de tudo, um saber-fazer produzido na experiência diária.

1.2 As fontes do conhecimento vulgar ou de senso comum


Laville e Dione (1999) consideram saberes espontâneos à:
Intuição: Saber espontâneo.
Tradição: Se constitui compartilhando saberes espontâneos considerados adequados pela sociedade.
Autoridade: Transmitem saberes que são socialmente aceitos, pelo comum sem muitos
questionamentos.

1.2.1 O saber baseado na intuição

Da observação que o sol nasce todos os dias de um lado da terra e se põe do outro,
o homem pensou, por muito tempo, que o sol girava em torno da terra. Essa
compreensão do fenômeno pareceu satisfatória durante séculos, sem mais provas
do que a simples observação (LAVILLE e DIONE, 1999, p.18).

1.2.2 O saber baseado na tradição

Na família, na comunidade em diversas escalas, a tradição lega saber que parece útil
a todos e que se julga adequado conhecer para conduzir sua vida. Esse saber é
mantido por ser presumidamente verdadeiro hoje em dia, e é hoje porque o era no
passado e deveria assim permanecer no futuro. A tradição dita o que se deve
conhecer, compreender, e indica, por consequência, como se comportar (LAVILLE e
DIONE, 1999, p.19).

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1.2.3 O saber baseado na autoridade

Com frequência, sem provas metodicamente elaboradas, autoridades se encarregam


da transmissão da tradição. Desse modo, a igreja católica decidiu, muito cedo, regras
para o casamento (uniões proibidas entre primos, proclamas, declarações de
impedimentos conhecidos) tendo como objetivo prevenir relações incestuosas e
inclusive consanguíneas. Impõe sua autoridade aos fiéis por meio dos preceitos
ensinados pelo clero. Todas as religiões transmitem, portanto, sua autoridade
através de saberes que guiam a vida de seus fiéis sem que seu sentido ou origem
sejam sempre evidentes (LAVILLE e DIONE, 1999, p. 20).

1.3 A visão de Emile Durkheim sobre o problema do conhecimento vulgar ou de senso comum e
a ciência sociológica
O conhecimento espontâneo do mundo que nos rodeia e as pré-noções que esse saber pode acarretar
na compreensão do social preocuparam os primeiros sociólogos, interessados na constituição da Sociologia
como ciência.
Emile Durkheim (1858-1917), sociólogo francês fundador da Sociologia como ciência no século XIX foi
um grande defensor da construção de uma Sociologia independente e autônoma de outros campos do
conhecimento.

1.3.1 Sociologia independente e autônoma de outros campos do conhecimento.


Durkheim (2007) utiliza argumentos filosóficos e metodológicos na fundamentação da Sociologia e
aborda o problema clássico da Sociologia do Conhecimento:
A definição do objeto a ser estudado e a relação entre o sujeito que conhece - objeto de
conhecimento
No livro “As Regras do Método Sociológico”, Durkheim (2007) afirma, criticamente, que o conhecimento
de senso comum é produto de nossas experiências sociais cotidianas e, por isso, tendemos a utilizar essa
compreensão espontânea para entender os mais diversos aspectos da vida social. É nesse sentido que ele afirma:

O homem não pode viver em meio às coisas sem formar a respeito delas ideias, de
acordo com as quais regula sua conduta. Acontece que, como essas noções estão
mais próximas de nós e mais ao nosso alcance do que as realidades a que
correspondem, tendemos naturalmente a substituir estas últimas por elas e a fazer
delas a matéria mesma de nossas especulações (DURKHEIM, 2007, p.12).

Observe a seguir que Durkheim (2007) alerta para o uso incorreto que podemos fazer de nossas ideias
sobre os fatos sociais. Essas ideias também são fruto da experiência, mas elas não devem preceder aos fatos
observados cientificamente.

Em vez de observar as coisas, de descrevê-las, de compará-las, contentamo-nos


então em tomar consciência de nossas ideais, em analisá-las, em combiná-las. Em
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vez de uma ciência de realidades, não fazemos mais que uma análise ideológica. Por
certo essa análise não exclui necessariamente toda observação. Pode se recorrer aos
fatos para confirmar as noções ou as conclusões que se tiram. Mas os fatos só
intervêm secundariamente (DURKHEIM, 2007, p. 12).

Por fim, Durkheim (2007) enfatiza que as ideias sobre as coisas não podem substituir a observação
sistemática, isso é, planejada dos fatos sociais.

Com efeito, essas noções ou conceitos, não importa o nome que se queira dar-lhes
não são os substitutos legítimos das coisas. Produtos da experiência vulgar, eles tem
por objeto, antes de tudo, colocar nossas ações em harmonia com o mundo que nos
cerca; são formados pela prática e para ela (DURKHEIM, 2007, p. 16).

Sintetizando...
Durkheim (2007) alerta para a necessidade de afastar, na prática científica, as ideias sobre as coisas que
nos rodeiam e que adquirimos a partir de nosso nascimento, na família, na escola, no trabalho, pela mídia, nas
redes sociais etc.
Por exemplo, têm pessoas que acreditam que a droga é um ente externo à sociedade, que infeta o
corpo social sano. Esta crença pode justificar a ação de “guerra às drogas”. Mas, tanto o consumo quanto a
venda de drogas constituem processos sociais complexos que precisam ser compreendidos cientificamente para
serem enfrentados de forma adequada.

A ciência rompe com a experiência cotidiana colocando os objetos dessa experiência a luz de novos
conceitos, que revelam propriedades e relações não disponíveis para a percepção de senso comum. Nesse
sentido, é possível afirmar que o enfoque científico alarga e torna mais complexa a realidade.

Saiba Mais...
Você tem interesse em saber como uma cientista social desmistifica a pré-noção que afirma o
encarceramento como fator de diminuição da criminalidade?
Então, leia o texto de: LEMGRUBER, Julita. Controle da criminalidade: mitos e fatos. Revista Think
Tank, Instituto Liberal de Rio de Janeiro, 2001.

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Aula 2 – Método científico e conhecimento científico

Nesta aula você vai estudar o surgimento do método científico e do conhecimento científico no
Ocidente.

2.1 O que é método científico?

O método como o conjunto das atividades sistemáticas e racionais que, com maior
segurança e economia, permite alcançar o objetivo-conhecimentos válidos e
verdadeiros-, traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as
decisões do cientista (LAKATOS e MARCONI, 1991, p.83).

O método é o caminho traçado pelo pesquisador para alcançar os objetivos da pesquisa científica. O
método científico tem uma história.
Nessa aula você vai estudar os métodos científicos na ordem em que foram surgindo ao longo da
história da humanidade:

Método
Método Método
hipotético-
dedutivo indutivo
dedutivo

2.1.1 Método hipotético-dedutivo


Na Grécia Antiga tem lugar a transição entre duas formas de explicar o mundo: a mitológica e a
racional. A partir da transição, os mitos e as religiões foram substituídos pela reflexão filosófica.
Na Grécia, a ciência era episteme, isso é, conhecimento superior oposto à “opinião ou doxa”, segundo
o filósofo Platão.
A episteme era o conhecimento próprio do mundo inteligível, eterno, imutável tal e como eram
imutáveis as ideias a que esse saber fazia referencia. O filósofo Aristóteles a concebia como um tipo de
conhecimento universal e necessário, produzido por dedução, isso é, a partir de princípios, e por isso não
afetado pelas imperfeições do conhecimento sensorial, limitado e contingente.
Na hierarquia de conhecimentos, a episteme era prévio ao nível supremo de conhecimento ou
sabedoria (sofia). Tanto o conhecimento científico quanto o conhecimento filosófico tinham pretensões de
universalidade, necessidade, imutabilidade e eternidade.

Importante!
Da Filosofia se depreenderam outras formas de pensar e os métodos que, mais tarde, se especializaram
e se tornaram independentes, hoje conhecidos como ciências.

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2.1.2 A Idade Média
Depois de um intervalo de ausência de progresso na concepção da ciência e das modalidades de
construção do saber, na Idade Média se reencontra a reflexão filosófica e progressos nas artes e na cultura
(LAVILLE e DIONNE, 1999).
Vale ressaltar que as ciências em si, pouco se desenvolveram por causa da dominação do teocentrismo.
O mundo medieval foi considerado como passivo e simbólico, ou seja, via nas formas da natureza à
vontade de Deus. A igreja católica era a principal autoridade espiritual, política e científica e a grande referência
filosófica era Aristóteles.

2.1.2 A Revolução científica no Renascimento


Segundo Laville e Dione (1999), superstições, magia e bruxaria concorrem para explicar o “real” durante
o Renascimento, muito embora exista uma inclinação à rejeição da tradição.
O Renascimento acena com importante revolução nas artes e nas letras. Muitos redescobrem as artes
e os estudos da Grécia Antiga e de Roma, desenvolvendo novas ideias sobre a realidade circundante. Mas
também, as coisas são observadas criticamente e a observação e a experimentação tornam-se mais importantes
em diversas áreas (LAVILLE e DIONE, 1999).
A ciência experimental começa a ser definida com o trabalho conjunto da razão e da experiência para
compreender a realidade. Ciências da natureza como a física e a astronomia se organizam, determinam suas
características específicas e adquirem autonomia desenhando seu próprio método, o método científico
(LAVILLE e DIONE, 1999).
Veja, a seguir, representantes da referida época.

Galileu (1564-1642)
O método empírico preconizado por Galileu Galilei (1564-1642) é considerado uma ruptura em relação
ao conhecimento especulativo. O objetivo da ciência deve ser o conhecimento das leis gerais que constituem
as condições dos fenômenos, e não a essência íntima desses.
Galileu sugeriu partir do particular para o geral, isso é, da indução ou observação dos fatos e da
experimentação. Esse método é denominado Indução Experimental.

Bacon (1561- 1626)


Francis Bacon (1561- 1626) autor do Novum Organum (que significa “Novo Instrumento”), sua obra
máxima publicada no ano de 1620 contestou a afirmação medieval de que a busca da verdade demandava
pouca observação e muito raciocínio.
Bacon (1973, p. 79) afirmava: “Os homens, até agora, pouco e muito superficialmente se têm dedicado
à experiência, mas têm consagrado um tempo infinito a meditações e divagações engenhosas”.
Bacon rompe com a tradição da especulação, senta as bases do método indutivo e coloca no centro da
atividade científica a observação dos fatos, a experimentação e a generalização ou formulação de leis
gerais.

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Outra contribuição de Bacon foi a de apontar para a necessidade do pensamento crítico na produção
do conhecimento científico. O autor indicou que existe em nossa mente uma série de obstáculos que nos inclina
a escolher o erro e o caminho mais fácil.
Esses obstáculos são as imagens falsas que se apoderam da mente. Em razão disso, e antes de iniciar o
método de interpretação da natureza é necessário proceder a eliminar os prejuízos, isto é, os ídolos da mente.
A grande contribuição de Bacon para a ciência foi a criação de seu método científico que visava à
indução, à experimentação e à formulação de generalizações e de leis gerais. Esse método se conhece como
método das coincidências constantes.

Descartes (1596-1650)
Descartes propõe um método baseado na inferência dedutiva, isso é, o raciocínio que vai do geral
para o particular. A razão é que permite alcançar a verdade e não apenas a observação dos fatos.

2.1.3 A Ciência Moderna


O século das luzes
Os princípios da ciência experimental de Bacon têm diversas aplicações durante o século XVIII. A Física
é a disciplina científica hegemônica. Nas ciências humanas predominam as filosofias sociais da sociedade
capitalista em desenvolvimento.
O século XVIII é o “século das luzes” devido a filosofia iluminista, movimento
cultural da elite intelectual europeia do século XVIII que procurou mobilizar o poder da razão, a fim de reformar
a sociedade e o conhecimento herdado da tradição medieval.
Essa filosofia impacta no plano científico pela sua fé no poder da razão, como força capaz de libertar
os homens e mulheres dos grilhões dos preconceitos e das superstições vinculadas à religião, levar à
perfectibilidade humana e ao progresso econômico e social. A filosofia iluminista se apoia em menor peso no
Discurso do Método de Descartes e em maior nas Regulae Philosophandi de Newton para resolver o problema
central do método científico (CASSIRER, 1994).

Veja a seguir os representantes da referida época.

Newton (1642-1727)
A via newtoniana não é a da dedução pura, e sim a da análise. Para Newton, os fenômenos são os
dados; os princípios, o que é preciso descobrir, usando a experiência e a observação.
Para Newton, não há oposição entre experiência e pensamento. Os fatos não são um material
simples, uma massa incoerente de detalhes, mas, se pode demonstrar nos fatos e pelos fatos, a existência de
uma forma que os penetra e os une matematicamente.

A ordem, a legalidade, a razão não é uma regra anterior aos fenômenos, concebível
e exprimível a priori: que se demonstre a razão nos próprios fenômenos como a
forma de sua ligação interna e de seu encadeamento imanente (CASSIRER, 1994, p.
26).
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Segundo Newton, para explicar um fenômeno natural não é necessário apresentá-lo em seu ser e em
sua maneira de ser, mas sim fazer ver de que condições particulares esse fenômeno depende e que tipo de
dependência tem dessas condições. Para isso, é necessário decompor a imagem sintética do fenômeno para
resolvê-la em seus momentos constitutivos (CASSIRER, 1994).

Formais: Lógica e Matemática

Naturais: Física, Química, Biologia, etc


CIÊNCIAS
Factuais
Sociais: Antropologia, Direito, Economia,
Política, Sociologia, Psicologia, etc.

Quadro 1.Divisão das disciplinas científicas


Fonte: LAKATOS& MARCONI (1991:81).

Foi possível perceber também que as ciências são separadas em disciplinas. O pesquisador deve estar
distanciado de seu objeto, o experimento implica em separar o objeto de seu meio natural, a ciência corresponde
às certezas do mundo empírico e é separada da filosofia, a razão obedece a princípios clássicos: indução,
dedução, contradição, identidade, etc.. Se a teoria obedece a estas regras, ela obedece à razão (MORIN, 1999,
p.22).
É importante que você saiba que esta concepção do método científico e da ciência tem sido
questionada, e que a partir do início do século passado aconteceram coisas revolucionárias no campo científico,
que levaram alguns pensadores a problematizar essa percepção tradicional das ciências.

Aula 3 – Subjetividade e objetividade científica

Que relação existe entre o sujeito que conhece (o pesquisador) e seu objeto de conhecimento
(fenômeno a ser estudado)?
Nesta aula você vai estudar o problema da objetividade e da subjetividade na produção do
conhecimento científico.

3.1 O sujeito e o objeto da pesquisa


Da resposta à pergunta inicial depende a concepção do problema da objetividade nas ciências. Você
estudou na Aula 2 que, tradicionalmente, o conceito de objetividade dizia respeito à conservação das
características do objeto a ser analisado, e pressupunha o distanciamento entre o pesquisador e seu objeto de
conhecimento, na realização da pesquisa científica.
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Exigia-se do pesquisador, a observação o mais isenta possível do fenômeno natural ou social estudado,
de modo tal a não interferir nas propriedades do objeto. Nesse caso, o objeto de estudo é concebido como
exterior ao pesquisador e constitui a fonte de suas sensações.

Importante!
“Durante muito tempo no domínio das ciências pensava-se que o conhecimento era o espelho
da realidade e o espelho do mundo” (MORIN, 1999, p.22).

3.2 O papel ativo do pesquisador


Essa concepção da objetividade muda, na medida em que o pesquisador se conscientiza de seu papel
ativo nas observações que realiza.

Um exemplo esclarecedor!
Felix Shuster, meu querido professor de Metodologia chamava a atenção para o fato do pesquisador
afetar a medição da temperatura da água, no momento de submergir o termômetro escolhido para medir essa
temperatura. Assim os instrumentos utilizados pelo pesquisador para medir afetam suas observações e,
portanto, o conhecimento do que se estuda.

BARBIER (1985, p.106) considera que as ciências humanas são mais vulneráveis que as naturais à ação
subterrânea da subjetividade, na elaboração e desenvolvimento de uma pesquisa. Nessas ciências, o
pesquisador utiliza técnicas ou instrumentos de pesquisa que produzem as informações necessárias para
resolver seu problema. A aplicação dessas técnicas se dá em contextos de interação social, que afetam a
informação produzida.
Esses efeitos precisam ser controlados pelo pesquisador, reduzindo ao máximo a violência simbólica,
isso é, a interferência na relação social da pesquisa, das influências derivadas da procedência de classe, raça-
etnia, profissão etc. do pesquisador e aspectos que podem provocar sentimentos de inferioridade nos
pesquisados.
O pesquisador, ao escolher seu objeto de investigação, já traz consigo seus interesses: possui uma
formação acadêmica e experiências sócio-culturais e históricas específicas, suas concepções de mundo e
preferências políticas, isso é, tem sua subjetividade.
Dessa maneira, a objetividade não depende do objeto em si que o pesquisador pretende estudar, já
que esse constitui um recorte do mundo da vida apreendido pelo saber de natureza espontânea, mas da correta
utilização dos procedimentos por parte do pesquisador, legitimados pelo campo científico e da vigilância
epistemológica.

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3.3 Objetivação da subjetividade
Para pesquisar cientificamente, o pesquisador deve querer tornar objetiva sua própria subjetividade,
quer dizer, reconhecer e dar visibilidade a suas preferências, valores, crenças, preconceitos, entre outros aspectos
subjetivos que influenciam na compreensão do seu objeto.
A pesquisa científica constitui um processo reflexivo do pesquisador sobre si mesmo, seus valores e
preferências, suas crenças e sobre os procedimentos de pesquisa que utiliza.

Para os cientistas, reclamamos o direito para desviar por um instante a ciência de


seu trabalho positivo, de sua vontade de objetividade para descobrir o que há de
subjetivo nos métodos mais severos (BACHELARD, 1971:27).

Finalizando...

Neste módulo, você estudou que ...


• Os seres humanos procuraram o conhecimento da natureza e dos objetos próximos, pois disso
dependia a sua sobrevivência. Esse conhecimento é, antes de tudo, um saber-fazer produzido na experiência
diária.
• A ciência rompe com a experiência cotidiana colocando os objetos dessa experiência a luz de
novos conceitos, que revelam propriedades e relações não disponíveis para a percepção de senso comum.
Nesse sentido, é possível afirmar que o enfoque científico alarga e torna mais complexa a realidade.
• O método é o caminho traçado pelo pesquisador para alcançar os objetivos da pesquisa científica.
O método científico tem uma história.
• O raciocínio indutivo se complementa com o raciocínio dedutivo, no contexto da hipótese, isto
é, da resposta antecipada ao problema de pesquisa. Importa também descobrir as leis que governam os
fenômenos, isso é, as leis da natureza. É o método hipotético- dedutivo.
• As ciências são separadas em disciplinas. O pesquisador deve estar distanciado de seu objeto. O
experimento implica em separar o objeto de seu meio natural. A ciência corresponde às certezas do mundo
empírico e é separada da filosofia. A razão obedece a princípios clássicos: indução, dedução, contradição,
identidade, etc..
• Para pesquisar cientificamente, o pesquisador deve pretender tornar objetiva sua própria
subjetividade, quer dizer, reconhecer e dar visibilidade a suas preferências, valores, crenças, preconceitos, entre
outros aspectos subjetivos que influenciam na compreensão do seu objeto.
• A pesquisa científica constitui um processo reflexivo do pesquisador sobre si mesmo, seus valores
e preferências, suas crenças e sobre os procedimentos de pesquisa que utiliza.

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Exercícios

1. Quais são as fontes do conhecimento vulgar ou senso comum?

a. Intuição, Contato e Cultura.


b. Sociologia, Autonomia e Autoridade.
c. Intuição, Tradição e Autoridade.
d. Cultura, Tradição e Sociedade.

2. Considerando o método científico, assinale a opção correta:

a. O método científico é utilizado só em matérias com foco na ciência como química e física.
b. O método científico é o conhecimento passado por geração e cultura.
c. O método científico é moldado pela humanidade a muito tempo, tendo varias mudanças no decorrer
da historia, transformação mais positiva foi na idade média.
d. O método é o caminho traçado pelo pesquisador para alcançar os objetivos da pesquisa científica.

3. Nesse módulo você aprendeu o que é conhecimento vulgar ou de senso comum. Na aula 1,
você leu a seguinte afirmação sobre esse tipo de conhecimento:

“Produtos da experiência vulgar, eles (esses conhecimentos) tem por objeto, antes de tudo, colocar
nossas ações em harmonia com o mundo que nos cerca; são formados pela prática e para ela” (DURKHEIM ,
2007, p. 16).

a) Dê um exemplo de conhecimento vulgar ou de senso comum na sua área de atuação profissional, e


use o conhecimento científico disponível sobre o tema para criticar esse conhecimento vulgar.
b) Durante muito tempo, no domínio das ciências pensava-se que o conhecimento era o espelho da
realidade e o espelho do mundo (MORIN, 1999, p. 22 ).
• Explicite a compreensão da relação entre o pesquisador e seu objeto de estudo nessa afirmação.
• Explicite a compreensão atual sobre o problema da subjetividade e da objetividade na ciência.

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Gabarito

1. Resposta Correta: Letra C


2. Resposta Correta: Letra D
3. Orientação de Resposta:
a. Para orientá-lo na elaboração de sua resposta segue um exemplo de conhecimento de senso comum,
e um trecho de um artigo de uma pesquisadora da violência que questiona sua cientificidade:
Conhecimento de senso comum: “A violência na sociedade contemporânea tem crescido
consideravelmente”.
Sobre essa afirmação de senso comum Grossi (2004) assinala que:

Assim expressa, a afirmação não tem sustentação empírica mais substantiva, a não
ser a que recorre às constantes remissões aos noticiários, os quais não se cansam de
atestar tal crescimento. O crescimento de um fenômeno plural e polissêmico como
o da violência é algo sobre o que não se pode decidir se não se distingue com clareza
e exatidão que parâmetros estão sendo utilizados, e a partir de que critérios, para se
definir violência (GROSSI PORTO, 2004, p.133)

GROSSI PORTO, Maria Stela. Polícia e violência: representações sociais de elites policiais do Distrito
Federal. São Paulo Perspec. vol.18 no.1 São Paulo Jan./Mar. 2004.

b. Para responder a estas questões revise as aulas 1, 2 e 3 desse módulo. Observe que a afirmação
de MORIN diz respeito a concepção tradicional da ciência.

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MÓDULO
A ELABORAÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA: O
2 QUE PESQUISAR E COMO PLANEJAR A PESQUISA

Apresentação do módulo

Talvez você nunca tenha elaborado um projeto de pesquisa científica. Este módulo vai ajudá-lo a
enfrentar esse desafio discutindo detalhadamente cada um dos elementos que constituem um projeto de
pesquisa científica, e indicando exemplos recolhidos na docência da disciplina metodologia da pesquisa
científica.

Objetivo do módulo

Ao final do estudo deste módulo, você será capaz de:

• Compreender a lógica do projeto de pesquisa científica;


• Escolher um tema de pesquisa pertinente à sua área de atuação profissional;
• Formular o problema de pesquisa;
• Discutir teoricamente seu objeto – problema de pesquisa;
• Formular hipóteses;
• Explicitar o modelo de análise;
• Definir os objetivos da pesquisa;
• Elaborar a justificação da pesquisa;
• Escolher os procedimentos metodológicos adequados a seus objetivos de pesquisa; e
• Elaborar o cronograma da pesquisa.

Estrutura do Módulo

Este módulo compreende as seguintes aulas:

• Aula 1 - O projeto de pesquisa, o tema e o problema de pesquisa


• Aula 2 - A discussão teórica do problema de pesquisa
• Aula 3 - A formulação da hipótese e o modelo de análise
• Aula 4 - As variáveis e a operacionalização das variáveis
• Aula 5 - Os objetivos e a justificativa da pesquisa
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• Aula 6 - O cronograma da pesquisa

Aula 1 – O projeto de pesquisa, o tema e o problema de pesquisa

Nesta aula você estudará o que é o projeto de pesquisa, a diferença entre tema e problema de pesquisa
e as resistências que você terá que superar para ter sucesso na formulação de seu problema de
pesquisa.

1.1 O que é um projeto de pesquisa?


O projeto de pesquisa constitui-se em uma ferramenta indispensável à atividade de investigação,
devendo servir para orientar seu estudo e poder comunicar às outras pessoas (orientador, membros de uma
banca, membros de outras instituições, entre outros) o que você pretende fazer.
A realização da pesquisa subsidia a elaboração da monografia.

O que é monografia?
Monografia é um estudo sobre um tema específico ou particular com suficiente valor
representativo e que obedece à rigorosa metodologia. Investiga determinado assunto não só em
profundidade, mas também em todos seus ângulos e aspectos, dependendo dos fins a que se destina
(LAKATOS e MARCONI, 1991, p.235).

Se você deseja pesquisar, seu primeiro passo é elaborar o projeto de pesquisa, isto é, planejar seu
estudo.
Para elaborar esse projeto você precisa de esforço intelectual considerável.
Você deve responder às seguintes questões:

 Qual tema tenho interesse em pesquisar


 Qual problema de pesquisa pretendo resolver
 Quais abordagens teóricas e conceituais deverão ser utilizadas para construir cientificamente meu
problema
 Quais são os autores que discutem meu problema? Qual é a minha hipótese
 Quais objetivos minha pesquisa tem
 Quais procedimentos metodológicos devo escolher para alcançar esses objetivos
 Quanto tempo tenho para desenvolver minha pesquisa

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1.2 O primeiro desafio: a diferença entre o tema e o problema de pesquisa
A elaboração do projeto de pesquisa inicia-se com o primeiro desafio: a escolha do tema e do problema
de pesquisa. Para enfrentar esse desafio é importante que você conheça a diferença entre eles.

1.2.1 O tema da pesquisa


É comum você pensar primeiro no tema da pesquisa, isto é, em assuntos que podem ser pesquisados.
Os temas de pesquisa podem surgir das observações do seu ambiente de trabalho, da conversa com colegas,
da leitura dos jornais e de artigos científicos de sua área de atuação profissional, disponíveis nas bases e
bibliotecas virtuais, entre outros.

Desafio...
Desafio você a pensar em alguns temas de seu interesse, que considere relevantes para sua
instituição e para a segurança pública, e a registrá-los.

Veja alguns dos temas de monografia que um grupo de alunos de um curso de Especialização em
Segurança Pública e Cidadania e Gestão da Segurança Pública escolheram nos últimos anos:

• Homicídios;
• Gestão e trabalho nas prisões;
• Policiamento comunitário;
• Reintegração social do detento;
• Medidas socioeducativas;
• Abordagem policial;
• Programas comunitários da subsecretaria de segurança cidadã do DF;
• Violência institucional e profissionais da segurança pública;
• O crescimento do encarceramento no DF;
• A saúde mental dos policiais; e
• A construção do suspeito na identificação criminal, entre muitos outros.

Observe que a característica dos temas apontados é a abrangência.


Escolhido o tema, o passo seguinte é a delimitação do tema de pesquisa escolhendo uma das tantas
possibilidades de recorte. Isto é, a formulação de seu problema de pesquisa.

1.2.2 O problema de pesquisa


Um problema de pesquisa é “um problema que se pode resolver com conhecimentos e dados já
disponíveis ou com aqueles factíveis de serem produzidos” (LAVILLE e DIONNE, 1999, p.87).
Observe os seguintes exemplos de formulação de perguntas-problemas sobre o tema homicídios.

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a) O consumo de drogas ilícitas e de álcool está vinculado à ocorrência de homicídios no Brasil, na
última década?
b) Pode-se reduzir a taxa de homicídios legalizando o consumo de drogas no Brasil?

Essas duas perguntas constituem-se em problemas de pesquisa que podem ser redigidos da seguinte
forma, quando seu orientador olhar para você e perguntar: Qual é seu problema de pesquisa?
• Meu problema de pesquisa é analisar a relação entre os homicídios e o consumo de drogas ilícitas e
de álcool no Brasil.
• Meu problema de pesquisa é analisar em que medida a legalização do consumo das drogas ilícitas
pode contribuir para reduzir a taxa de homicídios no Brasil.

Você percebeu que um tema pode permitir formular vários problemas de pesquisa.

Veja, a seguir, alguns conselhos para conseguir formular seu problema de pesquisa de forma adequada.
Mas considere que não existe uma receita para se chegar lá.

AÇÕES ATIVIDADES
AMPLIE SUAS LEITURAS Realize uma imersão sistemática no tema de seu interesse. Procure
artigos em periódicos científicos publicados nos últimos cinco anos
sobre o tema inicialmente escolhido, e observe quais são os problemas
levantados pelos pesquisadores em torno do tema que lhe interessa.
DIALOGUE COM SEU Converse com seu orientador para descobrir seu problema de pesquisa,
ORIENTADOR pois ele acumula experiência concreta no campo de estudo. Informe seu
orientador sobre suas motivações e interesses.

PLANEJE UM TRABALHO DE Por último, se não conseguir delimitar claramente seu problema, realize
CAMPO EXPLORATÓRIO um trabalho de campo preliminar flexível, assistemático, anotando em
um caderno de campo suas principais observações, conversando
informalmente com os possíveis sujeitos de sua pesquisa, coletando
todas as informações e dados que achar pertinente.

Quadro 2: Conselhos úteis para formular o problema de pesquisa.


Fonte: Elaborado pela professora Dra. Analía Soria Batista (UNB).

Para ter sucesso na formulação de seu problema de pesquisa, você também tem que considerar as
seguintes questões:
Você precisa superar suas resistências: Uma pesquisa realizada em um contexto acadêmico deve
ater-se à compreensão científica do mundo social. O conhecimento sociológico, por exemplo, permite ir além
das aparências da realidade, aprofundando a compreensão dos diversos aspectos da sociedade em que você

18
vive. É possível, inicialmente, que você resista à compreensão científica do social, em função de seus
conhecimentos de senso comum, como foi discutido na Aula 1, do Módulo 1.
A escolha de seu problema de pesquisa pode ser bastante lenta e complexa, pois lhe exigirá capacidade
de proceder a rupturas com seu próprio mundo profissional, suas preferências políticas, seus valores, suas
crenças e seus interesses.
Você precisa avaliar questões práticas: A escolha de um problema de pesquisa lhe exigirá considerar
elementos de ordem prática, tais como o tempo que tem disponível para realizar o estudo, os recursos
intelectuais que possui para levar a cabo a empreitada, os recursos financeiros, entre outros.
Você precisa saber que não vai ser possível pesquisar todo: A escolha de um problema de pesquisa
lhe exigirá delimitar o tema de pesquisa, isto é, focar em algum aspecto desse tema.

Na próxima aula você estudará sobre a necessidade de aprofundar a discussão teórica de seu problema
de pesquisa, a formulação da hipótese do estudo e a explicitação do modelo analítico que utilizará na
sua pesquisa. Até a próxima aula!

Aula 2 – A discussão teórica do problema de pesquisa

Nesta aula, você estudará a importância de discutir teoricamente seu problema de pesquisa, a
formulação da hipótese e do modelo de análise de sua pesquisa.

2.1 A importância da discussão teórica do objeto


Na Aula 1 deste Módulo você aprendeu a formular um problema de pesquisa. Neste tópico, você vai
compreender a importância de discutir teoricamente esse problema e algumas estratégias para ter sucesso no
empreendimento.
Você percebeu que, na primeira visita à empresa, os conhecimentos vulgares ou de senso comum
foram os “óculos” que orientaram as percepções da narradora quanto à realidade social da fábrica. Isso porque
é impossível observar os fatos sem conhecimentos prévios: não se é tabula rasa, isto é, folha de papel em branco.
Você estudou na Aula 1, do Módulo 1, que sem conhecimentos científicos prevalece o conhecimento
vulgar ou de senso comum na percepção da realidade social.
Você percebeu que, na segunda visita à empresa, o fato de ter estudado a teoria do processo de
trabalho capitalista transformou completamente, aos olhos da narradora, a realidade da fábrica.
Os conceitos desenvolvidos pela teoria do processo de trabalho capitalista (controle e disciplina fabril,
divisão capitalista do trabalho, expropriação, entre outros) permitiram observar novos e mais complexos
aspectos da realidade social do trabalho que aconteciam, impossíveis de serem percebidos sem esses “óculos”
teóricos.

19
O que é conceito?
Conceitos são declarações generalizadas sobre classes inteiras de fenômenos (BECKER, 20071, p.45).

Você compreendeu a necessidade de discutir teoricamente o que pretende estudar, em outras


palavras, de discutir seu objeto - problema de pesquisa - utilizando teorias e conceitos característicos da
área científica, que possibilitam a sua interpretação.

Veja, a seguir, mais um desafio.

2.2 O desafio de teorizar sobre seu objeto-problema de pesquisa


Para enfrentar esse desafio, você tem que identificar e analisar as abordagens teóricas pertinentes
ao seu problema de pesquisa, analisar pesquisas sobre seu problema, escolher uma das abordagens teóricas e
escrever um texto que discuta as abordagens, as pesquisas já realizadas e seus resultados e que explicite as
razões de sua escolha.

2.2.1 Identificar as abordagens teóricas e as pesquisas realizadas pertinentes a seu problema


Se seu problema de pesquisa é analisar a relação entre os homicídios e o consumo de drogas ilícitas e
de álcool no Brasil (tema indicado na aula 1, deste Módulo) por exemplo, você deve identificar quais são as
abordagens teóricas sobre esse problema de pesquisa, as pesquisas existentes e seus principais autores.

Orientação
Pode ser que você tenha cursado uma disciplina que abordou, seguindo o exemplo anterior, a relação
entre o consumo de drogas ilícitas e de álcool e os homicídios. Nesse caso, seu problema está resolvido. Caso
contrário, você tem dois caminhos para descobrir essas abordagens:
- Consulte o seu orientador sobre os autores-chave. Supõe-se que ele sabe.
- Faça uma revisão bibliográfica (artigos, comunicações, dissertações, teses, entrevistas, entre outros) e
utilize buscadores acadêmicos na internet, diretórios, bases de dados, sites de expertos no problema, consulte
pesquisas sobre seu problema e observe as abordagens teóricas, as pesquisas e seus autores.

Seu problema de pesquisa deve ser uma decorrência lógica da discussão teórica que apresenta. Todas
as obras importantes sobre seu problema de pesquisa devem ser consultadas, mas, é possível que a revisão seja
exaustiva.

2.2.2 Dicas simples para revisar a bibliografia


Para revisar rapidamente a bibliografia e selecionar a que lhe interessa, proceda da seguinte forma:
Livro: revise o índice e o índice analítico para obter um panorama dos temas abordados no livro.
Artigos Científicos: revise primeiro o resumo para saber se é de seu interesse.

20
Importante!
Na revisão da bibliografia, você pode encontrar diversas situações com relação à teoria existente sobre
seu problema de pesquisa. As situações mais comuns são as seguintes:
a) Há uma teoria bem consolidada, que possui evidências empíricas abundantes e que você considera
adequada para abordar seu problema de pesquisa;
b) Há várias teorias para abordar seu problema de pesquisa e você deve escolher alguma delas;
c) Não há teoria para abordar seu problema de pesquisa.

2.3 Escolher uma das abordagens e escrever um texto


Você revisou a bibliografia sobre seu problema e agora enfrenta o desafio de escolher uma entre as
abordagens teóricas que existem, isto é, enfrenta o desafio de construir sua Problemática. A construção da
Problemática diz respeito às escolhas teóricas e conceituais do pesquisador.
Escolha a abordagem teórica que mais se ajusta à natureza de seu problema de pesquisa e, se achar
necessário, também utilize elementos de outras teorias.
Você vai escrever um texto que articule as ideias principais dos autores encontrados na revisão
bibliográfica, no exemplo explicitado anteriormente, sobre a relação entre o consumo de drogas ilícitas e de
álcool e a ocorrência dos homicídios no Brasil.

2.4. Como sistematizar o marco teórico ou de referência?


O próximo passo é você sistematizar as abordagens teóricas escrevendo um texto. Mais um desafio
que exigirá de você, resumir, citar textualmente, comentar, criticar, e ter muita paciência, pois precisa de
leitura rigorosa.

Veja, a seguir, alguns conselhos para ter sucesso na identificação da discussão teórica de seu problema
de pesquisa.
AÇÕES ATIVIDADES
CONSULTE o seu orientador sobre quais são as obras mais importantes a respeito do tema para
facilitar sua pesquisa bibliográfica. Também quais são os principais centros de
documentação que deve pesquisar, e as principais obras, artigos, entre outros, bem
como pesquisadores, autoridades e outros agentes que você talvez precise entrevistar.
ORGANIZE sua discussão teórica focando nas principais ideias dos autores consultados sobre seu
problema de pesquisa. Articule bem essas ideias. Prepare-se para mergulhar na leitura e
na reflexão.
APOIE as ideias apresentadas nas referências consultadas.

Quadro 3: Conselhos úteis na hora de discutir teoricamente o objeto-problema de pesquisa.


Fonte: Elaborado pela professora Dra. Analía Soria Batista.

21
Na próxima aula você vai estudar a hipótese da pesquisa e a explicitação do modelo de análise de seu
estudo, até lá!

Aula 3 – A formulação de hipóteses e o modelo de análise

Nesta aula você vai estudar o que é hipótese e sobre a explicitação do modelo de análise da pesquisa.

3.1 O que é uma hipótese? Como formulá-la?


Veja, a seguir, as definições sobre hipótese:

Enunciado geral de relações entre variáveis (fatos, fenômenos). Formulado como


solução provisória para um determinado problema, apresentando caráter preditivo
ou explicativo; compatível com o conhecimento científico (coerência externa) e
revelando consistência lógica (coerência interna); sendo passível de verificação
empírica em suas consequências (LAKATOS e MARCONI , 1999, p. 126).

Em termos simples, uma hipótese é uma resposta possível de ser testada e


fundamentada para uma pergunta feita relativa ao fenômeno escolhido
(RICHARDSON, 2011, p.27).

A hipótese, que constitui uma resposta antecipada de seu problema de pesquisa, é uma conjetura
afirmativa, plausível de ser verdadeira.
Você deve formular uma hipótese que possa ser testada, isto é, que possa ser contrastada com os dados
da realidade. A validade da hipótese depende de sua congruência com os fatos ou fenômenos da realidade. As
hipóteses se fundamentam no conhecimento prévio e a sua verificação ou refutação permite novos e
aprofundados conhecimentos (KERLINGER, 1996).
Quiuy e Camenhoudt (1995, p. 149 apud Gerhardt 2009, p. 54) indicam duas formas de construção das
hipóteses pelos pesquisadores: por meio do raciocínio indutivo ou por meio do raciocínio dedutivo.
No método hipotético indutivo, isto é, o método de construção da hipótese por meio do
raciocínio indutivo, a construção da hipótese se baseia na observação direta da realidade que se pretende
estudar, e a partir dessas observações, o pesquisador constrói novos conceitos, novas hipóteses e o modelo que
será posteriormente submetido à prova dos fatos.
No método hipotético dedutivo, isto é, o método de construção da hipótese por meio do
raciocínio dedutivo, o pesquisador parte de um postulado ou conceito que serve como modelo de
interpretação da realidade que pretende analisar. Por meio de um trabalho lógico, o pesquisador deriva desse
modelo as hipóteses e as variáveis (ou aspectos) da realidade que quer observar.

22
Método hipotético indutivo Método hipotético dedutivo

A construção parte da observação. A construção parte de um postulado ou conceito como


O indicador é de natureza empírica. modelo de interpretação do objeto estudado.
A partir dele, constroem-se novos conceitos, novas Esse modelo gera, através de um trabalho lógico, as
hipóteses e o modelo que será submetido à prova dos hipóteses, os conceitos e os indicadores para os quais
fatos. será necessário buscar correspondentes no real.
Quadro 4: Métodos hipotético indutivo e hipotético dedutivo.
Fonte: QUIVY & CAMPENHOUDT, 1995.

Contudo, esses dois métodos de construção das hipóteses da pesquisa são articulados no trabalho
científico:
Quando iniciamos uma pesquisa pela primeira vez, a abordagem hipotético indutiva
normalmente prevalece, ou seja, construímos nossas hipóteses e indicadores a partir
da observação do campo empírico, derivando daí novos conceitos e novas hipóteses
que serão submetidas à comprovação pelo modelo estabelecido. Na sequência,
quando se possuem algumas ideias conceituais a respeito do tema trabalhado que
possam explicar o objeto de estudo, a abordagem hipotético dedutiva passa a ter
mais importância. Isso quer dizer que a construção das hipóteses parte de um
postulado ou conceito como modelo de interpretação do objeto estudado. Na
realidade, essas duas abordagens se articulam, pois todos os modelos elaborados
por uma pesquisa científica comportam dedução e indução (GERHARDT, 2009, p.
54).

3.2 O modelo de análise


A construção do modelo de análise da sua pesquisa implica na explicitação da hipótese ou dos
interrogantes que você formulou para orientar a pesquisa, e dos conceitos derivados da problemática ou
abordagem teórica que você escolheu para referenciá-la.
Caso tenha preferido formular perguntas de pesquisa em vez da hipótese, precisa identificar os
conceitos principais de sua abordagem teórica e definir os aspectos da realidade que você vai observar, a partir
das interrogantes que formulou.

Importante!
Nem sempre os pesquisadores elaboram uma hipótese para orientar a realização da pesquisa. Podem
formular apenas perguntas de pesquisa, que servem também para orientar a realização do estudo.

23
O modelo de análise é composto pela hipótese e as variáveis e suas definições operacionais, ou pelas
perguntas da pesquisa, e os conceitos operacionalizados, isto é, definidos de forma a possibilitar sua observação
na realidade social.

Na próxima aula você vai estudar o papel das variáveis na pesquisa científica.

Aula 4 – As variáveis e a operacionalização das variáveis

Nesta aula você vai conhecer, de forma introdutória, o papel das variáveis na construção do
conhecimento científico.

4.1 Definições de conceitos e variáveis


As definições dos conceitos utilizados na pesquisa científica são gerais, ou seja, amplas, enquanto que
as definições operacionais desses conceitos são restritas, voltadas para aspectos específicos do objeto de
estudo, permitindo a observação e/ou mensuração das variáveis envolvidas no fenômeno que você pretende
analisar.
Richardson (2011, p. 117) aponta que o conceito de variável representa classes de objetos, como: sexo,
escolaridade, renda mensal, participação política, violência psicológica etc.
A variável “sexo” é fácil de operacionalizar, já que apresenta duas categorias: feminino e masculino.
Mas, existem outras variáveis que são bem mais complexas, como participação política e violência psicológica,
pois suas definições não são simples.

4.1.1 Quais são as características das variáveis?


As variáveis constituem-se de aspectos observáveis e mensuráveis de um fenômeno, que podem
apresentar diferentes valores (variável quantitativa) ou ser agrupados em categorias (variável qualitativa).
A variável idade tem diversos valores: 20 anos, 25 anos, 30 anos, etc. A variável estado civil pode ser
agrupada nas seguintes categorias: solteiro, casado, viúvo, desquitado e divorciado.
As variáveis devem apresentar variações ou diferenças em relação ao mesmo ou a outros fenômenos.
Um exemplo bem simples pode contribuir para esclarecer essa questão.

Observe a tabela:

ESTADO CIVIL FREQUÊNCIA


Solteiros 140
Casados 60
Viúvos 20
Tabela 1: Distribuição de Policiais Militares, segundo o estado civil.
24
Desquitados 40
Divorciado 20
Total 280

Neste caso, você pode analisar a tabela comparando as categorias, pois as variações internas da variável
estado civil são significativas (RICHARDSON, 2011, p.118).
Segundo Davis (1976 apud RICHARDSON, 2011, p. 120), no que diz respeito à importância das variações
internas de uma variável, você pode considerar as seguintes regras:
• Disponha de grande número de casos que difiram em sua classificação;
• Se uma das categorias for exageradamente maior em frequência que as demais, use-a sozinha. Isto é,
transforme-a em uma variável;
• Se tiver um grande número de categorias com pequenas frequências, comece a agrupar em pares até
obter categorias significativas;
• Evite alternativas que concentrem mais de 70% dos casos, pois elas prejudicam a análise.

Resta assinalar que existem casos em que as categorias não podem ser reagrupadas, ou a variável não
pode ser reformulada. Nesses casos você precisa eliminar a variável, já que não serve como medida de avaliação
(RICHARDSON, 2011, p. 120).

4.2 Tipos de relações entre variáveis/fenômenos


A variável é o aspecto observável de determinado fenômeno, ligado a outras variáveis numa situação
determinada. Observe no quadro a seguir os tipos de relações entre variáveis, segundo Richardson (2011, p.
121):
Relação de As variáveis mudam conjuntamente. Exemplo: relação entre o
covariação peso e a estatura.

Relação de As variáveis podem mudar conjuntamente, mas, as mudanças em


associação uma, não necessariamente produzem mudanças na outra.
Exemplo: desempenho escolar em matemática e desempenho
escolar em biologia.

Relação de Uma variável depende da outra. Exemplo: a variável posição


dependência social depende da variável renda pessoal.

Relação de Mudanças em uma variável produzem mudanças na outra.


causalidade Exemplo: entre o preço do produto e a procura por esse
produto.
Quadro 5: Tipos de relações entre variáveis.
Fonte: Richardson (2011, p. 121).

25
4.3 Princípios para definir variáveis
Segundo Richardson (2011, p. 121) dois princípios devem ser considerados na definição de todas as
variáveis.

Importante!
A não observância desses princípios leva a perda de informação ou a inutilidade da medição realizada
pelo pesquisador.

O primeiro princípio que você precisa considerar na definição operacional das variáveis é o que
estabelece que os valores de uma variável devem ser mutuamente excludentes. Veja a seguir o exemplo
indicado pelo citado autor:
Variável: Religião
Categorias da variável Religião:
• Católica
• Protestante
• Anglicana

Você já percebeu qual é o problema com essa categorização?

O problema é que um sujeito anglicano é também protestante. Isso significa que as categorias não são
mutuamente excludentes. O correto seria:
Variável: Religião
Categorias da variável Religião:
1. Católica
2. Protestante

Resta esclarecer ainda que as categorias devem estar adequadas à realidade local ou regional do estudo
que você pretende fazer.

- O segundo princípio que você precisa considerar na definição operacional das variáveis é o que
estabelece que as categorias devem ser exaustivas. Isto é, todos os elementos da amostra devem ser
classificados em algumas das categorias elaboradas pelo pesquisador. Seria inútil na categorização da variável
Religião de um estudo no Brasil incluir a categoria muçulmana, por exemplo (RICHARDSON, 2011, p.123).

4.4 Tipos de variáveis, segundo níveis de medição


São considerados quatro tipos de variáveis segundo seus níveis de medição:
Variável nominal ou categórica: Este é o tipo de variável mais simples e inferior em termos de
informação. A variável é classificada em categorias distintas, como no exemplo já explicitado sobre a variável

26
estado civil dos policiais militares (solteiro, casado, viúvo, desquitado, divorciado). Observe que não há nenhuma
hierarquia entre as categorias da variável estado civil (RICHARDSON, 2011, p.126).

Variável ordinal: A variável ordinal resulta da operação de ordenar por postos. Além de classificar os
elementos de um conjunto, como no caso anterior da variável nominal ou categórica, estabelece uma ordem
hierárquica entre as categorias. A ordem resulta da distinção dos elementos de acordo com o maior ou menor
grau que determinada característica possui. Por exemplo, a variável nível socioeconômico pode ser
hierarquizada como segue (RICHARDSON, 2011, p.26):
Exemplo:
- nível alto
- nível médio
- nível baixo
Tem-se, assim, uma variável ordinal que implica numa ordem quantitativa numérica, só em termos de
maior ou menor. Observe que não se estabelece quantos pontos mais alto ou mais baixo é o nível
socioeconômico de uma ou outra categoria (RICHARDSON, 2011, p. 127).

Variáveis de razão: Estas variáveis reúnem todas as propriedades dos números naturais: classificação,
ordem, distância e origem. Supõem um zero absoluto, mesmo quando o referido valor não se dá, em nenhum
caso, em certas variáveis. Por exemplo: número de habitantes de uma cidade: podem existir cidades sem
habitantes, mas, é muito difícil.
Variáveis intervalares: Estas variáveis possuem as características das escalas anteriores: nominal e
ordinal. Além disso, as variáveis intervalares apresentam distâncias iguais entre os intervalos que se estabelecem
sobre a propriedade medida. Isto é, requerem o estabelecimento de algum tipo de unidade física de medição
que sirva como norma e que, portanto, possa aplicar-se sucessivamente com os mesmos resultados.

4.5 Classificação das variáveis, segundo a posição na relação entre duas ou mais variáveis
Segundo Richardson (2011, p. 129), é possível classificar as variáveis de acordo com a relação temporal
que existe entre elas.

Variáveis independentes: Afetam outras variáveis, mas, não precisam estar relacionadas com elas. Por
exemplo, idade e sexo podem influir nos desejos dos policiais de abandonar a Corporação. Mas, a idade não
depende do sexo, nem o sexo da idade. São variáveis independentes entre si, mas que afetam uma variável
dependente específica. Nesse caso, o desejo de abandonar a Corporação.
Variáveis dependentes: São aquelas variáveis afetadas ou explicadas pelas variáveis independentes.
Variam de acordo com as mudanças nas variáveis independentes. No exemplo anterior, podemos supor que à
medida que a idade aumenta, é menos provável o desejo dos profissionais de abandonar a Corporação. Assim,
o desejo de abandonar a Corporação depende da idade. O desejo de abandonar a Corporação é a variável
dependente, a idade, a variável independente. Resta esclarecer que devido à interação que existe entre as

27
variáveis sociais, não se pode determinar, em termos absolutos, quais são as independentes e as dependentes
(RICHARDSON, 2011, p. 129,130).
Variáveis intervenientes: Estas variáveis estão entre as independentes e as dependentes. Elas intervêm
nessa relação.

Exemplificando...

Para você compreender melhor a influência das variáveis intervenientes, observe o exemplo a seguir,
segundo Richardson (2011, p. 131):
Variável independente: sexo
Variável dependente: aproveitamento escolar
Nesse caso, o pesquisador supõe que existe relação entre o sexo feminino e o melhor aproveitamento
escolar. Mas o pesquisador também supõe que o aproveitamento escolar é influenciado pelas habilidades do
aluno e pelas suas expectativas profissionais, isto é, por duas variáveis intervenientes.

De acordo com Richardson (2011, p. 131), os efeitos das variáveis intervenientes podem ser os
seguintes:
• Não existe efeito. A relação original entre o sexo e o aproveitamento escolar se mantém invariável.
• As variáveis têm efeito significativo. A relação original desaparece. Também pode ser que apenas
uma das variáveis intervenientes tenha efeito significativo.
• As variáveis têm efeitos significativos, mas a relação original não desaparece, apenas enfraquece.

5.6 Variáveis segundo as características de continuidade


Segundo a característica de continuidade, as variáveis podem ser discretas e contínuas:

Variáveis discretas ou nominais: São as variáveis constituídas de categorias separadas ou distintas.


Variáveis contínuas ou ordinais, intervalares e de razão: São as variáveis que podem assumir um
conjunto ordenado de valores dentro de determinados limites. Os valores de uma variável contínua pelo menos
refletem uma ordem hierárquica (alto, médio, baixo). Além disso, os valores variam dentro de determinados
limites e cada elemento recebe um escore entre esses limites. A variável aproveitamento escolar, essencialmente,
varia entre zero e dez pontos (RICHARDSON, 2011, p. 133).

Agora que já compreende bem o que são variáveis, na próxima aula, você vai estudar como elaborar os
objetivos de seu projeto de pesquisa e a justificativa do estudo.

28
Aula 5 - Os objetivos e a justificativa da pesquisa

Nesta aula você vai estudar como redigir os objetivos e a justificativa de sua pesquisa.

5.1 Formulação dos objetivos da pesquisa


Você fez progressos importantes, superou os desafios de elaborar seu problema de pesquisa, de
discutir teoricamente seu objeto – problema de pesquisa – formulou a hipótese do seu estudo e explicitou seu
modelo de análise.
Seu desafio agora é redigir os objetivos da pesquisa. Para isso, deve responder à seguinte pergunta:
O que pretende com sua pesquisa?

5.1.1 Os objetivos gerais e os objetivos específicos


Os objetivos estão relacionados ao seu problema de pesquisa e a sua hipótese. Um projeto de pesquisa
deve conter objetivos GERAIS e ESPECÍFICOS.
Os objetivos gerais expressam os resultados mais abrangentes que se pretendem alcançar com a
pesquisa.
Os objetivos específicos expressam os passos necessários para se alcançar o objetivo geral, em outras
palavras, constituem-se da desagregação, em ações, do objetivo geral.

Os objetivos precisam ser factíveis e, durante sua pesquisa, você deve alcançá-los. Sua pesquisa é
avaliada nesse sentido e, além do mais, você deve explicar em que medida e como conseguiu alcançar os
objetivos explicitados.

Veja, a seguir, alguns conselhos que o auxiliarão na elaboração dos objetivos.

Lembre que os objetivos devem produzir conhecimentos para


resolver seu problema de pesquisa.
Elabore um objetivo geral e o desagregue em, no mínimo,
três e, no máximo, seis objetivos específicos.
Inicie a redação dos objetivos com um verbo: identificar,
analisar, observar, relacionar, entre outros.
Elabore os objetivos específicos, pensando nos
procedimentos metodológicos para alcançá-los.

Quadro 6: Conselhos para elaborar os objetivos da pesquisa.


Fonte: Elaborado pela professora Dra. Analía Soria Batista (UNB).

29
Exemplificando...
Redação dos objetivos da pesquisa
Observe como foram redigidos os objetivos com este exemplo bem simples de proposta de pesquisa:
Problema de Pesquisa: Como as mulheres presas percebem as atividades destinadas à reintegração
social no presídio feminino do DF?
Objetivo Geral:
Compreender as percepções das mulheres presas sobre as atividades de ensino e trabalho no presídio.
Objetivos específicos:
- Analisar o perfil sociodemográfico das mulheres encarceradas no presídio feminino do DF.
- Descrever as atividades de ensino e trabalho das mulheres encarceradas no presídio feminino do DF.
- Identificar o papel da educação e do trabalho no presídio da perspectiva das mulheres presas.
Fonte: Elaboração da professora Dra. Analía Soria Batista (UNB).

Redigiu os objetivos do seu projeto?


Se você já os redigiu, vai para o próximo desafio.

5.2 Justificativa da pesquisa


Você tem que justificar sua pesquisa, isto é, explicitar por que acha importante realizar seu estudo, por
que você deseja fazer essa pesquisa.
Observe a seguir alguns dos aspectos envolvidos na justificação da relevância de um projeto de
pesquisa e inspire-se neles para justificar seu estudo.

Justificativa Teórica e Metodológica Justificativa pelas Consequências Sociais


A relevância de seu projeto pode se justificar A relevância de seu projeto pode se justificar
teórica e metodologicamente. Você propõe devido às consequências sociais do
estudar um problema já abordado no campo problema que propõe.
científico, mas, adotando enfoques teórico-
metodológicos novos.
Justificativa em função das lacunas Justificativa pelos objetivos e interesses
institucionais.
A relevância de seu projeto pode se justificar A relevância de seu projeto pode se justificar
em função das lacunas identificadas no em função dos objetivos e interesses de sua
conhecimento que está disponível sobre seu instituição de origem.
problema de pesquisa.
Quadro 7: Conselhos para identificar a relevância de seu projeto.
Fonte: Elaborado pela professora Dra. Analía Soria Batista (UNB).

30
Aula 6 - O cronograma da pesquisa

Nesta aula, você vai aprender como elaborar o cronograma de sua pesquisa, identificando as atividades
e o tempo necessário à sua execução.

O cronograma da pesquisa é o planejamento das atividades que permitem o desenvolvimento do


projeto de pesquisa em um tempo preestabelecido. O cronograma da pesquisa responde a perguntas, tais como:
Quê? Quando?
Para elaborar o cronograma de sua pesquisa você precisa considerar o tempo total de que dispõe para
realizar seu estudo em meses, e todas as atividades envolvidas nessa empreitada, calculando para cada uma
delas, o tempo necessário de sua execução.
Você pode começar definindo as atividades que permitem desenvolver seu projeto de pesquisa, de
forma sequencial. As atividades correspondem a ações e são definidas por um verbo (revisar, elaborar,
sistematizar, analisar etc.).
Uma vez definidas sequencialmente as atividades necessárias ao desenvolvimento do projeto de
pesquisa, incluindo aí a versão final da monografia e sua defesa pública, você deve planejar um determinado
tempo de realização de cada uma das atividades elencadas.

Importante!
O orientador de sua monografia pode aqui ajudar e muito! Se você não tiver experiência em pesquisa,
discuta com seu orientador o tempo necessário a cada uma das atividades de pesquisa elencadas em
seu cronograma.

Considere que, a depender das características do trabalho de campo, este pode ser demorado. Por
exemplo, entrevistas individuais e grupais podem eventualmente ser desmarcadas pelos sujeitos, gerando
atrasos no cronograma. Visitas a instituições podem atrasar em função das dificuldades para conseguir
autorização. Acesso a dados e informações secundárias pode não ser fácil, exigir autorizações especiais etc.
Vale ressaltar que é comum a pesquisa iniciar com atividades de aprofundamento bibliográfico. Ela
pode exigir também o levantamento de documentos oficiais, por exemplo. Os preparativos para o trabalho de
campo merecem bastante atenção. Estes podem implicar em conseguir dados sobre determinado grupo social
que se quer estudar, para aplicar técnicas de amostragem ou, ainda, podem exigir autorização para ingressar
em determinados espaços institucionais e pesquisar junto às pessoas que trabalham no lugar.
É necessário também construir os instrumentos da pesquisa, sejam estes questionários ou entrevistas
individuais ou grupais etc. Os instrumentos precisam passar por pré-testes e reelaborações antes de sua
aplicação definitiva. Há um tempo para realizar a coleta dos dados e um tempo para sistematizar esses dados
e proceder a sua análise.
Ainda, será necessário escrever uma versão preliminar da monografia, considerar um espaço de tempo
para submetê-la ao veredicto do orientador e um espaço de tempo para realizar as correções do texto

31
recomendadas e apresentar a versão definitiva do trabalho. Por último, deverá ser marcada a defesa pública do
trabalho realizado.

Exemplificando...
Um discente tem 12 meses para realizar a pesquisa e apresentar sua monografia.

Finalizando...

Neste módulo, você estudou que...


• O projeto de pesquisa constitui-se em uma ferramenta indispensável à atividade de investigação,
devendo servir para orientar seu estudo e poder comunicar às outras pessoas (orientador, membros de uma
banca, membros de outras instituições, entre outros) o que você pretende fazer.
• Na revisão da bibliografia, você pode encontrar diversas situações com relação à teoria existente sobre
seu problema de pesquisa. As situações mais comuns são as seguintes: a) Há uma teoria bem consolidada, que
possui evidências empíricas abundantes e que você considera adequada para abordar seu problema de
pesquisa; b) Há várias teorias para abordar seu problema de pesquisa e você deve escolher alguma delas; e c)
Não há teoria para abordar seu problema de pesquisa.
• Você deve formular uma hipótese que possa ser testada, isto é, que possa ser contrastada com os
dados da realidade.
• As definições dos conceitos utilizados na pesquisa científica são gerais, ou seja, amplas, enquanto
que as definições operacionais desses conceitos são restritas, voltadas para aspectos específicos do objeto

32
de estudo permitindo a observação e/ou mensuração das variáveis envolvidas no fenômeno que você pretende
analisar.
• As variáveis constituem-se de aspectos observáveis e mensuráveis de um fenômeno, que podem
apresentar diferentes valores (variável quantitativa) ou ser agrupados em categorias (variável qualitativa).
• Os objetivos estão relacionados ao seu problema de pesquisa e a sua hipótese. Um projeto de
pesquisa deve conter objetivos GERAIS e ESPECÍFICOS. Os objetivos gerais expressam os resultados mais
abrangentes que se pretendem alcançar com a pesquisa.
• Os objetivos específicos expressam os passos necessários para se alcançar o objetivo geral, em
outras palavras, constituem-se da desagregação, em ações, do objetivo geral.
• O cronograma da pesquisa é o planejamento das atividades que permitem o desenvolvimento do
projeto de pesquisa em um tempo preestabelecido.

Exercício

1. Escolha um tema de pesquisa e formule 3 perguntas relativas a esse tema, escrevendo-as.


Se não consegue fazer essas perguntas, proceda como indicado neste Módulo, leia artigos científicos
sobre o tema, analise os problemas levantados pelos autores desses artigos e procure inspiração para
conseguir elaborar seu próprio problema de pesquisa. Formule seu problema na forma de pergunta.

2. Explique a seguinte afirmação: “Há necessidade de se discutir teoricamente o que se pretende


estudar, em outras palavras, de discutir seu objeto de pesquisa utilizando teorias e conceitos característicos da
área científica”.

3. Escolha a sua problemática (abordagem teórica) e explicitação.

a. Que autores-chave discutem seu problema de pesquisa? Explicite.


b. Quais abordagens teóricas eles utilizam? Apresente as ideias centrais dos autores.
c. Como as abordagens servem para compreender seu problema de pesquisa? Explicite.

4. Explicite seu modelo de análise

a. Qual é a sua hipótese?


b. Quais são seus conceitos centrais?
c. Operacionalize sua hipótese.
d. Operacionalize seus conceitos.

33
Gabarito

1. Orientação de resposta: Para orientá-lo em sua resposta, segue um exemplo de tema e de


problema de pesquisa.
Tema de pesquisa: Metropolização e homicídios na região do Entorno de DF.
Pergunta-problema de pesquisa: Que relação existe entre o processo de metropolização de Brasília
e a ocorrência de altas taxas de homicídios em municípios do Entorno?
2. Orientação de resposta: Para responder a esta pergunta, revise a Aula 2 deste módulo. Lembre-
se que o objeto de pesquisa pode ser assim redigido: “Estudo sobre a relação entre o processo de
metropolização de Brasília e a ocorrência de altas taxas de homicídios nos municípios do Entorno do DF”.
Nesse caso, seria necessário procurar estudos e pesquisas que interpretem essa relação, a partir de
determinadas abordagens teóricas e utilizando determinados conceitos. Essas interpretações ampliam a
realidade sob estudo, indicam aspectos que devem ser considerados pelo pesquisador, relações importantes
entre os fenômenos, condições, etc.
3. Orientação de resposta: Uma vez formulado seu problema de pesquisa, é necessário pesquisar
bibliografia sobre o problema e analisar as interpretações teóricas e conceituais que os autores pesquisados
utilizam para interpretar a questão que lhe interessa estudar. É preciso também analisar como esses autores lhe
permitem compreender melhor seu problema, isto é, ampliá-lo e torná-lo mais rico e complexo. Para responder
a esta questão, revise a Aula 2 deste módulo.
4. Orientação de resposta: A explicitação do Modelo de Análise da pesquisa exige que você elabore
sua hipótese ou as interrogantes que orientarão sua pesquisa. Também deve explicitar os conceitos que
considera importantes para orientar seu trabalho. Para responder a estas questões, revise a Aula 3, deste
módulo.

34
MÓDULO
OS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA
3 PESQUISA

Apresentação do módulo

Você iniciará agora o terceiro módulo deste curso, nele você estudará sobre a elaboração dos
procedimentos metodológicos de sua pesquisa.

Objetivo do módulo

Ao final do módulo, você será capaz de:

• Identificar os elementos que fazem parte da metodologia;


• Explicitar a estratégia de pesquisa;
• Compreender o problema da amostragem;
• Listar os alcances e limites de duas técnicas de coleta de dados: questionário e entrevista;
• Listar os alcances e limites de duas técnicas de análise de dados: análise estatística e análise de
conteúdo;
• Descrever os pontos indispensáveis no conteúdo de uma conclusão.

Estrutura do Módulo

Este módulo contempla as seguintes aulas:

Aula 1 – Elementos da metodologia


Aula 2 – A amostra na pesquisa científica: conceitos e tipos de amostras
Aula 3 – A coleta de dados: as técnicas do questionário e da entrevista
Aula 4 – Análise dos dados e análise de conteúdo
Aula 5 – As conclusões

35
Aula 1 – Elementos da metodologia

Nesta aula você estudará sobre os elementos que estão incluídos nos procedimentos metodológicos de
uma pesquisa.

1.1 Quais são os elementos da metodologia?

A metodologia da pesquisa inclui vários elementos, como indica a definição a seguir:

A metodologia inclui simultaneamente a teoria da abordagem (o método), os


instrumentos de operacionalização do conhecimento (as técnicas) e a criatividade
do pesquisador (sua experiência, sua capacidade pessoal e sua sensibilidade). A
metodologia é muito mais que técnicas. Ela inclui as concepções teóricas da
abordagem, articulando-se com a teoria, com a realidade empírica e com os
pensamentos sobre a realidade. No entanto, nada substitui, a criatividade do
pesquisador (MINAYO, 2010, s. p).

Em outras palavras, a metodologia diz respeito à estratégia utilizada para abordar o problema de
pesquisa. De forma geral, a estratégia pode ser quantitativa ou qualitativa.
As técnicas de coleta são os instrumentos que você utiliza para coletar os dados (questionário,
entrevista etc.).
As técnicas de análise (estatísticas, análise de conteúdo etc.) são os instrumentos que você utiliza
para analisar as informações coletadas, à luz de sua hipótese ou interrogantes de pesquisa e dos objetivos de
seu estudo.

1.2 Decisões que você deve tomar

1.2.1 Decidir se a pesquisa é quantitativa ou qualitativa


Você deve decidir se sua pesquisa é qualitativa ou quantitativa. De forma sintética e simplificada, se
você pretende conhecer de maneira aprofundada a subjetividade de certos grupos (pesquisa qualitativa)
ou se vai responder a seu problema de pesquisa, quantificando informações (pesquisa quantitativa), ou se
acha mais adequado responder a seu problema utilizando uma estratégia combinada de pesquisa (quanti-
qualitativa).

Importante!
Para tomar estas importantes decisões você vai precisar ler atentamente o Módulo 4 : Tipos de
Pesquisa, técnicas de coleta e de análise de dados ou de informações.

36
1.2.2 Decidir sobre os instrumentos de coleta de dados, sujeitos, locais e amostras.
Você precisa coletar dados, orientado pelo seu modelo de análise e pelos objetivos de sua pesquisa.
Posteriormente, a análise desses dados permitirá a você: testar sua hipótese ou responder as suas perguntas de
pesquisa, isto é, a seu problema de pesquisa.
Para organizar a coleta dos dados você precisará responder à seguinte pergunta:
Quais as fontes de informações serão utilizadas: Primárias, secundárias, ambas?
De forma sintética e simplificada, se coletará as informações utilizando um instrumento elaborado por
você (dados primários), tais como o questionário, a entrevista etc., ou se utilizará dados coletados por outros
(dados secundários), por exemplo, os dados sobre diversos temas produzidos pelo Fórum Brasileiro de
Segurança Pública ou por outros organismos.

Você também precisa responder às seguintes perguntas:


- Que sujeitos serão observados? Isto é, explicitar quem são os sujeitos de sua pesquisa.
- Quantos sujeitos serão observados? De acordo com o caso, você “poderá estudar a população total
ou somente uma amostra representativa (quantitativamente) ou ilustrativa (qualitativamente) dessa população”
(GERHARDT, 2009, p.56).

Na próxima aula você estudará, de forma preliminar, a questão da amostra na pesquisa científica.

Aula 2 – Amostra na pesquisa científica: conceitos e tipos de


amostras

Nesta aula você estudará o papel da amostra na pesquisa científica, os principais conceitos e os tipos
de amostras.

2.1 Amostras
Já reparou que você usa a amostragem naturalmente na sua vida diária?

Quando você quer verificar a qualidade do tempero de um alimento em preparação, prova uma
porção desse alimento. Pronto! Você fez amostragem, isto é, extraiu do todo (população) uma parte (amostra)
com o objetivo de ter uma ideia sobre a qualidade do tempero do alimento (BARBETTA, 2006, p.41).
Na pesquisa científica, quando você deseja conhecer algumas características de uma população,
também pode observar apenas uma amostra de seus elementos, e com base nessa amostra, obter valores
aproximados para as características ou parâmetros de seu interesse (BARBETTA, 2006, p.41).

Veja alguns conceitos importantes:

37
População: é o conjunto de elementos para os quais você deseja que as conclusões da pesquisa
sejam válidas, com a restrição de que esses elementos possam ser observados ou mensurados sob as mesmas
condições.
Parâmetro: é uma medida que descreve certa característica dos elementos da população.
Amostra: parte dos elementos de uma população.
Amostragem: processo de seleção da amostra.
Estimativa: valor calculado com base na amostra, e usado com a finalidade de avaliar
aproximadamente um parâmetro.

Barbetta (2006), alerta que nem sempre a amostragem é interessante na pesquisa científica.
Veja a seguir quando a amostragem não é interessante:

- Quando a população que interessa estudar é pequena.


- Quando a característica é de tão fácil mensuração que não compensa investir num plano de
amostragem.
- Quando você necessita de alta precisão.

2.1.1 Tipos de amostragem


As amostragens podem ser:

 Aleatórias; e
 Não aleatórias.

Nos quadros a seguir, você encontra explicações sucintas de alguns dos tipos de amostragem.

 Amostragens aleatórias
O primeiro quadro apresenta amostragens aleatórias, segundo Barbetta (2006, p. 45, 47,49).

Você precisa ter a lista completa de elementos da população.


Amostragem aleatória simples Consiste em selecionar a amostra através de um sorteio sem
restrição. As tabelas de números aleatórios facilitam esta tarefa.

Você pode, por exemplo, tirar uma amostra de 1000 fichas,


dentre uma população de 5000 fichas, tirando sistematicamente,
Amostragem aleatória
uma ficha a cada cinco. Para garantir que cada ficha da
sistemática
população tenha a mesma probabilidade de pertencer à amostra,
você deve sortear a primeira ficha dentre as cinco primeiras.

38
Você pode dividir a população em subgrupos (estratos). Estes
devem ser internamente mais homogêneos que a população
Amostragem estratificada toda, com respeito às principais variáveis em estudo. Para
constituir cada estrato, são realizadas seleções aleatórias, de
forma independente.
Você deve manter a proporcionalidade do tamanho de cada
Amostragem estratificada estrato da população, na amostra. Essa amostra garante que
proporcional cada elemento da população tenha a mesma probabilidade de
pertencer à amostra.
Você seleciona a mesma quantidade de elementos em cada
Amostragem estratificada estrato. Essa amostragem é usada quando há interesse em obter
uniforme estimativas separadas para cada estrato, ou quando se deseja
comparar os diversos estratos.
Quadro 8 - Tipos de Amostragens aleatórias
Fonte: Barbetta (2006, p. 45, 47,49).

A seleção de uma amostra aleatória pode ser muito difícil, ou impossível. Pelo comum, isto se deve à
impossibilidade de se obter uma lista completa dos elementos da população.

 Amostragens não aleatórias

As técnicas de amostragem não aleatórias procuram gerar amostras que, de alguma forma
representam de modo razoável a população de onde foram extraídas. Veja no quadro, a seguir, as
amostragens não aleatórias (BARBETTA, 2006, p.54, 55).

Amostragem por cotas A população é vista de forma segregada, dividida em diversos grupos.
Seleciona-se uma cota de cada subgrupo, proporcional a seu tamanho.
A seleção não precisa ser aleatória. Para compensar a falta de
aleatoriedade na seleção, costuma-se dividir a população num grande
número de subgrupos.

Amostragem por julgamento Os elementos escolhidos são os julgados como típicos da população
que se deseja estudar.

Quadro 9 – Tipos de Amostragens não aleatórias


Fonte: Barbetta (2006, p. 45, 47,49).

39
Importante!
As decisões sobre amostragem quando necessárias devem ser discutidas com seu orientador. As
definições aqui explicitadas têm por objetivo indicar as possibilidades de amostragem e não ensinar
como você pode realizar os diferentes procedimentos.

Aula 3 – A coleta de dados: as técnicas do questionário e da


entrevista

Nesta aula você vai estudar os alcances e limites de duas técnicas de coleta de dados: o questionário e
a entrevista em profundidade.

Você tem que coletar dados para resolver seu problema de pesquisa. Você pode ter que testar uma
hipótese ou responder a interrogantes de pesquisa. Você formulou objetivos de pesquisa para alcançar esses
resultados. Os objetivos precisam ser alcançados coletando dados e informações. Para isso você pode ter que
consultar documentos, observar o fenômeno que lhe interessa ou perguntar a pessoas que possuem essa
informação.

Na coleta de dados, o importante não é somente coletar informações que deem


conta dos conceitos (através dos indicadores), mas também obter essas informações
de forma que se possa aplicar posteriormente o tratamento necessário para testar
as hipóteses. Portanto, é necessário antecipar, ou seja, preocupar-se, desde a
concepção do instrumento, com o tipo de informação que ele permitirá fornecer e
com o tipo de análise que deverá e poderá ser feito posteriormente. A escolha entre
os diferentes métodos de coleta de dados depende das hipóteses de trabalho e da
definição dos dados pertinentes decorrentes da problemática. É igualmente
importante levar em conta as exigências de formação necessárias para colocar em
prática de forma correta cada método escolhido. (GERHARDT, 2009, p. 56).

No que diz respeito às técnicas de coleta de dados, você precisa:

 Explicitar em que condições (situações, ambientes, número de pesquisadores/as) serão realizadas


as observações, coleta de dados, de informações, bem como da aplicação de instrumentos (GERHARDT, 2009,
p. 56).
 Explicitar os cuidados a serem tomados e os procedimentos em cada tipo de coleta de dados.
 Planejar a coleta dos dados. Caso haja uso do pré-teste, faz-se necessário explicitá-lo com
clareza; no uso de dados secundários, explicitar com detalhamento as fontes desses dados.
 Explicitar os procedimentos amostrais e estatísticos selecionados.

40
A seguir, você estudará os alcances e limitações de duas técnicas ou instrumentos de coleta de
informações junto às pessoas que possuem essa informação: o questionário e a entrevista.

3.1 Questionário
Segundo RICHARDSON (2011, p. 190), os questionários servem para descrever as características e medir
determinadas variáveis de um grupo social. O questionário pode medir variáveis individuais ou grupais. Por
exemplo: Qual é a sua opinião sobre os atuais partidos políticos brasileiros?
Ou perguntas múltiplas, com vários itens ligados ao problema estudado, geralmente constituídos
na forma de escalas, tipo de questionário utilizado para medir fenômenos atitudinais, como autoritarismo,
religiosidade, etc.

3.1.1 Vantagens do questionário


De acordo com Richardson (2011, p. 205) o questionário apresenta as seguintes vantagens:

 Permite obter informações de grande número de pessoas em tempo relativamente curto.


 Permite abranger uma área geográfica ampla, sem ter necessidade de treinamento demorado.
 Apresenta relativa uniformidade de uma medição a outra, quando a fase do pré-teste é bem
realizada - Quando anônimo, as pessoas podem sentir maior liberdade para expressar suas opiniões, mas as
respostas podem não ser honestas.
 A tabulação dos dados pode ser feita com maior facilidade e rapidez que outros instrumentos
(por exemplo, a entrevista).

Limitações do questionário
De acordo com Richardson (2011, p. 206) o questionário apresenta as seguintes limitações:

 Muitas vezes não se obtém os 100% de respostas aos questionários, podendo-se produzir vieses
na amostra que afetam a representatividade dos resultados.
 Problema de validade: Nem sempre é possível ter certeza de que a informação proporcionada
pelos entrevistados corresponde à realidade.
 Problema de confiabilidade: as respostas dos indivíduos variam em diferentes períodos de tempo.
As respostas podem variar, por exemplo, de acordo com a situação emocional da pessoa.
 Custo elevado.

Importante!
A análise estatística dos dados torna significativos os dados coletados.

3.2 Entrevista
A entrevista em profundidade ou não estruturada é uma técnica conveniente e estabelecida de pesquisa
social.

41
Você precisa saber que uma parte importante das pesquisas sociais se baseia na entrevista. Isto é, o
pesquisador pergunta às pessoas sua idade, estado civil, religião etc., o que pensam ou sentem sobre
determinadas situações ou pede que narrem um momento de suas vidas, fatos diversos etc. (BAUER e GASKELL,
2002, p.189).
A entrevista em profundidade é também chamada entrevista não estruturada. O pesquisado em vez de
responder à pergunta com base em alternativas pré-formuladas reflete sobre aspectos de um determinado
problema, por meio de uma conversação guiada por tópicos amplos oferecidos pelo pesquisador. Este tipo de
entrevista é útil quando você precisa conhecer os valores, crenças, experiências etc. dos pesquisados.

3.2.1. Alcances da entrevista


 Permite um contato íntimo com o entrevistado favorecendo a exploração de seus saberes, de
suas crenças, valores, representações (LAVILLE e DIONNE, 1999, p. 188).
 Permite flexibilidade ao pesquisador que pode explorar questões não consideradas inicialmente
nos tópicos-guia da entrevista e que surgem na interação com o respondente.

3.2.2 Limitações da entrevista


 Exige do pesquisador habilidade para levar seu interlocutor ao essencial, preservando a
espontaneidade e o caráter pessoal de suas respostas. (LAVILLE e DIONNE, 1999, p.190).
 Demanda do pesquisador tempo, pois as entrevistas costumam ser demoradas.
 A transcrição destas entrevistas é trabalhosa.

A análise do material colhido nas entrevistas pode ser feita por meio da análise do conteúdo, que você
estudará na próxima aula.

Aula 4 – Análise dos dados e análise de conteúdo

Você coletou as informações da sua pesquisa. O passo seguinte é sistematizar e analisar as informações.
Observe que dependendo da natureza das informações, o tratamento e análise deverão ser diferentes.

Tipos de informações Tratamento e análise


Quantitativas Estatísticos (análise de dados)
Qualitativas Análise de conteúdo
Quadro 10 – Informação X tratamento e análise

Importante!
42
Você precisa explicitar estes aspectos no seu projeto de pesquisa.

A análise das informações (quantitativas/qualitativas) é realizada considerando:

- o problema de pesquisa;
- a hipótese (ou interrogantes de pesquisa); e
- os objetivos.

Você deve ficar atento para novos aspectos e relações que pelo comum as pesquisas revelam, não
contemplados no modelo analítico em questão, pois eles permitem formular novas hipóteses e possibilitam
novos caminhos de pesquisa.

4.1. Análise quantitativa


O uso dos computadores transformou a análise dos dados. Os dados podem ser apresentados de
diversas formas favorecendo a qualidade das interpretações. A estatística descritiva e a expressão gráfica dos
dados são mais que simples métodos de apresentação dos resultados (QUIVY e CAMPENHOUDT, 2005).
O método estatístico é adequado para o estudo de correlações entre fenômenos que podem ser
exprimidos por variáveis quantitativas, especialmente numa perspectiva de análise causal (QUIVY e
CAMPENHOUDT, 2005).

4.1.1 Tipos de análise quantitativa


De acordo com Quivy e Campenhoudt (2005), considerando a origem dos dados, a análise quantitativa
pode ser classificada da seguinte forma:
- Quando os dados já existem, isto é, são prévios à pesquisa, a análise se denomina de secundária.
- Quando os dados são colhidos por meio de um inquérito por questionário, especialmente elaborado
para a pesquisa, a análise se denomina de tratamento de inquérito.
- Quando os dados analisados são textuais, a análise se denomina de análise de conteúdo.

4.1.2 Vantagem da análise quantitativa


Precisão e rigor.

4.1.3 Limitações da análise quantitativa


Nem todos os fatos interessantes são quantitativamente mensuráveis. O método estatístico descreve
relações, mas, não permite apreender o sentido.

4.2 Análise de conteúdo


A análise de conteúdo pode ser usada numa variedade de textos, por exemplo, literários, documentos
oficiais, artigos de jornais, entrevistas, audiovisuais etc.
Segundo BAUER & GASKELL (2002, p.195), há dois tipos de textos:

43
- Textos construídos no processo de pesquisa, tais como as transcrições de entrevistas e
protocolos de observação;
- Textos produzidos para outras finalidades, como jornais ou documentos oficiais das Corporações.

Importante!
Todos os textos podem ser trabalhados para fornecer respostas às perguntas do pesquisador.

As análises de conteúdo mais tradicionais acabam em descrições numéricas de algumas características


do texto analisado. Essa forma de análise presta atenção aos tipos, qualidades e distinções no texto antes de
realizar a quantificação. Considerando os aspectos quantidade/qualidade a análise de conteúdo é uma técnica
híbrida.
Os procedimentos de análise de conteúdo são numerosos. O mais simples consiste no cálculo de
frequências e percentagens que permitem estabelecer a importância dos elementos analisados pelo
pesquisador.
A análise de conteúdo quantitativo baseia-se na frequência de aparecimento de certas características
de conteúdo ou de correlação entre elas. São procedimentos extensivos.
A análise de conteúdo qualitativo baseia-se na presença ou ausência de características ou modos
segundo o qual os elementos do discurso estão articulados. O pesquisador elabora um conjunto de questões
para o tratamento do texto e procura as respostas. Essas questões incorporam os objetivos da pesquisa.

4.2.1 Vantagens da análise de conteúdo


Adequada para estudar o não dito, o que está implícito: os valores, as crenças, as representações sociais
etc.

4.2.2 Limitações
Pesado e laborioso.

Na próxima aula você vai estudar como elaborar os resultados de sua pesquisa

Aula 5 – As conclusões

As conclusões do trabalho de pesquisa constituem em um texto que você deve redigir.


É recomendado fazer uma pausa antes de redigir as conclusões do trabalho de pesquisa, descansar,
tomar certa distância do trabalho já produzido.

5.1 Conteúdo do texto de conclusão


De acordo com Quivy e Campenhoudt, 1995, apud Gerhardt, 2009, p. 61, devem ser tomados os
seguintes cuidados no texto de conclusão:
44
1 - Em primeiro lugar, você deve explicitar o problema de pesquisa que se propôs a resolver, a
hipótese levantada ou as interrogantes que orientaram sua pesquisa. Também descrever o trabalho de campo
feito, a estratégia de pesquisa adotada, os instrumentos utilizados e a coleta de dados e informações reunidas.
2 - Em segundo lugar, você precisa comparar a hipótese levantada ou as interrogantes que
orientaram sua pesquisa com os dados e informações coletadas. Descrever estas relações e problematizar
as distâncias observadas.
3 - Em terceiro lugar, você deve explicitar os novos conhecimentos que sua pesquisa produziu.
4 - Em quarto lugar, você deve avaliar e explicitar em que medida suas escolhas teóricas e conceituais,
seu modelo de análise, a hipótese levantada ou as interrogantes de pesquisa formuladas lhe permitiram avançar
no conhecimento sobre o fenômeno estudado.
5 - Em quinto lugar, você deve avaliar e explicitar em que medida a estratégia metodológica adotada,
os instrumentos de pesquisa utilizados lhe permitiram responder de forma adequada ao seu problema de
pesquisa.
6 - Uma última questão é sobre a aplicabilidade de seu trabalho. Você deve avaliar e explicitar em
que medida os resultados de sua pesquisa apontam para alguma perspectiva prática: Qual? Como? O que pode
ser feito? Mas, deve ficar claro que nem sempre as conclusões de uma pesquisa apontam claramente para uma
perspectiva prática.

Finalizando...
• A metodologia diz respeito à estratégia que você utiliza para abordar o problema de pesquisa.
De forma geral, a estratégia pode ser quantitativa ou qualitativa.
• Você deve decidir se sua pesquisa é qualitativa ou quantitativa. De forma sintética e simplificada,
se você pretende conhecer de maneira aprofundada a subjetividade de certos grupos (pesquisa qualitativa) ou
se vai responder a seu problema de pesquisa, quantificando informações (pesquisa quantitativa), ou se acha
mais adequado responder a seu problema utilizando uma estratégia combinada de pesquisa (quanti-qualitativa).
 População: é o conjunto de elementos para os quais você deseja que as conclusões da pesquisa
sejam válidas, com a restrição de que esses elementos possam ser observados ou mensurados sob as mesmas
condições.
 Amostra: Parte da população.
 As amostragens podem ser aleatórias e não aleatórias.
 As técnicas de amostragem não aleatórias procuram gerar amostras que, de alguma forma
representam de modo razoável a população de onde foram extraídas.
 Na coleta de dados, o importante não é somente coletar informações que deem conta dos
conceitos (através dos indicadores), mas também obter essas informações de forma que se possa aplicar
posteriormente o tratamento necessário para testar as hipóteses. (GERHARDT, 2009, p. 56).
 Segundo RICHARDSON (2011, p. 190), os questionários servem para descrever as características
e medir determinadas variáveis de um grupo social. O questionário pode medir variáveis individuais ou grupais.

45
 A entrevista em profundidade ou não estruturada é uma técnica conveniente e estabelecida de
pesquisa social.
 O método estatístico é adequado para o estudo de correlações entre fenômenos que podem ser
exprimidos por variáveis quantitativas, especialmente numa perspectiva de análise causal (QUIVY e
CAMPENHOUDT, 2005).
 A análise de conteúdo pode ser usada numa variedade de textos, por exemplo, literários,
documentos oficiais, artigos de jornais, entrevistas, audiovisuais etc.
 As conclusões do trabalho de pesquisa constituem em um texto que você deve redigir.

Exercícios

1. Considerando as técnicas de coleta, marque (V) para as sentenças verdadeiras e (F) para as
falsas:

( ) As técnicas de coleta são os instrumentos que você utiliza para coletar os dados.
( ) Qualquer técnica de coleta serve para todas as pesquisas.
( ) Questionários e entrevistas são exemplos de técnicas de coleta.
( ) Estatísticas e analise de conteúdo são exemplos de técnicas de coleta.

2. Use os números (1) para uma pesquisa quantitativa, (2) para uma pesquisa qualitativa e (3)
para uma pesquisa uma quanti-qualitativa:

( ) Conhecer de maneira aprofundada a subjetividade de certos grupos


( ) Responder o problema utilizando uma estratégia combinada de pesquisa
( ) Responder o problema de pesquisa de maneira ampla e objetiva
( ) Responder o problema de pesquisa, quantificando informações

3. Elabore a estratégia de sua pesquisa, definindo a natureza do estudo (quantitativo,


qualitativo, quanti-qualitativo), escolha as técnicas de pesquisa e de análise das informações e
fundamente cada uma das escolhas realizadas.

46
Gabarito

1. Resposta Correta: V – F – V - F
2. Resposta Correta: 2 – 3 – 3 - 1
3. Orientação de resposta: Para responder a esta questão, você precisa tomar decisões sobre a
natureza de sua pesquisa. Para isso deverá responder às seguintes perguntas: você pensa medir, quantificar
algum aspecto da realidade social? (pesquisa quantitativa), ou você pensa compreender algum aspecto da
realidade social? (pesquisa qualitativa)? Você pensa tanto medir quanto compreender algum aspecto da
realidade social? (pesquisa quanti-qualitativa).
Também precisa escolher as técnicas de pesquisa que utilizará. Para isso, procure responder a estas
perguntas: Você vai utilizar fontes de dados secundárias? Você vai aplicar um questionário? Ou, Você vai aplicar
entrevistas? Você vai fazer grupos focais?
Ainda é preciso escolher as técnicas de análise das informações. Lembre-se que existem técnicas de
análise qualitativas e quantitativas de dados e informações. Para isso procure responder a estas perguntas: Você
vai fazer análise de conteúdo? Ou, Você vai fazer análise estatística de seus dados?

47
MÓDULO

4 OS TIPOS DE PESQUISA

Apresentação do módulo

Neste módulo, você estudará os diferentes tipos de pesquisa científica classificados segundo a
abordagem, a finalidade, os objetivos e os procedimentos técnicos.

Objetivos do Módulo

Ao final desse módulo, você será capaz de:

• Identificar os tipos de pesquisa;


• Escolher o tipo de pesquisa adequado ao seu problema de pesquisa; e
• Selecionar o tipo de pesquisa científica fundamentando sua escolha.

Estrutura do módulo

Este módulo contempla as seguintes aulas:

• Aula 1 - Pesquisa científica e tipos de pesquisa


• Aula 2 - Tipos de pesquisa, segundo o tipo de abordagem
• Aula 3 - Tipos de pesquisa, segundo a finalidade e os objetivos
• Aula 4 - Tipos de pesquisa, segundo os procedimentos técnicos
• Aula 5 - Roteiro de pesquisa

Aula 1 – Pesquisa científica e tipos de pesquisa

Nesta aula, você vai estudar o que é pesquisa científica e os tipos de pesquisa.

1.1 O que é a pesquisa científica?

48
- Atividade voltada para a solução de problemas através do emprego de processos científicos
(CERVO e BERVIAN, 1983, p. 50).
- Procedimento reflexivo sistemático, controlado e crítico que permite descobrir novos fatos ou
dados, relações ou leis, em qualquer campo do conhecimento. (ANDER EGG, 1978, p. 28).

Observe que a pesquisa científica constitui-se em uma atividade reflexiva, sistemática, controlada e
crítica dirigida à solução de problemas.
Uma escolha que você precisa realizar é o tipo de pesquisa científica mais adequada a seu estudo.
Para isso, deve-se considerar a natureza de seu problema de pesquisa, o estado atual do conhecimento sobre o
problema e a construção da problemática, isto é, escolha teórica e conceitual e os objetivos da pesquisa.

1.2 Tipos de pesquisa


Veja, no quadro a seguir, os tipos de pesquisa classificados segundo critério de abordagem, finalidade,
objetivos e procedimentos técnicos.

Segundo Abordagem Pesquisa qualitativa


Pesquisa quantitativa
Pesquisa quanti-qualitativa
Segundo finalidade Pesquisa básica
Pesquisa aplicada
Segundo objetivos Pesquisa exploratória
Pesquisa descritiva
Pesquisa explicativa
Segundo procedimentos técnicos Pesquisa bibliográfica
Pesquisa documental
Pesquisa experimental
Levantamento
Pesquisa de campo
Pesquisa participativa
Pesquisa-ação
Quadro 11: Tipos de pesquisa.
Fonte: Elaborado pela professora Dra. Analía Soria Batista (UNB).

Aula 2 – Tipos de pesquisa, segundo o tipo de abordagem

Nesta aula, você vai estudar os tipos de pesquisa científica segundo abordagem: qualitativa,
quantitativa e quanti-qualitativa.

49
2.1 Tipos de abordagem
Considerando o tipo de abordagem, as pesquisas podem ser classificadas em:
• Pesquisa Qualitativa;
• Pesquisa Quantitativa; e
• Pesquisa Quanti-qualitativa.

Os problemas de pesquisa devem ser abordados com diversos instrumentos conceituais e


metodológicos, que possibilitem sua solução. Você tem que escolher a abordagem da sua pesquisa
considerando a natureza de seu problema de pesquisa à luz da construção teórica de seu objeto (da
problemática) e de sua hipótese.

Veja, a seguir, cada um dos tipos de pesquisa segundo a abordagem.

2.1.1 Pesquisa qualitativa


A pesquisa qualitativa tem um desenho flexível, você pode formular suas hipóteses inicialmente e
formular outras hipóteses durante o processo de pesquisa. Isso depende de sua capacidade de incorporar
perguntas novas à sua investigação, e de seu entusiasmo para aceitar as contradições e as tensões visibilizadas
durante o trabalho de campo.
A pesquisa qualitativa pode ser usada para realizar pesquisas exploratórias que antecedem às
pesquisas quantitativas, mas, não apenas. A pesquisa qualitativa pode ser um fim em si mesma.
Você escolhe fazer pesquisa qualitativa se deseja compreender diferentes dimensões da subjetividade
do grupo.

A pesquisa qualitativa trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações,


crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das
relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à
operacionalização de variáveis (MINAYO, 2001, p. 14).

Na pesquisa qualitativa, você, enquanto pesquisador, está presente fisicamente e interage com os
grupos que estuda. Evita, tanto quanto possível, alterar o ambiente e tenta reduzir ao máximo a violência
simbólica sobre os participantes na pesquisa. Você deve utilizar técnicas como entrevistas, grupos focais, diários
de campo, fotografias, vídeos, entre outros, a fim de coletar ou produzir informações.
A pesquisa qualitativa vai lhe exigir bastante tempo. Você tem que estabelecer uma boa relação com
os sujeitos da pesquisa, gerar empatia, confiança e harmonia no processo de comunicação, conseguindo, assim,
com que fiquem mais abertos e receptivos para interagir e trocar informações. Caso contrário, a pesquisa corre
o risco da falta de detalhes sobre o fenômeno que se pretende estudar em profundidade.
Uma das características da investigação qualitativa é o tempo da sua execução, que pode ser bastante
imprevisível.
50
Saiba Mais...
Sobre a questão do tempo, veja a seguir o relato sobre a pesquisa etnográfica de Malisnowski
(BRICEÑO-LEÓN, 163, p. 2003).
Quando Malisnowski foi às Ilhas Trobriand, em maio de 1915, não sabia por quanto tempo deveria
permanecer no arquipélago do Pacífico Ocidental. Essa interrogação não se fundamentava somente nas
dúvidas que afloravam do desenvolvimento da Primeira Guerra Mundial, da qual estava fugindo pelo temor de
ser recrutado como súdito austríaco, mas, sim, na imprevisível tarefa na qual estava se envolvendo.
Seguindo os ensinos de Boas, Malisnowsli dedicou-se a conviver com os nativos, aprender a sua
língua e registrar as observações sobre a vastidão da vida social no idioma local e sem traduções. Qualquer
candidato ao doutorado em antropologia social nas universidades tradicionais, como Oxford, deveria aprender
a língua local e dedicar-se a conviver durante um período de tempo prolongado na comunidade que foi eleita
para seu trabalho, sem saber quanto tempo levaria para terminá-lo.
A foto abaixo mostra o pesquisador com nativos nas ilhas Trobriand (Nova Guiné) durante trabalho
de campo em 1918.

Foto: WikimediaCommons.
Fonte: http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/sentidos-donmundo/imagens/antropologiaeciencia02.jpg/view

As técnicas qualitativas permitem o estudo aprofundado nas particularidades e especificidades dos


grupos estudados, e são restritivas quanto à generalização dos resultados da pesquisa.

2.1.2 Pesquisa quantitativa


Na abordagem quantitativa, a relação entre a teoria e a hipótese é estreita, esta última deriva
dedutivamente da teoria e posteriormente se prova ou falseia a hipótese, empiricamente.
A hipótese relaciona conceitos que são operacionalizados em variáveis. A validação da hipótese implica
explicitar as relações causais entre as variáveis. As variáveis são tratadas com procedimentos matemáticos e
estatísticos. Essa abordagem permite predizer e generalizar. Trabalha-se com amostras representativas do
universo estudado.
Os métodos quantitativos são débeis em termos de validade interna, nem sempre medem o que
pretendem medir, entretanto, são fortes em termos de validade externa, pois os resultados produzidos a partir
das amostras são generalizáveis para o conjunto da população.

51
Na pesquisa quantitativa você está distante fisicamente do grupo pesquisado. Contudo, sua presença
se revela fortemente no conteúdo do questionário, isto é, nas perguntas e nas alternativas de resposta, relativo
à hipótese que pretende testar.

Importante!
O ideal de objetividade depositado no uso do questionário é apenas uma ilusão alimentada pelo
instrumentalismo, pois toda resposta é inseparável da pergunta e da carga subjetiva tanto de quem
formula a pergunta (o pesquisador) como de quem a responde (o pesquisado) (REY, 2005, p. 41).

A coleta de dados tem que ser rigorosamente preparada, exigindo o treinamento dos aplicadores
do questionário, pois deve acontecer de forma homogênea, sem a interferência do aplicador.
A pesquisa quantitativa utiliza como instrumento de coleta um questionário com perguntas que
têm respostas padronizadas, aplicável a determinados informantes, em um período de tempo determinado, sob
certas condições.
A pesquisa quantitativa é mais usada em estudos que pretendem confirmar hipóteses. Isto é,
realizar uma verificação que tenha uma medição estrita, que proporcione igual oportunidade à hipótese de ser
aceita ou rejeitada na observação a ser realizada, ou, no caso de uma exigência de maior rigor e sustentação, no
experimento que irá se realizar (BRICEÑO-LEÓN, 163, p. 2003).
Também é possível realizar uma pesquisa quantitativa exploratória, sem hipótese inicial,
utilizando um grande número de variáveis. O resultado dessa pesquisa pode ser a formulação de hipóteses.

2.1.3 Pesquisa quanti-qualitativa


Esta abordagem pressupõe o uso integrado das técnicas quantitativas e qualitativas. Como já
apontado, a investigação quantitativa tem como objetivo trazer à luz dados, indicadores e tendências
observáveis. A investigação qualitativa, ao contrário, trabalha com valores, crenças, representações, hábitos,
atitudes e opiniões. Na compreensão dos fenômenos, essas abordagens podem ser complementares.

Importante!
As investigações qualitativas e quantitativas são bastante diferentes em termos de desenho, da relação
com os dados, da estratégia de investigação, da forma de organizar as equipes de trabalho e da visão
epistemológica (sobre a construção do conhecimento) do investigador. Essa diferença notável é que
nos permite considerar que devam estar integradas, e, por conseguinte, explorar as potencialidades de
cada uma. As diferenças, em vez de um obstáculo, são uma possibilidade que, adequadamente
utilizada, pode trazer produtos científicos da maior qualidade (BRICEÑO-LEÓN, 158, p. 2003).

52
Aula 3 – Tipos de pesquisa segundo finalidade e objetivo

Nesta aula você vai estudar tipos de pesquisa classificadas segundo a finalidade e o objetivo do estudo.

3.1 Tipos de pesquisa segundo finalidade


Considerando a finalidade, as pesquisas podem ser classificadas em:

Pesquisa básica: A pesquisa básica busca produzir conhecimentos que são importantes para permitir
o avanço científico, sem preocupação com sua aplicação prática imediata.
Pesquisa aplicada: A pesquisa aplicada busca produzir conhecimentos que permitem solucionar
problemas específicos, por meio da intervenção na realidade.

Observação:
Na Aula 2, do Módulo 2, foram apresentados os seguintes problemas de pesquisa: (a) analisar a relação
entre o tráfico de drogas e a ocorrência de homicídios; e (b) analisar se a legalização do consumo de drogas
pode reduzir as ocorrências de homicídios na sociedade.

Você percebeu que: o Problema (a) exige realizar uma pesquisa básica; e o Problema (b) uma pesquisa
aplicada?
Também observou a continuidade entre a proposta de pesquisa básica e a da aplicada, na medida em
que a intervenção ou ação de legalizar o consumo de drogas para reduzir a taxa de homicídios na sociedade
depende da comprovação da primeira relação, isto é, da relação entre os homicídios e o tráfico de drogas.

3.2 Tipos de pesquisa, segundo objetivo


Considerando o objetivo, as pesquisas podem ser classificadas em:
• Pesquisa exploratória;
• Pesquisa descritiva;
• Pesquisa explicativa.
A divisão entre a pesquisa exploratória, descritiva e explicativa não é estanque. Na prática científica,
você pode considerar esses três momentos como constitutivos do processo de pesquisa.

O pesquisador explora e delimita o problema de pesquisa, descreve o fenômeno de forma densa para
responder à pergunta de como se apresenta, e busca os fatores que o influenciam e o fazem comportar-se de
uma forma determinada, isto é, o pesquisador busca responder ao porquê do fenômeno.
Contudo, também é possível escolher uma pesquisa exploratória, descritiva, explicativa ou alguma
combinação que seja interessante para resolver o problema de pesquisa.

53
Pesquisa exploratória: Você deseja conhecer melhor seu problema de pesquisa, porém enfrenta
dificuldades para delimitá-lo de forma adequada? Então, é necessário realizar uma pesquisa exploratória. Na
pesquisa exploratória, o planejamento da pesquisa é flexível, e pode ser reformulado durante o trabalho de
campo.
Essa pesquisa pode ajudá-lo a elaborar de forma mais clara seu problema de pesquisa e/ou a formular
hipóteses, por exemplo.

Pesquisa descritiva: Você deseja conhecer profundamente o fenômeno que pretende estudar e lhe
interessa discutir como se apresenta? Escolha uma pesquisa descritiva. Essa pesquisa visa à descrição de
fenômenos que você quer estudar.
Pesquisa explicativa: Você deseja conhecer as razões, o porquê da ocorrência de determinado
fenômeno? Escolha uma pesquisa explicativa. É o tipo de pesquisa que exige identificar os fatores que
influenciam na ocorrência dos fenômenos.

Nesta aula, você estudou os tipos de pesquisa classificados segundo critérios de abordagem, finalidade
e objetivos e observou que pode existir continuidade entre tipos de pesquisa, na medida em que a
pesquisa científica é um processo, como nos casos da pesquisa básica e a aplicada, a pesquisa
exploratória, descritiva e explicativa.

Aula 4 - Tipos de pesquisa, segundo procedimentos técnicos

Nesta aula, você vai estudar os tipos de pesquisa científica classificados segundo os procedimentos
técnicos utilizados.

4.1 Tipos de pesquisa segundo procedimentos técnicos


Segundo os procedimentos utilizados pelo pesquisador, a pesquisa pode ser:
• Bibliográfica;
• Documental; e
• Experimental.

4.1.1 Pesquisa bibliográfica


A pesquisa bibliográfica pode ser um dos momentos de seu trabalho de pesquisa ou a sua pesquisa.

• Você faz pesquisa bibliográfica no início da elaboração do projeto de pesquisa, quando, escolhido
o tema, tem que elaborar o problema de pesquisa;
• Você faz pesquisa bibliográfica para discussão de seu problema de pesquisa;
• Você faz pesquisa bibliográfica para conseguir dialogar com os autores que pesquisaram seu
problema de pesquisa.
54
Contudo, a natureza de seu problema pode lhe exigir fazer uma pesquisa bibliográfica para
alcançar sua solução. Nesse caso, a pesquisa bibliográfica, que pode ser em livros, revistas científicas, jornais,
entre outros, é feita com o intuito de responder a um problema de pesquisa.
A pesquisa bibliográfica abrange a bibliografia publicada em relação ao problema de pesquisa, em
jornais, livros, monografias, dissertações, teses, artigos em revistas científicas, até em meios de comunicação
orais, filmes, documentários, gravações de programas etc. Esse tipo de pesquisa coloca o pesquisador em
contato com tudo que foi escrito, dito ou filmado sobre um assunto determinado, inclusive conferências
seguidas de debate, publicadas, gravadas, filmadas (LAKATOS e MARCONI, 1999, p.183).

Importante!
Muitos alunos procuram seus orientadores perguntando se podem fazer uma pesquisa teórica, baseada
em bibliografia. A resposta é sim. A pesquisa bibliográfica orientada por um problema de pesquisa,
hipótese e objetivos de pesquisa é o que constitui a coleta ou produção de informações nas pesquisas
empíricas.

4.1.2 Pesquisa documental


Na pesquisa documental você tem que coletar e analisar documentos, tais como regulamentos,
circulares, memorandos, ofícios, diários, vídeos, filmes, fotografias, entre outros.
A característica da pesquisa documental é que a fonte de coleta de dados está restrita a documentos,
escritos ou não, constituindo o que se denomina de fontes primárias (LAKATOS e MARCONI, 1999, p. 174).
Um alerta é que as fontes podem ser inexatas, distorcidas, errôneas, por essa razão você tem que poder
testar a validade e a fidedignidade das informações (LAKATOS e MARCONI, 1999, p. 174,176).
A pesquisa documental baseada em fontes primárias, não deve ser confundida com dados secundários
obtidos de livros, revistas científicas, teses, dissertações etc., que não são documentos. (LAKATOS & MARCONI,
1999, p. 176).

4.1.3 Pesquisa experimental


• Pesquisa experimental no campo / Experimento no campo
É um projeto de pesquisa com orientação teórica no qual o pesquisador manipula uma variável
independente em alguma situação social real com o propósito de provar alguma hipótese (FRENCH, 1979, p.
107).

No experimento de campo você manipula realmente as condições para determinar relações causais. O
contexto desse experimento é alguma situação social real existente, na qual se encontra o fenômeno a estudar.
Não se trata de um contexto artificial criado no laboratório. A distinção importante entre o experimento de
campo e o experimento de laboratório é estudar fenômenos sociais reais, no primeiro caso, e fenômenos sociais
artificiais, no segundo (FRENCH, 1979, p. 105).

55
É comum, esse tipo de experimento ter uma orientação prática. Por exemplo, estudos que avaliam a
efetividade de dois tipos de propaganda política: de métodos de ensino ou de diversos estímulos publicitários,
tratam de obter respostas diretas para problemas práticos de política, educação ou publicidade, sem a intenção
de aplicar alguma teoria geral (FRENCH, 1979, p. 105).

• Pesquisa experimental - Experimento no laboratório


Um experimento de laboratório é aquele em que o pesquisador cria uma situação com as condições
exatas que deseja e na qual controla algumas variáveis e manipula outras. O pesquisador observa e mede o
efeito da manipulação das variáveis independentes sobre as dependentes e manipula outras, em situação que
reduz a um mínimo a gravitação de outros fatores significativos. É importante destacar que esses experimentos
têm diversos graus de controle e precisão (FESTINGER, 1976, p. 137).
O objetivo do experimento de laboratório é criar uma situação na qual seja possível observar
claramente como operam as variáveis, em situações especialmente identificadas e definidas. (FESTINGER, 1976,
p. 139).

Saiba Mais...
Você vai compreender melhor a pesquisa experimental assistindo ao vídeo da experiência de
aprisionamento na Stanford University (disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Qhgl5aatEIg), em
1971. É um experimento clássico da psicologia social.

4.1.4 Outros tipos de pesquisa de acordo com os procedimentos técnicos


• Levantamento
O levantamento é a interrogação direta das pessoas cujo comportamento se deseja conhecer. Procede-
se à solicitação de informações a um grupo significativo de pessoas acerca do problema estudado para, em
seguida, mediante análise quantitativa, obterem-se as conclusões correspondentes aos dados coletados. Quanto
ao levantamento, recolhe-se informações de todos os integrantes do universo pesquisado, tendo, portanto, um
censo.

• Pesquisa de Campo
A pesquisa de campo é a investigação empírica junto às pessoas que você deseja estudar e de seu local:
empresa, hospital, prisão, delegacia etc. Permite o aprofundamento na realidade por meio da aplicação de
diversas técnicas de pesquisa, como entrevistas, questionários, grupos focais, observações densas, participantes
etc.
• Estudo de Caso
Se você desejar aprofundar o estudo de uma instituição, grupo, comunidade, conflito etc., pode realizar
um estudo de caso. Esse procedimento de pesquisa irá fornecer-lhe explicações do caso considerado e dos
elementos que lhe marcam o contexto. No estudo de caso, você utiliza várias técnicas de observação, tais como:
entrevistas em profundidade, entrevistas curtas e estruturadas, diversos documentos etc.

56
Se você escolher o estudo de caso terá a vantagem de aprofundamento do estudo e como limitação,
talvez, a impossibilidade de generalização. Mas este último depende da escolha criteriosa de casos típicos
representativos que permitam a generalização.
• Pesquisa participante (pesquisa etnográfica)
O foco aqui é na observação participante, isto é, quando o pesquisador que descreve a situação se
insere como objeto e como sujeito da observação.

Exemplificando...
Em Corpo e Alma: notas etnográficas de um aprendiz de boxe, Wacquant (2002) analisa a produção
social de um boxeador. Esse processo implica em, não apenas, a modelagem do corpo do boxeador, a partir
dos treinamentos específicos, mas também de suas emoções, de um aparelho sensório-motor transformado e
modelado por práticas cotidianas, tanto individuais como coletivas e cujos efeitos parecem invisíveis. Nesta
pesquisa Wacquant foi, ao mesmo tempo, pesquisador e aprendiz de boxeador. É um participante que observa.
O autor observa que “fazer ciência do boxe, essa "arte social", exige que mergulhemos nele como pessoa, que
nele se faça a aprendizagem e que se viva as principais etapas desde o interior" (WACQUANT, 2002, p. 60).

• Pesquisa-ação

A pesquisa-ação é um dos inúmeros tipos de investigação-ação, que é um


termo genérico para qualquer processo que siga um ciclo no qual se
aprimora a prática pela oscilação sistemática entre agir no campo da
prática e investigar a respeito dela. Planeja-se, implementa-se, descreve-se
e avalia-se uma mudança para a melhora de sua prática, aprendendo mais,
no correr do processo, tanto a respeito da prática quanto da própria
investigação (TRIPP, 2005, p. 445).

A maioria dos processos de melhora de situações reais inicia com a identificação do problema, continua com o
planejamento de uma solução, na sequência, tem lugar sua implementação, monitoramento e a avaliação de
sua eficácia.
Do mesmo modo, um tratamento médico também segue esse ciclo: inicia com o monitoramento de sintomas
para o diagnóstico da doença, na sequência, surge a prescrição dos medicamentos, o tratamento,
monitoramento e avaliação dos resultados (TRIPP, 2005, p. 446).

Importante!
É importante ressaltar que a lista de tipos de pesquisa, de acordo com o procedimento, não é exaustiva.

57
Aula 5 - Roteiro de pesquisa

O roteiro do projeto de pesquisa é uma importante etapa da produção científica elaborada pelo aluno.
É nesse instrumento que o aluno apresenta para o orientador seu objeto de estudo, a justificativa, os
objetivos e explicita o tipo de pesquisa que pretender utilizar, entre outros elementos.

Finalizando...
Neste módulo, você estudou que...
• Entre as definições de pesquisa científica é possível destacar a de Cervo e Bervian (1983, p. 50):
atividade voltada para a solução de problemas através do emprego de processos científicos.
• As pesquisas podem ser classificadas segundo critério de abordagem, finalidade, objetivos e
procedimentos técnicos.
• Considerando o tipo de abordagem, as pesquisas podem ser classificadas em: pesquisa qualitativa;
pesquisa quantitativa e pesquisa quanti-qualitativa.
• Considerando a finalidade, as pesquisas podem ser classificadas em: pesquisa básica e pesquisa
aplicada.
• Considerando o objetivo, as pesquisas podem ser classificadas em: pesquisa exploratória; pesquisa
descritiva e pesquisa explicativa.
• Segundo os procedimentos utilizados pelo pesquisador a pesquisa pode ser: bibliográfica;
documental e/ou experimental.
• Outros tipos de pesquisa segundo os procedimentos utilizados: levantamento, pesquisa de campo,
estudo de caso, pesquisa participante (pesquisa etnográfica) e pesquisa-ação.

Exercícios

1. Marque a alternativa que contém os tipos de pesquisa segundo finalidade:

a) Pesquisa qualitativa e quantitativa.


b) Pesquisa explicativa e descritiva.
c) Pesquisa documental e descritiva.
d) Pesquisa básica e aplicada.

2. Marque a alternativa que contém os tipos de pesquisa segundo objetivo:

a) Pesquisa quantitativa, qualitativa e quanti-qualitativa.


b) Pesquisa documental, bibliográfica e exploratória.
58
c) Pesquisa exploratória, descritiva e explicativa.
d) Pesquisa básica, aplicada e objetiva.

3. Escolha o tipo de pesquisa mais adequado ao seu problema de pesquisa e fundamente sua
escolha, considerando os seguintes aspectos:

• Qual é seu problema de pesquisa?


• Qual é a sua hipótese?
• Quais são seus objetivos de pesquisa?
• Quanto tempo tem para realizar sua pesquisa?
• Recursos para realizar a pesquisa (financeiros, afetivos, intelectuais).

59
Gabarito

1. Resposta Correta: Letra D


2. Resposta Correta: Letra C
3. Orientação de resposta: Aqui você deve ler atentamente as aulas do módulo 4 e considerar
criteriosamente que tipo de pesquisa permitirá compreender melhor seu problema de pesquisa, isto é,
responder melhor a sua pergunta de pesquisa. Não se esqueça de considerar também na sua escolha em que
medida o tipo de pesquisa selecionado lhe permite melhor provar sua hipótese ou responder a suas perguntas
de pesquisa e, ainda, alcançar seus objetivos no tempo que você dispõe para realizar o trabalho e com os
recursos intelectuais e financeiros que possui.

60
MÓDULO
A ELABORAÇÃO DE TRABALHOS CIENTÍFICOS
5
Apresentação do módulo

Neste módulo você vai aprender a redigir um tipo de trabalho científico: a monografia. Estudará a
natureza, estrutura, organização, conteúdo e normas desse trabalho e em especial, as peculiaridades da escrita
científica. Encontrará também indicações valiosas para redigir uma resenha crítica e um artigo científico.

Objetivos do módulo

Ao final do módulo, você será capaz de:

• Estruturar e organizar a monografia;


• Identificar os elementos necessários para redigir uma monografia respeitando as regras da escrita
cientifica;
• Identificar os elementos necessários para redigir uma resenha crítica; e
• Identificar os elementos necessários para redigir um artigo científico.

Estrutura do módulo

Este módulo está dividido nas seguintes aulas:

 Aula 1 - A monografia e a comunicação científica.


 Aula 2 - Elementos da monografia.
 Aula 3 - Resenha Crítica e Artigo Científico.

Aula 1 – A monografia e a comunicação científica

Nessa aula você vai aprender como redigir sua monografia com sucesso.

1.1 O que é Monografia?


Segundo Laville e Dionne (1999, p. 247), “entende-se por monografia um estudo aprofundado de
determinada questão. A monografia é a forma mais elaborada do Relatório de Pesquisa”.

61
Lakatos e Marconi (1991, p. 235) indicam que a monografia “é um estudo sobre um tema específico ou
particular, com suficiente valor representativo e que obedece a rigorosa metodologia. Investiga determinado
assunto não só em profundidade, mas também em todos os seus ângulos e aspectos, dependendo dos fins a
que se destina”.
Sinteticamente, a monografia é um texto argumentativo que informa e organiza de forma analítica e
critica informações coletadas e/ou produzidas para solucionar um problema de pesquisa.
Monografia teórica: Você propôs resolver um problema de pesquisa por meio de revisão bibliográfica.
Monografia empírica: Você propôs resolver um problema de pesquisa coletando e produzindo dados.
Monografia de análise de experiências: Você propôs resolver um problema de pesquisa vinculado a
suas experiências profissionais.

Imagine que você elaborou seu projeto de pesquisa e fez sua pesquisa, certo? Agora precisa comunicar
sua monografia, que como acabou de ler, pode ser teórica, empírica ou de análise de experiências profissionais.
A dúvida frequente de muitos alunos de cursos de especialização é: como redigir o trabalho científico,
isto é, como comunicar a pesquisa realizada, também é a sua dúvida?

1.1.2 O que é comunicar um trabalho científico?


Comunicar um trabalho científico é apresentar publicamente os resultados do trabalho que você
demorou um tempo considerável para fazer. Em algumas universidades, como exemplo, no Departamento de
Sociologia do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Brasília, os discentes do Bacharelado dispõem de
1 ano letivo para elaborar o projeto de pesquisa, fazer a pesquisa e redigir a monografia de final de curso. Os
estudantes do Curso de Segurança Pública e Cidadania dispõem do mesmo tempo.

1.1.3 Aspectos lógicos da comunicação científica


A escrita científica tem como objetivo argumentar determinado posicionamento com relação à
resolução do problema de pesquisa.
Em sua monografia, você pode defender uma ideia determinada, sendo que sua pesquisa deve justificar
a defesa da mesma. Você, autor, defende elaborando uma trama tecida entre argumentos e dados empíricos.
Seu trabalho deve significar um aporte ao conhecimento antecedente de seu problema de pesquisa, mesmo
que seja pequeno.
Na redação de sua monografia você deve apresentar os autores escolhidos para o diálogo científico,
colocá-los a dialogar entre eles, dialogar com eles. Isso obriga você a resumir, citar textualmente, comentar e
criticar a produção bibliográfica desses autores.
Você já discutiu esse assunto no marco teórico ou de referência de seu projeto no Módulo 2, aula 2.
Você vai precisar de uma leitura mais minuciosa e de muita paciência!
“ - Você deve redigir seu trabalho em terceira pessoa (a pesquisa aponta para..., os dados enfatizam...)
e não na primeira pessoa (analisei os dados..., apliquei 40 entrevistas). “

62
A maioria dos autores defende o uso da terceira pessoa, e uma minoria da primeira, sendo
recomendável e menos arriscado usar a primeira opção.
Na próxima aula, você estudará os elementos da monografia.

Aula 2 – Elementos da monografia

Nesta aula você vai estudar os elementos do conteúdo da monografia e os elementos pré-textuais e
pós-textuais.

2.1 O conteúdo da monografia


Os pressupostos lógicos que você estudou na aula 1 exigem que inclua na redação de seu trabalho os
seguintes elementos: INTRODUÇÃO – DESENVOLVIMENTO - CONCLUSÃO

2.1.1 Introdução
Parte inicial do texto, que contém a delimitação do assunto tratado ou problema de pesquisa, os
objetivos da pesquisa e outros elementos necessários para apresentar o tema do trabalho, como por exemplo,
a contextualização do problema.

2.1.2 Desenvolvimento
É a parte principal do texto, que contém a exposição ordenada e detalhada de seu trabalho. Divide-se
em seções e subseções, que variam em função da abordagem do tema e do método.
No Desenvolvimento, você deve considerar os aspectos a seguir:
Marco teórico-conceitual -> Métodos ou procedimentos metodológicos -> Resultados -> Discussão

Marco teórico-conceitual
Aqui você discute as interpretações de seu problema, e apresenta a revisão bibliográfica das pesquisas.
Considere seriamente que a investigação científica não constitui uma criação totalmente original, ela é
uma contribuição para uma discussão que tem sua tradição no campo científico da sua pesquisa (Sociologia,
Política, Antropologia, Psicologia, Direito etc.).
Você deve abordar criticamente as discussões que diversos autores têm feito sobre seu problema de
pesquisa. Você pode até rejeitar essas discussões, mas, elas devem constar de seu trabalho.

Métodos ou procedimentos metodológicos


Que tipo ou tipos de pesquisa realizou? (Tipos de pesquisa, Módulo 4, Aula 1) Que instrumentos ou
técnicas de pesquisa você utilizou? (Questionário, entrevista semiestruturada, aberta, grupos focais etc.). Quem
participou da pesquisa? Como construiu a amostra? Quais características teve essa amostra? Que dificuldade
encontrou durante seu trabalho de campo? Em que medida essas dificuldades podem ter afetado a coleta,

63
produção das informações ou os resultados de sua pesquisa? Em síntese, a apresentação e discussão do caminho
planejado e realizado por você para realizar sua pesquisa, mas, não apenas de forma descritiva, mas também
analítica e crítica.

Resultados
Você apresenta e analisa os dados produzidos com os procedimentos metodológicos empregados.

Discussão
Você retoma sua discussão teórica - conceitual, os resultados das pesquisas consultadas, isso é, os
antecedentes bibliográficos de seu problema de pesquisa e avalia os resultados de seu estudo à luz desses
elementos.

2.1.3 Conclusão do trabalho


A conclusão é a parte final do seu estudo. O conteúdo da conclusão deve corresponder aos objetivos
ou hipóteses propostas no trabalho de pesquisa, discutidos à luz da análise e interpretação da pesquisa de
campo.
A elaboração da monografia exige um grande esforço, e muitos alunos finalizam o trabalho exaustos.
Sempre falta a Conclusão, que, normalmente, é redigida no “último minuto” e assim, essa parte fundamental da
monografia (e de qualquer outro trabalho científico) fica prejudicada, afetando a qualidade do trabalho como
um todo.

Importante!
Em face do desafio da elaboração da Conclusão de seu trabalho, descanse alguns dias, depois releia seu
trabalho, respire fundo e inicie essa importante tarefa.

Como escrever a conclusão?


Volte a seu problema de pesquisa: Qual foi sua pergunta? Que problema você quis resolver? Qual foi
sua hipótese? Quais objetivos quis alcançar?

Reflita em que medida e como conseguiu resolver seu problema de pesquisa. Qual foi a sua
contribuição ao conhecimento sobre a questão? Que lacunas no conhecimento ainda precisam ser preenchidas?
Que novos caminhos de pesquisa podem ser trilhados no futuro?

64
2.2 Conselhos práticos para redigir a monografia

Conselho 1 Coloque um título objetivo, que comunique o trabalho que você realizou.

Conselho 2 Elabore um “sumário rascunho” da monografia. Esse sumário é um guia básico que pode ser
alterado na medida que você avança na escrita da monografia.

Conselho 3 Defina, após elaboração dos tópicos que vai desenvolver em sua monografia, o que vai
escrever em cada tópico (introdução, capítulos 1, 2, 3 etc). Lembre que o rascunho do sumário
e a definição do que vai escrever em cada tópico anunciado é flexível, e pode mudar na
medida em que você avança na escrita de seu trabalho. O importante é que o rascunho é um
guia básico para orientar a redação de sua monografia.

Quadro 12 – Conselhos para redigir a monografia


Fonte: Elaboração da professora Dra. Analía Soria Batista (UNB)

Importante!
Finalizada a redação da monografia com base no sumário que redigiu para organizar o conteúdo do
seu estudo, você deve prestar atenção para outros elementos que integram o corpo do trabalho. Alguns
deles se apresentam antes e se denominam elementos pré-textuais do conteúdo da monografia, outros,
se apresentam após esse conteúdo, e se denominam elementos pós-textuais.

2.3 Elementos pré -textuais do conteúdo da monografia


Os elementos pré-textuais são:

• Capa;
• Folha de Rosto;
• Errata;
• Folha de Aprovação;
• Dedicatória;
• Agradecimentos;
• Epígrafe;
• Sumário;
• Resumo e Palavras-Chave;
• Listas e;
• Sumários.

Os elementos pré-textuais devem ser apresentados na ordem a seguir.

65
2.3.1 Capa
Na capa da monografia se imprimem as informações relativas à sua identificação.

2.3.2 Folha de rosto


A folha de rosto deve conter os elementos que permitem a identificação do trabalho.

2.3.3 Errata
Elemento opcional, que consiste de uma lista de erros cometidos na escrita do trabalho e precedido
pelas folhas e linhas onde eles ocorrem, seguido pelas correções correspondentes. Deve ser inserida logo após
a folha de rosto e conter a referência do trabalho para facilitar sua identificação.

2.3.4. Folha de Aprovação


A folha de aprovação é um espaço destinado para o registro, pelo o(a) orientador(a) e professores
convidados, do conceito atribuído ao trabalho apresentado.

2.3.5. Dedicatória (opcional)


Você pode homenagear ou indicar pessoas a quem dedica seu trabalho.

2.3.6 Agradecimentos (opcional)


Mencione nos agradecimentos as instituições e pessoas do meio acadêmico que efetivamente
colaboraram para realização de seu trabalho de pesquisa e para redação da monografia.

Exemplificando...
Você agradece ao professor orientador, à instituição que subvencionou o curso e ou pesquisa, ao corpo
docente do curso, às pessoas que auxiliaram na coleta dos dados, às pessoas que auxiliaram na transcrição das
entrevistas ou na sistematização dos dados, as pessoas que leram o rascunho de seu trabalho e fizeram
sugestões, dentre outros.

2.3.7. Epígrafe (opcional)


Você pode apresentar uma citação, seguida de indicação de autoria, que tenha relação com o conteúdo
da monografia. Também pode haver epígrafes na abertura de cada capitulo do trabalho, por exemplo.

2.3.8 Resumo e Palavras- chave ou descritores


No resumo da monografia explicite, sucintamente, os objetivos, a metodologia, os resultados e as
conclusões.
O resumo deve ser redigido em parágrafo único, conter no máximo 500 palavras e ser seguido dos
termos representativos do conteúdo do trabalho (palavras-chave ou descritores). No exemplo, um modelo de

66
resumo da discente Jéssica, do Curso em Segurança Pública e Cidadania do Departamento de Sociologia da
Universidade de Brasília, e de descritores ou palavras-chave.

2.3.9. Listas (opcional)


Você pode elaborar sua Lista de ilustrações. Elabore essa lista seguindo a mesma ordem apresentada
no texto, cada item designado por seu nome específico, acompanhado do número da página.
Recomenda-se a elaboração de lista específica para cada tipo de ilustração (desenhos, fluxogramas,
fotografias, gráficos, mapas, tabelas, organogramas, plantas, quadros, retratos e outros).

2.3.10. Lista de abreviaturas e siglas


Constituída de uma relação alfabética das abreviaturas e siglas utilizadas no texto, seguidas das palavras
ou expressões correspondentes grafadas por extenso. Quando necessário, recomenda-se a elaboração de lista
própria para cada tipo.

2.3.11. Sumário
Elemento obrigatório que consiste na enumeração das principais divisões, seções e outras partes do
trabalho, na ordem e grafia que aparecem no mesmo, acompanhadas do respectivo número da página.

2.3.12. Elementos pós-textuais do conteúdo da monografia


Você encontra aqui os elementos que complementam o trabalho monográfico. Após apresentação do
conteúdo da monografia, elabore a lista de Referências Bibliográficas, o Glossário e organize os Índices e
Anexos, se necessário.

2.3.13. Referências
Nas Referências constam os autores citados no corpo de sua monografia. Elas devem ser organizadas
em ordem alfabética, caso as citações no texto obedeçam ao sistema autor-data, ou conforme aparecem no
texto, quando utilizado o sistema numérico de chamada. É necessário indicar em nota de rodapé a norma
utilizada para elaboração das referências.

2.3.14. Glossário (opcional)


Consiste em lista alfabética das palavras ou expressões técnicas de uso restrito ou pouco conhecidas
utilizadas no texto, acompanhadas das respectivas definições.

2.3.15. Apêndices
São textos ou documentos elaborados pela autora, a fim de complementar sua argumentação. Os
apêndices devem ser identificados por letras maiúsculas consecutivas, seguidas de hífen e pelos respectivos
títulos.

67
2.3.16. Anexos (opcional)
De acordo com Oliveira Funaro (2009), anexos são textos ou documentos não elaborados pelo autor
que serve de fundamentação, comprovação e ilustração. Os anexos devem ser identificados por letras maiúsculas
consecutivas, seguidas de hífen e pelos respectivos títulos.

2.3.17. Índice (opcional)


De acordo com Oliveira Funaro (2009), o índice é uma lista de palavras ou frases ordenadas
alfabeticamente (autor, título ou assunto) ou sistematicamente (ordenação por classes, numérica ou cronológica)
que localiza e remete para as informações contidas no texto. A paginação deve ser contínua, dando seguimento
ao texto principal.

Nessa aula, você estudou como organizar a apresentação de seus trabalhos científicos. Estudou
também, sobre as peculiaridades da escrita científica, isso é, as regras da comunicação escrita no
mundo científico.

Aula 3 - A Resenha Crítica e o Artigo Científico

3.1 Resenha Crítica


A resenha crítica de uma obra, artigo ou livro constitui de uma importante contribuição, já que não se
trata de resumir um texto, mas, de avaliá-lo cientificamente.
É um texto que, além de resumir um artigo ou livro, realiza uma avaliação, uma crítica, uma leitura
peculiar discutindo aspectos de ordem teórica e metodológica, resultados de pesquisa, apontando os aspectos
positivos e negativos etc. Trata-se de um texto de informação e de opinião. Para fazer uma Resenha Crítica é
necessário ter conhecimento da área.
A Resenha Crítica não deve ser elaborada mediante um resumo a que se acrescenta ao final, uma
avaliação ou critica. A postura crítica deve estar presente desde a primeira linha. O tom da crítica poderá ser
moderado, respeitoso, agressivo etc., e os resenhistas também se tornam alvo de críticas por parte dos criticados.

3.1.1. Estrutura da Resenha Crítica


Segundo Lakatos e Marconi (1991, p. 245 246) a resenha crítica apresenta a seguinte estrutura:

A. Referência
- Autor (es)
- Título (subtítulo)
- Local de edição, editora e data
- Número de páginas
- Ilustração (tabelas, gráficos, fotos etc.)

68
B. Credenciais do autor
- Informações gerais sobre o autor
- Autoridade no campo científico - Quem fez o estudo? - Quando? Por quê? Onde?

C. Conhecimento
- Resumo detalhado das ideias principais
- De que trata a obra? O que diz?
- Possui alguma característica especial?
- Como foi abordado o assunto?
- Exige conhecimentos prévios para entendê-lo?

D. Conclusão do autor
- O autor faz conclusões? (ou não?)
- Onde foram colocadas? (Ao final do livro ou dos capítulos?)
- Quais foram?

E. Quadro de referências do autor


- Modelo teórico
- Que teoria serviu de embasamento?
- Qual o método utilizado?

F. Apreciação
1. Julgamento da obra
Como se situa o autor em relação a:
- Às escolas ou correntes científicas, filosóficas e culturais?
- Às circunstâncias culturais, sociais, econômicas, históricas etc.?
2. Mérito da obra
- Qual a contribuição dada?
- Ideias originais, criativas?
- Conhecimentos novos, amplos, abordagens diferentes?
3. Estilo
- Conciso, objetivo, simples?
- Claro, preciso, coerente?
- Linguagem correta?
- Ou o contrário?
4. Forma
- Lógica, sistematizada?
- Há originalidade e equilíbrio na disposição das partes?
5. Indicação da obra

69
- A quem é dirigida: grande público? Especialistas? Estudantes?

3.2 O Artigo Científico


Lakatos e Marconi (1991, p. 238) definem os Artigos Científicos como pequenos estudos, porém
completos, que tratam de uma questão verdadeiramente científica, mas que não se constituem em matéria de
um livro. Apresentam o resultado de estudos ou pesquisas e distinguem-se dos diferentes tipos de trabalhos
científicos pela sua reduzida dimensão e conteúdo. São publicados em periódicos ou revistas especializadas e
formam a seção principal deles. Concluído um trabalho de pesquisa, para que os resultados sejam conhecidos,
faz-se necessário sua publicação. Esse tipo de trabalho proporciona não só a ampliação de conhecimentos como
também a compreensão de certas questões.

3.2.1 Estrutura do Artigo


O Artigo Científico tem a mesma estrutura exigida para os trabalhos científicos. Segundo Lakatos e
Marconi (1991, p.239, 240), o Artigo Científico apresenta as seguintes partes:

A. Referência
- Autor (es)
- Título (subtítulo)
- Local de edição, editora e data
- Número de paginas
- Ilustração (tabelas, gráficos, fotos etc.)

B. Sinopse

C- Corpo do Artigo
- Introdução: apresentação do assunto, objetivo, metodologia, limitações e proposição.
- Texto: exposição, explicação, demonstração do material, avaliação dos resultados e comparação com
obras anteriores.

D- Comentários e Conclusões
- Dedução lógica, baseada e fundamentada no texto, de forma resumida.

E- Parte Referencial
- Bibliografia.
- Apêndices ou Anexos (quando houver necessidade).
- Agradecimentos.
- Data.

70
Importante!
A divisão do Corpo do Artigo pode sofrer alterações, de acordo com o texto, e ser subdividido em mais
itens. Por exemplo:
- Introdução - Material e Método - Resultados - Conclusões; ou
- Introdução - Aspectos teóricos - Procedimentos metodológicos - Resultados - Discussão e
conclusões.

Finalizando

• Segundo Laville e Dionne (1999, p. 247), “entende-se por monografia um estudo aprofundado de
determinada questão. A monografia é a forma mais elaborada do Relatório de Pesquisa”.
• O tipo de monografia depende do tipo de problema de pesquisa que você se propôs a resolver.
A monografia pode ser: teórica; empírica ou de análise de experiências profissionais.
• Comunicar um trabalho científico é apresentar publicamente os resultados do trabalho que você
demorou um tempo considerável para fazer.
• A escrita científica tem como objetivo argumentar determinado posicionamento com relação à
resolução do problema de pesquisa.
• Os pressupostos lógicos que você estudou na aula 1 exigem que inclua na redação de seu
trabalho os seguintes elementos: introdução, desenvolvimento e conclusão.
• A resenha crítica de uma obra, artigo ou livro constitui uma importante contribuição já que não
se trata de resumir um texto, mas, de avaliá-lo cientificamente.
• Lakatos e Marconi (1991, p. 238) definem os Artigos Científicos como pequenos estudos, porém
completos, que tratam de uma questão verdadeiramente científica, mas que não se constituem em matéria de
um livro.

Exercícios

1. Qual a diferença entre Monografia Empírica e Teórica?

a. Monografia Teórica propõe resolver um problema de pesquisa coletando e gerando dados.


b. Monografia Teórica propõe resolver um problema de pesquisa vinculado a suas experiências
profissionais.
c. Monografia Empírica propõe resolver um problema de pesquisa por meio de revisão bibliográfica.
d. Monografia Empírica propõe resolver um problema de pesquisa coletando e produzindo dados.

71
2. Considerando os conselhos práticos para redigir a monografia, marque as alternativas
verdadeiras.

a. Coloque um título que permita abranger vários temas.


b. Elabore um “sumário rascunho” da monografia. Esse sumário é um guia básico que pode ser alterado.
c. Defina, após elaboração dos tópicos, o que vai desenvolver na sua monografia, o que vai escrever
em cada tópico.
d. O principal tema da monografia deve ser somente defendido.

3. Leia atentamente o tópico Instruções Gerais de Apresentação das Diretrizes para apresentação
de dissertações e teses da USP. Após, responda as seguintes questões:

a. Quais as características devem ter a redação de seu trabalho?


b. Como proceder para sistematizar o conteúdo de seu trabalho?
c. Quais os elementos compreendem as ilustrações na apresentação do trabalho científico?
d. Quais critérios devem ser atendidos para apresentação de ilustrações, gráficos e tabelas? Identifique
corretamente, do ponto de vista formal as seguintes ilustrações, gráficos e tabelas, e comente.

72
Gabarito

1. Resposta Correta: Letra D


2. Resposta Correta: Letras B e C
3. Orientação para resposta: As respostas para as questões estão no material recomendado para
leitura.

73
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Evitando confusões”. In: BAUER, Martin, W. GASKELL, George. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som.
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estudo comparado das melhores práticas canadenses, britânicas e japonesas. Monografia do Curso de
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MARSIGLIA, RMG and GOMES, MHA., orgs. O Clássico e o Novo: tendências, objetos e abordagens em ciências
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