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Introdução

Caros(as) Colegas:

Com a generalização dos exames do 9.o Ano no final do ano lectivo de 2004-2005, julgámos útil publicar
alguns materiais que, de alguma forma, possam orientar o professor na preparação dos alunos para essa prova.
Não tendo sido ainda tornado público (à data de elaboração deste material) o seu modelo oficial, baseámos a
nossa matriz, tanto a nível da estrutura, como da tipologia dos itens, assim como das competências avaliadas,
nas Provas de Aferição de Língua Portuguesa do 3.o Ciclo do Ensino Básico realizadas nos dois últimos anos.
Tentámos assim aproximar-nos do que poderá vir a ser um eventual modelo de prova, com uma avaliação abran-
gente de competências, quer a nível da expressão e compreensão escritas, quer a nível do funcionamento da
língua.
Deste modo, cada uma das provas é constituída por duas partes (1.a parte: compreensão de texto + funciona-
mento da língua; 2.a parte: produção de texto), integrando extractos de obras dos diversos géneros literários incluí-
das no programa e, ainda, outros textos de carácter didáctico/informativo associados tematicamente.
Como um instrumento integral, cada prova que aqui vos apresentamos compreende todos os elementos que
achámos pertinentes para a sua utilização como prova-modelo, incluindo para esse efeito uma cotação e as res-
pectivas soluções e sugestões de correcção que, sem a intenção de constituírem uma rígida grelha de critérios
semelhante às fornecidas aos correctores, pode permitir ao professor interpretar melhor o âmbito das questões
propostas, assim como avaliar algumas estratégias de resposta do aluno.
Num claro propósito de flexibilidade, optámos pela publicação sob a forma de materiais editáveis, podendo o
professor utilizar cada instrumento não só como um objecto integral, mas também parcialmente, como um con-
junto de itens ou módulos, independentes e transformáveis, conferindo-lhe assim a possibilidade de adaptá-los
às suas próprias circunstâncias lectivas.
Desejámos com esta opção acrescentar à uniformidade que um modelo de exame nacional sempre acarreta,
uma potencial versatilidade que possa ir mais ao encontro da diversidade das escolas.

O Autor
Fernando Cunha Rebelo

©2004 • LÍNGUA PORTUGUESA – 9. o A NO 1


PROVA 1
Competências/Conteúdos gerais
Compreensão de texto escrito Conhecimento explícito da língua Produção de texto

1.ª Parte
Lê com muita atenção este texto de Vergílio Ferreira. Podes consultar os significados de
algumas palavras, apresentados, por ordem alfabética, a seguir ao texto.

TEXTO
Nunca o Silvestre tinha tido uma pega com ninguém. Se às vezes guerreava, com palavras azedas
para cá e para lá, era apenas com os fundos da própria consciência. Viúvo, sem filhos, dono de umas lei-
ras herdadas, o que mais parecia inquietá-lo era a maneira de alijar bem depressa o dinheiro das ren-
das. Semeava tão facilmente as economias, que ninguém via naquilo um sintoma de pena ou de justiça
5 — mesmo da velha —, mas apenas um desejo urgente de comodidade. Dar aliviava (...).
Ora um domingo, o Silvestre ensarilhou-se, sem querer, numa disputa colérica com o Ramos da loja.
Fora o caso que ao falar-lhe, no correr da conversa, em trabalhadores e salários, Silvestre deixou cair
que, no seu entender, dada a carestia da vida, o trabalho de um homem de enxada não era de forma al-
guma bem pago. Mas disse-o sem um desejo de discórdia, facilmente, abertamente, com a mesma fata-
10 lidade clara de quem inspira e expira. Todavia, o Ramos, ferido de espora, atacou de cabeça baixa:
— Que autoridade tem você para falar? Quem lhe encomendou o sermão?
— Homem! — clama o Silvestre, de mão pacífica no ar. — Calma aí, se faz favor. Falei por falar.
— E a dar-lhe. Burro sou eu em ligar-lhe importância. Sabe lá você o que é a vida, sabe lá nada. Não
tem filhos em casa, não tem quebreiras de cabeça. Assim, também eu.
15 — Faço o que posso — desabafou o outro.
— E eu a ligar-lhe. Realmente você é um pobre diabo, Silvestre. Quem é parvo é quem o ouve. Você
é um bom, afinal. Anda no mundo por ver andar os outros. Quem é você, Silvestre amigo? Um inócuo, no
fim de contas. Um inócuo é o que você é.
Silvestre já se dispusera a ouvir tudo com resignação. Mas, à palavra «inócuo», estranha ao seu ouvido
20 montanhês, tremeu. E à cautela, não o codilhassem por parvo, disse:
— «Inoque» será você.
Também o Ramos não via o fundo ao significado de inócuo. Topara por acaso a palavra, num diálogo
aceso de folhetim, e gostara logo dela, por aquele sabor redondo a moca grossa de ferros, cravada de
puas. Dois homens que assistiam ao barulho partiram logo dali, com o vocábulo ainda quente da refrega,
25 a comunicá-lo à freguesia:
— Chamou-lhe tudo, o patife. Só porque o pobre entendia que a jorna de um homem é fraca. Que
era um paz-de-alma. E um «inoque».
— Que é isso de «inoque»?
— Coisa boa não é. Queria ele dizer na sua que o Silvestre não trabalhava, que era (...) um vadio.
30 Como nesse dia, que era domingo, Paulino entrara em casa com a bebedeira do seu descanso, a mu-
lher praguejou, como estava previsto, e cobriu o homem de insultos como não estava inteiramente pre-
visto:

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— Seu bêbado ordinário. Seu «inoque» reles.

PROVA 1
Quando a palavra caiu da boca da mulher, vinha já tinta de carrascão. E desde aí, «inoque» signifi-
35 cou, como é de ver, vadio e bêbado.
Ora tempos depois apareceu na aldeia um sujeito de gabardina, a vender drogas para todas as molés-
tias dos pobres. Vendeu todo o sortido. Mas logo às primeiras experiências, as drogas falharam. Houve
pois necessidade de marcar a ferro aquela roubalheira de gabardina e unhas polidas. E como o vocabulário
dos pobres era curto, alguém se lembrou da palavra milagrosa do Ramos. Pelo que, «inoque» significou
40 trampolineiro ou ladrão dos finos (...).
Como, porém, as desgraças e a cólera do povo pediam cada dia termos novos para se exprimirem, «inó-
cuo» foi inchando de mais significações (...). «Inócuo» dera a volta à aldeia, secara todo o fel das discórdi-
as, escoara todo o ódio da população. A moca grossa de ferro, seteada de puas, era agora uma arma
terrível, quase desleal, que só se usava quando se tinha despejado já toda a cartucheira de insultos (...).
45 Começaram então a aparecer as primeiras queixas no tribunal da Vila, contra a injúria de «noque»,
«inoque» e, finalmente, de «inócuo», consoante a instrução de cada um. Como a palavra estropiada era
um termo bárbaro nos seus ouvidos cultos, o juiz pedia a versão da injúria em linguagem correcta, sendo
essa versão que instruía os autos (...).
Ora um dia foi o próprio Bernardino da Fábrica que moveu um processo ao guarda- livros pela injúria
50 de «inócuo». Metida a questão nos trilhos legais, o Bernardino procurou o juiz, para ver se podia ajustar, pre-
viamente, uma bordoada firme no agressor. Mas aí, o juiz atirou uma palmada à coxa curta, clamou:
— Homem! Agora entendo eu. «Noque» era «inócuo»!
E admitindo que o vocábulo contivesse um veneno insuspeito, pegou num dicionário recente, o últi-
mo modelo de ortografia e significados. Então pasmou de assombro, perante o escuro mistério que car-
55 regara de pólvora o termo mais benigno da língua: «inócuo» significa apenas «que não faz dano,
inofensivo». E pôs o dicionário aberto diante da ofensa de Bernardino. O industrial carregou a luneta, e
longo tempo, colérico, exigiu do livro insultos que lá não estavam.
— Nada feito — repetia o juiz. — O homem chamou-lhe, correctamente, «pessoa incapaz de fazer
mal a alguém».

Vergílio Ferreira, «Palavra Mágica»,


Contos, 5.ª ed., Lisboa, Bertrand, 1993

VOCABULÁRIO
alijar – desembaraçar-se de. estropiada – adulterada, dita de pua – ponta aguçada.
benigno – inofensivo forma incorrecta. quebreira – fadiga, preocupação.
carestia da vida – preço alto dos jorna – salário diário. refrega – briga, disputa.
bens de consumo. leira – pequena porção de terre- trampolineiro – charlatão.
carrascão – vinho forte. no cultivável. trilho legal – acção jurídica, pro-
codilhar – enganar. moléstia – mal, doença. cesso no tribunal.

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PROVA 1

O questionário seguinte apresenta várias hipóteses de resposta para a questão que te é


colocada. Escolhe a solução que te pareça correcta (apenas uma) e transcreve a alínea res-
pectiva para a tua folha de prova.

1. A conversa entre o Silvestre e o Ramos transformou-se em discórdia quando

a) o Silvestre se queixou que era mal pago pelo trabalho que fazia.

b) o Ramos acusou o Silvestre de ter uma vida sem preocupações.

c) o Silvestre comentou que os trabalhadores agrícolas ganhavam pouco.

d) o Silvestre chamou «inoque» ao Ramos.

2. A partir da leitura do texto, podemos afirmar que o significado de «inócuo»

a) só era conhecido pelo Ramos.

b) era conhecido pelo Silvestre e pelo Ramos.

c) só era conhecido pelo Silvestre, embora ele o tenha percebido mal.

d) não era conhecido nem pelo Silvestre nem pelo Ramos.

3. O Ramos gostara da palavra «inócuo» porque

a) achava que se aplicava bem ao Silvestre.

b) lhe parecera uma palavra bastante agressiva.

c) pensava poder impressionar as pessoas ao dizê-la.

d) lhe parecera uma palavra boa para um diálogo de folhetim.

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PROVA 1
4. Ao referir que «inócuo» foi inchando de mais significações (linhas 41-42), o narrador quer dizer que

a) cada nova pessoa que a utilizava atribuía-lhe um novo sentido.

b) o seu significado cada vez se tornava mais agressivo.

c) as pessoas cada vez gostavam mais da palavra em causa.

d) cada vez mais pessoas utilizavam a palavra.

5. Quando o juiz pasmou de assombro, perante o escuro mistério que carregara de pólvora o termo mais
benigno da língua (linhas 54-55) tal significa que

a) não conhecia o significado da palavra.

b) não acreditou no significado que lhe atribuía o Bernardino.

c) não entendeu por que razão tal palavra se tornara um insulto.

d) ficou zangado com a ignorância do industrial.

Responde agora às seguintes questões tomando atenção às indicações que te são dadas.

6. Transcreve do texto três expressões diferentes que demonstrem que Silvestre era um homem pacífico.

7. A determinada altura, o narrador refere-se à palavra «inócuo» como a palavra milagrosa do Ramos
(linha 39). Explica por que razão o narrador escolheu este adjectivo.

8. Apesar de todos o considerarem como um insulto, algumas pessoas utilizavam o termo «inócuo»,
enquanto outras diziam «inoque» ou mesmo «noque». Explica o que diferenciava umas pessoas das
outras.

9. Indica qual a acção que veio pôr fim a todo este mal-entendido à volta de uma palavra.

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PROVA 1

10. Dois leitores do texto, o Sr. Silva e o Sr. Fernandes não estão de acordo sobre as causas da discór-
dia entre o povo da aldeia.
Pois eu acho que
no fundo elas eram
Acho que não se podem preguiçosas e continuavam
criticar as pessoas da incultas por não se quererem
aldeia - afinal elas não tinham informar - podiam ter
meios para se instruir resolvido o problema
e não podiam conhecer muito facilmente.
o significado de uma palavra
tão fora do vulgar.

Em cerca de 10 linhas indica com qual das opiniões estás de acordo, apresentando argumentos que
expliquem a tua posição e recorrendo aos elementos do texto que achares necessários.

11. Achas que o narrador desta história dá a sua opinião sobre a situação que narra ou toma qualquer
partido como fizeram o Sr. Silva e o Sr. Fernandes? Justifica a tua resposta.

12. Como deves saber, uma das melhores maneiras de aprender palavras novas é lendo – actividade
que, de uma forma geral, melhora a expressão das pessoas, além de poder ser um bom passatempo.
Escreve uma frase criativa em que faças apelo à leitura.

13. A gravura abaixo apresenta um extracto de uma página de um dicionário.

dicionário (do b. Lat. dictionariu < Lat. dictione, locução), s. m., conjunto dos vocábulos de
uma língua ou dos termos próprios de uma ciência ou arte, dispostos por ordem alfabética e
com a respectiva significação ou a sua versão noutra língua.
Dicionário Universal da Língua Portuguesa, Texto Editora

Pela observação da gravura, indica dois tipos de informação que podemos obter no dicionário, sobre
cada palavra, para além do(s) seu(s) significado(s).

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PROVA 1
14. Ordena alfabeticamente a seguinte lista de palavras.

iníquo – inócuo – inóspito – inodoro – inocultável – binóculo – óculo – inocular –


inibir – insensível

15. Lê a seguinte frase:

Ninguém via naquilo um sintoma de pena ou de justiça.

15.1. Escreve duas frases em que utilizes a palavra sublinhada com dois sentidos diferentes daquele
que tem na frase transcrita.

15.2. Pela relação que estabelecem entre si as duas formas que utilizaste e a palavra sublinhada,
como se classificam essas palavras?

16. Lê a seguinte lista de palavras e faz corresponder a cada número a alínea que classifica o seu pro-
cesso de formação, registando as respostas na tua folha de prova.

a) composta por justaposição


1. insuspeito b) composta por aglutinação
2. paz-de-alma c) derivada por sufixação
3. milagroso d) derivada por prefixação
e) derivada por prefixação e sufixação

17. Considera agora a seguinte frase complexa:

Quando a palavra caiu da boca da mulher, vinha já tinta de carrascão.

17.1. Delimita as orações que a constituem.

17.2. Classifica-as.

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PROVA 1

18. Completa as frases abaixo com a forma correcta, escolhendo uma das opções entre parêntesis e
registando na tua folha de prova a forma que escolheste em cada alínea.

a) Foi (devido/derivado) à utilização da palavra «inócuo» pelo Ramos que todo o mal-entendido
começou.

b) Os dois homens que escutaram a conversa acabaram por pôr toda a gente a falar (acerca/há
cerca) do que se havia passado.

c) Muitas situações (à/há) em que grandes discórdias têm origem em episódios sem importância.

d) Afinal a palavra nada tinha (a ver/haver) com aquilo que toda aquela gente pensava.

19. Atenta na seguinte frase:

O Silvestre dava as suas economias aos habitantes da aldeia mais necessitados.

19.1. Transcreve para a tua folha de prova as expressões sublinhadas, indicando à frente de cada
uma a respectiva função sintáctica que desempenha.

19.2. Rescreve a frase substituindo-as por pronomes.

20. Indica quais das seguintes palavras são preposições, transcrevendo para a tua folha a alínea cor-
respondente a cada uma das palavras escolhidas.

a) portanto

b) em

c) mas

d) por

e) de

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PROVA 1
2.ª Parte

Desde há algum tempo para cá, temos assistido à utilização, muito generalizada entre os
mais jovens, de uma forma de simplificação da linguagem em meios de comunicação rápidos e
tecnológicos, nomeadamente nas s.m.s. (mensagens por telemóvel) e nas salas de conversação
da Internet (os ditos «chats»).

Redige um texto, com o máximo de 220 e o mínimo de 160 palavras, em que apresentes a tua
opinião sobre essa transformação na linguagem, reflectindo até que ponto ela pode contribuir para a ge-
neralização de uma forma de expressão mais pobre e incorrecta ou, por outro lado, pode constituir uma
forma de comunicação mais rápida e eficaz.

Antes de escreveres o texto, toma atenção às indicações seguintes:

• Tenta estabelecer com clareza o teu ponto de vista sobre o assunto, de modo a que as tuas afirma-
ções e raciocínios sejam coerentes e façam sentido.
• Organiza o texto de modo a que tenha introdução, desenvolvimento e conclusão, estabelecendo
parágrafos sempre que for necessário.
• Tenta exprimir-te correctamente, tendo em atenção a construção das frases, a ortografia, a esco-
lha do vocabulário adequado e a pontuação.
• Elabora um rascunho para que possas corrigir o que for necessário.

Depois de escreveres o texto, relê-o com muita atenção antes de entregares a tua prova.

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PROVA 1

C O TA Ç Õ E S

1.ª Parte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 150 pontos

1 ............................................................. 7 pontos
2 ............................................................. 7 pontos
3 ............................................................. 7 pontos
4 ............................................................. 7 pontos
5 ............................................................. 7 pontos
6 ............................................................. 6 pontos
7 ............................................................. 9 pontos
8 ............................................................. 8 pontos
9 ............................................................. 7 pontos
10 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 pontos
11 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 pontos
12 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 pontos
13 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 pontos
14 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 pontos
15.1. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 pontos
15.2. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 pontos
16 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 pontos
17.1. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 pontos
17.2. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 pontos
18 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 8 pontos
19.1. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 pontos
19.2. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 pontos
20 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 pontos

2.ª Parte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50 pontos

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PROVA 21
Competências/Conteúdos gerais
Compreenção de texto dramático
Compreensão escrito Conhecimentos
Conhecimento
explicíto
explícito
dada
língua
língua Produção
Produção
dede
texto
texto

1.ª Parte
Lê com muita atenção este texto de Gil Vicente, extraído da sua obra Auto da Barca do Infer-
no. Podes consultar alguma informação e significados de algumas palavras, apresentados,
em notas ao lado do texto.

TEXTO A
Tanto que Brísida Vaz se embarcou, veo um Judeu, com um bode às costas; e, chegando ao batel dos danados, diz:
JUDEU Que vai cá? Hou marinheiro!
DIABO Oh! que má-hora vieste!... PARVO Furtaste a chiba7 cabrão?
JUDEU Cuj'é esta barca que preste? Parecês-me vós a mim
DIABO Esta barca é do barqueiro. gafanhoto d'Almeirim
JUDEU Passai-me por meu dinheiro. chacinado em um seirão.
DIABO E o bode1 há cá de vir? DIABO Judeu, lá te passarão, Notas
JUDEU Pois também o bode há-de vir. porque vão mais despejados8.
1. O bode era um animal de
DIABO Que escusado passageiro! PARVO E ele mijou nos finados sacrifício da religião judaica
n'ergueja de São Gião9! 2. nome judeu, talvez o da pró-
JUDEU Sem bode, como irei lá? pria personagem
3. juiz, autoridade; o Judeu diri-
DIABO Nem eu nom passo cabrões. E comia a carne da panela ge-se ao Fidalgo
JUDEU Eis aqui quatro tostões no dia de Nosso Senhor10! 4. tolo
e mais se vos pagará. E aperta o salvador, 5. fala típica dos judeus
Por vida do Semifará2 e mija na caravela! 6. troça
que me passeis o cabrão! DIABO Sus, sus! Demos à vela! 7. cabra
8. vazios, com menos gente
Querês mais outro tostão? Vós, Judeu, irês à toa11,
9. não respeitou as sepulturas da
DIABO Nem tu nom hás-de vir cá. que sois mui ruim pessoa. igreja
Levai o cabrão na trela! 10. comia carne durante o jejum
cristão
JUDEU Porque nom irá o judeu
11. a reboque
onde vai Brísida Vaz?
Ao senhor meirinho3 apraz?
Senhor meirinho, irei eu?
DIABO E o fidalgo, quem lhe deu... Gil Vicente, excerto do «Auto da Barca
JUDEU O mando, dizês, do batel? do Inferno», in Teixeira, M. Ascensão e Bettencour,
Corregedor, coronel, M. Assunção (2001) Língua Portuguesa 9, vol. 2, Texto Editora, Lisboa
castigai este sandeu4!

Azará, pedra miúda,


lodo, chanto, fogo, lenha,
caganeira que te venha!
Má corrença que te acuda!
Par el Deu5, que te sacuda
coa beca nos focinhos!
Fazes burla6 dos meirinhos?
Dize, filho da cornuda!

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PROVA 2

O questionário seguinte apresenta várias hipóteses de resposta para a questão que te é


colocada. Escolhe a solução que te pareça correcta (apenas uma) e transcreve a alínea res-
pectiva para a tua folha de prova.

1. Segundo as palavras do Diabo, o Judeu não podia ir na sua barca porque

a) insistia em pagar para que o levassem.

b) sendo judeu, não pertencia à religião cristã.

c) transportava um animal com ele.

c) não fizera jejum nos dias santos.

2. Depois de ter tentado pagar para ir na barca e, ao constatar que o Diabo não fazia tenção de o levar,
o Judeu

a) manifestou o desejo de acompanhar Brísida Vaz.

b) invocou a autoridade do Fidalgo.

c) desistiu de embarcar, depois de ter insultado o Diabo.

d) foi à outra barca porque estava mais «despejada».

3. Quando o Judeu pergunta porque nom irá o judeu onde vai Brísida Vaz?, isso significa que

a) se sentia mais à vontade indo com alguém que conhecia.

b) a julgava de uma condição social superior à sua.

c) achava que merecia o mesmo castigo do que ela.

d) não se considerava socialmente inferior a ela.

4. Ao dirigir-se ao Judeu, Joane acusa-o de

a) ter obtido o seu dinheiro ilegalmente.

b) se alimentar exclusivamente de carne.

c) ter desrespeitado a religião cristã.

d) nada em especial, apenas lhe dirige insultos.

12 ©2004 • LÍNGUA PORTUGUESA – 9. o ANO


PROVA 2
5. O Fidalgo e o Judeu não são designados pelos seus nomes próprios porque

a) não representam um indivíduo mas um grupo social.

b) ambos estão mortos e o seu nome já não é importante.

c) são personagens alegóricas.

d) ambos eram pecadores e iam para o Inferno.

Responde agora às seguintes questões tomando atenção às indicações que te são dadas.

6. Dois espectadores, que na época assistiram à peça, revelam opiniões diferentes sobre a personagem
Joane.

Joane é apenas o
«parvo» da peça. Gil
Vicente só o incluiu
para nos fazer rir Joane não é assim
com todos os tão parvo: acho até
disparates que diz. que neste episódio
tem um papel
importante,
normalmente
desempenhado pelo
Diabo.

Em cerca de 10 linhas indica com qual das opiniões estás de acordo, apresentando argumentos que
expliquem a tua posição e recorrendo aos elementos do texto que achares necessário.

7. Transcreve um excerto do texto que demonstre que o Judeu não reconhecia autoridade ao Diabo.

8. De todos as personagens que vão desfilando ao longo do auto, o Judeu é o único que quer entrar na
Barca do Inferno. Qual a razão dessa opção?

9. Como em muitas peças de Gil Vicente, à crítica junta-se o elemento cómico.

9.1. Transcreve do texto um excerto que consideres cómico.

9.2. Explica por que razão achaste esse excerto cómico.

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PROVA 2

Lê agora com muita atenção o texto B, que se refere à presença dos Judeus em Portugal. Po-
des consultar o significado de algumas palavras, apresentado alfabeticamente a seguir ao
texto.

TEXTO B

Na Idade Média eram numerosos os Judeus em Portugal, e, na altura da conquista de Lisboa por
D. Afonso Henriques (1147), a cidade tinha já uma comunidade hebraica significativa.
Devido às circunstâncias precárias da sua vida, e por estarem sujeitos a perseguições por motivos
rácicos, religiosos e económicos, os Judeus dedicavam-se sobretudo a actividades que não dependes-
5
sem da propriedade imobiliária. Eram, na sua maioria, mercadores, usurários, médicos, astrónomos e
astrólogos, ou exerciam ofícios artesanais como os de ourives e alfaiate. Era aos Judeus e ao seu siste-
ma bancário que membros de todas as classes recorriam, provindo daí o seu peso decisivo na economia
nacional.
A integração dos Judeus continuava a ser problemática, com a continuada existência de incidentes
10
entre Judeus e Cristãos. Em 1480 foi introduzida a Inquisição e, em 1492, ordenada a expulsão dos
Judeus de Espanha pelos Reis Católicos. Os que recusaram a conversão conseguiram em parte emigrar,
tendo Portugal recebido cerca de 60 mil, enquanto outros seguiram para o norte de África ou para o
norte da Europa. Quatro anos mais tarde, D. Manuel ordenou também a sua expulsão, com excepção
dos que aceitassem converter-se, dificultando a saída dos convertidos do país, medida esta que procura-
15
va manter em Portugal meios financeiros necessários ao reino.

Enciclopédia Universal, Texto Editora


in http://www.jovem.te.pt (adaptado)

VOCABULÁRIO
conversão – mudança de religião, neste caso do ju- precário – inseguro, incerto
daísmo para o cristianismo rácico – relativo à raça
hebraico – relativo aos Judeus usurário – aquele que empresta dinheiro com juros

14 ©2004 • LÍNGUA PORTUGUESA – 9. o ANO


PROVA 2
Responde às seguintes questões, tomando atenção às indicações que te são dadas.

10. Explica a razão pela qual os Judeus não se podiam dedicar a actividades que implicassem a posse
de bens imobiliários.

11. Indica a condição que era imposta aos Judeus para que pudessem permanecer no reino, no tempo
de D. Manuel.

12. Recorda agora o texto A, considerando que, de certa forma, ele reflecte uma realidade da sua época.

Transcreve dois excertos do texto A que estejam relacionados com cada uma das seguintes conclu-
sões que pudemos retirar da leitura do texto B.

12.1. Os Judeus estavam sujeitos a perseguições religiosas e rácicas.

12.2. Muitos Judeus eram usurários e gente de todas as classes recorria ao seu dinheiro porque os
Judeus dominavam o sistema bancário.

Responde, agora, às questões seguintes, sobre o funcionamento da língua, tendo em aten-


ção, mais uma vez, as indicações que te são dadas.

13. Lê a seguinte frase complexa:

Eram, na sua maioria, mercadores, usurários, médicos, astrónomos e astrólogos, ou exerciam ofícios ar-
tesanais como os de ourives e alfaiate.

13.1. Delimita as orações existentes na frase.

13.2. Classifica-as.

13.3. Indica a função sintáctica da expressão sublinhada.

©2004 • LÍNGUA PORTUGUESA – 9. o A NO 15


14. Transforma, eliminando ou substituindo o que achares necessário, cada um dos seguintes pares de
PROVA 2

frases simples numa só frase complexa, utilizando para esse efeito, uma só vez, um elemento esco-
lhido da lista seguinte.

Exemplo: contudo

– Os Judeus tinham poder económico. Os Judeus viviam em condições precárias.

– Os Judeus tinham poder económico, contudo viviam em condições precárias.

por conseguinte onde quando que

14.1. Viviam muitos Judeus em Lisboa em 1147. D. Afonso Henriques conquistou Lisboa em 1147.

14.2. Os Judeus viviam em comunidades próprias. As comunidades eram administradas por rabinos.

14.3. Após a expulsão de Espanha, muitos Judeus fugiram para Portugal. Em Portugal os Judeus aca-
baram também por ser perseguidos.

14.4. D. Manuel necessitava do poder económico dos Judeus. D. Manuel tentou evitar a saída dos
Judeus do reino.

15. Faz corresponder a cada palavra numerada na coluna da esquerda, a sua respectiva classe gramati-
cal, escolhendo-a, uma só vez, na coluna da direita e registando na tua folha de prova os números e
as letras que lhes estão associadas.

1. numerosos (linha 1) a) conjunção


2. não (linha 4) b) adjectivo
3. ou (linha 6) c) verbo
4. integração (linha 9) d) nome
5. os (linha 1) e) pronome
6. em (linha 11) f) advérbio
7. sua (linha 13) g) preposição
8. dificultando (linha 14) h) artigo

16 ©2004 • LÍNGUA PORTUGUESA – 9. o ANO


16. Indica quais as palavras, da lista numerada na questão anterior, que têm a forma que podemos en-

PROVA 2
contrar no dicionário, registando na tua folha de prova os números das palavras que seleccionaste.

17. Indica na tua folha de prova uma palavra homófona de cada uma das palavras da lista seguinte.

a) sem

b) concerto

c) paço

d) coser

18. Completa as frases que se seguem, escolhendo a expressão adequada entre parêntesis. Regista na
tua folha de prova cada uma das expressões que escolheste pela ordem com que surgem no texto.

A maioria das personagens do Auto (vai/vão) para o Inferno. Chegam do mundo dos vivos preocupa-
das em salvar-se mas não (vêm/vêem) que os argumentos já de nada lhes valem. Quase toda a socieda-
de é assim condenada e não é de surpreender que no final (houve-se/houvesse) na Barca do Inferno um
fidalgo, um juiz e um frade.

19. Da seguinte lista de palavras, transcreve para a tua prova aquelas que, pela sua acentuação, consi-
deres graves.

águia – altura – cidade – integração – precário – rácico – também – usurário – vida

20. Indica, das palavras da lista abaixo a que se formou por aglutinação, registando na tua prova a alí-
nea escolhida.

a) judaísmo

b) fidalgo

c) preconceito

d) capitão-mor

©2004 • LÍNGUA PORTUGUESA – 9. o A NO 17


PROVA 2

2.ª Parte

Portugal sempre foi, desde a sua origem, uma nação com várias raças e até várias religiões.
Mais recentemente, passou de um país exclusivamente de emigrantes para um país de acolhi-
mento de pessoas provenientes de outros países à procura de uma vida melhor.

Redige um texto, com o máximo de 220 e o mínimo de 160 palavras, em que apresentes a tua
opinião sobre a melhor maneira de promover a boa convivência entre comunidades, de forma a evitar a
marginalização de pessoas com base na sua raça, religião ou país de origem.

Antes de escreveres o texto, toma atenção às indicações seguintes:

• Tenta estabelecer com clareza o teu ponto de vista sobre o assunto, de modo a que as tuas afirma-
ções e raciocínios sejam coerentes e façam sentido.

• Organiza o texto de modo a que tenha introdução, desenvolvimento e conclusão, estabelecendo


parágrafos sempre que for necessário.

• Tenta exprimir-te correctamente, tendo em atenção a construção das frases, a ortografia, a esco-
lha do vocabulário adequado e a pontuação.

• Elabora um rascunho para que possas corrigir o que for necessário.

Depois de escreveres o texto, relê-o com muita atenção antes de entregares a tua prova.

18 ©2004 • LÍNGUA PORTUGUESA – 9. o ANO


PROVA 2
C O TA Ç Õ E S

1.ª Parte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 150 pontos

1 ............................................................. 7 pontos
2 ............................................................. 7 pontos
3 ............................................................. 7 pontos
4 ............................................................. 7 pontos
5 ............................................................. 7 pontos
6 ............................................................. 15 pontos
7 ............................................................. 6 pontos
8 ............................................................. 8 pontos
9.1. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 pontos
9.2. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 pontos
10 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 pontos
11 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 pontos
12.1. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 pontos
12.2. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 pontos
13.1. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 pontos
13.2. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 pontos
13.3. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 pontos
14.1. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 pontos
14.2. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 pontos
14.3. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 pontos
14.4. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 pontos
15 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 pontos
16 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 pontos
17 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 pontos
18 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 pontos
19 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 pontos
20 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 pontos

2.ª Parte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50 pontos

©2004 • LÍNGUA PORTUGUESA – 9. o A NO 19


PROVA 31
Competências/Conteúdos gerais
Compreensão
Compreenção de texto épico-narrativo
escrito Conhecimentos
Conhecimento
explicíto
explícito
da língua
da língua
Produção
Produção
de texto
de texto

1.ª Parte
Lê com muita atenção este excerto do episódio do Gigante Adamastor, de Os Lusíadas de
Luís de Camões. Podes consultar alguma informação e significados de algumas expressões,
apresentados, em notas ao lado do texto.

TEXTO A
Porém já cinco Sóis eram passados «Pois vens ver os segredos escondidos
Que dali1 nos partíramos, cortando Da natureza e do húmido elemento,
Os mares nunca d' outrem navegados, A nenhum grande humano concedidos
Prosperamente os ventos assoprando, De nobre ou de imortal merecimento,
5 Quando uma noite, estando descuidados 45 Ouve os danos de mi que apercebidos10
Na cortadora proa vigiando, Estão a teu sobejo11 atrevimento,
Uma nuvem que os ares escurece, Por todo o largo mar e pela terra
Sobre nossas cabeças aparece. Que ainda hás-de subjugar com dura guerra.

«Tão temerosa vinha e carregada, «Sabe que quantas naus esta viagem
10 Que pôs nos corações um grande medo; 50 Que tu fazes, fizerem, de atrevidas,
Bramindo, o negro mar de longe brada, Inimiga terão esta paragem,
Como se desse em vão nalgum rochedo. Com ventos e tormentas desmedidas;
– «Ó Potestade2 (disse) sublimada: E da primeira armada que passagem
Que ameaço divino ou que segredo Fizer por estas ondas insofridas,
15 Este clima3 e este mar nos apresenta, 55 Eu farei de improviso tal castigo
Que maior coisa parece que tormenta?» Que seja mor o dano que o perigo! Notas
1. Baia de Santa Helena (ver
«Não acabava, quando uma figura «Aqui espero tomar, se não me engano,
Se nos mostra no ar, robusta e válida4, De quem me descobriu12 suma vingança; fig.1)
De disforme e grandíssima estatura; E não se acabará só nisto o dano 2. poder divino
20 O rosto carregado, a barba esquálida5, 60 De vossa pertinaz confiança: 3. esta região
Os olhos encovados, e a postura Antes, em vossas naus vereis, cada ano, 4. vigorosa
Medonha e má e a cor terrena e pálida; Se é verdade o que meu juízo alcança, 5. suja
Cheios de terra e crespos os cabelos, Naufrágios, perdições de toda sorte, 6. referência a uma estátua
A boca negra, os dentes amarelos. Que o menor mal de todos seja a morte! (...) gigante do Deus Apolo, uma
das maravilhas da Antiguidade
25 «Tão grande era de membros, que bem posso 65 «Mais ia por diante o monstro horrendo,
Certificar-te que este era o segundo Dizendo nossos Fados13, quando, alçado, 7. atreves-te por caminhos
De Rodes estranhíssimo Colosso6, Lhe disse eu: – «Quem és tu? Que esse estupendo proibidos
Que um dos sete milagres foi do mundo. Corpo, certo me tem maravilhado!» 8. longínquos
Com tom de voz nos fala, horrendo e grosso, A boca e os olhos negros retorcendo 9. nunca navegados por qualquer
30 Que pareceu sair do mar profundo. 70 E dando um espantoso e grande brado, barco.
Arrepiam-se as carnes e o cabelo, Me respondeu, com voz pesada e amarga, 10. preparados
A mi e a todos, só de ouvi-lo e vê-lo! Como quem da pergunta lhe pesara:– 11. grande
12. refere-se a Bartolomeu Dias
«E disse: – «Ó gente ousada, mais que quantas «Eu sou aquele oculto e grande Cabo que já por ali havia passado
No mundo cometeram grandes coisas, A quem chamais vós outros Tormentório14, 13. destino
35 Tu, que por guerras cruas, tais e tantas, 75 Que nunca a Ptolomeu, Pompónio, Estrabo, 14. Cabo das Tormentas, mais
E por trabalhos vãos nunca repousas, Plínio15 e quantos passaram fui notório. tarde Cabo da Boa Esperança
Pois os vedados términos quebrantas7 Aqui toda a Africana costa acabo (ver fig.1)
E navegar meus longos8 mares ousas, Neste meu nunca visto Promontório, 15. geógrafos e astrónomos
Que eu tanto tempo há já que guardo e tenho, Que para o Pólo Antárctico se estende, da Antiguidade.
40 Nunca arados d' estranho ou próprio lenho9; (...) 80 A quem vossa ousadia tanto ofende.
Luís de Camões, excerto de «Os Lusíadas», in TEIXEIRA, M. Ascensão e BETTENCOURT, M. Assunção (2001) Língua Portuguesa 9, vol.3, Texto Editora, Lisboa

20 ©2004 • LÍNGUA PORTUGUESA – 9. o ANO


PROVA 3
O questionário seguinte apresenta várias hipóteses de resposta para a questão que te é colo-
cada. Escolhe a solução que te pareça correcta (apenas uma) e transcreve a alínea respecti-
va para a tua folha de prova.

1. Na primeira estrofe, o narrador afirma que

a) já navegavam há cinco dias com bons ventos.

b) enfrentavam nuvens que ameaçavam uma tempestade.

c) ao pôr do Sol, depararam com uma estranha nuvem.

d) depararam com uma noite particularmente escura.

2. Segundo o narrador, a nuvem que surgiu

a) anunciava uma grande tormenta.

b) assemelhava-se a um rochedo.

c) parecia-lhe algo de misterioso e sobrenatural.

d) era muito negra e bramia ao longe.

3. O Gigante Adamastor enfureceu-se porque

a) o narrador, ao referir-se a ele, chamou-lhe «Colosso de Rodes».

b) os navegadores portugueses entraram nos seus domínios.

c) os portugueses entravam em muitas guerras.

d) os portugueses subjugavam o mar e a terra.

4. Como castigo, Adamastor

a) pretende impedir os navegadores de continuar até à Índia.

b) anuncia que os portugueses irão perder as guerras em que entrarem.

c) ameaça matar toda a tripulação de Vasco Gama.

d) anuncia que, no futuro, os portugueses irão ter muitos naufrágios.

©2004 • LÍNGUA PORTUGUESA – 9. o A NO 21


PROVA 3

5. Quando o narrador se dirige ao Gigante Adamastor (versos 67-72) e lhe pergunta quem ele é, este
reage com

a) grande fúria. c) tristeza.

b) arrogância. d) espanto.

Responde agora às seguintes questões, tomando atenção às indicações que te são dadas.

6. Um grande receio abateu-se sobre a tripulação desde que prenúncio do aparecimento do gigante até
ao seu surgimento. Transcreve dois excertos que melhor ilustram esta reacção.

7. Demonstra, recorrendo aos elementos do texto que achares necessários para fundamentar a tua res-
posta, que, apesar de tudo, Adamastor revelava admiração pelos portugueses.

8. O aparecimento do Gigante provocou nos navegadores fortes impressões. Regista na tua folha de
prova:

8.1. dois excertos que se refiram a impressões visuais.

8.2. um excerto que se refira a uma impressão auditiva.

9. Dois professores, ao lerem este episódio de Os Lusíadas, parecem ter opiniões distintas sobre a per-
sonagem Adamastor.

Não... não estou a ver.


Para mim, é uma personagem
da fantasia de Camões
Parece-me que o que serve para dar um
Adamastor é uma pouco mais de emoção
personagem simbólica. à história.
Sabes o que simboliza?

Com qual dos professores estás mais de acordo? Terás resposta para o professor na imagem da es-
querda? Em cerca de 10 linhas, apresenta argumentos que expliquem a tua posição, recorrendo aos ele-
mentos do texto que achares necessário.

22 ©2004 • LÍNGUA PORTUGUESA – 9. o ANO


PROVA 3
Lê agora com muita atenção o texto B, que se refere aos instrumentos e técnicas de navega-
ção da época e observa bem a figura 1, que representa as várias etapas da viagem de Vasco
da Gama até à Índia.

TEXTO B

Os instrumentos de navegação

A Bússola – já era conhecida há muito tempo. Como indica o Norte, permitia que os navegadores
soubessem em que direcção navegavam.

O Quadrante – permitia determinar a distância entre o ponto da partida e o lugar onde a embarca-
ção se encontrava no sentido Norte-Sul. O cálculo baseava-se na altura da Estrela Polar. Este instrumen-
5 to começou a ser usado pelos portugueses por volta de 1460.

O Astrolábio – também permitia determinar a distância entre o ponto de partida e o lugar onde o navio
se encontrava, mas o cálculo era feito medindo a altura do Sol ao meio dia. Tinha grandes vantagens em
relação ao quadrante, não só porque é mais fácil trabalhar de dia, como pelo facto de a Estrela Polar não
ser visível no hemisfério sul.
in «A Caravela», Crista da Onda, 9, Grupo de Trabalho do M. da Ed.
para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, Lisboa 1996

Fig. 1 As etapas da viagem de Vasco da Gama.


in «Vasco da Gama», Crista da Onda, 14, Grupo de Trabalho do M. da Ed.
para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, Lisboa 1996

©2004 • LÍNGUA PORTUGUESA – 9. o A NO 23


PROVA 3

Responde agora às seguintes questões, tomando atenção às indicações que te são dadas.

10. Tendo em conta o que leste no texto B, indica que elementos da natureza são fundamentais para a
orientação no mar.

11. Recordando o que leste no episódio do Gigante Adamastor e observando o mapa da figura 1, trans-
creve do texto A todos os excertos que indiquem a localização geográfica dos acontecimentos nar-
rados nesse texto.

12. Demonstra que o Quadrante, nessa localização, não teria utilidade como instrumento de navegação.

Responde, agora, às questões seguintes, sobre o funcionamento da língua, tendo em aten-


ção, mais uma vez, as indicações que te são dadas.

13. No quadro seguinte são apresentadas três classes gramaticais (na vertical) e seis campos lexicais
(na horizontal). Identifica o elemento que falta em cada espaço de acordo com a classe gramatical
e o campo lexical a que pertence. Regista cada um deles na tua folha de prova, acompanhado da
alínea que lhe corresponde.

a) b) ousar

coragem c) d)

e) persistente f)

ouro g) h)

i) profundo j)

l) m) arder

24 ©2004 • LÍNGUA PORTUGUESA – 9. o ANO


14. Indica qual das palavras sublinhadas nas seguintes frases não é uma conjunção subordinativa

PROVA 3
comparativa. Regista na tua folha de prova a alínea que corresponde à frase onde surge a palavra
que escolheste.

a) O gigante surgiu da noite escura, qual força sobrenatural e aterradora.

b) O narrador diz que ele era como um segundo Colosso de Rodes.

c) Como teve coragem de falar com o gigante, soube quem ele era de facto.

d) A sua curiosidade acabou por ser mais forte que o medo.

15. Classifica as orações sublinhadas nas frases que se seguem.

15.1 Os navegadores não se podiam mover porque estavam aterrorizados.

15.2 Vasco da Gama dirigiu-se ao gigante por ser o mais corajoso.

15.3 Vasco da Gama perguntou-lhe quem era ele.

16. Indica a função sintáctica desempenhada pela oração sublinhada em 15.3.

17. Completa o texto abaixo transcrito com as formas adequadas (simples ou compostas) da seguinte
lista de verbos. Regista na tua folha de prova cada uma das formas que escolheste pela ordem com
que surgem no texto. Só podes usar cada verbo uma única vez.

atravessar – mostrar – parecer – tornar – ser – incluir

Adamastor, embora ________________ odiar os portugueses, ________________ admiração por eles. Por
outro lado, Vasco da Gama, apesar de ter vencido o gigante, não ________________ o primeiro a atraves-
sar o Cabo das Tormentas, pois Bartolomeu Dias já o ________________ alguns anos antes. Se Camões
não ________________ este episódio na sua obra, o feito não se ________________ tão conhecido.

©2004 • LÍNGUA PORTUGUESA – 9. o A NO 25


PROVA 3

18. Faz corresponder os pares de palavras da coluna da esquerda à designação da coluna da direita que
consideres adequada para classificar cada um deles. Regista na tua prova cada número com a alí-
nea que lhe diz respeito.

a) homógrafas
b) sinónimas
1. conselho/concelho
c) homófonas
2. comprimento/cumprimento
d) antónimas
3. grosso/delgado
e) homónimas
f) parónimas

19. Indica, registando a alínea que escolheste na tua prova, qual das seguintes sequências apresenta a
ordenação alfabética correcta.

a) aéreo, agreste, airoso, alado, altruísmo, apagar, apego, areal, areópago, arenoso

b) aéreo, agreste, airoso, alado, altruísmo, apagar, apego, areal, arenoso, areópago

c) aéreo, agreste, airoso, alado, altruísmo, apego, apagar, areal, arenoso, areópago

d) aéreo, airoso, agreste, alado, altruísmo, apagar, apego, areal, arenoso, areópago

20. Escreve na tua folha de prova quatro frases correctas e coerentes, combinando um elemento do
quadro A com uma locução prepositiva do quadro B e um último elemento do quadro C. Não podes
utilizar nenhum dos elementos de cada quadro mais do que uma vez.

A C
A ciência permitiu grandes viagens determinarem a sua posição geográfica.
Os portugueses chegaram à Índia se imaginar um oceano cheio de monstros.
Os navegadores mediam a altura do sol um gigante mitológico.
Este episódio de Os Lusíadas é B sua grande persistência.
a fim de
graças à
acerca de
apesar de

26 ©2004 • LÍNGUA PORTUGUESA – 9. o ANO


PROVA 3
2.ª Parte

Mais do que Vasco da Gama, o herói de Os Lusíadas é todo o povo português. Em todas as
épocas a sociedade teve os seus heróis; hoje em dia, com a massificação dos meios de comuni-
cação, o conceito misturou-se um pouco com o de "ídolo" – personagem que arrasta multidões e
que influencia comportamentos, especialmente entre as camadas mais jovens da população.

Redige um texto, com o máximo de 220 e o mínimo de 160 palavras, em que tentes definir o que
é um herói, reflectindo acerca da importância que possa ter para ti como modelo, ou, pelo contrário, do
risco que pode representar se abdicarmos da nossa própria identidade para o seguirmos cegamente.

Antes de escreveres o texto, toma atenção às indicações seguintes:

• Tenta estabelecer com clareza o teu ponto de vista sobre o assunto, de modo a que as tuas afirma-
ções e raciocínios sejam coerentes e façam sentido.

• Organiza o texto de modo a que tenha introdução, desenvolvimento e conclusão, estabelecendo


parágrafos sempre que for necessário.

• Tenta exprimir-te correctamente, tendo em atenção a construção das frases, a ortografia, a esco-
lha do vocabulário adequado e a pontuação.

• Elabora um rascunho para que possas corrigir o que for necessário.

Depois de escreveres o texto, relê-o com muita atenção antes de entregares a tua prova.

©2004 • LÍNGUA PORTUGUESA – 9. o A NO 27


PROVA 3

C O TA Ç Õ E S

1.ª Parte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 150 pontos

1 ............................................................. 7 pontos
2 ............................................................. 7 pontos
3 ............................................................. 7 pontos
4 ............................................................. 7 pontos
5 ............................................................. 7 pontos
6 ............................................................. 6 pontos
7 ............................................................. 8 pontos
8.1. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 pontos
8.2. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 pontos
9 ............................................................. 15 pontos
10 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 pontos
11 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 pontos
12 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 pontos
13 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 pontos
14 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 pontos
15.1. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 pontos
15.2. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 pontos
15.3. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 pontos
16 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 pontos
17 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 pontos
18 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 pontos
19 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 pontos
20 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 pontos

2.ª Parte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50 pontos

28 ©2004 • LÍNGUA PORTUGUESA – 9. o ANO


Soluções/Sugestões de correcção

PROVA 1 – 1.ª Parte ção do Sr. Silva (gravura da esquerda) – o vocabulário


1. c. dos pobres era curto (linhas 38 e 39) – enquanto outras
2. d. referências poderão, pelo contrário, legitimar a opinião
3. b. do Sr. Fernandes, nomeadamente a referência a diferen-
4. a. tes níveis de instrução (cf. resposta 8.), ou mesmo a per-
5. c. sonagens de estatuto socioeconómico mais elevado –
6. As expressões que melhor evidenciam que a personagem o industrial carregou a luneta (linha 56).
era um «homem pacífico» podem extrair-se de passagens Recomendamos então que sejam valorizados na aprecia-
em que o narrador a caracteriza (caracterização directa) ção da resposta:
ou descreve a sua atitude: – a clareza, a coerência e a profundidade da argu-
– Nunca o Silvestre tinha tido uma pega com ninguém. (linha 1) mentação apresentada;
– o Silvestre ensarilhou-se sem querer (linha 6) – a inclusão de referências ao texto analisado para
– disse-o sem um desejo de discórdia (linha 9) fundamentar a argumentação.
– clama o Silvestre, de mão pacífica no ar. (linha 12) 11. Apesar da história se revestir de um carácter anedótico e
– Silvestre já se dispusera a ouvir tudo com resignação de alguns personagens apresentarem traços caricaturais,
(linha 19) em nenhum momento no discurso do narrador é feito
No entanto, julgamos igualmente aceitável que o aluno um juízo de valor sobre a incultura das personagens,
inclua na demonstração pedida extractos do discurso di- nomeadamente sobre o facto de desconhecerem
recto da própria personagem (caracterização indirecta): e/ou deturparem o termo «inócuo» e de não recorre-
– Calma aí, se faz favor. Falei por falar. (linha 12) rem ao dicionário.
7. O adjectivo milagroso remete-nos para a versatilidade da O pedido de justificação da resposta não tem intenção de
palavra «inócuo», para a sua capacidade de a cada nova obrigar o aluno a transcrever elementos textuais para a
utilização poder assumir um novo significado. Poderá ainda
fundamentar, mas tão somente de evitar respostas que
ser considerada válida, cumulativamente ou em alternativa,
se limitem a um simples «sim» ou «não», que deverá
qualquer resposta que refira o potencial da palavra como
implicar a consideração da resposta como nula.
insulto, a facilidade como rapidamente se transformava
12. Esta questão pretende avaliar essencialmente a compe-
numa injúria que suplantava todas as outras conhecidas.
tência do aluno na utilização de linguagem
8. Deverá ser considerada correcta a resposta que refira que a
apelativa. Deste modo julgamos que, numa primeira li-
utilização correcta do termo ou da sua deturpação dependia
nha, a apreciação da resposta deve ter em conta esse fac-
do grau de instrução das pessoas que a proferiam.
to, assim como a relevância da frase produzida em
9. Dado que o mal-entendido provinha de um desconheci-
mento generalizado do significado do termo, a consulta relação ao tema proposto. Embora com menor peso,
do dicionário foi a acção que clarificou e desmistificou o consideramos ser ainda adequado incluir nessa aprecia-
pretenso insulto. Pensamos serem igualmente aceitáveis ção a criatividade da frase produzida.
respostas que contextualizem a referência anterior, nomea- 12. – a origem da palavra
damente com menções ao juiz e/ou à circunstância do jul- – a classe gramatical da palavra
gamento da ofensa de Bernardino. 14. binóculo, inibir, iníquo, inocular, inocultável, inócuo, ino-
Sugerimos no entanto que não deverá ser considerada doro, inóspito, insensível, óculo.
correcta nenhuma resposta que não contenha uma men- 15.1. O aluno deverá produzir duas frases em que a palavra
ção explícita à utilização/consulta do dicionário. «pena» signifique:
10. Em virtude de se tratar em larga medida de uma respos- – punição, castigo
ta aberta e argumentativa, embora fazendo apelo a uma – pluma (pena de pássaro)
compreensão global do texto analisado, revestir-se-á – outro significado que conste do dicionário e que
previsivelmente de um certo grau de subjectividade. seja completamente distinto dos anteriores.
Deste modo, podemos considerar que qualquer das Consideramos que deverá implicar uma desvalorização
opiniões expressas pelas personagens da gravura da resposta:
é defensável, inclusivamente a concordância/discor- – a utilização de nomes próprios
dância parcial com afirmações contidas em ambas. Exemplo:
Não obstante, a utilização do texto como suporte da ar- «O Castelo da Pena é um bom exemplo da arquitectura
gumentação poderá permitir aos alunos defender a posi- romântica.»

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Soluções/Sugestões de correcção

– a não utilização de significados completamente dis- Como suporte argumentativo, o aluno pode recorrer à
tintos nas frases produzidas. referência ou transcrição de qualquer fala de Joane
Exemplo: que constitua uma acusação ao Judeu, nomeadamen-
«Era tão leve como uma pena de ave.» te o desrespeito pela religião cristã – E ele mijou nos fi-
«Há um século atrás escrevia-se com uma pena.» nados n'ergueja de São Gião!/ E comia a carne da panela no
(Poderá porém constituir excepção a utilização de conota- dia de Nosso Senhor!
ções contextualizadas. 7. Os excertos que em nossa opinião melhor ilustram o que
Exemplo: é requerido na questão são:
«Da pena (talento, estilo) do escritor saíram versos maravi- – Corregedor, coronel, castigai este sandeu!
lhosos.») – Fazes burla dos meirinhos?
15.2. Palavras homónimas Dize, filho da cornuda!
16. 1. d), 2. a), 3. c) Nestas falas, o Judeu revela simultaneamente a autoridade
17.1. Quando a palavra caiu da boca da mulher / vinha já tin- que atribui ao Fidalgo e a depreciação que faz do Diabo. Jul-
ta de carrascão. gamos que deverão igualmente ser tidos em conta excertos
17.2. Subordinada temporal / Subordinante de falas do Judeu que apenas incluam insultos ao Diabo,
18. eventualmente com uma ligeira desvalorização da resposta.
a) devido 8. Consideramos como resposta válida a referência cumula-
b) acerca tiva ou em alternativa ao facto de:
c) há – o Judeu pertencer a outra religião e, por desconheci-
d) a ver mento ou indiferença, pensar que a Barca do Inferno lhe ser-
19.1. o Silvestre – sujeito via.
as suas economias – complemento directo – Judeu valorizar mais as questões de estatuto social
(os) habitantes da aldeia mais necessitados – comple- e deste modo querer ir onde vai o Fidalgo, ideia que
mento indirecto pode ser reforçada pela referência que faz a Brísida Vaz.
19.2. Ele dava-lhas. 9. Sendo uma resposta aberta, que apela a uma escolha
20. b), d), e) subjectiva por parte do aluno, julgamos no entanto que
esta deverá estar condicionada pelo facto de predominar
neste episódio o cómico de linguagem que, embora se
2.ª Parte possa encontrar na fala de outras personagens, é mais
No que diz respeito à avaliação da produção de texto, suge- evidente nas falas de Joane. Apesar disso, pensamos
rimos que, em todas as provas, a cotação seja distribuída que deve ser valorizada igualmente a coerência e a pro-
(equitativamente ou de acordo com os critérios que se consi- fundidade dos argumentos apresentados para justificar a
derem mais adequados) pelos seguintes parâmetros: comicidade da frase escolhida.
• Respeito pelo tema proposto, coerência e sentido crítico 10. Deverá ser considerada válida a resposta que faça refe-
• Organização do texto e cumprimento da extensão requerida rência às condições de precariedade em que viviam
• Correcção sintáctica e pontuação adequada os judeus e as perseguições a que estavam sujei-
• Adequação e riqueza vocabular tos, como limitação do leque das suas actividades.
• Correcção ortográfica 11. Para que pudessem permanecer no reino, os judeus ti-
nham de se converter, isto é, de abandonar o ju-
daísmo e aderir ao cristianismo.
12.1. Consideramos resposta válida a transcrição de qual-
PROVA 2 – 1.ª Parte quer fala de Joane que constitua uma acusação
de desrespeito pela religião cristã da parte do Ju-
1. c. deu, nomeadamente as já referidas em 6.
2. b. 12.2. A situação em causa remete para a ligação do Judeu
3. d. ao dinheiro. Deste modo sugerimos que seja aceitável
4. c. qualquer transcrição das falas do Judeu que reflic-
5. a. tam a sua insistência em tentar comprar com o
6. A opinião correcta é a emitida pela personagem fe- seu dinheiro a entrada na Barca do Diabo.
minina na imagem da direita. Consideramos que, ape- 13.1. Eram, na sua maioria, mercadores, usurários, médicos,
sar do aluno poder incluir na sua argumentação a alusão astrónomos e astrólogos, / (ou) exerciam ofícios arte-
a Joane como «o Parvo» e lhe atribuir um papel cómico na sanais como os de ourives e alfaiate.
peça, de facto, tanto neste como noutros episódios Joane 13.2. Coordenadas disjuntivas.
é, tal como o Anjo e o Diabo, um «juiz». 13.3. (Nome) predicativo do sujeito.

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Soluções/Sugestões de correcção
14.1. Viviam muitos judeus em Lisboa (em 1147) quando – Com um tom de voz nos fala, horrendo e grosso
D. Afonso Henriques a conquistou ( ou a cidade) em 1147. – Arrepiam-se-me as carnes e os cabelo (...) só de ouvi-lo
14.2. Judeus viviam em comunidades próprias que eram (...)
administradas por rabinos. 9. Apesar da questão ser formulada em termos de concor-
14.3. Após a expulsão de Espanha, muitos judeus fugiram para dância/discordância com uma opinião, faz apelo a conhe-
Portugal, onde também acabaram por ser perseguidos. cimentos objectivos resultantes de uma reflexão prévia
14.4. D. Manuel necessitava do poder económico dos judeus, sobre o episódio, assim como uma eventual associação,
por conseguinte tentou evitar a sua saída do reino. pela dimensão simbólica, a outras personagens da obra,
15. 1-b); 2-f); 3-a); 4-d); 5-h); 6-g); 7-e); nomeadamente o «Velho do Restelo».
8-c). Deste modo, consideramos só ser válida a resposta que
16. não; ou; integração; em; sua. (*) (mesmo admitindo o carácter mais inverosímil e fantasis-
17. a) cem; b) conserto; c) passo; d) cozer. ta da personagem Adamastor) concorde inequivoca-
18. vai; vêem; houvesse. mente com a opinião da figura masculina da imagem
19. altura; cidade; vida. (*) da esquerda e que responda à questão feita pela
20. b) fidalgo. mesma. O aluno deverá assim associar a persona-
gem do gigante ao medo que inspirava o mar desco-
(*) dado o tipo de item, que permite que o aluno escolha vir- nhecido e aos obstáculos aparentemente
tualmente todas as palavras da lista proposta, sugere-se intransponíveis que ele representava, simbolizados
que não seja atribuída qualquer cotação no caso do aluno na personagem do Adamastor.
indicar qualquer uma das outras palavras. A avaliação da resposta deverá igualmente, em nossa
opinião, ter em conta a opção do aluno por fundamentar
com referências textuais as afirmações que produzir so-
bre os aspectos simbólicos da personagem, nomeada-
PROVA 3 – 1.ª Parte mente a sua aparência sobrenatural, o terror que
provocou nos navegadores e finalmente a conclusão
1. a. de que o Gigante Adamastor é uma personificação
2. c. de um cabo tão temido pelos navegadores: o Cabo
3. b. das Tormentas.
4. d. Sugerimos ainda que, dado que se trata de uma resposta
5. c. de maior extensão, seja tida em conta a coerência e profun-
6. As expressões que mais directamente evidenciam este re- didade dos argumentos, o respeito pela extensão proposta,
ceio são: a correcção sintáctica e ortográfica, assim como a riqueza
1- Tão temerosa vinha e carregada (verso 9) e adequação vocabular.
2- Que pôs nos corações um grande medo (verso 10) 10. Consideramos válida qualquer resposta que inclua a
3- Arrepiam-se as carnes e o cabelo, / A mi e a todos, só referência ao Sol e à Estrela Polar, nomeados ex-
de ouvi-lo e vê-lo! (versos 31-32). pressamente ou referidos em termos mais genéricos
Julgamos que poderá ser considerada como completa (p.ex.: «os astros»; «o Sol e as estrelas»).
qualquer resposta que inclua dois dos três excertos 11. – Eu sou aquele oculto e grande Cabo
aqui apresentados. A quem chamais vós outros Tormentório
7. Ao mesmo tempo que admoesta os portugueses, Adamas- (...)
tor acaba por se referir à sua valentia, aos seus feitos Aqui toda a Africana costa acabo
heróicos e ao seu domínio do mar e da terra. As expres- Neste meu nunca visto Promontório,
sões que melhor fundamentam estas afirmações encontram- Que para o Pólo Antárctico se estende (...)
-se nos versos 33-36 e 47-48. Julgamos que a avaliação da Sugerimos a atribuição da cotação máxima à resposta
resposta deverá ter em conta a explicitação da substância da que transcreva exclusivamente estes excertos e que
admiração e as citações textuais já mencionadas, devendo implique alguma desvalorização a transcrição simultâ-
valorizar-se o maior aprofundamento na demonstração re- nea de elementos irrelevantes, assim como a omissão
querida e o maior número de citações relevantes. de alguma parte dos sublinhados nos excertos aqui
8.1. Pensamos serem válidos quaisquer excertos que consti- apresentados.
tuam transcrições da descrição das características fí- 12. Consideramos válida a resposta que associe de forma
sicas do Adamastor (perceptíveis visualmente) coerente e conclusiva as três premissas seguintes:
situadas entre os versos 17-27. 1- Os cálculos com o quadrante são feitos tendo como
8.2. Quanto às impressões auditivas, consideramos aceitá- referência a Estrela Polar.
vel qualquer uma das seguintes expressões: 2- A Estrela Polar não é visível no hemisfério sul.

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3- Os acontecimentos do episódio de Adamastor têm lugar 18. 1-c); 2-f); 3-d)
neste hemisfério. 19. b)
13. a) ousadia; b) ousado; c) corajoso; d) encorajar; e) persis- 20.
tência; f) persistir; g) dourado; h) dourar; i) profundidade; – A ciência permitiu grandes viagens apesar de se imagi-
j) aprofundar; l) ardor; m) ardente nar um oceano cheio de monstros.
14. c) – Os portugueses chegaram Índia graças à sua grande
15.1. Subordinada (adverbial) causal. persistência.
15.2. Subordinada (adverbial) consecutiva. – os navegadores mediam a altura do Sol, a fim de deter-
15.3. Subordinada (substantiva) completiva integrante. minarem a sua posição geográfica.
16. Complemento directo – Este episódio de Os Lusíadas é acerca de um gigante
17. parecesse; mostrava; foi; atravessara (havia atravessado); mitológico.
tivesse incluído; teria tornado (ou em alternativa incluísse
/tornaria, se conjuntamente).

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