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POTENCIAL DA EFICIÊNCIA DO CARVÃO ATIVADO EM PÓ NO

TRATAMENTO DE ÁGUA PARA A RETIRADA DO PESTICIDA PARAQUAT

Carlos Eduardo dos Santos


Vinicius Alexandre Sikora de Souza

Resumo
O pesticida Paraquat é um herbicida muito utilizado na agricultura e está estabelecido
na classe dos praguicidas, devido ao alto índice de intoxicações e fatalidades que lhe são
atribuídas, desta forma, o presente estudo busca analisar a capacidade de remoção deste
composto através do tratamento por carvão ativado. As pesquisas foram realizadas em
laboratório, onde determinou-se uma curva de calibração para o composto a ser
analisado, com concentrações conhecidas no intervalo de 0,5 a 10 mg.L​-1​. As amostras
foram avaliadas com diferentes soluções de adsorvente (carvão ativado) e
posteriormente submetidas aos modelos de cálculo de isotermas de Freundlich e
Langmuir, os métodos e resultados obtidos são discutidos ao longo do artigo.

Abstract
The pesticide Paraquat is a herbicide widely used in agriculture and is established in the
class of pesticides due to the high rate of poisonings and fatalities attributed to him in
this way, the present study assesses the ability of this compound removal through
treatment for coal enabled. The researches were conducted in the laboratory where it
was determined calibration curve for the compound to be analyzed with known
concentrations in the range from 0.5 to 10 mg.L-1. The samples were evaluated with
different solutions adsorbent (activated carbon) and subsequently subjected to
calculation models of Langmuir and Freundlich isotherms, the methods and results are
discussed throughout the article.

Palavras-Chave: ​Contaminação; Adsorção; Herbicida.


1 INTRODUÇÃO

O processo do crescimento mundial nas atividades agrícolas tem causado


preocupação quanto aos potenciais de contaminação (difusa e pontual) no meio
ambiente, decorrentes das aplicações de pesticida (BRITO, 2011).
Nesses termos, Forget (2001) complementa que intoxicações por praguicidas e
outras substâncias químicas utilizadas na agricultura representam um problema de saúde
pública mundial, sendo notificadas aproximadamente 20 mil fatalidades anuais e mais
de 2 milhões de hospitalizações por essa razão.
Dentre a diversidade de substâncias com efeito pesticida encontra-se destacado
na literatura os malefícios do Paraquat, o qual é um herbicida muito utilizado na
agricultura e merece destaque especial dentro da classe dos praguicidas devido ao alto
índice de intoxicações e fatalidades que lhe são atribuídas (SCHMITT et al., 2006).
O Paraquat é uma sustância artificial e possui forma de sólido incolor, cristalino
e higroscópico cuja fórmula molecular é C​12​H​14​N​2 com peso molecular de 186,25. Na
forma de dicloreto é representado pela fórmula C​12​H​14​N​2​Cl​2​, com peso molecular de
257,25 (CHAN et al, 1998).
Asmadi et al. (2005) relata que o contato prolongado com esse pesticida pode
gerar efeitos crônicos nos pulmões, os quais são seus órgãos-alvo principais nas
intoxicações, levando assim a severas injúrias e fibrose, caracterizadas por edema,
hemorragia, inflamação intersticial e proliferação das células epiteliais brônquicas.
Uma das formas na qual o ser humano pode entrar em contato com tal poluente e
apresentar os problemas crônicos descritos no parágrafo acima é por meio da ingestão
de água contaminada pelo Paraquat, devido ao carreamento de partículas em solos que
sofreram exposição.
Dentre as possíveis formas de tratar o poluente Paraquat da água para consumo
humano, fazendo sua remoção, destaca-se o processo de adsorção em carvão ativado,
este processo consiste na transferência de massa dos constituintes de uma fase líquida
(ou gasosa) para uma fase sólida.
Portanto, em vista ao exposto, este trabalho tem por objetivo estimar a
quantidade necessária para a retirada do Paraquat da água testando diferente
quantidades de adsorvente, propondo assim uma otimização do processo de adsorção
para que seja gasto a menor quantidade possível de carvão ativado, tornando esse
processo tratamento mais economicamente viável.

2 MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Características do adsorvente e adsorvato


O carvão ativado utilizado no estudo foi produzido pela Carbomafra S/A e
apresentava diâmetro aproximado < 0,1 mm para aumentar a velocidade do fenômeno
de adsorção. Tal adsorvente provem ​da ​carbonização de material orgânico como
madeira, casca de côco, casca de arroz, casca de café, entre outros, ​a uma temperatura
de 700 ºC, assim, a ativação é realizada por meio da atuação de gases como CO​2 ​e vapor
d´água a elevadas temperaturas.
O adsorvato como explicitando anteriormente nesta obra foi o pesticida
Paraquat.

2.2 Determinação da curva de c​alibração

O trabalho foi realizado no Laboratório de Tratamento de águas e Reuso de


efluentes - ​LABTare, da Escola de Química, da Universidade Federal do Rio de Janeiro
– UFRJ e os procedimentos seguidos baseou-se na Norma ​ASTM D 3860​.
A curva de calibração para o monitoramento do processo de adsorção por
espectrofotometria (Figura 1) foi construída por meio da confecção de uma regressão
linear entre concentrações conhecidas do composto analisado, no intervalo de 0,5 a 10
mg.L​-1​. As absorbâncias das soluções padrões foram medidas em espectrômetro UV
mini-1240 Spectophotometer Shimadzu em um feixe monocromático de 242nm, sendo
o uso desse valor de comprimento de onda obtido como o maior pico para o composto
em teste realizado previamente no espectrofotômetro.

Figura 1.​ Curva de calibração para análise da concentração do Paraquat.

Ressalta-se que a curva de calibração confeccionada por este estudo apresentou


um coeficiente de regressão de aproximadamente 1, ou seja, praticamente 100% da
variação da absorbância pode ser explicado pela variação da concentração do composto.
Dessa forma, segundo Levin (1977) citado por Elias et al. (2009), a relação de absorção
do feixe de 242 nm é fortemente correlacionada de forma positiva com a concentração
do Paraquat contido na amostra. Portando, tal curva atendeu a lei de Beer, que destaca
uma relação linear entre absorbância e a concentração, para caminho óptico mantido
constante (RODRIGUES, 2002).

2.3 Levantamento de dados para ajuste de isotermas


Foi p​reparado 1 litro de solução contendo 50 mg/L do pesticida avaliado. Em 7
erlemmeyers adicionou-se alíquotas de 100 mL de solução de pesticida (50mg/L) e
quantidade suficiente de adsorvente para se ter as diferentes dosagens, conforme
especificado na Tabela 1.

Tabela 1.​ Esquema experimental para levantamento das isotermas.


Frasco Massa de adsorvente (g)
1 0,0105
2 0,0206
3 0,0304
4 0,0407
5 0,0504
6 0,0705
7 0,1004

As amostras em soluções com diferentes dosagens de adsorvente foram


colocadas no shaker 430/DB (LabConte) à 150 rpm por 2horas. Após o tempo de
contato pré-estabelecido retirou-se amostras, filtrando-as posteriormente em membrana
0,45 µm. Dessa forma possibilitou-se realizar a medição da concentração de pesticida
residual em cada frasco, a partir da curva de calibração obtida anteriormente.

2.4 Isotermas
Na caracterização do processo de adsorção mensurou-se a capacidade de adsorção
de um determinado adsorvente com o adsorvato por meio dos modelos de isotermas de
Freundlich e Langmuir, destacado por Guilarduci et al. (2006) como os principais
modelos de isotermas por serem empregadas com sucesso para modelar o
comportamento da adsorção em superfícies heterogêneas, incluindo a adsorção de
inorgânicos e orgânicos.
- A Isoterma de Freundlich foi obtida pela equação 1.

x
m = K f .c1/n
e

(1)

Onde:
x/m = massa de adsorvato adsorvido por unidade de massa de adsorvente (mg
adsorvato/ g carvão)
Kf = Fator de capacidade de Freundlich
1/n = parâmetro de intensidade de Freundlich
c​e​=concentração de equilíbrio do adsorvato na solução após a adsorção (mg/L)

A forma linearizada da Isoterma de Freundlich foi abstraída pela equação 2.

log ( mx ) = log K f + 1n log ce

(2)

- A Isoterma de Langmuir foi obtida pela equação 3.

x a.b.ce
m
= 1+b.ce

(3)
Onde:
x/m = massa de adsorvato adsorvido por unidade de massa de adsorvente (mg
adsorvato/ g carvão)
c​e​ =concentração de equilíbrio do adsorvato na solução após a adsorção (mg/L)
a, b = constantes empíricas, sendo ​a​ correspondente à capacidade de adsorção

A Isoterma de Langmuir torna-se linearizada pela equação 4.

1 1 1
( mx ) = a + abce (4)

3 RESULTADOS E DISCUÇÃO

Os resultados experimentais estão sintetizados na Tabela 2. A menor taxa de


remoção efetiva do corante ocorreu ao utilizar uma massa de adsorvente de 0,011 mg, o
que resultou em uma concentração de equilíbrio igual a ​38,620 ​mg.L​-1​, assim, houve
uma remoção de 22,761% do adsorvato presente na solução. Tal situação denota que a
quantidade de adsorvente foi insuficiente para a adsorção do corante sob estas
condições.

Tabela 2. Resultados experimentais da avaliação de remoção do Paraquat


utilizando carvão ativado em pó (CAP).

Massa de
% de remoção
adsorvente Absorbância C​e (mg.L​-1​)
de corante
(mg)
0,011 2,009 38,620 22,761
0,021 1,990 38,237 23,525
0,030 1,877 35,964 28,072
0,041 1,769 33,789 32,423
0,050 1,601 30,408 39,183
0,071 1,457 27,507 44,986
0,100 1,246 23,260 53,481

A taxa máxima de adsorção ocorreu ao utilizar uma massa de adsorvente de 0,1


mg. A condição de equilíbrio foi de 23,260 mg.L​-1​, resultando em uma remoção de
53,481% do pesticida presente na solução.
Hamadi et al. (2004) ao realizar um trabalho semelhante constatou que a
adsorção de paraquat foi fracamente dependente do pH, sendo q este fenômeno
apresentou capacidade diminuída do a adsorvente com o aumento da temperatura. No
mais este autor ainda destacou que e o mecanismo dominante da adsorção do Paraquat
em carvão ativado é sorção física.
Aouada et al. (2009) ao buscar o fenômeno da adsorção por hidrogéis
biodegradáveis verificou que a quantidade de paraquat adsorvido foi fortemente
dependente da concentração de metilcelulose (MC) presente no hidrogel. Esse processo
é atribuído ao aumento das interações moleculares entre grupamentos catiônicos
(provenientes do paraquat) e grupamentos aniônicos (proveniente da MC).
A Figura 2 apresenta as isotermas de Freundlich e Langmuir, representando o
perfil de adsorção do Paraquat em função da concentração de equilíbrio.

a)

b)
Figura 2 ​– Isotermas de adsorção do Paraquat em CAP: a) Langmuir; b) Freundlich.

O comportamento das duas curvas é bastante similar, apresentando-se de forma


linear, sendo que as relações em ambas apresentam condições de proporcionalidade
positiva em as variáveis nos eixos de ambas as isotermas. Contudo, com base nos
valores do coeficiente de determinação (R​2​) os quais apresentaram magnitude de 0,6988
e 0,8479, respectivamente para as isotermas de Langmuir e Freundlich é possível
constatar que a isoterma de Langmuir foi a que melhor representou o processo de
adsorção de corante reativo em carvão ativado em pó.
A constatação acima denota que o processo é representado em curvas de forma
cônca​vas, onde mostram que é possível uma alta remoção do Pesticida em baixas
concentrações de carvão vegetal (DAL PIVA et al., 2011)
Cabe ressaltar que tal afirmação é acordada pelo trabalho de Tsai et al. (2004), o
qual ao empregar metodologia similar ressaltou em seus resultados que o modelo de
Freundlich apareceu para ajustar os dados isotérmica melhor do que o modelo de
Langmuir.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante dos resultados obtidos, se concluiu que ​a maior taxa obtida de remoção
foi de 53,481% do Paraquat utilizando como adsorvato o carvão ativado em pó, e como
característica de comportamento o fenômeno analisado nesse estudo indica uma
possível eficiência maior com menores quantidades de carvão vegetal, o que viabiliza
economicamente o uso deste tipo de tratamento.

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