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tio Novo Testamento

Com entário bíblico p ara acom panhar sua leitura diária


A s citações bíblicas seguem geralm ente a “Edição
R evista e A tu a liza d a ” d e J o ã o Ferreira d e A lm eid a
publicada pela Sociedade Bíblica do Brasil, 2 aedição de
1993.
A abreviatura “v. ” significa “versículo” e se refere a
versículos do trecho indicado acima de cada página. As
demais referências bíblicas são mencionadas por extenso.

EMANUENCE DIGITAL

Edição original em francês


I a edição em português: setembro2001

ISBN 85-98441-26-0

Impressão e acabamento:
Associação Religiosa Imprensa da Fé

Editado por:
Rua Arlindo Bétio, 117
09911-470 Diadema / SP — Brasil
Todos os direitos reservados

D E P Ó S IT O D E L IT E R A T U R A C R IS T Ã

EMANUENCE DIGITAL
M atem 1:1-17

A voz dos profetas não tinha sido ouvida durante


quatrocentos anos. Mas agora chegara para Deus “a
plenitude do tem po” (Gálatas4:4). Ele falará “pelo Filho”
e revelará ao Seu povo, ao mundo, bem como a cada um
de nós pessoalmente, a boa nova do evangelho (Hebreus
1:1-2). Esta se resume em poucas palavras: a dádiva desse
Seu Filho.
Mas com o podem os, com nossa m ente limitada,
chegar ao conhecimento de tal Pessoa? Para que isso se
tomasse possível, Deus nos proveu quatro evangelhos,
os quais nos permitem considerar, sob diferentes aspectos,
a glória de Seu Filho. E como realçar um objeto de valor,
iluminando-o de perspectivas diferentes.
Mateus é o evangelho do Rei. Aqui um a genealogia
é necessária para situar o Messias dentro do cenário das
prom essas feitas a Abraão e com provar de m aneira
Irrefutável Seu título de H erdeiro do trono de Davi
(Gálatas 3:16; João 7:42). Desta longa lista, há alguns
nomes mal afamados (Acaz, Manassés, A m on...), que
não foram apagados. Antes de revelar o Salvador, Deus
mostra uma vez mais que em todas as gerações, quer se
trate de um patriarca (Abraão), de um rei (Davi, Salomão),
etc) ou de uma mulher pouco recomendável (Raabe),
todos necessitam da m esm a salvação e do m esmo
evangelho. Você também, querido leitor.

3
Mateus 1:18-25 e 2:1-6

O Senhor Jesus quis entrar nesse mundo como todos


os outros hom ens, ou seja, através do nascim ento.
Objetos de um a graça muito especial, José e Maria foram
escolhidos para receber e criar a divina Criança. Os planos
de D eus se cum prem ; e segundo as profecias, o
nascimento do Herdeiro do trono de Davi acontece na
cidade de Belém. Note-se que nesse evangelho não é
m encionada a m anjedoura que Lhe serviu de berço,
tampouco algo que recorde Sua pobreza. Pelo contrário,
Deus providencia tudo para que Seu Filho seja honrado
por nobres visitantes: esses hom ens sábios vindos do
Oriente. No tocante aos líderes dos judeus, nenhum deles
se encontrava num estado moral que o capacitasse a
adorar o Messias de Israel. Eles não desejavam Sua vinda.
Além disso, estamos num dos períodos mais negros da
história desse povo. O cruel Herodes, um edomita, reina
em Jerusalém, violando a lei, segundo a qual nenhum
estrangeiro deveria ser rei em Israel (Deuteronôm io
17:15).
Com exceção de um pequeno núm ero de almas
piedosas que Lucas nos mostrará em seu evangelho,
ninguém em Israel estava esperando o Cristo. E hoje,
entre os que se dizem cristãos, quantos verdadeiramente
esperam Sua volta?

4
Mateus 2:7-23

Os homens sábios vieram de longe (um fato já predito


no Salmo 72:10). Foram conduzidos pela estrela até
encontrarem o m enino. Q ue júbilo p a ra eles O
encontrarem! Rendem-Lhe homenagens, presenteiam-NO
e regressam à sua terra “por outro caminho”. Esta não é a
história de todo aquele que vem ao Salvador?
As intenções homicidas de Herodes foram frustradas,
e tam bém as de S atanás, que procurava desde o
momento da entrada de Cristo no mundo eliminar Aquele
que havería de vencê-lo. A viagem ao Egito, ordenada
por Deus para que a Criancinha escapasse desses intentos
criminosos, ilustra também a graça dAquele que Se dispôs
a seguir o mesmo caminho que o Seu povo trilhou no
passado.
Dois nom es foram dados ao Menino no capítulo
anterior: o de Jesus (Deus Salvador, ou: Jeová salva —
Mt 1:21), que é tão precioso ao coração de cada crente;
e depois o de Emanuel (Deus conosco— Mt 1:23). Agora
Lhe é acrescentado o nome de “Nazareno” (2:23), com
um tríplice significado. No aspecto moral o Senhor Jesus
é o verdadeiro naãreu segundo Números 6: separado de
todo mal e consagrado a Deus. Ele era também o novo
Rebento carregado de frutos que brotava do tronco de
Jessé (pai de Davi— ver Isaras 11:1). Por último, Ele seria
por trinta anos um cidadão desconhecido d a desprezada
cidade de Nazaré (João 1:46).

5
Mateus 3:1-17

C om o um em baixador que p reced e um a alta


autoridade, João Batista proclama a iminente vinda do
Rei. Mas este Rei não podería tomar o Seu lugar entre um
povo indiferente a seu estado pecaminoso. Por essa razão,
a pregação de João é um chamado ao arrependimento.
Porém, aos fariseus, que vinham ao batismo com espírito
de justiça própria, ele anunciava o juízo.
Podemos entender por que João ficou embaraçado
quando Aquele, cujas sandálias ele sentia que não era
digno de levar, apresenta-Se para ser batizado. Mas no
versículo 15, ouvimos as primeiras palavras faladas por
Jesus neste evangelho: “Deixa por enquanto, porque
assim nos convém ...”. 0 homem sabia apenas fazer o
mal; por isso convinha permitir que Deus agisse agora
por m eio de Cristo p ara “cum prir to d a a ju stiça”
(Romanos 10:3). “Então ele o admitiu”, é o que lemos de
João, ainda que fosse ele quem estava batizando. Não é
sempre vantajoso para nós permitirmos ao Senhor Jesus
agir à Sua maneira?
O Senhor Jesus saiu logo da água visto que não tinha
nenhuma confissão a fazer (compare v. 6). E então os
céus se abriram para render-Lhe um duplo testemunho:
o Espírito Santo descendo sobre Ele tal como o óleo da
unção que outrora designava o rei (1 Samuel 16:13). E
ouvia-se a m ensagem m aravilhosa de am or e de
aprovação que recebeu de Seu Pai.

6
Mateus 4:1-11

Revestido do poder do Espírito Santo (Mateus 3:16),


Jesus está preparado para cumprir Seu ministério. Porém,
como todo servo de Deus, é necessário que seja primeiro
posto à prova. Eis por que Ele tem de enfrentar o grande
Inimigo. Satanás usa principalmente duas táticas para
desviar um homem de Deus do caminho da obediência:
ou ele apresenta os terríveis obstáculos do caminho (para
Cristo isso representava especialm ente a agonia do
Getsêmani), ou, ao contrário, mostra as atrações que
estão ao lado desse caminho. E esta segunda tática que
o diabo usa aqui.
Satanás usa a própria Palavra de Deus para dar à sua
tentação um a aparência de piedade. Porém, ao citar o
Salmo 91:11-12, toma muito cuidado para não incluir o
versículo 13, que faz alusão à sua própria derrota: “Pisarás
o leão e a áspide, calcarás aos pés o leãozinho e a
serpente”. A áspide é a serpente que, conforme Gênesis
3:15, teria sua cabeça ferida pelo “descendente da
mulher”, ou seja, Cristo. Foi ainda no Jardim do Éden,
onde nada lhe faltava, que o primeiro Adão sofrerá tripla
derrota seduzido pela concupiscência da carne, pela
concupiscência dos olhos e pela soberba da vida. Mas, no
deserto, o Homem perfeito, o Segundo Adão, triunfou
sobre a antiga serpente, valendo-Se da soberana Palavra
de Deus (1 João 2:16; Salmo 17:4). E, por isso, “naquilo
que ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é poderoso
para socorrer os que são tentados” (Hebreus 2:18).

7
Mateus 4:12-25

O versículo 16 cita o profeta Isaías (capítulo 9,


versículos 1 e 2), porém com um a pequena variação.
Nos tem pos do profeta, o povo “andava” em trevas.
Agora se lê que “está assentado”, ou seja, jaz firmemente
numa condição distante da luz de Deus, tendo perdido
todo o ânim o e toda a esperança. Porém , este é o
momento ideal para que Deus intervenha. Aquele que é
a Luz aparece trazendo libertação. À Sua cham ada,
atraídos por Seu amor, alguns discípulos unem-se a He e
O seguem — dois aqui, dois ali: Simão e André; Tiago e
João. Foi o momento decisivo na vida destes homens,
um momento que mudaria toda a vida deles e do qual
jamais esqueceriam (cap. 19:27). Sim, imediatamente,
no mesmo instante, deixam seu pai, seu barco e as redes.
Deixam tudo para seguir a um Mestre como nunca houve,
e para executar um a nova tarefa: a de serem pescadores
de homens. No momento devido, o Senhor fará deles
evangelistas e apóstolos.
Nem todos os cristãos são cham ados a abandonar
seu trabalho ou renunciar os laços familiares, m as todos
ouviram algum dia, em seu coração, uma voz que dizia:
“Segue-me”. Você atendeu ao chamado?
Os versículos 23 e 24 resumem de modo admirável
toda a atitude do am or do Senhor Jesus.

8
Mateus 5:1-16

Seguir a Jesu s im plica, prim eiram ente, em


obedecer-Lhe (João 12:26). Assim sendo, podem os
manifestar as mesmas características que Ele. O Senhor
Jesus mostra essas características a seus discípulos, e a
todos os que querem segui-LO, no incomparável Sermão
do Monte. Bem-aventurados os que têm uma fé simples
e não se apóiam em seu próprio entendim ento;
bem-aventurados os que se afligem pela m aldade do
m undo sem , contudo, p arar de praticar o bem e
demonstrar misericórdia; bem-aventurados os que, por
causa do nome do Senhor, suportam as injustiças e
perseguições... Note que esse não é o tipo de felicidade
que os homens procuram — muito pelo contrário. Mas,
para os crentes, a felicidade e a bem-aventurança são ter
a aprovação do Senhor; sendo que as alegrias do Reino
ainda lhes estão reservadas.
Os versículos 13 e 14 tratam da condição atual dos
crentes. Guardando-se do mal, o cristão atua nessa Terra
como “sal”, que preserva da corrupção; tem sabor, e
deve conferi-lo (ver Jó 6:6). H e é também “luz”, com a
responsabilidade de fazer resplandecer as virtudes de
Deus a todos os hom ens, principalm ente “os que se
encontram na casa”: sua família, mas tam bém os que
estão na Igreja, a casa de Deus.

9
Mateus 5:17-30

Não se podem ler esses versículos sem que haja um


sentimento de apreensão. O Senhor não somente declara
que não veio para revogar a terrível lei de Deus que
con d en av a a todos, com o tam bém form ula um a
interpretação muito mais severa para perfazer a vontade
divina. Até então, um judeu piedoso talvez pensasse
“merecer” a vida eterna se tivesse guardado (mais ou
menos) a lei desde a sua juventude (ver Marcos 10:20).
Agora, as palavras de Jesus não permitem essa ilusão. Se
tais são as exigências da santidade de Deus, quem, pois,
pode ser salvo? Sim, neste Homem incomparável estava
a plena medida da justiça divina. Porém, a mesma Pessoa
que veio para tom á-la conhecida veio tam bém para
cumpri-la em nosso lugar (v. 17; Salmo 40:8-10).
O antigo judaísmo não se preocupava com a opinião
de Deus sobre a ira ou os pensam entos impuros. Apenas
seus frutos eram condenados: o homicídio e o adultério.
Os m andamentos do Senhor, pelo contrário, vão à fonte
desses atos m erecedores de punição e nos fazem
reconhecer que o nosso coração tam bém é capaz de
sem elhantes coisas (cap. 15:19). É necessário, pois,
entender o quanto necessitamos da graça de Deus antes
de fazermos uso dela.

10
Mateus 5:31-48

Não esqueçamos que é o Messias, o rei de Israel,


quem está falando. Seus ensinam entos têm sido
chamados de “carta magna do reino”, pois mostram as
regras às quais Seus súditos terão de se submeter. Porém,
que diferença das constituições e dos códigos desse
m undo, baseados nos direitos individuais e na regra
egoísta do “cada um por si”. Em contrapartida, os
ensinam entos de Jesus não estabelecem apenas os
princípios da não-violência, mas tam bém o amor, a
humildade e a renúncia, todos absolutamente estranhos
ao espírito deste mundo. Algumas pessoas pensam que
estes preceitos são inaplicáveis na Terra em que vivemos
agora. Pois, não se tornariam vítimas indefesas de abusos
os cristãos que praticassem literalm ente tais coisas?
Estejamos certos de que Deus sabería como protegê-los
em tais circunstâncias. Além disso, um a atitude de amor,
humildade e renúnda constitui poderoso testem unho
capaz de confundir, e até mesmo converter, os que
quisessem prejudicar ao crente.
Os versículos 3 8 a 4 8 nos hum ilham e nos
repreendem. Quão longe estamos dAquele que “sofreu
por nós, deixando-nos exem plo... pois ele, quando
ultrajado, não revidava com ultraje, quando maltratado
não fazia ameaças, m as entregava-se àquele que julga
retamente, carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o
madeiro, os nossos pecados” (1 Pedro 2:21-24; Tiago
5:6; Isaías 50:6, e muitas outras passagens)!

11
Mateus 6:1-18

Esmolas, (v. 1-4) orações (v. 5-15) e jejuns são três


das principais maneiras pelas quais os homens pensam
cumprir suas “obrigações religiosas”. Mas, quando se faz
isso com a intenção de ser visto pelas pessoas, então a
consideração alcançada já é a recompensa (João 5:44).
Porém, ah!, o coração hum ano é tão malicioso que se
serve até das melhores coisas para exaltar-se. As mais
generosas doações, desde que vistas pelos hom ens,
podem andar de m ãos dadas com a pior form a do
egoísmo; o rosto pode estam par a prontidão para o
arrependimento — mas o coração está orgulhoso de si
mesmo.
0 Senhor nos ensina a orar. De modo algum, a oração
é um ato que nos confere méritos; trata-se, sim, da
humilde apresentação de nossas necessidades ao Pai
celestial, e isso no secreto de nosso quarto. E qual tem
sido o conteúdo de nossas orações? São apenas frases
mecânicas, ou tediosas repetições? (Eclesiastes 5:2). Até
mesmo a bela oração ensinada por nosso Senhor aos
Seus discípulos (que era plenam ente adequada às
condições daquela época, cham ada “Pai N osso” —
v. 9-13) tem sido para muitos uma vã repetição. O filho
de Deus tem um privilégio que o israelita não possuía.
Através do Espírito, ele pode aproximar-se do trono da
graça a qualquer momento pelo nome do Senhor Jesus.
Tem os aproveitado esse privilégio que D eus nos
concedeu?

12
Mateus 6:19-34

O olho “bom ” (ou simples, como dizem algumas


traduções) é aquele que se fixa num único assunto. Para
o crente, esse assunto, esse “tesouro”, é Cristo. As
Escrituras dizem que nós O contemplamos com “o rosto
descoberto” e essa visão ilumina todo o nosso interior
(2 Coríntios 3:18 e 4:6-7). Nosso coração não pode estar
ao mesmo tempo no céu e na Terra. Querer um tesouro
celestial, e ao mesmo tempo, acumular riquezas para esse
mundo são duas coisas absolutamente incompatíveis.
Também é impossível servir a dois senhores (v. 24), pois
as ordens recebidas seriam por vezes conflitantes. Mas
não estaríamos expondo-nos a privações, correndo o
risco de não ter o necessário para o tem po presente, caso
renunciássemos às riquezas? O Senhor previne contra
essa desculpa. “Não andeis ansiosos pela vossa vida”
(v. 25). Abramos nossos olhos, como nos pede o Senhor
Jesus. Observemos na criação os inumeráveis pequenos
sinais da assistência e da bondade do Pai celestial: os
pássaros, as flores... (Salmo 147:9).
Não, Deus nunca ficará em dívida com os que dão
prioridade aos interesses dEle, aos que, como Maria,
escolhem a boa parte (Lucas 10:42). O primeiro passo,
porém, é assumir esta opção.

13
Mateus 7:1-14

Os versículos 1 a 6 e o maravilhoso versículo 12 nos


mostram os motivos que devem regular todas as nossas
relações com os homens, com os nossos irmãos. Como
resposta a esse problema, grandes pensadores de todas
as civilizações têm lotado imensas bibliotecas com suas
doutrinas sociais, políticas, m orais... ou religiosas. Mas,
p ara o Senhor, basta um pequeno versículo p ara
expressar e conter Sua solução tão divinamente sábia,
perfeita e definitiva. “Tudo quanto, pois, quereis que os
homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles;
porque esta é a lei e os profetas” (ver Romanos 13:10). O
dia-a-dia oferece-nos inúm eras oportunidades para
praticar essa regra de ouro. Aprendamos, pois, a nos
colocarmos sempre no lugar daqueles que nos rodeiam.
Os versículos 13 e 14 nos recordam que, se há dois
senhores, também há dois caminhos, duas portas. A
maioria dos homens está no caminho espaçoso. E isto
apesar do terrível letreiro que indica: Este cam inho
“conduz para a perdição” (v. 13). Por outro lado, poucos
são os que se encontram no caminho que conduz à vida
(porque poucos são os que buscam — v. 7). “Estreita é a
porta.” Som ente abandonando a bagagem da justiça
própria é que se pode passar por ela. Amigo leitor, em
qual caminho você está seguindo?

14
Mateus 7:15-29

Desde que as boas árvores são reconhecidas pela


produção de bons frutos, então o versículo 22 está
falando sobre pessoas excelentes, n ão é? Elas se
apresentam com as mãos cheias de obras aparentemente
boas — profecias, milagres, expulsão de demônios —
todas feitas com o nome do Senhor tom ado em seus
lábios. Mas o Senhor lhes responderá solenem ente:
“Nunca vos conheci” (v. 23). “Os vossos frutos não são
decorrentes da obediência à vontade de Deus” (v. 21).
T odos esses ensinam entos não são difíceis de
entender. O que nos falta n ão é a capacidade de
compreendê-los, mas, sim, de colocá-los em prática. Por
isso, no final de Seu discurso, o Senhor Jesus ilustra com
uma breve parábola a diferença entre os que somente
ouvem, e os que colocam em prática o que ouviram. São
como duas casas de aparência similar, mas vejamos os
seus fundamentos. Uma está fundada sobre a rocha da fé
em Jesus Cristo (1 C oríntios 3:11); seu alicerce é
profundo (Lucas 6:48). A outra repousa somente sobre a
areia dos sentim entos hum anos, que é m ovediça e
instável. Até que venha a prova — o que é inevitável —
, é impossível diferenciá-las. Mas então... olhem bem o
que aconteceu com a segunda casa! Qual o nome que o
Senhor dá aos dois construtores? Respectivam ente:
P rudente e Insensato. Q ual deles se aplica à sua
construção?

15
Mateus 8:1-17

Aos ensinos do Senhor segue-se agora o Seu serviço


de am or e de justiça. Assistimos primeiramente a três
curas. O leproso, no v. 2, conhece o poder de Jesus,
porém duvida de Seu amor e diz: “Senhor, se quiseres,
p o des...”. Jesus quer e o cura.
O centurião de Cafamaum aproxima-se consciente
da autoridade soberana do Senhor, mas, por outro lado,
de sua própria indignidade. “Apenas m anda com uma
palavra...” Essa fé excepcional maravilhou e alegrou o
Senhor Jesus. Ele a coloca como um exemplo aos que O
seguem . (E não é assim que ela nos envergonha
também?).
Finalmente, é necessário que o Mestre atue também
na família dos Seus. B e cura a sogra de Seu discípulo
Pedro.
0 Senhor Jesus não Se ocupa com os enfermos da
mesma m aneira que um médico, que examina o paciente,
faz um diagnóstico, passa um a receita e vai embora. B e
não Se satisfez em curá-los apenas. B e mesmo “tomou
sobre si as nossas enferm idades, e as nossas dores”
voltando-Se para a fonte delas: o pecado. Sentiu todo o
seu peso, toda a sua amargura, chorou diante da tumba
de Lázaro (João 11:35). Tal em patia é m uito mais
preciosa que a cura em si mesma, conforme atesta a
experiência de muitos cristãos enfermos.

16
Mateus 8:18-34

Ao escriba que deseja segui-LO por onde quer que


fosse, o Senhor não omite que esse Seu caminho exige
completa renúncia. Até as aves do céu, das quais o Pai
celestial cuida (cap. 6:26), têm um a sorte melhor que a de
seu Criador neste mundo. Que humilhação a Sua! Ele
não tinha um lugar na Terra onde recostar Sua cabeça
para descansar. Foi somente na cruz, depois que Sua
obra havia sido completada, que Ele pôde finalmente
repousar — inclinar — Sua cabeça (trata-se do mesmo
verbo grego usado em João 19:30).
No versículo 21, outra pessoa responde ao Seu
convite com uma desculpa aparentemente justificável.
O que podería ser mais legítimo do que comparecer ao
enterro do seu pai? Contudo, por mais urgente que pareça
ser o dever, nenhuma “prioridade” deve interpor-se ao
que o Senhor ordenou que buscássemos em “primeiro
lugar” (cap. 6:33). A Bíblia não nos diz qual acabou sendo
a decisão desses homens. O importante é que saibamos
se nós temos respondido ao chamado do Senhor Jesus.
A tão conhecida cena da travessia do m ar durante a
tempestade ilustra a viagem do crente neste mundo. Ele
passa por várias tempestades, porém o seu Salvador, que
é também o Senhor dos elementos da natureza, está com
ele (Salmo 23:4). Ele com anda o m ar e as ondas, a
enferm idade e a m orte, e até mesmo as potestades
satânicas, como é demonstrado na libertação dos dois
endemoniados na terra dos gadarenos.

17
Mateus 9:1-17

As diferentes enfermidades que o Senhor encontra e


cura mostram a triste condição na qual se encontram
Suas criaturas. A lepra ressalta a corrupção do pecado; a
febre, a incessante agitação do homem deste mundo. Há
uns, como o endem oniado, que estão diretamente sob o
poder de Satanás, enquanto outros, como o surdo, o
m udo, e o cego (v. 27, 32; 11:5) têm os sentidos
bloqueados para a cham ada do Senhor, não sabendo
como orar. Por último, temos o paralítico que foi trazido
ao S en h o r Jesu s. N ele está d em o n strad a a to tal
incapacidade do homem para aproximar-se de Deus
(João 5:17). O enfermo nada diz... somente espera. Mas
o divino Médico (v. 12) sabe que há outra enfermidade,
muito mais grave, que está consumindo a alm a desse
paralítico, e por isso começa por curá-lo espiritualmente:
“Estão perdoados os teus pecados”. O que deveria
preocupar-nos mais, quer seja em relação a nós, quer aos
outros: a enfermidade ou o pecado?
Segue-se o chamado de Mateus, relato feito por ele
mesmo. Ele era um desses pecadores para os quais Cristo
tinha vindo.
Por fim, temos a pergunta dos discípulos de João, e
esta dá ocasião a um novo ensinamento: os odres velhos
da religião judaica já não serviam mais para conterem do
vinho novo do Evangelho.

18
Mateus 9:18-38

João 21:25 nos diz que os Evangelhos estão longe de


relatar todos os milagres feitos pelo Senhor Jesus. Deus
incluiu em Sua Palavra somente os milagres que têm
alguma ligação com o ensino que nos quer transmitir. Tal
é o caso da ressurreição da filha desse chefe da sinagoga
que, entre outras coisas, tem uma aplicação profética.
Aqui o Senhor é visto a caminho para restaurar a vida ao
Seu povo Israel — (um fato previsto na Palavra de Deus
para um futuro próximo). Nesse tempo em que está a
caminho (leia-se: o tempo presente), fica à disposição de
todos os que se aproximam dEle por fé, como fez a mulher
do versículo 20, que O tocou com a esperança de ser
curada.
Havia poder suficiente em Jesus para curar Mtoda
sorte de doenças e enfermidades” (v. 35). Havia am or
suficiente em Seu coração para que, como o verdadeiro
Pastor de Israel, tivesse compaixão de todo o Seu povo
(v. 36). E se, de vez em quando, B e encontrava fé como
a dos dois cegos (v. 28-29), também enfrentava a mais
terrível incredulidade (como a dos fariseus — v. 34).
Nós, que atravessam os este m esm o m undo e
enfrentamos as mesmas necessidades (mas por vezes com
o coração tão lamentavelmente endurecido — [Tiago
2:15-16]), peçamos a Deus um a ampla e d ara visão da
ceifa (João 4:35) e supliquemos ao Senhor que envie
novos trabalhadores para a Sua seara.

19
Mateus 10:1-23

Os doze discípulos agora se tomaram apóstolos (v.


2). Ao enumerá-los, Mateus, o publicano, recorda mais
um a vez a sua própria origem (cap. 10:3; 9:9 e 21:31).
Depois de instruídos pelas palavras e pelo exemplo do
divino Mestre, chegou o momento de serem enviados
(esse é o sentido da palavra ‘‘apóstolo’’) como obreiros à
seara. Uma criança não vai para a escola por toda sua
vida, é evidente, embora, em um certo sentido, o crente
sempre estará na escola de Deus. No entanto, mais cedo
ou mais tarde, teremos de aprender o básico de nossas
lições, em particular a completa incapacidade de nosso
estado natural em tudo o que se refere às coisas de Deus.
Só então, o Senhor poderá usar-nos.
Notemos alguns pontos importantes: é o Senhor
quem chama os Seus servos, os prepara, envia, dirige,
sustenta, alimenta e recompensa. Nenhum deles vai por
sua própria vontade nem é enviado pelos homens. Eles
não esperam dos homens nenhum salário, porém dão de
graça o que de graça têm recebido. Como a cristandade
perdeu de vista essas simples verdades! Debaixo da
estrutura de comitês, de hierarquias, de organizações
diversas, as pessoas às vezes bem intencionadas se
interpõem entre o Senhor e Seus obreiros, para grande
prejuízo desses servos e sobre todo o trabalho que lhes foi
confiado.

20
Mateus 10:24-42

“O discípulo não está acima do seu mestre” (v. 24);


e, por isso, não deve esperar que o tratem melhor que seu
Senhor. Seja o cristão nos dias de hoje ou o judeu no
tem po da grande tribulação vindoura, o verdadeiro
discípulo deve contar que da parte de um mundo injusto
e cruel virá um a oposição sem elhante à que Jesus
encontrou (v. 17-18). Mas esta é a oportunidade ideal
para experim entar todos os recursos da graça, essa
maravilhosa graça que conhece e cuida de todo redimido,
a ponto de até mesmo contar todos os cabelos da cabeça
(v. 30; 2 Coríntios 12:9).
Não é somente o ódio do mundo que atinge o crente
fiel, mas muitas vezes ele tem de enfrentar também a
hostilidade de sua própria família (v. 36). Ele não deve
desanimar, porém. O Senhor disse daram ente que isso
aconteceria, no entanto prom eteu a ajuda necessária.
Tornar a sua cruz é levar sobre si o sinal distintivo dos
condenados à morte. Em outras palavras, é demonstrar
o abandono dos prazeres do mundo e da própria vontade.
Do ponto de vista hum ano, isto significa perder sua vida.
“Não”, declara o Mestre, pelo contrário, “essa é a única
maneira de ganhá-la”. Mas o Senhor Jesus ainda enfatiza
que o motivo deve ser “por am or a mim” (2 Coríntios
5:14-15).

21
Mateus 11:1-19

0 Senhor não se dá por satisfeito em somente enviar


discípulos; e assim segue também com o Seu próprio
ministério. Em contrapartida o ministério de João Batista
term ina quando é preso por Herodes (cap. 4:12). A
pergunta que manda fazer por meio de seus discípulos
nos mostra seu desalento e sua perplexidade. Aquele de
Quem ele tinha sido o fervoroso precursor não estabelecia
Seu reino, nem se em penhava na libertação de Seu
arauto. Não era Ele o Messias prometido? O Senhor lhe
responde com um a m ensagem que gentilm ente lhe
repreende a falta de confiança (v. 6). Porém, diante da
multidão, Jesus não faz reserva para testemunhar daquele
que foi o maior de todos os profetas (v. 7-15).
Quando se trata de entrar no reino, o esforço toma-se
uma virtude, uma qualidade indispensável (v. 12). Deus
nos abre o Seu tesouro, contanto que haja de nossa parte
um ardente desejo de possuir tudo o que Ele nos oferece;
e, no aspecto da fé, um santo em penho para se apoderar
ousadam ente de todas as promessas divinas. Ah! quantos
jovens pararam atrás da porta por falta de determinação
e força de vontade, ou por tem er as lutas e a necessidade
de renunciar aos prazeres carnais desse mundo! Não
esqueçamos que os covardes estarão em companhia dos
incrédulos, dos homicidas e de todos os demais pecadores
sem arrependimento (Apocalipse 21:8).

22
Mateus 11:20-30

Foi nas cidades da Galiléia que Jesus realizou a


maioria de Seus milagres. Porém o coração do povo
permaneceu endurecido, como profetizara Isaías: “Quem
creu em nossa pregação? E a quem foi revelado o braço
do Senhor?” (Isaías 53:1). Contudo, “por aquele tempo”
(v. 25), o Senhor tinha uma resposta a dar para essa
pergunta, e pôde também dar graças ao Pai, dizendo:
“Ocultastes estas cousas aos sábios e entendidos, e as
revelaste aos pequeninos”. Então, voltando-se ao povo,
conclama-os: “Vinde a mim”; vinde com esta fé infantil.
Ninguém, exceto Eu, pode revelar-vos o Pai; e aprendei
não somente pelas palavras da Minha boca, mas de Mim,
através do Meu exemplo, pois “sou manso e humilde de
coração” (Mateus 11:29).
Junto ao Senhor Jesus, encontram os duas coisas
aparentem ente contraditórias: o descanso e o jugo. O
jugo é um a p esad a peça d e m adeira, u sad a p ara
acoplar dois bois para executar trabalhos de tração; é
um sím bolo da obediência e do serviço. Mas o jugo
do Senhor é leve: o jugo dH e foi a vontade de Seu Pai,
e em cumpri-la consistia todo o Seu prazer. Assim o
redimido troca a fadiga e a carga do pecado (v. 28) pela
alegre abnegação cujo m otor é o am or (2 Coríntios
8:3-5). No cap. 5:5 o S enhor havia dito que são
“bem-aventurados os mansos”. Não é um privilégio ser
semelhante a He?

23
Mateus 12:1-21

Depois de ter ofereddo o descanso da alma (cap.


11:28-29), o Senhor Jesus mostra que o descanso do
sábado — um a prescrição legal do Velho Testamento —
não tem mais razão de existir. Sobre esta questão do
sábado, os fariseus procuram encontrar algum erro nos
discípulos (v. 2) e depois no próprio Senhor (v. 10). Mas
quando isto acontece, Ele tem a oportunidade de
explicar-lhes que, com a Sua vinda em graça, todo o
sistema baseado na lei e nos sacrifícios foi posto de lado,
e para isso cita pela segunda vez o profeta Oséias:
“Misericórdia quero, e não holocaustos” (v. 7; ver cap.
9:13 e Oséias 6:6-8). De que servia a observância do
quarto m andamento da lei, quando todos os outros eram
violados? A misericórdia — outro atributo de Deus —
também reclamava os seus direitos. E que presunção
impor o respeito ao sábado Aquele que o havia instituído!
De fato, enquanto reinava o pecado, ninguém podia
descansar. Nem o homem, carregado com seus pecados;
nem o Pai nem o Filho, que trabalhavam juntos para
remover a raiz do mal bem como as suas conseqüências
(João 5:16-17). Assim, sem se deixar d eter pelos
conselhos dos homens maus, o perfeito Servo prossegue
com Sua obra. Ele a cum pre com um espírito de
humildade, graça e de bondade que, segundo o profeta
Isaías, deveria ter perm itido que o povo de Israel O
reconhecesse como o Messias prometido (Isaías 42:1-4).
Aliás, o coração de Deus sempre teve bastante apreço
por este tipo de espírito (veja 1 Pedro 3:4).
24
Mateus 12:22-37

Os fariseus odiavam o Senhor Jesus porque tinham


inveja de Seu poder e de Sua autoridade sobre as
multidões. Eles contestam a origem desse poder, pois os
milagres, que eram evidentes, não podiam ser refutados.
Como já fizeram antes (cap. 9:34; 10:25), eles agora
atribuem ao príncipe dos demônios o poder do Espírito
Santo que Deus deu a Seu Amado (v. 18; compare Marcos
3:29-30). Esta foi blasfêmia contra o Espírito Santo, um
pecado que não pode ser perdoado. Não, pelo contrário,
a obra do Senhor era justam ente a prova de Sua vitória
sobre Satanás, o “valente”. Valendo-Se da Palavra de
Deus, Ele já o havia “am arrado” lá no deserto (ler cap.
4:3-10), e agora lhe tirava os prisioneiros que m antinha
cativos (Isaías 49:24-25). Depois o Senhor mostra aos
fariseus que eles mesmos estavam sob o domínio de
Satanás: eram árvores más produzindo frutos maus.
“Porque a boca fala do que está cheio o coração” (v.
34). Se for Cristo Quem preenche o nosso coração, é
impossível para nós não falarmos dEle (Salmo 45:1). De
m aneira inversa, os m aus pensam entos, ocultos no
interior de nosso ser, chegarão mais cedo ou mais tarde
a nossos lábios. E o nosso trecho termina recordando que
de toda a palavra, mesmo da mais insignificante, teremos
de prestar contas um dia.

25
Mateus 12:38-50

Com o capítulo 12, termina a primeira parte deste


evangelho. T endo sido rejeitado p o r aqueles que
deveríam ser os primeiros a recebê-LO (a saber, o Seu
povo terrestre: Israel), o Senhor Jesus começa a falar de
Sua morte e de Sua ressurreição. Este era o grande milagre
que faltava ser cumprido, e do qual os judeus já tinham
um tipo — a história de Jonas, que foi engolido por um
grande peixe. Ao mesmo tempo, o Senhor mostra a esses
escribas e fariseus a sua esmagadora responsabilidade.
Eles eram muito mais conhecedores da Palavra de Deus
que os pagãos de Nínive e de Sabá. E quanto B e mesmo
excedeu a Jonas e a Salomão! B e veio para habitar a
casa de Israel, expulsando o demônio e varrendo dela a
idolatria (cap. 8:31; 21:12-13). Porém, como B e não
havia sido recebido, a casa permanecia vazia, pronta para
abrigar o poder maligno mais terrível que antes. E isto é
o que acontecerá com Israel no reinado vindouro do
Anticristo.
Os versículos 46 a 50 mostram que o Senhor Jesus
teve de romper as relações terrenas e naturais com Seu
povo, explicando por parábolas a partir do capítulo 13 o
que é o reino do céu, e quem pode entrar nele.

2 6
Mateus 13:1-17

O coração do povo judeu estava “endurecido”. Eles


haviam voluntariamente fechado seus olhos e tapado seus
ouvidos (v. 15). Por esta razão, de agora em diante, o
Senhor falará de form a oculta, por parábolas. Seus
ensinam entos estarão reservados apenas p ara Seus
discípulos. Os versículos 18, 36 e 37 mostram que o
Senhor sempre está disposto a explicar aos Seus o que
eles desejam compreender. A Bíblia contém muitas coisas
difíceis e obscuras p a ra nossa m ente lim itada
(Deuteronômio 29:29). Mas a explicação será dada no
momento certo, se nósrealm enteaquiserm os (Provérbios
28:5). Não nos deixemos desencorajar por passagens e
expressões que não pudermos entender imediatamente.
Peçamos ao Senhor que nos explique a Sua Pãlavra.
A rejeição do Messias por Israel tem ainda outra
conseqüência: não tendo achado frutos para colher em
meio a Seu povo, o Senhor irá agora sem ear o mundo
com a palavra do Evangelho. Em Tiago 1:21 é cham ada
de “a palavra em vós implantada, a qual é poderosa para
salvar as vossas almas”. Mas se existe somente um único
tipo de semente, isto significa que nem todos recebem a
Palavra da mesma forma. Como você a recebeu?

27
Mateus 13:18-30

Em Seu perfeito conhecimento do coração humano,


0 Senhor distingue quatro classes de pessoas entre os que
ouvem Sua Palavra. A primeira é comparada ao solo da
beira do caminho, endurecido por ser tão pisoteado pelos
que passam por ele. Será que nosso coração se parece
com este solo sobre o qual o mundo passa e tom a a
passar, de form a que a Palavra de Deus não pode
penetrar?
Outros, como os “solosrochosos”, são as personalidades
superficiais. Sua consciência não foi profundamente lavrada
pela convicção de pecado. Por isso, a emoção passageira
experimentada ao ouvir o Evangelho não é mais que
meramente uma aparência de fé.
A v erd ad eira fé tem , necessariam en te, raízes
invisíveis, mas pelos seus frutos visíveis é que ela é
reconhecida. Sem obras, a fé está morta, sufocada como
sementes em meio aos espinhos (Tiago 2:17).
Mas a semente caiu também em boa terra, onde as
espigas podem amadurecer no devido tempo.
A parábola do joio nos ensina que o inimigo não
somente arrebatou a boa semente (v. 19), mas também
semeou a má semente enquanto os homens dormiam.
Dormir no sentido espiritual nos coloca à mercê de toda
m á influência, e é por esse m otivo que som os
continuam ente exortados a vigiar (M arcos 13:37;
1 Pedro 5:8 etc).

28
Mateus 13:31-43

Nas seis “parábolas do reino” que se seguem à do


semeador, o Senhor expõe qual será o resultado da Sua
semeadura neste mundo. A parábola do grão de mostarda
que se tom a uma grande árvore descreve a forma exterior
que o reino dos céus tomou depois da rejeição do Rei,
enquanto a parábola do fermento escondido na massa
enfatiza a obra secreta que enfraquece as características
do reino. E o tempo da Igreja responsável. Depois de um
pequeno começo (alguns discípulos), o Cristianismo teve
o desenvolvimento que conhecemos. Porém, seu êxito e
expansão pelo mundo não são de modo algum a prova
da aprovação e da bênção de Deus. Isto porque, ao
mesmo tempo em que se expandia, era invadido pelo
mal (os pássaros — v. 4 e 19 — e o fermento).
A mistura que caracteriza a Cristandade professa é
ilustrada de outra m aneira pela parábola do joio no
campo, que o Senhor explica aqui. Sabe-se que hoje em
dia o nome de cristão é assumido por todos os que são
batizados, sejam eles verdadeiros filhos de Deus ou não.
O Senhor suportará essa situação até que venha o dia da
ceifa (Apocalipse 14:15-16). E ntão, nesse dia, Ele
mostrará o destino final do trigo e do joio e o que Ele
pensa de cada um de nós.

29
Mateus 13:44-58

As breves parábolas do tesouro e da pérola enfatizam


duas verdades maravilhosas: a primeira, o grande valor
que a Igreja tem para Cristo, pois B e vendeu tudo o que
tinha para adquiri-la — desistindo até mesmo da Sua
própria vida. Em segundo lugar, vemos o gozo que He
tem nela. No versículo 47, a rede do Evangelho é lançada
no mar das nações. O Senhor disse a Seus discípulos que
faria deles pescadores de homens. Eis aqui, pois, os servos
trabalhando. Mas nem todos os peixes são bons... nem
todos os que se dizem cristãos são verdadeiros cristãos! É
a Palavra que perm ite distingui-los: o bom peixe se
reconhece pelas suas escamas e por suas barbatanas
(Levítico 11:9-11), e o verdadeiro crente p o r sua
arm adura m oral, pela sua capacidade de resistir à
penetração do mal e a ser levado pela corrente deste
mundo.
Da mesma forma que o Senhor encontra um tesouro
nos Seus (v. 44), o versículo 52 nos mostra o tesouro que
o discípulo encontra em Sua Palavra. Você considera a
Bíblia um tesouro de onde se podem tirar “cousas novas
e velhas”?
Este capítulo termina tristemente com a incredulidade
das multidões. O povo via em Jesus apenas o “filho do
carpinteiro”, de maneira que Sua graça não pôde ser
mostrada a eles.

30
Mateus 14:1-21

O capítulo 11 nos mostrou João Batista na prisão.


Aprendemos que ele foi jogado na prisão por Herodes
(filho do rei de que fala o capítulo 2). E por que motivo?
João não teve medo de repreendê-lo porque èle se havia
casado com a mulher que seu irmão repudiou. Agora a
fiel testemunha paga com sua vida pela coragem de ter
dito a verdade para o rei. Sua morte ocorre em meio aos
divertimentos e festas da corte real; é o terrível salário do
prazer oferecido ao cruel monarca (Tiago5:5-6). Herodes
até podería estar entristecido naquele momento, mas já
há muito tem po ele queria a morte de João Batista (v. 5),
pois o ódio à verdade e àqueles que a proferem estão
sempre juntos. Humanamente falando, o fim de João
Batista é trágico e até horrível, porém, aos olhos de Deus,
era o cumprimento triunfante da sua “carreira” (Atos
13:25).
Podemos até imaginar o que a notícia da morte de
Seu precursor causou em Jesus. Não era o anúncio de
Seu próprio desprezo e de Sua cruz? Parece que Sua
tristeza fez com que sentisse a necessidade de estar só
(v. 13). Porém a multidão O alcança de novo, e Seu
coração, que sempre pensava nos outros, compadece-se
dela. Ele realiza em favor da multidão o grande milagre
da primeira multiplicação dos pães.

31
Mateus 14:22-36

A cena do barco no meio da tempestade é a imagem


da posição atual dos redimidos do Senhor. Enquanto Ele
está no céu orando e intercedendo, eles têm de atravessar
penosamente o agitado mar deste mundo. Moralmente,
é noite: o Inimigo, incitando a oposição dos homens,
atua como o vento e as ondas que anulavam os esforços
dos remadores. Porém Jesus vem ao encontro dos Seus.
Sua voz familiar tranqüiliza os pobres discípulos. E a fé,
apoiando-se sobre a palavra “Vem!”, conduz Pedro
Àquele que ele ama. Repentinamente, porém, sua fé falha
e ele começa a afundar. O que aconteceu? Pedro tirou
seus olhos do Mestre e os fixou na altura das ondas e na
violência do vento — como se fosse mais difícil caminhar
com Deus em um m ar agitado d o que em águas
tranqüilas! Então Pedro clam ou ao Senhor, que o
socorreu imediatamente.
Depois, o Senhor Jesus é recebido na comarca de
Genesaré, de onde havia sido expulso quando curou os
dois endemoniados (cap. 8:34). Essa é um a figura do
m om ento em que Seu povo, que O desprezou, O
reconhecerá e render-Lhe-á homenagem, e será liberto
por Ele.

32
Mateus 15:1-20

O zelo religioso dos fariseus se limitava apenas a


observar estritamente certo número de formas exteriores
e tradições. E, sob uma capa de aparência religiosa (que
pode enganar os homens, mas não Deus), eles seguiam
as inclinações do seu coração. Por avareza, chegaram até
mesmo a negar-se a cumprir os mais elementares deveres,
como o de prover sustento às necessidades dos pais (v. 5;
Provérbios 28: 24). Os fariseus, por suas tradições,
anulavam os mandamentos de Deus. Então Jesus, para
quem esses m esm os m andam entos eram delícias,
confunde os hipócritas por suas próprias escrituras.
Depois disso, dirigindo-Se a Seus discípulos que também
estavam desconcertados com Suas palavras, expõe a
maldade do coração hum ano e a sua total ruína. Sim, as
mãos podem estar impecavelmente lavadas, enquanto o
coração está cheio de sujeiras.
Reconheçam os quão horrível é o conteúdo do
coração humano, de nosso próprio coração, mesmo que
o ocultemos sob uma aparência respeitável e agradável.

33
Mateus 15:21-39

O Senhor Jesus visitava a região de Tiro e Sidom.


Essas cidades pagãs, como Ele mesmo declarou, eram
m enos culpadas que as da Galiléia, onde Ele havia
realizado a maioria de Seus milagres (11:21-22). Porém
não tinham nenhuma parte nas bênçãos do “Filho de
Davi” (v. 22); eram estranhas às alianças da promessa
(Efésios 2:12). O Senhor, aparentemente com palavras
severas, com eça por enfatizar isso à pobre m ulher
cananéia que suplica por sua filha. Essa mulher reconhece
sua própria indignidade. Q uando tom am os o lugar
apropriado perante Deus, a “graça” pode brilhar com
todo o seu esplendor. De fato, se o homem tivesse o
menor direito ou mérito, não seria graça, mas, sim, algo
devido. Para avaliar ainda melhor a imensidão desta
graça para conosco, não esqueçamos nunca nossa miséria
e nossa indignidade diante de Deus.
Logo depois, o Senhor se volta a Seu povo. Conforme
o Salmo 132:15, B e abençoa abundantem ente o seu
mantimento e farta os pobres de pão. E o que o impele a
agir, tanto no segundo milagre como no primeiro, é a
compaixão (v. 32; cap. 14:14).

34
Mateus 16:1-12

Mais uma vez, os fariseus pedem um sinal (12:38);


mais uma vez, Jesus lhes recorda do sinal de Jonas, figura
de Sua morte iminente. Em nossos dias, os cristãos que
estão aguardando o retorno do Senhor, que se dará em
breve, não têm mais de esperar sinais de Sua vinda. Sua
fé descansa sobre as promessas do Senhor e não sobre
sinais visíveis, do contrário não seria fé. E, contudo,
quantos indícios do final da história da Igreja aqui na
Terra! O orgulho do homem cresce mais que nunca; o
mundo cristianizado mostra as características anunciadas
em 2 Timóteo 3:1-5. Há também sinais exteriores: o povo
judeu retom ando à sua terra, as nações buscando unir-se
de acordo com a estrutura do antigo império romano.
Abramos nossos olhos e olhemos para o céu: o Senhor
Jesus está voltando!
O Senhor deixa os incrédulos e retira-Se (v. 4). Porém
agora são os Seus próprios discípulos que O entristecem
por falta de confiança e memória. Nós mesmos muitas
vezes não nos tomamos parecidos com eles? Prestemos
atenção à exortação que Deus nos dá pela própria boca
de Pedro: lançar toda a nossa ansiedade sobre Ele, pois
Ele tem cuidado de nós (1 Pedro 5:7).

35
Matem 16:13-28

A pergunta que Jesus faz a Seus discípulos nos mostra


que as opiniões a Seu respeito estavam divididas, como
ainda acontece hoje. Mas você, leitor, pode dizer quem
B e é ou o que B e significa para você? O Fai inspira
Simão a fazer sua maravilhosa confissão: “Tu és o Cristo,
o Filho do Deus vivo”. Este é o firme fundamento sobre
o qual o Senhor edificará Sua Igreja, e da qual cada crente, .
como Simão, será um a pedra viva. E como as forças do
mal poderão prevalecer contra o que pertence a Cristo,
contra o que B e mesmo edificou? E o Senhor honra o
Seu discípulo com uma missão especial: a de abrir —
através de suas pregações— as portas do reino aos gentios
e aos judeus (Atos 2:36; 10:43).
“Desde esse tem po”, o Senhor Jesus, referindo-Se à
Igreja, deve falar do preço que será pago para adquiri-la:
Seus sofrimentos e Sua morte. Porém, o pobre Pedro,
que um momento antes falava como “os oráculos de
Deus” (1 Pedro 4:11), tom ou-se um instrum ento de
Satanás. Este último procura desviar Cristo do caminho
da obediência, m as é im ediatam ente reconhecido e
expulso.
O Senhor Jesus, que foi o primeiro a trilhar o caminho
da completa auto-renúncia, não oculta o que significa ir
após B e (cap. 10:37-40). Será que estamos prontos a
segui-LO, custe o que custar? (Füipenses 3:8).

36
Mateus 17:1-13

0 capítulo 16 term ina com os pensam entos dos


sofrimentos e da morte do Senhor Jesus. 0 capítulo 17
começa com a aparição de Cristo em glória, que responde
a uma promessa feita aos discípulos: “Alguns aqui se
encontram que de maneira nenhuma passarão pela morte
até que vejam vir o Filho do homem no seu reino” (cap.
16:28). Depois do menosprezo de Seu Filho por parte de
Israel, e das distintas form as de incredulidade que
encontrou, Deus quis dar a testemunhas escolhidas entre
o povo uma antecipação da Sua majestade. Que cena
espetacular! Mas as três testemunhas foram incapazes de
suportá-la. O temor se apossou deles e logo veio o sono
(Lucas 9:32). E ao final, Deus teve de falar para impedir
que Seu A m ado fosse confundido com os dois
companheiros de Sua glória. Mais tarde, somente depois
da ressurreição, é que os discípulos compreenderam a
importância dessa magnífica visão, e foram autorizados a
contá-la. É o que Pedro faz em sua segunda epístola (cap.
1:17-18). Porém agora, enquanto Moisés e Elias voltam
ao seu descanso, o Filho de Deus novamente assume a
humilde “forma de servo”, que havia deixado por apenas
um instante, e descendo do monte, empreende de novo
o caminho solitário até a cruz.

37
Mateus 17:14-27

A adoração do cristão tem por efeito transportá-lo em


espírito “ao topo do monte” na companhia do Senhor
glorificado. Que bom seria se pudéssemos gozar de tais
m om entos com m uito m ais freqüência! Porém , é
necessário sab er com o v o ltar com Ele p a ra as
circunstâncias da vida neste m undo onde Satanás reina.
E esta a experiência que os discípulos têm de enfrentar
aqui. A cura do menino lunático é a oportunidade para
que o Senhor Jesus enfatize o maravilhoso poder da fé.
A cena dos versículos 24 a 27 é ao mesmo tempo
instrutiva e comovedora. Pedro, sem pre agindo sem
pensar e esquecendo a visão da glória e a voz do Pai,
compromete-se a pagar o imposto do templo em nome
do seu Mestre. O Senhor Jesus gentilmente pergunta-lhe
se o filho de um rei paga impostos ao seu próprio pai.
(Simão havia reconhecido pouco tempo atrás que Jesus
era o Filho do Deus vivo!). Depois disso, o Senhor
encarrega Pedro de pagar o imposto, apesar de não
precisar fazê-lo. Mas ao mesmo tempo manifesta Seu
poder: H e é o que controla toda a criação, incluindo os
peixes do m ar (Salmo 8:6-8). E manifesta Seu am or
associando-Se ao fraco discípulo e pagando por ele
também.

38
Mateus 18:1-14

0 m undo se compraz naquilo que é grande. Os


discípulos não estavam livres desse espírito. Eles querem
saber quem será o maior no reino dos céus. O Senhor,
contudo, responde que o mais importante é entrar, e para
entrar é preciso ser pequeno. Com o objetivo de gravar
no espírito deles esse ensinamento, o Senhor cham a um
menino e o coloca no meio deles. Talvez tenham os
crianças ao nosso redor. Elas também estão em nosso
m eio com o exem plo de confiança e sim plicidade.
Tenhamos o máximo cuidado de não depredá-las por
causa de sua fraqueza, ignorância ou ingenuidade. E mais
ainda, cuidem os p ara n ão escandalizá-las. O m au
exemplo de um irm ão m ais velho é um dos piores
obstáculos no caminho dos jovens cristãos. Jesus repete
aqui o que havia dito a respeito da questão dos escândalos
(cap. 5:29-30).
Em vez de desdenhar, Deus cuida dos pequenos de
uma forma especial. Os anjos estão encarregados de zelar
por eles. E não nos esqueçam os de que Jesus veio
também para salvá-los (v. 11). A parábola da ovelha
perdida mostra-nos que valor tem um só cordeirinho para
Seu coração.

39
Mateus 18:15-35

Jesus explica como as questões entre os irmãos devem


ser resolvidas (v. 15-17). E podemos relacionar isso com
Seu maravilhoso ensino sobre o perdão (Efésios 4:32;
C olossenses 3:13). T odavia, esta tam bém é um a
oportunidade para voltar ao assunto da Igreja, dando-nos
essa prom essa de vital im portância: “Porque onde
estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou
no meio deles” (v. 20). Desta presença procede tudo de
que até a menor reunião dos crentes congregados no
nome do Senhor Jesus necessita. Podería faltar a bênção
quando Ele, que é a fonte de todas as bênçãos, está ali,
no meio dos que se reúnem em Seu nome? Aqui, essa
promessa está conectada à autoridade conferida à Igreja
(ligar e desligar) e à oração de dois ou três irmãos que
pedirem qualquer coisa com a certeza de que lhes será
concedido. Porém, quantos cristãos se esquecem da
importância das reuniões de oração!
A parábola do servo que devia dez mil talentos (uma
quantia enorme) nos faz recordar a dívida incalculável
que Deus nos perdoou em Cristo (Esdras 9:6). Que são,
em comparação a ela, as pequenas injustiças que temos
de suportar? O divino perdão, do qual temos sido objetos,
torna-nos responsável por praticar a misericórdia em
todas as situações.

40
Mateus 19:1-26

No começo deste capítulo, o Senhor Jesus responde


a um a pergunta dos fariseus condenando formalmente o
divórcio (cap. 5:31-32).
Depois abençoa as crianças que Lhe são trazidas e
repreende os discípulos que queriam im pedi-las de
aproximar-se.
No versículo 16, vem os um jovem vir a Jesus com
um excelente desejo: obter a vida eterna. Que o Senhor
coloque este mesmo desejo no coração de todos os
jovens! Porém a pergunta estava mal form ulada e o
Senhor faz com que Seu visitante entenda isso: “Você
quer fazer o bem? Então guarde os m andam entos”. A
resposta do jovem m ostra que ele não conhecia a sua
condição de pecador perdido e a sua incapacidade de
fazer algo bom para Deus. Jesus, então, revela que havia
um ídolo em seu coração. Eram as riquezas, um obstáculo
que impede muitas pessoas de virem a Cristo e de O
seguirem. Não, a vida eterna não é ganha através de boas
ações, sejam elas quais forem. Nem as maiores caridades,
nem os mais louváveis atos, nada há que se possa fazer
para merecê-la. Ela é um dom (presente) que o Senhor
Jesus dá aos que O seguem (João 10:28).

41
Mateus 19:27-30 e 20:1-16

A questão que preocupava tanto os discípulos, ou


seja, conhecer quem seria o maior e o menor no reino dos
céus, é ilustrada com uma nova parábola. Poderiamos
fazer parte daqueles trabalhadores insatisfeitos e achar
injusto o m odo de agir desse proprietário. Porém ,
analisem os esta história m ais cuidadosam ente. Os
trabalhadores da m anhã haviam com binado com o
proprietário da vinha que receberíam um denário por dia
de trabalho. Eles estabeleceram um preço pelo seu
trabalho. Ao contrário, os que foram contratados mais
tarde confiaram no que o dono da vinha dissera: “Vos
darei o que for justo” (v. 4). Eles não tinham razão para
reclamar. No reino dos céus, a recompensa nunca é um
direito. Todos são servos inúteis, segundo Lucas 17:10, e
ninguém merece nada. Tudo depende da soberana graça
de D eus. De o utro p o n to de vista, n ão são os
trabalhadores da undécima hora os menos favorecidos?
Eles perderam a oportunidade e o prazer de servir o bom
mestre a maior parte do dia. O Senhor Jesus é o melhor
Mestre. Que possamos servi-LO desde a nossa infância.
Na história dos cam inhos de Deus, os primeiros
trabalhadores, que tinham um acordo com o dono da
vinha, representam o povo de Israel sob a aliança da
promessa; aqueles da undécima hora representam os
gentios, objetos da graça de Deus.

42
Mateus 20:17-34

O Senhor Jesus busca a com preensão de Seus


discípulos sobre um tem a particularmente íntimo e solene:
os sofrimentos e a morte que O esperam em Jerusalém.
E é justamente esse momento que a mãe de Tiago e João
escolhe p ara fazer-Lhe um pedido egoísta. Ficaria
orgulhosa de ver os seus filhos ocupando uma posição de
honra no reino do Messias. Os outros dez discípulos
indignaram-se. Sem dúvida, não porque a pergunta fosse
inoportuna e egoísta, m as, sim, porque todos eles
secretamente almejavam esse posto. Depois de tudo o
que o Senhor havia dito, depois de o Senhor ter colocado
um menino no meio deles, será que eles não tinham
aprendido nada? Não devemos julgá-los! Que dificuldade
temos em aprender as nossas próprias lições, as mesmas
lições! Quanto nos parecemos com eles!
Então, sem nenhuma reprovação e com uma infinita
paciência, Jesus prossegue com os Seus ensinos. E, desta
vez, Ele os dem onstra com Seu próprio exemplo no
versículo 28, o m otivo de eterna adoração para os
redimidos.
Seguindo com Sua missão de servo, o Senhor Jesus
cura dois cegos em Jericó . A prendam os com a
persistência da fé desses cegos e com a infinita compaixão
do Senhor.

43
Mateus 21:1-17

Em cada um dos três primeiros evangelhos, a entrada


em Jerusalém m arca o princípio da última parte da
jornada do nosso Salvador neste mundo. O cumprimento
da profecia de Zacarias (cap. 9:9) era a prova cabal para
Israel de que o Messias veio visitá-lo. Era impossível
confundi-lo com outro: “Justo e salvador, humilde,
m ontado em jum ento... Esperava-se um altivo e grande
rei, entrando na cidade m ontado em seu cavalo de guerra,
à frente de seus exércitos. Mas um rei humilde e m anso—
isso é quase inaceitável para os pensamentos humanos.
A graça e a bondade do Senhor Jesu s n ão O
impedem de agir com a maior severidade quando vê os
direitos de Deus sendo pisados, como é o caso dos
vendedores do templo (v. 12). Da mesma forma, os
Seus discípulos têm de agir. A bondade que deve
caracterizá-lo s n ão p o d e a c a b a r com a firm eza
(1 Coríntios 15:58). A presença de Jesus no templo teve
muitas conseqüências: em primeiro lugar, um a imediata
purificação; mas, ao mesmo tempo, a graciosa cura dos
doentes que foram a Ele; depois, o louvor das criancinhas,
e, por último, a indignação dos inimigos da verdade.

44
Mateus 21:18-32

A cam inho para Jerusalém , o Senhor realiza um


milagre que, excepcionalmente, não é um milagre de
amor, mas um sinal de juízo. Consideremos esta figueira:
apenas folhas e nada mais! Tinha um a bonita aparência,
mas nenhum fruto sequer! Esta era a condição de Israel...
e de muitos que se dizem cristãos! Este milagre foi a
oportunidade para que Jesus recordasse a Seus discípulos
o poder da oração da fé.
Logo depois, Ele entra no templo, onde os principiais
sacerdotes e anciãos do povo desafiam Sua autoridade.
Através de um a pergunta, o Senhor dá-lhes a entender
que são incapazes de reconhecer essa autoridade se não
reconhecerem prim eiro a de Jo ão Batista. Com o o
segundo filho da parábola (v. 28-30), os líderes do povo
diziam-se cumpridores da vontade de Deus. Mas, de fato,
era para eles letra morta (Tito 1:16). Ao contrário, outros
que eram anteriormente rebeldes, pecadores notórios,
arrependeram-se após terem ouvido a voz de João, e
fizeram a vontade de Deus. Os filhos de pais crentes
correm o risco de serem precedidos no céu por muitas
pessoas às quais hoje m enosprezam ou são
condescendentes (cap. 20:16). Pensemos todos em nossa
grande responsabilidade!

45
Mateus 21:33-46

A parábola dos lavradores m aus ilustra a terrível


condição do povo e de seus líderes. Deus esperava fruto
de Sua vinha, Israel. “Sachou-a, limpou-a das pedras e a
plantou de vides escolhidas; edificou no meio dela uma
torre, e também abriu um lagar. H e esperava que desse
uvas boas, mas deu uvas bravas” (Isaías 5:2). Os judeus
(e toda a hum anidade em geral) têm demonstrado não
som ente incapacidade em produzir “uvas boas”, mee
também ódio e revolta contra o Dono de todas as coisas.
Eles têm desprezado e rejeitado Seus servos, os profetas,
e agora se preparam para expulsar — e de que maneira
terrível — o próprio Herdeiro, com o propósito de se
apossarem d a h eran ça, ou seja, o m undo
(1 Tessalonicenses 2:15).
O S en h o r os levou a p ro n u n ciar su a pró p ria
condenação, quando responderam àpeigunta: “Quando,
pois, vier o sen h o r d a v in h a, q ue fará àq u eles
lavradores?”. Depois, Jesus lhes mostra que Ele mesmo
é a “pedra preciosa, angular”, que Deus estabeleceu em
Israel (Isaías 28:16). Os edificadores (os líderes do povo)
A rejeitaram (Salmo 118:22-23). Porém, H e veio a ser a
pedra angular de um a “casa espiritual”, a Igreja, e “pedra
de tropeço e rocha de ofensa” para os desobedientes
(1 Pedro 2:4-8).

46
Mateus 22:1-22

A parábola das bodas do filho do rei completa a dos


lavradores maus. H a mostra o que acontecerá depois da
rejeição do Herdeiro. Os judeus, que eram os primeiros
a serem convidados, recusaram a mensagem da graça
pregada pelos apóstolos (os servos do v. 3). Então estes
se voltaram aos gentios (Atos 13:46).
Ao convidar os homens, Deus os honra e lhes mostra
Sua graça. Você também tem em suas mãos um convite!
Mas desprezo e oposição são as duas respostas mais
comuns a um tão maravilhoso convite (Hebreus 2:3).
Não basta apenas ser convidado (v. 3); nós devemos
aceitar e comparecer da forma ordenada por Deus, ou
seja, vestidos da justiça que procede do próprio Rei
(Filipenses 3:9). O homem do versículo 11 pensou que
sua roupa estava adequada. Ele representa os que
pensam que podem entrar no céu através de sua justiça
própria; eles freqüentam a Igreja sem, porém, terrecebido
Cristo como seu Salvador pessoal (cap. 5:20; Romanos
10:3-4). Que confusão os espera e quão terrível será seu
destino final!
Os fariseus e hero d ian o s, surdos a esses
ensinamentos, aproximam-se com uma pergunta feita
para “surpreender Jesus em alguma palavra”: “É lícito
pagar tributo a César, ou não?”. Porém, o Senhor discerne
a arm adilha oculta sob as palavras lisonjeiras. E,
respondendo de forma inesperada, o Senhor devolve a
flecha aos que a haviam atirado, ao dizer: “Dai, pois, a
César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”.
47
Mateus

Outros contraditares, os saduceus, foram a Jesus com


um a pergunta trivial. Eles pensavam que através de sua
história poderíam provar que a doutrina da ressurreição
era absurda. Antes de demonstrá-la pelas Escrituras, Jesus
fala à consciência desses hom ens e m ostra que eles
discutem sem o conhecimento da Escritura, sobre a incerta
e equivocada base de seus próprios pensamentos. Isso é
o que fazem hoje muitas pessoas, espedalm ente as que
pertencem às seitas que ensinam doutrinas falsas e
perniciosas.
Derrotados pelas Escrituras, os inimigos da verdade
voltam ao ataque (v. 34-40). Recebem como resposta
um maravilhoso resumo de toda a lei— que os condena
sem apelação. Então, por sua vez, o Senhor Jesus faz
uma pergunta aos fariseus que os silenda. Desprezado,
Ele que era ao mesmo tempo o Filho e o Senhor de Davi,
ocupará uma gloriosa posição. E aqueles que, de toda
m aneira, escolheram ser Seus inim igos, achariam
tam bém o lugar que lhes estava reservado (v. 44). É
muito triste ver pessoas que obstinadamente escolhem
perm anecer em seus próprios cam inhos, recusando
submeter-se a esses tão claros ensinam entos bíblicos
(2 Timóteo 3:8).

48
Mateus 23:1-22

O Senhor Jesus, que descobriu todas as armadilhas


dos chefes religiosos do povo, alerta Seus discípulos e a
multidão contra tais homens. O que eles falavam era de
m odo geral excelente, m as o que faziam era muito
diferente do que falavam (cap. 21:30). Nós, que
conhecemos tantas verdades bíblicas e sempre as citamos
aos outros, estamos mesmo colocando-as em prática?
(João 13:17; Romanos 2:17).
Que contraste entre esses líderes e Cristo, o único
Guia verdadeiro! (v. 8,10). Eles recomendavam a lei; Ele
a cumpria (cap. 5:17). Eles amarravam “fardos pesados
[e difíceis de carregar]” nos ombros dos outros (v. 4); Ele
chamava aos cansados e sobrecarregados para lhes dar
descanso (v. 11:28). Eles escolhiam os primeiros lugares;
Ele, d esd e a m anjedoura a té a cruz, tom ou
constantemente o último lugar. Foi Servo cintes de ser
Lider (v. 11). Ninguém será m ais exaltado, porque
ninguém se hum ilhou m ais profundam ente que Ele.
Porém , p a ra esses escribas e fariseus q u e tan to
perseguiram a própria glória, estão reservadas as trevas,
onde há “choro e ranger de dentes” (cap. 22:13). Em vez
das bem-aventuranças pronunciadas no início de Seu
ministério, o Senhor sete vezes diz: “Ai de vós, escribas e
fariseus!” contra aqueles homens que tinham tão grande
responsabilidade.

49
Mateus 23:23-39

Com essas veementes palavras, o Senhor condena


solenem ente aqueles que podem os designar como o
“clero” de Israel. Esses guias cegos eram duplamente
culpados, pois não entravam no reino dos céus e também
abusavam da sua autoridade para impedir que outros
entrassem (v. 13). E scrupulosos em extrem o por
pequenas coisas, negligenciavam as mais importantes: a
justiça, a misericórdia e a fé (v. 23). Além disso, a sua
máscara hipócrita enganava as pessoas simples que neles
depositam sua confiança. Muito indignado, o Senhor
Jesus revela-lhes a sua verdadeira face: são sepulcros
caiados (m ortos interiorm ente), são “serp en tes” ,
assassinos e filhos de assassinos.
Antes de sair do templo, esta casa onde Deus já não
mais tinha Seu lugar (deixando-a assim deserta— sem a
presença divina), Jesus expressa em term os m uito
tocantes o juízo que iria recair sobre Jerusalém. Creio que
podemos compreender um pouco o que foi para Seu
coração divinamente sensível o desprezo à graça que Ele
oferecia. “Mas estes não quiseram!” (cap. 22:3; Oséias
11:7). Catastróficas palavras! Quem dentre os que as
ouvirão um dia poderá reclamar de Deus a culpa por sua
aflição eterna? A salvação em Cristo foi e ainda está sendo
oferecida. Mas muitos não querem aceitá-la.

50
Mateus 24:1-14

Depois de pronunciar os sete “ais” sobre os guias cegos


de Israel, o Senhor deixa o templo. Vai-se retirando quando
os discípulos orgulhosamente apontam para a beleza do
edifício. Precisam ouvir que este logo seria destruído; eles
demonstram ainda não estar preparados para abandonar o
título de filhos de Abraão. Por isso o Senhor Jesus leva-os à
parte, para o Monte das Oliveiras, e expõe-lhes a sucessão
de acontecimentos proféticos relatados nos capítulos 24 e
25. Começa por falar à consciência deles (v. 4) antes de
responder, uma após a outra, às três perguntas formuladas
no versículo 3 (“Quando sucederão estas cousas?” — v.
15-28; “Que sinal haverá da tua vinda?” — v. 29-31; “Qual
o sinal da consumação do século?” — v. 32-51). Eque uma
verdade deve operar sempre um efeito moral: por exemplo,
aumentar o temor de Deus ou o amor pelo Senhor. S a n isso,
a verdade serve apenas para satisfazer a curiosidade, e a
consciência se endurece. Aqui os discípulos têm de tomar
cuidado para não se deixarenganar. Elesainda são “filhinhos”
na fé. Conhecem o Pai que Jesus lhes tem revelado (cap.
11:27). Porém ainda não estão preparados contra o que o
apóstolo João chama de “muitos anticristos” (1 João 2:18),
ou, em outras palavras, os que ensinam vários erros e,
portanto, precisam prevenir-se (2 Pedro 3:17). Satanás
tentará seduzi-los com “todo poder, e sinais e prodígios da
mentira” (2 Tessalonicenses 2:9-10).
Filhos de Deus, não nos deixemos turbar por tudo o que
ouvirmos! (v. 6). E, acima de tudo, cuidemos para que o
nosso amor por Deus e pelos irmãos não esfrie.
51
Mateus 24:15 -31

Os acontecim entos anunciados nestes versículos


dizem respeito a Israel e som ente ocorrerão após o
arrebatamento da Igreja. Porém, para mostrar quais serão
as conseqüências de Sua rejeição— descrita nos capítulos
anteriores —, o Senhor dirige-se a Seus discípulos como
se eles fossem a geração que iria passar por esse período
tão terrível. Na verdade, os cristãos da dispensação
(período) atual não estarão mais neste mundo quando
chegar o dia em que o Anticristo seduzir as nações,
profanar o templo (v. 15) e perseguir os fiéis. Por isso, as
advertências e exortações dadas aqui não concernem
diretamente a nós. Mas o Senhor Jesus manifesta grande
interesse pelas coisas que sucederão antes da Sua vinda
em glória (v. 30). Pensa com grande simpatia nos fiéis
que sofrerão naqueles tem pos. Supõe tam bém que
aqueles a quem chama de amigos devem compartilhar
esse interesse e simpatia (João 15:15). Falar-nos dessas
coisas por antecipação (v. 25) é uma grande prova de
amor e de confiança de Sua parte (Gênesis 18:17). Isso
só não é razão suficiente para buscarmos compreender
essas verdades proféticas? Além do mais, elas são uma
fonte de exortação proveitosa em todas as épocas e para
todas as testemunhas do Senhor — exortações como:
perseverar (v. 13); orar (v. 20); vigiar (v. 42).

52
Mateus 24:32-51

O Senhor interrompe Sua exposição profética para


exortar os Seus à vigilância e ao serviço (v. 32-44). O
juízo cairá repentinamente sobre o mundo. Atingirá os
incrédulos e zom badores. A lcançará igualm ente os
indiferentes, os indecisos e os filhos de crentes que não
aceitaram a Jesus como seu Salvador pessoal. Será este
último o seu caso? “Por isso estai vós apercebidos
também”, diz o Senhor (v. 44 — E.R.C.). E para estar
preparado, devem os acolher o Senhor Jesus com o
Salvador pessoal. No versículo 45 é atribuído aos que
nEle creram um maravilhoso serviço: o de distribuir no
seu arredor o alimento, que é a Palavra (Atos 20:28;
1 Timóteo 1:12). Pois há dois requisitos: a fidelidade,
para conhecer esta Palavra e não se apartar dela; e a
sabedoria, para aplicá-la de acordo com as necessidades
e circunstâncias. Porém, na grande cristandade também
se encontram os servos maus. Eles têm exercido um duro
domínio sobre as almas dos demais; têm-se embriagado
com os prazeres do m undo (1 Tessalonicenses 5:7). Por
quê? É que, bem no íntimo de seu coração, eles não
crêem na volta do Mestre. O servo de Cristo só pode ser
fiel e sábio se guardar um precioso segredo: esperar a
cada dia pelo Senhor. Conforme exprime o Salmo 130:
“A m inha alm a anseia pelo Senhor, mais do que os
guardas pelo rom per d a m anhã”.

53
Mateus 25:1-13

S eg u n d o um co stum e o rie n ta l, um noivo


chegando de noite para o ritual de suas bodas era
ilum inado em seu cam inho e escoltado por virgens,
amigas de sua noiva (as quais hoje cham aríam os de
dam as de honra; Salmo 45:9,14). O Senhor usa essa
com ovedora ilustração para m ostrar de que m aneira
devem os esperar por Ele, o Noivo celeste. Porém , os
cristãos, em sua m aioria, têm -se cansado de esperar.
O sono espiritual tomou conta deles por muitos séculos.
Foi necessário que, num período recente da história da
Igreja, apropriadamente chamado de “o despertamento”,
ressoasse o grito da meia-noite: “Eis o noivo!...”. O Senhor
está voltando! Em decorrência disso tomou-se manifesta
um a diferença: as prudentes tinham azeite em suas
lâmpadas; assim, os verdadeiros crentes estão preparados
para a volta do Senhor, e a luz deles — a do Espírito
Santo — pode brilhar na escura noite deste mundo.
Outros, como as virgens néscias, apenas dizem que O
estão esperando, sem, contudo, possuir a vida que
procede dEle. É um triste erro levar o tão maravilhoso
título de cristão sem o ser — é uma terrível ilusão, e será
um não menos terrível despertar!
Perguntem o-nos sinceram ente enquanto ainda é
tempo: “Há óleo em minha lâmpada?”, “Estou preparado
para Seu retorno?”. (Na Bíblia, o óleo é um a figura do
Espírito Santo — Romanos 8:9).

54
Mateus 25:14-30

A parábola das dez virgens refere-se ao esperar— ao


velar — pela vinda do Senhor. A parábola dos talentos
considera o aspecto do serviço. A vida do crente após a
sua conversão compreende estes dois aspectos: “servir”
o Deus vivo e verdadeiro e “esperar” dos céus a Seu Filho
(1 Tessalonicenses 1:9-10). Mas esperar o Senhor não
significa cruzar os braços até que He venha. Ao contrário,
cada redimido tem o privilégio de trabalhar para Ele. E
para isto, todos receberam certo número de talentos, com
a responsabilidade de empregá-los e gerar frutos: uns
receberam saúde; outros, discernimento e memória;
outros ainda, tempo, bens m ateriais... mas, e sobretudo,
todos têm a Palavra divina, a qual lhes confere um
respectivo conhecimento (1 Coríntios2:12). Mas, amigos
leitores, mesmo sendo salvos, podemos assemelhar-nos
de algum a m aneira com o servo m au e negligente.
Estamos seguros de não haver “escondido sob a terra”,
por egoísmo ou preguiça, desonestamente, um ou mais
desses dons que pertencem ao Senhor? Que teremos para
Lhe dar quando Ele vier? Poderá Ele fazer-nos entrar no
Seu gozo? (Não é dito “entrar no céu”, mas, no “Seu
gozo”)— o gozo da obra consumada e do am or satisfeito
— gozo que fora a Sua motivação para a obra (Hebreus
12:2 ).

55
Mateus 25:31-46

O versículo 31 retom a o curso da profecia no mesmo


estágio em que fora interrompido em Mateus 24:30-31,
ou seja, quando da vinda do Senhor em glória para Seu
povo terreno. Será o dia da recompensa ou do castigo
para as pessoas dentre as “nações” (v. 32) que estarão
vivendo aqui na terra. E o critério diferenciador será a
maneira pela qual tiverem recebido os embaixadores do
Rei (Seus irmãos — no caso aqui, os judeus — v. 40),
quando lhes for anunciado o evangelho do reino (cap.
24:14).
Alguns querem usar esta parábola para justificar a
doutrina da salvação pelas obras. Mas devemos esclarecer
que este será um período posterior ao da Igreja e da fé
cristã propriamente dita.
De qualquer modo, deixando de lado a questão da
salvação, a declaração do Senhor está cheia de instrução
para nós, cristãos. Se o Senhor Jesus estivesse aqui na
T erra hoje, q u an to em penho aplicaríam os p ara
recebê-LO e servi-LO, em resumo, para satisfazer Seus
menores desejos? Pois bem! Nós temos esta oportunidade
todos os dias! Dons, hospitalidade, visitas. Tudo o que
fazemos por am or a alguém deve ser feito em primeiro
lugarparaB e (João 13:20; 1 Coríntios 12:12).Poroutro
lado, se recusarmos fazê-lo, estaremos sendo omissos em
relação ao Senhor.

56
Mateus 26:1-16

O Senhor Jesus terminou os Seus ensinamentos. Os


últimos acontecimentos vão-se cumprir agora. Enqilanto
em Jerusalém os homens iníquos deliberam (w . 3-5),
uma cena bem diferente acontece em Betânia. Rejeitado
e odiado pelos grandes do povo, é entre Seus humildes
seguidores que o Senhor Jesus encontra a acolhida, o
amor e a adoração que Lhe são devidos. Ele já não tem
mais lugar no templo, mas é recebido na casa de Simão,
o leproso. As honras reais Lhe foram negadas, mas um
bálsamo de grande preço é derram ado sobre Sua cabeça,
figura da unção real. Esta mulher reconhece e honra o
Messias de Israel. “Enquanto o rei está assentado à sua
mesa, o meu nardo exala o seu perfume” (Cantares 1:12).
Somente Senhor compreende e aprecia o gesto dela. Mas
é o que basta! Se B e nisto tem prazer, ninguém tem direito
de escandalizar-se.
Mas com o versículo 14, passamos novamente a uma
cena de escuridão. O traidor Judas, que há pouco tinha
também respirado o perfume do bálsamo, realiza a traição
e recebe sua paga: trinta m oedas de prata, o preço de um
escravo. O profeta Zacarias— com um a pitada de ironia
— designa-o como um “magnífico preço”, pois foi o preço
pelo qual o Filho de Deus foi avaliado (Zacarias 11:13).

57
Mateus 26:17-30

Podem os ter um a idéia do que o Senhor estava


sentindo ao comer esta páscoa com Seus discípulos. Nesta
celebração justamente se representava o que B e estava
por realizar. Não iria demorar, e o verdadeiro Cordeiro !
pascal seria imolado (1 Coríntios 5:7). Porém Ele ainda !
queria dar a Seus discípulos um emblema muito especial ^
de Seu amor. A cada ano, desde a grande noite do êxodo,
a páscoa anunciava em figura uma obra que havia de vir.
Doravante, a cada primeiro dia da semana, a cena faria
o crente recordar que esta obra está consumada. Todas
as vezes que a celebramos, anunciam os a m orte do
Senhor até que Ele venha (1 Coríntios 11:26).
Assim que distribuiu o pão para os Seus, o Senhor
Jesus também lhes deu o cálice, dizendo: “Bebei dele
todos”. Sim, Ele quer que todos participem com H e desta
ceia de amor (exceto Judas que havia saído: João 13:30).
São eles dignos da ceia? Pedro O negará e todos os demais
fugirão. Ainda assim o Senhor lhes disse — e continua
dizendo a todos os redimidos: “Bebei dele todos”. A seguir
explica o valor inestimável de Seu sangue que será
“derramado em favor de muitos, para a remissão dos
pecados” (v. 28). Caro leitor, você está entre esses
“muitos”? Caso esteja, qual tem sido sua resposta ao
desejo do Senhor Jesus? (Salmo 116:12-14).

58
Mateus 26:31-46

Cheio de confiança em si próprio, Pedro declarou-se


pronto para morrer com o Senhor. Mas veremos que ele
não irá muito longe.
A seguir, tendo convencido os discípulos orar e
vigiar com Ele, o Senhor Jesus adentra sozinho no
jardim, onde daria a prova suprem a de Sua submissão
à vontade do Pai. Esta vontade, cuja realização foi o
constante deleite do Filho, envolve agora um a dupla e
terrível necessidade: ser abandonado por Deus (algo
infinitamente triste para o coração do filho am ado); e
o pecado que deveria levar, cujo salário é a m orte —
(algo infinitamente angustiosa para o Homem perfeito).
A tristeza e angústia invadiram a Sua alma (v. 37). Oh,
Ele está consciente do terrível caminho até a cruz, do qual
Satanás, ainda naquele momento, tenta dis$uadi-LO.
Porém, Ele aceita o cálice das mãos de Seu Pai: “Faça-se
a tua vontade”.
Em Sua graça, Deus nos perm itiu assistir a essa
provação do Senhor no Getsêmani, escutar Sua oração
urgente e dolorosa. Que o Senhor Jesus nos guarde de
termos, como os três discípulos, um coração adormecido
e indiferente a Seu sofrimento. E, pelo contrário, que a
gratidão e a ad o ração transborde nossa alm a ao
pensarmos no grande preço que o nosso Salvador pagou.

59
Mateus 26:47-58

Um discípulo não havia dormido como os demais.


Era Judas. B-lo aqui, à frente de um a tropa am eaçadora
que veio para prender Jesus. E que recurso escolhe o
miserável para atraiçoar o seu Mestre? Um beijo hipócrita!
“Amigo”, — pergunta-lhe o Salvador — “p ara que
vieste?”. Uma última pergunta, própria para sondar a
alm a do infeliz Judas. Um último cham ado de am or
dAquele que disse aos Seus: “Tenho-vos cham ado
amigos” (João 15:15). Ma» é tarde demais para o “filho
da perdição” (João 17:12).
Essas setas lançadas à consciência (v. 55) são os
únicos atos de defesa dAquele que está entregando a Si
mesmo. Os discípulos são impotentes, contudo, mais de
doze legiões de anjos estavam, por assim dizer, em pé de
guerra, prontas para intervir se Ele pedisse ao Pai. Porém
Sua hora havia chegado. Longe de esconder-se ou de
defender-se, Jesus, ao contrário, refreia o braço de Seu
discípulo por demais impulsivo, aquele que pouco depois
iria mostrar a verdadeira medida de sua coragem, fugindo
como os companheiros.
No palácio do sumo sacerdote, os escribas e anciãos
já estavam reunidos para consumar a suprema injustiça
(Salmo 94:21).

60
Mateus 26:59-75

Os líderes do povo têm Jesus em seu poder, porém


lhes falta um motivo plausível para condená-LO com
segurança, uma vez que o Homem perfeito não lhes dá
nenhuma base para acusações. Vêem-se então forçados
a procurar alguma “falsa testem unha” (Salmo 27:12;
35:11-12). E até mesmo essa testem unha é difícil de
encontrar, já que ela deve ter uma aparência de retidão.
Por fim apresentam-se duas falsas testemunhas com uma
palavra distorcida (comparar v. 61 com João 2:19). Mas
o que serve de pretexto para a condenação é a Sua solene
declaração de ser o Filho de Deus, pronto a vir com poder
e grande glória! A sentença de morte é pronunciada. E
imediatamente a brutalidade e a covardia do homem
vêm à tona (w . 67-68). Começa a cumprir-se o que o
Senhor tinha várias vezes predito aos Seus (Mateus 16:21;
17:22; 20:18-19 e 26:2).
Para Pedro também é um a hora sombria, mas por
uma razão bastante diferente. Satanás, que não pôde
fazer o Mestre vacilar, tentará fazer o discípulo cair. Por
três vezes, o pobre Pedro nega Aquele pelo qual havia
jurado morrer. Chega até mesmo a usar uma linguagem
grosseira para enganar os outros, já que, anteriormente,
sua m aneira de falar o tinha denunciado como um
discípulo de Jesus.

61
Mateus 27:1-18

O dia amanhece. Um dia como nunca houve em


toda a eternidade! Os primeiros raios do sol da m anhã
encontram os principais sacerd o tes e anciãos
m aquinando como tornar viável a execução que já
haviam decidido levar a cabo. Mas alguém vem visitá-los.
Eles o conhecem bem: é o traidor, graças ao qual haviam
conseguido seu objetivo. O que quer agora? Judas atesta
a inocência do Mestre, devolve-lhes o dinheiro e expressa
seu remorso. “Que nos importa? Isso é contigo” — “Esse
problema é seu” — respondem os sacerdotes sem a menor
compaixão. Então o miserável retira-se e vai enforcar-se.
Perde a vida, a alma, e até o dinheiro pelo qual a tinha
vendido! Os sacerdotes, que não haviam demonstrado
nenhum escrúpulo em comprar sangue inocente, agora
mostram cuidado quando se trata de pôr o dinheiro no
tesouro do templo!
O S enhor Jesu s é conduzido até P ilatos, o
governador. Certamente seria fácil para Ele obter deste
magistrado romano apoio contra o ódio do Seu povo.
Mas o Senhor responde somente para atestar o Seu título
de Rei dos judeus, adem ais perm anece em silêncio.
“Como ovelha, m uda perante seus tosquiadores, ele não
abriu a sua boca” (Isaías 53:7; comparar com v. 12 e 14
e capítulo 26:63).

62
Mateus 27:19-31

Grande é a perplexidade de Pilatos diante do Acusado


que os líderes dos judeus lhe trouxeram. Nunca teve
diante de si um hom em com ó Aquele. Um duplo
testem unho — o de sua m ulher (v. 19) e o de sua
consciência (v. 24) — deu-lhe a convicção de que estava
diante de si um justo. Além disso, ele conhecia a
perversidade dos homens que O tinham entregado por
inveja (v. 18). O que fazer? Se o condenasse, certamente
estaria cometendo uma injustiça. Porém, se O deixasse
livre, sua popularidade seguram ente cairía. Lavando
simbolicamente as mãos (mas não sua consciência!), ele
joga a responsabilidade sobre o povo, que a aceita com
os olhos cegos. Por trás dessa multidão, m ovida por
instintos de mais baixo nível, e por trás dos líderes do
povo que a incitava, estava Satanás, prosseguindo com
sua obra de ódio. Porém Deus também fazia prosseguir
a Sua obra, a obra de graça e de salvação.
Agora o Senhor Jesus está nas m ãos dos rudes
soldados. Estes Lhe vestem um m anto de púrpura
simulando o traje real e zombam dEle; depois, levam-NO
para a execução. Mas um dia, à viste de todos, o Senhor
aparecerá em toda a Sua majestade de Rei dos reis. E Sua
mão poderosa, a mesma que naquele dia de sofrimento
empunhou um caniço, será levantada em juízo contra
Seus inimigos (com parar o versículo 29 com Salmo
21:3,5,8).

63
Mateus 27:32-49

O Senhor Jesus é conduzido do pretório ao Calvário.


Simão, o dreneu, é obrigado a carregar a Sua cruz. Mas
Ele voluntariamente toma sobre Si um a carga que é
incomparavelmente mais pesada: a carga de nosso
pecado, que nenhum outro podería levar em Seu lugar.
B e é crucificado entre dois malfeitores. A acusação escrita
por d m a de Sua cabeça na verdade denuncia o povo que
crucificou a seu Rei. Adescrição é breve. Contudo, através
da sóbria linguagem do Espírito Santo, compreendemos
que nenhuma forma de sofrimento foi poupada ao nosso
muito amado Salvador— sofrimentos físicos, mas, acima
de tudo, indizrveis sofrimentos morais. Os escamecedores
estão ali: desafiam o Senhor Jesus a salvar a Si mesmo,
como que questionando o Seu poder (v. 40). (Ele, porém,
continua na cruz. Não tinha justamente o propósito de
salvar a outros?) Eles provocam a Deus, pondo em dúvida
Seu amor para com Cristo, o Qual sente profundamente
o ultraje (v. 43; Salmo 69:9). Porém para Ele, o mais
profundo dos sofrimentos foi ter sido abandonado
durante as três horas de trevas. Quando o Senhor Jesus
foi feito maldição em nosso lugar, quando levou o peso
do meu e do seu pecado para expiá-los, Deus teve de
afastar dEle o Seu rosto. Deus feriu Seu Filho com os
golpes que nossos pecados — meus e seus— mereciam!

64
Mateus 27:50-4*6

A obra d a expiação foi cumprida, a vitória foi


conquistada. Com um poderoso grito de triunfo, Cristo
entra na morte. Deus dá ainda outras provas dessa vitória:
rasga o véu do templo de alto a baixo, consagrando um
"novo e vivo caminho” pelo qual, daquele momento em
diante, o homem pode penetrar "com liberdade” em Sua
presença (Hebreus 10:19-21). Abre também os sepulcros,
e a morte, vencida, teve de devolver alguns de seus
cativos.
Depois Deus zela pela honra de Seu próprio Filho.
Conforme a profecia, Jesus ocupa o túmulo de um
homem rico, o qual, piedosamente, cuidou do Seu
sepultamento (Isaías 53:9). Com exceção desse José de
Arimatéia, Mateus não mostra nenhum outro discípulo
presente nessa hora. For sua vez, algumas mulheres, cuja
devoção é digna de nota, têm o privilégio de estar ali.
Do princípio ao fim deste evangelho, o ódio do
homem perseguiu ao Senhor Jesus. Em Seu nascimento,
o ódio foi manifestado em Herodes. Perseguiu-0 até o
túmulo, que agora está sob vigia e selado cautelosamente
pelos líderes religiosos dos judeus. Mas tanto os soldados,
o selo, como as pedras são vãs precauções; servirão, de
fato, somente para evidenciar ainda mais a realidade da
ressurreição.
Há apenas um triste detalhe aqui: os inimigos do
Senhor lembram-se de algo que os próprios discípulos
tinham esquecido! (v. 63).

65
Mateus 28:1-20

É a manhã triunfal da ressurreição. Por meio dela,


Deus rende um brilhante testemunho à perfeição da
Vítima e à completa satisfação que Ele encontra na obra
cumprida. A escolta, posta diante do sepulcro, longe de
poder opor-se a esse maravilhoso acontecimento, é desta
um testemunho involuntário— e abismado (Salmo 48:5).
Porém os sacerdotes, totalmente endurecidos, compram
a consciência desses homens como já tinham feito com
Judas.
Chegando ao sepulcro, as mulheres recebem a
mensagem dos anjos. Com o coração ao mesmo tempo
cheio de temor e de alegria, apressam-se a comunicá-la
aos discípulos. E então que se deparam com o próprio
Senhor.
Depois Ele aparece aos onze discípulos no lugar que
lhes havia indicado, a Galiléia. Nos versículos 19 e 20,
Ele lhes dá ordens a cumprir, que são tanto mais
importantes por serem a Sua última vontade expressa.
Não esqueçamos que nós mesmos também temos a
imensa responsabilidade de testemunhar do Evangelho,
é também de guardar tudo aquilo que B e nos ordenou
em Sua Palavra (v. 20). Ele deixou tam bém um a
prom essa, válida para todos os redimidos: “Estou
convosco todos os dias”. O evangelho termina como
havia começado: “... e ele será chamado pelo nome de
Emanuel (que quer dizer: Deus conosco)” (cap. 1:23).

66
Marcos 1:1-13

O Evangelho segundo Marcos é o Evangelho que nos


apresenta o Servo perfeito. Por isso não achamos nele o
relato do nascimento do Senhor Jesus nem a Sua genealogia.
Já que o que determina o valor de um servo são qualidades
como a obediência, a fidelidade e a prontidão para servir.
Mas desde a primeira frase Ele é descrito como o Filho de
Deus, isso para que o leitor não se engane acercada Pessoa
cujo serviço humilde está para ser narrado; é acerca de um
Escravo voluntário. Subsistindo em forma de Deus, o próprio
Senhor Jesus assumiu a forma de um servo (ou escravo—
Filipenses 2:6-7).
Precedido pelo testemunho de João, o Senhor logo
começa o Seu ministério. Este primeiro capítulo
caracteriza-se pelo freqüente uso de expressões como logo,
imediatamente e no mesmo instante. O Senhor Jesus
submete-Se ao batismo de arrependimento, apesar de ser
“santo, inculpável, sem mácula” (Hebreus7:26), assumindo
um lugar no meio de pecadores arrependidos (2 Coríntios
5:21). Mas, para não ser confundido com eles, Deus faz
ouvir desde os céus uma solene declaração acerca de Seu
“santo Servo Jesus” (Atos 4:27,30), uma declaração que
precede o Seu ministério. Não é: “Tu és o meu Filho amado,
em ti me comprazerei”, mas “em ti me comprazo”.
Logo o Senhor Jesus é impelido pelo Espírito ao deserto
para ali amarrar o Inimigo que nos mantinha na escravidão
(3:27). Onde quer que tenhamos sido desencaminhados
pelo pecado, é para lá que o amor e a obediência do Senhor
Jesus a Deus O conduziu a fim de nos libertar.
67
Marcos 1:14-28

Assim que o Senhor Jesus aparece, o ministério de


João chega a seu fim.
O reino de Deus está próximo, e o Rei em pessoa
se acha em meio de Seu povo. E o que proclama se
resume em dois m andam entos, os quais ainda hoje
são atuais: “Arrependei-vos e crede no Evangelho!”.
O Senhor lê em cada coração a resposta dada a este
urgente convite. Logo, aos que O ouvem e O recebem,
Ele dirige um outro chamado, que é individual, um
chamado para segui-LO e servi-LO. “Vinde após mim”,
Ele diz a quatro discípulos cujo coração De bem conhecia.
“Então eles... imediatamente... o seguiram”. Para que
eles pudessem fazer isto, era-lhe indispensável —
queremos frisar — este chamado. O homem não pode
dizer, por sua conta, a Deus: “Entrego-me a Ti”; é o
Senhor, que conhece todas as coisas, quem decide: “Eu
te tomarei a Meu serviço”.
Em Cafarnaum, o Senhor Jesus cura um homem
possesso de um espírito imundo, presente até mesmo na
sinagoga, prova característica do terrível estado de ruína
no qual Israel havia caído. Desde o começo do ministério
do Senhor o Seu poder estava em conflito com o poder
de Satanás — ao qual por vezes até nem damos crédito
—, mas que tem seus efeitos em nossos corpos assim
como em nossas almas.

68
Marcos 1:29-45

Depois da sinagoga em Cafamaum, agora é a casa de


Simão e André que se toma o cenário de um milagre da
graça. O Senhor Jesus está sempre pronto a ser acolhido
em nossas casas e a fazer com que experimentemos a Sua
libertação, os Seus cuidados. Façamos como os discípulos:
digamos a He tudo o que nos preocupa! (v. 30). Logo que
a sogra de Simão foi curada, ela se apressou em servir ao
Senhor e aos Seus seguidores. Não tinha ela diante de seus
próprios olhos o maior exemplo de serviço?
A noite se aproximava; mas, para um Servo tão
consagrado, o dia ainda não terminara. Trouxeram-Lhe
os enfermos, e incansavelmente os alivia de sua dor,
curando-os. Qual era o segredo desta maravilhosa
atividade? De onde o Senhor Jesus estava sempre obtendo
a renovação de Suas forças? O versículo 35 nos revela que
era de estar em comunhão com Seu Deus. Observe como
este Homem perfeito começa o Seu dia (compare com
Isaías 50:4): em oração, em comunhão com Deus. E, ao
notar que Sua popularidade começa a crescer, deixa a
multidão que tão-somente estava curiosa para ver Seus
milagres e vai pregar o Evangelho noutra parte.
Mais adiante o Senhor Jesus cura um leproso e lhe diz
exatamente como deve dar o seu testemunho, um
testemunho segundo as Escrituras (v. 44; Levítico 14).
Infelizmente, o homem age segundo seus próprios
pensamentos, o que impede a obra de Deus naquela
cidade.

69
Marcos 2:1-17

Na casa em Cafamaum, o Senhor Jesus Se dá a


conhecer, segundo o Salmo 103:3, como Aquele que
perdoa todas as nossas iniqüidades e que sara todas as
nossas enfermidades. As duas declarações deste Salmo
são por Ele cumpridas na vida do paralítico como um
testemunho para todos. Sim, Aquele que perdoa os
pecados — uma obra espiritual — e que dá uma prova
material dessa obra, também curando a enfermidade, só
pode ser o Senhor (Jeová), o Deus de Israel.
Os publicanos arrecadavam impostos para os
romanos, atividade que lhes proporcionava riqueza (pois
lhes tocava uma parte do arrecadado), mas também o
desprezo da parte de seus compatriotas. O Senhor,
porém, ao chamar Levi e ao aceitar o seu convite para
comer em sua casa, mostra que não despreza nem rejeita
ninguém. Pelo contrário, Ele veio buscar os pecadores
notórios, aqueles que não ocultam o seu estado
(1 Timóteo 1:15). Ele Se assenta à mesa com eles,
fazendo-Se Amigo deles. Desde a queda, o homem tem
medo de Deus e foge d’Ele por estar sua consciência
“pesada”. Assim, o primeiro esforço de Deus, antes de
salvar a Sua criatura, foi aproximar-Se dela e ganhar a
sua confiança. Isso é o que o Senhor Jesus fez, ao
humilhar-Se a ponto de identificar-Se com o homem
miserável a fim de fazê-lo compreender que Deus o ama.

70
Marcos 2:18-28

Se a palavra que distingue o Servo perfeito é


“imediatamente (ou logo)”, a dos judeus incrédulos é “por
quê?” (v. 7,16,18,24). Ao ser interrogado acerca do jejum,
o Senhor Jesus explica que se trata de uma manifestação
de tristeza e que, conseqüentemente, não seria apropriado
enquanto Ele estivesse com os Seus. Não devia ser a Sua
vinda um motivo de grande alegria para todo o povo,
como o anjo havia anunciado? (Lucas 2:10). Então Jesus
aproveita esta oportunidade para reforçar o contraste entre
as regras e as tradições do Judaísmo com o Evangelho da
graça que é disponível gratuitamente, o qual Ele tinha vindo
lhes trazer. Por desgraça, o homem— e não só o judeu —
prefere as formas religiosas à graça de Deus porque elas lhe
permitem gozar de uma boa reputação aos olhos de outras
pessoas, ao mesmo tempo em que ele continua fazendo a
sua própria vontade. Em contrapartida, o versículo 22 dá
a entender que o cristão é um homem completamente
renovado. Se seu coração está mudado e é um novo gozo
que o preenche agora, seu comportamento exterior deve,
necessariamente, ser também transformado.
Os fariseus censuravam os discípulos por colherem
espigas no dia de sábado. O homem sempre se desvia do
propósito que Deus lhe tem dado. O sábado era uma
graça concedida a Israel, mas este povo transformou-a
em jugo tal que ampliou ainda mais sua escravidão moral,
como disse Pedro em Atos 15:10: “um jugo que nem
nossos pais puderam suportar, nem nós”.

71
Marcos 3:1-19

Ocorre uma segunda cura na sinagoga de Cafamaum


e de novo num dia de sábado (1:21). A esse enfermo,
cuja m ão está ressequida, o Senhor pede que faça
precisamente aquilo que é incapaz de fazer. Mas, ao
começar a obedecer, ele dá prova de sua fé, e é esta fé
que permite ao Senhor curá-lo. Observemos a dureza de
coração dos que estão presentes. Em lugar de se
alegrarem com o homem que foi curado e admirar o
poder do Senhor, esses homens malvados tomam esse
milagre como pretexto para tentar matá-LO. Ele, porém,
prossegue com Seu ministério de graça, e a multidão,
composta praticamente de estrangeiros de Tiro e Sidom
(e até de edomitas), continua afluindo a Ele para ouvi-LO
e obter a cura.
Depois Ele escolhe doze discípulos e os nomeia “para
estarem com ele e para os enviar a pregar” (3:14 —
compare com João 15:16). Estar com o Senhor Jesus:
que imenso privilégio e, ao mesmo tempo, a condição
indispensável para poder ser enviado em seguida. Como
executar qualquer serviço sem que antes tenham os
recebido a direção do Senhor? (Jeremias 23:21-22).
Neste Evangelho, cada um dos doze discípulos é
mencionado individualmente, com a finalidade de nos
fazer recordar que um servo deve depender direta e
pessoalmente de Seu Senhor para receber orientação e
ajuda.

72
Marcos 3:20-35

O Senhor está sempre disposto a deixar que se


acheguem a Ele e, assim, permite à multidão entrar na
casa em que estava. Logo a seguir começa a lhes ensinar,
nem mesmo tomando tempo para alimentar-se. Sigamos,
pois, o exemplo desta incansável devoção e completa
abnegação, nós que fireqüentemente estamos tão pouco
dispostos a abrir as nossas portas aos estranhos, a permitir
que nos perturbem ou que a rotina de nossos costumes
seja alterada. Lembremos também que um visitante
indesejável talvez nos tenha sido mandado para que
possamos lhe falar da salvação de sua alma.
Algumas pessoas sentem-se perturbadas acerca do
significado do versículo 29. Elas temem haver proferido
alguma vez, sem pensar, uma palavra pecaminosa que
nunca poderá ser perdoada. Isso é interpretar mal a graça
de Deus. “O sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de
todo pecado” (1 João 1:7). A blasfêmia contra o Espírito
Santo foi o mais terrível pecado do qual o incrédulo povo
de Israel se fez culpado. Esse povo atribuiu a Satanás o
poder do Espírito Santo do qual o Senhor Jesus estava
revestido. Isto era extremamente grave e nem mesmo
tinha sentido lógico (v. 26).
No último parágrafo, o Senhor distingue claramente
aqueles a quem considera membros de Sua família. Fazer
a vontade de Deus era, e ainda é, obedecer ao Senhor
Jesus.

73
Marcos 4:1-12

0 Senhor Jesus voltou à beira-mar, e ensina as


multidões por meio de parábolas, uma linguagem cheia
de figuras. A primeira é a do Semeador. O Senhor
apresenta-Se aqui como Aquele que traz a boa semente
do Evangelho e a difunde no mundo. Embora Ele
conheça os corações e saiba como acolherão — ou não
acolherão — a verdade, dá a cada um a oportunidade de
entrar em contato com a Palavra de vida. Você a acolheu?
O versículo 12 não deve nos perturbar.
Compreendamos que se trata aqui do povo judeu como
um todo: não é o caso que o Senhor temesse ver os
homens se convertendo e que Se visse obrigado a perdoar
os seus pecados! Mas os judeus acusavam o Senhor de
ter um demônio, rejeitando assim o testemunho do
Espírito Santo. Tal pecado não pode ser perdoado a Israel
como um povo (3:29; Romanos 11:7-8, 25). Todos,
porém, que desejam falar a sós com o Senhor, acharão
lugar “junto dele”, hoje como antes, para ouvir a
revelação dos mistérios do reino de Deus (w. 10,11,34;
compare Provérbios 28:5). Façamos uso deste grande
privilégio e especialmente não nos privemos das reuniões
onde podemos estar junto ao Senhor para escutar a Sua
Palavra.

74
Marcos 4:13-25

O Senhor explica a Seus discípulos a parábola do


Semeador. Ela é o ponto de partida de todo o Seu
ensinamento (v. 13). Na verdade, para entender este
ensinam ento, é necessário que o Evangelho tenha
primeiramente fixado raizes no coração.
Mesmo que sejamos crentes verdadeiros, devemos
acautelar-nos, porque podemos nos assemelhar aos três
primeiros terrenos. Pois os esforços de Satanás para
arrebatar as boas novas da salvação não se concentram
apenas ao primeiro momento em que ela for semeada.
Quantas palavras Deus nos tem falado, e o nosso coração
ficado insensível porque o nosso contato com o mundo
o endureceu, à semelhança do caminho? (vide 6:52). Ou
já não temos agido também sob o impulso dos nossos
sentimentos, até que uma prova manifeste nossa falta de
fé e de dependência do Senhor? (compare v. 17).
Em contraste ao descuido, os muitos cuidados são
igualmente nocivos (Lucas 21:34). Juntamente com “a
fascinação da riqueza e as demais ambições”, eles (os
cuidados) podem não somente sufocar a vida espiritual
de um filho de Deus, mas também privar o Senhor do
fruto que Lhe deveria render (Tito 3:14). “Atentai no que
ouvis”, adverte o Senhor Jesus (v. 24). Em Lucas 8:18,
lemos: “Vede, pois, como ouvis”. Sim, como temos
acolhido a Palavra divina?

75
Marcos 4:26-41

A parábola dos versículos 26 a 29, que corresponde


à parábola do joio no campo em Mateus 13, apresenta
aqui um ensinamento um tanto diferente. O aspecto
abordado aqui trata apenas do trabalho de Deus, ao passo
que, em Mateus, temos também o inimigo operando, e
isto por causa da negligência dos homens, que dormiam.
Em nosso versículo 27 o grande Semeador também
parece dormir. Mas, na realidade, Ele está atento de dia
e de noite à Sua preciosa semente, e a cerca dos cuidados
necessários para que cresça até o momento da ceifa.
Caros amigos cristãos: às vezes pode parecer-nos que o
Senhor é indiferente a nós, que não escuta as nossas
orações, que Sua obra é uma causa perdida. Mas ergamos
os olhos, tal como o Senhor Jesus convida Seus discípulos
a fazer pela fé. Os campos já branquejam para a ceifa
(João 4:35).
Ao passar para a outra margem o que corresponde à
perigosa travessia por este mundo, os discípulos não estão
sós. Tinham levado o Senhor no barco, “assim como
estava” (v. 36). Quantas pessoas fazem uma imagem
distante e equivocada do Senhor Jesus? “Quem é este?”
perguntam os discípulos. H e é a mesma Pessoa que
encerrou os ventos nos Seus punhos, que amarrou as
águas na sua roupa (Provérbios 30:4). Se He está no
barco de nossa vida, não temos por que temer o naufrágio.

76
Marcos 5:1-20

O Senhor e Seus discípulos desembarcaram na terra


dos gerasenos. A primeira pessoa que encontram é um
homem completamente possesso de demônios, que
faziam dele um ser selvagem e indomável. Que cena
terrível; temos neste homem furioso e louco a figura moral
do homem pecador, feito em joguete do diabo, levado e
atormentado por suas paixões brutais, habitando no
domínio da morte espiritual (os sepulcros). Ele era
perigoso aos seus semelhantes e só fazia prejudicar-se a
si mesmo. Que horrível estar num estado semelhante —
e este é o nosso estado por natureza!
Nós, provavelmente nos teríamos afastado de tal
criatura com temor e horror. Mas o Senhor Jesus não Se
afasta dele, pelo contrário, vai Se ocupar com este
miserável, não para atá-lo com correntes como em vão já
tinham tentado os habitantes da cidade, m as para
libertá-lo de sua miséria e escravidão.
Porém, desse milagre, essa gente somente viu a perda
de seus porcos! Mediante a insistência desse povo de que
Se retirasse dali, o Senhor Jesus vai embora, deixa para
traz uma testemunha — e quem é ela? “o que fora
endemoninhado”! (v. 18). Não é esta a imagem do tempo
atual? Rejeitado pelo mundo, Cristo mantém no mundo
aqueles que tem salvado e lhes dá a missão de anunciar
tudo o que o Senhor fez. Como cumprimos esta missão?
(Salmo 66:16).

77
Marcos 5:21-43

Um dos principais da sinagoga, chamado Jairo, apela


ao Senhor Jesus para curar a sua filha. Mas, estando o
Mestre a caminho de sua casa, uma mulher, a qual médico
nenhum conseguira curar, busca secretamente valer-se
de Seu poder. Querido amigo, talvez você já tenha
buscado em vários lugares o remédio para purificar o seu
estado de miséria moral; o Senhor Jesus hoje ainda está
passando perto de você, talvez pela última vez. Faça o
mesmo que essa pobre mulher fez: toque na orla de Suas
vestes (conforme 6:56)!
A mulher sabe que foi curada e o Senhor sabe
também. Mas é necessário que todos ouçam a respeito
disso; eis por que o Senhor Jesus quer que ela vença a sua
timidez e proclame publicamente “toda a verdade”. Desse
modo, em resposta a sua fé, ela ainda obtém uma palavra
de graça infinitam ente mais m aravilhosa do que
simplesmente a cura física: “Filha, a tua fé te salvou; vai-te
em paz” (v. 34).
Nesse meio tempo, a casa de Jairo estava cheia de
alvoroço e choradeira (embora esta não fosse muito
sincera — vide v. 40). Mas o Senhor Jesus conforta a esse
pobre pai com uma palavra que faz dirigir os pensamentos
deste homem (e os nossos também) a Deus: “Não temas,
crê somente”! (v. 36). Então, mediante outra palavra,
“Talita cumi” — expressão tão comovedora que o Espírito
até no-la reservou no mesmo idioma falado pelo Senhor
— Ele dá a vida de volta à menina, ressuscitando-a!

78
Marcos 6:1-13

Para os habitantes de Nazaré, o Senhor Jesus era “o


carpinteiro”. Por trinta anos He havia ocultado a Sua
glória sob a humilde condição de um artesão interiorano.
Tal humilhação é incompreensível para o homem natural,
porque este é acostumado a julgar tudo segundo as
aparências.
Se foi difícil que o testemunho do Senhor fosse
recebido “na sua terra, entre os seus parentes, e na sua
casa”, quanto mais difícil será para nós testemunhar onde
somos conhecidos— com todos os nossos defeitos e com
o nosso triste passado. Mas é também ali que os frutos de
uma nova vida serão mais evidentes e constituirão a mais
eficaz das pregações (Filipenses 2:15).
Tendo sido chamados no capítulo 3, versículos 13-19,
os doze são agora enviados p ara apregoar o
arrependimento. O Senhor “ordenou-lhes que nada
levassem para o caminho, exceto apenas um bordão”. A
vida deles deve ser uma vida de fé. A cada instante
receberão o que lhes é necessário tanto para o serviço
como para as suas próprias necessidades. Se tivessem
levado provisões, deixariam de ter preciosas experiências,
ou até perderíam de vista o vínculo de dependência com
o seu Mestre ausente. Mas, por outro lado, as sandálias
lhes eram indispensáveis. Has sugerem aquilo que Efésios
6:15 chama de “a preparação do evangelho da paz”. É
isto que deve adornar o caminhar de cada crente, pois
serve para confirmar a mensagem da graça que ele prega
(compare Romanos 10:15).
79
Marcos 6:14-29

O homem com a consciência pesada vive num estado


de temor (vide Provérbios 28:1). Quando Herodes, que
havia mandado decapitar João Batista, ouve o povo falar
de Jesus, aterroriza-se ao pensar que o profeta podería
ter ressuscitado, pois isto significaria que o próprio Deus
havia tomado a defesa de sua vítima. Dada essa mesma
razão, os hom ens se espantarão quando Jesus, o
crucificado, aparecer nas nuvens (Apocalipse 6:2,15-17;
11: 10- 11).
Quão bendita é a parte de João, o maior dos profetas,
em contraste com o destino desse miserável assassino!
Este Herodes é mais covarde que cruel, como foi seu pai,
Herodes, o Grande. Débil de caráter, dominado por suas
paixões, fazia muitas coisas quando escutava a João,
exceto acertar a sua vida segundo a vontade de Deus.
Fazer muitas coisas, mesmo as boas, não é suficiente para
agradar a Deus. Mas eis aqui que chega “um dia
favorável”; sim, favorável para Satanás e para as duas
mulheres que ele vai usar. Um banquete, a sedução de
uma dança, uma promessa irrefletida, cumprida por causa
do orgulho... não é preciso mais que isso para se
consumar um crime abominável, pago com os mais
horrendos tormentos para a consciência.

80
Marcos 6:30-44

Os apóstolos que agora retomam ao Senhor parecem


muito ocupados com o que haviam feito e ansiosos para
Lhe relatar tudo. O Mestre sabe que eles necessitam agora
de um pouco de repouso e preparou-o para eles “à parte,
num lugar deserto”, junto com Ele. Nós, que mui
facilmente fazemos valer a nossa necessidade de
descansar, consideremos algumas das condições para que
os discípulos desfrutem este repouso:
® ele vem depois da atividade na obra do Senhor;
© estamos apenas falando de um pouco de repouso,
pois o mundo não pode oferecer um repouso
duradouro (vide Miquéias 2:10);
© é tomado à parte do mundo e não em meio às
distrações que ele pode oferecer;
© é desfrutado com o Senhor.
Na verdade, é um descanso de curta duração! Já se
reúnem as multidões. O Senhor Jesus alimentará as suas
almas, mas depois também os seus corpos (Mateus 4:4);
porém, antes os discípulos são postos à prova. Eles tinham
acabado de Lhe contar tudo o que fizeram e agora, então,
era o momento de provar a sua capacidade em vez de
despedir a multidão. “Dai-lhes vós mesmos de comer”,
disse-lhes o Senhor, para fazê-los compreender que todo
poder vem d’Ele. Ao mesmo tempo, em Sua graça, Ele
concede que eles sejam co-participantes de Seu gesto de
bondade. Uma vez mais vemos nEle sabedoria, poder e
amor, características do perfeito Servo.

81
Marcos 6:45-56

Na ocasião da primeira travessia do lago (4:35-41), o


Senhor Jesus estava com seus discípulos, ainda que
dormindo no barco. Aqui a fé dos doze é ainda mais
profundamente provada, pois desta vez o seu Mestre não
está com eles. Ele subiu ao monte para orar, enquanto
eles, a sós na noite, lutam contra o vento e as ondas.
Perderam de vista o Senhor Jesus, mas Ele (observe este
fato) os vê sobre o mar agitado (v. 48). Próximo do fim
d a noite, Ele vem até eles (vide Jó 9:8). Q uão
despreparados estão para O encontrar! Então, com uma
palavra, Ele Se dá a conhecer e os tranqüiliza: “Tende
bom ânimo! sou eu. Não temais!” (v. 50). Quantos
crentes, passando por provas, já no limite das forças e
tendo perdido o ânimo, puderam tam bém ouvir a
conhecida voz do Senhor recordando-lhes Sua presença
e Seu amor!
Ao desem barcar pela segunda vez n a terra de
G enesaré, o Senhor Jesus é recebido de m aneira
totalmente diferente de Sua primeira visita. Embora desta
vez não se faça menção do homem chamado “Legião”,
a impressionante acolhida que Lhe foi reservada não
podia ser senão o resultado do fiel testemunho daquele
homem (vide cap. 5:20). Que o Senhor assim abençoe o
nosso testemunho, enquanto esperamos o Seu retomo!

8 2
Marcos 7:1-16

Os fariseus estão com ciúmes do êxito do Senhor


com as m ultidões, mas, tem endo-as, não ousam
afrontá-LO abertamente. Então buscam acusar os Seus
discípulos, como já o fizeram no capítulo 2:24. Para esses
hipócritas, a pureza exterior era muito mais importante
do que a de sua consciência, que lhes preocupava menos.
Uma religião sem santidade realmente condiz muito mais
com o coração natural. Os fariseus só estavam
preocupados em obter a aprovação dos homens, e não a
de Deus.
Em contraste, o objetivo do crente é, acima de tudo,
o de agradar ao Senhor (Gálatas 1:10). E visto que He
vê o coração, isso nos moverá a realizar uma cuidadosa
“lim peza” interior; em outras palavras, a julgar
atentamente os nossos pensamentos, motivos e intenções
à luz da Palavra, a qual põe em evidência até mesmo a
menor das manchas. O Senhor Jesus mostra a esses
fariseus que as suas tradições chegam até a contradizer os
mandamentos divinos e lhes mostra um caso muito
evidente: o do respeito e dos favores que se deve aos
pais. Quanto a este assunto, queremos lembrar que não
só constava na lei (Êxodo 20:12), mas que é também
sublinhado e repetido no Novo Testamento (Efésios
6:1-3; Colossenses 3:20). Mas guardemo-nos das meras
tradições! Fazer as coisas só porque “sempre se fez assim”
exclui qualquer ponderação e pode conduzir a sérios
enganos. Deveriamos sempre examinar o que a Escritura
diz.
83
Marcos 7:17-37

O Senhor, que conhece bem o coração do homem e


não Se deixa enganar pelas aparências, exorta os discípulos
a se manter vigilantes contra tudo o que pode vir dele. Esse
coração, amado leitor, também nós o possuímos; mas, glória
a Deus, há um remédio para esta condição (Salmo 51:10).
Depois de tão triste constatação, podemos imaginar o
gozo que o Senhor Jesus teve ao encontrar esta mulher
siro-fenícia. Aseveridade com que parece tratá-la, à primeira
vista, põe em evidência não somente uma grande fé, a qual
nada pode desanimar, mas também uma verdadeira
humildade, pois, em contraste com os fariseus orgulhosos,
esta mulher não faz valer nenhum título nem mérito. Ha
reconhece o seu verdadeiro lugar diante de Deus e aceita o
juízo apropriado à sua condição (Isaías 57:15).
Logo em seguida, depois de afastar um surdo e gago do
meio da multidão, tomando-o à parte, o Senhor Jesus lhe
restaura o uso dos sentidos. Quem teria algum direito de
intrometer-se neste encontro do Salvador com este homem
pobre e aflito? A conversão de um pecador exige um contato
direto, pessoal e último com o Senhor (vide 8:23).
A nossa leitura termina com o testemunho a respeito
do Senhor Jesus por parte da multidão: “Tudo ele tem
feito esplendidamente bem” (v. 37). Que cada um de
nós, pensando em todo o seu passado, possa confirmar
por sua própria experiência: “Sim, Senhor, tudo tu fizeste
esplendidamente bem!”.

84
Marcos 8:1-21

Podemos ter diferentes motivos — mais ou menos


louváveis — para fazer o bem. Podemos buscar a
consideração dos demais como os fariseus, ou talvez
pretendamos aquietar a nossa consciência cumprindo
com o nosso dever social. E quantas obras, na cristandade,
não têm senão estas motivações! Mas o que
constantem ente movia o Senhor Jesus era a Sua
compaixão por essas multidões, as quais alimenta aqui
uma segunda vez num ato de poder (v. 2; 6:34). O nosso
contato diário com o mundo — com a sua cobiça e
sujidade — pode endurecer-nos. Q uando estamos
habituados a ver à nossa volta a miséria material, moral
e sobretudo espiritual, então nós já não mais sofremos
muito com isso. Mas o coração d o S enhor Jesus
permanecia divinamente sensível. O estado do surdo e
gago no capítulo 7:34 O fez suspirar, erguendo os olhos
ao céu. Aqui, no versículo 12, é a incredulidade dos
fariseus que O faz suspirar profundamente. E, finalmente,
a dureza do coração de Seus discípulos também O aflige
(vide 6:52; 7:18). Os dois milagres dos quais eles haviam
participado não tinham sido suficientes para lhes dar
confiança em seu Mestre! (João 14:8-9). QuantooSenhor
sofreu durante a Sua vida aqui na Terra por compaixão,
mas também por causa da incredulidade e da ingratidão
dos homens... e, às vezes, até daqueles que eram Seus!

85
Marcos 8:22-38

Em Betsaida — essa cidade cuja incredulidade o


Senhor condena (Mateus 11:21) —, Ele opera ainda um
outro milagre em favor de um pobre cego. Foram
necessárias duas intervenções do Senhor para curá-lo.
Assim também ocorre que, às vezes, são necessários
alguns passos até que cheguemos à luz de Deus (Filipenses
1: 6 ) .
Depois disso, o Senhor Jesus pergunta a Seus
discípulos qual é a opinião das pessoas acerca dEle. A
seguir dirige-lhes pessoalmente a questão fundamental:
“Mas vós, quem dizeis que eu sou?” Sim, sejam quais
forem as opiniões que os demais possam ter acerca do
Senhor Jesus, eu devo conhecê-LO pessoalmente.
Porém, a estima de Sua pessoa é somente o ponto de
partida no caminho em que Ele me convida a segui-LO:
o caminho é de abnegação e da cruz onde eu morri
juntamente com Ele. Algumas pessoas, quando provadas,
falam com resignação da cruz que têm de carregar, ou do
“Calvário” que devem aceitar. Mas isto não é o que o
Senhor quer dizer aqui. He pede a cada crente que tome
voluntariamente o fardo do desprezo e do sofrimento que
o mundo sempre imporá ao crente que for fiel (Gálatas
6:14). “Por causa de mim”, sublinha o Senhor, pois este
é o grande segredo que permite ao cristão reconhecer-se
como morto para o mundo e para os seus próprios
interesses (v. 35; Romanos 8:36).

86
Marcos 9;1>13

Segundo a promessa do versículo 1, três discípulos


agora têm a oportunidade de contemplar por antecipação
a chegada do “reino de Deus com poder”. Este reino lhes
é apresentado na pessoa do próprio Rei, o qual eles
reconhecem como o Senhor Jesus, seu Mestre, revestido
de majestade real e de resplandecente glória. Ele, que
habitualmente ocultou a Sua glória encobrindo-a sob a
humilde “forma de servo” (Filipenses 2:6-7), desvenda-a
por um momento à vista dos Seus discípulos, que fica
assombrados e maravilhados (Salmo 104:1). A seguir
uma voz vem da nuvem, cujo apelo também se dirige a
nós: “Este é o meu Filho amado: a ele ouvi”. Quanto mais
grandeza e dignidade tem um a pessoa, tanto mais
importância têm as suas palavras. A pessoa que somos
convidados a escutar não é outra senão o Filho amado de
Deus. Prestemos, pois, às Suas palavras e ensinamentos,
uma atenção tanto maior! (Hebreus 12:25).
Por mais que fosse bom estar no alto monte (v. 5),
eles tinham que descer outra vez, e o Senhor faz os três
discípulos compreender que o que eles viram somente se
cumprirá mais tarde. Visto que nem João Batista
(representado por Elias, v. 13) foi aceito como seu
precursor nem Ele m esm o com o Messias, faz-se
necessário agora que Ele passe pela cruz e sofra muito
antes de entrar em Sua glória (w. 12-13).

87
Marcos 9:14-32

Tendo descido do monte, o Senhor retoma o Seu


serviço de amor, do qual o apóstolo Pedro, testemunha
de todas essas coisas, faria mais tarde um excelente
resumo em Atos 10. “Jesus de Nazaré”, diz ele, “andou
por toda parte, fazendo o bem e curando a todos os
oprimidos do diabo, porque Deus era com ele” (Atos
10:38). O Senhor encontra uma numerosa multidão
falando e discutindo entre eles mesmos. O objeto de toda
essa agitação é um pobre menino que, apesar de sua
tenra idade, sofria de terríveis crises nervosas provocadas
por um demônio. Em vão o pobre pai havia apresentado
o caso de seu único filho aos discípulos, pois eles não
puderam expulsar esse espírito imundo. Antes de o
Senhor Jesus operar a libertação do garoto, Ele apresenta
a razão do fracasso deles: incredulidade; porque “tudo é
possível ao que crê”. Então, com lágrimas, esse homem
se entrega ao Senhor. Compreende que não se alcança a
fé apenas com um esforço de vontade, e se reconhece
incapaz. Precisamos da ajuda divina não somente para a
libertação propriamente dita, mas até mesmo para pedir
por ela.
No versículo 26, o poder demoníaco manifesta-se
ainda uma vez, mas é apenas para que a vitória do Senhor
seja evidente. “Mas Jesus, tomando-o pela mão, o ergueu,
e ele se levantou” (v. 27).

88
Marcos 9:33-50

Pobres discípulos! Enquanto o Mestre lhes fala de


Seus sofrimentos e de Sua morte, a única coisa que lhes
interessa, a ponto de provocar uma disputa entre eles, é
a de saber qual entre eles era o maior. Por meio de Sua
pergunta o Senhor os sonda (v. 33), para então, com
graça e paciência, lhes ensinar o que é humildade.
Esta lição é seguida por outra. Os discípulos tinham
pensado que deviam impedir alguém de realizar milagres
no nome do Senhor Jesus. Ele “não nos segue”, é o
pretexto que João apresenta. Mas o Senhor lhes mostra
que tam bém nessa questão eles estavam m esmo
ocupados consigo mesmo e não com Ele. Vigiemos para
não termos um espírito sectário! Muitos cristãos, embora
não andem conosco, seguem fielmente e bem de perto
ao Senhor no caminho da abnegação e da cruz (capítulo
8:34).
Encontram os em M ateus 5:29 e 18:8 o que
corresponde aqui aos versículos 42 a 48. Mas, de uma
maneira geral, notamos que no Evangelho de Marcos os
ensinamentos do Senhor ocupam menos espaço em
comparação com as Suas atividades. Por exemplo, não
temos aqui o Sermão do Monte. Poucas palavras, mas
muita devoção e abnegação, tal é o caráter do Servo fiel.

89
Marcos 10:1-22

Os fariseus procuram fazer com que o Senhor Jesus


contradiga a Moisés na questão do divórcio. Mas Ele os
silencia ao recordar-lhes a ordem das coisas tal como
Deus havia criado no princípio (ocasião, portanto,
anterior à lei dada por Moisés). O mundo tem corrompido
e estragado tudo o que Deus havia estabelecido em Sua
bela criação e em particular a instituição do matrimônio.
A dureza de coração e o egoísmo têm conduzido os
homens a menosprezar e a perverter tudo que diz respeito
ao matrimônio; essa condição também se manifesta na
falta de consideração pelas criancinhas. Até mesmo os
discípulos deixam-se contagiar por este espírito. Os
versículos 13 a 16 nos dão, em relação ao relato de
Mateus, alguns detalhes suplem entares que são
comovedores: o Senhor começa por indignar-Se com a
atitude dos discípulos. Daí toma carinhosamente essas
crianças nos Seus braços, onde se acham em perfeita
segurança. Por fim, é dito expressamente que Ele as
abençoa (conforme Mateus 19:13-14).
No inddente que se segue, Marcos é novamente o
único a mencionar um ponto de muita importância: o
amor do Senhor por um jovem que veio ao Seu encontro.
Mas este jovem permanece insensível e se vai, talvez para
sempre, preferindo as suas vãs riquezas à companhia
presente e eterna d’Aquele que o havia amado.

90
Marcos 10:23-34

No Antigo Testamento as bênçãos eram terrenas e as


riquezas eram consideradas como uma prova do favor de
Deus (vide Deuteronômio 8:18). Eis aqui o motivo do
assombro dos discípulos. Eles acabavam de ver um
homem próspero, aparentemente abençoado por Deus,
amável, de conduta irrepreensível, disposto afazer muitas
coisas boas. E o Senhor o deixou partir. Que coisa! Se tais
vantagens não davam acesso ao reino de Deis, quem
então podia ser salvo? O Senhor Jesus lhes responde que
a salvação realmente é algo impossível para o homem
realizar. Só Deus pode salvar.
Note que o Senhor não condena aqui os ricos, mas
“os que confiam nas riquezas” . Ademais, seguir a Jesus
implica inevitavelmente na renúncia de algumas coisas, o
que para certas pessoas pode ser algo muito doloroso (v.
29). Mas se elas renunciam por amor ao Senhor e ao
Evangelho, isto ao mesmo tempo será para elas uma
fonte de incomparáveis alegrias, sendo que a primeira
delas será a consciência da aprovação do Senhor. Sim, o
penetrante olhar do Senhor (v. 21,23,27) lê os nossos
corações para ver se a motivação pela qual agimos é boa
— se há uma verdadeira resposta ao amor d’Aquele que
tudo deixou por nós (vide Zacarias 7:5).
Neste capítulo encontramos várias características da
carne: é atrativa (w. 17-22); é presunçosa (v. 28); é
temerosa (v. 32); e, finalmente, é egoísta (w. 35-40).

91
Mareas 10:35-52

Observemos a fé de Tiago e João. Eles sabiam que o


seu Mestre era o Messias, o Herdeiro do reino e que eles
teriam parte com Ele ali. Porém o pedido que eles fazem
ao Senhor denuncia a ignorância e a vaidade de seus
corações naturais. Cheio de graça, o Senhor reúne os
Seus discípulos ao Seu redor e faz uso desta infeliz atitude
dos dois irmãos para instruí-los (e isto serve também para
nós). Não compreendiam que tinham diante de si o maior
Exemplo de humildade? Aquele que tinha todos os
direitos de ser servido quis voluntariamente fazer-Se servo
para libertar a Sua criatura e pagar com a própria vida o
resgate exigido pelo soberano Juiz. O maravilhoso
versículo 45 podería ser chamado de o versículo-chave
do Evangelho, pois o resume muito bem.
0 Espírito Santo nos mostra nesse capítulo três
atitudes completamente distintas: o jovem rico que o
Senhor convida a segui-LO, o qual Lhe dá as costas (w.
21, 22); os discípulos, que também foram chamados, e
que O seguem tomados de apreensões (v. 32) embora se
vangloriando de sua renúncia (v. 28); e finalmente, este
pobre cego, a quem o Senhor Jesus nada pede após
curá-lo, mas que, sem dizer uma palavra e lançando de si
a capa que podia detê-lo em sua marcha, segue-0
“estrada fora” V. 52).

92
Marcos 11:1-14

O caminho do Senhor está chegando a seu fim. He


faz a Sua entrada triunfal em Jerusalém e vai ao templo,
onde começa por observar em Sua volta todas as coisas
(v. 11), como se perguntasse: “Estou em casa aqui?” Esse
detalhe, próprio do Evangelho de Marcos, mostra-nos
que Deus nunca julga e condena precipitadamente um
estado de coisas (compare Gênesis 18:21). Mas quais
devem ter sido os sentimentos do Senhor ao ver que esta
casa de oração estava tão profanada?
He deixa este lugar manchado e retira-Se a Betânia
para passar a noite com o pequeno número dos que O
reconhecem e O amam. Betânia significa tanto “casa do
necessitado” como também “casa de figos” . É como se
Ele, opobre (Salmo 40:17), só em Betânia tivesse achado
algum fruto para Deus (“figos muito bons”, conforme
Jeremias 24:2). Isso foi um consolo ao Seu coração, e até
mesmo um a amostra prévia do fruto decorrente do
“penoso trabalho de sua alma” na cruz.
“No dia seguinte, quando saíram de Betânia” (v. 12),
o Senhor Jesus amaldiçoa a figueira estéril, a qual
representa Israel na condição como o Senhor a encontrou
e, de maneira geral, o homem natural, do qual Deus não
pôde tirar nenhum fruto para Si, apesar de suas aparências
religiosas (as folhas), as quais Ele definitivamente
condenou: “Eu os consumirei de todo, diz o Senhor; não
haverá uvas na vide, nem figos na figueira, e a folha já
está murcha; e já lhes designei os que passarão sobre
eles” (Jeremias 8:13).
93
Marcos 11:15-33

O S enhor purifica o tem plo que Ele havia


inspecionado no dia anterior. O zelo pela casa de Seu
Deus consome o perfeito Servo (João 2:17).
“Em vindo a tarde”, Ele deixa a cidade corrompida,
porém retorna no dia seguinte, passando em frente da
figueira ressecada. Ao responder à observação de
Pedro, o Senhor Jesus não dá ênfase ao Seu próprio
poder, antes dirige os pensamentos dos discípulos a
Deus. E como se Ele lhes dissesse: “Aquele (Deus) que
me respondeu está também disposto a atender às vossas
orações e a remover todo obstáculo de vosso caminho,
mesmo que este seja tão alto como uma montanha”. Ter
fé em Deus não significa esforçar-nos para crer na
realização de nossos desejos; mas é simplesmente contar
com Deus, com Aquele que conhecemos, que é fiel e que
nos ama. Mas há uma situação na qual Deus certamente
não poderá nos responder. E quando temos “alguma
cousa contra alguém ”. Isto é um a intransponível
montanha no caminho de nossas relações com Be. E um
empecilho que deve ser removido imediatamente, a fim
de que a nossa relação com Deus e com nossos irmãos
possa ser restabelecida, e para que os “caminhos” do
coração voltem a ser “aplanados”, como diz o Salmo
84:5.
Com o versículo 27, começam os últimos discursos
do Senhor, no curso das quais Ele envergonha, um após
o outro, a todos os Seus adversários.

94
Marcos 12:1-17

As autoridades do povo são forçadas a reconhecer-se


na aterradora parábola dos lavradores maus.
Observemos como é descrito (somente aqui em
Marcos) o último enviado do Dono da vinha: “Restava-lhe
ainda um, seu filho amado” (v. 6). Esta frase nos recorda
as palavras que Deus disse a Abraão: “Toma teu filho, teu
único filho... a quem amas” (Gênesis 22:2). Temos aí
uma comovente indicação das afeições do Pai pelo Seu
Filho amado, Que Ele sacrificou por nós!
Assim desmascarados, os fariseus e os herodianos
buscam replicar. Com elogios de hipocrisia, que, apesar
disso, testemunhavam do Senhor Jesus (“Sabemos que
és verdadeiro e ... segundo a verdade ensinas o caminho
de Deus” — v. 14), eles tentam surpreendê-LO com uma
das mais sutis perguntas. Se a Sua resposta fosse “sim”,
isso 0 teria desqualificado como Messias; se fosse “não”,
eles O acusariam aos romanos. He lhes responde da única
maneira que não esperavam: dirigindo-Se à consciência
deles. Que divina e admirável sabedoria! Ainda assim,
quanto não teve de sofrer o Salvador, em Quem tudo era
verdade e amor, por essa m á fé, essa maldade, sim, por
essa constante “oposição dos pecadores contra si mesmo”
(vide Ezequiel 13:22).

95
Marcos 12:18-34

Agora chegam os saduceus para medir a sabedoria


do Senhor Jesus. Na realidade, eles não acreditavam na
ressurreição (vide Atos 23:8); mas é justamente acerca
desse assunto que o Senhor os confronta e os faz silenciar
(v. 26). A ressurreição é duplamente confirmada: pelas
Escrituras e pelo poder de Deus que ressuscitou a Cristo
dos mortos (v. 24). E, ainda assim, é provável que não
haja nenhum a outra verdade mais combatida pela
incredulidade dos homens (vide Atos 17:32 e 26:8).
Paulo demonstra em 1 Coríntios 15 que a ressurreição é
um dos fundamentos essenciais do Cristianismo, o qual
não pode ser tocado sem com isso arruinar
completamente a nossa fé.
Em contraste aos debatedores precedentes, o escriba
mostra-se honesto e inteligente quando interroga o
Senhor sobre o principal de todos os mandamentos. O
am or, responde o S enhor Jesus, é o principal
mandamento; amor a Deus e ao próximo, nisso se resume
o cumprimento da lei (Romanos 13:10; Gálatas 5:14).
Queridos amigos, não deveriamos nós amar mais do que
os filhos de Israel, nós, que fomos procurados e que
estávamos mais distanciados de Deus do que eles (nós,
que procedemos das nações estranhas às alianças da
prom essa) e que pelo sangue de Cristo fomos
aproximados a uma relação de filhos do Deus de amor?
(Efésios 2:12-13).

96
Marcos 12:35-44

Agora é a vez do Senhor Jesus deixar os seus críticos


embaraçados com uma pergunta bastante delicada: como
pode o Cristo ser ao mesmo tempo o Filho e o Senhor de
Davi? (vide Salmo89:3-4,23e 36). Eles não sabem como
explicar isto e o orgulho deles impede-lhes de pedir a
resposta... do próprio Cristo. E justamente por causa de
Sua rejeição que o Filho de Davi ocuparia a posição
celestial que Lhe é atribuída no Salmo 110.
A fim de colocar o povo em guarda contra esses líderes
indignos, o Senhor então faz um triste retrato dos escribas
vaidosos, avarentos e hipócritas. Infelizmente, esses traços
têm, às vezes, caracterizado também outros “líderes
espirituais” afora os de Israel! (vide 1 Timóteo 6:5).
No versículo 41, vemos o Senhor Jesus assentado em
frente ao gazofilácio do templo. Com o Seu olhar
penetrante, o qual já tínhamos visto contemplando a
todos e a todas as coisas, Ele observa, não o quanto se dá
(a única coisa que interessa aos homens), mas como cada
um dá à causa de Deus. E eis aí essa pobre viúva com a
sua tocante oferta: as duas pequenas moedas que lhe
restavam para viver. Emocionado, o Senhor chama os
Seus discípulos e comenta o que acaba de ver. Ah! essa
oferta extraordinária — “tudo quanto possuía” — provou
não somente a afeição desta mulher pelo Senhor e por
Sua casa, mas também a total confiança que tinha em
Deus para atender a suas necessidades (conforme 1 Reis
17:12-13).

97
Marcos 13:1-13

Os discípulos estão impressionados pela grandeza e


pela beleza exterior das construções do templo. Mas “o
Senhor não vê como vê o homem” (1 Samuel 16:7;
Isaías 11:3). Ele já tinha entrado neste templo e constatado
a iniqüidade que tomava conta dele (11:11). Agora
também olhava para adiante, para os acontecimentos
que poucos anos depois de Sua rejeição trariam a ruína
sobre a cidade culpada. A história nos ensina que, em 70
A.D., Jerusalém foi objeto de um terrível cerco e depois
foi quase totalmente destruída pelo exército de Tito. Esse
terrível castigo provou grandemente a fé dos crentes que
eram tão apegados à cidade santa. Mas o Senhor Jesus os
havia encorajado de antemão com as palavras que temos
aqui (w. 2,11,13). Quantos filhos de Deus, aopassarpor
perseguições, tiveram, por meio delas experiências
maravilhosas! No momento de testemunhar, o Espírito
Santo lhes dava o que eles tinham a dizer. Foi o que
aconteceu com Pedro ao ser intimado a depor diante das
autoridades, dos anciãos e dos escribas em Atos 4:8 e
com Estêvão em Atos 7:55. Nós também podemos, de
acordo com a nossa m edida e segundo as nossas
necessidades, experimentar esse poder do Espírito Santo
quando O deixamos operar em nós.

98
Marcos 13:14-37

A Igreja não terá de passar pelas terríveis tribulações


que o remanescente judeu irá experimentar (Apocalipse
3:10). Ao repousar sobre esta certeza, devemos, todavia,
temer cair no sono espiritual, o qual é, realmente, um
perigo enquanto vivemos na longa noite moral e de
provas deste mundo. Pensemos no iminente retomo do
Senhor e apropriemo-nos das sérias exortações deste
capítulo. Uma curta parábola apresenta-nos o Senhor
como o dono de uma casa que se ausentou do país depois
de ter deixado os seus bens sob a responsabilidade de
seus servos. Cada um recebe “a sua obrigação”... precisa
e particular. E o Dono não faz qualquer restrição, nem
mesmo quanto à diversidade das tarefas a serem feitas.
Em algumas traduções desta passagem lemos “a cada
um a sua obra”... sugerindo assim um número ilimitado
de diferentes tarefas que o Senhor tem preparado para os
Seus (conforme Romanos 12:6-8).
A breve instrução recebida pelo porteiro, ao qual foi
ordenado vigiar (v. 34), é igualmente dirigida “a todos”...
a saber, a você e a mim (v. 37). E (observem este detalhe)
é com esta palavra “vigiai” que terminam os ensinamentos
do Senhor Jesus no Evangelho de Marcos. Guardemos
então esta palavra em nossos corações, como se conserva
cuidadosamente a última recom endação de um ser
amado que nos deixou, mas que voltará de novo.

99
Marcos 14:1-16

A m edida que a m orte do S enhor vem se


aproximando, tomam-se cada vez mais manifestos os
sentimentos que há em cada coração. Há Ódio por parte
das autoridades do povo que conspiram em Jerusalém.
Há afeto na casa de Simão, o leproso, em Betânia, onde
uma mulher, cujo nome não é revelado aqui, pratica uma
“boa ação” para com He, o fruto de um amor concebido
pela compreensão do que fazia. Esta é uma maravilhosa
ilustração da adoração prestada pelos filhos de Deus!
Hes reconhecem no Salvador desprezado pelo mundo
Aquele que é digno de toda homenagem; expressam-Lhe
pelo Espírito Santo e num sentimento de sua própria
indignidade, esta adoração que é um perfum e de
inestimável valor para o Seu coração. Mas tais adoradores
certamente estão expostos a críticas, até mesmo por parte
de certos crentes que colocam as boas ações ou o serviço
a favor das almas à frente de qualquer outra atividade
cristã. Sem negligenciar essas coisas, não esqueçamos
que o louvor é a mais importante das nossas obrigações
para com o Senhor. Demo-nos por satisfeitos com a Sua
aprovação ao exercermos com um espírito quebrantado
(do qual o alabastro é um símbolo) o cumprimento desse
santo serviço de adoração, o único que é exclusivo para
He e para toda eternidade.
Os versículos 10 a 16 nos mostram as providências
que os discípulos tomam para preparar a páscoa... e as
de Judas para trair o seu Mestre.

100
Marcos 14:17-31

E chegado o momento da última ceia. Nessa íntima


ocasião de despedida, na qual o Senhor Jesus estava
desejoso de falar francamente a Seus discípulos, algo
angustiava Seu espírito (João 13:21). Não era a cruz que
se aproximava, mas a indizível tristeza de saber que ali,
entre os doze, havia um homem que decidira sua própria
ruína. “Um dentre vós... me trairá.” Por sua vez, os
discípulos se entristecem e interrogam uns aos outros.
Eles não têm aqui a mesma confiança em si mesmos que
aparece nos versículos 29 e 31, quando de suas solenes
afirmações de devoção, particularmente por parte de
Pedro.
Após a saída do traidor (João 13:30), o Senhor institui
a santa ceia como memorial. He abençoa, parte e distribui
o pão aos Seus; a seguir, toma o cálice e, tendo dado
graças, dá-lhes também a beber dele. Então lhes explica
o significado desses símbolos que são simples e mesmo
assim solenes, representando os grandes feitos dos quais
trariam contínua recordação: Seu corpo entregue e Seu
sangue derramado, os sólidos fundamentos de nossa fé.
Leitor amigo, você não teria gostado de estar no cenáculo
em volta do seu Salvador? Então, por que não se unir
àqueles que, a cada primeiro dia da semana, fazem a
vontade do Senhor celebrando a Sua ceia, enquanto
esperam a Sua volta?
Após a ceia, o Senhor vai com os Seus onze discípulos
para o Monte das Oliveiras.

101
Marcos 14:32-54

Aquele que assumiu a forma de servo vai agora


mostrar até onde irá a Sua obediência. E esta será até à
morte... e morte de cruz! Satanás tenta tudo para fazer
com que o Senhor Jesus se desvie do caminho de Sua
perfeição. Nesta luta decisiva, a arma de Satanás é oprimir
o coração do Senhor, que está dente da dimensão do
horror do cálice da ira de Deus contra o pecado. A arma
do Senhor Jesus é a Sua dependência. Um termo que é
usado uma única vez pelo Senhor e que se encontra aqui
em Marcos expressa a mais profunda intimidade de um
momento como esse: “Aba, Pai”, disse Ele, na consciênda
de que esta perfeita comunhão com Deus terá de ser
interrompida no momento em que estiver levando o
pecado sobre Si, isto é, quando beber o cálice da ira de
Deus. Mas é precisamente esse Seu amor sem reservas
pelo Pai que O motiva a uma obediência sem reservas:
“Não seja o que eu quero, e, sim, o que tu queres” (v. 36).
Ante tal conflito, quão imperdoável é o sono dos
discípulos! Pouco tempo antes seu Mestre lhes havia
exortado a vigiar e a orar (13:33). Ele lhes pede
encarecidamente por três vezes... porém em vão! Mas
Ele está prep arad o. O traidor está chegando
acompanhado daqueles que vinham prendê-LO. Pois
bem, agora todos O abandonam e fogem (v. 50),
inclusive, finalmente, esse jovem coberto com um lençol,
o qual representa a profissão cristã que não resiste à prova.

102
Marcos 14:55-72

No meio da noite, o palácio do sumo sacerdote está


em grande agitação. O Senhor Jesus está perante Seus
acusadores. Falsas testemunhas fazem declarações, mas
estas são conflitantes. Contudo o Senhor não tira partido
disto para Se defender. É condenado; golpeiam e
esmurram-NO; alguém cospe-Lhe na face. O Salvador
suporta todos esses ultrajes, os quais já tinham sido
preditos pelo profeta Isaías (50:6).
Outra cena triste está ocorrendo no pátio do palácio.
Pedro não crera no que lhe havia dito seu Mestre, e até
Lhe assegurou: “De nenhum modo te negarei” (v. 31).
Depois no Getsêmani, ele não deu ouvidos quando o
Senhor lhe disse para vigiar e orar. Eis a razão de sua
derrota. De mais a mais, o Salvador havia advertido os
discípulos de que “a carne é fraca” (v. 38). Porém, esta
era uma verdade que Pedro não estava disposto a aceitar,
e por isso ele havia de passar por esta amarga experiência.
O que nós não queremos aprender com o Senhor,
acatando humildemente a Sua Palavra, teremos de
aprender por meios muitas vezes dolorosos, enfrentando
o Inimigo de nossas almas.
Para convencer com mais veemência de que ele não
conhecia “este homem”, Pedro passa a praguejar e a
jurar. Não o julguemos; antes pensemos nas muitas
maneiras pelas quais podemos negar o Senhor se não
vigiarmos: com os nossos atos, com as nossas palavras
ou... com o nosso silêncio (vide 1 Coríntios 10:12).

103
Marcos 15:lr21

Como é característico da narrativa deste evangelho,


até mesmo a obra de morte deve ser realizada “logo” (v.
1). Agitados pela aproximação da Páscoa e em sua pressa
por acabar com este prisioneiro que lhes enche de temor,
as autoridades do povo não perdem tempo. Conduzem
o Senhor Jesus perante Pilatos, não sem antes amarrar
aquelas mãos que haviam curado tantas enfermidades e
nunca haviam feito senão o bem. Diante do governador
romano, o Salvador novamente guardou silêncio, do qual
os Salmos 38:1-15; 39:9 e Lamentações 3:28 revelam os
maravilhosos motivos. A Sua oração neste momento é:
“Pois em ti, Senhor, espero; tu me atenderás, Senhor
Deus meu”; “porque tu fizeste isto”.
Pressionado pelos principais sacerdotes, todo o povo,
em sua louca cegueira, reclama em coro a liberdade do
assassino Barrabás e a crucificação de seu Rei. Então
Pilatos, querendo satisfazer a multidão, liberta o criminoso
e condena o Homem que sabe ser inocente. Veja até
onde pode chegar o desejo de agradar aos homens! (João
19:12).
Os cruéis soldados zom bam dEle fingindo
submeter-se Aquele que está em seu poder (porém H e Se
entregou voluntariamente). E o homem coroa o seu
Criador com espinhos que a terra passou a produzir em
conseqüência do pecado do homem (Gênesis 3:18).

104
Marcos 15:22-41

O homem realiza o mais infame crime de todos os


tempos: Ele crucifica o Filho de Deus e não Lhe poupa
nenhuma forma de sofrimento e humilhação. O Salvador
está pendurado no madeiro amaldiçoado (Gálatas 3:13),
e o Seu amor pelo Pai e pelos homens ali O mantém. O
Senhor Jesus sendo “contado com os transgressores”,
como haviam profetizado as Escrituras (v. 28; Isaías
53:12), p adecendo ainda todo tipo de insultos e
provocações nesta cruz. O mundo O rejeita (e dessa
maneira condena-se a si mesmo), mas agora também o
céu se fecha para Ele, e isso fica expresso em Seu grito de
indizível angústia: “Deus meu, Deus meu, por que me
desamparaste?” (v. 34; vide Amós 8:9-10). O céu está
fechado para Ele a fim de que possa ser aberto para nós.
Foi para conduzir “muitos filhos à glória” que o Autor de
nossa salvação foi aperfeiçoado por meio de sofrimentos
(Hebreus 2:10). Essa página da sagrada Escritura, sobre
a qual a nossa fé repousa com adoração, constitui o
incontestável documento que nos garante acesso à glória
dos céus; e, como sinal de que esse acesso nos foi
possibilitado, rasga-se o véu do santuário (v. 38) — que
velava o lugar da habitação de Deus. O grito em alta voz
do Salvador ao morrer é prova de que Ele mesmo deixou
a Sua vida, voluntariamente, em plena posse de Sua força.
É o último ato de obediência dAquele que havia vindo a
Terra para servir, sofrer e morrer, entregando a Sua
preciosa vida em resgate por muitos (10:45).

105
Marcos 15:42-47 e 16:1-8

Agora, passada a hora da cruz em que o Salvador


ficou só, Deus se compraz em evidenciar a solicitude e a
consideração de algumas pessoas devotas que honraram
o Seu Filho. Em primeiro lugar é José de Arimatéia, quem
pede a Pilatos o corpo do Senhor Jesus e se ocupa,
reverente, do Seu sepultamento. Depois vemos três
mulheres indo apressadam ente ao túmulo logo ao
amanhecer do dia da ressurreição. Elas eram daquelas
que “o acompanhavam e serviam” antes de assistirem
com grande tristeza à cena da cruz (15:40-41). Em seu
desejo de realizar um último serviço Aquele que pensam
ter perdido, levam aromas especiais para embalsamar o
corpo dEle. Porém, elas têm de aprender que esses
preparativos são desnecessários, pois um anjo lhes
anuncia a gloriosa nova: “Ele ressuscitou”. Contudo,
havia uma outra mulher que não se encontrava no
túmulo: a que no capítulo 14:3 havia ungido os pés do
Senhor Jesus. Era por falta de afeição de sua parte? Não,
ela havia dado prova do contrário— pois soube discernir
o momento correto de derramar o seu perfume de nardo
puro sobre o Senhor. Recordemos que a dedicação de
nosso amor sempre é mais preciosa ao coração do Senhor
quando acom panhada pelo discernimento de Sua
vontade e pela obediência a Sua Palavra.

106
Marcos 16&-20

A declaração de Pedro no começo do livro de Atos é


um excelente resumo do Evangelho segundo Marcos. O
apóstolo recorda “todo o tempo que o Senhor Jesus
entrou e saiu dentre nós (ações características de serviço),
começando no batismo de João, até ao dia em que dentre
nós foi levado às alturas” (Atos 1:21-22). Aprimeira cena
no Evangelho de Marcos foi quando o céu se abriu sobre
o Senhor Jesus no rio Jordão e a última é quando o
mesmo céu se abre para recebê-LO. Entre as duas cenas,
está a Sua vida de serviço e dedicação. Aprovado por
Deus em Sua vida e em Sua morte, ocupa daqui em
diante à destra da Majestade nas alturas, o lugar de glória
que Lhe corresponde. A Sua obra está consumada. Agora
cabe aos discípulos realizar a obra deles, seguindo tanto
as instruções dos versículos 15 a 18 como o grande
Exemplo que tiveram diante de seus olhos. Porém, eles
não são abandonados a fazê-lo por conta própria. O
Senhor é visto nas alturas como Aquele que dirige a obra
dos Seus. O serviço é um privilégio eterno que Ele
empreende com amor. Servo para sempre (vide Êxodo
21:6; Deuteronômio 15:17 e Lucas 12:37), Ele coopera
com os Seus discípulos e os acompanha com Seu poder
(v. 20; Atos 14:3 e Hebreus 2:4). Nós, cristãos, somos
convocados a seguir as Suas pegadas e a testemunhar
desse mesmo Evangelho (v. 15); poderemos também
contar com os mesmos cuidados de Seu amor se tivermos
em nosso coração o desejo de servi-LO enquanto
esperamos por Sua volta.
107
Lucas 1:1-17

Dentre os Evangelhos, este é o que, por assim dizer,


nos aproxim a mais do Senhor Jesus, pois no-LO
apresenta especialmente em Sua perfeita humanidade.
Deus escolheu a Lucas, o m édico am ado e fiel
companheiro de Paulo (Colossenses 4:14; 2 Timóteo
4:11), para nos fazer esta revelação. Ela é apresentada
sob a forma de uma narração dirigida a um certo Teófilo
(o qual significa “o que ama a Deus”).
O tema leva o evangelista a descrever, com certo
esmero, como Jesus assumiu a forma de homem e entrou
no mundo. Ele bem podería ter vindo ao mundo na idade
adulta; porém, Lhe aprouve viver inteiramente nossa
história desde o nascimento até a morte, para glorificar
Deus, como de fato o fez.
A narração começa apresentando-nos Zacarias, um
piedoso sacerdote, cumprindo o seu serviço no templo.
Enquanto ele ministrava nesse lugar solene deu-se conta,
repentinamente e com temor, de que não estava só. Um
anjo estava ao lado do altar do incenso, portador de uma
mensagem divina: um filho será dado a Zacarias e Isabel,
sua mulher. Separado para Deus desde o seu nascimento,
será um grande profeta, incumbido de preparar Israel
para a vinda de Seu Messias, acerca do Qual mais tarde
afirmou que “se o quereis reconhecer, ele mesmo é Elias,
que estava para vir” (Mateus 11:14; Compare v. 17 com
Malaquías 4:5-6).

108
Lucas 1:18-38

Q uando Zacarias se defrontou com “estas boas


novas” (v. 19), seu coração não creu nelas. E, contudo,
não eram a resposta a suas orações (v. 13)?
Desgraçadamente acontece o mesmo conosco, pois não
esperamos do Senhor a resposta de nossas orações. Em
resposta à pergunta “Como saberei isto?”, o mensageiro
celeste revela o seu próprio nome: Gabriel, que significa
Deus é poderoso. Sim, sua palavra se cumprirá apesar
das dúvidas com que foi recebida. Zacarias fica mudo até
o nascimento da criança, enquanto sua esposa Isabel,
objeto da graça divina, se oculta modestamente a fim de
não chamar a atenção.
Depois o anjo Gabriel é incumbido de uma missão
mais extraordinária ainda: a de anunciar a Maria, a virgem
de Israel, que será mãe do Salvador. Que maravilhoso
acontecimento, quão infinitas suas conseqüências!
Podemos entender a confusão e a emoção que se
apoderam desta jovem mulher. Mas, apesar da aparente
impossibilidade que ela suscita, sua pergunta no versículo
34 não é semelhante à de Zacarias no versículo 18,
quando ele pede um sinal (o qual denota incredulidade).
Maria crê e se submete inteiramente à vontade divina:
“Aqui está a serva do Senhor...”. Não é esta a mesma
resposta que espera de nós Aquele que nos redimiu?

109
Lucas 1:39-56

Desejosa de compartilhar a maravilhosa mensagem


com Isabel, aquela acerca de quem o anjo lhe acaba de
falar, Maria vai a casa desta sua parente. Que conversação
deve ter havido entre estas duas mulheres! E uma
ilustração de Malaquias 3:16: “Então os que temiam ao
Senhor falavam uns aos outros...” O que as ocupa é a
glória de Deus, o cumprimento de Suas promessas, as
bênçãos oferecidas à fé. Temos tais temas de conversação
quando nos encontramos com outros filhos de Deus?
“Bem-aventurada a que creu...” exclama Isabel, e
Maria responde: “O meu espírito se alegrou em Deus,
m eu S alv ad o r...” (v. 47). Isso é o suficiente para
demonstrar que Maria não foi salva de outra maneira que
pela fé. Sendo uma pecadora, tinha necessidade, como
todos os homens, do Salvador que ia nascer dela. Ela
acrescenta: “Porque contemplou na humildade da sua
serva” (v. 48). Apesar da excepcional honra que Deus lhe
concede, Maria permanece diante d’Ele na posição que
compete a ela: a de humildade. O que ela pensaria, então,
da idolatria da qual se tornou objeto, na cristandade de
hoje em dia?
Observemos a semelhança que há do lindo canto de
Maria com o de Ana em 1 Samuel 2:1-10. Ambas falam
de como Deus “exaltou os humildes... e despediu vazios
os ricos”. Deus despede vazios somente os que estão
cheios de si mesmos.

110
Lucas 1:57-80

Isabel traz ao mundo aquele que será o profeta do


Altíssimo (v. 76). Vizinhos e parentes se alegram com ela.
Observem o quanto o gozo preenche estes capítulos
(1:14,44,47,58; 2:10). Zacarias tem agora a oportunidade
de demonstrar sua fé, ao confirmar o belo nome deste
menino (João significa favor de Jeová). Imediatamente
lhe é devolvida a fala e suas primeiras palavras são para
louvar e bendizer a Deus. Cheio do Espírito Santo, ele
louva a Deus pela grande libertação que Ele empreenderá
a favor de Seu povo. E nós que somos cristãos podemos
fazer subir ainda mais alto o nosso canto! Através da vinda
de Cristo e de Sua obra na cruz, Deus nos tem livrado,
não de nossos inimigos terrenos, mas do poder de
Satanás. Sendo assim libertos, não é o nosso privilégio
servir ao Senhor “sem temor, em santidade e justiça
perante ele, todos os nossos dias” (w. 74-75)?
Zacarias ainda fala da visita do “sol nascente das
alturas”. Desde os dias de Ezequiel, a glória tinha se
afastado; mas eis que — mistério digno de admiração —
esta glória divina volta para visitar um povo impotente e
necessitado (v. 79); porém, desta vez, não é sob o aspecto
de uma nuvem esplendorosa, mas sim sob a condição de
uma humilde criancinha.

111
Lucas 2:1-20

Sem que o saiba, o imperador Augusto se torna um


dos instrumentos dos quais Deus se serve para cumprir
seus maravilhosos desígnios. Desconhecidos de todos,
José e Maria se dirigiram a Belém, e é ali onde acontece
o nascimento do Senhor Jesus. Mas que entrada fez o
Filho de Deus neste mundo! Veja-0 deitado numa
m anjedoura porque não havia lugar para Ele na
hospedaria. Sua vinda é um incômodo ao mundo.
Quantos corações se assemelham a esta hospedaria; não
há neles lugar para o Senhor Jesus.
Não é aos grandes homens, mas aos humildes
pastores a quem é anunciada a boa nova: “Hoje vos
nasceu na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o
Senhor” (Lucas 2:11; Ele nasceu para eles e para nós. Se
o mundo não se interessa pelo nascimento do Salvador,
todo o céu celebra este incomparável mistério: “Aquele
que foi manifestado na carne, foi... contemplado por
anjos” (1 Timóteo 3:16). Estes dão glória a Deus em seu
louvor magnífico, anunciando paz na Terra e boa vontade
para com os homens (compare Provérbios 8:31). Graças
ao sinal que lhes fora dado, os pastores encontraram a
criança. Eles compartilham o que acabam de ver e ouvir
e por sua vez glorificam a Deus (v. 20). O nosso desejo é
unirmo-nos a eles em ações de graças e louvor.

112
Lucas 2:21-38

Cumpriu-se, quanto ao menino, tudo o que ordenava


a lei do Senhor. Este nome do Senhor é repetido quatro
vezes nos versículos 22-24, como para confirmar os
direitos divinos sobre este menino e o cumprimento da
vontade de Deus já desde a tenra infância. O sacrifício
oferecido no templo destaca a pobreza de José e Maria
(leia Levítico 12:8). E, uma vez mais, não é aos príncipes
do povo que o Libertador de Israel é apresentado, mas
sim a anciãos humildes e piedosos: Simeão e Ana. Por
que este privilégio é concedido a eles? Porque estavam
esperando por Ele!
0 Espírito conduz Simeão ao templo e lhe revela
Aquele que é “a consolação de Israel” (v. 25), a salvação
de Deus, a luz das nações e a glória do povo. Ele vê com
seus próprios olhos e segura nos braços este menino, que
significa tudo para sua fé. Ele louva a Deus e depois
anuncia que o Senhor Jesus será a pedra de tropeço para
manifestar o estado dos corações dos homens (Isaías
8:14). Hoje ainda Ele continua sendo isto.
Então chega Ana, mulher de oração e fiel testemunha.
Vem e se une ao louvor; ao não deixar o templo, ela
experimenta Salmo 84:4. Finalmente, na abundância de
seu coração, fala a respeito dEle. Que grande exemplo
para nós!

113
Lucas 2:39-52

Esta é uma passagem de particular importância; é a


única que Deus tem julgado conveniente para que
conheçamos algo sobre a infância e a juventude do
Senhor Jesus. Desse modo temos aqui, especialmente
para crianças e jovens, um Modelo mui excelente. Ele é
perfeito em Suas relações com Seu Pai celestial, a cujos
“negócios” é dada prioridade sobre tudo mais. Perfeito
também em Seu contato com os doutores no templo,
infinitamente mais sábio que todos eles. Ele não lhes
ensina, mas lhes ouve e lhes faz perguntas; a única atitude
conveniente à Sua idade. Perfeito também em Suas
relações com Seus pais; e para que não venhamos
imaginar que Ele havia escapado por insubordinação,
temos no versículo 51 o esclarecimento: “era-lhes
submisso”. Aquele que era consciente de Sua soberania
como Filho de Deus, já desde a mais tenra idade
sujeitou-se à mais absoluta obediência na casa de Seus
pais.
Gostaríamos, finalmente, de enfatizar o zelo do
menino Jesus no templo e o Seu precoce interesse pelas
verdades divinas. Na famosa cidade de Jerusalém, que
provavelmente visitava pela primeira vez, era esse o Seu
foco de atenção — nada mais. Que importância damos
nós à presença do Senhor e aos Seus ensinamentos?

114
Lucas 3:1-14

As estradas da época eram em geral tão ruins que


necessitavam ser reparadas e endireitadas cada vez que
o cortejo de um alto personagem devia passar. Num
sentido m oral, esta é a m issão de Jo ã o Batista.
Encarregado de preparar a vinda do Messias, advertiu
aos judeus que sua qualidade de filhos de Abraão não era
suficiente para abrigá-los da ira vindoura. O que Deus
requeria deles era o arrependimento acompanhado de
seus verdadeiros frutos. Sim, o arrependimento ou a ira,
esta era a opção de Israel e a de todo homem.
Pessoas de diferentes classes sociais, uma após outra,
vêm a João, e ele tem algo a dizer da parte de Deus a cada
uma delas. Assim a Palavra tem uma resposta para cada
estado de alma e para toda circunstância.
Por último, apresentam-se alguns soldados. Talvez
eles esperassem ser alistados sob a bandeira do Messias
para formar um exército que libertaria seu país do jugo
romano. A resposta de João deve tê-los surpreendido
(v. 14). Não pensemos que o Senhor necessita de nós
para realizar grandes feitos. O que Deus espera de nós é
um testemunho de honestidade, de mansidão e de
contentam ento em qualquer situação em que nos
encontremos (1 Coríntios 7:24).

115
Lucas 3:15-38

João exortou o povo e lhe anunciou a Boa Nova


(v. 18). Como um fiel mensageiro, ele falou de Cristo e de
Seu poder; mas depois de cumprida essa sua tarefa, se
aparta.
Que belo exemplo para nós, os que desejamos servir
ao Senhor! Não está ao nosso alcance o converter alguém;
mas nossa vida e nossas palavras devem preparar aqueles
que nos conhecem para receber o Senhor Jesus. Não é
suficiente exortar as pessoas ao arrependimento; temos
que lhes apresentar o Salvador.
Temos então a aparição do Senhor Jesus. Em graça
Ele compartilha com os de seu povo que deram os
primeiros passos no bom caminho. Ele é batizado, (Lucas
é o único que menciona isso) e, em resposta divina, o
Espírito Santo desce sobre Ele. Simultaneamente, a voz
do Pai é-Lhe dirigida pessoalmente (em Mateus 3:17 a
voz é para os que assistiam): “Tu és o meu Filho amado,
em ti me com prazo”. Que nós tam bém possam os
encontrar o nosso deleite n’Ele!
A genealogia do Senhor através de Maria retoma a
Adão, então a Deus, mostrando que Ele é Filho do
homem e ao mesmo tempo Filho de Deus. Já a genealogia
citada em Mateus 1:1-17 tem um foco distinto: é
estabelecida em Seu título de Filho de Davi e de Abraão,
e por isso herdeiro das promessas divinas para Israel.

116
Lucas 4:1-15

A tentação do Senhor acontece no deserto, o lugar


onde Israel havia multiplicado suas murmurações e a
cobiça (Salmo 106:14). O primeiro ataque do diabo dá
ao Senhor Jesus a oportunidade para nos chamar para
uma verdade fundamental: O homem tem uma alma que
necessita de alimento, o qual é a Palavra de Deus e que
deve ser saboreado em obediência. A este Homem
perfeitamente dependente, Satanás oferece todos os
reinos do mundo e sua glória (quantas pessoas têm
vendido suas almas por infinitamente menos!). O mundo
na realidade forma parte da herança destinada ao Senhor
Jesus; mas, fosse toda a Terra ou um simples pedaço de
pão, Cristo não querería receber nada que não viesse das
mãos de Seu Pai (Salmo 2:8).
Então Satanás insinua pela segunda vez: “Se és Filho
de Deus...” (v. 3 e 9), como se tal condição necessitasse
ser provada! Isso era por em dúvida o que o Pai
solenemente acabara de proclamar (cap. 3:22); era,
noutras palavras, tentar a Deus.
O Senhor Jesus não teria sido um exemplo para nós
se tivesse vencido o diabo em virtude de Seu poder divino;
porém triunfou usando as mesmas armas que estão à
disposição do homem: Uma completa dependência de
Deus, uma absoluta obediência à Sua Palavra e uma
confiança inabalável em Suas promessas.

117
Lucas 4:16-30

Vemos que o relato do ministério do Senhor começa


por Nazaré, onde foi criado. Nosso testemunho deve
começar em casa, entre nossos conhecidos. Temos mais
coragem de ir pregar o Evangelho aos pagãos que para
testemunhar perante os que nos conhecem?
Na sinagoga, o Mestre divino lê a passagem de Isaías
que O aponta como Mensageiro da graça. Ele proclama
libertação aos cativos (vide Isaías 42:7 e 61:1).
Im aginem os que hoje fosse proclam ado que os
prisioneiros seriam perdoados e libertados. Poderiamos
imaginar que alguns preferiríam permanecer em prisão;
que outros se atrevessem a reclamar sua inocência para
ser libertados por via legal; ou que, pelo contrário, muitos
dissessem: “Oh, não! isto não é para mim; sou muito
culpado”; ou que outros, finalmente, recusassem crer
nesta mensagem de graça? Atitudes insensatas e bastante
improváveis também... mas, não obstante, muito comuns
entre os que rejeitam a salvação. Contudo, muitos cativos
de Satanás aceitam alegremente a liberdade oferecida. A
que classe de prisioneiros você pertence? O triste fim deste
episódio nos mostra como os habitantes de Nazaré
receberam as “Boas Novas”, um quadro em miniatura da
atitude de toda a nação.

118
Lucas 4:31-44

Expulso de Nazaré, o Senhor Jesus continua o Seu


ministério em Cafarnaum. Ele ensina e cura com uma
autoridade que não teria admirado os homens, (v. 32 e
36) caso quisessem reconhecer nEle o Filho de Deus. Por
outro lado, os demônios não se equivocavam. Tiago 2:19
nos diz que eles creem... e tremem. Enquanto o Senhor
Jesus esteve aqui na Terra, a atividade demoníaca
aumentou numa tentativa de pôr obstáculos a Sua
atividade. Jesus encontrava com espíritos imundos até
nas sinagogas, mas Ele não permitia que Lhe dessem
testemunho.
Os versículos 38 e 39 nos falam da cura da sogra de
Simão. O Senhor Jesus se inclina afetuosamente sobre a
mulher doente, pois não é apenas a distância que Ele se
ocupa com as nossas enfermidades. E como esta mulher
emprega a saúde que acaba de recuperar? De uma
maneira que fala a todos nós: “E logo se levantou,
passando a servi-los”.
Ainda que fosse um estrangeiro aqui, o Senhor Jesus
não estava alheio às dificuldades e misérias deste mundo.
Assim vemos que a noite não interrompe Sua maravilhosa
atividade e cedo pela manhã já está pronto a retomá-la,
porque passou algum tempo em separado, para estar a
sós com Deus. E sendo assim dependente, não se deixa
deter pelas multidões que Lhe instavam para ficar ali.

119
Lucas 5:1-11

Temos aqui o conhecidíssimo relato da pesca


m ilagrosa... e de um acontecim ento ainda mais
maravilhoso: A conversão de Simão. O que ele fazia
enquanto o divino Mestre ensinava às multidões? Lavava
as redes sujas do infrutífero trabalho da noite anterior. O
Senhor vai obrigá-lo a ouvir. O Senhor pede a Pedro que
0 “afaste um pouco da praia e, assentando-se, ensina do
barco as multidões” reunidas na orla... e, ao mesmo
tempo, ao homem que está ao Seu lado. Depois o Senhor
ainda fala noutra maneira a Simão e a seus companheiros.
Enche suas redes, revelando-Se assim como o Mestre do
universo, Aquele que, segundo o Salmo 8:6 e 8, tem
domínio sobre os peixes do mar e que tudo pode em
situações onde o homem nada pode fazer. Cheio de temor
e convencido, pela presença do Senhor, de ser um
pecador, Simão prostra-se aos pés de Jesus, dizendo:
“Retira-te de mim...” Mas, é possível que o Senhor, cheio
de amor, busque o pecador para logo se apartar dele?
Lucas é o único a nos contar este encontro decisivo
do Senhor com seu discípulo Pedro. No livro de Atos, ele
nos mostra como Pedro se tornou um pescador de
homens, sendo ele o instrumento para uma milagrosa
“pesca” de quase três mil almas (Atos 2:41).

120
Lucas 5:12-26

Um homem cheio de lepra vem ao Senhor Jesus


porque reconhece o Seu poder. Este é curado pela
vontade de Seu amor.
O versículo 16 novamente nos revela o segredo deste
Homem perfeito: Sua vida de oração. A perfeição de um
hom em está em pôr em prática um a com pleta
dependência de Deus; esta dependência é expressa pela
oração. Por isso Lucas tão freqüentemente nos apresenta
o nosso incomparável Modelo nesta atitude bendita (cap.
3:21; 5:16; 6:12; 9:18, 29; 11:1; 22:32, 44).
Na seqüência testemunhamos o considerável esforço
de quatro homens para colocar um pobre paralítico em
contato com o Senhor Jesus (Marcos 2:3). Que o zelo e
a persistência da fé deles nos encoraje! Nós também
podem os levar ao Senhor, em oração, aqueles que
desejamos ver convertidos. Talvez até mesmo possamos
convidá-los a vir conosco ao lugar onde Ele tem
prometido estar presente: à reunião dos crentes.
Nestes capítulos 4 e 5, o pecado nos é apresentado
sob diferentes aspectos: como o poder de Satanás na
vida dos endemoniados (cap. 4:33, 41); sob a forma de
mancha no leproso e, finalmente, como um estado de
inércia devido à culpa e à ofensa diante de Deus (como
é o caso do homem paralítico). O Senhor Jesus veio para
dar resposta a estas três diferentes condições; Ele é Aquele
que liberta, que purifica e que perdoa .

121
Lucas 5:27-39

Levi (ou Mateus — Mateus 9:9) estava no trabalho


quando o Senhor Jesus o chamou. Ele deixou tudo, se
levantou e O seguiu. Depois recebeu o Senhor em sua
casa juntamente com os seus antigos colegas, dando-lhes
uma oportunidade de se encontrar com o Seu novo
Mestre. (Que tam bém seja este o motivo quando
convidamos alguém à nossa casa!) Esses publicanos
(coletores de impostos) eram odiados pelos outros judeus
porque se enriqueciam à custa deles e tiravam proveito
pessoal do jugo romano. Eis o porquê da indignação dos
fariseus e dos escribas quando viram o Senhor Jesus e os
Seus discípulos comendo com publicanos e pecadores.
Quantas pessoas estão mais inclinadas a se apartarem
dos pecadores que do pecado! Em resposta a estas suas
murmurações, o Senhor Jesus Se faz conhecer como o
grande Médico das almas. Assim como o doutor não se
ocupa com os pacientes sadios (ou os que pensam que
estão bem), o Senhor só pode ocupar-se dos que
reconhecem seu estado pecaminoso.
Depois os escribas e fariseus perguntam acerca do
jejum. O Senhor lhes responde que este sinal de tristeza
não era oportuno enquanto Ele, o Esposo, estivesse no
meio deles. Ademais, a servidão da lei e das ordenanças
não é coerente com a liberdade e a alegria que a graça
proporciona (v. 36-37).

122
Lucas 6:1-19

O Senhor Jesus tinha vindo para introduzir uma nova


ordem de coisas. Mas Israel considerava melhor o antigo
sistema da lei (compare 5:39). O homem é assim: prefere
ordenanças, porque lhe dá oportunidade de gloriar-se no
seu cumprimento, ainda que somente as cumpra de
maneira precária. Por outro lado, a graça o humilha,
porque lhe exige que se considere perdido. Foi por esta
razão que os judeus se aferravam fortemente ao sábado.
Mas o Senhor tem duas lições a lhes ensinar: uma tirada
das Escrituras e em particular da história de Israel (v. 3-4);
a outra, de Seu próprio exemplo de amor (v. 9-10). E
qual o único efeito disto sobre seus corações?
Secretamente conspiram livrar-se d’Ele.
Depois, o Mestre designa os Seus apóstolos; mas,
antes de fazer isso, passa uma noite inteira em oração.
Quão importante era esta escolha para a obra que havería
de ser cumprida depois! O Senhor Jesus conhecia as
características naturais de todos os Seus discípulos, o que
cada um teria que adquirir ou abrir mão. Ele os conhecia,
mas também os amava, tal como conhece e ama você
(João 10:14, 27).
Ademais, para Aquele que sabia de todas as coisas,
tal eleição implicava levar Consigo o traidor, Judas!
Porém uma vez mais triunfa a Sua perfeita submissão. O
Senhor Jesus tinha vindo para cumprir as Escrituras.

123
Lucas 6:20-38

Como falam a nós estes ensinamentos do Mestre!


Deixem o-los p en etrar profundam ente em nossos
corações e, sobretudo, vivamo-los! A maioria desses
ensinamentos se encontram em Mateus 5-7; mas aqui a
m ensagem é mais pessoal. N ão é dito aqui
“Bem-aventurados os que...”, mas “Bem-aventurados
vós...”
O versículo 31 resume as exortações dirigidas a “vós
outros que me ouvis” (v. 27): “Como quereis que os
homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles” (v.
31). Os nossos semelhantes seriam melhor tratados se
obedecéssemos a esta exortação!
Todos estes traços de caráter são estranhos à nossa
natureza orgulhosa, egoísta e impaciente. O Senhor
enfatiza que essas são as características de Deus mesmo,
e por elas seremos conhecidos na Terra como filhos do
Pai celestial (v. 35-36). Não teremos oportunidade de
manifestá-las no céu, visto que ali não haverá inimigos
para amar, nem injustos para suportar, nem miseráveis
que consolar. A nossa responsabilidade e privilégio são
de sermos semelhantes ao Senhor Jesus aqui na Terra,
de rèfletir a mansidão, o amor, a humildade e paciência
de nosso perfeito Exemplo, “pois ele, quando ultrajado,
não revidava com ultraje, quando maltratado, não fazia
ameaças...” (1 Pedro 2:21-23).

124
Lucas 6:39-49

Se uma pequena partícula de poeira se deposita na


lente de um microscópio, já não se vê mais nada através
dela. O que é curioso, é que para nós é o oposto! Quanto
maior a trave em nosso olho, mais apurada é nossa
capacidade para distinguirmos o argueiro no olho de
nosso irmão.
No versículo 46, o Senhor Jesus faz uma pergunta
que deve nos fazer parar e refletir: “Por que me chamais,
Senhor, Senhor, e não fazeis o que vos mando?” Não
acontece às vezes que tom am os leviana e
inconseqüentemente o nome do Senhor Jesus quando
oramos? Não temos direito de chamá-LO Senhor se não
estamos dispostos a fazer em todas as coisas a Sua vontade
(1 João 2:4). Muitos filhos de pais cristãos têm aceitado,
pela graça, o Senhor Jesus como seu Salvador; mas,
pode-se afirmar que realm ente se renderam a Ele
enquanto não reconhecem a Sua autoridade de Senhor?
O verdadeiro Cristianismo consiste em não mais viver
para si mesmo, mas para Aquele que morreu por nós,
para O servir e esperar por Ele (1 Tessalonicenses 1:9-10;
2 Coríntios 5:15).
Edificar nossas esperanças “sobre a terra”'"sem
alicerces é seguir rumo a uma grande mina (v. 49). Por
isso, vamos ao Senhor Jesus, escutemos as Suas palavras
e ponhamo-las em prática (v. 47).

125
Lucas 7:1-17

Que nobres sentimentos encontramos no centurião


de Cafamaum! Que grande afeto por um simples servo,
que benevolência para com Israel, que humildade (“não
sou d ig n o ...” declara ele; com pare v. 4), que
compreensão do que é autoridade e senso de dever,
adquirido na sua vida militar (v. 8)! Mas o que o Senhor
admira não são as elevadas qualidades morais e, sim, a
fé deste estrangeiro. O Senhor Jesus menciona essa fé
dele como um exemplo atodos. Afé somente existe graças
ao objeto sobre o qual se apóia. Aqui é a onipotência do
Senhor. Quanto mais se conhece o objeto em sua
grandeza, maior será a fé. Que Cristo, então, seja grande
ao nosso coração!
Aproximando-se de Naim, o Senhor e a multidão
que O acompanhava se deparam com um outro grupo.
É um cortejo fúnebre, semelhante aos que vemos em
nossas ruas (Eclesiástes 12:5b: Terrível advertência de
que o salário do pecado é a m orte). Mas este é
particularmente triste, pois se trata do filho único de uma
viúva. Movido por compaixão, o Senhor Jesus começa
por consolar a pobre mulher. Depois toca o esquife (da
mesma maneira que Ele tocou o leproso em Lucas 5:13
sem ser contaminado; compare com Números 19:11). E,
de repente, este morto senta-se e começa a falar, o que é
uma evidência de vida.
Não esqueçamos, então, que a confissão da boca é
uma evidência necessária da vida que está em nós
(Romanos 10:9).
126
Lucas 7:18-35

Da prisão onde Herodes o havia encerrado (capítulo


3:20), João Batista envia dois de seus discípulos ao
Senhor Jesus para inquirir acerca d ’Ele. Sua pergunta
manifesta suas dúvidas e desencorajamento. O que
obteve? O cárcere em lugar do reino que havia anunciado.
Seria possível, realmente, ser Jesus “aquele que estava
para vir”?
Muitas pessoas, considerando o estado da Igreja atual,
a perseguição dos crentes em muitos países e a indiferença
do mundo pelo Evangelho, chegam a duvidar do poder
do Senhor e de Seu reino. Mas este reino não será
estabelecido antes de a Igreja ser arrebatada e do
cumprimento dos eventos preditos em profecia.
As obras do Senhor Jesus se encarregam de responder
à pergunta dos dois mensageiros.
João havia testificado acerca do Senhor. Agora é o
Senhor que testifica à mesma multidão acerca de João. E
com tristeza demonstra qual foi a recepção que esta
privilegiada geração (v. 31) deu ao ministério de seu
precursor e ao Seu próprio ministério. Nem as chamadas
ao arrependimento de João nem as boas novas do
Salvador, cujo resultado seria alegria e louvor, tocaram
os corações da maioria desse povo e de seus líderes.

127
Lucas 7:36-50

Completamente diferente do publicano Levi (Lucas


5:29), Simão, o fariseu, também convidou o Senhor para
comer em sua casa. Talvez Simão esperasse receber
alguma honra pelo seu gesto, mas ao invés disso o Senhor
lhe ensina uma humilhante lição. Uma mulher, conhecida
pela sua vida de pecado, entra na casa. Ela rega os pés do
S enhor Jesus com abundantes lágrimas de
arrependimento, e, ao ungir-Lhe os pés com ungüento,
fez exalar o aroma agradável de sua homenagem. E esta
pecadora, e não o fariseu Simão, que refresca e anima o
coração do Salvador, pois ela tem consciência de sua
grande dívida para com Deus e vem ao Senhor Jesus do
único modo apropriado: com um coração quebrantado
e arrependido (Salmo 51:17). Antes de dirigir a esta
mulher a palavra de graça que ela espera d’Ele, o Senhor
tem “uma cousa” a dizer para Simão, cujos pensamentos
secretos Ele conhecia todos. Quantas vezes poderiamos
ouvir os nossos nomes em lugar do de Simão! “Uma
cousa tenho a dizer-te”, disse o Mestre a Simão ou a
qualquer um de nós: “Talvez você se compare a outros
que não tiveram como você uma educação cristã, mas o
que realmente Me importa é o seu amor por Mim e as
provas desse amor”.
Que possamos nos dar conta do quanto nos foi
perdoado, para que assim am em os mais o nosso
Salvador!

128
Lucas 8 :lr l5

Ju n to aos discípulos havia algum as m ulheres


piedosas que seguiam o Senhor e “lhe prestavam
assistência com os seus bens”. O que elas fizeram por
Jesus é mencionado em conseqüência daquilo que Ele
antes havia feito por elas (v. 2).
Os versículos 4-15 contêm a parábola do semeador
e sua explicação. Três coisas causam a esterilidade do
solo: os pássaros, figura do diabo (v. 12); a pedra, figura
aqui do coração árido, fechado para toda ação profunda
e duradoura; por último os espinhos, que nos falam do
mundo com seus cuidados, riquezas e deleites (v. 14).
Contudo, até mesmo o melhor dos solos deve ser
primeiramente preparado. Isto pode ser uma operação
dolorosa para o solo que tem de ser lavrado, revolvido
várias vezes, sulcado, antes de estar numa condição
apropriada para a semente penetrar e germinar. E assim
que Deus prepara a consciência daqueles que hão de
receber a Sua Palavra (e isso ffeqüentemente se dá por
meio de provações).
Mas esta preparação não ocorre nos três primeiros
tipos de solo. E inútil lavrar um caminho continuamente
pisoteado e impossível lavrar na pedra. Quanto aos
espinhos, é necessário que se faça primeiramente uma
limpeza, pois as raízes do mundo no coração são muitas
vezes bastante profundas.
O que caracteriza todos os solos é que todos ouvem
a Palavra. Mas reter a Palavra e frutificar com
perseverança é próprio da boa terra (v. 15).
129
Lucas 8:16-25

Ninguém pensaria, depois de acender uma candeia,


em cobri-la com um vaso ou em pô-la debaixo duma
cama. Assim também, como “filhos de luz”, o nosso
propósito de estar aqui neste mundo é fazer com que as
virtudes d’Aquele que é a Luz resplandeçam com muita
clareza nas trevas deste mundo (V. 16; Mateus 5:14;
1 Pedro 2:29).
Quando Sua mãe e Seus irmãos vêm a Ele, o Senhor
aproveita a ocasião para falar uma vez mais daqueles que
“ouvem a palavra de Deus e a praticam” (v. 21; 6:47).
S ão estes os únicos que podem afirm ar ter um
relacionamento com Ele.
A cena do Senhor Jesus adormecido no barco no-LO
apresenta como Homem, cansado depois de uma jornada
de trabalho. Mas, alguns instantes mais tarde, a ordem
que dá ao vento e às ondas revela-0 como Deus
soberano. Os discípulos, possuídos de temor e admiração,
exclamam: “Quem é este...?” (v. 25). Várias vezes temos
ouvido esta pergunta (V. 25; 5:21; 7:49). Em outros
tempos, Agur a formulou: “Quem encerrou os ventos nos
seus punhos? Quem amarrou as águas na sua roupa?”
(Provérbios 30:4). Este que “até aos ventos e às ondas
repreende” e que revela Seu poder aos discípulos de
pequena fé é o Filho de Deus, o Criador. Seu poder hoje
não mudou. Mas, e a nossa fé?

130
Lucas 8:26-39

O poder divino, do qual o Senhor Jesus deu uma


mostra ao acalmar a tempestade, se defronta agora com
outro tipo de violência muito mais terrível: a de Satanás.
Uma legião de dem ônios havia se apoderado
completamente deste pobre geraseno. Antes já haviam
tentado, sem sucesso, dominá-lo com cadeias e grilhões,
figura dos vãos esforços da sociedade para controlar as
paixões humanas. O endemoniado vivia nos sepulcros e
já estava m oralm ente morto. Estava nu, a saber,
exatamente como Adão, incapacitado de ocultar o seu
estado de Deus. Que quadro da decadência moral do
homem! Mas também, que mudança quando o Senhor
intervém e o liberta! (leia Efésios 2:1-6). O povo daquela
cidade pôde constatar o que ocorreu, pois encontraram
este homem “vestido, em perfeito juízo, assentado aos
pés de Jesus” (v. 35). Sim, o redimido finalmente encontra
paz e descanso no Salvador; Deus o veste com justiça e
lhe concede a com preensão necessária para ele
conhecê-LO.
Mas, vejam só, a presença de Deus inquieta e perturba
o mundo mais do que o domínio de Satanás.
O endemoniado, são, deseja agora acompanhar o
Senhor Jesus (compare Filipenses 1:23). Mas o Senhor
lhe mostra qual seria o seu campo de ação: sua própria
casa e cidade. Ele então volta para lá e conta tudo o que
Jesus lhe tinha feito (Salmo 66:16).

131
Lucas 8:40-56

Jairo, este chefe da sinagoga cuja única filha estava


a ponto de morrer, suplica ao Senhor Jesus para que
venha à sua casa. Ele não tem tanta fé quanto o centurião
do capítulo 7; o centurião sabia que uma palavra do
Senhor era suficiente para que o seu servo fosse curado,
mesmo a distância. Estando a caminho, o Senhor Jesus
é secretamente tocado por uma mulher que tinha gastado
tudo que possuía consultando um bom número de
médicos. Porém, além da cura, o Senhor também quer
lhe dar a certeza da paz; eis o porquê H e a encoraja a que
se manifeste publicamente.
Seguindo o Seu caminho com o pai angustiado, o
Senhor Jesus tem “a língua de erudito”, para lhe dizer
uma palavra de conforto (V. 50; capítulo 7:13; Isaías
50:4). Então acontece uma coisa extraordinária: mediante
o chamado do “Autor da vida” (Atos 3:25), a menina
levantou-se imediatamente. Mas o Senhor Jesus sabe que
ela agora precisa de alimento e, em sua tema solicitude,
assegura-Se de que ela receba o que necessita. Nessas
duas circunstâncias, vemos como o amor do Senhor ainda
se manifesta mesmo depois do livramento. A mulher, a
fim de estabelecê-la em uma relação pessoal Consigo e
para que O confesse publicamente; à esta menina,
visando nutri-la e fortalecê-la.

132
Lucas 9:1-17

O Senhor envia os Seus apóstolos. O poder e a


autoridade que Ele lhes dá é tudo que precisam para o
caminho (v. 3). Quando regressam, os doze se apressam
a relatar tudo que eles fizeram (v. 10; compare Atos 14:27,
onde Paulo e Bamabé “relataram quantas cousas fizera
Deus com eles”; veja também Atos 21:19; 1 Coríntios
15:10). Então o Senhor retirou-Se, levando-os Consigo
à parte, no silêncio de algum refúgio; mas as multidões
não demoraram em descobri-LO; de modo que Ele,
então, sem a m enor impaciência ou m á vontade,
prossegue novamente o Seu ministério. Ele os recebe,
lhes fala e cura.
Os discípulos, por sua vez— talvez mais preocupados
com o seu próprio descanso do que com os que ali
estavam reunidos — queriam despedir as multidões (v.
12). Seu Mestre, no entanto, se ocupa com a multidão,
tendo também preparado uma lição para os Seus. Depois
de fazê-los constatar a insuficiência de seus recursos para
alimentar esta multidão, o Senhor Jesus provê-lhes
alimento por Seu próprio poder. Ele podería ter feito isto
sem os cinco pães e os dois peixes. Mas, em Sua graça,
toma o pouco que colocamos à Sua disposição e o
transforma em grande quantidade. Seu poder sempre se
aperfeiçoa na fraqueza de Seus servos (2 Coríntios 12:9).

133
Lucas 9:18-36

As multidões consideravam o Senhor Jesus como um


profeta e não como Cristo, o Filho de Deus (v. 19). Isso
leva o Senhor a falar de Seu caminho de rejeição e
sofrimento, no qual convida os Seus a segui-LO. Este
caminho não requer apenas que se abra mão de certas
coisas, mas a negação de si mesmo e de sua própria
vontade. Os cristãos estão mortos para o mundo e suas
paixões (Gálatas 6:14), mas estão vivos para Deus e para
o céu. Por outro lado, os que querem viver suas vidas
aqui na Terra têm perante si a morte eterna. O que está
em voga nesta escolha tão decisiva é a nossa alma, e ela
é mais valiosa que o mundo inteiro!
Ao mesmo tempo em que revela este difícil caminho
da cruz, o Senhor, p a ra anim ar os Seus, deseja
mostrar-lhes onde ele termina: na glória com He. Qual
será o grande tema de conversação lá no monte da
transfiguração? A morte do Senhor Jesus. He fala acerca
dela com Moisés e Hias, visto não poder fazê-lo com os
Seus discípulos (V. 22; Mateus 16:21-22). Mas, por
m aiores que sejam estas testem unhas do Antigo
Testamento, devem desaparecer diante da glória do
“Filho amado”. A lei e os profetas chegaram ao seu fim;
de agora em diante Deus fala através de Seu Filho.
Escutemo-LO! (V. 35; Hebreus 1:2).

134
Lucas 9:37-56

Depois da cena da glória, na qual He tinha sido o


centro, o Senhor Jesus agora se depara com uma terrível
situação: o poder de Satanás sobre um garoto e a angústia
de seu pai. O livramento que Ele realiza exalta a grandeza
de Deus (v. 43).
Que inconsistência encontramos então nos discípulos!
Seguem Aquele cuja humilhação voluntária O conduz à
cruz. Mas ao mesmo tempo se ocupam em saber qual
deles será o maior! (v. 46). Eles mesmos expulsaram os
demônios em nome do Senhor, ainda que nem sempre
tivessem êxito (v. 40). Mas proibiram um outro de fazê-lo
(V. 49; com pare Núm eros 11:26-29). Finalmente,
enquanto seu Mestre se dispõe a cumprir a obra da
salvação dos homens (e a deles mesmos!), Tiago e João
querem mandar descer do céu fogo de juízo sobre aqueles
samaritanos por se recusarem a recebê-LO. Egoísmo,
ciúme, falta de generosidade,, rancor e projetos de
vingança, nisto reconhecemos o triste espírito que se
aninha freqüentemente em nossos corações (v. 55).
O Senhor Jesus agora empreende Sua última viagem
para Jerusalém em pleno conhecimento daquilo que Lhe
espera ali, mas a faz com santa determinação. Ele
“manifestou no semblante a intrépida resolução de ir para
Jerusalém” (v. 51). O nosso amado Salvador não se deixa
desviar do alvo que Seu amor Lhe tem proposto.

135
Lucas 9:57-62 e 10:1-9

É fácil dizer: “Seguir-te-ei para onde quer que fores”


(v. 57). Mas o Senhor Jesus não ocultou o que se requer
daqueles que querem segui-LO (vide v. 23). Os maiores
obstáculos não se encontram no caminho, porém em
nossos corações; e, para nos ajudar a descobri-los, o
Senhor lança luz sobre as verdadeiras motivações do
coração do homem. O pendor ao conforto (v. 58), isso ou
aquilo a que nos apegamos, costumes e hábitos (v. 59,
61) podem facilmente tomar o lugar da obediência que
devemos a Cristo. Essas coisas podem facilmente nos
levar a lamentar, a olhar para trás e, talvez o que seria
vergonhoso, a desistir de tudo.
No capítulo 10 o Senhor Jesus separa 70 obreiros, e
Ele mesmo os envia à seara. Dão-lhes instruções e lhes
envia “como cordeiros para o meio de lobos” (v. 3), pois
devem evidenciar a humildade e a brandura d’Aquele
que em meio desses mesmos lobos foi o Cordeiro.
H oje, com o antes, h á poucos obreiros.
Supliquem os, pois, com veem ência ao Senhor da
grande seara (2 Tessalonicenses 3:1). Ele é Aquele
encarregado de designar, de formar e de enviar novos
obreiros. C ontudo, para poder orar com fervor e
sinceramente por essa questão, precisamos nós mesmos
estar dispostos a ser enviados, acatando a designação
divina.

136
Lucas 10:10-24

O Senhor Jesus agora Se dirige solenemente às


cidades onde Ele havia ensinado e realizado tantos
milagres. E enfatiza a grande responsabilidade dos seus
habitantes. O que Ele hoje teria a dizer de tantos jovens
criados em famílias cristãs, muito mais privilegiados, e
por isso também mais responsáveis que muitos outros?
Os setenta retornam possuídos de alegria. O fato de
os demônios haverem se submetido a eles dirige os
pensamentos do Senhor ao momento em que o próprio
diabo será atirado do céu para a terra (Apocalipse 12:9).
Mas o Senhor Jesus convida Seus discípulos a se
alegrarem por outro motivo: seus nomes agora já estão
arrolados nos céus.
O céu, uma vez purificado da presença de Satanás, se
tornará a morada deles. Por Sua vez, o Senhor exulta
com grande alegria, não pelo poder que tenha sido
manifestado, mas pelos desígnios do Deus de amor.
Agradou ao Pai dar-Se a conhecer por meio de Seu Filho.
E a quem foi feito tal revelação? Em contraste ao que
geralmente dizemos às crianças— “Quando você crescer,
vai entender isto ou aquilo” —, ela justamente foi feita
aos pequeninos, aos que como crianças têm simplicidade
de fé e humildade. Preenchemos essas condições?

137
Lucas 10:25-42

O Senhor Jesus responde à pergunta de um douto da


lei com uma contrapergunta que visava atingir sua
consciência. Para se esquivar, o doutor da lei tenta
restringir o amplo significado da palavra “próximo”. O
Senhor lhe ensina que este próximo é em primeiro lugar
Ele mesmo, Jesus (v. 36-37), e que seguindo Seu exemplo
em amor, o redimido se toma o próximo de todos os
seres humanos. Neste pobre homem, roubado e deixado
semimorto, temos uma figura do pecador perdido e sem
recursos; o sacerdote e o levita nos falam dos vãos recursos
da religião; mas no bom Samaritano encontramos o
Salvador que se acercou da nossa miséria e nos resgatou
de nossa trágica condição. A hospedaria nos faz pensar
na Igreja, onde aquele que foi salvo recebe o cuidado
apropriado; o hospedeiro, por fim, é uma figura do
Espírito Santo, que provê necessário cuidado valendo-Se
da Palavra e da oração (os dois denários), temas dos
versículos 34-35 e capítulo 11:1-13. Para concluir, o
Senhor não disse: “Faze isto (a lei), e viverás” (v. 28), mas
“Vai, e procede tu de igual modo” (v. 37).
A cena seguinte acontece numa casa amiga, onde o
Senhor Jesus é recebido, servido, escutado e amado.
Mas os “muitos serviços” ocupavam de tal modo os
pensamentos de Marta, que ela precisou ser repreendida.
O coração de Maria, aberto à Sua Palavra, é o que
alegrava o coração do Senhor (1 Samuel 15:22).

138
Lucas 11:1-20

Os discípulos estão impressionados pelo lugar que a


oração ocupa na vida de seu Mestre. Façamos como eles:
Peçamos ao Senhor que nos ensine a orar. Trata-se de
recitar algumas frases decoradas? Pelo contrário, a
parábola dos dois amigos nos ensina a expressar cada
necessidade de maneira simples e sobretudo precisa:
“Amigo, empresta-me três pães... ” (v. 5). Talvez seja uma
necessidade espiritual que sentimos e que, por assim dizer,
bate à porta de nosso coração? Cuidemos para não
rejeitá-la; pelo contrário, vamos considerá-la como a “um
amigo de viagem” (v. 6). E se não tivermos nada a
oferecer-lhe? Então vamos ao Amigo celestial, não
precisamos ter medo de perturbá-LO. Deus, em Seu
amor, tem prazer em atender a Seus filhos e jamais irá
decepcioná-los. Pelo contrário, se em nossa ignorância e
falta de sabedoria lhe tivermos pedido “uma pedra”, Ele
sabe como transformar a nossa petição em “boas dádivas”
(v. 13).
Até que tenha encontrado o Senhor Jesus, o homem
é tão mudo para Deus como o endemoniado do versículo
14. Salvo por Cristo, tendo recebido o dom do Espírito
Santo (compare v. 13), pode, então, elevar livremente
sua voz em louvor e em oração. Façamos uso deste
privilégio imenso!

139
Lucas 11:21-36

Somente o poder do Senhor Jesus, aquele que


venceu o “valente”, pode nos livrar do mal que está em
nós. Do contrário uma paixão desalojada será fatalmente
substituída por outra. A casa do versículo 25 é um quadro
de nosso coração. De nada adianta varrê-la e adomá-la
enquanto um novo hóspede — o Senhor Jesus — não
vier primeiro habitá-la e governá-la.
0 S enhor mais um a vez afirm a que a
bem-aventurança (a bênção) não depende de laços
familiares (V. 27, 28; compare 8:21) nem dos privilégios
de uma geração. Ela é prometida aos que ouvem e
guardam a Palavra de Deus.
0 versículo 33 repete o ensinamento do capítulo 8:16.
0 alqueire, uma unidade de medida, é o símbolo do
comércio e dos negócios; a cama é o símbolo do sono e
da preguiça. São duas coisas aparentemente opostas, mas
ambas capazes de apagar a pequena chama de nosso
testemunho. Em Mateus 5:15, a lâmpada devia alumiar
“a todos que se encontram na casa”. Aqui ela é acesa “a
fim de que os que entram — as visitas — vejam a luz”.
O olho mau (v. 34) é o que permite penetrarem em
nosso interior as trevas do pecado. Tenhamos cuidado
com o rumo que algumas vezes toma o nosso olhar (Jó
31:1) e também com certas leituras que mancham o nosso
coração e seduzem a nossa imaginação! Purifiquemo-nos
de toda impureza! (2 Coríntios 7:1).

140
Lucas 11:37-54

Pela segunda vez, o Senhor Jesus é convidado a


comer com um fariseu (compare capítulo 7:36). Desta
vez o Seu anfitrião até ousa criticá-LO. Então, num
discurso veemente, Aquele que conhece os corações dos
homens denuncia a maldade e a hipocrisia desta classe
que tinha responsabilidade diante do povo. Dando uma
piedosa aparência aos olhos dos homens, esses escribas
e fariseus escondiam um estado interior de corrupção e
de morte, tal como os sepulcros sobre os quais as pessoas
pisam sem dar-se conta.
Quem jamais ousaria falar desse modo com aquele
que O convidou? Mas, o Senhor Jesus, segundo o
testemunho dos próprios fariseus, era verdadeiro e não
se importava com quem quer que fosse, porque não
olhava a aparência dos homens (Mateus 22:16). Que
exemplo para nós que sabemos cuidar tão bem de nossa
reputação aplicando palavras amáveis (embora sempre
sejam sinceras!). Esta pretensa cortesia, que no fundo é
uma prova de falsidade e de formalismo, é o que o Senhor
Jesus condenava nos fariseus.
Por não terem podido contradizer o Senhor, Seus
adversários buscam surpreendê-LO nalgum a falta.
Algumas expressões do Salmo 119 nos dão a conhecer as
Suas orações enquanto sofria tal oposição (Salmo 119:98,
110, 150...).

141
Lucas 12:1-12

Ainda havia uma outra forma em que a hipocrisia


que caracterizava os fariseus podia se constituir num
perigo para os discípulos: que os seguidores do Senhor
Jesus escondam aos olhos do mundo sua relação com
He. Eis por que o Senhor, na presença do povo, anima
os Seus a confessá-LO abertamente diante dos homens
sem temer as conseqüências. Sabemos que, de fato,
terríveis perseguições esperavam os discípulos e os
cristãos dos primeiros séculos. Com ternura o Senhor
prepara os Seus amigos (v. 4) para esses dias difíceis e
direciona os Seus pensamentos ao Pai celestial. Deus,
que Se preocupa com um pardal de ínfimo valor, não
teria cuidado de Seus filhos que passam por tribulação?
E, ademais, quando eles fossem chamados a testificar,
não deveriam se preocupar, porque o Espírito Santo lhes
ensinaria as coisas que deveriam dizer.
Em nossos dias, na maioria dos países ocidentais, os
crentes não são maltratados nem perseguidos até a morte.
Mas, se são fiéis, serão, sim, odiados e menosprezados
pelo mundo, algo que é sempre duro de suportar. Por
isso estas exortações e as promessas que as acompanham
também valem para nós. Peçamos ao Senhor que nos dê
mais coragem para confessar o Seu precioso nome.

142
Lucas 12:13-31

O Senhor é indagado por alguém da multidão acerca


da divisão de uma herança. Ele aproveita a questão para
demonstrar a raiz de todas estas disputas: a avareza.
“Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males”
(1 Timóteo 6:10). A parábola do homem rico e seus
celeiros, sempre muito pequenos para ele, ilustra a paixão
de amontoar os bens materiais. O afã de encher os bolsos,
armazenar, calcular e fazer projetos antecipados, pode
levar o nome de providência. Pois bem, mas tal atitude,
pelo contrário, revela uma extrema falta de providência,
pois significa descuidar e perder o que temos de mais
precioso:... a nossa alma! O homem rico, em sua loucura,
cria que estava satisfazendo a sua alma ao oferecer a si
mesmo “muitos bens” (v. 19). Mas a alma imortal
necessita de um outro tipo de alimento. Sim, “insensato”
é o nome que Deus atribui a esse homem; “e no seu fim
será insensato” (Jeremias 17:11b). Sobre quantos
túmulos se poderia escrever um tal epitáfio? (Salmo 52:7).
Em contrapartida, o Senhor Jesus ensina aos Seus
que a verdadeira provisão consiste em colocar sua
confiança em Deus. Toda ansiedade quanto a nossas
necessidades diárias sucumbe quando se leva em conta
esta verdade: “Vosso Pai sabe que necessitais delas”
(v. 30). Se buscamos primeiro o Seu reino e os Seus
interesses, Ele se encarregará inteiramente dos nossos.
(Provérbios 23:4)

143
Lucas 12:32-48

O homem rico da parábola havia entesourado


riquezas para si mesmo (v. 21) e no seu fim perdeu tudo,
até sua alma. Agora o Senhor revela a Seus discípulos
como eles podem fazer para si tesouros duradouros e
livres de quaisquer riscos: Dar esmolas e repartir os seus
bens, este é um seguro investimento no “Banco do Céu”
(V. 33; compare 18:22). O coração certamente se atará a
este tesouro celestial e por isso esperará com mais ardor
pela vinda do Senhor (ler 1 Pedro 1:4). O Senhor Jesus
está por voltar. Esta esperança tem alguma conseqüência
prática em nosso viver diário? Que agora já possamos
nos desvencilhar de um mundo que vamos deixar para
trás; tornemo-nos puros “assim como ele é puro” (1 João
3:3). Estamos preenchidos do zelo pelo serviço a favor
das almas? Temos alegria nisso? Pensemos também na
alegria de nosso amado Salvador, que terá satisfeito o
Seu amante coração! Na festa das bodas, Ele terá grande
prazer em receber e servir aqueles que O serviram e por
Ele esperaram na Terra (v. 37). O “mordomo fiel e
prudente” receberá então a sua recompensa, e o servo
que não fez segundo a vontade de seu Mestre — mesmo
conhecendo-a (V. 47; Tiago 4:17) — receberá Seu solene
castigo. “Àquele a quem muito foi dado...” — que cada
um de nós possa avaliar o montante que recebeu e que
isso nos induza a uma conclusão!

144
Lucas 12:49-59; 13:1-5

Até o batismo de Sua morte, o Senhor Jesus está


angustiado. A cruz é necessária para expressar plenamente
Seu amor e para que esse amor possa tocar os corações dos
homens.
Sua vinda requer das pessoas uma decisão. No seio das
famílias— cujos membros se achavam unidos na impiedade
— He será recebido por alguns, contudo rejeitado por outros.
Quantos lares são semelhantes ao mencionado aqui!
(v. 52-53).
Depois, o Senhor se dirige uma vez mais aos judeus
“hipócritas”... em verdadeiro amor pelas almas deles
(v. 56). Não estranhemos a dureza com que Suas palavras
às vezes se revestem. Está em concordância com a própria
dureza do coração do homem. E necessário um martelo de
ferro para quebrar a pedra (Jeremias 23:29).
Israel havia atraído sobre si a ira de Deus, O qual veio
a se tomar seu “adversário” (v. 58). Mas Deus agora estava
em Cristo, oferecendo reconciliação a Seu povo; porém este
se recusou a aceitá-la e a discernir os sinais anundadores do
juízo (v. 56). Deus ainda hoje oferece a reconciliação a todo
homem, antes que chegue o momento em que He somente
poderá agir como implacável Juiz (2 Cormtios 5:19).
No capítulo 13:1-5, o Senhor Jesus mendona dois
recentes e solenes acontecimentos e Se serve deles para
exortar os Seus ouvintes ao arrependimento. Que nós
também estejamos prontos para aproveitar as oportunidades
que se dão para admoestar os que se encontram em nossa
volta: “Reconciliai-vos com Deus”! (2 Cormtios 5:20b).
145
Lucas 13:6-21

A história de Israel, representada por esta figueira


estéril, é também a mesma de toda a humanidade. Deus
tentou todos os meios para conseguir algo bom de Sua
criatura. Mas o homem na carne, a despeito de suas
pretensões religiosas (a bela folhagem), é incapaz de trazer
o menor fruto para Deus. Ele está ocupando inutilmente
a Terra e deve ser julgado. O paciente trabalho de Cristo
em meio de Seu povo era a tentativa suprema do divino
“Viticultor” para obter o fruto.
O Senhor Jesus dá continuidade ao Seu ministério
de graça e cura uma pobre mulher enferma. Ele sabia há
quanto tempo ela vinha cativa por esta prova (v. 16). Este
milagre, que de novo é realizado no dia de sábado, serve
de pretexto para Seus adversários hipócritas. Mas Sua
resposta envergonha-os a todos e lhes faz lembrar do
amor que deviam a uma irmã, uma filha de Abraão.
As duas curtas parábolas que seguem então
descrevem o desenvolvimento grandioso e visível que
teria a cristandade aqui na Terra, sendo impregnada
interiormente pelo fermento das falsas doutrinas e tomada
por hom ens cheios de cobiça (as aves do céu são
caracterizadas por sua voracidade). A grande árvore da
cristandade terá, no fim, a mesma sorte que a figueira de
Israel (v. 9).

146
Lucas 13:22-35

Nunca vemos o Senhor satisfazendo a curiosidade


dos homens. Quando Lhe é perguntado se são poucos os
escolhidos, Ele faz disso uma oportunidade para falar à
consciência deles, como se dissesse a cada um: “Não se
preocupe com os outros; trate que você seja contado
entre os escolhidos”. E verdade, a porta é estreita, mas o
reino é grande o suficiente para acolher todos os que
desejam entrar nele. E se você não quer valer-se dessa
porta estreita (v. 24), mais tarde somente encontrará uma
porta fechada (v. 25). Haverá uma advertência mais
solene do que essas batidas numa porta fechada, os vão
gritos e a terrível resposta: “Não sei donde sois”!? Alguns
dirão: “Deve ter sido um engano. Os meus pais foram
cristãos, fui regularmente às reuniões, e eu li a minha
Bíblia e cantei os hinos”. Mas o Senhor só receberá no
céu os que aqui na Terra O tiverem acolhido no coração.
Essas severas palavras o Senhor Jesus dirigiu
especialmente à nação de Israel. Enquanto Herodes, esta
cruel e astuta “raposa”, estava causando uma devastação
no “ninho” de Israel, o verdadeiro Rei buscava ajuntá-los
(v. 34). Mas eles não quiseram nada com Ele, nem com
a Sua graça, e agora o Senhor da glória, abandonando a
Sua casa, os Seus que não O receberam (v. 35; João
1:11), prossegue a Sua marcha até à cruz.

147
Lucas 14:1-14

Novamente encontramos o Senhor na casa de um


fariseu. Desta vez a má fé deles é escancarada. Eles
estavam de espreita (v. 1) com a intenção de pegá-LO
nalguma falta sobre a questão do sábado. Mas o Senhor
Jesus cura o homem hidrópico e, tal como no capítulo
13:15, fecha a boca de Seus adversários. Depois veio a
Sua vez de observá-los (v. 7). Seus olhos, dos quais nada
escapa, consideram os que buscam os melhores lugares
na mesa. 0 mesmo se passa no mundo de hoje: o que
vale é ganhar as maiores honras ou os melhores bocados.
Mas para nós, os cristãos, o último lugar será sempre
onde estaremos mais contentes — pois é aí onde iremos
encontrar o S enhor Jesus! N ão precisam os ter a
curiosidade de saber que lugar o Senhor ocupou quando
fez essas observações, pois parece que o fariseu não teve
a intenção de oferecer-Lhe um lugar de distinção.
Se o Senhor Jesus tem uma lição para ensinar aos
convidados, também tem uma para o dono da casa. Aos
convidados Ele tinha ensinado qual o lugar que deveríam
escolher; ao anfitrião ensina com o escolher seus
convidados. O Senhor quer que sempre examinemos a
motivação que está por detrás de nossas ações. E a
esperança de obter vantagens ou ser considerado por
outros? Ou seria o amor que se satisfaz na devoção por
Ele?
Espera-se, realmente, para ver um campo somente
depois de tê-lo comprado?

148
Lucas 14:15-35

Quem, dentre os convidados à grande ceia, deu a


desculpa mais esfarrapada? E costume vermos um campo
somente depois de já termos fechado o negócio, ou
compramos um a junta de bois sem experimentá-la
primeiro? O homem que recém casou deveria também
levar consigo a esposa à festa. Ao rejeitar o convite, eles
não só perdem a festa, como também ofendem o anfitrião.
Para a grande ceia de Sua graça, Deus convidou
primeiro o povo judeu e, depois que estes rejeitaram,
convidou a todos os que não podem esconder o seu
estado de pobreza, enfermidade e miséria. Tais são as
criaturas que encherão o Seu céu (compare v. 21 com v.
13). E continua havendo lugares vazios — talvez o seu,
caso você ainda não a tenha ocupado.
O ensino do versículo 26 é simplesmente que tudo
que nos impede de nos tomarmos discípulos de Cristo,
ainda que sejam os próprios pais, deve ser aborrecido.
Primeiro devemos ir a Ele (v. 26); o segundo passo é ir
após Ele (v. 27). Mas o inimigo é poderoso. Seria tolice
optar por esse caminho sem antes calcular as despesas.
Estas são altas, pois implicam em renunciar a tudo que se
tem (v. 33). Quando se toma a cruz, não se pode levar
outros fardos. Mas o ganho é incomparavelmente maior:
É o próprio Cristo! (Filipenses 3:8).

149
Lucas 15:1-10

As três parábolas deste capítulo formam um conjunto


m aravilhoso. A condição do pecador nos é aqui
apresentada sob três aspectos: O da ovelha, o da dracma
e o do filho, todos os três perdidos. A salvação que o
amor de Deus providenciou foi operada pelo Filho (o
bom Pastor), pelo Espírito Santo (a mulher diligente) e
pelo Pai.
O bom Pastor não somente busca a Sua ovelha “até
encontrá-la” (v. 4; compare v. 8), mas logo também a
põe sobre seus próprios ombros com o fim de levá-la para
casa.
Semelhante à dracma (a qual traz a efígie do soberano
— o governo que a emitiu), o homem é feito à imagem
de Quem o criou. Mas tem algum valor estando perdida?
Foi então que o Espírito Santo, acendendo “a candeia”,
coloca-se a procurá-la diligentemente até encontrá-la (do
mesmo modo que a nós) no meio das trevas e do pó.
Cada parábola menciona a alegria do legítimo dono,
uma alegria que deseja compartilhar com outros. O júbilo
de Deus encontra seu eco nos anjos. Ouvimos a estes
rejubilar no momento da criação (Jó 38:7) e depois louvar
quando do nascimento do Salvador (2:13). Assim, de
igual modo, sabemos que o júbilo enche o céu “por um
pecador que se arrepende”. Tão grande é o valor de uma
alma aos olhos do Deus de amor!

150
Lucas 15:11-32

A parábola do filho pródigo nos apresenta um rapaz


que considera seu pai um empecilho à sua felicidade e
que parte para longe de sua presença, a consumir
dissolutamente tudo o que havia recebido dele. Logo o
vemos numa terra distante reduzido à pior desgraça, à
absoluta miséria. Cada um de nós já enxergou a sua
própria história nesta parábola? Queira Deus que a nossa
acabe da mesma maneira! Sob o peso de sua miséria, o
pródigo cai em si, lembra-se dos recursos da casa paterna,
levanta-se e toma o caminho de regresso ao lar... Na
parte final, vemos o pai saindo apressadamente ao
encontro do filho, seus braços abertos, seus beijos, a
confissão do filho e o pleno perdão do pai, que troca os
seus farrapos pela melhor roupa.
Querido amigo, se você reconhece a sua miséria
moral, este quadro mostra o que o coração de Deus deseja
fazer por você. Não tema ir a He. Você será recebido
como o foi esse filho.
O pai infelizmente não pôde compartilhar o seu gozo
com todos. O irmão mais velho, que não teria hesitado
em fazer banquetes com seus amigos enquanto seu irmão
se encontrava perdido, recusa tomar parte na festa. Esta
é uma figura do povo judeu, arraigado em seu legalismo,
mas também é figura de todos os que confiam em sua
própria justiça e que fecham seu coração à graça de Deus.

151
Lucas 16:1-13

Quão estranho é este homem rico que aprova o seu


adm inistrador infiel! Q uão estranha é tam bém a
conclusão do Senhor: “Das riquezas de origem iníqua
fazei amigos” (v. 9)! Mas esta última palavra nos dá a
chave da parábola. Nada aqui em baixo pertence ao
homem. As riquezas que alega possuir são, na realidade,
todas de Deus; elas são, pois, riquezas injustas. Posto
sobre a Terra com a missão de administrá-la, o homem
tem se comportado como um ladrão. Para satisfazer suas
iniqüidades, o homem tem usado para seu próprio
benefício aquilo que Deus lhe havia confiado com o fim
de servi-LO. Mas, enquanto ainda tem em mãos os bens
do divino Senhor, ele tem a oportunidade de se
arrepender e, visando o futuro, empregá-los em benefício
dos outros.
O mordomo do capítulo 12:42 era fiel e prudente;
este aqui é infiel; não obstante, ele tam bém age
prudentemente. E esta a qualidade que seu senhor lhe
reconhece. Se as pessoas do m undo m ostram tal
precaução nos seus negócios, não deveriamos nós, que
somos “filhos da luz”, mostrar ainda mais interesse pelas
verdadeiras riquezas? (v. 11; 12:33).
O versículo 13 nos adverte que não temos dois
corações: um coração para Cristo e outro para as riquezas
e as coisas deste mundo. A quem queremos amar e a
quem servir? (1 Reis 18:21).

152
Lucas 16:14-31

O Senhor Jesus dedara a estes fariseus avarentos que


Deus conhece os seus corações e que julga de maneira
diferente que os homens. O versículo 15 estampa a terrível
sentença de Deus sobre os mais elevados projetos para
esta Terra, também o sucesso e a ambição: são uma
“abominação diante de Deus” (v. 15). Quão diferentes
serão as coisas no além! O Senhor nos cita um comovente
exemplo. Este homem rico era realmente um mordomo
infiel. Enquanto o seu próximo jazia à sua porta, ele usava
para si, em seu afã pelo luxo e em seu egoísmo, aquilo
que Deus lhe havia confiado para administrar aqui na
Terra.
Ao fim, contudo, o mesmo sucede ao homem rico
como ao pobre: ambos morreram. Cedo ou tarde a morte
sobrevêm a todos. E esta parábola, contada por Aquele
que não pode mentir, demonstra que a nossa história não
termina na morte. Há ainda um capítulo final, do qual o
Senhor, ao virar a página, permite-nos ler algumas linhas.
O que é que descobrimos da vida após a morte, acerca da
qual muitos homens temem questionar? Há um lugar de
felicidade e um lugar de tormento! Quando se chega ali
é impossível passar de um lugar para outro; será, então,
muito tarde para crer e muito tarde para pregar o
Evangelho. “Eis agora o dia da salvação”! (2 Coríntios
6 :2 ).

153
Lucas 17:1-19

Não é de se admirar que o mundo, onde reina o mal,


esteja cheio de escândalos e de armadilhas. Mas, o fato
de um cristão ser uma pedra de tropeço aos mais fracos
que ele é uma coisa indescritivelmente triste... é também
muito solene para ele.
O Senhor, Aquele que perdoa (cap. 7:48), ensina
aqui como devemos perdoar (v. 3-4). Os apóstolos no
entanto, sentem que, para agir segundo esses princípios
de graça, necessitam de mais fé e pedem ao Senhor por
isso. Em Sua resposta, Ele indica que é necessário ainda
um a outra virtude, a obediência, pois é som ente
conhecendo e cumprindo a vontade de Deus que
podemos contar com Ele. Na verdade, não se pode
separar a fé da obediência, nem esta da humildade.
“Somos servos inúteis” — Esta é a opinião que devemos
ter a respeito de nós mesmos, pois Deus pode trabalhar
sem nós; e caso Ele nos use, é pura graça de Sua parte.
Ainda que nós devamos pensar assim, não é dessa
maneira que o Senhor pensa de nós, visto que nos
considera Seus amigos (compare v. 7, 8; 12:37; João
15:15).
Dez leprosos encontram o Senhor Jesus, elevam as
suas vozes a He e se vão purificados. Somente um, o
samaritano, tem o desejo de agradecer a seu Salvador.
Assim, na grande cristandade, em meio de todos os que
são salvos, somente um pequeno número “volta” para
glorificar a Deus e prestar culto ao Senhor. Você faz parte
desse grupo?
154
Lucas 17:20-37

Contra toda lógica, os fariseus se preocupam com o


tempo quando virá o reino de Deus... enquanto por outro
lado se recusam a reconhecer e receber o Rei que está no
meio deles (v. 21). O reino de Deus, freqüentemente
m encionado no Evangelho de Lucas, é a esfera, o
domínio onde os direitos de Deus são reconhecidos.
C om preende prim eiro o céu, e por esta razão
encontramos também, especialmente em Mateus, a
expressão “o reino dos céus”.
Devia, porém, se estender também a Israel e à Terra.
Foi quando o Rei, com o propósito de colocar os Seus
súditos à prova, veio entre eles sob um humilde aspecto,
a saber, sem chamar a atenção, (v. 20) e como tal foi
rejeitado. Qual foi o resultado? O reino agora subsiste
somente em sua forma celestial. E verdade que no dado
momento ele será estabelecido sobre a Terra, mas por
meio de juízos repentinos e terríveis. O dilúvio e a súbita
destruição de Sodoma são solenes ilustrações para isso
(quanto mais solenes são as dos v. 27-30 para a nossa
época!). Porém já existe um domínio onde os direitos
morais do Senhor são reconhecidos desde agora: nos
corações dos que pertencem a Ele. Amigo, o seu coração
é um “distrito” do reino de Deus?

155
Lucas 18:1-17

A parábola da viúva e do juiz iníquo nos anima a orar


com perseverança (Romanos 12:12; Colossenses 4:2).
Se até mesmo um homem perverso acaba se comovendo,
quanto mais razão não teria o Deus de amor para intervir
libertando os “seus escolhidos”. As vezes Ele tarda em
fazê-lo, porque o fruto que espera não está maduro; mas
não nos esqueçamos de que Ele a Si mesmo Se obriga a
usar de paciência, pois o Seu amor O levaria a agir mais
depressa (v. 7). Virá um tempo, o da tribulação final,
quando esta passagem terá sua plena aplicação nos
escolhidos do povo judeu.
O fariseu que, cheio de si mesmo, apresenta a Deus
a sua própria justiça, e o publicano, que mantém uma
certa distância por ter profunda consciência de seus
pecados, são, num sentido m oral, os respectivos
descendentes de Caim e Abel, com a diferença de que
Abel tinha a ciência de ter sido justificado. O único título
que nos dá o direito de nos aproximarmos de Deus é o de
pecador. E humilhante para o homem ter que pôr de lado
as suas obras (v. 11) e também seus raciocínios, sabedoria
e experiência. Mas as verdades divinas do reino só podem
ser apreendidas por uma simples fé, ilustrada de forma
tocante na confiança de uma criancinha. Quando o
Senhor vier, achará em nós uma fé assim? (v. 8).

156
Lucas 18:18-34

Na presença deste príncipe do povo, aparentemente


dotado das mais nobres qualidades, qualquer outro a
não ser o Senhor Jesus certamente teria dito: “Eis aqui
alguém que me honrará, um discípulo bom, este vale a
pena de ganhar ao meu lado”. Mas o que Deus vê é o
coração (1 Samuel 16:7), e o Senhor irá agora sondar o
deste homem.
“Que farei?” foi a pergunta. Nesse sentido, o Senhor
Jesus só pode recordá-lo da lei. Mas, que necessidade
teria ele de roubar, se era rico? Por que teria matado ou
dado falso testemunho, não queria ele manter uma boa
reputação? Por que não ter honrado a seus pais? Não lhe
haviam deixado uma ótima herança? Na verdade, ele
infringiu o primeiro mandamento, visto que seu deus era
a sua riqueza (Êxodo 20:3). A tristeza deste homem, que,
humanamente falando, possuía tudo que é necessário
para ser feliz — boa posição social, uma imensa fortuna
e juventude para desfrutá-la — prova aos que invejam
tais vantagens que nenhum a destas coisas pode
proporcionar felicidade. Pelo contrário, se o coração se
apega a essas coisas, elas se tornam obstáculos para obter
a vida etema e seguir o Senhor Jesus. O Senhor estava
para cumprir a obra que nos deu a vida. Meditando em
cada frase dos versículos 32-33, devemos considerar:
“Jesus sofreu isso por mim”.

157
Lucas 18:35-43 e 19:1-10

A visita do Senhor a Jerico foi provavelmente a única


ocasião dada ao cego e a Zaqueu para encontrá-LO.
Apesar dos obstáculos, não perderam a sua oportunidade
(compare 16:16).
Consideremos um pouco este cego. He não podia
ver o Salvador que passava, e, ademais, a multidão
buscava fazê-lo calar; mas ele clamava ainda mais até
que obteve uma resposta à sua fé.
Quanto a Zaqueu, foi a sua pequena estatura e a
mesma multidão que se apertava em volta do Senhor
Jesus que o impediam de vê-LO. Foi então que ele,
correndo para adiantar-se, sobe a uma árvore sem se
preocupar com o que as pessoas dirão. Ele é mais um que
supera as suas dificuldades, e é ricamente recompensado!
Imaginemos a sua surpresa e a sua alegria quando ouve
chamar por seu nome, sendo convidado a descer depressa
para receber o Senhor em sua própria casa.
Querido amigo, o Senhor Jesus está mais uma vez
passando perto de você, oferecendo-lhe salvação (v. 9).
Não se deixe deter por suas limitações, nem pelas formas
de uma falsa religião que, como esta multidão, lhe
impediría de ver “Jesus tal como é”, nem tampouco por
temer a opinião dos outros. O Mestre está lhe chamando
pelo seu nome, “Pois me convém ficar hoje” em seu
coração. Você irá deixá-LO passar?

158
Lucas 19:11-28

Esta parábola nos apresenta ao mesmo tempo a


rejeição d o S en h o r Jesus com o Rei (v. l4 ) e a
responsabilidade dos Seus durante o tempo de Sua
ausência. Na parábola dos “talentos”, em Mateus 25,
cada servo recebeu uma soma diferente segundo a
soberana vontade de seu senhor, mas a recompensa pela
fidelidade era a mesma. Nesta parábola, pelo contrário,
foi confiada uma mina a cada servo enquanto que a
recompensa é proporcional à sua atividade. A cada crente
Deus dá a mesma salvação, a mesma Palavra, o mesmo
Espírito, sem falar dos variados dons dispensados a cada
um. Contudo, nem todos têm o mesmo zelo em aplicar
essas bênçãos para a glória de seu Mestre ausente. Pois o
segredo do serviço é o amor por Aquele a que servimos.
Quanto maior o amor, maior será a dedicação. O terceiro
servo considerava seu senhor rigoroso e injusto, por isso
o odiava e não trabalhou para ele. Este servo representa
todos os que apenas levam o nome de cristãos, dos quais
Deus tirará aquilo que aparentam ter (v. 26).
Pode infelizmente ocorrer que até m esm o os
verdadeiros filhos de Deus aceitem os dons e se neguem
a se dedicar ao serviço. Frustram assim os desejos do
Senhor e, por fim, privam-se a si mesmos do fruto que He
gostaria de ter gozado junto com eles.

159
Lucas 19:29-48

A jornada do Senhor está se aproximando de seu


fim: Jerusalém, a cidade à qual se dirigia com firme
propósito, já desde o capítulo 9:51, sabendo o que Lhe
esperava ali. No entanto, por um breve momento, os
discípulos pensaram que o Seu reino estaria por começar
(compare com v. 11). O Senhor Jesus mostra Sua
soberania reivindicando o jumentinho (aliás, não há em
nossas vidas muitas coisas a respeito das quais também
poderia ser dito que “o Senhor precisa” delas? — v. 34).
Aclamado pela multidão e por Seus discípulos, o Rei faz
a Sua entrada triunfal na cidade — um cumprimento
cabal de Zacarias 9:9. Mas, em contraste com esta alegria,
os fariseus mostram a sua indiferença hostil (v. 39). Em
figura, até se poderia dizer que as pedras seriam mais
acessíveis à ação do poder de Deus do que o coração
endurecido do desgraçado povo judeu. Ao ver a cidade,
o Senhor Jesus chora sobre ela. Ele sabia quais seriam as
trágicas conseqüências de sua cegueira. Ele antevê como
as legiões de Tito, quarenta anos mais tarde, assediam a
cidade culpada (Isaías 29:3-6). Cenas indescritíveis de
massacre e destruição passam diante de Seus olhos!
Depois, entrando no templo, Ele considera com
grande pesar o comércio que o enche, e, com santo zelo,
o faz cessar (compare com Ezequiel 8:6).

160
Lucas 20:1-18

Se esses fariseus estivessem presentes quando João


batizou o Senhor Jesus, não teriam necessidade de
perguntar ao Senhor com que autoridade He fazia “estas
cousas” (vide 7:30). Ali Deus solenemente declarou ser
Jesus Seu Filho amado, e O revestiu com poder para
realizar Seu ministério (3:22). Além disso, tudo o que o
Senhor fazia e dizia não deixava evidente que era o Pai
que Lhe havia enviado? (João 12:49-50).
O Senhor ainda dá a esses homens de má fé uma
oportunidade de se reconhecerem na parábola dos
lavradores maus. Recusando dar a Deus o fruto da
obediência, Israel desprezou, maltratou e algumas vezes
m atou os Seus m ensageiros e os Seus profetas
(2 Crônicas 36:16). E quando em amor Deus lhes deu o
Seu próprio Filho, não hesitaram em lançá-LO “fora da
vinha” e matá-LO. Mas o Senhor enumera as terríveis
conseqüências deste último crime: Deus fará este povo
iníquo perecer. Confiará a outros (tomados de entre as
nações) a responsabilidade de produzir fruto para He.
Finalmente, se por um lado não iria restar pedra sobre
pedra no templo terrestre (19:44; 21:5-6), pelo outro
Cristo, “a ped ra que os construtores rejeitaram ”,
tornar-Se-ia, na Sua ressurreição, o precioso fundamento
de uma casa espiritual e celestial, a qual é a Igreja
(1 Pedro 2:4).

161
Lucas 20:1 9-40

À traiçoeira pergunta desses “agentes secretos” o


Senhor Jesus responde, como de costume, falando às
suas consciências. Devemos dar a cada um o que lhe é
devido, e, acima de tudo, obediência e honra a Deus
(Romanos 13:7).
Quanto aos saduceus, o Senhor lhes prova a realidade
da ressurreição simplesmente pela menção do título que
Deus dá a Si mesmo: “O Deus de Abraão, o Deus de
Isaque e o Deus de Jacó” (v. 37; Êxodo 3:6). Quando o
Senhor falou dessa maneira a Moisés, já fazia muito tempo
que esses patriarcas haviam deixado a Terra. Contudo,
Ele continuou declarando ser o “Deus deles”. Para Ele,
portanto, suas almas ainda estavam vivas e haveríam de
ressuscitar. Esses homens de fé tinham colocado o olhar
nas “coisas prometidas” para além da vida presente e
mostraram que as esperavam com certeza. “Por isso” —
enfatiza o escritor — “Deus não se envergonha deles, de
ser chamado o seu Deus” (Hebreus 11:13-16).
Crentes, também nós nos dediquemos a mostrar aos
que estão ao nosso derredor que temos uma esperança
viva!
Os fariseus e os saduceus são típicos representantes
de duas tendências religiosas que em todos os tempos
estiveram presentes: de um lado, o formalismo legalista
(o apego às tradições), e, do outro, o racionalismo (ou o
modernismo) que lança dúvida à Palavra de Deus e às
suas verdades fundamentais.

162
Lucas 20:41-47 e 21:1-9

O Senhor Jesus tratou com os ricos e os pobres, com


os instruídos e os ignorantes, com os lisonjeiros e os
opositores. Em Sua perfeita sabedoria, Ele discerne os
motivos e os sentimentos de todos, e ante cada um toma
uma atitude que convém ao seu estado espiritual. He
denuncia a vaidade e a avareza dos líderes do povo e
previne os que poderíam ser enganados por eles. Ele vê
como as viúvas acabam sendo as presas da ganância dos
escribas; e por isso sublinha a oferta de uma dentre as
mais pobres. Ao colocar seus últimos recursos no
gazofilácio, ela deposita toda a sua confiança em Deus,
mostrando que depende unicamente d’Ele (1 Timóteo
5:5; 2 Coríntios 8:1-5). O Senhor não considera tanto o
que cada um dá, mas o que cada um guarda para si. He
não conta da mesma maneira que nós (v. 3) e isto é um
alento p a ra todos os que não podem dar m uito
(2 Coríntios 8:12). Quantas “moedas” serão fortunas no
tesouro celestial! (Compare 12:13 e 18:22).
Alguns se encantam pelas belas pedras e ornamentos
do templo. Mas aqui também o Senhor Jesus julga de
modo diferente. Ele conhece o interior do templo e o
compara a uma cova de ladrões (19:46). Declara-lhes
então qual será a sorte dessas coisas que o homem tanto
considera e admira (v. 6).

163
Lucas 21:10-24

Já no capítulo 17, o Senhor Jesus havia prevenido os


Seus discípulos dos repentinos castigos que sobreviríam
a Israel e ao mundo por terem-No rejeitado. Porém,
mesmo dentre um povo sobre o qual já foi proferida a
sentença do juízo, o Senhor sempre soube distinguir os
que pertencem a Ele. Como no capítulo 12, Ele de
antemão lhes adverte e lhes anima acerca desses tempos
difíceis (compare v. 14-15 com 12:11-12). “E na vossa
perseverança que ganhareis as vossas almas” (v. 19). Esta
exortação vale para todos nós. “Sede, pois, irmãos,
pacientes... ”, recomenda Tiago, “pois a vinda do Senhor
está próxima” (Tiago 5:7-8). Deus é paciente (18:7) e
deseja que Seus filhos manifestem este mesmo caráter.
Os versículos 20 e 21 cumpriram-se ao pé da letra
antes da destruição de Jerusalém pelos romanos no ano
70 d.C. H avendo ocupado pela primeira vez suas
posições ao redor das muralhas, os exércitos agressores
levantaram o cerco sem nenhum a razão aparente e
m archaram em direção ao norte. Daí os cristãos,
recordando-se das palavras do Senhor, aproveitaram este
tempo de trégua para abandonar a cidade, antes que as
legiões romanas voltassem a atacá-la. O versículo 24
corresponde ao período que se seguiu, o qual dura já
quase dois mil anos.

164
Lucas 21:25-38

A partir do versículo 25, os sinais anunciados se


referem aos eventos futuros. Serão tempos terríveis. As
coisas mais estáveis sofrerão uma reviravolta e as almas
dos homens ficarão conturbadas. Aliás, já hoje o medo
paira sobre o mundo. Os homens tentarão escapar
escondendo-se em refúgios (Apocalipse 6:15). Mas para
os fiéis daquele tempo, a salvação (chamada de “a vossa
redenção” no v. 28) virá do alto; esta será a vinda do
Senhor em glória. Porém, o que nós, os crentes de hoje,
esperamos, é a Sua vinda entre as nuvens — uma
promessa certa! Sim, porque passará o céu e a Terra, mas
as Suas palavras não passarão (v. 33)
G eralm ente as pesso as não consideram a
glutonaria um grave p ecad o . C ontudo, ela está
m encionada aqui junto com a embriaguez, porque
contribui para deixar o coração inerte (v. 34). Ela
fomenta o egoísmo; faz esquecer as necessidades que
nos rodeiam (16:19). A alegre espera pela vinda do
Senhor desaparece num coração assim amortecido (v.
34); as preocupações deste mundo o invadem. Por esta
razão, as exortações para vigiarmos e para sermos sóbrios
são, com freqüência, mencionadas em conjunto nas
epístolas (1 Tessalonicenses 5:6-7; 1 Pedro 1:13; 4:7;
5:8); e aqui é o Senhor Quem nos adverte: “Acautelai-vos
por vós mesmos... Vigiai, pois, a todo tempo, orando”
(v. 34-36).

165
Lucas 22:1-23

Os líderes do povo tinham dificuldades em realizar os


seus desejos criminosos, porque sabiam que “todo o
povo, ao ouvi-lo, ficava dominado por ele”, O Senhor
Jesus (19:48). Mas Satanás vem ao auxílio deles. Ele
preparou o seu instrumento, Judas; e agora entra nele,
assum indo o controle da vontade desse miserável
discípulo. E Judas não demora para levar adiante a sua
terrível transação.
Quando se trata de celebrar a Páscoa — que hoje
corresponde ao partir do pão (à Ceia) — nada é deixado
à iniciativa dos discípulos. O Senhor Jesus pede-lhes que
a preparem, mas Ele também espera que peçam Sua
orientação sobre onde ela terá lugar. Quantos cristãos,
em vez de fazerem esta pergunta ao Senhor, escolhem
por si mesmos o lugar de reunião! Não obstante, tudo é
muito simples! Basta deixarmo-nos ser conduzidos por
este homem que leva o cântaro de água, figura do Espírito
Santo apresentando a Palavra (na Bíblia a água muitas
vezes simboliza a Palavra de Deus). O espaçoso cenáculo
mobiliado sugere que ali onde o Senhor Jesus está
presente, há lugar para todos os crentes. “Tenho desejado
ansiosamente...” disse He aos Seus quando chegada a
hora. Que amor! O Senhor fala não de um favor que lhes
faz, mas sim de uma necessidade de Seu próprio coração,
como quem, tendo de deixar a sua família, deseja ter
ainda com ela uma reunião de despedida.

166
Lucas 22:24-38

Esta é a última conversa do Mestre com os Seus


discípulos. Mas o que eles fazem durante este santo
momento? Disputam sobre qual deles será estimado o
maior! Com que paciência e doçura o Senhor lhes
repreende! Pela última vez recorda-lhes (e a nós também)
que a verdadeira grandeza consiste em servir aos demais.
Isto é o que Ele mesmo nunca deixou de fazer (compare
com v. 27; 12:37). Mas Ele não lhes dirige palavras de
censura, pelo contrário, expressa o Seu reconhecimento
à devoção e fidelidade deles: “Vós sois os que tendes
permanecido comigo nas minhas tentações”— disse-lhes.
Contudo, outras tentações ainda sobreviríam a esses
fracos discípulos, colocando em perigo a sua fé. Por causa
disso o Senhor Jesus revela a maneira que Ele desde
agora passaria a servir aos Seus: Sua intercessão
precederá as provas de sua fé e os sustentará quando
estiverem passando por elas (João 17:9, 11, 15).
Enquanto estava com eles, não tiveram necessidade de
nada; Ele cuidava de tudo e os protegia. Agora que vai
deixá-los, terão de lutar por si próprios, mas não com
armas carnais (v. 38; 2 Coríntios 10:4) nem “contra o
sangueeacam e” (Efésios6:12). E nesta hora que Satanás
se aproxima — ele é um inimigo muito mais temível
(1 Pedro 5:8)

167
Lucas 22:39-53

Este solene relato da cena no Getsêmani contém


detalhes que só Lucas dá. Aqui nós vemos que o Senhor
Jesus se ajoelha (v. 41); e que um anjo Lhe aparece do
céu para fortalecê-LO (v. 43). A angústia deve-se ao
cerrado combate em que estava engajado, e sabemos
qual inimigo Ele haveria de enfrentar. O conflito é tão
intenso que em certo momento Seu suor passa a ser como
gotas de sangue! Mas até m esm o a angústia
demonstra-nos a perfeição d’Ele, pois o mal muitas vezes
nem impressiona os nossos endurecidos corações,
enquanto, para este Homem perfeito, o pensamento de
carregar o pecado Lhe enchia de horror e terror.
Depois o Senhor Jesus foi ter com os Seus discípulos,
os quais acabaram dorm indo. Tal com o estavam
carregados de sono no monte da transfiguração, na
presença de Sua glória (9:32), assim também aqui diante
de Seu sofrimento. Ele lhes havia ensinado a pedir: “Não
nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal” (11:4;
Mateus 6:13). Se ao menos tivessem orado assim nesta
hora em que o inimigo se aproximava!
Agora Judas aparece com a multidão. E maravilhoso
ver o Senhor Jesus, que momentos antes havia passado
pelo mais terrível dos combates, m ostrando agora
paciência, graça e uma perfeita calma a esses homens.

168
Lucas 22:54-71

Pobre Pedro! Enquanto o Senhor Jesus orava, ele


dormia; enquanto Ele permitia que O prendesse como
um “manso cordeiro, que é levado ao m atadouro”
(Jeremias 11:19; Isaías 53:7), Pedro saca a espada ferindo
o servo do sumo sacerdote (v. 50; João 18:10). Por fim,
enquanto o Senhor testemunhava a verdade diante dos
homens, ele por três vezes mentiu e O negou! Assentou-se
no pátio entre os que acabavam de prender o seu Mestre
e agora falavam contra Ele (Salmo 69:12; Salmo 1:1b).
Como ele podería testemunhar para o Senhor Jesus nesta
condição?
Um simples olhar do Senhor quebra o coração do
pobre discípulo e o atinge mais profundamente do que
qualquer repreensão. Oh, que olhar! Penetra sua
consciência e começa ali uma obra de restauração. Esta
negação, tão dolorosa para o Senhor, vem somar-se a
todos os escárnios que sofreu (v. 63-65).
Os homens perversos, diante dos quais Ele está agora,
são obrigados a reconhecer por si mesmos, que “o Filho
do homem” (v. 69) é ao mesmo tempo “o Filho de Deus”
(v. 70). Eis por que o Senhor Jesus pôde responder-lhes:
“Vós dizeis que eu sou”. E por isso também que eles são
infinitamente mais culpáveis por tê-LO condenado depois
de tais palavras!

169
Lucas 23:1-12

Foi fácil manifestar oposição contra o Senhor Jesus.


Os principais do povo levantaram-se unânimes para
conduzi-LO a Pilatos, o único que tem o poder de
condenar à morte. De que acusam o seu prisioneiro? De
perverter a nação, de conduzi-la ao mal — Ele que só
havia trabalhado para reconduzir o coração do povo a
Deus. Acusam-No de proibir dar tributos a César, quando
Ele na realidade lhes havia dito o contrário: “Dai, pois, a
César o que é de César...” (20:25). Mas essas mentiras
não têm sobre Pilatos o efeito que os judeus esperavam.
Em seu embaraço, o governador busca um recurso para
livrar-se de sua responsabilidade. Faz com que O levem
a Herodes, que tem para com o Senhor uma mistura de
temor (9:7), ódio (13:31) e curiosidade (v. 8). Mas como
esta curiosidade não havia sido satisfeita, toda a baixeza
moral deste homem que ocupa um importante cargo no
governo vem à luz: se compraz em hum ilhar um
prisioneiro indefeso, embora tivesse ouvido falar de Seus
milagres de amor! Daí, decepcionado, envia-0 de volta
a Pilatos.
Ao contemplá-LO tão maltratado, vituperado e
menosprezado, o nosso coração se regozija ao pensar no
momento em que Ele aparecerá em Sua glória e quando
cada um terá de reconhecer que He é Senhor, para a
glória de Deus, o Pai (Isaías 53:3; Filipenses 2:11).

170
Lucas 23:13-32

Mais embaraçado do que nunca, Pilatos reúne os


principais sacerdotes, as autoridades e o povo e
afirma-lhes três vezes que nada verificou contra Ele para
que seja digno de morte. Mas seu desejo de libertá-LO só
faz aumentar a insistência do povo para exigir a Sua
crucificação. Uma multidão é facilmente induzida a ser
covarde e cruel, porque sob a cobertura do anonimato
pode dar livre curso aos instintos mais baixos. Neste caso,
ela é tanto mais cruel, pois são os seus próprios líderes
que a estão instigando. Finalm ente os seus gritos
prevalecem e, em troca da liberdade do homicida
Barrabás, faz com que Jesus seja entregue “à vontade
deles” (v. 25). Para Pilatos, homem sem escrúpulos, uma
vida humana tem menos valor do que o favor do povo.
Entre os que acompanharam ao inocente que foi
condenado, muitos foram acometidos de compaixão e
choraram. Mas a emoção não é uma prova da obra de
Deus em um coração; pois, do contrário, essas mulheres
teriam de chorar sobre si mesmas e sobre a perversa
cidade, como fez o Senhor Jesus no capítulo 19, versículo
41. Muitas pessoas são tocadas sentimentalmente pela
bondade do Senhor, indignadas pela injustiça da qual
He foi objeto. Mas elas não consideram que, devido aos
seus próprios pecados, carregam tam bém um a
responsabilidade pessoal por Sua morte (Isaías 53:6).

171
Lucas 23:33-49

O Senhor Jesus é levado ao sinistro lugar chamado


Caveira, onde é crucificado entre dois malfeitores. “Pai,
perdoa-lhes...”. Esta é a Sua sublime resposta a todo o
mal que os homens Lhe fazem (compare com 6:27). Se
eles se arrependessem, o seu crime — o maior da história
da humanidade — seria expiado pela Sua própria morte.
Na cruz onde todos estão presentes, desde as
autoridades (v. 35) até o malfeitor (v. 39), revela-se
descaradamente toda a maldade do coração humano:
olhares cínicos, provocações, injúrias, grosserias... mas é
ali que surge um maravilho diálogo entre o Salvador
crucificado e o outro malfeitor que está convencido de
seu pecado (v. 41). Iluminado por Deus, ele discerne no
Homem maltratado, coroado com espinhos, que vai
morrer ao seu lado, uma vítima santa, um Rei glorioso (v.
42). E recebe uma promessa de valor inestimável (v. 43).
Assim, na própria cruz, o Senhor já pôde gozar do primeiro
fruto do terrível trabalho de Sua alma.
Depois das três últimas horas de trevas impenetráveis,
o Senhor Jesus reata com Deus a comunhão interrompida
durante o abandono que acaba de atravessar. E em plena
serenidade Ele entrega Seu espírito nas mãos de Seu Pai.
A morte do Justo é para Deus a oportunidade de dar um
último testemunho por meio do centurião romano (v.
47).

172
Lucas 23:50-56 e 24:1-12

A intervenção de José de Arimatéia mostra-nos que


a graça havia alcançado este homem, um dos ricos dos
quais repetidas vezes é feito menção no Evangelho de
Lucas (18:24; Mateus 27:57) e que também era um dos
principais do povo. Este discípulo fora especialmente
preparado para o serviço que agora realiza: o de sepultar
o corpo do Senhor, segundo Isaías 53:9. Em seguida, o
Espírito apresenta-nos essas m ulheres devotas e
repete-nos que elas acompanharam o Senhor desde a
Galiléia (v. 49, 55). Estiveram presentes no Calvário.
Depois, com mais am or do que entendim ento,
prepararam aromas para ungir o corpo d’Ele. Por último,
na manhã do primeiro dia da semana, vemo-las indo ao
sepulcro, onde ocorre um maravilhoso encontro. Dois
anjos estão ali para lhes anunciar que os preparativos são
desnecessários: Aquele que elas buscam já não está mais
no túmulo; Ele ressuscitou.
A experiência cristã de muitos filhos de Deus não vai
além da cruz. A estranha pergunta do versículo 5 podería
ser feita a eles também: “Por que buscais entre os mortos
ao que vive?” Queridos amigos, alegremo-nos! O Senhor
Jesus não é somente um Salvador que morreu na cruz
pelos nossos pecados. Ele está vivo para todo o sempre
(Apocalipse 1:18), e nós vivemos com He (João 14:19).

173
Lucas 24:13-35

Dois discípulos caminham tristemente pela estrada


que leva a Emaús. Havendo perdido suas esperanças
terrenas de um Messias para Israel, estão agora de regresso
para seus campos e negócios (Marcos 16:12). Mas o
m isterioso estrangeiro que se une a eles m udará
completamente o curso de seus pensamentos. A primeira
coisa que faz é admirar-Se da falta de entendimento e
descrença deles (v. 25). Essas duas coisas freqüentemente
vão juntas. Quão repetidas vezes a nossa ignorância é
proveniente de nossa descrença! (Hebreus 11:3). Daí o
Senhor abre as Escrituras a Seus dois companheiros de
viagem e lhes faz descobrir “o que a seu respeito constava
em todas” elas (v. 27). Não esqueçamos nunca que a
chave para o Antigo Testamento, e especialmente para as
profecias, consiste em buscar ali o Senhor Jesus.
Observemos como o Senhor Se deixa constranger
por estes que d ’Ele precisam: Ele “entrou para ficar” com
os dois discípulos. Que nós também possamos ter esta
experiência! Em particular, quando estamos desanimados
e as circunstâncias têm tom ado um rumo diferente
daquele que esperávamos, aprendamos em Sua presença
a aceitar as coisas como elas são. A “consolação das
Escrituras” fará então que os nossos pensamentos sejam
dirigidos a um Salvador vivo e o resultado é que os nossos
corações arderão dentro de nós (leia Romanos 15:4).

174
Lucas 24:36-53

O Senhor podería ter subido ao céu no momento de


Sua ressurreição. Mas Ele desejava encontrar os seus
queridos discípulos novamente (João 16:22); queria
dar-lhes prova de que não só estava vivo, mas que
permanecia Homem para sempre, o homem Jesus Cristo,
o mesmo que eles haviam conhecido, seguido e servido
aqui na Terra. Queridos amigos crentes, Aquele que nós
veremos no céu não é somente um “espírito”, nem
tampouco um estranho para os nossos corações. Ele é o
Senhor Jesus dos Evangelhos, o Filho do homem, o qual
Lucas nos tem apresentado, o temo Salvador que aqui na
Terra temos aprendido a conhecer e amar.
Por quatro vezes neste capítulo insiste-se que todo o
decreto de Deus havia de cumprir-se nos sofrimentos de
Cristo, mas também em Suas glórias (v. 7,26,44,46).
O Senhor levou os Seus discípulos para Betânia, lugar
que escolheu para despedir-Se dos Seus. Com isso, e
visando o tempo de Sua ausência, ele figurativamente os
estabeleceu sobre um novo terreno “fora” do sistema
judaico, uma nova base, que é a vida nova e a comunhão
(do que Betânia é figura: João 12:1-2).
A última palavra do Senhor é uma promessa (v. 49),
Seu gesto, uma bênção (v. 50). Ele se foi, mas os corações
de Seus discípulos transbordavam de alegria e louvor.
Objetos do mesmo amor, celebremos nós também ao
nosso Deus, ao nosso Pai, e regozijemo-nos em nosso
perfeito Salvador.

175
João 1:1-18

“O Deus unigênito”, dando a conhecer o Pai — tal é


o sumário deste Evangelho (v. 18; vide 1 João 4:9). Já
o primeiro versículo, no qual cada palavra é importante,
no-LO apresenta como o Verbo (ou a Palavra), uma
Pessoa eterna, distinta de Deus e, contudo, ao mesmo
tempo, Deus. Tão longe quanto possamos imaginar
regressar ao tempo, o Verbo já existia (Salmo 90:2). Mas
essa Palavra criadora, única fonte de vida e de luz, não se
dirigiu a nós desde as alturas celestiais, senão que veio ao
Mundo (v. 9), sujeitando-Se aos nossos limites no tempo
e no espaço. E um mistério insondável: o Verbo se fez
carne (v. 14; 1 Timóteo 3:16). O verbo não veio como
um mensageiro repentino que retoma imediatamente
Aquele que O enviou. Ele habitou (literalmente levantou
a sua tenda) entre nós, contudo sem jamais deixar de
estar “no seio do Pai” (v. 18). Tudo o que Deus é em Sua
natureza veio a nós e brilhou nesta maravilhosa Pessoa:
amor e luz (graça para o coração e verdade para a
consciência do pecador). Porém as trevas morais do
homem não entenderam a verdadeira Luz (v. 5). O
Mundo não conheceu o seu Criador e o Seu próprio povo
não receberam o seu Messias (v. 11). E você, leitor, O tem
recebido? Em caso afirmativo, você é então um filho de
Deus (v. 12; Gálatas 3:26).

176
João 1:19-34

Não foi o peso de seus pecados que conduziu os


sacerdotes e os levitas a João Batista, mas antes a
curiosidade e o desejo de formar uma opinião; talvez eles
também sentissem alguma ansiedade. Contudo, suas
perguntas dão a João a oportunidade de entregar a sua
mensagem (Cf. 1 Pedro 3:15). Mas, não é acerca de si
mesmo que ele tem alguma coisa a dizer (v. 22); ele é
somente uma voz. Ele era “um homem enviado por
Deus... para que testificasse a respeito da Luz” (v. 6-8).
Não nos esqueçamos de que todos os redimidos são
chamados a dar testemunho da luz, sobretudo ao andar
“como filhos da luz” (Efésios 5:8). Em si mesmos não são
nada, apenas instrumentos através dos quais Cristo, a
Luz moral do Mundo, deve ser manifestado.
Deus disse de antemão a Seu servo como reconhecer
Aquele que ele era responsável por anunciar. “Eis o
Cordeiro de Deus”, clamou João quando viu o Senhor
Jesus. Deus providenciou para Si mesmo uma santa
Vítima para tirar o pecado do Mundo. Vítima esperada
desde a queda do homem e anunciada pelos profetas
tanto quanto tipificada no Antigo Testamento (Isaías 53;
Êxodo 12:3). Que Vítima! O Cordeiro de Deus não é
outro senão o próprio Filho de Deus (v. 34).

177
João 1:35-51

O que preenche o coração de João com gozo e


convicção é o procedimento do Senhor Jesus (e não
apenas o sinal do alto: v. 32-33). Este sentimento é
contagiante e fala a outros também. Os dois discípulos de
João ouvem o que ele diz e se ajuntam ao Senhor Jesus.
Eles O seguiram e se alegraram em Sua presença, tal
como hoje, segundo a Sua promessa, também podemos
fazer (Mateus 18:20). André nos dá ainda outro exemplo.
Ele leva o “seu próprio irmão, Simão”, ao Senhor Jesus.
Antes de pensarmos em qualquer tipo de atividade para
o Senhor, recordemos os nossos próprios parentes que
ainda não conhecem Jesus. André é um discreto discípulo.
Mas o seu serviço naquele dia veio ter grandes
conseqüências, já que Simão veio a ser o apóstolo Pedro.
Filipe ouve o chamado do Senhor e logo fala a Natanael
sobre esse Nazareno que é o Messias prometido. Mas
nenhum argumento tem o peso desse simples convite:
“Vem, e vê”.
Nesse capítulo vemos alguns dos magníficos nomes e
títulos que exaltam as glórias eternas do Senhor Jesus
Cristo: Verbo, Vida, o Deus unigênito no seio do Pai, o
Cordeiro de Deus, Mestre, Messias ou Cristo, Nazareno,
Filho de Deus, Rei de Israel e Filho do homem.

178
João 2:1-12

O Senhor Jesus foi convidado para um casamento.


Porém, observem que esta cena tem lugar fora da sala
onde aconteceu a festa e nada nos é dito a respeito dos
que casaram. Tudo que sabemos sobre eles é que tiveram
a feliz idéia de convidar Jesus e Seus discípulos para as
bodas. Queridos amigos, estamos aptos a incluir o Senhor
em todas as nossas atividades? Estaria Ele sempre livre
para associar-se às nossas celebrações familiares e às
nossas diversões? Ele é o único que pode nos assegurar
o verdadeiro gozo, do qual o vinho é uma figura na
Palavra de Deus. Contudo, é a água destinada à
purificação que produz esse vinho de gozo. Esse será o
caso com Israel nos tempos da restauração, como é o
caso da Igreja também. Apenas experimentamos o gozo
espiritual conforme a medida em que primeiro praticamos
o auto-juízo.
A atitude do homem é servir “primeiro o bom vinho”
(v. 10). Desde a sua juventude o homem se apressa a
gozar de tudo que a vida pode lhe oferecer, porque, com
os anos, pouco a pouco virão as preocupações, as penas,
o declínio e a morte; por isso o bom vinho é apresentado
primeiro. O Senhor Jesus age diferente. Ele tem reservado
para os Seus eterno gozo, o qual não se compara de
nenhum modo com as vãs felicidades desta Terra. Não
desejemos qualquer outra coisa que isso.

179
João 2:13-25

De Cafarnaum o Senhor Jesus sobe a Jerusalém. A


páscoa dos judeus está próxima. Essa festa já perdera a
característica das “festas fixas do Senhor”, nem de uma
“santa convocação” (Levítico 23:2; Cf. João 7:2). O
templo está cheio de mercadores vendendo os diferentes
animais necessários para os sacrifícios. O Senhor,
indignado com esse vergonhoso comércio, purifica a casa
de Seu Pai (v. 16).
Amigo cristão, o seu corpo é o templo do Espírito
Santo. Se você tem-se permitido ser invadido e ser
dominado por hábitos e pensamentos impuros, deve
deixar que o Senhor coloque tudo em ordem e o
santifique. E interesse dEle que você ame o Seu Pai.
As pessoas de quem se falà nos versículos23-25 criam
em Jesus com as suas mentes, sem que os seus corações
fossem verdadeiramente tocados. Reconheciam o Seu
poder para realizar milagres, mas isso não era fé, e o
Senhor Jesus não se comprometeu com eles. Porque “a
fé vem pela pregação, e a pregação pela palavra de Cristo”
(com pare v. 22 com Rom anos 10:17). O perfeito
conhecimento que o Senhor Jesus tem do coração
humano é uma prova de Sua divindade (v. 25; leia
Jeremias 17:9,10). Mas o Seu amor não se tem esfriado
por isso. Seu motivo para amá-los provém dEle mesmo
e não do amor que o homem Lhe retribui.

180
João 3:1-21

Temeroso, contudo impulsionado pelas necessidades


de sua alma, Nicodemos vai ao encontro dAquele que é
a vida e a luz (1:4, 5). Esse principal dos judeus, esse
eminente mestre em Israel, aprende do divino Mestre
uma verdade tão estranha como humilhante para ele.
Nem as suas qualificações, nem os seus conhecimentos,
nem alguma de suas aptidões humanas lhe dão qualquer
direito ao reino de Deus. Porque da mesma maneira que
entramos no Mundo dos hom ens pelo nascimento
natural, é necessário um outro nascimento para entrar
nesse reino espiritual.
A resposta do Senhor apresenta dois requisitos, dois
imperativos — “importa”. Um aplica-se ao homem:
“Importa-vos nascer de novo”. O outro, a terrível
contraparte disso, diz respeito ao nosso maravilhoso
Salvador: “Assim importa que o Filho do homem seja
levantado”. Jesus Cristo sendo levantado na cruz, visto
por mim com os olhos da fé, salva-me da perdição eterna
(v. 14-15; com pare com N úm eros 21:8-9). Ao
contemplá-LO, aprendo a conhecer o amor de Deus pelo
Mundo (como para mim pessoalmente) e a suprema
prova que He nos tem dado de Seu amor. O Mundo não
será julgado sem antes ter sido amado. A totalidade do
Evangelho está contida nesse maravilhoso versículo 16
— o meio de salvação para inumeráveis pecadores, um
versículo que nunca deve cessar de nos maravilhar.

181
João 3:22-36

Os discípulos de João sentem um pouco de ciúmes


ao ver que seu mestre perde sua importância e uma outra
pessoa vem a ser mais importante (v. 26; 4:1). Com
exceção de dois deles (uma era André), que deixaram
João e seguiram o Senhor Jesus (1:37), esses homens
não haviam entendido o que exatamente era a missão do
precursor. Ele era o amigo do Esposo — aquilo que
provocava descontentamento a seus discípulos, pelo
contrário, o enchia de gozo (v. 29). Tinha gozo em sair de
cena em benefício do Senhor. A sua maravilhosa resposta
deveria ser um lema bem gravado também em cada um
de nossos corações: “Convém que ele cresça e que eu
dim inua” (v. 30). Estas palavras dão a Jo ã o a
oportunidade de exaltar o Senhor Jesus: Ele está acima
de todos os homens, não por causa da autoridade que a
multidão nEle reconheceu, mas sim porque “vem das
alturas” (v. 31). E não vem do alto como um anjo, mas
como sendo o objeto de toda a afeição do Pai, o Seu
herdeiro (Hebreus 1:2).
Tal visita pôs toda a raça humana à prova e a dividiu
em dois grupos: primeiro, aqueles que crêem no Filho —
esses têm vida eterna. Por último, aqueles que não crêem
— que terrível pensamento! —, a ira de Deus permanece
sobre eles. Em qual grupo você se encontra? (vide cap.
20:31).

182
João 4:1-18

Deus não enviou o Seu Filho unigênito somente para


gente respeitável como Nicodemos. Esse maravilhoso
“dom de D eus” (v. 10) tem sido feito disponível
gratuitamente para o mais miserável pecador. Que
quadro temos aqui! Em Sua incompreensível humilhação,
o Filho de Deus está sentado junto ao poço,
verdadeiramente homem, que sente cansaço e sede; e,
contudo, só pensa na salvação do ser que He criou. Uma
mulher se aproxima dHe; veja como o Senhor Jesus trata
de ganhar a sua confiança. Pede-lhe um favor e coloca-Se
a seu nível, abordando assuntos que são do conhecimento
dela. Desesperada por encontrar felicidade, essa mulher
tinha bebido das muitas águas enganosas deste Mundo.
Havia buscado a felicidade com cinco maridos, e sempre
havia voltado a ter sede. Mas o Salvador chama a sua
atenção para a “água viva”, da qual Ele mesmo é a fonte
(vs. 10,13,14; compare com Jeremias 2:13,18; 17:13).
Ela não entendeu a natureza disso; mas essa samaritana
foi movida a perguntar-Lhe como ela poderia receber
esse maravilhoso dom. Antes, é necessário que o Senhor
ponha o dedo sobre o que não está certo na vida dessa
mulher (v. 16-18), pois nenhum homem pode ser feliz a
menos que a luz de Deus tenha penetrado na sua
consciência. No Senhor Jesus, a graça é inseparável da
verdade, (v. 17).

183
João 4:19-38

É uma coisa notável que o primeiro ensino do Senhor


a esta pobre mulher samaritana não diz respeito ao seu
comportamento, mas sim à adoração, a qual é o serviço
maravilhoso de todos os crentes.
Onde, quando e como deve o louvor ser ministrado
ao Senhor? A religião de formas e cerimônias tem sido
colocada de lado; a hora é chegada — e é agora — de
adorar em espírito e em verdade. A quem e por quem
deve a adoração ser rendida? Não mais a Jeová, o Deus
de Israel, mas ao Pai, em conformidade com uma relação
completamente nova entre Deus e homem. Daqui por
diante compete-lhes apresentar esse louvor. Eles são
chamados verdadeiros adoradores. Você que tem sido
procurado por Deus com esse propósito em vista, negará
agora o fruto do trabalho do Senhor?
Assim que ela ouviu isso, abandona o seu cântaro e
se apressa a dizer a todos na cidade sobre a Pessoa que
conheceu. No tocante aos discípulos, eles se mostram
incapazes de entrar nos pensamentos do Mestre. O Senhor
Jesus extrai a Sua força e o gozo da comunhão com o Seu
Pai (v. 34) e das perspectivas que estiveram diante dEle.
He já estava discernindo a colheita futura: a multidão dos
que He ia redimir (v. 35; compare Salmo 126:6).

184
João 4:39-54

Jesus permanece dois dias com esses samaritanos


que, como Ele mesmo, eram desprezados pelos judeus
(vide cap. 8:48). E esse povo creu nele, não apenas por
causa do testem unho da mulher, senão como um
resultado do contato pessoal que tiveram com “o Salvador
do mundo” (v. 42; 1 João 4:14). Querido amigo, não se
contente em conhecer o Senhor através da experiência
que os outros têm dEle. Assegure-se ter com Ele um
encontro pessoal e decisivo.
Em seguida o Senhor Jesus vai à Galiléia. Encontra
ali um oficial do rei que, afligido porque o seu filho está
gravemente enfermo, insiste em que o Mestre vá curá-lo.
Esse homem está longe de ter a grande fé do centurião
romano daquela mesma cidade de Cafamaum, que não
se considerava digno da visita do Senhor e se contentava
com apenas uma palavra para curar o seu servo (Lucas
7:7). O Senhor Jesus começa por dizer a esse preocupado
pai que a fé consiste simplesmente em crer na Sua palavra,
e não tem necessidade de ver qualquer coisa (v. 48;
compare cap. 2:23). Assim, é para provar a esse homem
que o Senhor não desce à sua casa. E o poder da morte
é derrotado pelo poder da vida que veio do alto (1 João
5:12).

185
João 5:1-14

O tan q u e de B etesda (que significa casa da


misericórdia) era uma figura da antiga aliança de Deus
com o povo de Israel. Os enfermos deveríam ter força
para atirar-se na água curadora, e, a fim de terem essa
força, eles teriam que já estar curados! Igualmente a Lei
só pode dar vida à pessoa que pode cumprir as suas
dem andas e ninguém é capaz disso. Alguém pode
perguntar por quê, entre essa multidão de inválidos, de
cegos e de coxos, o Senhor Jesus parece estar interessado
somente nesse paralítico. Isso é porque, para beneficiar-se
de Sua graça, duas condições são necessárias: a pessoa
deve experimentar tanto o desejo como a necessidade.
Estes dois sentimentos são ressaltados pela pergunta do
Senhor: “Queres ser curado?” e a resposta do infortunado:
“Senhor, não tenho ninguém que me ponha no tanque”.
Alguém sempre descia antes dele; toda a sua miserável
vida tem sido uma decepção após outra decepção. Sem
dúvida que ele havia alguma vez contado com a sua
família ou com os seus amigos para ajudá-lo, mas isso foi
há muito tempo atrás. Depois de trinta e oito anos, ele
perdeu suas últimas ilusões. Agora que não tem ninguém
para ajudá-lo, ele pode contar com o Senhor Jesus. Meu
amigo, se você ainda não se converteu, não espere mais
tempo para compreender que só o Senhor Jesus pode te
salvar. Mas, você realmente deseja ser salvo?

186
Joào 5:15-30

O ódio dos judeus dá ao S enhor Jesus um a


oportunidade de manifestar ainda mais algumas de Suas
glórias:
© Sua obra de amor para tirar o pecado do Mundo
(v. 17; 1:29). Confrontado pela ruína de Sua criação, o
Filho, como o Pai, não poderia descansar.
© A infinita afeição do Pai para com Seu Filho, com
o Qual compartilha todos os Seus conselhos (v. 20; 3:25).
(D O poder da vida que está nEle (vs. 21,26), através
do qual dá agora vida eterna aos que crêem em Seu
nome (v. 24). Ele exercitará esse poder num tempo ainda
futuro, para ressuscitar aos mortos (vs. 28, 29).
© O juízo que Lhe tem sido dado na Sua qualidade
de Filho do homem (vs. 22, 27).
® Finalmente, nos versículos 19 e 30, a Sua perfeita
obediência! Que valor tem essa obediência quando
realizada precisamente por Aquele que tem o direito à
obediência de toda criatura! (v. 23). Se o Senhor fala de
Suas próprias glórias, é porque elas estão estreitamente
ligadas com as de Seu Pai. Não honrar o Filho é uma
ofensa para com Aquele que O enviou (v. 23; vide 1 João
2:23).
Diante de todas as perfeições de nosso Salvador, não
nos resta mais, queridos amigos, que nos maravilharmos
(final do v. 20) e adorá-LO.

187
João 5:31-47

O Senhor Jesus contesta a incredulidade dos judeus


ao invocar quatro testemunhos a Seu favor: o de João (v.
32-35), o de Suas próprias obras (v. 36); o de Seu Pai
que, no rio Jordão, chamou atenção para Seu Filho
amado (v. 37) e, finalmente, o das Escrituras (v. 39).
Existem muitas referências ao Messias no livros de Moisés
(v. 46; vide, por exemplo, Gênesis 49:10, 25; Números
24:17). Embora pretendessem reverenciar Moisés, os
judeus não criam em suas palavras, já que recusavam
Aquele a quem ele profetizou (v. 46; Deuteronômio
18:15). Em contraste, estão dispostos a, no futuro, receber
o Anticristo (v. 43).
“Examinais as Escrituras”, recomenda o Senhor
Jesus. E através delas que podemos melhorar o nosso
conhecimento de Sua infinita Pessoa.
R eceber a glória dos hom ens e buscar a sua
aprovação é uma forma de incredulidade (v. 44). Pois
Deus declara que não somos nada (Gálatas 6:3) e que
não há nada em nós de que possamos nos gloriar
(2 Coríntios 10:17). Porém, ao invés de crer nEle, muitas
vezes preferimos nos comprazer no bem que os demais
podem pensar de nós! O Senhor Jesus não buscava
nenhuma glória da parte dos homens (v. 41; compare
Paulo em 1 Tessalonicenses 2:6). E nós deveriamos ser
capazes de imitá-LO, se tivermos em nós o amor de Deus
e o desejo de agradá-LO (compare v. 42).

188
João 6:1-21

As multidões têm seguido o Senhor Jesus. Mas, como


muitos na cristandade, são mais atraídos por Seu poder
que por Sua graça e perfeições morais; porém, uma coisa
não pode ser sep arad a da outra. N esta cena da
multiplicação dos pães, o Senhor uma vez mais manifesta
essas virtudes juntas. O rapaz mencionado no v. 9 nos
lembra que, por mais jovem que possamos ser, podemos
fazer alguma coisa para o Senhor e para o bem dos outros.
Parece ter sido o único a pensar em trazer alguma coisa
para comer. Ao colocar o pouco que tinha à disposição
do Senhor, ele veio a ser o meio para prover as
necessidades de cinco mil homens. Quando o Senhor
quer servir-Se de nós, nunca nos desculpemos dizendo
que somos jovens demais, ou que não temos recursos
suficientes; Ele mesmo saberá como servir-Se deles
(Jeremias 1:6-7).
Depois desse milagre, o povo queria tomar o Senhor
Jesus “para o proclamarem rei”. Contudo, Ele não pode
receber o reino das mãos dos homens (5:41), nem
tampouco das mãos de Satanás (Mateus 4:8-10). E Deus
somente que O fará rei (Salmo 2:6).
Finalmente ainda vemos outro em outra cena,
também iluminada pelo Seu poder e graça. Vemo-LO ir
ao encontro de Seus discípulos sobre o mar agitado e
dissipar os seus temores.

189
João 6:22-36

O Senhor não se deixa enganar. As multidões


seguem-NO com um motivo muito material: eles esperam
que Ele continue lhes dando pão. E é por isso que procura
estimulá-los a trabalhar pelo céu (v. 27). Deveriamos nos
perguntar a nós mesmos se o nosso trabalho tem como
prioridade as coisas do alto que alimentam a nossa alma
e que permanecem, ou as coisas do Mundo que estão
destinadas a perecer.
Quer isso dizer que devemos ter obras para sermos
salvos? Muitas pessoas na cristandade de hoje ainda
crêem assim (compare v. 28). Mas a Palavra declara:
“Porque pela graça sois salvos, mediante a fé... não de
obras, para que ninguém se glorie” (Efésios 2:8-9). Deus
só reconhece uma obra — e é Ele quem opera esta
obra em nós: a de crer no Salvador que Ele nos tem
dado (v. 29). Todas as coisas provêm dEle: a água viva
(o Espírito Santo; 4:10) e o pão da vida (Cristo mesmo;
v. 37). Por que, então, não estão nossas alm as
continuamente satisfeitas? Quebrou o Senhor as Suas
promessas? (v. 35; 4:14). Certamente que não! Porém,
por nossa parte, nem sempre cumprimos as condições: o
Senhor Jesus diz “o que crê em mim, jamais terá sede”.
Necessitamos da fé para ser salvos, mas também dela
necessitamos cada dia para que possamos nos satisfazer
em toda a Sua plenitude.

190
João 6:37-50

O Salvador que nos ama promete: “O que vem a


mim, de modo nenhum o lançarei fora” (v. 37). Vá ao
encontro do Senhor caso você ainda não o fez; saiba que
Ele nunca o recusará.
Mas, para vir ao Senhor Jesus, é necessário que o
Espírito de Deus opere no coração. O homem não pode
dar um passo em direção a Deus sem que Ele o traga; é
o que o Senhor afirma no verso 44. Alguém dirá, talvez:
— Não é minha culpa, pois, se não sou convertido. Pelo
contrário, você é plenamente responsável por deixar que
essa obra divina se realize em seu coração. Neste mesmo
instante, Deus está lhe atraindo para Si. Não Lhe resista
por mais tempo.
A graça que o Senhor Jesus demonstra ao pecador é
a expressão de Seu próprio amor. Porém esta também é
parte da vontade de Deus, cuja meta é dar vida à Sua
criatura (v. 40). E o Senhor Jesus veio para cumprir essa
vontade e nada mais fazer, como já havia profetizado o
salmista. O apóstolo repete esta profecia: “Eis que estou
para fazer, ó Deus, a tua vontade” (Hebreus 10:9; Salmo
40:7-8).
O homem tem um corpo e uma alma. Eis o porquê
ele não pode viver só de pão, o qual somente alimenta o
seu corpo. A sua alma também necessita de alimento e
este só é encontrado na Palavra divina, o Pão celestial,
Cristo mesmo (Lucas 4:4).

191
Joào 6:51-71

Apesar da promessa que Deus lhes havia feito quando


estavam no deserto, encontrando o maná, os filhos de
Israel perguntaram uns aos outros: “Que é isto?” (Exodo
16:15). A mesma incredulidade se manifesta em seus
descendentes. Discutem entre si acerca da estranha
comida da qual lhes falou o Senhor Jesus: Sua carne e
Seu sangue; em outras palavras, a Sua morte. Um Cristo
vivo aqui na Terra não basta para dar vida às nossas
almas. Temos que nos apropriar de Sua morte para ter a
vida eterna (o que é, em sentido figurado, comer Sua
carne e beber Seu sangue). Logo, temos que diariamente
nos identificar com Ele em Sua morte. Estamos mortos
com Ele em relação ao Mundo e ao pecado. O homem
natural não pode entender isso. Deseja ter um modelo a
seguir, mas lhe é muito difícil reconhecer o seu próprio
estado de condenação — do qual fala a morte de Cristo.
Em vez de interrogar o Senhor, m uitos que
professavam ser Seus discípulos O abandonaram
ofendidos por causa de Suas palavras. Ele não busca
retê-los suavizando a verdade. Porém prova o coração
dos que ficaram: “Porventura quereis também vós outros
retirar-vos?” A bonita resposta de Pedro é: “Senhor, para
quem iremos?”. Que essa também possa ser a nossa!
(v. 68-69; leia Hebreus 10:38-39).

192
João 7:1-24

Os irmãos do Senhor Jesus faziam parte daqueles


que não criam nEIe, porque buscavam a glória que
vem dos homens (v. 4 e 5; compare com 5:44). Eles
esperavam que a Sua popularidade fosse estendida a
sua família, enquanto que, se tivessem crido que Ele
era o Filho de Deus, dar-se-iam conta da distância que
os separava dEle (leia Lucas 8:21; 2 Coríntios 5:16).
Mais tarde os irmãos do Senhor creram nEIe e foram
contados entre os Seus discípulos (Atos 1:14).
O princípio deles aqui é o mesmo que norteia todos
os homens: fazer valer os seus dons e as suas capacidades
para sua própria vantagem, a fim de serem conhecidos e
honrados (v. 4). Por outro lado, o Senhor nunca deixou
de “procurar a glória de Quem O enviou” (v. 18). Ele
somente vai à festa no momento que Deus determina.
Quão longe estamos desse perfeito Exemplo! Muitas de
nossas dificuldades decorrem tanto de nossa precipitação
em fazer alguma coisa como de nosso atraso em obedecer
às ordens de Deus. O versículo 17 nos lembra também de
que a submissão à vontade de Deus é o meio para cada
um de nós conhecer a verdade.
Em Jerusalém o Senhor Jesus encontra estes judeus
que estão cheios de ódio contra Ele, e que desde a cura
do paralítico em Betesda, num sábado, procuram
matá-LO (v. 1; 5:16).

193
João 7:25-36

O versículo 25, com parado com o 20, prova a


hipocrisia desses judeus. E tal como foi naquele tempo, o
Senhor Jesus hoje ainda é alvo de vãs conclusões. Cada
um d á o seu parecer; discute-se a opinião dos
governantes. Em realidade, se a presença e as palavras
do Senhor provocam tal agitação, é porque essa gente
está perturbada interiormente por essa Voz que, embora
não queiram admitir, sentem que é a de Deus (compare
v. 28). Tratam de esquivar-se desta voz ao persuadirem-se
a si mesmos de que este galileu não pode ser o Cristo
porque conhecem a Sua família e o Seu lugar de origem.
Jesus responde: “Vós conheceis-me” — aliás melhor do
que pensam; é vossa consciência quem vos diz que sou,
e vos acusa.
E muito solene ouvir o Senhor levantar a Sua voz a
essa multidão (v. 28,37; compare com Provérbios 8:1 e
9:3). Tampouco hoje, ninguém poderá dizer que não tem
ouvido.
“Também onde eu estou, vós não podeis ir”, declara
o Senhor a todos aqueles incrédulos (v. 34). Porém os
Seus, em troca, possuem a Sua promessa, infinitamente
preciosa: “Voltarei e vos receberei para mim mesmo, para
que onde eu estou estejais vós também” (João 14:3).
Querido leitor, qual dessas duas sentenças o Senhor pode
dirigir a você? Onde você passará a eternidade?

194
Joâo 7:37-53

Esses capítulos 6 e 7 do Evangelho de João nos levam


a pensar em Êxodo 16e 17, respectivamente. No capítulo
6, o Senhor Jesus é apresentado como o verdadeiro pão
vindo do céu, do qual o maná é apenas uma figura. Na
passagem de hoje, Ele está diante de nós como a rocha
de Êxodo 17, da qual a água da vida brota em
abundância. No capítulo 55 de seu livro, Isaías anuncia o
convite a todos “os sedentos”, para que venham às águas
da graça. Mas aqui é o próprio Salvador que exclama:
“Se alguém tem sede, venha a mim e beba” (v. 37). E o
crente assim, cheio do Espírito Santo, vem a ser um canal
de bênção para outros (v. 38).
Infelizmente a única resposta deles é m ais
argumentos. Isso é como que se pessoas sedentas, diante
de uma fonte de água pura, discutissem a composição
química da água ou a sua origem, em vez de bebê-la!
O final do capítulo ainda nos mostra dois testemunhos
a favor do Senhor diante dos fariseus. Os guardas
enviados para prendê-LO são obrigados a reconhecer
que as Suas palavras não são humanas: “Jamais alguém
falou como este homem”. E depois disso Nicodemos
timidamente intercede a favor dAquele com quem, no
capítulo 3, teve uma conversa pessoal e inesquecível.

195
João 8:1-20

Os escribas e os fariseus pensam que podem fazer o


Senhor Jesus cair em uma armadilha particularmente
sutil. Por meio dEle, a graça e a verdade vieram juntas
(1:17). Se Ele condena esta mulher culpada, onde está a
graça que todos eles conheciam (Lucas 4:22)? Se Ele a
perdoa, não está isso em prejuízo da verdade e em
contradição com a Lei? Em Sua sabedoria infalível, o
Senhor Jesus lhes mostra que essa Lei alcança a todos.
Isso tem sido comparado a uma espada sem o cabo que
fere primeiro a pessoa que a usa.
Mas, ai! em lugar de confessar os pecados dos quais
se deram conta, os acusadores se retiram, um após o
outro, envergonhados (Jó 5:13). “A Luz do mundo” está
diante deles (v. 12). Mas “os homens amaram mais as
trevas do que a luz”, tal como insetos que se escondem
em outra parte quando é levantada a pedra que os abriga
(cap. 3:19). Por fim, o Único que, não tendo pecado,
teria todo o direito de ministrar o castigo, diz à mulher:
“Nem eu tampouco te condeno”. Ele acrescenta: “Vai, e
não peques mais” (v. 11). Muitas pessoas se esforçam por
merecer o perdão de Deus por um a boa conduta,
enquanto a prioridade do Senhor começa por perdoar,
vindo somente depois a ordem de não pecar mais
(compare 5:14; Salmo 130:4; 1 João 3:9).

196
João 8:21-36

Os judeus haviam declarado ao Senhor que o Seu


testemunho não era verdadeiro (v. 13). Para que, então,
perguntar-Lhe agora quem Ele é (v. 25)? Jesus só pode
responder-lhes: “Que é que desde o princípio vos tenho
dito?” As Suas palavras são a perfeita expressão do que
Ele é (Salmo 17:3). Que contraste há entre o que dizemos
ou mostramos aos demais e o que somos na realidade.
Tudo o que o Senhor Jesus disse e fez estava em perfeita
harmonia com o pensamento de Seu Pai. “Porque eu
faço sempre o que Lhe agrada”, pôde afirmar o Senhor.
Modelo inimitável que, contudo, devemos almejar por
imitar!
0 Senhor Jesus promete plena libertação aos que
nEle crêem. Porém os judeus presentes protestam:
“Jamais fomos escravos de alguém” (v. 33). Devido a um
estranho lapso de memória, ou melhor, por orgulho, eles
apagaram de sua história Egito, Babilônia... e o presente
domínio romano. Assim é o homem: não admite ser
escravo do pecado e se imagina livre para fazer somente
o que quer (2 Pedro 2:19).
Reconheçamos, queridos amigos, a terrível condição
em que estávamos outrora; mas também demo-nos conta
da verdadeira liberdade que o Filho de Deus nos tem
colocado ao fazer que também sejamos filhos de Deus.

197
João 8:37-59

Em João 5:45 o Senhor havia chamado a atenção


dos judeus quanto à sua inconseqüência; eles apelavam
a Moisés... cujos escritos os acusavam. Aqui eles recorrem
à posição de filhos de Abraão. Porém as suas obras são
as do diabo, que é mentiroso e homicida desde o
princípio. As vezes se ouve dizer: tal pai, tal filho (compare
Ezequiel 16:44), e o Senhor confirma que é a natureza de
nossas obras que dá a conhecer de quem somos filhos
(compare 1 João 3:7-10). Existem somente duas grandes
famílias sobre a Terra — a de Deus e a do diabo. A qual
você pertence? E o fato de ser filho de pais crentes não
confere qualquer direito a ninguém diante de Deus, tal
como esses orgulhosos judeus pretendiam por serem
descendentes de Abraão. Pelo contrário, é um a
responsabilidade a mais.
“Tens demônio”, repetiam esses miseráveis (v. 48,
52; compare 7:20; 10:20). Admiramos a paciência do
Senhor Jesus. Diante desse flagrante insulto, He deixa a
Seu Pai o cuidado de reivindicar a Sua glória. Nisso, He
é uma vez mais o nosso grande Exemplo e, conforme
menciona o verso 55, o que convém a nós é conhecer a
Deus e guardar a Sua Palavra.
“Eu sou”, diz o Senhor Jesus no versículo 58. He não
apenas pode dizer “Eu era antes de Abraão”, mas “Eu
sou etemamente” (Compare Êxodo 3:14).

198
Joâo 9:1-16

O Evangelho de João é o dos encontros pessoais


com o Senhor: Nicodemos, a mulher samaritana, o
paralítico em Betesda... homens e mulheres de diversas
condições têm se ocupado com o S enhor Jesus
individualmente. E você, querido leitor, já teve uma
entrevista particular com o Senhor Jesus?
Esse homem, que era cego de nascença, ilustra a
nossa condição natural. O pecado nos incapacita de ver
a luz de Deus. A nossa visão moral e espiritual está, desde
o nascimento, obscurecida. Deus tem que nos abrir os
olhos quanto a nossa condição espiritual, quanto às
exigências de Sua santidade, sobre o Mundo...
Deus não castigou a esse homem, e nem a seus pais,
por causa de um certo pecado grave; não, essa
enfermidade deveria ser uma oportunidade para o Senhor
Jesus fazer brilhar a Sua graça. O lodo que Ele faz aqui é
uma figura de Sua humanidade apresentada ao homem.
Para poder ver, esse homem deve ser lavado— a Palavra
(a água) lhe revela Cristo como o Enviado de Deus (Siloé).
O cego vai lá crendo e volta vendo. Então temos a questão
de seu testemunho. Os seus vizinhos, os que o conheciam
bem, estavam maravilhados. É possível que esse seja o
mesmo homem? Uma conversão não pode passar
desapercebida. A nossa própria conversão também
produziu em nossas vidas uma mudança visível a todos?

199
João 9:17-34

Para os fariseus esse cego que foi curado é um


incômodo testemunho do poder do Senhor Jesus. A
primeira coisa que procuram, então, é obter dele ou de
seus pais uma palavra que lhes permitisse contestar esse
milagre. E quando se toma impossível para eles negar o
milagre, se esforçam em desprestigiar Quem o realizou e
a empilhar desonra sobre Ele (8:49). Afirmam: “Nós
sabemos que esse homem é pecador” (v. 24) ainda que
um pouco antes o Senhor haja lhes perguntado: “Quem
dentre vós me convence de pecado?” (8:46).
Há uma grande diferença entre esse cego e seus pais.
Os pais demonstram menos interesse pela verdade que
por sua posição religiosa. Confessar a Jesus como o Cristo
e participar em Sua rejeição é muito para eles; é mais do
que podem suportar. Temem uma desgraça — quantas
pessoas hoje em dia se assemelham a eles! O filho deles,
por outro lado, não está em baraçado com tais
argumentos. Os fariseus não conseguem tirar a sua
humilde confiança nAquele que o curou. Ele passou das
trevas à luz; não é para ele uma teoria ou uma doutrina,
é um fato evidente. Ele simplesmente diz: “Uma coisa sei:
Eu era cego, e agora vejo” (v. 25). Podemos dizê-lo junto
com ele?

200
João 9:35 -10:1-6

Foi uma boa coisa para o cego que foi curado ter sido
expulso pelos fariseus. Pois, fora ele encontrar Aquele
que foi rejeitado antes dele e que também havia saído do
templo, conforme lemos no capítulo anterior. Agora esse
homem vai poder dar um grande passo adiante na
apreensão da verdade e conhecer não só o poder de
Jesus, mas também a Sua Pessoa: Aquele, a quem ele
antes reconhecera ser um profeta, (v. 17) é, na verdade,
o Filho de Deus (v. 35-37). Muitas pessoas se contentam
em saber que elas são salvas, mas são ignorantes a respeito
do próprio Salvador. Talvez seja porque ainda estão
presas aos sistem as religiosos e ainda não têm
experimentado a presença do Senhor, ali onde Ele
prometeu estar (Mateus 18:20).
Ainda que afirmem ver claramente, esses fariseus se
deixam cegar pelo ódio e pelo orgulho religioso. No
capítulo 8 eles rejeitaram a Palavra do Senhor; no capítulo
9 é a Sua obra que eles não querem. Por isso, He já não
tem mais nada a ver com eles. He chama as Suas próprias
ovelhas pelo nome, guia-as para fora e vai adiante delas.
Mas, poderíam elas se equivocar e seguir a um estranho
que as extraviará? Certamente que não, elas têm um meio
infalível de reconhecer Aquele a quem pertencem — elas
conhecem a Sua voz. A voz dHe é familiar a todos nós?

201
João 10:7-21

Não encontramos parábolas neste Evangelho. Aquele


que é “a Palavra” fala aqui numa linguagem direta. Por
outro lado, o Senhor emprega muitas preciosas figuras e
com parações para dar-Se a conhecer. Observe as
passagens em que Ele declara “Eu sou” [o Pão da Vida
(6:35,48,51); a Luz do Mundo (8:12); a Porta (10:7,9);
o Bom Pastor (10:11,14); a Ressurreição e a Vida (11:25);
o Caminho, a Verdade e a Vida (14:6); a Videira (15:1-5)].
Aqui, nos versos 7 e 9, diz: “Eu sou a porta das ovelhas”.
Para sermos salvos, devemos entrar por Ele (compare
Efésios 2:18). Mas também necessitamos ser guiados. Se
formos entregues a nós mesmos, seremos semelhantes a
uma ovelha, um animal sem inteligência, que se desvia
quando não tem um líder (leia Isaías 53:6). Em contraste
com os mercenários, com os ladrões e com os salteadores,
os quais são hábeis em roubar almas, o Senhor Jesus
apresenta-Se como o Bom Pastor (v. 11 e 14). E dá duas
evidências disso: 1) a primeira é a dádiva voluntária de
Sua vida para adquirir as ovelhas — prova suprema de
amor por elas e ao mesmo tempo, não nos esqueçamos,
a sublime razão pela qual o Pai o ama (v. 17).
2) a segunda é o Seu relacionamento com Suas
ovelhas: Ele conhece todas elas e elas conhecem o seu
Pastor (v. 14). Um vínculo tão forte confirma os Seus
direitos sobre o Seu rebanho e sobre cada um de nossos
corações.

202
João 10:22-42

Com evidente m á fé, os judeus um a vez mais


questionam o Senhor: “Se tu és o Cristo, dize-o
francamente” (v. 24). Mas, He não só já havia declarado
isso a eles (por exemplo 8:58), senão que também o havia
demonstrado (v. 25, 32, 37, 38). Assim, de agora em
diante, He limita as Suas atividades só ao Seu rebanho.
As ovelhas pertencem a ele por direito; primeiro, porque
o Pai as tem dado expressamente a Ele (v. 29), e depois,
também, porque Ele as resgatou. Os versículos 27 e 28
são muito preciosos porque nos dizem o que He faz pelas
Suas ovelhas: Ele lhes dá vida etema, Ele as conduz, Ele
as abriga sob a proteção de Suas mãos — e elas são
caracterizadas por ouvirem a Sua voz e O seguir. Isso é
certamente a resposta adequada ao Seu maravilhoso
amor!
De novo os judeus tentam apedrejar o Senhor Jesus
(8:59), desta vez acusando-0 de blasfêmia. “Sendo tu
homem, te fazes Deus a ti mesmo” dizem eles. Esta era
verdadeiramente a ambição do primeiro Adão e de todos
os seus descendentes: ser igual a Deus. Porém o Senhor
Jesus seguiu exatamente o caminho oposto — “Pois ele,
subsistindo em forma de Deus”, foi “reconhecido em
figura humana, a si mesmo se humilhou” (Filipenses
2 :6- 8 ).
No entanto, o versículo 42 ainda conclui: “E muitos
creram nele” (tal como no cap. 8:30). Estes se tornaram
Suas benditas ovelhas.

203
João 11:1-27

Em sua ansiedade, as duas irmãs de Betânia fazem


um pedido ao Amigo divino. Este pedido pode servir
como um exemplo para nós: “Senhor, está enfermo
aquele a quem amas” (v. 3). Quando elas chamaram o
Senhor, reconheceram a Sua autoridade e não Lhe
disseram o que fazer, fazendo-lhe prescrições: por
exem plo — Venha e cure o nosso irmão! Elas
simplesmente expuseram-Lhe o caso que as preocupava.
Também conheciam o Seu amor e fazem menção a ele.
Contudo, este afeto não faz com que o Senhor Jesus
decida imediatamente ir à Judéia. As intenções criminosas
dos judeus também não O impediríam de ir ali quando
fosse o momento. Só a obediência a Seu Pai dirigia os
passos do Senhor. Graças a essa demora, a glória de
Deus brilha muito mais, pois, quando o Senhor Jesus
chega a Betânia, já faz quatro dias que Lázaro está no
sepulcro. De tempos em tempos, encontramos pessoas
atravessando momentos de luto. Vemos então a completa
insuficiência da simpatia humana (como a dos judeus no
versículo 19). Porém tudo muda quando olhamos para
Aquele que é “a ressurreição e a vida”. Logo
compreendemos o pleno valor das coisas eternas e a nossa
fé triunfa em esperança.

204
João 11:28-44

Marta se dá conta de que a sua irmã é mais capaz de


entender o que está nos pensamentos do Senhor do que
ela mesma, e a chama. Porém, Maria só pôde dizer o
mesmo que Marta: “Senhor, se estiveras aqui.. (v. 32;
compare v. 21). Nada mais pôde fazer do que olhar para
trás, como fazem muitas pessoas que passam pelo luto.
O Senhor Jesus, comovido, pede-lhes para que O levem
ao sepulcro. Então O vemos chorar. Não sabia o que ia
fazer? Certamente que sabia, mas na presença dos
estragos da morte e de seu trágico poder sobre os homens,
o Filho de Deus se agita em tristeza, angústia e indignação.
O Vencedor da morte está ali. Mas para que a glória de
Deus possa se manifestar perante a multidão que será
testemunha deste evento, o estado de decomposição de
Lázaro deve ser devidamente comprovado (v. 39); o
Senhor, ao dar graças com antecipação, atribui o Seu
poder Aquele que O enviou (v. 41-42). Só então a Sua
poderosa voz ordena sair da sepultura o morto ainda
ligado com ataduras... Que assombro para os presentes!
E quanto a nós, recordemos a promessa que o Senhor fez
a Marta: “Nõo te disse eu que se creres verás” — talvez
não o que você espera ver, mas certamente “a glória de
Deus” (vs. 4 e 40).

205
João 11:45-57

A resposta de Deus a Seu Filho não foi apenas a


ressurreição de Lázaro, m as que tam bém várias
testem unhas desse m aravilhoso evento fossem
conduzidas a crer nEle (vs. 42,45). Porém esse milagre,
o maior registrado neste Evangelho e o último antes de
Sua própria ressurreição, é também o que determina a
Sua morte, já que “desde aquele dia” tramaram-se
sinistros planos, os quais resultaram no crime supremo (v.
53). Essa é a resposta dos judeus àquela pergunta que o
Senhor lhes fez no capítulo 10:32: “Por qual destas obras
me apedrejais?”
Os sacerdotes fingem temer que o povo, ao seguir o
Senhor Jesus, desperte a atenção dos romanos, que então
aplicariam represálias aos sacerdotes. Mas, pelo contrário,
foi justamente a rejeição do Senhor a causa da destruição
do seu lugar de adoração (Jerusalém) e de sua nação,
que foi levada a cabo pelos romanos quarenta anos mais
tarde (v. 48). Deus permite que a profecia de Caifás supere
infinitamente os pensamentos desse homem cínico e
perverso. O Senhor Jesus deve dar a Sua vida pela nação
(pois Israel será restaurada mais tarde), “ mas também
para reunir em um só corpo os filhos de Deus, que andam
dispersos” (v. 52). Satanás rouba e dispersa (compare
10:12), enquanto que o Senhor Jesus, por Sua obra, já
aqui na Terra reúne aqueles que pertencem à família de
Deus.

206
João 12:1-19

Os diferentes aspectos da adoração são representados


na tocante cena descrita nos versículos 1-3. Vemos a
presença do Senhor, a comunhão, o testemunho, o santo
serviço e o louvor. Não se trata de uma festa em honra a
Lázaro; o S en h o r Jesus é o centro dessa festa:
“Deram-Lhe, pois, ali, uma ceia”. A única qualificação de
Lázaro para estar à mesa com Ele é a de um homem
morto que recebeu nova vida (o que é o caso de todos os
redimidos). Não nos é comunicado o que esse homem
diz ou faz; a sua presença ali é suficiente para mostrar o
que o Senhor fez por ele. Marta serve; desta vez a sua
atividade é perfeitamente adequada, em contraste com
Lucas 10:40. Por fim, Maria, que derram a o “mui
precioso” perfume, o qual toca o coração do Salvador e
também enche toda a casa. Essa é uma figura da adoração
que os redimidos gratamente expressam quando se
reúnem. O descrente só tem menosprezo para com essa
adoração — basicamente porque honra a outro deus: o
dinheiro (v. 6).
O versículo 10 mostra como Lázaro é também objeto
do ódio dos homens contra o Senhor Jesus.
Logo temos uma descrição da entrada triunfal do Rei
de Israel em Sua cidade de Jerusalém. Porém a reputação
que o precede é transitória, e se deve basicamente ao
grande milagre que havia realizado.

207
João 12:20-36

Em antigas tumbas egípcias encontraram-se grãos de


trigo que, apesar de milhares de anos de idade, ainda
eram capazes de germinar. Contudo, qualquer que fosse
o tem po transcorrido, e ainda que tivessem sido
guardados em um recipiente muito precioso, esses grãos
não poderíam multiplicar-se ali. Para que eles pudessem
formar espigas carregadas de outros grãos semelhantes
às sementes, esses grãos deveríam ser colocados na terra,
a saber, que fossem sacrificados. Essa é a figura que o
Senhor Jesus usa ao falar da Sua morte. O desejo dos
gregos em vê-LO guia os pensamentos do Senhor Jesus
aos maravilhosos resultados de Sua cruz, a saber: a
bênção das nações sob o domínio universal do Filho do
homem, muito fruto (v. 24b), o julgamento de Satanás
(v. 31), e todos os homens serão atraídos a Ele (v. 32).
Mas diante de Sua alma santa também passa o peso dos
sofrimentos que esta hora trará para Ele. Então se dirige
a Deus, que do céu Lhe responde com a promessa da
ressurreição (v. 28).
A noite agora estava eminente para o povo judeu.
A Luz estava para desaparecer no horizonte; o Senhor
Jesus iria deixá-los (v. 35; Jeremias 13:16). O presente
momento da graça para nós também se aproxima do seu
fim. O momento virá quando já não será mais possível
crer (compare v. 40). Na vida do Senhor Jesus houve um
solene “agora” (v. 27, 31). Para nós “agora” é o tempo
de crer nEle (2 Coríntios 6:2).

208
João 12:37-50

Com o capítulo 12 se encerra uma grande divisão


deste Evangelho. A partir do capítulo 13 o Senhor se
dirigirá exclusivamente a Seus discípulos. Assim, temos
aqui as Suas últimas palavras ao povo de Israel. De agora
em diante, e conforme profetizou Isaías, essa nação estará
endurecida. João 1:11 confirma-se como verdadeiro: Ele
“veio para o que era seu (Israel), e os seus não o
receberam”. Mas o versículo seguinte também tem sido
confirmado. Alguns O receberam e obtiveram o direito
de se tornarem filhos de Deus. Mesmo entre os
governantes, vários creram nEle sem atrever-se, contudo,
a dar testemunho de sua fé. E a razão que nos é dada é
“porque amaram mais a glória dos homens, do que a
glória de Deus” (v. 43). Nós, a quem do mesmo modo
falta coragem para confessar a nossa fé, perguntemo-nos
a nós mesmos: não é este também o nosso motivo?.
Uma última vez Jesus declara pública e solenemente
o caráter divino de Seu ministério. Ele é o Enviado de
Deus que, ao mesmo tempo, é a perfeita imagem do Pai
(v. 44, 49; Hebreus 1:3). Todas as Suas palavras
expressaram verdadeiramente os pensamentos de Deus.
Devemos meditar sobre este maravilhoso exemplo e,
quanto a nós, aprender dEle o que devemos dizer e como
devemos falar (v. 49).

209
João 13:1-20

Para o coração do Senhor, a morte significava “passar


deste mundo para o Pai” (v. 1; compare 16:28). Mas He
estava deixando para trás, num Mundo cheio de pecado,
aqueles a quem amava. E, tal como os pés do peregrino
se cobrem de poeira pelo caminho, assim os crentes estão
expostos, pelo seu contato com o mal, a manchar-se em
seus pensamentos, palavras e ações, ainda que seu corpo
esteja “limpo”, ou seja, lavado pelo sangue da cruz (v. 10;
Apocalipse 1:5). Porém o nosso fiel Senhor fez provisão
para isso, pois vela pela santidade prática dos Seus. Como
grande Sumo Sacerdote Ele lava os pés deles. Em outras
palavras isso quer dizer que He os purifica ao conduzi-los
para que continuamente se julguem à luz da Palavra
(a água) que aplica as suas consciências (Efésios 5:26;
Hebreus 10:20).
Esse serviço de amor é aquele que também devemos
exercitar uns para com os outros. Em humildade,
ajoelhando a seus pés, devemos pela Palavra mostrar aos
nossos irmãos e irmãs em que eles estão falhando, ou a
que perigo estão se expondo (Gálatas 6:1). Queridos
amigos, o Senhor não diz: “Bem-aventurados sereis se
souberes estas coisas”, mas, conhecendo essas coisas,
“bem-aventurados sois se as praticardes” (v. 17).

210
João 13:21-38

O “discípulo a quem Jesus amava” é o nome que


João usa quando em seu Evangelho está se referindo a si
mesmo. Ele conhecia o amor do Senhor pelos Seus (v. 1),
mas também sabia que ele mesmo era um objeto pessoal
desse amor. Ele desfrutava desse amor perto do Senhor
Jesus, lugar precioso onde recebia as mais íntimas
comunicações. Mas agora o Senhor lhe revela um segredo
terrível. Denuncia a Judas como traidor, este que Ele
mesmo conhecia desde o princípio (6:64). Então Satanás
entra nesse homem que estava pronto para recebê-lo;
Judas se vai pela noite a consumar o seu tremendo crime.
0 Senhor volta a falar de Sua cruz, onde a Sua glória
brilhará em meio da desonra (v. 31), e também de Sua
ressurreição, pela qual Deus glorificará Aquele que O
glorificou tão perfeitamente (v. 32). Mas, como os Seus
discípulos serão reconhecidos daqui em diante, já que
Ele não estará mais no meio deles? For um seguro sinal:
pelo am or de uns p ara com os outros (v. 35). E
verdadeiramente esse amor que nos caracteriza? Esta é
um a pergunta que sonda profundamente os nossos
corações.
Em contraste com João, que estava ocupado com a
afeição de Jesus para consigo, Pedro quer vangloriar-se
de sua própria dedicação, e infelizmente não considera a
advertência do Senhor (v. 38).

211
João 14:1-14

No capítulo 13 vimos como o Senhor preparava os


Seus a fim de terem uma parte com Ele, já aqui na Terra
(v. 8). Agora está indo preparar-lhes lugar na casa do Pai.
Para isso é necessário que vá adiante deles, como um
dono de casa que toma as suas disposições para chegar
a casa antes que os seus convidados. A Bíblia nos dá
poucos detalhes acerca do céu. Mas é a presença do
Senhor que faz dele uma morada de felicidade. E Ele
mesmo alega que será a presença dos Seus consigo a
fonte de gozo para o Seu coração.
O Senhor Jesus é o único caminho ao Pai. Ele é a
verdade e é a vida. He nunca deixou de revelar o Pai em
palavra e atos; contudo, quanta dor não Lhe causou a
ignorância dos Seus discípulos! Porém, não é a nós que
Ele às vezes também podería dizer: “Faz tanto tempo que
ouves falar de Mim, que lês a minha Palavra, como é que
não me conheces melhor?”
“E tudo quanto pedirdes em meu nome, isso farei”
promete o Senhor (v. 13). “Em meu nome” não é uma
simples fórmula, mas sim que isso implica que Ele pode
estar de acordo com aquilo que pedimos. Sendo assim,
então, a nossa oração será a oração do Senhor Jesus, e
He certamente a responderá — não apenas porque nos
ama, mas, em primeiro lugar, porque se trata da glória do
Pai. Poderia haver outro motivo mais excelente?

212
João 14:15-31

O Senhor Jesus está a ponto de deixar os Seus


amados discípulos, mas Ele não os deixará órfãos. Ele
lhes enviará uma Pessoa divina para confortá-los e
sustentá-los, para vir e ajudá-los (v. 16 — Consolador é
a mesma palavra de 1 João 2:1: Advogado. É aquele
que defende a causa de uma pessoa e que vem para
ajudá-la e assisti-la). Este é o Espírito Santo, que não só
estará com os crentes, mas neles, para ensiná-los (v. 26).
O Senhor Lhe chama de “outro Consolador”, porque He
mesmo perm anece como o Consolador celestial, o
Advogado junto ao Pai (1 João 2:1).
O Senhor Jesus ainda faz três outras promessas aos
Seus: © a nova vida que flui da Sua (v. 19); © um lugar
especial no amor do Filho— e do Pai— para todo aquele
que comprovar seu amor por He ao guardar os Seu
mandamentos (vs. 21, 23); © e, finalmente, paz, a Sua
própria paz (v. 27). Quão verdadeiro é que Ele não a dá
“como a dá o mundo”. O Mundo oferece pouco e tira
muito; distrai e retarda a consciência, agindo como uma
droga tranqüilizadora, a qual por um momento parece
acalmar a ansiedade e os tormentos da alma, mas que é
apenas uma ilusão de paz. A paz que o Senhor Jesus dá
satisfaz completamente o coração, e, ademais, é eterna.
Por fim, o Senhor diz aos Seus discípulos que o
verdadeiro amor por Ele não deve buscar retê-LO
egoisticam ente aqui em baixo, senão que deve
regozijar-se com Ele nesse Seu gozo (v. 28).

213
João 1 5 :lrlS

Israel continuava uma videira infrutífera, apesar de


todos os cuidados do divino Lavrador (vide Salmo 80:8,
9; Isaías 5:2). Em contraste, o Senhor se apresenta como
a Videira verdadeira, que produz fruto através dos
discípulos. Visto que nem todos os ramos da videira dão
frutos por igual, assim o Senhor diferencia os que dizem
O conhecer: há tais que dão “nenhum fruto”..., outros
“fruto”, “mais fruto” (v. 2) e “muito fruto” (v. 5). Existem
duas condições necessárias para dar fruto: 0 permanecer
nEle assim como um ramo que permanece ligado ao
tronco que o alimenta - e © “He em nós”, da mesma
forma como o ramo se deixa impregnar pela seiva que é
a sua vida. Por outra parte, não nos esqueçamos de que
se o Pai nos “limpa”, removendo alguma coisa de uma
maneira que às vezes é dolorosa, é a fim de que possamos
dar mais fruto (v. 2).
Mas que abençoado resultado flui de tal comunhão! O
conhecimento da vontade de Deus e conseqüentemente a
resposta às nossas orações, visto que já não queremos
pedir mais outra coisa senão aquilo que Ele mesmo deseja
para nós (v. 7): o gozo (v. 11) e finalmente a aprovação
inestimável dAquele que deseja nos chamar de Seus
amigos (v. 14).

214
João 15:16-27

Se o objetivo de nossas orações é produzir fruto para


Deus, serão sempre ouvidas (v. 16). Mas, em que consiste
o fruto? Essencialmente no amor dos redimidos uns pelos
outros e nas várias formas em que isso se demonstra.
“Isto vos mando”, disse o Senhor. E a terceira vez que He
menciona este “novo mandamento” (v. 17; vide v. 12;
13:34). E um estado triste e anormal quando falta o afeto
entre os membros de uma família quanto mais quando se
trata da família de Deus! Em troca, é absolutamente
normal o ódio do Mundo para com os crentes (cuja
conduta condena a do Mundo) e devemos contar com
isso — a não ser que o Mundo ache algo de si em nós, o
que seria um péssimo sinal.
“Não é o servo maior do que seu senhor” (v. 20). Esta
é uma repetição do capítulo 13:16, quando foi dito em
relação ao serviço: aqui o Senhor aplica os sofrimentos
aos que terão que padecer por parte do Mundo.
Assim o nome do Senhor Jesus é, por sua vez e ao
mesmo tempo, o motivo para o Mundo nos odiar (v. 21)
e também para o Pai responder as nossas orações (final
do v. 16).

215
João 16:1-18

Se não fosse o Senhor quem disse isso, teríamos


dificuldade para entender que a Sua ida foi conveniente
para os discípulos. Ocorre o mesmo com tantas coisas
que não entendemos e que m omentaneamente nos
afligem, e, contudo, são para o nosso proveito (vs. 6-7).
O Espírito Santo seria enviado do céu pelo Senhor Jesus
e conduziría os crentes em toda a verdade (v. 13). Nós
constatamos que no capítulo 14:16 o Senhor confirma a
inspiração divina de todos os livros do Novo Testamento:
os Evangelhos— Ele “vos fará lembrar de tudo o que vos
tenho dito” (João 14:16); Atos dos Apóstolos — “Esse
dará testemunho de mim; e vós também testemunhareis”
(15:26-27); as Epístolas — “Esse vos ensinará todas as
cousas” (14:26); e finalmente o Apocalipse — “Vos
anunciará as cousas que hão de vir” (v. 13). Mas a
presença do Espírito Santo aqui na Terra também implica
graves conseqüências para o Mundo, pois declara-lhe a
sua culpa em rejeitar a Cristo (vs. 8-11).
Por suas perguntas, os discípulos mostram o quanto
são incapazes, naquele momento de suportar os ensinos
de seu Mestre (v. 12). Agora o Espírito Santo está aqui,
glorificando o Senhor Jesus ao no-lo anunciar do que é
dEle. Glorifiquemos nós também ao Senhor ao receber e
guardar o que nos revela!

216
João 16:19-33

Os discípulos vão conhecer a tristeza da separação.


Mas o Senhor Jesus consola-os de antemão ao falar-lhes
do gozo que os espera quando tornarem a vê-LO depois
de Sua ressurreição (20:20). O crente tem muitas razões
para se alegrar: a esperança da volta do Senhor (compare
v. 22), a obediência aos Seus mandamentos (15:10,
11 — você tem experimentado o gozo que isso produz?),
a dependência dEle e a resposta às nossas orações
(16:24), as revelações do Senhor em Sua Palavra (17:13);
a comunhão com o Pai e com o Filho (1 João 1:3-4).
Essas são as inesgotáveis fontes da “alegria completa”
(v. 24).
Por que o Senhor Jesus não prefere dizer aos Seus
discípulos que Ele rogará ao Pai por eles (v. 26), desde
que este é o tema de todo o capítulo seguinte? A razão é
essa: longe de reivindicar para Si mesmo as afeições dos
discípulos, o Seu grande objetivo é introduzi-los em um
relacionamento direto com o Pai. Por isso os conclama a
que não se contentem som ente em tê-LO como
intercessor perante Deus, mas que façam a experiência
pessoal do amor do Pai e do poder de Seu nome. “Tende
bom ânimo”, conclui o Senhor. O Mundo, nosso comum
inimigo, é forte, mas “eu venci o mundo”.

217
João 17:1-13

O Senhor Jesus, tendo dado as Suas últimas


recomendações a Seus queridos discípulos e tendo-se
despedido deles, se volta para Seu Pai. Ele nunca
reivindicou algo para Si mesmo, mas agora pede a glória.
E que a honra ao Filho obediente, glorificando-O,
contribui para a glória de Deus, o “Pai justo” (v. 25).
Como um mensageiro fiel, o Senhor Jesus presta
conta da missão que cumpriu neste Mundo (v. 4). Um dos
lados dessa obra havia sido falar do Pai aos Seus (v. 6 e
26); agora He fala dos Seus ao Pai, a fim de confiá-los ao
Seu cuidado, pois He mesmo vai deixá-los. Os Seus
argumentos são comovedores: “Hes têm guardado a tua
palavra... e creram que tu me enviaste”. Isso é o que
primeiro tem a dizer, ainda que saibamos quão débil era
a fé dos pobres discípulos (v. 6-8; compare 14:9).
Ademais “são teus...” (v. 9), prossegue o Senhor, “e
neles eu sou glorificado”, recorrendo assim ao interesse
que o Pai tem pela glória do Filho. Finalmente, enfatiza a
difícil situação de Seu povo redimido que permanece em
um Mundo tão perigoso e que põe em prova a fé. O
Senhor Jesus é o perfeito Intercessor advogando a favor
de Seus discípulos; He faz o mesmo por nós hoje.

218
João 17:14-26

Os crentes não são tirados do Mundo quando se


convertem (v. 15). Pelo contrário, são expressamente
enviados ao Mundo (v. 18) para cumprir a obra que lhes
têm sido encomendada (compare v. 4). Contudo, não
são do Mundo, como o Senhor Jesus não era dele. A
posição deles é de estrangeiros chamados a servir a seu
Soberano em um país inimigo. Mas este incomparável
capítulo nos ensina que, longe de serem esquecidos aqui
na Terra, os crentes têm um “grande sumo sacerdote”
que intercede por eles diante do trono da graça (compare
Hebreus 4:14-16). Escutemos o que Ele pede ao Pai por
eles: “que os guarde do mal”, porque neste Mundo estão
expostos à contaminação (v. 15).
“Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade”:
eis aqui a separação indicada para aqueles que obedecem
à Palavra.
“A fim de que todos sejam um”: este é o desejo de
Seu coração, e que nos humilha quando pensamos nas
divisões que existem entre os cristãos.
Finalmente: “Que onde eu estou, estejam também
comigo... ” (v. 24). Os que não são do Mundo não ficarão
no Mundo. A sua porção eterna será estar com o Senhor
Jesus para ver a Sua glória. “Quero”, disse o Senhor
Jesus, pois a presença dos Seus com He no céu é para a
Sua glória e para a de Seu Pai, porque eles testificam os
plenos resultados de Sua obra.

219
João 18:1-11

Depois de “a glória que me tens dado” (17:22) vem


“o cálice que o pai me deu” (v. 11). Em completa
dependência, o Senhor Jesus recebe ambos das mãos de
Seu Pai. Mas, de acordo com o caráter deste Evangelho,
não vemos aqui, como em Lucas 22:44, a agonia do
Senhor. Aqui, no pensamento do Filho obediente, a obra
já está concluída (17:4).
O miserável Judas sabe aonde conduzir a companhia
armada que deve capturar o Senhor, pois esse é o lugar
de muitos encontros íntimos e preciosos, dos quais ele
mesmo havia participado.
Aquele a quem chamam com desprezo “Jesus de
Nazaré” não é outro senão o Filho de Deus. Em pleno
conhecimento do que ia ocorrer, Ele se adianta e se
apresenta a esta tropa ameaçadora. Dá, de Seu poder
soberano, uma prova que teria permitido reconhecê-LO
das Escrituras (Salmo 27:2). Com apenas uma palavra,
Ele atira os Seus inimigos ao chão. Mas, qual é o
pensamento de Seu coração nesse momento tão terrível
para He? E o mesmo de sempre, pensa em Seus amados
discípulos — “deixai ir estes”, é Sua ordem àqueles que
vieram para prendê-LO. Até o último instante, o bom
Pastor velaria por Suas ovelhas. Agora chegou o
momento em que dá a Sua vida por elas (10:11).

220
João 18:12-27

Ao estar ali com os que haviam prendido e atado o


seu Mestre, e esquentando-se com eles, Pedro
praticam ente já O havia negado, ao escolher
voluntariamente os nossos amigos em um Mundo que
crucificou o Senhor Jesus, e, ao participarmos de seus
prazeres, estaremos de uma maneira ou de outra nos
expondo a desonrar o Senhor. Não podemos contar que
seremos guardados (em resposta a Sua oração do cap.
17:15-17), se não praticarmos a separação da qual Ele
fala nesses mesmos versículos (17:16). Graças a sua
infidelidade, Pedro escapa por um momento da vergonha
e da perseguição. Seria ele “maior que o seu Senhor”, o
qual, sem reservas, vai ao encontro do ódio e do
menosprezo dos homens (15:20)? O Senhor Jesus nada
responde ao interrogatório hipócrita do sumo sacerdote;
He já havia dado publicamente o Seu testemunho. Cabe
agora aos juizes prová-LO culpado — se puderem!
Este Evangelho enfatiza mais que os outros três a
dignidade e a autoridade do Filho de Deus. Apesar das
humilhações que sofreu e da maneira com que foi tratado,
permaneceu Mestre absoluto da situação, como Aquele
que “se entregou a si mesmo... como oferta... a Deus”
em perfeito sacrifício (Efésios 5:2).

221
João 18:28-40

Ao levar o Senhor Jesus ao governador romano, os


judeus cuidam-se de não se contaminarem... ao mesmo
tempo que carregam as suas consciências com o mais
horrendo crime jamais cometido!
O apóstolo Paulo cita como exemplo a Timóteo a
“boa confissão” de Cristo Jesus diante de Pôncio Pilatos
(1 Tm 6:13). Custe o que custar, o Senhor declara a Sua
realeza, ainda que saliente que o Seu reino não é deste
Mundo. Este versículo 36 deveria ser considerado por
todos os que hoje empreendem um grande esforço para
estabelecer o reino de Deus sobre a Terra. O progressivo
melhoramento moral do Mundo para que o Senhor possa
vir e reinar sobre ele é apenas uma ilusão. Se Ele mesmo
não produziu tal melhoramento, por que deveríam os
cristãos buscar fazê-lo?
“Que é a verdade?” pergunta Pilatos. Contudo não
espera pela resposta. Ele parece com muitas pessoas que
realmente não estão interessadas nessa pergunta - porque
no fundo temem ter que ordenar as suas vidas de acordo
com a resposta que receberão. A verdade estava diante
de Pilatos na pessoa do Senhor Jesus (14:6). Em vão
Pilatos tenta escapar de sua responsabilidade ao propor
que seja libertado o Prisioneiro para a Páscoa! Mas, em
uníssono, os judeus gritam para libertar o ladrão Barrabás,
no lugar do Senhor.

222
João 19:1-16

Por zombaria é que os soldados colocam sobre Jesus


um manto púrpura e uma coroa de espinhos. E é quando
Ele está vestido assim que Pilatos escolhe apresentá-LO
ao povo, dizendo: “Eis o homem!”
“Crucifica-o! crucifica-o!” contestam colericamente
os principais sacerdotes. E apresentam um a nova
acusação - Ele tem blasfemado, “a si mesmo se fez filho
de Deus”. Porém isso atemorizou ainda mais a Pilatos.
Seria então possível que diante dele não estivesse somente
um rei, m as tam bém um Deus (v. 7-8). Para
tranqüilizar-se, Pilatos faz menção de seu poder; mas o
Senhor Jesus o coloca em seu verdadeiro lugar. Este
magistrado pagão aprende, seguramente pela primeira
vez, de quem recebeu a sua autoridade: não da parte de
César, como ele tinha pensado, mas “de cima” (v. 11;
Romanos 13:1). Quando se dá conta de que não tem
poder sobre esse acusado extraordinário e que este caso
está além dele, quer soltá-LO. Porém os judeus não
quiseram saber nada disso e fizeram uso de um último
argumento: “Se soltas a este, não és amigo de César”.
Assim, apesar da advertência que recebeu (v. 11), não é
a Deus, porém aos homens que o governador busca
agradar e obedecer. Temendo tanto o ressentimento dos
judeus e a reprovação de seu soberano, sacrifica
deliberadamente o Inocente.

223
João 19:17-30

Aquele que, alguns dias antes, havia entrado em


Jerusalém em toda a Sua majestade real, está agora
saindo “carregando a sua cruz”. Esse mesmo contraste é
evidente no título que Pilatos colocou sobre a cruz: “Jesus
Nazareno, o rei dos judeus”. Ele é crucificado entre
“outros dois”, e posto assim ao nível de um malfeitor.
Contudo, este Evangelho não nos fala dos ultrajes que
Ele padeceu por parte dos “que iam passando” (Mateus
27:39), nem das terríveis horas de abandono da parte de
Deus quando levava os nossos pecados. Aqui só há paz,
amor e obediência a Deus. 0 versículo 25 menciona a
presença e os nomes de algumas mulheres que observam
tudo de coração partido. E o Senhor Jesus confia a Sua
mãe ao discípulo que melhor conhece o Seu amor.
Notemos como tudo, até nos mínimos detalhes, deve
acontecer, “para se cumprir a Escritura”: O repartir das
Suas vestes (v. 24), o vinagre oferecido ao Salvador (v.
28; vide também vs. 36,37). Então Ele mesmo efetua o
último ato de Sua obediência voluntária: “Rendeu o
espírito” (10:18). Ali na cruz o Seu amor tudo consumou.
E se alguém ainda pensa em fazer algo para assegurar a
sua salvação, que escute e creia nas últimas palavras do
Salvador ao morrer: “Está consumado!”.

224
João 19:31-42

Quando os soldados chegaram para quebrar as


pernas dos crucificados, matando-os assim, comprovam
que com Jesus essa medida é inútil, pois já estava morto.
Para o malfeitor convertido, essa brutalidade significa o
cumprimento da palavra do Senhor: “Hoje estarás
comigo no paraíso” (Lucas 23:43). Mas um dos soldados
não teme profanar, com a sua lança, o corpo do Senhor
sobre a cruz (compare Zacarias 12:10). Um maravilhoso
sinal de graça é a resposta a este último ultraje: o sangue
da expiação e a água da purificação fluem de Seu lado
traspassado.
Em seguida ocorre o sepultamento de nosso amado
Salvador. Deus tem preparado dois discípulos para render
ao corpo de Seu Filho as honras anunciadas pelas
Escrituras: “Mas com o rico esteve na sua morte” (Isaías
53:9). Até então José e Nicodemos não haviam tido o
ânimo de tomar abertamente posição a favor dEle. Porém
agora, despertados pela magnitude do crime de sua
nação, compreendem que se guardassem silêncio seriam
culpados juntamente com os que concordaram com o
que foi feito. Queridos amigos crentes, nunca nos
esqueçamos de que o Mundo crucificou o nosso Senhor.
Se nos colarmos ou tivermos prazer em nos identificar
com os Seus assassinos, isso equivale a negá-LO. Mas
agora, pelo contrário, é o momento de corajosamente
nos dar a conhecer como sendo Seus discípulos.

225
Joào 20:1-18

A primeira pessoa que se apressa a ir à sepultura


nessa gloriosa manhã da ressurreição é Maria Madalena,
a mulher de quem o Senhor tinha expulsado sete
demônios (Marcos 16:9). Porém alguém esteve ali antes
que ela, visto que a pedra da sepultura já tinha sido
removida. Ela leva a notícia a Pedro e a João, os quais
vão correndo à sepultura e encontram a surpreendente
prova da ressurreição... e voltam às suas casas. Mas Maria
não pôde ir. Ela está tão determinada a encontrar o seu
amado Senhor (v. 13) que nem parece se surpreender
com a presença dos anjos.
O Senhor Jesus não pode deixar semelhante afeto
sem resposta. E o que faz vai além das expectativas de
Maria! E um Salvador vivo que se aproxima dela, chama-a
pelo seu nome e lhe confia a mensagem do mais sublime
valor, pois “a ligação pessoal com Cristo é o meio para a
verdadeira compreensão” (J. N. Darby). O Senhor Jesus
incumbe Maria de anunciar a Seus “irmãos” que a cruz,
longe de tê-LO separado deles, é a base de vínculos
completamente novos. E um fato de inestimável valor
que o Seu Pai tenha se tomado nosso Pai e o Seu Deus
o nosso Deus. O Senhor Jesus, para o gozo de Seu próprio
coração, nos tem colocado para sempre nessas felizes
relações (Salmo 22:22; Hebreus 2:11-12).

226
João 20:19-31

É a noite de um maravilhoso primeiro dia da semana.


Conforme havia prometido, o Senhor se apresenta em
meio de Seus discípulos reunidos (14:19). He mostra-lhes
as Suas m ãos e o Seu lado perfurado, “provas
incontestáveis” de que foi feita a paz deles com Deus
(Atos 1:3). Sopra neles nova vida (compare Gênesis 2:7;
1 Coríntios 15:45) e lhes envia a pregar o perdão dos
pecados a todos os que crerem (v. 23).
Tomé estava ausente naquele domingo. E quando os
demais discípulos lhe declaram: “Vimos o Senhor”, o seu
coração permaneceu frio e incrédulo. Quantos dos filhos
de Deus se privam das preciosas reuniões ao redor do
Senhor Jesus com semelhantes pensamentos... talvez
porque, no fundo de seus corações, eles não creem em
Sua presença. Tomé representa aqui o remanescente
judeu que, ao vê-LO mais tarde, reconhecerá o seu
Senhor e o seu Deus. Hes perguntarão: “Que feridas são
essas nas tuas mãos?” (Zacarias 13:6). Mas a porção
bem-aventurada dos redimidos nesta presente época
deve crer mesmo sem ver (1 Pedro 1:8). Para este fim
“foram escritas” estas coisas, não apenas para serem lidas
mas também para serem cridas. A nossa fé, fundada sobre
as Escrituras, deve se agarrar Aquele que dá a vida: o
Filho de Deus (v. 21).

227
João 21:1-14

Apenas sete discípulos estão no local de encontro


que o Senhor havia marcado com eles, a Galiléia (Mateus
26:32; 28:7). E, contudo, parece que esqueceram o objeto
de sua espera. Simão Pedro, a quem o Senhor havia feito
“pescador de homens”, retoma à sua antiga ocupação.
Não é de estranhar que “naquela noite nada apanharam”.
Como podería ser de proveito o trabalho feito segundo os
seus próprios pensamentos e sem a presença do Senhor?
O Senhor lhes havia prevenido que, separados dEle, nada
poderíam fazer (15:5). Mas tão logo Ele se encontra com
eles, tudo muda. O lado direito do barco tem uma única
mas essencial vantagem sobre o esquerdo: é o lado que
o Senhor Jesus lhes disse para lançar as redes.
E agora encontram com o Mestre, que já havia
preparado tudo de antemão para os Seus servos cansados.
Ele não precisou dos peixes deles (v. 9); contudo, não
menospreza o fruto de seu labor (v. 10) e permite que os
peixes sejam exatamente contados (v. 11).
Q ueridos am igos, quantas vezes, com o esses
discípulos, esquecemos o nosso próximo e importante
encontro com o Senhor? Quantas vezes também, em
meio às nossas circunstâncias, seja nos fracassos ou
êxitos, deveriam os ser capazes de discernir mais
prontamente Aquele que está nos falando, e reconhecer:
“É o Senhor” (v. 7).

228
Joâo 21:15-25

Restava ao Senhor realizar aqui na Terra um último


serviço de amor para com Seu discípulo Pedro. Três vezes
Pedro havia negado o Seu Mestre. E por três vezes foi
necessário ser provado com uma dolorosa pergunta:
Pretendeste ter mais amor por Mim que estes outros, mas
eles não Me negaram (Marcos 14:29). Onde está este
ardente am or do qual você falou? Não tenho tido
nenhuma prova dele. — “Senhor, tu sabes todas as
cousas, tu sabes que eu te amo”, é tudo que o pobre
discípulo por fim pôde dizer. Vai o Senhor deixá-lo de
lado? Pelo contrário, agora que Pedro perdeu a sua
confiança em si mesmo, está apto para o serviço do
Mestre. “Apascenta os meus cordeiros... Apascenta as
minhas ovelhas”, disse-lhe o Senhor (o original grego se
expressa com um diminutivo cheio de carinho: Minhas
ovelhinhas). Ao cuidar dos que o Senhor Jesus ama,
Pedro outra vez terá a oportunidade de demonstrar o seu
amor por Ele.
Aqui termina o Evangelho, porém tudo o que foi
feito, dito e experimentado pela Pessoa infinita que enche
as suas páginas, é de um inestimável interesse, e Deus
não o tem esquecido (v. 25). Haverá um inesgotável
“suprimento de livros” para lermos por toda a eternidade.
Para o tempo presente cada redimido deve reter com
fervor essas últimas palavras do Senhor: “Segue-me tu”.

229
A tos 1:1-14

Lucas, o inspirado autor do livro de Atos, começa seu


relato com a ascensão de Jesus ao céu — apesar de já ter
descrito este evento no fim de seu evangelho. Isto porque
a vinda do Espírito e toda a obra — “até aos confins da
terra” — dela decorrente são fatos que emanam da
presença de Cristo na glória (João 16:7). Além disso, esta
introdução confirma que tudo o que os apóstolos farão
corresponde aos m andam entos que receberam do
Senhor (v. 2 e 8) e justificará o serviço deles. E para que
seus pensamentos, que ainda estavam fixos nas coisas
terrenas, fossem elevados até He, Jesus lhes diz: “e sereis
minhas testemunhas” (v. 6). Hes eram os depositários
das maravilhosas verdades que diziam respeito ao Cristo:
que tinha padecido e agora estava vivo (v. 3); fora elevado
ao céu à vista deles (v. 9); e, segundo a infalível promessa
anunciada pelos anjos, voltaria da mesma maneira (v.
11). Os discípulos deveríam anunciar estas coisas por
meio do poder do Espírito Santo que em breve receberíam
(v. 8).
A primeira reunião depois da ascensão do Senhor é
consagrada à oração, e todos os apóstolos estão
presentes. Visto que estamos chegando ao final da
história da Igreja neste mundo; cuidemos de não estar
ausentes naquela que pode ser a última reunião antes de
Seu retorno (Hebreus 10:25)!

230
Atos 1:15-26

Pedro tom a a palavra no m eio dos primeiros


discípulos. Ele recorda o miserável fim de Judas, que se
havia enforcado (Mateus 27:5-8). Pavorosa morte, porém
um destino eterno m ais pavoroso ainda! (v. 25).
Baseando-se na luz e na autoridade das Escrituras, Pedro
mostra a necessidade de preencher o lugar do discípulo
caído. Doze apóstolos deveríam ser, por assim dizer, as
testem unhas oficiais desse fato fundam ental do
cristianismo: a ressurreição do Senhor (1 Coríntios
15:3-5). José, chamado Barsabás, e Matias estavam entre
os que haviam tido o privilégio de acompanhar o Senhor
Jesus durante Seu ministério. Talvez eles pertencessem
ao grupo dos setenta que outrora haviam sido enviados
em grupos de dois (Lucas 10:1). Depois de pedir ao
Senhor, que conhece o coração de todos os homens, que
lhes revelasse a Sua escolha, eles lançam sortes e Matias
é indicado.
Lançar sortes hoje não é mais o método apropriado,
pois o Espírito Santo está aqui e nos dá o discernimento
de que necessitam os. Com respeito a isso, seria
interessante comparar esta passagem com Atos 13:2,
onde o Espírito Santo ordena: “Separai-me agora a
Bamabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado”.

231
Atos 2:1-21

Alguns dias se passaram desde a ascensão do Senhor.


Sua promessa, bem como a do Pai, irá cumprir-se agora
(1:4). Sob a forma de “línguas repartidas, como que de
fogo”, o Espírito Santo, essa divina Pessoa, desce à Terra
e habita nos discípulos. Logo é manifestado neles o Seu
poder: eles com eçam a falar em línguas que não
conheciam. Dessa forma, Deus remedia em graça a
maldição de Babel (Gênesis 11:1-9).
Todos os anos a festa judaica de Pentecostes trazia à
Jerusalém um núm ero considerável de israelitas
espalhados entre as nações. Esta grande afluência de
pessoas dá oportunidade para a primeira grande reunião
evangelística. E que coisas admiráveis ouve a multidão!
Cada um ouvia falar em sua própria língua “as grandezas
de Deus”. E os que falavam eram “galileus” que não
tinham estudado (compare com 4:13; João 7:15). Para
ser um servo do Senhor não é necessário pertencer a uma
elite ou ter feito muitos estudos. Depender dEle e
submeter-se à condução de Seu Espírito são as condições
requeridas. Que cada um de nós possa preenchê-las!

232
Atos 2:22-41

Partindo de um texto do profeta Joel, Pedro


demonstrou aos judeus que o poder que operava no meio
deles era de origem divina. Igualmente nós, ao considerar
um texto bíblico, não esqueçamos que Deus está falando
conosco. Prosseguindo a pregação, Pedro recorda a
maravilhosa senda trilhada por Cristo, Sua morte e Sua
ressurreição anunciadas em muitas passagens do Velho
Testamento e agora atestadas pelos apóstolos. Em vista
disso, “a este Jesus”, que o povo havia crucificado, Deus
O fez assentar-Se à Sua destra, designando-O como
Senhor e Cristo. Que espanto p ara os carrascos
reconhecer que cometeram tal crime contra o próprio
Filho de Deus! Tocados em sua consciência, os ouvintes
sentem-se tomados ao mesmo tempo pela perplexidade
e pelo temor. Como apaziguar Deus após semelhante
ultraje? “Arrependei-vos” — diz-lhes Pedro. Isto não
significa apenas lastimar um mau procedimento, mas,
sim, julgar os atos cometidos (e esse juízo é emitido
juntamente com Deus, tomando os Seus critérios por
referência) e também abandonar a conduta anterior
(Provérbios 28:13). O arrependimento é a primeira
manifestação da fé (por isso, Pedro não os convida
primeiro a crer). Três mil pessoas convertem-se e são
batizadas depois dessa primeira pregação.

233
Atos 2:42-47 e 3:1-11

O capítulo 2 termina com um admirável retrato da


Igreja em seus primeiros dias. Havia, como hoje, reuniões
de edificação, de adoração e de oração (v. 42). As vezes
somos propensos a considerar que a vida da Igreja está
restrita a isto, ao passo que ela tam bém tem sua
continuidade na casa daqueles que a compõem (v. 46).
“Em cada alma havia temor”, segundo o versículo 43;
isto demonstra, portanto, que a seriedade e a solenidade
podem perfeitamente coexistir com a alegria descrita no
versículo 46.
No capítulo 3, vemos como o poder do Espírito Santo
manifesta-se não somente nas palavras dos apóstolos,
mas também em suas obras.
Ao pedir esmola a Pedro e a João, o pobre coxo que
estava sentado junto à “Formosa” porta do templo não
podia imaginar nunca o que iria receber: uma miraculosa
cura pela fé no nome de Jesus. “Mas o que eu tenho, isso
te dou”, disse Pedro (v. 6). Quando se trata de dar algo,
geralm ente logo pensam os em dinheiro e muito
raramente lembramos do inesgotável tesouro celestial,
que corresponde ao conhecimento do nosso Salvador.
Contudo, nós também temos o privilégio de anunciá-LO
aos que nos rodeiam.
Por qual transformação passou esse pobre coxo! Até
aquele momento estava junto “à porta”. Agora ele entra
na presença de Deus para adorá-LO (v. 8). Será que
algum dos nossos leitores ainda está “à porta”?

234
Atos 3:12-26

Tão logo ouvem a respeito da cura do coxo, os


curiosos se aglomeram. Todos estão cheios de admiração
e assombro (v. 10). Mas Pedro logo cuida que a atenção
seja desviada dele e de João, atribuindo o milagre ao
poder do nome de Jesus. Este feito demonstrava de
maneira bastante óbvia a vida e o poder que há na
ressurreição dAquele a quem eles haviam matado.
“Negastes o Santo e o Justo”, declara-lhes o apóstolo,
não para condená-los, mas como alguém que entende,
por experiência própria, a vergonha deste pecado (v. 14;
Lucas 22:54-61). “Eu sei que o fizestes por ignorância”
(v. 17), acrescenta, confirmando, por assim dizer, as
palavras do Salvador na cruz: “Pai, perdoa-lhes, porque
não sabem o que fazem” (Lucas 23:34). A oportunidade
concedida aqui aos judeus de ouvir o Evangelho e de
arrepender-se, é uma resposta ao pedido do Senhor na
cruz. Eles tinham em seu meio o testemunho do Espírito
Santo falando pela boca de Pedro e atuando visivelmente
na Igreja (2:44-47). Se a nação, reconhecendo seu
pecado, tivesse agora recorrido a Deus, o Senhor podería
ter voltado imediatamente (v. 20). Mas eles não estavam
dispostos a isso; porém, doravante não poderão mais
alegar ignorância.

235
Atos 4:1-22

Uma maravilha tão grandiosa quanto esta não poderia


deixar de provocar oposição por parte de Satanás. Seus
instrumentos nos são bem conhecidos: Anás, Caifás, os
sacerdotes, os anciãos e os escribas, em suma, os principais
responsáveis pela condenação do Senhor. Se tratassem
os discípulos com gentileza, estariam admitindo sua culpa
no assassinato do Mestre deles. O orgulho os impede
disso. Eles perseveram em seu ódio contra o nome de
Jesus. Ele mesmo Se tornou desde então a pedra de toque
por excelência: para alguns é “pedra angular, eleita e
preciosa”, mas para os descrentes “pedra de tropeço e
rocha de escândalo” (compare v. 11 e 1 Pedro 2:4-8).
O versículo 12 é fundamental. Afirma o caráter
exclusivo e necessário do nome de Jesus para que alguém
seja salvo.
Podia-se reconhecer nos discípulos que eles haviam
estado com Jesus (v. 13). Se nós vivermos em constante
comunhão com o Senhor, os demais notarão.
Toda a oposição dos líderes dos judeus não pôde
deter a ação do Evangelho (v. 14), nem calar a boca dos
apóstolos, pois eles foram chamados pelo próprio Deus e
receberam dEle a sua missão (v. 19). Daí, pois, a Sua
Palavra está neles como um “fogo ardente” (v. 20:
Jeremias 20:9).

236
Atos 4:23-37

Pedro e João retomam aos demais discípulos (“aos


seus”, como cita o versículo 23) e compartilham o que os
líderes do povo haviam dito. Mas, em vez de discutirem
a respeito do que deveria ser feito, recorrem ao recurso
que tinham em comum: a oração (6:4; 12:5 e 12; 14:23).
Eles perceberam que a rebeldia dos judeus e das nações
contra Deus e contra Seu “santo Servo Jesus” era o
cumprimento das Escrituras (ainda que isso tenha sido
apenas parcial até hoje, pois o Salmo 2 é uma profecia
escalonada; é por isso também que, ao citá-lo, eles
omitem a terrível resposta divina às provocações
humanas).
Intrepidez (ousadia) é uma palavra marcante neste
capítulo (w. 13,29,31). Esta, porém, não tem nada que
ver com a energia carnal que outrora impulsionava a
Pedro... e o abandonava um momento depois. Aqui os
discípulos obtêm intrepidez em resposta à oração. Que
possamos imitá-los quando nos faltar coragem para seguir
em frente!
Seguindo adiante, nos versículos 32 a 37, temos uma
nova e magnífica descrição da Igreja no frescor do seu
primeiro amor. Mesmo cientes da impossibilidade de
retomar essa feliz primeira condição, esforcemo-nos para
manifestar o espírito daqueles tempos, renunciando ao
nosso próprio egoísm o e aproveitando cada
oportunidade para servir aos nossos irmãos.

237
Atos 5:1-16

No início do capítulo 4 notamos a operação do


Inimigo contra a verdade partindo de fora da Igreja. O
capítulo 5 começa com a ação do Inimigo dentro da Igreja.
Desde aquele tempo até hoje, Satanás não cessou de agir
dessas duas maneiras. O espírito do “querer imitar” e o
desejo de aparentar piedade levaram Ananias e Safira a
mentir. Pedro os repreendeu com santa indignação e a
mão de Deus pesou sobre eles logo a seguir. Todo crente
verdadeiro não perde sua salvação (João 10:27-29), e a
nossa passagem tampouco questiona a salvação — o
destino eterno — deles. O que tem os aqui é a
manifestação do governo de Deus. Não pensemos que,
agora que somos objetos da Sua graça, Deus tem menos
horror pelo pecado. Ele é santo e assim devem ser os
Seus filhos (1 Pedro 1:15-17).
Um grande temor se apodera dos presentes. E um
sentimento que também nós deveriamos cultivar diante
dAquele que conhece os nossos m ais íntimos
pensamentos.
Os versículos 12-16 nos falam de milagres que eram
feitos “pelas mãos dos apóstolos” — operações cuja força
motriz era o am or— e nos mostram que não basta apenas
admirar os crentes; cada pessoa deve dar o seu próprio
passo de fé e aproximar-se do Senhor (w. 13-14). Em
Apocalipse 21:8, os covardes ocupam o primeiro lugar
na lista dos que estarão etemamente perdidos.

238
Atos 5:17-32

O sumo sacerdote e os que o acompanham estão


cheios de inveja ao ver homens sem instrução e que não
pertencem ao clero obter tanto êxito com as multidões.
Além do mais, os saduceus, que negam a ressurreição,
estão particularmente ressentidos porque os apóstolos
anunciam a ressurreição do Senhor Jesus (v. 17, cap.
4:1-2). Incapazes de impor sua autoridade de outra
maneira, prendem esses homens a quem não conseguem
calar. Mas o Senhor envia um anjo para libertar Seus
servos e eles imediatamente voltam ao templo para
ensinar. Isso é anunciado aos líderes, que os fazem
comparecer diante do Sinédrio (o conselho deliberativo
dos líderes). “Vós quereis lançar sobre nós o sangue desse
hom em ”, dizem, sendo que eles m esmos haviam
afirmado perante Pilatos: “Caia sobre nós o seu sangue,
e sobre nossos filhos!” (Mateus 27:25). E novamente
tentam persuadir os apóstolos a silenciar. Mas Pedro e
seus companheiros respondem: “Antes importa obedecer
a Deus do que aos homens”. E mais uma vez esses
intrépidos homens rendem um brilhante testemunho à
gloriosa ressurreição do Senhor Jesus, “Príncipe e
Salvador”, bem como à remissão dos pecados por
intermédio da fé no Cristo.

239
Atos 5:33-42

Depois de haver usado um anjo para livrar os Seus


servos, Deus agora usa Gamaliel, um eminente fariseu
(da seita de oposição aos saduceus). Ele era um doutor
da lei, conhecido e respeitado pelos judeus. Com
m oderação, em pregando exem plos que todos
conheciam, ele exorta seus colegas a ter paciência, pois o
fim daquela obra mostraria se ela era dos homens ou de
Deus. Afora isso, não é muito difícil discernir de que lado
estão aqueles que dizem ser alguém, como Teudas (v.
36). Q uão distinta era a conduta dos apóstolos!
Reconheciam que não eram nada, e davam toda a glória
ao nome de Jesus, a quem perseveravam em anunciar
(cap. 3:12; 4:10).
O Senhor anteriormente havia advertido os discípulos
que eles seriam perseguidos e entregues às sinagogas e
aos cárceres (Lucas 21:12). Efetivamente, todas essas
provas não tardaram em sobrevir (w. 17-22) e desde
então não cessaram de ser a porção de muitos crentes.
Nós muitas vezes agradecemos ao Senhor por nos ter
guardado de perseguições tais como ocorrem em outros
países. Mas não esqueçamos que é uma honra sofrer pelo
Seu nome. Os apóstolos alegraram-se por “terem sido
considerados dignos de sofrer afrontas por esse Nome”
(v. 41; 1 Pedro 4:19; Mateus 5:11-12).

240
Atos 6:1-15

O harmonioso retrato da Igreja descrito em Atos


2:42 e 4:32 já ficou turvado. No meio dos discípulos há
murmuração, ou seja, uma reclamação que não se
atreveram a fazer em voz alta. Estejamos atentos para
não dar m argem a tais m urm urações de
descontentamento ou de inveja, pois o “exterminador”
vale-se delas para perturbar a comunhão dos filhos de
Deus (1 Coríntios 10:10).
Para remediar este estado de coisas são eleitos
diáconos (“servos” no texto grego). Nós não
imaginaríamos que até para servir às mesas é necessário
estar “cheio do Espírito Santo” (v. 3). Mas estar “cheio do
Espírito Santo” é o estado normal do cristão, e também
pode ser o nosso, se o desejarmos de todo o coração!
Porém isso não implica pedir, como pensam alguns, por
uma experiência ou por uma renovada vinda do Espírito
Santo. Ele já habita no crente. O que é preciso é ceder-lhe
todo o controle do templo do nosso coração.
Em Estêvão, particularm ente, o Espírito Santo
manifesta-Se sob Suas três virtudes características: o
poder, o amor e a moderação (ou seja, o entendimento;
compare versos 8 e 10 com 2 Timóteo 1:7). As obras (v.
8) e as palavras (v. 10) desse servo de Deus silenciam
seus adversários, que precisam subornar falsas
testemunhas contra ele (comparar com Mateus 26:59).
Mas, mesmo com todas essas acusações, seu rosto brilha
com a beleza celestial (v. 15).

241
Atos 7:1-19

Quando o sumo sacerdote lhe dá a palavra, Estêvão


não aproveita a oportunidade para defender-se das falsas
acusações. O Espírito Santo, que o preenche, ensina-lhe
“na mesma hora” o que dizer (Lucas 12:11-12). Ele se
serve da história de Israel para mostrar os caminhos de
Deus e Sua a fidelidade, e expor ao mesmo tempo a
infidelidade do Seu povo. Aliás, esse relato, que ocupa
um lugar relevante na Palavra de Deus, contém, sob a
forma de “figuras”, vários ensinos destinados a servir de
advertência (1 Coríntios 10:11).
“Abraão, quando chamado, obedeceu” (Hebreus
11:8). Pela fé, ele se tinha apoderado das promessas que
Deus lhe havia feito antes do nascimento de Isaque. Seus
descendentes deviam morar algum tempo no Egito,
submetendo-se ao jugo da escravidão, para depois sair
desse país e servir a Jeová na terra prometida. No versículo
7, Estêvão cita: “E depois disto sairão daí e me servirão”
— era uma palavra muito apropriada para alcançar a
consciência desse povo desobediente e rebelde.
A história de José, rejeitado por seus irmãos mas
exaltado por Faraó, ilustra de forma notável o ódio dos
judeus contra Cristo, bem como a gloriosa posição que
Deus Lhe conferiu depois de tê-LO livrado de “todas as
suas aflições” (v. 10).

242
Atos 7:20-43

Estêvão havia sido acusado de proferir blasfêmias


contra Moisés (6:11). Mas notem, ao contrário, com que
reverência ele fala deste patriarca! A beleza que Deus via
no menino Moisés desde o seu nascimento (v. 20), depois,
seu poder em palavras e obras (v. 22), seu amor por seus
irmãos que o moveu a visitá-los (v. 23), a incompreensão
que encontrou quando quis libertá-los (w. 25, 35), são
todas características que deviam servir para voltar a
atenção do povo ao precioso Salvador a quem eles tinham
rejeitado. Além disso, o mesmo Moisés havia anunciado
a vinda de Cristo e exortado o povo a escutá-LO (v. 37).
O apóstolo Pedro já havia citado esse versículo de
Deuteronômio 18:15 em seu discurso de Atos 3:22. Um
duplo testem unho do cumprimento das Escrituras!
Porém, desde o começo de sua história, esse povo
mostrou-se desobediente e idólatra e, apesar das grandes
evidências de amor e de paciência da parte de Deus, o
caráter empedernido do povo não mudou. Isso também
acontece com nosso pobre coração. Até onde podemos
recordar, até mesmo na nossa mais tenra infância,
encontraremos desobediência e cobiça. Somente o poder
de Deus tem sido capaz de dar-nos uma nova natureza.

243
Atos 7:44-60

Estêvão termina seu relato. Ele estava perante o


Sinédrio na condição de acusado, porém os papéis agora
se inverteram: E ele que, da parte de Deus, julga esse
povo de “dura cerviz” (Êxodo 32:9; 33:3). He, que está
cheio do Espírito Santo, diz: “Vós sempre resistis ao
Espírito Santo”. Ah! Não resistimos nós mesmos muitas
vezes ao Espírito, quando se trata de fazer a vontade de
Deus e não a nossa própria?
Que contraste entre a paz do discípulo, absorto pela
visão gloriosa de Jesus à destra de Deus, e o furor de seus
adversários. O ódio os induz, mesmo sem nenhum
julgamento, a cometer um crime que resulta na rejeição
dos judeus como nação por muitos séculos e na sua
dispersão pelo mundo. Se compararmos as últimas
palavras desse fiel testemunha (w. 56, 60) com as do
Senhor Jesus na cruz (Lucas 23:34,46), podemos notar
ainda mais a semelhança desse discípulo com o seu
Mestre.
Este homicídio é a trágica conclusão da história do
rebelde povo judeu, que Estêvão acabara de narrar. Ele
a confirma com seu próprio sangue, tornando-se, depois
de uma longa lista de profetas perseguidos (v. 52), o
primeiro mártir da Igreja (1 Tessalonicenses 2:15-16).

244
Atos 8:1-25

O Senhor havia ordenado aos discípulos: “Sereis


minhas testemunhas tanto em Jerusalém, como em toda
a Judeia e Samaria, e até aos confins da terra” (1:8). Até
então eles haviam cumprido somente a primeira parte
dessa ordem. Para fazê-los passar à etapa seguinte, o
Senhor emprega, em Sua sabedoria, um doloroso meio:
a perseguição (da qual a morte de Estêvão era o primeiro
sinal). Isso resultou na dispersão dos crentes e, por
conseguinte, na difusão do Evangelho a outras partes.
Assim, um vento desagradável muitas vezes opera o feliz
resultado de carregar para longe as úteis sementes.
Filipe, o evangelista (também citado no capítulo 6:5),
vai a Samaria para pregar “a Cristo” (portanto não uma
doutrina, mas uma Pessoa, w . 5 e 35). Que tremendo
poder nossos testem unhos teriam se, em vez de
apresentarmos apenas verdades, falássemos sobre Aquele
do qual nosso coração está (ou deveria estar) cheio!
E aconteceu que esses sam aritanos, odiados e
desprezados pelos judeus, doravante compartilharam
com eles do mesmo batismo e do mesmo dom do Espírito
Santo. Nem o nascimento, nem o mérito, nem dinheiro
— como imaginava Simão, o mágico — dão acesso a tal
privilégio. Tudo resulta da pura graça de Deus.

245
Atos 8:26-40

Filipe acabara de ser o instrumento de uma grande


obra em Samaria. Quão grande deve ser sua surpresa ao
receber agora a ordem de deixar o seu campo de trabalho
e dirigir-se a um caminho deserto! Certamente é um lugar
estranho para pregar o Evangelho! Contudo, ele obedece
sem discutir. E eis que passa o carro de um alto oficial
africano que fizera uma longa viagem para adorar em
Jerusalém. Mas como esse homem podería ter encontrado
a Deus nessa cidade onde rechaçaram o Seu Filho? No
entanto, de lá ele traz um tesouro infinitamente mais
valioso do que o de sua rainha (v. 27): uma porção das
Sagradas Escrituras. E Deus o conduziu em sua leitura até
o coração do livro de Isaías, ou seja, o capítulo 53. Veja
que o Senhor havia preparado tudo para o seu servo. Por
intermédio dele, o etíope aprende a conhecer o Senhor
Jesus. Ele pôde ser batizado e agora segue o seu caminho
“cheio de júbilo” para — gostaríamos de supor — ser um
mensageiro da graça em seu país distante.
Os evangelistas não são apenas os que pregam para
grandes multidões. Quanto a nós, comecemos por ser
obedientes, em especial no que concerne a nossas
mudanças de caminho — por exemplo: o endereço ou o
emprego. Então o Senhor também nos permitirá, no
momento apropriado, deparar com alguém a quem
possamos anunciar Jesus.

246
Atos 9:1-19

Atos 8:3 mencionava um jovem, Saulo, como sendo


um grande adversário dos cristãos. De acordo com suas
próprias palavras, era “blasfemo, e perseguidor, e
opressor”, em resum o, o principal dos pecadores
(1 Timóteo 1:13-15). Já não lhe bastava torturar os
cristãos de Jerusalém: em seu furor e fanatismo iria
persegui-los até mesmo nas cidades estrangeiras onde o
evangelho estava chegando (26:11). Porém, o poder de
Deus arrancaria de Satanás um de seus melhores
instrumentos para colocá-lo a Seu serviço. Aqui está ele,
dirigindo-se para Damasco, com uma procuração do
sumo sacerdote em mãos, e um implacável ódio no
coração contra os seguidores do Senhor. Mas no
caminho, por volta do meio-dia, ele repentinamente é
cegado por um a luz resplandecente e cai em terra.
Imaginemos o choque de Saulo ao perceber que do alto
de Sua glória lhe falava agora Jesus, a quem ele perseguia
na pessoa dos discípulos. Sim, pois o Senhor Se identifica
com Seus amados redimidos; eles são parte dEle mesmo.
Saulo é conduzido a Damasco, em meio a uma
profunda obra que estava sendo operada em sua alma. O
Senhor encarrega Ananias de visitar o novo convertido
para abrir-lhe os olhos e batizá-lo.

247
Atos 9:20-43

Tão logo se converteu, Saulo começou a pregar o


nome dAquele que tanto havia combatido (v. 20). No
entanto, muitos anos ainda seriam necessários para
prepará-lo para o ministério ao qual tinha sido chamado
(v. 15). Jovens amigos crentes: nâo esperem até terem
um grande conhecimento para anunciar o Senhor aos
outros. Mas também não pensem que, uma vez salvos,
vocês já estão habilitados para todo tipo de ministério.
Paulo precisou primeiro de um período reservado na
Arábia (Gálatas 1:17) e depois outro retiro em Tarso (Atos
9:30 e 11:25) antes que fosse enviado, junto com
Barnabé, a anunciar o evangelho às nações. Somente
catorze anos após sua conversão os outros apóstolos lhe
estenderam “a destra de comunhão” (Gálatas 2:9) para
a obra entre os gentios.
As igrejas daquele período inicial tinham quatro belas
marcas características: a paz, a edificação, um santo temor
e o crescimento operado pelo Espírito Santo (v. 31). O
Espírito Santo está conosco ainda hoje para que possamos
experimentar e mostrar essas quatro características.
O capítulo term ina com a cura de Enéias e a
ressurreição de Dorcas: dois milagres operados por Pedro,
que vêm a ser o canal para levar muitas almas ao Senhor
Jesus e fazer os discípulos gozar o conforto do Espírito
Santo.

248
Atos 10:1-24

Este capítulo é de grande importância para nós que


som os das nações gentias, ou seja, não-judeus.
Efetivamente, vemos Pedro abrindo-lhes as portas do
reino dos céus (Mateus 16:19). Ele é instrumento no
avanço do evangelho, que agora alcança os gentios —
sendo Cornélio o primeiro deles. Notemos com que
cuidado e com que graça Deus preparou Seu servo por
um lado, e Cornélio por outro, para o encontro que havia
de trazer resultados tão maravilhosos tanto para Cornélio
como para nós. A revelação de Deus manifesta-se a um
e ao outro por ocasião da mesma ocupação preciosa: a
oração! Mas a relutância de Pedro em comer o conteúdo
do grande lençol que baixava do céu mostra o quanto os
judeus, e mesmo os discípulos, estavam profundamente
arraigados na tradição, e que espírito de superioridade
tinham frente aos pagãos. Por intermédio dessa visão,
Deus queria ensinar Pedro que não fizesse mais diferença
entre um povo “puro” e as nações “impuras”. Todos os
povos, judeus e gentios, são pecadores impuros,
“encerrados na desobediência”, e são objetos da mesma
misericórdia (Romanos 10:12; 11:30-32). Que Deus nos
guarde, portanto, de fazer “acepção de pessoas” (v. 34)
ao considerar alguns menos dignos do que outros de
receber o evangelho! Nós não devemos escolher, mas,
sim, obedecer.

249
Atos 10:25-48

Deus recorre a diferentes meios para fazer as pessoas


conhecê-LO. A conversão do etíope (cap. 8), a de Saulo
(cap. 9) e a de Comélio (cap. 10) foram bem distintas.
Aliás, reconhecemos nesses três homens as três linhagens
descendentes de Noé — toda a humanidade (Gênesis
10): Cam (as raças africanas e asiáticas); Sem (Israel e
certos povos orientais); e Jafé (as nações do Norte e do
Ocidente). “Por meio de Seu nome, todo o que nele crê
recebe remissão de pecados”: tal é doravante a mensagem
universal dirigida a “toda tribo, língua, povo e nação” (v.
43; Apocalipse 5:9). Na pessoa de Cornélio, os que
“estavam longe” agora ouvem o “evangelho da paz por
meio de Jesus Cristo” (v. 36; cap. 2:39; Efésios 2:17).
Que visitas realmente gloriosas para esta casa outrora
pagã: primeiro, um anjo (v. 3); depois, Pedro e os irmãos,
que o acompanham trazendo a mensagem do evangelho;
e, finalmente e sobretudo, o Espírito Santo, que veio para
selar esses novos convertidos, dando testemunho de sua
fé e de sua qualidade de filhos de Deus. Seria possível
não reconhecer neste sinal tão claro— nesta manifestação
pública — a vontade da graça de Deus? A vista dessas
coisas, não resta a Pedro senão confirmá-la com o batismo
cristão (v. 48).

250
Atos 11:1-18

N unca julguem os pelas aparências ou por


circunstâncias das quais não temos pleno conhecimento.
E bem possível que um cristão cujo comportamento
estranhamos esteja agindo em obediência ao Senhor.
Foi o caso de Pedro quando entrou na casa de Comélio
e comeu com ele. “Os que eram da circuncisão” quiseram
ater-se apenas a esses detalhes (v. 2), ao passo que
naquela casa haviam sucedido coisas maravilhosas.
A salvação dos gentios estava anunciada no Antigo
Testamento (Isaías 49:6 e 65:1). O próprio Pedro havia
feito alusão a isso em seu primeiro discurso (Cap. 2:21,
39). Eram necessárias, porém, evidências mais concretas
para dissipar o preconceito dos irmãos em Jerusalém. O
relato de Pedro lhes dava estes elementos, atestados
tam bém pelas seis testem unhas que o tinham
acompanhado. Ao ouvir como o apóstolo fora inspirado
e conduzido à casa de Comélio e, acima de tudo, como
o Espírito Santo descera sobre os gentios, todos
reconheceram a vontade de Deus e deram-Lhe glória.
Alegremo-nos por essa tão grande bênção que se
estendeu até nós, e — se ainda não o fizemos —
apressem o-nos em receberm os tam bém o
“arrependimento para a vida” (v. 18).

251
Atos 11:19-30 e 12:1-6

Pela morte de Estêvão ratificou-se a rejeição dos


judeus como povo de Deus. Para eles fecha-se a porta da
graça, a qual é aberta agora para as nações. Grande
número de gregos converte-se ao Senhor (w . 20-21).
O Senhor Jesus já havia, de antemão, contemplado este
fruto da Sua obra numa quando alguns gregos tinham
desejado vê-LO (João 12:20-26).
Em A ntioquia form a-se agora um próspera
congregação na qual, durante um ano, Paulo e Bamabé
exercem seu ministério. O povo da cidade observa a vida
desses crentes e atribui-lhes o nome de seu Senhor: eles
y>

são, pela primeira vez, chamados de cristãos . E uma


honra — mas também uma responsabilidade — levar o
próprio nome de Cristo. Quantos — ou seria “quão
poucos?” — dentre a multidão dos que foram batizados
e carregam o belo título são verdadeiramente cristãos?
O amor fraternal dos crentes de Antioquia é expresso
nas doações aos “irmãos que moravam na Judéia” que
estavam por padecer fome (w. 27-30) e perseguição
(12:1-4). Pois Herodes Agripa (12:1) está demonstrando
ser um sucessor a altura de seu tio Herodes Antipas (Lucas
13:31-32; 23:11), e de seu avô Herodes, o grande (Mateus
2). Sua crueldade e o desejo de agradar aos judeus (v. 3;
Marcos 6:26) o levara a matar Tiago, o irmão de João, e
a jogar Pedro no cárcere.

252
Atos 12:7-25

Nem as cadeias, nem os dezesseis soldados, nem as


intenções assassinas de Herodes são empecilho para que
Pedro durma em paz na prisão. Tampouco havería algo
que pudesse impedir o Senhor de libertar o Seu amado
servo (Salmo 121:4). Um anjo o acorda e o faz sair com
poder (w. 7, 10) e com solicitude (v. 8). Quando Deus
age tudo fica tão fácil! Ele conhecia a criminosa
“expectativa do povo judaico” (v. 11), mas também tinha
ouvido a “incessante oração” da igreja a favor de Pedro
(v. 5), e esta última prevaleceu. Infelizmente, quando as
orações foram respondidas com a chegada do apóstolo,
faltou-lhes fé para reconhecê-lo. Quantas vezes temos
orado com nossos lábios, sem realmente esperar pelo
objeto de nossa petição! Quantas vezes ainda estamos
duvidando, apesar de a resposta já estar à porta!
Herodes está surdo a todas advertências divinas. Mas
compraz-se em dar ouvidos às lisonjas do povo de Tiro e
Sidom que, por razões políticas, tentam conquistar a
amizade daquele homicida. Repentinamente, diante de
todos, é ferido por um anjo do Senhor e cai morto de
forma infame. Por outro lado, a Palavra do Senhor, que
Herodes atacou em sua loucura, estende-se mais que
nunca (v. 24).

253
Atos 13:1-12

Aqui começa um a nova divisão do livro de Atos.


A igreja de Antioquia é o ponto de partida para a obra
que está para ser feita entre as nações. Bamabé e Saulo
recebem o chamado, são separados pelo Espírito Santo
e partem para a viagem apoiados pelas orações da igreja.
Sua primeira etapa é a ilha de Chipre, terra natal de
Bamabé (4:36). Ao chegar a Pafos, os apóstolos são
convocados pelo procônsul Sérgio Paulo, o mais alto
funcionário romano da ilha. Este “homem inteligente”
conhecia o Deus dos judeus e desejava ouvir Sua Palavra.
Porém , tinha um preocupante personagem por
conselheiro: Elimas, um mágico judeu (atividade que era
abominável aos olhos de Deus — vide Deuteronômio
18:9-10), que se aproveita da necessidade espiritual de
Sérgio Paulo para exercer sobre ele uma influência
maligna. Mas a oposição deste hom em produziu
exatamente o que ele mais quis evitar; permite a Paulo—
chamado assim pela primeira vez — dar ao procônsul
uma prova do poder do Senhor ao castigar o falso profeta.
Elimas é a figura do povo judeu que, por causa de sua
resistência ao Espírito de Deus, está agora cegado “por
algum tem po”, o que, no entanto, reverteu-se em
benefício das nações (também chamadas de gentios).

254
Atos 13:13-31

Os apóstolos prosseguem viagem e chegam à Panfília.


Ali, porém, Jo ã o — também chamado Marcos (12:12) —
abandona-os e volta a Jerusalém. Sua fé não estava à
altura do serviço para o qual se havia comprometido,
nem das dificuldades que notou que enfrentaria. Não
basta apenas acompanhar um servo de Deus ou imitá-lo.
Até mesmo num trabalho em cooperação, cada um é
responsável por si perante o Senhor e tem de ser
impulsionado por sua própria fé pessoal.
Na sinagoga de Antioquia da Pisídia, Paulo dirige-se
aos judeus fazendo-os recordar, como o fez Estêvão, da
história de Israel. Mostra-lhes como Deus havia cumprido
em Jesus as promessas feitas a Davi (Salmo 132:11). Não
era o próprio Davi uma figura do Salvador que surgiría de
sua descendência? (v. 23). Pois, em contraste com Saul,
rei segundo a carne, o próprio Deus havia escolhido em
Davi um homem segundo o Seu coração, que faria toda
a Sua vontade (v. 22).
Tudo se conjugava perfeitamente comprovando que
Jesus era o Messias: o testemunho de João após o de
todos os profetas; o cumprimento das Escrituras na morte
de Jesus, até mesmo pelo fato de não terem podido
acusá-LO de crime algum (v. 28; Isaías 53:9), e,
sobretudo, a Sua ressurreição (v. 30).

255
Atos 13:32-52

“E, se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação”,


escreve o apóstolo aos coríntios (1 Coríntios 15:14).
Surpreende-nos, então, notar que ele tanto enfatiza a
ressurreição do Senhor Jesus? Aos judeus a ressurreição
demonstrava que He de fato era o Messias prometido, do
qual falavam o Salmo 16 e outras escrituras (w. 34-35).
Aos pagãos, era a demonstração do poder de Deus e a
prova do juízo que está determinado (17:31). Para nós,
os crentes, a presença na glória de nosso Redentor vivo
é a garantia de que Deus reconheceu a obra que fez em
prol de nossa justificação (Romanos 4:25), de que nossa
porção é celestial (Colossenses 3:1-2) e de que nossa
esperança está “segura e firme” (Hebreus 6:18-20).
As “boas novas da promessa” (v. 32) encontram
somente blasfêmia e contradição por parte dos miseráveis
judeus (v. 45). Então os apóstolos, por ordem do Senhor,
solenem ente voltam-se para os gentios (v. 46) ao
confirmar que a remissão dos pecados é concedida a
todo aquele que crê (w. 38-39).
Aqueles judeus não se julgavam dignos da vida eterna
(v. 46). Isto é incredulidade, e de maneira nenhuma
humildade! Na parábola do filho pródigo, o Senhor faz
referência a esse tipo de gente na pessoa do filho mais
velho (Lucas 15:25-30). Por seu egoísmo e sua própria
justiça, ele se privou voluntariamente da alegria da casa
paterna.

256
Atos 14:1-28

Em Icônio, a Palavra produz o mesmo efeito visto


anteriormente: fé em grande núm ero de pessoas e
oposição em outras. Os apóstolos falam ousadamente. E
qual o segredo da coragem deles? E a sua dependência
do Senhor que, por sua vez, cooperava com eles,
confirmando a Palavra com sinais e prodígios (v. 3;
Marcos 16:20). A cura de um homem coxo realizada em
Listra— depois que os apóstolos foram expulsos de Icônio
— impressiona profundamente aqueles pobres pagãos.
Eles se dispõem a adorar como deuses aqueles homens
que em outro lugar quase foram apedrejados. Para os
apóstolos, a nova situação é pior que a de antes.
Horrorizados, eles exortam esses idólatras para que se
convertam ao Deus vivo (12:22-23). Porém os
sentimentos da multidão são facilmente demovidos! Basta
que cheguem os judeus de Icônio, contando mentiras e
instigando a multidão, para que as opiniões mudem e,
com o consentimento de todos, Paulo seja apedrejado.
Mas o Senhor guarda o servo fiel, que não se amedronta
nem se desencoraja. Prossegue tranqüilamente seu
ministério, passando novamente pelas cidades onde o
evangelho já tinha sido pregado. Assim termina a primeira
viagem missionária. Os apóstolos relatam à Igreja todas
as coisas gloriosas que o Senhor realizara com eles.

257
Atos 15:1-21

Os crentes das igrejas de Jerusalém e da Judeia eram


de origem judaica. Eles se alegraram muito ao saber das
conversões entre os gentios; porém, alguns pensavam
que, para tomar-se cristãos, havia o requisito prévio de
tomar-se judeus, enfim, da circuncisão e da observância
da lei. Paulo e Bamabé imediatamente percebem o perigo
dessa linha de argumentação, a mesma que mais tarde
obrigaria Paulo a escrever uma severa carta aos gálatas.
“Voltar à escravidão da lei” — diz-lhes ali — não é outra
coisa senão “decair da graça” (Gálatas 5:1-6).
Essa questão gerou o perigo de causar uma divisão
entre Jerusalém e Antioquia. Deus conduziu tudo de tal
maneira que a questão é discutida em Jerusalém, e a
unidade da Igreja é preservada. Pedro, e depois Tiago,
tomam a palavra e confirmam que tanto os gentios como
os judeus são salvos de uma mesma e única maneira:
pela graça do Senhor Jesus (v. 11). E recomenda cuidado
para não perturbar ou submeter os novos convertidos
com o que Paulo chama de “rudimentos fracos e pobres”
(Gálatas 4:9). No entanto, persistem as ordenanças que
Deus estabeleceu antes mesmo do povo de Israel; estas
valem para todos os tempos e para todas as gentes. E o
caso da abstinência do sangue, que remete ao dilúvio
(Gênesis 9:4), e do respeito ao matrimônio, que vem da
criação (Mateus 19:4-8).

258
Atos 15:22-41

Os apóstolos e os anciãos, que se reuniram em


Jerusalém, ocuparam-se cuidadosamente da questão que
lhes foi apresentada. Toda a assembléia está de acordo
com as conclusões de Tiago (w. 22,25). E a carta enviada
por intermédio de Judas e Silas fortalece e conforta os
irmãos de Antioquia que estavam transtornados (v. 24).
Além disso, a visita dos dois servos de Deus contribui
muito para a edificação da igreja (v. 32). Por fim, os
esforços do Inimigo para turbar e provocar divisões
terminam produzindo o efeito oposto (Provérbios 11:18).
A fé dos discípulos é fortalecida e os vínculos de
comunhão entre as igrejas são estreitados. Uma vez mais,
o maligno foi frustrado em sua obra.
Removidas todas as dificuldades, a obra do Senhor
pode ser retom ada. A preocupação pelas igrejas
constituídas durante sua primeira viagem leva Paulo a
em preender um a segunda viagem “para ver como
passam” espiritualmente (2 Coríntios 11:28). Mas desta
vez, Barnabé não o acom panha. O motivo é um a
discordância sobre Marcos, o primo de Barnabé. Mais
tarde o apóstolo retomará sua confiança em Marcos, e
este lhe será “útil para o ministério” (Colossenses 4:10;
2 Timóteo 4:11).

259
Atos 16:1-15

Paulo está novamente em Derbe e Listra, onde, por


ocasião de sua primeira visita, tinham-se formado
algumas igrejas. Aqui nos é apresentado o jovem Timóteo,
cujo nome significa “honrado por Deus”. Ele havia sido
instruído no conhecimento das Sagradas Escrituras por
uma mãe e uma avó piedosas (2 Timóteo 1:5 e 3:15).
Essa foi uma boa preparação para o serviço que daqui
em diante ele haveria de cumprir juntamente com o
apóstolo, ‘como um filho servindo ao pai’ (Filipenses
2 :22 ).
A partir do versículo 10, a formulação da sentença
com “nós” (oculto) revela que o escritor desse livro, Lucas,
passou a estar com eles também (com Paulo e Silas).
Olhando o mapa, percebe-se que primeiro quiseram ir
Çara a esquerda, para a província da Ásia (a região de
Efeso), depois para a direita, até a Bitínia. Mas o apóstolo
e seus companheiros foram chamados pelo Espírito a
seguir rumo reto, à frente, para a Macedônia, do outro
lado do mar Egeu. Ao servo obediente convém cuidar-se
para não forçar portas fechadas, ao contrário, deve
esperar por orientação de cima.
Assim, Filipos é a primeira cidade da Europa a ouvir
o evangelho, e a primeira conversão mencionada é a de
Lídia. O Senhor lhe abriu o coração para que estivesse
atenta à mensagem. Peçamos ao Senhor que também
abra o nosso coração e nos guarde de todas as distrações
cada vez que ouvirmos a Sua Palavra.

260
Atos 16:16-40

A cura da jovem possessa por espírito satânico


acarretou torturas e prisão para os dois servos de Deus.
Eles poderíam ter pensado: Que recepção estranha após
nos chamarem para ajudá-los aqui! (v. 9). Mas Paulo põe
em prática o que mais tarde recomendaria aos cristãos
daquela cidade: “Alegrai-vos sem pre no Senhor!”
(Filipenses 4:4). Coberto de feridas, ainda assim ele e
Silas são capazes de cantar na prisão. Certamente, esses
sinistros muros nunca haviam ressoado ecos semelhantes.
Que testem unho davam esses cânticos a todos os
ouvintes! Q uanto mais difíceis forem as nossas
circunstâncias, tanto mais a nossa paz e nossa alegria
falarão aos que nos conhecem! Algumas vezes, esta é a
razão pela qual o Senhor nos manda tribulações.
A este fiel testemunho, o Senhor agrega o Seu próprio
libertando os prisioneiros. Apavorado, o carcereiro
exclama: “Senhores, que devo fazer para que seja salvo?”.
A resposta, maravilhosamente simples, serve para cada
alma angustiada: “Crê no Senhor Jesus!” (w . 30-31). E,
por conseqüência, a alegria enche toda a casa.
Após essa m em orável noite, os apóstolos são
oficialmente liberados; mas eles não deixam a cidade
sem antes terem confortado os irmãos (v. 40).

261
Atos 17:1-15

De Filipos, Paulo e seus companheiros se dirigem a


Tessalônica, outra cidade da Macedônia. Alguns judeus
e numerosos gregos, entre eles algumas mulheres nobres,
acolhem a palavra que lhes é anunciada
(1 Tessalonicenses 1:5). Mas a maioria dos judeus,
impelida por Satanás, incita o povo contra os evangelistas.
Eles não hesitam em servir-se de homens maus que eles
próprios desprezavam; e perante os magistrados da
cidade apelam com o mesmo argum ento que fora
proposto a Pilatos: “Não temos rei, senão César” (João
19:15; v. 7).
A estada de Paulo em Tessalônica acaba sendo breve,
por volta de três semanas. Mas Deus assim o permitiu
para nosso próprio proveito, pois o apóstolo depois se
viu obrigado a complementar os seus ensinos por meio
de duas epístolas, tão ricas em instruções para todos nós.
Em Beréia, os judeus são mais nobres e corretos. Em
vez de deixar-se cegar pela inveja (v. 5), eles procuram
firmar sua fé com o estudo diário da Palavra de Deus,
acatando-a como a soberana autoridade (v. 11; João
5:39).
Gostaríamos de recomendar a todos os nossos leitores
que sigam o exemplo dessa gente de Beréia (a começar
pela consulta das citações bíblicas que indicamos). Este é
o objetivo maior destas pequenas meditações diárias.

262
Atos 17:16-34

Enquanto está sozinho em Atenas, Paulo não se deixa


distrair por aqueles monumentos e esculturas. Seu
coração está oprimido e ele se indigna ao ver que esta
cidade, tão famosa por sua cultura, está entregue a tão
repugnante idolatria. Na praça pública ele cruza com
filósofos das mais diversas escolas. A sabedoria deles
alcançou reputação mundial. A inteligência foi dada ao
homem para que este pudesse perceber o poder eterno e
a divindade do seu Criador (Romanos 1:20). Porém, a
ignorância daquelas mentes privilegiadas confirma que
“o mundo não o conheceu por sua própria sabedoria”
(1 Coríntios 1:21). Para os gregos, Ele é um “Deus
desconhecido”. Começando pelo princípio, Paulo fala
do “Senhor do céu e da terra” (v. 24), que revela a Si
mesmo não apenas na criação, mas também na redenção.
Este soberano Deus agora “notifica aos homens que todos
em toda parte se arrependam” (v. 30). De modo que
ninguém — nem mesmo você, leitor— pode afirmar que
esta ordem divina não lhe diz respeito.
A curiosidade intelectual não tem nada em comum
com a verdadeira necessidade da alma. A reação de
alguns dos ouvintes de Paulo é a zombaria; outros adiam
a decisão. Mas também há os que crêem. Tais são, ainda
hoje, os três efeitos produzidos pela pregação do
evangelho.

263
Atos 18:1-11

Em Corinto, Paulo tem a felicidade de conhecer um


casal judeu: Aqüila e Priscila. Depois de convertidos a
Cristo, eles se tornaram particularmente queridos ao
apóstolo; até mesmo expuseram a sua vida por ele em
circunstâncias que não nos foram relatadas (Romanos
16:3-4). Criou-se, enfim, um vínculo especial entre eles.
Corinto era famosa por sua degradação moral e por seu
luxo. O apóstolo e seus amigos não querem depender
daqueles envolvidos nessa riqueza e estabelecem um
exem plo ao trabalhar com suas próprias m ãos
(1 Coríntios 9:15,18; 2 Coríntios 11:8-9).
Diante da oposição dos judeus, Paulo desliga-se de
sua responsabilidade perante eles e declara-lhes que
agora iria para os gentios (v. 6). Porém Romanos 9:2-5
permite-nos compreender o quanto lhe pesava falar
assim. O Senhor encoraja o Seu amado servo, contudo,
revelando-lhe que, apesar de Seu povo terreno não
corresponder à Sua expectativa, Ele tinha naquela cidade
“muito povo” determ inado p ara o céu (v. 10).
Precisamente naquela cidade dissoluta, o Senhor Se
agradaria em reunir grande número de crentes, como
atestam as duas cartas que mais tarde serão dirigidas à
igreja de Corinto. Esta cidade, onde nada faltava,
comprova-nos que não são as riquezas nem os prazeres
que verdadeiramente satisfazem as reais necessidades do
coração humano.

264
Atos 18:12-28

As intrigas dos judeus e suas acusações diante do


indiferente Gálio não impedem que Paulo prossiga sua
obra em Corinto. O Senhor o protege, segundo Sua
promessa (v. 10).
Depois^ disso, Paulo se põe novamente a caminho,
passa por Éfeso, onde deixa Priscila e Aqüila, zarpa para
Cesaréia, sobe até Jerusalém e depois desce para
Antioquia, terminando a segunda viagem missionária.
A terceira viagem missionária começa no versículo
23. O incansável apóstolo atravessa novamente a Frigia
e a Galácia (16:6), onde as igrejas que tinham sido
formadas lhe causavam enorme preocupação (Gálatas
1:2; 4:11).
Nesse meio tempo, chega a Éfeso outro servo de
Deus. É Apoio, um pregador que chama a atenção pela
eloqüência e poder com que anuncia a Palavra. Estas
características são decorrentes de seu fervor (v. 25), pois
um homem só pode falar bem daquilo que enche o seu
coração (Mateus 12:34-35). Além disso, ele ousadamente
“falava e ensinava com precisão a respeito de Jesus”.
Mas seus talentos não o im pedem de receber
humildemente as explicações que Priscila e Aqüila lhe
deram sobre as verdades que ele ignorava. Apoio está
disposto a escutar, e seu serviço na Acaia, para onde se
dirige mais tarde, toma-se de grande proveito por causa
disso.

265
Atos 19:1-22

Fiel à sua promessa (18:21), o apóstolo Paulo chega


a Efeso, capital da província da Ásia. Ele permanece ali
por três anos (20:31), sucedendo a Apoio, que estava em
Corinto “regando” o que Paulo havia “plantado”
(18:27-28; 1 Coríntios 3:6). Entre esses servos de Deus
não vemos inveja nem reivindicações por causa de um
campo particular de trabalho.
Os efésios até então somente conheciam o batismo
de João, um preparativo para que os judeus arrependidos
recebessem o Messias que reinaria sobre a terra. O cristão,
ao contrário, tem uma posição celestial: pelo Espírito
Santo, ele tem um relacionamento com um Cristo morto
e ressurreto. Esta é a verdade que caracteriza
especialmente a epístola aos efésios.
“Assim a palavra do Senhor crescia e prevalecia
poderosamente”, não somente por causa dos milagres
realizados pelos apóstolos, mas tam bém pela sua
autoridade sobre os corações. Ela levava os crentes a
confessar o que haviam feito e a renunciar publicamente
a prática da m agia. Cheios do “prim eiro am or”
(Apocalipse 2:4), esses efésios não queriam mais ser
“cúmplices nas obras infrutíferas das trevas” (Efésios
5:11).
Queridos leitores, a Palavra de Deus está mostrando
seu poder ao mundo através dos frutos visíveis de nossa
vida?

266
Atos 19:23-41

Havia em Efeso um magnífico templo consagrado à


deusa Diana e considerado uma das sete maravilhas do
mundo antigo. As visitas dos turistas e as miniaturas de
prata vendidas como recordação davam grande lucro
aos artesãos da cidade. Evidentemente, a pregação do
Evangelho prejudicava esse comércio, razão pela qual
eles se uniram para proteger seus interesses, conferindo,
hipocritamente, um pretexto religioso a tal oposição
(Apocalipse 18:11). Quantas pessoas, em vez de procurar
ardentemente a verdade em relação à vida etema, são
detidas por considerações materiais ou pela opinião dos
outros!
Ruidosos clamores se elevam a favor da deusa,
provando que ela mesma é incapaz de assumir a própria
defesa, apesar de sua pretensa majestade (comparar com
1 Reis 18:26-29).
Ainda que o mundo moderno se considere mais
evoluído e esclarecido que antes, não fez nada mais que
trocar deuses — mas o coração das pessoas não mudou:
ídolos dos esportes, dos filmes, da música— as multidões
de hoje em dia adoram e seguem os que lhes são
apresentados pelo príncipe deste mundo, mestre na arte
de extraviar almas.

267
Atos 20:1-16

A manifestação hostil em Éfeso leva Paulo a deixar a


cidade (Mateus 10:23). Depois de passar pela Grécia via
Macedônia, ele volta pelo mesmo caminho e chega a
Trôade. O relato que se segue (w. 7-12) confirma que a
ceia, como acontece hoje, era celebrada no primeiro dia
da semana. Pode parecer-nos repreensível o fato de
Êutico ter dormido durante uma pregação. Mas hoje,
quando lemos as epístolas de Paulo, não está ele
pregando também a nós? E que tipo de atenção temos
dado a ele? O terrível acidente nos mostra, moralmente
falando, até onde a indiferença à Palavra pode levar uma
pessoa: à queda e a um estado de morte espiritual.
Por analogia, essa cena também nos faz pensar na
Igreja e em sua responsabilidade. Seu sono, sua ruína,
sua aparente falta de vida são o resultado de sua
indiferença quanto aos ensinos dos apóstolos. Contudo,
o Senhor permitiu um despertar seguido de consolo e de
alimentação para os Seus, enquanto esperamos pelo
alvorecer do grande dia da vinda do Senhor, quando
deixaremos esta terra.
Paulo deixa Trôade, querendo ir sozinho por terra (v.
13 — enfatizemos o benefício de andar sozinho com o
Senhor). Em Assôs, ele se reúne com seus companheiros
e navega novamente para Jerusalém.

268
Atos 20:17-38

Em Mileto, Paulo manda chamar os anciãos de Éfeso


para fazer algumas recomendações e se despedir. He os
faz lembrar o que foi o seu ministério no meio deles e o
exemplo que se esforçou em dar-lhes. Paulo também os
adverte a respeito dos perigos que ameaçavam a Igreja,
perigos que viriam de fora (v. 29) e de dentro da igreja (v.
30) . Como enfrentá-los? Paulo exorta-os à vigilância (v.
31) e, acima de tudo, ele os encomenda à graça de Deus
(v. 32). Em tudo o que lhe concerne, o apóstolo só tem
um pensamento: cumprir fielmente sua carreira (o curso
de sua vida — 2 Timóteo 4:7), assim como o ministério
que recebeu da parte do Senhor. Sua vida não tem outro
sentido e ele estava pronto a sacrificá-la por amor a Igreja
que lhe tinha custado tantas lágrimas (w . 19, 31;
Colossenses 1:24). Mas o que é isso em comparação com
o infinito valor da Igreja para Deus? O preço que Ele teve
de pagar foi nada menos que o sangue de Seu próprio
Filho (v. 28; 1 Pedro 1:19). E é neste incomensurável
preço que o apóstolo encontra a razão para sua devoção,
ele recorda isto para os bispos de Efeso a fim de enfatizar
a responsabilidade deles para com a Igreja de Deus.
Para terminar, Paulo cita algumas das preciosas
palavras de Jesus: “Mais bem-aventurado é dar que
receber” (v. 35). Para que possamos experimentar tal
bem-aventurança, devemos imitar Aquele que tudo nos
tem dado.

269
Atos 21:1-14

O amor fraternal se manifesta em todo o percurso da


viagem do apóstolo (w. 1 ,6 e 12). Em Tiro, assim como
em Mileto, Paulo se separa dos irmãos depois de
ajoelhar-se e orar na praia (w. 5; 20:36 e 37). O Espírito
enfatiza aqui a presença de crianças, extremamente
desejável nas reuniões.
Em Cesaréia, Paulo se hospeda na casa de Filipe, o
servo de Deus que o Espírito havia trasladado a Azoto
depois que ele batizou o eunuco etíope e que, após haver
pregado em todas as cidades (sem dúvida também em
Lida e Jope — cap. 8:40; 9:32 e 36) se estabeleceu em
Cesaréia. Suas filhas prestavam ao Senhor um precioso
serviço. E bom lembrar que este não era exercido na
Igreja: 1 Coríntios 14:3 e 34.
O que motivava o apóstolo durante essa viagem era
o seu afeto, sempre enorme, por seu próprio povo. Paulo
era o portador das ofertas das igrejas da Macedônia e da
Acaia, e alegrava-se de poder entregá-las pessoalmente
em Jerusalém (Romanos 15:25-26). Por essa razão, ele
não cedeu às súplicas dos irmãos que queriam persuadi-lo
a ficar (w. 12-14). Esse relato nos dá uma grande lição:
ao ser guiado somente pelos sentimentos, por melhores
que sejam, até mesmo um apóstolo pode desviar-se do
cam inho da dependência do Senhor. Essa é um a
seríssima advertência para nós!

270
Atos 21:15-32

Para ir da Grécia a Roma, o apóstolo havia proposto


em seu coração passar por Jerusalém (cap. 19:21). Apesar
desse cansativo desvio, a vontade do Senhor será
cum prida (v. 14). O cam inho que nós m esmos
escolhemos não é simples; podemos esperar todo o tipo
de dificuldades. Os anciãos de Jerusalém exortam a Paulo
a “judaizar”, a fim de acalmar os crentes judeus, e assim
o apóstolo está prestes a contradizer seu próprio
ensinamento. Penoso dilema para ele! Mais uma vez,
podemos notar até que ponto os cristãos judeus estavam
arraigados à religião judaica. Eles estavam tentando
colocar vinho novo em odres velhos (Mateus 9:17). A
esses israelitas “zelosos da lei” o apóstolo Tiago,
mencionado no versículo 18, fala da “lei da liberdade” e
da “religião pura e sem mácula”, que não consiste na
purificação carnal (v. 24), mas, sim, em “guardar-se
incontaminado do mundo” e em visitar os aflitos (Tiago
1:27; 2:12).
Paulo visita o templo e se submete aos rituais judaicos
para agradar os irmãos. A tentativa, porém, é vã, pois os
judeus vêem nela uma provocação e tentam matá-lo,
causando alvoroço em toda a cidade (v. 30).

271
Atos 21:33-40; 22:1-11

Paulo é livrado da violência da multidão graças à


intervenção de um tribuno, ou seja, de um comandante
da guarnição romana. O tribuno, que primeiro pensou
ser Paulo um bandido mal-afamado, acalma-se ao ouvi-lo
falar em grego e autoriza-o a dirigir-se à multidão. Diante
de um a multidão completamente silenciosa, Paulo
relembra seu culpável passado, porém em um sentido
totalmente diferente daquele que os judeus entendiam.
Dotado de qualidades e vantagens pouco comuns —
“hebreu de hebreus; quanto à lei, fariseu” (Filipenses 3:5)
— , sua reputação era a de um homem piedoso e
irreprovável. Mas o seu zelo religioso, semelhante ao que
motivava os líderes da multidão, o havia conduzido,
apesar das advertências do seu mestre Gamaliel, a lutar
contra Deus (w. 3; 5:39). “Eu sou Jesus, o Nazareno, a
quem tu persegues” (v. 8), é a terrível resposta que ele
ouve do céu. Ao tocar naqueles pobres cristãos,
perseguindo-os até a morte, ele estava lutando contra o
Filho de Deus. Porém, em vez de castigá-lo por sua
blasfêmia ousadia, o Senhor, ao mesmo tempo que lhe
devolveu a visão, abriu os olhos do seu coração (Efésios
1:17-18) e fez desse hom em , separado desde o
nascimento, um instrumento fiel para Seu uso.

272
Atos 22:12-30

“E agora, porque te demoras?”, perguntou Ananias


ao novo convertido (v. 16). Amigo, se o Senhor lhe tem
chamado, por que você ainda se demora no caminho da
perdição e não toma lugar entre os Seus discípulos?
Três anos mais tarde, em Jerusalém, Paulo teve o
privilégio de ver o “Justo” e receber ordens da Sua boca
(v. 17). Ele mesmo queria trabalhar entre os judeus,
pensando que seu testemunho teria maior força entre os
que o conheceram como fanático adversário da verdade
(w. 19-20). Mas ele tinha sido separado para o ministério
entre os gentios (v. 21; Gálatas 1:15-16). Deixemos que
o Senhor nos mostre qual será o nosso campo de trabalho!
O versículo 18 se cumpre. Os judeus não aceitam o
testemunho de Paulo. O comandante mais uma vez é
obrigado a protegê-lo da fúria do povo. E, no momento
em que vai ser torturado, Paulo faz valer sua cidadania
romana. Mais tarde, ele será ensinado a considerar como
perda o que para ele era lucro (23:6; Filipenses 3:7).
Quanto à cidadania celestial, ninguém a adquire por
nascimento ou pelo dinheiro (v. 28). Somente a possuem
os que passaram pelo novo nascimento (João 3:3;
Filipenses 3:20).

273
Atos 23:1-15

O comandante não conseguiu entender o motivo da


furia dos judeus contra um homem em quem não havia
nada para reprovar. Para informar-se, apresenta o
prisioneiro diante do Sinédrio. Uma hábil palavra de
Paulo coloca os fariseus do seu lado. A ressurreição de
Jesus Cristo era o fundam ento de sua doutrina e
indiretamente a razão da oposição dos judeus. Mas Paulo
nem sequer mencionou o nome do seu Salvador. Suas
palavras causaram tal discórdia entre os fariseus e os
saduceus — tradicionais adversários —, que mais uma
vez o comandante teve de resgatá-lo e envia-lo a um
lugar seguro.
Depois de todos esses acontecimentos, o apóstolo, só
e talvez desanimado, precisa ser fortalecido. E é o Senhor
mesmo quem se apresenta ao amado servo (v. 11). Ele
não o reprova; pelo contrário, o Senhor reconhece o
testemunho que Paulo dera em Jerusalém, o consola e o
relembra de sua verdadeira missão: a de pregar a salvação
não para os judeus, mas para as nações gentias. Com
esse propósito, Paulo vai para Roma.
Que sempre possamos gozar da experiência de ter o
S enhor “ao nosso lado” e, por esse motivo, não
precisemos estar ansiosos (Filipenses 4:5-6; 2 Timóteo
4:17).

274
Atos 23:16-35

N ão vem os aqui o S enhor intervir de m odo


miraculoso, como em Filipos (cap. 16:26) ou como no
caso de Pedro (cap. 12:7), para libertar o Seu servo. Mas
ainda Ele está no controle dos acontecimentos: usando o
sobrinho de Paulo, a qualidade de cidadão romano que
o apóstolo possuía, o menosprezo que o comandante
romano sentia pelos judeus, Deus cumpre a promessa
feita a Seu servo, ou seja, que ele iria testemunhar em
Roma (v. 11). Conseqüentemente, todos os planos de
seus inimigos não poderíam impedi-lo de ir a Roma. Ao
contrário, são esses mesmos planos que contribuem para
isso: de fato, as ameaças induzem Lisias a mandar Paulo
sob forte escolta a Cesaréia, a fim de protegê-lo da furia
dos judeus fanáticos. Ao mesmo tempo, Lisias escreve
uma carta sobre Paulo ao governador Félix. Note como
o comandante coloca os fatos, escondendo o erro quase
cometido (v. 27; 22:25). Apesar disso, as ofensas dos
pagãos não se comparam à terrível culpabilidade dos
judeus. Evidentemente, os quarenta conspiradores
assassinos não puderam cumprir seu juramento, atraindo
desse modo maldição sobre a própria cabeça.

275
Atos 24:1-21

Paulo comparece diante de Félix na presença de seus


acusadores. Estes homens precisam de um advogado
eloqüente, pois sua causa é má. Mas que contraste entre
as lisonjas (v. 3) e depois as grosseiras calúnias (v. 5;
Lucas 23:2) de Tértulo e a dignidade de Paulo em sua
profissão de fé, acompanhada de uma sincera exposição
dos fatos!
Uma seita (w . 5,14) é um grupo religioso que diverge
da opinião geral e é seguido por muitos, ou ainda, é a
teoria de um mestre seguida por numerosos prosélitos. O
redimido segue somente a Cristo. Mas o mundo religioso
também chama de seita aos filhos de Deus que se separam
dele por obediência à Palavra. Que importa! Esta
expressão, como muitas outras, faz parte do vitupério de
Cristo. Como Paulo, o crente fiel tem o glorioso privilégio
de estar associado ao Nazareno, quando o mundo dele
escarnecer (v. 5). Pelo contrário, a grande preocupação
do apóstolo — e deveria ser a nossa também — era “ter
sempre uma consciência pura diante de Deus e dos
homens” (v. 16). Ele pensava no dia da ressurreição,
quando teria de prestar contas de sua vida e de seu
ministério. Que tenhamos em mente sempre esse glorioso
dia e que andemos em todo lugar como filhos da luz
(Efésios 5:8).

276
Atos 24:22-27; 25:1-12

A pesar da evidente inocência de Paulo e da


desonestidade de seus acusadores, Félix, por
consideração a estes últimos, prorrogou covardemente
sua decisão (v. 22). Mas ele adiou uma decisão muito
mais importante: a que concernia à sua alma. Convocado
para falar a respeito da “fé em Cristo”, Paulo apresenta
um aspecto da verdade que Félix não esperava (v. 25). A
Palavra o am edronta, m as não penetra em sua
consciência, endurecida pelo amor ao dinheiro (v. 26).
“Q uando eu tiver vagar, chamar-te-ei”, responde o
governador, tentando escapar, talvez para sempre, da
oportunidade que Deus lhe dava naquele momento.
Félix, cujo nome significava feliz, perdeu a verdadeira
felicidade. Nós não podemos esquecer que o “tempo
sobremodo oportuno” é AGORA (2 Coríntios 6:2)!
Dois anos se passam; o apóstolo ainda está na prisão.
Todavia, o ódio dos judeus não diminui. Tão logo Festo
assume o governo no lugar de Félix, um novo complô é
tramado, mas o Senhor livra o Seu servo. Como ocorrera
com Félix (24:27) e anteriormente com Pilatos (Marcos
15:15), a principal preocupação de Festo é “assegurar o
apoio dos judeus” (v. 9). Conseqüentemente, Paulo é
obrigado a evocar novamente o seu direito de cidadão
romano e apelar ao julgamento do imperador.

277
Atos 25:13-27

Agripa e Berenice (assim como Drusila, mulher de


Félix) eram filhos de Herodes (cap. 12:1) e formavam a
quarta geração dessa criminosa dinastia. A visita de
cortesia que fazem ao novo governador é a oportunidade
que Agripa tem de interrogar o estranho prisioneiro. O
modo como Festo resume o assunto mostra-nos que ele
pouco se interessava por questões religiosas,
“particularmente a um certo morto, chamado Jesus” (v.
19). Cristo não é nada mais que isso para muitas pessoas
hoje em dia. Contudo, Paulo afirma que Ele está vivo, e
isso faz toda a diferença.
0 apóstolo é introduzido na corte que estava reunida
“com grande pom pa”. De acordo com a palavra do
Senhor a Ananias, Paulo era “um instrumento escolhido”
para levar o nome de Jesus diante de reis (cap. 9:15). Era
o embaixador do Rei dos reis, mas um “embaixador em
cadeias”, como ele mesmo se denomina em Efésios 6:20.
Porém, ele fala com ousadia do seu Senhor, porque “a
palavra de Deus não está algemada” (2 Timóteo 2:9).

278
Atos 26:1-18

Convidado a testemunhar diante de Agripa, Paulo


ergue os braços carregados de algemas. Como no capítulo
22, ele relata o seu encontro com o Senhor e em que
circunstâncias o ministério lhe foi confiado. Quando seus
olhos foram abertos, foi-lhe entregue a responsabilidade
de abrir os olhos dos gentios ao acesso pela fé à luz, à
liberdade, ao perdão dos pecados e à herança dos santos
(v. 18; Colossenses 1:12-13).
As circunstâncias que levam à conversão nem sempre
são as mesmas. Pedro estava em seu barco quando
reconheceu seu estado pecaminoso. Levi estava sentado
na coletoria e Zaqueu estava sobre uma árvore, quando
o Senhor os chamou (Lucas 5:10,27-28; 19:5). O etíope
converteu-se em seu carro, e o carcereiro de Filipos, na
prisão à m eia-noite (Atos 8:27; 16:29). Paulo
converteu-se ao meio-dia, quando estava a caminho de
Damasco (v. 13). Você pode dizer onde e quando
encontrou Jesus? Se pode, não tema em contar sua
conversão quando tiver oportunidade. Isso não é para
nos glorificar, desde que falemos também do triste estado
em que nos encontrávam os. Ao contrário, nosso
testemunho serve para exaltar a soberana graça de Deus
que transformou a nossa vida.

279
Atos 26:19-32

Chamado para um ministério extraordinário entre os


gentios, Paulo não foi desobediente (v. 19). Que nós
também sejamos obedientes em tudo o que o Senhor nos
enviar a fazer!
Para Festo, um homem sem necessidades espirituais,
o que Paulo fala são apenas loucuras (v. 24). “Ora, o
homem natural não aceita as cousas do Espírito de Deus,
porque lhe são loucura” (1 Coríntios 2:14). Então, o
apóstolo se dirige diretamente ao rei Agripa (ver Salmo
119:46), com respeito, mas também com a autoridade
que a Palavra divina lhe concede. O rei esconde seu
embaraço desviando a pergunta (v. 28). Quase estar
convencido; quase se tornar um cristão, significa estar
completamente perdido.
Quem estava em posição mais desejável: o rei ou o
pobre prisioneiro? Consciente de sua alta posição diante
de Deus, Paulo, o prisioneiro de Jesus Cristo, não pensa
na coroa do homem que está diante dele, mas em sua
alma. Não nos deixemos levar pela aparência dos
homens; pensemos em seu destino eterno.
O apóstolo compareceu sucessivamente perante o
Sinédrio, perante Félix, Festo e Agripa. Ele ainda teria de
comparecer perante César, que, naquele momento, não
era outro senão o cruel Nero.

280
Atos 27:1-17

Para impedir a propagação do Evangelho, o inimigo


incita os homens contra Paulo. Agora são os obstáculos
naturais que dificultam seu caminho.
Muitos cristãos se parecem com um barco à vela: seu
andar depende do vento que sopra. Se é uma brisa “do
sul” que os em purra suavem ente, tudo está bem;
levantam a âncora com coragem (v. 13). Mas se o vento
lhes é contrário, e eles navegam “vagarosamente”, “com
dificuldade” (w. 7-8), não são mais capazes de avançar
e recorrem ao socorro humano para suas dificuldades.
Por fim, quando sopra o vento tempestuoso de uma
grande prova, eles não podem resistir e se “deixam levar”
(v. 15). O barco a vapor, ao contrário, mantém sua rota
em qualquer tempo. Que possamos sempre avançar
assim, movidos por uma firme fé, até que alcancemos a
nossa meta, a despeito dos temporais!
Não obstante ter sido gentil com seu prisioneiro, “o
centurião dava mais crédito ao piloto e ao mestre do
navio do que ao que Paulo dizia” (v. 11). Não temos nós
muitas vezes confiado mais nas opiniões e nos conselhos
dos homens que na Palavra e na direção do Espírito
Santo? E quando isso acontece, é para nosso “dano e
muito prejuízo” (v. 10)!

281
Atos 27:18-44

Paulo permanece tão tranqüilo em meio à tempestade


quanto na presença de governadores e reis. A tormenta
não impede Paulo de ouvir a voz de Deus, a quem ele
pertencia e servia (v. 23). Em tempo de prova, os homens
revelam seu pior egoísmo, mas o querido apóstolo pensa
na salvação dos seus companheiros de viagem. Ele os
fortalece pela palavra de Deus, logo os exorta a comer,
não antes sem ter dado graças a Deus na presença de
todos (1 Timóteo 4:4-5).
Depois de muitas peripécias e da perda do navio,
todos chegam sãos e salvos ao “desejado porto” (Salmo
107:25-30).
Podemos ver nesse navio — um brinquedo da
tempestade —, a figura da Igreja aqui no mundo. Depois
de haver zarpado com tempo favorável, não tardou para
que encontrasse o vento das provas e das perseguições
de Satanás. A falta de alimento, um período de trevas
profundas, a busca de recursos no mundo, tudo isso
aconteceu porque a voz dos apóstolos — na Palavra —
não foi ouvida. O dia se aproxima, e com ele o naufrágio
da cristandade professa (o navio). Mas o Senhor conhece
aqueles que são Seus nessa Igreja, a qual chama pelo Seu
nome, e nenhum dos que o Pai Lhe deu se perderá
(2 Timóteo 2:19; João 17:12).

282
Atos 28:1-16

Deus colocou um sentimento de humanidade no


coração dos pagãos da ilha de Malta (com o fez
anteriormente no de Júlio, o centurião: v. 2; cap. 27:3).
Eles acolhem e confortam os náufragos. No meio desse
povo, o Senhor se alegra em tomar Seu servo conhecido
por meio de um milagre. O apóstolo, que recolhia lenha
para a fogueira, é mordido por uma víbora sem que esta
lhe cause dano algum. Esse é um dos sinais que deveríam
seguir os discípulos. Outro sinal era a imposição das mãos
sobre os enfermos para que fossem curados (Marcos
16:17-18). A benevolência dos “bárbaros” de Malta é
rapidamente recompensada. Todos os enfermos da ilha,
a começar pelo pai de Públio, são curados pelo poder de
Deus. E esperamos que também muitas dessas pessoas
tenham encontrado a cura da alma. Desse modo, a
oposição do inimigo somente serviu para que uma nova
terra ouvisse o Evangelho.
A viagem de Paulo termina. Antes de trazer qualquer
coisa aos irmãos de Roma, ele mesmo é confortado pelo
amor fraternal deles. Até mesmo o mais jovem crente é
motivo de alegria e estímulo para um servo de Deus.

283
Atos 28:17-31

Tão logo chega a Roma, Paulo convoca os principais


dos judeus. Ele lhes explica as circunstâncias da sua
prisão. E sem nenhum sentimento de rancor por aquele
povo que tanto o fez sofrer, Paulo lhes dá novamente, e
como sem pre, o prim eiro lugar na pregação do
Evangelho. Incansavelmente, desde a manhã até a noite,
ele lhes expõe a verdade (w. 25 e 29; Hebreus 10:38-39).
Paulo permanece dois anos prisioneiro em Roma.
Contudo, mais tarde declara que as situações pelas quais
passou contribuíram para o progresso do evangelho
(Filipenses 1:12-14). Foi durante seu cativeiro que ele
escreveu muitas epístolas, entre elas as epístolas aos
efésios, aos filipenses e aos colossenses. Nós não as
teríamos se ele houvesse tido liberdade para visitá-los.
Além disso, essas epístolas nos permitem conhecer um
pouco da vida do grande apóstolo.
A partir daqui, a narrativa é interrompida, e o livro de
Atos permanece inconcluso. Isso nos mostra que a obra
do Espírito Santo não está terminada! A obra continuará
no coração de cada crente, enquanto a Igreja do Senhor
estiver na terra.

284
Romanos 1:1-17

As epístolas são cartas dirigidas pelos apóstolos às


igrejas ou aos crentes; nelas se acham expostas as
verdades cristãs. Ainda que tenha sido escrita depois de
outras, a epístola aos Romanos foi colocada em primeiro
lugar porque seu tema é o Evangelho. Antes de receber
qualquer ensinam ento cristão, é necessário
primeiramente tornar-se um cristão. Amigo leitor, a
oportunidade é dada a você agora, se é que você ainda
não O aceitou.
Conta-se que um evangelista, responsável por uma
série de reuniões em uma cidade, a cada noite limitava-se
apenas a ler os seis primeiros capítulos dessa epístola,
sem lhe acrescentar uma única palavra. E a cada noite
havia inúmeras conversões. Tal é o poder da Palavra de
Deus e a autoridade do Evangelho, “poder de Deus para
a salvação de todo aquele que crê” (v. 16).
Esta carta foi escrita muito antes da dramática viagem
relatada no final do livro de Atos. Portanto, Paulo jamais
havia visto até aquele momento os cristãos romanos.
Porém — eis aqui a condição essencial de um ministério
frutífero — ele estava cheio de amor por eles e, acima de
tudo, por Aquele a quem iria lhes apresentar: Jesus Cristo.
Seu nome enche os primeiros versículos. De fato, Ele não
é a essência do Evangelho, o fundamento de toda a
relação entre Deus e o homem?

285
Romanos 1:18-32

Antes de explicar como Deus justifica o pecador, é


necessário convencer todos os seres humanos de que
eles são pecadores.
Você pode pensar que os pagãos são desculpáveis,
porque não têm a Palavra escrita. Mas eles têm diante de
seus olhos outro livro sempre aberto: o da Criação (Salmo
19:1). Contudo, eles não reconheceram nem honraram
seu Autor e nem quiseram dar-Lhe graças (um dever
universal). Então eles foram entregues a Satanás para
praticarem as piores abominações.
Esse não é um bonito retrato do homem natural, mas
é o meu e o seu retrato! Deus declara culpáveis não
somente os que praticam os pecados dos versículos 29 a
31, mas tam bém os que “aprovam os que assim
procedem”. Ver programas que contem cenas imorais,
más conversações etc., coloca-nos sob o mesmo “justo
juízo de Deus” (v. 32; cap. 2:5; Salmo 50:18).

286
Romanos 2:1-16

Não importa quão fundo o homem tenha caído, ele


sempre encontrará alguém mais miserável com quem
possa comparar-se vantajosamente! O viciado em jogos
despreza o bêbado, que se sente superior ao criminoso.
Na realidade, a raiz de todos os vícios está latente em
nosso próprio coração. Quando julgamos os outros (v.
1), damos prova de que sabemos reconhecer muito bem
o mal; comprovamos ter uma consciência. E isso condena
a nós mesmos quando praticamos as mesmas coisas.
Todos os homens têm consciência (Gênesis 3:22). Deus
usa d a Sua b o n dade p a ra nos conduzir ao
arrependimento (v. 4). Mas Ele não nos autoriza de
maneira nenhuma a julgar o próximo. Somente uma
Pessoa tem o direito de julgar: é Jesus Cristo (v. 16; João
5:22; Atos 10:42). Um dia Ele manifestará todos os
“segredos dos homens”, todos os seus feitos e intenções
que tinham sido ocultados com tanto cuidado (Mateus
10:26). Confesse imediatamente a Ele todos os seus
segredos, por mais vergonhosos que possam ser. A sua
consciência não é uma voz hostil, mas um amigo que lhe
diz: “Fala disso ao Senhor Jesus; Ele perdoa”.

287
Romanos 2:17-29

Os primeiros capítulos desta epístola nos fazem pensar


em uma sessão de tribunal. Um após o outro, os elementos
do mundo civilizado da época comparecem diante do
supremo Juiz.
Depois da condenação do grego — ou seja, do
bárbaro (cap. 1) — e do homem moral e civilizado
(começo do capítulo 2), o judeu é chamado a ouvir sua
sentença. Ele se apresenta de cabeça erguida. Seu nome
judeu, a Lei em que se apóia, o verdadeiro Deus que ele
diz conhecer e servir (v. 17), tudo parece demonstrar sua
superioridade em relação aos outros acusados e
absolvê-lo. Porém, o que lhe responde o supremo
Magistrado? “Eu não te julgarei pelos teus títulos (v. 17),
nem por teu conhecimento (v. 18), nem por tuas palavras
(v. 21), mas sim por teus atos. Ao invés de desculpar-te,
estes privilégios agravam tua culpabilidade.”
O pecado dos pagãos é chamado de impiedade (cap.
1:18): eles avançam sem lei e sem freio segundo a sua
própria vontade (1 João 3:4). O pecado dos judeus é
chamado transgressão (v. 23), ou seja, é a desobediência
aos divinos mandamentos conhecidos. E hoje, quão mais
responsáveis são os cristãos, pois eles possuem toda a
Palavra de Deus!

288
Romanos 3:1-18

Quem está certo? Deus, que condena — ou o


acusado, que se defende? “Seja Deus verdadeiro, e
mentiroso todo homem”, diz o apóstolo (v. 4). A Palavra
de Deus não é ineficaz só porque os judeus, seus
depositários (v. 3; Hebreus 4:2), não creram nela.
Inconseqüentemente, eles se vangloriavam de possuir a
lei (cap. 2:17), sendo que a mesma lei testemunhava
contra eles. E como um criminoso, gritando ser inocente,
entregar à polícia a prova de seu crime, estabelecendo
assim sua culpa. Por isso o Espírito de Deus, como
promotor de um tribunal, faz ler diante do acusado judeu
uma série de versículos irrefutáveis tirados de suas
próprias Escrituras (w. 10-18).
Mas outro argumento poderia sustentar o acusado:
“Eu não nego minha injustiça, mas ela é útil, pois serve
para enfatizar a justiça de Deus”. Que atitude horrível! Se
fosse assim, Deus teria de desistir de julgar o mundo (v.
6) e agradecer-lhe porque sua maldade ressalta a própria
santidade divina. No entanto, Ele deixaria de ser justo e
se negaria a Si mesmo (2 Timóteo 2:13). Diante do
veredicto final, Deus acaba com os últimos argumentos,
por trás dos quais Sua criatura sem pre procura
esconder-se.

289
Romanos 3:19-31

Diante do tribunal de Deus, toda a boca está agora


calada. Os acusados, sem exceção, são culpáveis (v. 19).
“Todos pecaram e carecem da glória de Deus” (v. 23). A
terrível sentença “Certamente morrerás”, pronunciada
por Deus antes da queda do homem (Gênesis 2:17), agora
é confirmada: “Porque o salário do pecado é a morte”
(cap. 6:23). Para o incrédulo, gentio ou judeu, o
julgamento é definitivo, e o tribunal diante do qual ele
comparecerá um dia é uma terrível realidade (Apocalipse
20:11-15). Porém, há um Advogado que intervém a favor
daqueles que O elegem pela fé, tanto judeus como
gentios. Ele não procura minimizar os pecados que eles
têm cometido, como freqüentemente fazem os advogados
nos tribunais humanos. Ao contrário, Ele assume a defesa
e diz: “A sentença é justa, mas já foi executada; a dívida
está paga; uma morte— a minha própria morte— pagou
o terrível preço pelos seus pecados”.
Sim, a justiça de Deus foi satisfeita, pois um crime
expiado não pode ser punido pela segunda vez. E se
Deus é justo em condenar os pecados, Ele permanece
igualmente justo ao eximir de culpa o pecador “que tem
fé em Jesus” (v. 26).

290
Romanos 4:1-12

Se uma escada é muito curta para alcançar um objeto


colocado em local bastante alto, um homem que está um
degrau acima não terá mais facilidade para alcançá-lo
que outro que está um degrau abaixo. Lemos no capítulo
anterior (3:22) que não há diferença: tanto gentios como
judeus não alcançaram a glória de Deus. Ninguém tem
acesso a ela pela escada da justiça própria, pois esta
sempre será insuficiente. Uma prova disso é que mesmo
Abraão (v. 3) e Davi (v. 6), que inquestionavelmente
estariam no topo da escada das obras, não foram
justificados por Deus pelas obras. E, se até mesmo eles
não foram justificados, como nós o seríamos? Para
demonstrar definitivamente que a salvação pela graça
não tem nenhuma relação com as pretensões carnais nem
com a “jactância” (3:27) do povo judeu, os versículos 9
e 10 recordam que o patriarca Abraão foi justificado pela
fé antes do símbolo da circuncisão (Gênesis 15:6; 17:24).
No momento em que Deus o justificou, ele estava na
mesma posição dos pagãos.
Para ser salvo, o hom em deve prim eiram ente
reconhecer-se culpado, ou seja, deve concordar com a
sentença divina mencionada no capítulo anterior. Deus
justifica o ímpio e somente a ele (v. 5; Mateus 9:12).

291
Romanos 4:13-25

Se Deus é poderoso para cumprir o que prometeu


(v. 21), o homem, por sua parte, é completamente incapaz
de cumprir as próprias obrigações. Esta é a razão pela
qual as promessas feitas a Abraão (e ao cristão) não
envolvem nenhuma condição... basta somente crer.
Aparentemente, tudo contradizia o que Deus havia
prometido a Abraão. Porém ele “não duvidou... estando
plenamente convicto...” (w. 20-21). De onde vinha esta
fé inabalável? Vinha do fato de que ele conhecia Aquele
que havia feito as promessas, e nEle Abraão confiava
plenamente. A assinatura de alguém que respeitamos tem
muito mais valor que a de um desconhecido; é a garantia
do cumprimento da promessa. A fé crê nas promessas
porque crê no Deus que as criou (w. 17 e 3; 2 Timóteo
1:12). Ela se agarra às grandes verdades anunciadas em
Sua Palavra: a morte do Senhor Jesus para expiação dos
nossos pecados, Sua ressurreição para nossa justificação
(v. 25).
Querido amigo, você, que chegou a este ponto da
leitura, pode dizer com todos os crentes: “Eu possuo esta
fé que confere salvação. Foi por meus pecados que Jesus
se entregou; foi para minha justificação que Deus O
ressuscitou”.

292
Romanos 5:1-11

Redimido, justificado, o cristão resplandece de alegria


(v. 1). A paz com Deus é de agora em diante sua porção
inestimável. Ele está reconciliado com o Soberano Juiz
através do mesmo ato que deveria atrair a cólera divina
para sem pre: a m orte de Seu Filho! (v. 10).
Verdadeiramente, o amor de Deus é incomparável com
qualquer outro tipo de amor. Ele am ou os pobres
humanos — que não eram nada dignos de am or— antes
que dessem o menor passo em direção a He. Deus os
am ou quando ainda eram fracos e ímpios (v. 6),
pecadores (v. 8) e inimigos (v. 10; 1 João 4:10, 19).
Agora este mesmo amor é derramado em nosso coração.
Frente ao mundo, que se orgulha de vantagens
presentes e passageiras, o crente, longe de sentir-se
envergonhado (v. 5), pode gloriar-se em seu maravilhoso
futuro: a glória de Deus (v. 2). E além disso, por mais
paradoxal que seja, ele é capaz de encontrar alegria nas
suas tribulações, pois elas produzem frutos preciosos (w.
3-4) que tornam sua esperança ainda mais real e ardorosa.
“E não isto apenas...” (v. 11): podemos gloriar-nos nos
dons, porém acima de tudo nAquele que os dá, ou seja,
em Deus mesmo e em nosso Senhor Jesus Cristo.

293
Romanas 5:12-21

Para um crente que se converte em seu leito de morte,


a epístola podería acabar no versículo 11. A questão dos
seus pecados foi resolvida; ele está apto para a glória de
Deus. Porém, para o crente que continua vivo sobre a
terra, existe um incômodo problema: permanece dentro
dele a velha natureza, o pecado, o qual é capaz de
produzir, como antes, frutos corrompidos. Será que ele
corre o risco de perder a salvação? O que segue, do
capítulo 5:12 ao capítulo 8, ensina como Deus resolveu
a questão: Ele condenou não só os meus atos, mas
também a natureza perversa que os produz, o “velho
homem” (cap. 6:6). Suponhamos que um impressor
pouco consciente, na composição da matriz de um livro,
deixasse passar erros graves que mudasse completamente
o sentido dos pensamentos do autor. Esses erros se
reproduziríam na impressão tantas vezes quanto fosse o
núm ero de exem plares publicados. A m elhor
encadernação não mudaria nada. Para que o texto
voltasse a ser fiel, teria de ser impressa uma nova edição
a partir de uma nova matriz. O primeiro Adão é como
essa matriz adulterada, de maneira que o número de
homens é o mesmo que o número de pecadores. Deus,
porém, não quer melhorar a raça adâmica. Ele ressuscitou
da morte um novo homem, Cristo, e nos deu a Sua vida.

294
Romanos 6:1-14

Então é muito fácil! — dizem alguns — já que a graça


é superabundante, e nossas injustiças servem para
realçá-la, aproveitemos para satisfazer todos os caprichos
de nossa vontade carnal (w. 1 e 15). Mas será que nós
podemos imaginar o filho pródigo (Lucas 15:11 a 32),
depois de ter experimentado a amorosa acolhida dada
por seu pai, querendo novamente voltar ao país distante,
onde tanto havia sofrido, e dizendo: “Agora sei que serei
bem recebido em minha casa todas as vezes que eu quiser
voltar”? Não, tal pensamento não é o de um verdadeiro
filho de Deus. Primeiramente, porque ele sabe o que tão
grande graça custou ao seu Salvador e tem e
entristecê-LO. Além disso, o pecado deve perder todo o
atrativo para ele. De fato, um cadáver não pode mais ser
atraído por prazeres e tentações. Minha morte com Cristo
(v. 6) acaba com toda a força e a autoridade do pecado
sobre mim. Que maravilhosa redenção!
Os versículos 13 a 18 do capítulo 3 confirmavam
que todos os membros do homem (sua língua, seus pés,
seus olhos) eram “instrumentos de iniqüidade” a serviço
do pecado (v. 13). Contudo, no momento da conversão,
esses mesmos membros mudam de proprietário e se
transformam em “instrumentos de justiça” para serem
usados por Aquele que tem todos os direitos sobre o
homem.

295
Romanos 6:15-23

Não há nada que o homem valorize mais do que


a sua liberdade. Contudo, ela é um a completa ilusão.
Alguém escreveu: “A livre vontade não é mais que
um a escravidão ao d ia b o ” . C ontudo, o hom em
somente percebe isso após a conversão. “Todo o que
comete pecado é escravo do p ecad o ...”, ensinava o
Senhor Jesus. Mas Ele acrescentou: “Se, pois, o Filho
vos libertar, verdadeiram ente sereis livres” (João
8:34, 36). Somos livres... mas não para fazer nossa
vontade: isso seria colocar-nos debaixo da mesma
escravidão! Basta-nos já termos feito “naquele tem po”
(v. 21) a vontade do homem pecador, e saber que a
c o n se q ü ê n c ia d esse tra b a lh o p a ra S a ta n á s, o
impostor, requereu um trágico salário: a morte, que
Cristo suportou em nosso lugar (v. 23). Não! Se somos
livres, é para servir a Deus e obedecer-Lhe de coração
(v. 17; 2 Coríntios 10:5).

296
Romanos 7:1-11

A lei não apenas reprova os atos maus que cometí,


mas tam bém julga m inha natureza pecadora, por
exemplo, minha incapacidade de amar a,Deus e ao meu
próximo como ela ordena. O pecado me coloca, pois,
inexoravelmente, debaixo da condenação da lei de
Deus... Nós, porém, fomos libertados da lei da mesma
forma que fomos libertados do pecado: pela morte (ou
seja, minha morte com Cristo; v. 4). Quando morre um
homem culpado, a justiça hum ana não pode mais
mantê-lo na prisão.
Então a lei é uma coisa má? “De modo nenhum”,
exclama novamente o apóstolo (v. 7). Se estou em um
m useu e pego um objeto exposto, posso não ter
consciência de estar cometendo uma infração. Mas, ao
contrário, sou absolutamente culpado se houver um cartaz
escrito: “Não toque”. Porém, ao mesmo tempo, esse
cartaz despertará o desejo dos visitantes de tocar o objeto.
E essa natureza orgulhosa do homem que o leva a infringir
todos os regulamentos para afirmar sua independência.
Assim, pela lei, Deus me surpreende em flagrante delito
de desobediência e põe em evidência a cobiça que está
dentro de mim, para me convencer completamente do
pecado.

297
Romanos 7:12-25

Estes versículos são comparados com os esforços


inúteis de um homem que caiu na areia movediça. Cada
movimento que ele faz para sair, afunda-o mais ainda.
Ao ver-se perdido, ele finalmente grita por socorro.
Moralmente, esta figura ilustra a história de muitos filhos
de Deus, logo após sua conversão. O apóstolo coloca-se
no lugar de um crente qualquer (se ele não fosse crente,
por um lado não passaria por essas lutas, e por outro não
encontraria seu prazer na lei de Deus; v. 22). Ele nos
descreve seu completo desespero: “Ah! Em vez de
progredir, eu me sinto cada vez pior. Descobri passo a
passo que eu estava ‘debaixo do pecado’ (cap. 3:9), que
ele ‘reinou’ sobre mim (cap. 5:21), que me dominava
(cap. 5:21), que ‘me faz prisioneiro’ (cap. 7:23) e ‘habita
em mim’ (cap. 7:17 e 20), tal qual uma enfermidade
insidiosa que tomou conta dos meus órgãos vitais. Quem
me livrará deste corpo de morte? Reconheço que sou
incapaz, não tenho forças; estou disposto a recorrer a
Outro. E Jesus me toma pela mão”.
Uma experiência dolorosa, porém necessária! A partir
do momento em que eu não espero nada mais de mim
mesmo, eu posso esperar tudo de Cristo.

298
Romanos 8:1-11

Uma maravilhosa paz sucede os tormentos do capítulo


7. Como culpado, aprendi que não há mais condenação
para mim: estou em Cristo Jesus, o lugar da perfeita
segurança. Como desventurado homem (cap. 7:12), sem
forças para fazer o bem, descobri um poder chamado “a
lei do Espírito da vida”, que me liberta de uma vez por
todas da “lei do pecado e da morte”, ou seja, de seu
domínio. Tais são as duas grandes verdades que eu
compreendi pela fé.
O mais hábil escultor, ainda que disponha das
melhores ferramentas, é incapaz de esculpir alguma coisa
em madeira bichada. Deus, figuradamente, é o hábil
escultor, e a lei é a boa ferramenta (cap. 7:12). Mas a lei,
por melhor que seja, é ineficaz e fraca para trabalhar
numa “carne” rebelde, corrompida e roída pelo verme
do pecado (w . 3 e 7). Nós estávamos “na carne” (v. 9),
forçados a agir segundo a sua vontade. Mas, da conversão
em diante, estamos em Cristo Jesus, andando “segundo
o Espírito” (v. 4).
E bem verdade que, embora não estejamos mais “na
carne”, a carne está em nós. Mas, depois que cremos, o
próprio Espírito de Deus vem habitar em nós como o
verdadeiro Dono da casa. A carne — o “velho homem”
—, o antigo proprietário, está presente agora apenas
como um indesejável locatário, confinado em um quarto.
Ela já não tem nenhum direito... mas eu tenho de vigiar
e não abrir a porta para ele.

299
Romanos 8:12-21

Já não somos devedores à carne (v. 12), esse credor


insaciável e cruel, pois nos tomamos filhos de Deus, e
nosso Pai não admite que sejamos escravos dela. Ele
mesmo pagou tudo o que devíamos, a fim de que
fôssemos livres e dependéssemos somente dEle.
Antigamente, um escravo romano podia ser libertado
e, em casos excepcionais, até ser adotado por seu dono
com todos os direitos sobre a herança. Esta era uma frágil
figura do que Deus faz por Suas pobres criaturas caídas,
corrompidas e rebeldes. Ele não apenas lhes dá o perdão,
a justificação e a completa libertação, mas também faz
delas membros de Sua própria família. E elas são seladas
pelo Seu Espírito, através do qual os filhos estabelecem
sua relação com o Pai. “Papá” (“Aba”, em hebraico) é
geralm ente a prim eira palavra inteligível que um
bebezinho fala (w. 15-16; 1 João 2:13).
Além desta convicção que Ele nos dá, o Espírito nos
ensina a fazer morrer as obras da carne, ou seja, a não
deixar que elas se manifestem (v. 13). Ao nos deixarmos
guiar pelo Espírito, então seremos conhecidos como filhos
de Deus (v. 14; Mateus 5:44,45), enquanto esperamos
ser revelados como tais a toda a criação (v. 19).

300
Romanos 8:22-30

Neste mundo, manchado pelo pecado, reinam a


injustiça, o sofrim ento e o m edo. O hom em tem
subjugado toda a criação, ultimamente inclusive o
cosmos, para servir à sua vaidade e à sua corrupção (w.
20-21). Os suspiros de todos os oprimidos sobem até o
grande Juiz (Lamentações 3:34-46). Nós também
suspiramos em nosso “corpo de humilhação” (Filipenses
3:21). Sentimos o peso do pecado que nos cerca e, além
disso, temos de julgar a nós mesmos continuamente (v.
13). Nossa fraqueza é grande: não sabemos como orar
nem o que pedir. Outra função do Espírito Santo é
interceder por nós em uma linguagem que só Deus
entende (v. 27). Não sabemos o que realmente é bom
para nós, mas o versículo 28 assegura que tudo o que nos
acontece tem sido preparado por Deus e faz parte de
“Seu propósito”, do qual Cristo é o centro. Porque foi
para dar a Seu Filho companheiros na glória que Deus de
antemão conheceu, predestinou, chamou, justificou e
glorificou a esses seres, anteriormente miseráveis e
perdidos, e a quem agora Ele está preparando para o
destino celestial (v. 29). Que sublime cadeia de planos
divinos que liga a eternidade passada com a eternidade
futura e dá sentido ao tempo presente!

301
Romanos 8:31-39

Tal esclarecimento dos eternos planos divinos deixa


o redimido sem palavras. Toda a pergunta que ele podería
fazer já encontrou a resposta perfeita! Deus está com ele;
que inimigo se arriscaria a tocá-lo agora? Deus o justifica;
quem se atrevería a acusá-lo? O único que poderia
acusá-lo — Cristo — tornou-se o seu S oberano
Intercessor! E o que Deus poderia recusar — um Deus
que nos deu Seu Filho, o maior de todos os dons? Este
Deus “não nos dará graciosamente com ele todas as
cousas” (v. 32), e até mesmo as provações, se assim for
necessário (v. 28)?. Podemos até ter a impressão de que
elas nos separam do am or de Cristo, ao nos fazer
murmurar e desanimar. Ao contrário! “Todas estas coisas”
nos permitem experimentar a excelência e a força desse
amor. Qualquer que seja a forma da provação —
tribulação, angústia, perseguição —, em todos os casos a
infinitamente variada graça do Senhor se manifestará de
maneira diferente: apoio, consolação, ternura, perfeita
simpatia etc. A cada tipo de sofrimento, corresponde um
tipo particular de amor. E, quando tivermos terminado a
nossa jornada neste mundo, então permaneceremos para
toda a eternidade como objetos do amor de Deus.

302
Romanos 9:1-18

Os capítulos 1 a 8 nos lembram a história do filho


pródigo: seu pecado havia abundado, mas a graça havia
superabundado. Vestido com um manto de justiça, ele
não se tom ou um empregado na casa paterna, mas
daquele momento em diante usufruiu um relacionamento
livre e pleno com seu pai (Lucas 15:11-32).
Do capítulo 9 até o 11, o assunto será tipificado pelo
filho mais velho, ou seja, o povo judeu, com seus
privilégios naturais e também com sua inveja. Tal qual o
pai naquela parábola, o apóstolo deseja que Israel
entenda o que é a graça soberana. Ela não está ligada às
vantagens hereditárias. Todos os descendentes de Abraão
não eram filhos da promessa. O profano Esaú, por
exemplo, apesar de ser irmão gêmeo de Jacó, não pôde
herdar a sua parte da bênção. Deus pronunciou a respeito
dele a terrível sentença: “Porém me aborrecí de Esaú” (v.
13). Será que Seu amor acabou antes de todos os outros
recursos? Basta pensar nas lágrimas de Jesus sobre a
Jerusalém corrompida (Lucas 19:41), dor que encontra
eco pungente nas palavras do apóstolo dos versículos
2 e 3. Reafirmamos: não são os direitos de nascimento
que asseguram a salvação pela graça. E isto é endereçado
especialmente a vocês, filhos de pais cristãos.

303
Romanos 9:19-33

Em sua ousada incredulidade, os homens se permitem


julgar a Deus com base em seus próprios padrões. Alguns
podem dizer: “Já que Deus só fará o que quiser, de que
Ele poderá acusar-nos? Não importa o que se faça, se uma
pessoa está predestinada, será salva, mais cedo ou mais
tarde. E se ela não for eleita, nenhum esforço alterará o
seu destino final”. Desse falso ponto de vista derivam
muitas outras questões, tais como: “Ele não é injusto por
ter escolhido uns e outros não? Conhecendo de antemão
o destino dos perdidos, por que Ele os criou? Como um
Deus bom pode condenar uma pessoa ao inferno?”. Este
capítulo nos ensina que Deus não preparou nenhum vaso
de desonra ou de ira (v. 21); pelo contrário, Ele os
suportou — e ainda suporta — “com m uita
longanimidade”. São os próprios pecadores que,eles
mesmos, se preparam incansavelmente para a perdição
eterna.
Uma coisa é certa: Deus chamou vocês, todos vocês
que têm em suas mãos a Palavra de Deus. Ele quer fazer
de vocês vasos de misericórdia. Somente nosso desprezo
pode impedir que Ele realize em nossa vida o Seu plano
de amor (1 Timóteo 2:4).

304
Romanos 10:1-13

O am or do apóstolo pelo seu próprio povo


manifesta-se de maneira excelente: pelas orações (v. 1).
Este também é nosso primeiro dever para com os
não-convertidos que estão ao nosso redor. Paulo sabia,
por experiência própria, que um homem pode ter “zelo
por D eus” e, contudo, an d ar por um cam inho
completamente errado. Muitas obras, apesar de generosas
e sinceras, estão destinadas ao fracasso porque não são
feitas “com entendimento” (v. 2), ou seja, não estão de
acordo com o pensamento divino. E isso é ainda mais
verdadeiro q u ando se trata dos esforços inúteis
empregados por muitas pessoas que querem ganhar o
céu, quando é apenas necessário aprender a palavra que
está “perto de ti” (v. 8). E como um homem que cai num
precipício querendo subir por seus próprios esforços em
vez de confiar na corda que a equipe de resgate joga ao
alcance de suas mãos.
Os versículos 9 e 10 nos recordam que a fé do coração
e a confissão da boca são inseparáveis. Pode-se até
duvidar da conversão de quem não tem ânimo para
confessá-la.
O versículo 22 do capítulo 3 diz que “não há distinção”
frenteaopecado.Todossãoculpados.OversícuIo 12 deste
capítulo diz que “não há distinção” em relação à salvação.
Todos podem obtê-la. O Senhor é suficientemente rico
para responder às necessidades de todos os que O
invocam.

305
Romanos 10:14-21

“A fé vem pela pregação, e a pregação pela palavra


de Cristo” (v. 17). E, pois, imperativo que esta Palavra
seja proclam ada através de todo o m undo. “Que
formosos são... os pés do que anuncia as boas novas,
que faz ouvir a paz, que anuncia cousas boas, que faz
ouvir a salvação”, escreveu o profeta Isaías (52:7). Ele
se referia a Cristo som ente. Mas aqueles que se
convertem também se tornam pregadores, e é por essa
razão que o apóstolo escreve “dos que anunciam cousas
boas” (v. 15). De fato, se cada um desses desejasse ser
um mensageiro cheio de fervor por toda a parte aonde o
Senhor os enviasse, a mensagem do Evangelho alcançaria
as extremidades do mundo habitado (v. 18). O versículo
15 nos mostra de que maneira os crentes devem pregar:
não somente com palavras, mas principalmente com a
beleza do seu andar, pois seus pés estão calçados com “a
preparação do evangelho da paz” (Efésios 6:15).
A pergunta entristecida: “Quem creu em nossa
pregação?” (v.16; Isaías 53:1) enfatiza que muitos
corações ainda permanecem fechados. Esse era o caso
de Israel, apesar das advertências de todo o Velho
Testamento: Moisés (v. 19), Davi (v. 18), Isaías (w. 15-16,
20-21), ou seja, a Lei, os Salmos e os Profetas. Porém,
nós mesmos devemos ter cuidado para não nos tornarmos
também rebeldes e contradizentes (v. 21).

306
Romanos 11:1-15

A pesar de sua incredulidade, Israel não fora


definitivamente rejeitado. O próprio apóstolo era uma
prova do que a graça ainda podería fazer por um judeu
rebelde (v. 1). No passado, Elias se enganou pensando
que todo o povo tinha se afastado do Senhor. Em seu
desânimo, ele até mesmo “insta perante Deus contra
Israel” (v. 2). Mas que graça há na “resposta divina”:
“Reservei para mim sete mil homens, que não dobraram
joelhos diante de Baal” (v. 4)! Em todas as épocas o
Senhor tem reservado para Si mesmo um remanescente
fiel que nega inclinar-se diante dos ídolos do mundo.
Será que fazemos parte desse grupo atualmente (v. 5)?
Após muitos chamados, Israel finalmente tomou-se
cego, resultando na bênção dos gentios. Porém, o ardente
desejo do apóstolo era o seguinte: que a inveja do povo
judeu em relação aos novos beneficiários da salvação
(inveja pela qual ele mesmo tanto havia sofrido: Atos
13:45; 17:5; 22:21-22), os incitasse a buscar a graça que
até aquele m om ento haviam desprezado tão
enfaticamente (v. 14; 10:19).
Que todos os que virem as bênçãos de Deus em nossa
vida também desejem buscar o Deus que concede essas
bênçãos!

307
Romanos 11:16-36

Para ilustrar respectivamente a posição de Israel e dos


gentios, o apóstolo usa a figura de uma “oliveira”, que
representa o povo judeu. Parte de seus ramos foram
quebrados “pela sua incredulidade” (v. 20) e em seu lugar
foram enxertados ramos provenientes da oliveira brava
dos gentios. Todos sabemos que um jardineiro faz o
contrário: enxerta na árvore silvestre os ramos da espécie
que ele espera cultivar. Esta introdução dos gentios no
tronco de Israel “contra a natureza” enfatiza a imensa
graça que colocou a nós, que não somos judeus, numa
posição de beneficiários das promessas feitas a Abraão.
Orgulhar-nos disso diante do mundo produziría grandes
e sérias conseqüências (v. 20)!
Chegará o momento, logo após o arrebatamento dos
crentes, que a cristandade apóstata terá sua vez de ser
julgada; depois disso todo o remanescente de Israel será
salvo por seu grande Libertador (v. 26).
Os gentios não tinham nenhum direito originalmente;
Israel perdeu os seus direitos ; todos estavam, pois, no
mesmo estado irremediável, sem nenhum outro recurso
a não ser a misericórdia divina. O apóstolo se detém com
adoração diante desses planos insondáveis, “da
profundidade da riqueza, da sabedoria e do
conhecimento de Deus” (v. 33).

308
Romanos 12:1-8

Até aqui temos visto o que Deus fez por nós. Os


capítulos 12 ao 15 nos ensinam o que Ele espera de nós.
O Senhor adquiriu todos os direitos sobre nossa vida.
Apresentemos o que Lhe pertence: nosso corpo, como
sacrifício vivo (em contraste com as vítimas mortas do
culto judaico) a fim de que Ele possa agir através de nós.
Porém, antes de servi-LO, é necessário que a nossa mente
transformada compreenda a vontade do Senhor (ler
Colossenses 1:9-10). Qualquer que sejam as aparências,
tal vontade é sempre boa, agradável e perfeita (pesemos
estas palavras)... pelo simples fato de que é Sua vontade
(v. 2; João 4:34). Também é necessário que controlemos
e julguemos nossos pensamentos, de maneira que sejam
pensamentos de humildade e não de egoísmo, sãos e não
manchados.
Os versículos de 6 a 8 enumeram alguns dons
“segundo a graça”: o de profecia, o de serviço, o de
ensino, o de exortação, o de contribuição, o de
administração... Todas essas atividades, você pode dizer,
não me diz respeito; elas são para os cristãos mais velhos
e experientes. Pois bem, a última m encionada no
versículo 8 (a misericórdia) certamente é para você —
quem quer que seja ou qualquer que seja sua idade —
assim como a generosidade, pois “Deus ama a quem dá
com alegria” (2 Coríntios 9:7).

309
Romanos 12:9-21

O assunto dos versículos 1 a 8 é o nosso serviço diante


de Deus; os versículos 9 a 16 enumeram principalmente
os deveres para com os nossos irmãos, enquanto do
versículo 17 ao 21 o tema é a nossa responsabilidade
com todos os homens. Cada uma dessas exortações, nas
quais devemos meditar, encontra aplicação em nossa vida
diária, pois a autoridade da Palavra se estende tanto à
nossa vida familiar como ao nosso trabalho, tanto aos
dias da semana como aos domingos, tanto aos dias
alegres como aos tristes (v. 15). Não existe uma única
circunstância em que não possamos ou não devamos
comportar-nos como cristãos.
0 versículo 11 encoraja-no a ser ativos. Contudo, os
diversos serviços postos diante de nós: beneficência,
hospitalidade (v. 13)... devem ser resum idos na
expressão do versículo 12: “servindo ao Senhor” (e não
à nossa reputação).
Alegrar-se com os que se alegram e ter compaixão
dos humildes (v. 16), suportar com paciência as injustiças
e os ultrajes (w. 17-20) são coisas contrárias à nossa
natureza, porém é dessa forma que a vida de Cristo se
m anifestará em nós, tal como se manifestou nEle
(1 Pedro 2:21-23). Fazer o bem é a única resposta ao
mal que nos é permitida, e também o único modo de
superá-lo.

310
Romanos 13:1-14

Estar sujeito às autoridades é estar sujeito a Deus, que


as estabeleceu, a menos que o que elas exijam esteja em
evidente contradição com a vontade de Deus (Atos 4:19;
5:29). O cristão, que se beneficia da segurança e dos
serviços públicos m antidos pelo Estado, deve
comportar-se como um bom cidadão, pagar devidamente
os impostos (v. 7), respeitar as leis e os regulamentos:
polícia, alfândega etc...
“A ninguém fiqueis devendo cousa alguma” (v. 8) é
uma exortação para não ser esquecida. Temos somente
uma dívida, — o amor — impossível de ser pago, porque
é a resposta ao am or— infinito am or— de Deus por nós.
Além disso, a palavra amor resume todas as instruções
deste capítulo: amor pelo Senhor (1 Pedro 2:13); por
nossos irmãos e por todos os homens.
Um motivo essencial para ser fiel e reanimar nosso
coração é que “vem a manhã” (Isaías 21:12). Enquanto
durar a noite moral deste mundo, o crente é exortado a
revestir-se “das armas da luz” (v. 12; Efésios 6:13). Sim,
revestir-se do próprio Senhor Jesus Cristo, ou seja,
fazê-LO visível em nossa vida. Q ueridos irmãos,
despertemos, pois não é tempo de fraqueza. O Senhor
está voltando!

311
Romanos 14:1-18

O livro d e A to s nos mostra como os crentes vindos do


judaísmo tinham dificuldade de libertar-se das formas
exteriores de sua religião. Há m uitos crentes na
cristandade atual que atribuem extrema importância às
práticas exteriores: abstenção de cames, observância de
festas santas. Não os critiquemos! Não tenho o direito de
duvidar de que um cristão não esteja fazendo isso “para
o Senhor” (v. 6), do qual é um servo responsável. De
maneira geral, o hábito de julgar os outros é sempre a
prova de que eu não conheço o meu próprio coração.
Porque se estou verdadeiramente consciente do meu
próprio horror e do sentimento da graça de Deus que me
suporta, todo o espírito de superioridade desaparece de
meu pensamento. Será que posso levantar -me como
juiz, quando eu mesmo um dia prestarei contas de meus
atos diante do tribunal de Deus (v. 10), ainda que desde
já eu esteja justificado? Não apenas devo eximir-me de
julgar o próximo, mas principalmente devo tomar cuidado
para não escandalizá-lo com o meu comportamento. Sou
exortado a abster-me de qualquer coisa que possa destruir
(o contrário de edificar) outro crente. O versículo 15 me
dá o decisivo argumento para isso: o irmão é “aquele a
favor de quem Cristo morreu”.

312
Romanos 14:19-23; 15:1-13

Esses versículos continuam com o tema de nosso


relacionamento com outros crentes. Além da advertência de
não escandalizá-los, encontramos outras recomendações
positivas:
© Seguir as cousas da paz e da edificação mútua (v.
19). As críticas, pois, tendem a produzir resultado inverso.
© Am parar, especialm ente em oração, as
imperfeições dos fracos (isso não significa de maneira
alguma ser conivente com os pecados) recordando que
nós mesmos também temos grande necessidade de ser
amparados por nossos irmãos devido às nossas próprias
fraquezas.
© Não buscar o que nos é agradável, mas o que será
bom para o nosso próximo. Assim estaremos seguindo as
pegadas do perfeito Exemplo (cap. 15:2-3). Jesus nunca
fez nada para Si mesmo.
© Dedicar-se a cultivar um mesmo sentimento para
que a comunhão na adoração não seja perturbada (w.
5-6), e receber os outros com a mesma graça que Ele nos
recebe (v. 7).
Notemos especialmente as expressões atribuídas no
capítulo 15 ao “Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo”
(v. 6). Ele é “o Deus de paciência e consolação” (v. 5),
que nos dá essas coisas através da Sua Palavra (v. 4). Ele
é também o “Deus da esperança” (v. 13) e quer que
abundemos nela. Finalmente, o versículo 33 descreve-0
como o Deus da paz que estará conosco “todos os dias
até à consumação do século” (Mateus 28:20).
313
Romanos 15:14-33

0 apóstolo tem a melhor das impressões dos cristãos


de Roma (v. 14). Admitir o bem em nossos irmãos é ter
confiança que Cristo está neles. E também estimulá-los a
manter-se neste nível.
Com comovedora humildade, Paulo reconhece que
eles eram capazes de exortar-se m utuam ente, não
precisando das exortações do apóstolo (v. 14). Ele
tampouco escreve como se eles tivessem de sentir-se
honrados com sua presença, mas, ao contrário, é Paulo
que quer desfrutar da presença deles (v. 24). Finalmente,
o grande apóstolo diz aos irmãos de Roma que ele
necessita de suas orações (v. 30).
Impulsionado por seu zelo pelo Evangelho, Paulo a
muito desejava ir a Roma; nos versículos 20 a 22, ele
explica a razão de sua demora em visitar os crentes
daquela cidade: “Esforçando-me deste modo por pregar
o evangelho, não onde Cristo já fora anunciado, para
não edificar sobre fundamento alheio; antes, como está
escrito: Hão de vê-lo aqueles que não tiveram notícia
dele, e compreendê-lo os que nada tinham ouvido a seu
respeito. Essa foi a razão por que também muitas vezes
me senti impedido de visitar-vos”. Seu desejo, expresso
no versículo 32 (“e possa recrear-me convosco”), foi
cumprido, pois o autor de Atos dos apóstolos escreveu:
“Vendo-os Paulo, e dando por isso graças a Deus,
sentiu-se mais animado” (Atos 28:15).

314
Romanos 16:1-16

O capítulo 12 ensina como devem ser a consagração


e o serviço cristão. O capítulo 16 mostra a prática por
parte dos crentes de Roma, aos quais o apóstolo dirige
suas saudações. Alguém escreveu: “Temos aqui uma
página típica do livro da eternidade. Não há sequer um só
ato de serviço que façamos para o Senhor, que não seja
colocado em Seu livro, e não somente a substância do
ato, mas também a maneira pelo qual ele é praticado”.
E por isso que, no versículo 12, Trifena, Trifosa e a
“estim ada” Pérside não estão juntas, pois as duas
primeiras “trabalharam no Senhor”, enquanto a última
“muito trabalhou no Senhor” e seus serviços não foram
confundidos. Tudo é apreciado e lembrado por Aquele
que jamais erra.
Paulo, por sua vez, não esquece o que fizeram por ele
(vv. 2 e 4). E ncontram os novam ente aqui seus
“companheiros de obra” Priscila e Áquila (Atos 18).
A igreja se reunia simplesmente em sua casa (que
contraste com as ricas basílicas construídas desde então
em Roma!).
As saudações em Cristo servem para estreitar os laços
da comunhão cristã. Não devemos jamais negligenciar
aqueles que nos foram confiados.

315
Romanos 16:17-27

Os motivos de alegria que Paulo encontrava nos


crentes romanos (v. 19) não o faziam perder de vista os
perigos a que eles estavam expostos. Antes de encerrar
sua epístola, ele os alerta contra os falsos mestres,
reconhecíveis pelo fato de que buscam agradar somente
a si mesmos, servindo às suas próprias ambições e cobiças
(“seu próprio ventre”: v. 18; Filipenses 3:19). A solução
não está em discutir com “esses tais”, nem em estudar
seus erros, mas sim em afastar-nos deles (Provérbios
19:27). Contudo, essas manifestações do mal nos afetam.
É por essa razão que o Espírito, para nos encorajar, diz
que o Deus da paz brevemente esmagará Satanás debaixo
de nossos pés (v. 20).
Alguns parentes de Paulo estão entre os primeiros
cristãos (w . 11 e 21), sem dúvida, o fruto de suas orações
(cap. 9:3; 10:1). Que isso estim ule você a orar
incessantemente por seus parentes ainda não convertidos!
O que Deus espera de nossa fé é a obediência (w. 19
e 26), e o que nossa fé pode esperar dEle, mediante
“nosso Senhor Jesus Cristo”, é o poder (v. 25), a
sabedoria (v. 27) e a graça (w. 20 e 24). Juntamente
com o apóstolo, glorifiquemos a Deus, expressando nossa
adoração, mas, sobretudo, vivendo para agradar-Lhe.

316
1 Coríntios 1:1-16

Através do ministério de Paulo forma-se em Corinto


uma numerosa igreja (Atos 18:10). Como Paulo não é
somente um evangelista zeloso, mas também um pastor
fiel, continua dedicando-se a ela em amorosa diligência
(2 Coríntios 11:28). E de Efeso que Paulo lhes escreve
esta primeira carta, endereçando-a também a “todos os
que em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor
Jesus Cristo” (1 Coríntios 1:2). Se você é um desses, esta
carta também é destinada a você.
Paulo tinha recebido más notícias de Corinto. Várias
desordens estavam acontecendo naquela igreja. Porém,
antes de tratar de tais penosos assuntos, Paulo lembra a
esses crentes as riquezas espirituais que eles possuíam em
decorrência da graça de Deus (w . 4-5). Procuremos
enumerar os nossos inestimáveis privilégios como filhos
de Deus! Isso será útil para sabermos medir a nossa
responsabilidade e levar mais a sério a vida cristã. Não
deixemos de agradecer a Deus por isso, como faz o
apóstolo aqui.
A primeira reprovação dirigida à igreja de Corinto diz
respeito às suas contendas. Eles estavam seguindo após
homens (a Paulo, a Apoio, a Caifás e a Cristo apenas
como um mestre melhor que os outros: João 3:2), em vez
de estarem unidos na comunhão de “Jesus Cristo nosso
Senhor”, o Filho de Deus (v. 9). Queira Deus que sempre
estejamos no gozo desta comunhão! (1 João 1:3).

317
1 Coríntios 1:17-31

“Para nós que somos salvos”, a palavra da cruz é poder


de Deus. Mas para as demais pessoas é tão somente
loucura. Todo o significado da cruz (a morte de um Justo
exigida pela justiça de Deus, o perdão gratuito para os
pecadores, o renunciar a si mesmo) são verdades que
conflitam com a razão humana. Se, por outro lado, forem
oferecidos milagres e obras espetaculares, o requisito de
um nobre ideal e um código moral que exige muitos
esforços... bem, esse será o tipo de religião não choca
ninguém. Mas oh! O versículo 18 classifica todos os sábios,
todos os escribas e inquiridores, em resumo, poderosos
intelectuais deste e dos demais séculos sob a mesma e
espantosa designação: “os que se perdem”.
É fato que entre os redimidos do Senhor não há
muitos sábios, poderosos ou nobres (v. 26), pois estes
têm mais dificuldade de tornar-se “como crianças”
(Mateus 18:3, 11:25). Para Se glorificar, Deus escolhe o
que é fraco, vil e menosprezado — e é essa a opinião que
o mundo tem sobre os cristãos. Mas que importa seu
próprio valor, uma vez que estão em Cristo e para eles
Cristo se tornou tudo: poder, sabedoria, justiça e redenção
(w. 24 e 30)?

318
1 Coríntios 2:1-16

Sabemos que no mundo um belo discurso, certo


carisma e “palavras persuasivas de sabedoria humana”
podem ser suficientes para assegurar a vitória de qualquer
causa. Mas Deus não usa essas habilidades humanas nem
estratégias de propaganda para nos fazer conhecer a fé
(w. 4-5). Apesar de seu elevado nível de instrução, Paulo
não brilhou em Corinto por sua sabedoria, cultura ou
eloqüência. Isso seria um a contradição ao seu
ensinamento, pois a cruz de Cristo que ele anunciava
representa justamente o fim de tudo aquilo do qual o
homem se orgulha. Mas, longe de sair perdendo com
isso, o crente tem recebido as coisas invisíveis — aquilo
“que por Deus nos foi dado gratuitam ente” — e
sim ultaneam ente o meio para discerni-las e delas
desfrutar: o Espírito Santo, o único agente que Deus utiliza
para nos comunicar Seus pensamentos (v. 12). De que
serviría uma partitura sem os instrumentos musicais para
interpretá-la, ou um disco sem o aparelho para tocá-lo?
Por outro lado, que efeito teria um belo concerto para
uma platéia de pessoas surdas? Assim a linguagem do
Espírito Santo é incompreensível ao “homem natural”.
Em contrapartida o “homem espiritual” pode apreciar as
coisas espirituais por meio de recursos espirituais (w.
13-15).

319
1 Coríntios 3:1-15

Visto que estavam tão ocupados com suas divisões,


os coríntios não conseguiram fazer nenhum progresso.
Eles pareciam àqueles alunos mais fracos que tolamente
disputavam quem era o professor mais instruído ou a sala
de aula mais bonita. Paulo declara que era imaturidade
eles se ocuparem com o servo em vez de com seus
ensinamentos. Resumindo: eles ainda eram carnais (w.
2-3). Quantas vezes confundimos a verdade com aquele
que a apresenta! Por exemplo, se formos ouvir um servo
de Deus, pensando de antemão que ele não tem nada
para nos oferecer, receberemos apenas o que esperamos,
ou seja, nada!
Em seguida o apóstolo enfatiza a responsabilidade
daquele que ensina. Na obra de Deus, comparada a uma
lavoura ou a um edifício, cada obreiro tem sua própria
atividade. Ele pode trazer diferentes materiais — quer
dizer, diferentes aspectos da verdade — e edificar vidas
ao apresentar-lhes a justiça de Deus (o ouro), a redenção
(a prata) e as glórias de Cristo (as pedras preciosas). Ou
então, aparentando fazer uma grande obra, pode também
edificar com madeira, feno, palha.... e tal obra não
resistirá ao fogo. Por isso, “cada um veja como” (e não
quanto) “edifica” sobre o único e inabalável fundamento:
Jesus Cristo.

320
1 Coríntios 3:16-23; 4:1-5

Além de autênticos obreiros que podem estar fazendo


um trabalho deficiente (v. 15), ainda existem os falsos
servos que corrompem o templo de Deus (v. 17). Que
ninguém se engane acerca de si mesmo, do que é e do
que está fazendo! (v. 18).
Cuidado tam bém com os valores e raciocínios
humanos. São referências enganosas! A sabedoria do
mundo é loucura para Deus, a sabedoria de Deus é
loucura para o mundo (v. 19). Dependendo do alvo que
temos em vista, buscaremos orientação por uma dessas
sabedorias. “O homem natural” sente pena do cristão
que, em sua opinião, está sacrificando as vantagens e
prazeres do presente por um futuro vago e incerto. Que
bom seria se todos nós sofrêssemos deste tipo de loucura!
0 que são essas miseráveis vaidades em comparação
com aquilo que nós, os cristãos, possuímos? Todas as
coisas são nossas, afirma o apóstolo Paulo, e são nossas
porque nós somos de Cristo, a quem tudo pertence. Sob
Sua dependência, podem os dispor de tudo o que
precisarmos a Seu serviço. Porém, o mais importante é
que cada um seja “encontrado fiel” (4:2). Cada um,
pequeno ou grande, é um administrador e receberá o seu
louvor. Este não virá da parte do seu irmão, mas, sim,
dAquele que conhece o coração do homem (v. 5; ver
também 2 Timóteo 2:15).

321
1 Coríntios 4:6-21

Qual era a raiz das dissensões na igreja de Corinto


senão a soberba (Provérbios 13:10; Lucas 22:24)? Cada
um se orgulhava de seus dons espirituais e de seu
conhecimento (1 Coríntios 1:5), esquecendo-se de uma
coisa: que eles tinham recebido tudo isso por pura graça.
Para que permaneçamos humildes, recordemos sempre
a pergunta feita no versículo 7: “E que tens tu que não
tenhas recebido?”.
Além disso, inchar-se com o vento de sua própria
importância era almejar algo diferente de “Jesus Cristo, e
este crucificado” (2:2). Era querer “reinar” desde já,
apesar de estar escrito: “Se perseveramos [no presente],
também com ele reinaremos” (2 Timóteo 2:12). Por sua
parte, o apóstolo Paulo não havia invertido as coisas. Ele
voluntariamente tinha assumido sua posição com o “lixo
do mundo, escória de todos” (v. 13)... uma posição que
pouquíssimos cristãos estão prontos a aceitar. Porém,
como Paulo tinha em vista a verdadeira felicidade dos
seus queridos coríntios, suplica-lhes que sigam com ele o
mesmo caminho. O apóstolo era o pai espiritual deles (v.
15) e desejava que se assemelhassem a ele, assim como
os filhos se assemelham aos pais. No entanto, se suas
advertências não fossem consideradas, ele estava disposto
a usar a “v a ra ” ao encontrá-los, cum prindo com
severidade esse dever paternal para o bem de seus
“amados filhos” (v. 14).

322
1 Coríntios 5:1-13

O apóstolo agora aborda um assunto muito delicado.


Além das lamentáveis divisões, havia na igreja de Corinto
um grave pecado moral que contaminava a igreja inteira,
apesar de cometido por um só indivíduo (comparar com
Josué 7:13). Esse “fermento” de maldade, que devia levar
os coríntios à dor, à aflição e ao abatimento, não os
demoveu de ser arrogantes (de sua “jactância”; v. 6). E
como se um homem leproso quisesse encobrir sua doença
escondendo suas chagas debaixo de roupas luxuosas.
Em nome do Senhor, o apóstolo clama por sinceridade
e verdade (v. 8). Ele não hesita em expor esse mal, sem
tentar agradar a ninguém. Antes de qualquer serviço ou
testemunho cristão, é necessário que a consciência esteja
em ordem. E a santidade requer que os crentes se
abstenham do mal, não somente em sua própria vida,
mas que também se mantenham afastados das que vivem
em pecado, mesmo daqueles que se declaram filhos de
Deus (v. 11). Qual é o principal motivo pelo qual devemos
guardar-nos, individual e coletivamente, de toda a
comunhão e de toda a indiferença no trato com o mal?
Não é nossa superioridade em relação aos outros, mas
sim o infinito valor do sacrifício dAquele que expiou os
nossos pecados (v. 7).

323
1 Coríntios 6:1-20

Havia ainda outra desordem em Corinto. Alguns


irmãos chegaram a ponto de levar suas diferenças diante
dos tribunais deste m undo. Realm ente um triste
testemunho! O apóstolo censura tanto ao que cometeu a
injustiça como ao que não a suportou. Em seguida, cita
os vícios característicos dos pagãos e declara solenemente
que não é possível ser salvo e continuar vivendo na prática
do pecado.
“Tais fostes alguns de vós. Mas vejam o que Deus fez
agora: Ele vos lavou, santificou e justificou!” Será que
Deus fez isso para que mais uma vez vocês se sujassem
com a podridão deste mundo?
A exceção do pecado, nada me é proibido... porém,
se eu me descuidar, qualquer coisa pode dominar-me
(v. 12). “O mal não está nas coisas em si mesmas, mas no
amor pelas coisas que estão em meu coração”, alguém
escreveu.
Os versículos 13 a 20 tratam da pureza. Que estes
versículos sejam gravados especialmente no coração do
jovem cristão, pois ele está mais exposto às tentações da
carne. O nosso próprio corpo já não nos pertence mais.
Deus o comprou — e não esqueçamos o preço que Ele
pagou! — com o propósito de nos tornar, para Cristo, um
membro de Seu corpo (v. 15) e, para o Espírito Santo,
um templo que deve ser santo como o é seu divino
Hóspede (v. 19).

324
1 Coríntios 7 e 8:1-13

No capítulo 6 (w. 13-20), o apóstolo advertiu o crente


contra a impureza. Agora, no capítulo 7, ele fala sobre o
caminho que se pode seguir com a aprovação do Senhor:
o caminho do casamento. Nesta tão importante decisão
o jovem cristão que tem observado seu caminho de
acordo com a Palavra (Salmo 119:9) deve, mais do que
nunca, descansar no Senhor e deixar-se conduzir por Ele.
No capítulo 8 o apóstolo fala das carnes vendidas no
mercado, que muitas vezes tinham sido oferecidas nos
altares pagãos antes de serem postas à venda. Muitos
tinham problema de consciência com isto (comparar
Romanos 14). Em nossos países esta questão não existe
mais, porém essas exortações se aplicam a qualquer
situação em que há o risco de sermos um “tropeço” para
outros crentes (v. 9).
Quantas coisas os coríntios conheciam! O apóstolo
repete continuamente: “Ou não sabeis...?” (6:2,3,9,15,
19). Mas que uso eles fizeram desse conhecimento?
Somente para se vangloriar. Corremos este mesmo risco,
nós, que conhecemos tantas verdades por vezes só com
o nosso intelecto, em vez de tê-las no coração. Para saber
“como convém saber” (v. 2), temos de amar a Deus (v.
3). Amá-LO significa pôr em prática as coisas que temos
o privilégio de conhecer (João 14:21-23).

325
1 Coríntios 9:1-18

Envaidecidos com seus dons e conhecimento, certos


homens atribuíram para si uma posição de destaque na
igreja de Corinto. E como a exaltação de si mesmo sempre
leva a rebaixar os outros, eles chegaram até mesmo a
contestar a autoridade do apóstolo e, por conseguinte, a
do próprio Deus. Paulo se vê obrigado a justificar o seu
ministério e o seu procedimento. A tarefa de pregar o
Evangelho lhe foi encomendada pela boca do Senhor. E
ele não desobedeceu àquela “visão celestial” (Atos
26:16-19).
O exemplo do lavrador é muito empregado na
Palavra de Deus. Antes de mais nada, isso enfatiza o
cansaço ligado ao trabalho na terra (Gênesis 3:17); e
também a esperança e a fé necessárias para estimular o
agricultor (1 Coríntios 9:10; 10; 2 Timóteo 2:6); por fim,
a paciência com a qual ele deve aguardar “o precioso
fruto da terra” (Tiago 5:7). Os coríntios eram “lavoura de
Deus” (1 Coríntios 3:9) e o fiel obreiro do Senhor
prosseguia nela trabalhando, renunciando a muitas coisas
que lhe eram de direito para não pôr nenhum obstáculo
ao Evangelho de Cristo (quantas coisas menos “legais”
têm sido um empecilho ao nosso serviço!). Era um
momento de árduo trabalho para Paulo, que estava, por
assim dizer, extirpando todas as ervas daninhas que
haviam crescido no campo de Corinto.

326
1 Conntios 9:19-27

O apóstolo fez-se servo de todos com o fim de


ganhá-los para o Evangelho. Estava então aberto a fazer
concessões? Certamente não! Ainda que o tivessem como
um “enganador” para Cristo, ele certamente era também
“verdadeiro” (2 Coríntios 6:8). Da mesma forma que o
próprio Senhor Jesus tratou com a mulher samaritana
junto ao poço de Sicar, Paulo também sabia alcançar
cada pessoa em seu próprio terreno e falar-lhe numa
linguagem que pudesse entender. Aos judeus, ele
apresentava o Deus de Israel, a responsabilidade deles na
rejeição do Salvador, o Filho de Davi, e o perdão dos
pecados (Atos 13:14-43). Aos gentios idólatras, ele
anunciava o único Deus, paciente com Sua criatura, e
que ordena a todos os homens que se arrependam (Atos
17:22-31). O apóstolo sempre tinha diante de seus olhos
o prêmio que iria coroar seus esforços: todas as almas que
se salvariam por interm édio de seu ministério
(1 Tessalonicenses 2:19 e Filipenses 4:1). Esforçando-se
para alcançar a meta, ele corria como um atleta no estádio,
o qual submete seu corpo a rigorosa disciplina, pensando
somente na vitória. Mas no esporte o campeão usufrui
apenas de glória passageira, louros que murcham (v. 25),
enquanto que a nossa carreira cristã tem como prêmio
uma coroa muito mais gloriosa, a qual jamais murchará.
Corramos de maneira que a alcancemos (v. 24)!

327
1 Coríntios 10:1-13

Apresentando o exemplo de Israel, Paulo nos faz


considerar a trem enda responsabilidade dos que
professam ser cristãos. Exteriormente, eles se tomaram
participantes das mais excelentes bênçãos espirituais:
Cristo, Sua obra, Seu Espírito, Sua Palavra (w. 3-4). Mas
Deus não tem como se agradar da maioria deles, pois
lhes falta a fé (v. 5; Hebreus 10:38). Pela história deste
povo no deserto, Deus nos dá aqui um triste exemplo do
que nosso coração é capaz de produzir, mesmo sob o
manto do cristianismo: cobiça, idolatria, murmurações...
e nos adverte solenemente das conseqüências desses
frutos da carne — ainda que a graça opere em favor do
crente. O Tentador empreende tudo para fazer aflorar o
mal que está em nós e ao qual buscamos dominar.
Cuidado! O objetivo dele é nos derrubar. Principalmente
quando pensamos estar firmes por nossas próprias forças
(v. 12). Mas “Deus é fiel”. Quão encorajador é pensar
nisso! Ele conhece as nossas fraquezas e jamais permitirá
que Satanás nos tente mais do que possamos suportar
(Jó 1:12; 2:6). Deus de antemão preparou uma saída
vitoriosa para quando a tentação nos acometer (v. 13).
Apoiem o-nos nessas prom essas sem pre que nos
depararmos com o Inimigo! Sim, “Deus é fiel”!

328
1 Coríntios 10:14-33; 11:1

A bendita porção do crente é a comunhão com Deus


. Esta exclui qualquer envolvimento com a idolatria, até
mesmo em suas formas mais sutis. A comunhão se
expressa de um modo especial na “Mesa do Senhor”. Em
princípio, todos os que participam do cálice e do pão são
redimidos do Senhor; mas nem todos os redimidos estão
ali. Contudo, pela fé, vemos todos os crentes
representados no “único p ão ”, um sinal visível da
existência de “um só corpo”. Esse emblema simboliza a
unidade da Igreja que o mundo religioso pretende
construir, sendo que ela já existe!
Se não busco meus próprios interesses, quanto tempo
terei disponível para me dedicar aos interesses dos! outros
(O interesse de Jesus Cristo consiste neles também;
Filipenses 2:21.) Mas buscar o interesse dos outros não
significa apenas almejar o bem-estar deles; é, outrossim,
considerar a consciência deles. Isso implica fazer certas
coisas e abster-se de outras por amor a eles. E algo que
sempre me levará a questionar: “Tenho liberdade de
render graças nessa circunstância?”; “O que faço neste
momento, mesmo que seja comer ou beber, é para a
glória de Deus?” (leia o versículo 31 em contraste com
o versículo 7).

329
1 Coríntios 11:2-16

Poucas porções da Bíblia foram objeto de tantas


desavenças quanto os ensinamentos deste capítulo (v.
16). Porque o apóstolo — ou melhor, o Espírito Santo —
trata de questões que aparentam ser de tão pouca
importância como a instrução para que a mulher use
cabelos longos ou não ore sem uma cobertura sobre
cabeça?
Primeiro convém lembrar que o nosso cristianismo
não consiste em alguns atos notáveis realizados
ocasionalmente, mas em um conjunto de detalhes que
constituem a nossa vida diária (Lucas 16:10). Por outro
lado, Deus é soberano e não está obrigado a nos dar
razões de tudo o que nos pede em Sua Palavra. Obedecer
sem discutir, esta é a única e verdadeira obediência.
Assim, podemos dizer que essas instruções se constituem
num tipo de teste para cada moça ou mulher cristã. E
como se o Senhor perguntasse: “Você faria isso por Mim?
Você me ama o suficiente para expor a sua obediência e
a sua sujeição mediante este sinal exterior, ou você dá
preferência à moda ou à conveniência?”.
Por fim, ainda há uma solene realidade que não deve
ser esquecida: o mundo invisível dos anjos observa de
que maneira os crentes respondem aos pensamentos de
Deus (v. 10). O que eles têm visto em nossa vida?

330
1 Coríntios 11:17-34

Havia divisões entre os irmãos em Corinto, e isso se


refletia nas reuniões. Os ricos deixavam os pobres
envergonhados e provocavam sua inveja. E mais sério
ainda: a ceia estava sendo confundida com o ágape (uma
ceia de confraternização feita em conjunto na Igreja) e
tomada indignamente por muitos. O apóstolo vale-se
desta situação para recordar-lhes uma verdade que o
Senhor lhe tinha revelado especialmente. A ceia do
Senhor é uma santa recordação de Cristo, que se entregou
por nós. E uma ceia memorial, que certamente fala ao
coração de cada participante, mas também proclama a
todos no mundo um fato de essencial importância: Aquele
que é Senhor teve de morrer. E nós somos conclamados
a anunciar esta morte do Senhor até o Seu retorno.
Devemos fazê-lo tal como fomos instruídos, mediante
essa linguagem tão nobre e ao mesmo tempo tão simples.
Por fim, esse memorial também fala à consciência do
crente, pois a morte de Cristo significa a condenação do
pecado. Tomar a ceia sem antes julgar a nós mesmos nos
expõe aos efeitos dessa condenação (ainda que somente
durante nossa vida neste mundo). Isso explicava a
fraqueza de muitas pessoas em Corinto (e talvez entre
nós), as doenças e a morte que alcançaram alguns (v. 30).
Mas o temor não deve manter-nos afastados da ceia (v.
28). Antes, esse temor deve e pode associar-se a um
ardente amor para com Aquele que disse: “Fazei isto em
memória de mim” (w. 24-25).

331
1 Coríntios 12:1-13

Ao falar nas reuniões da igreja, o apóstolo deu


prioridade à celebração da ceia (11:20-34). Somente
depois é que ele trata dos dons e ministérios visando a
edificação. Não esqueçamos que a reunião de adoração
é a mais importante de todas as nossas reuniões.
Paulo relembra a esses antigos idólatras que eles
foram outrora enganados por espíritos satânicos (v. 2).
Que diferença! Agora é o Espírito de Deus que os dirige,
agindo neles “como lhe apraz”, através dos dons que Ele
lhes dá (v. 11). O apóstolo enum era esses dons,
enfatizando que eles são dados “visando a um fim
proveitoso” (v. 7). E, para ilustrar a unidade da igreja e a
diversidade de ministérios, Paulo toma o exemplo do
corpo humano: mesmo sendo composto de muitos
membros e órgãos — nenhum dos quais pode funcionar
sem os demais —, constitui um único organismo dirigido
por uma única vontade: a que a cabeça transmite a cada
membro. Assim é o corpo de Cristo. Ainda que formado
por muitos membros (todos os crentes que existem), é
governado por um só Espírito para acatar a uma só
vontade: a do Senhor, que é o Cabeça (Efésios 4:15-16).
Não devemos, pois, escolher nossa atividade nem o lugar
onde vamos exercê-la (v. 11), uma vez que “Deus dispôs
os membros, colocando cada um deles no corpo, como
lhe aprouve” (v. 18).

332
1 Coríntios 12:14-31

Quando olhamos nosso corpo, ficamos maravilhados!


“Graças te dou, visto que por modo assombrosamente
maravilhoso me formaste”, exclama o rei Davi no Salmo
119:14. Sim, que diversidade e, contudo, que harmonia
há neste complexo conjunto de membros e órgãos, no
qual até mesmo o menor tem sua função e sua razão de
ser! O olho e o dedinho da mão, por exemplo, não podem
trocar de lugar. Porém, o segundo permite tirar o grãozinho
de poeira que irrita o primeiro. Basta que somente um
órgão não funcione adequadamente para que logo o
corpo inteiro esteja doente.
Tudo isso tem seu equivalente na Igreja, o corpo de
Cristo. “Os membros do corpo que parecem ser mais
fracos, são necessários” (v. 22), e cada um deve tomar o
cuidado de não menosprezar sua própria função (w.
15-16), nem a dos demais (v. 21). Uma crente idosa ou
enferma poderá manter, através de suas orações ou de
uma palavra de sabedoria ou da ajuda financeira, o
ministério de um evangelista ou pastor. Assim, pois, que
cada um use para os outros o que tem recebido, como
bons administradores “da multiforme graça de Deus”
(1 Pedro 4:10).

333
1 Coríntios 13:1-13

Depois dos diferentes membros do corpo de Cristo


citados no capítulo 12: pé, mão, orelha, olho; agora é
como se o capítulo 13 mencionasse o coração. Sua
função é a de dar vida e energia a todos os outros órgãos.
Notemos que o amor não é um dom, como os do capítulo
12, mas a força que impulsiona o exercício de todos os
dons. Do mesmo modo que um caminho é feito para que
se ande por ele, o amor só se conhece verdadeiramente
pela experiência. Por essa razão, este maravilhoso
capítulo nos dá uma definição de amor; é uma lista —
incompleta, mas suficiente para que nos humilhemos
profundamente — do que o amor faz e do que o amor
não faz. Esse foi o caminho de Cristo neste mundo; e
notemos que Seu nome pode substituir a palavra “amor”
neste capítulo sem alterar o sentido (1 João 4:7-8).
Nosso conhecimento acerca das coisas invisíveis é
parcial, indefinido e precário. Mas logo veremos “cara a
cara”. Então nosso Salvador — que nos conhece a
fundo — nos trará o completo conhecimento de Si
mesmo (v. 12; Salmo 139:1), e assim o inabalável amor
será perfeito e se verá eternamente satisfeito em nosso
coração e no Seu.

334
1 Coríntios 14:1-19

Muitos se queixam da fraqueza atual devida à


ausência de dons nas igrejas. Mas será que estas pessoas
os procuram intensamente como o versículo 1 nos instrui
a fazer? O Senhor talvez tenha um dom para dar a você,
mas Ele espera que haja um grande desejo em seu coração
para recebê-lo. Peça-o... juntamente com a humildade
que impedirá que você se vanglorie desse dom que
não é para uso próprio, mas “para a edificação da
igreja” (v. 12). Os coríntios usavam seus dons
simplesmente para a autoglorificação, resultando num
caos total. O apóstolo esclarece a questão, mostrando-lhes
que o dom do qual mais eles se vangloriavam — o de
línguas — na verdade era um dos menos importantes
(v. 5). Ao contrário, o dom de profecia era— epermanece
até hoje — particularmente desejável, pois “o que
profetiza, fala aos homens, edificando, exortando e
consolando” (v. 3).
O versículo 15 nos fala que, tanto para orar como
para cantar, é necessário usar nossa inteligência.
Freqüentemente nos distraímos na presença do Senhor,
quando deveriamos pensar bem antes de expressar algo
diante de Deus. Meditemos em quão sério é estar diante
do Deus Criador de todas as coisas.

335
1 Coríntios 14:20-40

O dom de línguas foi dado para a evangelização, não


para a edificação da Igreja. “Edificação” é a palavra-chave
deste capítulo, o que deve motivar todas as ações. Será
que aquilo que eu me proponho a fazer ou dizer é
realmente para o bem dos meus irmãos? (Efésios 4:29).
Além disso, se eu realmente tenho em vista o bem dos
outros, sempre encontrarei uma bênção para mim
mesmo. Se, pelo contrário, eu pensar somente nos meus
interesses ou em minha própria glória, tudo se perderá
(1 Coríntios 3:15).
Duas outras condições regem a vida da Igreja: a
ordem e a decência (v. 40). São as duas margens entre as
quais o fluir do Espírito Santo deve estar contido. Elas
impõem regras práticas relativas ao bom senso (w. 26-33)
ou à ordem divina (w. 34-35). O apóstolo não quer que
os coríntios sejam ignorantes (12:1). Contudo, se alguém
negligencia o aprendizado das coisas relativas à Igreja,
pois bem!, que continue ignorante (v. 38). Deus é um
Deus de paz (v. 33) e quer que a Igreja, em resposta à Sua
própria natureza, seja o lugar ao qual se possam levar os
inconversos, e onde estes reconheçam Sua presença (w.
24-25).

336
1 Coríntios 15:1-19

Ainda havia uma séria questão a resolver: algumas


pessoas em Corinto negavam a ressurreição. Paulo prova
que é impossível tocar nesta doutrina sem derrubar toda
a estrutura da fé cristã. Se a ressurreição não existe, o
próprio Jesus não ressuscitou; Sua obra não recebeu a
aprovação de Deus; a morte não foi vencida, e nós
permanecemos em nossos pecados. Conseqüentemente,
o Evangelho não tem sentido algum, e a nossa fé é vã.
A vida cristã de renúncia e santificação torna-se um
absurdo e, de todos os homens, o crente é o mais digno
de pena.
Bendito seja Deus, pois este não é o caso: “O Senhor
ressuscitou!” (Lucas 24:34). Confrontados com a
importância desta verdade, compreendemos por que
Deus tom ou tan to cuidado para estabelecê-la.
Primeiramente pelas Escrituras (w. 3-4); depois através
de testemunhas acima de quaisquer suspeitas: Cefas
(Simão Pedro), Tiago e o próprio Paulo; e não somente
esses, mas também outros quinhentos irmãos. E, sem
dúvida nenhuma, muitos dos nossos leitores, mesmo não
O havendo visto com os próprios olhos, têm
experimentado que o seu Redentor vive (Jó 19:25).

337
1 Coríntios 15:20-34

O Cristo ressurreto precedeu os crentes “que dormem”


e que ressuscitarão quando Ele vier. Os outros mortos
somente serão “vivificados” depois, quando tiverem de
comparecer perante o trono de juízo (Apocalipse 20:12).
Então “todas as cousas” estarão definitivamente sujeitas a
Cristo (v. 28).
Tendo fechado o glorioso parênteses dos versículos
20 a 28, o apóstolo mostra nos versículos 30 a 32 como
o fato de crer ou não crer na existência de uma vida futura
determina o comportamento de todos os homens, a
começar pelo seu. Quantas pessoas infelizes existem cuja
religião se resume a estas palavras: “Com am os e
bebam os, que am anhã m orrerem os”? (v. 32). Elas
tentam convencer a si mesmas de que não existe nada
além da sepultura, para poderem aproveitar sem nenhum
im pedim ento sua breve existência “como brutos
irracionais” (2 Pedro 2:12). Mas, com relação ao crente,
sua fé deve mantê-lo alerta (v. 34), preservá-lo de
associar-se a companhias perigosas (v. 33; Mateus24:49).
Que a companhia do Senhor e do Seu povo nos seja
suficientes até que Ele venha!

338
1 Coríntios 15:35-50

Como será o novo corpo que o crente terá na glória?


(v. 35). A Bíblia não satisfaz a nossa curiosidade. Se eu
apresentar ao leitor uma semente desconhecida, não
poderá dizer-me quase nada a respeito da planta que
dela sairá. Igualmente, quando se vê um a lagarta
repugnante e feia, nem se imagina a maravilhosa e
colorida borboleta na qual ela se transformará.
Porém, para assistir aos pequenos milagres da
germinação ou da metamorfose, é necessária a morte da
semente (João 12:24) e o sono da crisálida. Do mesmo
modo, o redimido que “dormiu” aparecerá vestido do
corpo da ressurreição. Que futuro fantástico está
preparado para este corpo feito do pó da terra, mero
envoltório da alma! Ressuscitará “na incorrupção”: a
morte não terá mais poder sobre ele; “em glória” e “em
poder”: não mais sujeito às doenças ou à fraqueza; “corpo
espiritual”: definitivamente livre da carne e de seus
desejos, instrum ento perfeito do Espírito Santo.
Finalm ente será sem elhante ao corpo do Cristo
ressuscitado. Estes versículos nos dão bastantes e
preciosas informações sobre o nosso futuro e mais razões
ainda para glorificar a Deus desde agora em nosso corpo.

339
1 Coríntios 15:51-58; 16:1-9

Esta magistral exposição da doutrina da ressurreição


não estaria completa sem uma última revelação: nem
todos os crentes passarão pelo sono da morte. Os vivos
não serão esquecidos quando Jesus vier. “Num abrir e
fechar de olhos”, a maravilhosa transformação ocorrerá
e tornará cada crente apto para a presença de Deus. Do
mesmo modo que, na parábola, os convidados deveríam
trocar seus farrapos por vestes nupciais (Mateus 22:1-14),
os mortos e vivos vestirão um corpo incorruptível e
imortal. Então a vitória de Cristo sobre a morte, da qual
Ele nos deu um a prova através de Sua própria
ressurreição, terá um grandioso cumprimento nos Seus.
Como todas as verdades bíblicas, este “mistério” deve
ter uma conseqüência prática na vida de cada redimido.
Nossa esperança é segura e firme (Hebreus 6:19); sejamos
também “firmes, inabaláveis e sempre abundantes na
obra do Senhor”. Nosso trabalho nunca será vão se feito
“no Senhor” (v. 58). Ainda que nenhum fruto seja visível
neste mundo, haverá uma recompensa na ressurreição.
O capítulo 16 nos dá um exemplo de serviço cristão:
a coleta feita no primeiro dia da semana. Isso era muito
importante para o coração do apóstolo e para o coração
do Senhor.

340
1 Coríntios 16:10-24

Estes versículos contêm as últimas recomendações


do apóstolo, algumas notícias e finalmente as saudações
que ele dirige aos seus queridos coríntios. Dentre eles,
Paulo se alegra em destacar alguns irmãos abnegados e
dignos de respeito: Estéfanas, Fortunato e Acaico,
citando-os como exemplo (1 Timóteo 3:13).
Aos crentes de Corinto, que só se preocupavam com
os resultados exteriores e espetaculares do cristianismo,
Paulo enfatiza quais eram os motivos que deveríam dirigir
suas ações: “Fazei tudo para a glória de Deus” (10:31).
“Seja tudo feito para a edificação” (14:26). “Tudo, porém,
seja feito com decência e ordem” (14:40). Finalmente,
neste capítulo: “Todos os vossos atos sejam feitos com
amor” (v. 14). Com a palavra “amor”, Paulo termina
uma epístola muito severa (comparar 2 Coríntios 7:8).
Sem levar em consideração as divisões que existiam em
Corinto, ele declara: “O meu amor seja com todos vós em
Cristo Jesus”. Para os que não O amam, a vinda de Jesus
tem um solene aspecto; já para aqueles que amam ao
Senhor, “Maranata”!, ou seja, “Vem, Senhor Jesus”, é o
mais profundo anelo da alma. Que possamos esperá-LO
com gozo!

341
2 Coríntios 1:1-11

O apóstolo Paulo não havia escrito a primeira carta


aos coríntios como um crítico ou severo juiz. Ele mesmo
tinha sido hum ilhado e perturbado pelas notícias
recebidas desta igreja e, ainda mais, pois elas haviam
chegado em um momento de extrema aflição na cidade
de Efeso, na qual ele tinha muitos adversários (v. 8;
1 Coríntios 16:9).
Porém, tanta tribulação ainda pode ser motivo de dar
graças, pois produz uma dupla e preciosa conseqüência.
Primeiramente, faz o crente perder toda a autoconfiança
(v. 9). Em segundo lugar, leva-o a entrar nas profundezas
das simpatias do Senhor. A abundância de sofrimentos
revelou ao apóstolo a abundância de consolação (v. 5).
A consolação é sempre pessoal, mas aquele que é
consolado pode compartilhar das dores dos outros e
expressar genuína simpatia por eles. O fato de haver
passado pelas provas com o sustento do Senhor qualifica
o crente a falar aos que estão aflitos e dirigir-lhes os olhos
ao “Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai de
misericórdias e Deus de toda a consolação!” (v. 3).

342
2 Coríntios 1:12-24

Não era costume de Paulo dizer sim e pensar não


(v. 17). Os coríntios podiam confiar nele: não havia no
apóstolo nenhum traço de dissimulação, e ele dava prova
de sua sinceridade tanto nos seus atos e no seu cotidiano
como na pregação de um Evangelho não falsificado
(2:17; 4:2). Quão importante isso é! Se um filho de Deus
falta com a verdade, os que o observam podem até
mesmo pôr em dúvida a Palavra de Deus. Paulo
manifestava absoluta retidão tanto em suas relações
com o m undo como em suas relações com outros
cristãos (v. 12). Afinal, ele não era o mensageiro dAquele
que é “o Amém, a testemunha fiel e verdadeira”, o
Fiador de todas as promessas de Deus? (v. 20; Apocalipse
3:14).
Os versículos 21 e 22 nos fazem recordar de três
características do dom do Espírito Santo: através dEle,
Deus nos “ungiu”, ou seja, nos consagrou para Si mesmo
e nos deu o poder de penetrar em Seus pensamentos. Ele
nos “selou”, ou, em outras palavras, nos marcou como
Sua possessão. Finalmente, Ele nos “deu o penhor” de
nossa herança celestial, ao nos conceder ao mesmo tempo
uma prova inicial dessa realidade e o meio para dela
desfrutar desde já “em nossos corações”.

343
2 Coríntios 2:1-17

Paulo havia adiado sua viagem para Corinto a fim de


que sua primeira carta tivesse tempo de surtir efeito. Graças
a Deus, que surtiu efeito tanto na igreja como no homem
que havia sido excluído. Mas agora os coríntios corriam
outro perigo: o de esquecer de demonstrar graça para
com o pecador arrependido. Haviam passado de uma
reprovável indulgência para uma desmedida severidade.
Satanás está sempre pronto para nos fazer pular de um
extremo ao outro. Seus métodos são variados, mas seus
desígnios não mudam: ele quer aniquilar o testemunho
de Cristo e manter os homens debaixo de seu domínio.
Ele até usa de piadas a respeito de si mesmo— piadas tão
freqüentes no mundo — para fazer com que as pessoas
esqueçam de seus terríveis planos. Vigiemos, e não
tomemos parte nas vãs conversações a respeito do diabo
e de seu poder.
Em sua inquietude pelos coríntios, Paulo havia
deixado um grande campo de trabalho para ir ao encontro
de Tito, que lhe traria notícias deles. Mas, apesar de não
achá-lo, Paulo é confortado ao pensar que, por onde
quer que passe, ele espalhava “o bom perfume de Cristo”
(v. 15). Será que todos os que nos conhecem podem
sentir esse mesmo perfume em nós?

344
2 Coríntios 3:1-18

Os homens julgavam a doutrina pregada por Paulo


observando o comportamento dos coríntios. Eles eram
sua vivas “cartas de recomendação”, ou melhor, as de
Cristo, cujo nome estava escrito em seus corações. Cada
cristão é uma “carta de Cristo” que Deus escreve aos que
não lêem a Bíblia para que vejam o Evangelho vivido.
Mas, infelizmente, muitas dessas cartas estão manchadas
ou indecifráveis, em vez de serem conhecidas e lidas por
todos os homens (v. 2). Cuidemos, pois, para que não
haja nenhum véu sobre o nosso rosto que nos impeça de
irradiar o esplendor cristão: o véu das preocupações, do
egoísmo, do mundanismo etc. Mas, acima de tudo,
cuidemos para que não haja sobre o nosso coração um
véu (por exemplo, o de uma má consciência; v. 15) que
intercepte os raios que devemos receber de Cristo, o
qual é amor e luz. Se escondermos uma pequena planta
num lugar escuro, logo ela murchará. Ao contrário, se a
colocarmos num lugar onde possa receber normalmente
o sol e a chuva, ela crescerá e no tempo adequado estará
carregada de frutos. O mesmo acontece com nossa alma.
Se ela estiver na presença de Cristo, será gradualmente
transform ada à sem elhança das perfeições morais
dAquele a quem contemplamos em Sua Palavra (v. 18).

345
2 Coríntíos 4:1-15

Como o apóstolo, será que nós já “rejeitamos as


cousas que, por vergonhosas, se ocultam”? (v. 2). O
coração de Paulo era como um espelho; refletia fielmente
ao redor de si cada raio que recebia. E qual era o objeto
que brilhava nele e refletia a todos os homens? A “glória
de Deus na face de Cristo” (v. 6). Que tesouro era para
Paulo esse conhecimento de Cristo na glória! Ele era
ap en as um vaso de barro que continha esse
conhecimento, um vaso pobre, frágil e sem valor próprio.
Se o instrumento de Deus se fizesse notar através de
brilhantes qualidades humanas, ele chamaria a atenção
para si mesmo em detrimento do tesouro que deveria
apresentar. Os joalheiros sabem que um estojo muito
luxuoso tende a eclipsar a jóia contida nele. Eles expõem
suas mais belas jóias sobre um simples veludo preto. Do
mesmo modo, o vaso de barro — Paulo — estava
atribulado, perplexo, perseguido, abatido, para que o
tesouro — a vida de Cristo nele — fosse plenamente
manifestado (v. 10). As provas de um crente servem para
remover dele qualquer brilho pessoal, a fim de que na
vida dele resplandeça apenas a luz de Jesus, o Filho de
Deus.

346
2 Coríntios 4:16-18 e 5:1-10

Quanto cuidado nós dispensamos para conservar e


aprimorar o “nosso homem exterior”! (v. 16). Que bom
seria se o “nosso homem interior” fosse tão bem tratado
como o exterior! O que renovava o coração do apóstolo
era esse eterno peso de glória, sem nenhum a
comparação com as tribulações que estava passando.
Andando “por fé” e não por vista (v. 7), com os olhos da
alma fixados nas coisas que não se veem, mas que são
eternas, ele desfrutava do penhor do Espírito (v. 5). Esta
é a razão pela qual o apóstolo não desfalecia (4:1 e 16).
A idéia do tribunal de Cristo deveria produzir
constantemente em nosso coração muito temor e ardor!
Nossa salvação está assegurada; não compareceremos
para condenação, mas, como num filme, nossa vida
inteira será mostrada, revelando tudo o que fizemos, “o
bem ou o mal”, e então receberemos o nosso galardão.
Porém, ao mesmo tempo, o Senhor nos mostrará como
a Sua graça brilhou, mesmo através de nossos pecados.
Um artista que acabou de restaurar um retrato deteriorado
enfatiza seu trabalho colocando ao lado a foto original.
Como freqüentemente somos insensíveis ao pecado,
também subestimamos a graça que nos perdoa e nos
suporta. O tribunal de Cristo nos fará experimentar toda
a imensidão dessa graça.

347
2 Coríntios 5:11-21

O apóstolo Paulo desejava ardentemente a glória


celestial (v. 2), mas, enquanto esperava por ela, com o
mesmo ardor procurava ser agradável ao Senhor (v. 9).
Não vivia mais para si mesmo; com o corpo e com a
alma, ele era escravo de Cristo, que por ele morreu e
ressuscitou (v. 15). O Senhor o havia chamado — bem
como a todo o redimido — para ocupar uma altíssima
função: a de embaixador do soberano Deus, a fim de
oferecer, da parte dEle, a reconciliação ao mundo. No
intuito de cumprir essa missão e persuadir os homens,
duas grandes razões impulsionavam o apóstolo: a
consciência do juízo, pois ele conhecia o temor devido
ao Senhor (v. 11); e o amor de Cristo pelos homens,
amor sem o qual o mais eloqüente dos pregadores não é
mais do que o bronze que ressoa (v. 14; 1 Coríntios
13:1).
Em que consiste a mensagem da reconciliação?
Cristo, o único homem sem pecado, foi identificado na
cruz com o próprio pecado, a fim de expiá-lo. Assim,
pela graça, Deus anulou o pecado que nos separava dEle
(v. 21). “As cousas antigas já passaram.” Deus não as
conserta. Ele se agrada em fazê-las novas, sim, em fazer
de cada crente uma nova criatura (v. 17). Mas, antes de
tudo, você está reconciliado com Ele?

348
2 Coríntios 6:1-18 e 7:1

“Muita paciência” é a recomendação para os servos


de Deus (v. 4; 12:12). Melhor que qualquer discurso, a
m aneira como Paulo suportava as provações
demonstrava o valor de seu Evangelho.
Que estranha pessoa o cristão é! De certo modo,
pode-se dizer que ele tem duas faces. Aos olhos do mundo
parece estar em opróbrio, sendo enganado,
desconhecido... entristecido, pobre, sem nada. Mas o
que ele é diante de Deus? Veraz, bem conhecido, sempre
alegre, enfim, possuindo tudo (w. 8-10). Esta é sua
verdadeira face.
As exortações que se seguem podem parecer radicais
e severas. Mas elas vieram do “coração alargado” do
apóstolo (v. 11). A palavra separação nos desencoraja;
contudo, quem fala sobre santidade está falando sobre
separação para Deus (Levítico 20:26). “Aperfeiçoar a
nossa santidade” (7:1) equivale necessariamente a
praticar a separação. Separação do mundo (w. 14-15)
não se aplica somente aos planos de casamento desigual.
A separação do mundo religioso (w. 16-18) tem
incomparáveis recompensas: a presença do Senhor Jesus
“em meio” aos Seus e o desfrutar de benditas relações
com o nosso Deus e Pai. Por fim, há a separação do mal
sob qualquer aspecto.

349
2Coríntios 7:2-12

O amor de Cristo impulsionava Paulo em relação aos


coríntios. Esse amor continuava tão verdadeiro e tão
grande como quando ele escreveu sua primeira e severa
carta. Nunca esqueçamos que aqueles que nos reprovam
e nos advertem com mais severidade são geralmente os
que mais nos amam (Apocalipse 3:19).
A igreja já tinha julgado o mal que havia no meio
dela; tinha demonstrado que era reta e limpa (v. 11): se
ela tolerou algum terrível pecado, fez isso na ignorância
e na negligência. Contudo, os coríntios precisaram
humilhar-se por não terem vigiado, permitindo assim que
sem elhante mal aparecesse no meio deles, sendo
contristados segundo Deus.
O versículo 10 nos mostra que o simples pesar, a
vergonha e o rem orso não são sinônim os de
arrependimento. Este último consiste em julgar os nossos
pecados da mesma maneira que Deus os julga, em
reconhecer o mal e abandoná-lo, não importa se os atos
tenham sido cometidos antes ou depois da conversão
(Provérbios 28:13). O arrependimento é o primeiro fruto
da fé. Ser contristado segundo Deus é, pois, motivo de
alegria (v. 9). Será que você, leitor querido, já
experimentou o verdadeiro arrependimento?

350
2 Coríntios 7:13-16; 8:1-8

A obediência dos coríntios havia motivado o gozo e


o afeto de Tito e, em conseqüência, havia regozijado e
confortado duplamente o apóstolo Paulo (7:13,15). Mas
eles estavam longe de possuir o mesmo zelo dos crentes
daMacedônia (8:1-15). Estes últimos não tinham dado
parte de seu tempo e de seus recursos; haviam dado a si
mesmos por completo. Não aguardaram, como alguns, o
final da vida para então dar a Deus apenas o resto de suas
forças; “mas deram -se a si m esmos prim eiro” ...
Tampouco começaram com o serviço aos santos (v. 4);
não!, primeiramente eles se deram ao Senhor. E esse
prim eiro ato acarretou os dem ais. Eles tam bém
pertenciam aos apóstolos, servos do Senhor. Será que
isso era um a coisa dem asiado penosa p a ra os
macedônios? Muito pelo contrário! A “abundância de
alegria” podia acompanhar “muita prova de tribulação”
e “a profunda pobreza deles” também podia ser
transformada “em grande riqueza da sua generosidade”
(v. 2). Ao que facilmente chamaríamos de carga, eles
chamaram de graça (v. 4).
Que Deus nos dê esta mesma bendita consagração
ao nosso Senhor, ao qual nós temos o privilégio de servir,
enquanto servimos aos Seus!

351
2 Coríntios 8:9-24

O que era o amor dos macedônios comparado ao


supremo exemplo de “nosso Senhor Jesus Cristo”? Eles
não haviam escolhido “sua profunda pobreza” (v. 2).
Mas Ele, “Herdeiro de todas as cousas” (Hebreus 1:2),
voluntariamente se fez pobre, deixando as glórias
celestiais para nascer em um estábulo, não tendo nem
mesmo onde reclinar a cabeça (v. 9; Salmo 40:17 e 41:1;
Lucas 9:58). E para quê? Para enriquecer-nos com essas
mesmas glórias e fazer de nós Seus co-herdeiros.
Adorável mistério da graça!
Os coríntios não levaram a cabo seu louvável desejo
de ajudar as igrejas. O apóstolo lhes escreve que o desejo
deles era bom, m as a ação era ainda melhor.
Freqüentemente nossas boas intenções... permanecem
apenas intenções: querer oferecer uma Bíblia ou um
calendário bíblico, querer visitar uma pessoa doente,
querer prestar um pequeno serviço a alguém... Que Deus
nos dê a mesma prontidão tanto para querer como para
fazer (w. 11-12). E Ele quem produz um e outro em nós,
“segundo a sua boa vontade” (Filipenses 2:13), mas a
demora entre o movimento do coração e o da mão
provém de nossa própria negligência.
A preocupação do apóstolo Paulo era a de se guardar
não somente de toda a desonestidade, mas também de
toda a aparência do mal diante dos olhos dos homens.

352
2 Coríntios 9:1-15

Para não termos muitas perdas no dia da colheita,


semeemos — ou melhor, demos — abundantemente
durante a atual estação de semeadura (v. 6; Lucas 6:38;
Deuteronômio 15:10). O que Deus puser em nosso
coração, façamos, e façamos alegremente. O que
guardamos para nós mesmos não nos enriquecerá, e o
que dermos não nos empobrecerá jamais (Provérbios
28:27). A graça de Deus nos assegurará a provisão
“sempre, em tudo” com “ampla suficiência” (v. 8). Os
versículos 11 a 14 nos lembram de que a generosidade
desinteressada produz, nos que são ajudados, ações de
graças a Deus e orações a favor dos ajudadores.
Começando com um assunto que poderiamos julgar
secundário, ou seja, o se dar aos outros, o apóstolo dirige
nosso pensam ento para os mais gloriosos temas: a
humilhação do Senhor (8:9); e o dom inefável de Deus
(v. 15). Aprendamos a passar dos pequenos fatos da vida
cotidiana para as profundas verdades de nossa fé. Uma
simples refeição, uma reunião familiar, um presente dado
ou recebido com amor são oportunidades para dar graças
a Deus e pensar no Dom por excelência: aquele que o
Deus de amor enviou ao mundo (João 3:16).

353
2 Coríntios 10:1-18

O apóstolo Paulo não queria ir aos coríntios “com


vara” (10:2; 1 Coríntios 4:21), a fim de reprimir
pessoalmente o mal. Preferiu escrever-lhes e aguardar o
resultado que sua carta produziría. Alguns, porém, haviam
tirado proveito da paciência do apóstolo e de sua ausência
para m enosprezar seu ministério. A hum ildade, a
mansidão e a benignidade cristãs que Paulo manifestava
(v. 1) serviam de pretexto para sua depreciação. O
homem natural somente admira o que tem brilho; ele
julga segundo as aparências. Mas as armas de um soldado
de Jesus Cristo não são carnais (v. 4). O capítulo 6 da
epístola aos Efésios as enumera. Lembremos como
Gideão, Sansão, Davi, Ezequias — para citar uns poucos
— obtiveram suas maiores vitórias. Não nos deixemos
seduzir por qualidades humanas como a eloqüência ou o
carisma. Sigamos sempre a Palavra de Deus, e nunca
aquele que a apresenta, por mais dons que essa pessoa
tenha, ou por mais que tenhamos sido abençoados
através dela.
Os homens se comparam a outros e se orgulham,
num evidente sinal de falta de sabedoria (v. 12). Nós,
crentes, temos apenas um único exemplo para seguir tanto
no nosso andar como em nosso serviço: esse exemplo é
o Senhor Jesus.

354
2 Coríntios 11:1-15

Falsos apóstolos queriam tomar o lugar de Paulo no


coração dos coríntios. Por essa razão, ele se vê obrigado
a falar de si mesmo, e é o que chama de sua “loucura”.
Mas não fez isso para exigir a afeição dos crentes em
proveito próprio (ver 12:15). Ele era zeloso por Cristo
e veementemente reivindica o amor deles para o único
Esposo da Igreja.
Os coríntios corriam o risco de dar ouvidos a um
“evangelho diferente” (v. 4). Eles eram menos espirituais
que os efésios, que provaram “os que a si mesmos se
declaram apóstolos e não são” (Apocalipse 2:2) e os
acharam mentirosos. Muitos cristãos correm o mesmo
risco que os coríntios, porque, no fundo, consideram o
verdadeiro cristianism o dem asiado exigente.
Contrariamente, um evangelho que exalta o homem e
que conceda lugar à carne será muito bem aceito.
Por trás desses obreiros enganadores, o apóstolo
desmascara Satanás, o senhor deles. Outrora um
resplandecente querubim (Ezequiel 28:12-14), Satanás
ainda sabe como transformar sua aparência a fim de
enganar os homens com sua astúcia, tal como fez com
Eva (w. 3 e 14). E ele é muito mais perigoso quando se
apresenta como sutil serpente do que quando nos ataca
de frente como um leão que ruge (1 Pedro 5:8).
A cabarem os com suas arm adilhas apegando-nos
firmemente à Palavra de Deus.

355
2 Coríntios 11:16-33

Estes ataques contra o ministério de Paulo conferem


uma oportunidade para que o Espírito Santo nos dê uma
idéia mais clara de suas obras e sofrimentos. Sim, ele era
um ministro de Cristo e pode enumerar as provas disso:
uma longa lista de sofrimentos suportados por amor ao
Evangelho. Os versículos 23 a 28, 31 e 32 detalham o
que o apóstolo cham a em 4:17 de sua “leve e
momentânea tribulação”. Mas qual recurso divino o
sustentava p ara que ele suportasse todas essas
excepcionais provas? Um “eterno peso de glória” estava
constantemente em seus pensamentos: Cristo na glória,
sua eterna recompensa.
Queridos amigos, retenhamos esse segredo: quanto
mais tempo dedicarmos nosso pensamento ao Senhor,
menos tempo teremos para pensar em nossas pequenas
dificuldades — e o que elas são, com paradas às
tribulações do apóstolo? Quanto maior peso o etemo
amor divino tiver na balança do nosso coração, menos
importância terão as circunstâncias momentâneas que
nos afligem. Contudo, existe um a coisa que nunca
devemos esquecer: “a preocupação com todas as igrejas”
(v. 28). Esta preocupação se manifesta, em primeiro lugar,
mediante as orações. Que o Senhor nos conceda um
genuíno amor por Sua Igreja e por de seus membros
individualmente.

356
2 Coríntios 12:1-10

“Um homem em Cristo” é alguém sobre quem a carne


perdeu seus direitos (Romanos 8:1,2). Ele é uma “nova
criatura” (5:17). Sua posição diante de Deus é a de
Cristo e, pela fé, ele já ocupa essa posição no céu. Mas
Paulo foi realmente arrebatado ao céu durante um
momento inesquecível. E o que aconteceu no paraíso?
Ele viu Cristo ressurreto e glorificado e ouviu a linguagem
do céu, que não pode ser traduzida em nenhum dos
idiomas humanos (v. 4). Que extraordinária honra! No
entanto, essa experiência ímpar constituía certo perigo
para o apóstolo. Para evitar que ele se ensoberbecesse,
foi-lhe dado “um espinho na carne” (10:10; Gálatas
4:14). O apóstolo roga: “Senhor, tira-o de mim, para que
o meu serviço não seja prejudicado”. “A minha graça te
basta” é a resposta do Senhor. Contrariamente às
aparências, aquele espinho era o resultado dessa graça.
Esse “incômodo companheiro de trabalho” não servia
para subjugar a carne de Paulo? Sim, para os que vivem
em Cristo, as enfermidades e provas são preciosas: elas
contribuem para enfraquecer o homem carnal, a fim de
que o poder de Deus se manifeste (w. 9,10; 4:7).

357
2 Coríntios 12:11-21

Que tristeza para o apóstolo saber das calúnias contra


ele (w. 14 e 16; 7:2-3; comparar com Atos 20:33). Com
uma conduta irreprovável, ele não deixou de andar,
juntam ente com seus com panheiros de obra, nas
“mesmas pisadas” de Cristo (v. 18). Se ele responde
extensivamente às acusações, não é para se justificar,
mas visando a edificação de seus amados coríntios (v.
19). De fato, não reconhecer o ministério de Paulo era o
mesmo que rejeitar a autoridade da Palavra divina que
ele pregava. Hoje em dia, quantos pretensos cristãos
rejeitam algum a parte d a Palavra inspirada e
particularmente as epístolas de Paulo! Os versículos 20 e
21 nos m ostram a que pecados conduzem essa
negligência e esse desprezo.
Assim, neste capítulo “encontramos o mais glorioso
estado ao qual um cristão pode ser elevado... e a mais
miserável condição na qual ele pode cair... Que contraste
entre essa elevação do terceiro céu e a vil degradação
carnal! E o cristão é capaz de se encontrar em ambas as
situações! Que lição e que advertência para cada crente!”
(John N. Darby).

358
2 Coríntios 13:1-14

O tema da primeira epístola aos coríntios era a Igreja.


O tema da segunda é o ministério ou serviço cristão.
Encontramos nela os sentimentos, as súplicas, as fadigas,
as aflições morais e físicas do servo do Senhor. Paulo
não era mais que um simples instrumento, e não desejava
um destino melhor do que o destino que seu Mestre teve
aqui na Terra. Cristo viveu no mundo em humilhação e
foi “crucificado em fraqueza”; m as agora vive,
ressuscitado pelo poder de Deus (v. 4).
Ao término de sua epístola, Paulo dirige a Deus uma
oração a favor de seus amados coríntios. Ela se resume
em uma palavra: o aperfeiçoamento deles (v. 9). Mas, ao
mesmo tempo, Paulo os exorta: aperfeiçoai-vos (v. 11).
Porque pedir ao Senhor que nos ajude não nos isenta de
nossa responsabilidade em procurar com zelo progredir
em nosso andar e em nosso serviço cristão.
Paulo lhes diz ainda: “Consolai-vos, sede do mesmo
parecer, vivei em paz...” (v. 11). Que todos os nossos
leitores tomem para si mesmos essas exortações e
experimentem a promessa que está ligada a elas. Sim,
que “a graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus,
e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós”
(v. 14)!

359
Gálatas 1:1-10

Esta é uma severa epístola que o apóstolo Paulo


escreveu às igrejas da Galácia. Aqui ele não devia prestar
atenção a um pecado moral, como no caso dos coríntios,
mas sim a um mal doutrinai dos mais graves. Estes
desventurados gálatas, enganados por falsos mestres,
estavam abandonando a graça — único meio de salvação
— , para retornar a um a religião de obras. Paulo
vigorosamente afirma o caráter absoluto da Verdade
divina. Ela é uma, é completa, é perfeita, porque a
Verdade é o próprio Cristo (João 14:6). Às vezes ouvimos
pessoas sustentar intrepidamente — no fundo para
justificar a sua incredulidade — que cada povo tem
recebido a sua própria revelação, a saber, a religião que
mais se adapta a seu caráter e cultura. Nada mais falso!
Existe um único Evangelho, o qual proclama que “nosso
Senhor Jesus Cristo... se entregou a si mesmo pelos
nossos pecados”. Qual é o resultado disso? “Para” —
prossegue o apóstolo — “nos desarraigar deste mundo
perverso...” (w. 3-4).
O versículo 10 nos faz recordar de outra verdade que
é importante conhecer, a saber, que o esforço para
agradar os homens nos faz perder o privilégio de ser servos
de Cristo. E somente a Ele que desejamos agradar, acima
e antes de tudo? (1 Tessalonicenses 2:4).

360
Gálatas 1:11-24

Que bem-aventurança é para nós poder depositar toda


a nossa confiança na Palavra de Deus! Se o Evangelho
anunciado por Paulo fosse segundo o homem, então,
sim, os gálatas teriam motivo para aceitar
complementações ou modificações. Mas não havia nada
disso. E para testificar bem a fonte divina de seu ministério,
o apóstolo relata sobre a extraordinária maneira na qual
este lhe foi confiado. Foi Deus que o separou (v. 15), foi
Deus que revelou o Seu Filho nele, foi Deus que
novamente lhe formou em Sua escola, sem a instrução
humana, no deserto da Arábia. Ademais, Cristo lhe tinha
chamado diretamente desde o céu (Atos 9).
Pela conduta anterior à sua ida a Damasco, o apóstolo
Paulo nos ensina que é possível ser absolutamente sincero
e ao mesmo tempo ser absolutamente inimigo de Deus
(João 16:2). Mas quão querida lhe era agora essa igreja
de Deus, a qual, noutro tem po, ele “perseguia
sobremaneira”. Imitemos essa devoção pelo Senhor e
pelos Seus, esse zelo para “pregar a fé”! (v. 23). Mas
notemos que, antes de falar a outros de Seu Filho, Deus
se agrada em “revelá-LO” em nós (v. 16) e quer produzir
em nosso coração o incomparável conhecimento de
Cristo, para que o nosso testemunho possa dEle emanar
(2 Coríntios 4:6).

361
Gálatas 2:1-10

O relato que Paulo nos faz das circunstâncias de seu


apostolado completa aquilo que sabemos dele do livro
de Atos. Quando o Senhor confiou a Pedro a pregação
do Evangelho aos judeus, Ele escolheu Paulo para pregar
o mesmo Evangelho aos gentios (v. 8). O seu encontro
com os demais apóstolos não podia anular um chamado
recebido do Senhor. Contudo, Paulo levou tão a sério a
recomendação que eles lhe fizeram de lembrar-se dos
pobres que isto chegou a ser, indiretamente, o motivo de
seu encarceramento em Jerusalém (Atos 24:17). O que
aprendemos dessas relações dos apóstolos entre si? Que
devemos estimar o serviço dos demais e cuidar para não
irmos além do nosso, senão cumpri-lo sem desfalecer e
sem fazer acepção de pessoas (v. 6).
O livro de Atos confirma o quanto foi difícil para os
primeiros cristãos de origem judaica se desligarem dos
mandamentos: circuncisão e observância da lei. Foi
realizada uma conferência em Jerusalém para tratar
dessas questões (Atos 15). Mas Satanás não renuncia
prontamente a uma arma da qual já se valeu com algum
sucesso. Por sua vez, os gálatas, embora não sendo
judeus, haviam caído nessa armadilha, e Paulo se esforça
em mostrar-lhes o terrível perigo que isso envolvia.

362
Gálatas 2:11-21

Em que consistia a gravidade desse retorno à lei? Por


que Paulo o toma tão seriamente a ponto de reprovar
Pedro publicamente por sua atitude equivocada? (w.
11-14). E que o fato de encorajar os crentes a retornar ao
judaísmo e a confiar nas obras estava, na realidade,
dizendo que a obra do Senhor Jesus não era suficiente.
Eis como muitos cristãos em nossos dias parecem pensar.
Eles reconhecem, em princípio, o valor expiatório do
sacrifício de Cristo, mas, ao mesmo tempo, fundamentam
a salvação sobre suas próprias obras e sobre a prática de
sua religião. Fazem o que podem e contam com Deus
para o resto. Respondemos a eles com o versículo 16: “...
o homem não é justificado por obras da lei, e, sim,
mediante a fé em Cristo Jesus”. Um meio tão simples?
Sim, mas proporcionado por uma Pessoa imensamente
poderosa! E o “Filho de Deus, que me amou e a si mesmo
se entregou por mim” (v. 20). Qual é a minha parte nesta
obra? A que pode ter um morto, a saber, nenhuma. Tendo
sido crucificado com Cristo, estou livre da lei e, “logo, já
não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim”. Amigo
leitor, a quem o Senhor ama, você pode fazer suas essas
benditas declarações com toda a sinceridade?

363
Gálatas 3:15-29

O apóstolo explica por que a lei em nada muda as


promessas divinas. Estas foram feitas antes da lei, e Deus
não pode desfazê-las. Em particular, elas foram feitas à
semente de Abraão, a saber, a Cristo (v. 16). Nada poderia
anular ou contradizer o que Deus tinha garantido a Seu
Amado — e aos que Lhe pertencem. “Qual, pois, a razão
de ser da lei?” (v. 19). Ela tem sido comparada a um
espelho. Ela mostra a minha sujeira, mas é tão incapaz de
retirá-la de mim quanto é o espelho de lavar-me. Não é
esta a sua função. A lei serve para me convencer de
pecado e por isso mesmo me conduz a Cristo (v. 24).
Depois disso o seu papel é concluído, como o mestre que
preparou seus alunos para ascender a um nível mais
elevado. Penosa escola, na verdade, é a da lei! Ela me
ensina que sou um pecador, mas não me torna justo;
revela-me que estou morto, mas não tem o poder de me
fazer viver; faz-me ver que careço de força, mas não me
dá nenhuma. Tudo o que me falta encontro então no
Senhor Jesus.
O batismo é um sinal público de que o redimido tem
sido posto à parte para Cristo, por meio de Sua morte.
Você, que foi batizado, é realmente um filho de Deus
mediante a fé em Cristo Jesus? Foi verdadeiramente
/

revestido de Cristo? (w. 26-27). E algo muito grave vestir


um uniforme que não lhe é autorizado.

364
Gálatas 4:19-31

O apóstolo está cheio de angústia e perplexidade.


Terá sido em vão seu paciente trabalho? (v. 11). Ele se
sente obrigado a voltar a ensinar aos gálatas os rudimentos
do Evangelho. Aproveitemos a oportunidade para voltar
a aprendê-los com eles. Paulo lamenta não poder ensinar
de viva voz a seus filhos espirituais (v. 20), mas
compreendemos a razão disso: Deus queria dar-nos esta
epístola. Contudo, você dirá, nós dificilmente correriamos
o mesmo risco hoje de colocar-nos novamente sob a lei.
Q uão pouco nos conhecemos! C ada vez que nos
comprazemos em nossa conduta, com a impressão de
que em troca dela Deus nos deve algo, isso não é nem
mais nem menos que legalismo. Cada vez que tomamos
uma resolução sem contar com o Senhor, cada vez que
nos comparamos a outros para o nosso proveito próprio,
manifestamos esse espírito de justiça própria, inimigo
declarado da graça (v. 29). Para ilustrar essa inimizade,
Paulo usa os dois filhos de Abraão. Isaque, o filho da
promessa, é o único que tem direito à herança. Ismael,
filho segundo a carne, nascido da escrava Hagar, não
tem nenhum direito às riquezas e bênçãos paternas.
Pertencemos todos à Jerusalém lá de cima? Com Abraão,
Isaque e Jacó, somos “herdeiros com ele da mesma
promessa”, a cidade celestial? (v. 26; Hebreus 11:9-10 e
16).

365
Gáfatas 5:1-15

O homem sempre considerou a liberdade o mais


valioso dos bens. Mas, com o pode desfrutar
verdadeiramente dela? O homem, pobre escravo de suas
paixões que é, nasce e morre com cadeias cravadas em
seu coração. Só o Senhor Jesus pode libertá-lo (v. 1;
João 8:36). Então surge outra pergunta: Que uso fará de
sua liberdade aquele que foi redimido pelo Senhor Jesus?
Volverá a se colocar deliberadamente sob o rigoroso jugo
da lei? (v. 1). Tal atitude seria tão absurda como a de um
criminoso querer retornar à prisão! Usará ele então a sua
liberdade “para dar ocasião à carne”? (v. 13). Seria fazer
0 caminho inverso ao dos tessalonicenses —, deixar de
estar ao serviço de Deus para voltar a se submeter à tirania
dos ídolos deste mundo (ver 4:8-9; Lucas 11:24-26;
1 T essalonicenses 1:9). N ão, essa liberdade tão
custosamente comprada pelo Salvador na cruz é uma
liberdade que o crente usará para servir a seu próximo.
Desse modo, ele finalmente cumprirá a lei, já que esta se
resume a uma só palavra (v. 14): amor. “Pois quem ama
ao próximo, tem cumprido a lei” (Romanos 13:8-9).
Cumprirá também o mandamento do Senhor Jesus, cujo
último e mais precioso anelo foi que amássemos uns aos
outros como Ele nos amou (João 13:34; 15:12 e 17).

366
Gálatas 5:16-26

No capítulo 7 do Evangelho de Mateus, o Senhor


explica como reconhecer se uma obra é da carne ou do
Espírito: “Não pode a árvore boa produzir frutos maus”
(vv. 16-20; João 3:6). Os frutos mencionados nos
versículos 19 a 21 do presente capítulo só podem
proceder da árvore má — a carne. E ela está em cada um
de nós com as mesmas e temíveis possibilidades. Mas, se
somos “de Cristo” (v. 24), habita em nós outro poder
ativo — o Espírito Santo. Ele nos dá poder para viver
(v. 25) e poder para andar (w. 16-25); Ele se opõe à
carne (v. 17); guia-nos (v. 18); faz amadurecer o Seu
próprio fruto, o qual é impossível confundir com outro, o
precioso fruto da videira, cujas virtudes o versículo
22 enum era: am or, alegria, paz, longanim idade,
benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio
próprio. Uma árvore, contudo, pode ficar estéril se toda
a sua força é desperdiçada em inúteis rebentos que brotam
em seu pé. O que então faz o jardineiro? Ele desbasta
esses rebentos para que a seiva circule livremente nos
ramos que foram enxertados. Este é o significado do
versículo 24. “Os que são de Cristo Jesus crucificaram a
carn e” no m om ento de sua conversão. Pela fé
submeteram à sentença de morte toda a sua natureza (a
árvore silvestre foi cortada para ser enxertada). Daí por
diante, eles têm de julgar as manifestações de sua velha
natureza: paixões e concupiscências. “Se vivemos no
Espírito, andemos também no Espírito” (v. 25).

367
Gaiatas 6:1-18

Este capítulo nos mostra como agir com um irmão


que caiu, sem p erder de vista a nossa própria
responsabilidade (v. 1); com os que são oprimidos pelas
cargas (v. 2); com os “da família da fé”; e, finalmente,
com todos os homens, fazendo-lhes o bem (v. 10).
Atualmente semeamos tendo em vista a ceifa “a seu
tem po”. E um princípio fica evidente: o fruto terá
inevitavelmente a mesma natureza que a semente. Só um
insensato poderia esperar colher trigo onde foram
semeados cardos. A carne sempre produzirá corrupção,
enquanto o fruto do Espírito produzirá vida eterna (v. 8;
5:22; comparar Oséias 8:7; 10:13). Agora, pois, é o tempo
de fazermos a escolha de como semear; mais tarde, todo
o pesar será vão.
O cristão já foi declarado “morto para a lei (2:19) e
morto para a carne” (5:24). Aqui ele é reconhecido como
morto para o mundo e estando o mundo morto para ele
(v. 14). Desde então, o mundo não tem mais direito sobre
mim, como eu tampouco os tenho para dele usar. Entre
o mundo e mim se levanta uma barreira intransponível:
“a cruz de nosso Senhor Jesus Cristo”, minha libertação
e minha glória. Por um lado, “ser nova criatura”; por
outro, “nada” que Deus possa reconhecer (v. 15). Que
possamos estar de acordo com Ele nos princípios e na
prática!

368
Efésios 1:1-14

A epístola aos Efésios considera o crente em sua


posição celestial. O céu não é só uma futura habitação
para o filho de Deus; desde agora ele possui ali a sua
morada em Cristo. O chefe de família que trabalha fora
de seu domicílio não confunde seu lar com a fábrica ou
com o escritório. O fato de estar ausente de casa de
maneira nenhuma o impede de ter ali o seu lar, no qual
se acham as suas afeições, seus interesses, tudo o que ele
possui. Tal é o céu para o cristão: um lugar familiar no
qual se encontram tanto o seu tesouro como o seu coração
(Lucas 12:34), porque ali está seu Salvador. Cristo está
no céu e nós estamos em Cristo. Estes dois fatos
asseguram o nosso direito de acesso aos lugares celestiais
e às preciosas bênçãos que são nossas como
conseqüência. Tudo o que diz respeito ao Amado
igualmente diz respeito aos que são aceitos nEIe (v. 6).
Por isso o apóstolo desenvolve aqui a plenitude do
propósito de Deus em Cristo ~ fonte de toda a bênção—
nessa grande passagem (w. 3-14), que não admite
nenhum corte, pois tudo está unido, tudo está ligado no
pensamento de Deus. Ademais, o que Ele faz por nós é
inseparável do que He faz por Cristo e deve contribuir
finalmente “para louvor da sua glória” (v. 12), e “para
louvor da glória de sua graça” (v. 6).

369
Efésios 1:15-23

Em sua oração dirigida ao “Deus de nosso Senhor


Jesus Cristo” (v. 17), o apóstolo intercede a favor dos
santos, para que saibam primeiramente qual é a posição
deles (v. 18) e depois qual é o poder que os introduz ali
(19:20).
“A plenitude de nossa bênção vem do fato de que
somos abençoados com Cristo. Antes estávamos
associados ao primeiro Adão na queda, mas agora
estamos associados em glória ao segundo Homem. Como
tal, Ele nos faz participar de tudo o que possui, sinalizando
o perfeito amor cuja conseqüência é ‘a glória’ (João
17:22), ‘o gozo’ (João 15:11), ‘a paz’ (João 14:27), e
o amor do Pai (João 17:26). Ele não tomará possessão
da herança sem os co-herdeiros... Paulo não pede que os
santos participem destas coisas—pois elas já lhes
pertencem—mas antes que gozem delas” (J. N. Darby)
. E, notemos, são os olhos de nosso coração que devem
captar essas gloriosas realidades. O amor é a verdadeira
chave de nossa com preensão (Lucas 24:31). Ao
despertar as nossas afeições, o Espírito nos faz contemplar
a Cristo, o Homem ressurrecto revestido de poder e
majestade segundo o Salmo 8. Seu corpo—a igreja—O
contempla como Homem. Ele é a “Cabeça” glorificada
no céu; Seu corpo é “a plenitude daquele que a tudo
enche em todas as cousas” (v. 23).

370
EfésSos 2:1-10

Em poucas palavras, os w . 1 a 3 descrevem a nossa


trágica condição de outrora. Como “filhos de ira”,
andávamos segundo o mundo, segundo o seu príncipe
e de acordo com os nossos culpáveis desejos. Mas Deus
interveio (v. 4). Seu “grande amor” superou tal cena de
miséria. Ele uivificou os que estavam m ortos
espiritualmente. Ressuscitou-os e, ainda mais, fê-los
assentar em Seu próprio céu, o mesmo lugar onde Cristo
está sentado (v. 6; 1:20)- Estar morto em seus pecados
ou assentado nos lugares celestiais: não há posição
intermediária. Qual é a sua posição?
Os w . 8 a 10 revelam, por um lado, a inutilidade de
nossas obras para a salvação e, por outro, o pleno valor
da obra de Deus: “somos feitura dele”. Mas o fato de
estarmos assentados nos lugares celestiais nos dispensa
de toda a atividade na terra? Muito pelo contrário! Ao
sermos salvos pela graça, fomos criados de novo (4:24),
como ferramentas feitas para um uso específico: as boas
obras que esse Deus de bondade (v. 7) preparou de
antemão para o nosso caminho (Salmo 100:3; 119:73).
Não que Ele tenha necessidade de nosso trabalho, senão
que quer a nossa consagração. Finalmente, nunca
deixem os de Lhe pedir a cada m anhã: “Senhor,
mostra-me o que Tu mesmo tens preparado hoje para
mim e conceda-me a Tua ajuda para cumpri-lo” MM
(Hebreus 13:21).

371
Efésios 2:11-22

Em comparação com o povo judeu, a condição das


nações gentias era particularmente miserável. Elas não
tinham nenhum direito às promessas feitas pelo Senhor
a Abraão e a seus descendentes (Romanos 9:4). Enós
fazíamos parte desses estrangeiros. Sim, recordemos (v.
11) aquele triste tempo em que estávamos sem Cristo e,
conseqüentem ente, sem esperança e sem Deus no
mundo. Assim, tudo o que possuímos agora nEle nos
parecerá muito mais precioso. Temos mais que um mero
pacto com Deus: o dom imerecido da paz (Romanos
5:1), garantido pela presença do Senhor Jesus no céu.
“Porque ele é a nossa paz” (v. 14). E Ele também que a
fez (v. 15, final) e pagou por ela todo o preço. Finalmente,
é Ele quem a evangelizou (v. 17). Não queria conceder
a nenhum outro o privilégio de anunciá-la a Seus queridos
discípulos na tarde de Sua ressurreição: Paz seja
convosco!, disse-lhes (João 20:21; Isaías 52:7); e logo
acrescenta: “Assim como o Pai me enviou, eu também
vos envio”. Nós, que temos ouvido e crido nas boas novas
do Evangelho, som os responsáveis de torná-las
conhecidas a outros.
O final do capítulo nos mostra a igreja de Deus como
um edifício em construção (ver Atos 2:47), fundado
sobre Cristo, a principal pedra angular, para ser aqui na
Terra “habitação de Deus no Espírito”.

372
Efésios 3:1-12

Este capítulo constitui um parêntese, para dar mais


luz ao mistério — agora revelado — o qual é o tema da
passagem (w. 3,9), o mistério de Cristo e da Igreja. Se
a sabedoria divina pode ser contemplada na criação
(Salmo 104:24; Provérbios 3:19), quanto mais brilha
nos imutáveis conselhos de Deus no tocante à glória e ao
eterno gozo de Seu Filho amado! Essa “multiforme
sab ed o ria” se m anifestou de m odo soberano e
inteiramente novo por meio da Igreja. Os anjos a
admiram; os gentios, até então sem esperança, recebem
essa boa nova (v. 8). A Paulo, mediante um chamado
especial, foi dada esta revelação, cuja magnitude o
diminui a seus próprios olhos (v. 8). He foi encarregado
da tarefa de tornar conhecidas a todas as riquezas da
graça (1:7; 2:7) e da glória divirta (1:18; 3:16). A
promessa do Salmo 84, v. 11, “O Senhor dá graça e
glória”, foi cumprida na cruz. Esses dons, maravilhosos e
gratuitos, são nossos de agora em diante. Quem de nós,
quando criança, não sonhou em descobrir um tesouro?
Não existe tesouro maior que essas “insondáveis riquezas
de Cristo”. Que Ele mesmo nos conceda fé necessária
para estimá-las acima de tudo e para nos apoderarmos
delas.

373
Efésio s 3:13-21

Esta nova oração do apóstolo é dirigida ao “Pai” de


nosso Senhor Jesus Cristo (v. 14; comparar 1:16-17).
Que “aquele que é poderoso para fazer infinitamente
mais do que tudo quando pedimos, ou pensam os” (v.
20) conceda o desejo do apóstolo com respeito a cada um
de nós. Que nos faça compreender algo de Sua glória, a
qual é, em todo o sentido, insondável e etema. Porém,
por mais maravilhosas e infinitas que sejam as perspectivas
dessa glória, não fixam nem retêm nossas afeições. Eis por
que o apóstolo acrescenta aqui sem transição: “e conhecer
0 amor de Cristo... ”. Suponhamos que de repente eu seja
transportado à corte de um soberano; sem dúvida ficarei
deslumbrado e me sentirei como um peixe fora d’água.
Mas se encontro ali o meu melhor amigo, e ele é a pessoa
mais importante dessa corte, imediatamente me sentirei
feliz e à vontade. Ocorre o mesmo com a glória: é a glória
do Senhor Jesus, a quem amamos.
Peçamos, com o apóstolo, que o Seu Espírito
fortaleça o nosso “homem interior”. Se Cristo habita
em nós (v. 17), nada menos que “toda a plenitude de
Deus” nos encherá (v. 19; Colossenses 2:9-10), e com
ela o poder, o amor, a fé e o entendimento. Queridos
amigos, o Pai nos fez um lugar em Sua casa (capítulos
1 e 2). Temos feito um lugar para o Senhor Jesus em
nosso coração?

374
Efésios 4:1-12

“Jamais deixei de vos anunciar todo o desígnio de


Deus. Atendei por vós...” (Atos 2:27-28). Estas palavras
de Paulo aos anciãos da igreja de Efeso correspondem
às duas divisões da epístola aos Efésios. Do capítulo 1 ao
3, o apóstolo acaba de expor o maravilhoso conselho de
Deus. “Rogo-vos, pois...”, prossegue ele, mostrando
nos capítulos 4 a 6 o comportamento que é apropriado
a uma vocação tão elevada (1 Tessalonicenses 2:12).
O que deve caracterizar este chamado, em primeiro lugar,
é o oposto de um espírito de superioridade: humildade e
mansidão, com longanimidade em amor, no vínculo da
paz. Assim como há uma mesma esperança de nossa
vocação, há um mesmo Espírito que une os membros de
um mesmo corpo (porém os homens têm fundado
numerosas igrejas e cada uma conta os seus membros).
Sob a autoridade de um Senhor é-nos ensinada uma fé
cristã, e um batismo confere o nom ee a responsabilidade
do cristão (mas os homens falarão do batismo de sua
religião!). Finalmente, um mesmo Deus e Pai, de quem
tudo e todos procedem, tem sobre nós Seus direitos
divinos.
0 Senhor, como Homem glorificado, subiu acima de
todos os céus depois de haver descido à morte. Agora Ele
distribui aos Seus os vários dons de Sua graça. Temos
nos submetido a Ele?

375
Efésios 4:13-24

A maioria dos jovens se sente ansiosa para desfrutar


os privilégios dos adultos. Em troca, não importa a esses
jovens continuar, às vezes durante toda a sua vida, num
estado espiritual infantil. Os w . 13 a 16 descrevem o
crescimento harmonioso do corpo de Cristo, do qual
fazemos parte. Este crescim ento é resultado do
desenvolvimento de cada crente. E só no Senhor Jesus
que a “perfeita varonilidade” atinge a sua completa
estatura. Cristo é em Si mesmo uma “plenitude” (v. 13;
1 João 2:13). Em troca, uma criança, por falta de
estabelecimento na verdade, permanece vulnerável a
todo tipo de erro. Quão perigoso é esse estado! Assim
vemos em que trevas morais e espirituais o mundo está
imerso por ignorar a Deus (w. 17-19). Nós, que fomos
ensinados segundo a verdade que é em Jesus,
mostremos, por meio de nossa conduta, como temos
“aprendido a Cristo” (v. 20). A nossa doutrina, ou antes
a nossa maneira de viver, é uma Pessoa. Cristo ensina
a Si mesmo. “Estude-0 muito”, dizia um ancião crente “e
viva-O!”
Do mesmo modo que uma pessoa troca uma roupa
por outra, nós nos despojamos do velho homem e nos
vestimos do novo (w. 22-24). A nossa roupa não passa
despercebida. Qual é a nossa vestimenta aos olhos dos
outros? E a roupa manchada do velho homem ou, antes,
certa semelhança moral com o Senhor Jesus? (Atos 4:13).

376
Efésios 4:25-32; 5:1-2

E verdadeiramente triste o fato de que Deus tenha de


fazer, às pessoas que estão assentadas nos lugares
celestiais, recomendações como: não mintam... não
furtem... não se embriaguem (5:18). Mas Ele sabe do
que o nosso pobre coração carnal é capaz, e o diabo, que
também sabe, não perderá nenhuma das oportunidades
que lhe oferecermos (4:27).
Notemos que cada exortação está acompanhada de
um motivo particularmente elevado e comovedor. As três
Pessoas divinas estão envolvidas aqui:
© O Espírito Santo está em nós; tenhamos cuidado
para não O entristecer (v. 30).
© Somos os amados filhos de Deus e o nosso Pai
deseja ver Sua semelhança em nós (5:1). Lemos no v.
32: "... perdoando-vos uns aos outros, como também
Deus em Cristo vos perdoou”. Isto vai mais além da
oração ensinada aos discípulos judeus: “Perdoa-nos os
nossos pecados, pois também nós perdoamos a todo o
que nos deve...” (Lucas 11:4).
® O próprio Senhor Jesus é o nosso Exemplo (5:2;
João 13:14). Ele nos ensinou o que é o verdadeiro amor
ao nos amar até a morte (1 João 3:16). Contudo, não
esqueçamos jamais que Ele Se ofereceu primeiramente a
Deus em perfeito sacrifício, um aroma infinitamente
suave.

377
Efésios 5:3-21

Cuidado com as vãs e torpes palavras que podemos


pronunciar (w. 3-5) ou escutar! (v. 6). Éramos outrora
trevas, agora somos “luz no Senhor”; entre as duas
posições se encontra a nossa conversão! A estes dois
estados correspondem duas maneiras de andar: a de
outrora (2:2; 4:17-19), e essa, que deve caracterizar-nos
de agora em diante. Tendo sido criados para as boas
obras, devemos andar nelas (2:10). Já que fomos
chamados a participar da glória de Cristo, que então
andemos de um modo digno dessa vocação (4:1).
Posto que somos filhos do Deus de amor, andemos em
amor (5:1-2). Tendo sido transformados em “luz no
Senhor”, andemos como filhos da luz (v. 8; comparar
João 11:10). Nos dias maus e perigosos em que vivemos,
observemos onde pisamos; andemos com cuidado (v.
15). Todas essas condições são uma penosa restrição?
De modo algum, e os w . 19 e 20 mostram de que maneira
o crente pode demonstrar sua alegria e gratidão.
Meditemos no v. 16. Infelizmente, cada um de nós
conhece o pesar de ter deixado escapar m uitas
oportunidades de servir ao S enhor ou dEle dar
testem unho. Pelo menos, saibam os aproveitar as
oportunidades que se nos apresentam. E não percamos
a única e maravilhosa ocasião de viver o restante de nossa
curta vida terrena para o Senhor Jesus Cristo. Só Ele é
digno disso.

378
Efésios 5:22-33

Desde o v. 22 do capítulo 5 até o v. 9 do capítulo 6,


o apóstolo introduz o cristianismo no círculo familiar. A
submissão de uma esposa a seu marido, tema do v. 22,
é considerada atualm ente, pelo m enos nos países
ocidentais, um princípio antiquado. Mas se o amor de
Cristo constitui a atmosfera de um lar, o marido não
exigirá nada que seja arbitrário, e a mulher, por sua vez,
reconhecerá que tudo o que lhe é pedido corresponde à
vontade do Senhor. Com efeito, é o amor que governará
a atitude do marido. E novamente o perfeito Exemplo
nos é apresentado: Cristo em Sua divina afeição pela
igreja. Nos capítulos 1 (v. 23) e 4 vemos a Igreja como
Seu corpo e Ele como a Cabeça. No capítulo 2, a Igreja
é apresentada como um edifício do qual Ele é a pedra
angular. Finalmente, aqui ela é Sua esposa. Como tal,
recebeu, recebe e continuará a receber as mais excelentes
demonstrações de Seu amor. Ontem, Cristo Se entregou
a Si mesmo pela Igreja (v. 2). Hoje, Ele a cerca com Seu
cuidado, purifica-a, alimenta-a e com ternura a prepara
para o glorioso encontro (w. 26, 29; 4:11). Amanhã,
Ele a apresentará a Si mesmo, para Seu gozo, sem mácula,
nem ruga, nem coisa semelhante, mas gloriosa, santa e
irrepreensível, porque ela será então revestida de Sua
própria perfeição (v. 27).

379
Efésios 6:1-12

Não suponhamos que esta epístola, a qual expõe


verdades tão elevadas e às vezes abstratas, tenha sido
escrita apenas para crentes experimentados, os varões
perfeitos mencionados em Efésios 4:13. Aqui o apóstolo
está dirigindo-se diretamente aos filhos. O que ele tem
a lhes dizer é bem simples: “Obedecei a vossos pais”;
considerai essas instruções como se fossem as do Senhor.
Esta disciplina, por mais penosa que às vezes possa
parecer, corresponde às instruções que os pais receberam
acerca de seus filhos (v. 4).
Quanto aos servos e aos senhores, o que lhes é
recomendado se aplica a todos os que têm um patrão
(w. 5-8) ou subordinados (v. 9). O nosso trabalho nos
dará todos os dias a oportunidade de pôr em prática esses
versículos, a saber, fazer de coração a vontade de Deus.
Estamos continuamente sob Seus olhos (v. 6). Mas
necessitamos de força. Onde a encontraremos? No
Senhor (v. 10). Só Ele nos capacitará a enfrentar os
temíveis inimigos invisíveis: as potestades espirituais da
maldade satânica que nos ameaçam. Porque Cristo
mesmo está sentado “nos lugares celestiais, acima de todo
principado, e potestade, e poder, e domínio...”, havendo
logrado sobre eles a vitória da cruz (Efésios 1:20-22;
Colossenses 2:15).

380
Efésios 6:13-24

Para manter-nos firmes contra esses terríveis inimigos


do mundo espiritual, as armas do homem são totalmente
ineficazes. Seria o mesmo que lutar com os punhos contra
tanques e mísseis (ver Jó 41:1). Mas Deus põe à nossa
disposição Sua armadura (comparar Romanos 13:12).
Quais são as várias partes desta armadura? A verdade
como um cinto—a força que vem da obediência à
Palavra; por meio dela, o Senhor Jesus triunfou quando
tentado no deserto. A justiça como couraça—uma
inabalável e irrepreensível conduta perante os homens.
O Evangelho da paz como calçado—um caminhar ativo
na paz a fim de preparar as almas para receber a verdade.
A fé como escudo—uma confiança absoluta em tudo o
que Deus é. A salvação como capacete—a mesma
confiança no que Deus tem feito. Assim vestidos e
protegidos, poderemos contra-atacar vitoriosamente com
a espada do Espírito e com a oração.
E dem asiado tarde para colocar essa completa
arm adura quando já nos encontram os na batalha.
Devemos usá-la “em todo o tempo” (v. 18), a fim de que
estejamos seguros de sua proteção “no dia mau” (v. 13).
Entre as outras coisas pelas quais oram os, não
negligenciemos a obra do Senhor. O apóstolo assim
solicitou. Ele estava seguro de achar entre os efésios um
profundo interesse pelo Evangelho e pela Igreja. Que o
Senhor veja tal interesse em cada um de nós!

381
Filipenses 1:1-18

Esta epístola tem sido cham ada de o livro da


experiência cristã, a qual pode ser resumida como segue:
Cristo é suficiente para mim. Ele é minha vida (cap. 1),
meu exemplo (cap. 2), meu alvo (cap. 3), minha força e
meu gozo (cap. 4). Paulo não fala aqui como apóstolo ou
mestre, mas simplesmente como um “servo de Jesus
Cristo”. Como poderia reivindicar uma posição mais
elevada que a que Seu Mestre tomou? (2:7). Da solidão
de sua prisão em Roma, ele escreve aos amados filipenses,
dos quais conhecemos Lídia e o carcereiro (Atos 16). Seu
profundo amor por eles (v. 8) é revelado em suas orações.
Observemos o encadeamento de suas petições: amor,
verdadeiro conhecimento, discernimento espiritual,
andar puro e reto, fruto que permanece (w. 9-11).
Então ele lhes tranqüiliza acerca de seu
aprisionamento. Este golpe que o inimigo pensava
descarregar contra o Evangelho tinha contribuído, ao
contrário, para seu progresso. A aberta oposição, levada
a cabo para desencorajar as testemunhas do Senhor,
geralmente tem o efeito de animá-las.
Qual é a atitude do apóstolo ao ouvir que o Evangelho
estava, algum as vezes, sendo anunciado em
circunstâncias muito questionáveis? Não manifesta
impaciência ou crítica, nem, por outro lado, o desejo de
associar-se a essas práticas. Só expressa sincero gozo ao
ver que a obra de Deus se concretiza, quaisquer que sejam
os instrumentos usados para atingir este propósito.

382
Filipenses 1:19-30

O coração do homem está constituído de tal maneira


que não pode permanecer vazio. Ele sente uma fom e que
o mundo, semelhantemente a um vasto armazém, se
esmera em satisfazer, mediante uma variedade dos mais
desejáveis produtos. Contudo, sabemos por experiência
que, por mais atraente que seja uma vitrine de comida
antes da refeição, a tentação cessa depois que nos
alimentamos. Esta comparação um pouco familiar nos
ajuda a recordar isto: nada exerce alguma atração sobre
um coração cheio de Jesus. E o que acontecia com o
apóstolo: Cristo era seu único objeto, sua única razão de
viver. Quem ousaria aplicar a si mesmo o v. 21? Contudo,
o progresso cristão consiste mais e mais na realização
disto. Cristo era suficiente para Paulo, tanto para viver
como para morrer. Diante destas alternativas, “ele não
sabia o que escolher. Se morresse, ganharia a Cristo; se
vivesse, serviría a Cristo”. O seu amor pelos santos lhe
inclinava antes a permanecer na carne.
A defesa do Evangelho, como todo combate, implica
sofrim entos (1 T essalonicenses 2:2b). Mas estes
sofrimentos são um dom da graça do Senhor, semelhante
à salvação, um privilégio que Ele concede aos crentes (v.
29). Em vez de nos compadecermos dos cristãos que são
perseguidos, não deveriamos antes invejá-los? Pelo
menos oremos em seu favor. Assim tomaremos parte com
eles no combate pela verdade.

383
Filipenses 2:1-11

Há um só segredo para achar o caminho a todos os


corações, para ganhar um irmão e apaziguar uma disputa:
renunciar a si mesmo. E só podemos aprender isto
contem plando e adorando o nosso incom parável
Exemplo. Segundo as próprias palavras do Senhor: “Pois
todo o que se exalta será humilhado; e o que se humilha
será exaltado” por Deus (ver Lucas 14:11 e 18:14). Duas
histórias exatamente opostas são resumidas nesta curta
frase: a do primeiro Adão, que foi desobediente até a
morte, seguido por sua raça ambiciosa e rebelde; e a de
Cristo Jesus, que por amor se despojou de Sua glória
divina, esvaziou-se para se tornar homem e logo se
humilhou até o ponto de não poder descer mais: a morte
de cruz.
A forma de um homem, a condição de um servo, a
morte ignominiosa de um malfeitor, tais eram as etapas
desse maravilhoso caminho. Sim, com toda a justiça,
Deus firmou o compromisso de exaltá-Lo e honrá-Lo
com um nome acima de todo o nome. E sob o glorioso
e doce nome de Jesus, que Ele tomou a fim de obedecer,
servir, sofrer e morrer, que o Senhor será reconhecido
como Senhor e receberá homenagem universal.
Amigo leitor, qual é o preço desse Nome para o
seu coração?

384
Filipenses 2:12-30

Como o Exemplo de obediência (v. 8), o Senhor tem


o direito de exigir a nossa obediência em tudo “sem
murmurações nem contendas” (v. 14). A ausência do
apóstolo de modo nenhum isentava os filipenses da
obediência (v. 12). Pelo contrário, já que Paulo não estava
mais com eles, deviam velar por si mesmos para não
fracassarem na sua carreira cristã. Do mesmo modo,
quando um jovem cristão deixa a casa de seus pais, não
deixa de estar sujeito ao Senhor, senão que se torna
responsável pela sua conduta. A palavra grega traduzida
por desenvolvei tem o significado literal de cultivar;
implica, pois, uma paciente sucessão de atividades, tais
como arrancar ervas daninhas (pensamentos impuros,
práticas desonestas, mentiras etc.). Embora ninguém
consiga fazer isto por nós, esta obra não pode ser efetuada
com nossas próprias forças (v. 13). Mesmo o querer, o
desejo, é produzido em nós pelo Senhor. Mas, vejamos,
então, que belo testemunho resulta dele (w. 14-16).
Consideremos neste capítulo os diferentes exemplos
de abnegação, começando pelo mais elevado, que é o de
Cristo, logo o de Paulo associado aos filipenses (w. 16-
17), depois o de Timóteo (v. 20) e finalmente o de
Epafrodito (w. 25-26, 30). Por outro lado, que triste
quadro no v. 21. A quem, caro leitor, desejamos ser
semelhantes?

385
Flllpenses 3:1-11

Além de hom ens de Deus como Tim óteo e


Epafrodito, que deviam ser recebidos e honrados (2:29;
1 Coríntios 16:15-18), havia também “maus obreiros”
em relação aos quais era necessário acautelar-se. Estes
pregavam a religião de obras, a qual leva o homem a
confiar na carne e a se alimentar da consideração dos
homens. Mas se alguém possuía títulos humanos que
podia fazer valer, esse era precisamente Paulo, judeu que
pertencia ao círculo mais elevado, grande respeitador da
doutrina judaica e zeloso no que diz respeito à lei... Ele
descreve todas essas vantagens como em um grande livro
de contabilidade, desenha uma linha debaixo de tudo e
escreve a palavra “perda”. Do mesmo modo que basta
que o sol se levante para fazer desaparecer gradualmente
todas as estrelas, um único Nome, o de Cristo glorificado,
oculta desde então todas as pobres vaidades terrenas de
coração humano; elas são contadas não apenas como
sem valor, mas como “refugo”. E não é um grande
sacrifício renunciar a algo que se considera um monte de
lixo. Que o Senhor ensine a nos despojar alegremente —
como Bartimeu fez quando lançou fora a sua capa — de
tudo aquilo que consideram os para nossa própria
reputação e justiça (mas que não é mais que “o EU
consertado e polido” — J. N. Darby). Este é o preço de
poder “conhecê-Lo”... e segui-Lo em Seu caminho de
renúncia, sofrim ento e m orte, m as tam bém de
ressurreição (Mateus 16:21, 24).

386
Filipen ses 3:12-21

Em geral, os homens que realizam algo importante no


mundo são aqueles dominados por uma única paixão.
Seja uma questão de conquistar os pólos, de ganhar o
prêmio Nobel ou de combater um invasor, sempre se
acham homens de ação prontos a sacrificar tudo por uma
grande causa. Assim aconteceu a Paulo depois que Cristo
o conquistou (comparar Jeremias 20:7). Ele sabia que
estava completamente comprometido na carreira cristã
e, como perfeito atleta, mantinha diligentemente seu
trajeto, sem se desviar ou olhar para trás, pensando só no
prêmio a ser ganho no final (leia 2 Timóteo 4:7). Aqui
ele se oferece para nos servir de treinador, convidando-
nos a seguir seus passos (v. 17). Como ele, esqueçamos
as coisas que ficam para trás: nossos sucessos, dos quais
podemos orgulhar-nos; nossos fracassos, que podem
desencorajar-nos. Por outro lado, esforcemo-nos em
alcançar o aluo com toda a nossa força, porque esta
corrida com obstáculos não é, por certo, um passeio. E
coisa séria, e o que está em jogo é de vital importância.
Quão inconsistente é para um cristão que tem sua
cidadania no céu voltar seus pensamentos para as coisas
terrenas (v. 20). Do que falam dois compatriotas que se
encontram no estrangeiro? Do seu país! Devemos ter
sempre o mesmo sentimento (v. 15) ao falar dos gozos da
cidade celestial com outros cristãos.

387
Filipenses 4:1-9

“Alegrai-vos sempre no Senhor”, insiste o apóstolo.


Não obstante, não lhe faltam motivos para chorar (3:18).
Uma infeliz discórdia separa duas irmãs, Evódia e
Síntique, e altera a igreja. Paulo exorta— ou antes suplica
— a cada uma delas pessoalmente. Que elas aprendam
— e nós também — a grande lição de Filipenses 2:2
(com parar Provérbios 13:10). E nossa gentileza
conhecida por nossos irmãos, irmãs e amigos? Quantas
disputas cessariam se tivéssemos consciência de que o
retorno do Senhor é iminente! E quantas preocupações
também! Em oração, descarreguemos o nosso coração
de todas as coisas que o atormentam. Para nos livrarmos
delas? Não necessariamente, mas para que Deus derrame
em nosso coração a Sua perfeita paz (v. 7).
Mas como evitar os maus pensamentos? Cultivando
os bons! Façamos uso do v. 8 como de uma peneira com
seus muitos lados. O que ocupa os meus pensamentos
neste m om ento é verdadeiro?... justo?... puro?...
amável?... de boa fama? Pensamentos purificados só
podem produzir feitos da mesma natureza (v. 9). E qual
será o resultado disso? Não só a paz de Deus, mas o Deus
de paz habitará em pessoa em nós (João 14:23).

388
Filipenses 4:10-23

Sem dúvida, Paulo recorda sua primeira visita a


Filipos, a prisão e os cânticos que ali cantou com Silas
(Atos 16:24-25). Uma vez mais ele se encontra preso,
mas nada pode tirar-lhe o gozo, porque nada pode tirar-
lhe Cristo. O mesmo acontece com a sua força. “Tudo
posso”, disse ele, apesar de suas cadeias — “naquele que
me fortalece” (v. 13; comparar 2 Coríntios 6:10). Como
ele, aprendamos a estar contentes, quaisquer que sejam
as nossas circunstâncias: sucesso ou dificuldades, saúde
ou doença, bom ou mau tempo... se nos alegramos no
Senhor.
Ainda que muito pobres, os filipenses, pelas mãos de
Epafrodito, acabam de mandar nova ajuda ao apóstolo
(leia 2 Coríntios 8:1-5). O apóstolo lhes assegura de sua
própria experiência: “O meu Deus... há de suprir... cada
uma de vossas necessidades”, mas não a todas as “vossas”
cobiças. Ele compromete a responsabilidade de seu Deus,
como se endossasse um cheque em branco, sabendo que
dispõe, para ele e seus amigos, de crédito ilimitado: nada
menos que “sua riqueza em glória” (v. 19; Efésios 3:16).
Que Deus nos conceda experimentar o segredo do bem-
aventurado apóstolo: a plena suficiência do Senhor Jesus
Cristo até que por fim se cumpra o desejo expresso no
Salmo: “Eu, porém... contemplarei a tua face; quando
acordar eu me satisfarei com a tua semelhança” (Salmo
17:15).

389
Colossenses 1:1-11

Esta epístola é dirigida a uma igreja que Paulo nunca


havia visitado (2:1). Colossos parece ter recebido o
Evangelho por intermédio de Epafras, um servo de Deus
de quem é dado aqui (vv. 7-8) e no capítulo
4:12-13 notável testemunho. Segundo a sua prática, o
apóstolo destaca em primeiro lugar todas as coisas boas
possíveis que se distinguem nos crentes a quem escreve.
Inspiremo-nos em seu exemplo. A fé, a esperança e o
amor eram o triplo e completo fruto produzido pelo
Evangelho em Colossos (w. 4-5). Mas o que alimenta a
fé, sustenta a esperança e renova o am or é o
conhecimento de Deus (v. 10). Ademais, o apóstolo pede
em sua oração que os colossenses sejam cheios desse
conhecimento. A conduta cristã deles — e a nossa —
deve obedecer a um duplo motivo: frente aos outros,
mostremo-nos dignos dAquele a quem confessamos
pertencer; e sobre tudo, frente ao Senhor, se O amamos,
busquemos agradar-Lhe em tudo.
Veja finalmente no v. 11 por que toda a força do
Senhor é exigida. Não é para um combate espetacular^
nem m esmo p ara proclam ar o Evangelho. E
simplesmente para ter paciência e longanimidade... com
gozo. Estas são vitórias que temos a oportunidade de
experimentar a cada dia.

390
Colossenses 1:12-23

O verdadeiro cristianismo não é uma religião nem um


conjunto de verdades professadas. E o conhecimento
experimental de Alguém. Cristianismo é Cristo conhecido
e vivido. Somos colocados em relacionamento com uma
Pessoa incomparável: o amado Filho do Pai, que nos
tornou aptos a participar da herança na luz e nos deu um
lugar no reino, a redenção, o perdão dos pecados, a paz
que Cristo fez pelo Seu próprio sangue (v. 20)... Mas o
que determina a grandeza de semelhante obra é a
grandeza dAquele que a realizou. O apóstolo enumera,
num único fôlego, por assim dizer, as glórias do Amado:
o que Ele é, o que chegou a ser e o que tem feito de nós.
Ele afirma Sua dupla primazia: sobre o universo criado e
sobre a Igreja; assim com o Seu duplo título de
Primogênito de toda a criação (a saber, de herdeiro
universal) e de Primogênito de entre os mortos. Por meio
dEle a vida saiu do nada na criação e também saiu da
sepultura na redenção. Ele é o Criador de todas as coisas
no céu e na terra (v. 16). É o Reconciliador de todas as
coisas na terra e no céu (v. 20). Finalmente, Ele é o
Cabeça, quem deve ter a preeminência em todas as
coisas: nos céus, na terra e em nosso coração (v. 18).
Colossenses 1:24-29; 2:1-5

Paulo era ministro do Evangelho (v. 23b), mas


também da Igreja (v. 25). À custa de muitos sofrimentos
ele trabalhava e se esforçava por ela (w. 28-29). Ele
anunciava os divinos mistérios, escondidos dos sábios e
dos entendidos, mas revelados ao mais jovem crente (v.
26; 2:2b; comparar Efésios 3).
N esta ocasião, observem os as num erosas
semelhanças entre esta epístola aos colossenses e a escrita
aos efésios. Mas, enquanto nesta última o crente é visto
assentado nas regiões celestiais em Cristo (Efésios 2:6),
a epístola aos Colossenses o considera estando ainda na
terra, tendo Cristo nele: a esperança da glória (v. 27).
Que maravilhoso pensamento! Ele, a quem “aprouve a
Deus que, nele, residisse toda a plenitude” (v. 19), habita
agora no coração dos Seus. Compreendemos que, antes
de mencionar os “raciocínios falazes” (Colossenses 2:4)
e as imaginações do espírito humano, o apóstolo começa
apresentando as excelentes realidades cristãs como para
fazer notar o contraste. Sim, verdadeiramente temos em
Cristo “toda riqueza da forte convicção do entendimento”
e “todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento”
(w. 2-3). Poderiamos encontrar alguma coisa mais fora
dEle?

392
Colossenses 2:6-19

Estar ocupado com as glórias do Senhor Jesus é o


meio de sermos “radicados e edificados” nEle (v. 7). As
raízes de uma árvore proveem tanto o seu alimento como
a sua estabilidade (Provérbios 12:3). Se os cristãos não
estão alicerçados e firmes na fé (1:23), correm o risco de
ser “levados ao redor por todo vento de doutrina” (Efésios
4:14; comparar Mateus 13:21). Eram exatamente esses
perigosos ventos que estavam soprando em Colossos: a
filosofia, a tradição (v. 8), o culto dos anjos (v. 18), os
mandamentos religiosos (v. 22); todas essas coisas que o
v. 8 chama de vãs sutilezas. Com não menos imaginação,
atualmente se inventa e abunda doutrinas e teorias.
Acautelemo-nos de ouvir qualquer ensinamento que nos
afaste da Palavra de Deus. O inimigo de nossa alma
procura, mediante os agentes que emprega, enganar-nos
(v. 4), fazer de nós sua presa (v. 8), despojar-nos e
priuar-nos do prêmio do combate (v. 18). Mas a grande
batalha foi consumada e ganha por Outro. A cruz, onde
Satanás por um momento creu triunfar, resultou em sua
completa e pública derrota (v. 15); ele mesmo foi
despojado de sua armadura e de seus bens (leia Lucas
11:21-22). Não permitamos que nos roubem, ou, antes,
que roubem ao Senhor aquilo que Lhe pertence.

393
Colossenses 2:20-23; 3:1-7

O que devemos ou não devemos fazer é determinado


pelo que somos. Agora a nossa dupla posição acaba de
ser descrita (w. 12-13).
© Estamos mortos com Cristo (v. 20), mortos para os
rudimentos do mundo; não podemos mais tomar, como
regra de vida, os princípios que regem este mundo, com
suas pretensões morais e religiosas, e suas avaliações, tão
freqüentemente falsas, do que é certo e errado.
© Fomos “ressuscitados juntamente com Cristo”
(3:1). Como pessoas do Alto, pensemos nas coisas do
Alto, apliquemos os princípios do Alto às circunstâncias
mais comuns.
Sim, “morrestes”, confirma o v. 3 uma vez mais, e a
nova e imperecível vida — que agora é vossa — “está
oculta juntamente com Cristo, em Deus”. “Por essa razão
o mundo não nos conhece” — ou seja, ele não nos
com preende — “porquanto não o conheceu a ele
m esm o” (1 Jo ão 3:1). Mas quando Cristo for
manifestado, todos saberão qual era o nosso segredo.
Ainda que a nossa vida esteja no céu, continuamos a
ter conosco na terra esses perigosos “membros” morais;
noutras palavras, nossas concupiscências. Consideremos
mortas todas essas culpáveis evidências do velho homem.
Por causa delas, “é que vem a ira de Deus [sobre os filhos
da desobediência]” (v. 6). Por causa delas, essa ira caiu
sobre o nosso perfeito Substituto.

394
Colossenses 3:8-17

As coisas a serem despojadas pelo velho homem são


os tristes trapos descritos nos w . 8 e 9: ira, indignação,
maldade... Devemos ter vergonha de nos apresentar
assim. Em troca, vistamo-nos da radiante vestimenta
do novo homem, do qual Cristo é o perfeito Exemplo
(v. 10). Os Seus adornos são enumerados: misericórdia...
humildade... mansidão, longanimidade, perdão... Acima
de tudo, vistamo-nos de amor, que é a natureza desse
novo homem. Esse amor é o que nos fará conhecidos
como discípulos do Senhor Jesus (João 13:35).
O nosso estado interior não é menos importante.
Em nós deve habitar: Cristo, que é tudo (v. 11), Sua paz
(v. 15) e Sua Palavra (v. 16). O fato de termos a Bíblia em
casa ou sobre a cabeceira da cama não nos fará o menor
bem. O mais energético alimento não nos fará bem algum
enquanto permanecer no prato. E necessário que a
Palavra habite em nós ricamente (Romanos 10:8). Outro
meio em que pouco pensamos para sermos ensinados e
edificados é através dos “cânticos espirituais” que
entoamos a Deus em nosso coração (Salmo 119:54).
Não privemos a Ele ou a nós mesmos de tais cânticos.
Finalmente, para cada uma de nossas palavras ou ações,
uma dupla pergunta nos provará sua qualidade: “Posso
dizer ou fazer isto em Nome do Senhor Jesus? Posso dar
graças a Deus Pai por isto?”

395
Colossenses 3:18-25; 4:1-6

Os w . 10-11 do capítulo 3, assim como a passagem


de Gálatas 3:27-28, anulam toda a diferença entre as
criaturas de Deus para m anter apenas a distinção
fundamental entre o velho e o novo homem. Mas aqui o
cristão, em quem coexistem estas duas naturezas, é
considerado em seus relacionamentos com os outros e
ao mesmo tempo com o Senhor. Em contraste com o
restante da epístola, onde temos de ver com Cristo (nossa
vida), aqui Ele é cham ado “o Senhor”, com vistas
enfatizar Seus direitos e Sua autoridade. Crianças,
esposas, maridos, servos ou senhores, cada um tem o seu
lugar e, à sua maneira, serve “a Cristo, o Senhor”. Qual
deve ser nossa atitude “para com os que são de fora”?
Primeiro, devem os andar sabiam ente, refletindo a
verdade. Logo, nossa linguagem deve ser cheia de graça
e firmeza, adaptada às circunstâncias e condição das
pessoas envolvidas. Finalmente, devemos orar (v. 3).
Paulo pede orações para si mesmo. E notemos que não
é a porta da prisão que ele queria ver aberta, mas sim a
do Evangelho.
Os versículos mencionados acima correspondem a
Efésios 5:22 a 6:9. Nestas passagens “é muito belo ver
de que maneira o divino ensinamento entra em todos os
detalhes da vida e exala o perfume de sua perfeição sobre
todos os deveres e todas as relações” (J. N. Darby).

396
Colossenses 4:7-18

Paulo, prisioneiro em Roma, serve-se do mesmo fiel


mensageiro, Tíquico, para levar suas duas cartas aos
efésios e aos colossenses (Efésios 6:21-22). Outros irmãos
e servos de Deus participavam de seus trabalhos e
exercícios de coração: Epafras, que, depois de ter
proclamado o Senhor aos colossenses (1:7), falava deles
ao Senhor (v. 12); Onésimo, Aristarco, Marcos, Lucas...
e também Demas, a princípio estreitamente associado à
obra, mas mencionado aqui somente pelo nome.
Podemos imaginar o constrangimento de Arquipo ao
ouvir seu nome lido na carta ante à igreja. Qual foi o
serviço particular que ele recebera do Senhor? Bastava
que ele mesmo o soubesse. Se o Espírito Santo não o
determina, é para que cada crente ponha seu nome no
lugar do de Arquipo. A trágica condição da igreja de
Laodicéia, descrita em Apocalipse 3:17, mostra que
nenhum proveito foi tirado desta carta que foi logo
comunicada (v. 16). A igreja permaneceu pobre por haver
acumulado outras riquezas que não eram “as riquezas da
glória” (1:27) e tesouros distintos dos “tesouros da
sabedoria e do conhecim ento” (2:2-3). A igreja
permaneceu nua por não ter sabido revestir-se do novo
homem (3:10, 12, 14). Que o Senhor nos ajude a dar
atenção às advertências de Sua Palavra! Que ela habite
em nós ricamente (3:16)!

397
1 Tessalonicenses 1:1-10

Atos 17 nos relata a curta visita de Paulo e Silas (ou


Silvano, v. 1) a Tessalônica, onde ele havia proclamado
e vivido o Evangelho (v. 5). E os tessalonicenses, tendo-o
recebido (v. 6), por sua vez o praticavam. Sua obra era
uma prova de fé (comparar Tiago 2:18); seu trabalho
confirmava seu amor; sua paciência proclamava qual
era a grande esperança que por si só podia sustentá-los
(v. 3). O resultado foi que todo o mundo sabia que
existiam cristãos em Tessalônica (v. 7). Em minha
vizinhança ou em meu lugar de trabalho todos sabem
que sou crente? A conversão é o sinal público do novo
nascim ento, é a m udança de direção visível que
corresponde à vida divina recebida na alma. Quando
uma pessoa dá meia-volta, não tem mais os mesmos
objetos diante de si (Gálatas 4:8-9). Daí em diante, os
tessalonicenses deram as costas aos falsos e inanimados
ídolos, para contemplar e servir a um Deus vivo, o Deus
verdadeiro.
Os ídolos de madeira ou pedra do mundo pagão
cederam lugar aos ídolos mais refinados do mundo
cristianizado. Mas continua sendo verdadeiro que
ninguém pode servir a dois senhores (Lucas 16:13). A
quem servimos: a Deus ou às nossas cobiças? A quem
estamos esperando: ao Filho de Deus ou à ira vindoura?

398
1 Tessalonicenses 2:1-12

Os ultrajes e os maus-tratos padecidos por Paulo e


Silas em Filipos (Atos 16:12-40), longe de desanimá-los,
os impulsionaram a anunciar o Evangelho com ousadia.
A furiosa reação do adversário provava precisamente que
o trabalho deles não tinha sido em vão (v. 1). Ademais,
eles não fizeram uso de nenhum dos métodos habituais
da propaganda humana: sedução, fraude, bajulações e
desejo de agradar; como escreveu o apóstolo aos
coríntios: "... em Cristo é que falamos na presença de
Deus, com sinceridade e da parte do próprio Deus”
(2 Coríntios 2:17). Com muita freqüência, hoje em dia,
o Evangelho é apresentado sob um aspecto atraente e
sentimental ou como o complemento de uma obra social.
O ministério de Paulo tampouco foi inspirado por um dos
três grandes motivos da atividade humana: busca de
glória pessoal, satisfação da carne e aquisição material.
Pelo contrário, os sofrimentos do apóstolo testificavam
completo desinteresse pessoal (ver Atos 20:35). Dois
sentimentos o animavam: a contínua preocupação de
agradar a Deus (v. 4) e o amor por aqueles que se
tinham tornado “seus filhos”. Como uma mãe, ele lhes
havia alimentado e cuidado com ternura (v. 7). Como
um pai, ele os exortava, consolava e ensinava a andar
(w. 11-12). Mas antes de tudo queria que eles tivessem
plena consciência de suas relações com Deus. Que
posição a deles... e a nossa! Deus nos chama nada menos
que para Seu próprio reino e glória.

399
1 Tessalonicenses 2:13-20

Os cristãos de Tessalônica tinham recebido a


mensagem do apóstolo como sendo a verdadeira Palavra
de Deus (v. 13; Mateus 10:40). A completa inspiração
de todas as partes da Sagrada Escritura está longe de ser
reconhecida por todos os teólogos da cristandade. Com
freqüência os escritos de Paulo são apresentados como
os ensinamentos de um homem, sem dúvida um homem
de Deus notável, mas falível. Em geral, trata-se de um
pretexto para não se submeter a elas e para rejeitar o que
parece demasiado estreito... mas, bendito seja Deus, cada
palavra da Bíblia possui a mesma autoridade divina.
O zelo dos judeus havia interrompido a atividade do
apóstolo a favor dos tessalonicenses (w. 15-16; Atos
17:5). Ele não havia terminado de instruí-los. Um mestre
se sente desconcertado quando nenhum de seus alunos
passa no teste para o qual os tinha preparado. Paulo
recorda que ele era pessoalmente responsável pela
fidelidade deles: ou ele recebería uma coroa das mãos do
Senhor ou seria envergonhado por causa deles “na Sua
vinda” (v. 19; 1 João 2:28).
Queridos amigos, à sem elhança do apóstolo,
tenhamos este pensamento sempre presente em nosso
espírito: pronto teremos de prestar contas ante o nosso
Senhor de tudo o que tivermos feito, como na parábola
de Mateus 25:19: “Depois de muito tempo, voltou o
senhor daqueles servos e ajustou contas com eles”.
“Assim, pois, cada um de nós dará contas de si mesmo a
Deus” (Romanos 14:12).
400
1 Tessalonicenses 3:1-10

Duas vezes Satanás impediu que Paulo voltasse a


Tessalônica (2:18). Deus permitiu esta situação para que
fossem manifestados tanto os afetos do apóstolo como a
fidelidade dos tessalonicenses. Então “o tentador” (v. 5),
utilizando outra arma, suscitou contra eles grandes
tribulações. Paulo lhes havia advertido que não só essas
provas eram inevitáveis, mas que os tessalonicenses
estavam “designados para isto” (v. 3; João 15:20;
16:33). Por essa razão, Paulo permanecia indiferente?
Pelo contrário! O que lhe preocupava não eram as
tribulações dos tessalonicenses, mas sim a firmeza da fé
que eles cultivavam (1 Tessalonicenses 3:2, 5-7,10).
Esta é uma lição para nós, que facilmente nos detemos
diante das circunstâncias exteriores — como dificuldades
materiais, enfermidades etc. — e perdemos de vista o
estado interior do crente! “Não podendo suportar mais”
(w. 1,5), o apóstolo enviou Timóteo para fortalecê-los
e animá-los. Paulo foi consolado e regozijou-se em meio
de sua própria tribulação como conseqüência das notícias
recebidas. Porque longe de abalar a fé desses jovens
crentes, a prova a havia fortalecido. Do mesmo modo, os
climas mais severos geralmente forjam as raças mais
resistentes. Uma vez mais, Satanás havia feito uma obra
enganosa para si, segundo Provérbios 11:18: “O perverso
recebe um salário ilusório”.

401
1 Tessalonicenses 3:11-13; 4:1-8

Não são as nossas provas que devem mover-nos a


esperar pelo Senhor, mas sim o nosso amor! Sua vinda
“com todos os seus santos” (v. 13) é o grande pensamento
que deve reger todo o nosso comportamento. Somos
santos aos olhos de Deus por meio da perfeita obra de
Cristo (Hebreus 10:10). Mas ao mesmo tempo somos
exortados a firmar nosso coração na santidade prática
(3:13); ela é a expressa vontade de Deus para cada um
dos Seus (4:3). Um crente deve particularmente cuidar-se
para permanecer puro (v. 4). Ao considerar seu corpo um
instrumento de prazer, peca em primeiro lugar contra si
mesmo: às vezes arruina sua saúde, e sua consciência
perde a sensibilidade diante do mal e trabalha
impropriamente, como o ponteiro de uma bússola
danificada.
Ele também pode prejudicar grandemente outras
pessoas (v. 6; Hebreus 13:4). Quantas vidas destruídas,
mentes e corpos corrompidos e lares arruinados pagaram
o preço da vaidade de uma conquista e alguns momentos
de prazer! Finalmente, a impureza, sob todas as suas
formas, é pecado contra Deus, como disse Davi no
Salmo 51:4: “Pequei contra ti, contra ti somente”. O nosso
corpo não mais nos pertence; ele se tornou templo do
Espírito que Deus nos deu (v. 8; 1 Coríntios 6:18-20). O
Espírito Santo requer uma habitação santa. Conservar
nosso corpo íntegro e irrepreensível (5:23) é honrar a
Aquele que nele habita.

402
1 Tessalonicenses 4:9-18

Não é necessário cumprir obras extraordinárias para


servir “o Deus vivo e verdadeiro” (1:9). Acima de tudo,
é requerido que o cristão viva tranqüilamente e se aplique
fielmente a cumprir sua tarefa cotidiana (v. 11). Pronto
chegará ao fim de seu trabalho! Ao som da conhecida voz
do Senhor, cada um colocará de lado sua ferramenta
para ir a Seu encontro e estar para sempre com Ele. O
arrebatamento dos crentes é o primeiro ato da vinda do
Senhor Jesus (o segundo será Seu glorioso retomo com
eles: 3:13). Ele virá para buscá-los para Si mesmo, não
deixando a ninguém mais esta responsabilidade e este
gozo. Este gozo deverá ser a porção de cada redimido e
seu presente consolo quando acontecer de um dos seus
entes queridos chegar a “dormir”. Como a morte já foi
vencida— embora não destruída —, os mortos em Cristo
simplesmente “dormem” (4:13-15; João 11:11-13).
Estes despertarão, como Lázaro — mas para sempre —
, mediante a palavra de ordem do Príncipe da vida. Então,
em perfeita ordem e do mesmo modo que Ele deixou a
terra, os que estiverem vivos serão “arrebatados
juntamente com eles” para ir ao Seu encontro no ar (v.
17; Filipenses 3:20). Será a nossa geração que verá este
maravilhoso evento, esperado por tantas gerações? Tudo
aponta para isto. Talvez será esta noite. Amigo leitor,
você está preparado?

403
1 Tessalonicenses 5:1-11

Se para Seus redimidos a vinda do Senhor significa a


entrada no gozo eterno, para os incrédulos é o sinal de
uma “repentina destruição” (v. 3; Lucas 17:26-30).
Bem-aventurada esperança para uns, total e terrível
surpresa para outros! Infelizmente, na prática, a diferença
está longe de ser tão nítida! Alguns “filhos da luz” ocultam
sua candeia “debaixo do alqueire, ou da cama” (Marcos
4:21). Eles estão dormindo, e a sonolência espiritual é
um estado que se assemelha à morte. E qual é a causa?
Geralmente é a falta de sobriedade. Embriagar-se é fazer
dos bens terrenos um uso que supera ao que se necessita
(ver Lucas 12:45-46). E quando um homem está
adorm ecido acerca dos interesses celestiais e bem
acordado acerca dos interesses terrenos, como pode
desejar o retorno do Senhor? Nós, que somos do dia,
“não durmamos como os demais” (v. 6), “que não têm
esperança” (4:13), por temor de sermos surpreendidos
pela repentina chegada de nosso Senhor. Voltemos a ler
as sérias palavras do Senhor no capítulo 24 de Mateus e
no capítulo 13 de Marcos... E façamos com freqüência
esta pergunta a nós mesmos: “Gostaria que o Senhor me
encontrasse fazendo o que estou fazendo, ou dizendo ou
pensando?”

404
1 Tessalonicenses 5:12-28

O final da epístola ensina qual deve ser o nosso


comportamento entre os irmãos, para com todos os
homens, em relação a Deus e, por fim, na Igreja. Em
suma, nossa vida inteira está encerrada nestas curtas
exortações. Se é uma questão de regozijar, que seja
sempre; de orar, que seja sem cessar; de dar graças, que
seja em tudo. A fé nos permite agradecer ao Senhor
mesmo pelas coisas que nos parecem penosas. Orar sem
cessar é permanecer em Sua comunhão, o que será
também nossa salvaguarda contra o mal sob todas as
suas form as (v. 22). Aquele que nos resgatou
completamente — espírito, alma e corpo — exige
também a santidade de todo o nosso ser (4:3). As
manchas do espírito e do coração, embora invisíveis, são
tão temíveis como as do corpo. Peçamos ao Senhor, que
é fiel, que nos conserve íntegros e irrepreensíveis,
semelhantes a Ele, para o momento da grande reunião.
Na verdade, nenhum pensamento é mais apropriado para
nos santificar que o do retorno do Senhor Jesus (leia
1 João 3:3). Esta inestimável promessa se encontra
mencionada no fim de cada um dos cinco capítulos desta
epístola. Não a percamos de vista. Até então, que “a
graça de nosso Senhor Jesus Cristo” seja com cada um
de nós.

405
2 Tessalonicenses 1:1-12

As perseguições das quais os tessalonicenses eram


vítimas lhes haviam aum entado a fé, fazendo-lhes
abundar em amor e manifestar sua paciência. O que,
pois, lhes faltava e por que o apóstolo julgou necessário
dirigir-lhes esta segunda epístola? Aqui a esperança não
é mencionada, tam pouco o gozo do Espírito Santo
(comparar 1 Tessalonicenses 1:3,6). Paulo coloca ante
eles as verdades convenientes para reanimar estes
sentim entos em seus corações. O triunfo de seus
perseguidores e seus próprios sofrimentos não são mais
que temporários: “O S enhor, Deus que dá a paga,
certamente lhe retribuirá” (Jeremias 51:56). Esta “paga”,
tanto dos fiéis como dos ímpios, ocorrerá no dia do
Senhor. Está ligada à Sua gloriosa manifestação. A mesma
penalidade— “eterna destruição”— alcançará os pagãos
que voluntariamente permanecem na ignorância de Deus
e aqueles que são cristãos só de nome mas “não
obedecem ao evangelho” (v. 8). Ao mesmo tempo, os
santos — “todos os que creram” — serão vistos na
companhia do Senhor, associados à Sua admirável glória
(v. 10; Mateus 13:43). Mas a vontade de Deus e a oração
do apóstolo é que, desde já, o nome de nosso Senhor
Jesus Cristo seja glorificado em cada um dos que Lhe
pertencem.

406
2 Tessalonicenses 2:1-17

Uma séria questão causava inquietação nos


tessalonicenses. O dia do Senhor já havia chegado? As
suas tribulações podiam levá-los a crer em tal coisa, e os
falsos mestres afirmavam que isto era um fato. Não,
contesta o apóstolo. Esse dia deve ser precedido por três
acontecimentos: © nossa reunião com o Senhor; © a
apostasia da falsa igreja e dos judeus; ® o surgimento do
anticristo, chamado de “o homem da iniqüidade, o filho
da perdição” (v. 3), “o iníquo” (v. 8). Estes nomes
enfatizam, por contraste, as características do Senhor
Jesus: justiça, salvação e completa obediência a Deus.
Neste período terrível, um poder enganoso enviado
como castigo cegará a mente dos homens: eles não deram
crédito à verdade, mas então darão à mentira. “O mistério
da iniqüidade” (v. 7) já está em ação, acrescenta o
apóstolo (comparar com 1 João 2:18). Só “aquele que
agora o detém” (v. 7), o Espírito Santo, é que faz barreira
à plena manifestação do mal no mundo. Quando Ele
tiver deixado a terra juntamente com a igreja, então a
iniqüidade não conhecerá mais freio algum. Mas que
contraste entre esse poder de Satanás (w. 1-12) e a obra
de nosso Deus e Pai! (w. 13-17). Ele nos amou, nos
escolheu para salvação e nos chamou para a glória de
nosso Senhor Jesus Cristo. Não deixemos de Lhe render
ações de graças agora mesmo (w. 13; 1:3).

407
2 Tessalonicenses 3:1-18

Paulo pede as orações dos santos: “Orai por nós” (v.


1; 1 Tessalonicenses 5:25). Ele mesmo não cessava de
orar por eles (1:11). E contava com o fiel Senhor para
fortalecê-los e guardá-los do mal. Também contava com
a obediência deles e esta incluía sim plesm ente o
cumprimento de suas tarefas cotidianas. Mas alguns em
Tessalônica haviam deixado de trabalhar. Já que o
Senhor estava vindo — pensavam eles — para que
cultivar o campo e ocupar-se com os negócios da vida
presente? O triste resultado era que eles estavam
intrometendo-se na vida alheia (v. 11; ver 1 Timóteo
5:13). Paulo protestou com veemência. Nada em seu
ensinamento podia dar pretexto a semelhante desordem
(w. 6-7 e 11; comparar 1 Tessalonicenses 4:11). Ao
contrário, Paulo havia trabalhado com as próprias mãos
exemplarmente, a fim de não ser um peso a ninguém (v.
8). E o exemplo supremo é “constância de Cristo” (v. 5),
que permanece à espera do momento em que haverá de
apresentar-Se à Sua amada igreja.
Com as epístolas aos Tessalonicenses chegamos ao
fim das cartas que Paulo escreveu a sete igrejas muito
diferentes. Nelas, são tratados vários aspectos da vida e
da doutrina cristã, desde a aquisição da salvação na
epístola aos R om anos até a glória vindoura em
Tessalonicenses. Todos estes ensinamentos são de grande
valor para nós. Que o Senhor nos ajude a retê-las a fim
de que possamos permanecer “firmes” (2:15).

408
1 Timóteo 1:1-11

Conhecemos Timóteo no capítulo 16 de Atos.


Preciosos eram os vínculos de Paulo com seu “verdadeiro
filho na fé”. Contudo, ele lhe escreve na qualidade de
apóstolo, para enfatizar a autoridade que ele lhe confere.
A esse jovem discípulo foi confiada uma difícil tarefa:
conduzir cada um à maneira em que deve proceder na
igreja (3:15). Um mandamento, cujo fim era o amor,
tinha sido dado a ele. Do mesmo modo que os tribunais
não são para as pessoas honestas, a lei não é mais
pertinente aos justificados (v. 9). O conveniente de aí em
diante é o amor, cuja fonte está em Deus. Este foi
derramado em nosso coração pelo Espírito (Romanos
5:5). Para que não perm aneça em nós como água
estancada, mas antes flua através de nós e jorre para o
proveito dos demais, nenhum canal deve estar obstruído.
O am or brota de um “coração puro”: o qual está
desvencilhado de todo ídolo; de uma “consciência boa”:
a qual não tem nada pelo que condenar em si mesma
(Atos 24:16); e de uma “fé sem hipocrisia”: livre de toda
a forma de hipocrisia (2 Timóteo 1:5). Se essas condições
não são cumpridas, o nosso cristianismo não será nada
mais que uma “loquacidade frívola” (v. 6).
Quão maravilhoso é o contraste entre a lei que
amaldiçoa o pecador e a graça que o transporta ao gozo
da glória e da felicidade de Deus!

409
1 Timóteo 1:12-20

Se alguém podia comparar a servidão da lei com o


Evangelho da graça, por certo este era o fariseu Saulo de
Tarso, que chegou a ser o apóstolo Paulo. A sua fidelidade
à lei de maneira alguma o impediu de ser o principal dos
pecadores. Não havia ele perseguido ao Senhor Jesus
quando tão duram ente perseguia àqueles que Lhe
pertenciam? Sem falsa humildade, ele se declara o pior
de todos os pecadores enumerados nos w . 9-10. Mas
foram precisamente os culpados, e não os justos, que
Jesus Cristo veio salvar (Mateus 9:13). Desde que o
principal dos pecadores tinha sido salvo, ninguém pode
considerar-se demasiado pecador para não se beneficiar
da graça. “Obtive misericórdia”, exclama o apóstolo duas
vezes (vv. 13 e 16). Ele m ede a grandeza dessa
misericórdia com a magnitude de sua própria miserável
condição e espontaneamente se eleva à adoração (v. 17).
Se com freqüência gozamos tão pouco da graça,
talvez seja porque a nossa convicção de pecado não tem
sido suficientemente profunda. “Aquele a quem pouco se
perdoa” — ou pelo menos quem assim pensa —, “pouco
ama” (Lucas 7:47). E você amigo, que ainda permanece
indiferente, a paciência do Senhor tem sido manifestada
a você também, até agora. Não O faça esperar mais
tempo. Talvez amanhã seja muito tarde.

410
1 Timóteo 2:1-15

O apóstolo, antes de expressar todas as coisas das


quais vai escrever a Timóteo (3:14; 4:6 e 11), menciona
a oração sob todas as suas distintas formas. Eis como
começa todo o serviço cristão. O desejo de Deus de salvar,
a obra de Cristo e as nossas orações abarcam todos os
homens. O nosso dever é orar por todos sem restrição,
porque Deus quer que todos sejam salvos e porque Jesus
Cristo a Si mesmo se deu em resgate por todos. E nosso
privilégio orar pelas multidões que não sabem orar.
De certa maneira, depende dos que “se acham
investidos de autoridade” que possamos levar uma vida
tranqüila e mansa. Peçamos a Deus que nos assegure isso
por intermédio deles, não para desperdiçá-la à mercê de
nossos desejos pecaminosos, mas sim para estar mais
livres para a obra de evangelização dos pecadores (ver
Esdras 6:10).
Os irmãos, inclusive os mais jovens, são chamados a
orar “em todo lugar” e publicamente na igreja. As irmãs,
por outro lado, devem guardar silêncio. Contudo, por
meio de sua atitude e de seu modesto traje, podem
testemunhar mais poderosamente do que através de
palavras. As conseqüências da queda no Éden (Gênesis
3:16) permanecem para a mulher, mas a fé, o amor, a
santidade e a modéstia ainda testemunham ao mundo
libertação e bênção.

411
1 Timóteo 3:1-16

A aspiração ao episcopado deve ser considerada uma


prova de devoção à igreja. Exercer as funções de bispo
(ou ancião) e as de diácono (ou servo) não é uma questão
de estudos ou exames, mas de qualificações morais. Elas
caem em duas categorias: © um bom testemunho na
igreja e fora dela; ® uma experiência adquirida na vida
cristã.
Em toda casa existem regras de conduta, uma
disciplina coletiva à que cada um se submete. Assim
ocorre na casa do Deus vivente: a igreja (ver 1 Coríntios
14:40). Não somos livres, absolutamente, para nos
comportar nela como desejarmos. Ela é a coluna sobre a
qual o nome de Cristo, a Verdade, está escrito, a fim de
torná-lo conhecido ao mundo inteiro.
Grande é o mistério da piedade, porque grande é a
Pessoa sobre a qual estão fundadas nossas relações com
Deus. A vinda do Senhor Jesus como homem à terra, a
perfeita justiça de todo o Seu andar no poder do Espírito
Santo e sob o olhar dos anjos, Seu Nome pregado e crido
aqui embaixo, e, finalmente, Sua ascensão à glória
constituem os elementos inseparáveis desse mistério
intangível confiado à igreja. Esta é responsável diante do
Senhor de sustentar e guardar toda a verdade (v. 15).

412
1 Timóteo 4:1-16

O grande mistério da piedade tem sido menosprezado


por muitos. Alguns eliminam as coisas que lhes são
desconfortáveis. Outros acrescentam práticas legais ou
superstições. O “bom ministro” se alimenta da “boa
doutrina” (v. 6). Então estará em condições de ensinar
aos demais (w. 11 e 13). A piedade é uma virtude na
qual devemos exercitar-nos (em grego gymnazo, de onde
vem a nossa palavra “ginástica”). Exercitamo-nos para a
piedade. O exercício físico é útil para a saúde de nosso
corpo: pouca coisa se comparada aos progressos da alma
aos quais leva a prática diária da piedade. Notemos que
o exercício individual é necessário, pois ninguém pode
viver a piedade do outro. Desta forma, o jovem Timóteo
poderá ser um “treinador” para outros (v. 12, ver Tito
2:7): um padrão na palavra, a qual é confirmada por um
procedimento inspirado no amor, o qual por sua vez é
iluminado pela fé, a qual finalmente é preservada pela
pureza (v. 12). Como nos exercitamos na piedade?
Primeiro, devemos ocupar-nos com as coisas divinas e,
por último, entregar-nos por completo a elas. A debilidade
de nosso testemunho vem do fato de que desperdiçamos
nossas energias em demasiadas direções. Sejamos os
campeões de uma única coisa: Cristo (2 Coríntios 8:5).
Assim o nosso progresso será manifesto a todos (v. 15).

413
1 Timóteo 5:1-16

Em nosso relacionam ento com outros cristãos,


podemos servir-nos dos vínculos da família como nosso
exemplo: “pai... irmãos... m ãe... irmãs...” (v. 12). Nunca
percamos de vista o fato de que formamos uma única e
mesma família: a família de Deus.
Cada um é convidado a mostrar sua piedade, mas
primeiramente para com sua própria casa (v. 4). Os
fariseus pregavam o contrário. Ao mesmo tempo em que
ostentavam devoção, invalidavam o mandamento de
Deus ao afastar os filhos de seus mais legítimos deveres
para com os pais (ver Marcos 7:12-13).
Com um só versículo, o 10, resume-se uma uida
inteira ao serviço do Senhor. Que cada irmã ache
inspiração e força a fim de não desejar outra coisa!
Os vv. 3 a 16, que são consagrados às viúvas,
recordam que Deus cuida delas de m aneira muito
particular (ver Salmo 68:5). O Evangelho de Lucas
menciona quatro viúvas: Ana, cuja vida de oração
constante ilustra o v. 5 de nosso capítulo (Lucas 2:36-38);
a viúva de Naim, à qual o Senhor Jesus devolveu o seu
filho (Lucas 7:11-17); a que pedia justiça ao juiz injusto
da parábola do capítulo 18; e, finalmente, a pobre viúva
que, ante os olhos do Senhor — e para Seu gozo —, deu
ao tesouro do templo tudo o que tinha para seu sustento
(Lucas 21:1-4). O que agrada a Deus acima de tudo é
uma fé completa nEle (Hebreus 11:6).

414
1 Timóteo 5:17-25; 6:1-10

Paulo continua expondo a Timóteo como se deve


“proceder na casa de Deus” (1 Timóteo 3:15). Assunto
vital pelo qual se interessa o próprio Deus é Sua casa - o
Senhor Jesus Cristo e os anjos escolhidos, chamados a
considerar a sabedoria de Deus na Igreja (v. 21; Efésios
3:10). Essa “multiforme sabedoria” deve manifestar-se
tam bém nos variados detalhes da vida da Igreja:
responsabilidades do rebanho para com seus anciãos,
comportamento dos servos de Deus para resolver os casos
difíceis, instruções aos servos... (6:1-2). Q uantas
desordens se levantam assim que alguém não se sujeita
mais às sãs palavras — palavras não de Paulo ou de
Timóteo, mas de nosso Senhor Jesus Cristo (v. 3).
A piedade com o contentamento é em si mesma lucro,
um grande lucro ao alcance de todos (4:8). Nossa
civilização está com um ente b aseada na criação e
satisfação de novas necessidades. Apesar de tudo, o ávido
coração do homem permanece insaciável (comparar os
w . 9-10 com o Salmo 49:16-20). Agradeçamos ao
Senhor por prover as nossas necessidades (v. 8). Sempre
estaremos satisfeitos com o que Ele nos dá, se Ele mesmo,
o Doador (que é o grande Objeto da piedade), satisfizer
plenamente nosso coração.

415
1 Timóteo 6:11-21

“Tu, porém, ó homem de Deus!” O homem de Deus


— e cada filho de Deus — deve andar continuamente
contra a corrente deste mundo. Ele foge do que o mundo
ama e busca: o dinheiro e as coisas que o dinheiro obtém
(v. 10). Ele segue o que agrada ao Senhor: justiça,
piedade, fé, amor, constância, mansidão (v. 11). Ele
aguarda a Sua aparição, tempo em que tudo será
manifestado (v. 14).
O apóstolo não confunde os que são ricos (v. 17)
com os que querem ficar ricos (v. 9). Mas ele projeta
sobre os bens do “presente século” a luz da eternidade. O
objeto de nossa confiança não são os dons, mas sim
Aquele que os dá (v. 17); o verdadeiro lucro é a piedade;
as verdadeiras riquezas são as boas obras (v. 18); o
verdadeiro tesouro é um sólido fundamento para o futuro
(v. 19). Que saibamos discernir e nos apoderar “da
verdadeira vida” (v. 19)!
Foge... segue... combate... toma posse... são as
exortações que encontramos em nossa leitura (w. 11-12).
No v. 20, a ordem final é particularmente solene: “E tu,
ó Timóteo, guarda o que te foi confiado” (ver também o
v. 14 e 2 Timóteo 1:14). Tal é a exortação final sobre a
qual convidamos cada um de nossos leitores a substituir
o nome de Timóteo pelo seu próprio.

416
2 Timóteo 1:1-18

Esta segunda epístola, muito diferente da primeira,


enfoca um tempo de ruína em que o apóstolo, prisioneiro,
ao final de sua carreira, assiste à rápida decadência do
testemunho pelo qual tanto havia trabalhado. Mas Deus
valeu-se desses progressos do mal, já visíveis no tempo
dos apóstolos, para nos dar esta carta, que mostra o
caminho a seguir e os recursos da fé nos “tempos difíceis”,
como são os nossos hoje em dia (3:1). Tenha ânimo,
escreve Paulo a seu “amado filho”, não te deixes assustar!
O que possuímos está fora do alcance do Inimigo; está
protegido pelo poder de Deus, o Pai, o Filho e o Espírito
Santo. Este permanece um Espírito de poder, amor e
conselho e “habita em nós” (v. 14; João 14:17).
“Nosso Salvador Cristo Jesus” não mudou. Sua
vitória sobre a morte foi lograda para a eternidade (v.
10). Toda a fonte exterior de ajuda fracassa e a fé é levada
a descansar só no Senhor (v. 12; Salmo 62:1). A
fidelidade de cada um é colocada à prova não quando
tudo vai bem, mas quando tudo vai mal (ver Filipenses
2:22). Na adversidade, muitos abandonaram ao apóstolo
(v. 15), enquanto um devotado irmão, Onesíforo, o
visitou na prisão. Este fazia parte daqueles misericordiosos
a quem será concedida misericórdia (v. 18; Mateus 5:7 e
25:36b).

417
2 Timóteo 2:1-13

“Fortifica-te na graça”, recomenda o apóstolo a seu


querido discípulo. Ele mesmo havia aprendido este
segredo diretamente do Senhor: “A minha graça te basta,
porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza” (2 Coríntios
12:9). Três exemplos — o soldado, o atleta e o lavrador
— ilustram a renúncia, a obediência e a paciência do
cristão. Estas são as características de um bom soldado:
ele não se sobrecarrega com bagagem desnecessária; é
disciplinado, a fim de agradar a seus superiores; sabe que
o ofício de um soldado implica inevitavelm ente
sofrim entos, perigos, golpes que precedem às
recomendações honoríficas e condecorações. Isto é certo
e toda a Escritura confirma: o nosso comportamento atual
terá sua contrapartida eterna. Hoje, os sofrimentos e a
morte com Cristo; amanhã, a vida com Ele, o reino e a
glória eterna. Queridos amigos crentes, Jesus Cristo nos
arregimenta sob Sua bandeira. Infelizmente, pode achar-
se num exército desertores que renegam sua bandeira e
o capitão (v. 12; Judas 4). Existem mil maneiras, incluindo
as silenciosas, de trair o nosso Capitão. Que o desejo de
obter Sua aprovação, secreta hoje, pública amanhã, faça
de nós bons soldados, aptos para combater “o bom
combate” (4:7-8 e 1 Timóteo 6:12)!

418
2 Timóteo 2:14-26

Quando tudo vai bem, quando a obra é próspera, o


obreiro não tem motivos para se envergonhar perante os
homens (1:8, 12, 16). Em troca, quando o testemunho
está em ruína, é difícil escapar deste senso de vergonha.
Mas que importa o menosprezo do mundo, se somos
aprovados por Deus (v. 15)? Este capítulo traça uma linha
de conduta que nos perm ite estar seguros dessa
aprovação em todas as circunstâncias. Dali, onde a
incredulidade e a corrupção dominam, o cristão fiel se
aparta. Quanto ao seu relacionamento com os indivíduos,
ele se purifica; quanto às cobiças, ele as evita; quanto ao
bem, ele o segue; quanto aos crentes, os busca, une-se a
eles e com eles rende culto a Deus. Na prática, os w . 19
a 22 têm levado queridos filhos de Deus a apartar-se dos
diversos sistemas religiosos da cristandade e simplesmente
reunir-se em volta do Senhor para adoração.
Ouvimos um “foge”e um “segue”na primeira epístola
(6:11). Que o Senhor grave no coração de todos os crentes
o v. 22! Não esqueçamos, contudo, que, assim como
devemos ser firmes com relação à verdade e a seus
princípios, também devemos suportar as pessoas e
manifestar-lhes brandura e mansidão (w. 24-25; Efésios
4:2).

419
2 Timóteo 3:1-17

O sombrio retrato moral dos w . 2 a 5 é similar ao do


primeiro capítulo da epístola aos Romanos, w . 28 a 32,
com a diferença de que aqui não se descrevem os pagãos,
mas sim as pessoas que se consideram cristãs! E, o que é
mais grave, a forma de piedade — a hipocrisia — cobre
esses horrendos traços com um verniz enganoso. Com
um “tu, porém”, o apóstolo volta a interromper-se (w. 10
e 14; 4:5). De um lado vemos essas pessoas imorais “que
aprendem sem pre e jam ais podem chegar ao
conhecimento da verdade” (v. 7); do outro, vemos o
jovem servo de Deus, educado desde a infância com “as
sagradas letras” (v. 15), sob a influência de uma mãe e de
uma avó piedosas (1:5). Bem-aventurados os que, desde
a infância, têm sido assíduos leitores da Palavra de Deus!
A eles e a todos nós, é dirigida esta exortação: “Permanece
naquilo que aprendeste” (v. 14).
O v. 16 estabelece a plena inspiração de toda a
Escritura, assim como sua autoridade “para o ensino,
para a repreensão, para a correção, para a educação na
justiça”. A Palavra de Deus alimenta e forma o homem de
Deus. Timóteo era um, apesar de sua juventude. Este
título de “homem de Deus” (v. 17; 1 Timóteo 6:11) é
mais nobre ainda que o de soldado, obreiro ou servo do
Senhor (2:3, 15 e 24). Deus mostra aqui como nos
tornarmos “homens de Deus”. Que Ele nos dê também o
desejo de alcançarmos tamanha glória!

420
2 Timóteo 4:1-22

Ainda que muitos se recusem a dar ouvidos à verdade


(v. 4), o servo do Senhor deve pregar, advertir, instar
“quer seja oportuno, quer não”, corrigir, repreender,
exortar... num a palavra, cumprir cabalm ente seu
ministério (w. 2 e 5). Paulo havia dado o exemplo. Sua
carreira tinha sido completada. Os desportistas sabem
que uma competição nunca está decidida antes da linha
de chegada. Abandonar a competição ou permitir ser
ultrapassado nos últimos metros é perder toda a corrida...
juntam ente com o prêm io. Os passos finais são
freqüentemente os mais difíceis. O amado apóstolo nos
dá uma comovedora idéia das condições finais de seu
combate e de sua carreira: prisão, frio e nudez (ver
1 Coríntios 4:11; 2 Coríntios 11:27; aqui ele pede a sua
capa, v. 13), maldade e oposição dos homens (w. 14-
15), seu comparecimento perante César (Nero) na
ausência de todos os seus amigos (v. 16). Estes se haviam
dispersado. Até Demas o havia abandonado. Nós não
podemos fazer parte dos que amam “o presente século”
(v. 10) e, ao mesmo tempo, dos que amam a uinda do
Senhor (v. 8). E a epístola termina mencionando o
supremo recurso num tempo de ruína: a graça. Esta era
a saudação do apóstolo (1:2) e também sua despedida
(v. 22). Que esta graça esteja com cada um de nós!

421
Tito 1:1-16

Na epístola a Tito, voltamos a encontrar os mesmos


temas que nos ocuparam na primeira epístola a Timóteo:
a boa ordem na igreja, a sã doutrina contrastando com
aquela dos falsos mestres e seus efeitos na conduta dos
crentes. Paulo instruiu a Tito que escolhesse e
constituísse presbíteros (no plural) em cada igreja
(Atos 14:23). Isto está longe do princípio de tantas
igrejas de hoje, nas quais um só homem ocupa essa
função, e a tem como se fosse um cargo hierárquico.
D ignidade, sobriedade, hospitalidade e dom ínio
próprio são as características morais indispensáveis a
um bispo (a mesma pessoa também é chamada de
presbítero ou ancião).
Não é lisonjeiro o retrato dos cretenses feito pelos
seus próprios profetas e confirmado pelo apóstolo. Essas
características marcantes do homem natural não são
apagadas com a conversão. Alguns ainda permaneciam
mais inclinados à mentira, outros à preguiça ou ao
orgulho. Cada filho de Deus deve aprender a conhecer
as suas próprias tendências e, com a ajuda do Senhor,
vigiar, a fim de que elas não se manifestem. Outra delas
é a insubordinação! Esta já se manifesta nos filhos para
com seus pais (final do v. 6 de Tito 1) e pode
desenvolver-se, mais tarde, em rebelião contra todo o
ensinamento divino (v. 10). Mas Deus não reconhece as
obras de quem não se sujeita à autoridade de Sua
Palavra (v. 16).

422
Tifo 2:1-15

Além daqueles que são anciãos na igreja, cada crente,


jovem ou velho, irmão ou irmã, deve dar um bom
testemunho (w. 2-10). O que está ordenado aos servos
também se aplica a todos os redimidos do Senhor. Poucas
são as pessoas que não têm um superior acima delas e, de
qualquer modo, cada um deveria considerar-se como
Paulo, um servo de Deus (Tito 1:1). Sejamos “adornos”
que façam ressaltar os ensinamentos de nosso Mestre (v.
10; compare 1 Reis 10:4-5).
Os versículos 11 e 12 nos mostram a graça de Deus
manifestando-se de duas maneiras: ©Ela traz a todos os
homens uma salvação que eles não poderíam alcançar
por si mesmos; © Ela ensina o filho de Deus a viver
sensatamente em sua vida pessoal; justamente em suas
relações com os demais; piedosamente em suas relações
com o Senhor. Toda a vida cristã cabe nestes três
advérbios. E o que a sustenta é a esperança (V. 13; 1:2;
3:7). Esta esperança é chamada de bendita porque enche
a alma de uma felicidade presente.
“Deus, nosso Salvador... nosso grande Deus e
Salvador Cristo Jesus” (w. 10 e 13; veja também cap. 1,
v. 3-4; cap. 3:4-6): este título, contido no nome de Jesus
(que significa Javé é a salvação) recorda que devemos
tudo a Ele. Nunca esqueçamos que Ele “a si mesmo se
deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniqüidade e
purificar, para si mesmo, um povo exclusivamente seu,
zeloso de boas obras” (v. 14).

423
TSto 3:1-15

Nossa conduta para com as autoridades e para com


todos os homens deve ser, necessariamente, um contraste
com o que “outrora éramos” antes de nossa conversão.
Esta lembrança de nosso triste estado de outrora é
apropriada para que manifestemos “toda cortesia, para
com todos os homens” (v. 2; Filipenses 4:5). Longe de
nos posicionar acima deles, podemos convidá-los, por
nosso próprio exemplo, a aproveitar a mesma graça que
nos regenerou.
Esta epístola menciona seis vezes as boas obras (Tito
1:16; 2:7 e 14; 3:1, 8 e 14). Sob o pretexto de que elas
não têm nenhum valor para a salvação (v. 5), corremos
o risco de subestim ar sua im portância e som os
envergonhados pelas obras de outros cristãos menos
instruídos em outros pontos da doutrina. Pelo contrário,
precisamos ser “solícitos na prática de boas obras” (v. 8),
com dupla finalidade: em primeiro lugar, a fim de que
elas sejam proveitosas aos homens (v. 8); e por último, a
fim de não nos tomarmos “infrutíferos” (v. 14). O Senhor
se compraz em produzir este fruto na vida dos Seus. E Ele
quem também aprecia o valor deste fruto. Uma obra só
é boa feita para Ele. Se Maria tivesse vendido o seu
perfume para proveito dos pobres, teria feito uma boa
obra aos olhos do mundo, mas, ao derramá-lo aos pés do
Senhor, ela soube fazer uma boa obra para com Ele
(Mateus 26:10).

424
Filemom 1-12

Nos livros escolares, as teorias são geralmente


seguidas por uma aplicação aos problemas. A epístola a
Filemom nos lembra disso. Ela não contém nenhuma
revelação especial, mas mostra como Paulo e seus
companheiros põem em prática as exortações contidas
em outras epístolas. “Revesti-vos, pois, como eleitos de
Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia,
de bondade, de h u m ild ad e...” escreveu ele aos
colossenses (Colossenses 3:12; compare o v. 5 de
Filemom com Efésios 1:15). Era precisam ente em
Colossos que vivia Filemom, um homem piedoso, amigo
do apóstolo; ele era rico, pois tinha escravos. Um deles,
Onésimo, depois de fugir de sua casa, encontrou o
apóstolo Paulo, prisioneiro em Roma, e se converteu.
Agora o apóstolo o envia de volta à casa de seu amo,
levando consigo esta comovente mensagem. Isto era agir
contrário ao que a lei ordenava: “Não entregarás ao seu
senhor o escravo que, tendo fugido dele, se acolher a ti.
Contigo ficará...” (Deuteronômio 23:15-16). A lei, por
um lado, levava em conta a dureza de coração do homem.
O próprio Senhor Jesus disse, ao falar da carta de divórcio:
“Por causa da dureza do vosso coração, ele [Moisés] vos
deixou escrito esse mandamento” (Marcos 10:5). Aqui, a
graça na vida do apóstolo leva em conta essa mesma
graça presente no coração de Filemom. Paulo conhece
bem o amor de Filemom por todos os santos (v. 5), por
meio das provas que deu dele (v. 7).

425
Filemom 13-25

Onésimo significa “útil”. Outrora um escravo inútil,


de agora em diante ele merecia seu nome (v. 11). Mais
que isso, ele se havia tornado um amado e fiel irmão (v.
16; Colossenses 4:9). Nenhum nome é mais precioso que
o de irmão, e ele convém tanto ao amo como ao escravo
cristão (final do v. 7; v. 20). Paulo, por sua parte, não se
valia de nenhum outro título que os de “velho” e
“prisioneiro de Cristo Jesus” (v. 9). Se ele tivesse pensado
só em si mesmo, não se teria privado dos serviços de
Onésimo. Mas desejava que fosse dada a oportunidade
© a Onésimo de dar testemunho na casa na qual se tinha
conduzido mal noutros tempos; ® a Filemom de
comprovar por si mesmo os frutos desta conversão e de
confirmar o amor “para com ele” (2 Coríntios 2:8).
Esta história de Onésimo, em certo sentido, é a nossa
própria história. Éramos como escravos rebeldes que
seguíamos o caminho de nossa própria vontade, mas
fomos achados e reconduzidos ao nosso Senhor, não
mais para ser colocados sob servidão, mas com os que
Ele chama de Seus irmãos amados (compare Filemom
16 e João 15:15). Paulo é aqui a imagem do Senhor,
pagando a nossa dívida e intercedendo por nós (w.
17-19).
Que esta epístola nos ensine a introduzir em nossa
vida diária o cristianismo prático: o esquecimento de nós
mesmos, a delicadeza, a humildade, a graça... resumindo,
todas as múltiplas evidências do amor.

426
Hebreus 1:1-14

O autor da epístola aos Hebreus é provavelmente o


apóstolo Paulo. No entanto, ele não se identifica para deixar
todo o lugar ao Senhor Jesus, o grande “Apóstolo... da
nossa confissão ” (Hebreus 3:1). Depois de haver falado por
meio de instrumentos tão diferentes, Deus finalmente fala a
Israel e aos homens por meio de Seu próprio Filho (Marcos
12 : 6).
Ele é “o Verbo”, a plena e definitiva revelação de
Deus. A fim de nos dar uma idéia mais elevada, Ele nos
ensina quem é este Filho: o herdeiro de tudo, o Criador
dos mundos, o resplendor de Sua glória, a própria
imagem de Sua pessoa, Aquele que sustenta todas as
coisas (João 1:1 e 18). Bendito Senhor, Ele que fez os
mundos e fez também a purificação de nossos pecados.
Para a criação, bastou Sua palavra, mas, para a obra da
salvação, Ele teve de pagar o supremo preço: Sua própria
vida.
Uma série de citações dos salmos messiânicos (2,45,
102, 110...) estabelece a exaltação e a supremacia do
Filho de Deus. Os anjos são criaturas, o Senhor Jesus é o
Criador; eles são servos, Ele é o Senhor. Os anjos, de
maneira invisível, ministram a nosso favor; somente Jesus
tornou possível a purificação dos meus e dos seus
pecados, leitor. E o que Ele é realça de m odo
incomparável o valor do que Ele tem feito.

427
Hebreus 2:1-9

“Deus... nos falou pelo Filho.. “Por esta razão” —


inicia o capítulo 2 — “importa que nos apeguemos, com
mais firmeza, às verdades ouvidas.” Anteriormente, no
monte santo, uma voz celestial ordenou solenemente que
os três discípulos não ouvissem a Moisés e a Elias, mas
sim ao Filho Amado. “Então, eles, levantando os olhos,
a ninguém viram, senão Jesus” (Mateus 17:5-8).
Nós também, pela fé, “vemos... Jesus” (v. 9). O
capítulo 1 nos ap resen ta Jesus com o C riador e
Prim ogênito. Aqui Ele aparece com o o H om em
glorificado e o Conquistador da morte. No capítulo 1, os
anjos de Deus O adoram; no capítulo 2, o Senhor Jesus
foi feito um pouco menor que eles pelo infinitamente
amargo sofrimento da morte que Ele experimentou (fim
do v. 9). Porém, o Salmo 8 citado aqui nos revela todo o
propósito de Deus em relação a “Jesus Cristo homem”.
Uma coroa de honra e glória está sobre Sua cabeça; o
domínio universal Lhe pertence por direito; e em breve
todos se prostrarão debaixo de Sua lei. Mas a posição que
o “Autor da salvação” presentemente ocupa, proclama a
excelência da salvação. E como escaparemos nós, se
negligenciarmos tão grande salvação? (10:29). Preste
atenção: adiar é negligenciar. Corramos com urgência
para tomar posse desta “tão grande salvação”.

428
Hebreus 2:10-18

C onvinha a Deus aperfeiçoar “por meio de


sofrimentos, o Autor da salvação”. “Todavia, ao Senhor
agradou moê-lo, fazendo-o enfermar”, registra Isaías
53:10. E com que propósito? Para trazer muitos filhos à
glória. “Quando der ele a sua alma como oferta pelo
pecado, verá a sua posteridade”, acrescenta o profeta.
Estes filhos que Deus deu a Cristo a fim de que sejam
Seus companheiros na glória são os amados redimidos.
“Por isso, é que ele não se envergonha de lhes chamar
irmãos” (v. 11). Mas para que pudesse tratar das causas
destes, Ele mesmo teve de se tornar semelhante a eles,
assumindo a forma de Homem (v. 14). O capítulo 2 nos
dá algumas razões inestimáveis para esse grande mistério:
© O Senhor Jesus entrou em nossa natureza para
glorificar a Deus e permitir-lhe cumprir todos os Seus
propósitos em relação à humanidade.
© Ele se encarnou para que pudesse morrer e assim
triunfar sobre o príncipe da morte na própria fortaleza do
inimigo.
© Jesus revestiu-se da nossa humanidade a fim de
penetrar nas aflições e compreendê-las do ponto de vista
do coração hum ano. Sua própria experiência do
sofrimento permite-lhe simpatizar totalmente com nossas
provações como fiel e misericordioso Sumo Sacerdote
que é. Que grande consolo para os aflitos!

429
Hebreus 3:1-15

A epístola aos Hebreus tem sido chamada de “a


epístola dos céus a b e r t o s E a quem contemplamos nos
céus? Ao Senhor Jesus, o Apóstolo— ou seja, o porta-voz
de Deus diante dos homens — e o Sumo Sacerdote — o
porta-voz dos homens diante de Deus. Ao escrever para
os cristãos hebreus, o autor mostrará, baseado na própria
história deles, como o Senhor Jesus encerra e excede em
si mesmo as glórias que os judeus tanto honravam: as de
Moisés (cap. 3), as de Josué (cap. 4) e as de Arão (cap.
5). Mas não podemos conhecer o Senhor sem, ao mesmo
tempo, reconhecer a perversidade do coração humano,
beus o chama de “perverso coração de incredulidade”
(v. 12), e nos lembra de que ele é a raiz de todos os nossos
males. “Estes sempre erram no coração” (v. 10 e Marcos
7:21).
Esta á a razão pela qual aquele que ouve a voz do
Senhor (e quem ousa dizer que nunca a ouviu?) é
solenemente exortado em três ocasiões a não endurecer
o coração (w. 7; 15; 4:7). Geralmente limitamos estas
exortações ao evangelho da cruz. Porém, os que são
cristãos têm a oportunidade diária de ouvir a voz do
Senhor em Sua Palavra. Que possamos nos guardar de
toda forma de endurecimento, quaisquer que sejam Suas
exigências para nós hoje!

430
Hebreus 3 :1 6 -1 9 ; 4 :1 -7

O descanso de Deus no sétimo dia após a criação foi


logo perturbado pelo pecado do homem. E desde então
a obra do Pai e do Filho para a redenção nunca cessou
(João 5:17). Mas aprendemos aqui que:
Deus sempre tem em vista Seu descanso.
Este descanso é futuro e não pode ser confundido
com o estabelecimento do povo em Canaã sob a liderança
de Josué. Israel desfrutará do descanso terreno no milênio,
enquanto a Igreja o desfrutará na glória celeste.
Apesar de Deus desejar compartilhar Seu descanso
com Suas criaturas, nem todas entrarão nele.
Como outrora, no deserto, a incredulidade (3:19) e
a desobediência (4:6) impedem o acesso à promessa.
João 3:36 nos mostra, além disso, que aquele que
desobedece é semelhante ao que não crê. E a obra de
Deus é crer “naquele que por ele foi enviado” (João 6:29).
Infelizmente, a condição de Israel era a mesma de milhões
hoje em dia: “a palavra que ouviram não lhes aproveitou,
uisto não ter sido acompanhada pela fé ” (4:2 e Romanos
10:17).
E unicamente a obediência ao Senhor que nos
permite entrar agora na obra de Sua graça e que nos
prepara para desfrutar do descanso do Seu amor no futuro
(Sofonias 3:17).

431
Hebreus 4:8-16

Até que, como filhos de Deus, entremos no descanso


do Senhor, ainda teremos de enfrentar a dura lida do
nosso caminhar, do servir e do combater. Mas não somos
deixados sem recursos. O primeiro recurso que este
capítulo menciona é a Palavra de Deus. Hoje ouvimos
Sua voz... Esta Palavra cuida do nosso estado interior.
Ela é uiva: ela nos traz à vida; eficaz: ela faz a obra em nós
(Efésios 6:17, por outro lado, a apresenta como arma de
guerra). E, finalmente penetrante — permitamos que ela
perscrute toda a nossa vida.
Além do pecado, que a Palavra de Deus expõe e
condena, há em nós debilidade e fraquezas. Deus
providenciou dois outros recursos para combatê-las. Ele
nos deu um grande S u m o Sacerdote, cheio de
m isericórdia e com paixão. Como Homem, Cristo
experimentou toda espécie de sofrimento, a fim de em
“ocasião oportuna”, mostrar Seu multiforme amor para
com Seus fracos redimidos.
Em segundo lugar, Ele nos abriu o caminho ao trono
da graça. Somos exortados a nos aproximar deste trono
com tamanha confidência e liberdade, porque é ali que
encontramos nosso amado Salvador. É ali, e somente ali,
que procuramos ajuda? (Salmo 60:11).

432
Hebreus 5:1-14

Que contraste há entre o santo Filho de Deus e o


sacerdote escolhido entre os homens e forçado a ser
tolerante por causa de suas próprias fraquezas. O versículo
8 expõe outra diferença. No que se refere a nós,
precisam os aprender a obedecer porque som os
essencialmente desobedientes. O Filho de Deus teve de
aprender a obediência por uma razão completamente
distinta. Como soberano Criador, Ele não estava sujeito
a ninguém. Obedecer era uma experiência totalmente
nova para Ele. E neste aspecto, Ele é o exemplo e o
modelo de obediência “para todos os que lhe obedecem”
(v. 9).
Em qualquer grupo, o líder investido da maior
autoridade é aquele que prim eiro executou, nas
condições mais difíceis, as tarefas que delega
posteriorm ente aos seus liderados. Aprendam os a
obedecer na escola do Senhor Jesus. Mas que tipo de
aprendizes nós somos? Será que a expressão do versículo
11, “tardios para ouvir”, não se aplica a nós? A Palavra
de Deus aqui não é, como no versículo 4, a espada que
discerne os pensamentos do coração, mas, sim, o sólido
alimento que fortalece os filhos de Deus e os capacita a
reconhecer o bem e o mal por si mesmos. Tomar-se cada
vez mais sensível ao que agrada e ao que não agrada ao
Senhor é um grande avanço para qualquer cristão.

433
Hebreus 6:1-20

Avancemos agora até a maturidade espiritual. Não


nos contentemos, como estes cristãos que abandonaram
o judaísmo, em conhecer algumas verdades elementares.
O Senhor Jesus quer ser para nós mais que um Salvador
de obras mortas; Ele deseja ser nosso Senhor, nosso
Exemplo, nosso Melhor Amigo...
Os versículos de 4 a 6 são usados freqüentemente
pelo diabo para perturbar os filhos de Deus. Na realidade,
estes versículos foram escritos para aqueles que se dizem
cristãos sem de fato o serem. No estado moral descrito
aqui, não se pode achar nenhum traço da vida divina
comunicada à alma do verdadeiro crente. Isso acontece
porque, infelizmente, é possível viver em meio aos
privilégios cristãos sem ter passado por uma conversão
genuína! Isso era verdade para certos judeus; e talvez
também o seja para filhos de pais cristãos. Verdadeiros
cristãos nunca podem perder a salvação. Mas correm
sério risco de perder o zelo. Tal como o trabalho de amor
que Deus não esquece, a /é e a esperança não podem ser
negligenciadas (w. 10,11,12). Elas são alimentadas pelas
promessas divinas. O cristão conhece seu porto de
chegada mesmo quando não consegue vê-lo; sua âncora
está ali. Por mais agitado que seja o mar desta vida, a fé
é a corda que une firmemente o resgatado ao imutável
lugar celeste onde está o Objeto de sua esperança.

434
Hebreus 7:1-17

O autor da epístola tinha muitas coisas a dizer sobre


Melquisedeque (5:11). Esta personagem misteriosa
atravessa a história de Abraão (Gênesis 14), atuando
como mediador, abençoando Abraão por parte do Deus
Altíssimo, e, em seguida, bendizendo ao Deus Altíssimo
por parte de Abraão. Entretanto, tudo o que concerne à
sua pessoa e à sua origem é envolto em sombras. E
podemos entender a razão. O que interessa ao Espírito de
Deus não é o homem, mas, sim, a sua obra. Como rei e
sacerdote, Melquisedeque é um símbolo do Senhor Jesus:
Ele reinará em justiça e será sacerdote em Seu trono. O
sacerdócio segundo a ordem de Melquisedeque é, em
muitos aspectos, superior ao de Arão:
Seu titular é mais excelente que Abraão, uma vez que
este patriarca deu o dízimo a Melquisedeque e foi
abençoado por ele.
Foi estabelecido antes do surgimento da nação de
Israel, não era exercido somente em favor deste povo,
mas de todo crente.
Por último, é intransferível, pois o que está a cargo
deste serviço permanece uivo para sempre (Romanos
8:34).
Muitas pessoas na cristandade pensam que é
necessário recorrer a intermediários, “santos”, sacerdotes
etc. Esta epístola ensina que Deus nos concedeu um Sumo
Sacerdote, perfeito e suficiente por toda a eternidade
( 10:21 -22 ).

435
Hebreus 7:18-28

Até que fosse feito “mais alto do que os céus”, Jesus


não podia ser nosso Sumo Sacerdote. Para que fosse
capaz de nos representar diante de Deus, era necessário
que, em primeiro lugar, He oferecesse a si mesmo por
nós. Acima de tudo, precisávamos de um Redentor. Mas
agora o Salvador de nossa alma é também Aquele que
nos salva perpetuamente, ou seja, o que cuida de nós até
que entremos em Sua glória. E como vive para sempre,
temos a plena segurança de que Ele nunca nos faltará. De
fato, “nos convinha um sumo sacerdote com este”. Sua
perfeição moral, expressa de todas as formas, e Sua
posição gloriosa diante de Deus nos levam a exclamar:
“Olha, ó Deus... e contempla o rosto do teu ungido”
(Salmo 84:9).
Em breve, não teremos mais necessidade de Sua
intercessão. Ela cessará quando todos os redimidos
chegarem ao final da peregrinação. Por que, então,
repete-se a frase “Tu és sacerdote para sempre”? (5:6;
6:20; 7:17,21). Porque é o sacerdote que também conduz
o louvor— um serviço etemo que nosso amado Salvador
não exercerá mais sozinho. Ele será acom panhado
daqueles que salvou inteiramente, e que permanecerão a
Seu lado para sempre na glória (2:12).

436
Hebreus 8:1-13

A antiga aliança do Sinai fora quebrada pelo pecado


de Israel. Uma nova aliança, predita em Jeremias 31:31,
é feita com este povo. Provas cabais têm sido dadas de
que o homem é incapaz de cumprir as promessas feitas a
Deus, portanto, nesta nova aliança, não há mais
condições que o homem tenha de satisfazer (Romanos
11:27). Ela é baseada unicamente no sangue de Cristo,
também chamado de “o sangue da [nova] aliança”
(Mateus 26:28). Quatro aspectos a caracterizam:
Os mandamentos do Senhor estarão escritos no
coração dos homens— haverá um chamamento ao amor.
Israel voltará a seu relacionamento como povo do
Senhor (v. 10; Zacarias 8:8).
O conhecimento do Senhor será comum a todos (v.
11; Isaías 54:13).
Deus não se lembrará mais nem dos pecados nem
das iniqüidades (v. 12).
Os cristãos, por sua vez, não estão sob um pacto, pois
que necessidade há de um pacto entre pai e filho? Mas
eles desfrutam de todas as bênçãos prometidas a Israel, e
de muito mais. A Palavra divina está implantada neles
(2 Coríntios 3:3). Eles são filhos de Deus agora.
Conhecem a Deus por meio do Espírito Santo que habita
neles. Têm total segurança de que seus pecados foram
apagados para sempre.
Querido leitor, esses privilégios também são seus?

437
Hebreus 9:1-15

Os capítulos 35 a 40 de Exodo relatam como o


tabernáculo foi construído. O livro de Levítico dá
instruções acerca dos sacrifícios (capítulos 1 a 7), e,
portanto, aos sacerdotes (capítulos 8 a 12). Porém, todas
estas ordenanças do culto terreno demonstram sua terrível
ineficiência. O tabernáculo estava dividido por um véu
intransponível. O sacerdote, pecador, era obrigado a
oferecer um sacrifício por seus próprios pecados (v. 7;
5:3). Finalmente, os sacrifícios de bezerros e bodes eram
“no tocante à consciência, ineficazes para aperfeiçoar
aquele que presta culto” (v. 9).
Deus, então, nos fala do “maior e mais perfeito
tabernáculo, não feito por mãos” (v. 11; 8:2). Mas de que
ele serviría se não houvesse um sacerdote capaz de
ministrar? E de que nos serviría um sacerdote perfeito
(capítulos 5 a 8) se o sacrifício fosse imperfeito? (capítulos
9 a 10). Para nossa completa segurança, o Senhor Jesus
é, ao mesmo tempo, um e outro. Como sacrifício, Ele nos
dá paz de consciência. Como sacerdote, Ele nos dá paz
de coração e nos mantém em comunhão com Deus. Sob
a antiga aliança, tudo era incerto e condicional. Agora
tudo é eterno: tanto nossa redenção (v. 12; 5:9) quanto
nossa herança (v. 15). Nada e ninguém pode tirá-las de
nós e nem mesmo questioná-las.

438
Hebreus 9:16-28

“Sem derramamento de sangue, não há remissão”


(v. 22; Levítico 17:11). O que cada sacrifício da antiga
aliança proclamava, e que Abel já havia entendido pela
fé (11:4), é confirmado aqui categoricamente. “O salário
do pecado é a morte” (Romanos 6:23) e o sangue
derramado na terra é a prova cabal de que a dívida fora
paga (Deuteronômio 12:23-24). O sangue de Cristo foi
“derram ado em favor de muitos, para remissão de
pecados” (Mateus 26:28). Quem são estes muitos? Todos
os que creem! 0 precioso sangue de Jesus, eternamente
contemplado por Deus, os protege da ira divina, pois
“aos homens está ordenado morrerem uma só vez... A
reencamação não é possível.
Todavia, nem tudo acaba com a morte, e ela
representa pouca coisa quando comparada ao que segue.
O que há depois da morte? Uma palavra basta para revelar
o mistério: “... depois disto, o juízo” (2 Timóteo 4:1;
Apocalipse 20:12). A pessoa sem Deus tem diante de si
duas terríveis realidades: morte e julgamento. Mas o
redimido possui duas maravilhosas certezas: o perdão de
todos os seus pecados e a volta do Senhor para a
libertação final (v. 28). Que cada um de nossos leitores
esteja entre os que “o aguardam para a salvação”.

439
Hebreus 10:1-18

A repetição infindável dos sacrifícios da antiga aliança


demonstrava que eles eram ineficientes. Na verdade,
eram apenas recordações dos pecados (v. 3). A justiça
divina não estava satisfeita e, além disso, Deus não se
agradava deles. Então Alguém se apresentou para liquidar
esta questão. O Pai agradava-se somente do Senhor
Jesus, portanto só Ele podería ser o sacrifício aceitável, a
Vítima santa oferecida para sempre. E nquanto os
sacerdotes se mantinham de pé, pois o serviço deles nunca
cessava, Cristo assentou-se à destra de Deus, prova cabal
de que Sua obra estava terminada. E o que se assentou
para sempre nos aperfeiçoou para sempre. Sim, perfeitos,
pois é assim que Deus nos vê quando nossos pecados
estão remidos. E não se trata de algo futuro: esta já é uma
questão resolvida e definitiva.
Mas não esqueçam os que obra feita por nós é
acompanhada por uma obra feita em nós. O Senhor
deseja colocar Seu amor e Seus mandamentos em nosso
coração (v. 16; 8:10). Jesus disse ao Pai, quando estava
prestes a entrar no mundo: “Agrada-me fazer a tua
vontade, ó Deus meu; dentro do meu coração, está a tua
lei” (v. 7, 9; Salmo 40:6-8). E esta é a vontade que o
Senhor Jesus anseia que também esteja na vida de cada
um de Seus redimidos.

440
Hebreus 10:19-31

A obra da graça findou-se. Aquele que a cumpriu foi


feito “mais alto do que os céus” (7:26). Seguindo Seus
passos, somos convidados a entrar pelo novo e vivo
cam inho, aberto definitivamente para o adorador.
O sangue do Senhor Jesus, o véu rasgado, a intercessão
do Sumo sacerdote por nós, tudo oferece total segurança
à nossa fé. A proxim em o-nos, irmãos, com plena
liberdade. Que nada nos impeça de entrar no Santo
dos Santos... nem de comparecer às reuniões dos
filhos de Deus (v. 25). Não nos convertemos para viver
isolados, como egoístas. Encorajemos uns aos outros ao
amor e à devoção.
O final do capítulo é particularmente solene. Pecar
voluntariamente era, para os judeus que professavam o
cristianismo, voltar à lei, pisotear o Santo Filho de Deus,
envilecer Seu precioso sangue e desprezar Sua graça.
Isso pode ser aplicado à vida dos filhos de pais cristãos
que rejeitam as instruções recebidas na infância e
deliberadamente escolhem os caminhos do mundo.
Amigos jovens que possuem tais privilégios, o caminho
do céu não estará sem pre aberto para vocês.
Aproximem-se dele agora (João 6:37)!

441
Hebreus 10:32-39; 11:1-7

Os hebreus cristãos haviam aceitado — alegremente


— a perda de seus bens terrenos (Mateus 5:12). Qual era
0 segredo deles? A fé que se apropriava de bens mais
excelentes, os quais estavam fora do alcance dos
perseguidores. Mas a fé não é apenas necessária nos dias
maus ou para a conversão; é o princípio vivo e vital do
justo. Ela faz o futuro ser presente e o invisível visível.
Aqueles que não têm fé não são capazes de perseverar.
Eles retrocedem e Deus não se agrada dos tais (v. 38; 4:2;
1 Coríntios 10:5). Sem fé — repete o versículo 6 do
capítulo 11 — é impossível agradar a Deus. Ele agora
nos mostrará algumas pessoas nas quais tem muito prazer
(Salmo 16:3).
O capítulo 11 ilustra diferentes aspectos da fé na vida
de várias testemunhas do Antigo Testamento. Em Abel,
vemos a fé se apropriar da redenção ao oferecer a Deus
um sacrifício aceitável. Em Enoque, ela caminha em
direção ao alvo celestial. Em Noé, ela condena o mundo
e prega a justiça divina.
A fé caracteriza toda a vida cristã. E quando se chega
aos últimos passos deste andar pela fé, não é tempo de
perder a confiança. “Porque, ainda dentro de pouco
tempo, aquele que vem virá” (v. 37). Esta afirmação é
suficiente. O Senhor Jesus é aquele que vem; nós somos
os que o aguardam (9:28).

442
Hebreus 11:8-16

Mais uma vez na Bíblia, Abraão e sua família são


escolhidos por Deus, desta vez para nos ensinar o que é
a fé. “Abraão, quando chamado, obedeceu.” Obedecer
a alguém sem conhecer suas intenções é prova de inteira
confiança. Quando é Deus que manda, a fé é capaz de
“ir” (v. 8), mas também de ficar (v. 9).
O patriarca decidiu “habitar em Harã” (Atos 7:4)
quando deveria ter ido para Canaã; decidiu descer ao
Egito quando deveria ficar na terra onde morava (Gênesis
12:10). Mas Deus preferiu não levar em conta estes erros,
da mesma maneira que preferiu permanecer em silêncio
sobre o riso de Sara, sobre o triste fim da história de
Isaque e sobre a triste partida de Jacó. Da vida de Seu
povo, Ele lembra somente o que pode glorificá-lo, e isto
apenas a fé pode fazer.
E impossível ter duas pátrias ao mesmo tempo. Por
isso, a promessa de uma cidade celestial tez de Abraão e
de sua família estrangeiros neste mundo. Eles não
temeram confessar tal coisa (v. 13; Gênesis 23:4),
mostrando claramente esse fato ao habitarem em tendas
(2 Coríntios 4:18; 5:1). Não tiveram vergonha de seu
Deus, razão pela qual Deus não teve vergonha deles. Ele
identifica-se como o “Deus de Abraão, de Isaque e de
Jacó” (Êxodo 3:6; Marcos 12:26). Querido leitor, você
tem o direito de chamá-lo de “meu Deus”?

443
Hebreus 11:17-31

O sacrifício de Isaque provou que Abraão cria na


ressurreição (Romanos 4:17) e que ele amava mais a
Deus do que a seu único filho. A longa história de Jacó é
contada pelo seu bordão, que era um instrumento de
pastor, o apoio do peregrino e do coxo e, finalmente, do
adorador (v. 21). Poderia-se pensar que o discernimento
de Isaque foi muito tardio e que havería outro fato mais
memorável acerca de José que a simples recomendação
que ele fez a respeito de seus ossos. Mas cada um desses
patriarcas proclam a, à sua m aneira, a esperança
inabalável nas coisas futuras. Moisés recusou... preferiu...
considerou... pois seus olhos contemplavam o galardão
(10:35). Ele abandonou... não tem eu... permaneceu
firme... porque viu Aquele que é invisível.
A fé é o único instrumento que nos permite medir o
real valor e a duração relativa de todas as coisas. Ao
mesmo tempo, a fé é a energia interior que nos dá a
habilidade de triunfar tanto sobre os obstáculos — a ira
do Faraó, o mar Vermelho, Jerico —, como sobre os
desejos egoístas: os prazeres do pecado e as riquezas do
Egito. Sim, a fé é dinâmica e duradoura. E se o exemplo
de Moisés parecer muito elevado, encorajemo-nos com o
de Raabe. Sejam quais forem as circunstâncias, Deus
procura pelos frutos visíveis da nossa fé.

444
Hebreus 11:32-40; 12:1-3

A partir do versículo 32, estamos na terra de Canaã.


Ali encontramos juizes, reis, profetas, enfim, uma grande
nuvem de testem unhas nos cerca, as quais nos
precederam e esperam que sejamos habilitados a tomar
posse das promessas (w. 39 e 40). Durante os tempos
tenebrosos, a tocha da fé passou de mão em mão sem
jamais se apagar. Somente Deus conhece a lista desses
mártires e a mantém atualizada. Cada crente tem sua
própria página no livro da fidelidade. O exército conta
com batedores (capítulo 11) e com um maravilhoso
Capitão; nós somos a retaguarda. Atualmente, é a nossa
vez de estar nesta “corrida de revezamento”. O que
devemos fazer para correr bem? Não podemos estar
sobrecarregados nem engodados. Comecemos por jogar
fora qualquer peso e bagagem inútil. Afastemo-nos do
pecado, essa rede que nos faz tropeçar tão facilmente!
Mas isso não é tudo! Precisamos de um objetivo que,
semelhante a um forte ímã, nos atraia. Fixemos nossos
olhos no Senhor Jesus, o Guia e Exemplo de uma vida de
fé, seu Autor e Consumador. Ele também tinha um
objetivo diante de Si, mais poderoso que a cruz, a
vergonha e o sofrimento: era a “plenitude de alegria” que
deveria coroar a vida daquele que tem fé, segundo o
Salmo 16:11.

445
Hebteus 12:4-17

No seio familiar, a criança está sujeita à disciplina


paterna que pode causar-lhe algumas lágrimas, mas
quando for adulta certamente agradecerá a seus pais por
tal correção. Se somos filhas e filhos de Deus, é impossível
não experimentarmos Sua disciplina (v. 8), pois o Deus
santo deseja que Seus filhos correspondam à Sua própria
imagem (v. 10).
Contudo, esta disciplina poderia levar-nos a duas
reações opostas: primeiramente, poderiamos desprezá-la
e não lhe dar o devido valor. Porém, temos de ser
“exercitados”nela; ou seja, temos de nos julgar diante de
Deus, indagando o motivo pelo qual o Senhor permitiu
tal provação (Jó 5:17). A outra reação perigosa é o
desânimo (v. 5; Efésios 3:13). Se este for o caso,
lembremo-nos como o crente sob disciplina é chamado:
“porque o Senhor corrige a quem ama” (v. 6). Sigamos
“a paz com todos”, desde que não tenhamos de abrir
mão da santidade (v. 14). Não esqueçamos que nós
mesmos som os objeto da graça e arranquem os
definitivamente de nosso coração as raízes de amargura
(literalmente “germes de veneno”). A princípio ocultas,
elas mais cedo ou mais tarde se manifestarão se não forem
julgadas imediatamente (Deuteronômio 29:18).
Esaú, que não pôde ter seu nome junto ao de outros
m em bros de sua família no capítulo anterior, é
mencionado aqui para vergonha eterna. Que nenhum de
nós seja igual a ele!

446
Hebreus 12:18-29

Novamente aqui é ressaltada a diferença entre o que


a lei oferecia e o que o cristão possui em Cristo. Em vez
do terrível Sinai, a graça que Deus manifestará em Sião
no reino vindouro do Messias (Salmo 2:6). Mas os filhos
de Deus são conduzidos a uma classe mais elevada de
bênçãos. Eles são convidados a escalar a montanha da
graça, a entrar pela fé na “cidade do Deus vivo”, a
Jerusalém celestial, e a saudar seus habitantes. Ali
encontrarão m uitos m ilhares de anjos, depois a
“congregação dos primogênitos”, ou seja, a Igreja. Ao
final, o próprio Deus, o “Juiz de todos”, os receberá como
redimidos por Seu Filho. Voltando à base da montanha,
aos fundamentos de toda essa glória, encontrarão os
espíritos dos que foram “aperfeiçoados” (capítulo 11), e
o Senhor Jesus, “o Mediador da nova aliança” selada
com Seu próprio sangue.
Certo cântico diz que “o céu é nossa casa”. Se todas
as coisas terrenas são mutáveis e passageiras, o cristão
recebe um reino inabalável; tem o nome escrito nos céus
(Lucas 10:20). E a mesma graça que nos dá acesso a tudo
isso, também nos permite servir ao Deus santo — não da
maneira que é aceitável a nós, mas a Ele. A reverência e
o temor de desagradar ao Senhor nos manterão no
caminho de Sua vontade.

447
Hebreus 13:1-16

O amor fraternal pode ser exercido de várias formas:


a hospitalidade que abençoa quem a pratica (v. 2); a
empatia que se identifica com os que sofrem (v. 3; 10:34);
a beneficência na qual Deus tem prazer (v. 16).
Infelizmente, a avareza tem muitas faces. Podemos
amar não somente o dinheiro que possuímos, mas aquele
que esperamos possuir. Aprendamos a estar contentes
com o que temos agora. E para as necessidades e os
perigos de amanhã, apoiemo-nos “confiadamente” na
fidelidade do Senhor (v. 6; Mateus 6:31-34). Ele, que é
nosso Ajudador, não muda. “Tu, porém, és o mesmo”
(1:12). O versículo 8 do capítulo 13 conclui com uma
afirmação de insondável alcance: “Jesus Cristo, ontem e
hoje, é o mesmo e o será para sempre”. Se Ele é suficiente
para nós, as “doutrinas várias e estranhas” do versículo 9
não nos enredarão. Estejamos prontos a abandonar o
acampamento da mera formalidade religiosa (Êxodo
33:7) e ir até o Senhor Jesus somente, ao lugar onde Sua
presença está prom etida. Ele ofereceu o suprem o
sacrifício. Nosso privilégio, em troca, é oferecer a Deus,
não apenas aos sábados, mas continuamente, um
sacrifício de louvor, o fruto de nossos lábios que primeiro
amadurece em nosso coração (Salmo 45:1).

448
Hebreus 13:17-25

Tivemos líderes fiéis, portanto respeitemos a memória


deles, imitando sua fé — e lendo seus escritos (v. 7). Hoje
também Deus coloca líderes sobre nós (w. 17,24). Qual
é o nosso dever para com eles? Obedecer-lhes, orar por
eles (v. 8) e atuar de modo que eles possam cumprir o
serviço com alegria, uma vez que velam por nossa alma.
Devemos também aceitar as palavras de exortação que
eles nos dirigem (v. 12). Acima de tudo, não permitamos
que o comportamento do obreiro do Senhor faça com
que percamos de vista o “grande Pastor das ovelhas”.
Somente Ele deu Sua vida por elas e agora as conduz
para fora do acampamento da religião humana. A partir
desse momento, todos os cristãos formam um único
rebanho que tem por cabeça um único Pastor (João 10:4,
16).
Neste capítulo, os elementos do judaísm o são
eliminados um por um e substituídos pelas gloriosas
verdades cristãs, resumidas em Cristo Jesus. Finalmente,
esta é a obra que Deus está realizando em nós (v. 21): Ele
quebra todos os vínculos do passado, e despoja-nos de
todo formalismo a fim de que possamos nos apegar a Seu
Filho ressurreto e glorificado. Enquanto esperamos Sua
vinda iminente, que esta epístola nos ensine agora a fixar
nossos olhos nEle pela fé (12:2).

449
Tiago 1:1-12

Nesta epístola, Tiago se dirige aos seus irmãos cristãos


que saíram do judaísmo, mas que não tinham ainda
abandonado todos os seus vínculos. Ele os convida a
suportar provações com “toda alegria”, dois estados que
estão em aparente conflito. Entretanto, alguns dos cristãos
hebreus já haviam vivido tal situação. Suas experiências
endossavam a declaração de Paulo: “Mas também nos
gloriamos nas tribulações; sabendo que a tribulação
produz [cultiva] a perseverança,” (Romanos 5:3; vide
também Colossenses 1:11). Outra aparente contradição
encontra-se no fato de que a perseverança implica
aguardar por algo que ainda não temos; contudo, Tiago
acrescenta, “para que não sejais... em nada deficientes”.
O que verdadeiramente nos faz falta não são os bens do
mundo, mas a sabedoria. Logo, peçamos ao Senhor
sabedoria conforme exemplo do jovem Salomão (1 Reis
3:9).
O cristão, mesmo pobre, não é em nada deficiente
porque este já tem o Senhor Jesus. Por outro lado, o rico
também pode gozar, com humildade, da comunhão com
Aquele que a si mesmo se esvaziou e se humilhou,
tornando-se obediente até a morte de cruz. Invejaremos,
pois, aqueles que passarão como a flor do campo?
T enham os em vista a coroa d a vida. Ela será a
recompensa daqueles que suportarem tribulações com
paciência, ou seja, será daqueles que amam ao Senhor
(final do versículo 12).

450
Tiago 1:13-27

Nos versículos 2 e 12, a palavra tentação significa


uma prova externa, a qual Deus permite acontecer para
nosso bem e, ao final, para nosso gozo. No versículo 13,
ser tentado possui um significado diferente: a palavra
supõe o mal. Interiormente, somos atraídos às tentações
por nossa própria concupiscência. Como poderia Deus
ser a causa disto? Não há trevas no “Pai das luzes” (vide
1 João 1:5). Aquele que nos enviou Seu próprio Filho
nos dá juntamente com Ele “toda boa dádiva” (Romanos
8:32). A fonte do mal se encontra em nós mesmos:
pensamentos malignos que dão origem a palavras e ações
más. Todavia, não basta apenas ter consciência disto,
caso contrário, seremos semelhantes àquele que vê sua
face suja em um espelho mas não a lava logo. A palavra
de Deus é o espelho. Ela mostra o homem tal como ele é;
ela o ensina a fazer o bem (4:17) — mas não pode fazê-lo
em seu lugar.
Em que consiste a “pura religião” reconhecida por
Deus, o Pai? Não são os cerimoniais vazios aos quais o
homem chama de “religião”. Ela nasce de duas posições
que o Senhor deixou a Seu povo: no mundo — para
manifestar o Seu amor; não do m undo— preservando-se
puro de sua influência (v. 27; João 17:11, 14, 16).

451
Tiago 2:1-13

Somos influenciados pelos valores mundanos, por


exemplo: dinheiro, condição social etc., muito mais que
imaginamos. Até mesmo Samuel precisou ser advertido
disto: “O homem vê o exterior, porém o S enhor, o
coração”. (1 Samuel 16:7). Você sabe o que a “acepção
de pessoas” levou o mundo a fazer? A desprezar e rejeitar
o Filho de Deus, porque Ele veio à terra como um homem
pobre (2 Coríntios 8:9). Hoje o gracioso nome de Cristo,
invocado pelos cristãos, ainda é objeto de zombaria e
blasfêmia. Entretanto, aqueles que levam Seu nome, os
pobres que o mundo despreza, são chamados herdeiros
do reino pelo Senhor (v. 5; Mateus 5:3). A eles é imposta
“a lei régia”, que é a lei do rei (v. 8). Quebrar o
mandamento do amor é transgredir toda a lei, assim como
quebrar um elo em uma corrente é suficiente para
rompê-la por inteiro. De modo que éram os todos
culpados, condenados pelo pecado. Mas Deus achou
maior glória na misericórdia do que no julgamento. Esta
misericórdia nos colocou sob uma “lei” bem diferente, a
lei da liberdade — a liberdade de uma nova natureza que
encontra seu prazer na obediência a Deus (1 Pedro 2:16).

452
Tiago 2:14-26

Algumas pessoas acreditam haver uma contradição


entre o ensino de Tiago e o de Paulo (Romanos 4). Na
verdade, cada ensino apresenta um aspecto distinto da
verdade. Paulo demonstra que a fé é suficiente para
sermos justificados diante de Deus. Tiago explica que,
para sermos justificados ante os olhos dos homens, as
obras são necessárias (v. 24; 1 João 3:10). Não é a raiz,
mas sim o fruto que comprova a qualidade de uma árvore
(Lucas 6:43, 44). A fé interior não pode ser manifestada
para outros a não ser por meio das obras. Não podemos
ver a eletricidade, mas o funcionamento de uma lâmpada
ou de um motor nos confirma a presença de corrente no
fio elétrico. A fé é um princípio ativo (v. 22), uma energia
interior que coloca as engrenagens do coração em
movimento. Paulo e Tiago ilustram seus ensinamentos
usando o m esm o exem plo de A braão, ao qual
comparamos também com o exemplo de Raabe. Pela
moral humana, o primeiro foi um pai criminoso e a
segunda foi uma mulher de má reputação que traiu seu
povo. As ações de ambos demonstraram claramente o
resultado da fé deles, a qual os levou a fazer os maiores
sacrifícios por Deus.
Amigo, talvez algum dia você já tenha dito que tem
fé. Mas será que você já demonstrou sua fé também?

453
Tiago 3:1-18

Do mesmo modo que a fé, quando verdadeira, se


manifesta através de obras, assim também a impureza do
coração, cedo ou tarde, se manifesta através de palavras.
Cada locomotiva possui uma válvula de escape por meio
da qual libera o excesso de pressão interna. Se deixarmos
esta pressão crescer dentro de nós sem tratá-la, ela
invariavelm ente nos trairá em palavras que não
conseguiremos refrear. Portanto, o Senhor nos chama a
atenção para a impureza de nossos lábios (Isaías 6:5) e
nos mostra que ela procede da abundância do nosso
coração (Mateus 12:34; 15:19; Provérbios 10:20).
Todavia, Ele nos convida a refletir e a separar “o precioso
do vil”, de forma que possamos ser como Sua boca
(Jeremias 15:19).
Existem muitos tipos de sabedoria. A verdadeira
sabedoria, que vem do alto, como toda boa dádiva,
descende do Pai da luzes (1:17). Nós a reconhecemos
por seus motivos, que são sempre puros, benignos e livres
de egoísmo.
Devemos reler estes versículos todas as vezes que
estivermos prestes a fazer mau uso de nossa língua:
brigando, mentindo (v. 14), maldizendo outros (4:11),
vangloriando-nos (4:16), resmungando (5:9), falando
obscenidades ou tolices (5:12; Efésios 4:29; 5:4).
Infelizmente, isto significa repetir esta leitura várias vezes
por dia!

454
Tiago 4:1-12

As disputas entre os filhos de Deus revelam de forma


evidente os desejos carnais de ambas as partes. O Senhor
nos ensina que isto é, na verdade, um obstáculo para que
nossas orações sejam respondidas (leia Marcos 11:25).
Existem duas razões para não obtermos resposta: a
primeira é porque não pedimos, “pois o que pede, recebe”
(Mateus 7:8); a segunda razão é porque pedimos mal.
Isto não se refere, contudo, à forma desajeitada de proferir
nossas orações (de qualquer modo, “não sabemos o que
havemos de pedir como convém” — Romanos 8:26),
mas sim a finalidade destas orações. Oramos para
glorificar o Senhor ou para satisfazer nossos próprios
desejos? Estes são princípios conflitantes. Amar o mundo
é trair a causa de nosso Deus, pois o mundo declarou
guerra contra Ele ao crucificar Seu Filho; não há espaço
para a neutralidade (Mateus 12:30).
A inveja e a luxúria são os ímãs com os quais o mundo
nos atrai. Todavia, aos que Lhe pertencem, Deus dá graça
infinitamente maior do que o mundo pode oferecer (v. 6;
Mateus 13:12). Dela desfrutam os que aprenderam a ser
mansos e humildes com o Salvador (Mateus 11:29). Mas,
para provar as virtudes da graça devemos primeiramente
reconhecer nossa própria miséria (w. 8-9; veja também
Joel 2:12-13).

455
Tiago 4:13-17; 5:1-6

As mesmas pessoas que fazem planos egoístas (w.


13-15; Isaías 56:12) freqüentemente também procuram
(Lucas 12:18,19) amealhar riquezas terrenas (5:16). Elas
desconhecem a vida de fé . Planejar o futuro
independentemente é substituir a vontade de Deus por
sua própria. Esta é uma atitude própria da incredulidade
— uma demonstração de que não cremos no retorno
eminente do Senhor. E tolice colocar a confiança em
riquezas nestes “últimos dias”. Os riscos inerentes às
fortunas: perda, roubo, desvalorização... servem para nos
mostrar que são riquezas corruptíveis, ouro e prata
corrompidos (ver Salmo 52:7). Por isso, o Senhor ordena:
“fazei para vós outros bolsas que não desgastem, tesouro
inextinguível nos céus, onde não chega o ladrão, nem a
traça consom e” (Lucas 12:33). O apego aos bens
materiais pode contribuir para o endurecimento do
coração — primeiramente com Deus, pois daí perdemos
o senso de dependência dEle e o senso das verdadeiras
necessidades da alma (Apocalipse 3:17); em seguida, com
o próximo, tomando-se mais difícil nos colocar no lugar
daqueles que sofrem necessidade (Provérbios 18:23).

456
Tiago 5:7-20

O outono é a estação de trabalho árduo. São


necessários de oito a dez meses de frio e calor, chuva e sol
alternados até que chegue a hora da nova colheita. Isto
exige muita paciência do agricultor. Assim como o
agricultor, nós também precisamos ser pacientes, “pois a
vinda do Senhor está próxima”. Precisamos fazer uso dos
recursos que estão à nossa disposição: em tempo de
alegria, cânticos; em tempo de tribulações (assim como
em todas as situações), a oração fervorosa da fé. Será que
já descobrimos as grandes coisas que a oração pode
operar? (“a oração do justo pode muito” — veja final do
versículo 31 de João 9). Os versículos 14 a 16, usados
para justificar todo tipo de prática errada no cristianismo,
são verdadeiros apenas se as condições mencionadas
forem mantidas. Todavia, um cristão dependente de Deus
nem sempre se achará na liberdade de pedir cura; pelo
contrário, este orará com outros irmãos para aceitar a
vontade de Deus em paz.
O final da epístola enfatiza o cuidado fraterno em
amor: a confissão de pecados uns aos outros (não de um
crente para um sacerdote), a oração uns pelos outros, o
cuidado com os necessitados. Há pouco espaço para
doutrina nesta epístola. Por outro lado, há grande ênfase
à prática da vida cristã. Que Deus não permita que nem
um de nós seja “ouvinte negligente, m as operoso
praticante” (1:25).

457
1 Pedro 1:1-12

Mesmo antes de Pedro negá-LO, o Senhor já lhe havia


dito: “Tu, pois, quando te converteres, fortalece os teus
irmãos” (Lucas 22:32). O apóstolo exerce esta tarefa nesta
epístola. Ele nos faz lembrar de nossos inestimáveis
privilégios: a salvação da alma (v. 9) e uma herança
incorruptível no céu (v. 4). Deus não apenas guarda a
herança para Seus herdeiros, mas também guarda os
herdeiros para Sua herança. Os herdeiros já podem
provar o gosto da herança mesmo agora no presente:
“alegria indizível e cheia de glória”. Esta herança tem
como base a esperança viva que eles possuem na pessoa
viva de Jesus Cristo, ressurreto dentre os mortos (v. 3); a
fé (w. 5, 7); o amor por Aquele que ainda não foi visto
pelos remidos, mas que é bem conhecido no coração
deles (v. 8). Quanto mais amarmos o Senhor, mais
sentiremos que não O amamos suficientemente.
Justamente por causa do grande valor que Deus dá
à fé, é que Ele nos purifica por meio da efervescência de
várias provações. Todavia, temos a segurança de que Ele
só faz assim “se necessário”.
Esta é, caros amigos, a abençoada realidade que nos
foi proposta, a respeito da qual os profetas indagaram e
inquiriram e que os anjos anelam perscrutar. Seremos
pois os únicos a não nos interessar por ela?

458
1 Pedro 1:13-25

A verdade, tal qual apresentada pelo apóstolo nestes


versículos, não apenas nos diz respeito, mas também nos
afeta. Ela é o cinto que firma e fortalece nosso
entendimento e controla nossos pensamentos (v. 13;
Efésios 6:14). Ela é também a verdade à qual devemos
obediência (v. 22). Nós que outrora éramos “filhos da
desobediência” (Colossenses 3:6-7) nos tornamos filhos
obedientes (v. 14). Esta obediência não deve ser apenas
a Cristo, mas também de Cristo (v. 2), ou seja, semelhante
à Sua obediência, motivada pelo amor ao Pai (João 8:29;
14:31). Além disso, aqui tudo está em contraste com o
Velho Testarnento. Nem dinheiro nem ouro, nada pode
redimir-nos (Êxodo 30:11-16; Número 31:50) a não ser
o precioso sangue de Cristo. Ao contrário de um israelita,
o nascimento natural não nos qualifica a herdar os direitos
e privilégios do povo de Deus. Ninguém deve se
considerar filho de Deus pelo fato de ser filho de pais
cristãos! Nós nascemos de novo pela Palavra de Deus
que é incorruptível, viva e eterna. A santidade que é
necessária em nossa conduta é resultado de nossa nova
natureza; nós chamamos o santo Deus de Pai (w. 15-17).
A santidade é também conseqüência do grande valor
que Deus reconhece no sacrifício do Cordeiro perfeito.

459
1 Pedro 2:1-12

Logo ao nascer, um recém-nascido precisa ser


alimentado. Semelhantemente, a Palavra de Deus, após
gerar vida (1:23), também fornece o alimento necessário
para nos manter vivos. E o alimento completo para a
alma, “o leite espiritual” do qual Cristo é a substância.
Depois de termos experimentado o quanto o Senhor é
bom, não podemos viver mais sem este alimento divino
(v. 3; Salmo 34:8).
Depois da semente viva (e da esperança viva do
capítulo 1), encontramos aqui referência às pedras vivas.
Juntas, elas são edificadas sobre Aquele que é a pedra
angular, preciosa tanto para Deus quanto para nós que
cremos (v. 7), a fim de formar um santuário espiritual (ver
Efésios 2:20-22). O Senhor disse a Simão Barjonas que
ele também era uma destas pedras (Mateus 16:18). Tais
privilégios, contudo, tam bém trazem consigo suas
responsabilidades. Se somos sacerdócio real, é para que
ofereçamos sacrifícios espirituais aceitáveis a Deus. Se
somos raça eleita (um povo que espera sua posse),
devemos proclamar o Seu louvor (Isaías 43:21).
Tendo sido cham ados “das trevas para sua
maravilhosa luz”, como podemos então permitir que as
paixões carnais tenham lugar em nossa mente? No
entanto, basta um olhar para atiçá-las e iniciar uma guerra
na alma (v. 11).

460
1 Pedro 2:13-25

Espera-se que todo cristão respeite a ordem


estabelecida, não por medo da lei, mas pelo maior motivo
que pode mover seu coração: o amor a Deus (v. 13; João
15:10). Nós somos servos somente do Senhor (v. 16), e
é Ele quem dita como devemos agir com os outros. E fato
que nem todo chefe é “bonzinho e gentil”, e alguns
chegam a ser bem irritantes. Contudo, nosso testemunho
é muito mais significativo e expressivo quando
enfrentamos dificuldades. As injustiças, os insultos e toda
sorte de aflições oferecem aos filhos de Deus ótimas
oportunidades para glorificá-LO. Lembrem-se de que
Jesus, o Varão de dores, já trilhou este caminho antes de
nós. Certamente Cristo nunca teve nem jamais terá
im itadores à altura de Sua obra de redenção —
“carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro,
os nossos pecados” (v. 24). Por outro lado, em nosso
caminhar de justiça (e conseqüentemente de sofrimento),
Ele é o nosso exemplo perfeito (1 João 2:6). A oposição
e a perversidade dos homens apenas serviram para
revelar Sua paciência, bondade, humildade, sabedoria e
completa confiança em Deus... Benditos são os passos
de quem devemos seguir. Desta forma cumpriremos o
mandamento final do Senhor para Pedro: “Segue-me”
(João 21:22).

461
1 Pedro 3:1-12

“Mulheres... (v. 1) Maridos... (v. 7) jovens: sede


igualmente. .. ” O motivo em todos os três casos é idêntico
ao de 2:13: por amor ao Senhor. E isto o que rege o
comportamento de cada um na família e na igreja. Uma
mulher cristã revela onde estão suas afeições pela maneira
que se adorna. Ela está preocupada com a beleza oculta
do coração, a qual só o Senhor pode ver? Ela busca o que
é precioso diante de Deus: um “espírito m anso e
tranqüilo” (v. 4)? Serão os adornos parte daquilo que é
incorruptível, assim como a Palavra (1:23) e a herança
celestial (1:4). Aos olhos de Deus, a moda não mudou
desde o tempo de Sara.
Nosso título de herdeiros da graça da vida (v. 7) e da
bênção (v. 9 final), juntamente com o exemplo que nos
é dado por Aquele que é bom (v. 13; 2:21,22), oferecem
razões prementes para não pagarmos o mal com o mal.
A longa citação do Salmo 34 nos faz lembrar como
funciona o governo de Deus. Se não refrearmos nossos
lábios (v. 10) ou não nos apartamos do mal (v. 11),
sofreremos conseqüências dolorosas aqui na terra,
permitidas por Deus (v. 12). Por outro lado, o caminho
do bem e da paz é o meio seguro de sermos abençoados.
Além de uma vida abençoada, desejo legítimo de todos
os homens, nós também desfrutaremos da comunhão
com o Senhor.

462
1 Pedro 3:13-22

Cristo padeceu na cruz, o Justo pelos injustos (v. 18).


Em retribuição, foi-nos dada a graça de padecer um
pouco por Ele (Filipenses 1:29). Ao fazermos o bem,
podemos padecer com Ele, assim como Ele padeceu
(v. 14). Afinal, o Senhor se compadece de todos os nossos
sofrimentos (v. 12).
O verso 14 declara que somos bem-aventurados se
viermos a sofrer por causa da justiça (leia também Mateus
5:10). Que Deus nos guarde contra o temor dos homens
e nos conceda o Seu temor juntamente com a mansidão
para testemunharmos a todo tempo da esperança que
temos... Mas será que você também tem esta esperança,
caro leitor?
Entretanto, se nos comportarmos indignadamente,
nosso evangelismo incitará o desprezo dos homens, o
qual nos é devido, contra o próprio Senhor. Que o Espírito
de Cristo nos use para advertir nossos companheiros da
mesma forma que Ele usou Noé, durante o tempo que
construía a arca, para pregar aos descrentes de sua época
(w. 19. 20). O dilúvio é uma figura do julgamento que
está prestes a recair sobre o mundo. Esta figura nos fala
sobre morte e o salário do pecado. De forma figurativa,
os crentes atravessam o dilúvio por meio do batismo e se
refugiam na arca, que é Cristo. Foi ele quem padeceu a
morte em nosso lugar e com Ele ressuscitamos para uma
nova vida (w. 21, 22).

463
1 Pedro

O Senhor Jesus fatigou-se grandem ente com o


pecado que teve de enfrentar. Ele agora descansa após
ter vencido o pecado por meio de Sua morte. Da mesma
forma, o cristão deve acabar com as paixões dos homens.
Queridos amigos, não nos basta o tempo precioso que
desperdiçamos, antes de nossa conversão, no nadar
insensato rumo à morte? Vivamos agora o resto de nossa
vida “segundo a vontade de D eus”. Nosso novo
comportamento certamente contrastará com o do mundo
ao nosso redor. O mundo estranhará a nossa abstenção
dos prazeres corruptos. Sofreremos pressão, seremos
motivos de chacota e dirão coisas horríveis a nosso
respeito. Por quê? Porque o mundo se sente condenado
pela nossa separação, visto que serão condenados pelo
grande Juiz (v. 5). Justamente por causa da iminência
deste julgamento é que devemos controlar nossa conduta,
buscando a moderação, a vigilância, a oração e o amor
fervoroso (final do versículo 22 do capítulo 1). O amor,
por sua vez, é expresso de várias maneiras: buscando a
restauração de nossos irmãos (final do v. 8), sendo
hospitaleiros sem murmuração, usando os dons da
multiforme graça de Deus para o benefício mútuo. E dessa
forma que, no céu, o Senhor Jesus segue glorificando ao
Pai aqui na Terra (este é o Seu maior desejo) por meio da
vida dos Seus remidos (v. 11; João 17:4, 11 e 15:8).

464
1 Pedro 4:12-19

No céu, não cansaremos de meditar nos sofrimentos


do Senhor Jesus; eles serão o inesgotável tema de nossa
canção. Contudo, a oportunidade de participar destes
sofrimentos aqui na terra terá acabado. Sofrer co m Cristo
é uma experiência mais íntima e mais intensa do que
sofrer p o r Ele. Participar de Suas dores, conhecer a
ingratidão, o desprezo, a contradição, a injúria (v. 14), a
ostensiva oposição que Ele encontrou, é r e a lm e n te
co n h e c ê-L O em todos os sentimentos que teve. O desejo
ardente de Paulo era “o conhecer... e a comunhão dos
seus sofrimentos...” (Filipenses 3:10). Mas existe um tipo
de aflição que Cristo não podia experimentar: a aflição
dos que praticam o mal. Não podemos escapar das
conseqüências de nossos erros. Um cristão desonesto
colherá o que semeou e se ele se meter em negócio alheio
poderá ser punido. A parte mais triste não é a confusão
em que nos metemos, mas a desonra atribuída ao nome
do Senhor. Por outro lado, sofrer como cristão, a saber,
como Cristo sofreu, equivale a glorificar a D e u s c o m e sse
n o m e m aravilh oso (v. 16; Atos 4:17, 21).

465
1 Pedro 5:1-14

“Apascenta os meus cordeiros... apascenta as minhas


ovelhas”, disse o Senhor a Pedro (João 21:15-17). Longe
de assumir uma postura presunçosa em função dessas
afirmações, Pedro foi superior a outros cristãos (uma
posição que o cristianismo lhe atribuiu). O apóstolo, no
entanto, se descreve simplesmente como um presbítero
(ou supervisor) entre vários outros presbíteros, e os exorta
a não se comportar como dominadores sobre o rebanho
do bom Pastor, mas como exemplos (v. 3). As ovelhas
não pertencem a eles; eles são responsáveis por elas
perante o soberano Pastor. Isto não diminui a
responsabilidade dos jovens em se subm eter aos
presbíteros nem a de todos em se revestir de humildade,
a qual pode ser traduzida como “colocar o avental de
servo” (v. 5; vide 3:8). A graça é dada ao humilde pelo
“Deus de toda graça”.
“Lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque
ele tem cuidado de vós”, acrescenta o apóstolo (v. 7).
Esta confiança e esta entrega a Deus, entretanto, não nos
eximem de ser vigilantes. Satanás, nosso adversário
implacável, está à espreita do menor deslize de nossa
parte, e resistir a ele significa mais sofrimento (w. 8-9).
Finalmente, as Escrituras nos encorajam a suportar as
aflições, seguindo o Exemplo divino, por mais um pouco,
antes de experimentarmos a glória vindoura (v. 10; final
do versículo 11 do capítulo 1).

466
2 Pedro 1:1-11

Pedro inicia sua segunda epístola relembrando os


cristãos sobre as riquezas das quais o Senhor os fez
participantes, a saber, a preciosa fé (v. 1 ) , “todas as coisas”
que conduzem à vida e à piedade (v. 3) e as “preciosas e
mui grandes promessas” (v. 4). A nossa fé, que se apropria
das bênçãos de Deus, não deve ser infrutífera. E
necessário que a ela se adicione energia, chamada de
virtude, a fim de alcançar o conhecimento (tema central
da epístola). Ao mesmo tempo, é essencial que tenhamos
domínio próprio e paciência a fim de aprendermos a
permanecer firmes, sem, contudo, desfalecer. E dentro
dessa atmosfera espiritual que desenvolvemos os nossos
relacionamentos: © com o Senhor: a piedade; © com os
irmãos: a fraternidade; ® com todos: o amor. Estes sete
complementos da fé formam um todo, assim como os
elos de uma corrente. A ausência de apenas um destes
complementos traz conseqüências dramáticas para um
cristão, deixando sua vida espiritual míope, ineficiente e
infrutífera. Ele não consegue enxergar longe; sua fé não
consegue distinguir no horizonte a cidade celestial, o fim
da peregrinação cristã (veja Hebreus 11:13...). Os portões
eternos já foram abertos para Cristo, o Rei da glória
(Salmo 24:7, 9). Que Ele nos conceda uma entrada
abundante em Seu reino eterno quando chegar a nossa
vez.

467
2 Pedro 1:12-21

A verdades apresentadas na prim eira epístola


referenciam as revelações de Mateus 16: as aflições de
Cristo; a edificação da Igreja, a casa espiritual construída
sobre a Rocha. A segunda epístola é baseada no capítulo
17 do mesmo evangelho. Durante a transfiguração,
Pedro, Tiago e João viram o Senhor Jesus em “glória
excelsa”. Mas foi-lhes ordenado não contar a ninguém
sobre o ocorrido até a Sua ressurreição. Não havendo
mais impedimentos, Pedro, que na hora estava muito
sonolento (Lucas 9:32), estimula os santos a recordar a
cena (v. 13; 3:1). Aquele que, sem pensar, tinha proposto
erguer três tabernáculos agora se prepara para deixar seu
próprio “tabernáculo” terreno para gozar da presença de
Cristo, desta vez para sempre, em corpo glorioso (v. 14).
O Senhor lhe revelou quando e por qual tipo de morte ela
haveria de glorificar a Deus (v. 14; João 21:18,19). Em
breve, nós tam bém serem os “testem unhas de sua
majestade”.
Ao longo de todas as Escrituras, a palavra profética
lança luz sobre a glória vindoura. Entretanto, o filho de
Deus possui uma luz ainda mais brilhante. O objeto de
sua esperança vive nele. Cristo é a Estrela da manhã que
já nasceu em seu coração (v. 19; final do versículo 27 de
Colossenses 1).

468
2 Pedro 2:1-11

Hoje em dia, seitas e heresias destruidoras têm surgido


aos montes. Fomos advertidos, com antecedência, a
respeito de seu aparecimento, para que não sejamos
pegos de surpresa tampouco desanimemos por causa
delas (v. 1). Elas fazem comércio com as almas dos
homens (v. 3; final do versículo 13 de Apocalipse 18).
No capítulo 1, a perspectiva da glória vindoura é
confirmada por um testemunho triplo: a visão da glória
no monte santo, a palavra profética e finalmente a Estrela
da Manhã nascida em nosso coração. Do mesmo modo,
há três exemplos que testificam quanto à certeza do
julgamento que sobrevirá ao mundo: o destino dos anjos
caídos (Judas 6), o dilúvio (Mateus 24:36...) e a
destruição de Sodoma e Gomorra (Judas 7). Todavia,
mesmo no meio de uma geração incrédula, o Senhor
conhece e livra aqueles que O temem (v. 9). A despeito
de seu mundanismo, Ló foi um homem justo. O parêntese
no versículo 8 mostra que Deus registra cada suspiro de
Seu povo. Contudo, Ló poderia ter sido poupado de
todos esses tormentos se soubesse, como sabia Abraão,
apreciar a terra prometida. Viver de forma falsa e ambígua
perante os homens é uma desgraça para o filho de Deus.
Ló é a imagem de um crente salvo “como que através do
fogo” (1 Coríntios 3:15). Sua entrada no reino não será
amplamente suprida (1:11). Que o Senhor nos livre de
ser iguais a Ló!

469
2 Pedro 2:12-22

Para derrubar a verdade estabelecida no capítulo 1,


Satanás utiliza sempre os mesmos expedientes: quando
este não consegue corromper a verdade, ele a nega
abertam ente, como verem os no capítulo 3. Seus
instrumentos para desviar as almas são apresentados aqui
sob a luz da verdade. Quão medonho e assustador é o
retrato dos líderes religiosos em quem a perversão moral
e os ensinamentos malignos andam de mãos dadas (w.
12-17; Mateus 7:15). Homens que prometem a liberdade
para outros, mas são eles próprios escravos das paixões
e luxúrias mais desprezíveis (v. 19), pois “aquele que é
vencido fica escravo do vencedor”. Somos realmente
livres, libertos pelo Senhor (João 8:34-36; Isaías
49:24-25), ou estamos enlaçados por algum pecado
inconfessável? 0 mundo é cativante, no sentido literal da
palavra. Como um lamaçal (final do v. 22), ele atola os
pés dos imprudentes que se aventuram por este caminho
e contam ina-lhes a alm a (v. 20 m enciona as
contaminações do mundo).
O final do capítulo despedaça a ilusão daqueles que
momentaneam ente conseguiram controlar o cio do
pecado através de um cristianismo meramente social ou
intelectual. Transformação moral não é conversão.

470
2 Pedro 3:1-10

Pedro não receia parecer repetitivo, ele não se cansa


de lembrar aos filhos de Deus as mesmas verdades (v. 1;
1:12-13; Filipenses 3:1; Judas 17). E, no que nos diz
respeito, não nos cansemos também de ler e nelas
meditar. Pela terceira vez, o apóstolo escreve sobre o
dilúvio. Ao contrário daquelas pessoas que
propositadamente ignoram todos os avisos (Efésios 4:18),
os am ados do Senhor não podem ignorar os Seus
propósitos. O “fim do mundo”, que alguns temem e outros
desprezam, não ocorrerá até o momento escolhido por
Ele. Os céus e a terra que agora existem serão destruídos.
E por causa da longanimidade de Deus, que anseia pela
salvação dos pecadores, que o juízo tem sido retardado
até agora. Deus não deseja que ninguém pereça (Ezequiel
33:11). Sua paciência se aplica até mesmo para com os
escarnecedores que desafiam a verdade e O insultam.
Contudo, a humanidade inteira está à mercê de uma
implacável contagem regressiva. Chegará o momento
quando as promessas destinadas aos filhos de Deus se
cumprirão, para confusão dos escarnecedores e dos
ímpios. Então será muito tarde para se arrepender (final
do v. 9). Caro leitor, você já se arrependeu?

471
2 Pedro 3:11-18

As exortações finais, ao contrário das anteriores, não


se tratam das “preciosas e mui grandes promessas” (1:4),
mas da instabilidade de todas as coisas do presente. Faça
um inventário de todos os bens materiais que lhe são de
grande valor e escreva sobre eles o seguinte: “todas essas
coisas hão de ser assim desfeitas... Dessa forma nos
protegeremos do apego à matéria. O fato de saber estas
coisas de antemão deveria induzir a uma vida de santo
procedimento e piedade (outro termo característico de
Pedro [veja 1 Pedro 1:15,18; 2:12; 3:1-2,16]). Nada nos
estimula mais à separação do mundo e do mal que o
pensamento do retorno iminente do Senhor. Igualmente,
nada nos incita tanto ao evangelismo, já que Sua vinda
marcará o final de Sua paciência para a salvação (v. 15).
Em penhem o-nos, pois, a fim de serm os achados
irrepreensíveis em Seu retomo (v. 14; Filipenses 1:10),
tendo crescido em Sua graça e em Seu conhecimento
(v. 18).
O apóstolo cumpriu a sua missão; agora ele está
pronto para “deixar seu tabernáculo”. Ao dar glória
“agora e para sempre” ao nosso Senhor e Salvador Jesus
Cristo, ele conduz nosso pensamento ao dia eterno que
anelamos pela fé

472
U o ã o 1:1-10

O Senhor havia dito aos doze: “E vós também


testificareis, pois estivestes comigo desde o princípio”
(João 15:27— erc), é isso o que o apóstolo João faz aqui.
O seu tema é a vida eterna, que foi primeiro “ouvida”,
“vista” e “apalpada” (1 João 1:1) na pessoa do Filho, e
agora está sendo comunicada aos que, pela fé, receberam
o direito de ser filhos de Deus (João 1:12). Precisamos
distinguir entre a relação propriamente dita e o usufruto
desse relacionamento, conhecido por comunhão. A
relação é a porção de todos os filhos do Pai. A comunhão
é somente para os que andam na luz (v. 7). O texto que
vai do versículo 6 do primeiro capítulo ao versículo 2 do
segundo explica como a comunhão pode ser mantida ou
restabelecida quando sofrer interrupção. Deus colocou a
nossa disposição uma inesgotável provisão para remover
todas as nossas iniqüidades: o sangue de Jesus Cristo,
Seu Filho. Não há pecado grande demais que esse
precioso sangue não possa lavar. Ele nos purifica de “iodo
pecado” (v. 7) e de “toda injustiça” (v. 9). Só uma coisa
é requerida de nós para obtermos o pleno perdão : a
plena confissão de todos os nossos pecados (v. 9; Salmos
32:5). Minha grande dívida foi paga por outra pessoa, e
Deus não seria justo para com meu Substituto se viesse
reclamá-la de mim novamente.

473
1 João 2:1-11

Com referência ao pecado, estes versículos


apresentam várias verdades de grande importância: ©
Durante toda nossa vida teremos o pecado em nós (1:8);
(por outras palavras, a carne ou a velha natureza). © Até
nossa conversão, a carne só havia produzido em nós os
frutos que se poderíam esperar dela: temos pecado (1:10).
(D O sangue de Cristo nos purifica de todos os atos que
cometemos (1:7).© Pelo poder da vida que nos foi dada,
ser-nos-á possível não pecar mais (2:1). © Se acontecer
de pecarmos — e infelizmente a nossa experiência diária
confirma que isso acontece — o Senhor Jesus ainda é
nosso advogado. Ele não mais intervém como Salvador,
que precisa verter seu sangue, mas como o fiel Advogado
perante o Pai, para restabelecer a comunhão.
A obediência (w. 3-6) e o amor pelos irmãos (w.
7-11) são as duas evidências de que temos a vida divina
em nós. Ademais, o amor pelos irmãos é decorrência da
obediência (João 13:34). E, se amamos o Senhor, nunca
acharemos seus mandamentos “penosos” (5:3). No
versículo 6, Deus no dá um padrão ainda mais elevado.
Andar como Ele andou significa mais que obedecer a
Seus mandamentos. No Evangelho de João, é-nos
apresentado o que é verdadeiro em Cristo, e em sua
epístola, o que é verdadeiro em nós (v. 8). Trata-se da
mesma vida e ela deve evidenciar-se da mesma maneira
(4:17).

474
U o à o 2:12-19

Paulo vê os cristãos como aqueles que formam a igreja


de Deus. Já Pedro os vê como os que constituem o povo
celestial de Deus e seu rebanho. E João os vê como
membros da família de Deus, unidos pela mesma vida
que receberam do Pai. Numa família, geralmente os irmãos
e irmãs têm idades e etapas de desenvolvimento diferentes,
ainda que a relação filial e a parte da herança do caçula
sejam as mesmas que as do filho mais velho. O mesmo
acontece na família de Deus. Entramos nela pelo novo
nascimento (João 3:3), e em seguida normalmente vem
o crescimento espiritual. A criancinha que só sabia
reconhecer a seu Pai (veja Gálatas 4:6 e Romanos
8:15-17), logo passa à fase da mocidade e seus conflitos.
E o que está em jogo nessas lutas é o seu coração: vai
apegar-se ao Pai ou ao mundo? “0 Maligno” dispõe de
três chaves para introduzir o mundo nos corações: “A
concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a
soberba da vida”.
Finalmente, o jovem se torna (ou deveria tornar-se)
um pai que tem experiência pessoal com Cristo.
O apóstolo escreve mais extensamente aos filhinhos.
Por causa de sua inexperiência estão mais expostos a
“todo vento de doutrina” (Efésios 4:14). Atentemos para
não permanecer como criancinhas a vida inteira!

475
1 João 2:20-29

“E esta é a promessa que ele mesmo nos fez, a vida


eterna” (v. 25). João faz aqui referência às palavras do
bom Pastor: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz [... ]
Eu lhes dou a vida eterna” (João 10:27,28). Leitor, você
recebeu a vida etema? Você é um filho de Deus? Outra
promessa do Senhor é o dom do Espírito Santo (João
16:13). Essa “unção que vem do Santo” descansa hoje
não só sobre os “pais”, mas também sobre “os filhinhos”
em Cristo, para guiá-los “a toda a verdade” (João 16:13).
“Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida”, disse o Senhor
Jesus, “ninguém vem ao Pai senão por mim” (João 14:6).
O apóstolo confirma aqui que todo aquele que nega o
Filho não tem o Pai (v. 23; veja João 8:19). O Pai não
pode ser conhecido fora do Senhor Jesus (Mateus 11:27).
E por isso que o Inimigo empreende tantos ataques contra
a pessoa do Santo Filho de Deus, especialmente lançando
dúvidas sobre sua existência eterna e sua divindade.
Saibamos reconhecer a voz do mentiroso (v. 22). O
que é “desde o princípio” tem validade até a “última
hora” (w. 24,18). Na presença de tantas “novidades”,
nossa segurança consiste em nos ater aos ensinamentos
do princípio (Gálatas 1:8,9).

476
1 João 3:1-12

Numa família normal é o amor que constitui o vínculo


entre seus membros. Os filhos o recebem e o aprendem
de seus pais, logo o retribuem aos pais e o expressam
entre si. Esta é uma fraca imagem do amor que o Pai nos
demonstrou ao nos chamar de seus filhos! Nós não somos
conclamados a compreender este amor, mas, sim, a vê-lo
(v. 1) e, tendo-o visto, desfrutá-lo.
Alguns crentes podem deduzir do versículo 9 que não
possuem a vida que Deus dá, já que ainda pecam de vez
em quando (1 João 5:18). Mas vejam que o apóstolo
considera o cristão novo homem, nascido de Deus, e esse
não pode pecar.
A divisão da humanidade entre “filhos de Deus” e
“filhos do diabo” é estabelecida da maneira mais clara e
absoluta nos versículos 7 a 12 (compare-os com João
8:44). Hoje, em muitos círculos religiosos, esta diferença
não é reconhecida. Concorda-se que alguns praticam o
cristianismo mais que outros. Mas, se alguns se declaram
salvos, dando a entender que outros estão perdidos, isto
é tido como arrogância e visão limitada. Entretanto, essa
incompreensão da parte do mundo, que pode chegar até
ao ódio, nos dá a oportunidade de nos assemelhar um
pouco ao Senhor Jesus enquanto esteve aqui na terra
(final do v. 1; João 16:1-3). Em breve também seremos
semelhantes a ele em glória, pois então o veremos como
ele é (v. 2).

477
lJ o ã o 3:13-24

Não nos deveriamos surpreender nem um pouco pela


maneira que o mundo odeia os filhos de Deus (v. 13: veja
também João 15:18...). Deveriamos, sim, suspeitar de
seus sorrisos. O mundo tem uma visão falsa do amor:
suas m otivações nunca são puras e totalm ente
desinteressadas. Amor verdadeiro é o de Deus, cuja fonte
encontra-se no próprio Deus, e não no objeto desse amor.
Precisamos ser amados com amor igual a esse, já que não
há nada em nós digno de amor. A cruz é o lugar onde
aprendemos a conhecer a grandeza desse amor divino
(v. 6).
Os versículos 19 a 22 enfatizam a necessidade de ter
uma boa consciência e um coração que não nos condene.
Se fizéssemos só o que é agradável ao Senhor, Ele podería
responder a todas as nossas orações, sem exceção. E
como pais que, aprovando a conduta do filho, concedem
liberalmente tudo que ele lhes pedir (v. 22; veja João
8:29; 11:42). Permanecer nEle é obediência; se Ele está
em nós, isto é comunhão, um resultado da obediência (v.
24; 2:4-6; 4:16; João 14:20; 15:5,7). Mergulhe um vaso
sem tampa na água, ele sairá tanto limpo quanto cheio.
Que o nosso coração também seja lavado e preenchido
pelo amor de Cristo!

478
1 João 4:1-10

A verdade sempre teve seus “falsificadores”. Da


mesma maneira que convém a todo cidadão reconhecer
o dinheiro de seu país a fim de evitar problemas, assim
devemos nós ser capazes de discernir a origem das
diferentes doutrinas que nos são apresentadas. Cada uma
delas deve ser submetida a prova (v. 1; 1 Tessalonicenses
5:21); a Palavra nos dá o meio seguro para reconhecer as
“notas falsas”. As boas sempre levam o selo: Jesus Cristo
veio em carne (v. 3).
No que diz respeito à natureza dEle, esta epístola nos
ensina que Deus é luz (1:5) e que ele é amor (w. 8,16).
A única fonte de todo amor se encontra nEle. Se alguém
ama, isto é sinal de que o tal é nascido de Deus (v. 7). Por
outro lado, aquele que não ama não conhece a Deus.
Para saber o que é o amor, é necessário possuir a natureza
que ama (1 Tessalonicenses 4:9). Ademais, esse amor
com que Deus nos am ou primeiro (vv. 10, 19) é
exatamente o que correspondia à necessidade de suas
criaturas. O homem estava morto: Deus enviou “o seu
Filho unigênito ao mundo, para vivermos por meio dele”
(v. 9); o homem era culpado: Deus “enviou o seu Filho
como propiciação pelos nossos pecados” (v. 10; 2:2); o
homem estava perdido: “o Pai enviou o seu Filho como
Salvador do mundo” (v. 14; João 3:17).

479
1 João 4:11-21

Dois gestos de alcance indizível manifestaram o amor


divino aos homens: “Cristo deu a sua vida por nós” (3:16)
e Deus “enviou o seu Filho” (4:10). E agora esse amor se
mostra aos homens numa terceira maneira: os redimidos
do Senhor amam-se uns aos outros. Deus é — ou deveria
ser— visto desta forma (v. 12), agora que o Senhor Jesus
não está mais na terra (João 1:18). Não é possível amar
a Deus e não amar a seus filhos. Quando alguém nos é
muito querido, tudo o que lhe diz respeito também é
querido para nós. Por exemplo: Pode se dizer que um
marido ou uma esposa que não ama os sogros ama de
fato seu cônjuge? Deus não se satisfaz com um amor só
manifestado em “palavra [...] mas de fato e de verdade”
(3:18). Em toda esta epístola encontram -se
constantemente expressões como: “Se dissermos...”
(1:6,8,10), “Aquele que diz...” (2:4,6,9), “Se alguém
disser...” (v. 20). “Nós am am os...”, declara o apóstolo
(v. 19). Pois, então, demonstremos isso!
O que temos nestes versículos é: © O amor por nós
(v. 9): a salvação já consumada; © o amor em nós (w.
12,15,16b), derramado em nosso coração pelo Espírito;
® finalmente, o amor conosco (v. 17), que nos assegura
que logo estaremos perante Deus. Tal é a abrangência do
amor divino por nós!

480
1 João 5:1-21

A epístola de João, bem como o seu evangelho,


testifica que possuímos a vida eterna simplesmente pela
fé em Jesus Cristo, o Filho de Deus (compare o v. 13 com
João 20:31). Não crer, depois de tantos testemunhos, é
fazer a Deus mentiroso (v. 10). Estes testemunhos
permitem que o filho de Deus agora descanse em certezas.
“Sabemos.. não cessa de repetir o apóstolo (w. 2,13,
15, 18, 19, 20). A nossa fé não somente se apropria da
salvação, mas também triunfa sobre o mundo, pois
contempla o que está além deste, e se apega ao que é
imperecível (v. 4). Que felicidade é saber também que
Deus nos ouve e nos concede o que lhe pedimos segundo
a sua vontade (v. 14)! O cristão não desejaria que lhe
fosse concedido algo contrário à vontade de Deus. Mas,
como conhecer essa vontade? Mediante o entendimento
que o Filho de Deus nos deu (v. 20; Lucas 24:45).
“Estamos no verdadeiro, em seu Filho, Jesus Cristo”, ao
contrário do mundo, que “jaz no Maligno”. Satanás não
tem, em todo seu arsenal, objeto nenhum que possa
seduzir o novo homem. Em compensação, oferece muitos
ídolos para tentar o nosso pobre coração natural. Filhos
de Deus, dediquemos os nossos afetos inteiramente para
o Senhor e guardemo-nos dos ídolos (v. 21; 1 Coríntios
10:14).

481
2 João 1-13

Depois de ter revelado as características da verdade


em sua primeira epístola, o apóstolo continua a nos
mostrar, em duas curtas epístolas, essa verdade naprática.
Nesta epístola ele já não escolhe o exemplo de um pai na
fé (1 João 2:13), mas de uma senhora cristã com seus
filhos, dos quais alguns, para sua alegria, andavam na
verdade. Caros jovens cristãos, saibam que representa
uma grande alegria para aqueles que os amam vê-los
não só conhecer, mas também andar segundo os
ensinamentos da Palavra (v. 4; 3 João 4). A conduta dos
filhos constitui a prova mais cabal de que um lar cristão é
governado pela verdade. Numa época em que há tanta
corrupção, o lar é o lugar que resta para a criança poder
crescer protegida da sujeira do mundo. Mas virão ocasiões
em que a verdade terá de ser defendida contra os inimigos
de fora (v. 10; Atos 20:30). O verdadeiro amor nos obriga
a não receber a esses indivíduos. Toleraríamos a um
visitante que viesse nos dizer mentiras acerca de nossa
mãe ou de alguém a quem queremos bem? A senhora
crente e seus filhos convertidos são instados aqui a não
discutirem com essa gente, ... mas a fechar-lhes a porta.
A verdade é o nosso maior tesouro. Não façamos pouco
caso dela (Provérbios 23:23).

482
3 João 1-15

A segunda epístola nos proíbe receber àqueles que


não trazem “a doutrina de Cristo”. Já a terceira epístola
exorta os crentes a receber e ajudar aqueles que a ensinam
(veja João 13:20). Velar pelo bem dos servos do Senhor
é um modo de participar da obra do evangelho (v. 8).
Várias pessoas nos são apresentadas nesta breve
carta. Caio, a quem a carta foi endereçada, era um amigo
amado, cuja alma prosperava, que andava na verdade,
agia fielmente e cujo amor era conhecido de todos.
Demétrio, mencionado mais adiante, também tinha um
bom testemunho (1 Timóteo 3:7). Por outro lado, na
mesma igreja, havia um homem chamado Diótrefes, que
gostava de ter a primazia entre eles (1 Pedro 5:3), proferia
palavras maliciosas contra o apóstolo, não recebia os
irmãos e expulsava outros da igreja. João também
menciona os irmãos evangelizadores que haviam saído
por causa do N om e” (v. 7; Atos 5:41). O Nome que está
acima de todos é o de Jesus: Ele era a mensagem e a
garantia da missão deles (Atos 8:35).
“Não imites o que é mau, senão o que é bom ”,
recomenda o apóstolo (v. 11; 1 Tessalonicenses 5:15).
Achamos bons e maus exemplos tanto nesta epístola
quanto à nossa volta. A quem imitaremos? Sigamos,
acima de tudo, ao Senhor Jesus; ele foi o único em quem
somente se achou o bem (Marcos 7:37).

483
Judas 1-13

Pode-se tocar uma trombeta simplesmente para o


prazer dos que a escutam. Entretanto, há ocasiões em
que ressoa como alarme a fim de convocar os soldados
para a ação. Judas gostaria de escrever a seus irmãos
acerca de temas mais edificantes. Porém, diante dos
progressos do mal que já se infiltrava entre os irmãos, sua
tarefa era soar o alarme e lhes inculcar que lutassem pela
verdade a todo custo. Quantos filhos de Deus não há que
necessitam ouvir constantemente o abecê da verdade
cristã, enquanto o Espírito Santo preferiría ocupá-los com
bênçãos mais elevadas (Hebreus 5:2). “Quero, pois,
lembrar-vos, embora já estejais cientes de tudo uma vez
por todas...” (v. 5). Temos progredido desde a nossa
conversão? Ou, ao contrário, temos regredido?
Assim como Pedro, em sua segunda epístola, Judas
se vale dos solenes exemplos do Antigo Testamento para
descrever a apostasia moral dos últimos dias. Dois fatos
caracterizam a apostasia: o abandono da graça e o
menosprezo de toda forma de autoridade (2 Pedro
2:10-11). Esta última tendência já se evidencia hoje nas
famílias, nas escolas, na vida social e profissional. Mas se
uma criança não se sujeita a seus pais, como irá mais
tarde reconhecer a autoridade do Senhor?

484
Judas 13-25

É necessário chegar ao penúltimo livro da Bíblia para


aprender o que Deus tinha revelado na ocasião do dilúvio.
A profecia de Enoque descrevia como o Senhor retorna
com os seus santos para executar o juízo sobre os ímpios.
Todos os pecadores darão contas de todos as suas obras
e de todas as suas palavras de provocação, também não
serão esquecidas as suas murmurações. Porque os tais
são murmuradores e descontentes (v. 16; 1 Coríntios
10:10). Isto só vem provar que a impiedade e a satisfação
de nossas ímpias paixões não nos fazem felizes! Vigiemos
nós também para não ser ingratos nem insatisfeitos com
o que o Senhor nos tem dado. “Vós, porém, amados..
Mesmo em meio das situações mais malignas sempre
existe uma linha de conduta para o fiel seguir: a mútua
edificação, a oração, o esperar no Senhor e o cuidado
com os irmãos. O Espírito Santo, Deus, o Pai, e o nosso
Senhor Jesus Cristo são mencionados juntos para nos
assegurar que, do lado divino, temos tudo de que
precisamos (w. 20,21). Se tropeçarmos (v. 24), será por
nossa própria culpa. Embora sejamos “guardados em
Jesus Cristo” (v. 1; João 6:39), devemos nos guardar no
usufruto do doce am or de Deus (v. 21). Sim, que
possamos experimentar desde já essa “exultação” e
render adoração e louvor a Deus, nosso Salvador.

485
Apocalipse 1:1-11

O Apocalipse é um livro difícil. Contudo, há muitos


motivos para que seja lido e não desprezado. ® E a
“revela çã o d e J e su s C risto ”, nosso querido Salvador. ©
Esta revelação foi mostrada por Ele a S e u s servo s. O
apóstolo João, exilado na ilha de Patmos, teve a felicidade
de ser um deles. (D A revelação nos fala não de um futuro
distante e incerto, mas de coisas que devem acontecer
e m b reve. © Por fim, não devemos nunca nos esquecer
de que a leitura séria de qualquer porção das Escrituras
já é suficiente para conferir uma bênção à nossa alma
(V. 3), p o r q u e é a P alavra d e D eus. Não se pede que a
entendamos completamente, mas que a guardemos
(Lucas 11:28).
Assim que as glórias do S enhor Jesus são
mencionadas, a adoração desperta espontaneamente:
“Aquele que nos ama, e, pelo seu sangue, nos libertou
dos nossos pecados” (V. 5). Observemos o tempo dos
verbos: Ele nos “a m a ”; Seu amor é sempre presente e
invariável. Mas Ele nos “la v o u ” é uma obra cumprida,
terminada e perfeita. Notemos também a o r d e m dos
verbos: p o r q u e E le n o s am a, lavou-nos dos nossos
pecados. Por nossa vez, tínhamos de ser lavados, limpos
dos pecados, para que desde já fôssemos constituídos
“reino e sacerdotes para o seu Deus e Pai” (V. 6; 5:10;
20:6). Somos qualificados para render-lhe a glória e o
poder, dos quais Ele é digno.

486
Apocalipse 1:12-20

O Filho do homem, que aparece aqui com os atributos


da justiça santa e inflexível, é o mesmo humilde Jesus dos
evangelhos, nosso terno e bondoso Salvador? Noutra
ocasião João se reclinara confiantemente sobre o peito
de Jesus (João 13:25). Aqui, porém, cai a Seus pés como
morto. Que contraste! De fato, convém não esquecer este
aspecto da glória de Cristo. O Pai confiou todo julgamento
ao Filho (João 5:22); Ele há de exercê-lo mais tarde contra
os que não creram (cap. 19 e 20). Mas hoje, enquanto a
Igreja ainda está na terra, Ele toma conhecimento do
estado de cada uma de Suas igrejas locais (os sete
candeeiros que devem brilhar na ausência dele). Sim, o
Senhor pode perdoar tudo. Ele morreu e ressuscitou para
nos dar o perdão e a vida (V. 18). Entretanto, Ele não
pode deixar passar nada. Seus olhos são “como chamas
de fogo” (2:18; 19:12). Nada escapa de sua observação.
O versículo 19 apresenta o esquema geral do livro.
© “As coisas que viste”: essa solene aparição do Senhor
em glória. © “As” coisas “que são”: a condição atual da
igreja responsável (cap. 2 e 3). ® “As” coisas “que hão
de acontecer depois destas”:os acontecimentos proféticos
que em breve se cumprirão (cap. 4 a 22).

487
Apocalipse 2:1-11

Essas cartas às sete igrejas da Ásia narram numa


seqüência de sete quadros a história da cristandade
responsável. O Senhor se apresenta a cada uma das sete,
faz um inventário preciso do que encontra e do que não
encontra nelas, exorta e promete suá recompensa ao
vencedor.
Em Efeso tudo estava aparentemente bem (V. 2,3).
Mas o Senhor enxerga o coração (1 Samuel 16:7).
Infelizmente Ele não vê mais nessa Igreja reciprocidade
ao Seu amor. O Senhor Jesus não mais ocupa o primeiro
lugar! Q uando se bloqueia a fonte de um rio, as
populações ribeirinhas próximas da foz não perceberão o
fato imediatamente. Enquanto a água flui, as margens
permanecem verdes. Tudo continuará com a mesma
aparência durante algum tempo... Ah, queridos amigos,
examinemos a nossa vida! O que conta não são as nossas
atividades exteriores, mas o nosso amor por Cristo. Para
interromper essa decadência, o fiel Senhor usa um
estranho remédio: a provação. Permite que Sua noiva
seja exposta ao poder de Satanás.
Depois de Efeso (a amável) vem Esmirna, que
significa “a amarga”. Esse era o tempo dos mártires
submetidos à crueldade dos imperadores romanos (século
segundo e início do terceiro). Naqueles dias, nas arenas
romanas, diante das bestas-feras, os cristãos de Esmirna
tinham a oportunidade de provar seu amor pelo Salvador
sendo-Lhe fiéis até a morte.

488
Apocalipse 2:12-29

No período de Esmima, dez grandes perseguições


consecutivas não puderam aniquilar a fé cristã. Pelo
contrário, como alguém escreveu: “o sangue dos mártires
veio a ser a semente da Igreja”. Por isso Satanás muda
para outra tática, a que se vê em Pérgamo. O que a
violência não pôde produzir, seria alcançado pelo favor
das autoridades. 0 imperador Constantino, no ano 312,
adotou o cristianismo como a religião do Estado. Muitos
talvez tenham visto neste acontecimento uma grande
vitória em prol da verdade, mas o que aconteceu de fato
foi o favorecimento da indolência, do mundanismo e a
introdução de muitas doutrinas estranhas (V. 14-15).
Em Tiatira, igreja que se manterá até o final, o mal
avança mais um passo. E o período de trevas da Idade
Média, comparado aqui com o terrível reinado de Acabe,
cuja mulher, Jezabel, o incitava a fazer o mal (1 Reis
21:25). A Igreja estava cansada de ser estrangeira aqui na
terra e quis reinar. O papel político que o papado sempre
desejou desempenhar tomou-se conhecido. Contudo, o
domínio que a igreja de Tiatira anelou tão arrogantemente
é prometido àqueles que ela oprimiu, torturou e queimou
em fogueiras, pois são esses os verdadeiros vencedores.
Eles hão de reinar com aquele que vem como a Estrela da
manhã.

489
Apocalipse 3:1-13

Séculos se passaram. Do meio de Tiatira, Deus suscita


a Reforma, um poderoso movimento impulsionado pelo
Espírito Santo. Em seguida observamos uma nova
decadência. A morte espiritual se apoderou da igreja em
Sardes. A Igreja recebe a ordem de se lembrar e se
arrepender (V. 3, compare com 2:5 e 16; 3:19). Quem é
o vencedor aqui? E aquele que não contaminou as suas
vestiduras. Conhecemos esse tipo de vitória, isto é,
perm anecem os puros? 0 vencedor de Sardes será
“vestido de vestiduras brancas”. Ao contrário da falsa
pretensão da igreja de ter o “nome de que vives”, seu
nome nunca será apagado do livro da vida.
Filadélfia (cujo nome significa amor fraternal) é a filha
do “despertam ento espiritual” ocorrido no século
dezenove. As características principais dessa igreja são:
© pouca força , todavia o Senhor mantém aberta para
ela a porta do evangelho; © fidelidade à Palavra de Deus,
que m anterá Sua promessa: “Venho sem dem ora”;
© amor pelo Seu nome, por isso a sua porção será seu
novo nome. A resposta de Cristo ao escárnio do mundo
para com Sua Igreja será aprová-la publicamente: “Farei...
conhecer que eu te amei”.
Temos a responsabilidade de herdeiros do
testemunho de Filadélfia. Que o Senhor nos ajude a
manifestar as características dessa igreja e não perder
nossa coroa! O Seu regozijo em dar-nos essa recompensa
será maior que o do vencedor ao recebê-la.

490
Apocalipse 3:14-22

Um último estado de coisas caracteriza a cristandade.


Os seus traços já podem ser reconhecidos hoje: satisfação
consigo mesma, desinteresse e tibieza, e pretensões
religiosas de ter e saber tudo (Deuteronômio 8:17; Oséias
12:8). “Não preciso de coisa alguma”: é o que parecem
dizer os cristãos que negligenciam a oração. Três coisas
essenciais faltavam a Laodicéia: o ouro: a verdadeira
justiça de Deus; as vestiduras brancas: o testemunho
prático, que resulta dessa justiça; e um colírio: a
capacidade de discernimento dada pelo Espírito Santo.
Mas para quem têm ouvidos ainda não é tarde demais
para ouvir! O Senhor aconselha que cada um se apresse
a adquirir dEle o que falta (veja Mateus 25:3); encoraja:
os que sofrem repreensão e disciplina são justamente
aqueles quem ele ama; exorta a ser zeloso e a se
arrepender; e prom ete algo que não tem preço: a
promessa do versículo 20. Os que acolheram o Senhor
Jesus Cristo no coração, Ele, a Seu tempo, os receberá no
céu, no Seu trono (V. 21). Queridos amigos, desta forma
encerra-se história da Igreja aqui na terra. Entretanto, por
grande que seja a decadência, a presença do Senhor
ainda pode ser percebida. Ela faz o coração arder com
alegria indizível, a mesma alegria que os dois discípulos
experimentaram na tarde em que o Senhor Jesus veio
ficar com eles (Lucas 24:29-32).

491
Apocalipse 4:1-11

Aqui começa a terceira parte do livro, anunciada no


versículo 19 do primeiro capítulo. E óbvio que todos os
detalhes da visão devem ser compreendidos em sentido
simbólico. Por certo não veremos literalmente nenhum
trono no céu, isso é simplesmente o emblema de governo
real. Contudo, a interpretação desses símbolos de maneira
nenhuma é deixada à nossa imaginação, ela nos é dada
pela própria Bíblia em outras passagens.
Para poder ver o que deveria “acontecer depois destas
coisas” (depois de a Igreja ter sido arrebatada), o apóstolo
é convidado a subir ao céu. O cristão, para ver os
acontecimentos terrenos em perspectiva real, deve
considerá-los do ponto de vista celestial, tendo Cristo
como o centro.
De acordo com a promessa feita à igreja de Filadélfia,
os redimidos do Senhor serão guardados “da hora da
provação que há de vir sobre o mundo inteiro”. E assim,
no momento em que essa prova está prestes a começar
para o mundo (cap. 6), vemos os redimidos já reunidos
na gloria. São representados pelos 24 anciãos que se
prostram e depositam as suas coroas diante do trono. No
capítulo 4, eles adoram o Deus Criador, mas no capítulo
5 eles também adorarão ao Deus Redentor.

492
Apocalipse 5:1-14

Uma pergunta mantém o universo em suspense:


“Quem é digno de abrir o livro e de lhe desatar os selos?”.
Noutras palavras, quem executará o juízo? Só um
indivíduo pode fazer isso: Aquele que é sem pecado (veja
João 8:7) e, pela Sua própria perfeição, venceu a Satanás
e o mundo. Cristo é este “Leão da tribo de Judá”, já
mencionado em Gênesis 49:9. Mas logo em seguida Ele
é visto como um Cordeiro “como tendo sido morto”.
Para triunfar sobre o Inimigo e encher o céu de uma
multidão de criaturas felizes e agradecidas, foi necessária
a cruz do Senhor Jesus. E o coração de todos os santos se
recorda de maneira muito comovente do sacrifício de
Cristo. No céu, onde tudo fala de poder e de majestade,
a lembrança perm anente da humilhação de nosso
querido Salvador constituirá um comovente contraste.
A humildade, a mansidão, a sujeição, a paciência, todas
essas perfeições morais do Senhor Jesus manifestadas
aqui na terra serão sempre visíveis no céu e nos falarão
eternamente da grandeza de seu amor.
Então, em resposta ao novo cântico entoado pelos
santos glorificados, todas as esferas da criação
proclamarão numa só voz: “Digno é o Cordeiro, que foi
morto, de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força,
e honra, e glória, e louvor” (V. 12).

493
Apocalipse 6:1-17

Se às vezes nos admiramos da severidade dos juízos


de Deus, é porque não sabemos como subir (pela fé) ao
céu. Se ouvíssemos como a perfeita santidade de Deus é
louvada (4:8) e contemplássemos no Cordeiro imolado
tanto o amor divino como o desprezo desse amor por
parte do homem rebelado, poderiamos compreender
quão justo, merecido e necessário é o juízo. Também
aprenderiamos que nada acontece por acaso. Deus está
no controle de tudo que ocorre na terra. Não só os seus
desígnios de juízo são descritos antecipadamente neste
livro simbólico (5:1), mas também cada um surge no
exato momento que ele decretou, quando o selo é aberto
pelo Cordeiro. Na abertura dos quatro primeiros selos
surgem quatro cavaleiros. Eles representam ,
respectivamente, a conquista territorial, a guerra civil, a
fome e as calamidades fatais que sobrevirão à terra, uma
após a outra (V. 8; Ezequiel 14:21). Na abertura do
quinto selo, surge uma multidão de mártires, implorando
ao Deus soberano que lhes faça justiça. O sexto selo é
como uma resposta ao clamor deles. Dá a entender uma
terrível revolução; todos os governos estabelecidos são
derrubados.
Quão estranha soa a combinação dessas palavras:
“A ira do Cordeiro” (V. 16; Salmos 2:12)!

494
Apocalipse 7:1-17

Este capítulo aparece como parêntesis entre o sexto e


o sétimo selos. Antes de adiantar-se mais em Seus
propósitos de juízo, Deus separa e sela aqueles que Lhe
pertencem. O primeiro grupo (V. 4-8) é formado de
jud eu s de diferentes tribos. Estes constituem o
rem anescente fiel. Alguns salm os nos revelam
profeticamente os sentimentos desse remanescente.
O segundo grupo é composto por uma multidão originária
das nações que terão crido no evangelho do reino (V. 9).
Se Deus nos apresenta agora esse povo fiel, é como se
nos dissesse: Esses castigos não são para eles, pois, sob a
minha proteção, eles passarão pela prova. Da mesma
forma os israelitas, na noite da Páscoa, foram identificados
pelo sangue do cordeiro e postos ao abrigo dos golpes do
anjo destruidor (Êxodo 12:13). E nesse sangue que os
crentes que vêm “da grande tribulação” terão lavado e
alvejado suas vestiduras (V. 14). A salvação deles é
assegurada do mesmo modo que a nossa: pelo precioso
sangue de Cristo. Então, o mesmo Cordeiro que os
purificou, “os apascentará e os guiará para as fontes da
água da vida” (V. 17; Isaías 49:10). O próprio “Deus
lhes enxugará dos olhos toda lágrima”. Que promessa! E
dada de antem ão em face de um a tribulação sem
precedentes, para confortá-los.

495
Apocalipse 8:1-13

Na abertura do sétimo selo há uma breve pausa.


Enquanto os anjos se preparam para executar os juízos,
outro anjo (Cristo em pessoa) cumpre as funções de
intercessor (V. 3). Pelo que Ele mesmo padeceu, o
Senhor Jesus está em condições de identificar-se com os
crentes na provação (Hebreus 2:18; 4:15). Naqueles
últimos dias, Ele intervirá a favor dos fiéis da grande
tribulação (mencionados no capítulo 7). Então, por sua
vez, os cristãos que já estiverem reunidos na glória, tendo
eles m esmos experim entado na terra fadigas e
sofrimentos, terão tanto maior interesse nas circunstâncias
dos crentes que terão de atravessar esse terrível período.
Eles também serão sacerdotes com Cristo e apresentarão
a Deus “taças de ouro cheias de incenso, que são as
orações dos santos” (5:8).
Antes impedidos pela intercessão, cada um dos
sete anjos se dispõe ag o ra a to car sua terrível
trombeta. A primeira dá o sinal para um juízo repentino
que afetará as poderosas nações do Ocidente (as árvores)
e tam bém a prosperidade m undial. A segunda
corresponde à irrupção de uma grande onda de anarquia
dentro do império. A terceira e a quarta provocam a queda
e a apostasia das autoridades responsáveis, de modo que
os homens serão lançados nas mais profundas trevas
morais.

496
Apocalipse 9:1-21

Alguns comentaristas têm dado a estes capítulos as


mais fantasiosas interpretações, esforçando-se
particularm ente p ara enquadrar as profecias aos
acontecimentos contemporâneos. Convém lembrar que
toda esta terceira parte da visão de João acontece no
futuro. Diz respeito somente ao intervalo de alguns anos
que haverá entre a vinda do Senhor para buscar a sua
igreja e o início de seu reinado milenar.
A quinta trombeta, ou o primeiro “ai” (V. 12), liberta
do abismo um enxam e de gafanhotos m edonhos,
instrumentos diretos de Satanás, os quais infligem aos
judeus ímpios um tormento moral pior que a morte. Ao
mesmo tempo, os ferrões e as caudas semelhantes a
escorpiões (V. 10) ou serpentes (V. 19) representam
doutrinas enganosas e venenosas, pérfidas armas que
Satanás empregará como nunca (comparar Isaías 9:15).
Ao soar da sexta trombeta surgem cavalos fantásticos que
cospem fogo, fumaça e enxofre, e deixam atrás de si um
rastro de m orte. Seus cavaleiros usam couraças
(V. 9,17), ilustração da consciência cauterizada.
O emprego de uma trombeta para anunciar esses
juízos indica que se trata de advertências para os homens.
Contudo, o coração dos homens está tão endurecido que
nem mesmo esses desastres sem precedentes os levarão
ao arrependimento (V. 20,21).

497
Apocalipse 1 0 :1 -1 1 ; 11:1-3

O capítulo 10 e os versículos 1-3 do 11 se interpõem


entre a sexta e a sétima trombeta, da mesma forma que
o capítulo 7 constitui um parêntesis inserido entre o sexto
e o sétimo selo. Cristo aparece outra vez no aspecto de
“outro anjo” (V. 1), e novamente acompanhado de sinais
de graça. A nuvem que O envolve e as colunas de fogo
sobre as quais Ele está recordam os cuidados que Deus
evidenciou a Israel no deserto (Êxodo 13:21,22); o
arco-íris (compare Ap 4:3) fala da aliança de Deus com
a terra (Gênesis 9:13). Tudo isso é recordação indireta de
Suas promessas. Cristo também possui os atributos de
autoridade: o Seu rosto é como o sol, e Ele reivindica de
volta Seus direitos de proprietário da terra. Tem na mão
um livrinho aberto, o qual representa um curto período
da profecia já revelada no Antigo Testamento. Trata-se
da segunda “metade da semana” da grande tribulação
(Daniel 9:27), durante a qual Deus novamente reconhece
o templo, o altar “e os que naquele adoram” (11:1). Digno
de nota é que esses três anos e meio são apresentados em
meses (42) para falar da opressão (11:2), mas também
em dias (1260) p ara m edir o testem unho do
remanescente fiel. Deus contou cada um desses dias e
sabe o que cada um representa de coragem e o que
implica de sofrimentos (Salmos 56:8).

498
Apocalipse 11:4-19

As duas testemunhas representam o testemunho


correto e completo dado pelo piedoso remanescente
durante a tribulação final. Elas se apresentam com as
características de Elias e de Moisés, os quais tinham sido,
nos tem pos som brios da história de Israel, fiéis
testemunhas de Deus. Em resposta à oração de Elias, o
céu se fechou por três anos e meio (V. 6; Tiago 5:17;
compare o V. 5 com 2 Reis 1:10-12). Moisés, por sua
vez, recebeu o poder para transformar água em sangue
(vida em morte: Êxodo 7:19) e ferir a terra com toda
classe de pragas. Essas testemunhas fiéis serão mortas em
Jerusalém pela besta romana “que surge do abismo”
(V. 7), mas a lembrança de que nesse mesmo lugar, antes
deles, “o Senhor foi crucificado”, as consola (Lucas
13:33,34). E para assombro de seus perseguidores, o
martírio delas será seguido por uma espetacular e pública
ressurreição.
Finalmente soa o último “ai”. Com ele chegaram duas
coisas: o reino do Senhor (V. 15) e também Sua ira
(V. 18; Salmos 110:5). No versículo 6:17, os homens
criam, aterrorizados, que a ira do Cordeiro havia chegado!
Contudo, ela foi retida até o momento em que Cristo
toma posse do governo do mundo. Então o céu se rompe
em cânticos de triunfo; os santos se prostram e adoram
Àquele que foi crucificado (V. 8b), mas agora reina pelos
séculos dos séculos (Lucas 1:33).

499
Apocalipse 12:1-18

Esta nova seção é introduzida pelo versículo 19 do


capítulo 11. A arca da aliança aparece aí como um sinal
de graça que precede os juízos que cairão sobre Israel.
Como essa é a nação da qual devia nascer o Messias
(representada aqui simbolicamente por uma mulher
grávida vestida com o sol), provoca, por isso, a furiosa
oposição de Satanás, o grande dragão vermelho. Na
Bíblia constatamos que essa inimizade entre a semente
da mulher e “a antiga serpente” (V. 9), anunciada já na
queda do homem, prosseguiu através de todos os tempos
(Veja Gênesis 3:15; Êxodo 1:22; 2 Reis 11:1; Mateus
2:16ss., por exemplo.). Em vão o diabo concentrou os
seus esforços para impedir o nascimento e a elevação do
Senhor Jesus, e o conseqüente cum prim ento dos
desígnios de Deus. Cristo e seus santos celestiais — a
criança arrebatada para Deus — estão agora fora de seu
alcance. Ademais, Satanás logo será atirado do céu para
a terra (leia Lucas 10:18; Romanos 16:20), onde vai
desencadear sua impotente ira contra o remanescente de
Israel. A característica deste rem anescente é que
“guardam os mandamentos de Deus” (V. 17b). Qual foi
para Cristo, e qual é hoje para nós, o segredo do poder
e da vitória sobre o Maligno? E ter a Palavra de Deus
habitando em nosso coração (Salmos 17:4; Mateus 4:4;
1 João 2:14b).

500
Apocalipse 13:1-18

Tendo sido lançado para a terra, o diabo aproveita


seu pouco tempo. Ele se valerá de dois instrumentos,
duas “bestas” (V. 1 e 11), termo que demonstra que
elas não têm nenhuma relação com Deus. A primeira
corresponde ao império romano reconstituído. Nele
reúnem -se as características dos três impérios
precedentes: a rapidez do leopardo (Grécia), a tenacidade
do urso (Pérsia), a voracidade do leão (Babilônia) (veja
Daniel 7:4-6) . No deserto, o Senhor Jesus recusara
receber de presente os reinos do mundo. Agora Satanás
os dá ao imperador romano e, em troca, assegura para si
a adoração de todo o mundo (V. 4; Lucas 4:5-8).
A segunda besta é uma imitação do Cordeiro, mas
sua linguagem a atraiçoa, revelando quem ela realmente
é, a saber, o Anticristo. Este exercerá o poder religioso,
realizará milagres e sustentará a primeira besta. A vasta
multidão de homens que ele seduzirá será marcada como
gado com o selo da besta romana. Esses homens são
chamados “todos os que habitam sobre a terra” (V. 8,14;
3:10; 6:10; 8:13; 11:10) porque seus interesses e todas as
suas aspirações estão na terra. Quão numerosa é essa
classe de pessoas hoje em dia! Em contraste, o versículo
6 m enciona “os que habitam no céu” (Filipenses
3:19,20). Que nós, os cristãos, demonstremos sem
equívoco onde está a nossa morada (Hebreus 11:13,14).

501
Apocalipse 14:1-13

Depois dos parêntesis que nos apresentaram a


trindade do mal, a saber, o dragão (cap. 12), a primeira
e a segunda besta (cap. 13), as sete visões do capítulo 14
estão associadas com a sétima trombeta, que ainda não
soou (11:15). Porém, antes de intervir para lidar com o
mal, Deus reconhece e separa um novo remanescente de
seu povo. São testemunhas que resistiram à corrupção
geral. Ao contrário das multidões, que carregam na testa
a marca da besta (13:16), estas têm o nome do Cordeiro
escrito na fronte (V. 1). Estamos de alguma forma
envergonhados de levar o nome do Salvador? Todos ao
nosso redor podem ver a quem pertencemos?
Esses crentes são “seguidores do Cordeiro por onde
quer que vá” (V. 4; compare com João 1:36,37).
Tendo-o seguido no opróbrio e no sofrimento, eles
também serão seus companheiros no reino. Alguns serão
mortos por sua fidelidade ao Senhor (comparar com
12:11). O versículo 13 lhes traz consolo. Longe de perder
sua parte no reino, são chamados “bem-aventurados”.
Além disso, suas obras os seguem (observem que não
vão à frente, pois ninguém alcançará o céu por meio de
suas obras). Queridos amigos, nossos privilégios como
cristãos são muito mais elevados. Queremos ser achados
menos fiéis que essas testemunhas dos últimos dias?

502
Apocalipse 14:14-20; 15:1-8

O Senhor anunciara certa vez a seus acusadores:


“Desde agora, vereis o Filho do Homem assentado à
direita do Todo-poderoso e vindo sobre as nuvens do
céu” (1:7; Mateus 26:64 e 24:30). E aqui está Ele, o Filho
do homem, sentado sobre uma nuvem branca (V. 14).
Outrora coroado com espinhos, agora com uma coroa
de ouro; no lugar de um caniço, uma foice afiada. Aquele
que foi julgado pelos homens, tornou-se o Juiz dos
homens. Revestido desta dignidade, Ele ordena a grande
ceifa da terra, seguida pela terrível uindima, ambas
anunciadas há muito tempo (por exemplo: Joel 3:13;
Mateus 13:30, 39).
Uma última série de juízos (as taças) está para começar
no capítulo 15. Também dessa vez os santos, que terão
de passar por eles, são primeiramente vistos num estado
de segurança (V. 2-4). Só depois vemos os sete anjos
encarregados da execução das pragas sair do templo e
receber as sete taças de ouro cheias da ira de Deus (veja
Jeremias 25:15). Queridos amigos cristãos, este mundo
que vai ser julgado é o mesmo a que Deus amou de tal
m aneira que lhe deu S e u único Filho . Os anjos
destruidores ainda não receberam sua terrível missão.
Enquanto esperamos, nós temos uma missão muito
diferente por realizar: proclamar ao mundo a graça de
Deus (2 Coríntios 5:20).

503
Apocalipse 16:1-21

As sete taças derramadas sobre a terra recordam as


pragas do Egito: feridas, água transformada em sangue,
trevas, rãs, trovões, chuvas de granizo e fogo (veja Êxodo
9:23). Em vez de arrependimento, essas calamidades
suscitam blasfêmias (V. 9,11,21). Contudo, ao Deus justo
rende-se um triplo testemunho: dos vencedores (15:2-4),
do anjo das águas (16:5) e do próprio altar (16:7).
As quatro primeiras pragas atingem respectivamente
as mesmas áreas que as quatro primeiras trombetas
(8:7-12). A quinta alcança “o trono da besta”. A sexta
prepara “para a peleja do grande Dia”. Finalmente, com
o derramar da última taça, ressoa do trono a grande voz:
“Feito está!”. Quão diferente ela é do grito: “Está
consumado!” (João 19:30), que nos anunciou o fim da
ira de Deus contra o pecado, depois de Seu Filho ter
sorvido na cruz o cálice que merecíamos.
Esses terríveis acontecimentos estão mais próximos
do que pensamos. Que possamos sempre considerar o
m undo como um lugar que vai ser julgado, e ter
consciência da horrenda ira, da qual não escapará. Isto
nos preservará da indiferença, seja para com o mal que
está no mundo, seja para com o juízo divino que o espera.

504
Apocalipse 17:1-18

A última taça contém o juízo da Babilônia (16:19),


tema apresentado com detalhes nos capítulos 17 e 18.
Trata-se da igreja apóstata, a cristandade meramente
professa, da qual todos os verdadeiros filhos de Deus
serão retirados na ocasião da vinda do Senhor. Essa
igreja, infiel a Cristo, corrompeu-se mediante alianças
impuras com o mundo e seus ídolos. Como bem já se
disse: “A corrupção do que há de melhor é a pior forma
de corrupção”. Essa “meretriz” está “montada numa
besta”, e obtém a sua força do poder político (V. 3).
Embora o Senhor Jesus tenha declarado: “O meu reino
não é deste mundo” (João 18:36), ela quer o domínio da
terra. Finalmente, e acima de tudo, ela perseguiu e matou
os verdadeiros santos (V. 6).
0 apóstolo ficou totalmente assombrado diante dessa
cena. Será esse o rumo que tomará igreja responsável?
Infelizmente a sua história no curso dos séculos o tem
confirmado muito bem, embora seu estado final aqui
descrito ainda não tenha sido alcançado. Os versículos
17 e 18 nos mostram como perecerá essa “mãe das
abom inações”. Experim entará a m esm a sorte de
sofrimentos que infligiu às “testemunhas de Jesus”. Esta
última expressão nos permite reconhecer toda a ternura
do coração de Deus (V. 6; veja também 2:13).

505
Apocalipse 18:1-13

Essas visões podem ser comparadas a uma série de


fotos que retratam os acontecimentos de diferentes
ângulos e iluminação. A queda de Babilônia é vista aqui
executada diretamente pelo “Senhor Deus” (V. 8, 20).
Mas antes disso foi proferida uma ordem no versículo 4:
“Retirai-vos dela, povo meu”. (Compare com a profecia
de Jeremias contra a Babilônia antiga: 51:7,8,37,45...).
E uma conclamação que também vale para nós hoje:
“Retirai-uos do meio deles, separai-vos, diz o Senhor”
(2 Coríntios 6:17). E um convite a cada redimido para
separar-se completamente do mundo religioso com
princípios mistos, tal como vemos aqui em seu estado
final (compare Números 16:26). Alguns nos acusarão
equivocadamente de falta de amor, de mentalidade
estreita e de pretensão de ter espírito superior. O essencial,
no entanto, é obedecer ao Senhor.
Os versículos 12 e 13 nos apresentam uma lista de
“tudo que há no mundo” (1 João 2:16,17) e serve para
satisfazer as muitas concupiscências dos homens. A lista
começa com o que os homens consideram ser mais
valioso: o ouro, e termina com o que é de menor valor
aos olhos da falsa igreja, mas que é tão precioso para
Deus: a alma dos homens .

506
Apocalipse 18:14-24

O choro e o pranto dos mercadores (V. ll,15ss.)


recordam as queixas de Demétrio e dos artífices de Efeso,
os quais tem iam perder o “m uito lucro” e a
“prosp erid ad e” que a adoração aos ídolos lhes
proporcionava (Atos 19:24,25,38). No fundo, que
diferença há entre a “grande Diana dos efésios” e a
“grande Babilônia”, entre a idolatria pagã e a cristandade
corrompida?
Qualquer religião que dê ao homem todos os frutos
“que a tua alma tanto apeteceu” (V. 14), encante os
sentidos enquanto adorm ece a consciência (neste
aspecto, a música desempenha um papel importante:
V. 22; Daniel 3:7), favoreça o comércio e sirva de
pretexto para toda a espécie de prazer não pode deixar
de ter sucesso. Basta observar o período do fim de ano
para constatar a maneira mundana que muita gente
celebra o nascimento do Senhor Jesus.
“Nela se achou sangue... de santos” (V. 24). No
começo da Bíblia, na cidade edificada por Caim, havia
muitas coisas agradáveis... enquanto o sangue de Abel
clamava a Deus (veja Gênesis 4:10,17 ). Hoje o mundo
religioso se regozija enquanto o verdadeiro crente sofre e
se aflige (João 16:20). Amanhã ressoarão aqui na terra os
suspiros dos “ais” , tendo por contrapartida o regozijo do
céu (V. 20)! Que Deus nos permita ver pela fé tudo como
ele vê!

f>07
Apocalipse 19:1-16

A fraude da Babilônia, sua pretensão de ser a igreja,


foi publicamente desm ascarada. E agora o Senhor
apresenta sua verdadeira noiva aos convidados do
banquete celestial. O céu rompe em louvores: “Aleluia! A
salvação, e a glória, e o poder são do nosso Deus” (V. 1).
Que santa alegria! “São chegadas as bodas do Cordeiro
(v.7). A alegria da esposa conesponde à do esposo! Ela
é o objeto da graça; seu adorno consiste nos atos de
justiça dos santos. Deus lhe concedeu que os realizasse
para a glória dele. Os “convidados” também estão cheios
de gozo, porque “o que tem a noiva é o noivo; o amigo
do noivo, que está presente e o ouve muito se regozija
por causa da voz do noivo” (João 3:29).
Não nos esqueçamos, enquanto aguardamos esse
dia, de que tem os sido “prep arad o s” p ara ser
apresentados “como virgem pura a um só esposo, que é
Cristo” (2 Coríntios 11:2). Guardemos para ele toda a
pureza de nosso amor e o frescor de nossos afetos.
Conquanto para a Igreja ele seja o Amado, para o
mundo será o grande Juiz. Com o nome que adotou
anteriormente para nos manifestar a graça e a verdade,
“o Verbo de Deus”, Ele então realizará “coisas terríveis”
(Salmos 45:4; veja também Isaías 59:18; 63:1-6).
Amigo, quando e como você quer encontrar o Senhor
Jesus? Agora como Salvador, ou breve como Juiz?

508
Apocalipse 19:17-21; 20:1-6

Ao contrário da “ceia das bodas do Cordeiro” (V. 9),


vemos aqui o que é se chama ironicamente de “a grande
ceia de Deus” (V. 17b; Salmos 2:4,5; Sofonias 1:7). O
confronto final entre os exércitos do Filho de Deus e os da
besta terminará no aniquilamento total destes últimos. Sem
nenhum outro julgamento, a besta e o falso profeta serão
lançados vivos dentro do lago de fogo (V. 20; compare
Números 16:33; Salmos 55:15). Em seguida Deus se
ocupará de Satanás, o senhor deles. No capítulo 12, vimos
que ele tinha sido lançado do céu para a terra. Aqui objetos
simbólicos —a chave do abismo e uma grande corrente —
impedem o grande homicida de continuar causando dano.
Em Apocalipse 20:10, temos então o seu destino final:
após sua prisão de mil anos, ele será lançado no lago de
fogo “preparado para o diabo e seus anjos”, (Mateus 25:41)
onde se reencontrará com os seus dois cúmplices. Não é de
admirar que o diabo tema o livro de Apocalipse mais que
qualquer outro livro da Bíblia. Para impedir que as pessoas
o leiam, ele quer convencer até os crentes de que se trata
de um livro obscuro.
Com Satanás preso, não há nada mais que se oponha
ao glorioso reinado do Senhor. Já vimos que esse reinado,
contrariamente ao que muitos pensam, não chegará
mediante uma melhoria progressiva do mundo, mas por
meio de juízos. Queridos filhos de Deus, Cristo quer
compartilhar conosco o seu reino (Daniel 7:18). Não nos
associemos hoje com um mundo que vamos julgar amanhã
(leia 1 Coríntios 6:2).
509
Apocalipse 20:7-15

Mil anos de bênçãos não terão mudado o coração do


homem. Satanás, uma vez solto, conseguirá suscitar uma
última e gigantesca rebelião das nações, à qual Deus
reagirá com um juízo breve e fulminante. Agora é chegada
a hora mais importante: cumpre-se Hebreus 9:27 (mas
também João 5:24). Todos os mortos comparecem diante
do grande Juiz. Houve muitas diferenças entre eles
durante a vida na terra. Alguns foram grandes, honrados
pelos seus semelhantes (Lucas 16:19), outros pequenos
e até marginalizados pela sociedade (Lucas 23:39). Aqui
estão todos reunidos sem nenhuma distinção, “pois todos
pecaram...” (Romanos 3:23). Para provar isso são abertos
livros, e cada um vai constatar, para seu terror, que todas
as suas obras foram registradas ali, listadas uma por uma
(Salmos 28:4). Quem pode suportar a leitura de uma
única página do livro de suas obras? O livro da vida
também se abre, mas só para confirmar que o nome
desses não se acha nele. “Lançai-o para fora, nas trevas”
(Mateus 22:13), é a sentença do supremo Juiz. Partilharão
da mesma sorte que Satanás: um tormento sem esperança
e sem fim...
Leitor, você será julgado segundo as suas obras ou
segundo a obra do Senhor Jesus ?

510
Apocalipse 21:1-8

Virou-se a página. A história da primeira criação teve


seu fim. Começa a eternidade de glória, em que Deus
será rodeado de benditas criaturas que terão capacidade
de conhecê-lo e compreendê-lo. “Deus estará com eles e
será o seu Deus” (v.3 - r.c ). Os santos se alegrarão em
seu Deus para sempre, pois o tempo terá deixado de
existir. O mar (símbolo de confusão e divisão das nações)
não existirá mais. Todos os redimidos terão alcançado
seu porto seguro. Nesse novo mundo a morte terá sido
abolida (1 Coríntios 15:26, 54); não haverá mais noite
nem maldição (V. 25; 22:3,5); não haverá mais luto,
nem pranto, nem dor, porque Deus habitará para sempre
com os homens (V. 4). E o que acontecerá aos que
ficaram de fora? A parte deles será a segunda morte, as
trevas, as lágrimas do remorso, a etema separação da
presença do Deus santo. Nesse lugar estarão os
incrédulos, os quais expressamente rejeitaram a salvação,
mas também, os covardes, que não fizeram uma firme
decisão por Cristo; finalmente os mentirosos e os
hipócritas, que fingiram ser cristãos. Amigo, permita-nos
perguntar-lhe uma vez mais: Onde você passará a
eternidade?

511
Apocalipse 21:9-27

Depois de permitir um vislumbre do estado eterno


(V. 1-8), o Espírito volta ao período do reinado de Cristo.
Apresenta-nos uma cidade, que não é mais Roma nem
Babilônia, mas a santa Jerusalém, “a noiva, a esposa do
Cordeiro”. Toda esta descrição deve ser entendida como
simbólica. Nossos atuais sentidos não podem perceber,
nem nosso espírito, conceber como será a nova criação
(1 Coríntios 13:12). Como explicar, por exemplo, as
cores a um cego de nascimento? Por isso, Deus toma o
que há de mais belo e de mais raro sobre a terra — o ouro
e as pedras preciosas — para nos dar alguma noção do
que nos espera no céu. O seu fulgor e a sua muralha de
jaspe V. 11,18) nos falam da manifestação das glórias
de Cristo na Igreja e por meio dela (4:3). Esta é iluminada
pela brilhante luz da lâmpada: a glória de Deus vista no
Cordeiro (V. 23). A cidade santa, por sua vez, vai irradiar
essa luz divina para proveito da terra durante o milênio
(V. 24). E exatamente isso o que João 17:22 quer dizer:
“Eu lhes tenho transmitido a glória que me tens dado...
eu neles, e tu em mim... para que o mundo conheça..
Como poderia “coisa alguma contaminada” penetrar
no lugar onde habita o Senhor? (V. 27; leia também
2 Coríntios 7:1).

512
Apocalipse 22:1-9

Os versículos 1 a 5 complementam a visão da cidade


santa durante o milênio. Constatam os a notável
semelhança que há entre a primeira e a última página da
Bíblia! As Escrituras começam e terminam com um
paraíso, um rio, uma árvore da vida. Mas, como escreveu
alguém, o fim é mais belo que o começo, o ômega é mais
grandioso que o alfa, o paraíso futuro não é a volta do
antigo, mas é o “paraíso de Deus” (2:7) com a eterna
presença do Cordeiro, que morreu por nós. Somente os
pecadores salvos pela graça tem acesso a esse lugar,
homens como o ladrão convertido na cruz (Lucas 23:43).
E qual a ocupação de seus habitantes? Servirão a seu
Senhor (V. 3; 7:15); reinarão com ele (final do V. 5;
Daniel 7:27). Uma coisa, entretanto, lhes será mais
preciosa do que todos os reinos: “contemplarão a sua
face...” (V. 4; Salmos 17:15).
Normalmente um servo “não sabe o que faz o seu
senhor” (João 15:15). O Senhor Jesus, contudo, não
esconde de Seus servos, que vieram a ser Seus amigos,
nada das “coisas que em breve devem acontecer” (V. 6).
Não é estranho, portanto, que demonstremos tão pouco
interesse por essas maravilhas que nos dizem respeito?
(1 Coríntios 2:9). Não é mais triste ainda que não
tenhamos maior interesse por aquilo que o Pai tem
preparado para a glória e o gozo de Seu Filho? (veja João
14:28).

513
Apocalipse 22:10-21

Para Daniel e o povo judeu, a profecia estava selada


até o seu cumprimento futuro (Daniel 12:9) . Para o
cristão, ela não está mais oculta (V. 10). Toda a Bíblia
lhe foi dada para ser compreendida e crida. O Senhor nos
permitiu que a contemplássemos juntos por intermédio
destas folhinhas. Que Ele nos ajude a estudá-la cada vez
mais (João 5:39). Os comentários bíblicos também são
de grande valia para nosso estudo. Que ao voltar, o
Senhor nos encontre entre os que guardam Sua Palavra
e não negam seu nome (3:8). O próprio Senhor nos
recorda uma vez mais o doce e incomparável nome de
Jesus, esse nome de sua humanidade: “Eu, Jesus”, sou
“a brilhante estrela da m anhã”, Aquele que vem (V. 16).
Nós não aguardamos um acontecimento, mas uma
Pessoa conhecida e amada.
“Vem!” Este é o desejo que o Espírito desperta em
nós, ao qual o Senhor Jesus responde com Sua promessa:
“Eis que venho sem demora” (V. 7,12,20). Os afetos da
noiva ressoam como eco: “Amém! Vem, Senhor Jesus!”.
Nós fomos convertidos tanto para servi-Lo , para
convidar os sedentos que queiram vir (V. 17), quanto
para esperá-LO (1 Ts 1:9,10). Porém o Senhor sabe
que, tanto p ara servi-LO com o para esperá-LO ,
necessitamos de toda a Sua graça (V. 21). A graça é o
recurso perfeito e suficiente para nos guardar “até que ele
venha” (1 Coríntios 11:26b).

514
índice
EMANUENCE DIGITAL
M a te u s ............................................................. 3 - 6 6
M a r c o s ....................................................... 6 7 - 1 0 7
L u c a s .........................................................1 0 8 -1 7 5
J o ã o ........................................................... 1 7 6 -2 2 8
A to s.............................................................2 2 9 -2 8 3
R o m a n o s................................................... 2 8 4 -3 1 5
1 C o rín tio s............................................... 3 1 6 -3 4 0
2 C o rín tio s............................................... 3 4 1 -3 5 8
G á la ta s....................................................... 3 5 9 -3 6 7
E fésios........................................................ 3 6 8 -3 8 0
F ilipenses................................................... 3 8 1 -3 8 8
C o lo ssen ses...............................................3 8 9 -3 9 6
1 T essalonicenses.................................... 3 9 7 -4 0 4
2 T essalo n icen ses.................................. 4 0 5 -4 0 7
1 T im ó teo ..................................................4 0 8 -4 1 5
2 T im ó teo ................................................. 4 1 6 -4 2 0
Tito...............................................................421 -4 2 3
Filem om ..................................................... 4 2 4 -4 2 5
H eb reu s...................................................... 426-448
Tiago............................................................ 449-456
1 Pedro........................................................457-465
2 Pedro........................................................466-471
1 J o ã o ......................................................... 472-480
2 J o ã o ..................................................................481
3 J o ã o ..................................................................482
J u d a s............................................................483-484
A pocalipse..................................................485-513
515
Cuia; ) devocional

EMANUENCE DIGITAL
Um comentário bíblico simplificado, de Mateus a Apocalipse
Ê B P- - - - - - - - ~TZ. —
► Você já se propôs ler o N o v o Testamento capítulo por capitulo?
— --F~ ■J
Todo cristão devería te-zer isso! E o Cuia devocional poderá tomar sua
leitura mais proveitosa. Proporcionando uma visão panorâmica do contexto bíblico, este
comentário diário permite ao leitor aprender a compreendere aplicar a Palavra de Deus.

P* Já fez o propósito de reunir sua fam ília diariam ente para a leitura da
Bíblia?
E responsabilidade dos pais não somente ler a Bíblia, mas também explicá-la aos
filhos. Os comentários do Cuia devocional são ideais para acompanhara
leitura bíblica em família. Não têm caráter infantil, mas são curtos bastante para não
cansar os filhos pequenos que ouvem junto, e permitem sejam aproveitadas breves
ocasiões em que a família está reunida, como, por exemplo,
após as refeições.

► Ja encontrou dificuldades no estudo de uma determ inada porção da :


Escritura?
tk p p jin i" Inrianaaniüs owi» l«f
Cuia devocional é um comentário bíblico de fácil ISRN 85- 9844I - 26- 0
consulta, texto sucinto e linguagem compreensível.
Uma referência sempre à mão para o estudioso das Escrituras.

O E P Ó Ü i r O BE LITERATURA CRISTÃ

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