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O IPHAN e o seu papel na construcao/ampliacdo do conceito de patriménio histérico/cultural no Brasil Almir Félix Batista de Oliveira’ Resumo O presente artigo busca discutir a ampliagao teérica e a acao pratica do Instituto de Patriménio Histérico e Artistico Nacional ~ IPHAN em relagio ao conceito de patriménio cultural brasileiro. Palavras-Chave: Patriménio Cultural, politicas de preservacao, IPHAN. CCademos do CEOM ~ Ano 21, n, 29 — Bens eulturas ¢ ambientais Introdugio A febre avassaladora do preservar/conservar tomou conta de 1nés e assumiu um papel relevante em fins do século passado. Além dos diversos érgaos, nos diversos niveis administrativos, especializados na érea de preservacdo/conservacio, articularam-se ~ inclusive em termos de vislumbrarem af novas possibilidadesmidia, empresas turisticas, Estados com caréncia e necessidade de geragio de empregos, entre varios outros setores das mais diversas economi- as para empunharem essa bandeira, na tentativa /obrigatoriedade de serem ouvidos e porem em prética suas propostas. Politicas piblicas foram gestadas, instituigdes passaram a ser consultadas, as cidades passaram a ser vistas de outra forma e com outra finalidade. Sacramentou-se o planejamento urbano. Realiza- ram-se Congressos internacionais, nacionais e locais' para se discu- tir o assunto e para poder pensar/construir essas novas propostas, essas novas politicas. O termo Patriménio Hist6rico assumiu um lugar de referéncia jamais visto anteriormente, Entretanto, como poderiamos definir patriménio histérico atualmente? Como se deu a construgao desse conceito no Brasil re- alizado pelo Instituto de Patriménio Hist6rico e Artistico Nacional — IPHAN? O que significou a mudanga do conceito de patriménio histérico para patriménio cultural, conforme a Carta Constitucio- nal de 1988? Essas sao algumas das questées que buscamos discutir no presente artigo. ‘Tomemos como referéncia os seguintes conceitos ‘A expressio designa um bem destinado ao usufruto de uma comunidade que se ampliou a dimens6es planetarias, constituido pela acumulagdo continua de uma diversidade de ‘objetos que se congregam por seu passado comum: obras e obras-primas das belas-artes e das artes-aplicadas, trabalhos e ‘prodiatos de todos os saberes e savoir-faire dos seres humanos (CHOAY, 2001. p. 1). 20 © IPHAN ¢ o seu papel na consrugio/ampliagso do conceita de patriménio histricocatral no Brasil ~ Almir Félix Batista de Olvera Ou ainda: CO conjunto dos produtos artsticos, atesanais e téenicos, das expressies litersrias, linglifsticas e musicais, dos usos e costumes de todos os povos e grupos étnicos, do passadoe do presente (COELHO, 1999, p.) (Ora, alguns bens que sao alcados a categoria de monumento, objetos que, como bem nos indica Alois Riegl (APUD BOMENY, 2001, p. 88), podem ser criados com a finalidade explicita de cum- prir essa obrigagdo — os monumentos intencionais ~ no intuito de comemorarem grandes feitos, grandes personagens, demonstran- do o poder que detém alguns de mobilizar os meios necessérios & construgao dos mesmos, ou os que podem ser algados a essa condi- ‘0 de monumento - é ai como podemos enquadrar os histéricos — bens escolhidos no intuito de serem considerados referéncias do passado, com um valor de testemunho, onde importa mais a auten- ticidade do que a imponéncia. Passam a pertencer a uma cataloga- ‘co em que os componentes da mesma assumem fungdes, néo mais parecidas ou iguais as originais para a qual foram criados, mas que, revestidos de novas caracteristicas, tem-nos a obrigagao de lembrar. Como nos afirma Le Goff: [ul 0 que sobrevive nio é o conjunto daquilo que existiu no passado, mas uma escolha efetuada quer pelas forcas que ‘operam no desenvolvimento temporal do mundo ¢ da humanidade, quer pelos que se dediquem ciéncia do passado edo tempo que passa, os historiadores (LE GOFF, 1996, p. 535). Bens escolhidos que se prestam, que tém, por finalidade, nos Jembrarem, guardarem na nossa meméria atos, fatos, acontecimen- tos passados e “dignos” de nao serem esquecidos. Sio como supor- tes, construidos e preservados no intuito de manutencao/perpetu- acdo dessa meméria. Por isso, destruir estes suportes constitui-se em forma eficaz de dominagao, por vezes coercitiva, mas, muitas vezes, também negociada, exercida pelos setores vencedores das relagdes de disputa, nas relagdes de poder. CCademos do CEOM ~ Ano 21, n, 29 — Bens eulturas ¢ ambientais Relagies de poder entre quem sacraliza® e quem apenas acei- ta ou negocia a sacralizagao de determinado suporte, sem que isso possa parecer uma simples idéia de dominacdo sem resisténcia, po- rém, que pode ser enquadrada numa espécie de aceitacdo pacifica ow negociada. Relagées de poder que tém como ponto de partida um vencedor, a sobrepujar e definir o que deve servir de referéncia a todos, e que, na maioria das vezes, tratam as diversas memérias como menores, na possibilidade de hierarquizacao da produgao cultural. Como se a cultura produzida ou a meméria produzida/ Jembrada pelos dignitarios da sacralizagao em certos aspectos fosse superior, melhor ou mais importante que a cultura produzida ou a meméria produzida/lembrada pelos menos, digamos abastados culturalmente, ou inferiorizados politicamente. Porém, é sempre bom se precaver, ¢ espero que isso nao signifique uma simples troca entre uma cultura /meméria ou até mesmo uma forma de escrita da historia por outra, em um proceso de substituigéo mecanico maniquefsta. Longe disso, nao é 0 que queremos e muito menos 0 que defendemos. Afinal, como nos bem coloca Hobsbawm: [1 uma historia que seja destinada apenas para judeus (ou afro-americanos, ou gregos, ou mulheres, ou proletarios, ou homossexuais) nao pode ser boa histéria, embora possa ser uma histéria confortadora para aqueles que a praticam, Infelizmente, como demonstra a situacio em areas enormes do mundo no final de nosso milénio, a histéria ruim nio é historia inofensiva. Ela 6 perigosa. As frases digitadas em. teclados aparentementeindcuos podem ser sentengas de morte (HOBSBAWM, 1998, p. 292) A construcao do conceito de patriménio histérico pelo IPHAN O processo/projeto de preservacao do patriménio histérico € conseqiientemente a criagdo de um determinado conceito sobre o mesmo, baseava-se na possibilidade do contar da hist6ria através do construido, do edificado, do monumental, iniciou-se oficialmente © IPHAN ¢ o seu papel na consrugio/ampliagso do conceita de patriménio histricocatral no Brasil ~ Almir Félix Batista de Olvera no ano de 1936?, com a criag3o do SPHAN - Servigo do Patriménio Hist6rico e Artistico Nacional, e obteve forga de lei com o Decreto- Lein.° 25, de 30 de novembro de 1937, que tinha por finalidade: “.. organizar a protegao do patriménio histérico e artistico nacional”! Esse Decreto-Lei, que ficou mais conhecido como a Lei do Tombamento, foi assinado, pelo presidente Getiilio Vargas e encon- trou na pessoa do presidente um grande incentivador. Além disso, podemos, ainda, nos lembrar das construges monumentais de ca- racteristicas modernas, implementadas nesse perfodo. O projeto de criagio do SPHAN foi baseado em um anteproje- to elaborado por Mério de Andrade, que criava 0 SPAN ~Servigo do Patriménio Artistico Nacional e definia esse patriménio como sendo: [ultodas as obras dearte pura ou de arte aplicada, popular ou. erudita, nacional ou estrangeira, pertencentes aos pocleres publicos, a organismos sociais e a particulares nacionais, a particulares estrangeiros, residentes no Brasil (APUD CAVALCANTI, 2000, p. 37-52). Projeto amplo tinha por objetivo: “[...] determinar, organizar, conservar, defender e propagar 0 patriménio artistico nacional” (APUD CAVALCANTI, 2000, p. 37-52). Mario de Andrade, sendo um modernista‘, buscava, através deste projeto, além de encontrar as origens da brasilidade, achava possivel e acreditava nisso, abrasileirar os brasileiros. O projeto fora solicitado por Gustave Capanema’,, entéo Mi- nistro da Educagao e Satide (MES)*, em 1936, e ficou pronto em curto espaco de tempo, porém, até a assinatura, em 1937, sofreu algumas alteragoes. ‘Além de acrescentado o termo histérico, exigéncia direta do Ministro Capanema, a definigio de patriménio hist6rico e artistico nacional passou a ser: [lo canjunto dos bens méveis e iméveis existentes no pais e cuja conservacao seja de interesse publico, quer por sua vinculacio a fatos memoraveis da historia do Brasil, quer por 23 CCademos do CEOM ~ Ano 21, n, 29 — Bens eulturas ¢ ambientais seu excepcional valor, arqueolégico ou etnogréfico, bibliografico ou artisico Era a construgdo de uma histéria nacional através dos monu- mentos histéricos onde se privilegiava a unidade nacional. Que ndo desse espaco aos regionalismos, afinal o projeto de Vargas era o for- talecimento e a estruturaco de um Estado burocraticamente cen- tralizado. Portanto, nao poderia, de certa forma, atender a toda ex- pectativa de Mario de Andrade, nem sua proposta que, embasada nas suas viagens interioranas, a primeira realizada em 1924— quan- do percorreu 0 interior de Minas Gerais — tinha o objetivo de conhe- cer verdadeiramente o Brasil e serviu: [-lpara agusar ointeresse pelas especificidades das expresses, culturais do pais, tornando-se fonte para a criagio erudita e orientadora da visio de patriménionacional.O abandono das edificages mineiras e das obras de Alejjadinho fortaleceram. o interesse de Mério e de seu grupo de amigos em lutar pela preservacao do que ja consideravam exemplares do ppatriménio hist6rico brasileiro (KERSTEN, 2000, p. 70). ‘A segunda viagem foi realizada em 1927 ao norte do pais e,na busca pela ampliacao dos seus conhecimentos antropolégicos e na tentativa de encontrar uma imagem que desse sentido real ao Brasil moderno, fez com que voltasse ao passado com o intuito interrogativo, procurando os elementos que garantissem visibilida- dea identidade brasileira. Uma terceira viagem foi realizada em 1929, a0 Nordeste, com o objetivo de fazer pesquisas de campo e resgatar a cultura brasileira e o imaginario local. ‘Ao mesmo tempo em que alertava que o Brasil no podia desconsiderar as influéncias culturais externas, valorizava os temas nacionais, a consciéncia da mestigagem, os valores de grupos minoritfrios e marginalizados (KERSTEN, 2000, p.70). Porém, a perspectiva para a politica a ser desenvolvida era outra, era a que, acima de tudo, favorecesse aos fatos memoraveis da hist6ria do Brasil. Entao, como justificar a arquitetura moderna — © IPHAN ¢ o seu papel na consrugio/ampliagso do conceita de patriménio histricocatral no Brasil ~ Almir Félix Batista de Olvera principalmente por se tratar de processo novo e importado - como delineador de uma visao de patriménio histérico no Brasil? Cabia ao SPHAN, além da organizagao, determinagao e tom- bamento do que era considerado patriménio histérico e artistico, também a articulacéo com outras entidades (Ex: Igreja, instituicdes Gientificas, etc.) para a conservacao/preservacio deste patriménio. A direcao executiva do SPHAN coube a Rodrigo Melo Franco de Andrade, sendo este seu diretor até 1967 — essa fase é conhecida como a “Fase Heréica” do SPHAN, principalmente pela falta de recursos, de estrutura e de pessoal especializado e pela quantidade monumental de trabalho a ser realizado. Coube, eficazmente, a0 Dr. Rodrigo”, acima de tudo, organizar a atuago do SPHAN. As equipes sob sua coordenagao tiveram um enorme trabalho na de- terminagao do patriménio histérico. Porém, também tiveram, para além do trabalho, bastante influéncia no que era determinado. As equipes eram, na sua maioria, formadas pelos intelectuais moder- nistas oriundos do “Movimento de 22”. Além do proprio Rodrigo e de Mério de Andrade, contava-se, também, com a participagao de intelectuais do porte de Manuel Bandeira, Liicio Costa, Oscar Niemeyer, Carlos Drummond de Andrade, entre varios outros. A construgao da nova sede do Ministério da Educagao e Sai- de, um prédio em estilo moderno, para abrigar parcela administra- tiva de um governo que se queria moderno, novo e unificador da nagdo, e a busca nas construgdes coloniais como suporte para a ati- vidade de preservagao/conservagao a ser adotada pelo SPHAN, sio considerados os marcos fundadores dessa dominagao. [Na visio de Lucio Costa, porém, anova arquitetura no rompia coma tradigfo, antes a recuperava no que ela tinha de melhor: pureza das formas, o listo, o equilibria etc. © passado a0 qual a nova arquitetura vinculava-seera dos valores ‘eternos’, caracteristicos da tradicio mediterranea de gregos e latinos € retomados no Quattrocento. A tradic3o da arguitetura moderna nio seria a das ‘formas’, mais a do ‘espirito’ e das ‘eis (LISSOVSKY, 1996. p.Xxi) CCademos do CEOM ~ Ano 21, n, 29 — Bens eulturas ¢ ambientais Em relag3o a construgao do MES, podemos verificar, ainda, a superioridade com que os modernos tratavam os seus trabalhos em relagao a outros. Como afirma Liicio Costa: L-Leste monumento, além de sua significagéo como obra de arte possi, ainda, um contetido moral: simboliza a vit6ria da inteligéncia e da honradez sobre o obscurantismo, a maliciae a mi-fé (LISSOVSKY, 1996, p.»). Em relagao a isso e ao papel do Governo Vargas, podemos verificar a importéncia primordial dada ao MES: O edificio do Ministério da Educagio e Satide ¢fruto do desejo inmeprimivel deconstruir de uma administragio ede uma époce (© Brasil Novo funda-se em um projeto construtivo: assentar as bases da nacionalidade, edificar a Patria forjar a brasilidade. O Brasil se eleva em seu “futuro ascensional'e, junto com ele, 0 ministério ergue seu monumento na Esplanada do castelo, no centro da capital da Replica (LISSOVSKY, 199, p. Xi). projeto do Ministério era modernista, assim como era pro- vavelmente 0 Ministro. A operago de fundamentacao do estilo arquitetOnico estava realizada — tanto que, em se tratando de pre- servacao, 0 estilo eclético que, além de se reportar a estilos anterio- res € a ser reconhecido como o modelo predominante na Velha Re- publica, teve seus exemplares praticamente relegados ao ato de ndo poderem constar dos catélogos do SPHAN. A predominancia, nos anos subseqiientes ao momento da escolha do patriménio histsrico nacional, recairia sobre a monumentalidade construfda em “pedra e cal”."" Os bens escolhidos para representarem o passado em for- ma de patriménio vao ter que se enquadrar nessa ética. Um passa- do calcado em herdis e fatos referentes a uma s6 raga formadora de nossa cultura. Uma prética que vai privilegiar as construgdes religi- ‘055, as militares, as residéncias senhoriais e os palcios ostentatérios de um poder centralizador e oligérquico e assim também estava definido 0 conceito de patriménio que iria nortear os trabalhos do instituto até o inicio da década de 1970. | 2% | © IPHAN ¢ o seu papel na consrugio/ampliagso do conceita de patriménio histricocatral no Brasil ~ Almir Félix Batista de Olvera Essa orientacdo vai ser a predominant durante os trinta anos de Rodrigo a frente do patriménio, até o seu afastamento em 1967, quando, entao, assume a diregao do érgao o Sr. Renato Soeiro - cuja administracdo vai de 1967 a 1979. Antigo funciondrio da casa manteve basicamente as diretrizes estabelecidas nos 30 anos anteriores. A mudanga mais significativa, nessa época, se deu devido a - mesmo que orientado para as cons- trugGes — uma nova politica de tombamentos que era dirigida e pas sava a preservacio dos conjuntos ¢ nao mais as construgées indivi- duais. Essa politica se dava basicamente devido ao processo rapido de industrializacao verificado nos fins da década de 50 e por toda a década de 60, pelo desenvolvimento da malha viéria — portanto, in- terferindo tanto no acesso como na composicao dos transitos as/ das cidades eo répido desenvolvimento urbanoe, conseqiientemente, uma grande valorizacao imobiliaria Nessa perspectiva, foi implementado o PCH - Programa Inte- grado de Reconstrugo das Cidades Histéricas, do Nordeste, em 1973, com um montante de recursos bastante elevado em se tratan- do da preservacao/conservacao de patriménio histérico. Em 1975, surgi a proposta de expansao do Projeto para os Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espirito Santo. ‘Um detalhe importante da implantacao do programa e de controle, por parte do Governo Federal, foi a solicitagao feita aos Estados através do Programa de Restauracao e Preservagao para 0 perfodo 1976/1979, onde estes deveriam indicar, entre outras coi- sas os monumentos a serem restaurados; o cronograma de execu- 40; 0s roteiros turisticos; as fontes de onde seriam retiradas as contrapartidas exigidas aos Estados, além da programacao de cur- sos para a formacdo de recursos humanos a geracdo de empregos ras éreas atingidas, bem como o apoio as atividades culturais para a valorizagao dos monumentos histéricos. CCademos do CEOM ~ Ano 21, n, 29 — Bens eulturas ¢ ambientais O inicio da mudanga de perspectiva Data da metade da década de 70, especificamente 1975, 0 surgimento de uma instituigao que comegaria a redirecionar os ru- mos até entao tomados pelo patriménio histérico no Brasil. A fun- dagio do CNRC - Centro Nacional de Referéncia Cultural, a prin- cipio independente do IPHAN?-PCH, tinha como objetivo o traga- do de um sistema referencial basico para a descrigao e andlise da dinamica cultural brasileira, com as seguintes caracteristicas: a) ade- quacao as condigdes especificas do contexto cultural do pais; b) abrangéncia e flexibilidade na descrigao dos fendmenos que se pro- cessam em tal contexto, ena vinculagao dos mesmos as raizes cultu- ais do Brasil; c) explicitagao do vinculo entre o embasamento cul tural brasileiro ea pratica das diferentes artes, ciéncias e tecnologias, objetivando a percepgao e o estimulo, nessas dreas, de adequadas alternativas regionais". Organizado por Aluisio Magalhies e tendo neste o seu diretor, tinha como objetivo final colocar as discussdes a respeito das variantes culturais como tema importante ¢ necessario de ser abordado quando se pensasse em politicas culturais no Bra- sil. Era 0 inicio da tentativa de se rever as politicas de preservacéo do patriménio, inclusive, uma busca pela retomada de questées co- locadas em 1936 por Mério de Andrade. Ocorre, entretanto, que o conceito de bem cultural no Brasil continua restrito aos bens méveis e iméveis, [1 Permeando essas duas categorias, existe vasta gama de bens - procedentes sobretudo do fazer popular ~ que por estarem. Inseridosna dinémica viva do cotidiano no sioconsideradas comobens culturaisnem utilizadosna formulacio das poiticas econdmica e tecnologica. No entanto, é a partir deles que se afere o potencial, se reconhece a vocagio e se descobrem os valores mais auténticos de uma nacionalidade. Além disso, € deles e de sua reiterada presenga que surgem expresses de sintese de valor criativo que constitui 0 objeto de arte OCNRC desenvolveu seus trabalhos em quatro Programas de Estudos: 0 do Artesanato, os dos Levantamentos Sécio-Culturais, 0 © IPHAN ¢ o seu papel na consrugio/ampliagso do conceita de patriménio histricocatral no Brasil ~ Almir Félix Batista de Olvera da Histéria da Ciéncia e da Tecnologia no Brasil e os dos Levanta- mentos de Documentagio sobre o Brasil, porém teve suas fungdes interrompidas em fins da década de 1970, com a extingao do Convé- nio que tinha entre os seus assinantes 0 Ministério da Indiistria e Comércio, 0 Governo do Distrito Federal, 0 Banco do Brasil e 0 CNPq, além de outros érgaos. Suas responsabilidades, direitos objetivos foram substituidas pela Fundacao Pré-Meméria. Anteriormente, em 1979, ocorreu, em 43 anos de vida, a se- gunda mudanga de Diretoria do IPHAN - com a saida de Renato Soeiro ea nomeagao de Aloisio Magalhaes, estavam dadas as condi- ‘Ges iniciais para a unificagao do IPHAN-PCH e 0 CNRC/Pré-Me- méria. As preocupacées oriundas do CNRC em relacao as questdes culturais passaram a fazer parte das preocupacdes do IPHAN-PCH, agora sob nova direcdo. O trabalho desenvolvido nao s6 pelo Pro- grama de Cidades Histéricas como pelo CNRC vieram, acima de tudo, alargar 0 conceito de bem cultural do IPHAN, complementando as atividades desenvolvidas pelo érgao. © esforgo no sentido de operacionalizar um conceito mais, abrangente de bem cultural, a obten¢ao do comprometimento de outras entidades com 0 Programa do IPHAN ¢ a instatraglo de um dislogo franco e leal com 2 comunidade atestam a tomada de consciéneia, por parte da instituigso, da inecessidade de se colocar a altura das exigéncias suscitadas pelo trato dos bens culturais num contexto histérico de alta complexidade como é o atual ‘a mudanga proporcionada no conceito de bem cultural e 05 trabalhos entdo em desenvolvimento foram drasticamente inter- rompidos com a prematura morte de Aloisio Magalhaes em 1982. Uma retomada nesta perspectiva s6 foi possfvel a partir de 1985 com © processo de redemocratizacao do pais e o retorno as discusses acerca da cultura nacional, inclusive com a criagao do MINC ~ Mi- nistério da Cultura, que incorporou o sistema SPHAN-Pré-Memé- ria. A Carta Constitucional de 1988 retomou os conceitos e propos- tas de Mario de Andrade sobre patriménio cultural - termo consi- CCademos do CEOM ~ Ano 21, n, 29 — Bens eulturas ¢ ambientais derado mais amplo que o de patriménio histérico por poder abarcar varios outros significados em relagéo ao patriménio, inclusive enfatizando que a preservacao deve existir até mesmo independente do ato de tombamento. Outro aspecto importante do perfodo foi a edigdo da Lei Sarney que objetivava a participacio a titulo de investi- mento do setor privado na rea de cultura com desconto do Imposto de Renda. Esta proposta é fundamentada nas Normas de Quito" Um detalhe muito importante também é que, com 0 processo implantado pela Nova Reptblica, com a possibilidade de redemocratizagao e abertura de espagos, 0 que se viu foi a entrada em cena de novos atores sociais de diversas naturezas, que clama- vam por serem ouvidos no tocante as questées culturais. Isso possi- bilitou que a discussao a respeito do patriménio incorporasse novos conceitos e discusses, como o de cidadania, melhoria da qualidade de vida, direito ao passado e 8 meméria, a pluralidade cultural, & defesa do meio ambiente, promovendo, assim, novas leituras e in- terferindo nas selecdes /delimitagdes dos bens patrimoniais. A década de 1990 foi marcada inicialmente pela posse do pre- sidente Fernando Collor de Melo, e isso significou, além de uma reestruturagio do SPHAN/Pré-Meméria, que passou a se chamar IBPC ~ Instituto Brasileiro de Patriménio Cultural, uma autarquia e ficou subordinada diretamente a Secretaria da Presidéncia da Re- publica, a implementacao de uma suposta politica participativa que 86 escamoteava, escondia 0 antigo e j4 conhecido discurso paternalista e autoritério, em relagdo a sociedade e & gestéo admi- nistrativa do Estado. Uma politica “modernizante” que em nada avangou nas questdes relacionadas & preservacdo/conservacao do patriménio cultural brasileiro e muitos menos fomentava a partici- pagdo dos grupos sociais na sua definicao. Nesse perfodo 0 que podemos apontar como algo minima- mente positivo, foi a edig’o da Lei Rouanet, ainda em vigor, que retomava aspectos da Lei Sarney — principalmente no tocante aos investimentos do setor privado na érea cultural, ¢institufa o PRONAC — Programa Nacional de Apoio a Cultura e isso significou um aumento © IPHAN ¢ o seu papel na consrugio/ampliagso do conceita de patriménio histricocatral no Brasil ~ Almir Félix Batista de Olvera do aporte financeiro em termos de politica cultural e programas de preservacdo/conservagao do patriménio. De extrema importancia, jé no final da década de 1990 foi a edigdo do Decreto n 3.551 de 04 de agosto de 2000 (esse decreto concretizaria as propostas enunciadas na Carta Constitucional de 1988 e ampliava de forma crucial o papel a ser desempenhado pelo IPHAN), que instituiu o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial, que viriam a constituir 0 Patriménio Cultural Brasileiro e criava o Programa Nacional do Patriménio Imaterial, que, como podemos observar em seu artigo primeiro, a partir dos seus Livros de Registro, nos daré uma idéia bastante significativa do que pode- riam ser elencados como bens de natureza imaterial: Artigo 1° - Fia instituido o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial que constituem patriménio cultural brasileiro. § 1° Esse registro se fars em um dos seguintes livros I. Livro de Registro dos Saberes, onde serio inscritos conhecimentos e modos de fazer enraizados no cotidiano das comunidades; IL Livro de Registro das Celebragbes, onde serio inscritos rituais efestas que marcam a vivéncia coleiva do trabalho, da zeligiosidade, do entretenimento e de outzas prticas da vida social LIL Livro de Registro das Formas de Expressio, onde serio insertas manifestagbeslitersias, musicals, plasticascénicase tidicas IV = Livro de Registro dos Lugares, onde serio inseritos _mercados,feiras, santusrios, praga e demais espagos onde se concentram e reproduzem priticas cultura coltivas. §2"A inscrigfo num dos livros de registro teré sempre como releréncia 3 continuidade historica do bem e sua relevincia nacional para a meméria, 2 identidade e 2 formacio da sociedade brasileira § 3° Outros livros de registro poderio ser abertos para a inscrigfo de bens culturais denatureza material que constituam patriménio cultural brasileiro e nio se enquadzem nos livzos definidos no paragrafo primeizo deste artigo.” O Decreto n° 3551 de 04 de agosto de 2000 é a concretizacgao em caréter juridico, ou seja, a fundamentacao e a justificagao legal CCademos do CEOM ~ Ano 21, n, 29 — Bens eulturas ¢ ambientais para a atuacao por parte do IPHAN (pois permite o ato do registro dos bens imateriais) do que trazia de novo a Carta Constitucional de 1988 em seu Artigo 216. Tinhamos assim a concretizago da am- pliagao do conceito de patriménio hist6rico para patriménio cultu- ral ea possibilidade de aceitag4o das chamadas diversidades cultu- rais tdo exigidas nos fins da década de 1970 e por toda a década de 1980. Isso possibilitou a aceitacao de novos olhares, de novas per- cepedes sobre a questdo do patriménio no Brasil, inclusive o inves- ltimento em setores da cultura brasileira que anteriormente estavam fadados ao esquecimento no que tange as chamadas politicas ptibli- cas de preservagao do patriménio ou nao constavam dos fatos me- mordveis e dignos de serem lembrados de nossa histéria. Algumas consideracées finais Nos tiltimos anos temos observado que a pratica de preserva- 40 do patriménio cultural brasileiro ampliou-se de forma bastante considervel nao s6 na sua formulacdo teérico-juridica, mas tam- bém, no que tange a participacao dos diversos grupos que com- piem a sociedade brasileira. Se compararmos o ntimero € o tipo dos bens inscritos nos livros de tombos entre 0 inicio das atividades do IPHAN e 0 término da chamada "fase herdica” em 1967-1970 com os dados que podem ser obtidos no site do Instituto por aqueles que ‘© acessam, poderemos observar um total de 689 (1967-1970), todos de natureza material (¢ aqui jé podemos verificar uma a utilizagao de uma nova tipologia para identificar os bens) e praticamente to- dos iméveis representando basicamente uma tinica classe, sem le- var em consideracao a diversidade cultural do nosso pais. Os dados atuais comprovam que nao sé essa lista se ampliou em termos nu- méricos com a seguinte distribuigéo por livro de tombo: a) Livro arqueolégico, etnografico e paisagistico - 119bens; b) Livro Histéri- co -557 bens; c) Livro de Belas Artes ~ 682 bens; d) Livros das Artes Aplicadas— 4 bens, como a inclusdo do patriménio imaterial jé assu- me em to pouco tempo uma relevancia grande junto as politicas [oa | © IPHAN ¢ o seu papel na consrugio/ampliagso do conceita de patriménio histricocatral no Brasil ~ Almir Félix Batista de Olvera desenvolvidas pelo IPHAN nos tiltimos anos e isso pode ser com- provado numericamente pelos seguintes dados: Bens Imateriai Registrados — 13 bens (Oficio das Paneleiras de Goiabeiras; Kusiwa — Linguagem e Arte Grafica Wajapi; Cirio de Nossa Senhora de Nazaré; Samba de Roda do Recéncavo Baiano; Modo de Fazer Vio- la-de-Cocho; Oficio das Baianas de Acarajé; Jongo no Sudeste; Ca- choeira de Iauareté - Lugar sagrado dos poves indigenas dos Rios Uaupés e Papuri; Feira de Caruaru; Frevo; Tambor de Crioula do Maranhao; Samba do Rio de Janeiro; Modo artesanal de fazer queijo de Minas. Além de uma série (16) de bens imateriais em fase de registro listadas a seguir: Complexo Cultural do Bumba-meu-Boi do Maranhao; Festa do Divino Espirito Santo de Piren6polis; Regis- tro da Localidade de Porongos; Festa de Sao Sebastido, do municf- pio Cachoeira do Arari, da Ilha de Maraj6; Registro das Festas do Rosario; Registro da Capoeira; Ritual Yakwa do povo indigena Enawené Nawé; Artesanato Tikuna AM; Farmacopéia Popular do Cerrado; Circo de Tradicao Familiar; Modo de Fazer Renda Irlande- sa; Lugares Sagrados dos Povos indigenas xinguanos/MT; Lingua- gem dos Sinos nas Cidades Histéricas Mineiras Sao Joao Del Rei, Mariana, Ouro Preto, Catas Altas, Serro, Sabaré, Congonhas e Diamantina; Registro do Mamulengo; Feira de Sao Joaquim, Salva- dor/BA® Em contrapartida podemos observar que essa ampliagao efe- tivou-se para alguns setores do Instituto, porque ainda é muito co- ‘mum vermos pouca ou quase nenhuma preocupagio de técnicos (e aqui temos uma constatagio, esses so, na sua grande maioria, ar- quitetos que ainda insistem em uma hierarquizacao que tem como base, a superioridade do material sobre o imaterial) em relacéo & preservacao do patriménio imaterial ou por outro lado o posicionamento de alguns que aceitando a condicao do imaterial como possibilidade de representar o patriménio cultural brasileiro passam a traté-lo como algo exético, que precisa ter uma materialidade a vista de todos (para justificar seu registro), numa agdo para muitos de benevoléncia para com a cultura das minorias CCademos do CEOM ~ Ano 21, n, 29 — Bens eulturas ¢ ambientais (na grande totalidade das vezes, maiorias) antes ndo representadas no pantedo do patriménio nacional, como se esses grupos nao tiv sem lutado para combater um proceso de homogeneizacao construido /imposto ao longo da histéria do Brasil e das praticas de preservacao do patriménio. E como se a prépria construgao da no- 40 de patriménio anteriormente defendida nao fosse uma escolha, ato que, quando se presta a moldar um conceito destréi a possibili- dade de outras visdes, de outros caminhos, de outras realidades. papel desempenhado pelos grupos sociais, principalmente na década de 1980, foi de extrema importancia para a ampliagio do conceito de patriménio construfdo pelo IPHAN ao longo dos seus 70 anos de existéncia. Essa pressao externa foi ao encontro do papel pensado por Mario de Andrade em 1936/1937 e retomado nos fins da década 1970 por Aluisio Magalhaes. Retomava-se 0 conceito de que patriménio nao era somente constitufdo pelos fatos memoré- veis e dignos de serem lembrados da nossa historia e muito menos se encerrava no patriménio edificado e que ficou para a posterida- de, seja porque pertencia a uma classe mais privilegiada e por esse motivo era construido com materiais mais duradouros e de melhor qualidade, com uma linha arquiteténica mais exuberante e mais “prazerosa” de ser admirada, ou seja, pelo fato de que se constituia no que era possfvel salvar nos momentos de acao e intervengao do érgao. Nao, © patriménio cultural brasileiro era muito mais do que isso, estava em muitos outros lugares, pertencia a muitos outros gru- pos componentes da nossa sociedade. Estava no saber-fazer popular, na religiosidade, nas formas de sociabilidade desses diversos grupos. E sim, agora —esperamos que esses grupos continuem agindo dessa maneira, continuem a reivindicar essa representacdo, a lem- brar ao IPHAN e aos formuladores de suas politicas e além disso aos formuladores das politicas culturais do pafs que eles estardo atentos ecobraréo quando necessario essa representasao, mais acima de tudo, continuarao a construtla no seu cotidiano, por que antes de tudo, elas representam os seus modos de vida, as suas formas de viver. © TPHAN ¢ 0 seu papel na consragio/ampliagéo do conceivo de patindnio Tistércofeitural no Brasil = Amir Felix Batis de Oliveira, Notas “Mestre em Histéria pelo Programa de P6s-Graduagio em Hist6ria da Universidade Federal de Pernambuco. O presente artigo € parte integrante do Capitulo Il da minha dissertagio de mestrado inttulada: Memoria, Historia e Fatrimdnio Historic: politicas ppblicas e a preservacio do patriménio historico, Coordenando o Projto de Implantasso ‘do Memorial do Ministerio Pablico do Estado do Rio Grande do Norte So virios os exemplos referentes a encontros, seminarios, congressos internacionais © nacionais para a discussdo a respeito do patrimGnio hist6rico, A atvidade inicial € a Carta de Atenas ~ Sociedade das Nages ~ outubro de 1931, nas itimas décadas do século XX, principalmente nas décadas de 60/70/80, teremos: Carta de Veneza ~ maio de 1964; Recomendagio de Paris ~ propriedade ilicita de bens culturais ~ novembro de 1964; Normas de Quito - nov /dez de 1967; Convencio de Pars ~ Patriménio Mundial ~ novem- bro de 1972; Declaragio de Amsterda ~ Consetho da Europa ~ outubro de 1975; Recomen- dagio de Nairobi ~ UNESCO ~ novembro de 1976; Carta de Machu Picchu ~ Encontro Internacional de Arguitetos - dezembro de 1977; Carta de Florenca ~ ICOMOS {ternational Council of Monuments and sites) ~ maio de 1981; Declaragsa do México ~ ICOMOS ~ Politcas Culturais ~ 1985; Carta de Petropolis ~ Centros Histéricos ~ 1987; além dos Compromissos de Brasilia ~ abril de 1970 e 0 Compromisso de Salvador ~ Il [Encontro de Gavermadores ~ outubro de 1971, Alm desses referenciados ocorreram viri- ‘outros eventes com temiticas relacionadas a Patsimenio Historico e Turismo, Preserva- ‘80 de Cidardes ¢ Patriminio Histrico, Cultura e Patriménio Histrico et *Sacralizar segundo o diciondrio significa tomar santo, tomar stcro. Elevar determinados objetos a um status diferenciado, de referéncia. © ato de sacralizacio desses objetos se da através da stualizagso ocorrida no processo de tombamento, por exemplo, onde a ur {eterminado monuimento, que anteriormente tiha tim valor de uso, & agregado um valor de referéncia e esse assume uma aura de autenticidade e confiabilidade, passando a constar de uma relagio que tem por finalidade contar a histéria de uma determinada epoca ou evocar 4 meméria da mesma. > Ouatros fatos ow acontecimentos anteriores a 1936 ¢ considerados importantes numa formulagio a espeito do sentido de preservacio no Brasl podem sera carta de D. André dde Melo e Casto, o Conde de Galveas ~ Viee-Rel do Estado do Brasil de 1735 4 1749, em ‘meados do séulo XVIII, a0 Governador de Pernambuco em relagio 3s providéncias acerca das construgSes erguidas pelos holandeses; o primeiro projeto na Camara dos Deputadas, na tentativa de organizar os monumentes histéricos ¢ atistces nacionais, de auloria do representante Pernambucano Luiz Cedro, apeesentado em 3 de dezembeo de 1923; as tentativas estaduais em Minas Gerais, Bahia e Pernambuco, de proteger seus patriménios com a criagio das Inspetorias Estaduais de Monumentos Nacionais (Bahia © Pernambuco). Porém, essa tentativas, de preservacio, tanto em nivel federal como estar dual, esbarravam nto 46 na relagso comertial eno valor de venda de determinados bens, {como esses fatores também eram assegurados pelo direito de propriedade constante na Constituiio Federal © no Cédigo Civil. Fodemes, ainda, incuit ai, porém de forma mais institucional, 2 criacio, em 1934, da Inspetoria de Monumentos Nacionais, dentro do Museu Histérico Nacional, sob diregio de Gustavo Barroso, que teve suas atividades lencerradas com a criagio do SPHAN, em 1837, ‘DecretorLei n° 25, de 30! de novernbro de 1987 + Ante-Projeto de Mario Andrade elaborado a pedido do Ministro Gustavo Capanema +0 termo modernos felere-se aos partcipantes da Semana de Arte Moderna em 580 Paulo, no ano de 1922, O Movimento de 22 buscava encontrar, através das diversas formas de express3o cultural e produces atistcas, entre elas a poesia e 2 pintura, uma identidade verdadeiramente nacional, era acima de tudo a "a¢d0 concomitante e dialtica de nossos intelectuais no desejo de construcio utépica de um passado e de um futuro para 2 arte © para o proprio Pais". Composto por destacadas figuras da intelectvalidade brasileira como Mario e Oswald de Andrade, Carlos Drummond de Andrade, Cindido 35 CCalemos do CEOM ~ Ano 21, n, 29 — Bens enlturas © PPortinari, Manuel Bandeiea, Di Cavalcanti, Rodrigo Melo Franco de Andrade, Lio Cos- {2, Oscar Niemeyer, Ricardo Soci, entre fantos outros. Ver: CAVALCANTI, Lauro (org) Modemistas na Repartigio. 2. ed. rev Rio de Janeiro: Eétora UFR}: Mine ~ IPHAN, 2000 =p. 7-2. Gustavo Capanema foi o Ministro da Educagho de Vargas de 1934 a 1945, homem culo, gozava de enorme privigio junto-a Getio, Sob sua batuta, fo insituida toda 2 politica de preservacio de patrimanio no pais. Edessa epoca o inicio da construgio da nova sede do Ministerio da EducagSo e Sade ~ © MES. Projeto coordenado por Lucio Costa, com a participacio de outros arquitetos ‘modemnos, tendo 2 aprovagio do proprio Le Corbusier ~ expoente maximo do moderis- smo no mundo, é considerado o marco inicial da arquitetura modema no Brasil e, acima de tudo, um espelho para as cidades do mundo todo, principalmente as que deveriam ser :econstruidas no pos-puerra. Desempenhs um papel importante na afirmago dos mo- demos e, logo de inicio, € este consagrado caracteristia e status de monument, Trans- formouse, sua construgio, em questio de honsa para o ministro. "Decreto-Tei n 25 de 30 de noverbro de 1937 Rodrigo Melo Franco de Andrade, (1898-1968), mais conhecidamente como Dr. Rodrigo cou simplesmente Rodrigo, digit o SPHAN desde sa fundagio ate o ano de sua aposen- tadoria em 1967. Modemists, fot indicado por Mitio de Andrade ao Ministro Capanema como 0 tnico capaz de realizar a tarefa de organizar © nosso patriménio. Dedicado, receben de Gilberto Freire a soguinte expressio “rodriguisma” come podemes observa na soguinte colocagio: “Ninguém com mais nitida vocacio para servir 20 seu pais sem setvirse dele, Ninguém mais escrupulovo no desempenho dos seus deveres. Hi mesmo lum rodeiguismo semelhante a0 j8celebre eaximo, Um rodeiguisao de que Rodrigo vert sendo, nestes tints anos, exemplo constante € vivo, sem pretensio alguma, de sun parte, de set modelo ou padrSc: a virtude imadia dele sem ele se aperceber de que é exemplar. Inente virtuoso. Virtuoso no melhor sentido da expresso, Virtuoso como pessoa. Vietuoso como diretor de servigo publico. Virtuoso como brasileiro cuja vida tem sido toda de edicagio ao seu pais". FREYRE, Gilberto, Mestre Rodrigo. In: Ligio de Rodrigo. Recife, ‘Amigos do DPHAN, 1969. Outro detalhe importante sio as obras publicadas pela SPHAN fem relacio a Rodeigo, tais como: Rodrigo e seus tempos e Rodrigo e © SPHAN, alémm do proprio A LICAO de Rodrigo, para nos demonstrar 0 famanho da importincia da perso- palidade de Rodrigo Melo 'ranco de Andrade na construcio /determinagso do patriménio bistrico brasileiro e de sua producio a frente do crgio. 0 termo “pedra e cal” € comumente utlizado na bibliograia especalizada na Srea de patriménio historico e arguitetura, para designar a supervalorizagio que foi dada aos {ndveis coloniais, com marcas de estilos arquitetinicos bem explicitos © de supremacia barroca, no momento de definigSo do patrimSnio histérico brasileiro, com vistas 208 processos de tombamento, pars preservagio e conservagio. "Convém lembrar que, por diversas alteragSes administraivas, através de decretos go- vernamentais, o SPHAN teve tanto sua denemina¢io quanto estrutura funcional altea- das aos longos dos ans iso podendo ser relacionado da seguinte forma 1936 ~ Servigo do Patriménio Histrico © Atitico Nacional ~ SPHAN 1945 ~ Diretoria do Patrimdnio Histérico e Artstico Nacional - DPHAN 1970 ~ Instituto do Patrimdnio Histirico e Artistico Nacional ~ IPHAN 1979 ~ Secretitia do Pateiménio Hist6rico ¢ Artistico Nacional ~ SPHAN 1985 — Criacio do Mine ~ Ministério da Cultura, ocorreu 2 integragio do SPHAN/Pro- Meméria, 1990 ~ Transformagio do SPHAN/Pré-Meméria no IBPC ~ Instituto Brasileiro do Patriménio Cultural ~ ficando esta autarquia vinculada dirtamente a Secretaria da Pre- sidéneia da Repiblica (Decreto 1.” 99.492) 1992 ~ Voltow a fazer parte da estrutura do Ministerio da Cultura 1994 — Volta a sero Instituto do Patrimonio Historic e Attisico Nacional - IPHAN. = Protegio e Revitalizagso do patriménio cultural no Brasil uma trajetria. p. 46-47 ™Protegio e Revitalizagso do patriménio cultural no Brasil: uma trajetria, p. 46-47 36 © IPHAN ¢ o seu papel na consrugio/ampliagso do conceita de patriménio histricocatral no Brasil ~ Almir Félix Batista de Olvera ' Protegdo e Revitalizagio do patrimnio cultural no Brasil: uma trajetéia. p. 53. As Normas de Quito sio tim conjunto de normas pertencentes ao documento final da Reunito de Punta Del Leste, Reumigo organizada pela Organizacio dos Estados America- nos em novembro e dezembro 1967. Esta reunito contou com representantes dos paises do continente, tendo a finaldade de discutir sobre a canservagio © ulizagho de monimen- tos e lugares de interest histrico e artistico, Reconhesia ¢ aeitava o Patriménio Cultural coma detentor de valor econémico © capaz de constituir-se em instnimento de progresso, Em seu tépico VII inttulado Os Monumentos em funglo do Turismo, explictava bem essa funglo do patrimdnio e sua utilizagio como equipamento turistico a ser visitado ™Decreto n 3551 de Of de agosto de 2000, Um detalhe importante quanto aos bens materiais & que determinados bens podem estar inscritos em mais de um livro de tombo. Dados oblides no site AAcesso em 31/08/2008, Referéncias Bibliograficas: CAVALCANTI, Lauro (org,). Modernistas na Reparticio. Rio de Janeiro: Editora UFR]: MinC — IPHAN, 2000. CHOAY, Francoise. A Alegoria do Patriménio. S Liberdade, Editora UNESP, 2001 10 Paulo: Estacao COELHO, Teixeira. Diciondrio Critico de Politica Cultural. Sao Paulo: ILUMINURAS: FAPESP, 1999. DECRETO-LEI 2 25, de 30 de novembro de 1937, DECRETO-LEIN.° 3551, de 04 de agosto de 2000. HOBSBAWM, Eric. Sobre Histéria. Sio Paulo: Companhia das Le- tras, 1998, KERSTEN, Marcia Scholz de Andrade. Os Rituais do Tombamen- to ea Escrita da Hist6ria. Curitiba: Editora da UFPR, 2000, LE GOFF, Jacques. Histéria e Memoria. Tradugio: Bernardo Leitso (et. al). Campinas, SP: Editora da Unicamp, 1996. CCademos do CEOM ~ Ano 21, n, 29 — Bens eulturas ¢ ambientais LISSOVSKY, Mauricio & MORAES de SA, Paulo Sérgio (Org.) Co- Tunas da Educagao: a construgo do Ministério da Educagio e Sati- de (1935-1945). Rio de Janeiro, MinC-IPHAN/FGV-CPDOC, 1996. Abstract This article aims to discuss the theoretical expansion and practical action of the National Institute of Historical and Artistic Heritage - IPHAN inrelation to the concept of the cultural patrimony of Brazil. Keywords: Cultural Heritage, the preservation policies, IPHAN.

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