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Robert King Merton era o nome adotado por Meyer R. Schkolnik (1910-2003), sociólogo
estadunidence e teórico da sociologia da ciência. Destacou-se nos estudos da ciência
desenvolvida na Inglaterra a partir do século XVII, ressaltando as influências da ética
protestante no avanço científico deste então. Merton desenvolveu os quatro pilares
fundamentais que, segundo o autor, deveriam orientar os objetivos e métodos da ciência
(Ethos): universalismo, comunismo, desinteresse e ceticismo organizado.
Resenha
Em geral, pode-se afirmar que estímulo é aquilo que tem impacto sobre um
sistema. O primeiro artigo que compõe a presente resenha trata do estímulo que o
puritanismo weberiano2. O puritanismo em questão impunha harmonizar a vida cotidiana
com as convicções religiosas, orientada por uma rigorosa conduta moral – a ética
protestante – que influenciou a sociedade ocidental e produziu efeitos, por exemplo, na
economia e na prática científica. Sob os auspícios da ética protestante se desenvolveram
novas atividades, novas possibilidades de se investigar e empreender em áreas antes
vedadas aos cientistas. Ao mesmo tempo, se consagrava o homem dedicado e devotado a
ciência. A indagação científica encontrara no puritanismo outras motivações que não só
a busca pela “verdade”. As teorias que tratam certos fenômenos necessitam de ações que
justifiquem a seleção do problema de pesquisa. A seleção do problema de pesquisa, no
entanto, é delimitada pelo ambiente cultural que cerca o pesquisador e, entre as várias
culturas que influem no desenvolvimento da ciência, se encontram os valores e os
sentimentos dominantes a cada época analisada, segundo Merton. A partir da Reforma
Protestante (século XV e seguintes) se percebe uma ascendência de novas classes sociais
1
Doutorando no Programa de Pós-graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade da
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)
2
Termo relativo a Max Weber 1864-1920, sociólogo alemão.
e iniciativas empreendedoras em novas áreas, dentre as quais a investigação científica. A
ética protestante, considerada mais progressista, estimulava não somente a curiosidade
mas, também, o empenho e dedicação neste e noutros trabalhos considerados dignos.
Assim, os sentimentos puritanos eram favoráveis ao desenvolvimento de novos
conhecimentos sobre o homem e a natureza “para glorificar o grande Autor da natureza”.
Uma Era de estímulo cultural e, em certa medida religioso, às ciências naturais.
Por muito tempo a ciência foi inatacável e neste período se percebeu imenso
progresso. A pesquisa e a difusão científica elevou a ciência ao alto de uma escala de
valores culturais. Entretanto, a fé na ciência – e suas instituições – com o passar do tempo,
seria abalada por questionamentos que, anteriormente, pareciam pouco prováveis. Tais
questionamentos ganharam, ainda segundo a ótica de Robert Merton, proporções
epidêmicas a ponto de serem considerado um “ataque” à ciência e os cientistas precisam
reiteradamente se justificar a maneira com que trabalham frente aos homens. Reavaliadas,
as instituições científicas perceberam a sua dependência de outras estruturas sociais. Os
cientistas, antes considerados autônomos e, em certa medida independentes, agora
articulam-se com a sociedade em razão da nova percepção de obrigações e interesses.
Desta forma o autor associa este novo período como uma volta ao passado, pois
há três séculos os filósofos da natureza tiveram que justificar-se, demonstrando a utilidade
da ciência e que ela deveria ser entendida como um modo válido de empreendimento
humano. Em momentos históricos de “sucesso” a ciência se percebe não mais como um
meio, mas como um fim em si mesmo. O homem da ciência não só se julgava
independente de outras validações sociais, mas, só se importava com a avaliação por seus
pares, ou seja, a avaliação da ciência pela própria ciência. Estavam na sociedade, mas não
lhe pertencia. Foi necessário um ataque frontal à autonomia da ciência para converter esta
alienação em participação real no conflito entre culturas.