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Resenha crítica referente ao artigo científico “Os Nanomateriais e a

Questão Ambiental” (JARDIM, W.F., MARCONE, G.P.S., PASCHOALINO,


M.P.), produzido pelo IQ – UNICAMP e publicado no nº 02 – 2010 do
periódico Química Nova

No campo das ciências naturais, a interdisciplinaridade se impõe, cada vez


mais, como fator necessário a uma compreensão satisfatoriamente ampla dos
conceitos e fenômenos estudados; dessa maneira, a formação e a produção
acadêmica nessa área dependem da integração de saberes, em detrimento da
compartimentalização de informações. “Os Nanomateriais e a Questão
Ambiental” é um artigo de revisão que reflete bem esse fato, ao tratar da
problemática da toxicidade ambiental dos nanomateriais incorporando conceitos
da Biologia e da Engenharia à linguagem da Química, visando construir uma
visão holística de seus objetos de estudo, pois a produção de nanomateriais está
diretamente relacionada a todas essas ciências. A abrangência do assunto
tratado é condensada em um texto breve, revelando os esforços dos autores em
apresentar à comunidade acadêmica um material introdutório, porém
satisfatoriamente informativo, acerca de um tema cujo estudo ainda é incipiente.
O artigo em questão, ao longo de oito páginas, trata da emissão e dos efeitos
das nanopartículas, das formas de exposição biológica a essas substâncias, e
ainda dos modos de caracterização e avaliação e da regulamentação oficial atual
desses materiais. O texto se inicia com uma introdução aos conceitos das
nanociências e ao seu cenário atual – é notável o quanto a necessidade de
síntese obriga os autores a enfatizar os aspectos aplicados do tema, diante da
ausência de espaço para uma abordagem profundada da química pura. Dessa
forma, o artigo avança rapidamente para uma apresentação das principais fontes
de nanopartículas, destacando aquelas de uso cotidiano, de modo a tornar claro
o quanto o assunto abordado, apesar de bastante recente, já se encontra
diretamente vinculado ao dia-a-dia da população em geral.
O artigo prossegue com uma seção dedicada às rotas de exposição dos seres
vivos às nanopartículas, resumindo aspectos importantes do comportamento
ecológico e biológico desses materiais; nesse tópico, torna-se evidente certa
dificuldade de apresentar informações de forma direta e definitiva, pois a
temática é tão atual que os estudos realizados são pouco numerosos e ainda
apresentam numerosas divergências. Todavia, os autores reúnem as evidências
já constatadas experimentalmente, a fim de manter o leitor a par daquilo que já
é conclusivo ao mesmo tempo em que o alertam para a necessidade de
desenvolvimento na produção científica acerca do assunto tratado. O tópico
seguinte corresponde aos métodos de caracterização e avaliação de toxicidade
das nanopartículas, de forma ainda mais sucinta que os itens anteriores, o que
é compreensível, afinal uma apresentação completa dos métodos disponíveis se
tornaria inevitavelmente longa e cansativa e, consequentemente, inadequada
aos objetivos do texto. O artigo se encerra com comentários acerca da
regulamentação oficial dos nanomateriais (esclarecendo a sua importância
econômica e ecológica), seguidos das considerações finais dos autores. No
decorrer do texto, evidencia-se o desafio de escrever um texto científico a
respeito de uma problemática cuja discussão acadêmica ainda está muito aquém
do desejado; consequentemente, o artigo se dedica mais a demonstrar a
necessidade de maior ênfase nessa discussão do que a expor resultados de
forma direta e conclusiva. Tal situação é capaz de frustrar aqueles que buscam
um texto essencialmente objetivo, sem considerar as dificuldades inerentes ao
pioneirismo em uma temática científica.
Contudo, o maior mérito dos autores consiste exatamente no enfrentamento do
desafio supracitado, ou seja, na iniciativa de apresentar um assunto pouco
explorado, revelando os possíveis aspectos negativos da produção de
nanopartículas sem a investigação adequada de seus possíveis aspectos
negativos. Portanto, o artigo constitui uma leitura válida, que muito tem a
acrescentar àqueles que procuram conhecer o “outro lado da moeda” das
nanociências e se conscientizar a respeito da responsabilidade que esse campo
de estudo envolve. Outro ponto positivo do artigo é a linguagem bastante
acessível, decorrente de seu caráter introdutório, que o torna totalmente
compreensível por graduandos. Essas características tornam o artigo um texto
recomendado para estudantes (em quaisquer níveis da vida acadêmica) de
todas as áreas correlatas, ou seja, de Química, Engenharias ou Biologia; trata-
se de uma leitura breve, concisa e acessível, útil a todos que buscam conhecer
a correlação entre a nanociência e a questão ambiental; entretanto, é necessário
ter consciência de que o objetivo principal do texto não é reunir informações
definitivas, e sim evidenciar a necessidade de maior investigação e produção
acerca do tema retratado, o que requer, necessariamente, a integração entre os
campos científicos envolvidos.

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