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GESTÃO DE ORGANIZAÇÕES DE DEFESA: UMA BREVE ANÁLISE

BIBLIOMÉTRICA

Ricardo Margalho Prins1

RESUMO

O presente trabalho visa discutir a questão da Gestão das Organizações de Defesa,


por meio de uma análise feita de publicações em periódicos no período entre 2010 e
2017, a qual utiliza ferramentas bibliométricas. Tal análise busca ajudar a
compreender, por meio de tais ferramentas, a direção tomada pelos estudos das
referidas publicações no campo da Gestão das Organizações de Defesa. Entende-se
que por meio dos resultados obtidos neste trabalho é possível inferir sobre a direção
principal adotada pelas principais pesquisas desenvolvidas na área. Os resultados
obtidos da análise das publicações mostram que ainda há um espaço sensível para
melhoria, especialmente na academia brasileira. Também são feitas, de forma
pontual, sugestões para estudos futuros.

Palavras-chave: Defesa; Ciências Militares; Gestão de Organizações de Defesa.

INTRODUÇÃO

O presente trabalho se utiliza de ferramentas bibliométricas de análise para


produzir um estudo acerca de publicações feitas no período entre 2010 e 2017 na área
de Gestão de Organizações de Defesa. A proposta deste trabalho é a de ajudar a
compreender, por meio do emprego de ferramentas bibliométricas de análise, a
direção tomada pelos estudos no campo da Gestão de Organizações de Defesa na
literatura. É a premissa assumida aqui a de que, por meio dos resultados encontrados
neste trabalho se pode inferir sobre a direção principal adotada pelas pesquisas
desenvolvidas na área.
Entende-se que o referido campo é particularmente novo no Brasil, e que por
essa razão torna-se fundamental estimular o desenvolvimento da produção
acadêmica na área, já que se acredita que as análises deste campo são de suma
importância para os estudos de Defesa. Escolhe-se a bibliometria para os fins
desejados neste trabalho de modo a buscar o máximo de imparcialidade na análise,

1Aluno do Mestrado em Ciências Militares do Programa de Pós-Graduação em Ciências Militares da


Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME/RJ). E-mail: ricardoprins@gmail.com
de modo a permitir que os resultados aqui obtidos possam ser usados como diretriz
futura para outros trabalhos ou estudos.
A análise deste trabalho é feita por meio de dados obtidos a partir de uma
busca feita no sistema de bibliotecas online da Fundação Getulio Vargas, que
congrega em seu banco de dados informações obtidas e armazenadas de cerca de
305 bases de dados de periódicos do mundo inteiro (FGV, 2017). As palavras-chave
“gestão de defesa” e “gestão militar” foram as escolhidas para tal análise (como trata-
se de um banco de dados que compreende trabalhos também em inglês, para este
idioma os termos utilizados foram os correspondentes: defense management e military
management), na área de Negócios e Gestão.
A escolha por essa área de conhecimentos também foi feita de modo a limitar
o escopo do trabalho apenas àqueles cujos objetivos fossem os de discutir aspectos
relacionados à gestão dentro do campo dos assuntos de Defesa. Entende-se que tal
escolha não representa prejuízo analítico, tendo em vista que analisar artigos em
outras áreas (tais como Direito e Relações Internacionais, por exemplo) poderia
oferecer uma falsa noção de volume de publicações que traria um prejuízo aos
resultados do trabalho.
O filtro descrito acima traz como resultado um total de 130 publicações,
divididas em 101 para defense management e 29 para military management. Os
dados das publicações obtidas são submetidos a uma análise bibliométrica.
A estrutura do presente trabalho contempla três seções principais: na primeira
seção, são apresentados aspectos teóricos e conceituais acerca do campo de Gestão
de Defesa; na segunda seção, é feita uma breve exposição conceitual a respeito da
ferramenta metodológica de análise bibliométrica; a terceira seção traz os resultados
da análise executada.

GESTÃO DE ORGANIZAÇÕES DE DEFESA: ASPECTOS TEÓRICOS

A missão dessa primeira seção é simples, porém espinhosa. Ao invés de


tentar empreender aqui uma profunda discussão teórico-conceitual sobre Gestão de
Organizações de Defesa, a qual embora seja muito proveitosa, poderia desviar o
trabalho de seus objetivos principais, são trazidos apenas alguns tópicos que
permitam entender que tipos de estudos e análises devem se esperar de um estudo
neste campo.
Desse modo, esta seção buscará entender, ao observar aspectos
relacionados ao estudo da Gestão de Organizações de Defesa, de que modo a gestão
das organizações de defesa se diferencia da gestão de organizações comuns, e por
que razão se faz necessário o aprofundamento de estudos em um campo de maneira
tão específica. Entender e estabelecer essa diferença é fundamental para que se
justifique o motivo de se executar uma análise bibliométrica que visa mostrar a
ausência (ou não) de estudos significativos nesta área. Além disso, são mostrados de
forma breve alguns esforços empreendidos em outros países para aprofundar a
discussão do tema.
Para cumprir com este propósito, são trazidos aqui alguns aspectos práticos
acerca de Gestão, e mais especificamente, de Gestão de Organizações de Defesa.
Em qualquer campo, a gestão ocorre em todos os níveis de uma organização, e
governa todos os níveis de atividade organizacional. No campo da Defesa, ela se inicia
com a formulação de políticas nos mais altos níveis de comando e governo, e se
estende à direção e ao controle, às vezes nos mínimos detalhes de todos os aspectos
das atividades relacionadas. Assim, os gestores devem interpretar o ambiente ao seu
redor de modo a poderem planejar, organizar, dirigir, coordenar e controlar os esforços
de suas organizações (HOLMES; MCCONVILLE, 2003).
Ainda segundo esses autores, há uma sensível diferença relativa à Gestão de
Organizações de Defesa: sendo este um serviço extremamente público, ele estaria
sempre sujeito ao escrutínio do governo, de organismos internacionais tais como as
Nações Unidas, e da população em geral por meio dos instrumentos de mídia. Desse
modo, a Gestão de Organizações de Defesa torna-se uma atividade a ser
desempenhada sob o olhar bastante criterioso da população, que pode ser rápida em
criticar, ainda que ela não entenda completamente o que se espera de serviços de
Defesa (HOLMES; MCCONVILLE, 2003).
Diferentemente de outras organizações nos setores públicos e privados, os
gestores de organizações de defesa precisam aprender a lidar com a mudança e com
a incerteza de forma muito mais íntima (HOLMES; MCCONVILLE, 2003) – o que
acaba sendo natural em razão do próprio objeto do qual o gestor de defesa trata em
suas atividades. Em última instância, ao lidar com aspectos relacionados à guerra, um
gestor de organizações de defesa deve esperar se confrontar de alguma maneira com
a trindade clausewitzeana da guerra, e com seu aspecto mais feroz: a incerteza.
(CLAUSEWITZ, 1984)
Outra questão relacionada à Gestão de Organizações de Defesa é a da
alocação de recursos. Esta questão não é estranha aos gestores de maneira geral,
visto que todos são confrontados de forma mais ou menos parecida com este desafio.
E, nesta direção, é possível verificar que a estrutura de uma organização pode afetar
as decisões que essa organização toma – especialmente no que tange à alocação de
recursos nos mais diferentes projetos dentro de uma organização de defesa (MARTIN,
1974, p.1).
Dessa maneira, para entender a alocação de recursos dentro de uma
organização de defesa, é fundamental entender sua estrutura organizacional – e não
somente apenas entender os objetivos políticos e o funcionamento da máquina
pública de alocação de recursos (MARTIN, 1974, p.1).
Nessa temática, Tillman et al. afirmam que os estudos de gestão de recursos
dentro do âmbito da defesa devem ser desenvolvidos dentro de um sistema que
compreenda quatro processos de planejamento centrais: gestão estratégica, gestão
de capacidades, gestão de compras e gestão de recursos (TILLMAN et al., 2010)
Um outro aspecto que diferencia o estudo de organizações de defesa é o de
que, em última instância, uma organização de defesa requer de seus membros que
lutem, que eles sejam colocados em situações com risco de morte, podendo mesmo
perder suas vidas sem a opção de recusa de tais atividades (MARTIN, 1974, p. 105).
Esse aspecto pode indicar que um estudo acerca da gestão de pessoal dentro da
estrutura de uma organização de defesa também seja interessante, justamente em
razão dessa diferença.
Logo, pode-se inferir de forma a oferecer um fundamento a partir do qual este
trabalho possa ser desenvolvido que os seguintes aspectos dentro da temática da
Gestão das Organizações de Defesa a diferenciam da gestão das organizações
tradicionais: gestão de pessoal, gestão de recursos e gestão de processos. Entende-
se que se trata apenas de uma breve diferenciação, e que ela pode ser feita de
maneira muito mais aprofundada em um trabalho que se dedique exclusivamente a
tratar do tema.
O campo de Gestão de Organizações de Defesa é reconhecido em outros
países. Pode-se observar, inclusive, escolas exclusivamente dedicadas a tratar do
tema. Na Índia, há o College of Defence Management, fundado em 1970; nos EUA, o
primeiro Army Supply Management Course foi estabelecido em 1954, o qual deu
origem ao Army Logistics Management Center (1958), que embora por seu nome
pareça apenas discutir aspectos logísticos, tem cursos em todas as áreas da gestão
de defesa. Ambas as escolas atendem a um público predominantemente militar
No Canadá, existe um programa de Defense Management Studies que foi
estabelecido em 1996, mais aberto e direcionado à participação civil na gestão de
organizações de defesa.
No Brasil, deve se destacar o papel da Escola de Comando e Estado-Maior
do Exército, com seu recente programa de pós-graduação em Ciências Militares em
trazer a discussão da Gestão das Organizações de Defesa, ainda que de maneira
bastante incipiente, para dentro da esfera civil de análise.
A seção seguinte trata de discutir as ferramentas que foram utilizadas para a
análise proposta por este trabalho.

FERRAMENTAS DE ANÁLISE BIBLIOMÉTRICA

O termo bibliometria foi proposto pela primeira vez em 1969, por Alan
Pritchard, e é definido como “a aplicação de métodos matemáticos e estatísticos a
livros e outros meios de comunicação” (PRITCHARD, 1969), e foi cunhado por ele de
modo a caracterizar o que outrora era chamado de “bibliografia estatística”, e que tinha
por objetivo o de
“iluminar os processos de comunicação escrita e da natureza e curso de
desenvolvimento de uma disciplina (pelo menos enquanto tal for demonstrado
por meio da comunicação escrita), através da contagem e da análise das
variadas facetas da comunicação escrita” (PRITCHARD, 1969).

O emprego de ferramentas bibliométricas, segundo o apanhado histórico feito


por Chueke e Amatucci (2015), inicia-se na década de 1920, com base na premissa
de que a geração de conhecimento se materializa por meio da produção científica.
Segundo Araújo e Alvarenga, quando a bibliometria é aplicada com a finalidade de
avaliar um campo científico, ela deveria ser chamada de cientometria ou cienciometria
(ARAÚJO; ALVARENGA, 2011). Como entende-se que a discussão deste trabalho
não perpassa a integralidade de um campo científico, opta-se por utilizar o termo
bibliometria.
O estudo de Chueke e Amatucci traz informações sobre o emprego de
recursos bibliométricos de diversas maneiras. Eles citam em seu trabalho que há a
ocorrência de estudos bibliométricos nos campos das ciências sociais aplicadas, os
quais foram feitos com o fim de “examinar a produção de artigos em um determinado
campo de saber, mapear as comunidades acadêmicas e identificar redes de
pesquisadores e suas motivações” (CHUEKE; AMATUCCI, 2015).
Além disso, também ressaltam que “a criação de medidas e indicadores de
produção científica e tecnológica também passam a fazer parte da agenda de
governos” na elaboração de suas políticas públicas (CHUEKE; AMATUCCI, 2015).
Chueke e Amatucci afirmam que há grande valor nos estudos de caráter
quantitativo no âmbito da sistematização de campos teóricos, os quais segundo eles
contribuem para resumir as descobertas recentes e estabelecer a posição de uma
pesquisa ante ao debate acadêmico corrente, ao situar pesquisadores em relação à
verdadeira contribuição de seus estudos (CHUEKE; AMATUCCI, 2015).
A análise bibliométrica é uma ferramenta que é utilizada em diversas áreas de
conhecimento no Brasil. Exemplos de tal abordagem podem ser encontrados nas
áreas de Ciências Sociais Aplicadas, Ciências da Saúde, Engenharias, Ciências
Biológicas, Ciências Exatas e Ciências Humanas (ARAÚJO; ALVARENGA, 2011).
Dessa maneira, entende-se que o emprego de ferramentas de análise
bibliométrica seja satisfatório para a execução dos objetivos deste trabalho. Assim,
para executar a análise aqui proposta, realizou-se uma busca por trabalhos que
tratavam do tema, no período entre 2010 e 2017. Tal recorte temporal segue a crença
de alguns autores, os quais pensam ser suficiente obter informações relevantes em
um período de apenas 5 anos de publicações (CHUEKE; AMATUCCI, 2015).

RESULTADOS

A busca realizada no banco de dados do sistema de bibliotecas online da


Fundação Getulio Vargas fez-se, conforme explicado anteriormente, utilizando as
expressões-chave defense management e military management, dentro da área de
Negócios e Gestão. Os dados obtidos foram organizados em uma planilha, utilizando
o programa Microsoft Excel, classificados e analisados segundo os seguintes critérios:
nacionalidade das publicações; área de conhecimento das publicações; resumo e
palavras-chave, quando disponíveis.
O número de publicações encontradas de acordo com os critérios escolhidos
para a execução da análise do presente trabalho foi de 68, as quais podem ser
subdivididas em 59 publicações para a palavra-chave defense management e 9
publicações para a palavra-chave military management. Conforme citado
anteriormente, estes resultados foram obtidos por meio da busca no banco de dados
do sistema de bibliotecas da FGV.
Este banco de dados foi escolhido por agregar informações de 304 bancos de
dados de publicações científicas do mundo inteiro, o que permite ao trabalho verificar
de forma mais ampla – e não somente em um âmbito local – os resultados da análise
bibliométrica desejada.
Embora o número de publicações analisadas neste trabalho pareça pouco
significativo, é possível observar em outros trabalhos com um recorte temporal muito
maior que foi possível trabalhar com um número proporcionalmente inferior de
publicações. Por exemplo, o trabalho de Araújo e Alvarenga, que utiliza a ferramenta
bibliométrica de análise, trabalha com 82 publicações feitas ao longo de 20 anos
(ARAÚJO; ALVARENGA, 2011).
O primeiro parâmetro analisado é o de que área se interessa mais pelo
assunto. Os resultados encontrados estão nas tabelas a seguir:

Tabela 1 – Áreas de conhecimento – Defense Management


ÁREA QUANTIDADE
Ciências Militares 27
Administração 19
Contabilidade 7
Tecnologia da Informação 4
Economia 1
Estatística 1

Fonte: Elaboração própria

Tabela 2 – Áreas de conhecimento – Military Management


ÁREA QUANTIDADE
Administração 5
Ciências Militares 2
Contabilidade 1
Engenharia 1

Fonte: Elaboração própria

A questão de se observar que áreas possuem interesse na temática da


Gestão de Organizações de Defesa é relevante na medida em que permite
compreender que tipo de profissional está buscando tratar do tema analisado.
Entende-se aqui que há uma interdisciplinaridade inerente ao próprio tema – não se
trata apenas de uma questão afim da área de Administração/Gestão – o que faz com
que seja compreensível que haja múltiplas áreas que busquem estudar tal temática.
Desse modo, pode se observar que, ainda que a maioria dos trabalhos sejam
predominantemente de periódicos das áreas de Administração e Ciências Militares,
há trabalhos em outras áreas correlatas ao tema. Sugere-se aqui, no entanto, que
para uma pesquisa posterior possam ser observadas questões relativas à
interdisciplinaridade nos trabalhos – especialmente daqueles que aqui foram
classificados sob Ciências Militares em razão dos periódicos nos quais eles foram
publicados.
O segundo parâmetro trata da nacionalidade das publicações. Foi escolhido
aqui um critério que divide as publicações entre EUA, Europa, Ásia e Outros Locais.
Os resultados obtidos foram os seguintes: para o termo Defense Management, 47
publicações foram feitas nos EUA (79,7%); 9 publicações feitas na Europa (15,2%) e
3 feitas na Ásia (5,1%). Para o termo Military Management, os resultados obtidos
foram: 6 publicações feitas na Europa (67%) e 3 publicações feitas nos EUA (33%).
Nenhuma publicação encontrada segundo os critérios deste trabalho foi
produzida em outros locais. Em se tratando de Brasil, apenas um dos trabalhos possui
um autor brasileiro, que escreve como coautor em um trabalho sobre o Departamento
de Defesa norte-americano. Também, conforme citado acima, não foram encontrados
quaisquer trabalhos sobre América Latina e África.
Os artigos também foram classificados por temática em grupos, de acordo
com o conteúdo contido em suas palavras-chave e resumos. As seguintes
classificações foram adotadas: gestão de pessoas, gestão de recursos e gestão de
processos. Embora se possa afirmar que alguns dos artigos possam tratar de mais de
uma das temáticas escolhidas para a classificação, foi considerada, para efeitos do
trabalho, àquela que fosse mais presente no trabalho analisado conforme o conteúdo
encontrado na pesquisa.
Também se entende aqui que outros subtópicos poderiam ser utilizados, no
entanto entende-se que tal possa fugir à discussão principal deste trabalho, e que isso
pode ser feito em outra pesquisa posterior.
Os seguintes resultados foram encontrados:
Tabela 2 – Tópicos de pesquisa – Defense Management
ÁREA QUANTIDADE
Gestão de recursos 28
Gestão de pessoas 16
Gestão de processos 15

Fonte: Elaboração própria

Tabela 4 – Tópicos de pesquisa – Military Management


ÁREA QUANTIDADE
Gestão de processos 4
Gestão de recursos 3
Gestão de pessoas 2

Fonte: Elaboração própria

O fato de que cerca de metade do total de trabalhos analisados discuta a


questão de recursos (sejam questões contábeis, orçamentárias ou de custos de
investimentos e operações), mostra uma predileção por tais estudos em detrimento
de aspectos relacionados a pessoal ou por processos.
Conforme foi mostrado anteriormente, é importante ressaltar que a análise da
gestão de recursos dentro de uma gestão de organizações de defesa, não deve ser
analisada por si mesma. É importante compreender que a gestão de recursos dentro
de uma organização de defesa depende diretamente da gestão de pessoal (seja por
meio das escolhas individuais do gestor, ou da natureza da organização encarregada
da gestão das organizações e de seus aspectos sociológicos, culturais, etc.) e da
estrutura organizacional (estudos desta natureza foram classificados neste trabalho
sob ‘gestão de processos’).
Observa-se nos trabalhos que a direção principal dos estudos encontrados no
banco de dados pesquisado é a de estudos predominantemente relacionados a
questões financeiras – especificamente questões contábeis, questões relacionadas a
aquisições de materiais e custeio de operações.
Esses resultados ajudam a inferir algumas considerações: a concentração de
trabalhos oriundos das áreas de Administração e Ciências Militares mostra que ainda
há a ausência de preocupação de pesquisadores de outras áreas com a questão da
Defesa – especificamente aqui falando da Gestão de Organizações de Defesa. Ainda
que se possa argumentar que a questão da gestão está mais intimamente relacionada
com o campo da Administração/Gestão, a importância de se obter conhecimentos por
meio de estudos multidisciplinares já é bastante discutida (CUEVAS et al., 2012).
Entende-se que é necessário ainda que se traga a discussão acerca da
Gestão de Organizações de Defesa, com suas especificidades e aspectos particulares
para dentro da academia – não apenas em instituições militares – de modo a ter um
aumento no número de publicações acerca do tema. Praticamente todas as
publicações analisadas neste trabalho foram feitas em periódicos ligados a instituições
militares, o que mostra que ainda há uma carência grande de discussões na esfera
civil, mesmo em países cuja estrutura de defesa já é aparentemente muito mais
integrada com o meio civil, como é o caso dos Estados Unidos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho buscou, por meio de uma análise bibliométrica, tratar da


direção tomada pelos estudos no campo da Gestão das Organizações de Defesa, de
modo a indicar possíveis aspectos de melhoria para os futuros autores interessados
em discutir o tema. Tal direção é observada através de publicações em periódicos, no
período entre 2010 e 2017. Assim, pelos resultados encontrados e fornecidos na
seção acima, entende-se que ainda há espaço para melhorias significativas,
sobretudo no volume de publicações brasileiras, ainda ausentes nos periódicos
principais do tema.
Os resultados obtidos mostram uma concentração de trabalhos nas áreas de
Administração e Ciências Militares. Entende-se aqui que é necessária uma maior
multidisciplinaridade de modo a enriquecer ainda mais as discussões do tema. Além
disso, é possível observar que a maioria dos trabalhos se concentram na discussão
da gestão de recursos, o que embora seja um aspecto significativo, não é o aspecto
mais importante, tendo em vista que a influência do pessoal e da estrutura
organizacional para a gestão dos recursos é significativa – e também deve ser melhor
compreendida.
Ainda que não tenham sido encontrados por este trabalho publicações
brasileiras dentro do campo de Gestão de Organizações de Defesa, serão feitas aqui
algumas sugestões de modo a contribuir positivamente para o melhor
desenvolvimento do campo a partir do que foi observado pela análise deste trabalho.
Pode ser que, em um momento posterior, se verifique que as sugestões aqui feitas
são vãs, mas da mesma forma que não há dados necessários para se verificar que as
sugestões são válidas para a produção acadêmica brasileira, também não há dados
que permitam negar a validade de tais sugestões.
A primeira sugestão é a de que possam ser aprofundados os esforços de
integração das áreas mais afeitas a análises de mecanismos de gestão, seja de
pessoas, processos ou custos, com as escolas de estudos de Defesa brasileiras.
Conforme já foi mencionado acima, é a crença do autor do trabalho a de que há valor
inestimável em estudos multidisciplinares. Reconhece-se aqui o esforço empregado
pelas escolas de defesa brasileiras em trazer para dentro de si um público civil, o que
pode no futuro contribuir para o aumento de publicações no campo da Gestão de
Organizações de Defesa que atendam aos critérios de multidisciplinaridade.
A segunda sugestão é a de que se estimule a participação de estudiosos e
pesquisadores da academia nas organizações de defesa, ou que se abra de forma
efetiva aos mesmos as portas dessas organizações para que estudos efetivos sobre
seu funcionamento sejam desempenhados. Conforme mostra-se aqui, ainda há uma
lacuna considerável entre a estrutura de estudos de gestão de organização de defesa
em outros países e a estrutura desses estudos no Brasil.
Reconhece-se aqui que por meio da pesquisa aqui efetuada não é possível
dizer se há produção científica feita no campo de Gestão de Organizações de Defesa
que não tenha sido publicada em periódicos, tal como teses, monografias ou
dissertações. Acredita-se que tal análise poderia ser feita mediante a busca em
bancos de dados de dissertações e/ou teses, de modo a determinar a existência de
trabalhos dessa natureza que versem sobre a temática da Gestão de Organizações
de Defesa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARAÚJO, R; ALVARENGA, L. A bibliometria na pesquisa científica da pós-graduação


brasileira de 1987 a 2007. Encontros Bibli: Revista Eletrônica de Biblioteconomia
e Ciência da Informação, v.16, n.31, p.51-70, 2011.

CHUEKE, G.; AMATUCCI, M. O que é bibliometria? Uma introdução ao fórum.


Revista Eletrônica de Negócios Internacionais, v.10, n.2, p.1-5, mai./ago.2015.
CLAUSEWITZ, C. On War. Princeton: Princeton University Press, 1984.

CUEVAS, H. Benefits and Challenges of Multidisciplinary Project Teams: “Lessons


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FGV. Lista de Bases de Dados do SB-FGV. Disponível em http://sistema.bibliotecas-


bdigital.fgv.br/bases-dados. Acesso em 29 de julho de 2017.

HOLMES, R.; MCCONVILLE, T. Defence management in uncertain times. Nova


York: Routledge, 2003.

MARTIN, L. The Management of Defence. Nova York: Palgrave Macmillan, 1976

PRITCHARD, A. Statistical bibliography or bibliometrics? Journal of Documentation,


v. 24, n.4, p.348-349, 1969.

TILLMAN, M. et al. Defense Resource Management Studies: Introduction to


Capability and Acquisition Planning Processes. Alexandria: Institute for Defense
Analyses, 2010.

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