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138 ‘A insia pela evocagao de um passado verdadciramente brasileiro, pela localizagao dos lugares, que definiriam nossos destinos € caracter'sticas nacionals,coletivas, evou-os a praticamente fundar um mavimento de tributo a que todos as brasileiras se acostumaram nas décadas seguintes. Viajar a Minas significave viajar 20 encontro do passada brasileiro. A meméria nacional foi associada as cidades do periodo colonial e a suas herangas,culturais. A imensa Imaioria das "cdades historicas” que passaram a habitar nossas mentes sia certamente mineiras, mas outras como AleSntara, Sao Luiz, Olinda, Salvador ou Paraty foram incluidas neste rol, que, aids, ndo & muito extenso, Mario de Andrade, um dos integrantes do grupo de viajantes de 1924, foi praticamente um guia dessa viagem memorével, pois jéestivera em Minas na década anterior. Sua sensibilidade Para aquele paisagem cultural, entéo desprezada pela imensa maioria das elites drigentes que 36 tinham olhos para a Europa, o levou a estimular seus amigos a contempler as obras do Aleijadinno, o casario setecentista € oitacentista, os chafarizes de pedra, as numerosas igrejas e-capelas de tragos barrocos e rococés. Mério de Andrade € ainda ura vez um nome central para um outro tig de viagem de descobertas ~ ou de redescobertas - do Brasil. Partes da AmazOnia do Nordeste foram percorridas por ele ‘em 1928/1929, No mats a arquitetura, mas as musica, os flares, cantaes, contares” do povo foram o foco principal de sue atengdo. Os saberes eos fazeres foram anotados,fotografads, memorizados, formando o regisiro de expressdes culturais populares ainda muito marcadas pela experiéncia colonial pla interacdo entre Indios ibéricos e africans, Aquilo que a cada aia parecia perder-se nas paragens caipias de Sao Paulo, coda vez mais afetades pela imiararSo, pela modernizagdo das cdades e pelo consumo, era vislumbrada no Brasil “dstante” O Brasil ra cada vez mais achado fora de Séo Paulo. ‘Anos depois, durante a gestdo de Getulio Vargas, Mario de Andrade seria um dos intelectuais ‘modernistas que lancariam as bases do Servga.do Petrino Histricoe Atistco Nacional ~SPHAN, criado em 1937° -, primeira grande a¢do govemnamental de preservago cultural no pais. Mineiras, pernambucanos, beianos ¢ cariacas compuseram a maioria da equipe que realizaria utras tantas viagens de reconhecimento a partir daquele ano, Intelectuais que também eram funciondtios piblicos, aqueles pesquisadores pioneiros desataram uma especie de corrida pela “arqueologia" da memeéria brasileira. Fotagrafando, desenhando, copiando documentos rmanuscrites, todos eles buscavam 0 “pals” e sua correspondente “nagdo” ‘So Paulo no foi um destino privlegiado dessas incursdes oficais. As cidades paulistas jamais foram alvo de uma protepSo equivalente as mineiras, pernambucanas ou baianas. Embora local da mais antiga povoagao brasileira, daquela So Vicente fundada em 1532, a terra paulista ndo possula a riqueza faustosa das cidades coloniais daqueles estados, fausto, alias, que sempre fascinou os técnicos do SPHAN. O Iuxo peulista vinha quando muito do séeulo XIX, da emergéncia do café que apagara os tracos da rusticidade colonial, modernizando as cidades sob o ideério iminotannisenmrace Soo Lat tol Fe 2 do progresso e reconstruindo sua arquitetura com referéncias mais modernas, europeizadas. Mas nada disso interessava a0 SPHAN € a pensadores como Mério de Andrade, que negavam (os estrangeirismos ¢ passariam boa parte das décadas de 1930 e 1940 em busca dos restos do Paulo eram poucos e modestos. Brasil colonial, que em Além da recusa daquela modernizagao europetzante decorrente do café, 0s primeiros preservacionistas também estabeleceram uma relacao dic com ume geografia humana e um conjanto de expresses culturais que se recriavam em Sdo Paulo por conta da prépriaimigracao. ‘A nova So Pauio dos séculos XIX e XX era lida como terra brasileira cada vez mais tomada por estrangeiros.A modernidade paulista, a rigor, perturbava os modercistas paulistas do SPHAN e seus colegas do Rio de Janeiro. ‘A oped de valor concedida aos bens culturas vindos do periodo colonial ea recusa das novas praticas e expresses da era do café marcaram profundamente as idéias de preservagdo em 40 Paulo. A afeigao pelo pouco que restara das velhastaipas de origem colonial permaneceu ‘como pardmetro de valor por décadas para as agées de preservagdo comandadas pela Unido imaginario do progresso, caro as ideologias politica das elites diigentes do Estado, tarnbém colaborou imensamente para que a auséreia de uma protecdo empla do complexo e dind~ mico patrim6nio cultural paulista fzesse ainda mais vitimas nos diferentes suportes materais da memria de seus habitantes. Esse rol de op¢des ¢ recusas culturais que acabaria por empalidecer o lugar de Sao Paulo dos maltiplos paulistas na trajetoria de preservagao patrimonial no Brasil é um dos problemas a ser enfrentados neste texto. Fazendas, indistras € vilas operdrias, casarios urbanos, festas € estacdes ferroviarias foram ‘assim perdidos em grande quantidade, sem que se pudesse estabelecer uma triagem dos exemplares que deveriam permanecer para testemunhar expressdes culturais dos antigos paulistes. Talvez algo ainda mais relevante, tais perdas consolidaram-se ao longo do século XX sem que se pudesse avaliar em que medida taisedificages compunham ¢ atualizavam memerias coletivas, cujos integranies sociais no dispunham de meios ecandmicos e politicos para protegé-Ias ou meios institucionais para elegé-Ias camo um “patriménio” A tomada da responsabilidade de escalher o que seria preservado pelos agentes governamentais, © 05 rgidos e excludentes critérios de selego de bens que gerariarn as tombamentos realizados pelo menos até a década de 1960, foram contrapostos a um afastamento da propria populago paulista do debate do que deveria ou nao ser tombada. Nesse sentido, 2 preserva¢aa do patriménio consolidou-se come uma questaa do Estado, aautada por agdes, efinal, poucs representatives da complexidade paulista e que espelharam com dificuldade as demandas sociais relativas aos suportes da memérie social. E552 oposicdo dificil € outro dos vieses de debate que este texto privilegia, 139 140 ‘Nos ultimos 40 anos, entretanto, houve simultaneamente a emergéncia de varias acdes de revisdo dos antigos parametros que nortearam a protesdo governamental do patriménio cultural dos paulistas desde a déceda de 1930, Algumas delas partiram das préprias esferas estatals, outras foram constituidas por setores da sociedade civil Este texto procura documentar algumas dessas trajetérias de preservagéo e, especialmente, novas formas de percepcdo e valorizago do heterogéneo legado cultural paulista. Consti- tui-se lentamente um contraste 2o desprestiaio @ que os préprios paulistas se submeteram ou foram submeticos na tacante go reconhecimento da importancia de sua heranga cultural Percorreremos inicialmente os primérdios da constituigdo do pardmetra “colonial cujas origens, esto também no préprio meio cultural paulsta da Primeira Repiiblica. Os resultados de pritica federal de tombamento no Estado de Sao Paulo serio abordados em seguida, observando-se 2 pequenez de seu alcance e, sobretudo, sua espantosarigidez entre a década de 1930 € o presente. As teorientagdes conceituais e praticas realizadas pela esfera estadual por meio da Conselho de Defesa do Patrimonio Historica, Artistico, Arqueolégico € Turistico do Estado de So Paulo ~ Condephaat, cujas atividades foram iniciadas na década de 1960, virdo a seguir. As agées governamentais sero, por fim, observadas mediante as inavagSes implantadas por algumas prefeituras municipais do interior paulista no ambito dos criterias de selecao ce bens passiveis de protecao, cujos técnicos procuram ampliar e dinamizar o alcance social do tombamento dante da complexidade cultural perceptivel nas cidades paulista, Exemplos significativos de ages sociais de preservagio sero abordados ao final, de maneira a detectarem-se convergéncias ou dissondncias relatives apbes governamentais de tomba- mento. A transcendéncia daquilo que jé se considerava um patriménio coletivo pelos érgaos Oficial seré especialmente focalizado, bem como as solugées para viabilizago do que ja foi preservado e ~ 0 que € especialmente promissor ~ de outras referéncias patrimoniais eleitas pela Prépria populagio como alvo de cuidado, amparo,transformacao e dinamizagzo. Atribuindo valor as coisas do passado: os primérdios contraditérios da consciéncia patrimonial em Sao Paulo Este texto iniciou aludindo a importéncia dos modernistas, paulistas € brasileiros em geral, nha formulagdo de idéias que resultariam na valorizacao do patrimOnio cultural herdado do ppassado, em especial do periodo luso-brasileio. Embora sejam eles aqueles que, como veremos 8 frente, instituem o “ednone colonial’ nos tombamentos realizados pelo SPHAN a partir da década de 1930, a atribuigo de valor positive aos remanescentes arquitetonicas do periodo Paulo desde a década de 1910. colonial é se iniciara em Aideia de que a arquitetura luso-brasiteta produzida entre os séculos XVI e XVlll era marcada pela experiencia positiva de adaptacao ao meio natural e, portanto, reveladora da prépria ‘ese Sew woaresos beenacis omerno 0 Pla Shas op ence nat construgao da experiéncia nacional brasileira foi inaugurada pelo arquiteto Ricardo Severo a partir de 1914, Portugués de nascimento e casada numa familia integrante das elites paulistas, Severo proferiu na Sociedade de Cultura Artistica uma conferéncia intitulada “A arte tradicional no Brasil em que exortava 05 ouvintes, membros também das elites locais, a valorizar 0 que cchamava de ‘arquitetura tradicional" brasileira, resultado da lenta € eficiente adaptagdo das formas materiais da arquitetura portuguesa ao trépico®. Lembrou, par exemplo, 0 conforto propiciado pelos materiais antigos em opasigaa aqueles que seguiam os modelos franceses em ‘yoga nas orandes cidades brasileiras ern fungdo da eurapelzacdo que se generalizara a partir das reformes urbanas implantadas na Primeira Repiblica, O impacto de suas palavras alcancou boa parte das elites locals, que nos anos seguintes acabaram por encomendar residéncias em que justapunham elementos suntuosos oriundos da arquitetura religiosa barroca aqueles materia tradicionais valorizados por Severo ao lembrar as residéncias do periodo colonial. As telhas cerémmicas de capa-e-canal (de formato céncavo) opunham-se as laminas de ardésias ou aos quentes telhadas de folha-de-flandres; gelosias de madeira (treligas) eran evocadas em lugar do vidro, incapaz de filtrar a luz ou de deixar passar 8s brisas; azulejos cram retomados por sua capacidade de isolamento térmico ou por preservar as fachadas da umidade do tropico; beirais largos projetavam-se das paredes externas, de modo «a preservar as fachadas e 0s interiores do sol e das chuvas Fortest. ‘uase todos 0s poises da Amérce Latina passaram por rctomadas anélogas a essa vertente da arquitetura brasiira produc entre as décadas de 1910 ¢ 1940, atualmente chamada “arquitetura neocoloniasE tanto aqui como nesses pases, ¢retomads daqueles elementos arquitetOnicos ¢ mmateriais constitu o primero passo em direcdo a uma ambigzo que se intersifcaria nas décadas seguintes entre os arquitetos brasilirose de outros paises latino-americanos: a busca de uma produgao que sintetizasse e reveiasse uma identidade nacional. Eimportante ressltar que nas trés primeiras décadss do século XX, quase todos 05 paises oriundos das antigas possesses portuguesas e espanholasna América comemoravam o centendrio de Independencia; essa retomada cumpriu um papel 23532 contraditirio de evocar uma identidade arquitetdnica que caracterizasse a origem das novas nagies, sé que produzidajustamente num petiodo em que eram ligadas 8s poténcias europdias.. Mas ess contrac ere menos importante do que forar uma oposigdo 8 ‘europeizagio radical que havia caracterizado as opsées das ets dirigents latino-americaras, inclusive bresiteiras, nas decacas de 1890 ¢ 1900. Em Sio Paulo, sdo varios os exemplos desse “retorno” ao antigo propalado por Severo. O novo ordenamento paisagistico do Largo da Meméria paulistano, concebido pelo arquiteto Vietor Dubugras e inaugureda em 1919, uilizva, por exemplo, os painéis de azulejos ¢ volutes barrocas que evocam de maneira muito livre a arquitetura colonial. 0s monumentos da estrada da 1825 também segundo projeto de Dubugras, utilizavarn Serra do Mar, erguidas entre 19: 195 mesmos elementos, acrescidos to uso das telhas de capa-e-canal, dos beirais ¢ das janelas vat a TS NT 142 em arco abatido, ou “de canga", eomuns na segunds metade do século XVII”. Ambas os projetos foram, aids, respectivamente realizados durante as gestées de Washington Luis, que também era historiador, na prefeitura paulistana (1814-1919) ena Presidéncia do Estado de Sao Paulo (1920-1924) Na década Sequinte, o novo edificio da Faculdade de Diteto,erguido a partir de 1934 na larga de Séo Francisco sab projeto do prépria Severo, &revelador do quanto as elites dirigentes paulistas haviam acolhido a proposta do arquiteto portugués. Embora suas formas e escalas externas lembrassem muito mais a arquitetura do norte de Portugal, 0 projeta da mais ‘emblematica instituiglo educacional da capital foi certamente compreendido como uma evoragdo legitima de um passado colonial 20 mesmo tempo paulista e brasileiro, Mas essa retomada da suposta "tradiga0" nacional na produgdo arquiteténica foi justa- posta, contraditoriamente, a demoligao de varios edificios do periade colonial, que deviam inspirar esse revivescéncia, 0 referido prédio da Faculdade de Direito, por exemplo, foi erguide mediante a derrubada do antigo convento franciscano € de suas taipas setecentistas*. Anos antes, por volta de 1927, foram derrubados © convento e a igreja dos frades carmelitas, na atual avenida Rangel Pestana, para que se erquesse a sede da Secretaria da Fazenda, sendo que apenas umes poucas vazes se insurgiram contra a derrubada, Em Taubat, es formas da velha matriz colonial, talvez a maior {do Vale do Paraiba, foram substituidas jé em plena década de 1940 pela fisionoria neocalonial, ue respeitou apenas algumas talhas de madeira da igreja anterior. Tantas outras casas térreas, sobrados do centro paulistano ou de cidades antigas do estado, coma Santos ou Campinas, cairam a0 longo dos trés primeiros quarts do século XX sem que levantassem pratestos eficazes, Na década de 1940, a construgéo da igreja de Nossa Senhora do Brasil situada no baltro paulistano do Jardim América, é simultaneamente um testemunho de evocagao e destruicao no ambito da arquitetura neocolonial. Suas formas lembram as igrejas terceiras franciscanas setecentistas de Sao Jodo d'el Rey ou Ouro Preto, assim como 0 profuso uso de azulejos no interior evoca 5 painéis portugueses aplicados em quase todas as construgOes franciscanas nordestinas 0 retbulo do altar-mar & ponto maximo de evocs¢ao do passado, pois trata-se de conjunto de talhas de madeira realizado originalmente para a matriz de Mogi das Cruzes - de onde foi retirado para ornamentar a pardquia da capital. Uma igreja, portanto, era erguida por meio dos despojos de outra O palacete de Ricardo Severo situado no bairo paulisteno da Liberdade, era outro exemplo signifcativo dessa contrac. Suas formas seguiam o pardmetio“tadisional” desenado Wr Wawa com grande lberdade pelo arquiteto em face de modesta arquitetura doméstica do periodo ‘aware pat colonial, evocando aqui ali seus elementos e adaptando-os 2s caracteristicas mais luxuosas, oe ‘demandadas por um palacete vinculsdo ao Ecletismo. Nos interiores fragmentos das talhas que bx dnst 30 2 tes ctr Cop, fs ae 9 Dis cana cn setieronaab se topam sot a ape eee (epcienaonata ee Iara Bons omavam antigas igrejas eram dispostas como reliquias daqueles templos, numa sintese que aponta 0 inicio de um compromisso cam a preservacao de artefatos do passado, mas que néo chegava a ter forgas ou real interesse em impedir sua demoligao? De fato, nao houve nenhuma acdo significative das autoridades paulistas para preservar velhas, construgdes que sucumbiam &s demandas de espago ou aos projetos de ampliago de logradouros do centro paulistano. 0 passado era eceto com mais faclidade nas novas construséies, “tvadicionais" do que nas realmente antigas, menores, menos suntuosas e que documentavam uma vida paulista ‘mais pobre ou modesta ¢,taivez por isso, inctimoda o suficiente para cair sem levantar lamdirias. Tals perdas deviam, alii, importar muita mais aos setores socials populares ditetamente atingidos pelas demoligdes, que viam seus lugares de moradia ser eliminados e suas antigas igrejas ser condenadas ~ € ndo era a meditagdo sobre o passato distante que os devia sensiilza, Washington Luis, quando prefeito de Sao Paulo fez parte de expedigdes para visitar velhas construgées rurais do periodo colonial que pudessem testemunhar 0 pasado memordvel dos tempos bandeirantes So célebres suas fotos de 1915 diante do chammado Sitio do Padre Inéco, em Cotia, uma das construgdes que seriam anos depois enquadradas na categoria de “casas bbandeiristas"™. Foi também ao Sitio de Santo Antonio, de S40 Roque, local de outras das maiores casas de taipa coloniais, Essas expedigbes, que percorriam estradas de terra precéria, foram as primeiras de que se tem noticia, realizadas em Sao Paulo por intelectuais em busca daquilo que na década seguinte jd seria consideredo alvo das politcas federais de preservacao. Mas "ao redundaram em agoes efetives para Sua preservagao, nem mesmo sugeriram a criagdo de uma inspetoria estadual de monumentos, nos moldes do que na década de 1920 ja se implantava na Bahia ¢ Pernambuco e se esbocava em Minas Gerais" A valorizacao da arquitetura colonial paulsta nas décadas de 1910, 1920 e grande parte de 1930, levada a cabo pelos integrantes ou simpatizantes do movimento pela retomade da “arquitetura tradicional” foi, portanto, episbdicae especialmente ineficaz no que toca a preserva des exifcios remanescentes do periodo colonial, Além disso, jamais se mostraram capazes de disseminar em setores amplos de Sociedade seus valores eletivas, o que diluu sua efiedcia e mesmo a mernéria cde seu pioneiismo na valorizacao do patriménia colonial™ Caberia 2 um segmento dos modernistas paulistas, especialmente a Mario de Andrade e Luis Saia, a efetivagao das primeiras acoes, de protecdo oficiais desse legado, bastante parc'al, do passado paulista O patriménio paulista que os modernistas escolheram € deixaram de escolher A preservacao oficial do patriménio cultural dos brasileiros comecau a ser implantada pela esfera federal em 1935. Nesse ano, a mancha urbana de Ouro Preto foi elevada 2 condigéo de Monumento Nacional. Tal atitude inaugurava uma série de opcBes que 0 Estado passaria a escolher e desempenhar nos anos seguintes, sobretudo apés a criago 144 do SPHAN em 1937, como érgic do Ministério da responsével pelo tombamento! em nivel federal ducacB0 e Saiide!” (MES), einstituicgo Ascolha da arquitetura como foco de interesse para Preservacdo é uma detas. Patriménio ance, ath Ras décadas seguintes, praticamente um sindnimo de bem arquitetonico e, também, de bem arquitet6nico prategido pelo tombamento. ‘\opsao pela arquitetura como foco das agdes de protecdo governamentals pode ser considerade uma derivacdo do modelo patrimonial francés estabelecdo em 1830 e consolidado so longo Go teulo XX como uma das mas efcientes polices cultures na Europa" Para justfieara escolha Ge exemplars arquitetdnieas foram aplicadas basicamente 25 categotias de valor “artistico” ¢"histrico’, com predominéncia da primeira A arte, campo entio consierado mats neutro de Atsreas poltcas ou soias que afetavam a categoria de valor histrco, trnava_se, assim, Principal eixo de identificagao da suposta meméria coletiva nacional © modelo francés também foi a principal referencia para que arqutetura ‘monumental fosse lsrgemente priorizada nos tombamentos iniciados a partir de 1938. Embora o¢ conjuntos Urbans a exemplo de Ouro Preto, também fossem protegidos, a escolha de bene isolados A grande tamanho, como igreja, mosteros, eanvenios paldcios, cases de e&mara © cadeia, fortes «fortaleza, fi lagamente privilegiads, materaizando também anu 2 condigso de ‘monumento (Suporte de meméra) a escala “monumental” (de grande porte] Se arquitetura foi uma escoha, entre tantos outros suportes da cultura ue poderiam ter sido também elegidos 0 perado colonial fo outra ope bastante evdentee priritéria, Na Franga, 6: ealfcios medievas, largamente priorizades pela Comisséo de Monumentos Nacionais e rtensamente documentados, tomtads e restaurados pelo poder pblco,eram compreendidos are jay stemunho da gra artstica eapurotéenico de uma suposta nagdo francesa desde aries da consoldaro das fronteias do estado bourbonieo. Aqui a escolha de Ouro Prete como Monumento Nacional em 1935 sinaizao padrdo temperal que o SPHAN adotaria para os ‘ombamentos 2 parti de 1938, 0 periodo colonial foi compreenldo, pelos crulos modernistas Casagrande &Sencala, obra de Giberto Frere publicada er 1933, poe Sr considerada um ponto GF inflerdo defnitivanainterpretagzo do destino racial do Basi, em que a miscigenac3o 180 era mals vista como uma degeneragdo, mas como a possibildade de ume experiéncia social ¢ interéinicasinguar¢otimista, que redundari no forjamento da nacdo brasileira, especifica Por conta da sintese entre indigenas, portugueses eaficanos.O mestco passa a ser ido pane © Prototipo de brasileiro, revestido de positvidade. Portinar, Di Cavalcanti ou Ary Barroso foram alguns exemplos de artistas, proximos ou mais istantes do regime varguista, emperor ‘apes i ge srt seumeon tn 20%: Be seas her he ioe bate atts ssnngoroslonty, ‘eer kt pes que exaltaram o mulato, tipo brasileiro por exceléncia © que serie consagrado na histéria € na arte do passado brasileiro pelas aces do SPHAN, O Alejadinho, Mestre Valentim , nas paragens paulistas, o padre Jesufno do Monte Carmelo so exemplos de artistas mulatos clevados a condigao de supremo talento mediante a consagra¢ao

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