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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO”

Arthur Guilherme Monzelli

DA BELLE ÉPOQUE À ERA DA DESTRUIÇÃO TOTAL

Trabalho elaborados para a disciplina


Mariátegui, o Indigenismo e as Vanguardas
Latino-Americanas, ministrada pelo Profª Drª.
Silvia Beatriz Adoue.

Araraquara – SP
Setembro de 2015
Introdução

Como discutimos coletivamente nas primeiras aulas desse curso, a personagem histórica de
José Carlos Mariátegui é muito interessante – diga-se de passagem, até intrigante. Suas aventuras
começam em seu estágio no Jornal “La Prensa”, escrevendo sobre o pseudônimo de Juan
Croniquer, no entanto, em seguida, percorre um caminho de certa forma contraditório, permeado
por embates e pelo exílio1 até chegar a conquista do reconhecimento como grande agente da
vanguarda estética latino-americana do século XX, bem como significativo pensador do socialismo
“para além das fronteiras da Europa2”.

Da Belle Époque à Era da Destruição Total3

Debruçando sobre o caminhar histórico de Mariátegui, podemos destacar a sua experiência


como testemunha da marcha dos “Heraldos negros”, provenientes da Grande Guerra Mundial (1914
– 1919). Evento histórico este que reverberou globalmente não só a crise nos campos da economia e
da política, mas também, dilacerou campos psicológicos e estéticos da mente humana. Essa
vivência Mariátegui teve durante seu exílio e, a partir de então o jornalista percebeu que a Europa se
fragmentou em duas contraditórias “concepções de vida”. Uma delas representava um “momento
pré-bélico europeu”, enquanto a outra consistia na experiência do pós-guerra, portanto, um
“momento pós-bélico”.
Noutras palavras, Mariátegui quis entender como viviam os sujeitos durante aquilo que a
historiografia atual denomina como Belle Époque, ou seja, toda aquela embriaguez e miopia do ser
social europeu, convictamente crente na ideologia do progresso, bem como seguramente disposto a
defender seu suposto patamar superior dentro da escala pseudocientífica evolucionista de
classificação das populações humanas4. Como si isso não bastasse, o homem daquela época
profetizava a realidade de “paz perpétua” e do “comércio abundante” para as gerações posteriores.

1
Detalhes mais precisos da sua história, embora possam ser esclarecedores, não serão o foco desta nossa breve reflexão.
2
Expressão que Sérgio Buarque de Holanda utiliza-se para pensar na produção de conhecimento desenvolvida pelo
Brasil – embora possa ser remontado para todo o conhecimento latino-americano – sem ignorar, é claro, as duas grandes
matrizes de pensamento que formaram o país: a indígena e a africana.
3
Termo utilizado por Hobsbawm na sua grande obra “Era dos extremos”.
4
Segundo a atopologia evolucionista de Lewis Morgan, a Europa e os EUA do século XIX ocupavam o patamar
máximo de evolução: a civilização. Enquanto isso, os demais grupos sociais ocupavam lugares variados entre a barbárie
e a selvageria.

2
Contudo, a ideologia e as previsões deste sujeito histórico europeu sofreram um golpe mais
violento e profundo que jamais poderiam aguentar: a Grande Guerra. Nesse sentido, Mariátegui
sentiu em sua própria pele essa ruptura entre dois mundos vivida na consciência europeia, haja vista
que o “mundo dourado” da Belle Époque era pintado como possibilidade para o futuro dos países
latino-americanos – ainda que um potencial, de fato, extremamente fictício e falacioso5.
Em resumo, a violência indiscriminada, racionalizada e impessoal tomou conta daquele
mundo – que há alguns anos delirava, deleitando-se com a imaginária ideia de ter chegado ao final
da histórica, inclusive tinha criada a filosofia própria do “fim dos tempos”, nos referimos ao
positivismo. Portanto, a vida calma e tranquilo que a burguesia tinha se acostumado a levar 6 que;
por um lado, foi incorporada completamente pelos movimentos nazifascistas europeus e; por outro
lado, aterrorizava-se com o avança violento do bolcheviquismo soviético do pós-Revolução de
1917.
No final das contas, podemos destacar o fato de que essas duas concepções de vida mostram
para Mariátegui as contradições históricas que moldavam os sujeitos sociais do século XX, com as
quais eles teriam de vivenciar para superar a vida esvaziada, reificada e sem physis (sem alento) que
emergia da era dos extremos descrita por Hobsbawm. Contudo, essa superação não oderia se
expressar por meio de uma nova “calmaria burguesa”, semelhante à da Belle Époque, isto é,
contente com as discussões retória do Parlamento, bem como contemplada pelo processo de
“conservar mudando7” da sociedade. Em vez disso, como Mariátegui ressalta, é preciso novamente
se arriscar, lutar, se agoniar, fugir do niilismo e buscar o sonho – potências essenciais para o
movimento da vida e da história do ser humano.

Referências Bibliográficas

5
Sobre mais informações sobre as falácias da superação do subdesenvolvimento dentro do próprio capitalismo estudar
os teóricos do “desenvolvimento dependente”, tais como Florestan Fernandes.
6
Vida levada as custas de muita morte, luta e sangue durante a colonização da América e posteriormente em meio a
neocolonização da África.
7
Forma de mudar a sociedade, permitindo que os fenômenos mudem, porém mantenham sua essência sobre novas
roupagens. Para mais informações ler “A revolução burguesa”.

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