Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Odalia, N. - Gilberto Freyre - Uma Interpretação Etno-Cultural Do Brasil (Livro)
Odalia, N. - Gilberto Freyre - Uma Interpretação Etno-Cultural Do Brasil (Livro)
GILBERTO FREYRE
– UMA INTERPRETAÇÃO
ETNO-CULTURAL DO BRASIL
PREFÁCIO 5
INTRODUÇÃO 7
CAPÍTULO I
CONTEXTO HISTÓRICO 15
Gilberto Freyre e a historiografia brasileira 21
CAPÍTULO II
NOS TRÓPICOS,
UMA NOVA SOCIEDADE 25
CAPÍTULO III
O HOMEM BRASILEIRO 39
i. O indígena na sociedade híbrida 41
ii. O papel do português 44
a. posição geográfica
e heterogeneidade étnica 44
b. o papel da religião católica
e de sua hierarquia 48
iii. O papel do negro 51
CAPÍTULO IV
OS VALORES ETNO-CULTURAIS
DA NOVA SOCIEDADE 57
Considerações finais 66
BIBLIOGRAFIAS 71
Obrigado,
São Paulo, maio de 2001.
1
Convém aqui notar que a noção de causalidade na história
não tem a mesma conotação que nas ciências físico-matemá-
ticas. Nestas, o determinismo físico é um dos fundamentos
da causalidade, de maneira que a uma mesma causa deve cor-
responder o mesmo efeito. Essa determinação não existe na
história. Historiadores distintos poderão apontar causas dis-
tintas para a explicação de um mesmo fenômeno histórico.
2
Ao apontar em W.I. Thomas (The relation of Research to the
Social Process) a ausência do futuro em suas considerações so-
bre a história, diz o nosso autor: “compreende-se nosso repúdio a
Thomas na parte em que esse grande renovador dos modernos estudos soci-
ais deixou de revelar essa sensibilidade moderna ao tempo, para mostrar-
se apegado ao sentido clássico do passado como experiência humana socio-
logicamente dependente do presente; e não interdependente com relação ao
mesmo presente e ao próprio futuro” (FREYRE, Gilberto. Ordem e
Progresso. 4ª ed. Rio de Janeiro, Record, p. clxviii-clxix).
CONTEXTO HISTÓRICO
1
Ver sobre a rebelião de 24 o livro de Corrêa, Anna Marti-
nez, A rebelião de 1924 em São Paulo. S.P. Hucitec, 1976.
2
Casalecchi, José Ênio, O Partido Republicano Paulista. SP. Brasi-
liense, 1987.
GILBERTO FREYRE
E A HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA
3
Não se pode esquecer que Gilberto Freyre escreveu Ordem e
Progresso, utilizando para tanto questionários por ele ela-
borados, cerca de 1.000, embora nem todos tenham sido
respondidos.
4
Ver Burke, Peter. A Escola dos Annales – 1929 – 1989 – A Re-
volução francesa da Historiografia. Trad. de Nilo Odalia. SP. Edi-
tora Unesp., 1991.
NOS TRÓPICOS,
UMA NOVA SOCIEDADE
1
Freyre, Gilberto. Casa Grande & Senzala – Formação da Família
Brasileira. 17a ed. RJ., José Olympio Editora, 1975, p. 4. To-
das as referências a textos do autor terão como fonte essa
edição do livro. Os números pospostos às citações referem-
se aos números das páginas dessa edição.
2
Sobre uma visão bastante pessimista da sociedade colonial
brasileira, ver ABREU, Capistrano de. Capítulos de História
Colonial (1500-1800). 6ª ed. Revista, anotada e prefaciada por
José Honório Rodrigues. RJ., Civilização Brasileira, 1976.
3
Ao enfatizar o conceito de antagonismo, Gilberto Freyre
está se opondo a Varnhagen e Oliveira Vianna, cuja preo-
cupação fundamental é o conflito. Esses autores, especial-
mente Varnhagen, temiam que os conflitos, quaisquer que
fossem suas causas, provocassem a fragmentação política e
territorial do país.
4
Prefácio à 1a ed., op. cit., p. lvii.
5
Idem, p. lviii.
6
O assunto é retomado e ampliado em Ordem e Progresso.
7
Casa Grande & Senzala, p. 52
8
“Sociedade que se desenvolveria defendida menos pela cons-
ciência de raça, quase nenhuma no português cosmopolita
e plástico, do que pelo exclusivismo religioso desdobrado
em sistema de profilaxia social e política” (id., ibidem, p. 4).
9
“É verdade que agindo sempre, entre tantos antagonismos
contundentes, amortecendo-lhes o choque ou harmonizan-
do-os, condições de confraternização e de mobilidade social
peculiares ao Brasil: a miscigenação, a dispersão da herança,
a fácil e freqüente mudança de profissão e de residência, o
fácil e freqüente acesso a cargos e a elevadas posições polí-
ticas e sociais de mestiços e de filhos naturais, o cristianis-
mo lírico à portuguesa, a tolerância moral, a hospitalidade
a estrangeiros, a intercomunicação entre as diferentes zonas
do país. Esta, menos por facilidades técnicas do que pelas
físicas: a ausência de um sistema de montanhas ou de rios
verdadeiramente perturbador da unidade brasileira ou da re-
ciprocidade cultural e econômica entre os extremos geográ-
ficos” (id, ibidem, p. 54).
10
“Antes de vitoriosa a colonização portuguesa do Brasil, não
se compreendia outro tipo de domínio europeu nas regiões
tropicais que não fosse o da exploração comercial através
de feitorias ou da pura extração de riqueza mineral” (id.,
ibidem, p. 16)
O HOMEM BRASILEIRO
1
Ver VARNHAGEN, F. A de. História Geral do Brasil. 4ª ed.
R.J., J.E. & Laemmert Ltd. s.d. 5 v. e ODALIA, Nilo. As
formas do Mesmo. SP. Edunesp, 1997.
2
“Híbrida desde o início, a sociedade brasileira é de todas da
América a que se constituiu mais harmoniosamente quanto
II . O PAPEL DO PORTUGUÊS
A . POSIÇÃO GEOGRÁFICA E
HETEROGENEIDADE ÉTNICA
3
“A colonização do Brasil se processou aristocraticamente –
mais do que a de qualquer outra parte da América.... Mas
onde o processo de colonização européia afirmou-se essen-
cialmente aristocrático foi no norte do Brasil. Aristocráti-
co, patriarcal, escravocrata. O português fez-se aqui senhor
de terras mais vastas, dono de homens mais numerosos que
qualquer outro colonizador da América. Essencialmente
plebeu, ele teria falhado na esfera aristocrática em que teve
de desenvolver-se seu domínio colonial no Brasil. Não fa-
lhou, antes fundou a maior civilização moderna nos trópi-
cos” (idem, ibidem, p. 190).
4
“Seu ódio (o dos padres) é profilático. Contra o pecado e não
contra o pecador, diria o teólogo. É o pecado, a heresia, a
5
“Não nos interessa, senão indiretamente, neste ensaio, a
importância do negro na vida estética, muito menos no
puro progresso econômico, do Brasil. Devemos, entretan-
to, recordar que foi imensa. No litoral agrário, muito maior,
ao nosso ver, que a do indígena. Maior, em certo sentido,
que a do português” (idem, ibidem, p. 284).
6
“ Porque nada mais anticientífico que falar-se da inferiori-
dade do africano em relação ao ameríndio sem discriminar-
se antes que ameríndio; sem distinguir-se que negro. Se o
tapuio; se o banto; se o hotentote. Nada mais absurdo do
que negar-se ao negro sudanês, por exemplo, importado em
número considerável para o Brasil, cultura superior à do
indígena mais adiantado. Escrever que “ nem pelos artefa-
tos, nem pela cultura dos vegetais, nem pela domesticação
das espécies zoológicas, nem pela constituição da família ou
das tribos, nem pelos conhecimentos astronômicos, nem
pela criação da linguagem e das lendas, eram os pretos supe-
riores aos nossos silvícolas”, é produzir uma afirmativa que
virada pelo avesso é que dá certo” (idem, ibidem, p. 285).
7
“Pode-se juntar, a essa superioridade técnica e de cultura dos
negros, sua predisposição como que biológica e psíquica
para a vida nos trópicos. Sua maior fertilidade nas regiões
quentes. Seu gosto de sol. Sua energia sempre fresca quan-
do em contato com a floresta tropical” (idem, ibidem, p. 286).
8
“Não romantizamos. Fosse esse movimento puramente
malê ou maometano, ou combinação de vários grupos sob
líderes muçulmanos, o certo é que se destaca das simples
revoltas de escravos dos tempos coloniais. Merece lugar en-
tre as revoluções libertárias, de sentido religioso, social ou
cultural” (idem, ibidem, p. 299)
9
“Tais contrastes de disposição psíquica e de adaptação tal-
vez biológica ao clima quente explicam em parte ter sido o
negro na América Portuguesa o maior e o mais plástico co-
laborador do branco na obra de colonização agrária; o fato
de haver até desempenhado entre os indígenas uma missão
civilizadora no sentido europeizante” (idem, ibidem, p. 289).
OS VALORES ETNO-CULTURAIS
DA NOVA SOCIEDADE
1
FREYRE, Gilberto. Casa grande & Senzala, p. 117.
2
“Entre os seus era a mulher índia o principal valor econô-
mico e técnico. Um pouco besta de carga e um pouco es-
crava do homem. Mas superior a ele na capacidade de utili-
zar as cousas e de produzir o necessário à vida e ao conforto
comuns.” (Idem, ibidem, p. 116).
3
“É absurdo responsabilizar-se o negro pelo que não foi obra
sua nem do índio mas do sistema social e econômico em
que funcionaram passiva e mecanicamente. Não há escravi-
dão sem depravação sexual. É da essência do regime.” (Idem,
ibidem, p. 316).
4
“No ambiente relasso da escravidão brasileira, as línguas
africanas sem motivos para subsistirem à parte, em oposi-
ção à dos brancos, dissolveram nela, enriquecendo-a de ex-
CONSIDERAÇÕES FINAIS
5
Ver Karasch, Mary. C. A vida dos escravos no Rio de Janeiro –
1808-1850. Trad. De Pedro Maia Soares. SP., Cia. das Le-
tras, 2000.
Casa Grande & Senzala. 17ª ed. R. J., José Olympio, 1975.
Sobrados e Mucambos. 5ª ed. R.J., José Olympio, INL-MEC,
1977.
Ordem e Progresso. 4ª ed. R. J., Record, 1990.
Nordeste,4ª ed., R.J., José Olympio, 1967.
BIBLIOGRAFIA GERAL