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RECLAMAÇÃO TRABALHISTA
RECLAMAÇÃO TRABALHISTA,
I PRELIMINARMENTE
02. O reclamante foi admitido pela reclamada em fevereiro de 1997, contratado, inicialmente,
para exercer o cargo de Gerente de Distribuidores, permanecendo nessa função até junho de 1999, quando foi
promovido para exercer o cargo de Gerente de Logística nas fábricas Antártica de Teresina e São Luís.
Desempenhou esta função até março de 2001, período esse em que foi abruptamente demitido sem justa causa.
03. A jornada de trabalho para o qual fora contratado era de 44 horas semanais, isto é, das 8:00
às 12:00 e das 14:00 às 18:00 horas de segunda a sexta-feira e aos sábados das 8:00 às 12:00 horas. Todavia,
esses períodos não eram obedecidos.
05. Nesse interstício, é prudente externar, que o expediente na fábrica encerrava-se às 18:00
horas; porém, desse horário até as 22:00 horas, realizava atividades externas com recepção da equipe de vendas
nas revendas (18 20 horas), retornando à pdv (ponto de vendas) a rota diária e as visitas de rotina (20 22 horas).
10. Percebia o reclamante, à época da rescisão contratual SEM JUSTA CAUSA, o salário de
R$ 3.500,00 (três mil e quinhentos reais), sem qualquer gratificação de função, conforme contra-cheques
anexos.
11. Antes de adentrar nas razões propulsoras da presente reclamatória, convêm, de início,
evidenciar que, embora a denominação da função seja precedida do termo “gerente”, o reclamante nunca foi
investido nos poderes inerentes. Não tinha poderes para admitir, demitir, nem representava a empresa. Melhor
explicando, não tinha poderes de gestão. Ademais, é prudente externar que somente detém tais poderes, na
filial de Teresina, o Gerente Comercial e o Diretor da Unidade, a quem era subordinado o reclamante.
12. O título gerente anteposto nos cargos ocupados pelo reclamante era uma denominação
apenas graciosa e ficta, jamais tendo recebido (conforme prova pelos contracheques anexos) nenhuma
gratificação que pudesse caracterizar “gerência” nos moldes admitidos pelo art. 62, inciso II, da CLT.
13. Assim resta evidenciado que o reclamante era um funcionário comum que exercia suas
funções em jornada superior a constitucionalmente fixada pelo art. 7°, inciso XIII.
“Gerente requisitos
Gerente. A excludente contida na alínea b do art. 62 da CLT exige que o empregado
exerça a função de gerente, investido de mandato, com poderes para gerir os
negócios da empresa” (TRT/SP 02890065990 Ac. 5ª T 17503/90 Rel João Carlos de
Araújo. DJSP 14.09.90).
15. Consoante disposto na sinopse fática, a carga de trabalho excessiva se dava por conta de o
reclamante desenvolver atividades diurnas e noturnas, coordenando as equipes de Gerentes de Distribuidores,
quando da comercialização dos produtos da reclamada.
i. Supervisionava o estudo e pesquisa, fundamentais à comercialização dos produtos, indicando à reclamada quais os
possíveis e melhores compradores;
ii. Promoção e comercialização dos produtos industrializados pela reclamada;
iii. Realizava, também, o supervisionamento a todos os supermercados que adquiriam os produtos da
reclamada, verificando os níveis de aceitação dos mesmos. Essa tarefa implicava em visitas pessoais
periódicas;
iv. Fiscalizava as visitas a bares, restaurantes, trailes, churrascarias, lanchonetes, enfim, a qualquer tipo
de comércio que pudesse adquirir os produtos da reclamada, fazendo nessa oportunidade publicidade e
fechamento de contratos de exclusividade;
v. Participava de campanhas promocionais da própria indústria e de seus distribuidores, além de clubes
particulares, formandos, etc. Essas campanhas, em geral, eram organizadas para intensificar a divulgação e
conseqüentemente as vendas;
vi. Também fazia parte do trabalho do reclamante a fiscalização da parte de publicidade, fiscalização de
contratos em eventos fora de Teresina, a exemplo de vaquejadas, festejos, carnavais fora de época, feiras
agropecuárias, etc. Nesses eventos, o reclamante realizava todas as tarefas sozinho, ou acompanhado dos
Gerentes de Negócios desde a visita do cliente, fechamento de contrato de exclusividade e fiscalização deste,
bem como, atividades de afixação de cartazes, bandeiras, entrega de brindes, etc;
vii. Na cidade de Teresina, juntamente com os gerentes de negócios, o reclamante participava de todos os
eventos festivos da cidade, realizando visitas prévias, concretizado contratos de fornecimento de produtos com
exclusividade em órgãos oficiais (Prefeitura de Teresina, Pientur, etc.) e fiscalizando se tais contratos, durante os
eventos, eram cumpridos. Isso importava numa verdadeira maratona, sem hora para iniciar e terminar, o
reclamante ficava a disposição da empresa, em determinados dias, em quase 20 horas de trabalho, com
tempo mínimo para um curto repouso. Durante o carnaval, por exemplo, o reclamante fiscalizava os bares e
clubes antes das atividades e durante as festividades, da mesma forma se dava com o parque de exposição,
micarina, vaquejada, reveilon, prévias carnavalescas, carreatas no aniversário de Teresina, etc.
viii. Participação ativa no acompanhamento e fechamento de evento “Piauí Amor de Verão”, no período de
97 e 98.
17. Apesar das atividades listadas serem desenvolvidas (o que demonstra com clareza pela
18. Ora, não obstante a maior parte do trabalho do reclamante ser desenvolvido externamente,
este poderia portar ficha de controle de trabalho externo, a fim de capacitar a reclamada das horas extras
trabalhadas, notadamente nos serviços que desenvolvia habitualmente nos finais de semana nas campanhas
promocionais.
20. Assim, requer, na forma prevista nas ACT's, o pagamento das horas extras laboradas e
não pagas, à base, em média de 07 (sete) horas extras diárias durante o lapso temporal de fevereiro de 1997 a
maio de 1999, na forma do art. 7°, inciso XVI da CF e En. 347 do TST. É de ressaltar-se, também, que durante
duas semanas no mês, a média de horas extras, de quinta a domingo, passará para uma média de 11 (onze)
horas, sendo dessas 04 (quatro) horas noturnas.
21. Quando passou a exercer o cargo de Gerente de Logística, em junho de 1999 a março de
2001, segundo disposto na sinopse fática, o reclamante possuía a seguinte jornada:
i. Segunda a sábado jornada das 07:00 às 22:00 horas, com intervalo de 30 (trinta) minutos para almoço na própria
fábrica;
ii. Domingos e feriados jornada das 8:00 às 18:00, com intervalo de duas horas
para almoço, sempre utilizados para as seguintes atividades: preencher requisitos da
unidade de implantação do modelo de gestão Brahma e da busca de alternativas para
ganhar o Programa de Excelência (PEF 2000); dias de limpeza; descarte de produtos;
adequação ao programa 5 S (programa de qualidade da empresa); inventário de
produtos; treinamentos, fabricação de produtos; manutenção de máquina, carregamento
de veículos para abastecer as revendas em períodos de festas, etc.
22. É fato que, graças ao trabalho da área de logística coordenado pelo reclamante, a
empresa que figura no pólo passivo da demanda atingiu 03 das 5 metas anuais da fábrica, obtendo o 2°
lugar no PEF 2000, tendo o Setor de Logística de Teresina alcançado o troféu de logística n° 1 do Brasil.
23. Nesse período, apesar de laborar em jornada superior à prevista legalmente, o reclamante
i. E-mail enviado ao reclamante em 19.06.2000, comunicando que não haverá feriado no dia 22.06.2000 (Feriado
de Corpus Cristi);
ii. E-mail enviado ao reclamante em 26.05.2000, comunicando que a partir daquela
data não há marcação no livro de ponto. Afirmava que o horário do reclamante será
controlado por sua chefia imediata.
iii. E-mail enviado ao reclamante em 06.09.2000, comunicando que,
impreterivelmente, a avaliação de desempenho será realizada no dia 10.09.2000
(próximo domingo). Nesse mesmo documento há resposta do reclamante, em
07.09.2000, às 15:58 horas, (feriado), informando que já concluiu o serviço que estava
pendente.
iv. E-mail enviado ao reclamante, em 08.09.2000 (sexta), às 19:46 horas,
informando mudanças nas atividades da filial. Repasse de informações do reclamante, em
10.09.2000 (domingo), às 10:39.
v. E-mail enviado ao reclamante, em 30.01.2001 (domingo), às 14:20 horas,
incentivando o reclamante no trabalho para ganhar o PEF.
vi. E-mail solicitando do reclamante todos os telefones possíveis para sua localização
a qualquer hora com maior rapidez.
25. Ainda em sede de matéria de prova, junta-se, também, a presente exordial cópias de
autos de infrações lavrados pela DRT na empresa que figura no pólo passivo da demanda, demonstrando
que é rotineira a infração aos dispositivos legais que tratam da jornada normal de trabalho, labor em
feriados, intervalo intrajornada e interjornada, etc.
26. Nesse diapasão, é necessário frisar que as horas extraordinárias e o adicional noturno, de
acordo com convenções coletivas de trabalho, possuem os seguintes percentuais:
27. Assim, requer, na forma prevista nas ACT's, o pagamento das horas extras laboradas e
não pagas, à base, em média de 07 (sete) horas extras diárias durante o lapso temporal de junho de 1999 a
março de 2001, na forma do art. 7°, inciso XVI da CF e Em. 347 do TST.
VI DO REPOUSO SEMANAL
29. Assim, requer, na base de 04 (quatro) repouso por mês, durante a vigência de todo o
contrato de trabalho, o pagamento em dobro na forma do art. 9° da Lei n° 605/49 e Enunciado n° 146 do TST,
com horas extras integralizadas.
30. O reclamante, no período de fevereiro de 1997 a maio de 1999, tinha a sua disposição
(consoante memorando em anexo no qual solicitava a padronização do veículo com a caracterização da frota da empresa),
24 horas por dia (sendo utilizado, inclusive em finais de semana e férias do reclamante), um veículo da empresa.
Essa utilidade concedida pela empresa ao empregado pela prestação dos serviços constituía, juntamente com a
remuneração ofertada, um elemento de grande destaque no “pacote de atração” dos cargos da empresa.
i. O veículo não estava vinculado a qualquer atividade externa a ser praticada pelo reclamante;
ii. Permanecia com o reclamante em sua residência, utilizado não só para conduzir o
mesmo ao trabalho, mas para o uso geral da família, notadamente, para passeios em finais
32. Ocorreu que, na data acima enunciada (maio de 1999), o veículo foi abruptamente retirado
da posse do reclamante sem qualquer compensação em sua remuneração, nem tampouco se considerou a
utilidade fornecida pela empresa na época da rescisão do contrato de trabalho, causando, assim, da diminuição
da “remuneração”.
33. Nos contornos delineados na hipótese, tratava-se o veículo de uma utilidade fornecida pela
empresa, representando uma forma de remuneração, nos termos do art. 458 da CLT. Veja o teor do dispositivo
legal:
34. No mesmo sentido, a jurisprudência trabalhista vem entendendo, em casos deste naipe,
tratar-se de utilidade fornecida pelo trabalho e não para o trabalho. Logo, integra a verba em lume o
salário, como “salário in natura”. Abaixo segue alguns arestos jurisprudenciais:
36. É direito basilar do trabalhador, insculpidos na Carta Magna em seu art. 7°, inciso XVII, o
gozo das férias anuais remuneradas, acrescidas do terço constitucional.
37. Ocorre que, durante o contrato de trabalho do reclamante, somente foram gozados 07
(sete) dias, adquiridos no período de 97/98. Restando, desse período adquirido, o crédito de 13 (treze) dias que
deverão ser indenizados em dobro, acrescidos do terço constitucional. Levando-se, também, em consideração
as horas extras prestadas habitualmente, bem com o adicional noturno prestado à época do período aquisitivo.
38. Quanto ao período de 98/99, não foi gozado nenhum dia, restando, na integralidade, os 20
dias correspondentes a cada período aquisitivo, o qual deve ser indenizado em dobro, acrescido do terço
constitucional; considerando-se, também, as horas extras prestadas habitualmente.
39. No que pertine o período de 99/00, também, não foi gozado pelo reclamante. Assim, requer
a condenação da empresa no pagamento simples, acrescido do terço constitucional.
IX DO PARADIGMA
41. Não obstante a mencionada fusão entre as mencionadas empresas, não havia
42. Pois bem. O fato é que o reclamante, proveniente do antigo sistema Antártica, percebia a
remuneração de R$ 3.500,00 (três mil e quinhentos reais), atuando no Maranhão e Piauí. Em contrapartida, na
unidade do Maranhão, exercendo a mesma função do reclamante e na mesma época, laborava um
empregado (Sr. XXXXXXXXXXXXXXXX), percebendo, por remuneração, R$ 4.500,00 (quatro mil e quinhentos reais).
44. Assim, requer que a empresa seja condenada no pagamento, durante todo o período em
que o reclamante exercia a função de Gerente de Logística (junho de 1999 a março de 2001), da diferença entre a
remuneração percebida pelo paradigma e o reclamante.
46. A Carta Magna de 1988, em art. 7°, inciso XI, assegurou aos empregados participação nos
lucros ou resultados desvinculados da remuneração. O legislador ordinário, através da Lei n° 10.101/00, tecendo
regras gerais para o tema em comento, admitiu que a regulamentação poderá ser efetivada por acordo coletivo de
trabalho.
47. No caso da empresa reclamada e o sindicato dos empregados, é de praxe firmar acordo
coletivo de participação nos lucros e resultados. O mencionado acordo coletivo foi firmado no ano de 1997 e
1998. Quanto ao ano de 1999, a empresa não firmou nenhum acordo coletivo específico. Pelo contrário, em ACT
99/00, mais especificadamente na cláusula 5, foi estatuído, não obstante margem de lucro considerável, que a
empresa não pagaria participação nos lucros no exercício de 1999.
48. Pois bem. Quanto ao exercício de 97, a empresa adimpliu ao reclamante, a título de
participação, 02 (dois) salários mínimos. No exercício de 2000, a empresa pagou, desta vez, 6,2 sobre os lucros
do exercício.
49. No exercício de 1998, embora tenha sido pactuado (ACT em anexo) e obtido um lucro de
50. Em relação ao exercício de 1999, também, nada foi repassado, a título de participação nos
lucros, ao reclamante. Ainda que tenha obtido um lucro de R$ 21,9 milhões em um universo de 816 (oitocentos e
dezesseis) funcionários, a empresa não cumpriu o preceituado no art. 7°, inciso XI, da Constituição Federal.
51. Portanto, requer que a empresa que figura no pólo passivo da demanda realize pagamento
dos valores correspondentes a participação dos lucros nos exercícios de 1998 e 1999. Na apuração do quantum
devido, deve-se levar em consideração que o reclamante, nos Acordos Coletivos de Participação nos Lucros,
enquadra-se na cláusula terceira, área comercial.
XI DO SALÁRIO COMPLESSIVO
52. Antes de concluir a presente demanda, faz-se necessário, também, elucidar que a
empresa apôs, no Termo de Rescisão do Contrato de Trabalho, sob a descrição de Serviços Especiais Prestados,
o valor de R$ 5.133,33 (cinco mil, cento e trinta e três reais e trinta e três centavos).
53. Ocorre que, reconhecendo a veracidade das assertivas lançadas à presente Reclamação
Trabalhista (horas extras, adicionais noturnos, férias vencidas e vincendas, equiparação salarial), a forma de pagamento
contida no TRCT faz concluir que se trata de salário complessivo. Ou seja, a empresa “maquiou” vários direitos
do reclamante, fazendo aparecer, como forma de ludibriá-lo, uma quantia significativa.
56. O Enunciado n° 219 do TST, confirmado pelo Enunciado n° 329, reconhece devido o
pagamento de honorários advocatícios quando presentes os pressupostos que caracterizam a hipossuficiência
XIV DO PEDIDO
59. Requer, ainda, a citação da reclamada para, querendo, responder à presente, sob pena de
confissão e revelia.
60. Protesta-se provar o alegado pelos documentos acostados, bem como depoimento
Dá-se à causa o valor de R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais) para efeitos meramente fiscais.