Saúde. Conceito. Previsão constitucional – art. 196 a 200, CF. Previsão legal: Lei 8080/90. SUS: organização e
financiamento. Áreas de atuação: prevenção e reparação. Participação complementar da iniciativa privada.
Fornecimento de medicamentos e tratamento no exterior: responsabilidade do Estado? Reserva do possível
e princípio da seletividade e distributividade.
SAÚDE
PREVISÃO CONSTITUCIONAL
* Art. 23, II, CF: Competência executiva COMUM da União, Estados e Municípios para cuidar de
saúde e assistência social.
*Art. 24, XII, CF: Competência legislativa CONCORRENTE da União, Estados e Municípios para tratar
de matéria previdenciária e de saúde.
Competência da União para legislar sobre normas gerais.
Competência suplementar dos Estados e Municípios para legislar sobre normas especiais.
Em caso de ausência de lei federal geral, competência plena dos Estados e Municípios
Em caso de superveniência de lei federal geral, suspende-se a eficácia das normas
estaduais e municipais no que lhes forem contrárias.
ADMINISTRAÇÃO
Atenção!
O INSS é uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Previdência Social. Hoje, saúde e
previdência não fazem parte da mesma estrutura administrativa, como já ocorreu. As ações
atinentes à saúde são de responsabilidade do Ministério da Saúde, além de serem oferecidas pelo
Poder Público através do chamado Sistema Único de Saúde (SUS), conjunto de serviços prestados
por órgãos dos entes federativos
Embora o sistema seja único, a administração não é centralizada, ela é
regionalizada/descentralizada.
- União = hospitais
Saúde* - Estados = hospitais
- Municípios = unidades de saúde
PREVISÃO LEGAL
* Lei 8080/90: dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a
organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências.
CONCEITO
* NÃO prevalece mais conceito exclusivamente biológico: saúde = ausência de doença; integridade
física.
* OMS: Saúde é um estado completo de bem-estar físico, mental e social, e não somente a ausência
de doença ou enfermidade.
* Lei 8080/90, art. 3º: A saúde é determinada e condicionada por fatores como: moradia,
alimentação, lazer, trabalho, saneamento básico, etc. Afasta-se, portanto, a possibilidade de
analisar a saúde sob um enfoque exclusivamente físico.
Atenção!
A prioridade é a prevenção = “redução do risco de doença e de outros agravos”... questões
mencionam (para induzir ao erro) que será priorizado o atendimento aos enfermos em detrimento
das ações preventivas.
Nesta condição, aplica-se o art. 5º, § 1º, CF: “As normas definidoras dos direitos e garantias
fundamentais têm aplicação imediata”.
Assim como todos podem exigir a prestação do serviço de saúde, aqueles que forem
eventualmente lesados pela deficiência do serviço prestado podem pleitear indenização pelos
danos sofridos.
Capacidade financeira. O direito à saúde é garantido a todos, sem distinção. Até mesmo
aqueles que tenham $$ suficiente para garantir boas condições de saúde para si e sua família sem
necessidade do auxílio estatal tem direito têm acesso aos serviços de saúde, tais como:
medicamentos, tratamentos, consultas médicas, cirurgias, etc.
Estrangeiro.
Art. 5º, caput, CF determina que: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e estrangeiro residentes no país a inviolabilidade do direito
à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:”
Referido artigo inaugura o estudo dos Direitos Fundamentais na CF/88, dentre os quais se
incluem os direitos sociais. Graças à redação deste artigo, há quem considere que apenas aos
brasileiros e estrangeiros residentes no país são assegurados direitos fundamentais, inclusive direito
à saúde.
STF. HC 97.147 (DJ 12/02/2010). Julgamentos com enfoque nos direitos individuais (no caso,
liberdade). Apesar de parecer que a norma constitucional exclui da proteção os estrangeiros não
residentes no país, o STF tem entendido que a garantia de inviolabilidade de direitos fundamentais
não comporta exceção baseada em qualificação do sujeito. O Estado não pode deixar de
resguardar os direitos de quem esteja sob o império de sua soberania, ainda que estrangeiro não
domiciliado. Estrangeiro não-residente tem direito à liberdade, ao devido processo legal e pode se
valer de HC e MS, por exemplo.
Direitos Sociais x Dignidade Humana. De acordo com o art. 1º, CF, o respeito à dignidade
humana é fundamento sobre o qual se forma a República brasileira.
Todavia, os Direitos Sociais, em sua maioria, são emanações diretas da dignidade e esta deve
ser garantida a todos os seres humanos, independentemente de qualquer condição. A dignidade
não é um direito; é uma característica inata ao homem, que não depende de regulamentação
jurídica.
Art. 196, CF garante acesso universal e igualitário aos serviços de saúde. Ainda que exista
qualquer restrição no caput do art. 5º, CF, por força da norma expressa do art. 196, CF, ela não se
aplica ao direito à saúde, que deve ser prestado a todos, independentemente de qualquer condição,
bastando que esteja em território nacional, sob a ordem jurídico-constitucional brasileira.
Lei 8.080/90, art. 2º, caput. “A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o
Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício.”
Pacto de San Jose da Costa Rica. Ainda que não fosse por força do princípio da
universalidade do atendimento e acesso igualitário aos serviços e prestações de saúde (art. 196, CF),
ou pela interpretação teleológica do art. 5º, CF no que se refere aos direitos diretamente
decorrentes da dignidade humana, os estrangeiros não-residentes no país poderiam exigir direito à
saúde no Brasil com fundamento no art. 1º, Pacto de San Jose da Costa Rica:
Jurisprudência. TRF4.
Defesa da União: saúde é serviço custeado, direta e indiretamente, por quem reside no país. Por
isso, seus benefícios também são restritos a quem aqui resida. Atendimento a estrangeiro não-
residente depende de acordo internacional entre o Brasil e seu país de origem, que garanta a
reciprocidade de tratamento.
Decisão: CF garante, em diversos artigos a dignidade das pessoas, demonstrando, em todo seu
texto, especial preocupação com a proteção dos direitos humanos. Normas constitucionais
protetoras da dignidade humana não podem ser consideradas “letra-morta”. Interpretação
teleológica da CF faz concluir que o acesso à saúde é garantido para todos que estejam sob a ordem
jurídico-constitucional brasileira, independentemente da circunstância.
b) DEVER DO ESTADO. “A saúde é direito de todos e dever do Estado (...)” – Art. 196, CF. Estado é
responsável pelos serviços relativos à saúde.
No mesmo sentido, art. 198, II, CF: As ações e serviços públicos de saúde são prestados por
um sistema único, que tem como diretriz o atendimento integral, com prioridade para as atividades
preventivas.
Ex.: Vigilância sanitária (art. 6º, § 1º, Lei 8.080/90); vigilância epidemiológica (art. 6º, § 2º,
Lei 8.080/90); campanhas de vacinação; campanhas elucidativas e de prevenção a doenças, etc.
Além disso, os serviços disponibilizados a alguns devem estar igualmente disponíveis aos
demais que se encontrem na mesma situação fática.
Sistema financiado com recursos do orçamento da Seguridade Social, da União, dos estados
e dos Municípios, além de outras fontes (art. 198, § 1º, CF).
Para serem efetivados, os Direitos Sociais dependem de $$. Os direitos fundamentais sociais
têm uma relevante carga econômica. Sua efetividade depende da existência de recursos suficientes
para que o destinatário da ordem (Estado) faça o que a lei impôs.
A efetividade dos direitos sociais a prestações materiais financiadas pelos cofres públicos
condiciona-se à existência de recursos orçamentários. Por isso, normas constitucionais que
disponham sobre direitos sociais (a prestações positivas) são normas programáticas: dependem de
um plano de governo, da formulação de políticas públicas, para serem, então, exigíveis.
C. Contrária) Como não existem reservas suficientes para garantir a proteção de todas as
pessoas contra todos os agravos à saúde, o estado elabora políticas econômicas e sociais que
priorizam determinados serviços.
Estas escolhas são políticas, devem ser tomadas pelo P. Executivo, representante direto do
povo.
Na grande maioria dos casos, não se trata de inexistência de políticas públicas, mas de
inexecução das políticas estabelecidas. O pronunciamento jurisdicional é necessário apenas para
serem cumpridas as políticas determinadas pelo P. Executivo. Não há, portanto, interferência do P.
Judiciário em área reservada aos demais Poderes. O P. Judiciário não cria uma política pública,
apenas impõe que as já criadas sejam concretizadas.
Uma vez que a CF trata os direitos sociais como direitos fundamentais; e uma vez que tais
direitos se encontram relacionados diretamente com o direito à vida condigna, evidencia-se a
existência de um direito público subjetivo e, diante dele, o P. Judiciário não pode negar jurisdição.
Impõe que o medicamento solicitado tenha registro na ANVISA (nos termos do art. 12, Lei
6.360/76). Nenhum medicamento, droga ou fármaco poderá ser industrializado ou comercializado
sem prévio registro pelo Ministério da Saúde. A exigência de registro pela Anvisa é forma de garantir
saúde pública – a ANVISA verifica a segurança e eficácia do produto.
Para impor ao SUS o custeio de tratamentos terapêuticos, o STF exige que a parte demonstre
que não existe tratamento oferecido pelo SUS para a sua doença ou que, em havendo, ele não seja
eficaz em razão das peculiaridades do caso.
As políticas públicas de saúde têm como finalidade distribuir $$ público para a proteção da
saúde de todos, da forma mais eficiente possível. Se tiver que custear todos os tratamentos
existentes para todas as doenças que acometem a população, não haverá, nunca, recursos
suficientes.
A medicina evolui rapidamente e o Estado não pode depender da eleição da parte sobre qual
tratamento parece melhor atender suas necessidades. Se o Estado prevê um determinado
tratamento e se não existem provas de sua ineficácia no caso concreto, este prevalecerá, ainda que
exista indicação de outro.
*se o SUS não possui tratamento para o caso, mas existe tratamento experimental.
Tratamentos experimentais estão em fase de teste nas clínicas e laboratórios. Não estão disponíveis
em lugar algum do mundo, porque as drogas e medicamentos utilizados ainda não passaram pela
aprovação ou avaliação dos órgãos responsáveis. São drogas utilizadas e disponíveis apenas para
fins de pesquisa.
Desta forma, o Estado não pode ser obrigado a custear tais tratamentos.
*se o SUS não registrou o tratamento/medicamento em seu protocolo, mas ele existe e
tem eficácia comprovada. A evolução da medicina é muito mais rápida do que a burocracia inerente
ao reconhecimento da eficácia dos tratamentos pelos órgãos administrativos. Nada justifica, por
exemplo, que um tratamento há muito prestado e disponibilizado pela rede privada seja negado
pelo SUS por falta de registro.
O direito à saúde deve ser integral e igualitário, de forma que não devem haver distinções
entre os tratamentos disponíveis na rede pública e na rede privada. Se existe tratamento e este é
eficaz, muito embora não conste do programa de proteção do SUS, o doente poderá exigi-lo
judicialmente.