RESUMO: Este artigo objetivou classificar pelo Sistema Unificado os solos da Bacia Hidrográfica
do Rio Almada - BHRA, localizada na região Sul do Estado da Bahia. Para tanto, foram realizados
ensaios de granulometria, limites de Atterberg e massa específica dos sólidos. Os resultados obtidos
demonstraram que solos com características diferentes do ponto de vista pedológico (Argissolo,
Cambissolo e Latossolo) foram enquadrados em um mesmo universo pela classificação unificada,
caracterizando-se pelo mesmo comportamento mecânico.
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COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS.
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Para a classificação geotécnica foi escolhido orgânicos (Organic Soils) e turfa (Peat); e a
o horizonte diagnóstico destes perfis, que é segunda letra fornecendo informação
caracterizado por propriedades morfológicas, complementar: bem graduado (Well graded),
químicas, físicas e mineralógicas, definidas mal graduado (Poorly graded), alta
quantitativamente, que servem para identificar e compressibilidade (High compressibility) e
distinguir classes de solo pela classificação baixa compressibilidade (Low comrpessibility).
pedogenética (CURI et al., 1993). Os coeficientes de uniformidade, Cu (indica
As amostras foram deixadas secar ao ar, a amplitude dos tamanhos de grãos) e de
posteriormente destorroadas, homogeneizadas, curvatura, Cc (detecta melhor o formatado da
quarteadas e passadas na peneira nº 4 (4,8 mm). curva e permite identificar eventuais
As amostras foram submetidas a ensaios de descontinuidades ou concentrações muito
granulometria conjunta conforme a norma NBR elevada de grãos mais grossos) são utilizados na
7181 (ABNT, 1984d), para a determinação de classificação dos solos de granulometria grossa
curvas granulométricas. Em seguida, foram e suas equações (Eq. 01) encontram-se
realizados ensaios para a determinação dos relacionadas abaixo (PINTO, 2006):
limites de Atterberg, segundo as normas NBR
6459 – (ABNT, 1984a) e NBR 7180 (ABNT,
1984c). Também foi determinada a massa
específica dos sólidos conforme a NBR 6508 (1)
(ABNT, 1984b). Desta forma, as amostras
puderam ser classificadas conforme o SUCS.
O SUCS adota os seguintes parâmetros:
granulometria, limites de Atterberg (LL e IP) e
a presença de matéria orgânica, para classificar
os solos em três categorias: (1) - Solos grossos Em que:
(pedregulho e areia), (2) - Solos finos (silte e D10: diâmetro das partículas do solo em relação
argila), (3) – Solos altamente orgânicos e turfas. a 10% do material que passa;
O princípio deste sistema de classificação é D30: diâmetro das partículas do solo em relação
que os solos grossos podem ser classificados de a 30% do material que passa;
acordo com a sua curva granulométrica, ao D60: diâmetro das partículas do solo em relação
passo que o comportamento de engenharia dos a 60% do material que passa.
solos finos está intimamente relacionado com a
sua plasticidade. Ou seja, os solos cuja fração Os solos de granulometria grossa (mais de
fina não existe em quantidade suficiente para 50% da massa de solo fica retida na peneira nº
afetar o seu comportamento, são classificados 200) estão reunidos nos seguintes grupos
de acordo com a sua curva granulométrica, (DNIT, 2006):
enquanto que os solos cujo comportamento de
engenharia é controlado pelas frações finas • Grupos GW e SW: compreendem solos
(silte e argila), são classificados de acordo com pedregulhosos e arenosos bem
as suas características de plasticidade (SILVA, graduados que contém menos de 5% de
2009). finos não plásticos passantes na peneira
São denominados solos grossos aqueles que nº 200. Os finos encontrados neste
possuem mais do que 50% de material retido na material não interferem nas
peneira #200 e solos finos aqueles que possuem características de resistência da fração
50% ou mais do material passando na peneira grosseira e nas características de livre
#200. Os solos orgânicos e as turfas são drenagem desta fração;
identificados visualmente. Neste sistema os • Grupos GP e SP: compreendem solos
solos são identificados por duas letras, a pedregulhosos e arenosos mal graduados
primeira indicando o tipo de solo: pedregulho que contém menos de 5% de finos não
(Gravel), argila (Clay), areia (Sand), solos plásticos passantes na peneira nº 200.
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Estes solos podem ser constituídos de linha vertical, localizados à direita e à esquerda,
pedregulhos uniformes, areias uniformes respectivamente. A linha “U”, determinada
ou misturas não uniformes de material empiricamente para ser o limite superior
muito grosseiro e areia muito fina com aproximado para solos naturais, é uma boa
vazios de tamanhos intermediários; verificação quanto à existência de dados
• Grupo GM e SM: incluem pedregulhos errados, e quaisquer resultados de ensaios que
ou areias que contém mais de 12% de recaiam acima ou à esquerda dessa linha devem
finos com pouca ou nenhuma ser verificados (DNIT, 2006; PINTO, 2006).
plasticidade. A graduação não é Os solos de granulometria fina (50% ou mais
relevante e tanto materiais bem ou mal de massa de solo passa pela peneira nº 200)
graduados podem estar incluídos nestes estão reunidos nos seguintes grupos (DNIT,
grupos; 2006):
• Grupos GC e SC: compreendem solos
pedregulhosos ou arenosos com mais de • Grupos ML e MH: incluem materiais
12% de finos que exibem tanto baixa predominantemente siltosos e solos
quanto alta plasticidade. A graduação micáceos. Solos deste grupo são siltes
não é relevante, porém sua fração fina arenosos, siltes argilosos ou siltes
normalmente é constituída por argilas inorgânicos com relativa baixa
que exercem maior influência sobre o plasticidade.
comportamento do solo. • Grupos CL e CH: abrangem argilas
inorgânicas com baixo e alto limites de
Para os solos de granulometria fina são liquidez respectivamente.
determinados os limites de Atterberg, servindo • Grupos OL e OH caracterizados pela
essencialmente para classificar a fração fina do presença de matéria orgânica, incluindo
solo através da carta de plasticidade (LL x IP) siltes e argilas orgânicas.
(Figura 2). • Os solos que apresentam alto teor de
matéria orgânica são representados pelo
Grupo Pt. Estes solos são facilmente
identificáveis pela cor, cheiro,
porosidade e freqüentemente pela
textura fibrosa. São muito compressíveis
e possuem características indesejáveis
para a construção civil. Turfas, húmus e
solos pantanosos com altas texturas
orgânicas são típicos deste grupo
(DNIT, 2006).
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Atterberg, cujo material ensaiado é a fração que e da quantidade de ensaios a serem realizados
passa na peneira nº 4 (4,8 mm), que possui para representação.
freqüentemente material inerte, fazendo com Diante do exposto, fica evidente que estudos
que os resultados muitas vezes não reflitam a que busquem interagir entre as características
atividade do material fino presente no solo. do solo do ponto de vista pedológico - como
Outra característica que também contribui processos pedogenéticos dominantes, estrutura
para erros é que a constituição mineralógica dos e composição mineralógica - os quais, na
argilominerais presentes no solo é variada. maioria das vezes, já estão usualmente
Deste modo, valores de índice de plasticidade disponíveis; com o conhecimento mecânico do
podem ser elevados mesmo que o teor da fração solo estudado pela geotecnia, trarão um
argila no solo seja baixo. conhecimento que melhor possa entender o
Fitzjohn & Worrall em 1980 já relatavam comportamento do solo frente às solicitações
sobre a relação plasticidade versus teor de expostas.
argila, a qual sugere que a plasticidade aumenta
com o aumento do teor de argila ativa. No
entanto, os autores chamam atenção para outros AGRADECIMENTOS
fatores, como a área superficial, a natureza e a
quantidade de cátions trocáveis que também À Comissão Nacional de Pesquisa (CNPq).
apresentam grande influência na plasticidade.
Portanto, uma determinada argila pode ter um
baixo teor de argila ativa mesmo possuindo um REFERÊNCIAS
elevado índice de plasticidade.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. NBR 6459/84, Solo - Determinação do
4 CONCLUSÃO limite de liquidez, Rio de Janeiro, 6p, 1984a.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
Os resultados obtidos demonstraram que solos TÉCNICAS. NBR 6508/84, Grãos de solos que
com características diferentes do ponto de vista passam na peneira de 4,8 mm - Determinação da
pedológico (Argissolo, Cambissolo e Latossolo) massa específica, Rio de Janeiro, 8p, 1984b.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
foram enquadrados em um mesmo universo TÉCNICAS. NBR 7180/84, Solo – Determinação do
pela classificação unificada, podendo-se, no limite de plasticidade, Rio de Janeiro, 3p, 1984c.
entanto, afirmar que neste caso os diferentes ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
solos, do ponto de vista de classificação TÉCNICAS. NBR 7181/84, Solo – Análise
pedológica, têm o mesmo comportamento Granulométrica – Procedimento, Rio de Janeiro, 13p,
1984d.
mecânico. Cozzolino, V.M.N. e Nogami, J.S. (1993). Classificação
Presumir o comportamento mecânico de Geotécnica MCT para Solos Tropicais. Solos e
solos tropicais através da classificação Rochas, 16, (2): 77-91, agosto, São Paulo.
unificada é uma prática que tem suscitado Curi, N. et al. (1993). Vocabulário de Ciência do Solo.
críticas, pois, foi desenvolvida em países de Campinas, SBCS, 1993.89p
Das, B. M. Fundamentos de Engenharia Geotécnica. São
clima temperado. Segundo Nogami & Villibor
Paulo: Thomson Learning, 2007.
(1995), a diferença existente entre a natureza da DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRA-
fração de argila e de areia de solos de regiões ESTRUTURA DE TRANSPORTES – DNIT. (2006).
tropicais e temperadas é uma das limitações à Manual de Pavimentação. 3ª Ed. Rio de Janeiro:
utilização, apresentando resultados não Instituto de Pesquisas Rodoviárias. 274 p.
EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA
satisfatórios e com freqüência as
AGROPECUÁRIA - EMBRAPA. (2006). Sistema
recomendações neles baseadas não coincidem Brasileiro De Classificação De Solos. 2º ed. Rio de
com o comportamento dos solos tropicais. Janeiro: Embrapa Solos. 306 p.
Contudo, a adoção de metodologia mais Fabbri, G.T P. Caracterização da Fração Fina dos Solos
sofisticada de classificação geotécnica em Tropicais através do Ensaio de Azul de Metileno.
escala de detalhe em uma bacia hidrográfica (1994). Tese de Doutorado, Programa de Pós-
Graduação em Geotecnia, em Geotecnia. EESC/USP,
torna-se bastante onerosa, em função da escala 685 p.
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