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i = ƣH/ƣL
onde:
ƣH = diferença de carga hidráulica total entre os pontos A e B, quaisquer,
situados em uma linha de fluxo. A carga hidráulica total é dada pela soma da
carga de posição (altura em relação a um referencial arbitrário qualquer) com a
carga de pressão (igual à pressão no ponto dividida pelo peso específico da
água). Dimensionalmente é uma quantidade linear;
ƣL= distância entre os pontos A e B ao longo da linha de fluxo.
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(b) Com freqüência o material de fundação contém estratificações ou zonas de
solos com diferentes granulometria de forma que sua inserção nas categorias
granulométricas de Lane apresenta-se duvidosa. Em casos assim, se o projetista insistir
na utilização dos critérios de Lane, só resta utilizar a interpretação conservadora
mencionada por Terzaghi & Peck (1967) e considerar a fundação como constituída pelo
pior dos materiais;
(c) O fator principal que baliza o risco de carreamento e entubamento é o
gradiente de saída e não o gradiente médio (do qual Cw é uma expressão indireta).
Casagrande (1934) mostrou, em discussão ao artigo de Lane, que o gradiente de saída
varia dependendo de fatores que não modificam o Cw de Lane. Na figura 4.4 estão
alguns exemplos;
(d) Em muitos casos ocorre uma camada superficial de permeabilidade mais
baixa. O gradiente de saída se concentra nesta camada e pode, como mostrado na
figura 4.5, atingir valores elevados mesmo para contrastes relativamente pequenos de
permeabilidade entre a camada superficial e a camada mais profunda do terreno.
Seria ingênuo imaginar que se pode fixar um critério universal de projeto para os
gradientes aceitáveis de saída. As decisões de projeto referentes a este ponto devem
ser sempre antecedidas de uma cuidadosa e experiente ponderação de todas as
informações geotécnicas disponíveis, de estudos analíticos e de considerações de
risco. Na maioria dos casos (para não dizer em todos), os gradientes de saída devem
ser evitados (anulados) com obras de drenagem a jusante, tais como trincheiras
drenantes e poços de alívio. Em obras de menor responsabilidade e risco, pendente de
julgamento e avaliação criteriosos, pode-se utilizar um valor de 0,25 para o gradiente de
saída como critério de projeto. Valores mais elevados do que estes foram advogados
por Mansur & Kaufman (1956) para os diques do rio Mississipi os quais são obras de
menor risco e com menor permanência das águas altas (só há água durante as cheias
do rio). Estes autores mencionam como critérios de projeto os valores de gradiente de
saída de 0,67 para áreas de agricultura e 0,50 para áreas industriais. Deve ainda ser
considerado se o pé de jusante ficará emerso ou submerso. No caso de ficar submerso,
um eventual processo de entubamento a jusante poderá passar desapercebido e,
naturalmente, o projetista deve ser mais conservador.
O cálculo do comprimento efetivo vale também para jusante o que permite que se
estime, por simples geometria de semelhança de triângulos, o gradiente de saída sob
uma camada impermeável situada a jusante, desde que se conheçam as espessuras e
as permeabilidades da camada superficial e da fundação. A figura 4.10 ilustra.
O tapete de montante deve ser protegido para que não trinque por ressecamento antes
de enchimento do reservatório e não deve conter descontinuidades sob pena de perder
sua eficiência. A consideração de camadas naturais superficiais como tapete deve ser
cercada de bastante cuidado. A figura 4.11 ilustra os efeitos de falhas no tapete de
montante sobre a carga hidráulica no pé e sobre a vazão. Como se vê, uma falha de
apenas 10% já praticamente anula os efeitos benéficos do tapete.
A figura 4.12 mostra os gradientes de saída para o caso de não existir camada
superficial de menor permeabilidade. Situações como esta só costumam acontecer no
trecho do leito principal dos rios. Um fato relevante que se observa na figura 4.12 é que
os gradientes imediatamente a jusante do pé da barragem são muito elevados. No pé,
em particular, o gradiente é teoricamente infinito. É por este motivo que não se termina
bruscamente um aterro argiloso sobre a fundação: sempre se coloca pelo menos um
dreno de pé de forma que o trecho inicial de gradientes elevados fique protegido por um
sistema filtrante. A parte inferior da figura 4.12 mostra a relação entre o comprimento
(m) de um tapete drenante e a carga hidráulica total (H) para que o gradiente de saída
seja menor do que um certo valor arbitrário (no caso escolheu-se 0,3). Como se vê,
para as relações comprimento/carga (L/H), que em barragens homogêneas de terra se
situam tipicamente entre 5 e 7, o comprimento do tapete deve ser da ordem de 15 a
25% da carga.
Não existe um critério consagrado para definir se uma fundação rochosa deve ou não
ser injetada (nem seria de se esperar que existisse pois depende de um número grande
de circunstâncias específicas do local como altura e tipo da barragem, tipo de rocha e
arranjo de seu fraturamento, importância das perdas d'água, etc). Apesar disto, diversos
critérios, baseados em resultados de ensaios de perda d'água, tem sido propugnados
por diferentes autoridades geotécnicas. Redlich e Terzaghi, por exemplo, sugerem que
se deve injetar se a perda d'água absoluta for maior do que 0,5 l/min/m/atm. Hvorslev e
algumas publicações do LNEC falam em 0,2 l/min/m/atm. Havendo recursos e tempo, é
desejável que se examine esta questão em maior profundidade na fase de projeto
através de ensaios de campo adequados e análises de percolação. Um conjunto de
limites práticos, razoáveis para uma primeira avaliação está apresentado na tabela
abaixo.
A profundidade que uma cortina de injeção deve atingir também costuma ser motivo de
muita troca de idéias na fase de projeto das barragens. Evidentemente, deve ser
norteada pelos aspectos geológicos da rocha de fundação (por exemplo, um plano de
contato entre derrames em rocha basáltica). Existem indicações gerais, como a da
ASCE (que, de forma alguma, devem ser seguidas sem avaliação experiente):
A quantidade de água que passa pelas fundações e ombreiras de uma barragem pode
ser estimada com precisão razoável desde se conheça a geometria da fundação e a
permeabilidade dos materiais. Acontece que ambas, geometria e permeabilidade,
costumam ser muito complexas. Assim, as estimativas de vazão são feitas (exceto em
Não existem critérios fixos que estabeleçam qual a "vazão aceitável" pelas fundações
de uma barragem. É possível, contudo, examinar esta questão considerando as vazões
observadas em obras em funcionamento e separando aquelas cujo desempenho foi
considerado satisfatório, daquelas cuja vazão pelas fundações foi considerada
excessiva. Um estudo realizado considerando vazões observadas em um grande
número de barragens em operação sugere que os valores da coluna da esquerda da
figura 4.6 podem servir como limites entre as vazões específicas (isto é, vazão por
metro longitudinal) consideradas como "pequenas", "médias" e "altas". Assim, uma
vazão específica de 5 l/min/m ou menos seria, em princípio, aceitável. Já uma vazão
específica maior do que 15 l/min/m seria considerada excessiva. Estes limites são
consistentes com o levantamento realizado por Silveira (1983) com dados de 15
barragens Brasileiras.
A figura 4.14 mostra um caso de percolação pela ombreira com início de formação de
entubamento. Esta pequena barragem, com cerca de 13 metros de altura e 100 metros
de comprimento pela crista, foi construída em Camaçarí, Bahia, em 1974 como parte do
sistema de combate a incêndios de um complexo industrial. Desde de 1975 a obra
apresentou surgências a jusante. Na ombreira direita, a jusante, ocorreu um
deslizamento associado à percolação (não mostrado na figura) que foi reparado,
construindo-se uma berma drenante com dreno de brita envolto em bidim. Na ombreira
esquerda, que na época não apresentava problemas de desmoronamento, foi
implantada uma trincheira drenante que se inicia a cerca de 10 metros a jusante do pé
de barragem (indicada por "drenagem existente" na figura). Em 1985 foi constatada
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uma nova surgência na ombreira esquerda, com vazão de cerca de 10 litros/minuto,
entre a drenagem existente e o pé da barragem. Em 1986 esta surgência já tinha
causado pequenos desmoronamentos em suas adjacências, como mostrado na figura.
O terreno na região compõe-se de estratos sedimentares da formação São Sebastião,
nos quais camadas siltosas e arenosas centimétricas e decimétricas se alternam dentro
de pacotes métricos nos quais predomina o silte ou a areia. Duas sondagens são
mostradas na parte inferior da figura 4.14: a sondagem A executada antes da
construção e a sondagem B executada com a barragem pronta. Elas indicam que na
região da última surgência observada ocorre uma areia siltosa com SPT variando entre
3 e 10. A surgência foi tratada cobrindo todo o trecho abaixo da cota 48 (que vai do pé
da barragem até a drenagem existente) com um tapete filtrante.
A barragem do Carão situa-se em Tamboril, CE. Como mostrado na figura 4.15, esta
barragem de terra homogênea, cujo sistema de drenagem interna se restringe a um
filtro-tapete horizontal, apoia-se em aluviões com predomínio de areias médias e
grossas. Como medidas de controle de percolação foram construídos um tapete a
montante e uma trincheira parcialmente penetrante (cerca de 5 metros para uma
profundidade total média de aluvião de 10 metros). Quando do enchimento do
reservatório observou-se uma vazão de cerca de 2400litros/minuto, sob carga hidráulica
da ordem de 9 metros. Isto corresponde a cerca de 20 a 30 litros por minuto por metro
ao longo da calha aluvionar sob a carga plena de operação do lago (15 metros). Esta
vazão é elevada tanto por comparação com a boa prática (comparar com os valores da
figura 4.6) como considerando as perdas do reservatório (que atingiriam algo como 2
milhões de m3 por ano). Ocorreram ainda entubamentos e borbulhamentos a jusante,
como indicado na figura 4.15. O perfil de terreno na calha aluvionar a jusante da
barragem caracteriza-se por dois trechos distintos, denominados de perfis tipo A e B na
figura. O trecho ocupado originalmente pelo leito principal do rio, com perfil do tipo B,
tem areia à superfície e dava livre saída à água. Lateralmente o perfil é do tipo A,
camada menos permeável sobrejacente à areia e, por consequência, ocorreram
subpressões. Assim, no trecho tipo A observaram-se "olhos d'água ("borbulhamentos"
ou "boils"). Na zona de contato entre os trechos tipo A e B, ocorreram tubos resultantes
do escoamento da água sob a camada superficial do trecho A em direção ao trecho B.
A posição de um dos borbulhamentos e de um dos tubos observados está mostrada na
figura.
A barragem de Teton (US Gov Print Office, 1976; Penman, 1977; Sowers, 1977),
construída em um vale do tipo cânion do rio mesmo nome, em Idaho, EUA, tinha 92
metros de altura e um comprimento pela crista de 810 metros. Um resumo dos
elementos necessários à compreensão da obra e do desastre está apresentado na
figura 4.16.
O sítio apresenta um nível d'água regional profundo, por volta da cota 1500, cerca de
54 metros abaixo do nível do rio. Isto quer dizer que o rio cede água para o aluvião.
Existem níveis d'água empoleirados no riolito que não parecem ter relação com o nível
d'água profundo.
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O maciço de terra foi concebido com de 5 materiais diferentes, ver seções na figura
4.16. O material 1 era um núcleo de solo siltoso oriundo dos depósitos de capeamento
do plateau. Este material foi compactado, em camadas com 15cm de espessura, até
98% de grau de compactação (segundo o padrão do Bureau que é semelhante ao
Proctor Normal) e com umidade 0,5 a 1,5% abaixo da ótima, utilizando 12 passadas de
rolo pé de carneiro pesando 6 t/m. O material 2 é um cascalho arenoso obtido do
aluvião do rio a jusante da barragem e, embora não processado ou submetido a outros
cuidados especiais, destinava-se a atuar como transição filtrante. O material 3 é uma
transição contendo silte e cascalho do rio. O material 4 corresponde à ensecadeira
incorporada de montante. O material 5 é um capeamento de pedra utilizado nos taludes
de montante e jusante.
A obra ficou pronta em novembro de 1975. O projeto previa o enchimento com uma
velocidade de 0,3 metros por dia e esta foi a taxa que ocorreu até março de 1976. Entre
março e maio de 1976, devido a um afluxo de água superior ao previsto, o nível do lago
subiu com velocidade entre 0,3 e 0,6 metros por dia. Uma extrapolação das taxas de
enchimento observadas indicou que o reservatório poderia ser preenchido até junho de
1976 e, portanto, já irrigar no verão daquele ano, antecipando o prazo previsto. Os
projetistas permitiram a drástica subida do nível do lago e entre maio e 5 de junho o
reservatório cresceu até 1 metro por dia. Em 5 de junho (o dia do desastre) o
reservatório atingiu a cota 1616, um pouco abaixo do nível normal de operação.
Um alarme inicial foi dado pelas autoridades às 10:45 horas. A evacuação de pessoas
da planície até 15km a jusante começou às 11:30. Às 13:30 a evacuação tinha
terminado. A enchente se moveu com uma velocidade inicial de 30 km/hora (cerca de
8,5 m/s) com o nível d'água a jusante da barragem subindo 30 metros. Quando a onda
de cheia atingiu a beira da planície, 10 km a jusante, sua velocidade era de 10 km/hora
(cerca de 2,5 m/s) e sua profundidade de 2 a 3 metros. Onze pessoas morreram e 2500
ficaram feridas. Foram destruídas 761 casas, 3.550 edificações de fazendas e 40.000
acres de terra cultivada. Foram perdidos 13.700 animais, na maioria gado vacum. O
prejuízo material ultrapassou 1 bilhão de dólares.
(e) Laguna
Na figura 4.17 está apresentada uma planta, mostrando o trecho da ombreira esquerda
onde ocorreu o brechamento e a posição dos medidores de vazão a jusante (aforador 1
e 2, dos lados direito e esquerdo, respectivamente). A figura apresenta ainda uma
seção geológica longitudinal, que indica que o trecho rompido se apoiava em basalto
alterado, uma seção transversal da barragem e as observações de vazão, chuvas e
nível do reservatório entre 1927 e 1969.
O caso da barragem de João Penido em Juiz de Fora, MG, que não sofreu acidente
grave ou desastre, merece menção devido a longa série de tentativas que se fez para
controlar as surgências a jusante. Os elementos geométricos estão mostrados na figura
4.18. A barragem foi construída em 1934 e, já na década de 40 registrava vazões
consideráveis a jusante. Com a ruptura da barragem da Pampulha (1954), do mesmo
projetista, as preocupações com relação a João Penido aumentaram. Em 1956 foi
implantada, a montante, uma cortina de estacas-prancha metálicas, executaram-se
injeções de argila na união da cortina com as ombreiras e construiu-se um dreno de pé
a jusante. Em 1959 foram executados 170 furos de injeção de calda de cimento e 200
furos de injeção de misturas de cimento e argila no corpo do maciço, nas galerias e nas
ombreiras. No início da década de 70 foram executados 43 furos de injeção de cimento
na ombreira esquerda. Em 1976 o filtro de pé a jusante (instalado em 1956) foi
substituído. Durante esta substituição notou-se a ocorrência generalizada de
concrecionamento das areias do filtro com óxidos transportados pelas águas
percolantes. Finalmente, em 1981 foi implantada uma parede diafragma de concreto
atravessando todo o corpo da barragem (5 metros a montante do eixo) e penetrando
parcialmente nas fundações e ombreiras. Sob a cortina executaram-se furos de
injeções de calda de cimento. No pé de jusante da barragem instalaram-se poços de
alívio.
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