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Número do processo:1.0363.05.

018735-2/001 (1)
Relator: EDUARDO ANDRADE
Relator do Acórdão: EDUARDO ANDRADE
Data do Julgamento:17/03/2009
Data da Publicação: 04/05/2009
Inteiro Teor:
EMENTA: AÇÃO DE ALIMENTOS - PESSOA IDOSA - NECESSIDADE
COMPROVADA - CAPACIDADE DOS FILHOS EM PRESTAR O ENCARGO -
CONDENAÇÃO MANTIDA. - Os filhos também têm o dever de prestar alimentos
civis aos pais idosos que deles necessitem para viver de forma digna e de modo
compatível com a sua condição social, em decorrência dos princípios constitucionais da
solidariedade e da dignidade da pessoa humana, do caput do artigo 3º do Estatuto do
Idoso e dos artigos 1.694, 1.695 e 1.696, todos do Código Civil. Portanto, havendo
comprovação da necessidade do idoso em receber alimentos e a capacidade financeira
dos filhos em prestá-los, a condenação é medida que se impõe.
APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0363.05.018735-2/001 - COMARCA DE JOÃO PINHEIRO
- 1º APELANTE (S): V.J.S. - 2º APELANTE (S): A.J.S. E OUTRO (A)(S) - APELADO
(A)(S): A.J.S. - LITISCONSORTE: E.F.S.S. E OUTRO (A)(S) H.J.S. - RELATOR:
EXMO. SR. DES. EDUARDO ANDRADE

ACÓRDÃO

(SEGREDO DE JUSTIÇA)

Vistos etc., acorda, em Turma, a 1ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado


de Minas Gerais, incorporando neste o relatório de fls., na conformidade da ata dos
julgamentos e das notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM JULGAR
PREJUDICADO O 1º AGRAVO RETIDO, NÃO CONHECER DO 2º E DAR
PROVIMENTO PARCIAL ÀS APELAÇÕES.

Belo Horizonte, 17 de março de 2009.

DES. EDUARDO ANDRADE - Relator

NOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. EDUARDO ANDRADE:

VOTO
Trata-se de ação de alimentos proposta pelo idoso A. J. S. em face dos seus filhos A. J.
S., V. J. S. e J. R. S., objetivando que os requeridos sejam condenados a lhe pagar,
mensalmente, uma pensão alimentícia equivalente a 3 (três) salários mínimos.

A petição inicial foi emendada pelo requerente às fls. 26/27, por determinação do ilustre
Juiz a quo, para incluir no pólo passivo da presente ação de alimentos todos os seus
filhos, a saber: E.F.S., V.J.S., M.G.S., G.P.S., J.R.S., A.J.S., F.J.S., H.J. S., W.J.S e
B.A. S..

Adoto o relatório da sentença de origem, acrescentando-lhe que o pedido foi julgado


parcialmente procedente, para condenar os requeridos A. J. S., V. J. S., J. R. S., G. P.
S., B.A.S. e V. J. S., ao pagamento da pensão alimentícia ao requerente, cada qual no
patamar de 16,67% do valor equivalente a 2 (dois) salários mínimos vigentes. O ilustre
Juiz indeferiu o pedido de assistência judiciária feito pelos requeridos, condenando-os
no pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios, arbitrados em
R$2.000,00 (dois mil reais) (fls. 297/307).

Inconformado, o requerido V.J.S. interpôs o presente recurso, requerendo,


preliminarmente, o julgamento dos agravos retidos de fls. 70/71 e 231/232. No mérito,
pretende a reforma do decisum, sob as seguintes alegações: que faz jus aos benefícios
da assistência judiciária; que a condição financeira do requerente é melhor do que a sua;
que o requerente possui casa própria, é aposentado, empresta dinheiro a juros, reside
com dois filhos solteiros; que o requerido é deficiente e possui três filhos em idade
escolar; que a presente ação é fruto de desentendimento entre irmãos; e que os
honorários advocatícios foram fixados de forma excessiva (fls. 309/312).

Os requeridos A.J.S. e J.R.S. também interpuseram apelação, pretendendo a reforma da


v. sentença de primeiro grau, aduzindo que o requerente é aposentado e percebe renda
de aluguel; que a condição econômica do requerente é melhor do que a dos requeridos;
que não há prova de que o requerente está doente ou que necessite de tratamento com
medicamentos; que possuem filhos cursando universidades; que o requerente figura
como réu em ação de dissolução de união estável c/c partilha de bens; e que fazem jus
à justiça gratuita (fls. 317/321).

Regularmente intimado, o apelado apresentou contra-razões, pugnando pelo


desprovimento dos recursos (fls. 333/336).

Remetidos os autos à d. Procuradoria-Geral de Justiça, o i. representante do Ministério


Público, Dr. Bertoldo Mateus de Oliveira Filho, opinou pelo provimento parcial do
recurso, apenas para a concessão da assistência judiciária (fls. 346/349).

Presentes os requisitos intrínsecos e extrínsecos de admissibilidade, conheço de ambos


os recursos.
PRELIMINAR - AGRAVOS RETIDOS

Requer o primeiro apelante, preliminarmente, o julgamento do agravo retido de fls.


70/71, interposto contra a v. decisão que fixou os alimentos provisórios em 3 (três)
salários mínimos, e do agravo retido de fls. 231/232, interposto contra a v. decisão que
indeferiu todas as suas perguntas feitas ao requerente e às testemunhas na audiência de
instrução e julgamento.

No tocante ao agravo retido de fls. 70/71, interposto contra a v. decisão de fl. 38, que
fixou os alimentos provisórios em 3 (três) salários mínimos, a ser rateados entre os
requeridos, dúvida não há de que o recurso perdeu o seu objeto com a decisão de fls.
297/307, proferida em sede de cognição exauriente, com a fixação dos alimentos
definitivos devidos ao requerente em 2 (dois) salários mínimos.

Com relação ao agravo retido de fls. 231/232, interposto contra a v. decisão que
indeferiu todas as perguntas feitas ao requerente, no seu depoimento pessoal, e às
testemunhas na audiência de instrução e julgamento, o primeiro apelante deixou de
observar o disposto no parágrafo 3º do artigo 522 do CPC, que determina que das
decisões interlocutórias proferidas na audiência de instrução e julgamento caberá
agravo na forma retida, devendo ser interposto oral e imediatamente.
Dessa forma, considerando-se que a audiência de instrução e julgamento foi realizada
no dia 26.09.05 e que o agravo retido de fls. 231/232, interposto contra a decisão
interlocutória que indeferiu perguntas feitas pelo primeiro apelante às testemunhas na
própria audiência, foi protocolizado somente no dia 29.09.05, em desobediência ao
comando do parágrafo 3º do artigo 522 do CPC, caso é de não conhecimento do recurso,
por intempestivo.
Ante o exposto, julgo prejudicado o agravo retido de fls. 70/71 e não conheço do agravo
retido de fls. 231/232.

MÉRITO

Infere-se dos autos que o idoso A.J.S. ajuizou a presente ação de alimentos em face dos
seus filhos E.F.S., V.J.S., M.G.S., G.P.S., J.R.S., A.J.S., F.J.S., H.J.S., W.J.S. e B.A.S.,
objetivando receber uma pensão mensal equivalente a 3 (três) salários mínimos.

O artigo 1.694 do Código Civil estabelece que "podem os parentes, os cônjuges, ou


companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo
compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua
educação".
Já o artigo 1.695 do mesmo Diploma Legal determina que "são devidos os alimentos
quando quem os pretende não tem bens suficientes, nem pode prover, pelo seu trabalho,
à própria mantença, e aquele, de quem os reclamam, pode fornecê-los, sem desfalque
do necessário ao seu sustento". E o artigo 1.696 complementa que o direito à prestação
de alimentos é recíproco entre pais e filhos.
De outra sorte, o fundamento da obrigação do filho de prestar alimentos ao pai idoso
que deles necessita também decorre do caput do artigo 3º do Estatuto do Idoso (Lei
Federal 10.741/03), in verbis:
"Art. 3º. É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público
assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à
liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária."

Extrai-se daqueles dispositivos legais que os filhos também têm o dever de prestar
alimentos civis aos pais idosos que deles necessitem para viver de forma digna e de
modo compatível com a sua condição social, em decorrência dos princípios
constitucionais da solidariedade e da dignidade da pessoa humana. Portanto, havendo
comprovação da necessidade do requerente em receber alimentos e a capacidade
financeira dos filhos em prestá-los, a condenação é medida que se impõe.

A esse respeito, cumpre transcrever o seguinte julgado desta Eg. 1ª Câmara Cível:

"EMENTA: AÇÃO DE ALIMENTOS - ADEQUAÇÃO AO BINÔMIO


NECESSIDADE/POSSIBILIDADE - NECESSIDADE ABSOLUTA NÃO
COMPROVADA - RENDA BAIXA - PEDIDO EM PARTE DEFERIDO. Nas ações
de alimentos é preciso que a parte comprove não só a capacidade do demandado, mas
também sua necessidade em receber a pensão. Comprovada a idade avançada da mãe,
sua baixa renda, a saúde debilitada, comprometendo suas atividades usuais de lavar
roupa para fora e fazer faxina, é razoável que o filho, que tem comprovada possibilidade
financeira, a ajude a complementar a renda, possibilitando-lhe uma vida mais digna e
saúdável." (TJMG, Ap. Cív. 1.0106.05.015873-7/001, rel. Des. VANESSA
VERDOLIM HUDSON ANDRADE, pub. 14.11.07).

No caso sub examine, restou demonstrado no estudo social de fls. 10/11 que o idoso
A.J.S., atualmente com 72 anos de idade, reside com a sua filha E.F.S., é portador de
problemas de saúde que exigem cuidados especiais, necessita de consultas médicas
regulares, sessões de fisioterapia, aquisição de medicamentos e alimentação especial,
com um custo mensal de aproximadamente R$1.500,00 .(um mil e quinhentos reais)

Com efeito, ante a comprovação dos gastos mensais do requerente, na quantia


aproximada de R$1.500,00 (um mil e quinhentos reais), dúvida não há de que os seus
rendimentos mensais, representados pelos proventos de aposentadoria de 1 (um) salário
mínimo e da renda de R$200,00 (duzentos reais) com o aluguel de seu imóvel, não são
suficientes para custear todas as suas despesas. Assim, imperiosa é a necessidade de os
filhos complementarem os rendimentos mensais auferidos pelo requerente, a fim de que
consiga manter uma vida digna.

Por outro lado, relativamente ao apelante A. J.S., as provas testemunhais e documentais


não deixam dúvida sobre a sua boa condição financeira, sendo proprietário de veículo,
fazenda, imóvel residencial de morada e de aluguel. No tocante ao apelante V.J.S.,
malgrado o fato de ser acometido de problemas na coluna, restou demonstrado que tal
fato não o impede de exercer sua atividade de comerciante de carnes juntamente com
seus familiares em dois estabelecimentos da família. Finalmente, o apelante J.R.S.
também goza de boa condição financeira, pois trabalha no negócio da família, possui
casa própria em fase de acabamento e veículo próprio.

Nesse contexto, as provas produzidas nos autos são extremes de dúvida com relação à
possibilidade de os apelantes contribuírem para o sustento do pai, idoso, cumprindo
esclarecer que os demais filhos já contribuem espontaneamente com o encargo, como
se denota do acordo extrajudicial de fls. 09/10, do qual apenas os apelantes negaram-se
a assinar.

Destarte, considerando a necessidade do requerente em receber alimentos, para que


possa complementar os seus parcos rendimentos mensais, e a possibilidade dos
apelantes em prestá-los, entendo que a pensão fixada em 2 (dois) salários mínimos, na
proporção de 16,67% para cada filho, representando a quantia aproximada de R$70,00
(setenta reais) para cada apelante, o foi em obediência ao trinômio
necessidade/capacidade/proporcionalidade, estabelecido no parágrafo 1º do
artigo 1.694 do Código Civil.
Pretende o primeiro apelante, ainda, a redução da verba honorária, fixada em
R$2.000,00 (dois mil reais). O Juiz, na fixação dos honorários advocatícios, deve
observar os critérios que guardam correspondência com a responsabilidade assumida
pelo advogado, ou seja, o grau de zelo do profissional, o lugar de prestação do serviço,
a natureza e a importância da causa, o trabalho realizado e o tempo exigido para o seu
serviço, não podendo se afastar do juízo de equidade preconizado na lei processual.

No caso sub examine, atentando-se para os critérios estampados nas alíneas a, b e c


do parágrafo 3º do artigo 20 do CPC, entendo que os honorários advocatícios devem ser
fixados em R$1.000,00 (um mil reais).
Por fim, considerando as declarações de pobreza de fls. 160 e 238, que gozam de
presunção iuris tantum de veracidade, por força do parágrafo 1º do artigo 4º da
Lei 1.060/50, concedo aos segundos apelantes, J. R. S. e A.J.S., os benefícios da
assistência judiciária.
Com essas considerações, julgo prejudicado o agravo retido de fls. 70/71, não conheço
do agravo retido de fls. 231/232 e dou parcial provimento às apelações, para fixar a
verba honorária em R$1.000,00 (um mil reais) e para conceder os benefícios da
assistência judiciária aos segundos apelantes, J. R S. e A.J.S., suspendendo somente em
relação a eles a exigibilidade das custas processuais e dos honorários advocatícios, na
forma do artigo 12 da Lei 1.060/60.

Votaram de acordo com o (a) Relator (a) os Desembargador (es): GERALDO


AUGUSTO e VANESSA VERDOLIM HUDSON ANDRADE.

SÚMULA : JULGARAM PREJUDICADO O 1º AGRAVO RETIDO, NÃO


CONHECERAM DO 2º E DERAM PROVIMENTO PARCIAL ÀS APELAÇÕES.
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0363.05.018735-2/001

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