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Portugal Ferroviário – Os Caminhos de Ferro na Internet

Edição n.º 49 | Setembro de 2014

As últimas
da época IV

50 anos das
locomotivas 2550
De comboio para a praia
Trainsharing CP
Este verão, aproveite as diversas ofertas promocionais que a CP tem
Faça uma viagem em conjunto e usufrua de descontos de 40 ou ao seu dispor para viajar até às praias de norte a sul do país, nos
50%, respectivamente na aquisição de 3 ou 4 bilhetes, nos serviços serviços urbanos de Lisboa e Porto, e nos serviços Regionais das
Alfa Pendular e Intercidades. linhas do Algarve, Oeste e Minho. Consulte as diversas opções no
Uma promoção válida aos dias úteis de 3ª a 5ª feira para viagens de site da CP.
ida e volta e para o mesmo serviço, classe e origem/destino.

Antes & Depois

Santiago do Cacém
Linha de Sines

© José Sousa Agosto de 2014


Abril de 2009 © José Sousa
Início

Trainspotter n.º 49 – Setembro 2014

Redacção

• Carlos Loução
• João Cunha
• João Joaquim

Sumário
• João Lourenço
• Pedro André
• Pedro Mêda
• Ricardo Cruz
• Ricardo Ferreira
• Ricardo Monteiro
• Ricardo Quinas
Editorial
5 • Tiago Ferreira

Comboio Correio
6 Contribuições para:
trainspotter@portugalferroviario.net

8
Cavalos de Ferro
Séries Ameaçadas – Época IV Endereço:
www.portugalferroviario.net

17
Cavalos de Ferro
50 Anos das Locomotivas 2550

Comboio Destaque
Comboios de contentores 69180/1 e 69810/1 30
Modelismo
Transporte de Cimento e Baslastro 32
Estação Terminal
37

• Locomotiva 2550 à frente de um


mercadorias em Quintãs no ano de
2008, Pedro Sabino;
• Locomotivas 2600 sem serviço
na estação do Entroncamento
em Setembro de 2012, Ricardo
Ferreira.

Contracapa: Locomotiva eléctrica 2568


em Contumil, 27 de Janeiro de 2007 –
Pedro Mêda

3
Spotting

596.013 com o Regional


Vigo - Valença, passando
por Gandaras, no Porriño,
Agosto 2014

João Cunha

4
Editorial

Ricardo Ferreira Ricardo Ferreira

A
oportunidade que me surge para o editorial também um destaque à emblemática “época IV” dos
da Trainspotter chega na melhor ocasião, caminhos-de-ferro (e das quais as 2550 fizeram parte),
uma edição dedicada aos cinquenta anos destacando as principais séries que ainda podemos
das locomotivas 2550. Tal como parte dos nossos lei- encontrar em linha em Portugal, Espanha e França, e
tores, as 2500 e 2550 foram um dos principais pilares que continuam a merecer todos os anos uma redobrada
de suporte para a ligação dedicada que tenho com os atenção pela comunidade entusiasta.
caminhos-de-ferro, e que será, à partida, para sempre.
Em relação à actividade ferroviária, a desorienta-
As linhas gerais nostálgicas destas locomotivas sem-
ção das políticas face ao tão prometido investimento
pre foi o que mais me cativou nelas e o facto de serem
no transporte ferroviário têm marcado a imprensa em
as pioneiras da tracção electromecânica a 50 Hz em
geral. O exemplo mais flagrante está no investimento
Portugal é um cargo histórico de responsabilidade que
que se pretende fazer nas malhas do Oeste e Algarve,
muito bem representaram. Ambas as séries marcaram
onde o financiamento existente não é, à vista de todos,
por tecnologia que resistiu sem intervenções profundas
o sequer suficiente para trazer ambas as linhas para
durante meio século de operação, desde que foram es-
níveis de competitividade do desfecho do século XX;
treadas em serviço regular em 1956, para as primeiras,
mas, enfim, antes manter os padrões de comodidade a
e 1964, para as segundas.
nível da operação ferroviária nos níveis actuais daqui a
A saída de operação destas locomotivas foi marca- meia dúzia de anos. Estamos perante um paradigma,
da durante vários anos com avanços e recuos, mas a em ambos os eixos o transporte ferroviário afastou-se
esperança de um dia regressarem está para sempre durante décadas dos reais padrões das necessidades
encerrada. À excepção da primeira unidade da série, de movimento das populações e agora é impensável
todas as 2550 foram já demolidas, sem que tenha ocor- corrigir esse erro, principalmente no primeiro caso. O
rido qualquer intervenção entusiasta capaz de uma sal- investimento que urge fazer a curto prazo devia centrar-
var. Um destino triste, a quem tanto deu pelo desenvol- -se no material circulante de operação diesel e esse
vimento do seu país. Agora que se comemorariam os tem, infelizmente, passado ao lado.
cinquenta anos em serviço delas caso ainda cá estives-
Se ainda for o caso, aproveito também para dese-
sem, a Trainspotter dedica-lhes uma edição, claro.
jar boas férias ao nosso leitor, de preferência usando o
Aproveitando o mesmo mote, nesta edição damos meio ferroviário.

Múltipla de 2550 a caminho da Cimpor de


Leandro com um cimenteiro de Souselas,
Quintãs em 9 de Junho de 2008

5
Comboio Correio

Refer remove travessas


Breves

Ricardo Quinas

de madeira na Beira Baixa

A
REFER publicou no pas- Alguns dos troços conheceram
sado 20 de Agosto o a sua última intervenção profun-
concurso público para a da há cerca de quarenta anos,
empreitada de reabilitação inte- aquando da renovação da Linha
gral de via entre Entroncamento e da Beira Baixa por ocasião do
NOVA LIGAÇÃO SETÚBAL – SINES Vila Velha de Ródão, no que será projecto, entretanto cancelado,
a primeira fase da reabilitação da de escoamento do minério de

A MSC, principal armador a ope-


rar navios porta-contentores no
porto de Sines, lançou recentemente
degradada via, cujas interven-
ções relevantes distam já cerca
Trás-os-Montes por esta linha,
após construção da ligação Po-
de quarenta anos em alguns tro- cinho – Guarda. O troço Entron-
um novo serviço entre o Terminal XXI ços. camento – Mouriscas foi alvo de
e o terminal da SAPEC em Setúbal. A uma reabilitação profunda no
Nesta primeira fase, a REFER
empresa consolida assim a sua pre- início da década de 90, para con-
espera concretizar a substituição
sença em Portugal, pondo ao dispor cretização do projecto “Itinerário
das 35.000 travessas de madei-
dos clientes da margem sul do Tejo um dos Granéis Pego – Sines”, para
ra ainda existentes neste troço,
novo porto seco, à imagem do que já ligação da então nova central ter-
substituindo-as por travessas de
acontece na Bobadela, Entroncamen- moeléctrica do Pego à rede na-
betão bi-bloco.
to e Leixões. cional. Já o restante troço até Ró-
A operação ferroviária do serviço Com um preço-base de 1,7 mi-
dão apenas conheceu retoques
está a cargo da CP Carga. Os com- lhões de euros, a REFER estipula
na via, eliminação de estações
boios, até ao momento, circulam ex- no concurso um prazo de 60 dias
e consequente desmontagem de
clusivamente em marchas especiais para concretização da substitui-
agulhas, e ainda instalação de
e têm tracção integralmente eléctrica ção das travessas, no que é um
catenária, sinalização automática
entre Praias do Sado e o Terminal XXI. primeiro passo para melhorar as
e sistemas de protecção contra
A frequência prevista é de dois a três condições de circulação neste
objectos que possam cair sobre
comboios por semana, mas tem sido troço fundamental da rede ferro-
a via.
superior, alcançando as cinco ligações viária nacional, não só pelo papel
que desempenha no transporte Grande parte do troço a inter-
por semana.
de passageiros mas sobretudo vencionar tem hoje condições
No mês de Agosto, a MSC aumen-
por albergar a circulação dos de circulação muito degradadas
tou também a frequência do serviço
comboios de carvão que abaste- e aguarda-se a publicitação de
Terminal XXI – Leixões, passando de
cem a central do Pego e por ser- próximas fases de trabalhos para
quatro para cinco ligações semanais
vir a indústria papeleira de Vila aferir da profundidade da opera-
regulares.
Velha de Ródão. ção a realizar.

© Ricardo Quinas

6
Comboio Correio

Intervenções em fase
Breves

Pedro Mêda

de estudo

O
Governo autorizou a Infraestruturas (PETI) para o
REFER a despender período 2014-2020 e que deverão
uma verba de 14,7 representar um investimento total
milhões de euros para a superior a 600 milhões de euros
elaboração dos projectos de na rede ferroviária nacional.
renovação da Linha do Norte e A aguardar, entre outros
de renovação e electrificação das projectos de menor envergadura NOVAS PASSAGENS SUPERIORES
linhas do Douro, Minho e Oeste referidos no PETI, encontram-
(apenas entre Meleças e Caldas A REFER prossegue os investimen-
se ainda os corredores Sines –
da Rainha). tos para a supressão e aumento da
Lisboa/Setúbal – Caia e Leixões
segurança nas passagens de nível,
Está assim dado o primeiro – Aveiro – Vilar Formoso, os
nomeadamente através da construção
passo para proceder às maiores investimentos a realizar
de novas passagens superiores.
intervenções nas referidas vias, nos próximos anos, avaliados
Neste mês de Agosto, a empresa
calendarizadas segundo o Plano respectivamente em 1.000 e em
pública deu por concluídos os traba-
Estratégico dos Transportes e 900 milhões de euros.
lhos de construção de uma passagem
superior no apeadeiro de Coimbrões,

Estação de Olhão
ao PK 330,9 da Linha do Norte, num
investimento total de 230 mil euros.
Ainda na Linha do Norte, foram lança-
das as empreitadas para a construção
com nova sinalização de passagens superiores nos apea-
deiros de Bencanta, ao PK 215,7, e

C
om a publicação do 75º Linha do Algarve tendo em vista Francelos, ao PK 325,4, num investi-
aditamento à Instrução a sua completa modernização. mento próximo dos 600 mil euros.
de Exploração Técnica Apenas as estações da Fuseta, Já na Linha do Minho, o destaque
nº50 da Rede Ferroviária Nacional Tavira, Cacela e Vila Real de vai para a nova passagem superior lo-
no passado dia 10 de Agosto, a Santo António se mantém com calizada entre os apeadeiros de Águas
estação de Olhão na Linha do sinalização antiga, embora na Santas e Palmilheira, num investimen-
Algarve passou a ter em pleno maior parte dos casos já esteja to de 359 mil euros.
funcionamento a sinalização praticamente tudo preparado As novas infraestruturas destinam-
electrónica. Desta forma a REFER para que a nova sinalização -se exclusivamente a peões, dispon-
continua a modernização da automática entre em vigor. do de escadas, elevadores e acessos
para pessoas de mobilidade reduzida.

Pedro Mêda

© Pedro André

7
Cavalos de Ferro

Séries Ameaçadas – Época IV


João Cunha ...as últimas locomotivas época IV dos
caminhos-de-ferro Ibéricos e Franceses
João Cunha

U
m artigo diferente do restantes, e por muito que a sua
habitual, para retratar história tenha muitas páginas
algumas das séries de douradas e continue a escrever-
locomotivas mais relevantes se com fiabilidade, produtividade
ainda em circulação em e rentabilidade, a década que
Portugal, Espanha e França, e vivemos deverá ser a última de
que pertencem à que para mim existência ou, pelo menos, a última
continuará marcada como a época onde terão alguma real glória na
dourada da tracção ferroviária – a cena ferroviária em que estão
época IV (1970 – 1990). integradas.
Para este artigo, escolhi apenas Momento por isso para traçar um
as que considero serem as mais rápido perfil do que poderão ser os
míticas e importantes séries ainda próximos anos destes monstros
em uso, embora hajam outras da tracção ferroviária que nos é
séries da mesma época ainda em mais próxima, e preparar máquinas
serviço. fotográficas e de vídeo para as
Para quase todas as séries imortalizar enquanto é tempo.

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Cavalos de Ferro

Locomotiva 1902 debaixo de um


tórrido calor, a caminho de Neves
Corvo, Julho de 2007

Portugal
CP 1900/30

A
pesar de continuarem a
ser as mais recentes loco-
motivas diesel da CP, con-
tam já com 35 anos de serviço pra-
ticamente feitos desde a sua estreia
no início dos anos 80. Quer pela via das electrificações, curtos como Oeste e Porto de Aveiro,
Com performances normalmente quer pela via da privatização da CP onde habitualmente não precisam de
hesitantes na região Centro, e mui- Carga, a série estará a viver a sua ser trocadas a meio da semana por
to valorizadas na região Sul (onde última década de serviço numa car- necessidades de manutenção.
actuam desde início) e Norte (para reira que, de um ponto de vista de
As locomotivas restantes aguar-
onde começaram a migrar em 2010), fiabilidade e reconhecimento, tem-se
dam apenas o esgotamento do seu
estas locomotivas estão ameaçadas desenrolado sempre em crescendo.
potencial quilométrico, um fim que
pela idade, pela privatização da CP se vem arrastando pela fraca quilo-
Carga e pelas muitas electrificações metragem das suas rotações. Sem
anunciadas para os próximos anos. CP 1960 peças em oficina para reparações
Uma das prioridades da priva- mais complicadas, qualquer avaria
As míticas Bombardier são hoje
tização da CP Carga, onde se en- mais complexa pode ditar o fim das
uma sombra do que foram, havendo
contram afectas todas as unidades locomotivas ainda existentes.
apenas três unidades em serviço e
restantes, será encontrar um parque já sem rotação própria há mais de Não parece credível esperar que
diesel adaptado às necessidades quatro anos. a série ainda resista ao próximo ano
operacionais actuais e que substitua de 2015, onde certamente se fecha-
Mercê do seu ciclo de manuten-
todas as locomotivas actuais. rá um capítulo de uma história que,
ção alargado por comparação às
Por outro lado, a electrificação incontornavelmente, está marcada
1900, têm sido as mais utilizadas
das linhas do Minho, Oeste e Por- por vinte anos de glória na Linha da
em rotações semanais de percursos
to de Aveiro retirar-lhes-á boa parte Beira Alta.
da folha de serviços que
mantêm, existindo ainda
um grande ponto de in-
terrogação quando ao fu-
turo do Ramal de Neves-
-Corvo, cuja electrificação
vem sendo adiada mas
que acabará por aconte-
cer.

É no porto de Aveiro que é


mais fácil avistá-las. Eis a
1962 a caminho do porto,
Agosto de 2014

9
Cavalos de Ferro

A 2605 na Quinta Grande, em


CP 2600/20 escala, o restante material não as
conseguir afastar.
Setembro de 2010

Apesar de totalmente fora de ser-


Certo é que não devem existir no-
viço desde 2011, parece provável enorme corte na circulação de com-
vidades até ao último terço de 2015.
que a série ainda venha a realizar boios de mercadorias pelo actual tra-
alguns comboios esta década, com çado, via Busdongo.
o aumento do tráfego da CP Carga e
algumas novas electrificações. Espanha Linha electrificada a 25 kV, e afas-
tada que está a hipótese de transfor-
Não serão mais do que dez em mar esta série numa série bitensão
serviço, e estas provavelmente a Renfe 251 3 + 25 kV, as 251 enfrentam no hori-
servirem não mais do que quatro Construídas em 1982, esta série zonte uma muito grande diminuição
rotações, enquanto a plena interna- enfrenta a ameaça da abertura da das missões que lhes são confiadas,
cionalização da rede portuguesa não Variante de Pajares, agendada para não sendo certo que resistam ao ho-
se efectuar e, por via de ganhos de 2016-2017, e que representará um rizonte de 2020 onde, de qualquer
forma, estarão a celebrar
quarenta anos de existên-
cia.
Sendo absolutamente
certo que até à saída das
251 ainda existem por li-
quidar todas as 269 em
serviço, não é também
de descartar a compra de

As 251, ainda e sempre um


património da estação de
Pajares, onde a 023 chega
com um carveiro, Fevereiro
2014

10
Cavalos de Ferro

Duas 269 da primeira série


sobem as Astúrias com um
siderúrgico. Villabona, Fevereiro
de 2014

mais locomotivas eléctricas novas


por parte da Renfe, antevendo não
só as novas linhas disponíveis em
bitola ibérica e electrificadas a 25
kV (Pajares, Galiza, entre outras),
como também alguma migração de
tráfegos para bitola UIC. A confir-
mar-se, será sem dúvida um ponto
final para a série.
Enquanto aguardam tempos
sombrios, a série é praticamente Das trinta locomotivas construí- operadas em Espanha, e as mais
monopolista do intenso tráfego de das, existem ainda 28 ao serviço e numerosas – 265 unidades.
mercadorias com origem e destino as únicas baixas foram causadas
Mais de metade das locomotivas
nas Astúrias, através da rampa de por acidentes. Algumas locomotivas
foram já abatidas ao serviço (e mui-
Pajares, estendendo a tracção até foram renovadas nos últimos anos.
tas delas desmanteladas para suca-
Sagunto, no Mediterrâneo. O seu ta), e para as cerca de cem unidades
monopólio estende-se aos comboios que sobram ao serviço as missões
em tracção eléctrica de e para a Ga- Renfe 269 que lhes são confiadas não são já
liza (Vigo, Gandaras, Monforte de
Lemos), e efectua algumas missões Construídas a partir de 1973, fo-
pontuais na região de Burgos e Ma- ram provavelmente as locomotivas 289.101, a primeira a passar em revisão,
eléctricas mais versáteis alguma vez com um comboio Trasona – Irún, em
drid. Busdongo, Junho de 2014

11
Cavalos de Ferro

muitas, valendo-lhes rotações muito tado da transformação de vinte 289


leves e com tempos de paragem ele-
vadíssimos entre comboios.
originais em locomotivas tandem.
Contando com um poder de tracção
França
A sua presença é maior na Ca-
incomparável, esta série está actual-
mente a ser alvo da primeira grande
SNCF BB 7200
talunha, Aragão e Andaluzia, onde
reparação desde a transformação Com 240 unidades, esta imen-
efectuam regularmente comboios de
ocorrida em 1999. sa família de locomotivas tem-se
contentores e automóveis, comple-
adaptado de forma camaleónica ao
mentando a série 253. É extremamente provável que,
desenrolar dos anos. É a última ge-
a manterem-se todos os dados de
Apesar de excedentárias, a Ren- ração de locomotivas monotensão
operação, estas locomotivas sobre-
fe investiu nos últimos dez anos em francesas (desde então, a SNCF só
vivam à extinção das 269 e mesmo
grandes reparações que prolonga- compra locomotivas bitensão), e por
das 251, podendo vir a tornar-se as
ram a vida útil de muitas locomotivas isso são as últimas locomotivas pu-
últimas representantes do imenso le-
que hoje estão ameaçadas pela per- ramente 1.500 V a circular em Fran-
gado Mitsubishi no Reino.
da de tráfego da Renfe Mercancias ça.
e pelas inovações que a rede espa- Baseadas em Miranda de Ebro,
Extremamente versáteis, cum-
nhola vai conhecendo, e que por via investem sobretudo no Norte do
prem com imensa fiabilidade e dis-
de um jogo de cadeiras poderá levar país, sendo que as Astúrias são a
ponibilidade missões tão variadas
a que as 251, saindo em parte dos região mais ocidental que servem,
como o transporte de mercadorias,
tráfegos Asturianos, acabem por di- investindo preferencialmente no
tracção de comboios expresso de
zimar o que resta desta frota. País Basco e na fronteira de Irún /
passageiros e até suburbanos.
Hendaye.
Versáteis e fiáveis, as 269 devem
Até 2006, a maioria da série esta-
entregar a alma ao criador até 2020, É incerto quanto poderão ainda
va alocada ao transporte de merca-
após quase meio século de serviços sobreviver, tendo em conta a avan-
dorias, tendo sofrido dolorosamente
na Península Ibérica. çada idade que têm – mesmo tendo
a vertiginosa queda nos tráfegos
em conta a profunda remodelação
SNCF, cuja unidade de produção de
de 1999 – mas parece seguro admi-
mercadorias continua uma (impará-
Renfe 289 tir que, das três séries espanholas
retratadas neste artigo, serão as que
vel?) sangria. Nos anos mais recen-
tes, muitas locomotivas foram resga-
Construídas em 1969, as dez lo- têm maiores possibilidades de pas-
tadas a triagens onde aguardavam já
comotivas que sobram são o resul- sar o ano de 2020.

BB 7285 com o Montpellier – Cartagena,


em Port La Nouvelle, um dos serviços
nobres que já desapareceu, Julho de 2011

12
Cavalos de Ferro

A BB 15050 nos tempos áureos


com um Teoz de Strasbourg.
Abril 2007

a última morada para usos distintos.


Algumas, poucas, voltaram a sentir
o prazer de liderar composições pe-
sadas de mercadorias, mas para a
maior parte o destino foram os com-
boios de passageiros.
Nasceu uma nova série, as BB
7600, que foram transformadas
para assegurarem comboios subur-
banos em Paris com carruagens de
dois pisos, em push-pull. Esta confi- 26000, mais recentes. para chegarem à importante marca
guração tem como horizonte de vida de cinquenta anos de carreira.
os próximos dez anos, visto que as
Locomotivas de lenda e inigualá-
próprias carruagens estarão então
em fim de vida, e parece pouco pro-
SNCF BB 15000 veis em fiabilidade e disponibilidade,
as BB 15000 foram as últimas lo-
vável que a SNCF volte a investir em Provavelmente as mais rentáveis
comotivas monotensão construídas
composições de locomotiva e carru- locomotivas eléctricas que a SNCF
em França para circulação debaixo
agem para este tipo de serviços. alguma vez teve e tem, estas loco-
de 25.000 V, e já deixam imensas
motivas começaram a ser construí-
O fim de quase todos os com- saudades entre ferroviários e entu-
das em 1969 e acumulam por isso
boios CoRail, com o fim das carru- siastas.
já 45 anos de carreira para as mais
agens com o mesmo nome, ditará
antigas.
sem dúvida a sorte de muitas loco-
Apesar disso, a sua fiabilidade
motivas ainda afectas a missões fan-
tásticas como Bordéus – Marselha, continua em alta, mesmo para as
SNCF BB 22200
e que não terão na rede francesa locomotivas transformadas para As “nez-cassé” todo-o-terreno no
outras oportunidades de continuar a outros serviços, como é o caso do que a electrificações diz respeito, as
carreira. parque da Normandia habitualmente BB 22200 são a versão bitensão das
empregue em comboios push-pull. BB 7200 e BB 15000, e as que têm
Não sendo de prever para o futu-
o futuro mais certo das três. Com
ro próximo mais encomendas de lo- Apesar da fiabilidade, é indisfar-
quarenta anos de carreira a comple-
comotivas eléctricas, tantas que são çável que a série está no seu ocaso.
tarem-se dentro de dois anos, esta
as excedentárias, e tendo em conta Das 65 locomotivas construídas, so-
série de mais de 200 locomotivas
que os tráfegos puramente 1.500 V bram ainda 58, sendo as restantes
está a voltar ao tráfego em pleno
parecem já ter chegado a um nível locomotivas azaradas envolvidas em
após alguns anos com várias unida-
mínimo de existência, parece confor- graves acidentes em passagens de
des paradas devido à crise nas mer-
tável admitir que a série se vá pro- nível.
cadorias.
longar pelo menos até 2025, particu- Na Normandia, vêm perdendo
larmente as unidades equipadas de Muitas estão a ser aproveitadas
terreno no eixo Paris – Cherbourg
comando múltiplo e habitualmente para comboios push-pull, nomeada-
para as locomotivas 26000, aptas
empregues na mítica e difícil linha mente na região Norte (Lille) e Sul
a 200 km/h, e a Norte serão prova-
da Maurienne, rumo a Itália. (Marselha), onde ao que tudo indica
velmente substituídas nos próximos
permanecerão talvez mais quinze
Nos próximos três-quatro anos, três a quatro anos por novas auto-
anos, quando soará não só o seu
deve soar o canto do cisne para as motoras adquiridas à Alstom, as Re-
fim, como também o fim definitivo
prestações da série nos comboios giolis. Sobrará por isso um restrito le-
das composições de locomotivas e
CoRail, ficando os remanescentes que de missões, sobretudo na linha
carruagens em serviço regional.
entregues apenas a locomotivas Paris – Le Havre, que lhes poderão
bitensão, e particularmente às BB garantir mais alguns anos de vida, No serviço de longo curso, é de

13
Cavalos de Ferro

BB 22392 saindo de Lyon


para Chambery com um
regional, Agosto de 2006

portos marítimos e portos


secos situados nos quatro
cantos de França.
Importa ainda dizer
que estas locomotivas
são actualmente a coluna
vertebral da frota eléctrica
da SNCF Infra, a respon-
sável pela manutenção
admitir que diminuam drasticamente anos, mas parece ainda assegura- da rede francesa, onde operam
as já limitadas prestações que têm, da. Com a rentabilização de locomo- em número crescente após revisões
devido à acelerada substituição de tivas mais recentes na sociedade de gerais profundas, assegurando múl-
carruagens CoRail por novas au- aluguer Akiem (caso das BB 27000, tiplos tráfegos de aprovisionamento
tomotoras eléctricas. Actualmente, muitas delas alugadas à concor- de estaleiros de renovação e cons-
além de tantos serviços a 160 km/h rência), os actuais tráfegos das BB trução de vias.
como Nice – Bordéus ou Paris – Ca- 22200 parecem mais ou menos as-
Para quem as quiser ver ainda
lais, são as principais responsáveis segurados para o futuro.
num relativo auge, é hora de rumar
pelos enormes comboios de peregri-
São as principais responsáveis a França e fotografá-las com regula-
nos com destino a Lourdes.
pelos mais representativos tráfegos res comboios de catorze carruagens
Nas mercadorias, a sua presen- de contentores nacionais de Fran- no Sul de França. Para quem tiver
ça é menos sentida nos últimos dez ça, ligando importantes plataformas, menos pressa, esta série não deverá

CC 72147 com um Belfort – Paris, pouco


antes de chegar a Chalindrey, Agosto de
2011

14
Cavalos de Ferro

BB 67566 no mitico Cevenol


Clermont – Marselha, passando
por Issoire, Julho de 2011

sair de serviço antes de 2025, então é a sua denominação histórica na Noutros capítulos, a série foi pra-
com cinquenta anos de serviço. rede francesa. ticamente arredada dos comboios
regionais em todo o país, onde gas-
A compra massiva de Regiolis,
tou outra boa parte dos 45 anos de
aptos a 160 km/h e com interiores
SNCF BB 72100 da alta gama, deve levar a SNCF a
serviço, substituída por automotoras
que devastaram o parque de carru-
acabar de vez com os comboios Co-
Resultado da renovação das míti- agens USI, UIC e CoRail. Arreda-
Rail nesta linha e assim interromper
cas CC 72000, as trinta locomotivas das dos suburbanos de Paris, onde
a vida desta série que já foi renova-
da série estão em declínio acentua- mantiveram uma curiosa presença
da há mais de dez anos e, por isso,
do, sobrando hoje apenas 22 loco- durante muitos anos, são ainda res-
aproxima-se também do fim do po-
motivas, após alguns acidentes, in- ponsáveis pelos fantásticos CoRail
tencial de vida útil que lhe foi então
cêndios e outras avarias. Nantes – Bordéus da dupla via não
acrescentado.
Concentradas no eixo Paris – electrificada que corre paralela ao
A série não deve resistir aos pró- Atlântico.
Mulhouse, hoje ameaçado pela LGV
ximos dois a três anos, colocando-se
Rhin-Rhône que a acompanha uns Também aí os Regiolis as irão ca-
um fim na dinastia das mais impres-
quilómetros ao lado, a série é inteira- çar, como já está a acontecer na Al-
sionantes locomotivas diesel que cir-
mente responsável pelos comboios sácia e no Norte de França, onde os
cularam em território europeu.
de alta gama que a SNCF opera habituais regionais que realizavam
nesta linha. São comboios altamente nas últimas décadas estão a ser pro-
fotogénicos e apetecíveis para qual- fundamente alterados.
quer entusiasta, com seis a nove SNCF BB 67400 Existem várias unidades afectas
CoRails (às vezes mais!) a serem re-
Super versáteis e polivalentes, as a comboios de infraestruturas, onde
bocadas diariamente a 160 km/h em
BB 67400 estão hoje praticamente sem dúvida irão sobreviver mais do
tracção diesel – uma realidade bem
arredadas dos comboios de merca- que as afectas a outras unidades,
distante da portuguesa.
dorias, que lhes ocuparam boa par- mas se descontarmos este parque
São ainda responsáveis por al- te da carreira desde que, em 1969, residual de utilização nem sempre
guns regionais rápidos à volta de iniciaram funções. Neste capítulo, regular, as restantes unidades deve-
Chalindrey, seu depósito de sempre 2015 deve ser o último ano de mis- rão todas cessar funções em 2016.
situado nesta famosa linha 4 – assim sões nas mercadorias.

15
Cavalos de Ferro

Locomotiva eléctrica 2556 na


estação das Devesas, 18 de
Abril de 2007

Pedro Mêda

16
Cavalos de Ferro

50 Anos das
locomotivas 2550
Pedro Mêda, João Cunha

A
s locomotivas
eléctricas Schneider-
Westinghouse da
série 2550 marcaram de uma
forma única os caminhos-
de-ferro portugueses entre a
segunda metade do século XX
e o final da primeira década do
século XXI. A sua caixa em aço
inoxidável canelado, fabricada na
Sorefame, permitiu estabelecer
uma completa harmonia entre
locomotiva e material rebocado, Imagem de marca dos rápidos da
Linha do Norte nas décadas de 60 e 70
passando a ser a imagem de marca dos
comboios rápidos da Linha do Norte durante
mais de uma década. Esta particularidade crescente da economia nacional através do incremento
levou também a que fosse uma das séries mais de riqueza de ramos de atividades já estabelecidos ou
solicitadas para circulações especiais, como o a estabelecer. Pretendia fomentar o emprego e diferen-
comboio presidencial. Num momento em que tes níveis de desenvolvimento. No que diz respeito ao
se assinalam cinquenta anos da sua entrada caminho-de-ferro, previa entre outros objectivos a sua
em serviço, este artigo pretende dar a conhecer modernização através da aquisição de novo material cir-
algumas das características desta série, a sua culante e intervenções ao nível da infra-estrutura, equi-
história, serviços, importância como imagem pamentos técnicos e sociais de apoio à actividade. Estes
de marca e afirmação da indústria nacional,
investimentos encontravam-se inscritos em planos, de-
bem como a sua retirada de serviço, o seu
signados de Planos de Fomento. De modo a contextua-
abate e futuro espectável do único exemplar
lizar melhor o contrato de fornecimento desta série de
sobrevivente.

Enquadramento

A aquisição das vinte locomotivas 2550 Schneider-


-Westinghouse surge na sequência de uma poli-
tica nacional de investimentos a longo prazo e destinada
a vários sectores de actividade, que visava a valorização

17
Cavalos de Ferro

Estúdio Mário Novais material, apresentam-se alguns as-


pectos relevantes das primeiras fa-
ses deste programa e os seus objec-
tivos para o caminho-de-ferro.
O I Plano de Fomento (1953-
1958) permitiu dar início de uma for-
ma consistente e mais acelerada ao
processo de modernização da rede
ferroviária nacional e do seu material
circulante. Anteriormente, já se en-
contrava identificado o objectivo de
diminuir o recurso à tracção a vapor,
tendo nessa altura a solução passa-
do pela aquisição de material a die-
Locomotiva 2563 em fase de testes na Sorefame. 45 anos de serviço se iniciavam
sel, designadamente as locomotivas
da série 1500, já abordada na Trains-
Arquivo Portugal Ferroviário potter n.º 39. Com a promulgação da
Lei n.º 2002 de Dezembro de 1944
– Plano Nacional de Electrificação,
ficava consagrado que o interesse
na electrificação do país assentava
sobre quatro questões estratégicas,
sendo uma delas a electrificação das
linhas de caminho-de-ferro. O I Plano
de Fomento destinava por isso para
os caminhos-de-ferro um montante
destinado a impulsionar a electrifi-
cação da Linha de Sintra e do troço
Lisboa – Entroncamento da Linha
Locomotiva 2570 pronta a embarcar rumo ao Brasil do Norte. Previa também uma verba
para a aquisição de material circulan-
te, que deu origem às encomendas
Boletim da CP
das quinze locomotivas eléctricas
da série 2500 e das 25 automotoras
(unidades triplas eléctricas) da série
2000. Encontrava-se inscrita uma
verba destinada à modernização e
readequação de infra-estruturas tais
como estações, oficinas, armazéns,
entre outros.
O II Plano de Fomento deu con-
tinuidade ao processo de electrifi-
cação, de reapetrechamento das
oficinas, modernização da sinaliza-
ção e telecomunicações, renovação
Uma 2550 à passagem pela praia de Espinho em 1971
com um comboio composto por material Sorefame de obras de arte e aos programas

18
Cavalos de Ferro

de aquisição de material mo-


tor a diesel e eléctrico. Este
plano, destinado ao perío-
do 1959-1964, previa para o
sector dos caminhos-de-ferro
investimentos da ordem dos
1.300.000 contos (sensivel-
mente 6,5 milhões de euros),
mais do dobro do previsto no
plano anterior (600.000 con-
tos).
O quadro em baixo apre-
senta os grandes grupos de
empreendimentos previstos,
os montantes de investimento
previsto para cada ano e os
valores totais orçamentados. A 10 dias da revolução do 25 de Abril
de 1974, a primeira da série é vista à
frente de um comboio para a capital
Importa realçar que estes planos - O seu peso não exceder 68 t; © George Woods
tinham como preocupação a incor- - Poderem rebocar comboios
poração ao máximo da indústria rápidos de passageiros à ve- alguns troços mais debilitados da
portuguesa para a concretização locidade máxima de 130 km/h e rede, nomeadamente sobre a Pon-
das actividades previstas. comboios pesados de mercado- te D. Maria Pia. Os equipamentos
No lote de material circulante a rias de 800 t, na rampa de Alber- seriam idênticos, mas teriam de
adquirir encontrava-se o reforço da garia.” ser montados na Sorefame, sendo
frota de locomotivas eléctricas que assim esta a primeira série de lo-
teria de obedecer a uma série de re- Como veremos, alguns destes comotivas a ser construída em solo
quisitos pre-definidos: requisitos não foram plenamente nacional.
atingidos. A concepção e construção na
“As locomotivas eléctricas a enco- As locomotivas a adquirir seriam Sorefame de uma caixa em aço
mendar para esta fase serão, como então idênticas às da série 2500, inoxidável constituiu uma inovação
as já existentes, do tipo B’o B’o e sua antecessora, mas teriam de ser assinalável para a época, sendo as
deverão satisfazer as seguintes mais leves de forma a poderem cir- “dois quinhentas e cinquenta” as pri-
condições: cular sem grandes restrições sobre meiras locomotivas no mundo a se-

Anos
Empreendimentos Total
1959 1960 1961 1962 1963 1964
a) Electrificação do troço Entroncamento –
Porto (instalações fixas e trabalhos de via
200 000 200 000 200 000 120 000 80 000 - 800 000
e obras; material circulante; sinalização e
telecomunicações)
b) Material diesel (locomotivas; automotoras e
37 500 37 500 37 500 22 500 15 000 - 150 000
atrelados; barcos)
c) Reapetrechamento das oficinas, aquisição de
material circulante, renovação da sinalização e 29 100 34 550 40 000 24 000 21 450 10 900 160 000
telecomunicações
d) Renovação, conservação e ampliação da via (e
58 500 26 300 26 300 26 300 26 300 26 300 190 000
das respectivas pontes)
Total 325 100 298 350 303 800 192 800 142 750 37 200 1 300 000

19
Cavalos de Ferro

Os três esquemas
de pintura das
locomotivas 2550
© Eugénio Santos

material circulante de linha e que


ainda hoje subsiste no parque
diesel. A terceira e última fase de-
corre desde o referido momento
até à sua retirada de serviço, em
Abril de 2009. As cabines foram
pintadas em tons de vermelho e
foram aplicados comandos para
funcionamento em múltipla. Os
cabeçotes foram pintados de cin-
za escuro. Algumas unidades per-
deram neste período a sua caixa
original e passaram a circular com
caixas iguais às usadas na série
2500, como à frente se refere de
um modo mais detalhado. Algu-
rem construídas com recurso a este diferentes esquemas de decoração
mas unidades da referida série, mais
tipo de tecnologia. Justificava-se, que envergaram.
concretamente as locomotivas 2506
por isso, a construção de uma loco- Assim, a uma primeira fase cor-
e 2512 levaram também os coman-
motiva protótipo que fosse utilizada responde o período desde a sua en-
dos de múltipla (a locomotiva 2512
para a realização de uma bateria de trada ao serviço até finais da década
terá sido uma das primeiras logo em
ensaios quer em laboratório quer na de 70, aquando da entrada plena ao
1992), passando a ser frequente a
linha. A locomotiva 2551 foi posta a serviço das locomotivas eléctricas
tracção em múltipla com “misturas”
circular na rede em Junho de 1963, da série 2600, adquiridas em 1974.
de séries.
tendo sido sujeita a vários ensaios, O esquema desta altura caracteriza-
ajustes e adaptações. Após o cum- -se pelo cabeçote pintado de cor ver-
primento de todas as exigências, melha e laterais em preto. Nas ca- Características
iniciou-se a construção em série bines e nas laterais quatro logótipos
das restantes dezanove unidades. da CP.
técnicas
Foram entregues em Setembro de A segunda fase decorre durante
1964 e dadas ao serviço a locomo-
tiva protótipo mais duas unidades.
os anos 80 e meados dos anos 90,
coincidindo com a entrada ao serviço
C onforme previsto no tex-
to do II Plano de Fomento,
a série 2550 é muito semelhante à
No mês seguinte, em Outubro, mais da série 5600. Os logótipos CP são
série anterior, quer em termos geo-
quatro unidades. A última locomotiva substituídos pelo novo símbolo, que
métricos, quer ao nível dos equipa-
foi entregue em meados de 1965. foi pintado nas laterais entre as gre-
mentos eléctricos e mecânicos. O
Genericamente, pode conside- lhas dos ventiladores. Os cabeçotes
equipamento eléctrico foi forneci-
rar-se que estas locomotivas tive- passam a apresentar um esquema
do pelo “Groupment pour l’etude et
ram três fases na sua carreira que de pintura às listas nos tons laranja
l’Électrification des C.F. en Mono-
correspondem, mais ou menos, aos e branco que caracterizaram todo o
phasé 50 Hz”, constituído pelas em-

20
Cavalos de Ferro

presas AEG, Alstom, BBC, Jeumont, Vieram de origem equipadas com Em termos de peso conseguiu-se
Oerlikon, Schneider-Westinghouse e rectificadores de vapor de mercúrio poupar cerca de 1,5 toneladas, fi-
Siemens. A Henschel-Werke forne- à semelhança das 2500. No entanto, cando ligeiramente acima do inicial-
ceu as partes mecânicas com ex- durante o ano de 1967 estes seriam mente previsto (Tara 68,10 t; Peso
cepção dos bogies. substituídos por uns de tecnologia em ordem de marcha e Peso ade-
A concepção da caixa, o fabrico mais avançada e compostos de si- rente 70,52 t).
dos bogies e a montagem de todos lício; rectificadores secos de silício.
os elementos foram realizados na De origem vieram também equi-
Sorefame sob licença dos diferentes padas com dois pantógrafos rom-
1ª Fase da Carreira
fabricantes, Budd Co. e Henschel, boidais, tendo sido substituídos por
respectivamente.
São locomotivas alimentadas
pantógrafos de um braço durante a
década de 90. Algumas unidades
C om o avanço da electrifica-
ção na Linha do Norte as lo-
comotivas eléctricas passaram a do-
com energia a 25.000 V monofási- usaram os pantógrafos originais até
minar este percurso. As 2550, dado
ca a 50 Hz e têm uma potência de meados da primeira década do sé-
o seu menor peso e pelo facto de
2.790 Cv, podendo circular a uma culo XXI.
terem uma caixa em aço inoxidável,
velocidade máxima de 120 km/h. Estavam dotadas de freio a vá-
foram desde logo escolhidas para
Esta podia ser aumentada para 130 cuo, tendo posteriormente recebido
traccionar os comboios mais impor-
km/h, sendo para isso necessário no final da década de 70 o sistema
tantes, designadamente nos servi-
proceder à modificação de um dis- Dual Ar-vácuo. A sua capacidade de
ços de “rápidos” e “Foguete” onde
positivo nos motores de tracção. reboque ficou aquém do espectável,
progressivamente foram substituin-
Esta operação nunca chegou a ser sendo a carga máxima de 650 tone-
do as automotoras da série 0500 que
realizada. Possuem quatro motores ladas no troço Caxarias – Albergaria
começavam a ter diversos proble-
de tracção Alsthom modelo TAO-645 e 640 na outra rampa (troço Pom-
mas. No II Plano de Fomento estava
A1, totalmente suspensos e refrige- bal – Albergaria). Com o avanço da
inicialmente prevista a aquisição de
rados através de ventilação forçada. electrificação, o troço que passou a
um lote de carruagens com ar condi-
Têm uma potência de 2.116 kW (4 constituir a maior limitação foi Alcân-
cionado, factor que permitia igualar
x 529) em regime contínuo e 2.228 tara-Terra – Sete Rios, onde a capa-
o conforto oferecido pelas referidas
kW (4 x 557) em regime unihorário. cidade de carga é de 480 toneladas.
O transformador tem uma
potência de 4.365 kVA -
(25 kV) e o graduador per-
mite 32 pontos de tracção.
Este é um dos aspectos
que diferencia esta série
da sua antecessora por-
que, embora idêntico e do
mesmo fabricante (BBC),
o graduador das 2500 per-
mite apenas 22 pontos.

A segunda fase da carreira


das 2550, quando a
concorrência das 2600 lhes
faz frente; Entroncamento
em Maio de 1985
© João Marques

21
Cavalos de Ferro

A 2º fase da carreira
das 2550 foi
também marcada
pelo novo esquema
de pintura; Alfarelos
em Março de 1982,
comboio para
Lisboa
© João Marques

automotoras. No entanto, essa situa- outras circulações de passageiros. >> A do comboio que se encar-
ção não se consumou e seria neces- Foram várias vezes chamadas a regou da inauguração da electri-
sário esperar até 1986 para voltar a efectuar comboios especiais, trans- ficação do troço Esmoriz – Vila
ter circulações com ar condicionado portando várias personalidades e re- Nova de Gaia, em 16 de Julho de
nos serviços de rápidos. As 2550 e presentantes de entidades nacionais 1966, titulada pela locomotiva n.º
o material rebocado Sorefame for- e internacionais, sendo mais um ele- 2564;
mavam composições homogéneas mento na montra da capacidade da
e totalmente em aço inoxidável, ima- industria nacional ferroviária. Des- >> A do comboio especial que
gem que marcaria a oferta de topo tacam-se algumas destas composi- inaugurou a totalidade da electri-
de gama da CP na Linha do Norte ções como: ficação da Linha do Norte (troço
durante mais de uma década. Para Vila Nova de Gaia – Campanhã),
felicidade e regozijo de muitos entu- >> O comboio Presidencial que procedente de Lisboa-Santa
siastas e historiadores existe um bri- a 17 de Outubro de 1964 saiu de Apolónia e com destino a Porto-
lhante registo destas composições. Lisboa, titulado pela locomotiva -Campanhã, a 3 de Novembro de
O entusiasta e fotógrafo ferroviário n.º 2552, conduzindo na parte 1966, titulado pela locomotiva n.º
George Woods captou a 15 de Maio electrificada o Almirante Américo 2560, seguindo a reboque o fur-
de 1974 na estação de Espinho, o Tomás e o General Franco para gão e carruagem Sy5 do Comboio
comboio rápido com destino a Lis- a inauguração das barragens de Presidencial e diversas carrua-
boa titulado nesse dia (dando ainda Aldeadávila e Bemposta, situa- gens Sorefame;
mais valor à imagem) pela primeira das na parte internacional do rio
locomotiva da série, a 2551. Douro; Conforme tem sido sistematica-
Além de assegurarem os referi- mente referido, esta série foi muito
dos serviços, encarregaram-se tam- >> A do rápido n.º 1 que se encar- utilizada como meio de afirmação e
bém da tracção dos comboios “Sud- regou da inauguração da electrifi- de propaganda da capacidade da
-Express” e “Lusitânia-Expresso”, no cação do troço Quintãs – Esmo- indústria portuguesa. Uma destas
troço debaixo de catenária. Sempre riz, em 23 de Novembro de 1964, expressões e provavelmente a mais
Linhaasseguraram
que necessário do Norte na Aguda
tam- titulada pela locomotiva n.º 2557; relevante e única na história ferroviá-
bém comboios deMêda
Pedro mercadorias ou ria em Portugal foi o envio em 1965

22
Cavalos de Ferro

de uma unidade para estar presente vários acidentes com diferentes gra- ocorrências, embora não tenha sido
numa exposição internacional. vidades envolvendo estas máquinas. possível confirmar o número das
O evento realizou-se no Brasil, O primeiro acidente conhecido ocor- máquinas envolvidas. Tratam-se dos
assinalando o IV Centenário da cida- reu no dia 22 de Agosto de 1965 e descarrilamentos de Esmoriz, a 26
de do Rio de Janeiro. O Pavilhão de envolveu a locomotiva n.º 2564 que de Setembro de 1968, que envolveu
Portugal, projectado pelo arquitecto seguia à frente do “Ibéria-Expresso”. um comboio de mercadorias e da
Frederico George, tinha uma área de Esta circulação embateu com outra Póvoa de Santa Iria, a 23 de Maio de
8.000 m , sendo que cerca de 1.200
2
que se encontrava parada na esta- 1971 que envolveu o comboio rápido
m estavam dedicados à Agricultura
2
ção de Vale de Santarém. n.º 8 (Porto – Lisboa).
e Industria. Entre as várias entida- Existem pelo menos mais duas Durante esta fase, e provavel-
des representadas encontrava-se
a Sorefame, que colocou no seu
espaço a última unidade da série,
a locomotiva 2570, bem como uma
carruagem em inox. Esta locomotiva
ficou conhecida entre os maquinis-
tas como “A Brasileira”.
Nos primeiros anos ocorreram

A 2557 em Santa
Apolónia na
década de 80
© João Marques
Cabine de uma 2550
© Pedro Sabino

23
Cavalos de Ferro

2568 com um
comboio especial
do PTG em Espinho
em 28 de Janeiro de
2007. Este esquema
de pintura marca
os últimos anos de
serviço das 2550
© Pedro Mêda

mente num destes acidentes, ter-se-á perdido a locomo- pela remoção dos logótipos originais da CP e por um
tiva n.º 2555, embora não tenha sido possível confirmar novo esquema de pintura nos cabeçotes. Foi também
a data em concreto nem o que terá sucedido. durante este período que foram sendo substituídos os
faróis inferiores de origem por uns novos de acordo com
as normas UIC.
2ª Fase da Carreira

A série 2600, composta por vinte unidades, permi-


tiu aumentar a velocidade de circulação das composi-
ções para 160 km/h, embora o material rebocado esti-
vesse limitado a uma velocidade máxima de 140 km/h.
O comportamento das locomotivas 2500 e 2550 em
velocidades superiores a 100 km/h era algo incómodo,
sobretudo para os maquinistas, devido às oscilações
dos bogies e da caixa. O aumento do tráfego quer de
passageiros quer de mercadorias obrigou a que as
máquinas mais antigas passassem a estar preferen-
cialmente adstritas às mercadorias ou aos comboios
de passageiros Lisboa – Porto com mais paragens,
bem como aos serviços com outros destinos, assegu-
rando a parte do trajecto efectuada debaixo de cate-
nária. Passou assim a ser frequente a sua presença
na Pampilhosa e no Entroncamento esperando por
serviço. Por esta altura processou-se a alteração ao
esquema de decoração destas máquinas, que passou

Rosto da 2551 na estação das Devesas


© Pedro Mêda

24
Cavalos de Ferro

Nesta fase foram também alguns de mercadorias, ficando a já referida sendo implementado à medida que
os acidentes que ocorreram. Entre série 2600 e a sub-série 2620 (nove as locomotivas eram sujeitas a re-
finais da década de 70 e finais de unidades), entretanto adquirida, com visões. Esta adaptação foi também
80 ter-se-á perdido a locomotiva n.º a totalidade dos serviços de passa- realizada em duas locomotivas da
2554. Destaca-se o descarrilamento geiros. De forma a tentar uniformizar série anterior. Além das modifica-
de 6 de Julho de 1982 no Setil e a a capacidade de reboque do parque, ções referidas, as caixas em aço
colisão entre duas composições na as locomotivas da série 2550 foram inox foram pintadas nos topos e nas
Póvoa de Santa Iria a 5 de Maio de alteradas e dotadas de tomadas que laterais até à zona das portas de cor
1986, que envolveu a locomotiva n.º permitissem a sua circulação em vermelha, ficando com aspecto idên-
2558. múltipla (duas unidades). O projecto tico às 5600. Ficaram assim exclusi-
Foi decorrente de um destes começa a ser desenvolvido nos pri- vamente dedicadas às mercadorias
acontecimentos que a locomotiva meiros anos da década da 90 e foi e ocasionalmente a serviços de pas-
2567 passou a utilizar uma caixa
idêntica à da série 2500, embora
esta tenha sido construída de raiz
nas oficinas do Entroncamento. Em
1990 existem registos desta locomo-
tiva já com o novo visual. Por razões
idênticas a locomotiva 2570 recebeu
também uma nova caixa durante o
ano de 1992/93, tendo no entanto
esta vindo de uma 2500 entretanto
retirada de serviço. De acordo com
a informação disponível, a caixa
terá sido proveniente da locomotiva
2510, entretanto abatida ao serviço
por acidente.
A 2568 lidera um Leixões - Alfarelos, em Pedrouços em
Maio de 2007 © João Cunha
3ª Fase da Carreira

N a década de 90 a CP ad-
quiriu um lote de trinta lo-
comotivas de grande potência e
aptas para uma velocidade de 220
km/h. Estas unidades (série 5600)
seriam adequadas para a tracção
de comboios de passageiros que
tinham entretanto recebido novas
carruagens também em aço inoxidá-
vel mas seguindo o modelo francês
CoRail e aptas para a velocidade de
160 km/h. No entanto, a maior par-
te da frota ficou adstrita a comboios

Um belo par de 2550 desce para Souselas, com um cimenteiro


vazio, Janeiro de 2009 © João Cunha

25
Cavalos de Ferro

Devido a um acidente, a 2552 levou uma caixa igual às das


locomotivas 2500. Aqui a vemos, em múltipla com a 2562,
liderando um comboio de Praias do Sado para Gaia, Espinho 23
de Novembro de 2008
© Pedro Mêda

sageiros, nomeadamente em circu- (também conhecidas como estações A vinda das locomotivas 2600
lações especiais. A electrificação de de concentração), ligando Gaia, para o tráfego de mercadorias, a
novos troços como a Linha da Beira Pampilhosa, Entroncamento, Boba- partir de 2007, acabou por ser um
Alta, Beira Baixa, Vendas Novas e dela e Praias do Sado. Estes com- duplo golpe para a série, pois não
Linha do Sul, permitiram que, já em boios, habitualmente muito pesados, só as retirou dos mais pesados com-
fim de carreira, se aventurassem em acabaram por ser entregues priorita- boios inter-triagens, como acabaram
novas paragens, passando a ser fre- riamente às 2550, que em múltipla por ser introduzidas na fase de maior
quente a sua permanência em locais conseguiam rebocar mais carga do crescimento dos comboios-bloco,
como Vilar Formoso, Praias do Sado que as locomotivas 5600 em unida- que acabou por relegar no passa-
ou Sines. Esta pode ser considerada de simples – e a CP Carga não tinha do recente os anteriores comboios
a fase mais dura da longa vida des- locomotivas suficientes para utilizar “Eixo” para terceiro plano.
tas máquinas, em virtude das cargas as 5600 em múltipla.
que rebocaram, das suas rotações, A série tem por isso as suas últi-
quilómetros percorridos por semana Assim sendo, passaram os últi- mas páginas da carreira fortemente
e horas de funcionamento em con- mos dez anos da sua carreira percor- associadas a uma autêntica passa-
tínuo. rendo as estações de concentração deira rolante de mercadorias que a
da CP Carga, caídas em desuso nos CP Carga criou entre as suas tria-
Nos anos 2000, fruto da instala- últimos anos com o aumento da efi- gens, o que lhe deu uma inesperada
ção de comando múltiplo em toda a ciência e proliferação dos comboios- notoriedade e relevância em fim de
série 2550 e em duas locomotivas -bloco, mais rápidos e indeformáveis carreira.
da série 2500, a série acabou por se ao longo do percurso. Nos últimos dois anos, a série
tornar na figura de proa da CP Car- Acrescentam-se os tráfegos de acabou por ser sucessivamente
ga para os tráfegos mais pesados da cimento entre Souselas e a Trava- afastada dos seus tráfegos típicos.
rede, se excluirmos o transporte de gem, onde está um entreposto da Praticamente até ao fim ficou a res-
carvão Sines – Pego. Isto porque a Cimpor, complementados por per- ponsabilidade dos comboios de ma-
sucessiva reorganização operacio- cursos exigentes em direcção a deira trocados entre Gaia e Praia do
nal da empresa levou à criação e Mangualde e Vilar Formoso. Sado, complementados com tare-
reforço de comboios inter-triagens fas menos nobres e mais discretas

26
Cavalos de Ferro

Desde 2003, as 2550 investiram também na rota de


Sines. Comboio de contentores no Lousal, Maio 2007
© João Cunha
como alguns tráfegos de areia nas 2600, que passaram
linhas do Sul e Beira Alta, a que se para a carga, a par da possível retirá-las dos seus serviços.

somavam tráfegos pontuais à medi- aquisição, em 2006, de uma nova Desta forma, durante o ano de 2009,

da da indisponibilidade ou insuficiên- série de 25 locomotivas específicas com 45 anos de serviço e uma quilo-

cia de locomotivas 2600 e 5600 para para a carga (série 4700) ditaram a metragem média de 4,5 milhões de

todos os comboios a realizar. sentença final a estas máquinas. quilómetros, as doze máquinas ain-

De alguns anos a esta parte que da em funcionamento foram sendo

Os acidentes continuaram a viti- vinha sendo notória a falta de condi- parqueadas no Entroncamento den-

mar esta série. A locomotiva n.º 2552 ções ao nível da condução, embora tro das instalações da EMEF nas li-

viu também a sua caixa ser substi- continuassem a apresentar presta- nhas próximas do edifício a Fernave.

tuída por uma da série 2500. As lo- ções adequadas para o serviço em
comotivas 2559 e 2569 estiveram termos de capacidade de reboque. A locomotiva que registou o maior

envolvidas num acidente em cima Um dos seus outros pontos fracos número de quilómetros percorridos

da Ponte de São João a 15 de Fe- era a ausência de sistema de frena- foi a n.º 2558, com pouco menos de

vereiro de 2004, tendo sido abatidas gem eléctrica com recuperação para 5,5 milhões, seguindo-se a n.º 2551.

ao serviço. Outras ocorrências como a catenária. No entanto, assumiram A que menor distância percorreu, ex-

incêndios vitimaram também várias um papel essencial no transpor- ceptuando as que sofreram aciden-

unidades, como a 2561, 2565, 2556 te de mercadorias fazendo face ao tes muito cedo (como a 2554 e 2555)

e 2558. crescente aumento dos volumes a foi a n.º 2570, com pouco menos de

A passagem das locomotivas 3,8 milhões.


transportar e ao número de circula-
5600 para os serviços de passagei- As locomotivas 2557 e 2551 fo-
ções necessárias. À medida que as
ros por troca com as locomotivas ram das últimas a parar. Poucos dias
4700 foram entrando ao serviço foi
antes da retirada oficial de serviço,

27
Cavalos de Ferro
as locomotivas 2551 e 2512 efec-
tuaram o comboio Praias do Sado
– Gaia, tendo daí sido levadas a re-
boque para o Entroncamento.

Com uma carreira cheia de gran-


des momentos de protagonismo e
tarefas árduas bem sucedidas, mo-
mentos houve em que as fatalidades
lhe bateram à porta, conforme se foi
descrevendo. Nestes momentos fo-
ram bastantes os profissionais que
ficaram feridos ou que faleceram. Ao
percorrer estes momentos menos
bons importa relembrar a memória
destes profissionais. Uma série marcada por muitos
e 2551, foram desmanteladas e incidentes, a 2569 no Entroncamento
em Novembro e 2006 após uma colisão
sucateadas. No que a esta série na ponte São João no Porto
Um final precipitado © Pedro Mêda
diz respeito, a locomotiva pro-
tótipo foi enviada pouco tempo
fomos descrevendo e o potencial va-
antes para os terrenos do Mu-
Depois de longas carreiras as lor patrimonial tanto nacional como
seu Nacional Ferroviário onde ficou
duas séries de “Damas de Ferro” da internacional, poderia ter dado para
parqueada juntamente com a loco-
CP permaneceram no Entroncamen- a preservação de mais algumas má-
motiva Brissonneau & Lotz n.º 1225.
to até Junho de 2012 altura em que, quinas.
Um final pouco meritório para
com excepção das locomotivas 2501
uma série cujas singularidades que

Perfil da 2560 em Espinho, 1 de Novembro de 2008


© Pedro Mêda

28
Cavalos de Ferro

Atrás vimos a 2552 com uma caixa de


uma 2500, aqui a 2570 também recebeu
uma semelhante pelo mesmo motivo,
Pampilhosa em 26 de Abril de 2007
© Pedro Mêda

Bibliografia

>> Fóruns LusoCarris e Portugal


Ferroviário
>> Boletim da CP, vários números
>> Diário de Lisboa, vários números
>> Manual de condução 2550/70
>> Maquetren, año XVII - n.º 173
>> Bastão-Piloto n.º 151, Julho 1993
>> A Guide to Portuguese Railways
Um protótipo confrontamos com o seu passado. >> CP 2500/50 – A hora da retirada
Estando o Comboio Presidencial re- >> Ficha técnica da série 2550
para futuro cuperado e sendo necessário afec- >> Curta cronologia da história ferro-
tar ao Museu Nacional Ferroviário viária em Portugal
A locomotiva protótipo, que foi a uma composição representativa de
pioneira em todos os ensaios da sé- carruagens Sorefame, esta será a NOTA FINAL: Os autores gosta-
rie, é hoje o único exemplar material locomotiva mais indicada para enca- riam de agradecer a todos os pro-
da série que aqui foi sendo descrita. beçar estas composições, sendo ao fissionais das entidades do sector e
Encontra-se, como referido, nas ins- mesmo tempo a face de uma época entusiastas que ajudaram na com-
talações do Museu Nacional Ferro- muito particular da história recente pilação da informação apresentada
viário juntamente com outro material dos caminhos de ferro em Portugal. neste artigo.
que foi entregue na mesma altura. Esperemos que possam ainda ser
Do exposto, parece ser consen- escritos novos capítulos positivos na Apenas uma 2550 escapou à
sual a sua importância na história história destas Damas. demolição. Entroncamento em 2012
ferroviária mundial (primeira locomo- © João Cunha
tiva no mundo com caixa de
aço inoxidável) e na história
da indústria e da tecnologia
nacional. O seu reconheci-
mento como património in-
dustrial afigura-se como o
mínimo exigível face ao de-
sempenho e valor da série
que a 2551 representa.
A sua manutenção em es-
tado de marcha, a sua colo-
cação num lugar de destaque
e a devolução de um esque-
ma que evidencie a totalida-
de da caixa inox parecem ser
requisitos mínimos quando

29
Comboio Destaque

Mercadorias
Ricardo Quinas

Comboios de Contentores
Leixões – Terminal XXI – Leixões
69180/1 e 69810/1

Ricardo Quinas A 4723 em plena descida para Fátima, com o antigo 69182/3 para Sines, Seiça, Julho de 2014

O
tráfego de contentores parte de Leixões próximo das 11h30 É um tráfego bastante regular, mas
entre o Terminal XXI, em e termina a sua viagem em Sines, já ainda assim é frequente registar-se
Sines, e o porto de Lei- após as 20h. Circula às terças, quar- a supressão de uma das ligações
xões, é um dos mais recentes trá- tas e de sexta a domingo, enquanto semanais. Ambas as marchas circu-
fegos da CP Carga. Foi lançado há às segundas, quartas, quintas, sába- lam frequentemente adiantadas.
pouco mais de um ano, em Julho do dos e domingos, circula o comboio
ano passado, logo com três frequên- 69810/1, no canal do antigo com- O trajecto de mais de 500 km,
cias regulares semanais em marcha, boio 69812/3, com partida perto das cumprido maioritariamente duran-
em cada sentido. Assumindo-se 9h do Terminal XXI e chegada pelas te o dia, oferece à partida os mais
como o mais longo serviço nacional 18h. variados cenários para fotografar
de mercadorias, rapidamente se afir- estas marchas. Contudo, a luz limi-
mou como um tráfego de crescente Estas marchas circulam com ta bastante as zonas de eleição. O
importância. A quarta ligação chegou composições habitualmente próxi- comboio nº 69180/1 tem um ho-
em poucos meses e, neste passado mas dos 450 metros, facto que os rário muito favorável em praticamen-
mês de Agosto, criou-se já a quinta permite distinguir facilmente de ou- te toda a Linha do Norte e, durante
frequência semanal entre os dois tros comboios do Terminal XXI, qua- o Verão, destacam-se ainda alguns
maiores portos em Portugal. se sempre significativamente mais sítios entre Canha e o Poceirão. No
curtos. Os contentores são predomi- sentido inverso, para o 69810/1,
Os horários deste serviço en- nantemente de 40 pés, de cor cas- a Linha de Sines é em geral favorá-
contram-se agora mais uniformes, tanha ou amarela na esmagadora vel, mas oferece escassos spots. Só
ao contrário do que se passava até maioria dos casos. o curto trajecto na Linha do Alente-
há pouco tempo. O comboio com o jo, e apenas durante o Verão, volta
número 69180/1, circulando no A tracção encontra-se a cargo das a apresentar as melhores condições
canal do outrora designado 69182/3, 4700 e 5600 em unidade simples. de luz para a fotografia.

30
Comboio Destaque

João Joaquim

O 69810/1 com a 4711 a atravessar a zona de Paraímo, ainda circulando no antigo horário, Novembro de 2013

Partida: 11h32 Partida: 09h06


Chegada: 20h12 Chegada: 18h09
Tempo de percurso: 8h40 Tempo de percurso: 9h03
Distância percorrida: 524,9 km Distância percorrida: 524,9 km
Tipo de marcha: T-100 Tipo de marcha: T-100
Tipo de locomotiva: CP 4700 Tipo de locomotiva: CP 4700
Regime de frequência: 3ª, 4ª, 6ª, sábado, domingo Regime de frequência: 2ª, 4ª, 5ª, sábado, domingo

Ricardo Quinas

O 69180/1 passa pelo resguardo de Fungalvaz cerca de 2 horas antes relativamente ao horário actual, Julho de 2014

31
Modelismo

Mercadorias
transporte de cimento

Época: V/VI
Locomotiva: CP 2550
Vagões: CP Uacs + Transfesa Uacs

Composição de transporte de cimen-


to a granel entre cimenteiras e entre-
postos de embalamento, circulando
carregada entre as cimenteiras e os
entrepostos e vazia no retorno às ci-
menteiras. João Joaquim

Locomotiva CP 2550 Este modelo reproduz uma locomo- menteira de Souselas e o entrepos-
tiva da série CP 2550 ostentando to da Maia com pesados comboios
Modelo Artesanal o esquema de pintura utilizado por de cimento a granel.
Escala: H0 1/87 esta série nos anos finais da sua
carreira até à sua retirada de ser- O modelo conta com iluminação
viço (sensivelmente desde 2000 a através de LEDs de luz branca nos
Modelo fabricado artesanalmente
2009). Neste período esta série já faróis principais e nos de presença
por José Luís Silva e Miguel Afonso.
só realizava serviços de mercado- e de luz vermelha nos faróis de cau-
rias da CP Carga, podendo ser vista da, consoante o sentido da marcha.
Carroçaria fabricada em resina (a
à frente de madeireiros, comboios É, ainda, possível acender/apagar
partir de um molde construído em
siderúrgicos, comboios de balastro os faróis de cauda e os faróis prin-
plasticard e outros materiais diver-
ou areia, entre outros, sendo o seu cipais de forma independente para
sos) e chassis metálico que inclui
serviço mais emblemático as idas e que a iluminação da locomotiva seja
um motor de cinco pólos, tracção a
voltas diárias (dias úteis) entre a ci- o mais realista possível em mar-
todos os eixos e volantes de inércia.
chas isoladas, em manobras ou no
tracção de composições.

Graças ao chassis Roco utilizado,


este é um modelo robusto mecani-
camente, contando com uma deta-
lhada linha de tecto fabricada em
metal.

Tiago Duarte

Mário Mesquita

32
Modelismo

Os comboios de transporte de ci-


mento a granel operados pela CP
Carga ligam as cimenteiras onde
o cimento é produzido aos en-
trepostos de embalamento das
empresas produtoras transpor-
tando cimento em pó que é em-
balado em sacos individuais nos
entrepostos. O cimento é carre-
gado nos vagões tremonhas pelo
seu topo e é descarregado gravi-
ticamente pelas saídas laterais
Tiago Duarte
nas zonas baixas dos vagões.

Vagão CP Uacs “Cimpor” Vagão Transfesa Uacs

Fabricante: Sudexpress Fabricante: Electrotren


Escala: H0 1/87 Escala: H0 1/87
Referências: 5010, 5024, 5027, 5038, 5044, Referências: 5401K, 5405K, 5406K, 5461K, 5462K, 5468K
5050, 5051, 5056, 5061, 5069 (referências a título de exemplo, existem mais disponíveis)

Modelo comercial fabricado Com tampografia de elevada Modelo comercial fabricado reedições. Os modelos lança-
em plástico injectado e comer- qualidade e pintura de acordo em plástico injectado e co- dos desde os anos 90 contam
cializado em dez numerações com o vagão real. mercializado com diversas já com cinemáticas de alon-
distintas. numerações e variantes nas gamento e com caixas NEM
Todos os modelos contam com inscrições. para os engates, ao contrário
Modelo fiel ao protótipo real e cinemática de alongamento e dos modelos mais antigos
com excelente nível de deta- com caixas NEM para os en- Alguns modelos foram co- que estavam equipados com
lhe, incluindo a representação gates. mercializados com envelheci- engates fixos de raquete e de
completa dos sistemas de mento de fábrica. tamanho considerável.
frenagem e de descarga de Foram comercializadas algu-
cimento. Inclui diversas peças mas referências em edição Este é um dos modelos com O nível de detalhe é razoável,
de detalhagem em latão foto- limitada com envelhecimento mais anos de fabrico na Elec- não comprometendo o aspec-
gravado já montadas e algu- artesanal realizado por Carlos trotren, tendo sofrido algumas to geral do vagão.
mas por montar. Micaelo. melhorias ao longo das suas

autor desconhecido

sudexpressmodels.eu

hobbymodelismo.es

33
Modelismo

Mercadorias
transporte de balastro

Época: VI
Locomotiva: CP 5600
Vagões: CP Us

Composição de transporte de balas-


tro utilizado em trabalhos de ma-
nutenção, conservação e/ou cons-
trução de via ou para transporte de
pedra para a indústria transformado-
ra (como por exemplo, a transforma-
João Joaquim
ção em lã de rocha).

Locomotiva CP 5600 desde 1993, quer em serviços de Com tracção em todos os quatro
passageiros, quer em serviços de eixos, motor de cinco pólos com
Fabricante: Mehano mercadorias. volantes de inércia, chassis me-
Referência: 1952 tálico e carroçaria em plástico in-
Escala: H0 1/87 Modelo bastante fiel ao protótipo jectado.
real a nível dimensional.
Modelo comercial fabricado em Com iluminação de luz branca/
plástico injectado e comercializa- Modelo robusto mas com um ní- amarela nos faróis principais e de
do apenas na versão DC. vel de detalhe médio, incluindo a presença e vermelha nos faróis
linha de tecto, e pintura de boa de cauda, consoante o sentido da
Este modelo é referente à série qualidade, respeitando a pintura marcha.
CP 5600 fabricada pela Siemens real excepto no tecto que deveria
e em serviço comercial pela CP ser em cinza escuro. Equipada com socket de oito pi-
nos para fácil digitalização.

O modelo apresentado correspon-


de à locomotiva CP 5630, resul-
tando da alteração artesanal atra-
vés da aplicação de decalques
para alteração da numeração ori-
ginal de fábrica (CP 5607).

Nuno Magalhães
João Joaquim

34
Modelismo

Os comboios de transporte de
balastro operados pela CP nor-
malmente destinam-se a inter-
venções na via por parte de em-
preiteiros, cabendo à CP apenas
o transporte do material, sendo
a utilização e descarga do balas-
tro por parte dos empreiteiros.
Estas composições podem ser
vistas de norte a sul de Portu-
gal, sendo utilizada preferen-
cialmente a tracção eléctrica nos
Nuno Magalhães
troços electrificados.

Vagão CP Us “aumentado” lidade e pintura de acordo com o Estes modelos foram comerciali-
protótipo real. zados pela Sudexpress em quan-
tidade e edições limitadas, sendo
Fabricante: Sudexpress
Este vagão resulta da transforma- o trabalho de alteração realizado
Referência: 805009R
ção artesanal de vagões Us co- por David Nobre.
Escala: H0 1/87 mercializados pela Sudexpress.
A sua transformação consistiu no Os vagões estão equipados com
Modelo comercial fabricado par- aumento da altura das tremonhas caixas NEM para a colocação dos
cialmente em plástico injectado e na repintura e alteração das ins-
engates.
e em metal e comercializado em crições de forma a reproduzirem
conjuntos de dois veículos (um correctamente os vagões Us da
vagão). Em cada vagão é possível a in-
CP após a sua transformação.
clusão de uma carga que simula
Modelo fiel ao protótipo original e Ostenta a numeração 94 970 8 um carregamento de balastro (ou
com excelente nível de detalhe. 050 e está englobado na gama areia), também comercializada
Com tampografia de elevada qua- Authentic da Sudexpress. pela Sudexpress avulso.

Nuno Magalhães

Nuno Magalhães

Nuno Magalhães

35
Spotting

UDD 0457 à entrada do túnel de


Carreira com um IR Valença -
Porto, 2 de Agosto de 2011

Ricardo Ferreira

36
Estação Terminal

No próximo dia 21 de Setembro pelas


15h30 vai-se realizar o “Passeio pela
Rota do Património Ferroviário do Barreiro”,
com início na antiga estação de Barreiro-Mar e
acabando com um lanche de convívio no espa-
ço L existente na antiga estação do Lavradio.
Apareça!

T ambém nos dias 17, 18 e 19 de Ou-


tubro apareça no encontro dedicado
aos módulos “Maquetren”, que terá lugar
no “Salón Municipal - junto al Ayuntamine-
to”, situado na Calle Conde Jordana, nº 2,
en Quintanar de la Sierra.

Train & Breakfast em Portugal


N o próximo dia 22 o "Talgo Train &
Breakfast" regressa a Portugal, para
uma viagem turística que vai passar por
Lisboa, Porto e o Pocinho.
O comboio estará estacionado em
Lisboa Santa Apolónia nos dias 23 e 24 e
no dia 25 parte em direcção ao Alto Douro
Vinhateiro, Património da Humanidade,
para uma viagem até ao Pocinho. A viagem
faz-se durante a noite e a hora de chegada © Gonçalo Ribera
ao Pocinho está prevista para as 08h45 e o
A composição é composta por Talgo VII e
regresso para as 15h40. O comboio pernoita
em Portugal está prevista ser rebocada por
no Porto e só no dia 26, durante a noite,
locomotivas 5600 e 1400.
regressa a Madrid, de onde partiu.

37
A próxima edição é também a
número 50 da Trainspotter

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