Lá dentro da mata, onde só os bichos moram e onde há cavernas escuras, havia
um papagaio chamado Paco. Paco era muito esperto, mas tinha um defeito e tanto: não sabia tratar os outros bichos com respeito. Achava que todos os bichos eram obrigados a aguentar suas grosserias. Quando queria uma coisa, não pedia com educação. Ele nunca dizia por favor, obrigado, desculpa. Ia logo dando ordens, brigando e gritando. Quando conseguia o que queria, não se importava com os outros. Ele nunca sabia como ser simpático, mas nem se importava com isso. Certo dia, Paco voava pela mata quando, avistou um tatu muito educado chamado Kadu. Avistou também um jabuti muito tranquilo chamado Vagaroso. Eles conversavam e paco, muito curioso, desceu até os dois e foi logo gritando: - O que vocês estão falando aí? Kadu, com toda a calam respondeu: - Olá paco! É assim que se fala: “Bom dia, amigos” tudo bem? Posso ficar aqui e conversar com vocês?” Paco ficou uma arara, aliás, ficou um papagaio-arara de tão bravo com a lição dada por Kadu. - Eu falo do jeito que eu quiser! - gritou com sua voz estridente. - Mas nós não somos obrigados a ouvir você falar com tanta falta de educação! Diga ao menos bom dia, boa tarde ou boa noite – respondeu calmamente vagaroso. Paco ficou tão sem graça que nem pensou duas vezes: ZAPT! Voltou para o céu. Mas no fundo, apesar da raiva, ele estava pensando no jeito estupido com que falava com seus amigos. Voando para longe, viu entre as árvores que Zeca amarelo, um mico-leão- dourado, carregava com dificuldade um cesto cheinho de frutas gostosas. - Me da uma fruta dessas ai! Zeca até se assustou com a voz de Paco, que gritara muito alto. No susto, o mico quase derrubou todas as frutas no chão. - Paco! Então é assim que se faz? Aprenda logo que você precisa saber usar as palavras mágicas. Tudo fica mais fácil se você usá-las. Paco ficou tão envergonhado, tão sem jeito, que até se esqueceu que queria comer as frutas. O papagaio foi embora pelo céu quando viu, na beira do rio, Dudu, o tamanduá, colhendo flores brancas que nasciam lá na margem. Paco achou as flores tão bonitas que pensou em pedir uma delas, mas ao descer, lembrou-se da vergonha que já tinha passado. Então, baixou o tom de voz e disse: - Dudu, por favor, você poderia me dar uma dessas rosas para enfeitar o meu ninho? Dudu ficou tão assustado com a educação repentina de Paco que desenrolou sua língua enorme para fora. - Claro meu amigo, tome está aqui! E deu ao papagaio, uma das rosas mais bonitas. Paco pegou a rosa e voou abobalhado para casa. Porém, antes de chegar ao céu, escutou a voz de Dudu dizendo: - Paco, seu papagaio mal-educado! Quando recebemos algo, temos que dizer obrigado! Paco ficou tão aborrecido com mais uma lição de educação que sentiu seu coração apertar e seu rosto queimar de vergonha. Aproximando-se da árvore onde estava seu ninho, viu, um bando de ararinhas-azuis pousadas em um galho. Seguravam pequenos potes que estavam sendo preenchidos com mel pelas abelhas. - Sai da frente, bicharada! Vocês não percebem que estão atrapalhando o meu caminho? – gritou Paco enquanto balançava as asas. As araras não aguentaram a grosseria do amigo e, como quem estivesse ensinando disse: - Paco, não seja tão bruto! Não estamos atrapalhando você, estamos pousadas em um galho público! E, além do mais, não é assim que se diz! Você deveria dizer: com licença! Mal-educado! Gostamos muito de você, mas não somos obrigadas a aguentar suas grosserias. Paco ficou realmente triste. Além da vergonha de ter sido corrigido mais uma vez, ele ouviu a arara falar que gostavam dele. O papagaio ficou tão entristecido que foi embora, quase chorando, para bem longe. Escondeu-se dentre de uma caverna escura e ficou lá até de noite. Então, escutou a voz suave de Caburé, uma sábia coruja que vivia por ali. - Boa-noite, Paco. Você está bem? Posso lhe pedir um favor? Você pode me acompanhar ate a entrada da caverna, por gentileza? Paco se sentia tão sozinho e triste que nem respondeu. Bateu suas asas e acompanhou Caburé até a saída da caverna. Ele levou um baita susto quando viu que lá estava todos: Dudu, Zeca, as araras, as abelhas, Kadu e vagaroso. Assim que viram Paco, todos gritaram em conjunto: - Surpresa! Feliz aniversário! Paco entendeu que naquele dia os bichos estavam combinando a primeira festa de aniversario de sua via. O papagaio ficou tão emocionado que nem pode conter as lagrimas. Disse várias vezes, com a sinceridade que vinha de seu coração: - Obrigado! Obrigado! Obrigado! Daquele dia em diante, Paco nunca mais maltratou ninguém e aprendeu que as palavras são capazes de mostrar o que sentimos e de fazer com que os outros gostem realmente de nós.