Início da vida e início da gravidez: Discussão correlata à do início da gravidez é a do início da
vida humana, ou seja, se coincide ela, ou não, com a data do início da gestação, havendo igualmente polêmica por razões científicas, religiosas e jurídicas. A Constituição garante em seu art. 5º, caput, a “inviolabilidade do direito à vida”, ao passo que o CC, em seu art. 2º, após estatuir que a personalidade civil inicia-se no momento em que há o nascimento com vida, protege os direitos do nascituro (aquele que vai nascer), desde a concepção (do latim conceptio, que siginifica a ação de receber – Dicionário de Latim-Português, 2ª ed.,Porto Editora, 2001, p. 106). Têm-se, assim, diferentes entendimentos: A. A vida inicia-se com a fecundação do óvulo, tornado ovo, e que começa a se desenvolver (de zigoto a blastócito, passando para os estágios embrionário e fetal), ainda que a fecundação ocorra em laboratório. Para essa corrente, há vida humana antes mesmo da gravidez, o que traz repercussões na questão da chamada “pílula do dia seguinte”, que impede que o óvulo fecundado se aninhe no útero da mulher. Quanto ao uso científico e descarte de embriões humanos inviáveis, o Pleno do STF, após audiência pública, decidiu, por maioria de votos, que o art. 5º da Lei de Biossegurança (Lei nº 11.105/2005) que autoriza a pesquisa de células-tronco com embriões inviáveis ou congelados há mais de três anos, é constitucional (ADin 3.510). Note-se, contudo, que com o veloz desenvolvimento científico, já estariam sendo obtidas células-tronco da pele de pessoas adultas pelo cientista JAMES ALEXANDER THOMSON, da Universidade de Wisconsin, EUA, (cf. notícia publicada no jornal The New York Times, de 22.11.2007 – www.nytimes.com/2007/11/22/science/22stem.html) o que, se vier a ser confirmado, poderá encerrar a polêmica utilização de embriões humanos. B. A vida inicia-se com a implantação do ovo na cavidade uterina, aproximadamente entre cinco a sete dias após a fecundação, salvo na hipótese de fecundação in vitro e implantação artificial. A expressão “desde a concepção” utilizada pelo CC equivaleria ao momento em que a mãe concebe (recebe) o óvulo fecundado em seu útero; não haveria, assim, vida humana sem gravidez. C. A vida inicia-se a partir do momento em que o embrião tem batimentos cardíacos (entre 3 a 4 semanas). D. A vida começa a partir do momento em que o feto tem impulsos cerebrais (aproximadamente após oito e nove semanas), estando o cérebro totalmente formado por volta da 10ª semana. Esse entendimento teria como respaldo normativo o fato de a Lei nº 9.434/97, ao tratar do transplante de órgãos, tecidos e partes do corpo humano, estatuir em ser art. 3º, que o óbito se dá com “o diagnóstico de morte encefálica”. E. A vida se inicia com o nascimento do feto vivo, com vida extrauterina autônoma (coincidindo o momento do início da vida com o do início da personalidade civil). Esta última posição encontra-se ultrapassada, mesmo porque o art. 2º do CC tutela os direitos do nascituro.