Você está na página 1de 2

Resenha crítica da obra: “Discurso do Método” de René

Descartes

Primeira Parte.
Segundo Descartes todos os homens são dotados de bom senso, sendo esta uma qualidade universal e
inata ao gênero humano. Todos sabem o que é certo e o que é errado, o problema está nos costumes,
regras e ideologias de cada época que criam uma neblina sobre o bom senso. Assim, Descartes cria um
Método que visa resgatar o uso do bom senso, limpando o pensamento de preconceitos e ideologias e
possibilitando ao indivíduo contemplar a verdade.
O autor sempre acreditou que o estudo o levaria ao conhecimento da verdade, mas decepcionou-se com o
pensamento escolástico de sua época, que segundo ele, nada mais era do que a repetição do pensamento
dos autores antigos. A escolástica pregava que tudo o que havia para ser perguntado e respondido já havia
sido feito por um autor clássico, bastando ao intelectual apenas buscar todas as respostas de suas dúvidas
no passado. Descartes abandona este caminho e põe-se a vagar pela Europa em busca de um
conhecimento realmente verdadeiro no grande livro do mundo.
Segunda Parte.
Segundo Descartes o Método surgiu durante uma nevasca, enquanto repousava em um quarto aquecido,
no espaço de tempo entre uma batalha e outra – havia se alistado no exército de Maurício do Nassau.
De acordo com o autor, a ideia lhe surgiu durante um sonho onde sonhou com duas cidades, uma
extremamente bagunçada construída por muitas mãos e outra planejada construído uma apenas uma
mente. Assim, chegou à conclusão de que a filosofia e as ciências de sua época eram como a primeira
cidade e que seria necessário a demolição de toda filosofia antiga e o surgimento de uma nova, mais
ordenada. Pois, algo construído por apenas uma mão e mais ordenado e belo do que o que é construído
por várias mãos.
Descartes propõe a demolição de toda a filosofia e a reconstrução dela em bases sólidas, sustentadas pelos
seus métodos, que funcionariam como uma espécie de fio condutor.
Seu Método possuí quatro passos:
1º. Não aceitar nada como verdadeiro, sem antes passar pelo crivo da razão.
2º. Dividir o conteúdo em tantas partes quanto possível.
3º. Reorganizar esta divisão partindo do mais simples para o mais complexo.
4º. Refazer estes três passos quantas vezes forem necessárias.
Terceira Parte.
Descartes temia que seu pensamento desencadeia-se uma revolução, assim propôs uma moral provisória,
para que a pessoa pudesse viver uma vida plena enquanto az uso da razão.
1º. Obedecer as leis, costumes, regras e religião de um país. Seja sensato.
2º. Seguir sempre a mesma “direção” na busca pela verdade. Mesmo que seja só para saber que este é o
caminho errado. Andar em linha reta é melhor que andar em círculos.
3º. Mudar primeiro a si mesmo, antes de tentar mudar o mundo.
4º. A moral é uma escolha de vida.
Quarta Parte.
Nesta parte do livro, Descarte tenta provar a existência de Deus e da alma humana, fundamentos de sua
metafísica.
Ele inicia sua busca metafísica com o uso sistemático da dúvida, duvidando de TUDO o que há para ser
duvidado, afim de encontrar algo que fosse inquestionável em sua forma mais profunda. Até mesmo a
realidade é passível de questionamento, uma vez que somos enganados por nossos sentidos. Quem me
garante que o que tomo por realidade não é obra de um demônio enganador?
Ao realizar esse processo de dúvida sistemática, ele não poderia duvidar de que ele duvida, se ele duvida
ele pensa, se ele pensa ele existe. Ou seja, para pensar é necessário primeiro existir. Assim, surge a base
de sua filosofia, o alicerce seguro que ele tanto precisava, o trampolim inicial de onde Descartes partirá
em busca da verdade. Com a preposição “penso, logo existo”, já é possível provar a realidade e de
avançar rumo ao conhecimento último das coisas.
Sabendo que existe, Descarte deve agora partir em busca da prova de que a realidade à sua volta também
existe.
Primeiro ele percebe que não é perfeito, e lhe ocorre que a ideia de perfeição não poderia ser fruto da
imaginação, pois o menor (imperfeito) não cria o maior (perfeito). Assim, ele chega à conclusão de que
esta ideia de perfeição foi implantada em sua mente por um ser perfeito anterior a ele (Deus). Ainda
utilizando-se do mesmo raciocínio, Descartes prova a imortalidade da alma e a possibilidade de sua
existência sem um corpo, neste momento o corpo humano transforma-se apenas em um recipiente – uma
máquina – que transporta a alma por um breve espaço de tempo.
Quinta Parte.
Aqui ele escreve como funciona o coração e a diferença entre as almas de homens a animais.
resumidamente, descartes utiliza de seu método para descrever corpos e vai dos inanimados até o do
homem. Discorre sobre a possibilidade de que os homens, em seu início, eram desprovidos de almas[25],
assim como os animais. Neste contexto, o coração dos homens era composto de fogos sem luz[26]. Por
fim, Descartes reitera a independência da alma em relação ao corpo.
Sexta Parte.
Aqui Descartes finaliza a obra contando o porquê de escrevê-la. Diz ser contrário aos livros, mas que a
brevidade da vida o obriga a escrever para que outras pessoas continuem de onde ele parou.
Descartes finaliza fazendo uma síntese de seu caminho percorrido nas cinco partes anteriores. Discorre
que no início de sua caminhada procurou:

Encontrar em geral os princípios, ou primeiras causas, de tudo quanto existe,


ou pode existir, no mundo, sem nada considerar, para tal efeito, senão Deus
só, que o criou, nem tirá-las de outra parte, exceto de certas sementes de
verdades que existem naturalmente em nossas almas.

Depois, o filósofo entoa que examinou:

Quais os primeiros e os mais ordinários efeitos que se podem deduzir dessas


causas: e parece-me que, por aí, encontrei céus, astros, uma terra, e mesmo,
sobre a terra, água, ar, fogo, minerais e algumas outras dessas coisas que são
as mais comuns de todas e as mais simples, e por conseguinte as mais fáceis
de conhecer.

E seguidamente, Descartes diz que quando:

Quis descer às que eram mais particulares, apresentaram-se-me tão diversas,


que não acreditei que fosse possível ao espírito humano distinguir as formas
ou espécies de corpos que existem sobre a terra, de uma infinidade de outras
que poderiam nela existir, se fosse a vontade de Deus aí colocá-las, nem, por
consequência, torná-las de nosso uso, a não ser que se vá ao encontro das
causas pelos efeitos e que se recorda a muitas experiências particulares[29].

Assim, Descartes finalizaria o seu Discurso do Método, obra que abriria caminho para outras pesquisas e
outras publicações. Com esta obra, ele mudaria conceitos filosóficos, colocando a subjetividade como
conhecimento do mundo e distinguindo o corpo da alma, ambos sacramentados em tempos passados. Na
verdade, sua intuição seria criar uma nova ciência, ciência esta com ênfase particular na experimentação.
Desejava, sobretudo que estes estudos fossem usados em prol da humanidade, melhorando-a naquilo que
fosse possível.

Referências.
DESCARTES, René. Discurso do Método. Porto Alegre: L&PM, 2009.

Você também pode gostar