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8 CIDADES Segunda-feira, 6 de setembro de 2010 Jornal de Brasília

APADRINHAMENTO

Eles só precisam de afeto MINERVINO JÚNIOR

l Projeto da
ONG Aconchego
busca apoio para
39 crianças em
abrigos no DF
G Marina Marquez
marina.marquez@jornaldebrasilia.com.br

os últimos anos, o número de

N crianças e adolescentes que


ganharam uma nova família
por meio da adoção diminuiu no DF.
Um dos principais motivos é a re-
jeição a meninos e meninas com
idade avançada, já que 95% das
famílias aptas a adotar no DF pre-
ferem crianças com menos de três
anos. Na contramão desse perfil,
mais da metade dos menores dis-
poníveis para adoção têm mais de 12
anos. Distantes de uma família, mui-
tas dessas crianças vão completar 18
anos e terão de deixar os abrigos sem
nenhuma perspectiva futura. Para
tentar mudar essa realidade, a ONG
Aconchego, em parceria com a Vara
da Infância e Juventude de Brasília,
criou o apadrinhamento afetivo. Natalia Pedroso é madrinha de Pedro há dois anos: "Hoje ele faz parte da minha vida, fins de semana, porta-retratos, da minha família"
O projeto garante não só apoio e
segurança para planejar o futuro dos
adolescentes e jovens que não fazem
parte do perfil de adoção no DF, mas SAIBA +
alguém para conversar, dividir os Por ser um convênio com a ONG Aconchego e o juiz, criança para passear fora do A próxima palestra do
problemas e vitórias, um laço de 1ª Vara da Infância e que é anexado ao processo abrigo, durante os feriados e Projeto Aconchego ocorre
carinho e afeto. Juventude, quando decide da criança. fins de semana, e até mesmo no dia 25 de setembro, às
Atualmente, 39 crianças estão à pelo apadrinhamento, a para viagens de férias, com 9h, no auditório da
espera de um padrinho ou ma- pessoa assina um Termo de A partir de então, aos poucos, autorização do juiz da Vara da Universidade Paulista
drinha nos abrigos do DF. São Responsabilidade com a os padrinhos podem levar a Infância. (Unip), na 913 Sul.
garotos e garotas com idade a
partir de nove anos, cadastradas
para adoção e selecionadas pela

Decisão exige responsabilidade


Vara da Infância e Juventude por
não terem muita perspectiva de ser
colocadas em uma nova família.
"Essas crianças precisam de uma
atenção individualizada, um olhar
de afeto e carinho diferenciado. E o No abrigo desde bem pequeno, bilidade e é para a vida toda. Foi moverá, no próximo dia 25, uma preparação da ONG é para que o
apadrinhamento é exatamente es- Pedro (nome fictício), de 12 anos, difícil, nos testamos muito, mas co- palestra. Neste dia, voluntários da momento de encontro dos padrinhos
se olhar. Não é colaboração fi- ganhou, há dois anos, uma ma- mo qualquer relação, nem tudo é ONG e da Vara da Infância e da com os afilhados seja espontâneo.
nanceira, não é caridade, mas uma drinha. "Soube do apadrinhamento perfeito e, depois que nos conhe- Juventude vão ajudar as pessoas a "Fazemos uma dinâmica durante to-
relação afetiva, pensando na crian- por uma reportagem e me interessei cemos de verdade, encontramos o refletir sobre o que é o apadrinha- da uma tarde. Com lanche, brin-
ça e suas necessidades afetivas", pelo projeto. Mas quando pensei em equilíbrio. Quando saímos, nos di- mento, qual a relação que se deve ter cadeiras e, automaticamente, no fim
explica a coordenadora do apa- ser madrinha, naquela época, não vertimos muito", diz. com o abrigo, a criança, o perfil dos do dia a empatia entre eles acaba
drinhamento afetivo no Projeto tinha ideia de como seria. E hoje ele Uma relação de responsabilida- pequenos e os limites e conflitos formando padrinhos e afilhados".
Aconchego, Mônica Galvão. faz parte da minha vida, dos meus de para a vida toda. É assim que a entre ser padrinho e adotar. Para a supervisora da seção de
De acordo com ela, a função do fins de semana, dos meus porta-re- coordenadora Mônica Galvão con- "Muitas pessoas chegam até nós Fiscalização, Orientação e Acompa-
padrinho e madrinha é a de também tratos, da minha família. Penso nele ceitua o projeto. "Algumas pessoas com um ideal muito diferente da nhamento de Entidades da 1ª Vara
cuidar da criança, ser uma pessoa de para as férias, para as brincadeiras, acreditam que pode ser uma decisão realidade. Por isso, a palestra e, logo da Infância, Cristiane Brandão, é
confiança para criar momentos de planos, tudo", conta a assistente so- para quando tiver tempo sobrando. depois, a capacitação, são tão im- importante estimular projetos assim
lazer, fazer uma ponte com a so- cial Natalia Pedroso, 27 anos. Mas não. A partir do momento que portantes para passar com clareza o para as crianças. "O padrinho pode
ciedade fora do abrigo, ajudar nos Natalia participou de um dos se decide apadrinhar uma criança, o papel dos padrinhos", justifica. Al- ajudar na escola, indo a uma reunião
planos do futuro e, principalmente, primeiros cursos de capacitação do compromisso de visitas é de, pelo gumas semanas após a palestra, as escolar, por exemplo. É uma atitude
ajudar na transição da maioridade. projeto de apadrinhamento. "No co- menos, duas vezes no mês", explica. pessoas que realmente se interes- pequena, mas que ajuda na cons-
"O padrinho é, para a criança, uma meço, a visão que temos é de ro- sarem passam pela capacitação. São trução de um vínculo afetivo para a
referência afetiva, alguém que ajude mantismo mesmo. Mas o curso e a PREPARAÇÃO 12 horas de curso que pretendem criança que, normalmente, não tem
a mostrar para ela o mundo fora do realidade logo mostram que é uma Para refletir sobre o projeto e os preparar tanto os futuros padrinhos os olhos de alguém voltados ex-
abrigo", revela. decisão que exige muita responsa- compromissos, o Aconchego pro- quanto as crianças e abrigos. Toda a clusivamente para ela", afirma.

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