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a ~ ATUALIDADES Estado Istimico, celabramvitéria ‘em Ragga, na ‘Sirta;em juno 40204 OP a Creech hel rc COSC re RE oe Ret muse APRESENTACAO UM PLANO PARA OS SEUS ESTUDOS Este GUIA DO ESTUDANTE ATUALIDADES oferece uma ajuda e tanto para as provas, mas é claro que um timico guia nfo abrange toda a preparacio necesséria para o Eneme os demais vestibulares. E por isso que o GUIA DO ESTUDANTE tem uma série de publicagdes que, juntas, fornecem um material completo para um étimo plano de estudos. O roteiro a seguir é uma sugestio de como vocé pode tirar melhor proveito de nossos guias, seguindo uma trilha segura para o sucesso nas provas. ea HEI DECIDA 0 QUE VAI PRESTAR FEES FESO] 0 primero passo para todo vestibulando éescalher com dareza a 2 carrera eauniversidade onde pretendeextudar. Cnhecendo ograu T de dficuldade do process seletivo eas matésias que tém peso maior na hora da prova fica bem mas fal planejar os seus estudos para abter bons resultados. (© como o GE PODEAsUDAR voce O. traz todas os cursos superiores existentes no Brasil, explica em detalhes as carac ‘teristicas de mais de 260 carrelras ealnda Indica as institulc6es que coferecem os cursos de melhor qualidade, de acordo com o ranking, de estrelas do GUIADOESTUDANTEe com aavallacao oficial do MEC. ED REVISE AS MATERIAS-CHAVE Para comeraros estudos,nnada melhor do que revisaros pontos mals Importantes das principals matérlas do Ensino Médlo. Vocé pode re- passar todas as matérlasou focar apenas em algumas delas.Além de rever 0s contaiidos é fundamental fazer muito exercico parapraticar. eat (© cowo 0 ce PoDE AJUDAR Voct Nés produzimos todos os anos um gulapara cada matéra dotnsino Medio: GEMATEMATICA Historia, Geografa, ortuguds, Reda;a0, Blologla, Quimica oFisica Todos retinem os tomas quomalscaom nas proves, trazom multas questot de vestbulares paa fazer tm uma inguagom fc do entender, permitinde que voc estude sozinho. Ey MANTENHA-SE ATUALIZADO (0 pass final écontinuarestudando atualidades, pols as provasexigem alunos cada vez mas antenados com os prinipais fatosqueacorrem ‘no Brasile no mundo. Além disso, é preciso conhecer em detalhes 0 seu processo seletivo - oEnem, por exemplo,é bem diferente dos demais vestibulares. ~ Ble @ (© como 0 cE PODEAsUDAR VocE 0 GEENEM eo GE Fuvestsfover- dadeiros “manuals de nstrugdo" que mantém vocéatualizad sobre todos os sepredosdos dolsmaiores vestibulares do pas, Também no di para perder aprixima edgio doGE Atualidades, queserélancada em agosto, trazendo novos ftos do notcérfo que ainda podem cair nas provas dos processos seltivs do final do ano. FOTO: STRINGER/REUTERS orVR DA omer Veja quando sio langadas asnossas publicagses Mes PUBLICACAO Janeiro Fevereiro GEHISTORIA Margo GGEATUALIDADES1 GE GEOGRAFIA pe GE QUIMICA a GePoRTUGUES GEBIOLOGIA Junho ene GE FUEST sutho GEREDAGAO Agosto GGEATUALIDADES2 GE MATEMATICA se GEFISICA outubro GE PROFISSOES Novembro Dezembro 0 gulas ficam um ano nas bancas - ‘com excegio do ATUALIDADES, que & semestral. Voce pode compré-los também nas lojas on-line das livrarlas Saraiva eculturz FALE COM AGENTE: ‘Av. das Nacbes Unidas, 7221, 18° andar, (CEP 05425-802, Séo Paulo/SP, ou email para: loestudante.abril@atleitor.com.br CARTA AO LEITOR campo de refugiados de Mafraq fica naJor- A MENIN A dania, perto da fronteira com a Siria. La vvivem de forma preciria quase 80 milsirios, que escaparam da brutal guerra que assola E 0 MUNDO co pais desde 2011. Foi o que fez a familia de Zubaida Faisal, agarota de 10 anos que ilustra esta pagina. Segundo ofotégrafo Muhammed Muheisen, que registrou imagem, criangas como Zubaida sio as mais resistentes is adversidades - elas consolam os adultos e encontram alegria nos pequenos prazeres da vida, como em uma brincadeira de pular corda, Apesar de tudo, a vida tem de seguir em Mafraq. Ahistoria de Zubaida ¢ apenas uma entre milhdes, e se transformaria em uma mera estatistica se nfo fossem aslentese orelato de Muheisen. Em meio a caética profusio de noticias que nos chegam diariamente, voz e a imagem de Zubaida nos ajudam a ter uma dimensio mais clara sobre como vvivem os refugiados e por que o drama deles é considerado a maior crise humanitéria da atualidade. Quando preparamos esta edigao, temos duas misses: a primeira é selecionar, em meio a todas as noticias que nos chegam, quais so os temas mais representativos da situagio atual do Brasil e do mundo ~ e, consequentemente, que podem ser cobrados nos principais vestibulares. Nossa segunda missio é tomar todo este contetido compreensivel. Para facilitar 0 entendimento, as reportagens adotam diversos recursos de texto eimagem, como infograficos, fotos, mapas, resumos esimulados. “Esperamos que a partir dessa nossa proposta vocé tenha um farto material para seus estudos e amplie sua percepgio sobre os prineipais desafios globais. E, para comegar a entender melhor a situagio deste nosso imenso mundo, é preciso olhar um pouco mais para pessoas como a pequena Zubaida. © Fabio Sasaki, editor — fabio.sasaki@abril.com.br Nota da redagact esta edicfo fol fechada em 10 de marco de2016 4 GEATUALDADES| 1 semeste 016 PAUSANA CRISE ‘Agarotasria ‘Zubaida Faisal pula corda com seus colegas em um campo derefuglados na Jordania SUMARIO Ua Ue ea REPO ceo d ESTANTE ‘8 Dicas culturals Sugestdes de mes, hstériasem quadrinhos @ {otografias que complementam reportagens desta edc PONTO DEVISTA 16 Retrospectiva/Perspectiva Veja o que os principals semanérios destacaram em seu balanco de 2015 eo que se espera para 2016 418 Crise politica Como os Jornalsnoticlaramo vazamento de deninclas do senador Delcdlo de Amaral(PT) contrao governo DESTRINCHANDO 20 Olimpiadas no Brasil Veja com graficos e mapas oque (05 Jogos olimpicos tm aver com histéria, geopolitica, desenvolvimento socioeconémico eurbanizaco costes ino 26 Aameaga terorista 0 avancodo eatremismojinadista desaflaa seguranca Internacional edesestablzao Oriente Médlo 28 Por dentro do Estado Islamlco Como grupoconqulsoutenteios ‘esetomaua organizacéo etemistamals poderesa do mundo 32, Aguerraclvil devastaa SirlaEntenda oconfto, wda como le {ortaleceu 0 Estado [slémico ede queforma interfere naintrincada .geopotica do Ortente Medio 38 Coblga internacional acirra conftos Ohistrcoda desastrosa Ingerenca oldentalno Oriente Médioe como Iso afeta as relacbes entre os pases da regjzo 42. Almensidée do mundo mugulmano Ahistria da religo Bh vrvcom 46 UnldoEuropela0 drama humane e politico dos mithares de ‘efuglados que chegam ao Velho Continente 54 Rissa poténcla inter vim na Guerra da Siriae volta ase contrapor miltarmente ao Ocidente 58 Turqula Crescea tensdo politica rligjosa no pals 662 Guerra Civil Espanhola Ha 80 anos comeravao sangyento conto que antecpouall Guerra Mundiat 664 América Latina Elettores mudam os rumos poltcas na Argentina ‘ena Venezuela, parcels do Brasil no continente 70. Africa O continent quedependedas exportactes de matérlas- primase ¢afetado pela queda Intemacional dos precos 76 ArtleoO degelo provocado pelo aquecimento global abre novas rotas mercantesefentes de extragio de petréleo e gisdo subsolo Be 78 Impeachment Entenda como éesse processo legal que ameaca.o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff ‘84 Corrupio no Congresso Deputados esenadores sob pressio ‘88. Ditadura militar Manifestantes pedem a votta dos miltares ‘92 ReformapoliticaO Supremo Tribunal Federal (STF) probe a doagso ‘deempresa prvadas aos partidos nas campanhaseleltrals ‘94 Crise econéemica Aluste fiscal do governotenta equllibrar as contas, mas provoca recessdo edesemprego 1100 Plano ¢ruzado 0 fracasso do primeto grande plano para tentar frearainftagdocongelando os pres. 102 Agropecuéria A exportacdo de alimentos fortaleceo agronegdcio 1108 Matriz de energla O impacto da queda internacional dos preces do petro na economlados pases ede empresas comoa Petrobras 4114 Globallzaglo EUA anunclam o Transpactco,o malar acordo global delwrecomérclojé.criado ; 4120 Genero Avancos elutas das mulheres por seus direltos 126 UrbantzagSo Os desafioscrescantes das grandes metropoles 132 DemograflaA China cide lexblizara politica defiho tno 4136 Papa Francisco Um lider progressistae avo nadiplomacla 140 DH O desenvolmento humano avanca no Brasil 1144 Aquecimento global Entenda o acordo detodos os pases na COP21, quesubstitulra o Protocolo deKyoto 150 Desastre amblental Asquestées evantadase as consequenclas do romplmento da barragem da mineradora Samarco em Marlana(MG) 4154 Cheobyl Hé 30 anos ocorta o maloracidente nuclear da historia 4156 Doengas 0 virus ka ea mlcocefala assustam oBrasileo mundo 4162. Marte ANasa encontra guano planetavermelho SIMULADO. 1164 Teste 37 questdes dos vestbulares sobre temas desta edic#o PENSADORES 4178 Zygmunt Bauman 0 soci6logo quediscute a socledade Uquida ESTANTE a RUD oe Da oP ae aed Sem perder aternura ‘Samba aborda a situagéo dos migrantes na Franca com leveza e descontra¢io possivel abordar um tema tio grave quanto a situagio dos imigrantes na Europade forma leve e descontraida? O filme francés ‘Samba mostra que sim. Dirigido por Oliver Nakache e Eric Toledano, os mesmos da comédia de sucesso Into- cdveis,a obra tem a rara qualidade de equilibrar drama e comédia - além de generosas doses de romance - sem desviar ofoco do tema principal: avida de um migrante na Franca. ( protagonistado filme é Samba Cis- sé,um senegalés que mora ilegalmente em Paris ha dez anos. Ele sobrevive de pequenos bicos e subempregos, en- quanto tenta obter um visto de per- manéncia legal no pais. Ao ser preso mws0 pelo servigo migratério,Sambarecebe ‘a ajuda de uma ONG que auxilia os imigrantes ilegais na Franga, Uma das voluntarias Alice, uma executiva afas- tada do trabalho por estresse. Quando Samba sai da prisio, recebe a ordem para deixar o pais, mas ele decide ficar na Franca e é ajudado por Alice para permanecer em Paris. ‘Aoacompanhar as agrurasdeSamba na capital francesa, testemunhamos com um olhar privilegiado as compli- cadassituagdes as quais os imigrantes ilegais so submetidos para conseguir permanecer -esobreviver-na Europa. Samba vive de favor com um tio, que conseguiu o principal objeto de desejo dos imigrantes—um visto deresidéncia permanente. Sem isso, Samba se vira para conseguir documentos falsos e po- der se candidatar a alguma vaga de tra- balho. Emesmo quando arruma alguns bicos, sio trabalhos precarios, que vio desde separador dellixo alimpador de janelas nos arranha-céus parisienses. 0 filme também nao deixa de ex- plorar o sentimento de exclusio pelo qual passam os imigrantesnas grandes cidades europeias Ao seguir os passos de Samba pelas ruas parisienses acom- panhamos a sua tensio ao dobrar cada esquinadiante da possibilidade de ser ego novamente pela policia. Ja no vagio do metré, Samba é alvo de olha- res desconfiados dos franceses, o que denunciaalgumas atitudes xen6fobas, ainda que veladas. No entanto, na maior parte do filme, essa carga dramatica passa por um fil- ‘ro cémico e romantico que suaviza a tensiovvividapelo protagonista. Emboa ‘medida, o mérito dessa férmula est na formacomo oroteiroconduz ainteragio de Samba com outros personagens. AS situagdes compartilhadas entre Sam- bae Wilson, um imigrante “brasileiro”, rendemboasrisadas Jaa atragio miitua entre o protagonistae Alice,avoluntéria da ONG, confere ao filme uma leveza, ainda que abuse um pouco do cliché imigrantes na Europa e da dificil inte- grado em uma sociedad pouco afeita A aceitagao de estrangeiros vindos da Africa,o filmetoca em uma ferida mui- to exposta no continente. Pelo tema, bastante atual,o filme jaseria umaboa dica para quemvai prestar o vestibular. ‘Ao conseguir fazer acritica social sem soar excessivamente sisudo ou panfle- tério além da conta, o filme torna-se ainda mais atraente. SAMBA Dirego| Olver Nakache® Eric Toledano Ano 2014 Arealidade nua e crua dos refugiados Em Dheepan ~ O Refiigio, um homem, uma mulher e uma crianca do Sri Lanka tentam se adaptar A vida na Franca vvida dos refugiados na Euro- A pavem sendo explorada com muita frequéncia pela cine- ‘matografia francesa nos iltimos anos. ‘Além de Samba, outro filme recente que aborda o tema com bastante pro- priedade é Dheepan - 0 Refigio. Mas se o primero aposta em uma narrativa mais leve e descontraida, o segundo prefere uma dramatizacéo mais nuae crua da situagio dos migrantes. protagonista do filme é Dheepan, um. membro do grupo Tigres de Libertagio daPitria Tamil, umamilicia doSri Lanka que,entre 1983 e 2009, enfrentouas tro- ppas do governoem umaluta separatista no norte ¢ no leste do pais. Quando a guerra termina com a derrota de seu mca grupo, ele se une a uma mulher desco- nhecida e uma crianga érfa, fingindo constituir uma familia para tentar um visto de permanéncia na Franca. ‘Ao chegar em Paris, os trés passam a viver juntos, como uma verdadeira familia. Dheepan consegue umtrabalho como zelador de um conjuntohhabitacio- nal no subiirbio da capital francesa. 0 condominioé barra-pesada, dominado porgangues de trafico de drogas. A mu- Ther passa acuidar de um idoso doente, onde também vive um traficante que acaba de sair da prio, Enquanto isso, a garotatenta se integrar entre os colegas na escolae aprender 0 novo idioma. ‘Atrama se desenvolve em torno desse falso micleo familiar. A tentativa dos dois adultos que mal se conhecem em se adaptar a uma dificil convivéncia e tentar ajudar na criagio de uma garota 6rfi confere um desafio a mais na vida desses refugiados. Além disso, o fato de 0s trés viverem na periferia em meio & ‘violenta disputa entre traficantes torna a situagao ainda mais extrema. ‘Vencedor da Palma de Ourono Festival de Cannes de 2015, Dheepan tem como principal mérito equilibraradelicadeza do drama familiar dessesrefugiadoscom acrueza daguerraentreas gangues. Sob um registro que muitas vezes beira o documental, o filme é um étimo com- plemento ao extrovertido Samba como estudo da crise migratéria na Europa. DHEEPAN - 0 REFUGIO Direglo| Jacques Audiard Ano|2015 QUADRINHOS Aditadura em tracos criticos Duas obras com fatos e horrores da ditadura militar, em charges e quadrinhos historias reais de estudantes, A militantes politicos, guerri- Ihefros e Iideres rurais e in- digenas presos, torturados e mortos por agentes e militares da ditadura (1964-1985) ganham no livro Notas de um Tempo Silenciado umanarrativa jornalistica em quadrinhos, com texto e desenhos de Robson Vilalba. ‘Sio13 histérias curtas, reconstruidas apésum extenso trabalho do autor em entrevistas com sobreviventes, amigos e familiares das vitimas, autores de biografias, historiadores e pesquisas para conseguir, inclusive, fotos para desenhos realistas dessas pessoas. Asprimeiras oito histérias reportadas por Vilalba foram originalmente publi- cadasnna série Pitria Armada Brasil, no jornal Gazeta do Povo, de Curitiba. Elas receberam o prémio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos 2014, organizado pelo Sindicato dos Jorna- listas do Estado de Sto Paulo. Paraeste livro, porém,o autor acres centou outras cinco produgSes, com destaque para 0 avango agressivo dos militares sobre as terras indigenas, a criagao de um presidio para indigenas e de uma guarda rural indigena pela Fundagio Nacional do indio (Funai) treinada para torturar lideres dos in- dios. Um capitulo final Salvadores da Patria) resgata o histérico dos golpes como uma heranca maldita dos mili- tares, iniciada com a Proclamago da Reptiblica até chegar ao golpe de 1964, e sua influéncia do positivismo. 110 ceaTuauoanes|rsemesve 016 ESTANTE rr Aobra éenriquecida com uma repor- tagem sobre a eclosio do movimento negro Black Music nos anos de 1970 no Rio de Janeiro ea repressio a alguns de seus expoentes, além de intimeros de- poimentos sobre cada histéria revelada, entre os quais o da psiquiatra Maria Rita Kehl, que integrou a Comissio Nacional da Verdade. ‘Jao arquiteto e artista plistico Luiz Gé aborda o tema com bastante ironia emseu livro Ah, Como Era Boa a Di- ‘tadura. A obratraz charges publicadas pelo no jornal Fotha de S.Paulo a partir de 1981, sobre fatos politicos, econémi- cose sociais dotiltimo governo militar, odo general Joao Baptista de Oliveira Figueiredo. Luiz.Gé explora fatos como "A CATARATA CEMITERIO QURAN aexplosio da divida externa, aderroca- da econdmica ea chamada estagflagio (estagnagao econémica simultinea a desemprego com taxas de inflacio es- tratosféricas) — resultado da submiss&i dos militares a imposigao de politicas recessivasppelo Fundo Monetario Inter- nacional (FMI) -, as armagies politicas ‘que impediram a volta de eleigdes dire- tas para a Presidéncia ja em 1985 e os personagens politicos daqueles anos. Textos introdutdrios no livro, e na abertura de cada ano, situam o leitor mais jovem sobre fatos e aspectos do periodo para ajudar a entender aironia das charges. Além de um texto conclu- sivo, Luiz Gé agrega uma galeria dos principais personagens, em que revela seu talento para fazer caricaturas. NOTAS DE UM TEMPO SILENCIADO ‘Autor Robson Vilalba Editora BesouroBox, 103 piginas ‘AH, COMO ERABOAA DITADURA ‘Autor Luiz GE Editors Quodrinhos aia, (Companhia das Letras, 288 pias. QUADRINHOS O polémico Iraem foco HQs belas e emocionantes abordam a opressio sofrida pelo povo iraniano Ir éum dos protagonistas do Oo cenério global, sobretudodes- de a Revolugao Islimica de 1979, Sua importincia econémica vem do fato de que possui uma das maiores reservas mundiais de petréleo. Politica- mente,opafs éum dos lideres do mun- do islamico, em tenso com os Estados Unidos e os paises ocidentais ha mais de trés décadas. Em anos recentes, vive emconstantetensio interna externa. Esse cendrio convulsionado 0 pano de fundo de duas excelentes historias, em quadrinhos feitas poriranianos que ganharam destaque mundial. Persépolis, aautobiografia em qua- drinhos de Marjane Satrapi,narra ahis- t6ria do paisdosanos 1970 até adécada de 1990, passando pela Revolucio de 1979 — que derrubou a ditadura pré- BUA do xé Reza Pahlevi e implantou aatual repiiblica islamica. Nanarrati- va de Satrapi, publicada no Brasil em 2007, 6 como seo povo iraniano tivesse pulado da frigideira para o fogo. Marjane tinha 10 anos quando se vviu obrigadaa usar véu eaestudarem uma sala de aula sé de meninas. Erao resultado do Estado religioso erguido no pais, com sua atmosfera sufocante © autoritéria. Persépolis aborda, com hu- mor leve eirénico,o diaa dia opressivo dos iranianos, convivendo com tortu- ras, assassinatos, pressio nasescolase ‘a guerra contra o Iraque (1980-1988). (O impacto da obra Ihe conferiu re~ pereussio mundial e muitas premia- es. Persépolis foi escolhida amelhor 112 ceaTuauanes|rsemesve 2016 ESTANTE EU NAO SABIA DiREITO 0 QUE PENSAR DO | ERA MUITO RELIGIOSA, MAS, JUNTOS, EU E MEUS PAIS ERAMOS BEM MODERNOS E AVANCABOS, histéria em quadrinhos de 2004 na Feira de Frankfurt. Sua versio cine- matogréfica venceu o prémio do no Festival de Cannes de 2007. Mais recentemente, osleitoresbrasi- leiros puderam ver 0 Paraiso de Zahra, publicado em 2011, cujos autores sio anénimos, com pseudénimos de Amir e Khalil. Trata-se de um retrato can- dente da sociedade iraniana, em um ‘momento recente:o Movimento Verde, em 2009, em que milhares de pesso- as tomaram a Praca da Liberdade, em Teerd, acusando de fraude as eleicdes que reconduziram o entao presidente ‘Mahmoud Ahmadinejad ao cargo. Mais, de70 pessoas foram mortas pela policia 4 mil foram presas. Ahhistériacomeca como desapareci- mento do estudante Mehdi Alavi, de19 anos, nos protestos. Suamie, Zahra, € seu irméo, Hassan, vio a pragae ficam sabendo da violenta repressio. Come- camentioumaangustiante busca, que se estende por semanas, pelos labirin- tos de hospitais, reparticées piiblicas e prisdes — em busca de Mehdi. £ uma -viagem pelas entranhas do regime che- fiado pelos aiatolés. © Paraiso de Zahra é uma obra em quadrinhos prodigiosa, magnifica mente desenhada, que fala muito da realidade do Ira, complementando a histéria de turbuléncias e instabilida- des retratada em Persépolis. Juntas, as publicagées atuam como registro daluta permanente pela liberdade em um pais marcado pela opresséo. PERSEPOLIS ‘AUTOR Marjane Satrapi EDITORA Companhia das Letras, 352 pginas © PARAISO DE ZAHRA ‘NUTOR Aric & Khali EDITORA Leya,272piginas TAY m 2015, mais de 1 milhio de migrantes e refugiados che- garam & Europa cruzando as Aguas do Mar Mediterraneo. Outros 35 mil nfo conseguiram fazer a travessia e morreram afogados na tentativa de chegar ao Velho Continente. Mais da metade dos migrantes vém da Siria, fugindo da brutal guerra civil que de- vasta o pais desde 2011. Mas esses mimeros, ainda que im- portantes alarmantes, sio incapazes, de revelar 0 drama particular dessas pessoas que deixam tudo para tras © se arriscam em viagens perigosas para tentar reconstruir suas vidas. Em con- traposico, asimagens, muito mais que indicadores e estatisticas, conseguem 14 ceaTuauoanes| seme 2016 ESTANTE Imagens que revelam o lado humano dos problemas globais Fotos premiadas no World Press Photo de 2016 mostram o sofrimento de quem é obrigado a fugir de guerras e perseguic6es revelar o lado humano da crise dos refugiados e tentamnos aproximar da dura realidade vivida por eles. ‘Desde 1955, a Fundacdo World Press Photo (WPP) realiza uma premiacio internacional para escolher as melho- res fotos jornalisticas do ano, Aimagem que vocé vé acima éagrande vencedora deste ano na premiagio da WPP. Ela ‘mostra um homem passando um bebé para outra pessoa por baixo de uma cerca de arame farpado. ‘Aimagem foi registrada pelo fotdgra- fo australiano Warren Richardson no dia 28 de agosto de 2015, na fronteira entre a Sérvia e a Hungria. Os dois pai- ses fazem parte da rota que milhares de migrantes vindos do Oriente Mé- dio tentaram cruzar, cujo destino final ‘era aAlemanha. Segundo Richardson, ‘que acampou com os refugiados, essas pessoas tentavam chegar & Hungria antes que a cerca de seguranca esti- vesse concluida. O que mais impressiona na foto é a forga que a imagem em preto e bran- co transmite, mesmo com poucos ele~ mentos, Norosto do homem é possivel perceber a tensio ea ansiedade do mo- ‘mento, 0 bebé nos remete ao sofrimento das criancas que sio obrigadas adeixar seuslares sem entender direito por qué. Por fim, a cerca de arame farpado tem © poder de simbolizar as restrigdes a ‘que os refugiados so submetidos e as bbarreiras que precisam superar. Imagens de desespero ‘Aimigragioé umassunto que tem apa- recido com frequéncianos vestibulares, ealeituraeaintepretagio de fotos como avencedoradoconcurso da WP podem ajudarbastanteno estudo de atualidades. Na premiacao de 2016, tiveram bas- tante destaque as imagens da guerra civil na Siria e a fuga dos refugiados das reas de conflito. A foto acima, do fotdgrafo sitio Abd Doumany, mostra ‘uma garota ferida em um bombardeio realizado pelo governo da Siria. Ao lado, a imagem captada pelo russo Sergey Ponomarey revela a situacio dos mi- grantes quese amontoam em pequenas embarcagées para chegar & Grécia. Mas a premiagao da WPP nio ficou restrita ao tema dos refugiados. Outras, imagens vencedoras abordam grandes desafios do mundo contempordneo, comooaquecimento global, aepidemia de ebola, a violéncia contraa mulher e a exploragio do trabalho infantil. No site da WPP, vocé pode confe- rir todos os premiados desta edicao: hittp;//wwwaworldpressphoto.org/ collection/photo/2016. @ Na guerra entre o regime sro, rebeldes e extremistas, a populacio ficano melo de um violento fogo cruzado. Acima, a Imagem mostra uma garota sia ferida em ‘bombardelo das forcas do governo, em tratamento em um hospital improvisadona cidade de Douma, Multas pessoas ndo suportam a situacSo e decidem abandonar o pals, como mostr Imagem abalxo de uma pequena embarca¢do chegando avila de Skala, nalha de Lesbos, na Grécia. 46 a foto premiada, na pagina ao lado, revelaos obstdculos que os refugiados recém- ‘chegados & Europa sto submetidos para conseguir recomesar suas vidas. eros naoxhoverioemssroro mi ATUALIDADES|1¢zemenr 206 15, PONTO DE VISTA Te Ue eee cen ete Retrospectiva 2015 A pany Ys © VEIA ‘Uma oto om primeiro plano do rostodojulz Sergio Moro, res ponsivelpelasinvestigngses da operacioLava Jato Ele aparece sérioe comum olharassertivo. Almagem ganha ainda maior destaque devido ao fundoescuro.Essafolaescotha de Veja para lustrara sua Retrospectiva 2015. ‘Abaixo da foto, a chamada principal afrma: “Ele salvou o rmanchote suger que 2015 fl rum, mas taveum grande €iniofato postivo (que salvou o ane) - dala public foto tnica na capa eo fato de a reportagem sobre ojulz, na retrospectiva, ter nove péginas, enquanto todas as demals receberam duas paginas. manchete vem otexto, que confirmaa intencio do jutz: “aja pesquisou 2300 sentencas que Sergio Moro lavrou nosikimes quinze anos eficlinca do jlz que jenceracorrupgao" ‘como sendo a primeira esperanca real ~, também expressa aldelade que isso seria Incontestivel, polsfol resultado deum exaustive trabalho Jomalistico que levou em consideragao 300 sentencas. 116 GeATUALoADES| seme 2016 2OT6 oaepaeme © ISTOE Chama atengio a auséncla de uma grande Imagem ou deum forte texto na capa, em que predomina, simplesmente, a cor passar em branco. Faga um ano methor!”. ‘Assim torna-se clara arelacioda capa branca coma primelra rte da frase, que faz referencia a Perspectiva 2016. Nessa apresentadas cinco reportagens sobre alguns dos ‘eventos do ano que seinicia, como os Jogos Olimpicosno Rio. de Janeiro e as elelgies nos Estados Unidos, que po segundo a revista, “construir um ano melhor”. Nessa frase, ‘assim como ocorre nas outras trés revistas, hd uma critica _a0 ano que passou. Mas diferentomente de Carta Capital ede Veja, hduma conclamagio direta para se fazer um ano melh Entre os outros semanarios, aIstof é a nica a trazer tanto ‘uma perspectiva de 2016 como uma retrospectivade 2015. Os fatos do ano que passou sio chamados numa tarja na parte superlor da revista (Retrospectiva 2015), com pequenas im: ‘gens de pessoas que protagonizaram alguns desses acontect- ‘mentos - como Dilma, Eduardo Cunha, ativista de movimenos feministas e Minelrinho, o atual campeio mundial de surfe. Retrospectiva e perspectivas para 2016 Como as principais revistas semanais do pais fizeram um balanco de 2015 e apresentaram as eerie parao ano novo OFATO s edigdes de final de ano das As= principais revistas se- anais brasileiras - Carta Ca- pital, Epoca, Isto e Veja-trouxeram, como de costume, uma retrospectiva do ano que passou, com os fatos € os personagens que ganharam destaque no periodo e asperspectivas parao ano queseinicia nas diferentes areas, como politica, economia, cultura e sociedade. A operagio Lava-Jato e a atuagao do juiz Sergio Moro, acrise politica do go- ‘Yerno Dilma,a questio dos refugiados, as manifestagées feministas, a tragédia ambiental em Mariana e 0 avango do zikavirus, entre outros acontecimentos que marcaram 2015, estiveram napauta dos semanarios.E oolhar para o futuro ficou por contade buscar solugées para questies como a crise econémica, 0 cerescimento do desemprego ¢ os em- bates nas redes sociais. © EPOCA ‘ho contrarlo dos outros rés semanatos, a Epoca nio fazuma retrospectiva de2015.Arevista investe numa edigio especial discutir Ideas e assuntos que estario na agenda brasileira em 2016, como a crise econémica, a Go Lava Jato eas polémicas nas redes socials. Usando cores fortes, como vermelho em contraste como so, 0 urgencia,usao titulo *Gula de Sobrevivencia” parasereferiraonovo ano. A.expressio 6 grafada om grandes letras, que ocupam boa parte da capa, © ano 2016 aparece em preto, ae fundo. ‘Aidala de apresentar um gula de sobrevivencia étrazer a0 lettor um manual de como comportar-se ou agir perante as sltuagBes que esto por vir (note todos os verbos no futuro): “Ocusto de vidavalsubr,odesomprego val aumentar, oapo- nes da Federal em referencia ao agente Newton Ish chefe do cleo de Operagées da Policia Federal em Curitiba] val acordar 5 poderosos eos brasielros continuario a bigar nas reds socials’, diz o texto que complementao tit ‘Achamada termina com a frase “Salba como cilbatatha do nove ano”, comprovando a necessidade de um manual frente Aum canérlo complexo. gE ledighogjespecial| s°— cones ‘Amanchete “Rir para Nao Chorar”, no centro da capa, traz ‘a ldela de que-2015 fol marcado por acontecimentos ruins. Reforga esse pensamento a frase que complementa o titulo principal “Memérias e Imagens de um an« comegado. E2016? Bem, 2016...” Ouseja, 0 acontecimentos indesejados que seria melhor que nem tivesse ‘exlstido, O somandrio demonstra ter a mesma expectativa(de ‘mas noticias) em relagao.a 2016 a0 sereferiraonovo ano com ‘uma interjei¢ao (berm) e reticencias. Completa o sentido humoristico a presena dos emojis que fazer referéncia aalguns acontecimentos do ano, comoos fatos, que envolveram a presidenteDilma Rousseffbonequinha com ‘os dentes mostra afalxapresidenclal), os panclacasIconeda ‘se anuncla a edigo especlal, mals uma ver trazendo de forma bem-humorada a idela de um ano negativo. GGEATUALIDADES|1¢cemexr2016 17 IstoE divulga delacdo de senador Como os trés principais didrios do pais repercutiram a suposta revelacio de que Dilma e Lula interferiram na Lava Jato OFATO m3 de margo de 2016, arevista E Isto publicou reportagem em que afirma que teve acesso 20 termo de delagao premiada do senador Delcidio do Amaral (PT-MS) ao Ministé- rio Pablico Federal Eleacusa apresiden- teDilma Rousseff eo ex-presidente Luiz Inécio Lula da Silva de envolvimento no esquemadde corrupgio da Petrobras ena tentativa de impedirasinvestigacéesda Operacio Lava Jata Ex-liderdo governo no Senado, Delcidio do Amaral foi preso emnovembro de 2015, ele mesmo acusa- dodeinterferirna LavaJato.Segundo a Isto, em de fevereiro de 2016, quando passou a cumprir prisio domiciliar cle teriafeitoo acordodedelacio premiada, emqueo acusado contao quesabee, em troca, recebe beneficios, como redugio dapena.O senadoremitiunotadizendo que nfo reconhece a autenticidade dos documentos divulgados pela revista. Nomesmo dia, o resultado do PIB em 2015 ea votacio de acéo penal contrao presidente da Camara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) também foram noticias. 118 GATUALDADES|*semeave 2016 PONTO DE VISTA _FOLHADE S.PAULO Exlider do governo liga Dima e Lula a Lava ato, e oposigdo pede rentincia © FOLHADES.PAULO ‘A Folha trouxe a manchetorelaclonada ao fato-“Exider do ‘govern liga ilmae Lula Lava Jat, e oposigo pede retin parva parte superior da sua capa. Ao contrérlo do Estado @ da Globo,ndo colocou onome do senadorDeletdlonotitulo (mas apenas no texto ababcoda manchete) e preferhiusaraexpressio jo nos partidos de opesiga, que menclonaram Incluira delasaono pedidodeimpeachment. (Jomalreproduzisas acusagSescontra Dlma(“tentou interfere ‘trés vezesna operagaocomajuda de José Eduardo Cardozo, entao ministro da Justiga) e Lula (“Delcidio intermediou, a pedido d Lula, propina a0 ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveré para tentar evitar a sua delacio"), citou algumas consequéncias da ddeclaragio (como a subida daBolsa ea queda do délar)eincluiu ‘que “devem dar forgaa protestos anti-Dima’. ‘Chama atengioaarticulagao das duas fotos presentesnacapa: ‘a dorosto parcial da presidente Dilma emprimetro plano (emque ‘aparecem apenas seus olhose nariz) ea que mostrasomenteos labios costurados deum refugiado iraniano, que vemum pouco ixo, formando uma unidade. A Folha noticiou a queda no PIBna parte nferior da pagina, mas com um certo destaque, e afirmou que 0 plor resultado desde 1990”. Nao houve mengao “noticia sobre Eduardo Cunha-acapadodiaanteriorjéhavia adiantado que a maloria dos ministros do Supremo Tribunal Federal havia votado pela abertura da aco penal. © GLOBO Delagao de Delcidio poe Dilma no centro da Lava-Jato Frat soease | Det nrane Msn Reeinesinss angestana te lange ch [aegis 91% 4% agit © 0GLOB0 Nojornalcarioca,adelagao de Deledlo também ganhou espa- sp nobre, ocupando cerca de trés quartos da pégina. Uma foto de Dima em primeiro plano, com um ohar triste, mostrava, 20, fundo,oex-ministr da Just¢a, José Eduardo Cardozo, que cum- primentava um colega ao se despedirdo cargo. Adela que Dima ‘std s6 fol reforada pela forte manchete “Delagio de Delcdlo Dilma no centro da Lava-Jato Diferentemente da Folha ¢ do Estado, Globo nao colo titulo; apenas o mencionou ‘um ministro do S1J paratentar soltaro: Odebrecht e Otivio Azevedo” e que “la dades na compr pletam o conjunto de informagées sobre a delagao foto personalidades envolvidas, como Delcidio, Dilmae Lula, eum pequene resumo da atuagao do senadore das acusacoes que residente eo ex-presidente. ‘Anoticia sobre Eduardo Cunha velo logo abaixodo conjunto de Informagées sobre a delacao de elcidio, comotitulo “Por tunanimidade, Cunha viraréino Supremo’: Jé 0 recuodoPIB jerdida”) contou com a indicadores negativos(recessio historica, queda dos investimentos, tombo na indistria), reforgando “o plor resultado desde. confisce deCollor” eas professes fltas (novo tombo de 4% este anoe recessio como a da década de 80). ESTADO DE S. PAULO Delcidio acusa Dilma e Lulana © O ESTADO DES. PAULO jojomal sobre a suposta delacao de Delcidio - ‘que também mereceu amanchete principal eo malor espago sidente Dilma, Amanchete 6 se- methante a da Folha, que traz onome de ambos, mas, notexto da capa, 6 cita residente ssadena”) ,enquanto sok duas (“atuou para evitara delacao de Nestor Cerveré eIntermediot jgamentos a familia do ex-diretor da Petrobras em troca do silénclo dele” e“trabalhouparafrearas InvestigagSes da CPI suposta compra de MPs”). Afoto de Dilma - nica Imagem da capa - sugere certa fragilidade da presidente, a0 mostré-la abragando 0 ex-ministro da Justica na cerlménia de transferéncia de cargos. Além do texto qui noticla principal, outras duas chamadasrepercutema delagao impliam a cobertura: “Planalto critica ‘vazamentos como arma politica” e “Oposigao reforga pedido de rendincia’ ‘Assim como 0 Globo, o Estado também traz na capa a infor- ‘que Delcidio nao confirmou aautenticidade dos docu- ‘mentos da reportagem da revista stof - a Folha s6menclona ‘esse fato na reportagem intern: ( jomal ainda destaca na capa a queda de 2,8% doPIB eo GGEATUALIDADES |1¢semesre2016 19 DESTRINCHANDO Peat OO ee a eC oD ese NUMERO DE PAISES PARTICIPANTES POR ‘AS CIDADES-SEDE POR CONTINENTE CONTINENTE E EDICAO DOS JoGOs* m0 Inala paoslemaesnal ‘Guerra Mandal Bg da ‘trac nesJoges de 30, na ‘Antuirplacenige aerusto deAlmanha, Austria, Hungra,BlgriaeTarqua- abs derotados no confit. ~ WE: m5 m0 wees ‘MUNDO Dos ‘IMPERIOS ~ 1900 No inci dos jogs daeramodema, ‘mundo oradominae pels potncas Impaialistas. principal erao Reino ‘nid, que mann cldias emtodos scontinentes,Multas esas ptindas cobrigavamatletas deoutras napbes2 defendas, como armdnios que tiveram ‘quecompetir como turosecoreanos {ovgados usar nomesaponeses. ee Lig eo & peat bs oo mae | Oo ey wa ws 1s forumdicte —onbdiirtomdo bce Seetcen Seeeeaen Smee ners Cees) wenece ae Satie: tecvaes laeronas, ee See. cece ee San ee ES cece feces ‘Angeles levam 6oo atletas, _afre-americano Jesse ‘Guerra Mundial, Aes rk) meen ene Asterd woe EI 1M unis Eine ahve Apa Pa Ansan shapes Bain aia Perr a 1982 ‘smoimertosnaconals ras clas dae gnham apna patrdos anesa9s-oqueserefte aumento de acaos os jogo seins. Em a diputacomos Eats Unidos ola emonia nuda passaasertravada também sport, Vejao que as Olimpiadas téma ver coma geopolitica, o desenvolvimento social ‘econémico e a urbanizacao por Wiliam Taciroe Muit/SP in 176 Ogrpoterorsta palestine zapasesahicanes dam SetambroNeg atacaa,—_osgorem protest cara dlegaiodelraelmavlaaNovaZelndjotine colimpia,ondematadoise derugh fer uma turd de Arado Su, yembarea sJogos Olimpicos que os aristo- cratas europeuscriaram no final do século XIX era um festival atlético com repercussdes modestas. ‘Mas perto da I Guerra Mundial, os Jo- 0s jé eram explorados em um ambito ‘que extrapolavaa performance esportiva. ‘Ver compatriotas desfilarem com sua bandeira pela primeiravez numa ceri- méniaolimpica tornou-se um momento de celebracio histérica em mais decem ‘ranking de medalhas passou aser visto comouma demonstragao de, re or- gulhonacional, eaaimaoereen as conquistas sociais e econdmicas do pais. Ser anfitrigio dos Jogos virou uma ‘oportunidade para paises promoverem reformas urbanisticas na cidade-sede ‘elustrarem a imagem internacional. ‘Acompanhe abaixo a evoluco no mimero de participantes e como os -comités olimpicos e os Jogos se tor- paisesque conquistaramaindependén- naramparte importante da geopolitica cianesse tempo. Obomdesempenhono internacional. 0902984 109% ams ‘evi invaste do ‘amo desmemramento da URSS Dos pies fro eta ‘Mepanstio pela RSS os em novos pass eaadesode ‘lmpcan i dane: EUAlideramum bicte _-malspalsestrianas20 Ol os ‘Suds Sl qua O dinheiro da as cartas ea so e Olimpiadas de Londres, no planeta olimpico Bae poate stares Coubertin. E paraa maioriadasnagées, Como a forga do capital e dos investimentos sociais afastam os __principalmente aquelas que nio estio paises mais pobres das conquistas e limitam o pédio olimpico.a —_nogrupodosdesenvolvidos, opapel nos ‘uma pequena elite esportiva - e financeira ‘Jogos fica restrito mesmo acompeticio. ANAMORFOSE: 0 MAPA DISTORCIDO: ‘stemapa é dferent daquolesplanistries aque vot et acestumado. ‘Tatas de uma anamertse- uma repretentaeo cartopfica que «store o tama eo tracado ds pases para reforcaro ete. ‘comparative aresplt do tema apresentado. est caso,o mapa mostra ‘come sera o mundo se 2 re dos ples ose properional av nimer de ‘modalas ganas nahistla dos ops. planeta, sua rea é que ‘capa malo esp, ‘efletindo suas conaustas OPLANISFERIO REAL Paater uma dls do quo stridasforam as eldos ‘do artograma das madahas,compareo com stout mapa onde a rea dos pases 6 proporconal 2s seus ‘erste, ‘reaper pats (roles equietanguar) Isso porque o pédio costuma ser uma rea limitada a uma elite esportiva que, nfo por coincidéncia, também sao os paises mais ricos. Entre as cinco naces, quemais ganharam medalhas nahistoria, quatro esto no G-7 (grupo dos paises mais ricos do mundo): Estados Unidos, Reino Unido, Frangae Alemanha. usps saab Ord deta tortata Arte rteauna wert onap Osaltos investimentos em educagio, co incentivo a pritica esportiva para as, ceriangas e as boas condicdes de vida paraa populaco acabam tendo refle- xos diretos no quadro de medalhas. ‘Namaioria das vezes, os paises me- nos desenvolvidos acabam dependendo do talento e do esforgo individual dos sts Note comoas dimanstes tents da Asta sto ‘bom proprconalssu2 Importinca no quatro de _medalas-porisio ela no PIB VERSUSMEDALHAS Este rfc de disperse mostra uma darareacdo ‘ne oProduto intro Bat 1B) ¢ ‘esempentolipie. Os pnts lcalzados no toate ‘Antes, 2 grande partedos ‘indo e vottande do emprego. — =: ‘removides vivia @ _ eos 24 ccATUALADES|rsemeste 2016 deixam para cidade-sede uma sériede benesses em termos de infraestrutu- aque compensam qualquer impacto econdmico, social e ambiental. Os Jo- gos de Barcelona, em 1992, sio sempre Jembrados como um exemplo de como a realizagio da Olimpfada trouxe me- Ihorias urbanisticas paraacidade-sede. ort Maratha ‘Arotalzaie dana portusia no cenr strc, Insiraa am projets como 0 dePuerto Madero, em Buenos ‘ies, quer tra turistase Investors internacional, e © si ° (gm datii (MEGARREMOCOES OLIMPICAS Desde Sul mais dea miles de pesiastieram as casas demolidas para dar ugar alga climpicos” Alantaasgs ———0 i pssonsremovidas 30m se smudam pela ata do cast de vida provecaa pla valoizato da rea acalona gg 62 familias desapropriadase altano custo da moradla xpusou outros mihares Mas ha um outro lado nessa hist5ria, (Os Jogos de Seul,em 1988, por exemy io celebrados portransformar acapital sul-coreana emumamodernametrépole, ‘masa organizagiodemoliuo lar de720 mil pessoas.Segundo aONU, foi uma das ‘mais violentas politicas de remogGes ja realizadas no mundo. eropr Irena Tobin See tia ) pe hace ‘Mesmo assim, expulses em massa tornaram-se rotina durante as obras que precedem os Jogos. Ainda que a maioria das remogdes se dé em acor do com leis locais, elas sto notérias por afetar principalmente pobres e minorias, Veja como o Rio esta sendo impactado por essa politica. TOTALINVESTIDO No PROJETOOLUMPICO RS 39 BILHOES Sa RS 24,6 BILHOES: bras de ead Netade dsovalpara ‘bras etanpote Para oPor Marah, mein dos ths da dade 4d “hp limp quse RSE ew NF oma q 7 Shee a SpE RILHOES cra ps5 cra 797 BILHOES — sam lnsalgs spats $30 MILHOES (eta) Devore 0 MILHOES a ren TABILHOES TO MILHOES ints — pero do event sais de almentct, osptagem, 400 MILHOES ‘nome pao ==. et undone evaluntis ee Seulsget ‘romllpeseas despa, amalra Sem reloaonemlndeiacio equinaeds | e o/s sno de pases remot pelo goero Asta eadvopdos Aonckes2e 204 ‘us dtd moradors 0 press ‘sepesseas ds ponos 7 milpesoada romaeliandls enaroma,um ds Sdn a00 sdnaesiorenoias_povscanhecles Nowe remotes fora, mas ee cae fares foram expsas plata Parque line remondas roscusts dre EATUALIDADES|1¢cemenr 2016 25, Poy etry reece Peet ee ‘em video que crore) Pees ce ce nsnsner enna occcccasncrersana nasa cccscececrcncececesaiasn nase Cee o4 Se Conhecido pelos métodos brutais, o Estado Islamico amplia a sua atuacdo ao organizar atentados na Franca e em outros PLU MSE eB me ROR k Coeur ekonomi Re CCE seguranga mundial e desestabiliza o Oriente Médio Se See ec ea eee eee a eee eed ea DOSSIE ESTADO ISLAMICO Por deniré do. Estado Jslamicd vasta rede de recrutamento e de financiamento para as suas operacées. Entenda como funciona a organizagao noite de13denovem- bro de2015,uuma sex- ta-feira, nfo serd es- quecida em Paris tio cedo, Surpreendidas quando se divertiam emumaregifo de bares e restaurantes, dezenasde pessoas sofreram um ataque brutal, mais mortifero na capital fran- cesa desde aI Guerra Mundial (1939- 1945). Em ago coordenada, terroristas, posteriormente identificados como integrantes do grupo Estado Islamico (EDatiraram aesmoouseexplodiram, provocando a morte de 130 pessoas, a maioria na casa de shows Bataclan. Disparos atingiram outras vitimas em mais quatro locais. Além das mortes, pelomenos 352 pessoas ficaram feridas. Emdeclaracao ficial,o Elreivindicou aautoriada ago. Paraanalistas,trata-se deumaretaliago contra papel desem- penhado pela Francanosataques aéreos na Siria e no Traque, paises nos quais 0 EI ocupa vastos territérios. A Franga 6 a mais constante aliada dos Estados Unidos (EUA) na guerra contra ogrupo. Nao foi atinicaagio do EI no periodo. ‘A faceao assumin também a autoria do atentado a bomba que derrubou um avido russo da companhia Metrojet, em 31 de outubro, no Egito, causando a morte das 224 pessoas a bordo. Em Beirute, no Libano, um ataque com OQ ox 6 ) homens-bomba, em 12 de no matou 44 pessoas, em outra do grupo. Nos EUA,em 2de dezembro, tum casal, supostamente vinculado a0 EI, atacou a tiros um centro de trata- mento de pessoas com deficiéncia, na Califérnia, matando 14 pessoas. O EI realizou, diretamente ou por intermédio de grupos associados, outros ataques na Tunisia, na Nigéria, na Turquiae na Indonésia. Esses atentados marcam uma mudancanaestratégia da organizacao, que agora ampliao seu raio de ago, an- teriormente limitado ao Oriente Médio. AGUERRA AO TERROR Comum vasto territério que abrange reas do Traque e da Siria, um enorme poder demobilizagdoe uma eficiente ca- pacidade operacional, EI éconsiderado aorganizagao extremista mais poderosa cebem-sucedida dahistéria. Suaascensio esté diretamente associada apoliticade “Guerra ao Terror” implementada pelo entio presidente norte-americano Geor ge W.Bush (2001-2009) como resposta aosatentados de 11 de setembro de 2001 cometidos pela Al Qaeda, aredetterroris- tade Osama Bin Laden (veja mais sobre as intervengdes ocidentais na pag. 38). Aocupagio do Iraque como parte da ofensiva dos EUA contra 0 terrorismo, entre 2003 e 2011, teve como um dos principaisefeitoscolateraiso sungimento deum movimento local contra ainvasio norte-americana. Nesse context, surgi- ramdiversasmilicias que contestavam a presenga das ropasdos EUA. Umadelas eraa Al Qaeda do raque (AQLou Isil,em inglés), uma filial darede de Bin Laden. Criada em 2004, essa organizacio daria origem ao poderoso grupo que conhe- cemoshoje como Estado Islémico (veja linha do tempo na pdg. ao lado). IMPOSIGAO DO CALIFADO ‘Nos anosseguintes.criagZo da AQI, caosno Iraque ena Siria foi um terreno propicioao avanco do grupo: enquanto no Iraque huma sucessio de disputas politicase conflitos sectarios (entre su- nitas e xiitas), a Siria vive desde 2011 ‘um confronto entre grupos rebeldes, apoiados pelas poténcias ocidentais, ¢ © regime do ditador Bashar al-Assad. Aproveitando o vacuo de poder e de seguranga nessas regides, a organizagio foi ganhando forca, com frequentes fu- ses e trocas de nome nesse percurso. Oanode 2014 representouummarco naexpansio do grupo. Em junho, olider da organizagio Abu Bakr al-Baghdadi proclamou a criacao de um califadonos territériosocupados sobaalcunhade Es- O Estadd islamicd no Jraqué 6 Ha Siria Cee ee ence ote Co eee trey Are re Ln ee roar a rT Co) ee Pity Pepe Poet rier ans aie ne ene nd akZargansevincuaarede —-masressurgecomo Estado A Peron mn Pierre rere remy Perret eo a ee etre saci ar ce] arrears cen Pree Se nes Eee CE ak rer rc en r g Perera Perraenriny Peon aren serra Preeti Paper rena Panett en eon ieee preeterinierratr ier Peeps Eraser vertices Prrecerneeny Pri Ce Ber perinreeres Enerepiventy aaron Siiasnesheod Pere) Pvernce ry poorer aa ferent eer apn tmcalaie Port) cei rent ene Fame ocr Marl ores [eb ert oepaon ieee a eer peers ese rere part eee eet ee re ee rd Perse erreurs ar Taner rere Mert O ESTADOISLAMICO Ce ec ee Ue ee ee ed NOIRAQUEE SIRIA . Pinca cer ‘controtadas Regios contoadas WH Atacadas pelo tt FOREAS CONTRA OEL ‘andes Regimes Rebaldes conta govern sto ovens roy Ea ses aco rata eee peor tuk ot res , j er e DOSSIE ESTADO ISLAMICO tado Islimico ese autodenominou ocali- fa (um lider espiritual investido de poder politico). O califado éumareferéncia aos ntigos impériosislimicos surgidos apés a morte do profeta Maomeé - o ultimo califado foi o Império Otomano, dissol- ‘vido em 1920, No entanto, este suposto califado carece de legitimidade mesmo dentro do mundo érabe-muculmano. RECRUTAMENTO DE VOLUNTARIOS ‘A orga do EI vem principalmente de sua capacidade militar e operacional. © mimero de integrantes do EI é de dificil verificagao. As estimativas mais, aceitas indicam que o grupo aglutina zno minimo 35 mil combatentes. Mas ha avaliagdes que chegam a 100 mil mili- tantes. No Iraque,o EI absorveu mem- bros do antigo Exéreito de Saddam Hussein, desmantelado apés a deposi- go do ditador, em 2003.Além disso, a populagao sunita passou a ser cadavez mais discriminada pelo governo pré- xiita, o que levou muitos a aderir a0 grupo fundamentalista. Mas o que mais impressiona é a ca- pacidade do EI em atrair voluntitios de todas as partes do mundo, inclusive do Ocidente. Mugulmanos que vivem em paises da Europa, desiludidos com asegregncio ea falta de oportunidades, aceitam engrossar asfileiras do EI coma promessa de salvagio. Utilizando tecno- logias de comunicagio que vao de videos no YouTube a revistas online, 0 grupo ‘manipula odiscurso religiso paraincitar 0 6dio e atingir seus objetivos politicos. [30 GcATUALDADES| + semeste 016 Acredita-se que osmembrosestrangeiros (forada Siriae do Iraque) seriam prove- niientes de mais de 80 paises. ‘Como estratégia de guerra, o EI pro- ‘move execugdes eamputagdes emmassa, is vezes contra comunidades inteiras, € mortes coletivas, por crucificagio, decapitagao e enforcamento. Essa im- posigio pelo terror visa a atemorizar todosaqueles que ogrupoclassifica como infigis (minorias éticas e religiosas e ocidentais) ou apéstatas (mugulmanos que teriam renegado a religiio). Como um grupo de orientagio sunita, seusata- ques atingem principalmente os xitas. As raizes doutrindrias do EI, em sua ceruzadacontraos infigis, podem ser en- contradas no wahabismo eno salafismo, 0 Estado Islamico possui um Exército de pelo menos 35 mil combatentes, vindos de mais de 80 paises 200000 ORL HOP cvooce ‘BRUTALIDADE Cristios ttopes sto conduzides por ‘membros do Estado [slamico antes de serem decapitados, naLibia ‘movimentos sunitas ultraconservadores e radicais difundidos pela Arabia Sau- dita (eia mais na pdg. 42). Mas a orga- nizagdo nio é movida apenas pelo ddio ‘grupo pretende criar uma novaordem politica no Oriente Médio e, a partir da conquista de novos territérios, um Estado genuinamente islamico e uma sociedade livre dos costumes ocidentais. AGESTAO DO “GOVERNO” (OETcontrolaum tervtério de aproxi- madamente100 mil quilometros quadra- dos, rea pouco maior queade Portugal. Nesses dominios, onde vivem entre 8e 10 millhdes de pessoas, o grupo assumiu ‘© controle de bases militares, bancos, hidrelétricas, campos de petréleo egal- pées de alimentos, além de instaurar um governo proprio, com ministérios, cortesislmicas aparato de seguranga, ‘Atua, assim, como se fosseum verdadeiro Estado, impondo a sua castica ordem. ‘Avvenda de petréleo extraido dos territérios que ocupa é uma das prin- cipais fontes de financiamento da orgi- nizagio.O contrabando do éleo paraa Turguia- onde é vendido.a pregos bem abaixo dos de mercado ~ proporciona ‘uma rendaestimada entre e3 milhdes de délares por dia. ‘Outras formas de obter recursos sfo: a doagio de individuos e instituigées, principalmente da Arabia Saudita edo Catar, recompensas por estrangeiros sequestrados, 0 trifico de milhares de objetos arqueoldgicos e antiguida- des histéricas, a explorago de outros, recursos naturais, como 0 fosfato, © a cobranga de impostos e taxas das populacées submetidasa seu dominio, ‘Aexpansodo poderdo EI levou va- ras facges fundamentalistasadeclarar lealdade ao califado. Estima-se que se- jam atualmente pelo menos 30 grupos, de quase 20 diferentes paises. O grupo nigeriano Boko Haram, consideradoum dos mais violentos do mundo em 2015, foium dos que juraram lealdade ao EI. MUDANGA DE ESTRATEGIA Analistas avaliam que os atentados dofinal de 2015 marcam uma mudanga de posicio importante do EI. Desde que surgiu, o EI buscava atrair combaten- tes num territério que conquistou, no Oriente Médio, e chamar os islamicos de todo o mundo a jurar obediéncia a seu califado. Ao organizar ou apoiar ages terroristas no Egito, no Libano, na Frangae nos EUA, o grupo passou.a também projetar-se para fora da Siria e do Iraque, tendo como alvo alguns dos principais paises que desenvolvem ages contra a organizagio. s atentados mais recentes indicam que varios dessesmilitantes do El foram enviadlos devoltaaseus paisesde origem, para organizar atos terroristas. Toda a ago dos atentados de Paris teria sido organizada por integrantes do grupo que moravam na Franca ou na Bélgica. EI também comeca a se expandir na ocupagio de outros territérios. Em 2015, ogrupo chegouatéaLibia,nonorte da Africa. Como na Siriae no Iraque,o ‘grupo aproveitou-se da fragilidade do Estado libio, onde hé disputas entre dois sgovernos distintos. Estima-se que o EI tenha pelo menos 1,5 mil combatentes na regido em torno da cidade de Sirte. ARESPOSTA DO OCIDENTE Oavango do EI, principalmente apés 1 proclamagio do califado em 2014, le- ‘vou os EUA a comandar uma coalizio formada por cerca de 40 nagdes para realizar bombardeiosaéreoscontrabases, da organizagio terrorista. Os ataques, que comegaram em setembro de 2014, produziram resultadoslimitadase foram intensificados apésos ataques em Paris. Entre dezembro de 2015 e janeirode 2016, o Exército iraquiano retomou a cidade de Ramadi, que havia sido cap- ee! E1, DAESH, ISIL OU ISIS? NOME E MOTIVO DE POLEMICA © uso do nome Estado Iskimico (El) para designar o discussao entre especialistas e governos que estao empenhados em combaté-lo. 'deum verdadelro Estado, multos dizem ‘que chamé-lo pela denominagao que ele proprio se atribulu seria legitima- la ampla matoria dos mugulmanos, que Como se trata deum grupo terrorista, isso, avinculagao slamica 6 repudlac iio se reconhecem nas ages do grupo. rupo fu smentalista 6 objeto -Algm Muttos governos, como oda Franca, utlizam o nome Daesh, que vem da contragao do um de seus nomes anteriores (Estado islamico do Iraque e do Levante) em éral Al-Dawla al-slamiya fil raq wa'al-Sham. 0 termo, re alavra ar Seu uso seria uma forma de desqualificar a organizagi Inimigos do grupo porque o som lembrs tado pelo El, 6 utilizado por ‘que significa “destruldor”. ‘Autoridades norte-americanas costumam usara siglalsil,equivalente em inglés do ‘mesmo nome antertor, mas o préprio presidente Barack OF do, John Kerry, Jase referiram ao grupo pelo termo pejorative D 1a eo secretario de Esta- sh. Exist, ainda, 0 ‘terme isis -uma tradugo alternativa que significa Estado Islamico do raqueee da Sila. turada em maio pelo EI. Ramadi fica 2100 quilémetros da capital, Bagda. Os bombardeios da coalizio também fizeram oEI perder territériosna Siria eno Iraque. Embora tenha sido um avango nalluta contrao grupo, analistas, avaliam que seré muito mais dificil a recuperagio de cidades maiores, como Ragga (Siria), Mosul e Faluja (Iraque). 0 objetivo imediato dos EUA nao é extinguir o EI, mas conté-lo, reduzindo co espaco geografico sob seu controle. ‘Umesmagamento completo do grupo 6 considerado praticamente impossivel sem uma grande intervensaoem solo, que é de dificil execugio, tanto militar quanto politicamente. Apés as fracas- sadasintervengdes no Afeganistio eno Iraque, realizadas durante a Guerra a0 ‘Terror na década passada, politicaex- terna de Obama tem sido pautada pela cautela quando settrata de intervenes, militares em outros paises. Outro problema. impasse emtorno da coalizao organizada pelos EUA para combater o EI, que é dificil separar essa iniciativa da situagao da guerra ci- vilna Sitia,em que hé divergénciasen- tre os variosatores. Tanto EUA quanto Unido Europeia, Rissia eos principais, aliados dos paises ocidentaisno Oriente Médio, como Arsbia Sauditae Turquia, participam formalmente da luta contra © EI. Na Siria, entretanto, onde boa parte dos combates efetivos se desen- volve, os interesses sio diferentes. E esseimpasse tem sido fundamental para o fortalecimento do grupo extremista. APARATO MIDIATICO EXPANDE ALCANCE DO ESTADO ISLAMICO logo Bercito- Em Made! ‘Amensagem, ctando normas do sé culo 2, pode parecer medieval. Mas 0 meio utllzado para divulgéaé de uma rmodernidadetamanha, ‘face terrorista Estado Isimico(E) utiliza uma complexaestrutura de comu- nleagdo nas milas soca para divulgar seusvideos dedecapitacioe destrucio de patimeni istriconaSiaeno raque\.. ‘Um relatrio apresentado ONU pe- lo pesquisador espanhol Javier Lesaca estima, por exemplo, que oEltenha pu- blicado mais de20 campanhas audio- visuals em 22 meses, como trabalho de 33 diferentes produtoras. ‘estética, segundo Lesaca, é familiar 20 piblico ocidental. Das gravacées de execugbes, quase metade fo inspirada ‘em filmes como Jogos Vorazes @ jogos cletrénicos como Callof Duty. CEI tem forte presenca em dezenas de plataformas virtua, Seus militantes s- taono Facabook, no Twitter no Telegram, no WhatsApp eemaplicativos desenvol- vidos pelos prpiosterroristas Goverose empresas de comunicardo cacam esses teroristas online, mas 0 esforgo necessirio éhercilo..) FFolha de S.Paulo, 31/1/2018 GGEATUALIDADES|1¢cemesr2016 32 ea DOSSIE ESTADO ISLAMICO + A sverra civil dévasta 4 Siria Mais de 250 mil pessoas ja morreram nesse conflito que resultou no fortalecimento do Estado Islamico e alterou 0 equilibrio de forgas no Oriente Médio argo de 2011. Um gru- pode criangasemDa- raa, no sul da Siria, & preso pela policia por pichar frases criticas, a0 governo. Inconfor- ‘madas, centenas de pessoas'saem as ruas da cidade para protestar contra as res- trigdes liberdade promovidas pelo go- vernodo ditador Bashar al-Assad. Assim comoem outrospaises do Oriente Médio edonorte da Africa, aSiriamergulhana onda demanifestagées conhecida como Primavera Arabe (veja boxena pdg.37). ‘Masa manifestago pacificaemDaraa éviolentamente reprimida. Asforgas de seguranga abrem fogo contra amultidaio e matam dezenas de pessoas. A reacio desproporcional do governo estimula novas revoltas. Algumas semanas depois, ‘mais de 100 cidadesna Sitiasio paleo de protestosregulares.Astropasdogoverno no cedem e respondem com violén- cia,o que leva a oposicio ase organizar em diversos grupos armados para lutar contra Assad, fo inicio da guerra civil. Corta para marco de 2016, Passados cinco anos a Siria éuma terraarrasada. O conflito éconsiderado pela Organizagio das Nagdes Unidas (ONU) amaior crise humanitéria deste século. Os nimeros falam porssis6.Pelo menos 250 mil pes- soas morreram. Entre os sobreviventes, 6,5 milhdes de pessoas foram obrigadas [32 GEATUALDADES|1Psemeate 016 OQ ox 6 ) amudar-se para outras regides do pais,e outros 45 milhées abandonaram a Siria. ‘Com a economia em frangalhos, quase 70% dossitios que permaneceram agora vvivem abaixo da linha de pobreza. AS FORCAS NO CONFLITO ‘A populagio siria encontra-se no meio de um fogo cruzado que envolve diferentes grupos. Veja a seguiras prin- cipais forgas envolvidas no conffito: GOVERNOSIRIOEALIADOS Deum ladodo conflito estéo regime sirio liderado por Bashar al-Assad. Desde 1970, a familia ‘Assad comanda no pais um brutal regime de partido tinico. Apesar de serem alaui- tas uma seita mugulmana do ramo xita), os Assad mantinham um governo laico, que separavaareligiiodo Estado. Como inicio dos protestos, os sunitas tomaram a frente na oposigio ao regime,o que deu 0 conffto contornos sectérios. Apesar dendo apoiarem oditador, cristios,xiitas, até parte daclite sunita preferem ver ‘Assad no poder diante da possibilidade deterum pais tomado pelos extremistas. Quanto fs aliangas externas, Assad conta como apoio do Irae do grupo liba- nésHezbollah,formando um“eixo ita” que retine paises onganizagées cujos lideres sao adeptos dessa corrente do islamismo. O grupo se opée a Israel e disputa ahegemonia no Oriente Médio com as monarquias sunitas lideradaspela Arabia Saudita.O principal aliado fora da regio é a Riis- sia, que mantém uma antiga parceria coma Siria, sustentada pela base naval que os russos controlam em Tartus, no litoral sirio. Tanto o apoio do Hezbollah e dasmilicias iranianas quanto osbom- bardeios mais recentes realizados pelas forgas russas tém sido fundamentais, para sobrevivénciado regimede Assad. (GRUPOS REBELDES Umas das primeiras forgas a mergulhar na guerra foram os sgrupossunitas quelutam para derrubar ditadurade Assad. Entre os chamados “rebeldesmoderados”,que recebemesse nome por no serem adeptos do radi- calismo iskimico, amaior expresso é0 Exército Livre da Siria (ELS).A organi- zagio conta como respaldo das poténcias, ‘ocidentais, ideradas pela Europae EUA. ‘Também recebem apoio da Turquiae da Arabia Saudita, principais inimigos de ‘Assad na regio. I por isso que a guerra na Siria,além de ser uma disputaintema de poder, reflete a rivalidade entre dois, paises-chave no Oriente Médio: Ira e Arabia Saudita (veja mais adiante). © equilibrio dé fors4s Ho Oriente Médio Coen eet nr et ea ee ete Ley ee ee ee me ey irre en emer retort me eT Breer tame re tr theme et Reeser rrr a Ut era eC Se ee nyt err eet eer mre ey Derry rr me Ce Ser ee rie mm ee a ac ole ee Ce ae) Ce me Ce la aerate tae ae MIVA cr Sore ad een cere a Sacer Prironrarern ron nn ee re Fess iirsistt eee Srsrt ee) Cnn De erro ey s Poe eaneeta . cero) errr) rag dese spo da cet ert Ere ecr rere prreeen Decent am om, erat ee ‘Tunguia ee ie Latakla. Ao nici, em ere eta Puen Petree Cry ] Paper ey Seri erento co Ca aa Perera pererersr erro irene EL rae ea pore , \e sniow ee poet usa, / Solon sm eons cer coo \ / CaeE irene Wuz0s RECEBERAM ys piriees teers 4,3 milhoes a] x dereugator Peery Dee rere Prior eer ry Cea Pears Ler et ered ‘ambi mann eleshostiscom Cr iy Pere Pe ar F z Ce ete PC er mn ee Ty ete er a a ey er a ees) Pelee ety peed ere ry rere ry Pet ene a ere er Pr a ee uy ee ey ee mm ok es ee mare ee eet ty ere et Cee en ear corer ty peer ae ere Co a ie era Pea rer eon Peter) poetry ert reece) Cree e DOSSIE ESTADO ISLAMICO ‘Acldade de Kobane, nonorteda Sia, ddovastadapeloconfito: ‘mals de 250 mllpessoas ‘morreram desdeo Ino da guerra TREMISTAS ISLAMICOS Entre os gru- ppos que querem derrubar Assad, além dos rebeldes moderados, ha facgdes extremistas islamicas, que estio frag- mentadas em diversos grupos. Uma das, organizagdes que mais conquistaram terreno, principalmente nos primeiros anos do conflito, foia Frente al-Nusra, umbrago darrede extremista Al Qaeda na Siria, Posteriormente,a partirde 2013, ogrupo terrorista Estado Islmico (EI) aproveitou-se da situagao de caos cria- da pela guerra civil e, vindo do Iraque, avangoude formaavassaladora brutal, ‘ocupando metade do territério sirio. S Hi, ainda, 0 que podemos chamar de uma quarta forga envolvida no conflto. Trata-se dos curdos, etnia que habita territérios de Siria, Tarquia, Iraque, Ira, Arméniae Azerbaidjoerei- vindica acriagio de um Estado préprio para o seu powo - 0 Curdistio. Desde 0 inicio do conflito na Siria, a Unidade de Defesa Popular (YPG), uma milicia formada para defender as regides habi- tadas pelos curdos no norte do pais, se fortaleceu. Paraoregime de Assad,a YPG 34 GeATUALDADES|Psemeate 016 tomou-se um ator bastante itil, porque amilicia ¢ uma das principais forgas de resisténcia tanto contra os extremistas do El como os “moderados” do ELS. Essa situagdo embaralha o jogo das poténcias, colocando EUA e Turquia, ambos membros da Otan, aaliancami- litar ocidental, em lados opostos. Isso porqueo YPG recebe o apoio dos norte- americanos na luta contra o EI, mas é ‘um dos principais inimigos da Turquia, que teme o fortalecimento dos curdos em seu préprio territério. A SOBREVIVENCIA DE ASSAD ‘Com tantas forgas envolvidas no com- bate, nestes cinco anos da guerra civil houve diversos momentos em que as tropas de Assad estiveram & beira da derrota. Osviolentos combates travados entre regimee rebeldes forammarcados por avangos e retrocessos das forgas, oficiais em cidades estratégicas,comoa capital Damasco,Homs e Aleppo -are- as que hoje so controladas por Assad. ‘Mas 0 momento mais delicado para © ditador foi em 2013, quando um ata- quecomarmas quimicas no subiirbio de Damasco foi atribuido ao regime sirio. Os EUA chegaram até a anunciar uma ofensiva militar punitiva,mas acabaram aceitando.solucao diplomatica ofereci- da pela Rissa: o ataque seria suspenso como compromisso da Siriaem destruir suas armas quimicas. 0 plano deu certo, Assad ganhou uma sobrevidano poder. 5 i i Diante de todas essas ameagas, € surpreendente o fato de Assad ainda sustentar 0 seu regime. Mas dois fato- res centrais explicam a permanéncia do ditador sir. Em primeiro lugar, 0 regime beneficiou-se, portragicaironia, do crescimento do EI, que fez acender luz de perigo para as grandes potén- cias, Houve uma mudanga de foco, ea estratégia da coalizio ocidental passoua privilegiara contenco do grupo terro- rista, deixando parauma etapa posterior aquestio da retirada de Assad do poder. O segundo motivo, mais determinante, foi a intervencdo militar da Riissia em defesade Assad. Em setembro de 2015, ‘ogoverno russo iniciou ataques aéreos dirigidos ao territério da Sia, oficial- ‘mente contra as posigdes do EI - mas nao s6. Os bombardeios russos tinham comoalvo principal osrebeldesmodera- dos anti-Assad, justamente aqueles que io apoiados pelos EUA e as poténcias, ocidentais. Obviamente, essas ages mi- litares foram condenadas pelo governo norte-americano, para quem foco dos ataques deve ser oETenao ajudar Assad (veja mais sobre a Russia na pg 54). ARELUTANCIA DOS EUA Além das divergéncias coma Riissia, os EUAtémum problema adicional:aava- lingo segundo aqual principal perigo jimediato 60EI nao écompartilhada por alguns deseus principais parceiros. Aco- ‘mega pela mencionada Turquia, cujos principais nimigos sio os guerrilheiros curdos do Partido dos Trabalhadores de Curdistio, oPKK. Jénoentendimentode Aribia Saudita e Israel, aagio do Irina Siria é mais perigosa que a do EI. Outro problema é que parceiros es- tratégicos dos EUA, como Franga, Reino Unido, Alemanha, Turquia e Arabia Saudita, revelam-se incomodados com oqueacreditam seruma posturaomissa do governo de Barack Obama, quetteria aberto espago para a ofensiva russa. Opaisesti destruido, mas as tropas de Assad, apoiadas por iranianos e pelo Hezbollah, e tendo como retaguarda 0s fortes bombardeios da Riissia, con- quistou posicdes importantes. ‘Obama, porém, mostra-se muito resis- tente ao envio de tropas para combates, terrestres. Naverdade,o governo norte- americano teme que uma intervenci0 MAL NA FOTO Soldado da Frente al-Nusraretira ‘quadro do ditador sirioBasharal- ‘Assad na cidade de ‘rina, em 2015 diretana Siria cause mesmo efeito pro- duzido na invasio ao Traque em 2003: uma rebeliio de diversos grupos contra aocupagio estrangeira eapermanéncia prolongadadas tropas dos EUA no pais. Porora, osnorte-americanosprocuram manter os bombardeios aéreos e enga- jar ao maximo possivel os seus aliados europeus ot locais - principalmenteos curdos —num compromisso mais direto de combates no terreno. No meio dessa falta de entendimento entreas poténcias, estrangeiras, Assad vai estendendo sua longevidade & frente da ditadura siria. FRAGIL CESSAR-FOGO Com aresisténcia de Assad e a pro- longagao de um sangrento conffito, os atores envolvidos na guerra passarama se empenhar emuma solucio diploms- tica. O Conselho de Seguranga da ONU: aprovou, em dezembro, uma resolug0 prevendo negociagdesno inicio de 2016 entre ogoverno sitio eos rebeldes, sem a participagao de grupos. individuos considerados “terroristas’, caso do Ele da Frente al-Nusra. 0 processo de paz seria precedido de um cessar-fogo e ea DOSSIE ESTADO ISLAMICO EM FUGA Refugiados silos aguardam permissdo das autoridades para cruzar a fronteiracom a Turqula: mals de4 mithbes debraram a Sila conduziria, entre outros pontos, aum governo transitério e eleigdes no prazo de 18 meses. Foi a primeira vez que a Riissia aceitou um documento desse tipo. 0 pais nao concorda, porém, coma saida de Assad do poder como condico para as negociacdes, como defendem ‘grupos rebeldes de oposigao. Mas as negociagdes nem chegaram a comegar de fato. 0 aumento dos bom- bardeios russos, principalmente na cidade de Aleppo, levou a suspensio por trés semanas das discussées, pre- vistas inicialmente para 0 comeso de fevereiro. Somente nos primeiros dez dias do més, os ataques russos provo- caram maisde 500 mortesem Aleppo. ‘Apesar das dificuldades, no fim de fe- vereiro entrou em vigor um cessar-fogo na Siria, em um acordo costurado por EUAe Riissia. A pausa nas hostilidades temecomo principal objetivoaentrada de ajuda humanitiriano pais. Continuariam apenas asagées contra oEI ea Frente al- -Nusra. No entanto, poucas horas apés 0 inicio do cessar-fogo,o governo sitio eos grupos rebeldesjé trocavamacusagéesde que o outro lado havia violado a trégua. [36 GcATUALDADES| + semeste 016 O DRAMA DOS REFUGIADOS Oatendimento asvitimasdaguerraea ceriagZode um corredorparaa entrada de ajuda humanitéria sio ages considera- das prioritdrias pelas grandes poténcias para tentar minimizar o softimento da populaao siria. Nestes cinco anos de violénciaininterrupta, quase metade dos Desde o inicio da crise, Turquia, Libano, Jordénia, Iraque e Egito receberam 95% dos refugiados sirios 202000 GOR HOP soocee habitantes do pais abandonaram seus lares, tornando-se deslocados internos ‘ou refugiados em diversos paises. Apesar de acrise dos refugiados atin- gir a Europa com forga neste ano, as pessoas que fugiram da guerrana Siria dirigiram-se principalmente para cin- co paises do Oriente Médio: Turquia, Libano, Jordania, Iraque e Egito, que receberam pelo menos 4,3 milhdes de pessoas desde o inicio da crise. Essas nagdes concentram 95% dos refugia- dos sirios ¢ demandam muito mais, assisténcia dos servigos puiblicos do que ocorre atualmente na Europa (veja mais sobre a Europa na pég. 46). Nesses paises que fazem fronteira coma Siria, ha sérios problemas para garantir as necessidades basicas dos refugiados, como alimentacao, abrigo e ensino para as criancas. A gravidade dasituagao tem levadoa umamudanca de posigo dos governos dessasnagées. No Libano, onde o total de sirios refu- giiados, superior a1 milhao, equivale a 25% da populacao total, entraram em vigor em 2015 novas exigéncias paraos estrangeiros que chegam, como o paga- TT PRIMAVERA ARABE, CINCO ANOS DEPOIS Notniclo de 2011, uma onda de revottas varreu varios patses do Orlente Médioe do norteda Africa. Milhares de pessoas, sobretudo jovens, foram asruas relvindicages muito concretas, como democracia, liberda social Estava deflagrada a Primavera Arabe. Essas revoltas encheram de esperancaa popula¢ao rabenum primeiro momento. Em poucos meses, longevos ditadores foram derrubados. Entre janeiro e outubro ‘alram ospresidentes da Tunisla, do Egito, dolémen eda Libia- neste dltimo, o dita. dor Muammar Kadafi fol morto por um cerco popular. Asrevoltas também atingiram palses como Bareln, Arabla Saudita, Marrocos e a propria Sirla. Mas, passados cinco anos, oque se ve é um quadro de desagregacaonesses patses. No Egito, um governo elelto, dirigido pelos Islamicos vincul .de Muculmana, fol derrubado pelos militares. O atual presidente 60 ex-marachal ‘Abdel Fatah al-Sisi, que dirige umregime dominado peloExércitoe considerado tao ou mals autoritério que ode antes da Primavera Arabe. 0 lémen nao consegulu conclulr © processo de transi;ao politica. O pafs esta mergulhado em um conflito interno @ assiste a expansio de organizacées terroristas om seu territrio. Na Libia, a situagao 6 ainda plot. A queda de Kadafi gerou um vacuo de poder, fo- mentando a disputa entre diversas milicias. Essa desagregacio levou a formagao dedols governos apés as elekSes de 2014, que disputam a legitimidade de falar em nome do pals. Nao por acaso, 0 Else aproveltou dasituacao paratambém se inst no territérlo Uiblo, em torno da cidade portudrla de Sirta. Pelo menos na Tunisia a transicae democratica fol como um caso exemplar ao promover eleigies diretas, ogressista do mundo érabe e ter um governo eleito. Apesar disso, a nacao.enfrenta dificuldades, como o clevado desemprego entre.os jovens, que ainda gera protestos. ‘a Constitulgio mals ‘mento de umataxaparaaobtensiode lida pornoméximo um ano.A Jordénia, segundo o rei Abdullah Ibn al-Hussein, esta “em ponto de ebuligao”, jé que 0s sirios refugiados equivalem a 20% da populacao jordaniana, eo pais nio tem condigées de assegurar servigos Piiblicos aos que chegam. ‘A pressio é grande também na Tur- quia, pais que se tornou o principal des- tino dos refugiados - mais de 2 milhdes desirios cruzaram a fronteira entre os dois paises. A Turquia disponibiliza ‘mais de 20 campos de re abrigos so insuficientes para atendera todos os migrantes srios,e muitos deles esto semnenhuma assisténcia. A situ- acdo preocupa a Unido Europeia (UE), poisamaioriadosrefugiados que chega {& Turquia tem como destino final nagbes, ceuropeias como Alemanhae Austria. Por isso, oslideres da UE fecharam um acor- doemnovembro coma Turquia parao pais melhorar as condigdes dos abrigos e ampliar apermissio de trabalho aos sirios (veja mais sobre o envolvimento da Turquia na crise na pdg. 58). IRA X ARABIA SAUDITA No tabuleiro complexo que éo Oriente Médio, a guerra na Siria afeta 0 equili- brio de poder entre dois paises-chave da regio. A ArdbiaSauditaeo Irdestioem lados opostosno confit sirioe também alimentam divergéncias no que serefere Aadisputa pelo poder regional ereligi ‘mugulmana. Os sauditas sio guardiGes das tradigdes sunitas eseu regime apoia- -se numa forma de fundamentalismo (owahabismo) considerado inspirador de grupos terroristas como Al Qaeda e ELOIraéumareptblicaislamica tam- bém aferrada a fortes tradigSes conser vadoras, mas no ambito dos xiitas (veja ‘mais na pdg. 42). Ha também razées econémicas que dio sustentagio aessa rivalidade entre sauditas ¢ iranianos: ambos os paises esto entre os grandes produtores mundiais de petrél Por isso mesmo, 0 acordo histérico que as poténcias fecharam com o Ira em 2015, pelo qual o govern iraniano concordou em limitar drasticamente seu programa nuclear, em troca da sus- pensio das sangdes econémicas que pesavam contrasi,foimal recebido pelo regime saudita.O Irl,considerado desde a Revolugio islamica de1979 um pariana comunidade internacional, por suposta- mente apoiar gruposterroristas e buscar afubricagdo de armas mucleares (o que o regime sempre negou), foi reintegrado ao sistema global e ter acesso a cerca de 100 bilhdes de délares que estavam congelados. Emtermos politicos, poder ampliar sua influéncia na diplomacia internacional e seu poder regional. Ja o regime saudita é um dos mais autoritarios e fechados do mundo. Seu sistema judiciario prevé, entre as pe- nalidades, chibatadas ¢ decapitagio. Em janeiro, a execugio de 47 pessoas acusadas de terrorismo, entre as quais, um respeitado clérigo xiita, motivou fortes protestos no Ira. Manifestantes invadiram a embaixada saudita na ca- pital iraniana, Teera,e incendiaram 0 edificio, atitude eriticada pelo governo iraniano. O episédio foi a gota d’égua para que a Arébia Saudita rompesse relacdes diplomaticas com o Ira. Asexecugdes realizadaspelossauditas receberam dos EUA edaspoténciasuma condenagio em termos brandos. Ofato de os sauditas serem grandes produto- res de petréleo, aliados dos ocidentais ¢ com enormes investimentosnomercado financeiro mundial explica, segundo ana- listas, essa posiglo. Tradicionalmente, ‘os governos norte-americanos mantém relagSes estreitas como regime saudita. Dada essa rivalidade regional, o confii- tona Siria nao deixa de ser uma guerra indireta entre sauditas eiranianos. Mas essaé apenasuma das formas de enxer- gar acrise. Também é possivel analisar a guerra sob o prisma da disputa entre Riissia e EUA, que tentam manter seus interesses estratégicosno Oriente Médio. Ou, ainda, como uma luta internaentre o regime de Assad contra as milicias sunitase as organizagSesterroristas.Por causa de toda essa rede de interesses, & muito dificil encontrar uma solugo rapida e duradoura. Enquanto isso ocon- flitona Siriacontinuamatandomilhares de pessoas e é foco do maior desafio & seguranga mundial nos iltimos anos. PARA IR ALEM Nofilme #Chicogogir (de Joe Piscatlla, 2013) uma unversiria sia que ‘mora em Chicago, nos Estados Unides, tenta ajudara opesicéo que uta contra o ditador Basha al-Assad com a ajuda das redessociis. GEATUALIDADES|1¢ seme 2016 37 ea DOSSIE ESTADO ISLAMICO Cobica internacion ° acirra conflitds Intervengées de poténcias ocidentais no Oriente Médio marcam a historia da re; desenvolvimento impossivelentendera situagio politica atu- al do Oriente Médio sem levar em conta a histérica intervengi0 das poténcias ociden- tis, Esta ingeréncia externa nos paises da regio se acentuou nos iltimos cem ‘anos, estimulando conffitos internos e moldando a forma como a sociedade ‘mugulmana enxerga o Ocidente. (O Império Otomano (1281-1922) foio Aitimo califado - uma forma de governo islamico comandado porum califaque acumulaas fungées de um lider politico ceespiritual. Em seu auge, controlavaum vasto territériona Europa,na Anatélia (atual Turquia) e nas regides arabes. ‘Veio um longo periodo de decadéncia até que, ao fim da I Guerra Mundial, res- tavaapenaso centro turco, na Anatélia. A situagao social dos paises que se desmembraram do dominio turco-oto- ‘mano,comos povos submetidos a varias, privagées impostas pelo imperialismo ocidental, gerou ressentimentos que es- timularam a proliferagio de movimentos de nacionalistas érabes (pan-arabismo) ce fundamentalistasislamicos. As popu- lagGes desses paises viramo predominio do Ocidente - identificado com o cris- tianismo-comouma desvalorizagao de sua religido e de sua identidade. Nesse terreno, desenvolveram-se os grupos [38 GcATUALDADES|Psemeste 016 o> RS islamicos querechacama modemidade ocidental. Nao é casual quea Irmandade ‘Mugulmana, primeira grande organiza- 0 fundamentalista, tenha surgido no Egito em 1928, logo apés a derrocada otomana. A Irmandade ¢ até hoje o gru- po islimico mais influente do mundo. ‘Nessa mesma época, cresceuaimpor tnciaeconémica do Oriente Médio,que abrigaasmaiores reservas de petréleo e isdo planeta. As disputas pelo controle dos recursos petroliferos estiveram na origem de muitas intervengées estran- geiras, principalmente do Reino Unido, da Frangae dos Estados Unidos (EUA). ACORDOS SYKES-PICOT ‘Como fim do Império Otomano, suas provincias érabes foram postasem geral sob o controle britinicoe francés, como parte danova ordemestabelecida pelos vencedores da I Guerra. O desenho da regifo foi tragado, antes mesmo do fim da guerra, em acordos secretos entre Reino Unido e Franca, cujas delegagies foram chefiadas, respectivamente, por Mark Sykes e Frangois Georges-Picot. Eles debateramo assunto entre ofim de 1915 eoinicio de 1916. Suas conclusées, quevieramaser conhecidascomo“acor iio e contribuem para 0 io fundamentalismo dos Sykes-Picot’, pretendiam definir a partilha do império (vejamapa ao lado). elo entendimento, aFranga passaria a controlar diretamente territérios que iam da Anatdlia ao litoral mediterraneo oriental (atuais Siriae Libano),incluin- doo norte do atual Iraque (a cidade de Mosul, por exemplo). Ao Reino Unido caberia o controle da maior parte das restantes terras drabes, entre elas as que correspondem a atual Jordania e as da maioria do Iraque (0 litoral do Golfo Pérsico e a regio préxima, que abrange a cidade iraquiana de Basra). ‘APalestina seria intemacionalizada-na pritica, passou também ao controle bri- ico. Essa diviséo,embora nfo tenha sido colocada em prética exatamente como o planejado, definiu os limites da influéncia das duas poténciasna regio. Essanovaconfiguracio ainda teveou- tros desdobramentos importantes no Oriente Média Osturcosdesenvolveram ‘uma luta de independéncia, que impe- diu o controle grego sobre a Anatdlia e desembocou na constituigio da Turquia contemporanea (vejamais napdg. 58). Na érsia (atual Ira), em1921, um golpe de Estado olocouno poder o general Reza Khan, que coroou-se xa (monarca) em 1926, com onome de Reza Shah Pahlevi. As terras da Peninsula Arabe (onde ficam, entre outros, os atuais Ardbia Saudita, Kuweit, Iémene Oma), os eu- Cen ett ee a En ad i ee Impéri a dominacao perry Cr) ory a : por ry bis ey ean ‘soe pany 3 corr rar 3 ‘cam rer V toeeae, 2 al, Se eer eet eae et ete Pipestone erst ie erertt peatereater ener Tenn peared re rier rena Pieriersiaeernatcteter ay aan Panter neem sic et Petree vaeirirer riety orn anti er ec Te penrvier nen roarserer eon peat serrmeter ios feo ir (ear = ecto x a Prearearal : Preeti Pe = os Perera re erections Nope oe Seer py rid ot eves nee en ‘anes pet Ce er Cerra Perce ey ee ar Sere Perec ry t Selena Cee ey a paneer era ee Py Pe cr ave reer rrr ney Oortnus a! Dre rence a ay 40 e DOSSIE ESTADO ISLAMICO ropeus concederam a possibilidade demanter Estados independentes, do ponto de vista formal, embora também submetidos ao controle das poténcias. essa forma, os acordos Sykes-Picot definiram a configuracio politica do Oriente Médio apés aguerra. Com base neles,negociagées ofciaisestabeleceram fronteiras, muitas das quais artifcias, milenares, que mantinham lagos culturais e eco- némicos comuns. Tudo isso contribuiu para o crescimento de um sentimento antiocidental nos povos da regio. CRIAGAO DE ISRAEL ‘Loge apés a II Guerra Mundial (1939- 1945), outro grande acontecimento re- configurou politicamentea regiio:acria- fo do Estado de Israel. O novo pais, 20 Palestina, expulsou milhares de arabes, palestinos queeramamaioria da popula- folocal ecriouuma situagio de disputas comas varias nacées arabes vizinhas. Israel tem sua origem no sionismo, movimento surgidona Europanoséculo XIX, com objetivo de criar um Estado paraos judeus. 0 apoio internacional & causa aumentou, depois da Il Guerra, 20 ser revelado 0 genocidio de cerca de 6 milhdes de judeus nos campos de exter- minio nazistas,o Holocausto. Em 1947, Organizagio das Nagdes Unidas (ONU) aprovou a divisio da Palestina em dois Estados ~ um para os judeus, com 53% do territério, outro para os érabes, com 47%, Estes itimos rejeitaram o plano. Em14demaiode1948, foicriado oEs- tado de Israel, que, desde o inicio recebeu forte apoio politico, militar e financeiro dos EUA. Cinco paisesdrabes enviaram tropas para impedir sua fundagio, mas as forcas militares de Israel venceram © combate. Apés a guerra, em janeiro de 1949, Israel passou a ocupar 75% da regio, Mais de700 mil palestinos foram expulsos,refugiando-sena Cisjordania, em Gaza ou nos paises érabes vizinhos. Em 1967, Israel voltou a derrotar uma alianga de paises érabes na Guerra dos Seis Dias, e passou a controlar a Cisjor dania e Jerusalém Oriental, a Faixa de Gaza e a Peninsula do Sinai (que seria devolvida ao Egito em 1982), além das Colinasde GolA, que pertenciam Siria. ‘ARevolugio [slamica noir, em 1979, representou ‘um momento de ruptura do pals com os Estados Unidos Essa situaggo levou Israel a cons- tituir-se como um pais altamente militarizado, em que os conflitos sio constantes, entremeados por tréguas. Um dos efeitos desse longo conflito foi © desenvolvimento de grupos funda- mentalistas islamicos que combatem Israel de forma radical. O palestine Hamas, inspirado na Irmandade Mu- gulmana, controla aPaixa de Gaza-o que complica ainda mais a busca pela paz, ja que Israel no negocia com 0 grupo, por consideré-lo terrorista. Ha também o libanés Hezbollah, vincu- lado politicamente ao governo sirio e apoiado pelo Ira, que ja enfrentou militarmente Israel no sul do Libano. REVOLUGAO ISLAMICA NO IRA Outro momento decisivo nas relagées entre o Oriente Médio e 0 Ocidente ‘ocorreu no Iri coma Revolugao Iskimi- ca, de 1979, que derrubou 0x4 Moham- mad Reza Pahlevi (filho do primeiro xa, que abdicara em 1941). Durante anos, ‘os EUA mantiveramuma alianga como 14, sustentando um governo corrupto e poucointeressadonasituacao social do pais. Em troca, as empresas norte- americanas mantinham vantajosos contratos, principalmente para explo- rar os recursos energéticos iranianos. Em1978 acriseeconémicae aampla corrupgo desencadearam protestos con- ‘traoxd. As virias correntes oposicionis- tas uniram-se sob alideranga do aiatola Ruhollah Khomeini, exilado na Franca. 0 governo nio conseguiu controlar a insurreigio, ¢, em janeiro de 1979, Reza Pahlevi fugiu do paise obteve asilo poli- ticonos EUA. Apés umregresso triunfal ao Ira, Khomeini assumiu o poder. ARevolugao Islémica explicitou are~ jeigdoda sociedade iranianaa submissio ocidental emarcou ainstauragéodeum regime que se contrapée fortemente aos UA. Além disso, alterou acorrelagiode forgasna regio, Emumpais-chavecomo o Ira foi criada uma repiiblica islimica dirigida por xiitas, um fator a mais de tensio com osoutros regimesda regio, todos comandados na épocapor sunitas, (eia sobre xiitas e sunitas na pag 42). AGUERRA DO GOLFO A Guerra do Golfo marcaa primeira intervengio militar norte-americana no Oriente Médio apés a queda do Muro de Berlime o inicio da derrocadasocia- lista em 1989 - periodoem que osEUA consolidaram sua hegemonia mundial. Oestopim do conflito foi aanexagao do Kuweit pelo Iraque,em 1990. Mesmo tendo apoiado o Iraque na guerra contra 0 Ira (1980-1988), os norte-americanos decidiram acionar sua maquina de guerracontrao ditador iraquiano Saddam Hussein. Além de restaurar a soberania do Kuweit, o ob- jetivo era evitar que o fortalecimento de tum pafs-chave no Oriente Médio como o Traque alterasse o equilibrio de poder naregifo. Implicitamente, a intervengio aindamandavaum claro recado sobrea capacidade norte-americana de susten- tar sua hegemonia no Oriente Médio. ‘Emuma operagao fulminante,inicia- da em 16 de janeiro de 1991, as forgas coligadas de cerca de 30 nagdes,lide- radas pelos EUA, derrotaramo Iraque em pouco mais de um més. Mesmo derrotado, Saddam Hussein conseguiu se sustentar no poder. OCUPAGAO DO IRAQUE Nadécada seguinte,o Iraquevvoltariaa ser alvo das forcas militares norte-ame- ricanas, numaagao cujosefeitos estiono cerne da atual crise no Oriente Médio. Em_2002, EUAe Reino Unido acusaram Saddam Hussein de acumular armas de destruigo em massa. O governo do presidente norte-americano George W. Bush comecou os preparativos para uma guerra contra Iraque, queera apresen- tada também como parte desuaofensiva contraoterrorismo,naesteiradareacio aos atentados cometidos pela Al Qaeda, nos EUA, em 1 de setembro de 2001. EUAe Reino Unido decidiram atacar © Iraque, em marco de 2003, mesmo sem o respaldo da ONU. Derrotaram rapidamente os iraquianos, conquis- tando a capital, Bagda, em 9 de abril, einstalando um governo de ocupacio. ‘Meses depois, Saddam foi capturado,e ele acabou sendo executado em 2006. Posteriormente, ficou comprovado que oditador iraquiano nao possuiaarmas de destruigo em massa. As forcas de ocupagio dos EUA tentaram impor no Traque uma nova ordem politica, favorecendo a maioria xiita em detrimento dos sunitas - nos ‘QUEDADO DrTADOR Estitua de Saddam Hussein écoberta ‘coma bandeira ‘dosEUA durantea ‘ocupag do lraque, ‘em 2003 quais Saddam apoiava-se para gover- nar. Os protestos contra o dominio estrangeiro logo deram origem auma insurgéncia contra as forcas ocidentais. Atentados e ataques tornaram-se fre~ quentes, convulsionando o pais. ‘Com a posse de Barack Obama na presidéncia dos EUA, em 2008, 0s norte- americanos comecaram aretiraras tro- pas do Iraque gradualmente, concluindo a operagio em dezembro de 2011. Além dedeixarcerca 10 milcivis mortos,essa longa permanéncia em solo iraquiano desestabilizou completamente o pais, com oacirramento das desavencas po- liticas e sectarias. Aliada a esse fator, a retirada das tropas norte-americanas foi sucedida por um vacuo de poder que favoreceua proliferagio de diversas ilicias. 0 desenvolvimento do grupo Estado Islamico esta diretamente vin- culado aessa situagao (vejana pag 28). ‘Todas essas intervengdes contribu- fram para fomentar uma forte aversio a0 Ocidente em grande parte das socie- dades mugulmanas do Oriente Médio. Obviamente, o repiidio as ingeréncias, das grandes poténcias por si sé no é suficiente para explicar a atual onda fundamentalista em alguns setores do islamismo — afinal,nao se pode ignorar © baixo desenvolvimento econémico nna maioria dessas sociedades e as di- vvisdes dentro do préprio isla como al- gunscatalisadores do extremismo. Mas também é inegavel que esse histérico de dominacio ocidental gerou fortes ressentimentos ainda nao superados. GGEATUALDADES|1¢cemesr2016 4 ea DOSSIE ESTADO ISLAMICO A imensidao do mondo muctlmand Aacio de do isla alimenta distorgdes sobre a segunda crenga mais ostiltimosanos,aima- gem do islamismo fi- coumuito associadaa esteredtipos do terro- rismo,daintolerancia edarepressio aos di- reitos individuais. Essa visio deturpada 6 consequéncia da atividade de grupos violentos como a Al Qaeda e 0 Estado Islimico (ED, que dizem basear seus atos brutaisno isl. Aoescolher ocaminhodo fandamentalismo para disseminar sua interpretagio radical do isla, essa mino- riabarulhenta acabasilenciando outras tendéncias dareligiio -umaexpressiva maioria que repudia os atosde violencia. ‘Ainda que essa pequena frago funda- ‘mentalista ganhe os holofotes da midia, ela¢ incapaz de representar toda a di- vversidade de uma comunidade formada por 7 bilhao deadeptos do islamismo. Basegunda renga mais popular, depois, do cristianismo, que tem 2,4 bilhées, e seus seguidores aumentam numa velo- cidade maior do que. religiéo de Cristo. ‘Ao longo de seus quase 14 séculos de existéncia,o islamismo exerceu grande influéncia, nao apenas na esfera reli- giosa, mas nos campos da politica, da economiae dasrelagéesinternacionais. ‘Uma de suas principaiscaracteristicasé abranger nao apenas um corpo de cren- a5, mas orientagdes que influenciam toda a vida social de seus praticantes. 42 ccATUALDADES|Psemeate 016 ipos fundamentalistas que dizem agir em nome popillar do planeta OY “KX () ) RAPIDA EXPANSAO O islamismo, ou isla, cujos seguido- res sio conhecidos como islimicos ou muculmanos,éumareligiio monoteista baseada nos ensinamentos de Mohamed (670-632), chamado no Ocidente de Ma- ‘omé, quenasceue viveu onde atualmen- tesesituaa Ardbia Saudita. Aos 40 anos, ‘Maomé passouatervisdese ouvir vozes, queatribuin ao anjo Gabriel, trazendo- Ihearevelagao da palavra de Deus (Al). Posteriormente, essasmensagens foram consolidadas num livro, o Alcordo. Perseguido pela elite comercial de Meca, sua cidade natal, Maomé partiu em 622 para Medina. Esse movimento, comhecido como Hégira (ou migrasio), 6 um dos elementos constitutivos do islamismo.Conquistando adeptosrapi- damente, Maomé, chamado pelos segui- dores de profeta,tornou-senio apenaso chefe religiosa maso govemante politico e comandante militar de Medina. Os novos figisdispuseram-se arealizar uma guerra santa de expansio doisla, que se espalhou por todasas regiées da Arabia. Mesmo apés a morte de Maomé, exércitos comandados por seus suces- sores invadiram territérios vizinhos e emmenos de um século formaram um. grande império,o califado. O dirigente do novo império era o khalifa (califa), termo que equivale a representante de ‘Maomeé apés a sua morte. Ao longo da histéria, os mugulmanos constituiram ‘trés grandes califados ou impérios: Omi- ada (661-750), Abassida (750-1258) ¢ Otomano (12811922).0 fimdoImpério Otomano marcou o fim do predominio mugulmano como forga politica unifi- cada de uma ampla regio do planeta. ‘SUNITAS E XIITAS ‘Os mugulmanos dividem-se em uma pluralidade de correntes, mas duas grandes vertentes sio as principais: os sunitas (cerca de 85%) e os xiitas (15%). Aorigemdessa divisioremontaadisputa pelasucessio de Maomé. frente do isla. ‘Apés a sua morte, duas tendéncias se manifestaram. A minoritaria defendia que osucessorfosse alguém da familia do profeta— Ali, primo e genro de Maomé, eraquemliderava essa corrente. J4a.ou- tratendénciaentendia que qualquermu- gulmano poderia ser oescolhido, desde que fosse da tribo de Maomé- 0 cla dos coraixitas-e aceito pela comunidade. Este iltimo grupo quedefendiauma eleigao entre seus seguidores acabou se impondo, e Abu Bakr, amigo de Maomé, tornou-seo califa,em 632. Seguiram-se ‘outros dois califas (Omar e Otman) até Alli, o primo de Maomé, assumir 0 po- BS aang La ca Tt cy re) veceraracanaeecs ced cy Peng od eee Cee ue ay Maomé fol sucedide por cretrelcoy erry ce ee ean oes rere ‘os"bem gulados” Be Ce ener a eed 85% ney pty ene eee) rere : Prose heey Pore 15% eer ;omoAllibn Abl ‘dos cAI mmugtimanos Coren pestis Pee LLC PORCENTAGEM DE MUCULMANOS NA POPULACAO POR PAIS DSS Ltd ere Perey ees perenne prep reeneeai Peeeineeatny emer Poneto ees pects Pierrot properties eed Pa ar Ea eee rn sobrenatural,em874, rs Peete ey ireeenerentien Poeerr eat Perris ears perieeree ey ees Et sober Perieaeay re meee Seco) See ry ere Perr eres onre Per sed een Cr nro) prey permet) Lanterns Perret Serie ; Hanbalita Dee RoC a aor Sea oro iret Ea err ea et os ees oe aan canned Perot eer rete pemerioreniserira frei rerio re ae ana fies fos de supersticdo, os sufistas foram multas vezes perseguldos pelas autor Perey outer ura eetcid ae eur eed retin Asc err er ee eC or er ees eer a erento ey ere! e DOSSIE ESTADO ISLAMICO der,o que alterou o sistema sucessério em favor de seu grupo e desencadeou uma guerra civil dentro do isla. Ali foi morto em 661, abrindo espago para que “Muawiyya se tornassecalifa,iniciandoa primeira dinastiacalifal, ados omiadas. Amaioria dos érabes aceitoua pacifi- cagio sob seu comando. Mas os seguido- resde Ali consideravam Muawiyyaum usurpador e formaram o Partido de Ali (Shiat Ali), que éa origem dos xiitas.O segundo filho de Ali, Hussein, liderow uma rebelifo contra Yazid, filo e su- cessorde Muawiyya, mas foifacilmente derrotado. Isso consolidou o poder dos ‘omiadas, que se tornaram os seguidores da tradigo (ounna), ou sunitas. GEOPOLITICA E RELIGIAO Durante séculos, as rivalidades se as- sentaram, ¢ as duas alas do islamismo conviveram em relativa paz. Em boa medida, as divergéncias mais recentes, tém a ver com a Revolugio Iraniana, vitoriosaem 1979, que levou os xiitas a0 poder. A ascensiio politicado Ira foivista como umaameaga i hegemonia regional da Arabia Saudita, guardia das tradigdes, sunitas na regio (veja mais na pag. 37). Mais do que um grande conflito sec- trio, o atual antagonismo entre xciitas, e sunitas esta mais ligado a disputas geopoliticas. Na verdade, a rivalidade 6 alimentada menos pela imposigio de uma vertente religiosa sobre a outra; trata-se mais de uma disputa por po- der local e regional. Nessa estratégia, 0s governantes acabam insuflando 0 44 ccaTUALDADES|Psemeste 016 dio religioso para atingir seus objeti- vvos politicos -sejao controle do poder local, aexpansio da influéncia regional ou adistribuigo dasriquezas nacionais, parao seu grupo de apoio. 0 que tem acontecido em paises como Siria, Iraque, Libano, Bareine Iémen. Ainterferéncia estrangeira, especialmente das poténcias, ocidentais, também exerce papel deci- sivoneste cenério (veja mais na pag. 38) OFUNDAMENTALISMO WAHABITA ‘Aatual onda fandamentalista no isla temorigemem algumascorrentes den- tro do sunismo que pregam uma inter- pretagio rigorosa e literal do Alcordo. O salafismo e o wahabismo sio as ex- presses mais ativas dessas tendéncias. Os preceitos wahabistas difundidos pela Ardbia Saudita inspiram diversos grupos terroristas 222008 GOR HOP soocse PRECES DIARIAS. ‘Muculmanos rezam cemmesquita de Moscou (Rssia): religito tem 1,7 bllhdo de seguldores ‘em diversospalses Salafismo, que vem da expressio al- salaf,ou seja, os predecessores, designa de forma genéricaessalinha de interpre- ‘ago, enquanto wahabismo diz respeito diretamente ao movimento criado pelo teélogo Mohammed ibn Abd al-Wahhab, no século XVIII, em alianca com o cla dos Saud ~ que formaria uma dinastia responsivel pela reunificacao arabe na Arabia Saudita, em 1932. Os wahabi- tas passarama ter grande influénciana Arabia Saudita A familia Saud detinhao poder politico eeconémico,enquanto os clérigos wahabitas passaram acontrolar a educagio eo sistema judiciario. ‘Coma influéncia regional e interna- cional obtida coma riqueza do petréleo, os sauditas difundiram esses princi- pios em varios paises. As monarquias da Arabia Saudita e do Catar teriam gasto, desde a década de 1970, cerca de3 bilhdes de délares por ano parafinanciar a construgao de madrassas, universida- des, mesquitas eoutras instituigées, para difundir o wahabismo pelo mundo. As, poténcias ocidentais nfo se opuseram a essa ago, porque os dois paises sio seus aliados e mantém iniimeros negécios — em particular a venda de petréleo ¢ a compra de armas ~ que ajudam a mo- ‘vimentar aeconomia norte-americana e de varias nagdes europeias. Os preceitos wahabistas inspiraram diversos grupos terroristas que dizem combater em nome do isla. O fortale- cimento dessa corrente ganhou gran- de impulso na invasio do Afeganistio pela Unido Soviética, em 1979. Diversos ———— FUNDAMENTALISMO NAO E SO ISLAMICO ‘Ainda que o fundamentalismo esteja atualmente associado aos islamicos, grupos fundamentalistas existem em varias roligides. Eles defendem que Interpretacdes Uterais dos textos religiosos devem sera nica orientagao para diversos aspectos da vida, das relagées familiares a organizacao do Estado eda socledade. E uma posicao ‘que se opse a perspectiva secular adotada desde a Revoluao Francesa (1788), quando os negéclos de Estado se separaram das convicgées religiosas.. Arigor,o termo fundamentallsmo 6 inexato, quando se fala om mugulmanos, porque designava movimentos surgidos no inicio do século XX entre os protestantes mals conservadores dos Estados Unidos (EUA). Eles queriam avolta aos fundamentos da {fé crista e defendiam que a Biblia deverla ser entendida Uteralmente. Grupos pro- testantes conservadores nos EUA, por exemplo, sio contra oaborto ea igualdade de direitos civs paras homosexuals. Nos catélicos, manifesta-se emorganizages como atradicionalista Opus Del, surgidana Espanha. Entre os hinduistas, um exemplo 60 Partido Bharatiya Janata (BJP), que atualmente govern: Intolerancia em relagao aos cultos muculmanos no pais. grupos emillitantes inspirados nowaha- bismo lutaram no pais, com apoio oci- dental. Foio caso de Osama in Laden, que futuramente dirigiriaa Al Qaeda. Na atual crise envolvendo o extre- mismo islimico no Oriente Médio, Catar e Arabia Saudita sio acusados de financiar e armar grupos fundamen- talistas que se opunham aoregime sirio, ‘mas posteriormente juntaram-se ao EI, evando consigo as armas eo dinheiro. JIHAD E SHARIA Entre as interpretagées literais que © wahabismo faz dos textos sagrados, a mais polémica diz respeito 3 jihad, traduzida em geral por “guerra sa Este sentido de conotagio mais militar se impés, mas nao corresponde ao que esti contido no Alconto. Literalmente, jilad é “esforgo ou empenho em favor de Deus”. Pode referir-se & disciplina da transformagio interior, contra os préprios erros ou os da comunidade (grande jihad) ou a guerra de conversio dos infigis (pequena jihad). A interpretacao literal das normas contidasno Alcordotambém deu origem A sharia, que pode ser traduzida por “o caminho certo”. Trata-se do cédigo legal islamico, que estabelece regrasa serem obedecidas na vida em sociedade. Sua consolidagao data do século IX, quase 250 anos depois da morte de Maomé. Isso explica muitas das contradicées, apontadas por especialistas entre oA condo easharia. 0 Alcondo por exemplo, diz. que ha igualdade entre homens ¢ India e tem umhistérico ‘mulheres,enquanto asharia afirmaque amulher é inferior e deve cobrir-se. A shariaabrangetodos os aspectos davida do muculmano ~ as regras familiares, a sexualidade, os habitos alimentares, as, obrigagdes religiosase as praticas eco- némicase politicas. De modo geral, sio normas restritas 4 esfera privada e pes- soal dos mugulmanos. Mas em estados religiosos, como a Ardbia Saudita,elaé instituida como sistema de lei, poden- do ser aplicada pelas cortes de justia, essa forma, crimescomo adultério,o rouboea ingestio de bebidas alcodlicas podem ser punidos com amputagées, chibatadas e até mesmo a morte. Em muitos paises de maioria mugul- ‘mana, especialmente nos que adotam a sharia institucionalmente, existem restrigdes as liberdades democraticas ce desrespeito aos direitos humanos. No entanto, ha uma grande diferenca des- sas nagdes paraa situaco da Turquiae da Indonésia, por exemplo. Ainda que a democracia nessas nagées enfren- ‘tem desafios, sio Estados de maioria ‘mugulmanaem que as instituigdes so seculares (separadas da religio) e que realizam eleigdes regulares. Damesma forma, apesar de o fundamentalismo islamico ser uma ameaga a seguran- gainternacional, a imensa maioria da Comunidade muculmana abomina 0 terrorismo e prega a tolerancia. Sio exemplos que mostram como algumas generalizagdes simplistas nao tradu- zem a realidade e ignoram a diversi- dade da sociedade muculmana. | RESUMO Estado Islamico ESTADO ISLAMICO 0 El &considerado 0 grupo extremista islamic mals poderoso dahistria Seucrescimentoaprovetou-se dasituagio decaosnotraqueena Siia.Na regio que ocypou, 0 Elatua como sefesse umverdaelo Estado, com rigids esinp- radasnumaintrpretacofundamentalta doislamismo,emétodoscrugis,comoox=- cugées por decaptardo ou aoitamento. ‘SIRIA Aguerra civil na Siriaé amaior crise humanitria deste sécul. Aim de pelo menos 250 milmortes, 1 milhéesde sitios tiveram de sair de suas casas. Grupos re- beldes, aplados pelasrandespotincias, tutam desde 2011 para derruba oditador Basharal-tssad, quetem o apoio daRis- sla, do rd e do grupo libands Hezbollah. Apartcipacdo do Ele de miliciascurdas tornam oconfte ainda mals complexo. ‘COALIZKO 0s Estados Unidos (EUA)lide- ram uma coalizdo de mais de 40 paises, que realiza bombardelos aéreos contra: bases do El. Como os conflitos na Siriae =o avanco do grupo extremista esto en- "= trelacados, as potnclas nao conseguem chegar a um consenso sobre a melhor estratigiade combate, polsha interesses divergentes entre os prindpas atores. INTERVENGKO OCIDENTAL As interfe- réncias das poténcias no Oriente Médio, especialmente apés a | Guerra Mundial, alimentaram um sentimentoartiocdntal entre as nades muculmanas. O Acordo Sykes-Picot (1915-1916) criou fronteiras artfciais na regigo, o que acirrouas dis- putasinternas.Posteriormente, a criago delsrael, a Revolucdoslamica nolréeas ‘operaciomilitares dos EUA no raquede- = sestablizaram ainda malso Oriente Médio. ISLAMISMO Com 1,7 bithéo de adeptos, © Islamism é uma religléo monoteista, | baseada nos ensinamentos de Maom (670-622). Osmugulmanos se dividem em dduas grandes vertentes: os sunitas e os xiltas. Divergncias entre os dois grupos provocam confitos regionals, nsuflados por disputaspoliticas.Aatualonda funda- mentalista noislatem base nos preceitos wahabitasdifundidos pela Ardbia Saudita. GGEATUALIDADES|1¢ seme 2016 45 a eS — vide oD Oi . + ar = i . . ee OW eM lee cir CeCe MAU) tol ce oot art ¢:\ (ae crise humanitaria e reacende o debate sobre a imigracgao no continente Cees * LONGA TRAVESSIA Poliials conduzem rmigrantes na slovenia, em ‘outubro de 2015: ‘uxo recorde na Europa mundo vive atualmente a ais grave crise derefugiados desde a II Guerra Mundial. A situagio tornou-se especialmente criticana Europa, continente que rece- beu mais de 1 milhio de refugiados em 2015. 0 fato mobilizou os governantes e reacendeu a polémica na sociedade sobre como receber os milhares de estrangeiros que continuam chegando no continente. Sé nas primeiras seis semanas deste ano, o mimeo de pes- soas que tentaram entrar ilegalmente na Europa pelo mar subiu dezvezes em comparagioaomesmo perfodo de 2015. ‘Amaforia dos refugiados que chegam a Europa vem da Africa e do Oriente Médio, fagindo de guerras, conflitos internos, perseguicdes politicas e vio- laces de direitos humanos. Mas nem todos conseguem alcangar seu desti- no final. A prineipal porta de entrada no continente é a Grécia ou a Itilia e, para chegar lé, muitos migrantes desafiam os mares revoltos do Medi- terrineo. A travessia é perigosa, feita emembarcacées precérias, geralmen- te superlotadas. Segundo a Organiza gio Internacional para as Migragdes, (OIM),3771 deslocados morreram ou desapareceram durante as travessias no ano pasado, niimero recorde. $6 nas seis primeiras semanas de 2016, 409 pessoas perderam a vida no mar. Para os que conseguem fazer a tra- vvessiae chegar ao préspero continente europeu, os problemas nfo terminam. destino final dessa massa humana soos paises menos afetados pela crise econémica que ha anos ronda o Velho Continente, como Alemanha, Suécia e Austria. Para chegar até la, os migrantes precisam cruzar diversos paises, onde nem sempre sio bem recebidos. A res- postade muitos governos écarregadade racismo e xenofobia, com um discurso que defende medidas extremas, que vio da prisio a deportacio dos migrantes. 448 ccATUALDADES|Psemeate 016 De onde vém os refugiados drama dos refugiados ganhou vi- sibilidade e chocou o planeta quando imagens do corpo do garoto sirio Aylan Kurdi, deapenas3anos,jogado debrugos emma praia nacosta da Turquia, foram publicadas em sites e jornais de todo 0 mundo em setembro do ano passado. Aylan, o irmio Galip, de 5 anos, e sua mie, Rehan, morreram afogados numa fracassada tentativa de cruzar o Mar Egeu rumo ailha grega de Kos. 0 tinico sobrevivente foio pai, Adbullah. O desti- no final dos quatro migrantes, que fugiam deKobane, cidade siria massacradapela guerra, erao Canada, pais onde moram parentes da familia, mas que jé havia negado um pedido de asilo. As imagens do menino franzino sem vida, largado na areia, viraram um triste simbolo da maior crise humanitaria registrada no continente em sete décadas. ‘Emborao drama da familia do peque- no Aylan tenha comovido o mundo, ele esta longe de ser o tinico que se abateu sobre os migrantes. Metade do fuxoatual & composto de pessoas que fogem da Siria, pais que desde 2011 enfrentauma sangrenta guerra civil que parece longe de terminar.Estima-se que ocontfto no pais governado pelo ditador Bashar al- Assad jf matou mais de 250 mil pessoas € provocou o deslocamento de 46 mi- Ihdes— um quinto da populacio do pais. Depois dos sirios, os maiores grupos de migrantes, por nacionalidade, sto formados por afegios (21% do total), iraquianos (8%) e eritreus (4%). Ins- [AYLAN KURDI ‘Amorte do garoto sitio de apenas 3 anos, em setembro de 2015, na Turquia, exp0s odrama da crise migratoria tabilidades no Afeganistdo eno Iraque = onde os governos locais enfrentam, respectivamente, militantes extremis- tasda Al Qaeda edo Estado Islimico—e ‘obrutal regime ditatorial que comanda a Eritreia, pais da Africa Oriental, as margens do Mar Vermelho, explicam por que essas nacGes, juntamente com ‘Siria, respondem por mais de 80% do fluxo de pessoas que buscam desespe- radamente um abrigo na Europa. As principais rotas Especialistas dividem as travessias do Mediterraneo em dirego a0 con- tinente europeu emtrés grandes rotas. © Mediterraneo central: parte da Libia e tem como principal destino a Ttilia, notadamentea Tiha de Lam- pedusa, préxima & costa africana. © Mediterraneo ocidental: também retine refugiados africanos, que par- tem do Marrocos, Tunisia e Argélia e buscam desembarcar na costa da Espanha. © Mediterraneo oriental: é aquela utilizada para fazer a ligagao entre aTurquia ea Grécia. Até 2014, 0 fluxo de refugiados con centrava-se majoritariamente na rota central, com milhares de libios fugindo davviolénciae da instabilidade que en- golfaram seu pais depois dos aconte- cimentos da Primavera Arabe - onda de protestos e revolugdes populares que eclodiu no mundo érabe a partir

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