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CAPITULO Introducao ao Concreto Traducdo e adaptacéo Profa. Dra. Moema Ribas Silva PREAMBULO Neste Capitulo, so descritas importantes aplicagées do concreto, examinando-se as raz6es pelas quais 0 concreto 6 o material estrutural de maior uso na atualidade. Os principais componentes dos concretos modernos s&o identificados e definidos. E dada uma breve descrigdo dos principais tipos de concreto. A fim de beneficiar alunos iniciantes, uma introdugdo as importantes propriedades da engenharia dos materiais, com énfase especial ao concreto é também incluida neste capitulo. As propriedades discutidas sao resisténcia, médulo de elasticidade, tenacidade, estabilidade dimensional e durabilidade. Finalmente, so fornecidas, uma introdugo ao Sistema Internacional de Unidades (SI) e fatores multiplicativos para a conversao de unidades do sistema americano ou inglés para unidades do sistema SI. O CONCRETO COMO MATERIAL ESTRUTURAL Em artigo publicado pela “Scientific American” em abril de 1964, S. Brunauer e L. E. Copeland, dois eminentes cientistas na drea de cimento e concreto, escreve- Tal © material mais largamente usado em construgio é 0 concreto, normalmente feito com a mistura de cimento Portland com areia, pedra e agua. No ano passado, nos Estados Unidos, 63 milhdes de toneladas de cimento Portland foram convertidas em 500 milhdes de toneladas de concreto, cinco vezes 0 consumo de ago, em massa, Em muitos pafses, 0 consumo de concreto é 10 vezes maior que o de ago. O consumo mundial total de concreto, no ano passado, foi estimado em trés bilhdes de toneladas, ou seja, uma tonelada por ser humano vivo. © homem nao consome nenhum outro material em tal quantidade, a ndo ser a dgua 02 Conereto: Estrutura, Propriedades e Materiais Hoje, a proporgdo em que o concreto € usado € rhuito diferente do que o era hd 30 anos atras. Estima-se que 0 atual consumo mundial de concreto é da ordem de 5,5 bilhGes de toneladas por ano. O concreto nao é nem tao resistente nem tao tenaz quanto 0 ago, entao, por que é 0 material mais largamente usado na engenharia? Hé algumas razées para isso. Primeiramente, o concreto! possui excelente resisténcia a dgua. Ao contré- rio da madeira e do ago comum, a capacidade do concreto de resistir & agdo da Agua, sem deterioragao séria, faz dele um material ideal para estruturas destinadas a controlar, estocar e transportar Agua. De fato, uma das primeiras aplicagdes co- nhecidas do concreto consistiu em aquedutos e muros de contengao de 4gua, construidos pelos romanos. O uso de concreto em barragens, canais, canalizagdes para conduzir Agua e tanques para estocagem €, na atualidade, visto normalmente em quase todo o mundo. (Figs. 1-1 a 1-4). A durabilidade do concreto a alguns tipos de Aguas agressivas ¢ responsdvel pelo fato do seu uso ter sido estendido a muitos ambientes agressivos tanto industriais quanto naturais. (Fig. 1-5). A maior estrutura circular jé pré-fabricada de concreto, para transporte de dgua. é parte do projeto do Central Arizona - esse empreendimento que custou $ 1,2 bilhoes de datares foi desenvolvido pelo US. Bureau of Reclamation: e vai levar dgua do Rio Colorado, para a agricultura, indidstria e uso municipal no Arizona, incluindo as dreas de Phoenix e Tucson. O sistema contém 1560 secées de tubos, cada um com 6,7 m de comprimento, 7.5 m de didmetro externo (equivatente d altura de um edificio de dois andares, 6.4 m de didmetro interno e pesando até 225 toneladas). ' Neste livro, o termo concreto se refere 20 concreto de cimento Portland, a no ser que seja definido diferentemente. 2 N.T. Bureau of Reclamation, entidade americana responsdvel pelos recursos hidricos. Ver na parte introdutéria 0 enderego completo dessa entidade. Introdugao ao Concreto 03 Figura 1-2. Barragem de Itaipu, Brasil (Foto cedida pela “Promon Enga., Brasil”). Este espetacular projeto da hidrelétrica de 12.600 MW em Itaipu, com custo estimado em 18,5 bilhdes de délares, inclui uma barragem de concreto de gravidade, com 180 m de extensdo, no Rio Parand, na fronteira Brasil-Paraguai, Em 1982, vinte tipos de concreto, totalizando 12,5 mithdes de metros chicas. tinkam sido usados para a construcdo da barragem, ensecadeiras, vigas, lajes pre-fabricadas e outros elementos estruturais de concreto para a instalacao da casa de forca. A resisténcia @ compressdo especificada para o concreto variou de 14 MPa a um ano, para o concreto- ‘massa da barragem, até 35 MPa aos 28 dias, para pecas pré-fabricadas de concreto. Todos os agregados igraiidos e cerca dé 70% dos agregados miiidos foram obtidos da britagem de basalto, rocha dispontvel no local. Os agregados graidos foram estocados separadamente em graduagdes de dimensbes maximas de 150 mm, 75 mm, 38 mm e 19 mm. Uma combinacdo de diversos agregados contendo diferentes tamanhos de _fracoes foi necessiria, para reduzir o teor de vazios e portanto, o teor de cimento das misturas de concreto ‘massa. Como resultado, 0 teor de cimento do concreto-massa foi limitado a apenas 108 kglm3 e 0 aumento da temperatura adiabdtica chegou a 19°C aos 28 dias. Além disso, para prevenir as fissuras térmicas, foi especificado que a temperatura do concreto fresco seria limitada a 7°C, refrigerando-se os materiais constituintes. Elementos estruturais expostos 4 umidade, tais como estacas, fundagoes, sa- patas, pisos, vigas, pilares, coberturas, paredes exteriores e pavimentos, sao fre- quentemente construfdos em concreto reforgado com armaduras. Concreto arma- do? é aquele que contém normalmente barras de ago, projetadas levando-se em > Deve-se notar que o projeto estrutural e © comportamento de estruturas de ambos os concretos armado e protendido esto fora do escopo deste livro. 04, Concreto: Estrutura, Propriedades e Materiais Figura 1-3, Aqueduto Califria, (Foto cedida por “State of Califérnia, Department of Water Resources”) Na Califérnia, cerca de trés quartos da dgua fresca, sob as formas de chuva € neve sao encontrados no terco norte do estado; entretanto, trés quartos da dgua toral é necesséria nos dois tercas inferiores, onde esto localizados os maiores centros de populagdo, indistria e agricultura. Portanto, nos anos 60, com um custo estimado em 4 bilhoes de délares, a Califérnia empreendeu a construcdo de um sistema com capacidade anual para 5,28 bithoes de metros ctibicos de dgua. Estendendo-se por mais de 900 km do norte ao sul, para fornecimento suplementar de dgua, controle de enchentes, usinas hidroelétricas e dreas de lazer, esse projeto ‘consistia em 23 barragens e reservatorios, 22 estacées de bombeamento, 761 km de canais (Aqueduto Califérnia), 282 km de linhas adutoras e 32 km de winets Uma tarefa impressionante anterior ao profeto, for transportar dgua de uma elevagio préxima do nivel do mar, no Delta do Rio Sao Joaquim, através das Montanhas Tehachapi, para a drea metropolitana de Los Angeles. Isto foi obtido pelo bombeamento de grande massa de dgua em uma simples elevatéria de 587 m Como capacidade maxima, essa instalacdo de bombeamento consumird perto de 6 bilhdes de kilowatt-hora por ano. Aproximadamente 3 mithdes de m de concreto foram usados para a consirucdo dos tineis, adutoras, estagdes de bombeamento ¢ revestimento de canais. Uma das primeiras decisdes do projeto para o Aqueduto California, foi construir 0 canal em concreto, em vez de terra compactada, porque canais em concreto tém relativamente menores perda de carga, custo de bombeamento, de manutencao e perda por percolacao. Dependendo da inclinacdo do talude da se¢do do canal, foi usado revestimento de concreto simples, com espessuras de 50 a 100 mm. Concreto contendo 225 a 237 kgim' de cimento Portland ¢ 42 kglm' de pozolana, “apresentou resistencia a compressao, em ensaios de corpos de prova cilindricos curados aos 7, 28 e 91 dias, de 14 MPa, 24 MPa, ¢ 31 MPa, respectivamente. A velocidade adequada de construcdo do concreto para revestimento foi assegurada pelo uso de formas deslizantes mostrada na fotografia Introdugo ao Concreto 05 Figura 1-4, Reservatério do “Country Club”, para armazenamento de Agua. (Foto ce- dida por “East Bay Municipal Utility District, Oakland, Califérnia.”) Este reservatorio subterrdneo, em concreto protendido, para armazenamento de dgua, localizado nas colinas de Oakland-Berkeley, foi construido em 1976-1977 e tem capacidade para 132 x 10° m’. Possui um didmetro de 37m, 9 m de altura e paredes de 250 a 350 mm de espessura. consideracao que os dois materiais resistam juntos aos esforgos. Concreto protendido é um concreto no qual, pela tragio de cabos de ago, sfo introduzidas pré-tensées de tal grandeza e distribui¢do, que as tensdes de tracao resultantes do carregamento sao neutralizadas a um nivel ou grau desejado. Uma grande parte do concreto encontra aplicagdo em elementos de concreto armado ou protendido. ‘A segunda razio para 0 uso to difundido do concreto € a facilidade com que elementos estruturais de concreto podem ser executados, numa variedade de formas e tamanhos, (Fig. 1-6 a 1-8). Isto porque o concreto fresco tem uma con- sisténcia plastica, o que permite ao material fluir nas formas pré-fabricadas. Apés um certo némero de horas, quando o concreto se solidificou e endureceu, tornan- do-se uma massa resistente, as frmas podem ser removidas para reutilizagao. A terceira razao para a popularidade do concreto entre os engenheiros, é que ele é normalmente o material mais barato e mais facilmente disponivel no cantei- ro. Os principais ingredientes para execugao de concreto - cimento Portland e agregados - sao relativamente baratos e comumente disponfveis na maior parte do mundo. Apesar de em certas areas geograficas 0 custo do concreto poder chegar a 80 délares por tonelada, em outras ele cai para 20 délares por tonelada, 0 que corresponde somente a 2 centavos de délar por quilograma. Comparado a maioria dos outros materiais de engenharia, a produgo do con- creto requer consideravelmente menor consumo de energia. Além disso, grande quantidade de restos industriais podem ser reciclados no concreto, substituindo 0 material cimentante ou os agregados. 06 Concreto: Estrutura, Propriedades e Materiais Figura 1-5 Plataforma martinha Statfjord B, em concreto, Noruega. (Foto cedida por “Norwegian Contractors Ine.”) Desde 1971, 15 plataformas de concreto, usando cerca de 1,3 mithdes de metros cibicos de concreto, foram instaladas nos setores britdnico e noruegués do Mar do Norte. Stagfjord B, a maior plataforma de concreto, construida em 1981, tem uma drea de base de 18.000 m’ e consiste em 24 células de estocagem de petrbleo com capacidade para cerca de 2 milhdes de harris, quatro fustes de concreto protendido entre as céluas de estocagem ¢ as plataformas e 42 aberturas de perfuracdo no tabuleiro. A estrutura foi construlda e montada em um cais seco em Stavanger; em seguida, todo o conjunto, pesando 40.000 t foi transportado ao local do poco petrolifero, onde foi submergido na dgua, a uma profundidade de 145 m. 5 elementos de concreto protendido e fortemente armados da estrutura so expostos d aco corrosiva da dgua do mar e foram projetados para suportar ondas de 31 m de altura. Portanto, a selecdo a dosagem dos materiais para 0 concreto foram governadas principalmente pela consideracdo da velocidade de construcdo com formas deslizantes ¢ da durabilidade do concreto endurecido no ambiente hostil. Um concreto auto-adensdvel (220 mm de abatimento) contendo 380 kglm’ de cimento Portland finamente moido ¢ agregado gratido com dimensdo maxima de 20 mm, fator dgualcimento igual a 0,42 e aditivo superplastificante foi considerado satisfatério para a obra, As pilastras cOnicas sob as formas desizantes ‘em operagao, sao mostradas na Fig. I-S. Portanto, no futuro, consideragdes sobre energia e conservagao de recursos na- turais provavelmente farao com que a escolha de concreto como material estrutu- ral seja ainda mais atraente. Em seu discurso presidencial em 1961, na conveng3o do ACI‘, chamando 0 concreto de material universal ¢ enfatizando que todos os engenheiros precisam saber mais sobre o concreto, J. W. Kelly disse: Ninguém pensaria em usar madeira em uma barragem, ago em pavimentagio ou asfalto em estruturas de edificios, mas o concreto é usado para cada uma dessas € em muitas outras utilizagdes em lugar de outros materiais de construgdo. Mesmo onde outro material é 0 principal componente de uma estrutura, 0 concreto € normalmente usado com ele, para certos locais da obra. Ele ¢ usado para suportar, para vedar, para revestir e para preencher, Mais pessoas precisam conhecer melhor o concreto que outros materiais especializados. *N.T. American Concrete Institute. No Brasil, 0 equivalente é 0 IBRACON, Instituto Brasileiro do Conereto, com sede no IPT, em S. Paulo, Caixa Postal 7141, fone 869-2149, Introdugao ao Concreto 07 “Fountain of Time”: uma escultura em concreto. (Foto cedida por “R.WsSteiger, Concer. Construct., Vol. 29, pp.797-802, setembro 1984, Com permissao de Concrete Construction Publications, inc. 426, South Westgate, Addison, Hlinois 60101") “O tempo passa, vocé diz? Ah, nao. Ai de mim, 0 tempo fica: nés passamos.” O concreto é um material extraordindrio, ndo s6 porque ele pode ser moldado em uma variedade de formas complexas, como também pode fornecer efeitos especiais de superficie. Esculturas esteticamente agraddveis, murais e detalhes arquiteténicos podem ser criados através da escolha adequada dos componentes do concreto, formas ¢ técnicas texturais. A “Fountain of Time” & uma obra de arte macica, de 36 x 5 x 4m, em concreto, localizada no lado sul do campus da Universidade de Chicago. A escultura é uma representacdo ‘em tamanho maior que 0 natural, de 100 figuras humanas, todas moldadas no local, com acabamento em agregado exposto. Nas palavras de Steiger, a figura central & 0 Tempo, 0 conquistador, sentado em um cavalo blindado e cercado por velhos e jovens soldados, amantes, praticantes religiosos ¢ muitos outros participantes da diversidade da vida humana, finalmente abracando a morte com os bragos estendidos, Lorado Taft fez 0 modelo para esta escultura em 1920, depois de 7 anos de trabalho. Sobre a escotha do concreto como instrumento de arte, 0 autor da escultura, John J. Early, disse o seguinte:" 0 concreto, como lum instrumento artistico, é duplamente interessante quando se descobre que além de sua economia, ele possui aquelas propriedades mais desejdveis tanto para 0 metal como para a pedra. O metal é moldado, sendo a exata reproducao do trabalho do artista, como o concreto... A pedra “escultura” é uma interpretacdo de um trabalho original e, na maioria das vezes, é executada por outro artista, Mas a pedra tem a vantagem da cor e da textura, que permitem adaptd-la facilmente em diferentes ambientes, una capacidade ndo existente no metal. O concreto, tratado como na "Fountain of Time”, apresenta uma superficie quase que inteiramente de pedra com todas as suas vantagens visuais, oferecendo a0 mesmo tempo, a precisao da moldagem, que de outro modo s6 poderia ser obtida no metal.” Introdugao ao Concreto 09 Figura 1-8 Templo de Baha’i, Willmet, Illinois. (Foto cedida por “R.W. Steiger, Tri- media Studios, Farmington, Michigan”. 0 Templo de Baha’ i é um exemplo da extraordindria beleca de arquitetura ornamental que pode ser criada em concreto. Descrevendo os materiais do concreto 0 templo, FW. Cron (Concrete Construction, v. 28, n. 2 1983) escreveu: “O arquiteto queria que 0 edificio e especialmente a grande ciipula de 27 m fosse mais branca possivel, mas ndo com uma aparéncia fosca ou calcdria, Para conseguir 0 efeito desejado, Earley propos um quartzo branco opaco, encontrado na Carolina do Sul, para refleir a luz de sua face fraturada, Isto deveria ser combinado com uma pequena quantidade de quartzo transticido para conferir britho e vida. yeia de Puerto Rican e cimento Poritand branco foram usados, para criar uma combinacao que refletisse a luz ¢ desse tum britho luminoso aos agregados expostos da superficie do concreto... Numa visita ao Templo da Luz, pode- se admirar o brilho do sol. Retornando-se a noite, as luzes de dentro e os holofotes batendo em sua superficie fazem do edificio uma j6ia luminosa. A criatividade de Louis Bourgeois e a soberba arte do Earley Studios ‘agiram sobre o concreto, para criar este grande espetdculo, O termo areia é normalmente usado para o agregado mitido resultante da desintegragdo natural e da abrasiio de rochas ou processamento de rochas arenosas fridveis. Pedra britada é o produto resultante da britagem industrial de rochas, seixos rolados ou pedras arredondadas gratidas. Escéria de alto forno, um sub- produto da indtistria do ago, é o material obtido pela britagem da esc6ria que soli- dificou sob condigdes atmosféricas. . Argamassa é uma mistura de areia,.cimento e Agua. E essencialmente um concreto sem agregado gratido. Graute é uma mistura de material aglomerante com agregado, normalmente minido, a qual se adicionou Agua suficiente para pro- duzir uma consisténcia fluida, sem segregagao de seus constituintes. Concreto projetado se refere a uma argamassa ou concreto, transportad pneumaticamente através de uma mangucira e projetado sobre uma superficie a uma alta velocidade. Cimento é um material finamente pulverizado, que sozinho nao é aglomerante, mas desenvolve propriedades ligantes, como resultado da hidratagio (isto &, de reagdes quimicas entre os minerais do cimento e 4gua). Um cimento é chamado hidraulico quando os produtos de hidratag4o sao estéveis em meio aquoso. O cimento hidraulico mais utilizado para fazer concreto é 0 cimento Portland, que consiste essencialmente de silicatos de c4lcio hidraulicos. Os silicatos de calcio hidratados, formados pela hidratagao do cimento Portland, sao os principais res- ponsdveis por sua caracteristica adesiva € so estaveis em meios aquosos. 10 Concreto: Estrutura, Propriedades e Materiais As definigdes anteriores de concreto como uma mistura de cimento, agrega- dos e 4gua nao incluem um quarto componente, os aditivos, que quase sempre sio usados atualmente. O uso de aditivos no concreto € hoje largamente disseminado, devido aos varios beneficios resultantes da sua correta aplicagdio. Por exemplo, aditivos quimicos podem modificar as caracteristicas de pega e de endurecimento da pasta, influindo na taxa de hidratagao do cimento. Aditivos redutores de agua podem tornar pldsticos concretos frescos, reduzindo a tensAo superficial da 4gua, aditivos incorporadores de ar podem melhorar a durabilidade do concreto exposto ao frio e aditivos minerais, como as pozolanas (materiais contendo silica reativa), podem reduzir a fissuragao térmica do concreto massa. Uma descrig&o detalhada dos tipos de aditivos, sua composic&o e mecanismos de ago no concreto é fornecida no Capitulo 8. TIPOS DE CONCRETO Baseado na massa especifica, 0 concreto pode ser classificado em trés grandes categorias. O concreto contendo areia natural e seixo rolado ou pedra britada, geralmente pesando 2400 kg/m? é chamado concreto de peso normal ou concreto corrente c é mais usado geralmente para pecas estruturais, Para aplicagdes em que se deseja uma alta relagao resisténcia/peso, é possivel reduzir a massa especificado concreto, usando-se certos agregados naturais ou processados termicamente que possuem baixa densidade. O termo concreto leve é usado para concreto cuja mas- sa é menor que 1800 kg/m’. Por outro lado, concretos pesados, usados as vezes na blindagem de radiagdes, é o concreto produzido a partir de agregados de alta den- sidade e que geralmente pesa mais do que 3200 kg/m. A classificagao do concreto quanto a resistencia, predominante na Europa e em muitos outros paises, nao é usada nos Estados Unidos. Entretanto, do ponto de vista das diferencas nas relagdes estrutura-propriedade, que serao discutidas mais tarde, é util dividir 0 concreto em trés categorias gerais, baseadas na resisténcia 4 compressao, referida a 28 dias: + Concreto de baixa resistencia: resisténcia 4 compressio menor que 20 MPa. « Concreto de resisténcia moderada: resisténcia 4 compressao de 20 a 40 MPa. + Concreto de alta resisténcia: resistencia A compressdo superior a 40 MPa. O concreto de resisténcia moderada € 0 concreto normal ordinério ou corren- te, usado na maioria das estruturas. O concreto de alta resisténcia é usado para aplicagdes especiais descritas no Capitulo 11. Dosagens t{picas dos materiais para produzir concreto de baixa, moderada ¢ alta resistencias, com agregados normais, sio mostrados na Tabela 1-1. As rela- Ges entre o teor de pasta e a resisténcia e entre o fator 4gua/cimento da pasta e a resisténcia devem ser observadas a partir dos dados. Introdugéo ao Concreto 11 Nao é possivel listar aqui todos os tipos de concreto. Ha intimeros concretos modificados que sio denominados especificamente pelo nome: por exemplo, con- creto reforgado com fibras, concreto com cimento expansivo, concreto modifica- do com latex. A composi¢io e as propriedades dos concretos especiais so descri- tas no Capitulo 11. TABELA 1-1 PROPORGOES TIPICAS PARA OS MATERIAIS DO CONCRETO DE DIFERENTES RESISTENCIAS Baixa Resisténcia Alta Resistencia Moderada Resisténcia kg/m? kg/m? kg/m? Cimento 255 356 510 Agua 178 178 178 Agregado mitido 801 848 890 Agregado gratido 1169 1032 872 Proporgdo de pasta porcentagem em massa 18 22,1 28,1 porcentagem em volume 26 29,3 343 Fator égua/cimento em massa 0,70 0,50 035 Resisténciat em MPa 18 30 60 * Na pritica americana, a nao ser que seja especificado 0 contrario, a resisténcia do concreto é medida através do rompimento & compressio de corpos de prova cilindricas de 15 x 30 cm depois de 28 dias de cura normal. (271 °C, 100% de umidade relativa.) PROPRIEDADES DO CONCRETO ENDURECIDO E SUA IMPORTANCIA A escolha de um material de engenharia, para uma aplicagao especifica, deve le- var em conta a sua capacidade de resistir a uma férca aplicada. Tradicionalmente, a deformagao decorrente de cargas aplicadas € expressa em deformagao especifi- ca, definida como a mudanga do comprimento por unidade de comprimento; carga é expressa em tensao, definida como a férga por unidade de area. Depen- dendo de como agem sobre o material, as tens6es poderio ser distinguidas umas das outras: por exemplo, compressio, tragdo, flex4o, cisalhamento e torgiio. As relagdes tensiio-deformacao dos materiais sio geralmente expressas em termos de resisténcia, médulo de elasticidade, dutilidade e tenacidade. Resisténcia é a medida da tensao exigida para romper o material. No projeto das estruturas de concreto, considera-se 0 concreto como o material mais adequa- do para resistir a carga de compressa; € por isso que a resisténcia a compressio do material é geralmente especificada. Sendo a resisténcia do concreto fungiio do processo de hidratagao do cimento, o qual é relativamente lento, tradicionalmente as especificagdes e ensaios de resisténcia do concreto so baseados em corpos de prova curados em condigdes especificas de temperatura e umidade por um periodo 12 Concreto: Estrutura, Propriedades e Materiais de 28 dias. Como exposto anteriormente, para a maioria das aplicagées, é usado 0 concreto de resisténcia moderada (resisténcia 4 compresso de 20 a 40 MPa), ape- sar de recentemente estarem sendo produzidos comercialmente concretos de alta resisténcia de até 130 MPa. Pode-se mencionar aqui que as resisténcias a tracdo e a flexdo tipicas do con- creto so da ordem de 10 e 15 %, respectivamente, da resisténcia 4 compressao, A razio desta grande diferenca entre resisténcia & tragdio e A compressio € atribuida 4 estrutura heterogénea e complexa do concreto. Para muitos materiais de engenharia, tal como 0 ago, 0 comportamento ten- sdo-deformagao observado quando um corpo de prova é submetido a incrementos de carga pode ser dividido em duas partes (Fig. 1-9). A primeira parte, quando a elasticidade € proporcional & tensio aplicada e é reversivel quando 0 corpo de prova é descarregado, é chamada deformacéo eldstica. O médulo de elasticidade é definido como a relagdo entre a tensdo e essa deformagio reversivel. Em materi- ais homogéneos, 0 médulo de elasticidade é a medida das forgas de ligacio interatémicas ¢ nao é afetada por mudangas microestruturais. Isto nao é valido para materiais multifasicos como o concreto. O médulo de elasticidade 4 com- pressdo do concreto, varia de 14 x 10° a 40 x 10° MPa. O significado do limite de elasticidade em projeto estrutural é devido ao fato dele representar a deformagao maxima permitida antes do material adquirir deformacao permanente. Portanto, 0 engenheiro deve conhecer 0 médulo de elasticidade do material porque ele influi no calculo estrutural. AGO ASTM A-36 Deformagao elastica Deformagao plastica 42 28 Ponto de escoamemo h 1 4 | edu de lasticdade = 28. 10'/ 0.0128 = 20x 10" MPa 1 i Figura 1-9 Comportamento tensio- ° a ) deformagao de um corpo de prova de Deformagao, mmvmm aco submetido a incrementos de carga. A um alto nivel de tensao (Fig. 1-9), a deformagao nao mais permanece pro- porcional 2 tensao aplicada, tornando-se também permanente (isto €, nao serd re- cuperada, se 0 corpo de prova for descarregado). Essa deformacdo é chamada deformagao plastica ou permanente. A quantidade de deformagao permanente que pode ocorrer antes do rompimento é uma medida da dutilidade do material. A energia necessdria para romper o material, produto da férca vezes a distancia, & representada pela drea sob a curva tensdo-deformagao. O termo tenacidade é usa- do como medida desta energia. A diferenga entre a tenacidade e a resisténcia deve ser observada; a primeira é a medida da energia, enquanto que a tiltima é a medida Introdugao ao Concreto 13 da tensao necesséria para fraturar o material. Entio, dois materiais podem ter re- sisténcias idénticas, porém diferentes valores de tenacidade. Entretanto, em geral, quando a resisténcia de um material cresce, a dutilidade e a tenacidade diminuem; materiais com alta resistencia normalmente rompem de maneira brusca (isto é, sem que ocorra uma deformacio nao eldstica ou permanente significativa). Apesar do concreto sob compressao parecer mostrar alguma deformagiio nao eldstica ou permanente antes do rompimento, tipicamente a deformagao na fratura € da ordem de 2000 x 10°, que é consideravelmente mais baixa do que a deforma- ¢ao de rompimento em metais estruturais. Para aplicagdes praticas, entretanto, projetistas néo consideram o concreto como um material dutil e ndo o recomen- dam para uso em condigdes onde ele € submetido a impactos pesados, a nao ser quando armado com ago. Através de observagées do comportamento elasto-plastico, 0 concreto parece ser um material complexo. Muitas caracteristicas desse material composto nao seguem as leis de mistura de dois componentes. Por exemplo, sob carga de compressio, tanto 0 agregado como a pasta, testados separadamente, romperiam elasticamente, enquanto que 0 concreto mostra um comportamento ineldstico antes da fratura. A resistencia do concreto, porém, é, em geral, mais baixa do que as resisténcias individuais dos dois componentes. Estas anomalias no comportamento do concreto serao explicadas com base na sua estrutura, na qual a zona de transig4o entre o agregado gratido e a pasta tem um papel muito importante. A curva tensio-deformagio dos materiais mostrada na Fig. 1-9 é tipica de corpos de prova carregado até o rompimento em curto espago de tempo, no labo- rat6rio, Para alguns materiais a'relagao entre tensdo e deformaco independe do tempo de carregamento, para outros nao. O concreto pertence a ultima categoria. Se um corpo de prova de concreto é submetido durante um longo perfodo a uma tensdo constante, a qual, por exempo, € 50 % da tensaio maxima ou ultima do material, ele apresentard uma deformacio plastica. O fendmeno do aumento gra- dual de deformagao com o tempo, sob tensfo constante, é chamado fluéncia. Quan- do a fluéncia do concreto é restringida, manifesta-se uma diminui¢do progressiva da tensdo com o tempo. O alivio de tenso associado com a fluéncia tem implica- ges importantes no comportamento tanto do concreto simples como do protendido. As deformagées podem surgir ou aparecer mesmo no concreto nao carregado por causa de mudangas na umidade e na temperatura ambientes. O concreto fresco sofre retragéo de secagem quando exposto 4 umidade ambiente. Analogamente, de formagées de contrag4o térmica aparecem quando o concreto quente é resfria- do A temperatura ambiente. Elementos com grande volume de concreto podem registrar considerdvel aumento de temperatura devido & baixa dissipagdo do calor liberado na hidratag&o do cimento, ocorrendo a retragao térmica no restriamento do concreto quente. As deformagées de retrago térmica sao criticas no concreto porque, quando restringidas, manifestam-se como tensdes de tragiio. Sendo a re- sisténcia de tragao do concreto baixa, as estruturas de concreto muitas vezes fissuram, como resultado do impedimento da retragdo, causado por mudangas, de umidade ou de temperatura. De fato, a tendéncia a fissuragio do material é uma das mais sérias desvantagens da construcao em concreto. 14 Concreto: Estrutura, Propriedades e Materials Finalmente, o julgamento profissional na selego de um material deve levar em consideragao nao somente a resisténcia, a estabilidade dimensional e as pro- priedades eldsticas do material, mas também a sua durabilidade, a qual tem sérias implicagdes econdmicas nos custos de manutengao e substituicdo de uma estrutu- ra, A durabilidade é definida como a vida ttil de um material sob dadas condi- Ges ambientes. Normalmente, concretos densos ou impermeveis, apresentam durabilidade a longo prazo. Os revestimentos em concreto dos tanques para armazenamento de 4gua, na ilha de Rhodes, na Grécia, com 2700 anos de idadee numerosas estruturas de concreto hidrdulico construfdas pelos romanos sao 0 tes- temunho vivo de uma excelente durabilidade do concreto em ambientes timidos. Concretos permedveis, entretanto, sio menos duraveis. A permeabilidade do con- creto depende no somente das proporgdes da mistura, da compactago e da cura, mas também das microfissuras causadas pelos ciclos normais de temperatura e de umidade. Geralmente, hé uma estreita relagdo entre resisténcia e durabilidade do concreto. UNIDADES DE MEDIDA O sistema métrico de medidas, predominante na maioria dos paises’, usa metro para comprimento, grama para massa, litro para volume, Pascal para tensio e graus Celsius para temperatura. Os Estados Unidos é dos poucos pafses no mundo que ainda utiliza unidades inglesas de medida como polegada, pé e jardas, para com- primento, libra ou tonelada para massa, galdo para volume, libra por polegada quadrada (psi) para tensdo e graus Fahrenheit para temperatura. A atividade multinacional em projeto e construcdo de grandes obras de engenharia é comum no mundo moderno. Consequentemente, torna-se mais importante que cientistas ¢ engenheiros falem a mesma linguagem de medida por toda a parte em qualquer lugar do mundo. O sistema métrico é mais simples que o sistema inglés e recentemente foi modernizado num esforgo para tornd-lo universalmente aceitdvel. A versio mo- derna do sistema métrico, chamado Sistema Internacional de Unidades (Syst¢me International d’Unités), abreviadamente SI, foi aprovado em 1960 por trinta na- oes participantes na Conferéncia Geral de Pesos e Medidas. Nas medidas pelo SI, metro e grama so as tinicas unidades permitidas para comprimento e massa, respectivamente. Uma série de prefixos aprovados, mostra- dos na Tabela 1-2, é usada para a formacio de miltiplos e submultiplos das varias unidades, A forca necesséria para acelerar a massa de um kg por 1 m/s* é definida como 1 Newton (N) € uma tensdo de 1 N/m* é definido como 1 Pascal (Pa). A norma ASTM E 380-708 contém um guia completo para 0 uso de unidades SI. 7 N.T, Adotado no Brasil em 1982, conforme Resolugdo n* 1/82 do CONMETRO - Conselho Nacional de Metrologia, Normializacao € Qualidade, "NT, AMERICAN SOCIETY for TESTING and MATERIALS. Standard Practice for Use of the International System of Units (SI) (the Modernized Metric System). ASTM E 380-70. . Annual Book of ASTM, Philadelphia, 1970. Introdugao ao Concreto 15 TABELA 1-2 MULTIPLOS E SUB-MULTIPLOS DO SISTEMA DE UNIDADES SI E SIMBOLOS Fator de multiplicagio Prefixo Simbolo do SI 1000000000 = 10° giga G 1000000 = 10* mega M 1000 10° quilo k 100 = 10° hecto* h 10 10' deca* da 0,1 = 10" deci* d 0,01 = 10? centi* c 0,001 10° mili m 0,000 001 10° micro B 0,000 000 001 10° nano? n *ndo recomendado, mas usado ocasionalmente * 0,1 nanometro (nm) = 1 Angstron (A) ndo é uma unidade do SI, mas é usada normalmente. Para ajudar na conversao répida a partir das unidades americanas usuais ou do sistema inglés para as unidades do SI, uma lista dos fatores de multiplicagao nor- malmente necessdrios é dada abaixo Unidades inglesas: Para: Multiplicar por: jardas (jd) metros (m) 0.9144 és (pé) metros (m) 0,3048, polegadas (pol) milfmetro (mm) 25,4 jardas cabicas (jd) metros ctibicos (m*) 0,7646 galdes americanos (gal) metros cuibicos (m') 0,003785 galGes americanos (gal) litros (1) 3,785 libras, massa (1b) quilogramas (kg) 0,4536 toneladas americanas (1) toneladas (t) 0,9072 libras por jardas quilogramas (ke) caibicas (Ib/jd?) por metro ciibico (kg/m*) 0.5933 quilogramo forga (kgf) Newtons (N) 9,807 libras forga (Ibf) Newtons (N) 4,448 kips por pol. quadrada (ksi) Mega Pascal (MPa ou N/mm?) graus Fahrenheit (°F) graus Celsius (°C) libras por polegada quadrada (psi) MPa 6,895 - 10° TESTE SEU CONHECIMENTO 1. Porque 0 concreto € o material de engenharia mais largamente usado? 2. Que so concreto armado e concreto protendido? 3. Defina os seguintes termos: agregado mitido, agregado gratido, pedregulho, graute, concreto projetado e cimento hidréulico. 16 Concreto: Estrutura, Propriedades e Materiais 4, Quais so as massas especfficas tipicas dos concretos de peso normal, leve ¢ pesado? Como vocé definiria concreto de alta resisténcia? 5. Qual a importéncia do limite de elasticidade no projeto estrutural O que é resiliéncia? 6. Qual a diferenga entre resisténcia ¢ tenacidade? Por que a resisténcia & compressio do concreto aos 28 dias € geralmente especificada? Discuta a importancia da retragdo de secagem, da retragao térmica ¢ da fluéncia do concreto, 8. Como vocé definiria durabilidade? Em geral, que tipos de concreto espera-se que tenham maior durabilidade a mais longo prazo? SUGESTOES PARA ESTUDO COMPLEMENTAR American Concrete Institute Commitee Report by Commitee 116, Cement and Concrete Terminology, SP-19, 1985. American Society for Testing and Materials, Annual Book of ASTM Standards, Vol. 04.01 (Cement, Lime and Gypsum), 1991 American Society for Testing and Materials, Annual Book of ASTM Standards, Vol. 04.02 (Concrete and Mineral Aggregates), 1991. VAN VLACK, L. H. Elements of Material Science and Engineering, 6th ed., Addison-Wesley Publishing Company, Inc., Reading, Mass, 1989. SILVA, Moema R. Materiais de Construcao Pini, Sao Paulo, 1991. 260 p. CAPITULO A Estrutura do Concreto Tradugdo e adaptagao Profa. Dra. Maria Alba Cincotto PREAMBULO As relagées estrutura-propriedade constituem a esséncia da moderna ciéncia dos materiais. O concreto tem uma estrutura muito heterégenea e complexa. Conse- quentemente, 6 muito diffcil estabelecer modelos exatos, a partir dos quais 0 comportamento do material pode ser previsto com seguranca. Todavia, um conhecimento da estrutura e das propriedades de cada constituinte do concreto e a relagao entre elas 6 Util para se exercer um certo controle sobre as propriedades do material. Neste capitulo, s&o descritos trés constituintes da estrutura do concreto - a pasta, 0 agregado, e a zona de transig&o entre a pasta de cimento e 0 agregado. As relagées estrutura - propriedade s4o discutidas sob 0 ponto de vista das caracteristicas fundamentais do concreto, tais como resisténcia, estabilidade dimensional e durabilidade. DEFINIGOES O tipo, a quantidade, o tamanho, a forma, e a distribuigdo das fases presentes em um sélido constituem a sua estrutura. Os elementos gratidos da estrutura de um material podem ser vistos facilmente, enquanto os mais finos so visualisados com auxilio de um microsc6pio. O termo macroestrutura € geralmente emprega- do para a estrutura grosseira, visivel 4 vista humana. O limite de resolugao a olho nu € aproximadamente 1/5 de milfmetro (200 pm). O termo microestrutura é empregado para a por¢do aumentada microscopicamente de uma macroestrutura. A capacidade de aumento dos microscépios eletrénicos modernos € da ordem de 10° vezes; assim, a aplicagdo de técnicas de microscopia eletrénica de transmissio e de varredura tornaram possivel analisar a estrutura de materiais até uma fragao de micrometro. 18 Conereto: Estrutura, Propriedades e Materiais IMPORTANCIA O progresso no campo dos materiais resultou principalmente do reconhecimento do principio de que as propriedades de um material tém origem na sua estrutura interna; em outras palavras, as propriedades podem ser modificadas por mudangas adequadas na estrutura do material. Embora o concreto seja o material estrutural mais amplamente empregado, a sua estrutura é heterogénea e altamente comple- xa, As relagdes estrutura-propriedade no concreto ainda nao estiio bem desenvol- vidas; todavia, € essencial um entendimento de alguns dos elementos da estrutura do concreto, antes de se discutir os fatores que influenciam as propriedades impor- tantes do concreto, tais como resisténcia (Capitulo 3), clasticidade, retragao, flu- éncia, fissuragao (Capitulo 4), ¢ durabilidade (Capitulo 5). COMPLEXIDADES No exame de uma segdo transversal do concreto (Fig. 2-1), as duas fases que po- dem ser facilmente distinguidas sao partfculas de agregado de tamanho e forma variados, e o meio ligante, composto de uma massa continua da pasta endurecida. A nivel macroscépico, consequentemente, o concreto pode ser considerado como um material bifasico, consistindo de particulas de agregado dispersas em uma matriz de cimento. A nivel microseépico, comecam a aparecer as complexidades da estrutura do concreto. E ébvio que as duas fases da estrutura nao estao distribuidas homogeneamente, uma em relacdo & outra, nem so em si mesmas homogéneas. Por exemplo, em algumas areas a massa de pasta aparece tdo densa quanto 0 agre- gado enquanto em outras é altamente porosa (Fig. 2-2). Do mesmo modo, se vari- 05 corpos-de-prova de concreto contendo a mesma quantidade de cimento, mas diferentes quantidades de 4gua, so examinados em diferentes intervalos de tem- po, ser observado que, em geral, o volume de vazios capilares na pasta decresce com a diminuig&o da relagdo Agua/cimento ou com a idade crescente de hidratagao. Para uma pasta bem hidratada, a distribuigdo ndo homogénea de s6lidos ¢ vazios isoladamente pode ser talvez ignorada quando se modela 0 comportamento do material. Todavia, os estudos de microestrutura mostraram que isto ndo pode ser aplicado para a pasta presente no concreto. Na presenga de agregado, a estrutura da pasta, na vizinhanga de particulas grandes de agregado, 6 comumente muito diferente da estrutura da matriz de pasta ou argamassa do sistema. De fato, muitos aspectos do comportamento do concreto sob tenso podem ser explicados somen- te quando a interface pasta cimento-agregado é€ tratada como uma terceira fase da estrutura do concreto. Assim, os aspectos singulares da estrutura do concreto podem ser resumidos como segue. Primeiro, hd uma terceira fase, a zona de transigdo, que representa a regio interfacial entre as particulas de agregado gratido e a pasta. Sendo uma camada delgada, tipicamente de 10 a 50 pm de espessura ao redor do agregado gratido, a zona de transicio € geralmente mais fraca do que os outros dois componentes principais do concreto, e, consequentemente, exerce uma influéncia muito maior sobre 0 comportamento mecénico do concreto do que pode ser esperado pela sua espessura. Segundo, cada yma das fases é de natureza multifasica. Por exemplo, cada particula de agregado. pode conter varios minerais, além de microfissuras ¢ A€strutura do Concreto 19 A macroestrutura 6 a estrutura grosseira de um material que é visivel a otho nti. Na macroestrutura do concreto sdo facilmente distinguidas duas fases: agregados de diferentes formas e tamanho, e 0 meio ligante, 0 qual consiste de uma massa incoerente de pasta endurecida. vazios. Analogamente, tanto a matriz de pasta como a zona de transigdo contém geralmente uma distribuigao heterogénea, de diferentes tipos e quantidades de fases sdlidas, poros e microfissuras que serdo descritas abaixo. Terceiro, diferen- temente de outros materiais de engenharia, a estrutura do concreto nao permanece estdvel (i.e., no é uma caracteristica intrinseca do material). Isto porque dois cons- tituintes da estrutura - a pasta e a zona de transigdo - estao sujeitas a modificagdes com 0 tempo, umidade ambiente e temperatura. A natureza altamente heterogénea e dindmica do concreto € a principal razio porque os modelos teéricos de relagdo estrutura-propriedades, de modo geral tao importantes na previsio do comportamento de materiais de engenharia, sio de pouco uso no caso do concreto. Um conhecimento amplo dos aspectos importan- tes da estrutura dos constituintes individuais do concreto, como apresentados em seguida, é contudo essencial para o entendimento e controle das propriedades do material composto. 20 Conereto: Estrutura, Propriedades ¢ Materiais Figura 2-2 Microestrutura da pasta endurecida A microestrutura é a estrutura fina de um material, observavel com auxilio de um microseépio. Uma ‘micrografia eletrOnica de varredura de baixo aumento (200x) de uma pasta endurecida mostra que a estrutura ndo é homogénea; enquanto algumas Greas sao densas, outras sao altamente porosas. Em dreas porosas, é possivel observar fases hidratadas individuais sob aumentos maiores. Por exemplo, podem ser vistos cristais grandes de hidréxido de calcio, aguthas finas ¢ longas de etringita e agregacoes de cristais fibrosos pequenos de silicato de calcio hidratado, com aumentos de 2000x ¢ 5000s. A€strutura do Concreto 21 .ESTRUTURA DA FASE AGREGADO A. composig&o e as propriedades de diferentes tipos de agregado para concreto esto descritas em detalhe no Capitulo 7. Por isso, sera apresentada aqui somente uma breve descrig&o dos elementos gerais da estrutura do agregado, os que exer- cem maior influéncia sobre as propriedades do concreto. A fase agregado é predominantemente responsdvel pela massa unitéria, médulo de elasticidade, e estabilidade dimensional do concreto. Estas propriedades do concreto dependem em larga extensiio da densidade e resisténcia do agregado, que, por sua vez, so determinadas mais por caracteristicas fisicas do que por caracteristicas quimicas da estrutura do agregado. Em outras palavras, a composi- ao quimica ou mineral6gica das fases s6lidas do agregado so comumente menos importantes do que caracteristicas fisicas tais como volume, tamanho, e distribui- gio de poros. Além da porosidade, a forma e a textura do agregado gratido também afetam as propriedades do concreto. Algumas particulas tfpicas do agregado so mostra- das na Fig. 2-3. Geralmente, o seixo natural tem uma forma arredondada e uma superficie de textura lisa. Rochas britadas tém uma textura rugosa; dependendo do tipo de rocha e da escolha do britador, o agregado britado pode conter uma propor- ¢do considefivel de particulas chatas ou alongadas, que afetam negativamente muitas propriedades do concreto. Particulas de agregado leve de pedra-pomes, que € altamente celular, so também angulares e de textura rugosa, mas as de argila ou folhelho expandidos sao geralmente arredondadas ¢ lisas. Figura 2-3 Forma e textura da su- perficie de particulas de agregado gratido: (a) seixo, arrendondado liso; (b) rocha britada, equidimen- sional; (c) rocha britada, alongada; (@) rocha britada chata; (e) agrega- do leve, anguloso ¢ rugoso; (f) agregado leve, arredondado e liso. 22 Conereto: Estrutura, Propriedades e Materiais Sendo geralmente mais resistente do que as duas outras fases do concreto, a fase agregado nfo tem influéncia direta sobre a resisténcia do concreto, exceto no caso de alguns agregados altamente porosos e fracos, como 0 agregado de pedra- pomes descrito anteriormente. O tamanho e a forma do agregado gratido podem, no entanto, afetar a resisténcia do concreto de modo indireto. E ébvio que, como indicado na Fig. 2-4, quanto maior o tamanho do agregado no concreto ¢ mais elevada a proporgao de particulas chatas e alongadas, maior seré a tendéncia do filme de égua se acumular préximo & superficie do agregado, enfraquecendo as- sim a zona de transigao pasta-agregado. Este fenémeno, conhecido comoexsudacao interna, seré discutido em detalhe no Capitulo 10. ESTRUTURA DA PASTA ENDURECIDA Deve ser entendido que 0 termo pasta endurecida, como empregado neste texto, refere-se geralmente a pastas de cimento Portland. Embora a composi¢do e as propriedades do cimento Portland sejam discutidas em detalhe no Capitulo 6, um resumo da composi¢o ser4 dado aqui antes de se discutir como a estrutura da pasta evolui, resultante das reagdes quimicas entre os minerais do cimento Portland ea dgua. Exsudagao visivel Exsudagao interna da’ @) ® . Figura 2-4 (a) Representacio esquemitica da exsudagao em conereto recém-langado; (b) Ruptura da aderéncia por cisalhamento em corpo-de-prova de conereto ensaiado a compressio uniaxial A dgua exsudada internamente tende a acumular-se na vizinhanca de particulas de agregado, grandes, alongadas ¢ chatas. Nestas regides, a zona de transigdo existente entre a pasta de cimento ¢ o agregado tende a ser mais fraca e facilmente propensa & fissuracdo. Este fenémeno é responsdvel pela ruptura da aderéncia por cisalhamento na superficie da particula do agregado, indicada na fotografia A€Estrutura do Concreto 23 O cimento Portland anidro é um pé cinza que consiste de particulas angulares de tamanho comumente entre 1 ¢ 50 ym. E produzido pela moagem do clinquer com uma pequena quantidade de sulfato de célcio, sendo o clinquer uma mistura hete- rogénea de varios minerais produzidos em reagées a alta temperatura, entre 6xido de célcio e silica, alumina e 6xido de ferro. A composigao quimica dos minerais' principais do clinquer corresponde aproximadamente a C,S, C,S, C,A e C,AF; no cimento Portland comum as suas respectivas quantidades estéo comumente entre 45 € 60 %, 15 € 30 %, 6 e 12 %, € 6 e 8%. Quando o cimento é disperso em Agua, 0 sulfato de calcio e os compostos de cAlcio formados a alta-temperatura tendem a entrar em solugao, ¢ a fase liquida torna-se rapidamente saturada em varias espécies iénicas. Como resultado das combinagées entre cdlcio, sulfato, aluminato e fons hidroxila, apés alguns minu- tos de hidrataco do cimento Portland, aparecem os primeiros cristais aciculares de um sulfoaluminato de calcio hidratados chamado etringita; algumas horas mais tarde, cristais prismaticos grandes de hidréxido de calcio e pequenos cristais fibrilares de silicatos de calcio hidratado comegam a preencher 0 espago vazio ocupado inicialmente pela Agua e as particulas de cimento em dissolugdo. Apés alguns dias, dependendo da proporgdo alumina-sulfato do cimento Portland, a etringita pode tornar-se instavel e decompor-se para formar o monossulfato hidratado, que tem a forma de placas hexagonais. A morfologia em placa hexago- nal é tambem caracterfstica dos aluminatos de cdlcio hidratados, os quais se for- mam em pastas hidratadas de cimentos Portland, tanto com baixo teor de sulfato como de elevado teor de C,A. Uma micrografia eletrénica de varredura ilustrando amorfologia tipica de fases preparadas pela mistura de solugdo de aluminato de cAlcio com solugao de sulfato de cdlcio € mostrada na Fig. 2-5. Um modelo das fases essenciais presentes na microestrutura de uma pasta de cimento bem hidratada € mostrada na Fig. 2-6. Do modelo da microestrutura da pasta, mostrado na Fig. 2-6, pode-se notar que as varias fases nao esto uniformemente distribuidas nem sdo uniformes em tamanho e morfologia. Nos s6lidos, as heterogeneidades microestruturais podem levar a efeitos negativos sobre a resisténcia mecanica e outras propriedades meca- nicas relacionadas a ela, porque estas propriedades so controladas pelos extre- mos microestruturais e nao pela microestrutura média. Assim, além da evolugio da microestrutura, como resultado das transformagGes quimicas, que ocorrem de- pois que 0 cimento entra em contacto com a gua, deve-se levar em conta certas propriedades reol6gicas da pasta fresca de cimento, as quais também influenciam determinantemente a microestrutura da pasta endurecida. Por exemplo, como sera discutido adiante (ver Fig. 8.2c), as particulas anidras de cimento tém tendéncia a se atrairem e formar flocos, os quais aprisionam grande quantidade da 4gua de mistura. Obviamente, as variagGes locais na relagao 4gua-cimento sio as princi- pais fontes de evolugdo da estrutura porosa e heterogénea. Em sistemas de pasta de cimento altamente floculada nao somente o tamanho e a forma dos poros, mas também os produtos hidratados cristalinos so diferentes quando comparados aos formados em sistemas consideravelmente dispersos. FE conveniente manter as abreviacées empregadas em quimica do cimento: C = CaO; S =Si0, A =Al,0,; F = Fe,0,; S = SO, H = H,0 Monossuifato Hicratado Figura 2-5 Micrografia eletrénica de varredura de cristais hexagonais t{pi- cos de monossulfato hidratado e cris- tais aciculares de etringita formados pela mistura de solugdes de aluminato de célcio e de sulfato de calcio (corte- sia de FW. Locher, Research Institute for Cement Industry, Dusseldorf, Re- piiblica Federal Alema). Sélidos na Pasta de Cimento Hidratado Os tipos, quantidades, e caracteristicas das quatro fases s6lidas principais geral- mente presentes na pasta, que podem ser observadas ao microscépio eletronico, sio as seguintes. icato de calcio hidratado. A fase silicato de calcio hidratado, abreviada para C-S-H, constitui de 50 a 60 % do volume de sélidos de uma pasta de cimento Portland completamente hidratado e €, consequentemente, a mais importante na determinagao das propriedades da pasta. O fato do termo C-S-H ser hifenizado significa que o C-S-H nao é um composto bem definido; a relagao C/S varia entre 1,5e 2,0¢ 0 teor de Agua estrutural varia’ainda mais. A morfologia do C-S-H varia de fibras pouco cristalinas a um reticulado cristalino. Devido as suas dimensdes coloidais ¢ & tendéncia a aglomerar, os cristais de C-S-H puderam ser observados somente com 0 advento do microscépio eletrénico. O material € frequentemente citado como C-S-H gel em literatura tradicional. A estrutura cristalina interna do C-S-H também permanece nao totalmente distinguivel. Ela foi anteriormente as- sumida como semelhante 4 do mineral natural tobermorita; por isto, foi as vezes denominada gel de tobermorita. A€strutura do Concreto 25 Lj a Figura 2-6 Modelo de uma pasta de cimento Portland bem hidratada. A representa a agre- gacio de particulas de C-S-H pouco cristalinas, que tem pelo menos uma dimenso coloidal (1a 100 nm), O espagamento entre as particulas em uma agregagao é de 0,5 a 3,0 nm (1,5 rm em média), H representa produtos cristalinos hexagonais tais como CH, C,AS Hy, C,AH,,, Formam cristais grandes, tipicamente de 1 pm de comprimento. C representa cavi- dades Capilares ou vazios que existem quando os espagos originalmente ocupados pela agua no foram completamente preenchidos com produtos de hidratagao do cimento. O tamanho dos vazios capilares varia entre 10 nm e 1 um, mas em pastas consideravelmente hidrata- das, de baixa relagio fgua/cimento, eles so inferiores a 100 nm. Embora a estrutura exata do C-S-H nao seja conhecida, alguns modelos foram propostos para se explicar as propriedades dos materiais. De acordo com 0 modelo de Powers - Brunauer’, o material tem uma estrutura em camada com uma drea especifica elevada. Dependendo da técnica de medida, tém sido propostas para 0 C-S-H, Areas especfficas de 100 a 700 m’/g. A resisténcia do material é principal- mente atribufda a forcas de Van der Waals, sendo o tamanho dos poros do gel ou a distancia? s6lido- s6lido ao redor de 18A.. O modelo Feldman - Sereda‘ represen- ta a estrutura do C-S-H como sendo composta de um arranjo irregular e dobrado de camadas ao acaso, de modo a formar espagos interlamelares de forma e tama- nho diferentes (5 a 25A). Hidréxido de calcio. Cristais de hidréxido de calcio (também chamado portlandita) constituem 20 a 25 % do volume de sdlidos na pasta hidratada. Em con- traste com 0 C-S-H, 0 hidr6xido de calcio é um composto com uma estequiometria 2 TC. Powers, J. Am. Ceram. Soc., vol 61, n° 1, pp 1-5, 1958; e S. Brunauer, American Scientist, vol. 50, n° 1, pp 210-29, 1962. > Em literatura mais antiga, as distancias s6lido-s6lido entre camadas do C-S-H foram chamadas de poros do gel. Em literatura moderna é habito chamar de espaco interlamelar. “RE, Feldman e PJ. Sereda, Engineering Journal (Canadé), Vol. 53, n° 8/9, pp 53-59, 1970. 26 Conereto: Estrutura, Propriedades e Materiais definida, Ca(OH),. Ele tende a formar cristais grandes, sob a forma de prismas hexagonais distintos. A morfologia dos cristais varia bastante, apresentando des- de formas nao definidas até pilhas de placas geometricamente bem definidas. A morfologia é afetada pelo espaco disponivel, temperatura de hidratago, e impure- zas presentes no sistema. Comparado ao C-S-H, o potencial de contribuigao do hidréxido de cAlcio para a resisténcia devido a forgas de Van der Waals é limitado, consequéncia de uma 4rea especifica consideravelmente menor. Além disso, a pre- senga de uma quantidade consideravel de hidréxido de calcio no cimento Portland hidratado tem um efeito desfavorével sobre a resisténcia quimica a solugées dci- das, por ser a solubilidade do hidréxido de cAlcio maior do que a do C-S-H. Sulfoaluminatos de calcio. Os sulfoaluminatos de célcio ocupam de 15 a 20% do volume de sdlidos na pasta endurecida e, consequentemente, desempe- nham um papel menor nas relagoes estrutura-propriedade. Jé foi estabelecido que, durante os primeiros estégios da hidratag&o a relagdo iénica sulfato/alumina da solugdo geralmente favorece a formacao de trissulfato hidratado, C,AS ,H,,, tam- bém chamado etringita, o qual forma cristais prismaticos aciculares. Em pastas de cimento Portland comum, a etringita transforma-se eventualmente em monossulfato hidratado, C,AS H,,, que cristaliza em placas hexagonais. A presen- ga de monossulfato hidratado em concreto de cimento Portland torna o concreto vulneravel ao ataque por sulfato. Deve-se notar que tanto a etringita como o monossulfato contém pequenas quantidades de 6xido de ferro, 0 qual pode substi- tuir.o 6xido de aluminio na estrutura dos cristais. Graos de clinquer nao hidratado. Dependendo da distribuigdo do tamanho das particulas de cimento anidro e do grau de hidratagao, alguns graos de clinquer nao hidratado podem ser encontrados na microestrutura de pastas de cimento hidratado, mesmo apés longo periodo de hidratagao. Como citado anteriormente, as particulas de clinquer em cimentos Portland atuais situam-se geralmente no intervalo de tamanho de 1 a 50 um. Com a evolucio da hidratagio, primeiro sio dissolvidas as particulas menores (i.e., desaparecem do sistema) e as particulas maiores tornam-se menores. Por causa do espago disponivel limitado entre as par- ticulas, os produtos de hidrata i ‘4o tendem a cristalizar-se muito préximo das parti- culas do clinquer em hidratag4o, o que dé a aparéncia de formagao de um revesti- mento ao redor delas. Em idades posteriores, devido a falta de espago disponivel, a hidratago in loco de particulas do clinquer resulta na formagao de um produto de hidratacdo muito denso, cuja morfologia as vezes assemelha-se & de uma part{- cula do clinquer original. Vazios na pasta endurecida Além dos sélidos descritos anteriormente, a pasta contem diferentes tipos de vazi- Os, Os quais tém uma influéncia importante em suas propriedades. Os tamanhos caracteristicos das fases sdlidas e dos vazios na pasta so vistos na Fig. 2.7. Os varios tipos de vazios e sua quantidade e significado sao discutidos em seguida. Espaco interlamelar no C-S-H. Powers assumiu que a largura do espago interlamelar na estrutura do C-S-H é de 18 A e determinou que ele é responsavel por 28 % da porosidade capilar no C-S-H sélido, porém Feldman e Sereda suge- rem que 0 espaco pode variar de 5 a 25 A. 0.001 pm Veen A€strutura do Concreto 27 laareansto de parintes oS 0.0m O.lym Tym 10pm 100 pm mem 101mm Ore YO0nm 10000 10% 10" 10" em 10° ren Figura 2-7 Intervalo dimensional de s6lidos e poros em uma pasta endurecida. Este tamanho de vazio é muito pequeno para ter um efeito desfavoravel sobre a resist@ncia e a permeabilidade da pasta. No entanto, como serd discutido em se- guida, a Agua nestes pequenos vazios pode ser retida por pontes de hidrogénio, e a sua remogao sob determinadas condigdes pode contribuir para a retracio por seca- gem e para a fluéncia. Vazios capilares. Os vazios capilares representam 0 espago nfo preenchido pelos componentes s6lidos da pasta. O volume total de uma mistura cimento-dgua permanece essencialmente inalterado durante o processo de hidratagao. A densi- dade média dos produtos’ de hidratagao é consideravelmente menor do que a den- sidade do cimento Portland anidro; estima-se que 1 cm’ de cimento, apés hidratagao completa, requer ao redor de 2 cm? de espago para acomodar os produtos de hidratagaio®. Desse modo, a hidratagao do cimento deve ser considerada como um processo durante 0 qual o espaco inicialmente ocupado pelo cimento e a 4gua vai sendo gradativamente substitufdo pelo espago preenchido pelos produtos de hidratacao. O espaco nao ocupado pelo cimento ou pelos produtos de hidratagao consiste de vazios capilares, sendo 0 volume e o tamanho dos capilares determina- do pela distancia inicial entre as particulas de cimento anidro na pasta de cimento recém-misturada (i.e., relago 4gua/cimento) e 0 grau de hidratagio do cimento. Um método de célculo do volume total de vazios capilares, popularmente conhe- cido como porosidade, em pastas de cimento Portland, tendo diferentes relagdes 4gua/cimento ou diferentes graus de hidratagao, serd descrito mais tarde. Em pastas bem hidratadas, de baixa relaco 4gua/cimento, os vazios capilares podem variar entre 10 e 50 um; em pastas de relacao 4gua/cimento elevada, nas primeiras idades de hidratagdo, os vazios capilares podem atingir de 3 a 5 um. Curvas tipicas de distribuigdo do tamanho dos poros de algumas amostras de pasta ensaiadas por técnica de intrusao de merctirio s4o mostradas na Fig. 2-8. 5 Deve-se notar que o espago interlamelar na fase C-S-H € considerado como parte dos s6lidos na pasta. . ©N-T. Trata-se de uma_simplificago do modelo de Powers. Em geral nao se consegue hidratar a 100 %; assim, caso isso fosse possfvel, o volume final do “gel hidratado”, ou seja, cimento + dgua de cristalizagdo + 4gua de gel, superaria os 2 cm’. 28 Estruturas da Pasta Endurecida Fost 2 Goat Bal OER ERER Eitdeaees G2 82 = Diametro do poro, em &, ed ane ° T © T Volume de mercario (em*/g) ° T hanes f Diametro do poro, em A Figura 2-8 Distribuigo do tamanho dos poros em pastas de cimento hidratado (de PK. Mehta e D, Manmohan, Proc. 7 Int. Cong. on the Chemistry of Cements, Paris, 1980) Nao é a porosidade total, mas a distribuigdo do tamanho dos poros que controla efetivamente a resistencia, @ permeabilidade, ¢ as variacées de volume em uma pasta de cimento endurecida. A distribuicdo do tamanho dos poros é afetada pela relacdo dgualcimento, e pela idade (grau) de hidratagao do cimento. Os poros grandes influenciam principalmente a resistencia d compressdo e a permeabilidade; os poros equenos influenciam mais a retragdo por secagem ¢ a fluéncia. Tem sido sugerido que a distribuigdo de tamanhos dos poros, e nao a porosidade capilar total, é 0 melhor critério para avaliacdo das caracterfsticas de vazios capi- lares maiores do que 50 nm de uma pasta, referidos na literatura atual como macroporos, sao admitidos como prejudiciais a resisténcia e 4 impermeabilidade, enquanto vazios menores do que 50 nm, referidos como microporos sio admitidos como mais importantes para a retragdo por secagem e a fluéncia. Ar incorporado. Enquanto os vazios capilares tém forma irregular, os vazios de ar incorporado sao geralmente esféricos. Por varias raz6es, discutidas no Capi- tulo 8, os aditivos podem ser adicionados propositadamente ao concreto com a finalidade de incorporar poros muito pequenos na pasta de cimento. O ar pode A€strutura do Concreto 29 ser aprisionado na pasta fresca de cimento durante a operacio de mistura. Os vazi- os de ar aprisionado podem chegar a 3 nm; os vazios de ar incorporado variam comumente de 50 a 200 um. Consequentemente, tanto os vazios do ar aprisionado como do ar incorporado na pasta séo muito maiores do que os vazios capilares, sendo capazes de afetar negativamente a sua resisténcia e impermeabilidade. A agua na pasta endurecida Observados ao microsc6pio eletrénico, os poros na pasta parecem vazios. Isto resulta da técnica de preparo das amostras, da qual consta a sua secagem sob vé- cuo. Na realidade, dependendo da umidade ambiente e da sua porosidade, a pasta de cimento nfo tratada é capaz de reter uma grande quantidade de 4gua. Do mes- mo modo que as fases sélido e vazios discutidas anteriormente, a 4gua pode estar presente na pasta de varias formas. A classificagao da 4gua em diversos tipos esté baseada no grau de dificuldade ou de facilidade com a qual ela pode ser removida. Uma vez que existe uma perda continua de 4gua de uma pasta de cimento saturada, com a diminuigdo da umidade relativa, a linha divis6ria entre os diferentes estados da Agua nao é rigida. Apesar disso, a classificagao € util na compreensio das pro- priedades da pasta. Além do vapor nos poros vazios ou parcialmente preenchidos, a dgua existe na pasta nos seguintes estados. Agua capilar. Esta é a gua presente nos vazios maiores do que 50 A. Pode ser descrita como 0 volume de Agua que est4 livre da influéncia das forgas de atragdo exercidas pela superficie sdlida. Na verdade, do ponto de vista do compor- tamento na pasta, é aconselhdvel dividir a 4gua capilar em duas categorias: a 4gua em vazios grandes, de diametro > 50 nm (0,05 um), a qual pode ser considerada como agua livre, uma vez que a sua remog&o nao causa qualquer variagao de volume’e a 4gua retida por tens capilar em capilares pequenos (5 a 50. nm), cuja remogiio pode causar a retragdo do sistema. Agua adsorvida’. E a 4gua que esta préxima a superficie do s6lido; isto é, sob a influéncia de forcas de atragdo, as moléculas de Agua estio fisicamente adsorvidas na superficie dos s6lidos na pasta. Tem sido sugerido que podem ser fisicamente retidas por pontes de hidrogénio até seis camadas moleculares de Agua (15 A). Desde que as energias de ligag3o de moléculas individuais de 4gua diminuem com a distancia em relagdo & superficie do sélido, uma porcao maior da 4gua adsorvida pode ser perdida por secagem da pasta a 30 % de umidade relativa. A perda de 4gua adsorvida é principalmente responsdvel pela retragao da pasta na secagem. 7 NT. Os autores podem ser considerados, neste caso, exageradamente dogmiticos. As tensdes capilares geradas a partir do movimento da agua nos poros capilares so resultado de uma funcdo continua € portanto nao é razodvel estabelecer um limite tio rigido entre poros que causam problemas de retragdo e poros que ndo causam. Melhor é considerar poros com diametro acima do qual as conseqiiéncias ndo s4o to graves. 5 N-T. Neste caso pode ser confundida ou considerada como 4gua capilar, porém refere~ se Aquela junto as paredes dos poros. 30 Estruturas da Pasta Endurecida Agua interlamelar® . Esta é a 4gua associada a estrutura do C-S-H. Tem sido sugerido que uma camada monomolecular de dgua presente entre as camadas de C-S-H esté fortemente ligada por pontes de hidrogénio. A 4gua interlamelar é per- dida somente por secagem forte (i.e., abaixo de 11 % de umidade relativa). A estru- tura do C-S-H retrai consideravelmente quando a agua interlamelar é perdida, Agua quimicamente combinada". E a agua que é parte integrante da estru- tura de varios produtos hidratados do cimento. Esta Agua nao € perdida na seca- gem; é liberada quando os produtos hidratados sio decompostos por aquecimento. Com base no modelo de Feldman e Sereda, os diferentes tipos de 4gua associados ao C-S-H estio ilustrados na Fig. 2-9. Relagées estrutura-propriedade na pasta endurecida As caracteristicas de engenharia desejaveis para o concreto - resistencia, estabili- dade dimensional, e durabilidade - so influenciadas no somente pela propor¢io, mas também pelas propriedades da pasta, as quais, por sua vez, dependem de as- pectos microestruturais (i.e., tipo, quantidade, e distribuigdo de sélidos e vazios). As relagées estrutura - propriedade da pasta sero discutidas brevemente a seguir. Resisténcia. Deve-se notar que a fonte principal de resisténcia nos produtos sélidos da pasta é a existéncia de forgas de atragdo de Van der Waals. A adesio entre duas superficies s6lidas pode ser atribufda a estas forcas de natureza fisica, sendo o grau de ago aderente dependente da extensao ¢ natureza das superficies envolvidas. Os pequenos cristais de C-S-H, de sulfoaluminatos de calcio hidratados, e de aluminatos de célcio hidratados hexagonais possuem area especifica e capaci- dade de adesao elevadas. Estes produtos de hidratagado do cimento Portland ten- dem a aderir fortemente, néo somente uns aos outros, mas também a solidos de rea especffica baixa, tais como o hidréxido de calcio, graos de clinquer anidro, e particulas de agregado mitido e gratido. E fato conhecido que em s6lidos hé uma relagdo inversa entre porosidade e resisténcia, A resisténcia est4 baseada na parte s6lida de um material; consequentemente, os vazios sao prejudiciais resisténcia. Na pasta, o espago interlamelar interno da estrutura do C-S-H ¢ os pequenos vazios que se acham sob a influéncia das forcas de atragao de Van der Waals nao podem ser consideradas como prejudiciais a resisténcia, porque a concentragao de tensdes e ruptura subsequente sob a acdo de carga comeca nos grandes vazios capilares e nas microfissuras invariavelmente presentes. Como citado anteriormente, 0 volume de vazios capilares na pasta depende da quantidade de 4gua misturada com 0 cimento no inicio da hidratagao e do grau de hidratagdo do cimento. Quando se dé a pega, a pasta adquire um volume estavel, aproximadamente igual ao volume de cimento mais 0 volume de agua. Admitindo que | cm? de cimento produz 2 cm? de produto de hidratag&o, Powers efetuou um célculo simples para demonstrar as variagdes na porosidade capilar com varios graus de hidratag&o em pastas de cimento com dife- rentes relagdes 4gua/cimento. Com base neste trabalho, so mostradas na Fig. 2-10 °N.T. Também conhecida por agua de gel. NLT. Também conhecida por agua de cristalizagao. AEstrutura do Concreto 31 duas ilustragdes sobre 0 processo de reduciio progressiva na porosidade capilar, tanto em graus de hidratagao crescentes (caso A) como em relagdes 4gua/cimento descrescentes (caso B). Sendo a relagao dgua/cimento geralmente dada em massa, €necessario saber a massa especifica do cimento Portland (aproximadamente 3,14) a fim de se calcular o volume de Agua e 0 espaco total disponivel, o qual é igual & soma dos volumes de agua e de cimento. ‘Agua interlamelar Agua Capilar ‘Agua fisicamente adsorvida Figura 2-9 Tipos de dgua associados a0 silicato de célcio hidratado (Basea- do em R-F. Feldman e PJ. Sereda, Eng. J. (Canada), Vol. 53, n® 8/9, 1970). ‘Na pasta de cimento hidratado, a égua pode estar presente sob mwitas formas: estas podem ser classificadas dependendo do grau de facilidade com que podem ser removidas. Esta classificacdo é tl na compreensdo das variagées de volume da pasta de cimento que estdo associadas @ dgua retida nos poros pequenos. No caso A, uma pasta com relagao dgua/cimento 0,63, contendo 100 cm’ de cimento requer 200 cm? de agua; isto resulta em 300 cm? de volume de pasta ou de espaco total disponivel. O grau de hidratacao do cimento dependeré das condigoes de cura (duracdo da hidratago, temperatura, e umidade). Assumindo que, sob as condigées padrdes de cura da ASTM", o volume de cimento hidratado a 7, 28 € 365 dias é 50, 75 ¢ 100 %, respectivamente, o volume calculado de sélidos (ci- mento anidro mais produtos de hidratago) é de 150, 175 e 200 cm’, O volume de vazios capilares pode ser obtido pela diferenga entre o volume total disponivel e 0 volume total de sdlidos. Este € de 50, 42 33 %, respectivamente aos 7, 28 e 365 dias de hidratagao. No caso B, é admitido o grau de 100 % de hidratagZo para quatro pastas de cimento preparadas com Agua correspondente &s relagdes 4gua/cimento 0.7, 0.6, 0.5 ou 0.4, Para um volume dado de cimento, a pasta com a maior quantidade de Agua terd o maior volume de espaco total disponivel. No entanto, apés hidratacao completa, todas as pastas devem conter a mesma quantidade de produto s6lido de hidratagao. Conseqiientemente, a pasta com o maior espago total terminar4 com um volume de vazios capilares correspondentemente maior. Assim, 100 cm’ de cimento por hidratagdo completa produziriam 200 cm? de produtos s6lidos 1 & ASTM C 31 - Standard Method of Curing Concrete Test Specimens in the Field especifica cura timida a 23,0 + 1,7 °C (até A idade do ensaio). No Brasil a Norma é NBR 5738/83 (MB2/83)-Moldagem e cura de corpos-de-prova de conereto cilindricos ou prisméticos. 32 Estruturas da Pasta Endurecida hidratados em cada caso; porém, dado que o espago total em pastas de relagiio Agua/cimento 0.7, 0.6, 0.5, ou 0.4 era de 320, 288, 257, e 225 cm’, os vazios capilares calculados sao de 37, 30, 22 e 11 %, respectivamente. Com 0 que foi aqui admitido, uma pasta com relagdo 4gua/cimento 0,32 nio teria porosidade capilar quando o cimento estivesse completamente hidratado. Para argamassas de cimento normalmente hidratadas, Powers mostrou que ha uma relagdo exponencial do tipo $ = kx’ entre a resisténcia a compressa (S) ¢ a relagdo s6lidos/espaco (x), onde k é uma constante igual a 235MPa. Assumindo um dado grau de hidratagdo, por exemplo, 25, 50, 75 e 100 %, é possivel calcular CASO A: 100 cm? de cimento, a/c mostrado onstante = 0,63, diferentes graus de hidratagdo como 3007 p-—4 + - 5 a0 i] Ss & . by 33 Pores g 3 5 =| 83 g 3 Oo capilares % zor lP eg o 8 a3 =| [EB] Cimento 8 sso} |F* Ld anicro 8 100 [77 Produtos de . hidratagao 5 50 a 4 Tempo 4 Landon : 74 284 t ano 210 Grau de hidratagso 50% ieee el CASO B: 100 cm! de cimento, 100 % de hidratagdo, diferentes relagdes a/c como mostrado wate 87 om! = ste 0U22% 6 amp S 2sob/g83] 2 ~To ou 11% % + 2 & 200+b==-4 8 g bend bre & 8 é se $180 ie iz Te “ $s 8 BX a2 Be 2 OT as Ba Be BS : aes e¢ ge f° 38 38 138 38 06 Os 04 Figura 2-10 Variago na porosidade capilar com relagdes égua/cimento e graus de hi- dratagio diferentes. Fazendo-se certas hipéteses simplicadoras, os célculos podem ser feitos de modo a mostrar, para uma dada relacdo dgualcimento, como poderia variar a porosidade capilar de uma pasta de cimento hidratado em diferentes graus de hidratacdo. Uma outra alternativa é a de determinar, para um dado grau de hidratagéo ¢ diferentes relacdes dguaicimento, as variacdes na porosidade capilar. AEstrutura do Concreto 33 o efeito do valor crescente da relagdo 4gua/cimento, primeiro sobre a porosidade e subsequentemente, sobre a resisténcia, empregando-se a f6rmula de Powers. Os resultados esto representados graficamente na Fig. 2-1la. A curva de permeabilidade também indicada nessa figura sera discutida mais tarde. Estabilidade dimensional. A pasta saturada nao é dimensionalmente est4- vel. Enquanto mantida a 100 % de umidade relativa (UR), praticamente nao ocor- rerd variagdo dimensional. No entanto, quando exposta a umidade ambiente, que est4 normalmente muito abaixo de 100 %, o material comegar4 a perder gua e a retrair, O modo como a perda de 4gua pela pasta saturada est4 relacionada UR de um lado, ¢ por outro lado, a retragiio por secagem, é descrita por L’Hermite 30 4iz0 20 40 fa) 40 Resistencia a compressdo (MPa) 10 os 08 07 06 0s 04 Relagdo solido/espago (1-P) Coeficiente de permeabilidade (cm/s x 10”) 03 04 100% Hidratacdo (b) Relagao dgua/cimento ° O. oz Cr a rr Porosidade capilar. Fragéo de volume P Figura 2-11 Influéncia da relagao 4gua/cimento ¢ do grau de hidratagio sobre a resis téncia e a permeabilidade. A combinacao de relagdo dgualcimento e grau de hidratagdo determina a porosidade da pasta de cimento hidratado. A porosidade e o inverso da porosidade (relacao sélidolespaco) estao relacionados exponencialmente tanto a resistencia como & permeabilidade do material. A drea sombreada mostra 0 intervalo de porosidade capilar caracteristico de pastas de cimento hidratado. 34 Concreto: Estrutura, Propriedades e Materiais (Fig. 2-12). Assim que a UR cai abaixo de 100 %, a Agua livre retida nas grandes cavidades (por exemplo, > 50 nm) comega a ser evaporada para 0 ambiente. Como a dgua livre no esté presa & estrutura dos produtos hidratados por ligagdes fisic quimicas fortes, a sua perda nao seria acompanhada de retracao significativa. Isto € mostrado pela curva “A-B” na Fig. 2-12. Assim, uma pasta saturada exposta a uma UR ligeiramente menor do que 100 % pode perder uma quantidade considerdvel de gua total evapordvel antes de sofrer retragdo intensa. Quando a maior parte da Agua livre foi perdida, prosseguindo a secagem, observa-se que uma perda adicional de égua passa a resultar em retragdo conside- rdvel. Este fendmeno, mostrado pela curva “B-C” na Fig. 2-12, é atribuido princi- palmente A perda de agua adsorvida ¢ de gua retida em pequenos capilares (ver Fig. 2-9). (a) (b) + Agua combnass | a FR |e 3 3 Awa | 3 5 3 adsomda| © « 3 H-h a A 2? ° 100 % Umidade relative Perda de agua Figura 2-12 (a) Perda de 4gua em fungao da umidade relativa; (b) retragdo de argamas- sa de cimento em fungao da perda de dgua (De R.L’Hermite, Proc. Fourth Int. Symp. on the Chemistry of Cements, Washington, D.C., 1960). Em uma pasta de cimento, a perda de dgua adsorvida é a principal responsdvel pela retragao de secagem. Tem sido sugerido que a Agua adsorvida, quando confinada em espagos estreitos entre duas superficies s6lidas, causa pressao de desligamento. A remogao da agua adsorvida reduz a pressio de desligamento e causa retragio do sistema. A agua interlamelar, presente na forma de um filme monomolecular de agua entre as ca- madas da estrutura do C-S-H, pode também ser removida por condigdes severas de secagem. Isto se da porque 0 contato intimo da agua interlamelar com a super- ficie sélida e o caminho tortuoso da trajetéria de transporte através do reticulado capilar requer uma forga motriz maior. Uma vez que a 4gua em pequenos capilares (5 a 50 nm) exerce pressao hidrostatica, a sua remogao tende a induzir uma ten- sdo de compressio sobre as paredes s6lidas do poro capilar, causando também contragao do sistema. Deve-se aqui ressaltar que os mecanismos responsiveis pela retragao por se- cagem so também responsdveis pela fluéncia na pasta. No caso da fluéncia, uma tensdo externa aplicada torna-se a forga que direciona o movimento da dgua adsorvida fisicamente e da Agua retida nos pequenos capilares. AEstrutura do Concreto 35 Durabilidade. O termo durabilidade de um material refere-se ao seu tempo de vida Util sob condigdes ambientais dadas. A pasta é alcalina; consequentemente, a exposigdo a Aguas dcidas é prejudicial ao material. Nestas condigdes, a impermeabilidade do material, e a estanqueidade da estrutura, tornam-se os principais fatores determinantes da durabilidade. A impermeabilidade da pasta é uma caracteristica altamente apreciada porque se assume que uma pasta imperme- vel resultaria num concreto impermedvel (0 agregado no concreto € assumido geralmente como impermedvel). A permeabilidade é definida como facilidade com que um fluido pode escoar através de um sélido. E Gbvio que o tamanho ea continuidade dos poros na estrutura do s6lido determinam a sua permeabilidade. Resisténcia ¢ permeabilidade da pasta so duas faces da mesma moeda, com 0 sentido de que ambas estao intimamente relacionadas a porosidade capilar e & relagiio sélido-espago. Isto fica evidente na curva de permeabilidade da Fig. 2-11, a qual baseia-se em valores de permeabilidade determinados experimentalmente por Powers. ‘A relagéo exponencial entre permeabilidade e porosidade, ilustrada na Fig, 2-1] pode ser entendida a partir da influéncia que varios tipos de poros exer- cem obre a permeabilidade. Com o prosseguimento da hidratagao, 0 espago vazio entre as particulas de cimento originalmente distintas comega a ser preenchido gradativamente pelos produtos de hidratagao. Foi mostrado (Fig. 2-10) que a rela- gdo dgua/cimento (i.e., espago capilar original entre particulas de cimento) e o grau de hidratado determinam a porosidade capilar total, a qual diminui com 0 decréscimo da relagio 4gua/cimento ou aumento do grau de hidratagao. Estudos —_ 0s 28 dias © 0.6 _Distrbuigdo do tamanho de poros menores 04 0.0.7 doque 1320 A para corpos-de-prova com 4.0.8 ‘lacdo Agualeimento de 0.6, 0.7, 0.8 € 0.9, ‘208 28 dias 109 03 02 Volume de mercirio (emg) ol Figura 2-13 Curvas de distribuigio de pequenos poros em pastas de cimento de diferentes relagées égua/cimento. seg 8 gss3 32s #2 (De P.K. Mehta ¢ D. Manmohan, es eore Proc. 7 Int, Congress on Chemistry Didmetro do poro (A) of Cement, Paris, 1980) Quando a representagdo gréfica dos dados da Fig. 2-8 foi refeita, apés se desprezar os poros grandes (i. > 1320 A ), foi observado que uma iinica curva podia representar a distribuicdo de tamanho de poros de pastas de 28 dias, preparadas com quatro relacdes dguaicimento diferentes, Isto mostra que em pastas de cimento endurecidas, o aumento na porosidade total, resultante de relacdes dguaicimento crescentes, manifesta-se somente na forma de poros grandes. Esta observacdo tem grande significado quanto ao feito da relacao dgualcimento sobre a resistencia e a permeabilidade, ambas controladas pelos poros grandes. 36 Concreto: Estrutura, Propriedades e Materiais de porosimetria por intrusdo de merciirio em pastas de cimento hidratado, da Fig. 2-8, com diferentes relagdes 4gua/cimento e em varias idades, mostraram que a diminuig&o na porosidade capilar total estava associada A redugdo de poros gran- des na pasta (Fig. 2-13). Dos dados da Fig. 2-11 é ébvio que o coeficiente de permeabilidade registrou uma queda exponencial quando a fragdio de volume de poros capilares foi reduzida de 0,4 para 0,3. Conseqiientemente, este intervalo de porosidade capilar parece corresponder ao ponto em que tanto 0 volume como 0 tamanho dos poros capilares na pasta sio to reduzidos que se tormam dificeis as conexées entre eles. Como resultado, a permeabilidade de uma pasta completa- mente hidratada pode ser da ordem de 10° vezes menor do que uma pasta de baixa idade. Powers mostrou que mesmo uma pasta de relagao a/c 0,6 com hidratagéo completa (100 %), pode tornar-se tao impermedvel quanto uma rocha, como 0 basalto ou o mérmore. Deve-se notar que as porosidades representadas pelo espaco interlamelar do C-S-H e pequenos capilares nao contribuem para a permeabilidade da pasta. Ao contrario, com o aumento do grau de hidratag4o, embora haja um aumento consi- derdvel no volume de poros, devido ao espaco interlamelar do C-S-H e pequenos capilares, a permeabilidade & acentuadamente reduzida. Na pasta foi notada uma relagao direta entre a permeabilidade ¢ 0 volume de poros maiores do que cerca de 100 nm’. Isto ocorre provavelmente porque 0 sistema de poros, formado princi- palmente de pequenos poros, tende a tornar-se descontinuo. A ZONA DE TRANSIGAO NO CONCRETO Significado da zona de transi¢éo Ja se perguntou porque: * Oconcreto é fragil sob tragio mas dutil em compressao? « Os constituintes do concreto quando ensaiados separadamente & com- pressio uniaxial permanecem elésticos, até & ruptura, enquanto 0 con- creto mostra comportamento elasto-plastico? « A resisténcia 4 compressio de um concreto é maior do que a sua resis- téncia & tragao de uma ordem de magnitude? «Para um dado teor de cimento, uma relacdo 4gua/cimento e idade de hidratagao, a argamassa de cimento sera sempre mais resistente do que 0 concreto correspondente?'? E que também a resisténcia do concreto di- minui com o aumento do tamanho do agregado gratido? « A permeabilidade de um concreto, mesmo contendo um agregado muito denso ser maior por uma ordem de magnitude do que a permeabilidade da pasta de cimento correspondente?'* " PK. Mehta ¢ D. Manmohan, Proceedings of the Seventh International Congress on the Chemistry of Cements, Editions Septima, Vol III, Paris, 1980. 1 NT, Na maioria das vezes essa diferenca & imperceptivel e fica dentro da varia- bilidade de ensaio. Mantido um mesmo consumo de cimento o concreto terd sempre resisténcia maior que o da pasta ¢ da argamassa de mesma relagao a/c NT. Em geral o conereto terd um coeficiente de permeabilidade menor do que o da pasta correspondente, amassada com a mesma telagao a/c. ene AEstrutura do Concreto 37 Por exposigao ao fogo, 0 médulo de elasticidade de um concreto cai mais rapidamente do que a sua resisténcia 4 compressao? As respostas a estas € outras questées enigmaticas sobre 0 comportamento do concreto encontram-se na zona de transi¢ao que existe entre as particulas grandes de agregado e a pasta. Embora constitufda dos mesmos elementos que a pasta, a estrutura e as propriedades da zona de transigdo diferem das da matriz de pasta. Consequentemente, é desejavel tratar a zona de transig&o como uma fase distinta da estrutura do concreto. Estrutura da Zona de Transicao Devido a dificuldades experimentais, hé pouca informacio sobre a zona de transigdo no concreto; todavia, com base em uma descrigdo dada por Maso", pode-se ter algum entendimento das suas caracteristicas estruturais acompa- nhando-se a sequéncia do seu desenvolvimento a partir do momento em que o concreto é langado. Primeiro, em conereto recentemente compactado, um filme de 4gua forma-se ao redor das particulas grandes de agregado. Isto pode levar a uma relagdo 4gua/cimento mais elevada na proximidade do agregado graiido do que longe dele (i.e., na matriz. de argamassa). Em seguida, analogamente & matriz, os fons de calcio, sulfato, hidroxila, e aluminato formados pela dissolugo dos compostos de sulfato de célcio ¢ de aluminato de calcio, combinam-se para formar etringita ¢ hidrOxido de cAlcio. Devido a relagdo dgua/cimento elevada, estes produtos cristalinos vizinhos ao agregado gratido consistem de cristais relativamente grandes, e consequentemente, formam uma estrutura mais porosa do que na matriz. de pasta de cimento ou na matriz. de argamassa, Os cristais em placa de hidréxido de calcio tendem a formar-se em camadas orientadas, por exemplo, com o eixo ¢ perpendicular & superficie do agregado. Finalmente, com o progresso da hidratacgdo, 0 C-S-H pouco cristalizado e uma segunda geragdo de cristais menores de etringita ¢ de hidréxido de cdlcio comegam a preencher os espagos vazios entre o reticulado criado pelos cristais grandes de etringita e de hidréxido de célcio. Isto ajuda a aumentar a densidade e, consequentemente, a resisténcia da zona de transic&o. Uma representagiio diagramitica e uma micrografia eletrénica de varredura, da zona de transigao do concreto, so apresentados na Fig. 2-14. Resisténcia da zona de transigado Como no caso da pasta, a causa da adesio entre os produtos de hidratagdo e a particula de agregado sao as forgas de atragaéo de Van der Waals; portanto, a resis- téncia da zona de transig&o em qualquer ponto depende do volume e do tamanho dos vazios presentes. Mesmo para concreto de baixa relagdo Agua/cimento, nas primeiras idades, 0 volume e tamanho de vazios na zona de transigdo serao maio- res do que na matriz de argamassa; consequentemente, a zona de transig&o é mais, fraca em resisténcia (Fig. 2-15). Contudo, com o aumento da idade, a resisténcia da zona de transiciio pode tornar-se igual ou mesmo maior do que a resisténcia da 5 J.C, Maso, Proceedings of the Seventh International Congress on the Chemistry of Cements, Vol. 1, Editions Septima, Paris, 1980. 38 — Concreto: Estrutura, Propriedades e Materiais, C-A-5-H cH — (Etringita ) SS AO Agregado E Zona de Transigao Matriz de pasta de cimento Figura 2-14 (a) Micrografia eletrénica de varredura, de cristais de hidréxido de calcio na zona de transigao. (b) Representagao diagramatica da zona de transigdo e da matriz de pasta de cimento no conereto. Nay primeiras idades, especialmente quando ocorreu uma exsudagéo interna considerdvel, 0 tamanho € 0 volume de vazios da zona de transi¢do sdo maiores do que no interior da pasta ou da argamassa. O tamanho ¢ a concentragao dos compastos cristalinos, tais como o hidréxido de cdlcio e a etringita sdo também maiores na zona de transi¢do. As fissuras formam-se facilmente na direedo ortogonal ao eixo ¢. Tais efeitos sao responsdveis pela resistencia da zona-de transicdo, em geral mais baixa do que a da matriz de pasta no concreto A Estrutura do Concreto 39 15,0. 10,0 5,0 Figura 2-15" Efeito da idade na resis- téncia de aderéncia (zona de transigo) € na resisténcia da matriz de pasta de © Pasta Médulo de ruptura (MPa) © Zona de transi¢aio cimento (De K.M.Alexander, J. War- OG ts tmesestano anos —dlaw, e DJ. Gilbert, The Structure of Concrete, Cement and Concrete Asso- Idade (escala log) ciation, Londres, 1968, p. 65). Como resultado da interagdo quimica lenta entre a pasta de cimento e 0 agregado, a maiores idades a resisténcia da zona de transicdo aumenta mais do que a resisténcia da matriz de pasta de cimento matriz de argamassa. Isto poderia acontecer como resultado da cristalizagao de novos produtos nos vazios da zona de transigdo através reagdes quimicas lentas entre constituintes da pasta de cimento e o agregado, formando silicatos de calcio hidratado no caso de agregados silicosos, ou carboaluminatos hidratados em caso de calcdrio. Tais interagdes contribuem para a resisténcia porque tendem também a reduzir a concentragao de hidréxido de cAlcio na zona de transigao. Os cristais grandes de hidréxido de c4lcio possuem menor capacidade de adesdo, nado somen- te pela drea especifica menor e forcas de atragio de Van der Waals correspon- dentemente mais fracas, mas também porque servem como pontos de clivagem preferencial, devido A sua estrutura orientada. Além do grande volume de vazios capilares e de cristais orientados de hidréxido de cdlcio, um importante fator responsdvel pela baixa resisténcia da zona de tran- sigo no concreto a presenga de microfissuras. A quantidade de microfissuras depende de intimeros pardmetros, incluindo a distribuigao granulométrica e tama- nho do agregado, teor de cimento, relagdo 4gua/cimento, grau de adensamento do concreto fresco, condigdes de cura, umidade ambiente, e histéria térmica do con- creto, Por exemplo, uma mistura de concreto contendo agregado com ma distri- buicdo granulométrica é mais suscetfvel & segregagao durante o adensamento; as- sim, podem formar-se filmes espessos de 4gua ao redor do agregado gratido, espe- cialmente embaixo da particula. Em idénticas condigdes, quanto maior o tamanho do agregado, mais espesso seré o filme de Agua. A zona de transiciio formada nestas condigdes ser suscetivel a fissuracdo quando sujeita a influéncia de ten- sdes de tracaio induzidas por movimentos diferenciais entre o agregado e a pasta. Tais movimentos diferenciais surgem comumente tanto na secagem como no esfriamento do concreto. ‘© N.T. O médulo de ruptura ¢ equivalente & resisténcia & tragao por flexao. 40 Concreto: Estrutura, Propriedades e Materiais Em outras palavras, o concreto tem microfissuras na zona de transi¢do mesmo antes da estrutura ser carregada. Obviamente, cargas de impacto de curta duracao, retragdo por secagem, e cargas mantidas a niveis elevados de tensdo terao como feito o aumento do tamanho e ntimero de microfissuras (Fig. 2-16). Influéncia da zona de transigéo nas propriedades do concreto A zona de transigdo, geralmente o elo mais fraco da corrente, é considerada a fase de resisténcia limite no concreto. E devido a presenga da zona de transic¢aio que o concreto rompe a um nivel de tensio consideravelmente mais baixo do que a resis- téncia dos dois constituintes principais. Figura 2-16 Mapas tipicos de fissuragdo em concreto comum (resisténcia média): (a) apés retracio por secagem; (b) apés carregamento de curto prazo; (c) para carregamen- to mantido por 60 dias a 65 % da resisténcia & compressdo aos 28 dias (De A.J. Ngab, FO. Slate, e AM. Nilson, J. ACI, Proc. Vol. 78, n° 4, 1981). A zona de transigdo contém microfissuras resultantes de carregamento a curto prazo, retragdo por secagem, ¢ fluéncia. Nao sendo necessdrios niveis elevados de energia para estender as fissuras jé existentes na zona de transigao, até com tensdes de 40 a 70 % da resisténcia tlti- ma, j4 so obtidos maiores incrementos de deformacao por unidade de forga apli- cada, Isto explica o fato de que os constituintes do concreto (i.e., agregado ¢ pasta ou argamassa) comumente permanecem elésticos até & fratura num ensaio de com- pressdo uniaxial, enquanto 0 concreto mostra comportamento elasto-plastico. A niveis de tenséo maiores do que 70 % da resisténcia Ultima, as concentra- des de tensdo nos poros grandes da matriz de argamassa tormam-se suficiente- mente grandes até iniciar novas fissuras. Com tenses crescentes, essas novas fissuras da matriz propagam-se gradativamente até se unirem &s fissuras originadas na zona de transigao. O siste- ma de fissuras torna-se ento continuo e o material rompe. E necessério uma ener- gia considerdvel para a formago e propagacao das fissuras na matriz sob carga de Compressao. Por outro lado, sob carga de tragdo, as fissuras propagam-se rapida- mente a um nivel de tenséo muito mais baixo. E por isto que o concreto rompe de modo frdgil a trago mas é relativamente dtictil 4 compressao. Esta € também a A€strutura do Concreto 41 razio porque a resisténcia a tracfio do concreto é mais baixa do que a resisténcia a compressa, Este assunto é discutido em maior profundidade nos Capitulos 3 e 4. A estrutura da zona de transigéo, especialmente o volume de vazios e microfissuras presentes, tém grande influéncia sobre a rigidez ou 0 médulo de elasticidade do concreto. No material composto, a zona de transigdo serve de pon- te entre os dois constituintes: a argamassa matriz e as particulas de agregado gratido, Mesmo nos casos em que os constituintes individuais tém rigidez elevada, a rigi dez do material composto pode ser baixa por causa de pontes rompidas (i.e, vazi- os ¢ microfissuras na zona de transigfio), as quais nao permitem transferéncia de energia. Assim, devido & microfissuracdo por exposi¢Ao ao fogo, 0 médulo de elasticidade do concreto cai mais rapidamente do que a resisténcia A compressio. As caracteristicas da zona de transigado também influenciam a durabilidade do concreto, Os elementos em concreto armado e protendido rompem frequentemen- te, devido a corrosao da armadura. A velocidade de corrosio do ago € enormemen- te influenciada pela permeabilidade do concreto. A existéncia de microfissuras na zona de transig&o na interface com a armadura e o agregado gratido € a razao principal do concreto ser mais permedvel do que a pasta ou a argamassa corres- pondente. Deve-se notar que a difusio do ar e da Agua é um pré-requisito necess4- rio & corrosdo do ago no concreto. O efeito da relagdo 4gua/cimento sobre a permeabilidade/difusividade e a resisténcia do concreto € geralmente atribufdo a dependéncia que existe entre a relagio dgua/cimento e a porosidade da pasta no concreto. A discussio precedente sobre a influéncia da estrutura e das propriedades da zona de transig&o sobre 0 concreto mostra que, de fato, é mais adequado pensar em termos de efeito da relagdo 4gua/cimento sobre a mistura de concreto como um todo. Isto € porque dependendo das caracterfsticas do agregado, tais como distribuigdo granulométrica e dimens’o maxima, é poss{vel ter grandes diferengas na relagado d4gua/cimento entre a matriz de argamassa e a zona de transig&o. Em geral, todos os outros fatores permanecendo os mesmos, quanto maior o agregado, maior serd a relagio 4gua/cimento local na zona de transigao, e, consequentemente, menos resistente e mais permedvel’’ sera 0 concreto. TESTE O SEU CONHECIMENTO 1. Qual o significado da estrutura de um material? Como vocé define estrutura? 2, Descreva alguns dos aspectos singulares da estrutura do concreto que dificultam a previsio do comportamento do material a partir de sua estrutura. 3. Discuta as caracteristicas fisico-quimicas do C-S-H, do hidréxido de calcio, ¢ dos sulfoaluminatos de célcio presentes em uma pasta de cimento bem hidratada. 4. Quantos tipos de vazios esto presentes em uma pasta de cimento hidratado? Quais sio as suas dimens6es tipicas? Discutir o significado do espaco interlamelar com relagao as propri- edades da pasta de cimento hidratado. "NT. Entendendo a permeabilidade como uma propriedade fungao da existéncia de um gradiente de pressao, a vazdo de 4gua que percola por unidade de drea, ou seja, 0 Coeficiente de permeabilidade da lei de Darcy, em geral diminui com o aumento do didmetro e do teor de agregados gratidos. 42 Concreto: Estrutura, Propriedades e Materiais 5. Quantos tipos de agua esto associados A pasta de cimento saturada? Discutir o significado de cada tipo. Por que € desejavel fazer-se distingdo entre a égua livre em poros capilares e a Agua adsorvida as paredes desses capilares? 6. Qual seria 0 volume de vazios capilares em uma pasta de relagdo dgua/cimento 0,2 que esté Somente 50 % hidratada? Calcular também a relagio 4gua/cimento necessdria para obter-se porosidade zero em uma pasta de cimento completamente hidratada. 7. Quando a pasta de cimento saturada € seca, a perda de agua nao é diretamente proporcional a retragdo por secagem. Explicar porque. 8. Em uma pasta de cimento em hidratagao a relago entre porosidade e impermeabilidade exponencial. Explicar porqué. 9. Desenhar um esbogo tipico mostrando como a estrutura dos produtos de hidratagao na zona de transigo pasta de cimento-agregado € diferente da estrutura da pasta de cimento no con- creto. 10. Discutir porqué a resisténcia da zona de transigio é geralmente mais baixa do que a resistén- cia da matriz de pasta de cimento. Explicar porqué 0 concreto rompe de modo frégil & trago mas nfo em compressio. LL, Todos 0s outros fatores mantidos constantes, a resisténcia de um concreto diminuiré com a introdugdo de agregado gravido de tamanho crescente. Explicar porqué. SUGESTOES PARA ESTUDO COMPLEMENTAR DIAMOND, S. Proceedings of the Conference on Hydraulic Cement Pastes, Cement and Concrete Association, Wexham Springs, Slough, U.K., pp 2-30, 1976. LEA.EM., The Chemistry of Cement and Concrete, Chemical Publishing Company, Inc., New York, 1971, Cap. 10, The Setting and Hardening of Portland Cement MINDESS, S. J.F. YOUNG. Concrete, Prentice Hall, Inc., Englewood Clif Hydration of Portland Cement. POWERS, T.C., Properties of Fresh Concrete, John Wiley and Sons, Inc., 1968, Capitulos 2, 9, € Ll. Proceedings of the Seventh International Congress on the Chemistry of Cement (Paris, 1980), Eigth Congress (Rio de Janeiro, 1986), e Ninth Congress (New Delhi, 1992). RAMACHANDRAN, V.S.R.F. FELDMAN, and JJ. BEAUDOIN, Concrete Science, Heyden & Son Ltd., London, 1981, Caps. 1 a 3, Microstruture of Cement Paste. SKALNY, LP, Ed., Material Science of Concrete, Vol. 1, The American Ceramic Society Inc., 1989. N.J., 1981, Cap. 4, CAPITULO Resisténcia Tradugado e adaptacao Prof. Antonio Carmona Filho PREAMBULO A resisténcia do concreto é a propriedade mais valorizada pelos engenheiros projetistas e de controle de qualidade". Nos sdlidos existe uma relacdo fundamental inversa entre porosidade (frago de volume de vazios) e resisténcia. Consequentemente, em materiais de varias fases como 0 concreto, a porosidade de cada componente ou fase de sua estrutu- ra pode se tornar um fator limitante da resisténcia. Os agregados naturais sao geralmente densos e resistentes; portanto, a porosidade da matriz, que é a pasta de cimento endureci- do, bem como a zona de transicao entre a matriz e 0 agregado gratido é que normalmente determinam a caracteristica de resisténcia dos concretos usuais. Embora o fator dgua/cimento seja 0 mais importante na determinacao de ambas porosidades, da matriz e da zona de transicao, e conseqdentemente da resisténcia do concreto, fatores como adensamento, condigées de cura (grau de hidratacdo do cimen- to), dimensdes e mineralogia do agregado, aditivos, geometria e condigbes de umidade do corpo de prova, tipo de tensdo, e velocidade de carregamento podem também ter um efeito importante sobre a resisténcia. Neste Capitulo, a influéncia de varios fatores sobre a resisténcia do concreto é examinada em detalhe. Uma vez que a resisténcia uniaxial (ou, simplesmente, axial) & compressdo 6 normalmente aceita como um indice geral da resisténcia do concreto, serdo discutidas as relagdes entre resistencia & com- pressao uniaxial e outros tipos de resisténcia como a resisténcia a tracao, a flexao, ao cisalhamento e a resisténcia biaxial. 'N.T. $6 recentemente em nosso pafs se iniciou uma conscientizagéo quanto & necessidade de construir obras durdveis. Os antigos projetistas e construtores imaginavam que as obras em concreto tinham automaticamente durabilidade infinita. 44 — Concreto: Estrutura, Propriedades e Materiais DEFINICAO A resisténcia de um material é definida como a capacidade de este resistir 4 ten- so sem ruptura. A ruptura é algumas vezes identificada com o aparecimento de fissuras. De qualquer modo, deve ser lembrado que, ao contrério da maioria dos materiais estruturais, 0 concreto contém microfissuras antes mesmo de ser subme- tido a tensdes externas. No concreto, portanto, a resisténcia € relacionada com a tensdo requerida para causar a fratura e é sinénimo do grau de ruptura no qual a tensdo aplicada alcanca seu valor maximo. No ensaio de tragio, a fratura do cor- po-de-prova normalmente significa ruptura; na compressio, 0 corpo-de-prova é considerado rompido mesmo quando no hd sinal de fratura externa visivel, po- rém a fissurag4o interna € muito avangada, tal que o corpo-de-prova ¢ incapaz de suportar uma carga maior sem fraturar-se. IMPORTANCIA No projeto de estruturas de concreto, resisténcia é a propriedade geralmente especificada. Isto porque, comparada com a maioria das propriedades, a resistén- cia € relativamente facil de ser ensaiada. Contudo, muitas propriedades do concre- to, como o médulo de elasticidade, estanqueidade, impermeabilidade e resistén- cia as intempéries incluindo aguas agressivas, sdo diretamente relacionadas com a resisténcia © podem, portanto, ser deduzidas dos dados da resisténcia. Isto foi enfatizado anteriormente (Capitulo 1), onde a resisténcia 4 compressio do concre- to é muitas vezes maior do que outros tipos de resistencia, e a maioria das pegas de concreto sao projetadas levando em conta a vantagem da alta resisténcia 4 com- pressiio do material. Embora na pratica o concreto seja submetido simultaneamen- te a uma combinacao de compressao, cisalhamento e a esforgos de tragdo em duas ou mais diregées, os ensaios de compressao uniaxial so de mais facil execugiiono —, laboratério. A resisténcia & compressio aos 28 dias, determinada através de um ensaio padrao de compressio uniaxial, € aceita universalmente como um indice geral da resisténcia do concreto. RELAGAO RESISTENCIA - POROSIDADE Em geral, existe uma relagdo fundamental inversa entre porosidade e resisténcia de s6lidos que, para materiais homogéneos simples, pode ser descrita com a ex- pressiio: S=S,e*P G+) f onde S € a resisténcia do material que possui uma dada porosidade p, 5, € a resis- | téncia intrinseca para a porosidade zero ¢ k € uma constante. Para muitos materi} ais, a razdo S/S, versus porosidade representada em um grafico segue a mesma | curva. Por exemplo, os dados na Fig.3-1 representam cimentos curados normal- mente, cimentos autoclavados e uma variedade de agregados. Na realidade, a rela- go resisténcia-porosidade € aplicdvel a uma extensa lista de materiais, como 0 ferro, ago inoxidavel, gesso, alumina sinterizada e zircénia (Fig. 3-1b). Resisténcia 45 Rolagdo Resisiincia Porosidace ~ . a © sal anasto nl Tinos |S (SP Aecans z ful sites Swern tre i 7 ost, 2 acon ae i 5 gi 3 Ca 30 : ey: 2 a2 2 . g° 4 Fok t i i ie g 8 3 2 & i é a Ba f a o2F . 5 ‘ a 2 easuizae ol -_ ol Rtas By aa has as ab So oa cameo eo porstisape See Reaogee © Figura 3-1. Relacio porosidade-resisténcia nos sélidos: (a) cimentos curados normalmente, cimentos autoclavados e agregados; (b) ferro, aco inoxidavel, gesso, alumina sinterizada e zircOnia; (c) argamassas de cimento Portland com diferentes tragos. [(a) de GI.Verbeck ¢ R.A. Helmuth, Proc. Fifth Int. Symp. on Chemistry of Cements, Tokyo, Vol.3, p/p. 1- 32, 1968; (b) de A.M.Neville, Properties of Concrete, Pitman Publishing, Inc., Marshfield, Mass. p. 271, 1981; (c) de T.C.Powers, J. Am Ceram. Soc., Vol. 41, No. 1, pp. 1-6, 1958. ] A relagdo inversa entre porosidade e resisténcia ndo é limitada aos produtos cimenticios, mas geralmente aplicdvel a uma grande variedade de materiais. Powers? verificou que a resisténcia a compressao aos 28 dias, f, de trés diferentes tipos de argamassas estava relacionada com a razo gel/vazios ou a razio entre os produtos sélidos da hidratagao no sistema e o total de vazios: fzad (3-2) onde a é a resisténcia intrinseca do material com porosidade zero, p ¢ x a razao s6lidos/ vazios ou a fragdo de s6lidos no sistema, que € portanto igual a (I-p). Os dados de Powers estiio indicados na Fig. 3-1c; ele encontrou o valor de a como sendo 234 MPa. ‘A semelhanga das trés curvas na Fig.3-1 confirma a validade geral da relagao resistén- cia - porosidade nos s6lidos. Embora na pasta ou argamassa de cimento endurecido a porosidade possa ser rela- cionada a resisténcia, no caso do concreto a situagdo nao é simples. A presenga de microfissuras na zona de transigao entre o agregado gratido e a matriz. pasta de cimen- to faz do concreto um material muito complexo para o prognéstico da resisténcia atra- vés das relagdes exatas resisténcia-porosidade. A validade geral da relagdo resisténcia- porosidade, contudo, deve ser respeitada, porque as porosidades das fases componen- tes do concreto, incluindo a zona de transigao, tommam-se de fato limitantes da resistén- cia. Para um concreto contendo agregados de baixa porosidade ou de alta resisténcia, a resisténcia do material ser4 govemada tanto pela resisténcia da matriz da pasta de cimento como pela resisténcia da zona de transi¢fo. 2T.C. Powers, J. Am. Ceram. Soc., Vol. 41, No. 1,pp.1-6, 1958. 46 — Conereto: Estrutura, Propriedades e Materiais Normalmente, nas primeiras idades a zona de transigo € mais fraca do que a matriz, mas a maiores idades o inverso parece ser 0 que ocorre. FORMAS DE RUPTURA NO CONCRETO Com um material como 0 concreto, que contém vazios de varios tamanhos e for- mas na matriz e microfissuras na zona de transigao entre a matriz e os agregados gratidos, as formas de ruptura sob tensao sao muito complexas e variam conforme 0 tipo de tenséo. Uma breve revisao das formas de ruptura, contudo, serd proveito- sa no entendimento e controle dos fatores que influenciam na resisténcia do con- creto. Sob tragfo uniaxial, relativamente pouca energia é necessdria para 0 inicio ¢ aumento de fissuras na matriz. A propagacio ripida e a interligagao do sistema de fissuras, consistindo de fissuras preexistentes na zona de transic¢do e fissuras for- madas recentemente na matriz, justificam a ruptura fragil. Na compressdo, o modo de ruptura € menos frdgil porque consideravelmente mais energia é necessdria para gerar e aumentar as fissuras na matriz. Geralmente admite-se que num ensaio de compressao uniaxial em concreto nenhuma fissura € iniciada na matriz até pou- co acima de 50 por cento da tensao de ruptura; neste estégio, um sistema estavel de fissuras, designadas “fissuras de cisalhamento”, j4 existe nas proximidades do agregado gratido. A niveis mais elevados de tensdes, comegam a aparecer fissuras no interior da matriz; seu nimero e tamanho aumentam progressivamente com 0 aumento do nivel de tensdes. As fissuras na matriz e na zona de transigao (fissure de cisalhamento) por fim se unem e geralmente uma superficie de ruptura desen- volve-se a aproximadamente 20 a 30 graus a partir da diregao da carga, como mostrado na Fig. 3-2. Figura 3-2, Modo de ruptura tipica do conereto na compressdo. Resisténcia 47 RESISTENCIA A COMPRESSAO E FATORES QUE A AFETAM A resposta do concreto as tensées aplicadas nao depende somente do tipo de solicitagdio mas também de como a combinagao de varios fatores afeta a porosidade dos diferentes componentes estruturais do concreto. Tais fatores incluem proprie- dades e proporgdes dos materiais que compéem o traco do concreto, grau de adensamento e condigées de cura. Do ponto de vista da resisténcia, a relagao égua/ cimento-porosidade é indiscutivelmente o fator mais importante porque, indepen- dentemente de outros fatores, ela afeta a porosidade tanto da matriz pasta de ci- mento como da zona de transi¢do entre a matriz e o agregado gratido. A determinagao direta da porosidade dos componentes estruturais individuais do concreto — a matriz e a zona de transig&o — é impraticdvel, e portanto mode- los precisos de previsio da resisténcia do concreto nao podem ser desenvolvidos. Entretanto, h4 tempos tém sido descobertas relagdes empiricas uteis, as quais, para fins praticos, fornecem dados indiretos suficientes sobre a influéncia de vari- 0s fatores na resisténcia A compressao (a resisténcia A compressdio sendo ampla- mente usada como um fndice de todos os outros tipos de resisténcia). Embora a resposta real do concreto as tensGes aplicadas seja resultado de interagdes comple- xas entre varios fatores, para simplificar o entendimento destes fatores, eles serao discutidos separadamente em trés categorias: (1) caracteristicas e proporcdes dos materiais, (2) condigdes de cura e (3) parametros de ensaio. Caracteristicas e Proporgées dos Materiais Antes de fazer a mistura do concreto, a escolha dos materiais constituintes ade- quados e a determinagdo das suas proporgdes é o primeiro passo para a obtengao de um concreto que apresente a resisténcia especificada. Embora a composigao € propriedades dos materiais constituintes do concreto sejam discutidas em detalhe nos Capitulos 6-8, os aspectos que so importantes sob 0 ponto de vista da resis- téncia do concreto serio considerados aqui. Deve se observar que na pratica mui- tos parametros de dosagem sao interdependentes, portanto as suas influéncias nao podem ser efetivamente isoladas. Fator agua/cimento. Em 1918, como resultado de um extenso programa de ensaios no Instituto Lewis, Universidade de Illinois, Duff Abrams determinou que existia uma relacdo entre o fator 4gua/cimento e a resisténcia do concreto. Popu- larmente conhecida como lei de Abrams do fator agua/cimento, esta relagao inversa é representada pela expressao fe= klk” G-3) onde a/c representa o fator 4gua/cimento da mistura do concreto ¢ k, e k, sio constantes empfricas. Curvas tipicas ilustrando a relagao entre o fator agua/cimen- to ea resisténcia numa dada idade da cura imida sdo mostradas na Fig. 3-3. A partir do entendimento dos fatores respons4veis pela resisténcia da pasta de cimento endurecida e 0 efeito do aumento do fator 4gua/cimento na porosidade para um dado grau de hidratagdo do cimento (Fig. 2 -10 , caso B), a relacio dégua/ 48 Concreto: Estrutura, Propriedades e Materiais “Amasiras de Conereto sem Ar incor: porado’ Clindras 15 om x 30 em Cimento: CP lou comun Cura Umida a 21 °C igura 3-3. Influéncia do fator égua/ cimento e do perfodo de cura imida sobre a resisténcia do concreto (Do “Design and Control of Concrete Mixtures” ,13* Edigao, Portland 0,35 0,45 0,55 0,65 Cement Association, Skokie, III., Fator Agua/Cimento 1988. p. 6.) Resisténcia 8 Compressao, MPa A resistencia a compressdo do concreto é uma funcdo do fator dguaicimento e do grau de hidratacdo do cimento. Para uma dada temperatura de hidratacdo, o grau de hidratacao assim como a resistencia dependem do tempo. cimento-resisténcia no concreto pode ser facilmente explicada como uma consequéncia natural do progressivo enfraquecimento da matriz devido ao au- mento da porosidade com o aumento do fator 4gua/cimento. Esta explicagao, contudo, nao leva em conta a influéncia do fator 4gua/cimento sobre a resisténcia da zona de transigao. Num concreto de baixa e média resisténcia preparado com agregado comum, ambas as porosidades da zona de transigdo e da matriz determi- nam a resisténcia, e é valida a relacdo direta entre o fator 4gua/cimento € a resis- téncia do concreto. Isto parece nfo mais ser 0 caso em concretos de alta resisténcia (i.e., fator 4gua/cimento muito baixo). Para fatores 4gua/cimento abaixo de 0,30, aumentos desproporcionalmente elevados na resisténcia 4 compressio podem ser conseguidos para pequenas redug6es no fator 4gua/cimento. O fendmeno é atribu- ido principalmente a melhora significativa da resisténcia da zona de transiga0 ob- tida para fatores 4gua/cimento muito baixos. Uma das explicagdes € que o tama- nho dos cristais de hidréxido de calcio diminue com a redugdo dos fatores 4gua/ cimento. Ar incorporado. Na maioria dos casos, é 0 fator 4gua/cimento que deter- mina a porosidade da matriz da pasta de cimento para um dado grau de hidratagao; entretanto, quando vazios em forma de ar sao incorporados ao sis- tema, em conseqiiéncia de adensamento inadequado ou uso de aditivo incorporador de ar, eles também tém 0 efeito de aumentar a porosidade e redu- zir a resisténcia do sistema. A um dado fator 4gua/cimento, 0 efeito sobre a resisténcia & compressdo do concreto pelo aumento do volume de ar incorpo- rado é mostrado nas curvas da Fig, 3-4a. Resisténcia 49 @ sr mcrae oh a a a rT Fator AgualCimento, % 40 0% Ar mcasts Figura 3-4 Influéncia do fator égua/ cimento, ar incorporado e teor de cimento sobre a resisténcia 4 com- pressio. (Do Concrete Manual, U.S. Bureau of Reclamation, 1981, e W.A. Cordon, Properties, Evaluation, and Resistencia & Compressio, MPa ©) zof a a Control of Engineering 400-350-300 250 200 Materials, McGraw-Hill Book Teor de cimento, kg/m Company, New York, 1979.) Para um dado fator dguaicimento ou teor de cimento, a incorporacdo de ar geralmente reduz a resisténcia do concreto. Para teores muito baixos de cimento, a incorporacdo de ar pode na realidade aumentar a resisténcia Observa-se que o grau de perda de resisténcia como resultado da incorporagao de ar depende nao somente do fator 4gua/cimento da mistura de concreto (Fig.3-4a), mas também do contetido de cimento. Em resumo, como uma primeira aproxima- fo, a perda de resist@ncia devido & incorporagio de ar pode ser relacionada com o nivel geral de resisténcia do concreto. Os dados na Fig. 3-4b mostram que para um dado fator 4gua/cimento, concretos de alta resisténcia (com alto teor de cimento) sofrem uma perda considerdvel de resisténcia com o aumento da quantidade de ar incorporado, enquanto que concretos de baixa resisténcia (com baixo teor de ci- mento) tendem a sofrer somente uma pequena perda de resisténcia ou podem até ganhar resisténcia como resultado do efeito redutor de 4gua/plastificante. Esta questo é de grande importancia no estudo de dosagem de concreto-massa (Cap. 11). A influéncia do fator 4gua/cimento e do teor de cimento sobre a resposta do concreto as tenses aplicadas pode ser explicada através dos dois efeitos opostos causados pela incorporacao do ar no concreto. Através do aumento da porosidade da matriz, o ar incorporado terd um efeito contrario sobre a resisténcia do material composto. Por outro lado, melhorando a trabalhabilidade e compacidade da mis- tura, o ar incorporado tende a aumentar a resisténcia da zona de transigo (especi- almente nas misturas com baixo teor de 4gua ¢ cimento) e portanto melhora a resisténcia do concreto. Parece que para um concreto com baixo teor de cimento, quando a incorporagiio de ar é acompanhada por uma substancial redugdo no volu- me de Agua, o efeito negativo da incorporagio de ar sobre a resisténcia da matriz é mais do que compensado pelo efeito positivo sobre a zona de transigao. 50 —Concreto: Estrutura, Propriedades e Materiais Tipo de cimento. Pode ser lembrado novamente a partir da Fig. 2-10 que tanto o fator 4gua/cimento quanto o grau de hidratagdo do cimento determinam a porosidade da pasta de cimento endurecida. Sob condigées padrées de cura, o cimento portland ASTM Tipo IF hidrata-se mais rapidamente que o cimento portland Tipo I*; portanto, a baixas idades de hidratagdo e a uma dada relacio Agua/cimento, um concreto contendo cimento portland Tipo III’ teré menor porosidade ¢ teré uma matriz de maior resisténcia do que um concreto contendo cimento portland Tipo I*. A Portland Cement Association (Associagao de Cimen- to Portland americana) desenvolveu faixas de resisténcia, mostradas na Fig. 3-5, que levam em conta o efeito da relagfo 4gua/cimento e dos tipos de cimento sobre misturas de concreto com e sem ar incorporado. CONCRETO COM AR INCOPORADO Cimento GP 1 comum main aiaailaaal aly . T 2 batt =| ss FP Cimento de Alta Resistencia Inicial, Tipo Il (3) Figura 3-5 Influéncia do fator égua/ cimento, perfodo de cura timida, tipo de cimento, e ar incorporado sobre a resisténcia do conereto (Design and Control of Concrete Mixtures, 11" Edigdo, Portland Ciment Association, Sokie, IIl., 1968, p. 44.) 34 - 28 Resistencia 8 Compressio. MPa, Cura Uimida a 21°C. Hee Eb 50-095q00 ORD GH5 GEO “O80 G8 GEO Aqua Cimento > N.T. AMERICAN SOCIETY FOR GONGRETO SEM AR INCORPORADO TESTING AND MATERIALS. “Standard Specification for Portland Cements”, seaman SP Testinins ASTM C 150. In:_. Annual Book of 3aas 7 das ASTM Standards. Philadelphia 1991. 0 i cimento americano tipo III corresponde aproximadamente ao cimento brasileiro CP V - ARI, conforme a norma NBR $733/E. imento Portland de Alta Resisténcia Inicial” da Associagdo Brasi- leira de Normas Técnicas. “ N.T. AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. Standard Specification for Portland Cements. ASTM C 150. In:_. Annual Book of ASTM Standards. Philadelphia, 1991. No Brasil, esse cimento corresponde aproximadamente ao cimento CP I, con- forme Associagio Brasileira de Normas He Técnicas. “Cimento Portland Comum”, Cot Os 0807 Of 0D08GT Of 050607 OMosasqr NBR 5733/EB1. Rio de Janeiro. ABNT. Fator Agua / Cimento Cimento de Alta Resistencia Inicial Tipo il (3) A Compress3o, MP2, Cura Umidaa 21°C Resist Resisténcia 51 1991 Admite-se que a maioria dos resultados de resistencia determinados nos laboraté- tios de concreto para uma variedade de materiais caem dentro das faixas de resis- téncia delimitadas por estas curvas. Para os materiais do canteiro de obras, se no estiverem disponiveis dados de ensaios de laboratério ou da experiéncia pratica referentes 4 relagdo entre o fator 4gua/cimento e a resisténcia, recomenda-se esti- mar o fator 4gua/cimento a partir das curvas, usando-se o limite inferior da faixa de resisténcia aplicavel. Deve se observar que, 4 temperatura normal, as velocidades de hidratagdo e de desenvolvimento de resisténcia dos cimentos portland ASTM tipo II, IV, V, 18° (cimento portland com escéria de alto forno) ¢ IP* (cimento portland pozolanico) sao um tanto mais lentas que as do cimento portland ASTM tipo I. A temperaturas correntes, para diferentes tipos de cimentos portland puros e cimentos portland com adigées, o grau de hidratago a 90 dias ou acima é normalmente similar; portanto, a influéncia da composi¢do do cimento sobre a porosidade da matriz e a resisténcia do concreto fica limitada as baixas idades, O efeito do tipo de cimento portland sobre a resisténcia relativa do concreto a 1, 7, 28, e 90 dias é mostrado na Tabela 3 -1. Agregado. Em Tecnologia do Concreto, uma énfase extrema na relagdo entre 0 fator 4gua/cimento e a resisténcia tem causado problemas. Por exemplo, a influéncia do agregado na resisténcia do concreto geralmente nfo é levada em conta. E verdade que a resisténcia do agregado nao é normalmente um fator determinante na _resistén- cia do concreto porque, & excegdo dos agregados leves, a particula do agregado é varias vezes mais resistente que a matriz e a zona de transigao. Em outras palavras, para a maioria dos agregados naturais, a resisténcia do agregado é raramente utilizada porque a ruptura é determinada pelas outras duas fases. Existem, contudo, outras caracteristicas do agregado além da resisténcia, tais como o tamanho, forma, textura da superficie, granulometria (distribuigdo granulométrica) e mineralogia, que reconhecidamente influem na resisténcia do concreto em varios niveis. Freqiientemente, o efeito das caracteristicas dos agre- gados sobre a resisténcia do concreto pode ser indicado por uma mudanga no fator dgua/cimento. Mas ha evidéncia suficiente na literatura publicada que isto nfo é sempre assim. Também, a partir de considerages tedricas pode-se predizer que, independentemente do fator 4gua/cimento, o tamanho, a forma, a textura da super- ficie e a mineralogia das particulas do agregado influenciaré as caracteristicas da zona de transigao e portanto afetard a resisténcia do concreto. Uma mudanga no diémetro maximo de um agregado gratdo com distribuigao granulométrica bem graduada ¢ de uma dada mineralogia pode ter dois efeitos opostos sobre a resisténcia do concreto. Para um mesmo teor de cimento e mesma consisténcia do concreto, as misturas de concreto contendo partfculas de agrega- dos grandes requerem menos 4gua de amassamento do que aquelas que contém agregados menores. *N.T. O cimento ASTM tipo IS corresponde ao cimento brasileiro CP III, cimento portland de alto forno, normalizado pela NBR 5735. © N.T. O cimento ASTM tipo IP corresponde ao cimento brasileiro CP IV, cimento portland pozolanico, normalizado pela NBR 5736. 52 Concreto: Estrutura, Propriedades e Materiais TABELA 3-1 RESISTENCIA RELATIVA APROXIMADA DO CONCRETO SEGUNDO A INFLUENCIA DO TIPO DE CIMENTO Tipode —Natureza Resisténcia 4 Compressio (porcentagem em relagio 20 Tipo I ou concreto de cimento Portland comum) Cimento Portland Idia 7 dias 28 dias 90 dias, ASTM’ I Normal ou Uso Comum 100 100 100 100 0 Calor de Hidratagaio 15 85 90 100 Moderado e Moderada Resisténcia a Sulfatos rit Alta Resisténcia Inicial 190 20 110 100 Vv Baixo Calor de Hidratagao 55 65 15 100 v Resistente a Sulfatos 65 75 85 100 Ao contrério, agregados grandes tendem a formar zonas de transig&io mais fracas contendo mais microfissuras. O efeito resultante variar4 com o fator 4gua/cimento do concreto e a tenso aplicada. Cordon e Gillispie* (Fig. 3-6) mostraram que, na faixa da peneira n° 4 até a de 3" (5 mm até 75 mm) de abertura, o efeito de aumentar © tamanho maximo do agregado na resisténcia 4 compressao do concreto aos 28 dias foi mais pronunciado para concretos de alta resisténcia (fator 4gua/cimento igual a 0,40) e para concretos de moderada resisténcia (fator 4gua/cimento igual a 0,55) do que para um concreto de baixa resisténcia (fator égua/cimento igual a 0,70). Isto ocorre porque, para fatores 4gua/cimento baixos, a porosidade reduzida da zona de transig&o também comega a ser importante na resisténcia do concreto. Alem disto, dado que as caracteristicas da zona de transigdo parecem afetar asesis- téncia a traco do concreto mais do que a resisténcia compressa, pode se esperar que, para um dado trago de concreto, com um fator 4gua/cimento constante, a razo entre as resisténcias A tragao e a compressio aumentard com a redugao do tamanho do agregado gratido. 7\N.T. Uma correspondéncia aproximada entre 0s cimentos americanos ¢ brasileiros € ¢ seguinte: - ASTM tipo I corresponde aos cimentos brasileiros CP I e CP I-S, cimento Portland comum e Portland comum com adiga0, normalizados pela NBR 5732. - ASTM tipo II correponde aos cimentos brasileiros CP I RS, CP I-S RS, CP Uk ERS, CP I-Z RS, CP IL-F RS, CP III RS e CP IV RS, cimentos Portland resistentes a sulfatos, cuja norma técnica é a NBR 5737. STM tipo III corresponde ao ento brasileiro CP V-ARI, normalizado pela NBR 5733. - ASTM tipo IV, cimento Portland de baixo calor de hidratagdo, no tem similar no Brasil. - ASTM tipo V corresponde aos cimentos brasileiros CP I RS, CP I-S RS, CP ILE RS, CP II-Z RS, CP II-F RS, CP III RS e CP IV RS, cimentos Portland resistentes a sulfatos, cuja norma técnica € a NBR S737. "W. A. Cordon and H. A. Gillispie, /. AC/, Proc., Vol. 60, No. 8, pp. 1029-50, 1963, Resisténcia 53 55 ave = 0,40 “oF g gr : sa{— 2088 3 oh 2 0.70 3 a) Figura 3-6. Influéncia do tamanho jg let ‘ do agregado ¢ do fator égua/cimento moa 7 AS Ge 8S sobre a resistencia do concreto (De W. Taran Misximo do Agregado, mm A. Cordon ¢ H. A. Gillespie, J. ACI, (Escala Logartinica} Proc, Vol. 60, No. 8, 1963.) Normalmente 0 concreto de alta resistencia, isto &, com baixo fator dgualcimento, é afetado negativamente pelo aumento da dimensdo do agregado. Para um dado fator dgualcimento, a dimensdo do agregado nao parece ter tanto efeito sobre a resisténcia no caso de concretos de baixa resisténcia, isto é com fator dgual ‘cimento elevado. Uma mudanga na granulometria do agregado sem qualquer mudanga no di- metro maximo do agregado gratido e com o fator 4gua/cimento mantido constan- te, pode influenciar a resisténcia do concreto se esta mudanga provocar uma alte- ragdo correspondente na consisténcia e nas caracteristicas de exudagiio da mistura de concreto. Numa experiéncia de laboratério, para um fator 4gua/cimento cons- tante e igual a 0,60, quando a proporgiio agregado gratido/mitido ¢ o teor de ci- mento na mistura do concreto foram progressivamente elevados para aumentar a consisténcia de 50 para 150 mm de abatimento no tronco de cone, houve aproxi- madamente 12 % de redugao na resisténcia média 4 compressiio aos 7 dias (de 23 MPa para 20 MPa). Os efeitos do aumento da consisténcia sobre a resisténcia € 0 custo das misturas de concreto so mostrados na Fig. 3-7. Os dados demonstram a importancia econémica do preparo de misturas de concreto com a consisténcia mais rigida possfvel e ainda trabalhavel sob o ponto de vista do adensamento ade- quado. Tem sido observado que uma mistura de concreto contendo agregado de tex- tura rugosa ou britado apresentar4 uma resisténcia maior (especialmente a resis- téncia & trago) nas primeiras idades que um concreto correspondente contendo agregado liso ou que sofreu intemperismo natural, de mineralogia similar. Uma ligagao fisica mais forte entre o agregado e a pasta de cimento endurecida ¢ admi- tida como responsdvel por este fato. A maiores idades, quando a interacao quimi- ca entre o agregado e a pasta de cimento comega a fazer efeito, a influéncia da textura superficial do agregado sobre a resisténcia poderd reduzir-se. Do ponto de vista da ligacdo fisica com a pasta de cimento, pode-se observar que um granulo de seixo rolado de aspecto liso possuira rugosidade e 4rea superficial adequadas quando observado ao microscépio. Também, para um dado teor de cimento, geral- mente € necess4ria mais 4gua de amassamento para obter a mesma trabalhabilidade num concreto com agregado de textura rugosa; assim, a pequena vantagem devido a melhor ligacdo fisica pode ser perdida no que diz respeito a resisténcia global. 54 Concreto: Estrutura, Propriedades e Materiais Diferengas na composi¢do mineralégica dos agregados reconhecidamente tam- bém afetam a resisténcia do concreto. Varios relatérios na Literatura publicada mostram que, em condigGes idénticas, a substituigao de agregado calcdreo por agregado a base de silica conduz a um aumento substancial na resisténcia do con- creto. Isto também se confirmou em estudo recente da Universidade da California em Berkeley, Nao apenas a redugio do didmetro maximo do agregado gratido (Fig. 3-8a), mas também a substituigao de calcéreo por arenito (Fig. 3-8b) melho- rou significativamente a resisténcia final (por exemplo, aos 56 dias) do concreto. As misturas de concreto mostradas na Fig. 3-8 contém 475 kg/m? de cimento Portland ASTM Tipo I’, 119 kg/m’ de cinza volante Classe F, 196 kg/m? de agua, 1038 kg/m? de agregado gratido britado, 590 kg/m? de areia quartzosa natural ¢ 1 litro de aditivo plastificante (redutor de agua). Agua de amassamento. Quando em excesso, as impurezas na agua de amassamento do concreto podem afetar nao somente a resisténcia mas também o tempo de pega, a ocorréncia de eflorescéncia (depésito de sais sobre a superficie do concreto) ¢ a corrosio da armadura passiva ou protendida. Em geral, a égua de amassamento raramente € um fator na resisténcia do concreto, porque nas especificagdes para a execugao das misturas de concreto a qualidade da agua é garantida pela exigéncia de potabilidade. A égua potavel distribuida por uma Com- panhia de Abastecimento Municipal raramente contém sdlidos dissolvidos exce- dendo a 1000 ppm (partes por milhao). Via de regra, uma agua impropria para beber nao é necessariamente imprépria Para 0 amassamento do concreto. Do ponto de vista da resisténcia do concreto, a Agua dcida, alcalina, salgada, salobra, colorida ou com mau cheiro nao deve ser rejeitada imediatamente. Isto é importante, porque as aguas recicladas da minera- go © varias outras operagdes industriais podem ser usadas seguramente como Agua de amassamento para o concreto, O melhor método para determinar a apti- dao de uma agua de desempenho desconhecido para o preparo do concreto é com- parar o tempo de pega do cimento e a resisténcia de corpos-de-prova de argamassa feitos com a gua desconhecida e uma dgua limpa de referéncia. Os corpos-de- prova feitos com a égua desconhecida devem apresentar resisténcia 4 compressio aos 7 ¢ 28 dias igual ou no minimo 90 % da resisténcia dos corpos-de-prova de referéncia feitas com uma dgua limpa; além disso, a qualidade da dgua de amassamento no pode afetar o tempo de pega do cimento a um grau inaceitével. * N:T. AMERICAN SOCIETY for TESTING and MATERIALS. Standard Specification for Portland Cements, ASTM C 150, In:__. Annual Book of ASTM Standards. Philadelphia, 1991. No Brasil, este cimento corresponde aproximadamente ao cimento CP I, cimento portland comum, normalizado pela NBR 5733. "°N.T. A cinza volante classificada nos Estados Unidos como Classe F corresponde & cinza volante sflico-aluminosa do Brasil. Segundo Y. Kihara (“O Estudo das Cinzas . CERAMICA, 32 (193) - Feverefro 1986), as cinzas volantes representam 90 % das pozolanas usadas no Brasil. Resisténcia 55 ‘Assumindo que ambos os agregados custem US$ 10 ton, ‘eo cimento custa USS 00 /ton, os cusos elcuades de Un { metro ebico so Misra 1 USS 38.89 Mistura 2 USS 40.94 | Mstura 3 USS 41,72 Custo por metro cilbico da resisténcia unitaria, US$ / MPa NOTA: TODOS CONCRETOS TEM FATOR AGUA / CIMENTO CONSTANTE DE 0,60 MISTURA 1 MISTURA 2 MISTURA 3 ar 1 ' | | ia es ean ; Pedra | 11687 | tie? | 1157 | I | | ub | | Finaciestotsstn tone | Mistura 1] Mistura 2 | Mistura S | I | [Geme[ as | =r | (hl jee pe] | | | = aor | v7 | az | | | | Resisténcia a Compressio a 7 dias, MPa 25 50 78 100 wt Abatimento do conereto, mm Figura 3-7 Influéncia do abatimento do concreto sobre a resisténcia 4 compressio & custos. (Dados dos ensaios de estudantes da University of California, em Berkeley.) Para um dado fator dguatcimento, as misturas com abatimentos elevados tendem a exsudar e portanto a conduzir a baixa resistencia. Nao & conveniente produzir misturas de concreto com abatimentos maiores que o necessario. A Agua do mar, que contém aproximadamente 35.000 ppm de sais dissolvi- dos, nao é prejudicial 4 resisténcia do concreto. No entanto, no concreto armado ou protendido aumenta o risco de corrosao da armadura; portanto, o uso da 4gua do mar como Agua de amassamento deve ser evitado nestas condigdes. Como ori- entacao geral, do ponto de vista da resisténcia do concreto a presenga de quantida- des excessivas de algas, 6leo, sal ou agticar na Agua de amassamento deve ser vista como um sinal de adverténcia. 20 Concreto: Estrutura, Propriedades e Materiais Figura 2-2 Microestrutura da pasta endurecida A microestrutura € a estrutura fina de um material, observével com auxilio de um microscépio. Uma micrografia eletrénica de varredura de baixo aumento (200x) de uma pasta endurecida mostra que a estrutura ndo é homogénea; enquanto algumas dreas sdo densas, outras sdo altamente porosas. Em dreas porosas, é posstvel observar fases hidratadas individuais sob aumentos maiores. Por exemplo, podem ser vistos cristais grandes de hidrdxido de cdlcio, agulhas finas ¢ longas de etringita e agregacoes de cristais fibrosos pequenos de silicato de calcio hidratado, com aumentos de 2000x ¢ 5000s. 56 Concreto: Estrutura, Propriedades e Materiais @r (a) Agregado Arenoso oom 10 mm max 55 ‘Agregado Arenoso com 25 mm max. 48 ‘Agregado Calcareo com 25 mm max. eb ‘Agregado Arenoso com 25 mm max. Resisténcia 4 Compressao Uniaxial, x MPa 48 ae 0 10 20 30 40 50 60 Periodo de Cura Umida, Dias Figura 3-8 Influéncia do tamanho do agregado e mineralogia sobre a resisténcia do concreto & compressio. (Dados das pesquisas de estudantes da University of California, em Berkeley.) Para um dado fator dgualcimento e conteddo de cimento, a resistencia do concreto pode ser significativamente afetada pela escolha do tamanko e tipo do agregado, Aditivos. A influéncia negativa dos aditivos incorporadores de ar na resisténcia do concreto ja foi discutida. Para um dado fator 4gua/cimento a presenca de aditivos redutores de 4gua no concreto geralmente tem influéncia positiva sobre a taxa de hidratagaio do cimento ¢ o desenvolvimento da resisténcia a baixas idades. Aditivos capazes de acelerar ou retardar a hidratac4o do cimento obviamente terao grande influ- éncia sobre a velocidade de desenvolvimento de resisténcia; as resisténcias finais nio sao significativamente afetadas. Contudo, muitos pesquisadores tém enfatizado a ten- déncia de maior resisténcia final do concreto quando a velocidade de desenvolvimento_ de resisténcia a baixas idades é reduzida. Por razées ecolégicas e econdmicas, o uso de subprodutos pozolanicos ¢ cimenticios como adigées minerais no concreto est4 aumentando gradualmente. Quando usadas como uma substituigdo parcial do cimento Portland, as adigées minerais normalmente reduzem a velocidade de desenvolvimento de resisténcia. Resisténcia 57 A capacidade do aditivo mineral em reagir sob temperaturas normais com 0 hidréxido de calcio presente na pasta de cimento Portland hidratada e formar mais silicato de célcio hidratado pode levar a uma redugao significante da porosidade da matriz e da zona de transi¢ao. Conseqiientemente, uma melhora consideravel na resisténcia final e na estanqueidade pode ser alcangada com a incorporagao de aditivos minerais no concreto. Deve-se notar que as adigdes minerais sao particu- larmente eficazes para aumentar a resisténcia a tracdo do concreto (p.70). CONDIGOES DE CURA O termo cura do concreto trata dos procedimentos destinados a promover a hidratagdo do cimento, consistindo do controle do tempo, temperatura e condi- goes de umidade, imediatamente apés a colocacao do concreto nas frm: Para um dado fator 4gua/cimento, a porosidade da pasta endurecida de cimento hidratada é determinada pelo grau de hidratagao do cimento (Fig. 2-10, caso A). Em condigdes normais de temperatura, alguns dos constituintes do cimento Portland co- megam a se hidratar 4 medida que é adicionada gua, mas as reagGes de hidratacdo sao retardadas consideravelmente quando os produtos de hidratago cobrem os gros de cimento anidro, Esta é a razdo porque a hidratacdo somente pode proceder satisfatori- amente em condigées de saturacdo; ela quase para quando a pressdo de vapor de dgua nos capilares cai para menos de 80 % da umidade de saturacdo. Tempo e umidade so, portanto, fatores importantes nos processos de hidratagio controlados pela difusao da Agua. Além do mais, como em todas reagGes quimicas, a temperatura tem um efeito acelerador sobre as _reagGes de hidratacdo. ‘Tempo. Deve ser lembrado que as relagdes tempo-resisténcia em Tecnologia do Concreto geralmente supdem condig6es de cura timida ¢ temperatura normal. Para um dado fator 4gua/cimento, quanto maior o periodo de cura timida maior a resistencia (Fig. 3-3), admitindo-se que a hidratagdo das particulas de cimento anidro continua ocorrendo. Nas pegas de concreto esbeltas, se a dgua for perdida por evaporacio pelos capilares as condiges de cura ao ar prevalecem, e a resistén- cia ndo aumentard. com o tempo (Fig. 3-9). A avaliagio da resisténcia & compress%io com o tempo é de grande interesse para os engenheiros de estruturas. O Comité ntimero 209 do ACI - American Concrete Institute" recomenda a seguinte relagao para concreto submetido a cura imida e fabricado com cimento Portland comum ASTM Tipo I? : . ml E : Fin(t) = fog i ( arm ~ 0 N-T, AMERICAN CONCRETE INSTITUTE. Prediction of Creep, Shrinkage, and Temperature Efects in Concrete Structures. ACI 209R-92. = N.T, AMERICAN SOCIETY for TESTING and MATERIALS. Standard Specification for Portland Cements. ASTM C 150. In:__. Annual Book of ASTM. Standards. Philadelphia, 1991. No Brasil, este cimento corresponde aproximadamente 20 cimento CP I, cimento Portland comum, normalizado pela NBR 5733. 58 — Concreto: Estrutura, Propriedades e Materiais Para corpos-de-prova de concreto curados a 20 °C, 0 Cédigo Modelo do CEB- FIP de 1990! sugere a seguinte relagio: tool oll onde fem(t) = resisténcia A compressiio média a t dias, fim = Tesisténcia A compressao média a 28 dias de idade S| = coeficiente que depende do tipo de cimento, tal como s=0,20 para cimento de alta resisténcia inicial; s = 0,25, para cimento comum; s = 0,38, para cimentos de endurecimento lento (com- adigées). t, = ldia 1 Umidade. A influéncia da umidade de cura sobre a resisténcia do concreto é evidente a partir dos dados da Fig. 3-9, que mostram que, depois de 180 dias, para um dado fator 4gua/cimento, a resisténcia do concreto curado sob condigSes conti- nuamente timidas foi trés vezes maior do que a resisténcia do concreto curado con- tinuamente ao ar. Além disso, provavelmente como resultado da microfissuragao na zona de transi¢do causada pela retragio de secagem, um pequeno retrocesso da resisténcia ocorre em pegas esbeltas de concreto curadas sob condigdes timidas quando estas sfio submetidas a secagem ao ar. A velocidade de perda de 4gua do concreto, logo depois do seu langamento nao depende unicamente do fator superficie/volume ‘do elemento de concreto, mas também da temperatura, umidade relativa e velocida- de do ar circundante. , =! By consi ui 5S i25- é 83 ook cnn st? {orem gs ‘cura ambiente apes 3 eae BB ob peo e8 car ea coinn i era ge Figura 3-9 Influéncia das condigdes fey de cura sobre a resisténcia. (Concrete 37 268 90 180 Manual, 8° Edigio, U.S. Bureau of dade, dias Reclamation, 1981.) A idade de cura nao tem efeito benéfico sobre a resisténcia do concreto a menos que a cura seja realizada na presenca de umidade. > N.T. CODIGO MODELO CEB-FIP. Comité Euro-Internacional du Beton-FIP. Fédération Internationale de la Précontrainte, editado em Viena em setembro de 1951, correspondente a edicao de 1990, item 2.1.6.1, desenvolvimento da resisténcia com 0 tempo, pagina 2-27.

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