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16/05/2018 Kant - teoria do conhecimento: A síntese entre racionalismo e empirismo - Pesquisa Escolar - UOL Educação

Kant - teoria do conhecimento: A


síntese entre racionalismo e
empirismo
José Renato Salatiel, Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
17/06/2008 15h15

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O filósofo alemão Immanue Kant


(http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u350.jhtm) responde à questão de
como é possível o conhecimento
(http://educacao.uol.com.br/disciplinas/filosofia/kant---a-revolucao-copernicana-a-
resposta-ao-problema-do-conhecimento.htm) afirmando o papel constitutivo de
mundo pelo sujeito transcendental, isto é, o sujeito que possui as condições de
possibilidade da experiência. O que equivale a responder: "o conhecimento é
possível porque o homem possui faculdades que o tornam possível". Com isso, o
filósofo passa a investigar a razão e seus limites, ao invés de investigar como deve
ser o mundo para que se possa conhecê-lo, como a filosofia havia feito até então.

Mas quais são exatamente, segundo Kant, estas faculdades ou formas a priori no
homem que o permitem conhecer a realidade ou, em outros termos, o que são
essas tais condições de possibilidade da experiência?

Em Kant, há duas principais fontes de conhecimento no sujeito:

A sensibilidade, por meio da qual os objetos são dados na intuição.


O entendimento, por meio do qual os objetos são pensados nos conceitos.

Vejamos o que ele quer dizer com isso, começando pela intuição. Na primeira
divisão da Crítica da Razão Pura, a "Doutrina Transcendental dos Elementos", a
primeira parte é intitulada "Estética Transcendental" (estética, aqui, não diz
respeito a uma teoria do gosto ou do belo, mas a uma teoria da sensibilidade).
Nela, Kant define sensibilidade como o modo receptivo - passivo - pelo qual
somos afetados pelos objetos, e intuição, a maneira direta de nos referirmos aos
objetos.

Funciona assim: tenho uma multiplicidade de sensações dos objetos do mundo,


como cor, cheiro, calor, textura, etc. Estas sensações são o que podemos chamar
de matéria do fenômeno, ou seja, o conteúdo da experiência. Mas para que todas
estas impressões tenham algum sentido e entrem no campo do cognoscível
(daquilo que se pode conhecer), elas precisam, em primeiro lugar, serem
colocadas em formas a priori da intuição, que são o espaço e o tempo.

Estas formas puras da intuição surgem antes de qualquer representação mental


do objeto; antes que se possa pensar a palavra "cadeira", a cadeira deve ser
apresentada, recebida, na forma a priori do espaço e do tempo. Este é o primeiro
passo para que se possa conhecer algo.

Assim, apreendemos daqui duas coisas: primeiro, o conhecimento só é possível


se os objetos da experiência forem dados no espaço e no tempo; e, segundo,
espaço e tempo são propriedades subjetivas, isto é, atributos do sujeito e não do
mundo (da coisa-em-si).

Espaço e tempo Espaço é a forma do sentido externo; e tempo, do sentido


interno. Isto é, os objetos externos se apresentam em uma forma espacial; e os
internos, em uma forma temporal.

Como Kant prova isso? Pense em uma cadeira em um espaço qualquer, por

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exemplo, em uma sala de aula vazia. Agora, mentalmente, retire esta cadeira da
sala de aula. O que sobra? O espaço vazio. Agora tente fazer contrário, retirar o
espaço vazio e deixar só a cadeira. Não dá, a menos que sua cadeira fique
flutuando em uma dimensão extraterrena.

E o tempo? Ele é minha percepção interna. Só posso conceber a existência de


um "eu" estando em relação a um passado e a um futuro. Só concebemos as
coisas no tempo, em um antes, um agora e um depois. Voltemos ao exercício
mental anterior: podemos eliminar a cadeira do tempo - ela foi destruída, não
existe mais. Porém, não posso eliminar o tempo da cadeira - eu sempre a penso
em uma duração, antes ou depois.

A conclusão é de que é impossível conhecer os objetos externos sem


ordená-los em uma forma espacial - e de que nossa percepção interna
destes mesmos objetos fica impossível sem uma forma temporal.

Além disso, espaço e tempo preexistem como faculdades do sujeito - e,


portanto, são a priori e universais - quando eliminamos os objetos da experiência.
Por isso, segundo Kant, espaço e tempo são atributos do sujeito e condições
de possibilidade de qualquer experiência.

As categorias Na segunda parte da "Doutrina Transcendental dos Elementos", a


"Analítica Transcendental", Kant analisa os conceitos puros a priori do
entendimento, pelos quais representamos o objeto.

Vamos rever o esquema do conhecimento, antes de avançar. Temos objetos no


mundo, que só podemos conhecer como fenômenos, isto é, na medida em que
aparecem para o sujeito. Fora do sujeito, como coisa-em-si, estão fora do alcance
da razão.

Mas, para serem fenômenos, estas coisas precisam, antes de tudo, aparecer no
espaço e tempo, que são faculdades do sujeito. Vejo uma árvore. Esta árvore eu
vejo em suas cores e formas, que são as sensações deste objeto. Estas
sensações são recebidas e organizadas pela intuição no espaço e no tempo.
Esta é a primeira condição para o conhecimento.

O segundo momento, depois de o sujeito receber o objeto na intuição, na


sensibilidade, pela faculdade do entendimento ele reunirá estas intuições em
conceitos, como, por exemplo, "Árvore" ou "A árvore é verde". Esta é a segunda
condição para o conhecimento.

Os conceitos básicos são chamados de categorias, que são representações que


reúnem o múltiplo das intuições sensíveis. As categorias, em Kant, são 12:

1. Quantidade: Unidade, Pluralidade e Totalidade.


2. Qualidade: Realidade, Negação e Limitação.
3. Relação: Substância, Causalidade e Comunidade.
4. Modalidade: Possibilidade, Existência e Necessidade.

São formas vazias, a serem preenchidas pelos fenômenos. Os fenômenos, por


outro lado, só podem ser pensados dentro das categorias.

Em Hume (http://educacao.uol.com.br/biografias/david-hume.jhtm), a causalidade


- relação de causa e efeito - era um hábito, uma ilusão. Já para Kant, Hume
estava errado em procurar a causalidade na Natureza. Só podemos pensar as
coisas em uma relação de causa e efeito porque a causalidade está no sujeito,
não no mundo. Uma criança vê uma bola sendo arremessada (causa) e olha na
direção de quem atirou a bola (efeito). Como a criança liga um fato com o outro?
Porque ela possui, a priori, a categoria de causalidade, que a permite conhecer.

Chegamos, portanto, a uma síntese que Kant faz entre racionalismo e


empirismo. Sem o conteúdo da experiência, dados na intuição, os pensamentos
são vazios de mundo (racionalismo); por outro lado, sem os conceitos, eles não
têm nenhum sentido para nós (empirismo). Ou, nas palavras de Kant: "Sem
sensibilidade nenhum objeto nos seria dado, e sem entendimento nenhum seria
pensado. Pensamentos sem conteúdo são vazios, intuições sem conceitos são
cegas."

Considerações finais É um lugar-comum dizer que Kant é um divisor de águas

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na filosofia, mas é verdade. O sistema kantiano foi contestado pelos filósofos


posteriores. No entanto, suas teorias estão na raiz das principais correntes da
filosofia moderna, da fenomenologia e existencialismo à filosofia analítica e
pragmatismo. Por esta razão, sua leitura é obrigatória para quem se interessa
pela história do pensamento moderno.

Sugestões de leitura A Crítica da Razão Pura foi traduzida para o português e


publicada pela Editora Abril, na coleção "Os Pensadores", e pela editora
portuguesa Calouste Gulbenkian. Ambas são recomendadas. É de grande ajuda,
para o domínio do vocabulário kantiano, o Dicionário Kant (Jorge Zahar Editor),
de Howard Caygill. Também da Jorge Zahar, o livro Kant & A Crítica da Razão
Pura, de Vinicius Figueiredo, propõe introduzir o leitor nessa obra densa e de
difícil leitura.

José Renato Salatiel, Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação é jornalista e professor
universitário

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