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3, Moçambique no
auge do colonialismo, 1930 - 1961
http://www.aluka.org/action/showMetadata?doi=10.5555/AL.SFF.DOCUMENT.crp2b20002
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História de Moçambique, Vol. 3, Moçambique no auge do
colonialismo, 1930 - 1961
http://www.aluka.org/action/showMetadata?doi=10.5555/AL.SFF.DOCUMENT.crp2b20002
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HISTORIA DE MOÇAMBIQUE
HISTORIA DE MOÇAMBIQUE
VOL.
MOÇAMBIQUE NO AUGE DO COLONIALISMO, 1930- 1961
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA UNIVERSIDADE EDUARDO
MONDLANE
473
Copyrigth
Coordenação deste volume:
ScLcção de fotografias: Mapas:
Capa:
Revisão do Texto:
Arranjo Gráfico: Montagem, Fotolito e Impressão: Editor:
N* de Registo:
Departamento de História - Faculdade de Letras, Universidade Eduardo
MondIane David Hedges
Amélia Souto , António Sopa, Paula Voss e Arlindo Chiluw Gerhard Liesegang
Quadro de Malangatana "Trabalho forçado" Fernanda Durão, Arlindo Chilundo e
Gilberto Matusse João Paulo Borges Coelho Imprensa da UEM Departamento de
História - Faculdade de Letras, Universidade Eduardo Mondlane 098 1IFBM/92
Maputo - 1993
SUMÁRIO
Lista de Quadros viii
Lista de Mapas viii
Lista de Fotografias ix
Abreviaturas utilizadas xi
Nota de Apresentação xii
Capítulo 1:
A História de Moçambique, 1885-1930 1
Por Aurélio Rocha, David Hedges, Eduardo Medeiros e Gerhard Liesegang Com
revisões e novas matérias por David Hedges e Arlindo Chilundo
1 A conquista e a nova organização político-administrativa 1
2 A emergência da economia colonial 3
2.1 Produção agrícola 3
2.2 A reestruturação capitalista da economia camponesa 5
2.3 Portos, caminhos de ferro e trabalho migratório 6
2.4 Indústrias de transformação 6
2.5 Balanço geral da economia 7
2.6 Relações económicas entre Moçambique, Portugal e outros países 7
3 As mudanças demográficas entre 1885 e 1930 8
3.1 População total 8
3.2 Distribuição da população e função das cidades 8
4 A estrutura social, o racismo e o proto-nacionalismo 9
4.1 Discriminação racial na estrutura colonial 10
4.2 A luta dos trabalhadores brancos e o reforço das barreiras raciais 12 4.3 A
pequena burguesia moçambicana, assimilação e educação 13
4.4 Últimos focos da resistência militar e o início do proto-nacionalismo 17
As igrejas 'separatistas' 18
O movimento associativo e literário 21
5 Os conflitos do período 1915-1930 23
5.1 A I Guerra Mundial e a crise económica e social da década de 20 23 5.2 0
conflito sobre as bases da política colonial em Moçambique 26
5.3 0 golpe militar de 1926 em Portugal e a sua repercussão em Moçambique
28
NOTAS
Capítulo 2:
O Reforço do Colonialismo, 1930-1937 35
Por David Hedges e Aurélio Rocha
Com revisões e novas matérias por David Hedges e Arlindo Chilundo
1 Introdução 35
2 A crise económica e a produção em Moçambique 36
2.1 Origens e alcance da crise económica mundial 36
2.2 Produção em Moçambique na nova situação económica 36
2.3 0 trabalho migratório, trânsito e a situação financeira 39
3 0 reforço da dominação portuguesa 41
3.1 A ascensão do regime Salazarista em Portugal 41
3.2 0 proteccionismo e o novo regime político-administrativo 41
3.3 Novas relações de dominação económica 42
3.4 Educação e religião 46
4 A intensificação da exploração nas zonas rurais 49
5 Os conflitos sociais e a resistência anti-colonial, 1930-1937 53
5.1 0 conflito sobre as terras no Mossuril - Nampula 53
5.2 As greves de 1932-1933 na Beira e Lourenço Marques 55
A manifestação dos assalariados negros da Beira, 1932 56
A greve da 'Quinhenta' no porto de Lourenço Marques de 1933 59
5.3 0 movimento associativo e político 61
A divisão do movimento associativo 66
A repressão do jornalismo político 71
Ambiguidade da posição da elite 73
Agudização da tensão política e repressão fascista, 1935-1937 75
NOTAS
Capítulo 3:
A Reestruturação da Sociedade Mocambicana,1938-1944 83
Por David Hedges e Aurélio Rocha
1 Introdução: Características gerais do período 1938-1944 83
1.1 A procura renovada de matérias-primas 83
1.2 Capital português e reorganização da administração colonial 85 1.3 0 poder
reforçado do Governador-Geral 86
2 As culturas forçadas 88
2.1 Generalização do cultivo do algodão 88
2.2 Generalização da cultura obrigatória 91
2.3 0 cultivo forçado de arroz 93
3 A intensificação da exploração do trabalho 93
3.1 A crise de mão-de-obra rural 93
3.2 Actuação do governo colonial face à crise de mão-de-obra 95
3.3 A reorganização dos impostos 97
3.4 Reforço dos auxiliares administrativos: régulos e sipaios 98
3.5 Reforço do controle sobre trabalho em Lourenço Marques e Beira 99 3.6 0
novo sistema de sindicatos fascistas 100
4 A estrutura de produção e as suas consequências 101
4.1 Produção e rendimento nas zonas rurais 101
4.2 Diferenciação regional 102
4.3 Controle permanente da administração sobre a produção agricola 104 4.4
Crescente exploração do campesinato 104
4.5 Diferenciação social no seio do campesinato 106
4.6 Indústria, transportes e trabalho migratório 108
5 A resistência ao colonialismo 111
5.1 A resistência generalizada às culturas forçadas 111
5.2 A revolta Muta-hanu no Mossuril - Nampula, 1939 112
5.3 0 movimento associativo 114
6 0 Estado colonial, a Igreja Católica e o ensino rudimentar 117
NOTAS
Capítulo 4:
Moçambique durante o Apogeu do Colonialismo Português, 1945-1961: a
Economia e a Estrutura Social 129
Por David Hedges e Aurélio Rocha
1 Caracteristicas gerais do período 129
2 A intensificação da produção rural 130
2.1 A cultura forçada de algodão 130
Concentrações algodoeiras, blocos e picadas 132
Diferenças de produtividade 137
2.2 0 reforço do controle sobre a mão-de-obra rural 138
2.3 Produção global das mercadorias agrícolas de exportação 145
2.4 A estrutura da exploração rural colonial e as suas consequências 147
Violência e produção 148
O comércio rural 151
A degradação dos solos, subnutrição e fomes 153
3 Mão-de-obra migrat6ria 157
4 Os planos do fomento e industrialização 161
4.1 Acumulação portuguesa e a economia moçambicana 161
4.2 Os planos de fomento 161
4.3 Crescimento da população colona 164
4.4 Fomento industrial 168
4.5 A consolidação do capital português 171
5 0 desenvolvimento da estrutura social 172
5.1 A força de trabalho assalariado e a sua estratificação racial 172 5.2 A
educação, as missões e seu papel na estrutura social colonial 176
Ensino primário rudimentar e 'comum' 179
Ensino secundário 181
5.3 As formas de enquadramento colonial 182
O privilegiamento dos régulos e sipaios 183
As associações profissionais para negros 187
Os agricultores prósperos e as cooperativas 188
NOTAS
Capítulo 5:
A Contestação da Situação Colonial, 1945-1961 197
Por David Hedges e Arlindo Chilundo
1 Introdução 197
2 0 reforço do colonialismo na Africa após a II Guerra Mundial 198
O âmbito regional na África Austral 200
3 As associações e o movimento juvenil, 1945-1955 202
4 A luta dos camponeses e trabalhadores 209
4.10 contexto da luta 209
4.2 A resistência contra as culturas forçadas 210
4.3 Resistência contra o trabalho forçado 213
A greve na açucareira de Xinavane, 1954 214
4.4 Greves no caminho de ferro e porto de Lourenço Marques 215
4.5 0 motim da pedreira de Goba 217
4.6 Considerações finais sobre a luta dos camponeses e trabalhadores 219
5 A contestação cultural 221
5.1 Canção, música e dança populares 222
5.2 A literatura como arma da luta 225
5.3 Artes plásticas 230
5.4 A contestação cultural resumida 231
6 A Sociedade Algodoeira Africana Voluntária de Moçambique 232
7 A luta anti-colonial, 1955-1961 238
7.1 A criação de organizações políticas internas e externas 238
7.2 0 massacre de Mueda e a repressão de 1960-1961 241
7.3 0 âmbito político em Lourenço Marques e a revitalização do NESAM 243 7.4
A evolução das organizações moçambicanas nos territ6rios vizinhos 245 7.5 As
organizações unitárias contra o colonialismo português 246
8. Resumo e conclusão 248
NOTAS 250
PRINCIPAIS FONTES CONSULTADAS 259
INDICE
Lista de Quadros
1 Principais exportações de Moçambique, 1928-1935 38
2 A crise económica, 1928-1937: Valor e Volume das exportações 39 3
Expansão das missões católicas, 1930-1937 47
4 Aumento do número de escolas rudimentares, 1930-1937 48
5 O volume das principais exportações de Moçambique, 1939-1944 102 6 O
valor das principais exportações de Moçambique, 1939-1944 103 7 Aumento
de missões católicas, 1938-1944 120
8 Número de escolas rudimentares, 1938-1944 120
9 Ensino rudimentar católico, 1940-1944 121
10 Produção de Algodão, 1945-1960 136
11 O volume das principais exportações de Moçambique, 1945-1960 146 12 O
valor das principais exportações de Moçambique, 1945-1960 146
13 Percentagem das principais exportações de Moçambique, 1945-1960 147 14
Evolução da população total e da população colona de Moçambique 165 15
Crescimento da indústria de transformação, 1947-1961 169
16 Expansão do investimento fixo na indústria transformadora, 1956-1961 170
17 Proporção do valor de produção industrial, por sector, 1942-1960 171 18
Estimativa provisória do número de assalariados nos principais
sectores e actividades, 1950-1960 173
19 Aumento de missões religiosas, 1945-1961 178
20 Aproveitamento nas escolas rudimentares das missões católicas
e outras (missões protestantes e escolas oficiais), 1945-1960 180 21 Matrículas
nas escolas primárias 'comuns', 1945 e 1960 181
22 Matrículas nos Liceus, 1945 e 1960 182
Lista de Mapas
1 Produção de algodão, 1941: diferenciação regional 134
2 Produção de algodão, 1960: diferenciação regional 135
3 A expansão da rede ferroviária 160
4 Greves, contestações e protestos, 1930-1960 196
Lista de Fotografias
1. Construção da Ponte do Zambeze, 1933 44
2. Ponte do Zambeze, 1935 45
3. Trabalhadores no depósito do crómio no Porto da Beira 57
4. Retrato de Estácio Dias 62
5. Retrato de Karel Pott 62
6. Sede do Centro Associativo dos Negros (Instituto Negrófilo), 1939 63 7.
Kamba Simango 69
8. Tomada de posse do Governador-Geral J. T. Bettencourt 87
9. Parada militar em Lourenço Marques, 1942 87
10. Colheita de algodão 88
11. Mercado de algodão, Nampula 89
12. Processamento de algodão, Sofala 90
13. Paisagem da cultura de chá, Zambézia 94
14. Trabalhadores do chá, Zambézia 94
15. Carregamento da cana de açucar, Inkomati 96
16. Régulos com os seus bastiões de comando, Quelimane, 1939 98
17. Construção do Caminho de Ferro de Tete, 1944 109
18. Escola de Artes e Oficios, Moamba 122
19. Aula de sapataria, Escola de Artes e Oficios, Moamba 122
20. Caminho de Ferro do norte: abertura de uma trincheira 141
21. No parque de maquinaria, linha férrea de Tete,1949 162
22. Carros no caminho das Rodésias, Lourenço Marques, 1955 163
23. Colonos a chegar, Limpopo, 1954 166
24. Vista do colonato, Limpopo, 1960 166
25. Retrato de D. Soares de Resende, Bispo da Beira 177
26. A escola rudimentar da Missão católica de Murrupula, Nampula, 1960 179
27. Banja em Maniamba, Niassa, fim da década de 1950 184
28. Chefe Mataka, Niassa, fim da década de 1950 185
29. Os engraxadores de Lourenço Marques, 1946 187
30. Encontro dos Governadores-Gerais da Federação e de Moçambique, 1954 201
31. Eduardo Mondiane em 1949 204
32. M.M. Sicobele, fundador da Igreja Luz Episcopal 207
33. Figuras da contestação cultural, década de 1950 223
34. Retrato de Daniel Marivate 227
35. Retrato de João Dias, 1949 228
36. Manifestação em Lourenço Marques contra Resoluções da ONU, 1957 239
37. Notícias do julgamento da liderança da Convenção do Povo de
Moçambique, 1962 242
38. Nacionalistas da África Austral na altura da formação de CONCP 247
Abreviaturas Utilizadas
AA Associação Africana de Lourenço Marques (o Grémio Africano)
AHM Arquivo Histórico de Moçambique
ANC African National Congress of South Afica
BA O Brado Africano
BO Boletim Oficial de Moçambique, I série
BSEM Boletim da Sociedade de Estudos de Moçambique
CAN Centro Associativo dos Negros (o antigo Instituto Negrófilo)
CAM Companhia dos Algodões de Moçambique
CEA Centro de Estudos Africanos, Universidade Eduardo Mondlan
CPC/SS Corpo da Polícia Civil, Serviços de Segurança Cx. Caixa
DH Departamento de História, Universidade Eduardo Mondiane
FA Fundo do Algodão [Arquivo Histórico de Moçambique)
FAC Fundo da Administração Civil [Arquivo Histórico de Moçambique]
FGG Fundo do Governo Geral [Arquivo Histórico de Moçambique)
FNI Fundo dos Negócios Indígenas [Arquivo Histórico de Moçambique]
FTO Fundo de Testemunhas Orais [Arquivo Histórico de Moçambique
HM II DH, História de Moçambique, vol.II, Maputo:Cadernos Tempo, 1983
INLD Instituto Nacional do Livro e do Disco
ISANI Inspecção Superior de Administração e Negócios Indígenas JEAC
Junta de Exportação de Algodao
MAC Movimento Anti-Colonialista
MANU Mozambique African National Union
MJDM Movimento da Juventude Democrática de Moçambique
MPLA Movimento Popular para a Libertação de Angola
MUD Movimento da Unidade Democrática
NESAM Núcleo de Estudantes Secundários de Moçambique PAIGC Partido
Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde PIDE Policia Internacional
de Defesa do Estado
SAGAL Sociedade Agrícola Algodoeira S.d. Sem data
SE Secção Especial [Arquivo Histórico de Moçambique)
S.n. Sem número
SR [A.I.Ferraz de Freitas],'Seitas religiosas gentílicas', 4 vols.,
Lourenço Marques,n.p., 1956-1957 TANU Tanganyika African National Union
UEM Universidade Eduardo Mondlane, Maputo
UDENAMO União Democrática Nacional de Moçambique UNAMI União
Nacional de Moçambique Independente
Nota de Apresentação
Este terceiro volume da História de Moçambique segue as linhas gerais da
periodização estabelecida para a colecção, em 1981, sob a direcção do então chefe
do Departamento de História, Carlos Serra. Coube, porém, ao Departamento de
História, como um todo, a responsabilidade da elaboração deste volume.
Todos os capítulos foram previamente publicados na revista do Departamento,
Cadernos de História 2,4,5,6,7 (1985-1988), ao que se seguiu um processo de
revisão e reelaboração.
A grande parte deste volume cobre o período de 1930-1961, sendo objecto
principal Moçambique no apogeu do colonialismo. Neste volume procura-se
mostrar como é que Portugal, guiado pela estratégia do 'nacionalismo económico',
tentou, mais do que vinha acontecendo até então, tirar de Moçambique mais
vantagens em seu próprio benefício. Procura-se também avaliar a experiência
moçambicana deste intensivo, violento e muitas vezes sufocante processo.
Tentamos fazer um balanço sistemático do material novo e informações relativa e
largamente conhecidas. Porém, fica-nos a consciência de que este livro é uma
mera tentativa de uma síntese geral deste período. Longe de ser um manual
adequado de ensino e muito menos uma história oficial, esperamos não obstante
que o livro seja de fácil leitura. Com diferentes graus de sucesso procuramos
incluir a máxima informação possível sobre os temas sócio-políticos, tais como
religião, educação e associações políticas. Aspectos sócio-económicos também
mereceram um tratamento especial. Mesmo assim, muitos temas e formas mais
frutíferas de interpretação foram, sem dúvidas, insuficientemente desenvolvidos.
Muito fica ainda por fazer e esperamos que este trabalho provisório contribua
substancialmente para a delimitação de novos temas de investigação sobre a
história de Moçambique.
No princípio, os autores decidiram que os capítulos seriam, de preferência,
divididos conforme uma periodização, incorporando desta
Capítulo 1:
A História de Moçambique, 1885-1930
1. A conquista e a nova organização político-administrativa
Após a Conferência de Berlim, foram definidas novas formas de relacionamento
entre as potências europeias e os territórios colonizados, o que, em Moçambique,
se traduziu na delimitação de fronteiras e na ocupação militar, administrativa e
económica.
A implantação colonial no período imperialista efectivou-se, inicialmente,
aLravés da conquista militar do território moçambicano. Apesar da superioridade
em armas dos colonialistas, este processo durou mais de duas décadas (1886-
1918), devido a fortes resistências nas diversas partes do território [1].
Para diminuir os custos directos da ocupação militar e administrativa, Portugal
optou por ceder as actuais províncias do Niassa e de Cabo Delgado à Companhia
do Niassa, uma companhia majestática, que, para além da sua função económica,
tinha poderes militares e administrativos. Da mesma forma, as províncias de
Manica e de Sofala passaram a ser administradas pela Companhia de
Moçambique. As províncias de Tete e da Zambézia foram submetidas a uma
administração conjunta do estado português e de companhias que arrendaram os
antigos prazos. A província de Nampula e o território ao sul do Rio Save
(Maputo, Gaza
Capítulo 1
e Inhambane) ficaram sob administração directa do estado português.
Como a acumulação de capital, em Portugal estava baseada em grande medida no
comércio, e a economia estava pouco industrializada, não havia grandes
excedentes de capitais para investimento produtivo no exterior. Assim se explica a
penetração do capital não-português em todas as zonas de Moçambique, incluindo
nas Companhias Majestáticas.
A implantação do sistema administrativo colonial processou-se em diferentes
fases nas diversas partes do país. Por exemplo, nas áreas de resistência mais
prolongada, ou de acesso difícil, a primeira etapa efectivou-se através da
ocupação militar quase permanente (capitaniasmores na província de Nampula e
partes de Zambézia, comando militar em Gaza). Noutros lugares, como, por
exemplo, na província de Maputo em 1896, o governo colonial passou
directamente à divisão do território em circunscrições civis que, de um modo
geral, deram origem aos actuais distritos. Nestas divisões foram instalados os
administradores e chefes de posto portugueses, bem como régulos africanos,
escolhidos pelo regime colonial, em substituição dos antigos chefes. A partir de
1907, este sistema substituiu gradualmente a administração militar em Gaza,
Zambézia e Nampula.
O objectivo principal do colonialismo no período imperialista era aproveitar a
força de trabalho africana de uma maneira mais directa e permanente que no
período anterior. As formas em que este aproveitamento se podia realizar
variavam desde a aplicação do trabalho nas plantações até à comercialização dos
produtos do campesinato e à venda aos moçambicanos de vinhos, têxteis e outros
produtos portugueses (ver ponto 2).
Vários métodos concretizaram esse objectivo. O imposto de palhota servia para
forçar a população a ganhar dinheiro através da venda dos seus produtos ao
comércio rural ou da venda da sua força de trabalho. Metade do mussoco (o
imposto pagável na Zambézia) era cobrado em trabalho a partir de 1890. A
cobrança do imposto era uma das tarefas principais do administrador e dos seus
subordinados. O dinheiro cobrado contribuiu largamente para as despesas da nova
rede administrativa colonial (vencimentos, edifícios, estradas, etc.).
A diferença dos níveis de desenvolvimento entre as -potências europeias reflectiu-
se nas suas colónias, sobretudo na concorrência pela utilização da força de
trabalho. Não obstante as más condições de
Moçambique, 1885-1930
trabalho nas plantações, minas e obras públicas na África do Sul, nas Rodésias,
Niassalândia, Tanganhica e Zanzibar, verificou-se um grande fluxo de migrantes
moçambicanos para esses territórios. Para tal contribuiu o facto de os salários
serem relativamente superiores nesses territórios, como corolário do nível
relativamente superior de capitalização, gestão, aplicação de tecnologia e
produtividade. Por outro lado, as mercadorias (em especial, os têxteis) vendidas
nesses territórios eram de melhor qualidade e mais baratas.
Colocado numa situação desvantajosa em relação aos outros poderes coloniais na
região, no que diz respeito ao recrutamento de trabalhadores, o estado colonial em
Moçambique recorreu, mais do que os estados coloniais vizinhos, ao sistema de
trabalho forçado, cuja supervisão era outra das tarefas principais do
administrador. Desta maneira, o colonialismo português pretendeu compensar o
baixo nível de investimento.
Foi através deste novo sistema político-administrativo, cuja actuação se fez sentir
a nível do uso da força de trabalho, que se estabeleceu a economia colonial no
período 1885-1930.
2. A emergência da economia colonial
2.1 Produção agrícola
A maior parte da população moçambicana pertencia ao sector agrícola. No novo
sistema, que emergiu entre 1885 e 1930, podemos distinguir vários tipos de
produção provenientes dos seguintes sectores:
a) As plantações de cana-de-açúcar, de coqueiros, de sisal e de chá, com as
respectivas fábricas de transformação anexas, constituíam a agro-indústria. A
produção de açúcar começou na última década do século XIX, com as principais
plantações situadas no vale do Zambeze, localizando-se outras unidades
importantes nos vales dos rios Buzi e Incomati. As plantações de sisal começaram
a ser feitas em 1904/6 na Zambézia, mas as da zona litoral de Nampula tornaram-
se as mais importantes por volta de 1930, havendo outras em Cabo Delgado e
Manica. A produção das plantações era quase totalmente exportada.
b) As machambas familiares dos camponeses produziam para exportação
quantidades sensqvelménte iguais às das plantações. Para além disso,
alimentavam não só a população rural, mas também os milhares
Capítulo 1
de trabalhadores na agro-indústria, que comprava os produtos aos camponeses na
sua rede de lojas montada para o efeito. A Sena Sugar Estates, por exemplo, criou
a Companhia de Comércio de Moçambique principalmente para este fim.
Os principais produtos comercializados, quer para exportação, quer para comércio
interno, eram o milho, o amendoim, o gergelim e a borracha, e provinham em
grande parte da província de Nampula, e em menor escala, das províncias da
Zambézia, de Cabo Delgado e de Inhambane.
Nas províncias de Gaza, Maputo e Inhambane, o campesinato ficou sem muitos
trabalhadores devido ao recrutamento para as minas sul-africanas. O imposto de
palhota nestas zonas (pagável em divisas) provinha geralmente dos salários dos
mineiros; reduziu-se, assim, a possibilidade e o estimulo da família camponesa
para produzir para a comercialização. Por estas razões, o campesinato nestas
províncias produzia poucos excedentes agrícolas. No entanto, na década de 20,
alguns migrantes regressavam da África do Sul já com charruas, o que tornou
possível a uma minoria de camponeses uma maior produtividade e até alguma
acumulação de bens e o aumento das áreas cultivadas, como no vale do Limpopo.
c) As pequenas e médias machambas de colonos individuais empregavam
trabalhadores africanos. Algumas estavam instaladas em zonas de colonização
antiga, perto de Quelimane e da Ilha de Moçambique, e produziam pequenas
quantidades de copra e cajú. Outras dedicavam-se à cultura do milho no Chimoio
a partir de 1907, e, no sul, à cultura do algodão a partir de 1920. Ainda neste
período, os agricultures colonos começaram a pro4u±ir citn'nos para o mercado
sul-africano e a criar gado para o mercado interno (principalmente para Lourenço
Marques).
As exportações por ýector, em termos de valor, eram as seguintes, em 1930 [2]:
Das plantações 40% Do campesinato 28% Dos agricultores 10%
Doutros sectores 22% vários: óleos, bagaços, sal, artesenato, minerais, etc.)
Moçambique, 1885-1930
Embora as exportações do campesinato, em quantidade, se igualassem às da agro-
indústria, os produtos desta última valiam mais no mercado internacional, até
porque iam já semi-transformados.
2.2 A reestruturação capitalista da economia camponesa Embora seja útil
distinguir, para efeitos de estudo, as formas de produção agrícola das formas de
produção indústrial que emergiram neste período, é, no entanto, importante
compreender que elas estavam perfeitamente interligadas na economia colonial.
Note-se que em todos os tipos de produção o trabalho era efectuado pela
população moçambicana, com ou sem a supervisão dos colonos. Para além disso,
é importante realçar o papel da produção camponesa no fornecimento de
alimentação aos trabalhadores das plantações, indústrias e machambas privadas.
Lembramos que estes trabalhadores eram migrantes sazonas, cujas famílias, além
de manterem a casa, produziam para a sua subsistência e do próprio migrante
depois do seu regresso.
Podemos dizer que a família camponesa veio a constituir a base de repodução
social do trabalhador migrante e, assim, a base fundamental de todas as formas de
produção que dela dependiam. Com este sistema, nem plantações, nem indústrias,
nem machambas privadas tinham que pagar um salário que alimentasse a família
do trabalhador, o que era sempre justificativo da atribuição de salários muito
baixos. Por essa razão os empreendimentos na nova economia colonial preferiam
o trabalho migratório, procurando o estado colonial evitar, na medida do possível,
o crescimento de uma força de trabalho permanente e estável, o que teria exigido
salários mais elevados e melhores' condições sociais. Os migrantes, devido ao
carácter temporário do trabalho, tinham pouco poder para reclamar junto do
empregador, que os podia despedir em qualquer altura sem remuneração
nenhuma.
Devido ao rendimento muito baixo que se podia esperar dos contratos ou do
trabalho forçado em Moçambique, que em geral somente bastava para pagamento
do imposto e aquisição de alguma roupa de trabalho, o enquadramento social do
homem e da mulher, através do casamento, dependia muitas vezes de contratos
sucessivos do homem nas minas e plantações dos territórios vizinhos, onde
ganhava o dinheiro necessário para o casamento e os impostos.
O sistema de trabalho migratório (dentro e fora do país) atingiu quase
Capítulo 1
todas as actividades produtivas, levando à proletarização parcial do campesinato
e, assim, tornando a situação das massas cada vez mais uniforme. Se, por um
lado, o recrutamento dos homens em brigadas nas zonas de origem, com a
segregação nos acampamentos e o repatriamento no fim do contrato, fortaleceu a
discriminação étnica, e facilitou o controlo rigoroso dos trabalhadores, por outro,
contribuiu para o início de uma experiência comum de exploração [3]. Um outro
aspecto fundamental da nova economia colonial era o comércio rural, essencial
para o escoamento de produtos. Foi, de facto, a produção familiar dos camponeses
que alimentou o crescimento e os lucros da rede de lojas rurais, exclusivamente
nas mãos de comerciantes asiáticos e europeus [4].
Desta maneira, o sistema de produção familiar camponesa, herdado do período
antes de 1885, foi transformado na base principal para a acumulação do capital na
nova economia colonial [5].
2.3 Portos, caminhos de ferro e trabalho migratório Enquanto a maior parte da
população continuava a viver da agricultura, com o surgimento da nova economia
colonial, havia um número reduzido que exercia a sua actividade na construção
dos portos e caminhos de ferro de Lourenço Marques e Beira, e como estivadores
e carregadores no seu funcionamento [ponto 3.2]. Para o fornecimento de grande
parte desta mão-de-obra, desenvolveu-se o sistema de trabalho forçado.
. Como vimos, outros trabalhadores foram para as minas e plantações dos
territórios vizinhos. Estas actividades beneficiaram principalmente os
empreendimentos das colónias britânicas vizinhas. No entanto, a burguesia
portuguesa tinha o seu benefício através da canalização das divisas provenientes
do trabalho nesses territórios para a rede comercial de Moçambique. Para além de
vários impostos de recrutamento, pagáveis em divisas ao estado colonial, o Sul
importava grandes quantidades de vinho, principal exportação portuguesa da
altura, que era vendido nas lojas rurais.
2.4 Indústrias de transformação
A extracção de óleos, a destilação de alcool, as moagens, a produção de cigarros,
de gelos e de refigerantes foram as primeiras indústrias de transformação,
principalmente viradas para o consumo de Lourenço Marques, e construídas antes
de 1914. Nos anos seguintes,
Moçambique, 1885-1930
estabeleceram-se fábricas de sabões, de cerveja e de cimento. O significado destas
indústrias foi muito reduzido até 1930, quer em termos de produção, quer em
termos do número de trabalhadores, maioritariamente não-qualificados.
2.5 Balanço geral da economia
Os portos e caminhos de ferro e a exportação de trabalhadores constituíram
sectores prioritários de desenvolvimento depois de 1885. Por isso, até cerca de
1910, sensivelmente, contribuíram com a maior parte do rendimento exterior da
colónia. No entanto, o desenvolvimento progressivo da produção agrícola até
1930, veio a transformar esta actividade na maior fonte de receitas de
Moçambique.
2.6 Relações económicas entre Moçambique, Portugal e outros países
Moçambique não foi, neste período, para Portugal, uma fonte importante de
matérias-primas, dado que este país, pouco industrializado no início do século
vinte, não precisava delas em grande quantidade. Os produtos de Moçambique
iam principalmente para outros países, como a França, a África do Sul, a Grã-
Bretanha e a Alemanha. Por exemplo, calcula-se que, na década 1910/1920, uma
média de apenas 5 a 6 por cento das exportações iam para Portugal, enquanto 20 a
22 por cento iam para África do Sul.
Já em relação às importações de Moçambique, o Império Britânico
(nomeadamente Grã-Bretanha e India) era o maior fornecedor de têxteis, sendo
Portugal o principal fornecedor de vinho.
Em relação aos investimentos, havendo poucos excedentes de capitais em
Portugal, os equipamentos essenciais para plantações, portos e caminhos de ferro
etc., tinham que ser feitos ou por companhias estrangeiras, ou através de
empréstimos estrangeiros [6].
O baixo nível de trocas comerciais entre Portugal e Moçambique e a falta de um
sistema de controle efectivo das trocas com outros países, resultou na utilização
da moeda do principal parceiro de Moçambique, nomeadamente, a libra esterlina,
nas trocas internacionais e até internas da colónia. Essa prática alargou-se
consideravelmente com a queda do valor do escudo na década de 20.
Pode-se concluir deste quadro económico que, entre 1885 e 1930, a economia de
Moçambique foi reestruturada para servir os interesses das
Capítulo 1
burguesias europeias. Mas, enquanto noutras colónias essa nova economia
resultou em ligações económicas muito estreitas com as respectivas metrópoles,
no caso de Moçambique, tais relações com a metrópole foram relativamente
fracas. No período seguinte, 1930-1961, veremos que o objectivo central da
política colonial portuguesa será precisamente reforçar e proteger os interesses da
sua burguesia.
3. As mudanças demográficas entre 1885 e 1930.
3.1 População total.
As estimativas indicam um total de 3 milhões de habitantes em 1900 e de
4.200.000 em 1930. Este crescimento relativamente baixo explica-se pela
ocupação militar e pela imposição do imposto de palhota que, conjuntamente,
causaram fugas maciças para as colónias vizinhas. Acrescente-se a emigração de
milhares de moçambicanos para trabalhar na África do Sul, Rodésia do Sul e -São
Tomé e, ainda, epidemias, fomes e o recrutamento militar para as campanhas no
norte do país que, durante a I Guerra Mundial, causaram milhares de mortes [7].
3.2 Distribuição da população e função das cidades. A densidade da população era
muito variável, sendo as províncias de Nampula e Zambézia e algumas zonas do
litoral doutras províncias as mais populosas, com uma densidade que oscilava
entre 10 e 30 habitantes por quilómetro quadrado.
No fim dos anos 20, a esmagadora maioria da população moçambicana vivia nas
zonas rurais. Em 1930, apenas cerca de 100 mil pessoas viviam em centros
urbanos. Este número dividia-se entre Lourenço Marques, com 42.779 habitantes,
Beira, com 23.694, Inhambane, com 10.563, Quelimane, com 9.288 e Ilha de
Moçambique, com 6.898 habitantes.
De um modo geral, foi a nova dinâmica colonial do período imperialista que fez
crescer as cidades, como portos e terminais de caminhos de ferro, e centros de
administração, comércio e indústria.
Desde o início do novo período que as cidades se caracterizavam pela
coexistência de duas áreas distintas: o centro de administração, comércio, etc., e
os subúrbios, que se formaram à medida que as cidades foram
Moçambique, 1885-1930
crescendo. Na primeira, vivia a população branca e um reduzido número de
negros, indianos, chineses e mulatos, que formavam o conjunto dos funcionários,
dos comerciantes e primeiros industriais, dos profissionais independentes e dos
artesãos e operários. Nos subúrbios, viviam os trabalhadores braçais da
construção civil e aterros, das obras públicas, do porto e dos caminhos de ferro.
Esta população constituía o efectivo dos trabalhadores de carácter permanente nas
cidades.
A medida que o sistema de trabalho forçado se ,ia consolidando, trabalhadores
migrantes, recrutados nas zonas rurais, e recebendo salários extremamente baixos,
eram alojados nos compounds dos vários serviços (portos, caminhos de ferro e
óbras públicas, por exemplo).
4. A estrutura social, o racismo e o proto-nacionalismo
A colonização de Moçambique no período imperialista foi dinamizada pela
burguesia europeia, nomeadamente, de Portugal, Inglaterra, França e outros países
industrializados, que deve ser considerada, evidentemente, a classe dominante [8].
O interesse ou motivação desta classe era uma exploração, mais directa do que
anteriormente, dos recursos moçambicanos. Foi o campesinato africano que
forneceu a força de trabalho migratório e os produtos no novo processo de
acumulação do capital nas plantações, transportes, minas e comércio rural. Esse
mesmo campesinato continuou a alimentar a família do trabalhador e ele próprio
após o seu regresso. Foi ainda esse campesinato que forneceu, através dos
impostos, uma grande parte do rendimento do governo, e comprou grandes
quantidades de produtos das indústrias portuguesas.
Podemos considerar a burguesia, que vivia na Europa, e o campesinato
moçambicano, as principais camadas na nova estrutura colonial. A continuação da
resistência activa contra a ocupação colonial, as fugas maciças, e a resistência
contra o trabalho forçado expressam, no seu conjunto, a continuação do conflito
entre essas duas camadas.
No entanto, na evolução da nova economia colonial, emergiram outras camadas,
secundárias, mas muito importantes na vida política e económica do país e nos
conflitos que se desenvolveram nas cidades. Emergiu muito cedo, por exemplo,
uma burguesia comercial local, baseada principalmente em Lourenço Marques,
interessada no cresci-
Capítulo 1
mento da importação e exportação de produtos de e para o campesinato e no
trânsito de mercadorias de e para os países vizinhos. Os seus interesses estavam,
portanto, bastante ligados aos da burguesia na Europa e na África do Sul.
Mais tarde, desenvolveu-se uma burguesia agrícola local, que integrava os
colonos interessados na expulsão dos camponeses das melhores terras e a sua
transformação em trabalhadores forçados sazonais nas novas plantações e
machambas. Os interesses deste grupo entraram em conflito com os da grande
burguesia e do estado colonial, especialmente no sul do país, onde a burguesia
mineira inglesa insistiu sempre em reservar a maior parte do trabalho africano
para as suas minas sul-africanas [9].
Com o crescimento das cidades e a chegada de colonos à procura de trabalho,
emergiram duas camadas sociais: uma de trabalhadores permanentes, qualificados
e semi-qualificados, e outra da pequena burguesia. Devido ao privilégio
constitucional e legal proporcionado aos brancos pelo regime colonial, essas
camadas logo se dividiram em negros e mestiços, por um lado, e brancos, por
outro. Os brancos e não-brancos das duas camadas supracitadas estavam
igualmente interessados na defesa dos seus lugares contra a ameaça de
desemprego, em tempo de crise económica e, sempre que possível, no
alargamento das suas regalias, em tempo de expansão. Porém, o referido
privilégio constitucional assegurava que os benefícios recaissem sempre para os
brancos, frequentemente em detrimento dos outros.
Para melhor perspectivar os conflitos dessas camadas intermediárias, e a sua
relação com as barreiras raciais que cada vez mais dividiam a sociedade colonial,
é necessário recuar um pouco na análise dos interesses da burguesia e da política
do estado colonial.
4.1 Discriminação racial na estrutura colonial A discriminação racial era parte
inerente da estrutura colonial no período imperialista. Isto estava contido na
definição, expressa na legislação, regulamentos e instituições da colónia, da
população negra como fonte principal da riqueza na nova economia.
No fim do século XIX, os mais activos representantes do novo colonialismo
português em Moçambique, como Caldas Xavier, Antonio Enes e Mouzinho de
Albuquerque, justificaram as mais duras formas de
Moçambique, 1885-1930
extracção do trabalho da população, dizendo que o negro não era e não devia ser
igual ao cidadão português. Propuseram resolver o problema da falta de mão-de-
obra para empreendimentos capitalistas com o trabalho obrigatório do negro.
Esta filosofia vinha concretizada na primeia legislação sobre a divisão das terras
da época imperialista, que, em 1890, mandava reestruturar os antigos prazos da
Zambézia e estabelecia que os novos arrendatários dos prazos seriam unicamente
Europeus, sendo os 'indígenas' os fornecedores do trabalho obrigatório.
Em 189 ý, foram promulgados os primeiros regulamentos do passe em Lourenço
Marques, numa tentativa de evitar a escolha livre de emprego pelo trabalhador,
impedir a sua fuga e, assim, criar uma força de trabalho estável, com baixos
salários. Estas medidas distinguiam claramente o cidadão do 'indígena', e
obrigavam cada trabalhador 'indígena' na vila a trazer um certificado ou um disco
metálico, a chapa, com o número do seu passe. Se bem que, devido à falta de
estruturas policiais adequadas, tivessem pouco impacto no início, estes foram os
primeiros de uma série de regulamentos sucessivos para controlar, com cada vez
mais rigor, o trabalhador negro. Teoricamente os assimilados estavam isentos do
passe, mas, na prática, foram muitas vezes presos pela polícia colonial e
ameaçados com trabalho correcional [10].
Em paralelo, na administração rural, a diferenciação por raça era também evidente
no estabelecimento das circunscrições do distrito de Lourenço Marques em 1895,
com regulamentos (incluindo os relativos ao trabalho) apenas aplicáveis aos
'indígenas', prática sistematicamente seguida após a Reforma Administrativa de
Moçambique de 1907. Desde o início do século, tais regulamentos foram
progressivamente utilizados para assegurar o fornecimento regular de trabalho
forçado dos distritos rurais para as cidades.
Pode-se ver que as condições de luta dos trabalhadores pela defesa dos seus
interesses eram bastante diferentes segundo a raça, uma vez que a situação
política e legal do trabalhador branco era mais vantajosa. Para além do mais, as
organizações sindicais dos trabalhadores brancos foram sendo gradualmente
autorizadas pelo governo colonial depois de 1902, legitimação que não foi
extensiva aos trabalhadores negros. Em 1926, o regime colonial consolidou a
legislação discriminatória referente às posições política, civil e criminal da
maioria dos moçambicanos,
Capítulo 1
confirmando o que administrativamente veio a ser chamado o 'indigenato', para
referir a situação 'especial' do povo perante a constituição portuguesa.
4.2 A luta dos trabalhadores brancos e o reforço das barreiras raciais Incluídos
como plenos cidadãos na constituição política de Portugal, os trabalhadores
brancos não deixaram de lutar em defesa dos seus lugares, salários, e melhores
regalias. Esta luta significava que os salários e condições dos outros trabalhadores
iam piorando, porque a burguesia, aliciando os colonos com concessões
vantajosas, procurava sistematicamente recuperar os custos ao nível dos outros
escalões, diminuindo salários, utilizando mais trabalho forçado, etc. Desta
maneira, os trabalhadores brancos conseguiram obter sempre os melhores postos
de trabalho.
No entanto, a luta agudizou-se na crise económica que assolou o país durante e
depois da I Guerra Mundial. Com a justificação de que havia cidadãos
desempregados, os trabalhadores brancos, apoiados nas suas organizações,
reclamaram, com certo sucesso, a adopção dessas barreiras raciais no acesso aos
postos de trabalho que exigiam menos habilitações e, consequentemente, o
afastamento dos outros trabalhadores. Assim, na década de 20, por exemplo, o
lugar de guarda-retretes já era considerado um emprego para brancos em alguns
sectores de trabalho.
As desvantagens políticas e legais dos trabalhadores negros não impediram que
lutassem por melhoria de condições; só que as greves e protestos por eles
organizados, encontraram uma repressão policial sistemática e a utilização de
trabalhadores forçados como fura-greves. A luta dos poucos assimilados, através
dos jornais, também encontrou pouco sucesso contra o avanço dos trabalhadores
brancos.
Devemos dar ênfase ao facto de que não se trata aqui de um racismo proveniente
da ideologia pessoal dos trabalhadores brancos: o racismo institucionalizou-se na
sociedade colonial porque a-maioria da população foi definida como objecto
principal da exploração pela burguesia, e porque a nova estrutura colonial só
permitiu a um sector dos trabalhadores, os brancos, que lutasse pela defesa dos
seus interesses, através da criação da sua própria imprensa e organizações
sindicais [11].
Moçambique, 1885-1930
4.3 A pequena burguesia moçambicana, assimilação e educação Podemos
considerar que, no início do período imperialista, a pequena burguesia
moçambicana consistia em famílias e indivíduos de várias origens e posições
sociais. Havia, por exemplo, um reduzido número de comerciantes africanos que
abasteceriam a cidade de Lourenço Marques com mercadorias, como alimentos,
carne, peixe e lenha, de produção camponesa. Por outro lado, havia um pequeno
grupo de famílias mestiças, relativamente ricas, descendentes dos grandes
caçadores e comerciantes brancos que tinham explorado os recursos do sertão de
Lourenço Marques desde cerca de 1820. Estas famílias, ultrapassadas pelo fim do
comércio de marfim, entraram noutros campos económicos mais apropriados às
exigências da nova economia regional, nomeadamente, o recrutamento de
trabalhadores, comércio a retalho, e compra e venda de imóveis [12]. Em terceiro
lugar, havia um pequeno número de mulatos e negros que ocupavam posições
importantes no serviço militar e funcionalismo público [13].
A proeminência social dessa pequena burguesia deve-se ao facto de que, no
período pre-imperialista, as condições sócio-económicas e a atitude do poder
colonizador em relação às famílias mestiças e à assimilação dos negros, eram
diferentes do que viriam a ser no período entre 1885 e 1930. De facto, antes de
1885, isto é, antes da imigração de grande número de colonos brancos para
Moçambique, as famílias mestiças e os assimilados negros tiveram um papel
importante na expansão do comércio, administração e cultura portugueses em
Moçambique.
Por esta razão, antes de í885, a teoria de 'assimilação', segundo a qual os africanos
deveriam s- governados pela mesma lei e condições que se aplicavam a cidadãos
portugueses, teve alguma expressão real para uma reduzida minoria em
Moçambique.
Depois de 1885, este quadro sofreu consideráveis alterações. Uma breve análise
da estrutura do comércio mostra como a emergente estratificação nacional e racial
resultou na exclusão da pequena burguesia moçambicana. A expansão dos
principais portos e cidades e a conquista das zonas rurais resultaram numa onda
de migração de colonos brancos à procura de oportunidades nos vários ramos de
comércio. A pequena burguesia branca de origem portuguesa tentou sempre
utilizar os seus privilégios políticos na luta para assegurar as melhores posições.
Capítulo 1
Deve-se notar, contudo, que a discriminação em beneficio de portugueses contra
os já estabelecidos comerciantes asiáticos, frequentemente reclamada por
pequenos comerciantes brancos, foi difícil. Interessadas na rápida expansão do
comércio rural de vinho (de Portugal) e têxteis (da India e Portugal), as burguesias
inglesa e portuguesa defenderam os indo-britânicos, cujo acesso ao oapital
comercial, rede de contactos no litoral e competência de negócios lhes davam
grandes vantagens na promoção das vendas nas zonas rurais. Por outro lado, o
comércio de trânsito para países vizinhos já era dominado por firmas estrangeiras,
maioritariamente inglesas.
Na concorrência pelo aproveitamento das restantes oportunidades, a nascente
pequena burguesia moçambicana foi colocada na defensiva pela agressividade
política dos aspirantes portugueses e pelas acções das instituições coloniais. Por
exemplo, através de um sistema de licenças oficiais, a Câmara Municipal de
Lourenço Marques impôs controles discriminatórios que, cada vez mais,
impediram aos comerciantes africanos o acesso ao mercado central, em beneficio,
dos brancos, que passaram a controlar, em grande parte, o abastecimento da
cidade. A divisão discriminatória das melhores terras nos arredores foi' também
utilizada para assegurar a acumulação dos estrangeiros. Desta forma, no
comércio, a pequena burguesia moçambicana foi efectivamente bloqueada,
restando-lhe, em geral, a possibilidade de ocupar posições subalternas no
emprego, em firmas não-portuguesas.
Além disso, no crescente aparelho estatal, os postos de emprego foram cada vez
mais reservados, na prática, aos brancos, e mesmo aqueles mulatos e assimilados
que já ocupavam lugares de importância, para além de sofrerem exclusão na vida
social, corriam o risco de serem discriminados através da reforma antecipada,
sendo os seus lugares ocupados por brancos [14].
A nível constitucional também, a pequena burguesia moçambicana encontrou
reveses. Como referimos, o estado colonial, levado por imperativos de
desenvolvimento económico capitalista e, em particular, pela necessidade de criar
uma força de trabalho muito barata e bastante controlada, elaborou uma série de
leis, regulamentos e instituições discriminatórias que visavam a definição e
identificação da população colonizada como 'indígenas'.
No que diz respeito aos assimilados e mulatos, esta legislação foi
Moçambique, 1885-1930
completada em 1917 por uma medida estabelecendo que, teoricamente, estes
também teriam de ser portadores de um documento comprovando o seu direito a
cidadania portuguesa e que não eram 'indígenas'. Embora revogada em 1921, foi
incorporada na consolidação geral da legislação em 1926, e representava para os
mulatos e assimilados a prova final de que o estado colonial pretendeu legalizar e
reforçar a discriminação, na base de raça, entre eles e os brancos. É de notar que
este conjunto de legislação contrariou as ideias de assimilação apregoada do
século passado e que 'assimilação', como termo oficial, tornou-se uma justificação
deológica do colonialismo, através da qual se pretendia esconder as barreiras
raciais (racismo institucionalizado).
A evolução da pequena burguesia moçambicana foi também influenciada pela
forma de educação disponível e, particularmente, pela expansão das igrejas
protestantes. Com efeito, não obstante a discriminação cada vez mais
institucionalizada na estrutura social e a determinação do regime colonial de
limitar as aspirações sócio-políticas do povo moçambicano, o sistema de ensino
não se orientou por um plano rigoroso ou padrão uniforme no período 1885-1930.
Por um lado, desde o início do período imperialista, colonialistas como Antenio
Enes e Mouzinho de Albuquerque, advogaram abertamente um sistema racista de
ensino em que a educação para os negros fosse restringida h formação de
trabalhadores manuais, necessários ao desenvolvimento capitalista da colónia.
Esta forma reduzida de educação era já sinónimo de 'civilização'. Por isso,
Mouzinho escrevia em 1898:
"O que melhor temos a fazer para educar e civilizar o indígena é desenvolver
praticamente as suas aptidões do trabalho manual e aproveitá-lo para
a exploração da província" [15].
De igual modo, o Governador-Geral de 1906 a 1910, Freire de Andrade,
preocupando-se com o problema das dívidas da colónia e com a necessidade de
um desenvolvimento rápido da economia, apesar das escassas fontes de capitais,
concluiu que a única educação a dar ao negro seria aquela que fizesse dele um
trabalhador.
No que diz respeito ao ensino das massas, predominavam para a maior parte deste
período as missões cristãs não-portuguesas (protestantes), que se estabeleceram
após 1880, a partir de sedes nos territórios vizinhos. Desde 1881, os missionários
metodistas da Junta Americana
Capítulo 1
para Missões no Estrangeiro [16] tentaram fundar várias missões na Província de
Inhambane, e abriram uma em Mount Selinda (na então Rodésia do Sul), que
tinha uma dependência em Gogoi na Província de Manica. A partir de 1890, a
Igreja Metodista Episcopal Americana substituiu as missões da Junta em
Inhambane. Em 1882, missionários protestantes anglicanos (da Inglaterra)
começaram a trabalhar na Província do Niassa, onde mais tarde abriram a missão
de Messumba, estabelecendo outras missões no sul, a partir de 1890. A Missão
Suiça (presbiteriana), que, em 1887, fundara a sua primeira estação em Rikatla
(cerca de 20 quilómetros de Maputo) e, em 1891, estabelecera um missionário na
corte real de Gaza, tinha 5 missões nas províncias de Maputo e Gaza por volta de
1930.
Até cerca de 1882, a Igreja Católica só mantinha paróquias que se destinavam aos
europeus, goeses e assimilados. Depois começou também a fundar missões em
meios africanos. Em 1911, havia aproximadamente 15 missões católicas,
localizadas nos centros principais de Moçambique. No mesmo ano, fundou-se em
Portugal o Instituto Nacional de Missões, com o objectivo de travar a expansão
das missões protestantes. Na década de 20, o estado português passou a ajudar
activamente a Igreja Católica. Estabeleceram-se, assim, entre 1911 e 1930, 27
novas missões nas províncias de Maputo, Zambézia, Tete e Nampula. No fim da
década de 20, o número de crianças nas escolas católicas tinha finalmente
ultrapassado o número de inscritos nas escolas protestantes [17].
As divergências que se semearam através da expansão das igrejas missionárias
não se restringiram somente à religião. Atingiram uma das bases fundamentais da
cultura moçambicana, a língua. Enquanto em geral as missões católicas
utilizavam apenas a língua portuguesa, que foi considerada pelos colonizadores
um veículo da legitima dominação cultural, as missões protestantes ensinavam,
muitas vezes, na língua da zona em que operavam.
Para uma rápida expansão do ensino destas missões em línguas africanas teria
contribuído a publicação dos livros em Ronga por Roberto Mashaba, entre 1885 e
1893 [18], e a tradução da Bíblia do inglês para o xitsua, iniciada pelos metodistas
americanos Wilcox e -Richards, auxiliados por Tizora Navess e David Maperre, e
concluída por M.M. Sicobele, entre 1901 e 1908 [19]. É também sabido que, na
mesma altura, as missões suiça e metodista fizeram o mesmo para o Ronga [20].
Moçambique, 1885-I930
As actividades das missões protestantes, aliadas às suas fortes ligações com as
colónias inglesas vizinhas, deram lugar a protestos por parte de colonialistas
portugueses, que as acusaram de influenciar o povo moçambicano no sentido de
uma 'desnacionalização', em relação ao colonialismo e cultura portugueses. Com
efeito, alguns dos moçambicanos protestantes, que optaram, em geral, por postos
de emprego nas firmas privadas não-portuguesas [21], constituíram um novo e
distinto elemento da pequena burguesia nascente na cidade de Lourenço Marques,
no período entre 1885 e 1930.
4.4 Ultimos focos de resistência militar e o início do proto-nacionalismo
Após a resistência e a subsequente derrocada do apotentado estado de Gaza, que
constituía a maior ameaça ao plano de ocupação colonial, no sul de Moçambique,
alguns membros de proeminentes famílias de Gaza refugiaram-se no Transval. A
prisão, seguida da deportação do grande imperador Ngungunhana para os Açores,
teria também suscitado a vontade de voltar a pegar em armas para enfrentar de
novo o usurpador. Muitos eram, porém, os óbices à tamanha proeza, erguendo-se,
em primeiro lugar, a supremacia militar incontestável do inimigo e, em segundo, a
progressiva tomada de consciência dos derrotados de que a oposição à ordem
imposta por Portugal nunca mais podia, no futuro, basear-se exclusivamente nas
instituições tradicionais, seculares e religiosas.
A derrota da rebelião de Barué de 1917 [22], que marcou o fim das sublevações
armadas segundo moldes sócio-políticos tradicionais em Moçambique e África
Austral, e a ocupação do planalto dos Makonde em 1919-1920, confirmaram mais
uma vez essa convicção. [23].
No entanto, a evolução da nova estrutura sócio-económica após 1885 levou a
adopção de novas formas de contestação ao colonialismo. Essa contestação não se
baseava numa ideia desenvolvida de nacionalidade moçambicana nem da
reclamação de independência; não foi unificada nem coerente, e as formas em que
evoluiu foram claramente influenciadas pelo colonialismo. Por outro lado, as
ideias e acções revelavam, às vezes, uma certa independência de pensamento em
relação ao colonialismo, e contribuíram fundamentalmente para a sobrevivência
da cultura moçambicana. Por estas razões, podemos considerar essa contestação
Capítulo 1
como uma contribuição para o proto-nacionalismo, isto é, para os antecedentes do
nacionalismo moçambicano moderno.
A investigação histórica deste assunto até agora feita não nos permite um
tratamento aprofundado. Contudo, podemos constatar que uma das influências
que mais contribuiu para o desenvolvimento de novas formas de contestação foi a
expansão das missões, particularmente as missões protestantes, e a educação que
ofereceram. Para além do problema de 'desnacionalização', a que já referimos, do
ponto de vista do regime colonial, a au.;ência de controle do corpo docente, dos
currículos e dos manuais nas missões protestantes fez com que a formação e
exigências dos seus -beneficiários fossem incompatíveis com a dinâmica
capitalista colonial, assente sobre a exploração de massas pacificadas. Estes
indivíduos formados não aceitaram as normas de tratamento dos trabalhadores
braçais. Segundo o Administrador de Homoíne, na dé&ada de 20:
"Na província de Moçambique, . superabundam em todos os distritos os nativos
'letrados' - os assimilados, os quais não podendo ser todos atendidos nas suas
reclamações pelo direito de serem considerados aptos e nomeados para qualquer
lugar público, já pretendem associar-se em agremiações de classe, e fundar jornais
para atacar os poderes constituídos, não tardando muito que reclamassem o direito
de fazer propaganda política nacionalista, atacando e injuriando a raça europeia, a
semelhança do que tem sucedido,
e está crescendo nas colónias inglesas nossas vizinhas [241.
Estas atitudes de contestação foram evidentes entre o pessoal moçambicano das
igrejas protestantes, cujos catequistas eram considerados, por oficiais coloniais,
"os mais insubordinados, os mais avessos ao trabalho, os menos aproveitáveis de
todos os 'indígenas"' [25].
As igrejas 'separatistas'
De facto, a rejeição da subordinação manifestou-se com mais clareza nas
principais igrejas protestantes, que se separaram das missões religiosas europeias,
o que testemunha a consciência de religiosos moçambicanos da necessidade de
basear o seu desenvolvimento ideológico na cultura tradicional.
A primeira foi a African Gaza Church, fundada em 1907 por Benjamin Mavadhla
e outros moçambicanos residentes no Transval, que
Moçambique, 1885-1930
se separaram da Igreja Wesleyana. A identificação dos seus membros com o
antigo Império de Gaza manifestou-se numa justificação citada por Mavadhla
para a fundação da Igreja, nomeadamente, a referência bíblica à palavra 'Gaza'.
Não foi por acaso que, a esta Igreja, estava associado o nome de Simião Godide
Nqumayo, o herdeiro da linhagem real de Gaza, que vivia em Pissane, Transval,
"rodeado de muitos filhos dos emigrados a seguir a captura de Ngungunhane em
1895" [26]. Segundo a sua própria documentação, a Igreja teve sucursais noutras
partes da África do Sul e foi transplantada para a colónia de Moçambique em
1913 [27].
A informação citada, acrescentada aos conhecimentos relevantes da história da
África do Sul, mostra que as circunstâncias que conduziram à formação da Igreja
foram:
i) a conquista portuguesa de Moçambique e a penetração no sul do país do
capitalismo mineiro e agrícola da África do Sul, que resultou na emigração para
aquele território vizinho não só de trabalhadores moçambicanos como também de
representantes da casa real derrotada.
ii) a necessidade do povo de -uma expressão ideológica da sua identidade cultural
e da sua resistência contra a ocupação colonial,
visto que a oposição militar frontal era impossível.
iii) a incapacidade de algumas missões em Moçambique e na África do Sul de
acomodar as tradições sócio-culturais locais dos seus membros, de ultrapassar o
racismo dentro das suas próprias instituições, ou de separar-se suficientemente da
dominação política
colonial.
Foi em circunstâncias ,emelhantes que Sicobele, a quem já nos referimos, se
desligou da Missão Metodista Americana em Morrumbene, Inhambane, e juntou-
se a Victor de Sousa, então funcionário da administração em Inhambane, para
fundar, em Janeiro de 1918, a Igreja Episcopal Luso-Africana de Moçambique.
Sicobele, segundo suas palavras, fê-lo por "não querer servir mais os
estrangeiros..." [28], isto é, colonos portugueses e doutras nacionalidades.
De facto, os desígnios divergentes dos dois fundadores não tardaram a
desenvolver-se nos anos seguintes. Sousa participou na fundação da
Capítulo 1
Igreja "para combater, como diz, a 'desnacionalização' dos indígenas que
emigravam, e bem assim a influência das -missões evangélicas' estrangeiras que
contribuíam para essa 'desnacionalização"' [29]. Esta posição é bem patente no
relatório da sua II conferência anual que se realizou em Novembro de 1924, no
qual, inter alia, se afirmava:
"Os nativos súbditos de Portugal, vendo que os estrangeiros enviam seus
mi§sionários propagandistas em grande número a esta colónia, resolveram fundar
uma associação religiosa cristã Episcopal Egreja LusoAfricana [sici de
Moçambique, genuinamente portuguesa, para defender a soberania e a
Pátria" [301.
Sousa fundara a Igreja com o intuito de combater a 'desnacionalização' em relação
a Portugal. Sicobele, no entanto, recusando a língua portuguesa, e escrevendo em
xitsua e inglês, elaborou a história dos Tsua sublinhando a sua antiguidade e a
igualdade com a dos outros povos [31]. Analisando pormenorizadamente o texto
de história de Sicobele, suscitam-se-nos duas ideias fundamentais. A primeira é
que o autor recusa a inferioridade imposta e apregoada pelos colonizadores e
reivindica a igualdade. Trata-se de um caso raro no proto-nacionalismo
moçambicano, pois, enquanto muitos escritores e poetas exprimiram a sua revolta
na língua do colonizador, desprezando as línguas nacionais [32], Sicobele fê-lo na
sua língua materna e, no desejo de que a sua obra pudesse transpor as fronteiras,
escreveu-a também em inglês.
A segunda, a mais importante, que constitui o objectivo final da sua contestação
cultural e que confirma a sua posição patriótica, é dada pelo slogan A África é dos
Africanos, que encontrou o seu eco em Lourenço Marques, em 1919, um pouco
depois da fundação da nova igreja. Este reforça ainda a sua decisão de não querer
servir mais os estrangeiros. Por esta razão, um investigador colonial concluiu,
mais tãÈde, que o texto "é um 'maná' para a propaganda nacionalista" [33]. A
discórdia e a disparidade de desígnios entre Sousa e Sicobele teria sido a causa
principal da cisão em 1925, após a qual Sousa fundou a Igreja Nacional Etiópica
Moçambicana [34].
O movimento associativo e literário Neste período, na história do movimento
associativo e literário de Lourenço Marques manifestou-se uma contestação do
colonialismo em
Moçambique, 1885-1930
várias questões [35]. Em geral, a sua posição foi reformista, no sentido de que
advoga melhoramentos dentro do sistema colonial. Desde o início da sua
actividade, protestou, por exemplo, contra a insuficiência da educação
proporcionada aos não-brancos pelo estado colonial. A elite moçambicana, cada
vez mais discriminada na colocação de empregados no aparelho colonial e nas
empresas, quis melhorar a qualidade e nível de ensino para concorrer melhor com
os imigrantes europeus e asiáticos. Mais tarde, reclamou contra a intensificação
das barreiras raciais no sistema educacional em si, particularmente, contra o
estabelecimento de um colégio europeu pela Igreja Católica [36].. Reivindicou a
cessação total da imigração de estrangeiros, quer europeus, quer asiáticos, que
ocupavam postos de emprego em detrimento dos moçambicanos. Em relação à
vida económica do país, reclamou contra os abusos do trabalho forçado, e
reivindicou uma maior valorização económica dos camponeses como produtores
137].
Ao nível político, o Grémio Africano e o seu jornal, O Brado Africano, deram
ênfase aos direitos civis que a Constituição portuguesa republicana garantiu,
teoricamente, sem discriminação de raça, a todos os indivíduos que tivessem
adoptado os usos e costumes da gente 'civilizada'. O lema do Grémio Africano era
"Somos portugueses". A sua explicação para o facto evidente de que o estado
colonial em Moçambique negava, cada vez mais, os referidos direitos aos não-
brancos residia na influência retrógada do racismo sul-africano entre os colonos
portugueses, devido à ausência de um controle efectivo a partir de Lisboa [38].
Mostrou-se, assim, o carácter do pensamento desta fracção da pequena burguesia
na altura: não sendo desenvolvida a análise da relação entre capitalismo,
colonialismo e racismo na África do Sul e em Moçambique, não se percebeu que,
após a conquista, o estabelecimento de uma rígida hierarquia racial contribuiu,
fundamentalmente, para manter o sistema de exploração económica nestes
territórios, de que a burguesia na Europa foi o beneficiário principal.
Com efeito, perante a debilidade económica de Portugal, em comparação com a
Grã-Bretanha, como colonizador na África Austral, e enganados sobre as
verdadeiras bases do racismo, os principais colaboradores de O Brado Africano
advogaram um reforço da influência sócioeconómica de Portugal, como o único
meio de enfrentar o racismo sulafricano.
Capitulo 1
Esta linha de argumentação manifestou-se e, com uma certa justificação na época,
nas questões da independência e da possível redivisão do território moçambicano.
Deve-se notar que, em 1910, a Grã-Bretanha concedeu independência à África do
Sul sob uma constituição essencialmente racista. Quando, na década seguinte,
alguns brancos reclamaram independência para Moçambique, O Brado Africano,
receando, sem dúvida, a consolidação do racismo branco nos moldes sul
africanos, argumentou com força contra tal reclamação. De igual modo, os
colaboradores de O Brado Africano receavam uma nova divisão das colónias
portuguesas em benefício da África do Sul, frequentemente proposta no período
da I Guerra Mundial, e que ressurgiu, nas décadas seguintes [39].
Desta forma, embora criticando aspectos do colonialismo, as vezes com acuidade,
a liderança do Grémio e os principais colaboradores de O Brado Africano
defenderam a integridade do colonialismo português. Colaboraram com algumas
das suas iniciativas, como, por exemplo, a nomeação, em 1928, sob a sua própria
proposta, de um dos membros fundadores do Grémio como propagandista
agrícola, pago pelo estado colonial, cuja tarefa era a de promover a integração do
campesinato nos planos coloniais de produção agrícola [40].
Para além disso, se bem que O Brado Africano fosse publicado com algumas
páginas em Ronga, a direcção frequentemente criticou as circunstâncias que
levaram a essa necessidade, nomeadamente, o uso das línguas moçambicanas nas
missões protestantes. Por razões semelhantes, chegou mesmo a advogar a
expulsão de missionários católicos não-portugueses. Neste respeito, o seu
pensamento era pouco diferente do dos principais ideólogos coloniais [41].
Por outro lado, é provável que os exageros do Grémio na defesa da cultura do
colonizador, aliados à posição relativamente privilegiada dos membros das velhas
famílias mulatas, que compunham a maior parte da direcção e dos colaboradores
(que escreveram em português) do jornal, levaram à aparência de acomodação
excessiva a uma hierarquia social colonial desvantajosa aos negros.
As divergências sócio-culturais implícitas nesta situação teriam conduzido à cisão
temporária do movimento associativo em Lourenço Marques, nos inícios da
década de 20, com a tentativa de formação de um 'Congresso Nacional Africano',
por elementos ligados às igrejas
Moçambique, 1885-1930
protestantes e outros decepcionados com o Grémio Africano. Parece que a
tentativa foi frustrada logo no início -por causas ainda desconhecidas [42].
5. Os conflitos do período 1915-1930
Passamos a rever, com certo detalhe, os conflitos no período 1915-1930,
importantes porque mostram algumas consequências do colonialismo português
em Moçambique, nomeadamente, a sua participação obrigatd'ria na I Guerra
Mundial, os efeitos dessa Guerra para a sociedade moçambicana e, finalmente, o
conflito político sobre o futuro carácter da exploração colonial.
5.1 A I Guerra Mundial e a crise económica e social da década de 20 Em Maio de
1915, Portugal aliou-se à Grã-Bretanha, França e Rússia na Grande Guerra contra
a Alemanha. Esta guerra exigiu a utilização de recursos materiais e humanos não
só dos países beligerantes, como também das respectivas colónias. A Portugal foi
atribuído o papel fundamental de ajudar a Grã-Bretanha na defesa das colónias
britânicas de África [43].
Estima-se, provisoriamente, em 100 mil o número de moçambicanos recrutados
obrigatoriamente, não só no centro do país (Barué), como também, e sobretudo,
nas províncias do norte e em Inhambane. Estes recrutados destinavam-se a
engrossar o exército português, que operava no norte de Moçambique contra as
forças alemãs vindas do então Tanganhica. Como o exército português não tinha
transporte motorizado, a vasta massa do contingente moçambicano servia para
carregar material e munições. Devido às pessimas condições de alimentação e
saúde, a taxa de mortalidade era muito alta, calculando-se que a maioria dos
recrutados terá morrido em serviço ou durante o regresso à casa, o que
representou uma perda sócio-económica considerável nas zonas rurais [44].
Logo ap6s o início da guerra, começaram a agudizar-se os defeitos do frágil
sistema económico português em Moçambique, com maior incidência no sector
financeiro. Isto traduziu-se na desvalorização contínua da moeda (Escudo), à
razão de 100 por cento entre 1914 e 1919, 200 por cento em 1920 e 600 por cento
entre 1921 e 1924 [45].
Capítulo 1
Na prática, isto resultou em aumentos sucessivos do custo de vida, e na queda dos
salários reais dos trabalhadores, quer rurais quer urbanos. Aumentou também
sucessivamente o mussoco, e o imposto de palhota que, nalgumas áreas, passou a
ser exigido em libras, tanto ao trabalhador migrante como aos outros
trabalhadores locais. Diminuiu cada vez mais a qualidade dos tecidos importados,
artigo fundamental no comércio rural.
Estes factores conduziram, por um lado, à migração para fora do país, onde a
atracção da libra esterlina e tecidos de melhor qualidade era cada vez mais
evidente e, por outro, à deserção do trabalho pouco remunerado. Assim,
agudizaram-se todos os problemas relacionados com o recrutamento de mão-de-
obra tanto pelo estado colonial, como por empresas capitalistas. Perante esta
situação, a administração colonial intensificou rusgas para o aprisionamento de
pessoas, que depois eram enviadas para o trabalho forçado nas companhias e
obras públicas.
. Por exemplo, nas províncias de Cabo Delgado e Niassa, o campesinato que já
tinha sido sujeito à pilhagem em produtos, dinheiro e mão-de-obra pela
Companhia do Niassa, agora tinha que enfrentar uma nova onda de exploração
levada a cabo pelos empregados dessa Companhia. Estes, recebendo cada vez
piores salários em termos reais, recorriam à agricultura, recrutando trabalhadores
à força, levando a que muitos camponeses organizassem e promovessem fugas
maciças. Calcula-se em dezenas de milhar o número de camponeses que fugiram
para o Tanganhica e a Niassalândia neste período [46].
Nas cidades de Lourenço Marques e Beira, os trabalhadores brancos, que
usufruíam de privilégios coloniais, desenvolviam as suas acções separadamente
dos trabalhadores negros, que em geral não gozavam dos mesmos direitos e, por
conseguinte, moviam uma luta paralela, embora ilegal. Desta forma, registou-se
uma série de greves em que os trabalhadores se manifestaram activamente contra
os efeitos económicos da crise. Das greves levadas a cabo em Lourenço Marques,
destacaram-se as dos ferroviários (brancos) em 1917 e 1920, as dos estivadores
(negros: 4 greves entre 1919 e 1921) e as do pessoal da empresa dos tranportes
urbanos (brancos) em 1916, 1920 e 1923 [47].
O estado colonial utilizou a estratégia de reprimir e dividir os trabalhadores, quer
negros, quer brancos, deportando os activistas brancos em 1920, e neutralizando
rapidamente as greves dos negros.
Moçambique, 1885-1930
Mas, às vezes, aliciou o reduzido número de assimilados assalariados, garantindo-
lhes algumas das regalias dos brancos.
Não obstante, a diferenciação de estatuto e tratamento dos brancos manifestou-se
bem evidente entre 1918 e 1920, ao ser concedido o pagamento em divisas da
maior parte do salário à maioria dos funcionários e trabalhadores brancos [48].
Nos anos seguintes, a crise manteve-se e veio a tomar proporções graves. O ano
de 1925 iniciou-se num autêntico clima de agitação. Foi-se desenvolvendo com
certa intensidade uma campanha a favor dos trabalhadores negros em Lourenço
Marques, através de O Brado Africano. Este apelava aos negros para se unirem e
lutarem por um objectivo comum.
Entretanto, os atropelos à lei eram prática corrente. Em Fevereiro de 1925, mais
de uma centena de trabalhadores negros recusou continuar a prestar serviço à
empresa Delagoa Bay Agency de Lourenço Marques, alegando maus tratos e
exigindo que os deixassem regressar às terras de origem. Pelo facto foram
imediatemente presos pela polícia colonial por ordem da Secretaria dos Negócios
Indígenas.
Em Junho, 300 trabalhadores negros dos Caminhos de Ferro de Lourenço
Marques reuniram-se junto à Casa dos Trabalhadores, manifestando-se contra o
não pagamento de um aumento salarial estabelecido pelo governo no ano anterior.
Entretanto, em todos os sectores de actividade continuavam a verificar-se as mais
flagrantes injustiças, desde violações às revisões salariais até ao despedimento
injustificado de trabalhadores.
Foi certamente animada pelo clima de descontentamento e agitação que pairava
sobre a cidade de Lourenço Marques que se deu em 13 de Agosto de 1925 a greve
dos trabalhadores da Delagoa Bay Development Corporation Limited, empresa
concessionária de diversos serviços urbanos (água, energia eléctrica e transportes
públicos). Os grevistas lutavam pela actualização de vencimentos.
Em Setembro de 1925, começou a greve dos estivadores negros do porto da
capital, reivindicando aumentos salariais e melhores condições sociais, seguindo-
se a greve dos trabalhadores ferroviários e portuários brancos, em defesa dos seus
interesses e privilégios, o que veio a transformar-se em greve geral. Iniciada em
11 de Novembro, a greve só viria a terminar em Março de 1926, tendo obrigado o
governo a declarar o estado de sftio na cidade. Finalmente, o governo colonial
neutralizou a
Capítulo 1
greve; foram presos e deportados para vários pontos de Moçambique os principais
dirigentes grevistas.
Em Agosto de 1925 estalou uma greve geral na Beira. Tratou-se da paralisação
geral e concertada de trabalhadores, funcionários e pequenos empresários
brancos, em protesto contra uma série de medidas decretadas pela administração
da Companhia Majestática. Assim, em 7 de Agosto, entraram em greve os
comerciantes, protestando contra o controle de divisas por parte da Companhia,
seguindo-se-lhes, por idêntico motivo, os pequenos agricultores colonos. Os
funcionários da Companhia entraram em greve em 2 de Setembro, exigindo uma
compensação salarial que cobrisse a depreciação da moeda e a alta do custo de
vida, entre outras reivindicações. A situação só voltaria à normalidade a 10 de
Setembro, tendo os grevistas conseguido uma vitória quase total, embora
temporária [49].
5.2 0 conflito sobre as bases da política colonial em Moçambique Na década de
20, para além dos conflitos entre a burguesia, por um lado, e o campesinato e os
trabalhadores, por outro, desenvolveu-se também um conflito político cada vez
mais aberto entre a burguesia metropolitana e uma parte da burguesia radicada em
Moçambique, nomeadamente os machambeiros colonos. A diferença não residia,
obviamente, na questão da exploração de mão-de-obra moçambicana, mas sim na
maneira específica de o fazer.
Os machambeiros colonos viam com bons -olhos a política económica da África
do Sul e da Rodésia do Sul para com a capitalização da agricultura colona. Tendo
conhecimento dos apoios financeiros e em infraestruturas (divisão sistemática das
terras, comunicações, investigação, ajuda de especialistas, etc.) oferecidos pelo
estado naqueles países vizinhos, exigiam do estado colonial português benefícios
semelhantes. Pensavam, assim, enriquecer através de uma maior utilização da
mão-de-obra moçambicana em plantações, propriedades agrícolas, criação le gado
e outros empreendimentos, especialmente no sul do país.
Este projecto contrariava o já estabelecido interesse da burguesia portuguesa e
inglesa em fazer uma acumulação, mais rápida e mais fácil, através da exportação
de mão-de-obra, evitando, assim, grandes investimentos fora das zonas mais
acessíveis do litoral do país.
No entanto. P voz dos machambeiros colonos era também a voz de
Moçambique, 1885-1930
alguns nacionalistas portugueses, que depois da onerosa participação de Portugal
ao lado da Grã-Bretanha na I Guerra Mundial, queriam aproveitar-se dessa aliança
para procurar capitais ingleses que melhor financiassem uma colonização
verdadeiramente portuguesa em Moçambique, em lugar do sistema tão
generalizado de trabalho migrat6rio em beneficio de outros. Queriam ainda
enfrentar as pretensões sul-africanas de ingerência activa no sul do país,
justificada pela alegada incapacidade dos portugueses de promover o
desenvolvimento de Moçambique [50].
Com efeito, a experiência da década de 20 na cultura de algodão, a matéria-prima
mais procurada pela indústria portuguesa, mostrava as desvantagens e os altos
custos dos ambiciosos empreendimentos agrícolas projectados pelos
machambeiros colonos. Encorajados pelas altas cotações mundiais e pelas
experiências iniciais nas províncias de Maputo e Inhambane na campanha de
1920-1921, alguns colonos e pequenos empresários adquiriram concessões de
terras para a cultura de algodão. Por volta de 192415, cerca de 200 colonos
cultivavam algodão em cerca de 13.000 hectares nessas zonas. Tres fábricas de
descaroçamento foram construídas no mesmo período, na expectativa de bons
resultados. Porém, uma combinação de cheias, de uma praga de insectos e da seca
de 1925/6 fizeram ruir as esperanças dos colonos, que recorreram ao governo para
assistência do estado.
O governo colonial convidou um especialista em algodão norte-americano,
para estudar o potencial da Colónia neste ramo de produção. Concluiu, no seu
relatório, que era impossível justificar a continuação da cultura de algodão em
regime de plantações colonas, porque:
i) em comparação com os outros produtores, como os E.U.A. e o Egipto, por
exemplo, não existiam nem o apoio estatal na comercialização, nem o
conhecimento científico dos solos e da selecção das
plantas, essenciais à cultura intensiva de algodão;
ii) a pluviosidade no sul do país era pouco segura. Esses factores explicaram a
reduzida produtividade e rentabilidade dessa cultura em
regime de plantações.
Por outro lado, como reconheceu o relatório, a produção de algodão por
camponeses africanos nos seus próprios terrenos sob a supervisão global europeia
já tinha sido bem sucedida no ano 1925/6 no norte do
Capítulo 1
país, particularmente na província de Nampula. Exigindo poucos investimentos de
capitais ou pagamento de salários, a produção camponesa de algodão seria mais
realista; a reduzida produtividade por hectare seria contrabalançada pelo grande
número de produtores.
Esta experiência levou a burguesia portuguesa a decidir pela segunda modalidade.
Isto é, em vez de apoiar os machambeiros colonos com grandes investimentos e
empréstimos, adoptou a política de fomentar a cultura do algodão através de uma
exploração mais directa do camponês, deixando à comunidade rural os riscos de
tal produção (mau tempo, falta de apoio técnico, ausência de conhecimentos, etc.).
5.3 0 golpe militar de 1926 em Portugal e a sua repercussão em Moçambique
Em 26 de Maio de 1926, deu-se um golpe de estado militar em Portugal, apoiado
de imediato por vastos sectores da burguesia portuguesa. Esta, agindo sobre os
chefes militares agora no poder, pretendia que lhe fosse aberto todo um campo de
manobra para as suas ambições de acumulação mais rápida. Em Moçambique, um
dos resultados do golpe foi o reforço das posições dos representantes da burguesia
portuguesa, quer no estado colonial, quer nas grandes companhias, mesmo contra
os trabalhadores e machambeiros brancos.
Assim, em meados de 1926, a Companhia de Moçambique começou a retirar
algumas das concessões feitas aos trabalhadores brancos no ano anterior. Esta
actuação provocou mais uma greve que, iniciada em 20 de Setembro, paralisou os
mais importantes sectores de actividades na Beira, transformando-se em autêntica
greve geral. Com ela se solidarizaram muitos dos trabalhadores negros do porto
da Beira. Desta vez, a resposta da Companhia e do governo foi mais firme.
Proclamou-se o estado de sítio em todo o território de Manica e Sofala por ordem
do Governador Geral da colónia, e as principais circunscrições foram entregues a
autoridade militar. Entretanto, a Companhia começou a demitir trabalhadores.
Face à acção determinada do governo e da Companhia de Moçambique, a greve
fracassou em meados de Outubro.
Ap6s as greves e protestos, o estado e a burguesia portuguega estavam mais
conscientes da força que começava a representar a classe trabalhadora. O estado
colonial, utilizando todos os recursos disponíveis do seu aparelho repressivo,
conseguiu quebrar a onda de conflitos
Moçambique. 1885-1930
abertos. Com a repressão da greve geral da Beira em 1926, tornou-se claro para os
trabalhadores em geral o que seria o futuro polftico sob as rédeas da ditadura
militar implantada em Portugal. Por outro lado, reforçou-se a política de
protecção aos trabalhadores brancos a nível de postos de trabalho e salários,
contra uma possível infiltração dos negros e assimilados. Além disso, o estado
português comprometeu-se, através da sua própria política económica, a
desenvolver a estabilidade cambial e orçamental, favorável às reclamações dos
empresários e, também, dos trabalhadores brancos.
A partir de Outubro de 1926, foram promulgadas leis que revelaram a intenção do
novo regime de estreitar as relações entre as colónias e a Metrópole, corrigindo a
fraqueza das relações económicas existentes até então. Para o efeito, propôs-se a
imposição de um controle mais directo e rigoroso sobre os recursos das colónias.
Isto seria feito através de várias medidas, entre as quais podemos destacar a
unificação territorial, que significou a abolição do sistema de Companhias
Majestáticas e de arrendamento dos prazos. De facto, o contrato da Companhia do
Niassa não foi renovado quando atingiu o seu termo em 1929, passando este
território, bem como as zonas dos prazos, para a administração directa do estado
colonial no ano seguinte.
Procurando meios para assegurar a pequena indústria têxtil portuguesa com um
fornecimento regular da matéria-prima a preços baixos, e em conformidade com o
princípio de estabelecer controlo directo a nível da produção, o novo governo
português actuou com rapidez em relação à cultura do algodão. Baseando-se na
experiência da cultura de algodão em Moçambique até 1925, promulgou a lei de
Novembro de 1926, que estabeleceu as normas do futuro sistema de produção
camponesa de algodão. Segundo esta lei, que viria a vigorar até 1961, o governo
faria concessões de grandes zonas a companhias que se comprometeriam a erguer
uma fábrica de descaroçamento e um armazém em cada zona, bem como a
fornecer sementes à população camponesa. Esta devia encarregar-se de todas as
fases da cultura, sendo, depois da colheita, obrigada a vender a produção às
mesmas companhias a um preço determinado pelo governo. Assim, verificava-se
um lucro duplo: o da companhia concessionária, através da comercialização e
transformação parcial (descaroçamento) do produto camponês, em Moçambique,
e o da indústria têxtil, em Portugal.
Capítulo 1
Embora o sistema então proposto só viesse a atingir o seu apogeu mais de doze
anos mais tarde, significou um golpe decisivo nos projectos de fixação de grande
número de machambeiros colonos. Além disso, o novo sistema indicava já que o
desenvolvimento agrícola de Moçambique, no futuro, seria rigorosamente
controlado a partir de Lisboa, e baseado numa exploração directa do campesinato.
Outras acções do novo governo militar contribuíram para reforçar as posições da
burguesia portuguesa e inglesa em Moçambique. Por exemplo, pouco depois do
golpe, Portugal concedeu um grande empréstimo financeiro a Moçambique para
cobrir dívidas externas. De facto, isto fãcilitou crescentes importações de vinho
português, que aumentaram de 3.082.315 litros em 1926 para 6.758.601 litros em
1930.
Como corolário, abandonou-se o projecto de encontrar capitais ingleses para o
desenvolvimento do sul de Moçambique e assinou-se, em 1928, uma nova
convenção com a África do Sul. Nela ficou acordado o repatriamento cumpulsivo
dos migrantes, depois de um contrato de 18 meses, e um sistema de pagamento
diferido, pelo qual cerca de metade do salário do trabalhador era pago pelas minas
ao governo de Moçambique em divisas, sendo o trabalhador reembolsado em
escudos, no seu regresso.
Este acordo deu grandes vantagens à burguesia portuguesa. Por um lado, fez
diminuir a tendência dos mineiros ficarem permanentemente na África do Sul,
tendo então que regressar para receber o seu salário completo. Por outro, duplicou
o rendimento da Colónia, em divisas, do trabalho mineiro. Isto significou um
aumento do poder de compra da Colónia, quer dos regressados nas lojas rurais,
quer do governo no mercado mundial [51].
Em conformidade com a estratégia do Estado Novo para encontrar meios para
uma exploração mais eficiente da força de trabalho moçambicana, a política
laboral colonial foi outro objecto da atenção do governo português, que procedeu
a uma consolidação da legislação laboral.
Além disso, o aparente contraste nas condições de recrutamento e trabalho entre
Moçambique (e Angola) e os outros territórios da região levou a forf-s críticas
internacionais à incapacidade do governo português de melhorar as condições de
trabalho nas suas colónias. Por exemplo, o relatório feito pelo. sociólogo
americano, E.A. Ross, apresentado à Comissão Temporária da Liga das Nações
em 1925, levou ao público
Moçambique, 1885-1930
europeu exemplos concretos das péssimas condições de trabalho nas colónias
portuguesas. O governo português procurou melhorar a sua imagem junto das
outras potências colonizadoras, apresentando-se simultaneamente como um país
capaz de impor, a partir da metr6pole, um nível de eficiência na sua administração
colonial igual ao dos seus aliados, nomeadamente, em matéria de política
'indígena' e laboral.
Por estas razões, em 1928, foi promulgado o novo Código de Trabalho dos
Indígenas nas Colónias Poruguesas, completado para Moçambique por um
conjunto de regulamentos em 1930. Esta legislação proibiu, teoricamente, o uso
de trabalho forçado nas plantações e machambas privadas, cujos proprietários
teriam que observar novas regras sobre as condições de trabalho (acampamentos e
comida adequados, protecção da saúde, etc.). No entanto, a mesma legislação,
baseada nos princípios da discriminação racial entre 'indígena' e "não-indígena',
justificou o trabalho forçado para o primeiro, pelo menos para serviços públicos e
de interesse nacional e, no caso de fuga ao imposto, para as plantações e
machambas privadas. Para além disso, como veremos nos próximos capítulos, os
proprietários podiam aproveitar-se facilmente das omissões nos regulamentos
para diluir aspectos aparentemente positivos da legislação. Na prática, as
condições de recrutamento e trabalho continuaram a depender principalmente das
relações, frequentemente corruptas, entre os administradores distritais e as várias
empresas privadas.
NOTAS:
1. Ver HM II, pp. 114-118, 127-128, 141, 150-151, 177-184, 221-235.
2. Fstaifstica de comércio e de navegação, 1930, Lourenço Marques: Imprensa
Nacional, 1931.
3. Ver caps. 4-5 para a tendência uniformizadora da cultura forçada de algodão.
4. Calcula-se, provisoriamente, que cerca de 40 a 50% do valor final do
produto camponês ficava com este.
5. Para a parcial reestruturação da formação social 'tradicional, e a forma da
proletarização subsequente, em beneficio da economia colonial, ver, inter alia,
HM II, pp. 169-171; M. Wuyts, 'Peasants and rural economy in Mozambique',
Maputo: UEM/CEA, 1978 [Discussion paperi; UEM/CEA, O mineiro
Capítulo 1
moçambicano, Maputo: mimeo, 1979 [reedição]: 20-22, 100-135.
6. HM II, pp. 67-68, 77-82.
7. Informação fornecida por Dr. G. Liesegang.
8. HM II, caps. II e III.
9. HM II, pp. 246-247; ver, também, ponto 5.2 em diante. 10. HM II, pp. 224-225.
11. HM II, pp. 273-275.
12. J. Penvenne, '"We are ali Portuguese": Challenging the political economy of
assimilation: Lourenço Marques, 1870-1933', in Leroy Vail, [coord.], 7he creation
of:ribalism in southern Africa, Londres: James Currey, 1989, p. 261; J. Penvenne,
'A history of African labor in Lourenço Marques, 1877-1950', Tese
de Ph. D., Universidade de Boston, 1982, caps. 1-3.
13. BA, 13.10.1928: este jornal refere, inter alia, a um '...chefe de Serviços de
Saúde por muitos anos um preto o falecido coronel médico Dr. Pedro Sérgio
Viana de Andrade; um encarregado das observações metereológicas outro preto
de Moçambique, Domingos José Ferreira, ... hoje é coronel de cavalaria
reformada ...; um moçambicano não-branco João Fornasini que foi Governador
dos distritos de Sofala e de Lourenço Marques; agentes do Ministério Público
preto e mestiço, bachareis em direito; contador geral, sub-chefe e Inspector da
Fazenda, um moçambicano não-branco Alberto Pereira; muitos outros
moçambicanos em lugares de destaque na administração civil, militar e da
justiça...'. 14. Para este processo, ver, inter alia, J. Penvenne, 'The unmaking of an
African
petite bourgeoisie: Lourenço Marques, Mozambique', Universidade de Boston,
African Studies Center, [Working Papers no. 571, pp. 3-5; Penvenne,
'Challenging...', pp. 16-20; BA, 14.1.1928, 21.1.1928; G. Pirio, 'Commerce,
industry and empire: the making of modem colonialism in Angola and
Mozambique, 1890-1914', Tese de Ph.D., Universidade de California, Los
Angeles, 1982, p.
174f.
15. Moçambique, 1896-1898, Lisboa: Manoel Gomes, 1899, p. 101. 16. American
Board for Foreign Missions. 17. E. Moreira, Portuguese East Africa, London:
World Dominion Press, 1936, pp.
17-19, 22-27, 40-48; a lista das missões não é exaustiva: ver idem., para outras
missões protestantes.
18. Robert Mashaba nasceu, em KaTembe, cerca de 1855. Tendo emigrado para
Durban e, depois, para a Cidade do Cabo, figurou entre os muitos moçambicanos
que trabalharam nas minas de diamantes de Kimberley. Graças às suas
economias, conseguiu, em 1882, ingressar na reconhecida escola protestante de
Lovedale (a leste da então colónia britânica do Cabo). Regressou para
Moçambique em Fevereiro de 1885, onde aprendeu a língua portuguesa numa
missão católica em Lourenço Marques. Pelo seu próprio trabalho (por exemplo,
através de salários vencidos no caminho de ferro de Lourenço Marques-Ressano
Garcia, então em construção), fundou escolas em Komatipoort, KaTembe e
Lourenço
Moçambique, 1885-1930
Marques (em 1889). A partir de 1893, foi apoiado pela Sociedade Missionária
Metodista Wesleyana. Foi, em 1894-1895, denunciado como colaborador dos
chefes da resistência ronga contra o Governo de Lourenço Marques [a chamada
revolta de Nwamantibyane], e deportado para a Ilha de Fogo (Cabo Verde). Solto
em 1902, foi, porém, proibido de regressar a sua terra natal, e passou o resto dos
anos da sua vida activa como pastor wesleyano no Transval. Morreu em 1939; ver
Jan Van Butselaar, Africains, missionaires et colonialistes. Les origines de l
'Église presbyterienne du Mozambique (Mission Suisse) 1880-1896, Leiden: E.J.
BrilI, 1984, pp. 167-175; BA, 8.9.1934, J.J. Mansidão, 'Homenagem:
Jubileu ao Roberto Mashaba'; Moreira, op. cit., pp. 23-24.
19. A. G. Helgesson, 'The Tshwa response to Christianity: a study of the religious
and cultural impact of protestant Christianity on the Tshwa of southern
Mozambique', Tese de M.A., Universidade de Witwatersrand, 1971, p. 64.
M.M. Sicobele fez a tradução enquanto professor na Escola Metodista Americana
de Maxixe. Nascido em 1877, em Mocumbi, na então circunscrição de
Morrumbene, Sicobele era um celebre da Missão Metodista Americana na então
colónia de Moçambique. Sob os auspícios desta missão, Sicobele aprendeu
primeiramente o idioma local, denominado xitsua e, depois, o inglês. Em 1894
seguiu para a área de Durban, tendo ingressado no colégio de Amanzimtoti,
onde, após 6 anos, concluiu o seu curso. 20. Moreira, op. cit.,p. 24.
21. Penvenne, 'Unmaking...', p. 812.
22. Ver HM II, pp. 177-184.
23. Ver HM II, pp. 118.
24. J. Nunes, 'Apontamento para o estudo da questão de mão-de-obra do Distrito
de
Inhambane', Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, Ser. 46, 1928, p.
139. Ver no próximo capítulo as medidas coloniais para rectificar essa situação.
25. Ver Actas do Conselho do Governo, 28.10.1914, p. 871. 26. SR II, p. 110.
27. SR II, pp. 87, 106, 110, 116.
28. SR II, p. 2.
29. SR 1, p. 79.
30. Ibid., p. 83.
31. Sicobele inspirou-se na Bíblia, na história da progenitura humana contida no
livro
de Genesis, segundo a qual Eva, esposa de Adão, teria concebido de uma só vez
seis filhos entre os quais dois brancos, dois negros e dois vermelhos, que mais
tarde se procriaram; SR II, p. 5.
32. Ver HM II, p. 282.
33. SR I, p. 86; 1I, p. 3-25.
34. Esta foi a primeira de uma sucessão de cisões e fusões. 35. Ver HM II, pp.
279-299
36. Ver, por exemplo, O Africano, 25.12.1908 [Número único]; BA, 23.7.1927
Capítulo 1
28.7.1928; 13.10.1928.
37. AHM, FGG, Cx. 108, Albasini ao Alto Comissário, 16.12.1921; BA,
22.5.1927;
24.3.1928; 24.11.1928.
38. O Africano, 25.12.1908; 7.4.1909; 14.1.1914; BA, 17.5.1924. 39. BA,
1.2.1919; 5.4.1919; 12.4.1919; 24.5.1919. 40. BA, 24.12.1948.
41. Ver, por exemplo, BA, 25.12.1908; 8.3.1919; 5.1.1927; 24.3.1928. 42. R. B.
Manuel Honwana, Memórias. Histórias ouvidas e vividas .e da terra,
Maputo, mimeografado, 1985, p.63.
43. Ver HM 1i, pp. 125-127; a Grande Guerra veio a ser conhecida como a 1
Guerra
Mundial a partir de 1918. Os Estados Unidos entraram na Guerra contra
Alemanha em Abril de 1917; a Rússia deixou de participar nos finais do mesmo
ano.
44. Informação fornecida por Dr. G. Liesegang. 45. HM II, pp. 268-269. A causa
imediata da crise monetária residia nas tentativas
do governo português de basear o" valor da moeda colonial moçambicana no
escudo português em vez do ouro, e nas manipulações descontroladas do Banco
Nacional Ultramarino. Este foi o banco privado que, através de uma concessão
monopolística do estado português, controlava os pagamentos exteriores de
Moçambique e, ap6s 1921, a emissão de notas; ver A. Smith, 'Antonio Salazar
and the reversal of Portuguese colonial policy', Journal ofAfrican History, vol.
15, 4 (1974), pp. 660-661; L. Vail e L. White, Capitalism and colonialism in
Mozambique: a study of Quelimane district, London: Heinemann, 1980, pp.
202-205.
46. Para o sul, ver HM II, pp. 242-244; J. Penvenne, 'Labor struggles at the port
of Lourenço Marques, 1900-1933', Review, vol. 8, 2 (1984), pp. 264-270.
47. HM II, pp. 273-275. Há notícias de outras greves ainda por investigar, inter
alia,
a dos pescadores de Inhaca (1920), e a do pessoal da Imprensa Africana (1920);
ver, por exemplo, J. Capela, O movimento operário em Lourenço Marques,
1898-1927, Porto: Afrontamento, 1984, pp. 157-162.
48. BO 26, 29.6.1918, Portaria Provincial 844, p. 157; BO 49, 6.12.1919, Portaria
Provincial 1364, p. 605; BO 20, 15.5.1920, Portaria Provincial 1507, p. 129. 49.
Para as greves de 1925-1926, ver', inter alia, A. Rocha, 'Lourenço Marques:
classe e raça na formação da classe trabalhadora do sector ferroportuário, 1900-
1926', Tese de Licenciatura, Universidade Eduardo Mondlane, 1982;
Capela, op. cit.
50. HM II, pp. 247-248.
51. HM II, pp. 248.
Capítulo 2:
O Reforço do Colonialismo Português, 1930-1937
1. Introdução
Como referimos no capítulo anterior, até cerca de 1930, as relações económicas
entre Portugal e Moçambique eram reduzidas, sendo os investimentos portugueses
muito pouco significativos. Ap6s o golpe de Estado militar de 1926, o novo
regime estabelecido em Portugal tinha como um dos principais objectivos da sua
política alterar esta posição.
Este capítulo trata do período em que Portugal estabelece, em Moçambique,
algumas das bases do seu 'nacionalismo económico', isto é, a sua tentativa de pôr
verdadeiramente ao seu serviço a economia moçambicana. Entre outras acções
figuraram a centralização administrativa e política, a redução dos direitos das
companhias não portuguesas, o estabelecimento de uma zona monetária
portuguesa e a promoção da cultura de algodão.
Assim, os anos de 1930 até 1937 foram fundamentalmente um período de
transição, que apontava já para a plena implementação do 'nacionalismo
económico' português nos períodos seguintes.
Foi, contudo, a crise económica mundial de 1929-1934 que influenciou o carácter
da nova política portuguesa e também as circunstâncias sócioeconómicas em que
essa política veio a ser implementada em Moçambique. A combinação da crise e
do novo rigor no sistema colonial português teve efeitos graves nalgumas zonas
rurais, e agudizou os conflitos sociais que se manifestaram na época.
Capítulo 2
2. A crise económica e a produção em Moçambique
2.1 Origens e alcance da crise económica mundial Entre 1929 e 1934 uma grave
crise atingiu o sistema capitalista mundial. É importante rever as dimensões dessa
crise, que afectou a produção (e, evidentemente, os produtores) em Moçambique,
e a política colonial do novo governo português.
Na origem da crise estava o aumento da produção em quase todos os países
desenvolvidos depois da 1 Guerra Mundial, especialmente entre 1922 e 1928. A
produção ultrapassou o consumo e, como resultado, os preços das mercadorias,
incluindo os das matérias-primas, começaram a baixar. O sistema financeiro,
virado até então para o incremento da produção, começou a ressentir-se,
reduzindo créditos, o que conduziu a uma reacção em cadeia no sistema
económico. Fecharam-se fábricas e diminuiu a produção, o que originou o
desemprego de milhões de trabalhadores em todos os países industrializados. Os
piores anos da crise foram 1932 e 1933. Depois, a situação foi melhorando
lentamente.
As colónias de todos os países capitalistas foram severamente atingidas pela
redução da procura de matérias-primas, cujos preços baixaram, em geral, para
metade relativamente a 1928. No caso de Moçambique, os preços de amendoim,
milho, copra, açúcar e sisal diminuíram bastante. Apenas o cajú e o algodão
mantiveram ou mesmo aumentaram de preço.
2.2 Produção em Moçambique na nova situação económica Para enfrentar a crise,
os proprietários das plantações tiveram que tomar uma série de medidas:
- reduziram os seus custos através do abandono de actividades dispendiosas, de
despedimento de pessoal (incluindo europeus), e do encerramento de algumas
fábricas menos rentáveis. Por exemplo, a Companhia Boror abandonou algumas
plantações de sisal. e machambas experimentais, e fechou a sua salina e algumas
lojas rurais. Entre 1931 e 1935, a Sena Sugar Estates encerrou as suas velhas
plantações e fábricas em Caia e Mopeia, e reduziu um pouco a produção nas
fábricas de Marromeu e Luabo;
- produtos como o coco passaram a ser comprados aos camponeses a
preços mais baixos;
- as empresas recorreram ainda a reduções salariais;
Capítulo 2
nos antigos prazos e no comércio da província. Desta forma, a produção de chá da
Zambézia aumentou de 117 toneladas em 1934 para 450 em 1937 [2].
A diminuição dos preços de milho e amendoim, aliada às iniciativas da
administração colonial e de alguns comerciantes, levou ao aumento das culturas
que mantinham altas cotações, como o cajú e o algodão. Nas zonas do litoral,
especialamente em Nampula e Cabo Delgado, milháres de camponeses,
incentivados, muitas vezes, pelos proprietários das terras, optaram pela cultura do
cajueiro, cujo fruto passou a ser muito procurado na India, de onde era
reexportado depois de descasque. A exportação do cajú aumentou de 6.530
toneladas em 1930, para 25.744 em 1938 [3].
Quanto ao algodão, o preço passou a ser garantido a um nível relativamente alto
pelo governo português [ver adiante], o que, considerando a diminuição dos
preços dos outros produtos e as más condições de trabalho e reduzidas salários
nas plantações, significou que a sua produção viria a ser mais atraente para o
camponês do que no período anterior. Foram feitas mais concessões às
companhias e a produção começou, lentamente, a aumentar no interior da
Zambézia, Nampula e Cabo Delgado. Desta forma, a exportação moçambicana de
algodão cresceu de 1.085 toneladas, em 1932, para cerca de 8.225, em 1937 [4].
Quadro 1: Principais exportações de Moçambique, 1928-1935 [Unidade: Milhares
de toneladas] [5]
Ano Açúcar Amendoim Milho Copra Sisal Algodao Cajú Chá* 1928 70 35
34 19 5 0,18 4,0 54
1929 86 23 29 20 6 0,25 4,9 55
1930 70 25 35 22 10 0,19 6,5 53
1931 69 26 12 22 12 0,15 10 106
1932 64 33 13 24 13 1,1 9 51
1933 83 13 8 30 15 1,5 11 86
1934 72 25 11 33 18 1,9 13 122
1935 74 30 9 34 20 1,8 26 148
1936 63 37 20 34 19 4,&.. 28 316
1937 73 26 2 35 21 8,4 40 396
[* = toneladas]
Capítulo 2
moçambicano, resultaram da análise das experiências anteriores [13]. A plena
implementação da nova estratégia durou pelo menos uma década, como veremos
nos próximos capítulos. A década de 30 representou, de facto, um momento de
transição, em que algumas das bases do 'nacionalismo económico' português se
estabeleceram seguramente em Moçambique.
A expressão real do 'nacionalismo económico' português manifestou-se no Acto
Colonial e na Carta Orgânica do Império Colonial Português de 1930, que
desenvolveram rigorosamente os princípios já delineados em 1926. Essa
legislação marcou o fim da autonomia formal da província de Moçambique, que
passou a designar-se 'colónia'. Concretamente, o $nacionalismo económico'
centralizou os poderes legislativos e financeiros nas mãos do Ministro das
Colónias, e visava colocar Portugal a par das restantes potências colonizadoras,
nomeadamente, em termos de capacidade de dominar a exploração dos territórios
ultramarinos.
Pela Reforma Administrativa Ultramarina de 1933,. a administração local ficou
sujeita ao mandato efectivo de Lisboa, assegurando-se assim os interesses da
burguesia portuguesa. As normas e práticas administrativas a adoptar estavam
rigorosamente detalhadas no regulamento. É de destacar o estabelecimento, pela
primeira vez, de um regime de Inspecções administrativas, cuja tarefa principal
era verificar o grau de cumprimento dos regulamentos vigentes. Nas décadas
seguintes, as informações recolhidas pelas inspecções administrativas
proporcionaram ao Ministro das Colónias o controle da actividade dos
administradores e a tomada de novas medidas necessárias à administração local.
3.3 Novas relações de dominação económica No período anterior, vimos que, ao
contrário do que acontecia com as outras potências colonizadoras, as relações
económicas entre Portugal e is suas colónias eram muito fracas. O proteccionismo
e a mais rigorosa exploração das colónias requeriam a modificação dessa situação
em prol la economia metropolitana. Nessa perspectiva, foram promulgadas
,redidas que tinham como objectivo estruturar o comércio externo das colónias em
benefício de Portugal, e que marcaram, assim, um passo importante para a criação
de uma 'zona do escudo'. Para esse efeito, uma lei de 1932 impôs:
- um sistema de licenças de importação e exportação em relação às
Capítulo 2
Contudo, deve-se notar que a implementação do nacionalismo económico'
português em Moçambique não significou a exclusão total de capitais e iniciativas
doutras origens. Este facto evidenciou-se de uma forma espectacular na
autorização e construção, entre 1932 e 1935, da grande ponte ferroviária sobre o
rio Zambeze entre Sena e Mutarara. Esta grande obra de infraestrutura foi
concebida pela Companhia de Mozambique com o objectivo da melhor
rentabilização das minas de carvão de Moatize, do caminho de ferro Beira-
Niassalândia e do porto da Beira. A sua construção foi facultada por garantias
financeiras do governo colonial britânico da Niassalândia [18].
3'4 Educação e religião
A partir de 1930, o Governo colonial procedeu a modificações no sistema
educacional de Moçambique. Concretamente passou a controlar mais
directamente o ensino destinado à população negra. O objectivo do Governo
colonial era criar um sistema capaz de habilitar o 'indígena' para o seu papel
específico de trabalhador barato na economia colonial moçambicana. Por outro
lado, o ensino para os brancos, que ocupavam os melhores postos de trabalho,
tinha que oferecer uma formação mais completa, que os 'indígenas' não
precisavam. Por esta razão, os funcionários da educação, perante o aumento da
população branca em Moçambique, propunham "uma separação mais acentuada
entre o ensino das crianças indígenas e o das civilizadas".
Estes motivos estiveram na base da criação do novo sistema de ensino rudimentar,
iniciado depois de 1930. Este tipo de ensino tinha por fim, segundo os
documentos oficiais, "civilizar e nacionalizar os indígenas da Colónia difundindo
entre eles a língua e os costumes portugueses", tornando-os "mais úteis à
sociedade e a si próprios" [19]. Esse ensino devia conter as seguintes disciplinas:
a) Língua portuguesa
b) Aritmética e sistema métrico
c) Geografia e história de Portugal
d) Desenho e trabalhos manuais
e) Educação física e higiene
g) Educação moral e canto coral
Capítulo 2
Da mesma forma, as suas escolas primárias rudimentares expandiram-se no
mesmo período, tal como as escolas rudimentares do Estado, enquanto o número
de escolas das missões protestantes diminuiu, como mostra o quadro seguinte.
Quadro 4: Aumento do número de escolas rudimentares, 1930-1937
Ensino 1930 1935 1937
Oficial 64 149 177
Católico 126 214 231
Protestante 84 55 45
Tudo indica que o ensino nas escolas rudimentares, com um professor semi-
habilitado em cada uma delas, tinha um nível muito baixo, e que, especialmente
no norte, as escolas primárias católicas não ultrapassariam a fase inicial de
construção. Segundo algumas inspecções confidenciais da administração, a ajuda
do Estado consistia, muitas vezes, apenas no fornecimento, pelo administrador
local, de jovens trabalhadores. Estes, juntamente com os 'alunos' da escola,
cultivavam algodão e outros produtos que, depois da colheita, eram vendidos pela
missão, cuja receita era posteriormente utilizada na compra de bens e
equipamento.
Se bem que ainda faltem investigações aprofundadas sobre o tema, é evidente que
a expansão da Igreja Católica, apoiada pelo Estado colonial, implicou a
diminuição da influência de, e até uma discriminação agressiva contra outras
religiões. Esta foi sem dúvida a intenção dos autores do Estatuto das Missões
Católicas. Portuguesas. Este facto manifesta-se, por exemplo, na diminuição do
número de escolas rudimentares protestantes nas zonas rurais, a que já referimos.
Além disso, a proibição do ensino de moçambicanos nas línguas nacionais, com a
excepção do ensino da religião, teve o efeito de discriminar as Igrejas
protestantes, que habitualmente utilizavam as línguas bantu nos primeiros anos de
escolarização, como o meio mais rápido de atingir a alfabetização básica, e cujos
missionários eram, no geral, mais capazes de comunicar nas línguas nacionais e
inglês do que em português. Perante a resistência de pastores protestantes contra a
discriminação religiosa, nos meados da década, alguns foram deportados.
Capítulo 2
altura em que os administradores eram cada vez mais eficientes e exigentes na
cobrança dos impostos. Para grande número de camponeses, a única solução foi a
de vender a maior parte da sua colheita de amendoim, ao preço mínimo, para
obter dinheiro suficiente.
Por outro lado, a introdução e expansão das culturas de cajú e algodão foi, para
outros, uma forma de equilibrar a situação, nomeadamente, nas zonas do litoral do
norte e noutras áreas de comunicação relativamente fácil.
Outras variantes resultaram da forma como a cultura de algodão foi introduzida
pelos administradores. Alguns mandaram os camponeses cultivar
individualmente, tal como era definido pela lei de 1926. Outros, aliados aos
agentes das companhias concessionárias, mandaram construir machambas
colectivas nas zonas próximas às administrações, onde obrigaram os camponeses
a trabalhar sob o controle dos cipaios, recebendo, como remuneração, apenas a
isenção do imposto. Este sistema de produção foi aceite inicialmente pelos
camponeses, que se encontravam sem meios para pagar o imposto, passando os
administradores. a usufruir das receitas provenientes da venda do algodão às
companhias [23].
Informações referentes a várias regiões do país revelam os detalhes do impacto
deste período na vida rural. Por exemplo, no sul de Moçambique, para além de
não haver emprego alternativo para os migrantes desempregados, o campesinato
tinha que enfrentar maus anos agrícolas, e há notícias de fomes, por exemplo,
aquela que assolou particularmente Guijá e Chibuto em 1932 [24].
No norte do país, vários factores contribuíram para agravar os efeitos da crise. A
expansão da administração portuguesa, em substituição da Companhia do Niassa,
trouxe consigo a cobrança de impostos mais elevados e a nomeação de novos
administradores desinteressados dos problemas e culturas locais. Além disso, a
imposição de um novo regime de direitos alfandegários, como parte essencial da
estratégia do 'nacionalismo económico' português afectou duramente os
produtores nas zonas fronteiriças das províncias de Niassa, Cabo Delgado e
Zambézia. Estes, habituados a vender os seus excedentes no Tanganhica e na
Niassalândia, regressando com tecidos ingleses e indianos comprados a 30% do
preço tabelado em Moçambique, procuraram defender os seus interesses [25]. Os
impostos a pagar eram elevados e, para a sua cobrança, os guardas
Capítulo 2
As administrações, em muitos distritos, pressionadas pelo governo a fazer a
colecta regular dos impostos sobre um campesinato agora desprovido de um bom
mercado para os seus excedentes de milho e amendoim, viriam a insistir, cada vez
mais, no trabalho nas plantações, machambas privadas e no caminho de ferro, que
gradualmente se estendia do Lumbo para Cuamba. Desta forma, por exemplo, a
administraçâo de Meconta era
"uma administraçío convertida em Agência fornecedora de serviçais...
Verdadeiramente, na Administração, não se cuidava doutra coisa: todas as
preocupações consistiam em aceitar requisições de negros, mandá-los caçar às
aldeias, p6-1os em formatura, tomar-lhes as identidades, fazê-los marchar debaixo
de escolta e esperá-los na volta, para a colheita do dinheiro do
imposto" [331.
Nas próprias plantações e machambas, as condições de trabalho não melhoraram.
Com a conivência dos governos provinciais, os proprietários constataram que foi
possível ignorar as pequenas melhorias propostas na legislação de 1928 e de 1930
[34]. As inspecções do próprio regime revelam este facto.
Assim, por exemplo, trabalhadores de Montepuez, colocados nas plantações de
Mocímboa, a uma distância, portanto, de quase 400 quilómetros, tinham de fazer
um percurso de ida e volta a pé, a troco dos 50 escudos, o correspondente a 2
meses de trabalho. Maus tratos, trabalho sem protecção, mortes em acidentes de
trabalho devido, em especial, ao uso de vagonetes sem travões, ausência de
acomodação para os migrantes, comida habitualmente muito abaixo do nível da
dieta rural comum, a prática alargada de não marcar, ou mesmo, de não fornecer
os tiquetes de trabalho diário e, finalmente, a falta de pagamento de salários no
fim do contrato, eram normais para os contratados [35].
Devido às péssimas condições de trabalho nas plantações de sisal de Nampula,
uma das quais, em Geba, veio a ser bem conhecida a norte do Zambeze,
verificaram-se deserções constantes e mesmo greves. Deserções entre o local de
'contratação' (sede do distrito de origem) e as plantações eram frequentes. Por
exemplo, de 120 trabalhadores mandados de Nacala para Geba em meados de
Julho de 1935, só 26 chegaram; em Março de 1936, dos 400 contratados em
Memba para Geba, dias depois da sua chegada só 50 ficavam [36].
Capitulo 2
entre colonos residentes e comerciantes da Ilha de Moçambique. Durante o
período de conquista, nos finais do século XIX e inícios do século XX, as
propriedades foram ocupando regiões vizinhas, desde a Lunga, a Matibane e
Mogincual, em benefício particular de oficiais participantes na ocupação militar,
transformados em proprietários de grandes lotes de terra [39].
O regime de trabalho instituído no século passado em tais propriedades era o
muta-hanu, isto é, a utilização de um tributo tradicional, pago aos senhores das
terras. Alargado aos escravos libertos nas 'Terras da Coroa', consistia no
pagamento, aos proprietários, de uma renda em trabalho não remunerado nas
plantações de coqueiros ou cajueiros.
Com a proibição da destilação e fabrico de bebidas alcoólicas na colónia em 1902,
medida de protecção à exportação do vinho português, o cajú, até então utilizado
essencialmente para fabricação de bebidas, passou a ser desprezado e muitos
cajueiros foram substituídos por coqueiros, para a venda de copra.
No entanto, as condições mais vantajosas da produção de copra na Zambézia
reduziram a importância destas plantações e, durante os anos 20, assistiu-se a um
desinteresse progressivo dos proprietários pelos terrenos. Os camponeses
passaram a fazer um aproveitamento mais integral da terra, utilizando as
plantações de cajú, não só para bebidas e alimentação, como também para a venda
da castanha aos comerciantes indianos que a exportavam directamente para a
Índia.
A súbita valorização, em 1.000 por cento, do caju, no mercado internacional, em
1933, provocou uma situação particular em todas as regiões produtoras. No
Mossuril, as propriedades até então praticamente abandonadas ganharam nova
importância, enquanto que inúmeros residentes procuraram, muitas vezes por
processos fraudulentos, obter direitos e concessões de terrenos para aquisição
rápida de lucros.
O antigo regime do 'muta-hanu' foi reaproveitado e intensificado, e as populações
que viviam em todos os terrenos de antigas propriedades ou recém-ocupados
foram obrigadas à limpeza e apanha de cajú, de modo gratuito, como forma de
pagamento de renda aos proprietários das terras. As plantações de cajú alargaram-
se, limitando-se ao mínimo os terrenos disponíveis para os camponeses fazerem
as suas machambas.
Em 1936, já praticamente todos os terrenos da administração de Mossuril eram
propriedade, legal ou ilegal, de particulares, europeus,
Capítulo 2
Mas o facto de não haver organizações sindicais para os trabalhadores negros não
significou que não se desenvolvesse uma luta da classe trabalhadora.
Embora as informações sejam, por vezes, precárias, e não existam estatísticas
precisas, a evidência sugere que milhares de trabalhadores se recusaram a
fornecer a sua força de trabalho. Outros realizaram paragens de trabalho, reduções
no ritmo de irabalho e manifestações como formas mais comuns de
reinvindicarem as condições a que se julgavam com direito.
Exemplos disso foram as paralizações dos trabalhadores assalariados da Beira e
de Lourenço Marques que veremos a seguir.
A manifestação dos trabalhadores assalariados negros da Beira, 1932. Segundo os
jornais da época, os efeitos da crise económica mundial em Manica e Sofala eram
profundos. De facto, após 1928, a baixa de cotação para os principais produtos
agrícolas dessas províncias provocou a falência de muitas machambas privadas
coloniais e despedimentos nas grandes plantações. Desta maneira, a procura de
mão-de-obra, nos empreendimentos agrícolas capitalistas, diminuiu
consideravelmente, o que foi apenas parcialmente equilibrado pelo aumento de
produção de citrinos e algodão [40].
Paralelamente, como consequência do declínio das exportações e importações de
Rodésia do Sul, o tráfego ferro-portuário de Manica e Sofala diminuiu
drasticamente, registando-se em Fevereiro-Março de 1932 o ponto mais baixo de
sempre [411. Segundo um jornal da época, as autoridades portuárias reduziram o
número dos seus trabalhadores, de milhares para algumas centenas, e os caminhos
de ferro e as agências de importação-exportação fizeram reduções semelhantes
[42].
A crise de emprego foi agravada devido à redução drástica no número de
empregados domésticos. No entanto, os agricultores de arroz nas zonas verdes,
frequentemente os familiares dos trabalhadores ou desempregados na cidade,
enfrentavam baixos preços para os seu produto devido à concorrência
internacional [43].
Como aumentava o excedente de mão-de-obra, os salários baixaram, segundo os
próprios trabalhadores, de uma média de 125-150 escudos para 75-100 escudos.
Não se trata de coihcidência que, neste ambiente, os empregadores procurassem
aumentar o ritmo do trabalho. Por
O Reforço do Colonialismo Português, 1930-1937
3. Depósito do crómio, Beira: desde 1930, os trabalhadores do porto foram
conhecidos na região pelos recordes batidos no encarregamento dos navios.
exemplo, no meio da crise os estivadores do porto foram incentivados pelos
capatazes a bater o recorde regional (incluindo o da Africa do Sul) para o
carregamento de milho, intensificando assim a exploração absoluta do trabalho
[44].
A população de Manica e Sofala enfreãtava uma situação ainda mais grave. O
declínio da actividade económica resultou numa baixa equivalente dos
rendimentos da Companhia de Moçambique, que até então tirava grandes
benefícios de impostos sobre o comércio das duas províncias. Numa tentativa de
compensar a baixa, a Companhia virou para uma fonte aparentemente mais segura
de rendimento, o imposto de palhota: mesmo no meio da crise, elevou-se a taxa de
150 para 205 escudos [45].
É nestas circunstâncias que, na Beira, serviçais assalariados, dos diferentes
sectores de actividades, reivindicaram a diminuição do
Capítulo 2
imposto, exigido pela Companhia. Reclamaram por três vezes, pela via da petição
(requerimento), à Companhia e ao Governador do território. Não tendo obtido
resposta, resolveram paralisar o trabalho e manifestarse colectivamente.
Assim, cerca das 8 horas da manhã da 31 feira, dia 22 de Março de 1932, um
desfile de numerosos trabalhadores atravessou várias ruas da cidade em direcção à
Intendência, que representava as autoridades portuguesas junto da Companhia de
Moçambique. O Intendente, obrigado ao diálogo com 3 representantes dos
trabalhadores, que por várias horas permaneceram em frente da Intendência,
alegando não ter atribuições para resolver o assunto, prometeu remetê-lo para
Lourenço Marques. Para o efeito os trabalhadores deveriam retomar o trabalho e
enviarem 'papel selado' e ele próprio faria uma exposição para o governo em
Lourenço Marques.
As consequências dessa manifestação, sem dúvida, bem organizada, foram
imediatas. Segundo um jornal publicado na Beira, o Governador "mandou vir a
Companhia indígena, com metralhadoras e tudo, para estarrecer os indígenas, que
tiveram o atrevimento de dizer que não podiam pagar o imposto" [46]. Alguns
meses depois, soube-se que foram presos mais de uma centena de homens dados
como cabeças do motim 147].
O clima de tensão, provocado pela crise económica e pelas acções da Companhia,
continuou a sentir-se nos meses seguintes na cidade e fora dela. No distrito da
Beira, segundo o administrador, a dificuldade na cobrança do imposto era
"devido unicamente à grande crise de trabalho e pelo facto dos indígenas desta
circunscrição [distrito) terem Estado completamente fora da mão, indisciplinados,
e falta de contacto com o respectivo chefe de circunscrição" [48].
t
Com efeito, devido às tensões resultantes da crise, o contacto pessoal de
funcionários conhecidos pela população foi considerado pela Companhia
essencial nas campanhas de cobrança seguintes [49].
De facto, não obstante a repressão da manifestação dos trabalhadores e as várias
tentativas de cobrar o imposto, perante a resistência continua do povo, em Agosto,
a Companhia viu-se obrigada a aceder à reclamação principal dos trabalhadores,
reduzindo o imposto em 30 por cento, para cerca de 140 escudos [50].
Capítulo 2
durante a hora do almoço. Os estivadores não tiveram outra alternativa senão
regressarem ao trabalho, pois, caso não o fizessem, sabiam que seriam
substituídos por chibalos', ou, pior ainda, seriam eles próprios presos por
vadiagem e transformados em chibalos', com salários de 6 escudos por dia, em
lugar dos 12 do salário então reduzido.
.Quer O Brado Africano quer O Emancipador, jornais que de um modo geral,
embora não sistemático, ainda pugnavam pelos interesses das camadas
trabalhadoras, tomaram absolutamente partido pelos grevistas. No dia 9 de
Setembro, O Brado Africano dizia que
"tinham e tem razão para se revoltar contra esse corte, que outra coisa não
representa senão o fazerem economias à custa do preto".
Assim se justificou que, como resposta à redução salarial, os trabalhadores
protestassem abandonando o trabalho "numa atitude que os dignifica" [51].
O Brado Africano que, em geral, não era favorável ao recurso à greve, mas
reconhecendo ser a única forma de que os trabalhadores dispunham para
reivindicarem os seus legítimos direitos, atacou fortemente as autoridades do
porto pela decisão de reduzir salários e por não garantirem os quatro dias de
trabalho por semana a todos os trabalhadores, "o que não é nenhum impossível".
Atacando ainda a Direcção dosNegócios Indígenas pela ignorância demonstrada
perante os acontecimentos, lamentou que a 'questão indígena' não merecesse o
real tratamento, porque não seria assim que o problema seria resolvido. Num claro
aviso às autoridades e ao poder colonial, alvitrava O Brado Africano de 9 de
Setembro, o seguinte:
"Bom seria irem pensando muito bem no que sucederá amanhã, quando o preto
estiver mais unido, instruído e óonhecendo os seus direitos e os seus deveres.
Nessa altura o fechar as portas será o pior serviço que se poderá fazer aos que,
cheios de razões e com a barriga vazia, se encontrem frente a frente com os
patrões da ponte-cais,.agaloados, bem comidos e cheios de dinheiro'.
Nos restantes meses de 1933, a situação em Lourenço Marques não melhorou, a
avaliar ptla denúncia de situações de maus tratos, baixos salários e não
cumprimento dos salários mínimos a praticar, conforme tabela elaborada pela
Direcção dos Negócios Indígenas. Efectivamente,
Capítulo 2
Apenas à pequena minoria de educados, regra geral mulatos e assimilados, foi
permitido o privilégio de uma actividade polémica. Já antes da Lei de Imprensa de
1926, que impôs restricções mais severas, a actividade política concreta,« no
sentido da organização de um partido ou movimento laboral, ou acesso aos
círculos e postos mais altos do regime, estava de facto proscrita.
Neste subcapítulo, pretendemos mostrar que, apesar de um surto inicial de crítica
contra certos aspectos do colonialismo no período 1930-1932, uma censura mais
estrita, imposta em 1934, entre outras manobras exercidas pelo regime colonial,
sufocou gradualmente a expressão escrita de protesto. O regime aproveitou as
divergências sociais entre mestiços
4. Estácio Dias (177-1 937), Director, O Brado Africano, década de 1930.
5. Karel Pott (1904-1953), dinanizador das associações, década de 1930.
e negros assimilados para dividir o movimento associativo herdado do passado
em fracções raciais. Perante estas novas circunstâncias, as ambiguidades e
divergências de posicionamento político, na reduzida camada de intelectuais
moçambicanos, se manifestáram com mais clareza. Quase no fim deste período,
novas medidas, anti-comunistas e anti-
Capítulo 2
A crise económica, o desemprego, a intensificação das barreiras raciais e do
nacionalismo português agravaram a situação social do Grémio e dos seus sócios.
A pequena minoria de mestiços e assimilados que, no período anterior, conseguiu
postos no funcionalismo público ou um alto grau de instrução formal, se viu
relegada para o segundo plano com ainda mais vigor do que antes. Este facto
coincidia com o regresso ao país em 1930, após a conclusão da licenciatura em
direito, de Karel Pott, que se tornou uma das grandes figuras, senão a mais
importante, do movimento reivindicativo e crítico à administração colonial. Foi
nomeado director de O Brado Africano em Agosto de 1931 e eleito presidente do
Grémio Africano em Março de 1932. Nas páginas de O Brado Africano publicou
vários artigos atacando as formas de governação do poder colonial, entre os quais
se tornou celebre o intitulado "Psitagama ha dyini ba nkubana?", expressão ronga
que traduzida em português significa "Qual será o fim disto, seus saloios?" [54].
Neste artigo, Pot criticava a discriminação racial existente no então Instituto da
Namaacha, onde havia "uma oposição aberta e declarada à admissão de crianças
de cor" [54] e à forma como o governo colonial dirigia a sua política 'indígena'.
Este artigo fazia parte de uma campanha contra a discriminação racial, que se
fazia sentir, especialmente, na educação, na administração da assistência pública
aos desempregados, na recusa da admissão de negros ao funcionalismo público
(só eram admitidos como intérpretes), e nos salários, grosseiramente inferiores,
dos enfermeiros negros. A campanha culminou numa manifestação pública no
edifício do Grémio Africano em Abril de 1932 [56]. Como dizia Estácio Dias:
"Na verdade, como se pode admitir que quem estabeleceu como fundamento de
distinção a condição única de mérito, da justiça e do direito em todo o território
português, venha impor nas Colónias a distinção de cor?.. .A justiça não existe
quando se trata de pretos.. .nem justiça e, muito menos, humanidade..." [57].
A dinâmica transmitida ao movimento associativo pelas circunstâncias da crise
não se restringiu somente à capital la colónia. Pelo contrário, neste período,
concretizaram-se tentativas, as vezes prolongadas, de formar associações
semelhantes noutras cidades do país, nomeadamente em Quelimane, na Ilha, na
Beira, em Inhambane e Gaza [58].
O Grémio Africano de Quelimane, criado em 1925, só em 1931 veria os seus
estatutos aprovados. Entre os objectivos destaca-se:
Capítulo 2
"Desejamos de vós, enfim, uma mais humana política..."
No mesmo editorial ainda se pode ler:
"Não pretendemos as comodidades de que vós rodeais, à custa do nosso suor, se
bem que a elas houvéssemos mais direitos que vós; não pretendemos a vossa
refinada (?) [sic] educação,&ão alardeada na nossa presença, pois não desejamos
viver obsecados pela ideia de roubar ao nosso semelhante aquilo de que ele carece
e que não nos pertence. Não, mil vezes! Antes a nossa selvageria que
tanto vos enche a boca ... e as bolsas".
1
Apesar da aparente rejeição dos valores do colonizador, ao mesmo tempo,
pronuncia-se o desejo de igualdade de todos perante a lei, quando se lê, no mesmo
editorial: "Queremos ser tratados como aos vossos tratais". Estava assim selada a
ambiguidade. Por um lado critica-se e recusa-se a cultura do colonizador e, por
outro, reivindica-se a igualdade dentro do próprio sistema do colonizador.
A divisão do movimento associativo No entanto, o regime colonial, fiel à sua
estratégia de desigualdade racial, não podia abster-se perante essas reclamações
modestas. Pelo contrário, desenvolveu-a cada vez mais, procurando explorar as
diferenças sociais, que existiam na elite dos colonizados, na base de raça, de
religião, ou de filosofia de acção.
Em 1931-1932, o Grémio Africano de Lourenço Marques foi seriamente atingido
devido a divergências surgidas entre os seus sócios. Foram várias as causas
apontadas, por vários sectores, para explicar a crise. Além de pormenores,
porventura curiosos, ressalta à evidência o posicionamento radical de um grupo de
assimilados negros, que exigia do Grémio acções mais enérgicas na defesa dos
seus membros, contra as barreiras raciais de que cada vez mais eram vítimas [62].
,De qualquer modo, a história das relações entre os dois grupos é a história da
competição pela representatividade da comunidade negra, não ocultando, muitas
vezes um certo ambiente dominado pela intriga, pela desconfiança e, até mesmo,
pela discriminação racial originada pelas circunstâncias da dominação colonial.
Até então, devido ao seu acesso mais fácil à educação e melhores postos de
emprego, em geral, os mulatos dirigiam a oposição moderada e literária em
Lourenço Marques.
Capítulo 2
inglês. Por outro lado, por solicitação dos sócios das zonas rdrais, o Instituto
intercedeu junto das autoridades para a criação de escolas em algumas áreas onde
elas não existiam.
Mas, na maior parte das vezes, o Instituto reagiu apenas às queixas e aos pedidos.
Contudo, nem sempre do mesmo modo. Se uns sócios pediam providências contra
colonos que tentavam arrebetar-lhes as terras, a Direcção comunicava logo o caso
às autoridades administrativas, como o fazia se a queixa era contra um
administrador novo que exagerava nos processos de repressão à população.
Nestes casos, a cautela era grande e a Direcção sabia, perfeitamente, até onde iam
os seus limites. Quando régulos ou indunas se consideravam usurpados, devido à
nomeação de outros indivíduos afastados da linha de parentesco que lhes dava o
direito de sucessão, a Direcção podia recusar a causa, atribuindo ao
Administrador toda a competência, ou então mandava que o assunto seguisse para
a frente, mas sempre dentro dos preconceitos estabelecidos pelo poder colonial.
Seja como fôr, o Instituto chegou mesmo a tocar certos pontos mais sensíveis,
embora de modo pontual. Por exemplo, o imposto da palhota foi objecto de
petições e entrevistas com os governantes e a situação dos enfermeiros 'indígenas'
foi também sua preocupação, como era, alias do Grémio Africano.
Apenas um ano depois da sua formação, surgiram diferenças de perspectiva entre
os membros do Instituto Negrófilo, alguns dos quais censuravam os dirigentes
pela sua preferência em promover assimilação aos hábitos e vestuário dos
brancos. Não muito contundente na sua posição, o 'movimento' parece ter morrido
à nascença. Para a Direcção do Instituto, o lema era principalmente promover a
elevação social dos negros dentro do sistema colonial existente.
De facto, o Instituto fazia parte importante da estrutura racial criada pelo
colonialismo. Como as outras associações, vivia essencialmente de subsídios
particulares e oficiais. Entre os 'mecenas', destaca-se o grande empresário local,
Paulino Santos Gil, mas contribuíram ainda firmas como as de João Ferreira dos
Santos, F. Dicca e a WENELA, entre outras. O governo, eventualmente, fornecia
dinheiro, como por exemplo, para a construção da sede, que seria inaugurada pelo
então Presidente Carmona de Portugal, em 1939. Existia ainda um pequeno fundo
da Direcção dos Serviços de Negócios Indígenas, proveniente da diferença
Capítulo 2
Mechameje (Buzi). Expulso da missão, foi à Beira, onde montou vários negócios
que iam desde uma pensão até à construção civil. Ali influenciou Chovane
Simango, carpinteiro e pregador, que tinha estudado em Gogoyo em 1929, no
sentido de este fundar uma associação com "escola e religião" onde fosse rezada
missa "separada dos brancos" [66].
No entanto, Chovane viu-se também encorajado pelo Comissário da Polícia, no
sentido de formar uma associação, receoso que a acção de Chovane lhe escapasse
ao controlo. Arranjado um financiador, o pedido foi feito, e o alvará concedido,
em Março de 1935, pela Companhia de Moçambique. O Grémio, cujos sócios só
podiam ser negros, tinha os mesmos objectivos e actividades gerais que o Instituto
Negr6filo de .ourenço Marques: "defesa dos interesses dos associados, a sua
iromoção social e intelectual, actividades recreativas e intelectuais", etc.
Também,lneste caso, a Companhia reservava para si o habitual direito de
encerramento e anulação do alvará, caso o Grémio "se desviasse dos seus fins"
[67].
A estratégia política de assimilação e aliciamento de opositores potenciais e de
focos de descontentamento não se restringiu, apenas, aos negros e mulatos.
Consagrada a divisão entre estes, faltava às autoridades montar o cenário para o
terceiro grupo: o dos 'naturais', os filhos dos colonos nascidos em Moçambique.
Não foi difícil aproveitar um certo descontentamento entre estes que, com a
implantação da política colonial do Estado Novo, se viam crescentemente
relegados para o lugar de .portugueses de segunda', fosse no prestígio social, fosse
no acesso a lugares mais importantes no funcionalismo, fosse ainda na ostensiva
recusa de iguais direitos no que respeitava a certas regalias sociais.
A Associação dos Naturais da Colónia de Moçambique foi fundada em Janeiro de
1935. Nasce, aparentemente, como uma casa 'regional', e afirmava nos seus
estatutos "pugnar pelos interesses dos naturais da colória. Na realidade, numa
altura em que a burguesia portuguesa pretendia consolidar os seus interesses em
Moçambique, subordinando mesmo os interesses dos colonos já estabelecidos
localmente, e quando o governo reorganizava o funcionalismo colonial para
reforçar a sua dependência em relação à Lisboa, a criação da Associação dos
Naturais tinha por objectivo principal o aliciamento de uma potencial oposição
moçambicana branca.
Resumindo o que era o papel e a função social destas instituições, no
Capítulo 2
africanos. Recordemos, por exemplo, o artigo do famoso mestre moçambicano de
sonetos, Rui de Noronha, intitulado 'Solidariedade' e publicado em O Brado
Africano em 1936. Neste artigo, Rui de Noronha, advertia que:
"Enquanto todos nós africanos civilizados não conseguimos ser um único bloco,
trabalhando em conjunto para alcançar um fim que nos satisfaça a todos, podemos
ter a certeza, mas certeza absoluta, de que serão baldados todos os
esforços ... " [69].
Desenvolvendo a argumentação de Karel Pott, que se opôs à criação do Instituto
Negrófilo [70], Noronha estava convencido que só através da unidade e
solidariedade se alcançaria "em dez vezes menos tempo ... a Causa Africana ... "
[71].
Num outro plano, no soneto 'Pós da História', Noronha introduziu na poesia um
elemento ideológico, proveniente talvez da literatura oral, que veio a ser
importante para o nacionalismo moderno moçambicano [72]:
Caiu serenamente o bravo Queto Os lábios a sorrir, direito o busto
Manhune que o seguiu mostrou ser preto
Morrendo como Queto a rir sem custo
Faz-se silêncio lugubre, completo no kraal do vátua celere e vestuto
E o Gungunhana, em pé, sereno o aspecto
Fitava os dois, o olhar augusto
Então Impincazamo, a mãe do vátua Triunfando da altivez humana e fátua
Aos pés do vencedor caiu chorando
Oh dor da mãe sublime que se humilha
Que o crime se não esquece a luz que brilha
Oh mães nas vossas lágrimas gritando
Este texto evoca a derrota do Imperador de Gaza, Ngungunhane. Ao fazê-lo, Rui
de Noronha subverte a imagem de Ngungunhane, produzida de forma
estereotipada pelo aparelho ideológico do Estado colonial, em torno dessa derrota:
Ngungunhane, sentado no chão, por ordem de Mouzinho de Albuquerque.
Contudo, Ngungunhane é poeticamente apresentado "em pé, sereno, ... o olhar
augusto". Era a imagem inversa
Capítulo 2
a propaganda agrícola [76].
O Brado Africano descreveu como "justos e brilhantes" as afirmações do Ministro
português das Colónias feitas em 1935, segundo as quais o negro devia ser o
objecto central de toda a política colonial, no sentido de torná-lo um melhor
produtor e consumidor. O Brado encarava bem a política, enunciada pelo
ministro, de limitar a fixação branca, colocando os colonos apenas em postos de
direcção e como técnicos. Devemos lembrar que, na altura, esta política apareceu
como um avanço considerável sobre aquilo que foi praticado antes de 1926, que
resultou na fixação descontrolada de machambeiros e trabalhadores brancos, em
detrimento dos produtores e trabalhadores moçambicanos [77].
Além disso, a leitura dos artigos dos jornais ligados às associações leva à
conclusão de que, não obstante uma maior ênfase na unidade, a análise do
carácter real da dominação colonial pouco avançou, e que, por esta razão,
soluções concretas não se esboçaram. Por exemplo, a 'Causa Africana', veiculada
por Noronha e outros, permanecia como uma ideia geral. A referida *unidade'
significou só aquela entre os mulatos e assimilados, já quebrada pelas divisões no
movimento associativo. Não foram delineados objectivos precisos de luta, senão o
cumprimento dos expressos nos estatutos das associações, um objectivo limitado,
assim, ao melhoramento da situação da elite na estrutura colonial [78].
Da mesma forma, nesta fase o "africanismo', 'pan-africanismo' e &patriotismo'
não chegaram a ser definidos em termos de uma nacionalidade senão a
portuguesa. Esta dificuldade em analisar as bases profundas do colonialismo ia
ainda mais longe. Como noutros territórios da África Austral, existia a tendência,
por parte da elite africana, de enculpar a burguesia europeia local, e a população
branca em geral pelas injustiças do colonialismo, e de confiar na 'justiça' e 'boa fé'
do governo da metrópole para corrigir estes 'erros'. Isto é, esperava-se que a
burguesia metropolitana desenvolvesse uma política que responderia às
reclamações da pequena burguesia africana e reformista, em detrimento do poder
da população branca radicada em Moçambique. Sem nenhuma análise profunda
do colonialismo, colocando, as vezes, os interesses da metrópole no primeiro
plano, a elite ficou naturalmente míope no que concerne ao carácter real das
'injustiças' e, assim, aos meios políticos para a sua eliminação.
Capítulo 2
Colónias, em que defenderam publicamente a integridade do Império Colonial
Português [82].
Apesar dessas ambiguidades, cresceu na segunda metade da década de 1930 a
consciência da necessidade de ultrapassar os limites que circundavam o
movimento associativo. Por exemplo, em Agosto de 1936, alguns activistas,
insÁtisfeitos com o Instituto Negrófilo, formaram a União dos Negros Lusitanos.
Os seus estatutos não eram realmente diferentes das outras associações, mas as
suas reuniões deram ocasião para debates abertos, considerados indesejáveis pelas
autoridades.
Vários artigos em O Brado Africano questionaram incisivamente a desunião a que
o movimento associativo foi destinado no sistema colonial. Um editorial, em
Junho de 1937, chegou a propor a formação de uma comissão de representantes
das várias associações, com o objectivo de formar uma confederação. Além disso:
"Conseguida essa obra procurar-se-ia interessar pela divulgação de ideias,
necessárias à concepção elevada do objectivo político do povo nativo, todos os
filhos da terra conscientes e civilizados, pelos problemas mais importantes para a
vida de todo o povo africano e essencialmente para a preparação do seu
futuro" [83].
Esta proposta visava, assim, o passo fundamental para a unificação da oposição e
o objectivo concreto da promoção da consciência política.
De facto, o momento para este avanço na organização política moçambicana não
podia ter sido menos propício, devido à determinação portuguesa de reforçar o
seu poder nas colónias através dos meios repressivos já em vigor em Portugal.
Desta forma, em Setembro de 1936, as intenções reais do governo português
ficaram mais patentes aquando da promulgação de uma lei que ia longe na
repressão política fascista em Moçambique. Esta lei exigiu um juramento de todos
os funcionários do Estado, serviços autónomos, bem como os corpos e
corporações administrativos, de estarem integrados na ordem social estabelecida
na constituição fascista portuguesa, " ... com activo repúdio do comunismo e de
todas as ideias subversivas" [84]. Encarregou os directores e chefes de serviços,
sob pena de reforma imediata, de cuidar que os seus respectivos funcionários não
professassem "doutrinas subversivas". Além disso, as empresas privadas, se
pretendessem ajuda do Estado, tinham que impor as mesmas regras.
Capítulo 2
6. Idem.
7. UEM/CEA, O mineiro moçambicano, Maputo: mimeo, 1979 [reedição], p. 26;
ver também, J.Granger, 'A convenção', BSEM, no. 10, Agosto 1933, p. 20.
8. Ver, por exemplo, AHM, ISANI, Cx. 30, A. A. Furtado Montanha, Relatório
e documentos referente à Inspecção ordinária às circunscrições do Distrito de
Inhambane, 1930, p. 34f.
9. Ver Actas do Conselho do Governo 10. L. A. Covane, 'As relações económicas
entre Moçambique e a África do Sul,
1875-1964: edição crítica dos Acordos e Regulamentos principais', Trabalho de
Diploma, Licenciatura em História com especialidade em Documentação,
UEM/AHM, 1985, pp. 86-88, 92-94.
11. J. das Neves, 'O trabalho migratório de Moçambicanos para a Rodésia do Sul,
1913-1958/60', Trabalho de Diploma do grau de Licenciatura, Instituto Superior
Pedagógico, Maputo, 1990, pp. 23, 27-31, Anexos, p.4; 1. Phimister, An
economic and social history ofZinbabwe, 1890-1948: capital accumulation and
class struggle, Londres: Longman, 1988, p. 183, passim; BO 39, 26.9.1934, p.
615: Acordo sobre recrutamento de trabalhadores indígenas no distrito de Tete,
Colónia de Moçambique, para serem empregados na Colónia de Rodésia do Sul;
sobre esta matéria ver, particularmente, A. Rita Ferreira, 'Trabalho migratório
de'Moçambique para a Rodésia do Sul,' História (Lisboa), 8, Junho, 1985, pp.
42-49; sobre os 'Uleres' ver P. Scott, 'Migrant labor in Southern Rhodesia',
Geographical Review, 44 (1954), pp. 29-48.
12. Inês Nogueira da Costa, Contribuição para o estudo do colonial-fascismo em
Moçambique, Maputo: AHM/UEM, 1986 [Série Estudos 1], p. 15 13. Ver
Capítulo I, pontos 5.2, 5.3.
14. Com a excepção de Manica e Sofala, onde se utilizou a libra especial da
Companhia de Moçambique até 1942, e da cobrança do imposto de palhota no
sul, pagável em libras esterlinas da África do Sul.
15. BO 26, 25.6.1932, Decreto no. 21.226, 22.4.1932; M. G. Beatriz, 'A
classificação e os preços do algodão-caroço em Moçambique de 1930 a 1962',
Gazeta do
Agricultor, vol. 14, no. 163, 1962, pp. 356-357.
16. J. Cardoso, 'O comércio de Moçambique: a sua evolução durante os últimos
dez
anos', BSEM, 9 (1940), pp. 82-222; para uma síntese mais global desta
tendência, ver Nogueira da Costa, op.cit., passim. 17. Ibid., p. 16
18. L. Val, 'Railway development and colonial underdevelopment: the Nyasaland
case', in R. Palmer e N. Parsons, [coord.], The roots of rural poverty in southern
and central Africa, Londres: Heinemann, 1977, pp. 365-395; idem., 'The making
of an imperial slum: Nyasaland and its railways, 1895-1935',
Journal ofAfrican History, vol. 16, 1(1975), pp. 89-112.
19. Anuário do Ensino, 1930, Lourenço Marques, 1931, pp. 10-11. 20. Idem.
Capítulo 2
33. Ibid., vol. 2, pp. 52, 56.
34. Ibid., vol. 1, p. 320; Cx 94, vol. 1, p. 87. 35. Ver, inter alia, ibid., Cx 76, vol.
1, pp. 320-321, vol. 2, p. 275. 36. Ibid.
37. Ver ibid., pp. 320-321, passim; ibid, Documentos anexos, Parecer, lnspecçao
Superior da Administração Colonial (Lisboa), 14.10.1938.
38. AHM, ISANI, Cx. 97, C.H. Jones da Silveira, Relatório e documentos
referentes
à Inspecção ordinária feita na província do Niassa - 2a parte, 1944: Relatório, p.
45; (F. Monteiro Grilo) Relatório do Chefe dos Serviços de Agricultura, 1940-
1944, Lourenço Marques: Imprensa Nacional, 1946, 1 parte, pp. 159-160. 39. A
matéria que se segue baseia-se em AHM, ISANI, Cx. 76, Pinto Correia,
vol.1, p. 117f; Cx. 95, Jones da Silveira, p. 37 e documentos xxxi-xxxii; AHM,
FGG, Cx. 2450, No. 86, J. Figueiredo, Relatório, 1938, 1 parte, pp. 27-39; Paulo
Soares, 'O caju e o regime das propriedades no Mossuril entre 1930 e 1950',
Arquivo, 4 (1988), pp. 91-104. Os autores agradecem a Paulo Soares o acesso a
um resumo da versão original deste artigo, e a sua ajuda na elaboração
deste sub-capitulo.
40. AHM, FCM, Relatórios do Director de Agricultura, 1927-1933. 41. Beira
News, 30.3.1932.
42. O 19 de Junho (Beira), 25.3.1932. 43. AHM, FCM, Secretaria-Geral,
Circunscrição da Beira, Relatório da cobrança do
imposto de palhota, 1932.
44. Ibid; Beira News, 23.3.1932.
45. O 19 de Junho, 25.3.1932.
46. Ibid.
47. O Emancipador, 6.6.1932.
48. AHM, FCM, Secretaria-Geral, Cx. 140, Relatório anual da circunscrição da
Beira, 1932.
49. Ibid., Cx. 160, Correspondência expedida da Secretaria-Geral para diversas
entidades, 5/483, S-G ao Chefe da circunscrição de Mossurize, 4.5.1932. 50.
BCM, 17, 1.9.1932, Ordem no. 6478, 25.8.1932. 51. O Emancipador, 11.9.1933.
52. BO 21, 27.5.1933, BO 31, 5.8.1933, Decreto-lei 22.469 (11.4.1933) com
alterações em Decreto-lei 22.756 (5.8.1933); A. Sopa, 'Catálogo dos periódicos
moçambicanos precedido de uma pequena notícia histórica: 1854-1984', Trabalho
de Diploma, Licenciatura em História com especialidade em Documentação,
Universidade Eduardo Mondíane, 1985, p. x e n.30. 53. Ibid., pp. 56-57, 92.
54. Tradução conforme R.B.M. Honwana, Memórias: Histórias ouvidas e vividas
dos
homens e da terra, Maputo, 1985, p. 67. 55. BA, 27.2.1932.
56. BA, 19.3.1932, 25.3.1932, 16.4.1932.
Capítulo 2
aprovados os estatutos da associação de recreio e instrução denominada 'Grémio
Negr6filo de Manica e Sofala', 7.3.1935; SR 1I, 68-69; Moreira (s.d.): 39-40. 68.
AHM, c6d.116260-116263, Livro das Actas do Instituto Negrófido. 69. BA,
18.4.1936.
70. Honwana, op. cit., p. 64.
71. Idem. Como escreveu o são-tomense Jorge Netto, um colaborador regular do
jornal, referindo à divisão do movimento associativo, "(a) desunião em
Moçambique é a queda desastrosa da formação das elites..."; ver BA, 12.5.1934.
72. BA, 3.11.1934.
73. Ver F. Mendonça, 'Rui de Noronha. António Rui de Noronha, Lourenço
Marques 28.10.1909-25.12.1943', Domingo [Maputo], 4.1.1987. 74. Ver, por
exemplo, BA, 2.4.1932, 30.5.1936. 75. Ver BO 4, 24.1.1934, Portaria 2179, que
concedeu o pagamento de 2% dos
proventos do imposto da palhota aos régulos; José Cantine, 'A acção do
malogrado régulo Machatine', BA, 24.12.1936. 76. BA, 20.4.1935; ver, também,
cap. 1, ponto 4.. 77. BA, 3.8.1935.
78. Ver, por exemplo, 'Frente Unica' por Francisco Veloso da Rocha, BA,
13.3.1937; para uma análise sociológica do discurso protonacionalista antes da I
Guerra Mundial, ver M. de Andrade, 'As ordens do discurso do "Clamor
Africano": continuidade e ruptura na ideologia do nacionalismo unitário', Estudos
Moçambicanos, 7 (1990), pp. 10-17. 79. Ver BA, 7.3.1936.
80. BA, 21.3 1936.
81. BA, 16.5.1936.
82. BA, 13.6.1936; para os receios de uma redivisão das colónias portuguesas, ver
também BA, 20.4.1935, 8.8.1936, 5.9.1936. 83. BA, 19.6.1937; ver também BA,
18.4.1936. 84. BO 41, 14.10.1936, Decreto-lei 27.003 de 14.9.1936, extensivo ao
'ultramar'
pela Portaria Ministerial 8530, de 29.9.1936.
85. Para o ambiente criado por esta lei, ver, por exemplo, O Emancipador,
14.6.1937; Honwana (1985): 72.
86. BO 32, 12.8.1936, Portaria 2833; BO 30, 28.7.1937 87. Ver, por exemplo, 'O
Estado Novo é a nossa Pátria renascida', BA, 15.5. 1937;
'Urge integrar a mocidade das colónias nas ideias nacionalistas do Estado Novo',
BA, 5.6.1937.
Capítulo 3:
A Reestruturação da Sociedade Moçambicana, 1938-1944
1 Introdução: Características gerais do período 1938-1944
1.1 A procura renovada de matéria-primas Em 1938, o estado português começou
a desenvolver métodos novos e mais eficazes para o aumento da produção de
algodão nas colónias. Se bem que a produção em Moçambique tivesse
aumentado, entre 1931 e 1937, isso representava apenas cerca de 20 por cento das
necessidades da indústria têxtil portuguesa (capítulo anterior).
Com a crescente procura mundial, o preço do algodão no mercado internacional
aumentou. Foi nesta altura que a indústria têxtil portuguesa recebeu um grande
estímulo para o seu desenvolvimento através do acesso ao mercado têxtil em
Espanha, cujas fábricas diminuíram a produção durante a prolongada guerra civil
que atingiu esse país europeu (1936-1939).
Pressionado pelos proprietários da indústria têxtil, o governo de Salazar alterou o
antigo sistema de prémios financeiros e criou instrumentos administrativos
capazes de fomentar, directa e mais eficazmente, a cultura e comercialização do
algodão. O objectivo era garantir a auto-suficiência em algodão, a preços baixos,
dentro do chamado 'Império Português'.
Capítulo 3
O governo português, através de legislação para o efeito, passou a poder
controlar, a partir de Lisboa, todos os aspectos da produção e comercialização do
algodão nas colónias. Criou-se, em 1938, a Junta de Exportação de Algodão
Colonial (JEAC), com sede em Lisboa. Através desta organismo, o governo
pretendeu estabelecer um maior controle sobre as companhias concessionárias em
Moçambique. O sistema de produção camponesa mantinha-se, e as companhias
obrigaram-se a desenvolver, mais activamente, a cultura do algodão em
concessões alargadas. Toda a exportação tinha de ser aprovada pela JEAC, sob
pena de perda das suas concessões [1].
Para além da crescente procura do algodão, a II Guerra Mundial, que durou de
Setembro de 1939 até Setembro de 1945, e que envolveu todos os países
industrializados, provocou graves perturbações no comércio mundial de matérias-
primas, tendo naturalmente afectado a economia de Moçambique, país fornecedor
desses recursos. Desenvolveu-se uma guerra marítima de grande envergadura, em
que cada beligerante procurou estabelecer o controlo exclusivo sobre as rotas do
comércio, assegurando dessa forma, o fornecimento de matérias-primas para
garantir o aumento da sua produção industrial bélica. Por outro lado, cada um dos
blocos em conflito pretendia impedir, ao seu oponente, o acesso às fontes dessas
matérias-primas, como forma de enfraquecer a respectiva indústna.
As enormes perdas de recursos provocadas pela guerra (por exemplo, navios
carregados afundados) e a produção industrial elevada tiveram como resultado a
elevação dos preços das matérias-primas. A GrãBretanha, em especial, pagava
altos preços pelas suas importações de produtos alimentares.
A deslocação do comércio marítimo e dos mercados mundiais reforçou a
estratégia da burgúesia portuguesa em se abastecer, na medida do possível, de
matérias-primas das suas próprias colónias, incluindo o algodão. Além disso,
Portugal, aproveitando a crescente procura internacional de matérias-primas, foi
grande fornecedor de produtos das suas colónias aos blocos beligerantes.
Portugal utilizou a sua neutralidade de modo bastante lucrativo e em benefício da
sua própria acumulação. Os dirigentes colonialistas portugueses apresentaram a
guerra como um 'flagelo necessário', a suportar por todas as partes da 'Nação'. Era
a 'economia de guerra', de
Capítulo 3
portuguesas eram todas aquelas em que pelo menos 60 por cento do capital fosse
pertença de portugueses.
A legislação do 'nacionalismo económico', não impediu, contudo, totalmente, a
penetração de capitais não-portugueses, mas facilitou a aquisição e o controle de
empresas e actividades na estrutura industrial, a empresários e grupos capitalistas
portugueses, inclusivamente colonos.
Como foi referido, a política de integração administrativa do espaço colonial tinha
já sido adoptada antes de 1930. Quando terminou a concessão majestática da
Companhia de Moçambique em 1942, o estado colonial português tomou a seu
cargo a administração das províncias de Manica e Sofala, passando a maioria dos
funcionários da companhia cessante para o novo quadro administrativo. Também,
nesta zona, o período favoreceu a expansão de capitais portugueses. Segundo o
testemunho de um Inspector do Estado português, a Companhia Colonial do Búzi,
com capitais portugueses, foi considerada como uma companhia verdadeiramente
portuguesa, tendo expandido as suas actividades no sector agro-industrial. Por
outro lado, a Companhia de Moçambique, transformada então numa companhia
privada, fechou as suas minas em Macequece e Inchope, e propôs-se a vender
quase todas as suas fazendas[3].
1.3 0 poder reforçado do Governador-Geral Em 1940, chegou a Moçambique um
novo Governador-Geral: José Tristão de Bettencourt. Homem da máxima
confiança nos círculos dirigentes portugueses, Bettencourt teve o papel de
dinamizar o aparelho de Estado colonial no sentido de coordenar, de uma maneira
mais rigorosa do que anteriormente, a produção nas zonas rurais de Moçambique,
para que a burguesia portuguesa aproveitasse plenamente as circunstâncias da
Guerra. Como veremos neste capítulo, começou também com ele a introdução das
instituições fascistas no país, e a implementação do acordo entre o Vaticano e o
governo português para a promoção da Igreja Católica nas colónias.
Na concretização dessas linhas gerais da política colonial, Bettencourt soube tirar
proveito da situação de guerra. De facto, com os grandes países industriais em
guerra, foi consideravelmente reduzida a possibilidade de críticas internacionais
ao colonialismo português, nomeadamente em matéria de política laboral. O
próprio Bettencourt confirmava em
Capítulo 3
12. Descaroçamento de algodão, Buzi, Sofala; apesar das más condições, trdbalho
nas fábricas contribuiu para a formação do assalariado rural.
algodoeira cedo se tornaram visíveis logo após o início do cultivo. A não ser
quando cultivado em solos particularmente apropriados, tais como alguns
existentes em Cabo Delgado, Nampula, norte da Zambézia, norte de Manica e
Sofala (Chemba), o rendimento por hectare era baixo. Mesmo o preço então
oferecido pelos compradores era mais baixo do que aquele praticado em 1937.
Enquanto o rendimento proveniente do algodão obtido pelo cultivador, em zonas
geograficamente favorecidas, atingia os 140 escudos, noutras zonas era apenas de
5 a 8 escudos. Em 1939, o rendimento médio para todo o país era de cerca de 85
escudos por cultivador. Isto era uma fraca recompensa para uma cultura como o
algodão, que requera uma constante atenção - normalmente cerca de 150 dias de
trabalho em cada época.
Além disso, os produtores só podiam vender o algodão a uma companhia
concessionária. Impedidos de levar a sua produção a outros locais, estavam
sujeitos às práticas fraudulentas dos oficiais da Companhia. Essas práticas iam
desde a pesagem viciada à classificação de
Capítulo 3
court, a maior parte dos governos provinciais contentava-se até então em deixar
'completemente livre para ociosidade o indígena que tivesse satisfeito a sua
obrigação de contribuinte' (do imposto). De facto, em 1940-41, nem todos os
governadores provinciais e administradores estavam de acordo com a extensão
das obrigações dos camponeses através da repressão sistemática na produção
familiar.
Para assegurar que as necessidades da burguesia portuguesa fossem assumidas e
que consequentes acções fossem levadas a cabo nas províncias, Bettencourt
decidiu nomear novos administradores, apoiantes da política económica do Estado
português, para que promovessem a intensificação do uso da força no
desenvolvimento da produção algodoeira.
Em 1941, com o fim de melhor controlar as várias fases do cultivo, os
Governadores das províncias passaram a emitir ordens de serviço que permitiam
às companhias concessionárias empregar capatazes na promoção do cultivo do
algodão, nas respectivas áreas. Eles deveriam ficar formalmente sob o controlo
dos sipaios dos administradores. A partir de então, pancada, torturas, abuso sexual
e prisões arbitrrias, feitas por sipaios e capatazes, tornaram-se métodos comuns
para promover a produção de algodão nas machambas familiares.
Estes meios de repressão sobre o campesinato no processD de produção não eram,
de forma nenhuma, novos, pois já tinham sido usados por agentes das companhias
e por alguns administradores na década anterior. Alargaram-se, neste período, a
quase todo o país, como parte integrante de uma acção sistemática, levada a cabo
pelas autcridades coloniais, para garantir a maior participação possível na cultura
de algodão. Desta forma, o número de produtores cresceu rapidamente: em 1943-
1944, ý.tingiu os 791.000, ou seja cerca de 30% da populaçio moçambicana em
idade activa. A produtividade era extremamente baixa: uma média de 85 quilos de
algodão caroço por produtor por ano, e um rendimento de menos de 1 escudo por
quilo, no período 1941-1944 [6].
Do ponto de vista da burguesia portuguesa, a expansão do uso de tais métodos
violentos de compulsão obtiveram o efeito desejado. Em 1941, a produção do
algodão excedeu a de 1939, o primeiro ano da propaganda generalizada. Então,
em 1942, os jornais de Lisboa orgulhavam-se ao anunciar que a produção do
algodão colonial passara a cobrir mais de 90 por cento das necessidades
portuguesas, comparada com os 40 por cento dos dois anos anteriores, sendo a
maior parte produção moçambicana.
Capítulo 3
13. Paisagem da cultura da Chá, Gurué, Zambézia.
14. Para a colheita e processamento, as plantações de chá requeriam grande
número de trabalhadores sazonais.
Capítulo 3
15. Carregamento da cana de açucar, lncomat, 1944.
na caderneta de identificação, que cada homem devia 'possuir [9].
Na prática, os homens que não eram agricultores de vulto, e que não podiam
provar o seu trabalho por conta de outrem, eram considerados 'vadios', e podiam
ser capturados pelo administrador ou chefe de posto. Concentrados nas sedes e
postos, eram recrutados pelas plantações e outras entidades. Na ideologia
colonial, este acto de recrutamento representava a chamada 'livre escolha' de
emprego estipulada na lei.
Legislação complementar a Circular 818/D7 introduziu novos regulamentos de
identificação da população negra, estipulando novos deveres para o administrador
e os patrões no sentido destes fornecer informações completas sobre todos os
trabalhadores. Estas informações, acrescentadas às que cada régulo tinha de
fornecer, obrigatoriamente, à administração local sobre cada homem de mais de
16 anos de idade no seu regulado, constituíram a base de um sistema de controlo
muito rigoroso sobre o trabalho e as deslocações da população em geral [10].
Uma outra cláusula da Circular deu poderes aos governadores para decidirem
sobre a área considerada suficiente para cultivo a atribuir aos camponeses que
tivessem preferido permanecer nas suas terras, produzindo culturas de
rendimento. Deste modo, nas melhores áreas para algodão e arroz, os camponeses
podiam evitar o trabalho obrigatório, se
A Reestruturaçao da Sociedade Moçambicana, 1938-1944
fossem registados como seus produtores. Por outro lado, devido ao seu baixo
rendimento na maior parte das concessões, foram cada vez mais as mulheres os
únicos produtores a serem registados. Nas áreas consideradas improdutivas para o
algodão e arroz, não havia, praticamente, escolha para o camponês, a não ser
oferecer a sua força de trabalho, pois que estas eram, geralmente, as zonas menos
férteis, ou menos beneficiadas com estradas, que lhes possibilitassem
comercializar outras culturas.
Com o 'incentivo' estabelecido a nível de regulamento, começou a sua
implementação. Apesar da carência de cadernetas, já no fim de 1942, os
administradores distritais conseguiram impor o novo sistema de controlo, de
maneira a acabar de vez com a falta de mão-de-obra. Como apontou com orgulho
o próprio Bettencourt, tinham-se acabado as queixas dos proprietarios
incomodados [11]. No entanto, devemos notar que o controlo rigoroso, assim
reforçado sobre o trabalho de cada moçambicano, através de cadernetas e registos,
ainda não era o mais completo possível. Como veremos nos próximos capítulos,
no período do p6s-guerra, verificou-se uma extensão e intensificação deste
sistema.
3.3 A reorganização dos impostos
Simultaneamente com a Circular 818/D7 e o novo regulamento de identificação, o
governo colonial de Bettencourt procedeu, em 1942, a reorganização do sistema
de impostos aplicáveis à população negra.
Como base deste sistema, estabeleceu-se que o imposto de palhota, já em declínio
na década anterior, devia ser substituído definitivamente pelo imposto de
capitação. Isto significou que, com a ajuda das novas regras de identificação,
todos os negros, incluindo as mulheres, tinham de ser colectados segundo critérios
uniformes em toda a colónia. As mulheres pagavam, em geral, o chamado
'imposto reduzido'. Este novo imposto também se aplicava aos homens inválidos
[12].
Como resultado desta reorganização, o rendimento do imposto aumentou
rapidamente. Na Zambézia, por exemplo, em 1943, a cobrança teve um aumento
de 2 mil contos sobre o ano anterior [13]. Nota-se que, através deste mecanismo,
o governo colonial não só incrementou o seu rendimento geral, como também
incentivou a família camponesa a trabalhar nas culturas obrigatórias e nas
plantações.
Capítulo 3
3.4 Reforço dos auxiliares administrativos: régulos e sipaios Uma outra política,
dinamizada por Bettencourt, na reorganização da força de trabalho rural, dizia
respeito aos poderes dos régulos. Uma cláusula da circular 818/D7 deu aos
régulos, quando fossem encarregados nesse sentido pelos administradores e
chefes de posto, o papel de reunir aqueles que não tivessem cumprido
integralmente as suas obrigações, a fim de serem distribuídos pelas empresas que
precisavam de mão-de-obra.
Contudo, segundo Bettencourt, a divisão dos chefados tradicionais tinha sido
demasiado grande, nos decénios que se seguiram a conquista colonial, e o poder
da maioria dos chefes ficara reduzido a tal ponto, que eles eram mais símbolos de
decadência do que de autoridade. Tinham muito poucos súbditos, embora
guardando alguns privilégios. S&" os régulos deviam exercer um papel mais
activo na nova perspectiva de exploração colonial, então, tinham de ser escolhidos
mais cuidadosamente dentro da linhagem tradicional reinante (dominante) do
regulado, e reduzido o seu número. Desta maneira, o Governador-Geral queria
16. Régulos com os seus bastões de comando juntam-se para prestar homenagem
ao Presidente português Carmona, Quelimane, 1939.
Capítulo 3
permanência e comportamento dos trabalhadores das duas cidades.
O mecanismo principal dessa repressão, como anteriormente, era o Comissariado
da Polícia, que mantinha um registo de todos os trabalhadores negros na cidade, e
que concedia, e controlava cada ano, o livrete de serviço que cada trabalhador
tinha que levar consigo [17], além da sua caderneta de identificação. Um aspecto
essencial do sistema era a constante fiscalização da documentação pessoal dos
negros, nas ruas ou nas rusgas nocturnas. Ap6s a sua chegada a cidade, o
trabalhador negro tinha que se apresentar a administração, que averbava na sua
caderneta a autorização de permanência de 10 dias. Neste período, tinha que
encontrar serviço, inscrever-se no registo, e, assim, obter o seu livrete, sem o qual
estava sujeito a ser preso como vadio e a ser entregue a uma brigada de trabalho
forçado nas obras públicas.
O novo rigor do sistema assentava na regulamentação dos deveres dos
trabalhadores em relação aos patrões, e na extensão das penalidades já
estabelecidas para infracções administrativas (falta de inscrição no registo, por
exemplo). A partir dessa altura, foram especificamente autorizadas penalidades,
severas, sobre os trabalhadores para os mais ligeiros actos de desleixo, desrespeito
e indisciplina. Para além de espancamentos, as infracções eram punidas com a
pena de 15 a 120 dias de trabalho correcional, nas obras públicas. Infracções mais
severas eram, por exemplo, insubordinação perante agentes da polícia. Isto
resultava no trabalhador ser julgado "elemento indesejável ou perigoso para a
ordem e segurança pública", e levavam a penalidade de desterro, até ao máximo
de seis anos, para o seu distrito de origem, ou mesmo, para uma outra província.
Em contraste, o patrão que não pagasse o salário, ou que maltratasse o
trabalhador, pagava, apenas, uma multa de 50 a 300 escudos.
3.6 0 novo sistema de sindicatos fascistas Na mesma altura, o governo colonial
preparou-se para a repressão mais completa dos trabalhadores permanentes no
comércio, indústria e outros serviços. Iniciou-se, neste período, a criação de
sindicatos corporativos que tinham o objectivo de organizar, de forma controlada,
todas as actividades sindicais dos trabalhadores brancos, separando-os claramente
dos trabalhadores negros.
Estava legislado que os novos sindicatos subordinavam as suas activi-
100
102 Cap(tulo 3
Quadro 5: 0 volume das .íncipais exportações de Moçambique, 1939-1944
Contos
1939 1942 1944
L Algodao
-Caju
Acucar IZI] Sisal
LCopra
Amendoim
dade do Estado em promover o cultivo do algodão em 1939-1942 teve como
resultado que o algodão constituísse cerca de 42 por cento do valor total das
culturas exportadas em 1942. Depois disso, e em seguida à famosa Circular
818/D7, em benefício das culturas de plantação, estas aumentaram a sua produção
e, assim, o algodão decresceu um pouco, na sua importância relativa, mas
continuou a ser, de longe, a exportação de maior volume.
Da análise dos Quadros 5 e 6, se verifica que, enquanto a tonelagem absoluta dos
produtos exportados aumentou, os preços desses produtos, excluindo o do
algodão, aumentaram muito mais [23]. Por estas razões, o valor total das
exportações agrícolas triplicou entre 1940 e 1944 [24].
4.2 Diferenciação regional
É de realçar a existência de importantes diferenças regionais. Por exemplo, em
relação ao algodão, nos anos 1941-1944, oitenta por cento da produção vinha das
províncias de Nampula, Cabo Delgado e Zambézia, onde se encon-
200 150 100 50
o
200 150 10e
50
o
Capítulo 3
decorrentes da política colonial foram evidenciados por um Inspector que visitou
aquela região em 1944:
"as necessidades enormes de mão-de-obra das actividades agrícolas exploradas
por grandes capitais - companhias - influenciaram decisivamente o entrave ao
desenvolvimento da agricultura indígena que, quanto aos
géneros alimentares, não satisfaz sequer as necessidades internas" [271.
Por esta razão, as culturas alimentares, tais como o milho, mapira ou amendoim,
que exigem um trabalho sistemático e pesado, deram lugar, ao norte do Zambeze,
a uma cultura que requeria muito menos atenção. Foi o caso da mandioca que,
sendo menos nutritiva, era, até então, usada como uma cultura de reserva, a fim de
assegurar as necessidades básicas em época de chuvas irregulares.
Além disso, a obrigação de cultivar algodão nos melhores solos disponíveis, a
ignorância por parte dos administradores coloniais sobre até que ponto o.algodão
esgotava os solos e, ainda, a não observância de um mínimo de requisitos em
relação ao pousio, começou a baixar a capacidade do campesinato de produzir
alimentos suficientes para a sua própria subsistência.
Mais ainda, pressionado a pagar impostos elevados, o camponês tinha que vender,
cada vez mais, a sua produção de alimentos básicos, diminuindo assim as suas
reservas. Conforme o Inspector, em 1944, em Manica e Sofala,
"pode-se afoitamente afirmar que a população indígena, em regra, passa
fome" [28].
4.5 Diferenciação social no seio do campesinato Enquanto a situação da maioria
da população se deteriorou de uma maneira alarmante, um número reduzido de
camponeses conseguiu melhorar o seu nível de vida. Alias, a prõpija circular de
Bettencourt de 1942 visava deliberadamente essa possibilidade. Esta legislação
isentou do trabalho contratado os camponeses que obtivessem proventos capazes
de assegurar o sustento familiar, e todos os encargos tributários.
Além de alguns régulos, que eram ricos, devido ao aproveitamento que fizeram
das tributações linhageiras e do aparelho administrativo colonial, há testemunhos
doutros camponeses, que conseguiram manter
106
Capítulo 3
No sul, apesar do aumento do número de agricultores negros com charruas e bois,
a subida dos preços atraiu novos machambeiros brancos aos melhores solos,
originando, por conseguinte, a expulsão dos negros.
Nesta região, também, os interesses dos criadores de gado negros entraram, cada
vez mais, em choque com os dos criadores brancos e as necessidades da capital
colonial. Na altura do cancelamento das importações de carne da Africa do Sul no
início da II Guerra Mundial, em vez de aumentarem a quantidade de cabeças
proveniente de criadores negros para abate no matadouro municipal ao preço de
compra estabelecido para os criadores brancos, promoveram várias campanhas
para venda compulsiva de gado. A venda fazia-se em feiras especiais, nas quais
eram oferecidos preços geralmente baixos aos criadores negros.
Isto originou uma forte resistência destes criadores porque, além do preço baixo,
surgiram dúvidas sobre o destino do gado vendido. Suspeitava-se que era, em
parte, acrescido às manadas dos brancos, o que foi confirmado pelo Chefe dos
Serviços Agrícolas, em 1944 [29]. Como resultado destas aquisições, no mesmo
ano, a Cooperativa de Criadores de Gado, que representava os criadores brancos,
fornecia já um número considerável de cabeças de gado para abate. Esta
organização, numa tentativa de aumentar os seus lucros, começou a pressionar as
autoridades para reduzirem a compra, para abate, aos criadores negros.
4.6 Indústria, transportes e trabalho migratório para o estrangeiro O principal
investimento na indústria, neste período, incidiu, grande parte, na transformação e
armazenagem do algodão. O sistema de culturas forçadas e um mercado garantido
em Portugal foram incentivo suficiente para estimular a construção de mais
fábricas de descaroçamento e armazens nas várias concessões. Note-se que a
instalação dessas fábricas era essencial, na medida em que o descaroçamento
diminuía o peso da matéria-prima para cerca de 30 por cento, baixando, assim, os
custos de transporte para o local de transformação em têxtil, neste caso, as
fábricas em Portugal. No geral, verificou-se um aumento da produção agro-
industrial para exportação.
A II Guerra Mundial originou mudanças na comercialização e industrializaçãQ de
sementes de óleo e seus derivados, devido, principalmente à crescente procura de
óleos alimentares e bagaços em Portugal, ao declínio dessa procura, noutros
mercados tradicionais (como França)
108
Capítulo 3
às indústrias viradas para o mercado interno, proporcionou, no entanto, a sua
consolidação, especialmente, as de cimentos, cerveja, águas minerais, sabão,
cigarros e moagem de milho. Originou, ainda, o surgimento de outras, tais como
uma pequena indústria têxtil, com uma produção de pequena escala de vestuário,
sendo a matéria-prima importada de Portugal, e pequenas outras indústrias de
artigos de borrachá, mobiliário e verniz. Todo este crescimento foi estimulado
pela insegurança das viagens marítimas decorrente do conflito mundial.
Efectivamente, a produção para o mercado interno representava, no fim deste
período, cerca de 20 por cento do total da produção industrial, em comparação
com menos de 10 por cento, para o quinquénio anterior.
Aproveitando a situação da Guerra, e ao abrigo da legislação a que nos referimos
anteriormente (ponto 1.2 deste capítulo), alguns grupos portugueses passaram a
exercer um maior controle sobre sectores industriais importantes. Por exemplo,
em 1944, o grupo Champalimaud comprou ao Banco Nacional Ultramarino a
fábrica de cimentos da Matola, tornada a Companhia de Cimentos de
Moçambique em 1945. É, porém, no período seguinte, que se verificará maior
crescimento da indústria, particularmente da indústria transformadora, virada para
o mercado interno.
No período da Guerra aumentou, consideravelmente, o número de moçambicanos
que trabalhavam temporária ou permanentemente nos territórios vizinhos.
Segundo as estatísticas oficiais, o número de trabalhadores moçambicanos, na
África do Sul, passou de 105.286, no começo de 1940, para 137.676, no fim de
1944. Na Rodésia do Sul, no mesmo período, de 68.304 passou para 93.977.
Neste país, a partir de 1940, o número de trabalhadores moçambicanos
ultrapassou o número proveniente dos fornecedores tradicionais, nomeadamente,
Niassalândia e Rodésia do Norte.
Este aumento explica-se pela conjunção de dois factores. A crescente actividade
produtiva destes países, que aumentaram, rapidamente, o fornecimento de
matérias-primas a Grã-Bretanha e construíram novas indústrias locais, capazes de
substituir importações daquele país, provocou uma grande procura de mão-de-
obra. Moçambique, país já constituído como reserva de mão-de-obra, estava em
condições de responder, prontamente, a essa procura, porque as más condições de
vida, causadas, particularmente, pelas culturas forçadas e pela elevada
110
Capitulo 3
Companhia da Zambézia quis impor nos mercados a tabela de selecção e
classificação, conforme as orientações da JEAC, os camponeses reagiram.
Segundo um relatório de um Inspector colonial:
"assumiram atitudes de verdadeira revolta, queimando ou espalhando nas estradas
e lançando ao rio ou enterrando no mato, o algodão trazido para o
mercado" [31].
No fim da campanha agrícola de 1940, em Mulevala, ao norte da Zambézia,
alguns camponeses preferiram queimar as suas colheitas a receber as somas
baixíssimas, que os seus vizinhos tinham recebido, o correspondente a uma média
de 11 escudos por cultivador.
A criação de comunidades em fuga permanente para áreas mais distantes,
localizadas fora do controlo político da administração colonial, foi outra das
formas utilizadas. Estabelecidas normalmente em zonas montanhosas ou de
pântano, de difícil acesso, viviam em regra da caça e recolecção. Testemunhos
indicam que cou,Lnidades deste tipo se estabeleceram nos distritos de Monapo,
Mogincual, Nampula e no vale do rio Cuarezi, ao longo da fronteira com a
Rodésia do Sul. Um entrevistado contou, assim, a experiência por si vivida nas
montanhas perto de Meloco, Montepuez:
"Nós conseguimos defender-nós através de uma vigilância muito grande.
Como estavamos no cimo da montanha, quando os portugueses chegavam,
deixávamos que eles subissem até metade antes de lhes atirarmos com grandes
pedras, matando alguns. Algumas pessoas escondiam-se nas caves (cavernas,
N.R.). Quando os portugueses chegavam, punham à entrada mato e madeiras e
chegaram-lhe fogo, pensando que todos os que estavam lá dentro (na caverna)
iam morrer sufocados pelo fumo. Mas como o fumo não
encheu a caverna, ninguém morreu. Aí continuamos a viver lá" [32].
5.2 A revolta Muta-hanu no Mossuril - Nampula, 1939 [33] Enquanto essas
formas de resistência se generalizavam, a imposição da cultura de algodão fez
deflagrar o conflito social no Mossuril. Este conflito, entre os produtores locais
(proprietários e camponeses), foi resultado de uma história de alienação de terras
e da imposição de uma renda em trabalho gratuito (capítulo 2).
Com as pesadas exigências de trabalho nas machambas familiares, a política da
cultura forçada de algodão era, evidentemente, hostil aos
112
Capítulo 3
conforme os dias de trabalho. No entanto, nos meses e anos seguintes, o
administrador do Mossuril constatou que a situação não estava normalizada,
enquanto habitantes e proprietários procediam com relutância à celebração e
reg.sto dos contratos de renda e salário.
De facto, a administração ainda não tinha poder de fiscalização suficiente para
garantir o cumprimento integral do acordo, que era sistematicamente ignorado
tanto pelos proprietários, como pelos habitantes. Apenas o declínio do comércio
de cajú em 1942, que resultou da II Guerra Mundial, tornou a situação mais calma
e, assim, permitiu o estabelecimento da cultura de algodão no Mossuril.
5.3 0 movimento associativo
A II Guerra Mundial foi, para toda a Africa, de uma importância decisiva. Os
africanos das colónias não-portuguesas foram largamente utilizados, dentro e fora
da África, integrados nos exércitos coloniais. O chamado 'esforço da guerra' tinha
levado, ainda, à intensificação da produção e da exploração do trabalho, nos
vários países colonizados. Disto resultou a morte de milhares de africanos nos
teatros de guerra (estima-se que só a Africa oriental tera perdido cerca de 50 mil
homens).
O colapso repentino do poder imperialista britânico e francês, no oriente,
culminando com a invasão japonesa de Malásia, Singapura e Birmânia, contribuiu
para a queda do mito da invulnerabilidade, em geral, dos sistemas coloniais
europeus. A entrada em contacto com outros povos e outras ideias, e a
participação, lado a lado, de soldados africanos, numa posição subordinada aos
Europeus, aceleraram a difusão de uma ideologia anti-colonial e nacionalista, que
marcou as semelhanças entre o fascismo, contra o qual lutavam a Grã-Bretanha e
a Franca, e o colonialismo por eles, de facto, praticado.
De referir, ainda, a importância que nesse campo desempenhou a propaganda
anti-colonial, que ganhava vulto quer nas assembleias internacionais quer em
países como a União Soviética, os E.U.A. e, mesmo, a Grã-Bretanha. Como
resultado, nos preparativos já em curso para a formação das Nações Unidas,
confirmaram o direito dos povos a dispor do seu próprio destino. Além disso,
futuros dirigentes prestigiados (Nkrumah de Ghana, por exemplo), tinham-se
familiarizado, nos E.U.A., com a corrente panafricanista, que então ganhava
grande popularidade.
Neste quadro, três vias para o nacionalismo começaram a desenhar-se
114
Capítulo 3
As suas acções de compromisso com a autoridade colonial devem ser vistas,
simultaneamente, como desejo e esforço consciente de defesa, mais ou menos
activa e agressiva, ainda que receosa, dos interesses de vastos sectores da
população local. Foi o caso da educação, do desporto, da cultura e da acção social.
A capa da assistência social e das actividades recreativas e culturais não podia
esconder o desejo consciente de legítima representatividade das comunidades
locais. Neste contexto, continuavam a ser as associações sediadas em Lourenço
Marques, as mais activas na defesa dos interesses das populações: a Associação
Africana (AA), o Centro Associativo dos Negros (CAN - novo nome que assumiu
o Instituto Negrófilo) e a Associação dos Naturais. De menor incidência a acção
do Centro Africano da Beira e da Associação Africana da Zambézia.
Dentre as acções mais notáveis levadas a cabo pelas associações, neste período,
destacaram-se a exigência pelo direito à educação e ao trabalho e a abolição de
impostos. Por exemplo, numa acção conjunta promovida pelo CAN e pela AA, foi
exigida a abolição do imposto de capitação sobre a mulher africana [34].
A educação, como sector de promoção social e económica, continuava a merecer
a atenção das associações, nomeadamente da AA e do CAN. A AA continuou
ligada à escola para raparigas 'João Albasini' (criada em 1920), mesmo depois da
sua integração nos serviços coloniais de instrução. Ali ensinou a professora
primária Cacilda Dias, filha de Estácio Dias e irmã do escritor João Dias, figura
importante no período seguinte. Por solicitação dos sócios residentes nas zonas
rurais, o CAN intercedeu, por diversas vezes, junto das autoridades coloniais, para
o estabelecimento de escolas nas zonas onde elas não existiam. Durante a guerra,
e quando grassava já uma crise de empregos, derivada dos efeitos do conflito
mundial, ambas as Associações apelaram à Igreja para que se cingisse aos
naturais da terra para o provimento de lugares de.auxiliares das missões [35].
Acerca da educação dada pelas escolas missionárias, exigiam não apenas a
possibilidade de as frequentar, como também queriam trabalho, o que lhes vinha
sendo negado sistematicamente tanto nos serviços públicos como nos
estabelecimentos privados.
"Porque toda esta civilização e instrução que nos dão para nos sujeitar depois às
inclemências da sorte negra? (...) Não queremos só escolas, queremos também
trabalho, porque depois de acabados os estudos temos que enfrentar
116
Capítulo 3
De referir que, entretanto, e no âmbito da estreita colaboração entre a
administração colonial e a Igreja, aquela fornecia trabalhadores às missões
(principalmente os presos) enquanto estas permitiam o recrutamento, quer pela
administração, quer por particulares, dos alunos mais velhos, antes de regressarem
às suas casas.
Com estes apoios, o número de missões católicas continuou a aumentar
consideravelmente, como mostra as estatísticas oficiais:
Quadro 7: Aumento de missões católicas, 1938-1944
1938 1944
Missões 52 64
Filiais 211 598
Missionários 71 114
Auxiliares 443
Irmaõs/Irmãs 265
Assalariados 1950
Como resultado da expansão da Igreja e da gradual junção dos dois tipos de
ensino primário rudimentar (oficial e missionário) sob a responsibilidade da
própria Igreja Católica, aumentou rapidamente o número de escolas para o ensino
rudimentar das missões católicas:
Quadro 8: Número de escolas rudimentares, 1938-1944
Ensino 1938 1944
Oficial 188 96
Católico 245 502
Protestante 49 36
A educação ministrada nestas escolas continuou a ser de qualidade muito baixa.
Com a duração de 3 anos de escolariedade, este ensino consistia, principalmente,
em lições de língua portuguesa e de catequese (o ensino do catecismo). Este
último era, em geral, ensinado em língua africana local, enquanto as outras
matérias eram, obrigatoriamente, ensinadas em português. Regra geral, os
monitores, deficientemente
120
122 CapftulO
18. Escolas de Artes e Ofctos, como esta de Moamba, constituiram parte
integrante do sistema de educação para negros.
1940, a assimilação, teoricamente promovida pela Igreja, tornou-se, mais do que
dantes, uma ideologia com a qual os dirigentes políticos e religiosos promoveram
a consolidação do sistema colonial. Era a forma de justificar, perante si próprios e
seus subordinados políticos e administrativos, a verdadeira face repressiva e
discriminat6ria do colonialismo português: o trabalho forçado e o carácter racista
da política
19. Aula de sapataria na Escola de Artes e Ofícios de Moamba
122
Capítulo 3
124
da Igreja Luz Episcopal", a principal Igreja etiópica, que trabalhava
particularmente na província de Inhambane. Em 1942, o governo colonial decidiu
o encerramento imediato de todas as igrejas não oficializadas, isto é, todas as
igrejas protestantes que não eram apoiadas por uma organização missionária
estrangeira. Como justificação, referiu-se na documentação oficial,
"à nociva actividade de tais instituições e seus representantes, que só poderiam
concorrer para a desnacionalização espiritual e material dos
moçambicanos" [411.
No entanto, a actividade destas igrejas não parou. De início, a Igreja Luz
Episcopal procurou ultrapassar as restricções, apresentando os seus estatutos ao
Governo-Geral para oficialização. O Governo-Geral nunca se pronunciou,
deixando a Igreja e os seus aderentes numa situação de ilegalidade e sujeita a um
controle apertado.
NOTAS:
1. BO 27, 6.7.1938, Decreto 28697, 25.5.1938; para a Comissão Reguladora de
Algodão em Rama, que passou a controlar os preços e importações, ver BO 26,
30.6.1938; para o resumo provisório da questão algodoeira que constituiu a base
de trabalho deste sub-capitulo, ver D.Hedges, 'As culturas obrigatórias e as
transformações na economia rural sob o colonial capitalismo, 1930-1960' UEM,
Departamento de História, 1983, (mimeo); para uma periodização sistemática e
relação da legislação relevante, ver o trabalho fundamental de M. J. de Lemos,
'Fontes para o estudo do algodão em Moçambique: Documentos de arquivo,
1938-1974', Trabalho de Diploma, Licenciatura em História com especialidade
em Documentação, UEM/AHM, 1985.
2. Ver, por exemplo, J.do Amparo Baptista [coord], Moçambique, província
portuguesa de ontem e hoje, Vila Nova de Famalicão, 1962, p.401.
3. AHM, ISANI, Cx.39, A.S.Moutinho, Relatório da Inspecção ordinária às
circunscrições de Buzi, Chemba, Cheringoma, Chimoio, Gorongoza, Manica,
Marromeu, Mossurize, Sena, e Sofala, 1943-1944, pp.91-92.
4. AHM, ISANI, Cx.77, H.E.de Sousa, Relatório da inspecção ordinária ao
Distrito
de Nampula, da Província do Niassa, 1946-1948, p.86, citando Circular
Confidencial no.1041/D7, do Governo-Geral, de 9 de Novembro de 1944.
Capítulo 3
de Serviço', para os recrutados e contratados temporários não-residentes
(substituindo a antiga chapa metálica, que os trabalhadores braçuLs tinham que
levar no braço direito); o 'Livrete de Serviço', para a maioria de serviçais
residentes, incluindo oomésticos; e a 'Cédula Pessoal', para serventuários do
Estado, proprietários e os que tenham "um nível de vida superior ao dos outros
indígenas e que tenham boa conduta moral e civil". Este último grupo, que era
isento de inscrição no registo do Comissariado da Polícia, tinha que levar um
terceiro documento justificativo dessa isenção; ver BO 24, 12.6.1944, pp.280,
283, Portaria 5.565, 12.6.1944, Regulamento dos Serviçais Indígenas, artigos 1
e 27.
18. BO 35, 28.8.1943, p.306, Portaria 10.420, de 22.6.1043, artigo 10; M.Cahen,
'Corporatisme et colonialisme: approche du cas mozambicain, 1933-1979, 1. Une
genèse difficile, un mouvement squelettique', Cahiers d'Études africaines, 92,
XXIII-4, 1983, p.392; ver, também, cap.4, ponto 5.1.
19. Com a promulgação do Estatuto do Trabalho Nacional, em 1933, o regime
salazarista iniciou a sua ofensiva final pela fascização dos sindicatos em Portugal,
proibindo as associações de classe e outrãs organizações congéneres, ainda
existentes; Decreto-Lei 23.048 de 23.9.1933. Contudo, esta legislação só foi
extensiva às colónias em 1937, pela publicação do Decreto-Lei 27.552 de 5 de
Março de 1937, que, por sua vez, marcou a extensão às colónias da legislação
corporativa por excelência; Cahen, op.cit., pp.385-386.
20. A antiga Associação tinha sido, com efeito, a maior organização de
trabalhadores
brancos de Moçambique desde 1902. Coexistindo com outras organizações mais
combativas, como por exemplo o Sindicato Geral das Classes Trabalhadoras, a
Associação do Pessoal do Porto e Caminhos de Ferro de Lourenço Marques, a
Associação das Artes Gráficas, a União dos Trabalhadores Africanos e outras,
tinha-se sempre mantido à margem delas, não tendo nunca sido interdita.
Efectivamente, nesta organização, não se filiara nenhum dos sindicalistas que
vieram a distinguir-se na acção operária desenvolvida em Moçambique entre 1910
e 1926; Cahen, op.cit., p.392; J.Capela, O movimento operário em
Lourenço Marques, 1898-1927, Porto: Afrontamento, s.d., pp.106-107.
21. Ver Portarias 10.422 e 10.713, BO nos.35, de 1943 e 41, de 1944,
respectivamente.
22. Ver Decreto-Lei no.27.552 de 5.3.1937, BO 14, 10.4.1937, p.161, artigo 2;
Portaria 5.553 de 3.6.1944, BO 23 de 1944.
23. Por exemplo, entre 1939 e 1944 a tonelagem de produtos comprados aos
camponeses aumentou de 116.000 para 167.000 toneladas por ano, mas o seu
valor triplicou, de 69.100 contos para 175.662 contos.
24. Nomeadamente, de 165.305 contos em 1940 para 512.215 em 1944. O
algodão
constituiu 38 por cento deste último montante.
25. AHM, FGG, Paulo do Rego, op.cit., 1944, p.395. 26. Ibid., p.362.
126
Capítulo 4:
Moçambique durante o Apogeu do Colonialismo Português 1945-1961:
a Economia e a Estrutura Social
1. Características gerais do período Este período marcou o apogeu do
colonialismo português em Moçambique no sentido de ser aquele em que a
exploração colonial mais se desenvolveu em benefício do capital metropolitano
A produção agrfcola de exportação aumentou consideravelmente através da
utilização intensiva dos meios já estabelecidos de coerção e exploração da força
de trabalho, nomeadamente, em sistemas de cultivo e trabalho forçados.
Novos investimentos em infra-estruturas garantiram maior eficiência da economia
colonial, e o fomento de investimento controlado permitiu um avanço gradual na
indústria de transformação.
Paralelamente, aumentou a população colona, que ocupava um crescente número
de postos de trabalho que exigiam especialização, e cuja situação económica e
social privilegiada veio a ser reforçada por barreiras raciais cada vez mais
marcadas, principalmente, sob a capa da sindicalização dos trabalhadores brancos.
Por outro lado, a maioria da população continuou a ser sujeita a um sistema de
educação que, de facto, funcionava como uma barreira considerável a qualquer
avanço significativo na sua formação geral, e ao
Capítulo 4
seu acesso aos postos de emprego que requeriam qualificação técnicoprofissional.
O sistema de repressão, erguido pelo colonialismo, baseava-se cada vez mais na
recuperação e promoção dos régulos que, na sua maioria, passaram a ser os
auxiliares directos da autoridade administrativa, utilizando a estrutura tradicional,
ideológica e sócio-cultural, para garantir a tranquilidade, na medida do possível,
da população rural.
No entanto, foi neste período que, em resposta a esta experiência, e por influência
da luta anti-colonial regional e mundial, se procedeu uma clarificação progressiva
dos objectivos do movimento anti-colonial moçambicano, estabelecendo-se,
assim, um movimento verdadeiramente nacionalista (capítulo 5).
2. A intensificação da produção rural
2.1. A cultura forçada de algodão Neste período, o algodão continuou a ser
considerado, pelo Estado colonial, de longe o maior foco de desenvolvimento,
reflectindo a importância da indústria têxtil para a industrialização de Portugal.
No entanto, embora bem sucedido, no sentido de fornecer grandes quantidades de
algodão à metrópole, o sistema sofreu algumas mudanças superficiais.
Como vimos no capítulo anterior, o sistema implicava algumas fraquezas graves:
provocou a forte resistência do campesinato, em especial as fugas
que, difíceis de controlar, resultaram na diminuição do recurso
principal da colónia, a sua força de trabalho;
- o declínio da produção de culturas alimentares e o enfraquecimento
da capacidade do campesinato em se reproduzir;
- a reduzida rentabilidade por hectare e por cultivador em áreas geográficas muito
extensas, implicando um esforço bastante dispendioso na propaganda e na
fiscalização da maioria dos produtores, que estavam pouco motivados para a
cultura do algodão, para além das grandes despesas relacionadas com o transporte
(camiões, construção
de estradas e pontes, etc.).
130
Capítulo 4
de Algodão Colonial (JEAC) e o Centro de Investigação Científica Algodoeira
(CICA), devido às suas reduzidas verbas, apoiaram as campanhas nos distritos de
uma maneira muito selectiva, de modo que as concessionárias eram,
normalmente, as únicas capazes de apoiar o administrador na implementação da
política colonial rural.
Numa tentativa de aumentar o nível geral de fiscalização, um sistema de controle,
baseado no anteriormente em vigor em algumas zonas de Manica e de Sofala, foi
gradualmente alargado às restantes concessões do país. Os produtores de algodão
foram divididos em duas categorias: o primeiro era os 'agricultores de algodão',
homens válidos entre 18 e 55 que tinham que cultivar um hectare de algodão e
igual área de culturas alimentares; o segundo era os simples "cultivadores', os
restantes produtores, principalmente, mulheres, que tinham a obrigação de
cultivar 0.5 hectare de algodão e igual área de culturas alimentares. A todos foi
distribuído*, em cada ano, um cartão, de côr diferente, segundo a categoria, no
qual seria registado o cumprimento de todas as fases da produção, desde a
distribuição da semente até à venda do produto. Com o objectivo de obstar os
principais abusos nos mercados e transportes, o Governo-Geral fez circular
instruções detalhadas sobre a comercialização.
Concentrações algodoeiras, blocos e picadas No início da década de 50, começou
a construção de 'concentrações algodoeiras', que consistia na colocação de grupos
de produtores, em localidades seleccionadas pela administração e companhias.
Cada uma teria espaço suficiente .para a rotação de culturas, e a sua própria
picada de acesso. O objectivo do esquema foi:
- intensificar a produção, através da supervisão mais estrita de cada
produtor;
- assegurar a produção de alimentos suficientes;
- localizar facilmente os maus produtores que deviam ser indicados
para contratação nas plantações;
- reduzir o número e a extensão das viagens pelos administradores e
agentes concessionárias;
- diminuir os custos do transporte.
A implementação dessa política enfrentou entraves de vária ordem.
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ALGODÃO 1960
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Principais zonas de
cultivo de algod3o (em 195S)
colheita comerci alizada o
de algodão em 1.000t 10
Mapa 2: Produção de Algodão, 1960
Capítulo 4
vieram a contribuir directamente para uma grande parte dos capitais para a infra-
estrutura rural colonial. Isto significa que os poucos melhoramentos que foram
feitos nas zonas rurais, como, por exemplo, represas, poços, postos de saúde e
escolas rudimentares, foram pagos pelo povo, no só directamente, através do seu
trabalho na construção, ccmo também, indirectamente, através da compra de
materiais com a verba do 'Fundo de Algodão'. Além disso, como comprovaram os
relatórios provinciais coloniais, a maior parte das verbas, sob este fundo, consistia
nos custos de administração e nos vencimentos dos funcionários coloniais
envolvidos.
As mudanças na cultura de algodão atingiram o objectivo principal colonial.
Aumentou a produção global e, assim, a exportação em beneficio da indústria
portuguesa. Aumentou um pouco a produtividade, o que significou que se
conseguiu esta produção com, ligeiramente, menos produtores. O preço pago ao
camponês também aumentou ligeiramente. No Quadro 10, mostramos os
resultados globais da cultura de algodão, calculados na base das médias anuais
dos quadriénios indicados.
Quadro 10: Produção de Algodao, 1945-1960 [4]
Media por ano
Período A.Caroço Produtor- kg/ha kg/ esc/ esc/
(tons.) res:n0 prod kg prod
1945-1948 64.300 621.750 255 103 1$66 171 1949-1952 81.838 508.000
318 161 2$31 371 1953-1956 95.007 517.000 341 184 2$63 484 1957-
1960 118.590 523.000 392 227 2$74 621
O algodão de Moçambique só podia ser vendido na metrópole, o que continuou a
render lucros fabulosos para a indústria portuguesa, e diminuiu o rendimento dos
produtores em Moçambique. Um estudo colonial mostrou que, no período 1946-
1956, a venda do algodão a preço mundial, em vez do preço português, poderia
ter beneficiado Moçambique com mais 2.774.000 contos do que realmente
recebeu. Só no ano de 1955 a indústria portuguesa economizou cerca de 387.000
contos através
136
Capítulo 4
porque davam a possibilidade de uma maior rentabilidade em relação ao
investimento, existiam particularmente em zonas de Zambézia (Mocuba, Mugeba,
Derre, Mocubela, Maganja da Costa, Morrumbala) e Gaza (Alto Changane, Gaza
sede, Chibuto, Mabalane, Bilene, Massingir, Guijá). Nestas zonas, a cultura de
algodão, ainda que obrigatória, registou maior produtividade e, assim, maior
rendimento por produtor. Nota-se que nalguns blocos e concentrações do norte,
onde foram experimentadas novas variedades de semente, como, por exemplo, as
mais resistentes ao ataque de lagarta, o r¿i.dimento também aumentou.
Analisemos as diferenças de produtividade: considerando a média desejável de
450 quilos por hectare, a análise da estatística colonial mostra que, no período
1954/1959, apenas cerca de 25 por cento dos produtores conseguiram
rendimentos acima desse nível, produzindo cerca de 34 por cento do total do
algodão caroço; os restantes 75 por cento, abaixo do nível recomendável, em
1951, produziram 65 por cento do total [7].
Essa diferenciação, que se desenvolveu gradualmente ao longo deste período,
diminuiu a posição dominante da província de Nampula, como produtor principal
de algodão. No período 1957-1960, produziu cerca de 26 por cento do total do
país (aproximadamente 48 por cento em 19411944), enquanto a produção da
Zambézia aumentou, proporcionalmente, para cerca de 23 por cento (menos de 14
por cento, em 1941-1944). Além disso, as províncias de Inhambane e Gaza
passaram a produzir cerca de 25 por cento do total em 1957-1960 contra apenas
cerca de 5 por cento em 1941-1944 [8].
2.2. O reforço do controle sobre a mão-de-obra rural O regime colonial
aproveitou-se do clima bélico imposto pela II Guerra Mundial para intensificar a
exploração do povo moçambicano, através de uma generalização de trabalho
forçado, nas zonas rurais [9].
Através de uma nova circular de 1947,, o Governo-Geral colonial reafirmou a
obrigação, estabelecida em 1942, segundo a qual todos os homens válidos, que
não eram agricultores de algodão, deviam trabalhar por conta. de outrém durante
seis meses em cada ano. Mas, pretendendo esconder melhor o trabalho forçado
dos seus crfticos internos e externos, o regime 'proibiu' as administrações locais
de exercerem qualquer papel no recrotamento de trabalhadores para as plantações.
Esta orientação
138
Capítulo 4
para salários e postos permanentes de trabalho. Isto dizia respeito não só às obras
públicas como também à construção de outros empreendimentos. Assim, em
1948, o Governo colonial reafirmou que o administrador podia empregar o
excedente dos habitantes, definidos como *vadios' e 'ociosos', na reparação e
conservação de estradas e abertura de caminhos, por tempo não superior a seis
meses, recebtendo estes trabalhadores, apenas, alimentação.
Particularmente nas três províncias do norte, os planos económicos coloniais
requeriam a mobilização maciça de mão-de-obra extremamente barata para novas
tarefas, nomeadamente, as obras associadas à cultura de algodão, à fixação de
colonos, à construção urbana e à expansão das plantações de sisal. Para facilitar
esses planos, sem o dispêndio de capitais, o Governo-Geral decidiu alargar, ainda
mais, o âmbito do trabalho forçado gratuito, tendo em vista:
- a abertura de concentrações algodoeiras e vales de irrigação e
drenagem de pântanos;
" a construção de aldeamentos, aeródromos, gafarias, maternidades e
postos de consulta e tratamento;
- o fabrico de tijolo, cal e todos os materiais necessários à administração.
Para obviar a falta de verbas para a alimentação dos trabalhadores empregados
nestas obras, podia o trabalho de alguns 'ociosos' e 'vadios' ser aproveitado em
machambas destinadas a produzir culturas alimentares[1 1].
Na prática, do ponto de vista colonial, o sistema de recrutamento forçado ainda
tinha as suas fraquezas. Uma delas era a dificuldade de impedir as deserções dos
trabalhadores, pouco compensados pelos salários, face à elevação dos custos de
vida e dos impostos. As deserções contribuíram, significativamente, para a grave
crise de mão-de-obra no norte, nos inícios da década de 50. Este problema
afectou, particularmente, as plantações de sisal, produto que, tendo sido
incentivado pela subida de preços no período de 1948 a 1952, é atingido por uma
queda brusca em 1953. Precisaram, assim, de aumentar a sua produção para
manter os seus lucros, reduzindo ao mínimo todos os custos de mão-deobra.
140
Cpítulo 4
A agravar a crise, na altura, registou-se no mercado mundial o aumento da
procura e da subida de preços de outros produtos agrícolas, nomeadamente,
acúcar, chá, copra e cajú. Os elevados preços oferecidos pelos comerciantes
asiáticos para a castanha de cajú estimularam a expansão do plantio do cajueiro
pelo campesinato do norte, que pretendia ganhar o seu sustento em condições
mais agradáveis e rentáveis do que nas plantações. Uma parte do campesinato,
conseguiu desta maneira, uma substituição parcial do rendimento previamente
atingido através das vendas de amendoim. Com a elevada procura de mão-de-
obra, os proprietários das plantações olharam com ansiedade a crescente
distribuição dos cartões pelos agricultores e cultivadores de algodão e do arroz. O
sistema de cartões, que instituía um melhor e mais eficiente controle, em prol
destas culturas, significou, na prática, uma redução cada vez maior das
disponibilidades de mão-de-obra para recrutamento.
Por estas razões, nos inícios da década 50, começou a revisão e sistematização de
toda a matéria da chamada 'política indígena', com incidência especial no
recrutamento rural. Em 1953, o Governo Geral emitiu uma nova circular sobre
mão-de-obra rural, que visava, essencialmente, intensificar o controle
administrativo, para efeitos de trabalho, de todos os homens válidos no país. O
recrutamento devia ser realizado na base de um recenseamento detalhado de cada
homen válido em cada regulado, cujos elementos deveriam ser. registados numa
ficha especial para o efeito, e regularmente actualizados, através das informações
obrigatoriamente fornecidas pelas entidades patronais.
Assim, por exemplo, nas províncias do norte, foram postas a circular novas
orientações, catalogando exaustivamente as tarefas e obrigações de todos os
participantes (companhias, recrutadores, administradores, régulos e
trabalhadores). Esta medida consolidou o sistema estabelecido pelas circulares de
1942 e 1947. O próprio régulo tinha a obrigação de colaborar, intensivamente,
com as autoridades administrativas na elaboração do ficheiro, de perseguir os
'ociosos', 'vadios' e 'prófugos', denunciando-os, imediatamente, às autoridades
administrativas, e de acompanhar os cipaios às terras, de maneira a evitar-se
perturbações no meio rural.
Apenas a um número muito reduzido de trabalhadores migrantes foi concedida a
escolha de patrão (considerada como o direito de todos, no RTI de 1930). Alguns
desses trabalhadores migrantes, 'privilegiados' em
142
Capitulo 4
"De uma maneira geral, as entidades patronais oferecem a maior resistência à
fixação de salários justos; desinteressam-se por completo por atrair e captar a
mão-de-obra de que precisam; não curam da eficiência nem dos processos de
recrutamento, limitando-se a pagar as importâncias que os recrutadores lhes
exigem, muitas vezes escandalosamente elevadas; não constrõem acampamentos
e habitações para os trabalhadores, senão quando compelidas; evitam prestar
assistência médica adequada e distribuem as peças de vestuário regulamentar de
pior qualidade que lhes é consentida. Todas as medidas tendentes a modificar tal
Estado de coisas são combatidas proclamando a incapacidade financeira, a ruína
dos empreendimentos e das empresas, o descalabro da economia da Província
(colónia, N.R.)... A atitude descrita é muitas vezes apoiada e reforçada pelos
próprios serviços do Estado... As autoridades administrativas.. .tomam quasi
sempre a defesa das entidades patronais, receosas de que exigências
incomportáveis provoquem o atrofiamento económico, senão a ruína das regiões
que lhes estão confiados" [131.
Forçado ao contrato, o trabalhador migrante r&éebia o seu salário, através do
pagamento diferido, que era um outro- meio de exploração, no sistema de trabalho
imposto após. 1930. A prática normal, até ao fim da década de 50, era pagar uma
pequena percentagem (habitualmente só uma sexta parte) do salário no local do
trabalho. Às vezes, esse pagamento consistia em roupa em vez de dinheiro. Os
restantes 80 por cento eram pagos no regresso aos distritos de origem,
descontando o administrador o imposto do contratado.
A título de exemplo, o trabalhador nas plantações de Xínavane em Maputo
recebia no local de trabalho 20 escudos por mês e, após 6 meses de contrato,
recebia do administrador, no seu distrito, 300 escudos (600 escudos menos 300 do
imposto). No norte a situação era pior: o trabalhador nas plantações de sisal de
Nampula e Cabo Delgado, onde o salário normal era 66 escudos por mês, recebia,
no local de trabalho, 66 escudos, ou o seu equivalente, durante os seis meses, e
200 escudos no seu regresso (330 escudos menos 130 de imposto). Com este
dinheiro, tinha que contribuir para o seu sustento, nos seis meses de 'descanso' em
casa, para a compra dos meios de produção da agricultura familiar, e outras
mercadorias, como tecidos e cobertores.
O reforço de controle administrativo e policial, sobre a mão-de-obra rural e o
sistema migratório, permitiram ao regime colonial justificar o pagamento de
salários que eram muito abaixo do custo de subsistência dos trabalhadores e das
suas famflias. Este facto é claramente evidenciado nos inquéritos sobre salários e
custo de vida para trabalhadores não
14
14( 12( 10( 80 60
40 20
O
600 500
400 300 200 100
o
1945-48 19-19-52 1953-56 1957-60
i ilgodao F.i A<.a,. E Copra
1 sa 1 Clia
Quadros 12: Principais exportações, 1945-1960: Valor ConL.ob
1945-48 L Algodao ll Caju
1949-52 1953-56 1957-60
Acucar -- Copra
Sisal Cha
600 500
400 300 200 100
o
5
)
Capítulo 4
Quadro 11: Principais exportações, 1945-1960: Volume
Milhares de toneladas 140 120 100 80 60
Capítulo 4
caracterizou as posições relativas das companhias e dos produtores:
"Não deve haver muitos negócios mais seguros em todo o Império. Os indígenas
correm todos os. riscos (e não são pequenos) da exploração agrícola: intempéries,
invasão de parasitas, insuficiência dos terrenos, etc.
Como o concessionário não é agricultor e apenas compra o algodão que lhe for
apresentado pelos agricultores, a preço fixo, corre... todos os lucros.
Quer dizer a parte arriscada fica para o indígena, a grande fatia dos lucros
e da segurança fica para o concessionário" [171.
Um ,'elatório confidencial de 1947 considerou que, mesmo se fosse atingida a
meta de 400 quilos de caroço por hectare, a cultura não podia ser compensadora,
porque implicava um rendimento de cerca de 600 escudos, que não dava para
comer, vestir, e pagar o imposto. O mesmo relatório continuou:
"É modalidade de escravidão o que se está fazendo em matéria de produção de
algodão pelo 'indígena'. Ela empobrece-o e definha-o, porque lhe não
permite fazer culturas alimentares e mais rendosas' [18].
A situação não melhorou nos anos seguintes. Um estudo feito em 1950, por
exemplo, mostra que o preço de milho, amendoim e feijão, produtos que o
camponês antigamente comercializava, e que passou a ter, muitas vezes, de
comprar, tinha sofrido um aumento duas vezes maior que o do algodão na década
de 40, e conclui que a cultura de algodão era a que
"menos benefícios traz para o indígena, numa inversão da situação que
normalmente se observa em todas as regiões do globo" [19].
Como já vimos, a.maioria dos produtores não conseguiram, mesmo no fim da
década de 50, um rendimento superior aos 400 escudos.
Violência e produção
Para assegurar a expansão de produção nas zonas rurais, contra a vontade e a
resistência do povo, quer nas machambas dos camponeses quer nas plantações
(capítulo 5, ponto 4), o regime colonial continuou a basear a sua estratégia, em
grande parte, na força policial e violência corporal. Passamos a citar somente
alguns depoimentos, colhidos em várias regiões
148
Capítulo 4
das suas costas, e punha-os num caixote, para obrigá-las a trabalhar melhor [21].
No extracto seguinte, referente aos finais da década de 50, Albino Maheche, então
enfermeiro no hospital de Nampula, descreve acontecimentos frequentes:
"Na altura, era hábito vermos nos hospital de Nampula, homens e mulheres com
nádegas escavadas, com feridas, ou seja, úlceras, porque esse administrador
[refere-se ao administrador de Murrupula, N.R.] usava um chicote, preparado com
restos de pneus velhos e um cabo especial, que servia para torturar as pessoas que
fugiam ao cultivo do algodão e do arroz. Batia tanto nas nádegas que ficavam
lesadas com feridas, ou úlceras, quando
estivessem num estado mais avançado.
"Na cidade de Nampula era hábito ver pessoas acorrentadas, vestidas apenas de
camisola interior, tanga ou meconta. Em plena cidade, os presos andavam quase
nus. Conseguíamos vê-los assim quando regressavam aos calabouços
vindos do trabalho forçado.
"Aquilo era espectáculo nas ruas de Nampula, na época, para as pessoas que não
se tinham habituado a ver coisa igual. As pessoas admiravam-se porque passavam
acorrentadas em filas de 20/30 pessoas, na ida e regresso da machamba para os
calabouços. Alguns destes indivíduos faziam parte
daqueles que eram apanhados a fugir ao cultivo do algodão e arroz" [22].
No depoimento seguinte, Joaquim Maquival descreve a violência por detrás do
trabalho para plantação da Sociedade de Chá Oriental de Milanje, na mesma
altura:
"Comecei aos 12 anos a trabalhar para a companhia; pagavam-me 15 escudos por
mês. Trabalhava desde as 6 da manhã até ao meio dia, parávamos duas horas e
continuávamos das 2 até as 6 da tarde. Toda a família trabalhava para a
companhia: meus irmãos, meu pai .... meu pai ganhava 150 escudos por mês.
Tinha que pagar 195 escudos de imposto anual. Nós não queriamos trabalhar para
a companhia, mas se recusassemos, o governo mandava a polícia às aldeias e
prendiam aqueles que recusavam, e se fugissem o governo punha a circular
fotografias e dava início à caçada ao homem.
Quando os apanhavam batiam-nos, metiam-nos na prisão e quando saiam tinham
que ir trabalhar sem receber férias; o argumento era que eles fugiam porque não
precisavam de dinheiro. ... Assim, nos nossos campos só ficavam as nossas mães,
que pouco podiam fazer. Só tinhamos para comer
o pouco que elas conseguiam produzir" [23].
150
Capítulo 4
camponeses, relativamente ricos, o único meio moderno capaz de substituir a
força humana no transporte das mercadorias familiares para as lojas.
O comércio rural foi o veículo através do qual a indústria e o comércio
portugueses expandiram o seu mercado. De facto, o custo de vida rural foi
gravemente, afectado pela exclusividade das relações comerciais entre
Moçambique e Portugal. Assim, Moçambique só podia comprar os seus tecidos, o
artigo de importação mais procurado, ou em Portugal, ou por seu intermédio.
Com a proibição de importação de tecidos mais baratos e de alta qualidade, de
Itália, Japão, Índia e Alemanha, os preços dos panos portugueses subiram tanto,
que constituíram uma outra imposição sobre os produtores. Por exemplo, calcula-
se que, nos meados da década de 50, Moçambique pagou duas vezes o preço
mundial pelas importações de cobertores (cerca de 10.000 contos por ano).
Além destes custos, que o povo tinha de pagar, havia os que resul.tavam da
política de fixação de colonos seguida após 1945. A instalação de comerciantes
brancos, nas zonas rurais, em detrimento doutros comerciantes, principalmente
asiáticos, foi vista como um meio importante na expansão da influência
portuguesa. Protegidos pelo Estado colonial, porque não podiam concorrer com os
outros comerciantes, devido às suas aspirações (acumulação rápida e participação
no estilo de vida da elite branca), estes comerciantes praticavam preços
demasiado altos. Por estas razões, os produtores moçambicanos de algodão, não
só recebiam apenas metade daquilo que o mesmo trabalho dava nas colónias
vizinhas, como também tinham que pagar, pelo menos, o dobro pelos tecidos que
compravam, o que constituía um motivo constante para a resistência e emigração.
O reduzido rendimento e poder de compra do povo, nas zonas rurais, deve ser
compreendido em relação à estrutura global de trabalho. O sistema de culturas
forçadas dependia, em geral, de um campesinato capaz de se sustentar e
reproduzir pelos seus próprios recursos, sem contar com os proventos do seu
trabalho nas concessionárias, que serviam para pagar os impostos e pouco mais.
Isto significa que, enquanto uma grande parte do fundo do tempo e da capacidade
de trabalho fosse absorvida nas empresas e administração coloniais, elas não
contribuíam para os custos sociais da família
amendoim e milho (quer para venda, quer para reserva alimentar), passasse a estar
à beira do desastre. Referindo-se ao período antes da fome, o relatório conclui que
a população de Mogovolas estava mais pobre do que antes de se iniciarem as
campanhas de produção:
"Em resumo, o 'indígena' não está melhor agora do que há trinta anos o devia
estar. Nem ele, nem ninguém vê qualquer resultado do seu esforço"[25].
Concordando com o relatório, o Governador da província escrevia que Mogovolas
dava todas as indicações de ser uma terra 'insofismavelmente exausta'. A situação
deste distrito era ainda mais grave: devido aos constantes derrubes nas terras
virgens durante a vigência da política de algodão, havia espaço para apenas mais
2 anos de cultivo, caso a administração insistisse nA plena implementação da
cultura forçada.
Os problemas que as culturas forçadas trouxeram não se restringiram apenas a
Mogovolas, mas eram comuns a muitas outras partes de Moçambique, como
afirma o mesmo relatório:
"O ora verificado em Mogovolas está à beira de se dar em todas as circunscrições
mais populosas da Província (Colónia, N.R.). O que se desenha em Netia,
Memba, Namapa, Ile ... é uma autêntica corrida para a
miséria futura da terra" [26].
Se bem que para o caso de Mogovolas, o Governo-Geral desse orientações para
uma redução da cultura de algodão, noutras zonas, a política de algodão continuou
com mais intensidade. O reajustamento de solos e a instalação de concentrações,
embora promovessem o aumento gradual de produção, em nada contribuíram para
alterar a perigosa situação das zonas densamente povoadas, que permaneciam
constantemente sujeitas a crises alimentares, caso as condições climáticas fossem
desfavoráveis. Um relatório do governo provincial de 1957 confirmou este facto:
"Em Mogovolas, Meconta, Nacala, Eráti, Memba e outras divisões onde a
densidade populacional oscila entre 20 e 40 habitantes por quilómetro quadrado, o
solo degradava-se muito para além de qualquer possibilidade de recuperação
económica. Repetidas culturas nos mesmos lugares em anos e anos sucessivos,
sem a incorporação de adubos e sem os pousios regeneradores, a terra empobrecia
mais e mais, até que, abandonada por imprestível. . ."[27].
Capítulo 4
154
Capítulo 4
minas, das municipalidades e doutros sectores.
Como parte da estratégia para reprimir essa luta e para assegurar o fornecimento
de mão-de-obra barata, a burguesia e o Estado nesses territórios recorreram aos
países vizinhos que constituíam a sua reserva de força de trabalho, principalmente
Moçambique [31].
A WENELA, a organização de recrutamento da Câmara de Minas, impulsionou
novamente as suas operações em Moçambique, estimulando os seus empregados
locais, através de concursos, nos quais as estações mais eficientes no
recrutamento de migrantes recebiam prémios.
Em 1946, a Rodésia do Sul criou a 'Rhodesian Native Labour Supply
Commission' (RNLSC), para organizar sistematicamente as correntes migratórias.
No Acordo Suplementar de 1947, os Governos coloniais de Moçambique e
Rodésia do Sul autorizaram a RNLSC a estabelecer uma rede de estações de
recrutamento na província de Tete. Em recompensa, tinha que organizar o registo
de migrantes clandestinos e a cobrança de impostos sobre os trabalhadores
moçambicanos na Rodésia do Sul [32].
Após estas inciativas, o número de migrantes nas minas da África do Sul
aumentou de cerca de 78.000, em 1945, para cerca de 96.000, em 1960, e o total
dos moçambicanos na África do Sul para mais de 200.000. Segundo os dados
oficiais, o número de migrantes legais moçambicanos na Rodésia do Sul
aumentou de cerca de 103.000, em 1946, para cerca de 117.000, em 1956, ano em
que atingiu o seu máximo.
No entanto, na segunda metade da década de cinquenta, o desenvolvimento da
economia rodesiana e o aumento de desemprego urbano provocaram uma
mudança de política do governo que, a partir de 1958, permitia a criação de uma
força de trabalho urbano permanente. Em 1959, as autoridades rodesianas
denunciaram o acordo de 1947. Como consequência, o número de Moçambicanos
legalmente empregados na Rodésia do Sul diminuiu para cerca de 30.000 em
1960.
Contudo, os machambeiros rodesianos precisavam, ainda, de trabalho barato e,
nas zonas rurais, ainda se autorizava o emprego dos migrantes estrangeiros,
particularmente, a utilização sazonal de milhares de homens, mulheres e crianças
da província de Tete, nas machambas de tabaco e chá [33]. Mostra-se, assim, as
vantagens para o capital rodesiano do sistema de trabalho migratório que,
permitindo a distinção entre trabalho urbano mais produtivo e trabalho rural
braçal, era capaz
158
160
1 é.
a.
(PENMA)
1'~
A EXPANSÃO DA REDE
FERROVIÁRIA
INHAMBANE
Mapa 3: A expansdo da refekferrovidria, 1930-1961.
1
Caíulo 4
SINAIS CAMINHOS DE FERRO u construidos até 1930
.. .. 1940
. . 1950
"'" " - 1960
depois de 1960 1912 ano de inauguração
Capítulo 4
162
21. Parque de maquinaria no prolongamento do caminho de ferro de Tete:
Moalize, 1949
Em 1947, o governo português facilitou um empréstimo de 100 mil contos para a
fase final da construção do caminho de ferro de Tete, que atingiu Moatize em
1949. Esta linha foi construída com vista a expioração econ6mica das minas de
carvão dessa zona (capítulo 3). A Companhia Carbonífera de Moçambique com
sede em Moatize foi então criada, em 1947, uma companhia privada em que o
Estado portugu&ç detinha 10 por cento do capital.
Em 1949, o governo colonial tomou conta (por resgate) do porto da Beira, e
comprou o caminho de ferro que ligava o porto da Beira à Rodésia do Sul, sob
controle de uma companhia concessionária britânica, aquando do termo da
concessão majestática da Companhia de Moçambique, em 1942.
A partir da década de 50, o governo deu um novo impulso à exploração dos
recursos de Moçambique. Iniciaran.-se os 'Planos de Fomento' e a fixação
sistemática de colonos. O primeiro plano (1953-
Capítulo 4
Esta linha foi construída contra os planos regionais das autoridades sul-africanas,
que pretendiam dominar todo o tráfego ferroviário ao sul do equador ap6s a II
guerra mundial, e que tinham proposto a construção de uma linha entre Ressano
Garcia e Rodésia do Sul via Beit Bridge (ponte principal rodoviária, sobre o
Limpopo, entre África do Sul e Rodésia do Sul, que só em 1974 veio a suportar
uma linha férrea). Com a ajuda diplomática britânica, Portugal obteve um
empréstimo de 17 milhões de dolares do Banco de Importações e Exportações,
sediado nos E.U.A., que pagava cerca de 80 por cento das despesas de construção,
e que constituiu cerca de 36 por cento do total das despesas do I Plano do
Fomento.
Esta obra, concluída em 1956, não servia somente os interesses capitalistas da
Rodésia do Sul, como também beneficiou consideravelmente o orçameuto
colonial de Moçambique. Nos três anos ap6s a sua conclusão, as receitas (em
grande parte em divisas) dos Caminhos de Ferro e Portos de Moçambique
aumentaram 25 por cento, relativamente aos três anos anteriores (de uma média
de cerca de 750.000 contos para mais de 1.050.000 contos), e o acréscimo no
rendimento foi, teoricamente, suficiente para reembolsar o empréstimo em apenas
3 anos.
Para além desse beneficio para as finanças do governo colonial, o novo caminho
de ferro facultou as obras de construção de um outro projecto fundamental do I
Plano de Fomento, o início da fixação sistemática de colonos no Vale do Limpopo
e o escoamento das suas produções.
4.3 Crescimento da população colona O crescimento da população colona em
Moçambique, neste período, esteve intimamente ligado ao problema da
proletarização progressiva do campesinato português, devido à capitalização
gradual do campo, sob o impulso da industrialização. Enquanto vastas correntes
migratórias fossem para Europa industrializada e para as Américas, o governo
português pretendeu utilizar uma pequena parte dos desempregados e despojados
das suas terras para a formação de uma camada de auxiliares leais, não só para o
desenvolvimento económico das colónias, como também para a manutenção da
autoridade colonial.
Por estas razões, entre 1945/50 e 1960, adquiriu grande significado o povoamento
de colonos, oficialmente organizado pelo Estado portu-
166 Capítulo 4
23. O Colonato do Limpopo ocupava grande espaço na ideologia colonial de
assimilação: Os primeiros colonos a chegar, 1954.
ali sido instaladas as primeiras dez famílias, oriundas de Portugal. Em 1957, já
viviam no Limpopo 204 famílias portuguesas, e nos inícios da década de 60, já
estavam distribuídas pelas 14 aldeias do colonato, cerca de 1.400 das 3.000
famílias que se pretendia instalar.
Criaram-se outros colonatos no vale do Revuè, e em Sussundenga, na
24. Vista do Colonato do Limpopo, Guijá, 1960.
166
Capítulo 4
obras sociais (educação, saúde,etc.), estava francamente em ligação com a
instalação de colonos portugueses. Na totalidade, podemos afirmar que mais de
75 por cento dos investimentos tinham essa finalidade. Caminhos de ferro,
estradas, melhoramentos hidro-eléctricos, apetrechamento de portos, eram obras
que confluíam para a criação de condições de formação de 'centros de
colonização' e de melhoramento dos já existentes.
4.4 Fomento industrial
Em geral, a industrialização de Moçambique, neste período, foi ainda
severamente limitada pelas restricções impostas por Portugal, em benefício das
suas próprias indústrias.
No entanto, desde finais da II guerra mundial, tinha-se criado um clima favorável
para a intensificação da produção, incluindo a transformação de culturas
agrícolas, em especial, o algodão, o açúcar, o chá, a maqeirá, as oleaginosas e o
tabaco, isto é, matérias-primas ou mercadorias não produzidas em Portugal.
Este período será, portanto, ainda dominado pela agro-indústria de exportação. A
produção no sector continuará a assentar na utilização de mão-de-obra pouco
especializada, embora se assistia a uma crescente mecanização e a melhoramentos
técnicos, em algumas das indústrias como a do açúcar.
Por outro lado, começou a ser feito o aproveitamento industrial da semente do
algodão, a partir de 1946, pela Companhia Luso-Belga (mais tarde, a Companhia
Industrial Portuguesa) no Monapo, e verificarem-se avanços na transformação dê
outras oleaginosas, como a copra. Dos produtos derivados transformados
começaram a destacar-se: o óleo refinado, o bagaço, o sabão, os ácidos gordos e a
fibrilha. Note-se que estas mudanças resultaram num avanço considerável dos
lucros derivados do trabalho rural barato. No caso dos óleos alimentares, a
crescente procura local foi devida ao aumento da população urbana (dos colonos e
do proletariado negro) e a baixa de produção de amendoim.
No que diz respeito ao cajú, uma única fábrica de descasque foi construída, neste
período (começando a sua produção em 1951), de modo que mais de 90 por cento
da produção desta cultura teria, ainda, que ser exportada para Índia, para a sua
transformação.
Para além do incremento que sentiram, na década de 50, outras
168
Capítudo 4
industrial (abrangendo a pesca, as indústrias extractivas, pas indústrias
transformadoras, a construção e obras públicas, e a electridcdade) [38]:
1955
1957 1959 1961
100 127,9
159,4 223,5
Quadro 16: Expansão do investimedto fixo na indústria transformadora, 1956-
1961 [39]
Capital (contos)
Ano 1956 1961
Total 2.134.027 4.610.029
1. Têxteis
Descaroçamento,tratamento e pre- 445.872 824.471
paração de fibras têxteis
Fiação, tecelagem, e acabamento 140.653 205.192
Calçado, vestuário e têxteis em obra 370 8.931
2. Indústrias alimentares
Refinação de açucar 376.344 808.120
Moagem, descasque de cereais 198.648 363.222
Diversas 118.398 158.122
Refinação de óleos e gorduras 134.015 158.112
3. Madeiras 197.143 347.919
4. Cinento 192.014 379.433
5. Reimação de petróleo 218.403
6. Bebidas 46.977 201.698
7. Reparação de veículos, etc. 28.641 147.209
8. Indústrias metálicas 49.265 114.059
9. Electricidáde, gás e água 330.306 581.877
A evolução do investimento nas principais indústrias moçambicanas na segunda
metade da década de 50 revela-se no Quadro 16, que mostra uma certa
concentração dos investimentos, nas principais indústrias directamente ligadas a
exportação de produtos primários, como o algodão
170
Capítulo 4
Sociedade Agrícola do Incomati, Champalimaud, João Ferreira dos Santos,
Monteiro e Giro etc., todas com grandes interesses na agricultura, indústri4 e
comércio. Para além das condições rentáveis concedidas pelo estado colonial a
todas as empresas capitalistas, estes grupos eram capazes!de rentabilizar a sua
posição dominante, se não monopolizadora, no comércio global de uma ou mais
regiões geográficas (como João Ferreira dos Santos no norte), ou na
comercialização de produtos chaves em todo o país (como Champalimaud nos
cimentos).
Ao nível do capital financeiro, os grandes bancos, tinham aproveitado da
repressão colonial fascista para investir e tirar lucros de produção. Por exemplo, o
Banco Português do Atlântico estava ligado à Sociedade Hidro-eléctrica do
Revuè, e tinha grande interesses nos sectores de algodão, têxteis, açúcar e vidro.
O Banco Nacional Ultramarino detinha 1/3 do capital da Companhia Colonial do
Buzi e estava associado com a CUF na SOCAJU, proprietária da única fábrica
para o descasque de cajú construída no período.
Nota-se que o estado colonial tinha, também, aumentado a sua posição como
detentora de enormes capitais, principalmente, nos caminhos de ferro e portos.
O sucesso da política colonial da promoção dos capitais portugueses, quer
metropolitanos, quer locais, na agricultura, pode avaliar-se pelo facto de, em
1960, das 2.700 empresas agrícolas existentes, cerca de
2.500 serem portuguesas.
5. O desenvolvimento da estrutura social
5.1 A força de trabalho assalariado e a sua estratificação racial Como resultado do
desenvolvimento da economia colonial e, particularmente, da agro-indústria e das
outras indústrias transformado:as, a força de trabalho aýsalariado, quer voluntário,
quer forçado, cresceu consideravelmente (Quadro 18).
A divisão racial continuava a ser uma característica fundamental na evolução
sócio-económica da força de trabalho assalariado. De facto, devido à política
portuguesa de imigração colona, da expansão dos sindicatos corporativos
fascistas, e da elaboração do corpo legislativo essencialmente racista, as barreiras
raciais intensificaram-se significativa-
172
Captulo 4
especificamente, impedidos de trabalhar naqueles postos.
Em Julho de 1947, teve lugar a primeira reunião dos sindicatos coloniais em
Moçambique, em que foi discutida a questão do desemprego dos brancos e as
possíveis soluções. Depois, o Conselho Geral do SNECI, que era de longe o maior
e mais influente dos sindicatos, dirigiu ao Governo-Geral uma exposição sobre a
'intromissão de indígenas nas profissões tuteladas por este Sindicato'. Disto
resultou, em Julho de 1948, um despacho sucinto (de duas linhas) do Governador-
Geral, Gabriel Teixeira, pelo qual foi pura e simplesmente vedado aos 'indígenas'
o exercício das profissões abrangidas por aquele Sindicato. Este despacho foi
considerado extensivo a todas as profissões organizadas em sindicatos. Assim, por
exemplo, após 1950, os motoristas negros que tinham uma carta de condução só
podiam, legalmente, exercer a sua actividade como 'motoristas auxiliares'. A
isenção dos assimilados dessas exclusões dependia das informações recolhidas em
inquéritos feitos para cada caso [41].
Além disso, para melhor controlar as admissões ao emprego e concretizar, assim,
as barreiras raciais, os sindicatos argumentaram a favor do sistema da 'Carteira
Profissional', o que foi concedido pelo GovernoGeral, e que entrou em vigor em
Janeiro de 1949. Passou a ser interdito a qualquer trabalhador empregar-se sem
ter, previamente, obtido a carteira profissional emitido pelo respectivo sindicato.
Paralelamente, e na mesma altura, foram estruturadas em cada sindicato agéncias
de colocação de trabalhadores da respectiva profissão [42].
Estas medidas constituíam ferramentas poderosas na 'protecção' dos trabalhadores
brancos. Os sindicatos passaram a identificar os postos de trabalho que deviam
cair sob o seu controle, nas actividades existentes e nas outras que se
estabeleciam, colocando neles, apenas, os possuidores da carteira profissional
respectiva, muitas vezes, colonos recém-chegados de Portugal.
Com estes meios de controle, a situação dos trabalhadores brancos começou a
melhorar significativamente. A legislação e os despachos a partir de 1948
facultaram emprego a numerosos brancos, suprimindo a concorrência de outros
trabalhadores, particularmente nas cidades. Como dizia laconicamente o relatório
do Conselho Geral do SNECI em 1954, acerca do 'trabalho de indígenas', "nos
grandes centros o assunto está sendo lenta mas seguramente resolvido" [43]. A
colaboração entre
174
Capítulo 4
que os salários da maioria eram extremamente baixos.
Por outro lado, o trabalhador branco, mesmo na indústria de cimentos, auferia
salários iguais ou superiores a 200 escudos por dia, ou seja, quatro vezes o mais
alto salário pago ao negro, por vezes, com a mesma tarefa e responsabilidade
semelhante.
Segundo, uma estimativa americana, no início da década de 60, o salário médio
anual de um negro na indústria, em geral, era de 4.104 esc., isto é, dez vezes
menos do que o salário médio de um branco, que andava a volta de 47.540 esc.
Isto significava que a elite branca, constituindo apenas 10 por cento da força de
trabalho na indústria transformadora, recebia 50 por cento dos salários. Em
indústrias específicas, a diferença era maior, como, por exemplo, na de
fornecimento de energia eléctrica, onde os 10 por cento dos trabalhadores que
eram brancos, recebiam 64 por cento dos salários, ou na indústria mineira, onde
os 2 por cento dos trabalhadores, brancos, recebiam 19 por cento dos salários
[46].
5.2 A educação, as missões e seu papel na estrutura social colonial Neste período,
a educação separada para negros e brancos e assimilados, tormou-se mais
claramente definida. Para enquadrar, principalmente, os filhos da crescente
população branca, expandíu-se o regime de educação semelhante ao de Portugal,
que era, predominantemente, oficial ou supervisionado pelo estado. Esta expansão
foi acompanhada por um conjunto de legislação para garantir a organização
interna dos estabelecimentos de ensino, manter o nível do ensino através do
controle das provas, exames de admissão aos liceus (2 em Lourenço Marques e 1
na Beira em 1960), e assegurar auxilio económico aos alunos, incluindo bolsas e
passagens aéreas. Por outras palavras, o nível de investimento económico e
administrativo, neste ensino, foi relativamente alto.
Para a maior parte da população africana existiam, apenas, as escolas das missões
católicas portuguesas e algumas, poucas, escolas do estado e das missões
protestantes.
A identificação do estado português com a Igreja Católica, aliada à sua pobreza
económica, impediu esta de tomar o papel progressivo em Moçambique, nem
mesmo ao nível da educação, que manifestou nalgumas colónias vizinhas, como
Rodésia do Sul, por exemplo. Os agentes da Igreja, revelando-se mais portugueses
que missionários,
176
Capítulo 4
propostas de melhoria do ensino secundário e de formação de padres africanos,
provocou críticas violentas dos defensores da supremacia branca portuguesa,
dentro e fora da Igreja [47].
Tirando a posição do Bispo da Beira, a actuação da Igreja católica surgiu como
resultado duma colaboração activa entre ela e o Governo colonial. Como
consequência, a Igreja Católica expandiu-se maciçamente entre 1945 e 1961 em
comparação com as missões protestantes.
Quadro 19: Aumento de missões religiosas, 1945-1961
1945 1961
Missões católicas 70 184
Filiais 379
Missionários 127 445
Irmãos/Irmãs 306 954
Assalariados 1.811 5.259
Missões protestantes 14 15
Filiais 35 53
Missionários 41 85
Auxiliares 321 474
Verifica-se que uma grande percentagem do pessoal que figurava na expansão das
missões católicas era de nacionalidade e formação portuguesas, incluindo um
número considerável dos assalariados, que trabalhavam nas construções,
manutenção e funcionamento económico da Igreja.
A expansão das missões protestantes foi limitada por razões financeiras (o Estado
praticamente não apoiou as suas escolas) e por vários regulamentos, como, por
exemplo, os que estipulavam que professores moçambicanos, encarregados das
escolas rudimentares, deviam frequentar a Escola Normal de Habilitaçõo, em
Manhiça, Maputo, que só matriculava católicos. A aplicação discriminatória de
outros regulamentos, como os relacionados com as construções, também atingiu
estas missões [48].
Além disso, as Igrejas protestantes foram sujeitas a um crescente controle pela
administração colonial, que as encarava como agentes de uma cultura estranha à
portuguesa que se pretendia implantar e, por isso, possíveis focos de pensamento
anti-colonial e nacionalista.
178
Capítulo 4
182
Quadro 22: Matrículas nos Liceus, 1945 e 1960
1945 1960
Total 704 2.550
Brancos 554 [78,6%] 2.077 [81,4%]
Não-brancos 150 [21,3%] 473 [18,5%]
Negros 1 [0.14%] 69 [2,7%]
Destas informações, destacam-se três conclusões principais:
- por volta de 1960, apenas 0,2 por cento.da população negra atingiu, anualmente,
um grau rudimentar de alfabetismo. Calculava-se que a
percentagem global de analfabetismo era cerca de 95 por cento;
- um número muito reduzido de crianças negras era autorizado a receber uma
educação primária igual a dos brancos, e a proporção de crianças negras, em
relação às crianças brancas, nas escolas primárias e secundárias 'comuns', foi
muito menor em 1960 do que
em 1930;
- as barreiras à educação do negro eram mais efectivas, na medida em que
avançavam nos vários níveis de ensino. Foi poC esta razão que um número
considerável de negros fugiu para os países vizinhos, para ter acesso à educação
secundária, como, por exemplo, Eduardo MondIane, que conseguiu matricular-se
numa escola da Missão Suiça,
no Transval.
5.3 As formas de enquadramento colonial Destas informações podemos confirmar
que a política de 'assimilação', mesmo no sentido restrito, de levar a população,
através da educação, a participar numa cultura europeia e a gozar os direitos de
cidadania do 'império' português, não deixou de ser uma mera justificação teórica
para a presença colonial, cuja estrutura de dominação racial, na prática, impediu
tal acesso. A discriminação racial, no sistema de educação, no regime jurídico e
de propriedade, na legislação e nas práticas laborais, no código comercial e,
fundamentalmente, no acesso aos direitos políticos, mostra a hipocrisia da
ideologia colonial de assimilação.
Em 1955, numa população total estimada em 5.650.000 habitantes, havia 4.555
assimilados, uma minoria irisória de cerca de 0,08 por cento
Capitulo 4
184
27. Banja em Maniamba, década de 1950, parte integrante da administração, as
banjas serviam para as autoridades coloniais enaltecerem o papel dos régulos.
administradores, e incrementar a distância existente entre eles e o povo. A
distribuição de árvores de fruto (cajú) e outras plantas foi feita, normalmente,
através dos régulos, reforçando, também, o seu poder económico.
Esta estratégia foi particularmente importante em áreas onde os régulos tinham
sido demasiado desprestigiados. Por exemplo, após o desastre ecológico de 1950-
1951 em Mogovolas, Nampula [ponto 2.4], o prójecto administrativo para a
recuperação económica do distrito foi acompanhado por uma prolongada
campanha de aliciamento dos régulos, através da introdução de gado bovino e
outras regalias económicas.
De uma forma geral, o regime colonial promoveu, neste período, boas relações
políticas com os grandes régulos do país, particularmente com os que já tinham
mostrado a sua capacidade de acomodar-se ao domínio colonial, tornando-os
agentes da disciplina política, social e, em especial, laboral, do colonialismo.
Por outro lado, nalgumas dinastias locais, foram escolhidos como chefes
indivíduos capazes de ser bons intermediários com as autoridades coloniais. Foi o
caso de Abdul Camal, chefe da dinastia Megama do
Capítulo 4
Megama era solícito em desempenhar as funções que o colonialismo lhe
prescrevia, e tinha dinamismo, iniciativa e ambição suficientes para se tornar um
chefe poderoso e rico dentro do sistema, posição esta que não colidia, ainda, com
os interesses particulares dos colonos [53].
De facto, as estruturas sócio-económicas e políticas africanas foram submetidas à
dominação colonial, desde a época da conquista, no sentido de todas as
actividades produtivas se efectuarem, directa ou indirectamente, em beneficio do
colonialismo. A estratégia colonial foi, por conseguinte, o de manter, na medida
do possível, e através da repressão administrativa e policial, as formas sociais da
produção camponesa, nos seus moldes pouco modernos, de maneira a recairem
sobre a famflia camponesa o grosso dos riscos e custos de produção e,
concomitantemente, a evitar dispendiosos investimentos do capital na agricultura.
A produção de subsistência e para mercado continuava, assim, sem beneficiar de
melhoramentos dos meios de produção, investimento em tecnologia, formação de
força de trabalho, investigação do meio ambiente, e sistemas de gestão.
Para que se pudesse exercer, mais eficazmente, o controle do campesinato, a
administração colonial valorizou e reforçou o poder dos regedores (régulos), em
detrimento de chefes menores e mesmo, em alguns casos, de chefes poderosos,
embora procurasse, sempre que possível e achasse conveniente, fazer coincidir os
interesses destes com os daqueles. Mas, para que tal fosse possível, era
indispensável dinamizar o 'tradicional' das estruturas sociais e políticas dos
camponeses, ao nível das quais se podia exercer, com maior eficácia, o poder das
'autoridades gentflicas' (régulos, chefes de grupos de povoações, chefes de
povoações).
Foi durante este período, que os 'hábitos e costumes' começaram a ser estudados,
de uma maneira mais sistematizada, pelos administradores e pelos missionários,
mais para os manter do que para os combater.
Por outro lado, para que os régulos pudessem ter força e prestígio, passaram a
beneficiar, cada vez mais, da sua posição na administração colonial (salário,
gratificações, etc.) e a poder acumular riqueza, explorando os seus subordinados
directos. Esta crescente clivagem social trouxe conflitos graves no seio do
campesinato, que se manifestavam, particularmente, nas suçessões dos régulos.
186
Capítulo 4
serem trabalhadores contratados ou forçados. A palavra 'serviçal' ou 'servidor'
significava, de facto, todo o indivíduo 'destribalizado', trabalhando,
permanentemente, nas zonas urbanas. Em 1950, existiam as seguintes
associações: Associação dos Negociantes Indígenas, dos Carpinteiros, dos
Lavadores, dos Barbeiros, dos Sapateiros, dos Pintores, dos Criados da Mesa e
dos Alfaiates.
Não tendo estatutos legais, as associações serviram o objectivo de controlar as
actividades sociais de um número considerável dos trabalhadores permanentes da
cidade, através, por exemplo, da supervisão oficial da educação oferecida na
escola das associações. As associações proporcionavam algumas vantagens aos
seus sócios mas, dependendo estreitamente da boa vontade da administração
colonial, eram veículos para a imposição da disciplina laboral e política coloniais.
Os agricultores prósperos e as cooperativas Não obstante a situação sombria, já
analisada, da maioria dos camponeses e trabalhadores, deve notar-se que,
nalgumas localidades, se reforçou a pequena camada de agricultores relativamente
privilegiados, que já se evidenciou no período anterior [54].
Com efeito, um dos principais objectivos da política rural colonial foi o
enquadramento destes produtores 'evoluídos'. Em 1944, o Governo publicou o
chamado Estatuto do Agricultor, que visava a promoção e controle de "uma classe
de pequenos proprietários rurais, mergulhando ainda por algum tempo as suas
raizes no indigenato, mas ascendendo para a civilização ..." [55].
Esta legislação providenciou que os agricultores 'evoluídos' se registassem na
administração, e que recebessem certas ajudas, na promoção de culturas,
particularmente as alimentares. Visava, também, controles sobre a sua
comercialização, e estipulou que o agricultor tinha de construir a sua casa de tijolo
dentro de um período de 5 anos a partir da data da sua inscrição. O objectivo era,
evidentemente, o de controlar a evolução dessa camada social.
Após 1945, o Governo-Geral pretendeu identificar todos os agricultores
'evoluídos' que, às vezes, recebiam uma atenção especial do Governo. Por
exemplo, aquando das tentativas de promover a cultura de trigo, no Limpopo,
entre 1954 e 1958, e paralelamente à instalação do colonato, alguns agricultores
'evoluídos' foram incluídos nas campanhas
Capítulo 4
colocado um régulo que, habitualmente, era também um agricultor próspero [56].
Da mesma forma e em condições sócio-económicas semelhantes, durante a
década de 50, outras- coop.rativas foram criadas pela administração em Chibuto
(Gaza), Marracuene e Manhiça (Maputo). As cooperativas de Salamanga e
Santaca (Maputo) foram criadas para evitar uma desestruturação total da
sociedade camponesa, afectada pela emigração, reforçando, simultaneamente, as
relações tradicionais e os laços com a administração colonial. A Cooperativa dos
Pescadores do Govuro, baseado em Nova Mambone, foi criada, após as
perturbações de 1953, na Machanga (Sofala), para retomar o controle duma
situação social muito tensa [57].
O facto de que, para o regime colonial, o objectivo principal das cooperativas não
era beneficiar os agricultores prósperos, mas de os enquadrar, manifestou-se ainda
com mais clareza nos fins da década. Como disse o Governador-Geral, Gabriel
Teixeira:
"Pretendeu-se muito especialmente prevenir o surto de novas condições sociais
resultantes da expansão econ6mica dos agricultores em regime individual ... de
criar novas relações e hábitos de ordem e disciplina ... (e de) ... estimular a criação
de novos laços sociais que se harmonizem com a nossa política secular de
assimilação e sirvam para substituir os vínculos
tribais em vias de desaparecimento" [58].
As cooperativas foram consideradas, assim, 'obras de cooperação social' em
beneficio da estrutura s6cio-económica existente. Confirmando este facto, após
reclamações dos comerciantes asiáticos e portugueses estabelecidos no distrito,
em 1960, a administração de Zavala decidiu retirar, em grande parte, os
privilégios das cooperativas na comercialização, onde residiam as suas melhores
perspectivas de expansão [59].
Uma outra forma de cooperativização surgiu em relação à cultura de algodão, e,
particularmente, após a legislação de 1955, respeitante a essa cultura. Esta
legislação elaborou uma polftica para a promoção de cooperativas algodoeiras,
sob a tutela das companhias concessionárias, com o objectivo de fomentar a
cultura. voluntária e de reduzir, desta maneira, os custos de administração e
produção.
Dessas cooperativas, a de maior relevo foi a Sociedade Algodoeira
190
Capítulo 4
'Salários e subsídios, 1958-1961'; P. Soares, Inquéritos sobre a revisão dos
salários, 1960-1961, AHM, ms. dactilografado, 1984.
16. Estatísticas de Comércio e de Navegação, 1945-61; Anuário Estatístico, 1945-
61. 17. H. Galvão, Ronda da África, Porto: Editorial 'Jornal de Notícias', s.d., vol.
II,
pp. 483-484.
18. AHM, FGG 273, Relatório da Inspecção à Colónia de Moçambique pelo
Inspector Superior D. António de Almeida, 1947, pp. 92-93.
19. AHM, FA, JEAC, 'Reajustamento dos preços do algodão aos restantes
produtos
da cultura indígena de Moçambique', (Lisboa, Marco de 1951), pp.2a-3.
20. Citado em A. Manghezi, 'Interviews with Mozambican peasant women', em
H.
Johnson e H. Bernstein [coord.], Tlird world lives of struggle, Londres:
Heinemann/Open University, 1982, p. 165 [nossa tradução].
21. L. Vail e L. White, 'Tawani machambero!: forced cotton and rice growing on
the Zambezi', Journal ofAfrican History, vol. XIX (1978), pp. 255-256.
22. AHM, FTO, Entrevista com Albino Maheche orientada por Gerhard
Liesegang,
Maputo, 4.10.1981.
23. Citado em Eduardo Mondiane, Lutar por Moçambique, Lisboa: 1977, p. 90.
24. Ver, inter alia, Bravo, op. cit., pp. 225-229. 25. AHM, FA, A. M. Silva e
outros, 'Mogovolas: esboço de estudo da recuperação
dos solos e ordenamento agrícola', Lourenço Marques: mimeo, 1951, p.10. 26.
Ibid., p. 8.
27. E. F. de Almeida, Governo do Distrito de Moçambique, Relatório, Lisboa:
Agência Geral do Ultramar, 1957, vol. 1, p. 14.
28. Vail e White, Capitalism and coloniali'm in Mozanbique..., pp. 219,313,353,
359,376.
29. Ferreira de Almeida, op. cit., vol.1, p. 65; AHM FGG, António Lopes dos
Santos, Relatório do Governo do Distrito de Moçambique, 1959, p. 33.
30. Ver, por exemplo, AHM, FGG 273, António de Almeida, Relatório da
Inspecção
Superior Administrativa à Colónia de Moçambique, 1947.
31. Ver, por exemplo, M. Legassick e F. de Clerq, 'Capitalism and migrant labour
in southern Africa: the origins and nature of the system', Universidade de
Londres, Institute of Commonwealth Studies, mimeo, 1978, pp. 7-10; D.G.
Clarke, Contract workers and underdevelopment in Rhodesia, Gwelo: Mambo
presi, 1974, pp. 14-18; D. O'Meara. 'The 1946 African mineworkers strike and the
political economy of South Africa', Journal of Commonwealth and
Comparative Politics, 13 (2) 1975, pp. 150-151, 157-162.
32. UEM/CEA, O mineiro moçambicano, Maputo, mimeo, 1979, pp. 31-34;
AHM,
FNI, Cx. 132, Repartição Central dos Negócios Indígenas, Elementos para o
relatório de S.Exa o Governador Geral de Moçambique relativo aos anos de 1947,
1948 e 1949, Anexo, Acordo Suplementar ao Acordo de 30 de Junho de 1934,
sobre o recrutamento de trabalhadores indígenas no distrito de Tete, para
serem empregados na colónia da Rodésia do Sul, 13.11.1947.
192
Capítulo 4
- F
x--
4F
ira 1932
/ hG R EV ES. CONTESTAÇOES
/Machanga
.195 3 E PROTESTOS
1930-1960
SINAIS
AProtestos,etc. relacion-ids com o culti-vo forçado de algodão a195
FFugas para território;
1958 vizinhoi.
- tManj cazePF GGreves
..1951)
G - PProtestos cortra o reXinavane 1943,1954 gime
colonía',trabalho
S G1 forçado, abusos, etc.
_ G Lourenço Marques 1933,1947 GobaL195410 1949
M"-- 4: Greves, contestações e protestos, 1930-1960.
196
Capítulo 5:
A Contestação da Situação Colonial, 1945-1961
1. Introdução
Como vimos nos capítulos anteriores, uma das bases fundamentais da crescente
exploração que Portugal quis implantar em Moçambique, ap6s 1930, era a
repressão política fascista, que impediu o desenvolvimento de organizações anti-
coloniais. Com a divisão racial do movimento associativo como, por exemplo, na
criação, em 1932, do Instituto Negrófilo, apoiado pelo Governo colonial e alguns
grandes capitalistas, procurava-se enquadrar, em moldes aceitáveis pelo
colonialismo, as aspirações da elite moçambicana. Procurava-se, sobretudo,
impedir que surgisse uma plataforma anti-colonial comum, entre membros da
pequena burguesia moçambicana de diferentes origens sociais e raciais.
Embora houvesse uma pequena abertura para a expressão política anti-fascista
logo após a II Gurra Mundial, a repressão da actividade política moçambicana
tomou novas formas, neste período.
Apesar do rigor da repressão, a intensificação da exploração rural e das barreiras
raciais no trabalho, a crescente divisão e alienação das terras em beneficio dos
colonos e a discriminação religiosa [1] não podiam deixar de inspirar oposição da
parte do povo moçambicano. A contestação anti-colonial continuou a manifestar-
se sob várias formas. Surgiram, por exemplo, greves, motins e outras formas de
protesto da parte dos camponeses e trabalhadores.
Capítulo 5
198
Embora muito reduzido em termos absolutos, o número de estuaantes
moçambicanos que conseguiram fazer ensino secundário, dentro ou fora do país,
cresceu gradualmente, formando um núcleo que começou a questionar a
assimilação política e cultural da elite moçambicana nas estruturas coloniais (as
associações) e o seu carácter racista. Além disso, com a proibição da expressão
aberta de opiniões políticas, a actividade cultural veio a ser um veículo importante
de oposição à situação colonial.
No fim da década de 50, incentivada pela crescente repressão interna e pelo
avanço da luta anti-colonial no contexto regional e continental, a reclamação pelo
fim do domínio colonial, e a sua substituição por um estado independente ganhou
uma nova dinnsão.
Por seu turno, não obstante algumas mudanças na organização da economia, o
regime oólonial respondeu com uma repressão mais feroz à exigência das mais
elementares reformas políticas, como se verificou, por exemplo, no massacre de
Mueda em 1960. Perante a intransigência do regime colonial, formaram-se, fora
do país, os movimentos que, na fase posterior, se juntariam, fundando a Frelimo.
2. O reforço do colonialismo na África após a II Guerra Mundial
No fim da II Guerra Mundial, em 1945, o clima mundial altera-se, tempo-
rariamente, relativamente às lutas anti-coloniais. A guerra dos aliados, URSS,
EUA e Grã-Bretanha (e os seus domínios) contra o fascismo tinha, como
objectivo principal, o derrube do fascismo alemão, italiano e japonês. Apesar de
existir, entre os aliados, grandes divergências de estruturas económica e
ideológica, em termos gerais, lutaram para o estabelecimento da liberdade e
democracia. No pós-guerra, torna-se evidente a desarmonia entre este objectivo e
a prática de dominação colonial, que se aproximava do fascismo, no sentido em
que negava a liberdade e democracia aos povos subjugados. Tal opressão veio a
ser posta em causa, em tempo de paz, no período da reconstrução da economia
mundial e das relações internacionais.
A URSS, que tinha a posição anti-colonial mais firme, viu a sua influência
internacional consideravelmente incrementada, devido ao seu papel preponderante
na aliança contra fascismo. O alargamento de apoio popular na Europa para a
causa socialista, como se evidenciou, por
Capítulo .5
mesma altura, verificou-se mais uma intensificação do controle sobre os
trabalhadores negros, nas cidades de Lourenço Marques e Beira.
3. As associações e o movimento juvenil em Moçambique, 1945-1955
Contudo, o conjunto dos acontecimentos internacionais decorrentes do final da II
Guerra e a transmissão por rádio das informações e debates que os provocaram
não podiam deixar de encorajár oponentes do regime em Moçambique. '
Pouco depois da Guerra, formou-se, em Moçambique, um movimento
complementar ao MUD-Juvenil português, o Movimento dos Jovens Democratas
Moçambicanos [MJDM], cujo objectivo era fazer uma intensa propaganda contra
o Estado Novo, através da distribuição de panfletos de propaganda política
clandestina. A liderança do MJDM era constituída por Sobral de Campos (antigo
consultor jurídico da Confederação Geral de Trabalho e de outros organismos
operários portugueses, radicado em Moçambique), Sofia Pomba Guerra, e Raposo
Beirão (advogado). João Mendes, Ricardo Rangel (fotógrafo) e Noémia de Sousa
(poetisa) faziam também parte do movimentoque pretendeu:
"combater as grandes injustiças sociais de que estavam a ser vítimas os
trabalhadores por parte dos patrões ..(e)... promover a unidadede todos os
africanos..." [10].
No entanto, vigiado pela polícia e limitado pelas divisões raciais impostas ao
movimento associativo, o MDJM não podia ter um impacto fora do seu núcleo
fundador. Em 1948-1949, o regime reprimiu o Movimento, através de processos
de julgamento dos seus líderes [11].
Foi neste ambiente, de perspectivas que foram encorajadas inicialmente pela luta
anti-fascista e anti-colonial internacional e, depois, confrontadas pela retomada
rigidez do colonialismo na África Austral, que funcionaram as Associações mais
velhas. O Centro Associativo dos Negros de Lourenço Marques, as Associações
Africanas de Lourenço Marques e de Quelimane e o Núcleo Negrófilo de Manica
e Sofala constituíram parte do aparelho legal através do qual o regime colonial
pretendeu enquadrar as aspirações culturais e políticas da pequena burguesia, dos
vários grupos raciais (capítulos 2 e 3).
202
Capítulo 5
204
31. Eduardo Mondiane,
em 1949, ano do seu
regresso da Africa do Sul,
e da fundaç4o do NESAM
moçambicanos, nos compounds das minas do Witwatersrand, na sua capacidade
de assistente missionário [14].
A primeira fase da existência do NESAM, embora dinamizada pela experiência e
pelos ideais de Eduardo Mondíane, durou pouco tempo. Para as autoridades
coloniais o NESAM era "uma organização nacionalista embrionária" [15], e a
polícia tentou eliminar o conteúdo político dos seus objectivos. Como Mondlane
relatou:
"Logo desde o início, a polícia vigiou de perto o movimento. Eu própcio, .como
era um dos estudantes vindos da África do Sul que tinham fundado o NESAM, fui
preso e longamente interrogado acerca das nossas actividades
em 1949" [16].
e ter espancado camponesas por não terem ido às machambas todos os dias, este
oficial esteve também envolvido na caça ilegal ao elefante, no comércio ilegal de
marfim bem como no desvio, em proveito pessoal, de produtos doados, destinados
a aliviar a situação das populações afectadas pela fome [21].
Os acontecimentos no posto de Machanga quando 3 delegados do Núcleo alf se
dirigiram para se inteirarem das queixas são revelados na testemunha seguinte:
"Chegam os delegados do Centro (i.e. Núcleo), houve cerimónias no estado,
recepções, porque o Centro tinha os estatutos aprovados e era uma associação
política. O chefe de posto prendeu-os, acusando-os de o terem denunciado. Nem
deixava a família visitá-los. Os delegados que ficaram juntaram-se aos de
Mambone e foram perguntar porque e que eles estavam presos e incomunicáveis.
Se fosse lá uma só pessoa era presa. Por isso reunimos muita gente, de Mambone
e da Machanga. O posto ficou cercado de gente. Sim, senhor era realmente muita
gente. Ele, quando saiu da residência viu o mar de gente e disse: "O que se passa?
O cabo, pergunte o quer esta gente toda". Dissemos: "Nós precisamos de saber
por que é que aquela gente foi presa e por que é que não se lhes dá comida,
porque estio incomunicáveis'. O chefe de posto, perante isto, teve medo e mandou
abrir as portas do calabouço, soltando aquela gente. Eles foram então recebidos
em ombros pelas pessoas, com aplausos e gritos, apitos e assobios" [221.
Contudo, o regime, depois de conseguir identificar a grande parte dos
participantes, ptendeu-os, junto com membros da Direcção do Núcleo, durante as
averiguações que se seguiram.
É claro que as actividades do Núcleo, e particularmente o facto de que gozava de
maior reputação na população de Machanga do que os régulos ou mesmo
funcionários coloniais, constituíam uma ameaça contra a autoridade e prestígio do
regime colonial. O Núcleo tinha ultrapassado os limites da tolerância do regime
pelo facto de ter auscultado as queixas não só dos seus sócios como também da
população em geral, e pelo facto de ter prosseguido com a propagação da Igreja
Evangélica em Machanga e Beira, e concedido hospitalidade a outras igrejas
protestantes independentes. É de salientar que o Núcleo tinha aliciado o poderoso
chefe Chiteve, pois, segundo as palavras do inquérito oficial, ia " ...
subrepticiamente destruindo o poder das autoridades legalmente constituídas"
[23].
Capítilo 5
206
Capíndo 5
208
estudar. Mas, de facto, este processo levou-os à experiência e análise da
discriminação colonial, tão nítida na organização dos serviços de saúde.
Com efeito, o avanço dos projectos coloniais para a fixação de colonos, a
intensificação das barreiras raciais, para acomodar os interesses dos trabalhadores
brancos enquadrados nos sindicatos fascistas, aliados às informações postas a
circular nos meios de comunicação internacionais sobre o progresso da luta
popular no Gana, Egipto e Quénia, não podiam deixar de suscitar uma crítica cada
vez mais aguda ao colonialismo português, em Moçambique, no decorrer da
década de 50 [25].
Entretanto, os poucos estudantes que conseguiram beneficiar da política colonial
de educação, e que sairam para formação nos níveis secundário e universitário,
continuaram a actividade política anti-colonial. Num primeiro passo, em 1947,
Marcelino dos Santos foi para Lisboa, seguido por Noémia de Sousa e Mondiane,
em 1950. Na capital portuguesa, existia a Casa dos Estudantes do Império, uma
associação legalizada, cujo objectivo era enquadrar as actividades sociais dos
jovens 'assimilados' das colónias, e desenvolver o sentimento patriótico como
'lusitanos' entre a elite dos estudantes das colónias. No entanto, permitiu o que era
impedido pela divisão das associações, nas colónias, nomeadamente, a
confraternização entre estudantes de várias origens sócio-culturais.
Nos finais da década de 40, estudantes africanos em Lisboa, como outros em Paris
e Londres, começaram a questionar a sua assimilação aos valores culturais do
colonizador. Através de eventos culturais, palestras e, sobretudo, a sua própria
produção escrita, começaram a reflectir sobre a cultura africana, opondo-se à
política do regime para com as elites africanas, na área de educação.
Como as discussões avançaram para além das reflexões sobre a importância da
cultura africana, e se encaminharam para a análise da luta pela independência em
lugar da antiga reivindicação de direitos civis dentro do império português, em
Outubro de 1951, os estudantes africanos formaram, fora do âmbito da Casa dos
Estudantes do Império, o Centro de Estudos Africanos. Este consistia, de facto,
num grupo de pessoas que se reunia, semanal e clandestinamente, para a análise
do colonialismo e da situação africana, em geral. Agostinho Neto, Amflcar Cabral
(posteriormente lideres do MPLA e PAIGC, respectivamente),
Capítulo 5
1945, houvesse um crescimento significativo do número de assalariados negros,
particularmente nas cidades de Lourenço Marques e Beira [29], estes
trabalhadores continuaram a ser sujeitos ao mais rigoroso controle. As formas
mais importantes eram as leis de passe e residência, que limitaram a mobilidade
do trabalhador e o seu poder de escolha de trabalho, e a vigilância apertada da
polícia.
Por detrás deste controle, havia sempre a possibilidade de violência corporal, de
incorporação nas brigadas de trabalho forçado, e de desterro para outras
províncias ou São Tomé. Enquanto a palmatória fosse principalmente aplicada
aos serventes domésticos, e as brigadas de chibalo normalmente constituídas por
recém-chegados e trabalhadores braçais, todas estas sanções eram parte
fundamental do aparelho de repressão estatal. Aliado à rede de informadores, à
prática de rusgas noturnas nos bairros, e à arbitrariedade das punições, criaram o
ámbiente de receio e inseguranca, em que vivia a grande parte da população negra
nas cidades [30].
Nos lugares de trabalho, a resistência dos camponeses e trabalhadores enfrentava
outros constrangimentos. Nas zonas rurais era, principalmente, a constante
ameaça de ser recrutado, compulsivamente, para trabalho nas plantações e nos
outros empreendimentos. Nestes, figuravam:
- o carácter sazonal do trabalho e a divisão dos trabalhadores na base
étnica;
- o alto grau de mobilidade das brigadas de trabalho e o controle
rigoroso do processo de trabalho pelos capatazes;
- a coligação entre proprietários e administradores distritais, que
impuseram sentenças pesadas para violações da disciplina laboral.
Nos portos e caminhos de ferro, onde se tratava dos voluntários, era a constante
ameaça de ser substituído por trabalhadores forçados fornecidos pelas autoridades
administrativas.
Não obstante todo este aparelho repressivo, os camponeses e trabalhadores
resistiram de várias maneiras contra a exploração colonial.
4.2 Resistência contra as culturas forçadas. A resistência contra as culturas
forçadas e, particularmente, contra o empobrecimento provocado pela
intensificação destas, manifestou-se em
210
2Catulo 5
nos sacos.. .(.)..recolheram os dinheiros todos. (Depois), chegou-se a
queimar o algodão no armazém da aldeia de Namepuite" [351.
Outras informações mostram uma resistência camponesa mais consequente, no
sentido de ter apresentado reclamações, com força e coerência, até ao próprio
Governo-Geral. Foi o caso dos cultivadores da circunscrição colonial de
Manjacaze, que, através de alguns agricultores pr6speros e alfabetizados da zona,
mandaram, em 1951, uma exposição escrita a Lourenço Marques sobre as
violências e extorsões praticadas pelos capatazes, brancos e negros, das
concessionárias de algodão e arroz. Como consequência do inquérito iniciado,
instaurou-se um processo disciplinar contra o administrador e o chefe de posto, e
proibiu-se aos capatazes europeus implicados o exercício da sua função em
qualquer área da colónia. Os 3 capatazes negros em questão foram mandados
como 'recrutados' para São Tomé por 6 anos. Contudo, uma outra reclamação, da
mesma origem, contra o baixo preço de arroz, não foi atendida [36].
Segundo fontes orais, nos meados da década de 50, alguns produtores em
Guijane, Gaza, liderados por Gabriel Makave, um membro do Centro Associativo
dos Negros em Lourenço Marques, promoveram encontros clandestinos para
organizar a sua luta contra as injustiças praticadas, principalmente, na cultura de
algodão e no trabalho forçado. O movimento chamou-se mfuxe-mfuxe (Tsonga:
coisa desconhecida que anda a noite), e tinha os seus mensageiros de confiança,
que comunicavam entre os indivíduos envolvidos. Após consultas entre alguns
agricultores prósperos e anciãos, entrou-se em contacto com os régulos da zona.
Embora a maioria receasse participar, os régulos Hlomani e Eduardo Nkuna
concordaram ser representantes, junto do administrador, que os rejeitou
imediatamente.
O grupo optou por organizar uma manifestação maior, em Setembro de 1958, em
que participaram muitos dos chefes da zona, e que teve lugar em frente da sede
administrativa. Após discussões acérrimas, o administrador propôs uma banja
formal no dia 4 de Dezembro. Nesse dia, seguindo um plano previamente
elaborado, anciãos de várias zonas apresentaram os seus próprios protestos, sobre
o uso de violência, nos campos de algodão, e o recrutamento semanal de trabalho
forçado, que se tinha intensificado, na altura.
212
Capítulo 5
Quénia não eram excluídos dos sindicatos legais nestes países. Um deles, L. M.
Milinga, que trabalhou nos sindicatos de Quénia, veio a ser o Secretário-Geral da
Mozambique African National Union (MANU) [38].
Uma vez 'recrutado' e colocado nas plantações, a deserção e absentismo eram
reacções vulgares, quando possíveis, muito embora fossem alvos de uma onda da
repressão. Como vimos no capítulo anterior, a taxa de absentismo nas plantações
de sisal de Nampula nos inícios da década de 50 foi cerca de 60 por cento, o que
provocou novas medidas de controle pela administração. Na açucareira de
Marromeu em Sofala, que dependia de migrantes do distrito de Mopeia na
Zambézia, a taxa de absentismo oscilava entre 45155 por cento, nos meados da
década. O administrador de Mopeia resolveu a crise através de um aumento de
castigos corporais.
O alto grau de repressão e vigilância nas plantações não era capaz de eliminar as
formas de resistência disfarçada. Por exemplo, era notória a sabotagem no
cumprimento das tarefas, através da deliberada má interpretação das orientações
sobre o corte da cana ou de sisal, onde a falta de exactidão trazia prejuízos
económicos para o proprietário. Nem sempre a organização em brigadas étnicas
podia assegurar o controle total sobre os trabalhadores: às vezes, aproveitavam-se
dos laços tradicionais para atrasar o acabamento das tarefas, apesar da violência
dos capatazes [39].
A greve na açucareira de Xinavane, 1954 A história de uma greve na açucareira
do Inkomati Sugar Estates (Xinavane), na província de Maputo, em 1954, mostra
como o controle rigoroso sobre os trabalhadores funcionou de maneira a reprimir
formas de luta mais aberta. Evidenciou-se, também, a constante necessidade de o
Governo colonial reforçar, através de exemplos, a posição de dureza e
agressividade frente aos trabalhadores, de modo a manter o seu poder de
intimidação total.
No dia 18 de Agosto de 1954, cerca de 300 trabalhadores distribuídos em todos os
acampamentos da empresa, recusaram iniciar o trabalho, devido às chuvas
torrenciais que tinham saturado os canaviais, desde a noite anterior, e que
resultavam, sempre, em péssimas condições de trabalho. Este acontecimento
passou-se sem qualquer reacção por parte da companhia, até o dia 24, em que
foram distribuídos abonos de
214
Capítulo 5
pelos capatazes 54 homens considerados 'agitadores'. No dia seguinte, quando as
brigadas recusaram, de novo, a carregar um comboio nas horas extras, a polícia
prendeu imediatemente os alegados 'agitadores'. Intimidados pela polícia, os
outros recomeçaram o trabalho. Foram presos, também, mais 14 homens que
trabalhavam na gare de triagem de Lourenço Marques. O relatório polícial
confirmou a veracidade da reclamação dos trabalhadores mas, não obstante, os
'instigadores' foram condenados ao desterro para Niassa por 2 anos, e 61 dos
restantes trabalhadores ao trabalho 'correcional' durante 60 dias [43].
Da mesma forma, a história da greve dos trabalhadores voluntários do porto de
Lourenço Marques, em Abril de 1949, exemplificou o funcionamento e o poder
repressivo do regime laboral colonial, com o seu recurso habitual a brigadas de
trabalho forçado.
A causa fundamental da greve foi a elevação do custo de vida em relação aos
salários mínimos, que não tinham aumentado desde a greve da 'quinhenta', em
1933, recebendo os estivadores 20 escudos por dia, incluindo horas extras. No
entanto, o imposto tinha aumentado para 150, em 1938, e para 250, em 1943.
Mas, segundo depoimentos feitos ap6s a greve, foi o aumento do custo de
produtos de primefra necessidade, no período pós-guerra, que agudizou a
situação. Em 194$ e inícios de 1949, vários artigos, passados pela censura e
publicados em O Brado Africano chamaram a atenção do governo colonial para as
consequências desses aumentos no nível de vida dos trabalhadores que
movimentavam a enorme tonelagem do porto. Enquanto os salários dos brancos
iam sofrendo aumentos, como compensação da subida do custp de vida, os
salários dos negros ficavam estacionários [44]. No dia 1 de Abril, estivadores
eventuais das principais empresas de importação e exportação, Mann George,
Delagoa Bay Agency e Rennies, apresentaram aos respectivos superintendentes
uma reclamação para um aumento de salários de 20 para 50 escudos por dia.
Enquanto o movimento da estiva continuava normalmente, 4 porta vozes dos
trabalhadores foram mandados para a Secretária dos Negócios Indígenas (SNI),
onde o intendente rejeitou a sua argumentação, dizendo que auxiliares de polícia e
serventes do Estado recebiam apenas 10 escudos diários.
As direcções das empresas, reunidas no dia 4, resolveram recusar a reclamação.
Na manha do dia 5, várias centenas de trabalhadores entraram em greve, que
continuou no dia seguinte. Entretanto, o
216
Capítulo 5
superioridade racial, provocaram um ambiente de grande ódio contra ele [46].
Não foi a primeira vez que essas atitudes tinham provocado uma resposta
violenta:
"A má fama do encarregado Fonseca, certamente, há muito corria pelo mato fora,
levada pelos trabalhadores de muitos chibalos que passaram pela pedreira. Sabiam
que houve chibalos de Chidenguel que o agarraram e meteram debaixo da célebre
torneira do acampamento; noutra ocasião cercaram-lhe a casa; várias vezes o
quizeram espancar; jogava a pancada (sic) com um 'indígena'; e outra vez um
grupo de chibalos deslocou-se a
Lourenço Marques a pé, para dele se queixarem" [471.
A força de trabalho na pedreira, em Setembro de 1954, era constituída por cerca
de cem homens; sendo a grande maioria integrada em duas brigadas de
trabalhadores forçados, divididos segundo o seu distrito de origem,
nomeadamente, Inharrime e Morrumbene. Logo após a sua chegada à pedreira,
cada brigada elegeu um ndota (Tsonga: ancião), para a dirigir, aconselhar e
resolver as questões que emergissem.
A causa mais próxima do levantamento residiu no facto de, ap6s o trabalho do dia
22 de Setembro, os trabalhadores, quando se preparavam para jantar, terem
descoberto que a água não saía da única torneira que lhes era disponível,
impedindo-os de lavar-se, antes, ou beber durante a refeição. Informados de que a
pressão da água tinha sido reduzida por causa do enchimento da caldeira principal
das instalações, os trabalhadores pediram ao Fonseca uma interrupção desse
trabalho até ao fim do jantar. A sua recusa resultou numa eclosão do ódio e de
insultos, da parte dos trabalhadores, que obrigaram o encarregado a refugiar-se,
primeiro na casa de máquinas e, depois, na estação do caminho de ferro de Goba.
No dia seguinte, os trabalhadores resolveram trabalhar deficientemente, com o
objectivo de obrigar Fonseca a chamar o chefe da secção, em Boane, para a
apresentação das suas queixas.
Chegado o chefe de posto de Changalane, cerca de 12 quilómetros da pedreira, os
primeiros trabalhadores que encontrou recusaram-se a cumprimentá-lo, o que era
considerado um grave insulto à autoridade colonial. Após a aproximação de
outros trabalhadores, eclodiu uma luta generalisada e confusa. Um trabalhador
tirou o chicote ao chefe de posto,
218
Capítulo 5
Estado fascista. Paralelamente, desenvolveu-se a articulação entre defensores da
cultura moçambicana e o movimento anti-fascista, conduzido por democratas
portugueses, radicados em Moçambique, pois, ao nível cultural, a sua acção
convergia, em diversos momentos, contra as realizações programadas pelo
regime.
Dada a repressão de meios políticos para a manifestação de protesto directo, a
vida cultural constituía uma das principais frentes de oposição ao domínio
colonial-fascista. Foi nela que se desenvolveram a observação, análise e ideologia
sociais que contribuíram, profundamente, para a formação e motivação de
participantes da luta de libertação.
Os contos que se narravam no ambiente familiar, as canções dos camponeses e
trabalhadores nos campos e portos, as obras de arte plástica (escultura e
máscaras), a pintura e a literatura oral e escrita, como meios de transmissão de
valores culturais da sociedade, constituíram as formas de crítica social e de
protesto ao colonialismo. Estas formas de expressão foram as mais viáveis,
porque eram, geralmente, imunes à censura colonial, por serem, em grande
medida, incompreensíveis ao colonizador, que menosprezava a língua e cultura do
povo.
5.1 Canção, música e dança populares Enquanto que, na teoria colonial, o povo
colonizado era objecto de uma acção "civilizadora' e benéfica, a resposta popular,
face a esta atitude assimiladora, era denunciar a realidade da opressão, através das
suas manifestações culturais. As canções dos trabalhadores e camponeses
exprimiam angústia e repulsa ao trabalho forçado, e denunciavam a acção dos
colaboradores negros do regime e as humilhações raciais constantes, que os
colonos utilizavam para manter a subserviência e servilismo dos negros. Tratava-
se de uma "rejeição psicológica do colonizador e sua cultura" [51]. É testemunho
disso uma canção Chope da época:
Ouçam a canção da gente de Chigombe:
É aborrecido dizer 'bom dia' a todo o momento
Macarite e Babuane estão na cadeia
Porque não disseram 'bom dia',
Tiveram que ir para Quissico para dizer 'bom dia' [52].
Esta forma de manifestação também se desenvolveu na poesia lírica oral. Por
exemplo, num dos movimentos de um Msaho (dança orquestral
222
Capítulo 5
aos anos 50, esta canção evoluiu em várias formas, sendo, porém, todas as versões
repletas de protestos às culturas forçadas, de tal maneira que Paiva se tornou num
símbolo regional das injustiças praticadas em nome da companhia [54].
Um outro tipo de expressão, que manteve vivas as noções históricas culturais, foi
a canção épica que recordou importantes figuras da resistência à conquista
colonial, no século passado. Por exemplo, uma canção, cantada por estivadores
em Lourenço Marques nos anos 50, referia vários episódios da vida de
Ngungunyane, que reflectem a dominação política do reino de Gaza sobre outros
chefes da região, e o choque cultural entre o colonisado e o colonisador [55].
Uma oufra canção invocativa do Ngungunyane, que foi introduzida nos cânticos
da Igreja Etiópica Luso-Africana, nos anos de 40, não só denunciava as
atrocidades e barbaridades do colonialismo, como também cantava a angústia de
que a população se estava imbuída. Recordando um dos heróis da resistência anti-
colonial, Ngungunyane, apelava à revolta e à expulsão dos colonizadores. Esta
ideia é expressa numa das passagens do hino que soa: "ficaremos a governar com
catanas" [56].
Ap6s a II Guerra Mundial a Igreja Shembita ou Nazarita passou a ser um veículo
de ideias panafricanistas e anti-coloniais. Esta atitude reflectiu-se mais através dos
hinos cantados durante as orações. Um deles, por exemplo, incita a África a lutar
para sair da inércia em que se encontra e que, por causa dela, se tornou um
"ridículo para todas as nações" porque os seus filhos "são escravos dos
estrangeiros" [57].
Discos gravados por Moçambicanos na África do Sul veiculavam, também,
protestos contra o colonialismo. De facto, uma das primeiras canções
moçambicanas a ser gravadas, na década de 30, foi de Daniel Marivati, que
comentava o encerramento de algumas das escolas protestantes. No fim da década
de 40 e nos anos 50, aumentou consideravelmente o número de gravações, em
várias línguas moçambicanas, que criticavam, por exemplo, aspectos da vida dos
migrantes, o trabalho forçado, os baixos salários, e o risco de ser deportado para
São Tomé.
Tendo-se apercebido do perigo desta forma de comunicação, o regime colonial
lançou, em 1953, uma campanha de censura aos discos, identificando treze
gravações como repreensíveis. De salientar que a polícia sul-africana colaborou
na repressão de várias dessas gravações, e a delegação da alfândega em Ressano
Garcia apreendeu e destruiu muitos
224
Capítulo 5
São exemplos da primeira, os 'filhos da terra', discriminados pelo sistema
colonial, integrando pretos, brancos e mulatos, que se destacam também no
princípio da década de 50, dando novo alento aos ideais nacionalistas e de
africanização, típicos deste período precursor das independências africanas, e que
assumem forma artística, em particular, no domínio da poesia.
É a poesia de Noémia de Sousa e de José Craveirinha que enceta a afirmação de
uma africanidade próxima da negritude. As aspirações populares encontraram, em
Noemia de Sousa, uma nova expressão e uma nova formulação tendo, inclusivé,
ultrapassado as fronteiras nacionais e manifestado, publicamente, a africanidade e
o pan-africanismo [59].
Escolhemos como o exemplo da poesia de africanidade, que se apresenta em
dcois sentidos complementares, na linha negritudiana e na afirmação, ainda não
muito clara, do carácter nacionalista, o poema Canção Fraterna, de 1948, primeira
da sua obra:
Irmão negro de voz quente o olhar magoado diz-me:
Que séculos de escravidão geraram tua voz dolente? Quem pôs o mistério e a dor
em cada palavra tua? E a humilde resignação na sua triste canção? E o pouco de
melancolia no fundo do teu olhar? Foi a vida? o desespero? o medo? Diz-me aqui,
em segredo, irmão negro.
Porque a tua canção e sofrimento e a tua voz, sentimento e magia.
Há nela a nostalgia de liberdade perdida,
a morte de emoções proibidas, a saudade de tudo que foi teu e já não é.
Diz-me, irmão negro, quem a fez assim... Foi a vida? o desespero? o medo?
Mas mesmo encadeado, irmão, que estranho feitiço o teu! A tua voz dolente
chorou de dor e saudade, gritou de escravidão, e veio murmurar a minha alma
ferida que a tua triste canção dorida não é só tua, irmão de voz de veludo e olhos
de luar... Veio, de manso murmurar que a tua canção é minha.
Como exemplo da poesia de denúncia escolhemos Lição de 1949 que, muito
claramente, mostra a desilusão do 'assimilado' perante o carácter
226
A Contestação da Situação Colonial, 1945-1961
do colonialismo português. O 'assimilado' descobre a triste realidade de que,
afinal de contas, o homem branco não o reconhece como irmão, contrariamente ao
que havia aprendido na missão [60].
Ensinaram-lhe na missão, quando era pequenino: "somos todos filhos de Deus;
cada Homem é irmão doutro Homem".
Disseram-lhe isto na missão, quando era pequenno.
Naturalmente, ele não ficou sempre menino: cresceu, aprendeu a contar e a ler
e começou a conhecer melhor essa mulher vendida
- que é vida
de todos os desgraçados.
E então, uma vez, inocentemente, olhou para um Homem e disse: "Irmão..."
Mas o Homem pálido fulminou-o duramente
com seus olhos cheios de ódio e respondeu-lhe: "Negro"
34. Daniel Marivati, romancista e compositor na língua Tsonga, que gravou um
dos primeiros discos moçambicanos, na década de 1930.
227
Capítulo 5
35. João Dias, 1926-1949, filho
de Estácio Dias, e autor de
Godido e outros contos, no dia
da sua graduação em 1949.
A obra de José Craveirinha seguiu a wesma linha que a ce Noémia, tendo-a,
todavia, superado pela sua clareza na definição da posição nacionalista. Um
tópico que captou bem a atenção de ambos foi o sistema de trabalho migratório,
cujas consequências sociais para os trabalhadores e as suas famílias,
particularmente, a brutalização a que estes eram submetidos, foram tratadas por
Noémia de Sousa em Magaiça e por Craveirinha em Gado Mamparra Magaiza e
Marnana Saquina. De facto, através destes poemas, a palavra magaiza tornou-se,
para os intelectuais conscientes, um símbolo dos males da estrutura colonial [61].
A comparação feita em Gado Mamparra Magaiza (1954) entre os migrantes que
iam para as minas da África do Sul e uma pianada de gado, que ia para o abate,
dá-nos, em linguagem poética, o sistema de reprodução social na base da
exploração mineira sul-africana: os homens eram tirados da sociedade rural, e
devolvidos, frequentemente, feridos ou mortos, ficando as mulheres em casa com
as outras responsabilidades da famflia. O poema refere-se,. ainda, à necessidade
de o trabalhador se oferecer para contratos sucessivos, e aos vários centros de
distribuição dentro da África do Sul, onde os trabalhadores eram 'vendidos', na
228
Capítulo 5
fase posterior, se lançaram no movimento de libertação nacional, quer aberta, quer
clandestinamente [70].
Podemos, ainda, concluir que, na década de 50, jovens intelectuais e artistas
encontraram formas, mais ou menos subtis, de crítica ao regime colonial
português, e contribuíram para a evolução do conceito da nação moçambicana e
da cultura nacional.
6. A Sociedade Algodoeira Africana Voluntaria de Moçambique, em Cabo
Delgado
No planalto de Mueda, no norte de Moçambique, desenvolveu-se um movimento
rural que conseguiu aproveitar, temporariamente, do sistema económico colonial
e das circunstâncias específicas locais, para elaborar um sistema de produção que
trazia vários benefícios aos produtores, tendo constituído, na prática, uma ameaça
potencial ao regime colonial, no distrito, e contribuído para as reclamações e
tensões no planalto, nos inícios de 1960.
Em parte, este movimento foi estimulado pela evolução sócio-polftica na vizinha
Tanganhica, cuja experiência passamos a resumir. Após a sua fundação em 1954,
TANU [Tanganyika Africa National Union, precursor da Chama Chama
Mapinduzi] adoptou a já velha tradição de sociedades camponesas de produção e
comércio, como o eixo fundamental na mobilização político-rural. Propunha-se o
incremento das sociedades com o objectivo de promover os interesses dos
produtores dos vários produtos agrícolas, como café e algodão, quebrando o
monopólio dos comerciantes asiáticos e assegurando aos camponeses o acesso às
terras e aos meios de produção modernos, como tractores, insecticidas e apoio
técnico e financeiro. Pode-se verificar que estas mudanças, embora susceptíveis
de reestruturar, parcialmente, o sistema colonial de acumulação, não eram
consideradas socialistas, no sentido de alargar, sistematicamente, a base de
propriedade ou riqueza rurais.
E nesta base que o número de socied-des no Tanganhica se expandiu rapidamente.
De 188 sociedades, com 153.000 sócios, em 1952, passou a 474 com 305.000 em
1957. Em 1959 as 617 sociedades controlavam a comercialização de todo o
algodão e café de produção camponesa [71]. Desta maneira, a estratégia da
TANU tinha resultado em benefícios
232
Capítulo 5
respectivamente, e Cornélio Mandanda e Raimundo Pachinuapa, os seus
secretários [74]. Segundo Mandanda, o grupo mandou Namimba contactar a
liderança de TANU que, na sua resposta, enfatizou
"a necessidade de se criar uma espécie de associação de camponeses, a fim de
permitir a sua organização e o desenvolvimento da discussão política" [751.
Várias circunstâncias contribuíram para o sucesso e alargamento do
empreendimento, em 1958. Em primeiro lugar, inicialmente, tanto os missionários
como o Governo-Geral português favoreceram o estabelecimento da iniciativa. À
primeira vista, cabia, perfeitamente, na política colonial de enquadramento das
iniciativas económicas africanas rurais. Foi também um meio de fumentar a
estabilidade da população que, de outro modo, preferia trabalhar no Tanganhica
porque obtinha'maior rendimento. Além disso, tanto para as missões católicas
como para o regime colonial, tratava-se de uma necessidade urgente de combater
a crescente infiltração das seitas maometanas, que se verificou no norte do país na
década de 50, através de trabalhadores moçambicanos que regressavam a casa no
fim dos seus contratos [76].
A legislação de 1955, que renovou o sistema de concessões algodoeiras,
simultaneamente autorizou a criação de sociedades camponesas de produção, sob
a tutela das companhias, com o objectivo de fomentar a cultura voluntária, em vez
do regime da cultura forçada. Na lógica do regime colonial, as sociedades de
algodão
n... constituem... um veículo de civilização e um método til de colaboração
dos indígenas nas actividades produtivas das suas regiões" [77].
Para a SAGAL, essa legislação facultou a diminuição, se não a anulação integral,
dos altos custos de supervisão (emprego de capatazes, viagens de inspecção aos
camposí etc.) e administração (emissão e controle de cartões), devendo os
membros de uma tal sociedade assumir esses encargos. Não se estranha, portanto,
que a concretização da SAAVM se procedeu com o apoio de SAGAL, que
continuou a fornecer sementes e a controlar a comercialização do produto [78].
Se estas foram as razões para a tolerância e apoio do regime colonial, numa
primeira fase, outros foram os motivos da aderência a SAAVM de
234
2Captulo 5
familiar, alguns membros, que tinham capitais suficientes, empregavam
trabalhadores nas suas machambas, em troca de um salário pagável em sal, uma
mercadoria muito escassa no planalto. Nota-se que nessa altura não era difícil
encontrar trabalhadores no planalto. Para além da exaustão dos solos, verificava-
se, a partir da década de 30, a gradual estratificação social e divisão de terras, em
benefício das linhagens e famflias que se destacavam na estrutura social colonial.
As melhores terras para agricultura eram escassas e, no fim da década de 50,
falava-se da compra e venda dessas terras. Como resultado deste processo, um
número crescente de famflias tinha dificuldades de acesso à terra suficiente para a
produção para o mercado e de subsistência. Membros de tais famlias tinham de
procurar trabalho nas machambas de outros. Em 1958, a situação foi agravada
pelo regresso de muitos migrantes de Tanganhica, relacionado com a crise de
sisal, naquele país.
Utilizando ferramentas normais, os sócios e os seus trabalhadores cultivavam
algodão, em média, 3 dias por semana e as culturas alimentares nos outros 3 dias.
Além disso, alguns plantaram cajueiros. Segundo Mandanda, após a colheita, a
comercialização do algodão processava-se em Imbuhu, sob a supervisão dos
oficiais da sociedade, evitando, assim, os abusos usuais nos mercados de algodão.
O produto era depois transportado para a fábrica num camião de SAGAL. O
dinheiro ficava com o produtor individual, que tinha que pagar a SAAVM 2$50
escudos, anualmente, pelo seu cartão. Desta maneira, a sociedade acumulou
fundos suficientes para a compra de bicicletas, utilizadas na inspecção das
culturas, e material de escritório e escolar [81].
O beneficiário principal do trabalho da SAAVM, nos seus três anos de
funcionamento, foi a concessionária colonial de algodão, que, no planalto de
Mueda, viu aumentar o número de produtores de algodão de 4.262, em 1957, para
mais de 5.000, em 1959 e 1960. A produção aumentou de 732 toneladas, na
colheita de 1957 (isto é , antes do início da SAAVM e, em si, um recorde) para
um pouco mais de mil toneladas nos anos 1959 e 1960. Embora se desconheça
ainda a contribuição precisa das machambas liguilanilu em todo o distrito, o facto
de a grande maioria dos produtores de algodão serem sócios da SAAVM confirma
a sua influência no aumento de produção [82].
Dentro da sociedade, os sócios que empregavam mão-de-obra assalariada nas suas
machambas cram os principais beneficiários. Por
236
Capítulo 5
da polícia sul-africana, e a sua colaboração com a PIDE. Mesmo assim, nos finais
da década de 50, formou-se na África do Sul a Convenção do Povo de
Moçambique. Para além do facto de, segundo a PIDE, a organização reclamara a
independência de Moçambique, pouco se sabe sobre esta organização,
exceptuando os nomes dos seus lideres, Diniz Menjane, de Manjacaze e residente
em Durban, Tomas Nhantumbo, de Madender, e Dr. Agostinho Ilunga, que
representava o partido na Suazilândia, e que pretendeu mobilizar migrantes nestes
territórios [89].
Na Rodésia do Sul, na altura, as condições para a luta política não eram muito
melhores. Trabalhadores moçambicanos radicados em Salisbúria (hoje, Harare) e
Bulawayo formaram, no fim da década de 50, a 'Mozambique East African
Association' (Associação Moçambicana da África Oriental). Segundo um dos seus
colaboradores, a liderança pertencia ao Rev. U. T. Simango, Philip Foya, Gabriel
Moyana, Philip Madzedzere, Jaime Khamba, C. Sadaka e P. Katsande. Para
sobreviver, num ambiente em que a PIDE e a polícia de segurança rodesiana
colaboravam, cada vez mais, a organização consultou o consulado português,
sobre alguns dos seus objectivos, chegando mesmo a alterar o seu nome, após
longas discussões, para 'The Portuguese East African Association' (Associação
Portuguesa da África Oriental). Confundindo os objectivos com os de uma
associação de mutualidade, isto é , de apoio social aos moçambicanos e seus
familiares, esperava abrir gabinetes, em várias cidades dentro de Moçambique.
Por seu turno, o regime colonial português considerou a associação um veículo
para a localização de moçambicanos, na Rodésia do Sul, a fim de os vigiar melhor
e de proceder à cobrança de impostos [90].
Em Tanganhica, ainda protectorado britânico, cuja independência formal estava
prevista, então, para breve, trabalhadores moçambicanos constituíram várias
organizações, entre as quais se destacaram a 'Tanganyika-Mozambique Makonde
Union' (União dos Maconde de Tanganhica e Moçambique), formada em 1958, e
a 'Makonde and Makua Zanzibar Union' (União dos Maconde e Makua no
Zanzibar). Inicialmente, a primeira destas organizações estava organizada em
moldes etnicos. Segundo a sua constituição, os seus membros só podiam ser os
Maconde do sul de Tanganhica e de Moçambique. Além da assistência social em
casamentos e enterros, entre os seus objectivos, que eram semelhantes aos de uma
associação de ajuda mutua progressiva,
240
242
Capítuo 5
deixando arrancar o carro em que os prisioneiros iam algemados. O Governador
colonial mandou o pelotão abrir o fogo. Centenas de manifestantes foram
brutalmente massacrados a tiro e a baioneta [93].
Este massacre confirmou, sem qualquer possibilidade de dúvida para a população
local e para os que ouviram falar dele, a verdadeira natureza do colonialismo
português. Veio a ocupar um lugar-chave na hist6ria da luta anti-colonial,
moçambicana e regional, contribuindo significativamente para a
consciencialização popular de que a resistência pacífica era em vão [94].
Outros acontecimentos contribuíram para a mobilização política moçambicana no
mesmo ano. Se 1960 foi o ano das 'independências', em que 17 colónias africanas
se tornaram independentes, foi também o ano do massacre de Sharpeville (21 de
Março) e do banimento do ANC na África do Sul, que marcou o fim de qualquer
possibilidade de luta pacifica nesse país. No Congo, devido à ausência de
instituições políticas centralizadas, desenvolveu-se, imediatamente após a
independência, uma
37. Reportagem do julgamento dos dirigentes Moçambique, Lisboa, 28.2.1962.
Terminou na Boa Hora
o julgamento
dos dois moçambicanos
LISBOA, 1 ,(Lusitãnia). - No Plenário Criminal da Boa Hora, terminou o
julgamento dos moçambicanos Diniz Menjane oW Diniz Mossossote, de 30 anos,
e de Tomás Betulane Nhantumbo,, de 31 anos, que organizaram na Africa do Sul
um movimento denominado x<Convenção do Povo de Moçambique> que tinha
por fim principal sóparar da Mãe-Pátria aquela província.
Foram condenados a 4 e 2 anos e meio de prisão respectivamente, a 15 anos de
suspensão dos direitos , políticos, e a medidas de segurança por um .período de 3
anos, depois de cumpridas as sentenças. Presidiu o desembargador Silva Caldeira.
da Convenç4o do Povo de
PRINCIPIOU
:.na Boa-Hora
o julgamento de deis me.' ca*bicanos acusados de
crime grave contra a in* legridade da Pátria
LISSOA. ti (LUcIloiaI. <No PlenOrio Criminei de Boa Nlora começou o
julRamento dos mOÇambiconol Diniz MonhoC ou 01n1 MASiMosse0. de 30
anos. < n*lural de Manjacae . residonle em Ourban. Arica do Sul, a Tomás Bolule
Nhantumbo, de 31 anos, natural de Madender. Ambos ; acusados do crime Sravo
contra a mnleridade de Patrio. Os réus orlanliaram na RlOpubllce da Agrica do
Sul, um partido ou movimenfo denOmi nado .Cononenoe do povo de
MeçmbIque., Que linha o fim principal de porar a Mie PáIria daquela- ProvlncIa
e vi.iam ambos na clandoestinidad, endo peeculdore, de documentos laios,
relaclonados com a idolidad que izavem. :o|pectiol. mento os nomes de Dennia
"'rIu MOlfey 0 Thomas r arlfol SeCnde o dcpacho do pronúnela. : maio orevisto
poro leoarar a Provincie da Mae Pueril
*r* O vilin i" * l¢oud. . luta de lrrnrllll. 0 rtuz colaboranem com o Or. Aulfín I
filunse, lã concenado. Tinham rll84es com os NOclO1 Africanos de ena cem e
chemado -,urolu 01 Alfrcan Aflar",. movlmenlo cac 0o00 cm Sana. A eSio da
lerdo de boje fOi preenchida com um demorado Inlerroialrie aos rõu e leiquI.
ri0o dos d oclaranes o das fel,O ac1celi
A Contestação da Situação Colonial, 1945-1961
crise política de graves proporções, que culminou com um golpe de estado, uma
guerra civil, e a intervenção das Nações Unidas. No norte de Angola, o
levantamento que se iniciou, em meados de Março de 1961, foi brutalmente
reprimido pelo regime português, mostrando de novo as intenções colonialistas
portuguesas [95].
Em Moçambique, notícias destes acontecimentos foram acompanhadas por uma
crescente e intensa repressão pelo regime colonial, o que, por sua vez, provocou a
afluência de uma nova onda de refugiados, especialmente ao Tanganhica, em
1961 [96].
A intensificação da repressão em Moçambique resultou também, em 1961, no
assassínio de chefes tradicionais como Zintambira Chicusse de Angónia, um
antigo oponente do regime colonial, e outros chefes ligados à luta anti-colonial. A
PIDE aumentou a sua vigilância nas fronteiras e a sua colaboração com as forças
policiais da África do Sul, Suazilândia e Rodésia do Sul. Membros da 'Portuguese
East African Association' (Rodésia do Sul) foram raptados, em 1961 e inícios de
1962. Os lideres da Convenção do Povo de Moçambique, Dr Agostinho Ilunga
(Suazilândia), e Diniz Menjane e Tomás Nhantumbo (África do Sul) foram
julgados e sentenciados em Lisboa, no mesmo período [97].
7.3 0 ambiente político em Lourenço Marques e a revitalização do NESAM
De facto, o crescente ritmo dos acontecimentos relacionados com o destino
político da África não podia deixar de ter uma influência considerável na vida
política em Lourenço Marques, sobretudo, nos jovens instruídos. Um testemunho
de Samora Machel descreve este impacto psicológico e intelectual:
"comeeei a pensar a sério sobre a possibilidade da independência de
Moçambique... Foi então que, simultaneamente com essas ideias, começou
a realizar-se a consciência de ser oprimido, desprovido e explorado.
"Nessa altura, as autoridades portuguesas incrementavam a repressão de todos os
africanos alfabetizados e educados. Estimulou muito a nossa curiosidade para
saber porque queriam que não lessemos jornais, ou escutassemos emissões
estrangeiras. E depois veio 1961 em Angola..."[981.
Nestes anos, o NESAM volta a ser, para a mocidade negra instruída, e com os
sempre necessários subterfúgios contra a vigilância policial,
243
Capítulo 5
uma plataforma para a discussão e comunicação, não só sobre o problema de
educação discriminatoria como, também, sobre o nacionalismo e independência.
Entre os membros que asseguraram essa nova dinâmica por volta de 1959/1960
destacam-se Joaquim Chissano, Armando Guebuza, Luís Bernardo Honwana,
Augusto Hunguana, Filipe Samuel Magaia, Mariano Matsinhe, Josina Muthemba,
Pascoal Moeumbi, e Jorge Tembe, entre outros.
Este processo veio a ser acelerado pela passagem de Eduardo MondIane por
Moçambique, em 1961, como emissário das Nações Unidas, onde trabalhava.
Organizaram-se manifestações de recepção a Mondlane, pintaram-se cartazes
denunciando o Governo colonial e prepararam-se também panfletos distribuídos
pelos correios em vários pontos no país. Estas e outras actividades clandestinas
levaram nacionalistas como Albino Maheche, Amaral Matos, Virgílio Lemos e
outros à cadeia, em 1961 [99].
De facto, os jovens do NESAM, embora relativamente privilegiados, lutavam
num ambiente pouco propício para assegurar a sua educação, particularmente, ao
nível superior, e a sua evolução cultural e política. Debateram e propuseram
mudanças consideráveis no Núcleo, com maior ênfase para o alargamento do
âmbito da sua formação, através de palestras organizadas e, especialmente, da
actualização da biblioteca. Por outro lado, deveria dar-se menor ênfase às
tradicionais festas e bailes de puro divertimento.
Além disso, foi proposta a colaboração com a Associação dos Naturais onde, no
fim da década de 50, um pequeno grupo de brancos anti-fascistas conseguiu tomar
controle da direcção, abrindo as suas portas a indivíduos de outras raças, e
promovendo vários cursos de formação, que o sistema oficial não facultava aos
negros. Esta proposta encontrou a hostilidade da liderança do Centro Associativo
dos Negros [CANI, orgão de tutela do NESAM, cujo presidente, um fiel do
regime, estava mais interessado na promoção de divertimento desportivo do que
da educação e cultura [100]. Como observou o responsável da biblioteca do
NESAM, Luís Bernardo, em 1961, em relação às aspirações da juventude, havia
"... mais vontade na parte exterior do Centro, isto é, nas pessoas que não estavam
ligadas a ele, do que nas pessoas que do Centro faziam
parte" [101].
244
Capítulo 5
operava na colónia britânica, condicionou a saída de UDENAMO para
Tanganhica, no início de 1961.
Uma outra organização que surgiu como resultado dos acontecimentos de 1960
foi a União Nacional Africana de Moçambique Independente (UNAMI). O seu
líder, Baltazar Chagonga, foi preso nesse ano, temporariamente, devido às suas
críticas à repressão colonial. Exilado em Niassalândia, foi, também, a Dar es
Salaam em 1961 [104].
Entretanto, os progressos da luta anti-colonial na África oriental tinham resultado
na formação, em 1958, do 'Pan-African Freedom Movement for East and Central
Africa' (PAFMECA: Movimento Pan-africano para a Libertação da África
Oriental e Central). Inspirada por Julius Nyerere e Tom Mboya (líder sindical do
Quénia), esta organização pretendeu implementar, no contexto regional, a
filosofia pan-africanista, elaborada principalmente por Kwame Nkrumah. A
materialização dessas ideias requeria a construção de uma federação dos
territórios, futuramente independentes, da África oriental e, com o avanço de
alguns desses países para independência, o apoio aos movimentos anti-coloniais,
nos territórios em que o direito à independência não estava, ainda, reconhecido.
Neste ambiente político, fomentou-se a transformação das antigas associações dos
Makonde e Makua na Tanganhica ('Tanganhica-Mozambique Makonde Union' e
'Zanzibar Makonde and Makua Union'), na 'Mozambique African National Union'
(MANU: União Africana Nacional de Mozambique), fundada em Mombaça,
Quénia, em Fevereiro de 1961 [105].
7.5 As organizações unitárias contra o colonialismo português Paralelamente à
dinamização do movimento anti-colonial em Moçambique e nos territórios
vizinhos, entre 1957 e 1961, começou uma nova fase na evolução das
organizações anti-coloniais radicadas na Europa. Entre 15 e 18 de Novembro de
1957, teve lugar, na casa de Marcelino dos Santos, em Paris, a 'Reunião de
consulta e estudo para o desenvolvimento da luta contra o colonialismo
português', com Amilcar Cabral, Guilherme Espírito Santos e outros. Tendo
analisado a experiência das lutas anti-coloniais, na década de 50, os participantes
elaboraram um manifesto, que apelava à luta patriõtica dos povos das colónias
portuguesas de forma científica e organizada, baseada na unidade política,
246
Capfiuo 5
Egipto, Marrocos, Argélia e Mali na Reunião dos Chefes do Estado Africanos em
Casablanca em Janeiro de 1961 para apoiar a liquidação do colonialismo em todo
o continente deram mais um impulso ao movimento internacional contra o
colonialismo português. Na mesma capital, entre 18 e 20 de Abril de 1961, teve
lugar a Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas
(CONCP), que constituiu o primeiro encontro dos movimentos opostos ao
colonialismo português.
Para Moçambique, a UDENAMO foi a representante à conferência, que sublinhou
a necessidade de unidade e coordenação política entre, não só, as organizações
que participavam na conferência, como também, as que não estavam presentes.
Comprometeu-se a lutar contra o colonialismo e o neo-colonialismo, não
especificando, contudo, os meios a ser adoptados. A conferência enfatisou a
necessidade de esclarecer o povo português, sobre a justiça da luta dos povos nas
cólonias, diferenciando, assim, os interesses do povo e os da burguesia
portuguesa. A conferência tornou-se num movimento permanente, estabelecendo
um secretariado, com o objectivo de coordenar os esforços diplomáticos e de
enfrentar o colonialismo português na base de uma posição unida. Marcelino dos
Santos foi eleito o Secretário-Geral e, a fim de promover unidade entre os
movimentos moçambicanos, foi a Dar es Salaam, nos meados do mesmo ano
[108].
8. Resumo e conclusão
1. No período 1945-1961, a luta anti-colonial foi desenvolvida em várias formas,
entre as quais se destacam a resistência contra aspectos da exploração económica
colonial, a formação de movimentos políticos dentro e fora do país, e o seu
acompanhamento cultural e intelectual.
2. A repressão colonial fascista de todas as actividades políticas impediu que estes
movimentos se pudessem desenvolver dOntro do país. Foi-lhes negada a
possibilidade de evoluir, através de um prucesso de elaboração de programas e de
formas de organização, em consulta aberta com o povo. Da mesma forma, foi
impossível o seu interrelacionamento ou unificação, impedindo a construção, no
interior do país, de um muvimento unificado, que representasse as várias camadas
sociais em todas as regiões. Deste modo, a luta anti-colonial moçambicana foi
bastante
248
Capítulo 5
NOTAS
1. Ver cap. 4.
2. Ver, inter alia, W. Abendroth, A short history of the European working class,
Londres: NLB, 1972, pp. 101-156; F. Claudin, The Comunist movement.from
Comintern to Cominform, Londres: Penguin, 1976, pp. 307-369.
3. Ver A. Moreira, 'Barreiro: as greves dos anos 40', Diário de Notícias,
(Lisboa), 28.6 1984; A. de Figueiredo, Portugal. fifly years of dictatorship,
Londres: Penguin, 1975, pp. 115, 117; A. H. de Oliveira Marques, História de
Portugal, Lisboa: Palas Editora, 1973, p. 343; M Sertório, 'Da guerra do
carimbo a ASP', Diário de Notícias, 23.9.1984.
4. Notícias, (Lourenço Marques): 7.2.1945; Vail e White, Capitalism and
colonialism in Mozambique..., pp. 302-303.
5. Figueiredo, op. cit., pp. 115-117; Oliveira Marques, op. cit., pp. 344.
6. Abendreth, op. cit., p. 126; D.F. Fleming, The Cold War and its origins,
1917-1960, 2 vos., Londres: Alen e Unwin, 1961, vol.1, pp. 265-520.
7. Figueiredo, op. cit., p. 124; Oliveira Marques, op. cit., p. 347; BO 8,
25.2.1950, Decreto-lei 37:732, de 13.1.1950.
8. D. O'Meara, 'The 1946 African mineworkers strike and the polítical economy
of South Africa', Journal of Conmnonweafth and Comparative Politics, 13(2) July
1975, pp. 146-173; A. Turner, 'The growth of railway unionism in the Rhodesias,
1944-1955', in R. Sandbrook e R. Cohen (coord.), ne development of an African
working ciass: studies in class formaion and action, Londres:
Longman, 1975, pp. 73-98.
9. Ver, entre outros, O'Meara, op. cit., pp. 161-169. 10. A. Sopa, 'Catálogo de
periódicos moçambicanos, precedido de uma introdução
histórica, 1854-1984', Trabalho de Diploma, (Licenciatura em História com
especialidade em documentação), UEM, AHM, Maputo, Julho 1985, pp.
257-258; ver também, 1. Casimiro, 'Movimento associativo como foco de
nacionalismo-movimento estudantil - NESAM e AAM', UEM, DH,
dactilografado, 1979. p. 7.
11. Sopa, op. cit., pp. 257-258.
12. E. Friedland, 'A comparative study of the development of revolutionary
nationalist movements in southern Africa - Frelimo (Mozambique) and the
African National Congress of South Africa', Ph. D thesis, City University, New
York, 1980, p. 144, citando Eduardo Mondíane, 'Frelimo: the real choice',
Tricontinental, (Havana), May-June 1969, pp. 100-101.
13. P. V. Tobias, 'A little known chapter in the life of Eduardo MondIane',
Genève-Afrique, vol.XVI, No.l, (1977-1978), pp. 119-124; E.A. Hawley,
'Eduardo Chivambo Mondíane (1920-1969): a personal memoir', Africa Today,
250
Captulo 5
Moçambique, 1930-1961', Maputo: mimeo, 1979, p. 5, citando Arquivo do
Instituto do Algodão, JEAC, 'Confidencial 1947', subdelegado JEAC Beira
(António Mira Mendes) ao chefe da Delegação (Lourenço Marques), 24.12.1947.
32. AHM, FGG, A. M. da Silva, et ai, 'Mogovolas. Relatório da Brigada de
Estudos, 1951'.
33. Brigada do DH, UEM, op. cit., pp. 5, n. 51, 6; Mahawani Khosa, entrevistado
por Alpheus Manghezi e Salomão Zandamela, Guijane, Gaza 17.2.1979; N. S.
Bravo, A cultura algodoeira na economia do norte de Moçambique, Lisboa:
Junta de Investigações do Ultramar, 1963, p. 120. 34. Brigada do DH, UEM, op.
cit., p. 6. 35. Eugênio Niquaria, entrevistado pela Brigada do DH, UEM,
Montepuez,
24.7.1979.
36. AHM, FNI, Cx.117, Chefe da Repartição Central dos Negócios Indígenas,
Inquérito à Circunscrição dos Muchopes, 10.7.1951.
37. Gabriel Makave e Abner Ngwenya, entrevistados por Alpheus Manghezi,
Guijane, Gaza, 16.2.1979; Abner Ngwenya, entrevistado por Alpheus Manghezi,
Ximbongweni, Gaza, 15/18.5.1980; AHM, ISANI, Cx. 26, A. Policarpo de Sousa
Santos, Inspecção ordinária à circunsrição de Guijá (Sede, e posto de Massingir)
do período de Agosto de 1942 a Janeiro de 1957, pp. 51-54, 124-6; K. Hermele,
Land struggles and social dífferentiation in southern Mozambique: a case study of
Chokwé, Limpopo, 1950-1987, Uppsala: Scandinavian Institute of African
Studies, 1988 [Research Report, N1 82], pp. 39-41; para indicações sobre as
desordens e confrontações entre negros e operários brancos atendentes ao início
das obras, ver AHM, FGG, Cx. 373, Brigada Técnica de Fomento e Povoamento
do Limpopo, Vol.1I, Chefe do Gabinete do Governador Geral ao
Comandante de Polícia, Lourenço Marques, 28.8.1953.
38. J. Head, 'State, capital and migrant labour in Zambézia, Mozambique: a study
of the labour force of Sena Sugar Estates, Limited', Ph.D thesis, University of
Durham, 1980, p. 324; B. Munslow, Mozambique." lhe revoluion and its origins,
Londres: Longman, 1983, p. 76; J. Marcum, 7he Angolan revolution: vol. 1, lhe
anatomy of an explosion, (1950-1962), Cambridge: Massachusetts Institute of
Teehnology Press, 1969, pp. 196-197; para a agudização da luta nas sisaleiras, ver
D. Bolton, 'Unionisation and employer strategy: the Tanganyika sisal industry,
1958-1964', in P.C.W. Gutkind, R. Cohen, e J. Copans, [coord].
African labor history, Beverly Hills/Londres: SAGE Publications, 1978, pp.
175-204; sobre MANU, ver ponto 7 em diante.
39. Head, op. cit., pp. 346, 352; J. Head, 'Opressão colonial e formas de luta dos
trabalhadores: o caso da Sena Sugar Estates', Não Vamos Esquecer, 2/3
(Dezembro 1983), p. 41.
40. AHM, FNI, Cx. s.n., Agência da Curadoria dos Indígenas da Circunscrição de
Magude [daqui em diante ACMI, 1954, fis. 2-6, 19-21, 25-26. 41. Ibid., fis. 29-
30.
252
2«pítulo 5
Bertrage afr'ilanistischer Forschungen, Berlim: Dietrich Reine, 1977, pp.
103-126.
56. SR 1, p. 97.
57. SR III, p. 45.
58. Mondlane, op. cit., (1977), p. 109; informações sobre as gravações fornecidas
por Dr. G. Liesegang.
59. Ver A. Lobo, 'Noémia de Sousa, notas para uma proposta de leitura', Limani,
2, Maio de 1987, pp. 85-97. Ainda na literatura poética deste género podemos
incluir uma obra de um pastor da Missão Metodista Episcopal Americana, Elias
Saúte Mucambe, intitulada 'Seu Negro' e escrita, presumivelmente, nos fins dos
anos 40 ou princípios dos 50. Trata-se de um poema. de protesto contra as
humilhações raciais e denúncia à exploração a que o negro estava sujeito na sua
pr6pria terra por estrangeiros.
60. N.p., dactilógrafado, 27.5.1949: matéria gentilmente fornecida por Fátima
Mendonça.
61. Alpers, op. cit., pp. 168-171; R. G. Hamilton, Literatura africana. Literatura
necessária, 2 volumes, Lisboa: Edições 70, 1984, II, p. 52.
62. J. Craveirinha, Xigubo, Maputo: INLD, 1980, pp. 63-64. Note-se que a partir
dos meados da década de 1970, a indústria mineira sofreu reformas
organizacionais e salariais que tomaram migração mais rentável e segura: ver
UEM/CEA,
O mineiro moçambicano, Maputo: mimeo, reedição, 1979, pp. 36-41.
63. F. Mendonça, 'O conceito de nação em José Craveirinha, Rui Knopfli, e
Sérgio
Vieira', Paris: mimeo, 1985; sublinhado nosso. Ver o poema Chamamento em
Xigubo, p. 58.
64. Ibid., p. 18.
65. M. Ferreira, Literaturas africanas de expressão portuguesa, 2 volumes, Lisboa:
Instituto de Cultura Portuguesa, 1977, II, pp. 99-100; Hamilton, op. cit., II: 45-50;
Luís Bernardo Honwana, Nós matámos o cão tinhoso, Maputo: INLD, 1980 (2a
edição); Anibal Aleluia, Mbelele e outros contos, Maputo: Associação
de Escritores de Moçambique, 1988.
66. Alpers, op. cit., p. 168.
67. Ver R. Duarte, Escultura Maconde, Maputo: UEM, Núcleo
Editorial/Departamento de Arqueologia e Antropologia, 1988, pp. 43-47.
68. Ver Entrevista conduzida por Arlindo Lopes, 'Bertina Lopes: Sinto nostalgia
da
minha terra', Tempo, 564, 2.8.1981, pp. 50-54. 69. Alpers, op. cit., p. 173.
70. Ver Mondíane, op. cit., pp. 114-120. 71. J. Iliffe, A modern history of
Tanganyika, Cambridge University Press, 1979, pp.
292, 294, 464-466, 523; H. W. Stephens, The political transformation of
Tanganyika: 1920-1967, New York: Praeger, 1968, p. 143; A. Coulson, Tanzania:
A polítical economy, Oxford: Clarendon Press, 1982, pp. 115-116. 72. Cornélio
João Mandanda, entrevistado Brigada do DH, UEM, Mueda,
254
Capítulo 5
localizavam os terrenos, quem autorizou, etc.
82. Bravo, op. cit., p. 145; a média para os anos 1950-1956 foi 300,5 toneladas.
83. Entrevista, Mandanda, (1979).
84. Gentili, op. cit., p. 107, citando Administração da Circunscrição dos
Macondes,
19.12.1958. Um testemunho indica que Nkavandame não era sempre superior a
prática colonial de não pagar quem produzia o algodão: ver as palavras de Issai
Kilama, na entrevista com Cocote Zimu et al, (1979), em relação a experiência do
seu pai: "veio o Lázaro e levou os seus sacos dizendo que traria o dinheiro,
mas nunca trouxe".
85. Entrevista, Tangadica et aí, (1979); Bravo, op. cit., p. 145. 86. Entrevista,
Mandanda, (1979); Justíno Joao Bonifacio, entrevistado Brigada do
DH, UEM, Mueda, Aldeia Nambula, 12.8.1979.; Gentili, op. cit., pp. 109-110. 87.
Entrevistas, Nakutepa, et ai, (1979), Mandanda (1984); testemunho de Alberto
Chipande em Mondíane, op. cit., (1977), pp. 145; Gentili, op. cit., p. 110. O
massacre de Mueda, no ano seguinte, provocou o colapso final da sociedade. 88.
Segundo Friedland, entre' estas organizações destacam-se a Comissão
Organizadora para a Independência de Moçambique, o Movimento Popular de
Libertação de Moçambique, (Mocímboa da Praia), o *Movimento Democrático
Africano de Moçambique (Vila Pery, hoje Chimoio), a União Progressiva de
Moçambique (Manica e Sofala), o partido Socialista Católico (Inhambane), e o
Movimento
Nacional de Moçambique, na Zambézia; op. cit., p. 149.
89. Notícias, 28.2. e 2.3.1962; J. M. Khamba, 'History of national liberation
struggle in Mozambique', (sic), n.p., s.d., p. D19; Marcum op. cit., p. 197. 90.
Khamba, op. cit., D9-12.
91. 'The Constitution of the U nion', in J. Dias, M. V. Guerreiro, e M. Dias,
'Missão de estudos das minorias étnicas do ultramar português: relatório da
campanha de 1959 (Moçambique, Angola, Tanganhica e União Sul Africana)',
Lisboa: Junta de Investigações do Ultramar, 1960 [n.p.], p. 53 (tradução nossa);
ver também J. da Costa Freitas, 'Movimentos subversivos contra Moçambique', in
Moçambique: curso de extensão universitária, ano lectivo de 1964-1965,
Lisboa: Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina, 1965. pp.
322-323.
92. Ver F.M. Chambino, 'Subversão em Cabo Delgado. Contribuição para o seu
estudo', Dissertação para o acto de Licenciatura, Universidade Técnica de
Lisboa, 1968, pp. 449-450.
93. Testemunho de Alberto Chipande in Mondíane, op. cit., (1977), pp. 125-126;
entrevista, Mandanda, (1979); ver, também, 'Mauvilo a ku Mweda. Sobreviventes
e participantes históriam massacre', Tempo, no. 350, 19.6.1977, pp. 42-49. 94.
Ibid; Mondlane, op. cit., (1977),p. 126; cp. o massacre de Pidjiguiti em Guiné,
de 3.8.1959
95. Ver, inter alia, Marcum, op. cit., pp. 140-180. 96. Mondíane, op. cit., (1977),
pp. 127.
256
259
Principais Fontes Consultadas PLANO:
1. ENTREVISTAS E DEPOIMENTOS
2. DOCUMENTOS NÃO PUBLICADOS
3. DOCUMENTOS PUBLICADOS
4. TESES E ARTIGOS NÃO PUBLICADOS
5. JORNAIS
6. LIVROS E ARTIGOS SOBRE MOÇAMBIQUE
7. BIBLIOGRAFIA GERAL
1. ENTREVISTAS E DEPOIMENTOS [As entrevistas e depoimentos não
publicados encontram-se no Núcleo de Documentação do Centro de Estudos
Africanos e no Arquivo Histórico de Moçambique, da Universidade Eduardo
MondIanel
Justino João Bonifácio, entrevistado pela Brigada do DH, UEM, Mueda, Aldeia
Nambula, 12.8.1979 [CEAI.
Taele Capembe, Jacinto Baquile, e Matias Alguime, entrevistados pela Brigada
de Hist6ria do Curso de Letras, Actividades de Julho 1979, Universidade Eduardo
MondIane, (Allen Isaacman, Agostinho Pililão, Eugénio Macamo,
275
índice
A
Acordo Missionário 118, 123, 127 Acordo Suplementar (1947) 158 Acto Colonial
42
Açucar 3, 36, 93, 96, 142, 147,
168, 170
Adia Abeba 75 Administração 2-3
civil
circunscrições 2, 11
distritos 2
regulados 98-99, 186; ver:
Régulos
militar 2
capitanias-mores 2
comandos militares 2 África Austral 157, 200 África do Sul 19, 21, 224
agricultura 26 apartheid 201
caminhos de ferro 164
capital 10
comércio com, 7
crise económica (pós II Guerra
Mundial) 157
expansionismo 22
fugas para, 111, 225
greves 210, 220
luta nacionalista 238-240, 242243, 245
Aliança do Congresso (1955)
249
Sharpeville (massacre de) 242
Mondlane, Eduardo 203-204
trabalhadores 189
trabalho migratório 8, 73, 157158, 203, 213, 228
Convenção (1928) 30
minas 3, 4, 158, 189, 204
obras públicas 3
pagamento diferido 157
plantações 3 .kfrica Oriental 246 African Gaza Church 18 African National
Congress (ANC)
203,250
Agricultura,
agricultores 4, 26, 56, 96, 107108, 132, 138-139, 142, 148,
165, 188, 190, 212, 237
agricultores prósperos 188-190,
212
produção agrícola geral 3, 5, 7,
22, 101, 104, 119, 129
açucar 3, 36, 93, 96, 142, 147,
168, 170
amendoim 4, 36, 38, 50-52, 105-106, 142, 148, 153-156,
168
arroz 56, 59, 93, 95-97, 107, 119, 142, 149, 150, 155, 209,
212
batata 107 borracha 4
cajú 4, 36, 38, 50, 54-55, 79, 113, 114, 142, 147, 159, 168,
172, 184, 189
chá 3, 37-38, 93-95, 142, 147,
276
150, 158, 167-168, 229
citrinos 4
coqueiros 3
feijão 107, 148, 153, 155
gergelim 4, 156
hortícolas 107
mandioca 106, 153, 155-156,
159
mapira 153, 156
milho 4, 36, 38, 52, 57, 106,
107, 110, 148, 154-156
sisal 3, 36, 38, 51-52, 93, 140, 144-145, 147, 156, 159, 214,
229, 235-236, 252
sorgo 155
produção camponesa 5, 13, 28,
29, 49, 84, 107, 156, 186, 232
produtividade geral 3, 4, 37,
145, 189, 220
ver: Algodão, Campesinato, Comércio externo, Comércio rural,
Plantações
Agro-indústria 3-5, 27, 37, 165,
168, 170-172; ver: Agricultura,
Plantações
Albasini (irmãos) 34, 63 Albasini, José 77 Albuquerque, J. Mouzinho de 10,
15, 72
Aleluia, Anibal 254 Algodão 4, 229
agricultores pr6speros, cooperativas 107, 189-191, 232-237
companhias 29, 85, ~133, 148,
211, 233-234, 236, 237
descaroçamento 27, 29, 90, 108.,
170
empobrecimento, fomes 153-156
131,
estado, concentrações,concessões, cultura obrigat6ria 28-29, 35, 41, 43, 49-50,
83-84, 88-93, 130-135,
148-150, 209, 234
Fundo de Algodão 133, 136,
189,213
Junta de Exportação de Algodão Colonial (JEAC) 84, 89, 93, 112, 131-132, 153,
191-192,
252, 255
força de trabalho rural 95-97,
138, 140, 142, 145
indústria 168-170, 172
machambas colectivas 50-51, 104
missões católicas 48, 119
preços 36, 38, 43, 89, 92, 103104, 136
produção, rendimento, exportações 38, 56, 102-108, 135-137,
148, 151
produtividade 27-28, 92, 111,
130, 136-138, 233
propaganda 73, 89, 99
resistência 51, 91, 111-114, 210,
213
ver: Comércio rural
Aliança do Congresso 249 Alto Changane 138 Amaramba 151 Amendoim 4, 36,
38, 50-52, 105,
106, 142, 148, 153-156, 168
American Board for Foreign Missions
(Junta Americana para Missões no
Estrangeiro) 15-16
ANC ver: African National Congress Andrade, A. Freire de 15 Andrade, Mário de
209. Angola 69, 243 Ang6nia 243 Apartheid 201, 249 Argélia 248
Arroz 56, 59, 93, 95-97, 107, 119,
142, 149-150, 155, 209, 212
Assimilação 68, 177, 183, 198,
208, 225
277
assimilados 121, 182, 226-227
associações 62-67, 71, 74, 173,
208
educação 176, 181
Estatuto dos Indígenas Portugueses
183
ideologia 15, 122-123, 182
ocupações 13
pol'tica colonial 68, 70, 115,
182, 190
sindicatos 173-174
Associação Africana de Lourenço
Marques 81, 116, 202 ver: Grémio Africano de Lourenço
Marques
Associação Africana de Quelimane
202
Associação do Trabalho Geral da
Beira 61
Associação dos Alfaiates 188 Associação dos Barbeiro 188 Associação dos
Carpinteiros 188 Associação dos Criados de Mesa 188 Associação dos
Empregados do Comércio e da Indústria 101; ver: Sindicato Nacional dos
Empregados do Comércio e da Indústria Associação dos Lavadores 188
Associação dos Naturais da Colónia
de Moçambique 70, 244
Associação dos Negociantes Indígenas
188
Associação dos Pintores 188 Associação dos Sapateiros 188 Associaç4o
Moçambicana da África
Oriental 240
Associação Mútua dos Engraxadores
de Lourenço Marques 187
Associação Portuguesa da África
Oriental 240
Associações,
cooperativas 189-191
Sociedade Algodoeira Africana Voluntária de Moçambique 233-234, 238
políticas:
Associação Africana de Lourenço Marques 81, 116, 202 Associação dos Naturais
da Co16nia de Moçambique 70, 244 Associação Moçambicana da África Oriental
240 Grémio Africano de Lourenço Marques (Associação Africana de Lourenço
Marques) 21, 23, 63-69, 73, 75, 81, 116-202 Grémio Africano de Manica e Sofala
(Centro Africano da Beira) 65
Grémio Africano de Quelimane (Associação Africana de Quelimane) 65
Grémio Luso-Africano da Ilha de Moçambique (Liga LusoAfricana da Ilha de
Moçambique) 65
Grémio Negrófilo de Manica e Sofala (Núcleo Negrófilo' de Manica e Sofala) 69-
70, 205207
Instituto Negrófilo (Centro Associativo dos Negros) 63, 67-72, 75-76, 81- 82,
116, 197, 202-203, 244
Mozambique East African Association 240
Núcleo de Estudantes Secundários de Moçambique (NESAM) 203-205, 209, 243-
245, 250, 257
Portuguese East Africa Association (Associação Portuguesa da África Oriental)
243, 245 União dos Negros Lusitanos
278
76-77
profissionais 187-188
Associação dos Alfaiates 188 Associação dos Barbeiros 188 Associação dos
Carpinteiros
188
Associação dos Criados de
Mesa 188
Associação dos Lavadores 188 Associação dos Negociantes
Indígenas 188
Associação dos Pintores 188
Associação dos Sapateiros 188 Associação Mútua dos Engraxadores de Lourenço
Marques
187
Azikiwe, Namdi 205
B
Banco de Importações e Exportações
164
Banco Nacional Ultramarino 34,
110, 172
Banco Português do Atlântico 172 Banjas 184-185, 212-213 barreiras raciais, ver:
Discriminação
racial
Barué
revolta 17
trabalhadores 23 Batata 107
Beira
associações 64-65, 69, 116, 205207
caminho de ferro 6, 40, 46, 162
construção urbana 171
energia eléctrica 161
ensino secundário 176
greves 26, 28-29, 55-58
indústria 169, 171
leis de passe 99, 202
porto 6, 40, 46, 56-57, 109, 162
serviços 171
Soares de Resende, Bispo da 177,
178
trabalhadores 6, 24, 26, 56-58,
99,210
Beirão, Raposo 202 Bemfica, Francisco 63 Berlim (Conferência de) 1
Bettencourt, J.T. (Governador-Geral,
1940-1946) 86-87, 91-92, 95, 97,
98, 106, 125 Bilene 138 Birmânia 114, 199 Boane 218-219 Borracha 4 O Brado
Africano 21,22, 25, 60-65,
67, 71-77, 81, 117, 216, 220,
225, 230
Bulawayo 240, 245 Buzi 70, 172, 211
rio 3
C
Cabo Delgado
algodão 38, 85, 90, 102, 111,
133, 233-238
colonialismo português 49-50
comércio rural 4
Companhia do Niassa 1, 24
despovoamento 51, 111
Megama 184-186
Mozambique African National Union (MANU) 214, 246-247,
249
produção camponesa 4, 38
reçrutamento 139
salários 144
sisaleiras 3, 51
Sociedade Algodoeira Africana Voluntária de Moçambique
279
(SAAVM) 191, 233-238, 241
trabalhadores (Tanganhica) 159 Cabral, Amiflcar 208, 246, 251 Caderneta de
identificação 96, 100 Café 232
Caia 36
Cajd 4, 36, 38, 50, 54-55, 79, 113114, 142p 147, 159, 168, 172,
184-189
Carnal, Abdul 184-185 Câmara de Minas 158 Câmara Muncipal de Lourenço
Marques 14
Caminhos de ferro 7, 157, 161, 163164, 210
Beira 6, 46, 162
Goba 218
Limpopo 163-164, 171, 213
Lourenço Marques, 6, 25, 163,
171,215
Norte (Moçambique) 52, 141
Tete 45, 109, 162
Campesinato 22, 26, 30, 50
algodão 43, 50, 89, 103-104, 109
consumo 2, 10, 151
empobrecimento de 105-106,
130-131, 155-156
estratificação 106-108
expulsão de 119, 165, 189
fugas de 24, 130
impostos 52
política colonial 30, 41, 43, 92
produção 2, 5, 10, 27-28, 155156
rendimento 103-106, 142, 151152
reprodução social 4-6, 9, 131,
152-153, 186
Campos, A. Sobral de 202 Canções de trabalho 149, 222-224,
226
Cape Town 238
Capital
acumulação
colonial 6, 9, 14, 152, 163,
232
de camponeses 4, 189, 238
inglesa 26
na base de produção familiar 6,
9, 148, 186
política colonial 28, 45-46, 8485
portuguesa 2, 26, 41, 85, 161,
171
colonial 108 comercial 14
escassez 15, 139-140
português 2, 7
financeiro 172
indústrial 169-171
infra-estrutura rural 136
inglês 27, 30
na agricultura 56, 145, 186
algodão 28, 85
chá 37
nacionalização (portuguesa) 8586, 162
não português 2, 41, 45-46, 86
política colonial 41
português 41, 86, 129
concentração 171-172
expansão em Moçambique 161162, 171
relação capital-trabalho 11, 53,
140, 148, 174-175, 209
territórios vizinhos 3, 26, 157159
Carmona, A. O. de Fragoso 68 Carta Orgânica do-lmpério Colonial
Português 42
Carteira profissional 174 Casa dos Estudantes do Império 208 Casa dos
Trabalhadores 25 Casablanca 248
280
Ceilio 199 Censura 61, 224 Centro Africano da Beira (Grémio
Africano de Manica e Sofala) 65,
116
Centro Associativo dos Negros 63,
116, 202-203, 212, 244
Centro de Estudos Africanos (Lisboa)
208-209
Centro de Investigação Científica (CICA) 132
Cesaire, Aimé 238 Chá 3, 37-38, 93-95, 142, 147, 150,
158, 167-168, 229
Chagonga, Baltazar 246 Chama Chama Mapinduzi 232 Changalane 218-219
Checoslováquia 200 Chemb.a 90, 107, 124 Cheringoma 103 Chibalo 59, 73, 119,
210, 213, 218
ver:- Trabalho forçado Chibuto 50, 138, 190, 211 Chicamba Real 161
Chicualacuala 171 Chicusse, Zinthambira 243 Chidenguel 218 Chimoio (ver: Vila
Pery) 4, 169,
175
Chipande, Alberto 233, 256 Chissano, Joaquim 244 Chissano, Martha 148
Chiteve 206 Chiúre 185 Chope 222 Citrinos 4 Código de Trabalho dos Indígenas
31
Colonatos 166, 165-167, 189.
Limpopo 166-167, 188-189, 213
Nova Madeira 167
Revué 166
Sussundenga 166
Colonialismo português 3, 10, 2223, 35, 53, 86, 122-123, 129, 208-209, 220, 221,
227, 235,
242, 246, 248, 257
Colonos 12, 19, 21, 67-68, 70, 86,
186, 222
fixação 30, 41, 74, 140, 152,
162, 164-168, 171, 189, 208
imigração 13, 172-173
machambas 4, 10, 39
machambeiros 10, 26-28, 30
ocupação de terras 103, 165,
197, 213
política colonial 26-28, 30, 41, 74, 86, 140, 152, 162, 189, 208
população 165
proprietários 54
supervisores 5, 74
ver: Colonatos
Comércio 8, 13, 37, 49, 57, 84,
114, 173, 189, 206, 232-233
comércio externo
exportações 3, 4-5, 7, 38-39, 43-44, 56, 102-103, 146-147,
164
importações 7, 30, 41-44, 56, 84-85, 108, 110, 124, 152, 156,
161, 164
relações económicas externas 7-8,
29, 35, 152, 168
Portugal 2, 7, 42-44, 85, 92,
152, 161, 171-172
comércio rural 2, 4, 6, 9, 14, 24,
107, 151-152, 172.
Comissão de Censura 61 Comissariado da Polícia 100, 126 Companhia
Algodoeira de Moçambique 104
Companhia Carbonifera de Moçambique 162
Companhia Colonial do Buzi 72, 172
281
Companhia da Zambézia 37, 91, 112 Companhia de Cimentos de Moçambique
110
Companhia de Comércio de Moçambique 4
Companhia de Lugela 37 Companhia de Moçambique 1, 26,
28, 46, 57-58, 69-70, 77-78, 86,
162, 171
Companhia do Boror 36 Companhia do Niassa 1, 24, 29, 50 Companhia dos
Algodões de Moçambique 85, 104, 133
Companhia Industrial Portuguesa
168
Companhia Luso-Belga (Companhia
Industrial Portuguesa) 168'
Companhia União Fabril (CUF) 171172
Companhias majestáticas 1, 2 Comunismo 77, 220 Concentrações algodoeiras,
ver:
Algodão
Concessões algodoeiras, ver: Algodão Concordoia 118-119, 123, 127 Conferência
de Berlim 1 Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias
Portuguesas
(CONCP), 247-248, 257 Conferência Imperial 41 Congo 242
Congresso Comercial 43 Congresso Nacional Africano 22 Congresso Pan-
Africano, V 19, 199 Conquista militar (1886-1918) 1
Gaza 2
Maputo 2 Nampula 2 Zambézia 2
Conselho Cristão de Moçambique
203
Conselho de Segurança Pública 205
Contestação cultural 20, 221, 231 Contribuição braçal 95, 143 Convenção do
Povo de Moçambique
240, 242-243
Cooperativa dos Criadores de Gado
108
Cooperativa dos Pescadores do Govuro 190
Cooperativas
agrícolas 188-190, 195
algodoeiras 190, 235
Copra 4, 36, 38, 54, 93, 142, 147,
168
Coqueiros 3
Costa do Ouro, ver: Gana Craveirinha, José, 117, 223, 226,
228-229, 231, 254
Crise económica mundial 35-37, 53,
56, 61
Cuamba 52
Cuarezi (rio) 112
D
Dar es Salaam 241, 246, 248 Delagoa Bay Agency 25, 216 Delagoa Bay
Development Co. 25 Demografia, ver: População Derre 138
Diário de Moçwnbique 177 Dias, Cacilda 116 Dias, Estácio 62-64, 77, 116 Dias,
João 116, 228-229 Dicca, F. 68
Diocese da Beira 177 Direcção de Administração Civil 205 Direcção dos
Negócios Indígenas,
ver: Secretaria dos Negócios Indígenas
Direcção dos Serviços dos Portos;
Caminhos de Ferro Transportes
217
284
11 (1939-1945) 42, 84, 93, 95, 108, 114, 131, 138, 157, 161, 164, 168, 173, 191,
"197-200,
221,224
Guijá 50, 138, 166, 194, 252 Guijane 212 Guiné 247, 256 Guru4 37, 94 Gwambe,
Adelino 245
H
Harare ver: Salisbúria HIomani 212 Honwana, Luís Bernardo
254, 257
Húngria 200 Hunguana, Augusto 244
229,244,
i
Ibo 49
Igreja Anglicana 16 Igreja Católica 16, 21, 47-48, 86,
117-120, 123, 176, 178, 180, 221
4cordo Missionário 118, 123
Concordata 118-119, 123
cultivo de algodão 48, 119
Estatuto das Missões Católicas
Portuguesas 47-48
Estatuto Missionário 118-119
Igreja Episcopal Luso-Africano. de
Moçambique 19, 20
Igreja Etiópica Luso-Africana 224 Igreja Evangélica 205 Igreja Luz Episcopal
124, 207 Igreja Metodista Episcopal Americana
16, 19, 69
Igreja Nacional Etiópica Moçambicana 20
Igreja Shembita (ou Nazarita) 224 Igreja Wesleyana 19
Igrejas protestantes 15, 18, 23, 48,
118, 123-124, 178, 206, 220
Igrejas 'separatistas'/etiópicas 18-20,
123, 179
Ile 154
Ilha de Moçambique 4, 8, 54, 65 Ilunga, Agostinho 240, 243 Imbuhu 233,236
Impincazamo 72 Importações, ver: Comércio externo Impostos 5, 9, 40, 49-50,
52, 55,
97, 99, 105-106, 119, 137, 140, 151, 152, 155, 157-158, 220,
223,240
imposto de capitação 97, 99, 116 imposto de palhota 2, 4, 8, 24,
55, 57, 73, 78, 80, 1.13
imposto de recrutamento 6 Inchope 86 Incomati (rio) 3 índia 7, 152, 168, 199
Indigenato 12, 183, 188 Indústria 8, 44-45, 84, 100, 108110, 129, 151-152, 167-
173, 175,
176
alimentar 169-170
açucar 3, 171-172, 214
cajú 168
cereais 171
6leos 6, 168, 171
óleos alimentares 168
pesca 170
extractiva 170
carvão 109, 162
química
gaz 170
petr6leo 170
transformadora 6, 169-172
águas 170
alcool 170
algodão 168 bebidas 170
285
cerveja 6, 110
refrigerantes 6, 110
borracha 110
calçado 170
cigarros 6, 110, 168
cimento 6, 110, 169, 170, 172,
176
coiro e peles 169
construção e obras públicas 170
copra 168
electricidade 170
fiação e tecelagem de juta 169
gelo 6
madeiras 168, 170-171
material eléctrico 169
metálicas 170
moagem 6, 110, 169 mobiliário 110, 169
reparação de máquinas 169
reparação de veículos 170
sabão 6, 110
sisal 156, 159, 213, 235
soldadura 169
têxtil 3-5, 27, 29, 43-45, 83, 104, 108, 110, 130, 169, 170,
172, 175
veículos 169
verniz 110
vestuário 169, 170
vidro 172
produção e investimento de capital
170-172
protecção 41-44, 171 Inhambane
administração 2, 40
agricultores pr6speros 189
agricultura 4
algodão 27, 73, 138
associações 64
comércio rural 4
demografia 8
igrejas protestantes 124
missões protestantes 16, 19
terras (concessões) 27
trabalhadores (recrutamento) 23 Inglaterra ver: Grí-Bretanha Inharrime 218
Inkomati Sugar Estates 214 Instituto da Namaacha 64 Instituto Nacional das
Missões 16 Instituto Negr6filo (Centro Associativo dos Negros) 63, 67-72, 75,
76, 81-82, 116, 197, 203 Itália 75, 152, 199 Itinerário 117. 2"" luluti 155
3
Japão 152
JEAC (Junta de Exportaçou de Algodão Colonial) ver: Algodão Joanesburgo 203
Junqueiro, M.S. 37 Junta Americana para Missões no
Estrangeiro (American Board for
Foreign Missions) 15-16
Junta de Exportação de Algodão
Colonial (JEAC) ver: Algodão
K
Kalungano 229 Katsande, P. 240 Kenya Africa National Union
(KANU) 249
Khambe, Jaime 240
L
Langa, Alberto 225 Legislação do Trabalho, ver: Trabalho
Lei da Imprensa 62
288
Meloco 112 Memba 49, 51-52, 154 Mendes, João 202 Menjane, Diniz 240, 243
Messumba (missão) 16, 123 Mestiços 13, 64 Mfx~e-mfuxe 212 Mikindani
(missão de) 241 Milange 37, 125, 150, 156 Milho 4, 36, 38, 52, 57, 106-107,
110, 148, 154-156 Millinga, L. M. 213 Missão Episcopal Americana 69 Missão
Suiça 16, 182, 203 Missões 15-20, 22, 32, 47-48, 116,
123, 178, 180-181
católicas 16, 118-121, 1769 233234
protestantes 16-18, 22, 32, 48,
176, 178, 180, 182
MJDM (Movimento dos Jovens
Democratas Moçambicanos) 202 Moatize 45-46, 109, 162 Mocfmboa da'Praia 49,
235, 256 Mocuba 138 Mocubela 138 Mocumbi, Pascoal 244 Mogincual 54, 112
Mogovolas 103-104, 153-155, 184,
192, 211, 213, 252 Moma 155 Mombaça 246 Monapo 112-113, 168 Mondane,
Eduardo 182, 192, 203205, 208-209, 244-245, 250-251,
253-254, 256, 257 Monteiro e Giro 172 Montepuez 51-52, 79, 112, 165,
211,252, 255' Mopeia 36, 214 Morrumbala 138, 156 Morrumbene 218
Mossuril 53-55, 80, 103, 112-114 Mossurize 69
Motim ver: Luta de camponesa e
trabalhadores
Movimento Anti-Colonialista (MAC)
247
Movimento Associativo 20, 22, 6162, 64, 66, 71, 74, 76, 81-82, 114, 127, 197,
202, 250 ver.
Associações
Movimento Democrático Africano de
Moçambique 245, 256
Movimento de Unidade Democrática
(MUD) 199, 202
Movimento dos Jovens Democratas
Moçambicanos (MJDM) 202 Movimento Juvenil 202-205 Movimento Nacional
de Moçambique
245, 256
Movimento Pan-Africano para a
Libertação da África Oriental e
Central (PAFMECA) 246
Movimento Popular de Libertação de
Angola (MPLA) 208-209 Moyana, Gabriel 240 Mozambique African National
Union
(MANU) 214,246-247,249,252 Mozambique East African Association 240
Mpanga 235
MPLA (Movimento Popular de Libertaçio de Angola) 208-209 Msaho 222
Msalio 230
Mtwara 233
MUD (Movimento de Unidade
Democrática) 199, 202
Mueda 191, 211, 232-233, 236, 23t..,
241
massacre de 145, 198, 241, 247 Mugeba 138
Mulevala 112
289
Murrupula 150, 155, 179 Museu de Nampula 230 Mussoco 2, 24 Muta-hanu 54,
112 Mutarara 46, 91 Muthemba, Josina 244
N
Nacala 154 Nacionalismo 114, 165
económico (português) 35, 42,
46, 50, 86, 171 Nairobi 156 Namapa 154 Namepuita 211 Nametil 89 Namimba,
João 233 Nampula
administração 1-2
algodão 27-28, 38, 53, 55, 85, 89-90, 102-103, 133, 137, 138,
150
cajú 38, 54-55
comércio rural 4, 151
demografia 8, 156
despovoamento 156, 213
empobrecimento 156
Igreja Católica 16, 179
indústria ligeira 169
Museu 230
Muta-hanu (revolta) 112-114
salários 144
sisaleiras 3, 51-52, 144
trabalhadores (Tanganhica) 159 Namuli 37 langololo 233, 235 Navess, Tizora 16
Ndota 218 Negócios Indígenas (Direcção) 25, 60, 67-68, 187, 203, 216-217
NESAM (Núcleo de Estudantes Se-
cundários de Moçambique) 203205, 209, 243-245, 250, 257 Netia 154
Neto, Agostinho 208 Ngungunhane 17, 19, 72-73, 224 Ngwenya, Malangatana
231 Nhantumbo, Tomás 240, 243 Niassa
algodão 85
colonatos 167
colonialismo português 50
comércio rural 151
Companhia do Niassa 1, 29
despovoamento 24 Mataka (chefe) 185
missões protestantes 16, 123
recrutamento 139
salários 145
Niassalândia 3, 24. 40, 46, 50, 110,
156, 163, 201, 238-239, 246 Nigéria 238 Niquaria 211, 252, 255 Nkavandame,
Lázaro 233, 235, 238 Nkrumah, Kwame 114, 205, 238,
246
Nkuna, Eduardo 212 Nogar, Rui 231 Nogueira, Franco 118 Noronha, Rui de 72-
74, 82 Nós matámos o cão tinhoso 229 Notícias 59
Nova Madeira (colonato de) 167 Nova Mambone 190 Nqumayo, Simeão Godide
19 Núcleo de Estudantes Secundários de
Moçambique (NESAM) 203-5,
209, 243-5, 250, 257
Núcleo Negr6filo de Manica e Sofala
205-207 ver: Grémio Negrófilo
de Manica e Sofala Nycrere, Julius 246
286
Lemos, Virgílio de 230, 244 Leonde 213 Lbia 75
Libombo, Enoque 67 Lichinga 167
colonato 165
Liga da Juventude 203 Liga Luso-Africana da Ilha de Moçambique (Grémio
Luso-Africano
da Ilha de Moçambique) 65 Liga Moçambicana 65 Liguilanilu 191, 233, 236
Línguas nacionais 16, 47 Limpopo
agricultores prósperos 4
caminho de ferro 163-164
colonato 165-167, 188-189, 213
ensino católico 123
irrigação 73
Lopes, Bertina 231 Lourenço Marques
abastecimento 6, 13-14
administraçio 11
associações 20, 23, 63-68, 70-71, 73-77, 116-117, 202-205, 212213,243
profissionais 187
burguesia 9
caminhos de ferro 6, 40, 163,
215-217
Congresso Comercial e feira de
mercadorias 43
construçio urbana -171 ensino secundário 176
greves 24, 25, 55, 59-61, 215217
indústria 169, 171
leis dç passe 11, 99-100, 202,
210
porto 6, 24, 59-61, 215-217
população 8, 17, 210
serviços 171
trabalhadores 6, 9, 56-60, 210,
224
trabalho 189
Lourenço Marques Guardian 45, 59 Luabo 36, 149 Lugella 37
Lumbo 52, 113 Lunga 54 Luta anti-colonial 246 Luta de camponeses e
trabalhadores
111-113, 198, 209, 210-214, 219
deserções 140
fugas 51, 111-112, 213
greves 12
África do Sul 157, 201, 221
Beira 26, 28-29, 56-58
Lourenço Marques 25, 59-61,
215-217, 220
Rodésia do Sul 201
Xinavane 214-215, 220
motins
Goba 217-220
Machanga 205-206
revoltas
Guijane 212
Mossuril 112-114
Luta de libertação 245, 247 Luxemburgo 85
M
Mabalane 138 MAC (Movimento Anti-Colonialista)
247
Macequece 86 Machambas familiares 3, 92, 112 Machanga 190
motim da 205-206
Machel, Samora M. 207, 243, 251 Macia 225 Maconde 213, 240-241
escultura 230
287
ocupação militar 17 Macua 213 Madender 240 Madzedzere, Philip 240 Magaia,
Filipe Samuel 244 Magaiça 228 Maganja da Costa 138 Magude 211, 215 Mahec
ie, Albino 150, 192, 244 Maiecuane, Francisco 225 Makave, Gabriel 212, 252
Makonde and Makua Zanzibar Union
240
Makupulani 149 Malangatana ver: Ngwenya, Malangatana
Malásia 114 Malawi 163 Mali 248
Malvérnia 163 Mamana Saquina 228 Manchester 199 Mandanda, Cornélio 233-
234 Mandhlakazi ver: Manjacaze Mandioca 106, 153, 155-156, 159 Manhiça 178,
190 Manhune 72
Maniamba 184 Manica
agricultores prósperos 107
colonatos 107
Junta Americana para Missões no
Estrangeiro (Gogoi) 16
sisaleiras 3
ver: Manica e Sofala Manica e Sofala
algodão 90, 103-104, 132
Companhia de Moçambique 1, 86
crise económica (1932) 56-57
estado de sítio (1926) 28
fome 106
Grémio Africano 65
Grémio Negr6filo (Núcleo Negr6filo) 69, 202, 205, 207
infraestruturas 161
salários 145
Manjacaze 111, 149, 211-212, 240 Mann George 216 Mão-de-obra ver: Trabalho
MANU (Mozambique African National Union) 214, 246-247, 249,
252
Manuel, João 67 Maperre, David 16 Mapira 106-107, 153, 156 Maputo
administração 1, 2
algodão 27
cooperativas 190
Escola Normal de Habilitaçio
178
Goba (motim de) 217, 219 lnkomati Sugar Estates 214
missões católicas 16
salários 144
trabalho migratório 4
UDENAMO (União Democrática
Nacional de Moçambique) 249 Maquival, Joaquim 150 Mariri 237 Marivati,
Daniel 224, 227 Marracuene 190 Marrocos 248 Marromeu 36, 214 Mashaba,
Roberto 16, 32-33 Massingir 138, 194, 252 Mataka 185 Matibane 54 Matos,
Amaral 244 Matsinhe, Mariano 244 Mavadhla, Benjamin 18 Mboya, Tom 246
Mechameje 69 Meconta 52, 150, 154
288
Meloco 112 Memba 49, 51-52, 154 Mendes, João 202 Menjane, Diniz 240, 243
Messumba (missão) 16, 123 Mestiços 13, 64 Mfuxe-mfuxe 212 Mikindani
(missão de) 241 Milange 37, 125, 150, 156 Milho 4, 36, 38, 52, 57, 106-107,
110, 148, 154-156 Millinga, L. M. 213 Missão Episcopal Americana 69 Missão
Suiça 16, 182, 203 Missões 15-20, 22, 32, 47-48, 116,
123, 178, 180-181
católicas 16, 118-121, 176: 233234
protestantes 16-18, 22, 32, 48,
176, 178, 180, 182
MJDM (Movimento dos Jovens
Democratas Moçambicanos) 202 Moatize 45-46, 109, 162 Mocímboa da-Praia 49,
235, 256 Mocuba 138 Mocubela 138 Mocumbi, Pascoal 244 Mogincual 54, 112
Mogovolas 103-1W4, 153-155, 184,
192, 211, 213, 252 Moma 155
Mombaça 246 Monapo 112-113, 168 Mondane, Eduardo 182, 192, 203205, 208-
209, 244-245, 250-251,
253-254, 256, 257 Monteiro e Giro 172 Montepuez 51-52, 79, 112, 165,
211,252, 255 Mopeia 36, 214 Morrumbala 138, 156 Morrumbene 218
Mossuril 53-55, 80, 103, 112-114 Mossurize 69
Motim ver: Luta de camponeses o
trabalhadores
Movimento Anti-Colonialista (MAC)
247
Movimento Associativo 20, 22, 6162, 64, 66, 71, 74, 76, 81-82, 114, 127, 197,
202, 250 ver.
Associações
Movimento Democrático Africano de
Moçambique 245, 256
Movimento de Unidade Democrática
(MUD) 199, 202
Movimento dos Jovens Democratas
Moçambicanos (MJDM) 202 Movimento Juvenil 202-205 Movimento Nacional
de Moçambique
245, 256
Movimento Pan-Africano para a
Libertação da África Oriental e
Central (PAFMECA) 246
Movimento Popular de Libertação de
Angola (MPLA) 208-209 Moyana, Gabriel 240 Mozambique African National
Union
(MANU) 214,246-247, 249,252 Mozambique East African Association 240
Mpanga 235
MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) 208-209 Msaho 222
Msaho 230
Mtwara 233
MUD (Movimento de Unidade
Democrática) 199, 202
Mueda 191,211,232-233,236,23t.,
241
massacre de 145, 198, 241, 247 Mugeba 138
Mulevala 112
289
Murrupula 150, 155, 179 Museu de Nampula 230 Mussoco 2, 24 Muta-hanu 54,
112 Mutarara 46, 91 Muthemba, Josina 244
N
Nacala 154 Nacionalismo 114, 165
económico (português) 35, 42,
46, 50, 86, 171 Nairobi 156 Namapa 154 Namepuita 211 Nametil 89 Namimba,
João 233 Nampula
administração 1-2
algodão 27-28, 38, 53, 55, 85, 89-90, 102-103, 133, 137, 138,
150
cajú 38, 54-55
comércio rural 4, 151
demografia 8, 156
despovoamento 156, 213
empobrecimento 156
Igreja Católica 16, 179
indústria ligeira 169
Museu 230
Muta-hanu (revolta) 112-114
salários 144
sisaleiras 3, 51-52, 144
trabalhadores (Tanganhica) 159 Namuli 37 ý4angololo 233, 235 Navess, Tizora
16 Ndota 218 Negócios Indígenas (Direcção) 25,
60, 67-68, 187, 203, 216-217
NESAM (Núcleo de Estudantes Se-
cundários de Moçambique) 203205, 209, 243-245, 250, 257 Netia 154
Neto, Agostinho 208 Ngungunhane 17, 19, 72-73, 224 Ngwenya, Malangatana
231 Nhantumbo, Tomás 240, 243 Niassa
algodão 85
colonatos 167
colonialismo português 50
comércio rural 151
Companhia do Niassa 1, 29
despovoamento 24 Mataka (chefe) 185
missões protestantes 16, 123
recrutamento 139
salários 145
Niassalândia 3, 24. 40, 46, 50, 110,
156, 163, 201, 238-239, 246 Nigéria 238 Niquaria 211, 252, 255
Nkavandame, Lázaro 233, 235, 238 Nkrumah, Kwame 114, 205, 238,
246
Nkuna, Eduardo 212 Nogar, Rui 231 Nogueira, Franco 118 Noronha, Rui de 72-
74, 82 Nós matámos o cão tinhoso 229 Notícias 59 Nova Madeira (colonato de)
167 Nova Mambone 190 Nqumayo, Simeão Godide 19 Núcleo de Estudantes
Secundários de
Moçambique (NESAM) 203-5,
209, 243-5, 250, 257
Núcleo Negr6filo de Manica e Sofala
205-207 ver: Grémio Negrófdo
de Manica e Sofala Nyerere, Julius 246
290
O
Ocua 133
Organização das Nações Unidas
(ONU) 114, 199, 243-244
Organização do Tratado do Atlântico
do Norte (OTAN) 200
Organização Internacional do Trabalho (OIT) -159
P
Pachinuapa, Raimundo 233, 234 PAFMECA (Pan-African Freedom
Movement for East and Central
Africa) 246
Pagamento diferido 30, 40, 144, 157 PAIGC (Partido Africano da Independência
da Guiné e Cabo Verde
(PAIGC) 208
Paivdf (canção) 223, 224 Pan-African Freedom Movement for
East and Central Africa
(PAFMECA) 246
Pan-africanismo 114, 224, 246 Paquistão 199
Paris 246
Partido Africano da Independência da
Guiné e Cabo Verde (PAIGC)
208
Partido Nacionalista (África do Sul)
201
Partido Trabalhista (Grã-Bretanha)
199
Passe, leis e regulamentos de 11, 96,
99, 100, 210; ver: Caderneta de Identificação, Regidamnento dos
Serviçais Indígenas
Pemba 49, 185, 211, 241 PIDE (Polícia Internacional de Defesa do Estado) 200,
209, 240,
243,245
Plano Marshall 200
Planos de Fomento 162-168 Plantações 2-7, 9-10, 26-27, 31, 3638, 49, 51-54, 56,
77, 105, 132, 147-148, 150, 155-156, 175, 199,
213,235
açucar 3, 36, 96, (Natal)l11,
149-150, 223, 252
cajú 54, 55
chá 3, 54-55
condições de trabalho 90, 94, 96, 143-144, 150, 155-156, 159, 177,
209, 210, 213-214
coqueiros 3
força de trabalho 95-97, 138-140,
142-145
resistência, greves 140, 209-210,
213-215 sisal 3
ver: Sena Sugar Estates, Xinavane
Poemas do tempo presente 230
Polícia Internacional de Defesa do
Estado ver: PIDE
Política colonial 8, 19, 117-118, 209
agricultura 26-28, 43, 83-84,
106, 151-156, 234, 238
algodão 27-28, 137
colonização 123, 172, 189
comércio rural 151-152
discriminaçao racial 15, 174-175
educação 15, 46, 48, 119, 208
Estado Novo 36, 61, 70, 74, 86
finanças 42-43
indústria 45
religião 16, 47-49, 118-119, 123,
124
sindicatos nacionais 172-173 Polónia 200
População 8-9, 164-165, 175, 182183, 193
Porto Amélia 49, 185, 241 ver:
Pemba
291
Portos 7-8, 13, 151, 161, 163, 168,
172, 213, 223
Beira 6, 40, 46, 56-57, 109, 162 Lourenço Marques 6, 24, 59-61,
215-217
trabalho 6, 9, 56-60, 210, 213214, 222
Portugal 2, 7, 41, 61, 69, 84-85,
108, -130, 152, 161, 164, 166,
175
Portugues,: East Africa Association
240, 243,245
Pott, Karel 62-65, 71-72, 77, 81 Prazos da coroa 1, 11, 29 Proteccionismo 41-44
Proto-nacionalismo 9, 17-18, 20, 81;
ver: Movimento Associativo
Q
Quelimane 4, 169 Quénia 156, 208, 214, 233, 246,
249
Queto 72
Quissico 222
R
Rangel, Ricardo 202, 223 Raposo, Paiva 223 Reconhecimento ecológico-agrícola
131
Reforma Administrativa de Moçambique 11
Reforma Administrativa Ultramarina
42
Registo 95, 100, 114, 126, 158 Regulamento dos Serviçais Indígenas
99, 126, 187
Régulos 51, 106, 151, 233
administração 2, 73, 96, 98-99, 104, 106, 113, 142, 130, 183-
186, 209,235
cooperativas 189, 190
desprestígio 98, 205-206 Instituto Negrófilo 69, 71
pagamento 73, 186
recrutamento de trabalhadores
139, 142, 237
resistência 153, 211, 212 tributações 106, 149, 237
Relações internacionais, II Guerra
Mundial, 198-201
Religião 16, 46-49, 66, 67, 70, 117,
123,203
Rennies 216
República Democrática Alemã 200 Resende, D. Sebastião Soares de
177-178, 194
Reservas indígenas 103 Resistência 53, 58, 75, 88, 108,
117, 148,242, 248
ocupação colonial 1-2, 9, 17, 73
trabalho forçado 9, 148
fugas 9
cultural 221-222
canções 222-225
literatura 117, 225-230
culturas forçadas 89, 91, 111114, 130, 133, 152-153,210-213,
220
religiosa 48
ver: Igrejas separatistasletiópicas, Luta de camponeses e trabalhadores,
Movimento Associativo Ressano Garcia 164, 224 Reunião de consulta e estudo
para o
desenvolvinento da luta contra o
colonialismo português 246
Reunião dos Chefes do Estado Africanos 248
Revué (colonato de) 165-166 Rhodesian Native Labour Supply
Commission (RNLSC) 158
292
Rikatla (missão) 16 Rodésia do Norte 79, 110, 163 Rodésia do Sul
caminhos de ferro 162-164, 171
crise económica (1929) 56
educação 69, 176
electricidade (fornecimento de)
161
greves 201
luta nacionalista 115, 235, 249
missões protestantes 16, 69
Mozambique East African Association (Associação Moçambicana
de África Oriental) 240
política económica 26
The Portuguese East African Association (Associação Portuguesa de África
Oriental) 240, 243
Simango, Kamba 69 sindicatos 125, 249
trabalho migratório 8, 40, 110,
157, 158
UDENAMO (União Democrática
Nacional de Moçambique) 245 Rodésias 3, 238 Roménia 200 Ross, E. A. 30
s
SAAVM (Sociedade Algodoeira
Africana Voluntária de Moçambique) 190, 233 Sadaka, C. 240 SAGAL
(Sociedade Agrícola Algodoeira) 211, 233-234, 236-237,
255
Salamanga 190 Salários 5, 28, 144-145, 186
aumentos 220
baixos 5, 9, 11-12, 24, 60, 119,
140, 142-143, 216, 219, 224
crise económica mundial (1929)
40, 55-56, 59
discriminação racial 12, 25, 29,
101, 173, 175-176, 216 enfermeiros negros 64
não pagamento 52, 53, 100, 140
pagamento atrasado 53
plantações 38, 52, 105, 113, 145
poder de compra 3, 152, 157
repressão 99-100
reprodução social 5, 144
territórios vizinhos 3, 111, 157,
159, 213
trabalhadores migrantes 4, 9, 69,
143, 151
pagamento diferido 30, 144,
157
trabalho forçado '60, 105
Salazar, A. Oliveira 34, 41, 83, 85,
118
Salisbúria 240, 245 Santaca 190 Santos, Marcelino dos 208-209, 229,
246, 248
São Tomé 8, 159, 210, 212, 215,
217, 219, 224 Save (rio) 1 Secretaria dos Negócios Indígenas
(SNI) ver: Negócios Indígenas Sena 46
Sena Sugar Estates 4, 36-37, 149,
223,252
Sharpeville 242, 247 Sicobele, M. M. 16, 19, 20, 33, 79,
207
Simango, Chovane 70, 207
Simango, Kamba 69-70 Simango, Uriah T. 240 Sindicatos
África do Sul 115
Associação do Trabalho Geral da
Beira 61
293
Associação. dos Empregados do
Comé--io e da Indústria 101
Quénia 214
Rodésia do Sul 115, 249
Sindicatos Nacionais (portugueses)
100-101, 126, 172-175, 208
Sindicato Nacional dos Empregados Bancários 173
Sindicato Nacional dos Empregados do Comércio e da Indústria (SNECI) 101,
173-174,
193, 194
Sindicato Nacional dos Motoristas de Moçanbique 173
Sindicato Nacional dos Motoristas e Ferroviários 101
Sindicato Nacional dos Operários da Construção Civil e
Ofícios Correlativos 173 Rodésia do Sul 115, 249 Singapura 114
Sipaios 51, 91-92, 98-99, 143, 149,
183, 209, 219, 241
Sisal 3,36, 38, 51-52, 93, 140, 144145, 147, 156, 159, 214, 229,
235,236,252
SNECI (Sindicato Nacional dos Empregados do Comércio e da Indústria) 101,
173-174, 193, 194
SOCAJU (Sociedade de Cajú de
Moçambique) 172 Socialismo 198 Sociedade Agrícola Algodoeira
(SAGAL) 211, 233-234, 236-237 Sociedad Agrícola do Inkomati 172 Sociedd
Algodocira Africana Voluntária de Moçambique (SAAVM) 190-191,233-
238,241 Sociedade de Cajú de Moçambique
(SOCAJU) 172
Sociedade de Chá Oriental 150 Sociedade Hidro-ElécLrica do Revué
(SHER) 161, 172
Socièté Coloijal Luso-Luxembourgeoise 85 Sofala
açucareiras 214
Companhia de Moçambique 1, 86
Machanga 190
ver: Manica e Sofala Solos 137
degradaçio dos 153, 155 Sômália 75 Sorgo 155 Sousa, Noémia de 202, 208-209,
226, 228,254
Sousa, Victor de 19-20, 79 Sri Lanka 199 Subnutrição 153, 155-156 Sussundenga
(colonato de) 166 Swazilândia 111, 239-240, 243
T
Tabaco 229 Tambara 107 Tanga 241
Tanganhica 3, 111, 159, 213, 232236, 238-240, 243, 246, 249
Tanganyika African National Union
ver: TANU
Tanganyika-Mozambique Makonde
Union 240, 246
TANU (Tanganyika African National
Union) 232-235, 249
Teixeira, Gabriel (Governador-Geral,
1947-1958) 174, 185, 190, 193194
Tembe, Jorge 244 Tcmbe, Lopes 245 Tete
administmção 1
caminho de ferro 109, 162
carvão 109, 162
294
Companhia Carbonífera de
Moçambique 162
companhias 1
missões católicas 16
prazos 1
trabalho migratório 40, 158
UDENAMO 249 (União Democrática Nacional de Moçambique) UNAMI (União
Nacional Africana de Moçambique Independente)
249
Têxteis 2-3, 83, 130 Trabalho 4-5, 9-12, 15, 24, 29-31,
37-38, 41, 46, 52, 54-56, 59-61, 73, 88-90, 93, 95, 99, 106. 116,
136, 145, 197, 228,236
condições de trabalho 30, 52-53, 143-144, 149-151, 215-218, 223224
crises de mão-de-obra rural 9596, 138-143
desemprego 173
força .de trabalho 2, 14, 30, 9798, 123, 129-130, 152, 155, 172176, 209
forçado 3, 5-6, 12, 21, 31, 55, 59,100, 138,122, 140, 177, 199, 201,212-214, 217-
218,223,225,
235
legislação 11, 31, 95-100, 102, 106, 113, 126, 138, 142, 172,
174-175, 187-188
migratório 3-5, 6, 9, 27, 39-41, 55, 73, 110, 111, 127, 156-159,
193,209,228
convenções, acordos 30, 40,
158
emigração clandestina 157
ver: Greves, Plantações, Salários Trânsito 10, 14, 39, 161 Transportes 163, 169
ver: Caminhos de ferro
Transvafl 182, 203, 220 Trigo 188 Tunes 247
U
UDENAMO (União Democrática
Nacional de Moçambique) 245249
Uganda 233
Uleres 40, 78
UNAMI (União Nacional Africana de
Moçambique Independente) 246247, 249
União Democrática Nacional de
Moçambique ver: UDENAMO União dos Makonde de Tanganhica e
Moçambique ver: TanganyikaMozambique Makonde Union
União dos Makonde e Makua no
Zanzibar ver: Zanzibar Makonde
and Makua Union
União dos Negros Lusitanos 76-17 União dos Trabalhadores de Moçambique 61
União Nacional Africana de Moçambique Independente ver: UNAMI
Universidade de Coimbra 69 Universidade de Wiwatersrand 203
V Vanolnba, Faustino 241 Vieira, Sérgio 229, 254 Vila Pcry 245
Vinho 2, 6-7, 14, 30, 54, 59, 151 A Voz Africana 65, 81
w
WENELA 68, 158, 229 Witwatersrand 157, 204
295
x
Xavier, A.A. Caldas 10 Xinavane 144, 214, 220, 253
z
Zambeze 149, 151, 223
vale do 3
Zambézia
açucareras 3, 214
adminisração 1-2, 11, 213
algodão 38, 85, 90-91, 102, 112,
138, 149
Associação AfricanA 116
chá (plantações de) 37-38, 94
colonialismo português 50, 97,
99
comércio rural 4, 1-04
copra 54
crise de mão-de-obra (1942),95
demografia 8
missões cat6licas 16
musoco 2
produção camponesa 4, 105-106,
155-156
sisal 3
UNAMI (União Nacional Africana de Moçambique Independente)
249
Zâmbia 163 Zanzibar 3 Zanzibar Makond and Makua Union
240-241, 246 Zavala 189-190