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Execução técnica:
Gráfica Europam, Lda., EDITORIAL INQUÉRITO LIMITADA
Mira-Sintra - Mem Martins
LISBOA
Depósito Lqal n . • I 372$/ 88
«CLÁSSICOS INQUÉRITO» f
Fiel à sua longa tradição de servir a cultura, a Editorial Inqué- \
rito pretende, com esta colecção, divulgar obras-primas que são
monumentos imperecíveis a marcar a história cultural da Huma-
nidade.
Obrigatórias para especialistas e estudiosos, estas obras, de
que muitos leitores ouviram falar e que não deixariam de conhe-
cer directamente se a elas tivessem fácil acesso, ficarão assim ao
alcance de todos e não apenas de alguns.
I INTROJ)UÇÃO
1. O AUTOR
_.L
3. AS PERSONAGENS ensino é uma contínua exegese, um interroga-
tório em que as perguntas conduzem à aceita-
3.1. SÓCRATES ção de Sócrates como mestre. O objectivo úl-
timo do seu ensino era o culto da virtude (t-y:lt-
Figura-símbolo da história da cultura, Só- garHa) ou o domínio de si mesmo 5 •
crates (469-399 a. C.) é a personagem central O método de investigação de Sócrates, que ·
dos diálogos de Platão. Momento indispensá- Platão exemplifica em vários diálogos, assen-
vel para a compreensão da evolução da filoso- ta em dois aspectos distintos:
fia, Sócrates tem uma biografia 3, mas o seu
pensamento chegou até nós através do teste- a) uma fase de interrogação e de repetição;
munho de contemporâneos. É, pois, difícil b) a maiêutica (p,auvnx1{), isto é, a arte de
saber aquilo que é pensamento original de Só- levar os interlocutores a dar à luz (p,ate'6w)6 as
crates e o que é desenvolvimento dos seus dis- ideias que existem no fundo da mente huma-
cípulos, sobretudo Platão 4 • na.
Impondo-se o ensino como missão, Sócra- A purificação espiritual perseguida por
tes proclama a necessidade de o homem se Sócrates é ética. Através de um método indu-
conhecer a si próprio, de adquirir a consciên-. tivo, caminha do particular para o geral, afir-
cia dos seus limites e da consistência verdadei- mando que a culpa provém da ignorância e do
ra do próprio saber. A sabedoria não está no erro. A educação, ao tornar os homens cons-
saber mais coisas que os outros, mas no saber cientes, torna-os também virtuosos. O útil
do não saber, ao contrário daqueles que acre- identifica-se com o bem e é a ignorância que
ditam saber o que não sabem. Daí a máxima leva o homem a proceder mal. ' I
«só sei que nada sei». A consciência da pró- Fazer bem é viver bem; por isso, os ho-
pria ignorância é uma forma de purificar as mens virtuosos são felizes. Mas o homem jus-
almas do erro, fonte da culpa. Por isso, o seu to é aquele que procura não só o seu aperfei-
'
çoamento como o dos seus semelhantes. A
3 Cf. Aristófanes, As Nuvens; Xenofonte, Banquete, concretização desta ac~ão aproxima o homem .
Apologia, Económico e Memoráveis; Platão; Aristóteles, Me-
tafísica, As Partes dos Animais, Ética a Eudemo e Ética a Ni- .
cómaco. Para a crítica destas fontes, cf. H. M. da Rocha Pe- s Cf. Xenofonte, Memoráveis, l, 5, 1 e 4-5; IV, 6, 1 e 8,
reira, &tudos de História da Cultura Clássica, Lisboa Fun- 11. d
dação Calouste Gulbenkian, 1980, pp. 388 e segs. ' 6 Sócrates afirmava que tinha aprendido este méto o
4 Sócrates apenas está ausente de As Leis. com a mãe, que era parteira.
10 11
. do divino, pois; tal como a alma imortal go- (outro dos sentidos do verbo {!á1rrw), o que
verna o corpo, também uma divindade ou in- equivaleria a identificar rapsodo com aedo.
teligência suprema governa o mundo. O ho- Os rapsodos espalharam-se por todo o
.~, mem deve, assim, lutar para conservar uma mundo grego, e existiam concursos de rapso-
alma recta'. dos quer nas grandes festividades pan-heléni-
cas quer nas festas locais 9 • Já no século VI
a. C., segundo Diógenes Laércio 10, a cidade
3.2. O RAPSOOO ÍON de A te nas conhecia as actuações dos rapso-
dos, que iam de cidade em cidade, recitando,
Íon, a personagem que dialoga com Sócra- sem acompanhamento de lira, e explicando
tes, é um rapsodo (lat/;'tJDÓ~S), isto é, alguém todos os poetas, embora H omero fosse privi-
que, sem acompanhamento musical, recitava legiado. A declamação era acompanhada por
poemas de que não era autor, distinguindo-se um trabalho de mímica, o que leva Platão a
deste modo, e talvez a partir do século v
1
aproximá-los do actor (Í11foxe~,rríçJl • O rap~o
a. C. 8, do aedo, o poeta épico que declamava do aparecia numa tribuna ((3r,p.,a) 12 , vestzdo
os seus próprios poemas. A designação de com fatos vistosos e de cores vivas 13 , com uma
rapsodo teria a sua origem na vara ( éd(3oo~S) coroa de ouro na cabeça 14 , e a sua actuação
que o declamador segurava ou no facto de os era remunerada 15 •
auditores se reunirem (fiá7rTELP) para escuta- Como rapsodo, Íon não se limitava a uma
rem ou, finalmente, no facto de comporem função de mero declamador: ele é, também,
um comentador de Homero. Este trabalho,
16
exegético, que parece ser o mais difícil , é, no
7 O ensino de Sócrates, que era oral, foi perpetuado atra~ fundo, o ponto de partida da discussão com
vés dos seus discípulos. Entre as Escolas subsidiárias de Só-
cra~es, e para além da «Escola Socrática Maior», a de Platão,
reftram-se: 9 Isócrates, Paneg., 74 a-b, fala na importância dos reci-
. a) a Cirenaica ou Hedonística, fundada por Aristipo de tais dos rapsodos como elementos essencial para manter vivos
Ctrene; os valores pátrios contra os bárbaros.
b) a Megárica, fundada por Euclides de Mégara; to I, 2, 52.
c) a Elidense - Eritreia, fundada por Fédon de Élide e 11 532 d.
Menodemo de Erétria; 12 535 c.
d) a Cínica, fundada por Antístenes. 13 537 d.
8• Segundo Eustátio, ad I/., 6, Cineto de Quios teria sido, 14 535 d.
em S1racusa, no ano da 69. a Olimpíada, o primeiro a intervir 1s 535 e.
como rapsodo. 16 535 c-d.
13
12
Sócrates. O que não fica esclarecido é o mo- iar de Homero por inspiração· divina
r mento em que se efectuavam esses comentá- (532-536 d);
I rios brilhantes aos poemas. A utilização do 2. a demonstração: cada arte tem o
! vocábulo ótaÀÉ-y€q~ca 17 sugere sessões privadas seu objecto próprio (536 e - 542 a);
e não grandes sessões públicas, como eram, ,- _.- 4. Conclusão: o rapsodo, tal como
por exemplo, os concursos explicitamente re- o poeta, é divino (542 a - 542 b).
feridos no diálogo. A aproximação, aparente-
mente autorizada pelas referências de Íon a I
. '' ~
·~.
Homero se deixa possuir pela piedade 23 • É de- também materializada em Hesíodo e em Pín- '•j
vido a esta possessão irracional que justifica daro. O poeta, possuído, é inspirado pela di-
que um poeta componha um tipo de poesia vindade para compor num domínio especifi- :j
ou, até, um único poema bom. _co; e, com ele, o rapsodo 26 • 4
18
ION ÍON
SÓCRATES 530 a
Ora viva, Íon. Desta vez, donde é que tu .,.
!i;:·
°NO',.
1.1~ • ~
vuap.ws, .. ..
w ~, ''"''t-'E
wKparEs, aiV\ Eç; ,.,
7Ttuavpov '"
EIC rwv ÍON
'ACTKÀ7]7TLEÚUV. Nada disso, Sócrates. Venho mas é de
Epidauro 3 , das festas em honra de
Asclépio 4 •
XI a. C.
3 Cidade da Argólida, sede do culto de Asclépio.
4 Deus da medicina, era filho de Apolo. Celebravam-se
I
:
em sua honra, de quatro em quatro anos, na cidade de Epi-
i dauro, as festas denominadas «Grandes Asclepíadas».
I
l
21
20
ÍON
Exactamente. E também em honra de to-
das as outras artes das Musas 5 •
ÍON
Ganhámos 6 o primeiro prémio, Sócrates. b
'~;' n
""'~"'· E v.. Àc:yHs' ayc: <J7]
I ~'
omos KaL ra
"' t'l ' ' n ava07JVaLa
; VLK1]-' SÓCRATES
O"OIJ-f:V, Boa! Agora há que fazer por ganhar tam-
bém as Panateneias 7 •
ÍON
Com certeza que sim, se o deus quiser.
5 ""!2 •
""' K aL' IJ-1/V
, '' '
1TOAAaKLS YE f:~7]ÀWO"a
'!:' vp.ás TOVS pa,Ywõovs
SÓCRATES
~ ~'Jwv ' . . . TE)(VT}S
T7JS ' • TO' yap
" ap.a
rl '
IJ-f:V TO' O"WIJ-a
.... ' '
KEKOCJ"Hn(J"(Ja,
Confesso, Íon, que muitas vezes senti, pela
., ' ../ f
dxvn Kat ws
,.,
ÍON
É verdade, Sócrates. Quanto a mim, isso
foi, na minha arte, o que me deu mais tra-
balho e creio que sou, de todos os homens,
aquele que diz as coisas mais belas sobre
Homero e de um modo que nem Metro-
cloro de Lãmpsaco nem Estesímbroto de
Taso 8 nem Gláucon 9 nem qualquer outro d
1
'
. '
í~ -· dos que existiram até hoje souberam expri-
I! mir tantos e tão belos pensamentos sobre
Homero como eu.
ÍON
Pelo contrário, Sócrates, vale a pena ouvir
como eu tenho embelezado Homero, de tal
modo que até acho que mereço ser coroa-
do com uma coroa de ouro pelos Homé-
ridas 10 •
SÓCRATES 531 a
Pois bem, hei-de arranjar tempo para te
ouvir, mas agora responde-me só a uma
pequena pergunta: és especialista exclusi-
vamente de Homero ou também de
Hesíodo 11 e de Arquíloco 12 ?
26
27
5 .1':!2. "EOT& ô( '7Tfp&. órov "Op.1JpÓs: TE Kal 'Hu(oôos: ravrà SÓCRATES
ÀÉyErov;-I.UN. OTp.a& lywyf Kal 7toÀÀc:L-l:!!. llóTtpov Mas não há assuntos sobre os quais Ho-
ovv '7TEpl TOVTWV K&.\ÀtOV av ~fTJytÍuato & "Op.7Jpos: ÀÉ}'H mero e Hesíodo dizem ambos a mesma
1J"' ae, 'H O' tO
' ôOS:;-InN
~ll 'OiJ.OLWS:
' .. 7TEpL' }'E TOVTWV,
av ' •
W
•
coisa?
b l:~Kpans, 7tEpl wv raúrà À.Éyovutv.-.!!2. T! ôe ~v
7TÉp& p.~ raúrà Àlyovutv; otov 7TEp'i. p.avr&Kijs: ÀÉ}'E& n
"Op.1JpÓs: TE Ka&. 'Hu(oôos-.-I.UN. llávv yE.-.1:!2. Tl ÍON
• "' fi
ovv; oua TE op.o&ws: Kat oua
\f'l ô&a<f>opws-
I \ t,..
7TEp& p.a.vt&KT'JS' Penso que há e mesmo muitos .
\. I \ ' 1 I \ I • 'l:
5 1\.E}'ETOV TW '7TO&YJTa TOVTW, 7TOTEpOV 1TV KáÀÀLOV aV Eç']-
SÓCRATES
Sobre esses assuntos explicas melhor o que
diz Homero ou o que diz Hesíodo?
ÍON
Explico tão bem o que diz um como o que
diz o outro, Sócrates, dado que dizem a
mesma coisa.
SÓCRATES
E sobre aqueles assuntos em que não di-
zem a mesma coisa? Por exemplo: tanto
Homero como Hesíodo falam da arte divi-
natória'3.
ÍON
Exactamente.
SÓCRATES
E então? Quanto às opiniões que, em con- b
junto, sobre a arte divinatória, os dois
28 29
53lb poetas expressam de um modo semelhante
ou em que divergem, qual dos dois, tu ou
um adivinho, um bom adivinho, saberia
explicá-las melhor?
I ~ "" I I
rt rcuv p.avncuv ns- rwv àya8wv;-InN. Twv
Y11CTaLo ÍON
p.ávn:wv.-~n. El õ~ a-v ija-8a p.ávns-, o'ÚK, €r1rep 7r€pt O adivinho.
~ Óuof
TWV r .ws- Àfyop.t:vwv
' "'' T' r;cr
ows- " () a Et;;7'/Y7JCTacr8aL,
, l: ' KaL 1repl
Teu: ÔLacpópws- Àqop.Évwv r}'rr(O"Tw àv €t'YJyeí:a-8aL;-U2N.
lO 67JÀOV Õn.
SÓCRATES
Mas se tu fosses adivinho, se fosses capaz
de explicar as coisas em que estão de acor-
do, não serias também capaz de explicar
aquelas em que estão em desacordo?
ÍON
i
É evidente.
I
I
i
c Tt ovv 1rou 11"Ept r,h ·of-1-TJpOV
~n. , aHVOS', H,• 7tEp', õ'€ SÓCRATES
' i
14 Demiurgos.
30 31
15
bre o que se passa no mundo de Hades , d
sobre a genealogia dos deuses e dos he-
róis? Não é desses assuntos que trata a
poesia de Homero?
ÍON
É verdade, Sócrates.
ÍON
Sim, Sócrates, mas é que não o fizeram do
mesmo modo que Homero.
SÓCRATES
Será esse mesmo ou outro a reconhecer os e
que falam errado?
ÍON
Será, sem dúvida, o mesmo.
SÓCRATES
Esse é o que possui a ciência dos números?
ÍON
Sim.
SÓCRATES
Mas, o quê? Quando várias pessoas falam
sobre os alimentos que são melhores para
a saúde e uma delas melhor, é a mesma
pessoa que reconhecerá a excelência do
que fala melhor e uma outra a inferiorida-
de do que fala pior, ou é a mesma?
ÍON
O médico.
SÓCRATES 532 a
Diremos, então e em resumo, que é a mes-
ma pessoa que reconhecerá, entre aqueles
que falam das mesmas coisas, o que fala
certo e o que fala errado ou, se não reco-
nhecer quem fala errado, também não re-
conhecerá quem fala certo, tratando-se,
claro, do mesmo assunto.
ÍON
É assim.
SÓCRATES
É, pois, a mesma pessoa que se pronuncia
melhor sobre ambos?
ÍON
Sim.
SÓCRATES
Assim, segundo dizes, Homero e os outros
poetas, entre os quais estão não só Hesío-
37
36
do mas também Arquíloco, falam das
mesmas coisas, mas não do mesmo modo,
isto é, um fala bem e os outros menos
bem?
ÍON
E o que digo é a verdade.
SÓCRATES
Ora, tu, se reconheces o que fala certo, b
poderás reconhecer também a inferiorida-
de do que fala errado?
ÍON
Parece que sim.
SÓCRATES
Então, meu caríssimo amigo, não errare-
mos ao afirmar que Íon é tão bom especia-
lista de Homero como dos outros poetas,
porque é ele próprio que afirma que um
mesmo e único homem será juiz competen-
te de todos os que falam sobre as mesmas
coisas e, por outro lado, quase todos os
poetas tratam os mesmos temas.
SÓCRATES
Não é difícil de adivinhar, meu amigo. É
mais que evidente para todos que tu és in-18
capaz de dissertar sobre Homero por arte
e por ciência 19 , pois, se falasses por arte,
serias capaz de dissertar sobre todos os ou-
tros poetas, visto que existe uma arte poé-
532C
tica geral 20 . Não é?
d 'Ç'rl
.-J..c..
O'VKOt!V
~ ' ~' "'atJTI
E'/TELuav ~ , (.J
Kat' aÀ.À.'Y/V
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TEXV'Y/V •
'Y/Vn- SÓCRATES
vovv õ~"'·•nv, o• avroS'
' ' rpo'ITOS'
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TrJS'
1
O"ICE.,EWS' EO"Ta'
ti
,/, ~
'ITEpt' a'/Tao-wv
• Quando se observa, no seu conjunto, não d
Twv TEXVwv; 'ITwS' roiiTo "A.lyw, Un Tl p.ov àKovo-at, íi> "lwv; importa que outra arte, não é o mesmo
método que serve para avaliar todas as ar-
tes? Queres que diga o que penso sobre is-
so, Íon?
nN • N
I J..c.J. • a'' p.a
' TOV
' A,ta, W,._ ~wKpaTES',
"" ' ti
E}'W}'E' xatpcu
, yap
' ÍON
5 àKovwv Vp.wv ·TWV o-ocpwv.
Sim, por Zeus, claro que quero. Na ver-
dade, gosto de vos ouvir, a vocês, os sá-
bios21.
18 TixV11·
19) E1rtc1T~I'11·
20 llot71nx~.
21 "EDipo{.
41
40
SÓCRATES
Quisera que dissesses a verdade, Íon, mas
sábios são vocês, os rapsodos, os autores e
aqueles cujos poemas vocês declamam. Eu
apenas exprimo a realidade, como convém
a um profano 22 • Por exemplo, a propósito e
da pergunta que acabei de te fazer, consi-
dera como é simples, vulgar e ao alcance
de qualquer homem reconhecer o que eu
disse, isto é, que o mesmo método serve
quando se observa uma arte no seu con-
junto. Pensemos, com efeito, o seguinte:
existe uma arte geral da pintura?
ÍON
Sim.
SÓCRATES
Existem e existiram inúmeros pintores,
bons e maus, não é assim?
ÍON
Certamente.
SÓCRATES 533 a
Já viste alguém que a propósito de
Polignoto 23 , filho de Aglaofonte, seja ca-
ÍON
Não, por Zeus, certamente que não.
SÓCRATES
E, então, quanto à escultura, já viste al-
guém que acerca de Dédalo 2\ filho de Me- b
tíon, de Epio 25 , filho de Panopeu, ou de
Teodoro de Sarnas 26 ou de qualquer outro
escultor, mas de um único, seja capaz de
dizer o que está bem feito e, sobre a obra
dos outros escultores, fique embaraçado,
cheio de tédio e não tenha nada a dizer?
SÓCRATES
Mas, penso, que também nunca encontras-
te uma pessoa que, na arte de tocar flauta
ou de tocar cítara, de cantar acompanhado
à cítara ou na da declamação do rapsodo,
fosse capaz de comentar Olimpo 27 ou c
Tâmiris 28 ou Orfeu 29 ou Fémio 30 , o rapso-
do de Ítaca, e que a propósito de Íon de
Éfeso ficasse embaraçado e não soubesse
explicar o que está bem e o que está mal na
sua declamação.
318€{01 OÓVOIP,LS.
32Referência possível a Magnésia, cidade da Cária. A
designação Mcx'Yv~ns )...{!'Jos ocorre num fragmento da tragédia
Oeneus (Nauck, 571) de Eurípides ( + 485-406 a. C.).
51
50
•.· 534C tratam, como tu sobre Homero, mas por
't~
Eç;atpOVJJ.EVO~
, , ' .....
rOVTWJI rov JIOVV TOVTOLS XP7JTaL V7nJpErat~ ~eat
, ,.., f f
um privilégio divino, não sendo cada um
d roi'~ XPTJCTJJ.'flaoi'~ Kal roi'~ p.ávrEcrL roí.'s 0E(oLs, tva ~p.Eí.'s ol deles capaz de compor bem senão no' géne-
't I 't~ .,.., rt t • I 't ' t "" I
aiCOVOVTES ELuWJJ.EV OTL OVX OVTOL ELCTW OL ravra ÀEYOVTES ro em que a Musa o possui: um nos c
"
OVrW \\~>1(:.
'lTOIV\.OV ~'I
aç;La, OL~ VOVS \ \ \ U' 1EOS
JJ.T/ 'lTapECTTLV, a/V\. 8 'aVTÓS
,
> 1 À I I\ ' I I\' A..(} I \ t ~
ditirambos 37 , outro nos encómios 38 , outro,
ECTTLV o Eywv, uLa rOVTWV uE '1' EYYETQL 7rpos 7]p.as. p.É-
'~ '.
5 YLCTTOV a€ TEKJJ.~pLOV r<f» ÀÓY<f> Tvvvtxos d XaAKtaws, As
ainda, nos hiporquemas 39 ; este na epopeia,
"ÀÀ
a
' 'll' ' l , , ,.
O JJ.EV OVuE1' 'lTW'lTOTE t:'lTOL7'/CTE 'lTOLrtJJ.a OTOV TLS
..
av àftc.J. aquele no jambo 40 • Nos outros géneros,
(} ~ ' I\'
ITELEV JJ.V7'/t1" 7'/VaL, TOV uE 'lTaLWVa UV 'lTaVTE!õ 1fUOVITL, , ~ ' !I\
OX~õÔÓV cada um deles é medíocre, porque não é
rL
I
'lTavrwv!J.fÀ~ 1\\ > ~ ,_ > '
wv KWV\.LCTTov, arExvws, O'lTEp avros À~:yH,
I
por uma arte que falam assim, mas por d
e U " I '·l OLITaV.
~ n > I ' I\\ I I
. fVPrt!J.a TL lY fV TOVT'fl yap UT/ !J.aÀLCTTa !J.OL aoKfL uma força divina, porque, se soubessem
d 0EÕs tvadfao-Oat ~!J.Í:v, L'va 1.1.~ Õturá(wp.ev, õn o1nc àvOpw-
falar bem sobre um assunto por arte, sabe-
'lTLVa' ECTTLV
' ra' K""'"a
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riam, então, falar sobre todos. E se a di-
5 TWV
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ECJ>V,
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Eç; OTOV av EKaCTTOS Karexrrrat.
KaTEXO!J.EVOL
't(: f'l ._ ~ I vindade lhes tira a razão e se serve deles
ravra fVaELKVV!J.EVOS Ó 0EÕS ffE'lTÍTT/aEs Õtà. rov cpavÀorárov como ministros, como dos profetas e dos
'lTOL7'/TOV~ TO' Ka ÀÀ LCTTOV ~ ITOL áÀTJ0íJ
~ adivinhos inspirados, é para nos ensinar, a
1 1
535 /J.E À OS .l .. OV' uOICW
[tO:EV" 7J 'I> '
ÀÉyEtv, ti) "Iwv; nós que ouvimos, que não é por eles que
dizem coisas tão admiráveis -pois estão
fora da sua razão--, mas que é a própria
divindade que fala e que se faz ouvir atra-
vés deles. A melhor prova a este respeito é
Tínico de Cálcis 41 , que nunca fez um poe-
ma digno de ser recordado, excepto o
péan 42 que todos cantam, talvez o mais be- e
de Apolo.
40 Poema que tem como base o pé jambo ( u -).
41 Além desta referência, apenas se conhece uma outra
52 53
J
lo de todos os poemas líricos, um verda-
deiro «achado das Musas», como ele pró-
prio diz. Parece-me, com efeito, que, com
este exemplo, a divindade demonstra-nos,
de um modo que não deixa dúvidas, que
estes belos poemas não são humanos nem
são obras de homens, mas que são divinos
e dos deuses, e que os poetas não passam
de intérpretes dos deuses, sendo possmdos
pela divindade, de quem recebem a inspi-
ração. É para o demonstrar que a divinda-
de faz, propositadamente, cantar o mais
belo poema lírico pela boca do mais me-
díocre poeta. Não achas que tenho razão,
Íon?
ÍON 535 a
Sim, por Zeus, acho. Na verdade, as tuas
palavras, Sócrates, tocam-me a alma e
penso que é por um privilégio divino que
os bons poetas são os intérpretes dos deu-
ses junto de nós.
ÍON
Também nisso falas verdade.
55
54
SÓCRATES
Vocês são, assim, os intérpretes dos intér-
pretes?
ÍON
J\bsolutamente.
SÓCRATES
Olha, Íon, responde-me sem reservas ao b
que te vou perguntar. Quando declamas ·
adequadamente versos épicos e impressio-
nas profundamente os espectadores, quer
cantes Ulisses transpondo o limiar da sua
casa, identificando-se aos pretendentes e
, 43
lançando as fl ech as aos seus pes , ou
J\quiles atacando Heitor 44 ou um passo
45
emocionante sobre J\ndrómaca ,
Hécuba 46 ou Príamo 4\ estás na posse da c
tua razão? Ou estás fora de ti e a tua alma
no transporte do entusiasmo? Não acredi-
tas assistir às acções de que falas, em Íta-
ca, em Tróia ou em qualquer outro local
descrito nos versos?
'i.
43 Od.,XXII, 2 e segs.
44 //, XXII, 312 e segs.
45 //, VI, 370-502: XXII, 437-515; XXIV, 723-746.
46 //., XXII, 79-89; 405 e ss.; 430-436; XXIV, 747-760.
47 //., XXII, 33-78; 408-428; XXIV, 144-717.
56 57
I!lN • ...... ' ' J.LOL TOtrrO,
.us EVapyH ~ ... ._wKpaTES,
W ~
TO I \ I
TEKp:ytpLOV ÍON
5 H'lTES.. ov yap cu a7TOKpv't'aJ.LEVM t:pw.
.. t I ' , /, I " ,.... ' '
t:yw
yap orav ' H A prova que tu me dás é flagrande, Sócra-
' Tt À'Eyw, õaKpvwv
f'À ElVOV ' , , ÀUVTUL' J.LOV OL' o<j>uaÀJ.LOL'
fjl.7TLJ.L7T ' ll ' tes. Falar-te-ei sem subterfúgios. Com
Õrav TE <j>opt:pov ·~ ÔEtvÓv, opOal. aÍ rp{xc:s í.'o-ravra' {mo efeito, quando recito um passo patético,
<J>ópov Kal. ~ Kapõta 7171õq. os meus olhos enchem-se de lágrimas; se é
assustador e terrível, os cabelos eriçam-se-
me e o coração bate-me mais depressa.
nN • O'v
I .u. ' rov
p.a ' uta,
"-' ov., 11avt:,
' . . . '"''
w "' yE
..... wKpaTES, ws ÍON
TàÀ7]8Eso flp~CTtJat.
Não, por Zeus, de modo algum, Sócrates,
para te falar verdade.
~.n. 0"tCT8a oi'iv õn ~eal. rwv Ot:arwv rovs 1roÀÀovs raln-à SÓCRATES
-raiira VJ.I.EÍ:s ~pyá(ECT0E;
Sabes que vocês fazem que a maior parte
dos espectadores experimente os mesmos
sentimentos?
~!!. O!uOa otiv Õn otrós ECTTLV Ó Omr~s rwv ÔaKn;À{wv SÓCRATES 536 a
~
o' r:uxaros, ..
wv ' '
r:yw r:"À Eyov v1ro ~
' ' TYJS' 'H pat< Ànwnuos
' s. À'O
L ov Vês, agora, que esse espectador é o último
sa6a ' > t À I \ ~ I À
UJ.L f3 avnv;
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o< õ'e J.LfiTOS'
I
crv\ o<
a1r a ÀYJÀWV r1JV uvvaJ.Ltv dos anéis de que falei e que, pela virtude
• ,/, !>' ' • , • õ'e 1rpwros
~ . ' \ • , • t. .,_
536 pa., 'fUOS Kat V7rOKpLTYJS, o avros o 7rOL7)T1)S'' o ue
da pedra de Heracleia, recebem uns dos
' õta'
Of.OS' ,
7raVTWV ,
TOVTWV ' •'f1 ~·
E"À KH T1JV '
vXYJV "'
01rOL ..
av f3 OV,À1JTUL
~ 1 1
~
1 outros a força de atracção? O do meio és
TWV avupW1TWV,
' LI avaKpEJ.LaVVVS'
' ' l(:
tç a'ÀÀ TJ À WV Tl]V
' UlJVUJ.LLV.
KatI WfT7r€p
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ÀL ' ' ' 11
OpJ.LauoS'
'
1
1rUJ.L1rO À VS' €Ç'fP·
't.!.
tu, rapsodo e actor; o primeiro, o próprio
5 TYJTaL xoptvrwv TE KaL OLOafTK&.Àwv Kat V7rOOLOaCTKCÍÀwv, EK poeta. E a divindade, através de todos es-
rrÀay(ov lf1JPTTJJ.Llvwv rwv r~s i\lo'ÚCTlJS' EKKpeJ.LaJ.Llvwv õa- tes, atrai onde quer a alma dos homens,
KT1J À LWV.
I
Kat' O• JJ.€V
' ~
TWV ~
1r0Ll]TWV ' l: ~ ÀÀ
f.ç a 'JS' 'I ,
·' OVCT'JS', U
• õ'f. fazendo passar a sua força de uns para os
> (: "ÀÀ > é..!. > I/". !> '>. > \ I \ ~ I
f.ç a '1]S' €çt(pTYJTUL--<JVOJ.LU':.OJ.Lf.V Ut UVTO KUTI:Xf.TaL, TO Of. outros. E dela, como daquela pedra, está
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b €CTTL 1raparr À 1JCTLOV'
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yap-EK ' ~' I 1
u€ TOVTWV TWV 7rpWTWV
1-t.
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~ ~ ~ÀÀ 'l: ,ÀÀ .. ' , ' \
suspensa uma longa cadeia de coreutas 48 e
uaKTV LWV, TWV 7rOLYJTWV, a OL r:ç a OV av YJPT1JJJ.€VOL HCTL
KaL lvOovcri.á(ovcrtv, ot !J.EV €f 'Opcf>Éw<;, ot o€ EK i\lovua(ov· de corifeus e de subcorifeus 4\ ligados indi-
OL • !I>'
u€ ll:
1TO ÀÀ OL• tç ·oJ.Ll]pOV
' KaTEXOVTUL
' , TE KaL' EXOVTaL.
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WV
rectamente aos anéis que dependem da
5 crv,
I ~ "I wv,
W ErS' H• KaL' KaTEX?J
' r:ç·1: ·o!J.l]pov, KaL €1r€WaV !J.EV I ' • !I>' ' Musa. Este poeta liga-se a uma Musa,
7rOLYJTOV~ Cf"õ ?J• Ka () €1JuHS' ~ aquele a uma outra - e chama-se a isso
11 ÀÀ '!>
TLS' a OV TOV TE KaL' '
a;ropHS ..
OTL
Àly'[l'>• E7rr:tôàv ÔE rovrov rov 7rOL7)rov cp8lyf1Jra( TLS' p..ÉÀos, ser possuído 50 , o que é o mesmo que dizer
r:v'(J'vs EYPYJyopas
' I ~ t uov YJ< ,/,
KaL\ opxnrat
' \
.,vxYJ ~
KatI EV7ropns
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on que é tido 5 1 • A estes primeiros anéis estão, b
por sua vez, ligados outros, uns aos ou-
tros, e recebem a inspiração, uns de Orfeu,
60 61
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C AfY'[/S" OV, yap
' Tt:XV'[I
' OV, õ' €11"LOTI'/f.L'[I
' ' 7rt:pL' 'Of.LT]poV
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outros de Museu 5\ mas a maior parte é a
f>.\1 '\\'LI' ' \ ~" '
a 1\.t:yns, al\.1\.a r!Hl} f.LOLplf Ka4 KaTOKWX'[I• WU7rt:p 04 Kopv- Homero que está ligada e é por ele possuí-
r~ ~
tJaVTtWVT€~
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t:Kt:LVOV ,
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aLO"uaVOl-'TaL TOV~ '\
f.L€1\.0V~
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.. ..! (} ll: .., .. , da. Tu, Íon, és um desses, dos que são
o~ av :1 rov~ eov~ tç orou av KarexwvraL, KaL' '
u~
' ~
t:Knvo ro'
5 f.Lt:AO~ KaL <TXTJf.Larwv KaL pryp.arwv t:v1ropovcn, rwv 0't: af/ÀÀ wv
f\ \ 1 \ < I 1 ~ ~ possuídos por Homero, e quando se canta
ov cf>povd(ova-w· o~rw KaL mí, til ~Iwv, 7rt:pl f.LfV 'Of.L~pov um passo de outro poeta, tu ficas cheio de
Õrav TL~ f.LVTJ<TBff, t:inropt:'L<;, 7rt:pl õ~ rwv .1Uwv à7ropEÍ:s.. sono e não tens nada para dizer; mas
d TOVTOV
' • \ TO~ aLTLOV,
ô' t:O"TL " "' f.L ' t:pwr,
O • a<;, õL' OTL
.. CTV' 7rt:pL' f.LiiV
' quando te fazem ouvir um canto desse
'Of.L1Jpov
' ' ~ ' ~' ~ "\ \ , " , '
t:v7ropH<;, 7rt:pL ut: rwv ai\.1\.WV ov, on ov TEXV'[I ~a, ! \ \
poeta, animas-te imediatamente, a tua al-
(} ELl}
' f.LOLpl}
' 'Of.LT/pOV
' õELVOS
' fL.. €7TCHVIiTT'JS•
' '
ma agita-se e as ideias chegam-te em cata-
dupa. Na verdade, não é por uma arte c
nem por uma ciência que tu falas de Ho-
mero como falas, mas por um privilégio
divino e por uma possessão divina, tal co-
mo os Coribantes que apenas são sensíveis
à música do deus que os possui e que en-
contram com facilidade gestos e palavras
para se acomodarem a essa música, en-
quanto permanecem insensíveis às outras.
Também tu, Íon, és como eles: quando se d
trata de Homero, és imparável; mas, se se
trata de outros, ficas sem fala. Se me per-
guntas qual é a causa desta facilidade em
falar de Homero e não dos outros,
respondo-te que não deves a uma arte a
tua habilidade em louvar Homero, mas a
um dom divino.
62 63
Ul.N. ~v p.€v EV À.lyEtr;, ~ !.wKparEs· 8avp.&.(otp.t JLfVTW ÍON
5
• ~ • r ..
Et OVTW<; EV E 7TOLSt WU'TE JLE
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ava1THU'at W<;
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, E , .,.o .
ICaT xop.~" ' Tu falas bem, Sócrates; ficaria, contudo,
KaL' p.atVOJLEVO'>
·~:
Ôoçatp.L,
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AEyovros 1TEpt'
..
OLp.aL ô"«:
·op.7Jpov.
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-'-~>' av
Ovu .. O'Ol'
1
1
surpreendido· se falasses tão bem que me
persuadisses de que é possuído e em delírio
1
I que faço o elogio de Homero. Tu próprio,
sem dúvida, não acreditarias nisso se me
ouvisses falar de Homero.
sa6e
~n. Kal p.~v €8ÉÃ.w yE àKovuat, ov p.Ú•rot 1rpóupov SÓCRATES
e 7rplv &v p.ot à1ToKptv'[l róõe ~v "Op.7JpO'> Àlyet 7repl rlvos Certamente que quero ouvir-te, mas não e
EV À.ÉyEtr;; ov yàp o~7Tov 7rEpL à1!'&.vrwv yE. antes de me teres respondido a isto: entre
os assuntos de que fala Homero, sobre
qual falas bem? Não é certamente sobre
todos.
HlN. Ev íu8t, w
"' IwKparer;, 7TEpL' ov'ô Evor;
' orov
" "
ov. ÍON
Pois fica a saber, Sócrates, que é sqbre to-
dos sem excepção.
..._.n
..:;..1"-• O'V ô'7J7TOV KaL' 7rEpL' TOVTWV
' w"'v uv' r- '
ILEV ,
.,.,rvvaVEh
• -1 A.
~
SÓCRATES
5 o1nc ElôWs, "Op.7Jpos ÔE Ã.ÉyEt. Não sobre os que ignoras e de que Home-
ro fala?
SÓCRATES 537 a
Não fala Homero em vanos passos e de-
moradamente nas artes? A arte do cochei-
ro, por exemplo. Se me recordasse dos ver-
sos, recitar-tos-ia.
Clássicos INQ. 19- 5 65
64
ÍON
Mas vou eu dizê-los, pois recordo-me.
SÓCRATES
5 ~.0.. El1r€ õ~ p.ot â Ã.Éyu NÉCTTwp 'AvTLÀÓX<:> Te:; tÍEL,
Recita-me, então, o que diz Nestor ao seu
1Tapatvidv EVÀ.af3'10~vat 1Ttp'i. T~v Kap.~v iv Tjj 11T1ToÕpop.la
rfi•
E1T'i. fiaTpÓKÀ.W. • • filho Arquíloco quando o aconselha a
• acautelar-se ao dar a curva na corrida de
cavalos em honra de Pátroclo.
ÍON
UlN. KÃ.tv8~vat ÕÉ, </>rJCT{, Kal a& às EV~ÉCTTCf' i vi. ô{cpp<f>
b "''1''
1)/C '~
~1T apLCTTEpa TOLLV" aTap 'S>é'"
, , TOV uf'çLOV L1T1TOV
«Inclina-te suavemente, disse, sobre o car-
I C \. I ·~
KEVCTaL op.oKI\.rJCTas, nçat TE ot 1JVLa X"PCTLV.
~ I t C I 1 ro bem polido, sobre o lado esquerdo; em b
iv zníuuu oÉ Tot l7T1Tos àpLunpàs EYXP'JL<i>O~Tw, seguida, aguilhoa o cavalo da direita,
• , ~ , ~
~,..,. ~
'A pKEL. ~ 'S:' "'"I , E7i'1)
" HTE • o~ ~' SÓCRATES
c ~~. TatJTa urJ, W WV, Ta v
op WS' "EYEL
, JL1l• 1Ton:pos av yvoLrJ ap.uvov, l arpos
"OJL.TJpos nu I ' ' 1J... rJVLO·
... c , , " Basta. Agora, Íon, qual dos dois é o me- c
xos;-I.O.N. 'Hvloxos Õ~7Tov.--~!2. llÓTtpov Õn TÉxvrw lhor para julgar se esses versos de Home-
ro são correctos ou não: o médico ou o
cocheiro?
ÍON
O cocheiro, evidentemente.
53 Um dos dois marcos que delimitavam o percurso a
percorrer pelos carros durante a corrida.
54 //., XXIII, 335 e segs.
67
66
.· ~âvT71i; lxEt. ~ KaT' <1ÀÀo n;-I.UN. OvK, cL\À' õn TÉXVfJV.
-'"!.U. ÜVKOVV ~K&.CTTTl TWV nxvwv àüoalôoTal n {nro TOV SÓCRATES
Oeov lpyou otq. TE Elt'f!l ytyvc.:HTICHV; ov yáp ?r01J a KVPEPVTJ- É por que ele conhece essa arte ou por ou-
\'( TtK.fi ytyvwuKop.Ev, 1_ . - JJ.EOa KallaTpucfi.-I.UN. Ov ôijTa. tra razão?
;:~;~,i ,,.,·; -l':.Q. ÜlJaÉ YE à laTpLKfi, TaVTa Kal TEICTOVtKfj.-I.Q'l'l.
·~;r.1~S37d
ÍON
·~!:~(. .d Ov a~Ta.-l':.U. ÜVK.OVU oÍÍTw /CaL K.aTà ?rau6iu T6iu TEXVWV, Não, porque conhece a arte.
~-"'''I I
a TU enpq. nxvu ytyVWUICOIJ.EV, 'd
ovt yvwuop.eua TU" ttTEpCf;
i
SÓCRATES
Nem é pela arte do carpinteiro que conhe-
ces a da medicina?
1
j ÍON
I Certamente que não.
l
\
SÓCRATES
E não é o mesmo para todas as artes? d
Aquilo que sabemos para uma arte, não o
conhecemos por uma outra? Mas, antes de
me responderes sobre esse assunto, diz-
-me: concordas que uma arte tem uma na-
tureza e outra tem uma outra?
68 69
.. I I
nva4 nua TEXVTfV, T1JU
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u~:t> t I
tTEpau;-l.u.N.
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Nal.-:S!l. • Apa ÍON
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5 WCT11'Ep tyW TEKJLaLpOJLEUOS, OTaU 1J JLEU tTEpWU 11'payJLaTWU
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SÓCRATES
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TavTa EL1J
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ELOEUa4 à1r'
Ora, não concordas que, tal como eu pen-
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otiToL so, consoante o conhecimento se refere a
O
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1 \ \," ', \ ,
Ka' CTV, WCT11'Ep E)'W, 11'Ep' TOVTWU TavTa )'L)'VW·
,, ,
um objecto ou a um outro, assim se deno-
5
CTKEW Kal. d CTE E)'W Jpo{JJ.1JV el TV avrp TÉXV'[1 YL)'VWO"KOJJ.EV rrüna esta arte ou aquela?
ry àpdJJJ.T/TLKp Tà avTà f.yw TE Kal crV q &À.À.r7, cpaÍT/S âu
Õ1J7I'OV rp" avTft.-I!lN.
' , Na(. '
ÍON
Sim.
SÓCRATES
Na verdade, se fosse uma ciência dos mes-
mos objectos, como se distinguiria uma ar-
te da outra, se pudéssemos conhecer as
mesmas coisas pelas duas? Assim, por
exemplo, apercebo-me de que tenho aqui
cinco dedos e tu, como eu, apercebes-te do
mesmo. E, se eu te perguntasse se é pela
mesma arte, pela aritmética, que tu e eu
conhecemos as mesmas coisas ou por uma
outra? Dirás, naturalmente, pela mesma.
ÍON
Sim.
SÓCRATES 538 a
sas
Responde-me, agora, então, . à pergunta
71
70
que te queria fazer há pouco 55 : não te pa-
rece que, no conjunto das artes, uma mes-
ma nos faz conhecer necessariamente as
mesmas coisas; uma outra, não as mes-
mas, mas, porque é diferente, faz-nos co-
nhecer obrigatoriamente outras coisas?
ÍON
Assim me parece, Sócrates.
SÓCRATES
Deste modo, aquele que não possui uma
arte não estará em estado de conhecer bem
o que se diz ou se faz nessa arte?
)
lJ ÍON
1
l Dizes a verdade. b
l
l SÓCRATES
Acerca dos versos que recitaste de Home-
ro, qual dos dois, tu ou um cocheiro, os
julgará melhor?
ÍON
O cocheiro.
SÓCRATES
Porque tu, com efeito, és rapsodo e não
cocheiro.
1 55 Depois de fazer Íon aceitar que as ciências são inde-
I pendentes umas das outras, Sócrates volta à pergunta apre-
l
sentada em 537 d.
l 73
72
}
J
ovx ~vtoxos.-I.O.N. Nat.-l:n. •H ÕE pa'{t~Õ&IC~ rlxVTJ ÍON
5 f.TEpa EO'T& TTJS 7JVLOXLIC7JS;- 11"\N
( I • ' ~
.1z. ,
N aL.-..wu.
• '1."1"\ E'Lapa
, tTEpa,
~
~ I I
Sim.
1repl ÉTÉpwv /Cal f7TLCTT1ÍJ.L7J 7Tpayp.áTwv iO'T(v.-I!2.N. Na{.
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uf. "~>'
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TETpWJ.Lf.V~
I ~
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'·I .E 1CaJ.L7Ju7J SÓCRATES
i l axaoVL
I '"~>
7Jc 1N f.O'Topos I -\ \ '
71'Uil.Aa1C7J ~
ICVICf.WVa 7TLVf.UI ,
ÍON
Sim.
SÓCRATES
E quando Homero conta que Hecamede, a
concubina de Nestor, deu a beber a Ma-
cáon o cíceon 56 e fala mais ou menos as- c
sim:
«Ralou queijo de cabra, com um rala-
dor de bronze, por sobre o vinho de Pram-
no; ao lado, para acompanhar, colocou
uma cebola. »57
É à arte do médico ou à do rapsodo
que compete julgar se Homero fala correc-
tamente?
74 75
ÍON
À do médico.
ÍON
É evidente, Sócrates, que é a do pescador.
1
~ 'lvIf.l\ap.1TOuL
' tõ~ '' ' ' TOVS
' ~
ao adivinho e à arte divinatória, quais são
TWV WV 1\f)'tL p.aVTLS 1TpOS JW11G'T'Tlpas, 1
E>toKÀvp.tvos- ! as que lhe compete julgar e dizer se estão
mal ou bem feitas.» Repara como vou res-
I
'I> I I \ ''I> I \ '1. < I
uaLJJ.OVtoL, TL KaKOV TOuE 1TUC7'Xf.Tf.; VVKTL J.LtV VJ.Lf.WV
539 1l
t\ I ,#.. \ I
HI\VaTaL Kf.'t'al\at TE 1TpOCTW1Tq Tf. VEput Tf. )'Vla,
I I I L] ~
ponder-te facilmente e com verdade. De
I
'
olJJ.WY'l o~ ÕÉÕryE, Of.OáKpvvTat ÔE 1TapnaC·
i facto, Homero falas muitas vezes disso, na
I
j
77
76
' 1
I
.......
saga Odisseia, por exemplo, quando o adivinho
ElôwÀwv re 7TÀÉov 7TpÓlJvpov, 7TÀ€(71 ÔE Kal avÀ~ Teoclímeno, um descendente de Melampo,
'f (:l <;: < \ J".',f, > <;:\
'€JL€VWV t:p€1-'00"u€ V7TO ~o..,...ov• rJ€ÀtoS u€
C I I I
5
~ '(: àXÀVS'
' diz aos pretendentes:
b >
ovpavov eça7To'À w Àe, KaK71 \ u<;:> e1TweupOJLEV
' S: I<;:
«Infelizes! De que mal sofreis? A vossa
~~ ~ õ'E Ka4' ev
7TOIV\.axov ' 'IÀ taut,
'"' mov
" Kat' em
' ' rHXOfLaxur
' '
Àeyn
cabeça, o rosto e os membros estão envol-
yàp Kal ~vraiJOa-
tos pela noite; escuto um lamento e os vos-
ópvts y&.p o-cpw E7T~À8e 1TeprwÉJ.Lwat JL€fLawo-Lv,
' V-y
a l eros ~.,J, ,
t7TET1'JS, ' À aov
, , apurrt:pa
E7T ' ' ' '
Hpywv,
sos cabelos estão banhados em lágrimas; o
5
c ,., '
't'OLVrJEVra
õpaKOVTa
, rh'
..,...epwV
, ,
OVUXEO"O"L 7T€ÀWpOV,
, vestíbulo está repleto de fantasmas, o pá-
/". ,
~!fOV, t:T
J[ , , , \
U0"1Tatpovra• Ka' OV1TW ÀrJuf:TO xapJ.L71S•
~ 'Ll '
tio também; dirigem-se para Érebo, o país
KÓ'f!E yàp aVTOV lxovra Karà ~(}os 1rapà ÕELp~V das trevas; o sol desapareceu do céu, b
'ô (} \ , ,
• õ' a7TO
' \ €vEV
.. ~
abate-se uma bruma sinistra. »59
L) .. /".
L VW E'S 07TLO"W, O rJKE xaJ.LU~E
5
.l ~ I
UAY1'JO"aS O'ôVVIJO"t, fLEO"lf
1 I 0 €VL
1 ' \
1
Íol
Kal-'{3aÀ > <
1
OfLiÀlf'
' c
' ' ô'l.~ KÀayc,.as ' , ,
~ aVEJLOW.
E muitas outras vezes na 1/íada, como,
d avroS 7TETfTO 7TVOL[/S
por exemplo, no combate junto às mura-
raiJra cjl~o-w KaL rà rotavra refi fLáVrEL 7TpO~K€LV KaL O"K0-
7TELV KaL Kp(vnv.
lhas. Com efeito, afirma aí:
Quando tentavam atravessar o fosso,
desceu sobre eles uma ave, uma águia que
voava alto, deixando o exército à esquer-
da. Nas garras, levava uma enorme ser- c
pente, ainda viva e debatendo-se, que não
abandonava a luta. Virando-se sobre si
mesma, mordeu, no peito, junto ao pesco-
ço, o vencedor que a levava; a águia, com a
dor, deixou-a cair no meio dos combaten-
tes e, em seguida, soltando um grito,
deixou-se levar pelo sopro do vento. »60 d
Dir-te-ei que estes passos e outros se-
melhantes são aqueles que compete ao adi-
vinho examinar e julgar.
78 79
I,
ÍON
1
I
E o que tu dizes é verdade, Sócrates.
5 ~n. Ka~ cnJ yf, ~ "Iwv, àAryOfi ravTa À'YEL~. ro, ôry Kat SÓCRATES
CTV ~p.o(, cZcr'lTEp f.y~ crol f.ÇlÀE(a Kal f.( 'OôvcrcrE{as Kal ;.e E tu também falas verdade, Íon. Mas va-
'IÀuÍ.ôos- Ó'lTota rov p.&.vnws f.CTTL Kal ór.oí'a rov larpov Kat mos, agora é a tua vez: tal como eu te se-
e ( ~
O'lTOLa TOV~ UALEWS',
l.\ , "
OVTW KaL\ CTV' EJLOL
, ' , t
À EçOV, ' I>'
E'lTELU'fl KaL'
EK
leccionei, na Odisseia e na 1/íada, passos
f.p.r.ELpÓnpos EL f.p.ov TWV 'Op.~pov, Ó'lTOLa rov pao/'{lÕOV ECTTLV,
que, pela sua natureza, pertencem ao adi-
til "Iwv, Kal rfi'> rlxvr1s rfis pao/'{lÔtKfi'>, à r~ pao/'{lÕ~ r.pocr-
7IKEL
' Ka'\ ~ (} aL
CTK0'1TELCT KaL' uLaKpLVELV
l1t ' r.apa
' TOVS'
' ,, '
a/V\.OV~
vinho, ao médico e ao pescador, cita-me
5 à.vOpcfmovS'. tu, também', visto que és mais versado que e
eu na obra de Homero, aqueles que per-
tencem ao rapsodo, Íon, e à arte do rapso-
do, a quem pertence, de preferência a to-
dos os outros homens, examinar e julgar.
ÍON
Declaro-te que todos.
~o
.w.1I.. O,v CTV' YE 't'?l"•
Ih' "I wv, a1ravra•
"'
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~vôpa. tens uma memória tão curta? E seria la-
mentável que um rapsodo não tivesse me- ",I,.
mória.
61 538 b.
80
1 Clássicos INQ. 19- 6 81
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Recordo-me.
SÓCRATES
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I Sendo diferente, admitiste que conhece-
riam coisas diferentes.
I ÍON
Sim.
SÓCRATES
A arte do rapsodo e o rapsodo não conhe-
cerão, pois, todas as coisas.
ÍON
Sim, salvo as coisas como essas de que fa-
lei.
SÓCRATES
Por «coisas como essas» queres dizer to- b
das as coisas que dependem das outras ar-
tes. Mas que coisas conhecerá a tua, visto
que não conhece todas?
ÍON
I.O.N. •A r.plr.n, olp.a' lywy€, àu~pl Elr.Eí'v Kal ór.o4a
yvvau<L, KaL ór.o4a ÕotÍÀCfJ ~eal Ór.oí'a ~ÀEvfJÉpCf~, ~ea4 ór.oí'a
Conhece coisas, penso eu, como a lingua-
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gem que convém a um homem ou a uma
mulher, a que convém a um escravo ou a
um homem livre, a que convém a um su-
balterno ou a um chefe.
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SÓCRATES
Mas, então, o rapsodo conhecerá melhor c
que o médico qual o tipo de linguagem que
corresponde a quem trata um doente?
ÍON
Também não.
SÓCRATES
Referes-te, então, à que convém ao es-
cravo?
ÍON
Sim.
SÓCRATES
Assim, segundo dizes, o rapsodo conhece- !li
rá melhor que, por exemplo, um boieiro a 1
ÍON
Certamente que não.
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L'lT'lTOt!<;j SÓCRATES
É, então, o que deve dizer um general aos
seus soldados para os encorajar?
ÍON
Sim, o rapsodo conhecerá essas coisas.
SÓCRATES
O quê! Então a arte do rapsodo é a mesma
da do general?
ÍON
Em qualquer caso, eu saberia o que deve
dizer um general.
SÓCRATES
É porque talvez sejas um bom general,
Íon. Na verdade, se fosses ao mesmo tem-
po bom cavaleiro e bom citarista, conhece-
rias os cavalos que são boas ou más mon- e
tadas. Mas, se eu te perguntar: «Por qual
das duas artes, Íon, reconheces os cavalos
que são boas montadas? Pela do cavaleiro
ou pela do citarista?», que me responde-
rias?
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87
ÍON
Responderia que pela do cavaleiro.
SÓCRATES
Assim, também, se soubesses distinguir os
que tocam bem cítara, concordas que o fa-
rias como citarista e não como cavaleiro?
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'I
ÍON
Sim.
111
l
I
SÓCRATES
:
I
Visto que conheces a arte militar, conhece-
-la como general ou como bom rapsodo? '!
ÍON
Para mim, parece-me que não há diferen-
ça.
ÍON
Parece-me que uma só.
SÓCRATES
Assim, quem é um bom rapsodo será tam-
bém um bom general?
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88
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Ka'' aya 8'os crrpaTT/yo,s
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Certamente, Sócrates.
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b pa.,<:JuOS',
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aya O'OS' HVat;-I!lN.
.. návv )'€.-
SÓCRATES
In• O'VICOVV ~ CTV ' TWV
~ •E\\' ~ • Do mesmo modo, quem for um bom gene-
~T/VWV apt<TTOS' li'
pa'i'<:JuOS' H;-J!lN.
..
SÓCRATES
Mas parece-te que todo o que é um bom b
rapsodo será também um bom general?
ÍON
Perfeitamente.
SÓCRATES
Pois bem: tu és o melhor rapsodo da Gré-
cia?
ÍON
E de longe, Sócrates.
SÓCRATES
E é, também, Íon, o melhor general da
Grécia?
ÍON
É correcto, Sócrates, porque aprendi em
Homero.
91
90
SÓCRATES
Então, Íon, pelos deuses, sendo tu o me-
lhor dos Gregos como general e como
rapsodo, por que é que andas por aí a re-
presentar para os Gregos e não comandas : I
.l
tropas? Ou pensas que um rapsodo orna-
mentado com uma coroa de ouro é muito c
necessário para os Gregos e um general
não?
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V'ITO vp.wv t<a, OTpaTTtyE&Ta& t<a,. ovuEV unra& OTpaTTtyov, 7J uE
A nossa cidade, Sócrates, é governada por
• I ,.A!>, •!t"
5.. VIJ.ETEpa t<al 71 at<Euatp.ovlwv oviC av J.LE EÀOlTO urpar71yov•
I
vocês 62 , são vocês que comandam as tro-
alh-ol yàp otEuOE lt<avol ELva&. . pas e não temos necessidade de um gene-
63
ral. A vossa cidade e a dos Lacedemónios
não me escolheriam como general. Na ver-
dade, vocês pensam que são auto-sufi-
cientes.
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. 92
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J
SÓCRATES
to ~.a. "Ov ~A071va'LoL 71'0ÀÀáKLS' ~atm'dv CTTparrrybv fipfjVTaL
d flvov óvra· ~eal <I>avorrfUv71 rov "Avôptov Kal. HpaKÀ~W7JV ràv
É aquele que os Atenienses .
KÃa(op.Évtov, o-tis fíõe ~ 7rÓÀLS' flvovs Õvras, €vôufap.lvovs
muitas vezes como general, embora fosse
ÕrL &ftoL ÀÓyov Elu(, Kal. Els rrrpar7Jy{as Kal. ds ràs áÃÀas estrangeiro. Também Fenóstenes de'·
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u.pxas !l
u.y~l' "IWVa us.• ~
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TOV 'E-" ,
't'ErTLOV ' atp1JUETCU
OVX < I Andros 6s e Heraclides de Clázomenas 66 são
\ Ka,\ I " 0 ~ ~(: \' .. 'ôl~;
5 CTTpaT7JYOV TLJ1.1JrT~L, EaV OK'[1 açLOS' 1\0yov ELVULj n estrangeiros, mas a nossa cidade investiu-
, , ..... , ~ c 'Er~,., ' , . . . ' c "EA-
ovK A07JVaLOL p.Ev ECTTE ot ·yErTtoL ro apxaLov, KaL 7J 't'~rros
-os no comando militar e noutros cargos,
e o-bõ~p.t.âs fAárrwv 1rÓÃ~ws; àÀAà yàp rr'Ú, ti> "Iwv, El p.Ev àÀ'f'/0~
porque fizeram prova do seu mérito. E
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TEXV'[I KaL' E1TLUT7JJ1.'[1
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otos u u... tiO p.rypov ~1TaLVELv,
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94
54!1 mente como Pro teu 68 , assumindo todas as 542 a
V1JS, Yva p.~ l-rrtõdfps C:,s Õtwàs EL rf]v -rrtpl 'OfL~pov uocp(av. formas, virando-te para todos os lados e,
" OlJV
· El fLtV ~ CdV,
• TE)(VLKoS " 07rEp
.. , ' E~À tyov, 7rEpt'
VVVolJ ·ofL7JpOV
' por fim, depois de me teres escapado,
v-rrocrxÓfLEVOS l-rrtôt{fuv ifa-rraT~s fLE, &ôtKOS EL' d ÔE fL~
TEXVtKós tl, à.\Ãà Otltf fLolptf ~eaTEXÓfLtvos i~ 'OfL~pov fLrJÔEv
apresentas-te como um general para não
5 Elôws -rroÀÀà ~ea! KaÀà ÀÉyus 7rtpl Toii -rrotrJToii, é!JU7rtp lyw me mostrares como és hábil na ciência de
t!mw -rrEpl uoii, ovÔEV àõtKELS. ~Àov ovv 1rÓupa {3otÍÀEL Homero. Se, então, tens sobre Homero,
'1'. (} • ' • ~ • ~,
VOfLL'::.f(J' at V1TO 7JfLWV auLKOS aV1Jp ELVat fJ.. ' ' (} ~
ELOS, como eu afirmava há pouco, os. conheci- ,,,,
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... ~.c.. T OtJTO
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TOLVVV TO' ICUAALOV
l\ ~ , ,
vr.apXEL • ~
UOL 1rap• T]fLLV, ...
W SÓCRATES
"I wv, ouov
~ ...
uvat Kat \ fL7J' '
TEXVtKov ' ·oP.'IPOV
7rEpt ' E7'1'att'ETTJI'·
· ' Consente, então, Íon o título mais belo:
reconheceres que és divino e que não há
arte nos teus elogios a Homero.