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A MANUTENÇÃO E O MEIO AMBIENTE

Alan Kardec Pinto


Este artigo tem o objetivo de mostrar a forte ligação que deve existir entre a Manutenção e o
Meio Ambiente que, infelizmente, nem sempre é muito bem percebida por alguns
mantenedores e, até mesmo, pela própria Operação, e em alguns casos tem causado, sérios
problemas ambientais comprometendo até a sustentabilidade empresarial.

Esta correlação será feita através de duas experiências vividas e que, acredito, ilustram bem
esta premissa.
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A PRIMEIRA EXPERIÊNCIA foi quando, como gerente de manutenção de uma empresa aqui no
Brasil, tive a oportunidade de viver e trabalhar no Japão por sete meses. Nesta época o Brasil e
o mundo eram sacudidos pelo Programa denominado GQT – Gestão pela Qualidade Total, cuja
origem estava no próprio Japão e onde tive oportunidade de conviver lá com alguns expoentes
deste processo de gestão.

Nessa feliz convivência com estes brilhantes gestores ficou muito claro para mim uma
orientação que lá recebi e que tem os seguintes pontos básicos que, apesar de óbvios, nem
sempre foram praticados pelos gestores que lideraram este processo de implantação da GQT
em suas organizações e que pode, certamente, ter contribuído para o seu insucesso:

 A GQT é, apenas, uma ferramenta e não se deve cometer o grave erro na sua
implementação de confundi-la como o objetivo da organização – isto mata o programa;

 Como uma grande caminhada começa sempre com o primeiro passo, a GQT deve iniciar-se
com o 3S: Ordem (Seiton), Organização (Seiri) e Limpeza (Seiso). Não se obtém um salto de
Qualidade em um ambiente de trabalho que não atenda estes três requisitos básicos;

 Depois de implantado o 3S, deve-se, em seguida, complementar com as duas atividades


restantes do 5S: Asseio (Seiketsu) e Disciplina (Shitsuke);

 A partir daí, pode-se caminhar para as demais fases da GQT, com boa probabilidade de
sucesso.

A SEGUNDA EXPERIÊNCIA foi a utilização deste aprendizado em uma consultoria ambiental


dada por mim a uma grande instalação petroquímica que estava tendo sérios problemas com o
Órgão Ambiental, devido ao não atendimento dos limites de várias variáveis do efluente
líquido descartado para o corpo receptor.

Na reunião inicial, onde o problema me foi detalhado pelos gerentes do Ativo (Operação, Meio
Ambiente e Manutenção), acertamos uma agenda inicial para este primeiro dia e que constava
de:

 Primeiro Passo: Visitar, juntamente com os três gerentes citados, a ETDI – Estação de
Tratamento de Despejos Industriais onde, a partir daí, o efluente é descartado para o
corpo receptor que é um Rio de médio porte, onde constatamos:

 Excesso de óleo chegando à ETDI: Fruto de drenagens exageradas, por parte da


Operação, de óleo e de outros produtos nas unidades de processo e no parque de
tanques e falta de controle na sua vazão para ser tratada na ETDI;

Artigo escrito em janeiro 2016 para o site www.tecem.com.br GP055


 Vários equipamentos da ETDI com problemas e/ou indisponíveis para a operação: O
motivo era a baixa prioridade dada pela Manutenção, e que era aceita pela Operação.
A prioridade mais alta era para os equipamentos das Unidades Operacionais de
produção. A partir daí, estabelecemos a Primeira Frase que nortearia as ações a serem
implantadas para correção deste problema, mas que dependeria principalmente de
uma mudança cultural das pessoas à partir dos gestores, o que foi conseguido:

A SEGURANÇA AMBIENTAL É FUNDAMENTAL PARA A SUSTENTABILIDADE


EMPRESARIAL E DEPENDE MUITO DA MANUTENÇÃO!

 A Ordem, Organização e Limpeza (3S) deixavam muito a desejar, em total contraste


com a porta de entrada do Ativo que era bastante organizada e que tinha uma área 2
verde extremamente bem cuidada. Aproveitamos esta comparação e estabelecemos a
Segunda Frase que, também, iria nortear algumas ações fundamentais a serem
implantadas para corrigir este aspecto:

A PORTA DE SAÍDA DA EMPRESA (ETDI) TEM QUE SER IGUAL À SUA PORTA DE
ENTRADA E DEPENDE MUITO DA MANUTENÇÃO!

 Segundo Passo: Visitar as Unidades Operacionais, onde constatamos o excesso de


drenagens feitas pela operação para o sistema de drenagem oleosa que vai desaguar na
ETDI. A cultura reinante era que este descarte depois voltaria para ser reprocessado. Não
se levava em conta que este excesso de carga para a ETDI prejudicava o seu
funcionamento, além de aumentar o seu custo operacional.

 Terceiro Passo: Visitar serviços de manutenção nas Unidades Operacionais e no Parque de


Tanques, onde constatamos, também, que nestes serviços de manutenção realizados não
se tinha o cuidado de aplicar o 3S – Ordem, Organização e Limpeza, durante e no final dos
trabalhos. Isto fazia com que toda a sujeira oriunda destes serviços fosse parar na ETDI
prejudicando, também, o seu funcionamento.

A partir destas visitas relatadas e das definições básicas inicialmente definidas, foi detalhado
um Plano de Ação que, após executado, eliminou totalmente os problemas ambientais
levantados, fazendo com que a ETDI passasse a ter uma boa operação enquadrando todas as
variáveis estabelecidas pelo Órgão Ambiental.
Sem a atuação DA MANUTENÇÃO E, OBVIAMENTE, DA OPERAÇÃO não se teria alcançado
este objetivo.

Finalmente, é preciso ter uma clara visão e uma prática cotidiana, principalmente em Ativos de
maior poder de poluição, que:

A Sustentabilidade Empresarial passa, também, pela Qualidade Ambiental!

Alan Kardec Pinto


Diretor de Gestão da TCA – Tecnologia em Controle Ambiental
Consultor Empresarial, Ambiental e de Manutenção

Artigo escrito em janeiro 2016 para o site www.tecem.com.br GP055

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