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UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO

PROVA ESPECIALMENTE ADEQUADA A AVALIAR A CAPACIDADE DE MAIORES DE 23 ANOS


PARA A FREQUÊNCIA DE CURSOS SUPERIORES DA UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO

PROVA ESPECÍFICA DE PORTUGUÊS


2016
Duração da prova: 1h30m Tolerância: 30 minutos 2016/06/03

Leia atentamente o texto abaixo transcrito.

É possível (e até bastante provável) que o nosso tempo se caracterize por um esvaziamento
do significado das palavras ou, no mínimo, do seu impacto. Como se todos os limites da linguagem
tivessem há muito sido transpostos, comprimindo as margens de uma transgressão em tempos
celebrada (e ocasionalmente praticada) por vanguardas estéticas e artistas malditos; e como se, num
domínio simbólico crescentemente dominado por regimes de imagem cada vez mais acelerados e
potentes, pouco espaço sobrasse para a desmedida ambição que certas palavras transportam.
É certo que o amortecimento desse impacto não equivale a uma rarefação, pois é notório que
as palavras se multiplicaram e estão agora em todo o lado, digitais ou analógicas, impressas,
«pixelizadas», projetadas à nossa volta, preenchendo e saturando de significados o nosso
quotidiano, sorrindo-nos, persuadindo-nos, seduzindo-nos com promessas ou governando-nos
com imperativos. Simplesmente (e há muito pouco de simples nisto), as palavras servem agora
sobretudo de complemento e suporte de imagens, quando não as integram, tornando-se elas
próprias um elemento gráfico. É, por isso, inteiramente lícito que nos interroguemos sobre a
relação possível entre o esvaziamento das palavras e a sua subordinação à hegemonia das imagens,
das quais se diz agora valerem, cada uma delas, mais do que mil palavras, num câmbio tão duvidoso
quanto sugestivo.
Este esvaziamento das palavras é particularmente relevante quando nos debruçamos sobre a
coisa-manifesto, essa espécie de cometa feito de palavras e lançado em direção ao planeta Terra a
uma velocidade vertiginosa e imparável. Porque é feito de palavras, o manifesto deve (tem de)
contar com a sua solidez e acutilância, pois só com as palavras certas se torna possível rasgar o
manto de conformismo, tédio, banalidade, injustiça ou infâmia contra o qual se dirige. As palavras e
a sua capacidade de detonação e perfuração são a pólvora sem a qual o manifesto seria incapaz de
se lançar à conquista do mundo, a artilharia necessária para derrubar a grande muralha da China
que perante ele se ergue, ameaçadoramente estável e indestrutível, protegendo o Império do Meio
dos seus bárbaros vizinhos.
Certas palavras, é sabido, são capazes das mais ousadas proezas, podem ferir e doer, tornam-
se imprevisíveis e indomáveis assim que abandonam a lâmpada mágica onde se encontravam
abrigadas. Pense-se em termos como «honra», «fé», «verdade», «razão», «liberdade», «progresso» ou
«revolução», para mencionar apenas alguns dos mais óbvios, e siga-se o respetivo percurso
histórico: quantas vidas foram capazes de determinar e moldar com o seu misterioso poder
encantatório, quantas batalhas, disputas, intrigas, escolhas e mudanças operaram ao longo dos
tempos.
A banalização das palavras surge como algo novo e sem precedentes, um estado de coisas
cujo alcance estamos longe de aferir, ainda que o seu impacto se apresente inegável.
www.teatromariamatos.pt (adaptado)

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PARTE I
INTERPRETAÇÃO DO TEXTO

1. Selecione, nos dois itens abaixo, a única alternativa que permite obter uma afirmação
adequada ao sentido do texto. Escreva, na folha de respostas, o número de cada item,
seguido da letra que identifica a alternativa correta.

1.1 A diminuição do impacto das palavras, referida ao longo do texto, deve-se à


A. rarefação das imagens.
B. supremacia das imagens.
C. rarefação das palavras.
D. supremacia das palavras.

1.2 No terceiro parágrafo, a referência ao manifesto


A. ilustra as consequências do esvaziamento das palavras.
B. justifica o amortecimento do impacto das palavras.
C. exemplifica a banalização das palavras.
D. comprova o poder das palavras.

2. Corresponda ao solicitado nas questões abaixo, desenvolvendo cada resposta em 4 a 7


linhas.

2.1 Atribua um título ao texto e justifique a sua opção.

2.2 Apoiando-se em expressões do texto, indique o valor que o autor foi atribuindo à palavra.

2.3 Na perspetiva do autor do texto, explicite o sentido de “É certo que o amortecimento desse
impacto não equivale a uma rarefação” (linha 7), no contexto em que é usada.

PARTE II
ANÁLISE DO FUNCIONAMENTO DA LÍNGUA

3. Selecione, nos itens abaixo, a única alternativa que permite obter uma afirmação adequada
ao sentido do texto. Escreva, na folha de respostas, o número de cada item, seguido da
letra que identifica a alternativa correta.

3.1 As palavras «mundo» e «China» (linha 23)


A. estabelecem uma relação de sinonímia.
B. estabelecem uma relação de hiperonímia/hiponímia.
C. pertencem ao mesmo campo semântico.
D estabelecem uma relação de holonímia/meronímia.

3.2 O conector «assim que» (linha 27) introduz uma ideia de


A. conclusão.
B. comparação.
C. tempo.
D. modo.

3.3 Com o uso das aspas nas linhas 28 e 29, pretende assinalar-se
A. o início e o final de uma citação.
B. o uso irónico de certas palavras.
C. o recurso a palavras invulgares.

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D. o valor de significação das palavras.

3.4 A forma verbal «valerem» (linha 15) encontra-se no


A. condicional.
B. futuro do conjuntivo.
C. presente do conjuntivo.
D. infinitivo pessoal.

4. Sobre cada um dos itens abaixo, indique se a afirmação é verdadeira ou falsa, registando,
na sua folha de respostas, “V” ou “F”, respetivamente.

4.1 A expressão «um elemento gráfico» (linha 13) desempenha, na frase, a função sintática de
predicativo do sujeito.

4.2 A oração «ainda que o seu impacto se apresente inegável» (linha 34) é uma oração
subordinada adverbial concessiva.

4.3 O antecedente do pronome relativo «que» (linha 6) é «pouco espaço» (linha 6).

4.4 Na linha 33, «cujo» (linha 34) é um pronome demonstrativo.

4.5 A frase «que certas palavras transportam» (linha 6) é subordinada relativa restritiva.

4.6 Nas linhas 1, 6 e 9, as formas verbais «caracterize», «sobrasse», «preenchendo»


encontram-se, segundo a ordem por que se apresentam, no tempo presente do modo
indicativo, no tempo pretérito imperfeito do modo conjuntivo e, finalmente, no gerúndio.

4.7 Os vocábulos «acelerados» (linha 5) e «vertiginosa» (linha 19) mantêm entre si uma
relação de holonímia.

4.8 O pronome «nos» na forma verbal «sorrindo-nos» (linha 10) é um pronome possessivo.

PARTE III
COMPOSIÇÃO

5. Num texto coeso e coerente cuja extensão ocupe um espaço de 30 a 35 linhas, exiba os
resultados da sua reflexão sobre o teor de um dos dois excertos abaixo transcritos.

Texto A
«A felicidade é subjetiva. Há quem a encontre na construção de uma família ou a
viajar sozinho pelo mundo. Pode ter tudo o que sempre quis, mas é normal que não se
sinta totalmente feliz. A neurociência explica que o ato de procurar sempre algo mais é
a chave para a felicidade, mais do que a realização dos objetivos, avança o jornal
digital Quartz.»
Márcia G. Rodrigues: “A chave para a felicidade? Querer sempre mais”.
Internet: http://visao.sapo.pt/actualidade/sociedade/2016-05-17-A-chave-
para-a-felicidade--Querer-sempre-mais (Consultado a 17/05/2016).

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Texto B
«Susana Sousa Rios, mãe de uma criança de 13 anos com Necessidades Educativas
Especiais (NEE), terá sido aconselhada a procurar uma escola pública quando tentou
inscrever o filho no privado. Em depoimento escrito e entrevista telefónica à VISÃO,
esta progenitora, de 36 anos, acusa o Colégio Liceal de Santa Maria de Lamas de ter
discriminado o seu filho. “Visto que não podiam negar-me a inscrição, «convidaram-
me» a inscrevê-lo na escola pública[…]»
Miguel Carvalho: “A história da criança com multideficiência que um colégio
privado não quis e a escola pública recebeu”. Internet:
http://visao.sapo.pt/actualidade/portugal/2016-05-13-A-historia-da-crianca-com-
multideficiencia-que-um-colegio-privado-nao-quis-e-a-escola-publica-recebeu
(Consultado a 17/05/2016).

N.B.:
1. Nas questões 1, 3 e 4, atribuir-se-á a classificação de zero valores aos registos que não apresentarem
uma indicação inequivocamente legível.
2. Nas questões 2.1, 2.2 e 2.3, serão anuladas as respostas em que se apresente apenas a transcrição de
troços do texto.
3. Na questão 5, o desrespeito pelas indicações relativas à extensão do texto a produzir será penalizado
(entre 0,5 e 1,5 valores).
4. O texto e as questões 1 e 3 desta Prova Específica de Português foram adaptados da Prova Escrita
de Português (Prova 639), da 2.ª fase de 2012, do Exame Nacional do Ensino Secundário.

COTAÇÕES (0 - 20 valores)
1.1…………………… 0,5 4.1…………………… 0,5
1.2…………………… 0,5 4.2…………………… 0,5
4.3…………………… 0,5
2.1…………………… 1,5 4.4…………………… 0,5
2.2…………………… 1,5 4.5…………………… 0,5
2.3…………………… 1,0 4.6…………………… 0,5
4.7…………………… 0,5
3.1…………………… 0,5 4.8…………………… 0,5
3.2…………………… 0,5
3.3…………………… 0,5 5……..………………… 9
3.4…………………… 0,5

4/4

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