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Medeiros, Emerson Diógenes; Sá, Elba Celestina do Nascimento; Monteiro, Renan Pereira; Santos,
Walberto Silva; Gusmão, Estefânea Élida da Silva. Valores humanos, comportamentos antissociais e
delitivos: evidências de um modelo explicativo

Valores humanos, comportamentos antissociais e delitivos: evidências


de um modelo explicativo

Human values, antisocial and criminal behavior: evidences for an


explanatory model

Valores humanos, comportamiento antisocial y criminal: evidencias


para un modelo explicativo

Emerson Diógenes Medeiros1

Elba Celestina do Nascimento Sá2

Renan Pereira Monteiro3

Walberto Silva Santos4

Estefânea Élida da Silva Gusmão5

Resumo

O presente artigo objetivou verificar em que medida os valores humanos predizem os


comportamentos antissociais e estes, por sua vez, predizem os delitivos. Para tanto, contou-se
com a participação de 207 universitários, com idades variando de 19 a 46 anos (M = 22,6; DP =
3,65). Os resultados indicaram que os valores das subfunções experimentação (+) e normativa (-
) predisseram os comportamentos antissociais, e estes, as condutas delitivas. Tal modelo testado
apresentou indicadores de ajuste adequados (χ²/g.l = 1,48, GFI = 0,99, TLI = 0,96, CFI = 0,98,
RMSEA = 0,048). Os resultados indicam a importância dos valores na predição de condutas
desviantes, sendo importante, sobretudo, a promoção de valores normativos, pois estes vêm se
mostrando, consistentemente, como fatores de proteção para o envolvimento em
comportamentos desviantes.

Palavras-chave: valores normativos, comportamentos desviantes, modelo explicativo.

1
Professor Adjunto do curso de graduação em Psicologia da Universidade Federal do Piauí (Campus de
Parnaíba), atuando na área de Avaliação Psicológica. Coordena o Laboratório de Avaliação Psicológica
do Delta – Labap.
2
Mestranda em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Membro do Laboratório Cearense
de Psicologia (Lacep). Graduada pela Universidade Federal do Piauí (UFPI).
3
Possui formação em Psicologia pela Universidade Federal do Piauí (2011) e mestrado em Psicologia
Social pela Universidade Federal da Paraíba (2014). Atualmente é doutorando em Psicologia Social pela
Universidade Federal da Paraíba.
4
Graduação em Psicologia pela Universidade Federal da Paraíba (2002) e doutorado em Psicologia
(Psicologia Social) pela Universidade Federal da Paraíba.
5
Doutorado em Psicologia Cognitiva pela Universidade Federal de Pernambuco (2009). Mestrado em
Psicologia Social pela Universidade Federal da Paraíba (2004). Licenciatura (2002) e Formação (2008)
em Psicologia pela Universidade Federal da Paraíba.

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Walberto Silva; Gusmão, Estefânea Élida da Silva. Valores humanos, comportamentos antissociais e
delitivos: evidências de um modelo explicativo

Abstract

This article aimed to verify the extent to which human values predict the antisocial behaviors
and these, in turn, predict the criminal behavior. Participants were 207 undergraduated students,
with ages ranging from 19 to 46 years (M = 22.6, SD = 3.65). The results indicated that values
of the subfunction excitement (+) and normative (-) predicted the antisocial behaviors, and
these, criminal behaviors. This tested model showed adequate fit indicators (χ²/g.l = 1.48, GFI =
0.99, TLI = 0.96, CFI = 0.98, RMSEA = 0.048). The results indicate the importance of values in
the prediction of deviant behavior, it is important, especially, the promotion of normative
values, as these has proven consistently as protective factors for involvement in deviant
behavior.

Keywords: normative values, deviant behavior, explicative model.

Resumen

Este artículo tiene como objetivo verificar el grado en que los valores humanos a predecir las
conductas antisociales y éstos, a su vez, predicen los delictivos. Esta involucrado con la
participación de 207 alumnos, con edades entre 19 a 46 años (M = 22,6, SD = 3,65). Los
resultados indicaron que los valores sub ensayo (+) y normativos (-) predijo las conductas
antisociales, y estos, conductas delictivas. Este modelo probado mostró indicadores de ajuste
adecuados (c² / gl = 1,48, GFI = 0,99, TLI = 0,96, CFI = 0.98, RMSEA = 0,048). Los resultados
indican la importancia de los valores en la predicción de la conducta desviada, es importante,
sobre todo, la promoción de los valores normativos, ya que ha demostrado consistentemente
como factores de protección para la participación en la conducta desviada.

Palabras clave: valores normativos, conducta desviada, modelo explicativo.


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Atualmente, os comportamentos traços de personalidade que podem


socialmente desviantes se constituem predizer tais padrões comportamentais
como um dos problemas sociais mais (Heaven, 1996; Miller & Lynam, 2001;
relevantes (Burt, 2009; Formiga, Vasconcelos et al., 2008). Não obstante,
Cavalcante, Araújo, Lima & Santana, além de variáveis mais estáveis, é
2007; Vasconcelos, Gouveia, Pimentel possível verificar estudos que utilizam
& Pessoa, 2008; Waiselfisz, 2013). Isso variáveis mais contextuais para o
pode ser constatado tendo em conta a entendimento de condutas que são
veiculação diária, em diversos meios de transgressões às normas sociais e legais.
comunicação, de inúmeras notícias que A propósito, quando se fala no
se referem a comportamentos típicos papel de variáveis de base social, é
desse construto, a exemplo de comum associar a classe
agressões, homicídios, assaltos, socioeconômica desfavorecida como
sequestros, estupros, entre outros. uma predisposição para comportar-se de
Percebe-se, na literatura, que há forma socialmente indesejável
certa confusão conceitual quando se (Formiga, 2006; Toledo, 2006).
trata de comportamentos desviantes Entretanto, resultados recentes,
(Grangeiro, 2014; Santos, 2008), algo encontrados por O’Riordan e O’Connell
que demanda uma breve delimitação. (2014) demonstraram não haver relação
Especificamente, é possível apontar que entre tais variáveis, ou seja, em seu
tais comportamentos, geralmente, são estudo o poder preditivo de indicadores
formados por duas dimensões: as socioeconômicos para o envolvimento
condutas antissociais e as condutas em práticas criminosas não se mostrou
delitivas (Formiga, 2003; Formiga & significativo. Esse mesmo padrão
Gouveia, 2003). As primeiras incluem relacional, entre classe social e
formas socialmente indesejáveis de comportamentos delitivos, já havia sido
comportar-se, entretanto, não se demonstrada, empiricamente,
constituem como violações legais; a anteriormente (Letourneau, Duffett-
segunda dimensão, por sua vez, envolve Leger, Levac, Watson & Young-Morris,
ações que transgridem, além das normas 2013; Tuvblad, Gran & Lichtenstein,
sociais, o Código Penal (Scaramella, 2006).
Conger, Spoth & Simons, 2002). Deste Outras variáveis demográficas
modo, estudos sugerem que as condutas que vêm sendo indicadas como
antissociais podem configurar-se como importantes para o entendimento de
estágio prévio para as delitivas (Moffitt, comportamentos socialmente desviantes
1993; Santos, 2008; Vasconcelos et al., são o sexo e a idade (Giordano &
2008). Cernovich, 1997; Bartusch, Lynam,
Tendo em vista os potenciais Moffitt & Silva, 2006). Autores, a
efeitos negativos associados aos exemplo de Van Lier, Vitaro, Wanner,
comportamentos desviantes, estima-se Vuijk e Crijnen (2005), ao discutirem
que a busca por seus preditores seus resultados, argumentam que
constitui-se como um dos tópicos mais homens tendem a ter mais
estudados atualmente. Especificamente, comportamentos antissociais que
é possível encontrar estudos que mulheres pelo fato de elas buscarem,
buscam as bases neurobiológicas dos em menor medida, afiliação a pares
comportamentos antissociais e delitivos antissociais.
(Baker, Bezdjian & Raine, 2006; Eme, Já a relação com a idade vem
2013; Goldman, 2014; Tarantino et al., sendo considerada em alguns modelos
2013), bem como identificar possíveis teóricos, a exemplo do modelo de

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Coerção de Patterson (Patterson, proteção para o envolvimento em


DeBaryshe & Ramsey, 1989), ou ainda comportamentos desviantes,
os de Frechette e LeBlanc (1987), além viabilizando a internalização de valores,
do de Moffitt (1993). Nestes indica-se habilidades sociais adequadas e uma
que, com o avanço da idade e a organização da personalidade pertinente
exposição a determinados estímulos, os aos comportamentos socialmente
comportamentos antissociais vão se desejáveis (Formiga, Melo & Leme,
desenvolvendo. Alguns estudos 2013; Mrug et al., 2013). Cabe destacar
apontam evidências da existência de que não está se falando sobre o
correlações significativas entre idade e engessamento de normas, mas sim
os comportamentos antissociais e sobre o desenvolvimento de ações que
delitivos (Letourneau et al., 2013; sejam positivas a si e à sociedade
Mobarake, 2015). Deste modo, parece (Abrams, Palmer, Rutland, Cameron &
algo importante ter em conta seus Van de Vyver, 2014; Formiga, 2011;
antecedentes para o entendimento dos Monahan, Steinberg & Cauffman,
comportamentos socialmente 2009). Entretanto, mesmo reconhecendo
desviantes. a existência de fatores de proteção
Ademais, alguns estudos importantes como os supracitados,
destacam o papel que assume a família optou-se, neste trabalho, por focar na
nesse processo, podendo agir tanto influência exercida pelos valores
como um fator de proteção como para humanos nos comportamentos
as condutas antissociais e delitivas desviantes.
(Freitas, 2002). A centralidade da Logo, ainda no âmbito de
família para a predição de tais condutas antecedentes sociais, cabe destacar o
se dá, sobretudo, por ser, o seio papel dos valores humanos. Estes são
familiar, o ambiente no qual a criança desenvolvidos, sobretudo, durante o
irá se socializar e internalizar as processo de socialização das pessoas;
primeiras regras e normas de sua cultura portanto, durante o desenvolvimento, os
e sociedade (Hoeve et al., 2008, 2009; indivíduos podem priorizar valores que
Laranjeira, 2007; Silvia & Hutz, 2002). refletem o contexto em que foram
Concretamente, estudos têm indicado socializados. Estudos têm sido
que pais negligentes, agressivos e consistentes ao se utilizar dos valores
violentos (Bordin & Offord, 2000; para a predição dos comportamentos
Jouriles, Mueller, Rosenfield, socialmente indesejados,
McDonald & Dodson, 2012; Maas, especificamente aqueles que denotam
Herrenkohl & Sousa, 2008), além de uma necessidade de seguir regras
comportamentos antissociais na família sociais, constituindo-se, pois, como
e um ambiente social negativo (Frías- fatores de proteção (Formiga, 2013;
Armenta & Corral-Verdugo, 2013), Pimentel, 2004; Santos, 2008;
podem contribuir para que a criança Vasconcelos, 2004). Nesta direção, é
apresente, futuramente, relevante um maior entendimento em
comportamentos desviantes. torno dos valores, destacando,
Percebe-se, portanto, que a sobretudo, o modelo teórico que aporta
identificação com pares este estudo, a Teoria Funcionalista dos
socionormativos, a exemplo dos pais, Valores Humanos.
escolas e igreja (Ary, Duncan & Hops, Na Psicologia Social, os valores
1999; Flannery, Willians & Vazsonyi, se constituem como um construto
1999, Laranjeira, 2007), pode central (Ros & Gouveia, 2003). Na
configurar-se como um fator de literatura, é possível encontrar diversos
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modelos teóricos sobre os valores (e.g., delineado (Gouveia, 2003; Medeiros,


Schwartz, 1992; Rokeach, 1973), no 2011).
entanto, nesta ocasião optou-se por um O cruzamento das duas funções
mais recente, constituindo-se como uma (guiar comportamentos e expressar
alternativa integradora, parcimoniosa e necessidades) dá origem às subfunções
teoricamente fundamentada, valorativas, no total de seis, que são:
denominada Teoria Funcionalista dos experimentação, realização, existência,
Valores Humanos (Gouveia, 1998, suprapessoal, interativa e normativa
2003, 2013; Gouveia, Milfont & (Gouveia, 2013; Gouveia et al., 2014a).
Guerra, 2014a). De uma forma sucinta, a seguir são
Em sua teoria, Gouveia e expostas as subfunções, suas definições
colaboradores destacam o caráter e seus valores específicos.
funcional dos valores, concebendo-os Subfunção experimentação
como guias do comportamento humano (emoção, prazer e sexualidade): possui
(1ª função: tipo de orientação), além de um motivador humanitário e orientação
expressarem cognitivamente as pessoal, representa indivíduos que não
necessidades (2ª função: tipo de aderem categoricamente às normas
motivador). Os valores como critérios convencionais e tampouco possuem
de orientação do comportamento são objetivos precisos e urgentes.
representados pelos valores sociais, Subfunção realização (poder,
centrais e pessoais. A priorização de prestígio e êxito): possui orientação
valores sociais indica a importância de central e motivador pessoal,
causas sociais (foco interpessoal). Os caracterizando pessoas que apresentam
valores centrais representam uma praticidade em suas ações e estruturação
interface entre a garantia de nas decisões.
sobrevivência, mas também o Subfunção existência (saúde,
comprometimento com os princípios sobrevivência e estabilidade): possui
sociais imprescindíveis a um bom um motivador materialista com uma
convívio, representando o núcleo das orientação central, representando
necessidades, sem que exista um valores de sobrevivência, refletindo as
conflito com os outros tipos de valores. necessidades básicas dos indivíduos.
Por fim, os valores pessoais refletem Subfunção suprapessoal
indivíduos que são egocêntricos, (conhecimento, maturidade e beleza):
pautados na busca de realizações e possui um motivador humanitário com
satisfação pessoal (Gouveia, 2003, uma orientação central.
2013; Gouveia, Milfont & Guerra, Subfunção interativa
2014b; Medeiros, 2011; Medeiros et al., (afetividade, convivência e apoio
2012). social): essa subfunção tem um
Por outro lado, os valores como motivador idealista e é de orientação
expressão das necessidades são social, representando necessidades de
divididos em materialistas e amor, filiação e pertença.
humanitários. Os primeiros fazem Subfunção normativa
alusão a valores de ordem prática, de (obediência, tradição e religiosidade):
modo que caracterizam pessoas que tem um motivador materialista, porém,
possuem prioridades, metas visíveis e com uma orientação social. Exigências
claras. Os valores humanitários, por sua sociais e institucionais são
vez, se constituem como aqueles mais representadas por essa subfunção.
abstratos, sem um foco muito bem Destaca-se que esse modelo
teórico vem recebendo apoio empírico,

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com evidências de adequação tanto em Não obstante, na amostra


contexto brasileiro como internacional estudada por Pimentel (2004), a
(Gouveia, 2013; Medeiros, 2011), importância dada aos valores
justificando, portanto, o seu uso nesta normativos não foi capaz de predizer
ocasião. Neste sentido, estudos têm sido negativamente os comportamentos
levados a cabo utilizando a Teoria delitivos, apenas os antissociais, algo
Funcionalista dos Valores Humanos que pode apontar para um modelo
para a compreensão de comportamentos hierárquico, no qual os valores
antissociais e delitivos (Formiga & predizem os comportamentos
Gouveia, 2005; Pimentel, 2004; Santos, antissociais que, por sua vez, predizem
2008; Vasconcelos, 2004), cabendo os delitivos, o que seria coerente com os
descrever, alguns deles, a seguir. achados de Vasconcelos et al. (2008).
Valores e comportamentos socialmente Santos (2008), por sua vez,
desviantes propôs um modelo explicativo dos
Autores que vêm se dedicando comportamentos antissociais e delitivos.
ao estudo dos valores humanos e das Para tanto, considerou os valores
condutas antissociais e delitivas atestam normativos como fator de proteção,
um padrão similar de que o além de se utilizar de variáveis outras,
compromisso convencional é um fator como o compromisso religioso, estilos
de proteção para o desenvolvimento de parentais autoritativos e identificação
comportamentos socialmente desviantes com grupos sociais de referência,
(Chaves, 2006; Santos, 2008). Formiga postulando um modelo nomeado como
(2013), por exemplo, observou o padrão compromisso convencional e afiliação
correlacional dos valores humanos com social. Tais variáveis se
as condutas antissociais e delitivas, correlacionaram negativamente com os
verificando que valores de orientação comportamentos antissociais que, por
social explicam negativamente sua vez, predizem comportamentos
comportamentos considerados delitivos, dando maior embasamento
desviantes; ademais, os de orientação para se pensar nos comportamentos
pessoal o fazem positivamente. antissociais como um estágio prévio
Pimentel (2004), por sua vez, para ações delitivas.
analisou a relação entre os valores Sendo assim, compreende-se
humanos e o desenvolvimento de que esses elementos são relevantes, na
comportamentos desviantes, medida em que refletem uma lógica
acrescentando, todavia, outras variáveis. comum: o afastamento de regras
Observou, por meio de uma análise de predispõe as pessoas a uma
regressão múltipla, que a identificação aproximação com comportamentos de
com grupos alternativos e uma risco que podem ser comprometedores
orientação proporcionada por valores de socialmente (antissociais), inclusive no
experimentação tornou maior a âmbito jurídico (delitivos).
possibilidade de manifestação de Partindo desse pressuposto, e
comportamentos antissociais e delitivos. conhecendo as consequências de
O padrão contrário também foi comportamentos antissociais e delitivos,
encontrado, pessoas que se neste artigo objetivou-se aumentar as
identificaram com tais grupos e se evidências em torno do papel que os
guiam por valores normativos valores humanos têm em predizer
apresentaram menor possibilidade de comportamentos socialmente
manifestar condutas socialmente desviantes. Especificamente, com o
desviantes. apoio da literatura, buscou-se testar três
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hipóteses: 1. Os valores normativos irão delitivas (comportamentos passíveis de


predizer negativamente os punição por lei) que apresentou
comportamentos antissociais. Alguns parâmetros psicométricos aceitáveis em
achados endossam que a adoção de amostra brasileira (e.g. GFI = 0,92, CFI
valores normativos pode ser = 0,90 e RMSEA = 0,06; com alfas que
considerada como um fator de proteção variam de 0,82 a 0,84). Os itens são
quando se trata de desvios de conduta respondidos em uma escala tipo likert
(Pimentel, 2004; Santos, 2008; de 10 pontos, com extremos 1 = Nunca
Formiga, 2013); 2. Os valores de e 10 = Sempre.
experimentação irão predizer Questionário dos Valores
positivamente. Estudos recentes Básicos (QVB): instrumento composto
(Formiga, 2013; Santos, 2008) por 18 itens que representam as seis
indicaram que os valores de subfunções valorativas, cada uma
experimentação possuem relação direta representada por três valores
e positiva com os comportamentos específicos. Os respondentes indicam o
antissociais e delitivos; e 3. Os grau de importância que cada valor tem
comportamentos antissociais irão como um princípio guia em sua vida,
predizer os delitivos. Alguns autores em uma escala de resposta do tipo
sugerem que os comportamentos Likert com sete pontos, variando de 1-
delitivos são precedidos por Totalmente não importante a 7-
comportamentos antissociais, padrão Extremamente importante. Essa medida
teórico que tem ganhado respaldo vem apresentando indicadores que
empírico (Formiga, 2002, 2013; Santos, atestam sua adequação (e.g., GFI =
2008). 0,90; CFI = 0,90; RMSEA = 0,09;
Gouveia et al., 2014a).
Método Por fim, solicitou-se aos
participantes que respondessem um
Participantes conjunto de questões demográficas
Contou-se com uma amostra não (e.g., sexo, idade e classe social) com a
probabilística (de conveniência), finalidade de caracterizá-los.
composta por 207 estudantes Procedimento
universitários de uma IES pública de Após a aprovação do Comitê de
uma cidade do Piauí. Estes Ética em Pesquisa de uma IES pública
apresentaram idades entre 19 e 46 anos do estado do Piauí (protocolo nº
(M = 22,6; DP = 3,65), em sua maioria 0444.0.045.000-11), foram realizadas as
mulheres (73%), pessoas solteiras aplicações dos questionários, que
(91%), católicas (67,6%) e que se ocorreram nas salas de aulas, entretanto
autodeclararam de classe média (59%). respondidos individualmente. Desta
Instrumentos forma, após concordar em participar do
Escala de Condutas Antissociais estudo, assinado o termo de
e Delitivas (CAD): proposta consentimento livre e esclarecido e
inicialmente por Seisdedos (1988), receber as devidas instruções acerca do
neste estudo utilizou-se a versão preenchimento das escalas, os
reduzida, composta por 20 itens participantes foram convidados a
(Gouveia, Santos, Pimentel, Diniz & respondê-los. A aplicação durou, em
Fonseca, 2009) divididos em dois média, 15 minutos.
fatores, condutas antissociais Análises de dados
(referindo-se a comportamentos Os dados foram analisados com
indesejáveis socialmente) e condutas os pacotes estatísticos PASW e AMOS,

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ambos em sua versão 18. Com o de 0,90 são referências de um modelo


primeiro, realizaram-se estatísticas ajustado.
descritivas, análise de correlação r de Tucker Lewis Index (TLI), a
Pearson e MANOVA. Com o segundo, exemplo do CFI, é um índice
objetivando testar um modelo comparativo, confrontando um modelo
explicativo, realizou-se uma path teórico com um nulo. Por não ser
analysis, utilizando como parâmetros de padronizado, seus valores podem ficar
um modelo ajustado os seguintes abaixo de zero ou acima de um, no
indicadores (Byrne, 2010; Hair, Black, entanto, sugere-se que aqueles que se
Babin, Anderson & Tathan, 2009; Pilati aproximam de um possam se configurar
& Laros, 2007): como um bom indicador de ajuste do
χ² (qui-quadrado). Esse modelo aos dados.
indicador testa a probabilidade do Root-Mean-Square Error of
modelo se ajustar aos dados, sendo Approximation (RMSEA) e seu
preferíveis valores baixos. Entretanto, intervalo de confiança de 90% (IC90%)
por ser sensível ao tamanho amostral e avaliam se o modelo testado se ajusta à
pelo número de variáveis no modelo, população e não apenas à amostra
indica-se levar em conta a sua razão utilizada; são considerados bons
com os graus de liberdade (χ²/gl), em indicadores de ajuste valores próximos
que valores entre dois e três indicam um a zero, recomendando-se entre 0,05 e
bom ajuste, aceitando-se até cinco. 0,08, admitindo-se até 0,10.
Goodness-of-Fit Index (GFI) e o
Adjusted Goodness-of-Fit Index (AGFI) Resultados
testam a proporção de variância-
covariância nos dados explicada pelo Inicialmente, realizou-se uma
modelo, em que valores acima de 0,90 análise de correlação de Pearson,
são indicadores de um modelo ajustado. objetivando conhecer o padrão de
Comparative Fit Index (CFI) é correlações entre as seis subfunções
um índice que compara o modelo valorativas e os comportamentos
estimado com um nulo, em que valores antissociais e delitivos. Os resultados
mais próximos de um expressam melhor desta análise são especificados na
ajuste. Frequentemente, valores acima Tabela 1, a seguir.

Tabela 1. Correlatos valorativos das condutas antissociais e delitivas

M DP
1 2,43 1,15
2 1,25 0,54 0,48**
3 5,05 0,78 0,25** 0,09
4 4,77 0,84 0,01 0,00 0,40**
5 6,09 0,67 -0,14* -0,15* 0,19** 0,38**
6 5,55 0,72 -0,14* -0,13 0,31** 0,34** 0,45**
7 5,71 0,72 -0,18** -0,09 0,27** 0,35** 0,40** 0,26**
8 5,27 0,91 -0,24** -0,02 0,11 0,29** 0,29** 0,25** 0,40**
1 2 3 4 5 6 7
Nota: ** p < 0,001; * p < 0,05. Identificação das variáveis: 1 – comportamentos antissociais, 2 –
comportamentos delitivos, 3 – experimentação, 4 – realização, 5 – existência, 6 – suprapessoal, 7 –
interativa, 8 – normativa.
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Observa-se que os Posteriormente, decidiu-se testar


comportamentos antissociais um modelo explicativo no qual os
apresentaram correlações valores predizem os comportamentos
estatisticamente significativas, de modo antissociais que, por sua vez, predizem
positivo, com a subfunção os delitivos. Nesta direção,
experimentação (r = 0,25; p < 0,001) e considerando critérios teóricos e
negativa com as subfunções existência empíricos, selecionaram-se os valores
(r = -0,14; p < 0,05), suprapessoal (r = - das subfunções experimentação e
0,14; p < 0,05), interativa (r = -0,18; p < normativa, que vêm se mostrando
0,01) e normativa (r = -0,24; p < consistentes na predição de tais
0,001). Posteriormente, verificou-se que condutas, além de serem os valores com
os comportamentos delitivos se correlação mais forte com as condutas
correlacionaram, inversamente, com a antissociais.
subfunção existência (r = -0,15; p < O passo seguinte do estudo foi
0,05), e positivamente, com os conhecer se as subfunções predizem
comportamentos antissociais (r = 0,48; diretamente as condutas delitivas, ou se
p < 0,001). os valores apresentam efeitos indiretos
Não obstante, considerando o sobre tais condutas, cabendo aos
apoio da literatura, que indica que o comportamentos antissociais o papel de
sexo, a classe socioeconômica e a idade preditor direto. Neste sentido,
podem se constituir como importantes inicialmente foram testados os efeitos
para o entendimento dos diretos das subfunções valorativas sobre
comportamentos socialmente os comportamentos delitivos, no
desviantes, decidiu-se realizar uma entanto, não se verificou predição
MANOVA. Especificamente, entrou-se estatisticamente significativa dos
com os comportamentos antissociais e valores da subfunção normativa (λ = -
delitivos como variáveis dependentes e 0,03, IC (90%) = -0,15/0,08, p > 0,05) e
o sexo, classe socioeconômica e idade experimentação (λ = 0,10, IC (90%) = -
dos participantes como variáveis 0,01/0,20, p > 0,05).
independentes. Não obstante, ao se incluir os
Os resultados indicam que o comportamentos antissociais no
sexo [Lambda de Wilks = 0,93; F(2,147) modelo, percebe-se que os valores
= 5,82, p > 0,01; ɳ²p = 0,073] teve passam a ter efeitos indiretos nos
efeitos significativos sobre os comportamentos delitivos –
comportamentos socialmente experimentação [λ = 0,13, IC (90%) =
desviantes, contudo, classe 0,08/0,20, p < 0,001] e normativa [λ = -
socioeconômica [Lambda de Wilks = 0,13, IC (90%) = -0,19/-0,08, p <
0,94; F(6,294) = 1,37, p > 0,05; ɳ²p = 0,001]. O modelo testado é apresentado
0,027] e idade [Lambda de Wilks = na Figura 1.
0,86; F(32,294) = 0,71, p > 0,05; ɳ²p =
0,072] não tiveram.

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Medeiros, Emerson Diógenes; Sá, Elba Celestina do Nascimento; Monteiro, Renan Pereira; Santos,
Walberto Silva; Gusmão, Estefânea Élida da Silva. Valores humanos, comportamentos antissociais e
delitivos: evidências de um modelo explicativo

Figura 1. Modelo explicativo dos comportamentos delitivos

Ademais, é possível observar Baseando-se nos resultados, é


que o modelo testado apresentou todos possível pensar que pessoas pautadas
os lambdas estatisticamente por valores de experimentação, que
significativos e diferentes de zero (z > buscam a satisfação imediata, são
1,96, p < 0,05). Especificamente, menos propensas a se conformarem
observa-se que a subfunção normativa com normas sociais e estão mais
prediz negativamente os predispostos a se envolver em
comportamentos antissociais (λ = - comportamentos antissociais (Chaves,
0,27), enquanto os valores da subfunção 2006; Formiga, 2002, 2013; Formiga &
experimentação o fazem positivamente Gouveia, 2005; Santos, 2008).
(λ = 0,28) e os comportamentos Especificamente, considerando a
antissociais, por sua vez, predizem os essência do valor emoção, que
delitivos (λ = 0,48). Além disso, os caracteriza pessoas orientadas pela
indicadores de ajuste desse modelo busca de experiências perigosas e
atestam sua pertinência: χ²/g.l = 1,48, excitabilidade, é possível verificar as
GFI = 0,99, CFI = 0,98, TLI = 0,96; relações entre a subfunção
RMSEA = 0,05 (LI = 0,00/ LS = 0,15). experimentação e condutas antissociais.
A esse respeito, Simó e Pérez
Discussão (1991) citam que muitas formas de
comportamento antissocial envolvem
O presente estudo objetivou risco, podendo configurar-se como uma
verificar a adequação de um modelo forma de satisfazer necessidades de
explicativo em que os valores humanos, estimulação, algo característico dos
especificamente os normativos e de buscadores de sensações. No entanto, a
experimentação, predizem priorização dos valores de
comportamentos antissociais que, por experimentação não se constitui como
sua vez, predizem os delitivos. Os um determinante para práticas
resultados encontrados recebem apoio desviantes, mas sim um componente
da literatura (Formiga, 2013; Formiga que, em associação com outras
& Gouveia, 2005; Santos, 2008; variáveis, pode configurar-se como uma
Pimentel, 2004; Vasconcelos, 2004). predisposição à violação de normas
sociais e legais (Rodríguez, 2009).
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Medeiros, Emerson Diógenes; Sá, Elba Celestina do Nascimento; Monteiro, Renan Pereira; Santos,
Walberto Silva; Gusmão, Estefânea Élida da Silva. Valores humanos, comportamentos antissociais e
delitivos: evidências de um modelo explicativo

Por outro lado, as relações Tais evidências vão de encontro ao que


negativas com os valores normativos foi verificado na literatura (Bartusch et
que caracterizam pessoas pautadas na al., 2006; Formiga, 2013; Moffitt, 1993;
obediência e respeito às normas sociais Vasconcelos et al., 2008).
podem configurar-se como um fator de Considerando o aspecto central
proteção (Pimentel, 2004; Santos, dos valores, formados durante o
2008). Nesta direção, Chaves (2006) processo de socialização dos indivíduos,
propõe que pessoas que se pautam na é possível pensar a família como chave
estabilidade grupal, no respeito pelos para a transmissão dos valores. Nesta
padrões culturais, podem ter tais direção, pode ser traçado um paralelo
comportamentos desviantes inibidos. com o modelo de coerção de Patterson,
Portanto, os resultados indicam que propõe um modelo para o
que é plausível se pensar que pessoas desenvolvimento de condutas
orientadas por valores de antissociais, no qual a ineficácia de
experimentação e que se distanciam práticas parentais (e.g., falha ao
daqueles normativos estarão mais transmitir valores sociais) pode gerar
propensas a se envolver em comportamentos antissociais,
comportamentos antissociais. Neste culminando com o envolvimento em
caso, ressalta-se que se teve em conta comportamentos delinquentes
estudantes universitários, com idade (Patterson, DeBaryshe, & Ramsey,
média de 22 anos que, de acordo com 1990). Parece, portanto, que os valores
Gouveia, Vione, Milfont e Fischer transmitidos de pais para filhos podem
(2015) estão em fase de endossar ser um componente importante para a
valores da subfunção experimentação e compreensão do surgimento e
comportamentos de riscos, como podem desenvolvimento dos comportamentos
ser os antissociais e delitivos, e o fazer antissociais (Gouveia, Santos, Pimentel,
de modo contrário aos valores Medeiros & Gouveia, 2011; Pimentel,
normativos. 2004; Santos, 2008).
Consequentemente, esta Quanto ao papel de variáveis
pesquisa fornece mais evidências em demográficas, não foi possível verificar
torno da adequação do uso da Teoria predições estatisticamente
Funcionalista dos Valores Humanos significativas. Especificamente, assim
para o entendimento das condutas como no estudo de O’Riordan e
antissociais. Tais conclusões são O’Connell (2014), a classe
respaldadas tanto pela literatura socioeconômica não obteve poder
(Gouveia et al., 2015; Santos, 2008) preditivo, havendo outras variáveis no
quanto pelos indicadores de ajuste do modelo que explicaram a variabilidade
modelo testado, dando suporte teórico e dos dados. Quanto ao papel do sexo,
empírico às hipóteses previamente verificou-se que as maiores médias de
elaboradas (Byrne, 2010; Hair et al., comportamentos desviantes foram dos
2009; Pilati & Laros, 2007). homens, algo que pode indicar que esse
Ademais, os resultados indicam grupo está mais predisposto ao
ser possível pensar em uma hierarquia envolvimento com pares desviantes e,
em que os valores não predizem consequentemente, adotar tais condutas
diretamente os comportamentos (Giordano & Cernovich, 1997; Van Lier
delitivos, mas sim exercem efeitos et al., 2005). Já com a variável idade,
indiretos sobre tais, cabendo-lhe o papel indica-se que os estudos que a utilizam
de preditor direto dos comportamentos são essencialmente longitudinais,
antissociais (Vasconcelos et al., 2008). possibilitando estimar de forma precisa

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Medeiros, Emerson Diógenes; Sá, Elba Celestina do Nascimento; Monteiro, Renan Pereira; Santos,
Walberto Silva; Gusmão, Estefânea Élida da Silva. Valores humanos, comportamentos antissociais e
delitivos: evidências de um modelo explicativo

a contribuição dessa variável nos Tais achados podem embasar


comportamentos desviantes (Bartusch et programas psicossociais direcionados a
al., 2006), objetivo que fugia ao escopo famílias e escolas, já que são as células
deste estudo. que funcionam como os primeiros
Apesar dos resultados espaços de socialização e, portanto, de
encontrados, cabe ressaltar que estes formação dos valores. Logo, torna-se
devem ser analisados com ressalvas. importante a promoção de valores
Entre as limitações desta pesquisa, é sociais, especificamente os normativos,
importante indicar o tipo de tendo em vista as relações negativas que
amostragem utilizada (por estabelecem com os comportamentos
conveniência), o que constitui como antissociais. Assim, a função básica de
uma restrição à generalização dos tais achados vem sendo a de oferecer
achados para além da amostra utilizada. uma orientação válida à importância da
Outra potencial limitação refere-se à manutenção e/ou estímulo a um melhor
desejabilidade social que afeta, comprometimento social, além de um
principalmente, temas polêmicos, como fundamento teórico que possa permear
parece ser a prática de comportamentos intervenções eficazes e coerentes com o
antissociais e delitivos, algo que pode fenômeno.
ter levado os participantes a mascarar
suas respostas, de modo a enfatizar seus Referências
aspectos mais positivos. Neste sentido,
em oportunidades futuras, pode-se Abrams, D., Palmer, S. B., Rutland, A.,
pensar em controlar esses vieses. Cameron, L., & Van de Vyver, J.
Além do que antes foi (2014). Evaluations of and
comentado sobre possibilidades futuras, reasoning about normative and
pode-se pensar em outros preditores, ou deviant ingroup and outgroup
mesmo na elaboração de um modelo members: Development of the
mais complexo, incluindo traços de black sheep effect. Developmental
personalidade e estilos parentais psychology, 50, 258-270.
(Laranjeira, 2007). Neste sentido, Ary, D. V., Duncan, T. E., Duncan, S.
avalia-se que os objetivos foram C., & Hops, H. (1999).
alcançados, comprovando-se a inter- Adolescent problem behavior:
relação entre valores e condutas The influence of parents and
antissociais e delitivas. peers. Behaviour Research and
Especificamente, foi verificado que os Therapy, 37, 217-230.
valores humanos não predizem Baker, L. A., Bezdjian, S., & Raine, A.
diretamente os comportamentos (2006). Behavioral genetics: the
delitivos, no entanto, possuem efeitos science of antisocial behavior.
indiretos sobre tais condutas ao se Law and Contemporary
incluir, no modelo, os comportamentos Problems, 69, 7-46.
antissociais. Possivelmente, a maior Bartusch, D. R. J., Lynam, D. R.,
contribuição do estudo será indicar a Moffitt, T. E., & Silva, P. A.
possibilidade de se pensar em um (2006). Is age important? Testing
modelo hierárquico de predição de a general versus a developmental
condutas delinquentes em que os theory of antisocial behavior.
valores têm efeito indireto, cabendo aos Criminology, 35, 13-48.
comportamentos antissociais o papel de Bordin, I. A. S., & Offord, D. R. (2000).
predizer diretamente. Transtorno da conduta e
comportamento antissocial.
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Recebido em 28/04/2015

Aprovado em 02/12/2016

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