pura e simples
A L I S T E R M C G R AT H
teologia
pura e simples
[ O lugar da mente na vida cristã ]
McGrath, Alister
Teologia pura e simples: o lugar da mente na vida cristã / Alister McGrath; tradução Meire
Portes Santos. — Viçosa, MG : Editora Ultimato, 2012.
Título original: Mere theology.
ISBN 978-85-7779-080-7
1. Teologia dogmática - Obras de divulgação
I. Título.
12-12349 CDD-230
Índices para catálogo sistemático:
1. Teologia dogmática cristã 230
Introdução 7
9. Criacionismo e evolução
segundo Agostinho de Hipona 139
Notas 187
introdução
A
teologia cristã é um dos mais empolgantes assuntos
possíveis de se estudar, sendo estimulador do inte-
lecto e rico em recursos para o ministério da Igreja e
a vida de fé. Este livro pode ser visto tanto como uma defesa
intelectual do lugar da teologia na vida cristã, quanto como um
apelo para que a Igreja Cristã leve o uso da mente a sério, prin-
cipalmente em vista dos debates públicos contemporâneos.
Este livro é sobre “teologia pura e simples”, uma frase que
tomei emprestada e adaptei, sem pudor algum, da famosa ideia
de C. S. Lewis em seu Cristianismo Puro e Simples.1 Por “teologia
pura e simples”, quero dizer os temas básicos que caracterizam,
8 teologia pura e simples
ALISTER E. MCGRATH
King’s College London
parte 1
o propósito, lugar e
relevância da teologia cristã
1.
A
fé, em sua base, é um assunto relacional; é sobre
confiar em Deus. Apesar disso, parte da dinâmica
mais íntima da vida de fé é o desejo de entender
mais a respeito de quem e em que nós confiamos. Anselmo
de Cantuária (c. 1033–1109) fez famosa observação de que a
teologia é, basicamente, “fé à procura de entendimento”. O
grande teólogo cristão Agostinho de Hipona (354–430) tam-
bém deixou claro que há uma genuína empolgação intelectual
em lutar junto com Deus. Teologia é uma paixão da mente,
um desejo de entender mais sobre a natureza e os caminhos de
Deus e o impacto transformador que isso tem na vida. Nossa
20 teologia pura e simples
A vitalidade da fé cristã está na empolgação e no completo prazer
intelectual causados pela pessoa de Jesus de Nazaré. Aqui está
alguém que a Igreja considera intelectualmente luminoso, espi-
ritualmente persuasivo e infinitamente suficiente, tanto pública
quanto individualmente. Os cristãos expressam esse deleite e
maravilha em seus credos, e o fazem de forma mais especial em
seu culto e adoração. Há séculos, Agostinho de Hipona refletiu
sobre como as comunidades eram unidas pelos objetos de seu
amor. A forma mais certa de aumentar a identidade, coerência
e coesão de uma comunidade é ajudá-la a ver com mais clareza
o que ela ama e, então, amá-lo com mais afeto.
Essa é a razão pela qual o culto é tão importante para a identi-
dade cristã. Ele focaliza nossa atenção no que realmente importa
e proclama que a fé cristã tem poder para capturar a imaginação
— não meramente persuadir a mente — por abrir as profundezas
da alma humana às realidades do evangelho. Ela sustenta uma
grande paixão por Jesus Cristo, a qual nutre o dever teológico,
mesmo quando este questiona sua capacidade de viver à altura
do esplendor de seu propósito principal.
O apelo da visão cristã de Jesus de Nazaré à imaginação e às
emoções dos discípulos nunca deve ser negligenciado ou menos-
prezado; porém, ainda assim, precisamos apreciar que a essência
intelectual da fé cristã permanece. Não podemos amar a Deus
sem querer entender mais a seu respeito. Nós somos chamados
a amar a Deus com nossa mente, bem como com nosso coração
e nossa alma (Mt 22.37). Não podemos permitir que Cristo
reine em nossos corações se ele não guiar nossos pensamentos
também. O discipulado da mente é tão importante quanto
qualquer outra parte do processo pelo qual nós crescemos na fé
e no compromisso.