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Estou em um velório. É o meu velório.

Mas estou nele como que no corpo de outra pessoa, vejo


tudo pelos olhos de outra pessoa; meu corpo está no caixão. As pessoas me cumprimentam
como eu sendo só mais um ali em meio a tantos. Eu não sinto tristeza, me vejo no caixão, mas
não sinto nenhuma emoção. Tento ver meu rosto, o rosto do corpo pelo qual vejo as coisas, em
uma porta de vidro, mas não consigo ver nada. Todos somem aos poucos; então começo a ouvir
vozes que cantam ladainhas daquelas de quando morre alguém. Vejo uma pessoa que não
mostra o rosto, sigo-a, mas não saio do lugar, está tudo cheio de plantas que grudam os pés.
Tenho que fazer esforço para sair do lugar. A pessoa que eu seguia aparece morta na minha
frente, no chão. Começa a aparecer pessoas chorando e colocando a culpa em mim. Mas eu sei
que não fiz nada. Eu fico com raiva.

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