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CANDIDO, Antonio. Na sala de aula: caderno de análise literária.

São Paulo: Ática,


1993.

PREFÁCIO

A obra já clássica de Antonio Candido (1993) é um dos principais ‘manuais’ –


se assim a pudermos chamar – para o ensino e aprendizado de literatura. Além de ter se
tornado esta espécie de manual, Na sala de aula é a reunião de diversas análises de
poemas feitas por Candido – a maioria – entre 1958 e 1960, quando ensinava literatura
brasileira na Faculdade de Filosofia de Assis. São análises que nos encaminham para
uma compreensão mais acertada sobre os métodos e modos de promover uma análise
coerente de textos literários.
Ao todo, são analisados seis poemas que, segundo Candido (1993), procuram
indicar aos estudantes e professores algumas possibilidades de trabalhar o texto poético,
“partindo da noção de que cada um requer tratamento adequado à sua natureza, embora
com base em pressupostos teóricos comuns” (CANDIDO, 1993, p.5).
A partir do encaminhamento, o autor considera, a princípio, um importante
pressuposto, o de conferir aos significados complexidade e oscilação, nas palavras de
Candido, “os significados são complexos e oscilantes” (CANDIDO, 1993, p.5). É por
esse motivo que o estudioso afirma ser imprescindível ao analistas considerar – sem
preconceitos, frita o autor – todos os dados úteis, “a fim de verificar como (para usar
palavras antigas) a matéria se torna forma e o significado nasce dos rumos que esta lhe
imprimir” (p.5).
Assim, aponta que:

(...) as análises focalizam os aspectos relevantes de cada poema: às


vezes a correlação dos segmentos, às vezes a função estrutural dos
dados biográficos, às vezes o ritmo, a oposição dos significados, o
vocabulário etc. Mas em todas elas está implícito o conceito básico de
estrutura como correlação sistemática das partes, e é visível o
interesse pelas tensões que a oscilação ou a oposição criam nas
palavras, entre as palavras e na estrutura, frequentemente com
estratificação de significados (CANDIDO, 1993, p.5).
Por estes princípios, Candido procura introduzir no leitor a condição de
considerar estes estudos como um “instrumento de trabalho”, isto porque contem textos
dependentes, ou seja, cuja análise deve ser compreendida “em correlação estreita com
os poemas” (p.6).
Outro importante encaminhamento de Candido se trata de uma espécie de
‘conselho’, ou de ‘método’ a priori, a saber: a leitura infatigável de todo o texto que for
analisado, conselho que empresta e cita da “velha explication de texte dos franceses”.
Assim, preconiza que “A multiplicação das leituras suscita intuições, que são o
combustível neste ofício” (p.6).
A perspectiva do crítico, então, perpassa por pontos fundamentais:
inicialmente, a apresentação de um instrumento de trabalho – a análise de poemas -; em
segundo lugar apresenta o pressuposto de que os “os significados são complexos e
oscilantes” (CANDIDO, 1993, p.5), uma vez que as análises devem focalizar aspectos
relevantes de cada poema, fator que altera e se movimenta de modo que cada análise e
cada abordagem de um texto poético pode alterar a maneira de entendê-lo; por fim, a
indicação preciosa, embora bastante simples, de que o principal método de toda análise
poética é a leitura infatigável do texto a ser analisado, o que chama de “a regra de ouro
do analista”.
Para Candido, seu método, seus pressupostos e suas análises são concebidas
como ‘artesanato’, ou, como o autor mesmo diz, “arte no velho sentido”, o que faz com
que o resultado e os próprios métodos dependam diretamente da personalidade do
artesão.

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