A primeira década do regime republicano é tida como uma das mais difíceis para a
política econômica. O fim da escravatura, a expressiva entrada de imigrantes, como
também a expansão das relações financeiras do país no exterior, foram fatores capazes
de transformar as decisões da política econômica. Além disso, essa primeira década foi
marcada por embates políticos entre as personalidades no poder, bem como levantes
sociais, tornando mais delicada a tarefa de gestão do país sob o sistema republicano.
As mudanças nas relações trabalhistas, provocadas pelo fim da escravatura,
causaram o aumento da demanda por moeda, uma vez que o trabalho passou a ser
assalariado. No fim do século
XIX o crescimento da participação no comércio internacional, passou-se a definir nossa
economia como aberta, mas mais expressiva que a relação comercial com o mercado,
era o aumento do estoque de capital estrangeiro no país incluindo investimentos de
países como Alemanha, França e Estados Unidos. A partir destes acontecimentos temos
os objetivos da política econômica, tanto monetária quanto cambial tiveram de ser
repensadas, já que o crescimento do consumo interno teria de estar associado a uma taxa
de câmbio favorável ao setor exportador – atividades com maior participação no PIB.
O primeiro problema advindo da disseminação do trabalho assalariado, pós
abolição, relatado pelo autor, consistiu na dificuldade dos bancos em realizar expansão
monetária através da oferta de crédito e isto se deveu a baixa propensão do público em
reter moeda sob forma de depósitos bancários. Como forma de aliviar as dificuldades de
liquidez, em junho de 1885 fora aprovada a emissão de 25 contos, medida esta que
pareceu aliviar as dificuldades de escasseamento do numerário nos bancos, mas este
efeito não se prolongou por mais de 2 anos, tornando a aumentar a taxa de juros e
dificultando mais uma vez o processo de expansão monetária.
Como forma de solucionar o problema da oferta de moeda pelos bancos, bem como
manter a taxa de câmbio favorável a economia, Ouro Preto em sua gestão propôs em
junho de 1889 a criação de uma linha de crédito ao segmento cafeicultor e também
retorno ao padrão ouro, criando o Banco Nacional do Brasil, órgão que seria
encarregado de emitir notas conversíveis e retirar de circulação as notas que estavam
sob o antigo sistema. O padrão ouro, no entanto não pôde ser sustentado, pois o banco
havia emitido mais notas do que seu fundo metálico e com isso o fim da emissão
conversível no final de 1889.
Rui Barbosa, o primeiro ministro da Fazenda da República, enxergou a iliquidez
como um fator associado a concentração de moeda em determinadas regiões e como
solução propôs uma lei que estabelecia emissões bancárias a serem realizados com
lastro em títulos públicos, ou seja, não conversíveis em ouro. A desistência da emissão
de notas conversíveis tornou possível mais que dobrar a quantidade de papel-moeda em
circulação. Outra medida tomada por Rui Barbosa foi a regionalização da emissão
monetária transferindo permissões emissoras a outros bancos além Banco dos Estados
Unidos do Brasil, segundo Gustavo H. B. Franco: “o ministro Rui Barbosa patrocinaria
uma rápida e violenta expansão monetária. Em setembro de 1890, o papel-moeda
emitido já havia crescido cerca de 40% em relação ao estoque em 17 de janeiro”.
No entanto, essa expansão monetária, que a princípio deveria ter efeito no lado
produtivo da economia, estimulou a especulação na bolsa de Santos, o que começou a
causar preocupação por parte do governo, que por sua vez, como forma de deter tal
problema, patrocinou a fusão entre grandes bancos, como entre Banco dos Estados
Unidos do Brasil (BEUB) e Banco Nacional do Brasil (BNB), que resultou o Banco da
República dos Estados Unidos do Brasil (BREUB) em 7 de dezembro de 1890. Este
banco teria as atribuições de regulação do volume crédito, como também seria dotado a
faculdade emissora voltando a centralizar o poder de emissão em uma só instituição.
Em 1891 Rui Barbosa deixa a pasta da Fazenda, substituído por Araripe, seguido
pelo Barão de Lucena, neste período o Brasil enfrenta espantoso aumento da oferta de
moeda causando queda da taxa de câmbio, que por sua vez, também associada a fatores
exógenos. Tais acontecimentos acarretam na dissolução do congresso e ascensão de
Floriano Peixoto ao governo cujos objetivos econômicos seguiram a mesma linha do
pensamento de Rui Barbosa, estabelecer uma instituição bancária líder com vistas a
reduzir os efeitos da especulação financeira sobre a economia, como também apoiar o
crescimento do setor industrial e reduzir os excessos causados pelo encilhamento. Estes
objetivos se concretizaram com fusão de dois outros bancos já existentes, para a
formação do Banco da República do Brasil (BRB).
A partir de 1984, com Prudente de Morais na Presidência da República e Rodrigues
Alves na fazenda o país buscou insistentemente pela obtenção de empréstimos junto a
bancos estrangeiros com a principal finalidade de redução da taxa de câmbio e controle
das contas externas do país que haviam sido abaladas pela queda dos preços do café que
veio acompanhada pela superprodução em função das grandes safras entre 1896 e 1897.
Mas em 1898, após apresentada uma proposta de moratória o país consegue o
refinanciamento da dívida - funding loan – acordado entre o governo Brasileiro e a Casa
Rothschild. Tratou-se de um acordo pautado pela manutenção de compromissos
externos do governo, apresentação de garantias e medidas de melhorias nos sistemas
fiscal e monetário. O principal objetivo das políticas implantadas para a execução das
melhorias exigidas, era a redução do papel-moeda em circulação, que por sua vez,
gradualmente desfez a impressão de abundância de capitais e dessa forma desincentivou
a produção excessiva de café desarticulando assim o estabelecimento de indústrias
artificiais em torno deste setor.
Tais medidas permitiram uma apreciação da taxa de câmbio que fora potencializada
pelo aumento das exportações em 1899, com substancial participação da borracha.
Gustavo H. B. Franco finaliza seu texto afirmando que ao longo dos anos 90 e para
além deste, um fenômeno que viria a se repetir é o fato de que as crises ou melhoras
cambiais seriam marcadas não pelos efeitos das políticas macroeconômicas, mas sim de
acordo com a percepção dos banqueiros internacionais tinham sobre estas políticas, pois
essa percepção era fundamental para o fluxo de capital internacional para o Brasil.
Referências bibliográficas:
Site: http://www.economia.puc-rio.br/gfranco