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Stuart Hall
Carlos Orellana
Hall como Barthes faz uma análise detalhista das imagens midiáticas, fotografias, publicidades,
anúncios que apresentam o diferente, e percebe os discursos que compõem esse lugar do
diferente na mídia e cultura popular.
Heróis ou Vilões?
Neste ponto o autor tenta desvendar as condições pelas quais o diferente, principalmente, o
negro se constitui figura do imaginário popular. Aqui ele comenta como o negro atleta apareceu
na capa da cobertura especial dos Jogos Olímpicos de 1988 da revista Sunday Times é a foto da
competição dos cem metros na final desse evento esportivo. A fotografia na verdade é um trailer
para a reportagem da revista sobre a ameaça de dopping em atletas internacionais. Ben Johnson
foi desqualificado devido ao uso de substâncias proibidas e a medalha de ouro foi dada a Carl
Lewis (o segundo colocado). Johnson foi expulso do mundo esportivo em desgraça. A
reportagem sugere que todos os atletas (negros e brancos) são potencialmente heróis e vilões.
Mas essa imagem personifica um caso especial. Ele era ao mesmo tempo herói e vilão. Ele
encapsula as alternativas extremas do heroísmo e da vilania no mundo esportivo.
De acordo com Hall, há muitos pontos para fazer sobre os modos como representação da ‘raça’
e ‘alteridade’ é construída na fotografia. Essa fotografia também funciona no nível do mito. Há
um nível denotativo do significado (é a fotografia da final dos cem metros e a figura na frente é
Bem Johnson. No nível conotativo ou temático - a questão das drogas – e com isso há os temas
paralelos da ‘raça’ e da ‘ diferença’. Muitos significados estão presentes na fotografia. Mas não
há nenhum significado verdadeiro. O significado flutua.
Então, quais são os significados que a revista privilegia? Barthes argumenta que,
frequentemente, é a legenda que um dos muitos significados possíveis da imagem, e ancora com
as palavras. O significado da fotografia está na conjunção de imagem e texto. Os dois discursos
(escrito e da fotografia) são necessários para produzir e ‘consertar’ o significado.
A diferença significa. Ela fala. A diferença ou a alteridade é interpretada como uma constante e
uma preocupação recorrente de interpretar as pessoas que são etnicamente diferentes da maioria
da população.
Questões sobre a diferença têm emergido nos estudos culturais nas décadas recentes e tem se
posicionado de diferentes maneiras por diferentes disciplinas. A primeira perspectiva vem da
Linguista (associada à perspectiva de Saussure). O principal argumento usado pela Linguística é
que a diferença importa, pois ela é essencial ao significado; sem ela, o significado não pode
existir. Nós podemos contrastar alguma coisa com seu oposto. Portanto, o significado é
relacional.
Desse modo, Derrida argumenta que há poucas oposições binárias neutras. Um dos polos do par
é geralmente o dominante. Há sempre uma relação de poder entre as oposições binárias.
Após apresentar as quatro perspectivas teóricas que fundamentam o outro e o diferente. Hall
apresenta os três principais momentos do Ocidente de compreensão do negro. O primeiro
momento identificado por Hall é o século XVI quando os comerciantes europeus e os reinos
africanos ocidentais proveram escravos negros por três séculos. O segundo foi de colonização
europeia da África. Esse período é do controle colonial do território africano. A última fase
relatada por Hall foi do pós Segunda Guerra Mundial quando intensificaram os fluxos
populacionais do ‘Terceiro Mundo’ em direção a Europa e América do Norte.
Hall a partir de agora revela as imagens europeias em relação à África era ambígua, isto é, ao
mesmo tempo um lugar misterioso, e com uma imagem positiva relacionada à igreja cristã
coopta e santos medievais. Gradualmente, essa imagem mudou, passando a ser identificada com
a natureza. Desse modo, eles (os grupos negros africanos) eram simbolizados como primitivos
em contraste com o mundo civilizado. O Iluminismo pensou a África como a fonte de tudo que
era monstruoso na natureza.
McClintock argumenta que a racialização das publicidades (racismo como commodity) serviu
para tornar os lares da classe média vitorianas como modelos do espetáculo imperial, ou seja,
reinventa o conceito de raça, enquanto os colonizados (em particular os africanos) tornaram-se o
teatro para exibição do culto vitoriano da domesticação.
Segundo Hall, a teoria racial aplica uma distinção entre cultura/natureza diferentemente para
grupos distintos. Há uma poderosa oposição entre civilização (branco) e a selvageria (negro). O
discurso racista relaciona a representação da diferença através do corpo que se tornou o lugar
discursivo do conhecimento produzido e circulado do racismo.
A partir dos anos de 1950 que o problema da raça aparece cautelosamente sob a perspectiva
liberal branca. A figura chave dessa fase é o ator Sidney Poitier considerado o heroi da era da
integração.
Um movimento mais ambíguo da ‘revolução’ negra deu-se nas décadas de 1980 e 1990 que
aconteceu com o fim do sonho integracionista do movimento dos direitos civis, a expansão de
guetos negros, o crescimento de uma pobreza endêmica, criminalização. Apesar disso, esse
período veio acompanhado de um de crescimento da autoconfiança e na insistência do respeito
pela identidade cultural negra.
Nesse ponto Hall articula os conceitos que vão constituir o estereótipo. Estereotipar reduz as
pessoas a poucas, simples e essenciais características que são representadas como fixadas pela
natureza. Hall examina quatro desses aspectos de construção do estereótipo: a construção da
alteridade e a exclusão; estereotipo e poder; papel da fantasia e fetichismo.
Nesse sentido vimos o estereótipo como uma prática representacional e de como ela funciona
(essencialização, reducionismo, oposições binárias) e os modos que acontecem
(hegemonia/poder/conhecimento) e mais profundamente os efeitos inconscientes (fantasia e
fetichismo).