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Conto

O Don Sensato

Estava ele em seu quarto e pensativo enquanto ouvia ao longe o som de vozes e
risos que vinha da pequena praça próxima da sua residência... Foi o que o fez desperta
para a sua dramática realidade.
Filipe era um jovem bem apessoado e eloquente que vivia em uma cidade como
muitas outras, cheios de problemas, mas que também tinha sua beleza, onde muitos
estrangeiros e moradores locais se orgulhavam em viver, porém a cidade também estava
vivendo em um momento de muitas mudanças importantes.
Crescera em uma família tradicional com descendência espanhola, de bons
princípios, religiosos e de classe alta. Era o terceiro de três irmãos, uma menina e outro
menino, sendo ele o caçula, muito observador e independente. Seu pai sempre era muito
exigente e o incentiva em seus estudos, aos dezessete anos entrara na universidade, onde
dedicou-se grande parte de sua juventude.
Desde de criança era muito curioso, e já aspirava grandes ambições na vida,
mesmo que muitas vezes parecessem sonhos sem pé e cabeça!
Filipe tinha um grande desejo de ajudar as pessoas, talvez por que desde criança
observara sua família e as pessoas da sua cidade, apesar de não entender muito bem, via
seus conflitos e tinha ilusões de que talvez seus conhecimentos trariam soluções para
muitos problemas. Não entendia por que as pessoas boas sofriam e começava a
questionar os desígnios de Deus.
Com o passar do tempo o jovem Felipe formou-se na Universidade e se tornou um
grande economista e empresário na área alimentícia, casa-se com uma bela mulher e
tem sete filhos.
Felipe, agora um senhor respeitado e muitos o chamava de Don pelo seu porte e
descendência espanhola, se sentia realizado por ter uma família grande e estabilidade
financeira. Tinha uma vida planejada, com regras e muita disciplina.
Um certo dia Felipe recebe uma notícia trágica, sua bela esposa estava muito
doente e tinha pouco tempo de vida...isso fez com que toda sua família sofresse
demasiado!
Passando o tempo, Filipe já não muito religioso, porém se atreve a recorrer à fé na
esperança de que as coisas pudessem mudar com o milagre de que sua esposa
sobrevivesse, pois já havia usado todo o recurso financeiro para que a medicina o
ajudasse. Mas, infelizmente o dia chegou e o que era provável se confirmou, sua esposa
falece.
Apesar da vida de regalos, não fazia dele uma pessoa feliz. Aos 38 anos vivia uma
vida sempre entediado. A vida de seus filhos enfrentava muitos conflitos, ele começa a
se fechar em sua dor ocupando-se em muitas horas de trabalho, tentando preencher sua
carência, se torna um homem amargo e infeliz sem perceber que seus filhos também
estavam sofrendo. Vem a sua mente aquele jovem sonhador que era, onde esperava
resolver os problemas do mundo, mas se frustra e tudo o que acreditava vem abaixo por
seus próprios problemas. Agora um cético que acreditava apenas em coisas palpáveis.
Há passado 1 ano desde a morte da sua esposa e Felipe tenta contratar uma babá
para ajuda-lo com os seus sete filhos, porém não tinha muito sucesso, pois seus filhos
sabotavam todas as tentativas.
Então um dia chega Ana, dançarina de Poli dance do tipo romântica e livre que
vivia com sua amiga, ambas sofreram pela perda de sua casa que pegou fogo devido um
curto circuito causado pelo temporal, fazendo com que Ana corra atrás de mais um
trabalho para a ajudar à reconstruir sua vida. Então Ana e sua amiga procuram por uma
agência de emprego e desesperadas por conseguir emprego acrescenta algumas
qualificações que não possuem, para melhorar o currículo e por engano a agência acaba
fazendo confusão com os currículos e Ana é chamada para trabalhar justamente na casa
de Filipe para cuidar de seus sete filhos.
Ao chegar na casa, Ana fica encantada com a residência e com um jeito todo
desajeitado e rude conhece o Don Felipe, o mesmo fica desconcertado! Ao entrevista-la
fica surpreendido por seu comportamento um tanto pitoresco, pois Felipe buscava
alguém com formação qualificada, centrada para educar seus filhos. Ana é apresentada
às crianças, as quais a recebem com certa hostilidade e desconfiança fazendo-a entender
que teria um grande desafio para permanecer no trabalho.
Diante de tantas travessuras, a indiferença e a falta de tempo de Don Felipe, Ana
não se rende e acaba conquistando a todos com sua simpatia e jeito um tanto folclórico.
Don Felipe pouco a pouco acaba mudando sua atitude, dando mais atenção aos
seus filhos e acabada se apaixonando por Ana, recuperando as ganas de viver!
No entanto não foi nada fácil, pois com todas as suas regras de toda vida onde a
ordem e progresso era o seu lema não tinha muito espaço para comunicação entre os
seus filhos e se sensibilizar diante das suas necessidades. Ana com todo sua
simplicidade e alegria ensinava grandes lições, e no fundo via que dentro daquele
homem que se fazia muito sensato com sua disciplina e regras conservadoras, o Don
gelo como ela mesma o chamava tinha um bom coração e que era capaz de demonstrar
muito amor.
Entretanto, Ana escondia um segredo importante, que ainda era dançarina em uma
boate de péssima reputação, onde tinha um contrato que teria que cumprir para pagar
suas dívidas com o dono do estabelecimento, um homem de mal caráter que a
ameaçava. Ana saia às noites sempre com uma desculpa para que Don Felipe não
desconfiasse, mas se sentia muito mal por escondê-lo.
Ana tinha muito medo, porque Don Felipe era um homem muito conservador e
não suportaria essa mentira, não queria perder sua nova família.
Uma alerta anônima chega ao conhecimento de Don Felipe, fazendo com que ele
vá à boate e acaba descobrindo a vida dupla de Ana. Então a decepção, a tristeza, a dor
novamente chega a vida de Don Felipe.
Mas, Felipe sim havia entendido que não poderia renunciar sua verdadeira
felicidade e que apesar de todo o seu conhecimento, seus bens materiais o mais
importante era o amor de sua família e Ana havia trazido de volta à sua vida a fé e o
amor.
No dia mais feliz de sua vida, seu casamento com Ana, Don sensato Felipe diz: -
“Superiores pelo amor, mais dispostas a subordinar a inteligência e a atividade ao
sentimento, as mulheres constituem espontaneamente seres intermediários entre a
Humanidade e os homens.”
E assim o Don sensato abre mão de si mesmo para ser feliz e ser a pequena
mudança o que o mundo tanto necessita.

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