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Comte: Vida e Obra (Os Pensadores)

Posted on 18 de outubro de 2014 by Rolf Amaro


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Auguste Comte nasceu em Montpellier, França, a 19 de janeiro de 1798. Suas relações


com a família foram tempestuosas. Comte acusava os familiares de avareza, culpando-
os por sua precária situação econômica.

O pai e a irmã, ambos de saúde muito frágil, reclamavam maior participação de Auguste
em seus problemas. A mãe apegou-se a ele de forma extremada.

Aos dezesseis anos, em 1814, Comte ingressou na Escola Politécnica de Paris, onde
recebeu a influência do trabalho de cientistas como o físico Sadi Carnot (1796-1832), o
astrônomo Pierre Simon de Laplace (1749-1827) e do matemático Lagrange (1736-
1813). O fator mais decisivo para sua formação foi o estudo do Esboço de um Quadro
Histórico dos Progressos do Espírito Humano, de Condorcet (1743-1794), que traça
um quadro do desenvolvimento da humanidade, no qual a ciência e a tecnologia
permitiam ao homem caminhar para uma era em que a organização social e política
seria produto da razão.

O FILÓSOFO E SUA MUSA Em 1817, Comte tornou-se secretário de Saint-Simon


(1760-1825), do qual receberia profunda influência. Ele e Saint-Simon eram de
temperamentos muito diversos. O conflito culminou com a publicação do Plano de
Trabalhos Científicos Necessários à Reorganização da Sociedade, escrito por Comte e
do qual Saint-Simon discordou. A separação entre os dois ocorreu em 1824. No mesmo
ano, Comte casou-se com Caroline Massin e passou a dar aulas particulares de
matemática. Dois anos depois, iniciou em sua própria casa um curso, do qual resultou a
obra Curso de Filosofia Positiva, em seis volumes. As relações com a esposa pioraram
até a completa separação em 1842. Dois anos depois, Comte publicou o Discurso sobre
o Espírito Positivo.

Em 1844, conheceu Clotilde de Vaux, por quem apaixonou-se perdidamente. Após a


morte de Clotilde, um ano depois, Comte transformou-a no gênio inspirador de uma
nova religião, cujas ideias se encontram em Política Positiva ou Tratado de Sociologia
Instituindo a Religião da Humanidade. Além dessa obra, Comte publicou, em 1852, o
Catecismo Positivista ou Exposição Sumária da Religião Universal.

Os últimos anos da vida de Comte transcorreram em grande desencanto, sobretudo por


ter sido abandonado pelo discípulo Émile Littré, que não concordava com a ideia de
uma nova religião. Faleceu no dia 5 de setembro de 1857.

OS TRÊS TEMAS BASICOS O núcleo da filosofia de Comte radica na ideia de que a


sociedade só pode ser convenientemente reorganizada através de uma reforma
intelectual do homem. Por essa razão, o sistema comteano estruturou-se em torno de
três temas básicos. Em primeiro lugar, uma filosofia da história com o objetivo de
mostrar as razões pelas quais a filosofia positiva deve imperar entre os homens. Em
segundo lugar, uma fundamentação e classificação das ciências. Finalmente, uma
sociologia que permitisse a reforma prática das instituições. A esse sistema deve-se
acrescentar a forma religiosa assumida pelo plano de renovação social.

O PROGRESSO DO ESPÍRITO A filosofia da história pode ser sintetizada na lei dos


três estados: todas as ciências e o espírito humano desenvolvem-se através de três fases
distintas; a teológica, a metafísica e a positiva.

No estado teológico, diante da diversidade da natureza, o homem só consegue explicá-la


mediante a crença na intervenção de seres pessoais e sobrenaturais. Para além disso, o
homem não coloca qualquer problema, sentindo-se satisfeito na medida em que a
possibilidade de recorrer à intervenção das divindades fornece um quadro para
compreensão dos fenômenos que ocorrem ao seu redor. Confiando em poderes
imutáveis, fundados na autoridade, essa mentalidade teria como forma política
correspondente a monarquia aliada ao militarismo.

O estado metafísico, diferentemente do teológico, coloca o abstrato no lugar do concreto


e a argumentação no lugar da imaginação. A argumentação, invadindo o campo das
ideias teológicas, traria à luz suas contradições e substituiria a vontade divina por
“ideias” ou “forças”. Com isso, a metafísica destruiria a ideia teológica de subordinação
da natureza e do homem ao sobrenatural. Na esfera política, o espírito metafísico
corresponderia a uma substituição dos reis pelos juristas.

O PENSAMENTO POSITIVO O estado positivo caracteriza-se pela subordinação da


imaginação e da argumentação à observação. A visão positiva dos fatos abandona a
consideração das causas dos fenômenos (procedimento teológico ou metafísico) e torna-
se pesquisa de suas leis. A união entre a teoria e a prática seria maior no estado positivo
do que nos anteriores, pois o conhecimento das relações constantes entre os fenômenos
torna possível determinar seu futuro desenvolvimento. O estágio positivo do espírito
humano marcaria a passagem do poder espiritual para as mãos dos sábios e cientistas e
do poder material para o controle dos industriais.
DO SIMPLES AO COMPLEXO Segundo Comte, as ciências classificam-se de
acordo com a maior ou menor simplicidade de seus objetos respectivos. A
complexidade crescente começaria com as matemáticas, que possuem o maior grau de
generalidade e estudam a realidade mais simples e indeterminada. A astronomia
acrescenta a força ao puramente quantitativo, estudando as massas dotadas de forças de
atração. A física soma a qualidade ao quantitativo e às forças, ocupando-se do calor, da
luz etc.. A química trata de matérias qualitativamente distintas. A biologia ocupa-se dos
fenômenos vitais, nos quais a matéria bruta é enriquecida pela organização.

A totalização do saber somente poderia ser alcançada através da sociologia, que,


entendida por Comte, inclui psicologia, economia política, ética e a filosofia da história.
Os objetos das ciências sociais não devem ser tratados independentemente do curso de
desenvolvimento revelado pela história. Aspecto fundamental da sociologia comteana é
a distinção entre a estática e a dinâmica sociais. A primeira estudaria as condições
constantes da sociedade (ordem); a segunda investigaria as leis de seu desenvolvimento
(progresso).

UMA NOVA RELIGIÃO Para Comte, a Revolução Francesa destruiu as instituições


sociais do homem europeu e impunha-se estabelecer uma nova ordem. Os anseios de
reforma intelectual e social de Comte envolveu também a formulação de uma religião
da humanidade. Formulou um novo calendário, cujos meses receberam nomes de
grandes figuras da história do pensamento, como Descartes; tinha também seus dias
santos, nos quais se deveriam comemorar as obras de Dante, Shakespeare, e outros.
Redigiu ainda um novo catecismo, cuja ideia central era a substituição do Deus pela
Humanidade.

O POSITIVISMO NO BRASIL O positivismo de Auguste Comte exerceu larga


influência nos mais variados círculos, incorporou-se a correntes análogas, que
procuraram valorizar as ciências naturais e suas aplicações práticas. Entre os mais fiéis
seguidores de Comte destaca-se o lexicógrafo Émile Littré. Na Inglaterra, o positivismo
de Comte teve, entre seus propagadores, o filósofo John Stuart Mill.

As primeiras manifestações do positivismo no Brasil datam de 1850, quando Manuel


Joaquim Pereira de Sá apresentou tese de doutoramento em ciências físicas e naturais,
na Escola Militar do Rio de Janeiro. Em 1876, fundou-se a primeira sociedade
positivista do Brasil, tendo à frente Teixeira Mendes, Miguel Lemos e Benjamin
Constant (1836-1891). No ano seguinte, os dois primeiros viajaram para Paris, onde
conheceram Émile Littré e Pierre Laffite.

De volta ao Brasil, Miguel Lemos fundou a Sociedade Positivista do Rio de Janeiro,


que constitui a origem do Apostolado Positivista do Brasil e da Igreja Positivista do
Brasil, cuja finalidade era “formar crentes e modificar a opinião por meio de
intervenções oportunas nos negócios públicos”. Entre essas intervenções, foi importante
a participação dos positivistas no movimento republicano. Influíram na Constituição de
1891 e a bandeira brasileira passou a ostentar o lema comteano “ordem e progresso”.
No século XX, o entusiasmo pelo positivismo religioso decresceu consideravelmente,
mas continuou a existir a Igreja Positivista do Brasil, no Rio de Janeiro.

Bibliografia:
COMTE, Auguste. Vida e obra. São Paulo: Abril Cultural (Col. Os Pensadores), 1978.

Rolf Amaro

Nascido em 83, formado em Ciências Sociais, músico, sempre ando com um livro na
mão. E a Ana,minha senhora, na outra.

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Direito Tocqueville Tom Bottomore Uma Breve História do Brasil Vigiar e Punir Vilfredo Pareto

Vida e obra de Auguste Comte


Páginas: 16 (3921 palavras) Publicado: 5 de maio de 2014
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA I
DESENHO INDUSTRIAL - HABILITAÇÃO EM PROJETO DE PRODUTO

VIDA E OBRA DE AUGUSTE COMTE

Salvador
2012
2

VIDA E OBRA DE AUGUSTE COMTE

Trabalho da disciplina Introdução à


Sociologia do curso de Desenho Industrial
da Universidade do Estado da Bahia
requisitado pela professora Sueli Mota

Salvador
2012
3

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO..........................................................................................................4

2. DESENVOLVIMENTO..............................................................................................5
Biografia

.............................................................................................................5

Obra..........................................................................................................................8
Comte e a Sociologia

3. CONCLUSÃO

.......................................................................................13

.................................................................................................16

4.REFERÊNCIAS......................................................................................................17
4

INTRODUÇÃO
Auguste Comte foi um filósofo francês que viveu entre os anos de 1798 a 1857.
Teve uma grande importância histórica por ter fundado o que viria a ser a sociologia
moderna. Criador do positivismo, sistema que teve uma grande difusão na segunda
metade do século dezenove. Este presente trabalho faz um breveapanhado da vida
de Auguste Comte e da influência do positivismo e de suas principais obras.

Biografia

O filósofo Auguste Comte foi o fundador do Positivismo, um sistema filosófico e


político que foi muito difundido na segunda metade do século dezenove. Nasceu em
Montpellier, no dia 20 de Janeiro de 1798. A relação com a família sempre foi
conflituosa, o que teria influenciado odirecionamento que deu a algumas de suas
obras. Tendo sido um brilhante aluno na escola, em 1814, Comte ingressou na
Escola Politécnica de Paris, o que viria a ter grande influência sobre o seu
pensamento. Fundada em 1794, a Escola Politécnica era filha da Revolução
Francesa e da Revolução Industrial. Em 1816, os Bourbons, restaurados ao poder na
França, fecharam a escola e os alunos foramdispensados. No período em que ficou
em Paris, comte sofreu a influência dos “ideólogos” Destutt de Tracy (1754-1836),
Cabanis (1757-1808) e Volney (1757 -1820). Porém, foi o estudo do Esboço de um
Quadro Histórico dos Progressos do Espírito Humano, de Condorcet (1743-1794),
que constituiu o principal fator da sua formação. A obra de Condorcet fala sobre a
influência das descobertas científicas nasociedade, o que viria a ser uma das idéias
fundamentais de Comte. Em 1817, conheceu Henri de Saint-Simon (1760-1825), que
o nomeou seu secretário. Iniciado na política, Comte publicou inúmeros artigos. Em
Abril de 1854, por causa de diferenças de temperamento e idéias, Comte rompeu
com Saint-Simon. O rompimento ocorreu quando Comte começou a sentir-se

independente do mestre, discordandode suas idéias sobre as relações entre a ciência e


a reorganização da sociedade. Ele não aceitava o fato de Saint-Simon, nesse período,
decidir dedicar-se a tarefas práticas no sentido de formar uma nova elite industrial e
científica, que teria como alvo a reforma da ordem social, deixando de lado seus planos
de reforma teórica do conhecimento.

Biografia
Aos dezesseis anos de idade, em 1814, com interesses pelas ciências naturais,
conjugado às questões históricas e sociais, ingressou na Escola Politécnica de Paris. No
período de 1817-1824 foi secretário do conde Henri de Saint-Simon, expoente do
socialismo utópico. São dessa época algumas fórmulas fundamentais: "Tudo é relativo,
eis o único princípio absoluto" (1819) e "Todas as concepções humanas passam por três
estágios sucessivos - teológico, metafísico e positivo -, com uma velocidade
proporcional à velocidade dos fenômenos correspondentes" (1822) "lei dos três
estados".

Rompeu com Saint-Simon ao discordar das ideias deste sobre as relações entre a ciência
e a reorganização da sociedade. Comte estava convicto que o mestre priorizava auxílio à
elite industrial e científica do período com sacrifício da reforma teórica do
conhecimento.

Sofreu um colapso nervoso enquanto trabalhava na criação de uma filosofia positiva em


1826, supostamente desencadeado por "problemas conjugais". Recuperado, iniciou a
redação de Curso de filosofia positiva (renomeado para Sistema de filosofia positiva em
1848), trabalho que lhe tomou 22 anos.[1]đ

Acabou perdendo o emprego de examinador de admissão à Escola Politécnica por


criticar a corporação universitária francesa. Começou a ser ajudado por admiradores,
como o pensador inglês John Stuart Mill (1806-1873). No mesmo ano separou-se de
Caroline Massin, após 17 anos de casamento. Em 1845 apaixonou-se por Clotilde de
Vaux, que morreria no ano seguinte por tuberculose.

Redigiu o Sistema de política positiva entre 1851 e 1854, no qual expôs algumas das
principais consequências de sua concepção de mundo não-teológica e não-metafisica,
propondo uma interpretação pura e plenamente humana para a sociedade e sugerindo
soluções para os problemas sociais; no volume final da obra apresentou as instituições
principais de sua Religião da Humanidade.

Publicou o primeiro volume de Síntese Subjetiva em 1856, projetada para abarcar quatro
volumes, cada um a tratar de questões específicas das sociedades humanas: lógica,
indústria, pedagogias e psicologias. Não pôde concluir a obra ao falecer, possivelmente
de câncer, em 5 de setembro de 1857, em Paris. Sua última casa, na rua Monsieur-le-
Prince, n. 10, foi posteriormente adquirida por positivistas e transformada no Museu
Casa de Auguste Comte. Encontra-se sepultado no Cemitério do Père-Lachaise em Paris
na França.[2]

Comte era ateu.[3][4][5][6]

Teorias
Ver artigo principal: Positivismo e Sociologia

Filosofia positiva

A filosofia positiva de Comte nega que a explicação dos fenômenos naturais, assim
como sociais, provenha de um só princípio. A visão positiva dos fatos abandona a
consideração das causas dos fenômenos (Deus ou natureza) e pesquisa suas leis, vistas
como relações abstratas e constantes entre fenômenos observáveis.

Adotando os critérios histórico e sistemático, outras ciências abstratas antes da


Sociologia, segundo Comte, atingiram a positividade: a Matemática, a Astronomia, a
Física, a Química e a Biologia. Assim como nessas ciências, em sua nova ciência
inicialmente chamada de física social e posteriormente Sociologia, Comte usaria a
observação, a experimentação, da comparação e a classificação como métodos -
resumidas na filiação histórica - para a compreensão (isto é, para conhecimento) da
realidade social. Comte afirmou que os fenômenos sociais podem e devem ser
percebidos como os outros fenômenos da natureza, ou seja, como obedecendo as leis
gerais; entretanto, sempre insistiu e argumentou que isso não equivale a reduzir os
fenômenos sociais a outros fenômenos naturais (isso seria cometer o erro teórico e
epistemológico do materialismo): a fundação da Sociologia implica que os fenômenos
sociais são um tipo específico de realidade teórica e que devem ser explicados em
termos sociais.

Em 1852 Comte instituiu uma sétima ciência, a Moral, cujo âmbito de pesquisa é a
constituição psicológica do indivíduo e suas interações sociais.

Pode-se dizer que o conhecimento positivo busca "ver para prever, a fim de prover" - ou
seja: conhecer a realidade para saber o que acontecerá a partir de nossas ações, para que
o ser humano possa melhorar sua realidade. Dessa forma, a previsão científica
caracteriza o pensamento positivo.

O espírito positivo, segundo Comte, tem a ciência como investigação do real. No social
e no político, o espírito positivo passaria o poder espiritual para o controle dos
"filósofos positivos", cujo poder é, nos termos comtianos, exclusivamente baseado nas
opiniões e no aconselhamento, constituindo a sociedade civil e afastando-se a ação
política prática desse poder espiritual - o que afasta o risco de tecnocracia (chamada,
nos termos comtianos, de "pedantocracia").

O método positivo, em termos gerais, caracteriza-se pela observação. Entretanto, deve-


se perceber que cada ciência, ou melhor, cada tipo de fenômeno tem suas
particularidades, de modo que o método específico de observação para cada fenômeno
será diferente. Além disso, a observação conjuga-se com a imaginação: ambas fazem
parte da compreensão da realidade e são igualmente importantes, mas a relação entre
ambas muda quando se passa da teologia para a positividade. Assim, para Comte, não é
possível fazer ciência (ou arte, ou ações práticas, ou até mesmo amar!) sem a
imaginação, isto é, sem uma ativa participação da subjetividade individual e por assim
dizer coletiva: o importante é que essa subjetividade seja a todo instante confrontada
com a realidade, isto é, com a objetividade.

Dessa forma, para Comte há um método geral para a ciência (observação subordinando
a imaginação), mas não um método único para todas as ciências; além disso, a
compreensão da realidade lida sempre com uma relação contínua entre o abstrato e o
concreto, entre o objetivo e o subjetivo. As conclusões epistemológicas a que Comte
chega, segundo ele, só são possíveis com o estudo da Humanidade como um todo, o que
implica a fundação da Sociologia, que, para ele, é necessariamente histórica.

Além da realidade, outros princípios caracterizam o Positivismo: o relativismo, o


espírito de conjunto (hoje em dia também chamado de "holismo") e a preocupação com
o bem público (coletivo e individual). Na verdade, na obra "Apelo aos conservadores",
Comte apresenta sete definições para o termo "positivo": real, útil, certo, preciso,
relativo, orgânico e simpático.

"A gênese do Positivismo ocorreu no século XIX, num momento de transformações


sociais e econômicas, políticas e ideológicas, tecnológicas e científicas profundas
decorrentes da consolidação do capitalismo, enquanto modo de produção, através da
propagação das atividades industriais na Europa e outras regiões do mundo. Portanto, o
“século de Comte” e sua amada França mergulharam de corpo e alma numa “deusa”
chamada razão, colocando sua fé numa “Nova Religião”, caracterizada pela junção
entre a ciência e a tecnologia, tidas como a panacéia da humanidade, no contexto da
expansão, pelo Globo, do Capitalismo Industrial." (VALENTIM 2010).

Lei dos três Estados

O alicerce fundamental da obra comtiana é, indiscutivelmente, a "Lei dos Três Estados",


tendo como precursores nessa ideia seminal os pensadores Condorcet e, antes dele,
Turgot.

Segundo o marquês de Condorcet, a humanidade avança de uma época bárbara e mística


para outra civilizada e esclarecida, em melhoramentos contínuos e, em princípio,
infindáveis - sendo essa marcha o que explicaria a marcha da história.

A partir da percepção do progresso humano, Comte formulou a Lei dos Três Estados.
Observando a evolução das concepções intelectuais da humanidade, Comte percebeu
que essa evolução passa por três estados teóricos diferentes: o estado 'teológico' ou
'fictício', o estado 'metafísico' ou 'abstrato' e o estado 'científico' ou 'positivo', em que:

 No primeiro, os fatos observados são explicados pelo sobrenatural, por entidades


cuja vontade arbitrária comanda a realidade. Assim, busca-se o absoluto e as
causas primeiras e finais ("de onde vim? Para onde vou?"). A fase teológica tem
várias subfases: o fetichismo, o politeísmo e o monoteísmo.[carece de fontes]
 No segundo, já se passa a pesquisar diretamente a realidade, mas ainda há a
presença do sobrenatural, de modo que a metafísica é uma transição entre a
teologia e a positividade. O que a caracteriza são as abstrações personificadas,
de caráter ainda absoluto: "a Natureza", "o éter", "o Povo", "o Capital".[carece de
fontes]

 No terceiro, ocorre o apogeu do que os dois anteriores prepararam


progressivamente. Neste, os fatos são explicados segundo leis gerais abstratas,
de ordem inteiramente positiva, em que se deixa de lado o absoluto (que é
inacessível) e busca-se o relativo. A partir disso, atividade pacífica e industrial
torna-se preponderante, com as diversas nações colaborando entre si.[carece de fontes]

É importante notar que cada um desses estágios representa fases necessárias da


evolução humana, em que a forma de compreender a realidade conjuga-se com a
estrutura social de cada sociedade e contribuindo para o desenvolvimento do ser
humano e de cada sociedade.

Dessa forma, cada uma dessas fases tem suas abstrações, suas observações e sua
imaginação; o que muda é a forma como cada um desses elementos conjuga-se com os
demais. Da mesma forma, como cada um dos estágios é uma forma totalizante de
compreender o ser humano e a realidade, cada uma delas consiste em uma forma de
filosofar, isto é, todas elas engendram filosofias.

Como é possível perceber, há uma profunda discussão ao mesmo tempo sociológica,


filosófica e epistemológica subjacente à lei dos três estados.

Religião da Humanidade
Templo Positivista em Porto Alegre

Os anseios de reforma intelectual e social de Comte desenvolveram-se por meio de sua


Religião da Humanidade. Para Comte, "religião" e "teologia" não são termos sinônimos:
a religião refere-se ao estado de unidade humana (psicológica, espiritual e social),
enquanto a teologia refere-se à crença em entidades sobrenaturais. Considerando o
caráter histórico e a necessidade de unidade do ser humano, a Religião da Humanidade
incorpora nela a teologia e a metafísica - respeitando, reconhecendo e celebrando o
papel histórico desempenhado por esses estágios provisórios, absorvendo o que eles têm
de positivo (isto é, de real e de útil).

A Religião da Humanidade encontrou em Pierre Laffitte seu principal dirigente na


França após a morte de Comte, especialmente na III República francesa. No Brasil, o
Positivismo religioso encontrou grande aceitação no século XIX; embora com menor
intensidade no século XX, o Positivismo religioso brasileiro teve grande importância:
por exemplo, durante a campanha "O petróleo é nosso!", cujo vice-Presidente era o
positivista Alfredo de Moraes Filho, e durante o processo de impeachment do ex-
Presidente Fernando Collor de Mello, em que o Centro Positivista do Paraná também
solicitou, assim como a Ordem dos Advogados do Brasil e Associação Brasileira de
Imprensa, o afastamento do Presidente da República.

A Igreja Positivista do Brasil, fundada por Miguel Lemos e Raimundo Teixeira Mendes
em 1881, em cujos quadros estiveram Benjamin Constant Botelho de Magalhães, o
Marechal Rondon e o diplomata Paulo Carneiro, continua ativa no Rio de Janeiro, assim
como a Igreja Positivista do Rio Grande do Sul, que segue ativa em Porto Alegre.

Obras

O Wikiquote possui citações de ou sobre: Auguste Comte

 Opúsculos de Filosofia Social (1816-1828) (republicados em conjunto, em 1854,


como apêndice ao volume IV do Sistema de política positiva)
 Curso de filosofia positiva, em 6 volumes (1830-1842) (em 1848 foi renomeado
para Sistema de filosofia positiva)
 Discurso sobre o espírito positivo (1848)
 Discurso sobre o conjunto do Positivismo (1851) (Introdução geral ao Sistema
de política positiva)
 Sistema de política positiva, em 4 volumes (1851-1854)
 Catecismo positivista (1852)
 Apelo aos conservadores (1855)
 Síntese subjetiva (1856)
 Correspondência, em 8 volumes (1816-1857)

Ver também
 Religião da Humanidade
 Lei dos Três Estados
 Espírito positivo
 Clotilde de Vaux
 Museu Casa de Augusto Comte
 Igreja Positivista do Brasil

Bibliografia
 FRICK, Jean-Paul. Auguste Comte, ou La République positive, Presses
universitaires de Nancy, Nancy, 1990.
 GENUA, Marco. Auguste Comte e la cultura francese dell’Ottocento : in ricordo
di Mirella Larizza / a cura di Marco Geuna, Cisalpino, Milano, 2004
 GOUHIER, Henri Gaston. La philosophie d'Auguste Comte: esquisses, Vrin,
Paris, 1986
 KREMER-MARIETTI, Angèle. L’anthropologie positiviste d’Auguste Comte,
Thèse Paris IV, 1977.
 LEPENIES, Wolf. Auguste Comte: die Macht der Zeichen, Carl Hanser,
München, 2010
 MARRA, Realino. La proprietà in Auguste Comte. Dall’ordine fisico alla
circolazione morale della ricchezza, in «Sociologia del diritto», XII-2, 1985,
pp. 21–53.
 MUGLIONI, Jacques. Auguste Comte: un philosophe pour notre temps, Kimé,
Paris, 1995
 PICKERING, Mary. Auguste Comte: an intellectual biography, 3 vols,
Cambridge Univ. Press, Cambridge, 1993-2009
 VALENTIM, Oséias Faustino. O Brasil e o Positivismo, Publit, Rio de Janeiro,
2010. ISBN 9788577733316
 WRIGHT, Terence R. The religion of humanity : the impact of comtean
positivism on Victorian Britain, Cambridge University Press, Cambridge, 1986.

Referências
1.

 «Biografia de Auguste Comte - Positivismo e obras». Estudo Prático. 26 de fevereiro


de 2014
  Auguste Comte (em inglês) no Find a Grave
  "(...) the only thing we have in common with those so designated is that we do not
believe in God." John Stuart Mill, Auguste Comte. 'The Correspondence of John Stuart
Mill and Auguste Comte', Transaction Publishers, p. 320.
  "Despite his atheism, Comte was concerned with moral regeneration and the
establishment of a spiritual power." Mary Pickering, 'Auguste Comte and the Saint-
Simonians', French Historical Studies Vol. 18, No. 1 (Spring 1993), pp. 211-236.
  "But tragically, Comte's "remarkable clearness and extent of vision as to natural
things" was coupled with a "total blindness in regard to all that pertains to man's
spiritual nature and relations." His "astonishing philosophic power" served only to
increase the "plausibility" of a dangerous infidelity. Comte was, once unmasked, a
"blank, avowed, unblushing Atheist." [...] Some of the Reformed writers were careful
enough to note that technically Comte was not an atheist since he never denied the
existence of God, merely his comprehensibility. Practically, however, this made little
difference. It only pointed to the skepticism and nescience at the core of his positivism.
The epistemological issues dominated the criticism of Comte. Quickly, his atheism was
traced to his sensual psychology (or "sensualistic psychology", as Robert Dabney
preferred to say)." Charles D. Cashdollar, 'Auguste Comte and the American Reformed
Theologians', Journal of the History of Ideas Vol. 39, No. 1 (January–March 1978), pp.
61-79.

Vida e Listagem das Obras de Augusto Comte


Comte, o maior Filósofo da Humanidade, nasceu em Montpellier, no sul da França em
1798, nove anos após o início da Revolução Francesa em 1789 e morreu em Paris em
1857.
A sua assombrosa inteligência foi logo reconhecida aos 16 anos de idade, em 1814,
quando Napoleão Bonaparte abdica e é restabelecida a monarquia a favor de Luiz
XVIII, irmão de Luiz XVI, quando Comte entra para a Escola Politécnica.
Apaixonado pela cultura, foi influenciado por Aristóteles, Bacon, Descartes, Hume,
Condorcet, Diderot, considerados precursores do Positivismo.
Na sua primeira fase, Comte lia todos os livros que podia comprar, com sacrifício até de
sua alimentação. Logo depois, deixou de ler e começou a meditar.
Em 1817, com 19 anos de idade, descobre o princípio da relatividade e em 1822, com
24 anos, no ano de nossa Independência, ao cabo de 60 horas de meditação, sem dormir,
descobre também a Lei dos Três Estados ou Lei da Inteligência, que lhe permitiu criar a
Sociologia - Ele é o Pai da Sociologia Positiva.
Em 1825, com 27 anos, se casa com Carolina Massin, uma mulher frívola, que não se
adaptou ao mestre Comte.
Devido as atitudes desrespeitadoras desta mulher, Comte teve uma crise nervosa em
1828, com 30 anos de idade; era um homem de sentimentos puros, e teve que
interromper as aulas que começara a ministrar às celebridades da época.
Sua grande mãe veio a Paris e o ajudou no seu restabelecimento. Logo que restabeleceu
a saúde, escreveu o seu curso de Filosofia Positiva, em seis volumes, editados entre
1830 e 1842.
Cabe aqui lembrar que Carolina, abandona o marido, que passou a lhe dar uma pensão,
proporcional aos seus vencimentos de professor.
Em fins de 1844, já estava com 46 anos de idade conhece Clotilde De Vaux, devota-lhe
um grande amor platônico, estado amoroso que o leva a plena criatividade, - É mais
fácil criar amando. Esta mulher muito inteligente, mostra ao mestre outras facetas, do
relacionamento humano, que o leva a criar a Moral Teórica e a Moral Prática. Mas logo
perde a sua Inspiradora, que falece em princípios de 1846.
Augusto Comte se aproxima do Catolicismo, influenciado por Clotilde e também por
suas reminiscências de infância, pois nascera em frente à Igreja de Santa Eulália.
A amizade do filósofo com os padres não significa um retrocesso à teologia, nem
tampouco pode se considerar Positivista o literato religioso Lamennais, que foi
excomungado, pelo simples fato de ter lido o livro de nosso mestre.
Em 1851 a 1854 (53 a 56 anos), Augusto Comte escreve o Sistema de Política Positiva
em 4 volumes, que é o primeiro Tratado de Sociologia e postula a separação Espiritual e
Temporal (Igreja independente do Estado)
Em 1857, com 59 anos vem a falecer, depois de definir e classificar as ciências, e criar a
Sociologia Positiva e a Moral Positiva.
Sua vida foi um modelo de comportamento para os discípulos e suas idéias
impressionavam e impressionam até hoje os intelectuais de todos os países civilizados.

Obras de Augusto Comte


Sistema de Filosofia, Positiva,em 6 volumes - 1830-1842, 5 edição,1892-1894 Versão
Inglesa, por Miss Matineau, 2 volumes, 1853; 3 edição 1893, versão francesa deste
volume, por M. Avezac Lavigne, 1871. Nova edição 1895.

Sistema de Política Positiva, ou Tratado de Sociologia instituindo a Religião da


Humanidade. 4 vol, Paris, 1851-1854; 2 edição, 1881-1884; 3 edição Tradução para o
Inglês por Richarde Congreve e outros.

Catecismo Positivista , ou Sumaria Exposição da Religião Universal . 1 volume ,


Paris 1852; 2 edição , 1874 ; 3 edição 1890 . Nova edição 1891, com prefacio de J.
Lagarrigue e notas de Miguel Lemos.

Apelo aos Conservadores ; 1 volume, Paris 1855, 2 edição Tradução em Inglês e


Português.

Síntese Subjetiva, ou Sistema Universal das Concepções próprios do Estado Normal da


Humanidade. 1 volume , Paris , 1856, tomo 1 único publicado, contendo o Sistema de
Lógica Positiva ou Tratado de Filosofia Matemática, 2 Edição

Testamento, Orações Quotidianas , Confissões anuais e Correspondências com


Madame Clotilde de Vaux, 1 volume , Paris 1884 , 2 edição Tradução inglesa do
Testamento.

Circulares Anuais (1850 - 1857) 1 volume 1866 - tradução inglesa.

Tratado Filosófico D' Astronomia Popular, 1 vol , Paris ,1845 ; 2 edição , 1893.

Tratado elementar de Geometria Analítica. 1 volume , Paris , 1841 ; 2 edição ,


precedida da Geometria de Descartes , em 1895. Tradução para o português , por vários
alunos da Escola Militar do Rio de Janeiro. - Esgotada.

Cartas `a M. Vallat (1815-1844), Paris 1870

Cartas`a John Stuart Mill ( 1841-1844), 1 volume Paris 1877


Correspondências Inéditas de Augusto Comte. Paris elaborado pela Sociedade
Positivista - , 1903 (4 volumes).

Cartas de Augusto Comte `a Diversos - Publicado pelos seus Executores


Testamenteiros, Paris - 1902.- Três Volumes.

2. Biografias

Auguste Comte

Auguste Comte foi um dos mais importantes filósofos e sociólogos franceses.

Atribui-se a ele a criação da disciplina Sociologia, bem como a corrente filosófica,


política e científica conhecida como Positivismo.

Sua contribuição teórica ainda é importante, com o conceito político da "Lei dos Três
Estados".

Biografia

Busto de Auguste Comte em Paris, França

Isidore Auguste Marie François Xavier Comte nasceu em Montpellier (Hérault), na


França, em 19 de janeiro do ano 1798. Era filho do oficial de taxas Louis Comte e
Rosalie (Boyer) Comte, uma monarquista devota do catolicismo.
Em 1814, ingressou na "Escola Politécnica de Paris", e, com apenas quinze anos,
destaca-se como aprendiz brilhante.

Entre 1817 e 1824, foi secretário do conde Henri de Saint-Simon, grande nome do
socialismo utópico, o qual teve influência decisiva na obra de Comte.

Mais tarde, em 1822, publica "Plano de Trabalhos Científicos para Reorganizar a


Sociedade". Pouco tempo depois, sofre um colapso nervoso (1826), do qual se recupera
somente em 1830.

Nesse meio tempo, publicou os seis volumes do "Curso de Filosofia Positiva".

Entre 1832 e 1842, Comte foi tutor e examinador na "École Polytechnique"; ainda em
1842, separa-se de sua esposa e inicia um relacionamento platônico com Clotilde de
Vaux.

Neste contexto, Auguste Comte já vivia do favor financeiro de seus amigos e


admiradores. Em 1848, criou uma "Sociedade Positivista" e entre 1851 e 1854, redigiu o
“Sistema de Política Positiva”, no qual propõe uma interpretação para a sociedade
humana.

No ano de 1856, publicou o primeiro volume de "Síntese Subjetiva", o qual não


completou, pois morreu de câncer em Paris, no dia 5 de setembro do ano 1857.

Principais Ideias
É importante salientar que Comte viveu sob a égide da Revolução Francesa, bem como
da ciência moderna e da Revolução Industrial.

Portanto, seus ditos e escritos são referentes as intensas transformações sociais,


econômicas, políticas, ideológicas, tecnológicas e científicas decorrentes da
consolidação do capitalismo.

Nesse contexto, ele percebeu que os fenômenos sociais deveriam ser percebidos como
os outros fenômenos da natureza.

Isso porque eles eram apenas um tipo específico de realidade teórica, o que implica que
devem ser enunciadas em termos sociais.

Ele cunha o termo "sociologia", para designar uma doutrina social baseada em
princípios científicos, dividindo-a em dois campos:

 os estudos das estatísticas sociais para a compreensão das forças que mantêm a
coesão social;
 as dinâmicas sociais em si, para o estudos das causas das mudanças sociais.

Portanto, a "Física Social" ou "Sociologia", partiria dos princípios da observação,


experimentação, comparação e classificação enquanto métodos.
Ela tinha como finalidade tudo o que é "positivo", ou seja, o real, o útil, o certo, o
preciso, o relativo, o orgânico e o simpático.

Daí surge a outra contribuição de Comte: o Positivismo. Ou seja, a visão pela qual a
análise dos fatos abandona a consideração das causas dos fenômenos e pesquisa suas
leis, uma vez que são fenômenos observáveis.

O positivismo pregava um modelo de sociedade organizada, na qual o poder espiritual


não mais prevaleceria, ficando o governo à cargo dos sábios e cientistas.

Este novo método geral para a ciência caracteriza-se pela observação em aliança com a
imaginação. Estão sistematizadas, por sua vez, segundo princípios adotados pelas
ciências exatas e biológicas.

Contudo, vale notar também, o fato de Comte perceber que cada tipo de fenômeno
possui suas particularidades. Isso implica dizer que há um método específico de
observação para cada fenômeno.

Outra importante criação de Auguste Comte foi a "Religião da Humanidade", com bases
teológicas e a metafísicas. Isso tudo, reconhecendo a preponderância do papel histórico
desempenhado pelos estágios provisórios da Humanidade, previsto na "Lei dos Três
Estados".

Seu pensamento influenciou pensadores da grandeza de Karl Marx, John Stuart Mill,
George Eliot, Harriet Martineau, Herbert Spencer e Émile Durkheim.

Criador do termo “altruisme” (autruísmo), a filosofia de Comte para a humanidade se


resumiria em "vivre pour autrui" (viva pelos outros).

Leia também:

O que é Sociologia?
O que é Filosofia?

Lei dos Três Estados


A "Lei dos Três Estados" representam as fases necessárias para a evolução humana,
onde cada uma delas teria suas abstrações, suas observações e sua imaginação próprias.

A observação da evolução das concepções intelectuais da humanidade seguiria o estado


'teológico' ou 'fictício', o estado 'metafísico' ou 'abstrato' e o estado 'científico' ou
'positivo'.

No primeiro, os fatos observados seriam explicados pelo sobrenatural, ou seja,


entidades (Deus ou deuses), as quais comandaria os fatores que compõem a realidade.

No segundo estágio, a realidade seria pesquisada diretamente, mas ainda haveria a


presença do sobrenatural (a natureza, o éter, o Povo, o capital).
No terceiro e último estágio evolutivo, o apogeu da humanidade, os fatos seriam
explicados segundo leis gerais abstratas, de ordem inteiramente positiva.

Nesse viés, o fator absoluto é substituído pelo fator relativo, pois tudo seria relativo,
exceto a lei absoluta da relatividade.

Principais Obras
 Curso de Filosofia Positiva (1830-1842)
 Discurso Sobre o Espirito Positivo (1844)
 Uma Visão Geral do Positivismo (1848)
 Religião da Humanidade (1856)
 Pensamento. A contribuição principal de Comte à filosofia do
positivismo foi sua adoção do método científico como base para a
organização política da sociedade industrial moderna, de modo mais
rigoroso que na abordagem de Saint Simon. Em sua Lei dos três
estados ou estágios do desenvolvimento intelectual, Comte teoriza que
o desenvolvimento intelectual humano havia passado historicamente
primeiro por um estágio teológico, em que o mundo e a humanidade
foram explicados nos termos dos deuses e dos espíritos; depois
através de um estágio metafísico transitório, em que as explanações
estavam nos termos das essências, de causas finais, e de outras
abstrações; e finalmente para o estágio positivo moderno. Este último
estágio se distinguia por uma consciência das limitações do
conhecimento humano. As explanações absolutas consequentemente
foram abandonadas, buscando-se a descoberta das leis baseadas nas
relações sensíveis observáveis entre os fenômenos naturais.
 Comte tentou também uma classificação das ciências; baseada na
hipótese que as ciências tinham se desenvolvido a partir da
compreensão de princípios simples e abstratos, para daí chegarem à
compreensão de fenômenos complexos e concretos. Assim as ciências
haviam se desenvolvido a partir da matemática, da astronomia, da
física, e da química para atingir o campo mais complexo da biologia e
finalmente da sociologia. De acordo com Comte, esta última
disciplina, a Sociologia, não somente fechava a série mas também
reduziria os fatos sociais a leis científicas, e sintetizaria todo o
conhecimento humano, como ápice de toda a ciência.
 Embora não fosse dele o conceito de sociologia ou da sua área de
estudo, Comte ampliou seu campo e sistematizou seu conteúdo.
Dividiu a Sociologia em dois campos principais: Estática social, ou o
estudo das forças que mantêm unida a sociedade; e Dinâmica social,
ou o estudo das causas das mudanças sociais.
 Seu conceito de uma sociedade positiva está no seu Système de
politique positive ("Sistema de Política Positiva").
 Paralelismo com Saint-Simon. A habilidade particular de Comte era
como um sintetizador das correntes intelectuais as mais diversas.
Tomou idéias principalmente dos filósofos modernos do século XVII
e XVIII. Dando nova roupagem às idéias de Hobbes e Adam Smith,
afirmou que os princípios subjacentes da sociedade são o egoísmo
individual, que é incentivado pela divisão de trabalho. No seu
entender, lembrando Hobbes, a coesão social se mantém por meio de
um governo e um estado fortes. Dando ênfase a hierarquia e
obediência, rejeitou a democracia, sustentando que o governo ideal
seria constituído por uma elite intelectual. De vários filósofos do
Iluminismo adotou a noção do progresso histórico e particularmente
de David Hume e Immanuel Kant tomou sua concepção de
positivismo, ou seja, a teoria de que o Teologia e a Metafísica são
modalidades primárias imperfeitas do conhecimento e que o
conhecimento positivo é baseado em fenômenos naturais e suas
propriedades e relações como verificado pelas ciências empíricas, tese
Kantiana por excelência..
 Comte segue Saint-Simon quando considera a necessidade de uma
ciência social básica e unificadora que explicasse as organizações
sociais existentes e guiasse o planejamento social para um futuro
melhor. Na sua hábil sistematização Comte chamou esta nova ciência
"Sociologia", pela primeira vez. Porém vai temerariamente mais
adiante que seu mestre quando afirma que os fenômenos sociais
poderiam ser reduzidos a leis da mesma maneira que as órbitas dos
corpos celestes haviam sido explicadas pela teoria gravitacional
quase trezentos anos antes.
 Como Saint-Simon, Comte queria a administração real do governo e
da economia nas mãos dos homens de negócios e dos banqueiros. De
Saint-Simon é originalmente a idéia de que a finalidade da análise
científica nova da sociedade deve ser melhoradora, e que o resultado
final de toda a inovação e sistematização na nova ciência deveria ser
a orientação do planejamento social. O mais importante realmente
provem de Saint-Simon, que havia enfatizado originalmente a
importância crescente da ciência moderna e o potencial da aplicação
de métodos científicos ao estudo e à melhoria da sociedade. Comte,
porém, dá um toque pessoal seu, com origem em sua paixão por
Clotilde, dizendo que a manutenção da moralidade privada seria
competência das mulheres como esposas e mães.
 Comte também pensou que era necessário implantar uma ordem
espiritual nova e secularizada a fim de suplantar o sobrenaturalismo
ultrapassado da teologia cristã. De Saint-Simon e outros
reformadores franceses menores Comte tomou a noção de uma
estrutura hipotética para a organização social que imitaria a
hierarquia e a disciplina existente na igreja católica romana. Como
Saint-Simon, ele veio a adotar a idéia de que a organização da igreja
católica romana, divorciada da teologia cristã, podia fornecer um
modelo estrutural e simbólico para a sociedade nova, idéia que, no
entanto, fora uma das causas alegadas para seu rompimento com o
mestre. Comte substituiu a adoração a Deus por uma "religião da
humanidade"; um sacerdócio espiritual de sociólogos seculares
guiaria a sociedade e controlaria a instrução e a moralidade pública.
 Comte viveu para ver sua obra comentada extensamente em toda a
Europa. Muitos intelectuais ingleses foram influenciados por ele, e
traduziram e promulgaram seu trabalho. Seus devotos franceses
tinham aumentado também, e mantinha uma correspondência
volumosa com sociedades positivistas em todo o mundo.
 Vida. Comte, cujo nome completo era Isidore-Auguste-Marie-
François-Xavier Comte, nasceu em 19 de janeiro de 1798, em
Montpellier, e faleceu em 5 de setembro de 1857, em Paris. Filósofo e
auto-proclamado líder religioso, deu à ciência da Sociologia esta
denominação e estabeleceu a nova disciplina em uma forma
sistemática.
 Foi aluno da célebre École Polytechnique, uma escola em Paris
fundada em 1794 onde se ensinava a ciência e o pensamento mais
avançados da época. De família pobre, sustentou seus estudos com o
ensino ocasional da matemática e oportunidades no jornalismo.
 Um de seus primeiros empregos foi o de secretário do Conde Henri de
Saint-Simon, o primeiro filósofo a ver claramente a importância da
organização econômica na sociedade moderna, e cujas idéias Comte
absorveu, sistematizou com um estilo pessoal e difundiu.
 Comte foi apresentado ao filósofo, então diretor do periódico
Industrie, no verão de 1817. Saint-Simon, um homem de fértil, mas
tumultuada e desordenada criatividade, então quase sessenta anos
mais velho que Comte, foi atraído pelo jovem brilhante que possuiu a
capacidade treinada e metódica para o trabalho que lhe faltava.
Comte tornou-se seu secretário e colaborador próximo, na
preparação de seus últimos trabalhos. Quando Saint-Simon
experimentou problemas financeiros, Comte permaneceu sem
pagamento, ao que parece por razões intelectuais e talvez também a
esperança de recuperação pecuniária do patrão.
 Os esboços e os ensaios que Comte escreveu durante os anos da
associação próxima com Saint-Simon, especialmente entre 1819 e
1824, mostram inequivocamente a influência do mestre. Esses
primeiros trabalhos já contêm o núcleo de todas suas idéias
principais, mesmo as mais tardias.
 Em 1824 Comte desentendeu-se com Saint-Simon por questões de
autoria legítima de ensaios que Comte devia publicar. A solução, que
Comte considerou injusta, foi que cem cópias do trabalho saíram sob
o nome de Comte, enquanto mil cópias, intituladas Catechisme des
industriels indicavam a autoria de Henri de Saint-Simon. Outra
causa do rompimento foi, ironicamente, Comte desdenhar a idéia de
um paradigma religioso no projeto de Saint Simon, ele, Comte, que
depois haveria de adotar essa idéia de modo ainda mais radical,
proclamando a si mesmo como sumo sacerdote da Humanidade.
 Em fevereiro 1825 Comte se casou com Caroline Massin, proprietária
de uma pequena livraria, uma moça que ele já conhecia a alguns
anos. Comte a achava forte e inteligente, mas depois taxou-a de
ambiciosa e desprovida de afetividade. O casamento foi sempre
tumultuado por motivos financeiros, uma vez que Comte não
conseguia uma posição com salário fixo e contava apenas com os
rendimentos das aulas particulares e alguma renda adicional por
colaborações a jornais, mais freqüentemente para o Producteur, um
jornal fundado pelos filhos espirituais de Saint-Simon após a morte
do mestre.
 Depois de se afastar de Saint Simon, a principal preocupação de
Comte tornou-se a elaboração de sua filosofia positiva. Não tendo
nenhuma cadeira oficial da qual expor suas teorias, decidiu oferecer
um curso particular que os interessados subscreveriam adiantado, e
onde divulgaria sua Summa do conhecimento positivo. O curso abriu
em abril, 1826, com a presença de alguns curiosos ilustres como
Alexander von Humboldt, diversos membros da academia das
ciências, o economista Charles Dunoyer, o duque Napoleon de
Montebello, e Hippolyte Carnot, filho do organizador dos exércitos
revolucionários e irmão do cientista Sadi Carnot, e vários estudantes
da Ecole Polytechnique.
 Comte deu apenas três aulas e foi obrigado a interromper o curso
devido a um colapso nervoso. Seu mal foi diagnosticado como
"mania", no hospital do famoso Dr. Esquirol, o autor de um tratado
sobre essa doença e um ex-aluno do não menos famoso Dr. Pinel, na
Salpetrière. Ele próprio submeteu Comte a um tratamento com
banhos de água fria e sangrias. Apesar de não receber alta, Comte foi
levado para casa por Caroline
 Em casa, Comte caiu em um estado melancólico profundo, e tentou
mesmo o suicídio jogando-se no rio Sena. Somente em agosto 1828
logrou sair de sua letargia. O curso das conferências foi recomeçado
em 1829, e Comte ficou satisfeito outra vez por encontrar na
audiência diversos nomes de grandes das ciências e das letras.
 Durante os anos 1830-1842, quando escreveu sua obra prima, Cours
de philosophie positive, Comte continuou a viver miseravelmente na
margem do mundo acadêmico. Todas as tentativas de ser apontado
para uma cadeira na Ecole Polytechnique ou para uma posição na
Academia das Ciências ou na Faculdade da França foram
infrutíferas. Conseguiu somente em 1832 ser apontado assistente de
"analyse et de mecanique" na Ecole; cinco anos mais tarde obteve
também a posição de examinador externo para a mesma escola. Com
as duas posições recebia pouco mais de dois mil francos, o que era
pouco para as despesas que tinha com a esposa, e obrigou-o a
continuar com as aulas particulares para o sustento da casa.
 Durante os anos da concentração intensa quando escreveu o Cours,
Comte foi incomodado não somente por dificuldades financeiras e as
frustradas tentativas de emprego acadêmico. Também sofreu críticas
do mundo científico por parte de importantes figuras que o
ridicularizavam pela sua pretensão de submeter ao seu sistema todas
as ciências. A mágoa agravou seu estado psicológico. Por razões "de
higiene cerebral", decidiu-se, em 1838, a não ler mais uma linha de
qualquer trabalho científico, limitando-se à leitura de ficção e poesia.
Em seus últimos anos, o único livro que haveria de ler repetidamente
seria o "Imitação de Cristo". Sua vida matrimonial, que sempre fora
tempestuosa, também se desfez.. Comte teve várias separações de
Caroline, que não suportava os seus fracassos e terminou por deixá-
lo definitivamente em 1842.
 Só e isolado, continuou a atacar os cientistas que se recusavam a
reconhecê-lo. Queixou-se de seus inimigos aos ministros do Rei,
escreveu cartas delirantes à imprensa e atormentou a paciência dos
poucos amigos que lhe restavam. Criando um número grande de
inimigos na Ecole Polytechnique, sua nomeação como examinador
não foi renovada em 1844. Perdeu com isto a metade de sua renda.
Iria perder também a posição de assistente na Ecole em 1851.
 Contudo apesar de todas estas adversidades, Comte começou
lentamente a adquirir discípulos. E mais importante para ele foi que,
além de encontrar alguns discípulos franceses notáveis tais como o
eminente intelectual Emile Littré, também a sua doutrina positiva
havia atravessado o Canal e recebera considerável atenção na
Inglaterra. David Brewster, um físico eminente, saudou-o nas
páginas do Edinburgh Review em 1838 e, o mais gratificante de tudo,
John Stuart Mill transformou-se em seu admirador, citando-o em seu
System of Logic (1843) como um dos principais pensadores europeus.
Comte e Mill se corresponderam regularmente, e esse intercâmbio
serviu a Comte não somente para refinar seus pensamentos como
também para desabafar com o filósofo inglês as tribulações de sua
vida conjugal e as dificuldades de sua existência material. Mill
arrecadou entre admiradores britânicos de Comte uma soma
considerável em dinheiro e lhe enviou como socorro para suas
dificuldades financeiras.
 No mesmo ano de 1844, Comte conheceu Clotilde de Vaux, por quem
se apaixonou. Ela era uma mulher de trinta anos abandonada pelo
marido, um funcionário público do baixo escalão, que havia fugido
do país depois de se apropriar de fundos do governo. Um irmão de
Clotilde que havia sido aluno de Comte na Escola Politécnica, e o
convidou a ir à casa de seus pais, onde lhe apresentou a irmã. Comte
ficou inteiramente seduzido por ela. Sua paixão tem, porém, um
desdobramento inusitado. Clotilde está impedida pela lei de casar-se
achando-se o seu marido foragido.
 Auguste Comte tinha então quarenta e sete anos, e havia se separado
três anos antes de sua mulher. Acabara de concluir seu monumental
Cours de philosophie positive, e se preparava para escrever o que
pretendia que seria sua principal obra, o Système de politique
positive, do qual ele considerava o Cours de philosophie como apenas
uma introdução. Entusiasmado com a própria paixão, Comte afirma
que nada pode ser mais eficaz para o bem pensar que o bem querer.
Afirma que a mulher encarna o sentimento e portanto, em última
análise, a própria Humanidade, e se torna um abrasado feminista.
Busca seriamente associar o sexo feminino, na pessoa de Clotilde, à
obra de renovação social e moral que se impôs completar. Clotilde
tenta colaborar, através de um romance filosófico, Wilhelmine, que
ela se põe diligentemente a escrever. Mas adoece de tuberculose e
vem a falecer em 1846.
 Comte irá devotar o resto de sua vida à memória do "seu anjo". O
Système de politique positive, que tinha começado a esboçar em 1844
e no qual completou sua formulação da sociologia., iria transformar-
se em um memorial a sua amada. Cinco anos mais tarde, em 1851, ao
publicar essa obra, dedicou-a a Clotilde, dizendo esperar que a
humanidade, reconhecida, haveria de lembrar sempre seu nome
junto ao dela.
 No Système de politique positive, Comte, voltando-se contra a
doutrina do mestre Saint-Simon, defendeu a primazia da emoção
sobre o intelecto, do sentimento sobre a racionalidade; e proclamou
repetidamente o poder curativo do calor feminino para a humanidade
dominada por tempo demasiado pela aspereza do intelecto masculino.
Por outro lado, distorceu a proposta de disciplina eclesiástica de
Saint-Simon e criou a "Religião da Humanidade".
 Quando o Système apareceu entre 1851 e 1854, Comte escandalizou e
perdeu a maioria dos seguidores racionalistas que ele havia
conquistado com tanta dificuldade nos últimos quinze anos. John
Stuart Mill e Emile Littre não aceitaram que o amor universal fosse a
solução para todas as dificuldades da época. Tão pouco aceitariam a
"Religião da Humanidade" da qual Comte se proclamou o sumo
sacerdote. A observação dos rituais múltiplos segundo o calendário
anual, os detalhes da elaborada liturgia indicavam que o antigo
profeta do estágio positivo havia regressado às trevas do estágio
teológico. Comte passou a assinar suas circulares - aos novos
discípulos que conseguiu reunir - como "fundador da religião
universal e sumo sacerdote da humanidade". Tentou converter o
Superior Geral dos Jesuítas à nova fé e comparou suas circulares aos
discípulos com as epístolas de São Paulo. Fundou a Societé
Positiviste, que se transformou no centro principal de seu ensino. Os
membros se cotizaram para assegurar a subsistência do mestre e
fizeram os votos de espalhar sua mensagem. As missões se
instalaram, na Espanha, Inglaterra, Estados Unidos, e na Holanda.
 Cada noite, das sete às nove, exceto nas quartas-feiras quando a
Societé Positiviste tinha sua reunião regular, Comte recebia seus
discípulos em sua casa em Paris: políticos, intelectuais e operários,
que lhe votavam grande respeito e veneração. Comte estava longe do
entusiasmo republicano e libertário de sua juventude. O moto da
Igreja Positiva era "amor, ordem e progresso". O jovem estudante de
passeata agora pregava as virtudes do amor, da submissão e a
necessidade da ordem para o progresso social.
 Em 1857, Comte, após alguns meses de enfermidade, faleceu a cinco
de setembro. Um grupo pequeno de discípulos, de amigos, e de
vizinhos seguiu seu esquife ao cemitério de Pere Lachaise. Seu
túmulo transformou-se no centro de um pequeno cemitério positivista
onde estão sepultados, perto do mestre, seus discípulos mais fiéis.

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