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O general bufou e Bella mordeu os lábios praticamente durante boa parte do caminho.

O
homem parecia louco para chegar o mais rápido possível para onde se dirigia, como se sua
vida dependesse daquilo e com aquele silêncio que havia se formando entre os dois ela pôde
muito bem recordar do que acabara de acontecer. Céus! Se o helicóptero não tivesse
chegado, o que os dois teriam feito? Eles... Diabos, o pior era o pensamento que tivera...
Que o desejava. Não podia ser! Não! Ela o odiava! Não odiava?

Ele não era o frio, rude, impassível (talvez não tão impassível assim), violento general
Cullen? Como poderia estar atraída pelo homem que já batera nela com seu maldito bastão,
que insistia em chamá-la com um substantivo do gênero masculino, e que ainda por cima
estava somente a ajudando por causa de algo maior que o movimentava: Vingança?

Não, não podia... Era terrivelmente intolerável... Era errado... Era sujo... Era...
INADMISSÍVEL!

"Novato..."

Bella se sobressaltou com a voz dele, e respondeu com um simples: "Hm?", pois acreditava
que sua voz iria trair todas suas confusões.

"Você tem a porra de confiança em mim, e não vou quebrá-la. Você vai chegar a salvo aonde
quer que eu esteja te levando, ou eu não me chamo Edward Cullen."

Capítulo 4 – Dúvidas. Para quê existes?

The heart never lies - McFly

Algumas pessoas riem


Algumas pessoas choram
Algumas pessoas vivem
Algumas pessoas morremAlgumas pessoas se escondem
De seus desejosEntão olhe dentro dos meus olhos
Porque o coração nunca menteAlgumas pessoas lutam
Algumas pessoas caem
Outras fingem
Não ligar para nadaSe você quiser lutar,
Eu ficarei ao seu lado
No dia que você cair, Eu estarei bem atrás de você

Algumas pessoas correm


Direto para o fogo

Mas nós somos os amantes


Se você não acredita em mim,

Para recolher os pedaços


Se você não acredita em mim,
Olhe dentro dos meus olhos
Porque o coração nunca mente.

Bella tentava lutar contra a sonolência. Aquele silêncio entre eles, o mexer da máquina e o
corpo quente do general fazia com que quisesse fechar os olhos e dormir. Mas não podia...
Não, não.

Arrumou a postura e esticou os músculos dos braços. Ela só correra mais que jogador de
futebol em dois jogos seguidos, não era motivo suficiente para ficar tão cansada. Olhou a
paisagem em sua frente e tentou achar alguma coisa que pudesse a manter acordada,
enquanto esticava os músculos e sua posição para dar um bom 'up'.
Ouviu o general rosnar atrás dela. "Se você continuar com isso, novato, eu te jogo
colheitadeira afora."

Bella demorou alguns segundos para entender, até que soltou um sorrisinho malicioso,
percebendo que não era uma idéia muito boa se mexer tanto no colo do generalíssimo.

Achava que em sua mente tinha alguma função "provocando o general" que funcionava de
forma automática, em que mesmo que ela não pensasse, ela já fosse acionada. Só por birra,
acomodou-se melhor no colo dele – demorando algum tempo para achar a posição correta.
Junto com um resmungo do general, Bella ganhou uma mão segurando-a firme no quadril
impedindo-a de se mover.

Era engraçado saber que o homem ficava a prova em sua presença. E acreditava também
que tinha alguma espécie de espírito maligno governando seu corpo, porque não importava
sua situação, sempre dava um jeito de fazer algo mundano. Como provocar o general. Se
bem que provocá-lo era tão perigoso quanto à fuga da NSA. Ela bem sabia.

Suspirando, observou o céu procurando por algum ponto que pudesse ser um helicóptero. O
general ficara ainda mais preocupado sabendo que o aparelho que carregava não lhe dava as
verdadeiras coordenadas, mas Bella não estava. Havia alguma coisa em estar com o general
que lhe dava segurança, não importasse o que estivesse acontecendo ao redor. Ela deveria
evitar aquilo... Tinha que se lembrar que era irracional confiar tanto em um inimigo... Jesus,
inimigo esse que tentava tirar suas roupas.

Ainda se sentia totalmente envergonhada e irritada consigo mesma pela cena de minutos
antes. Ok, não seria hipócrita ao ponto de negar se sentir atraída por aquele homem enorme
e musculoso. Mas mesmo assim... Era totalmente estranho. Alguém já lera o que os dois já
fizeram um com o outro? O que ele já fizera com ela? Que ela já quase o matara? Que os
dois brigavam dentro do ringue e fora dele com a mesma intensidade?

Mas então um pensamento lhe ocorreu... Ela quase perdera o controle, certo... Mas você não
fazia coisas daquele tipo, sozinha. E não fora ELA quem começara o beijo.

Com uma determinação indistinta, concluiu que em todas as vezes que eles chegaram a se
beijar, algum sentimento maior, uma situação maior os impulsionava. Mas nunca depois eles
conversavam sobre aquilo, ou se provocavam sobre. Era como se fosse um assunto tabu,
que ambos não podiam controlar acontecer, mas evitavam falar, como se o tornasse
inexistente.

Mas Bella e seu espírito maligno interior não deixariam aquela oportunidade passar.
Suspirando, começou:

"Por que você me beijou?"

Sentiu o general endurecer e por um momento perder um pouco o controle sobre a máquina
agrícola.

"Porque quis." Ele respondeu de um jeito indiferente, como se falasse 'Ah, como eu não tinha
nada para fazer, decidi beijar o novato. Simples. ' Bella não gostou nem um pouco da
resposta. "E por que você respondeu?"

Ah... Ótimo. Foi à vez de ela enrijecer.

"Por que..." Começou engolindo em seco. "Porque você quis."

O general bufou. "E desde quando você faz alguma coisa por eu querer?"
Pronto. Pegou no orgulho dela. Não vou cair na armadilha... Não vou cair na armadilha...
Não vou cair...

"Tá, foi por que eu quis." Resmungou.

O general revirou os olhos atrás dela. Na sua lista precisava acrescentar que era também
muito orgulhosa.

"E por que você quis?" Foi à vez dele perguntar.

"Não é justo, é eu que começo as perguntas aqui."

"Não. Você deve se lembrar claramente que eu tenho mais direito que você."

"O quê? Como assim você tem mais direito? Só por que você é militar formado e eu sou...
Que se dane o que eu sou!" Rosnou e cruzou os braços de encontro ao peito. Iria dizer que
na hierarquia militar era um principiante, já que passara um ano como novato na NSA e
graduara, mas era melhor deixar quieto.

"Por que você leva sempre tudo pro lado militar?" Ele provocou. "Esqueceu por acaso que eu
continuo sendo um cidadão honrado enquanto você é quase uma pária?"

"Uma... O quê?" Ela rosnou e virou-se para encará-lo. "Como ousa?"

Ele arqueou uma sobrancelha. "A verdade te aflige, novato?"

Os dentes dela rangeram em raiva e incredulidade. "Pois fique você sabendo que de cidadão
honrado você não tem absolutamente nada! Esqueceu também, generalíssimo, que você é
cúmplice da infiltrada aqui, e, portanto perdeu seu título de cidadão honrado?"

Ele deu de ombros. "Mas para todos os meios ainda continuo sendo."

"Você é tão irritante!" Resmungou virando-lhe as costas.

"O irritante te atrai, novato?" Ele provocou.

Bella enrijeceu. "Acho repulsivo."

"Aham..." Ele assentiu, ainda com o tom malicioso. "Eu vi bem sua repulsão instantes atrás."

Bella se xingou internamente por suas fraquezas. "Pois fique sabendo que..."

"Que, o quê?"

Voltou-se para olhá-lo. "Que aquilo nunca mais vai voltar a acontecer!"

Encarou-a com a mesma intensidade, os olhos verdes levemente escurecidos pela noite. "E
você quer apostar?"

Bella engoliu em seco. Estava com raiva. Agora não sabia de quem. De si ou dele. De si
mesma por não saber de mais nada, dele... Por... Por... Ser a causa de tudo. Determinada,
levantou o queixo e encarou-o, com uma resolução que não sentia.

"Sim."

"E o que você está disposta a apostar, novato?"


Ela pensou um pouco e resolveu perguntar. "Qualquer coisa. E você?"

"Quase qualquer coisa." Ele rolou os olhos e desviou o olhar dela para o campo. "Mas sabe
de uma? A aposta não vai dar certo."

"Por quê?"

"Porque ambos estamos apostando na mesma coisa."

Depois dessa, Bella voltou-se para frente encarando o campo escuro. Ele também apostava
que não voltaria a acontecer nada entre eles. Ótimo.

Quando um não quer, dois não brigam. E quando dois não querem, bem, melhor ainda.

E quanto à aposta, ambos rezavam para que ganhassem. Nenhum dos dois estava pronto
para o que acontecia entre eles... Que era estranho e irracional e com certeza, inumano.

Há algo muito perturbador em estar confuso.

É como se houvesse um quebra-cabeça a ser montado, mas não fizesse a mínima idéia de
como encaixar as peças. Mesmo se tentasse que fizessem algum sentido e mesmo
conseguindo combinar duas ou três, o franzido da testa continuava, e as dúvidas
aumentavam.

O desconhecido era algo que muitas vezes poderia colocar homens adultos, fortes e
desapaixonados de joelhos. Existe algo perturbador em perder o controle também, não
podendo disparar uma ordem para fazer com que voltasse, rapidamente, assim como você
ordenou.

O generalíssimo Edward Cullen nunca fora homem de hesitar –pensava muito, era claro –
mas quando à hora chegava, simplesmente levantava-se, esticava os ossos do pescoço e
colocava-se em ação. Nunca experimentou aquele momento em que o coração parecia pifar
enquanto ficava lá somente encarando possibilidades... E dúvidas... E escolhas.

Completaria trinta anos em pouco tempo. Talvez estivesse chegando à metade de sua vida...
Ou ao fim, aquilo importava? Desde dezoito vestia um uniforme com a bandeira dos EUA no
peito. E desde vinte e oito era o mais novo generalíssimo já existente. Desde sempre
fechava os olhos e podia recordar cenas de sua infância antes dos cinco, o cheiro de seus
pais, o simples som de suas vozes. Aprendera a controlar-se... A lutar, e olhar sempre além
de onde estava. Aprendera a não rir, a ser severo, e ordenar que os outros ao seu redor
vissem a vida de forma mais objetiva, como ele.

Odiava ver as pessoas sorrindo e rindo, como se o mundo fosse algum lugar bom e saudável
para se viver. Odiava pessoas que carregavam sonhos, que almejavam coisas no futuro –
muitas vezes impossíveis. Odiava aqueles que não passaram por que passara: Por que tinha
acontecido com ele?

Mas há um ano as coisas começaram a mudar. E tudo naquele maldito dia ventoso de
janeiro, na cerimônia de abertura do novo ano com os novatos. Ele sabia que ela estaria lá.
A garota Volturi. Era assim que pensava nela... A porra da garota dos Volturi que seria sua
ferramenta para conseguir o que desejava.

Mas como poderia imaginar que fosse tão teimosa, ardilosa, orgulhosa, irritante, corajosa...
E... Tão... Mulher? Como poderia imaginar que sendo seu treinador, na verdade começara a
se enfraquecer? E inferno! Aquela era a maldita verdade! Ele começara a perder o controle a
partir do momento em que deixou que lhe mostrasse como as coisas poderiam ser
diferentes. Ela – diferente dele – ainda tinha um brilho no olhar, ainda acreditava que
poderia ser melhor... Ainda tinha algum propósito na vida. Tinha preocupações mundanas,
como a idade. Temia ficar velha, onde ninguém a quisesse, onde passasse o resto de sua
vida solitária, sem uma família.

E suas próprias dúvidas naquele dia de seu aniversário em Setembro fizeram com ele
pensasse no "depois". Certamente ele não estaria na NSA para sempre... Certamente não se
vingaria dos Volturi para sempre... Tudo tinha um fim, e como seria o seu?

Aquela porra psicológica nunca fora seu forte – e quando vinha ele simplesmente virava as
costas e achava alguém para chatear. Mas não com ela.

Pensara que quando soubesse da verdade – a terrível verdade da morte de seus pais - ficaria
de algum modo como ele. Temia isso, mas também esperava. Mas se surpreendeu ao vê-la
rindo na neve, rindo de si mesma e de sua vida... E não amargurando, e se corroendo,
como ele fizera. Ficara orgulhoso de seu novato, mas ao mesmo tempo, confuso.

Não tinha dúvidas de que a dor dela seria muito maior, afinal vivera com o assassino dos
pais. Mas parecia tão malditamente mais forte, mais corajosa, e o general sentiu raiva de si
mesmo por não ser assim.

Desde que pisara em sua vida, fizera com que andasse na corda bamba de sentimentos, de
ódio, raiva, rancor, desprezo, desejo... Querendo ou não, ela fizera com que sua merda de
vida se tornasse... Menos... Monótona.

E apesar de tudo... Apesar das grandes probabilidades, aquela mulher – seu novato – estava
com a cabeça no vão de seu pescoço, com a respiração calma e quente arrepiando os pêlos
de sua nuca, em um ato inconsciente.

Ele abaixou a cabeça e inalou a essência dela. Com um bufo, percebeu como estava sendo
absolutamente ridículo e generais não deveriam fazer aquela porra. Mas não pôde deixar de
lembrar-se de quando a beijara... Sentira uma vontade tão malditamente forte de se
enterrar dentro dela... E aquela PORRA de helicóptero que não estava no radar do aparelho
que pegara na NSA!

Apostara que aquilo não voltaria a acontecer, e ela também. E era verdade. Nunca se sentira
tão... Vulnerável em sua vida. Ela fazia perder o seu controle, e antes ele não temia nada ao
seu redor, mas agora ele temia... Temia que algo acontecesse com ela. MAS QUE INFERNO!
Ele tinha vontade de socar alguma coisa – mas McCarthy não estava por perto – queria
pegar a novata no colo e deixá-la ali e voltar para a NSA e continuar a ser tudo como era
antes.

Ele odiava ignorância. Odiava o desconhecido. E deveria odiar quem o fazia passar por aquilo
que detestava.

E confiava nele... Porra! Confiava nele! E sabia que era verdade, pois olhou em seus olhos e
não existia ator ou atriz no mundo capaz de camuflar a verdade contida neles. Algo dentro
de si se mexeu... Como um leão enjaulado que nunca chegara tão perto de destruir sua cela.
Maldição! Por que ela fora dizer aquilo?

Ninguém nunca, NUNCA, em sua vida falara que confiava nele. Ninguém nunca o fizera. As
pessoas tinham medo, respeito, até uma relutante admiração, mas a porra de ninguém
simplesmente pegou na mão dele e disse que confiava! E aquela mulher – que tinha todos os
motivos do mundo para não fazê-lo – sentia aquele sentimento nobre. Pois confiança era
algo nobre... Destrutível... E que poderia morrer a qualquer momento.

Aquele mundo era realmente uma merda.

O general parou a colheitadeira assim que chegou ao ponto indicado. Olhou no relógio e
constatou serem três horas da manhã. Ainda estava no tempo.
Bella acabara adormecendo. Suas preocupações estavam enchendo-a, e a sonolência logo
chegou. O caminho era longo e a máquina lenta, mas o general explicara que seguir a
estrada que estavam era perigoso, e precisavam chegar a outro carro que esperava por eles.
Cortando o caminho pelo campo recém-colhido, ninguém conseguiria achar as pistas deles a
partir do motel de beira de estrada e ficariam mais seguros.

"Acorda novato." Chamou. Bella demorou alguns segundos para acordar. Piscou os olhos
diversas vezes até focalizar onde estava e com quem estava.

"Jesus. Eu dormi."

"Eu não tinha percebido isso." O general resmungou. Bella então franziu o cenho e reparou
como estava. Com a face queimando se distanciou e tentou botar ordem no cabelo,
recusando a olhar aquele homem bem embaixo dela.

"Já chegamos?" Mudou de assunto. Tentou ignorar que deixara a sonolência tomar conta de
seu corpo, tentava ignorar que dormira bem no colo do general Cullen...

"Não." Negou, puxando-a para cima pelo quadril enquanto ele mesmo se levantava e pulava
da máquina. Bella respirou fundo e seguiu-o, olhando ao redor.

"Onde estamos agora?"

"Perto da outra rota."

"Mais estrada."

"Sim."

"Oh. Ótimo." Rolou os olhos. "E você simplesmente vai deixar o carrinho do Bond aqui?"

O general olhou-a, confuso.

Bella rolou os olhos. "Foi como eu chamei a colheitadeira."

Ele rolou os olhos e virou-lhe as costas. "No meu currículo não tem roubo, e pretendo deixar
assim."

Bella deu de ombros: estava se acostumando com as meias respostas do general. Foi
relaxando aos poucos, se sentindo mais confiante. Depois da aposta deles, bem... Ela estava
mais segura, não é? Ela não correria risco de ser prensada na parede ou de pular em cima
dele, não é?

"Vai demorar pra chegar?" Oh céus. Ela parecia uma criançinha perguntando pro pai 'pai, tá
chegando'?

"Lá pelas cinco da manhã." Ele respondeu tirando uma folha do caminho. Bella estava ainda
um pouco sonolenta e quase perdeu o equilíbrio ao tropeçar em uma pedra, mas antes que
pudesse sequer perceber o que estava acontecendo, os braços do general já estavam ao seu
redor.

Olharam-se e ficaram estranhos por algum tempo, analisando suas expressões. Até que ele
respirou fundo e soltou-a.

"Vê se olha por onde anda." Resmungou. Bella rolou os olhos e continuou o seguindo.
Andaram por algum tempo, até o general parar perto de uma árvore, onde estava
estacionado um carro coberto por uma manta que camuflaria sua presença. O general
retirou-a com um puxão e chutou-a para dentro do veículo.

"Entre." Ordenou. Bella suspirou. Já desistira de tentar descobrir para onde ele a levaria... O
general ou mudava de assunto ou lhe dava um fora. Estava tão cansada que nem mesmo se
deu ao trabalho de observar onde estavam e com alguns passos pesados abriu a porta do
passageiro e entrou. Lá dentro deu uma olhada ao redor e percebeu que não muito longe
dali havia uma cabana de madeira parecendo velha e inabitável. Mas esse inabitável, parecia
habitável porque havia uma pequena chaminé, pela qual saía vapor.

Voltou seu olhar para dentro do carro e percebeu que o general não tinha entrado e tomado
seu lugar no banco do motorista. Ele só encostou-se na janela e com o queixo apontou para
o banco de trás. "Tem algumas roupas ali. Troque, e também a peruca."

Bella assentiu já esticando a mão para pegar as sacolas, quando notou o general se
afastando e encarando a estrada não muito longe dali, como se certificasse que estava
segura.

Não pôde deixar de suspirar ao ver a figura alta e forte parada ali, parecendo imponente e
indestrutível. Com ele, sentia-se estranhamente segura. Ele exalava poder e perigo ao
mesmo tempo, fazendo com que ficar ao lado dele você sentisse que nada poderia atingi-la,
se ele estivesse do seu lado.

Tentou ignorar que não muito antes estava agarrada a ele tentando tirar suas roupas. Era
algo ignorável, lógico. O que não era ignorável talvez fosse que ele também estava tentando
tirar as dela. Ainda estava observando-o, como que hipnotizada quando o viu retirar o
casaco. Ela notou algo estranho, até perceber o que era. Uma mancha escura na camiseta
dele. Sangue.

Largando a sacola que segurava, abriu a porta do carro não pensando muito em suas ações.
Marchou em sua direção, e quando a viu se aproximando ele estreitou os olhos e foi abrir a
boca para começar algum de seus sermões irritantes.

"Por que você não me disse que estava ferido?"

O general olhou dela para o braço e praguejou, colocando o casaco de novo. "Não é da sua
conta."

"Larga de ser infantil, general. Isso pode infeccionar." Segurou o braço dele impedindo que
colocasse o casaco de volta. Lançou um olhar tão irritado e maligno para ela, que soube que
até ficaria balançada, mas não agora. Não ali.

"Não adianta olhar desse jeito. Deixa-me ver o que..." Com um puxão ela rasgou o tecido da
camiseta e encontrou uma grande atadura coberta por sangue envolta de seu braço.
Chocada, olhou-o se perguntando como ele ficara todo aquele tempo sem falar um ai, nem
ao menos dar dicas que estava ferido. E muito.

Então se lembrou que ele fazia algumas caretas de vez em quando, até mesmo quando
caíram da colheitadeira e achou que era divertido, na verdade ele estava sentindo dor.
Estava com a porra daquela ferida o tempo todo, e nem deu um pio sobre aquilo. Poderia
chamá-lo de corajoso, mas só via teimosia ali.

"Onde você... Onde...?" Começou um pouco deturpada. O general tentou afastá-la. Com o
maxilar trincado, rosnou:

"Já disse que não foi nada. Vá trocar logo as roupas, não temos muito tempo."
"Pro inferno com o tempo!" Ela esbravejou. "Eu posso não ser médica, mas trabalhei um ano
como auxiliar na enfermaria, sei que isso pode infeccionar e acabar tornando tudo pior.
Precisa de um curativo eficiente e não esse pedaço de pano que você colocou ao redor."

Edward rosnou, irritado. "Sou forte como um cavalo, e não é um tiro de raspão que vai me
derrubar. Trouxe-a até aqui, e posso muito bem levá-la o resto do caminho."

"Tiro?" Bella repetiu confusa. O general fez uma careta e resmungou, percebendo que falara
mais do que deveria. Então uma lembrança voltou à mente de Bella:

"Eu entendo mais do que você imagina." Ele respondeu e então mais uma vez agindo com
aquela velocidade superior, ele bateu com força na mão dela fazendo com que a arma
voasse em direção a algum canto do chão. Quando a pistola tocou o piso houve um disparo,
mas dessa vez ela não conseguiu saber onde ele acertara. Ouviu um som engasgado vindo
do general, mas logo ele estava empurrando seu corpo com o dele.

"Na sala de controle marítimo!" Arfou.

"Ótimo, agora pára com esse drama idiota e vamos dar um fora daqui." Ele disse pegando-a
pelo braço e puxando-a em direção ao carro.

Ah não! Bella não soube o que raios aconteceu dentro dela, mas não deixaria que por ser
fisicamente mais forte, ele tomasse o controle da situação. Não podia deixá-lo com aquele
machucado. Poderia piorar... E muito. E pelo menos devia aquilo a ele.

"Me solta! Eu não vou a lugar nenhum!" Esbravejou e com um puxão conseguiu se soltar. Ele
voltou-se com fúria, pronto para brigar e colocá-la no ombro se necessário.

"Não aja como uma criança, droga! Você não viu aquele helicóptero? Existem outros, novato!
Existem satélites... E essa sua birra pode custar sua liberdade!"

Bella engoliu em seco, sabendo que era verdade, mas não desistiria. Não tão fácil. Cruzou os
braços de encontro ao peito e deu-lhe um olhar superior, mesmo sendo vários centímetros
mais baixa. Com seu mais de um metro e setenta, Bella na maioria das vezes era maior que
as pessoas a sua volta, mas não com o general Cullen.

"Eu sei as conseqüências dos meus atos, e sei também que você é absolutamente teimoso e
não liga nem para a própria saúde. Mas eu não vou deixar que você continue com isso,
general. Se você quer tanto me ver segura para quaisquer sejam seus propósitos, então
deixe procurar alguma coisa para fazer um curativo, antes que infeccione – se já não
infeccionou – e isso se espalhe, e piore."

"Qual é seu problema? Eu te trouxe até aqui, e posso te levar. No que isso importa?"

"EU ME IMPORTO!" Berrou levando uma mão ao peito e percebendo que estava sendo
dramática demais, abaixou-há, um pouco envergonhada por suas estranhas reações.
Respirou fundo e acrescentou em tom indiferente. "Se você desmaiar, ou ter que amputar
seu braço, quem vai manter McCarthy longe de mim?"

O general olhou-a cético, perguntando silenciosamente se esperava mesmo que ele caísse
naquela. Ele estudou-a, se perguntando o porquê se preocupava tanto com um simples
sangramento. Diabos! Por que fora tirar o casaco? Ele colocara um pano firme em volta de
seu braço para estancar o sangue e acreditava que seguraria as coisas até voltar e dar um
jeito. Alice certamente não questionaria os motivos pelo machucado...

Mas que raio de novata teimosa era aquela!


"Ótimo, você não me deixa alternativa." Então ele se inclinou e foi puxá-la pelos joelhos,
colocando-a sobre seu ombro. Bella bufou exasperada. Sabia que algo daquele tipo
aconteceria. Maldito músculos fortes e grandes que aquele homem tinha!

E como diabos ele suportava a dor que aquele ferimento estava causando? Será que ele era
tão teimoso e imbecil a ponto de deixar aquilo passar?

Mas situações drásticas mereciam reações drásticas.

E Deus sabia que se arrependeria por isso – ou o general a faria se arrepender -, mas ela se
agitou tanto nos braços dele, que ele xingou-a de mil nomes enquanto tentava fazer com
que ficasse imobilizada. Bella mordeu-o no ombro com força, o que o pegou desprevenido e
fez com que a soltasse.

E quando ele a tentou pegar de volta, juntou toda a força e equilíbrio que tinha, e
impulsionou o joelho no meio das pernas do general.

Oh, aquilo doeu.

O homem rosnou e em um típico comportamento masculino, levou a mão ao baixo ventre e


envergou no chão com uma careta no rosto.

"Maldição!" Praguejou entre dentes com o rosto ficando vermelho. Bella bufou.

"Agora dá para ficar quieto e deixar de ser teimoso?" E quando falou essas palavras, ouviu
um som ali perto e em um ato automático checou a peruca na cabeça. Observou um senhor
com um lampião na mão caminhando na direção deles, desconfiado.

"Olá! Quem está aí?"

Bella olhou o general se recuperando ao seu lado e tomou a decisão. "Aqui!" Chamou
abanando as mãos.

O general enrijeceu, com mil xingamentos passando por sua mente. Mas que droga! Será
que ela não entendia o perigo que corria?

"Novato!" Sibilou em repreensão. "Vai colocar tudo a perder?"

Ela virou a cabeça por cima do ombro e respondeu: "Eu não vou deixar você se perder."
Então saiu em direção ao homem. Ao lá chegar, percebeu que o senhor era muito simpático,
e quando Bella improvisou dizendo que seu amigo estava ferido e precisava de um curativo,
logo se mostrou preocupado e pronto para ajudar.

O general já havia se recuperado, mas a carranca em seu rosto deixava bem clara a raiva
que sentia.

"Leve-o para dentro." O homem disse.

Bella caminhou até ele e se preparou para um eventual soco na cara. A cara que fazia não
era uma das melhores. Mas ele respirou fundo e fechou os olhos, tentando se acalmar, mas
mesmo quando falou, sua voz continuava raivosa.

"Você só faz merda, novato. Isso é perigoso."

"Eu sei que é. E seu machucado também. Na NSA houve um caso de ferida não tratada, e
bem mais superficial que a sua. Por falta de tratamento, quase que a infecção se tornou
generalizada."
"Exagero." Ele rosnou.

"Para um homem tão esperto, você é bem ignorante, general." Repreendeu.

Ele olhou-a com um olhar que poderia muito bem gelar o inferno. "O que você disse?"
Rosnou.

Bella rolou os olhos. "Vamos. Quanto mais rápido, melhor... Mais seguro."

O general estava pronto para pegá-la pelos ombros de novo e amarrá-la nos pneus se fosse
necessário, mas Bella pareceu perceber suas intenções e mirou-o.

"De onde surgiu aquele golpe, tem mais." Avisou.

O general estava irritado... Incrédulo. Como que uma mulher de vinte centímetros menos
que ele, simplesmente estava lhe demandando ordens como se ele fosse o novato da
história?

Mas não pôde fazer nada, porque logo o senhor apareceu e sabia que não poderia causar
nenhuma cena. O velho parecia bem intencionado, e entendia que nada do que dissesse ou
fizesse faria com que a infeliz mudasse de idéia.

Com um bufo, seguiu-a e entraram na casa. Com sua alta estatura parecia dominar toda a
pequena estrutura, e logo o senhor indicou o banheiro aonde poderiam encontrar um kit de
primeiros socorros. Bella agradeceu e empurrou Edward para lá, fechando a porta atrás
deles.

"Se aparecer uma escolta na porta, a culpa é sua." Ele rosnou sentando-se na pia. Bella
rolou os olhos e procurou as coisas necessárias para o curativo. Não tinha tudo o necessário,
mas daria certo. Agradeceu mentalmente por ter aprendido alguma coisa na estadia na NSA.
Deus sabia que se embolava toda com assuntos médicos anteriormente.

"Para um homem de quase trinta anos, de quase dois metros e cem quilos, você age como
uma criança." Ela repreendeu-o tratando de pegar um algodão para limpar.

Desatou o pano ao redor de seu braço e arfou ante a visão que teve. O tiro fora de raspão,
mas mesmo assim fizera um estrago. Prendendo a respiração, tratou de limpar, ignorando os
protestos do homem.

"Já passei por coisa muito pior que isso. Está fazendo tempestade em copo d'água."

"Cala a boca."

Os olhos dele se arregalaram. Ele não estava acreditando que ouvira aquilo.

"O quê?"

Bella não olhou para ele, estava atenta demais no processo de limpeza e desinfetar.

"Cala a boca." Ele não podia acreditar que ela ainda tivera o desplante de repetir! O
generalíssimo era um homem que na maior parte das vezes não era pego de surpresa. As
pessoas eram previsíveis, as ações previsíveis. Ele sempre analisava tudo de todos os
ângulos. Todas as possibilidades.

E, no entanto, aquela simples mulher o mandava calar a boca? Nunca, ninguém, em toda
sua vida sequer faltara-lhe com respeito!
"Com quem diabos você pensa que está falando?" Ele rosnou extremamente irritado.

"Com um homem teimoso e arrogante, que acha que só porque tem um título militar não
está sujeito a uma infecção, doença ou morte." Ela então sorriu e olhou-o, vendo logo o
franzido super acentuado da testa dele, as sobrancelhas quase unidas e a expressão de total
espanto. "É forte como um cavalo general, mas cavalos também morrem."

Ele abriu a boca para retrucar, mas fechou-a. Estava sem ação. Pela primeira vez em muito
tempo sem saber o que dizer. Ainda continuava irritado, mas mais consigo mesmo do que
qualquer outra pessoa. Porque ele sabia que se qualquer outro tivesse mandado-o calar a
boca, essa pessoa iria se arrepender o resto da vida por sequer ter levantado a sobrancelha,
mas como era aquela maldita mulher... Cristo! Ele não era capaz de fazer nada.

Eles ficaram em silêncio depois, e o general nunca desviou o olhar perturbado e confuso da
mulher que mordia os lábios em concentração à medida que fazia o curativo. Praguejou
quando pegou em um ponto sensível, e se surpreendeu quando suavizou os movimentos.
Tinha boas mãos, isso tinha que admitir. Cuidara dele quando voltara da Rússia, e Alice
dissera que não havia ninguém mais dedicada.

Bem... Por todas as circunstâncias, poderia deixar que a levasse para o lugar e depois deixá-
lo por sua própria sorte, não se importando se pioraria ou não. Mas estava de certa forma
arriscando todo o progresso da fuga até ali, somente para cuidar da porra de um machucado
de nada.

"Argh, inferno!" Rosnou. "O que raios você está fazendo aí, novato? Cortando minha pele?"

Bella rolou os olhos. "Você agüentou todo esse tempo com o machucado, e agora reclama
disso?"

Ele bufou. "Antes eu não tinha um ácido fervendo em minha pele."

"Ainda tem a parte pior..." Ela disse jogando uma gaze fora. "Talvez se você se distrair com
outra coisa, anuvie um pouco."

"Estou pouco me importando com a dor."

Rolou os olhos. "Ataque de 'eu sou macho' agora não, general. Economize-me."

Ele olhou para o teto em desalento. Ainda bem que todos aqueles que o temiam não tinham
acesso ao que passava ao lado daquela mulher. Sua reputação iria toda para o lixo, e as
pessoas ririam da cara dele. É, ótimo, Edward, ótimo, olha onde você se meteu.

Bella riu com algum pensamento e ele olhou-a, com a sobrancelha arqueada. "Que foi?"

"Nada." Respondeu dando de ombros. Procurou por alguma coisa no kit. "Eu só estava
pensando nisso tudo e como eu estou me sentindo como uma cega sendo guiada por seu
cão-guia."

O general bufou e deu uma espiada no machucado. Com uma torção no nariz, respondeu:
"Não costumo ser comparado com labradores. Mas com leões."

Bella pensou e concluiu que sim, era melhor comparar o general com um leão. E dos
grandes. Tinha toda a história de ser o rei da floresta, não era? Bem, o general fazia bem o
seu papel de rei de qualquer lugar em que colocasse os pés. O velhinho da pequena casa que
se cuidasse.

"E quem já te comparou com um leão?"


O homem rolou os olhos. "Uma repórter. Saiu uma vez um artigo no jornal sobre alguns
'militares'." Citou ironicamente. "E na minha foto, ela comparou-me com um leão. Eu achei
que depois das cortadas que eu dei nela na entrevista, me compararia com algo pior."

"Você deu uma entrevista?" Bella perguntou surpresa.

"Por que o espanto?" Arqueou uma sobrancelha. "Se eu bem me recordo você participou de
uma, e eu estava por lá."

Bella bufou. "Não me lembre daquele dia. Quase fiz a mulher engolir a fita."

O general rolou os olhos. "Nós temos certos... Deveres. Como somos 'defensores públicos',"
Frisou a última palavra com ironia novamente. "Temos que deixar que os 'cidadãos'
conheçam um pouco sobre nós, e saibam que estão seguros." Bufou e concluiu: "Grande
merda."

Bella riu. "Ela deve ter ficado insatisfeita, então... Já que tenho certeza que não conseguiu
nada sobre você." Era claro que ninguém teria conseguido algo sobre quem era o verdadeiro
Edward Cullen. "Deve ser por isso que te comparou com um leão... Querendo dizer que você
morde, de algum modo."

"Ela ficou insatisfeita," Ele bufou. "Mas com a recusa da NSA da proposta imbecil dela."

"Que proposta?" Bella perguntou curiosa, encarando seu perfil másculo. Bufou
sarcasticamente e sua expressão mostrava que se recordava do dia como algo ridículo.

"Queria que eu, e outros de alta hierarquia pousássemos para uma revista feminina."

Bella abriu a boca em choque. "Tipo... Nus?"

"Não, novato. Esquiando."

Bella ignorou. "Mas que... Que... Louca!" Completou sem encontrar palavra melhor.

"Pelo visto as mulheres têm fetiches com homens fardados. E altos cargos. Como desculpa
para nos tornar ícones sexuais, disse que o país precisava estar seguro que éramos fortes e
capazes para defendê-lo." Ele bufou. "Alguns novatos teriam aceitado prontamente, achando
a porra de uma diversão, mas recusamos, logicamente."

"Logicamente." Bella repetiu.

"Acho que ela ficou constrangida quando negamos..." Fez um som irônico. "Principalmente
com o que McCarthy fez..." Mas logo percebendo de quem estava falando, calou-se
trancando o queixo e se amaldiçoando.

Bella percebeu a mudança de humor, mas questionou do mesmo jeito. "O que ele fez?"

"Algo idiota." O homem rosnou e espiou o machucado. "Como sempre."

Bella parou os movimentos, mordendo os lábios. "Ele era seu amigo."

O general bufou ironicamente. "Ótima conjugação de verbo, novato. Era."

Bella queria dizer alguma coisa, mas não vinha nada que pudesse dizer. Deu de ombros e
avisou ao general que o pior já havia sido feito e nem percebera. Ou se percebera, com seu
orgulho idiota não mostrou. Mas por mais que tentasse afastar aquele pensamento da
mente, ficava se perguntando como seria a reação da população feminina ao ver o general
nu em uma revista.

Alguns minutos depois, Bella terminou, enfaixando o braço do general e atando muito bem o
ferimento. Ficou orgulhosa do trabalho, afinal durante um ano cuidara dos ferimentos dos
novatos que apareciam todo o dia com algo diferente, causado por algo idiota.

"Prontinho. Doeu?" Provocou.

O general rolou os olhos e analisou o curativo. Dando de ombros e se fingindo indiferente,


disse em tom lacônico. "Nada mal."

Bella estava de costas para ele arrumando tudo de volta e riu baixinho. Sempre o mesmo
general.

O homem a observou de costas para ele com um olhar atento. Não conseguia entendê-la,
era claro, por mais que achasse que a compreendia. Ela o deixava sem ação, e com falta de
controle, e odiava tanto aquilo...

"Agora você fez o que queria e pode ter membros da SWAT te esperando ali fora. Está feliz,
agora, mamãe?" Provocou.

Bella terminou de guardar tudo e olhou-o por cima do ombro. "Deus me livre ser mãe de um
filho como você!"

O general bufou, mas quase sorriu. "Ainda bem." Concluiu antes de puxá-la para ele, que
ainda estava encostado na pia. Bella arfou por estar com as costas no peito do homem tão
de repente. Lembranças de momentos antes no campo voltaram à tona, e rezou para que
conseguisse manter o controle. "Ainda bem." Repetiu em seu ouvido fazendo com que os
pêlos do corpo de Bella se eriçassem.

"Vocês estão bem, garotos?" A voz do senhor surgiu pela porta. O general rosnou olhando
para a madeira como se pudesse estraçalhá-la com um único olhar, e Bella respirou fundo se
afastando dele e abrindo a porta com um sorriso.

O velhinho simpático estava lá, parecendo preocupado. "Está tudo bem?"

"Não." O general respondeu mal humorado.

Bella riu sem graça. "Está sim. Acabei de fazer o curativo."

"Ah..." O senhor olhou para os pés, e depois sorriu. "Preparei um copo de leite pra vocês.
Está muito tarde, ou melhor, muito cedo. Sorte é que eu acordo bem cedo todos os dias."

Bella logo simpatizou com o senhor, mas recusou a oferta. O homem aceitou depois de
alguma relutância e deu mostras que vivia sozinho e solitário por ali. O general teve que
conversar um pouco com senhor, como medida de prevenção... Inventando alguma história
sobre os dois, dizendo vagamente um lugar que se encaminhavam, para que, caso o homem
fosse achado e interrogado, pudesse dizer aquela história.

Depois de alguns minutos, ambos seguiram porta afora em direção ao carro, e logo ela teve
que ouvir as reclamações do general.

"Se você mais uma vez sequer fizer aquilo comigo de novo, novato. Eu não me
responsabilizo pelos meus atos." Repreendeu-a lembrando do chute na virilha. "E se mais
uma vez você me mandar calar a boca, eu calo a sua com algo que você não vai gostar
muito de saber." Ele rosnou ainda irritado.
Bella riu baixinho.

Entraram no carro e Bella se lembrou das roupas que teria que trocar. Quando avisou o
general, este simplesmente fechou a porta do motorista e colocou a chave na ignição. "Agora
você se vira aí. Não vou a lugar nenhum."

"E o que acontece com os meus direitos?"

"Você violou todos os meus há porra de muito tempo." Ele rosnou e pisou no acelerador.

Bella rolou os olhos e pensou em ir para o banco de trás e se trocar como antes, mas com
um bufo irritado concluiu que não tinha motivo para tanto pudor. Não tinha vergonha, e o
general que se explodisse.

Tirou a blusa e jogou no banco de trás, ficando somente de sutiã. Bella achou até tempo
para analisar seus seios que pareciam maiores desde a última vez que os viu. Em nenhum
momento olhou para o general Cullen, mas pôde o ver apertando com força o volante.

Com sorrisinhos internos e maliciosos trocou de roupa e logo se encostou ao banco como se
estivesse totalmente relaxada e em paz.

Que era exatamente como não se sentia.

O general ficava mudando as estações do rádio de tempos em tempos buscando por notícias.
Nenhuma sobre NSA, ou fuga.

"Onde estamos?" Bella perguntou depois de vários minutos. Tiveram alguns momentos
tensos ao longo do caminho, incluindo helicópteros e outros veículos. Mas eles estavam em
uma estrada um pouco mais movimentada, devido ao movimento das férias de Natal.

"Washington D.C."

"O QUÊ?" O grito incrédulo saiu antes que pudesse controlá-lo.

O general lançou um olhar que faria gelar o inferno, repreendendo-a. Mas Bella ignorou.
Céus, ele só podia estar brincando com ela.

"Ótimo, general, agora pode começar a rir." O que era ridículo porque ele nem sequer fazia
aquilo.

Ele rolou os olhos. "E eu lá tenho cara de comediante? Olhe por si mesma." Ela olhou para a
estrada e depois de alguns segundos uma placa de boas vindas surgiu.

Ela não podia acreditar que o general a trouxera para a capital dos Estados Unidos da
América! Washington D.C!

"Não acredito que você me trouxe para a boca do lobo! Você está louco? Aqui é praticamente
onde se organiza as coisas... Segurança, a casa presidencial e..."

"E onde tem o lugar que você vai se esconder."

"Você só pode estar brincando comigo."

"Não estou." Ele rosnou ficando visivelmente irritado. "Eu não posso levá-la para mais longe,
novato, não por enquanto. E aqui em Washington há a porra do lugar mais seguro que eu
posso garantir pra você."
"A Casa Branca?"

Ele rosnou e lançou um olhar rápido e furioso para ela. "Não comece a me questionar,
novato. Não preciso dessa porra nessa altura do campeonato. Não agora."

Bella engoliu em seco e tentou se acalmar. Acabou se afundando no banco em frustração.


Cruzou os braços de encontro ao peito tentando ver algum sentido naquilo. Que maldito
lugar seria esse que ele a levava?

Bella ficou quieta o resto do caminho. Tiveram mais algumas precauções quanto a disfarce e
o carro, evitando que se houvesse a chance de alguém estar os seguindo, que fosse
despistado. Tentou enfiar em sua cabeça que aquele homem sabia o que estava fazendo,
mas a cada momento estava mais difícil de acreditar.

Até que o general parou o carro e a criminosa olhou pela janela aquilo que parecia ser um
convento. Ao redor havia algumas casas, mas a maior parte da rua era daquela estrutura
antiga, quase colonial. Parecia ter sido uma abadia há muito tempo, e era estranho algo
daquele tipo em meio a casas bem modernas.

"Um... Convento?"

"Não," O general resmungou retirando o cinto de segurança. "Um orfanato."

Bella deu mais um olhar crítico para a estrutura de pedra que estava toda escura sem sinais
de alguém acordado - pudera, era o quê? Cinco horas da manhã? – e voltou-se para o
homem com o cenho franzido.

"É aqui?"

O homem assentiu e suspirou passando as mãos pelos cabelos macios, parecendo estressado
e frustrado com algo. Não o agradava a idéia da novata entrando e andando por aquele
prédio. Parecia íntimo demais... Perigoso demais, não para ela, mas para ele próprio. Mas
sabia que não havia lugar mais seguro por enquanto.

Ele então se ajustou no banco para poder olhá-la, e percebeu toda a dúvida e confusão em
seu olhar e expressão.

"Você vai ficar aqui algum tempo, o exato ainda não sei. E depois venho te buscar de novo,
quando possível." Explicou laconicamente.

"Mas..." Começou, mas logo se calou. "O que esse lugar é pra você?"

Ele olhou-há por algum tempo até abanar a cabeça e sair do carro. "Vamos."

Bella abriu a porta do passageiro e saiu para o ar frio de dezembro. A rua estava deserta e o
som dos grilos era a única companhia. O general andou ao seu lado na rua até alcançarem
um portão que abriu com facilidade. Bella seguiu-o e ficou de cara com uma parede de
madeira, com esculturas com temas cristãos de baixo revelo fixadas ali.

Perdeu um pouco o olhar na figura do menino Jesus sendo amparado por sua mãe, Maria,
até que percebeu que o general com os punhos flexionados, batia na porta.

"Vai acordar alguém. É falta de educação bater na porta de alguém há essa hora." Bella
resmungou. Ele lançou-lhe um olhar cético como que dizendo que estava sendo moral
demais para uma criminosa.
Bella rolou os olhos e estudou a porta até que ela se abriu minimamente, formando uma
pequena fresta onde entrou em destaque um olho de um azul muito vívido. Este pareceu se
acostumar com as figuras e se arregalou ao ver Edward.

E em um segundo de hesitação, a porta se escancarava e por essa saía uma mulher com
seus sessenta anos, com algumas rugas ao redor dos olhos e um rosto risonho que nesse
momento estava deturpado por choque, alívio, surpresa e felicidade. Bella nunca pensou que
tantas emoções poderiam coexistir ao mesmo tempo em uma pessoa, mas era o que
acontecia.

"Ed-Edward?" Murmurou com a voz fraca, até que um enorme sorriso iluminou sua face e ela
percorreu a pequena distância entre ela e o homem alto e pulou em seus braços, apertando-
o em um forte abraço. "É, claro que é Edward!"

Bella olhou a cena totalmente chocada, porque não era só uma mulher sentindo uma grande
felicidade ao ver o general, não era só o general parecendo desconfortável abraçando a
senhora de volta engolindo em seco, era também o fato da senhorinha estar vestida de
freira!

Desde quando o generalíssimo conhecia alguém com vocação religiosa? Desde quando ele
abraçava alguém – mesmo que relutante e desconfortável – e fechava os olhos como se
sentisse falta de estar ali?

Então tudo começou a fazer sentido... Bella olhou aquelas estruturas, estudou as paredes, e
os dois que pareciam que não se viam há muito tempo. Estava óbvio que a irmã sentia falta
de Edward, e Bella sabia que o homem de alguma forma – mesmo que não admitisse –
também estava.

Lembranças de uma conversa em meio há um ringue voltaram à mente de Bella com


rapidez. E então ela soube onde estava: Aquele era o orfanato onde o general fora criado
desde a morte dos pais!

Não soube por que aquilo lhe chocou tanto, mas a verdade é que chocou. Olhou aquela
estrutura com outros olhos como que tentando enxergar como era há alguns anos, ou se era
a mesma coisa. Como era a vida do general ali, como ele vivera.

Sempre pensara no general como um homem formado, militar e arrogante. Tendo como
lugar o perímetro da NSA. Nunca pensara nele como um garoto, alguém crescendo e tendo
outro lugar como lar que não fosse algo envolvido com militarismo.

E realmente nunca, NUNCA imaginara que poderia lhe trazer ali. Agora entendia porque ele
parecia incerto sobre trazê-la... Afinal, era o passado dele, era a vida dele.

"Faz tanto tempo que eu espero por esse momento, Edward, querido." A irmã ainda dizia
com os olhos brilhando em deleite, até que se voltou para Bella. Seu cenho se franziu e um
sorriso relutante se formou em seus lábios. "Oh. Você trouxe amigos. Que moça linda...
Bem, entrem, entrem!"

O general bufou a menção ao 'amigos', mas seguiu a senhora para dentro do prédio. Antes
de entrar o general murmurou com o canto da boca: "Fique quieta" e Bella revirou os olhos.

Quando a irmã acendeu as luzes do recinto, Bella foi invadida por um interior acolhedor,
aquecido ao longe por uma lareira. Não se lembrava da última vez que vira uma casa
aquecida por uma lareira e não um aquecedor, mas a luz do fogo era reconfortante.

Quando a porta se fechou em suas costas foi como sentir um grande alívio. Finalmente não
estava mais exposta ao ar livre, onde poderiam facilmente rastreá-la. Sentia-se levemente
desconfortável estando ali, e não fazendo idéia de onde raios o general estava com a cabeça
ao colocar uma freira no meio do negócio ilegal deles! Qual é, ela poderia ter sua passagem
só de ida para o inferno garantida, mas ainda tinha alguns princípios!

"Vou pegar alguns biscoitos. Acabei de fazê-los para as crianças, estão quentinhos. Aceitam
um copo de leite também?" Bella já ia abrir a boca para dizer que sim, quando o general
tomou à dianteira.

"Não. Estou com pressa."

A mulher estalou a língua em reprovação. "Não acredito que mal chegou você vai embora!
Faz meses que não o vejo, desde a missa dos... Dos..." Olhou para Bella incerta sobre
continuar aquilo ou não. Enfim deu de ombros. "Você não pode simplesmente sair por essa
porta tão rapidamente, não, não!"

Para uma senhora tinha bastante força. Pegou Edward pelo braço e começou a escoltá-lo até
uma entrada que dava para uma cozinha enorme, com geladeiras e fogões industriais. Bella
ficou entre chocada e divertida ao ver aquele homem enorme e arrogante sendo
domesticado por uma freira de metade do tamanho dele.

"Mary..." O general começou, trancando o queixo dando boas vias que estava se irritando.

Mas ela parecia ignorar as atitudes do homem e apontou uma cadeira para os dois. Ao
sentar-se ao lado de um general carrancudo, arqueou uma sobrancelha e ele simplesmente
bufou e virou a cara.

Ao ignorar ou não se importar com toda atitude de machão do general, aquela senhorinha
simpática havia ganhado o respeito de Bella eternamente.

A irmã voltou com um prato de biscoitos e leite para os dois, que Bella logo tratou de
devorar. Estava morrendo de fome, e mesmo se recusasse por algum motivo idiota qualquer,
não tinha dúvidas que a senhorinha enfiaria sua garganta abaixo.

O general lançou um olhar atravessado para Bella repreendendo suas atitudes e ela só
devolveu com um gemido de satisfação ao notar como aqueles biscoitos eram gostosos.

"Qual é o seu nome, querida?" A irmã perguntou. Bella estava um pouco intrigada com o fato
dela ainda não ter demandado saber o motivo de suas visitas. Depois de alguma observação,
percebeu que para ela não importava os motivos, o que importava era que o general estava
ali. E queria prolongar o máximo o possível.

Olhou para o general perguntando silenciosamente o que responderia. Ele devolveu com um
aceno e Bella olhou para a senhora e respondeu:

"Bella."

"Bella, de Isabella?"

"Sim," Assentiu. "Mas prefiro Bella."

"Acho que ela preferiria Claire." O general provocou.

Bella estreitou os olhos acima de seu copo de leite, mas ficou grata por ele sair do estado
monossílabo que ficara de repente.

Com o prato de biscoitos e o copo de leite intocado, o general olhou a cozinha familiar. Havia
tido algumas mudanças com mais de uma década, claro, mas a essência continuava a
mesma. Olhou então para a senhora, que observava Bella discretamente, e soube que fora o
mais próximo de mãe que jamais tivera. Quando chegara ali, estava na casa dos trinta anos
e há alguns de assumir os votos perpétuos. Edward observava então a mudança que o
tempo fizera... E abanou a cabeça sabendo que aquilo não levaria a nada.

"Quanto tempo pretende ficar, querido?" Ela perguntou voltando seu olhar cálido e
inteligente para o homem formado que sempre seria seu menininho ingrato.

"Eu já estou indo." O general então travou o maxilar e levantou-se de um pulo, pronto para
acabar logo com aquilo. Aquele prédio estava lhe trazendo memórias que ele não queria ter,
e Deus sabia como precisava de um descanso. "Eu preciso falar com você, Mary. Em
particular."

Bella parou de mastigar o biscoito e levantou o olhar para o homem de pé ao seu lado. O
que diabos ele pretendia deixando-a de fora daquela conversa? Não tinha haver com ela?

Estava pronta para levantar-se e exigir participação, quando ele colocou a mão nos seus
ombros e com um olhar penetrante e firme, dizer:

"Enquanto isso, Bella aprecia os biscoitos que ela tanto gostou." A criminosa estreitou o
olhar, mas deixou ir. Tentou ignorar também a estranha sensação que teve quando o
general disse seu verdadeiro nome, pela primeira vez. Cristo, ela precisava de açúcar.

Virando-lhe as costas, pegou mais alguns biscoitos e reparou nos dois saindo da cozinha,
deixando-a ali. Franziu o cenho se perguntando o que o general falaria para a freira, e
acreditava que se ela soubesse um décimo da verdade, em dois minutos apareceria com
uma vassoura chutando-a bunda afora.

O que o general tinha na cabeça ao trazê-la ali?

Ela pensou em ouvir atrás da porta, mas sabia como ninguém, que o general seria capaz de
saber se ela fosse. Rolando os olhos, percebeu que verdadeiramente era difícil esconder
alguma coisa daquele homem.

Depois do que pareceram horas e muitos biscoitos a mais, os dois voltaram e ela não pôde
evitar ficar tensa na cadeira em que estava sentada, imaginando que seus pensamentos
pessimistas se concretizariam.

Mas a freira entrou, deu-lhe um rápido sorriso e perguntou se gostaria de mais biscoitos!
Bella logo ouviu o general se aproximando e percebeu como ele parecia tenso com algo.
Arqueou uma sobrancelha, questionando, mas tudo o que ele fez foi acenar para fora da
cozinha. "Venha."

Bella olhou dele para a senhora que parecia que não os viam e seguiu-o. Ele só parou
quando chegaram a uma espécie de sala de recreação, com TVS e jogos espalhados. Nada
do que Bella imaginava que um orfanato seria. Com certeza.

Com as mãos nos bolsos, o general analisou a rua das cortinas de uma janela. Estava tenso
e isso dava para perceber por toda sua musculatura e rigidez.

"Você vai ficar aqui."

"O que você disse a ela?"

Ele deu de ombros. "Nada com o que se preocupar." Ele desconversou. Então com um
suspiro voltou-se. "Tente não chamar muito atenção para si mesma, e nem fazer merda
quando eu estiver fora, novato, e isso é uma ordem."

Bella deu um sorriso irônico. "Eu não sigo mais suas ordens, general. Não sou mais da NSA."
Ele rolou os olhos. "As pessoas aqui..." Ele começou e parou, até continuar de novo, mais
lentamente. "Mary, é uma pessoa muito... Gentil e confiável. Eu dei algumas instruções para
ela, e você deve segui-las."

Bella assentiu.

"E o que você vai fazer?"

"Vou voltar para a NSA."

Bella tentou ignorar o desapontamento que surgiu dentro de si. "Vou fazer a porra do 'meu
trabalho'," disse com ironia. "E simplesmente fazer aquele lugar funcionar." Não mencionou
que boa parte de seu trabalho era evitando que a NSA a achasse.

Ela quase sorriu. Aquele sim era o general Cullen arrogante que conhecia. Parecia que estar
de volta a um lugar que vivera por mais de dez anos, fizera com que ele agisse diferente.
Estranho.

Mas mesmo assim ela não pôde deixar de ficar um pouco decepcionada. Criara esperanças
injustificáveis de que talvez ele... Fosse com ela, mas ele voltaria para o lugar dele. A NSA. E
Bella não podia lutar contra aquilo.

Eles ficaram em um silêncio constrangedor por algum tempo. Nunca ficaram assim. As
provocações, brigas e discussões sempre eram demais para pouco tempo que tinham, mas
agora... Eles pensavam em dizer muitas coisas, mas não tinham coragem, era ridículo na
verdade, não era?

O general passou a mão pelo cabelo, nervoso, e por fim se endireitou e avisou que estava
indo embora. Bella sentiu algo como uma pedra batendo em seu coração, uma tristeza que
não sabia de onde vinha.

Com o general passando por aquela porta, ela encararia o desconhecido. Não teria ninguém
que a conhecia por perto... Ninguém em quem podia verdadeiramente confiar.

Com uma espécie de desespero, ela alcançou-o e segurou-o pelo braço, fazendo com que
olhasse para ela.

"Você promete que vai voltar?" Ele viu o desespero e a aflição naqueles olhos.

Ele queria dizer que não, porra, ele daria qualquer coisa para dizer que não.

"Eu volto novato." Ele garantiu e em um ato inconsciente levou as mãos até seu cabelo –
que estava livre da peruca desde que chegaram ao orfanato – e acariciou-os por algum
tempo. Então lentamente se aproximou e depositou um beijo singelo em sua testa, fazendo
com que Bella fechasse os olhos e curtisse a sensação estranha, mas ao mesmo tempo boa.
Era como se no meio da tormenta, ela encontrasse paz.

Ele sentiu-se estranho... Como se estivesse perdendo algo... E de repente percebeu que não
poderia mais ficar ali.

Se ficasse... Poderia querer ficar.

Com determinação, afastou-se e retirou a mão de onde estava e virou-lhe as costas, abrindo
a porta. Quis olhar para trás, mas não olhou. Ele não podia mais controlar sua força agora, e
precisava partir... Precisava ir. Era seu trabalho... Já tinha feito a sua parte, para que ficar?

Bella ouviu passos atrás de si e soube que era a irmã.


"Como sempre saindo sem se despedir." Ela lamentou. "Ele é um rapaz difícil." Suspirou.

Bella realmente concordava com aquilo e encaminhou-se silenciosamente para a janela em


que o homem esteve há poucos minutos. Conseguiu observá-lo se distanciando, em sua alta
estatura, seus ombros largos e seus passos decididos, enquanto o céu se tingia de rosa, em
um novo nascer do sol.

E olhando o dia amanhecer e se sentindo sozinha e desprotegida pela primeira vez em muito
tempo soube que nunca em sua vida ficara tão triste em ver alguém partir.

Capítulo 5 – Nossa querida ALFA-I

Itália.

Um grito de raiva seguido com o barulho de vários objetos caindo no chão pareceu abalar
toda a estrutura. Jane e Alec se entreolharam e deram de ombros:

"Caius." Disseram juntos.

"EU VOU MATÁ-LA! EU VOU! COM MINHAS PRÓPRIAS MÃOS! AAAAAAAAAAAAAAAAAAH!"

"Calma, Caius, por dios!" Aro corria feito um patinho atrás do sócio com vários comprimidos
de várias cores em uma palma, enquanto na outra levava um copo e água. "Beba isso, vai
acalmá..."

"EU NÃO QUERO ME ACALMAR, EU NÃO... O que é isso? Quer matar, idiota?" Caius olhou
para os comprimidos. "Isso é droga, imbecil!"

Aro olhou desolado para os comprimidos que achava serem analgésicos. Pareciam tão
inofensivos... Tinha um rosinha... Outro até tinha um desenho de arco Iris...

Magoado, jogou tudo para o alto. Estava correndo há horas atrás de Caius, só tentando
ajudar e recebia só patadas. "Eu não tenho culpa que estava no lugar onde os remédios
deveriam estar!"

"Quer saber, acho que talvez eu me empanturre com um desses e... NÃO!" Caius desabou
em uma cadeira e bateu na mesa com força. "Eu quero estar bem vivo para acabar com
aquela lambisgóia. Filha de idiotas, idiotinha é. MALDITO DIA EM QUE ELA ENTROU EM
NOSSA VIDA, MALDITO DIA!"

Aro suspirou e Argos bufou em algum canto da sala. Estava impaciente o canino, já que o
dono esquecera-se de seu osso humano matinal. Aro lançou-lhe um olhar atravessado e
olhou depois para Caius.

"Soltando fogo pelas ventas, você não vai resolver nada."

"Tem razão..." Caius respirou fundo. Aro deu um sorrisinho presunçoso. Na máfia o
estourado era o Caius, ele o pacificador e a inteligência da organização, e Marcus era o
vagabundo libertino. Mas bem... Ele estava morto agora, sentia falta dele... Mas seus ternos
caríssimos não estavam mortos, e Aro, muito de bom grado e por prezar muito a memória
de seu falecido sócio, usava suas roupas, como forma de não deixá-lo esquecido no reles
mundo dos mortos. Aff... Existia algo mais fora da moda do que morrer?

"Senhor, eles chegaram." Alec apareceu na porta parecendo tenso.

"E O QUE VOCÊ AINDA ESTÁ FAZENDO AÍ QUE NÃO OS DEIXOU ENTRAR. INCOMPETENTE?"
Alec engoliu em seco e saiu, para minutos depois aparecer dois homens impecavelmente
vestidos. Um era alto, mesmo para os padrões italianos e o outro era baixinho e gordinho,
de origem sueca.

"Urs, Rafael." Aro cumprimentou polidamente, já que duvidava que se Caius abrisse a boca
fosse para proferir gritos.

Eles acenaram levemente com a cabeça e se sentaram nas cadeiras sem nem mesmo serem
convidados. Caius olhando-os constatou que de primeira vista não pareceriam os melhores
detetives da Europa. Aqueles que a elite contratava para assuntos pessoais, e não tinham
escrúpulos em agir ilicitamente para conseguir seus objetivos. Mas a reputação vinha antes,
e ele acreditava.

"Já sabemos o caso..." Urs, o sueco falou em tom calmo. "Só temos uma pergunta antes de
dizermos se aceitamos ou não..."

"Como assim, pensei que vocês já tinham aceitado." Aro observou franzindo o cenho.

"Não, meu caro, antes precisamos saber..." Então ele se voltou para Caius e perguntou. "O
quanto você quer que sejamos bem sucedidos nesse trabalho?"

Caius então não controlou mais a fúria que estava contida e levantando da cadeira com um
ímpeto olhou o sueco com o rosto cheiro de uma fúria latente. Bateu o punho na mesa mais
uma vez e vociferou:

"EU QUERO QUE VOCÊS ENCONTREM A MALDITA SWAN NEM QUE SEJA DENTRO DO
INFERNO, QUERO QUE VOCÊS A TRAGAM ATÉ A MIM PARA QUE EU MESMA POSSA MATÁ-LA
COM MINHAS MÃOS!" Fez um gesto que lembrava alguém sendo enforcado e então
continuou: "Cacem-na até o fim do mundo se for preciso, MAS TRAGAM AQUELA FILHA DE
UMA PUTA PARA MIM!" Até Argos ficou assustado e enfiou o rabo enorme dentro das patas.

Urs então lentamente assentiu com um sorrisinho satisfeito.

"Ótimo. Aceitamos o caso." Aro estava ainda confuso com aquela pergunta, então a resposta
veio de Rafael que calmamente brincava com o fogo do isqueiro. Sorrindo, disse:

"É que só trabalhamos para aqueles cujo objetivo é forte. Não gostamos de iniciar um
projeto e parar no meio por desistência do contratante." Então esfregou o indicador com o
polegar e olhou para o sueco. "Você se lembra da última vez que falhamos Urs?"

O sueco riu estrondosamente e então disse, sorrindo: "Não há como se lembrar de algo que
nunca aconteceu, meu caro!"

NSA.

A SALA DE REUNIÕES ficava no lado leste do prédio da NSA, que em toda sua estrutura se
encontrava em polvorosa. A maioria dos novatos graduados já havia recolhido suas malas e
partido com seus pais para suas respectivas casas. Alguns ainda permaneciam, pois o prazo
para liberarem o prédio era até o dia posterior: dezoito de dezembro.

"Você ouviu os rumores?"

"Será que é verdade?"

"Realmente foi muito estranha a desculpa deles ontem no campo..."

"Meu pai acha que pode ser um ataque terrorista. A Al Qaeda..."


A maioria do prédio estava cercada de autoridades e militares das proximidades, que vieram
logo quando receberam o telefonema da agência de segurança nacional. Alguns curiosos –
leiam-se novatos – circulavam como quem não quer nada tentando descobrir o que
verdadeiramente acontecia.

"EU ACHO QUE TEM UMA BOMBA FILHA DE UM PAI AQUI E NINGUÉM CONTOU!" Jasper
Whitlock garantiu para seu amigo Derek, que estava planejando partir com seus pais no dia
anterior, mas com algumas desculpas adiara a viagem até sua cidade natal. Afinal... Quando
apareceria outra ocasião tão boa quanto aquela? Claro que durante o ano houve várias
situações excitantes, mas eles eram novatos... Como o próprio general Cullen dizia "um
bando de gafanhotos." Mas agora eles estavam formados, principiantes, mas ainda assim
formados. Mereciam algum respeito por ali, certo?

"Não seja burro, Whitlock. Se fosse bomba haveria o esquadrão de bombas!"

"Ouvi dizer que eles têm capas da invisibilidade."

Derek olhou incrédulo para o ser ao seu lado. "Poxa, onde sua mãe estava com a cabeça ao
te dar livros do Harry Potter? Não é a primeira vez que você fala uma idiotice dessas."

Jasper rolou os olhos e esfregou as mãos umas nas outras tentando se aquecer. "Ela queria
incentivar minha leitura, certo? Ler é filhodopaimente importante!" Ele protestou.

Derek rolou os olhos. "Mas alguma coisa está acontecendo aqui... Uma coisa bem filho de um
pai..." Ao perceber o que falara, grunhiu. "Merda, isso pega!"

Jasper deu um sorriso presunçoso. "Acho que temos que investigar. Seja o que quer que
esteja acontecendo, podemos ajudar. Eles nos subestimam e está na hora de fazermos
alguma coisa filhodopaimente importante! Poxa, somos formados pela NSA! A empresa mais
foda de segurança do mundo! Eu já até avisei minha mãe não passar a receita
filhodpaimente secreta do bife a rúcula amanhecida dela pelo telefone. A NSA capta todas as
ligações do mundo e já pensou se de repente aparece à receita secreta da minha mãe no
programa da Oprah?"

Derek controlava o impulso de dar um soco em Whitlock. "Se é tão secreta assim, porque ela
estaria passando para outra pessoa?"

Jasper franziu o cenho e começou a pensar. Até que abriu a boca e com um dedo no queixo,
em uma expressão pensativa, concluiu: "Boa pergunta, Harry. Vamos estudar mais isso em
nosso próximo encontro."

Derek rolou os olhos e olhou casualmente ao redor, até parar seu olhar no que poderia ser a
chance dele. Demorou um pouco para avisar Whitlock, já que estava um pouco abobalhado
admirando o cara mais foda que ele já conhecera e ouvira falar em toda sua vida.

"Whitlock..." Chamou.

"Espera filho de um pai, eu ainda estou pensando..."

"Whitlock, idiota! Olha!"

Então o filho de um pai olhou e entendeu porque Derek fazia aquilo. "Oh Jesus... Estamos
salvos!"

Porque caminhando com passos decididos, postura perfeita, queixo levantado, um olhar
verde escrutinador, e vestido em uma farde verde musgo que parecia ter saído de um desfile
de moda dos militares, cheio de insígnias que todos os militares do mundo ansiavam por ter,
estava o generalíssimo Edward Cullen.
Ele sempre impressionava, onde passasse. Mesmo com a farda dava para ver claramente os
músculos bem definidos de seus braços, - os bíceps, os tríceps – e todo o corpo que dava
inveja aos maricas novatos que morriam depois de cinco flexões. Quantas flexões o general
já fizera para conseguir aquele monte de músculos definidos na barriga?

E Jasper prometeu a si mesmo enquanto via seu ídolo andar perto deles que um dia, um dia
conseguiria andar como ele: Como se fosse o dono do lugar e todos fossem meros mortais
abaixo de sua hierarquia.

E de repente, Jasper soube que não importasse o que estivesse acontecendo, o general
Cullen daria um jeito. Ele sempre dava.

Quando este passou perto deles, sem sequer dirigi-los um olhar, Jasper deu alguns pulinhos
e acenou para o general.

Este nem sequer pareceu notá-lo.

"GENERAL!" Gritou, correu atrás dele e continuou trotando tentando acompanhar seus
passos rápidos e decididos. "O que está acontecendo? Você já tem uma solução? Você pode
deixar a gente participar da reunião filho de um pai, também?"

"Vê se eu estou na esquina, Whitlock." Rugiu e deixou-o para trás, bestificado. Jasper ficou
lá, derrotado, com o queixo no chão.

"Boa, senhor filho de um pai!" Derek surgiu por trás dele batendo em suas costas,
amigavelmente.

"Cara. Um dia vou ser como ele." Jasper prometeu, admirado.

Derek rolou os olhos. "Pelo amor de Deus, deixa de ser idiota. Sabe quantos anos o cara
tem? Sabe qual é a média de idade um cara que entra para generalíssimo? Você nunca vai
conseguir ser igual a ele."

Jasper se endireitou, cruzou os braços de encontro ao peito e bufou: "Eu posso sim, e vou
ser." Pensou um pouco e depois deu pulinhos animados em direção a Derek. "Já sei que eu
posso fazer para começar com isso. Poxa, só tenho vinte anos, tenho mais oito para me
tornar pelo menos general."

Derek suspirou e tentou obter calma. Se fosse uma idéia que Jasper considerava boa, era
bom temê-la.

"O meu plano é o seguinte..."

Depois de alguns minutos, Derek começou a negar veemente com a cabeça e com as mãos.

"WHITLOCK. ENDOIDECEU?" Gritou.

"Fala baixo, filho de um pai." Jasper criticou olhando para os lados.

Derek respirou fundo. "Como você quer que eu me acalme depois do que você me falou?
Você quer ouvir a conversa do conselho da NSA, e você tem certeza que você vai saber a
solução – embora você não saiba nem qual é o problema – e vai dizer a eles?"

"Sim." Ele concordou, satisfeito. "Eles nunca vão me deixar ouvir a conversa, então temos
que entreouvir."

"E como você pretende fazer isso?"


"Bem... Eu tenho um plano. Mas você está comigo?"

Derek olhou para os lados, para o sapato, para o teto e por fim com um bufo, assentiu:

"Vamos mostrar a eles quem são os principiantes aqui!"

Lado leste da NSA. Sala de reuniões.

A sala de reuniões usada somente para assuntos de Estado da NSA era parecida como uma
sala de reuniões qualquer. A diferença estava na mesa quer era uma circunferência, tendo
ao centro dela um grande projetor pela qual se refletia a imagem de um homem de cabelos
cinzentos, olhos marrons cansados e uma bandeira dos EUA pairando de plano de fundo.

A sala tinha proteção sonora, ou seja, tudo o que seria dito seria extremamente confidencial
aos homens ali reunidos. Havia somente uma entrada de ar, protegida com uma redinha de
grades e um aparelho de ar condicionado embutido na parede.

"Senhores, temos um grande problema em nosso meio..." Começou George, o diretor


general da NSA. Ele estava cansado e limpou as gotas de suor que já começavam a se
formar em sua testa com um lenço, onde estava bordado um monograma com as iniciais de
seu nome e de sua recente esposa. Olhando o lenço, sentiu um aperto no coração, afinal
casara-se há apenas três dias... Estava em lua de mel e de repente recebera um telefonema.

Sua esposa não ficara nada satisfeita em vê-lo arrumando as malas com pressa e pegar o
avião de volta a Fort. G. Meade, e ameaçou deixá-lo caso o país fosse mais importante do
que ela. Mas não podia simplesmente ficar, tinha obrigações e precisava voltar a NSA,
mesmo faltando pouco mais de uma semana para o natal. E ela não seria a primeira mulher
a odiar o próprio país, ao ver seus homens saindo de suas casas para cuidar de seus
assuntos.

Ele suspirou e olhou para os homens presentes. Eram doze homens, que faziam parte do
conselho da NSA. Por eles todos os problemas passavam, e de lá saíam soluções. Cinco
homens eram militares nos mais altos cargos da hierarquia. E o resto eram homens da parte
inteligente da NSA, vestidos de terno, dentre eles Jacob Black que parecia querer se enterrar
em algum lugar. Na sala também estava presente coronel-general McCarthy.

"Senhor, o prefeito chegou." A secretária disse entrando na sala. Fez uma mesura e por ela
entrou o prefeito parecendo que tinha sido retirado da cama às pressas. Ele cumprimentou
todos os homens com um aceno de cabeça e se sentou em uma cadeira a mais além das
doze. Era um homem de meia idade, cabelos crespos e negros e olhos castanhos escuros.
Sua pele carregava um forte bronzeado que se perdia devido à estação fria.

George olhou para todos e perguntou: "Onde está o generalíssimo Cullen?"

"Aqui." Uma voz rouca e profunda surgiu de trás deles e todos se voltaram para olhar o
homem alto entrando na sala, deixando para trás uma secretária hiper ventilando. Todos se
surpreendiam sempre que o viam, afinal ele era jovem para o alto cargo que possuía, e
exercia respeito e admiração por onde passava, e claro, certo temor.

McCarthy cerrou os punhos embaixo da mesa e Jacob abaixou os olhos, enquanto George se
via aliviado pelo generalíssimo estar ali, afinal estava com toda a pressão sobre seus
ombros, e o generalíssimo sabia muito bem organizar tudo.

O general sentou na cadeira que ficava ao centro do círculo do lado oposto do George.
Levantou uma perna e colocou sobre o joelho e se recostou no assento, como se tratasse de
um encontro casual entre as autoridades da NSA.
"Bom, agora que estão todos aqui, podemos começar." Limpou o suor da testa de novo, e
começou. "Todos aqui presentes estão cientes que ontem houve a cerimônia de graduação
dos novatos, onde nossa agência foi aberta para amigos e familiares prestigiarem os
formandos." Ele colocou as mãos nas costas e começou a andar de um lado para o outro
enquanto falava. "Um dos novatos era um infiltrado... Que estava em nossa organização
desde janeiro do mesmo ano, colhendo informações e preparando terreno para cumprir sua
missão no dia dezesseis de dezembro."

"Pelo o que nos foi contado... O conhecimento de um criminoso entre nós foi recente e o
coronel-general McCarthy tratou de preparar uma emboscada para nosso "novato."" Bufou e
levantou o olhar para McCarthy que trazia uma expressão dura no rosto. "O infiltrado, que
no caso é uma mulher, dopou o chefe de controle marítimo Jacob Black em seu quarto,
quando este burlava regras tentando levá-la para cama." Jacob queria se enterrar no
assento e balançou levemente os cabelos para que estes ficassem mais na frente dos olhos e
talvez assim o escondesse melhor. "Foi até a sala de controle marítimo, com o cartão
magnético do jovem senhor, desacordou os funcionários de plantão, ludibriou o porteiro e
desligou os GPS marítimo para a passagem de um submarino carregado de drogas para os
EUA."

Houve alguns sons de descontentamento, mas o chefe continuou:

"Há sinais de destruição causada por uma arma de fogo calibre 38, e por mais que os
funcionários admitam que não entrasse em luta com a suspeita, acreditamos que sim, pois
não há outra explicação e nem outras impressões digitais a não ser a dos envolvidos."

"Como todos sabem... Nossas fronteiras estão cada vez mais bem protegidas contra
entradas de substancias ilícitas, mas claramente não há barreiras para as tentativas." Ele
estava ficando mais raivoso a cada palavra dita. "Soou o alarma e a infiltrada logo percebeu
que estava em apuros e fugiu. Fugiu também se fingindo de outra pessoa, o que logo
soubemos que era a forma de um militar da guarda, conseguindo também o maldito
uniforme. E que caminhou por entre todos normalmente, passou por toda uma guarda de
segurança e conseguiu sair da NSA tão calmamente quanto ela conseguiu entrar nesses
malditos portões!"

"Nem tão calmamente..." McCarthy intercedeu.

"Ah sim!" George joga as mãos para o ar em frustração. "O sargento Croix que estava de
visita a nossa agência descobriu seu disfarce e avisou os guardas. Mas antes disso, ela ainda
arranjou tempo para curtir com a cara de um de nossos subordinados fazendo se passar por
superior! E nem iremos mencionar os homens feridos e o homem morto! Que trataremos em
uma próxima ocasião." Ele grunhiu, então respirou fundo e continuou: "Saíram atrás dela na
floresta, mas conseguiu enganar a todos. Encontramos roupas do disfarce em uma árvore..."
Ele jogou uma sacola com uma farda amarrotada na mesa.

"Podemos analisá-la em nosso laboratório." Um NERD falou. Não porque ele tivesse a
aparência de um Nerd, mas por ser assim chamados quem trabalhava na área inteligente.
George fez um gesto displicente com as mãos e continuou:

"Ainda ontem encontramos o sargento ferido após ter levado uma coronhada atrás de uns
latões de lixo. E suspeitamos que a infeliz conseguiu escapar pelo caminhão de entulhos."

O general que ouvia tudo girando uma caneta de ouro entre os dedos, disse:

"Não conseguiu."

Todos desviaram o olhar do diretor para se voltar para o homem sentado pacificamente do
outro lado da mesa.

"Como?"
O general levantou os incríveis olhos verdes e encarou George diretamente. "Eu mesmo fui
checar o caminhão ontem, por volta das oito e trinta da noite. Não havia ninguém."

"Tem absoluta certeza?"

O general nem se dignou a responder. Sabia que George tinha a informação dos guardas do
portão dizendo que ele aparecera, e precisava informar aquilo antes que dissesse. Quando
George pareceu desconcertado e desacreditando na teoria do lixo, Edward não pôde reprimir
um único pensamento: Touché.

"Certo, então deve haver outra explicação..." George começou, mas foi interrompido por
McCarthy.

"Desculpe George. Mas acredito que talvez o generalíssimo tenha se enganado, ou não
checado corretamente."

O general trancou os dentes, sentindo a raiva borbulhar por suas veias com intensidade. Sua
vontade era de se levantar, pegar McCarthy pelo colarinho e ensinar a ele o que acontecia
com infelizes que ousavam recriminá-lo.

Controlando-se, se limitou a olhá-lo e dizer com a voz pacífica: "Não cometa o erro, coronel
general, de achar que sua incompetência se aplica para os outros também."

Houve um leve "uhhh" discreto vindo de alguns homens, mas logo tossiram e disfarçaram
olhando para o lado.

McCarthy estreitou os olhos e praticamente soltou fumaça pelas narinas feito um touro
bravo. Mas calou-se, e George continuou.

"A questão senhores, é que ela enganou uma guarda inteira, não importe como!" Expeliu,
voltando a andar de um lado para o outro com raiva. Bateu o punho na mesa com raiva.
"Pegamos o submarino e as drogas, mas ela fugiu!" Olhou cada um presente com os olhos
escrutinadores. "Uma mulher enganou a melhor agência de segurança do mundo... Durante
um ano inteiro... Dobrou homens do dobro de seu tamanho, pensou mais do que qualquer
um presente! Ela é uma mafiosa que trabalha para os Volturi e isso só deixou os mafiosos
exultantes e podendo mostrar ao mundo que NÓS FALHAMOS!" Esbravejou e McCarthy e
Jacob se encolheram sabendo que eram particularmente culpados por aquilo.

E o general Cullen simplesmente olhava aquela cena com o rosto impassível, girando a
caneta nas mãos.

"A sala está destruída, os homens desacordados, as pessoas que entrevistamos não tem
pistas alguma sobre ela, mas todos foram enganados!" Rosnou e respirou fundo tentando se
acalmar. "Se essa história chegar aos ouvidos da mídia a NSA vai perder toda a credibilidade
que construiu fortemente por décadas. Os EUA vai se tornar um antro de risos e zombarias,
e nossos inimigos vão ficar exultantes em saber que nossa segurança não é tão boa assim!"
Cuspiu.

O general rolou os olhos internamente. Era exatamente aquele comportamento que


esperava. O orgulho da NSA falaria mais alto. Touché.

George continuou andando mais algum tempo e ninguém ousou dirigir a palavra naquele
momento. Todos estavam se sentindo levemente culpados pela situação e envergonhados.

Por fim George se acalmou e pegou algo em sua pasta que logo tratou de jogar na mesa com
asco.

Era uma foto.


"Senhores, apresento-lhes nossa infiltrada."

Os olhos castanhos de Bella pareciam levemente zombadores naquela foto. Não que os
fossem afinal, era uma daquelas fotos de registros em que todos ou saíam horríveis ou
piores ainda. Mas para os homens ali presentes assim lhes parecia.

Jacob engoliu em seco e virou o olhar sentindo nojo da mulher e de si mesmo. McCarthy
somente encarou o espaço com um olhar duro e decidido, e todos os outros pareciam
levemente desconfortáveis. Afinal, Bella era conhecida. Sua fama de encrenqueira e boa
lutadora se espalhara por todo o prédio.

"Claire Evans!" Bufou jogando as mãos para o ar. "Ou Isabella Swan, se preferirem."

As pessoas não estavam prontas para isso. Umas arquejaram e outros arregalaram os olhos.
O primeiro a falar foi o prefeito.

"A... A... Swan? Swan de Charlie e Renne Swan?"

"A própria filha deles."

"Céus!" Outro homem praticamente levou às mãos a cabeça. "Isso ainda é pior. Os pais
traíram a CIA, a filha... Os Volturi devem estar exultantes!"

O general nada disse o tempo todo, continuando a girar a caneta nas mãos, e ninguém
pareceu achar estranho. Interromperia somente quando achasse que era necessário e se o
chamassem. Ele via aquilo como um bom jogo de xadrez... Observar, e por fim, dar seu
xeque-mate. McCarthy então tomou a palavra:

"Como descobriram?"

George lançou-lhe um olhar estranho. "Alguns homens da ala inteligente me disseram que
no começo do ano interceptaram uma conversa dos Volturi e a máfia Rússia sobre o
infiltrado. Sendo o infiltrado dos Volturi... E com as descrições e a idade conferindo, temos
Isabella Swan."

"Pode ser outra." Alguém palpitou.

"É ela." George respondeu resignado.

"Mas por que aqueles infelizes não informaram nada quando souberam?"

"Eles o fizeram." George disse colocando as duas mãos na mesa e olhando fixamente para o
outro lado, encontrando um par de olhos verdes imperturbáveis. "A você Cullen."

Todos os rostos se voltaram para o fim da mesa onde a figura autoritária do militar se
sentava casualmente. O general encarou o chefe durante alguns segundos até por fim largar
a caneta na mesa, umedecer os lábios e dizer, paulatinamente:

"Sim, eles me informaram."

Houve mais burburinho.

"Então por que não nos disse?"

Ele parecia muito calmo. Quando respondeu só faltava dar de ombros e relaxar ainda mais
na cadeira.
"Porque não era necessário."

Dessa vez ninguém pôde conter o burburinho que começou e logo se propagou em intensas
ondas de reprimenda. O general se mostrou impassível, com os olhos nunca desviando de
George que o olhava assombrado.

"ORDEM!" Berrou por fim se sentindo em um tribunal e retirando um lenço do bolso,


enxugando o suor da testa em uma atitude tensionada. "Pelo amor de Deus Cullen, explique
isso."

O general deu de ombros. "Não há nada o que explicar George. O primeiro motivo por
termos aquela conversa foi justamente porque a máfia queria que interceptássemo-la."

"Eles seriam loucos!" Alguém concordou.

"Concordo!"

"Não quando eles não estavam realmente achando que a infiltrada teria sucesso."

George franziu o cenho e o silêncio propagou na sala por alguns instantes. Todos estavam
confusos e levemente chocados com as revelações... O único que parecia imperturbável e
natural era o general que já estava começando a se aborrecer com aquela perda de tempo.

"Senhores, Isabella Swan foi mandada em uma missão suicida."

"Mas isso não explica o porquê da negligência em cuidar da segurança!"

O general trancou o maxilar e apoiou as duas mãos na tampa da mesa escrutinando cada
presente com o olhar. Sua áurea de líder, seu passado e reputação violenta fizeram com que
todos o olhassem com certo temor e silêncio.

"Há anos os EUA tenta conseguir o paradeiro das principais máfias mundiais. Os Volturi estão
dentre elas. No que nos ajudaria pegar um infiltrado, que nem sabíamos quem era, e mantê-
lo preso e condenado sendo que não ganharíamos nada com isso?"

"Poderia falar sobre ameaça!"

"Não!" O general vociferou. "Isso seria um risco muito grande e nada garante que de fato
acontecesse. Senhores," Continuou em um tom ameno, mas muito aterrorizador. "O racional
seria deixar que os Volturi achassem que de fato a mulher estava conseguindo sua missão a
ponto de realmente irem em frente com ela." Seu olhar pousou em McCarthy e ele não
escondeu o ódio que relampejava a ele. "Se deixássemos ela realmente seguir em frente
poderíamos ter boas chances de conseguir os Volturi. Perderíamos um carregamento de
drogas, mas ganharíamos a localização dos mafiosos."

Edward não falava totais mentiras, até se surpreendeu como estava caminhando muito
tangente à verdade. Estava descrevendo seu plano antes de tudo mudar... Modificando o
fato de que era para os EUA, e não exclusivamente para ele e seus motivos pessoais.

"Eu estava pronto para cuidar de tudo e resolver, mas, senhores, como sabem..." Estreitou
os olhos para Emmett, que mudou a posição da cadeira.. "Algumas pessoas resolveram
desobedecer a ordens e tratar com o assunto sozinho, e acabou que perdemos."

McCarthy engoliu em seco e desviou o olhar. Os homens piscaram os olhos diversas vezes
um tanto quanto confusos. Eles entendiam a lógica do general, só não compreendiam. Era
diferente.
Por fim George questionou. "E por que você deixou a NSA fora disso, Cullen, você
certamente fez conosco o mesmo que McCarthy fez com você."

O general teve uma vontade enorme de bufar e responder que ele era a NSA. Quem fazia a
porra toda funcionar era ele, inferno! Mas também sabia que para tudo havia uma linha
tênue chamada limite e ele já tinha levado aquilo longe demais para ultrapassá-la.

"Porque quanto menos gente sabendo melhor. Há alguns anos se vocês bem se recordam,
uma missão foi totalmente prejudicada quando alguns funcionários não conseguiram assumir
muito bem seus papéis. A vítima em questão desconfiou e fugiu."

As pessoas levemente se lembraram de um caso parecido e depois de algumas palavras


persuasivas aqui e outras ali, o general acabou dobrando os homens presentes. Explicou que
os Volturi queriam se livrar da Swan, assim como se livraram de seus pais, e inventou uma
desculpa dentro da lei e esperta quando perguntaram como sabia de tudo aquilo.

Mas McCarthy estava adepto a cavar sua cova cada vez mais funda.

"Há dois meses, Cullen, você me disse que sabia quem era o infiltrado."

Todos se assombraram e o general pareceu imperturbável.

"Eu menti."

"Não acredito..." McCarthy bufou entre dentes, descrente.

"Pois é a verdade, só estava tentando fazer com que você não tentasse estragar os planos,
mas vejo que não adiantou de qualquer maneira." Retrucou e se ninguém havia percebido
ainda que os dois homens estavam em pé de uma guerra, era porque ou não estava na sala,
ou não enxergava, não ouvia e era um demente. O general se sentou depois de um tempo e
alguém limpou a garganta e todos se viraram para o monitor. O vice-presidente arrumou os
óculos de grau e disse:

"Pelo visto a NSA precisa de algumas alterações..." Limpou a garganta. "Mas o presidente
está ansioso em resolver essa questão, senhores."

George então se reinstalou só que Emmett cortou-o, levantando-se em um ímpeto e batendo


na mesa, deixando toda sua atenção se centralizar no ex-amigo.

"Pois eu acho que você está mentindo, Cullen!" Esbravejou. "Ou pelo menos você sabia de
algo... Durante a porra d..."

"Senhor!"

"... De um ano você foi o mais próximo daquela mulher e não negue isso! Você a treinava
para o campeonato e chegou a dormir com ela em um mesmo quarto... Eu cheguei até a
pensar que vocês estavam apaixonados!"

"Céus!" Alguém chorou.

"Ou você admite que foi igualmente enganado por um ano por Swan, ou você admite que
sempre desconfiou e se aproximou dela por isso!"

Uma fúria crescente se instalava no peito de Edward enquanto ele encarava aquele traidor
sujo e vil. FILHO DA PUTA! Esbravejou internamente. Sua vontade era de levantar e matá-lo,
e se arrependeu amargamente por não ter quebrado suas pernas de novo quando teve a
vontade e oportunidade no passado. Mas se controlou, ou pelo menos o suficiente para não
jogá-lo longe e quebrar-lhe os ossos.
"Por acaso você está sugerindo que eu me envolvi amorosamente com aquela mulher?"
Rosnou e se levantou novamente batendo na mesa com fúria. "Eu não preciso de acusações
de uma pessoa que praticamente me empurrava a ela dizendo malditas coisas de como eu
deveria viver de novo! Você tira conclusões das próprias situações em que VOCÊ me meteu
McCarthy!"

McCarthy estava pronto para revidar quando alguém tomou a palavra.

"Isso não faz sentido algum, senhores. Todos sabem como Isabella Swan em particular
sofreu com o general Cullen durante o ano em que passou aqui. É inadmissível uma teoria
dessas."

Mas Jacob estava extremamente quieto em sua cadeira. Em sua mente uma memória lhe
voltava. Uma de vários meses, ainda no verão em que fora na fazenda entregar os relatórios
semanais para o generalíssimo. De repente estava conversando com o general McCarthy na
sala de convivências e depois o general Cullen aparecia com fúria e socava-o.

Não conseguia se lembrar bem do motivo, mas havia algo a ver com a mulher...

"Um instante." Ele começou calmamente a dizer recebendo a atenção de todos. Olhou de
McCarthy para Cullen e também se lembrou de algo ainda mais antigo. Quando estava
espiando os banheiros femininos e estava vendo "Claire Evans" o general pegou o aparelho e
ficou extremamente bravo... Talvez tivesse haver somente com a violação de privacidade,
ou... Diante de todas aquelas teorias... Simplesmente a ver com a mulher em si.

Estava pronto para dizer isso a todos, mas algo o deteve. Não podia negar que estava com
raiva daquela ordinária, mas durante aquele tempo em que corria atrás dela deixara-se
levemente envolver. Queria só um bom sexo e um corpo gostoso em quem se enterrar, mas
a mulher era tão intrigante. Havia algo nela que incitava um homem a tentar conhecê-la...
Conhecê-la tanto fisicamente quanto mentalmente.

Olhando para o generalíssimo em sua postura bruta, violência e olhar atroz não conseguiu
imaginá-lo gostando, amando alguém. Nem muito menos acobertando alguém de um
crime... Não, definitivamente não conseguia. O general Cullen tinha aquela imagem típica de
homem que vivia pelo trabalho e cuja vida não havia espaço para mulher, pois mulher
representava amor, carinho, e Edward não tinha uma postura de alguém que fosse capaz
disso.

Então concluiu que aquela conversa estava indo para os lugares errados.

"E então?" Alguém incitou.

Ele ergueu o olhar e disse: "Acho que estamos indo para lugares errados. O generalíssimo
explicou as razões para não dar o alerta do infiltrado... Foi explicada a situação de ontem."
Engoliu em seco se lembrando de como fora enganado e no olhar quase maquiavélico na
mulher quando enfiou a agulha em seu corpo. "E tenho certeza de que ele não a ajudaria
fugir ou coisa do tipo," soltou um bufo irônico. "Acho que temos que priorizar as coisas, não
apontar culpados. Temos que procurá-la, não? Enquanto faz apenas horas e ela ainda pode
estar por perto."

Algumas pessoas se mostraram levemente surpresas pelo choque de racionalidade de Black.


E Edward odiou-se a si mesmo ao odiar menos aquele infeliz chefe de controle marítimo.
Ainda não se esquecera das coisas que fizera, mas fez com que todos parassem com aquela
discussão que acabaria lhe trazendo problemas, não concretos, mas suposições e dúvidas. E
isso era tudo o que não queria.

Por fim George tomou conta da situação e mandou a todos sentar e se acalmar. Um café foi
servido e o general Cullen recusou-se a encarar McCarthy novamente.
"Senhores, acho que o correto seria colocarmos uma equipe atrás dela, mas em segredo da
imprensa."

McCarthy limpou a garganta e fez um comentário, mal humorado. "Já foi resolvido tudo com
os parentes de ontem. Eles não são mais um problema."

"Ótimo. Acho que devemos manter segredo do que aconteceu na NSA, para evitarmos..."
George bufou. "Conseqüências."

Depois de mais alguns pontos estabelecidos e chefias dadas foi resolvido que meio mundo
caçaria Isabella Swan aos arredores e logo daria um aviso para centros de segurança do
restante do mundo. Aeroportos, estações de trem, ônibus, rodoviárias, alugueis de carros,
bancos, financiadoras, lojas, supermercados e todos os lugares possíveis receberiam uma
segurança maior. Uma equipe da NSA que cuidava desses casos seria responsável,
trabalhando em conjunto com os policiais dos arredores e do país inteiro.

Outro ponto discutido foi a respeito do navio com os narcóticos que estava no comando do
DEA, e que estes fariam investigações para descobrir alguma pista. A droga viera da Irlanda,
e um agente já havia sido mandado até lá para descobrir alguma coisa sobre o paradeiro dos
Volturi.

Foi discutido também sobre o planejamento de recruta dos novatos do ano posterior.
McCarthy e outro militar ficariam responsáveis por um novo sistema que garantisse maior
segurança na escolha dos novatos. As precauções que já existiam, seriam ainda maiores.

"Senhores..." George disse por fim com um olhar resignado no rosto. "Apresento-lhes nossa
Alfa I*." E então marcou a foto de Isabella Swan com um carimbo vermelho que dizia "ALFA
I" e todos permaneceram um pouco tensos, mas o general Cullen estava quase se
divertindo, afinal, querendo ou não, Isabella Swan era que nem ele. Ou era o melhor ou era
nada.

No caso ele era o melhor militar da NSA e ela... Bem, ela se tornara a mais procurada
criminosa dos Estados Unidos da América.

Era de se orgulhar.

Exprimidos no túnel de ventilação no teto da sala de reuniões da NSA, estava Derek e


Jasper, paralisados em estado de choque.

Abaixo deles, os caras mais fodas do mundo saíam da sala de reuniões mais filha de um pai
existente. Jasper queria gritar, e quase gritara um tremendo "seus filhos de um pai, vocês
não sabem de quem estão falando. Swan não é Evans, Evans é minha amiga... A Rainha das
filhas de um pai...", mas Derek e o choque interromperam sua fala.

Foram voltando do túnel silenciosamente, sem poder falar, pois assim detonaria a presença
deles. Até que ouviram vozes e Jasper com uma mão paralisou Derek. Eles as reconheciam.

"... Maldição! Eu sou seu amigo, Cullen. Não posso acreditar que vai agir assim depois do
ocorrido. Nós somos amigos, lembra? Nós precisamos trabalhar juntos e defender nosso
país."

"Para o inferno com sua lengalenga, McCarthy." Uma voz de trovão surgiu. "Você não só é
um tremendo filho de uma puta com o que você considera suas amizades, como também
com o seu superior. Você desacatou minha ordem, e sua posição."

"Você faria a mesma coisa no meu lugar."


Lá embaixo o general Cullen virou-se com tremenda fúria para seu ex-amigo. Com uma
careta de nojo e desprezo, murmurou:

"Não ouse dizer que me igualaria a você."

Jasper ouvia tudo, fascinado. Os dois generais brigando?

"Então, vamos falar de coisas sérias. Acredito mesmo que você mentiu durante a reunião. Eu
sei que você não tinha uma relação só general-novato com aquela mulher, eu sei que você
esteve envolvido..."

"NÃO!" Os dois homens se assustaram e olharam para o teto que foi de onde veio a voz.

"Seu idiota!" Derek praguejou baixinho tentando tampar a boca de Whitlock, mas este
estava tão louco que acabou se agitando tanto que conseguiu ceder à portinhola de entrada
de ar e desabar no chão. Ao lá chegar, soltou um "Aiiii, chão vagabundo filho de um..."

Os dois generais olhavam incrédulo para Jasper espalhado como um espantalho


desmembrado no chão na frente deles. Derek praguejou e começou a se distanciar do túnel,
procurando a saída e se manter ileso, mas uma voz de aço surgiu:

"E você fique onde está, Derek."

Puts. Era o general Cullen. Engolindo em seco, voltou dignamente e pulou da portinhola de
ventilação até o chão, onde Jasper já se recuperava.

"O que raios vocês pensam que estão fazendo?" McCarthy perguntou.

Jasper respirou fundo e tentou controlar as lágrimas. Não era hora de sentir um emo
filhodopaimente sentimental. "Vocês são um bando de loucos! Evans não é Isabella Swan, eu
a conheço... Ela é minha amiga. Ela realmente se preocupa comigo, quando ninguém em
muito tempo não se preocupou. Vocês estão acusando a pessoa errada!"

"Jasper..." Derek começou envergonhado.

"Whitlock..." McCarthy começou um pouco tocado. "Então me responda onde ela está
agora?"

"Na casa dela, com os filhos de um pai que são os pais dela, e não com aqueles traidores!
Mas bem, ela não pode estar com eles, afinal, estão mortos, mas... Ugh."

"Whitlock, e você por acaso viu os pais dela?"

Jasper ia abrir a boca para dizer que sim, quando soltou um muxoxo e seus ombros se
encolheram. "Não."

"Ela é Isabella Swan, foi à infiltrada... Desculpe Whitlock, mas ela enganou você. Enganou a
todos nós." McCarthy colocou a mão no ombro dele, e na última frase lançou um olhar
questionador para Cullen que analisava aquela situação impassível.

"Eu não acredito!" Esperneou, mas nem estava mais certo disso. Enfim, ergueu a cabeça.
"Mas o senhor está errado sobre o general Cullen... Duvido que ele a ajudaria a sair, a
encobertaria. Ele é o militar mais filho de um pai que existe, nunca trairia o país com algo
assim! Quando eu crescer, vou ser que nem ele."

O general não pôde evitar ficar um pouco mal por aquelas palavras ditas com tanta
eloqüência e confiança. Ele por acaso parecia um garotinho de cinco anos que precisava que
alguém o defendesse? Mas o pior era acreditar que alguém o admirava, admirava a ponto de
almejar ser que nem ele... Inferno!

"É isso que vamos ver." McCarthy disse mal humorado, lançando um último olhar para o
general e depois saindo deixando-os para trás.

Cullen então disse, com a voz impassível. "Espero que vocês não contem a ninguém o que
vocês ouviram hoje na reunião."

Os dois se surpreenderam em choque. "Como... Que... CALÚNIA! NEGAMOS!"

O general bufou, ficando estressado. "Vê se arranjam um idiota para enganar, eu não tenho
tempo para aturar vocês. É bom vocês permaneceram quietos, senão do contrário... Bem...
Vocês sabem o que os aguarda." Grunhiu lançando um olhar malvado que mostrava
claramente o que poderia fazer com cada um deles. Logo se virou para sair, quando Jasper
chamou.

"General é verdade... Sobre a Claire?"

O general parou e de repente se viu impelido a dizer que não era... Mas acabou dizendo a
verdade.

"Sim." Ouviu uma espécie de soluço atrás de si e virou-se. Queria dizer que achava que seu
novato havia sido sincero na amizade entre eles, pois sabia que era assim. Mas não pôde
dizer. Por fim, deu de ombros e falou inflexível. "E vê se vai à enfermaria."

E na enfermaria, minutos depois, Alice cuidava de alguns machucados de Jasper com o olhar
meio perdido. Estava cuidando de tudo sozinha, pois não tinha mais sua assistente e sua
amiga... Amiga, huh, enganara-há o tempo todo. Ainda não conseguia absorver aquilo.

"Ela era a mulher mais filha de um pai que já conheci..." Jasper murmurou, desolado. E Alice
sentiu um aperto no coração, querendo abraçá-lo e confortá-lo. Lembrou-se da conversa
com Claire – ou melhor, Isabella – dias antes da formatura e se perguntou se ela fora
sincera, se tudo não fora uma encenação e se por dentro na verdade não estava rindo dela.

"As pessoas nem sempre são o que parecem, Jasper." Foi tudo o que conseguiu dizer, mas
nem ela conseguia acreditar. Poderia falar qualquer outra pessoa como sendo o criminoso,
mas não Claire, não sua amiga.

"Aquela filha de um pai..." Ele suspirou então se endireitou e com uma expressão dura no
rosto, negou. "Não, ela não é mais nenhuma filha de um pai. Só tem esse título quem
merece... E ela não merece mais. Nunca mereceu."

Edward estava em seu quarto deitado em sua cama olhando para o teto. Estava somente
com uma regata branca e uma calça camuflada do exército. A porra do aquecedor estava
ligado, mas bem desejava que não estivesse, pois o frio talvez ajudasse que seus
pensamentos mudassem de rumo... Outro rumo bem distante da porra da mulher que estava
no lugar que foi seu lar durante treze anos. Mas ainda não estava em uma atitude suicida,
ainda não. E morrer congelado não era muito nobre... Alguém como ele merecia morrer com
mais dignidade.

Por fim tentou pensar no que faria no Natal daquele ano. A NSA estava em polvorosa, mas
existiam os departamentos cuidando de tudo e a menos que houvesse uma certeza de onde
Bella estivesse não seria chamado. E aquilo era algo que garantira que não aconteceria.

Dali dois dias poderia sair para suas férias merecidas das festas de fim de ano, e como todo
ano iria para sua casa, sozinho, reafirmando as idéias de seu plano contra a porra dos
Volturi. Na véspera poderia sair com alguns outros colegas militares, que iam para um bordel
bem conceituado e faziam uma pequena festa. Era comum no meio deles... Mas a maioria
tinha uma família ou estava formando uma família... E ele não. Também não estava no clima
para aquele tipo de festa e nem das putas com maquiagens fortes e desejos de subir na vida
com um militar no bolso.

Com um bufo, olhou para seu braço enfaixado e não pôde evitar pensar no seu novato.
Merda! Tentou pensar em como a inflação estava crescendo, quando desistiu de lutar contra.

Uma hora teria que voltar e tirá-la do orfanato, levando-a para o lugar definitivo. Mas até
lá... Queria permanecer sozinho - longe dela. Evitar o máximo possível qualquer tipo de
contato, porque sabia que aquilo estava o matando... Lentamente, mas o matando.

Ainda estava decidindo o que fazer quando alguém bateu em sua porta e avisou que a
equipe de buscas descobriu que a mulher se hospedara em um hotel de beira de estrada
com um homem. Não sabiam qual homem era, mas estavam procurando e que havia uma
pista que indicava a direção Norte, talvez o estado da Pensilvânia.

Quando a porta fechou, o general riu internamente e acabou sendo invadido pelas
lembranças dele e da novata naquela madrugada. Porra, eles estiveram em constante perigo
e fugindo, mas mesmo assim... Fora a porra da melhor madrugada de sua vida.

Quando lembranças mais indesejáveis começaram a surgir, e ele teve que se levantar e
tomar a porra de um banho gelado, já estava com a decisão feita.

Ficaria o mais longe daquela mulher quanto fosse possível.

*Alfa I em uma lista de procurados, é o primeiro nome da lista. Em grau de importância e


rapidez, é o que tem maior índice de ambos. Não sei quem é o alfa I dos EUA no momento,
mas no livro ficcional que eu li, geralmente são narcotraficantes com super colarinho branco.

Capítulo 6 – O garoto Edward Cullen.

Se houvesse algum concurso com o título "A mais Bela Freira do Mundo", "Ou Miss Freira
Universo", com certeza Bella ganharia. Olhando-se no espelho menor que a palma de sua
mão com dobrinha alaranjada, soube que sua vocação esquecida era realmente a religiosa.
Olha só esse hábito preto e branco, olha esse véu, ou como lá se chamava... Realmente
ouvira em algum lugar que estava na moda usar somente preto e branco, e...

Céus, quem ela estava tentando enganar?

"Cadê o meu cabelo? Cadê meu cabelo?" Exclamou levando as mãos a cabeça coberta pelo
véu. "Cadê minhas orelhas, meu pescoço, minhas pernas, meus braços, meus joelhos, céus,
até a pontinha do meu dedão?"

"Algum problema, querida?"

Bella logo se endireitou e deu um sorrisinho amarelo. "Nenhum. Irmã."

Ela sorriu e olhou-a da cabeça aos pés. "Você ficou muito bem com o hábito. Se eu não
soubesse melhor, falaria que você nasceu para isso."

Bella tentou ignorar o calafrio que percorreu sua espinha ao ouvir aquilo. Estava certo que
ela tentou melhorar seu humor e situação achando que realmente estava um "pão" naquele
hábito, mas ouvir assim... E bem, a freira não parecia estar brincando. Freiras brincavam?
"Como assim 'se eu não soubesse melhor'?" Franziu o cenho tentando controlar a
preocupação que se instalara em seu corpo, afinal, não sabia ao certo o que o general falara
para Mary. Ainda achava um pecado estar escondida em um orfanato governado por freiras,
como descobriu. Havia uma igreja ali perto que era responsável pela transformação do
antigo convento no orfanato para crianças carentes, abandonadas e órfãs. Havia outro
convento na cidade, o "atual", mas algumas freiras viviam ali para cuidar de tudo, e
administravam ali uma pequena escola, pelo menos até os primeiros anos escolares das
crianças.

"Ah, bem..." Ela deu um sorrisinho matreiro que Bella já estava se acostumando. "Sua
vocação é com certeza o casamento."

"Casamento? Eu?" Não pôde controlar uma risada esganiçada, mas acabou olhando uma cruz
na parede e fechou a boca, achando falta de respeito.

A freira sorriu como se soubesse de um segredo e foi até ela e deu-lhe um abraço.
"Certamente é contra as regras lhe dar um hábito como você não é freira... Mas Edward
falou que é necessário."

Assentindo, mordeu os lábios e perguntou: "Ele falou... Alguma coisa a mais?"

A freira deu um sorrisinho enigmático. "Ah, deve ter comentando uma coisa ou duas, mas
bem... Vamos. Você precisa conhecer o orfanato. Com certeza não vai querer ficar o tempo
todo trancada no quarto, não é?"

"Não, claro que não." Bella respondeu, mas a verdade era que queria. Desde que chegara lá
na madrugada do dia anterior, tomara um bom banho e fora direto para a cama. Até se
surpreendeu quando recebeu um chá para ajudar a dormir de Mary. Ficara no mínimo
desconcertada, afinal... Ela era uma criminosa e estava sendo tratada como...
Alguém... Normal. E diabos, aquilo era exatamente o que não era.

Quando acordara se surpreendera por serem cinco horas da manhã. Afinal, dormira bastante
não foi? E tipo... Não fora cinco horas da manhã que ali chegara? Mas então percebeu que
eram cinco horas... Do dia posterior.

Dormira um dia inteiro! E quando levantou estava muito melhor, apesar de dores que não
tinham antes começarem a aparecer, junto com alguns arranhões, hematomas e uma dor de
cabeça dos infernos. Sem mencionar o maldito pesadelo com os Volturi.

Dividia o quarto com uma noviça, de mais ou menos dezessete anos – e quando mencionou
sua idade, Bella se achou "a vovó do quarto". Céus, ela deveria melhorar aquele trauma com
idades.

Mas Catherine, como chamava à noviça, era muito gentil... Um pouco tímida na verdade.
Mostrou-lhe o hábito e como colocava quando Bella se embolou no monte de tecido e
desabou no chão. De todas as coisas que um dia imaginou em vestir, roupas religiosas eram
as últimas da lista. Na Itália nunca fora á igreja – por Deus, seria muita hipocrisia também –
e nem tão pouco se via precisando de um Deus, mesmo que alguns religiosos insistissem
que Ele era a solução para todos os problemas. E bem... Sendo realista, nem Deus poderia
resolver seus problemas.

Bella geralmente se sentia um lixo perto de algumas pessoas, em questões morais, claro.
Principalmente com Mary, que era uma senhorinha simpática ou muito boa, ou muito
ingênua. Bella ainda estava em dúvida. Não a pressionou para saber quem era ou o que era
para o generalíssimo, somente lhe sorriu e assim que a pegou ainda olhando pela janela
chamou-lhe e sugeriu educadamente que tomasse um banho.

E agora estava andando pela estrutura com Mary. Estava tudo bem silencioso, como quando
chegara.
Achando que aquele véu na cabeça era demais a agüentar, tirou-o. Mas quando Mary viu,
colocou de novo, somente dizendo: "Edward disse..."

Para ela tudo era "Edward disse...", "Edward aquilo..." Era como se ela adorasse
imensamente o general. Visse nele o exemplo de boa rendição e santidade. E se ela contasse
para a freira a verdade? O "gege" realmente perderia alguns pontos. Ela poderia se divertir
com isso.

Era estranho ter pessoas se referindo ao general como "Edward". Sempre pensara nele como
"o general", "o tiranossauro Rex", "o bruto", "o violento", "o arrogante", mas nunca como
"Edward". Parecia tão... Humano... Normal... Civil.

"É... Ele sempre tem algo para dizer a todo mundo..." Resmungou. Geralmente ordens,
deve-se ressaltar.

A freira deu de ombros. "Ele tem suas razões misteriosas, sempre teve. E você também e
não estou pronta para pressioná-la a contar, não se preocupe."

Bella meio que se divertiu ante a imagem de uma velhinha empurrando-a contra a parede e
mandando dizer tudo se não morria. É. Bem louco.

Controlou-se e mordeu os lábios. "Ele sempre foi... Assim?"

A mulher riu. "Assim... Um pouco, rígido?" Não pôde esconder o alívio ao perceber que a
freira não era alienada... Afinal, ela adorava tanto o general que era capaz de falar que era
um anjo e que estava acelerando o processo de beatitude no Vaticano. Mas espera aí... Para
se tornar santo não tinha que morrer antes? Saco... Não sabia nada daqueles assuntos, mas
tanto faz.

Assentiu e a mulher deu de ombros enquanto caminhava pelos corredores. Percebeu que
carregava um potinho de remédio nas mãos. Seguiu-a e não pôde deixar de observá-la com
o canto do olho enquanto caminhava por entre os corredores.

"Ele sempre foi uma criança difícil. Extremamente inteligente, deve-se ressaltar."

Bella rolou os olhos, mas a freira não percebeu e continuou:

"Todos ficamos muito apiedados dele quando chegou aqui. Céus! Ainda me lembro como se
fosse hoje. Aqueles olhinhos verdes estavam tão tristes, sem vida, sabe? Ele não falava
nada, até que pensamos no começo que era mudo... Também se recusava a comer, a se
socializar, a sequer se mexer. Ele ficava lá na cama dele, parado, olhando para frente com
os olhos fixos em algo que não conseguíamos ver." Ela meio que estremeceu e dobrou um
corredor. Bella ouviu alguns sussurros distantes e logo surgiu uma porta grande de madeira.

Do lado de dentro havia vários risinhos e vozes e a freira soltou um suspiro brincalhão.

"Incontroláveis!"

Então abriu a porta e Bella foi invadida pela visão de várias camas espalhadas ao longo de
um amplo quarto. Logo se lembrou de alguma maldita novela mexicana "As Chiquititas" e
teve que rir com isso. Havia cerca de dez camas e em todas havia meninos.

Perguntou-se se era um orfanato só para garotos, mas logo notou outra porta do outro lado
do corredor que trazia uma plaquinha charmosa que dizia "Meninas".

A freira entrou cessando os barulhos e todos se embrulharam na cama como se não


estivessem acordados. Bella sorriu, mas não se atreveu a sair da proteção do batente da
porta.
A freira caminhou até a última cama onde havia um menino que tossia ocasionalmente. Ela
levantou-o, deu o remédio e depois de algumas palavras levantou-se em direção a Bella.

Antes de ir disse por cima do ombro: "Vão dormir garotos!"

Houve risinhos e a freira logo fechou a porta atrás de si.

"Parecem um tanto rebeldes."

"São uns amores." A freira suspirou demonstrando claramente o carinho que sentia por eles.

"Há quanto tempo está aqui?"

"Ah minha filha... Anos... Anos... Desde que era noviça."

"Oh."

"Não vou levar isso como uma ofensa a minha idade." Sorriu.

Bella protestou. "Nunca foi minha intenção, senhora."

"Pode me chamar de Mary, querida, e não, não tenho certeza."

Bella deu um sorriso amarelo e de novo se sentiu levemente desconfortável pela situação. A
mulher estava lhe tratando gentilmente sem saber quem na verdade era. Estava escondendo
uma criminosa e nem ao menos estava desconfiada disso.

Logo tratou de mudar de assunto. "Acho que acordamos você, ontem."

"Não... Eu acordo muito cedo." Ela garantiu. "Geralmente quatro horas da manhã. Preciso
começar a preparar as coisas por aqui."

"Existem outras irmãs também?"

Ela assentiu. "Mas como se diz... Uma boa cama em um bom dia frio é indispensável."

Sorriu e seguiu-a.

"Creio que conheceu Edward no trabalho dele." Mesmo lançando uma suposição, parecia que
a freira já sabia a resposta.

A criminosa se surpreendeu e já se sentindo mal resolveu não mentir. Totalmente.

"É. Mais ou menos isso."

"É de se imaginar, afinal ele nunca sai de lá. Fico feliz por ele ter encontrado alguém."

Bella estava pronta para perguntar quem raio era esse alguém que ele encontrara quando
entendeu. Abriu a boca e começou a protestar agitando as mãos freneticamente no
processo.

"Não, não... Acho que a senhora está confundindo um pouco as coisas. Eu e o general não...
Não temos nada." Assentiu se sentindo no dever de acalentar aquela afirmação. "E nem teria
como. Definitivamente. É impossível."
A mulher não se sobressaltou, mas olhou-a com um sorrisinho sábio. "Por que impossível?"
tinha certeza que de alguma forma a senhora estava a testando.

"Por que..." Bella começou, mas se calou sabendo que não poderia expor os verdadeiros
motivos. Parte deles, talvez. "Por que eu não gosto dele."

"Não?"

"Não... Eu meio que... Odeio-o."

A mulher agora sim se surpreendeu. Bella continuou tentando fazer com que a senhora
acreditasse nela.

"Tipo, isso é bem verdade. A gente não se dá bem. Ele já fez coisas horríveis comigo e eu
com ele, admito. Não existe nada romântico em tentar matar alguém, você sabe." Percebeu
que estava falando demais, então concluiu. "Hipoteticamente, claro. Quem ousaria tentar
matar ele né?" Rolou os olhos e continuou. "E você viu como ele me trata? É um grosso,
violento, bruto, nem um pouco cavalheiro..."

"Mas está te ajudando."

Bella logo perdeu todos os argumentos. Calou-se e engoliu em seco. Por fim suspirou
vencida:

"É um ponto, mas isso... Isso não significa nada. Definitivamente. Ele tem os motivos dele, e
bem... Não é nada envolvendo meu bem-estar, acredite... E..."

"Querida," A freira gentilmente cortou-lhe a fala. "Não sei o que realmente está se
passando... Nem tão pouco tenho certeza se quero saber," Ela teve um calafrio, já
pressentindo que o que quer que aqueles dois estejam envolvidos não era algo muito
saudável. A ignorância era bom calmante. "Mas se ele te trouxe aqui, para onde nunca
trouxe ninguém, para onde sabe que estará segura e onde você pode conhecer um pouco
dele, é porque não te odeia."

Bella foi abrir a boca, mas foi interrompida novamente.

"E certamente," Ela continuou sorrindo sabiamente. "Você também não. Por mais que você
queira acreditar que sim."

Bella não pôde responder nada por alguns instantes e quando por fim uma frase espertinha
surgiu-lhe como inspiração, não conseguiu dizer, pois a senhora já estava caminhando de
novo.

"Venha, venha comigo. Preciso de ajuda com o café da manhã. Logo essas crianças vão
acordar e você vai descobrir o que realmente é algo indomável."

Ok, talvez estar ali não fosse de modo... Tão ruim. Bella até se adaptou um pouco. Ok. Tinha
a grande diferença de cenário. Saíra de um dos centros mais informatizados do mundo para
ir a um lugar quase colonial... Mas bem, tinha uma TV até bacaninha, ali não tinha?

Na maioria das vezes estava ligada no canal de desenhos animados e céus, tinha coisa ali
que nunca ouvira falar na vida. Mas claro, sua infância não fora justamente assistir
"Coragem, o Cão Covarde" ou "O Clube das Winks", era mais como jogar CS na vida real. De
vez em quando roubava o controle para buscar alguma coisa na CNN, ou algum outro canal
de importância que pudesse falar sobre ela. Porque ainda estava decidida que se fosse ser
procurada nacionalmente que fosse com coisa realmente importante! Nada de jornalzinho
local!
Mas não tinha nada, e bem, o general deveria estar tomando conta de tudo. Ah, inferno! Ela
estava evitando pensar nele, mas ocasionalmente voltava a sua mente.

Estava se dando bem com as crianças... Algumas eram desconfiadas com tudo o que fosse
novo, mas Bella tinha um ou dois truques de mágica na cabeça envolvendo barbantes e
moedas de vinte e cinco centavos. Até ensinou alguns golpes para alguns meninos e se
sentiu a "freira desviante de caminhos". Ok... Ela não tinha culpa que pediram para tomar
conta das crianças. Nunca tivera muito contato com elas, e acreditava que o fato de tratá-los
como "pequenos adultos" fazia com que gostassem dela.

Tá... De fato ela não estava indo tão mal... Um menino apareceu com um soco inglês que
conseguira em-algum-lugar-secreto-ignorado-por-Deus e pedira para Bella ajudá-lo a dar
bons socos, mas ela foi muito sensata e disse que "Deus castigava quem usava aqueles
instrumentos..."

As outras freiras envolvidas foram instruídas que Bella viera de outra cidade, e que passaria
algum tempo ali no orfanato. Algumas acharam estranho, mas souberam acolher Bella muito
bem. As crianças não podiam dizer a ninguém quando fossem sair para a missa semanal, e
nem para um passeio qualquer que havia gente nova. A irmã Mary inventou uma boa
desculpa que aplacou a desconfiança dos pivetes.

O orfanato estava cheio de preparativos para o natal, em que ou você ajudava ou morria.
Todos os pratos da ceia, biscoitos, guloseimas, bebidas – não-alcoólicas. Claro. Com exceção
do vinho para os adultos – enfeites para o prédio, incluindo meias na lareira, uma grande
árvore de Natal. E havia presentes, fato que a surpreendeu. Mary disse que anos atrás não
poderia dar nada as crianças no natal, pois não tinham condições, mas que começaram a
receber uma ajudinha e agora poderiam oferecer coisas melhores. Achou que se tratava de
alguma instituição da capital que ajudava. O governo ou coisa assim.

Bella se envolveu bastante e ficou grata por isso, afinal podia fingir que era uma pessoa
normal por algum tempo. Quando voltava para a cama, exausta, quase não pensava na vida
ou nos Volturi. Mas os sonhos continuavam aumentando... Gradativamente. Sabia que
precisava de um plano... Precisava pensar nas conseqüências futuras, afinal... Não ficaria
para sempre no orfanato, não seria foragida para sempre. Precisava ir até a Itália...
Precisava acabar com os Volturi, e depois? Entregar-se-ia?

O que realmente a fazia se encher de coisas para fazer, era o temor que sentia quando
percebia que em todos os seus planos – ou na maioria deles – ela começava a considerar o
generalíssimo... Ok... Ela não mudara muito a opinião sobre ele – duro, insensível, e com um
beijo provocante que... Deus! – e sabia que ele só a ajudava por causa de um plano que ele
tinha estabelecido ali mesmo naquelas paredes. Ambos com interesses – como no início – e
com desejos de atingir seus objetivos. Mas por que pensar tanto nele, ou ficar lançando
algumas indiretas para Mary se ele freqüentava o natal por ali, quando não se importava?

Por que... Ela realmente não se importava, não era?

De fato, conhecera coisas sobre ele que tinha certeza que ele nunca falaria. Um dia, o padre
da região chamado Andrew, um senhor de aproximadamente sessenta anos, fora ao orfanato
visitar as crianças e as reunira em uma pequena salinha de aula, onde começara a ensinar
sobre a história do Natal. Logicamente, todas as crianças eram ensinadas na fé Católica e
Bella meio que se sentiu mal de novo por estar ali. Seria o representante do diabo? A má
influência?

O fato é que pela primeira vez na vida soube que Jesus não nascera em Jerusalém. Para ela
sempre fora tão óbvio... O nome era parecido, não era? Poxa, como ela adivinharia que
nascera em Belém? Mas aí as coisas começaram a fazer um pouco de sentido depois que
relembrou a música natalina "bate o sino de Belém."
Os natais na máfia eram geralmente coisas nada religiosas – bem longe disso – se bem que
Aro desse uma de cara de pau e fosse até o Vaticano ficar no meio do povão, quando se
sentia entediado. Dizia que encontrava quem realmente o queria. Era triste.

Depois da pequena catequese, o padre, algumas freiras – incluindo Mary, que Bella pegava-a
observando-a longamente – e ela estavam na cozinha. A foragida estava fazendo alguns
biscoitos com formas de árvores de Natal. Na verdade, estava tentando. Mas a massa não
ficara consistente o suficiente, e quando ficara irrecuperável prometeu que iria reembolsar os
ingredientes.

Entreouviu uma pequena conversa entre eles, em que o padre perguntava do general.
Somente Mary sabia que ela estava envolvida com o homem, então disse que o vira
recentemente e que talvez desse uma passada. Pelo modo em que falou, era bem óbvio que
ele não fazia muito isso. E então padre começou a falar sobre ele.

Bem... Parecia que ele não tinha muitos assuntos mesmo.

"Quando ele tinha dez anos, foi à primeira comunhão dele, lembra Mary? Céus, aquele
cabelo estava horrível. Pior do que todos os dias. Juro que joguei água benta para ver se
dava um jeito, mas nem assim. E quando ele deixou cair à hóstia no chão? Não... Acho que
não foi realmente ele, mas bem... Fui dar na boca dele, e acabou que caiu no chão." Rolou
os olhos. "E a foto com os outros colegas?"

Bella acabou vendo essa foto depois, e se surpreendeu com um general de dez anos de idade
– e mesmo com essa idade, era bem mais alto que os demais. O cabelo era um pouco mais
claro e estava vestido com uma bata branca, no meio de outros catequizados. Na verdade...
Ele estava sussurrando no ouvido de uma garota com aparência bem mais velha que ele,
que Bella soube que fora a primeira quem beijara, atrás da igreja.

"Mas ela era quatro anos mais velha que ele!" Mary abanou a cabeça enquanto colocava um
monte de farinha em um pote. "Aquele menino sempre foi um terror... Meio fechado em si,
calado... Mas tinha um desejo absurdo de conhecer tudo. Quantas vezes a irmã Patrícia não
o achou atrás da árvore com uma garota diferente? Céus. Briguei tanto com ele."

Bella rolou os olhos. Então o general fora um mulherengo juvenil. Na NSA nunca soubera
muito sobre mulheres em sua vida, mas sabia dos hábitos de alguns militares em visitar
"casas noturnas" a fim de diversão. O general provavelmente estava no meio.

"E quando a Mary Collins começou a chorar? Acredita Bella..." Mary se virou para ela. "Que
ela tinha se apaixonado pelo garoto? Aquele danado! Mas ele não queria nada, virou para ela
e disse 'garotas só atrapalham'... Depois de algumas semanas consegui convencê-lo a não se
assanhar com as meninas do orfanato, e ele aceitou. Graças a Deus, o que poderia ter
acontecido aqui?"

"E ele já assentou o pé?" Andrew perguntou. "A última vez em que o vi foi na missa em
janeiro desse ano, perguntei para ele quando celebraria seu casamento e ele disse que
'casamento é para fracos', vê se pode?" O padre não escondeu o ressentimento na voz. Ele
vira o general crescer – assim como Mary, - mas parecia que não aprovava as decisões e
feitos em sua vida. Não que Mary aceitasse... Mas pelo menos não carregava ressentimento
na voz. "O que você acha, querida?"

Só depois de alguns instantes que Bella percebeu que o padre estava falando com ela.
Abaixando os olhos e engolindo em seco, deu de ombros: "Acho que está errado. Só fortes
agüentam casamentos."

O padre riu e disse que ela precisava conhecer o general. Eles se dariam bem. Bella meio
que achou tudo muito irônico.
"Na verdade, ela o conhece." Mary comentou enquanto com uma colher de pau batia no
braço de Bella, de brincadeira, mandando que ela se afastasse de algo a mais que pudesse
estragar. Qual é! Não tinha culpa de nunca ter cozinhado na vida! Na verdade... Já servira
uma mesa, poderia contar não? Estava fingindo ser uma garçonete – com um uniforme
muito curto, ressalta-se – tentando entreouvir a conversa de um cara poderoso com seus
sócios. Resumo da ópera: acabou na cama com o cara, descobriu que estava fazendo
negócios com um representante francês. E inesperadamente uma semana depois, ele estava
fora do negócio e os Volturi dentro.

Bella meio que encarou chocada a freira.

"Conhece...?" Andrew arqueou uma sobrancelha.

"É..." Bella engoliu em seco e olhou para Mary com os olhos confusos.

"Conhece." Deu um sorrisinho. "Antes de descobrir seu verdadeiro caminho, ela trabalhou
para a NSA."

"Jura?" O padre recostou-se a cadeira. "Então você deve ter a mesma opinião minha sobre o
Cullen." Ele estalou a língua, e nesse momento duas postulantes entraram na cozinha e
começaram a fazer parte da conversa.

"Eu acho que um pé de pimenta naquele jardim ficaria muito bom..." Bella começou
querendo desesperadamente fugir daquele assunto.

"Ele não vem aqui há séculos, e é como se esquecesse que esse foi o lar dele durante treze
anos!" O padre cortou-a claramente magoado. A ex-infiltrada sabia que Mary também se
ressentia, mas não dizia. Gostava tanto do general, que só sabia falar bem dele. "Ele fica lá
naquela agência, trabalhando o ano inteiro, salvando o país ou sei lá o quê. Ok. Não estou
reclamando da parte patriótica, mas ele precisa de tempo para si mesmo! Ele não cuida da
própria vida."

Oh céus, me tira dessa! Tira-me dessa!

"Ele é muito ocupado. É um trabalho duro." Mary interferiu gentilmente.

"Ah Mary, não se iluda. Parece que se esquece de nós, de tudo o que fizemos por ele... É um
menino ingrato isso o que ele é." Bella se viu lançando um olhar duro para o padre, que
felizmente não percebeu.

"Dizem que ele é o melhor militar do país, padre." Uma noviça interferiu claramente vendo o
desespero de Bella para sair daquele assunto. Estava se sentindo levemente desconfortável.
"Saiu uma reportagem dele recentemente, foi comparado com um leão e tudo." Bella meio
que riu ao lembrar-se da conversa que eles tiveram sobre aquilo.

"E é o único militar com menos de vinte anos de carreira que conseguiu as três estrelas."
Outra noviça sorriu. É, parecia que ele era meio famoso por ali. Mas como... Se ele nunca
aparecia como eles diziam?

"E o que isso importa?" O padre ergueu as mãos em frustração. "Ele pode ser o presidente
do país, mas precisa de uma família. Estou vendo ele com quarenta anos e sozinho... E
quando ele tiver que se aposentar? Como vai ser?" Mas que padre chato, Bella pensou.

"Não tenho certeza se chega até lá..." Mary comentou com a voz triste enquanto mexia em
um ensopado. Bella sabia o que ela se referia... Algo que estava se perguntando
recentemente: O que faria depois que cumprisse a vingança? Teria sentido continuar vivendo
uma vida de merda, uma vida que só passa pela dos outros para estragar e magoar? Ela
viveria até os quarenta anos?
"Outro dia, fui visitar os presos do presídio do outro condado. Acredita que por algum motivo
citei o nome dele, e os presos ficaram enfurecidos? Alguns diziam que o motivo por eles
estarem lá era justamente o general... A fama dele se espalha, e não é boa. Nem um pouco.
As pessoas têm medo dele."

"Ele não é má pessoa..." Mary já tinha parado de mexer o ensopado e lutava contra as
lágrimas. Bella meio que se sensibilizou por ela e se surpreendeu ao sentir algo borbulhando
em suas veias.

"Não estou dizendo que ele seja só acho que não há nada que podemos fazer por ele...
Trabalhamos treze anos por isso, e não deu certo e você sabe Mary. Tenho medo do homem
que ele possa ter se tornado."

"Na verdade. Eu discordo." Bella se surpreenderia se alguém dissesse aquela frase, mas
ficou ainda mais chocada quando soube que fora ela quem falara.

Todos da mesa voltaram-se para ela e notaram a mão que apertava com força uma colher
de pau. Bella tentou controlar a raiva que crescia em si, mas não deu muito certo.

"Não que eu discorde que é ruim o general não vir aqui, que as pessoas tenham medo dele,
ou que levava as garotas para trás da igreja para fazer sei lá o quê... Ele pode ser mau de
vez em quando, rude, violento, grosseiro e nada educado, mas com certeza é o homem de
mais coragem que eu conheci." Disse e encheu o peito e continuou. "Uma vez alguém tentou
me matar, e ele me salvou... Outras eu quase morri por minha própria estupidez, e ele
também estava lá. Ele me ensinou coisas que salvaram minha vida... E me ajudou quando
ninguém mais me ajudaria. Ele manda tudo pro inferno, quando é para conseguir aquilo pelo
qual acredita. Ele pode ser o menino e homem que se fecha para todos e constrói muros ao
seu redor, mas ele também é o homem que luta pelo que quer... E sabe o que ele é. Tanto
sabe, que ele afasta as pessoas para que elas não sofram... Tanto sabe que a razão da vida
dele é vingar a morte daqueles que mais amou.. Não esqueceu de onde veio, pois afinal...
Ele ajuda o orfanato a se manter, e dá as crianças o que ele não teve quando esteve aqui."
É... Ela descobrira que o motivo das coisas terem melhorado por ali, das crianças terem um
natal decente, com boa comida, roupas e presentes era o dinheiro que o general dava todos
os anos para o orfanato. E não era pouca coisa.

"Uma vez ele apostou a própria vida só para chegar a uma pessoa e lhe dizer à verdade que
fora escondida dela durante toda sua vida. Somente para ser decente com ela. Então não
precisa temer pelo homem que ele se tornou, porque pode não ser o melhor do mundo, mas
com certeza há mais nele do que ele mesmo imagine."

Respirou fundo e só então percebeu que suas mãos estavam tremendo. Virou-se para o
padre e então disse:

"E eu acho padre, que como sacerdote e alguém que o viu crescer, você deveria entendê-lo
como ninguém." Largou a colher de pau na mesa fazendo um pequeno barulho, e
acrescentou: "Mary entende." E dizendo essas palavras virou-se e saiu pela porta, deixando
para trás várias pessoas chocadas e de boca aberta.

Quando saiu da vista de todos, respirou fundo e chocou-se contra uma parede. O que fora
aquilo? Acabara de brigar com um padre por causa do general. Por que fizera aquilo, inferno?
Tá bom... Não gostara nem um pouco do modo como Andrew falara dele, como se fosse um
homem que não tinha jeito, que era totalmente errado. Ok... Por muito tempo Bella pensara
assim, mas descobrira que não era... Totalmente verdade.

E só naquele discurso, que foi deixando sair pela sua boca direto do coração, que percebeu o
que realmente o general havia feito por ela. Não fora pouco... E apesar do
modo... Peculiar de ele ser... De um modo ou de outro, ele fora a melhor coisa que lhe
aconteceu nos últimos anos. Porque finalmente com ele, tinha alguém a quem pudesse
entender... E quem a entendia também. Mesmo que fosse uma foragida do Estado, e ele o
cara que teoricamente deveria prendê-la.

E não importasse o que o mundo pudesse falar sobre o general. Ela sempre se orgulharia de
ser "o seu novato."

Ela não defendera o general... Não defendera... Não defendera... Não defendera...

"OUCH!" Esperneou quando sentiu o chão desaparecendo de seus pés e logo voltando
quando desabou com a cara nele.

"DESCULPA!" Uma voz gritou ao longe por cima do ombro, pois o dono dela continuava
correndo atrás de sei lá o quê.

"Pivetes!" Bella chorou se levantando do chão e limpando a poeira do hábito. Nunca teria
filhos! Então riu, porque a idéia era inconcebível – literalmente – pois nem pai tinha. Ok...
Mas se um dia quisesse um, realmente quisesse, tinha todo aquele negócio de ir até um
banco de espermas, não é? Se bem que a idéia era meio nojenta. Vai lá se saber de quem é.
Depois o bebê nasce com algum problema irreconhecível e incurável e... Ugh!

Não querendo ver ninguém por algum tempo, Bella acabou caindo em uma espécie de
escritório. Ok... Ela não estava com a intenção de conhecer mais sobre o general – na
verdade depois da raiva inexplicável da cozinha queria é distância - mas meio que se tornou
inevitável quando se viu ao redor de vários arquivos e achou um livrinho que só depois de
algum tempo percebeu que eram anotações feitas pela própria Mary. Bem... Como só
percebera depois de ter começado, não era considerado um pecado, era?

Folheou algumas páginas e achou algumas coisas:

"Eu rezo tanto para que ele se envolva mais com as outras crianças. Sinto tanto medo que
ele desenvolva esses hábitos com as garotas... Não realmente se envolvendo, somente
querendo satisfazer suas próprias vontades, seus desejos. E também, vi hoje ele de novo
sentado ao lado de sua cama com uma vela acesa revirando mais uma vez o baú de seus
pais. O estranho é que ele não chora... Eu nunca o vi chorar, nem mesmo quando ele caiu
da árvore e quebrou o braço. Ele esconde as emoções e seus sentimentos muito dentro de si
mesmo, e isso me apavora."

É. Desde criança.

Revirou algumas poucas páginas até achar mais sobre ele:

"Eu conversei com ele hoje no meu escritório depois do ocorrido infeliz. Ele parecia
extremamente calmo, como se nada houvesse acontecido. Estava decidida a dar uma
bronca, mas uma luz veio e eu percebi que broncas não resolveriam com Edward. Então
disse a ele que uma forma de honrar seus pais e mantê-los na memória era rezando por
eles. Então disse que poderíamos rezar uma missa todo ano, no aniversário de morte deles,
pela alma deles. Ele ficou quieto por alguns minutos, mas finalmente assentiu, concordando.
Andrew logo acatou a idéia."

Bella procurou alguma coisa que pudesse lhe explicar o que fora o "ocorrido infeliz", mas não
achou. Depois de algumas páginas, mais sobre ele. Ele era o assunto preferido de Mary.

"O diretor Hawking ligou hoje da escola de Edward. Disse que ele precisava ir buscá-lo, pois
estava em detenção. Eu sabia que ele ficava isolado na escola, não se envolvendo e nem
deixando os outros com ele. Alguns valentões viram-no passar e começaram a zombá-lo por
morar em um orfanato – embora isso não o impedisse de ser um dos melhores da turma.
Edward ignorou e continuou andando, até que os garotos começaram a perguntar "onde
estão seus pais" em tom jocoso, e dizer muitas coisas maldosas, que fez com que ele
perdesse a cabeça e partisse para cima dos garotos. Eram três contra um, e apesar de sair
um pouco machucado, os danos foram maiores nos garotos assim ganhando ainda mais
distanciamento dos colegas, que agora não mais se atrevem a mexer com ele."

"Fiquei feliz ao vê-lo desenhando hoje, mas quando me aproximei para ver fiquei
horrorizada. Estava dividido em duas partes: a primeira com sua casa pegando fogo e os
corpos dos pais, e na segunda... Um monte de homens vestindo mantos olhando para um
homem alto com temor. Depois de algumas conversas com outras pessoas, concluímos que
o homem era ele no futuro... E os homens com medo seriam os assassinos de seus pais."

"Estou tão nervosa. Hoje é o baile de formatura dele, e parece que uma garota recusou
todos os convites para ir com ele. Apareceu aqui na porta e tudo, quase implorando que
fosse junto, mas ele se recusou a ir, dizendo palavras feias e magoando-a. Edward aos
dezessete anos é um dos garotos mais bonitos que já vi. Não é raro ver garotas da escola
indo às missas da região somente para vê-lo, já que todos nós comparecemos todos os
domingos. Mas ele as ignora, e somente as procura quando quer... Coisas. Conversei com
ele sobre isso, mas ele somente revira os olhos e diz estar grande o suficiente para saber o
que fazia."

"Depois de todos esses anos, achei que ele houvesse superado, mas encontrei-o de novo
revirando o baú com o olhar mais decidido que jamais havia visto..."

"Hoje Edward chegou a casa com um folheto de inscrição do exército. Pediu para que eu
assinasse – já que precisava de uma assinatura de um responsável, já que ainda estava com
dezessete. E tive um péssimo pressentimento que se não fosse necessário minha assinatura,
ele nem viria me consultar. Eu sei que ele está querendo isso pelos motivos errados, tento
conversar, mas é irredutível..."

"... Parece que ele foi aceito em tal de NSA. É aqui perto no estado de Maryland, e logo
quando se formar vai direto para lá... Parece tão compenetrado..."

"Hoje ele vai entrar na NSA. Arrumou suas malas, e recusou minha ajuda. Não quis se
despedir, e pediu que eu não fosse. Eu queria ir, dar o apoio que os outros pais estariam
dando para seus filhos naquele dia, mas recusou. Acredito que queira se mantiver firme na
convicção que seus pais foram mortos, e que está sozinho – o que digo a ele que não é
verdade."

"Ele sobe na hierarquia com uma rapidez impressionante. De fato, quando se tornou
sargento veio de surpresa no orfanato com sua farda parecendo satisfeito consigo mesmo.
Fiquei orgulhosa do meu menino... Ele era um homem formado, bonito, inteligente... Mas ao
mesmo tempo fiquei preocupada... Acho que nunca deixaria de estar. Eu sei que por mais
que esconda as coisas dos outros, em seu coração tudo está lá, pedindo para sair. Mas
foram anos e anos de treinamento..."

"Hoje ele se tornou generalíssimo. Cheguei à NSA de surpresa e ele parecia tão lindo
recebendo a terceira estrela. Conheci uma garota muita simpática, Alice, que quando soube
quem eu era ficou surpresa e quando lhe perguntei o motivo disse, sem jeito, que Edward
nunca havia dito que tinha alguém... De fora. Fiquei um pouco magoada, claro."

Bella estava bem compenetrada na leitura e quando achou outra citação, leu-a em voz
baixa:

"E eu rezo, senhor... Rezo todos os dias para que Edward entre no caminho certo. Livre-o de
todas as mágoas, angústias e maus sentimentos... Ajude-o a encontrar alguém que o
entenda e que possa salvá-lo dessa provação que ele mesmo se colocou. Sinto, ás vezes,
que ele sabe onde está e como está... E se pune pela morte dos pais. Como se fosse culpa
dele. Como se não estar lá na hora, o fizesse um traidor. Eu sei que ele sente que tinha que
ter morrido junto com eles... E temo, tanto, mas tanto que um dia uma notícia dessas
chegue a mim."
"Uma mãe nunca deixa de se preocupar com seus filhos."

Bella levou um susto e de fato deixou o caderno voar pelo ar. Rapidamente o recuperou e
com um rubor nas bochechas notou a irmã Mary na porta olhando-a com um sorrisinho.

"É... Eu só estava..."

"Matando a curiosidade." Ela disse se aproximando. Pegou carinhosamente o caderno das


mãos de Bella e começou a folheá-lo. "Deve se perguntar por que falo mais dele do que os
outros. Não é? Bem... Deve ser por ele ser um menino tão difícil. Eu sinto um carinho muito
grande por todas essas crianças, e sinto muitas saudades quando elas abrem as asas." Ela
deu um sorrisinho nostálgico e sentou-se na cadeira de frente a Bella. "Mas eu me sinto
como a mãe dele... A maior parte dessas crianças é órfã, mas nós trabalhamos para que elas
cresçam felizes, saudáveis, divertidas, e com desejo de criar futuros diferentes..." Suspirou.
"Mas Edward foi imune a tudo o que pudemos fazer... Ele era muito decidido. Irredutível."

"Continua." Bella comentou.

A freira riu. "É, acho que piora com a idade." Brincou.

"VOLTA AQUI, ANTHONY!" Ouviram gritos ao longe e crianças correndo, rindo.

Bella mordeu os lábios. "Se me permite... O que foi o 'ocorrido infeliz' que aconteceu com
ele?"

"Ah..." Ela se levantou e foi até uma mesinha onde tinha um bule de chá. "Ele fugiu do
orfanato."

Bella riu. "Acho que minha idéia original de crianças de orfanato é que elas tentassem
sempre fugir."

Ela sorriu e abanou a cabeça, voltando logo com duas canecas de chá. Entregou a de Bella,
que agradeceu. "Ele fugiu e foi até um bairro aqui de Washington muito violento. Foi atrás de
um grupo de... Maus elementos, se assim posso dizer, para que estes ensinassem a ele a
fazer... Coisas ruins e assim ele pudesse viajar para a Itália."

"Para os Volturi." Bella completou automaticamente.

A freira olhou surpresa para Bella por cima da xícara de chá. "Ele contou-lhe?"

Bella ficou um pouco desconcertada, até assentir.

"Que estranho..." Mary murmurou bebericando mais um pouco. Aquela mulher em sua frente
sabia muito sobre Edward... E era como se ela chegasse a entendê-lo. Quando os viram
juntos naquela madrugada, soube na hora que havia alguma coisa. Só no modo como se
olhavam e se portavam e nas coisas que percebera na conversa com Edward. Havia alguma
coisa muito forte entre os dois, não tinha dúvidas.

"E como vocês acharam-no?"

"Um amigo da paróquia mora por aqueles lados e pegou-o."

"Tem certeza de que ele não pediu a ajuda dos criminosos? Ao invés de só pedir que o
ensinassem?"
Mary negou. "Edward queria que o ensinassem para fazer sozinho. Ele acredita, até hoje,
que tudo o que é importante tem que se ser feito só por ele. Ninguém pode ajudá-lo a
fazer."

Fazia sentido.

"E essa missa... Quando é?" Bella se lembrava bem do início em sua estadia na NSA, quando
o general sumira por alguns dias e Alice comentara que um homem que pedia que rezasse
uma missa de ação de graças aos pais todos os anos, não podia ser alguém sem coração.

"Na terceira semana de janeiro." A freira respondeu.

Era estranho Bella imaginar o general como alguém que freqüentava igrejas. Mas sabia que
ele não freqüentava, com exceção, claro, da missa dos pais. Bella brincou com a idéia de que
se o general fosse católico, ela viraria evangélica, só para provocá-lo. Seria bem típico dela.

Depois de alguns instantes em silêncio, Mary começou: "Ficamos surpresos com o que você
fez lá na cozinha."

Bella estava torcendo para que não tocasse nesse assunto. Limitou-se a dar de ombros e
continuar bebericando o chá. Mary observou-a divertida, percebendo como estava evitando
encontrar seu olhar. Falara tudo àquilo em um impulso. Ótimo.

"Andrew e as noviças perguntaram se você... Huh teve algum tipo de relacionamento com
ele." Pelo modo como falou e a olhou sub-repticiamente estava na cara que também queria
saber. "Andrew acredita que talvez ele tenha afastado você, e depois virado noviça. Mas sei
que não é assim."

Bella não encontrou seus olhos ao responder: "Eu só... Acho que devia aquilo a ele."

"Por quê?"

"Porque ele me ajudou..." Bella então suspirou e completou. "Muito." Confessou.

A freira assentiu e sorriu. "Ele tem um coração de ouro... Só não admite, ou deixa os outros
verem."

Ficaram algum tempo olhando para o fogo na lareira e bebericando o chá e Mary ficou
pensando com seus botões que talvez aquela moça fosse a mulher certa para Edward.
Estivera observando-a durante os dias que ali passara, e percebera traços de sua
personalidade forte que a satisfizeram. Queria muito saber como realmente se conheceram e
chegaram até ali, mas sabia que seria impossível saber no momento.

Desconfiava brevemente que talvez fosse algo... Não tão dentro da lei, mas nada poderia
dizer. Mas seja o que fosse que os dois estavam envolvidos, talvez aquela fosse sua chance.
Ela queria que um milagre acontecesse na vida de quem considerava seu filho, e acreditava
que aquela linda mulher de olhos castanhos era o milagre.

Por isso rapidamente bolou um plano.

Respirou fundo, largou a xícara na mesinha e se aproximou de Bella pegando em suas mãos.
Seus olhos azuis se revelavam enormes atrás dos óculos de grau, e sua face parecia ter
envelhecido alguns anos.

"Querida... Apesar de tudo, eu confio em Edward imensamente e por isso te acolhi aqui. Eu
sei que... Se ele fez isso, é porque você de algum modo é importante para ele." Bella
somente olhou-a, sentindo uma leve dorzinha no coração. "Você viu a situação na cozinha...
Andrew gosta muito de Edward, é verdade, mas ele não consegue entender as coisas como
eu entendo... Eu o adotei como meu filho, entende? E me preocupo tanto..."

"Eu sei." Disse em um murmúrio de voz.

"Eu fiquei surpresa ao ver como você conhece tanto sobre ele... E vejo os dias, os anos
passando, ele envelhecendo... Daqui a pouco tem trinta anos, e ainda está envolvido nisso
da máfia."

E se a freira soubesse que estava conversando com uma ex-mafiosa? Ops...

"Por isso eu peço sua ajuda."

"Minha ajuda?"

"Sim... Entende a minha surpresa quando o vi a trazendo aqui? Você é a única pessoa que
eu conheço que é tão próxima a ele... Não sei o quanto vocês são ligados, mas eu peço
como mãe que você tente ajudá-lo. Em nossas vidas existem pessoas que são capazes de
enxergar e tocar nossos corações, sejam nossos pais, nossos amigos ou conjugues... Eu, não
consegui. Eu queria que você tentasse. Ele precisa de um sentido real a sua vida. Todos
merecem uma chance de viver. Edward precisa da dele."

Bella sorriu desconfortável. "A senhora ainda acha que esse alguém é eu?" Realmente não
conhecia a história.

"Não estou achando nada." Deu de ombros e deu um sorrisinho. "Só peço que..." Umedeceu
os lábios enquanto pensava um pouco. "Você tente... Ajudá-lo."

"Mas não posso fazer nada."

"Talvez não..." Suspirou. "Mas tente, porque por dentro continua sendo o menino de cinco
anos que estava na porta do orfanato com todos os sonhos destruídos."

"Ele não parece nenhum menino, irmã. Ele sabe se cuidar."

Ela sorriu. "Bella, não engane a si mesma. Você mais do que ninguém sabe que sim. E isso
ficou claro em seu... Discurso. E temo que você seja a única chance dele."

Bella engoliu em seco. "Eu não posso fazer com que ele desista dos Volturi..." Sussurrou,
sentindo de repente um estranho sentimento de derrota. Não podia fazê-lo desistir, porque
ela também estava no mesmo barco. "Não posso fazer ele simplesmente mudar como tem
vivido, porque não tenho morais tão boas também. Não sou a pessoa para isso."

Mas também... Por que ela? Por que tanto insistia que fosse justamente ela quem pudesse
mudar o general? Por um momento considerou a idéia de informá-la quais eram exatamente
as razões para estar ali, mas não conseguia falar.

"Você não pode... Ou tem medo?" Questionou.

"Claro que não! Eu..." Engoliu em seco. Mas que raio de freira! Por que ela teria medo de
alguma coisa? Por acaso tivera medo de enfrentar a maior organização de segurança do
mundo? Por que teria medo de... Sentimentos, ou lá o que aquilo seja?

"Venha." De repente a freira se levantou. Bella olhou-a, confusa. "Você precisa ver um
lugar."

"Acho que é melhor eu não sair do orfanato..."


"É aqui perto. Esse horário as ruas estão bem vazias, se é isso que a preocupa. Eu preciso
lhe mostrar um lugar."

Bella acabou seguindo-a. Pegaram alguns fortes casacos e saíram pela rua. A neve já estava
alguns centímetros acima do chão e o natal prometia vários bonecos de neve. De fato, as
crianças só poderiam começar os seus no dia seguinte quando houvesse o suficiente.

"Para onde vamos?"

"Um lugar que retrata exatamente o que estava falando." Respondeu, enigmaticamente.

Ao lado da pequena senhora, andou por residências de todos os tipos pelas ruas de
Washington. Andaram umas cinco quadras e a criminosa de repente se viu quase em um
sonho.

Um menininho loirinho andava de mãos dadas com a professora, com o uniforme da escola e
um desenho de sua família embaixo do braço.

E de repente o menino, na verdade era Bella caminhando pelas mesmas ruas que ele, vinte e
cinco anos depois.

O menininho olhava as casas conhecidas ao seu redor e cumprimentava alguns amiguinhos.


E então no lugar dele surgia Bella, andando em uma rua igual, mas menos arborizada e com
as casas um pouco diferentes.

O menino ouviu gritos e dobrou a esquina de sua rua. Então era Bella dobrando a mesma
esquina.

Na mente dele sua casa era grande, bonita, com dois andares em tons azuis e branco. Só
que quando dobrou a esquina o que viu foi a casa pegando fogo, como em uma grande
explosão e vizinhos e transeuntes gritando enquanto os bombeiros chegavam tentando
aplacá-lo.

E então era Bella, mais de vinte anos depois, olhando para um terreno entre duas casas
modernas. Neste havia o que pareciam ser restos de uma casa... Os pedaços de madeira
enegrecidos... O sinal de destruição em meio a casas modernas... A negritude intocada há
mais de vinte anos, coberta por finas camadas de neve.

O que sobrara da casa da família do general.

Logo Bella sentiu uma enorme vertigem. Uma dor de cabeça assaltou-a ao ver aquilo... Não
podia acreditar que...

"Sim." Mary que estava ao seu lado completou seus pensamentos. "Isso é o que sobrou da
casa. Edward herdou o terreno, e sempre se recusou a vendê-lo, ou ao menos de tirar os
escombros."

Aquilo era... Era... Doentio.

Vinte cinco anos se passaram e ele se recusava a... Céus!

"Sempre quando ele se desmotiva, ou há problemas... Eu sei que vem aqui, e pode ficar
olhando durante horas... Horas... Relembrando aquele dia... Relembrando do que ele tomou
como missão na vida."

"É... Errado." Foi tudo o que Bella conseguiu dizer, pois parecia
errado... Terrivelmente. Ninguém podia se prender tanto ao passado daquele jeito. Ali
deveria estar tudo novo, outra casa... Outra família, outras vidas. Um novo começo.
"Os vizinhos reclamam, mas têm medo de Edward. Foram reclamar para o governo... Mas
não há muito que se possa fazer. É uma área nobre de Washington, e há bastantes
compradores, mas mesmo assim... Continua aí" A freira comentou tristemente.

Bella ficou alguns minutos olhando aqueles escombros e sentiu um calafrio percorrer sua
espinha. Vinte e cinco anos atrás estava nascendo. Durante bons vinte anos vivera na
máfia... Que não só matara seus pais e destruíra sua vida, mas a do general.

Bella nunca conseguiu entender o general tão bem quanto naquele momento.

A freira colocou uma mão gentil em suas costas e foi guiando-a de volta ao orfanato. Em
silêncio, várias coisas passavam pela mente de Bella.

Ao chegar à porta do prédio, a freira virou-se, pegou em suas mãos e comentou:

"Ele é um homem de sentimentos muito profundos. Quando ele odeia... Ele realmente odeia.
Mas ele também é o tipo de homem que é difícil amar alguém. Mas quando amar vai ser
somente uma vez na vida. E para sempre."

"Eu..." Bella começou totalmente incerta. Era tanta informação para sua cabeça. Tudo se
confundia... Tudo se misturava. Era como um grande peso que havia sido jogado em seus
ombros, e não tinha nem a mais remota idéia de como administrá-lo. "Eu... Não sou a
pessoa certa. Não consigo cuidar nem de mim mesma... Eu... Não posso." E era verdade... O
que pedia era ridículo e inadmissível! Queria que ela conseguisse destruir os muros que o
general construíra em sua vida... Mas o que ela sabia sobre aquilo? Ela mesma estava se
corroendo pelo desejo de vingança pelos Volturi, não era uma pessoa boa e sensata – como
Mary pensava. Era uma foragida federal, pelo amor de Deus!

Não conseguia olhar para a senhora, mas sentiu que endurecia e soltava suas mãos,
deixando-a sem apoio. O vento frio fazia-a estremecer, e queria estar em uma cama bem
quente com uma grande lareira ao seu lado.

"Talvez eu tenha me enganado..." Mary disse depois de observar cuidadosamente a mulher


em sua frente. "Talvez você não seja a pessoa certa para ele. A mulher de Edward tem que
ser alguém corajosa, com fibra... E que não tem medo de assumir o que sente e o que
pensa."

Bella levantou os olhos, surpresa.

A freira deu de ombros tristemente e recuou. "Desculpe. Acho que me enganei com você."

Deu um último olhar pesaroso e entrou na casa. Bella abriu a boca para dizer alguma coisa,
mas fechou, instantes depois. Pois sabia que se falasse... Diria que poderia sim ser uma boa
mulher para o general.

Capítulo 7 – Pequenos novatos.

Please. Come home for Christmas.

Bon Jovi.

Os sinos irão anunciar as boas notícias


Ó, mas que Natal para se sentir triste
Minha gatinha se foi, eu não tenho amigos
Para me desejarem felicidades

Os coros cantarão "Noite Feliz"


Aqueles cânticos natalinos a luz de velas
Por favor, volte para o Natal
Por favor, volte para o Natal
Se não for para o Natal
Que seja para a noite de Ano Novo

Amigos e companheiros mandam lembranças


Tão certo quanto as estrelas que brilham no céu
É Natal, é Natal meu caro
A época de estar com as pessoas que você ama

Então você não vai me dizer


Que nunca mais vai andar sem rumo?
Natal e Ano Novo
Nós te encontraremos em casa

Não haverá tristeza, mágoa ou dor


Eu ficarei feliz por ser Natal mais uma vez...

"BELLA, BELLA! OLHA O QUE EU FIZ!" Quando a criminosa virou-se na direção da voz, de
repente tudo ficou escuro e gelado.

"Aaaaaah!" Esperneou ao sentir a bolada de neve na cara. Por que mesmo se voluntariara
para tomar conta das crianças enquanto brincavam no pátio, agora coberto por camadas e
camadas de neve?

Ah sim... Porque se não fosse aquilo, teria que ficar na cozinha preparando as coisas para a
ceia. E não queria por dois motivos: Ainda gostava imensamente de sua mão e de seu rosto
– e não estava a fim de se queimar de novo – e outro motivo era porque provavelmente
Mary estaria lá.

Não que Bella não quisesse ver a freira, tá bom... Talvez estivesse a evitando. Não queria
ver olhares de reprovação ou situações confusas... Já tinha tudo por si só.

"Não. Não! NÃO!" Gritou quando percebeu um monte de pivete com bolas de neve na mão
prontas para o bombardeiro em que o alvo era ela. Talvez tenha percebido tarde demais e
quando tentou escapar, acabou caindo de cara no chão.

Humilhada, ouviu as risadas divertidas dos moleques. Trincando os dentes com força,
percebeu que estava sendo vencida por um bando de gente menor que um metro e
quarenta. Poxa! Torcia para que não existisse nenhum "sindicato dos criminosos
humilhados", pois senão teria logo que entrar em um deles.

"Ok... Ok... Vocês querem guerra?" Disse parecendo séria quando se levantou. Os meninos
colocaram a mão para trás e fizeram caras inocentes. Bella quis continuar séria, mas foi um
grande esforço para isso. Os cantos de sua boca tremeleavam na vontade de rir. "Certo..."
Disse despreocupadamente. "Acho que me rendo!" levantou as mãos para o ar. "Não sou boa
o suficiente para vocês, ó campeões de bolas de neve!"

Rindo foi para o outro lado do orfanato, escondida. As crianças ainda não foram procurá-la,
então rapidamente pegou o hábito, dobrou e enfiou na calça que usava por baixo para
esquentar. Esticou as mangas e fez uma pirueta com o véu. Como ela poderia entrar em
uma guerra com um monte de pano atrapalhando?

Agachou-se e começou a capturar um monte de neve, colocando dentro de um balde que


achou por ali. Haha, eles veriam só!
"ACHEI A FUGITIVA!"

"MEU DEUS!" Bella se assustou tanto, mais tanto que jurou que pulou dois metros e ainda
segurava a mão no coração. Ergueu os olhos e encontrou um menininho arteiro, o Tony que
parecia satisfeito por tê-la achado e iria já contar para os outros.

Poxa... Deveria ter um respeito pelos mais velhos ali, não? Ela quase pensou
que realmente haviam a achado. Alguém que logicamente tinha mais de um metro e
cinqüenta.

"Espera Tony!" Chamou o garoto quando controlou a respiração. "Não conte aos outros!
Vamos montar uma equipe, você e eu! E derrotaremos todos nossos inimigos!"

O menininho cruzou os braços de encontro ao peito e arqueou uma sobrancelha. Bella meio
que levou a cabeça para o lado como um cachorrinho confuso vendo a semelhança com
alguém. Ohmeudeus, e se ele fosse filho do general?

E se... Em uma daquelas escapadas atrás da igreja ele tivesse feito mais do que...

"Você acha que eu tenho o quê? Cinco anos?" Questionou. "Ei, porque está me olhando
assim?"

"Ah... Nada." Bella engoliu em seco. "Vai, Tony! Nós somos o lado negro da força, juntos,
unidos venceremos todos que nos enfrentem!"

"E o que eu ganho com isso?"

As semelhanças só estavam aumentando...

Bella pensou em alguma coisa enquanto olhava ao redor. "Um doce?" Questionou. Lá vai se
saber o gosto de crianças hoje em dia? Espera... Ela lá sabia o gosto de uma criança de
qualquer época?

O menino pareceu pensar. "Que doce?"

"Pelo amor de Deus!" Exclamou pegando o balde cheio de neve ainda não congelada. "Eu lhe
dei a oportunidade, meu caro soldado, de juntar-se a mim e ao poder... Não aceitando,
agüente as conseqüências!"

Fez uma saída dramática, até que o menino a puxou pelo braço. "Ok! Ok!" Exclamou.

Menino esperto!

"Temos um trato?" Questionou com a mão estendida.

"Feito!" Ele sorriu.

A guerra de neve poderia ter sido definida em uma só frase: Eles foram arrasados.

Poxa... O começo foi bom para o lado de Bella, porque tinha um monte de neve que quase
soterrou o líder do outro grupo. Mas eles eram mais numerosos e menores, e a coluna de
Bella não ajudou muito.

Mas foi divertido... Ok, Tony foi um traidor, era verdade. Vendo que estava perdendo,
decidiu aliar-se ao inimigo. Quando falou que iria processá-lo, somente lhe mostrou a língua.
No fim, foi tudo muito divertido, até as freiras saírem correndo do orfanato e ir socorrer Bella
que estava sendo enterrada viva na neve, e um boneco de neve – que era a lápide – estava
sendo construído.

Bem... Depois daquele tempo no orfanato percebeu que se tudo desse errado não viraria
prostituta, poderia virar babá! Professora de parquinho! Realmente estava fazendo bom um
trabalho ali, como entrar em discussão com um menino de oito anos sobre quem era melhor:
O Mário ou o Luigi.

Bella não fazia a mínima idéia da diferença entre os dois, mas como uma boa negociante
começou a apontar detalhes que a personagem deveria ter. Como olhos, nariz... Boca... "Ele
tem olhos, então é melhor!" Ok... Foi totalmente patético.

Depois de um banho bem quente, foi ajudar nos últimos detalhes da árvore enorme de Natal
que estava no meio da sala de estar. Havia uma lareira com um bom fogo crepitando, e
quando ninguém estava vendo Bella discretamente virava as costas para ela e ficava
observando o teto.

Quando entrou na sala, viu a irmã Mary mexendo em várias caixas de papelão contendo
enfeites. Pensou em dar meia volta e quebrar uma perna, mas uma pontada surgiu em sua
cabeça. Precisava saber de algumas coisas...

Engolindo em seco se aproximou e começou a mexer nos enfeites e colocar na árvore sem
olhá-la. Mary deu um sorrisinho de cumprimento e a criminosa ficou pensando o que
exatamente perguntar, até dar de ombros, parecendo casual.

"O gene... Digo, Edward costuma passar o Natal aqui?"

Mary negou tristemente. "Não... Você ouviu o que o padre disse."

Idiota. Idiota. Ela ouvira, mas queria é saber se não dissera a ela alguma coisa
sobre este natal.

"Então..." Pigarreou. "Você disse que... Huh... Eu estava pensando..." Ugh. Vamos Bella você
já enfrentou situações piores que essa. "Que mães geralmente enxergam os filhos além do
que são, e..." Aquilo não estava dando certo.

"Quer perguntar alguma coisa, querida?" Ela incentivou encarando-a com os olhos azuis.

"Não, eu só... Estou comentando que mães geralmente querem o melhor para os filhos e
talvez o 'melhor' não exista."

Evitou encará-la, e depois quando houve vários segundos de silêncio, lançou-lhe um olhar
pelo canto do olho. A freira percebendo, olhou-a parecendo curiosa.

"Sobre o que exatamente você está falando?"

Ah não.

"Nada em especial..." Desconversou pegando um guarda-chuva listrada de vermelho e


branco. Não conseguiria aquilo.

Então a freira suspirou e olhou-a. "Você já ouviu falar em um pensamento assim: 'Para cada
homem há um tipo exato de mulher?"

Assentiu.
"Bem... Todas as mães querem os melhores para os filhos, e este melhor pode ser traduzido
como esse tipo exato que cada um tem."

"Mas..." Limpou a garganta, desconfortável. "Como sabemos quem é o seu tipo certo?"

A freira deu um sorrisinho enigmático. "Eu não sei. Sou uma freira, lembra-se." O sorriso se
alargou e depois foi degradando ligeiramente. "Mas sei que muitas vezes quem achamos que
é, não é. E quem achamos que não é, é."

Bella franziu a testa, confusa.

"Bem, é melhor deixarmos isso de lado." Sorriu levantando-se e dando um tapinha em seu
ombro. "Ah, e me desculpe pelo papo de anteontem... Não deveria ter falado nada para
você."

E se foi. Bella bem percebeu que ela não falou "me desculpa por ter falado aquilo", porque aí
poderia ser o que falara antes de virar-se "você não é mulher para ele" ou coisa assim. Ela
se arrependia de ter falado tudo.

Amargurada, sentou-se no chão sozinha perto da lareira se perguntando qual seria o tipo do
general. E ao pensar nele, sentiu algo estranho no peito.

Tentava evitar pensar nele nos dias que estava ali... Tentou ser uma pessoa extremamente
feliz, realizada, alguém que definitivamente não queria um cara arrogante ao seu lado.

Mas o problema... A porra do problema era que queria

Ficava pensando como estavam as coisas na NSA. Como ele estava... E se alguém tivesse
pegado ele? E se McCarthy houvesse feito as pazes e em um ataque de lealdade ao país
resolvesse entregar tudo? E se nesse exato momento alguma equipe especial estivesse vindo
para o orfanato pegá-la e mandá-la direto para um Supermax? (Porque ainda achava que se
fosse presa, que fosse um presídio de segurança máxima.)

Suspirou e sentou-se de frente para o fogo. A ironia de tudo era que desde começo odiara o
apelido que o general a chamava, mas agora, o que mais queria era ter ele ao seu lado
murmurando "novato".

Era véspera de Natal. Não sabia se ele vinha... Não sabia nem quando o veria de novo. Disse
que "viria buscá-la depois", mas quando seria esse depois? E poxa... Ele bem que podia
passar ali para ver Mary, não era? Não fazia aquilo há anos, e sabia que a freira sentia falta
de tempo de qualidade com ele... Não dez minutos em uma madrugada com bagagem – ela
– nas costas, ou em uma missa de uma hora uma vez ao ano.

Também... Ele podia ir lá pelo menos para dizer que estava vivo! Que o plano correra bem e
que não tinha que começar a se maquiar logo porque a imprensa estava chegando junto com
os agentes do governo. Porque também achava que deveria estar muito bonita se o
momento chegasse.

Ela precisava saber o que estava acontecendo na NSA! Jasper... Alice... Derek... Por que ele
não vinha?

Olhou no relógio e começou a ficar impaciente à medida que o tempo passava. Toda vez que
havia uma batida na porta se sobressaltava achando quem era... Mas era algum maldito
entregador, ou alguém da paróquia.

"Bella, está tudo bem?" Catherine perguntou.

Assentiu.
Também não conseguia se esquecer da cena horrorosa que fora ver a casa destruída depois
de vinte e cinco anos. Sabia das extensões do ódio do general, mas a casa era realmente...
Impressionante.

Também estava com raiva dos Volturi, mas nem por isso fizera um boneco de Vodu para
cada um deles, embora a idéia lhe passasse pela cabeça.

Mas o que ela estava pensando? Seus pensamentos não eram nada coerentes!

"Vamos jogar campo minado?" Um garotinho perguntou, mas Bella abanou a cabeça e
levantou-se indo para o quarto. Já estava escuro e dentre poucas horas seria a ceia... Daqui
a pouco todos sairiam para a missa natalina, e não poderia ir, nem se quisesse.

Ficou lá em sua cama fazendo dobras no lençol tentando codificar todos seus sentimentos.
As imagens de dois dias atrás, junto com as do último ano voltavam a sua mente
constantemente.

E se ele estivesse vindo para cá e o carro derrapado na neve? Não era impossível
considerando como dirigia.

E se ele estivesse realmente na cidade... Mas em algum bordel barato de meio de esquina
chamando uma puta qualquer de novato e mandando ver?

Arg! Pára Bella, ordenou a si mesma. Isso não leva a lugar nenhum...

Mas não pôde evitar vários pensamentos como... Quem aquela freira pensa que é para achar
que eu não posso estar aos pés do general? Quem não estava aos pés dela, era ELE, cacete!

Uma hora depois, totalmente sozinha no orfanato, os pensamentos já estavam ficando


irritados.

Quando já estava perto da ceia, já queria socar alguma coisa.

Será que ele não tinha um pingo de consideração por Mary? Será que ele não podia vir e
calar a boca do padre Andrew?

E por que raios estava pensando nele? Quem liga para o general Cullen, afinal? Quem quer
que ele venha para o Natal?

"EU QUE NÃO!" Gritou alto demais, mas logo se lembrou que estava sozinha. As crianças
chegaram e animadas começaram a puxá-la para a sala, e foi... Desanimada.

Ele realmente poderia ir, não?

Inferno!

"Vamos rezar!" Mary pediu já em volta da mesa e todos deram as mãos enquanto secavam a
enorme ceia ali presente. Em pensar que tudo aquilo fora pago com o dinheiro do general.

Depois de rezar, a freira disse: "ATACAR!", mas Bella gritou um "ESPERA!" antes que alguém
pudesse sequer mover um músculo, ganhando um muxoxo de todas as crianças que já
salivavam pelo peru. Estava bonito mesmo... Bella poderia dizer que se queimou ajudando a
fazer ele, era algo útil, não?

Todos olharam chocados para ela que engoliu em seco. "Hm... Eu acho que..."

"Algum problema, querida?"


"Está com alguma dor?"

"Não, não." Abanou as mãos. "Eu só acho que... Devíamos esperar."

Todos se entreolharam e o padre Andrew que estava ao seu lado – e não gostava dele –
colocou a mão no seu ombro.

"Todos já estão aqui."

"Não." Virou-se para ele com desafio nos olhos. "Está faltando quem pagou por tudo isso
aqui." Respirou fundo. "Eu só acho injusto começarmos... Sem ele."

Mary demorou alguns segundos para perceber de quem estava falando. Um sorrisinho
discreto brotou em seus lábios. "Ele não vem, querida."

"Eu acho que ele vem." Disse com uma confiança que não sabia de onde vinha.

"Querida, sei que..." O padre começou, mas se calou. "Ele nunca vem."

"Mas é injusto! Esse Natal só está acontecendo porque ele pagou!"

"QUEREMOS COMER! QUEREMOS COMER!" As crianças começaram a protestar.

Mary então franziu o cenho e suspirou: "Ela está certa. Vamos esperar que..." Deu-lhe um
olhar inseguro. "Ele venha."

Enquanto esperavam, tentaram ligar para o celular dele, mas estava dando ocupado. Um
pensamento brotou na mente de Bella logo quando soube do 'ocupado': O bordel.

Começou a ficar irritada e extremamente chateada a cada minuto que passava e a porta
continuava fechada. Por que diabos fizera aquilo? Ele NUNCA vem, por que ele viria
justo naquele ano?

De repente se sentiu uma idiota. Todos estavam morrendo de fome e estava lá os


prendendo. O general não ligava para o orfanato, para as pessoas que o criaram e não tinha
nem o desplante de ir até ela e desejar um "feliz natal, novato."

Com certeza estava em outro estado, na sua casa, com três vacas peitudas fazendo sabe se
lá o que com ele, enquanto ela, as freiras, o padre e as crianças esperavam que ele criasse
um censo de... Dever.

Sem coragem de encarar os outros, disse que era melhor comer. Mary abraçou-a e depois
foram até a mesa, mas Bella não estava com nenhum apetite.

Olhando para as pessoas ao seu redor lhe recorreu que não conhecia nenhuma delas. Estava
ali há uma semana, teve momentos bons, e lhe acolheram bem... Mas sentia um grande
vazio dentro de si.

Vazio esse que não foi preenchido por nenhuma comida que colocou em seu prato. Depois da
ceia, foram até a sala e ela tentou se animar com o pedido suplicante das crianças para abrir
os presentes ali, e não ao amanhecer.

Tentou até fazer parte de um jogo de mímicas, mas apesar de superficialmente estar bem,
rindo e brincando e tentando mostrar que esquecera o incidente da ceia, por dentro não
estava assim...

Queria muito, muito alguma coisa. Mas não sabia exatamente o que.
Estava vazia... Estava cansada... E nem Tony e suas piadas conseguiram alegrá-la. Não
eram eles... Era ela.

Nunca ficara assim, e estava se odiando por isso. Então decidiu deixar todos curtirem o natal
feliz deles, e ficar em qualquer lugar sozinha, com sua mistura de sentimentos. Ninguém ali
merecia uma criminosa poluindo o ambiente contente deles.

"Aonde vai, Bella? Venha jogar... Que jogo é esse?"

"Também não sei, mas parece legal!"

"Não," Tentou sorriu. "Eu vou... Tomar um ar puro."

Saiu da sala, ignorando os olhares e as risadas no caminho. Saiu para o jardim coberto pela
neve e sentiu os flocos suaves cair em seu véu. Mesmo o jardim tendo uma entrada e vista
para a rua, estava sozinha lá fora. Ninguém estaria andando uma hora dessas... Todos
estariam comemorando com suas famílias, com as pessoas quem amavam.

Libertou o cabelo do grosso véu e permitiu que eles ficassem cheios de flocos e os
derretessem. Voltou à cabeça para o céu e fechou os olhos, curtindo a sensação gostosa.

Ali, nem reparou em um carro preto que estava parado na rua em frente do orfanato.

Bella suspirou e notou seus pensamentos caminhando para seu futuro. Ela não gostava
desses pensamentos... Mas um dia teria que encará-los. E estava tão distraída que não
notou o som dos passos se aproximando – se bem que estes eram quase imperceptíveis.

Estava pronta para entrar e tomar um bom porre de vinho quando sentiu uma mão
apertando sua boca com força e um corpo forte se prensando contra ela. Assustada, tentou
gritar, berrar... Oh céus! Alguém estava pegando ela! Tinham a descoberto! Iria morrer!

Tentou lutar... Inferno! Se fosse ser pega, que fosse com classe e dignidade. Tentou, mas
quem lhe segurava era muito mais forte. Mordeu a mão que lhe segurava e ouviu um
rosnado que foi eclipsado pelo seu grito:

"Me solta, seu pecador! Você está agarrando uma freira!" Tentou desesperadamente
embargar. Será que ninguém tinha senso de solidariedade ali não?

Vamos lá... O que aprendemos com o general Cullen quando te prendem por trás?

Estava com um enorme sentimento de pânico crescendo dentro de si... Por que raios fora
sair do conforto e segurança do orfanato? Agora estava ali... Presa! Oh céus... A vida fora
uma merda, mas pelo menos uma merda SUA! E queria ela de volta!

"Olha aqui, seu herege! Você vai para o inferno!" Tentou lutar, mas quê diabo de homem
forte da porra. Sentia que algo estava estranho... Algo estava familiar... Mas não conseguia
entender o quê.

O pior era que ninguém do orfanato parecia ouvi-la dali, e quando tentou gritar, acabou
sendo jogada no chão, na neve e soube que era seu fim.

"Não! Não! Você pegou a pessoa errada! Eu sou inocente, não fui eu!" Chorou desesperada
tentando empurrar aquele corpo, até ouvir uma gargalhada que lhe gelou os ossos.

Oh céus... Era o cara da serra elétrica, sabia.


Ergueu os olhos prontos para confrontá-lo quando a visão quase lhe deu um infarto. O
homem em cima dela era... E que estava rindo era...

"GENERAL!" Gritou totalmente chocada ao ver quem estava em cima dela. Ficou paralisada
por um momento não sabendo se ria se chorava ou se batia nele. Rindo era a coisa mais
linda do mundo. Ela sempre se acostumara a vê-lo sério com sua costumeira cara de mau,
mas quando seus lábios se abriam em um belo sorriso, ele... Era... Era... A porra de um
gostoso.

Mas essa porra de gostoso que estava em cima dela assustara-a de propósito e estava rindo
DELA! Era lógico que, na primeira vez em que ele fizesse alguma coisa do tipo "não sou
inumano", que fosse CONTRA ela.

Não sabia realmente como agir... Estava tão feliz por vê-lo ali... Não se enganara afinal,
estava certa, ele viera para o natal. Mas também estava muito brava.

"Não, novato. O papai Noel." Provocou. Bella então cerrou os dentes.

"Seu idiota! Grosseiro! Rude! Escroto! Seu..." Começou um impropério de xingamentos


enquanto com os punhos fechados batia no peito forte do homem. "Você me assustou, foi de
propósito... Argh!"

O general sentou-se na neve enquanto tentava se proteger do ataque da novata que o


seguia para onde fosse. Segurou os punhos dela, impedindo-a de continuar e então,
ironicamente disse:

"Feliz Natal para você também, novato."

"Você quase me deu um infarto!" Protestou.

"Não tenho culpa se seu coração é velho demais. Reconheça isso."

Bella fechou a cara, tentando parecer enfurecida – que de certo modo estava – mas também
estava contente... E assim tentava a todo custo impedir que um sorriso aliviado surgisse em
seus lábios.

Deus quando criou os homens deu duas notícias: Uma boa e uma ruim. A boa era que
muitos sentimentos diferentes poderiam coexistir ao mesmo tempo em uma mesma pessoa.
A ruim era que aí você ficava confuso e não conseguia entendê-los.

"Posso saber o que faz aqui fora?" Resmungou.

Ele estreitou os olhos, ainda segurando seus punhos em suas mãos duras como ferro.
"EU quem deveria fazer essa pergunta."

"Eu estou tomando um ar. E você está atrasado!"

"Atrasado estaria se McCarthy tivesse olhado melhor o orfanato e te visto dando sopa por aí.
Dá para você agir como uma foragida que é, e não como um cidadão respeitável?"

Bella gelou. "Ele esteve por aqui?"

O general estava se perguntando se deveria colocar medo dela. Inferno! Ela poderia estar
andando livremente pelas ruas de Washington se ele não tivesse interferido. Será que tinha
algum senso de sobrevivência? Olhando nos olhos chocolates encarando-o arregalados,
achou melhor não.
"Mas poderia." Rugiu. "Qualquer um que passasse poderia te ver."

"Se você tivesse vindo antes, eu não estaria aqui, mas lá dentro." Protestou.

O general franziu o cenho se perguntando do que raios aquele novato estava falando sobre.

"De que porra você está falando?" Perguntou por fim.

Foi à vez de a criminosa franzir o cenho. "Oras, da festa de natal que você deveria estar
agora."

"Aonde?"

"Aqui, pelo amor de Deus!" Bella quase gritou. Ele estava zoando com a cara dela?

"Mas que porra..." Começou e então abanou a cabeça. "Não vim para festa nenhuma. Já
estou indo embora."

"O QUÊ?" Bella meio que murchou. Notou que suas mãos ainda estavam presas e lutou para
se desvencilhar. "Quer dizer... Que... Você não veio passar o natal aqui?"

"Por que eu viria?" Ele rolou os olhos.

Foi como levar uma pedra no coração. "Então o que diabo está fazendo aqui?"

O general tentava se convencer que fora á Washington três dias atrás porque talvez
houvesse um atentado terrorista á Casa Branca e a ajuda dele fosse necessária.

Na véspera de Natal, tentou se convencer que ainda estava em Washington porque talvez o
presidente o chamasse para a ceia do Natal. E como era bem educado, recusaria cara a cara.

E também tentou se convencer que fora ao orfanato por que... Por que... Talvez... O grupo
terrorista mudasse o alvo para lá. Deus sabia que um milímetro errado no lançamento
poderia jogar os mísseis quilômetros longe do alvo original.

Olhou a estrutura familiar, iluminada e enfeitada para o Natal. As risadas e conversas


vinham lá de dentro entusiasmadas enquanto ele ficava lá no carro, com o aquecedor
ligado, sozinho.

Até que teve um lampejo de alguém caminhando pelo jardim coberto de neve, separado dos
outros. Era uma freira e quando tirou o véu percebeu que era o novato.

Logo se ajustara no banco de modo a encará-la diretamente, vendo os cabelos caindo no


tecido e sua face virar de encontro ao céu de olhos fechados. Sentiu algo estranho dentro de
si... Algo que sentia muito nos últimos tempos quando a via. Aquela porra da NSA não era a
mesma coisa sem ter alguém para encher o saco. Na verdade tinha, mas ninguém o revidava
de volta... Todos só abaixavam a cabeça e saíam correndo de medo.

Não queria sair daquele carro... Mas então convenceu a si mesmo que se ele havia visto ela
da rua, qualquer outro poderia ver. E se fosse McCarthy? Black? Ou o próprio presidente?

Então decidiu ir ao encontro dela e dar-lhe um pequeno susto... E depois iria embora. Aquela
mulher teimosa e prepotente estava desobedecendo as suas ordens de ficar dentro do
orfanato, fora de vista, e totalmente vestida de freira... Ela precisava de uma lição.
Quando a agarrou tentando dar-lhe um belo de um susto que serviria como punição por
estar tão desprotegida, seus planos eram de se manter sério, seguro e depois ir embora
como se nada houvesse acontecido – depois, claro de chutá-la para dentro do orfanato.

Mas ela começou a se desesperar como se achasse que realmente era alguém, e começou a
praguejá-lo e se defender como se realmente fosse uma freira. O general tentou ficar sério,
mas quando a jogou no chão não conseguiu dominar aquele sentimento estranho dentro de
si.

Tantas coisas passaram dentro dele. Tudo grande o suficiente para torná-lo a bosta de um
confuso, mas o que realmente o surpreendeu era que estava feliz por vê-la. A porra de um
sentimento estranho e bom rompendo em seu ser.

E ele riu... Riu. RIU! Só a porra daquele novato poderia fazer alguma coisa daquele jeito! Riu
de suas desculpas esfarrapadas e tentativas de manter o "criminoso" longe.

O general pareceu nervoso de repente, e começou a se mexer desconfortável. "Huh...


Digamos que eu estava passando, quando eu vi certo alguém se achando dentro das leis, a
vista de qualquer um que saísse na rua, como se não tivesse meio MUNDO procurando por
ela!"

Bella bufou e cruzou os braços de encontro ao peito. Então ela não estava certa afinal de
contas... O general não iria para a festa, ele só viera ali para lhe dar um susto! Estava brava
com ele por isso, mas não desistiria de levá-lo.

O general precisava de uma vida, de pessoas que gostavam dele ao seu redor, e não ficando
sozinho em alguma porra de bordel com putas que ele chamava de novato. E claro, era uma
boa oportunidade de mostrar a Mary que se ela quisesse... Bem... Se quisesse o general
passava o natal lá.

"Já que você está aqui," começou. "Não custa nada entrar."

"Não." Ele respondeu, fechando a cara. E foi como se os muros que sempre tinha a seu redor
voltassem a cercá-lo. Levantou-se rigidamente, e Bella seguiu.

Ela encarou por um bom tempo aparentando frieza e lembrou-se de todas as coisas que
aprendera sobre ele naquela semana. Respirando fundo, olhou-o com gentileza.

"Você não está sozinho, sabe."

Ele bufou e cruzou os braços de encontro ao peito. "E você está vendo alguém aqui comigo,
por acaso?"

"Você está assim por que quer!" Proclamou levando as mãos para o ar em frustração. "Ali
dentro tem pessoas que se importam com você. Sua família."

"Minha família morreu há muito tempo, novato." Disse se preparando para ir embora. "Não
deveria ter vindo."

"Deveria sim!" Bella foi atrás dele impedindo de ir mais longe. "Você tem pessoas que se
importam com você, é você que não se importa com elas. Se você está sozinho, é porque
quer! E isso digo até em questão de mulher, porque vi como você..." Engoliu em seco.
"Levava elas para trás da igreja."

Com essa o general parou e olhou-a de cima abaixo. "Andou criando meu dossiê, por acaso?"

Bella bufou e deu de ombros. "É impossível não aprender sobre você aqui. Mary me contou
muita coisa... E..." Ela suspirou. "Ela ama você, general. Como um filho."
"Eu não tenho mãe." Grunhiu entre dentes. "A única que eu tive morreu há vinte e cinco
anos, novato, caso você não se lembre."

"Quem não parece lembrar-se disso é você!"

"O quê?" Murmurou, chocado.

"É isso mesmo!" Bella já estava ficando irritada. "Você esquece que foram seus pais que
morreram, e não você! Você vive como se eles ainda estivessem aqui."

"E o que você pode dizer sobre isso?" Ele estava furioso, isso estava claro pelo seu rosto e
seus olhos que a encaravam chamuscando.

"Meus pais foram assassinados, e eu trabalhei para os assassinos minha vida inteira! Eu sei!"
Bufou. "Mas eu superei a morte deles há mais de quinze anos, e sim, eu tenho raiva deles e
vou me vingar por eles e por MIM! Mas isso não é desculpa para deixar para trás as pessoas
que te amam... E você tem quem te ama, EU não!"

Ele olhou-a chocado por suas palavras, mas nem tão pouco menos irritado, ou propício a
ficar ali. Há anos não passava um natal no orfanato, não seria agora que iria.

"Isso é realmente emocionante," Disse não parecendo achar nada emocionante. "Mas não
tenho tempo para isso."

"Tem tempo para o quê, ir a um bordel e ficar com gente que só quer o seu dinheiro?"

Ele cerrou os dentes. A raiva já estava bem forte agora e só Deus sabia a força que fazia
para não dar um soco na cara do novato.

Ele pegou-a pelo braço e foi arrastando-a até que lhe jogou contra o tronco de uma árvore,
prensando-a com seu próprio corpo. De onde estavam ninguém que saísse pro jardim os
veria.

"É melhor você calar a boca." Ameaçou.

Bella meio que tremeu – definitivamente não de medo – e ergueu o olhar encontrando o
dele, tentando aparentar indiferença.

"Essas pessoas não querem sua renda." Murmurou já perdendo um pouco do senso. "Você
ajuda-as com dinheiro," Quando ele a olhou surpresa acrescentou. "Eu posso ser detetive,
sabia?" Suspirou e continuou. "Isso é bom, ótimo... Elas estão tendo um natal decente por
sua causa... Mas quem Mary quer... Quem todos querem... É você." Sentiu raiva de si
mesma porque percebeu que não estava falando só de Mary, mas também dela mesma. "E
não seu dinheiro."

Ele olhou-a frio e calculista como se analisasse todos os ângulos da situação. E Bella soube
que talvez não estivesse TÃO irredutível quando antes.

Tentando ignorar a pressão do corpo másculo dele contra o dela, murmurou:

"É Natal, general. Dá uma chance."

"E eu lá tenho cara de papai Noel? De bom pastor? Ou a porra que seja?" Murmurou com a
voz irônica, mas Bella sabia pela hesitação dele que estava pensando.

"Não... Você tem cara de alguém que merece mais do que três estrelas no peito."
Ele rolou os olhos. "De novo implicando com as insígnias?"

Bella deu um sorrisinho. "General... Esse é meu primeiro natal de verdade depois de muito
tempo. Eu nem conheço essas pessoas, mas elas me acolheram da melhor forma. Nenhuma
insígnia do mundo, mesma as trocentas que você tem, pode comprar isso."

"Acho que foi uma má idéia trazê-la aqui. Vai realmente virar freira, novato?"

"Estou pensando seriamente."

Ele olhou-a de cima abaixo, inclusive a mão que "acidentalmente" estava apoiada em seu
peito.

"Aham."

"Não duvide de mim!" Protestou. Porque era bem capaz de virar só para contrariá-lo.

Ele ficou olhando algum ponto por algum tempo, meio que perdido. Suas linhas faciais
estavam tensas. Seu maxilar travado e todo o corpo rígido contra o de Bella.

Ela ficou a analisá-lo, admirando como ele era bem construído e com um suspiro,
percebendo que não duvidava que realmente muitas meninas tivessem parado naquela
mesma árvore que ela.

O general virou-se para olhá-la, com alguma coisa diferente nos olhos verdes, quando
ouviram um barulho ali perto.

"Bella? Bella?" Era a voz de Catherine, reconheceu. Oh céus, e se ela a visse ali prensada por
um homem na árvore? Para ela, ainda era uma freira super respeitável!

"Vai entrar." O general rosnou se separando dela, e passando as mãos pelos cabelos
acobreados. "E vê se permanece com a porra da bunda lá dentro!"

Ajeitou-se. "Você vai?" Tentou impedir que o tom suplicante e esperançoso saísse de sua
voz, mas não foi bem sucedida.

Olhou por cima do ombro dela, depois para ela e somente murmurou: "Será que eu vou ter
que te levar a força?"

Bella murchou e respirou fundo. Estava pronta para começar outro sermão emocional de
época de natal (que inclusive vira na TV outro dia com Tony), quando percebeu que logo
Catherine estaria ali e aquilo não era bom.

Olhou para o general desejando que fosse mais fácil, mas depois de receber um olhar
ameaçador do tipo 'não me faça chutá-la pela janela', virou-lhe as costas e andou em
direção a noviça.

"Bella!" Exclamou assim que a viu. "Estávamos preocupados."

"Só estava tomando um ar..." Murmurou seguindo a freira para dentro, olhando por cima do
ombro e suspirando ao enxergar a sombra de um homem alto por ali.

Ao lá dentro chegar, encontrou quase tudo vazio. A maior parte das crianças já estava se
recolhendo para acordar cedo na manhã seguinte para abrir os presentes. Presentes esse,
Bella pensou, pagos por um homem que passava o natal sozinho sabe-se lá aonde.
Fizera sua parte, não podia fazer mais nada. Ergueu os olhos e encontrou Mary na sala da
lareira sentada em uma cadeira de balanço de frente para o fogo, se balançando enquanto
costurava alguma coisa. Bella suspirou e soube que falhara... Mary estava certa, ela não
conseguiria fazer nada pelo homem, não era a mulher certa para ele.

"Algum problema, querida?" Perguntou sem nem ao menos se virar. Bella negou baixinho e
se sentou em uma larga poltrona, se afundando e sentindo a letargia e o cansaço tomar
conta de si. Era o sentimento de fracasso.

Ficou olhando para o fogo durante alguns minutos, perdida em pensamentos. Iludira-se
achando que o general poderia se importar, mas ele não se importava com nada. Estava
errada sobre ele e foi com essa linha de raciocínio na cabeça que ouviu uma batida na porta
que a despertou totalmente.

Sem nenhum ânimo para atender, Mary levantou-se, ajustou a prega na saia e foi em
direção a porta.

"Quem será a essa hora? Não estávamos esperando ninguém!"

Bella preguiçosamente enfiou a cabeça em uma mão e olhou em direção a porta. Mary
começou a destravar todos os ferrolhos e a madeira logo se abriu deixando entrar por ela um
vento gelado. Uma sombra se projetava no vestíbulo, até que um sapato extremamente
limpo surgiu na vista, junto com calças pretas imaculadas, e um longo sobretudo de couro
preto.

Então a figura tomou todo o hall de entrada e a face de Mary primeira ficou em choque,
depois em incredulidade, e logo... Tomada por felicidade.

"Você veio!"

"Feliz natal, Mary." Uma voz profunda desejou. Ao ouvir aquela voz, Bella ergueu-se
assombrada, a tempo de ver o rosto de Mary se iluminar imensamente e em um átimo ela já
estar nos braços do generalíssimo Cullen.

Abraçando-a sem jeito, o olhar do general encontrou com o de Bella e ela não pôde deixar de
sorrir. Ele a ouvira sim e realmente se importava.

O filho pródigo finalmente voltara para casa. E pela porta da frente.

No quarto, em sua cama, Bella ficou olhando para o teto, impaciente e ansiosa. Não deveria
estar assim... Qual era o motivo, afinal?

Tentou se convencer que tudo aquilo era irracional, mas sabia o que era a causa: O general
Cullen.

Mary ficara extremamente feliz em vê-lo. E a criminosa conhecia o general tão bem que
sabia que por trás daquela fachada "não sinto absolutamente nada" ele também estava
bolado. Logo os deixaram sozinhos na sala com um sorriso no rosto, imaginando que Mary
tinha muitas coisas a falar em particular.

Estava feliz por eles... Aquele fora seu presente de natal a freira, que estava a acolhendo
com muito carinho sem nem ao menos perguntar quem verdadeiramente era. A freira que
rezava há anos por aquele homem... A freira que o via como um filho e sofria quando ele
não a via como mãe.
Bella queria conversar com ele – não por ele mesmo, lógico – mas queria saber o que estava
acontecendo na NSA, sua situação e se tudo saíra bem. Afinal, querendo ou não, estava
totalmente dependente de suas decisões.

Mas perdera a chance... Provavelmente teria ido embora de volta para o bordel. Inferno!
Pára de pensar NISSO, Bella!

Não agüentando mais ficar no quarto, olhou para o relógio e constatou serem quatro horas
da madrugada. Mary deveria ter acordado e já deveria estar preparando o café da manhã.

Com um suspiro, desatou as cobertas, se arrumou com o monte de pano e caminhou


silenciosamente até a cozinha, encontrando todo o canto que passava deserto.

Ao alcançar o batente da porta da cozinha, parou de repente, pois ali, sentado de costas
para ela na mesa, estava o general Cullen.

Respirou fundo e paralisou se perguntando o que raios ele fazia ali, quando a voz rouca
rompeu a calada da madrugada:

"Examinando minhas costas, novato?"

Ela recuperou-se e rolou os olhos. Bem... Era uma idéia. Costas largas, musculosas, e
postura perfeita. Sim, era uma boa coisa para se examinar.

"Pensei que você não ligava para o natal." Disse tentando aparentar indiferença, passando
por ele e abrindo a geladeira a procura de uma garrafa de leite. O leite ali era entregue como
nos tempos antigos, em garrafas que um mocinho entregava na porta.

Fechou a porta com o pé, percebendo o olhar do homem cravado em suas costas. Tentou
simplesmente não derramar o leite na roupa ou do copo.

"E não ligo."

Os planos do homem eram somente dar uma passada rápida, mas logo foram minguando
quando Mary convidou-o para o almoço do dia de Natal. As palavras da novata ficavam
martelando em sua mente... Nunca confessaria que elas realmente fizeram seu trabalho,
mas a verdade era que fizeram, o perturbando.

Tentara dormir um pouco no quarto que a freira oferecera, mas era impossível, não com sua
cabeça martelando.

Bella colocou chocolate e misturou. Virou-se e sentou-se de frente ao homem. E o olhar que
lançou ao seu copo, fez com que ela também olhasse a procura de algum problema, como
baratas flutuando.

"Isso é leite ou é lama?" Ele torceu o nariz. "Não era mais fácil ter só colocado o chocolate,
poupando trabalho de colocar leite?"

Bella rolou os olhos e só de pirraça colocou mais chocolate em pó tornando-o mais escuro
ainda. Qual é? Ela gostava.

O general bufou e Bella tomou com gosto lançando alguns olhares de esguelha.

Ficaram em silêncio durante algum tempo e Bella se surpreendeu por Mary não estar lá indo
de fogão em fogão.
Queria falar alguma coisa, mas não quebraria o silêncio. Esperaria que ele o fizesse. O caso
era que ele também pensava do mesmo jeito.

Até que teve uma hora em que os dois começaram a se encarar esperando que o outro
começasse. Bella arqueou uma sobrancelha, e o general fez o mesmo. Bella bebeu mais do
leite e teve que se esforçar para não engasgar. Merda! Realmente tinha muito chocolate ali a
ponto de boa parte não ter nem absorvido.

Engoliu em seco e ignorou o olhar debochado que o general lhe lançava. Por fim limpou a
garganta, desconfortável e percebeu que todo seu corpo chegava a pinicar para falar alguma
coisa. Não gostava de silêncio, nunca gostara.

Passaram-se uns bons dez minutos daquele jeito até Bella revirar os olhos e dizer:

"Eu me rendo."

"Pelo o quê?" Ele arqueou uma sobrancelha.

"Por ter quebrado o silêncio."

Ele rolou os olhos. "E quem disse que eu estava disputando alguma coisa e não
simplesmente não querendo falar com você?"

Bella estreitou os olhos. "Você é tão gentil que chega a acalentar meu coração..."

"Seu coração é acalentado muitas vezes, novato, e não é exatamente pela minha gentileza."

Bella largou o copo na mesa em um baque já se estressando. Se havia alguém que podia
estressá-la em plena quatro horas da manhã, esse alguém estava sentado bem na sua
frente.

"Você não tem espírito natalino, não?" Protestou, mas o general estava olhando para outro
canto e não eram exatamente seus olhos. Parecia mais como sua boca.

Bella engoliu em seco e tentou ignorar eventuais reações de seu corpo... Olhou-o nos
incríveis orbes verdes e notou com apreensão o general se levantando um pouquinho e
começando a se encurvar na direção dela na mesa.

Gelou, esperando por alguma coisa – embora se recusasse a pensar nessa "alguma coisa"
mesmo em sua mente – quando o general esticou o braço e com a ponta do dedo tirou o
bigodinho de leite que se formara na mulher.

"Não." O general murmurou, respondendo a pergunta que até ela já havia esquecido
enquanto levava o dedo à boca e experimentava o leite.

Os olhos de Bella se alargaram e sentiu todo o corpo pinicar – desta vez definitivamente não
com vontade de falar. Olhou-o com a respiração um pouco perturbada, até ouvirem um
pigarrear vindo da porta.

Olhou na direção assustada, e deu de cara com a irmã Mary com aquele sorrisinho Mona Lisa
no rosto. Ela já estava começando a se irritar com aquele 'eu sei algo que você não sabe. '

Ajustou-se na cadeira, assim como o general e ambos assistiram a irmã ir em direção ao


fogo começar os preparativos.

Bella notou que ela conhecia o general bem demais, pois não estava todo o tempo
abraçando-o, cumprimentando-o, ou falando sobre ele. O homem não gostava daquilo, e ela
tratava a presença dele ali como algo freqüente e totalmente normal. Ato que fazia com que
ele não levantasse e fosse embora imediatamente.

"Bella é uma menina ótima." Mary comentou alguns minutos depois servindo algumas coisas
para Edward. "Ela tem ajudado bastante por aqui."

"Verdade?" Ele arqueou uma sobrancelha em direção a Bella. Ela ignorou-o, virando a cabeça
e mordendo um cookie. "Que exemplo de pessoa correta." Provocou.

Bella grunhiu por trás das costas de Mary que logo se voltou e a cara feia foi substituída por
um sorriso.

Logo as noviças começaram a chegar e se surpreenderam ao ver o general ali. Ele dominava
todo o ambiente e não podia evitar o ar de perigo e poder que emanava. Aquela cara de mau
também não ajudava. Bella ansiava que ele pudesse rir de novo como na noite anterior... Ele
estivera tão livre, tão solto... Tão... Inferno!

O pior era o que generalíssimo ficava ali como se fosse normal sua presença também...
Cumprimentava as pessoas com um aceno de cabeça e não se via no dever de dar uma
explicação, e nem mesmo uma apresentação.

Uma das noviças que vira Bella defender o general olhou-a curiosa, e esta somente revirou
os olhos.

"Sabemos que vocês dois já se conhecem." Começou a conversa.

O general virou-se tão abruptamente que ela até deu um pulinho de medo. Com as mãos
tremendo tentou passar manteiga em um pão, enquanto engolia em seco.

"Verdade?" Ele questionou quase furando Bella com o olhar.

Mary entrou para ajudar. "Eu contei que antes de Bella encontrar Jesus, ela trabalhou para a
NSA."

O general suspirou e recostou-se na cadeira. "Ah, certo. Sabe... Eu sempre soube que Bella
tinha vocação religiosa. Ela nunca me enganou."

Bella evitou encontrar o olhar dele só de raiva. "Mas ela tem jeito mesmo com as crianças,
elas as adoram."

"Bem... É bom existir pessoas assim no mundo," comentou com um olhar malicioso. "É
incrível a quantidade de pessoas com ficha criminal andando solto por aí. Temos que ter
cuidado."

"Não é, verdade?" Mary comentou com um risinho. "Ainda bem que não temos esse
problema aqui."

"Com certeza." O general concordou parecendo sério, mas Bella sabia que na verdade estava
totalmente se divertindo por dentro.

Logo o padre Andrew chegou e a situação foi cômica. Ele parou no batente e levou um susto
enorme, e teve que continuar com a mão no coração por um longo tempo. Quando se
recuperou, perguntou grossamente para o general se ele finalmente lembrara que tinha
lugar, e este respondeu tão bruscamente quanto, perguntando se o padre também não tinha
o lugar dele, que não era o orfanato.

Por fim, Bella achou a oportunidade perfeita.


"Sabe padre..." Começou e este a olhou desconfiado, porque não era meio segredo que ela
não curtia muito a cara dele. "Edward estava falando agora a pouco mesmo que estava
finalmente pensando em se casar."

"Sério?" O padre arregalou os olhos, mas estava desconfiado. Não sabia mais se de Bella, ou
do general.

O noivo trancou o maxilar e devorou Bella com os olhos. Esta lhe lançou um sorriso
angelical.

"Isso é verdade, querido?" Mary perguntou com os olhos arregalados, olhando para Bella
discretamente.

"É." Ele admitiu, bufando. "Com uma criminosa que tem uma boa ficha criminal, e está
fugindo da polícia nesse exato momento. Acho que seremos felizes juntos." Ironizou.

Bella olhou-o com fúria, e os outros da sala depois de arregalaram os olhos, começaram a rir
achando que tudo era uma piada.

"Sempre irônico." Mary revirou os olhos. "Não é um máximo?"

"Ah, generalíssimo." Uma freira disse respeitosamente. "Acho que o senhor tem uma boa
admiradora."

Bella olhou-a se perguntando quem era a louca, quando percebeu que ela falaria DELA! Abriu
a boca procurando por algum assunto idiota qualquer para impedir que a mulher falasse
qualquer coisa.

"Admiradoras tenho no mundo todo. Quem é essa em particular?"

Bella já estava abrindo a janela com o olhar para pular por ela dali dois segundos, quando
ela disse:

"Bella."

O general paralisou por algum tempo, até lentamente sua cabeça voltar na direção dela que
estava ficando vermelha. Reconheceu o ar malicioso dele, que só garantia merda, e quis sair
dali o mais cedo possível.

Defender o general já era ruim o suficiente para seu orgulho, ELE SABER disso era
realmente, definitivamente, idiotamente, ridiculamente MUITO pior.

"Nossa, vocês ouviram isso? Alguém me chamou." Falou rapidamente enquanto se levantava
e praticamente saía correndo da cozinha.

No caminho começou a chutar várias coisas só por raiva, mas se arrependeu quando bateu o
dedão em uma quina e teve que sair pulando com uma perna só pelo orfanato.

Se o general continuasse sendo ele mesmo, e nenhum milagre natalino acontecesse, não
esqueceria aquilo tão cedo e ela pagaria até a morte. Junto com seu orgulho.

"Idiota, porque você fez aquilo?" Perguntou a si mesma.

Trancou-se em seu quarto e ficou lá até que ouviu as crianças acordando e indo abrir os
presentes. Sabia que estava sendo covarde, mas aquilo era demais a agüentar!
Acabou indo para a sala e encontrou todas abrindo os embrulhos e ficando extremamente
felizes com aquilo. Ficou o mais longe possível do general Cullen, que observava tudo de
longe, encostado em uma parede com os braços cruzados.

A alegria das crianças ao receberem o que queriam e não poderiam ter antes era
revigorante. Bella já era meio emocional, e com aqueles pivetes abandonados, órfãos e
carentes, a coisa realmente complicava. Esperava que o general se tocasse que era ele quem
estava proporcionando aquela felicidade.

E falando nele, sentia seu olhar cravado em suas costas, mas ignorava-o.

E foi tomada de surpresa quando algumas crianças chegaram nela e entregaram-no um


embrulho. Ficou totalmente em choque. Como assim ela estava recebendo um presente?
Estava ali só há uma semana.

Desembrulhou rapidamente e encontrou vários cartões feitos por elas mesmas, com
desenhos também feitos por elas. Era simples, barato, mas Bella se emocionou a ponto de
sentir as lágrimas queimando seus olhos. Em um dos cartões estava escrito 'para a freira
mais parada dura do pedaço'.

Sorriu e meio que sentiu mal por TAMBÉM estar enganando-as. Não bastava na NSA, agora
no orfanato também. Sua vida era definitivamente uma merda.

Depois de aproveitarem os presentes, quiseram brincar e Bella meio que fugiu junto com
elas pro jardim de novo para fazer guerra de neve.

"Ontem vocês ganharam a batalha, mas não a guerra!" Gritou e segundos depois estava no
chão coberta por bolas de neve. É. Era realmente humilhante.

"Perdendo o jeito, novato?" Ouviu a voz de o general ecoar de algum lugar em cima dela, e
ela gemeu com a cara ainda de encontro à neve.

"Vai embora!"

"Pensei que fosse você quem quisesse que eu ficasse." Disse e ela sentiu os braços dele a
envolvendo e a levantando.

Ela ajustou-se e limpou a neve da cara e das vestes, recusando-a a olhar para o homem.
"Mary queria te ver."

"Aham..." Ouviu o tom debochado dele e lançou-lhe um olhar de esguelha, irritada. "Eu não
sou o homem de mais coragem que conheceu?"

Bella teve vontade de morrer. "Oh, não." Murmurou, gemendo. Virou-lhe as costas para
andar em direção á Toronto, Canadá quando ele a puxou pelo braço de volta a ele.

"Me solta, general. Eu sou uma freira, se esqueceu?"

Quando ergueu os olhos se surpreendeu com o olhar intenso que ele lhe lançava.
Penetrante, vivo, verde... Quente.

"Então você admite que tenha quebrado seus votos de freira com o homem mais..." Ele
fingiu pensar um pouco. "Corajoso que tenha conhecido?"

Bella respirou fundo se controlando para não socar a cara do general. Seria uma má
influência para as crianças, não?
"Se você quer achar assim... Mas não se iluda." Retrucou, olhando-o com intensidade.

Ele foi dizer alguma coisa, quando uma bola de neve atrapalhou seus planos. Na verdade,
duas bolas de neve. Uma na cara dela, e outra na dele.

Ficaram paralisados por alguns segundos, enquanto ouviam as risadinhas infantis.

O general levou a mão ao rosto e lentamente tirou a neve dali, com a expressão dura.

"Você realmente não sabe controlar essas crianças." Rosnou.

"Ah é? E você sabe, por acaso?"

"Sei."

Bella riu. "Vai nessa, então!"

"Quer apostar?" Ele arqueou uma sobrancelha.

"Sim. Estou pagando para ver."

"Prepara o bolso então, novato."

"ATEEEEN... ÇÃO!"

Se havia qualquer burburinho restante naquele jardim coberto de neve, ele se extinguiu ao
som daquela palavra. Todas as crianças do orfanato estavam alinhados em uma fila e
olhavam para o homem de dois metros com respeito.

Bella meio que desejou esganá-los. Por que eles não ficavam quietos com ela?

"Meu nome é Edward Cullen, chefe de estado militar, generalíssimo que é o mais alto cargo
militar e..."

"Tá. Eles entenderam." Bella revirou os olhos ao lado dele. O homem lançou-lhe um olhar
mortífero pelo canto do olho, e bufou.

"E este é o tenente novato. Digam 'olá tenente, novato! '"

"Olá tenente novato"

"Espera, por que eu sou tenente? Eu quero ser sargento!" Protestou.

O general nem olhou para ela. "Digam 'cala a boca, tenente novato, quem manda aqui é o
general! '"

"Cala a boca, tenente novato, quem manda aqui é o general!"

Bella olhou para aquele bando de traidores incrédula, e depois para o general. "Ei, eles são
somente crianças. Pára de ensinar coisas feias!" Murmurou pelo canto da boca.

O general olhou para ela com que dizendo 'e você acha que eu sou o quê'?
"Bom." O general disse colocando as mãos nas costas e andando na frente da fila de um lado
pro outro. Era engraçado assistir as crianças arrumando as posturas com os braços para trás
e fingindo ser sérios e adultos. "Para serem bons soldados, vocês precisam treinar muito.
Para chegar onde eu estou..." Olhou cada um duramente. "Bom... Aí vocês morrem e
nascem de novo."

"General!" Bella protestou.

Ele ignorou-a. "Todos dêem um passo a frente." Ordenou.

Logo acataram a ordem.

"Arrumem essa postura, vocês acham o quê, o inimigo vai esperar vocês ajustarem a coluna
antes de lutar?" Logo se endireitaram. "Pés separados, queixo para cima, olhar fixo em
diante, mãos para trás, peito pra frente... Vamos, vamos!"

Logo todos estavam fazendo exatamente o que o general mandava. Bella não sabia se ria ou
se chorava... Tentava a todo custo botar ordem naqueles pivetes, mas tudo o que ganhava
era uma sepultura no meio da neve. Já o general com um estalo de dedos fez com que o
som dos grilos fosse escutado ao longe.

"Vocês precisam ser fortes para enfrentar o inimigo, então eu pergunto pra vocês: vocês
estão prontos para lutar?"

"SIM, SENHOR!"

"Estão prontos para servir o país com a própria vida?"

"SIM, SENHOR!"

"Estão prontos para mandar o mundo ir se f..."

"General!"

"Tanto faz. Estão prontos?"

"SIM, SENHOR!"

"Quem são vocês?"

"SOMOS OS PEQUENOS NOVATOS!"

"De onde vocês vieram?"

"DA PORRA DO ORFANATO!"

"General, foi você quem ensinou isso para eles?" Bella perguntou com os olhos arregalados.
"Vocês não podem falar aquilo!"

"Aquilo o quê?" Um dos moleques perguntou.

Bella bufou. "A palavra com 'p'"

"Porra?" Tony perguntou.

"É!"
"Ah... Você acha que a gente tem o quê? Cinco anos?"

Depois dessa Bella desistiu. Começou a andar.

"O tenente novato está largando o campo de batalha!" O general alardeou. "Isso é certo?"

"NÃO, SENHOR!"

"Isso é corajoso?"

"NÃO, SENHOR!"

"Vocês fariam isso?"

"TALVEZ, SENHOR!"

Depois dessa quem parou foi o general. O olhar que ele deu fez todos logo se arrependerem
da resposta.

"Vocês fariam isso?" Perguntou de novo.

"CLARO QUE NÃO, SENHOR!"

"Na verdade... O tenente novato não está desistindo." Bella voltou e todos olharam para ela.

"Hmm... Vocês estão vendo? Voltou envergonhado!" O general provocou.

Bella cruzou os braços de encontro ao peito e encarou o general com os olhos estreitados,
cheios de fúria. "Na verdade eu vim aqui para propor uma rebelião!"

"Rebelião!" Alguém repetiu. "O que é uma rebelião?"

Bella voltou-se para eles. "O chefe de estado aqui só está os enrolando vocês. Cadê a parte
das lutas? Nós estávamos treinando com as bolas de neve, mas o que ele propõe a vocês?"

As crianças se olharam, confusas.

O general virou-se para Bella também com os braços cruzados de encontro ao peito.

"Novatos precisam de disciplina primeiro."

"Eles são crianças!"

"Que precisam de disciplina. Não queremos que ninguém aqui vire criminoso um dia, não é
verdade?"

"SIM, SENHOR!"

Bella já estava fumegando pelas narinas. "Proponho uma guerra!"

Ele arqueou uma sobrancelha. "Mas você está do meu lado!"

Deu de ombros. "Eu era uma infiltrada. Eu sou do inimigo." Provocou.

O general revirou os olhos. "Você vai perder."


"É o que vamos ver!" Provocou. "Quem está comigo?" Gritou. Mas só uma mãozinha se
levantou da fileira, e ainda depois de algum tempo.

Bella bufou e passou as mãos estressadamente pelo rosto. "Você está virando-os contra
mim!"

"Não, na verdade, quem estava em território inimigo é você!"

Enquanto os dois ficavam discutindo coisas ridículas lá na frente, as crianças os olhavam


com confusão nos olhos.

"Confesse que você falou tudo aquilo na cozinha para o padre, que eu posso pensar em seu
caso." Ele olhou-a com intensidade.

"Nunca!"

"Mas eu sei que você falou."

"Se você sabe por que quer que eu confesse?"

Ele estreitou os olhos e virou-se em direção as crianças, que logo se ajustaram.

"Tivemos um pequeno problema, mas é bem insignificante e não há porque nos


preocuparmos." Bella quis dar uma martelada na cabeça do general nesse exato momento.
"Voltando... Quem são vocês?"

"SOMOS OS PEQUENOS NOVATOS!"

Dessa vez ele pulou o de 'aonde vocês vieram'.

"E o que vocês querem?"

"DOMINAR O MUNDO!"

"Por quê?"

"PORQUE NÓS PODEMOS!"

"E o que vocês fazem?"

"GUEEEE..." Mas o grito foi interrompido quando o general recebeu uma bolada de neve na
cara. Ele paralisou realmente não acreditando que aquilo estava acontecendo, até
lentamente tirar a neve do rosto. Com o olhar chamuscando encontrou Bella a alguns metros
sorrindo com várias bolas de neve na mão.

"O inimigo não espera aulas de disciplina." Provocou.

O general rosnou e então ordenou: "Então é guerra!"

E foi um bombardeiro total. As crianças gritaram e começaram a correr para todos os lados
tacando bolas de neve em todo mundo. O alvo do general, claro foi àquela porra de novato
vestido de freira.

Ela correu dele rindo, enquanto tentava acertá-lo... E o general lançou uma bolada tão forte
nela, que quase desmaiou. Mas segundos depois já se levantava se recuperando, mas o
homem já estava no encalço dela, enlaçando-a pela cintura com força.
Bella estava rindo quando tentava afastá-lo, mas o aperto dele era forte... Até que ela se viu
prensada contra uma árvore, na sombra, de onde ninguém poderia vê-los.

"Não se pode ter confraternização com o inimigo!" Brincou.

"Não é minha intenção, tenente novato." Provocou e apertou ainda mais os corpos. Bella
meio que teve que se lembrar como respirar. "Eu vou te contar um segredo..." Murmurou
com a boca na linha de baixo de sua mandíbula. "Além de levar para trás da igreja, eu
também levava para trás das árvores."

Bella olhou-o confusa até perceber que ESTAVA ATRÁS DA ÁRVORE!

"Eu não sou igual aquelas piriguetes que você trazia aqui."

"Tem razão. Eram mais baixas, mais novas e menos criminosas."

Bella riu e estremeceu quando a boca do general começou a explorar seu pescoço e a linha
de sua mandíbula. "As crianças estão bem ali."

"Aham." Ele murmurou subindo os beijos para o queixo. A criminosa respirou fundo, já
apoiando uma mão naquele peito musculoso.

"E a aposta? Vai perder?" Provocou.

O general parou de repente e olhou-a com o olhar provocante e cheio de desejo. "Quer que
eu te mostre aonde enfiar essa aposta, novato?"

Bella riu. "Já posso fazer uma idéia." E então levou uma mão a seus cabelos e puxou-o de
encontro a si e dentre poucos segundos os lábios dos dois já estavam unidos, em uma
explosão de sentimentos.

"Feliz natal..." Ela gemeu em meio aos beijos.

"A porra de um feliz natal pra você também, tenente novato." Provocou e Bella riu, mas não
pôde fazer mais isso, pois logo seus lábios estavam ocupados pelos dele, e suas mentes
cheias com um único pensamento: Eles definitivamente estavam perdidos.

42.

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