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Curso grátis de Introdução a Criminologia

50 horas aula

Conteúdo programático:

Introdução
Conceito e Definição
Objeto da Criminologia
Método
Criminologia como Ciência
Relação da Criminologia com outras Ciências
A Sociedade e a Natureza do Delito como Fenômeno
Individual e Coletivo
Divisão e História da Criminologia
As Causas da Criminalidade
Criminologia Clínica
Desvios Sexuais e Criminologia
Notações sobre o Exame Criminológico
Caracterologia
Criminalidade: Fatores Exógenos Gerais
Causas Institucionais de Criminalidade
Microcriminalidade e Macrocriminalidade
Vitimologia
Bibliografia/Links Recomendados

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Introdução
CONSIDERAÇÕES DE ASPECTO GENÉRICO
É bíblico o ensinamento de que Deus criou o homem à sua
imagem e semelhança e que, ao colocá-lo no Jardim do Éden,
fez-lhe esta advertência: “De toda a árvore do jardim comerás
livremente, mas da árvore da ciência do bem e do mal não
comerás, porque, no dia em que dela comeres, certamente
morrerás”.

Houve a desobediência posterior e, por sua cobiça, o homem foi


condenado a conhecer o bem e o mal.

A conduta do homem em uma ou outra direção, ou seja,


caminhando rumo ao bem ou ao mal, por si só, determina a
existência de diferenças fundamentais na forma de viver do ser
humano.

É inerente à homogênese, portanto, a desigualdade do


comportamento social dos indivíduos.

Entregue à todos os seus temores e fraquezas, o homem é


sempre chamado, na correnteza da vida, a decidir entre o bem e
o mal em meio às tentações da ambição, do poder, do “ter” ao
invés do “ser”. Concomitantemente, estará ele, respirando os
ares da inveja, da ira, do orgulho, da vaidade, da prepotência,
das paixões desenfreadamente destruidoras, tudo a emaranhá-lo
na possibilidade, sempre presente, do retrocesso moral e
espiritual e na própria queda ao abismo da criminalidade.

Ora, a criminalidade é considerada como um fato normal da vida


em sociedade, justamente porque a vida grupal, a existência
comunitária, não implica em que cada indivíduo aja em acordo
com a vontade dos demais e, não raro, isso acarreta divergências
e choques pessoais; e se esses desacordos não são contornados
pelas vias da conciliação ou do ajuste, só restará a alternativa do
conflito propriamente dito, e este, quando não resolvido
legalmente, fatalmente redundará em confronto, em diferentes
tipos de agressão, sucedendo que muitos deles vão desenbocar
na sendado crime.

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Apesar da criminalidade ser reputada como um fenômeno social
normal, da mesma forma não é analisada a figura do criminoso,
considerado um “fenômeno anormal”, na expressão de Israel
Drapkin (Manual de Criminologia). Contudo, os
autores Newton e Valter Fernandes (Criminologia
Integrada), discordam de Drapkin, pois, se aceita a criminalidade
como um processosocial normal, porque o ato do criminoso deve
ser entendido como um fenomeno anormal? Para tais
doutrinadores, tanto a criminalidade quanto o indivíduo que a
exercita não podem ser considerados normais, porque o crime
não é ato normal em sociedade e, por sua vez, as peculariedades
do fenômeno da delinquência não podem se apartar de seu
agente desencadeador, intrinsicamente á ela ligado.
Outra não é a razão da Criminologia ter por escopo o estudo do
fenômeno criminal, suas causas geradoras e o conhecimento
completo dos seres humanos que exercem um papel no palco
cênico do delito, ou seja, a pessoa do criminoso e, porque não
dizer, a pessoa da própria vítima.

CONSIDERAÇÕES DE ASPECTO ESPECÍFICO


Interessa-se especificamente a Criminologia em pôr a claro tudo
o que contribui ou concorre para a existência da criminalidade.

Para que o crime venha a eclodir é indispensável que ocorra uma


intenção ou um ato humano. Por isso, a par do fenômeno em si
da criminalidade, o estudo do comportamento humano deve ser
basilar da Criminologia, pois, sendo o homem o agente do ato
delituoso, é principalmente sobre ele que devem ser
concentradas as pesquisas mais relevantes, já que sobre seus
ombros atuam múltiplas causas, muitas delas desconhecidas até
a ocorrência do crime, mas com acentuado pesona
caracterização da origem do fato e do caráter ou da verdadeira
natureza da vontade do criminoso.

Ao longo do tempo, a Criminologia tem sido subdividida em


segmentos que compreendem a Biologia Criminal, a Sociologia
Criminal, a Psicologia Criminal, a Psiquiatria Criminal, a
Endocrinologia Criminal, etc. De entender que tais repartimentos
só se prestam ao aspecto didático-pedagógico de seu
ensinamento, visto que o ideal é a fusão de todas essas partes

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em uma só, daí advindo uma única Criminologia, forte,
pujante, e definitiva em sua própria nomenclatura e no seu
conteúdo doutrinário (opinião de Newton e Valter Fernandes).

Conceito e Definição
CONCEITO E DEFINIÇÃO
A palavra Criminologia deriva do latim “crimen” (delito) e do grego
“logos” (tratado). Em resumo, seria o “Tratado do Crime”.

Foi utilizada, pela 1ª vez, em 1885, pelo italiano Rafael Garófalo


(designando-a como a “ciência do crime”), contudo, já havia sido
muito estudada e utilizada (embora não com esta denominação)
pelos igualmente italianos Cesare Lombroso e Enrico Ferri.

Para alguns, a Criminologia é o estudo do homem que delinque.


Definindo a criminologia como o tratado do delito, confundi-la-
emos com o Direito Penal, que trata do delito, do delinqüente e
da pena. Aliás, qualquer matéria sobre criminalidade deve
abranger esses três elementos.

A Criminologia, como não poderia deixar de ser, não é definida


de maneira uniforme, existindo muitas e variadas definições.
- Nelson Hungria: “Criminologia é o estudo experimental do
fenômeno crime, para pesquisar-lhe a etiologia e tentar a sua
debelação por meios preventivos ou curativos”.
- Jean Merquiset: “Criminologia é o estudo do crime como
fenômenos social e individual e de suas causas e prevenção”.
- Kinberg: “Criminologia é a ciência que tem por objeto não
somente o fenômeno natural da práticado crime, como também o
fenômeno da luta contra o crime”.
- Edwin H. Sutherland: “Criminologia é um conjunto de
conhecimentos que estudam o fenômeno e as causas da
criminalidade, a personalidade do delinqüente, sua conduta
delituosa e a maneira de ressocializá-lo”.
Trata, pois, a Criminologia, da aplicação das ciências sociais e
humanas no controle e ressocialização do criminoso, com vistas
á prevenção da delinquência.

A partir dessas afirmações, é possível e verdadeiro dizer-se que

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o fim último da Criminologia é a promoção do homem ou a
ascenção da condição humana.

Poder-se-ia enumerar diversos outros conceitos de Criminologia


que foram formulados pelos mais variados autores.

Porém, na análise de Newton Fernandes e Valter Fernandes


todos os conceitos até hoje formulados pecam por não incluírem
na Criminologia o estudo da vítima, também denominado de
vitimologia, uma vez que, a Criminologia se ocupa não apenas do
crime e do criminoso, mas, igualmente, da vítima.

Assim, na definição desses dois autores, “Criminologia é a


ciência que estuda o fenômeno criminal, a vítima, as
determinantes endógenas e exógenas, que isolada ou
cumulativamente atuam sobre a pessoa e a conduta do
delinquente, e os meios laborterapêuticos ou pedagógicos de
reintegrá-lo ao agrupamento social”.

Em sentido lato, a Criminologia vem a ser a pesquisa científica do


fenômeno criminal, das suas causas e características, da sua
prevenção e do controle de sua incidência.

A Criminologia é a ciência que pesquisa: as causas e concausas


da criminalidade; as manifestações e os efeitos da criminalidade
e da periculosidade preparatória da criminalidade; a política a
opor, assistencialmente, á etiologia da criminalidade e á
periculosidade preparatória da criminalidade.
- Em resumo: “Criminologia é o estudo do crime, do criminoso,
da vítima e das causas e fatores da criminalidade”.

Objeto da Criminologia

OBJETO
Das várias colocações até agora feitas, verifica-se que a
Criminologia representa:

a) o estudo dos fatores individuais (personalidade) e sociais


(ambiente) básicos da criminalidade;

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b) o estudo dos fatores básicos e do fenômeno natural da luta
contra o crime (tratamento e profilaxia), objetivando a
ressocialização do delinqüente e a prevenção da criminalidade.

Assim, podemos dizer que o objeto da Criminologia é:


“O estudo do fenômeno natural, considerando os fatores
individuais (personalidade) e os fatores sociais (ambiente),
e ao mesmo tempo, a luta contra o crime, levando em
conta a necessidade de ressocialização do delinqüente
(tratamento) e de prevenção do crime (profilaxia)”.
Em resumo, o objeto da Criminologia é, pois, o crime e o
criminoso, o que a confunde, muitas vezes, com o Direito Penal,
já que este também tem por objeto o crime e o criminoso. Já
chegou-se até mesmo a firmar que a Criminologia seria apenas
uma parte do Direito Penal, portanto, dependente deste.

Sabe-se, contudo, que embora o Direito Penal e a Criminologia


estudem ambos o crime, são duas ciências autônomas e
independentes, e o enfoque dado por uma e por outra,
relativamente ao delito, é diferente.

O Direito Penal tem por objeto o crime como uma regra anormal
de conduta, contra o qual estabelece o gravame, o castigo, a
punição. O Direito Penal é, por assim dizer, a ciência de
repressão social ao crime, através de regras punitivas que ele
mesmo elabora. O seu objeto, portanto, é o crime como um ente
jurídico, e como tal, passível de sanções.

Já a Criminologia é uma ciência que tem por objeto a


incumbência de não só se preocupar com o crime, mas também
de conhecer o criminoso, montando esquemas de combate á
criminalidade, desenvolvendo meios preventivos e formulando
empenhos terapêuticos para cuidar dos delinqüentes a fim de que
eles não venham a reincidir.

Enquanto o Direito Penal é uma ciência normativa, de repressão


social contra o delito, através de regras jurídicas coibitórias cuja
transgressão implica em sanções, a Criminologia é uma ciência
causal-explicativa, essencialmente profilática, visando o
oferecimento de estratégicas, por intermédio de modelos
operacionais, de molde a minimizar os fatores estimulantes da

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criminalidade, bem como, o emprego de táticas estribadas em
fatores inibidores do conjunto do crime.

O Direito Penal se preocupa com as ações e omissões que


constituem delito e á Criminologia importa saber as causas pelas
quais devam ser consideradas como delitos.

Conseqüentemente, a primeira diferença entre o Direito Penal e a


Criminologia, é que enquanto o primeiro nos indica que os atos
merecem uma pena, a segunda nos indica a causa desses atos.

Como segunda diferença, temos que considerar que, enquanto


ambas as ciências estudam o delinqüente, o Direito Penal só
indaga o grau de responsabilidade do mesmo (autor, co-autor,
partícipe); enquanto que á Criminologia interessa conhecer o
homem delinqüente, aspecto que mais tem preocupado as
escolas filosóficas, ou seja, trata de compreender a
personalidade do homem delinqüente.

Assim, no que se refere ao crime, a Criminologia tem toda uma


inequívoca atividade de verificação, de análise da conduta anti-
social, de pesquisa das causas geradora do delito, e do efetivo
estudo e tratamento do criminoso, na expectativa de que ele não
se torne recidivista.

O objeto da criminologia é o delito isolado, a criminalidade como


fenômeno comunitário, além das causas do crime como
fenômeno individual e o embate contra a delinqüência. Por
conseguinte, o homem somente diz respeito ao objeto da
criminologia quando é o homem delinqüente, antes não.

Porque delinqüente o homem e as causas porque o faz, são as


matérias essenciais com que preocupa a Criminologia.

Exato afirmar, então, que o Direito Penal e a Criminologia


trabalham em cima da mesma matéria prima, mas a forma de
operação, de elaboração do trabalho, é bem diferenciada, o que
torna legítimo concluir que o objeto de uma ciência não é o
mesmo da outra.

Estas diferenças não significam que ambas as disciplinas não

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possam entender-se; pelo contrário, completam-se, pois estão
unidas por uma finalidade única, que é conhecer e estudar o
delinqüente.

A Criminologia não é, pois, um capítulo do Direito Penal, porque é


essencialmente biológica, experimental e dedutiva, enquanto que
o Direito Penal é uma ciência normativa e valorativa.

A Criminologia vem injetando no Direito Penal um sentido


biológico. A paixão irresistível, a força coercível, a coação, o
louco ou alienado, etc, são conceitos médico-biológicos da
Criminologia adotados pelo Direito Penal. É o que se tem
denominado “o sentido biológico do Direito Penal”.

Método
MÉTODO
Em seu livro Criminologia Biológica, Sociológica e Mesológica,
ensina Vitorino Prata Castelo Branco:
“Em geral, método é o meio empregado pelo qual o
pensamento humano procura encontrar a explicação de um
fato, seja referente á natureza, ao homem ou á sociedade”.
E prossegue:

“Só o método científico, isto o é, sistematizado, por


observações e experiências, comparadas e repetidas, pode
alcançar a realidade procurada pelos pesquisadores”.
Diz, ainda, Vitorino Prata:

“O campo das pesquisas será, na Criminologia, o fenômeno do


crime como ação humana, abrangendo as forças biológicas,
sociológicas e mesológicas que o induziram ao comportamento
reprovável, etc.”.
Analisando-se, ainda que perfunctoriamente, as palavras deste
gabaritado criminólogo, deflui, que em termos de pesquisas
criminológicas, dois seriam os métodos utilizados:

a) biológico;

b) sociológico

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De fato, quando o referido autor fala em forças sociológicas e
mesológicas, no fundo significam a mesma coisa, ou seja, algo
ligado ao meio ambiente, ao meio social.

Abordando o assunto em sua obra Manual de Criminologia, Israel


Drapkin, argumenta dizendo, inicialmente, que a Criminologia
efetivamente usa os métodos biológico e sociológico.

E, como não poderia deixar de ser a uma disciplina que estuda o


crime como um fato biopsicosocial e o criminoso, a Criminologia
não fica adstrita a um só terreno científico, porque este não teria,
por si só, o condão de conseguir explicar o fenômeno
delinquencial e a vasta caudal de causas delituógenas, dentre
elas aquelas de natureza social, biológica, psicológica,
psiquiátrica, etc.

Por isso, a Criminologia constrói seus métodos, mas também, se


utiliza dos métodos de outras ciências.

Logo, a nova metodologia criminológica vai assentar-se na


constituição da equipe criminológica – “team work” – (médico,
psiquiatra, psicólogo, assistente social, educador, enfermeiro,
etc., que tenham recebido treinamento criminológico).

Os métodos de análise utilizados pela Criminologia são:


a) relativamente aos fatores sociais, os da Sociologia;

b) relativamente aos fatores individuais, os da Biologia,


Psicologia, Psiquiatria, Endocrinologia,etc.

Criminologia como Ciência


A CRIMINOLOGIA COMO CIÊNCIA
Genericamente, considera-se ciência o conjunto de
conhecimentos relativos á um determinado objeto, em especial os
obtidos mediante a observação, a experiência dos fatos e um
método próprio.

Para os filósofos, há dificuldades e divergências acerca do que


deve ser considerado ciência. Muitos exigem que para uma
disciplina de conhecimentos poder ser considerada uma ciência,

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deve ter um objeto específico, seguir um método determinado e
ter uma aplicação universa.

Em decorrência disso, discute-se se a Criminologia seria ou não


uma ciência, sob a alegação de que não possui objeto, não tem
um método determinado, tampouco é universal.

Para os que não consideram a Criminologia como ciência, esta


carece de objeto, porquanto estuda o delito, que pertence ao
Direito Penal. Porém, sabemos que não é bem assim, pois como
visto, ambas as disciplinas enfocam o delito de ângulos
diferentes.

Com relação ao método, os contrários afirmam não ser a


Criminologia uma ciência, por não ter um método determinado,
uma vez que ela se vale de dois métodos, o biológico e o
sociológico. Abordando o assunto em sua obra Manual de
Criminologia, Israel Drapkin argumenta dizendo, inicialmente, que
a Criminologia efetivamente usa os métodos biológico e
sociológico e exemplifica:
“se a Biologia é uma ciência, não há razão para que não o seja
a Criminologia, que usa o seu método”. E acresce: “A
Criminologia usa o método experimental, naturalístico, indutivo,
para o estudo do delinqüente, o que não basta para conhecer
as causas da criminalidade. Por isso, recorremos aos métodos
estatísticos, históricos e sociológicos”.

O fato da Criminologia usar vários métodos pode tirar-lhe a


categoria de ciência? É claro que não. A Criminologia não é um
campo de conhecimento empírico, que vive a carecer de método
científico para a comprovação de suas experiências e
experimentos. Ao contrário, ao invés de um, a Criminologia
possui dois métodos de trabalho: o biológico e o sociológico.

Por último, aqueles que negam o caráter científico à Criminologia,


que esta não é universal, pois o que num país pode ser
estabelecido como uma verdade incontestável, noutro poderá ser
diferente, a ponto de existirem as chamadas Criminologia
nórdica, européia, americana, etc., que guardariam aspectos
diferentes entre si.

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Contudo, quanto á condição de não universalidade da
Criminologia, para ser considerada uma ciência, de recordar que,
em Congresso Internacional de Criminologia realizado há menos
de 20 anos em Belgrado, no país então chamado Iuguslávia,
consensuou-se o seguinte: “A delinqüência é um fenômeno
social complexo que tem suas próprias leis e que aparece num
meio sociocultural determinado, não podendo ser tratada com
regras gerais, mas particulares a cada região”. Diante dessa
conclusão a que chegaram mais de 700 criminólogos,
representando cerca de meia centena de países no Congresso
Internacional antes mencionado, de aceitar ser inteiramente
desnecessário o requisito da aplicação universal para erigir a
Criminologia á categoria de ciência.
A esse respeito, aliás, é oportuno citar ainda uma vez Vitorino
Prata, que reconhecendo a condição de ciência da
Criminologia, sublinha:
“Embora o homem seja o mesmo em qualquer parte do mundo,
os crimes têm características diferentes em cada
continente,devido á cultura e á história própria de cada um. Há,
pois, uma Criminologia brasileira, como uma Criminologia
chinesa, uma Criminologia iuguslava, enfim, uma Criminologia
própria de cada raça ou nacionalidade”.
Destarte, malgrado alguns que lhe neguem o caráter científico,
aflora pacífico que a Criminologia é ciência. Ciência que aborda o
acontecimento delitivo em seus aspectos individual e anti-social e
na sua causação, inclusive destacando seus provocativos no
intento de atenuar a incidência delituosa.

Relação da Criminologia com outras Ciências


RELAÇÃO DA CRIMINOLOGIA COM OUTRAS CIÊNCIAS
Não haverá qualquer exagero em afirmar que a Criminologia
praticamente se relaciona com todas as ciências e áreas do
conhecimento humano, desde que propiciadoras de maior
percepção ao fenômeno do cometimento criminal e a
personalidade do delinquente.

Verdadeiramente, a Criminologia se vincula a todas as demais


ciências que se ocupam do crime, do criminoso e da pena. Por
isso, todas essas ciências, e inclusive a Criminologia, compõem a
chamada “Enciclopédia das Ciências Penais” que, consoante

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a lúcida compreensão de Luis Jimenez de Asúa, subdivide-se
em 4 grupos, a saber:
a) Ciências Histórico-Filosóficas: História do Direito Penal,
Filosofia do Direito Penal e Direito Penal Comparado;
b) Ciências Causal-Explicativas: Criminologia, Antropologia
Criminal, Sociologia Criminal, Biologia Criminal, Psicologia
Criminal e Psicanálise Criminal;
c) Ciências Jurídico-Repressivas: Direito Penal, Direito
Processual Penal e Direito Penitenciário;
d) Ciências Auxiliares e de Pesquisa: Penologia, Política
Criminal, Medicina Legal, Psiquiatria Forense, Polícia Judiciária
Científica, Criminalística, Psicologia Judiciária e Estatística
Criminal.
As disciplinas integradoras da Enciclopédia das Ciências Penais,
ou “Síntese Criminológica”, destinam-se à perquirição,
enfrentamento e aplicação interativa dos princípios e normas dos
três elementos do episódio criminal propriamente dito, a saber: o
crime, o criminoso e a pena.

Não será despiciendo recordar a conceituação sucinta das


ciências que integralizam a “Síntese Criminológica”. Vejamos:

a) Ciências Histórico-Filosóficas:
- História do Direito Penal: Vem a ser a pesquisa conexa dos
fenômenos jurídico-penais de cada povo;
- Filosofia do Direito Penal: se resuma na análise e crítica do
Direito Penal naquilo pertinente ao sseus princípios, causas e
modificações;
- Direito Penal Comparado: é a pesquisa sistematizada e em
cotejo das legislações penais dos diversos países;
b) Ciências Causal-Explicativas:
- Criminologia: é a ciência que estuda a causação do fenômeno
criminal;
- Antropologia Criminal: perquire as características orgânicas e
biológicas do delinqüente;
- Biologia Criminal: estuda o crime como acontecimento da vida
do indivíduo;
- Sociologia Criminal: pesquisa o fenômeno delituoso sob o
prisma da influencia ambiental na conduta criminosa;
- Psicologia Criminal: estuda os caracteres psíquicos do
delinqüente que influem na gênese do crime;

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- Psicanálise Criminal: atenta para a personalidade do criminoso
e para os processos íntimos que oexcitam á prática delitiva.
c) Ciências Jurídico-Repressivas:
- Direito Penal: é a ciência jurídica de reação social contra o
crime;
- Direito Processual Penal: é a atividade estatal de tutela penal
através de normas próprias;
- Direito Penitenciário: representa o compacto de regras jurídicas
reguladoras da atividade jurídico-carcerária.
d) Ciências Auxiliares e de Pesquisa:
- Política Criminal: tem por finalidade a análise e a crítica das leis
penais a partir de propostas criminológicas;
- Penologia: tem por objeto o estudo da pena, das medidas de
segurança e da funcionalidade das instituições destinadas á
readaptação dos egressos dos presídios;
- Medicina Legal: tem por propósito a aplicação dos
conhecimentos científicos na esfera da Justiça Criminal;
- Criminalística: estuda as formas como se cometem os delitos,
cuidando da aplicação dos recursos técnicos para sua
constatação e perquirição;
- Psiquiatria Forense: tem por mira o estudo dos distúrbios
mentais ensejadores de problemas jurídico-penais;
- Psicologia Judiciária: estuda o comportamento do indivíduo
acusado da perpetração do crime;
- Polícia Judiciária Científica: se incumbe da pesquisa dos
vestígios e indícios encontradiços no palco típico;
- Estatística Criminal: tem por fim a observação etiológica do
delito com vistas ao planejamento e avaliação do desempenho
institucional contra a criminalidade.
Depreende-se do anteriormente explicitado, quando se fala em
“Enciclopédia das Ciências Penais”, que a expressão galardoa a
própria Criminologia, naquilo que é ela considerada uma ciência
que abrange praticamente todas as disciplinas criminais.

A Criminologia teria, por assim dizer, uma concepção


enciclopédica, eis que se utiliza do campo de labor de outras
ciências criminais. Daí também ser chamada “ciência de síntese”,
porque sua base científica está fincada nas contribuições
proporcionadas pelas denominadas ciências do homem
(Antropologia, Biologia, Sociologia, Psicologia, Psiquiatria, etc.)
quando voltadas para a pesquisa do delito.

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Efetivamente, para atender sua finalidade, a Criminologia não
pode atuar isoladamente, havendo que recorrer ao objeto de
outras ciências, mesmo porque o conhecimento não se confina
nos limitativos de uma única ciência.

Mas qual a relação da Criminologia com todas estas


ciências?
a) Criminologia e Direito Penal: É ponto pacífico que a
Criminologia se relaciona fundamentalmente com o Direito Penal,
eis que, embora autônomas, são ciências acentuadamente
correlatas, limítrofes e, quiçá, complementares. A par disso, é o
Direito Penal que delimita o objeto da Criminologia, fornecendo-
lhe, até, o juízo valorativo do fato criminoso.É a Criminologia, por
outro lado, que oferta ao Direito Penal os subsídios para o
julgamento do fato criminoso. Destarte, a Criminologia é ciência
propedêutica do Direito Criminal. Não obstante, enquanto o
Direito Penal tem como objeto a culpabilidade, o objeto da
Criminologia é a periculosidade. Enquanto o Direito Penal encara
o crime como fato antijurídico, a Criminologia o vê como uma
conduta anti-social. Enfim, o Direito Penal é ciência cultural,
valorativa, normativa e finalista. A Criminologia é ciência causal-
explicativa,de observação, de síntese, de pesquisa teórica.
b) Criminologia e Direito Processual Penal: Tem ligação com
este na medida em que ele regulamenta a verificação do ato
delituoso e faz o exame da personalidade do autor típico.

Cesare Bonesana, o Marquês de Becaria, dizia que a Justiça


para ser justa deve ser rápida, mas quando se vê um homem
chegar na penitenciária condenado há 5 anos, depois de haver
estado no cárcere no decorrer de um processo que durou 4 anos,
esta Justiça não pode ser justa.

É preciso meditar sobre a imensa injustiça que significa uma


absolvição depois de muitos anos de cárcere, pois se bem que
existe uma indenização de caráter constitucional (art. 107 da CF),
na realidade esta só existe teoricamente. Embora existem não
poucos casos de prisões ilegais, raramente é requerida e
concedida indenização, como no processo dos “Irmãos Naves”,
injustamente condenados por homicídio em que a suposta vítima
apareceu viva após muitos anos,tendo um dos irmãos
condenados morrido na prisão. Foi concedida a indenização,

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confirmada pelo STF. Mas na grande maioria dos casos, as
pessoas sofrem as injustiças sem nada pleitear.
c) Criminologia e Direito Penitenciário: Nascido na Itália, com
Giovanni Novelli, este Direito é muito novo e refere-se à aplicação
da pena. Pretende exercer todas as medidas destinadas á
aplicação individual da lei penal, a cada delinquente em
particular, objetivando a ressocialização do delinquente.
d) Criminologia e Antropologia Criminal: Pesquisando a
exigência de leis que regem a criminalidade e também a
influência de fatores individuais na gênese do delito, a
Criminologia obrigatoriamente tem de invocar a Antropologia
Criminal, que permite totalizar o fenômeno delinquencial em seus
múltiplos aspectos, desde os biológicos aos psicossociais, como
um todo. A Antropologia é a base da Criminologia, mormente
agora que foi revigorada pela Endocrinologia e pela Genética.
e) Criminologia e Biotipologia Criminal: Esta projeta uma
constituição delinquencial. Semelhante á Antropologia.
f) Criminologia e Sociologia Criminal: A Sociologia nos
ensina a organização dos grupos sociais, que são diferentes de
acordo com a época e a localização, o que também é uma fase
importante para o conhecimento do homem delinquente. Assim, a
Criminologia relaciona-se com a Sociologia na medida em que
aquela demonstra que a personalidade criminosa é o somatório
de fatores biológicos e sociológicos em seu mais amplo sentido,
integrados numa unidade psicossomática.

A Sociologia Criminal é a ciência que cogita do fenômeno social


da criminalidade.

Tão grande afinidade há entre a Sociologia e a Criminologia, que


uma das principais teorias criminológicas, a que busca explicar a
gênese dos delitos, leva o título de Teoria Sociológica. Entende
esta teoria que as pressões e as influencias do ambiente social
geram o comportamento delinqüente. A Sociologia Criminal toma
o crime como um “fato natural da vida em sociedade”, estudando-
o como expressão de certas condições do grupamento social,
ocupando-se com os fatores exógenos na causação do delito,
bem como, suas conseqüências para a coletividade.
g) Criminologia e Psicologia Criminal: A Psicologia Criminal
propõe-se desvendar o caráter e as tendências do criminoso,
indicando os rumos necessários à avaliação de sua

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periculosidade e estudando a incidência da fenomenologia
psíquica da Criminalidade. Como a causa dos crimes reside,
grande número de vezes, em transtornos mentais, transitórios ou
permanentes, as alterações psíquicas interessam á Criminologia
(psicoses, neuroses, psicopatias, oligofrenias, etc), fornecendo á
Criminologia matéria para o estudo dos transtornos mentais dos
criminosos.
h) Criminologia e Psiquiatria Criminal: A função da
Psiquiatria Criminal centraliza-se na terapia, uma vez que a
profilaxia é mais cabível à Psicologia Criminal.
i) Criminologia e Endocrinologia: É de vital importância a
pesquisa da interação endócrino criminal, permissível pela
ocorrência de anomalias endócrinas dos criminosos.
j)Criminologia e Demografia: A Criminologia busca nos
movimentos da massa humana (nascimentos, casamentos,
óbitos) as causas que influem sobre a personalidade do homem
delinquente.
l)Criminologia e História: A História é uma ciência que nos
serve para compreender o presente e o futuro, baseando-se no
passado; através dela conhecemos o passado, compreendemos
o presente e vislumbramos o futuro.

A Sociedade e a Natureza do Delito como Fenômeno Individual e Coletivo

A SOCIEDADE A E NATUREZA DO DELITO COMO FENOMENO INDIVIDUAL E COLETIVO

a) O aparecimento da vida e do homem

A doutrina do pecado original é um dos princípios mais poderosos


da crença hebraico-cristã. Segundo a concepção cristã, o homem
era inocente e bom e o mundo um , um paraíso. Mas o jardim (do Éden)

homem foi tentado, sucumbiu e nunca mais irá recuperar sua


inocência original.

São Paulo declarou que o homem é carnal e pecador,


acrescentando: ”. Aliás, essa idéia da
“em sua carne habitam coisas ruins e o pecado habita nele

maldade como uma das características do ser humano se


encontra também no campo da Biologia com Charles Darwin,
como ainda no da Psicologia e da Psicanálise, com Sigmund
Freud.

Contestando a perspectiva cristã do aparecimento da vida e do

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homem, e do próprio deusismo, Darwin estabelece outra
hipótese sobre a origem do homem, defendida em suas obras On
the origen of Species e The Descent of Main, escritas em 1859 e
1871, respectivamente. Darwin entendia que o homem evoluiu a
partir de animais não humanos, sofrendo mutações e percorrendo
um longo caminho até chegar ao estágio humano. É o que prega
em sua “Teoria da Evolução”, contestada veemente pelos
representantes da igreja, mas cuja influencia na classe intelectual
até hoje é bastante razoável.

Conquanto não aceita a teoria darwiniana sobre a origem do


homem, também existe uma certa controvérsia em se admitir
cegamente que a espécie humana está imersa em pecado devido
á sua herança de Adão e Eva.
Importa, em suma, que o universo é resultado de uma criação de
Deus com finalidade.
b) A Sociedade e o Crime

Durkhein afirmava que “os fenômenos sociais são fatos naturais e


devem ser estudados pelométodo natural, isto é, pela observação
e, quando for possível, pela experimentação”.

Ora, o crime é um fenômeno social e a criminalidade depende do


estado social. Tenha o crime na sua gênese um fator
exclusivamente endógeno (biológico) ou exclusivamente exógeno
(meio ambiente), ou a combinação de ambos os fatores, é
inegável que o crime é uma manifestação de vida coletiva, não
fosse a existência de apenas duas pessoas considerada um
grupo social.

Não pode existir criminalidade fora de um estado social qualquer.


Sendo o homem um animal gregário, sua vida em sociedade não
implica, porém, em que não haja uma unidade de consciência
social, pois esta nada mais é que a resultante das consciências
individuais, que vão compor a maioria da unidade social.

A noção de uma igualdade humana, dentro do grupo, é


radicalmente falsa. A natureza animal não conhece a igualdade e
toda filosofia zoológica repousa na desigualdade dos seres vivos
e, entre eles, as desigualdades mais acentuadas são as que se
verificam no ser humano.

19
A desigualdade social é que induz á situações de conflitos, que
podem terminar em criminalidade, entendo-se esta como todos
os atos que constituem infração penal.

A criminalidade, que não se concebe fora da vida grupal, nasce e


se desenvolve dos interesses colidentes de seus componentes. É
como se a criminalidade fosse uma oposição do indivíduo á
sociedade. Por isso que também deriva de interesses
personalíssimos.

O crime, social na sua etiologia, visto que suscitado pela


existência em sociedade, é antisocial nos seus efeitos. Distingue-
se, assim, a criminalidade, por firmar um conflito de vontades: de
um lado a vontade da sociedade, soma das vontades de seus
integrantes ou resultado da volição da maioria, e, de outro lado,
a vontade individual de quem perpetra o crime, ou seja o
delinqüente.

O crime, portanto, é o produto de dois fatores: o indivíduo


(criminoso) e a sociedade.
c) O Fato criminoso

E. Glover, na obra The Roots of Crime, abordando o criminoso


nato, comenta: “o crime representa uma das parcelas do preço
pago pela domesticação de um animal selvagem por natureza(o
homem), ou, é o resultado de sua domesticação mal sucedida”.

Infere-se, desse conceito, que o homem, não sendo tratado como


ser humano, transforma-se no mais violento e perigoso dos
animais, posto que é o único que raciocina.

Incontestável é que o crime emana, primordialmente, de fatores


sociais e, como tal, adquire a imagem de uma fenomenologia
individual e coletiva.
d) O crime como fenômeno individual e coletivo

As causas imediatas do crime se resumem nas condições do


meio em que ele se verificou e na personalidade de seu autor no
momento da ação.

20
As condições ambientais e circundantes, na ocasião do crime,
abrangem as circunstancias que permitiriam o desencadeamento
do próprio ato, entre elas aquelas que tornaram permissível o seu
cometimento e, por isso, prevalentes, como também as que
teriam funcionado como inibidora do evento, mas que foram
reprimidas. Assim, a miséria (que via de regra é a responsável
por grande gama de delitos, figurando quase sempre como
preponderante sobre circunstancias outras) pode, em
determinada situação, não prevalecer, como o simples fato do
indivíduo que iria praticar o crime e, á última hora, deixou de fazê-
lo por temor ao respectivo castigo ou pena que, uma vez
descoberto,viria a sofrer. O castigo funcionou, aí, como freio
inibidor.

A outra causa do crime, ou seja, a personalidade do indivíduo na


ocasião em que comete o crime, consiste naquilo que permite
uma predição de como uma pessoa agirá em uma determinada
situação. Essa personalidade do homem, com suas vivencias
atuais e, de outra forma, sempre condicionada pelo modo de ser
relativamente constante ou habitual do indivíduo, aí residindo as
características dessa decantada personalidade. No fato, por
exemplo, do marido que surpreende a mulher em adultério, a
reação difere de um para outro indivíduo. Existem aqueles que
reagem violentamente (matando um ou ambos), e aqueles que
enfrentam a tragédia passivamente (separação, perdão,
reconciliação).

Todos esses mais diversos comportamentos são


comportamentos justificados pelas vivências e pela forma de ser
de cada um desses indivíduos, resumidas na personalidade de
cada um. Essas capacidades ou predisposições, ou tendências,
denominam-se disposições individuais. É evidente que se a
disposição daquele que optou pelo crime, no caso do adultério,
por exemplo, for de tal monta que revela tendência para a prática
futura de outros delitos, ele deve ser encarado como um indivíduo
perigoso para a sociedade. Mas, nem sempre é assim, pois, o
homicida por adultério, tem um prognóstico relativamente
favorável no terreno da criminalidade, visto que sua infração
resultou de um forte abalo moral que, provavelmente, não repetir-
se-á. O mesmo não se pode dizer do estelionatário habitual, no
qual a mentira fraudulenta praticamente passou a fazer parte de

21
sua segunda natureza e até de sua personalidade.

De frisar que, na eclosão do crime, a personalidade e suas


disposições que conduzem á prática do crime, são o resultado de
uma evolução complexa, que vem desde o nascimento do
indivíduo, o qual passa a possuir certas disposições, chamadas
de tendências hereditárias, vindo a desenbocar na criminalidade
hereditária.

Goring sustentou que o elemento herdado não é a criminalidade


como tal, mas sim, a inteligência deficiente.

Na realidade, não há provas de que exista o denominado


“criminoso nato”. Ninguém tem uma hereditariedade tal que deva
ser inevitavelmente um criminoso, independentemente das
situações em que é colocado ou das influencias que sobre ele
exercem. Um temperamento fleugmático, que permite supor ser
herdado, pode preservar uma pessoa de ser criminosa num
ambiente, e torná-la criminosa noutro. Na formação da
causalidade devem ser incluídos tanto o traço individual como a
situação; nem um nem outra atuam isoladamente na produção do
delito. Toda pessoa é um “criminoso potencial”, mas são
imprescindíveis contatos e direção de tendências para torná-la
criminosa ou desrespeitadora da lei.

Ressalte-se, então, que as tendências hereditárias, constituídas


por um mecanismo endógeno, têm a influenciá-las, por outro
lado, o meio ambiente, isso ao longo de toda a vida do indivíduo.
No campo da atuação do meio sobre as tendências hereditárias,
devem ser consideradas, principalmente, a alimentação, a
educação no lar e na escola, a influencia de parentes e outras
pessoas, a convivência comunitária, a condição econômica, etc.
A par disso, de realçar as influencias cósmicas, do clima, os
hábitos de higiene e as condições de vida, as intoxicações, o
alcoolismo, enfim, o chamado meio de desenvolvimento do
indivíduo.

Tratado o crime como fenômeno individual, assinale-se que a


vida do homem em grandes centros urbanos implica em que ali
sejam perpetrados inúmeros crimes. Isso demonstra,
indesmentivelmente, o caráter de fenômeno coletivo da

22
criminalidade. Isso aponta a criminalidade como fenômeno da
vida societária, pouco valendo o argumento daqueles que,
procurando combater o caráter de fenômeno coletivo da
delinqüência, aduzem que esta outra coisa não é senão a
somados crimes individuais.
Divisão e História da Criminologia
DIVISÃO DA CRIMINOLOGIA:

CRIMINOLOGIA TRADICIONAL:
1º - Escola Clássica
2º - Escola Positiva
3º - Escola Socialista

CRIMINOLOGIA NOVA (CRÍTICA)


1º - Microcriminalidade e Macrocriminalidade:
- Crime Organizado
- Crime do Colarinho Branco
- Crime de Lavagem de Dinheiro
2º - Teoria do Labelling Approach
3º - Teoria das Janelas Quebradas (Broken Windows Theory)

CRIMINOLOGIA TRADICIONAL:

HISTÓRIA DA CRIMINOLOGIA:

1º - ESCOLA CLÁSSICA: Vigora o Direito Natural


(Jusnaturalismo), pautado na fé e na crença nos deuses. O
homem tem o livre arbítrio, ou seja, somente comete o crime se
quiser. O crime atenta a ira dos deuses e, portanto, a pena, aqui,
é uma espécie de castigo, de punição, de penalidade.

Esta Escola apresenta 2 Fases:

1ª) FASE EMPÍRICA OU MITOLÓGICA (ATÉ O SÉCULO XV):

Não pretendemos localizar a gênese da Criminologia na época


pré-histórica, porque até 1875, (quando Cesare Lombroso dá
início á Antropologia Criminal, publicando a famosa obra L”Uomo
Delinqüente) o seu estudo não tem importância maior. O que se

23
tem, até então, são idéias de pensadores, algumas válidas até os
dias de hoje. (Platão, em uma de suas obras, já se referia ao furto
famélico).Este período pode subdividir-se em:

Este período pode subdividir-se em:

a) Antiguidade remota;
b) Antiguidade grega (Hipócrates, Platão e Aristóteles);
c) Idade Média. Teólogos e sacerdotes (especialmente S. Tomás
de Aquino). Ciências Ocultas.

a) Antiguidade remota

Nesta época não se encontra nada de concreto sobre


Criminologia, nem entre hindus, sírios, fenícios, hebreus, etc.
Somente existem algumas normas, como os “Tabu”, que deviam
ser aplicadas para a segurança do grupo. Diante da transgressão
de qualquer dessas normas surgia a reação instintiva de defesa,
que correspondia á pena atual.

Destaque deve ser dado ao famoso Código de Hamurabi


(Babilônia), do Imperador Hamurabi (1728-1686 a.C), que
possuía dispositivo punindo o delito de corrupção praticado por
altos funcionários públicos.

Possuindo alguns aspectos punitivos, também destaca-se a


legislação de Moisés (séc. XVI a.C), parte integrante dos lIvros da
Bíblia.

Confúcio (551-478 a.C) com a reflexão: “tem cuidado de evitar


os crimes para depois não ver-te obrigado a castigá-los”,
demonstra o conhecimento da pena como gravame á uma má
ação, o que, induvidosamente, no mínimo, implica no
entendimento de algo que, bem mais tarde, viria a ser
preocupação da Criminologia.

b) Antiguidade grega (ou pagã)

Entre os gregos citam-se muitos pensadores que emitiram


opiniões ou conceitos de inegável fundamento ou inspiração
criminológica:

24
- Protágoras (485-415 a.C) sustentou o caráter preventivo da
pena, falando no seu aspecto de servir de exemplo e não de
expiação ou castigo, opinião que faz por conferir-lhe, talvez, a
condição de precursor da Penologia, um dos ramos da
Criminologia, que se ocupa com o fundamento e aplicação das
penas como medida de repressão e defesa da sociedade.

- Sócrates (470-399 a.C), pregador e grande oráculo grego,


possuvelmente o homem mais importante que o mundo já
conheceu mercê de sua sabedoria e humildade, e que,
infelizmente, não legou nenhuma obra escrita para a posteridade,
disse, através de Platão, divulgador de seus pensamentos, que
“se devia ensinar aos indivíduos que se tornavam criminosos
como não reincindirem no crime, dando a eles a instrução e a
formação de caráter de que precisavam”.

Hipócrates (460-355ª.C), conhecido como o “Pai da Medicina”,


em sua obra Aforismos, emitiu conceito irretorquivelmente
criminológico, ao dizer que “todo o vício é fruto da loucura”,
afirmando, pois, que “todo o crime é fruto da loucura”. O delito,
para Hipócrates, era um desvio anormal da conduta humana.

- Platão (427-347 a.C), ao afirmar que “o ouro do homem


sempre foi o motivo de seus males”, na obra A República,
também emitiu conceito criminológico, ao pretender demonstrar
que a ambição, a cobiça, a cupidez davam origem á
criminalidade, ou seja, fatores econômicos são desencadeantes
de crimes. Fundamentava a criminalidade em causas
econômicas.

Apregoava, outrossim, Platão, que o meio, as más companhias,


os costumes dissolutos, podem converter as pessoas
inexperientes, os jovens , em criminosos. Portanto, o criminoso é
um produto do ambiente.

Dizia que o criminoso era muito parecido com um doente, e que


por isso, deveria ser tratado a fim de ser reeducado ou curado, se
possível; e eliminá-lo do pais, se não fosse possível a cura.

Platão foi o 1º a enfatizar o aspecto intimidativo da pena. Não se

25
castiga porque alguém delinquiu, mas para que ninguém
delinqua.

- Aristóteles, em sua obra Política, tal como Platão,


fundamentava a criminalidade em causas econômicas. Também
afirmava que os delitos maiores não são cometidos para adquirir
o necessário, mas o supérfluo. Isto, podemos constatar na vida
diária como uma verdade incontestável.

Em sua obra Retórica, Aristóteles estudou o caráter dos


delinquentes, observando uma freqüente tendência á
reincidência.

c) Idade Média

Inicia-se com a queda do Império Romano do Ocidente, em 476


d.C, quando os denominados povos bárbaros o conquistaram, até
a tomada de Constantinopla, capital do Império Romano do
Oriente, pelos turcos, em 1453, durante, portanto, nove séculos.

Nesta época os escolásticos e os “doutores da igreja” não se


preocupavam com o problema da criminalidade, até o surgimento
de São Tomás de Aquino (1226-1274), aquele que viria a ser o
grande criador da chamada “Justiça Distributiva” (que manda dar
a cada um aquilo que é seu, segundo uma certa igualdade) e
que, na Summa Contra Gentiles, afirmara que “a pobreza
geralmente é uma incentivadora do roubo” e, na Summa
Theológica, defendeu o chamado “furto famélico” que, nos dias
atuais, na legislação penal brasileira, é consagrado como “estado
de necessidade”, uma das quatro excludentes de crime.

No século XIII, Afonso X, O Sábio, no Código das 7 Partidas, dá


uma definição de assassintao e fala do crimen proditorium
(premeditado) e do crimen sicatorium (mediante remuneração).

Hoje, tais circunstâncias atuam como qualificadoras do delito de


homicídio ou como agravantes:
Vejamos.

Art. 121, § 2º, CP (Homicídio Qualificado)


I- mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro
26
motivo torpe (crimen sicatorium)
IV- á traição, de emboscada, ou mediante dissimulação, ou
outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa da
vítima.

Art. 61 CP. São circunstancias que sempre agravam a pena,


quando não constituírem ou qualificarem o crime:
II. ter o agente cometido o crime:
a) por motivo fútil ou torpe;
c) á traição, de emboscada, ou mediante dissimulação, ou
outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa da
vítima.

- Ciências Ocultas: Durante o período de transição da Idade


Média para os chamados Tempos Modernos, ou seja, do século
XIV ao século XVI, cita-se a influencia das denominadas “ciências
ocultas” sobre as concepções do que viria a ser, bem mais tarde,
conhecida como Criminologia.

Em seu livro, Manual de Criminologia, chamando-as de “pseudo-


ciências”, Israel Drapkin relaciona as seguintes “ciências ocultas”:
a Astrologia, a Oftalmoscopia, a Metoposcopia, a Quiromancia, a
Fisiognomia, a Frenologia e a Demonologia. Vejamos cada uma
delas:

- Astrologia: estuda o destino e o comportamento do homem


pela movimentação das constelações localizadas na faixa do
Zodíaco;

- Oftalmocospia: antecessora da Oftalmologia e da Irilogia,


estuda o caráter do homem pela íris;

- Metoposcopia: estuda o caráter do indivíduo pelo exame e


observação das rugas da fronte;

- Quiromancia: estuda o caráter do indivíduo com base na


análise de seu passado, o que é feito pela “leitura” das linhas das
mãos, prevendo, então, o futuro do indivíduo.

- Fisiognomia: estuda o caráter do indivíduo pelo traços


fisionômicos (rosto).
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- Frenologia: Originada da Fisiognomia, estuda o caráter do
indivíduo pela conformação craneana. Recorda, á esse respeito,
Israel Drapkin que, em Nápoles, o Marquês de Moscardi decidia,
em última instância, os processos que até ele chegavam; a pena
que sempre aplicava era de morte ou de prisão perpétua e
terminava as sentenças com os seguintes dizeres: “ouvidas
acusação e defesa e examinada a tua face e cabeça”, e
prolatava, sem seguida, a sentença condenatória.

- Demonologia: estuda os indivíduos pretensamente possuídos


pelo demônio. Esta ciência propiciou o aparecimento, na Idade
Média, da Psiquiatria. Naquela época, eram considerados como
possuídos pelo demônio os loucos e os portadores de alienação
mental (esquizofrênicos, epiléticos, etc), que eram
sistematicamente caçados e encarcerados, quando não
sacrificados pelos terríveis Tribunais da Inquisição espalhados
pelo mundo. O mau comportamento do homem ou a sua má
conduta, era interpretado como um morbus diabolicus, uma
enfermidade diabólica, e os acometidos por ela tinham por
remédio a queima pelo fogo purificador de uma fogueira humana.

2ª) FASE DOS PRECURSORES DE LOMBROSO


(RENASCIMENTO ATÉ 1875)

Antes do aparecimento de Lombroso, que dá início ao período da


Antropologia Criminal, do século XV até 1875, houve uma
enorme gama de autores que podem ser considerados
precursores da Criminologia. Entre eles destacam-se:

1- Filósofos e pensadores, especialmente dos séculos XVI, XVII,


XVIII;
2- Penólogos e penitenciaristas;
3- Fisiognomistas;
4- Frenólogos;
5- Psiquiatras e médicos de prisões.

1- Filósofos e pensadores:

a) Thomas Morus (1478-1535): publicou Utopia (obra de


grande importância para estudos e consultas até os dias de hoje),

28
onde descreve a enorme onda de criminalidade que assolava a
Inglaterra nessa época. Em sua obra, Morus imaginava uma
sociedade idílica (e essa era sua utopia), onde um governo
organizado da melhor maneira proporcionaria boas condições de
vida a um povo, que assim seria equilibrado e feliz. Morus dizia
que em um país, quando o povo é miserável, a opulência e a
riqueza ficam em poder das classes superiores e essa situação
economicamente antípoda faz gerar um maior nº de crimes.
Portanto, Morus já sinalizava o fator econômico como uma das
causas da criminalidade. Morus propugnava por penas menos
rigorosas e que elas fossem correspondentes á natureza dos
delitos. Ele foi o 1º a expor a necessidade de graduar as penas
proporcionalmente aos delitos.

b) Martinho Lutero: influenciador de muitas revoltas


camponesas na Alemanha, foi o 1º autor a distinguir uma
criminalidade rural e outra urbana.

c) Francis Bacon: admitia como causas determinantes da


criminalidade, fenômenos socioeconômicos, no que foi
acompanho por René Descartes.

2-Penólogos e Penitenciaristas

No início do século XVIII, não existiam propriamente prisões e as


que havia mantinham-se em péssimas condições. Os juízes eram
unilaterais e arbitrários. A confissão era a rainha das provas
(regina probatione), obtida através de torturas. Os primeiros
aspectos de prisões, que podem ser considerados como
precursores das atuais, estabeleceram-se em Amsterdam
(Holanda) em 1611. Os detentos eram submetidos à trabalhos
forçados sem nenhuma utilidade prática, como moer pedras,
extrair areia, etc. Contra este estado de coisas levantaram-se
filósofos e humanistas, dentre eles:

a) Montesquieu: escreveu a famosíssima obra O Espírito das


Leis (L’esprit des lois), onde proclamava que o bom legislador
era aquele que se empenhava na prevenção do delito, não
aquele que simplesmente se contentasse em castigá-lo. “Ao
invés de funcionar como castigo, a pena deveria ter um sentido
reeducador”, dizia ele.

29
b) Jean Jacques Rousseau: em sua obra de maior importância
e divulgação, Contrato Social, assevera que, se o Estado for bem
organizado,existirão poucos delinquentes e na obra Enciclopédia,
diz que “a miséria é a mãe dos delitos”.

c) Voltaire: dizia que o roubo e o furto são os delitos do pobre.


Foi um dos primeiros a advogar o trabalho para os apenados.

d) Jeremias Bentham: é o criador da doutrina do


“utilitarismo, cujo lema é: “o maior bem estar para o maior
número”. Nesta doutrina está envolvida a maior parte dos
princípios da profilaxia da criminalidade. Bentham foi o 1º a
referir-se á certas medidas preventivas do delito (substitutivos
penais).

e) John Howard: preocupou-se com especial devoção à


melhoria das prisões. Visitou inúmeras prisões pela Europa, vindo
a falecer de uma peste que adquiriu em uma delas. Escreveu
uma importante obra sobre as prisões, denominada “The state of
prison”, O Estado das Prisões. Howard é considerado o criador
do sistema penitenciário.

f) César Bonesana, “Marquês de Beccaria” (1738-1794):


Escreveu a famosa obra Dos Delitos e das penas (Dei Delliti,
Delle Pene), obra clássica e de leitura obrigatória nos dias atuais
à todos aqueles que se interessam por criminologia.

Beccaria nasceu em Milão, Itália, e teve a audácia, aos 27 anos


de idade, de afrontar os costumes penais e as arbitrariedades da
Justiça Criminal de seu tempo, publicando a obra Dos Delitos e
das Penas na cidade de Livorno, de forma clandestina, temendo
possíveis represálias. Tal livro causou muito impacto, sendo
veemente atacado por todos aqueles que, de uma forma ou de
outra, foram por ele atingidos ou porque não concordassem com
suas proposições.

Sua obra é um protesto contra o injusto, cruel e arbitrário


procedimento da Justiça Criminal. Em um dos capítulos finais,
dizia: “Para que todo o castigo não seja um ato de violência
exercido por um só ou por muitos contra um cidadão, deve

30
essencialmente ser público, pronto, necessário, proporcional ao
delito, ditado pelas leis e o menos rigoroso possível, atendidas
todas ascircunstancias do caso”.

Seus principais postulados são:


- A atrocidade das penas opõe-se ao bem público (Princípio da
humanização das penas);
- As acusações não podem ser secretas (Princípio da
Publicidade);
- As penas devem ser proporcionais aos delitos (Princípio da
Proporcionalidade das Penas);
- As penas devem ser moderadas;
- As penas devem ser previstas em lei (Princípio da Legalidade,
da Anterioridade ou da Reserva Legal);
- Somente os magistrados é que podem julgar os acusados
(Princípio da Jurisdicionalidade);
- Não se pode admitir a tortura do acusado por ocasião do
processo (Princípio da Proibição de tortura, da Humanidade e da
Dignidade);
- O réu jamais poderá ser considerado culpado antes da sentença
condenatória (Princípio da Presunção de Inocência);
- Mais útil que a repressão penal é a prevenção dos delitos;
- Não tem a sociedade o direito de aplicar a pena de morte nem
de banimento.
- O objetivo da pena não é atormentar o acusado e sim impedir
que ele reincida e servir de exemplo para que os outros não
venham a delinqüir;

3- Fisiognomistas:

Trata-se de uma ciência que procura estudar o indivíduo pela


análise de suas expressões fisionômicas, ou seja, de seu rosto.
Entre os principais fisiognomistas, destaca-se Charles
Darwin (1809-1822), criador da famosa “Teoria da
Evolução” (a evolução modifica o homem), e que trouxe
inegável importância no que diz respeito á origem do homem,
sendo que suas idéias foram influências para Lombroso,
sobretudo quando este aborda sobre o atavismo, o qual é um
conceito darwiniano.

4 - Frenólogos:

31
A Frenologia é uma ciência que estuda o indivíduo não só com
base nas expressões fisionômicas, mas, também, com base na
configuração do crânio. O criador da Frenologia tem sido Joseph
Gaspard Lavater, porém, mais importante que ele para a
Frenologia, é Johan Frans Gall, que foi o 1º a relacionar a
personalidade do delinqüente com a natureza do delito por ele
praticado.

5- Psiquiatras e Médicos de Prisões:

Eles foram verdadeiros precursores de Lombroso em sua tarefa


de estudar o delinquente. Entre os psiquiatras devemos
mencionar como grande figura de Felipe Pinel (1745-
1826), criador da moderna Psiquiatria, que foi o 1º que
conseguiu elevar o alienado da situação de pátria (excluído) á
categoria de doente. Antes dele, o louco era considerado
possuído pelo demônio e era acorrentado, torturado e banido do
país.

2ª - ESCOLA POSITIVA: Estuda as causas do crime. Afirma que


este é o resultado de deformações e malformações congênitas,
biológicas, físicas e psicológicas. O homem delinque não porque
quer e sim porque é doente. Logo, a pena, aqui, não é castigo, e
sim, tratamento. O homem é um criminoso nato, já nasce com
tendência a delinquir, a violar as leis e é identificado pelo seu
perfil físicobiológico.

Este período é conhecido como Período da Antropologia Criminal


ou Período de Lombroso.
Vejamos:

PERÍODO DA ANTROPOLOGIA CRIMINAL (LOMBROSO -


1875-1890)

a) LOMBROSO:

Lombroso foi o criador da chamada Antropologia


Criminal (ou Biologia Criminal, como a consideram os alemães),
ciência que difere-se da Antropologia Geral, pois não estuda
apenas o ser humano, mas sim o ser humano delinquente, ou
32
seja, o homem criminoso, procurando analisar, também, os
fatores individuais do crime (nele compreendendo os endógenos
e os exógenos).

Conhecer o homem é conhecer a razão humana, a essência


dessa razão, o que o move através da História. Afinal, como dizia
Marx, “o primeiro objeto do homem é o homem”.

Lombroso preocupou-se com esses aspectos da História humana


e estudou o homem, que através de suas ações, de seu
comportamento, é considerado delinquente e, a esse homem,
Lombroso conferiu caracteres morfológicos, como saliente em
sua obra L’uomo Delinqüente, onde diz: “o estudo
antropológico sobre o homem criminoso deve necessariamente
basear-se nas suascaracterísticas anatômicas”.

Lombroso nasceu em 1835, em Verona. Na juventude foi


estudante de Medicina, havendo interessado-se especialmente
pela Psiquiatria. Apenas formou-se em Medicina, ingressou no
exército como médico militar e ao visitar os cárceres teve o
primeiro contato com os criminosos. Depois ingressou nas
prisões para criminosos alienados, chegando a ser médico do
“manicômio judiciário” de Pesaro, onde praticou a autópsia em
grandes delinquentes da Calábria e Sicília, chamados
“grassatori”, tendo examinado muitos destes. O primeiro que lhe
chamou a atenção foi um tal de Vilella, em cuja autópsia
observou uma terceira fosseta occipital. Esse foi o “eureca” de
Lombroso.

Essa fosseta dá origem á sua teoria do “atavismo”, porque


também é encontrada em alguns crânios de homens primitivos.

De 1871 a 1876, Lombroso continua trabalhando com esses


elementos e publica uma séria de folhetos sob o nome de
“L’uomo Delinqüente”, que adquiriram tam importância e
desenvolvimento, que a 6ª edição, publicada em Turim, em 1901,
compreende 4 volumes e 1 atlas.

Lombroso é considerado o “Pai da Criminologia Moderna”. Seu


grande mérito foi ter desviado a atenção da Justiça para o
homem que delinqüe.

33
- Teoria de Lombroso:

Lombroso criou a “teoria do criminoso nato”, ou seja, um


indivíduo que já nasce criminoso segundo seu aspecto físico,
suas mal formações congênitas. Assim, para Lombroso, o
criminoso já nasce criminoso, ou seja, é um delinquente nato, de
acordo com sua aparência externa, biológica, antropológica. Ou
seja, o criminoso, para Lombroso, tem cara de criminoso e já
nasce com essa cara.

O criminoso nato se explica, segundo esta teoria, pelo chamado


“atavismo” que é o aparecimento, em um descendente, de um
caráter não presente em seus ascendentes imediatos, mas sim
em remotos, como por exemplo, se um membro de determinada
família apresente uma polidatilia, que é a anomalia congênita de
possuir dedos a mais que o normal, e não existir nessa família
ninguém nas mesmas condições, dir-se-á que é uma
malformação atávica. Lombroso chegou ao atavismo após fazer a
autópsia no cadáver de Vilella, onde encontrou a terceira fosseta
occipita lou média, a qual é encontrada também, em alguns
crânios de homens primitivos.

Lombroso julgou, também, ter encontrado relação entre a


epilepsia e a chamada “moral insanity” (insanidade moral), ou
seja, para ele todo o epilético era um criminoso nato e, pois, um
doente mental.

Segundo Lombroso, no delito epilético há algumas


características que o distingue:

- Ferocidade e multiplicidade extraordinária das lesões. O


delinqüente epilético não provoca somente um ferimento, mas
muitos;

- O delinquente epilético não tem cúmplices; age sozinho, pois o


faz fora de si;

- Perde a lembrança do ato, esquece-o; pode lembrá-lo, ás


vezes, porém, com imprecisão.

34
- Características do homem delinquente para Lombroso:

Lombroso, foi no fundo, um fisiognomista, pois imaginou ter


encontrado, no criminoso, em sentido natural-científico, uma
variedade especial de homo sapiens, que seria caracterizada por
sinais (stigmata) físicos e psíquicos. Tais estigmas do criminoso
nato, foram classificados em “taras”.

Vejamos:

1-Taras Anatômicas: São estas:

- Fosseta occipital mediana (um pequeno crânio e, portanto, uma


cabeça igualmente pequena). Acreditava, Lombroso, que quanto
menor o volume e o peso do cérebro menos inteligência o
indivíduo tinha e, portanto, seria um criminoso;
- Maxilar inferior procidente (mandíbula grande);
- Molares muitos grandes (dentuço);
- Orelhas de abano;
- Fartas sobrancelhas;
- Dessimetria corporal;
- Grande envergadura dos braços e dos pés, etc.

2-Taras Degenerativas Fisiológicas (funcionais) - São estas:

- Daltonismo;
- Mancinismo (surdez);
- Insensibilidade á dor (tatuagens);
- precocidade sexual, etc.

Ao observar as tatuagens, chegou á conclusão rápida de que em


vista das tatuagens, os delinqüentes teriam insensibilidade á dor,
já que os delinqüentes seriam, em sua imensa maioria, tatuados.

3-Taras Psicológicas – São estas:

- Vaidade;
- Ações impulsivas;
- Tendências alcoólicas;
- Negligência;
- Superstições;

35
- Uso de gírias;
- Imprevidência;
- Crueldade;
- Instabilidade;
- Indolência, etc.

Classificação do homem delinqüente para Lombroso:

Cesare Lombroso classificava os criminosos consoante se segue:

- Criminoso nato: era por ele encontrado entre 30% e 35% da


massa delinquente, ou seja, num termo médio de 33%.
- Criminalóide: conceito puramente lombrosiano, que se refere ao
meio delinquente, similar ao “meio louco”. Considerava-se aqui,
os pseudo-delinquentes que já tivessem tido contato nos cárceres
com os criminoso natos e que já não podiam ser considerados
pseudo-delinquentes, porque já possuíam certa malícia criminal.

Nos seus estudos para definir o criminoso nato, Lombroso


primeiro o comparou á um selgavem, por ser a conduta do
criminoso nato parecida com a dos homens das cavernas; depois
comparou-o com a criança, baseado no egocentrismo desta, por
sua vaidade e egoísmo. Mais tarde, sem abandonar essas
teorias, referiu-se á loucura moral e, somente no final dos
estudos, focalizou a epilepsia.

Consequências da teoria de Lombroso

As consequências da teoria lombrosiana foram, em sua época,


extraordinárias. Não houve ramo do Direito Penal onde não se
fez sentir-se a influencia da teoria de Lombroso. Estremeceu o
edifício do Dto. Penal até os seus alicerces.

Sustentava que ao criminoso nato, por sua própria natureza, não


cabia a aplicação de pena, e se é encarcerado, comete-se uma
injustiça, porque para Lombroso o criminoso nato é um doente.

Foi Lombroso quem 1º falou da necessidade de segregá-lo da


sociedade, isolando-o, para que deixasse de ser perigoso, quer
dizer, torná-lo inofensivo. Esta seria uma medida preventiva,
como as que agora são adotadas relativamente aos alienados

36
(medidas de segurança).

Lombroso recomenda certos tipos de penas para o criminoso,


como duchas frias, trabalhos pesados, exercícios exaustivos;
porém, prescreve de forma categórica o uso da tortura. Para os
alienados recomendava o “manicômio judiciário”. Para os velhos,
propunha a internação em hospícios, não aceitando para eles a
prisão, por considerá-los incapazes de continuar cometendo
delitos. Só aceitava a pena de morte em casos graves, por julgá-
la muito dolorosa.

No campo da Política Criminal, a contribuição mais importante de


Lombroso, foi recomendar a segregação do delinquente como
defesa social, mesmo antes que cometa seus delitos, quer dizer,
enuncia o conceito de periculosidade pré-delituosa. Dizia
Lombroso que, diante de um delinqüente nato, não se deve
esperar que este cometa um delito, mas deve ser segregado da
sociedade antes que o faça.

Críticas à teoria de Lombroso

Após um certo período de apogeu (sobretudo com a publicação


de sua famosa obra O Homem Delinquente), os adversários de
suas ideias, a começar por seu sucessor na cátedra da
Universidade de Turim, Francesco Carrara e outros integrantes
da chamada Escola Clássica de Direito Penal (Filangieri,
Fuerbach, etc) trouxeram à colação todos os aspectos falhos da
Antropologia Criminal, culminando, através de inúmeras
pesquisas que empreenderam, por fulminarcom a figura do
criminoso nato.

Principais críticas feitas á teoria de Lombrosiana:

1ª- Avaliar a criminalidade com base na aparência física. Para


Lombroso, todo o indivíduo que tivesse as características já
mencionadas era um criminoso nato. Contudo, é certo que há
delinquentes que apresentam os traços lombrosianos; mas
também encontramos esses traços em homens inteligentes não
delinquentes, ou mesmo em débeis mentais não delinquentes,
como também, há criminoso que não apresentam tais traços. As

37
características anatômicas das anormalidades morfológicas são
próprias tanto dos delinquentes como dos não delinquentes;
2ª- Avaliar a criminalidade com base na epilepsia. Para
Lombroso, todo o epilético era um criminoso em potencial.
Comprovou-se haver epiléticos delinquentes, da mesma maneira
que não delinquentes;

3ª- Avaliar a criminalidade com base em taras degenerativas


(daltonismo, surdez, precocidade sexual, tatuagens, etc.) ou taras
psicológicas (vaidade, crueldade, uso de gírias, tendências
alcoólicas, etc). Se é verdade que nos criminoso observam-se
muitas destas taras, não é menosverdade que há indivíduos
normais que também as apresentam e criminosos que não
apresentam nenhuma.

4ª- Declarar a incapacidade de reeducação e readaptação do


homem “tarado” (delinquente). No entanto, atualmente sabemos
que quando essas “taras” são desviadas a tempo, podem ser
evitadas e é possível conseguir-se a readaptação e reeducação
dos tarados.

Não obstante as inúmeras críticas que são feitas, a teoria de


Lombroso tem o mérito extraordinário – que imortalizará seu
nome- de haver desviado a atenção do fato delituoso para o
homem delinquente.

b) ENRICO FERRI (1856-1929)

Publicou sua obra Sociologia Criminal em 1914, sendo


considerado o criador da Sociologia Criminal, malgrado esteja
ele incluído na Escola de Antropologia Criminal, até porque, foi o
que mais fez pelo prestígio da Antropologia Criminal.

Enrico Ferri deu relevo não só aos fatores biológicos, como


também aos sociológicos, além dos físicos. Salientou, ele, a
existência do trinômio causal do delito, composto por fatores
antropológicos, sociais e físicos.

Foi também quem 1º classificou as causas dos delitos em três


grupos: biológicas, físicas e sociais:

38
- Causas Biológicas: a herança, a constituição genética, etc;
- Causas Físicas: o meio ambiente (clima, umidade, etc);
- Causas Sociais: o ambiente social.

Agrupa, pois, os fatores mencionados em 2 grupos: endógenos e


exógenos.

- Endógenos: causas biológicas


- Exógenos: causas físicas e sociais.

A polêmica mais importante que se originou foi estabelecer quais


os fatores que mais influem na conduta do indivíduo criminoso: os
endógenos ou os exógenos? O criminoso nasce ou é feito?
Lombroso, Ferri e Garófalo eram partidários dos fatos endógenos
(ele nasce criminoso).

Para Ferri o importante não é castigar e sim prevenir.

Ferri teria sido o criador da expressão “criminoso nato”, isto em


1881. É o que ele próprio admite em seu livro “Os Criminosos na
Arte e na Literatura”, onde, em determinado trecho, expõe: “os
delinquentes a que eu dava, em 1881, o nome de criminosos
natos”.

Classificação do homem delinquente para Ferri:

Classificou os criminoso em 5 tipos, a saber:

- Nato: tipo instintivo de criminoso, descrito por Lombroso,com


seus estigmas de degeneração;
- Louco: não só o alienado mental, como, também, os semi-
loucos, os fronteiriços;
- Ocasional: aquele que eventualmente comete um delito;
- Habitual: o indivíduo que faz do crime a sua profissão;
- Passional: aquele que é levado ao crime pelo ímpeto, pelo
arrebatamento. Cometem o delito impulsionados por uma paixão
que explode como cólera, em virtude de um amor contrariado, de
uma honra ofendida. Geralmente são mulheres e cometem o
crime sem premeditação. São indivíduos que têm alguma coisa
de louco.

39
c) RAFAEL GARÓFALO (1852)

O magistrado Garófalo foi o criador do termo “Criminologia”,


para quem seria a ciência da criminalidade, do delito e da pena.

Em razão de sua orientação naturalista e evolucionista, o ponto


de partida de sua doutrina é a conceituação do que chamou de
“delito natural”. Examinou em sua obra, também, a classificação
de criminosos, que acabou por formular. Seu livro data de 1884,
já com o nome de Criminologia.

Garófalo era um jurista, tendo sido ministro da Corte de Apelação


de Nápoles. Elaborou sua concepção de delito natural partindo da
idéia lombrosiana do criminoso nato e, assim sendo, afirmava
que, se existia um criminoso nato, deveria, necessariamente,
existirem delitos que fossem considerados como tal, em qualquer
lugar ou época.

Para chegar á definição de delito natural, Garófalo procurou a


parte mais profunda e essencial dos sentimentos humanos.

Observou que tanto Lombroso como Ferri evitaram definir o que


consideravam delito. Garófalo propôs-se a isto. Passou a
observar grupos sócias de diferentes épocas e chegou á
conclusão de que o conceito de delito era completamente
diferente entre povos distintos. Assim, o fato de causar a morte
de um indivíduo, que é o crime de homicídio, em outras épocas
foi somente um costume.

Em vista disto, encaminhou suas investigações em outro sentido,


buscando quais éramos sentimentos indispensáveis para a
conveniência social e chegou á essa conclusão: são
indispensáveis a piedade e a probidade, definindo, então, o seu
“delito natural”:

- Delito Natural: “Ofensa aos sentimentos altruístas


fundamentais de piedade e probidade, namedida média em
que os possua um determinado grupo social”.
Classificação do homem delinqüente para Garófalo:

Baseado nesse conceito, Garófalo fez a sua própria classificação

40
dos delinqüentes:

- aqueles que vão contra o sentimento de piedade: assassinos.


- aqueles que vão contra o sentimento de probidade: os ladrões.
- aqueles que atentam contra ambos os sentimentos: os
salteadores, “grassatori”.
- aqueles que atentam contra os costumes: criminoso sexuais ou
cínicos.

Para Garófalo, há duas maneiras de se tratar os delinqüentes:

- Os que cometem delitos legais, estabelecidos em textos


positivos como Códigos, regulamentos,etc: bastaria uma simples
advertência e a obrigação de reparar o dano;
- Os que cometem delitos naturais, ou seja, próprios de
criminosos natos: pena de morte ou expulsão do país.

Tais fatores levantaram uma onda de indignação contra ele.

4º - ESCOLA SOCIOLÓGICA (1890-1905): O crime é produto


do meio social, sobretudo de fatores econômicos.

O período sociológico compreende todas as teorias que se


ergueram para combater a teoria lombrosiana, calcada nos
fatores endógenos como causadores de criminalidade, ao passo
que, as doutrinas sociais e do meio ambiente, sustentavam que
os fatores exógenos eram efetivamente os mais importantes
ocasionadores do delito.

A Sociologia Criminal surgiu em meados do século XIX e teve a


influência de Augusto Comte e Adolphe Quetelet.
a) Augusto Comte:

É considerado o fundador da Sociologia Moderna (ciência


abstrata que tem por fim a investigação de leis gerais que regem
os fenômenos sociais).

b) Adolphe Quetelet:

Foi o criador da Estatística Científica, dando origem ao


aparecimento da Estatística Criminal.

41
Escreveu Física Social, em 1835, no qual formula 3 princípios:

- o delito é um fenômeno social;


- os delitos se cometem ano após ano com total precisão;
- vários fatores influenciam no cometimento do crime, como a
miséria, o analfabetismo, o clima, etc.

Fulcrado nesses 3 princípios, ele estabeleceu as chamadas


“Leis Térmicas de Quetelet:

I- no inverno se cometem mais delitos contra a propriedade,


donde se deduz que nesta época do ano são maiores as
necessidades para a sobrevivência do homem;

II- no verão se cometem mais crimes contra a pessoa, devido á


efervescência maior das paixões humanas, provocada pelo
aquecimento pelo sol;

III- os delitos sexuais são mais freqüentes na primavera,


considerando a exacerbação da atividade sexual nessa época.

Doutrinas sociais que prevaleceram nesse período:

1º) Teorias Antropo-Sociais

Pretendem relacionar, de certo modo, os princípios de Lombroso


com os sociais.

Segundo estas teorias, o meio social influi sobre o delinqüente


antropologicamente nato, predispondo-o á cometer delitos.
Entendem que o criminoso pode nascer comcerta predisposição
ao crime, porém, sem chegar a aceitar o delinqüente nato,
preferindo o termo “predisposto”.

Assim, aceitam a influencia de fatores endógenos que predispõe


o indivíduo a cometer crimes.

São tais teorias sustentadas por Lacassagne e Manouvrier.

- Lacassagne , no primeiro Congresso de Antropologia Criminal


42
de Roma, em 1885, combateu as teorias lombrosianas. Escreveu
duas obras de importância, as quais têm repercussão, até hoje,
em todo o mundo.

A primeira enunciava: “À maior desorganização social, maior


criminalidade; á menor desorganização social, menor
criminalidade”.

Foi o autor dessa conhecida frase: “As sociedades têm os


criminosos que merecem”.

Na segunda, comparava a sociedade com um meio de cultivo, e


afirmava que “a sociedade é um meio de cultivo que abriga em
seu seio uma série de micróbios que são os delinqüentes e que
estes não desenvolverão se o meio não lhes for propício”.

Resumindo, podemos dizer que para Lacassagne, os fatos


sociais atuam sobre o sujeito “predisposto”; substituiu o conceito
de nato pelo de predisposto.

- Manouvrier : Professor de Antropologia da Universidade de


Paris, não tem outro mérito que não seja ter sido o braço direito
de Lacassagne na sua luta contra as doutrinas de Lombroso.
2ª) Teorias Sociais Propriamente Ditas

É eliminado todo o fator endógeno e se dá importância exclusiva


aos fatores exógenos (meio social), ou seja, o criminoso não
nasce criminoso, mas transforma-se em um por influencia do
meio social. Dentre os vários autores destaca-se Gabriel Tarde.
- Gabriel Tarde publicou 3 obras importantíssimas: “A
Criminalidade Comparada”, publicada em 1886, “As Leis da
Imitação”, publicada em 1890 e “A Filosofia Penal”, publicada em
1890.

“A Criminalidade Comparada”: Tarde demonstra que há


indivíduos que são inadaptáveis ao meio em que vivem e essa
inadaptação decorre de 3 causas:
- A inércia (dolce far niente);
- A facilidade de reações impulsivas: por falta de convivência
social;
- A incapacidade para um trabalho regular e sistemático: a rotina
43
da nossa época é algo que destrói ao indivíduo melhor
organizado. Nunca se enfatizou o quanto a rotina influi em nós.
Temos que possuir uma constituição especial, sujeita a um
conceito moral e um respeito extraordinário pela comunidade
para que possamos viver neste mundo.

“As Leis da Imitação”: Tarde diz que a delinqüência é um


fenômeno fundamentalmente social e que o moto que ativa o
conglomerado social é a imitação. Observou o seu mundo
contemporâneo, verificando que 90% das pessoas não possuem
espírito de iniciativa. Os restantes 10% são os que possuem
alguma iniciativa e, somente 1% têm espírito verdadeiramente
inovador. O restante, ou seja, a esmagadora maioria, seja por
fraqueza, seja por incapacidade de afastar-se do meio, seja por
comodismo, não é capaz de sobrepor-se ás forças centrípedas
que dominam o meio social.
“A Filosofia Penal”: Tarde sustenta que a responsabilidade
penal baseia-se em dois elementos: a identidade pessoal e a
semelhança pessoal.

1- Identidade Pessoal – somente pode ser considerado


penalmente responsável quem guarde semelhança estreita entre
o ato cometido e a sua personalidade, ou seja, quem antes,
durante ou depois do delito seja o mesmo sujeito. Se um
indivíduo apresenta, depois do delito, uma falta de similitude com
a sua personalidade anterior ao delito, não é um indivíduo normal
e estaremos diante de um provável transtorno mental. Este em
sido o conceito que tem servido de base para a fixação das
circunstancias atenuantes da responsabilidade criminal que os
Códigos estabelecem em favordos alienados.
2- Semelhança Social: não pode ter responsabilidade penal o
indivíduo que não tem relação com o grupo social em que
convive, como o inadaptado, que possui um instinto impulsivo
irrefreável e que não mantem nenhuma conexão com o grupo.
Para o inadaptado social propõe medidas preventivas.

3ª) Teorias Socialistas

O século XIX caracteriza-se pelo aparecimento da mecanização


(Revolução Industrial) e começa-se a estudar a influencia das
máquinas e da economia na delinquencia.

44
A doutrina de Lacassagne de que “cada sociedade tem os
criminosos que merece”, foi transformada pela doutrina de Karl
Marx de que ”cada sistema de produção tem os delinqüentes
que merece”. É o método de produção que dá uma modalidade
própria á criminalidade.

A miséria, a pobreza, para os teóricos socialistas tem influencia


na criminalidade, mas o que lhes interessa é a influencia do
sistema econômico em geral, e não um aspecto parcial.

Pregam que um sistema econômico no qual houvesse uma


melhor distribuição de riqueza e um máximo de estabilidade do
próprio regime, excluiria a criminalidade.

4ª) Período da Política Criminal (1905 até o dias atuais).

A característica especial desse período é uma espécie de trégua


na discussão inflamada entre as escolas italiana e francesa sobre
as teorias lombrosianas.

A escola italiana (positivista) baseando o crime apenas em


fatores endógenos e a escola francesa (socialista) baseando o
crime apenas em fatores exógenos.

Essa trégua se manifestou em várias escolas, tais como:

1- A Terza Scuola;
2- A Escola Espiritualista;
3- A Escola da Política Criminal, que é a que dá o nome á esse
período da Criminologia.
4- Criação dos Institutos de Criminologia e Gabinetes
Penitenciários de Antropologia
5- Criação de Organismos Internacionais

1- A Terza Scuola:

É uma escola de Direito Penal e apresenta e postulados:

- Que o Dto. Penal deve manter-se como ciência independente,


de vez que a teoria lombrosiana tinha a tendência de incluí-lo

45
dentro da Criminologia.
- Que o delito tem várias causas, tanto endógenas como
exógenas;
- Que os penalistas, junto com os sociólogos, devem fazer o
possível para obter as reformas sociais mais necessárias,
tendentes a modificar as condições em que vive a massa.
2- A Escola Espiritualista:

Sustenta que cada indivíduo tem o livre arbítrio de fazer o que lhe
dá prazer, ou seja, prevalece apenas a vontade própria de cada
indivíduo, sem qualquer limitação.

Esse conceito não foi aceito e logo surgiu a escola Neo-


Espiritualista.

- Escola Neo-Espiritualista: Afirma que se é verdade que o


homem tem liberdade, ela não existe no sentido amplo, mas tem
certas limitações impostas pelo meio ambiente. A liberdade é um
conceito filosófico e político, que analisado com critério realista,
nos demonstra que somos escravos da hora, do dever, das
conveniências sociais, da rotina, dos comentários alheios, etc.
3 - A Escola da Política Criminal:

A Política Criminal é de proporções tão vastas, que se pode


chegar a confundi-la com a prórpia Criminologia.

Vejamos algumas definições de Política Criminal:

- Quintiliano Saldanã: “Política Criminal é o estudo científico


da criminalidade, suas causas e os meios para combatê-la”.

- Manzini: “Política Criminal é o conjunto de conhecimentos


que podem levar a realizar um plano real e não utópico”.
(Tratado de Direito Penal)

- Feuerbach: “ Política Criminal é o saber legislativo do Estado


em matéria de criminalidade”.

- Guillerno Portella: “Política Criminal é o conjunto de ciências


que estudam o delito e a pena, com o fim de descobrir as
causas da delinqüência e determinar seus remédios”.
46
- Franz Von Liszt: “Política Criminal é o conjunto sistemático
de princípios, segundo os quais o Estado e a sociedade devem
organizar a luta contra o crime”. Liszt é considerado o “Pai da
PolíticaCriminal”, tendo publicado importante obra (Princípios de
Política Criminal) em 1889.

Vemos, portanto, que de acordo com o exposto pelos


autores:

“Política Criminal nada mais é que os princípios, produtos da


investigação científica e da experiência sobre os quais o
Estado deve se basear, para prevenir e reprimir a
delinqüência”.

Há discussões á respeito da origem da Política Criminal. A


tendência mais aceita é ser atribuída á Von Liszt, por ter este
determinado com maior exatidão o que é Política Criminal; mas, a
denominação “Política Criminal”, aparece escrita muito
anteriormente á Von Liszt e Feuerbach.

Diversos autores trabalharam com Política Criminal, dentre eles:

- Na Itália: Beccaria, Manzini, Filanghieri


- Na França: Voltaire
- Na Inglaterra: Jeremias Bentham
- Na Alemanha: Franz Von Liszt e Feuerbach.

Diferenças entre Política Criminal e Criminologia:

Embora ambas sejam muito parecidas, não devem, pois, serem


confundidas.

- Criminologia: estuda as causas da criminalidade, o delinqüente


e procura a maneira de readaptá-lo.

- Política Criminal: é um ramo do Direito Penal. Não estuda o


delinqüente, deixando isto á cargo da Criminologia. Baseia-se
nos resultados obtidos por esta para elaborar os meios de
repressão e prevenção á delinqüência. Baseia-se, também, na
Antropologia Criminal (que estuda o delinqüente) e na Estatística
47
Criminal (que traduz em cifras os fenômenos da criminalidade
num determinado espaço de tempo). Assim, a Política Criminal é
a aplicação pelo Estado das medidas necessárias para a
prevenção e repressão da criminalidade, ou seja, a aplicação das
medidas que fluem da investigação científica do fenômeno da
criminalidade. A liberdade condicional, a liberdade provisória, a
proteção á infância, etc. são resultados práticos dos princípios da
Política Criminal.

4 - Criação dos Institutos de Criminologia e Gabinetes


Penitenciários de Antropologia

O 1º Instituto de Criminologia do mundo foi criado em 1906, em


Buenos Aires, pelo médico argentino José Ingenieros e pelo
Diretor da Penitenciária de Buenos Aires, Antônio Ballvé. Já o 1º
Gabinete Penitenciário de Criminologia foi fundado na Bélgica,
por Luis Vervaeck.
5 - Criação de Organismos Internacionais

- União Internacional de Direito Penal: Pretendeu uma posição


eclética. Aceitava o delito como um fenômeno natural e social,
admitindo a influencia dos fatores endógenos e exógenos. Não
era adepto do conceito do delinqüente nato, mas da
“predisposição”, da qual falavam os defensores da Escola
Francesa.

- Comissão Internacional Penal e Penitenciária: Criada em


1912, tem o mérito de haver estabelecido uma série de normas
mínimas para a melhoria dos estabelecimentos penitenciários e o
tratamento dos reclusos.

- Associação Internacional de Direito Penal: Fundada em 1924


pelo espanhol Qunitiliano Saldanã.

- American Institute for Criminal Law: Criado nos EUA, propôs a


adoção de numerosas medidas profiláticas em muitos Estados,
baseando-se, para isto, na Estatística.

- Sociedade Internacional de Criminologia: Fundada em 1953,


tendo o 1º Congresso realizadose em Roma, no ano de 1938.

48
As Causas da Criminalidade
AS CAUSAS DA CRIMINALIDADE

FATORES ENDÓGENOS

BIOTIPOLOGIA CRIMINAL

1 GENERALIDADES:

A Biologia é a “ciência dos seres vivos analisados sobre os


prismas fisiológico, morfológico e evolutivo”.

Compete à Biologia fixar o biótipo da pessoa.

Biótipo: é o conjunto de caracteres morfo-físico-psicológicos do


indivíduo. Deflui, portanto, que o método da Biologia é o da
experimentação e seu objeto é a constelação de indivíduos.

Referindo-se á Biologia Criminal, entende o insigne jurisconsulto


Edgard Magalhães Noronha, que ela se identifica perfeitamente
com a Antropologia Criminal. Ambas representam uma só
disciplina, eis que voltadas para o estudo dos caracteres
fisiopsíquicos do delinqüente em consonância com a influencia
externa, no escopo do esclarecimento da gênese criminógena.
Noronha entende que o fator biológico instintivo é o determinante
de todo o ato infracional.

2 A HERANÇA GENÉTICA

A herança é “a lei biológica em virtude da qual todos os seres


vivos tendem a repetir-se em seus descendentes”. Quer dizer,
os pais transmitem aos filhos toda a bagagem que receberam de
seus ancestrais, ou seja, todas as características biológicas,
fisiológicas e psicológicas dos seus descendentes.

O meio ambiente, o mundo que nos rodeia, não é capaz de criar


nada, apenas de acelerar ou frear, expandir ou restringir a
herança natural. A herança pode ser influída pelo meio ambiente,
mas não é capaz de criar nada.

49
Existem alguns aspectos ou caracteres que são essências na
hereditariedade. Vejamos quais:

1º) A herança existe para todos os caracteres, sejam eles


favoráveis ou não. Assim como se transmitem caracteres bons (a
inclinação para a música, na família dos Bach, por exemplo),
também se transmitem os negativos (a hemofilia, na família dos
Habsburgos, por exemplo).

2º) A herança não é igual nem fatal para todos os descendentes


do mesmo casal. Os únicos seres considerados idênticos são os
gêmeos verdadeiros, ou seja, os univitelinos (gêmeos que
nascem de 1 só ovo).

3º) A herança se manifesta simultaneamente por semelhanças e


diferenças. As semelhanças representam a herança direta de pai
para filho. As diferenças se devem ao fato de que herdam
caracteres de outros ascendentes: é a herança atávica ou indireta
(netos que herdam certos caracteres dos avós ou mesmo de
ascendentes ainda mais remotos). A herança também pode se
apresentar nos colaterais, como sucede com irmãos, tios,
sobrinhos, primos, etc.

4º) Habitualmente, a herança é bilateral, isto é, os caracteres são


transmitidos tanto do pai quanto da mãe.
3- A HERANÇA DO HOMEM

Dividiremos o estudo da herança do homem em 3 partes:

a) Herança Normal (com todas as suas variedades);


b) Herança Anormal ou Patológica;
c) Herança do Crime

a) Herança Normal:

Já dissemos anteriormente que o meio ambiente, embora não


seja capaz de criar nada por si mesmo, é contudo uma força
formidável capaz de acelerar, retardar ou desviar a bagagem
hereditária recebida de nossos ascendentes.

Quanto á herança normal cabe ressaltar os caracteres

50
morfológicos, fisiológicos e psicológicos.

- Caracteres Morfológicos: dizem respeito principalmente ao


sexo, raça, estatura, glândulas endócrinas, conformação da
cabeça, etc. Relativamente ao sexo, geralmente o homem é mais
alto que a mulher, também devendo ser consideradas as
diferenças entre suas medidas cranianas. Com respeito ás
glândulas endócrinas, temos o caso da ação da tireóide e da
hipófise que podem originar tipos tireodianos ou hipofisários. O
peso depende muito de fatores hereditários e ambientais. A
disposição, a forma e o tamanho dos órgãos internos e externos
do indivíduo resultam de fatores hereditários (orelhas, lábios,
nariz, etc).

- Caracteres Fisiológicos: Podemos citar aqui o tipo de morte


característico de determinadas famílias (como os doentes
cardíacos); a fecundidade (observam-se famílias tipicamente não
prolíferas); o tipo de menstruação nas mulheres; a força
muscular; a pressão arterial (famílias de hiper-tensos); atitude
geral (maneira de ser, de andar, o tom da voz, os “tiques”), etc.

- Caracteres Psicológicos: Há certas aptidões artísticas que se


constatam com certa freqüência na evolução de determinadas
famílias, como a inclinação musical nas famílias de Bach,
Strauss, etc. Isto se deve á herança ou ao fato das crianças
pertencentes a essas famílias terem nascido e crescido em um
ambiente musical??? Por outro lado, tivemos grandes gênios
musicais, cientistas e sábios, cuja descendência não herdou tais
características. O geneticista alemão Hoffmann sustenta que a
inteligência é hereditária e está ligada ao sexo: os filhos têm mais
possibilidades de herdar ascaracterísticas de inteligência do pai e
as filhas da mãe. No que diz respeito ao caráter, os filhos
herdariam o da mãe e as filhas o do pai. Evidente, entretanto, que
todos esses caracteres não podem escapar da influencia de
fatores ambientais.

b) Herança Anormal ou Patológica:

Sobre este particular aspecto devemos recordar que não devem


ser confundidas as taras hereditárias com as malformações
congênitas. Nossas taras hereditárias são as que vem na célula

51
germinal e não desaparecem; ao passo que as malformações
congênitas se devem a causas que intervém depois da gestação
do novo ser. Um choque elétrico sofrido pela mãe em estado de
gravidez, pode influir em sua descendência; as relações sexuais
em estado de alcoolismo tem uma grande influencia pelo grande
poder de difusão do álcool através dos tecidos orgânicos;
também ostraumatismos sofridos pela mãe durante a gestação
podem ter influencia.

As taras hereditárias decorrem da má conformação dos genes e


são encontradas repetidas vezes em vários membros de uma
família, sendo transmitidas com certa Constancia.

Dentre as principais taras, destacam-se:

1- Taras Morfológicas: polidastilia (6 dedos), lábios leporinos,


hermafroditismo, etc;

2- Enfermidades Constitucionais: ananismo, gigantismo,


sensibilidade ás intoxicações, ou seja, alergias (como ocas o das
famílias que não podem injerir aspirina sem sentir notórios
transtornos), imunidades para certas doenças ou predisposições
para adquiri outras (como a urticária – alergia resultante de certos
alimentos como chocolate, ovo, mariscos, etc.), doenças gerais
(como a diabetes, a pressão alta, etc.);

3- Doenças do Sangue: como a hemofilia, por exemplo;


4 - Doenças Endócrinas: como o bócio, vulgarmente chamado
de “papeira”. Há famílias nas quais se observa a doença, porém,
não há certeza da sua transmissão hereditária;

5- Doenças do Aparelho Circulatório – coração e vasos


sanguíneos: Varizes, hemorragias cerebrais (derrame cerebral),
morte súbita, infarto, etc.;

6- Doenças do Aparelho Digestivo: úlceras gastroduodenais,


cirrose, etc.;

7- Doenças do Aparelho Urogenital: incontinência urinária


(enurese noturna);

52
8- Doenças do Aparelho Genital: criptorquidia (ausência de
testículos no escroto, que pode ser parcial ou total, faltando, pois,
um ou ambos os testículos);

9- Doenças da Pele, Cabelos e Dentes: Parece que há uma


certa influencia hereditária com relação á algumas doenças,
como eczema, urticária, edema paroxístico (inchaço dos lábios ou
pálpebras inferiores que costuma aparecer em famílias de
neuróticos), calvície, cabelos brancos, determinadas afecções
dentárias (cáries, gengivites, por exemplo, tendo-se observado
famílias inteiras com má estrutura dentária);

10- Doenças do Sistema Nervoso: afetam o cérebro, o cerebelo,


a medula, etc.;

11- Doenças dos Órgãos dos Sentidos: surdez, surdo-mudez,


daltonismo, albinismo, etc;

12- Epilepsia: A qual pode ser de dois tipos: Essencial e


Jacksoniana. Essencial é aquela característica dos indivíduos
que não tenham sofrido grandes acidentes na sua vida, sendo,
portanto, uma epilepsia sem causa justificável e explicável. A
Jacksoniana (de Jackson, que descreveu a epilepsia adquirida), é
aquela explicável, tendo origem conhecida, pois há sempre uma
lesão agindo como pólo de irritação (ossos que se desprenderam,
formação de pus enquistado, etc) o que pode irritar o córtex
cerebral, provocando, assim, a crise epilética. A epilepsia
Essencial é incurável; a Kacksoniana é curável numa expressiva
porcentagem, pois é muito possível localizar a causa irritativa e
eliminá-la. Quanto ás possibilidades de transmissão hereditária
seria a epilepsia Essencial a única suscetível de sê-lo, pois a
Jacksoniana é adquirida e, como tal, não transmissível
hereditariamente;
13 - Doenças Mentais: Segundo pesquisa realizada por diversos
autores de criminologia, há a probabilidade 30% a 60% de
transmissibilidade de doenças mentais. A herança dessas
doenças pode ser direta, quando se herda de ascendentes
diretos, ou seja, de pais para filhos (caso das famílias de
esquizofrênicos), ou indireta, também chamada de atávica,
quando aparece na linha colateral (como ocaso do sobrinho que
herda uma doença mental do tio, ou doenças que vêm de

53
gerações anteriores);

14 - Doenças do Caráter: De um modo geral, poderíamos dizer


que o caráter é constituído pelas características fundamentais de
um indivíduo que pautam a sua conduta. Não podemos, porém,
negar, a influencia que o meio exerce sobre o caráter.
Geralmente podemos dividir os indivíduos segundo a sua
maneira de ser em 2 grandes grupos:

a) o indivíduo ciclotímico: é o que tem períodos variáveis de


bom ou mal humor. Quando esta característica se acentua,
encontramo-nos diante da personalidade ciclóide, que em seu
mais elevado grau, gera a psicose maníaco depressiva ou
psicose circular. Neste último estado, o indivíduo passa a ser um
verdadeiro doente mental;

b) o indivíduo esquizotímico: é de uma grande vida interior,


fechado ao ambiente, cujas reações aos estímulos externos são
diferentes em diversas ocasiões. Assim, um indivíduo deste
caráter, diante de uma determinada brincadeira, poderá ás vezes
rir francamente e em outras permanecer indiferente. Quando esta
característica se acentua, temos a personalidade esquizóide,
que, em sua fase de maior gravidade, pode dar lugar ao
aparecimento da doença chamada esquizofrenia ou demência
precoce.

15 - Oligofrenias: é aquela doença que se caracteriza pela falta


de inteligência no indivíduo.

Apresenta-se em 3 estados:

a) O idiota: é o estado mais grave, pois o indivíduo não atinge


idade mental superior a 3 anos; deve ser alimentado por
terceiros, feita sua higiene, etc., sendo incapaz de cuidar de si
mesmo;

b) O imbecil: de idade mental superior a 3 anos e inferior a 7;


fala mais corretamente, consegue aprender a ler um pouco e a
assinar o próprio nome;

c) O débil mental: idade mental superior a 7 e inferior a 14

54
anos.

16 - Suicídio: Apresentam-se casos de verdadeiras famílias de


suicidas. Os autores modernos consideram que o que se herda é
a personalidade (ciclotímica ou esquizotímica), ou seja, a base
fundamental, que diante de um estímulo mais ou menos violento
do meio, vai determinar a conduta do suicida.

17- Alcoolismo: Acredita-se muito que o alcoolismo seja


hereditário. No entanto, não podemos saber até que ponto influi
no filho o mal exemplo de seus pais, a imitação destes, etc.
Existem características alcoólicas que é possível que sejam
hereditárias como a dipsomania, que quer dizer o impulso
incoercível para beber.

18- Outras Toxicomanias: Morfismo, cocainismo, etc. Nestes


casos, não se herdaria uma tendência exclusiva para usar a
morfina ou ingerir a cocaína, mas apenas uma predisposição ao
uso dos tóxicos ou drogas em geral.

c) Herança do Crime:

Desde do século XVIII, que são formuladas várias teorias


científicas para explicar as causas do delito. O médico alemão
Franz Joseph Gall, procurou relacionar a estrutura cerebral com
as inclinações criminosas. No final do século XIX, o criminólogo
Cesare Lombroso afirmava que os delitos são cometidos por
aqueles que nascem com certos traços físicos hereditários
reconhecíveis, teoria essa refutada no começo do século XX, por
Charles Goring, que efetuou um estudo comparativo entre
delinquentes encarcerados e cidadãos respeitadores da lei,
concluindo que não existem os denominados “tipos criminais”
com disposição inata para o crime. Na França, Montesquieu
procurou relacionar o comportamento criminoso com o ambiente
natural e o físico.

Por outro lado, estudiosos ligados aos movimentos socialistas


consideram o delito como um efeito derivado das necessidades
da pobreza. Outros teóricos relacionam a criminalidade com o
estado geral da cultura, sobretudo pelo impacto desencadeado
pelas crises econômicas, pelas guerras, pelas revoluções e pelo
55
sentimento generalizado de insegurança, derivado de tais
fenômenos.

No século XX, psicólogos e psiquiatras desenvolvem estudos


teóricos no sentido de indicar que cerca de um quarto da
população reclusa é composta por indivíduos com
comportamentos psicóticos, neuróticos ou também por indivíduos
de instabilidade emocional e o outro quarto, padecem de
deficiências mentais.

Frequentemente, são mencionadas enfermidades que se


herdam. Em nossos estudos vamos tratar de ver se o crime em
si tem relação com a herança.

Diversos distúrbios de conduta, e dentre eles a delinquência de


adultos, a criminalidade juvenil, a homossexualidade, etc.,
indicam a presença de um fator genético predisponente, sem
desprezar o fator ambiental, é claro.

Pesquisas encetadas na Dinamarca sobre a projeção dos fatores


genéticos e ambientais na tela da criminalidade relataram que,
quando o pai biológico e o adotivo não eram delinqüentes, ou
quando somente o adotivo era criminoso, as taxas de
criminalidade entre os filhos eram praticamente iguais. Todavia,
sendo delinquente apenas o pai biológico, a taxa se elevava ao
dobro, ascendendo ao triplo quando ambos os pais eram
criminosos. Isto quer dizer que, a criminalidade dos pais natural e
adotivo e, eventualmente, a ocorrência de moléstia mental na
mãe, são fatores que chegam a marcar presença na gênese da
delinquência dos filhos.

Aliás, para as aplicações da Genética no campo da


Criminologia, muitos geneticistas vêm, procurando identificar a
transmissibilidade de fatores que gerariam o crime. Tais
pesquisas têm sido realizadas de vários modos: Primeiramente
foram estudados grupos sociais, depois aglomerados étnicos e,
particularmente, núcleos familiares, os quais, pela alentada
incidência de membros que se apresentaram como autores de
ações delituosas ou como indivíduos de conduta social
perniciosa, viriam atestar essa transmissibilidade.

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Dugdale, por exemplo, investigou a família Juke, reconstituindo
sua genealogia até chegar ao antepassado comum: o individuo
Marx Juke, nascido em 1720. Na família aconteceram diversas
uniões ilegítimas. Foram pesquisados 700 descendentes de Marx
Juke, sendo que mais da metade era constituída de criminosos,
prostitutas, vadios, etc. Verificou-se que 310 eram indigentes, 440
foram descritos como portadores de doenças físicas graves, 50%
das mulheres eram prostitutas e 130 haviam praticado diferentes
crimes, sendo que entre elas, existiram 7 homicidas. Em 1915,
outro pesquisador deu continuidade ao trabalho de Dugdale,
voltando a pesquisar á Família Max Jukes, jánessa ocasião com
2.094 descendentes. Dentre estes foram encontrados 76
desajustados socialmente, 171 criminosos, 277 prostitutas, 282
ébrios contumazes, 323 tipicamente degenerados e 255 mais ou
menos corretos.
Outra família pesquisada foi a família francesa Chrétien, que teve
3 filhos: Píer, assassino, teve 1 filho também assassino; Tomás
teve 2 filhos assassinos e 1 neto ladrão reincidente; Jean teve 7
filhos, sendo 4 ladrões e 2 filhas ladras, uma das quais teve 2
filhos assassinos e 4 ladrões; a terceira filha teve 1 filho
assassino.

Também na família Zero, foram estudados 310 descendentes,


dos quais 12% foram criminosos, 28% imorais e indigentes, 41%
vadios e somente 19% foram indivíduos tidos comonormais.

Ainda assim, indaga-se, repetidamente, da existência ou não


de uma influencia genética, inata, herdada como co-partícipe
do ato criminoso. Haveria um determinismo herdado para a
prática de crimes????

Os fatores, segundo os geneticistas, poderão ser divididos em


genéticos e ambientais.

Os fatores genéticos são transmitidos por certos corpos especiais


existentes nas células que são conhecidos pela designação de
cromossomos. Cada espécie animal tem um nº fixo de
cromossomos: o gato tem 38 cromossomos, o cavalo 60 e o
homem (ser humano) 46 (sendo 23 pares). A espécie humana
tem, portanto, 23 pares de cromossomos para o homem e 23
pares de cromossomos para a mulher, os quais se fundem

57
quando há a união das células masculinas(espermatozóides) e
células femininas (óvulos) e que contém milhares de pares de
genes. Da fusão das duas células resulta a célula ovo, chamada
de zigoto ou gameta, que reconstitui o nº diplóide próprio de cada
espécie.

A matéria-prima da hereditariedade é o denominado DNA (Ácido


Desoxirribonucléico), molécula em dupla espiral encontradiça nas
células de todos os seres vivos, das bactérias aos homens.

Na espécie humana, o DNA possui cerca de 100 a 200 mil genes.


O Gene é encontrado no núcleo das células, comandando todos
os seus processos bioquímicos. Cada gene é responsável pela
produção de uma determinada proteína, que será necessária
para o funcionamento ou para a estrutura do corpo. Um defeito
no gene poderá afetar ou impedir a síntese de uma proteína, daí
promanando uma doença genética ou deformidade.

Os tecidos humanos mais ricos em DNA são os glóbulos brancos


do sangue, o esperma, os fios de cabelo, a polpa dentária e a
medula óssea. A análise do DNA começa com a retirada de uma
amostra desse material orgânico (geralmente sangue ou
esperma) através da aplicação de uma solução específica
(tensoativo com enzima proteolítica) que fragmenta a amostra.
Em seguida esses fragmentos do DNA (de diversos tamanhos)
são espalhados sobre uma superfície gelatinosa e submetidos a
uma corrente elétrica, que os faz ficar em fila, em ordem
crescente de tamanho. Finalmente, os fragmentos do DNA são
transferidos para uma película de “nylon” que é colocada sobre
um filme de radiografia. A radioatividade imprime no filme a
seqüência de fragmentos do DNA como em uma fotografia. A
comparação das “fotos” comprova se as amostras pertencem á
mesma pessoa.

A análise do material genético fornece 100% de certeza nos


casos de investigação de paternidade. Para comprovar a
paternidade, compara-se as “impressões genéticas” dos pais e
dos filhos.

O exame do material genético permite, inclusive, identificar o


autor de um crime, a partir de um fio de cabelo, de uma gota de

58
sangue ou de um traço de esperma. Para tanto, ter-se-á que
cotejar o DNA do material encontrado no local do delito com
aquele do suspeito ou indigitado autor.

A Genética é o estudo dessa herança com a qual o homem se


preocupa seriamente pelo menos há 2 séculos. De fato, desde
1865, na Checoslováquia, o monge agostinho João Gregório
Mendel dedicava-se aos estudos do processo de
hereditariedade, embora suas experiências consistissem no
cruzamento de plantas leguminosas e de flores, para aprimorar-
lhes a qualidade e a cor.
Recentemente, manifestando-se sobre o mapa do código
genético humano, o cientista alemão Bernd Brinckmanns, durante
congresso da Sociedade Internacional de Técnica Genética,
realizado na cidade de Munster, na Prússia, assegurou que
dentro de pouco mais de 5 anos será possível elaborar o retrato
falado genético a partir do DNA das células dos suspeitos, o que
traria enorme contribuição para o campo da criminogenia.

Reforçando o que já foi explicitado, relevante enfatizar que todo o


indivíduo possui um fenótipo e um genótipo. Genótipo é o
conjunto de fatores que constituem a bagagem hereditária do
indivíduo e que é recebida de seus ascendentes. Fenótipo é o
que o indivíduo aparenta ser (aspecto, cor, cabelo, funções
fisiológicas, etc.).

Do ponto de vista da medicina forense é incorreto falar em


herança criminal. Não está estabelecido, de fato, que alguém
possa delinquir através de sua configuração genotípica.

Admite-se, isto sim, que um individuo mal nascido (com um


legado psicopático e educação viciosa ou submetido a fatores
ambientais paratípicos) possa acabar no crime, do mesmo modo
que seus ascendentes.

Efetivamente, não há tendências criminógenas hereditárias, mas,


apenas, formas psicopáticas especiais. Uma coisa é a bagagem
hereditária dos pais e, outra, as alterações que possa sofrer o
indivíduo durante sua vida e que podem influir depois sobre os
seus descendentes.

59
A herança poderá ser um fator predisponente ao crime, não fator
de sua ação direta que prescinde de uma base com
circunstancias favoráveis. Um paranóico homicida quiçá transmita
a seu filho uma constituição paranóica que poderá levá-lo ao
homicídio, porém, isto não é herança criminal, pois o crime é só
um acidente. O importante é a herança patológica mental. O pai
pode ser um simples neuropata, tornando-se homicida por
circunstâncias totalmente eventuais, enquanto o filho pode vir a
sê-lo como conseqüência, por exemplo, de um delírio de
perseguição.

De qualquer modo, seria assaz temerário afirmar que existe uma


herança específica do crime ou mesmo certas condições físicas
ou psíquicas herdadas que levam irreversivelmente á prática
delituosa.

Carecemos, ainda, de documentos definitivos que nos permitam


afirmar com segurança que, em certos casos, a criminalidade
seja manifestação direta da herança, já que o papel
desencadeador das causas criminógenas do mundo circundante
não pode ser desprezado.

Se não podemos impedir a transmissão de taras hereditárias,


sempre podemos interferir no meio ambiente para
contrabalancear, pelo menos em parte, as manifestações
negativas da herança, como retirar os filhos de ambiente
pernicioso e colocá-los em outro melhor; proporcionar-lhes boa
orientação, orientá-los vocacionalmente, etc.

Em todo caso, a herança é um fator muito importante, porém, não


de ação direta, mas predisponente. Por outro lado, quanto mais
pronunciada é a herança patológica, mais separa o indivíduo do
meio social normal, o que acentua mais ainda as suas
possibilidades negativas.

Quer dizer que, ao que parece, a maior parte dos fatores que
integram a constituição, a inteligência, o temperamento e o
caráter, combinam entre si e se misturam de forma muito variada
na descendência, de maneira que jamais podemos prescindir dos
fatores do mundo circundante, já que são capazes de permitir ou
não o aparecimento de um caráter endógeno.

60
Não há, portanto, tendências criminais especificamente
hereditárias, apenas formas psicopáticas especiais.

Nunca será demais repetir que uma coisa é a bagagem


hereditária dos pais e outra as alterações que possa sofrer um
sujeito durante a sua vida e que podem influir depois sobre os
seus descendentes.

São conhecidas com o nome de blastotoxias todas as causas


alheias á herança que influem patologicamente nas células
germinais do indivíduo e, por conseguinte, na descendência.

Vamos agora estudar essas causas de acordo com os diferentes


períodos do ciclo vital.

Fatores que influem na vida intra-uterina:

Todos os fatores que podem ser nocivos para a mãe durante o


período de gravidez, também podem ser para o filho. Não
esqueçamos as relações estreitas que existem entre a mãe e o
filho durante este período em que ele é alimentado através da
placenta. Todas as causas patológicas ou toxicológicas que
podem afetar a mãe, podem também afetar a criança.

As influencias que atuam durante o período de gravidez podem


ser divididas em 5 grupos:

a) Influencias Mecânicas: São os traumatismos. Um golpe


sofrido pela mãe pode chegar a produzir o aborto ou a morte do
feto sem expulsão, ou seja, dentro do ventre materno.

b) Influencias de Tipo Físico: Podemos considerar a ação da luz,


do calor, os raios X, o radium, a eletricidade, etc, que podem
causar anomalias no feto ou retardamento no desenvolvimento.

c) Influencias Químicas: Podemos considerar os tóxicos,


especialmente os voláteis, como o álcool, o éter, o clorofórmio, a
gasolina, etc., pois a maioria deles é transmitida ao feto
atravésda placenta.

61
d) Influencias Patológicas: As doenças da mãe, como as
infecções, as intoxicações, etc., influem também na vida do feto.

e) Influencias Psicológicas: As emoções violentas sofridas pela


mãe na época de gravidez podem influir na criança. Por exemplo,
a morte do pai durante a gestação, pode causar o nascimento de
uma criança anormal, como conseqüência do choque emocional
sofrido pela mãe. Os vulgarmente chamados “desejos” da mãe
grávida, indicam nela um estado de desequilíbrio emocional e,
portanto, durante os primeiros meses costuma-se atender ás
solicitações (caprichos) da mãe, a fim de se evitar a influencia
desse fator psicológico na futura vida do novo ser.

Fatores que influem durante a 1ª e 2ª infâncias:

Considera-se a 1ª infância como os dois primeiros anos de vida


da criança. A 2ª infância compreende do terceiro ano de vida até
a época da puberdade.

Nesta época, deformações corporais (defeitos físicos) podem


criar um complexo de inferioridade muito grande na criança, que
a fará reagir contra seus companheiros com ressentimento, que,
mais tarde, será extensivo á sociedade. Segundo alguns
criminalistas, é possível é possível encontrar explicação para o
fato de muitas destas crianças, mais tarde, condicionadas por
uma notória inferioridade física e intelectual, seguirem o caminho
do crime.
Destacam-se, nesse período, sobretudo os fatores de ordem
psicológica ou emotiva. Até o aparecimento das doutrinas e
investigações de Freud, não se acreditava que a criança pudesse
sofrer os efeitos dos fatores psicológicos.

No entanto, depois dos estudos desse grande psicólogo, chegou-


se á conclusão que isto era um grande erro, pois é durante a
infância que o indivíduo é mais sensível á tais fatores.

Alguns autores apresentaram trabalhos nos quais citam grande


proporção de criminosos em cujos antecedentes se observam
fatos curiosos relativos á matéria em estudo.

Comprovou-se que muitos deles haviam sido abandonados pela

62
mãe entre os 6 e os 24 primeiros meses de vida. Estabeleceu-se
que até os 6 meses a influencia da mãe não é tão grande, porém,
depois dos 6 meses, há uma vinculação muito estreita entre a
mãe e o filho. Nesta idade, a criança se vê defendida pela mãe
do meio hostil que a rodeia. Se a mãe o abandona entre os 6
meses e 2 anos de idade, a criança sofre um trauma tremendo,
primeiro elo de uma cadeia de conflitos, que, podem conduzir á
geração de um delinquente.

Os pais muito severos ou depravados também influem na psique


de seus filhos, que começam a acumular os primeiros ódios
contra os pais e depois contra a sociedade.

De acordo com a análise de Freud, este período de vida é o mais


importante de todos sob o ponto de vista psicológico.

Resumindo: todos os fatores que analisamos podem determinar


um retardamento ou desvio na evolução da criança do ponto de
vista orgânico, intelectual e moral, inclinando-a, talvez, á prática
de crimes.

Fatores que influem durante os períodos da adolescência e


maturidade:

- Adolescência: A puberdade é a etapa da vida da pessoa que se


caracteriza por uma serie de mudanças morfológicas, funcionais
e psicológicas. O período da adolescência abrange
aproximadamente a faixa etária entre os 15 e 25 anos.

Existem, nesse período, uma série de fatores que podem ter


importância definitiva na vida posterior do indivíduo.

Influem, nesse período, o nascimento das tendências


heterossexuais. Enquanto o lactante encontra o prazer sexual em
si mesmo, posteriormente esta etapa narcisista passa para uma
homossexualidade que é normal na criança, mormente quando
vive em um ambiente de promiscuidade. Existem também, nesse
período, tendências incestuosas que se manifestam com maior
freqüência do que se supõe.

Na última etapa, em torno dos 15 anos, desaparece essa

63
tendência homossexual ou incestuosa e aparecem as tendências
heterossexuais. No entanto, é uma etapa na qual advém um
complexo de timidez que está relacionado com outros fatores,
entre os quais a moral de cada família. Em lares muito religiosos,
onde os problemas sexuais são “tabu”, o ato sexual é
considerado pecaminoso, degradante, o que podem produzir
efeitos negativos na vida adulta, levando o indivíduo a cometer
crimes sexuais.

Por outro lado, o deficiente ambiente moral em que se vive gera


idéias errôneas no menino, como ter atos de virilidade, conhecer
o sexo precocemente, embriagar-se, fumar, etc.

As emoções, no adolescente, são mais intensas do que em


qualquer outra idade.

O adolescente, sob o aspecto social, político, etc., é


extremamente impulsivo. Observa os fenômenos sociais, políticos
e outros de um ponto de vista muito especial. Trata-se de impor
as suas próprias soluções aos diversos problemas que aborda.

- Maturidade: Terminado o período da adolescência, vem o


estágio de adulto, quando a evolução do individuo chega á sua
plenitude.

O adulto não é outra coisa do que a conseqüência de uma luta


constante entre os fatores hereditários e as exigências e
imperativos do meio ambiente. Quando ambos os fatores atuam
no mesmo sentido, ou seja, de forma desfavorável ou favorável,
teremos indivíduos anormais ou normais, respectivamente. Se
ambos os fatores se contrapõem, aparece o grupo
dos“desorientados”, como o neuropata, o psicopata, etc.

Isto nos conduz á uma conclusão dolorosa: A humanidade está


se tornando neurótica. A civilização ocidental, com suas grandes
cidades, estas com seus conglomerados de indivíduos, acarretam
uma série de conseqüências palpáveis nestes, sob todos os
pontos de vista.

Entretanto, tem sido muito difícil estabelecer um limite entre o


normal e o anormal. Qualquer pessoa está sujeita a sofrer

64
transtornos mentais. Os fatores exógenos influem
imponderavelmente na vida do individuo. Qualquer fato decisivo,
como o falecimento de um familiar, se nos surpreende numestado
emocional de fraqueza, quer dizer, de hipersensibilidade, pode se
romper o equilíbrio das faculdades do indivíduo.

Como conclusão, temos de admitir que o homem não é só uma


conseqüência da bagagem hereditária com que chega á vida,
nem da sua estrutura biológica, mas o resultado de uma luta
constante travada entre os fatores hereditários e o meio
circundante.
IDADE E SEXO

Continuando o estudo dos fatores endógenos do crime, vamos


analisar a influencia que poderiam ter na criminalidade a idade e
o sexo.

Segundo Cláudio Beato, pesquisador da UFMG, “sexo e idade


são os dois únicos fatores inequivocamente relacionados á
criminalidade”.

1º Idade: Estudando as estatísticas da criminalidade relativas à


idade, observa-se que a esmagadora maioria dos indivíduos
relacionados com o crime são homens muito jovens, entre 18 e
25 anos. Isso se repete em todo o mundo. Em regra, os homens
iniciam mais cedo na vida criminal, enquanto que as mulheres
entram para esta vida mais tarde (por volta dos 30 aos 40 anos).

Isso se deve a que o jovem é especialmente suscetível á


influência forte de amigos, tem grande necessidade de afirmação
de valores individuais, tem necessidade de dinheiro e geralmente
não encontra empregos por não ter experiência.

Em 2000, cerca de 10% da população brasileira estava no grande


grupo de risco criminógeno: homens entre 15 e 25 anos.

Segundo dados do Censo Penitenciário de 1995, 57% dos presos


brasileiros tinham menos de 30 anos (em 2004, segundo o MJ,
esse nº aumentou para 60%), e 30% deles tinham menos de 30
anos. A taxa de mortes violentas é substancialmente maior entre
jovens até 25 anos: 39 de cada mil jovens morrem assassinados

65
no Brasil, 61 de cada mil só na capital paulista.

Pode-se afirmar que certos tipos de delitos têm uma idade


propícia para sua consumação, o que é de grande importância.

Observou-se que os delitos contra o patrimônio ocorrem com


maior freqüência entre os 16 e os 26 anos.

Legalmente, na maioria dos lugares a idade penal se estabelece


depois dos 20 anos. No Brasil, contudo, a idade da
responsabilidade penal é aos 18 anos.

Os crimes passionais têm a sua freqüência máxima entre os 30 e


40 anos, sendo pouco freqüente antes dos 30 ou depois dos 40
anos. Um delito passional cometido antes dos 30 ou depois dos
40 anos, nos levará a deduzir a existência de uma personalidade
perturbada, sobretudo se ocorre depois dos 40 anos, quando é
possível que haja a influencia da arterioesclerose, de uma
alteração endócrina, etc.

Os crimes sexuais se consumam antes de se adquirir a


maturidade, ou seja, antes dos 25 anos, ou bem depois dos 45
anos. O homem na plenitude de sua capacidade, geralmente não
incorre nesse tipo de crime. Passados os 40 anos, a diminuição
das secreções hormonais e os transtornos produzidos pela
arterioesclerose cerebral, certamente terão influencia neste
aspecto da criminalidade sexual.

Existe, também, o conceito de “idade antropológica”, não relativa


á cronologia ou anos de vida, mas ao desenvolvimento do
individuo. Não é raro o sujeito ter a idade cronológica da
maturidade e antropologicamente ser um adolescente ou
senescente (velho).

Sob o aspecto antropológico, se um individuo se encontra na


maturidade confirmada entre 28 e 42 anos e apresenta sinais de
senescência (processo de envelhecimento natural dos seres
vivos) deve haver uma razão que possa explicar essa
disparidade. Em Criminologia, todas essas disparidades podem
contribuir para explicar certos fatos gerados por uma conduta
anormal.

66
Também devemos considerar a idade emocional, que é a mais
importante de todas as que estamos tratando.

Há pessoas que apesar de ter 30 ou 40 anos, não possuem


maturidade emocional. É o que se denomina “infantilismo
emocional”. Esses tipos imaturos têm para a Criminologia
importância especial, porque outros indivíduos mais versados em
crime, costumam usá-los com freqüência como instrumentos de
seus atos delituosos.

Pode haver indivíduos bem desenvolvidos fisicamente, mas não


emocionalmente.

A idade senil também tem influencia dentro destes fatores


endógenos. Há mulheres honestas que depois da menopausa
adquirem uma tendência libidinosa que as torna irreconhecíveis e
propensas aos maiores desatinos sexuais. Isto também acontece
com os homens.
Como vemos, quando se fala em idade, isso não é em
Criminologia um conceito tão fácil de precisar.

MAPA MUNDI DA MAIORIDADE PENAL

EUROPA
- Alemanha: 14 anos
- Dinamarca: 15 anos
- Finlândia: 15 anos
- França: 13 anos
- Itália: 14 anos
- Noruega: 15 anos
- Polônia: 13 anos
- Escócia: 8 anos
- Inglaterra: 10 anos
- Rússia: 14 anos
- Suécia: 15 anos
- Ucrânia: 10 anos

ÁSIA
- Blangadesh: 7 anos
- China: 14 anos

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- Coréia do Sul: 12 anos
- Filipinas: 9 anos
- Índia: 7 anos
- Indonésia: 8 anos
- Japão: 14 anos
- Maynmar: 7 anos
- Nepal: 10 anos
- Paquistão: 7 anos
- Tailândia: 7 anos
- Uzbequistão: 13 anos
- Vietnã: 14 anos

ÁFRICA
- África do Sul: 7 anos
- Argélia: 13 anos
- Egito: 15 anos
- Etiópia: 9 anos
- Marrocos: 12 anos
- Nigéria: 7 anos
- Quênia: 8 anos
- Sudão: 7 anos
- Tanzânia: 7 anos
- Uganda: 12 anos

AMÉRICA DO NORTE
- Estados Unidos: entre 6 e 18 anos, conforme a legislação
estadual
- México: 11 ou 12 anos para a maioria dos estados

AMÉRICA DO SUL
- Argentina: 16 anos
- Brasil: 18 anos
- Chile: 16 anos
- Colômbia: 18 anos
- Peru: 18 anos

ORIENTAL MÉDIO
- Irã: 9 anos (mulheres) e 15 anos (homens)
- Turquia: 11 anos

2º- Sexo: Seguindo o critério estatístico, existe um axioma no

68
sentido de que a criminalidade feminina é extraordinariamente
menor que a do homem. As estatísticas nos revelam que a sexta
parte dos crimes cometidos, o são pelas mulheres e o resto pelos
homens. Jovens do sexo masculino, por uma série de razões,
são a clientela mais comum do crime, seja como agentes,
sejacomo vítimas.

Outro fato interessante é que a criminalidade feminina aumenta á


medida que aumenta a participação da mulher na vida social,
política e econômica do pais. Verificou-se que a mulher tem uma
astúcia especial para lograr impunidade nos delitos nos quais
incorre. É mais astuta na elaboração do delito, em apagar ou
fazer desaparecer os vestígios, etc. Por esta razão, muitos
infanticídios, abortos, envenenamentos, etc., jamais são
descobertos.

Criminologia Clínica

CRIMINOLOGIA CLÍNICA

A Criminologia Clínica representa o setor de aplicação prática e


reinserção social do delinqüente, apoiando-se, para tanto, no
exame de sua personalidade.

Ensina o renomado jurista e criminólogo Álvaro Mayrink da


Costa: “O exame criminológico constitui o princípio básico da Criminologia Clínica,
sendo que os métodos utilizados não variam apenas segundo sua natureza
médica,psiquiátrica, psicológica ou social, mas diferem, entre si, pelo grau de profundidade
que possam ter”.

O homem criminoso haverá que ser pesquisado em todos os


aspectos estruturais, funcionais e racionais, a fim de ser
descortinada a sua personalidade, mas sempre considerando a
investigação dos fatores exógenos.

A Criminologia Clínica, portanto, é o estudo científico do


comportamento criminoso. Tem por preocupação o estudo dos
fatores endógenos, ou seja, as causas internas, intrínsecas ao
indivíduo na causalidade delituógena. Representa, em última
análise, a observação, interpretação e tratamento do indivíduo
criminoso.
69
Segundo o criminalista Sturup, a Criminologia Clínica é uma parte
da Criminologia que se preocupa coma investigação e tratamento
da conduta criminal, acrescentando que sua finalidade seria
sempre terapêutica.

Em relação à expressão “Criminologia Clínica”, o termo “clínica”


considera não somente o procedimento que afeta exclusivamente
o indivíduo, mas a totalidade das investigações e medidas
auxiliares que hoje se impõem, nos modernos diagnósticos e
terapias clínicas, sejam de índole física, química, fisiológica, etc.

A Criminologia Clínica encontra-se intimamente ligada à


Antropologia (ou Biologia) Criminal, a qual tem por objetivo
fundamental o estudo do criminoso, de seus caracteres físicos e
psíquicos, suas paixões e sentimentos, ou seja, os fatores
orgânicos e biológicos individuais do delito, fixando as anomalias
apresentadas pela maior parte dos doentes.

Após os progressos alcançados pela Psiquiatria, passou-se a


admitir o criminoso como um individuo portador de uma
psicopatia ou de uma personalidade psicopática (teoria
eminentemente clínica).

Seja como for, desde a época de Lacassagne, os pioneiros da


Criminologia protestavam pela elaboração de um exame médico-
psicológico-social dos delinqüentes. Historicamente, tal
premência foi invocada, pela 1ª vez, por Cesare Lombroso,
quando da realização em São Petersburgo, em 1889, do
Congresso Internacional Penitenciário.

Finalmente, a meta da Criminologia Clínica é aplicar os princípios


e métodos das criminologias especializadas, comportando as
seguintes operações: exame, diagnóstico, prognóstico e
tratamento.

O criminólogo clínico é geralmente um médico, um psiquiatra, ao


passo que o criminólogo geral é geralmente um sociólogo, um
advogado, etc.

É evidente que existem fatores sociais patogênicos, e até uma

70
estrutura social delituógena, do que já falava Lacassagne, mas
jamais poder-se-á deixar de lado a análise do ingrediente
endógeno, do componente biológico no comportamento anti-
social. Esse componente biológico é o equipamento genético, a
bagagem hereditária, como causalidade congênita de
criminalidade, ale, é óbvio, de não se poderem esquecer os
fatores biológicos adquiridos nessa mesma causalidade.

Sem embargo do reconhecimento da enorme contribuição da


Criminologia Clínica no estudo da criminalidade, através de suas
pesquisas, das leis gerais do comportamento criminal que
formula, do seu tratamento nos centros de observação, do
tratamento e da metodologia intuitiva, orientada sempre para o
paciente criminal, ela não pode deixar de considerar, por
exemplo, que existem pessoas que mesmo submetidas á fatores,
presumivelmente criminogenéticos, não chegam a delinqüir, o
mesmo acontece com portadores de personalidade patológica,
que igualmente podem não ser conduzidos á prática do crime.

A explicação estaria na existência de outros fatores inibidores da


criminalidade, que são estudados pela Criminologia Sociológica.

Há necessidade, portanto, de um esforço contínuo de


colaboração entre a Criminologia Clínica, que se concentra
apenas no indivíduo e a Criminologia Sociológica, que se guia
somente para os grupos.

A Criminologia Clínica é endereçada ao tratamento carcerário,


através dos centros de observação, com programas de
prevenção e tendo por base, sempre, o estudo do indivíduo
singular.

1- CARÁTER E NARCISISMO

O caráter significa a maneira psíquica de um indivíduo reagir aos


acontecimentos, o aspecto psicológico da personalidade, mais
particularmente, a nota afetivo-volitiva. Aliás, a tentativa de
estabelecimento de tipos morfológicos é antiga, tendo iniciado
com Hipócrates.

René Le Senne foi um dos primeiros criminalistas a estudar o

71
caráter do criminoso, a ponto de criar a chamada Escola
Caracterológica Francesa que conceitua a Caracterologia como
“o conhecimento metódico dos homens desde que cada qual se
destaque por sua originalidade”. Assim, o objeto da
Caracterologia é o homem completo em sua realidade. A
Caracterologia se restringe, em última análise, á determinação de
fatores de estrutura congênita e sólida do indivíduo. Visa os
fatores constitutivos do caráter (como a atividade e a
emotividade, por exemplo).

Um dos distúrbios mais usuais do caráter é a chamada


“perturbação narcisista”, que, segundo alguns, teria cunho
hereditário.

A perturbação narcisista é um distúrbio psicológico em que o


indivíduo revela um grau anormal de narcisismo, frequentemente
manifestado por exigências excessivas de amparo, elogio e amor.

Não é considerado um fator normal de caráter, dada sua própria


excentricidade, chegando alguns psicopatologistas a incluí-lo
entre os desvios sexuais.

Efetivamente, o narcisismo é o amor da pessoa por si mesma, é


a auto-adoração. Em linguagem psicanalítica, é o produto da
fixação da libido no ego da pessoa. Desde que essa fixação
persista em sucessivas fases do desenvolvimento mental,
equivale a uma regressão psicossexual, cristalizando-se no tipo
caracterológico narcisista de personalidade. Atribui-se a condição
narcisista á um recurso empregado pelo ego infantil para
enfrentar a frustração (modo esse que voltará a ser usado,
regressivamente, em certos estados psicopatológicos da vida
adulta).

O narcisismo pode ser considerado como uma forma de auto-


erotismo, sem ser acompanhado de orgasmo sexual concreto.
Entende-se, inclusive, que o narcisismo pode levar ao orgasmo
sexual. A rigor, o narcisismo implica na excitação sexual
produzida pelo próprio corpo, sendo mais comum nas mulheres.
Segundo a fábula, Narciso foi personagem que, mirando-se numa
fonte, ficou de si próprio enamorado.

72
2- OS CICLOTÍMICOS E OS ESQUIZOTÍMICOS

De modo geral e segundo o respectivo modo de ser, os


indivíduos são divididos em 2 grandes grupos: os ciclotímicos e
os esquizotímicos.

São aqueles que apresentam, habitualmente,


- Ciclotímicos:
períodos variáveis de bom ou mau humor. É uma forma de
personalidade que está nos padrões de normalidade, podendo,
no entanto, a pessoa apresentar períodos alternantes de
exultação e tristeza, atividade e inatividade, excitação
edepressão. As alternações não obedecem á um ciclo regular e
pode ocorrer períodos intermediários de atividade normal, quando
a depressão não se acentua. Tudo a ponto de tornar a pessoa
um ciclóide (fronteiriço) ou um psicótico-maníaco-depressivo
(quando, então, já seria um doente mental, portador de psicose).
Mas, normalmente, o indivíduo ciclotímico tende a ser expansivo,
mais ou menos generoso e emocionalmente receptivo e sensível
ao meio ambiente. Costumam, ademais, exibir hiperatividade
social e sexual.

- Esquizotímicos: São
pessoas de grande vida interior, fechados ao
ambiente, cujas reações aos estímulos externos são diferentes
em situações idênticas. O esquizotímico é um indivíduo que,
diante de certa brincadeira, poderá rir francamente em
determinada oportunidade, noutra, porém, ficar inteiramente
indiferente. Quando esta característica se acentua, pode aflorar
uma personalidade esquizóide (fronteiriço) que, evoluindo para
um quadro mais grave, redunda em esquizofrenia, que já é uma
doença mental, também conhecida por demência precoce.

3- PERSONALIDADES PSICOPÁTICAS E DISTURBIOS DA PERSONALIDADE

Sigmund Freud define a personalidade conforme um esquema


tríplice que concrega os 3 níveis da estrutura mental
(inconsciente, subconsciente e consciente): “É o produto da
completaintegração do id, ego e super ego”.

Alfred Adler conceitua a personalidade como “o estilo de vida do


indivíduo ou a maneira característica de reagir aos problemas da vida, incluindo as metas
vitais”.

73
Pode-se dizer que a personalidade é um padrão peculiar de
conduta do indivíduo, que caracteriza e garante sua identidade,
abrange suas disposições orgânicas e psíquicas, conscientes e
inconscientes, manifestas e latentes. A personalidade vai se
moldando e se readaptando por força de novas experiências
significativas do indivíduo e dos fatores externos, ambientais, aos
quais está sujeito.

Enfim, a grosso modo, a personalidade é a maneira estável de


ser de uma pessoa, que a distingue de outra.

Inúmeros são, por outro lado, os conceitos e definições acerca da


personalidade psicopática.

Na Idade Média, a insanidade mental era tida como resultado do


pecado e de uma existência libertina.

Em 1835, usava-se a expressão “insanidade moral” (insanity


moral) para designar a conduta anti-social e a ausência de senso
ético de certos delinqüentes.

Em 1923, em sua obra Personalidades Psicopáticas, Kurt


Schneider define: “personalidades psicopáticas são as anormais,
que sofrem por sua anormalidade ou fazem sofrer a sociedade”.

Schneider assim classifica os portadores de personalidade


psicopática: hipertímicos, deprimidos, inseguros de si mesmos,
fanáticos, ansiosos de valor, explosivos, atímicos ou insensíveis,
hipobúlicos e astênicos.

Para o emérito jurista e criminólogo Jason Albergaria, os


psicopatas de Schneider interessam á Criminologia. Explica
Jason que os hipertímicos tendem á difamação, á indolência e á
fraude; os fanáticos praticam o delito político; os explosivos o
delito contra a pessoa; os atímicos o assassínio, o latrocínio e o
terrorismo; os supervalorizados do eu praticam a injúria, a calúnia
e as fraudes; os hipobúlicos cometem furtos, fraudes e
apropriações indébitas.

Para o criminalista Kraepelin, “são personalidades psicopáticas

74
aqueles que não se adaptam á sociedade, vivendo em constante
luta com ela: são descontentes com tudo, por toda a parte;
sentem necessidade de ser diferentes dos outros”.

Os psicopatas são indivíduos que não se comportam como a


maioria de seus semelhantes tidos por normais. Têm grande
dificuldade de assimilar as noções éticas, ou, assimilando-as, em
observá-las. Seu defeito na manifesta na afetividade, não na
inteligência, que pode, ás vezes, ser brilhante.

Diz Jason que “é definitiva a prova de uma correlação hereditária


entre psicopatas e delinqüência na Criminologia Moderna, e,
desta sorte, Lombroso reaparece modernizado”.

A história registra um sem-número de homicídios perpetrados por


portadores de transtornos mentais desse porte.

Sucintamente, á guisa de exemplos mais conhecidos, pode-se


citar, na Roma antiga, os imperadores Calígula (41 a.C) e Nero
(54/68 a.C). Calígula sofria de todas as taras de seus ancestrais
e, sendo portador de sensualidade perturbada e sádica fúria
homicida, entre os incontáveis assassínios que lhe são
atribuídos, de referir o de seu primo, seu cunhado e de sua avó.
Nero, igualmente dotado de perversidade hereditária e louca,
assassina seu irmão, sua esposa e sua própria mãe. Ao final,
culmina por mandar incendiar, sadicamente, a cidade de Roma,
que queimou durante 6 dias seguidos, dela pouco restando. Não
há como negar que a semelhança entre Calígula e Nero é
assustadora. O paralelismo entre eles é quase perfeito! Calígula
foi morto á mando deoficiais pretorianos. Nero suicidou-se.

No séc. XIX, na Inglaterra, em meados de 1888, no alegre bairro


de Whitechepel, em curto espaço de tempo, 5 prostituas foram
assassinadas e mutiladas a golpes de punhal e de instrumento
cirúrgico. As mutilações do assassino, apelidado de “Jack
Estripador” concentravam--se no rosto e no ventre das
meretrizes. A violência dos crimes provocou clamor na Câmara
dos Comuns e a própria rainha Vitória exigiu providencias.
Contudo, Jack Estripador nunca foi efetivamente identificado.

Em 1985, numa madrugada, na cidade de São Paulo, na moradia

75
de seus pais situada no bairro de Santa Catarina, o jovem
Roberto Peukert Valente, com 18 anos de idade, portador de
epilepsia condutopática robustamente atestada por perícia médico-
psiquiátrica, matou a tiros e a facadas seus pais e 3 irmãos
menores, sem motivos aparentes. Em seguida, colocou os 5
cadáveres no porta-malas de um veiculo que abandonou no Jardim
Marajoara. Depois voltou para sua casa para lavar a garagem.
Subseqüente, foi á padaria para comprar pão e leite para o café
da manhã. Preso e interrogado pela polícia, Roberto denotou
frieza, insensibilidade e algum esquecimento ao confessar o
crime e sua execução, tudo nos moldes da teoria do “criminoso
epilético” de Lombroso. Este quíntuplo homicídio, por sua
causação pouco comum, foi largamente noticiado por emissoras
deTV brasileiras e pela RAI (Televisão italiana).

Ainda que não haja um consenso amplo sobre o que seja o


transtorno mental, usualmente se caracterizam as personalidades
psicopáticas por sua imaturidade emocional e infantilismo, com
acentuados defeitos de julgamento. Elas são sujeitas á reações
impulsivas, sem consideração paracom os outros. Também estão
sujeitas á instabilidade emocional, com oscilações rápidas do
transtorno para a depressão por causas banais.

Aspectos especiais dos indivíduos psicopatas são “traços


criminais acentuados” (eis o porque da importância da análise
das personalidades psicopáticas em livros dessa natureza).
Neles, igualmente, são aspectos especiais a deficiência moral e a
perversão sexual. A sua inteligência, de acordo com os testes
padrões, pode ser normal ou superior.

Do ponto de vista médico-legal os indivíduos com personalidade


psicopática são conhecidosc omo fronteiriços ou limiares.
Entretanto, seus impulsos criminais se apresentam como
irresistíveis e nenhum deles é capaz de distinguir o certo do
errado.

Para o Direito Penal são considerados responsáveis,


respondendo por seus delitos.

Os tipos de personalidades psicopatas, a grosso modo, são os


abaixo elencados:

76
a) Instáveis: encontrados
com grande freqüência na vida social.
Caracteriza-se pela dispersão de atenção, mobilidade das
impressões e desejos, descontinuidade nos pensamentos e na
ação e versatilidade dos sentimentos para com as pessoas e as
coisas. O Instável é escravo das próprias tendências e das
solicitações do meio ambiente, que o incentivam á variabilidade
da ação, passando incessantemente de um objeto a outro, pois
tudo o atrai com força e tudo o aborrece e cansa em seguida.
Suas decisões são bruscas e repentinas, irrefletidas e
impensadas. Com certa freqüência, tem bom êxito escolar,
saindo vitorioso em eventos difíceis e não raro, perdedor nos
fáceis. Tem demasiado conhecimento da vida sexual. Pratica
furtos por brincadeira, é descarado, desavergonhado e vicioso
contumaz.

b) Paranóides: têm,
geralmente, padrões rígidos de comportamento;
caracteriza-se por hipersensibilidade interpessoal refletida por
desconfianças injustificadas, inveja e ciúmes. Essas suas
características interferem frequentemente nas relações com
outras pessoas. Usualmente, inculpam outras pessoas e lhes
atribuem motivos maldosos. Possuem excesso de sentimento,
superestima do ego. Tal desvio de lógica é relativo ao modo de
julgar-se a si mesmo e ao mundo. Julga-se possuidor de méritos.
Esses sujeitos, quando têm seus sintomas agravados, são
acometidos pela paranóia, caracterizando-se, esta, pelo orgulho,
a desconfiança, a tendência á erros de interpretação, a
inadaptação, etc.

c) Hiperemotivos: Fisicamentepossuem: reações motoras vivas


extensas e prolongadas, principalmente nos domínios mímico e
vocal; desequilíbrio motor; palpitações; tremores emotivos;
tremulação das extremidades; calafrios; estremecimentos; ranger
de dentes; tiques; relaxamento dos esfíncteres; desequilíbrio
circulatório, taquicardia ocasional, sensações de frio e de calor,
principalmente nas extremidades; desequilíbrio glandular.
Psicologicamente possuem: inquietação; ansiedade; irritabilidade.

d) Ciclóide: caracteriza-se
pela alternância entre a depressão e a
exaltação. Quando exaltado, o indivíduo parece extrovertido,
cordial, entusiástico, enérgico e ambicioso. Quando o ciclo muda,

77
mostra-se depressivo, apático e pessimista. Tem um nível baixo
de energia e a vida passa a lhe parecer inútil, não sendo raro,
nessas ocasiões, a idéia de suicídio. Há casos dedepressão ou
de excitação constante e de depressão e excitação periódicas.
Podem desenvolver a psicose maníaco-depressiva.

e) Hipoemotivos: tem
como característica da personalidade a timidez,
o retraimento, a fuga de relações com outras pessoas. Pode ter
uma hipersensibilidade e reagir a conflitos, desligando-se da
situação. Ás vezes, são muito excêntricos, podendo entregar-se a
longas divagações, mas, ao contrário dos psicóticos, têm
condições de distinguir os sonhos da realidade. Leem muitos; não
se interessam por atividades atléticas; são idealistas; de hábitos
religiosos; revelam pouco interesse pelo sexo oposto; a sua vida
amorosa é caótica, necessitando de amor; podem ser obstinados
ou excessivamente dóceis, mas nunca perversos; são altivos,
sensíveis, calmos, autoconscientes, ás vezes místicos; receiam
as censuras, as derrotas, a frustração. Nesse terreno pode
desenvolver-se a esquizofrenia.

f) Mitomaníacos: Caracteriza-se
pela existência de um desequilíbrio
de inteligência, com um comprometimento das faculdades de
discernimento, da realidade objetiva, induzindo o indivíduo a
alterar a verdade, á mentira, á fabulação, á simular, a substituir a
realidade objetiva pela crença em acontecimentos imaginários e
ás vezes impossíveis de acontecer. Costuma-se enganar-se a si
mesmo. Pode se acentuar até o estado de devaneio.

g) Poriômanos: são
subtipos dos instáveis; referem-se á indivíduos
que, sob a influencia de estados afetivos íntimos fortes, sentem-
se compelidos á fuga durante horas; procuram, por assim, dizer,
a terra dos seus sonhos, de seus desejos acalentados. Alguns
crimes bárbaros referidos de tempos em tempos pelos jornais,
são, muitas vezes, cometidos pelos poriômanos.

h) Obsessivos Compulsivos: caracterizam-se


pela excessiva
preocupação com o que é certo e o que é errado; são muito
preocupados como o cumprimento do dever; supersticiosos e
inibidos; possuem tendência para a emotividade e para a dúvida,
pela dificuldade que tem em atingir uma certeza e de tomarem
decisões. São atormentados pela eterna necessidade de

78
verificação, que constitui-se para eles num sério problema aos
menores atos da vida cotidiana (reabrem várias vezes as
mesmas cartas p. ex. para verificar se assinaram ou não a carta;
recomeçam várias vezes asa mesmas coisas). Moralmente
também são indecisos, revelando sem cessar o temor de haver
cometido uma má ação, de haver desagradado alguém e ainda
são dominados por inúmeros outros escrúpulos. São inquietos,
incapazes de acalmarem-se e de permanecerem em equilíbrio,
em paz ou repouso. Eis o que se designa sob o nome
de“sentimento de incompletude” é o que Janet (referido por
Baruk, Psychiatrie Médicale, Physicologique et Experimental) estudou sob o
nome de “agitações forçadas dos psicastênicos”. As pessoas com
esse tipo de personalidade psicopáticas podem desenvolver uma
neurose.

i) Passionais: caracteriza-se
a personalidade dos passionais e
fanáticos (grupo especial entre eles) a tendência à elaboração de
estados latentes de tensão afetiva, com intervenção
preponderante de deformações catatímicas das vivências,
originando-se assim, tenazes estados de ânimo e pegajosas
valências afetivas, as quais se fixam com tal energia que a vida
psíquica destes indivíduos é governada exclusivamente pelas
paixões, que alcançam extraordinário grau de exaltação logo que
engendradas. As primeiras decepções e os primeiros conflitos
com a vida, os conduzem a outros novos, que se encadeiam
entre si, em interminável série, colocando constantemente os
passionais e fanáticos à beira da delinqüência, pois, as
excitações passionais tendem a estender-se em círculos cada
vez mais amplos: a luta por uma idéia logo se transforma em luta
contra pessoas e grupos. Igualmente induzem à delinqüência nos
passionais, a tenacidade na elaboração interna da valência
afetiva e a cadeia de conflitos mencionados. Assim, redunda em
que esses indivíduos tornam-se cada vez mais teimosos e
obstinados em suas opiniões e, quando envelhecem costumam
com freqüência, desenvolver reações paranóicas.

j) Amorais ou perversos: segundo


Duprè, caracteriza-se esse tipo de
personalidade por perturbações instintivas, principalmente nas de
sociabilidade, que pode revelar-se ausente, rudimentar ou
pervertida. São indivíduos maldosos, destrutivos e de
criminalidade latentemente instintiva, que acabam exercendo

79
contra outrem ou contra a sociedade, com o único objetivo de
satisfazerem suas tendências impulsivas para o mal. Revelam-se
precocemente nasa crianças, na tendência à preguiça, inércia,
indocilidade, impulsividade,obstinação na oposição e no
negativismo, indiferença afetiva, irritabilidade, crueldade, sevícias
contra animais e outros meninos, mais tarde, em repetida
delinqüência, em fugas,vagabundagem, mendicidade, roubos,
criminalidade infanto-juvenil, recedivismo incessante de faltas,
freqüentemente coexistem as perversões sexuais. Podem ser
observadas mentiras, fabulações, calúnias, delações (orais ou
escritas, estas sob a forma de cartas anônimas). A inteligência
desses indivíduos é, as vezes,elevada. Entre eles se encontram
incendiários, as prostitutas, os vândalos, os vampiros, os
envenenadores e sobretudo as envenenadoras. Tais anomalias
são freqüentes em filhos de alcoólatras, achando-se, muitas
vezes, associados à toxicomanias, à epilepsia, etc...

k) Instintivos (sexuais): são


os portadores de perversões sexuais,
entre outros, sobressaindo-se os grupos de prostitutas congênitas
e dos homossexuais, que serão estudados em capítulos diversos.

l) Explosivos ou epiloptóides: onde


prevalecem os assomos extremos
de cólera que se manifestam verbal e fisicamente. Embora esses
assomos possam parecer diferentes do comportamento usual do
indivíduo, este é habitualmente visto como uma pessoa bastante
agressiva e excitável. A intensidade e a natureza “incontrolável”
desses assomos distinguem este distúrbio dos demais.

m) Histéricos: as
características deste personalidade incluem o
desejo de atrair as atenções e o comportamento de sedução,
imaturidade e dependência, além da vaidade e egoísmo.

Evidentemente, esses traços de personalidade psicopáticas de


um ou outro tipo podem misturar-se no mesmo indivíduo, dando o
surgimento de personalidades psicopáticas de tipos ou traços
mistos. Essas pessoas em contato com a coletividade, com os
distúrbios já referidos, acabam por adquirir uma personalidade
anti-social.

4- CLASSIFICAÇÃO DAS MOLÉSTIAS MENTAIS

80
Sabe-se que é a psiquiatria que interessa buscar a causa, o
desenvolvimento e o trato das perturbações funcionais da
personalidade e do comportamento humano, perturbações que
atuam na vida interior da pessoa e no seu relacionamento com os
demais. À Psiquiatria incumbe, portanto o conhecimento e
tratamento das doenças mentais.

O psicopatologista e criminólogo pátrio Geraldo Majela Fortes


Vasconcelos ensina que as causas determinantes mais
freqüentes dos distúrbios mentais são:

a) as doenças em geral;
b) asendo-intoxicações;
c) as exo-intoxicações;
d) as infecções, sobretudo sifilítica;
e) a herança;
f) ascrenças e superstições;
g) as causas psíquicas, sobretudo emotivas;
h) as causas mecânicas, comotraumatismos, sobretudo os
cranianos;
i) as disposições individuais;
j)as causas fisiológicas.

Quando conduz seu interesse para o doente que interessa à


criminologia, a Psiquiatria passa a denominar-se Psiquiatria
Forense ou Psicopatologia Forense.

Conforme esclarece Geraldo Vasconcelos, torna-se complexo


apresentar uma classificação rígida das doenças mentais, seja
pelo subjetivismo de cada autor, seja pela variedade da aferição
classificadora, seja pela designação e conceituação diferentes
das enfermidades.

Flamínio Fávero, Psiquiatra Médico Legal, classificava os


distúrbios psíquicos em:

a) doenças mentais ou psicoses;


b) insuficiências mentais ou oligofrenias;
c) personalidadespsicopáticas;
d) neuroses.

81
Vistas assim, panoramicamente, as doenças mentais, imperioso
que sobre elas se proceda uma análise, pois é sabido que umas
e outras concorrem com larga parcela para o acontecimento
delitivo.

Sendo assim, importante sublinhar os quadros de morbidez


mental consoante se segue.

1- NEUROSES

São distúrbios psicológicos menos severos do que as psicoses,


mas suficientemente graves para limitar o ajustamento social e a
capacidade de trabalho do indivíduo. Usualmente atribuída a
conflitos emocionais inconscientes, a neurose, ou psiconeurose,
constitui um dos pontos de partida para a análise psíquica de
Freud.

Hélio Gomes diz que “as neuroses são estados mórbidos


característicos por perturbações psíquicas e somáticas, que
causam grande sofrimento íntimo, determinadas por fatores
psicológicos, embora em algumas intervenham fatores orgânicos”

As neuroses são doenças mentais da personalidade que se


destacam por conflitos intrapsíquicos que inibem os
comportamentos sociais. São desacertos incompletos da
personalidade que incomodam mais o equilíbrio interior da
pessoa do que o seu relacionamento com o mundo exterior.

Helio Gomes, esclarece: “Os sintomas neuróticos são numerosos


e variados, incluindo manifestações psíquicas, neurológicas e
viscerais. Na parática esses sintomas se apresentam associados,
constituindo diversas síndrome neuróticas.

Os sintomas psíquicos mais freqüentes são a ansiedade, a angústia, a


astenia, as fobias, as compulsões, as idéias hipocondríacas, a
abulia, a apatia, a dismnésia.

Entre os neurológicos ocorrem transtornos sensitivos e sensoriais,


tais como algias, hiperestesias, parestesias, anestesias,
cenestopatias e transtornos menores como tremores, tiques,
espasmos, contraturas, paresias.

82
Os sintomas vicerais mais comuns são: transtornos do aparelho
digestivo; como anorexia, vômitos, dispepsias, diarréia; do aparelho
cario-circulatório, palpitações, arritmias, dores precordiais, lipotimias,
vosoconstrição ou vasodilatação, hiper ou hipo tensão; do
aparelho respiratório, tosse, dispnéia, asma; do aparelho genito urinário,
poliúria ou polaquiúria, impotência sexual, vaginismos,
dispareunia”.

Na neurose, o indivíduo reconhece que está doente e procura


melhorar ou sarar; na psicose, ao revés, o indivíduo não percebe
a sua enfermidade, eis que está alterada sua capacidade para
diferenciar entre experiência subjetiva e a realidade.

Slater diz que: “tal como para as psicoses, também existe uma
disposição genética para as neuroses”.

É possível reduzir as neuroses par quatro grandes grupos, sendo:

Neurose obsessiva: Também chamada “psicose anancástica”


“psicose compulsiva” e “psicose de dúvida” enfermidade do tipo
constitucional, caracterizada psicologicamente pela presença de
obsessões, fobias e tiques obsessivos. Entre suas formas de
projeção alinham-se a cleptomania, a piromania, o impulso ao
suicídio e ao homicídio.

Neurose histérica: é
um fenômeno de conversão inconsciente que se
manifesta somaticamente. Por isso Freud a chamou de neurose
de conversão. Quando os mecanismos instintivos possuem limiar
tão baixo de excitabilidade que se põe em marcha por causas
insignificantes. Quando existe predisposição não muito
acentuada, faz-se imprescindível a atuação de importantes
causas exógenas ou conflitos internos para a produção dos
sintomas histéricos. Seus sintomas são: egoísmo, labilidade
afetiva, fantasia exuberante, refúgio na enfermidade ou no grande
sofrimento, exibicionismo, coqueteria, voluptuosidade, as vezes
frigidez sexual e sexualidade infantil. Caracteriza-se por,
sugestionabilidade, teatrabilidade, heperemotividade e
incapacidade de enfrentar um trauma de existência, além da
tendênciapara recalca-lo. O grau de inteligência é variável. Via de
regra é enfermiço e hipocondríaco, podendo ter tendência à

83
mitomania e problemas de insatisfação sexual.

Neurose de ansiedade: para


Duprè, favorece o surgimento desta
neurose a existência de uma personalidade psicopática emotiva.
Os síndromes ansiosos agudos restam na expressão fisionômica
do angustiado, imobilidade das feições, ricto irônico, palidez na
pele, imobilidade do corpo, calafrios e frialdade nas
extremidades, secura da garganta, pulso freqüente, respiração
anelante, a pele adquire o aspecto de carne de galinha,
incontinência fecal e urinária. São clássicos da ansiedade a
opressão pré- cordial, os suspiros entrecortados e umaespécie de
nó na garganta. A neurose pode sobrevir subitamente ou
precedida de irritação e mau-humor; as vezes inicia durante o
sono, com pesadelos provocados pela ansiedade. Outras vezes,
começa com um brusco e violento mal estar e sensação de morte
iminente. Esses sintomas não raro, se instalam
paulatinamente.Ao final da crise o indivíduo se encontra esgotado
e experimenta certo bem-estar. A duração da crise aguda é
variável, sucedendo-se uma a outra, em alguns casos. A neurose
ansiosa crônica caracteriza-se por um estado quase constante ou
ininterrupto de inquietude e desassossego. Qualquer motivo põe
o indivíduo em sobressalto, temeroso e a imaginar que estejam
ocorrendo desgraças a filhos ou parentes,medo de ser despedido
do emprego, temor de estar acometido de doenças graves, queixa-
se de inúmeros males somáticos e apresenta as mais variadas
fobias. Costuma ser chorão, pessimista, amargurado, tímido
muitas vezes, egoísta quase sempre, versátil em seus afetos,
apaixonados em determinadas ocasiões, cheio de dúvidas,
colérico, com preocupações exageradas ou desmotivadas.

Neurastenia constitucional ou adquirida: refere-se


ao esgotamento
nervoso (que se distingue do cansaço cerebral, podendo ser
simples, crônico, incapacidade de concentração intelectual,
angústia ou ansiedade quase permanente, estado perpétuo de
sobressalto, capacidade mnemônica reduzida com facilidade de
esquecer de coisas, insônia freqüente, cefaléia e vertigens,
freqüentes tremores, debilidade muscular, transtornos digestivos
e circulatórios, espermatorréia, impotência.

2- PSICOSES

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É tradicionalmente classificada em dois grupos: psicose orgânica
e psicose funcional. Clinard entende que a psicose orgânica é
doença cuja origem decorre de algum germe patógeno, de
alguma lesão no cérebro ou, então, de desordem fisiológica, tudo
sem conotação hereditária. Como exemplos de psicose orgânica podem
ser citadas a demência senil, a psicose sifilítica, a psicose
alcoólica, a arteriosclerose cerebral etc...

A psicose funcional é distúrbio total da personalidade, é


desordem mental, quando o psiquismo em sua estrutura global,
no seu todo, fica temporária ou permanentemente danificado. As
psicoses funcionais são aquelas que efetivamente interessam a criminologia.

Em seu compêndio (resumo) de Medicina Legal, o ilustre


criminólogo José Antônio de Mello assim classifica as psicoses
em:

a) esquizofrenia,
b) parafrenias ou paranóias,
c) psicose maníacodepressivas,
d) epilepsias,
e) oligofrenias,
f) personalidades psicopáticas,
g) sífilis cerebral e paralisiageral progressiva,
h) psicoses senis,
i) psicoses alcoólicas e por psicotrópicos.

As psicoses, de fato, são responsáveis pela desintegração da


personalidade do indivíduo e pelo seu conflito com a realidade.
Trata-se de categoria de doenças caracterizadas por desordens
cognitivas mais graves, incluindo, frequentemente, delírios e
alucinações, oportunidade em que o enfermo torna impossível o
convívio social ou familiar, devendo permanecer sob vigilância
médica para evitar que provoque danos físicos em si próprio ou
em terceiros. Entre as mais sérias formas psicóticas devem ser
enfatizadas a psicose maníaco-depressiva, a esquizofrenia e a
paranóia.

As psicoses se apresentam em variadas formas, algumas das


quais aqui serão referidas:

85
Paralisia geral: também
chamada “demência paralítica”, é a mais
grave entre as psicoses sifilíticas. Caracteriza-se por uma
demência progressiva, com acentuado enfraquecimento do juízo,
exteriorizado, via de regra, pela conduta absurda do doente, para
o que contribuem o desconhecimento da situação, a
sugestibilidade exaltada, as idéias delirantes, a ausência de
qualquer idéia de enfermidade. A debilidade do juízo acentua-se
mais em consequência da memória da fixação, seguida da
evocação, tudo progressivamente mais lento e deficiente.

A paralisia geral, a efetividade chama a atenção a indiferença


progressiva, a ausência de afetos e de reações adequadas, a
versatilidade afetiva por motivos insignificantes e a intensidade e
fugacidade das reações. Esses doentes ficam tranqüilos com a
mesma facilidade que se aborrecem, porque os afetos perderam
tensão, carecem de energia psíquica, perderam tenacidade. O
afeto em tais indivíduos é superficial e mutável com facilidade,
podem vir alucinações acústicas e visuais.
Demência senil: a deficiente rememoração, a ponto do indivíduo
sempre aludir às mesmas coisas. sua capacidade de ajuizamento
debilita e finda. Sua agilidade psíquica vai escasseando, unida à
dificuldade de adaptação ao meio ambiente, reduzindo o círculo
de interesses da pessoa, culminando exclusivamente no desejo
de comer e dormir. O demente senil é bastante sugestionável e
monótono nas conversações. Afetivamente se irrita aos mais leve
motivo. Seus sentimentos éticos ficam embotados, sobretudo na
vida sexual, podendo atentar contra o pudor de menores e
mulheres. O demente senil se torna avarento, desconfiado e, as
vezes, pedinte. As vezes tem idéias delirantes hipocondríacas ou
depressivas de condenação, ruína e outras semelhantes. Em
alguns casos idéias paranóides.

Psicose epiléptica: síndrome


clínica cuja manifestação central é o
ataque epiléptico, que é um mero sintoma da moléstia e não a
moléstia propriamente dita. O ataque epiléptico de início é súbito,
sendo seguido de perda de consciência e de queda com
convulsões generalizadas (contrações e tremores), tudo durando
poucos minutos. Subseqüente advem sono profundo ou coma. A
psicose epiléptica pode ser precedida de manifestações
psíquicas. As vezes se observam pródomos, nas horas ou dias

86
precedentes aos ataques, referindo-se a modificações de humor
ou a sintomas físicos. Há também os ataques denominados de
pequeno mal ou ausência, marcados pela perda da memória ou
da consciência do ambiente, isso por segundos ou minutos. Há
registros de perda de memórias por vários dias.

A epilepcia é um transtorno cerebral, caracterizado por uma


descarga neurótica exagerada, manifestado por episódios
transitórios de disfunção motora, sensorial ou psíquica,
acompanhada ou não por inconsciência ou movimentos
convulsivos, sendo que o ataque se associa com modificações
acentuadas da atividade elétrica do cérebro.

Há diversos tipos de epilepsia, mas alguns autores costuma


agrupa-los em dois tipos principais:

a) a epilepsia essencial,
b) a epilepsia jacksoniana (assim chamada por ter sido Jackson
quem a descreveu, dizendo-se adquirida e secundária, diferente
da essencial ou primitiva).

A epilepsia essencial não possui uma causa justificável a explicá-


la, já a jacksoniana é originada em virtude de uma lesão
produzida no cérebro, que age como pólo de irritação, ossos que
desprenderam, formação de pus enquisitado etc... a epilepsia
essencial é incurável, a jacksoniana é curável. Quanto a
hereditariedade, só a essencial tem essa origem, já a jacksoniana
é adquirida.

Psicoses esquizofrênicas: As esquizofrenias podem dividir-se:

1) Idiopáticas: são aquelas em que não se descobrem causas


somáticas que possam causa-la;

2) Reativas: compreendem um grupo de reações e


desenvolvimentos psíquicos motivados por causas psíquicas que
sobrevêm em personalidades constitucionamente predispostas,
em indivíduos esquizóides.

3) Sintomáticas: causas exógenas (infecção, intoxicação)

87
Sob o ponto de vista didático os sintomas psíquicos
esquizofrênicos podem dividir-se em primários e secundários.

Sintomas primários: compreendem o transtorno da associação,


dissociação psíquica, ausência de senso comum, aceleração do
curso do pensamento, inibição e interceptação do pensamento,
desagregação de idéias, respostas absurdas ou desconexas,
perseveração ideativa, ambivalência, perplexidade, transtornos
da iniciativa e da expontâneidade, transtorno do plano afetivo
(indiferença, rigidez), hiperexitabilidade, maneirismos, inversão
das relações afetivas, paratimia (reação afetiva contrária ao
afeto), desgoverno da afetividade, autismo (perda do contato vital
com a realidade) transtornos da percepção, atenção e
consciência, alucinações, automatismo mental, transtornos
volitivos, transtornos da personalidade, etc..

Sintomas acessórios compreendem as alucinações


esquizofrênicas, as idéias delirantes e esquizofrênicas (absurdo e
sem lógica), transtornos de linguagem e de escritura, invenção
voluntária ou involuntária de neologismos, repetição de palavras,
esquisofasia ( salada de palavras).

constituem as parafrenias casos de


Psicoses parafrênicas:
esquizofrenia paranóide em que se conserva quase integralmente
a personalidade, não chegando ao estado demencial,
características que a separaram da esquizofrenia. Nas
parafrenias, que surgem após o terceiro decêncio da vida,
apresenta-se de maneira insidiosa um delírio alucinatório de
fundo persecutório e evolução crônica, combinado com idéias de
grandeza, possessão e eróticas, alterações da linguagem, sem
contudo ocorrer o embrutecimento próprio dos processos
esquizofrênicos.

Psicoses paranóicas: a
paranóia é uma psicose caracterizada pelo
desenvolvimento de um sistema delirante crônico, imutável,
resultado de causas endógenas e evolui, conservando-se a
perfeita lucidez do sensório e ordem no pensamento, vontade e
atividade. As fantasias têm para o paranóico indiscutível caráter
de realidade, sejam elas agradáveis ou desagradáveis. Por sua
vez, as interpretações delirantes conduzem em alguns casos ao
verdadeiro desconhecimento das pessoas do meio ambiente, de

88
forma tal que amigos e inimigos podem apresentar-se doente sob
variados aspectos. Tais falsas premissas levam geralmente ao
delírio de grandeza ou de perseguição desenvolvido muito
lentamente no transcurso dos anos. Particularmente chama a
atenção, a credulidade do doente no que se relacionam com suas
idéias delirantes, ao tempo em que afasta tudo que as
contradizem.

O paranóico, as vezes, aparenta certa normalidade; aliás, os


psiquiatras se deparam com vários indivíduos assim, contudo, a
qualquer momento, vem a baila a moléstia, revelando o
verdadeiro estado mental do paciente. Muitos dos grandes
homens, que por uma atuação ou outra deixaram seus nomes
registrados na História, foram assassinados por paranóicos, que
assassinaram Abraham Lincoln (Lev Davidovitch) Mahatama
Ghandi, o assassino de John Lennon, e o que tentou matar
oPapa João Paulo II em 1981, e outros.
Enfermidade rara, não chegando a constituir 1% das internações
nosocomiais, afeta de preferência o sexo masculino e se inicia
tardiamente. O delírio é interpretativo, egocêntrico, sistematizado
e coerente e pode ser de prejuízo, de perseguição ou de
grandezas,com tonalidade erótica ou com idéias de invenção e
de reforma.

Psicoses os quadros clínicos da mania e


maníaco-depressivas:
melanconia que integram o conceito dessa psicose (classificada
entre as chamadas Psicoses Afetivas), eram já definidos e
caracterizados desde os períodos mais remotos da Medicina
Mental. Também denominada de psicose circular além de outras
designações, é uma enfermidade de caráter endógeno,
hereditária, caracterizada pela anormalidade de ânimo,
anormalidade anímica, da qual surgem os restantes sintomas,
sem que a doença seja de curso progressivo, nem conduza
jamais à demência, intercalando-se com os períodos de remissão
mais ou menos prolongados. Nesta afecção ocorre a
periodicidade e alternância das fases da doença – mania e
melancolia – (daí o nome de psicose circular ou periódica).Os
sintomas são os seguintes num mesmo indivíduo com
alternância: disforia depressiva ou eufórica, isto é, deslocamento
do afeto para um dos extremos da afetividade; aceleração ou
retardo do curso do pensamento, desde a fuga de idéias até ao

89
mutismo absoluto, facilitação ou inibição das funções psíquicas
centrífugas (psicomotilidade, atividade,conduta).

Na fase maníaca se observa a expressão fisionômica


inconfundível de radiante felicidade,euforia, exagerando-se os
traços normais de afeto, com mobilidade fisionômica
correspondente. O maníaco não permanece quieto um instante e
independente de sua tendência impulsiva para a ocupação,
levanta-se e senta-se, infinitas vezes, durante a exploração
médica, entra e sai constantemente da sala, golpeia o solo com o
pé, golpeia a mesa, ameaça com o punho. A indumentária reflete
o seu estado de ânimo, sendo comum a propensão para despir-
se. O tom afetivo é eufórico ou expansivo e lábil ou extremo, tem
fuga de idéias.
Apresenta conduta imoral, impulso à ocupação constante,
agitação maníaca, verborréia, idéias delirantes de grandeza, de
prejuízo, alucinações, exaltação das funções somáticas, insônia.

Na fase melancólica a fisionomia do enfermo é também


inconfundível e reflete a profunda angustia e ansiedade que o
embargam, expressão de aflição suma, de amargura, de pranto,
porém sem lágrimas. Também é típica a atitude do indivíduo com
a cabeça baixa, mãos aplicadas sobre as bochechas e cotovelos
nos joelhos. Quando anda, vai com os olhos fixos no solo, sem se
preocupar com as pessoas com quem cruzar, temendo fixa-las,
com vergonha ou medo de elas se apercebam do seu
desequilíbrio, caminha a passo lento, o que aparent a movimentos
preguiçosos e cansados. A gesticulação é igualmente lenta,
porém exagerada nos movimentos de tristeza,, a fala é
escondida, baixa e chorosa (ao contrário de quando não está na
fase melancólica em que a fala é firme, forte e alta) recebe as
fases de alento com um sorriso irônico e amargo ou com
passividade. As dificuldades se encontra para qualquer decisão o
afastam da vida social inclusive do trabalho ( pois seu grau de
sociabilidade vai a zero, passa a temer o contato com as pessoas
e sua capacidade de trabalho se anula completamente, face ao
medo desse contato interpessoal e o estado de ansiedade
paroxística que o impede de coordenar-se em quase todos os
sentidos).

Apresenta-se negligente na indumentária, não se interessando

90
por trocar de roupa e, evita o banho (nessas ocasiões reflete o
seu pessimismo, a indiferença à vida, assim como a sua
humildade e modéstia).

Nos casos mais grave e em que existe ansiedade, o doente tende


a movimentar-se continuamente, passeia infatigável o dia todo de
um lado para outro, chora muito e se lamenta, arranca os cabelos
ou esmurra a parede, chegando a bater com a cabeça na parede,
quebra objetos ou os atira furioso contra o solo, buscando no
movimento a descarga que o libere do sofrimento cruel que lhe
provoca o intenso estado de tensão interna.

Nos casos leves pede adotar uma atitude compensadora


contrária a seu afeto.

Nesse estado de depressão, observa-se uma dificuldade em


todas as funções mentais e psicomotoras, que se produzem em
ritmo retardado, lentamente. Há recusa pelo doente para se
alimentar (porque perde completamente o apetite). Os suicídios
são freqüentes e tentativas de suicídio também, por isso é
preciso acompanha-lo dia e noite. Sua conduta é retraída, tímida,
às vezes de medo ou de dúvida. Pode cometer atentados contra
mulher e filhos. Raramente tem alucinações, mas as ideais
delirantes são freqüentes, idéias de culpa, de expiação e de
indignidade.

Freqüentíssimas as idéias hipocondríacas e as vezes idéias


paranóides. Inibição e defeitos da palavra escrita. Numerosos
sintomas somáticos. Algumas costumam dizer, nos seus períodos
de lucidez, que a depressão de que sofrem é um câncer na alma.

Psicoses distúrbios ligados a privação da liberdade


carcerárias:
individual, favorecidos pela ação do ambiente psicossocial
extremamente desfavorável da maioria das prisões tradicionais
ou adaptadas. (ambas com deficiência de luz, espaço,
alimentação,estímulos intelectuais, promiscuidade,o temor a lei
do mais forte e os constantes incentivos a homossexuais etc..

Dentre as formas de exteriorização sintomática, há muito


registradas como pertencentes ao grupo, se conhece como
síndrome crepuscular de Ganser, caracterizadas por estranhas

91
alterações da conduta motora e verbal do indivíduo que, quando
interrogado, encerra-se em impenetrável mutismo ou passa a
exibir para respostas, como se estivera acometido de um estado
deficitário orgânico, não raro acompanhado de sintomas
depressivos ou catatônicos.

Psicoses aquelas perturbações mentais agudas ou


traumáticas:
crônicas, relacionadas direta ou indiretamente a traumatismo
crânio-encefálico, lesões orgânico cerebrais, constituídas por
ação mecânica. Excluem-se desse grupo, as de base endógenas
ou exógena, como também as psicoses infecciosas.

são originárias de infecções agudas e sub-


Psicoses infecciosas:
agudas febris, de certa gravidade, principalmente de caracter
neurotrópico, causados por agentes microbianos, dotados de
especial afinidade para o sistema nervoso, que não raro, se
fazem acompanhar de alterações mentais, de intensidade e
duração variáveis. Ex. meningites,encefalites.

Psicoses tóxicas:dever-se-iam incluir nesta categoria todas as


desordens mentais de feitio psicótico, prevalentemente
determinadas por intoxicações, de procedência interna ou
externa. As primeiras seriam as psicoses endotóxicas e as
segundas exotóxicas, isto é, produzidas por agentes tóxicos de
qualquer natureza e aqui caberiam então o álcool e as drogas
psicoativs utilizadas por toxicômanos. Do que se infere a
existência da chamada Psicose alcoólica e de um Psicose ligada
as Toxicomanias, que contudo, não seriam tratadas neste
capítulo e sim à parte, sob as denominações de alcoolismo e
toxicomanias, quando se estudarão as influências do álcool e dos
psicolépticos, psicoanalépticos e psicodislépticos sobre as
faculdades mentais e as reações comportamentais do homem.
Sobre Psicoses Exotóxicas, são as perturbações mentais
originárias de intoxicações exógenas de qualquer natureza,
acidentais, profissionais e mesmo intencionais e voluntárias,
visando a eliminação individual ou alheia.

Entre os produtos causadores deste tipo de intoxicação e de suas


decorrentes conseqüências alinham-se aqueles feito a base de
arsênico,mercúrio,sais de chumbo, fósforo, hexaclorofeno e
similares, lisol e derivados e até cianeto de potássio (formicida).

92
Todos podendo ser utilizados em suicídios.

Podem ser citados como intoxicações exógenas: cogumelos não


comestíveis, frutos silvestres daninhos, carnes deterioradas,
conservas de condicionamento inferior etc.. e os medicamentos
(ergotina, bromo, cloral, digital, barbitúricos etc..) estes de regra,
relacionados a super dosagem.

Entre as intoxicações exógenas, ainda podem citar-se as


acidentais e profissionais, sendo as mais comuns as que se
processam com a inalação do monóxido de carbono (CO) ou de
sulfeto de carbono (CS) ambas de maior gravidade e me plano
inferior o manganês, benzol, chumbo, etc.. Exceção ao CO e CS
que podem levar rápida ao coma ou a morte. Os demais vão se
sentindo pouco a pouco a sua presença, podendo tomar
providências.

3- OLIGOFRENIAS

Oligofrenia é o termo genérico para substituir a locução


demasiado vaga, até então usada: “paradas do desenvolvimento
intelectual”. E, em sua concepção ampla define todo o conjunto
de estados deficitários, congênitos ou precocemente adquiridos
da atividade psíquica.

Oligofrênico ou “deficiente mental”, como preferem chamar


autores anglo-saxões, é todo indivíduo cuja inteligÊncia se
mostre originalmente pequena, manifestamente inferior à dos
demais da mesma idade, vivendo idênticas condições sócio-
econômicas e culturais.

Durante algum tempo se entendia que a deficiência mental


contribuía exaustivamente na gênese do crime. Goring, ao
contestar Lombroso, insistia na íntima correlação da oligofrenia
com o delito, porém atualmente é insustentável a asserção de
Goring, visto ser reconhecido que a deficiência mental é um
simples estado anormal.

Hélio Gomes esclarece: “As oligofrenias são distúrbios durante a


evolução cerebral durante a gestação ou nos primeiros anos de
vida, acompanhados de numerosas anomalias e com acentuado

93
déficit intelectual. Há uma parada, ou umatraso do
desenvolvimento mental, determinado diversos graus de
deficiência mental. Várias são as causas das oligofrenias: sífilis,
alcoolismo, casamentos tardios, precoces ou desproporcionais,
abalos morais reiterados durante a gravidez, infecções,
perturbações endócrinas. Há ainda os traumatismos do
nascimento, 10% dos deficientes mentais dos hospitais
apresentam sinais de parto laborioso”.

O conjunto dos oligofrênicos compreende três grupos: a idiotia, a


imbecilidade e a debilidade mental propriamente dita, que seria a
forma mais acentuada.

Prossegue Helio Gomes: “ As oligofrenias obedecem a uma


gradação: idiotia, imbecilidade e debilidade mental, podendo cada
espécie subdividir-se em subtipos mais e menos intensos. A
idiotia é a forma mais acentuada. O idiota é incapaz de transmitir
um recado, muitas vezes não articula palavra. Em geral vive
pouco. ... O imbecil está colocado entre o idiota e os débeis
mentais. É aforma média. Distingue-se do idiota porque pode
articular a palavra. ... A debilidade mental representa uma zona
limítrofe entre a imbecilidade e a sanidade mental. O débil difere
do normal em dois pontos: sua evolução mental é muito vagarosa
e nunca atinge a nível superior. ... Há vários tipos de débeis
mentais: ponderados, instáveis, pueris, emotivos, explosivos,
tolos. O débil costuma ser vaidoso.

Ainda consoante Hélio Gomes, um dos critérios para classificar


os oligofrênicos é comparara sua inteligência com as das
crianças normais. Assim, o idiota atinge o nível mental de uma
criança de até 2 anos de idade; o imbecil chega ao nível mental
de uma criança de 2 a 7 anos; o débil mental alcança a
mentalidade de uma criança de 7 a 12 anos.

Vale advertir, por oportuno, que tanto os imbecis quanto os


idiotas podem ser dotados de atividades automáticas
espontâneas – tais como estereotipias motoras e impulsões
destrutivas e – reações peculiares às formas ditas eréticas. Em
compensação, entre os chamados apáticos, a regra é que se
conservem inertes, jogados a um canto qualquer, alheados ao
ambiente-acinéticos, entregues ao marasmo, a sordície e as

94
automutilações.

Outrossim, ao contrário do que acontece com os débeis mentais,


tanto aos imbecis, quanto aos idiotas, jamais faltam anomalias
físicas, as mais diversas (macro, micro ou escafocefalia,
anorquidia, criptorquidia, hipospadia, macraglosia, lábio leporino,
sindatilia, polidatilia, etc.)

Uma das variedades de oligofrenias que vem sendo estudada


mais intensamente nos tempos atuais é a Síndrome de Down.

Face a esses estudos, a partir de 1959 e graças aos trabalhos de


J. Lejeune e outros, tem-se hoje por assente que o mongolismo
relaciona-se com uma anomalia cromossômica especial provinda
da presença de um auroissoma suplementar, constitutivo da
chamada trissomia 21.

Cumpre salientar que, diferindo da maioria dos oligofrênicos, os


mongolóides mostram-se, quase sempre, alegres e afetuosos.
São, em geral, obedientes e disciplinados. Revelam certo gosto
pela dança e pela música, independentemente do grau de
deficiência mental que, não raro, pode ser bastante pronunciado.

Outra forma especial de oligofrenia é o cretinismo.

Desvios Sexuais e Criminologia

DESVIOS SEXUAIS E CRIMINOLOGIA

Definir-se um desvio sexual não é tarefa muito fácil, como à


primeira vista se imagina, isso porque o comportamento sexual
anômalo em si não pe o único critério para fazer a distinção; dado
que, às vezes é difícil se estabelecer um consenso entre o
comportamento sexual normal e divergente.

Aliás, a liberalização dos costumes na modernidade, torna


também difícil, dada a regularidade com que são praticadas,
catalogar certos comportamentos sexuais como anormais ou não.

Os psicólogos e os psiquiatras, em suas clínicas, procuram


freqüentemente, em suas experiências profissionais, estabelecer
95
o que é normal ou não nesse campo.

Tipos de transtornos sexuais

Alguns autores costumam utilizar dois critérios básicos


primordiais para definir um desvio sexual:

1) Quando o interesse sexual do indivíduo é dirigido para objetos


e não para pessoas do sexo oposto.
Exemplo: Fetichismo;
2) Quando o ato sexual é realizado de forma bizarra ou
incomum.
Exemplo: o sadismo sexual ou a necrofilia.

Os tipos de transtornos sexuais mais comuns são:

é a inversão sexual ou o amor pelos indivíduos do


Homossexualismo:
mesmo sexo. É a mais importante perversão ou desvio sexual.
Em muitos casos o homossexualismo é congênito e a perversão
decorre certamente de uma anomalia glandular.

Sadismo: no sadismo sexual, usualmente é o homem que provoca


dores, por vários meios (tapas, socos, chicotadas e outros tipos
de inflições de males físicos) à sua companheira. Existem
registros de casos em que o indivíduo chega ao orgasmo
enquanto apenas fere a vítima, sem possuí-la sexualmente. Este
desvio comportamental é muito mais freqüente nos homens.
Masoquismo: neste distúrbio, o indivíduo obtém prazer sexual
quando lhe são infligidos tratamentos dolorosos. Muitas vezes, o
indivíduo exige que o parceiro sexual o esbofeteie, arranhe, dê-
lhe tapas no rosto e em outras regiões do corpo, aperte-lhe o
pescoço em vias de quase esganar. Convém aduzir que, não
raro, os sádicos são também masoquistas e vice-
versa,encontrando-se, portanto, os dois distúrbios ao mesmo
tempo e funcionando concomitantemente na mesma pessoa,
durante a relação sexual. Essa perversão sexual é mais
freqüente nas mulheres que nos homens, contrariamente,
portanto, ao que acontece como sadismo.
Pedofilia: neste distúrbio, o parceiro sexual é uma criança ou um
adolescente.

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Exibicionismo: satisfação sexual através da exibição do corpo,
freqüentemente dos órgãos genitais. Esse prazer sexual existe,
inclusive, na exposição em público dos órgãos genitais. O prazer
derivado de olhar, ao invés de ser olhado (exibicionismo), chama-
se escopofilia.
Voyeurismo: do francês “voyeur” que significa bisbilhoteiro, é uma
perversão que se caracteriza pela observação da satisfação
sexual, espiando outras pessoas, enquanto se despem ou têm
relação sexual.
Fetichismo: o interesse sexual está concentrado em alguma parte
do corpo ou em objetos, como por exemplo, artigos de vestuário.
Um grande número de partes corporais ou objetos tem sido
assinalados como estimuladores dos fetiches sexuais: pés, seios,
cabelos, orelhas, pêlos, roupas íntimas, meias, fitas, sapatos,
lenços, etc..·

em termos de perversão sexual é a fixação da libido


Narcisismo:
sobre o próprio corpo, principalmente mulheres que se desnudam
completamente diante do espelho e, seduzidas pela
contemplação, chegam ao orgasmo, através da masturbação.

é a prática de relações sexuais com animais. Em


Bestialidade:
homens é mais ou menos freqüente esse tipo de contato com
vacas, cabras, éguas e até com galinhas. Mas essa anormalidade
sexual é, igualmente, encontrada entre as mulheres que utilizam,
principalmente, cachorros para seus desígnios orgásicos.

é o gosto pelos excrementos, quase sempre ligados a


Coprofilia:
uma patologia mental, também é encontrada na prática de
relações sexuais.

é a prática de relações sexuais com cadáveres. Há


Necrofilia:
inúmeros registros policiais de casos desta natureza, envolvendo
às vezes, pessoas de bom nível social ou profissional.

refere-se ao intenso e constante desejo sexual da


Ninfomania:
mulher que, na exacerbação do seu delírio sexual, chega a ter
um sem número de orgasmos contínuos sem que, às vezes,
ainda assim, se dêem por inteiramente satisfeitas.

Satiríase: é o constante e intenso desejo sexual no homem. É o

97
correspondente masculino da ninfomania.

Gerontofilia: é o desvio sexual que se caracteriza pela preferência


por pessoa de idade avançada.
Riparofilia: é a atração por mulheres sujas, menstruadas.
Travestismo: é confundido, habitualmente, com o simples
homossexualismo. Na quase totalidade, o travesti é masculino e
para obter satisfação sexual efetiva, é necessário que ele use
traje feminino.

Transexualismo:é a obsessão que domina o travesti no sentido se,


transpondo o próprio sexo, tornar-se mulher. Mas o que é o
transexual? É um indivíduo, cujos cromossomos, gônadas e
hábito corporal o caracterizam como pertencente a um sexo, mas
que se sente psiquicamente do outro sexo, possuído por um
desejo obsessivo e insopitável de uma acomodação ou reajuste
sexual, mediante intervenção cirúrgica e hormonal. Tal indivíduo
pode vestir-se e viver, habitualmente, como um membro do sexo
oposto. A causa do transexualismo, no entanto, não está
perfeitamente definida. A explicação mais consentânea é de que
essa condição se origine do erro hormonal que antecede o
nascimento.
A todos esses distúrbios sexuais vistos, damos o nome
de Parafilias.

Notações sobre o Exame Criminológico

NOTAÇÕES SOBRE O EXAME CRIMINOLÓGICO

Exame criminológico propriamente dito:

O exame criminológico tem a missão de estudar a personalidade


do criminoso, sua capacidade para o delito, a medida de sua
perigosidade e, ainda, sua sensibilidade à pena e sua respectiva
probabilidade de correção.

O maior mérito do exame criminológico é aquele que permitir o


conhecimento integral do homem delinqüente. Se presta, tal
exame, a ofertar á Justiça um quadro a respeito da personalidade
do autor da infração penal e, por conseqüência, os fatores
principais que influenciaram na eclosão do crime, auxiliando o
98
julgador na concessão ou não de benefícios legais (suspensão da
pena, redução da pena, aplicação de medida de segurança, etc.).

O exame criminológico constitui, na verdade, o princípio básico


da Criminologia Clínica.

É de grande importância que os delinqüentes sejam submetidos


ao exame criminológico e que, na realização do exame, sejam
seguidos os métodos adotados pelas ciências biológicas e
psicológicas ao auscultarem a personalidade humana.

Entende-se por exame criminológico o conjunto de exames e


pesquisas científicas de natureza biopsicosocial do homem que
delinqüiu e para se obter o diagnóstico da personalidade
criminosa e se fazer o prognóstico; tal exame revelará, sem
disfarces, a verdadeira dimensão da personalidade do criminoso,
descobrindo-se sua intimidade psíquica.

O exame criminológico compõe-se de uma série de análises, pois


através dele tem que se chegar a uma visão pluridimensional da
personalidade do autor do delito. Para tanto participam desse
exame um grupo de profissionais, (o psicólogo, o assistente
social ou um sociólogo, o médico e o advogado).

Nessa fase jurídico-penal da observação ou exame criminológico


devem ser colhidas informações sobre se o indivíduo é primário
ou reincidente, se contra ele pesa me dida de segurança, se já
esteve preso, por quais estabelecimentos de reeducação passou,
por quantas vezes e por quanto tempo. Se ele agiu só ou em
bando na prática do crime, se o delito foi simples ou qualificado,
se houve agravantes ou atenuantes, se foi infrator quando menor
de 18 anos, em caso positivo se foi menor institucionalizado e
estruturado na prática do ato anti-social etc.

Pode-se dizer que o exame criminológico subdivide-se em exame


morfológico, exame funcional, exame psicológico, exame
psiquiátrico, exame moral, exame social e exame histórico.

1- Exame Morfológico

É também conhecido como exame somático e tem por objetivo

99
avaliar todos os segmentos do corpo humano, determinando suas
medidas e proporções, a massa corpórea, óssea e muscular.

Evidente que, nesse exame, se atenta para o físico em geral do


periciado, verificando-se seusas pectos neurológicos, patológicos
e endocrinológicos, a parte das perícias radiológicas e
eletroencefalográficas que nele devem ser procedidas. Tudo para
registrar as particularidades ou peculiaridades que ensejam
estabelecer caracteres individuais, anormalidades, formações
patológicas, malformações congênitas, caracteres herdados,etc.

2- Exame Funcional

Importa verificar a possível existência, no delinqüente, de sinais


de imaturidade, de fraqueza vital hereditária, de atrofias
constitucionais, de síndromes de crescimento (neuropatias e
psicopatias, que poderão surgir no período), sintomas de
modificação do equilíbrio neuro-vegetativo, etc.

No estudo da personalidade do indivíduo delinqüente, o exame


do sistema nervoso deve ter em conta, especialmente: a
mobilidade (não só dos órgãos de locomoção, mas de outros
órgãos, como por exemplo, dos olhos, das pálpebras, da língua,
do pescoço, etc); o reflexo (que pode estar exagerado, irregular
ou anormal); a sensibilidade geral e específica (dores,
principalmente de cabeça); linguagem (capacidade de ler e
escrever); hábitos (ex: estar acostumado com a boemia e a vida
noturna), etc.

Tais investigações devem ser completadas pelo exame de


sangue (procurando a presença de drogas, infecções ou
alterações bioquímicas).
3- Exame Psicológico

Tem por objetivo apreender e descrever o perfil psicológico da


pessoa examinada, independentemente da existência ou não de
suspeita de que ela seja portadora de uma doença mental. A
avaliação psíquica do criminosa é que trará os esclarecimentos:
conhecer os diferentes aspectos de sua personalidade, suas
características fundamentais que, como são variáveis de uma
pessoa para outra, são de capital importância para se saber

100
sobre a gênese e a dinâmica do eventodelituoso.

O exame psicológico deve ser amplo e ao menos aferir três


aspectos fundamentais ao interesse criminológico, quais sejam:

1- nível mental do criminoso;


2- traços característicos de sua personalidade;
3- seu grau de agressividade.

4- Exame Psiquiátrico

Leva em consideração as doenças mentais que possam existir ou


terem aflorado no criminoso após a prática delituosa. O exame
psiquiátrico é, por assim dizer, o centro, o âmago da observação
criminosa, mesmo porque é ele que interferirá na inflição ou não,
de pena (face a imputabilidade ou não do acusado), na possível
redução do apenamento (nos casos de semi-imputabilidade), na
aplicação da medida de segurança (pela periculosidade do
delinqüente), ou no tratamento do condenado, visando o seu
retorno ao convívio social, após o cumprimento da pena.

É o exame psiquiátrico que vai dizer se o delinqüente é ou não


mentalmente são.

Os itens que mais interessam no exame psiquiátrico-


criminológico são os seguintes:

1- Psicoevolutivos: referem-se ás morbosidades infanto-juvenis com


conseqüências graves para o desenvolvimento psicossomático. E
dentre elas:

a) o desmantelamento do lar;
b) a falta de escolarização ou profissionalização; a
institucionalização em casas de reeducação da criança (creches,
abrigos, orfanatos, etc.);
c) distúrbios precoces de comportamento;
d) desvios de conduta;
e) fugas do lar;
f) perturbações psíquicas da mais variada natureza.
2- Jurídico-penais: Entre eles:

101
a) a natureza do delito praticado (patrimonial, contra os
costumes, contra a pessoa, etc.);
b) início da criminalidade: se antes ou depois de completar 18
anos (se com menos de 18 anos, perquerir-se-á se é menor
estruturado, ou seja, habituado á prática de ato infracional e se
tem passagens por Institutos de Reeducação);
c) a quantos Inquéritos Policiais ou Processos Criminais
respondeu;
d) se é reincidente;
e) a criminalidade no espaço (locais onde foram praticados os
delitos, na mesma cidade, em cidades diferentes, em estados
diversos, etc.);
f) a participação em bandos ou quadrilha para a prática do crime;
g) qual a sua efetiva participação no bando (se em posição de
chefia ou liderança ou não, etc.).

5- Exame Moral

O acervo moral da personalidade humana constitui o patrimônio


do homem, definindo-o como criatura humana, acima de todas as
demais criaturas viventes.

Existem pessoas que, por alterações de diversas naturezas,


apresentam-se num patamar muito baixo de condições instinto-
sensitivas, que constituem o alicerce do desenvolvimento da
efetividade moral. Fala-se numa agenesia (falta ou
desenvolvimento incompleto ou defeituoso) do sentimento moral,
da imoralidade constitucional, de uma diátese moral delinquencial
(tendência hereditária para o crime), para indicar que a pessoa,
mesmo tendo moral teórica, como conseqüência da
aprendizagem teórica, não é capaz de senti-la e muito menos vivê-
la.

Esse sentimento moral compreende uma tripartição de condutas,


a saber:

- Morais: são os indivíduos que assimilaram através do binômio


ensino-aprendizagem, os ensinamentos éticos e que, em virtude
da própria índole tem tendências para seguir e obedecer normas
dessa natureza ética e que, ás vezes, como exceção, vem
afrontá-las, chegando até ao cometimento do delito.

102
- Imorais: são os indivíduos que, embora conheçam suficientemente
normas ético-morais, habitualmente não as obedecem, por
razões que a própria análise criminológica se encarrega de
apurar.

- Amorais: são aqueles que jamais foram capazes de assimilar


princípios ético-morais. Estes constituem a maioria dos
delinqüentes e caracterizam-se pelo embotamento afetivo. São
indivíduos desprovidos de piedade, de compaixão, de vergonha,
de pudor. Em regra, são raivosos, frios, calculistas, insensatos,
traiçoeiros, egoístas, incapazes de arrependimento, enfim,
moralmente impuros.
6- Exame Social

Por este exame busca-se conhecer as condições que poderiam


ter influenciado a conduta anti-social do agente da ação,
principalmente se decorrentes do meio social em que nasceu,
cresceu e viveu. Interessa a este exame o tipo de vida levada
pelo criminoso, o meio familiar, a sua situação econômica, a roda
de amigos, etc.

O exame social se consubstancia, via de regra, em uma


entrevista com o assistente social, que é parte integrante da
equipe de examinadores criminológicos.

7- Exame Histórico

Tem por finalidade precípua reconstruir o passado do criminoso,


o que, habitualmente se chama em Medicina de anamnese.
Assim, são coletados dados referentes á evolução social do
indivíduo, a situação econômica do delinqüente, seu modo de
vida, seus gostos, suas atividades, enfim, o seu viver pregresso.
Os dados sobre primariedade ou reincidência criminal, se
genérica, ou específica, etc. No exame histórico se devem colher,
também, informações minuciosas sobre o crime praticado, as
circunstancias em que o crime ocorreu; o estudo da conduta do
delinqüente antes, durante e depois do ato praticado; se
apresentou-se espontaneamente á prisão, ou se foragido foi
capturado; se resistiu á prisão; se empreendeu fuga após o crime
e por que lugares passou; os contatos que manteve nesse tempo

103
e com quais pessoas; se foi ajudado por alguém e de que forma;
se prestou ou não socorro ou auxílio á vítima, etc.

Tratamento Delinquencial

Em seu livro Psicologia do Crime, falando sobre a personalidade,


o prof. Odon Ramos Maranhão, atribui-lhe natureza “normal”,
“mórbida” e “defeituosa”.

Tal divisão tríplice dos indivíduos, sob o ponto de vista jurídico,


obedeceria o seguinteesquema:

I – Indivíduos Imputáveis (“normais”);


II – Indivíduos Imputáveis (com “defeito” de personalidade);
III – Indivíduos Semi-Imputáveis (com perturbação da saúde
mental, também chamados de fronteiriços);
IV – Indivíduos Inimputáveis (acometidos de doença mental).

Para o delinquente de personalidade normal, que quase sempre


é um criminoso ocasional, as medidas terapêuticas devem ser de
caráter corretivo-pedagógico (medidas reeducativas) e o
estabelecimento onde a pena será cumprida pode ser de
segurança mínima e até prisão albergue.

Os delinqüentes com defeito de personalidade constituem a


grande maioria da população prisional (principalmente nos países
do 3º mundo). Tais criminosos habitualmente são oriundos de
ambientes deficitários, seja sob o prisma moral, familiar, ou
comunitário. Todos os tipos de assistência (médica, psiquiátrica,
psicológica, odontológica, religiosa, profissionalizante,
ressocializante) são indicados para esses tipos de delinqüentes,
embora seja utópico pensar que isso vai acontecer.

Os delinqüentes com perturbação da saúde mental são


indivíduos que se encontram na zona limítrofe ou fronteiriça entre
a normalidade psíquica e a doença mental ou a oligofrenia. Não
se trata propriamente de doentes, mas de indivíduos cuja
constituição é originariamente formada de modo diverso daquele
que corresponde ao homo medius.

Sob o ponto de vista do tratamento penitenciário a ser dado a

104
esses indivíduos, é evidente que, em virtude do grau de
perigosidade que apresentam, devem sofrer as restrições que a
defesa social impõe, pois, se eles são capazes de satisfazer as
exigências médias da ordem jurídica, deixando de empregar, na
medida do possível, uma resistência mais forte em relação á
inclinação para o crime, não é admissível que fiquem á margem
da reação punitivo-corretiva. A capacidade de entendimento e auto-
direção, na verdade, não lhe estão completamente anuladas,
como ocorre com os doentes mentais. Pelo seu notável grau de
periculosidade (são os reincidentes por excelência), não basta a
imposição da pena: durante e após o cumprimento desta devem
sofrer um regime de tratamento adequado á reeducação e
ressocialização.

Os delinqüentes portadores de moléstias mentais são aqueles


que foram acometidos por alguma psicose, ou seja, por loucura
ou insanidade mental. È a categoria das doenças mentais
caracterizada por desordens cognitivas tão graves que o
ajustamento social se torna impossível e o paciente precisa ficar
sob vigilância médica, a fim de não causar danos em si próprio ou
em terceiro.

Com relação aos portadores de psicoses, as terapêuticas


dependem de cada quadro particularmente considerado. Entre as
terapias que vêm sendo empregadas podem ser enumeradas: a
terapia de choque por insulina (TCI), a terapia eletroconvulsiva, a
psicoterapia individual ou de grupo, a psicoterapia psicanalista de
Freud, etc.

Caracterologia

CARACTEROLOGIA

A Caracterologia é o ramo da Psicologia que estuda, pesquisa e


investiga a personalidade e o conjunto de traços psicológicos que
definem o caráter mental e o comportamento do homem.

De salientar que entre as ciências de que se vale a Criminologia


para a investigação do crime, avulta a Psicologia e, dentro desta,
ganha posição a Caracterologia que, embora sendo uma corrente
antiga e polemica, modernamente voltou a despertar grande
105
interesse.

Existem, em regra, 8 tipos de caracteres, assim denominados, segundo Newton e Valter


Fernandes:

Mudam com o instante. Podem sofrer vivamente, mas


1- Nervosos:
se consolam rapidamente. Suas simpatias são pouco constantes.
Têm necessidade de novas emoções, precisam de excitação. Às
vezes amam o macabro. Têm tendência para a arte, o jornalismo,
o comércio ambulante, etc.

2- Sentimentais: São
sensíveis aos acontecimentos exteriores, mas
amam a solidão. Voltados para o passado, são meditativos e
desajeitados na vida prática. São tímidos, vulneráveis, e amantes
da natureza. Têm tendência para o magistério, para a literatura,
para a contabilidade, para a função pública e para ofícios em
locais pacíficos e que reclamam certa concentração individual.

3- Coléricos: São
móveis, excitáveis, cordiais, rápidos ma reação,
otimistas e exuberantes. Têm tendência para a engenharia,
política e empresariado. Preferem os ofícios que demandam
movimentação.

4- Apaixonados: São
dominadores, ambiciosos e realizadores. São
amantes da sociedade, da família, da pátria, e da religião. Têm
tendência para chefiar, para as carreiras diplomáticas, para as
artes e ofícios construtivos.

5- Sanguíneos: Sãoassíduos ao trabalho, sendo objetivos e práticos.


São decididos, liberais e esportivos,rápidos na concepção e
imediatistas. Têm tendência para a advocacia, para as línguas,
para a agricultura, para o empresariado, etc.

6- Fleugmáticos: São
perseverantes, ponderados, simples e
pontuais. São amantes da ordem e da lei. Têm tendência para a
magistratura, para a medicina, para a administração, para a
filosofia, para a matemática, etc.

São displicentes, disponíveis, conciliadores, tolerantes


7- Amorfos:
e amantes da “boa vida”. Têm tendência para o teatro, execução
musical, comércio ambulante, etc.

106
8- Apáticos: São
fechados, persistentes, solitários, honestos e
vorazes. Representam uma mistura do sentimental e do amorfo.
Têm inclinação para veterinária, funções públicas, etc.

Segundo dados colhidos, observou-se que os tipos


caracterológicos que oferecem o maior nº de criminosos são: o
nervoso (31,5%), o apático (22,5%), o colérico e o amorfo (16%).
Os sentimentais, apaixonados e fleugmáticos são os que
delinquem menos.

Afastadas, por carentes de fundamentação racional, o


“biologismo determinista” que fala do “criminoso nato” (Cesare
Lombroso); o “psiquiatrismo”, que acena com a figura do
“criminoso louco” e o “sociologismo” (que tanto encantou Gabriel
Tarde) com as teorias dos fatores exógenos como únicos
responsáveis pela verificação de crimes; outrossim, de se
condenar, definitivamente, a hereditariedade como fator
determinante de crime (Lombroso, Ferri, Garófalo) ou
predisponente de crime (Lacassagne, Manouvrier, etc.), isto
porque, dos ensinamentos cristalinos do célebre psiquiatra de
Barcelona, Mira Y Lopes, e de outros, se deflui o nítido e
transparente entendimento de que não existe fator hereditário ou
genético, que possam determinar que o indivíduo seja criminoso;
aliás, segundo os mesmos ensinamentos, o homem sequer traria
em sua bagagem hereditária qualquer determinação ou
predisposição para a prática do mal.

Mas, então, porque o crime acontece?

O criminalista Cooley vincula qualquer influencia hereditária ao


processo de aprendizagem, este claramente jungido ao meio
ambiente, ao convívio social. E afirma: “Ninguém tem uma
hereditariedade tal, que deva ser inevitavelmente um criminoso,
independentemente das situações em que é colocado ou das
influencias que sobre ele se exercem. Um temperamento
fleugmático, que permite supor ser herdado, pode preservar uma
pessoa de ser criminosa num ambiente, e torná-la criminosa
noutro”.

Mas, então, porque o crime acontece?

107
Os juristas falam do “iter criminis, ou seja, o caminho do crime,
que compreende 4 etapas:

a) Cogitação;
b) Preparação;
c) Execução;
d) Consumação.

Os psicólogos e psiquiatras, por sua vez, dizem da existência do


que denominam fases intrapsíquicas do crime e que seriam:

Intelecção ou “gnosia”;

a) Desejo ou tendência;
b) Deliberação ou dúvida;
c) Intenção;
d) Decisão;
e) Execução ou realização.

Por tudo o que foi dito, de se trazer ao palco da colação criminal


mais um personagem: o “criminoso social”. Dito isso, forçoso
concluir que o homem criminoso haverá sim de ser analisado e
pesquisado sob todos esses matizes, ou seja, em todos os seus
aspectos estruturais, funcionais, racionais ou psíquicos,
psiquiátricos, sociais e, através disso tudo, se possa descortinar a
sua personalidade, pois sem sombra de dúvida, é da forma como
ela reage, quer aos estímulos internos (ou endógenos), quer aos
externos (exógenos), na antecâmara da ação delituosa, que o
crime virá ou não a acontecer.

Logo: Porque o crime acontece?

Por influencia dos fatores endógenos e exógenos.

O crime é definido sob o prisma jurídico e o prisma


biopsicológico. Vejamos:

- No aspecto jurídico: Crimeé o fato social anti-jurídico, tipificado pela


lei penal, punível á título de dolo ou culpa, se inexistentes
excludentes e inimputabilidades.

108
- No aspecto jurídico e biopsicológico: Crime
é um ato biopsiquico ou
biopsicológico, contrário á lei, decorrente de decisão livre da
personalidade individual, punível á título de dolo ou culpa, se
inexistentes as excludentes de legítima defesa, estado de
necessidade, estrito cumprimento do dever legal e exercício
regular de um direito, e desde que, dita decisão da personalidade
não esteja desconfigurada pela existência de inimputabilidade
(total ou parcial), consistente em psicopatias ou desordens
mentias, ou em razão do agente ser menor de 18 anos.

Criminalidade: Fatores Exógenos Gerais

CRIMINALIDADE

FATORES EXÓGENOS GERAIS

1- Meteorologia Criminal

O entendimento que se tem sobre meteorologia criminal conduz à


ilação que determinados fatores chamados cosmotelúricos (calor,
frio, pressão atmosférica, ventos, tensão eleétrica do ar, chuva,
luminosidade, irradiação solar, etc) exerceriam influência quando
do cometimento de crime. Até hoje, verdadeiramente, não se
sabe explicar de que forma esses fatores inspirariam o fenômeno
criminal. Presume-se que tais influências seriam meramente
indiretas.

Para Lombroso, não padecia dúvida que o calor influi sobre a


criminalidade e, disto, cita exemplos o brilhante e controvertido
médico italiano.

Em seu livro Principles of Criminology, Edwin Sutherland vai mais longe,


afirmando que no verão são mais numerosos não apenas os
crimes contra a pessoa, mas, também, os delitos contra a moral.

Tendo em mira que o crime é determinado pelo comportamento


do indivíduo, supõe-se que os fatores cosmotelúricos, tendo a
capacidade de atuar sobre o sistema nervoso e o psiquismo da
pessoa, poderiam, então, influenciar a conduta humana a ponto
de levá-la á prática delitiva, mas sempre de modo indireto.
109
O assunto foi pesquisado por Adolphe Quetelet, que formulou
suas conhecidas “Leis Térmicas”, estabelecendo certa relação
entre as diversas estações do ano e um determinado número e
tipo de delitos.

A 1ª lei de Quetelet baseia-se nos delitos contra a propriedade,


os quais, segundo ele, são mais freqüentes no inverno; a 2ª lei
refere-se aos delitos contra a pessoa, que observou serem mais
cometidos no verão; e a 3ª lei refere-se aos crimes sexuais, cuja
freqüência mais corrente é na primavera e no início do verão.

No Brasil, os delitos contra a pessoa são cometidos mais no


verão, pois há mais ajuntamento de pessoas nas ruas e nos
estabelecimentos comerciais, dorme-se mais tarde, bebe-se
mais, discute-se mais, etc. Os crimes sexuais são mais
praticados durante o período de carnaval, onde o sexo está mais
liberado. Os crimes contra o patrimônio são cometidos mais no
verão do que no inverno, pois, no verão as pessoas ficam mais á
vontade e se descuidam de seus valores pessoais (bolsas,
pacotes no interior do veículo, etc), sendo vítimas fáceis de
larápios que também se aproveitam das aglomerações próprias
do verão.

Teoricamente, parece irretorquível que os fenômenos


cosmotelúricos tenham influência quando se dá um enfoque geral
sobre a matéria, mas os casuísmos, ou seja nos casos concretos,
um a um, é impossível estabelecer essa comprovação. Por via de
conseqüência, tudo que se afirme a respeito cai no campo da
teoria, como matéria de especulação científica.

2- Higiene

É notório que a falta de higiene é uma das características das


moradias dos pobres e miseráveis, que se acotovelam na
promiscuidade dos cortiços, das casas de cômodos e das
favelas. Aí falta tudo: espaço físico vital, luz ou luminosidade
adequadas, instalações sanitárias, condições de oxigenação
ambiental, etc. O que não falta é o cheiro desagregador da
dramaticidade vil e cruel da injustiça social, provinda da má
distribuição de riquezas, que impera nas camadas sociais não

110
privilegiadasdos países do epitetado Terceiro Mundo.

Coloquem-se ratos amontoados em exíguo espaço físico, sem


ventilação e com alimentação reduzida: em pouco tempo uns
investirão contra os outros e matar-se-ão reciprocamente. Com o
homem, as coisas não são e nem poderiam ser diferentes, em
virtude de sua idêntica condição animal.

Ademais, o morar promíscuo permite que as crianças assistam


cenas de violências ou de sexo entre seus pais ou outras
pessoas, com graves conseqüências para elas.

Registre-se, também, que habitações pouco arejadas, sem sol e


sem luz, favorecem enormemente a propagação de doenças
infecto-contagiosas entre as pessoas que ali coabitam.

Ponderações também podem ser feitas relativamente à vida no


campo e na cidade grande, esta submetida a todos os deletérios
efeitos da loucura acústica dos ruídos, da poluição de toda
ordem, da densidade e dos inchaços demográficos,
evidentemente influenciadores de certos desequilíbrios do
organismo e do psiquismo humano.

Merece consignação, aqui, as condições particularíssimas do


Brasil e, como exemplo, o flagelo das secas intermináveis de sua
região Nordeste. Tal estiagem, verdadeiramente endêmica e com
seríssimas conseqüências no plano sócio-econômico brasileiro,
enseja o desespero da miséria, do desemprego, do desajuste
familiar, da migração para áreas hostis, tudo estimulando,
induvidosamente, a modificação da conduta desses
atormentados e, inclusive, a probabilidade de sua relação com a
criminalidade.

3- Nutrição

De início, parece difícil estabelecer qualquer liame entre a


nutrição e a criminalidade, mas, indiretamente, é possível fazê-lo.

Tanto assim é que, a falta de alimentação adequada ou


razoavelmente balanceada, de molde a vigorar os órgãos dos
nutrientes de que necessita o organismo humano, é fator

111
predisponente de criminalidade, sem que se chegue ao exagero
da menção ao furto famélico, juridicamente descriminalizado em
razão da sua etiologia.

De distinguir, no que concerne à subalimentação, o estado agudo


do crônico, pois o primeiro não oferece importância maior, a não
ser de poder levar o indivíduo ao furto famélico. O estado crônico
de desnutrição, porém, transforma o indivíduo em presa fácil de
sentimentos associais como o ressentimento, a irritabilidade, a
revolta e o ódio, todos geradores de uma condição de
antisociabilidadee predisponentes do ato delinqüencial.

Por igual, a ingestão abusiva do álcool, pelo desequilíbrio


orgânico e psíquico que às vezes provoca, pode ter o condão de
funcionar como fator predisponente à criminalidade.

4- Sistema econômico

Não resta dúvida que as condições econômicas exercem


marcante influência na vida em sociedade.

A situação econômica é um dos fenômenos mais comuns na


influência da criminalidade, via de regra decorrendo: de
contendas suscitadas pela arbitrária política salarial; do
fechamento de grandes indústrias em momentos de crise; da não
expansão da atividade comercial; do desemprego e da
dificuldade de achar colocação; do baixo poder aquisitivo popular
que é arrostado pela inflação e pela especulação; do egoísmo
imperante na própria economia, onde os que acumulam riqueza
contribuem cada vez mais para o empobrecimento da grande
maioria.

Todo transtorno operado nas condições de vida do povo desloca,


violentamente, uma parte de seus membros do ambiente normal
de existência para uma outra vereda da vida social, que pode vir
a ser o caminho do crime.

Mas, para a eclosão do delito, também contribuem outras


camadas do estamento social, situadas na esfera dos
socialmente mais desenvolvidos. Esses tipos de delitos
correspondem às cifras douradas da criminalidade, também

112
chamados de “crimes do colarinho branco” (white collar crime) ou seja,
aqueles cujos criminosos possuem poder político, econômico ou
social e que, por isso, suas atuações criminosas, na absoluta
maioria dos casos, permanecem impunes, quase que
representando uma condição de inimputabilidade situacional.

A criminalidade política por parte de governantes (peculato,


emprego irregular de verbas, etc) foge á toda espécie de
repressão, jamais tornando-os réus de processo judicial com a
condenação severa, que inegavelmente mereceriam pelo uso
desvirtuado e desonesto do encargo que o povo lhes confiou.

5- Pobreza

É evidente que há uma relação estreita entre a pobreza e o


crime. De enfatizar que os assaltantes, em sua quase totalidade,
são indivíduos rudes, semi-analfabetos e pobres, quando não
miseráveis. Sem formação moral adequada, eles são párias da
sociedade, nutrindo indisfarçável raiva e aversão, quando não
ódio, por todos aqueles que possuem bens de certo modo
ostensivos, especialmente automóveis de luxo e mansões,
símbolos inquestionáveis de um status econômico superior.

Esse ódio ou aversão contra os possuidores de bens age como


verdadeiro fermento, fazendo crescer o bolo da insatisfação, do
inconformismo e da revolta das classes mais pobres da
sociedade, e essa violência e agressividade, infalivelmente, as
levarão ao cometimento de alentado número de atos anti-sociais,
desde a destruição de uma simples cabine telefônica até à
perpetração dos crimes mais bárbaros, dando números maiores
às altas taxas de criminalidade.

6- Miséria

A miséria é a pobreza elevada ao extremo. É o estado daqueles


que tem muito pouco ou não tem mais nada. A estes falecem,
mais ainda que aos pobres, todas aquelas condições mínimas de
sobrevivência com um resquício de dignidade. Essa miséria
debilita centenas de milhões de pessoas em todo o mundo,
tornando-as, como os pobres, presas fáceis da senda do crime.

113
É sabido que avaliações recentes da ONU revelam que, a par da
alarmante mortalidade infantil existente no Terceiro Mundo, a
quantificação da miserabilidade nos países pobres da América
Latina, África e Ásia já atinge a cifra de 1 bilhão e quase 300 mil
pessoas! Em levantamento complementar ao de 1994 que
registrava, nas nações subdesenvolvidas, a morte anual de 500
mil crianças em razão da miséria, a informação atual da Unicef é
de que não menos de 700 mil infantes morrem anualmente
nesses países. No Brasil, por exemplo, a miséria e a fome matam
mais de 300 mil pessoas anualmente, entre adultos e crianças.

Não há como negar, entretanto, que a situação de miséria


representa mais que considerável ingrediente no poder de
decisão do indivíduo que tende para o comportamento criminoso.

7- Mal-vivência

Geralmente fruto de condições biopsíquicas defeituosas ou


doentes, mas também por motivos mesológicos, os mal-viventes
arrastam sua existência em todas as épocas da história. Na
dependência da legislação dos diversos países, ao invés de
terem o tratamento de um sociopata ou um biosociopata, eles são
incriminados por vagabundagem, sob a nomenclatura de
vadiagem, que se pode aplicar a muitos, menos eles que, em
última análise, não passam de subproduto das sociedades brutais
e desumanas em que vivem. Analisados, eles, clinica e
psicologicamente, não passam, na imensa maioria, de pessoas
fisiologicamente doentes, senão também mentalmente anormais
ou perturbados.

Contribuem para esse estado, como dito, fatores biológicos e


mesológicos.

Existe aquele grupo de mal-viventes que procede de famílias de


alcoólatras. Existe, outrossim, uma mal-vivência orgânica-
constitucional, onde o indivíduo possui uma impulsão à
instabilidade, encontrada em andarilhos, tropeiros, ciganos, etc.

De referir, ainda, a mal-vivência de epilépticos neuróticos,


paranóicos, oligofrênicos, místicos, etc., quando, abandonando a
família, saem pelo mundo sem nenhuma perspectiva e levando

114
aos parentes o sofrimento e a aflição. Fala-se, ainda, na
epitetada “idade do diabo”, em que os jovens, acometidos pela
“claustrofobia” do lar, vão em busca de novas experiências e
acabam, geralmente, na marginalização, quando não no crime.

Mencione-se, também, a mal-vivência que acomete a infância


abandonada, fruto de lares desfeitos ou mesmo dos chamado
’’órfãos de pais vivos”, conduzindo ao completo abandono um
grande número de crianças na faixa etária em que necessitariam
de cuidados afetivos, morais e materiais.

O desemprego, o subemprego, a falta de moradia etc., são outros


fatores que impelem o indivíduo a assumir a condição de mal-
vivente mesológico.

É característico dessa categoria o cometimento de pequenos


delitos, de bagatelas delituosas, como o desacato à autoridade,
as injúrias, os furtos de ocasião ou a mendicidade (vadiagem
)reincidente.

8- Civilização, cultura, educação, escola e analfabetismo

Tradicionalmente, as classes sociais se dividem em 3 grupos:


classe baixa, classe média eclasse alta.

A classe baixa, ou inferior, é aquela caracterizada por carências


de toda ordem, sobretudo aquelas de natureza econômica e
cultural. A classe média, também chamada de burguesia e que
serve como verdadeiro amortecedor das outras duas, é
constituída por operários como pequenos comerciantes,
microempresários, profissionais liberais, etc. A classe alta, ou
superior, que de um modo ou de outro manipula as demais, é
composta, a grosso modo, pela aristocracia de linhagem e pela
aristocracia do dinheiro, ainda que desonesto.

Dessas classes, a inferior é a que contribui mais para a


criminalidade. Basta que se verifique o seu enorme contingente
nos presídios. Isto não significa, porém, que as outras duas
classes não tenham os seus criminosos. A classe alta, inclusive,
tem um dos piores criminosos, aquele denominado de “colarinho
branco”, que dificilmente vai ter às barras dos tribunais, mas que

115
é profundamente nocivo para a coletividade, e também para os
órgãos públicos, por sua força corruptora.

Sobre a influência da educação na prática do evento delituoso, é


bom lembrar, inicialmente, que a educação teria uma importância
relevante para a Criminologia se o ensino, por si só, tivesse a
capacidade de moldar o caráter de alguém. Contudo, o que se
identifica inconteste é ser a educação apenas um entre inúmeros
outros fatores, que atuam sobre a infância primeira, no que diz
respeito a formação do caráter de uma criança, sem se falar na
hereditariedade e em situações outras adjacentemente
circunstantes, em que a criança assiste cenas e participa de atos
que fazem com que ela, quase inconscientemente, assuma
determinada conduta conjuntural, ou não. Acresça-se, a isso, as
situações de família que, muito mais que o ensino, atuam sobre o
seu espírito, sua sensibilidade e seu intelecto. Não se deve,
portanto, assumir nenhuma posição de convicção inabalável e
definitiva sobre os verdadeiros efeitos da educação sobre a
conduta da criança, especialmente no que diz respeito a um
possível comportamento anti-social.

Sutherland indica que o Estado deve olhar com mais carinho a


criança na escola, preservando-a contra os perigos de seu
ingresso na criminalidade, para tanto, preparando
adequadamente os professores. Certa feita, afirmou Vitor Hugo,
que “Abrir uma escola, eqüivale a fechar uma prisão”.

Ninguém ignora que nos países com grande número de


analfabetos, de que é exemplo o Brasil (cerca de 29 milhões de
analfabetos, conforme último senso) é grande o contingente de
analfabetos entre os criminosos (de 15,1 milhões de analfabetos,
inseridos em um total de 875 milhões no mundo).

9- Casa

Oque dizer da moradia, da casa onde a pessoa vive com sua


família? O que ela pode representar em termos de oferecer
condições de predisposição à criminalidade?

O lar, nem sempre oferece o remansoso aconchego de delícias;


completamente ao contrário, muitas vezes ele é o paradigma da

116
infância, o cadinho da impudicícia e o exemplo da maldade
humana. As crianças pagam caro os desastres ocorridos no lar. E
o que dizer-se quando a família se desintegra? Quando os lares
se desmantelam?

Grande, também, é o número de jovens autores de atos anti-


sociais oriundos de lares desfeitos, como ocorre com filhos de
pais divorciados.

As condições desfavoráveis de moradia, como acontece, por


exemplo, nos países subdesenvolvidos, onde proliferam as
favelas, os cortiços, as taperas, as casas de cômodos, com a
natural promiscuidade disso decorrente, em que os valores
morais desaparecem, onde o número de analfabetos ou
subaculturados é muito grande, induvidosamente propiciam, nas
camadas sociais que assim vivem, a existência de um
contingente muito grande de prostitutas, viciados e traficantes de
droga, ladrões, assaltantes, homicidas etc. Lares inseridos
nessas condições, não há que se contestar, são verdadeiras forja
de marginais.

10- Rua

Arua, com toda a espécie de maus exemplos que pode oferecer,


inclui-se no crime. Diga-se que à rua acorrem, igualmente, as
infelizes crianças de lares desmantelados, onde se iniciam
cheirando cola (os “drogaditos”) e terminam assaltando e
matando, não raro, cruelmente.

A rua é a própria matriz a forjar modelos de associais. Dela


resultam vadios, contraventores, meninas precocemente
prostituídas, toxicômanos, rufiões, ladrões (infanto-juvenis ou
adultos) etc., e tudo o que de pior possa existir.

11- Desemprego e Subemprego

Quando os níveis de ocupação profissional permanecem


estagnados, impedindo que novos contingentes populacionais
ingressem no mercado de trabalho, é evidente que essa situação
se torna uma verdadeira “bola de neve”, aumentando o número
de desempregados. Daí à prática de ações anti-sociais o pulo é

117
muito pequeno.

Mas, a par do desemprego, que indubitavelmente é um dos


fatores diretos da criminalidade, há também um outro fator, a ele
intimamente relacionado, que é o subemprego.

Hoje, é freqüente que as camadas de baixa renda aumentem


seus ganhos com a prática de atividades que, não raro, invadem
a área de criminalidade como, por exemplo, o que ocorre com os
chamados “trabalhadores de fronteira”, que através de pequenos
contrabandos objetivam aumentar sua renda mensal.

12- Profissão

A atividade profissional do indivíduo, desde que se trate de um


predisposto, poderá incliná-lo à prática de determinado delito.
Assim acontece com certos empregados domésticos que, em
virtude da própria facilidade que encontram e possuindo
tendência para tal, passam a cometer pequenos furtos
domésticos, prática que pode, com o tempo, adquirir aspectos de
maior gravidade. É comum, por exemplo, a doméstica conluiar-se
com um elemento de fora (quase sempre um namorado) e
oferecer-lhe a chave da residência para que ele, isoladamente ou
com parceiros, subtraia os objetos de valor ali existentes.

Empregados de prostíbulos, bordéis, boates, casas de jogos, etc.,


costumam ser traficantes de drogas.

Médicos e dentistas envolvem-se, às vezes, em estupros e outros


abusos sexuais. Advogados podem cometer fraudes ou
apropriações indébitas. Não é incomum que Engenheiros e
construtores pratiquem fraudes consistentes na qualidade inferior
do material empregado. Gerentes de bancos podem cometer
desvios de dinheiro e empréstimos com vantagens pessoais.
Comerciantes podem incorrer em crimes contra a economia
popular. Os professores, não raro, cometem abusos sexuais
contra alunas.

13- Guerra

A guerra, por si mesma, exerce uma grande influência no

118
crescimento da criminalidade. Os jovens são subitamente
arrancados de uma vida normal e atirados aos horrores da
belicosidade, participando de manobras e combates destruidores
e sangrentos. Inclusive os valores morais adquirem feições
diferentes: se na paz matar é crime, na guerra é ato de heroísmo.

Na guerra, ensina-se aos jovens o manejo de armas de fogo e a


utilização de engenhos de destruição, em circunstâncias antes
por eles desconhecidas. É incontestável que isso vai ter
influência nas suas condutas futuras.

Finda a guerra e desmobilizada a tropa, exige-se dessa juventude


que rapidamente retorne suas atividades normais da época de
paz. Sucede, contudo, que as desagradáveis experiências por
que esses jovens deixam-lhes, não raro, cicatrizes cruentas,
capazes de acionarem instintos primitivos de agressividade e, daí
ao crime, a distância é curta. Sem contar nas seqüelas que
geralmente acarretam, ao plano orgânico e psíquico,
perturbações e neuropsicoses e todo o seu caudal de
conseqüências funestas, com prováveis tendências à
delituosidade.

14- Industrialização

O excesso da industrialização num país, via de regra eleva a


criminalidade, e a razão principal disso parece residir na
aglomeração forçada de elementos de condições pessoais
diferentes, principalmente se encarados sob os prismas racial,
educacional e econômico.

Nas regiões industrializadas sempre existem indivíduos que, não


reunindo condições de emprego por não integrarem o contingente
de mão de obra especializada, ou por não possuírem condições
intrínsecas de adaptação às novas exigências do progresso do
sistema de produção, passam a viver à margem do industrialismo
mais sofisticado e, não encontrando uma ocupação, tendem a
engrossar as fileiras do crime.

15- Urbanização e Densidade Demográfica

Estudos feitos em diversos países a respeito de taxas criminais

119
por áreas geográficas e o tamanho e a densidade demográfica
das cidades, têm revelado uma correlação positiva entre o índice
de criminalidade per capita e a população, principalmente para os
delitos patrimoniais. A significância da incidências de delitos
dessa natureza em áreas concentradoras de população
possibilita a definição de uma categoria, chamada de
“criminalidade urbana”, composta por tipos de delitos que se
apresentem como fenômenos sociológicos que trazem em si
especificidades necessárias e exclusivamente urbanas.

Evidências mais ou menos definidas, atribuem essa relação


“crime-urbanização-densidade demográfica”, nas áreas urbanas,
à concentração de riqueza nas mãos de alguns e à pobreza e
miséria de muitos ou da grande maioria.

Estatísticas criminais revelam que a grande maioria dos crimes


são economicamente motivados pela “aquisição” de algum bem,
dinheiro ou algo nele conversível. Em razão disso, em todas as
cidades com grandes índices de criminalidade, os delitos contra o
patrimônio ocupam a cifra de mais de 50% do total de todos os
delitos.

Por outro lado, tem-se verificado que nos crimes contra o


patrimônio localiza-se não só a forma mais acentuada de
criminalidade, mas também de violência, fundamentalmente
quando observados os comportamentos do furto qualificado, do
roubo, do latrocínio, da extorsão mediante seqüestro, do cárcere
privado, etc.

O estudo do crime correlacionado aos aspectos econômicos,


mostra que sua tendência de crescimento é maior quanto maior
for o número de desempregados nas grandes cidades. Quanto
mais fermento (pobreza), maior o tamanho do bolo
(criminalidade), resultado de “fermentação social da
criminalidade”.

A violência urbana pode ser vista como uma atividade de


pequeno risco, principalmente se o infrator é membro de uma
quadrilha bem organizada, como sói acontecer com “gangs” de
seqüestradores, assaltos a bancos, de tráfico internacional de
drogas, etc., que apenas vez ou outra são alcançados pela

120
repressão.

16- Migração e Imigração

Migração: quando o deslocamento humano é um local para outro


local, dentro do mesmo país.
Imigração: quando o deslocamento humano é de um país para
outro.

A migração e imigração sempre trazem conseqüências para o


convívio social, não só para os que chegam, mas também para
aqueles já sediados no lugar eleito pelos emigrados.

É previsível que esse novo convívio social pode suscitar


situações de conflitos individuais e até coletivos, permitindo,
desde logo, o surgimento de condições que podem ensejar o
fenômeno social do crime.

Atente-se, aliás, para a existência de “gangs” internacionais, que


atuam despontando a máfia.

Sabe-se que determinados estados e regiões, por relacionados


ao clima, ao solo, à falta de industrialização e, conseqüente a
tudo isso, a ausência de um mercado regular de trabalho, obriga
um enorme contingente de brasileiros a migrarem para os centros
mais adiantados e desenvolvidos (São Paulo, Rio de Janeiro,
Paraná, etc) em busca de melhores condições de vida e de
trabalho.

Ocorre, porém, que quando não encontram trabalho nas grandes


cidades (geralmente são famílias com muitos filhos), acontece,
também, com uma incidência apreciável, começarem a viver de
expedientes. Os filhos do sexo masculino, ainda na infância,
passam a limpar pára-brisas de automóvel, para ganhar uns
“trocados”, ao depois, vendendo flores, balas, doces, frutas na
rua e, de repente, são lançados ao mundo do crime com o
cometimento, de início, de pequenos furtos, e daí até o roubo,
culminando com o latrocínio, é uma questão de tempo. As
meninas partem para as concessões sexuais, ou seja, caem na
prostituição.

121
17- Política

A organização política dos países, sem sombra de dúvida, exerce


grande influência sobre a vida dos componentes dos diversos
grupos sociais que neles estão inseridos e, conseqüentemente,
isso terá reflexos no fenômeno criminal.

A forma de governo, democrático, totalitário, etc..., determina


tipos de comportamentos diferentes do povo, e a criminalidade,
igualmente, tende a ter tipos diferenciados, na proporção exata
em que o povo goze de maior ou menor liberdade.

Assim, nos regimes totalitários, além dos crimes comuns


praticados, outros tendem a acontecer, como atos de terrorismo,
seqüestros políticos, homicídios contra políticos, etc.

Esses são os delitos que os integrantes do povo praticam contra


opressores, os ditadores. Mas, também, os donos do poder
totalitário costumam praticar crimes contra o povo oprimido, que
via de regra, são os de tortura, para obter as informações que
lhes interessam; de execuções sumárias, mandando matar,
simplesmente, os que insurgem contra o poder; prisões
arbitrárias com torturas, que podem acabar em homicídios
oficiais; atentados contra autoridades, que culminam em mortes,
etc.

Os integrantes dos altos escalões do governo acumulam


fortunas, que não podem explicar pela honradez e, ainda assim,
não são pegos pelas malhas da lei. Aliás, a corrupção
governamental não é fato moderno, já apontava Aristóteles em
seu tempo.

Se a lei não é aplicada e permanece como letra morta, que temor


pode inspirar no cidadão? Se os culpados maiores não são
responsabilizados, de nada adianta a ira popular desorganizada e
a indignação existente no fundo do coração dos cidadãos
honrados.

Tudo isso pode resultar em outros delitos, resultantes do


relaxamento da vida moral, com a conseqüente estimulação de
instintos criminosos, vindo, então, a ocorrer as falsificações, os

122
furtos, as apropriações, os roubos, as falências fraudulentas, os
estelionatos, etc.

Ademais, as paixões políticas fomentam as injúrias, as


difamações, as calúnias, chegando certos indivíduos a viver
desse “ofício”, enlameando a honra de qualquer cidadão que
ocupa alguma posição elevada nas atividades públicas.

Causas Institucionais de Criminalidade


CAUSAS INSTITUCIONAIS DE CRIMINALIDADE

1- Polícia

A Polícia é um órgão vitalmente necessário à manutenção da


ordem, à obediência às leis, à segurança civil, à permanência do
Estado. Sua tarefa mais relevante é a prevenção do crime, sua
característica deve ser a vigilância constante. Todavia, pode a
Polícia, através de maus elementos que venham integrar seus
quadros, favorecer a prática de crime, por via de ações delituosas
individuais e até coletivas de seus membros (abuso de poder,
violência arbitrária, condescendência criminosa, corrupção
passiva, peculato, concussão, etc). A Polícia até pode pactuar
com o crime (acobertando criminosos ou operando junto com
eles; participando dos lucros da jogatina proibida; protegendo e
cobrando “taxas” de motéis, hotéis, casas de massagem e locais
onde se explora a prostituição; conluiando-se com
narcotraficantes e seqüestradores e deles auferindo numerários
etc.).}

2- Justiça

Afigura-se verdadeiro paradoxo supor que a Justiça pode


favorecer o crime. Nada mais certo, entretanto, e pelas seguintes
razões: os ricos podem contratar qualquer advogado; a demora
no julgamento importa num contato maior, dentro da prisão, de
criminosos e não–criminosos, por vezes resultando na perversão
destes; os delinqüentes recebem tratamento diferenciado por
força de suas posses e a prisão, inclusive, parece não comportar
infratores de terno, colarinho e gravata.

123
A Justiça, não sendo urgente, deixa de ser justa, pois posterga
direitos e procrastina obrigações. A Justiça deve ater-se, sempre,
ao império da lei e da ordem constitucional vigente, ou seja, à
Constituição.
Infelizmente, em alguns países, a estrutura do judiciário é,
inquestionavelmente, arcaica, ensejando, por via de
conseqüência, a que não se tenha uma justiça efetivamente
eficiente, até porque essa eficiência talvez não corresponda aos
desejos dos estamentos sociais mais privilegiados e por isso,
muitas vezes, ela deixa de atender os mais lídimos interesses
das camadas sociais menos favorecidas, quando não passa ao
largo de direitos individuais, que de forma alguma, poderiam ser
postergados ou procrastinados, sendo, neste último caso, uma
Justiça injusta, porque não se faz urgente.

O Judiciário perde a sua legitimidade, pois deixa de cumprir a


vontade do povo, do qual emana todo o poder, inviabilizando,
assim, o bem estar social. Vale mencionar, também, a existência
de leis que absolutamente não são cumpridas, que representam
“letra morta”, que parecem inexistirem. Trata-se de “anomia”
encontrada em zonas periféricas e não-periféricas de cidades
com São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo, onde armas são
portadas irregularmente e mercadorias contrabandeadas são
adquiridas em estabelecimentos com registro comercial. O
mesmo se diga, relativamente, à exploração desenfreada de
jogos de azar (corridas de cavalos, jogo do bicho, loterias
esportivas, bingos beneficentes, etc.) e aos anúncios,
dissimulados ou não, favorecedores da prostituição, inseridos em
jornais de larga circulação.

3- Prisão

A forma de cumprimento da pena na maioria das prisões, dadas


as particularidades que as cercam, não contribuem, de maneira
alguma, para a reeducação ou recuperação do preso. Apenas
servem para que novos crimes sejam ali aprendidos, planejados
para o futuro e arquitetados. A cadeia, então, ao invés de
instrumento de custódia para recuperação de presos, passa a ser
verdadeira escola de graduação e, não raro, pós-graduação, para
o cometimento de toda espécie de delituosidade.

124
Inúmeras prisões, na quase totalidade dos estados brasileiros,
estão, por assim dizes, formando mestres e doutores em crimes.

Todos os governantes até aqui passados sabem que o sistema


prisional brasileiro está em falência absoluta, mas pouco ou nada
fazem para solucionar o problema. Milhares de mandados de
prisão não são cumpridos por falta de ter onde colocar aqueles
contra quem pesam esses mandados.

A conclusão a que se chega é de lógica irretorquível: esse tipo de


clausura funciona como fator de reincidência criminal,
contribuindo vigorosamente para o aumento da criminalidade

4- Raça

Estatísticas realizadas nos Estados Unidos, comparando a


criminalidade entre as raças negra e branca, dão como resultado
um delinqüencial bastante alarmante em relação aos negros,
apresentados como muito mais criminosos que os brancos.
Assim, com referência a delitos violentos, a proporção é de 7
negros por 1 branco; no alusivo aos crimes contra a propriedade,
a proporção é de 3 ou 4 por 1; já com relação à fraude e
falsificações, as cifras entre eles se equivalem; no que se refere a
crimes sexuais, a proporção é de 3 negros por 1 branco.

Não seria o caso de se relacionar esse quadro estatístico com os


aspectos da discriminação, preconceito racial sofrido pelo negro,
e também com as condições econômicas e sociais vividas por
ele? Certamente que sim.

A causa da existência de um maior número de criminosos negros


deve ser procurada na sua miséria, na falta de educação e no
tratamento, geralmente violento, que lhes dispensa a Polícia.

No Brasil, onde crimes praticados por negros e mulatos são bem


maiores do que os imputados aos brancos, provavelmente
também não é pelo problema racial e, sim, pelas mesmas razões
apontadas com relação aos negros nos Estados Unidos.

E quem é tão cego a ponto de não enxergar, que os negros e

125
mulatos brasileiros vivem em condições econômicas, sociais e de
educação, acentuadamente inferiores aos brancos.
5- Sexo

De qualquer levantamento que se faça em todos os presídios do


mundo, uma verdade aflorará inconteste: o homem seguramente
pratica muito mais crimes que a mulher e a diferença entre a
criminalidade masculina e feminina é assustadora e
significativamente bastante grande. Deve-se enxergar nesse fato
maior tendência do homem para o crime, ou tudo não passa,
como diz Edwin Sutherland, do resultado de uma diferença na
natureza do trabalho de um e do outro ou das condições
diversas, de um modo geral, nos hábitos e métodos da vida de
ambos?

O modo de agir e sentir difere muito entre o homem e a mulher,


devendo-se creditar a esta, inclusive, uma característica maior de
nobreza de sentimentos; a mulher tem um sentimento de
honradez muito mais acentuado que o homem.

No que refere ao cometimento das infrações penais, também


existem diferenças entre o homem e a mulher. Ao elemento
feminino, como que repugna a prática de certos crimes: assalto a
mão armada, por exemplo. O mesmo já não se nota
relativamente ao furto em supermercados, casas de moda, etc...,
que contam com a preferência feminina.

Existem delitos exclusivamente masculinos (no Brasil, por


exemplo, o estupro, o atentado violento ao pudor, a posse sexual
mediante fraude, etc.). Existem outros delitos que quase sempre
são cometidos por homens (assaltos à mão armada, latrocínios,
seqüestros, etc.). Por outro lado, há delitos que são praticados
exclusivamente por mulheres (infanticídios, abortos); outros
cometidosmais pelas mulheres do que pelos homens (os furtos
com abuso de confiança, a prostituição, etc.). E finalmente, há
crimes para cuja prática nenhum significado maior tem o sexo, ou
seja, a maioria dos delitos, ressalvando-se, porém, que aqueles
em que se emprega a violência e a força física são mais comuns
aos homens, sem sombra de dúvida (homicídios, roubos, prática
de torturas, etc.).

126
Dizem, algumas estatísticas, que a proporção existente entre
delitos cometidos por homens e mulheres é de 6 para os
primeiros contra 1 para as segundas. Observando-se, ainda, que
a proporção da criminalidade feminina aumenta à medida que
aumenta a participação da mulher na vida social, política e
econômica do país em que vive.
6- Idade

O crime varia de acordo com a idade e nada é mais natural.


Assinalam, alguns autores, que delitos de determinadas
naturezas são praticados em certas faixas etárias, por exemplo,
entre 21 e 24 anos seriam mais comuns os delitos de homicídio e
a prática da prostituição e da vadiagem. Segundo Sutherland, a
idade máxima da criminalidade está no período jovem da vida,
apresentando um decréscimo a começar dos 30 anos. Entre
homens com mais de 70 anos é grande a média de crimes
sexuais. Seja um menino, um adulto de 25 anos ou um homem
de 100 anos, há que se ter em conta o meio em que vive.

Drapkin observou que entre 18 e 25 anos para os homens, e 30 a


40 anos para as mulheres, são os índices de criminalidade mais
acentuados.

Pesquisas recentes feitas no Brasil, mais especificamente em


São Paulo, em Distritos Policiais da capital, mostram que o tráfico
de drogas, os roubos e os furtos são praticados por jovens. A
maior parte dos crimes contra o patrimônio e de tráfico de drogas
são praticados por homens entre 16 e 25 anos. A conclusão faz
parte da pesquisa sobre a política estadual para a segurança
pública, coordenada pela socióloga Célia Soibelmann Melhem, da
Unicamp. Ainda, segundo a pesquisa, 60,98% dos criminosos
nasceram no Estado de São Paulo; Minas gerais, Bahia,
Pernambuco, Paraná e Ceará vêm a seguir, com 22,49% juntos.

A socióloga conclui que a maioria dos delinqüentes incluídos na


pesquisa é pobre, de baixa escolaridade e com saúde precária.
Os delitos contra a propriedade ocorrem com mais freqüência
entre os 16 e 20 anos. Os crimes passionais têm sua freqüência
maior entre 30 e 40 anos. Os crimes sexuais costumam
acontecer antes dos 25 anos ou depois dos 45 anos.

127
7- Meios de Comunicação: Contágio moral

É incontestável que os meios de comunicação de massa,


preferencialmente os jornais e a televisão, projetando exaustiva e
abusivamente notícias, imagens e filmes relativos á violência e
aos crimes, quando não ensinam ou aprimoram delinqüentes,
induzem muitas pessoas á desvios de conduta cujo climas é a
prática delituosa, isto para a satisfação imediata de seus instintos
ou interesses ou mesmo por simples anseio imitativo.

Todos os dias os noticiários de jornais, rádio, televisão ou as


representações cinematográficas ou teatrais estão levando
inúmeras pessoas á imitação. É o suicídio por amor, o seqüestro
para auferir alto lucro, etc. A imprensa noticia certos crimes com
riqueza de detalhes, impressionando, assim, o público que
assiste ou lê e isso influencia as pessoas. Quantas mortes
violentas, estupros, relações sexuais implícitas ou explícitas,
palavrões, cenas torpes e noticiários detalhados sobre
seqüestros (quase elevando os seqüestradores á categoria de
heróis), assaltos á bancos (com o “modus operandi” dos
delinqüentes detalhadamente explicado), todas as sutilezas dos
adultérios minuciosamente relatados...a televisão divulga como
se tais fatos não chocassem o comum das pessoas, e não
tivessem, em seu bojo, um alto componente associal, capaz, por
imitação, de estimular nos mais fracos o cometimento de atos
idênticos ou assemelhados. Essa imitação (ou mimetismo)
chama-se “contágio moral”.

Criminosos por contágio moral não só se deixam conduzir pelos


outros, como são levados por eles para a criminalidade. São uma
espécie de papel carbono.

Na Inglaterra, em 1888, os 5 bárbaros homicídios perpetrados no


bairro londrino de Wintechapel, por Jack, o “Estripador”,
ganharam tamanha notoriedade que, longe de se desfazerem nas
brumas do esquecimento, até hoje suscitam um número
impressionante de artigos, livros e filmes!

Na verdade, a notícia sensacionalista sobre um crime não raro


deflagra o cometimento de outros da mesma natureza.

128
As maiores vítimas da mídia são, sem sombra de dúvidas, as
crianças e, sobretudo, os adolescentes, os quais costumam
sempre imitar os grandes vilões criminosos dos filmes e novelas.
Os filmes de TV, por exemplo, visualizam como “heróicas” as
ações violentas dos vilões e dos “gangsters”. Crianças, após
assistirem filmes de “gangsters”, passam a imita-los, porque
estes aparecem, quase sempre, nas histórias, como protetores
do povo. O delito passa a ser visto, então, como um fenômeno
comum, praticamente norma!

Inúmeros programas de TV fazem apologia á violência, ao crime,


ao criminoso e ao sexo explícito, em horários acessíveis ás
crianças e adolescentes.

Igualmente as revistas e os jornais também passam a veicular


noticiários e registros fotográficos deletérios, não se lhes
retirando, por isso, uma condição de influenciar negativamente as
pessoas, chegando mesmo, como acontece com alguns jornais, a
servirem de intermediários á prostituição. E não se diga que o nu
que se estampa nas capas de revistas é nu artístico!.

8- Jogo

Quando não se reveste de ilicitude penal, por ser proibido, o que


o definiria como vício criminoso, pode ser considerado como fator
de criminalidade (cheques sem fundo, agressões e até
homicídios são cometidos em virtude do jogo).
9- Religião

Há que se evitar o perigo representado pela crença, por vezes


extremamente absurda, sobre o que o vulgo denomina de
“misericórdia divina”. São religiões, seitas ou doutrinas, umas que
levam, pelo fanatismo, seus adeptos ao suicídio; outras se
prestam á que determinados religiosos pratiquem todas as
espécies de violações sexuais contra mulheres incautas e
culturalmente despreparadas, como acontece em certos rincões
do Brasil e possivelmente de outros países subdesenvolvidos.

10- Prostituição

Certas mulheres, num verdadeiro paroxismo de devassidão,

129
prodigalizam seus favores sexuais á vários homens e inclusive,
de uma só vez.

O comércio sexual, seja qual for a razão que o determine,


geralmente não é punível. Não obstante, independentemente dos
aspectos histórico-social e sanitário-moral, a prostituição merece
particular interesse por parte da Psicologia Criminal.

Na obra “La donna delinquente, la donna prostituta e la donna


normale”, elaborada em conjunto com seu genro Ferrero,
Lombroso descreve a prostituta como uma pessoa mentalmente
débil e com um acumulado de contradições. Ressalta Lombroso
que “a razão última do comércio da prostituição é o idiotismo
moral”.

Segundo Lombroso, existem determinadas mulheres que já


nascem com a tendência á prostituição: seriam as “prostitutas
natas”, tal qual existem os “criminosos natos”. Ao lado dessas
“prostitutas natas”, desponta o grupo das “prostitutas de ocasião”,
ou seja, aquelas que partem á prostituição por condições
socioeconômicas. Segundo pesquisa realizada por criminólogos,
o fator econômico é o que mais influencia a prostituição, já que as
causas psico-orgânicas (biológicas) representariam apenas 10%
a 15%.

A pobreza geral, a promiscuidade das habitações como as


favelas, as moradias coletivas (cortiços e pensões), a falta de
educação profissional e de trabalho honesto e contraprestado
com dignidade, os lares desfeitos ou viciosos, o alcoolismo
paterno principalmente, a ausência de amparo material e afetivo
á infância, tudo isso, que no fundo, representa a mi´seria material
e moral, constitui causa vigorosa da prostituição.

No Brasil, por exemplo, são numerosíssimas as vítimas de


estupro, atentado violento ao pudor, corrupção de menores etc.,
que, abandonadas por seus violadores e desamparadas pela
família e pelo Estado, procuram o caminho fácil da prostituição.

Modernamente, a exploração do lenocínio é promovida por


motéis, hotéis de alta rotatividade e por agencias especializadas,

130
onde o freguês escolhe a mulher através de álbuns de
fotografias.

Microcriminalidade e Macrocriminalidade
MICROCRIMINALIDADE E MACROCRIMINALIDADE.

- Microcriminalidade: é representada por atos anti-sociais


episódicos indicativos da criminalidade em pequena escala. Diz
respeito aos delitos correntios, violentos ou não, que,
isoladamente, em todas as camadas sociais, acontecem de dia e
de noite, durante todas as horas (latrocínio, homicídio, furto,
roubo, estupro, lesão corporal, ameaça, estelionato, calúnia, etc.).
Constitui a soma dos delitos individuais. O microcriminoso é
encarado como um indivíduo á parte, um marginal da vida
societária.

- Macrocriminalidade: é a delinqüência em bloco conexo e


compacto, incluída no contexto social de modo pouco
transparente (crime organizado) ou sob a rotulagem econômica
ilícita (crime de colarinho branco). Alicerçada na certeza ou quase
certeza da impunidade, a macrocriminalidade visa
exclusivamente o lucro. Via de regra, o macrocriminoso lucra e
fica impune. São dois, portanto, os fato res da
macrocriminalidade: o lucro e a impunidade.

A macrocriminalidade compreende, a rigor, 2 espécies:

- Crime de Colarinho Branco (White Collar Crime)


- Crime Organizado

- Crime de Colarinho Branco: É a violação da lei penal por


pessoas de elevado padrão socioeconômico, no exercício
abusivo de uma profissão ilícita. É a delinqüência econômica. É o
crime daqueles indivíduos de alto ou significativo status
socioeconômico, que tranqüilamente ignoram as leis para
aumentar os lucros de suas atividades ocupacionais,
principalmente aquelas relativas ao gerenciamento de negócios e
empresas.

131
Nesta espécie de crime a violência praticamente inexiste, pois
que seus promovedores atingem os propósitos colimados através
da astúcia e da fraude. Respaldando fundamentalmente em seu
poderio econômico, o criminoso de colarinho branco desfruta de
ampla impunidade, de respeitabilidade social e até de
intangibilidade!

O Conselho da Europa, órgão colaborados do Conselho


Econômico e Social da ONU, divulgou um elenco dos
considerados delitos econômicos, a saber: formação de cartéis;
abuso de poder econômico das multinacionais; obtenção
fraudulenta de fundo do Estado; criação de sociedades fictícias;
fraudes em prejuízo dos credores; falsificação de balanços;
fraudes sobre o capital de sociedades; concorrência desleal e
publicidade enganosa; infrações alfandegárias; infrações
cambiárias; infrações da bolsa etc.

No Brasil, intenta-se, diga-se assim, combater o “crime de


colarinho branco” com a Lei 7.492, de 16 de junho de 1986,
coadjuvada pela Lei 8.884, de 11 de novembro de 1994. a Lei
7.492/86 ironicamente é epitetada por muitos de “Lei de
Regência”. A Lei 8.884/94 é a chamada “Lei Antitruste” que,
alterando dispositivos do Código Penal Brasileiro, possibilita a
prisão preventiva com garantia de “ordem econômica”.

No Brasil, exemplo perfeito de delito de “colarinho branco” foi


aquele emaranhado criminoso que suscitou, há poucos anos, no
Congresso Nacional, a cognominada “CPI dos Anões do
Orçamento”, sobre grandes desvios na peça orçamentária. Mais
recentemente, tivemos vários exemplos, como o “Escândalo do
Mensalão””, e atualmente, temos tidos diversas operações, como
“Operação Navalha”, “Operação Furacão”, Operação Anaconda”,
e tantas outras, clássicas sobre corrupção e desvios de verbas
públicas.

- Crime Organizado: O crime organizado surgiu na região


italiana de Sicília, com a denominação “Máfia” ou La Cosa
Nostra, de lá vindo aportar nos E.U.A através da imigração, na
segunda metade do século XIX e início do século XX. Nos EUA a
máfia também é conhecida por “Sindicato do Crime” e por
“Organização”. É certo, porém, que os mafiosos italianos e norte

132
americanosintegram grupos de uma organização criminosa
coesa, uniforme e com objetivos bem definidos.

Inquestionável, por outro lado, que hoje a atuação do crime


organizado é praticamente universal. A máfia tende a crescer
ainda mais, e assim também aquelas organizações menores,
algumas das quais lhe são aparentadas como a “Camorra” de
Nápoles, a “Sacra Corono Unita” de Púglia e a “N’drangueta” da
Calábria. E igualmente se expandem as Tríades Chinesas e a
Yakuza japonesa.

A máfia japonesa tem como principal fonte de renda o tráfico de


drogas, a exploração da prostituição, a venda de armas, a
extorsão através de “taxas de proteção”, os jogos e as apostas,
etc.

É sabido que em outros países operam associações criminosas


nos moldes da máfia, embora em proporções menores. É o que
acontece na França, Inglaterra, Alemanha, Turquia, Peru, Bolívia,
Para guai, Colômbia, Brasil, etc.

Na Colômbia, aliás, impressiona por sua força e influencia política


o chamado Cartel de Medelin, chefiado até fins de novembro de
1993 por Pablo Escobar Gaviria e que chegou a responder por
75% do comércio mundial de cocaína, obtendo uma fortuna
calculada em US$ 3 bilhões!

Não obstante, em pleno século XXI, os cartéis de cocaína da


Colômbia, agora com dezenas de chefes e centenas de
subchefes.

Vitimologia

VITIMOLOGIA

Desde a Escola Clássica, impulsionada por Beccaria, passando


pela Escola Positiva de Lombroso, Ferri e Garófalo, o Direito
Penal praticamente teve como meta a tríade delito-delinquente
pena.O outro componente do contexto criminal, a vítima, jamais
foi levado em consideração. Isto apenas passou a ocorrer quando

133
outras ciências, e principalmente a Criminologia, tiveram que vir
em auxílio do Direito Penal para a análise aprofundada do crime,
do criminoso e da pena.

As primeiras manifestações formais sobre a vítima, sua tragédia e


a desdita de seus dependentes ou familiares, foram levantadas
por Etiene de Greef e Wilhelm Saver.

Todavia, somente a partir de 1956, com o advogado de origem


israelita Benjamin Mendelsohn dando forma definitiva ás suas
idéias e estudos antes publicados sobre a vítima, é que a
Vitimologia aflorou com essa denominação e com contexto de
disciplina criminológica.

Em síntese, a Vitimologia busca indicar o posicionamento


biopsicossocial da vítima diante do drama criminal, fazendo-o,
inclusive, sob os ângulos do Direito Penal, da Psicologia e da
Psiquiatria.

Benjamin Mendelsohn situa a Vitimologia como uma ciência que


ele entende distinta da Criminologia. Outros criminalistas, porém,
negam que a Vitimologia seja mesmo uma ciência. Contudo,
irrelevante que a Vitimologia seja, ou não, uma ciência. Na
realidade, ela desponta como um dos ramos da Criminologia,
ramo que, sob a filtragem do Direito Penal e da Psiquiatria, tem
por escopo a observação biológica, psicológica e social da vítima
em face do fenô meno criminal.

Assim, Vitimologia é a ciência que procura estudar a


personalidade da vítima sob os pontos de vista psicológico e
sociológico na busca do diagnóstico e da terapêutica do crime e
da proteção individual e geral da vítima.

Atualmente, a relevância da Vitimologia também dimana da


realidade da participação da vítima na gênese de muitos crimes.
É imperativo que a ligação entre delinqüente e vítima seja objeto
de análise. O grau de inocência da vítima em cotejo com o grau
de culpa do criminoso propõe precisamente os aspectos que têm
sido negligenciados e que podem contribuir para o entendimento
de numerosas ocorrências delinquenciais.

134
No contexto delituoso a vítima pode ser inteiramente passiva ou,
ao contrário, pode ser ativa e concorrente. Crimes há, em sua
gênese, onde não se vislumbra nem ação nem omissão da
vítima, como o aborto consensual, por exemplo. O caso, é o
nascituro quem se transforma em vítima. Aausência da pessoa a
ser vitimada também será suficiente estímulo para que ocorra
furto ou furto qualificado em sua residência. Da mesma forma,
poderá servir de estímulo á prática de roubo e até de latrocínio, o
fato da pessoa se expor em locais inidôneos ou suspeitos
exibindo dinheiro, jóias ou valores. De mencionar, ainda, certas
modalidades de estelionato nos quais a participação da vítima é
fator primordial para o desenlace anti-social, eis que, nessas
infrações, ao contrário de estar em oposição, a vítima está
psicologicamente solidária com o delinqüente.
Incontáveis, ademais, os episódios criminais em que a vítima é a
causa eficiente do delito que, sem ela, sem a sua ocorrência
ativa, jamais teria ocorrido. É o que ocorre em muitos crimes
sexuais, como, por exemplo, o estupro, pois não são raros os
caso em que, em última análise, a maior vítima dos crimes
sexuais é o acusado e não a “pobre e infeliz” ofendida.

As Vítimas Autênticas

Como há criminosos que são recidivantes, é positivamente certa


a existência de vítimas latentes,isto é, de pessoas que padecem
de um impulso fatalístico para serem vítimas dos mesmos crimes,
para reincidirem e se vitimarem em idênticos eventos lesivos.
Seriam verdadeiras vítimas natas! EX: vigias de baços e
supermercados, médicos, que no exercício da profissão estão a
todo tempo sujeitos a uma grande variedade de imputações e
denunciações, os policiais, sempre á beira de riscos iminentes,
etc.

Tipos de Vítimas e sua Classificação

Mendelsohn sintetiza 3 grupos de vítimas, a saber:

a) vítima inocente, que não concorreu a qualquer título para o


evento criminoso;
b) vítima provocadora que, voluntária ou imprudentemente,
colabora com os fins pretendidos pelo
delinqüente;
135
c) vítima agressora, simuladora ou imaginária, que não passa de
suposta vítima (ou pseudovítima) e, por isso, propicia a
justificativa de legítima defesa de seu “atacante”.

Compensação á Vítima do Dano Decorrente do Delito

O regramento jurídico penal brasileiro não estabelece a


reparação dos danos sofridos pela vítima. Enquanto se tem
batalhado por uma ampla “humanização da pena”, nada se faz,
entre nós, no sentido da “humanização das vítimas dos delitos”,
até agora inteiramente esquecidas, não obstante no 1º
Congresso Internacional de Vitimologia, realizado em Jerusalém,
tenha sido recomendado que as nações criem um instrumento
oficial de compensação ás vítimas do crime, independentemente
de possível reparação material por conta do próprio criminoso, na
área cível.

O atual Código Penal Brasileiro, de 1940, praticamente silencia


no que concerne á pessoa da vítima, preceituando, no seu art.
42, que “compete ao juiz, atendendo aos antecedentes e á
personalidade do agente, á intenção do dolo ou grau de culpa,
aos motivos, ás circunstancias e conseqüências do crime”:

I – determinar a pena aplicável, dentre as cominadas


alternativamente;
II – fixar, dentro dos limites legais, a quantidade da pena
aplicável;

A rigor, nada além disso!. Enfim, a respeito da reparação,


presentemente vige um princípio resultante de normas
codificadoras do Direito Civil, do Direito Processual Civil e mesmo
do Direito Processual Penal, pois que, em princípio, a obrigação
de reparar o dano também decorre da condenação criminal, mas
haverá que ser demandada no juízo cível. A condenação penal é,
assim, um fato jurídico que traz imanente a obrigação de
indenizar.

Bibliografia/Links Recomendados
Introdução Crítica ao Direito Penal – Nilo Batista

136
Direito Penal Brasileiro – Nilo Batista e Eugênio Raul Zaffaroni
Mídia e Sistema Penal no Capitalismo Tardio – Nilo Batista
Penas Perdidas – Louk Hulsman
Em Busca das Penas Perdidas – Eugênio Raul Zaffaroni
O Inimigo do Direito Penal – Eugênio Raul Zaffaroni
Criminologia – Eugênio Raul Zaffaroni
Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal – Alessandro
Baratta
Difíceis Ganhos Fáceis – Vera Malagui
Medo na Cidade do Rio de Janeiro – Vera Malaguti
Vigiar e Punir – Michel Foucault
Microfísica do Poder – Michel Foucault ( Capítulo III – Sobre a
Justiça Popular)
Punição e Estrutura Social – Georg Rusche e Otto Kirchheimer
Punir os Pobres – Loïc Wacquant
Cárcere e Fábrica – Dario Melossi e Massimo Pavarini
A América Latina e Sua Criminologia – Rosa Del Olmo
O Olho da Barbárie – Marildo Menegat
Homo Saccer – Giorgio Aganbem
Estado de Exceção – Giorgio Aganbem
Zygmund Bauman – O Mau-Estar da Pós Modernidade

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