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09
Governo Federal
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva
Ministro da Educação
Fernando Haddad
Reitor
José Ivonildo do Rêgo
Vice-Reitora
Ângela Maria Paiva Cruz
Arquitetura atômica e molecular / Ótom Anselmo de Oliveira, Joana D’arc Gomes Fernandes – Natal
(RN) : EDUFRN – Editora da UFRN, 2006.
280 p.
ISBN 85-7273-278-0
CDU 541
RN/UF/BCZM 2006/18 CDD 541.5
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida
sem a autorização expressa da UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 2ª Edição
Apresentação
N
esta aula, inicialmente abordaremos aspectos relacionados com as formas
moleculares utilizando o modelo da repulsão do par de elétrons (RPEV), que foi
criado tendo como base princípios eletrostáticos clássicos. Sobre esse assunto,
veremos que existe uma correlação direta entre as geometrias de moléculas ou de íons
poliatômicos com as configurações eletrônicas nos níveis de valência dos átomos centrais
dessas espécies.
Em seguida, estudaremos a teoria da ligação de valência (TLV), que foi criada a partir
da década de 30 do século passado, e tem como um dos pontos de destaque o conceito de
hibridação (ou hibridização). Como você verá, além de oferecer subsídios para se explicar
a formação das ligações químicas, a TLV fornece as bases necessárias para se compreender
as geometrias observadas em moléculas ou íons e, ainda, para se prever geometrias de
espécies inéditas, referenciando-se em concepções relativas ao modelo atômico atual.
Objetivos
Após esta aula, você estará apto a compreender ou fazer
previsões sobre as formas moleculares pelos modelos de
repulsão do par de elétrons (RPEV) e da hibridação. Além
disso, você poderá descrever os mecanismos de acomodação
eletrônica envolvidos na formação das ligações químicas e
entender as causas de várias propriedades moleculares ou
iônicas.
A
Métodos diversidade de formas das moléculas e dos íons poliatômicos é praticamente ilimitada
qualitativos e, freqüentemente, tais espécies são tão complexas que as definições das suas
teóricos
geometrias só podem ser feitas com o uso de métodos sofisticados, com especial
Os métodos teóricos são destaque para espectroscopia de raios X. Outras vezes, boas previsões podem ser feitas
chamados de métodos ab
através de métodos semi-empíricos, associando-se cálculos fundamentados na equação
initio ou dos princípios
fundamentais. de Schrödinger com dados experimentais. Pode-se, ainda, utilizar métodos qualitativos
teóricos bastante simples, com resultados bem satisfatórios, e esse será o procedimento
utilizado nesta aula.
Na realidade, até as estruturas de Lewis podem ser usadas em algumas interpretações
preliminares sobre geometrias de espécies químicas simples, apesar de tais estruturas
poderem sugerir previsões de formas moleculares ou iônicas erradas. O mais conveniente,
então, é utilizar-se procedimentos que escapem de metodologia muito sofisticada (como
cálculos exatos usando a equação de Schrodinger), mas que envolvam dados ou conceitos
mais realísticos de descrição das configurações eletrônicas dos átomos constituintes
de moléculas ou de íons poliatômicos um pouco mais complexos, como será feito nos
próximos itens.
O
modelo de repulsão do par de elétrons na camada de valência (RPEV) possibilita
boas análises sobre as geometrias moleculares ou iônicas, podendo explicar com
facilidade formas de espécies, como as apresentadas na Figura 1, ou de outras que
sejam mais complexas.
Figura 1
Nas análises que faremos em seguida, limitaremos nossa atenção a espécies formadas
por um átomo central (A) ligado a m átomos (B), podendo conter n pares de elétrons
isolados (E, pares não ligados) no nível de valência, formando moléculas do tipo ABmEn, ou
íons poliatômicos de fórmulas ABmEnq, onde q é a carga do íon.
Parece lógico considerar-se que, em moléculas ou em íons poliatômicos, os pares
eletrônicos de ligação se distribuem de forma mais compacta entre os dois núcleos atômicos
do que os pares isolados, pelo fato destes se ligarem a um único núcleo atômico, como é
ilustrado na Figura 2.
par isolado versus par isolado > par isolado versus par ligado > par ligado
versus par ligado.
Figura 3 – Molécula do formaldeído CH2O (Formol). (a) Estrutura de Lewis sugere, erroneamente, que a
molécula teria forma de T; (b) Geometria da molécula.
Partindo desses pressupostos, para explicar as formas das espécies do tipo ABmEnq,
basta considerar as repulsões entre os pares eletrônicos da camada de valência do átomo
central. Como cargas elétricas de mesmo sinal se repelem, os pares eletrônicos de valência
tendem a se posicionar o mais distante possível uns dos outros, e é esse fator que leva as
moléculas e os íons poliatômicos a assumirem formas como as apresentadas na figura 4, as
quais passaremos a discutir, citando pelo menos um exemplo de cada uma delas, sempre
fundamentados no modelo RPEV.
a) b) AB2E-SO2 c) AB2E2-H2O d)
AB2-CO2 AB2E3-XeF2
e) f) g) h)
AB3-BF3 AB3-NO3 AB3E-NH3 AB3E2-IF3
i) j) l) m)
AB4-CH4 AB4-NH4+ AB4E-SF4 AB4E2-XeF4
n) o) p) q)
AB5-PCI5 AB5E-IF5 AB6-SF6 AB7-IF7
Na molécula do dióxido de carbono (CO2), que é do tipo AB2, cada átomo de oxigênio é
ligado ao átomo central (carbono) por dois pares de elétrons que, em virtude das repulsões,
ficam dirigidos para posições opostas, em torno do átomo de carbono, fazendo com que
a molécula do CO2 seja linear. As moléculas do dióxido de enxofre (SO2) e da água (H2O)
têm estequiometrias semelhantes à do CO2, porém, a primeira tem um par isolado na
camada de valência do enxofre e a segunda tem dois no nível de valência do oxigênio, os
quais não participam das ligações, sendo, respectivamente, dos tipos AB2E e AB2E2. Como
conseqüência, esses pares repelem os pares eletrônicos das ligações (enxofre-oxigênio ou
hidrogênio-oxigênio) fazendo as moléculas serem não lineares (em forma de V).
Dois outros exemplos bem esclarecedores são as moléculas do BF3 e do NH3. A primeira,
é do tipo AB3, dispõe somente de três pares eletrônicos na camada de valência do átomo de
Atividade 1
Proponha formas para as espécies: H2S, O3, NO2-, PF3, SO3=, SiH5, PF5
1 e PH3F2 e PH2F3.
O
princípio da incerteza (estudado na aula 3 – Modelo atômico atual) expressa a
impossibilidade de se definir, com precisão, a posição ou a quantidade de movimento
de um elétron num átomo. Tendo isso como verdade, a mecânica quântica descreve
os átomos em termos das probabilidades de localização dos elétrons nas vizinhanças dos
núcleos atômicos, fazendo, portanto, uma descrição estatística sobre as posições e as
energias dos elétrons nos átomos.
Considerando esses princípios, podemos concluir que as conjecturas feitas até agora
sobre as ligações químicas parecem se contrapor ao princípio da incerteza, uma vez que
sempre se referem à existência de pares de elétrons localizados entre as camadas de valência
dos átomos ou sobre um dos átomos formadores das ligações. Só para relembrar, segundo
as concepção de Lewis, as ligações químicas se fazem pelo emparelhamento de elétrons
entre os átomos, e o modelo RPEV considera que os pares eletrônicos de valência se
localizam em determinadas posições na camada de valência do átomo central de moléculas
ou de íons multieletrônicos.
Não é que se deva negar ou desprezar a utilidade da teoria eletrônica da valência (com
as suas estruturas de Lewis) ou do modelo RPEV em esclarecimentos sobre as ligações. Mas,
pelo determinismo desses modelos na localização de elétrons nas moléculas ou nos íons, não
se pode deixar de ver certa inconsistência com o princípio da incerteza e, por conseqüência,
com os modelos atômicos e moleculares definidos através da mecânica quântica. Portanto,
era necessário superar essa dificuldade, a fim de se compatibilizar as idéias sobre as ligações
químicas com a mecânica quântica. Esse trabalho teve Linus Pauling como um dos principais
idealizadores e divulgadores, culminando com a criação da teoria da ligação de valência
(TLV) e da teoria do orbital molecular (TOM), que passaremos a estudar.
cada dois átomos são ligados pelo menos por dois elétrons;
as geometrias moleculares podem ser mais facilmente explicadas se, em lugar dos
orbitais atômicos em suas formas originais, forem usadas combinações lineares dos
orbitais atômicos: os chamados orbitais híbridos.
Como se pode perceber, de acordo com os três primeiros princípios, a camada de
valência dos átomos é determinante no estabelecimento das ligações. Assim, uma das
primeiras providências para a aplicação da teoria da ligação de valência é identificar os
orbitais atômicos e a configuração eletrônica do nível de valência dos elementos envolvidos
nas ligações que se pretende analisar.
Em termos de formação de ligações, pelo terceiro princípio, estas acontecem quando
ocorrem superposições de orbitais atômicos semipreenchidos, como os dos átomos de
hidrogênio, flúor, oxigênio e nitrogênio, apresentados na Figura 5. Deve-se destacar, porém,
que a superposição de orbitais cheios com orbitais vazios também pode gerar ligações,
denominadas ligações dativas ou coordenadas.
L
= C1 A
(1) B
(2) + C2 B
(1) (2)
A
Essa nova função de onda ( L) resulta da combinação das funções de onda que
expressam as interações dos elétrons (1 e 2) em relação aos átomos (A e B) – A(1), B(1),
A
(2) e B(2) –, tendo C1 e C2 como coeficientes relacionados às distribuições eletrônicas
entre os dois átomos da molécula.
Esse procedimento é simples, se comparado a soluções rigorosas das equações de
onda. Mesmo assim, é muito complexo para quem não conhece muito bem a mecânica
quântica e é desnecessário em interpretações mais comuns sobre ligações químicas.
Felizmente, trabalhos realizados por vários cientistas resultaram na criação de formas
mais simples para se explicar muitos aspectos relativos às ligações. Esse será o caminho
que seguiremos, concentrando nossa atenção nos conceitos qualitativos mais usados em
estudos sobre as ligações químicas. Começaremos pelos tipos de orbitais de ligação,
passando em seguida para a hibridação (ou hibridização).
A
denominação dos orbitais moleculares tem como referencial os tipos de orbitais atômi-
cos que os originam nas moléculas ou nos íons poliatômicos, podendo ser dos tipos σ
(sigma), π (pi) e δ (delta). Sobre estes, apenas os dois primeiros tipos serão discuti-
dos de forma mais detalhada. Mas, não podemos deixar de registrar a existência dos orbitais
moleculares do tipo δ (delta), que são formados pela superposição de orbitais atômicos do
tipo d.
Começaremos analisando o tipo de ligação existente nas moléculas de hidrogênio (H2 ),
que é assegurada pela superposição dos orbitais 1s de dois átomos de hidrogênio. Com essa
superposição, ocorre formação de um orbital de ligação do tipo σ, num processo que pode
ser representado na forma ilustrada pela Figura 6a.
A denominação sigma se deve ao fato da ligação ser formada a partir de orbitais
atômicos do tipo s, que, em grego, corresponde à letra σ (sigma). Como característica
marcante, esse tipo de orbital é constituído por um único lobo com densidade eletrônica
máxima sobre o eixo internuclear da molécula.
Como segundo exemplo, as ligações nas moléculas do HF se fazem de forma semelhante,
porém, envolvem um orbital 2p semipreenchido do flúor, que se superpõe ao orbital 1s do
hidrogênio. Nesse caso, apesar de apenas um dos orbitais ser do tipo s, o orbital de ligação
Nas moléculas do flúor (F2), os dois orbitais atômicos que originam as ligações são do
tipo p e se superpõem frontalmente, gerando orbitais de ligação com simetria semelhante
aos dois casos anteriores, conforme se observa na Figura 6c, razão pela qual também são
do tipo sigma.
Atividade 2
Faça um esboço da formação de orbitais de ligação σ (sigma), π (pi)
1 e (delta).
Observação: Os orbitais (delta) não foram discutidos. Mas, o desenho de um
deles se assemelha ao de dois orbitais pi em posições ortogonais entre dois
átomos numa molécula.
O teoria) da hibridização (ou hibridação). Com esse modelo, mesmo nos abstendo
dos procedimentos complexos naturais da mecânica quântica, podemos tratar de
aspectos importantes das ligações químicas fundamentados em concepções modernas sobre
as estruturas atômicas e moleculares. Entre esses aspectos, podem ser citados os próprios
mecanismos de formação das ligações, os ângulos de ligação e as geometrias moleculares.
Para demonstrar tais aplicações, discutiremos a partir de agora a hibridação dos
orbitais dos átomos centrais no CH4, BF3, BeH2, PCl5, SF6, IF7, em moléculas mais complexas
e em íons poliatômicos.
Hibridização no CH4
A
formação das moléculas do metano (CH4) não poderia ser explicada através dos
conceitos apresentados até agora, pois o seu átomo central (carbono) dispõe
somente de dois elétrons desemparelhados no nível de valência (2s2, 2px1, 2py1, 2pz0).
Com essa configuração, poderia se pensar que o carbono só se ligaria a dois átomos de
hidrogênio, pois os elétrons do orbital 2s já estão emparelhados no átomo isolado. Porém, a
existência das quatro ligações no CH4 é um fato, e, para explicá-la, os químicos propuseram
que um dos elétrons do orbital 2s passasse para o orbital 2p vazio, gerando o que é chamado
estado de valência ou estado excitado, no qual existem quatro elétrons desemparelhados
(2s1, 2px1, 2py1, 2pz1), possibilitando a formação das quatro ligações.
Essa configuração não explicaria por que as moléculas do CH4 são tetraédricas nem por
que as ligações C—H apresentam energias, comprimentos e ângulos de ligações iguais. Na
verdade, tal configuração sugere a existência de três ligações ortogonais, sobre os orbitais px,
py e pz, com energias e comprimentos iguais, e outra que poderia ficar em qualquer posição
em torno do carbono (já que o orbital s é esférico), com energia e comprimento diferentes
dos demais.
Não se deve esquecer, porém, o caráter dualístico dos elétrons (estudado na aula 3).
Estes ficam posicionados em volta do núcleo do carbono, com as ondas associadas a cada
um deles, podendo interferir umas sobre as outras. Tal interferência modifica as energias
das ondas associadas a cada elétron, todos evoluindo para um estado de energia mínima,
através do processo que foi denominado de hibridação.
sp 3 ↑ ↑ ↑ ↑
2s ↑↓ 2s ↑
1s 2 2s 2 2p 2 1s 2 2s 1 2p 3 4 orbitais sp 3
Figura 7 – Diagrama de energia dos orbitais atômicos e configuração eletrônica do carbono nos estados isolado (a), excitado (b) e hibridizado (c).
Figura 8 – Orbitais híbridos sp3. (a) Um dos orbitais sp3. (b) Os quatro orbitais sp3 de um átomo.
Com essa configuração orbital e eletrônica, torna-se fácil explicar as ligações (sigma,
) no metano. Elas são iguais em energia e comprimento porque os orbitais atômicos que
as formam (1s do hidrogênio e 2sp3 do carbono) são iguais, e a geometria das moléculas é
tetraédrica porque os orbitais sp3 têm distribuição espacial tetraédrica, conforme é ilustrado
na Figura 8. Dessa maneira, a TLV permite se descrever propriedades das moléculas do
metano em conformidade com o que é observado experimentalmente, e em sintonia com
o modelo RPEV.
N
o caso do BF3, no estado fundamental, o átomo central (B) tem apenas um elétron
desemparelhado (2s2, 2px1, 2py0 e 2pz0), o que levaria a se supor que o boro só
faria uma ligação. Como existem três ligações, mais uma vez deduz-se que ocorre
promoção de um elétron do orbital 2s para 2p, gerando três orbitais semipreenchidos (2s1,
2px1, 2py1 e 2pz0), conforme é mostrado na Figura 8, que podem assegurar tais ligações.
1s 2 1s 2
Figura 9 – Diagrama de energia dos orbitais atômicos e configuração eletrônica do boro nos estados isolado (a), excitado (b) e hibridizado (c).
O fato das ligações no BF3 serem iguais e da molécula ser triangular plana, também,
pode ser explicado através do modelo da hibridização. Nesse caso, porém, são formados
apenas três orbitais híbridos do tipo sp2, que ficam dirigidos para os vértices de um triângulo
eqüilátero, conforme é ilustrada na Figura 9.
Figura 10
Essa forma de distribuição espacial dos orbitais sp2 justifica plenamente tanto a geome-
tria molecular quanto as energias e os comprimentos das ligações no BF3.
Na molécula do BeH2, a configuração eletrônica do nível de valência do átomo central (Be)
é 2s , 2px0, 2py0 e 2pz0, o que poderia sugerir a impossibilidade de formação de ligações. Porém,
2
elas existem e a molécula é linear, o que pode ser explicado pela promoção de um elétron do
orbital 2s para 2px e a hibridização destes em sp, restando dois orbitais p (py e pz) vazios.
A lógica sugere (e a mecânica quântica pode demonstrar) que os orbitais sp devem ter
distribuição espacial linear, o que justifica a geometria da molécula e a igualdade entre os
comprimentos e as energias das duas ligações Be—H.
C formar mais de quatro ligações, ficando com dez, doze ou até mais elétrons no
seu nível de valência. Assim, o fósforo e o arsênio, por exemplo, podem formar
moléculas como o PF5 e AsF5 com dez elétrons no nível de valência.
Para entender esse fato, tomemos como referência o PF5, cuja configuração eletrônica
do átomo central (P) é (Ne) 3s2, 3px1, 3py1 e 3pz1, dispondo, ainda, de cinco orbitais 3d vazios
no nível de valência, como é ilustrado na Figura 11.
Com essa configuração, como as diferenças de energia entre os orbitais 3s, 3p e 3d são
pequenas, pode haver promoção de um elétron do orbital 3s para o 3d sem aumento signi-
ficativo de energia, possibilitado a formação de cinco orbitais híbridos do tipo sp3d. Esses
orbitais se superpõem a orbitais 2pz semipreenchidos dos átomos de flúor, compartilhando
seus elétrons e assegurando as ligações.
O fato da geometria do PF5 ser bipiramidal trigonal pode ser explicado admitindo-se que
três dos orbitais sp3d do fósforo ficam dirigidos para os vértices de um triângulo eqüilátero
(Figura 4n), com os outros dois perpendiculares a eles.
Exemplos de substâncias em que os átomos centrais têm um número ainda maior de
elétrons na camada de valência são o SF6 e o IF7. Nestas, a diferença existente em relação
ao caso anterior é que, respectivamente, dois e três orbitais d participam diretamente das
ligações, com o enxofre se hibridizando em sp3d2 e o iodo se hibridizando em sp3d3.
Os orbitais do tipo sp3d2 ficam dirigidos para os vértices de um octaedro regular (Figura
4p), o que explica a geometria octaédrica do SF6. Já orbitais sp3d3 se posicionam em direção
aos vértices de uma bipirâmide pentagonal (Figura 4q), justificando a geometria bipiramidal
pentagonal observada nas moléculas do IF7.
L
igações em moléculas que contenham um átomo central ligado a espécies químicas
tetraédrica
diferentes, como clorometano (H3C—Cl) ou etano (H3C—CH3), também podem ser
interpretadas através de processos de hibridização. No primeiro composto, no lugar A geometria é tetraédrica,
porém uma das ligações
de um quarto hidrogênio ligado ao carbono, existe um átomo de cloro. No segundo, no lugar
(C–Cl ou C–C) é diferente
desse hidrogênio, existe um radical metil (•CH3). das demais (C–H).
Figura 12 – Formas de: (a) (b) Moléculas de menor simetria com átomos centrais hibridizados em sp3. (c) e (d) Dois íons de alta simetria,
hibridizados, respectivamente, em sp3 e sp2.
Moléculas que têm pares isolados no nível de valência também podem ter suas ligações
interpretadas através da hibridação. Na amônia (Figura 12b), por exemplo, pode-se dizer que
os quatro pares de elétrons no nível de valência do nitrogênio têm distribuição tetraédrica,
apesar de um dos pares não estar fazendo ligação. Essa distribuição sugere, portanto, uma
hibridização sp3 em torno do nitrogênio, com as ligações N—H sendo feitas por esses orbitais
com os orbitais 1s do hidrogênio, gerando moléculas tetraédricas, com um dos vértices
ocupados pelo nitrogênio e os outros três pelos hidrogênios.
Resumo
Nesta aula, estudamos as ligações químicas incorporando novos conhecimentos
sobre os modelos atômicos e moleculares surgidos com o advento da mecânica
quântica. Para isso, utilizamos simplificações sobre tais modelos e discutimos
o modelo de repulsão do par de elétrons na camada de valência (RPEV) e
a teoria da ligação de valência (TLV), dando especial destaque ao conceito
ou modelo da hibridação (ou hibridização). Nesses estudos, analisamos
formas moleculares e iônicas, os tipos de orbitais envolvidos nas ligações, os
mecanismos eletrônicos de formação de tais ligações, bem como seus ângulos,
comprimentos e alguns aspectos sobre energias.
Auto-avaliação
Faça as estruturas de ressonância das espécies: NO2-, NO3-, SO3=, SO4= e C6H6.
1
a. Qual a influência dessas estruturas sobre os comprimentos e as energias de
ligação?
b. Libere sua imaginação: mesmo explicando algumas propriedades, você acha
que as estruturas de ressonância são reais ou têm sentido físico? Justifique.
Usando a teoria da hibridação, explique a formação das espécies: BeF2, BF3, SiF4,
3 AsF5, AsF6- e IF7.
Referências
ATKINS, P. W.; JONES, L. Princípios de química. Porto Alegre: Bookman, 2001.
BRADY, J. E.; RUSSEL, J. E.; HOLUM, J. R. Química: a matéria e suas transformações. 3.ed.
Rio de Janeiro: LTC, 2003. v. 1 e 2.
J. D. LEE. Química inorgânica não tão concisa. 5.ed. São Paulo: Edgard Blücher LTDA, 1999.
KOTZ, J. C.; TREICHEL JR, P. Química e reações químicas. 4.ed. Rio de Janeiro: LTC, 2002.
v. 1 e 2.MAHAN, B. M.; MYERS, R. J. Química: um curso universitário. 4.ed. São Paulo:
Edgard Blücher LTDA, 1993.
SHRIVER, D. F.; ATKINS, P. W. Química inorgânica. 3.ed. Porto Alegre: Bookman, 2003.
EMENTA
Estrutura atômica e periodicidade dos elementos. Estrutura molecular e as ligações químicas. Forças intermoleculares.
As interações nos líquidos. Ligações químicas nos sólidos. Química nuclear.
AUTORES
AULAS
11 As ligações iônicas
13 As forças intermoleculares
14 O estado sólido
15 Radioquímica