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ESTRATÉGIAS DE MEDICALIZAÇÃO
DA INFÂNCIA
Comitê Científico
VIGIAR E MEDICAR
ESTRATÉGIAS DE MEDICALIZAÇÃO
DA INFÂNCIA
1ª edição
LiberArs
São Paulo - 2016
Vigiar e medicar. Estratégias de medicalização da infância
© 2016, Editora LiberArs Ltda.
ISBN 978-85-9459-005-3
Editores
Fransmar Costa Lima
Lauro Fabiano de Souza Carvalho
Revisão Ortográfica
As organizadoras
Editora LiberArs
Revisão técnica
Cesar Lima
Editoração e capa
Simone Alauk
Imagem da capa
Intervenção sobre estudos de Leonardo Da Vinci
Impressão e acabamento
Gráfica Rotermund
ISBN 978-85-9459-005-3
CDD 616.89
CDU 61
Todos os direitos reservados. A reprodução, ainda que parcial, por qualquer meio,
das páginas que compõem este livro, para uso nãoindividual, mesmo para fins didáticos,
sem autorização escrita do editor, é ilícita e constitui uma contrafação danosa à cultura.
Foi feito o depósito legal.
APRESENTAÇÃO ........................................................................................ 7
TRANSFORMANDO CRIANÇAS
EM PACIENTES PSIQUIÁTRICOS:
FAZENDO MAIS MAL DO QUE BEM
Robert Whitaker .............................................................................................................. 13
INFÂNCIAS MEDICALIZADAS:
PARA QUÊ PSICOTRÓPICOS
PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES?
Luciana Caliman .............................................................................................................. 47
LO NORMAL, LO ANORMAL
Y LO MONSTRUOSO: MIRADAS EUGÉNICAS
SOBRE EL SUJETO “MEDICALIZABLE”
Marisa A. Miranda ........................................................................................................ 103
LA NIÑEZ COMO SÍNTOMA
DE MALES SOCIALES: PERVIVENCIAS
DE LA EUGENESIA AMBIENTAL EN ARGENTINA
Gustavo Vallejo.............................................................................................................. 115
MEDICAMENTALIDADE
E MEDICALIZAÇÃO DA VIDA COTIDIANA
Luis David Castiel........ ................................................................................................. 161
DIRECTRICES ÉTICO/POLÍTICAS EN LA
MEDICALIZACIÓN DE LAS INFANCIAS HOY
Marisa Germain............................................................................................................. 183
BIOPOLÍTICA E EXPERIMENTAÇÃO
ENVOLVENDO CRIANÇAS: A DESPROTEÇÃO
COMO PERMANÊNCIA HISTÓRICA
Fernando Hellmann
Marta Verdi ..................................................................................................................... 199
APRESENTAÇÃO
7
infância, particularmente metilfenidato (Ritalina®), ficando atrás apenas dos
Estados Unidos (EUA). No entanto, no mesmo momento em que tais críticas se
multiplicam, se renova o debate em torno a uma legislação que garanta o su-
posto direito de identificação e detecção precoce de transtornos mentais na
infância.
Nesse sentido, diversas iniciativas têm se multiplicado em diferentes ce-
nários. No dia 24 de julho de 2012, a Prefeitura de Florianópolis – estado de
Santa Catarina – tinha aprovado a Lei nº 9.018/12 que institui a política muni-
cipal de prevenção e diagnóstico de distúrbios psicomentais na infância. Meses
mais tarde, em outubro de 2013, a Comissão de Educação da Câmara dos Depu-
tados realizou uma audiência pública para discutir o encaminhamento do Pro-
jeto de Lei 7.081/10, especificamente para debater estratégias de identificação,
intervenção e prevenção de transtornos mentais na infância, definidos de
acordo com os critérios do DSM, fundamentalmente TDAH e dislexia.
Um processo semelhante teve lugar na França no ano de 2006, quando se-
guindo uma solicitação do Ministério da Saúde do governo de Sarkozy, o IN-
SERM (Institut National de la Santé et de la Recherche Médicale), que é o maior
Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica 1 da França, elaborou a proposta
de criar uma política de identificação e detecção precoce de transtornos men-
tais em crianças a partir dos três anos de idade. Diversos pesquisadores do
campo das ciências humanas e sociais, educadores e grupos sociais se articula-
ram para impedir que esta proposta fosse aprovada. Como resposta a esta
proposta um conjunto de reconhecidos pesquisadores de áreas médicas, far-
macológicas, epidemiológicas, assim como psicanalistas, filósofos e cientistas
sociais, após grandes debates, construíram um Dossier que reúne pesquisas
empíricas e argumentos teóricos sólidos, que muito contribuiu para impedir a
implementação da proposta.
Acreditamos que se impõe a tarefa de analisar e criticar a tentativa de
propor um programa de detecção precoce de patologias mentais na infância.
Um programa que independentemente de ter recebido duras críticas da comu-
nidade internacional, no entanto continua presente e ativo no âmbito escolar.
Considerando estes fatos, o livro que aqui apresentamos busca discutir a
partir de diversas perspectivas (ética, sociológica, histórica, cultural) os argu-
mentos, conceitos, teorias, dificuldades e certezas a partir das quais foram
construídos os saberes utilizados pelos defensores da “detecção precoce” de
patologias psiquiátricas na infância, particularmente aquelas consideradas de
maior prevalência no Brasil, como o TDAH. Analisamos também os diferentes
mecanismos e estratégias de prevenção e identificação de supostos transtor-
nos de comportamento e da aprendizagem em crianças principalmente em
idade escolar. Trata-se, em fim, de criar um espaço de interação e troca com
8
pesquisadores brasileiros e estrangeiros interessados em discutir os limites e
dificuldades do processo de medicalização da infância.
Para isso, resulta necessário articular diversos olhares que agrupamos
aqui em torno a três grandes eixos de análise.
9
notícia. De acordo com a autora o DSM-5 apresenta uma verdadeira inflação
dos transtornos mentais atribuídos à infância, que estão presentes em cada um
dos agrupamentos que compõem o Manual. O artigo se detém na análise dos
Transtornos Disruptivos de Controle de Impulsos e de Conduta, prestando
particular atenção ao Transtorno de Oposição Desafiante (TOD).
O terceiro capítulo que compõe este primeiro eixo temático da professora
Luciana Caliman se intitula Infâncias medicalizadas: Para quê psicotrópicos
para crianças e adolescentes? Tal e como o indica o nome deste artigo trata-se
aqui de questionar a prescrição de potentes psicotrópicos a crianças e adoles-
centes, um fato que parece ter sido naturalizado por pais, professores e médi-
cos. O texto procura, especificamente, analisar a experiência de uso de psico-
trópicos por crianças e adolescentes, principalmente no que se refere aos pro-
cessos de psicofarmacologização das infâncias a partir da análise das narrati-
vas apresentadas por pacientes num CAPsi de Vitória.
O quarto capítulo escrito pelo professor Angel Martínez Hernáez, aborda
uma temática instigante e atual. O texto intitula-se O segredo está no interior. A
neuropolítica e a emergência das neuronarrativas no consumo de antidepressi-
vos. Neste texto o antropólogo espanhol nós convida a pensar na temática das
neunarrativas, isto é, a refletir sobre uma nova estratégia de construção da
subjetividade que se articula em torno a uma narrativa sobre si que aparece
mediatizada por explicações neurológicas ou neuroquímicas. O autor denomi-
na esse processo como self neuronal, e ainda que, segundo afirma, o self não é
omnipresente nem hegemônico no pensamento contemporâneo, sem dúvida
parece ocupar um lugar central no modo como muitas pessoas pensam sua
subjetividade, possibilitando um crescente, imenso e lucrativo mercado dedi-
cado às aflições.
Por fim, o quinto e último capítulo deste eixo temático se intitula Econo-
mia política do sofrimento, de João Matheus A. Dallmann. Apelando a autores
como Michel Foucault, Pierre Bourdieu, Emmanuel Renault e Philippe Pignar-
re, o autor explora o conceito de economia política do sofrimento, utilizando
noções e construindo hipóteses sobre a intrincada relação que existe entre os
campos científico, econômico e político. O texto insiste em sublinhar o caráter
social do sofrimento psíquico, afirmando que “é a partir de um lugar no mundo
que o sujeito sofre”. Na sociedade contemporânea caracterizada pela naturali-
zação dos processos de medicalização das aflições de adultos e crianças, parece
ser urgente a tarefa proposta pelo autor: realizar uma crítica a partir da eco-
nomia política do sofrimento, incorporando os aspectos micro e macro da vida
social. Pois, jamais podem ser esquecidos os aspectos psíquicos, sociais e polí-
ticos concretos nos quais está inserido o sujeito que sofre.
O segundo eixo temático, Medicalização da infância em perspectiva históri-
ca, contém quatro textos relacionados com as mudanças históricas que permi-
tiram o processo de legitimação da medicalização infantil e os transtornos
mentais na infância. O primeiro capítulo intitulado A personalidade doente.
10
Higiene mental e medicalização da infância, da pesquisadora Maria Fernanda
Vásquez, analisa de maneira comparativa duas obras médicas, uma colombiana
e outra brasileira, para compreender como foi entendida a medicalização da
infância em cada uma delas e suas diferenças e semelhanças no marco de con-
solidação de um campo de saber relativo à psiquiatrização e psicologização dos
afetos e do desenvolvimento da personalidade das crianças, assim como das
formas de adaptação ou de ajustamento social.
O segundo capítulo da pesquisadora argentina Marisa Miranda intitulado
Lo normal, lo anormal y lo monstruoso: miradas eugénicas sobre el sujeto “medi-
calizable”, analisa a maneira como se institui o “sujeito medicalizado” a partir
do discurso eugênico. Dito sujeito, segundo a pesquisadora, se entende como
uma entidade cuja descendência pode ser “optimizada” para melhorar a apti-
dão da raça através do uso de algumas estratégias farmacológicas.
La niñez como sintoma de males sociales. Pervivencias de la eugenesia am-
biental en Argentina, do pesquisador argentino Gustavo Vallejo, terceiro capítu-
lo deste eixo temático, mostra a continuidade de políticas relacionadas, com o
que o autor denomina, a “eugenia ambiental” ou controle da sexualidade para o
“bom nascer”, próprias da primeira metade do século XX, e que atualmente
renascem no novo cenário político argentino.
O quarto e último capítulo do segundo eixo, intitulado Sobre o papel da au-
toria cultural da profissão médica nos processos de medicalização da vida, da
professora Myriam Mitjavila, analisa os atributos sobre os quais se apoia a
autoridade do saber médico, especificamente em sua dimensão cultural. A
autora sublinha que os processos de medicalização e desmedicalização dos
objetos sociais são afetados pelo grau de confiança que instituições e atores
sociais depositam no saber médico.
O terceiro eixo temático, Ética, indústria farmacêutica e medicalização da
infância, reúne os textos que buscam analisar criticamente o papel da indústria
farmacêutica no processo de medicalização infantil, suas implicações éticas e
os dispositivos de patologização dos sofrimentos psíquicos. No primeiro capí-
tulo, Discurso biológico cerebral e a expansão de diagnósticos psiquiátricos, a
professora Fabíola Stolf Brzozowski aborda a relação entre o discurso biológi-
co cerebral e a ampliação de diagnósticos psiquiátricos, a partir da análise
sobre a legitimação da proliferação de novos diagnósticos e o alargamento de
suas fronteiras no contexto das explicações neurobiológicas e tratamentos
medicamentosos. Buscando ilustrar sua reflexão, a autora utiliza como exem-
plo um artigo científico (estudo genético para o TDAH) e uma matéria jornalís-
tica de divulgação dos resultados do mesmo estudo.
O professor Luis David Castiel assina o segundo capítulo deste eixo, no
qual discute a Medicamentalidade e medicalização da vida cotidiana. De modo
incisivo, denuncia o insidioso processo de medicalização da vida cotidiana e os
interesses da indústria farmacêutica, abordando o que denomina de medica-
mentalidade numa clara alusão à ideia foucaultiana de governamentalidade
entendida como “o encontro entre as técnicas de dominação exercidas sobre os
outros e as técnicas de si”. Enfatiza o biopoder mais como uma perspectiva que
11
um conceito, no sentido de se constituir como um espectro de iniciativas mais
ou menos racionalizadas desenvolvidas por autoridades no sentido intervir no
âmbito da vitalidade humana – seu nascimento, desenvolvimento, adoecimento
e morte.
O terceiro capítulo Sáude mental em risco: estratégias para intervenções
preventivas traz a contribuição da pesquisadora Fernanda Martinhago e do
professor Oriol Romani para o debate da temática do risco no âmbito da aten-
ção à saúde mental. A partir do diálogo com diferentes pesquisadores, os auto-
res buscam promover reflexões sobre algumas práticas de intervenções ditas
preventivas. Nesse exercício crítico, emergiram importantes questionamentos,
tais como: É possível prever que determinado comportamento de uma criança
poderá futuramente ser um transtorno mental? Como uma pessoa que mani-
festa sentimento de tristeza, de angústia poderá desenvolver futuramente uma
depressão? Como podemos prevenir, com base no risco, algo tão subjetivo e
algumas vezes transitório, como o uso de drogas e o sofrimento psíquico? Co-
mo o risco tornou-se uma estratégia para promover intervenções preventivas
no âmbito da saúde mental?
No quarto capítulo, a professora argentina Marisa Germain, discute algu-
mas Diretrizes ético-políticas na medicalização das infâncias, em especial, aque-
las presentes na recente legislação de Saúde Mental produzida na Argentina.
Analisa também as estratégias de proteção infantil, problematizando sua di-
mensão biopolítica, bem como a relação entre medicalização e desmedicaliza-
ção operada na Lei de Identidade de Gênero.
Por fim, no capítulo quinto do terceiro eixo, Biopolítica e experimentação
envolvendo crianças: a desproteção como permanência histórica do professor
Fernando Hellmann e da professora Marta Verdi, discute a experimentação
envolvendo crianças, na ótica da biopolítica das populações, a permanência
histórica da desproteção de uma parcela de crianças submetidas à experimen-
tação científica, mesmo com a proliferação de novas normas “éticas”. Para tan-
to, são abordados exemplos de pesquisas eticamente questionáveis ocorridas
ao longo da história da criação das principais normativas de princípios éticos
para as pesquisas envolvendo seres humanos.
Esperamos que o presente livro possa contribuir para fortalecer o debate
e as reflexões atuais referidas à temática da medicalização e medicamentaliza-
ção da infância, e que as análises aqui apresentadas possam ser aproveitadas
em diversos âmbitos acadêmicos, sociais e culturais.
Agradecemos especialmente ao Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq) pelo apoio econômico para a elaboração deste
livro, através do financiamento do projeto (408730/2013-7), “Prevenir e me-
dicar: Uma abordagem sóciohistórica à medicalização de transtornos mentais
na infância”.
Finalmente, agradecemos também às autoras e aos autores que, com suas
valiosas contribuições, permitiram a realização deste livro.
12
TRANSFORMANDO CRIANÇAS EM
PACIENTES PSIQUIÁTRICOS:
FAZENDO MAIS MAL DO QUE BEM 2
ROBERT WHITAKER
2 Título original do artigo: “Turning children into psychiatric patients: doing more harm than
good”. Tradução do inglês por Fabíola Stolf Brzozowski.
13
broken brain, Nancy Andreasen, que por muitos anos foi editora-chefe do Ame-
rican Journal of Psychiatry, explicou o novo pensamento da APA:
14
criaram a narrativa social que levou à expansão dramática da prescrição de
medicamentos psiquiátricos para todos os segmentos da sociedade americana,
incluindo as crianças. Os líderes de opinião:
Trabalham para os comitês da APA que estabelecem os critérios
para o diagnóstico.
Conduzem ensaios clínicos de novos medicamentos em pesquisas
financiadas pelas indústrias farmacêuticas.
São autores de artigos sobre esses estudos (frequentemente auto-
res fantasmas).
Discursam sobre a validade dos transtornos psiquiátricos e sobre
a eficácia do tratamento em simpósios científicos, cursos de Edu-
cação Médica Continuada e outros cursos profissionais.
Definem diretrizes para a prática clínica.
Escrevem livros didáticos de psiquiatria.
Servem como “especialistas” que são citados pela mídia.
15
de diagnosticar. O boom do TDAH estava oficialmente instalado. Ao final dos
anos de 1980, 600.000 jovens nos Estados Unidos foram diagnosticados com
TDAH. Então, em 1994, quando a APA publicou o DSM-IV, expandiu os seus
limites diagnósticos novamente. Dizia-se agora que o transtorno consiste de
três subtipos: somente desatento, somente hiperativo/impulsivo e aqueles que
apresentam os dois tipos de sintomas. Se uma criança tinha seis de nove sin-
tomas ditos característicos de cada subtipo, um diagnóstico de TDAH poderia
ser realizado. Considera-se hoje que o TDAH afeta até 5% de todas as crianças
americanas (LAHEY, 1994).
Com o diagnóstico expandido em mãos, o psiquiatra do Harvard Medical
School, Joseph Biederman, que tinha sido um membro do grupo de trabalho do
DSM-IV para transtornos pediátricos, começou a produzir artigo após artigo
sobre o TDAH. Sua pesquisa falou sobre como o TDAH na verdade afeta até 9
por cento das crianças americanas em idade escolar e que era um transtorno
real, com um componente genético aparente e que havia de fato subtipos dis-
tintos, assim como o DSM-IV declarou. Se os jovens assim diagnosticados não
forem tratados com estimulantes, escreveu Biederman, eles estariam em alto
risco para vários desfechos ruins: baixo desempenho escolar, fracasso no am-
biente de trabalho, abuso de substâncias e transtornos do humor. Os estimu-
lantes reduziriam os sintomas do TDAH e melhorariam a “autoestima, a cogni-
ção e a função social e familiar”, ele disse (WILENS, 1995; KOLATA, 1996).3
Biederman foi ricamente recompensado por seu trabalho. De 1996 a 2011,
recebeu honorários por palestras, honorários por consultorias e financiamen-
tos para pesquisas de mais de 24 indústrias, incluindo Shire, Janssen e Eli Lilly,
que vendiam três dos medicamentos mais populares para o TDAH (KOTTE,
2013). Tudo isso levou a um aumento constante no diagnóstico do TDAH nos
Estados Unidos e, em 2012, 10 por cento dos jovens de 4 a 18 anos tinham sido
diagnosticados4.
Nos anos de 1980 e início dos anos de 1990, o diagnóstico de TDAH foi
majoritariamente um fenômeno americano. Entretanto, a APA, em acordo com
as companhias farmacêuticas, começaram então a exportar para os países de-
senvolvidos de todo o mundo, com sucesso, os seus diagnósticos (ELLISON,
2015). Por exemplo:
3 A PubMed search of “Biederman ADHD” produces a record of 604 articles from 1984 to 2013,
with Biederman, J. listed as an author or coauthor. Some of these articles are on other pediatric
disorders, such as conduct disorder or bipolar disorder, and thus not all are focused on ADHD.
4 U.S. Centers for Disease Control. Summary Health Statistics for U.S. Children: National Health
Survey, 2012.
16
Em 2007, países fora dos Estados Unidos representaram 17% do
uso mundial de Ritalina. Até 2012, esta porcentagem cresceu para
34%.
A BIOLOGIA DO TDAH
Ainda que o TDAH seja apresentado ao público como uma doença cere-
bral, os pesquisadores normalmente fracassam em encontrar qualquer patolo-
gia característica em crianças diagnosticadas. Esse tema é repetido muitas
vezes, como pode ser observado nestes pronunciamentos:
5 NIH Consensus Development Conference statement, Diagnosis and treatment of attention deficit
hyperactivity disorder, Nov. 16-18, 1999.
6 American Psychiatric Association, Consensus report of the APA, Work Group on Neuroimaging
17
Esses achados podem parecer surpreendentes para um público para o
qual geralmente se diz que os pesquisadores descobriram que o cérebro TDAH
é diferente de um cérebro normal. O que o público pode achar ainda mais sur-
preendente é que toda essa pesquisa foi comprometida pelo fato de que os
jovens com TDAH estudados foram expostos aos estimulantes ou estavam
tomando medicações quando seus cérebros foram examinados. Na verdade,
quando esta pesquisa foi revisada, em 2012, pelo Grupo de Trabalho em Mar-
cadores de Neuroimagem da APA, o grupo fez uma revelação surpreendente:
18
das para manter o equilíbrio homeostático, isto é, o funcionamento normal do
sistema dopaminérgico. Os neurônios pré-sinápticos podem começar a liberar
menos dopamina, enquanto que a densidade dos receptores dopaminérgicos
nos neurônios pós-sinápticos pode diminuir. O fármaco acelera a atividade da
dopamina no cérebro e o cérebro responde através da regulação de tal ativida-
de.
Não houve uma boa pesquisa sobre se, após a descontinuação do medica-
mento, o sistema da dopamina de uma criança se normaliza. Entretanto, em um
estudo em ratos pré-adolescentes expostos ao metilfenidato por duas semanas,
houve uma diminuição dramática na densidade de receptores de dopamina no
corpo estriado que persistiu até a idade adulta (MOLL, 2001). Ainda que o
cérebro humano possa ser bastante diferente, este estudo em ratos forneceu
razões para se preocupar com as mudanças compensatórias induzidas pela
exposição a fármacos, que podem não ser totalmente reversíveis após a retira-
da do medicamento.
19
Às vezes, a criança medicada “perde o seu brilho” (DAVY, 1989).
20
mento medicamentoso para o transtorno fornecia um benefício a longo prazo
e, mesmo em curto prazo, seus méritos eram questionáveis. Em 1994, com esta
questão dos méritos dos estimulantes pairando no ar, o NIMH montou um
estudo, conhecido como Estudo de Tratamento Multimodal e Multicêntrico de
Crianças com TDAH (Multisite Multimodal Treatment Study of Children with
ADHD), para investigar melhor seus efeitos a longo prazo. No início, os pesqui-
sadores reconheceram explicitamente que, até o momento, “a eficácia a longo
prazo da medicação estimulante não foi demonstrada para nenhum domínio
do funcionamento infantil” (RICHTERS, 1995). Este era para ser o estudo que,
de fato, colocaria em teste a questão dos méritos a longo prazo dos estimulan-
tes.
No estudo, as crianças foram randomizadas para um dos quatro grupos de
tratamento: somente o medicamento, como prescrito por especialistas em
psiquiatria infantil; terapia comportamental; medicação mais terapia compor-
tamental; ou cuidados de assistência social. Ao final de 14 meses, parece que a
psiquiatria finalmente tinha evidências de um benefício a longo prazo. A “ad-
ministração cuidadosa de medicamentos” provou ser superior ao tratamento
comportamental na redução dos principais sintomas do TDAH e houve tam-
bém um indício de que as crianças medicadas foram melhores em testes de
leitura”. Os investigadores concluíram que agora havia evidências para o “tra-
tamento contínuo” (MTA study group, 1999).
Este resultado ainda é apresentado ao público como indicação de que os
estimulantes fornecem um benefício a longo prazo. Entretanto, este não foi o
final do estudo. Os pesquisadores continuaram a acompanhar as crianças e, ao
final de três anos, o uso de medicamentos “foi um marcador significante, não
de resultados benéficos, mas de deterioração. Isto é, de fato, os participantes
que usaram medicação por um período de 24 a 36 meses mostraram aumento
da sintomatologia durante o intervalo relativo à não tomada dos medicamen-
tos” (JENSEN, 2007)7. Crianças medicadas também se tornaram um pouco mais
baixas e apresentaram maiores índices de delinquência (MOLINA, 2007). Os
resultados de 6 anos foram ainda piores: o uso de medicamentos foi “associado
com piora dos sintomas de hiperatividade-impulsividade e compotamento
desafiador opositivo” e com maior “dano funcional global” (MOLINA, 2009).
Tais achados negativos não foram publicizados e de fato não foram apre-
sentados nos resumos dos artigos publicados. Podem ser encontrados somente
a partir de uma leitura minuciosa do texto de cada artigo. Entretanto, em uma
entrevista num jornal, um dos pesquisadores, o psicólogo William Pelham, da
Universidade de Buffalo (University of Buffalo) resumiu os resultados correta-
mente:
Nós pensávamos que as crianças medicadas por mais tempo teriam melhores
desfechos. Não foi o que aconteceu neste caso. Não houve efeitos benéficos, ne-
21
nhum. No curto prazo, [a medicação] ajuda a criança a se comportar melhor; no
longo prazo não. E esta informação deve estar muito clara aos pais (MIRANDA,
2007).
Outros estudos de longo prazo com crianças medicadas para o TDAH pro-
duziram resultados semelhantes, a saber:
22
crianças hiperativas nos anos de 1970, resumiu sua história de pesquisa em
uma entrevista para o New York Times:
23
Há ainda o risco de o estimulante induzir mudanças de humor que levam
ao diagnóstico de bipolaridade. Os estimulantes produzem efeitos excitatórios
e disfóricos, que são os próprios sintomas utilizados para diagnosticar o trans-
torno bipolar em jovens. Não é de surpreender que vários estudos com jovens
diagnosticados com transtorno juvenil estabeleceram que dois terços usavam
estimulantes “antes do aparecimento de um episódio afetivo”. Assim, um dos
riscos em ser diagnosticado com TDAH é que o tratamento medicamentoso
levará a um diagnóstico bipolar, que é entendido como uma condição crônica,
severa e para toda a vida (DelBELLO, 2001; PAPOLOS, 1999). Isso é evidência
de um processo trágico, de um diagnóstico e subsequente tratamento que po-
dem tornar uma criança “hiperativa” em um paciente mental crônico.
Essa é a história do TDAH. É uma história de um diagnóstico que foi cons-
truído em 1980 e então comercializado para o mundo, e de grande sucesso
comercial. Isso ocorreu mesmo que as pesquisas tenham falhado em identificar
qualquer patologia característica nas crianças diagnosticadas, e na ausência de
qualquer evidência de que o tratamento medicamentoso fornece um benefício
a longo prazo, em qualquer domínio ou função. A única evidência que emerge
dos estudos de longo prazo do TDAH é a de uma prática que faz mais mal do
que bem.
24
depressão em crianças. Com tais relatos aparecendo na literatura médica, a
prescrição de ISRSs para jovens decolou, pelo menos dos Estados Unidos, e até
2004, uma em cada 40 crianças em idade escolar na América tomava antide-
pressivo (DELATE, 2004). Um dos “líderes de opinião” que ajudou a construir
este mercado, Martin Keller, da Universidade de Brown (Brown University),
recebeu aproximadamente US$ 1 milhão entre 1997 e 1998 por seus serviços
para as companhias farmacêuticas (BASS, 1999).
A literatura científica pode ter afirmado que os medicamentos são efica-
zes, porém, como o FDA anunciou em 2004, 12 de 15 ensaios clínicos pediátri-
cos com ISRS, de fato, não conseguiram provar que os medicamentos proporci-
onaram algum benefício. O FDA rejeitou o pedido de seis produtos ISRS que
solicitaram rotulagem pediátrica. O órgão só aprovou a fluoxetina (Prozac)
para o uso em adolescentes (LAUGHREN, 2004). Fica claro que os relatos pu-
blicados em periódicos médicos contavam uma história corrupta, e agora co-
nhecemos a extensão dessa corrupção: havia um viés no próprio desenho dos
estudos; os resultados publicados não correspondiam aos dados reais; os efei-
tos adversos foram minimizados ou omitidos; e estudos negativos permanece-
ram não-publicados ou foram transformados em positivos. Como a Lancet
editorou em 2004, “A história da pesquisa sobre o uso de inibidores seletivos
da recaptação de serotonina para depressão em crianças é uma história de
confusão, manipulação e falência institucional”8.
Os dados do FDA também indicaram os danos causados. Ainda que não ha-
ja evidências da eficácia dos ISRS em crianças (com a possível exceção da fluo-
xetina) houve muitos riscos registrados, incluindo um aumento no risco de
comportamento suicida e conversão para transtorno bipolar, uma grande
quantidade de efeitos adversos físicos, emocionais e psiquiátricos, e, ao longo
do tempo, um risco de apatia induzida por medicamentos (disforia tardia),
danos cognitivos e de disfunção sexual na vida adulta. Enquanto que tudo isso
reduz a prescrição dos ISRSs para crianças e adolescentes em muitos países,
nos Estados Unidos sua prescrição continua sendo uma prática comum, com
um em cada 30 adolescentes dos EUA tomando antidepressivos, em 2010 (JO-
NAS, 2013).
A prescrição de antipsicóticos atípicos para adolescentes nos Estados Uni-
dos disparou em meados de 1990, logo após a segunda geração de antipsicóti-
cos – Risperdal, Zyprexa e etc. – serem lançados no mercado. Esses novos me-
dicamentos foram prescritos para controlar a agressão e para tratar o trans-
torno bipolar, uma doença que, até então, não se pensava ocorrer em crianças
pré-adolescentes. Porém, tais distúrbios do humor começaram a aparecer de
forma um pouco regular em jovens para os quais foram prescritos estimulan-
tes e ISRS, e então, em meados de 1990, logo quando os antipsicóticos atípicos
chegaram ao mercado, Joseph Biederman anunciou que muitas crianças com
25
TDAH possuíam comorbidade com doença bipolar, e esse novo diagnóstico
decolou, pelo menos nos Estados Unidos (BIEDERMAN, 1996). Em 2010, um
por cento dos adolescentes dos EUA utilizavam um antipsicótico (HOWIE,
2014).
Nos Estados Unidos, mais de sete por cento das crianças entre 6 e 17 anos
agora utilizam pelo menos um medicamento psiquiátrico diário, evidência de
como a indústria farmacêutica, em colaboração com a Associação Americana
de Psiquiatria, construiu um mercado que conta com a patologização da infân-
cia. Esta prática foi exportada dos Estados Unidos para grande parte do restan-
te do mundo desenvolvido, embora com graus variados de sucesso. Nos Esta-
dos Unidos, um marcador do dano causado por esta prática vem das estatísti-
cas de incapacidade: o número de jovens com menos de 18 anos recebendo
pagamentos por incapacidade, devida a doenças mentais, cresceu de 16.700
em 1988 para perto de 800.000 em 2011 e, quando esses jovens atingem os 18
anos, uma porcentagem significante entra direto nos de incapacidade na idade
adulta9. A patologização da infância, pelo menos nos Estados Unidos, levou à
criação de uma nova carreira para muitos, o que quer dizer uma vida como
deficiente mental. E esta é apenas a evidência mais visível do grande dano que
está sendo causado por essa indústria.
REFERÊNCIAS
ANDREASEN, N. The Broken Brain. New York: Harper & Row, 1984.
APA- American Psychiatric Association, Consensus report of the APA Work Group on
Neuroimaging Markers of Psychiatric Disorders, 2012.
APA. American Psychiatric Association’s annual financial reports, 1980-2012.
APA. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, third edition, Washington
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