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Há milhares de anos atrás, os Valquírios travaram uma sangrenta batalha contra seu clã inimigo Hazhael, o
povo da terra de Konrad.
Enquanto Thunder Valgrind, um poderoso demônio exilado do paraíso e obrigado a comandar os recônditos
do inferno permanecia ausente, concentrou seus poderes nas mãos da Ordem que era constituída pelos nove
Anjos Condenados, os quais ditavam leis, impunham desígnios e exerciam todas as funções em seu lugar, mas
Thunder não sabia que todos almejavam alcançar o poder e autoritariedade suprema. Imersos na ira e
avareza, o Rei dos Anjos Condenados decidiu usar as palavras divinas de Thunder para fazer jus a própria
vontade. Indo contra as leis de seu Lorde, o Rei dos Anjos aprisionou seus próprios missionários na Cápsula da
Fênix, nos quais morreriam e renasceriam em plano terreno a cada milênio em corpos diferentes, como uma
espécime de Hospedeiros ainda condenados pelo apetite impulsivo e deliberado do próprio Rei, pelo poder
absoluto do Inferno. Decidido de eliminar de vez a humanidade, o Rei deu início a uma nova conjuração,
ordenando que os Ashttar, a mais antiga linhagem casta de haríolos elaborassem a destruição dos mortais e de
seu clã adversário Hazhael.
Mas então para pagar por seu ato de rebeldia, o Rei foi expulso e exilado do próprio inferno por traição e sua
falha tentativa de consumir o prestigio dos poderes de seu Lorde. Imediatamente o Rei começou a elaborar
meios e tramar planos para retornar, mas, dessa vez, estaria decidido a conduzir a supremacia absoluta com
sucesso.

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Q

Depois de milhares de anos em hibernação após meu exilo eu finalmente desperto. Minhas forças voltam e
sinto meu corpo inteiramente forte, cujos músculos locomotores de equídeo ainda parecem estar sendo
momentaneamente atrofiados causando um pouco de dificuldade em meus movimentos. Um gosto
brutalmente metálico toma conta de meu paladar, jazo na terra ansiando incessantemente por sangue
humano fazendo com que isso consuma meu controle por inteiro. Minhas memorias se manifestam
instantaneamente, concedendo-me nítidas lembranças do lugar onde passei todos esses anos adormecido.
França. Durante séculos eu lutara pelo poder sem sequer questionar meus objetivos para tamanho almejo, mas
estou no comando novamente e é hora de tomar uma ação para esse elo de poder primitivo que surgira antes
mesmo de minha existência. Vejo que mesmo depois de séculos, não sou capaz de viver fora do desejo
devorador de possuir e oferecer a mim mesmo a tão esperada resposta para a sede insaciável do
autoritarismo. Meus sentidos aguçados me permitem sentir os rijos rastros do “O último fragmento” em uma
profundidade evidentemente assombrosa, que prepara, anuncia e indica o caminho de minha ascensão pelo
poder pelo o resto dos anos.
“Sei que estou mais perto do que imaginara. E isso fará sobrevir mais facilidade de prosseguir com esta missão”
Inalo profundamente o ar glacial que bate nas enormes montanhas absorvendo com rapidez todos os sons e
aromas que aqui circulam, o céu está tão mortificado que vejo a escuridão ascender-se progressivamente por
todas as direções, dominando os escassos arranha-céu que ainda poderiam estar presente em um
determinado período de tempo. Agora, a quantidade de cores do mundo parecem ser tão nítidas e vivas que
dão a impressão de ter desencadeado um novo fluxo de inúmeras texturas diferentes, fazendo-me começar a
compreender de um modo gradativo a dimensão das mudanças que minha realidade havia sofrido. Em meu
longo conceito de conduta virtuosa, a mais evidente resposta para a concepção de eternidade é que isso
acaba se tornando uma realidade temporariamente insuportável. A imortalidade, para alguns, parece ser algo
bom, até você perceber que irá apenas viver nas sombras, tirar vidas e servir as trevas tendo apenas a si próprio
como companhia em busca do absolutismo, tornando-se uma existência detestavelmente solitária e vazia
comparado a lacunas impreenchíveis de vidas destituídas a qualidades positivas.

E estou aqui por um objetivo, não posso desaponta-lo.

2
— Aqui, beba um shot comigo. – é Jan dando-me um copo de Vodka com tônica enquanto ela já aprecia seus
últimos goles. — Aliás, você viu Enzo?
— Eu o vi conversando com uma garota naquela mesa ali – aponto para o outro lado do enorme saguão
— Qual?
— Aquela ali... –tento falar por cima da música, mas ela estronda por todos os lados
— Eu não tô enxergando nada
— Aquela ali bem ao lado do barman...
— Quê? Superman?
Percebo que seus olhos verdes já demonstram exaltação intensa, mas de que lugar ela tirou superman? Fala
sério. Puxo Jan pelo braço e tento abrir espaço entre as pessoas que dançam fervorosamente.
Levo-a até a mesa onde eu supostamente havia visto Enzo pela última vez.
Fico sem reação ao me deparar com a cena mais épica desde que eu estava na formatura e vi o vídeo da
Alison – na época do colégio ela era a garota mais piranha de todas– tirando dois saquinhos de sopa para
fingir que tinha seios grandes; Blair e Enzo estão se beijando! Embora eu não consiga dizer nem sequer uma
palavra, apenas fico olhando cada movimento bem de perto.
Blair é a melhor amiga de Jan – acho que depois dessa, o termo rival ficaria mais apropriado – e na época do
colegial ela era conhecida como “A mosqueteira do canalha” porque seu único namorado havia sido o feioso
e nada amigável Julius Johnson, um ex presidiário do Texas que simplesmente a dizia ama-la pelo resto de toda
sua miserável vida. A verdade é que quando está longe de Jan e todo o resto, Blair é uma pessoa de
personalidade completamente diferente. O tipo de garota que pula a janela do quarto escondida de seus pais
todas as noites para dormir na casa de caras que ela conhece em boates. O tipo de garota que usa maconha
em festas familiares. O tipo de garota estupidamente descarada que não enxerga nada além do próprio
apetite sexual – sei disso porque na cidade em que eu moro as fofocas chegam num estalar de dedos.
— Com licença... Estou atrapalhando alguma coisa? – diz Jan quebrando o estranho clima entre os dois
Assustada, Blair se levanta bruscamente fazendo a cadeira cair para trás
— Olha Jan, n-não é nada d-disso que você tá pensando – diz Blair tremula
— Bem que dizem que você é uma vadia! -- Jan tira a taça de Vodka da minha mão e derrama o liquido no
rosto da nova rival.
— Mas que porra, Jan! – Enzo pega alguns guardanapos na mesa e ajuda Blair a se secar
— E quanto á você seu filho da puta, acho melhor você tomar muito cuidado com o que faz, ao não ser que
você queira que seus pais saibam que você e sua priminha fodem nas aulas vagas da faculdade...

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Mesmo com o som das música alta ao extremo, as palavras de Jan serviram como uma espécie de palavras-
chave, o suficiente para chamar a atenção de vários pares de olhos curiosos. Só faltava um saco de pipocas
com refrigerante para completar o ritual da alta satisfação da “plateia”.
Surpreso ao ouvir as declarações inesperadas de Jan, Enzo tenta manter a postura
— D-do que você tá falando? Você é louca, sabia?
Jan ignora os protestos de Enzo e volta a encarar Blair
— Sinto muito se eu sujei o vestidinho que a mamãe te deu. Ah é mesmo, acho que ela não tem mais a mamãe
por perto... – Jan diz em tom de deboche – Vamos sair daqui Aarüna senão é capaz de nos contagiarmos pelo
alto nível de puta desse ser aí.

Eu conheci Jan no ano passado quando me inscrevi para fazer parte do comitê da faculdade Medina Black
Salazar e realizar alguns trabalhos temporários nos finais de semana. Mesmo não havendo tanta necessidade,
quem participava ganhava pontos extras no fechamento de cada semestre, e por conta disso, tentei me
manter focada ao máximo já que passaria o resto do ano me preparando para as provas.
Jan tem 17 anos – a mesma idade que eu – Ainda com dez anos seus pais voltaram para sua cidade natal,
Moçambique por conta de sua pequena e bem sucedida empresa de automóveis, e, desde então, ela e seu
irmão caçula passaram a morar com a sua avó, que atualmente trabalha como corretora de seguros para
sustentar tanto a si própria como seus netos – pobre Dona Kassia!
Jan é uma garota que se auto intitula como; espirituosa, inteligente e divertida – se bem que eu só concordo
com a parte “divertida”. Entao um ano depois eu a considerava
Fomos para a nossa cabine. Ela dá um suspiro, pega alguns cobertores do armário, se joga pesadamente na
cama e fica virada para o outro lado, sem querer manter qualquer tipo de contato visual. Eu me sinto tão mal
por Jan que quero tentar ajuda-la, mas nesse instante não existe palavras para que eu consiga faze-la se sentir
bem. A ouço chorar e me sento ao seu lado e passo as mãos em seus cabelos encaracolados
— Não chore Jan – é tudo o que consigo dizer
Ela se vira e diz
— Aquela vadia acabou de me provar que ela não se é uma pessoa em que se possa confiar.
— Mas o Enzo não e a vítima da história , ele também esta errado
—Ele se paga de fodão mas por dentro é mais falso do que nota de três.

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AARÜNA HEATHER MITCHELL

ave you ever seen the rain é a canção que toca no rádio nesta tarde de sábado.

Enquanto lá fora a escassa luz do sol se põe detrás das altas montanhas no qual lançam uma extensa sombra
escura que cobre todo o vale, eu estou a limpar as bagunças do meu enorme quarto. Faz mais de duas horas
que estou tentando organizar tudo, mas, na verdade parece que eu nem sai do zero ainda, gostaria que a
empregada não estivesse de folga esse mês todo!
Eu moro em Rye, uma pequena cidade com um pouco menos de novecentos habitantes localizada no
sudeste da Inglaterra. A maioria das casas em Rye tem uma aparência pitoresca, enquanto a mesma em que
eu moro com minha tia Eddie pode ser considerada a mais moderna e luxuosa de toda região – sortuda eu,
não? – Isso se deve ao fato da morte de meu pai que morrera ainda quando eu era bebê, e por eu ser filha
única, tenho mais vantagens de aproveitar os benefícios de sua herança milionária.
Ah, morte...Não existem palavras para descreve-la, mas, ainda assim, muitos dizem que devemos viver a vida
como se ela nunca fosse chegar. E para o meu pai, chegou cedo demais. Seu nome era Adam, um médico
bem sucedido na área cirúrgica e dedicado ao seu estável esforço, tanto ao trabalho quanto para mim.
Mesmo sempre chegando tarde em casa, tia Eddie diz que ele tentava procurar alguns minutinhos para ficar
comigo, mesmo não me lembrando de nada, eu ainda considero este ato de carinho. Ela já me mostrou uma
das poucas fotografias dele: Um homem alto, de olhos e cabelos castanhos claros e com fortes marcas
expressivas que cobriam seu rosto com a pele morena e barba falhada.
Era uma noite fria de Março. Adam estava em um bar cumprindo uma reunião com outros cirurgiões do mesmo
hospital que discutiam sobre melhorias e novos projetos de infraestrutura. Tudo ocorria bem, até que a reunião
se encerrou e ele foi embora para casa. Mas, em seu percurso, ele foi abordado por oito homens enquanto
esperava o sinal do semáforo dar o sinal verde... Papai foi assassinado, esquartejado e posto dentro de um baú,
no qual só foi encontrado depois de longos dois meses de procura pelos policiais e perícias da cidade.

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Ele era meu pai. O único e mais importante homem de minha vida, o único que eu mataria e morreria para ter
de volta.
A partir de então tia Eddie começou a cuidar de mim, pois minha mãe Matilda usava drogas, se prostituía pela
cidade e, quando voltava pra casa, costumava me ferir e ameaçar com armas brancas. Não tive infância,
mesmo tendo condições de vida extraordinariamente boa, eu não tive o privilégio de ter a única coisa que
precisava. O amor.
Mas mesmo pelas infinitas presenças de dificuldades, devemos seguir em frente, no entanto, eu
frequentemente me sinto sozinha e, sem saída.
Olho para o lado, pois vejo a tela do celular se acender. Há uma mensagem atrás da outra, mas ignoro o resto
e respondo só algumas.

@CatBlair: bora sair né gata? Ficar encalhada dentro de casa ñ resolve nd x.x
@xnietzscheX: Sair? Essas horas? Fala sério! – respondo.
~~
@Ethan: boa noite amor.
Amor? Que garoto convencido!
@xnietzscheX: Hey Apenas amigos, lembra? haha.

— O jantar está pronto – anuncia tia Eddie.


— Já vou, só espera eu terminar de empacotar aqueles livros velhos ali – indico apontando para uma enorme
caixa em cima da minha cama.
— Ok, mas não demore muito, senão as alcachofras irão esfriar.
— Espera... você fez alcachofras? – sinto meu rosto fervilhar de felicidade pois tia Eddie não costuma cozinhar
muito desde que nossa empregada Amelia foi contratada
— Com caviar também.
Levo minhas mãos a barriga, demonstrando fome. É incrível como ela sempre sabe me surpreender na hora
certa!.
Tia Eddie deposita um beijo em minha testa, sai e fecha a porta.
Demoro mais ou menos uns trinta minutos para terminar a longa faxina, e assim que a faço, apago as luzes,
desligo o rádio e vou para a cozinha preparar meu prato.
— Está gostando, querida?
— Isso aqui está uma delícia! – dou algumas garfadas – acho que você deveria deixar a parte culinária por sua
conta novamente, tia.
— Ah, que isso querida. Tenho certeza de que Amelia sabe cozinhar melhor do que eu.
Reviro os olhos
— Fala sério! Semana passada ela conseguiu queimar uma panela com macarrão, fora outras vezes que tive
de comer arroz torrado.
— Coitada, não fale assim de Amelia, pois mesmo ela sendo um pouquinho... Ah como posso dizer...
— Estabanada – completo
— Isso, estab... Não! Quer dizer... Amelia é apenas uma pessoa...Atrapalhada, as vezes, mas fora isso,
convenhamos que ela também tem suas vantagens
— Ah é? Quais?
Tia Eddie fica pensativa por alguns segundos, mas tenho certeza que nem mesmo ela sabe o que dizer.
— Ela é boa em decorar preferencias! Ela lava nossas roupas de acordo com os amaciantes que a gente

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gosta, isso não ser ótimo chéri?
— Seu francês ficou parado no tempo – rio
— Nossa! – ela dá um pulo – Já ia esquecendo, preciso terminar de arrumar as malas.
— Argh! Você precisa mesmo ir?
Amanhã tia Eddie vai viajar para Caribe visitar sua amiga Ruth, coisa que ela diz não fazer há anos.
Ela não é muito de sair de casa por isso as vezes me surpreendo quando de repente dá a louca e decide entrar
em um avião e desaparecer no mundo.
— Voltarei em três meses, querida. Não é tão horrível assim, pois olhe pelo lado bom você ficará em plena paz
e a chatice aqui – ela aponta a si própria – não pegará no seu pé por um bom tempo!
— Então acho melhor se apressar se não quiser acordar atrasada amanhã.
Ela olha para seu relógio de pulso
— Ah sim querida, você está certa. Já vou indo, boa noite.
e permaneço por alguns instantes no meio do escuro, olhando através da janela e observando atentamente a
penumbra da lua e o brilho das estrelas que iluminam o céu.
Atravessamos a extensa ponte Bridez para que pudéssemos chegar até o aeroporto. O tempo está nublado
com 14º graus, o céu sereno e com poucas nuvens. Hoje tia Eddie vai viajar para Caribe, para visitar sua amiga
Ruth, coisa que ela não faz há anos.
— Aarüna – diz tia Frances. – lembre-se do que eu disse. Nada de sair enquanto eu estiver fora. – ela está
repetindo a mesma coisa desde quando havíamos saído de casa.
Tento memorizar seu rosto já que não a verei por longos três meses: boca marcada por uma linha de contorno,
cabelos loiros escuros, olhos verdes e pele clara.
Não me sinto nada confortável sabendo que terei de aprender a me virar sozinha enquanto tia Eddie não
estiver presente. Isso será um desafio e tanto.
— Tenho de ir.
— Diz "oi" para Ruth por mim – falo
— Pode deixar. Daqui três meses estarei de volta, se precisar você pode me ligar.
— Não se preocupe comigo – insisto
Ela me abraça por alguns segundos, então entra no avião e se vai.

╚╝

Três semanas já se passaram desde que tia Eddie viajou e eu me sinto sozinha nesta casa enorme. Tento não sair
muito porque ela pode de algum modo, descobrir que eu não estou a manter minha palavra. Tomo um banho
de longos cinquenta minutos estou com tanto frio que deixo a água na temperatura mais quente possível,
enquanto observo as espumas da banheira escorrem rapidamente em direção ao ralo. Assim que termino, me
seco e visto um pijama. Sinto minha barriga roncar, estou com muita fome. Vou à cozinha e tiro da geladeira
um pote com frangos de duas semanas atrás que, de aspecto, parecem um tanto saborosas, mas o odor
desagradável inunda o ar. Jogo no lixo e me esforço o possível para cozinhar um pouco de arroz com carne e
salada. Não sai bom como eu espero, mas a fome fala mais alto para que eu fique analisando este prato de
comida humilde. Mais uma vez me lamento pela empregada não estar aqui.
Que droga!
Já são onze horas da noite e as gotículas suaves da chuva batem ruidosamente na vidraça. O tempo havia
mudado com severidade, não faz mais sol como antes, o que acho estranho pois o inverno ainda nem está por

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vir. Estou começando a ficar com sono, lavo a louça e vou para o meu quarto. Fico pensando em como será
começar minha nova faculdade de Astronomia no próximo mês, me preocupo mais ainda porque começarei
logo no meio do ano, quando todos já haviam tido tempo suficiente para se conhecer. Tento expulsar esses
pensamentos infames, apago as luzes e tento dormir, mas logo me assusto ao ouvir alguns ruídos vindos da
janela. Assustada, levanto vagarosamente a cortina...
— Oh, não acredito que é você! Me abandona por dias e depois decide aparecer novamente?
Levanto o vidro e pego-a no colo. É Kara, minha gata da raça Maine Coon que ganhei de tia Eddie no meu
aniversário de seis anos.
Já houve tempos em que Kara saiu de casa e só voltou depois de cinco meses, mas nunca foi de querer
chamar muito a atenção das pessoas. Para falar a verdade, nem me preocupo mais quando ela some, até já
me acostumei.
— Gatinha boba – sussurro enquanto faço carinho em seus pelos negros.
Kara se diverte, mas logo pula de meu colo e se deita em seu colchão. Meu sono aumenta e vou dormir.

Já é madrugada e agora estou em Nynorsk, uma cidade na Noruega. Como eu não consigo mais voar, sou
obrigado a pousar em terra firme, pois minhas asas já estão fracas.
Asas? Ah sim. Eu sou híbrido, metade vampiro e metade anjo. E por conta disso, quando a minha metade
vampiresca se rebela pela falta de sangue, a minha outra metade se enfraquece, tendo por consequência a
debilidade de meus enormes par de apêndices coriáceos fixados lateralmente ao meu tórax.
Creio que muitos achariam isso legal, mas não se deixe enganar, pois a ilusão é a mais falha prosa do elogio.
Logo sou apreendido floresta adentro por meio de meus vastos sentidos, no qual me dizem que há
adolescentes já sem noção da realidade pelo fato de já estarem parcialmente bêbados e drogados. Para um
ser humano, isso significa apenas uma festa, mas, para um vampiro, isso é considerado um banquete. Pelo
menos, é assim que me sinto quando meu instinto de caça está em atividade. É assim que me sinto agora...
Ora, pobres humanos, eles não tem culpa se, por acaso, eu trilhar seus caminhos vazios, não é? Pois eu não me
importo nem um pouco em tirar suas vidas inúteis. Querem saber o porquê? Porque todos, até mesmo antes de
nascerem já tem seus espíritos corrompidos pelos sete pecados capitais através da vida de suas próprias mães,
a qual transmite o fragmento de todos os erros já cometidos ao longo de sua existência para o próprio feto,
que, para a maioria, aparenta ser uma pequena vida inocente que se transforma aos poucos dentro do
fragoso ventre de uma mulher... Mas, estão todos enganados! Cada vida que nasce, cada íngreme de
racionalidade exposta apenas simboliza o aumento do percentual de mágoas decorrentes originadas pelo
desgosto do próprio espirito já consumido pela dor e pelo pecado, antes mesmo de vir ao mundo.
Caminho entre a multidão e logo avisto um barril de Chopp em cima de uma mesa. Encho um copo e bebo
tudo em três goles. Com minha aparência de homem de vinte anos – fui transformado nesta idade, mas tenho
mais de quarenta mil – tenho enorme facilidade em atrair a atenção das pessoas, e é o que está a acontecer
agora. Consigo ler a mente de todos em fração de segundos, capto apenas conversas e pensamentos
maliciosos.

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“Esse homem é um gostoso”, “Ei Jhule, olhe aqueles músculos! tem certeza de que ainda prefere o Logan?”
“Mano, cê quer saber a verdade? Eu viraria gay por esse cara!”, “Vá falar com ele, quem sabe ele tira essa sua
virgindade atrasada!” [...]
Pobres mentes destruídas. Como deus consegue desperdiçar tanta carne num bando de porcaria dessas?
Logo, avisto uma garota tentando chamar minha atenção lançando-me vários sorrisos. Minha refeição chegou
sem nenhum esforço, como já era de se esperar. Consigo enxergar claramente seus cabelos encaracolados e
olhos castanhos mesmo pela falta de iluminação e apenas com luzes coloridas por todos os lados. Mantenho
minha postura séria e caminho em sua direção. “Acho que consegui!” é tudo que a garota Kris pensa assim que
percebe meu sorriso malicioso. Após eu passar reto, percebo que ela fica um tanto desconcertada, pois
achava que eu iria conversar. Não preciso nem me conceder o trabalho de virar para trás para ver se ela vai
me seguir ou não, porque sei que já está a fazer. Para mim, considero todos como presas fáceis, pois até
mesmo com um simples olhar posso controla-los quando e onde eu quiser.

Quando localizo uma área longe do mar de rostos curiosos, me viro de encontro ao seu rosto que sorri
desavergonhadamente. Me aproximo e roço meus lábios em sua nuca, apertando-a contra um tronco de
árvore esmaecido, e percorrendo minhas mãos em seu corpo. Ela solta alguns gemidos e tenta beijar minha
boca, mas já e tarde, assim que se dá conta de que meus caninos já estão cravados em seu pescoço Kris tenta
se soltar, debatendo-se bruscamente em meus braços. Minha vasta gama de sentidos aguçados detectam o
ritmo da sua respiração e o pulsar de suas veias esmaecerem aos poucos, certo de que ela já está morta largo
seu corpo no
chão. Sinto que minhas asas ainda não estão fortes o suficiente para voltar a voar, mas ela ainda consegue
aguentar mais algumas horas de longa trajetória.
Impulsiono minhas pernas e logo a sinto a traspassarem em minhas costas, fazendo o fluxo do ar criar mais
rigidez para todas as direções,

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