- ambas se caracterizam por uma larga tradição aplicada em contraste com seu caráter disciplinar.
Cabré comenta que seria difícil precisar o momento exato em que se usou pela primeira vez
um termo para expressar um conhecimento especializado, mas supõe que isso pode ter
acontecido quando as sociedades estabeleceram uma distribuição de funções sociais.
Sobre a Tradução, a autora também cita que seria difícil localizar o primeiro ato de tradução
(ainda em âmbito oral), mas indica que talvez os testemunhos históricos de crônicas de
viagens e conquistas e amostras de documentos originais dão provas de que a tradução já
existia anteriormente na prática.
- ambas são matérias interdisciplinares, em que se encontram disciplinas das ciências cognitivas, das
ciências da linguagem e das ciências da comunicação.
O papel do tradutor
“O tradutor atua como mediador entre dois interlocutores. E para representar bem sua
função, deve se colocar no lugar daquele que emite a mensagem e assumir suas competências.
Se não o faz, dificilmente fará uma boa tradução. Assumir suas competências, tanto no que se
refere a conhecimentos quanto a habilidades, pressupõe conhecer a matéria que traduz (visto
que o emissor conhece a matéria da qual fala), saber expressá-la precisa e adequadamente e
fazê-lo como o faria espontaneamente um especialista.” [...] “Deve servir-se, portanto, dos
termos.”
- A Terminologia é um ponto chave neste tipo de texto, já que os elementos que concentram com
maior densidade o conhecimento especializado são os termos.
não saber se a língua de chegada dispõe de uma unidade terminológica lexicalizada para expressar
uma ideia que em língua de partida se expressa por meio de um termo porque este não consta em
dicionários da matéria
não saber se as unidades que os dicionários bilíngues especializados recomendam são as mais
adequadas para o texto da tradução
não saber qual unidade selecionar quando os glossários oferecem diferentes alternativas
não saber se a equivalência semântica é possível em casos fortemente marcados por aspectos
culturais ou institucionais de cada país.
Como?
Nível 1
O tradutor depara-se com um conceito especializado que desconhece, veiculado por meio de um
termo em língua de partida. Para encontrar a solução, consulta dicionários bilíngues ou plurilíngues
sobre o tema, acessa bancos de dados especializados e, se necessário, recorre a uma consulta a
especialistas da área. O resultado por ser positivo (e resolve o problema por ter encontrado um
equivalente em língua de chegada) ou negativo (ou seja, não encontra o equivalente e limita-se a
reproduzir literalmente entre aspas o termo original ou explicar a ideia mediante uma paráfrase).
Nível 2
O tradutor não encontra uma solução oficial e recorre à sua competência no sistema linguístico para
propor uma unidade neológica (nova criação, chacrete - paniquete), convenientemente documentada
em nota de rodapé. Assim, sua atuação quanto à Terminologia é nula, pois se vale de uma solução
conforme a lógica lexicológica e não terminológica.
Nível 3
O tradutor conhece mais profundamente o tema que traduz, pois busca uma especialização no
domínio. Isso quer dizer que ele já tem conhecimento sobre a terminologia da área e faz observações
sobre os termos e seus usos na sua área específica de atuação. O tradutor começa a reunir os termos
que traduz, formando uma base de dados que lhe permita resolver problemas da mesma maneira que
resolveu problemas semelhantes anteriores. Diante de um conhecimento mais aprofundado sobre a
sistemática dos termos, como eles funcionam, como são apresentados etc., o tradutor tem mais
recursos para criar uma unidade neológica caso realmente não encontre o termo na língua de
chegada. (esse procedimento é mais adequadamente pautado na lógica terminológica, pois a criação
de um novo termo se faz a partir da análise de outros termos da área).
Nesse nível, o tradutor atua como terminólogo, pois já tem seu banco de dados elaborado e tem uma
certa intuição terminológica especializada nas áreas temáticas de sua especialidade.
Nível 4
O tradutor atua verdadeiramente como terminológo, pois produz materiais de busca e bancos de
dados procedentes de vários textos traduzidos, por ele mesmo ou por outros tradutores, com soluções
terminológicas para os casos de vazio denominativo (em que não há equivalente na língua de
chegada). Edita todas essas informações em um glossário e disponibiliza esse material a outros
tradutores.
Cabré responde:
- Fazer Terminologia não é fazer Tradução, o trabalho terminológico tem uma lógica especificamente
diferenciada da lógica da Tradução, que consiste em recolher as unidades terminológicas dos discursos
especializados (de especialistas)
- O processo de recolha dos termos não pode partir das formas, mas dos conceitos (método chamado
onomasiológico), em consequência, não pode ser uma translação de nomes, mas uma busca das
denominações naturais que em cada língua correspondem a um conceito especializado (que são as
formas que os especialistas usam em situação de comunicação profissional). Essas formas às vezes
existem e outras vezes, não.
- No caso em que em uma língua não haja uma unidade terminológica equivalente, é necessário
recorrer antes a uma lexicalização neológica (a criação de uma expressão) do que a uma tradução
parafrástica (fazer uma paráfrase da forma original na língua de chegada). Esse princípio exige que a
criação de uma nova expressão esteja ligada ao conceito e não à forma linguística da língua original. (é
necessário reforçar que a criação de uma nova unidade terminológica deve ser o último recurso,
acessado somente depois de muita pesquisa e da certeza absoluta da ausência de um termo na língua
de chegada que denomine o conceito desejado).